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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE PANORAMA HISTÓRICO DOS 500 ANOS DE EDUCAÇÃO NO BRASIL Por: Edla Maria de Souza Caminha Orientador Prof. Dr. Nelsom Magalhães Niterói 2006

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

PANORAMA HISTÓRICO DOS 500 ANOS DE EDUCAÇÃO NO

BRASIL

Por: Edla Maria de Souza Caminha

Orientador

Prof. Dr. Nelsom Magalhães

Niterói

2006

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

PANORAMA HISTÓRICO DOS 500 ANOS DE EDUCAÇÃO NO

BRASIL

Apresentação de monografia à Universidade

Cândido Mendes como condição prévia para a

conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”

em Docência do Ensino Superior.

Por: Edla Maria de Souza Caminha

Niterói

2006

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AGRADECIMENTOS

Aos amigos, parentes e filha, pelo

apoio.

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DEDICATÓRIA

A Lays Caminha do Amaral, filha querida.

Que fez da tarefa de ensinar uma

constante atitude de prazer.

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RESUMO

Esta pesquisa visa avaliar no processo histórico educacional brasileiro

as marcas de uma ideologia, que procura atender as classes dominantes na

construção de uma política que, apesar de transformada pela história, não

retrata em nada as aspirações do povo.

Cabe apresentar uma visão sumaria das fases educacionais do Brasil,

oferecendo assim um roteiro de apreciação histórica para aqueles que se

interessam pelos nossos problemas educacionais. Há uma tendência ao

menosprezo deste tipo de balanço da Educação Brasileira, onde especialistas

se detêm meramente aos dados estatísticos quantitativos, talvez isso ocorra

por contágio dos critérios economistas, ou melhor, da deformação destes

critérios.

O profissional docente em virtude de estar inserido nesta construção

histórica que por vezes apenas solidifica esta estrutura deverá refletir sobre o

seu papel como educador que viabiliza e conduz o conhecimento, não a partir

de uma política educacional pré–estabelecida por modelos que não expressam

realmente as aspirações do povo brasileiro, mas, daquele que se apropria de

uma cultura que rompe fronteiras e que marca as gerações, que se utiliza

efetivamente da “matéria prima” que é o aluno, respeitando o meio em que

vive, sua realidade e limites.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................................7

CAPÍTULO I - Educação no Brasil Colonial .......................................................9

CAPÍTULO II - Educação no Brasil Monárquico ..............................................24

CAPÍTULO III – Educação no Brasil Republicano ...........................................36

CONCLUSÃO...................................................................................................51

BIBLIOGRAFIA

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INTRODUÇÃO

Através de uma análise que reestruture a herança histórica no

processo educacional brasileiro. Este projeto visa avaliar no processo histórico

educacional as marcas de uma ideologia que procura atender as classes

dominantes na construção de uma política marcada por transformações em

que, em momento algum retratam as aspirações do povo brasileiro. Apresentar

um panorama histórico da Educação no Brasil, bem como, um paralelo entre o

processo sócio-cultural dos 500 anos de história do Brasil e seus projetos

educacionais; analisar fundamentos marcantes na pedagogia moderna; adquirir

uma visão mais equilibrada do processo educativo no Brasil. A educação

brasileira decorre de estruturas e conjunturas que revelam posicionamentos de

intervenção de um “modelo“ construído a serviço das classes dominantes.

Ressaltando um movimento histórico que marca em toda a sua trajetória

“máscaras”, que não visam estabelecer um real compromisso com a educação

nacional. Em contra partida construir um projeto educacional voltado para as

reais experiências como fonte para estabelecer uma política educacional de

relevância e inserção social, usando estes conflitos sociais.

Como foram construídos os Projetos Educacionais no Brasil, desde

1500 até os nossos dias?

A política educacional de um país é parte integrante da política geral de

seu governo. O setor educacional só terá expressão e um sistema eficiente na

educação, quando for determinado pela sociedade, e ao mesmo tempo,

determina-la. Sendo assim, há que se refletir num projeto educacional, que

reorganize as bases da educação nacional, que colabore efetivamente com um

processo de transformação social.

O objeto de pesquisa é a herança histórica dos projetos educacionais

brasileiros, construída nos 500 anos de educação no Brasil. O público alvo são

alunos dos cursos de graduação em pedagogia.

Os principais teóricos apresentados nesta pesquisa são: Libânia Nacif

Xavier; Sônia Kramer; Paulo Freire; Everett Reimer; Marilena Chauí; Moacir

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Gadotti; Demerval Saviani entre outros. A fundamentação teórica inicial tem por

base textos de Maria Elizabete Xavier, Maria Luiza Ribeiro, Maria Olinda

Noronha; H.R. Pires de Almeida e Frota Pessoa.

O conteúdo do capítulo I fala da Educação no Brasil Colônia,

apresentando aspectos históricos gerais do período, um perfil das campanhas

e missões jesuíticas e seus projetos educacionais para o Brasil recém

descoberto. Aborda traços marcantes do trabalho da Companhia de Jesus com

os indígenas, a criação das primeiras escolas e sua influencia na sociedade da

época, bem como, os anseios de autonomia. As experiências pedagógicas

vividas em Pernambuco.

O conteúdo do capítulo II, apresenta a educação no Brasil monárquico,

o primeiro império e sua dificuldades no campo da educação, e na estruturação

dos modelos europeus de educação primária. O período regencial e segundo

império com suas “novas” propostas educacionais que na verdade reforçavam

os problemas sociais.

O conteúdo do capítulo III aborda a educação no Brasil monárquico, o

período republicano, a república velha, as políticas partidárias, e as tentativas

de uma renovação educacional, o período estadonovista, a nova constituição

elaborada por Francisco Campos, a reforma educacional de Capanema, na

tentativa de atender as necessidades dos problemas técnicos –pedagógicos e

o nome de Dodosworth que procurou reformar o ensino primário com base na

realidade sócio – econômica do país. A terceira república, o manifesto dos

pioneiros da Educação Nova. A lei de Diretrizes e Bases da Educação. O

período revolucionário e a educação e a educação nos dias de hoje. No final de

cada capítulo apresento um resumo histórico em quadros. Concluo com

sugestões e ressalvas de que não vale todo o esforço de mudar o número de

escolarizados, se apenas reforçamos as diferenças sociais com estes modelos

educacionais que não atendem a população brasileira.

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CAPÍTULO I

Educação no Brasil Colônia

...”Conhecer a escola que tivemos é mergulhar

na história vivida, expor a escola que

queremos é navegar num oceano de sonhos.”

(Ieda Marques de Carvalho. Mestre em Educação

pela Universidade Católica Dom Bosco.

Professora Chefe da Assessoria de Planejamento

e Desenvolvimento Institucional da UCDB.

Coordenadora do NEPPI/UCDB – Núcleo de

Estudos e Pesquisas das Populações Indígenas.)

O Período. Aspectos Históricos Gerais

Em 29 de março de 1549, quando Tomé de Souza, 1º governador geral

do Brasil, desembarca no arraial de Pereira, na Bahia de Todos os Santos,

trazendo em sua frota seis missionários jesuítas. Eram eles: Padre Manoel da

Nóbrega, que dirigia estes missionários que vinham para a obra catequética, os

padres Azpicuelta Navarro, Leonardo Nunes e Antônio Pires, e dois irmãos:

Vicente Rodrigues e Diogo Jácome.

O Brasil, colônia de Portugal, recebe a herança histórico-cultural

portuguesa que constituirá sua raiz mais profunda para a formação de uma

comunidade nação, apesar de todas as diversidades, sejam geográficas,

étnicas, religiosas. Eram dois mundos que se chocavam: um mundo do

aborígene e o mundo lusitano, que estruturariam nosso ser-brasileiro como um

ser de contrastes, de paradoxos.

“Os descobrimentos marítimos, a orientação científica, a literatura e a

religião deste período são índices do espírito ativo, prático, do

português, caracterizado por este “terrestre amor das realidades

humanas, profundo sentido realista da existência”, que João de

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Barros atribuía a Gil Vicente.” (JOÂO CRUZ COSTA, Contribuição à

História das Idéias no Brasil. Liv. José Olimpio Editora. 1956, p. 33.

O professor Cruz Costa exemplifica, com base em historiadores, todo

o sentido deste realismo.)

A partir do século XVI, por motivos que são ainda os “da fé e do

Império”, quando a Europa ingressa, pelo rompimento da concepção do mundo

medieval, no surto do humanismo e renascimento e da descoberta das ciências

positivas, das técnicas, e ao mesmo tempo em que vemos a Europa orientada

ao espírito crítico e individualista, pela afirmação de um novo homem centrado

na natureza e, no plano espiritual, a afirmação da liberdade de pensamento e

da autonomia religiosa, contra a autoridade da Igreja, Portugal coloca-se no

movimento da Contra-Reforma, preservando sua fé. Empenho este que moverá

Portugal à obra da colonização.

Não há dúvida que aqui cabe colocar que a Universidade de Coimbra,

entregue aos jesuítas, no reinado de D. João III, e que liderará o movimento da

Contra-Reforma foi um organismo ao serviço dos fins ético-religiosos do

Estado, pra os quais a moral suplantava o saber, ou antes, a capacidade

discursiva e dialética, e para afazer frente à frouxidão da vida ético-social e ao

clima de facilidades, aparatos e luxo que a época dos descobrimentos refletia,

como ressaltam as “três Marias” em seu texto:

...“Os indígenas não aprendiam apenas uma nova língua, uma nova

interpretação da vida e da morte; não ganhavam apenas um novo

deus, trazido de longe para reinar com a pompa típica do mundo de

onde vinha. Pelo sacramento do batismo, operava-se um renascer

que alterava pela base a vida cotidiana daquela população nativa e a

sua própria compreensão do significado da existência. Era quando

descobriam o “mal” em que haviam estado mergulhados antes da

salvação providencial por aqueles que, em troca dessa redenção,

ocupavam todos os seus espaços materiais e espirituais.” (XAVIER,

Maria Elizabete, RIBEIRO, Maria Luiza, NORONHA, Maria Olinda.

História da Educação: a escola no Brasil. São Paulo: FTD, 1994. p.

42.)

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Os jesuítas iniciaram o trabalho de catequese dos indígenas, instrução

e apoio religioso aos colonos. Recebiam recurso financeiro do Estado, terras

para construção de seus conventos (colégios). As escolas, funcionavam de

acordo com o regimento de D. João III. Ensinavam princípios da dogmática

católica, a leitura e a escrita da língua portuguesa, o canto, a dança, o teatro, a

música, e o ensino dos preceitos da Companhia de Jesus – memorização,

exercícios espirituais e rigorosa disciplina.

