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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
INTERAÇÃO ENTRE PSICOLOGIA COMUNITÁRIA E TERAPIA
DE FAMÍLIA NO APOIO A FAMÍLIAS COM MEMBRO
ESQUIZOFRÊNICO
Por: Gilson Rufino de Santana
Orientador
Prof. Edla Trocoli
Rio de Janeiro
2011
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
INTERAÇÃO ENTRE PSICOLOGIA COMUNITÁRIA E TERAPIA
DE FAMÍLIA NO APOIO A FAMÍLIAS COM MEMBRO
ESQUIZOFRÊNICO
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de pós graduação em Terapia de Família
Por: Gilson Rufino de Santana
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DEDICATÓRIA
Em especial, à minha esposa cujo
companheirismo continua sendo
fundamental para minha vida particular e
profissional.
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RESUMO
As dificuldades pelas quais passam famílias carentes que vivem em
comunidade com poucos recursos e que tem um membro com esquizofrenia
aumentam na medida em que o poder público se distancia do cumprimento dos
seus deveres.
Entendemos como responsabilidade dos governos o fornecimento
dos recursos de saude pública acessivel a quem necessite deles. No caso
específico da doença mental, torna-se necessário o envolvimento de mais de
uma especialidade profissional.
Como há a necessidade de medicamentos, é primordial o recurso da
medicinal psiquiátrica, porem, quando esta é aplicada de forma isolada, a
família mostra algumas outras necessidades, tais como: apoio social, na busca
dos outros recursos possíveis e o apoio psicológico para o membro afetado e
para os familiares cujo suporte se reveste de grande importância para o
ambiente familiar.
O apoio psicológico, de forma específica para a família pode ser
encontrado nos profissionais aptos à terapia de família. Porem, outros aspectos
relevantes devem ser considerados, como os da esfera social dentro da
comunidade em que vivem. Esta funcionalidade encontra-se na psicologia
comunitária.
Este trabalho monográfico visa mostrar aspectos de cada área em
que este tratamento está fundamentado e a importância das suas utilizações.
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METODOLOGIA
O acompanhamento, ainda que à distância, de uma família com um
dos filhos esquizofrênico, forneceu a ideia principal e informações sobre a sua
realidade, a pesquisa em livros, como o Compêndio de Psiquiatria, alem de
pesquisas em “sites” específicos sobre psiquiatria e psicologia comunitária e
terapia de família foram os métodos utilizados nesta produção monográfica.
Estas fontes de pesquisa encontram-se relatadas na área de
Bibliografia.
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I – ESQUIZOFRENIA
II. PSICOLOGIA COMUNITÁRIA 2.1. Objetivos da psicologia comunitária.
2.1.1 Visões contrárias. 2.1.2 Comunidade e associação.
2.2 Ética da comunicação e dinâmica social. 2.3 Psiquiatria, definição. 2.4 Programa de pesquisa e prevenção. 2.5 Estrutura de uma comunidade terapêutica.
2.5.1 Diagnóstico da condição geral da comunidade. 2.5.2 Diagnóstico sócio-psiquiátrico.
2.6 Experiências em psicologia na comunidade.
2.6.1 Experiências na área da saude mental da população. 2.6.2 Experiências em grupos de mulheres e de jovens nos bairros. 2.6.3 Experiências em instituições populares.
2.7 Publicações de pesquisas participantes. 2.8 Saude na comunidade colonial. 2.9 A intervenção na comunidade - Ação terapêutica.
2.9.1 Depoimento de Haun Grunspun. 2.10 Psicologia e saude mental.
2.11. Psicologia Clínica, Sociedade e Classes Sociais
2.12 Diferenças entre modelo clínico e comunitário.
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2.11.1 Atendimento.
2.13. Informações de SPAs federais e particulares do Brasil. 2.13.1 Puc do Rio de Janeiro. 2.13.2 Universidade federal da Paraíba. 2.13.3 Federação das faculdades Celso Lisboa. 2.13.4 Universidade de São Paulo. 2.13.5 Universidade Santa Úrsula. 2.13.6 Puc de Minas Gerais. 2.13.7 Cooperativa educacional dos docentes da faculdade de humanidade Pedro II do Rio de Janeiro LTDA. 2.13.8 Spa de Salvador. 2.13.9 Comunidade religiosa.
III. TERAPIA FAMILIAR
IV. Conclusão.
V. Bibliografia.
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INTRODUÇÃO:
A história dos serviços comunitários de psicologia confunde-se com
a própria evolução da psicologia no Brasil, pois a partir de sua criação
ocorreram algumas mudanças significativas para a profissão, como o
reconhecimento desta, a nível de legislação, proporcionando a igualdade com
outras profissões e levando o psicólogo a ter mais um campo de atuação.
O atendimento comunitário ja existe ha mais de 20 anos e, para os
terapeutas pesquisados, não existe diferença no trabalho do profissional, seja
particular ou comunitário. As mudanças são decorrentes das necessidades
inerentes a singularidade de cada indivíduo, independente de sua categoria
socio-econômica.
A psicologia comunitária compreende o setor de atendimento
psicoterápico tendo como finalidade atender as necessidades do grupo na
família, na escola, trabalho, hospital, etc...
Como aspecto positivo, a psicologia comunitária oferece
atendimento a população menos favorecida, uma vez que o atendimento
psicológico é destinado, principalmente, a elite. No entanto, muitas questões
precisam ser aprofundadas a fim de que o atendimento psicoterápico contribua
realmente para a saude mental e melhoria na qualidade de vida da população.
A escolha deste tema foi em função da proximidade de uma família
cujas dificuldades foram marcantes, com sequelas emocionais e financeiras,
pois o programa de atendimento social era precário e o psicológico inexistia na
comunidade onde viviam. Neste caso, resumiam-se ao acompanhamento
psiquiátrico e ao eventual fornecimento de medicações.
Como objetivo deste trabalho, tem-se demonstrar alguns aspectos
da atuação da psicologia comunitária, seus benefícios a comunidade,
problemas e dificuldades encontrados, as dificuldades que ocorrem quando a
atuação se dá em conjunto com a psiquiatria e a terapia familiar. O futuro da
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Psicologia Comunitária e o da Terapia Familiar é difícil de ser previsto, num
país onde o que importa é toda uma teoria.
Capítulo I
ESQUIZOFRENIA
Esta doença mental foi muito bem descrita no filme “Uma Mente
Brilhante”, baseado em fatos reais, em que Russel Crowe faz o papel de John
Forbes Nash Jr, um brilhante matemático vencedor de um prémio Nobel, que é
esquizofrénico.
Como exposto no filme, esta doença se manifesta atraves de
alucinações visuais e auditivas, delírios tão reais que levam a pessoa a
comportamentos fora do que se entende como normalidade. O julgamento fica
completamente prejudicado, uma vez que a percepção está baseada numa
realidade exclusiva do portador da doença.
Esquizofrenia – Psiq. Afecção mental caracterizada pelo
relaxamento das formas usuais de associação de idéias,
baixa de afetividade, autismo e perdade contato vital com
a realidade; demência precoce. (Ferreira, 1986, p.713)
Esta descrição da doença fornecida pelo Novo Dicionário da Língua
Portuguesa coincide com a escrita no Compêndio de Psiquiatria, quanto à
perda do contato vital com a realidade.
De acordo com este compêndio, não se conhece a causa da
esquizofrenia, mas uma boa quantidade de pesquisas elaboradas na década
passada, atribui um papel fisiopatológico a certas áreas do cérebro, incluíndo
sistema límbico, córtex frontal e gânglios basais. A interconexão dessas áreas,
pode ser responsável pelo surgimento de uma patologia primária numa área,
afetada pela disfunção de outra.
11
O título do filme e o enredo nos dão uma informação bastante
significativa quando fala de “uma” mente brilhante, tentando mostrar que é
possível uma convivência consciente com a esquizofrenia. Esta é uma
excessão, pois, no geral não é assim que funciona, as pessoas ficam sem o
entendimento de que são afetados pelos sintomas e embarcam nas suas
realidades próprias. John Nash lutou Durante décadas contra uma demência
que o fez pensar que era um espião decifrador de códigos a trabalhar para o
FBI.
A maioria das doenças psiquiátricas são muito difíceis de
diagnosticar e a esquizofrenia não constitui excepção, uma vez
que não existem testes que possam identificar alguém com
esquizofrenia. O diagnóstico depende da exclusão de outras
causas que possam originar sintomas semelhantes aos da
esquizofrenia (tais como abuso de drogas, epilepsia, tumores
cerebrais e disfunção tiroideia). É importante excluir outras
doenças, porque algumas vezes as pessoas têm sintomas
mentais graves, ou mesmo psicoses, devido a situações
médicas subjacentes que não são diagnosticadas. Por este
motivo, uma história clínica deve ser colhida e um exame físico
e testes laboratoriais devem ser efectuados para excluir outras
causas possíveis, antes de concluir que alguém sofre de
esquizofrenia. Além disso, como as drogas que se consomem
habitualmente podem causar sintomas semelhantes aos da
esquizofrenia, devem ser pesquisadas estas substâncias em
amostras de sangue ou de urina dos doentes em causa. (Cilag,
2003)
Sobre o processo de diagnóstico, este leva tempo e deve ser feito
com muita calma e atenção, levando em conta muitas variáveis físicas, mentais
e sociais. Quando outras causas puderem ser descartadas, o diagnóstico
poderá ser concluido pelo médico psiquiatra, com o relato da família, levando
em conta, tambem, o do próprio doente. Geralmente pode provocar problemas
e/ou atrasos no diagnóstico porque muitos sintomas de esquizofrenia só podem
se tornar evidentes quando a doença já se encontra em estado avançado.
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Ainda assim, para que o diagnóstico possa ser estabelecido, os sintomas
devem estar manifestos pelo menos no período de seis meses.
As alucinações, a vivência dessa realidade própria tomam conta da
vida do doente de forma tão real que fica, praticamente, impossível a fuga para
a realidade das outras pessoas, quando a crise está instalada. Para quem não
teve o privilégio de nascer dotado de capacidades mentais acima da média e
não conseguiu desenvolver estudo capaz de reconhecer o funcionamento de
uma mente “dividida” a ponto de identificar distorções da realidade, não
consegue levar a vida da forma como foi tratada na cena do filme em que
Nash, ao receber a comunicação de um visitante, perguntou à uma aluna se
ela estava vendo alguem falando com ele.
O início dos sintomas ocorre na vida adulta (idade média de 25
anos), sendo mais precoce em homens do que em mulheres. A
doença afeta uma em cada 100 pessoas ao correr da vida.
Cerca de 80% dos acometidos desenvolvem recidivas e
sintomas crônicos. No Brasil, faltam avaliações
epidemiológicas amplas sobre a ocorrência de psicoses.
