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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE MEDICALIZAÇÃO DA HIPERATIVIDADE INFANTIL: FORMA DISSIMULADA DE DOMÍNIO SÓCIO-EDUCACIONAL. Por: Tais Oliveira de Amorim da Silva Orientador Professora Maria Ester Rio de Janeiro 2003

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

MEDICALIZAÇÃO DA HIPERATIVIDADE INFANTIL:

FORMA DISSIMULADA DE DOMÍNIO SÓCIO-EDUCACIONAL.

Por: Tais Oliveira de Amorim da Silva

Orientador

Professora Maria Ester

Rio de Janeiro

2003

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

MEDICALIZAÇÃO DA HIPERATIVIDADE INFANTIL:

FORMA DISSIMULADA DE DOMÍNIO SÓCIO-EDUCACIONAL.

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como condição prévia para a

conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato

Sensu” em Psicopedagogia.

Por: Tais Oliveira de Amorim da Silva

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AGRADECIMENTOS

À Psicóloga Esther Silveira de Oliveira, orientadora

de estágio, amiga, confiante e competente.À Maria

Esther, Fonoaudióloga e orientadora desta

monografia, pelo exemplo profissional dado em sala

de aula. À Carly Machado, Psicóloga, amiga e

Mestra, por todas as horas de dúvidas e reflexões.A

minha família, pelos momentos de apoio. A todos os

pacientes que contribuíram com suas vidas dando a

esta monografia o real motivo de existir.

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DEDICATÓRIA

Ao meu querido Márcio Lázaro A. da Silva

Em todos esses anos, aprendi com você a lição

maior do amor e da confiança. Você: irmão, amigo e

meu amor, a lembrança de uma simples aprendiz

que, com você, tenta entender um pouco do que

significa a grande complexidade da amplitude

humana.

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RESUMO

Após um exame dos objetivos do curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Psicopedagogia da Universidade Candido Mendes, desenvolveu-se pesquisa mediante a observação de pacientes portadores do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade – TDAH. Realizou-se esta observação em consultório de psicologia com o acompanhamento de psicóloga responsável. Buscou-se conhecer aspectos relacionados com as necessidades da medicalização de pacientes e implicações de tais medicações no cotidiano de cada um. Detectou-se o fato de a medicação, em alguns pacientes, não se fazer necessária e poder ser a fonte geradora de graves danos à saúde de pacientes expostos à tais medicações por um longo período de tempo. Apesar de os medicamentos utilizados no tratamento da hiperatividade terem sido julgados desnecessários, em alguns casos, toda a medicação utilizada é citada devido à grande necessidade de informação sobre ela. A terapia cognitivo-comportamental é citada como uma das opções sugeridas ao paciente. As sugestões formuladas objetivam propiciar meios para melhor interação entre o paciente, a família e a equipe médica que o assiste. Através dos questionamentos realizados com relação a medicação, abordagem interdisciplinar no âmbito escolar e terapias aplicadas de forma concisa, objetiva-se um alcance maior do paciente pelos profissionais de psicopedagogia.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I - Hiperatividade

1.1 – Fatores que podem desencadear o comportamento hiperativo infantil

1.2 – Características do comportamento hiperativo

1.3 - A diagnose do comportamento hiperativo

CAPÍTULO II - O Tratamento da Hiperatividade

CAPÍTULO III – Medicações como Forma de controle

3.1 - A medicação psicoterapêutica

CONCLUSÃO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANEXOS

ÍNDICE

FOLHA DE AVALIAÇÃO

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INTRODUÇÃO

O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade - TDAH - vem

sendo abordado constantemente por profissionais em diversas partes do

mundo.

A origem desse distúrbio data do início do século, época em que se

acreditava no fato de algumas crianças possuírem uma espécie de disfunção

cerebral que, ao se manifestar, gerava uma série de infortúnios. Entre os

agravantes gerados por essa disfunção cerebral, estava o Déficit de

Atenção.

Profissionais ligados à área de saúde têm questionado

constantemente a utilização de medicamentos no tratamento de crianças

com TDAH e, por vezes, comprovado através de uma série de pesquisas

que o uso de medicamentos se faz desnecessário na grande maioria dos

casos.

A questão fundamental abordada no decorrer deste trabalho

monográfico faz referência ao uso desses medicamentos como forma única

de tratamento dos distúrbios gerados pelo TDAH. O objetivo do mesmo é

demonstrar opções de tratamento que, em muitos casos, invalidam o uso da

medicação e fortalecem a auto-estima do portador do transtorno.

A metodologia utilizada foi a observação de pacientes, meninos,

pertencentes a faixa dos dez anos de idade, portadores de TDAH e que se

encontram em tratamento há mais de um ano. Tais pacientes fazem uso de

medicamentos e psicoterapia cognitivo-comportamental.

A hipótese levantada no decorrer deste trabalho faz alusão ao fato de

que a medicação deve ser necessária ao paciente ou, simplesmente, ser

cômoda aos pais que a utilizam como instrumento para doutrinar filhos

indisciplinados.

No capítulo I, apresenta-se, de forma sucinta, um histórico contendo

as principais datas e denominações dadas à Hiperatividade no decorrer do

século XX. Citam-se os principais fatores que podem desencadear o

comportamento hiperativo e as conseqüências desse comportamento

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refletidas no indivíduo e na sociedade na qual está inserido. As

características fundamentais presentes no comportamento do portador de

TDAH são citadas de acordo com a observação realizada como pré-requisito

para a elaboração deste trabalho. O processo de diagnose é demonstrado,

mesmo que de forma breve, para que possamos observar os caminhos que

são percorridos antes que o profissional médico caracterize uma criança

como portadora ou não de TDAH.

O tratamento realizado nos casos de Hiperatividade é o foco do

capítulo II, que visa fornecer possíveis opções de tratamento alternativo,

antes que se decida pelo uso de medicamentos. A teoria de Doman-

Delacato, que faz referência aos estágios do desenvolvimento humano como

pré-requisito de um perfeito desenvolvimento cognitivo comportamental

futuro, é abordada de forma breve para que possamos entender alguns

casos de TDAH. A Psicoterapia Cognitivo-Comportamental é citada como

opção que tende a se tornar o único tratamento seguro a ser adotado num

futuro próximo e, acima de tudo, livre de seqüelas neurológicas.

A medicalização é citada no capítulo III onde observamos que esta é

tida como forma de domínio por muitos pais e professores. Todavia, não

deixamos de citar os medicamentos utilizados atualmente, suas dosagens e

nomes químicos, fatores importantes para a divulgação das informações

contidas neste trabalho.

Por fim, citamos o processo de adequação da criança portadora de

TDAH como forma de direcionamento deste indivíduo no meio em que se

encontra e de adaptação de suas necessidades especiais às conseqüências

delas em toda a sociedade.

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CAPÍTULO I

HIPERATIVIDADE

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No início do século XX, um médico inglês chamado George

Frederick Still observou, ao longo de seus estudos sobre o pensamento

humano, uma série de crianças que apresentavam um comportamento

intrigante. Tais crianças se mostravam agressivas, com dificuldades de

concentração e, principalmente, indisciplinadas no convívio sócio-

educacional. O médico estudou os casos que se repetiam de forma

representativa e, atribuindo a essas crianças um defeito no ‘controle moral’

de suas atividades, realizou uma conexão teórica entre eles e a genética dos

mesmos.

As investigações continuaram e pesquisadores passaram a

observar mais detalhadamente o comportamento de seus pacientes.

Primeiramente, a reações eram vistas por pesquisadores como uma

disfunção cerebral de quadro simples e sem raízes profundas no indivíduo e,

por isso, foi chamada de Hipercinesia ou Hipercinese (do grego, movimento

acelerado). Alguns anos mais tarde, os avanços no campo da hiperatividade

levaram dois médicos, Meyer (1904) e Goldstein (1936), a observarem

pacientes em situações pós-traumáticas e, através delas, tentarem explicar o

porquê de alguns pacientes que, haviam sofrido lesões, apresentarem uma

incoerência comportamental tão atípica. Desta forma, após Meyer (1904) e

Goldstein (1936), o comportamento atípico destes pacientes passou a ser

denominado “Distúrbio Orgânico do Comportamento e Lesionado Cerebral”

(SCHWARTZMAN, 2001, p.10).

Na década de 20, Hohman (1922), pesquisador da neurologia

infantil, observou um quadro curioso em crianças que haviam tido problemas

neurológicos derivados de encefalites e outros males. O pesquisados

percebeu que a grande maioria apresentava problemas graves relacionados

à falta de atenção e memória e achou que estas eram seqüelas relacionadas

aos problemas de saúde que elas haviam enfrentado. Desta forma, Hohman

chegou à conclusão descrita em (SCHWARTZMAN, 2000, p.11):

“Se estas crianças, até então normais, passaram a apresentar este tipo de comportamento em

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decorrência de uma encefalite, poderíamos admitir que crianças que apresentam este mesmo tipo de comportamento, devem ter tido também algum tipo de insulto cerebral e, para se referir a estas crianças que, mesmo sem evidência objetiva de lesão cerebral, se comportavam desta forma peculiar, passaram a utilizar o rótulo de Lesão Cerebral Mínima (LCM)”

Nos anos de 1941 a 1947, o russo Strauss deu ao quadro da

hiperatividade uma nomenclatura utilizada até os dias de hoje, “Síndrome de

Strauss”. Algum tempo depois, entre 1957 e 1960, os autores Laufer,

Denhoffde e Chess, concordando com Strauss e Hohman, ainda

acreditavam que o comportamento fosse derivado de uma lesão cerebral.

