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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO "LATO SENSU" PROJETO A VEZ DO MESTRE A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NA APRENDIZAGEM Por Aniela Beatriz Machado Amorelli Orientador Profº Luiz Claudio Lopes Alves Rio de Janeiro 2004

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO "LATO SENSU"

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NA APRENDIZAGEM

Por Aniela Beatriz Machado Amorelli

Orientador

Profº Luiz Claudio Lopes Alves

Rio de Janeiro 2004

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO "LATO SENSU"

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NA APRENDIZAGEM

OBJETIVOS:

Mostrar que aprendizagem, afetividade e

motivação estão interligadas. Ilustrar a

importância da afetividade nas relações

professor - aluno em vários níveis e

compreender que maturidade afetiva e

maturidade cognitiva caminham juntas.

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AGRADECIMENTOS

A todos que contribuíram para minha formação,

aos professores do Projeto "A Vez do Mestre",

aos meus alunos e familiares por toda a ajuda na

confecção deste trabalho.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha mãe

Alaide, aquela responsável por toda a

minha formação. Também aos meus

irmãos, Kleber e Andrezza, e ao meu

namorado, Enílson Júnior, por toda a

ajuda durante este tempo.

Aniela Amorelli

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RESUMO

Durante muitos anos a maturidade afetiva do educando tem sido deixada de

lado frente a uma concepção antiga, porém muito presente, de que o aluno não tem

querer, não tem vontades, precisa freqüentar instituições de ensino somente para

aprender conteúdos, algumas das vezes inúteis, ou receber um determinado título,

mais tarde necessário no mercado de trabalho.

Frente a tal problema comecei a observar o comportamento de alguns alunos

diante do aprendizado de uma língua estrangeira muito importante nos dias atuais: a

língua inglesa. Devido a necessidade de saber tal idioma, primordial para o mercado

de trabalho hoje, muitos deles procuravam esta instituição em que eu trabalhava,

dotados de um bloqueio imenso perante a língua. O que fazer diante de tal situação?

Após ler um pouco sobre o assunto, concluí que a melhor maneira seria encorajá-los

perante o desafio dando um suporte emocional para que se tornassem mais

confidentes e conseguissem atingir seus objetivos. O resultado não poderia ter sido

melhor e, por isso, hoje faço dele tema de minha monografia.

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METODOLOGIA

Neste trabalho procuro esclarecer, através de pesquisas a fontes

bibliográficas, conceitos sobre aprendizagem e como ela tem sido feita em diversas

situações e como a inteligência emocional, tão presente nos nossos dias, pode ou não

influenciar o processo ensino-aprendizagem de cada um.

Através da minha experiência no ensino de Inglês como língua estrangeira a

crianças, adolescentes e adultos ( que objetivam aprender também inglês

instrumental ) e das aulas de Prática de Ensino freqüentadas durante este curso, nas

quais ministrei também um seminário sobre Aprendizagem Afetiva, redijo este

trabalho, procurando ressaltar a importância do desenvolvimento da inteligência

emocional nos dias atuais, a necessidade de se levar em conta as múltiplas

inteligências, diferentes em cada educando e, como aspecto primordial, confiar na

capacidade de cada aluno, criança ou adulto, e encorajá-los a conquistar seus

objetivos ou àqueles que a eles são exigidos pelo sistema.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I 10 APRENDIZAGEM 10 CAPÍTULO II 17 QUESTÕES LEGAIS, PROPOSTAS CURRICULARES 17 E APRENDIZAGEM CAPÍTULO III 23 AFETIVIDADE 24 CONCLUSÃO 41 BIBLIOGRAFIA 44 ÍNDICE 46

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho busca encaminhar os profissionais de educação a uma

reflexão sobre a afetividade no processo ensino-aprendizagem, a fim de conscientizá-

los da importância do conhecimento dos diversos aspectos a ela inerentes.

Várias generalizações ou princípios procuram formular as condições em que a

aprendizagem ocorre. Psicólogos interessados na investigação da aprendizagem

recorreram a diferentes procedimentos.

Percebe-se na literatura voltada para o processo de ensino aprendizagem

pouca atenção a este aspecto. Os fatores abordados introduzem na discussão:

formação de professores, currículos inadequados, situações sócio-econômicas, dentre

outros.

Porém, observa-se no contexto escalar em geral, a necessidade de se atentar

para a questão da afetividade interferindo na aprendizagem, já que o homem é um ser

afetivo e constrói seus relacionamentos baseados em emoções.

Logo, os responsáveis pela realização da aprendizagem devem estar atentos

ao fato de que, muitas vezes, tal processo torna-se eficaz ou desastroso conforme o

estado emocional daqueles envolvidos no mesmo.

Este trabalho reforça o interesse pelo estudo da afetividade interferindo na

aprendizagem, objetivando investigar como a comunidade escolar, principalmente o

professor e o aluno, tratam a questão da afetividade e como esta pode contribuir para

um bom ou mal desenvolvimento no processo ensino – aprendizagem e na vida

escolar, desde a educação básica ao ensino superior.

No primeiro capítulo introduzo o conceito de aprendizagem segundo diversos

autores e, por conseguinte, vários aspectos relativos ao currículo e a aprendizagem

no segundo capítulo. Finalizo este trabalho com o terceiro capítulo enfocando a

relação entre afetividade e aprendizagem, e sua importância na sala de aula.

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CAPÍTULO I

Aprendizagem

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APRENDIZAGEM

Aprendizagem é um processo contínuo de aquisição de conhecimentos e de

desenvolvimento de habilidades.

A motivação é o fator fundamental na aprendizagem. Sem motivação não há

aprendizagem. Pode ocorrer aprendizagem sem professor, sem livro, sem escola e

sem uma porção de outros recursos. Mas, mesmo que existam todos esses recursos

favoráveis, se não houver motivação não haverá aprendizagem.

CORRÊA acredita que o aprender depende de três fatores igualmente

importantes e intransferíveis. Primeiramente, a pessoa precisa querer aprender. O

conhecimento que o professor pretende transmitir precisa Ter algum significado para

o aluno. O conhecimento existe, principalmente, para ser utilizado. Em segundo

lugar, precisa possuir as condições físicas e emocionais necessárias ao aprendizado.

Em terceiro lugar, precisa estar disposto a despender o esforço necessário ao

aprender.

A aprendizagem significativa é mais do que uma acumulação de afetos.

A verdadeira aprendizagem causa uma alteração no comportamento do

indivíduo, na orientação de suas ações futuras ou em suas atitudes e personalidade.

Segundo CARVALHO, a aprendizagem encarada como resultado do processo

de aprender, redunda na modificação do comportamento do educador. Aprender é

modificar o comportamento – por meio do treino ou da experiência – visando a

alcançar uma resposta melhor e mais adequada às situações -estímulos que nos

apresentam. Essa modificação de comportamento abrange alterações na maneira de

pensar de sentir, e de agir. Há, portanto, três tipos básicos de aprendizagem:

* Aprendizagem ideativa – Adquirem novas idéias, consegue-se expressar em

palavras adequadas novas aquisições mentais.

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* Aprendizagem Afetiva – Estruturam-se novas atitudes em face das pessoas,

das coisas, dos fatos e até das idéias.

* Aprendizagem Motora - Nos leva ao domínio de automatismos como

nadar, escrever a máquina, dirigir automóvel, etc.

