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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE O USO DA ÉTICA E DA LINGUAGEM NO ESPAÇO ESCOLAR Por: Maria João Bastos Gaio Orientador Profª. Maria Esther de Araújo Co-orientador Profª. Marta Relvas Rio de Janeiro 2004

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

O USO DA ÉTICA E DA LINGUAGEM NO ESPAÇO ESCOLAR

Por: Maria João Bastos Gaio

Orientador

Profª. Maria Esther de Araújo

Co-orientador

Profª. Marta Relvas

Rio de Janeiro

2004

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

O USO DA ÉTICA E DA LINGUAGEM NO ESPAÇO ESCOLAR

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como condição prévia para a

conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato

Sensu” em Docência do Ensino Superior.

Por: Maria João Bastos Gaio

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AGRADECIMENTOS

Aos professores que me fizeram ser

professora, especialmente ao corpo

docente do Curso de Docência

Superior, e aos meus alunos do

Ensino Fundamental e Médio, da

rede pública de ensino, que me

fazem descobrir, a cada dia, o amor

pelo que faço...

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DEDICATÓRIA

À minha pequena “aldeia” ao norte de

Portugal, onde, no convívio familiar e

em contato com uma natureza

exuberante, fiz a minha primeira leitura

de mundo...

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RESUMO

Este trabalho tem como finalidade servir de instrumento para uma

reflexão da práxis do professor/educador que se preocupa com a

transformação social, através da nova configuração de sociedade onde

valores morais, culturais e a própria comunicação humana sofreram

mudanças bruscas que, se por um lado levaram ao progresso, por outro

criaram um processo de deteriorização humana, de banalização do

preconceito e da violência em relação ao próximo, ao outro humano.

O espaço escolar, sendo ele institucional ou não, e responsável pela

formação integral do aluno em seus aspectos biológicos, psicológicos e

sociais não fica imune a essa problemática social e cabe ao professor,

produto desse meio social, através de uma práxis critica e reflexiva, auxiliar,

servindo de mobilizador e de facilitador para que seu aluno/educando

construa conhecimento, autonomia e um posicionamento crítico e

responsável diante da vida, de maneira que o mesmo possa se utilizar da

linguagem, na construção do diálogo e no emprego de valores éticos na

mediação de conflitos e na construção de sua cidadania plena.

A Linguagem e o uso da Ética no espaço escolar podem auxiliar o

professor/educador na construção desse caminho, onde o processo de

caminhar deve ser compartilhado, dialógico, construído com a participação

de seu aluno/educando.

Quanto à metodologia usada para o desenvolvimento deste trabalho,

tem se como base uma pesquisa de ordem bibliográfica, a partir de autores

da área de Educação como Paulo Freire, Cipriano Luckesi, Haidt, António

Nóvoa, Magda Soares, entre outros, permitindo-se também a incursão por

outras áreas como, Filosofia, Sociologia e Direito, por exemplo.

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Como diz Morin (2002) o século XXI está predestinado ao resgate da

condição humana, já que o século XX caracterizado pela mundialização, que

gerou uma falsa “globalização” e não contemplou o ser humano naquilo que

lhe é mais essencial à justa sobrevivência como humano; e como ratificaria

Quintás (2004) o verdadeiro encontro como o outro, seu semelhante.

E hoje é inquestionável que qualquer que seja o espaço escolar,

formal ou não, o professor não se perceba como elemento importante de

intervenção, objetivando a educação integral do ser humano.

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I - O Humano 12 CAPÍTULO II - A Comunicação Humana 17 CAPÍTULO III - A Origem da Linguagem 20 CAPÍTULO IV - A Ética 47 CAPÍTULO V - A Linguagem e a Ética como Proposta Pedagógica 53 CONCLUSÃO 58 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 60 BIBLIOGRAFIA CITADA 64 ÍNDICE 67 FOLHA DE AVALIAÇÃO 68

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INTRODUÇÃO

Quem somos? De onde viemos? E, o que o futuro nos reserva?

Certamente estes questionamentos, na busca pelo passado remoto da

humanidade sobre a origem de nossos ancestrais, povoam a mente humana

desde que o hominídeo humanizou-se e isso foi um processo de milhões de

anos, onde a bipedia, que pode ser traduzida como a capacidade de andar

sobre as duas pernas mantendo-se ereto e a encefalização, ou seja, o

aumento gradual do tamanho do cérebro fez diferença na evolução dos

humanos em relação aos outros primatas, segundo Franchetto e Leite

(2004).

O homem criou primazia em relação aos outros animais ao perceber

que através de seu pensamento projetava-se no mundo e para o mundo e

que através da comunicação tornava-se possível viver em sociedade, não

mais somente em bandos para guerrear ou caçar.

A descoberta do fogo, a domesticação de animais, a construção de

habitações e a divisão de trabalho, são alguns feitos do desenvolvimento

humano que demonstram a evolução cultural substituindo a biológica. O

homem abandonou, aos poucos, hábitos rudimentares e sofisticou-se não

apenas pelo uso do polegar articulado, que lhe permitia executar

movimentos até então não experimentados, no fabrico de ferramentas e

desse modo produzir, mais e com melhor eficiência, seus meios para

sobreviver. Mas, o mais extraordinário foi perceber que a evolução dos

meios de receber, de comunicar e de registrar conhecimento e,

particularmente, o desenvolvimento da escrita fonética, fizeram dele um ser

único. O homem tornou-se criatura social.

O homem aprendeu a comunicar se diferentemente dos animais, que

se valiam se sons onomatopaicos, e criou a fala e a linguagem humana. E

com ela nomeou e conceituou tudo que o cercava. E, é esta faculdade de

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falar e de nomear que faz uma linha divisória entre humanos e animais. Na

Bíblia, o Criador, Deus, também fala e Adão foi criado já dotado de

linguagem:

“Havendo, pois, o Senhor Deus, formado da terra todos os animais do campo, e todas as aves dos céus, trouxe-os ao homem, para ver como estes lhes chamaria; e o nome que desse a todos os seres viventes, esse seria o nome deles. Deu nome o homem a todos os animais domésticos, às aves dos céus, e a todos os animais selváticos...” 1

Dominou a natureza, empreendendo sua capacidade intelectual na

busca de novas tecnologias que permitiram ao mesmo tempo o avanço

como, por exemplo, a cura de determinadas doenças, e o retrocesso, em

muitos momentos quando vemos a destruição de sociedades e civilizações.

O homem, ser social, através dos séculos estabeleceu novas

relações, principalmente pelo comércio, num início prematuro da

globalização, dando importância ao vio metal. Criou a noção de Estado,

família e propriedade, estabelecendo normas, regras e leis a serem

cumpridas. Segundo Secco (2004), dentre todas as instituições existentes,

estas merecem destaque e são tidas como fundamentais, constituindo-se

pilares que alicerçam a sociedade, sustentando-a.

Chegamos ao final do século XX, de acordo com as idéias de Morin

(2002), num processo de mundialização, onde a busca desenfreada pelo

novo fez a Humanidade perder a noção de futuro como um devir positivo,

dando margem à banalização, dentre outras coisas dos valores éticos e de

uma violência que fez o homem perder a noção de semelhante, do outro, do

ser humano. Não se sabia qual caminho seguir em busca do equilíbrio, da

retidão, do bem viver. Para o mesmo autor chegamos ao século XXI em

busca da humanização, onde cada ser deve ser visto de forma integral e

valorizado dentro da sua própria condição de humano.

1 Gênesis, capítulo 2, versículos 19 e 20 – Bíblia Sagrada.

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A partir destas questões elaborou-se este trabalho, no intuito de se

tornar um material de consulta para educadores, preocupados com uma

práxis reflexiva e crítica, tendo como base uma pesquisa bibliográfica, onde

a busca se deu por autores cuja temática de seus trabalhos fosse voltada

para a comunicação humana e conseqüentemente o desenvolvimento da

linguagem e valores como a ética, que se faz tão ausente, nas relações

humanas, nos dias de hoje.

A escola não é território neutro e não está imune às influências do

mundo globalizado e cada vez mais tecnologizado e por isso nada melhor

que trazer a discussão desta temática para os espaços escolares, sejam

eles institucionais ou não, onde o professor/educador, no seu cotidiano

escolar, possa deflagrar esse momento de discussão com seu

aluno/educando, estabelecendo um processo não de ensino, mas de

verdadeira ensinagem, onde haja efetivamente trocas e afetivamente o

diálogo.

Quanto aos capítulos que compõem este trabalho, o primeiro versará

sobre a origem do homem e como este se diferencia dos demais animais,

principalmente pela aquisição da linguagem. O segundo destina-se a origem

da Comunicação Humana, trazendo um breve histórico e diferenciando-a da

Linguagem. O terceiro tratará da origem ou possíveis origens da Linguagem,

desde lendas indígenas até uma visão cientificista. Este capítulo trará um

subtema, dando enfoque ao uso da Linguagem pelo educador/professor no

espaço sala de aula. De que modo o professor poderá utilizá-la de forma

precisa, criativa e lúdica, propiciando um aprendizado mais eficaz e

significativo. No quarto capítulo, a Ética será o tema principal,

estabelecendo-se uma diferença entre a mesma e a Moral. Haverá também

um subtema, trazendo vários pontos de vista da Ética, a partir do Direito, da

Filosofia, da Sociologia, da Educação, etc. No quinto e último capítulo, o uso

da Linguagem e da Ética aparecerá como uma proposta crítica e reflexiva da

práxis pedagógica, onde professor/educador e aluno/educando promoverão

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o verdadeiro encontro2 que torna autêntico o relacionamento humano e o

conhecimento da humanidade.

2 Conceito fundamentado na obra do pensador Alfonso López Quintás e utilizado pelo autor Gabriel Perissé no livro, Filosofia, Ética e Literatura: uma proposta pedagógica. Editora Manole, S.Paulo, 2004.

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CAPÍTULO I

O HUMANO

Para Maturana (2000) a nossa origem começa a aproximadamente

três milhões de anos atrás, quando habitavam no continente africano, no

norte do Quênia, pequenos primatas bípedes, com estatura equivalente a

uma criança de oito anos e que por vestígios de suas arcadas dentárias

verificou-se que foram coletores e alimentavam-se de sementes, nozes,

raízes, insetos, animais pequenos e, ocasionalmente, os restos de animais

mortos por grandes predadores. Os restos paleontológicos indicam também

que viveram em pequenos grupos de cinco a oito indivíduos de ambos os

sexos e de todas as idades. O cérebro destes seres era cerca de um terço

do nosso atual e se rostos bem próximo ao de um chimpanzé. Porém,

tinham conosco algo muito semelhante, ou seja, o polegar opositor aos

outros dedos, o que lhes permitia fazer correlações visuais e táteis

complexas na manipulação de alimentos, por exemplo, ou mesmo para

acariciar, como fariam outros animais com a língua.