No final da década de 70, os trabalhos no campo comportamental

infantil foram fazendo inúmeras referências e, em quase todos eles, os

autores da época acreditavam que se tratava de algo peculiar da criança,

algo que tenha acontecido em seu desenvolvimento infantil e, que o quadro

melhoraria de acordo com o amadurecimento da criança.

Os estudos foram ganhando credibilidade e a denominação LCM

foi sendo deixada de lado e, por volta de 1987, o comportamento passou a

ser descrito como Distúrbio do Déficit de Atenção - DDA ou ADD (do inglês,

Attencion Déficit Disorder). Atualmente, podemos encontrar a nomenclatura

Síndrome do Déficit de Atenção – SDA.

A Hiperatividade Infantil é definida pela Associação Americana de

Psiquiatria como Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade –

TDAH. Esta classificação divide o TDAH em quatro tipos distintos, a saber:

Tipo Predominantemente Desatento, Tipo Predominantemente Hiperativo-

Impulsivo, Tipo Combinado e Tipo Residual ou Remissão Parcial.

A Classificação Internacional das Doenças – CID 10, da

Organização Mundial de Saúde – OMS, atesta que a Hiperatividade Infantil é

caracterizada por possuir :

“início precoce; uma combinação de um comportamento hiperativo constante em várias situações e predominantemente modulado, com desatenção marcante e falta de envolvimento persistente nas tarefas; conduta

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invasiva nas situações; e persistência no tempo dessas características no comportamento”.

Assim sendo, observamos uma grande complexidade existente na

amplitude do comportamento hiperativo e, por esse motivo, até a presente

data, não tivemos conhecimento de qualquer etiologia (causa específica)

que seja capaz de distinguir as verdadeiras fontes de surgimento do

Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade – TDAH.

1.1– Fatores que podem desencadear o comportamento

hiperativo infantil

A incidência de repetidos fatores entre as crianças com

comportamento hiperativo chamou a atenção de pesquisadores de várias

áreas que se dedicam ao estudo deste tipo de variação comportamental. De

acordo com a Associação Americana de Psiquiatria, esses fatores podem

ser classificados como fatores Bio-Patológicos e Psico-Afetivos e, devido à

grande complexidade humana, apresentam uma grande variação de uma

criança para a outra.

Os fatores Bio-Patológicos classificados podem ser assim

descritos:

• Aditivos químicos

• Açúcar refinado

• Corantes artificiais

• Salicilato de Sódio

• Agentes tóxico-alimentares em geral, como: resíduos de agrotóxico

em alguns alimentos, laticínios e embutidos ricos em conservantes.

Estudos demonstram que, crianças que antes apresentavam

comportamento hiperativo quando submetidas à exclusão total de tais

fatores, apresentam uma melhora significativa em seu comportamento

habitual.

• Lesões cerebrais como traumatismos crânio-encefálicos

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• AVC (acidente vascular cerebral)

• Esclerose Múltipla “distúrbio cujos sintomas se manifestam pela

primeira vez entre os 16 e 30 anos, o sistema imunológico ataca e destrói

as bainhas de mielina do próprio corpo, acarretando severa disfunção

neuromotora” (ATKINSON, 2002, p.59)

• Encefalites (infecções virais)

• Apnéia, descrita em (ATKINSON, 2002, p.224):

“Na apnéia, o indivíduo pára de respirar durante o sono. Existem duas razões para as crises de apnéia. Uma delas é que o cérebro deixa de enviar um sinal de ‘respirar’ para o diafragma e outros músculos envolvidos na respiração. A outra é que os músculos de cima da garganta relaxam demais, permitindo que a traquéia se feche parcialmente e deste modo forçando os músculos respiratórios a aspirar o ar com mais força, o que faz com que a via aérea fique totalmente obstruída. Durante um episódio de apnéia, o nível de oxigênio do sangue cai vertiginosamente, levando à secreção de hormônios de emergência. Essa reação faz com que o indivíduo desperte para voltar a respirar.”

• Hipertireoidismo, que se caracteriza por um aceleramento na função

principal, secretar hormônios, da glândula Tireóide.

• Fenilcetonúria, descrita em (ATKINSON, 2002, p.81):

“A maioria das características humanas são determinadas pelas ações de apenas um par de genes, mas existem algumas exceções notáveis nas quais um único gene tem enorme importância. De especial interesse do ponto de vista psicológico são doenças como a FENILCETONÙRIA (PKU) e a doença de Huntington (DH), as quais envolvem deterioração do sistema nervoso e problemas comportamentais e cognitivos associados. A FENILCETONÚRIA resulta da ação de um gene recessivo herdado de ambos os pais. O bebê não consegue digerir um aminoácido essencial (fenillalanina), que então se acumula no corpo, envenenando o sistema nervoso e causando danos cerebrais irreversíveis. As crianças com PKU sofrem retardamento severo e geralmente morrem até os 30 anos. Quando o distúrbio é constatado no nascimento e o bebê é colocado numa

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dieta que controla o nível de fenilalanina, as chances de sobrevivência com boa saúde e inteligência são significativas. Antes do gene da PKU ter sido localizado, o distúrbio não podia ser identificado até que o bebê tivesse pelo menos 3 semanas de idade. Atualmente, é possível identificar se o bebê tem o gene da PKU e, neste caso, iniciar a dieta adequada desde o nascimento.”

• Plumbismo (infecção por chumbo)

• Deficiências vitamínicas

• Exposições à radiação e campos eletro-magnéticos

• Malformação congênita.

Os fatores Psico-Afetivos que podem gerar o comportamento

hiperativo infantil são inúmeros devido à grande complexidade existente

entre as relações humanas, seja no âmbito familiar ou educacional.

As questões relativas à nova concepção dada à família têm sido

uma base fundamental para que novos fatores acabem influenciando as

relações. Os pais perderam seu caráter formal e, em muitos casos, se

mostram muito amigos dos filhos e, quando essa aproximação não é feita de

forma gradual e respeitosa, as crianças acabam confundindo as relações de

respeito e amor que têm com seus pais e tratando-os como colegas, que

podem desrespeitar e, até mesmo, ordenar algo.

A hiperindulgência gerada a partir da ‘grande culpa’ por parte dos

pais, de não estarem ao lado de seus filhos na maior parte do dia, acarreta o

fato de permitirem tudo o que as crianças desejam. Quando essa

hiperindulgência não é demonstrada, as crianças sofrem e demonstram isso

de várias formas. São observadas: explosões de cólera, condutas opositivas

e desafiadoras, tendência à destruição de objetos (deles e dos pais), crises

compulsivas e obsessivas e, acima de tudo, inadequação ao sistema

escolar.

A separação de casais também é tida como um dos fatores psico-

afetivos que podem desencadear um comportamento hiperativo nos filhos.

Quando a separação se dá de forma respeitosa e, principalmente, quando

esta é passada à criança com todos os seus aspectos e conseqüências, não

se ignorando a sabedoria infantil, a situação pode não chegar ao extremo de

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se observar o comportamento hiperativo na criança e, em muitos casos,

adolescentes. O respeito à criança deve existir, acima de qualquer coisa em

um processo de separação dos pais. A ela deve ser explicada a situação, a

ordem dos fatos, incluindo as mudanças no seu cotidiano acarretadas pos

eles, e, principalmente, as conseqüências para ela de todo o processo a ser

vivido.

A religião vivida de forma exacerbada pelos pais, também pode

gerar através de uma revolta vivida pela criança, o comportamento

hiperativo. Muitos casais utilizam “a pregação religiosa” para controlarem

seus filhos e através da figura de um deus criado por eles para assustar e

ameaçar, o medo gera à obediência. Tal atitude faz com que a criança

cresça obedecendo às imposições por medo e jamais por respeito, gerando

uma série de traumas e conflitos pessoais.

Pais grosseiros e educadores dominadores contribuem para que o

comportamento hiperativo seja desencadeado em crianças. Ele cresce com

medo da presença dos pais e professores autoritários e, só na presença

deles, se comporta como é pedido. Na ausência, a criança se mostra como

realmente é e, em alguns casos, exagera no comportamento através de

atitudes para extravasar o desejo que não lhe é permitido ter na frente deles.

O Mecanismo de Projeção descrito por FADIMAN (FADIMAN e

FRAGER, 1986, p.22) ilustra uma outra questão peculiar a este caso, a

saber:

“ ato de atribuir a uma pessoa, animal ou objeto, as qualidades, sentimentos ou intenções que se originam em si próprio... É um mecanismo de defesa por meio do qual os aspectos da personalidade de um indivíduo são deslocados de dentro deste para o meio externo”.

