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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA O Inadiável Desafio da Escola O Papel do Educador na Prevenção ao Uso de Drogas Por: Virgilane dos Santos Orientador Profa. Flavia Cavalcante Rio de Janeiro 2012

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … Há muito tempo tenho interesse pelo tema drogas. ... Por que não uma conversa franca com pais e alunos sobre um assunto cercado de

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

O Inadiável Desafio da Escola

O Papel do Educador na Prevenção ao Uso de Drogas

Por: Virgilane dos Santos

Orientador

Profa. Flavia Cavalcante

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

O Inadiável Desafio da Escola

O Papel do Educador na Prevenção ao Uso de Drogas

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Orientação Educacional e

Pedagógica

Por: Virgilane dos Santos

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AGRADECIMENTOS

...à Deus por simplesmente existir em

minha vida, à professora Fávia

Cavalcante pelo alegria e dom de

ensinar e orientar, ao meu marido José

Américo por seu companheirismo e

parceira em todos os meus planos de

vida, às minhas amadas filhas Giulia,

Lyz e Nina pela oportunidade de ser

mãe e poder sentir o indefinível amor

incondicional, à minha linda mãe Elza

simplesmente por ser minha mãe e ao

meu pai Nilton (in memorian) por estar

ao meu lado sempre.

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DEDICATÓRIA

Dedico esta pesquisa à minha família,

meu marido José Américo, minha dilhas

Giulia, Lyz e Nina, minha mãe Elza, meu

pai Nilton (in memorian) e ao educadores

libertadores que fundamentam o ato

educativo na prática de liberdade iniciado

por Paulo Freire e, também aos

educadores opressores que com reflexão

podem passar por um processo de

transformação..

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RESUMO

Este trabalho de pesquisa aborda o trabalho de prevenção ao uso e/ou

abuso de drogas nas escolas, levando em consideração o trabalho

interdisciplinar através dos Parâmetros Curriculares Nacionais/Temas

Transversais tentando quebrar os paradigmas pré existentes. Apresentamos

também a educação como prática de liberdade de Paulo Freire como forma de

trazer à tona a responsabilidade da escola para essa tarefa de prevenção

educativa.

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METODOLOGIA

Os métodos que levam ao problema proposto serão desenvolvidos

através de pesquisa bibliográfica e webgrafia, onde será analisado o papel da

escola e seus profissionais na prevenção do uso de drogas entre os alunos do

Ensino Fundamental II..

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Histórico do consumo de drogas 10

1.1 – Drogas de maior consumo 14 1.2 – Tipos de drogas e seus efeitos 15 1.3 – Tipos de usuários de drogas 16 CAPÍTULO II - Orientador educacional

O profissional mediador 18

2.1 – Ação reflexiva mediador 20 CAPÍTULO III – A família, a escola e a sociedade

na prevenção 24

3.1 – Tipos e papéis da família 29 CAPÍTULO IV – A legislação e o modelo curricular em vigor Sistematização dos conteúdos através dos Temas Transversais 31 4.1 – Educação para liberdade. É possível? 32 4.2 – Discussão sobre currículo Prevenção através da interdisciplinaridade 34 4.3 – Prevenção de drogas como tema transversal 36 CONCLUSÃO 39

ANEXO 1 41 ANEXO 2 42 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 43

ÍNDICE 59

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INTRODUÇÃO

Há muito tempo tenho interesse pelo tema drogas. Em princípio por ter familiares dependentes de álcool e perceber como a família olhava ou comentava sobre a dificuldade que eles tinham em deixar de usar o álcool e muitas críticas.

Com o passar do tempo, uma graduação, uma monografia e um emprego em uma instituição voltada para a recuperação de dependentes e familiares, minha curiosidade aumentou. O Serviço Social e a Pedagogia me trouxeram algumas indagações: “Por que não um trabalho preventivo nas escolas? Por que não uma conversa franca com pais e alunos sobre um assunto cercado de tabus, quando as informações nos chegam na velocidade da luz ou até mais rápido?

Pensando nisso, percebi que a análise da questão é complexa, pois devem ser consideradas inúmeras variáveis que envolvem o contexto social, histórico, cultural, psicológico e biológico dos sujeitos envolvidos, ou seja, eu sou um conjunto de diversificados elementos. Assim devemos constatar a abordagem da ação preventiva deve envolver a situação de forma interdisciplinar e multidimensional.

A escola quando chamada para enfrentar o problema se vê acuada, os Parâmetros Curriculares Nacionais mostram a importância da ação preventiva da escola envolvendo todos os que dela fazem parte. Através da “educação como prática de liberdade”, de Paulo Freire é possível um trabalho de prevenção, com mudança da prática pedagógica e quem sabe de quebra de tabus pré-estabelecidos.

Com uma metodologia de pesquisa bibliográfica e webgráfica, o papel da escola e seus colaboradores será analisado assim como sua responsabilidade nessa função preventiva.

No primeiro capítulo, será feito um relato histórico sobre questões que envolvem o consumo de drogas, no segundo capítulo abordaremos a mediação da orientação pedagógica. No terceiro capítulo faremos um relato sobre a família, a escola e a sociedade na prevenção e no quarto capítulo abordaremos a legislação, o modelo curricular em vigor e a sistematização dos conteúdos através dos Temas Transversais. A transversalidade dos temas e das disciplinas são temas de reflexão e atuação e de uma exigência inadiável da comunidade escolar na atualidade.

Espero poder contribuir positivamente e possa levar a uma reflexão sobre esse tema que faz parte do nosso dia-a-dia, onde a prevenção sem

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repressão deve ser vista com um novo olhar ajudando crianças e adolescentes a se tornarem críticos e conscientes de seus papéis.

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CAPÍTULO I

HISTÓRICO DO CONSUMO DE DROGAS

Há muito tempo atrás...

A relação do homem com as drogas é mais antiga do que se pode

imaginar nossa vã filosofia, e esse relacionamento muda constantemente

segundo a natureza, a intensidade e as exigências socioculturais. A droga foi e

é usada nos contextos religioso, econômico, medicinal, militar e etc.

O álcool, desde os primórdios, é utilizado em alguns rituais religiosos e

festividades sociais. Os charutos são utilizados nos rituais de umbanda e

candomblé. A folha de coca é utilizada pelos povos andinos como meio de

diminuir a fome e o cansaço. Os índios sempre consumiram alucinógenos com

o objetivo de se encontrarem com suas divindades. Alguns manuscritos

egípcios datados de 6.000 a.C. relatam o uso de ópio para abrandar o choro

das crianças e no tratamento de diarreia.

O uso de plantas alucinógenas sempre esteve relacionada à vida do

homem. A cultura da papoula do ópio se originou na Europa e Ásia Menor e já

foi denominada de planta da felicidade, Há registros sumerianos datados de

3000 anos a.C. que falam de seu uso medicinal, sendo mencionada por

Homero em sua Odisséia como “algo que faz esquecer o sofrimento”.

No Brasil o ópio e seus derivados atualmente considerados ilegais já

foram utilizados em várias medicações como xaropes para tosse, sendo

vendido em farmácias até o início do século XX. A China se colocou como

maior consumidor de ópio até a década de 50, por razões meramente

econômicas.

No contexto militar as anfetaminas foram consumidas intensamente

durante as guerras, com a finalidade de combater o cansaço, a fome e o sono,

e a morfina para dores físicas e mutilações, ocasionando posteriormente

dependência química em muitos soldados que sobreviveram.

Durante a Revolução Industrial, muitas mães que necessitavam passar

longos períodos fora de casa, ministravam em seus filhos substâncias

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entorpecentes conhecidas como “benção de mãe”. No meio desportivo, temos

notícias de atletas que fazem uso de substâncias químicas almejando o

aumento de seu desempenho.

