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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE MANDADO DE SEGURANÇA CYNTHIA DO AMARAL Orientador Prof. Dr. JOSÉ ROBERTO BORGES Rio de Janeiro 2005

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

MANDADO DE SEGURANÇA

CYNTHIA DO AMARAL

Orientador

Prof. Dr. JOSÉ ROBERTO BORGES

Rio de Janeiro

2005

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

MANDADO DE SEGURANÇA

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como condição prévia para a

conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”

em Docência do Ensino Superior, Processo Civil.

São os objetivos da monografia perante o curso e

não os objetivos do aluno. Por: Cynthia do Amaral

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AGRADECIMENTOS

À minha mãe, Edmea do Amaral, por

Todo o amor, compreensão e

companheirismo que me dedicou para

a realização desse trabalho.

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DEDICATÓRIA

À Minha sempre amada mãe EDMEA.

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RESUMO

O Mandado de Segurança, como sabemos, é uma criação tipicamente

brasileira, com seu estudo, por mais que os grandes mestres já tenham

enfrentado o tema, reserva sempre novas perspectivas, particularmente na

busca das decisões judiciais.

Nos dias atuais há uma crise moral que invade nossas instituições políticas,

desencadeando um pessimismo generalizado. Com isso, desconfiamos da

crise da instituição, perante uma má interpretação, sofremos com a não

aplicabilidade dos meios postos pela Constituição Federal, em particular o

Mandado de Segurança e Hábeas Corpus que são para a defesa o cidadão

contra a onipotência do estado.

Não podemos esquecer que os limites da monografia impedem o esgotamento

das muitas e variadas questões sobre o tema, que se refletem nas oscilações

da jurisprudência, em especial no que concerne ao cabimento contra ato

judicial, cenário das mais vigorosas revoluções.

A escolha do tema visa sinalizar a nossa preocupação com o sistema da

proteção dos direitos do homem, além dos limites da manifestação do

pensamento, visto a globalidade que o poder alcança. O que este estudo

pretende deixar claro é a possibilidade de sempre poderem os cidadãos se

socorrerem de um remédio constitucional forte e eficaz, apto a produzir os

efeitos a que se destina, sem que seja tolhido ou limitado por preliminares de

ilegitimidade passiva inadmissíveis num Estado Democrático de Direito, sem o

qual nenhuma sociedade será suficientemente livre, justa, solidária,

desenvolvida, séria e capaz.

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METODOLOGIA

Nesse trabalho procurei abordar a problemática do Mandado de Segurança.

Minha linha de estudo, seguiu os ditames necessários para uma total, e ampla

abordagem da sistemática necessária para o esclarecimento do tema.

Procurei pesquisar muitos livros do tema, como poderá ser visto ao final do

trabalho. Como também em matérias na internet e em algumas bibliotecas.

O maior incentivo ao escolher o tema foi a nossa sociedade atual. Nos dias de

hoje podemos perceber ao ler o jornal que muitos abusos de poder são

cometidos à revelia do cidadão. E que os ditames do ART. 5º DA C. F. de 1988

muitas vezes não são levados a sério e burlados conforme a posição social que

o indivíduo apresenta.

Com isso entra em ação o Mandado de Segurança que de acordo com o

ART.5°LXIX da C.F.de 1988 “Conceder-se-á mandado de segurança para

proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas

data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade

pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder

Público.

A pesquisa seguiu a metodologia científica necessária, encontrando apoio

principalmente nas bibliotecas: Cândidos Mendes, PUC, Estácio de Sá.

Em primeiro lugar foi pesquisado e escolhido o material que seria usado, para

em seguida após a leitura de artigos relacionados serem dado o início à

realização do trabalho monográfico.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I - EVOLUÇÃO HISTÓRICA

CAPÍTULO II - O MANDADO DE SEGURANÇA

CAPÍTULO III - MEDIDA LIMINAR E SENTENÇA

CONCLUSÃO

ANEXOS

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ÍNDICE

FOLHA DE AVALIAÇÃO

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INTRODUÇÃO

Como sabemos o Mandado de Segurança é o meio constitucional posto à

disposição de toda pessoa física ou jurídica, para a proteção de direito

individual ou coletivo, líquido e certo, não amparado por hábeas data ou

hábeas corpus, lesado ou ameaçado de lesão, por autoridade.

O Mandado de Segurança é conferido aos indivíduos para que eles se

defendam de atos ilegais ou praticados com abuso de poder. Este Mandado

ataca ato de autoridade que usa de força jurídica especial para revestir seus

desígnos.

É uma garantia constitucional de um direito líquido e certo, que se expressa

mediante uma ação cível e súmaria.

O Mandado de Segurança é uma criação genuína do direito brasileiro, e sua

finalidade é alcançar uma série de situações não abrangidas pelo hábeas

corpus. Devemos, no entanto, distinguir autoridade pública do simples agente

público. O primeiro possui hierarquia, ou seja, poder de decisão competente

para praticar atos administrativos decisórios; os quais se forem ilegais ou

abusivos, são suscetíveis de impugnação de mandado de segurança. O

segundo pratica atos executórios e devido a isso não responde a mandado de

segurança. O Mandado cabe apenas contra aquele detém o poder decisório

A expressão Mandado de Segurança pode ser entendida num sentindo amplo

e num sentido restrito. No primeiro caso, se digna uma ação de conhecimento

revestida de características próprias e no segundo caso, sesigna uma liminar

emitida por autoridade competente, a fim de tutelar um direito líquido e certo.

Podem impetrar o mandado as pessoas físicas e jurídicas, já que ele alcança e

é protetor das garantias individuais. E essa garantia abrange tanto os direitos

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individuais com os plúrios, pois a Constituição Federal de 1988 dá garantia

coletiva dos direitos dos associados de pessoas jurídicas.

De acordo com o ART. 5º LXX da C. F. de 1988 o Mandado de Segurança

coletivo pode ser impetrado por:

a) partido político com representação nacional;

b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente

constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos

interesses de seus membros e associados.

O Mandado de Segurança poderá ser repressivo de uma ilegalidade já

cometida, ou preventivo quando o impetrante demonstar justo receio de sofrer

uma violação de direito líquido e certo por parte da autoridade impetrada. Não

podemos esquecer que para isso sempre haverá a necessidade de comprovar

o ato ou a omissão concreta que esteja colocando o direito em risco.

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CAPÍTULO I

EVOLUÇÃO HISTÓRICA

1.1 – Antecedentes Históricos no Direito Comparado

Um estudo, ainda que breve, a respeito das raízes históricas do mandado de

segurança é de toda importância. A uma, para aperfeiçoarmos a compreensão

do instituto, fundamental para o entendimento do presente trabalho; a duas,

para reforçarmos a sua vocação essencialmente constitucional de proteção aos

direitos do homem contra as arbitrariedades e abusos do Poder Público,

objetivo comum aos remédios criados pelo Direito Comparado, dos quais

inspirou-se o legislador brasileiro.

Podemos afirmar que à institucionalização do Estado Moderno, no plano

político, com o conseqüente fortalecimento dos direitos individuais, sociais e,

mais hodiernamente, dos direitos difusos, corresponde, no plano jurídico-

dogmático, o surgimento do Direito Público, em atenção à efetiva proteção

destes direitos. Este fato decorreu da lógica preocupação jurídica em se

limitarem os poderes estatais visando a maior proteção dos direitos do homem.

É exatamente neste sentido que se entende o surgimento do mandado de

segurança. Esta garantia constitucional está ligada filosoficamente à idéia de

liberdade contra o Estado, contra o Poder Público.

No plano político-ideológico, devemos sempre apontar a Revolução Francesa –

iniciada em 1789 e estendendo-se até 1799 – como sendo de inegável

importância para significar marco inicial decisivo em favor das liberdades

públicas em detrimento do arbítrio reinante no Antigo Regime da época. Nas

precisas palavras do jurista ALOYSIO TAVARES PICANÇO:

“A Revolução Francesa, esta sim inequivocamente revolucionária, deu início às

conquistas sociais, proclamando a Declaração dos Direitos do Homem, em

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quatro de agosto de 1789. Posteriormente, vários movimentos da maior

grandeza procuraram dimensionar os direitos da pessoa humana”. 1[1]

Inegavelmente, atribuiu o chamado Código de Napoleão, fruto de toda luta e

dos confrontos ideológicos vividos na França durante sua famosa Revolução

do século XVIII, “novas dimensões ao Direito e, com isso, consolidou as

conquistas obtidas pelo povo francês contra o L’État C’est Moi, de Luiz XIV e

seus sucessores”. 2[2] Todos os demais movimentos neste sentido – e, dentre

eles, não podemos olvidar da Revolução Americana de 1776 – tinham como

escopo comum o abandono da figura irresponsável do soberano, titular do

poder no Estado Absoluto, que detinha em suas mãos as três funções estatais:

as atividades legislativa, executiva e judicial.3[3]

A despeito destas realidades históricas, o Direito europeu, porém, não conferiu

aos cidadãos, desde logo, um remédio eficaz contra os abusos estatais.