Não existe aprendizagem puramente ideativa, afetiva ou motora.

No entendimento de GROSSI, a nova compreensão da aprendizagem tem

como núcleo, a dialética entre o indivíduo e o social como gerador do sujeito

humano, os outros – o grupo acrescentadores de um elemento de cultura à natureza

de cada um e que o torna gente.

Segundo FERNANDES não há aprendizagem possível sem que o aprendente

e o ensinante ponham em jogo a sua agressividade. Nesta articulação entre a

agressividade de ambos é que vai surgir o trabalho de construção e reconstrução do

conhecimento, o que vai tornar desnecessário os atos agressivos. Se eles aparecerem

serão imediatamente reabsorvidos pela produção que está realizando esse grupo. O

próprio ator desse ato agressivo vai fazendo-se responsável de sua capacidade

produtiva e ao reconhecer que pode produzir já não vai sentir necessidade desse tipo

de sintonia.

SILVA afirma que na escola, a criança pode utilizar essa agressividade para

questionar e perguntar, pois isso faz parte do desejo de buscar conhecimento,

pesquisar e diferenciar-se do colega e do professor. Essa agressividade leva o

indivíduo a pensar e a simbolizar, o que é extremamente necessário no processo de

aprendizagem.

Para que haja aprendizagem, então, é necessário que o indivíduo de modo

ativo, que haja investimento interno e no mundo externo. Mesmo em situaçòes

favoráveis de educação, as crianças manifestam fantasias agressivas.

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A agressividade necessita encontrar pela frente algo que lhe oponha

resistência, um limite. Então no caso da escola, o professor utilizando este potencial

agressivo e o canalizando, propicia a aprendizagem para a criatividade, para o

desafio de conhecer. Quando hão é proporcionado ao indivíduo esse espaço para que

ele expresse a agressividade de forma saudável, diferenciada e lúdica, a

agressividade será atuada em vez de ser simbolizada, manifestando-se como ato

agressivo.

No ato agressivo, a pessoa não utiliza a sua capacidade de simbolizar. Isso

quer dizer que ela não consegue refletir, pensar no que está fazendo. Muitas vezes,

encontra-se nas escolas, as crianças que batem nos colegas por qualquer motivo e sào

rotuladas de agressivas. E se, em vez de se rotular essa criança de agressiva, tentar-se

traduzir o que ele quer dizer com esse ato agressivo.

É necessário dar a esta criança a oportunidade de pensar e simbolizar.

NOVAES (1986) parte do princípio de que a personalidade é uma unidade

dinâmica, influenciada por experiências vitais, compreende-se, desde logo, a

repercussão de problemas e dificuldades emocionais no ajustamento escolar.

O indivíduo ao ingressar na escola já teve experiências relacionadas à

diversas situaç ões e irá reagir a esse novo ambiente de acordo com anteriores

condicionamentos, sendo, portanto, freqüente encontrar-se alunos que não

conseguem adaptar-se, nem ter satisfatório rendimento nos estudos por estarem

comprometidas por ansiedades e tensões psíquicas.

Tal fato ocorre por que a problemática emocional ligada à situação conflitiva,

absorve a disponibilidade perceptiva e reacional do indivíduo à estimulação externa,

dificultando a sua integração ao meio ambiente e perturbando não só a sua

capacidade de atenção de concentração, de raciocínio, mas sobretudo, a de

relacionamento.

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Geralmente, alunos com problemas emocionais adotam atitudes agressivas,

de ambição, de construção de regressão, de isolamento, de hostilidade, de oposição,

de indiferença, de indisciplina, de sensibilidade e emotividade excessivas.

Independente de outras condições de ordem física e mental, a problemática

emocional deve ser considerada fator decisivo na adaptação e rendimento escolar,

podendo trazer sérias consequências ao desenvolvimento e progresso educacional de

crianças e adultos, o que pode ser contornado quando oferecer condições de

estabilidade emocional e, através de diagnóstico precoce, dos encaminhamentos

adequados da programação adequada das atividades escolares e da preparação dos

professores, para atender a esses casos prontamente, poupando assim o aluno e a

sociedade do agravamento dessas situações.

A aprendizagem significativa é considerada por ROGERS (1972) como a que

envolve toda a pessoa.

A aprendizagem assume um significado especial. Para o autor, a

aprendizagem consiste num envolvimento pessoal – a pessoa, como um todo, tanto

sob o aspecto sensível quanto sob o aspecto cognitivo, comprometesse de fato com a

aprendizagem. Ela é auto iniciada, mesmo quando o primeiro impulso ou o estímulo

vem de fora, o senso de descoberta, do alcançar, do captar e do compreender vem de

dentro.

Apresenta característica penetrante por propiciar modificação no

comportamento, nas atitudes, talvez mesmo, na personalidade do educando, até o

desinteresse em adultos. Oportuniza ainda uma avaliação pelo educando, pois

percebe se está indo ao encontro de suas necessidades, em direção ao que quer saber.

Também oportuniza a visão de se a aprendizagem está projetando luza sobre a

sombria área de ignorância da qual ele teve experiência.

Assim, o locus da avaliação reside afinal, no educando. Significar é a sua

essência. Quando se verifica a aprendizagem, o elemento de significação

desenvolve-se para o educando, dentro da sua experiência como um todo.

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ROGERS ( 1972 ) parte do pressuposto de que o ensino é uma atividade sem

importância, enormemente valorizada. Cada educador eficiente, por sua vez, pode

desenvolver um estilo próprio para facilitar a aprendizagem dos alunos.

COMBS ( 1965 ) acredita que o professor não precisa necessariamente obter

competências e conhecimentos. Crê que esses deverão somente em relação às

concepções de si próprio e não decorrente de um currículo que lhe é imposto.

O processo de ensino portanto, irá depender do caráter individual do

professor, como se ele se inter-relaciona com o caráter individual do aluno.

NEILL é mais radical no que se refere as suas concepções sobre ensino:

"... não temos novos métodos de ensino, por que não

achamos que o ensino, em si mesmo, tenha grande

importância. Que uma escola tinha ou não algum

método especial para ensinar a dividir é coisa de

somemos, pois a divisão não é importante senão

aqueles que querem aprendê-la. E aquele que quer

aprender a dividir aprenderá, seja qual for o ensino

que receba." ( 1963:05 )

1. Inteligência Emocional e o Processo Ensino –Aprendizagem

O Centro de Promoção da Aprendizagem Social e Emocional (CEPASE/RS) é

formado por um grupo de quatorze professores e um médico interessados em

estudar o tema inteligência emocional. Voltaram-se para um estudo do processo

ensino-aprendizagem objetivando principalmente buscar melhorias para o

processo. Para tal, utilizava os conhecimentos relativos a educação emocional

para tentar superar problemas com que deparam diariamente, os professores em

sala de aula, sabendo-se que a grande maioria desses problemas é de origem

emocional.

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Partindo-se da máxima de Sócrates, “conhece-te a ti mesmo”, o trabalho está

centrado no auto-conhecimento pelo aluno, para aumentar sua auto-estima e,

consequentemente, melhorar o convívio (relacionamento) com os colegas. Sabendo

entender suas emoções (raiva, medo, tristeza, angústia, euforia, mau humor,

alegria...) é mais fácil administrá-la na crença do grupo (CEPASE), isto terá reflexo

positivos na aprendizagem.