Podemos dizer que, o que distinguirá o Portugal do século XVI são as

formas de reação: contra o espírito de aventura, afirmará o monopólio do

comércio para um maior proveito; contra o livre pensamento será a afirmação

de uma fé ortodoxa; contra as experiências novas, em ciência e filosofia, será a

afirmação de uma assegurada conquista, repousada nas formas escolásticas

decadentes e retrógradas. É nesta época que ocorre o descobrimento do Brasil

e a sua colonização se opera marcada por tais paradoxos.

Os primeiros objetivos dos descobrimentos eram o comércio, a

exploração das novas terras, e defendendo os interesses econômicos, o

objetivo religioso, da fusão da fé e do nome de Deus. Atendendo a defesa do

litoral contra a exploração estrangeira, ao policiamento interno da colônia, a

fundação de núcleos estáveis e fortificados de colonizadores europeus, e a

catequese e instrução dos aborígenes, constituem uma diretriz de política

colonizadora para as terras do Brasil, nos regimentos de 17 de dezembro de

1548.

Realmente a execução do quarto objetivo dependeria, em última

análise, o êxito dessa arrojada “empresa” colonizadora; pois que, somente pela

aculturação sistemática e intensiva do elemento indígena aos valores

espirituais e morais da civilização ocidental e cristã é que a colonização

portuguesa poderia lançar raízes definitivas no solo fecundo do novo mundo.

Estas diretivas iam ser postas em prática sob a orientação dos jesuítas que são

os primeiros educadores do Brasil.

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A Companhia de Jesus

Fundada em 1534 por Santo Inácio de Loyola que com seis

companheiros a 15 de agosto, na Capela de Santo Martin São Dionísio, em

Montmartre, Paris, pronunciava o voto das Missões, ou seja, o de oferecerem-

se o Sumo Pontífice,Vigário de Jesus Cristo, Nosso Senhor, para que S.

Santidade dispusesse deles livremente mandando-os para onde lhe

aprouvesse, conforme entendesse, para bem e salvação das almas. O Colégio

de Jesus em Coimbra, seria o centro da formação missionária para a

propagação da fé nos domínios portugueses, do qual saíram entre outros os

padres Manuel da Nóbrega, João Azpicuelta Navarro, Leonardo Nunes, Luiz da

Grã, José de Anchieta.

Com o fim de propagar a fé, os jesuítas lançaram as bases de um

vasto sistema educacional que se desenvolveu progressivamente com a

expansão territorial da colônia. Marilena Chauí, fala sobre o mito fundador da

nação:

...”Um mito fundador é aquele que não cessa de encontrar novos

meios para exprimir-se, novas linguagens, novos valores e idéias, de

tal modo que, quanto mais parece ser outra coisa, tanto mais é a

repetição de si mesmo .”(CHAUI, Marilena. Brasil. Mito Fundador e

Sociedade Autoritária. Ed. Fundação Perseu Abramo. São Paulo:

1996, p. 9)

Agindo com rapidez, estabeleceram-se no litoral e daí penetraram nas

aldeias indígenas fundando conventos e colégios. Por dois séculos, foram

quase os únicos educadores do Brasil, reforçando sempre seus valores,

métodos e idéias. Pois as outras ordens religiosas eram bem mais fechadas.

Assim que desembarcaram na Bahia, onde se estabeleceram a

princípio, os jesuítas trataram logo de fundar escolas. Pouco depois encontra-

se Vicente Rodrigues, em Salvador, ensinando a ler, escrever e contar a vinte

meninos.

De lá rumaram para o sul, fundando colégios que se expandiram

amplamente e nos quais funcionavam escolas elementares, base do sistema

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colonial de educação, que funcionavam onde quer que existisse um convento,

os índios aprendiam a ler, escrever, contar e falar o português. Nelas também

eram instruídos os filhos dos colonos. Os jesuítas serviam-se das crianças

brancas para influir junto aos filhos dos índios, e utilizavam estes últimos para

atingir os selvagens adultos.

Humanistas por excelência, os jesuítas procuravam transmitir aos

discípulos o gosto pelas atividades literárias e acadêmicas de acordo com a

concepção do “homem culto” vigente em Portugal. Esta idéia é reforçada por

Marilena Chauí:

...”Chefias religiosas ou igrejas, detentoras do saber sobre o sagrado,

e chefias político-militares, detentoras do saber sobre o profano, são

os detentores iniciais ... “ . (CHAUI, Marilena. Brasil. Mito Fundador e

Sociedade Autoritária. Ed. Fundação Perseu Abramo. São Paulo:

1996, p. 13)

A falta de interesse pelas atividades técnicas, científicas e artísticas

marcava a educação colonial, por sua vez moldada pela da metrópole.

Principiando pelas escolas de leitura e escrita, não pararam aí os jesuítas,nem

mesmo o primeiro século, pois já havia, então, cursos de humanidades nos

seus colégios no Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco. No século XVII

possuíam, além das escolas elementares, 11 colégios.

Embora possuíssem um sistema de ensino organizado e eficiente, os

jesuítas pecaram pela uniformidade excessiva que conduzia à estagnação e

dificultava a capacidade criadora dos alunos. Além disso, o exagerado valor

que davam ao homem de letras prejudicava o interesse pelas atividades

técnicas e produtivas, e estimulava o êxodo para os centros urbanos. As

técnicas elementares empregadas, estão na agricultura e na indústria, eram

transmitidas diretamente de uma geração de trabalhadorre3s para outra, não

exigindo treinamento especial nos colégios dos padres.

Há que se distinguir na fase da colonização diversos modos da ação

jesuítica. O primeiro, que seria o de fundamentar e abrir perspectivas culturais,

caracterizaria o chamado “período heróico”, onde os educadores se revelavam

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tão empreendedores, dinâmicos e preocupados com as realidades humana e

sociais que os cercavam, e onde, a disparidade entre a rudimentar cultura dos

aborígenes e a cultura ocidental e cristã mais evoluída dos colonizadores lusos

do século XVI gerava inúmeros problemas de difícil solução e criava situações

complexas e de difícil superação; era um processo,ou ação a ser efetivada, de

co-educação de duas raças e de reciprocidade cultural. O segundo, o da perda

do sentido de profunda identidade, para um imitar formas culturais, sutis, mas

sem organicidade com a realidade do ser que somos e do meio em que nos

situamos, porque eram transplantação da vida da metrópole. No primeiro, os

missionários e educadores compartilham das necessidade e anseios da

coletividade e se identificam ponto por ponto com os seus problemas

econômicos, políticos e sociais, para sobre eles atuarem num sentido benéfico,

construtivo e mesmo salvador. Encontramos esta perspectiva descrita por

Everett Reimer, no prefácio de seu livro A Escola está Morta:

“Quando as técnicas, instituições e ideologias eram primitivas, os

homens viviam em relativa igualdade e liberdade, porque não havia

meios adequados de dominação. A proporção em que as técnicas,

instituições e ideologias se desenvolveram, foram sendo empregadas

para estabelecer e manter relações de domínio e privilégio. A partir

de então, as sociedades que conseguiram dominar outras sociedades

e, por conseguinte, a história da humanidade, também se

caracterizaram pelo domínio de uma classe sobre outra e de um

indivíduo sobre outro, enfrentando tensões para o estabelecimento da

igualdade. (REIMER, Everett. A Escola Está Morta. Livraria Francisco

Alves Editora S.A. Rio de Janeiro: 1975, p. 13)

O ensino torna-se, então, formal, desprovido de conteúdo ideológico e

social; quando muito, forma literatos que irão ocupar mediocremente os cargos

intermediários da administração pública da colônia. A cultura deixa de ser posta

a serviço da sociedade, como força norteadora e propulsora e à conservação

dos esquemas mentais clássicos e das convenções sociais estabelecidas.

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Aos primeiros seis missionários chegados com Tomé de Souza

seguiram-se em 1550 mais quatro jesuítas, que desembarcaram em S. Vicente:

Manoel de Paiva, Afonso Brás, Francisco Pires e Salvador Rodrigues em

companhia ainda de sete meninos órfãos que vinham para ajudar na

catequese; e em 1553, com Duarte da Costa, chegaram à Bahia mais sete

missionários, que eram padres Luiz da Grã, ex-reitor do colégio de Coimbra,

Lourenço Braz e Ambrósio Pires e os irmãos José de Anchieta, Antônio

Blasquez, Gregório Serrão e João Gonçalves.

A história da educação no Brasil tem seus principais mestres, neste

período, em Nóbrega, Vicente Rodrigues e Anchieta.

Nóbrega é realmente o edificador das bases de nossa educação

colonial, de 1549 a 1570, que antes mesmo de serem decorridos 15 dias de

sua chegada ao Brasil faz abrir uma “escola de ler e escrever” e após primeiro

ano, procurará estabelecer o Colégio dos Meninos de Jesus, onde é ensinada

a doutrina cristã e a instrução das letras.

A “escola de ler e escrever” funcionou no arraial do Pereira, antes

mesmo da fundação da cidade do Salvador, para onde depois se transferiu,

sendo primeiro mestre desta escola, logo o 1º mestre-escola do Brasil, Vicente

Rodrigues, ou Rijo, até que em 1550, por motivo de saúde é substituído pelo

irmão Salvador Rodrigues, e segue para Porto Seguro a fim de ajudar ao padre

Francisco Pires na catequese dos índios, voltando depois à Bahia em 1553,

como superior interino do colégio, sendo então substituído pelo padre Luiz da

Grã.

Em 1552 já podemos anotar, portanto, em funcionamento, as escolas

de Salvador e São Vicente. Esta sob a direção de Leonardo Nunes, desde

1550, mas que caberá a Diogo Jácome o ser mestre-escola, pois que o padre

Leonardo Nunes, era superior da casa, missionário dos índios e da vila,

conhecido com o nome de Abarebebê, isto é, de padre voador, devido as

viagens e excursões que empreendia pelo litoral do sertão.

Esta escola de São Vicente será em 1553 o maior recolhimento da

colônia, para a catequese, a tal ponto que em 2 de fevereiro de 1553 é

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promovida a colégio, “O Colégio dos Meninos de Jesus de S. Vicente”. Neste

colégio ao lado do aprendizado da leitura e da escrita, e da doutrina cristã, está

o aprendizado da música instrumental e coral, e da gramática (latina),

enquanto, ao mesmo tempo, os mestres aprendem o tupi.

...”A dimensão social da atuação jesuítica na América Portuguesa

revela desejos de ampliação de poderes temporais, como a expansão

territorial e o domínio sobre as novas regiões coloniais, e de poderes

espirituais, representados pela conquista de almas para o universo

cristão, promovendo a união do profano ao mundo sagrado de Cristo.

