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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE RELACIONAMENTO PROFESSOR E ALUNO Por: Jocimar Douglas Almeida Miranda Orientador Prof. Carlos Alberto Cereja de Barros Rio de Janeiro 2009

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … fileNão é dessa forma que se ajuda alguém a contestar, a ter o direito a não concordar com as coisas, ou até de concordar, criticamente,

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

RELACIONAMENTO PROFESSOR E ALUNO

Por: Jocimar Douglas Almeida Miranda

Orientador

Prof. Carlos Alberto Cereja de Barros

Rio de Janeiro

2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

RELACIONAMENTO PROFESSOR E ALUNO

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Docência do

Ensino Superior.

Por: Jocimar Douglas Almeida Miranda

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AGRADECIMENTOS

A meu pai, minha mãe e irmã que me apoiaram

desde o início desta monografia. A minhas amigas,

Angélica e Josely que me incentivaram e ajudaram

na elaboração deste trabalho, ao professor Carlos

cereja pela orientação esplêndida desta monografia.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos homens e mulheres que

enfrentam no Brasil de hoje o desafio cotidiano de

dar significado ao ofício de ensinar.

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RESUMO

A atividade docente vem se modificando em decorrência de transformações

nas concepções de escola,universidades e nas formas de construção do saber,

resultando na necessidade de se repensar a intervenção pedagógico- didática

na pratica das universidades. Esta monografia irá abordar fatores

caracterizados como indispensável na aprendizagem do aluno focalizando no

bom relacionamento que o professor deve ter com o aluno e de como esse

relacionamento favorece na aprendizagem. Também será abordada a forma

como os professores se relacionavam com os alunos na antiguidade e como

atualmente deveriam se relacionar com os mesmos, incentivando a construção

de idéias, críticas dos alunados.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada para a execução deste trabalho consistiu em pesquisas

a sites relacionados ao tema em questão, teses, relatórios de pesquisas,

consultas a livros e vários outros tipos de referências bibliográficas.

Antes da escolha do tema, foram feitas várias buscas pelas internet, bibliotecas

da UCAM para saber se havia material teórico suficiente para desenvolver um

ótimo estudo sobre Relacionamento professor e aluno, a qual achei

interessante. Concluí que esse assunto é bastante atraente e complexo. A

partir do tema, pude focar nas pesquisas o que realmente é interessante.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

09 CAPÍTULO I - Ensino Superior: Um pouco da história no mundo 10

CAPÍTULO II - O ensinar no mundo contemporâneo 25

CAPÍTULO III – O Relacionamento entre aluno e professor 37

CONCLUSÃO 50

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 51

ÍNDICE 52

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INTRODUÇÃO

O professor, do século XXI, deve funcionar como um facilitador no

acesso a informações. Deve funcionar como um bom amigo que auxilia o

sujeito a conhecer o mundo e seus problemas, seus fatos, suas injustiças e

suas solidariedades, de forma que o aluno possa caminhar com liberdade de

expressão e, conseqüentemente, de ação. Em contrapartida, o aluno deve

respeitar o espaço escolar e valorizar o professor, sabendo aproveitar a magia

do momento.

Por outro lado, há professores que, por medo, ignorância ou arrogância, não

conseguem ter um bom relacionamento com os alunos e deixam de lado a

aprendizagem afetiva, colocando em prática somente a pedagogia tradicional

na qual o aluno é visto como uma folha em branco pronta para ser preenchida

pelo digníssimo professor "sabichão". Nesse método, não há trocas. Não há

críticas. Não há crescimento. Há platéia. Há ouvintes. Há fã-clube. Contudo,

não é esse tipo de relacionamento, unilateral, que desejamos para os nossos

jovens. Não é dessa forma que se ajuda alguém a contestar, a ter o direito a

não concordar com as coisas, ou até de concordar, criticamente, com o

assunto apresentado.

Rego (2001) nos mostra que os postulados de Vygotsky parecem apontar para

a necessidade de criação de uma escola bem diferente da que conhecemos.

Uma escola em que as pessoas possam dialogar, duvidar, discutir, questionar

e compartilhar saberes. Onde há espaço para transformações, para as

diferenças, para o erro, para as contradições, para a colaboração mútua e para

a criatividade. Uma escola em que os professores e alunos tenham autonomia,

possam pensar, refletir sobre o seu próprio processo de construção de

conhecimentos e ter acesso a novas informações. Uma escola em que o

conhecimento já sistematizado não é tratado de forma dogmática e esvaziado

de significado.

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Portanto, o professor hoje é aquele que ensina o aluno a aprender e a ensinar

a outrem o que aprendeu. Porém, não se trata aqui daquele ensinar passivo,

mas do ensinar ativo no qual o aluno é sujeito da ação, e não sujeito-paciente.

Em última instância, é preciso ficar evidente que o professor agora é o

formador e como tal precisa ser autodidata, integrador, comunicador,

questionador, criativo, colaborador, eficiente, flexível, gerador de conhecimento

etc. Serão esses assuntos abordados nesta monografia.

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CAPÍTULO I

ENSINO SUPERIOR: UM POUCO DA HISTÓRIA NO

MUNDO

Portugal encontra-se numa situação paradoxal. Fruto de um contexto

sócio-histórico bem marcado apresenta, por um lado, um assinalável atraso no

que respeita à generalização da escola para todos, comas inevitáveis

conseqüências nos indicadores educativos que normalmente o colocam nos

últimos lugares das comparações internacionais e, por outro, profundas e

rápidas transformações no último quartel do século XX, que o podem tornar um

espaço de experimentação incontonável quando se procuram novos caminhos

para a educação e a formação.

De fato, Portugal apresentava em 1960, uma taxa de analfabetismo de

34%, enquanto trinta anos antes, em 1930, esta se situava em 62%, e, em

1900, em pleno início do século XX, nos esmagadores 74%. Uma tão

persistente presença do analfabetismo, como indicador privilegiado do atraso

da generalização da escolaridade primária, só é compreensível se examinada

sua longa duração histórica, e permite compreender os muitos fracos

resultados que o país apresenta quando se analisa a distribuição da população

portuguesa por níveis de literácia, ou a distribuição da população ativa por

níveis de qualificação escolar e profissional.

O ensino superior refletiu esse tardio desenvolvimento da educação,

associado ao propósito, mantido até muito tarde, de reservar este nível de

formação às elites sociais e econômicas como instrumento privilegiado de

reprodução social. No ano letivo de 1960-1961, freqüentavam a totalidade do

ensino superior 24.179 estudantes (dos quais,19.552 cursavam universidades),

o que correspondia a uma insignificante taxa de escolarização de 1,64%, no

grupo etário dos 18-19 anos, e de 1,63%, no grupo dos 20-24 anos.

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Quase ao terminar o século XX, no ano letivo de 1997-1998,

freqüentavam o conjunto de estabelecimentos de ensino superior, públicos e

privados, do ensino universitário ou do ensino politécnico, 351.784 estudantes

(14,6 vezes mais que em 1960-1961), o que correspondia a uma taxa de

escolarização de 37,8% no grupo etário dos 18-24 anos. Uma tal expansão da

freqüência de ensino superior representou, no dizer da Direção para Educação,

Emprego, Trabalho e Assuntos Sociais da Organization for Economic and

Development (OECD ), referindo-se particularmente ao período de 1985-1995,

a ¨mais rápida e dramática¨ de todos os países da OECD (1998, p.7).

Um esforço de compreensão para esta rápida e dramática expansão do

ensino superior implica necessariamente, um olhar retrospectivo sobre as

mudanças econômicas, sociais e políticas ocorridas em Portugal nas últimas

décadas, bem como sobre o lugar da educação nos debates e decisões

tomadas no âmbito das políticas públicas deste período crucial da história

recente do país.

1.1 – O Desafio Europeu

Desde os anos 60 do século XX Portugal iniciou um processo de

renegociação da sua inserção no sistema mundial. A viragem da economia

para o espaço europeu, a Revolução de abril de 1974, o fim do ciclo do

império, o processo de integração na Comunidade Econômica Européia, hoje

União Européia, desde 1976, e, presentemente a participação na primeira fase

da união econômica e monetária, representam múltiplos sinais de uma intenção

assumida no sentido de rever a antiga posição de Portugal no sistema

mundial. Essa viragem estratégica na situação portuguesa teve profundas

implicações nas políticas públicas de educação.

Apesar das resistências do regime de Salazar, a sociedade portuguesa

do após Segunda Guerra Mundial foi sofrendo. Nos planos demográfico, do

reordenamento do território e da estrutura da população ativa, um conjunto de

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mudanças invisíveis que, rapidamente, lhe foram mudando a face. Embora os

anos de viragem na política educativa se possam encontrar nos anos 50, com a

implementação da reforma do ensino técnico e do Plano de Educação Popular,

e, nos anos 60, coma participação no Projeto Regional do Mediterrâneo, será,

contudo, na década de 1970, com a Reforma Veiga Simão, que a educação

assumirá um lugar central no processo de recomposição do Estado e nos

debates sobre a modernização e o desenvolvimento do país. Seguramente por

se situar nesse lugar central, a educação, entendida como política pública,

cedo mostrou o completo esgotamento da ação renovadora do último

Presidente do Conselho ( e do ministro da Educação ) do Estado Novo, bem

como o completo esgotamento dessa forma política, em crescente contradição

com as aspirações sociais e a inserção de uma economia progressivamente

direcionada para o espaço europeu.

A ruptura iniciada com a Revolução de 1974 se, no plano mundial, pode

ter aberto caminho à terceira vaga de democratização no mundo moderno que

refere Huntington (1991), no plano nacional, significou a tentativa de superação

da dupla crise de legitimidade e de hegemonia que, desde o final dos anos 60,

atravessava profundamente o Estado e a sociedade portuguesa. A mobilização

social permitida pela revolução tornou possível dar passos de gigante na

afirmação dos direitos de cidadania, levando à construção de um Estado-

providência que embora incipiente em face da dimensão alcançada por esta

forma de Estado nos países centrais da Europa, só foi possível por uma

desvinculação das políticas sociais das exigências da acumulação, durante o

curto período de crise revolucionária, de 1974 a 1975.