O consumo de álcool está presente como costume desde a antiguidade

e o vinho é considerado uma dádiva dos deuses. O cânhamo, na antiguidade

foi utilizado por sacerdotes indianos em cerimônias por ter características

inebriantes, sendo utilizado pela medicina chinesa há cerca de 2000 anos

como anestésico em cirurgias. Já no Brasil, as evidências são que a maconha

foi trazida pelos escravos africanos e se expandiu por quase todo o território,

passando a ser utilizado por índios e brancos também.

Nos Estados Unidos ela tem uma utilização medicamentosa no século

XIX, tendo um declínio no início do século XX possivelmente por falta do

isolamento de seu princípio ativo e problemas legais.

Os conquistadores da América ficaram maravilhados com uma flora tão

rica. O Novo Mundo era uma fonte inesgotável com relação às drogas. Aqui foi

revelada a cocaína. Os nativos da América do Sul tinham o hábito de mascar

as folhas da coca para suportar o trabalho em altitudes e dietas inadequadas.

Na concepção de Saad (1998):

É difícil saber ao certo quando o hábito de mascar as folhas da coca iniciou. Supõe-se que desde o século VI a.C. isto já ocorria por terem surgido evidências de que múmias tenham sido enterradas com componentes da folha. (p. 28)

Algumas bebidas, no século XIX alguns vinhos, na Europa e nos

Estados Unidos, tinham em seu componente a cocaína, e é de conhecimento

de todos que um famoso refrigerante durante muito tempo tinha esse

componente como ingrediente ativo, sendo substituído em 1903.

Ao longo da história da humanidade, temos diversas substâncias

conhecidas de todos nós usadas como estimulante.

Na década de 60 os inibidores da fome e os calmantes começam a

fazer sucesso. Com uma grande oferta e falta de controle sobre a venda, a

dependência é uma questão de tempo.

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Toscano Jr. (2001) afirma que:

O abuso de inalantes se deu a partir da década de 60 nos EUA. Já no Brasil estes têm sido usados desde cedo, principalmente a cola, fora das situações ocupacionais, por crianças e adolescentes de rua e estudantes. (p. 15)

Como droga mais recente temos o êxtase, conhecido como droga do

amor, surgindo na Europa na década de 80. A partir daí seu consumo tem

aumentado entre os jovens de vários países e classes sociais. O uso/abuso de

anabolizantes também teve destaque na virada do século.

De acordo com Ribeiro (2005):

...é possível perceber que o uso das drogas sempre esteve inserido no contexto histórico e cultural dos povos, e que não há sociedade sem drogas. A questão da adequação ou inadequação do uso das drogas está relacionada aos motivos, à quantidade e aos contextos sociais tendo claro que vários fatores podem contribuir para que esse uso se transforme ou não, em abuso e/ou dependência.” (p. 16)

Carlini-Cotrim (2009), diz que o que se tornou um campo científico

demarcado por regras, princípios e paradigmas próprios... tem como substrato

a noção de que a sociedade civil pode e deve atuar nas intenções dos sujeitos

sociais de consumirem substâncias que alterem suas consciências.

O abuso é um padrão mal adaptativo do uso de substâncias, já a

dependência pode ser um agrupamento de sintomas cognitivos,

comportamentais e fisiológicos, com aspectos diversos. A prevenção, vista por

este prima, deve atentar a fim de não reforçar o mito de que a droga é em si

mesma a causa do problema.

Neste sentido aponta Ribeiro (2005) que:

No Brasil, esse abuso intensificou-se no início da década de 70, para atingir sue pico em 80/90... mas sua efervescência tem levado as autoridades a investirem me programas de repressão... ( p.17)

A especulação em torno do que leva jovens ao uso/abuso de drogas na

contemporaneidade é muito grande. A abordagem, entretanto, continua

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centrada nas drogas e não nas possíveis mediações que envolvem a questão,

com uma estratégia que leva ao medo, enfatizando o lado negativo das

drogas, tentando se afastem dela.

O Brasil com sua Política Nacional Antidrogas traça uma política de

diminuição da demanda de drogas envolvendo a prevenção, a repressão, o

tratamento, a recuperação, a reinserção social e a redução de danos, sendo

este último uma orientação do Programa DST/AIDS do Ministério da Saúde,

que assumiu os programas de trocas de seringas como forma de minimizar os

riscos de contaminação pelo HIV em usuários de drogas.

A lei 11343 promulgada em 23/08/2006, que nasceu da necessidade de

compatibilizar dois instrumentos normativos anteriormente existentes, que são

as leis 6368/76 e 10409/02, institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas

sobre Drogas:

Em seu título III, capítulo I, artigo 19, parágrafo XI, determina a implantação de projetos pedagógicos de prevenção do uso indevido de drogas, nas instituições de ensino público e privado, alinhado às Diretrizes Curriculares Nacionais e aos conhecimentos relacionados às drogas.

Porém, essas medidas não são cumpridas a rigor, devido à falta de

conhecimento, não só científico, como também o preconceito em relação ao

assunto, porque a droga vista como algo marginal muitas vezes não dá a

possibilidade de um olhar crítico e aberto à avaliações pertinentes relativos ao

assunto.

Vários indicadores mostram que o consumo de drogas tem atingido

formas e proporções preocupantes no decorrer das últimas décadas. As

consequências, diretas e indiretas do uso e/ou abuso de substâncias

psicoativas são percebidas nas várias interfaces da vida social: família,

trabalho, trânsito, na disseminação do vírus HIV entre usuários de drogas

injetáveis, no aumento da criminalidade, etc. E são justamente os custos

sociais decorrentes do uso/abuso de drogas, que tornam urgente uma ação de

prevenção do ponto de vista de biopsicossocial.

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Em maio de 2007, o Governo Federal, através do Decreto Presidencial

6117/2007, apresentou-nos a Política Nacional sobre o Álcool que tem por

objetivo:

Estabelecer princípios que orientem a elaboração de estratégias para o enfrentamento coletivo dos problemas relacionados ao consumo de álcool, contemplando a intersetorialidade e a integralidade de ações para a redução dos danos sociais, à saúde e à vida, causados pelo consumo dessa substância, bem como das situações de violência e criminalidade associadas ao uso prejudicial de bebidas alcoólicas.

Embora muitos estudos e ensaios sobre as intervenções nos contextos

motivados pelo fenômeno do uso de drogas estejam sendo realizados, ainda

nos deparamos com barreiras como os interesses econômicos que envolvem a

produção e venda do produto, a incompreensão social do problema e a falta de

recursos humanos e materiais adequados para uma intervenção. Ainda vemos

que as investigações que abordam essa questão são insuficientes em suas

diversas dimensões, pois os estudos se reduzem, quase em sua totalidade, à

situação já instalada.

Nessa perspectiva, constatamos um despreparo tanto da escola como

da comunidade escolar diante dessas questões, onde o discurso combatente,

autoritário e repressivo não dá espaço para os jovens se posicionarem e

construírem valores próprios em relação às suas vidas.

1.1 – DROGAS DE MAIOR CONSUMO

Para falarmos de prevenção é preciso falar de consumo numa visão

epidemiológica, pois é importante conhecer a realidade em que vivemos para

agir de forma correta e conseguir um resultado positivo de todos os lados.

Entre os diversos comportamentos que podem ser estudados pela

epidemiologia, estão o uso e o abuso de álcool e outras drogas.