Por Inteligência Emocional entende-se o conjunto de habilidades para

compreender, gerenciar e expressar os valores e aspectos sociais e emocionais da

vida de alguém e que permite o manejo, bem sucedido de tarefas da vida, tais

como: formação de relacionamentos, solução de problemas do dia-a-dia e

adaptação às complexas demandas e exigências do crescimento e

desenvolvimento. Ela inclui a autoconsciência, o controle da impulsividade, o

trabalho cooperativo e o interesse sobre si mesmo e os outros.

A Inteligência Emocional está relacionada ao desenvolvimento de inúmeras

habilidades tais como: motivar-se e persistir face a frustrações, controlar

impulsos, canalizando emoções para situações apropriadas, praticar gratificação

prorrogada, motivar pessoas, ajudando-as liberarem seu engajamento a objetivos

de interesse comum.

GOLEMAN mapeia a Inteligência Emocional em habilidades, tais como:

* Auto Conhecimento Emocional: reconhecer um sentimento enquanto ele ocorre

é a chave da Inteligência Emocional. A falta de habilidade em conhecer nossos

verdadeiros sentimentos deixa-nos a mercê de nossas emoções.

* Controle Emocional: é a habilidade de lidar com seus próprios sentimentos,

adequando-os à situação. Pessoas pobres nessa habilidade afundam

constantemente em sentimento de incerteza, enquanto as com melhor controle

emocional tendem a recuperar-se mais rapidamente dos contratempos da vida.

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* Automotivação: dirigir emoções a serviço de um projeto é essencial, para

manter-se determinado a alcançar o que se propõe para ficar sempre no controle

da situação e tornar a mente criativa na busca de soluções.

* Reconhecimento de emoções em outras pessoas: empatia é outra habilidade que

favorece a construção do autoconhecimento emocional. Essa habilidade permite

às pessoas reconhecer necessidades e desejos de outros oportunizando-lhes

relacionamentos mais eficazes.

A Educação Emocional é o processo através do qual pessoas desenvolvem as

habilidades de inteligência emocional. O desenvolvimento se dá com a aplicação

de técnicas das quais o aluno é valorizado como ser capaz e importante para o

contexto familiar, escolar e social.

Fatores que interferem na aprendizagem:

Sem dúvida, o que mais prejudica a aprendizagem livre e criativa é a própria

escola e o sistema social de que a escola faz parte.

* Fatores escolares: o professor, a relação entre os alunos, os métodos de

ensino e o ambiente escolar.

A antipatia em relação ao professor faz com que os alunos, crianças ou

adultos, associem a matéria ao professor e reajam negativamente a ambos.

* Fatores familiares;

* Fatores individuais – Envolvem as características da pessoa: maturidade,

ritmo pessoal, interesses e aptidões, problemas de origem nervosa, problemas

orgânicos e deficiências físicas.

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CAPÍTULO II

Questões Legais, Propostas Curriculares e Aprendizagem

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QUESTÕES LEGAIS, PROPOSTAS CURRICULARES E

APRENDIZAGEM

No parecer de SOUZA E SILVA (1997), a inclusão do princípio de ideais de

solidariedade humana na LDB responde pelo resgate de parcela de idéia já observada

na Lei 4024 / 61, corrigindo assim a fraca preocupação filosófica dessa LDB.

Se atentar-se para o Artigo 2º da citada lei constata-se como finalidade “o

pleno desenvolvimento do educando.”

CARNEIRO referindo-se a esse dispositivo afirma:

“ O pleno desenvolvimento significa que a educação

como processo intencional deve contribuir para que o

organismo psicológico do aprendiz se desenvolva

numa trajetória harmoniosa e progressiva.” (1997: )

Para o autor seria o nível cognitivo em evolução, correspondendo a

assimilação de determinados conhecimentos e de operações mentais.

A primeira fase do trajeto compreende as aprendizagens desenvolvidas na

fase inicial da criança . Nessa fase, as aprendizagens estimulam a formação

consciente de propriedade e de relações fundamentais do mundo real.

De acordo com a Lei nº 9394/96 da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da

Educação), a função e o objetivo maior do ensino fundamental é o de propiciar a

todos, formação básica para a cidadania, a partir da criação na escola de

aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a

formação de atitudes e valores a serem usados durante toda a sua formação, inclusive

durante o nível superior.

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Estabelece também como objetivos o fortalecimento dos vínculos de família,

dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida

social.

Tem-se assim, definidos dos grandes eixos constituintes de educação básica

incluindo tanto aspectos cognitivos como afetivos e ainda a preocupação com a

formação do cidadão, bem como com a sua socialização.

A questão do resgate ao relacionamento familiar é preocupação dos

legisladores e proposta atual no âmbito educacional trazendo para a escola a função

de trabalhar no sentido de buscar o fortalecimento dos laços familiares, como

estratégia para evitar o seu desagregamento e possivelmente evitar os chamados

“males sociais”.

Observa-se também, a valorização dada à solidariedade, demonstrando uma

proposta contrária a que vigorou nas duas últimas décadas que favoreceu a formação

do individualismo bem como a presença do egocentrismo e o descomprometimento

com a formação de um ser realmente social.

Este fato comprometeu bastante a consideração de aspectos como a

afetividade no dia-a-dia das instituições de ensino.

Basta analisar-se os planos de ensino, as propostas curriculares, e ainda a

prática pedagógica do professor, para se constatar uma forte tendência a privilegiar

aspectos cognitivos.

Para PIAGET, a aprendizagem depende do nível de desenvolvimento já

alcançado pela criança. É o desenvolvimento que cria as condições para a

aprendizagem, ou seja, é anterior a aprendizagem. O ensino deve seguir o

desenvolvimento, pois só é possível aprender quando há um amadurecimento das

funções cognitivas compatível com o nível de aprendizagem, processo que vigora

durante toda a vida do indivíduo, uma vez que, é impossível aprender conteúdos de

ensino profissionalizante ou de ensino superior quando não há maturidade para tal.

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Para VYGOTSKY, o desenvolvimento cognitivo mantém uma relação mais

estreita com a aprendizagem. O desenvolvimento das funções psíquicas do indivíduo

interage continuamente com a aprendizagem, ou seja, com o meio social. Essa

apropriação do saber produzido ocorre pela interação social.

Segundo LIBÂNEO (1994), o ato de ensinar exige um entendimento claro e

seguro do processo de aprendizagem: em que consiste, como as pessoas aprendem,

quais as condições externas e internas que o influenciam.

Em sentido geral qualquer atividade humana praticada no ambiente em que

vive favorece uma aprendizagem. Desde do nascimento, o indivíduo aprende e

continua aprendendo a vida toda.

Assim, os objetivos se definem em termos de capacidades de âmbito

cognitivo, físico, afetivo, de relação interpessoal e inserção social, ética, estética,

com vista a uma formação ampla.

Interessa a capacidade atinente ao aspecto afetivo, registrar que refere-se às

motivações, à auto-estima, à sensibilidade e à adequação de atitudes no convívio

social, estando vinculada à valorização das atividades realizadas e dos trabalhos

produzidos. Esses fatores favorecem o entendimento a si mesmo e aos outros.

Depreende-se que a capacidade afetiva está intimamente ligada à capacidade

de relação interpessoal, que abrange compreender, conviver e produzir com os

outros, percebendo diferenças entre as pessoas, contrastes de temperamento, de

intenções e de estados de ânimo.