No campo específico das políticas de educação, a revolução permitiu

uma nova centralidade para os problemas educativos, remobilizando as

aspirações de acesso aos diferentes níveis de escolarização,amplificado no

início dos anos 70 pelo discurso meritocrático do último ministro da Educação

do Estado Novo e abrindo novas frentes nos planos da participação na gestão

escolar e na reformulação das estruturas e conteúdos de ensino. A educação,

nesse período de crise revolucionária, para além de um aceso palco de lutas

políticas, tornou-se um campo privilegiado de legitimação da nova situação

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democrática, apostada em mostrar uma radical mudança face às anteriores

políticas obscurantistas do Estado Novo. Se nos primeiros momentos do após

movimento militar se pensou em prosseguir a reforma educativa tal como tinha

sido delineada na Lei n 5/73, cedo se caminhou para a tentativa de formular

um programa que, no campo da educação, respondesse ao propósito, então

largamente majoritário ao nível do discurso político, de construir uma sociedade

a caminho do socialismo.

Normalizada a revolução – pela transposição para o interior do Estado

dos impasses na construção de uma hegemonia social e política, que antes se

verificava no seu exterior, nas organizações sociais e no Movimento das

Forças Armadas ( MFA )-, a educação manteve um estatuto de centralidade

nas políticas públicas, embora com uma mudança de eixo prioritário. Assumida

a integração na Europa comunitária como motor exógeno de desenvolvimento

do país, o discurso sobre a prioridade educativa passou a privilegiar a questão

do papel do sistema escolar na qualificação de mão-de-obra, associado à

afirmação da urgência em realizar uma reforma educativa global que desse

coerência ao sistema de ensino e respondesse às necessidades que o sistema

econômico,nesta fase de integração européia, atribui à educação. A referência

dominante na condução das políticas educativas de finais dos anos 70, dos

anos 80 e da primeira metade dos anos 90 situou-se, então,no plano da

ideologia da modernização, congruente com essa forma de Estado-como-

imaginação-do-centro que tem dominado o processo de integração européia.

1.2 – Quatro Períodos Marcantes na Construção

Do Ensino Superior de Massas

Com o risco inerente a todos os intuitos de sistematização e de

periodização, pode-se considerar que as políticas dose ensino superior das

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últimas três décadas do século XX se podem reunir, em Portugal, em quatro

fases ou períodos:

1. 1970-1974: a regionalização e modernização do ensino universitário e o

primeiro esboço de diversificação institucional;

2. 1974-1976: a intenção de abrir as universidades às classe trabalhadoras

e aos seus filhos;

3. 1976-1985: a explosão da oferta privada de ensino superior.

A situação do ensino superior, no início dos anos 70, podia caracterizar-se

através da seguinte aparente contradição: uma acentuada seletividade

social no acesso estudantil (Nunes, s.d ) e um crescimento de 3,6 vezes em

apenas doze nos, sem contrapartida em instalações e corpo docente

preparado. A reposta a esta situação tinha já sido esboçada no final dos

anos 60, mas sem efeitos práticos. Coube a Veiga Simão, o último dos

ministros da Educação do Estado Novo, iniciar o processo de

modernização. Que está na gênese da atual organização do ensino superior

português.

Partilhando a opinião de um conjunto de jovens professores universitário

que consideravam muito difícil, senão impossível, a reforma por dentro das

universidades existentes, Veiga Simão vai aplicar uma estratégia de

mudança que, conduzindo a uma alteração da relação de forças internas

nas universidades, lhe permitisse, numa primeira fase, a reforma de

algumas das principais instituições e, numa segunda fase, um programa

consistente de expansão e diversificação do ensino superior.

Aproveitando estudos anteriormente desenvolvidos no âmbito do

gabinete de Estudos e Planejamento da Ação Educativa (Gpae ), Veiga

Simão procede rapidamente à revisão do estatuto da carreira docente

universitária, valorizando a componente de investigação e criando

condições para a dedicação exclusiva à atividade docente e de lugares de

topo da carreira universitária, à publicação de legislação destinada a

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reconhecer os doutoramentos obtidos no estrangeiro e ao lançamento de

um vasto programa de bolsas de doutoramento em universidades

estrangeiras, com destaque para as dos países anglo-saxônicos.

Simultaneamente, onde havia condições institucionais para tal, procedeu-se

a uma modernização de diversos cursos universitários, como foi o caso

paradigmático do Instituto Superior Técnico, uma das escolas de Lisboa que

maiores conflitos atravessara na crise estudantil de 1968-1969.

Numa segunda fase, a estratégia de Veiga Simão passou por lançar,

com o apoio técnico da OECD, o projeto de expansão e diversificação do

ensino superior, de forma a responder ao acréscimo de procura estudantil, o

que passava pela criação de novas universidades e de novas instituições de

ensino superior, os institutos politécnicos e as escolas normais superiores.

A preparação desse projeto constituiu, possivelmente, o mais importante

exercício de planejamento alguma vez concretizado em Portugal no campo

educativo. Assente numa pequena equipa constituída no âmbito do Gepae,

são realizados diversos estudos, conjugando os âmbitos nacional e

regional, sobre as procuras estudantis, as capacidades de atração e de

acolhimento das principais cidades e sobre as necessidades econômicas

previsíveis do país, determinadas segundo um modelo expressamente

elaborado para o efeito e tomando a Holanda como referência. Será com

base nesses estudos, e depois de muitas pressões de natureza política e

regional, que o plano de expansão e diversificação do ensino superior,

aprovado pelo Decreto-lei n 402/73, de 11 de agosto, contemplará a

criação de três novas universidades e de um instituto universitário –

Universidade Nova de Lisboa, de Aveiro e do Minho, e Instituto Universitário

de Évora -, de seis novos institutos politécnicos criados de raiz – Institutos

Politécnicos da Covilhã, Faro, Leiria, Setúbal, Tomar e Vila Real -, de quatro

outros institutos politécnicos resultantes da reconversão de

estabelecimentos existentes – Institutos Politécnicos de Coimbra, Lisboa,

Porto e Santarém -, e de nove escolas normais superiores – em Beja,

Bragança, Castelo Branco, Funchal, Guarda, Lisboa, Ponta Delgada,

Portalegre e Viseu.

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A ação política de Veiga Simão decorre num período áureo de procura

otimista de educação, manifestada numa enorme pressão sobre a

freqüência de educação secundária e, em menor medida mas já bem

presente, de educação superior. Essa ação representou,

inquestionavelmente, um período de mobilização de vontades e de

predisposições que colocou o ensino superior no centro dos debates sobre

o desenvolvimento e a modernização do país. Mas significou também, pelos

seus limites e contradições, o tornar bem visível o completo esgotamento da

forma política organizativa do Estado Novo.

O processo que se seguiu à Revolução de abril 1974 muito cedo levou a

uma ruptura com algumas das principais orientações da reforma

protagonizada por Veiga Simão. Essa ruptura, iniciada com a deslocação do

poder para as escolas e, nestas, para os docentes progressistas e os

estudantes (Lima, 1992; Stoer, 1986), foi simbolicamente materializada em

julho de 1974 com o afastamento de todos os quadros dirigentes do

Ministério da Educação e a nomeação de novas equipas para as direções-

gerais e organismos equiparados, recorrendo em geral, a personalidades

sem anteriores responsabilidades na administração central e provenientes

de diversos sectores da Oposição Democrática. Mas foi ainda mais longe

com o abandono, de facto, da implementação da Lei n 5/73 e a revogação

de algumas das mais emblemáticas decisões de Veiga Simões,

nomeadamente no sector do ensino superior.

Até como resposta à extrema dificuldade em influir no quotidiano das

escolas superiores, dominadas em grande número por grupos estudantis

radicais, os responsáveis pelo ensino superior e a investigação científica

dos governos provisórios procuraram estabelecer um plano de conjunto de

desenvolvimento do ensino superior, que incluía uma profunda revisão de

estruturas institucionais.

Depois de se ter reunido, em fevereiro de 1975, um vasto leque de

representantes de escolas superiores e de diversos organismos públicos de

ciência e cultura, dos sindicatos dos professores e da Organização dos

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Trabalhadores Científicos, para além de várias personalidades convidadas

a título individual, foi produzido pela Secretaria de Estado do Ensino

Superior e da Investigação Científica um documento de trabalho, intitulado

Políticas de Ensino Superior, Bases de um Programa, que serviu de suporte

e fundamentação às bases programáticas para a reforma do ensino

superior, aprovadas mais tarde, em junho de 1975, pelo Conselho da

Revolução, o órgão de poder que, no ordenamento político deste período de

legalidade revolucionária, possuía a competência constitucional de

aprovação deste tipo de leis.

Segundo as orientações então aprovadas pelo poder revolucionário, ao

ensino superior pedia-se então que assumisse grandes compromissos:

1) A cooperação da universidade na tarefa de democratização do pa´s e de

criação de maior igualdade de oportunidades de todos os cidadãos

perante a vida consiste, fundamentalmente, na completa modificação do

tipo de relações existentes entre a universidade e o sistema social, quer

alterando radicalmente a extração social dos estudantes (e docentes)

universitários, quer abolindo progressivamente os privilégios sociais

criados pela freqüência do ensino superior.

2) O compromisso da universidade nas tarefas sociais do país analisa-se

em vários aspectos: a responsabilidade da universidade (a) na formação

dos técnicos superiormente qualificados de que o país necessita; (b) a

difusão da cultura progressista; (c) na formação de uma mundivivência

apta a apoiar eficaz e esclarecidamente a construção de uma sociedade

socialista (Secretaria de Estado do Ensino Superior e da Investigação

Científica, 1975, p.11).

Embora tenha sido a criação do Serviço Cívico Estudantil a medida que,

no plano da polêmica e da luta política, mais mobilizou opiniões neste

período, foi, todavia, no plano da estrutura institucional do ensino

superior que se apresentou a maior ruptura com a Lei n 5/73, que,

relembra-se, previa o desenvolvimento do ensino superior segundo duas

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vias institucionalmente distintas: uma, de duração longa, conduzindo à

licenciatura e às pós-graduações,a realizar em universidades; outra, de

duração curta, conduzindo ao bacharelato, em institutos politécnicos ou

escolas normais superiores. Acusada essa estrutura dualista de

profundamente elitista, e prevendo que iria produzir “enormes e

irracionais distorções na procura do ensino superior”, já que induziria os

estudantes e suas famílias “a buscar os ramos mais prestigiados, ainda

que socialmente menos úteis” (Secretaria de Estado do Ensino Superior

e da Investigação Científica, 1975, p. 25),

“ O novo poder defendeu como alternativa uma escola superior

integrada, ou na feliz expressão de Ana Maria Seixas uma

universidade polivalente” (Seixas, 1991).