Muitos pais realizam este mecanismo projetando suas frustrações

em seus filhos, impedindo-os de vivenciar suas próprias experiências e

direcionando-os ao que aquilo que os próprios pais gostariam de ter feito. A

projeção, se feita de forma extrema, pode gerar um verdadeiro sufocamento

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por parte da criança e, com isso, impedi-la de explorar o mundo através dos

próprios olhos fazendo com que esta se mostre através do comportamento

hiperativo.

Desta forma, observamos alguns dos fatores que podem

desencadear o comportamento hiperativo infantil e todas as suas

conseqüências no cotidiano da criança. Evitando-se o desencadear de tais

fatores, estaremos evitando uma série de infortúnios que serão os

responsáveis por problemas escolares e pelo comprometimento do

desenvolvimento da criança dentro da sociedade no decorrer de sua vida.

1.2 – Características do Comportamento Hiperativo

A fronteira entre aquilo que nós, seres humanos, consideramos

normal ou não é extremamente sutil. E, além disso, o que convencionamos

chamar normalidade e anormalidade, de acordo com nossas concepções, é

profundamente condicionado às experiências que tivemos. Todavia, “aceita-

se como anormalidade uma condição que impede o indivíduo de funcionar

efetivamente em sua sociedade” (TELES, 1994, p.34)

As características apresentadas por crianças que possuem um

comportamento hiperativo são inúmeras e, desta forma, seria relativamente

complicado listarmos todas as que já foram objeto de pesquisa. Todavia, no

decorrer deste capítulo, poderemos observar uma descrição das principais

características observadas em um período de oito meses para a conclusão

do curso de pós-graduação em psicopedagogia. Por se tratar de casos onde

julgamos haver a necessidade de um acompanhamento longitudinal, muitas

características não foram observadas, o que não significaria a inexistência

das mesmas. As características presenciadas foram:

• Dificuldades de interação com o meio; Crianças com comportamento

hiperativo demonstram dificuldades ao se aproximarem de outras

pessoas. Em muitos casos, elas se submetem à vontade dos outros

simplesmente para evitar conflitos ou, confrontam o outro em

qualquer tipo de relação, independente do meio em que estejam.

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Quando a situação é levada ao extremo, a criança pode apresentar

uma profunda tendência ao isolamento.

• Problemas ao lidar com decisões e frustrações. Algumas crianças

demonstram ser totalmente dependentes de seus pais. Não possuem

iniciativa e quando alguma situação lhes causa frustração, a mudança

de humor é profundamente radical.

• Rejeição à mudança. As brincadeiras, os programas de televisão e,

até mesmo, as peças do vestuário se repetem de acordo com a

vontade insistente da criança. Ela nega o “novo” e rejeita qualquer

intervenção feita para que algo mude em seu cotidiano.

• Infrações a regras são constantes. A impaciência para esperar que

algo aconteça, gera na criança uma grande dificuldade em aceitar

regras, esperar a vez de jogar ou aceitar o posto que lhe é dado em

alguma brincadeira. Os relacionamentos são afetados e a dificuldade

em manter amigos é uma questão constante.

• Atividade verbal excessiva. A necessidade de responder

precipitadamente gera na criança hiperativa uma atividade verbal

excessiva e sem muita reflexão. Respostas são dadas sem que ela

‘pense’ com cautela antes que isso seja feito. Em alguns casos, a

inquietação e o desassossego fazem com que a criança dê respostas

que são pouco coerentes às perguntas realizadas anteriormente.

• Falta de persistência em atividades que envolvam desenvolvimento

cognitivo. Quando o nível intelectual das atividades propostas à

criança aumenta, ela desiste sem ao menos tentar. Jogos e

brincadeiras repetidos são vistos pela criança como “um porto

seguro”, ”o que já sei e domino é mais fácil pra mim...” e, por esse

motivo, ela insiste nas brincadeiras repetidas continuamente,

deixando de vivenciar novos desafios.Por vezes, as atividades

intelectuais consideradas difíceis pela criança, são deixadas

inacabadas, sem solução.

• Dificuldades em manter a atenção em atividades lúdicas. Ao lidar com

o lúdico, a criança não demonstra muita organização, manuseia os

objetos sem cuidado, e constantemente comete erros em suas

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atividades que são trocadas a todo tempo, sem que nenhuma delas

seja terminada.

• A movimentação física excessiva é constante. A criança não

consegue prestar atenção a nada, pois está em constante movimento.

Ela senta, levanta, corre e toca tudo e todos ao mesmo tempo.

Tamanha inquietação gera um grande cansaço e com ele o

desinteresse pelas coisas que lhe são pedidas.

Entre todas as características do comportamento hiperativo

citadas, a dispersão, a desatenção e a falta de concentração são as maiores

responsáveis pelos problemas escolares da criança. Os professores muitas

vezes não entendem o motivo de tamanha movimentação e acabam

invadindo ‘o mundo da hiperatividade” dessa criança e, gerando dentro dela,

uma vontade maior de se contrapor a tudo que deve ser feito. Segundo

Abrahan Topczewski, (TOPCZEWSKI, 1999, p.25):

“A maioria dos hiperativos têm problemas escolares pela dispersão, desatenção, falta de concentração e em conseqüência do seu comportamento, não conseguem atingir os objetivos do aprendizado. Há, porém, hiperativos com um desempenho escolar muito bom, conseguem fazer as tarefas muito rapidamente, mas não ficam quietos e atrapalham a dinâmica da classe.”

Independente de se observar ou não as características descritas

como relacionadas ao comportamento hiperativo, a diagnose médica e o

acompanhamento psicopedagógico devem co-existir para que se possam

controlar as características citadas, impedindo que elas influenciem de forma

marcante o desenvolvimento social da criança.

1.3– A diagnose do comportamento hiperativo

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O comportamento hiperativo infantil exige uma grande cautela por

parte dos médicos no que diz respeito ao seu diagnóstico. Por se tratar de

casos sem comprovação exata, exames laboratoriais ou, até mesmo, um

teste universal para se comprovar o quadro clínico do indivíduo, a

hiperatividade se torna volúvel a diagnósticos imprecisos e variáveis.

O fato de ser extremamente complicado separarmos o que é

normal daquilo que se torna patológico, faz com que a definição de uma

criança como “criança hiperativa” seja cuidadosa para que não se

estigmatize uma criança de maneira errônea. Nos primeiros anos de vida, é

necessária muita cautela para que se possa distinguir uma criança

normalmente ativa, comportamento normal na idade das descobertas do

mundo, de uma criança que possua a hiperatividade como patologia, mesmo

porque, é importante lembrarmos que o caráter patológico da hiperatividade

deve ser considerado após os seis anos de idade, pois é a partir deste

momento que as oscilações diminuem no comportamento se apaziguam e

este se torna menos volúvel a erros de conceituação. Segundo Alfredo

Jerusalinsky, (JERUSALINSKY, 1999, p.27),

“as crianças a partir dos 10, 12 meses, transformam-se em verdadeiros exploradores do meio ambiente. Com efeito, a criança abre gavetas, móveis, tira meias e camisas, segue até a próxima porta ou tomada sem pensar em ficar parada...”

O processo de acompanhamento de uma criança que apresente

comportamento hiperativo deve ser feito de forma longitudinal, ou seja, os

acontecimentos relacionados à hiperatividade devem ser observados por

semanas, meses e até anos, antes que sejam tomadas atitudes mais

drásticas.

O acompanhamento do paciente deve ocorrer em diversas

situações, locais e horários para que se verifique a veracidade dos fatos.

Uma criança pode se demonstrar hiperativa quando lhe convém, e,

principalmente, com quem lhe interessa ser.

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Outro fator a ser observado é que, segundo estudos americanos,

1/3 da população mundial sofre de déficit de atenção que, pode ou não, ser

acompanhado de processo hiperativo. Crianças com Transtorno do Déficit

de Atenção com Hiperatividade - TDAH são, necessariamente, hiperativas.

Porém, nem todas as crianças que apresentam comportamento hiperativo, o

possuem como uma patologia. Muitas vezes, os pais e professores que

convivem com a criança, acreditam que ela seja um deficiente auditivo por

ela não dar atenção às perguntas e ordens que são ditas. Na verdade, o que

a criança possui é falta de interesse ou, em alguns casos onde a

hiperatividade é profunda, o cérebro trabalha rápido demais e a criança está

pensando em várias coisas ao mesmo tempo e talvez, a pergunta feita não

seja uma delas.

O Manual de Diagnósticos e Estatísticas (DSM – IV) possui um

guia com perguntas que costumam auxiliar médicos, pais, professores no

diagnóstico da hiperatividade e, como toda a especulação em torno de

variações do comportamento humano, possui uma considerável margem de

erros. Todavia, as respostas dadas às perguntas a seguir, auxiliam muito no

tratamento posterior a diagnose.

1. Ele presta pouca atenção em detalhes e faz erros por falta de atenção nos

deveres?

2. Ele mexe com as mãos e pés quando está sentado ou se mexe muito na

cadeira?