Para Morin (2002, p.51), “a antropologia pré-histórica mostra-nos

como a humanização é uma aventura de milhões de anos e ao mesmo

tempo descontínua e contínua”, porque surgiram novas espécies, mas

outras desapareceram. A linguagem e cultura substituíram modos

rudimentares de viver. Entretanto, o processo de bipedização,

cerebralização (Australopiteco-crânio 508cm³; Homo habilis-crânio 608cm³;

Homo erectus-crânio 800-1100cm³; homem moderno-crânio 1200-1500cm³)

e de complexificação social, durante o qual aparece a linguagem

propriamente humana e ao mesmo tempo em que se forma a cultura,

prosseguiram de forma linear. E conforme figura 13 ,a seguir, se pode

verificar a evolução dos humanos, onde as barras pretas representam

3 Figura adaptada por Jaqueline de Medeiros França do livro de Antonio Arlotto, Historical Linguistics (Boston, Houghton Mifflin Co., 1972, p.107)

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espécies do gênero Australopithecus e as barras cinza representam

espécies do gênero Homo:

Figura 1

Segundo Morin (2002, p.50), “somos ao mesmo tempo seres

cósmicos e terrestres” porque nosso planeta teria surgido há cinco bilhões

de anos, provavelmente, de detritos cósmicos resultantes da explosão de um

sol anterior e como seres vivos dependemos vitalmente da biosfera e para o

mesmo autor “devemos reconhecer nossa identidade terrena física e

biológica”.

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Para Franchetto e Leite (2004), foi há 50 mil anos atrás que ocorreu a

grande e verdadeira revolução da transição para a humanidade moderna,

quando se passou do Paleolítico médio para o Paleolítico recente. Uma das

evidências que leva as autoras há acreditarem nisso é o uso da criatividade

no fabrico de utensílios que passam a ter um caráter mais individual em

detrimento da reprodução de uma mesma forma simples. Ou seja, o homem

passa ser além de social, cultural.

Aos poucos os homens modernos saem da África e espalham-se pelo

mundo suplantando as formas mais antigas de Homo sapiens, com

movimentos de colonização que alcança seu máximo com a revolução

agrícola, acerca de 10 mil anos atrás e para as autoras, Franchetto e Leite “é

difícil imaginar uma transformação tão rápida e profunda sem considerar o

papel crucial de uma linguagem já com todos os elementos das línguas

modernas. Data-se dessa época a existência de uma primeira língua”.

Mas as macroclassificações genéticas e de sua potencialidade para

se chegar à língua original não é unanimidade entre os lingüistas porque há

quem acredite que as semelhanças entre as línguas podem ser explicadas

pelo contato contínuo entre povos vizinhos, mesmo falantes de línguas

geneticamente distintas e não somente por uma origem comum. Esse tipo

de classificação por áreas geográficas complementa ou substitui a

classificação representada por árvores genealógicas.

Como já foi dito, duas características são consideradas fundamentais

para diferenciar os homens dos outros primatas: a bipedia, ou seja, a

capacidade de andar sobre as duas pernas e manter aposição ereta do

corpo e a encefalização, ou seja, o aumento gradual do tamanho do cérebro

que nos nossos ancestrais de três milhões de anos atrás era maior que o de

um cão e comparável ao de um chimpanzé. Além disso, a linguagem

aparece nas espécies tardias do gênero Homo e tem sido considerada,

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também, como um elemento que distinguiria humano e não humanos. Na

figura 24 verifica-se a evolução dos primatas até chegarmos ao ser humano:

Figura 2

Mas, como explicar a linguagem humana? Segundo Franchetto e

Leite (2004, p.38):

“No que tange ao componente físico ou anatômico, é importante observar que a posição da laringe, no homem, permite a produção de uma gama ampla e diversificada de sons graças a vibrações específicas e diferenciada das cordas vocais. A modificação da altura da laringe, mais baixa nos humanos do que nos chimpanzés, foi uma das condições físicas necessárias para o advento da linguagem humana vocalizada. No entanto essa modificação pode ter começado há mais de um milhão de anos, com os Homo erectus e ergaster, ou seja, antes do advento da linguagem plenamente desenvolvida”.

Para Maturana (2000, p.74):

“A transformação da corporalidade humana, desde a formação ancestral até a forma presente em relação com a conservação da maneira humana de viver que começou com a linguagem e sua

4 Figura adaptada por Tatiana Libman do livro Evolução Humana (São Paulo, Atheneu, 1999), de Roger Lewin

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conservação na aprendizagem das crianças, deve ter ocorrido na história ininterrupta de uma família ou de uma pequena rede de famílias de cruzamento interno”.

E o que se espera nos próximos capítulos é tentar elucidar como a

linguagem foi adquirida pelos humanos e como se tornou um importante

instrumento de preservação, não só de valores sócio- econômicos- culturais,

mas da própria espécie, contribuindo sobremaneira para o desenvolvimento

da mesma e como o espaço escolar, sendo ele institucional ou não, também

se torna lugar de disseminação da linguagem e dos valores éticos e morais

fundamentados pelo homem através dos tempos.

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CAPÍTULO II

A COMUNICAÇÃO HUMANA

A comunicação é uma questão essencialmente social e o seu

conceito surge, certamente, em diversas disciplinas como, por exemplo,

Sociologia, Lingüistica, Psicologia e Economia. Neste caso específico ela

será abordada dentro da área de Educação.

O termo “comunicação” traz mais prontamente à lembrança o envio

ou recebimento de uma carta, ou uma conversa entre amigos, ou uma

transmissão on line onde pessoas se comunicam através do uso da

informática, em qualquer parte do mundo. Mas os exemplos de “sistemas”

de comunicação são inúmeros e variados. A própria palavra comunicar

significa “partilhar”, na medida em que emissor e receptor compreendem um

ao outro, formando uma unidade. O grau de comunicação, a partilha,

constitui uma comunidade de idéias. Mas, não necessariamente a fala e a

escrita são os únicos sistemas de comunicação.

O homem desenvolveu uma porção de diferentes sistemas de

comunicação que lhe tornaram possível à vida social, num sentido

desconhecido dos animais. E o mais importante é de certo a fala e a

linguagem humana e graças às suas notáveis faculdades de falar pode dar

expressão a praticamente qualquer pensamento. Mesmo o surdo de

nascença pode falar e comunicar-se; no entanto, o som enquanto som está

além de sua experiência. Como sugere Cherry (1971, p.23), “o

desenvolvimento da linguagem se reflete de volta no pensamento, pois, com

a linguagem, os pensamentos se podem organizar e novos pensamentos

surgir”. O homem passa a ter a consciência de si próprio e cria

responsabilidades sociais pelos pensamentos organizados, surgindo

sistemas de ética e de leis.

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A comunicação implica essencialmente uma linguagem, um

simbolismo, quer seja um dialeto falado, uma inscrição em pedra, um sinal

de código Morse. O intercambio social é grandemente reforçado por hábitos

de gesticulação como pequenos movimentos das mãos e da face. Sorrisos,

apertos de mãos, beijos e outros gestos podem comunicar compreensão

mais sutil. Podemos observar que cresce a cada dia estudos e pesquisas

relacionadas com consciência corporal Também temos convenções de

sinais de trânsito, de trajes e de formalidades sociais. Segundo Cherry

(1971, p.31):

“Fisicamente, transmitimos sinais ou signos audíveis, visuais e táteis. Todavia a mera transmissão e recepção de um sinal físico não constituem comunicação. Um signo quando é apreendido pelo receptor, tem a potencialidade de selecionar respostas nele. Fisicamente, quando nos comunicamos, fazemos ruídos com a boca, ou gesticulamos, ou exibimos alguma senha ou ícone, e esses sinais físicos suscitam uma conduta responsiva”.

O homem tem notáveis poderes de aprendizagem. Cada

comunicação, cada percepção vai se somar ao seu cabedal de experiências;

ele está continuamente se tornando uma pessoa diferente, pois cada

experiência sua faz parte de um processo continuado. A esse respeito, os

PCN (2000) – Parâmetros Curriculares Nacionais - apresentam como

objetivos gerais do ensino fundamental uma lista de capacidades a serem

objetivadas, uma lista que por constar do volume introdutório, ganha um

caráter programático e interessa também aos professores de todos os níveis

de ensino:

“Utilizar as diferentes linguagens – verbal, matemática, gráfica, plástica e corporal – como meio para produzir, expressar e comunicar suas idéias, interpretar e usufruir das produções culturais, em contextos públicos e privados, atendendo a diferentes intenções e situações de comunicação”.

(grifo nosso)

A comunicação humana difere da animal porque não somos animais

num rebanho e nem insetos num enxame, pois podemos alterar essa

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relações; podemos ter intento e motivos; acreditamos e assumimos atitudes.

Comunicamo-nos em sociedade e nossa linguagem canaliza nossos

pensamentos e nos possibilita uma maneira particular de ver o mundo, não

“como é”, mas como o vemos ser. Existe somente um “agora”, mas criamos

passado presente e futuro.

Segundo Cherry (1971, p.61), tornou-se comum referir-se ao homem

como “o animal comunicativo” e o mesmo acrescenta:

“De todas as suas funções, a de construir sistemas de comunicação de infinita variedade e finalidade é uma das mais características. Entre todas as criaturas vivas, ele possui os sistemas de linguagem mais complexos e adaptáveis; é o que observa com maior amplitude seu ambiente físico e o que se mostra mais receptivo no seu ajuste a ele. Organizou sistemas éticos, políticos e econômicos de variadas espécies; exibe maior sutileza no expressar seus sentimentos e emoções, simpatia, espanto, humor, ódio, ou seja, todas as facetas de sua personalidade. É consciente de si mesmo e responsável; desenvolveu sensibilidade espiritual, estética e moral”. (grifo nosso)

Nos próximos capítulos serão abordadas a temática Linguagem e a

temática Ética, sob seus diversos aspectos, como fruto do desenvolvimento

humano e como a conjunção destes dois conceitos podem contribuir para

uma reflexão crítica da práxis do professor/educador.

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CAPÍTULO III

A ORIGEM DA LINGUAGEM

Há muito tempo o homem busca explicações não somente sobre sua

própria existência, como também, de que forma teria surgido a linguagem.

Para alguns povos indígenas brasileiros a origem estaria ligada às figuras

míticas, que sempre surgem em forma de animais ou outros elementos da

natureza, posteriormente assumindo formas humanas. Por exemplo, para os

karajás, que habitam a Ilha de Bananal, no Tocantins, os homens são

originários dos aruanãs, peixes que habitam as águas profundas. Um deles,

certo dia, ao seguir um raio de sol, chega à superfície e fica fascinado ao

deparar-se com um mundo completamente diferente. Transforma-se em

humano e passa a experimentar de todas as boas sensações humanas,

como sentir o perfume de uma flor, por exemplo. Mas, também experimenta

o perigo, o sofrimento e a morte. Volta ao seu habitat, e ao relatar o que

vivenciará a curiosidade do restante de seu grupo é atiçada e todos

resolvem vir à superfície e transformam-se em gente de verdade. Neste

processo de humanização, adquirem movimento humano em oposição à sua

mobilidade de seres do mundo subaquático.