Estudo multicêntrico de morbidade psiquiátrica em áreas
urbanas2 estimou taxas de prevalência de 0,3%, 0,9% e 2,9%
na população com idade acima de 14 anos em Brasília, São
Paulo e Porto Alegre, respectivamente. (Wannmacher, 2004)
Quando ocorre surto psicótico, são utilizados medicamentos
antipsicóticos (principalmente os mais sedativos) com o objetivo de reduzir os
sintomas e prevenir maiores danos que ocorrem como resultado de possível
agressividade, tendo como resultado a melhora do funcionamento social do
indivíduo.
“...após a introdução da Clozapina, um antipsicótico atípico
com efeitos neurológicos mínimos, ocorreram pesquisas
significativas envolvendo outras drogas antipsicóticas atípicas,
particularmente a Risperidona e a Remoxiprida.” (Kaplan,
Sadock e Grebb, p.439)
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A indústria farmacêutica vem crescendo a cada ano e em muitas
linhas medicamentosas, graças às pesquisas que são desenvolvidas.
Embora a esquizofrenia seja discutida como se fosse uma
única doença, bastante provavelmente inclui vários outros
distúrbios que se apresentam com sintomas
comportamentais... Os médicos devem observar que o
diagnóstico de esquizofrenia baseia-se inteiramente na história
psiquiátrica e exame do estado mental. Não existem exames
laboratoriais. (Kaplan, Sadock e Grebb, 1990, p. 269)
O termo “esquizofrenia” conforme o suíço Eugen Bleuler significa a
divisão da consciência entre pensamento, emoção e comportamento.
Buscando informações sobre pesquisas realizadas para definir se existe
diferenças entre homens e mulheres quanto as quantidades de acometimento
por sexo, o Compêndio de Psiquiatria traz a seguinte descrição:
A esquizofrenia tem igual prevalência entre homens e
mulheres. Entretanto, os dois sexos mostram diversas
diferenças no início e curso da doença. Os homens tem um
início mais precoce da esquizofrenia do que as mulheres. Mais
de metade de todos pacientes esquizofrênicos do sexo
masculino, mas apenas um terço das mulheres esquizofrênicas
tem sua primeira baixa psiquiátrica antes dos 25 anos. As
idades de pico para o início em homens são de 15 a 25 anos e
de 25 a 35 anos. (Kaplan, Sadock e Grebb, 1990, p. 439)
As famílias afetadas pelo acometimento de esquizofrenia em um de
seus membros sofreram a ainda sofrem algumas discriminações e enfrentam
dificuldades extras, principalmente as famílias que vivem em comunidades
carentes, onde a escassez de recursos é mais freqüente.
O esquizofrênico é uma pessoa diferente, não é uma aberração.
Tende a ser um ser humano que funciona dentro da normalidade quando está
fora da crise. Quando em crise, em geral não é violento ou perigoso. A
agressividade verbal ou física decorre dos delírios ou alucinações que são
parte dos sintomas, o que podem fazê-los sentir-se ameaçados. Nesses
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momentos, é importante manter a calma e conversar com a pessoa sem
provocá-la, tratando de manter um diálogo o mais franco possível falando com
a maior tranquilidade que conseguir.
Em muitos casos, em virtude desta possível discriminação, aliada às
dificuldades encontradas na condução do tratamento e da carência de recursos
financeiros ou estruturais da família e da comunidade onde vive, a tendência é
abandonar ou falhar na frequência às consultas, exames e no uso das
medicações, diminuindo assim, as chances de um convívio mais harmônico em
família e comunidade.
A pesquisa genética em esquizofrenia sofreu importantes
avanços. Os estudos de ligação iniciais sugerem ser difícil a
detecção de um gene único de "efeito maior", quando
realmente presente. Estudos prévios indicam ser a herança
poligênica/multifatorial, com a presença de interações
epistáticas entre genes de pequeno efeito. A detecção de tais
genes, tarefa esta anteriormente considerada desencorajadora,
torna-se possível à medida que aumenta a disponibilidade de
técnicas rápidas e automatizadas de rastreamento de todo o
genoma. Para que esses estudos familiares possam ser
realizados, é necessário que a população estudada contenha
famílias grandes e estáveis. Nesse sentido, os países sul-
americanos são bastante atraentes para a pesquisa de
genética da esquizofrenia. (Chowdari & Nimgaonkar, 1999)
Outro problema relatado no Compêndio de Psiquiatria, diz respeito à
camada mais carente de recursos financeiros e/ou familiares, trata-se das
dificuldades encontradas pelos hospitais psiquiátricos na manutenção em
regime de internação de alguns ou muitos doentes esquizofrênicos, forçando a
alta sem que o mesmo tenha condição de continuar o acompanhamento
ambulatorial, ou até algum sinal ou possibilidade, dentro do seu quadro, de
homeostase.
O problema dos desabrigados nas grandes cidades pode estar
relacionado com a alta hospitalar de pacientes esquizofrênicos
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que não estavam adequadamente engajados num serviço de
acompanhamento. (Kaplan, Sadock e Grebb, 1990, p. 440)
Quando, de alguma maneira o poder público está presente
fornecendo algum tipo de benefício, a família passa a ter um ganho secundário,
caracterizando-a como “família doente”, caso não tenha interesse na
progressão da pessoa acometida pela esquizofrenia.
Já no filme O Solista, protagonizado por Jamie Foxx, contando a
história de Nathaniel Ayers, que, quando estudava música na famosa escola de
artes performáticas Juilliard, de Nova York desenvolveu esquizofrenia no seu
segundo ano e em função disto, acabou como sem- teto nas ruas do centro de
Los Angeles, onde tocava violino e violoncelo, pois não tinha a quantidade de
recursos de que dispunha a família de Nash.
Tocava as sinfonias de Beethoven de cabeça mas não conseguia
terminar coerentemente algumas sentenças. Igualmente a Nash, a
esquizofrenia não ocultou ou apagou o seu talento, ao contrário, ele
permaneceu e foi mostrado a quem, realmente interessava, o próprio Ayers.
Tocava solitário ao exercer o seu dom, não se importando com plateia.
Um outro solitário o encontrou, gostou do que viu e ouviu e
desenvolveu uma amizade com ele, amenizando, de certa forma sua situação
de mendicância. Mas a verdadeira carência estava no jornalista solitário que
apoiou Nathaniel. Ele sim estava em crise existencial. A pessoa com
esquizofrenia vive em outra realidade, pode até sofrer, mas não entende ou
sabe se sofre e parece não se preocupar com o sofrimento, se é que existe.
Provavelmente a esquizofrenia é a doença mental que apresenta
maiores dificuldades para todos os envolvidos. As enormes perturbações
sofridas pelos doentes são a causa de mal estar, principalmente nos familiares
e nos amigos. São afetados profundamente, devido à angústia de verem os
incômodos efeitos da doença na pessoa próxima, alem da sobrecarga da
assistência que se veem obrigados a dar ao doente.
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A recordação de como era a pessoa antes da apresentação dos
sintomas da esquizofrenia pode ser bastante difícil para os membros da família.
Apesar das evidências do contrário, existem pessoas que se sentem culpados
pela esquizofrenia de seus filhos. Ora, há que se pensar.
A esquizofrenia é uma doença complexa, que se pensa
ser devida a um número de factores actuando em
conjugação. Estes factores parecem incluir influências
genéticas, traumatismos (lesões) do cérebro ocorrendo na
altura do nascimento ou no período envolvente,
juntamente com os efeitos do isolamento social e/ou
stress. Outros parâmetros podem também ser
importantes, mas nenhum factor pode ser incriminado
isoladamente como causa da esquizofrenia. Em vez
disso, pensa-se que cada um destes factores pode
aumentar o risco de que uma pessoa venha a
desenvolver sintomas. (Cilag, 2003)
Uma das mais frequentes atitudes da pessoa esquizofrênica é a
saida de casa com o objetivo de andar, como se procurasse alguma coisa em
algum lugar distante, e assim, caminham por quilômetros, convivendo com as
mais difíceis situações, não se dando conta das intempéries encontradas.
Parece que não encontra motivos para voltar, ou não lembram o caminho de
volta.
Quando isto ocorre, os familiares passam por um período de
“descanso” das atenções ininterruptas que são dedicadas à pessoa doente, ao
mesmo tempo em que percebem um sentimento de culpa por sentirem desta
forma.
Porem, quando encontrado por algum ente querido, lembra dos
laços de união, da casa, mas não consegue dar alguma informação inteligível
do motivo que o fez caminhar sem destino e sem volta. Instado a retornar,
geralmente acompanha pacificamente sem oferecer resistência.
17
Capítulo II
PSICOLOGIA COMUNITÁRIA
2.1. OBJETIVOS DA PSICOLOGIA COMUNITÁRIA
A palavra comunidade vem sendo usada para designar a
"instrumentalização" de conhecimento e técnicas psicológicas que passam a
contribuir para uma melhoria na qualidade de vida das pessoas e grupos
distribuidos nas inúmeras aglomerações humanas que compõem a grande
cidade.
Comunidade é um movimento de aproximação do cotidiano das
pessoas, onde a grande parte da população vive, organiza-se e cria seus
canais de expressão.
A psicologia Comunitária foi criada para dar uma nova forma de
pensar e praticar a psicologia, diferente da tradicional utilizada até o final dos
anos 50 deste século, a qual isolava-se dos problemas coletivos do homem
contemporâneo, pouco preocupando-se com uma atuação social real.
No início do século XX surgiu a psicologia social, definida a princípio,
como estudo de comportamentos instintivos, depois surgiram os
experimentalistas, que autorizaram o estudo dos comportamentos sociais
através de estímulo-resposta, abstrato e vazio de conteúdo social; isto
descritos somente a nível de aprendizagem de reações individuais a estímulos
proximais, sem estímulos histéricos, econômicos e culturais, que tambem estão
inseridos e dos quais ganham significado e sentido.
Nos anos 70 a psicologia reaproxima-se das ciências histórico-
sociais e é ai que a psicologia comunitária tem sua vez.
Sheldon J. Korchin caracterizou os principais temas que marcam a
psicologia comunitária demonstrando o que ja estava constatado sobre a
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neutralidade da ciência, ou seja, não é neutra nas suas alianças com as forças
econômicas e políticas atuantes na sociedade; não é neutra nas suas
motivações nem na escolha de seu objeto de estudo.
Como primeiro passo para superar uma situação de submissão, a
psicologia comunitária pretende aproximar-se das classes populares, ajudando-
as na conscientização de sua identidade psicossocial de classes submissas e
dominadas.