3. Ele tem dificuldade de ficar concentrado nos deveres e também nos

jogos?

4. Ele sai do lugar na sala de aula ou em outras situações (ex: mesa de

jantar) quando deveria ficar sentado?

5. Ele tem dificuldade de ficar em silêncio enquanto brinca? 6. Ele é desorganizado com os deveres e outras atividades no dia-a-dia?

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7. Ele é "elétrico" e fica "a mil por hora?" 8. Ele evita ou antipatiza com deveres ou atividades que exijam concentração? 9. Ele fala demais?

10. Ele perde material da escola ou coisas do dia-a-dia?

11. Ele responde às perguntas antes dos outros terminarem de falar? 12. Ele se distrai com facilidade com coisas fora daquilo que está fazendo? 13. Ele tem dificuldade de esperar a vez? 14. Ele se esquece de coisas que deveria fazer Ele interrompe os outros ou se mete na conversa dos outros?

Com relação às perguntas feitas no guia do Manual de

Diagnóstico e Estatística (DSM – IV), devemos ressaltar a importância de

fato de este questionário ser realizado em vários momentos no decorrer da

vida da criança. Os responsáveis por ela devem responder tais questões e

guardar as respostas para que sejam, posteriormente, comparadas a fim de

se observar uma involução ou evolução do caso. Quanto mais cedo é feito o

diagnóstico, menores são as conseqüências psicológicas ao longo dos anos.

Uma outra vantagem é a identificação precoce da possível existência de

outras doenças associadas.

A abordagem interdisciplinar é fundamental no diagnóstico da

hiperatividade. Os pais não devem apenas confiar na diagnose do

neurologista da criança problemática. Atualmente, o Brasil apresenta uma

grande qualidade no que diz respeito aos profissionais, o que deve ser

explorado pelos pais de uma criança hiperativa. Médicos, Psicólogos,

Pedagogos, Psicomotricistas, e todos os especialistas envolvidos no estudo

do TDAH devem ser consultados para que um diagnóstico se aproxime do

mais claro e preciso possível e, ainda assim, não devemos esquecer que

estamos diante da grande complexidade humana, que pode colocar qualquer

diagnóstico em xeque. A avaliação clínica, seguida de exames neurológicos

e laboratoriais, é indispensável no primeiro momento de averiguação da

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hiperatividade. Tal avaliação deve ser seguida de testes e observação

psicopedagogia para que se possa avaliar com exatidão a criança que

apresenta tal modificação no comportamento.

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CAPÍTULO II

O TRATAMENTO DA HIPERATIVIDADE

Pesquisas realizadas de forma longitudinal no acompanhamento

de crianças hiperativas têm comprovado que, quando não acompanhadas

pelos profissionais adequados, podem desencadear uma série de distúrbios

futuros.

O tratamento envolve aspectos coexistentes. A avaliação feita

anteriormente a ele, pode ser realizada em um consultório de psiquiatria,

neurologia ou, até mesmo, pelo professor ou pai da criança que observaram

nela aspectos peculiares e questões que antes não haviam surgido.

Questões comportamentais foram observadas e, através delas, verificou-se

uma grande incidência de casos de distúrbios sociais e emocionais que,

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conseqüentemente, são os responsáveis por graves problemas na vida

adulta de uma criança hiperativa.

A baixa tolerância ao stress foi verificada em muitos adultos com

histórico hiperativo. Tal situação foi a causa de dificuldades relacionais em

seus ambientes de trabalho e estudo. Além disso, muitos pacientes têm a

capacidade de desenvolverem o transtorno obsessivo-compulsivo decorrente

do não tratamento da hiperatividade. O Transtorno Obsessivo-compulsivo é

descrito por Atkinson (ATKINSON, 2002, p.559):

“Um homem levanta diversas vezes da cama todas as noites e verifica se todas as portas estão trancadas. Ao voltar para a cama é atormentado pela idéia de que pode ter se esquecido de uma. Outro homem toma três ou quatro banhos seguidos, sempre esfregando todo o corpo com um desinfetante especial, por temer que possa estar contaminado por germes. Essas pessoas têm sintomas do Transtorno Obsessivo-Compulsivo: sua vida é dominada por atos ou idéias repetitivas. As obsessões são intromissões persistentes de pensamentos, imagens ou impulsos indesejáveis que geram ansiedade. As compulsões são impulsos irresistíveis para executar determinados atos ou rituais que reduzem a ansiedade. O elemento repetitivo pode ser um pensamento(obsessão) ou um ato (compulsão), mas a característica central do transtorno é sempre a experiência subjetiva de perda de controle. A vítimas se esforçam vigorosamente para se livrar dos pensamentos perturbadores ou resistir à execução dos atos repetitivos, mas são incapazes disso.”

A depressão, a ansiedade e a baixa auto-estima são, também,

decorrentes deste processo inadequado de tratamento da hiperatividade.

Adultos que apresentam os quadros citados, quando passam por uma

anamnese, demonstram grandes chances de terem sido crianças

hiperativas.

O Alcoolismo e a toxicomania são, em alguns casos vistos

também como, conseqüências do tratamento relapso da hiperatividade

infantil. Jovens com autos quadros de depressão, resultantes de inúmeros

traumas obtidos na infância, se entregam ao alcoolismo e a toxicomania

como uma forma de resposta aos seus estímulos que, com o passar do

tempo, se tornam cada vez mais degradantes.

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A compreensão de que se trata de um caso complexo que

independe da vontade da criança, auxilia muito na relação dela com os pais.

Muitos adultos, antes de diagnosticada a hiperatividade, tratam seus filhos

de forma grosseira, impedindo que a criança construa a sua auto-estima que

a ajudará no futuro a ser alguém mais segura e, até mesmo, mais feliz. A

consciência do verdadeiro estado da criança faz com que muitos pais, que

são integrados à situação, se preocupem em direcioná-la a locais como

escolas e academias que possam acolher suas dificuldades e entender

seus problemas.

A pergunta crucial a todos os pais que freqüentam um consultório

de psicologia é: O que foi que eu fiz de errado? . A grande maioria dos pais

não entende que transtornos como as dificuldades de atenção,

hiperatividade ou, até mesmo, doenças como autismo e Síndrome de Dawn,

independem de suas condutas com seus filhos.

Os tratamentos medicamentosos, descritos no capítulo II deste

trabalho monográfico, não são a única opção para o tratamento da

hiperatividade e, muito menos, os mais indicados. A Psicoterapia Cognitivo-

Comportamental é a que mais têm ajudado crianças portadoras de

distúrbios neurológicos. A utilização de terapia no tratamento de crianças

com problemas é citada por Atkinson (ATKINSON, 2002, p.607):

“Estudos sobre a eficácia das terapias demonstram que as crianças e os adolescentes que recebem terapia têm melhores resultados do que aqueles que não recebem nenhuma terapia(Weisz et al.,1995). A eficácia de qualquer tipo específico de terapia pode depender grandemente do tipo de transtorno que a criança ou adolescente tem.

A formulação e aplicação de terapias eficazes para crianças e adolescentes é dificultada pela necessidade de se combinar a terapia com o nível de desenvolvimento da criança, pela possibilidade de que a terapia tenha efeitos negativos a longo prazo sobre o desenvolvimento da criança, pelo fato de que as crianças estão inseridas em famílias, e muitas vezes, a família também precisa ser tratada e, finalmente, pelo fato de que crianças e adolescentes raramente procuram tratamento

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e, por isso, muitas vezes não estão motivadas a envolver-se na terapia.

Infelizmente, a maioria das crianças que poderia se beneficiar com a terapia não a recebe. Muitas regiões dos Estados Unidos não dispõem de unidades de tratamento especializadas em problemas infantis. Talvez 50% das crianças psicologicamente perturbadas recebam aconselhamento e medicações apenas dos médicos de suas famílias, os quais não são treinados para avaliar e tratar transtornos psicológicos (Tuma, 1989). O sistema de previdência social trata de várias crianças perturbadas, que são colocadas sob cuidados assistenciais de longo prazo em vez de receberem tratamento psicológico especializado”

O tratamento alternativo, apesar de criticado pela Academia

Americana de Pediatria (1982), ainda é muito difundido nos locais onde

ocorrem tratamentos de hiperatividade. A técnica baseada nos estudos do

médico Doman-Delacato, vem sendo muito difundida no Brasil após a

década de 70 e parte do pressuposto que, a correta organização do sistema

nervoso central não pode existir sem que todos os estágios do

desenvolvimento da crianças tenham sido perfeitamente concretizados. De

acordo com José Salomão Schwartzman (SCHWARTZMAN, 2002, p.100):

“Qualquer variação na seqüência normal ou o desenvolvimento incompleto de qualquer uma delas interferirão com o correto estabelecimento da dominância hemisférica cerebral, com um prejuízo global que seria a base de condições tão diversas quanto a deficiência mental, a paralisia cerebral, o autismo infantil e os distúrbios na aprendizagem escolar.”