Para os kuikuros, a linguagem sempre existiu, já que ela está na

origem de tudo, e fora criada pelos gêmeos sol e lua, mesmo antes do

homem existir. Todos eram seres sobrenaturais e homens e animais se

comunicavam e tinham a capacidade de falar. Mas, com o tempo, o mundo

dos seres sobrenaturais se separou do mundo dos homens que, por vez,

também se separaram dos animais, num processo cheio de conflitos e

vinganças e assim os animais foram para a floresta onde passaram a rugir,

grunhir e etc.

Já para os tapirapés, povo tupi, da margem do rio Tapirapé, de Mato

Grosso, são os homens transformados em amimais pela figura de Peetora,

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um herói mítico, que “sopra palavras” e transforma os índios em animais,

como tamanduás, quatis, macacos e etc. Para Franchetto e Leite (2004, p.9)

há semelhança com o Velho Testamento, onde Deus se utiliza da palavra

para criar o mundo:

“No Gênesis, no primeiro dia da criação, o Criador diz: ‘Faça-se a luz’. E a luz se fez. ’E Deus viu que a luz era boa; e separou-a das trevas. E chamou à luz dia, e às trevas, noite’. E foi com a palavra que Deus criou os animais e do barro modelou o homem, à sua imagem e semelhança, ‘e criou varão e fêmea’, e com um sopro de vida em seu rosto tornou o homem ‘alma vivente’”.

Para as mesmas autoras, a questão da origem da linguagem é cheia

de controvérsia dada à falta de provas e testemunhos factuais, em oposição

ao da evolução da espécie humana para o qual há evidências concretas.

Discorrem sobre três teorias numa tentativa de explicação e a primeira é que

as palavras surgiram numa tentativa de imitar os sons produzidos pelos

animais e os sons da natureza como, por exemplo, o barulho da chuva, o

farfalhar das folhas e etc. A esta teoria chamaram onomatopaica, porque

evoca à seu favor a existência de onomatopéias em todas as línguas. A

segunda teoria se pautaria na busca do germe da linguagem nas interjeições

de dor, alegria, espanto, desespero, mas que também não explica como o

homem passou desse estágio para a linguagem articulada de frases como

“eu estou feliz” ou “eu estou com dor”. A última teoria sugere que os

primeiros sons teriam acompanhando situações como, o acasalamento, o

ato de comer, as lutas entre outros, porque o esforço muscular empregue

para esses atos seriam acompanhados por ação intermitente da glote, da

língua, dos lábios e do palato mole onde a alternância dos movimentos de

segurar e soltar a respiração, algumas vezes, teria produzido a voz.

Estabelecer padrões considerados científicos, para o estudo da

linguagem, sem interferências religiosas ou filosóficas, é longo e tortuoso. E,

a partir deste momento, far- se- a um “um passeio” desde a Grécia Antiga,

até aos dias de hoje, buscando embasamentos que levem à origem da

linguagem ou não, visto que o assunto é realmente controverso.

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Dizem que a civilização ocidental desenvolveu-se a partir da corrente

judaico-cristã no que concerne às crenças religiosas e a partir das greco-

latinas no tocante aos primeiros elementos racionais da arte, literatura e das

ciências. E os gregos, com suas necessidade de questionamento constante

do mundo formularam questões básicas sobre a linguagem que se tentam

responder até hoje.

Antes de Sócrates (470/469-399 a.C.), a fala e ação estavam

intimamente ligadas. A linguagem servia à arte da persuasão e ao homem

político. Com Platão (427-347 a.C.) é que a controvérsia começa a se

explicitar quanto à relação entre nomes e coisas, em Crátilo, diálogo que

trata da origem da linguagem. Seriam os nomes (ónoma) impostos aos

homens por uma necessidade da natureza? Ou seriam resultado de uma

convenção, de um contrato (nómos), cuja origem viria do poder de

julgamento dos homens?

Não houve muito avanço porque a filosofia grega visava somente

compreender a idéia original que dera lugar ao vocábulo, sem haver

preocupação se a língua era um acontecimento histórico em mutação e sem

levar em consideração a diversidade lingüística, visto que para os gregos, a

língua grega resumia as demais.

Foi com o filósofo macedônio Aristóteles (384-322 a.C.) que a

linguagem toma vulto como um fato e uma criação eminentemente humanos,

onde as palavras são frutos da construção humana e não imitação (mímesis)

do objeto nomeado.

Atravessa-se o tempo e chega-se ao filósofo Rousseau (1712-1778)

que diz era a linguagem música e paixão. Para ele os homens constituem

sociedade e daí a motivação para a linguagem humana, visto que há

necessidade de comunicação. Segundo Franchetto e Leite (2004, p.17), “o

homem não começou raciocinando, mas sentindo, de acordo com

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Rousseau” e “o homem pode comunicar-se pelo movimento corporal (o

gesto) ou pela vocalização (a palavra)”.

Para Rousseau a linguagem corresponde a uma necessidade interna

humana de se comunicar, mas que o comunicar idéias independem dos

orgãos da fala porque outros poderiam ser usados com o mesmo fim. Para

ele o fenômeno Linguagem estaria ligado ao desenvolvimento das formas de

vida social, sendo a primeira língua universal, “grosseira e imperfeita”, feita

de gestos, vocalizações e onomatopéias. As primeiras teriam sido

caracterizadas por muitas vogais e poucas consoantes, poucas articulações,

sons variados, multiplicidade de acentos; “cantar-se-ia no lugar de falar”.

O filosofo alemão Johann G. Herder (1744-1803) afirmou a

inseparabilidade de linguagem e pensamento: a primeira é a forma, o

conteúdo, o instrumento do pensamento humano. Essa relação já estava

nos gregos, mas se debatia a precedência de um ou de outro. Para

Aristóteles, o pensar precederia à nomeação. A cognição e a abstração

eram, assim, hierarquicamente superiores à linguagem, que deles

dependeria para ser expressa.

A hipótese de Herder é de uma origem comum e paralela, tanto da

linguagem quanto do pensamento, através de etapas sucessivas

decrescimento e maturidade. Anula-se, assim, a questão da precedência, de

quem vem primeiro.

O século XVI foi marcado pela expansão territorial da Europa e pela

conquista e colonização do chamado Novo Mundo. As mudanças sociais e

políticas que se operam com o reconhecimento de outros mundos tiveram

conseqüências diretas nos caminhos da lingüística, que se tornaram mais

numerosos e complexos.

Foi essa a época do renascimento das letras e das artes, em que se

decreta a morte do obscurantismo medieval e à volta ao estudo do grego e

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do latim. Os horizontes lingüísticos também se ampliam com as análises do

hebraico e do árabe.

E no final do século XVI, nesse contexto em que a diversidade

começava a encontrar o seu lugar, que surgem no cenário as línguas dos

povos das Américas, o que tornaria mais complexa a questão da origem da

linguagem. Como explicar tanta diversidade?

A explicação da diversidade não podia encontrar respostas nas

teorias dos filósofos racionalistas, cujo expoente máximo foi o francês René

Descartes (1596-1650). Surge, então, um novo paradigma, que poderia

contribuir para se entender melhor a evolução das línguas, seu passado e

sua origem.

A primeira etapa em qualquer disciplina que se queira científica é ter

um método seguro de classificar os seus objetos. E foi no século XIX que a

lingüística se constituiu como uma ciência autônoma pelo desenvolvimento

de uma metodologia própria e rigorosa para explicar a diversidade, através

de um estudo comparativo-genético que estabeleceria as relações históricas

entre línguas bastante diferenciadas e, por vezes, distantes

geograficamente.

Um meio encontrado para se explicar a diversidade foi atribuir uma

origem milenar comum a várias línguas que teriam derivado de uma língua-

mãe originária. A diversidade seria resultante de migrações, em épocas

diferentes, de populações que outrora habitavam um mesmo território. E um

grande passo para isso foi dado por Sir William Jones (1746-1794),

funcionário das Índias Ocidentais, no final do século XVIII, em seu famoso

trabalho que mostrava possíveis relações históricas entre o sânscrito da

Índia, o grego, o latim e as línguas germânicas. O lingüista e escritor Jacob

Grimm (1785-1863) e o lingüista dinamarquês Rasmus C. Rask (1787-1832)

aprofundaram os estudos de W. Jones e assim nascia o grande

agrupamento de línguas denominado indo-europeu.

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A construção do proto-indo-europeu, a língua – mãe, e a inclusão de

línguas dela descendentes numa grande família foi a missão da lingüística

histórica no século XIX. No inicio do século XX já se sabia que esse grande

agrupamento incluía cerca de 60 línguas distribuídas num vastíssimo

território.

A pedra de toque do método histórico-comparativo é o

estabelecimento de cognatas, palavras descendentes da mesma palavra

antiga e que exibem semelhanças sistemáticas e numerosas em suas

formas fonéticas e sentidos. A quantidade numérica dessas

correspondências afastava a hipótese de as semelhanças serem devidas a

um mero acaso, sendo a causa mais provável uma origem histórica comum.

A língua ancestral, ou protolíngua, era o resultado de uma reconstrução feita

a partir dessas recorrências- os cognatos- encontradas nas línguas

derivadas.

Um passo mais a frente é dado por Merrit Ruhlhen, que em seu livro

On the Origin of Languages (1994) arrola 27 raízes comuns a línguas da

África e das Américas. Segundo Ruhlen, as descobertas da arqueologia e da

genética vêm reforçar a hipótese de uma primeira língua-mãe.

Além disso, as semelhanças entre as línguas podem ser explicadas

não pelo fato de terem uma origem comum, mas pelo contínuo contato entre

povos vizinhos, mesmo se falantes de línguas geneticamente distintas. Essa

classificação por áreas geográficas complementa, ou até substitui, a

classificação representada por árvores genealógicas.

A diversidade lingüística humana nunca deixou de ser objeto de

perguntas, investigações, explicações do mito da Torre de Babel à pesquisa

cientifica. E hoje se falam de 4.500 a 6.000 línguas, que se distribuem de

maneira desigual. Entretanto apesar da diversidade há características

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profundas comuns a todas as línguas, princípios e operações que

encontramos em todas elas.

No século XIX, Charles Darwin (1809-1882) revoluciona as ciências

com sua teoria da seleção natural que explicaria o processo de

aparecimento e desaparecimento de espécies desde o surgimento da vida

no planeta até os dias atuais. A teoria da evolução por seleção natural veio a

reconhecer o dinamismo das espécies, o que naturalmente a levou a se

contrapor à visão estática da explicação divina.

No entanto, foi somente na década de 1940 que um novo consenso

se estabeleceu entre historiadores naturais, geneticistas e paleontólogos,

criando a chamada Síntese Moderna, que segundo Franchetto e Leite (2004,

p. 36) significa:

“1-a evolução se processa de modo gradual, com acúmulo de mudanças ao longo do tempo; 2- essa transformação resulta da ação da seleção natural sobre os genes; 3- esses dois processos explicam não somente mudanças dentro das espécies como também a origem de novas espécies. Com isso, o darwinismo ganhou um a força nova”.

Na escala evolutiva, a linguagem aparece nas espécies tardias do

gênero Homo e tem sido considerada um dos elementos distintivos que

oporiam humanos e não-humanos. Em seus componentes físico e mental,

não é igual a nenhum, outro tipo de linguagem animal conhecida, embora

diversas espécies apresentem sistemas bastante desenvolvidos.