O senso comum nos leva a crer que as drogas de maior consumo são

as ilícitas, como maconha, cocaína e êxtase, quando na verdade as lícitas,

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como álcool e cigarro estão em primeiro lugar de consumo, uma vez que se

encontram dentro de nossas próprias casas.

As políticas públicas em matéria de drogas, privilegiou a repressão das

substâncias ilícitas, mas pouco se fez no campo de prevenção através da

educação para a saúde. Paralelamente, o álcool e o tabaco, não mereceram

nenhuma atenção e até foram alçadas, através da publicidade, à condição de

promotoras de sucesso, poder, bom gosto e finesse.

No anexo 1podemos observar algumas das drogas mais utilizadas.

Notamos que a maconha e os solventes aparecem depois dessas duas

drogas e com uma percentagem menor. Vemos também que a cocaína e o

crack foram duas drogas que menor número de pessoas tinha usado.

A partir da década de 60, e especialmente depois do advento da AIDS,

que o enfoque biopsicossocial começou a receber maior credibilidade e a

influência do contexto sócio cultural do uso passou a se objeto de pesquisas

mais amplas.

Para ampliar tal entendimento, vide anexo 2, onde está relacionado o

consumo por gênero e faixa etária.

Percebemos o predomínio no consumo de drogas ilícitas pelo público

masculino e a preferência por tranquilizante pelo público feminino. O álcool e o

tabaco, confirmando o que já foi visto anteriormente são as drogas mais

utilizadas.

Quanto à faixa etária, o consumo de álcool não apresenta diferença

significativa demonstrando sua aceitação, além da facilidade de aquisição.

Assim, constatamos a persistência da utilização das drogas pela

humanidade através de seu histórico.

1.2 – TIPOS DE DROGAS E SEUS EFEITOS

Nos últimos anos, falar sobre drogas, vêm se tornando cada vez mais

frequente e é assunto para muitos debates e discussões. Tal atitude acaba

gerando uma grande confusão, diluindo as categorizações e nos fazendo

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esquecer das particularidades ligadas à utilização de certos produtos ou à

origem de certos comportamentos.

A farmacodependência é categorizada em dependência psíquica, que

pode ser definida em um “estado mental caracterizado pelo impulso em utilizar

uma droga psicoativa periódica ou continuamente com a finalidade de

obtenção de prazer ou de aliviar uma tensão.” Por outro lado, a dependência

física é conceituada como “necessidade por parte do organismo do uso regular

de uma molécula química exógena para manutenção de seu equilíbrio, sendo

objetivada por sintomas físicos e psíquicos, que sobrevêm por ocasião da

privação, caracterizando a “síndrome de abstinência”.

As drogas podem ser classificadas da seguinte forma:

• Estimulantes – são drogas que quando ingeridas aumentam a

atividade cerebral. Há um aumento da vigília, da atenção,

aceleração do pensamento e euforia. Aumenta a pressão arterial

e dos batimentos cardíacos. Temos como exemplo as

anfetaminas, anorexígenos, cafeína, cocaína, crack, merla,

êxtase, nicotina, entre outras.

• Depressoras – são drogas que uma vez ingeridas são capazes de

lentificar as atividades do cérebro, podendo possuir alguma

propriedade analgésica. Sob o efeito de tais drogas a pessoa

torna-se sonolenta, lerda e desatenta. Alguns exemplos são

álcool, maconha, solventes, heroína, morfina, tranquilizantes, etc.

• Perturbadoras – quando ingeridas essas drogas modificam o

sentido da realidade, provocando alterações de percepção,

emoções e sentimentos. Pode levar a euforia, tristeza, sensação

de pânico e perda de controle. Temos como exemplos os

anticolinérgicos, LSD, maconha, chá de cogumelo, trombeta e

outras.

1.3 – TIPOS DE USUÁRIOS DE DROGAS

A Organização Mundial da Saúde, órgão das Nações Unidas, distingue os

usuários entre leves, moderados e pesados, por outro lado a mesma

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organização lista dois tipos de uso que são: o uso de risco que possui um

padrão de uso ocasional, repetido ou persistente que implica riscos futuros

para a saúde física e mental da pessoa e o uso prejudicial que tem como

padrão um uso que já está causando dano à saúde física e mental.

A Unesco lista quatro tipos de usuários, abaixo listados:

– Experimentador – é aquele que experimenta uma ou várias drogas, por

curiosidade, desejo de novas experiências, pressão do grupo. Na maioria dos

casos, entretanto não ultrapassa a primeira experiência.

– Ocasional – faz uso de um ou vários produtos, se o ambiente for propício e a

droga estiver disponível. Neste caso não há dependência nem ruptura das

relações afetivas, profissionais e sociais.

– Habitual ou funcional – utiliza com frequência as drogas, suas relações já

apresentam ruptura. Ainda funciona socialmente, mesmo que precariamente e

correndo o risco da dependência.

- Dependente ou disfuncional – sua vida gira em torno da droga. Como

consequência, rompem-se os seus vínculos sociais, o que leva ao isolamento e

marginalização, acompanhados da decadência física e moral.

Neste capítulo, abordamos, o histórico das drogas, algumas leis e

decretos, das definições e sintomas. É importante lembrar que essas

substâncias modificam o modo de funcionamento dos nossos neurônios e nos

levar à falsas informações sobre o mundo que nos cerca.

Desse modo, devemos ter atenção a todas as informações que nos

chegam, procurando orientações que contribuam com o fortalecimento de

nossa autoestima e respeito a si próprio e aos outros.

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CAPÍTULO II

ORIENTADOR PROFISSIONAL

O Profissional Mediador

O que é ser Orientador?

Segundo Bueno (2000), etmologicamente orientador é aquele que

orienta, guia, dirige. Portanto, orientar é o ato de guiar, dar rumo, dar impulso,

dar direção.

Na concepção de Lück (1999), a escola pode ser compreendida como:

um sistema social, que se compõe de um conjunto de funções,

todas elas mais ou menos inter-relacionadas e todas elas

interfluentes, de forma que a maneira como são conduzidas as

ações de determinada área afetam ... as ações de outras áreas.

(p. 7)

Nessa direção o Orientador Educacional como elo entre educadores,

pais e estudantes, atua administrando diferentes pontos de vista.

Assim como diversos profissionais de humanas, o Orientador

Educacional precisa construir uma relação de confiança e respeito de forma a

negociar e prever ações. A orientação educacional não surge, ela se

desenvolve no sistema escolar, pois a preocupação não estava no

desenvolvimento do aluno, e sim na formação profissional.

Como diz ainda Lück (1999):

A escola constitui-se em uma organização sistêmica aberta, isto é, em um conjunto de elementos, que interagem e se influenciam mutuamente, conjunto esse relacionado, na forma de troca de influências, ao meio em que se insere. (p. 9)

Sendo assim qualquer mudança que ocorra em qualquer desses

elementos interfere nos outros, e isso pode ser consciente ou não. O

entendimento dessa mudança e como ela funciona na escola é muito

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importante, a fim de que esta possa exercer com equilíbrio sua função

educativa.

Sistematicamente a orientação emerge com o advento da

industrialização como ferramenta ao modo de produção industrial, de forma a

adequar às pessoas ao novo modo de trabalhar, de viver em sociedade e a

mudança de valores e paradigmas.

A Orientação Educacional emerge nos EUA entra o final do século XIX e

início do século XX com o objetivo de orientar os alunos em seu caminho

profissional. Com o passar dos tempos porém, percebeu-se que a orientação

era necessária em outros aspectos.

No início do século, no Brasil, quando os ideais da Escola Nova estão se

difundindo, como as teorias cognitivas e psicológicas, o olhar sobre o indivíduo

é outro, onde sua formação e suas dificuldades necessitam do auxílio

profissional.