A Teoria de Doman Delacato, apesar de receber críticas em todo

o mundo, continua sendo muito utilizada, mesmo após a divulgação de uma

nota da Academia Americana de Pediatria, em 1968, que enumera uma

série de fatores que condenariam o tratamento feito desta forma. Para uma

observação mais detalhada, observemos seis desses fatores descritos em

(SCHWARTZMAN, 2001, p.102):

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“1. Os pais se negam a aceitar e cooperar com o tratamento proposto; 2. O protocolo rígido do programa terapêutico negligencia as necessidades dos outros membros da família; 3. Há pressões ansiógenas colocadas sobre os pais, afirmando-se que o tratamento prescrito, não sendo rigorosamente seguido, será inútil; 4. O perfil do desenvolvimento empregado pelo Instituto para o Desenvolvimento do Potencial Humano nunca foi validado; 5. Relatos de curas não foram documentados cientificamente; 6. A Terapia de reorganização é conflitante com os modelos mais aceitos dos cuidados a serem tomados com as crianças, de tal forma que aumenta a ansiedade dos pais e as tensões intra-familiares”

O tratamento de um quadro de hiperatividade não ocorrerá, ou

será tardio, se os pais, professores ou responsáveis pela criança não

poderem identificar suas características ou, se de algumas forma, forem

impedidos de procurar ajuda. Um acompanhamento longitudinal do indivíduo

é o que temos de mais adequado para começarmos um tratamento que,

sendo tardio poderá definir, de forma negativa, como se comportará o

indivíduo no futuro e todas as aflições que este irá viver.

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CAPÍTULO III

MEDICAÇÕES COMO FORMA DE CONTROLE

O uso de Psicofármacos no tratamento de crianças com o

quadro da hiperatividade tem sido o foco de extensas altercações nos

grupos de estudos sobre TDAH. Toda a discussão em torno da utilização ou

não de medicamentos no tratamento dessas crianças como forma de

controle se dá devido ao fato de alguns profissionais defenderem que,

apenas 10 ou 20% dos hiperativos têm TDAH e, este sim, seria um motivo

para a medicalização. Em decorrência disso, observa-se que toda a

porcentagem restante de pacientes tem apenas características do

comportamento hiperativo, sem o quadro clínico de TDAH e, mesmo assim,

são medicados e expostos aos males gerados por estes inibidores de

comportamento.

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3.1 – A Medicação Psicoterapêutica

A utilização de medicação para o tratamento de condutas

comportamentais é difundida em todo o mundo e possui grande quantidade

de adeptos.

No início da década de 50, o tratamento de indivíduos com

problemas bio-comportamentais passou a ser feito com a utilização de

medicamentos que aliviavam os sintomas da esquizofrenia e de outros

males ainda sem cura no momento. Segundo Atkinson (ATKINSON, 2002,

p.611):

“Pacientes com intensa agitação não precisavam mais ser fisicamente contidos em camisas de força, e pacientes que normalmente ficavam alucinando e apresentando comportamentos bizarros se tornaram mais responsivos e funcionais. Como resultado, as alas psiquiátricas tornaram-se mais manejáveis e os pacientes podiam ser dispensados mais rapidamente.”

Poderemos observar no gráfico 1.1 a seguir, (ATKINSON, 2002,

p.592) que houve uma diminuição no número de internados nos hospitais

psiquiátricos após a introdução de medicamentos antipsicóticos e

antidepressivos.

Número de

Internos:

600

500

400

300

Gráfico 1

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30

200

100

0

1950 1960 1970 1980 1990

Embora a medicação de pacientes tenha amenizado os traumas e

problemas derivados das questões comportamentais, preocupações com

relação ao processo intensivo de medicalização de pacientes, vêm sendo

descritas em várias publicações, através das quais, os autores demonstram

terem opinião adversa ao tratamento medicamentoso de todos os pacientes

com quadro de hiperatividade. Observamos esta posição em

(SCHWARTZMAN, 2001, p.15):

“atualmente o TDAH, com ou sem Hiperatividade, é considerado um dos problemas comportamentais crônicos da infância mais comuns. Sua identificação aumentou exponencialmente nos últimos anos, e o número de crianças que recebem medicação estimulante por conta deste diagnóstico é crescente e, na minha opinião, preocupante.”

No Brasil, os tratamentos dos casos de TDAH com

hiperatividade vêm sendo realizados com a utilização de drogas

estimulantes. Um dos estimulantes mais utilizados tem o nome comercial de

Ritalina . e, segundo Gadow,

“Embora possa parecer estranho dar um estimulante para uma criança hiperativa, entre 60 a 90% das crianças com TDAH respondem a estas drogas com decréscimo no comportamento disruptivo e aumento da atenção” (GADOW, 1992)

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O uso de Ritalina, droga mais utilizada pela maioria dos

profissionais, que é rapidamente absorvida iniciando sua ação 20 minutos

após a ingestão e perdurando o seu efeito por 3 ou 4 horas, é amplamente

discutido e gera polêmica todas as vezes que é abordado.Segundo a

Associação Americana de Psiquiatria,

“nos EUA estima-se que, por volta de 1977, cerca de 500 mil crianças já recebiam o metilfenidato(Ritalina). Em 1987 este número chegava a 750 mil; alguns anos depois, a dois milhões e, no ano passado, deverá ter chegado ou ultrapassado os quatro milhões de crianças. Há estudos que apontam oito milhões de usuários entre as crianças americanas nos dias atuais”.

Tamanha facilidade em se diagnosticar algo tão complexo,

levanta inúmeras dúvidas e nos faz perceber o desejo dos médicos, por

muitas vezes com o consentimento dos pais, de deterem esses alunos de

alguma forma. “Algumas escolas e alguns médicos têm diagnosticado TDAH

com muita facilidade e prescrito Ritalina para os alunos” (HINSHAW, 1994).

Segundo o Professor Doutor, Paulo Mattos, ocorrem eventos adversos com

os pacientes que são submetidos à utilização de drogas estimulantes, tais

como:

“Insônia, dores de cabeça, vertigem, diminuição do apetite e dores no estômago ocorrem em cerca de 5% dos pacientes que utilizam Ritalina e outros psicofármacos. Algumas crianças desenvolvem tiques quando iniciam o uso de estimulantes, mas não se sabe se a medicação causa os tiques ou se ela simplesmente revela uma condição pré-existente (crianças que têm a doença de Tourrete, caracterizada por múltiplos tiques, pioram com a ingestão de estimulantes.

Os medicamentos são tão representativos que, antigamente, havia a crença de que o uso deles retardaria o crescimento de crianças e por isso se recomendava os ‘feriados’ (alguns dias ou o final de semana) ou ‘férias’ terapêuticas. O uso de Ritalina se associa a um menor ganho de peso, mas não de altura. Alguns autores ainda recomendam estes períodos sem medicamentos porque

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isto diminui a freqüência de perda de efeito (um evento mais raro) ao longo dos anos.”

Para uma melhor exposição do assunto em questão, observemos

a seguir, uma tabela com a nomenclatura química, comercial, a dosagem e o

efeito, derivados da utilização dos principais medicamentos para o

tratamento dos casos de TDAH seguidos do quadro de hiperatividade. A

tabela a seguir, foi retirada do site do Grupo de Estudos do Déficit de

Atenção – GEDA e, as dosagens estabelecidas são as utilizadas em todo o

território nacional.

MEDICAÇÕES UTILIZADAS NO TRATAMENTO DO TDAH

(QUADROS SEGUIDOS POR HIPERATIVIDADE)

NOME QUÍMICO NOME COMERCIAL

DOSAGEM DURAÇÃO DO EFEITO

Metilfenidato (ação curta)

Ritalina Metadate Methylin

5 a 20mg de 2 a 3 vezes ao dia

3 a 5 horas

Metilfenidato (ação intermediária)

Ritalin SR Metadate ER Methylin ER

20 a 40mg 1 vez ao dia OU

40 mg de manhã e 20 mg à tarde

3 a 8 horas

Metilfenidato (ação prolongada)

Ritalina LA Concerta

Metadate CD

18 a 72mg 1 vez ao dia

8 a 12 horas

Desmetilfenidato (metilfenidato

modificado de ação curta)

Focalin 2,5 a 10mg 2 vezes ao dia

3 a 5 horas

Anfetamina (ação curta) Dexedrine Dextrostat

5 a 15mg 2 vezes ao dia OU

5 a 10mg 3 vezes ao dia

4 a 6 horas

Anfetamina (ação intermediária)

Adderall Dexedrine Spansule

5 a 30mg 1 vez ao dia OU

5 a 15mg 2 vezes ao dia

6 a 8 horas

Anfetamina (ação prolongada)

Aderall XR 10 a 30mg 1 vez ao dia

Cerca de 12 horas

Imipramina (antidepressivo)

Tofranil 2,5 a 5mg por kg de peso divididos

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em 2 doses Nortriptilina Pamelor 1 a 2,5mg por kg

de peso divididos em 2 doses

Desipramina (antidepressivo)

Norpramin 2,5 a 5mg por kg de peso divididos

em 2 doses

Bupropiona Wellbutrin Wellbutrin SR

50 a 100mg 1 a 3 vezes ao dia

(Wellbutrin) OU 100 a 150mg 2 vezes ao dia

(Wellbutrin SR)

Clonidina (medicamento anti-hipertensivo)

Atensina 0,01mg ao deitar ou 2 vezes ao dia

12 a 24 horas

Os medicamentos estimulantes do sistema nervoso central são os

principais agentes de contenção do comportamento hiperativo. Todavia,

outros tipos de psicofármacos são utilizados no tratamento de TDAH.