Contrariamente, foram os Estados Unidos que trataram de traduzir os

postulados ideológicos de liberdades públicas em meios práticos e eficazes

para tutelar os direitos do homem contra os desmandos do Poder Público.

Diferentemente dos europeus, que se caracterizaram por uma evolução mais

teórica e menos pragmática, os norte-americanos, desde logo, trataram de criar

instrumental próprio para que as aspirações político-filosóficas de liberdades

individuais fossem eficazmente observadas.4[4]

Do pragmatismo norte-americano surgiram os chamados writs, que possuem,

contudo, origem inglesa. Se prestarem à proteção de direitos lesados para cuja 1[1] Arbítrio e liberdade. 2a ed. Rio de Janeiro : Peneluc, 1999, p. 99. 1[2] Aloysio Tavares Picanço. Op. cit., p. 14. 4[3] Michel Temer. Elementos de direito constitucional. 14a ed. São Paulo : Malheiros, 1998, p. 177. 4[4]Teresa Arruda Alvim Pinto. Mandado de segurança contra ato judicial. São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 1989, p. 33

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reparação não haja, na lei, outros meios mais adequados. É de se observar

que desempenham papel ainda mais amplo que o mandado de segurança, pois

não se opõem tão-somente a atos do Poder Público, mas também a violação

de direitos por particulares.5[5]

MELCHIADES PICANÇO nos dá idéia da correlação do mandado de

segurança com os writs nos Estados Unidos e com o mandamus na Inglaterra,

raízes históricas do instituto criado pelo Direito pátrio, afirmando que

“O mandado de segurança do direito brasileiro se aproxima

mais do mandamus inglês, instituído para proteger os

funcionários demitidos ou removidos ilegalmente. O mandamus

visa atos administrativos. O mandado de segurança também,

criado pela Constituição brasileira, se dirige contra atos de

autoridades. O writ, ao contrário disso, é medida geral de

proteção contra atos públicos e particulares. O mandado de

segurança poderá equivaler a certo e determinado writ, mas não

a qualquer deles. O writ of mandamus não se confunde com o

quo warranto, nem com o writ os certioari.” 6[6]

A experiência mexicana, no que diz respeito à tutela de direitos incontestes do

homem, também muito nos serviu para a construção do mandado de

segurança. Nos dá notícia CASTRO NUNES que parte da doutrina nacional já

postulava, à época, a criação em nosso ordenamento de ação similar ao juicio

de amparo do Direito mexicano. No Congresso Jurídico de 1922, Seção de

Direito Judiciário, presidida pelo Ministro MUNIZ BARRETO com tese por ele

próprio relatada, teve oportunidade de dizer, naquela ocasião, que

necessitávamos “é de um instituto semelhante ao recurso de amparo, criado no

5[5] Melchiades Picanço. Mandado de segurança. Rio de Janeiro : Jacintho, 1937, p. 19. 5[6] Op.cit., p. 19-20.

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México, com rito, porém, mais sumário, e que compreenda tanto a agressão ao

direito, partida da autoridade pública, como a proveniente de ato privado.” 7[7]

Ante estas evidências históricas, MELCHIADES PICANÇO, reconhecendo a

inegável identidade do mandado de segurança com os instrumentais criados

pelos diversos ordenamentos no Direito Comparado para tutelar liberdades

públicas, põe termo ao tratamento das raízes do remédio constitucional,

arrematando ser o mandado “um instituto que se assemelha ao mandamus dos

ingleses, ao writ dos Estados Unidos e ao juízo de amparo do México”.8[8]

No Direito Português, que, para PONTES DE MIRANDA, é o direito brasileiro

antigo9[9], encontramos, ainda, a chamada apelação extrajudicial, que podemos

também considerar como fonte histórica do mandado de segurança, tendo em

vista a similaridade de seu conteúdo. Na apelação extrajudicial, porém, o objeto

de exame era feito somente em sede recursal.

Assim é que, nas Ordenações Afonsinas, Livro III, título LXXX – na esteira do

Direito Romano, que admitia apelação contra a nomeação injusta ad numera

publica, e do Direito Canônico – cogitaram os portugueses de apelação

extrajudicial, prescrevendo que: “(...) delas podem licitamente apelar para seus

sobre-Juízes todos aqueles que se sentirem agravados dos autos por eles

feitos, salvo se os autos forem tais, que por privilégio d’El-Rei em eles façam

determinação final (...)”. As Ordenações Manuelinas e Filipinas contêm

disposições que retornam ao assunto, com o mesmo conteúdo.10[10]

7[7] José de Castro Nunes. Do mandado de segurança. 8a. ed. Rio de Janeiro : Forense, 1980 (edição atualizada por José de Aguiar Dias), p. 2-3. 7[8] Op.cit., p. 21. 10[9]Cândido de Oliveira Neto. Mandado de segurança. In: SANTOS, J. M. de Carvalho. Repertório enciclopédico do direito brasileiro. Rio de Janeiro : Borsoi, v. 32, 1956, p. 255. 10[10]Ibid. loc. cit.

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1.2- As origens do instituto no Direito brasileiro

Além das fontes históricas no Direito Comparado, de que se valeram os

estudiosos da época para construir a teoria que daria vida ao mandado de

segurança, de muita importância foi o esforço feito pela doutrina para fazer

vingar no ordenamento jurídico brasileiro meio idôneo a ensejar a proteção

jurisdicional dos direitos vinculados às liberdades contra o arbítrio do Estado.

Não enseja dúvidas o fato de que os institutos similares adotados,

principalmente, na Inglaterra, nos Estados Unidos e no México, foram de

substancial valia para o surgimento do mandado de segurança no Brasil. De

fato, é forçoso reconhecer-se que muitas vezes, ao se tratar dos antecedentes

históricos de qualquer instituto jurídico no Brasil, o que se faz, na verdade, é a

descrição do processo de internalização de princípios criados e aperfeiçoados

em outros ordenamentos jurígenos. Não fica aqui uma crítica, mas uma

constatação histórica. Pois, como explica ARRUDA ALVIM, “os conceitos

jurídicos, na realidade, se constituem na cristalização verbal, e, pois,

transmissível de uma experiência histórica que em si mesma alberga

determinados valores”.11 [11]

O mesmo se sucedeu com o mandado de segurança, “tendo nascido num

contexto político-filosófico-social e jurídico que o Brasil simplesmente não

experimentou da mesma forma que outros povos” 12 [12]. O que o nosso

ordenamento tratou de fazer, e – digamos logo – com inteira razão, foi absorver

e incorporar os princípios e postulados jurídicos construídos pelas experiências

históricas de outros povos, as quais não nos foram possível vivenciar.

Não obstante o reconhecimento destas realidades históricas, mesmo tendo os

nossos estudiosos se servido de legados jurídicos de outros povos para a sua

construção – o que inevitável e inegavelmente ocorreu –, o mandado de

11[11] Do mandado de segurança. In Direito Administrativo. São Paulo : Ed. Res. Universitária, 1979, p. 17.

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segurança constitui-se verdadeiramente em criação jurídica brasileira, e que

“não encontra instrumento absolutamente similar no direito estrangeiro”.13 [13] É

que o Direito, “fato social em crise permanente” 14 [14], é ciência que se

transforma e se aperfeiçoa, como sentencia MELCHIADES PICANÇO, tratando

exatamente do mandado de segurança:

“O Direito será sempre a ciência das inovações, e irá até aonde

for à inteligência criadora. As bases do Direito são eternas, mas

a sua evolução acompanha o desenvolvimento intelectual de

toda a humanidade. A inteligência, quanto mais viva, quanto

mais penetrante, uma vez que se harmonize com os

sentimentos de justiça, mais capaz de espiritualizar o Direito,

elevando-o a alturas imprevistas. E, com essa elevação,

complica-se, não raro, na prática, a finalidade de certos

institutos jurídicos. Uma inteligência explica o Direito, parecendo

ter tocado a extremidade máxima dessa ciência; outra

inteligência, porém, mais aguda, explana, igualmente, o assunto

e logo se tem a impressão de que se alargaram

consideravelmente os horizontes jurídicos. O limite da

inteligência é a confinação do Direito: vai até ao máximo das

concepções de justiça” 15 [15].

Desta forma, ainda que inspirado pelos remédios encontrados no Direito

Comparado, foi o esforço da doutrina e do legislador nacional, atendendo às

necessidades práticas da realidade brasileira, que conferiu ao mandado de

segurança as feições jurídicas que hoje este instituto possui. No exame que se

seguirá, portanto, trataremos de analisar as etapas correspondentes

13[12] Teresa Arruda Alvim Pinto. Op. cit., p. 34. 13[13]Alexandre de Moraes. Direito constitucional. 11a. ed. São Paulo : Atlas, 2002, p. 163. Neste mesmo sentido, observa Michel Temer. Op. cit., p. 179: “o mandado de segurança foi introduzido no direito brasileiro na Constituição de 1934 e não há similar no direito estrangeiro”. 13[14]Yves de Oliveira. O pioneirismo de Melchiades Picanço nos pródromos do mandado de segurança. Rio de Janeiro : La Cava, 1984, p.7. 15[15] Op. cit., p. 23.