Na década de 30, em São Paulo, ocorre a primeira tentativa de inserção

da orientação educacional. Porém, a perspectiva é voltado para a escolha

profissional e americano, ou seja um contexto diferente da realidade brasileira,

onde o ideal de democratização é oposta à precariedade das nossas

instituições de ensino.

Na década de 40 a divulgação da orientação educacional é feita à nível

nacional com incentivo e divulgada no decreto lei 4073/42. Uma formulação

mais precisa se deu no decreto 4424/42 com uma contextualização

pedagógica.

A lei 4024 homologada em 61, reforça a necessidade da orientação

educacional, mas a falta de profissionais habilitados foi um desafio que teve

como solução provisória uma prova de qualificação para suprir a falta de

pessoal.

O desenvolvimento integral do educando é apontado na lei 5564/64,

tendo em vista, prepara-la para exercer opções básicas. Os conhecimentos de

áreas humanas devem fazer parte da formação do Orientador Educacional,

conforme a lei 5568.

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Em 1971, a lei número 5692 traz a obrigatoriedade do orientação

educacional e do aconselhamento vocacional, em cooperação com

professores e familiares, já a regulação da profissão vem com o decreto lei

78846/73, normatizando a formação em nível superior embasados no ideal

tecnicista idealizado pelo modelo americano. Nota-se até aqui a busca de um

aperfeiçoamento da profissão e dos ideais da orientação, objetivando adaptá-la

de forma coerente com as necessidades educacionais e o intuito precípuo da

educação, pois estando a orientação educacional ajudando o aluno a

compreender-se, o outro e ao meio, também exerce função educativa, desse

modo está em constante transformação, mesmo que subordinada à um

movimento elitista que rege leis norteadas em seus ideais políticos e

capitalistas.

Como esclarece Aidar (2010), Orientadora Educacional da Escola

Projeto Vida, em São Paulo:

Antes, o cargo - de Orientador Educacional – tinha mais um enfoque clínico. A rotina era ser o responsável por encaminhar alunos a especialistas, como médicos, psicólogos, fonoaudiólogos, etc.

Recentemente, ele passou a atuar de forma a atender os estudantes

levando em conta que eles estão inseridos em um contexto social, o que

influencia no processo ensino-aprendizagem.

Com referência a esse aspecto, Aidar (2010) esclarece:

Essa mudança tem a ver com a influência de teóricos, como Jean Piaget (1896-1980), Lev Vygostky (1896-1934) e Henri Wallon (1879-1962), nos projetos pedagógicos das escolas, cada vez mais pautados pela psicologia do desenvolvimento...

Quando pensamos na escola, pensamos numa ação educativa

relevante, com um currículo harmonioso de conhecimentos, habilidades,

competências e sentimentos. Considerando equilibradamente tanto as

necessidades do indivíduo como do grupo e as instituições.

Preconiza-se que o Orientador Educacional funções de assistência ao

professor, pais e profissionais da escola como um todo, com os quais o

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educando mantêm contatos significativos, no sentido de que estes se tornem

mais preparados para entender e atender às necessidades escolares, tanto

com relação aos aspectos cognitivos e psicomotores como aos afetivos.

O conhecimento, as habilidades e as atitudes do professor em relação

ao aluno tornam o processo educativo eficaz. Assim, a orientação e assistência

ao professor é de extrema importância na promoção de um ambiente escolar

saudável e eficaz.

Neste sentido, Lück (1979) diz:

O processo educativo ... constitui-se de uma justaposição de atividades, experiências, unidades, conteúdos, disciplinas, matérias, áreas de estudos que se unem, mas não se somam e não se interagem. (p.29)

A falta de integração no processo educativo tem uma multiplicidade de

aspectos. Ela é tanto interna quanto externa, tanto de concepção quanto de

ação. Todos esses aspectos atuam de maneira que, havendo dificuldades em

um determinado ângulo do processo educativo promoverá repercussões em

outros.

A Orientação Educacional deve se juntar às demais profissões da

escola e, cada uma em suas especialidades, favorecer as relações entre o

desenvolvimento e o aprendizado, entre o desenvolvimento e seu ambiente

sociocultural.

Na práxis educacional, não há mais espaço para se trabalhar com

enfoque nas deficiências. As questões de autoestima, autoimagem e

autorrealização, e nisso se inclui o tema da presente monografia, continuam

como questões básicas da prática do Orientador Educacional, que precisam se

trabalhadas e desenvolvidas com os alunos em uma realidade mais concreta e

objetiva.

2.1 – AÇÃO REFLEXIVA E ORIENTAÇÃO

Qualquer papel social é determinado por fatores interferentes do

ambiente que o cerca e nele está inserido o processo educativo que segundo

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Lück (1999 – p. 12): “será significativo quanto maior for a qualidade do

relacionamento entre professores e alunos.”

A visão tradicional do Orientador Educacional é a de aconselhamento,

porém as técnicas de aconselhamento são do âmbito da Psicoterapia que

pressupõe a existência do problema voltado somente para o indivíduo e não do

ambiente. A escola assume essa postura quando geralmente encaminha o

aluno para a Orientação Educacional.

Essa prática nega a existência de disfunções no ambiente que o cerca,

como por exemplo na família e na escola.

No que se refere ao relacionamento professor-aluno, o equilíbrio

emocional do aluno em sala de aula e na escola é uma das responsabilidades

do professor. Desse modo, não podemos criar uma ação eficiente que sane as

dificuldades dos alunos em sala de aula sem a participação efetiva do

professor.

De acordo com a lei 5564/68, regulamentada pelo decreto 72846/73

nos artigos 8º e 9º definem as atribuições do Orientador Educacional podem

ser estabelecias dessa forma:

• Art. 8º - São atribuições privativas do Orientador Educacional:

a) Planejar e coordenar a implantação e funcionamento do Serviço de

Orientação Educacional em nível de:

1 – Escola; e

2 – Comunidade;

b) Planejar e coordenar a implantação e funcionamento do Serviço de

Orientação Educacional dos órgãos do Serviço Público Federal,

Estadual, Municipal e Autárquico; das sociedades de Economia Mista,

Empresas Estatais, Paraestaduais e Privadas;

c) Coordenar a orientação vocacional do educando, incorporando-a no

processo educativo e global;

d) Coordenar o processo de sondagem de interesses, aptidões e

habilidades do educando;

e) Coordenar o processo de informação educacional e profissional com

vistas à orientação vocacional;

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f) Sistematizar o processo de intercâmbio das informações necessárias ao

conhecimento global do educando;

g) Sistematizar o processo de acompanhamento dos alunos,

encaminhando a outros especialistas aqueles que exigirem assistência

especial;

h) Coordenar o acompanhamento pós escolar;

• Art. 9º - Compete, ainda, ao Orientador Educacional as seguintes

atribuições:

a) participar no processo de identificação das características básicas da

comunidade;

b) participar no processo de caracterização da clientela escolar;

c) participar no processo de elaboração do currículo pleno da escola;

d) participar da composição, caracterização e acompanhamento de turmas

e grupos;

e) coordenar o processo de informação educacional e profissional com

vistas à orientação vocacional;

f) Sistematizar o processo de intercâmbio das informações necessárias ao

conhecimento global do educando;

g) participar no processo de integração escola-família-comunidade;

h) realizar estudos e pesquisas na área da Orientação Educacional.

Assim, o profissional de orientação educacional não deve deixar de

procurar sempre fortalecer sua identidade, pois por exercer um papel político-

pedagógico que permite ao sujeito interpretar, seduzir, sistematizar, confrontar

e garantir sua memória, contribui significativamente para um trabalho educativo

e transformador.