A normalização da política educativa encetada pelos governos

constituídos após a aprovação da Constituição da República, em 1976,

afirmou-se inicialmente através de intervenções negativas, começando

pelo afastamento dos quadros superiores do Ministério da Educação

recrutados no pós-revolução e que personalizavam o conjunto das

orientações e reformas encetadas, ou apenas esboçadas, no período de

crise revolucionária.

Mas esse programa de normalização só aparentemente era de

natureza conjuntural. Assentando numa alegada neutralização

ideológica do aparelho de ensino, as novas políticas procuraram

reconstruir o poder do Estado paralisado pela crise revolucionária e

definir uma nova orientação estratégica, onde prevaleciam os objetivos

da qualificação profissional e da formação do capital humano,

considerados projeto central do processo de modernização centrado na

integração na Comunidade Econômica Européia (CEE).

Assegurado politicamente o controlo do aparelho de Estado, a

normalização no campo educativo vai decorrer sob um novo mandato, o

do desafio europeu. Nesse propósito incluía-se a intenção de substituir a

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política pelo planejamento, dando prioridade a formações técnicas de

nível médio, consideradas pelas instâncias de planejamento como mais

ajustadas ao desenvolvimento econômico do país.

A generalização do regime de numerus clausus foi a primeira das

medidas adaptadas no sentido de desviar a procura do ensino superior

universitário. Essa medida, de caráter negativo, foi de imediato

acompanhada pela decisão de proceder à criação do ensino superior de

curta duração, ou como mais tarde veio a ser designado, de ensino

superior politécnico, ao qual foi atribuída uma inequívoca prioridade nos

planos de desenvolvimento do ensino superior público em Portugal,

prioridade que vai se manter até aos anos 90. Nesse projeto, que teve a

participação ativa do Banco Mundial nos planos de ajuda técnica e de

financiamento, o objetivo era implementar um ensino superior curto,

essencialmente técnico e centrado numa formação prática e

especializada ( de banda estreita, na terminologia curricular).

Contraditoriamente, o mesmo governo que aprovava medidas no

sentido de desviar uma massa importante de estudantes para formações

técnicas e profissionais não universitárias, concretizava uma reforma do

ensino secundário (10 e 11 anos de escolaridade), unificando as antigas

vias de ensino liceu e de ensino técnico, o que, na prática, veio

aumentar a pressão sobre o ensino superior, em especial sobre o

universitário, até pela ausência ainda de ensino politécnico. A

ambivalência dos novos cursos secundários e sua maior proximidade

com o antigo ensino liceu, a via nobre até aí para o acesso à

universidade, conduziu, durante toda a década de 1980, a uma maior

procura de ensino superior, estrangulada por um insuficiente

desenvolvimento do ensino superior público.

É logo no início da década de 1980 que se verifica um progressivo

afastamento entre o número de candidatos desejando ingressar no

ensino superior e o número de vagas oferecidas pelo ensino público. A

partir de 1989, depois de uma mudança significativa na legislação que

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regulava o ingresso no ensino superior – os exames nacionais de

acesso deixaram de ser eliminatórios, assumindo a função principal de

ordenar os candidatos que terminavam o ensino secundário -, essa

distância acentuou-se consideravelmente. Pode-se dizer que, na

transição da década de 1980 para a de 1990, mais da metade dos

alunos que terminavam o ensino secundário não encontravam vaga

numa escola de ensino superior.

A resposta a esta situação, potencialmente perigosa no plano

social, deu-se com a abertura de condições para a instalação de

universidades particulares e cooperativas, que, em relação ao ensino

público, rapidamente assumiram o papel de supletividade nuns casos e

de concorrentes em outros, sobretudo nos grandes centros urbanos.

Pode-se, então, afirmar que a massificação do ensino superior, que, no

final da década de 1990, tinha uma taxa de participação do grupo etário

dos 18 aos 24 anos da ordem dos 40%, em grande parte se deve ao

sector privado do ensino superior (Correia; Amaral & Magalhães, 2000).

O ensino superior português, no seu somatório de ensino público

e ensino privado e de ensino universitário e ensino politécnico, atingiu,

no final da década de 1990, elevados índices de participação,

verificando-se, a partir de 1995, um fenômeno novo de profundas

consequências para a primeira década do século XXI: o decréscimo

progressivo do número de candidatos, fruto em particular de uma

evolução demográfica desfavorável, em face de uma capacidade

instalada muito superior. Em 1997, cerca de 30 mil vagas ficaram por

preencher, sobretudo no ensino politécnico, público e privado (este

último com fraca expressão, salvo na formação de professores), no

ensino universitário privado e nas universidades públicas fora dos

grandes centros populacionais.

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1.3 - Interrogações e Desafios às Políticas Públicas

de Ensino Superior

Nos últimos tempos, tem-se assistido a um significativo aumento de

conflitualidade política e social em torno do ensino superior. De forma

sumária, pode-se afirmar que esses conflitos têm andado em torno de três

questões – a regulação do sistema, o modelo institucional de organização e

o financiamento do sistema público – e mobilizam alguns dos atores sociais

mais poderosos da sociedade portuguesa, como a Igreja Católica, diversos

interesses regionais, as ordens profissionais o Conselho de Reitores das

Universidades públicas, a associação representativa das universidades

privadas.

A conflitualidade emergente tem subjacente a expectativa – e a

necessidade – de encontrar respostas a alguns desafios com que o sistema

de ensino superior português se defronta, num contexto aliás em que,

diversas vezes, os mandatos sociais não são explícitos e, em muitos casos,

contraditórios.

No presente capítulo, elencam-se seis problemáticas, que representam

outros tantos desafios à decisão política:

1. A Declaração de Bolonha, de junho de 1999, estabelece um verdadeiro

programa de reformas no sentido da normalização de estruturas, de

procedimentos e de modos de organização do ensino superior no

espaço europeu, tendo como pressuposto a mobilidade de pessoas e o

reconhecimento das respectivas formações. Será possível realizar esse

ambicioso programa respeitando a diversidade de tradições, ritmos e

modelos de organização no ensino superior em cada país membro?

2. A oferta de ensino superior em Portugal realiza-se, em particular depois

de meados da década de 1980, através de dois subsistemas, um de

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natureza pública (estatal) e outro de iniciativa privada (cooperativa), em

que este último se desenvolveu sobretudo como forma de responder a

uma procura estudantil não satisfeita pelo sistema público. As políticas

públicas para o ensino superior centrar-se-ão na consolidação destes

dois subsistemas ou dirigir-se-ão para o aumento da capacidade de

oferta de ensino público (sobretudo de natureza universitária), em

especial nas regiões de Lisboa e Porto e nas capitais de distrito onde

não existem universidades, com o objetivo explícito de fazer com que a

oferta pública venha a cobrir toda a procura estudantil?

3. A partir de 1978 institucionalizou-se um modelo binário de ensino

superior, que a Lei de Bases do Sistema Educativo veio a consagrar em

1986. Os vultosos investimentos em infra-estruturas (instalações e

equipamentos) e a consolidação do corpo docente no ensino superior

politécnico público, a par de uma marca, em grande parte não superada,

de ensino superior de segunda (ou terceira) oportunidade, está a

conduzir este subsistema a reivindicar condições de funcionamento em

tudo idênticas às universidades públicas (autonomia de governo e

concessão do grau de mestre e doutor, depois de a licenciatura ser o

grau concedido generalizadamente na graduação)? Que futuro há para

este modelo binário? Irão os institutos superiores politécnicos

transformar-se em universidades ou insistir-se-á nas duas vias

institucionais?

4. A regulação do ensino superior nos últimos anos evoluiu, por um lado,

no sentido de uma larga autonomia do ensino superior público, muito em

particular das universidades, e, por outro, no aumento das formas de

controlo burocrático-administrativo sobre as universidades privadas, a

par do lançamento de um vasto e complexo sistema de avaliação

institucional e da multiplicação de instâncias (privadas ou públicas) de

acreditação de cursos e de reconhecimento de diplomas profissionais.

Duas problemáticas emergem: (a) num período em que se torna muito

difícil fazer previsões fiáveis no campo das necessidades de formação

de recursos humanos, como regular, então, a oferta de formação do

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conjunto do ensino superior?; (b) num sistema complexo e

extremamente diversificado, como realizar o serviço público de

reconhecimento e validação de diplomas?

5. O ensino superior é já hoje tendencialmente um ensino de massas, com

todas as implicações qualitativas que um tal fato acarreta ( os cinco anos

dos liceus eram, no início dos anos 70, mais seletivo que é

presentemente o ensino superior). A questão que, então emerge é como

realizar um ensino de excelência numa escola superior para todos?

6. Os sistemas de educação, tal como a ciência ou a tecnologia, são, por

natureza, fenômenos transnacionais. Neste mundo global, pode a

universidade portuguesa desempenhar um papel importante na

construção de uma comunidade de povos de língua portuguesa, com

particular destaque nos tempos próximos para Brasil e Angola? E será

possível conduzir esse esforço no contexto mais vasto de afirmação de

um espaço ibero-americano assente na latinidade das línguas

portuguesa e espanhola ?

Numa realidade social como a portuguesa, marcada por uma permanência

de séculos numa condição semiperiférica, uma orientação que conduza a uma

inserção distinta no sistema mundial, passando a integrar – de facto e não

apenas no plano simbólico – o centro da construção européia, exigirá bastante

mais que uma política de convergência financeira, edificada em torno de uma

moeda comum. Implicará seguramente uma forte convergência real com as

condições de vida e os direitos sociais dos incluídos dessas sociedades,

acompanhadas de uma ainda mais forte acção política de constante

experimentação no campo da participação social, que transforme a cidadania,

construída na base da idéia de autodeterminação de Habermas – e não

contendo em si as exclusões do contrato social da modernidade – na enzima

do desenvolvimento de uma governação democrática comprometida com a

emancipação social.

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Nesse esforço, seguramente que a universidade – e o ensino superior no

seu conjunto – tem uma palavra a dizer. Mas talvez isso implique, como

sublinhava Boaventura de Sousa Santos (1989, p 11-62) num texto

premonitório há alguns anos atrás, que seja necessário repensar de modo

inovador e radical a própria idéia de universidade, de modo a que esta possa

assumir na plenitude o conteúdo igualitário e universalista das suas formas de

argumentação, como defende Habermas (1993, p.35-66), em que as

sociedades modernas – isto é, não cristalizadas, libertas de modelos

dominantes – possam ganhar consciência de si próprias.