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construção jurídico-dogmática que antecedeu a criação definitiva writ pelo

legislador constitucional de 1934.

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1.3 - Surgimento e evolução do mandado de segurança no

ordenamento jurídico pátrio

Havendo malogrado as tentativas de amparar o indivíduo contra as

arbitrariedades provenientes do Estado, voltam-se os juristas da época para a

criação de uma medida judicial definitiva e eficaz, de rito sumário. Muitos

projetos surgiram neste sentido. Historicamente, o primeiro que se tem notícia,

e que faz referência – ainda que por associação – ao mandado de segurança

como ação especial, é devido a ALBERTO TORRES. Ainda em 1914, em seu

livro A Organização Nacional, no seu projeto de reforma constitucional,

ALBERTO o incluía com o nome de mandado de garantia entre as garantias

constitucionais, com as seguintes características:

“é criado o mandado de garantia, destinado a fazer

consagrar, respeitar, manter ou restaurar preventivamente,

os direitos individuais ou coletivos, públicos ou privados,

lesados por ato do poder público, ou de particulares, para

os quais não haja outro recurso especial”.16

Muitas outras foram às contribuições dos juristas da época, não nos cabendo,

no entanto, fazer no presente estudo um exame minucioso a respeito do

assunto. Todavia, fica o registro das importantes teses que defenderam

EDMUNDO MUNIZ BARRETO, em Congresso Jurídico de 1922, já citado; os

parlamentares GUDESTEU PIRES, MATOS PEIXOTO, ODILON BRAGA,

BERNARDES SOBRINHO, CLODOMIR CARDOSO e SÉRGIO LORETO,

todos com Projetos apresentados à Comissão de Constituição e Justiça da

Câmara dos Deputados, em épocas distintas.17

16 Cândido de Oliveira Neto. Op. cit., p. 261. 17] Rogério Lauria Tucci. Op. cit., p. 16-20. 17 Ibid., p. 19.

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Após a Revolução de 1930, os trabalhos legislativos retornaram em 1934,

quando voltou o assunto a ser debatido. A Comissão responsável pela

elaboração do Anteprojeto Constitucional foi presidida pelo Min. AFRÂNIO DE

MELO FRANCO. O relator da parte atinente ao mandado de segurança foi o

Sr. JOÃO MANGABEIRA, que procurou tratar da questão nos seguintes

termos:

“toda pessoa que tiver um direito incontestável ameaçado ou violado por ato

manifestamente ilegal do Poder Executivo, poderá requerer ao Poder Judiciário

que a ampare com um mandado de segurança. O Juiz, recebendo o pedido,

resolverá, dentro de 72 horas, depois de ouvida a autoridade coatora. E se

considerar o pedido legal, expedirá o mandado ou proibindo esta de praticar o

ato ou ordenando-lhe de restabelecer integralmente a situação anterior, até que

a respeito resolva definitivamente o Poder Judiciário”. 18

Esta redação originária sofreu a emenda parcial que lhe opôs TEMÍSTOCLES

BRANDÃO CAVALCANTI, que era, segundo reconheceu o próprio relator, mais

sintética. Porém, restou prevalecendo o chamado Projeto MANGABEIRA, e

que constituiu o art. 102, par. 21, do Anteprojeto enviado à Assembléia

Nacional, tendo esta derradeiramente aprovado o texto, constante da

Constituição de 16 de julho de 1934, em seu art. 113, nº. 33:

“dar-se-á mandado de segurança para a defesa de direito certo e incontestável,

ameaçado ou violado por ato manifestamente inconstitucional ou ilegal de

qualquer autoridade. O processo será o mesmo do habeas corpus, devendo

ser sempre ouvida a pessoa de direito público interessada. O mandado não

prejudica as ações petitórias competentes”.

Após o festejado surgimento do mandado de segurança em 1934, editou-se a

Lei nº. 191, de 15-01-36, para especificar o seu cabimento, a despeito do texto

constitucional haver afirmado que o rito do instituto seria o mesmo do habeas

corpus. A Carta Constitucional de 1937 não tratou em seu bojo do mandado de

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segurança, retirando do remédio à qualidade de garantia constitucional.

Cogitou-se, por esta razão, até mesmo da extinção do remédio do

ordenamento

pátrio. O Decreto-Lei nº. 06, de 16-11-1937, evitou dúvidas a respeito. Este

diploma normativo, todavia, restringiu a utilização do mandado quanto à

legitimação passiva, como podemos observar da redação do seu art. 16, que

prescrevia:

“Continua em vigor o remédio do mandado de segurança, nos termos da Lei n.

191, de 16 de janeiro de 1936, exceto, a partir de 10 de novembro de 1937,

quanto aos atos do Presidente da República e dos ministros de Estado,

Governadores e Interventores”.

Nova restrição ao instituto lhe impôs o Decreto-Lei nº. 96, de 22 de dezembro

de 1937, determinando o seu art. 21 não caber mandado de segurança contra

atos da Administração do Distrito Federal, hipótese em que seriam admissíveis

somente os demais recursos judiciais previstos contra atos da Administração

Federal, excluindo o remédio inclusive para impugnar atos de Prefeito, a partir

da data da Constituição de 1937.

Dada à ausência de sua previsão constitucional e atendendo às restrições

mencionadas pelos referidos diplomas normativos, o Código de Processo Civil

de 1939 tratou de atribuir ao mandado de segurança nova disciplina, em seus

arts. 319 a 331, relacionando-o entre os processos especiais.

Com o retorno do regime democrático, a Constituição de 1946 restabeleceu o

mandado de segurança como garantia constitucional, ampliando o seu alcance

e colocando por terra as restrições que lhe impunham o tratamento

infraconstitucional do regime anterior. Assim é que, em seu art. 141, par. 24, a

Carta de 1946 determinou que “para proteger direito líquido e certo, não

amparado por habeas-corpus, conceder-se-á mandado de segurança, seja qual

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for à autoridade responsável pela ilegalidade ou abuso de poder”. Inspirada

pela Constituição democrática de 1946, a vigente Lei 1.533, de 31 de

dezembro de 1951, veio a regular o mandado de segurança, sofrendo, no

entanto, algumas alterações, principalmente por força da Lei 4.166, de 04-12-

62, da Lei 4.348, de 26-06-64 e da Lei 5.021, de 09-06-66, dentre outras.19

A Carta Magna de 1967 previu em seu art. 150, par. 21, o mandado de

segurança “para proteger direito individual líquido e certo não amparado por

habeas corpus, seja qual for a autoridade responsável pela ilegalidade ou

abuso de poder”. A Emenda Constitucional nº. 01, de 1969, no par. 21 de seu

art. 153 repetiu exatamente o texto da Constituição de 1967.

O vigente Código de Processo Civil, de 1973, não disciplinou o remédio

constitucional, ao contrário do que fizera o Código de 1939. Por sua vez, a Lei

1.533/51, diploma legal do writ, continua em vigor. A garantia é prevista na

atual Constituição da República, de 05 de outubro de 1988, “para proteger

líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o

responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou

agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público” (art. 5º,

LXIX, CR/88).

A vigente Lei Fundamental inova ao prever não só o mandado de segurança

individual, como também o coletivo, conforme preceitua o seu art. 5º, inciso

LXX. Seguirá esta espécie do remédio o mesmo procedimento do mandamus

de proteção a direito individual, tendo em vista que somente inovou a Carta de

1988 quanto à legitimidade ativa das entidades que podem impetrar o mandado

de segurança coletivo. Quanto à impetração, convém anotarmos, será esta

sempre em nome próprio da entidade.20

19 Sérgio Pinto Martins. Direito processual do trabalho. 17a ed. São Paulo: Atlas, 2002, p. 457. 20Hely Lopes Meirelles. Mandado de segurança, ação popular, ação civil pública, mandado de injunção, habeas data, ação direta de inconstitucionalidade, ação declaratória de constitucionalidade e argüição de descumprimento de preceito fundamental. 23ª ed. São Paulo: Malheiros, 2001 (edição atualizada por Arnoldo Wald e Gilmar Ferreira Mendes), p. 25.

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21

É importante que se conclua o presente capítulo, que objetivou traçar um breve

histórico do mandado de segurança, afirmando-se que tal remédio

constitucional constitui, hoje, ao lado do habeas corpus, a principal garantia

que se pode valer o indivíduo ante os desmandos do Poder Público. É, sem

dúvida, “uma das conquistas do direito brasileiro, nestes últimos anos”.21 No

dizer autorizado de ALFREDO BUZAID, “nele está expressa a mais solene

proteção do indivíduo em sua relação com o Estado e representa, em nossos

dias, a mais notável forma de tutela jurídica

dos direitos individuais que, por largo tempo, foi apenas uma auspiciosa

promessa”.22

21 Melchiades Picanço. Op. cit., p. 5. 22] Juicio de amparo e mandado de segurança. In Revista da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, v. 56, 1961, p. 227 apud Sérgio Pinto Martins. Op. cit., p. 458.