Paulo Freire destacou na psicologia metodológica da alfabetização
das massas, com uma técnica pedagógica e, tambem,um modelo de trabalho
de aproximação das classes populares, articulando forças vivas de resistência,
de reação crescimento e libertação dos grupos sociais populares.
Cabe a psicologia comunitária trabalhar nos indivíduos e grupos a
visão de mundo; a auto-percepção enquanto pessoas e grupos, a reavaliação
de hábitos, valores, atitudes e práticas individuais e coletivas, familiares e
grupais, no sentido de uma consciência mais plena de classes e destino.
2.1.1. VISOES CONTRÁRIAS
Existem os que visualizam apenas uma atuação, na comunidade
caritativa, em problemas de classes desfavorecidas, dizendo que ao invés de
psicologia na comunidade, deveria ser chamada psicologia populista ou
assistencialista.
Outros visualizam a psicologia comunitária como formação de
psicologia, inseridos nos bairros para controlar morais dos hábitos e
comportamentos desviantes.
Alguns, ainda visualizam como um ativismo político-partidário nos
bairros populares. Infelizmente é assim que são vistos todos os profissionais
que se empenham na psicologia comunitária.
19
2.1.2. PSICOLOGIA E ASSOCIAÇÃO
Os tipos mais importantes da sociedade são as comunidades e as
associações.
Uma comunidade é uma sociedade que possui localização
geográfica precisa e um modo de vida comum; é, portanto, estruturalmente
mais definida do que uma sociedade. Ela pode ser grande ou pequena,
variando em tamanho, desde um povoado ou aldeia até um país de proporções
consideráveis; pode ainda, fazer parte de outra comunidade maior, via de
regra, a comunidade deve possuir órgãos especiais encarregados de controlar
a observância do modo de vida comum e de determinadas regras de conduta
que presidem as relações entre seus membros: tais órgãos, conquanto
características da comunidade superiormente organizada, não lhe são
indispensáveis.
Irene de Mello Carvalho, socióloga, fez a sequinte definição para
comunidade: "grupo de indivíduos, interdependentes do ponto de vista
biológico e econômico, ocupando um espaço geográfico delimitado."
Tonnies, sociólogo, dedicou-se bastante ao assunto e define
comunidade; "Como um fato de viver junto, de modo íntimo, privado e
exclusivo. Por exemplo, família, grupo de parentes, vizinhança, grupos de
amigos. Afirma que nas comunidades, os indivíduos estão envolvidos como
pessoas completas, que podem satisfazer a todos os seus objetivos no grupo,
ao passo que,nas associações os indivíduos não estão totalmente envolvidos,
mas buscam a satisfação de finalidades específicas e parciais. Continuam
dizendo que uma comunidade é unida por um acordo de sentimento ou
emoção entre pessoas, ao passo que uma associação é unida por um acordo
racional de interesse.
Já outros professores lembram que a comunidade seria
caracterizada pela localização geográfica, enquanto que associação surgiria
como um grupo formado para atingir um fim específico.
20
Existe alguns sociólogos que fazem uma distinção entre sociedade e
comunidade; os seres que compõem a sociedade são simples indivíduos; os
membros de uma sociedade são pessoas "indivíduos humanos socializados",
possuidores de "status" e "papéis".
Jayrunmey, sociologo, diz; "A comunideade é uma sociedade que
possui localização geográfica precisa de um modo de vida comum.”
Amaral Fontoura define comunidade como um conceito intermediário
entre grupo social e sociedade, como uma sociedade numa base determinada,
aonde encontram-se diversos grupos sociais.
Durkheim declara: "A moral começa onde começa a união para
formar um grupo."
2.2. ÉTICA DA COMUNICAÇÃO E DINÂMICA SOCIAL
Aristóteles afirma que "aquele que espontaneamente deixa de fazer
parte da comunidade só pode ser uma fera ou um deus." Ressaltando a
condição essencial da vida humana, que é a integração social.
Toda comunicação é o processo mesmo de auto-aperfeiçoamento
de realização de uma nação. A nação é uma comunidade espiritual que busca
aperfeiçoar-se, caminhando no sentido de um objetivo ético-político, cuja
realização é feita através da comunicação.
Comunicação e comunidade são, portanto, expressões de um
mesmo processo, a que não está alheio, inclusive, o conceito de cidade como
elemento de aglutinação.
O processo de aperfeiçoamento de uma comunidade no qual
participa a comunicação como condição precípua, requer um conjunto
crescente de interações que sucedem-se rapidamente na razão direta da
dinâmica social.
21
Em pequenas comunidades em desenvolvimento, registra-se uma
intensificação constante das comunicações, que perde sua força à medida que
se amplia o círculo da audiência, abrangendo comunidades maiores, grandes
cidades e, finalmente, a nação.
Referente ao papel da comunicação na realização de objetivos de
uma comunidade, quando aquela comunica, une, integra, a realização dos
objetivos comuns é impulsionada com grande força.
Idéias comuns, nacionais e universais convivem pacificamente no
fluxo da comunicação cotidiana, canalizando-se para os seus compartimentos
respectivos onde vão atuar no sentido do reforço aos sentimentos de
comunidade, de nação e de civilização. Em função da qualidade dos estímulos,
o reforço ao sentimento de comunidade tende a ser atenuado em favor do
reforço do sentimento da universalidade.
Um estudo retrospectivo da imprensa mostra como o primado da
comunidade, expresso em maior volume de noticiário local, aos poucos vai
sendo substituido pelo primado da nacionalidade e da universalidade. Então,
pode-se pensar em comunidade de nações: o ideal ético da comunicação, ou
seja, a formação da comunhão nacional em torno de objetivos comuns,
constitui a mensagem projetada para o exterior e que é, ao mesmo tempo, a
contribuição para a comunidade internacional. Na verdade, a vida não é mais
do que uma projeção do nosso ser no grupo, uma absorção da alma individual
na alma coletiva: num mundo que cada vez mais tende a tornar-se uma só
comunidade, aonde o conceito de nação será a contribuição de uma
coletividade para o aperfeiçoamento e o enriquecimento da comunidade
internacional, contribuição cada vez maior e mais eficaz em função da
realização interna da própria integração.
22
2.3. PSIQUIATRIA: DEFINIÇÃO
Psiquiatria é a parte da medicina que se ocupa da profilaxia,
diagnóstico, prognóstico terapêutica das enfermidades e das doenças mentais
e da reabilitação do paciente psiquiátrico.
Asclépio, deus da medicina; Iatros, capacidade de curar; Orthós,
justiça; Soter, capacidade de salvar.
Enfermidade (in firmo), quer dizer, quando não há substrato orgânico
que justifique a síndrome.
Doença, refere-se quando há substrato orgânico mais ou menos
definido, que justifique a síndrome.
Karl Jaspers diz que a Psiquiatria Clínica é a arte na qual aplica-se à
ciência do psicopatológico.
Kliné, leito, cama, a clínica de qualquer especialidade em princípio,
cuidados médicos prestados a doente à cabeceira, individualmente.
A meta da Psiquiatria Social é a saude mental. O que se pretende é
uma comunidade terapêutica. A comunidade recebe orientação de um grupo
psiquiátrico mas está implicada no tratamento, embora, hoje em dia, tambem
receba, em maior escala, atendimento psicológico.
Epidemiologia, de um lado, através do instrumento das ciências da
saude em geral, para pesquisa, estudo de provisão, observa-se todos os
acontecimentos que possam interessar quanto à saude, à existência das
coletividades; de outro lado, a incidência, distribuição e repetição daqueles
acontecimentos.
Aplica-se em Psiquiatria Social, pesquisa para chegar ao diagnóstico
dos grupos nosológicos e da comunidade; ação preventiva apos a obtenção do
diagnóstico.
23
2.4. PROGRAMA DE PESQUISA E PREVENÇÃO
a) Incidência de doenças mentais em determinadas coletividades;
b) Maior incidência;
c) Condições de aparecimento (classe econômica, condição
ambiental, grupo etário, etc...
d) Natureza e gravidade;
e) Curso;
f) Legislação sobre como aperfeiçoa-la;
g) Admissão nos serviços públicos e maneira de entrosamento dos
mesmos com a comunidade, etc...
Nesta pequena listagem observa-se a dificuldade na realização de
trabalhos epidemiológicos como:
- Separação do conceito de "normalidade" e "anormalidade".
- Dificuldade em estabelecer diferença da psicose e da neurose na
delinquência e no crime.
2.5. ESTRUTURA DE UMA COMUNIDADE TERAPÊUTICA
Para a Psiquiatria Social, estrutura é a disposição das partes de uma
configuração externa submetida a um interno de transformação, que a
autoregula.
Nota-se dois aspectos interdependentes: o aparente, formal,
exógeno e o inaparente, íntimo, endógeno.
Numa estrutura social, o que acontece é gerado por forças que a
dinamizam sem que os membros individuais tomem plena consciência das
24
referidas forças, aparecendo, assim, o dinamismo da estrutura,
espontaneamente, na conduta explícita e no comportamento grupal.
Lévi-Strauss, numa perspectiva etnológica, diz que "... uma estrutura
oferece carater de sistema. Consiste de elementos tais que qualquer
modificação de um deles provoca uma modificação de todos os outros".
As características fundamentais de uma comunidade são a
totalidade, transformação, autoregulação e inconsciência das forças
dinamizadoras fundamentais, ou seja, uma estrutura.
A comunidade apresenta uma configuração externa formada por
uma disposição especial de partes organizadas, mantida por relações
dinâmicas e recíprocas entre as partes, submetida a um sistema interno de
transformações constantes, pois ao modificar-se uma das partes, outras
tambem terão de se modificar. A causa última das transformações e auto-
regulagem permanece inconsciente para a totalidade dos seus membros.
Qualquer organização social vem da transformação e da informação.
Norbert Wiener afirma que "estrutura é mensagem e pode transmitir-se como
tal".
Na medida que um grupo transforma-se, aumenta a exigência de
aperfeiçoamento e auto-regulação da comunidade terapêutica que cooperam
homogênea e intencionalmente no sentido de obter a saude mental de uma
determinada sociedade. Os valores traçados entre o grupo e a comunidade
terapêutica são chamados de cultura terapêutica.
Nota-se que, comunidade terapêutica é um sistema organizacional
que realimenta-se de trocas, de uma parte, forças implícitas nas mensagens e
liberadas na comunidade e, de outra, pelas modificações de conteudo
procedidas pela comunidade, naquelas forças rejuvenecidas por tais aquisições
e que retornem como informação.
2.5.1. DIAGNÓSTICOS DA CONDIÇÃO GERAL DA COMUNIDADE
25
Comunidade desenvolvida, quando seus membros gozam dos
direitos elementares da pessoa humana.
Comunidade em desenvolvimento, quando a condição acima ainda
não se estabeleceu.