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CAPÍTULO II

O ENSINAR NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

Aprender e ensinar constituem duas atividades muito próximas da experiência

de qualquer ser humano: aprendemos quando introduzimos alterações na

nossa forma de pensar e de agir, e ensinamos quando partilhamos com o

outro, ou em grupo, a nossa experiência e os saberes que vamos acumulando.

Apesar de, ao longo da nossa vida, termos praticado freqüentemente este

ofício de aprender e ensinar, não deixa de se revestir de alguma complexidade,

pelo que tem merecido, ao longo da história, a atenção reflexiva de pensadores

de todas as áreas de saber. Não se pretende aqui elencar uma catalogação de

teorias à volta destes temas, remetendo o leitor para autores de reconhecido

mérito; pretende-se, antes, equacionar algumas idéias que ajudem os docentes

a entrar, duma forma esclarecida, no mundo maravilhoso da aprendizagem e

do desenvolvimento.

Desde o nascimento, cada homem enfrenta não apenas o desafio da

sobrevivência, mas também o do desenvolvimento, que se alcança pela

aprendizagem feita no seio de comunidades que se renovam constantemente.

Ao olharmos, por um lado, para as potencialidades de aprendizagem que cada

homem encerra, para as propostas, cada vez mais exigentes, que lhe são

feitas ao longo de todas as idades e, por outro, para as frustrações, limitações

e registros de insucesso experimentados por muitos, somos levados a

questionar a verdadeira natureza do aprender e a conhecer os mecanismos e

processos que estão subjacentes às diversas aprendizagens.

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O ensino, por sua vez, confunde-se, no sentido mais lato, com a socialização e

pode conceber-se como uma atividade comunicativa. Nesse sentido ensinamos

quando partilhamos, orientamos ou informamos. Ao sairmos de ambientes

naturais onde realizamos uma boa parte das aprendizagens indispensáveis à

sobrevivência e nos introduzimos em esquemas mais formais, verificamos que

os profissionais que se dedicam ao ensino sentem necessidade de saber como

exercer este munus tendo em conta as características dos sujeitos e a natureza

da tarefa. Quando a arte de ensinar se torna intencional, apresenta contornos

de complexidade pelos contextos que marcam a relação, pelas motivações dos

intervenientes, pelos conteúdos propostos, pelos códigos utilizados e pelas

concepções que os agentes da interação têm da situação.

André Giordan (1998) organiza em três categorias as concepções que se

formaram à volta do conceito de prender do ponto de vista de quem ensina:

a) Descreve o aprendiz como possuindo um cérebro vazio, a aprendizagem

como um mecanismo de registro e o ensino como transmissão de

conhecimentos. Cabe ao aluno portar-se como um bom receptor, estar atento e

disponível; cabe ao professor fornecer uma informação coerente de forma clara

e progressiva. Existe uma relação linear entre o emissor e o receptor. O

resultado traduz-se pela memorização da informação. A avaliação encerra o

ciclo e assegura o sucesso do modelo. O insucesso recai no aluno que não foi

capaz de receber a informação ou no professor que não foi claro na

transmissão da matéria. O modelo não julga pertinentes nem os saberes já

adquiridos nem a atividade do aprendiz. Existe, ainda, entre o aluno e o

professor uma relação de subalternidade, uma espécie de paternidade e

filiação: devem partilhar os mesmos argumentos, o mesmo quadro de

referências, os mesmos sentidos. Não se cultiva no aluno o prazer de aprender

autônomo, em consequência, este aluno espera tudo do professor, habituando-

se a uma aprendizagem mecânica.

b) Parte dos mesmos pressupostos filosóficos de que o aprendiz é, à

partida, uma tábula rasa, mas aposta no treino do aluno. O protagonismo é

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exercido pelo professor e pelo meio exterior que manipula associações, porque

a aprendizagem é isso mesmo uma cadeia de associações assegurada por um

esquema de reforços, de incentivos. No quadro das potencialidades biológicas,

é possível ensinar tudo, mesmo as tarefas mais complexas, desde que

decompostas em outras mais simples. A educação é uma tecnologia. O aluno

deve manter-se ativo, mas ignoram-se a mente e os processos mentais que

sustentam essa atividade. O sucesso do modelo é assegurado pela quantidade

de aprendizagens realizadas. Exige-se do professor uma boa planificação e um

programa de reforços; do aluno, exige-se que se sujeite ao plano.

c) A terceira categoria engloba uma concepção que encerra o ciclo da

discussão à volta dos postulados do empirismo e do racionalismo. Defende

uma interação entre as estruturas do sujeito e o objeto de estudo; centra a sua

atenção no sujeito, nos seus interesses, fomenta a autonomia e a livre

expressão de idéias. O aluno tem uma atividade mental autônoma que lhe

permite raciocinar, intuir, descobrir; é ativo e reage ao meio exterior

procurando, selecionando, comparando, evitando. Esta concepção ficou

igualmente conhecida como construtivista porque vê o sujeito numa espiral em

que desenvolvimento e aprendizagem se condicionam mutuamente e a

estruturação e reestruturação dos esquemas mentais é assegurada pela

dinâmica da adaptação, traduzida por processos de assimilação e de

acomodação.

Há algo de comum em todas estas concepções: o objetivo de todo o ensino é a

aprendizagem do aluno. Os modelos divergem na forma como concebem o

aprendiz, a função do professor, a inter-relação entre ambos e a metodologia

que utilizam para mobilizar o processo de aprendizagem. Portanto, antes de

aderir a qualquer concepção sobre o modo como ensinar, o importante é refletir

sobre a sua finalidade. O que é, então, aprender? Aprendemos o quê e como?

As diversas aprendizagens que realizamos ao longo da vida têm a mesma

estrutura?

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2.1- O QUE É APRENDER?

Refletir sobre a aprendizagem é sobretudo, indagar-se sobre a natureza

e a variedade de aprendizagens a que estamos expostos, as variáveis e

mecanismos que interferem no processo, as propostas que pensadores e

teóricos encontraram para as explicar e incrementar.

A aprendizagem é um processo natural inerente à condição do ser vivo e

à necessidade de sobrevivência. É através da interação com os meios que os

organismos, tanto os mais simples como os mais complexos, processam

informações que permitem identificar os estímulos do meio interno ou externo e

preparar respostas adequadas à informação descodificada. Piaget (1977)

atribuiu a esse processo o conceito biológico de adaptação, que, mais tarde,

integrou no seu modelo de construção cognitiva ao afirmar que toda a

aprendizagem é uma adaptação, associando-a ao processo de

desenvolvimento. Cada espécie animal vem, de acordo com os mecanismos

constitutivos do seu patrimônio biológico, dotada de meios próprios orientados

para captar o ambiente e interpretados por um centro decodificador, de caráter

inato, que prepara as respostas adequadas aos sinais processados. Quando

permanecem no seu meio natural, a maior parte dos animais desencadeia

padrões de comportamento comuns à espécie. Os organismos que possuem

sistema nervoso apresentam comportamentos ditados pela hereditariedade ou

aprendidos como conseqüência da inter-relação com o meio-ambiente. Em

situações marcadas pela intervenção do homem, os animais mostram que são

capazes de alargar o campo de aprendizagem para além do seu

comportamento padrão mas associadas, de alguma forma, às suas

necessidades biológicas.

Também o homem vem dotado de um conjunto de meios internos e

externos que lhe permite entrar em contato com o meio ambiente. Nele é muito

reduzido o número de padrões de comportamento inatos, mas é a partir deles

que constrói toda a sua estrutura cognitiva, afetiva e social (Piaget, 1997).

Apóia-se num sistema nervoso bastante complexo, que lhe assegura o uso e o

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desenvolvimento das suas potencialidades até limites não conhecidos. Ainda

de acordo com Piaget, constituem fatores de desenvolvimento a maturação

interna de natureza hereditária, a experiência física ou social a que se expõe o

sujeito e a transmissão social que diversifica as experiências e torna

multiculturais as aprendizagens.

Deve merecer a nossa atenção, e até alguma admiração, a capacidade

e a vontade de aprender da criança na fase do desenvolvimento

correspondente aos seus primeiros anos de idade, denotando uma forte

motivação interna para agir e conhecer (Bruner, 1996). É, então que aprende a

comunicar, a andar, a falar, tarefas de grande complexidade e cujo domínio

adquire num período de tempo bastante reduzido, mantendo-as durante a vida

inteira. Aprenderá mais tarde a saltar, a nadar, a andar de bicicleta, a praticar

jogos de grande precisão (tênis, pingue-pongue, basquetebol), atividades que,

para além da coordenação motora, requerem controlo de muitas variáveis e

cálculos matemáticos bastante complexos que são assegurados pela atividade

perceptivo-neurológica, pela repetição e sucessivas correções. Ao longo da

vida realizamos aprendizagens que nos garantem a sobrevivência, o sucesso

pessoal e social e que exigem apenas o envolvimento pessoal e dispensam

qualquer tipo de ensino formal. A maior parte delas requer uma forte

motivação, potencialidades e aptidões que as apóiem, contextos estimulantes

e, na maioria dos casos, utilizam recursos intelectuais tácitos e implícitos.

Mas o homem não resume a sua história e a sua vida a adquirir

comportamentos observados no seu meio ambiente. A curiosidade levou-o a

pesquisar, desde muito cedo, o que se faz, como se faz e por que se faz,

sujeitando as aprendizagens a um processo reflexivo. Interessou-se,

igualmente pelo mundo físico e social, fez o levantamento das características

dos objetos, questionou a sua natureza, relacionou os objetos entre si, foi à

procura da casualidade. As observações, as ações, as reflexões que daí

resultaram, constituíram-se num corpo de saberes conservados primeiro na

memória do sujeito e transformados em patrimônio da humanidade, quando

partilhados e tornados públicos. Essa possibilidade de guardar, perpetuar e

comunicar é específica dos humanos que, após o período sensório-motor,

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comum a muitos animais, iniciam o seu desenvolvimento cognitivo

propriamente dito, apoiados pela capacidade que adquirem de construir

representações mentais de objetos e de ações conservadas e reproduzidas,

sobretudo, através da linguagem (Piaget, 1977). A par de uma herança

biológica, conseqüência da filogênese, surge uma outra cultural, científica e

artística posta ao serviço de todos os homens como contributo valioso para a

sua construção pessoal e social, concretizável ao longo da ontogênese. Toda

essa herança é transmitida oralmente ou guardada sob forma de códigos

áudio-vídeo-gráficos construídos, cujo domínio exige iniciação e instrução. As

figuras da escola e do professor surgem nesse contexto: a escola como

instituição e espaço privilegiado onde a aprendizagem e a apropriação

acontecem; o professor como adulto socializador, mediador entre o saber e o

aprendiz. Essa herança é constituída por saberes, pelo saber fazer, por

produtos, por reflexões que fazem apelo a experiências diversificadas, que se

apóiam em diferentes aptidões e traduzem variadíssimas tipologias de

aprendizagem. Acresce, ainda, dizer que o patrimônio que herdamos não é

estático nem se pretende que seja apenas preservado e reproduzido; o seu

domínio provoca novas curiosidades que se transformam em novos saberes.