Em face do exposto, conclui-se que o fazer do Orientador Educacional

deva estar voltado para acolher o professor, aos alunos, às famílias, ou seja, à

escola como um todo e todas as pessoas que interagem e contatam com o

aluno, objetivando o atendimento e entendimento das necessidades surgidas

de forma global.

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CAPÍTULO III

A família, a escola e a sociedade na prevenção

Família e escola tiveram seus papéis influenciados pelas determinações

do contexto histórico-social e logicamente isso afetou e afeta as crianças, os

adolescentes, e as práticas educativas de ambas refletem o contexto social em

que estão inseridas.

Sendo produtos sociais, famílias e escola, tendem a desempenhar

práticas de regulação social, enquanto normatizam os fenômenos da

sociedade interpretando a realidade que se apresenta por meio de atitudes,

valores, crenças, costumes, sentimentos, entre outros. As influências, porém,

são diferenciadas, dependendo da inserção do educando e dos agentes

socializadores.

Com o enfrentamento das transformações demográficas, econômicas e

sociais na sociedade brasileira a estrutura e o funcionamento familiar também

se modificou e isso fortaleceu algumas características.

Em meio a essa turbulência, a criança se viu com pais, mães e irmãos

de diversos relacionamentos e quando se encontra dentro de uma “família

tradicional” acredita que é um ser de outra dimensão. Muitas vezes essa

imagem não corresponde à diversidade dos modelos existentes e das

diferentes realidades em que as famílias vivem.

A qualidade dos vínculos afetivos e a crença nos valores continuam na

construção do caráter, apesar da mudança dos tempos. Com as exigências do

mundo moderno, os pais passam mais tempo fora de casa em virtude das

condições de profissionalização, sendo assim a qualidade da presença dos

pais se faz necessário porque as relações afetivas mantidas e fortalecidas dos

pais com os filhos são responsáveis pela formação de padrões de

comportamento.

Uma das estratégias utilizadas pela escola é a participação dos pais nas

práticas escolares de seus filhos e tem sido discutida constantemente por

especialistas em educação. Alguns sistemas defendem uma partilha de

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responsabilidade entre a família, a escola e o Estado, tomando para si funções

educativas específicas segundo diferentes argumentos. Hoje, a aproximação

da escola com a família incita-nos a repensar a especificidade de ambas no

desenvolvimento do aluno.

Na atualidade, a participação dos pais nas escolas é estimulada pela

mesma como forma de legitimação. O jovem, entretanto necessita estar

envolvido com referenciais e limites coerentes e comuns, e essa construção

gira em torno de quem? Da família e da escola, onde alguns passam a maior

parte de suas vidas. O mais viável é a união dessas duas forças executando

uma proposta comum e positiva para todos.

Uma das maiores finalidades da família e da escola é formar um

cidadão competente para a vida em sociedade, o que inclui a apropriação

crítica e criativa de todos os recursos técnicos disponíveis desta sociedade, ou

seja, o apoderamento da mesma.

Como diz Assis (2004):

Num mundo globalizado e, em muitos aspectos, excludente, em que a dimensão mídia atravessa a vida na maioria dos seres humanos, mudam-se os paradigmas que propiciam o acesso à educação, à cultura e ao entretenimento. A força irresistível e fascinante da televisão, da internet, dos jogos eletrônicos... torna cada vez mais potente sua capacidade de influir na constituição de conhecimentos, valores de atitudes de crianças e adolescentes, bem como de suas famílias e educadores. (p. 81)

A educação deve, com certeza, atentar a essa “nova” cultura, tentando

desenvolver uma pedagogia crítica, preocupada e interessada com a leitura de

imagens. Ler imagens criticamente, implica em aprender a apreciar, decodificar

e interpreta-las, analisando tanto a forma como elas são construídas e opera

em nossas vidas, quanto o conteúdo que elas comunicam em situações

concretas.

A gestão da relação entre a instituição educacional e a família varia

conforme as situações, os sistemas, as tradições, a representação feita do

papel da coletividade em relação à família e ao aluno. Além disso, as

condições de trabalho existentes produzem problemas numerosos e

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diversificados a respeito da educação dos filhos. Com isso, as famílias são

obrigadas a constituir diferentes ambientes para seus membros, os quais estão

também em permanente mudança.

Em relação às drogas, a maioria dos pais apresenta um despreparo em

abordar o assunto. A escola por sua vez, apresenta melindres para enfocar o

problema de forma adequada, tanto com o aluno, quanto com os pais, e em

sua maioria ao tratar do assunto, o problema já está instalado.

As competências não são exclusividades da concepção participativa, ou

seja as funções básicas dos professores, no que se refere ao desenvolvimento

do ensino e da educação, podem ser complementadas ou supridas a partir do

envolvimento dos pais.

Um dos questionamentos decorrentes dessa relação é a eliminação dos

conflitos explícitos e implícitos da relação professores-família, o outro é como

evitar que esse pleito de participação dos pais na educação não leve a uma

discriminação para os que não podem participar. É evidente que nem sempre é

possível que todas as famílias estejam presentes dentro da escola, em virtude

de dificuldades de toda ordem.

Quando se indica para essa aliança na prevenção do uso indevido de

drogas, está implícita uma unidade social necessária à consolidação de forças

mais integradas par ao desenvolvimento de um projeto educacional que tem

como mediação a formação para a cidadania. Não é possível educação

sistematizada sem a escola, pois esta possui um papel significativo e único

para a formação do cidadão. Em oposição, a escola necessita do apoio e

participação das famílias, já que toda criança está o tempo todo construindo os

seus referenciais de identidade com base na educação familiar.

Libâneo (2007) nos diz:

A formação de atitudes e valores, perpassando as atividades de ensino, adquire, um peso substantivo na educação escolar, porque se a escola silencia sobre valores, abre espaço para os valores dominantes no âmbito social. As escolas devem, então, assumir que precisam ensinar valores. (p. 45)

Sendo assim, a escola como um todo necessita clarificar os princípios

norteadores para a vida prática, não incutindo valores pré determinados, mas

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propiciando estratégias e procedimentos de pensar sobre os critérios de decidir

e agir.

Quando observamos o cotidiano escolar, os alunos experimentam uma

variedade de orientações que muitas vezes se torna inviável, a formação do

senso de valor pretendida pela escola. Os comportamentos e atitudes exigidos

variam de acordo com um código pessoal que nem mesmo o professor sabe

as razões fundamentais seu cumprimento.

A escola, também sofre a pressão, de forma a ser intransigente,

eficiente e rápida diante das dificuldades, onde alguns profissionais envolvidos

para resolverem-nas se mostram aflitos, ao invés de cientes do que estão

fazendo.

Porém, se as drogas fazem parte de toda a sociedade, elas se

manifestam de modo particular nos meios escolares. Diversas vezes sua

presença é negada ou até mesmo negligenciada pelos educadores e

dirigentes, tanto em escolas públicas como em particulares.

A sociedade apresenta algumas ações concretas de prevenção, e a que

mais se adequa ao presente trabalho é O Modelo de Modificação das

Condições de Ensino de Klitzner (1991):

Defende que a vivência escolar, particularmente a da pré escola e do ensino fundamental, vai ser importante para um desenvolvimento sadio do adolescente e do adulto. Nessa medida, a ênfase não recai na prevenção ao abuso de drogas, mas na formação global de um jovem saudável. (p. 54)

Seus métodos são constituídos de ações de prevenção à marginalidade,

patologias mentais e ao uso/abuso de drogas. Sua intercessão é intensiva,

precoce e duradoura, demonstrando propensão para envolver pais e

comunidades nos trabalhos desenvolvidos.