O desenvolvimento da inter-relação favorece ao indivíduo se posicionar-se

levando em consideração a opinião do outro e a refletir sobre seus próprios

pensamentos.

Hoje, reconhece-se a importância da participação construtiva de aluno e, ao

mesmo tempo, da intervenção do professor para a aprendizagem de conteúdos

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específicos que favoreçam o desenvolvimento das capacidades necessárias a toda a

formação do indivíduo. Ao contrário de uma concepção de ensino, em que a cada

uma delas o conhecimento e “acabado”, o que se propõe é uma visão da

complexidade e do provisoriedade do conhecimento.

Se aprendizagem for uma experiência de sucesso, o aluno constrói uma

representação de si mesmo como alguém capaz. Se ao contrário, for uma experiência

de fracasso, o ato de aprender tenderá a se transformar em ameaça e a ousadia

necessária se transformará em medo, para o qual a defesa possível é a manifestação

de desinteresse.

O professor com propostas claras sobre o que, quando e como ensinar e

avaliar possibilita o planejamento de atividades de ensino para a aprendizagem de

maneira adequada e coerente com seus objetivos. É a partir dessas determinações que

o professor elabora a programação diária de sala de aula e organiza sua intervenção

de maneira a propor situações de aprendizagem ajustados às capacidades cognitivas

dos alunos e as suas necessidades pessoais e profissionais.

Os objetivos educacionais atuais se definem em termos de capacidades de

ordem cognitiva, física, afetiva, de relação interpessoal e inserção social, ética e

estética tendo em vista uma formação ampla.

A capacidade cognitiva tem grande influência na postura do indivíduo em

relação às metas que quer atingir nas mais diversas situações da vida, vinculando-se

diretamente ao uso de forma de representação e comunicação, envolvendo a

resolução de problemas, de maneira consciente, ou não.

A aquisição progressiva de códigos de representação e a possibilidade de

operar com eles interfere diretamente na aprendizagem da língua, da matemática, da

representação especial, temporal, gráfica e na leitura de imagens.

A capacidade física engloba o autoconhecimento e o uso do corpo na

expressão de emoções, na superação de estereótipos de movimentos, nos jogos, no

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deslocamento com segurança. A afetiva refere-se à motivações, à auto-estima, à

sensibilidade e à adequação de atitudes no convívio social, estando vinculada à

valorização do resultado dos trabalhos produzidos e das atividades realizadas. Esses

fatores levam o aluno a compreender a si mesmo e aos outros a capacidade afetiva

está estreitamente ligada à capacidade de relação interpessoal que envolve

compreender, conviver e produzir com os outros, percebendo distinções entre as

pessoas, contrastes de temperamento, de intenções e de estados de ânimos. O

desenvolvimento da inter-relação permite ao aluno se colocar do ponto de vista do

outro e a repetir sobre seus próprios pensamentos.

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CAPÍTULO III

Afetividade

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AFETIVIDADE

O estado sentimental que se caracteriza, por uma parte, pela inervação física

perceptível e, por outra parte, por uma perturbação peculiar do processo

representativo é considerado numa perspectiva psicológica como afeto.

BLEULER definiu afetividade com o intuito de designar e resumir não só os

afetos, em uma acepção mais estrita, mas também os sentimentos ligeiros ou

matrizes sentimentais de agrado e desagrado.

O autor distingue na afetividade, por uma parte, os sentimentos, na medida

em que constituem processos preceptivos interiores – sentimento de certeza, de

probabilidade – e os conhecimentos nebulosos.

Referindo-se ao sentido dramático de aprendizagem, FREIRE completa a

posição de BLEULER ao registrar:

“ O educador educa a dor da falta, cognitiva e afetiva,

para a construção do prazer. É a falta que nasce o

desejo. Educa a aflição da tensão da angústia de

desejar. Educa a forma do desejo.”

(1992: )

Para a autora os sintomas de se estar vivo são as capacidades de desejar de

apaixonar-se e de ensinar.

BORDENAVE (1986) observa que junto às mudanças cognitivas provocadas

pelo educador, acontecem também processos emotivos no aluno. Sentimentos de

curiosidade, tensão, ansiedade, angústia, entusiasmo, frustração, alegria, emoção,

estática, impaciência, obstinação e várias outras emoções acompanham o processo de

perceber, analisar, comparar, entender que configuram o processo de aprender.

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Então, o ato de aprender inclui a fixação de um novo conhecimento; uma

operação mental ou motora; uma confiança maior na capacidade de aprender e por

conseguinte, de realizar operações que satisfaçam suas necessidades e uma forma de

manejar ou controlar as próprias emoções para que contribuam à aprendizagem.

Nesse sentido, deduz-se que a aprendizagem é um processo integrado no qual

toda pessoa – intelecto – afetividade – sistema muscular – se mobiliza de maneira

orgânica.

Entende-se afetividade como o conjunto de fenômenos psíquicos que se

manifestam sob a forma de emoções, sentimentos e paixões, acompanhados, sempre

da impressão de dor ou prazer, de satisfação ou insatisfação, de agrado ou desagrado,

de alegria ou tristeza.

Segundo Wallon (1986), a emoção concebe-se como a primeira manifestação

social que possibilita a comunicação da pessoa com seu meio. Para ele, as emoções

estão na origem da linguagem, precedem toda a formação sensório-motora e mental,

contribuem para o desenvolvimento intelectual. As formas do pensamento, assim,

são fortemente influenciadas pelas experiências afetivas do sujeito.

Essa discussão sobre as relações que se estabelecem entre desenvolvimento e

aprendizagem é fundamental para que se entenda, proponha e organize o trabalho

educacional da instituição de ensino, essencialmente fundado no ensino e na

aprendizagem.

1. Afetividade interferindo na aprendizagem

O método de ensinar de cada professor, suas atitudes, o jeito de se relacionar

com os alunos, e até mesmo a frequência com que fala com cada um, o interesse e o

carinho que demonstra estarão influenciando todo o desenvolvimento afetivo dos

educandos em formação. Em consequência, o professor estará influindo sobre a

formação de autoconceito sobre a motivação e a capacidade de aprendizagem. Aos

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olhos dos alunos e professor é muito importante. Suas atitudes vão ajudá-los a

construir imagens positivas ou negativas de si mesmos, aumentando ou diminuindo

sua motivação para aprender.

A experiência de alguns educadores mostra que envolver alunos em tarefas

curtas, simples, com encadeamento progressivo (por etapas) e que apresentem

resultados bem definidos, permite que eles percebam seus progressos, sentindo-se

vencedores em cada etapa, estimuladas a prosseguir acreditando-se capazes de

vencer as dificuldades com que se defrontam.

O aluno aprende melhor quando fica sabendo se foi bem-sucedido, ou onde e

por que errou. O aluno que permanece sem este retorno tem poucas condições de

avançar do estágio que se encontra, assim como o que recebe apenas uma nota, se,m

qualquer comentário ou retorno sobre seu desempenho.

Ao dar retorno ou estimular a correção, do erro, o professor possibilita ao

aluno localizar em que falhou e por que isso ocorreu, e consciência dos acertos, erros

e lacunas permite que o aluno compreenda seu próprio processo de aprendizagem,

desenvolvendo autonomia para continuar a aprender, na escola e na vida. A

aprendizagem através dos erros funciona principalmente com adultos.