É na apropriação desses saberes que residem alguns problemas

relacionados com a aprendizagem. Estão em jogo a motivação e as estruturas

cognitivas do aprendiz, a natureza da tarefa a realizar, o contexto da

comunicação. È, também, aqui que sobressaem a pessoa do professor, com os

meios e as estratégias de que se serve para disponibilizar os saberes, e a do

aluno com aquilo que faz para se apropriar do que é proposto. Desde há muito

que os saberes são públicos e estão ao dispor de todos; requerem, contudo,

aprendizagem que é sempre uma construção pessoal. Os desempenhos e as

realizações que nos são dadas a conhecer em domínios tão variados como os

artísticos, desportivos, técnicos e científicos devem levar o aprendiz e o

professor a prestar homenagem permanente às capacidades do homem que

André Giordan vê como uma verdadeira “máquina de aprender” (Giordan,

1998).

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A psicologia, desde a sua origem, interessou-se pelo tema da

aprendizagem. No princípio do século XX, apresentaram-se dois paradigmas

distintos na abordagem de questões da psicologia, em geral, e da

aprendizagem em particular. O primeiro, protagonizado por John Watson,

Edward Thorndike e Burrhus Skinner, entre ouros, teve origem na corrente

empirista e adaptou-se às exigências do positivismo científico. Só se pode

construir uma psicologia verdadeiramente científica se esta tiver como objeto

de estudo o comportamento observável e como método o experimental.

Afirmam que tudo o que somos, num determinado momento, é conseqüência

de aprendizagens que não são outra coisa senão associações entre estímulos

e respostas.

O modelo impôs-se no panorama da pesquisa científica durante a

primeira metade do século XX sob a designação de behaviorismo. Os

behavioristas definiram operacionalmente a aprendizagem como mudança

observável do comportamento e pesquisaram leis gerais da aprendizagem

Recusaram-se a falar da mente e da atividade mental do sujeito; as

associações eram meras conexões neuromusculares. É possível aprender tudo

desde que transformado em associações; as aprendizagens mais complexas

devem ser decompostas em unidades mais simples. Aprender é associar;

ensinar é programar. O meio ambiente e o professor são elementos

motivadores, quer porque propõe aprendizagens quer porque fornecem

estímulos para as associações. O desenvolvimento humano é caracterizado

por acumulação de aprendizagens generalizáveis para situações similares.

O segundo paradigma afirma o primado da totalidade, da configuração,

da gestalt sobre as partes e da atividade do sujeito na construção da

percepção, porque dotado de estruturas isomórficas e construtor de

significados. Aprender é compreender e integrar num todo que se reconstrói

permanentemente. Aqui se origina uma corrente ampla, conhecida como

cognitiva, que se propõe estudar as estruturas do sujeito e os mecanismos e

processos que interferem na aprendizagem. Porque é uma elaboração feita

pelo sujeito, deve o professor ter em conta esta situação ao propor qualquer

tipo de aprendizagem.

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Da mesma forma que o nosso desenvolvimento se processa através de

estádios caracterizados por estruturas que se sucedem no tempo sempre na

mesma sequência (Piaget, 1977), também os conteúdos requerem uma

apresentação que revele a sua estrutura e respeite a etapa do desenvolvimento

do sujeito (Bruner, 1966). Ao professor. como mediador, pede-se que esteja

atento, por um lado, ao sujeito, à sua construção pessoal e, por outro, à

natureza e às estruturas do conteúdo.

Tendo em conta os profissionais a quem essa reflexão se destina e a

natureza das aprendizagens ministradas no ensino formal, não faremos

nenhuma referência às propostas dos psicólogos behavioristas. Selecionamos,

no quadro da psicologia cognitiva, a teoria do processamento da informação,

com o fim de acedermos aos processos e mecanismos subjacentes às

aprendizagens, e dois autores proeminentes representantes da Psicologia da

Educação, David Ausubel, que nos convida a prestar atenção, sobretudo à

estrutura do sujeito, e Jerome Bruner, que nos propõe um modelo de instrução

em que recomenda que se descubra e se apresente ao aluno a estrutura do

conteúdo.

2.2 – TEORIA SOBRE APRENDIZAGEM

Teoria do processamento da informação: mecanismos e processos

que interferem nas nossas aprendizagens

A teoria do processamento da informação é um ramo da psicologia

cognitiva que tem como objetivo geral desvendar a teia de processos cognitivos

implicados quer na aprendizagem em geral quer nas aprendizagens

específicas. Não se pode conceber como uma teoria unitária mas, antes, como

um quadro de referência que alberga variadíssimos programas de pesquisa. Vê

o sujeito como um sistema que processa informação e que num determinado

contexto, se empenha em resolver um problema. Numa versão simplificada, o

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paradigma procura o impulso de entrada (input), que desencadeia todo o

processo, e termina com uma resposta (output), que tanto pode ser uma

informação guardada ou evocada na memória, como uma resposta motora,

uma resposta verbal, uma decisão ou um juízo. Entre a entrada e a saída

intervêm processos básicos, como os perceptivos ou os responsáveis pela

análise e codificação da informação, e processos mais complexos, que

implicam compreensão, categorização, mobilização de estratégias cognitivas,

de relacionamento, de integração.

O grande responsável pela execução e garantia das nossas

aprendizagens é o sistema nervoso central e periférico dotado de

complexidade e de especificidades, Não iremos nos debruçar sobre os modos

do seu funcionamento. Lembramos, apenas que as lesões parciais, inatas ou

adquiridas, em zonas do sistema, são responsáveis pelas incapacidades e

dificuldades de acedermos a certos tipos de aprendizagens.

A teoria do processamento da informação refere três fases principais no

processo da aprendizagem: a fase ligada à recepção da informação,

protagonizada pelos sentidos; a fase de tratamento e análise, realizada pela

memória de curto prazo; e a fase de armazenamento e evocação da

informação ou elaboração de respostas, assegurada pela memória de longo

prazo. É esta que armazena igualmente seqüências de comportamento que

constituem procedimentos e hábitos com forte componente motora. Ali

permanecerão até serem ativadas ou lembradas (Gagné et al., 1993).

A fase da recepção está assegurada por um conjunto de receptores que

captam sinais luminosos, sonoros, olfativos, gustativos e táteis, através de

mecanismos próprios que constituem o nosso equipamento de sensores

virados para o exterior (exteroceptivos) ou de receptores virados para o interior

do organismo (interoceptivos). Tais sinais entram no sistema nervoso sob a

forma de impulsos eletroquímicos. Qualquer limitação, total ou parcial, neste

equipamento de recepção básica traduz-se por limitações na capacidade global

de processamento de informação, obrigando os indivíduos com déficit sensorial

a recorrer ou reforçar outros canais de entrada.

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Esta primeira fase do processo pode estar associada a respostas

automáticas, mas no seu conjunto não tem características mecânicas. O sujeito

que se expõe ás influências do meio não se comporta como um sujeito passivo

aberto à invasão de toda e qualquer informação, como imaginavam os

empiristas. O sujeito reconhece, orienta, seleciona, compara, ignora

informação, portando-se como ser ativo. Esta atividade do sujeito é assegurada

por uma memória sensorial capaz de reter a informação por um período de

tempo suficiente para recolher itens auditivos, visuais ou outros e constituir

unidades de análise. Somos orientados nessa seleção por mecanismos

adaptativos específicos à espécie ou pela estrutura do sujeito que recorre à sua

experiência passada para sugerir estratégias na abordagem e tratamento da

informação ou expressar interesse e expectativas que traduzem estados

motivacionais gerais ou específicos à situação. São mecanismos que se guiam

por objetivos e motivações de curto ou longo prazo e designam-se mecanismos

de percepção seletiva. Merecem atenção pessoal do sujeito aprendiz e podem

e devem ser monitorizados por agentes externos com funções de orientação,

despertando a curiosidade ou ativando o interesse e a motivação.

A segunda fase é assegurada pela memória conhecida como de curto

prazo (MCP), que retém a informação por um período não superior a dez

segundos (Miller, 1956), em que a informação se transforma em representação

simbólica. É também, conhecida como memória ativa, de trabalho, pela função

que desempenha de ajudar a selecionar e organizar a informação disponível.

Trata-se de uma estrutura que prepara e recebe a informação que deve ser

armazenada como a que é recordada ou lembrada a partir da memória de

longo prazo; é limitada no tempo de retenção e na quantidade de informação

que é capaz de guardar, que, segundo Miller (ibidem), é de 7+ 2 unidades. A

sua limitação estende-se também a incapacidade de desempenhar mais do

que uma operação em cada momento. A forma comum de a ultrapassar é a de

tornar uma das atividades automáticas de forma a dispensar o trabalho

consciente da memória de curto prazo, deixando a memória de trabalho livre

para outra tarefa que exija maior controle. É o que conseguimos fazer quando

conduzimos o carro (comportamento processado automaticamente) e

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mantemos uma conversa com o passageiro do lado. A informação que for

selecionada é identificada. categorizada e enviada para armazenamento.

Começa aqui a terceira fase do processo, assegurada por uma memória

de longo prazo (MLP) que, contrariamente à MCP, é ilimitada na informação

que é capaz de guardar e no tempo de armazenamento. Conserva o material

codificado em forma de sons, de imagens, de palavras, de proposições e tem a

função de guardar e de reproduzir informações, representações, imagens,

procedimentos, sentidos. É mais fácil o reconhecimento e a comparação de

estímulos do que a evocação pura, que exige um conjunto de sinais ou indícios

e a associação a esquemas, a sentidos e uma ativação freqüente. Uma

informação usada com maior freqüência está sempre muito mais disponível

que outra que deixamos cair em desuso.