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22

CAPÍTULO II

O MANDADO DE SEGURANÇA

2.1 - Premissas necessárias: ‘direito líquido e certo’ e o pólo passivo no Mandado de Segurança

O mandado de segurança é, como sabemos, ação civil mandamental,

constituindo verdadeira garantia fundamental, conforme determina o art. 5o,

inciso LXIX, da Constituição da República23

Longa discussão travou a doutrina brasileira quanto à natureza jurídica do writ.

Hoje, entretanto, o esforço de parte substancial da comunidade jurídica levou à

sedimentação da ‘processualização’ do mandado de segurança e ao

conseqüente entendimento de que este é, antes de tudo, ação24[11].; Leonardo

Greco centra-se no aspecto substancial para sentenciar: “se o meio de

provocar a atuação da jurisdição é a ação, então o mandado de segurança é

ação 25”

Colocada a discussão dentro do instituto jurídico da ação, o exercício da

pretensão do particular através do mandado de segurança depende, caso a

caso, do preenchimento de determinadas condições.

Porém, é necessário ter-se em mente que as especificidades do rito do

mandado de segurança dão contornos especiais às condições da ação

apontadas pela teoria geral do processo, quando considerado o exercício

abstrato do direito de ação.

Parte significativa da doutrina defende que o mandado de segurança possui

uma condição específica da ação, qual sejam, a liquidez e certeza do direito do

25 Sobre o tema, ver Leonardo Greco in ‘Natureza Jurídica do Mandado de Segurança’, artigo publicado na revista Arquivos do Ministério da Justiça, n.º 129. 26Moacyr Amaral dos Santos, natureza Jurídica do Mandado de Segurança, in Arquivos do Ministério da Justiça, n.º 114, junho de 1970, páginas 29 e segs.

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impetrante. Nesse sentido, Celso Agrícola Barbi leciona que “enquanto, para as

ações em geral, a primeira condição para a sentença favorável é a existência

da vontade da lei cuja atuação se reclama, no mandado de segurança isto é

insuficiente; é preciso não apenas que haja o direito alegado, mas também que

ele seja líquido e certo. Se ele existir, mas sem essas características, ensejará

o exercício da ação por outros ritos, mas não pelo específico do mandado de

segurança”.26

Com isso, não se absorve, em medida alguma, para o mandado de segurança,

a teoria concretista do direito de ação segunda a qual este direito só assiste

àquele que possui o direito material a ser tutelado na demanda. Não se trata

disto. Compreender a liquidez e certeza como condição específica limita-se à

necessidade de demonstração de plano da veracidade dos fatos, não do

direito. É perfeitamente legítimo o exercício do mandado de segurança nos

casos em que os fatos, apesar de demonstrados de plano, não levam à

concessão da segurança por não assistir ao impetrado direito que lhe garanta a

concessão.

Nessa linha, o conceito de direito líquido e certo é eminentemente processual e

cinge-se à demonstração da veracidade dos fatos alegados pelo particular na

inicial. Hely Lopes Meirelles afirma que “em última análise direito líquido e certo

é direito comprovado de plano (...). Por se exigir situações e fatos comprovados

de plano é que não há dilação probatória no mandado de segurança”.27

José da Silva Pacheco28 e Celso Agrícola Barbi seguem a mesma orientação,

concluindo este que “como se vê, o conceito de direito líquido e certo é

tipicamente processual, pois atende ao modo de ser de um direito subjetivo no

processo: a circunstância de um determinado direito subjetivo realmente existir

não lhe dá a caracterização de liquidez e certeza; está só lhe é atribuído se os

fatos em que se fundar puderem ser provados de maneira incontestável, certa,

26 In ‘Do Mandado de Segurança’, 8a ed., Forense, Rio de Janeiro, 1998, p. 61.

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24

no processo” 29. Assim restaram afastadas as idéias mais antigas da doutrina30]

e da jurisprudência31 que entendiam a liquidez e certeza também como

transparência das questões de direito.

Do exposto tem-se que o mandado de segurança é ação, podendo se afirmar

que uma de suas condições são a liquidez e certeza do direito do impetrante,

que nada mais é do que a transparência e a demonstração inequívoca e

imediata dos fatos envolvidos na lide, seja porque tais fatos independem de

prova, sejam porque sua comprovação pode ser feita de plano nos autos,

através da apresentação de prova pré-constituída.

27In ‘Mandado de Segurança’, 19a ed., Malheiros, São Paulo, 1998, p. 35. 28In ‘O Mandado de Segurança e outras Ações Constitucionais Típicas’, Ed. RT, 3a ed., São Paulo, 1998, p. 222 e seguintes. 29] Ob. cit., p. 61. 30] Alfredo Buzaid, por exemplo, defende em sua obra que a dificuldade de interpretação das questões de direito envolvidas na lide seria suficiente para afastar a noção de direito líquido e certo, e, conseqüentemente, levar à denegação da segurança (in ‘Do Mandado de Segurança’, v. I, Ed. Saraiva, São Paulo, 1989, p. 88). 31] É clássico o julgamento no STF no qual o Min. Edmundo Lins entendeu não comprovada a liquidez e certeza do direito do impetrante em razão da dissidência ocorrida no julgamento da causa (Revista Forense, n.º 73, p. 536 – citado também por Celso Agrícola Barbi, ob. cit. p. 59).

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25

2.2 - Mandado de Segurança e Interesse Público

Nesse ponto, é necessário afirmar-se que tudo o que foi colocado

anteriormente com relação ao interesse público e à ocorrência da revelia

também se aplica ao mandado de segurança. Se o impetrado visa tutelar

direito público primário e o impetrante busca fazer valer interesse privado, a

questão esbarrará no problema da indisponibilidade previsto no art. 320, II do

Código de Processo Civil, não cabendo maiores discussões quanto à

incidência ou não dos efeitos da revelia.

Em contrapartida, como em qualquer outro procedimento, a Fazenda Pública

pode ser chamada a juízo, através de mandado de segurança, para defender

interesse público meramente secundário, o qual, como vimos, não se encontra

entre os direitos indisponíveis mencionados no art. 320, II, do Código de

Processo Civil. Nestes casos a análise dos efeitos da inércia do impetrado

passará por questionamentos mais abrangentes, que não poderão se restringir

à análise pura e simples da existência de interesse público na demanda.

De outro giro, no caso específico do mandado de segurança, é bastante

comum que a defesa de interesses públicos primários encontre-se presente na

pretensão do impetrante, o que leva a questão da inércia do impetrado

notadamente quanto à apresentação de documentos para a seara da

análise da disponibilidade do direito material tutelado por ambas as partes no

processo.

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26

2.3 – Cabimento do mandado de Segurança

O cabimento do mandado de segurança , será contra todo ato comissivo ou

omissivo de qualquer autoridade no âmbito dos Poderes de Estado e do

Ministério Público.

O âmbito de incidência do Mandado de Segurança é definido residualmente,

pois somente caberá seu ajuizamento quando o direito líquido e certo a ser

protegido não for amparado por habeas corpus ou hábeas data.

Os quatros requisitos identificadores do mandado de segurança:

• Ato comissivo ou omissivo de autoridade praticado pelo Poder Público

ou por particular decorrente de delegação do Poder Público;

• Ilegalidade ou abuso de poder;

• Lesão ou ameaça de lesão;

• Caráter subsidiário: proteção ao direito líquido e certo não amparado por

hábeas corpus ou hábeas data.

A Lei nº. 1.533/51 em seu art. 5º, exclui o cabimento do mandado de segurança

em três hipóteses:

• quando houver recurso administrativo com efeito suspensivo,

independentemente de caução;

• contra decisão judicial ou despacho judicial para o qual haja recurso

processual eficaz, ou possa ser corrigido prontamente por via de

correição;

• contra ato disciplinar , a menos que praticado por autoridade

incompetente ou com inobservância de formalidade essencial.

Essa Lei deve ser interpretada de acordo com a garantia constitucional para a

proteção do direito líquido e certo. Assim podemos entender que será cabível o

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27

mandado de segurança se as três exceções previstas não forem suficientes

para proteger o direito líquido e certo do impetrante.

De acordo com a súmula 429: A existência de recurso administrativo com efeito

suspensivo não impede o uso do mandado de segurança contra omissão da

autoridade.

Não cabe mandado de segurança contra decisão judicial com trânsito em

julgamento e contra lei ou ao normativo em tese, salvo se vincularem

autênticos atos administrativos, produzindo efeitos concretos.

De acordo com a súmula 268: não cabe mandado de segurança contra decisão

judicial com trânsito em julgado.

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28

2.3.1 – Súmulas sobre o Mandado de Segurança

STF - SÚMULA Nº. 101 - O mandado de segurança não substitui a ação

popular.

STF - SÚMULA Nº. 248 - É competente, originariamente, o Supremo Tribunal

Federal, para mandado de segurança contra ato do Tribunal de Contas da

União.

STF - SÚMULA Nº. 266 - Não cabe mandado de segurança contra lei em tese.

STF - SÚMULA Nº. 267 - Não cabe mandado de segurança contra ato judicial

passível de recurso ou correição.

STF - SÚMULA Nº. 268 - Não cabe mandado de segurança contra decisão

judicial com trânsito em julgado.

STF - SÚMULA Nº. 269 - O mandado de segurança não é substitutivo de ação

de cobrança.