Fé e Império, juntos no objetivo de anunciar o Evangelho onde ele

não era conhecido ou onde poderia ter sido regenerado (Paiva, 1982

e Neves). Missão e conquista, portanto, longe de constituírem ações

contraditórias, foram faces de um mesmo processo de colonização do

Novo Mundo, ainda que nem sempre concordassem suas idéias e

objetivos.”(SCHUELER, Alessandra Frota Martinez de. Crianças

Desvalidas, Indígenas e Negras no Brasil. Cenas da Colônia, do

Império e da República. Editora

É em São Vicente, portanto, com a 1º aula de latim, que se constituiu

uma primeira experiência de ensino secundário no Brasil. Estes primórdios de

nossa história da educação, mostram-nos o Colégio de São Vicente, como um

núcleo de experiências de escola elementar, secundária e artística, dadas a

alunos internos, que eram os filhos dos indígenas que por serem em grande

número, eram selecionados entre os filhos dos caciques, e a alunos externos,

os filhos dos colonos brancos. Em 1554 este colégio será transferido de S.

Vicente para Piratininga.

Outros colégios menores também vão sendo instalados a partir destes

dois centros que são Bahia e S. Vicente. Da Bahia parte o impulso para a

fundação dos colégios do Espírito Santo, Ilhéus, Porto Seguro, Olinda; de S.

Vicente, além do de Piratininga, o de Maniçoba.

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Deste modo Nóbrega incentiva, com os “Recolhimentos de Meninos” e

“Colégios”, a reciprocidade de cultura e aproximação de raças, lançando,

assim, os fundamentos de nossa unidade espiritual e política.

Em visão estritamente da instrução, Nóbrega previa uma

obrigatoriedade de estudos básicos. Era a escola de ler e escrever, o

aprendizado do português e da doutrina cristã, seguido de uma escolha,

segundo os dotes revelados pelos alunos, entre um ensino profissional, de

ofício, ou um ensino artístico, ou o secundário, isto é, o ensino da “gramática”,

aberto a todos, e que forneceria à colônia, no futuro, o corpo de novos

missionários, clero, os funcionários e os homens de negócios.

...”A montagem da colônia portuguesa na região que hoje é o Brasil

foi parte de um projeto que se integrava a dinâmica política, social e

econômica do desenvolvimento europeu da época. Os protagonistas

do processo tinham interesses articulados com o desenvolvimento

capitalista, orientando prioridades políticas e econômicas e definindo

valores e comportamentos individuais e sociais.(...) (VICENTINO,

Cláudio e DORIGO, Gianpaolo. História para o Ensino Médio. História

Geral e do Brasil. Editora Scipione: São Paulo, 2001, p. 180).

Isto em 1552, na colônia, entre portugueses formados em ambiente de

preconceitos medievais que vedavam ao sexo feminino a instrução além da

doutrina cristã e das prendas domésticas. Apesar de o humanismo

renascentista insurgir-se contra este estado de coisas, na própria Europa, só

algumas senhoras nobres ingressavam nos estudos literários e, assim mesmo,

tudo não passava de um ensaio de educação sistemática. A própria Metrópole

sé em 1815 proporcionaria instalações de escolas femininas para Lisboa.

O Pe. Luiz de Grã, chegado em 1553, era o novo emissário da

Companhia de Jesus, e neste mesmo ano já proclamava que a Companhia não

mais aceitava o encargo de instituições de órfãos. É deste período que

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vamos encontrar um enfraquecimento e descontinuidade na obra jesuítica de

Nóbrega e de seus companheiros, ocorrendo, então, a partir de 1556 a

supressão dos recolhimentos e das confrarias. Em 1558, consegue Nóbrega

uma aprovação para sua obra; isto como resultado de sua tenacidade,

coadjuvado por Mem de Sá e quando ocorreu a substituição do provincial, pelo

Pe. Miguel Torres, sendco superiro Geral da Companhia de Jesus, em Roma, o

Pe. Diogo Lainez.

Entretanto, em 1559 o Pe. Luiz da Grã recebe provincialato do Brasil e

condena, de modo irrevogável, a obra de Nóbrega. É uma nova orientação,

novas constituições da Companhia de Jesus no afã de uma realização mais

duradoura na sociedade e de maior estabilidade no apostolado, agora

realizando-se em campo diferente que era o da educação das elites sociais.

Na primeira metade do século XVIII, quando o trabalho educacional

dos jesuítas atingia sua máxima expansão, crescia na Europa a campanha

contra a Companhia de Jesus, que acabou sendo decretada a sua extinção

pelo papa Clemente XIV. Eram acusados de desvirtuar a Ordem e ambicionar

poder e riqueza. Em Portugal, o Marquês de Pombal, expulsou-os de todo o

Reino e Colônias em 1759.

Brasil Colônia – Anseios de Autonomia

Desde o movimento da Reforma, no século XVI, operam-se na Europa

várias modificações no campo religioso, político, jurídico e filosófico, que sob a

influência da revolução científica do século XVII, caracterizado como a “época

do Iluminismo”, politicamente acompanhada pelo regime de “déspotas

esclarecidos” que, cercando-se de filósofos, cientistas, artistas, como chefes de

Estado com poderes absolutos, tentariam modificar a estrutura social, político-

econômica, e resolver os problemas de seu tempo, pelo monopólio estatal. E

para tanto reduzem-se os privilégios, as imunidades de influências intelectuais

e políticas sobre a nação. É a época da afirmação da soberania do Estado e do

absolutismo dos reis. Observemos o que apresenta os autores no texto abaixo:

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...”As vantagens da estruturação colonial ficaram evidentes: muito

poder e riqueza para uma minoria; clientelismo e vantagens limitadas

para alguns; suor e sofrimento para a maioria.” ((VICENTINO, Cláudio

e DORIGO, Gianpaolo. História para o Ensino Médio. História Geral e

do Brasil. Editora Scipione: São Paulo, 2001, p. 180)

Portugal, com D. João V, recebe os padres do Oratório e através deles,

apoiados pelo rei, começa a operar-se em renovação cultural que irá servir de

combate à orientação jesuítica, ainda apegada aos comentários das

autoridades e à Idade Média. Os padres oratorianos introduziam as novas

doutrinas de Bacon, Descartes, Gassendi, de Locke; doutrinas estas que os

jesuítas, em 7 de maio de 1746, em edital do Colégio das Artes da

Universidade de Coimbra, proíbem, quer em exames, discussões, ou ensino,

como pouco recebidas ou inúteis para o estudo das ciências maiores.

Neste mesmo ano o Pe. Luiz Antônio Verney, da Congregação do

Oratório, em seu livro: O Verdadeiro Método de Estudar, faz uma severa crítica

à educação dos jesuítas, apresentando deficiências, que poderiam resumi-las,

sob dois tipos gerais de apreciações: críticas ao conteúdo de ensino, e críticas

à didática. Nas primeiras, cabiam a análise da pedagogia jesuítica, presa as

sutilezas arcaicas, e a ausência de espírito aberto para acompanhar a evolução

da filosofia, das ciências, das artes e para afirmação do próprio espírito

nacional. Nas segundas, atacam os processos de aprendizagem, que mesmo

se tratando das “humanidades”, eram anacrônicos, servindo-se de compêndios

desusados, e a respeito de ciência que ainda veiculavam, faziam-na em

rudimentos e atrasos metodológicos. Um não trilhar a ciência e a filosofia com

seus novos métodos, iriam promover a ódio e perseguição contra os jesuítas.

Sendo rei de Portugal, Dom José I, e seu ministro, o Marquês de

Pombal, que assumiu o poder em 1750, nele permanecendo por 26 anos, este

tem como objetivo fazer de Portugal um estado de poder absoluto, de política

monopolizadora.

Os jesuítas seriam seus adversários; em política, estabeleciam a

soberania originária do povo e sustentavam que os governantes eram

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mandatários temporais na terra, cujo podre vinha do povo, de quem eles eram

meros delegados, ao mesmo tempo que afirmavam a distinção entre Estado e

Igreja, ou seja, entre poder temporal e sacral, porem com a soberania da Igreja

sobre o Estado. No plano da economia, a oposição dos jesuítas às

Companhias de Comércio do Grã Pará, a Guerra Graranítica e a pertinácia dos

padres em defender os índios, mantidos em reduções, contra os colonos que

queriam escraviza-los, os “excessivos poderes”, espiritual e temporal, dos

padres nas aldeias. A tudo somou-se uma animosidade pessoal conta os

jesuítas, os resistentes ao plano de absolutismo despótico, e contra eles serão

apontadas ações perturbadoras durante o terremoto de Lisboa, participação na

revolta do Porto e no atentado contra a vida do rei D. José, em 1758, que serão

peças inquisitoriais contra os padres da Companhia de Jesus.

Os jesuítas, força de choque contra a reforma protestante, opõem

contra o espírito reformista do livre exame, um humanismo de liberdade

harmoniosa com o princípio de autoridade.

Quanto ao ensino e ao seu conteúdo didático e processos

metodológicos, desvinculados das reais necessidades da época, não se lhes

pode negar terem sido veículos de cultura,não lhes cabendo, portanto, a

acusação de obscurantistas. O ensino elementar era para os jesuítas o

instrumento da catequese, e o ensino secundário, clássico-humanista,

uniforme, visando à formação de clérigos e de letrados, em realidade, revivia o

ensino medieval.

Expulsos os jesuítas do Reino e de suas colônias, em 1759, por

decreto Pombal, o Brasil, que então contava com 25 residências, 36 missões e

17 colégios e seminários, sem contar com as escolas de ler e escrever, sofre

um golpe na sua evolução educacional com a desarticulação de todo um

sistema de ensino, o qual não é substituído por outro que possa fazer face aos

imperativos da crescente colônia.

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...”O que sofreu o Brasil não foi uma reforma de ensino, mas a

destruição pura e simples de todo o sistema colonial do ensino

jesuítico. Não foi um sistema ou tipo pedagógico que se transformou

ou se substituiu por outro, mas uma organização escolar que se

distinguiu sem que essa destruição fosse acompanhada de medidas

imediatas, bastante eficazes para lhe atenuar os efeitos ou reduzir a

sua extensão (...) Na paisagem escolar, uniforme e sem relevo, não

se encontravam fora do domínio espiritual dos jesuítas senão a

escola de arte e edificações militares, criada na Bahia em 1699, -

talvez a primeira instituição leiga de ensino no Brasil, uma aula de

artilharia criada em 1738, no Rio de Janeiro além dos seminários de

S. José e de S. Pedro, estabelecidos em 1739, na mesma cidade.

Podia-se acrescentar o seminário episcopal do Pará que foi fundado

pelo bispo Dom Frei Miguel de Bulhões, mas cuja direção fora

confiada aos jesuítas.” ( Azevedo, Fernando de. A Cultura

Brasileira.Edições Melhoramentos: São Paulo, 3º edição.

Com a ruptura brusca desta obra que procedia sistematicamente, o

Brasil esperaria 13 anos para continuar seu trabalho educacional. Uma série

incoerente de medidas, tardias e fragmentárias, com que em 1759 e 1772 o

governo da Metrópole se pôs a talhar na sociedade colonial, uma obra que

desse a ilusão de substituir o organismo desmantelado.