Esse modelo tem cinco discussões que são combinadas na prática

preventiva e interventiva que são:

• Modificação das práticas instrucionais

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Essa prática propõe iniciativas, tais como modificar as técnicas de ensino,

tornando-as mais prazerosas e eficientes; aproximar o conteúdo curricular

da realidade do aluno; melhorar a relação professor-aluno.

• Melhoria do ambiente escolar

Mudança na estrutura organizacional e decisória da escola, onde os

estudantes, seus pais e a comunidade participem de seu planejamento,

com inovações na base decisória e estabelecimento de atividades

extracurriculares abertas a todos.

• Incentivo ao desenvolvimento social

Parecido com o anterior, com ênfase nas relações pessoais entre os

alunos, com atividades de incentivo a cooperação, a preocupação e

solidariedade mútua.

• Oferecimento de serviços de saúde

Serviços de saúde dentro da escola, voltados para as necessidades dos

adolescentes.

• Envolvimento dos pais em atividades curriculares

Pais comprometidos com a vida escolar dos filhos, através da participação

nas atividades de casa, workshop de pais, palestras e seminários.

Diante do exposto, podemos observar que existem algumas opções de

atuação na perspectiva da prevenção, que se caracterizam por oferecer

subsídios e vivências no campo do conhecimento e do afeto, onde o aluno

pode ser mais estruturado, crítico, consciente e questionador.

As ações preventivas quando bem realizadas, podem criar menores

chances de envolvimento patológico com substâncias psicoativas.

A intervenção, porém, não precisa focar somente o aluno, mas também

todo o ambiente em que ele vive – família, grupos sociais, etc., substituindo o

enfoque da repressão pela formação do jovem como um todo, capacitando-o a

discernir, optar e com direito, sem esquecer os deveres, de ser informado

claramente sobre as questões que dizem respeito ao seu cotidiano.

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3.1 TIPOS E PAPÉIS DA FAMÍLIA

Sendo uma instituição deveras importante na construção de valores

éticos, morais e espiritual, a família é responsável pela formação de padrões

de comportamento. Não existe instituição que a substitua no aspecto afetivo e

na socialização da pessoa. Tudo que é realizado por outra instituição tem

caráter somente complementar. Ela é o primeiro modelo, primeiro nível na

construção da auto imagem.

Sendo assim, a família deve encontrar espaço para o diálogo, na busca

de superação de problemas, conflitos e na construção diária do respeito

mútuo, fortalecendo comportamentos preventivos em relação ao uso de

drogas.

Desenvolver um ambiente de afeto, proteção e aprendizagem

fornecendo estabilidade indispensável à formação de padrões positivos de

comportamentos, através de suas funções que são:

a) Cuidadora – quando provêm as necessidades básicas de alimentação,

estudo, lazer, vestuário, muitas vezes, porém, essa função é confundida

com satisfação do desejo da criança.

b) Protetora – quando forma laços afetivos, desenvolve segurança

emocional, procura elevar a auto estima e respeita as características

individuais.

c) Social – quando transmite valores éticos, morais e espirituais, através de

modelos pessoais e próximos.

A família, entretanto, precisa ter consciência de que suas palavras e

atitudes têm tanto efeito construtivo como destrutivo no que se refere ao

desenvolvimento da criança. Um nível muito baixo de respeito mútuo pode

levar a destruição do relacionamento familiar, o mesmo pode se dizer em

relação à escola e aos colegas.

Uma família com capacidade de proporcionar um clima de aceitação

ajudam seus filhos a terem uma visão positiva em relação a si mesmos e aos

outros.

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A seguir falaremos dos tipos de família existentes, lembrando que cada

família pode apresentar mais de um comportamento, porém o mais forte vai

prevalecer na maioria das vezes.

Família autoritária é aquela onde a pobreza de diálogo predomina, tem

uma atitude moralista com controle excessivo, não promove autonomia

destruindo o poder de decisão dos filhos; a família democrática é aquela onde

o diálogo com os filhos prevalece, negocia as decisões, dosa amor e limite,

usa a autoridade e não o autoritarismo; a família permissiva é aquela que não

estabelece limites, não tem controle, não existem limites claros entre o certo e

o errado, a presença dos pais não tem significado.

Como podemos perceber, a família continua desempenhando um papel

importante na vida emocional de todos nós e não pode ser deixada de lado nas

grandes tomadas de decisão que envolvem os jovens. Por isso, moral, valores,

ações essenciais ao desenvolvimento da pessoas não podem ser ignorados de

forma a que não conflite os conceitos.

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CAPÍTULO IV

A Legislação e o modelo curricular em vigor

Sistematização dos conteúdos através dos Temas Transversais

Quando a escola se propõe a oferecer uma formação integral afirma que

o espaço escolar não é apenas lugar de aprendizagem no aspecto intelectual,

e sim de desenvolvimento amplo, completo e pleno. Ou seja, a escola declara

sua escolha por um currículo humanista, com uma organização a partir do

aluno e suas necessidades de crescimento como pessoa, em determinado

contexto social.

Magalhães (1999), esclarece:

... a organização do currículo ultrapassa os muros da instituição e considera o contexto em que a escola se insere, buscando dar uma resposta eficaz às necessidades educativas que daí emergem. (p. 145)

Um olhar crítico das demandas do contexto do qual o aluno e sua

família fazem parte, é de suma importância para um trabalho atualizado que

levem ao desenvolvimento pleno e harmônico da escola da atualidade.

As ações preventivas desenvolvidas nas escolas pressupõem a

valorização na qualidade de vida como atitudes indispensáveis de estratégias,

estimulam também um grande processo participativo que leva à apropriação

dos programas de prevenção pela comunidade escolar, fazendo com que não

se limite aos participantes das ações, contribuindo para a formação de

cidadãos saudáveis.

Quando se pensa em prevenção, num primeiro momento é necessário

clarificar que a escola, no papel do professor e do Orientador Educacional

precisa fazer um diagnóstico de quem é seu aluno; o que ele pensa; de onde

ele vem; do que ele gosta; qual o papel da família em sua vida. Dessa forma,

evitam-se as metodologias inadequadas e surgem os tipos de prevenções, que

são:

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Primária – quer evitar ou retardar a experimentação. Refere-se ao trabalho

feito junto aos alunos que ainda não experimentaram, ou estão na idade em

que normalmente de inicia o uso.

Secundária – objetiva atingir pessoas que já experimentaram e/ou fazem uso

ocasional com a intenção de que o uso se torne nocivo, com possível evolução

para a dependência. Pode ocorrer o encaminhamento para outros profissionais

de forma a evitar danos físicos e mentais.

Terciária – nessa fase o uso nocivo ou a dependência já está instalada. Sendo

assim, cabe a escola quando fizer a identificação deve encaminhar para um

profissional adequado.

Neste sentido, a questão é avaliar as diferentes chances que o indivíduo

tem de ter contato com as drogas. Todo projeto de prevenção deve ter bem

claro quem são os interlocutores diretos e indiretos, individuais e sociais,

percebendo a vulnerabilidade como um todo e levando a uma discussão

articulada.

Através dessa perspectiva, a citada vulnerabilidade é entendida através

dos planos:

• Individual: que está relacionado a comportamentos que levam a

oportunidades de experimentação;

• Social: relacionado ao tipo de informação o grupo possui, os aspectos

sociopolíticos, o acesso ao serviço de saúde, o grau de liberdade de

pensamento e as condições de bem estar social;

• Institucional: ligado às ações governamentais, às parcerias entre

instituições, os compromissos assumidos pelas autoridades, as formas

de financiamento, etc.