2.5.2. DIAGNÓSTICO SOCIOPSIQUIÁTRICO
Num plano atual, o diagnóstico busca a identificação das
enfermidades e doenças mentais bem como os desajustes sociais em uma
comunidade; e a identificação das distorções culturais existentes naquela
comunidade, a respeito do que se pensa sobre os portadores e vítimas
daquelas síndromes.
No plano histórico, as condições gerais e tipos de desorganização
existentes na sociedade à qual aquela comunidade pertence; e as causas
antropológicas e culturais que condicionam locais, restrições às minorias
psicopatológicas aos pacientes psiquiátricos, aos egressos e aos reabilitados.
Fundamentalmente, a importância do diagnóstico em Psiquiatria
Social refere-se ao prognóstico;como se processará a fase preventiva do
trabalho epidemiológico, como será orientada a terapêutica (prevenção,
curativa, assistencial ) nos seus aspectos individuais e comunitários, como
serão promovidas a reabilitação, a ressocialização dos egressos e
recuperados, como assistir e criar o consenso comunitário de assistência ao
paciente psiquiátrico a longo prazo (dementes, oligofrênicos, epilépticos e
outros).
2.6. EXPERIÊNCIAS EM PSICOLOGIA NA COMUNIDADE
Realizadas e apresentadas na ABRAPSO - Associação Brasileira de
psicologia social, em 1981, por diversos profissionais, dentre os quais,
assistentes sociais, educadores e psicólogos.
26
2.6.1. NA ÁREA DA SAUDE MENTAL DA POPULAÇÃO.
Local onde se realizou as experiências, que foram as periferias das
grandes cidades, devido a esse segmento da população estar sujeito a graves
fatores de desgaste ou stress emocional ligados a péssimas condições de
habitação, alimentação, empregos, e salários. Como por exemplo, as favelas.
A psicologia na comunidade tem trabalho, face a esse problema da
saude mental da população em risco em dois campos distintos: a criação de
centros comunitários de saúde mental nos bairros de periferia bem como a
participação de profissionais da área psicossocial: tradicionalmente os
psiquiatras em centros ou postos de saúde, gerados pelo governo do estado ou
do município, fazendo equipe com os médicos e enfermeiras dessas unidades.
Nos centros públicos de saúde esta experiência foi frustrante, pois
verificou-se que os profissionais que ali se apresentavam careciam de
informações sobre a psicologia e a psiquiatria na comunidade, faltavam-lhe
preparo acadêmico o que reforçou o velho tratamento da saúde mental com
medicamentos e internações em hospitais psiquiátricos.
Esta situação levou a concluir que torna-se necessário a renovação
das faculdades de psicologia e psiquiatria para melhor prepararem os
profissionais dessas áreas, afim de desenvolverem atividades psicossociais e
educativas que levem a modificações ambientais e pessoais, geradoras de
desgaste e stress nervoso e emocional.
2.6.2. EM GRUPOS DE MULHERES E JOVENS NOS BAIRROS.
Os bairros das grandes cidades tem pouca vivência comunitária,
onde as pessoas passam a maior parte do tempo nas empresas onde
trabalham e nos trajetos e transportes. Muitas mulheres fogem a essa regra,
são as donas de casa, que permanecem a maior parte do tempo dentro de
casa. São algumas dessas mulheres que se organizam, em pequenos grupos
27
de convivência comunitária, em forma de clubes de mães, associações de pais
e mestres e grupos de aprendizados de artes domésticas, ou ainda, nas
reuniões religioso-comunitárias das igrejas dos bairros.
Os adolescentes e os jovens tambem permanecem no bairro durante
grande parte do dia, e devido a falta de oportunidade de emprego e estudo,
acabam formando grupos de quarteirões, de rua, de esportes ou de igreja.
Estas são associações informais e de curta duração, na maioria das vezes. A
psicologia comunitária vem atuando nesses grupos de mulheres e de
adolescentes e jovens para trocar conhecimentos sobre assuntos e problemas
os mais variados, como por exemplo, educação dos filhos, relações afetivas
dos jovens e dos casais, problemas ligados a prática sexual, a
profissionalização.
A atuação não fica apenas sobre a forma de discussões e palestras,
ocorrem tambem peças teatrais, que retratam o seu cotidiano, técnicas de
grupo, psicodramas, expressão corporal, sensibilização, desenvolvimento
organizacional e outras. Atraves dessas atividades as mulheres e os jovens
passavam a se preocupar e lutar por melhorias no bairro que envolviam desde
falta de saneamento básico, como água, luz, escola, hospitais, bem como
construção de creches. Aconteceu uma tomada de consciência visando uma
melhoria da saude física e mental, sem qualquer envolvimento político.
2.6.3. EM INSTITUIÇÕES POPULARES
Visa o treinamento dos próprios moradores, para atingirem um
desenvolvimento em grupo, em instituições como, clubes recreativos e
culturais, associações e moradores religiosas, etc... ampliando seus horizontes
para outros problemas sociais, culturais ou políticos, cuja finalidade é abrir as
perspectivas, a compreensão e a capacidade da própria população de lidar
satisfatoriamente com os problemas de qualidade de vida do bairro.
- Nas escolas de primeiro grau da rede pública
28
Local frequentado por crianças e adolescentes carentes, cujos pais
vivem quase sempre ausentes do lar, pelo dever de ganhar dinheiro, sem o
qual as crianças não podem sequer alimentar-se. São essas crianças vítimas
da mídia, levadas a terem sonhos inatingíveis como a riqueza.
A presença da psicologia na comunidade, nessas circunstâncias, é
de extrema necessidade, não para se ocupar com uma função burocrática de
distribuição de tarefas didáticas.
Algumas das atividades que, atualmente os profissionais ligados a
psicologia comunitária estão tentando desenvolver nas escolas da periferia são
presença ativa nas reuniões de pais e mestres; visitas domiciliares e reuniões
específicas com mães de alunos, para compreender melhor a cultura familiar e
problemas sociais, que interferem na aprendizagem das crianças; diagnóstico
do bairro e das características psicossociais da população, a fim de que
diretores e professores da escola possam adaptar os conteúdos e
procedimentos pedagógicos \ necessidades da população escolar; trabalhos
nos horários extra-escolares com grupos de adolescentes, utilizando o espaço
da própria escola de bairro, para a organização cooperativista de estudo, leitura
e lazer; exercícios de expressão corporal e psicomotricidade com as crianças e
treinamento de professores e agentes da comunidade, para lidar com
problemas de aprendizagem e saúde das crianças e jovens do bairro.
Esse trabalho é muito difícil de ser realizado na integridade, até
mesmo pela dificuldade burocrática imposta pela direção da escola e muitas
vezes das direções regionais da educação pública, por isso é que não há
psicólogos escolares nestas escolas.
2.7. PUBLICAÇÕES DE PESQUISAS PARTICIPANTES
A psicologia de uma forma geral deve deixar de lado os textos
didáticos de origem ou de inspiração estrangeira, que não se aplicam à nossa
cultura. Em um trabalho apresentado na reunião anual da SBPC - Sociedade
29
Brasileira para o Progresso da Ciência, realizado em Campinas em julho de
1982, Alberto Abib Andery mencionou o seguinte:
Aplicar na área profissional, esses padrões importados, sem
maior aprofundamento crítico, pode resultar num reforço à
visão de marginalidade que a maioria do povo trabalhador
oferece aos olhos desavisados do profissional da psicologia e
demais profissionais de nível universitário, que estudam esse
tipo de Psicologia. Daí para a rotulação de excepcionalidade
mental e de doença mental é um passo. (Andery, 1984)
Há muito a pesquisar ainda nesta área, a partir das particularidades
da cultura popular e dos seus valores que não são percebidos pela pelas
pessoas que compõe as classes mais altas e que são mais esclarecidas,
ocupantes dos espaços universitários do país.
Uma das funções das pesquisas em psicologia na comunidade é
fazer uma aproximação ao cotidiano do trabalhador, o mais isento possível, de
preconceito convivendo um pouco com ele no seu bairro operário, nas suas
organizações populares, para conhecer e aprender sua cultura, forma de vida,
suas expectativas, lutas e fracassos, compartilhando um pouco tambem, com a
mente aberta para primeiro aprender.
Difundir esse esforço de compreensão psicossocial sobre a vida do
trabalhador brasileiro, com estudantes universitários, futuros profissionais da
área humana, deve ser uma das tarefas dos pesquisadores realizando
publicações ligadas à Psicologia na comunidade, propondo possíveis
modificações na sociedade brasileira, para um maior respeito à cidadania do
brasileiro comum.
As instituições públicas criadas nos moldes capitalistas formam, nas
sociedades atuais, o eixo elaborador deste conhecimento e, tambem
responsável por sua transmissão. Este é seu aspecto fundamental de
reprodução, como são instituições de reprodução. Essas instituições não se
reduzem a meros reprodutores das relações. Tambem o Estado só se ocupa
da reprodução social.
30
2.8. SAÚDE NA COMUNIDADE COLONIAL
Na época colonial, a residência tinha sua forma e funcionamento
determinados pelas relações entre família e ambiente social. Os médicos de
família eram agentes que opinavam desde a construção da casa ao modo de
educação dos filhos, pressionando a aculturação fazendo com que a casa
brasileira tivesse o mínimo de conforto e impondo tambem o modelo de
organização social.
Havia tambem uma preocupação com a mulher e a criança (mulher
de alcova). Os estígmas do brasileirismo colonial e senhorial passaram a
funcionar como sinal negativo.
Os médicos tambem inverteram o valor do escravo, de "animal útil" a
"animal nocivo à saúde", não os consideravam como gente. Os abolicionistas
trabalhavam em cima disso. A higiene estimulava a modernização dos
costumes, condenava a moda, qualificando-a de anti-higiênica, de imitação dos
hábitos dos europeus.
A sociabilidade deveria equilibrar-se entre a estabilidade sentimental
dos novos vínculos familiares e a cumplicidade com os interesses da cidade e
do Estado.
Na colônia, a família temia o mundo, mas, sentia-se à vontade no
interior da casa. A casa passou a ser um local permanente de inspeção de
saúde física e mental. A família converteu-se de grande corpo sócio-econômico
em célula da sociedade.
O "intimismo", descrito no Novo Dicionário Aurélio, como “gênero
poético que procura exprimir sentimentos íntimos e coisas simples” foi
desenvolvido por causa da reorientação do capital doméstico. Os médicos,
dirigindo todos esses assuntos, afirmavam que a ira, o ciúme, o medo, a cólera,
prejudicavam a respiração, a concentração do sangue, ocasionando um abalo
geral na economia da família e, portanto do Estado.
31
Diziam eles: "a moderação nos dá gozo e prazer que fazem a
felicidade do homem neste mundo". O amor, a amizade, a gratidão, o
patriotismo, controlavam os efeitos mórbidos da paixão. A conduta social e
emocional começava a ser desenvolvida psicologicamente. A família começou
a produzir seus próprios médicos. A instituição da família nuclear era a célula
primária e fundamental na sociedade. A família, a pátria e a igreja
representavam graus diversos da mais vasta e complexa existência coletiva - a
humanidade, à qual todos estão unidos por laços indestrutíveis.
A medicina preparou a família para participar na criação dos valores
das classes, corpo, raça e individualismo característico do estado burguês.
Nota-se que o médico era o administrador da construção de casas,
saúde, economia e muito mais. Por fim, verificou-se que os pais modificaram
suas relações com os filhos e a família passou a ser vista como local exclusivo
de proteção e cuidados da infância.
2.9. A INTERVENÇÃO NA COMUNIDADE - AÇÃO TERAPÊUTICA
A psicologia e a psiquiatria social não encontravam ainda o
instrumento para atuar sobre a sociedade. A intervenção que foi planejada
sobre a comunidade, com a finalidade terapêutica para resolver alguns
problemas psicopatológicos, entre eles os psicossomáticos e secundariamente
conseguir fazer a prevenção destes problemas que a seu ver era o futuro da
clínica psicológica e psiquiátrica.
2.9.1. DEPOIMENTO DE HAUM GRUNSPUN
Este depoimento foi dado por Haum Grunspun, professor de
psiquiatria infantil, PUC- São Paulo e diretor da clínica psicológica do Instituto
"sedes Sapientiae" de São Paulo, Grunspun dedicou seu trabalho na
recuperação de crianças que apresentavam distúrbios psicossomáticos e, para
32
isso, propôs novas terapias aplicadas para o paciente, para a família ou mesmo
para o ambiente, de acordo com o nível clínico importante para o caso.
Grunspum salienta que as soluções surgiram do esforço de alguns
grupos de pessoas em se conseguir um caminho, embora ainda encontre-se
em estado inicial. Grupos de pessoas e famílias conseguiram organizar-se em
comunidade para enfrentar os problemas.
Segundo ele, embora ainda seja incipiente este esforço, é o
desenvolvimento humano em nível de comunidade. Toda sua experiência
origina-se do que estes grupos humanos, com conceito de comunidade,
conseguiram realizar. Grunspun tem um modelo de como viver, como conviver
e de como desenvolver a comunidade.
Para Grunspun fala-se muito das influências das forças sociais sobre
o indivíduo, mas sabemos que a sociedade é um organismo abstrato. Reduziu
esta a uma força humana concreta: a comunidade. A comunidade é um
agrupamento humano capaz de lutar e de transformar. Tem o desenvolvimento
e talvez a capacidade de evoluir como a própria sociedade.
Definição de comunidade para Grunspun: " comunidade é um grupo
de pessoas que tem uma determinada organização e que, por algumas
condições, sejam elas materiais, geográficas, ideológicas ou funcionais, tem
um destino comum. A comunidade pode ser, por exemplo, um bairro, uma
paróquia, uma universidade ou a própria família.
A família, segundo ele, é uma comunidade, porque é um grupo de
indivíduos que compartilham um conjunto de valores que tem senso comum de
identidade. Esta é a única comunidade básica, à qual todos pertencemos, pelo
menos, durante algum tempo, mas que mantem sua influência de forma
duradoura, podendo ser:
1. Pode-se encontrar comunidades formadas naturalmente. E um
grupo de pessoas destinadas, por circunstâncias inevitáveis, a ter um destino
comum, e a ter, como razão de convivência, interesses e necessidades
comuns, que precisam ser satisfeitas.
33
2. Pode-se formar comunidades artificiais. Se conseguir unir-se a um
grupo de pessoas que tenham interesses e necessidades comuns que
precisam ser satisfeitas e que consigam sentir que tem um destino comum.
A sociedade natural ou artificial luta internamente para poder
sobreviver com o destino comum. Todas as vezes em que consegue-se um
grupo, com este e com esta finalidade, tem-se como características o
desenvolvimento.
A sociedade evolui continuamente. A sociedade humana evolui pela
harmonia evolucionista e sempre irá ser melhor. A comunidade não sabe se
evolui, mas ela se desenvolve, cresce, amadurece. E é este o sentido de
desenvolvimento.
A sociedade humana modifica-se, a comunidade se desenvolve.
A comunidade tem uma ação, tem um trabalho e tem um objetivo. A
comunidade de um bairro, onde se precisa de luz, reúne-se para lutar para
conseguir luz, luta da mesma maneira que os primeiros modelos de
comunidade lutavam por territórios. Foi assim, por exemplo, que grupos de
famílias de excepcionais se organizaram com características de comunidade, e
assim conseguiram enfrentar os problemas daquele grupo com destino comum,
com as mesmas necessidades, e conseguiram organizar-se para um trabalho e
para uma ação planejada.
Para poder entender melhor o funcionamento da comunidade, tentei
isolar para estudo alguns aspectos operacionais.
O desenvolvimento da comunidade se faz por aquisição e
agrupamento de recursos. Estes recursos podem ser múltiplos. Os mais
comuns são: humanos, econômicos, geopolíticos, comunicação, ideológicos.
Toda a comunidade deve sua força aos recursos de que dispõe. Em qualquer
comunidade sempre um dos recursos prevalece.
Há comunidades, como a das famílias dos excepcionais, que
conseguem organizar-se porque contam com recursos humanos podendo,
atraves do desenvolvimento destes, criar outros recursos. Assim, partindo dos
34
recursos humanos, cria-se recursos econômicos, ideológicos de comunicação
e geopolíticos.
A comunidade estrutura-se da seguinte forma: desenvolvimento,
organização, ação, trabalho e objetivos.
Podemos reconhecer se neste determinado convívio humano há um
processo de comunidade a ser desenvolvido. Deve-se pesquisar se neste
grupo há recursos humanos satisfatórios capazes de mexer com os recursos
econômicos.
Conforme Grunspun, pode-se encontrar gente de boa vontade,
capaz e disposta, porque tem interesse. Tambem pode-se construir recursos
humanos que fazem um núcleo da comunidade. Para que se desenvolva toda
comunidade, precisa-se inicialmente de um núcleo. Este núcleo significa o
primeiro passo para o desenvolvimento de outros recursos da comunidade.
Este núcleo, ou nasce sozinho ou precisa haver uma liderança que o faça
nascer. Muitas vezes precisa haver uma ideologia que o faça surgir.
Acontece assim exatamente há 300 anos, em primeiro lugar, com os
surdos, que não falavam porque não havia um método para ensinar surdos a
falar. Vizinhos, famílias, pais, padrinhos reuniram-se e formaram um grupo com
destino comum, com uma ideologia comum, e tentaram resolver o problema
dos surdos. Procuraram juntos descobrir um método para o mudo, um método
que os tornasse capazes de aprender e, assim, criaram a comunidade.
Aconteceu da mesma forma com os cegos. As famílias dos cegos
reuniram-se. Irmãs, irmãos, pais, avós, e até vizinhos, várias famílias em
conjuntos criaram uma força a que, atualmente, chamamos força da
comunidade e que conseguiram influenciar e criar o ambiente adequado para o
aprendizado dos cegos. O resultado foi o trabalho de uma comunidade. A força
criada pelos familiares dos cegos conseguiu influenciar e modificar a opinião da
sociedade sobre os cegos.
Da mesma forma, os problemas das crianças paralíticas tiveram
soluções semelhantes. Criaram-se comunidades que desenvolveram todos
35
seus recursos e conseguiram influenciar a sociedade. Constituiram inicialmente
um núcleo cujo remorso foi ideológico e, deste núcleo, desenvolveram recursos
econômicos, recursos de comunicação e recursos humanos, para realizar
aquilo que necessitavam e que aquela comunidade podia produzir.
Nossa sociedade é extremamente organizada. O sistema é
totalmente fechado. Este sistema está organizado no mundo inteiro, atraves de
leis e códigos e ordens inevitavelmente obedecidas. A organização pode ser
mudada de semana em semana, mas a lei daquela semana tem de ser
obedecida e seguida. O desenvolvimento da comunidade tende a humanizar as
leis e os códigos da sociedade a que pertence.
O processo de organização comunitária em São Paulo teve
experiência favorável ao desenvolver um grupo, uma comunidade com
interesses para com excepcionais. Depois de dez anos de trabalho, a
comunidade conseguiu sensibilizar a sociedade. Excepcionais, por uma
coincidência dentro de nossa sociedade, foram consideradas as crianças
retardadas e não os pacientes cegos, mudos, tuberculosos ou os
psicossomáticos.
Mobilizaram-se as comunidades, em algumas cidades, para resolver
o problema dos retardados. Em 1958 foi feita a primeira reunião e deu-se um
nome para o grupo - Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE),
que felizmente o Brasil conhece suficientemente. A APAE é capaz, hoje em dia,
de sensibilizar quase 1\4 da população de uma capital como São Paulo. Vai-se
a uma "Feira da Bondade" patrocinada pela APAE, para poder, aparentemente,
se divertir, mas na verdade, em função do que foi o trabalho e ação de um
núcleo que desenvolveu uma comunidade com todos os tipos de recursos.
Objetivos de nossa comunidade:
1. Promover o próprio espírito de comunidade.
2. Criar oportunidades de lazer.
3. Resolver dificuldades nos serviços educacionais, de saúde,
econômicos, etc.
36
4. Manejar os centros, estruturas, instituições, conseguir apoio para
a ideologia ou os objetivos da comunidade.
5. Base para o treinamento democrático.
6. Aproximar organizações.
7. Aproximar indivíduos.
8. Dar apoio à comunidade.
Assim, fazemos crescer uma nova força capaz de proteger a
comunidade e os membros que a ela pertencem. Esta força pode ser usada em
programas preventivos para os distúrbios psicossomáticos, por atuação
corretiva das atitudes parentais, por proteção ambiental aos filhos e por
adequação dos grupos na sua auto-proteção, buscando melhores condições de
vida.
Há que se pensar em uma organização específica para apoio aos
esquizofrênicos e respectivas famílias.
2.10. PSICOLOGIA E SAUDE MENTAL
Freud, em 1918, no V Congresso Internacional de Psicanálise,
apontou que "havia chegado o tempo de se tomar consciência da comunidade;
de se acordar para o fato de que os pobres tenham tanto direito de ajuda para
suas mentes quanto do cirurgião para salvar sua vida...". Dizia ele: -
"...despertemos para a tarefa de adaptar nossas técnicas às novas condições"
(Galdston, 1971, in Korchin, 1976, p.479).
Segundo Hersch, em 1968, a Psicologia Comunitária surgiu de uma
"explosão de descontentamento entre os clínicos".
Korchin, em 1976, contrapõe os modelos clínicos tradicionais em
dois enfoques: primeiro, a custódia do paciente e segundo, o terapêutico, aos
37
modelos comunitários que implicam num polo de saude pública, distinguindo
ambos de um modelo de ação social mais sociológico do que psicológico.
2.11. PSICOLOGIA CLÍNICA, SOCIEDADE E CLASSES SOCIAIS
A psicologia clínica visa cuidar do bem estar das pessoas em sua
singularidade e complexidade. Clinicamente o psicológico é resultante da
interação do indivíduo com o meio ambiente. A atividade do psicólogo clínico
está ligada a um fenômeno cultural de “espraiamento” do psicológico sobre o
social, ocasionando um incremento da "cultura psi".
Numa sociedade de classes, a expansão da procura tanto pela
formação como pelo atendimento psicológico, sobretudo terapêutico, deve ser
analisada em função do status social e cultural de seus membros.
Assim, a prática psicológica tem maior atendimento nas classes
mais privilegiadas. No entanto, existe relação de reciprocidade entre uma área
do conhecimento com sua práxis e as características do meio em que se
desenvolve.
Do ponto de vista profissional, a identificação do modelo clínico
tradicional não traz sucesso quando aplicado em instituições que atendam
população menos privilegiada do ponto de vista sócio-educacional. Pode-se
dizer que trata-se de uma crise de identidade da própria psicologia clínica,
situação essa que exige maior conscientização do ponto de vista social e
político.
Quando a Psiquiatria abriu as portas para integrar o paciente
psiquiátrico na comunidade, foi dado um grande passo para diminuir o
preconceito quanto a doença mental, podendo-se hoje perceber que a
definição "psi" tem sua origem no social. Isto vale tanto para os problemas
das classes mais favorecidas, pelo seu nível cultural como ideológico, como
para as classes menos favorecidas na medida que reconhece o peso dos
fatores sociais como causa de problemas psicológicos.
38
2.12. DIFERENÇAS ENTRE MODELO CLÍNICO E COMUNITÁRIO
O modelo comunitário assume a dimensão de saude pública.
Mudança dos quadros referenciais quanto à própria concepção dos agentes
causadores de distúrbios, o que, em consequência, muda o procedimento
clínico desde o diagnóstico ate o tratamento.
No modelo clínico a ênfase à união é realizada através da
preocupação com o bem-estar do indivíduo.
No modelo comunitário, a ênfase é colocada na necessidade de
estender o atendimento a todos os segmentos da população, com vistas a
prevenir e tratar os distúrbios psicológicos da maneira mais integrada possível
com seu ambiente social.
2.12.1. Quanto ao atendimento:
No modelo clínico, a pessoa que procura seria concebida como
passado por uma crise cujo foco estaria nas suas condições psicológicas e
sociais.
No modelo comunitário, na população sob risco, o indivíduo é
concebido como estando efetivamente em crise ou em perigo e o foco estaria
na situação social.
No modelo clínico, implica-se numa intervenção com abordagem
focal, procurando descobrir com o indivíduo suas forças e fraquezas,
possibilidades e dificuldades, em curto espaço de tempo, de maneira
econômica e eficaz.
No modelo comunitário, o importante é o levantamento dos
problemas com vista a uma programação preventiva, a curto, médio e longo
prazo.
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O modelo clínico visa levar o indivíduo a conhecer suas
potencialidades, perceber as relações entre as suas atitudes e suas próprias
experiências no seu contexto de vida, e fortalecer suas possibilidades pessoais
de enfrentar e lidar com situação de crise para evitar ou aliviar o sofrimento
psicológico.
No modelo comunitário, a finalidade é a redução do stress social
com o aumento da informação atraves da difusão de mensagens claras e
intervenções diretas na própria comunidade.
No modelo clínico a atuação pode ser nos centros de saude
comunitários, hospitais e qualquer instituição que admitam essa postura.
No modelo comunitário, seria nas instituições da comunidade em
geral: igreja, escola, fábrica, associações de bairro, creches e outras.
Nos países mais desenvolvidos a psicologia comunitária ja se
apropriou do espaço necessário para efetivação das modificações que tem
como finalidade tornar o atendimento mais eficaz e disponível à população
total.
No Brasil, o movimento de transformação envolve somente grupos
isolados aqui e acolá, sem qualquer articulação que permita uma troca efetiva
de experiências e sobretudo, a implantação a nível institucional dessa nova
visão a respeito das desordens do comportamento humano e seu alívio,
refletindo a política da educação e saude dos pais com as implicações na
formação dos profissionais e no acesso aos benefícios.
2.13. INFORMAÇÕES DE S.P.A.s FEDERAIS E PARTICULARES
NO BRASIL
Os profissionais que trabalham na clínica-escola, geralmente, não
podem sobreviver apenas do que recebem dessas instituições. As técnicas
não se desenvolveram no Brasil, não se desenvolveram junto à população de
40
nível sócio-econômico baixo, foram importadas e implantadas sem cosideração
de condições ambientais, culturais e pessoais.
Nas clínicas-escolas, alguns aspectos fundamentais foram
considerados, entre eles, considerar os clientes, alem de sua especificidade
individual, levando em conta, tambem, as características do grupo social ao
qual pertencem e as especificidades do meio onde vivem; considerar qualquer
sistematização dentro da instituição como provisório e passível de
reestruturação em benefício dos clientes.
Solicitou-se aos S.P.A.s federais e particulares de alguns estados do
Brasil, que informassem a época em que o serviço comunitário foi implantado,
qual a orientação e quais os motivos de evasão dos clientes, incluindo os
aspectos positivos e negativos de funcionamento.
2.13.1. PUC DO RIO DE JANEIRO
Informou que o S.P.A. nasceu junto com o curso de psicologia, em
1953 e, no início, não era voltado para a população carente. Atualmente, a
orientação é predominantemente psicanalítica, mas existe uma equipe de
orientação comportamental e uma de orientação vocacional.
O índice de evasão oscila entre 50 e 25%, considerado normal e
deve-se a questões relativas às expectativas da clientela, tipo de demanda,
etc...
Quanto aos aspectos positivos citam a possibilidade de atendimento,
a qual seria impossível se cobrado o preço de mercado particular e, referente
aos aspectos negativos, citam o choque "cultural", para o qual a instituição tem
como principal função a pesquisa de formas de atendimento mais adequadas à
demanda da população carente, criação de técnicas específicas de terapia
breve, preocupação com questões relativas a comunicação, valores,
linguagem, etc....
41
2.13.2. UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
Informa que a clínica psicológica surgiu em 1974, quando
regulamentou-se o curso de psicologia, sendo inaugurada em 04 de maio de
1979, com atendimento psicanalítico e abordagem centrada na pessoa. O
índice de evasão é inexistente, uma vez que não supera as expectativas.
Como aspectos positivos citam favorecer à população carente o
acesso a um serviço destinado erroneamente à elite. E referente aos aspectos
negativos, citam as precárias condições que são oferecidas para prestação
deste serviço.
2.13.3. FEDERAÇÃO DAS FACULDADES CELSO LISBOA
Informa-se que o S.P.A. originou-se pelas necessidades de
oferecerem estágios aos alunos e de empenho em que eles realmente atuem
na prática clínica, em março de 1976. Cada supervisor orienta de acordo com
seu posicionamento teórico: psicanálise, Gestalt, abordagem centrada na
pessoa. O índice de evasão fica em torno de 30%, não sendo considerado
superior às expectativas; as desistências ocorrem devido ao não atendimento
imediato pois tem que respeitar a ordem de chegada, outros acham que a
psicoterapia consiste em "soluções mágicas", e apos comparecerem 3 ou 4
vezes, desistem.
Como aspectos positivos, citam a formação do psicólogo e o
benefício à comunidade carente e, como aspectos negativos, existe o fato de
ser o atendimento gratuito, uma vez que o S.P.A. é uma entidade filantrópica.
2.13.4. UNIVERSIDADE DE SAO PAULO
Informa que foi criado em 1969, basicamente com atendimento na
abordagem centrada na pessoa. Não tem estatística de evasão. Como aspecto
positivo, diante do reduzido número de serviços deste tipo à comunidade,
42
consideram que atende à demanda de clientela economicamente
desfavorecida e, atraves do plantão psicológico sem precisar ficar na fila de
espera; quanto aos aspectos negativos, devido à necessidade de
encaminhamento de alguns clientes para a rede pública de saude, deparam
com dificuldades em encontrar lugar adequado e mesmo de saber se o
encaminhamento foi concluido ou não.
2.13.5. UNIVERSIDADE SANTA URSULA.
Informa que o S.P.A. iniciou em 1980 com a finalidade de oferecer
atendimento psicológico a alunos e funcionários da Universidade, ampliando,
depois, à comunidade. Ha linhas diversificadas como psicodramas,
psicoterapia psicanalítica, terapia comportamental, Reicheana e Abordagen
centrada na Pessoa. O índice de evasão é de 30%, devendo-se à
desinformação muito marcante da parte dos inscritos, do que significa um
tratamento. Como pontos positivos indicam a possibilidade de levar à
população carente, um tipo de ajuda que não teriam acesso de outra forma e,
como aspecto negativo, está o reforço que este tipo de atendimento pode
significar para alguns, de uma atitude passiva e dependente.
2.13.6. PUC DE MINAS GERAIS.
Informa que o S.P.A. funciona desde maio de 1990, originando-se da
necessidade de ampliação e sistematização dos atendimentos que ja eram
oferecidos no departamento como estágio supervisionado para os dois últimos
períodos de curso. Trabalham com supervisão nas áreas de psicanálise
sistêmica e existencial. O índice de evasão varia entre 20 e 40%.
O trabalho é aberto à toda comunidade. Atendendo tambem alunos
e funcionários da Puc, seus parentes e conhecidos, crianças e adolescentes
encaminhados pelos postos de saude e grupos escolares da comunidade.
Parte da clientela pode ser caracterizada como carente mas não a maioria dela
43
sendo que, nos últimos dois anos, a demanda crescente da população é de
classe média.
2.13.7. COOPERATIVA EDUCACIONAL DOS DOCENTES DA
FACULDADE DE HUMANIDADE PEDRO II DO RIO DE JANEIRO LTDA.
Informa que iniciou em agosto de 1986, com abordagens existencial-
humanista, sistêmica, psicanálise, psicodrama e comportamental. O índice de
evasão é baixo e os motivos são variados destacando-se o imediatismo da
resolução dos problemas e a demora ao ser atendido. Quanto ao aspecto
positivo observam a possibilidade de pessoas carentes terem acesso a vários
tipos de atendimento psicoterápicos.
2.13.8. S.P.A. DE SALVADOR.
Informa que iniciou em 1987 com atendimento individual, não
atendendo no início, a casos de alcoolismo, psicose e toxicômanos.
Atualmente, apesar de poucos recursos, ja atendem a casos de
psicose e autismo infanto-juvenil, e tambem exerce um trabalho com os
deficientes auditivos. Devido ao prejuízo para o paciente, o ecaminhamento a
outro estagiário, o que tem sido uma experiência muito enriquecedora para o
recem-formado e trazendo benefícios para a comunidade, uma vez que
possibilita um melhor atendimento.
"Aventurar-se causa ansiedade, mas deixar de
arriscar-se é perder a si mesmo. E aventurar-se no sentido
mais elevado é precisamente tomar consciência de si
próprio."(Santos, 1983 apud Kiergaard, 1843, p.319)
2.13.9. COMUNIDADE RELIGIOSA.
44
Com a finalidade de auxiliar as pessoas, o aconselhamento busca
estimular o desenvolvimento da personalidade; ajudar os indivíduos a
enfrentarem mais eficazmente os problemas da vida, os conflitos íntimos e as
emoções prejudiciais; prover encorajamento e orientação para aqueles que
tenham perdido alguem querido ou estejam sofrendo uma decepção; e para
assistir às pessoas cujo padrão de vida lhes cause frustração e infelicidade.
Alem disso, busca levar o indivíduo a adquirir uma fé. Para alcançar
esses objetivos, deve-se familiarizar-se com os problemas que surgem e como
podem ser resolvidos, assim como com as técnicas a serem empregadas. Um
psicólogo chamado C. H. Patterson chegou a uma conclusão depois de
escrever um livro sobre as teorias contemporâneas do aconselhamento: "A fim
de ser mais eficaz o terapeuta deve ser uma pessoa real, humana...
oferecendo um relacionamento genuinamente humano...
Grande parte da atuação dos terapeutas é supérflua ou não tem
relação com sua eficiência; de fato, muito de seu sucesso não tem qualquer
ligação com o que fazem ou acontecem do que fazem, desde que ofereçam a
relação que os terapeutas de opiniões muito diferentes parecem fornecer...
trata-se de uma relação que não se caracteriza tanto pelas técnicas usadas
pelo terapeuta mas pelo que ele é; não é tanto pelo que ele faz, mas pela
maneira como faz."
Como uma unidade terapêutica, a igreja foi estabelecida a fim de
cumprir a grande comissão de fazer discípulos e ensinar. Com a finalidade de
aumentar a eficácia no aconselhamento, muitas igrejas tem procurado as
opiniões de psicólogos e outros profissionais que cuidam da saude mental. A
psicologia pode ser de grande ajuda para o conselheiro cristão. Existem
conselheiros bem sucedidos, pessoas caracterizadas por personalidade que
irradia compreensão, sinceridade, e aptidão para confrontar de maneira
construtiva.
Como alvos do aconselhamento cristão tem-se: a auto-
compreensão, comunicação, aprendizado e modificação de comportamento,
auto-realização; e apoio.
45
Como o aconselhamento é, primariamente, uma relação em que
uma pessoa, o ajudador, busca assistir outro ser humano nos problemas da
vida, pode-se resumir algumas das técnicas mais básicas utilizadas numa
situação de ajuda: atenção, ouvir, responder, ensinar.
Com relação à ética do conselheiro, este respeita cada indivíduo
como uma pessoa de valor, criada por Deus à imagem divina, manchada pela
queda da humanidade no pecado, mas amada por Deus e objeto da redenção
divina. Cada pessoa possui sentimentos, pensamentos, vontade e liberdade
para comportar-se como achar adequado. O conselheiro tem obrigação de
manter em segredo as informações confidenciais, a não ser quando haja risco
para o bem-estar do aconselhado ou de outra pessoa.
Capítulo III
TERAPIA DE FAMÍLIA
Apesar da grande divulgação, nos últimos anos, acerca das várias
correntes psicoterápicas e do aumento do número de pessoas em busca do
auto conhecimento, a terapia de família e casal ainda é desconhecida.
Como profissional da área comumente ouço as
seguintes indagações: o que é terapia de família e como
funciona? Em que situações se deve procurar um terapeuta?
Quem faz terapia de casal se separa ou fica junto? (Barbosa,
2000)
As famílias tendem a sentirem-se culpadas diante da ocorrência de
acidente ou doença, principalmente a doença em um de seus membros. O
problema toma dimensões maiores quando essa doença é a esquizofrenia.
Neste sentido, o terapêuta familiar também deve educar a família, apoia-la em
suas dificuldades com esta lida.
A terapia de família é um método utilizado para tratamento das
relações familiares. Isto significa que não se vai tratar o indivíduo na família e
46
sim o grupo familiar como um todo, incluindo os vínculos existentes entre seus
membros. A intervenção do terapeuta não se faz no indivíduo A e no indivíduo
B, mas sim na relação que ocorre entre A e B.
Por vezes, quando um indivíduo apresenta um
problema este pode ter tido origem num conjunto de relações
familiares deficitárias e afetar todos os outros membros. Se
tratarmos apenas a pessoa que manifestou o problema
deixaremos de tratar todos os outros afetados pela mesma
dificuldade. Isto faz da terapia familiar um excelente aliado do
tratamento psicoterápico individual. (Barbosa, 2000)
É importante buscar definições, informações de modelos de terapias, a fim
de ampliar o conhecimento da matéria objeto da pesquisa. Desta forma, trago o
registro de Solange Siqueira com as seguintes informações:
O modelo de terapia que mais tem se mostrado eficaz na
esquizofrenia é o da psicoeducação de família, que acrescenta
à terapia informações sobre a doença. Oferecer conhecimento
teórico é imprescindível para ajudar o familiar a compreender
melhor seu paciente, reavaliando julgamentos e atitudes. Esta
importante etapa educativa o prepara para a etapa seguinte, a
terapia propriamente.
A terapia pode ser individual (com um ou mais membros de
uma mesma família) ou em grupo (várias famílias). Ela analisa
as situações práticas do dia-a-dia e como cada um lida com os
conflitos e soluciona os problemas, propondo uma reflexão. Ela
pode recorrer a qualquer momento à etapa educativa para
corrigir equívocos que porventura persistirem. Essa reflexão é
essencial para que o familiar esteja mais receptivo a novas
maneiras de lidar com o estresse e adquira maior habilidade no
manejo e na solução das situações, reduzindo assim a
sobrecarga e melhorando a qualidade do relacionamento
familiar. (Siqueira, 2009)
Em toda família existem tendências para saúde e para doença, a
diferença de atuações dependerá da forma de enfrentamento das situações de
47
crise, de como está a afetividade e a comunicação entre seus membros. Estes
serão indicadores de relações saudáveis ou adoecidas.
A procura por um terapeuta se dá, geralmente, quando a família
apresenta um grave problema. Pode ser um dos membros apresentando
transtorno psíquico, a presença de alcóol ou outras drogas, ou a iminência de
uma separação.
Geralmente quando pequenos conflitos que se repetem
cotidianamente e para os quais não se dá a devida atenção, e isto,
independentemente se há ou não doença psíquica, instala-se uma crise. E esta
crise se agrava quando um membro da família é esquizofrênico.
Não se deve deixar que os problemas tomem proporções alarmantes
para se procurar a terapia. Isto evitará o agravamento da situação conflitiva
possibilitando rever as bases do relacionamento familiar. Tais afirmativas são
válidas também para o casal.
A terapia de casal não une nem separa, funciona como
acompanhamento do processo e não impõe decisões. Facilita
que o casal identifique os problemas, averigue o que os
motivou, verifique a forma como vem reagindo as dificuldades.
Propicia que os componentes do casal vejam a si mesmos, ao
outro e a relação de forma mais aprofundada e aponta
"ferramentas" que poderão auxiliar numa tomada de decisão.
(Barbosa, 2000).
Esta terapia se reveste de grande importância quando está em cena
um filho com esquizofrenia. A família deve estar preparada para atuar junto ao
terapeuta caso ocorra a necessidade de conter um ato agressivo. Talvez sejam
necessárias mais pessoas a fim de evitar que o paciente ou outras pessoas se
machuquem. Episódios de agressividade, dependendo da intensidade, podem
indicar a necessidade de eventual internação com a finalidade de garantir a
integridade do paciente ou terceiros.
É de fundamental importância que o tratamento desta doença seja
atraves do uso de medicamentos. Isto não descarta a psicoterapia do doente,
48
assim como de toda a família que convive com a esquizofrenia e seu portador.
Desta forma as chances de se obter uma razoável qualidade de vida
aumentam. Geraldo J. Ballone escreveu para o site PsiqWeb algumas
orientações às famílias quanto a alguns aspectos do envolvimento familiar para
socorro ou melhor convivência com esquizofrênico:
O reconhecimento precoce da doença ou das recaídas e a
instituição rápida do tratamento com antipsicóticos aumentam
as possibilidades de se evitar a cronificação da esquizofrenia.
É muito importante que o portador de esquizofrenia seja
conscientizado da doença e das etapas de tratamento o
sucesso deste. O portador deve ser orientado sobre sua
doença, suas características e seu diagnóstico.
A questão fundamental é saber escolher o momento adequado
para essa comunicação pois, durante o surto agudo,
evidentemente, será o pior momento. A esquizofrenia é uma
doença, em geral, de curso crônico. Toda doença crônica
necessita de acompanhamento por tempo indeterminado. Esse
acompanhamento visa identificar o curso da doença, seus
aspectos evolutivos e a prevenção de recaídas. Como qualquer
tantas outras doença da medicina, quanto menos recaídas
ocorrerem menor será o comprometimento e as seqüelas.
(Ballone, 2008)
Se, de alguma forma, a ausência de crise se estende por um período
maior do que o de costume, os familiares devem continuar atentos, tendo em
mente que a esquizofrenia não tem cura. Os cuidados devem ser redobrados,
pois, o paciente tende a abandonar ou diminuir a dose dos medicamentos, o
que se torna muito perigoso, podendo levar a recaidas. Sabendo ser esta uma
preocupação, Ballone publicou o seguinte esclarecimento, que certamente
ajuda no encaminhamento da terapia:
Deve-se tentar dialogar, expor as evidências de que a
medicação evita a recaída. Infelizmente, muitas vezes são
necessárias várias recaídas até que o doente se conscientize
49
da gravidade da doença, de seu curso com recaídas e da
necessidade do tratamento contínuo.
Nas recaídas pode ser necessário internar a pessoa até que
ela volte à normalidade. Pela legislação em vigor, a família e o
médico têm o direito de internar o portador quando em crise
mesmo contra sua vontade. Por crise, entende-se que o
portador está delirando, fora da realidade, inadequado, sem
controle de si mesmo e de seus atos. Nesse momento, a
internação é uma medida de proteção e tratamento. Cabe à
família e ao médico, diante de uma situação de crise, avaliar a
real necessidade de internação. Há recaídas que não exigem
necessariamente internação, principalmente quando tratadas
precocemente. (Ballone, 2008)
É recomendado que a família mantenha-se vigilante a fim de
reconhecer os comportamentos inadequados e promover a maior
independência possível. Ele deve ser treinado e incentivado nos cuidados de
seus pertences e de sua higiene. Caso seja visível uma evolução de
pensamentos e posturas, ele deve voltar a caminhar pela vizinhança, de
preferência sempre acompanhado ou vigiado de perto, buscando o sentimento
de independência. Estes cuidados visam preservar a auto-estima do paciente e
evitar, tanto quanto possível, constrangimentos.
Na terapia, a família deve ser orientada a buscar garantias para que
o esquizofrênico em questão tenha a tranquilidade na sua manutenção, tais
como: pensão, aposentadoria, habitação, acesso aos recursos disponibilizados
pelo poder público, principalmente assistência médica e medicamentos.
Cada família deve avaliar a sua situação com relação às suas
possibilidades no provimento desses aspectos, não apenas no que se refere à
variável sócio-econômica, mas também nas condições de acolhimento
oferecido ao paciente pelos demais membros da família.
Nos casos crônicos, geralmente o doente não tem mais condições
de exercer atividades laborativas, é importante a família providenciar junto ao
Instituto Nacional de Seguridade Social - INSS sua aposentadoria, bem como,
50
condições de moradia e a defesa de todos os seus direitos, pois, como
qualquer outra pessoa, os portadores de esquizofrenia tem direito à cidadania
plena.
As relações sociais dos portadores de esquizofrenia são
prejudicadas tendo em vista os sintomas que tendem a afastar as pessoas, em
especial as relações afetivas como namoro e relacionamento sexual. Este deve
ser um ponto de atuação da família e que deve ser colocado na terapia familiar
na possível busca desses objetivos
Apesar de todas as dificuldades no estreitamento de contatos
sociais, alguns portadores da doença podem conseguir encontrar um(a)
companheiro(a) e manter relacionamentos afetivos gratificantes e até
relacionamentos sexuais. A participação dos familiares na orientação para a
busca de um relacionamento o mais livre possível de estresse. Caso consiga o
relacionamento e este seja estressante, talvez possa desencadear recaídas.
Atividades que promovam ressocialização realizadas em paralelo ao
relacionamento social/afetivo são uma ajuda contra o isolamento e contra
possíveis recaidas. Estas atividades podem ser realizadas em centros de
convivência, grupos de auto-ajuda, áreas com programas de lazer e cultura,
etc.
Igualmente importantes são as orientações sobre os cuidados para
evitar doenças sexualmente transmissíveis, em especial AIDS, principalmente
ensinando o uso de camisinha. O acompanhamento de ginecologista para as
mulheres é essencial para orientação quanto a métodos contraceptivos
seguros, como medicamentos anticoncepcionais ou DIU.
Para os familiares, a terapia pode ajudá-los a reduzir o
estresse, a trabalhar melhor seus sentimentos e angústias,
superando a sensação de culpa e/ou fracasso, a identificar
preconceitos e atitudes errôneas e os auxilia na busca de
soluções para os problemas cotidianos. (Siqueira, 2009)
Atualmente a família passa por mudanças. Por exemplo: os vários
casamentos, os filhos de relações diferentes, os casais homossexuais; assim,
51
renovaram-se também as crises. É preciso cuidar da família. O individualismo
reinante, muitas vezes impede que atentemos para ela.
A procura por um terapeuta, quando isto se fizer necessário, permite
dedicar tempo e atenção a família, conferindo-lhe importância, reconhecimento
e consideração.
CONCLUSÃO.
A psicologia comunitária compreende o setor de atendimento
psicoterápico, que tem como finalidades atender às necessidades do grupo na
família, escola, trabalho, hospitais, etc.
A intervenções terapêuticas com famílias que habitam em
comunidades desfavorecidas são ações importantes na correção das
disfunções e problemas oriundos de debilidade de saúde mental de algum de
seus membros e objetivam melhorar o nível de vida da pessoa, providenciando
acesso a novos tipos de recursos, ajudando a vislumbrar um crescimento
pessoal e, possivelmente, profissional da pessoa acometida.
Se a família colabora nesta intervenção, todos os membros, em
especial o doente, dependendo do grau de comprometimento da esquizofrenia,
começa a melhorar a consciência de responsabilidade pessoal e auto-
suficiência em sua luta pela vida, desenvolve autodeterminação e iniciativa em
suas ações.
O ajuste à vida comunitária inclui a participação em eventos cívicos
em sua comunidade, assim podem ser vistos como iguais, não só na família,
mas pelo menos no seu grupo.
Algumas faculdades criaram o serviço de clínica para oferecer
estágio aos alunos de psicologia em processo de conclusão do curso enquanto
outras, em decorrência da necessidade de regulamentação do curso de
psicologia.
52
Muitas questões precisam ser aprofundadas a fim de que o
atendimento psicoterápico contribua realmente para a saude mental e melhoria
na qualidade de vida da população.
A comunidade familiar é o principal agente que molda o
comportamento humano, fornecendo valores e crenças e ensinando as
pessoas como enfrentarem as crises. No entanto, em adição ao problema
individual, os psicólogos comunitários reconhecem que não estão sós ao
tentarem melhorar a comunidade. Por esta razão trabalham com diversos
elementos profissionais, políticos e outros que possam promover a mudança.
Ao melhorar a comunidade supõe-se que os seus membros ficarão capacitados
a enfrentar a vida e seus problemas.
A união da Terapia de Família com a Psicologia Comunitária, pode
formar uma base sólida e funcionar como instrumento de suporte às famílias
dentro das comunidades, proporcionando melhor qualidade de vida em
especial ao paciente esquizofrênico na continuidade do seu tratamento
psiquiátrico.
"E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu
tempo ceifaremos, se não desfalecermos. Por isso, enquanto
tivermos oportunidade, façamos o bem a todos...." (Bíblia
Sagrada - Gálatas 6.9)
BIBLIOGRAFIA: Andery, Alberto Abib, http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1414-98931984000100005&script=sci_arttext, 1982 Ballone, Geraldo J., 2008, http://gballone.sites.uol.com.br/psicori.html#1, pesquisado em 06/09/2011 Barbosa, Isabel Rosana Borges, http://www.saudenainternet.com.br/portal_saude/um-olhar-sobre-a-terapia-de-familia.php, 2000, Pesquisado em 30/06/2011
53
Callile, M.J., 1972, COMUNIDADE EMQUESTÃO, Cia. Brasileira de Artes Gráficas, RJ. Callile Jr., M., FUNDAMENTOS DE PSIQUIATRIA (SOCIOPSIQUIATRIA), Cia. Brasileira de Artes Gráficas, RJ. Chowdari, K. V. e Nimgaonkar V. L., http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44461999000600004, 1999, pesquisado em 26/08/2011. Cilag, Jansen, http://www.janssen-cilag.pt/disease/detail.jhtml?itemname=schizophrenia_about, 2003, pesquisado em 12/09/2011. Collins, G. R. ACONSELHAMENTO CRISTÃO, 1984, Sociedade Brasileira Editora, Vila Nova, SP. Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda, NOVO DICIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA, 1986, Ed. Nova Fronteira. Kaplan, Harold I. & Sadock, Benjamin J., COMPÊNDIO DE PSIQUIATRIA, 1990, Artes Médicas, RS Kierkegaard, Søren Aabye, QUATRO DISCURSOS CONSTRUÍDOS, F. Hegel & søn, 1843. Lane, S.T.M., Codo, W., PSICOLOGIA SOCIAL, O HOMEM EM MOVIMENTO, 1985, Ed. Brasiliense S/A, SP. Macedo, R.M., PSICOLOGIA E INSTITUIÇÃO, 1984, Cortez Ed. SP. Santos, Wendel, CRÍTICA, UMA CIÊNCIA DA LITERATURA, 1983, UFG Editora. Siqueira, Solange, 2009, http://www.entendendoaesquizofrenia.com.br/conteudo.php?get_id=172 Stoetzel, J., PSICOLOGIA SOCIAL, 1972, Cia. Ed. Nacional, SP. Vellozo, S.L., TEORIA GERAL DA COMUNICAÇÃO COLETIVA, 1969, Ed. O Cruzeiro, RJ. Wannmacher, Lenita, http://www.opas.org.br/medicamentos/site/UploadArq/HSE_URM_APS_1104.pdf, Pesquisado em 30/06/2011.
54
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
ESQUIZOFRENIA 11
CAPÍTULO II
PSICOLOGIA COMUNITÁRIA 17
2.1. Objetivos da psicologia comunitária 17
2.1.1 Visões contrárias 18
2.1.2 Comunidade e associação 19
2.2. Ética da comunicação e dinâmica social 20
2.3. Psiquiatria, definição 22
2.4 Programa de pesquisa e prevenção 23
2.5 Estrutura de uma comunidade terapêutica 23
2.5.1 Diagnóstico da condição geral da comunidade 24
2.5.2 Diagnóstico sócio-psiquiátrico 25
2.6 Experiências em psicologia na comunidade 25
2.6.1 Experiências na área da saude mental da população 26
2.6.2 Experiências em grupos de mulheres e de jovens nos bairros 26
2.6.3 Experiências em instituições populares 27
2.7 Publicações de pesquisas participantes 28
2.8 Saude na comunidade colonial 30
2.9 A intervenção na comunidade - Ação terapêutica 31
2.9.1 Depoimento de Haun Grunspun 31
2.10 Psicologia e saude mental 36
55
2.11. Psicologia Clínica, Sociedade e Classes Sociais 37
2.12 Diferenças entre modelo clínico e comunitário 38
2.11.1 Atendimento 38
2.13. Informações de SPAs federais e particulares do Brasil 39
2.13.1 Puc do Rio de Janeiro 40
2.13.2 Universidade federal da Paraíba 41
2.13.3 Federação das faculdades Celso Lisboa 41
2.13.4 Universidade de São Paulo 41
2.13.5 Universidade Santa Úrsula 42
2.13.6 Puc de Minas Gerais 42
2.13.7 Cooperativa educacional dos docentes da faculdade de
humanidade Pedro II do Rio de Janeiro LTDA 43
2.13.8 Spa de Salvador 43
2.13.9 Comunidade religiosa 43
CAPÍTULO III
TERAPIA DE FAMÍLIA 45
CONCLUSÃO 51
BIBLIOGRAFIA 52
ÍNDICE 54