São apenas resoluções que tendem mais a substituir as escolas

jesuíticas. Assim em 1759 são substituídas as aulas de gramática latina, grego

e retórica por aulas régias, como também é criado um cargo de “Diretor de

Estudos”, medidas que serviam pra reparar aqueles estudos a fim de não se

arruinarem totalmente. Ao diretor de estudos cabia a fiscalização do ensino,

que só se efetiva, propriamente, a partir de 1799 quando foi atribuído ao vice-

rei dom Luiz de Vasconcelos a inspeção geral da colônia, com o direito de

nomear anualmente um professor para visitar aulas e prestar informações

sobre o ensino.

Em 1772, treze anos após, é criado um imposto, o “subsídio literário”

para manutenção do ensino primário e médio que não chegava a ser o

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necessário pra cobrir a educação, nem para o pagamento do corpo docente. A

paisagem geral da educação, adquiriu, sem dúvida, um outro perfil, mas o

plano geral, já não apresentava a mínima coesão, apresentando-se assim com

a reforma pombalina uma fragmentação essencial de cultura, já que a união do

Estado e da Igreja e a própria tradição cultural ainda mantinham resistente e

extremamente viva a unidade de fundamento religioso e humanístico.

Pernambuco: Uma Nova Experiência Pedagógica

Não só na Metrópole, mas também de outras partes da Europa,

éramos influenciados. Estudantes e livros estrangeiros difundiam o

enciclopedismo.

Nesta renovação de mentalidade e anseios de afirmação nacional,

situa-se a criação do Seminário de Olinda, por Dom Azeredo Coutinho, bispo

de Pernambuco, que estudara na Universidade de Coimbra, reformada por

Pombal, onde recebera também, esta influência enciclopedista francesa.

Instalado em 1800, o Seminário é uma experiência pedagógica

absolutamente nova no cenário da colônia: novas matérias e nova organização,

compreendendo uma graduação no ensino e uma divisão de trabalhos de

alunos, distribuídos em classes. Neste Seminário estudavam não só os que se

destinavam ao sacerdócio, mas, também, a outras carreiras, e ao lado do latim,

do grego, da retórica e poética, da história eclesiástica, da filosofia, da teologia,

estavam as ciências: física, química, mineralogia, botânica e desenho, além da

geografia, da cronologia e das matemáticas. Um Seminário para meninas

também foi implementado, para a educação de verdadeiras mães de famílias, e

que pode ser tido como o primeiro colégio para meninas de “Casagrande” e de

“Sobrado”. O Seminário, veículo de idéias e métodos novos formou as

gerações que participaram dos movimentos republicanos de 1817 e 1824.

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RESUMO HISTÓRICO DO PERÍODO

1549 a 1759 – Jesuítas. Aldeamento. Plano de ensino do Padre Manoel da Nóbrega – Dirigido aos filhos dos indígenas e dos colonos. “Ratio Studiorum” – plano geral dos Jesuítas, dirigido à formação das elites, centrada nas “humanidades” ensinadas nos colégios e seminários criados nos principais povoados. 1759 –Expulsão dos Jesuítas pelo Marquês de Pombal – primeiro – ministro do rei de Portugal D. José I. “Reformas Pombalinas de Instrução Pública” – tentativa de modernização. Fechamento dos colégios jesuítas, com posterior introdução das “aulas régias”

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CAPÍTULO II

II- Educação no Brasil Monárquico

”Hoje aprendi uma coisa na escola. Inscrevi-me para os cursos de guitarra folclórica de calçados e pesquisa de alimentação natural. Enviaram-me para Ortografia, História, Aritmética e dois períodos de estudo. O que você aprendeu então? Aprendi que as matérias para as quais você se matricula e as classes para as quais é mandado são duas coisas diferentes. (Diálogo extraído de Peanuts. Charles Schulz. REIMER,Everett. A Escola Está Morta. Alternativas em Educação. Livraria Francisco Alves Editora S.A .. Rio de Janeiro. 1975. p.31)

Primeiro Império

Logo que o Brasil tornou-se independente, cogitou-se do problema da

instrução. A constituição de 1822 proclama em termos enfáticos a instituição de

escolas primárias, de ginásios e Universidades.

Mas, por mais que se falasse na assembléia do péssimo estado em que

se encontrava o ensino dos diversos graus, o que se conseguiu foi à inserção

do artigo nº 179, na Constituição promulgada por D. Pedro I. “A instrução

primária é gratuita a todos os cidadãos”. De maneira que teoricamente, o Brasil

foi o primeiro do mundo que proclamou a gratuidade do ensino. Na prática,

porém, nada fez. Vejamos o que ressaltam Cláudio Vicentino e Gianpaolo

Dorigo a respeito disto:

“Embora a ordem socioeconômica não tenha sofrido alteração

significativa, nem mesmo em suas estruturas predominantemente

coloniais, como o escravismo, o latifúndio e o domínio político da

aristocracia, o processo de nossa emancipação política, ao contrário

do que se costuma pensar, não foi pacífico. A fim de garantir a

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independência, D. Pedro I contou com o apoio das elites nacionais e

com a arrecadação de impostos para expulsar as tropas portuguesas

que se opunham à separação entre Brasil e Portugal.(VICENTINO,

Cláudio e DORIGO, Gianpaolo. História para o Ensino Médio. História

Geral e do Brasil.Editora Scipione: São Paulo, 2001.)

Na dificuldade que o governo encontrava na procura de mestres

capacitados, o método então inaugurado na Inglaterra e que lá encontrava uma

surpreendente popularidade: O método lancasteriano ou de ensino mútuo.

Lancaster tinha declarado ao rei da Inglaterra que, sozinho, poderia ministrar o

ensino a 500 alunos. Foi, pois, decretado o emprego do sistema a 1º de março

de 1823. Durante vinte anos o método lancasteriano gozou de grande fama. Os

exercícios na escola e ram feitos em cadência. Qualquer aluno menos

ignorante que os outros comandava toda a sua ciência. Porém, já em 1833,

apareceram os senões do sistema e o ministro Campos Vergueiro confessava

não estar disposto a encorajar a fundação de novas escolas deste, ”por um

motivo qualquer” não tinham realizado o que se esperava.

Em 1826 surge a Reforma Januário Cunha Barbosa. Na sessão de 26

de maio de 1826 o Deputado Gonçalves Martins (Bahia) oferece à câmara dos

deputados uma proposta criando escolas do ensino primário; antes de justificá-

la inquiriu do governo sobre a estatística da instrução pública.

Vários deputados denunciaram à câmara a carência de escolas em

suas respectivas províncias. Na comarca do Rio Negro não há uma só escola,

assinala o Sr. Costa Aguiar; ”em Minas Gerais não encontrei um menino que

andasse nas escolas, em Goiás há somente cinco escolas”.

As estatísticas sobre o ensino público, feitas neste ano de 1826, em

vista dum plano geral de estudos deram resultados desanimadores, tanto pelo

número de escolas, como pela pouca freqüência e os salários dados aos

professores.

Um mês depois deste inquérito, um decreto dividia a instrução pública

do Império em 4 graus. Pedagogias – Escolas Primárias, Liceus, Ginásios e

Academias.

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Na pedagogia se aprendia a ler e escrever, os princípios de aritmética,

conhecimentos morais, físicos e econômicos indispensáveis. As doutrinas que

devem constituir o objeto destas escolas serão divididos em três classes, cada

uma das quais, contendo os conhecimentos que qualquer menino de talento

medíocre possa bem compreender no espaço de um ano.

Na primeira classe compreenderão os elementos da arte de ler e

escrever, os primeiros princípios sentimentais da moral e o conhecimento dos

números e da numeração decimal.

Na segunda classe além da continuação de ler e escrever será dada a

instrução moral, dando-se noções de virtudes naturais e sociais.

Na terceira classe, continuação da escrita, a prática das operações de

aritmética, deve completar-se a instrução moral. Começa-se a geometria, a

agrimensura e mecânica.

As meninas deviam ser admitidas nas escolas de 1º grau e sua

instrução seria a mesma.

Em cada povoação onde houvesse um número proporcional de

estudantes, deveria estabelecer-se uma escola de primeiro grau, nas cidades e

grandes vilas deviam ser criadas as que precisassem.

Os mestres deveriam procurar aproximarem-se o mais possível dos

métodos lancasterianos, repartindo o ensino, a fim de que os mais adiantados

se exercitassem no ensino dos mais atrasados. Na metade do tempo da aula e

depois, no resto do tempo, recebiam eles mesmos as instruções do mestre.

A reforma prescrevia ainda, a criação, em cada capital, de uma escola

lancasteriana, onde se habilitassem os mestres que deviam depois propagar

este método por todo o Império.

Nove anos depois do decreto deveriam os que quisessem ensinar, tem

concluído este primeiro grau.

Os livros escolares eram desconhecidos até meados do século XIX. O

grande problema o do orçamento por isso o Sr. Lino Coutinho aconselhava que

se aproveitassem dos conventos de monges e freiras.

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O método de ensino era o mesmo da lei anterior. A despeito desta lei,

houve inúmeros debates, debates estes que sem muita profundidade, como por

exemplo: uns achavam impróprio o nome de Pedagogia para as escolas

primárias, outros não.

Outra discussão objetada pelo Sr. Ferreira França, quanto ao método de

ensino, que o mestre, em qualquer matéria não devia usar somente a teoria,

mas fazer com que o aluno percebesse pela prática.

Após vários debates sobre o currículo, de como se deve ensinar, as

matérias a serem dadas, o Sr. Paulo de Souza pede que se dê ao mestre o

arbítrio e que não se deve obriga-lo ao método de Lancaster. Outro deputado

achava que os mestres deviam ser pagos de acordo com o nº de aulas.

Após 30 emendas e várias sugestões e críticas, o projeto é aprovado

com algumas modificações como: o ensino continuará sendo obrigatório pelo

método lancasteriano.

Esta foi a primeira lei sobre a Instrução no Brasil. Depois desta data por

quase um século, nenhuma reforma logrou ser discutida, ou ao menos

executada a esse respeito: faltavam professores. A própria lei de 1827 não foi

posta em vigor. Se ao menos a Monarquia tivesse cuidado de chamar os

Jesuítas e Congregações religiosas para ajudar a boa vontade dos poderes

públicos, alguma coisa se teria feito. Mas até a República quase nada se fez

neste sentido.

Período Regencial

Depois da lei de 1827, no período da Regência, houve relatórios

acusando a instrução pública primária, como também o desleixo na inspeção

destas escolas.

O ministro Lino Coutinho lembra à Regência que nomeie inspetores,

homens de adequada inteligência na matéria e conhecido patriotismo, que

velem sobre os métodos seguidos, a conduta dos mestres e que envie

relatórios. Esse mesmo ministro diz em seu relatório que é lamentável o estado

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em que se acham as escolas primárias; a lei de 1827 quis remediar esse mal,

mas não criou um sistema de fiscalização permanente.