Estas três fases não são unidirecionais mas interativas. A dinâmica do

processo permite trabalhar com a informação que vem dos sentidos ou fazer,

também, intervir mecanismos internos do sujeito para monitorizar a informação

sensorial.

Os investigadores na área da psicologia cognitiva e os neuropsicólogos

parecem concordar que a informação a reter é distribuída por várias zonas

corticais e que há dois sistemas de memória: a memória declarativa, que

armazena as designações, as proposições, as teorias, as imagens, os

acontecimentos, as datas e os locais, e a memória procedimental, que retém as

estratégias cognitivas de pesquisa e decisão, as aprendizagens motoras

realizadas com base na experimentação e repetição (Anderson, 1983) e que

traduzem duas expressões distintas e interdependentes da nossa atividade

cognitiva: o saber e o saber fazer.

Na base do conhecimento declarativo estão os conceitos, as suas

designações e as expressões das suas relações, concretizados por

proposições que veiculam idéias. Estas proposições devem ser guardadas de

forma significativa, ligadas entre si por elementos comuns, representando

verdadeiras redes proposicionais (Novak; Gowin, 1988). O conhecimento

procedimental é desencadeado a partir da verificação de um conjunto de

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condições, que ativam um comportamento ou um conjunto de comportamentos

verbais ou motores. Numa mesma disciplina, a natureza do conteúdo pode

sugerir o recurso simultâneo ou alternativo do conhecimento declarativo ou

procedimental.

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CAPÍTULO 3

RELACIONAMENTO PROFESSOR E ALUNO

3.1 O ESPAÇO-TEMPO UNIVERSIDADE

A constituição do sujeito na intersubjetividade na e para a construção do

conhecimento tem um lugar-tempo ideal e formalmente constituído, que é a

escola e, dentro dela, a sala de aula. Mesmo o entendimento em que se dá a

ação comunicativa não acontece no vazio, mas em tempo, espaço e conteúdo

definidos, o que por si só já caracteriza um consenso: o fato da constituição de

grupo em determinado momento e em local específico em torno dos quais há

concordância. O entendimento é sempre constituído em torno de algo, de um

conteúdo. No processo da educação esse entendimento a ser construído tem

como conteúdo o conhecimento. As interações entre os sujeitos, que têm como

local e tempo comumente aceitos a sala de aula, implicam saberes que se

veiculam. O consenso se dá no fato do confronto, do debate em torno do

conteúdo, conhecimento aceito como motivo do encontro intersubjetivo.

Consiste ainda,o consenso, no fato de algo ser aceito como saber e, no caso

da educação, o espaço-tempo sala de aula para a ação. Daí pode-se concluir

que o resultado dessa interação entre os sujeitos reunidos no espaço pré-

determinado e aceito, assim como o tempo para a ação, é uma aprendizagem

que ocorre em todos os sujeitos participantes.

Vista dessa maneira a educação, o diálogo ressalta como

implicância inseparável do processo educativo. A educação se constrói no

diálogo, na interlocução de saberes. Conforme Marques:

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A educação a percebemos, assim, em sua qualidade de interlocução de

saberes sempre em reconstrução através das aprendizagens no mundo das

tradições culturais que se ampliam, nos espaços sociais dos distintos âmbitos

lingüísticos e do convívio em grupos e nos processos da singularização dos

sujeitos.

Tendo em vista a linguagem como constitutiva dos sujeitos envolvidos

no processo da construção do conhecimento, sendo ela, assim, a mediadora

das aprendizagens, o diálogo é forma explícita e concreta dessa linguagem na

construção das aprendizagens.

A educação se cumpre num diálogo de saberes, não em simples troca

de informações, nem em mero assentimento acrítico a proposições alheias,

mas na busca do entendimento compartilhado entre todos os que participam da

mesma comunidade de vida, de trabalho, de uma comunidade discursiva de

argumentação.

Como discutido no tópico anterior deste capítulo, superado o dualismo

na concepção do ser humano e a fragmentação do conhecimento na

constituição do sujeito, as aprendizagens a serem construídas no espaço-

tempo da sala de aula são percebidos como unidade no que pese as múltiplas

vozes, pois “a unidade da razão em suas múltiplas vozes”, permeia o

paradigma da razão comunicativa a partir do qual se desenvolve esta reflexão

e a possibilidade da interlocução dos saberes como característica dos

relacionamentos entre alunos e professores na construção do conhecimento.

A unidade dos saberes percebida a partir da unidade do sujeito, tendo

presente a identidade corpórea, discutida como corporeidade em tópico

anterior, admite a aceitação da sensibilidade, das emoções, da imaginação,

das fragilidades do sujeito, seja aluno, seja professor, na construção das

aprendizagens, caracterizando a unidade na interação, na intersubjetividade.

Nisto está expressa a unidade interior do sujeito ao mesmo tempo que ele se

abre para o outro. Conforme Marques, citando Merleau Ponty, “o sujeito não é

pura interioridade, mas é abertura para o outro, corporeidade, saída para o outro.”

Aceita a vulnerabilidade do ser humano na sua interioridade,

caracterizando a singularidade, mas na abertura para o outro, para o mundo da

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vida, é possível perceber o sujeito e seu conhecimento como em permanente

construção, jamais acabado, nem definitivo o seu saber, caracterizando, assim,

sua historicidade, o sempre de novo erguer-se após as quedas sem número,

em que pese as promessas de firmeza e fidelidade a seus compromissos.

Assim o caráter histórico do sujeito e do conhecimento adquire sentido a partir

do paradigma da Razão Comunicativa.

Referindo-nos ao sentido abrangente de toda ação humana e de todo

conhecer em seus eixos de mudança mais radicais, não estritas, esporádicas

ou parciais, colocadas sob o signo de permanente reconstrução histórica em

que os paradigmas não se sucedem apenas, mas se interpenetram e

permanecem na novidade de nova estruturação na cultura e nas cabeças,

necessitados de se distinguirem para sabermos qual deles nos comanda.

Desse conceito de historicidade ressalta a possibilidade da

intersubjetividade, destacada no tópico anterior, em que se dá o processo da

aprendizagem e a possibilidade da interlocução dos saberes percebida na ação

comunicativa no paradigma da Razão Comunicativa. Marques escreve:”no

horizonte presente das utopias da emancipação humana configuram-se outros

paradigmas do exercício da razão plural, dialógica, intersubjetiva, capaz de dar-

se conta e de dar conta das complexidades do mundo da vida....” E ainda, de

acordo com Boufleuer:

Os conhecimentos escolares,á luz desse entendimento, constituem

complexos de ralações construídos pelo processo de mútuo entendimento e

aparecem sob a forma de conceitos. Os conhecimentos não são “dados de

vez”, como entidades metafísicas a serem assimiladas, mas se encontram

em constante processo de reconstrução, em caráter mais provisório do que

permanente, com a possibilidade de novas contribuições, de novos enfoques.

Essa flexibilidade na conceituação do conhecimento e na sua construção

na relação intersubjetiva, tendo presente a condição humana dos sujeitos

envolvidos e o significado dessa condição, é ressaltada por Morin ao defender

“A verdadeira racionalidade, aberta por natureza, dialoga com o real que

resiste. Opera o ir e vir incessante entre a instância lógica e a instância

empírica; é o fruto do debate argumentado das idéias , e não a propriedade

de um sistema de idéias. O racionalismo que ignora os seres, a subjetividade,

a afetividade e a vida irracional. A racionalidade deve reconhecer a parte de

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afeto, de amor e de arrependimento. A verdadeira racionalidade conhece os

limites da lógica, do determinismo e do mecanicismo; sabe que a mente

humana não poderia ser onisciente, que a realidade comporta mistério.

Negocia com a irracionalidade, o obscuro, o irracionalizável. É não só crítica,

mas autocrítica. Reconhece-se a verdadeira racionalidade pala capacidade

de identificar suas insuficiências.

É nessa racionalidade que se percebe o sujeito como complexo na sua

unidade, que é possível construir conhecimento na interação, o que vai

caracterizar a interlocução dos saberes no espaço-tempo da sala de aula,

inspirado no paradigma da Razão Comunicativa proposto por Habermas,

conforme discutido em um tópico do segundo capítulo.

Considerado o processo educativo que acontece na sala de aula, ainda

com base nos paradigmas da Metafísica e da Razão Instrumental como

inspiradores prevalentes, podem ser percebidas patologias que dificultam ou

impedem o diálogo entre os sujeitos e entre as disciplinas, reafirmando a

fragmentação do conhecimento que se pretende superar pela visão unitária.

Com a abertura para o outro através da ação comunicativa, a possibilidade do

diálogo se instaura e torna-se viável a interlocução dos saberes.

Assim, para a educação potencializar-se plenamente enquanto ação

comunicativa, é importante que os saberes científicos, os valores culturais, as

normas sociais, enfim, tudo o que é apresentado como conhecimento, seja

percebido como entendimento historicamente construído, passível de revisão.

(Boufleuer,1997, p. 55-56)

Para que se concretize o processo de entendimento sobre algo no

mundo, é fundamental rever os relacionamentos entre os sujeitos, no caso da

sala de aula, os relacionamentos entre alunos e professores, com base nas

conceituações resultantes do paradigma proposto por Habermas.

Nesse agir comunicativo o sujeito se constitui, conforme analisado

anteriormente, e o conhecimento na simultaneidade da constituição do sujeito.