Hoje em dia, dois modelos concorrem na questão da origem da

linguagem: o programa minimalista liderado por Noam Chomsky, professor

do Massachusetts Institute of Technology, e um novo funcionalismo,

representado por Talmy Givón, professor da Universidade de Oregon.

No programa minimalista de Chomsky o alvo é a formalização de uma

gramática universal única, já que a faculdade da linguagem é igual para

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todos os homens e independe, assim, de fatores sociais e geográficos ou de

limites da execução. O que se procura retratar é um falante/ouvinte ideal. A

proposta de Chomsky retoma até certo ponto, o que o filósofo e cientista

inglês Bacon (1220-1292), especialista em grego, árabe e hebraico,

formulara no século XIII: “A gramática é uma só e a mesma para todas as

línguas em sua substância, as diferenças de superfície entre elas são

variações meramente acidentais”.

O movimento inverso da Givón tem como ponto de partida a produção

e suas variações e motivações funcionais, o condicionamento da linguagem

ao contexto cultural e à pragmática comunicativa, enfim, aos fatores que

condicionam a execução como limitação da memória, tempo e estratégias de

processamento, acessibilidade ao contexto cultural compartilhado etc.

Há, assim, dois centros polares de discussão, cada um com propostas

emanadas de teorias epistemologicamente opostas, com o objetivo de lançar

novas luzes sobre a questão milenar da origem da linguagem, que pelo que

foi percebido, ainda está longe de ser desvendado. A Linguagem Humana,

ainda é um mistério...

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3.1.A LINGUAGEM EM SEU USO PRECISO, CRIATIVO E LÚDICO PELO EDUCADOR NO ESPAÇO

ESCOLAR.

Far- se- á uma abordagem da linguagem como elemento importante

na busca de um diálogo educativo por parte dos professores/educadores e

que preserve e cultive a formação integral do aluno. E para que isso se

concretize serão usados os PCN, como fonte de consulta, e autores que dão

a linguagem uma importância no processo do encontro se um ser humano

consigo mesmo, com as outras pessoas, com a realidade.

Cabe ressaltar que os objetivos e intenções pedagógicas

desenvolvidos pelos PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais), que tendo

sido elaborados para atender ao Ensino Fundamental e Ensino Médio,

trazem claramente em sua perspectiva construtivista uma proposta de

trabalho abrangente que poderia ser estendida para o Ensino Superior. E

segundo Perissé (2004, p.XI):

“[...] nessa busca de qualidade educacional, não basta capacitar o estudante para as especializações profissionais tradicionais, mas formá-lo de modo integral, relativamente aos aspectos cognitivos, afetivo, físico, ético, estético, à inserção social consciente, preparando-o para adquirir novas competências, familiarizar-se com novos saberes, novas tecnologias e linguagens, e tornar-se, assim, um novo tipo de profissional, num mundo de novos ritmos e processos”. (grifo nosso)

Para o filosofo López Quintás, citado por Perissé (2004) a linguagem

assume papel fundamental possibilitando ao professores/educadores das

diferentes disciplinas abordarem produtivamente temas transversais como,

por exemplo, a Ética, a Saúde, a Orientação Sexual, o Meio-Ambiente,

Pluralidade Cultural, o Trabalho e Consumo, na busca da formação integral

do aluno. Os professores/educadores saberão exercitar-se na busca de um

diálogo educativo com vistas à preservação e o cultivo da dignidade da

pessoa humana, a igualdade de direitos e oportunidades, e a vivência da

cidadania ativa.

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Comunicar-se não significa meramente transmitir conteúdos. Quando

uma pessoa se comunica, dá-se um acontecimento criador, que ao mesmo

tempo recria e leva à auto-realização o ser que se comunica. Diz Perissé

(2004, p.88) que:

“O homem é, na medida em que atua, não apenas homo sapiens, mas também homo loquens. Somos humanos na medida em que somos ‘seres de caráter verbal’ e, pela linguagem, temos acesso à realidade pessoal e ao nosso entorno. Mais ainda, somos seres humanos na medida em que podemos fazer relatos biográficos, desenhar na própria mente palavras que, por sua vez, desenham realidades futuras em direção das quais nos lançamos em busca da nossa realização”.

E como o professor/educador emprega a linguagem em sala de aula?

Para Perissé (2004), boa parte dos fracassos pedagógicos se deve ao mau

uso da linguagem pelos educadores, ou melhor, os educadores não

desenvolvem a devida intimidade com a linguagem, explorando-a em seu

caráter ambiental, em sua plasticidade e diversidade. A grande maioria

limitar-se-ia à dimensão significativa da linguagem.

E o que isto pode acarretar como conseqüências? Os alunos passam

somente a serem usuários da escola, não se sentindo envolvidos e

motivados à aventura do conhecimento. Não há diálogo e segundo Freire

(2003, p. 136) “o sujeito que se abre ao mundo e aos outros inaugura com

seu gesto a relação dialógica em que se confirma como inquietação e

curiosidade, como inconclusão em permanente movimento na História”. Ou

seja, o professor que apenas se esmera para transmitir de modo correto um

determinado conteúdo, cumpre seu papel de transmissor e corre o risco de

limitar sua tarefa docente a uma tarefa sem criatividade, sem emoção.

Para Perissé (2004, p.94):

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“Uma aula viva é uma aula criativa, uma aula eloqüente. A linguagem em sala de aula torna-se expressiva, e inesquecível, de modo diretamente proporcional à capacidade criadora dos protagonistas do diálogo educativo, professor e alunos, que ao mesmo tempo se alimentam do diálogo que protagonizam”.

Como seres loqüentes e dialógicos nos é possível dar significados as

palavras e delas extrair todo o seu alcance criativo. A aula criativa nos

possibilita inéditos contatos com o real, graças à liberdade humana, aceita

no diálogo e valorizada no mutuo ouvir. Quando as palavras adquirem

sentidos novos e surpreendentes para nós mesmos, quando fazemos

descobertas e temos insights durante uma aula,isso nos faz ter mais vontade

de aprender. Temos certeza que estamos exercitando nossa criatividade.

Para Quintás, citado por Perissé (2004), é sinal do entusiasmo.

Mesmo para os professores/educadores que fazem o uso da

linguagem de forma meramente significativo, redundando em “aulas

mornas”, sem desafios, carentes de entusiasmo, e de motivação para

aprendizagem, cabe ressaltar que não se trata de um caminho sem volta.

Mesmo numa aula com característica mais expositiva, se professor e aluno

criam um âmbito interpessoal, permitindo-se descobrir, nas entrelinhas de

uma situação entediante, as pontecialidades de um encontro humano,

reabrem-se vertentes; o monótono e o superficial dão lugar ao significativo e

ao relevante.

O papel do professor/educador no que diz respeito à linguagem é

segundo Perissé (2004, p.100):

“Reambientalizar as palavras, recorrendo à leitura, à reflexão, à arte do diálogo (arte que muito tem de ouvir), renunciando ao desejo de controlar um vocabulário sancionado, numa terminologia delimitadora com os quais sinta a (falta) segurança de dominar cada passo do processo de aprendizagem”.

Para Freire (2003, p.117) a importância do silêncio, ou seja, do ato de

escutar, no espaço da comunicação é fundamental. Vejamos o que diz:

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“De um lado, me proporciona que, ao escutar, como sujeito e não como objeto, a fala comunicante de alguém, procure entrar no movimento interno do seu pensamento, virando linguagem; de outro, torna possível a quem fala realmente comprometido com comunicar e não com fazer puros comunicados, escutar a indagação, a dúvida, a criação de quem escutou. Fora disso, fenece a comunicação”.

Para Soares (1999), Profª. da UFMG (Universidade Federal de Minas

Gerais), a linguagem sendo ela o principal produto da cultura, e o principal

instrumento para sua transmissão, desempenha um papel importante frente

as diferentes ideologias que tentam explicar o fracasso escolar,

principalmente nas camadas mais populares. É o uso da língua que gera

discriminações e fracasso visto que os alunos usam variantes lingüísticas

social e escolarmente estigmatizadas provocando, consequentemente,

preconceitos que levam às dificuldades de aprendizagem. E escola, de

maneira geral, usa e quer ver usar a variante-padrão socialmente

prestigiada.

Para a autora, a Antropologia já demonstrou que não há culturas

superiores ou inferiores, umas as outras e sim que cada uma tem

integridade própria. Com o estudo das línguas se dá à mesma coisa. Cada

qual se faz necessária à cultura que serve, adequando-se as necessidades e

características de cada uma. E, embora, um grupo de pessoas que utilizem

à mesma língua forme uma comunidade lingüística, a diferenciação

geográfica e social entre os segmentos dessa comunidade pode ocasionar

um processo de diferenciação lingüística, que pode se dar nos níveis

fonológico, léxico e gramatical, fazendo surgir os falares e dialetos regionais.

Para Labov, citado por Soares (1999), que estudou crianças de

guetos nova-iorquinos, pertencentes às camadas mais populares da

população, as mesmas dispõe de um vocabulário básico exatamente igual

ao de qualquer outra criança, possuem a mesma capacidade para a

aprendizagem conceitual e para o pensamento lógico. O que falta é avaliar a

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verdadeira capacidade verbal da criança no contexto cultural em que essa

capacidade se desenvolve, e em situações naturais distensas. Para ele o

dialeto não padrão difere do dialeto padrão de modo regular e de acordo

com regras, e oferece formas equivalentes para a expressão do mesmo

conteúdo lógico.

Tentar explicar o fracasso escolar pela “deficiência lingüística” é

camuflar a verdadeira origem que está na identificação dos obstáculos

sócias e culturais à aprendizagem, e na inabilidade escola em ajustar-se à

realidade social. Para Soares (1999, p.48) “o ideal, seria uma sociedade livre

de preconceitos lingüísticos, em que cada um pudesse usar seu próprio

dialeto, sem medo do ridículo ou da censura, e uma escola que não

interferisse no comportamento lingüístico dos alunos...”. Ela sugere que uma

mudança de atitude através do uso do bidialetalismo, ou seja, falantes de

dialetos não-padrão devem e podem aprender o dialeto-padrão, para usá-lo

nas situações em que é requerido, poderia ser a solução educacional,

tornado-se o bidialetalismo funcional.

Lemle, citada por Soares (1999, p.49) traz uma nova visão da tarefa

do professor diante do fato de que o dialeto-padrão só é padrão por razões

histórico-sociológicas, e diz:

“A sua missão não é a de fazer com que os educandos abandonem o uso de sua gramática ‘errada’ para a substituírem pela gramática ‘certa’, e sim a de auxiliá-los a adquirirem, como se fora uma segunda língua, competência no uso das formas lingüísticas da norma socialmente prestigiada, a guisa de um acréscimo aos usos lingüísticos regionais e coloquiais que já dominam. A noção essencial aí é a de adequação: existem usos adequados a um dado ato de comunicação verbal, e usos que são socialmente estigmatizados quando usados fora do contexto apropriado [...]”.