Em 1834 é instituído o Ato Adicional, o qual descentralizava o ensino

primário e secundário. Foi, portanto um ato importante negativamente na

época, pois se o ensino estava desorganizado quando era centralizado, muito

pior será então a situação. As províncias não tinham a menor condição de

organização que pudesse continuar o ensino. Diga-se também que havia

dificuldade de professores capacitados pelo que podemos imaginar os

organizadores.

... (2º Artigo do Ato Adicional) “a autoridade da assembléia legislativa

da província em que estiver a corte, não compreenderá a mesma

corte, nem o seu município”. ... Operava-se, assim, a

descentralização do ensino que permitiria às províncias atenderem

às necessidades locais, mas também permitiria ao governo central

uma omissão a respeito da educação elementar, (que não era

privativa das províncias) o que não possibilitaria uma organicidade,

nem a formação de um pensamento pedagógico comum. (Estatística

do ministro Paulino José Soares de Souza, in PRIMITIVO MOACYR,

A Instrução e as Províncias, II vol., Companhia Editora Nacional,

1939, p.532-533.)

Os preceitos legais instauraram os sistemas oficiais de ensino, contudo

não garantiram a sua instalação plena e irrestrita, como ainda acontece nos

dias atuais expressaram a filosofia do partido político dominante da época: os

Saquaremas. Constituíram-se num grupo político, cuja formação e crescimento

esteve intrinsecamente relacionado com o processo de construção da classe

senhorial. Sua consolidação foi facilitada pela forma de administração

outorgada à província fluminense com a aprovação do Ato Adicional de 1834 e

o desmembramento do município da corte. Aspiravam elevar o Império ao nível

das nações civilizadas, o que se tornaria possível mediante a oferta de

instrução ao povo. Daí, a origem do seu projeto educacional. A instrução seria

o mecanismo pelo qual o povo adquiriria condições pra colocar na resolução

dos problemas e pelo qual seria construída a “boa sociedade”, adequada ao

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Estado que se desejava. Os planejamentos e ações dos docentes e na própria

formação do professor primário que deveria ser um poderoso agente do

Estado, preocupados com uma educação direcionada à formação de um povo

submisso as normas de uma elite dominante.

Em 1835 o ministro José Inácio Borges, que as câmaras municipais não

davam a assistência e fiscalização necessárias determinou que haveria um

diretor nomeado pelo Ministro com gratificação anual. Este diretor enviaria a

cada trimestre um relatório sobre o estado das escolas. Poderia advertir os

mestres quando necessário. Visitaria as escolas em horas incertas. Obrigaria a

cada mestre ter um livro de matrícula. Assistiria aos exames. Cada mestre

deveria enviar ao diretor um relatório sobre seus alunos.

Em 1838, um outro relatório vem combater o método lancasteriano, diz o

relatório: o método limita-se a uma instrução grosseira, não atende ao grupo, a

delicadeza, a correção e ao cálculo, na gramática, na religião e nos outros

conhecimentos que a civilização exigia, por isso o governo não ia abrir mais

escolas desse gênero. Deu por fim a sugestão que enviassem professores a

Europa para instruir-se nos melhores métodos de instrução.

Novo ministro, em 1839 afirma que o governo cuidará de ajudar, com

fundos necessários, a edificação de casas apropriadas para o método de

Ensino Mútuo. Em 1840, o ministro Assis Coelho mostra em seu relatório, três

aspectos que retardam a instrução primária no Brasil: a mistura de métodos

de ensino; a liberdade que se dá aos pais, de mandarem seus filhos a escola

quando lhe aprouver; a imperícia dos professores (mal pagamento).

Vimos, então que na regência, o fato mais marcante para a Educação,

foi o Ato Adicional, o qual foi importante negativamente, pois quebrou a

articulação do sistema.

Segundo Império

O sistema educacional sofreu uma quebra com o Ato Adicional de 1834

o qual descentralizou o ensino básico deixando a sua organização ao

encargo das assembléias provinciais.

Tudo indicava que, no Brasil, a situação melhoraria, uma vez que D.

Pedro II fora educado para administrar e por ser realmente um brasileiro.

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José Carlos Libâneo comenta o que acredita ser a escola estabelecendo um

paradoxo entre a escola real e a ideal:

...“A escola com que sonhamos é aquela que assegura a todos a

formação cultural e científica para a vida pessoal, profissional e

cidadã, possibilitando uma relação autônoma, crítica e construtiva

com a cultura em suas várias manifestações...” (LIBÂNEO,José

Carlos. Adeus Professor, Adeus Professora?: Novas Exigências

Educacionais e profissão docente. São Paulo: Cortez, 1999.)

Em matéria de educação veremos o que foi feito em seu governo

assumido em 1840. Até aqui reforma em papéis já se tornara tradição.

Uma primeira reforma deste período surge em 1846, circunscrita

apenas à província de São Paulo, atingira o curso primário. A esta se segue à

reforma Couto Ferroz de 1851, restrito às províncias da capital do Império.

Prescreveu a escola primária dividida em dois graus: no primeiro seria

ministrado rudimentos mínimos e o segundo era uma espécie de introdução ao

ginásio, portanto, uma instrução um pouco mais ampla. Estabeleceu que o

ensino primário seria obrigatório no município da corte, com matrículas de 5 a

15 anos, vedados a escravos e um currículo onde se acrescem às matérias

básicas de leitura, escrita e aritmética, a instrução moral e religiosa, além de

história, geografia, ciências físicas e naturais.

Uma outra reforma é aprovada em 1870, sendo o seu autor Leôncio de

Carvalho. Esta modificou o curso primário e também o secundário em todo o

país. Continuam o inspetor geral e o conselho diretor. Criam-se inspetores de

distrito para o município da corte, e os delegados permanecem com funções

para os municípios onde existam estabelecimentos reconhecidos pelo governo

imperial. Permanece o ensino primário obrigatório, dos 7 aos 14 anos,

desaparecendo a proibição relativa aos escravos.

A educação popular continua, entretanto, deficiente, quase nula. A

reforma Leôncio de Carvalho, a mais radical do período, não acusa qualquer

política definida de educação, demonstrando, apenas, as influencias

transitórias dos gabinetes ministeriais.

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Além destas reformas, temos ainda, no segundo Império,

Relatório e Projetos alguns dos quais falam na obrigatoriedade e gratuidade do

ensino e lembram que o curso primário sendo a base do ensino merece uma

importância especial. Em 1886, o Barão de Mamãe, ministro do Império, mostra

em seu relatório que existem escolas, freqüência insignificante e diz ele: “é

triste e sombrio o ensino entre nós”.

No final do segundo Império, o ensino primário, embora tendo sido

objeto de grandes preocupações, pouco progredir, a maior parte ficou em

projetos, não chegando à prática. Não houve esforço do governo para a

abertura e valorização das escolas. Estas eram poucas, mal organizadas e

dirigidas por mestres improvisados.

Preocupações Pedagógicas

Fora algumas aulas régias que procuram suprir as lacunas do ensino

tradicional, tais como, a de matemática, superior em Pernambuco, em 1809, a

de desenho e história em Vila Rica, em 1817, e a retórica e filosofia em

Paracatu, Minas Gerais, em 1821, e o restabelecimento do Seminário S.

Joaquim, neste mesmo ano, antigo Seminário S. José, a orientação

educacional é pragmática e imediatista, com o mérito, entretanto, de suscitar,

política e pedagogicamente, a emancipação do Brasil, já mais voltado à sua

realidade, conhecendo necessidades e oportunidades de um realizar-se

nacionalmente.

As questões sobre educação e ensino, que traduzem preocupações

pedagógicas de um melhor atender à nossa situação, refletem, entretanto, que

falta ainda conhecimento fundamentado, objetivo, de nossa realidade,

porquanto em lugar de as encontrarmos em processo de solucionamento, isto

é, encaminhamento e sucessão orgânica, unitária, assumindo o que já somos e

aplicando o que é devido à nossa situação, o que vemos são soluções

transplantadas de outros paises, valiosas, porém, enquanto suscitaram

experiências que comprovavam que não tínhamos teoria, nem política

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educacional definida. Paulo Freire analisa em Educação como Prática da

Liberdade, que o desenvolvimento econômico e o movimento de superação da

cultura colonial provêm do papel político que a educação pode vir a

desempenhar – e desempenha sempre – na construção de uma outra

sociedade.

“Para Paulo Freire, a educação se torna um momento da

experiência dialética total da humanização dos homens, com igual

participação dialógica do educador e do educando” (SCHMIED-

KOWARZIK, Wolfdietrich. Pedagogia Dialética, p. 70. São Paulo,

Brasiliense, 1983.)

A Constituinte em 1823, em 20 de outubro são abolidos os privilégios

do Estado, o que viria incentivar a iniciativa privada, para conjuntamente fazer

face às deficiências do ensino público. A educação como um dever do Estado,

à gratuidade do ensino, e à estrutura de um sistema de educação e graduação

escolar, com quanto já anuncia uma limitação que será feita ao plano

educacional, e da qual decorrerá a omissão do governo sobre a educação

popular.

Nos debates da Constituinte surgiu em 1823 o interesse pela criação

de Universidades, tendo sido apresentado em 1º de setembro de 1823, no

projeto de Constituição, o artigo 250, que determinava a criação “de escolas

primárias em cada termo, ginásios em cada comarca e universidades nos mais

apropriados locais”.Nada foi feito, porém neste sentido, senão a criação de

cursos superiores isolados.

Em 1843 ressurgiu a idéia de criação de Universidade, pretendendo-se

criar na capital do Império uma universidade, que congregaria cinco

faculdades, o que não se efetivou.

De modo geral, a não efetivação destes ideais era uma resultante da

orientação que desde D. João VI, com as régias e cursos isolados, que no

Império, com a preocupação de atender às necessidades de ensino superior

profissional, era acentuadamente pragmática. Não havia campo para uma

formação cultural e científica autêntica. Havia, também, a influencia do ensino

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superior na França que, sob Napoleão, se desenvolvera em tipo de formação

profissional.

Em 1889, 3 de maio, na sessão do Parlamento, na última “fala do

trono”, o Imperador solicitou a criação de um ministério destinado aos negócios

da instrução, a criação de escolas técnicas “adaptadas às condições e

conveniências locais”, duas Universidades, como “centros de alta organização

científica e literária, de onde partisse o impulso rigoroso e harmônico de que

tanto carece o ensino”, faculdades de ciências e letras. Foi, realmente, a última

“fala do Trono”, sem mais condições para transformar o sistema educacional.

Devotado à causa da educação e do ensino, como chefe de Estado, entretanto,

era Pedro II, pouco empreendedor, embora fosse, em alto grau, um

incentivador de todos os movimentos, instituições culturais e educacionais da

época. Provam seu interesse e incentivo: as visitas que realizou em colégios

como os de Pedro II, Externato Aquino, Caraça, onde, como diz a crônica deste

último, visitou a biblioteca, participou de aulas, discutiu com professores e

alunos; subvencionou viagens de estudos aos artistas, publicou obras literárias,

científicas, artísticas às suas expensas; criado o Instituto Histórico e Geográfico

Brasileiro em 1838, presidiu 506 de suas sessões, fez-lhe doações de obras e

manuscritos, incentivando, com sua presença e assistência, o programa

cultural do Instituto, destacando-se o das publicações; e finalmente bastaria

lembrar a Biblioteca Imperial (Antiga Biblioteca Real, hoje Biblioteca Nacional)

franqueada ao público, em 1876, o Museu Nacional com cursos de ciências e

série de conferências públicas sobre botânica, zoologia, antropologia e

fisiologia.

...“Em 1872, para um contingente demográfico de nove

milhões, todas as escolas públicas e particulares, só possuíam

cento e quarenta mil alunos, e, ainda ao findar-se o império,

em 1889, para treze milhões, apenas duzentos e cinqüenta mil

alunos existiam.” (PIRES DE ALMEIDA, H.R.. L’Instruction

Publique au Brésil. Rio de Janeiro. 1889. apud LOURENÇO

FILHO, 1960, op cit, p. 17.)

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O ensino elementar arrastou-se desagregado e anárquico por todo o

período imperial. Em relação ao quantitativo da população escolarizada, na

época.

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Resumo Histórico do Período

1822 – Independência do Brasil, constituindo-se Estado Nacional com regime monárquico e sob o nome “Império do Brasil”. 1823 – Lei de 20 de outubro declara livre a instrução popular, “eliminando o privilégio do Estado, estabelecido desde Pombal, e abrindo caminho à iniciativa privada” (Paiva, 1973: 61). 1824 – Constituição do Império. 1827 – Lei de 15 de outubro estabelece que “em todas as cidades, vilas e lugares populosos haverá escolas de primeiras letras que forem necessárias”. 1834 – Ato Adicional á Constituição do Império – ensino primário sob a jurisdição das províncias, desobrigando o Estado Nacional de cuidar desse nível de ensino. 1889 – Proclamação da República. No plano institucional, uma vitória das idéias laicas, com a decretação da separação entre a Igreja e o Estado e a abolição do ensino religioso nas escolas. Manutenção da descentralização da educação, com o ensino primário ficando sob a responsabilidade das antigas províncias (agora Estados Federados), o que postergou a organização nacional da instrução popular. Século XIX – A educação pública não foi incrementada.

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CAPÍTULO III

III- Educação no Brasil Monárquico

”(...)Devemos, neste instante, fazer o melhor posssível

para formar uma classe que sirva de intérprete entre nós e

os milhões que governamos, uma classe de indianos de

sangue cor, mas ingleses no gosto, nas opiniões, nos

conceitos morais e no intelecto”. (Minutas Parlamentares

sobre a Educação na Índia. Lord Macaulay.

REIMER,Everett. A Escola Está Morta. Alternativas em

Educação. Livraria Francisco Alves Editora S.A .. Rio de

Janeiro. 1975. p.31)

Período Republicano

Com a República, a educação no Brasil passa a ser considerada como

problema fundamental de nacionalidade. Reconhece a sua importância, não

apenas como instrumento de preparação profissional, mas antes e, sobretudo,

como meio de aperfeiçoamento do indivíduo e da sociedade.e procura-se

passar do plano das cogitações teóricas para o plano das realizações

concretas. Mas, os resultados obtidos nem sempre corresponderam ao objetivo

das iniciativas levadas a efeito. É que múltiplos fatores de natureza diversa tem

contribuído para a continuidade das falhas e deficiências que ainda hoje

apresentam nosso sistema educativo e nossa organização cultural.

Entre esses fatores poderíamos destacar aquele que resulta de nossas

próprias características psicológicas, principalmente, falta de senso de

objetividade e visão romântica das coisas. Além disso, o nosso

sentimentalismo prático, o nosso irreprimível individualismo, a nossa

instabilidade espiritual, a nossa inconstância ideológica, a nossa tendência

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para a superficialidade e para a improvisação, contribuem para dificultar o

desenvolvimento, a vitalidade e o progresso de nossa educação e de nossa

cultura.

Vamos dividir a educação no período Republicano em 3 partes:

República Velha; Período Estado-Novista; República – Lei de LDB.

República Velha

Ao iniciar-se o período republicano, nosso país, passava por uma fase

de profundas transformações sociais, econômicas e políticas que já se vinham

processando desde o fim do Império. Tal fato criou uma atmosfera propícia aos

grandes movimentos de renovação pedagógica e cultural. Entretanto a

mentalidade que domina a educação brasileira até a Primeira Grande Guerra é

a mesma que se plasmou na Colônia e no Império: mentalidade intelectualista,

livresca e acadêmica. È esse o espírito que vai dominar toda a legislação

escolar da época, com exceção da reforma de Benjamim Constant, impregnada

das idéias positivistas que surgiram no cenário intelectual do Brasil, na

segunda metade do século XIX, e que exerceram acentuada influência

sobretudo nos círculos militares.

...“No decorrer da chamada República Velha (1889 – 1930) ocorrem

manifestações culturais e movimentos políticos que destacaram a

instrução pública como tema de destaque em suas estratégias de

influência política global.” (XAVIER, Libânia Nacif. O Brasil como

Laboratório. Educaçao e Ciências Sociais no Projeto dos Centros

Brasileiros de Pesquisas Educacionais . CBPE/INEP/MEC.

Universidade de São Francismo, (1950 –1960), p. 37)

Segundo a reforma de Benjamim Constant o ensino primário torna-se

livre e gratuito, no Distrito Federal, não havendo nenhuma existência para o

exercício do magistério primário particular, além da idoneidade moral, exigindo-

se porém, para o ensino público, o diploma da Escola Normal. Dividiu-se as

escolas primárias em 2 graus, condicionados às idades: de 7 a 13 e de 13 a 15

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anos. Libera-se a co-educação até os 8 anos e altera-se o currículo,

substituindo-se o ensino religioso pela educação moral e cívica,

acrescentando-se, ainda, exercícios militares. Indica-se como método

proferido, o intuitivo, limitando-se a 30 o número de alunos, para cada classe,

nas escolas de 1º grau.

Em 1901, surge o Código dos Institutos Oficiais de Ensino Superior e

Secundário, de autoria de Epitácio Pessoa. Visava, tal Código, reorganizar e

injetar um pouco de vida nesses dois graus de ensino regulados ainda pela lei

de Benjamim Constant e pelo Código de 1892. São estabelecidos, então,

normas para a equiparação dos colégios particulares e formuladas diretrizes

para a elaboração dos programas, horários, etc.

Em 1925 trouxe a Reforma Rocha Vaz inovações como: autorizou

acordos financeiros da União com os Estados para maior desenvolvimento do

ensino primário.

A situação da educação brasileira em 1925 era a seguinte: quanto ao

conteúdo, ensino livresco, intelectualista e acadêmico; quanto aos meios,

processos teóricos e verbais, sem qualquer atividade criadora dos alunos;

quanto aos fins, preocupações meramente utilitária e profissional. Mas, tudo

isso, sem organização, sem métodos, visando apenas, através de estudos

apressados e fragmentários, aos exames de fim de ano. Além de

qualitativamente inferior, o ensino era quantitativamente capaz de atender às

necessidades educacionais das novas gerações brasileiras.

Mas o pior de tudo era a influência nociva e dissolvente da política

partidária, colocando a educação sob o jogo dos seus interesses estreitos e

mesquinhos.

Surgem nessa, ocasião, os primeiros livros, pregando a renovação

educacional. A primeira realização concreta resultante dessa atmosfera

revolucionária foi a reforma do sistema escolar de Minas Gerais, empreendida

em 1927 por Francisco Campos e Mário Cassanta. Novos objetivos, novos

programas e novos métodos didáticos foram instituídos para o ensino primário

e normal neste Estado.

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Em 1928, Fernando de Azevedo planeja e realiza a reforma do ensino

do Distrito Federal. O ensino primário, normal e técnico da capital da República

sofre, nessa época, uma reorganização completa inspirada nos processos e

objetivos da educação renovada.

A inquietação ideológica e política que vinha agitando o país desde a

guerra européia de 1914, num ritmo cada vez mais intenso, culmina na

Revolução de 1930, que instaurou o Estado Novo.

...“Vê-se que o objetivo da escola é a educação burguesa e que os

que não aspiram às profissões liberais – a maioria - jazem

abandonados, recebendo uma educação que lhes não aproveita e

não convém. (...)Temos que reconhecer um estado de cousas

existentes e agir de acordo com ele. A verdade é que possuimos

classes sociais bem diferenciadas – os riscos em pequeno número,

misturados à classe média, composta de intelectuais,

industriais,vas.”(SANTOS, T. Miranda. Noções de História da

Educação. Cia e Editora Nacional. São Paulo. 12º edição, 1967. p.

427.)

Período Estadonovista

A educação primária do período estadonovista está ligada aos nomes

de Capanema e Dodswork – o 1º foi ministro da Educação e o 2º como prefeito

do Distrito Federal, desenvolveu uma reforma de ensino de alto nível

pedagógico. Verificamos que o golpe de Estado que instituiu o regime de

ditadura a 10 de novembro de 1937, não interrompeu o ritmo do progresso

educacional.

A nova Constituição elaborada sigilosamente por Francisco Campos e

a pedido de Getúlio Vargas, estão no poder, acentuava ainda mais o sentido

democrático da educação brasileira, tornando-a mais ligada à realidade

brasileira.

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È assim que estabelece o artigo 128 que a “arte e a ciência e o ensino

são livres à iniciativa individual e a de associações ou pessoas coletivas,

públicas ou particulares.

Também coube à Constituição de 37 a tarefa de manter a gratuidade e

a obrigatoriedade do ensino primário, instituindo em caráter obrigatório o

ensino de trabalhos manuais em todas as escolas primárias, normais e

secundárias, e sobretudo, dando preponderância ao programa de política

escolar, ao ensino pré-vocacional e profissional, que se destina às classes

menos favorecidas” (artigo 129), mantém ainda o ensino religioso em caráter

pedagógico e cultural.

O Ministério da Educação e Saúde, nesta época foi entregue a Gustavo

Capanema, que promoveu uma série de iniciativas na área educativa.

Assim, foram fundadas a Faculdade Nacional de Filosofia, a Faculdade

de Arquitetura, a Faculdade de Ciências, o Instituto Nacional de Estudos

Pedagógicos, a Comissão Nacional do Livro Didático, a Comissão Nacional do

Ensino Primário, além da instituição das Conferências Nacionais de Educação.

Essas medidas podem ser consideradas como empreendimento de alta

significação educacional.

Coube a Capanema levar avante a importante tarefa que era a de

reformar o ensino com bases na realidade nacional. Sua reforma atingiu

principalmente o ensino médio.