Para uma melhor compreensão, os medicamentos utilizados

serão descritos, de forma sumária, de acordo com a abordagem feita por

José Salomão Schwartzman (SCHWARTZMAN, 2001, p.74), que classifica

os medicamentos em:

• Estimulantes: O uso desses medicamentos vem crescendo

rapidamente, desde 1937 quando um médico americano utilizou a

dexedrina para o tratamento de crianças com distúrbios de

comportamento. São eles: metilfenidato (Ritalina), dextroanfetamina

(Dexedrina) e pemolina de magnésio (Cylert);

• Antidepressivos tricíclicos: É um tipo de droga utilizada para o

tratamento da depressão em crianças com mais de 12 anos. Por

outro lado, a droga também é útil no tratamento de TDAH, fobia

escolar e em alguns transtornos do sono. São antidepressivos

tricíclicos a imipramina (Tofranil) e desipramina (Pertrofan e

Norpramim);

• Antidepressivos inibidores da recaptação da serotonina, como a

fluoxetina (daforin, Eufor e Prozac). Este último, Prozac, é um

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medicamento antidepressivo muito popular e foi amplamente

divulgado na década de 80. De acordo com Atkinson (ATKINSON,

2002, p.488)

“ O Prozac é um inibidor seletivo de recaptação da serotonina: seu efeito é elevar os níveis da serotonina. Segundo Peter Kramer, autor de Listening to Prazac, a droga pode, na verdade, dar uma nova personalidade às pessoas. Ela pode impedir que a pessoa se preocupe desnecessariamente e reaja exageradamente a pequenos estresses, deste modo oferecendo-lhe uma perspectiva mais feliz da vida. As pessoas que tomam prozac muitas vezes dizem que se sentem ‘pessoas melhores’, que conseguem trabalhar mais e se sentirem mais atraentes com relação ao sexo oposto”.

• Neurolépticos: Possuem ação antipsicótica e têm amplo uso em

psiquiatria geral. São utilizadas em pediatria com crianças com

quadros comportamentais severos como, Autismo Infantil e Síndrome

de Tourrete. São os medicamentos: haloperidol (Haldol),

tioridazina(Melleril), pimozida(Orap), clozapina(Leponex),

risperidona(Risperdal) e olanzapina (Zyprexa);

• Outras drogas como: Clonidina (Atensina), Tomoxetina e GW320659.

Assim sendo, a terapia medicamentosa tem reduzido a

complexidade de alguns tipos de transtornos mentais, entre eles, TDAH.

Muitas pessoas que de outra forma necessitariam de hospitalização

podem se relacionar com a sociedade, sendo auxiliadas por essas

drogas. Por outro lado, há limitações com relação à utilização de terapia

medicamentosa, pois todas as chamadas “drogas terapêuticas” podem

produzir efeitos indesejáveis no quadro da hiperatividade.

Uma grande quantidade de psicólogos, têm, atualmente,

condenado a utilização de medicamentos no tratamento de distúrbios

comportamentais. Eles alegam que os sintomas são aliviados sem que o

paciente e, até mesmo, a família, convivam e tentem se adequar a eles.

Essa adequação, segundo os psicólogos, é proveitosa e ajuda o paciente

a entender melhor o que se passa com ele.

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Desta forma, o foco deste trabalho monográfico não privilegia

a medicação, mas entende que, em alguns casos, deve ser prescrita,

mas como último recurso e, mesmo assim, se a situação do paciente

permitir, este deve ser questionado sobre a utilização ou não desses

psicofármacos.

A adequação sócio pedagógica da criança portadora de um

transtorno comportamental é lucrativa e sábia. A criança que é inserida e

adequada ao ambiente, tendo sua conduta e as especificidades da

mesma respeitadas, aprende a conviver com aquilo que muitos chamam

‘limitações’, mas que na verdade se trata de uma forma peculiar de

comportamento. O respeito a ela deve estar acima de qualquer questão

médica ou social. Os sentimentos da criança devem definir os

parâmetros de qualquer tratamento, seja ele medicamentoso ou não,

partindo-se do pressuposto que não é apenas o comportamento que

estamos medicando ou direcionando, é a vida da criança hiperativa que

está em questão, algo muito maior que uma inadequação

comportamental.

CONCLUSÃO

Ao falarmos sobre o Transtorno do Déficit de Atenção com

Hiperatividade – TDAH, fizemos referência a uma série de infortúnios que tal

inadequação comportamental pode gerar. Todavia, não podemos deixar de

citar o fato de, durante a observação realizada para a elaboração desse

trabalho, a extrema inteligência e capacidade dinâmica de lidar com os

limites, terem sido observadas nos pacientes com hiperatividade.

O objetivo deste trabalho não é somente caracterizar o que já é

descrito, denominado e rotulado há mais de um século. Tenta-se oferecer

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alternativas que devem ser consideradas antes de se optar definitivamente

pelo uso de psicofármacos.

O fato de se utilizar a medicação psicoterapêutica como forma de

domínio sócio-educacional chamou-nos a atenção por não se tratar de um

caso isolado, mas de uma forma abrangente de domínio observada em

grande parte dos casos estudados para a elaboração deste trabalho.

As crianças portadoras do Transtorno do Déficit de Atenção com

Hiperatividade – TDAH não devem ser tratadas como objeto de domínio

gerado através do uso de medicamentos e sim, ter a sua integridade

assegurada através de formas alternativas e inteligentes de tratamento.

Segundo Doman-Delacato, “a forma de se conduzir o início de um

tratamento, pode gerar sérias implicações no decorrer da vida que está

sendo conduzida por ele”.

ANEXOS

Índice de anexos

Anexo 1 - Entrevista Anexo 2 - Reportagem Anexo 3 - Internet: depoimentos retirados do site www.geda.com.br Depoimento 1: O pai que tremia a mesa

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Depoimento 2: A mãe que inventava doença Depoimento 3: O pai que tinha medo do passado Depoimento 4: O menino que esquecia de lembrar Depoimento 5: Tal pai, tal filho Depoimento 6: A mãe que era uma chata!

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ANEXO 1

Entrevista

A entrevista a seguir foi realizada pela aluna Tais Oliveira de

Amorim da Silva em 11 de junho de 2003, na Universidade Federal do Rio

de Janeiro, com J.S.daS., mãe de uma criança diagnosticada hiperativa

recentemente. A criança, C.A.da S. já se encontra em tratamento através de

terapias e o auxilio de medicação.

TS: Você pode falar um pouco do seu filho pra mim, como ele é o que ele

gosta de fazer?

J.S.daS.:Meu filho é uma criança normal. Ele é mais ou menos... É normal,

mas tem problemas. Os médicos disseram que não é muito grave, que ele

pode controlar, mas mesmo assim ta sendo muito difícil pra gente.No

começo todo mundo dizia que ele era meio maluquinho, porque não parava

quieto um minuto. Sempre que a gente ia comer fora, ele ficava andando

dentro do restaurante e todo mundo ficava olhando.

TS: O que ele costuma fazer que você acha que é diferente das outros filhos

que você tem?

J.S.daS:Uma vez, a gente foi fazer compras e ele ficou pegando tudo que

via e colocando no carrinho. Eu disse pro meu marido que toda criança fazia

isso, mas ele, que estudou muito mais do que eu, disse que aquilo não era

normal. Ele disse que quando uma criança vai fazer compras, ela quer

comprar tudo que ela gosta e, o meu filho, pegava tudo mesmo: cotonete,

água mineral e papel toalha... Ele pegava muitas coisas iguais e se eu não

deixasse ele gritava e todo mundo olhava pra mim.

TS: Como ele é na escola? Dá muito trabalho?

J.S.daS: Na escola foi o mesmo inferno. Hoje, ele tem 10 anos e, até agora,

já colocamos ele em oito escolas. As professoras é que meu marido diz não

têm preparo. Elas dizem que ele não obedece e faz só o que ele quer. Eu já

fui lá, fiquei escondida e vi que é verdade. Agora a escola é boa. É mais

cara, mas a gente se aperta e paga.

TS: O que o médico dele falou pra você?

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J.S.daS: Eu já disse pro médico que quero ver meu filho curado, mas ele

disse que não é assim. Os outros médicos falaram que não dá pra curar, só

controlar. Pior é que eu não consigo fazer nada disso.

TS: Você sabia muita coisa antes de ir ao médico? Já tinha ouvido falar

antes de criança hiperativa?