No cotidiano escolar, casos de alunos que usam drogas lícitas e ilícitas é

mais frequente do que se pensa, tanto na rede pública quanto na privada. É

preciso que a escola tenha diretrizes gerais e envolva toda a equipe para

enfrentar a situação, abrindo mão de uma atitude altamente repressiva.

3.1 – Educação para liberdade. É possível?

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Parafraseando Freire (1996 p.51): “uma das tarefas importantes do

professor é trabalhar com os alunos a partir de um rigor regular,

aproximando o mais que puder dos objetos que se pode conhecer.” Essa

aproximação, porém só será possível com criticidade, levando os alunos a

se tornarem sujeitos de construção e reconstrução do saber.

Freire (1996), esclarece:

... tomar a própria prática de abertura ao outro como objeto de reflexão crítica deveria fazer parte da aventura do docente. A razão ética da abertura, seu fundamento político, sua referência pedagógica, a boniteza que há nela como viabilidade do diálogo. A experiência da abertura como experiência fundante do ser inacabado que terminou por se saber inacabado. Seria impossível saber-se inacabado e não se abrir ao mundo e aos outros à procura de explicação, de respostas às múltiplas perguntas. O fechamento ao mundo e aos outros se torna transgressão ao impulso natural da incompletude. (p. 153)

As representações que foram desenvolvidas ao longo do tempo

referentes à prevenção são extremamente negativas.

Esse tipo de trabalho quando desenvolvido nas escolas muitas vezes

não apresenta fundamento, pois prioriza verdades próprias, desvinculadas da

realidade concreta e longe da linguagem dos alunos.

Escutar o aluno sobre o conceito referente ao assunto aqui estudado,

suas significações e compreensão dentro de um contexto real e particular é

deveras importante para a elaboração de uma nova concepção de vida e de

escolhas dessa vida. Quando impomos conceitos à pessoas que estão

buscando sua identidade não ajuda no seu amadurecimento pessoal.

Desse modo, para que qualquer método alcance a eticidade, é fato que

o educador procure revitalizar as situações surgidas ou já existentes, a fim de

romper com as mitificações. Mas, isso só será possível na medida em que

haja entendimento das condições culturais, históricas e sociais da produção de

conhecimento.

No caso em questão, não basta o conhecimento científico do tema, mas

compreender como se dão as relações dos jovens com o objeto em questão,

como ele é veiculado no mercado, quais as condições sociais, culturais e

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política o sustentam, quais os aspectos biológicos e psicológicos implícitos no

uso, entre outros.

3.2 – Discussão sobre currículo

Prevenção através da interdisciplinaridade

Quando se fala em educação problematizadora, Freire (1996), nos diz

que devemos oferecer aos indivíduos dimensões significativas da sua

realidade, de forma que haja uma análise crítica leve ao reconhecimento das

partes como um todo.

... a questão fundamental... está em que, faltando aos homens uma compreensão crítica da totalidade em que estão, captando-a em pedaços nos quais não reconhecem a interação constituinte da mesma totalidade, não podem conhece-la. E não o podem porque, para conhece-la, seria necessário partir do ponto inverso. Isto é, lhes seria indispensável ter antes a visão totalizada do contexto para, em seguida, separarem ou isolarem os elementos ou as parcialidades do contexto, através de cuja cisão voltariam com mais claridade à totalidade analisada. (p. 96)

Esse movimento só é possível através da interdisciplinaridade, pois

assim a compreensão se dará através de uma perspectiva da totalidade.

A realidade para ser desvendada e conhecida é preciso conhece-la em

sua complexidade através de uma diversidade de olhares, pois quando se

fragmenta os olhares pode se perder fatos importantes.

Ao observarmos as escolas percebemos que o currículo ainda é voltado

para uma prática prescritiva e a prática interdisciplinar é precária. Vê-se um

trabalho solitário onde cada um se volta para o seu próprio conteúdo não

evocando um trabalho conjunto e humanitário tendo como objetivo a

prevenção.

Uma prática cotidiana de atividades que envolvam projetos pode levar

os alunos do Ensino Fundamental II a perceberem a importância de não se

desligar uma disciplina da outra durante o processo de aprendizagem.

Uma verdadeira educação se faz com todos os envolvidos, onde todos

aprendem juntos e o processo de interdisciplinaridade é um dos pontos fortes

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do projeto pedagógico, onde o diálogo não deve ser usado como técnica de

resultados ou manipulação. Ele deve fortalecer a relação entre os sujeitos e

atuar criticamente para transformar a realidade presente.

Na concepção de Ribeiro (2005):

A educação interdisciplinar ou dialógica é, portanto, uma posição epistemológica. E nessa posição deve ser assumida pelos professores que se pretendem educadores, entendendo educadores não como transmissores de conhecimento simplesmente... (p. 128)

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional número 9394/96,

estabelece em seu artigo 32, parágrafo 3º:

O desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores. (p. 110)

Ou seja, a cidadania plena que qualquer pessoa tem direito de possuir.

No artigo 35, parágrafo 3º é estabelecido:

O aprimoramento do educando como pessoa humana incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico. (p. 116)

Em relação ao professor, no artigo 67, parágrafo 2º, estabelece que

cabe ao sistema o:

Aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com licenciamento periódico remunerado para esse fim. (p. 173)

Partindo dessa premissa, percebe-se que a nova LDB teoricamente

privilegia a formação integral do aluno em detrimento da formação

simplesmente teórica, e que o professor é o principal agente desse processo.

Porém, o papel do professor diante da prevenção ao uso indevido de

drogas precisa ser pensado, diante de dois aspectos importantes que são as

propostas teóricas e legais, voltadas para a repressão e a realidade em que

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professor e aluno se encontram, pois impor leis não soluciona o caos social no

qual nos encontramos.

Diante de todas essas questões trazidas até aqui, é complexo definir o

papel do professor diante da prevenção, mas mesmo assim podemos ver que

a ação do professor e de toda a escola é importante.

Remetendo novamente à Freire (1996) e a perspectiva por ele

defendida - como prática de liberdade - “a preocupação dessa pedagogia é a

educação para a decisão, para a responsabilidade social e política.” (p. 20)

Isso denota ir além do que está determinado, superando a proteção dos

conteúdos oficiais dos currículos escolares, levando em consideração o que os

alunos e professores desejam e indicando a direção de um trabalho efetivo em

relação ao uso indevido de drogas. Isto é o Currículo Oculto, aquele que é

estabelecido teoricamente como questão de reflexão sobre práticas implícitas

e que faz contraponto com o Currículo Oficial, estabelecido pelas ementas.

É através do Currículo Oculto que as relações humanas na escola faz-

se presente e operacional, pois ao contrário as questões morais e sociais

estarão sendo meramente reproduzidas.

Sabemos nós que todo currículo tem um objetivo proposto, seja ele

implícito ou explícito e nós, profissionais de educação, temos que discutir os

dois tipos.

Esse processo dá início com a quebra dos paradigmas coletivos e isso

só acontece quando tivermos compreendido nossa verdadeira missão de

educadores. Temos também dever de promover a emancipação, rompendo

com qualquer relação imposta pelo imaginário coletivo.

3.3 – Prevenção e drogas como Tema Transversal

Inicialmente, vamos esclarecer que temas transversais referem-se a um

conjunto de temas sociais, presentes na vida cotidiana, inseridos nos

Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), que deverão relacionar-se com as

outras áreas curriculares específicas, inserindo-os nos de cada disciplina. Os

temas transversais eleitos são: ética, pluralidade cultural, meio ambiente,

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saúde, no qual está inserida a prevenção, orientação sexual e trabalho e

consumo.