Por isso mesmo a interlocução dos saberes e o diálogo entre as disciplinas

para as aprendizagens escolares estão vinculados aos relacionamentos entre

os sujeitos, alunos e professores, na sala de aula. Nesse agir o processo

prevalece sobre os objetivos, geralmente estabelecidos por fatores ou

elementos externos, superando o pensamento teleológico proveniente dos

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paradigmas anteriores. Segundo Marques, “A razão se orienta para fins

estabelecidos fora dela, num teleologia, e nessa intencionalidade ignora os

sujeitos em interação: faz-se monológica, criadora de toda realidade, espírito

absoluto,...” Na ação comunicativa a linguagem é constitutiva, como mediação

entre os sujeitos, concretizando a interlocução e a constituição dos sujeitos e

do conhecimento. A linguagem sempre parte do mundo da vida, o que significa

da realidade ecológica da qual os sujeitos participam e com cuja totalidade se

relacionam, influenciando e sendo influenciados. Nessa realidade, refletida na

sala de aula, acontece a interlocução dos saberes. Sob este ponto de vista o

saber a partir do senso comum adquire o valor de ciência pela argumentação

dos interlocutores envolvidos, estabelecendo-se a relação de entendimento

entre eles sobre algo desse mundo da vida. Esta relação tem como

pressuposto o paradigma da Razão Comunicativa. A linguagem, assim

percebida como constitutiva dos sujeitos e seus conhecimentos, supõe o

envolvimento participativo de todos os elementos, dando origem à “comunidade

concreta disposta à argumentação, isto é, disposta a mostrar que se sustentam

racionalmente as pretensões levantadas nos atos de fala.” Segundo o autor,

“nisto se configura a educação, nesta interlocução de saberes em que se

constituem a genericidade humana e a singularidade dos sujeitos.” (p.39)

Essas considerações evidenciam o pressuposto da ação social ou de

interação para a ação educativa, ressaltando-se o processo histórico-cultural

da formação humana entendido no paradigma da razão comunicativa.

O agir pedagógico realizado de modo sistemático em contextos escolares

pode ser concebido, basicamente, de duas maneiras distintas na perspectiva

dos agentes educativos: ou ele é entendido como um agir sobre os outros, ao

modo de uma ação estratégica de influenciação e de manipulação, ou ele é

entendido como um agir com os outros, ao modo de uma ação comunicativa,

baseada na colaboração e cooperação entre as partes envolvidas.

(Boufleuer, 1997, p. 80)

O agir sobre os outros, ou agir estratégico, é o inspirado no paradigma

da Razão Instrumental, analisado anteriormente e caracterizado como da razão

solitária, ao passo que o agir com os outros, ou agir comunicativo, é inspirado

no paradigma da Razão Comunicativa. Sendo a linguagem constitutiva do

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sujeito e suas ações, estas têm origem na linguagem proposicional ou na

linguagem performativa respectivamente, segundo o pensamento de Habermas

analisado por Boufleuer (1997, p.35 – 38). É a linguagem performativa, ou

comunicativa, que origina o agir comunicativo, isto é, interação intersubjetiva,

possibilitando a interlocução dos saberes no processo educacional em sala de

aula. Assim “os saberes de cada um se reconstroem na interlocução com os

saberes dos demais, não no sentido de se conseguir uma média de opiniões,

mas de superá-las na forma de saberes mais consensuais e consistentes.”

(Marques, 1996, p.89)

A interlocução envolve a permanente reconstrução de saberes, definindo

o caráter histórico do processo educativo e do conhecimento. Esta forma de

construção do conhecimento engloba o conhecimento pedagógico, vale diga,

conhecimento sobre a própria ação educativa para a qual não é suficiente o

saber a partir do senso comum, nem o emprego de metodologias com base em

instrumentos e tecnologias, mesmo que sofisticadas

Faz-se necessário um conhecimento inserido no campo mais vasto, onde se

inter-relacione ele com os demais saberes disponíveis, isto é, num campo

teórico abrangente, em que os conheceres se iluminem e se esclareçam uns

aos outros e passem a iluminar práticas sociais concretas e determinadas. (p.

41)

Como os demais conhecimentos constituídos na interlocução, “constitui-

se a ciência da educação no discurso argumentativo sustentado pela

comunidade dos educadores aberta à interlocução com todos os interessados

em educação.” (p. 50). Esse envolvimento necessário da comunidade

educativa que transcende a sala de aula, na participação de todos os

elementos da escola e comunidade externa, reafirma a complexidade da ação

educativa como toda a ação humana constitutiva do sujeito, posto que se

concretize na interação com o outro.

A interlocução exige dos sujeitos participantes uma intencionalidade e

predisposição para o envolvimento no processo dialógico, bem com uma

convicção da possibilidade de sucesso e clareza de compreensão do sujeito,

ser humano e o processo educativo. Os relacionamentos entre alunos e

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professores na construção do conhecimento em sala de aula exigem essas

características para que se concretizem a interlocução de seus saberes e o

processo da intersubjetividade.

Dá-se a interlocução à base do pressuposto de que, se necessário, cada

interlocutor se disponha a justificar suas pretensões de verdade, de retidão e

de sinceridade, por meio de provas e argumentos. Essa validação do

discurso assenta nos pressupostos indispensáveis ao fato mesmo de as

pessoas se disporem a argumentar, isto é, o de que todos os participantes

devem ser verídicos, o de que todos podem problematizar qualquer

afirmação, o de que todos podem introduzir qualquer argumento no debate, o

de que ninguém pode ser coagido pelo uso da força ou pela negação do

acesso a determinadas informações. (p. 59)

O processo educacional no qual os sujeitos buscam compreender-se e

compreender o mundo da vida em que e a partir do qual o processo se constitui

passa a caracterizar-se como processo hermenêutico, no sentido de que busca

a interpretação de um passado que é agora, pois presente nos interlocutores

da ação educativa. Nesse processo hermenêutico configuram-se ao mesmo

tempo como objetos de interpretação e como sujeitos interpretativos. Dessa

maneira o processo educacional como hemenêutico acontece, a exemplo do

jogo que se desenrola na interação dos jogadores, na intersubjetividade. No

entanto, contrariamente ao jogo, pois “o sujeito do jogo não são os jogadores,

porém o jogo, através dos que jogam, simplesmente ganha

representação”.(Gadamer, 1999, p.176), no processo educacional há os

suspeitos singulares constitutivos de sua subjetividade e do processo, na

interação. O que é ilustrativo é o “desenrolar-se” (sich abspiele, em alemão)

que caracteriza o processo com prevalência sobre o fim, o objetivo.

Enquanto o jogo tem seu lugar-tempo no campo, o processo da

educação tem seu espaço-tempo na sala de aula.

E na escola o lugar-tempo mais significativo e decisivo é o da sala de aula:

clima psicossocial, carregado de desejos e motivações, de intenções e

virtualidades, onde ganha efetividade e sentido o quadro de delineado por

planos e programas, métodos e procedimentos, objetivos traçados,

regulamentos e normas. (Marques, 1996, p.110)

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Na sala de aula se debate a realidade do mundo da vida e se busca a

interpretação e compreensão.

A questão fundamental da sala é, assim, a de explicitarem as bases

conceituais em que se assenta a interlocução dos saberes, processo que

consiste em traduzir o plano da realidade vivida para a idealidade dos

conceitos e, em seguida, retraduzir o plano conceitual ao campo da vida

cotidiana onde se fazem concretamente as relações tematizadas (p.112)

A sala de aula é o espaço ideal no qual a interlocução dos saberes

adore no processo da interação dos sujeitos. A intersubjetividade, com toda

carga de significado que lhe é inerente, se processa neste lugar e neste tempo

reduzido e restrito, ao mesmo tempo que amplo e abrangente, pelo afto de aí

se concentrar e sintetizar o mundo da vida , o mundo histórico cultural, a

sociedade na sua estrutura econômica e política, bem com a comunidade de

pais e responsáveis e a escola como unidade educacional instituída e

instituinte.

A sala de aula, espaço-tempo m que se dão as relações diretas e imediatas

do ensinar e do aprender, não existe em si mesma e por si, mas se

correlaciona, no interior da escola, com as outras salas de aula e demais

dependências, na unidade que constituem em trama de inter-relações, sem

as quais nenhuma é o que é. (Marques, 1995, p.110)

Neste espaço se encontra os sujeitos na sua dimensão humana, sua

corporeidade, já analisadas em outro tópico, para os relacionamentos

intencionalmente estabelecidos e aceitos com construtores do conhecimento e

constitutivos das subjetividades. São os relacionamentos entre alunos e

professores na construção do conhecimento. Propositadamente os termos são

usados no plural para caracterizar a necessidade de compreender a sala de

aula como turma de alunos e equipe de professores, segundo defende

Marques: “Delineados esses referenciais básicos da série em que se situa a sala de aula, estarão

dados os pressupostos para a atuação integrada da turma de alunos e da equipe de professores que a

compõe” (p.116).

Para que essa integração entre professores, constituindo equipe, e entre

os alunos, formando turma, se concretize, é necessária a implementação de

um processo permanente de planejamento. Não se entende planejamento

apenas como a elaboração de instrumento, ou seja, plano que contenha

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objetivos, metas, técnicas, recursos, etc. o que, como a própria carga de

significado dos termos deixa transparecer, seria a reprodução do modelo

estratégico de linguagem e ação resultante do paradigma da razão solitária que

inspira e rege o modelo social em voga. Entende-se aqui por planejamento um

processo contínuo, permanente e integrador de todas as ações com base em

princípios filosóficos e éticos, inspirados em outro paradigma, o paradigma da

Razão Comunicativa, e que definam as concepções de pessoa, de

sociedade,de educação e escola a partir de uma visão clara da realidade

social, nos aspectos político, econômico, religioso e outros. Isto significa que

planejamento é encarado como o processo, sobretudo ético, integrador,

constitutivo de corpo docente e corpo discente da escola como a ampliação

dos conceitos de equipe e de turma da sala de aula.

O planejamento, sob essa conceituação, implica ampla e permanente

discussão em torno de questões fundamentais implícitas nas conceituações

antes citadas, sob a inspiração do paradigma da Razão Comunicativa que

faculta a ação comunicativa na ação pedagógica da escola e torna-a possível

na sala de aula, o espaço-tempo específico, definido e identificado, onde a

intersubjetividade aconteça para que a constituição do sujeitos e do

conhecimento ocorra.

Esse planejamento supera o agir estratégico, o pensamento teleológico

em que os objetivos, os resultados, vale dizer o lucro, sejam prevalentes e

definidores de toda as metodologias, sob a perspectiva de que os fins justificam

os meios. Supera esses modos de pensar e os modos de agir conseqüentes

para privilegiar o processo, a interação, os relacionamentos entre equipe e

turma, no caso da sala de aula, privilegiar o processo constitutivo de sujeitos,

de cidadãos, de pessoas humanas, seres históricos com toda a carga de

significado construído a partir das definições dos termos.

Esse planejamento, em processo de contínua avaliação e revisão, em

ação na sala de aula, constrói para esta uma identidade, em que a turma de

alunos e a equipe de professores se reconhecem.