J.S.daS: Acho que falta informação. Todo mundo conhece Síndrome de

Dawn, Autista, mas ninguém fala sobre isso. No grupo que eu e meu marido

freqüentamos as pessoas conversam enquanto as crianças trabalham. Lá

meu filho faz artes, joga e sempre que consegue, escreve alguma coisa (ele

acaba de aprender até o J, e a professora disse que até o fim do ano ele já

vai saber o resto). Ele é muito bom de continhas e quando a gente vai

comprar alguma coisa ele fica repetindo quando vai ser o troco, ás vezes até

grita. No começo eu tinha vergonha, agora acostumei.

TS: O que você acha dele tomar todos esses remédios? Como é que ele fica

depois que toma os medicamentos que o médico passou?

J.S.daS: Eu não gosto de dar isso não. Meu marido acha que ele precisa,

porque todas as outras crianças lá tomam até mais remédio que ele. Eu não

gosto de dar, porque ele não é do jeito que fica quando toma o remédio. Eu

já mudei o horário do remédio por conta própria, porque atrapalhava na

escola. Já até percebi que ele fica estranho, calmo demais, e quando vai

chegando a hora de tomar de novo, ele parece que tá triste. Meu marido

disse que tem remédio que deixa a criança triste e, até mesmo, com

depressão. Eu não sei se meu filho fica chateado porque tem que tomar de

novo o remédio, ou se é o remédio que deixa ele triste. Da primeira vez que

ele tomou, tremeu um pouco. Fiquei com muito medo.

TS: Obrigada, o que você está dizendo vai ajudar muitas pessoas como

você e eu, que queremos saber mais sobre a hiperatividade e como ajudar

as pessoas que precisam.

J.S.daS: Eu não sei se posso ajudar alguém com o que eu estou falando,

mas queria. Ninguém me ajudou quando isso começou e, quando a gente

tem ajuda tudo fica muito, muito mais fácil. Antes eu não sabia o que fazer,

agora sei.

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ANEXO 2

REPORTAGEM (Texto retirado do Jornal da Família – O GLOBO, 20/04/97) “Transtorno surge em graus variáveis, a partir dos 7 anos, mas é

curável.

Crianças que vivem no ‘mundo da lua’, adolescentes que jamais

se concentram e adultos capazes de perder aquele documento essencial

costumam sofrer de um mal ainda pouco diagnosticado: o transtorno do

déficit de atenção, o T.D.A., associado ou não à hiperatividade.

Para facilitar a detecção do problema, que afeta cerca de 5% da

população infantil dos EUA, a equipe do psiquiatra Paulo Mattos, professor

adjunto de psiquiatria da Faculdade de Medicina da UERJ, criou o TAVIS

(Teste de atenção visual), primeiro teste neuropsicológico computadorizado

deste tipo projetado no Brasil.

O teste é um instrumento a mais para distinguir o déficit de

atenção de outros problemas infantis, como a Dislexia. O T.D.A. não

distingue sexo nem classe social, embora afete, sobretudo meninos. Quanto

mais exigentes e tradicional a escola, mais sofre a criança, cujo

comportamento irrequieto pode acabar fazendo com que seja rotulada de

preguiçosa ou pouco inteligente. È comum que esse tipo de criança nunca

termine os deveres de casa e relute em participar de tarefas que exijam

esforço mental constante.”

O Déficit nada tem haver com pouca inteligência, afirma o

psiquiatra. Crianças inteligentes, mas que apresentam o déficit, em graus

variáveis, podem tornar-se desmotivadas e rebeldes, com reflexos que se

estendem até a vida adulta:

- Nem sempre as pessoas entendem porque a criança

habitualmente desatenta é capaz de ficar quieta durante horas, envolvida em

algo que lhe dá prazer, como assistir a um desenho animado na televisão. È

que nas situações prazerosas o cérebro supera o núcleo deficitário. Isso

também acontece com o adulto – diz Matos.

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O tratamento do Déficit é mais fácil na infância, segundo o

médico. Mas só deve ser feito se houver sintomas permanentes e não uma

desatenção passageira. O TAVIS, que Matos já aplicou em quase 300

crianças e jovens dos 7 aos 17 anos, avalia a seletividade, a alternância e a

sustentação da atenção. Erros por ação e omissão, além do tempo de

resposta, são levados em conta. O médico diz que não há consenso sobre

as causas da doença. O tratamento inclui psicoterapia, reabilitação cognitiva,

exercícios de concentração e até medicamentos.”

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ANEXO 3 Internet

Os depoimentos que se seguem foram retirados do Grupo de

Estudos de Déficit de Atenção – GEDA, que existe desde 1999 no Instituto

de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro e realiza

atendimentos gratuitos a crianças com o Transtorno do Déficit de Atenção

com Hiperatividade.

Depoimento 1: O pai que tremia a mesa Eu sabia que o meu filho era hiperativo, mas não tinha idéia que isto era uma doença. Achava que era um jeito que algumas crianças tinham, só isso. Depois que o médico falou que era inclusive genético é que reparei que o meu marido também tem os sintomas: é inquieto, não para sossegado para fazer nada, nem ler o jornal. Só então é que entendi aquela mania horrorosa que ele tem de ficar balançando as pernas, sempre, o tempo todo. Tem vezes que a mesa fica até tremendo de tanto que ele balança.Já o meu filho não consegue estudar porque não consegue passar mais de 3 ou 4 minutos lendo o livro e o caderno. Olha para o lado, pergunta alguma coisa que não tem nada a ver com o estudo (aí eu descubro que ele estava pensando em outra coisa), pede água, faz um comentário sobre algo inteiramente diferente do assunto do estudo. Não pára de se mexer na cadeira e fica inquieto com as mãos e os pés. No início eu ficava louca e o forçava a ficar parado e calado até acabar o estudo. Demorei para descobrir que não adiantava nada e ainda acabava tornando meu filho neurótico - e eu mais ainda. Não conseguia mais ser carinhosa, porque o tempo todo estava chamando a atenção e reclamando que ele não estudava.Demorei para descobrir - e foi uma psicóloga que explicou isto numa palestra - que no caso do DDA não se trata de "não querer" mas sim de "não poder". Não poder estudar direito, não poder ficar quieto, não poder esperar sua vez, não poder ficar sem mexer em tudo. Quando enfiei isto na minha cabeça, comecei a ver o meu filho como uma criança que tem problemas e não apenas mau comportamento, má vontade, preguiça, etc. Mas é realmente muito difícil para uma mãe que tinha mil sonhos na cabeça, mil planos disto e daquilo, ter um filho que é diferente dos demais e só dá motivos para castigos. Depoimento 2: A mãe que inventava doença Tenho vergonha porque acham que meu filho é mal-educado. Mas não é. Podemos ensinar como fazer isto e aquilo, mas ele não faz. Sempre educamos ele da melhor forma possível, tenho absoluta certeza. Mas ele é

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um "bicho carpinteiro" o tempo todo e, logo que chega num lugar - pode ser mesmo uma casa estranha - já está mexendo em tudo, não pára sentado para conversar ou jogar qualquer coisa que seja com as outras crianças. Interrompe as conversas dos adultos e fica pedindo um milhão de coisas, não deixa ninguém relaxar e conversar. Isto quando não quebra nada, porque é muito estabanado.A professora no colégio não entende direito o que é DDA. Vive escrevendo bilhetes para mim, fazendo reclamações e insinuando que se trata de "falta de limites" e má-educação dada pelos pais. Ela o coloca de castigo pelo menos duas vezes por semana e eu sempre estou indo conversar no colégio. Já levei atestado do médico, recortes de jornal sobre o que é DDA e uma cópia impressa do site da Associação. Mas parece que as pessoas acham que se trata de mais uma "invenção", uma doença que na verdade não existe. Para piorar, a psicóloga indicada pelo colégio também disse que não era um caso de DDA, disse que o problema era psicológico e que deveríamos fazer terapia de família.As outras crianças já estão começando a rejeitá-lo, porque ele não espera a sua vez e cada hora quer uma brincadeira diferente. Eu e meu marido estamos cansados. Ele não puxou nem a mim nem ao pai, mas temos muitos casos de depressão e também de alcoolismo na família. A médica explicou que pode ter alguma relação entre as coisas. Talvez o irmão do meu marido tenha também DDA, acho que foi hiperativo quando criança, mas como sofre de depressão e abusa de bebida, fica difícil dizer hoje em dia.O meu filho melhorou com a medicação inicial, mas ainda é muito hiperativo e desatento. Com esta história, acabei conhecendo várias mães que também tem filhos com DDA e que melhoraram muito, mesmo. Depoimento 3: O pai que tinha medo do passado Não queria me meu filho acabasse como eu. Tenho certeza que ele também tem DDA, como eu, só que na minha época se falava em "disfunção cerebral mínima" e hiperatividade. Nunca tomei remédio, mas fiz vários tratamentos. Eu era bom aluno, mas apenas no que se referia à notas, no comportamento eu era bem bagunceiro. Bem, nas matérias que eu não gostava, as notas eram ruins, porque não tinha a menor paciência para estudar. Quando eu gostava, como química, tirava de letra. Era tudo uma questão de gostar ou não gostar, como até hoje ("só presta atenção no que lhe interessa"). Entrei para a faculdade e comecei a usar drogas, em parte porque sempre estive atrás de emoções, coisas estimulantes. Talvez seja uma desculpa, não sei. Mas nunca gostei das coisas monótonas, chatinhas, tradicionais. Se for "meia-bomba" para mim não serve. Quando criança os meus brinquedos nunca eram do tipo "banco imobiliário" ou livros para desenhar. Sempre tinha que ter muita ação e, se possível, perigo. Deu no que deu, não consegui acabar o curso superior e também não parava em emprego nenhum. Nunca chegava na hora, não tinha paciência para fazer coisas repetitivas e que eu achava sem importância. Mas quem