Segundo CRESPO é importante o vínculo afetivo na interação professor-

aluno.

No relacionamento educador-educando, temos o vínculo afetivo, que será um

grande facilitador no processo de ensino e de aprendizagem, pois pela criação de um

forte vínculo afetivo a criança não se sentirá sozinho, facilitando, assim, seu

aprendizado. Certas, entre o clima criado será de prazer, acolhimento, alegria,

companheirismo, ou seja, prazerosamente o conteúdo será apresentado as

dificuldades serão recebidas e acolhidas como parte do processo, auxiliando – a

dessa forma, na superação das dificuldades.

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O toque também é um forte contato, por isso, assim como o incentivo através

do discurso de encorajamento.

Sem dúvida, a relação com todos os alunos é de suma importância. Saber

entrar, conversar com o grupo, pedir ajuda, aceitar o auxílio, resolver os conflitos que

surgirem, tudo isso e relacionamento, é linguagem é expressão, é uma forma de

compreender, e está presente em todos os instantes: mesmo que isso seja um pouco

inviável devido as condições de trabalho impostas ao professor hoje.

Dessa forma o aluno vai aprendendo e crescendo. Não é um caminho fácil.

Mesmo para adultos com todos os compromissos e contratempos da vida moderna.

O desânimo poderá estar presente no decorrer do percurso, mas acreditando

em seu trabalho, o professor terá o prazer de ver o resultado positivo de esforço no

desenvolvimento futuros formados.

Cada aluno percorrerá um caminho diferenciado e único passará por lugares

diferentes, por que interpretará a sua maneira, vivências e falas. Símbolos e

significados vão ser criados nesse período, por isso cada um terá um tipo de

relacionamento e caberá ao professor ter sensibilidade de identificar a melhor forma

de se relacionar com eles. Importante é procurar relacionar-se com todos, falar assim

que respeitamos o indivíduo e, ao mesmo tempo, ensinamos como respeitar, mas o

que todos transmitem seu para o filho, aluno ou qualquer outro cidadão, e o exemplo.

A afetividade e a aprendizagem caminham juntas.

O professor é um exemplo que influencia o comportamento dos alunos, por

isso a relação entre eles ser influenciada pela relação que se estabelece em sala de

aula.

A relação afetiva professor-aluno ganhou peso nos últimos anos. Além disso,

como os laços criados no ambiente escolar não tem a mesma possessividade das

ligações familiares, essa relação se torna especialmente importante. Não há dúvida:

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os primeiros contatos com a instituição escolar definem se o aluno terá uma

convivência boa ou não com o aprendizado.

Se a preocupação em cativar carinho dos alunos é positiva, por outro lado o

professor não deve esconder os sentimentos negativos que tem em relação a eles.

Fica uma falsa imagem de que todos os professores amam seus alunos e vice-versa.

Mas, não se deixe enganar por essa miragem. Trata-se de uma relação emocional

intensa. E relações intensas pressupõem conflitos.

Segundo ALVES, professores há aos milhões, mas professor é profissão, não

é algo que se define por dentro, por amor. Educador ao contrário, não é profissão, é

vocação. E toda vocação nasce de um grande amor, de grande esperança.

“ Profissões e vocações são como plantas. Vicejam e

florescem em ninchos ecológicos, naquele conjunto

precário de situações que as tornam possíveis e- quem

sabe? – necessária. Destruído seu habitat, a vida vai se

encolhendo, murchando, fica triste, mirra, entra para

o fundo da terra, até sumir.” (1983:11)

Reportando-se as diferenças individuais, DIAS afirma:

“ ...de acordo com as diferenças pessoais entre alunos e

professores à luz da teoria das pesquisas, uma idéia

parece ter ficado bem clara: Não há um método bom

para todos. Como a dinâmica interna de cada aluno é

diferente da dos demais, um encontra desafio e

satisfação onde outros acham aborrecimento e

frustração. Por sua vez, cada professor é um ser

humano com crenças e emoções diversas.”(1983: )

Como pode o professor resolver os problemas das diferenças individuais e a

escolha de métodos? Não se tem uma receita pronta para oferecer somente se pode

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afirmar com MCKEACHIE que, na medida em que o professor faz questão de

conhecer cada vez mais as diferenças entre seus alunos, mas motivado para variar e

experimentar novos métodos, alternando os de exposição com os de discussão, os de

transmissão por meios mecânicos, os métodos de projeto e estudo dirigido, etc.,

observando sempre que tipos de alunos aprendem melhor com que tipo de métodos.

Aos poucos, o professor será capaz de identificar quais são as diferenças de

personalidade mais determinantes nas diferenças de aprendizagem. Isto lhe ajudará a

agrupar seus alunos por tipos e adequar seus métodos aos diversos tipos.

No processo, o professor irá concentrando-se mais nos alunos como pessoas

totais do que na, matéria a ensinar. A meta final é o desenvolvimento da empatia,

aquela capacidade de perceber situações e sentir emoções da maneira como o aluno

as percebe e sente, graças a identificação e a simpatia que o professor sente para com

aquele.

É óbvio que só pode desenvolver simpatia e empatia, aquele professor que

olha e trata seus alunos como pessoas humanas que vivem em uma sociedade

específica, neste momento, e não como meras unidades do “corpo discente”.

CUNHA (1995) defende um espaço, dizendo quando brinca e o adulto não

atrapalha, muitas coisas boas acontecem. Quando ela mergulha em sua atividade

lúdica, organiza-se todo o seu ser em função de sua ação. O interesse provoca o

fenômeno; reúnem-se potencialidades num exercício mágico e prazeroso. E quanto

mais a criança mergulhar, mais estará exercitando sua capacidade de concentrar

atenção, de descobrir, de criar, e especialmente, de permanecer em atividade.

Os adultos tiveram pressa de que a criança crescesse, aprendesse e

produzisse, que fizesse coisas úteis e produtivas e, para que isso acontecesse de

forma mais conveniente, a escola acabou ficando exigente. A escolarização precoce

deteriorou a infância a tal ponto que hoje, onde há grande demandas, temos rigorosos

exames de admissão à pré-escola. Isto é terrível: já na pré-escola o processo está

pervertido.

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A infância tem que ser respeitada; a criança não é um adulto em miniatura; se

for reduzida a isso, pior para ela e para a sociedade, pois a vida cobra as etapas não

vividas. As necessidades lúdicas e afetivas da criança tem a mesma importância que

as suas necessidades físicas. Se não se entenda esta corre-se os riscos, de desperdiçar

as melhores oportunidades; quem sabe as únicas, de tornar a criança integrada e

capaz de ser feliz.

Por várias razões, as crianças estão indo cada vez mais cedo para a escola. As

escolas preparam-se para receber um número cada vez maior de crianças. Para isso,

organizam-se, estruturam-se, elaboram programas, passam, assim, a oferecer-lhe

situações e conteúdos previamente sistematizados, aos quais elas terão de adaptar-se,

já que a vida adulta exigirá isso mais tarde.

Sendo as instituições de ensino voltadas para uma civilização industrial, seus

valores são organizados de forma a premiar os que melhores resultados obtiverem na

reprodução do modelo por ela proposto. Fica então a pessoa submetida a uma

situação previamente estruturada.

Mas, segundo PIAGET, a rotina não é epistemológica: a graduação dos

passos não deixa espaço para desafio representado pela dúvida, não permite

descoberta. É uma situação problema, o inusitado que desafia o pensamento e

propicia a construção do conhecimento.