As questões sociais, e as drogas é uma delas, são visitas muitas vezes

inesperadas e até mesmo indesejáveis que exigem um posicionamento claro e

objetivo, um acolhimento generoso e tranquilo por parte do sistema

educacional.

Tais temáticas trazem uma configuração, um desafio positivo por ser a

concretização de princípios e valores democráticos. De acordo com os

Parâmetros, os conceitos de orientação para a educação nas escolas são:

- Dignidade da pessoa humana – respeito aos direitos humanos, respeito às

relações interpessoais, condições de vida dignas e repúdio a qualquer tipo de

discriminação;

- Igualdade de direitos – garantia a todos da mesma dignidade e exercício de

cidadania, considerando as diferenças e desigualdade entre as pessoas;

- Participação – noção de cidadania ativa com representação política e

participação popular no espaço público;

- Co-responsabilidade pela vida social – partilhar com os poderes públicos e

diferentes grupos sociais a responsabilidade pela democracia no país.

A primeira justificativa para a inserção dos temas transversais propostos

pelos Parâmetros Curriculares Nacionais do MEC (1997), pode ser assim

compreendida.

Eleger a cidadania como eixo vertebrador da educação escolar implica colocar-se explicitamente contra valores e práticas sociais que desrespeitem aqueles princípios, comprometendo-se com as perspectivas e decisões que os favorecem. Isso refere-se a valores, mas também a conhecimentos que permitam desenvolver-se as capacidades necessárias para a participação social efetiva. (p. 23)

Sendo assim, os temas transversais devem ser tratados pela escola,

ocupando o mesmo lugar de importância, porque todos estão interligados, pois

por tratar-se de questões sociais, ligadas ao cotidiano prático das pessoas que

visam a preparação para o exercício ativo da cidadania.

A relação entre os conteúdos não pode ter distinção, pode ser realizada

pontualmente, através de módulos, onde uma disciplina abriria espaço para

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outros conteúdos, e também conceber a transversalidade integrando as

disciplinas.

Dessa forma, a questão do uso/abuso das drogas é uma ótima opção de

articulação de saberes abstratos dos diferentes questionamentos sociais e

escolares.

Mesmo que ainda os pré conceitos nos deixem presos à visões

tradicionalistas e compartimentadas, que trazemos da educação formal, pode a

escola estruturar o ensino das disciplinas do currículo em torno dos temas

geradores tidos como inusitados ao cotidiano escolar.

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CONCLUSÃO

Ao chegarmos aqui pudemos perceber que, considerando as reflexões

realizadas neste estudo, é preciso prevenir no sentido de educar o indivíduo

para assumir atitudes responsáveis na administração das situações de risco

que possam ameaçar sua vida num todo.

Essa visão fortalece a prevenção não como algo pronto, montado de

divulgação de informações sobre as drogas e seus efeitos, mas como um

processo que precisa do envolvimento de todos, partilhando as

responsabilidades, estreitando parcerias e aproveitando o que há de melhor

em todos, ganhando destaque o saber construído entre os envolvidos no

encontro de várias experiências.

A articulação e comprometimento de toda a sociedade pode melhorar os

espaços de convivência positiva entre as pessoas, favorecendo a troca de

experiências para o reconhecimento de situações de risco pessoal e as

fragilidades sociais que possam levar ao uso/abuso de substâncias

psicoativas.

Desse modo, pode-se dizer que um currículo planejado para atender as

realidades concretas dos atores sociais tem como ponto de partida a

construção e desconstrução contínuas, apresentando níveis necessários de

desenvolvimento relacionados às necessidades das pessoas e da sociedade.

A escola, como espaço socializador da maioria dos alunos, parece não

ter como fugir dessa demanda e, talvez, seria mais prudente enfrentar a

realidade com a ajuda dos seus profissionais, e ai incluo o Orientador

Educacional, buscando conhecimento para lidar com tal situação.

A educação preventiva é uma prática social, nessa perspectiva favorece

a realização de intervenções educativas articuladas com o contexto real dos

envolvidos. As relações do homem com a realidade dinamiza o mundo e uma

proposta educativa deve levar a uma consciência crítica que dê permissão ao

homem de transformar sua realidade, que pode, através da prevenção levar a

diminuição do uso abusivo de drogas e a dependência química.

Quando estamos abertos ao diálogo, criamos uma cognição, uma busca

de soluções e podemos transformar o conhecer em fazer. E ai, provavelmente

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está a solução quanto ao uso/abuso de drogas. Devemos encontrar uma forma

de criar canais comunicativas que nos levem à questionamentos diversos

sobre todos os assuntos e medos que nos assombram, quebrando os

paradigmas e preconceitos que fazem parte de nossas vidas.

Alcançando o jovem através da prevenção, podemos despertar sua

consciência crítico-reflexiva levando-o a distinguir suas escolhas. De acordo

com o entendimento de Lorencini Júnior (1998):

Desenvolver no aluno a percepção sobre si mesmo, do seu

potencial produtivo, crítico e criativo assegura a estruturação de

níveis de autoconfiança, competência, autonomia e

responsabilidade.

Esclarecendo as dúvidas, eliminando os equívocos, revendo os

valores, incorporando hábitos saudáveis de viver, as drogas

deixam de ser o assunto principal, porque na construção de

novos significados para a vida, elas passaram a ser fatores de

restrição da liberdade. (p. 43)

Vista por esse foco, a prevenção como Tema Transversal é importante

no sistema educacional, e, os profissionais de educação precisam lançar mão

de uma nova concepção educacional, voltada para uma visão de mundo e de

homem, com uma nova prática educacional mais sintonizada com as novas

demandas dos alunos.

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ANEXO 1

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ANEXO 2

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BIBLIOGRAFIA

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2007.

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LÜCK, Heloísa, Administração, Supervição e Orinetação Educacional,

Petropólis, Editora Vozes, 1999.

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Paulo, Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Hospital Albert Einstein.

Disponível em:

http://apps.einstein.br/alcooledrogas/novosite/imagens/Guia_Prevencao_Albert_Einstei

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OSOWSKI, Cecília Irene (org.), Provocações da sala de aula, São Paulo,

Editora Loyola, 1999.

PORTO, Olívia, Orientação Educacional – Teoria, prática e ação, Rio de

Janeiro, Editoa Wak, 2009.

RIBEIRO, Wânier, Drogas na escola – Prevenir educando, São Paulo, Editora

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VIEIRA, Cláudio Ribeiro, Drogas. Usar ou não usar? Eis a questão!, Versão

resumida, Rio de Janeiro, Lerfixa Editora, 2005.

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Janeiro, 2007.

___________________, Parâmetros Currículares Nacionais, Temas

Transversais,Terceiro e quarto ciclos do Ensino fundamental, Secretaria de

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

Histórico do consumo de drogas 10

1.1 – Drogas de maior consumo 14

1.2 – Tipos de drogas e seus efeitos 15

1.3 – Tipos de usuários de drogas 16

CAPÍTULO II

Orientador educacional

O profissional mediador 18

2.1 – Ação reflexiva e orientação 21

CAPÍTULO III

A família, a escola e a sociedade na prevenção 24

3.1 – Tipos e papéis da família 29

CAPÍTULO IV

A legislação e o modelo curricular em vigor

Sistematização dos conteúdos através dos Temas

Transversais 31

4.1 – Educação para liberdade. É possível? 32

4.2 – Discussão sobre currículo

Prevenção através da interdisciplinaridade 34

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4.3 – Prevenção de drogas como tema transversal 36

CONCLUSÃO 39

ANEXOS 41

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 43

ÍNDICE 45