STF - SÚMULA Nº. 270 - Não cabe mandado de segurança para impugnar

enquadramento da Lei 3.780, de 12 de julho de 1960, que envolva exame de

prova ou de situação funcional complexa.

STF - SÚMULA Nº. 271 - Concessão de mandado de segurança não produz

efeitos patrimoniais, em relação a período pretérito, os quais devem ser

reclamados administrativamente ou pela via judicial própria.

STF - SÚMULA Nº. 272 - Não se admite como ordinário recurso extraordinário

de decisão denegatória de mandado de segurança.

STF - SÚMULA Nº. 294 - São inadmissíveis embargos infringentes contra

decisão do Supremo Tribunal Federal em mandado de segurança.

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29

STF - SÚMULA Nº. 299 - O recurso ordinário e o extraordinário interposto no

mesmo processo de mandado de segurança, ou de “habeas-corpus”, serão

julgados conjuntamente pelo Tribunal Pleno.

STF - SÚMULA Nº. 304 - Decisão denegatória de mandado de segurança, não

fazendo coisa julgada contra o impetrante, não impede o uso da ação própria.

STF - SÚMULA Nº. 319 - O prazo do recurso ordinário para o Supremo

Tribunal Federal, em "habeas-corpus" ou mandado de segurança, é de cinco

dias.

STF - SÚMULA Nº. 330 - O Supremo Tribunal Federal não é competente para

conhecer de mandado de segurança contra atos dos tribunais de justiça dos

estados.

STF - SÚMULA Nº. 392 - O prazo para recorrer de acórdão concessivo de

segurança conta-se da publicação oficial de suas conclusões, e não da anterior

ciência à autoridade para cumprimento da decisão.

STF - SÚMULA Nº. 405 - Denegado o mandado de segurança pela sentença,

ou no julgamento do agravo, dela interposto, fica sem efeito a liminar

concedida, retroagindo os efeitos da decisão contrária.

STF - SÚMULA Nº. 429 - A existência de recurso administrativo com efeito

suspensivo não impede o uso do mandado de segurança contra omissão da

autoridade.

STF - SÚMULA Nº. 430 - Pedido de reconsideração na via administrativa não

interrompe o prazo para o mandado de segurança.

STF - SÚMULA Nº. 433 - É competente o Tribunal Regional do Trabalho para

julgar mandado de segurança contra ato de seu presidente em execução de

sentença trabalhista.

STF - SÚMULA Nº. 474 - Não há direito líquido e certo, amparado pelo

mandado de segurança, quando se escuda em lei cujos efeitos foram anulados

por outra, declarada constitucional pelo Supremo Tribunal Federal.

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30

STF - SÚMULA Nº. 506 - O agravo a que se refere o art. 4 da Lei 4.348, de

26.06.1964, cabe, somente, do despacho do Presidente do Supremo Tribunal

Federal que defere a suspensão da liminar, em mandado de segurança, não do

que a denega.

STF - SÚMULA Nº. 510 - Praticado o ato por autoridade, no exercício de

competência delegada, contra ela cabe o mandado de segurança ou a medida

judicial.

STF - SÚMULA Nº. 511 - Compete à justiça federal, em ambas as instâncias,

processar e julgar as causas entre autarquias federais e entidades públicas

locais, inclusive mandados de segurança, ressalvada a ação fiscal, nos termos

da Constituição Federal de 1967, art. 119, parágrafo 3.

STF - SÚMULA Nº. 512 - Não cabe condenação em honorários de advogado

na ação de mandado de segurança.

STF - SÚMULA Nº. 597 - Não cabem embargos infringentes de acórdão que,

em mandado de segurança decidiu, por maioria de votos, a apelação.

STF – SÚMULA Nº. 622 - Não cabe agravo regimental contra decisão do

relator que concede ou indefere liminar em mandado se segurança.

STF – SÚMULA Nº. 623 - Não gera por si só a competência originária do

supremo tribunal federal para conhecer do mandado de segurança com base

no ART. 102,I,N, da constituição, dirigir-se o pedido contra deliberação

administrativa do tribunal de origem, da qual haja participado a maioria ou a

totalidade de seus membros.

STF – SÚMULA Nº. 624 – Não compete ao supremo tribunal federal conhecer

originariamente de mandado de segurança contra atos de outros tribunais.

STF – SÚMULA Nº. 625 - Controvérsia sobre matéria de direito não impede

concessão de mandado de segurança.

STF – SÚMULA Nº. 626 – A suspensão da liminar em mandado de segurança,

salvo determinação em contrário da decisão que a deferir, vigorará até o

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31

trânsito em julgado da decisão definitiva de concessão da segurança ou,

havendo recurso, até a sua manutenção pelo supremo tribunal federal, desde

que o objeto da liminar deferida coincida, total ou parcialmente, com o da

impetração.

STF – SÚMULA Nº. 627 – No mandado se segurança contra a nomeação de

magistrado da competência do presidente da república, este é considerado

autoridade coatora, ainda que o fundamento da impetração seja nulidade

ocorrida em fase anterior do procedimento.

STF – SÚMULA Nº. 630 – A entidade de classe tem legitimação para o

mandado de segurança ainda quando a pretensão veiculada interesse apenas

a uma parte da respectiva categoria.

STF – SÚMULA Nº. 631 – Extingue-se o processo de mandado de segurança

se o impetrante não promove, no prazo assinado, a citação do litisconsorte

passivo necessário.

STF – SÚMULA Nº. 632 – É constitucional lei que fixa o prazo de decadência

para a impetração de mandado de segurança.

STJ - SÚMULA Nº. 41 - O Superior Tribunal de Justiça não tem competência

para processar e julgar, originariamente, mandado de segurança contra ato de

outros tribunais ou dos respectivos órgãos.

STJ - SÚMULA Nº. 105 - Na ação de mandado de segurança não se admite

condenação em honorários advocatícios.

STJ - SÚMULA Nº. 169 - São inadmissíveis embargos infringentes no

processo de mandado de segurança.

STJ - SÚMULA Nº. 177 - O Superior Tribunal de Justiça é incompetente para

processar e julgar, originariamente, mandado de segurança contra ato de órgão

colegiado presidido por ministro de Estado.

STJ - SÚMULA Nº. 202 - A impetração de segurança por terceiro contra ato

judicial, não se condiciona à interposição de recurso.

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32

STJ - SÚMULA Nº. 213 - O mandado de segurança constitui ação adequada

para a declaração do direito à compensação tributária.

STJ - SÚMULA Nº. 217 - Não cabe agravo de decisão que indefere o pedido

de suspensão da execução da liminar, ou da sentença em mandado de

segurança.

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33

2.4 – O Prazo para impetração do Mandado de Segurança

Como já é sabido o prazo para impetração de mandado de segurança é de

cento e vinte dias, a contar da data que o interessado tiver conhecimento oficial

do ato a ser impugnado. A natureza deste prazo não foi conceituada pela lei,

após discussões teóricas conclui-se em prazo decadencial O prazo é

decadencial do direito de impetração, e não se suspende e nem se interrompe

desde que é iniciado. O prazo conta-se a partir da publicação no Diário Oficial

ou pela notificação individual do ato a ser impugnado, que lesa ou ameaça

violar direito líquido e certo32.

O supremo Tribunal Federal já decidiu que não ofende a constituição a norma

que estipula o prazo para a impetração do mandado de segurança. Como

podemos observar no art.18 da Lei nº. 1.533/51 como vigente o texto da

constituição federal “O direito de requerer mandado de segurança extinguir-se-

á decorridos cento e vinte dias contados da ciência, pelo interessado, do ato

impugnado”.

Esse prazo do ato oficioso, entende-se como o momento em que se tornou

apto a produzir seus efeitos lesivos ao impetrante. Se o ato é irrecorrível ou

apenas passível de recurso sem efeito suspensivo, contar-se-á o prazo da

publicação ou da intimação pessoal do interessado; se admite recurso com

efeito suspensivo, contar-se-á do término do prazo para o recurso (se não for

interposto) ou da intimação do julgamento final do recurso (se interposto

regularmente) 33.

Por ser remédio constitucional contra ato abusivo de autoridade, fica quase

impossível e até mesmo perigoso fixar com prazo preclusivo, pois se nos

parece claro identificar o momento exato em que é praticado um ato comissivo

que se lesem nossos direitos , o mesmo não podemos dizer quanto à omissão

da autoridade.

32 BUZAID, Alfredo. O mamdado de segurança. São paulo : saraiva, 1989.v. 1. p. 160. 33 MEIRELLES, Hely Lopes, mandado de segurança. São Paulo : malheiros, 1999.p.50

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34

2.5 – Legitimação ativa e Legitimação passiva

Em tempos em que vivemos, surgem com eloqüente freqüência demandas

envolvendo, principalmente, questões de servidores públicos, aviltados na sua

dignidade, segurados e contribuintes da previdência social e os administrados

em geral, igualmente atingidos por uma política econômica e social em

detrimento da sobrevivência e segurança das relações jurídicas.

No limiar dessas legítimas demandas mandamentais é que a Administração

Pública tem criado, como via oblíqua de defesa, a cômoda barreira da argüição

de ilegitimidade passiva da autoridade apontada coatora.