A descoberta traz o conhecimento de forma auto-possuída, o prazer de haver

aprendido sozinha eleva o conceito da pessoa, tornando-a mais apta.

Segundo Madalena FREIRE ensinar e aprender são movidos pelo desejo e

pela paixão.

O educador educa a dor da falta, cognitiva e afetiva, para a construção do

prazer. É da falta que nasce o desejo. Educa a aflição da tensão, da angústia de

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desejar. Educa a fome do desejo. Processo que nunca pode deixar de existir, nem na

vida adulta.

Um dos sintomas de estar vivo é a nossa capacidade de desejar e de nos

apaixonar, amar e odiar, destruir e construir.

Somos movidos pelo desejo de crescer, de aprender, e nós educadores,

também de ensinar.

Expressamos nossos desejos de morte também de outra maneira: quando

sonhamos com um espaço onde não existam conflitos, nem diferenças, nada em

desequilíbrio, nada em movimento, processo transformação; tudo jaz na perfeita e

absoluta calmaria do homogêneo massificado.

A rigidez, o sectarismo, a imutabilidade de idéias, pensamento e ação,

retratam este estado.

A concepção autoritária castra a expressão do desejo do educando (e do

educador) quando defende a passividade, a homogeneidade, quando doa

mecanicamente o conhecimento fazendo do educando um mero repetidor de

conhecimentos e de desejos alheios ao seu coração e inteligência educa para a morte.

Pois desejo e criação foram soterrados.

Neste sentido, o autoritarismo é uma paixão triste, que produz medo,

fatalismo, desesperança, cinismo, amargura.

Paixão alegre, desejos de vida, dão muito trabalho, por que gestados no

conflito, nas diferenças, no heterogêneo, no desequilibrio das hipóteses, no choque

do velho e do novo, na mudança, na transformação, no enfrentamento do caos da

ação criadora, na ação do imaginar, sonhar os desejos juntamente com os outros.

“Um sonho que sonha só, é só um sonho; um sonho que sonha junto é realidade.”

Estar vivo é assumir a educação do sonho no cotidiano.

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Educar a paixão ( de morte e vida) é lidar com esses dois ingredientes

cotidianamente, através da nossa capacidade, força vital (que todo ser humano

possui; uns mais, outros menos, em outros anestesiada) e DESEJAR, SONHAR,

IMAGINAR e CRIAR.

Somos sujeito porque desejamos, sonhamos, imaginamos e criamos; na busca

permanente da alegria, da esperança, do fortalecimento da verdade, de uma

sociedade mais justa, da felicidade que todos temos direito.

Este é o drama de permanecer VIVO...fazendo educação.

De acordo com estudos realizados por Beatriz SCOZ (1994), a influência da

auto-estima na aprendizagem da pessoa tem sido bastante discutida nos meios

educacionais. De acordo com as experiências ambientais e com os relacionamentos

familiares e sociais que cada um de nós foi submetido, poderemos ter um

autoconceito positivo ou negativo. A figura do professor pela significação que tem

para com os alunos, poderá contribuir de maneira decisiva para que construam

positivamente seu autoconceito. No entanto, para que isso seja possível é desejável

que o professor compreenda seus próprios valores e avalie até que ponto sua figura

influencia o comportamento dos alunos.

Para motivar os alunos a aprender, é fundamental ainda que o professor tenha

competência para conhecer suas necessidades, propondo desafios adequados, a

experimentar o sucesso e a adquirir uma auto-imagem positiva, a fim de que o prazer

venha da própria aprendizagem, do sentimento de aptidão e da segurança para

resolver problemas.

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2. A afetividade dentro da sala de aula

A conduta do professor é muito marcante, pois, a paciência, a dedicação, o

carinho e a atitude democrática facilitam a aprendizagem.

O estudo evidenciou casos em que o aluno torna-se agressivo ou apático

durante as aulas por rejeitar o modo do professor, passando associar a matéria do

referido professor. Causando vários bloqueios, que são levados muitas vezes por toda

ou quase toda vida acadêmica.

Professores que gostam do que fazem são generosos, que se mostram

tolerantes e estimulam sua participação, obtém melhores resultados do que

professores competentes em sua matéria, mas frios e distantes em relação à classe.

Quanto mais jovens os alunos, mais importante é o relacionamento afetivo. Um

sorriso, um abraço, uma palavra amiga, costumam ter efeitos positivos, mais

expressivos sobre a aprendizagem do que inúmeros conselhos e ordens.

Esse fato encaminha à reflexão de idéias defendidas por FARIA (1995) ao

defender que o professor eficiente é afetivo com seus alunos. Afetivo no sentido de

se preocupar com cada um deles. Reconhecê-los como indivíduos autônomos, com

uma experiência de vida diferente da sua, com direito a ter preferências e desejos

nem sempre iguais aos seus. Sabe respeitá-los. Procura entender seus sentimentos.

O professor afetivo é uma pessoa autêntica. Sabe expressar seus sentimentos

e desejos de forma direta, mas sem magoar seus educandos, ele sabe que não se

constrói no meio de caos, portanto, suas aulas estimulantes, mas disciplinados. Os

alunos tem consciência dos seus limites e da necessidade de respeitarem-se uns aos

outros.

A carência é percebível devido à falta de afeto enchendo os leitos dos

hospitais, os consultórios psiquiátricos, as casas de perdição, de detenção. Milhares

de pessoas por dia morrem no mundo carente de afeto. Por falta de afeto atrofiam-se

o coração, a mente e o cérebro.

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A cada instante morre alguém, a mingua de afeto. De nada valem as

descobertas científicas, o avanço tecnológico, se não descobrirmos o homem na sua

essência, se não tecemos com fios de ternura, um manto que lhe agasalhe a alma

tiritante de frio, se não alimentarmos o espírito faminto de carícias quentes.

A afetividade, assim como o conhecimento se constrói através da vivência.

Cabe, portanto à escola, ao educador, a tarefa de despertar no educando as

potencialidades do coração.

Conforme LINDGEM outro fato a considerar é que:

“ Os professores mais eficientes são aqueles que

compreendem os alunos e o processo da

aprendizagem, mas tal compreensão não é adquirida,

nem rápida, nem facilmente.”( : )

O estudo também, propiciou a reflexão sobre situações vivenciadas por

ANTUNES (1999), há professores que enfrentam problemas dificílimos, mas quando

entram em sala de aula contagiam-se pela emoção do que faz.

Será que em todas as nossas instituições de ensino existem a reflexão sobre a

delicada teia da vida ou tudo está virando só comércio?

Será que cada professor, pequenino em sua luta diária, ou cada aluno,

anônimo são percebidos como eles que, desrespeitados, representam desrespeitos

brutais às pirâmides do futuro?

BRADBURG ensina que descuidar de uma única pessoa, esquecer seu diário

direto à alegria e ao reconhecimento representará, quem sabe, a criação de vazios

insondáveis nos mapas geográficos do futuro.

Analisando-se a história de Marcelo, um excelente professor de Geografia,

numa aula sobre o Pantanal até excedeu-se. Falou com entusiasmo, relatou com

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detalhes, descreveu com precisão. Preencheu a lousa com critério, soube fazer com

que os alunos descobrissem na interpretação do texto do livro, a magia dessa região

quase selvagem. Exibiu um vídeo, congelou cenas e enriqueceu-as com detalhes,

com fatos experimentados, acontecimentos do dia-a-dia de cada um.