Com o advento da “democratização” do ensino, houve um aumento

considerável na procura, pelas camadas menos privilegiadas da população,

por vagas nas escolas. Mas, a escola não estava preparada para esta

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transformação social. Se por um lado aumentou-se quantitativamente o

número de alunos, por outro, qualitativamente, a escola falhou por não saber

lidar com as diferenças culturais, principalmente no que tange ao uso da

linguagem.

Então, um dos problemas que se coloca, hoje, é saber como a escola

que gerou esse conflito lingüístico, pode usar a linguagem como instrumento

e objetivo não somente para atender as classes dominantes, mas para que

se transforme verdadeiramente num espaço de possível transformação

social na luta contra as desigualdades econômicas e sociais.

E o professor/educador terá papel fundamental, como cita Pimenta

(2002) no desafio de educar para o desenvolvimento humano, cultural

científico e tecnológico, de modo que adquiram condições para enfrentar o

mundo contemporâneo.

O professor/educador pode contribuir muito com seu saber, valores e

experiências para melhorar a qualidade social da escolarização. Transformar

sua prática pedagógica através de uma reflexão constante e que amplie sua

consciência sobre a sala de aula e ao espaço escolar como um todo.

Conhecimentos teóricos e críticos se fazem necessários e dentre ele

destacamos o planejamento, os recursos didáticos e sua utilização e a

avaliação, além do próprio relacionamento que se estabelece entre educador

x educando.

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3.1.1. A RELAÇÃO PROFESSOR/EDUCADOR

X

ALUNO/EDUCANDO

Cada classe ou turma constitui um grupo onde a interação social se

processa por meio da relação professor- aluno- aluno - professor,

possibilitando desta forma a criação de hábitos, o desenvolvimento de

atitudes e a assimilação de valores.

Sobre o ato de ensinar Jerome S. Bruner diz ser ele um ato

essencialmente social, pois “as relações entre quem ensina e quem aprende

repercutem sempre na aprendizagem”. Portanto, ambos, professor e aluno,

têm papel fundamental no processo de ensinagem. É por intermédio dessa

interação, a partir das relações estabelecidas em sala de aula, é que o

conhecimento, dentro de uma perspectiva libertadora de educação, vai

sendo coletivamente construído.

A interação educativa pressupõe o desempenho de papéis por

ambos- professor x aluno- que levam a uma cumplicidade necessária, um

compartilhar de saberes, numa relação dialógica onde aluno e professor

sejam ao mesmo tempo produtores e consumidores do conhecimento, do

saber, historicamente construído.

Nesse processo de interação o papel do professor vai além do de

simples mediador, atingindo uma postura que lhe exigirá desafiar, dirigir e

/ou sugerir, atendendo a diversidade de seus alunos, interagindo com cada

um deles em particular e com a classe como um todo, não apenas

transmitindo conhecimento, em forma de informações, conceitos e idéias

(aspecto cognitivo), mas também facilitando a veiculação de ideais, valores,

princípios de vida (elementos da esfera afetiva) contribuindo, dessa forma,

para a formação da personalidade e do aluno e possibilitando “n” maneiras

de ver o mundo e dele fazer várias leituras.

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Alguns elementos são fundamentais neste processo: o diálogo, a

humildade como qualidade compatível com esse “dialogar” e com o fato do

educador se reconhecer como aprendiz em muitos momentos, a autoridade

sem autoritarismo, pois, como dizia Terêncio, citado por Montaigne, se

engana “quem imagina ter sua autoridade mais solidamente assegurada

pela força do que pela afeição” (Ensaios, II, p.181). e por fim a afetividade

entre professor e aluno.

Partindo do princípio de que o processo de ensinagem implica ser um

acordo firmado entre pessoas livres, onde há liberdade de escolhas, cabe ao

professor propiciar condições necessárias para que os seus educandos

possam ser expressar quanto ao encaminhamento de idéias que venham ao

encontro do estabelecimento de direitos e deveres, que devem ser

respeitados por todos e aí não se exclui o professor.

Podemos citar Saint-Exupéry em seu “O Pequeno Príncipe” quando,

através do personagem da raposa, diz ao principezinho, que para se

conquistar amizade de alguém, ou seja, conquistar sua confiança em relação

a nós se faz necessário cativá-la. Fazemos aqui uma ressalva ao significado

de cativar como a habilidade necessária, entre outras tantas que os

professores necessitam desenvolver, de um educador para que se torne

possível um contrato entre ele e seus alunos.

E, finalizando, isso só se torna possível quando se pode falar com a

verdadeira afetividade. Assim, de acordo com os ideais de Freire (2003),

pelo viés da afetividade, da amorosidade, do respeito aos saberes do

educando, da disponibilidade para o diálogo, sabendo ouvir seu aluno,

certamente o educador estará construindo sua competência profissional,

com segurança e generosidade e permitindo que seus alunos possam

também intervir no mundo.

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3.1.2. O PLANEJAMENTO

Há uma definição para Planejamento que se encontra em Haidt (1999,

p.94) e diz o seguinte: “Planejar é analisar uma dada realidade, refletindo

sobre as condições existentes, e prever as formas alternativas de ação para

superar as dificuldades ou alcançar os objetivos desejados. Portanto o

planejamento é um processo mental que envolve análise, reflexão e

previsão”.

Segundo Nélio Parra, citado por Haidt (1999, p.94), planejar é decidir

e prever sobre: “que pretendemos realizar, o que vamos fazer e como vamos

fazer e o que e como devemos analisar a situação, a fim de verificar se o

que pretendemos foi atingido”.

O Planejamento para a atividade docente, ou seja, como o

professor/educador pode fazer uma previsão das ações e procedimentos

que vai realizar junto aos educandos, bem como do desenvolvimento das

atividades discentes e das experiências de aprendizagem, visando atingir os

objetivos educacionais previamente estabelecidos é de suma importância

visto que o mesmo deve-se assumir como um facilitador da aprendizagem

visando “o diálogo educativo que preserve e cultive a dignidade da pessoa

humana, a igualdade de direitos e a vivência da cidadania ativa” como afirma

Perissé (2004, p. XIV).

Como a linguagem guarda grande alcance pedagógico é importante

há que se ter atenção para a manipulação que pode ocorrer através de uma

linguagem vazia ou impregnada de antivalores que facilmente podem

contaminar os alunos/educandos.

Segundo Perissé (2004, p. 27) “a linguagem como expressão do

dialogo, do amor que conhece, e que faz surgir campos de realidade, cria

âmbitos, levando as pessoas envolvidas nesse diálogo - o professor e os

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alunos - a tomar consciência do seu valor como seres inteligentes, criativos,

livres convocados à plena realização”.

Vive se, ainda, dentro de uma visão cientificista de pensar e ensinar

onde tende se a objetivar tudo, separando cada realidade de seu contexto

para proceder à análise, e separando cada disciplina da outra a fim de

destacar com exatidão o que cada uma tem a dizer sobre dada realidade.

Cada uma tira da realidade aquilo que lhe diz respeito.

Dentro de um processo de ensinagem, onde professor/educador

proponha-se em criar novas formas de compreensão, de unidade entre o ser

humano e o mundo, entre o que se aprende na sala de aula e o que se

viverá fora dela, poderá aplicar à sua ação docente, sem abrir mão das

especificidades de sua disciplina e, ao mesmo tempo, abrindo perspectivas

que a transcendem e a fazem dialogar com conhecimentos próprios de

outros saberes. A transdisciplinaridade pode promover de forma concreta e

ideal a formação integral do aluno, onde a informação esteja a serviço da

formação e cada disciplina possa participar do projeto curricular como um

todo.

Há diferentes formas de se elaborar um planejamento, entretanto

optou-se mostrar o modelo de Procópio Belchior (1972), onde um

planejamento, em qualquer área de formação humana, compreende uma

série de fases, que se aproximam daquelas do método comum de pesquisa,

como está explicitado no quadro abaixo:

FASES DE UM PROJETO

1. Definição e equacionamento preliminar do problema:

2. Elaboração das diretrizes básicas do planejamento:

3. Fixação inicial dos objetivos:

4. Coleta preliminar dos dados:

5. Realização de levantamentos e pesquisas:

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6. Estabelecimento de projeções e previsões:

7. Análise e discussão dos dados:

8. Apresentação de alternativas ou opções:

9. Formulação de decisões das propostas:

10. Interação de planos parciais, desdobramento em planos derivados ou replanejamento geral:

O planejamento participativo e integrador permite um diálogo com os

aspectos históricos, culturais, sociais e até mesmo lingüisticos. López

Quintás, citado por Perissé (2004, p.27), define a pessoa como “uma

racionalidade dialógica, ou seja, há no ser humano uma abertura criadora,

uma capacidade de interagir e de fundar relações, capacidade que se

expressa sobretudo na linguagem.”

A Importância da Diagnose

O planejamento atual geralmente é feito de forma padronizada sem

que haja uma preocupação com os educandos, ou seja, não se levando em

consideração o contexto social em que ele vive e toda estória de vida que o

mesmo percorreu até aquele momento e o que sonha para seu futuro, visto

que a educação ainda é vista com muita esperança pelas camadas mais

populares da população. Numa visão Freireana, o planejamento dessa forma

executado não leva à transformação social e conseqüente crescimento do

aluno. Um planejamento nestas condições é feito sem as exigências atuais e

futuras do mercado de trabalho, e sem estabelecer projeções e previsões

sobre as necessidades mais amplas de uma comunidade local, com

características bem específicas. Quando se utiliza a diagnose os fatores

acima são examinados.

Na diagnose são investigadas as características da clientela, suas

aspirações, necessidades e possibilidades dos alunos, com o objetivo de

criar um planejamento adequado, que facilite o aprendizado e respeite o

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aluno. O plano discutido e conhecido pelos alunos, é uma forma de

comprometê-los na atividade, comunicar-lhes seu sentido, proporcionando

uma lógica não pela simples autoridade do docente, mas por seu sentido,

seu significado.

Competências

O professor/educador além de ter que saber como e o que vai

lecionar, tem que associar o conteúdo com a realidade do aluno/aprendiz e

possibilitar a integração de suas idéias. Para isso se faz necessária a

tomada de consciência de seu próprio papel e de sua práxis, através da

reflexão crítica e constante desenvolvimento de sua competência

profissional, visto sermos “seres inacabados”.

Para Perrenoud (2000, p.20) ante um futuro possível e desejável para

a profissão de professor, “organizar e dirigir situações de aprendizagem”

seria uma das dez competências a serem desenvolvidas como prioritárias na

formação continua do professor/educador.

A competência para Mello (2003, p.14):

“É a capacidade de mobilizar conhecimentos valores e decisão para agir de modo pertinente numa determinada situação. Portanto, para constatá-la, há que se considerar também os conhecimentos e valores que estão na pessoa e nem sempre podem ser observadas”.

Perrenoud citado por Marangon e Lima (2002, p.21) diz que a

“competência é a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos

(saberes, capacidades, informações etc.) para solucionar uma série de

situações”.