Podemos observar que o Poder Judiciário, não obstante merecedor de críticas

outras, continua desempenhando bem o seu papel constitucional, qual seja, a

distribuição da Justiça e promoção do bem comum, repudiando

veementemente tais risíveis e infundadas argüições, conduzindo à conclusão

de que o enfraquecimento do manejo da ação de garantia só interessa àqueles

que, no Poder, tendem a ferir direitos e garantias dos cidadãos.

A relação processual inicial no Mandado de Segurança é formada pelo titular

do direito (impetrante), pela autoridade coatora (impetrado) e pelo Ministério

Público , que intervém quando necessário. Outros interessados também

poderão integrar esta relação, desde que tenham legitimidade, tanto para atuar

do lado do impetrante ou do impetrado; como litisconsorte ou assistente.

O titular do direito líquido e certo, ameaçado ou lesado por ato abusivo da

autoridade é quem tem legitimidade ativa. É de extrema importância ressaltar

que o Mandado de Segurança é concedido com o devido fim de proteger o

direito líquido e certo, em outras palavras o Mandado de Segurança não

protege essencialmente a pessoa, mas sim o titular de um direito líquido e

certo.

Portanto o Mandado de Segurança é o remédio constitucional capaz de

proteger os direitos de quaisquer titulares, sendo admitido a figurarem como

impetrantes, entidades públicas despersonalizadas.

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O impetrado é autoridade coatora, no entanto, é preciso ter atenção para que

esta seja corretamente identificada. A autoridade coatora é responsável pelo

ato lesivo e não necessariamente a executora.

Nem sempre é claro a identificação da autoridade coatora, por isso, às vezes,

os interessados indicam-se equivocadamente

Sobre a definição do que seja autoridade coatora apta a figurar no pólo passivo

da ação mandamental, dispõe o parágrafo 1º do art. 1º da Lei 1.533/51, que

"consideram-se autoridades, para os efeitos desta lei, os representantes ou

órgãos dos partidos políticos e os representantes ou administradores das

entidades autárquicas e das pessoas naturais ou jurídicas com funções

delegadas do poder público, somente no que entender com essas funções"

Esse artigo admite o litisconsórcio e a assistência . Existem três modalidades

de litisconsórcio passível:

• O necessário em que a ação só tem prosseguimento se todos os quais

pertecem a causa, participarem do feito;

• o irrecusável que o interesse da parte na causa é comum;

• recusável o que há é uma afinidade entre as causas, neste caso se as

partes concordarem, permite-se a reunião das ações evitando assim

decisões conflitadas.

Todavia, considerando a moderna processualística, tal conceito cede passo em

sua literalidade em razão da complexa estrutura administrativa que,

confundindo o cidadão, pode levá-lo a erro de indicação, sem que isso importe

necessariamente em óbice ao julgamento do writ of mandamus.

É certo ainda que autoridade coatora não seja apenas aquela que,

efetivamente, pode modificar o ato impugnado, mas também aquela que detém

os meios para tal, no entendimento uníssono da jurisprudência. A manifestação

que melhor traduz esse entendimento é a do Desembargador Federal Tourinho

Neto:

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36

"Autoridade coatora não é exatamente aquela que tem competência para

corrigir o ato, mas aquela que dispõe de uma forma eficaz de cumprir a

prestação jurisdicional reclamada pelo impetrante" (AMS 95.01.07451, DJ 2-

24/6/95, p. 40.090 - Juiz Federal Tourinho Neto, TRF 1ª Região)

Ainda que se possa alegar não ser, eventualmente, a autoridade impetrada a

legítima ou a ideal para a consecução do implemento da ordem, tem ela a

obrigação legal de, recebendo uma ordem judicial, adotar as providências

necessárias ao seu cumprimento, ou seja, enviar ofício ou comunicação ao

setor competente, informando da Decisão e requerendo o seu cumprimento.

É que, embora a autoridade apontada não disponha de competência para

diretamente corrigir o ato inquinado de ilegal, modificando-o, é de sua

competência e dever de ofício encaminhar ao setor competente e ao superior

hierárquico todas as ocorrências havidas no âmbito administrativo, v.g.

ausências desautorizadas ao serviço, licenças sem vencimentos deferidas,

férias, etc., requerendo a criação de rubrica com os dados da alteração a ser

processada, é de sua igual competência e dever comunicar também ao

superior o recebimento de ordem mandamental para imediato cumprimento.

Por derradeiro, bastante elucidativa é a orientação do Eg. TRF da Segunda

Região no julgamento da apelação em MS nº. 021132/RJ REG. 97.02.44263-0,

3ª Turma, TRF 2ª Região: "A legitimidade é matéria que deve ser apreciada

mesmo de ofício (267, VI e § 3º, do CPC). É legítima a autoridade que,

executora do ato impugnado, teria meios e competência para cumprir a ordem

determinada no writ."

quanto seu representante nas regiões que o executa. (AMS. 97.02.19671-0/RJ,

1ªT. Rel. Desª. Julieta Lídia Lunz, j.28.04.98, DOU 20.08.98)

Outra questão de relevo, mas que já restou pacificada no âmbito da Corte

Superior de Justiça, é quando a autoridade indicada no pólo passivo da

demanda mandamental, vem aos autos para argüir sua ilegitimidade e, ao

mesmo tempo, defender a legalidade do ato. Nesse momento, ao defender a

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legalidade do ato, torna-se legítima para por ele responder. É o que restou

assentado pela primeira seção no julgamento do MS 4.085/DF. Vejamos:

"Para figurar no pólo passivo da ação de segurança, autoridade coatora é

aquela que ordena, que determina ou pratica o ato, ou ainda a que defende a

prevalência deste (ato coator), assumindo, embora a posteriori, a posição de

coator” (STJ 1ª seção, MS 4.085/DF, rel. Min. Demócrito Reinaldo, j. 10.11.97)

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CAPÍTULO III

MEDIDA LIMINAR E SENTENÇA

3.1 - A Medida Cautelar

A medida liminar tem por objetivo fazer cessar o mais rápido possível, o ato ou

omissão que esteja ameaçando ou lesionando um direito inquestionável.

Art.7º,II da Lei nº. 1533/51 “Ao despachar a inicial, o juiz ordenará:

I - que se notifique o coator do conteúdo da petição, entregando-lhe a segunda

via apresentada pelo requerente, com as cópias dos documentos, a fim de que,

no prazo de dez (10) dias, preste as informações que acharem necessárias;

II - que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando for relevante o

fundamento e do ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso

seja deferida.

REQUISITO: A relevância do fundamento do pedido na inicial e o receio de

lesão irreparável ao direito do impetrante.

Se concedida a liminar está não quer dizer que o juiz estará obrigado a mantê-

la até o instante de proferir a sentença. Isso quer dizer, que não significa um

pré-julgamento, e por este motivo pode ser revogada.

A eficácia temporal da Medida Liminar pode ser observada, no ART. 1º, letra b

da Lei nº4348/64.

Nos processos de mandado de segurança serão observadas as seguintes

normas:

a) é de dez dias o prazo para a prestação de informações de autoridade

apontada como coatora. VETADO

.

b) a medida liminar somente terá eficácia pelo prazo de (90) noventa dias a

contar da data da respectiva concessão, prorrogável por (30) trinta dias quando

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39

provadamente o acúmulo de processos pendentes de julgamento justificar a

prorrogação.

A perspectiva da medida liminar após a denegação do mandamus é ponto

controvertido.

STF - SÚMULA Nº. 405 - Denegado o mandado de segurança pela sentença,

ou no julgamento do agravo, dela interposto, fica sem efeito a liminar

concedida, retroagindo os efeitos da decisão contrária.

“O pressuposto para que cesse a eficácia da liminar é a denegação da

segurança, não havendo mister averiguar se o juiz de primeiro grau o revogou

expressa e tacitamente” 34.

De acordo com os referentes artigos da Lei nº. 1553/51 art.13 e o da Lei

nº4348/64 art.4.:

Lei nº4348/64 .:

Art. 4º Quando, a requerimento de pessoa jurídica de direito público

interessada e para evitar grave lesão à ordem à saúde, à segurança e à

economia públicas, o Presidente do Tribunal, ao qual couber o conhecimento

do respectivo recurso (VETADO) suspender, em despacho fundamentado, a

execução da liminar, e da sentença, dessa decisão caberá agravo, em efeito

suspensivo, no prazo de cinco dias, contados da publicação do ato.

Súmula nº. 627 - STF - 24/09/2003

No mandado de segurança contra a nomeação de magistrado da competência

do Presidente da República, este é considerado autoridade coatora, ainda que

o fundamento da impetração seja nulidade ocorrida em fase anterior do

procedimento.

34 BUZAID, Alfredo. Do mandado de segurança. São Paulo : Saraiva, v. 1, 1989, pg221

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Lei nº. 1553/51

Art. 13 - Quando o mandado for concedido e o Presidente do Tribunal, ao qual

competir o conhecimento do recurso, ordenar ao juiz a suspensão da execução

da sentença, desse seu ato caberá agravo para o Tribunal a que presidia.