Em sua prova, é evidente não deu outra: uma redação sobre o tema e questões

operatórias que envolviam o Pantanal. Seus rios, suas aves, sua vegetação... a

planície imensa. Os alunos acharam fácil. Apanharam suas falhas e começaram a

trazer, palavra por palavra, suas imagens para o papel. As canetas corriam soltas e as

linhas transformaram-se em parágrafos. Marcelo sabia o quanto teria que corrigir,

mas vibrava... Sentia que os alunos aprendiam. Descobria o interesse que sua ciência

despertava.

O único ponto de discórdia, o único sentimento opaco que aborrecia Marcelo

era o Luizinho, aquele da segunda fila. – Puxa vida – pensava – Luizinho assistira

todas as suas aulas, arregalara os olhos com as explicações e agora, na prova, silêncio

absoluto, imobilidade total... nem sequer uma linha. Sentiu ímpetos de esganar

Luizinho. Mas, tudo bem, não queria se irritar. Luizinho pagaria seu preço, iria

certamente para a recuperação.Seria até possível arrancar um ano inteirinho de sua

vida...

Minutos depois, avisou que o tempo estava terminando. Que entregassem sua

folha. Viu então, que, rapidamente, Luizinho desenhou, na primeira página das

folhas de provas, o Pantanal Rico, minucioso, preciso. Marcelo emocionou-se ao ver

aquele quadro, de irretocável perfeição, nas mãos de Luizinho que colocaria as

últimas sobras. Entusiasmado indagou:

- E aí, Luís? Você já estave no Pantanal?

Não. Luizinho jamais saíra de sua cidade. Construi sua imagem a partir das

aulas ouvidas. Marcelo sentiu-se um gigante e de repente, descobriu-se o próprio

Piaget. Havia com suas palavras construído uma imagem completa, correta e

absoluta na mente de seu aluno.

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Mas deu zero pela redação. É claro. Naquela escola não era permitido que se

rabiscassem as folhas de prova. A história de Luizinho repete-se em muitas escolas.

Sua inteligência pictórica é imensa, colossal, lúcida, clara e contrasta visivelmente

com as limitações de sua competência verbal. Expressou o que sabia, da maneira

como conseguia.

Mas, não são todos os professores que se encontram capacitados para ouvir

linguagens diferentes das que a escola instituiu como única e universal.

A Terceira Guerra Mundial trouxe o colapso da civilização.

Megalópoles, cidades, vilas e aldeias foram destruídas e até mesmo o campo

foi devastado pelas grandes atômicas. A maior parte das pessoas morreu e aos

poucos sobreviventes, atendidos, perderam estímulo para a vida e os resquícios da

auto-estima. O trabalho foi abandonado, os animais sobreviventes caíram sobre o que

restava de alimentos e a fome se abateu sobre as ruínas. Pior que isso, entretanto,

sobrava a desilusão e o fim de toda forma de esperança.

Um dia, uma jovem, que nunca havia visto uma flor, descobriu a última que

nascera entre os escombros. Encantou-se e buscou cúmplices para descobrirem

estratégias para fazê-la sobreviver. Passou por muitos, mas não encontrou ninguém.

Quando desiludida, voltava a sua flor, encontrou um jovem professor que se

interessou por sua história.

Juntos, foram até a última flor. Com infinita paciência e renovados pela

ternura, construíram toscos meios para protegê-la dos resíduos químicos e dos

animais famintos. A pequena flor sobreviveu e transformou-se em sementes. Ao seu

lado surgiram outras flores e, depois, mais outras. Após algum tempo, um canteiro

florido recobriu como um ilha o espaço desolado. A jovem fez-se aluna e começou a

se interessar por sua aparência e o rapaz assumiu sua missão de mestre e aprendeu a

cuidar-se. Construíram um abrigo ao lado do canteiro e, aos poucos, outras pessoas

descobriram a beleza do singelo espaço. Surgiu uma escola e de suas aulas, uma vila.

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Foram criadas novas profissões. A alegria e esperança voltaram a reinar entre os

homens.

A cidade foi reconstruída em torno da escola e do canteiro, e as lições e as

flores, passaram a expressar seus símbolos. Logo, poetas, agricultores, cantores,

naturalistas, músicos, mímicos, malabaristas adotaram a cidade. Líderes, também

líderes. As pessoas qie viviam nas planícies passaram a reclamar direitos sobre a

colina e os moradores desta, a lutar pela posse da planície. Surgiram guerreiros,

sargentos, políticos, lutadores, comandantes e matadores.

A guerra tornou-se inevitável e desta vez, a destruição nada deixou sobre os

escombros.

Nada restou, apenas um professor, sua aluna e uma flor.

Esta parábola foi adaptada de um monólogo de Bertlold BRENCHT. Ensina

que um professor e seus alunos constituem o símbolo da reconstrução e a singela flor

da esperança.

O estudo também constatou situações em que a afetividade auxiliou o ensino-

aprendizagem.

A partir do momento em que os alunos passm a confiar no professor é

negável que o rendimento da aprendizagem melhora, daí, criam-se laços de respeito,

de responsabilidade, movidos por uma troca signifivativa, onde as duas partes se

integram na busca de um objetivo comum.

Percebe-se através de situações diárias em sala de aula, quando o aluno gosta,

respeita o professor, ele projeta atitudes que demonstram confiança.

Como pode-se observar no depoimento de Regina Célia:

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“A formação das crianças e dos jovens ocorre por

meio de sua participação na rede de relações que

constitui a dinâmica social.”

Cada classe constitui também um grupo social. Dentro desse grupo, que

ocupa um espaço de uma sala de aula, a interação social se processa por meio da

relação professor-aluno e da relação aluno-professor. É no contexto, da sala de aula,

no convívio diário com o professor e com os colegas, que o aluno vai paulatinamente

exercitando hábitos, desenvolvendo atitudes assimilando valores.

A escola ou faculdade são locais de encontros existênciais, da vivência das

relações humanas da veiculação e intercâmbio de valores e princípios de vida. Se,

por um lado, a matéria e o conteúdo de ensino, tão racional e cognitivamente

assimilados, podem ser esquecidos, por outro, o “clima” das aulas, os fatos alegres

ou tristes que nela se sucederam, o assunto das conversas informais, as idéias

expressas pelo professor, enfim, os momentos vividos juntos e os valores que foram

veiculados nesse convívio, de forma implícita ou explícita, inconsciente ou

conscientemente, tudo isto tende ser lembrado pelo aluno durante o decorrer de sua

vida e tende a marcar profundamente sua personalidade e nortear seu

desenvolvimento posterior.

A interação humana tem uma função educativa, pois é convivendo com os

seus semelhantes que o ser humano é educado e se educa.

No processo de construção do conhecimento, o valor pedagógico da interaçào

humana é ainda mais evidente, pois é por intermédio da relação professor-aluno e da

relação aluno-aluno que o conhecimento vai coletivamente sendo construído.

O educador na sua relação com o educando estimula e ativa o interesse pelo

aluno e orienta seu esforço individual para aprender. Assim sendo o professor tem

basicamente suas funções na sua relação com o aluno:

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* Uma função orientadora, pois deve orientar o esforço do aluno para

aprender, ajudando-o a construir seu próprio conhecimento.