Quanto mais o planejamento escolar for participativo, também

chamado de planejamento flexível, facilita o enriquecimento profissional, por

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ser uma atividade que é motivo de reflexão sobre a prática de um esquema

mais maleável que permite constante feedback e por ser uma ação mais

consciente, estabelecendo um acordo entre as partes, professor – aluno.

Sendo flexível, o professor sente-se mais seguro para improvisar e usar sua

criatividade, indo ao encontro das idéias de Perrenoud.

3.1.3.ADEQUAÇÃO/UTILIZAÇÃO

DE

MATERIAIS/RECURSOS DIDÁTICOS

Todas as metodologias têm usado em maior ou menor grau

diferentes recursos didáticos e materiais. Dentro de uma metodologia mais

tradicional, o livro didático e as aulas expositivas seriam os mais utilizados e

difundidos. Entretanto, dentro de uma concepção construtivista de

aprendizagem isso não é possível, visto que, o processo de ensinagem deve

ser polemizador de todas as capacidades da pessoa. Numa concepção

libertadora de ensino, a diversidade dos alunos deve ser atendida para que

possa ser estabelecido um contrato pedagógico e o professor desempenha,

então, papel fundamental ao apresentar os desafios e prestar as ajudas

adequadas às necessidades de cada aluno.

Não podemos esquecer que conhecimento e sensibilidade não são

construídos apenas com as palavras escritas ou faladas. As dificuldades que

os professores encontram quando se trata de envolver todos os sentidos no

processo de ensino-aprendizagem, reside no fato de que pertencemos a

uma “geração alfabética”, isto é, da aprendizagem através do texto escrito.

Esquecemos que pelas “palavras” de outros signos, a partir de gráficos,

fórmulas, imagens, sons, filmes, no trato direto com as coisas, deixamos de

utilizar uma multiplicidade de registros que poderiam enriquecer as

atividades desenvolvidas com os alunos/educandos, ampliando as

possibilidades de expressão e de utilização de instrumentos que servem de

medidores entre os alunos e o mundo.

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Enquanto isso, a instituição escolar continua atrelada à forma de

produção de copistas. Exemplos disso seriam os trabalhos produzidos, em

série, com a utilização dos mimeógrafos principalmente no Ensino

Fundamental.

Na maioria das vezes os novos materiais didáticos e novas

tecnologias entram na escola como conteúdos de oficinas e/ou atividades

extracurriculares, não havendo uma discussão de como poderiam auxiliar ou

substituir as pré-existentes. Quando incorporada pelas instituições escolares

acabam por servir à metodologia dominante, não havendo uma socialização

da mesma ou acabam como recurso exclusivo para uso do professor. Um

exemplo disso seria o livro-texto, cuja escolha cabe ao professor, sendo

muito pouco discutido por que em torno do seu uso está organizada boa

parte de uma metodologia que ao mesmo tempo não se questiona.

Cabe ao professor, numa práxis reflexiva, tomar conhecimento dos

diferentes materiais/recursos, inclusive tecnológicos, e deles saber fazer uso

Nunca a tecnologia da comunicação divulgou tantos meios de expressar

idéias/imagens e nem seus comunicados alcançaram tantos homens. E para

Perrenoud (2000, p.21) “utilizar novas tecnologias” também faz parte dos

dez domínios de competências para nortear o trabalho do

professor/educador.

. Mas de que vale colocar um vídeo para ser assistido pelos

alunos/educandos, se o professor ausenta-se da sala e não promove

nenhuma discussão, análise ou fomenta uma discussão de idéias?

Se não houver um planejamento prévio das atividades escolares, se

não forem traçados objetivos e os recursos empregues não forem

adequados, não haverá aprendizagem. O aluno/educando também não terá

desperto seu interesse, sua motivação para que se efetive a ensinagem. A

Educação pode ser atrativa, quando produto de uma colaboração entre

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professor/educador e aluno/educando. A seleção de conteúdos atrativos,

atividades que estimulem e relações humanas acolhedores na escola e na

sala de aula são condições inerentes para o bom processo de ensinagem .

O professor não deve tomar os recursos didáticos como seus

substitutos. A máquina não pode substituí-lo e sim ser uma ferramenta de

armazenamento, manipulação e localização de informações.

A adequação do “cenário escolar” também cabe ao professor, que

através de sua sensibilidade pode promover “círculos culturais” em

substituição aos “cenários” dominantes que se praticam desde a Educação

Jesuítica.

Há uma outra dimensão de espaço que é o externo. O que fica do

lado de fora. Sua utilização em atividades culturais, extracurriculares e o uso

dos estímulos e recursos do meio externo permitem a ruptura da monotonia

do meio escolar.

Finalizamos afirmando que, para que a escola se transforme num

local de produção e de transformação social, não pode estar alheia à riqueza

do universo dos seus alunos, permitindo que os mesmos interfiram no

mundo através da construção de seu próprio conhecimento.

3.1.4.AVALIAÇÃO

Podemos dizer que a avaliação escolar esta a serviço de uma

concepção teórica de educação que, por sua vez, traduz uma concepção

teórica de sociedade, ou seja, ela pode ser entendida como um mecanismo,

dentre outros, de conservação e reprodução da sociedade. Se, vivemos

numa sociedade de características autoritárias, assim, será a prática

avaliativa.

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Por esse ângulo, a avaliação seria classificatória, discriminativa e

autoritária num processo de aprendizagem onde se “domestica” o educando.

Ele passa a ser somente um receptor. É a educação bancária.

A atual prática da avaliação escolar dá ênfase como função ao ato

de avaliar, à classificação e não o diagnóstico. Ou seja, o julgamento de

valor, dentro da perspectiva de Luckesi (2003) que diz ser “a avaliação, um

julgamento de valor sobre manifestações relevantes da realidade, tendo em

vista uma tomada de decisão”, que possibilitaria essa nova tomada de

decisão sobre o objeto avaliado, passa a ter uma função estática de

classificar um objeto ou ser humano histórico num padrão definitivamente

determinado.

Na prática escolar, a tomada de decisão é o componente da

avaliação que coloca mais poder na mão do professor, dando-se aí um dos

arbítrios da autoridade pedagógica. Então, o educando poderá ser

classificado como inferior; médio ou superior, através de números, que são

somados e divididos em médias. Será que o aluno “inferior” não pode

alcançar o nível “superior”? Sim, isso é possível e todos os educadores

sabem disso. Entretanto, muitos optam por deixar seus alunos com as notas

obtidas como forma de “castigo” pelo seu desempenho, possivelmente,

inadequado.

O símbolo que expressa o valor atribuído pelo professor ao

aprendido é registrado e os registros permanecerão, em definitivo, nos

arquivos e nos históricos escolares, que transformarão em documentos

legalmente definidos.

Vislumbremos uma situação onde o aluno após um bimestre tenha

sido classificado como inferior. Mas, vamos supor que o professor

aparentemente seja “democrático” e “dê uma nova oportunidade ao aluno”

para que este se recupere. De inferior este passa para superior. Ora, o

educando cresceu, manifestou uma melhor aprendizagem. Entretanto, “sob

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forma de castigo” o professor não lhe garante o valor do novo desempenho e

sim a média de ambos. A média, assim obtida, não revela nem o valor

anterior do desempenho nem o posterior, mas “enquadra” o aluno a partir de

posicionamentos estáticos e autoritários a respeito da prática educacional.

O professor acaba utilizando-se do modelo social trazido num

modelo pedagógico para reproduzir a distribuição social das pessoas. É a

manutenção do “status quo”. É a forma de se traduzir o modelo liberal

conservador da sociedade. Ou seja, o ritual pedagógico não propicia

nenhuma modificação na distribuição social das pessoas e, assim sendo,

não auxilia na transformação social.

A avaliação classificatória torna-se, então, um instrumento

autoritário e frenador que pode possibilitar a uns o mesmo e aprofundamento

no saber e a outros, estagnação ou evasão dos meios do saber. Nas mãos

do professor autoritário ela pode assumir, também, o papel disciplinador

possibilitando o enquadramento dos alunos-educando dentro da

normatividade socialmente estabelecida.

Para isto, os “testes relâmpagos” surgem como “armadilhas” para

pegar os “despreparados” e “derrubar” os indisciplinados.

Dentro de um contrato pedagógico pautado na confiança entre o

educador e o educando, não há espaço para esse tipo de avaliação. Faz-se

necessário romper com esse estado de coisas, definindo uma pedagogia

que esteja preocupada com a transformação social e não com sua

conservação. A avaliação deixará de ser autoritária se o modelo social e a

concepção teórico-prática da educação, também, não forem autoritárias.

Para tanto, o educador afeito a dar um novo encaminhamento à sua prática

de avaliação escolar deverá redefinir os rumos de sua ação pedagógica,

pois, ela não é neutra com todos nós sabemos e alguns passos devem ser

dados:

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• Um posicionamento pedagógico claro e explícito, de tal modo que

possa orientar a prática pedagógica no planejamento, na execução e

na avaliação;

• Conversão / conscientização de cada professor-educador para novos

rumos da prática educacional;

• Resgate da avaliação em sua essência constitutiva, ou seja,

preocupada com a transformação social. É o resgate de sua função

diagnóstica.

Esse resgate somente acontecerá quando cada educador assumir

ser um companheiro de jornada de seu aluno mesmo sabendo se mais

maduro e experiente, mas, consciente que isso não lhe tira a possibilidade

de participar efetivamente da formação e capacitação de seu educando.

Ao se resgatar o caráter diagnóstico da avaliação, como forma de

se ultrapassar o autoritarismo, não implica menor rigor na prática da

avaliação. Muito pelo contrário, deverá haver máximo rigor e

comprometimento em seu encaminhamento.

O processo de ensinagem não deverá ser avaliado pelos mínimos

possíveis e sim a partir dos mínimos necessários. Para que isso se realize

na prática, o planejamento do professor é fundamental, com vistas ao que

deve ser aprendido efetivamente e afetivamente pelo aluno. É necessário

que cada um possa se inserir na sociedade com plena capacidade sem ser

“domesticado” ou “oprimido”.

O educador que se preocupa com uma prática educacional voltada

para a transformação social deve refletir sobre a sua práxis e agir com

clareza, explicitando o que faz e para onde está encaminhando os

resultados de sua ação. A avaliação não poderá ser uma ação mecânica e

sim um instrumento do reconhecimento dos caminhos percorridos e da

identificação dos caminhos a serem perseguidos.

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A avaliação deverá ser uma atividade racionalmente definida, dentro

de um encaminhamento político e decisório a favor da competência de todos

para a participação democrática da vida social.

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CAPÍTULO IV

A ÉTICA

O que é viver eticamente? Será apenas a mera observância de regras

sociais ou religiosas? Ou um aspecto incluído no projeto maior de educar o

ser humano para realizar-se plenamente como ser livre e criativo?

Há que se estabelecer, primeiramente, distinção entre a moral e a

ética. E para Julián Marías, citado por Perissé (2004) a palavra moral se

deriva de mos, que significa costume e, em grego, “ética”, ethiké, se deriva

de êthos, que significa bom caráter ou hábito. Mas Aristóteles considera a

moral uma modificação de éthos, que é costume. A significação dos

costumes, dos usos sociais aparece estreitamente ligada à noção de moral.