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ira me dar coisas importantes para fazer ? Também era muito desorganizado e nunca lembrava das coisas que tinham me incumbido de fazer ou que eu mesmo tinha agendado. Hoje não uso mais drogas, mas também acho difícil recuperar o tempo perdido. A desatenção continua a mesma de sempre, não consigo ler um manual de coisa nenhuma, porque me "enjôo" e começo a pular as páginas e os capítulos até chegar onde quero. Eu sei que todo mundo acha chato manual, mas comigo é muito, muito difícil, mais do que para a maioria dos meus amigos. Nunca li um livro até o final, você acredita? Aliás, com tudo é assim: ponho o carro na frente dos bois. Não agüento esperar nada, não tenho paciência para filas, qualquer coisa que me faça esperar. Tem que ser tudo ali, na hora. Geralmente, me dou mal. O meu filho também é assim, espero que não siga minha trilha. Depoimento 4: O menino que esquecia de lembrar Esta história de que tem DDA tem mau desempenho na escola não é verdade para todo mundo, pelo menos para o meu filho. Ele sempre passou de ano e tem DDA "de livro", todos aqueles sintomas que vocês descrevem. Não pára quieto um minuto, vive com um motor ligado (exceto quando resolve dormir, aí parece que é uma pedra, mesmo durante o dia, é uma coisa incrível) e é totalmente impulsivo. Não pensa antes de agir ou responder. Resolve fazer tudo ao mesmo tempo e estuda com a TV e o rádio ligados ao mesmo tempo. Estuda comigo na véspera da prova e eu tomo a matéria toda, fico satisfeita que ele está sabendo tudo. Muito bem, no dia seguinte ele erra na prova exatamente aquilo que estudei com ele na véspera. Quando tenho um "ataque" e pergunto se ele não sabe aquilo, ele responde certinho. Eu ainda não entendi porque na hora da prova ele não consegue lembrar. Acho que fica avoado, não sei o que é. Ou então não lê a pergunta até o final, ou lê rápido "sem fixar" o que está escrito e responde qualquer coisa.Vive com a cabeça no mundo da lua, nunca sabe quando tem prova ou que levar alguma coisa para a escola. É um sofrimento, vive sendo criticado pela professora. Mas apesar disto tudo, o safadinho fica com medo quando as coisas se tornam pretas, o pai ameaça que vai tirá-lo da escola, etc. e estuda para valer e acaba passando de ano. É sempre a mesma coisa: tenho que chamar para estudar durante todo o tempo e as notas são "mais ou menos"; quando ele quer, entretanto ele tira notas ótimas. Quem tem DDA precisa ter um reforço externo o tempo todo, senão nunca consegue aproveitar o seu potencial, eu acho. O problema é quando não tiver ninguém "no pé" dele, cobrando, estimulando, forçando... Depoimento 5: Tal pai, tal filho Meu filho sempre foi agitado, não parava quieto nem para comer. Na sala de aula ele levantava sempre e não parava. Na hora de fazer o dever de casa,

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a mesma coisa, se mexia o tempo todo, o material caía, a lição ficava por fazer porque ele não dava conta (como ainda não dá). Estava sempre no mundo da lua, desligado mesmo. a gente chama para comer, ele demora para vir. A gente chama para ir embora de um lugar, ele demora. A gente chama e ele parece que está no mundo da lua. Na hora das provas ele erra por desatenção. E não para quieto. Sempre achei que ele era diferente, mas como ele é muito inteligente, pensava que era por isso. Ele andava nos lugares como se andasse a esmo, pensando no nada. Que angústia! Meu marido dizia que eu estava procurando problema onde não havia, que ele (o pai) quando criança também era assim. E que eu era muito mole na hora de fazer o dever, que deveria por o garoto sentado até que ele acabasse o dever, mas eu até que fazia isso e só desgastava mais o relacionamento tanto meu com o meu filho, quanto meu com meu marido.Ele foi diagnosticado como tendo o TDAH (subtipo Combinado) associado com Distúrbio da Matemática e também Distúrbio da Expressão Escrita.Bom, com relação ao meu marido, acho que ele também tem o mesmo distúrbio, porque não consegue ficar em casa sem fazer nada. Todos os dias ele chega do trabalho e arranja algo para fazer fora de casa. Dorme muito tarde e, como acorda muito cedo, está sempre sonolento. Interrompe o que os outros estão falando. Não completa o que está falando. É confuso no falar, ou seja, é do tipo que enrola (meu filho também dá uma volta imensa para falar). Não entende prontamente o que os outros estão falando, mesmo as coisas mais simples. Esquece facilmente das coisas. Quando a gente chama está no mundo da lua. Depoimento 6: A mãe que era uma chata! Sou separada, 32 anos, mãe de duas crianças. Meu filho tem TDAHI e eu tenho estudado muito, pesquisado para poder entender e ajudá-lo. Minha rotina é esta: levanto-me às 6 da manhã e já começo a chamá-lo, para que às 7:10 ele ainda não esteja pronto (geralmente ele termina de arrumar-se dentro do carro, ou escovar os dentes ou cabelos na escola). Na sala de aula é a mesma coisa, ele se senta ao lado da professora, e várias vezes ela lhe chama a atenção para que produza. Lição de casa (eu choro quando tem) ele passa a noite toda (eu trabalho o dia todo, retorno às 17hs) para fazer o mínimo, já tentei tudo que vocês podem imaginar: castigos, promessas; cortei videogame, TV e bicicleta, mas nada adianta. O dia que ele precisa estudar alguma lição, as coisas pioram. Já tentei colar cartazes pela casa, (da tabuada, por exemplo, do que ele precisa fazer, do que ele não pode fazer), mas que nada: quando eu o cobro ele diz "IH, ESQUECI!". E esquece mesmo. Se hoje eu estudo o dia todo a "tabuada do número 2" com ele, ele me responde de "cor e salteado"; quando ele chega na sala não lembra mais. Os seus cadernos, ninguém entende, seu números são irreconhecíveis, não consegue organizar-se, não consegue administrar seu dinheiro, seus brinquedos, seu guarda-roupas (ele conseguiu revirar até

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o que ele não precisava mexer). Materiais escolares, simplesmente evaporam de sua mão, e ele não consegue achar.O pai dele acha que isso tudo é normal, que se ele não gosta de estudar eu tenho que deixar de ser "chata". Como se não bastassem suas dificuldades escolares, tenho encontrado muita dificuldade quanto a colocar limites, ele por vezes me enfrenta, é mal educado, responde-me e quer dar a última palavra.

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BIBLIOGRAFIA ATKINSON, Rita L. Introdução à Psicologia de Hilgard. 13ª.ed. Porto Alegre: Artmed, 2002. CORDIÉ, Annie. Os atrasados não existem. Porto Alegre: Artmed, 1996 FADIMAN, James & FRAGER, Robert. Teorias operacionais da personalidade. São Paulo: Harbra, 1986. FREIRE, Izabel Ribeiro. Raízes da psicologia. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. HOUAISS, Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. 1ª.ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. JERUSALINSKY, Alfred. Psicanálise do desenvolvimento infantil. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 1999. LAROSA, Marco Antonio & AYRES, Fernando Arduini. Como produzir uma monografia passo a passo...Siga o mapa da mina. Rio de Janeiro: Wak, 2002. SCHWARTZMAN, José Salomão. Transtorno do déficit de atenção. São Paulo: Mackenzie, 2001. TELLES, Maria Luiza Silveira. Aprender Psicologia. 3ª.ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. TOPCZEWSKI, Abraham. Hiperatividade: como lidar?. 2ª.ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

SUMÁRIO 6

INTRODUÇÃO 7

CAPÍTULO I 9

Hiperatividade

1.1 - Fatores que podem desencadear o comportamento hiperativo infantil

1.2 - Características do comportamento hiperativo

1.3 – A diagnose do comportamento hiperativo

CAPÍTULO II 23

O Tratamento da Hiperatividade

CAPÍTULO III 28

Medicações como Forma de controle

3.1 – a medicação psicoterapêutica

CONCLUSÃO 36

ANEXOS

BIBLIOGRAFIA 47

ÍNDICE 48

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes

Título da Monografia: Medicalização da Hiperatividade Infantil:

Forma Dissimulada de Domínio Sócio-Educacional

Autor: Tais Oliveira de Amorim da Silva

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito:

Avaliado por: Conceito:

Avaliado por: Conceito:

Conceito Final:

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Atividades Culturais