Admitem a suspensão da liminar em efeito da sentença concessiva. Ser pedido

deve ser feito pela pessoa jurídica de direito público ao presidente do tribunal

competente no caso.

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41

3.1.1 – Informações

A autoridade coatora não presta apenas informação sobre os fatos.

Uma vez que a inicial obrigatoriamente, vem aos autos com a prova completa

dos fatos e uma cópia desta é enviada ao coator para que possa examiná-la

evidentemente que as informações virão com a apreciação das provas

apresentadas pelo impetrante e desde logo com a sustentação da legalidade

de mérito.

As informações constituem a defesa da autoridade coatora , é com ela que se

faz presente no Mandado de Segurança. Deve constar não só a defesa do ato

impugnado, mas também a documentação necessária a demonstrar a

legitimidade do ato.

As informações por serem emanadas de agente da administração público

merecem credibilidade, vale dizer, tem a presunção relativa de veracidade.

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3.2 – A Sentença

O julgador terá que observar dois pólos fundamentais e dependentes, de um

lado a lide, propriamente dita, do outro as condições de admissibilidade do

julgamento da lide.

No julgamento do hábeas corpus nº.

60580 , a segunda turma do

Supremo Tribunal Federal, relator o

Sr. Ministro Aldir Passarinho,

apreciou o Mandado de Segurança

impetrado pelo assistente do

Ministério Público. Neste caso pelo

menos três condições da ação não

fora observada, pois o assistente do

Ministério Público não é parte

legítima a anulação veio

acompanhada coma verbis:

Hábeas Corpus – Mandado de

Segurança impetrado por assistente

do Ministério Público para cessar

acórdão concedido do Hábeas

Corpus.Não só possui legitimidade ,

o assistente do Ministério Público

para recorrer fora do caso previsto

no artº 584, § 1º e 558 do Código de

Processo Penal. Como se afigura

extravagante a impetração de

Mandado de Segurança, tal como

ocorreu – para cancelar ordem de

Hábeas Corpus. Tem em vista a

natureza do que nele foi pleiteado e

veio, por certo que inadvertidamente

a ser decidido no Tribunal de

Justiça

O mandado de segurança admite decisão repressiva e preventiva “É repressiva

quando visa a corrigir ilegalidade já consumada, é preventiva quando se

destina a impedir o comentário da ilegalidade iminente” 35

35 MEIRELLES, Hely Lopes. Mandado de segurança, ação popular, ação civil pública, mandado de injunção, habeas data, ação direta de inconstitucionalidade, ação declaratória de constitucionalidade e argüição de descumprimento de preceito fundamental. 23ª ed. São Paulo: Malheiros, 2001, pg 63

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A respeito da natureza jurídica podemos dizer: “em rigor, cabem a todas as

naturezas que a teoria agasalha, tudo na dependência do próprio conteúdo do

pedido. Com isso a sentença tanto pode ser declaratória , como constitutiva ou

condenatória” 36

Não se esquecendo que a força declaratória destina-se ao ato já praticado, ou

em vias de consumação, portanto não invocável como regra futura.

A execução da sentença que concedeu a segurança é imediata ,não pode a

execução ser substituída pela reparação pecuniária. Caso o impetrado não

aceite o mandado judicial, será caracterizado o crime de desobediência à

ordem legal. Bastando assim, a notificação do juiz que concedeu o Mandado

de Segurança para que seja cumprida a decisão, não sendo necessária caução

ou carta de sentença. Só a decisão denegatória de segurança, libera o

impetrado para praticar ou prosseguir com o ato impugnado.

36 FERRAZ, Sergio. Mandado de Segurança (individual e coletivo) – Aspectos Polêmicos , SP. Malheiros, 1992, pg.128.

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CONCLUSÃO

Historicamente, o mandado de segurança sempre representou, através dos

tempos, meio legítimo e eficaz de fazer valer, o cidadão, seus direitos e

garantias frente ao arbítrio do Estado. É forma de imposição de suas liberdades

individuais frente ao Estado.

Nesse trabalho procuramos demonstrar os fundamentos básicos do mandado

de segurança. Para que todos pudessem perceber a importância deste

instituto. De maneira clara e objetiva orientamos com exemplos de decisões

sábias dirimir possíveis dúvidas do Mandado de Segurança.

De acordo com José Carlos Barbosa Moreira (Revista de Direito da

Procuradoria Geral do Estado da Guanabara 23:59). “não há porque enxergar

no Mandado de Segurança uma extravagância legal, de impossível

enquadramento nos cânones tradicionais do Processo Civil. As suas

peculiaridades não as convertem numa aberração. Renunciam a explicação em

termos racionais, com a instrumental tutela jurídica, os que , sob o colar de

acentuar-lhe a singularidade se contentam em pespegar -lhe epítelos mais ou

menos pitorescos, como o de remédio heróico. Mas tal confesso da importância

de modo algum valoriza o instituto. Só faz reduzi-lo ao nível de curiosidade de

feira” 37

Assim concluímos que a ação de mandado de segurança é meio constitucional

posto à disposição do cidadão para a proteção de direito líquido e certo lesado

ou ameaçado de lesão por ato de autoridade.

37 Moreira, josé carlos barbosa. Comentário ao Código Processo Civil. Volume. V: art 476 a565, 6. ed. RJ. FORENSE, 1993

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ANEXOS

Anexo I REVISTA DE DIREITO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE RIO DE

JANEIRO

MATÉRIA CÍVIL

Nº 3 - 1988

INTERVENÇÃO NO PODER

EXECUTIVO MUNICIPAL

EMENTA OFICIAL: Mandado de

segurança. Decreto gerado pelo

Exmo. Senhor Governador do

Estado, Intervindo no Poder

Ejecutivo Municipal de São João de

Meriti, afastando do cargo o Prefeito

por prática de ato de corrupção,

irrefragavelmente comprovado e

lavrado dentro dos parámetros

legais. Orden denegada.

Vistos, relatados e discutidos estes

autos de Mandado de Segurança nº

3.757, em que é requerente: Mantel

Valência Hopazo, sendo informante:

Exmo. Señor Governador do Estado

do Rio de Janeiro.

ACÓRDÃO

Acordam os Desembargadores do

Órgão Especial do Tribunal de

Justiça do Estado do Rio de

Janeiro, à unanimidade, em

denegar a segurança.

O decreto atacado pelo Impetrante,

embora esteja ínvio nos atos

discricionários do Governador,

compete ao Judiciário aterir e

decidir a legalidade dele, Assim

como perquirir, se a Sua execução

lesionou directo individual. Com

efeito, o decreto foi gerado por

autoridade competentes, que

obsevou as formalidades exigidas

nos arts. 9º, inc V , 10 E 11, DA

Constituição Estadual. O impetrante

praticou atos de corupção, no que

foi detectado pelo egrégio Tribunal

de Contas, sendo condenado, em

sede criminal, por crime de

peculato. FACE ao exposto,

denega-se o mandamus RIO,

21/05/1986 – Paulo Dourado de

Gusmão, Presidente –Décio

Itabaiana, relator do feito.

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Anexo II

Internet

www.factum.com.br/artigos/049.htm

MANDADO DE SEGURANÇA: CINQÜENTA ANOS DE UMA LEI ATUAL

Jorge Moisés Júnior

Advogado, Pós-graduado em Direito de Empresa pela Universidade Gama Filho, Coordenador Jurídico de Direito Civil de JOSÉ DE CASTRO FERREIRA, DÉCIO FREIRE & ASSOCIADOS ADVOCACIA S/C

Recepcionada integralmente pela atual Constituição Federal, a Lei do Mandado

de Segurança (nº. 1533, de 12 dezembro de 1951), que fará cinqüenta anos

em 12 de dezembro próximo, nunca esteve tão atual.

O cidadão brasileiro, muito mais consciente de seus direitos, tem visto nesse

instrumento, o meio mais rápido e eficaz de fazer valer o seu direito líquido e

certo, lesado ou ameaçado de lesão, por ato ilegal ou abusivo.

Daí a conclusão de que é atualíssima a velha Lei do Mandado de Segurança

que não sucumbiu aos diferentes Textos Constitucionais que se sucederam

nestes anos.

Mesmo às vésperas de seu cinqüentenário, permanecem ainda algumas

controvérsias, como, por exemplo, no que diz respeito ao cabimento de

recursos das decisões que, em mandado de segurança, concedem ou negam

eventual liminar pretendida. A jurisprudência ainda oscila com relação ao

recurso cabível de tais decisões. Exemplificando com relação às decisões

concessivas de liminar, parte entende que cabe pedido de suspensão de seus

efeitos ao Presidente do Tribunal competente para o julgamento, outra corrente

entende ser cabível agravo de instrumento e há até quem sustente o cabimento

de outra impetração .

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A primeira corrente defende que o mandado de segurança tem sistema

recursal próprio, que não prevê agravo de instrumento contra decisão que

denega ou concede liminar.

É uma controvérsia que persiste e ainda não encontrou pacificação.

Outro ponto, embora pacificado pela jurisprudência, concernente à vedação do

uso do mandado de segurança para cobrança de parcelas vencidas

anteriormente à impetração, está a merecer reflexão dentro do moderno

processo que se prega no início do terceiro milênio.