Por isso a sala de aula é uma construção operatória a que concorrem alunos

que não se conheciam e professores que não se escolheram, mas que se

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irão progressivamente constituindo em turma de alunos ao mesmo passo que

equipe de professores. Unidade nas diversidades que não se suprimem, mas

se acentuam para se recomporem como multipolaridade de possibilidades da

ação conjugada e das identidades gupais.

Essa identidade da sala de aula se caracteriza pelas relações

intersubjetivas que se estabelecem de maneira peculiar entre as singularidades

dos sujeitos sim, porém com laços bem mais fortes na interação coletiva;

“não uma urdidura uniforme de relações de indivíduos como tais, mas uma

trama matizada de grupos e subgrupos diversamente correlacionados e

interdependentes, mediadores das relações interpessoais e da comunicação”

(p.115).

Nesta sala de aula assim entendida e vinculada ao todo escolar através

de relações ampliadas que o processo de planejamento desencadeia e

dinamiza, a interlocução de saberes se torna possível e a constituição dos

sujeitos e do conhecimento ocorre à luz do paradigma da Razão Comunicativa.

Ao refletir sobre a ação educativa a partir desse paradigma e ao definir

procedimentos e estabelecer relações na forma da ação comunicativa, as

patologias constatadas no processo educativo poderão ser superadas pelo fato

de a ação passar da periferia da situação patológica para o âmago da questão

e para as raízes alimentadoras do conceber e do agir globais provenientes dos

outros paradigmas até o momento prevalecentes.

Mesmo tendo em vista que “Todo ponto de vista é a vista de um ponto...

A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. ...cada um lê e relê com os

olhos que tem.” (Boff, 1998, p.9-10), após essas reflexões a partir dos

educadores citados e das próprias experiências na formação pessoal e no

trabalho, percebo que à luz de novo paradigma de conhecimento, o paradigma

da Razão Comunicativa, instaurando novos relacionamentos entre os sujeitos

do processo educativo – alunos e professores - novos conhecimentos poderão

ser construídos e sempre reconstruídos, simultaneamente com os sujeitos que

se constituem nas sua singularidades complexas na constituição do coletivo.

Os saberes dos professores e os saberes dos alunos na interlocução da sala

de aula se confrontam na livre-conversação ou no discurso argumentativo, de

maneira que, ao final, não são mais os mesmos, mas se transformaram

constituídos em aprendizagem, ou saberes reconstruídos no entendimento

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compartilhado por atores diferençados em situação determinada. Co-atores,

os professores e os alunos, deles a priori não sabe quem mais aprende nesta

interlocução de seus saberes. (Marques, 1996, p. 119)

Muita reflexão se faz necessária, muito diálogo convém instaurar, o

cultivo da compreensão por parte dos sujeitos resulta como fundamental para

novos relacionamentos em novos caminhos que se abrem.

Também não podemos esquecer de alguns tópicos relevante ao

relacionamento com o aluno, como:

3.2 MOTIVAÇÃO

Devem especificar-se as experiências que desencadeiam no sujeito uma

predisposição para aprender. Há nas crianças uma necessidade intrínseca para

tal, mas esta orientação é, no entanto, afetada por variáveis de natureza cultural,

motivacional e pessoal. A classe social de pertença determina disponibilidades

diferentes face à atividade intelectual, que interferem no uso da mente; algumas

tradições culturais estimulam mais a aprender do que outras. O processo de

educação é, por isso, essencialmente social, marcado pela inter-relação

professor-aluno e aluno-alunos; uma teoria de instrução deve equacionar como

atingir objetivos instrucionais a partir de um determinado padrão cultural,

recorrendo à exploração de alternativas, normalmente utilizada na resolução de

problemas, garantia de uma motivação para a aprendizagem a longo prazo. O

autor, Bruner, enuncia três fases do processo motivacional: ativação, manutenção

e direção.

Ativação - Uma das formas de ativar a exploração de alternativas é introduzir

um certo grau de incerteza na realização da tarefa. A curiosidade é um ótimo

incentivo para a incerteza e a ambigüidade. Uma tarefa rotineira provoca reduzido

desejo de experimentar alternativas; pelo contrário, uma tarefa demasiado difícil

provoca ansiedade e confusão e reduz a exploração.

Manutenção - Uma vez desencadeada, a atividade de exploração deve ser

mantida. Atinge-se um nível ótimo quando os alunos sentem que os benefícios

são superiores aos riscos de exploração. Numa instrução correta, a aprendizagem

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guiada pelo professor, deve representar menos riscos que uma exploração feita

isoladamente.

Direção - A exploração exige orientação para uma finalidade. A sua direção

depende da percepção dos objetivos da tarefa e da relevância das alternativas já

testadas para os atingir, pelo que a atividade exige que a criança seja informada

sobre o seu percurso face aos objetivos propostos.

3.3 ESTRUTURA

Qualquer idéia, problema ou corpo de conhecimentos pode ser organizado e

apresentado de forma simples de modo a ser compreendido por qualquer aluno. A

estrutura deve ter em conta três princípios, afetando cada um deles, á sua

maneira, a aprendizagem do aluno: modo, economia e poder de representação.

Modo de representação – Qualquer domínio de conhecimento pode ser

representado de três maneiras: por ações que atinjam um determinado resultado

(representação ativa); por imagens ou gráficos (representação incónica); por um

conjunto de recursos simbólicos ou proposições lógicas reguladas por regras de

formação e transformação (representação simbólica). Tanto as ações como as

representações e os símbolos variam em dificuldade e utilidade conforme as

idades, a cultura ou os estilos cognitivos dos sujeitos, bem como do domínio de

conhecimento em questão.

Economia de representação – A economia diz respeito à quantidade de

informação que o sujeito pode reter na mente de forma a processá-la e

compreendê-la. Quanto mais itens de informação forem necessários para

compreender alguma coisa ou para resolver um problema, quanto mais passos

forem necessários para processar uma determinada informação para extrair uma

conclusão, menor a economia. A economia depende, também, do modo de

representação escolhido e do rigor da sequencialização.

Poder de representação – O poder de uma estruturação está associado à

capacidade de gerar novas proposições a partir do que é aprendido. Pode ser

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descrito igualmente como capacidade que a estrutura confere de relacionar

assuntos, à primeira vista, separados.

3.4- SEQUÊNCIA

O objetivo de toda a instrução é conduzir o aluno através de proposições,

veiculando informação com uma determinada sequência para atingir os

conhecimentos ou a compreensão do problema e aumentando a sua capacidade

de alcançar, transformar e transferir o que aprende. A seqüencialidade facilita o

domínio do tema, mas não pode ser vista como rígida porque depende de muitos

fatores, inclusive de diferenças individuais, de aprendizagens anteriores, do

estádio de desenvolvimento. A seqüencialidade dos estádios de desenvolvimento

fornece igualmente indicações pertinentes para a escolha dos modos de

representação. A escolha de seqüências deve, também, ter em conta a

exploração das alternativas; para manter o interesse torna-se conveniente

equilibrar a incerteza e a tensão necessárias para motivar um comportamento de

solução de problemas.

3.5- REFORÇO

Uma atividade de aprendizagem é igualmente orientada pelo conhecimento dos

resultados. O processo de instrução deve assegurar uma informação positiva ou

uma correção no tempo certo. Tanto a aprendizagem quanto a solução de

problemas podem ser repartidos por fases e a informação de avaliação deve

respeitá-las. Para além da oportunidade no tempo, o reforço deve ser dado de

forma que o aluno o entenda sem ambigüidades. Uma vez que um dos objetivos

do processo de instrução é a crescente autonomia do aluno, o professor deve

orientá-lo para assumir gradualmente a sua autocorreção.

CONCLUSÃO

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Com base teórica dos autores citados neste trabalho, para se ter um

bom relacionamento com o aluno, é necessário haver uma comunicação direta.

A comunicação pedagógica se realiza efetivamente no diálogo. O

diálogo se faz na diferença e na diversidade. Há que existir, portanto, na prática

docente, espaço para a palavra do professor e do aluno, para o exercício da

argumentação e da crítica.

Recoloca-se então, a exigência ética do reconhecimento do outro- a

atenção a palavra do aluno, o auxílio no sentido de fundamentar essa palavra,

de libertá-la das imposições redutoras de seu significado.

Também podemos citar algumas informações importantes para que o

relacionamento gere de forma clara e objetiva a aprendizagem do aluno. A

superação da fragmentação, pois a necessidade de um diálogo dos saberes

que se encontram na ação docente, a revisão de conteúdos, métodos,

processos avaliativos, apoiada em fundamentos consistentes; a superação da

massificação decorrente da globalização, fazendo que o docente tenha uma

percepção clara das diferenças e especificidades dos saberes e práticas para

um trabalho coletivo interdisciplinar. A superação de um embate entre a razão

instrumental e o irracionalismo, é necessário a articulação de todas as

capacidades dos indivíduos.

Enfim, antes de mais nada, o professor deve amar o que faz, com isso

não terá tantas dificuldades para se relacionar com o aluno. Ou ao menos

tentar encontrar uma melhor forma de fluir um excelente relacionamento com o

aluno facilitando na aprendizagem e “andamento” das aulas. Abordados nesta

monografia.

BIBLIOGRAFIA

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51

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FREIRE, M. O sentido da aprendizagem. In: Paixão de aprender. Petrópolis,

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FREIRE P. Conscientização. Teoria e prática da libertação. Uma introdução ao

pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Moraes, 1980.

ÍNDICE

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FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

9

CAPÍTULO I -

Ensino Superior: Um pouco da história no mundo 10

1.1- O desafio europeu na educação 11

1.2 - Quatro períodos marcantes na construção do

Ensino Superior 13

1.3 – Interrogações e desafios marcantes na

construção do Ensino Superior 21

CAPÍTULO II

O ensinar no mundo contemporâneo 25

2.1- O que é aprender? 28

2.2- Teoria sobre aprendizagem 32

CAPÍTULO III

Relacionamento professor e aluno 37

3.1 Espaço – tempo Universidade 37

3.2- Motivação 47

3.3 – Estrutura 48

3.4. Seqüência 49

3.5- Reforço 49

CONCLUSÃO 50

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 51

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FOLHA DE AVALIAÇÃO 54

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes

Título da Monografia: Relacionamento professor e aluno

Autor: Jocimar Douglas Almeida Miranda

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito:

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