Para o Prof. Leocádio, do Curso de Docência Superior, da UCAM, há

distinção entre moral e ética e o mesmo diz que:

‘A moral é um conjunto de normas de caráter pessoal interno e voluntário que regulamenta o comportamento das pessoas em sociedade. Tem caráter de pessoalidade e cada um sofre as influências do seu grupo social e do meio de forma individualizada. Já a ética seria um conjunto de normas, de caráter moral ou jurídico, que regula o comportamento das pessoas, no exercício de determinada atividade. Enquanto o Direito regula não só o comportamento, mas também as instituições sociais, a moral e a ética regulam apenas o comportamento. A moral regula o comportamento de um modo geral, em qualquer situação, já a ética só regula o comportamento especificamente adotado no exercício de uma atividade.”5

Segundo o filósofo, Fernando Savater , citado por Gentile (2002,

p.47), há distinção entre moral e ética. Vejamos o que diz:

5 Notas de aula do dia 28/04/2004, do Curso de Docência Superior.

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“Moral é um conjunto de comportamentos e normas que você, eu e outras pessoas costumamos aceitar como válidos. Ética, ao contrário, é a reflexão sobre por que consideramos válidos alguns comportamentos e outros não, é a comparação com outras morais, de outras pessoas e culturas.”

Em se tratando, este trabalho, de uma visão da ética voltada para a

educação, não se excluindo o que pensam e como a definem outras áreas

de atuação humana, como se explanará mais adiante, vejamos o que diz

López Quintás, citado por Perissé (2004, p. 174), sobre a ética, para uma

realização plena de como o ser humano pode vir a ser livre e criativo:

“A educação para a liberdade não pode reduzir-se a ensinar a ser comedidos nas reivindicações e respeitosos com os direitos dos outros. Requer ir ao núcleo da vida criativa, que é a relação primária do homem com a realidade circundante, e reconhecer que necessitamos abrir-nos a essa realidade e cumprir suas exigências. Para isso, é preciso adotar uma atitude de respeito e deixar que a realidade se vá manifestando diante de nós em tudo o que é e implica. Essa manifestação ou ‘desvelamento’ é a verdade originária. Com isso fica patente que liberdade e verdade se implicam. Quando assumo a verdade da realidade, e me vinculo a ela, às suas condições e exigências, posso acolher as possibilidades que me oferece em prol do meu desenvolvimento pessoal. Adquiro então liberdade criativa. Nesse momento, vejo que a verdade me promove, e na mesma medida tem ‘autoridade’ sobre mim, um modo peculiar de poder que não coage”.

Comumente os educando não percebem e não fazem nem um tipo de

“liga” dos conteúdos curriculares que são trabalhados em sala de aula a

saberes que lhes permitam satisfazer necessidades, interesses e problemas

da vida cotidiana. O que foi aprendido na escola também não contribuiu para

resolver as vicissitudes do cotidiano ou comportamentos díspares. Talvez a

escola esteja atuando de forma “autoritária” e não atuando “com autoridade”,

que implica em respeito às liberdades. Ou seja, o processo formativo ético

implica num exercício maduro e responsável da liberdade, que implica numa

conduta capaz de integrar as dimensões individuais e comunitárias,

respeitando-se as diferenças, as mentalidades díspares e as inúmeras

opções de vida.

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Para Perissé (2004, p.180) “uma pessoa amadurece e se desenvolve

realmente quando entra em sinergia com quem e com o que a cerca, quando

cria um campo de jogo comum, de ação comprometida e solidária, de

encontro”. O filósofo, Quintás, citado por Perissé (2004, p.191)

complementa, dizendo: “a relação de encontro não é o resultado automático

da proximidade física entre dois ou mais seres. É o fruto de uma conquista,

como todo ato criador, e exige determinadas condições nos seres que o

realizam”. As condições seriam: não usar o outro (usar o outro é sempre

abusar do outro), não coisificar o outro, aceitar o outro, conhecendo-o cada

vez melhor.

Para Lopéz Quintás, citado por Perissé (2004) a linguagem pode

servir como veiculo de manipulação das pessoas e o ato de educar poderá

se tornar um ato de manipulação quando há intenção de transformar os

seres humanos em meios para finalidades escusas, tirar-lhes a liberdade de

pensamento e a forma de agir autônoma e responsável.

Para Borges (2002) a Ética é uma teoria em constante transformação

e essa transformação opera-se, muitas vezes, pela interseção de várias

teorias, mesmo que opostas, onde cada uma absorve elementos da outra.

Vejamos os vários pontos de vista de educadores, filósofos, sociólogos e

outros teóricos acerca da Ética.

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4.1. A Ética sob vários pontos de vista:

A) Na área da Educação, Freire (2003) diz que a ética deve andar

sempre junto à estética e que não é possível viver sem ela, pois seria um ato

de transgressão. Os conteúdos curriculares não podem estar alheios à

formação moral do educando porque educar é formar. Somos capazes de

comparar, de valorar, de intervir, de escolher, de decidir, de romper, por tudo

isso nos fizemos seres éticos.

Nos PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais – a Ética se faz

presente como um dos Temas Transversais e definem-se quatro blocos de

conteúdo para o ensino da mesma:

1. “Respeito mútuo – é a valorização de cada pessoa, independentemente de sua origem social, etnia, religião, sexo, opinião. Revelar seus conhecimentos, expressar sentimentos e emoções, admitir dúvidas sem ter medo de ser ridicularizado, exigir seus direitos são atitudes que compreendem respeito mútuo;

2. Justiça – num primeiro momento pode remeter á obediência às leis. Mas o conceito de justiça vai muito além disso. É a busca da igualdade de direitos e de oportunidades, o que pressupõe o julgamento do que é justo ou injusto;

3. Solidariedade – É a expressão de respeito dos indivíduos uns pelos outros. Ser solidário é partilhar um sentimento de interdependência e tomar para si questões comuns. Solidariedade inclui desde a ajuda a um amigo até a luta por um ideal coletivo de sociedade;

4. Dialogo – a comunicação entre as pessoas pode ser fonte de riquezas e alegrais. É uma arte a ser ensinada e cultivada. Mas atenção: o dialogo só acontece quando os interlocutores têm voz ativa. Limitar-se a impor visões de mundo sem considerar o que o outro tem a dizer não constitui um diálogo”.6

B) Para Savater, filósofo espanhol, professor de Ética na Universidade

de Madri, “a ética é o único caminho possível para uma vida melhor e mais

humana”. Quando indagado se a ética deve ser ensinada na escola, em

entrevista à Paola Gentile (2002, p. 45), o mesmo respondeu que:

“Não há consenso sobre isso. Alguns acreditam que os valores éticos devem ser transversais a toda educação, que não deve

6 PCN-Fáceis de entender, Edição Especial Revista Nova Escola, 2001.

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haver uma disciplina especifica e que todos os professores devem dar o exemplo e fazer reflexões com as turmas. Eu creio que a Filosofia como um todo deva ter um lugar especifico no currículo para crianças a partir dos doze anos. Mas não começando por Aristóteles, Platão e suas obras. Todos se perguntarão, com razão, o que tudo isso tem a ver com eles...Primeiro devemos falar do problemas. Levantar as questões que estão na nossa alma e no mundo que nos cerca, as certezas e as incertezas...E quando eles ficarem interessados, aí sim podemos falar sobre o que Aristóteles, Platão, Spinoza e tantos outros pensavam sobre o assunto. Mas primeiro os estudantes têm de ficar instigados, curiosos.”

Ainda sobre de que maneira a escola e os professores podem ter uma

relação ética com os alunos, respondeu:

“O respeito é fundamental. É preciso compreender o que é ser humano. O homem e a mulher são uma realidade biológica e natural, mas não se pode esquecer que também são fruto de uma realidade cultural. Nós não nascemos totalmente homens. Só nos tornamos humanos com a ajuda de outros humanos e na convivência com eles. É isso que precisamos aprender.”

Segundo Gallo (2001, p.108) Doutor em Filosofia pela UNICAMP, a

ética abre possibilidades de um futuro pleno de liberdade e participação de

toda comunidade e o mesmo diz que:

“[...] os valores são criações humanas e não entidades abstratas e

universais, válidas em qualquer tempo e lugar. E que a ética pode

ser compreendida como uma estética de si, isto é, como atividade

de construir nossas próprias vidas como um artista pinta seu

quadro. Isso significa que construímos nossos próprios valores,

colocando nós mesmos como valor fundamental. O fato de

afirmamos que devemos, cada um de nós, construir a própria vida

não deve ser entendido, porem, como um apelo ao individualismo.

A singularidade e a criatividade podem e devem ser preservadas

em meio à coletividade. O que estamos afirmando é que

compreender a ética como uma estética da existência não deve

ser visto como uma atitude solitária, particular, mas sim, como um

empreendimento coletivo, solidário: buscar o meu prazer, minha

realização, mas também o prazer e a realização do outro”.

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C) Para Maturana (2000, p.74), médico e biólogo, que atua na

Faculdade de Ciências da Universidade do Chile, o seu interesse pela

organização do ser vivo e do sistema nervoso central, levou-o a se

interessar também pela organização do sistema social e sobre a ética, o

mesmo diz que:

“Nós, os seres humanos, somos um resultado histórico e nada no devir que nos deu origem foi necessário: somos o presente de uma deriva evolutiva e não o produto de um plano estabelecido. Mas sendo como somos, preocupamos-nos com o bem estar do outro, temos preocupações éticas, atentamos ao que fazemos e nos preocupamos com suas conseqüências em outros seres humanos e não humanos. Nós pensamos que isto é assim devido ao fato de sermos animais amorosos”.

Complementa, dizendo que:

“As preocupações éticas, a responsabilidade e a liberdade existem apenas no domínio do amor. As preocupações éticas, a responsabilidade e a liberdade têm lugar apenas enquanto alguém pode ver o outro, a si mesmo e as conseqüências das ações de alguém nos outros ou em si mesmo, e age de acordo com a decisão entre querer ou não essas conseqüências. Mas para fazer isto, para ter preocupações éticas, para ser responsável, para ser livre, é preciso ver o outro ou a si mesmo em sua legitimidade, sem que seja preciso justificar a sua existência, isto é, é preciso operar no amor”.

No próximo capítulo destacar-se-á a importância da Ética e da

Linguagem na reflexão crítica da práxis pedagógica do professor/educador.

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CAPÍTULO V

A LINGUAGEM E A ÉTICA COMO PROPOSTA

CRÍTICA E REFLEXIVA DA PRÁXIS PEDAGÓGICA

Antigamente existiam sociedades sem escola. Nas chamadas “tribos”

educar-se era viver a vida do cotidiano em comunidade, plantando, colhendo

participando das cerimônias coletivas, mas principalmente escutando, dos

mais velhos, as estórias da tradição oral. O meio ambiente era palco

permanente de formação. A prática educativa se dava pela imitação e

interiorização de valores e comportamentos, dos adultos, assim como de

instrumentos de trabalho, por mais rudimentares que fossem. O aprender

era o fazer, o que tornava inseparável o saber, a vida e o trabalho.

Foi somente na Idade Média que a Educação tornou-se “produto da

escola” e um grupo de pessoas, em sua maioria religiosos, centralizou o

saber que passou a se desenvolver em espaços específicos, isolados da

vida de todo dia.

Durante séculos convivemos com esse tipo de escola reservado às

elites, privilegiando a cultura livresca, refinada e letrada, onde o objetivo era

transformar os educandos em “grandes senhores”. Em contrapartida com o

advento da invenção da máquina, em plena Revolução Industrial, houve

necessidade de escolarização para uma população, “uma massa” de

ignorantes que precisava socializar-se, educar-se para se tornarem bons

cidadãos e trabalhadores disciplinados.

Passou-se então a conviver com dois tipos de escola: uma para

atender os ricos, as elites, e outra para os pobres, filhos de operários, que

deveriam formar, assim como seus pais, a classe trabalhadora.

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A coexistência desses dois tipos de escola cria uma situação de

segregação social que não difere muito da situação que se tem hoje.

Segundo Soares (1999, p.5):

“Entretanto, essa escola para o povo é ainda, extremamente insatisfatória, do ponto de vista quantitativo e, sobretudo, qualitativo. Não só estamos longe de ter escola para todos, como também a escola que temos é antes contra o povo que para o povo: o fracasso escolar dos alunos pertencentes às camadas populares, comprovado pelos altos índices de repetência e evasão, mostra que, se vem ocorrendo uma progressiva democratização do acesso à escola, não tem igualmente ocorrido a democratização da escola. Nossas escolas têm-se mostrado incompetentes para a educação para a educação das camadas populares, e essa incompetência, gerando o fracasso escolar, tem tido o grave efeito não só de acentuar as desigualdades sociais, mas, sobretudo, de legitimá-las”.

Na atual configuração de mundo, de sociedade, em que se vive, vê-se

que apesar de todo o aparato tecnológico e do desenvolvimento adquirido

pelo homem, assim como todo o saber socialmente construído, ainda existe

uma situação segregadora, onde pessoas são privadas do acesso à

escolaridade de qualidade, aos bens culturais, ao trabalho e outros meios

que poderiam garantir minimamente sua sobrevivência diante das

expectativas e exigências criadas no dia-a dia.

Perissé (2004, p.14) complementa dizendo que:

“Hoje é o mundo todo que está sujeito a essa ameaça de profundo desinteresse pelo ser, pelo essencial (desinteresse que gera desagregação, dissonância, violência, autodestruição), a essa “cegueira” ou, mais precisamente talvez, a esse ’analfabetismo’ com referências aos valores”.

Para Morin (2002, p.47), “a educação do futuro deverá ser o ensino

primeiro e universal, centrado na condição humana”, e o mesmo

complementa dizendo que “os seres humanos devem reconhecer-se em sua

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humanidade e ao mesmo tempo reconhecer a diversidade cultural inerente a

tudo que é humano”.

A crise que assola o mundo, também atinge a sociedade brasileira e

consequentemente as instituições de ensino. O espaço escolar não é um

espaço neutro e conseqüentemente não pode estar imune aos dilemas

impostos pela modernidade. Reformulações são necessárias em busca de

maior eqüidade e justiça social. Novas exigências fazem com que o papel do

professor se ressignifique a todo o momento, dado o colapso das certezas

morais e o cumprimento de funções que caberiam a família e outras

instâncias sociais.

Segundo Pimenta (2002, p.12) “a democratização do ensino passa

pelo professor”, e complementa dizendo que “ os professores contribuem

com seus saberes, seus valores, suas experiências nessa complexa tarefa

de melhorara a qualidade social da escolarização”.

Diante da necessidade em educar-se em profundidade para a vida,

levar-se à pratica uma ação pedagógica pautada somente em documentos

oficiais e difundida em palestras e cursos, poderá se uma forma ineficaz e

sem vida. Faz-se necessário rever as práticas e as teorias que alimentam as

ações cotidianas do professor/educador. Pesquisar e produzir novos

conhecimentos, transformando as práticas docentes só se efetivarão se o

professor ampliar sua consciência sobre sua práxis , a da sala de aula e a da

escola como um todo, o que pressupõe conhecimentos teóricos e críticos, o

que pressupõe conhecimentos teóricos e críticos sobre a realidade.

Segundo Gadotti, citado por Massad (2004, p.9), “o professor não é

um executor, é um criador, mas a formação atual é mais parecida com um

pacote de treinamento, como se fosse para vender sabonete”. E

complementa dizendo que “a preparação não poderia ser voltada para

conteúdos específicos, porque o dia-a dia do professor exige grande

capacidade de se adaptar a diferentes situações”.

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Diz o pensador Martin Heidegger (1978, p.20) “ensinar é mais difícil

do que aprender porque ensinar significa: deixar aprender” porque exige do

professor/educador sensibilidade para as diferenças individuais e para o

ritmo de aprendizado de cada aluno/educando e para manter-se um

relacionamento dialógico pressupõe-se que o ser humano esteja aberto de

forma criadora para interagir e fundar relações que se expressam sobretudo

na linguagem.

Segundo Perissé (2004, p.27):

“A linguagem como expressão do diálogo, do amor que conhece, e faz surgir campos de realidade, cria âmbitos, levando as pessoas envolvidas nesse dialogo - o professor e os alunos - a tomar consciência do seu valor como seres inteligentes, criativos, livres, convocados à plena realização”.

A linguagem situa o ser humano na sua realidade e esse ato de

situar-se é necessário para o seu equilíbrio, sua realização, seu

amadurecimento como pessoa. O respeito às diferenças culturais e às

diferentes formas de comunicar-se, de linguajar dos educandos também se

faz necessário para a construção de uma escola verdadeiramente

democrática. Entretanto, há que se tomar cuidado para que o ato de educar

não se transforme em um ato de manipulação. Utilizando-se de recursos

lingüísticos refinados o professor/educador poderá impor aos seus

alunos/educandos sua ideologia, fazendo com que os mesmos respondam

de um único modo aos questionamentos pedagógicos, tornando-os seres

incapazes de compreender um raciocínio mais sutil ou superar outros

problemas de ordem pessoal como os que aparecem, por exemplo, no

momento da avaliação. Outro aspecto da manipulação é quando o

professor/educando desvaloriza a priori seus alunos/educandos. Massificá-

los ou coisificá-los fazendo com que os mesmos não cultivem ideais valiosos

e convicções éticas, é desprovê-los de quaisquer capacidade criadora.

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Segundo Perissé (2004, p.205) “seqüestrada, a linguagem deixa de

ser o âmbito do encontro entre pessoas livres e se transforma em meio de

instrumentalizar nossas mentes. Ânsia de dominar, ânsia de escravizar”.

Para Savater, citado por Gentile (2002) o professor/educador deve

assumir sempre posições, mas nunca se esquecendo que as mesmas

podem ser expostas discutidas e modificadas. Ele pode ser um exemplo,

sendo firme em suas posições, mas sempre disposto ao diálogo. Da mesma

forma que no ato educativo deve propiciar o reforço de algumas qualidades

sem as quais não se sobrevive no mundo contemporâneo, como a

autonomia pessoal, a busca do conhecimento verdadeiro, a generosidade e

a coragem. Sendo assim, diz Savater (2002, p.45) “a ética nada mais é do

que uma tentativa racional de procurar viver melhor, de forma mais humana,

com outros humanos” e “em momento algum o professor pode duvidar que o

ser humano é perfeito e que tem capacidade infinita de aprender”.

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CONCLUSÃO

Por sermos seres humanos histórico e socialmente construídos seria

uma incoerência afirmar que se pode esgotar este tema - linguagem e ética -

dado a sua complexidade. A inconclusão norteia nossa condição de

humanos, pois estamos sempre em busca de saberes atiçados por uma

curiosidade epistemológica que fez o homem produzir e adquirir novos

conhecimentos e dessa forma se destacar em relação aos outros animais.

O professor/educador que tenha uma visão mais progressista e

libertadora do que seja o ato de educar não pode se eximir da

responsabilidade, como cita o Prof. António Nóvoa (2001), de manter-se

atualizado sobre as novas metodologias de ensino e prática pedagógicas

não excludentes como pode acontecer quando manipula a linguagem, por

exemplo, a seu favor e contra o aluno/educando.

Reorganizar os espaços escolares como espaços de verdadeira

aprendizagem e de encontro onde professores/educadores possam ir

formando-se em diálogo e em reflexão permanente com ouros colegas e

com seus alunos/educandos, é tarefa do professor daquele que exerce,

como ensina a etimologia, a profissão por excelência: professar, declarar,

manifestar, dar a conhecer.

Respeitar a autonomia do ser educando é outra premissa na nossa

pratica docente. O respeito a sua linguagem e a sua cultura são

fundamentais para propiciar a criação de novas formas de compreensão, de

unidade entre o que se aprende na sala de aula e o que se vive fora dela.

Perceber que cada pessoa é uma fonte inesgotável de inúmeras

possibilidades de ação é resgatar a sua condição de humano e não permitir

a manipulação como se fosse uma marionete ou algo parecido. É tirá-lo da

condição de objeto, de um processo de coisificá-lo e dar lhe condições para

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que se transforme em sujeito na construção de sua autonomia e possa

intervir no mundo de forma ética.

Viver eticamente nada mais é do que um tentativa racional de

procurar viver melhor, de forma humana, com outros humanos. E o espaço

escolar deve propiciar essa qualidade sem a qual ninguém consegue

sobreviver no mundo contemporâneo e enfrentar os desafios impostos pelo

século XXI.

O professor/educador mais uma vez entra em cena como peça

fundamental neste quebra- cabeças, onde todos os elementos são

importantes para a construção do todo. E ratificando as palavras de Nóvoa

(2003) “ser professor é o mais impossível e o mais necessário de todos os

ofícios” e “implica num corpo-a corpo permanente com a vida dos outros e

com a nossa própria vida. Implica num esforço diário de reflexão e de

partilha” e acredita-se que o uso da linguagem e da ética são elementos

importantes nessa práxis critica e reflexiva.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I 12

O Humano 12

CAPÍTULO II 17

A Comunicação Humana 17

CAPÍTULO III 20

A Origem da Linguagem 20

3.1.A linguagem em seu uso criativo e lúdico na escola 28

3.1.1.A relação aluno X professor 34

3.1.2 O Planejamento 36

3.1.3 Recursos e Materiais 40

3.1.4 Avaliação 42

CAPÍTULO IV 47

A Ética 47

CAPÍTULO V 53

A Linguagem e a Ética como proposta reflexiva 53

CONCLUSÃO 58

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 60

BIBLIOGRAFIA CITADA 64

ÍNDICE 67

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes

Projeto A Vez do Mestre

Docência do Ensino Superior

Título da Monografia: O uso da Linguagem e da Ética no Espaço Escolar

Autor: Maria João Bastos Gaio

Data da entrega: 22/09/2004

Avaliado por: _____________________________________ Conceito: ___

Avaliado por: _____________________________________ Conceito: ___

Avaliado por: _____________________________________ Conceito: ___

Rio de Janeiro, ______/_______________/________.