...“Com essa organização, o Ministro Gustavo Capanema procura,

não só atender a diversidade das aptidões e preferências individuais,

como também conciliar as duas correntes que, há vários séculos, se

vêem degladiando em torno das bases do ensino secundário: a

clássica ou humanista que, na formação intelectual, acentua o valor

das letras antigas, a realistas ou científicas que proclama a eficácia

pedagógica das ciências positivas.”(SANTOS, T. Miranda. Noções

de História da Educação. Cia e Editora Nacional. São Paulo. 12º

edição, 1967. p. 427.)

Em 1941 fez baixar a Lei Orgânica do Ensino Industrial que encerra um

sistema completo de educação técnico – profissional; são logo instaladas

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escolas, industriais e técnicas em todo o território Nacional. Em 1942 é

decretada a reforma do ensino secundário. Em 1944 o prefeito do Distrito

Federal de então, Henrique Dodsworth, com a colaboração de Jonas Corrreia,

Secretário Geral de Educação e Cultura e de Teobaldo Miranda Santos, diretor

do Departamento de Educação Primária, realiza a reforma do ensino primário,

pré-primário, normal, supletivo e técnico. Para isso são construídos na Capital

da República numerosos edifícios além de serem implantadas medidas

necessárias para a ampliação do sistema educativo e cultural da cidade.

A realização máxima de Dodsworth porém, é a reforma do ensino

primário com a qual procura adaptar a educação carioca às necessidades da

realidade brasileira e universal. Partindo do princípio de que a educação é um

processo que se desenvolve somente em meios pacíficos e dentro de um

programa sereno e não revolucionário, sua reforma procurou não alterar

radicalmente quadros educacionais vigentes. Limitou-se a reorganiza-los,

ajustando-o às condições sociais e econômicas do Distrito Federal de então.

Para isso lançou mão das experiências adquiridas nas reformas

anteriores, adaptando às necessidades concretas da época e do meio.

Sua reforma com elevada filosofia pedagógica inspirou-se nos valores

e ideais da civilização cristã e nas tradições do povo brasileiro, pois entre os

princípios e métodos da educação renovada foram utilizados somente os que

estavam de acordo com a realidade da vida, de nosso país.

Procurava portanto integrar as novas gerações na prática do trabalho

manual. A fim de garantir mais êxito a escola primária foi dividida em 2 ciclos: o

ciclo fundamental, abrangendo as 3 séries e tendo como finalidade a educação

integral da criança e o ciclo pré-vocacional, compreendendo as duas últimas

séries do curso e visando além da educação integral a iniciação do educando

para o trabalho adaptado às solicitações econômicas e sociais de cada região.

Os programas de ensino foram elaborados, ressaltando o valor e a

dignidade do trabalho manual. Instalaram salas de trabalhos manuais em todas

as escolas e organizaram um curso de aperfeiçoamento técnico pra

professores.

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Merece, pois, destaque especial nesta época a atenção do professor

Henrique Dodsworth, que implantou essa reforma no ensino primário,

demonstrou profundo conhecimento das necessidades da nação na área de

educação.

Não fosse a interferência da política, sua sabia orientação levaria o

Brasil a um alto grau de desenvolvimento financeiro social, pois sem dúvida

haveria de surgir outros vultos como ele para implantar nos Estados e

Municípios mais distantes a uma reforma educacional nos moldes da que ele

implantou no coração da nação.

Como vimos, este período foi fértil em, realizações educacionais e

sobressaindo a figura de Capanema, que deu nova organização ao Ministério

de Educação, criando o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos para

atender as necessidades dos problemas técnicos-pedagógicos e o nome de

Dodsworth que procurou reformar o ensino primário com bases na realidade

sócio-econômica do país.

Terceira República

Da revolução de 1930 aos nossos dias. O movimento de reformas

educacionais desse período era apenas um aspecto do processo

revolucionário que se desencadeou no país a partir de 1924, eclodindo em

1930.

MANIFESTO DOS PIONEIROS DA EDUCAÇÃO NOVA

Lançado em 1932, o Manifesto dos “Pioneiros da Educação Nova”,

pelas repercussões que produziu nos nossos meios pedagógicos e culturais,

constitui-se num acontecimento marcante na história da educação brasileira.

Projeto criado com o objetivo de atender aos liberais influenciados com os

movimentos europeus, desejavam construir um novo Brasil, a partir de um

movimento educacional relevante.

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A revolução não adotava propriamente uma política educacional

definida, mas facilitando a circulação de idéias novas, possibilitando a

formação de uma consciência educacional que exigia que fossem adotadas

importantes medidas, tais como a criação do Ministério da Educação, a

reorganização do ensino secundário e da educação superior com a criação de

Universidades.

Foi criado o Ministério de Educação e Saúde, nomeado para ministro o

reformador do ensino primário e normal de Minas Gerais, Francisco Campos.

A reforma de Francisco Campos intensificou as discussões da política

educacional do país, delineando-se então duas grandes correntes: a dos

reformadores que se batiam por uma crescente democratização da escola -

chamada “Escola Nova” – e a Igreja, que combatia o laicismo das novas teorias

pedagógicas. Essas duas facções permaneceram em oposição até 1937, ano

em que o Golpe de Estado instituiu o regime ditatorial, impondo uma linha de

conduta à Educação.

A carta constitucional de 1937 adotou alguns dos principais pontos

definidos pelos reformadores, mantendo o caráter gratuito e compulsório do

ensino primário e ocupando-se sobretudo com a instrução vocacional e pré-

vocacional.

Com a deposição de Vargas, em 29 de outubro de 1945, findou-se o

Estado Novo. O mundo passava então por um processo de redemocratização ,

cujos reflexos em nosso país evidenciavam o crescimento dos movimentos

populares, ao mesmo tempo em que eram reforçadas as bases do nacional –

desenvolvimentismo, ideologia que atingiu o seu auge no governo de Juscelino

Kubitschek. A ideologia nacional desenvolvimentista enfatizava o problema da

justiça social e da construção de uma sociedade democrática e industrializada.

A modernização do ensino, as propostas do governo foram a descentralização

administrativa do ensino, a mobilização de recursos financeiros com vistas a

obter melhores resultados, a continuidade e a integração do sistema

educacional com a escola primária obrigatória, o ensino médio variado.

Daí por diante a situação do ensino no país não sofreu alterações

essenciais até que a Constituição de 1946 determinou em seus dispositivos,

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que fossem fixadas as bases para um novo sistema educacional. Entre 1946 e

1964, o Brasil foi regido por uma nova Constituição Liberal, procurando

regularizar a vida do país, no sentido de garantir um pano de fundo para as

lutas partidárias. A Constituição de 1946 preconizava que a União deveria “fixar

as diretrizes e bases da educação nacional”.

Lei de Diretrizes e Bases da Educação

De acordo com os dispositivos constitucionais, em 1948 foi

apresentado a Câmara Federal o projeto da Lei Diretrizes e Bases da

Educação Nacional, elaborado por uma comissão de educadores de diversas

tendências ideológicas entre as quais figuram o Padre Leonel França, Alceu

Amoroso Lima, Almeida Júnior, Fernando de Azevedo e Lourenço Filho.

Vejamos, portanto, o que diz a respeito do ensino primário, o título VI

da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional:

Artigo 23 – “A educação pré-primária destina-se aos

menores até sete anos e será ministrada em escolas

maternais ou jardins de infância.

Artigo 24 – As empresas que tenham a seu serviço mães

de menores de sete anos serão estimuladas a organizar

e manter, por iniciativa própria ou em cooperação com os

poderes públicos, instituições de educação pré-primária.

Capítulo II – Do Ensino Primário

Artigo 25 – O ensino primário tem por fim o

desenvolvimento do raciocínio e das atividades de

expressão da criança, e a sua integração no meio físico

e social.

Artigo 26 – O ensino primário será ministrado, no mínimo,

em quatro séries anuais.

Parágrafo Único – Os sistemas de ensino poderão

estender a sua duração até seis anos, ampliando nos

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dois últimos, os conhecimentos do aluno e iniciando-o em

técnicas de arte aplicadas, adequadas ao sexo e a idade.

Artigo 27 – O ensino primário é obrigatório a partir dos

sete anos e só ministrado na língua nacional. Para os

que o iniciarem depois dessa idade poderão ser

formadas classes especiais ou cursos supletivos

correspondentes ao seu nível de desenvolvimento.

Artigo 28 – A administração do ensino nos Estados,

Distrito Federal e Territórios, promoverá:

a) o levantamento anual do registro das crianças em

idade escolar:

b) o incentivo e a fiscalização da freqüência às aulas.

Artigo 29 – Cada município fará, anualmente, a chamada

da população escolar de sete anos de idade, para

matrícula na escola primária.

Artigo 30 – Não poderá exercer função pública, nem

ocupar emprego em sociedade de economia mista ou

empresa concessionária de serviço público, o pai de

família ou responsável por criança em idade escolar sem

fazer prova de matrícula desta, em estabelecimento de

ensino, ou de que lhe está sendo ministrada educação no

lar.

Parágrafo Único – Constituem casos de isenção, além de

outros previstos em lei:

a) comprovado estado de pobreza do pai ou

responsável;

b) insuficiência de escolas;

c) matrícula encerrada;

d) doença ou anomalia grave da criança.

Artigo 31 – As empresas industriais, comerciais e

agrícolas, em que trabalhem mais de 100 pessoas, são

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obrigadas a manter ensino primário gratuito para os seus

servidores e os filhos desses.

§ 1º - Quando os trabalhadores não residirem próximo ao

local de sua atividade, esta obrigação poderá ser

substituída por instituição de bolsas, na forma que a lei

estadual estabelece.

§ 2º - Compete à administração do ensino local, com

recurso para o Conselho Estadual de Educação, zelar

pela obediência ao disposto neste artigo.

Artigo 32 – Os proprietários rurais que não puderem

manter escolas primárias para as crianças residentes em

suas glebas deverão facilitar-lhes a freqüência às escolas

mais próximas, ou propiciar a instalação e funcionamento

de escolas públicas em suas propriedades.

LEI 4.024 – DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL

(20 de dezembro de 1961)

Em 1942, com a chamada “redemocratização”, após a queda do

Estado Novo o início da nova fase republicana, a educação voltou a ser

preocupação do governo federal, com tentativas de uma nova abertura.

A Lei Orgânica do Ensino, passou a ser o documento normativo das

atividades educacionais brasileiras, que iria perdurar até 1961, quando foi

substituída pela lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que procurou

dar um espírito de flexibilidade e compreensão das várias realidades

educacionais que o Brasil possui, substituindo a inflexibilidade da Lei Orgânica

do Ensino, que defendia, por exemplo, a aplicação mecânica e inflexível de

currículos padronizados em todo o território nacional, como se no Brasil, isso

fosse possível.

É a Lei 4.024, um documento de 120 artigos, distribuídos em 13 títulos,

que fixa os fins da educação, o direito que ela cria e a liberdade que requer do

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ensino, relata as atribuições da administração do ensino e os seus sistemas.

Os diferentes graus primário, médio e secundário, técnico e normal, assim

como sua inspeção. O grau superior e as Universidades são definidos em

objetivos e normas. Os recursos para a educação são detalhadamente

examinados. Por fim é criado o Conselho Federal de Educação, com 24

membros, ao qual foram conferidos importantes e numerosas atribuições, que

lhe dão, na educação nacional, uma função orientadora, fiscalizadora, jurídica e

estimuladora de grande alcance.

Conclui dizendo que o conceito de fiscalizar desconfiando, era

substituído pelo de estimular confiando.

Princípios e fins da Educação estabelecidos pela LDBEN são: a

compreensão dos direitos e obrigações da pessoa humana o desenvolvimento

integral; preservação e expansão do patrimônio cultural; respeito à dignidade e

liberdade do homem; preparo do indivíduo e da sociedade para vencer as

dificuldades; condenação de desigualdade de tratamento e acesso de todos à

cultura e ao saber.

Neste momento podemos resumir os problemas na educação do Brasil

de então contradizendo as diretrizes e bases estabelecidas pelo governo.

Apresentasse uma educação no que tange o contexto social insuficiente;

extrema desigualdade entre a escolarização e o crescimento demográfico do

país; alienação de nossa educação à realidade brasileira; centralização

burocrática da educação num país de dimensão continental e de extrema

diversidade cultural; escassez de recursos financeiros. No ensino primário

brasileiro encontramos: baixa taxa de retenção e insuficiência de duração do

período de escolarização; elevado índice de reprovações; falta de docência

classificada; programa mal dosado; instalações e equipamentos precários e

insuficiência de remuneração profissional.

No ensino médio, o resumo dos problemas são quase os mesmos do

ensino fundamental. Já o ensino superior destaca uma distribuição de carreiras

em termos que não correspondem à necessidade do país; quase total ausência

de pessoas da classe média baixa e baixa; expansão sem planejamento e

defasagem cultural.

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O Período Revolucionário e a Educação

No período ditatorial, houve uma proliferação de legislações sobre

educação, transformando-a numa educação confusa e repressiva, expressa

além disto, pela privatização do ensino, pelo tecnicismo pedagógico, exclusão

da grande parcela das classes mais populares do ensino de qualidade e pela

desmobilização do magistério.

O golpe militar teve por objetivo mudar politicamente o país, sem

alterar o seu modelo econômico, que vinha abrindo o país para receber

investimentos financeiros. Na década de 60 o IPES (Instituto de Pesquisas e

Estudos Sociais), assumiu a organização de fóruns educacionais que

objetivavam atrelar o sistema educacional à política econômica vigente, na

tentativa de favorecer o processo de acumulação e centralização do capital.

As Leis 5.540/68 e 5.692/71 foram reformas educacionais,

desdobrando-se em outros instrumentos legais que só se entendiam pelo

contexto da época. A primeira era diretiva no sentido da não democratização

do ensino superior que incentivou a privatização do ensino, provocando

acentuada alteração na qualidade da vida universitária. Alguns aspectos da Lei

são: matrícula por disciplina, cursos por regime de créditos,

departamentalização desvinculando o ensino da pesquisa e constituíram-se

em subsídios para a despolitização. A segunda não se desvinculou totalmente

da LDBEN (4024/61), o curso primário e ginasial agruparam-se no ensino de 1º

grau, (faixa etária dos 7 aos 14 anos, ampliando a obrigatoriedade escolar de 4

para 8 anos). O 2º grau passou a ser totalmente profissionalizante. Apesar

disto, o governo não pode oferecer nem um bom curso colegial e nem um bom

curso profissionalizante por falta de recursos materiais e humanos. A nova Lei

7044/82 expressou apenas a obrigatoriedade de “preparação para o trabalho”,

descaracterizando assim o ensino profissionalizante.

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A Educação nos dias de Hoje

Vejamos então o perfil da educação nos dias atuais, não diferindo,

portanto de épocas anteriores: os índices de analfabetismo continuam

alarmantes, grande evasão e reprovação, número insignificante de alunos que

chegam ao ensino superior, em relação ao número de alunos em idade escolar,

carência de recursos materiais e humanos; diminuição do interesse pelos

cursos e habilitações para o magistério.

Cabe ressaltar que esta situação resulta das políticas impostas à

educação nacional desde os seus primórdios. Ainda não temos um processo

de democratização de oportunidades que faça a diferença, ainda estamos

vivendo sob a regência da legislação dos regimes anteriores.

A Constituição aprovada em 1988, traz a luz uma série de avanços

sociais, porem os diferentes setores da sociedade, bem como a educação

foram convocados pra apresentarem propostas para uma Lei de diretrizes e

bases da Educação Nacional, baseada nesta nova Constituição. Movimentos

em diferentes segmentos sociais se empenharam nesta luta, onde

principalmente as camadas mais inferiores e menos atendidas da sociedade

deveriam ser alcançadas. Finalmente o Projeto do Senador Darcy Ribeiro

suplanta o PL (Projeto de Lei nº 1258 A/88) que foi excluído. A Câmara

Federal, em 17 de dezembro de 1996, aprovou uma nova Lei de Diretrizes e

Bases, sendo sancionada no dia 20 de dezembro de 1996, sob o nº 9394/96

com o cognome de Lei Darcy Ribeiro.

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CONCLUSÃO

Resumo Histórico do Período

Século XX – Industrialização e urbanização – as pressões sociais em torno da questão da instrução pública se intensificam. Analfabetismo passa a ser entendido como doença e vergonha nacional. Década de 20 – Reformas de ensino em diversos Estados da Federação, tendo em vista a expansão da oferta pública. Idéias renovadas levantam a questão da qualidade da educação. 1930 – Revolução e criação do Ministério da Educação e Saúde. Educação começa a ser reconhecida, inclusive no plano institucional, como questão nacional. 1931 – Reformas do Ministro Francisco Campos. 1932 – Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova 1934 – Constituição Federal coloca exigência de fixação de diretrizes da educação nacional e elaboração de um plano nacional de educação. 1942 a 1946 – Leis orgânicas do ensino – conjunto de reformas elaboradas por Gustavo Capanema, Ministro da Educação do Estado Novo. 1946 – Constituição Federal. Define a educação como direito de todos e o ensino primário como obrigatório para todos e nas escolas públicas. Determina à União a tarefa de fixar as diretrizes e bases da educação nacional. Novas possibilidades de organização e instalação de um sistema nacional de educação como instrumento de democratização da educação pela via da universalização da escola básica. 1947 – Inicia-se a elaboração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação. 1961 – Aprovação, em 20 de dezembro, após 13 anos, da LDB, com imensas limitações. 1971 – Lei 5.691/71 – fixa diretrizes e bases para o ensino de 1º e 2º graus. Cria a profissionalização universal e compulsória do ensino de 2º grau. 1988 – Nova Constituição Federal. 1996 – Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Década de 90 – Mudanças no Arcabouço Jurídico Escolar 1- Lei 9.131 de 24/11/95 – Cria o Conselho Nacional da Educação 2- Lei 9.129 de 21/12/95 – Regulamenta o processo de escolha dos dirigentes universitários das universidades federais. 3- Emenda Constitucional nº 14 de 12/09/96 – Altera artigo 60 das Disposições Transitórias da Constituição Federal e cria o FUNDEF 4- Decreto 2.026 de 10/10/96 – Cria o Exame Nacional de Cursos – Provão 5- Lei nº 9.394 de 20/12/96 – Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 6- Lei nº 9.424 de 24/12/96 – Regulamenta o FUNDEF 7- Decreto 2.207 de 15/04//97 – Regulamenta o Sistema Federal de Ensino, estabelecendo as modalidades de organização do ensino superior: a) universidades; b)centros universitários; c)faculdades integradas; d) faculdades; e) institutos superiores ou escolas superiores. Apenas as universidades mantêm a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. 8- Decreto 2.208 de 17/04/97 – retira o caráter de escolarização do ensino técnico.

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CONCLUSÃO

Há uma tendência de se analisar de forma quantitativa: índices de

matrícula escolar, quantidade de escolas, de diplomados, de verbas e outros, o

que não necessariamente responde a qualidade do ensino brasileiro. Num

período da história, a qualidade do ensino era tudo o que esperavam as elites

que se beneficiavam dela. Com a inclusão das massas à educação, ocorre

uma inversão de valores, passando a predominar a quantidade sobre a

qualidade.

Com o crescimento populacional, os mecanismos tiveram que vergar

ao peso desta avalanche. Os recursos financeiros destinados a educação, o

perfil do docente, exigiam então uma nova escala. A educação elitista, ou que

melhor atende as camadas privilegiadas e conservadoras da sociedade

brasileira não mais puderam usufruir da educação que assegurava a

perpetuação de antigos privilégios, ao contrário, podemos dizer que uma nova

“elite” surge para definir os novos rumos da educação: os economistas,

empresários, pedagogos, administradores, sociólogos, antropólogos, e tantos

outros, que se apoderaram do discurso de igualdade de direitos para consolidar

projetos que visam congregar as várias parcelas do poder em torno de uma

unificação, que apenas reproduz idéias positivistas de uma política

educacional, muitas vezes equivocada.

Cabe ressaltar que de nada valerá o esforço de mudar o número de

“escolarizados”, se recebem na escola uma educação que só reforça as

diferenças sociais, uma educação deteriorada e inadequada.

Para toda ação, há que se pensar, antes de tudo, numa ação que

mude a consciência de todos.

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BIBLIOGRAFIA CHAUI, Marilena. Brasil. Mito Fundador e Sociedade Autoritária. Editora Fundação Perseu Abramo. São Paulo: 2000. p 103. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 4ª Edição. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1977. p 220. GADOTTI, Moacir. Pensamento Pedagógico Brasileiro. Editora Ática. São Paulo: 19 p 160. KRAMER, Sônia. Por entre as pedras: Arma e Sonho na Escola. Editora Ática. São Paulo:1994, p 213. NEVES, Lúcia M. W.. Educação: um caminhar para o mesmo lugar. In: LESBAUPIN,I.. O desmonte da nação: balanço do governo FHC. Vozes, Petrópolis: 1999. REIMER, Everett. A Escola Está Morta. Livraria Francisco Alves Editora S.A . Rio de Janeiro: 1975. p 183. ROMANELLI, Otaiza. História da Educação no Brasil. Petrópolis, Vozes: 1978. SAVIANI, Demerval. A nova lei da educação – LDB – Trajetória, limites e perspectivas. Editora Autores Associados, São Paulo: 1999. TOSCANO, Moema. Introdução à Sociologia Educacional. Petrópolis: Editora Vozes:1985 XAVIER, Libânia Nacif. O Brasil como Laboratório. Educação e Ciências Sociais no Projeto dos Centros Brasileiros de Pesquisas Educacionais. CBPE / INEP / MEC (1950-1960) Universidade de São Francisco. Cap. I páginas 37-45.