Esta postura foi evidenciada quando que, antes de ser um professor, ele é um

educador, pois sua personalidade é norteada por valores e princípios de vida e

consciente ou incoscientemente explícita ou implicitamente ele veicula esses valores

em sala de aula manifestando-os a seus alunos.

Assim, co-interagir com cada aluno em particular e ao se relacionar com a

classe como um todo, o professor não apenas transmitiu conhecimentos, em forma de

informações, conceitos e idéias (aspecto cognitivo), mas também facilitou a

veiculação de idéias, valores e princípios de vida - elementos da esfera afetiva –

contribuindo para a formação da personalidade do educando.

Percebeu-se ainda haver um processo de intercâmbio propiciando a

construção coletiva do conhecimento, na qual a relação professor-aluno baseou-se no

diálogo. É por meio do diálogo que o professor e aluno juntos construíram o

conhecimento, chegando a uma síntese do saber de cada um.

Constatou-se também situações identificadas com as idéias de CORRÊA

(1999) do professor eficiente e afetivo com seus alunos. Afetivo no sentido de se

preocupar com cada um deles. Reconhecê-lo como indivíduos autônomos, com uma

experiência de vida diferente da sua, com direito a ter preferências e desejos nem

sempre iguais aos seus. Aceita-os em suas nuances. Sabe respeitá-los. Procura

entender para perceber que atrás daquele “capeta”se esconde muitas vezes uma

pessoa carente que se sente inferior às outras, desvalorizada, mal amada.

O professor afetivo, pessoa autêntica, sabendo expressar seus sentimentos e

desejos de forma direta, mas sem magoar os educandos. Interessado em seus alunos,

procura colocar à disposição deles recursos interessantes e estimulantes para aguçar

sua curiosidade e sua vontade de descobrir.

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O professor afetivo sabe que não se constrói em meio do caos, portanto, suas

aulas, são estimulantes, mas disciplinadas. Os alunos tem consciência dos seus

limites e da necessidade de respeitarem-se uns aos outros.

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CONCLUSÃO

A aprendizagem vem se apresentando como um dos aspectos componentes da

educação, dependendo portanto de um conjunto de fatores que, permanentemente

está a influenciar o desenvolvimento que emerge de sua eficiência quando submetido

a um trabalho sistematizado, depende pois, como já se sabe de estímulo, de

orientação, de direção e controle.

A aprendizagem é uma vivência por que se confunde ou se identifica com a

própria vida.

O grupamento de indivíduos suscita em cada um deles maneiras de agir,

sentir, e de pensar diferentes daquele que teriam em estado isolado ou num grupo

nitidamente constituído e particularmente na sociedade escolar.

A sociedade escolar ao contrário da compacta sociedade familiar,

maciçamente unificada pelo cimento afetivo é complexa, móvel e múltipla. Ela

requer constantes esforços de adaptação seja por ocasião de uma mudança ou atitude

não esperada do professor e sobretudo devido a oscilação incessante entre a sua

constituição – submetida a autoridade do professor – e a sua estrutura igualitária – à

margem dessa autoridade.

O fator emocional é de suma importância na vida do aluno, pois deste

também depende o desenvolvimento físico e psíquico.

O estudo desenvolvido enfatiza as variáveis que interferem no processo

ensino-aprendizagem (orgânica, cognitiva, afetiva, sócio-cultural) todos são

interligados sendo que em determinado momento uma é mais acentuada que a outra.

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É fundamental que o educador goste do que faz, pois a partir daí fica mais

fácil seu envolvimento com os educandos. Conseguindo assim, detectar as causas das

dificuldades de aprendizagem.

O estímulo, a confiança, desenvolve segurança e equilíbrio ao educando, e

este desenvolverá melhor suas atitudes.

A partir do momento que o educador sente que está trocando idéias e

experiências, percebe os educandos, pois estes possuem fontes riquíssimas que na

maioria das vezes são bloqueadas e perdidas, por que não aconteceu aquele olhar

mais atencioso, aquele interesse e amor do educador.

A afetividade entre o professor e aluno define o bom ou mal desenvolvimento

no processo ensino-aprendizagem. A questão da afetividade em sala de aula torna-se

de fundamental importância para a aproximação do educador com o educando, pois

este precisa sentir-se seguro e confiante para desenvolver-se bem no meio que vive e

convive.

O educador precisa deixar reacender em seu íntimo motivações, para resgatar

o que anda meio esquecido na maioria das instituições que é o desenvolvimento da

afetividade.

O aluno precisa de lugar seguro e fértil para desenvolver-se e o amor

proporciona isso, permitindo o florescer dos bons sentimentos. Se o professor e aluno

não se gostam, aprender fica muito difícil causando bloqueios que poderão ser

levados pela vida inteira.

O trabalho escolar comprometido com as expectativas dos alunos aproveita a

bagagem que o aluno traz envolvendo uma avaliação que veja o lado positivo do

aluno a fim de conhecê-lo a cada dia, através do desenvolvimento de suas

capacidades.

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O ser humano possui uma natureza singular, que o caracteriza como ser que

sente e pensa o mundo de um jeito próprio. Nas interações que estabelece desde cedo

com as pessoas que lhe são próximas e com o meio que o cerca. Ao ingresso no

ambiente escolar revela o esforço que faz para compreender o mundo em que vive, as

relações contraditórias que presencia e, por meio de diversos modos explicitam as

condições de vida, seus anseios, desejos e sentimentos.

A existência de um ambiente acolhedor não significa eliminar os conflitos,

disputas e divergências presentes nas interações sociais, mas pressupõe que o

professor forneça elementos afetivos para que a criança aprenda a conviver,

buscando as soluções mais adequadas para as situações com as quais se defronta

diariamente.

As capacidades de interação, porém, são também desenvolvidas quando as

pessoas podem ficar sozinhas, quando elaboram suas descobertas e sentimentos e

constróem um sentido de propriedade para as ações e pensamento já compartilhadas

com outros, o que vai potencializar novas interações.

Se desenvolvem em situações de interação social, nas quais conflitos e

negociações de sentimentos, idéias e soluções são elementos indispensáveis.

Torna-se muito importante que o professor e o futuro professor pensem sobre

sua grande responsabilidade, principalmente, em relação aos alunos dos primeiros

anos, sobre os quais a influência dos primeiros momentos é muito marcante. Apesar

das dificuldades que tiver pela frente, cabe ao professor manter uma atitude positiva

de confiança na capacidade dos alunos, de estímulos à participação de todos, de

entusiasmo em relação a matéria e de amizade para com os alunos. Lembrar-se de

que seu papel é transformar outra pessoa, mas sem moldá-la à sua própria imagem.

Só assim estará exercendo sua missão de educador, que não se cofunde com opressão

e controle autoritário.

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I 10 APRENDIZAGEM 10

1. Inteligência Emocional e o Processo Ensino – Aprendizagem 14 CAPÍTULO II 17 QUESTÕES LEGAIS, PROPOSTAS CURRICULARES 17 E APRENDIZAGEM CAPÍTULO III 23 AFETIVIDADE 24

1. Afetividade interferindo na Aprendizagem 25

2. A Afetividade dentro da sala de aula 34 CONCLUSÃO 41 BIBLIOGRAFIA 44 ÍNDICE 46

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ATIVIDADES CULTURAIS