Segundo a jurisprudência (assentada no texto da Lei nº. 5.021/66), ainda que

concedida à segurança, não se pode, na via do mandamus, determinar-se o

pagamento de parcelas vencidas anteriormente à impetração, decorrentes do

mesmo ato impugnado.

A citada Lei se restringe a dispor sobre o pagamento de vencimentos e

vantagens pecuniárias asseguradas, em sentença concessiva de mandado de

segurança, a servidor público civil, permitindo, em seu art. 1º, o pagamento

apenas das prestações que se vencerem a contar da data do ajuizamento da

inicial.

Entretanto, os juizes, em sua maioria, têm aplicado tal texto em relação a

prestações relativas a pensões e aposentadorias, fora, portanto, da hipótese

legal que diz respeito apenas a vencimentos e vantagens pecuniárias de

servidor público civil.

Não é difícil a percepção de que a Lei nº. 5.021, de 09.06.1966, como não

raramente ocorre no Brasil, limita o alcance do Texto Constitucional. Pode-se

afirmar que nossa Lei Maior não recepcionou a restrição ao estabelecer, de

forma ampla, que "conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito

líquido e certo, não amparado por "habeas corpus" ou "habeas data", quando o

responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou

agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público" (art. 5º,

inciso LXIX).

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Veja-se que a Constituição Federal não impõe a limitação da Lei nº. 5.021/66.

E lei nenhuma pode restringir o alcance do Texto Constitucional. Isso seria

permitir uma completa e inadmissível inversão do princípio da hierarquia das

leis, em que a Lei Maior se submete ao texto de lei ordinária.

Assim, a meu sentir, diante da atual Carta, a citada lei não tem razão de ser,

eis que, visivelmente, não foi recepcionada pela nova estrutura jurídica em

vigor desde 05.10.1988.

Tenho sustentado que o Poder Judiciário, ao conceder o mandado de

segurança, reconhece expressamente à lesão a direito líquido e certo do

impetrante, por ato manifestamente ilegal ou abusivo da autoridade impetrada.

Ora, se esse ato explicitamente ilegal, assim declarado pela sentença

concessiva da segurança, gerou efeitos pecuniários em prejuízo do impetrante,

nada mais lógico do que a correção da distorção no próprio mandado de

segurança, dispensando-se o prejudicado de ter que mover demorada ação

para rever as parcelas que se venceram anteriormente à impetração.

Se a apuração dessas parcelas depende de simples operação aritmética,

entendo que, na própria sentença concessiva da segurança, deva o Juiz

determinar o pagamento das mesmas (sem exceção) atingidas pelo ato ilegal,

ainda que pela via do precatório, em relação às parcelas vencidas antes da

impetração, pagando-se imediatamente as prestações que se vencerem no

curso da ação mandamental.

É de se ver que, nem a Lei Maior, nem a Lei do Mandado de Segurança,

vedam que se possa determinar o pagamento de parcelas vencidas. Como já

dito, trata-se de criação jurisprudencial (à luz da Lei 5.021/66) que, se num

determinado momento teve razão de ser, merece cuidadosa reflexão e

modernização frente ao processo rápido e de resultados que se prega no

terceiro milênio.

Declarado ilegal o ato, não devem apenas cessar os seus efeitos, mas há que

se repararem, em toda a amplitude, aqueles nefastos efeitos. À luz do processo

moderno, não faz sentido o uso de duas ações, quais sejam, uma,

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mandamental, para fazer cessar os efeitos do ato impugnado, e outra, de

cobrança, para que se obtenha a reparação dos danos pecuniários causados

pelo mesmo ato. Creio não mais haver obstáculo legal a que os dois objetivos

sejam alcançados com o uso do mandado de segurança. Se o ato é ilegal e

fere direito líquido e certo, a cessação de seus efeitos, bem como a reparação

dos danos por ele causados, deve encontrar amparo na ação mandamental,

dispensando-se o impetrante do ajuizamento de nova demorada ação apenas

para obter aquela reparação.

A meu sentir, pacificadas as divergências jurisprudenciais acerca de seu

sistema recursal e revista a vedação de sua utilização como instrumento hábil a

se obter o pagamento de parcelas vencidas, o mandado de segurança, em que

pesem os quase cinqüenta anos de sua instituição, se tornará a via perfeita

(rápida e eficaz) de acesso do cidadão ao Poder Judiciário, contra atos ilegais

e abusivos praticados ao arrepio de seu direito líquido e certo.

Não sustento aqui que a sentença concessiva do writ determine o imediato

pagamento de todas as prestações devidas ao impetrante. Defendo, sim, que

as parcelas vencidas no curso da ação sejam pagas imediatamente (e assim já

o é), ao passo que as vencidas antes da impetração sejam pagas pela via do

precatório. O que não faz sentido é cidadão, cujo direito líquido e certo à

prestação já foi declarado na sentença concessiva da segurança, ter que

buscar, em outra via (ação de cobrança), de demoradíssima tramitação, o que

lhe é devido.

Pacificadas as divergências jurisprudenciais acerca de seu sistema recursal e

revista a vedação de sua utilização como instrumento hábil a se obter o

pagamento de parcelas vencidas, o mandado de segurança, em que pesem os

quase cinqüenta anos de sua Lei, se tornará a via perfeita (rápida e eficaz) de

acesso do cidadão ao Poder Judiciário, contra atos ilegais e abusivos

praticados ao arrepio de seu direito líquido e certo.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ALVIM NETTO, José Manoel de Arruda. Do mandado de segurança. In Direito

Administrativo. São Paulo : Ed. Res. Universitária, 1979.

BUZAID, Alfredo. Do mandado de segurança. São Paulo : Saraiva, v. 1, 1989.

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 9a ed.

Rio de Janeiro : Lumen Juris, 2002.

GOMES, Orlando. Direitos reais. 17a ed. Rio de Janeiro : Forense, 2000

(edição atualizada por Humberto Theodoro Júnior).

MARTINS, Sérgio Pinto. Direito processual do trabalho. 17a ed. São Paulo:

Atlas, 2002.

MEIRELLES, Hely Lopes. Mandado de segurança, ação popular, ação civil

pública, mandado de injunção, habeas data, ação direta de

inconstitucionalidade, ação declaratória de constitucionalidade e argüição de

descumprimento de preceito fundamental. 23ª ed. São Paulo: Malheiros, 2001

(edição atualizada por Arnoldo Wald e Gilmar Ferreira Mendes).

MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 11a ed. São Paulo : Atlas, 2002.

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51

OLIVEIRA, Yves de. O pioneirismo de Melchiades Picanço nos pródromos do

mandado de segurança. Rio de Janeiro : La Cava, 1984.

OLIVEIRA NETO, Cândido de. Mandado de segurança. In: SANTOS, J. M. de

Carvalho. Repertório enciclopédico do direito brasileiro. Rio de Janeiro : Borsoi,

v. 32, 1956, p. 252 - 333.

PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. vol. IV, 15a. ed. Rio

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PICANÇO, Aloysio Tavares. Arbítrio e liberdade. 2a ed. Rio de Janeiro :

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PICANÇO, Melchiades. Mandado de segurança. Rio de Janeiro : Jacintho,

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PINTO, Teresa Arruda Alvim. Mandado de segurança contra ato judicial. São

Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 1989.

TEMER, Michel. Elementos de direito constitucional. 14a ed. São Paulo :

Malheiros, 1998.

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TUCCI, Rogério Lauria. Do mandado de segurança contra ato jurisdicional

penal. São Paulo : Saraiva, 1978.

VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil : direitos reais. 2a. ed. São Paulo : Atlas,

2002.

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53

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

EVOLUÇÃO HISTÓRICA

1.1 - Antecedentes Históricos no Direito Comparado 10

1.2 - As Origens do Instituto no Direito Brasileiro 14

1.3 – Surgimento e Evolução do Mandado de

Segurança no ordenamento jurídico pátrio 17

CAPÍTULO II

O MANDADO DE SEGURANÇA

2.1 – Premissas Necessárias: direito líquido e certo e

pólo passivo 22

2.2 – Mandado de Segurança e Interesse Público 25

2.3 – Cabimento do Mandado de Segurança 26

2.3.1 – Súmula sobre Mandado de Segurança 28

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54

2.4 – O Prazo para a impetração Mandado de

Segurança 33

2.5 – Legitimação Ativa e Legitimação Passiva 34

CAPÍTULO III

MEDIDA LIMINAR E SENTENÇA

3.1 – A Medida Liminar 38

3.1.1 – Informação 41

3.2 – A Sentença 42

CONCLUSÃO 44

ANEXOS

Anexo I 45

Anexo II 46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 50

ÍNDICE 53

FOLHA DE AVALIAÇÃO 55

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PROJETO A VEZ DO MESTRE

Pós- Graduação “Lato sensu”

Título da Monografia: MANDADO DE SEGURANÇA

Autor: CYNTHIA DO AMARAL (51756)

SALA: 646

Data da entrega: Rio, 22 de fevereiro de 2005

Avaliado por: Conceito: