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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE OS JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS CÍVEIS E AS CONTRIBUIÇÕES PARA UM EFETIVO ACESSO À JUSTIÇA E A INOVADORA FACE DO PROCESSO ELETRÔNICO Por: Márcia Vieira do Nascimento Mangueira Orientador Prof. Dr. William Rocha Niterói 2010

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · seu ápice, a escola Pitagórica já simbolizava a justiça pela figura geométrica do quadrado, em razão da absoluta igualdade

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

OS JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS CÍVEIS E AS

CONTRIBUIÇÕES PARA UM EFETIVO ACESSO À JUSTIÇA E A

INOVADORA FACE DO PROCESSO ELETRÔNICO

Por: Márcia Vieira do Nascimento Mangueira

Orientador

Prof. Dr. William Rocha

Niterói

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

OS JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS CÍVEIS E AS

CONTRIBUIÇÕES PARA UM EFETIVO ACESSO À JUSTIÇA E A

INOVADORA FACE DO PROCESSO ELETRÔNICO

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Direito

Processual Civil

Por: Márcia Vieira do Nascimento Mangueira

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AGRADECIMENTOS

Ao Professor William Rocha, meu orientador, pelo

incentivo, paciência, compreensão e estímulo neste

final de curso.

Aos professores do curso pela dedicação e apoio

que me deram no momento que passei com a minha

saúde, procurando de forma amiga me ajudar nas

minhas necessidades acadêmicas e particulares.

Por último, pelo incentivo na busca do conhecimento

que contribuíram para a minha especialização

acadêmica.

Agradeço, também, à Universidade Cândido Mendes

e ao Coordenador do Curso de Pós-Graduação do

Instituto “A Vez do Mestre”.

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DEDICATÓRIA

A Deus, meu pai e criador por tudo que tem me

dado e por não deixar faltar nada em minha vida.

Ao meu pai “in memoriam” por todo carinho que

sempre me deu.

A minha mãe pelo orgulho que sente de mim.

A Fernando, meu marido, grande incentivador, razão

do meu sorriso, pois em todos os momentos se

encontra ao meu lado.

Aos meus filhos Fernanda e Guilherme, alegrias de

minha vida, pois torcem pelo meu sucesso

acadêmico e profissional.

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RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo analisar e mostrar as contribuições

mais importantes para o Direito processual Civil e, também, para o

jurisdicionado, trazidas pela Lei 10.0259/2001, frente ao acesso à justiça. Isto

como meio de desafogar a Justiça Comum e beneficiar as pessoas mais

carentes da sociedade em decorrência dos princípios orientadores dos

Juizados Especiais, elencados nos arts. 2º e 62 da Lei 9.099/95 que são:

oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade.

Procurará, também, enfatizar como a quebra do formalismo da Justiça

tradicional, faz com que a relação entre juiz e partes fique cada vez mais

próxima. Demonstrará os benefícios que trouxe a criação da Lei, como forma

de assegurar a justiça com o mínimo de sacrifício das garantias constitucionais

do contraditório e da ampla defesa, que são conquistas democráticas.

Finalmente analisará a questão dos chamados processos eletrônicos, e/ou

digitais, onde o tradicional processo de papel é substituído por um sistema

virtual que se utiliza da internet e intranet para a propositura e tramitação da

ação, visando facilitar o acesso da sociedade à Justiça, a fim de se obter uma

tutela jurisdicional mais célere e satisfatória.

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METODOLOGIA

Trata-se de um trabalho acadêmico em que, inicialmente, a consulta

bibliográfica consiste na busca teórica do tema proposto que deverá ser

desenvolvido por meio de livros; revistas; trabalhos publicados; artigos;

internet; e outros, a fim de possibilitar uma abordagem de qualidade dos

assuntos, tanto do ponto de vista jurídico, como econômico, político e social.

Em outro momento esta pesquisa possibilitará a observação dos

benefícios da inovação dos autos de papel em eletrônicos e/ou digitais, como

forma de acesso à justiça mais célere e informal.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Acesso à Justiça 12

CAPÍTULO II - Comentários e críticas aos Juizados Especiais 34

CAPÍTULO III – Juizados Especiais Federais Cíveis 41

CAPÍTULO IV – Processo Eletrônico 72

CONCLUSÃO 82

ANEXOS 85

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 97

FOLHA DE AVALIAÇÃO

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INTRODUÇÃO

“A Constituição Federal de 1988 ora trata do Juizado Especial de

Pequenas Causas (art. 24, X, da CF), cuja criação, funcionamento e processo

podem ser disciplinados em lei federal, estadual ou distrital

(concorrentemente), ora trata dos Juizados Especiais para Causas Cíveis de

menor complexidade e Infrações Penais de menor potencial ofensivo (art. 98, I,

da CF), cuja criação compete à União (no Distrito Federal e nos territórios) e

aos Estados-Membros (que concorrentemente legislarão tão-somente sobre

procedimentos em matéria processual).

A análise conjunta dos dispositivos indica que a competência

legislativa dos Estados-Membros e do Distrito Federal é mais ampla em

relação aos Juizados de Pequenas Causas do que em relação aos Juizados

Especiais, já que, inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados e o

Distrito Federal exercerão a competência legislativa plena em relação aos

Juizados de Pequenas Causas (inclusive quanto ao processo), atendendo às

suas peculiaridades e exercitando o objetivo maior da forma federativa do

Estado brasileiro (§ 3º do art. 24 da CF).

Direito processual é gênero que estabelece princípios e normas

destinados a garantir a administração da Justiça. Procedimento é uma das

partes do processo, é a forma como os princípios e normas devem ser

aplicados.

Leciona Arruda Alvim: “Os arts. 24, X, e 98, I, ambos da Constituição

Federal de 1988, indicam duas realidades distintas. Através do art. 24, X,

citado, verifica-se que o legislador constitucional assumiu a existência dos

Juizados de Pequenas Causas; já, tendo em vista o disposto no art. 98, I,

citado, constata-se que, nesta hipótese , refere-se o texto a causas cíveis de

menor complexidade. Estas, como se percebe, não são aquelas (ou, ao

menos, não devem ser aquelas) que dizem respeito ao Juizado de Pequenas

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Causas. No entanto, com a edição da Lei nº 9.099, de 26.09.95, ao que tudo

indica, acabara por serem unificadas, claramente, as sistemáticas dos

Juizados de pequenas causas e dos Juizados especiais de causa de menor

complexidade, ao menos naquelas relacionadas à matéria cível, isto porque foi

revogada expressamente a Lei nº 7.244/84 (Lei nº 9.099/95, art. 97), que

regulava o processamento perante os Juizados de Pequenas Causas Cíveis”.

No mesmo sentido as lições do Desembargador paulista Álvaro

Lazzarini, em bem elaborado trabalho apresentado no I Simpósio Nacional dos

Juizados Especiais e de Pequenas Causas Cíveis e Criminais, e de Geisa de

Assis Rodrigues.

Entendo possível que, por lei complementar estadual de iniciativa

dos Tribunais de Justiça daqueles estados cujos órgãos de segundo grau não

conseguem absorver a demanda por recursos em tempo razoável, sejam

criados os Juizados de Pequenas Causas Cíveis (JEPEC). Poderão ser

consideradas pequenas causas todas aquelas que, à época do seu

ajuizamento, tenham valor não superior a 60 salários mínimos.

O Juizado de Pequenas Causas (JEPEC), tão bem estudado por

João Piquet Carneiro, funcionaria dentro das seções dos ofícios de justiça

comum (cível, família, fazenda pública, acidentária etc.) e utilizaria a estrutura

daqueles, a exemplo do que se verifica com diversos dos Juizados Especiais

Criminais do Estado de São Paulo.

Os recursos interpostos contra decisões ou sentenças proferidas nas

pequenas causas distribuídas após a instalação dos JEPEC serão julgados por

Turmas de Recurso, formadas de juízes de Direito em exercício no Primeiro

Grau de jurisdição, conforme autoriza, por exemplo, a norma especial o art. 84,

§ 1º, da Constituição do Estado de São Paulo.

Observo, por fim, que no art. 56, II, da Lei nº 7.244/84 (revogada

pela Lei nº 9.099/95) havia previsão autorizando que processos diversos

fossem julgados por Turmas de juízes de Primeiro Grau, que anualmente

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Turmas de juízes de Primeiro Grau julgam milhares de recursos oriundos dos

Juizados Especiais Cíveis e que também na Lei de Execução Fiscal (art. 34, §

2º, da Lei nº 6.830/80) e na Lei nº 10.259/2001 ( que cria os Juizados Federais

para causas de até 60 salários mínimos) existe previsão de juízes de Primeiro

Grau julgando recursos em processos de pequeno valor.

Anote-se, por outro lado, que somente lei complementar federal (a

Lei nº 9.099/95 é ordinária) poderá autorizar os Estados-Membros a legislar

sobre temas processuais específicos (exceção feita justamente aos processos

de pequenas causas, nos termos do art. 22, I, e parágrafo único, da CF).

Em São Paulo os Juizados Estaduais são regidos pela Lei

Complementar nº 851/1998. (CHIMENTI, 2009, p. 1-3).”

A criação dos Juizados Especiais Federais se afigura como um

grande avanço na busca por uma rápida e efetiva prestação jurisdicional, vez

que contribui sobremaneira para aproximar a população menos favorecida,

economicamente ou culturalmente, do Poder Judiciário. Além disso, fomenta o

acesso à Justiça, desonera as instâncias superiores de uma infinidade de

recursos, possibilitando uma maior eficiência e celeridade no âmbito da Justiça

Federal.

Neste contexto, o presente trabalho tem por objetivo mostrar as

contribuições mais importantes para o Direito Processual Civil e, também, para

o jurisdicionado, trazidas por aquela lei. Deixando bem claro que pretendemos

enfocar, principalmente, o aspecto cível.

Em razão de ser uma lei inovadora e pioneira em diversos pontos,

aumenta a cada dia que passa o número de pessoas que procuram a Justiça

para a solução de seus litígios. Facilitar o acesso à Justiça dos menos

favorecidos tem sido a grande preocupação dos nossos aplicadores do direito,

de um modo geral, com vistas à garantia da razoável duração do processo,

reduzindo a morosidade do judiciário.

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Observaremos no decorrer deste trabalho como mais e mais

pessoas estão podendo ver seus direitos garantidos. Ou, na pior das

hipóteses, pelo menos sendo submetido ao crivo do Poder Judiciário.

Hoje, o Judiciário não parece tão distante assim. Mostraremos de

forma genérica alguns artigos desta lei e como eles facilitam o acesso à

justiça.

Por fim, de forma conclusiva, daremos enfoque aos processos

eletrônicos, ou seja, processos digitais e também às dificuldades enfrentadas

pelo Poder Judiciário, por seus serventuários e pelo jurisdicionado na

efetivação da prestação da tutela jurisdicional.

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CAPÍTULO 1 - ACESSO À JUSTIÇA

1.1. – Evolução do significado de acesso à justiça

“ A idéia e o significado da expressão acesso à justiça variam no

tempo, em função de uma série de elementos, de influências de natureza

política, religiosa, sociológica e filosófica”. (Carneiro, Paulo Cezar Pinheiro.

Acesso à Justiça – Juizados Especiais Cíveis e Ação Civil Pública. Rio de

Janeiro : Forense, 2000, p. 3)

Segundo o mesmo autor:

A Grécia antiga foi o berço das primeiras discussões filosóficas sobre o direito que vieram a influenciar várias correntes no decorrer da história. Especificamente no que interessa ao tema proposto, foi naquela época que começou a tomar forma a expressão hoje conhecida como isonomia, e cuja concepção, somada a correntes filosóficas como a jusnaturalista, teria grande influência no futuro, no que concerne à questão dos direitos humanos. É importante registrar que, antes mesmo do aparecimento do pensamento socrático, a partir do qual a filosofia grega alcançou o seu ápice, a escola Pitagórica já simbolizava a justiça pela figura geométrica do quadrado, em razão da absoluta igualdade dos seus lados, além da utilização de algarismos. Dos três grandes filósofos dessa época, conhecida como a época de ouro da filosofia antiga, foi Aristóteles o formulador do que hoje entendemos por teoria da justiça. [...] Foi Aristóteles quem primeiro falou sobre a possibilidade de o juiz adaptar a lei à situação concreta. A régua de Lesbos, que, por ser de chumbo, possuía flexibilidade suficiente para se adaptar à forma da pedra, foi à imagem precisa de eqüidade. Assim o juiz também deveria proceder relativamente aos casos levados ao seu conhecimento, adaptando a lei. Notadamente em função do modelo democrático adotado por algumas cidades-estados gregas, o poder-dever de julgar não competia a cidadãos especializados tecnicamente (juízes especializados como entendemos hoje), mas à totalidade dos cidadãos, reunidos em assembléia, cabendo aos magistrados, basicamente, a execução das decisões assembleares; ou seja, uma

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função ancilar. A função judicante, no auge da democracia, é também exercida pelos cidadãos. É exemplo eloqüente o julgamento de Sócrates. De outro lado, ainda em razão do predomínio do ideal democrático (com a ligação intrínseca entre o modelo ideal e a prática jurídica), qualquer cidadão poderia acionar a justiça. O acesso é amplo e quase irrestrito aos cidadãos. Havia restrições indiretas, como, por exemplo, a imposição de multas por acusações improcedentes e a necessidade de possuir interesse na demanda. É importante registrar, antecedente a esse pensamento aristotélico, o pensamento socrático, que trazia acenos a uma doutrina positivista, na medida em que pregava a estrita obediência à lei – para ele, esta última se confundia com a noção de justiça. Já Aristóteles distinguia o justo segundo a lei do eqüitativo, considerando este último valor superior àquele porque poderia ultrapassar e corrigir a própria lei estrita. Foi também Atenas o berço da assistência judiciária aos pobres. Naquela época, anualmente, eram nomeados 10 advogados para prestar assistência jurídica àquelas pessoas consideradas à época como carentes. [...] A religião desenvolve-se, e com ela o Estado, que passa a assumir a função de resolver conflitos intersubjetivos. Primeiramente era necessário que o cidadão comparecesse diante do magistrado – pretor (já aqui diferente do sacerdote) – e aceitasse a decisão. O pretor elaborava a regra a ser aplicada (não é o momento de discutir a função criadora do pretor romano) e indicava um árbitro, o qual decidiria a questão. Com o tempo, o pretor não apenas elabora a regra a ser aplicada, mas assume também a função de julgar, de aplicar o direito, e vai além, submete o cidadão ao seu poder, o poder estatal. É a justiça pública. Falamos de jurisdição. [...] A evolução dessa idéia de acesso á justiça prossegue durante o período medieval – Idade Média bizantina e européia, séculos IV e V até o começo do pensamento moderno, com o Renascimento, séculos XV e XVI. A predominância, nesse período, do Cristianismo trouxe forte concepção religiosa ao direito, fazendo com que o homem justo fosse medido pela fé,1

Outros registros remontam à fundação de Roma (séc. VIII AC.). Ao

tratar de sua organização institucional, Rômulo teria atribuído a denominação

de “patronos” aos poderosos do povo, a quem caberia a “proteção” dos menos

favorecidos, que chamou “clientes”.

Os patronos explicavam as leis aos seus clientes, defendiam-nos

em Juízo, aconselhavam-nos e os ajudavam em tudo. Em troca os clientes

1 Id. Ibid., p.4-9

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mostravam seu devotamento não apenas honrando seus patrões, mas até

mesmo auxiliando-os no pagamento de dívidas.2

De acordo com Mauro Cappelletti e Bryant Garth: “O conceito de

acesso à justiça tem sofrido uma transformação importante, correspondente a

uma mudança equivalente no estudo e ensino e ensino do processo civil. Nos

estados liberais “burgueses” dos séculos dezoito e dezenove, os

procedimentos adotados para a solução dos litígios civis refletiam a filosofia

essencialmente individualista dos direitos, então vigorante. Direito ao acesso à

proteção judicial significava essencialmente o direito formal do indivíduo

agravado de propor ou contestar uma ação. A teoria era a de que, embora o

acesso à justiça pudesse ser um “direito natural”, os direitos naturais não

necessitavam de uma ação do Estado para sua proteção3”. Esses direitos

eram considerados anteriores ao Estado; sua preservação exigia apenas que o

Estado não permitisse que eles fossem infringidos por outros. O Estado,

portanto, permanecia passivo, com relação a problemas tais como a aptidão de

uma pessoa para reconhecer seus direitos e defendê-los adequadamente, na

prática.

Afastar a “pobreza no sentido legal” — a incapacidade que muitas

pessoas têm de utilizar plenamente a justiça e suas instituições — não era

preocupação do Estado. A justiça, como outros bens; no sistema do laissez-

faire, só podia ser obtida por aqueles que pudessem enfrentar seus custos;

aqueles que não pudessem fazê-lo eram considerados os únicos responsáveis

por sua sorte. O acesso formal, mas não efetivo à justiça, correspondia à

igualdade, apenas formal, mas não efetiva.

Mesmo recentemente, com raras exceções, o estudo jurídico

também se manteve indiferente às realidades do sistema judiciário: “Fatores

2 http://www.mj.gov.br/defensoria/art_alexandre.htm. A Garantia Fundamental de Acesso do Necessitado à Justiça. Acesso em 26/09/2004. 3Para uma análise mais detalhada desse tema veja CAPPELLETTI. General Report (Relatório Geral). In: CAPPELLETTI, M.& TALLON, D. ed., Fundamental Guarantees of the Partiesin Civil Litigation. (As Garantias Fundamentias das Partes no Processo Civil). Milão, Dobbs Ferry; N.Y., Giuffré/Oceana, 1973, p. 659, 726-40.

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como diferenças entre os litigantes em potencial no acesso prático ao sistema,

ou a disponibilidade de recursos para enfrentar o litígio, não eram sequer

percebidos como problemas”4. O estudo era tipicamente formalista, dogmático

e indiferente aos problemas reais do foro cível. Sua preocupação era

freqüentemente de mera exegese ou construção abstrata de sistemas e

mesmo, quando ia além dela, seu método consistia em julgar as normas de

procedimento à base de validade histórica e de sua operacionalidade em

situações hipotéticas. As reformas eram sugeridas com base nessa teoria e

procedimento, mas não na experiência da realidade. Os estudiosos do direito,

como o próprio sistema judiciário, encontravam-se afastados de preocupações

reais da maioria da população.

Á medida que as sociedades do laissez-faire cresceram em

tamanho e complexidade, o conceito de direitos humanos começou a sofrer

uma transformação radical. A partir do momento em que as ações e

relacionamentos assumiram, cada vez mais, caráter mais coletivo que

individual, as sociedades modernas necessariamente deixaram para trás a

visão individualista dos direitos, refletida nas “declarações de direitos”, típicas

dos séculos dezoito e dezenove. O movimento fez-se no sentido de reconhecer

os direitos e deveres sociais dos governos, comunidades, associações e

indivíduos5. Esses novos direitos humanos, exemplificados pelo preâmbulo da

Constituição Francesa de 1946, são, antes de tudo, os necessários para tornar

efetivos, quer dizer, realmente acessíveis a todos, os direitos antes

proclamados6. Entre esses direitos garantidos nas modernas constituições

4 CHAYES. “ The Role of the Judge in Public Law Litigation. (O Papel do Juiz nos conflitos de Direito Público). In: Harvard Law Review, v. 89, 1976, p. 1041-1048. 5 Vide, por exemplo, CAPPELLETTI, M., Processo e Ideologie. Bolonha, II Molino, 1969, p. 511-24; SCARMAN, L. English Law — The %ew Dimension. ( o Direito Inglês — Uma %ova Dimensão). Londres, Stevens & Sons, 975, p. 28-50, HÄBERLE. “Grundrecht im Leistingsstaat”. In: Veröffentlichungen Der Deutschen Staatsrechtslehrer, v. 30,\berlim/N.Y. de Gruyter, 1972, p. 76, 90, 99. 6 O Preâmbulo da Constituição Francesa de 1946, que foi expressamente incorporado ao Preâmbulo da atual Constituição de 1958, reconhece que o acréscimo de novos direitos “sociais” e “econômicos” aos direitos civis tradicionais é “particularmente necessário em nosso tempo”. Vide, também, por exemplo, o artigo 3º, § 2º da Constituição Italiana de 1948; os artigos 20 e 28 da Lei Fundamental da República Federal da Alemanha (Grundgesetz). Acesso à Justiça – Mauro Cappelletti – 1988.

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estão os direitos ao trabalho, à saúde, à segurança material e à educação7.

Tornou-se lugar comum observar que a atuação positiva do Estado é

necessária para assegurar o gozo de todos esses direitos sociais básicos8.

Não è surpreendente, portanto, que o direito ao acesso efetivo à justiça tenha

ganho particular atenção na medida em que as reformas do welfare state têm

procurado armar os indivíduos de novos direitos substantivos em sua

qualidade de consumidores, locatários, empregados e, mesmo, cidadãos9. De

fato, o direito ao acesso efetivo tem sido progressivamente reconhecido como

sendo de importância capital entre os novos direitos individuais e sociais, uma

vez que a titularidade de direitos é destituída de sentido, na ausência de

mecanismos para sua efetiva reivindicação10. O acesso à justiça pode,

portanto, ser encarado como o requisito fundamental — o mais básico dos

direitos humanos — de um sistema jurídico moderno e igualitário que pretenda

garantir, e não apenas proclamar os direitos de todos.

O enfoque sobre o acesso — o modo pelo qual os direitos se

tornam efetivos — também caracteriza crescentemente o estudo do moderno

processo civil. A discussão teórica, por exemplo, das várias regras do processo

civil e de como elas podem ser manipuladas em várias situações hipotéticas

7 Vide, por exemplo, o Preâmbulo da Constituição Francesa de 1946. 8 Vide, por exemplo, CALAMANDREI, P. Opere Giuridiche. (Obras Jurídicas). Nápoles, Morano, M. Cappelletti ed., 1968, v. 3, p. 183-210; e CLAUDE. “The Classical Modelo f Human Rights Development”. (O Modelo Clásico de Desenvolvimento de Recursos Humanos). In: Comparative Human Rights. (Direitos Humanos Comparados). Baltimore, John Hopkins University Press, R. Claude ed., 1976, onde se diz que “os direitos positivos geralmente pressupõem uma obrigação afirmativa do Estado”. 9 Provavelmente o primeiro reconhecimento explícito do dever do Estado de assegurar igual acesso à justiça (pelo menos quando as partes estejam na Justiça) veio o Código Austríaco de 1895, que conferiu ao juiz um papel ativo para equalizar as partes. Vide CAPPELLETTI. “Social and Political Aspects of Civil Procedure —Reforms and Trends in Western and Eastern Europe”. (Aspectos Políticos e Sociais do Processo Civil — Reformas e Tendências na Europa Ocidental e oriental). In: Mich. L. Ver., v. 69, 1971, p. 847, 854-55 e nota 38. Mais recentemente, uma tendência moderna tem sido a de desenvolver o “direito social” ao acesso através dos direitos fundamentais de ação e defesa. Vide, por exemplo, o artigo 3º, § 2º e o artigo 24, § 3º da Constituição Italiana de 1948; o artigo 6º da Constituição Européia para a Proteção dos Direitos Humanos e Liberdades Fundamentais. Vide, por exemplo, Corte Constitucional, Decisão de 22 de dezembro de 1961. In: Giur. Ital. (Giurisprudenza Italiana). v. III, nº 70 (1971), p. 1282. 10 Como observou o Professor Richard Claude, “A efetividade ou proteção processual é apenas outro aspecto do conteúdo do Direito”. “Comparative Rights Research: Some Intersections between Law and the Social Sciences”. (Pesquisa em Direito Comparado: Algumas relações entre o Direito e as Ciências

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pode ser instrutiva, mas, sob essas descrições neutras, costuma ocultar-se o

modelo freqüentemente irreal de duas (ou mais) partes em igualdade de

condições perante a corte, limitadas apenas pelos argumentos jurídicos que os

experientes advogados possam alinhar. O processo, no entanto, não deveria

ser colocado no vácuo. Os juristas precisam, agora, reconhecer que as

técnicas processuais servem a funções sociais11; que as cortes não são a

única forma de solução de conflitos a ser considerada12 e que qualquer

regulamentação processual, inclusive a criação ou o encorajamento de

alternativas ao sistema judiciário formal tem um efeito importante sobre a

forma como opera a lei substantiva — com que freqüência ela é executada, em

benefício de quem e com que impacto social. Uma tarefa básica dos

processualistas modernos é expor o impacto substantivo dos vários

mecanismos de processamento de litígios. Eles precisam, conseqüentemente,

ampliar sua pesquisa para mais além dos tribunais e utilizar os métodos de

análise da sociologia, da política, da psicologia e da economia, e ademais,

aprender através de outras culturas. O “acesso” não apenas um direito social

fundamental, crescentemente reconhecido; ele é, também, necessariamente, o

ponto central da moderna processualística. Seu estudo pressupõe um

alargamento e aprofundamento dos objetivos e métodos da moderna ciência

jurídica”. (Acesso à Justiça – Tradução e Revisão: Ellen Gracie Northfleet, p. 9-

13.)

Sociais). In: Comparative Human Rights. (Direitos Humanos Comparados). Nota supra nº 6(8), p. 382, 395. 11 Como observou acuradamente o grande estudioso austríaco Franz Klein, em 1906, “o fenômeno árido, esquálido e negligenciado que é o processo civil está, de fato, estreitamente ligado aos grandes movimentos intelectuais dos povos: e ... suas diversas manifestações estão entre os documentos mais importantes da cultura da humanidade.” Zeit und Geistesströmangen im Prozesse. Frankfurt am Main, Klostermann, 2ª Ed., 1958, p. 8. Vide, também, CALAMANDREI, P. Procedure and Democracy. (Processo e Democracia). New York, New York University Pres, 1956. 12 Naturalmente, as atividades dos tribunais ajudam a determinar que outros meios de solução de litígios estão disponíveis, como eles são utilizados e quais serão os resultados. Vide, por exemplo, GALANTER. “Why the Haves’ Come Out Ahead: Speculations on the Limits of Legal Change”. (Por que só são beneficiados os que “tem”? Especulações sobre os Limites da Reforma Judiciária) In: Law and Society Review. v. 9, 1974, p. 95. Acesso à Justiça – Mauro Cappelletti – 1988.

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1.2. – Evolução do acesso à justiça no Brasil

O movimento mais relevante que aconteceu no Brasil como forma

de manifestação de acesso à justiça, foi aquele conhecido como Inconfidência

Mineira, este ocorrido no final do século XVIII.

Os estudantes brasileiros que estudavam nas universidades

européias — principalmente as de Coimbra, Paris e Londres — influenciaram

sobremaneira a luta que foi travada em Vila Rica.

O nosso primeiro filósofo Tomaz Antonio Gonzaga juntou-se a

Cláudio Manuel da Costa, Inácio José de Alvarenga e ao Cônego Luis Vieira

da Silva, um dos pensadores do movimento da Inconfidência Mineira. Tomaz

Antonio Gonzaga publicou um tratado de direito natural no qual relatou

minuciosamente, os requisitos para eu uma lei fosse tida como adequada, a

qual seria honesta, e não ofenderia a utilidade pública.

Paulo Cezar Pinheiro diz ainda:

As Ordenações Filipinas, que passaram a vigorar no Brasil a partir de 11 de janeiro de 1603, continham algumas disposições relativas a um suposto direito de as pessoas pobres e miseráveis terem o patrocínio de um advogado. Merece ênfase um dispositivo nas Ordenações, da mais alta importância para os dias de hoje, inspirado no princípio da igualdade material, da igualdade das armas entre as partes mais menos favorecidas, verbis: “O juiz deve sempre preferir o advogado de mais idade e de melhor fama aos mais moços e, principalmente, a fim de que não seja mais perito o da parte contrária”. Mesmo após a proclamação, da Independência do Brasil em 1822, na primeira quadra do século XIX, o panorama, no que diz respeito ao acesso à justiça e à própria noção de liberdade colhida das revoluções européias, pouco se modificara. [...] A verdade é que o acesso à justiça como entendemos hoje, ou mesmo próximo dele, simplesmente inexistiu no Império brasileiro, até porque é fruto de um processo histórico e político ainda não consolidado àquela altura da evolução do País.

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[...] A noção de acesso à justiça como atividade caritativa, como favor prestado aos mais pobres única e exclusivamente no campo da litigância, do processo, e em especial na área penal, foi à tônica dominante durante grande parte do século atual, que, nos países em desenvolvimento como o Brasil, retrata o ideário de Estado liberal ( a igualdade meramente formal) [...]13.

Até bem pouco tempo, entendia-se por acesso à justiça, o acesso

aos tribunais. A Constituição de 1988 que traz no seu Preâmbulo uma intenção

de instituir um Estado Democrático, destinado à assegurar o exercício dos

direitos e elege a justiça como um dos valores supremos de uma sociedade

que se pretende fraterna e pluralista, não poderia também deixar de assegurar

a inafastabilidade do controle jurisdicional.

Todas as Constituições brasileiras fizeram referência ao princípio da

garantia da via judiciária. Não como mera forma de acesso aos tribunais, mas

a garantia de que a via judiciária estaria aberta para a defesa de todo e

qualquer direito, tanto contra particulares, como contra poderes públicos,

independentemente das capacidades econômicas e intelectuais de cada um.

Essa concepção, embora ainda dominante, já não satisfaz. Pode

parecer meio utópica a garantia de acesso ao Judiciário, quando tantos

problemas são enfrentados na busca desse direito.

Cappelletti, em Acesso à Justiça, traduzido por Ellen Gracie chama-

nos a atenção para um dos problemas do acesso á justiça: “Embora o acesso

efetivo à justiça venha sendo crescentemente aceito como um direito social

básico nas modernas sociedades, o conceito “efetividade” e, por si só, algo

vago. A efetividade perfeita, no contexto de um dado direito substantivo,

poderia ser expressa como a completa “igualdade de armas” — a garantia que

a conclusão final depende apenas dos méritos jurídicos relativos das partes

antagônicas, sem relação com diferenças que sejam estranhas ao Direito e

que, no entanto, afetam a afirmação e reivindicação dos direitos. Essa perfeita

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igualdade, naturalmente, é utópica. As diferenças entre as partes não podem

jamais ser completamente erradicadas. A questão é saber até onde avançar na

direção do objetivo utópico e a que custo. Em outras palavras, quantos dos

obstáculos ao acesso efetivo à justiça podem e devem ser atacados? A

identificação desses obstáculos, conseqüentemente, é a primeira tarefa a ser

cumprida”.14

Campilongo, em o Direito na Sociedade Moderna citando

Cappelletti, adverte que juristas em geral e processualistas de modo particular

são concordes, que o acesso à justiça pode ser “encarado como requisito

fundamental — o mais básico dos direitos humanos — de um sistema jurídico

moderno e igualitário que pretenda garantir, e não apenas proclamar, os

direitos de todos”. E lamenta que paradoxalmente, nossas estruturas de ensino

jurídico, práticas judiciais, hábitos profissionais, pesquisa e teorias jurídicas,

prestação de serviços legais, etc., não têm dado o devido valor ao tema

“acesso à justiça”.

Campilongo faz mais uma advertência: “Na tipologia tradicional o

“acesso à justiça” é confundido com o acesso aos tribunais”.

Se acesso à justiça, na tipologia tradicional, é confundido com

acesso aos tribunais, o que deve ser entendido, como acesso à justiça?

A observação inicial, que deve ser feita, é que acesso à Justiça é

direito fundamental. Está expresso no artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição

da República Federativa do Brasil de 1988:

“a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou

ameaça a direito”.

Interpreta-se que, quando a Constituição normatiza que a lei não

excluirá da apreciação do Judiciário, lesão ou ameaça a direito, quer garantir,

13 Ibid., p. 34-37.

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principalmente a eficácia das decisões judiciais em benefício dos

jurisdicionados, de todos os jurisdicionados, ricos ou pobres,

indiscriminadamente.

Trata-se de uma garantia de direito, não simplesmente na tipologia

tradicional de peticionar. Se assim fosse, a norma constitucional seria de

nenhuma valia. Bastaria peticionar e a garantia, estabelecida no artigo 5º,

inciso XXXV, estaria realizada; teria, a norma, alcançado seu propósito.

Não pode ser esse o melhor entendimento Interpretando-se o

direito em sua integridade, entende-se que a garantia constitucional somente

se aperfeiçoará se, além de não haver exclusão legal da apreciação judicial,

que também haja a garantia formal do Judiciário de não ser excluída a

apreciação a lesão a direito ou de ameaça a direito com a real reparação do

direito lesionado ou, até mesmo, impedindo, preventivamente, que a ameaça a

direito se concretize, isto é, a decisão judicial tem que ser eficaz [conforme

melhor análise].

Essa, todavia, não têm sido a tipologia tradicional. Tem-se

acreditado e proclamado, como se lê em José Afonso da Silva o seguinte:

“Formalmente, a igualdade perante a Justiça está assegurada pela

Constituição, desde a garantia de acessibilidade a ela (art. 5º, XXXV). Mas

realmente essa igualdade não existe”, pois está bem claro hoje, que tratar

“como igual” a sujeitos que econômica e socialmente estão em desvantagem,

não é outra senão uma ulterior forma de desigualdade e de injustiça (Cf.

Cappelletti, Peróxido, Ideologia e Sociedade, p.67). Os pobres têm acesso

muito precário à Justiça. Carecem de recursos para contratar bons advogados.

O patrocínio gratuito se revelou de alarmante deficiência. A Constituição

tomou, a esse propósito, providência que pode concorrer para a eficácia do

dispositivo, segundo o qual o Estado prestará assistência jurídica integral e

14 Cappelletti, Mauro. Acesso à Justiça. Tradução de Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre, fabris, 1988, p. 15.

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gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos (art. 5º, LXXIV).

Referimo-nos à institucionalização das Defensorias Públicas, a quem

incumbirá a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos

necessitados, na forma do art. 5º, LXXIV15. [...]

Extrai-se das lições de Mauro Cappelletti16 a dificuldade de se definir

acesso à justiça. A par dessa dificuldade, tal definição deve analisar a

finalidade da justiça no sistema jurídico que é de possibilitar aos sujeitos

reivindicarem seus direitos, resolvendo ou não seus litígios e produzir

resultados socialmente e individualmente justos.

Os caminhos a serem trilhados no afã de superar as dificuldades e

obstáculos que tornam inacessível aos cidadãos a concretização das

liberdades garantidas pela nossa Carta Magna passam, necessariamente, por

mudanças normativas, não obstante sejam essas insuficientes para tão difícil

mister.

Carreira Alvim leciona que:

O acesso à justiça é um produto da obra de CAPPELLETTI, e mereceu, no Brasil, uma aceitação não vista em outras partes do mundo. Falar de “acesso à justiça” é como que pronunciar uma palavra mágica, do tipo “abra-te Cézamo”, em que se descerra uma larga porta pela qual todos passam, desde os mais miseráveis até os mais abastados, só que, infelizmente, pouquíssimos saem num prazo razoável. Infelizmente, nem as ondas cappellettinianas, varreram o continente latino-americano, e, em especial, o Brasil, conseguiram fazer da justiça uma instituição confiável, eliminando, ou pelo menos, atenuando, satisfatoriamente, o sofrimento de quem se vê obrigado a demandar em juízo a satisfação do seu direito. Não resta a menor dúvida de que a obra de CAPPELLETTI foi um marco na busca de soluções para tornar a Justiça uma instituição acessível a todos, e a sua grande repercussão animou os operadores

15 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 15 ed. Revista. São Paulo: Malheiros, 1998. p. 222/223. (http://www1.jus.com.br/doutrina/texto - acessado em 06/01/2010. 16 Cappelletti, Mauro. Acesso à Justiça. Trad. Por Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre: Fabris, 1988.

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do direito a partir em busca de novos caminhos, reformulando as estruturas judiciárias, e, especialmente, as legislações processuais, com o propósito de alcançar esse objetivo17.

Sobre a definição de acesso à justiça, oportunas são as palavras da

renomada professora Ada Pellegrini Grinover:

Acesso à justiça, longe de confundir-se com acesso ao judiciário, significa algo mais profundo: pois importa no acesso ao justo processo, como conjunto de garantias capaz de transformar o mero procedimento em um processo tal, que viabilize, concreta e efetivamente, a tutela jurisdicional18.

Com o objetivo de abrir novos caminhos para a solução dos conflitos

e ampliar o acesso à Justiça, a Constituição Federal em seu artigo 98, I, tornou

obrigatória a criação de “juizados especiais” [uma das formas de acesso à

justiça, como já dito anteriormente] providos por juízes togados, ou togados e

leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas

cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo,

mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses

previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes

de primeiro grau”. O parágrafo único do mesmo artigo, acrescentado pela

Emenda Constitucional no. 22/99, atribuiu à Lei Federal a competência para

dispor sobre a criação de Juizados Especiais no âmbito da Justiça Federal.

Assim, os Juizados Especiais, criados pela Lei 10.259 de 12 de julho

de 2001 representam um grande passo para eliminar as dificuldades de

acesso à justiça pelos cidadãos, mormente os menos favorecidos econômica e

culturalmente.

Os Juizados Especiais Federais trarão [trouxeram] maior

racionalidade no sistema processual, permitindo que as causas mais simples,

17 http://www1.jus.com.br/doutrina. ALVIM. J. E. Carreira. Justiça: Acesso e Descesso. Acessado em 06/01/2010.

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de valores menos expressivos, tenham tramitação mais acelerada e

desburocratizada, possibilitando, por conseqüência, aos Tribunais Superiores

uma maior disponibilidade de tempo para examinarem as questões mais

complexas.

De acordo com CARREIRA ALVIM, com efeito, a criação dos

Juizados Especiais Federais é:

Uma solução diversa da justiça tradicional feita nos moldes do Código de Processo Civil, ainda apegada ao formalismo, e, sobretudo uma excelente oportunidade para democratizarmos o processo, tratando as partes paritariamente, sem qualquer privilégio para os entes federais19.

Isto porque os Juizados Especiais Federais vêm acompanhados de

institutos próprios e particularidades, direcionadas, a uma rápida e abrangente

resposta aos conflitos sociais, sem demora e desprovida das mazelas

arraigadas no procedimento da Justiça comum.

1.3. – Evolução do acesso à justiça no Brasil

O recente despertar de interesses em torno do aceso efetivo à

Justiça levou três posições básicas, pelo menos nos países do mundo

Ocidental. Tendo início em 1965, estes posicionamentos emergiram mais ou

menos em seqüência cronológica20. Podemos afirmar que a primeira solução

18 GRINOVER, Ada Pellegrini in Kazuo Watanabe apud THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, vol. III. 32 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 417. 19 Juizados Especiais Federais. Informativo Incijur, Joinville, SC, ano I, no. 08, p. 4-7, mar. 2000. 20 Note-se a coincidência cronológica com os estudos teóricos. O progresso verificou-se um tanto depois, fora dos Estados Unidos. Na Inglaterra, por exemplo, muitos vestígios podem ser localizados através da publicação, em 1968, da Society of Labour Lawyers, Justice for All. (Justiça para Todos). London, Fabian

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para o acesso — a primeira “onda” desse movimento novo — foi a assistência

judiciária; a segunda dizia respeito às reformas tendentes a proporcionar

representação jurídica para os interesses “difusos”, especialmente nas áreas

de proteção ambiental e do consumidor; e o terceiro — e mais recente — é o

que propomos a chamar simplesmente “enfoque de acesso à justiça” porque

inclui os posicionamentos anteriores, mas vai muito além deles, representando,

dessa forma, uma tentativa de atacar as barreiras ao acesso de modo mais

articulado e compreensivo. (CAPPELLETTI - Acesso à Justiça – tradução Ellen

Gracie – 1988, p. 31)

Então, três são as ondas visualizadas por seus idealizadores:

1) assistência judiciária para os pobres;

2) representação dos interesses difusos; e,

3) acesso à representação em juízo, a uma concepção mais ampla de

acesso à justiça e um novo enfoque de acesso à justiça.

1.3.1. 1ª Onda: “Assistência judiciária para os pobres”.

A primeira onda busca os meios de facilitar o acesso das classes

menos favorecidas à justiça, através da assistência judiciária gratuita onde os

advogados particulares são pagos pelo Estado. A finalidade desse sistema é

proporcionar aos litigantes de baixa renda a mesma representação (em juízo)

que teriam se pudessem pagar um advogado. Este sistema é denominado de

judicare. Entretanto é bom enfatizar que o endereçamento do honorário é para

o Estado e não para o cliente.

Society, 1968, ainda que alguns progressos importantes possam ser localizados até mesmo no final da década de quarenta.

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Em alguns lugares, como por exemplo, na França o sistema

judiciare, foi idealizado não apenas para os pobres, mas também para algumas

pessoas acima do nível de pobreza.

Neste particular Cappelletti (1988) registrou o seguinte:

O judicare desfaz a barreira de custo, mas faz pouco para atacar barreiras causadas por outros problemas encontrados pelos pobres. Isso porque ele confia aos pobres a tarefa de reconhecer as causas e procurar auxílio; não encoraja, nem permite que o profissional individual auxilie os pobres a compreender seus direitos e identificar as áreas em que se podem valer de remédios jurídicos. É sem dúvida, altamente sugestivo que os pobres tendam a utilizar o sistema judicare principalmente para problemas que lhes são familiares — matéria criminal ou de família — em vez de reivindicar seus novos direitos como consumidores, inquilinos, etc. Ademais, mesmo que reconheçam sua pretensão, as pessoas pobres podem sentir-se intimidadas em reivindicá-la pela perspectiva de comparecerem a um escritório de advocacia e discuti-la com um advogado particular. Sem dúvida, em sociedades em que os ricos e os pobres vivem separados, pode haver barreiras tanto geográficas quanto culturais entre os pobres e o advogado. Ademais, é evidente que a representação através de profissionais particulares não enfrenta as desvantagens de uma pessoa pobre frente aos litigantes organizacionais. Mais importante, o judicare trata os pobres como indivíduos, negligenciando sua situação de classe21.

1.3.2. 2ª Onda. “Representação dos interesses difusos”

Esta onda centraliza sua preocupação nos interesses difusos,

forçando a reflexão sobre noções básicas do processo civil e sobre o papel dos

tribunais nos diversos sistemas jurídicos. Numa primeira percepção, são

chamados de interesses difusos os “interesses coletivos ou grupais”, diversos

daquele interesse dos pobres, que caracteriza a primeira onda.

21 Id. Ibid., p. 38 e 39.

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A preocupação com a segunda onda resultou da incapacidade de o

processo civil tradicional, de cunho individualista, servir para a proteção dos

direitos ou interesses difusos. É que o processo civil foi sempre visto como

campo de disputa entre particulares, tendo por objetivo a solução de

controvérsia entre eles a respeito de seus próprios direitos individuais.

Percebeu-se, no entanto, que se o direito ou interesse não pertencia

a ninguém é porque pertencia a todos, e, a partir desse enfoque, cuidou-se de

buscar meios adequados à tutela desses interesses, que não encontravam

solução confortável na esfera do processo civil.

Essa onda permitiu a mudança de postura do processo civil, que, de

uma visão individualista, fundou-se numa concepção social e coletiva, como

forma de assegurar a realização dos “direitos públicos” relativos a interesses

difusos.

A melhor solução para garantir a efetividade da tutela dos direitos e

interesses difusos, é, sem dúvida, a mista (ou pluralista), em que a iniciativa

privada se conjuga com a atividade pública, neutralizando inclusive eventuais

influências políticas que possam comprometer a eficiência da tutela de

interesses que pertençam a toda a sociedade ou a determinado segmento

dela.

Sobre esta influência podemos citar um trecho de CAPPELLETTI:

[...] A triste constatação é que, tanto em países de common Law, como em países de sistema continental europeu, as instituições governamentais que, em virtude de sua tradição, deveriam proteger o interesse público, são por sua própria natureza são incapazes de fazê-lo. O Ministério Público dos sistemas continentais e as instituições análogas, incluindo o Staatsanwalt alemão e a Prokuratura soviética, estão inerentemente vinculados a papéis tradicionais restritos e não são capazes de assumir, por inteiro, a defesa de interesses difusos recentemente surgidos (mesma postura no Brasil – grifo nosso). Eles são amiúde sujeitos a pressão política — uma

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grande fraqueza, se considerarmos que os interesses difusos, freqüentemente, devem ser afirmados contra entidades governamentais [...]22.

1.3.3. 3ª. Onda: “Acesso à representação em juízo, a uma

concepção mais ampla de acesso à Justiça, e um novo

enfoque de acesso à Justiça”

Essa onda encoraja a exploração de uma ampla variedade de

reformas, incluindo alterações das formas de procedimento, mudanças na

estrutura dos tribunais ou a criação de novos tribunais, o uso de pessoas

leigas, como juízes e como defensores, modificações no direito substantivo

destinadas a evitar litígios ou facilitar sua solução, e a utilização de

mecanismos privados ou informais de solução dos litígios.

A diversificação dos litígios recomenda que os procedimentos sejam

adequados à sua solução, e que esta se dê por órgãos jurisdicionais, sempre

com vistas no curso beneficio. Não tem sentido que questões altamente

técnicas sejam entregues à solução de juízes de direito, que, para solucioná-

las vão louvar-se em peritos, sendo mais lógico que sejam resolvidas por

técnicos, integrantes de tribunais arbitrais, que é mais uma das formas de

acesso a justiça.

Deve-se adotar procedimentos simples para demandas simples, e

procedimentos complexos para demandas complexas. Além disso, o

procedimento deve contar com a presença de leigos (estagiários de direito, por

exemplo), com atividade de auxilio aos juízes, não apenas na movimentação

do processo (juntada, vista, etc.), mas da própria instrução. É de se notar

também, que a participação de servidores especializados na instrução de

22 Id. Ibid., p. 52 e 53.

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processos, notadamente na tomada de depoimentos de partes, e testemunhas,

reservando-se ao juiz o poder de reinquiri-las, caso entenda necessário para o

esclarecimento dos fatos.

Os métodos alternativos de resolução de conflitos, fora da justiça

pública devem ser também prestigiados, estimulando os jurisdicionados a

buscar a justiça fora dos tribunais públicos, como forma de se obter decisão

mais rápida e eficaz, como a arbitragem e a mediação, outras forma de acesso

à Justiça. Muitos países conjugam a justiça pública com a justiça privada,

permitindo, por exemplo, que o juiz de direito se transforme em arbitro ou,

mesmo, num amigável compositor.

A conciliação representa grandes vantagens na medida em que

“aborta” o julgamento, um dos grandes responsáveis pela lentidão da justiça,

em face da morosidade do procedimento e da deficiência da própria estrutura

judiciária. É preciso, no entanto, que os conciliadores sejam pessoas

preparadas para conciliar, com o poder de persuasão, o que não é o caso dos

juízes, que, acostumados a instruir processos e decidir lides, não têm

paciência para vencer a resistência das partes na obtenção da transação.

Essa alternativa depende muito do perfil do jurisdicionado, residindo aí a

grande dificuldade em fazer com que a conciliação alcance seu real objetivo,

pois o brasileiro é um litigante nato, e, mesmo sabendo morosa a Justiça

Pública, tem por ela uma inusitada predileção.

Os juizados de pequenas causas e os juizados especiais, tanto

cíveis quanto criminais, são duas especiais modalidades de se fazer justiça

rápida, e uma não exclui a outra, podendo, ambas, conviver na solução dos

conflitos (arts. 24, X e 98, I, CRFB).

A justiça dos juizados deveria ser feita em única instância, sem a

necessidade de interposição de recursos e de criação de turmas recursais,

porque a maioria dos recursos submetidos à apreciação das turmas é

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desprovida. Então, neste sentido não se justifica a existência das turmas

recursais. Isto compromete a celeridade processual.

Pela natureza e valor das causas, os juizados especiais devem ser

centrados basicamente em juízes leigos, com julgamentos segundo o critério

de equidade, alem dos conciliadores, pessoas capacitadas para “abortar”,

mediante acordo das partes, a grande massa de litígios que ocorrem a essa

justiça.

Além disso, os juizados especiais devem ser uma justiça adequada

ao exercício da cidadania, com as próprias partes postulando os seus direitos,

sem a necessidade de patrocínio por advogado, pois o valor das causas quase

sempre não compensa o trabalho desses profissionais. Nem nas turmas

recursais deveria ser exigido o patrocínio de advogado, e, se com essa

exigência, o que se pretende é desestimular recursos, mais razoável seria a lei

não prevê-los.

1.3.4. 1ª Onda. No ordenamento jurídico brasileiro: “Assistência

Judiciária”.

A repercussão das idéias de CAPPELLETTI tem estimulado o

acesso à Justiça, nas modalidades da segunda e terceira ondas, na medida

em que a primeira (assistência judiciária) adquiriu consistência jurídica entre

nós com a Lei nº. 1.060, de 05 de fevereiro de 1950, incumbindo aos poderes

público federal e estadual, independentemente da colaboração que possam

receber dos municípios e da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, a

concessão da assistência judiciária aos necessitados nos termos desta Lei (art.

1º.).

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A Lei nº. 1.060/50 facilita de tal forma o acesso a Justiça que

considera necessitado, para os fins legais, todo aquele cuja situação

econômica não lhe permitia pagar as custas do processo e os honorários de

advogado, sem prejuízo do sustento próprio ou da família (art. 2, parágrafo

único).

Para gozar dos benefícios da assistência judiciária, basta que a

parte afirme, na própria petição inicial, que não está em condições de pagar as

custas do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo do sustento

próprio ou de sua família (art. 4º, caput), presumindo-se pobre, até prova em

contrário, quem afirmar essa condição nos termos da Lei, sob a pena

cominada de pagamento até o décuplo das custas judiciais, e sem prejuízo de

que o pedido possa ser impugnado (art. 4º, §§ 1º e 2º) e até revogado (art. 7º).

1.3.5. 2ª. Onda no ordenamento jurídico brasileiro: “Ações

coletivas”

A segunda onda chegou até nós por influência da idéias de

CAPPELLETTI, embora CHIOVENDA, no início do século passado, já fizesse

referencia a direitos difusos, nestes termos:

Há normas que regulam a atividade pública para a consecução de um bem público, ou seja, próprio de todos os cidadãos em conjunto, da coletividade (tal é o interesse de haver uma boa administração, um bom exército, boas fortificações; o interesse pela manutenção das estradas, e semelhantes). Dessas normas derivam direitos coletivos (ou direitos cívicos gerais), em tal maneira difusos, sobre um número indeterminado de pessoas, que não se individualizam em nenhuma delas em particular: o indivíduo não os pode fazer valer, a menos que a lei lhe conceda converter-se em órgão da coletividade. O indivíduo como tal só dispõe de um direito para com o Estado ou outra

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administração pública no caso em que a lei reguladora da atividade pública haja tido em mira seu interesse pessoal, imediato, direto.23

As ações coletivas (formas de acesso à Justiça) foram previstas

pela Constituição de 1988 em diversos dispositivos, ora permitindo que as

entidades associativas, quando expressamente autorizadas, tenham

legitimidade para representar seus filiados, judicial ou extrajudicialmente (art.

5º, XXI), ora concedendo mandado de segurança coletivo a partido político

com representação no Congresso Nacional, ou a organização sindical,

entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento

há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou

associados (art. 5º, LXX, “a” e “b”); ora dispondo que ao sindicato cabe a

defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive

em questões judiciais ou administrativas, ora reconhecendo ser função

institucional do Ministério Público promover o inquérito civil e a ação civil

pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de

outros interesses difusos e coletivos (art. 129, III), e defender judicialmente os

direitos e interesses das populações indígenas (art. 129, V).

Além disso, diversas leis ordinárias, como a Lei nº. 7.347, de 24 de

julho de 1985, dispondo sobre a ação civil pública, e a Lei n°. 8.078, de 11 de

setembro de 1990, sobre a proteção do consumidor, disciplinar as ações

coletivas, que compreendem inclusive os direitos e interesses difusos,

projetando no direito brasileiro a segunda onda de acesso à Justiça.

1.3.6. 3ª. Onda no ordenamento jurídico brasileiro “Nova estrutura

do Poder Judiciário e os novos procedimentos’

23 CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de Direito Processual Civil, trad. De J. Guimarães Menegale. São Paulo: Saraiva, 1969, v. 1, p.7.

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Não se consegue reformar a Justiça sem se reformar a estrutura do

Poder Judiciário, pois a simples alteração de leis processuais, mesmo com a

intenção deliberada de desfazer os pontos de estrangulamento, não produz por

si só os almejados efeitos.

Sob este aspecto, merece relevo a instituição dos Juizados

Especiais de Pequenas Causas, pela Lei nº. 7.244/84, que vieram a ser

substituídos pelos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, pela Lei nº. 9.099/95,

embora tivessem podido conviver, por não existir entre ambos qualquer

incompatibilidade. Mais recentemente, foram instituídos os Juizados Especiais

Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Federal, pela Lei 10.259, de 12 de

julho de 2001, facilitando o acesso a Justiça, em face dos entes públicos.

Também por força dessa onda, tivera lugar pequenas reformas

processuais, na última década do século passado, quando foram promulgadas

diversas leis, buscando acelerar os procedimentos.

A conciliação foi igualmente prestigiada pelas pequenas reforma,

tendo a recente Lei nº. 10.444, de 07 de maio de 2002, instituindo a audiência

preliminar (art. 331, CPC), com o deliberado propósito de estimular a

composição das partes, abortando, por essa forma, o litígio.

Como solução alternativa, foi promulgada a Lei nº. 9.307, de 23 de

setembro de 1996, disciplinando a arbitragem, com o que se espera que as

partes prefiram solucionar os seus litígios através da justiça privada, em que

todos sabem quando a demanda começa e quando termina, em vez da justiça

pública, em que todos sabem quando começa, mas ninguém sabe quando

termina. A arbitragem é uma excelente modalidade de se fazer a justiça

privada.

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CAPITULO 2 – COMENTÁRIOS E CRÍTICAS AOS JUIZADOS ESPECIAIS

2.1. Obstáculos ao acesso à Justiça brasileira

No Brasil, os obstáculos de acesso à Justiça não se ligam ao

problema da assistência judiciária aos necessitados, configuradora da primeira

onda de acesso, e nem a defesa dos interesses da coletividade, notadamente

os interesses, difusos, configuradores da segunda onda, mas à estrutura

judiciária, a inadequação dos processos e dos procedimentos, e, basicamente,

à dimensão que se dá ao principio do duplo grau de jurisdição, para atender à

ânsia recursal do jurisdicionado brasileiro.

A nossa estrutura brasileira é sabidamente arcaica, montada no

modelo francês, de inspiração napoleônica, e cujo objetivo era fazer dos

órgãos superiores, constituídos pela vontade dos poderes executivo e

legislativo, verdadeiros órgãos de dominação dos órgãos inferiores do Poder

Judiciário. Não é por acaso que essa estrutura tem a forma piramidal.

Ademais, embora tenha o Brasil importado um modelo francês de estrutura

judiciária, infelizmente não pôde importar a cultura francesa, de forma que

aquele modelo concebido para um país de primeiro mundo não funciona num

país subdesenvolvido.

Os processos e procedimentos adotados pelo Código de Processo

Civil desconhecem os problemas brasileiros colocando as regiões

desenvolvidas, sul e sudeste, no mesmo patamar das regiões de parco

desenvolvimento econômico, como a norte e nordeste, sendo idênticos os

prazos para a prática dos atos.

Por isso, essa terceira onda só cumprirá o seu objetivo quando,

além de um sistema processual uniforme para todo o país, tivermos uma

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diversidade procedimental que atenda a essa diversidade geográfica, deixando

a cardo de cada Estado-membro normatizar os procedimentos judiciais, de

acordo com os seus padrões sociais, econômicos e culturais. Não se pode

pretender, por exemplo, que os juizados especiais funcionem com a

colaboração de estagiários ( conciliadores) e advogados (juízes leigos) em

localidades situadas a centenas de quilômetros de uma Faculdade de Direito.

No que tange aos recursos, parte-se da falsa suposição de que a

Constituição ao elencar os diversos órgãos que compõe o Poder Judiciário (art.

92, I a VII), teria consagrado de forma inarredável o duplo grau de jurisdição, o

que não é, no entanto, verdadeiro. Os recursos são a grande praga que não

permite que a Justiça produza bons frutos, contaminando a esperança de

tantos quantos a ela recorrem, que só vêem satisfeito o seu direito material

quando já exaustos de tanto demandar.

Mesmo quando se criam juizados especiais para determinadas

causas, ou causas simples ate determinado valor, ou sem nenhuma

complexidade, que podem ser resolvidas pelo critério de equidade, por

qualquer juiz leigo, o culto ao recurso faz com que, mesmo sem admitir o

acesso à Justiça em segundo grau, se criem turmas recursais, espécie de

segundo grau dentro do próprio primeiro grau, integrado por juízes de inferior

instância, para reexaminar as sentenças proferidas por juízes de igual

hierarquia. No fundo, o recurso ordinário, nos juizados especiais, na inferior

instância, só que, em vez de serem julgados pelo mesmo juiz que proferiu a

decisão recorrida, o é por uma turma recursal, composta de juízes de primeiro

grau.

Não é que os recursos não sejam necessários, porque são, mas

deveriam ser disciplinados conforme a importância da matéria decidida.

2.2. Esclarecimentos e análise dos problemas enfrentados pelos

Juizados Especiais Federais

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Passados aproximadamente nove anos da edição da Lei

10.259/2001 que regulamentou o disposto no art. 98, I, parágrafo único da

Constituição da República de 1988, inúmeras conclusões podem ser tiradas a

respeito das inovações introduzidas.

Após um início marcado por dificuldades de implantação desta nova

forma de prestação jurisdicional, o sistema tem evoluído positivamente. No

entanto, notam-se, ainda, alguns entraves ao perfeito funcionamento dos

Juizados Especiais Federais, especialmente no que tange à rapidez necessária

ao completo deslinde dos litígios que ali se apresentam.

Entre as inúmeras situações verificadas, merecem destaque os

aspectos abaixo relacionados:

2.2.1. Resistência à nova ordem

Tem-se percebido e mostrado como ativo problema no dia-a-dia

forense, grande resistência por parte dos operadores do direito em relação a

nova ordem estabelecida pela justiça consensual. Várias são as criticas feitas

aos juízes especiais federais como, por exemplo: que foram criados sem

nenhuma estrutura, por mera politicagem ou até mesmo como forma de tirar a

atenção das varas comuns que estão lotadas de processos praticamente

parados.

Entendem alguns operadores do direito, que os padrões legais

vigentes deveriam ser adequados ao novo perfil da sociedade sem,

necessariamente, criarem juizados especiais. Que as tarefas dos juízes

deveriam ser repartidas entre conciliadores, a fim de dinamizar o desempenho

dos mesmos.

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2.2.2 Inchaço dos Juizados Especiais Federais — morosidade

Ao contrário da expectativa inicial, não ocorreu o desafogo das

varas da Justiça tradicional. O que se observou, no primeiro instante, que os

processos do rito dos juizados, que funcionavam em sua maioria de forma

adjunta as varas comuns, paralisaram os outros processos, pois a demanda foi

muito grande.

A justiça gratuita, sem a necessidade de assistência de advogados,

a promessa de rapidez e simplicidade do rito levaram um grande número de

litigantes aos juizados. Estes fatores serviram como uma mola propulsora para

uma dissimulada demanda reprimida pelos aborrecimentos do rigor do

judiciário. A maioria das pessoas recorrem ao rito dos juizados, abrindo mão de

parte de seus direitos, com o intuito de verem atendidas suas reivindicações

num tempo menor. Resultado disto é que os juizados operam em seu limite

máximo ficando tão saturados como a própria justiça comum, provocando a

morosidade em sua atuação.

Alguns tipos de ações fizeram com que os juizados quase

chegassem ao colapso, como por exemplo: os casos dos expurgos

inflacionários sobre o FGTS; a URV sobre os benefícios previdenciários do

INSS; o índice de 3,17% sobre as remunerações dos servidores; as

implantações e atualizações das gratificações dos servidores (GDATA e

outras); os expurgos inflacionários sobre as cadernetas de poupança, como

tantas outras ações de massa.

Com o intuito de minimizar a situação foram criados novos Juizados

independentes, porém os servidores para compô-los foram deslocados de

varas e, assim, o problema que já era grande devido à falta de servidores para

compor as varas ficou maior ainda, pois tanto as varas quanto os Juizados

ficaram defasados, ou seja, com efetivo menor do que o estabelecido nas

normas de organização judiciária.

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Hoje, o prazo entre o ajuizamento da ação e a primeira audiência

não é menor que noventa dias e o lapso temporal do início ao término da

demanda alcança, em alguns casos, mais de dois anos ou até mais, o que

desvirtua a orientação da celeridade prevista na legislação específica.

Claro, também, que o Conselho Nacional de Justiça vem

estabelecendo “Metas” a serem atingidas pela Justiça Nacional, a fim de

minimizar o problema e diminuir os prazos de tramitação dos processos.

Outro ponto que vem sendo relevante na busca de diminuir este

inchaço é que a Justiça está cada vez mais buscando qualificar seus

servidores e melhorando a qualidade de seus equipamentos e sistemas

processuais.

Observa-se, neste contexto, também um grande número de ações

infundadas, iniciadas pela viabilização gratuita que a Lei oferece e a grande

veiculação na mídia de certos tipos de demanda. Daí, o que se vislumbra é a

presença de pessoas que atuam nos juizados, por conta própria, insistindo em

ações que desconfiam ou sabem da futura derrota, subestimando o

magistrado, na expectativa deste incorrer em dúvidas ou até mesmo em erros

e, no final, acabar decidindo a seu favor. Litigando por ignorância ou de má-fé

estas pessoas “atravancam” o Judiciário, que em hipótese nenhuma pode ser

alvo de consultas ou experiências.

É preciso conscientizar a sociedade da necessidade de se analisar a

pertinência ou não da propositura da ação, com vistas a diminuir o grande

número de ações infrutíferas perante os Juizados, prejudicando àqueles que

têm direito, efetivamente.

2.2.3. Carência de recursos físicos e humanos

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Outra dificuldade, com a qual defronta-se os Juizados Especiais

Federais é a carência de meios físicos e humanos.

Criados com o intuito de desafogar as varas comuns, os juizados

aproveitaram desde o inicio a organização, composição, equipamentos e

recursos físicos e humanos já existentes e, até o momento, enfrenta grandes

dificuldades estruturais e humanas.

Mesmo com a criação de algumas varas independentes, não

diminuiu o problema porque não houve, por exemplo, a melhoria das

instalações e admissão de novos serventuários. Houve foi uma adaptação da

nova realidade a uma outra velha.

Concluindo, a criação dos Juizados Especiais Federais representou

uma nova forma de acesso e simplificado ao Judiciário Federal. Todavia, não

foi criada qualquer estrutura determinada a receber a grande demanda que

sobreveio, o que inviabiliza o seu atendimento adequado, apesar de todo o

esforço dos juízes e servidores envolvidos.

Então é necessário:

• Implantar rapidamente as novas varas federais criadas por lei, com o

preenchimento dos respectivos cargos necessários ao seu

funcionamento e com dotação correspondente de recursos para

imediata abertura de concurso;

• Liberação imediata de recursos para o funcionamento adequado da

estrutura administrativa do JEFs em todo o país, bem como das Turmas

Recursais, inclusive com criação de cargos necessários ao

funcionamento destas últimas;

• Instalação imediata de Juizados Virtuais em todo o país, com reforço de

suas estruturas materiais, de informática, administrativas e de

servidores;

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• Propiciar condições materiais adequadas para o funcionamento dos

Juizados Especiais Itinerantes; e,

• Ampliação imediata da Defensoria Pública da União e maior divulgação

do novo sistema de assistência judiciária gratuita que é focada,

principalmente na advocacia voluntária.

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CAPÍTULO 3 – JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS CIVEIS

3.1. Histórico

A Emenda Constitucional nº 22, de 18 de março de 1988, introduziu

um parágrafo único no art. 98 da Constituição, permitindo, assim. A criação de

Juizados Especiais também na Justiça Federal.

No Superior Tribunal de Justiça foi constituída comissão, integrada

pelos Ministros José Armando da Fonseca, Ruy Rosado de Aguiar, Sálvio de

Figueiredo Teixeira, Ari Pargendler, Fátima Andrighi, que elaboraram

anteprojeto que, depois de apreciado pelo Conselho da Justiça Federal e pelo

Plenário, foi encaminhado à Presidência da República.

Esse anteprojeto previa a atuação, não só de conciliadores, mas

também de juízes leigos, assim dispondo seu artigo 16: “Os Juizados Especiais

serão instalados por ato do Presidente do Tribunal Regional Federal. O juiz

presidente do Juizado designará os juízes leigos e conciliadores pelo período

de dois anos, admitida a recondução. O exercício dessas funções será

gratuito, assegurados os direitos e as prerrogativas do jurado (art. 437 do

Código de Processo Penal).

Ao receber o anteprojeto, o Poder Executivo criou uma Comissão de

Trabalho, por meio da Portaria Interministerial nº. 5 de 27/09/2000, publicada

no DOU em 28/09/2000, para análise e alterações. A menção aos juízes leigos

foi excluída, referindo-se o Projeto Encaminhado ao Congresso Nacional

(Projeto de Lei nº. 3999, de janeiro de 2001) apenas aos conciliadores.

Dele resultou a Lei n. 10.259 de julho de 2001, publicada no Diário

Oficial do dia seguinte.

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3.2. Princípios dos Juizados Especiais

O processo do Juizado Especial é orientado pelos princípios da

oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual, celeridade,

conciliação (Lei 9.099/95, art. 2º), publicidade (Lei 9.099/95, art. 12) e

gratuidade no primeiro grau de jurisdição, sem prejuízo da condenação do

litigante declarado de má-fé (Lei 9.099/95, art. 55).

A possibilidade de funcionamento em horário noturno (Lei 9.099/95,

art. 12), atende ao princípio do acesso à Justiça.

A regra de que não se pronunciará nulidade se não houver prejuízo

(Lei 9.099/95, art. 13, caput e § 1º.), vincula-se aos princípios da simplicidade,

informalidade e economia processual.

Aos mesmos princípios atende a possibilidade de solicitar-se à

prática de atos processuais em outra comarca, por qualquer meio idôneo de

comunicação (Lei 9.099/95, art. 13, § 2º), assim como a norma do artigo 13,

§3º: “Apenas os atos considerados essenciais serão registrados

resumidamente, em notas manuscritas, datilografadas, taquigrafadas ou

estenotipadas. Os demais atos poderão ser gravados em fita magnética ou

equivalente, que será utilizada após o trânsito em julgado da decisão”.

3.3. Novos órgãos da Justiça Federal

Com a instituição dos Juizados Especiais, a Justiça Federal passa a

contar com novos órgãos, a saber:

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O Juiz Coordenador dos Juizados Especiais da respectiva Região,

que será um dos Juízes do Tribunal Regional Federal, eleito por seus pares,

para um mandato de dois anos (Lei 10.259/01, art. 22);

• O Juiz Presidente de cada Juizado Especial (art. 18);

• O próprio Juizado Especial, que terá sua sede, mas poderá ter caráter

itinerante (art. 22, parágrafo único). Os juizados serão instalados por

decisão do Tribunal Regional Federal. Nas localidades de pouco

movimento forense, poderá ser instalado Juizado Especial Adjunto, que

funcionará junto a uma Vara designada pelo Tribunal (Art. 18). Na

capital dos Estados, no Distrito Federal e onde mais for necessário,

haverá Juizado com competência exclusiva para as ações

previdenciárias (art. 19, parágrafo único);

• Os conciliadores, que serão designados pelo Juiz Presidente do

respectivo Juizado, para um biênio, admitida a recondução. Trata-se de

função gratuita, assegurando apenas os direitos e prerrogativas de

jurado (art. 18);

• As Turmas Recursais, instituídas por decisão do respectivo Tribunal

Regional, que definirá sua composição e área de competência. Serão

constituídas por Juízes Federais, designados com obediência aos

critérios de antiguidade e merecimento, por prazo determinado, vedada

a recondução, salvo não havendo outro na sede da Turma ou na Região

(art. 21);

• Turmas em conflito, constituídas pelos Juízes de duas ou mais turmas

da mesma Região, presididas pelo Juiz Coordenador dos Juizados

Especiais, que se reunirão para uniformizar a interpretação de lei

federal, quando houver divergência entre decisões sobre questões de

direito material (art. 14);

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• A Turma de Uniformização, integrada por Juízes de Turmas Recursais

de diferentes regiões, sob a presidência do Coordenador da Justiça

Federal, destinada a julgar os pedidos de uniformização de

jurisprudência, fundados em divergência entre decisões de turmas de

diferentes regiões ou da proferida em contrariedade a súmula ou

jurisprudência do STJ (art. 14, § 2º);

Chama-se a atenção para a ausência de Juízes leigos, no âmbito

dos Juizados Especiais Federais. No sistema da Lei 9.099/95, eles atuam

como auxiliares da Justiça, sendo recrutados, preferencialmente, entre

advogados com mais de cinco anos de experiência (art. 7º). A Constituição

Federal (art. 98), admite Juizados Especiais constituídos por juízes togados e

leigos. Optou-se pela primeira alternativa, entendendo-se inconveniente a

existência de Juízes leigos em causas submetidas à Justiça Federal.

Prevaleceu a idéia de que Juízes leigos tem lugar apenas em causas privadas,

não devendo participar de causas em que haja interesses do Estado lato

sensu.

No que diz respeito ao primeiro grau, tem-se novo rito processual e

não propriamente um novo órgão jurisdicional. Novidade apenas no segundo

grau, com as Turmas Recursais. Assim, a nova Lei há de servir mais para

desafogar os Tribunais Regionais do que para dar conta da massa de

processo à espera de instrução e julgamento no primeiro grau de jurisdição.

3.4. Competência

Até o limite de 60 salários mínimos (Lei 10.259/01, art. 3º), aos

Juizados Especiais Federais cíveis compete processar e julgar:

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• As causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública

federal forem interessadas na condição de autores, rés, assistentes ou

oponentes;

• Os habeas corpus contra ato de autoridade federal, excetuados os

casos de competência dos tribunais federais.

O Decreto-lei 200/67 (art. 5º), modificado pelo de nº 900/69, define

autarquia, como “serviço autônomo, criado por lei, com personalidade jurídica,

patrimônio e receitas próprias, para executar atividades típicas da

Administração Pública, que requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão

administrativa e financeira descentralizada’; empresa publica, como “a entidade

dotada de personalidade jurídica de direito privado, com patrimônio próprio e

capital exclusivo da União, criado por lei para a exploração de atividade

econômica que o Governo seja levado a exercer por força de contingência ou

de conveniência administrativa podendo revestir-se de qualquer das formas

admitidas em direito”.

Excluem-se da competência dos Juizados Especiais Federais Cíveis

as ações:

• De falência, de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça

Eleitoral e à Justiça do Trabalho;

• Entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município

ou pessoa domiciliada ou residente no País;

• Fundadas em tratado ou contrato da União com Estado

estrangeiro ou organismo internacional;

• Sobre direitos indígenas;

• De mandato de segurança, de desapropriação, de divisão e

demarcação, populares, execuções fiscais e por improbidade

administrativa;

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• Sobre direitos ou interesses difusos, autarquias e fundações

públicas federais;

• Para a anulação ou cancelamento de ato administrativo federal,

salvo o de natureza previdenciária e o de lançamento fiscal;

• Que tenham por objeto a impugnação da pena de demissão

imposta a servidores públicos e civis ou de sanções disciplinares

aplicadas a militares.

• A título exemplificativo, apontamos as seguintes ações que,

observando-se o limite de 60 salários mínimos, serão

processadas e julgadas pelos Juizados Federais Cíveis:

• Previdenciárias, como as relativas as pensões, auxílio-doença,

aposentadoria de trabalhadores urbanos ou rurícolas, ainda que

exijam perícia médica ou de insalubridade periculosidade ou

penosidade.

• Relativas a tributos, como anulatórias ou de repetição de indébito;

• De servidores públicos, relativas a vencimentos e outros direitos,

bem como as relativas a punições, exceto a de demissão;

• De indenização por danos materiais ou morais, como as relativas

a acidentes envolvendo veículo da União, de autarquia ou

empresa pública federal;

• Relativas ao ensino superior, como as que dizem respeito à

matrícula, reprovações e transferências;

• Relativas ao Sistema Financeiro de Habitação;

• Relativas a condomínios e locação de imóveis locados a União,

autarquia ou empresa pública federal;

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• Bancárias, com a revisão de contratos celebrados com a Caixa

Econômica Federal;

• Propostas contra conselhos profissionais, como Ordem dos

Advogados do Brasil e Conselho Regional de Farmácia;

O conselho da Justiça Federal poderá limitar, por até (três) anos

depois de sua instalação, a competência dos Juizados Especiais Cíveis,

atendendo à necessidade da organização dos serviços judiciários ou

administrativos (art. 23).

Para determinação do valor da causa, observam-se os artigos 258 e

seguintes do Código de Processo Civil. O valor das prestações vincendas é

igual a uma prestação anual, se por tempo indeterminado a obrigação, ou por

tempo superior a 1 (um) ano; é igual à soma das prestações, se inferior a um

ano (CPC, art. 260). Todavia, a Lei 10.259/01 exclui da competência dos

Juizados Especiais Federais Cíveis pedidos de prestações vincendas cuja

soma ultrapasse o valor de 60 salários mínimos (art. 3º, § 2º). Portanto, ainda

que o valor da causa, calculado na forma do Código de Processo Civil (valor de

12 prestações vincendas), não atinja o limite de 60 salários mínimos, é

incompetente o Juizado Especial Federal Cível, se há outras prestações

vincendas, somando quantia superior a esse limite. É a explicação para o

disposto no seu artigo 3º. § 2º: “quando a pretensão versar sobre obrigações

vincendas, para fins de competência do Juizado Especial, a soma de 12 (doze)

parcelas não poderá exceder o valor referido no art. 3º, caput”.

Sendo assim, mesmo para os Juizados Especiais da Justiça

Comum, no caso de pedido referente a obrigações de trato sucessivo,

estabelece o Código de Processo Civil que a condenação não incluirá,

independentemente de pedido específico, o valor de todas as prestações,

enquanto durar a obrigação (art. 290). Refletida sobre o processo dos juizados

especiais cíveis, essa hipótese terá por conseqüência a incompetência destes

sempre que a soma das prestações exceder o máximo legal instituído pelo art.

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3º, inc. I – a não ser que o autor declare pretender condenação exclusivamente

pelo valor das parcelas que caibam nesse limite.

A competência dos Juizados Especiais é absoluta (art. 3º, § 3º). O

autor não pode optar pelo juízo das causas de maior valor, visando, por

exemplo, a possibilitar pronunciamento do Tribunal Regional Federal e recurso

especial para o Superior Tribunal de Justiça.

O domicílio do réu ou, a critério do autor, o local onde aquele exerça

atividades econômicas ou mantenha estabelecimento, filial, agencia, sucursal

ou escritório;

• O lugar onde a obrigação deva ser satisfeita;

• O domicílio do autor ou o local do ato ou fato, nas ações para

reparação de dano de qualquer natureza;

• Nas comarcas não compreendidas no âmbito da competência da

Justiça Federal de primeiro grau, as ações de segurados ou

beneficiários da previdência social serão ser processadas e

julgadas na justiça estadual (Constituição, art. 109, § 3º), com

recurso para o Tribunal Regional Federal (Constituição, art. 109, §

4º). Como ele não é menos juiz do que qualquer outro há que se

entender que poderá também deferir medidas antecipatórias, nos

termos do art. 273 do CPC.

3.5. Partes e Procuradores

Podem ser partes no Juizado Especial Cível:

• Como autores, as pessoas físicas, bem como microempresas

e empresas de pequeno porte, como tais consideradas,

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sendo que a primeira com receita bruta anual igual ou inferior

a R$ 240.000,00 e a segunda com receita bruta superior a R$

240.000,00 e igual ou inferior a R$ 2.400.000,00 (Lei

10.259/01, art, 6º, I; Lei Complementar no. 123, de 14 de

dezembro de 2006, art. 3º, incisos I e II);

• Como rés, a União, autarquias, fundações e empresas

publicas.

Não podem ser partes o incapaz, o preso, as pessoas jurídicas de

direito público, as empresas públicas da União, a massa falida e o insolvente

civil (Lei 9.099/95, art. 8º). O maior de dezoito anos pode ser autor,

independente de assistência, inclusive para fins de conciliação (Lei 9.099/95,

art. 8º, § 2º).

Somente as pessoas físicas capazes serão admitidas a propor a

ação perante o Juizado Especial, excluídos os cessionários de direito de

pessoas jurídicas.

As sociedades de economia mista, que são pessoas jurídicas de

direito privado, são demandadas perante a justiça comum estadual, estando,

pois, excluídas do âmbito dos Juizados Especiais Federais.

Proposta ação por pessoa que a lei não admite ao juizado, há

carência de ação, por falta de interesse de agir decorrente da inadequação do

procedimento e, ao mesmo tempo, incompetência desse órgão. Como

somente juiz competente pode afirmar carência de ação, a hipótese é

primordialmente de incompetência.

Nas causas de valor até vinte salários mínimos, o autor pode

facultativamente dispor da assistência de advogado, porém se o valor for

superior, a assistência é obrigatória. (Lei 9.099/95, art. 9º).

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O mandato ao advogado do autor pode ser outorgado verbalmente,

salvo quanto aos poderes especiais (Lei 9.099/95, art. 9º, §3º; CPC, art. 38,

segunda parte e Lei 8.906/94, de 4-7 — Estatuto da Advocacia e a OAB).

O réu, porém, deverá designar por escrito representante para a

causa, que poderá ou não ser advogado (Lei 10.259/01, art. 10). A designação

importa, ex-vi legis, a atribuição de poderes para conciliar, transigir ou desistir

(Lei 10.259, art. 10, parágrafo único).

Admite-se o litisconsórcio, mas não a intervenção de terceiros

(oposição, nomeação à autoria, denunciação da lide, chamamento ao

processo); tampouco se admite assistência (Lei 9.099/95, art. 10).

Falecendo o autor, seus sucessores têm o prazo de 30 dias para

habilitar-se sob pena de extinção do processo (Lei 9.099/95, art. 51, V). A

extinção também se dará quando, falecido o réu, o autor não promover a

citação dos sucessores no mesmo prazo, da ciência do fato.

É obrigatória a intervenção do Ministério Público nos casos previstos

em lei (Lei 10.259/01, art. 11 e Lei 8.625/93 — Lei Orgânica Nacional do

Ministério Público).

3.6. Pedido e desistência da demanda

O processo instaura-se com a apresentação do pedido escrito ou

oral, que será reduzido a termo, à Secretaria do Juízo. Devem ser indicados os

elementos identificadores da ação, a saber: as partes, os fatos e os

fundamentos (causa de pedir) e o pedido, com indicação de seu valor (Lei

9.099/95, art. 14).

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Admite-se pedido genérico, não sendo possível determinar desde

logo a extensão da obrigação (Lei 9.099/95, art. 14, §2º).

É possível a formulação dos pedidos alternativos, bem como a

cumulação de pedidos conexos, suposto que a soma não ultrapasse o limite de

60 salários mínimos (Lei 9.099/95, art. 15).

No ato mesmo do oferecimento do pedido, a Secretaria do Juizado

designa dia e hora para a sessão de conciliação (Lei 9.099/95, art. 16).

A lei prevê duas hipóteses que hão de ser raras:

1. A presença do réu na mesma oportunidade em que o autor

apresenta seu pedido, caso em que se instaura imediatamente a sessão de

conciliação, dispensados o registro prévio de pedido e a citação. (Lei 9.099/95,

art. 17).

2. O comparecimento simultâneo de duas partes, cada uma

formulando pedido contra a outra (Lei 9.099/95, art. 17, parágrafo único), caso

em que igualmente se instaura desde logo a conciliação. Não havendo

conciliação, na subseqüente sessão de instrução e julgamento, fica

dispensada contestação formal. Supõe-se, aí, pedidos contrapostos, como o

caso de ações fundadas no mesmo acidente de trânsito, cada parte imputando

à outra a responsabilidade pelos danos que sofreu.

A desistência da demanda, no processo de conhecimento, não

depende de anuência do réu e homologação judicial, basta que o autor não

compareça à audiência para que o juiz decrete a extinção do processo.

A representação do pedido não se subordina ao pagamento de

despesas e honorários advocatícios do processo extinto, diferentemente do

que ocorre no processo comum.

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52

3.7. Citações e intimações

O réu, ou seja, as pessoas jurídicas de direito público não terão

prazo diferenciado para a prática de qualquer ato processual, inclusive a

interposição de recursos, devendo ser citadas para a audiência de conciliação

e ulteriores atos do processo, com a antecedência mínima de 30 dias (Lei

10.259/01, art. 9º).

Cita-se a União na pessoa do Procurador-Chefe ou de seus

Procuradores Seccionais (Lei Complementar nº. 73/93, art. 35, IV). Nas causas

de natureza fiscal, aí compreendidas as de natureza tributária, far-se-á a

citação na pessoa do Procurador-Chefe ou do Procurador-Seccional da

Fazenda Nacional (Lei cit., art. 36, III).

Em caso de ausência dessas autoridades, far-se-á a citação na

pessoa do substituto eventual (Lei cit., art. 37).

As intimações e notificações da União fazem-se na pessoa do

Procurador da Fazenda Nacional ou do Advogado da União, conforme se trate

ou não de causa de natureza fiscal.

A citação das autarquias, fundações e empresas públicas far-se-á

na pessoa do representante máximo da entidade, no foro em que foi proposta

a ação, aí havendo escritório ou representação; se não, na sede da entidade

(Lei 10.259, art. 7º, parágrafo único). A intimação da sentença, porém, deve

ser feita à entidade, por ARMP (aviso de recebimento em mão própria), salvo

se proferida em Audiência em que estiver presente seu advogado ou

procurador (Lei 10.259/01, art. 8º).

O comparecimento espontâneo supre a falta ou nulidade de citação

(Lei 9.099/95, art. 18, § 3º). Não há citação por edital (Lei 9.099/95, art. 18,

§2º).

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53

É eficaz a intimação enviada ao endereço indicado pelo autor que

omitir comunicação de mudança (Lei 9.099/95, art. 19, §2º).

Os tribunais poderão organizar serviço de intimação das partes e

mesmo de citação (recepção de petições) por meio eletrônico (Lei 10.259/01,

art. 8º, § 2º).

3.8. Conciliação e instrução

Se o autor não comparece, quer à sessão de conciliação, quer à

audiência de instrução e julgamento, extingue-se o processo sem julgamento

de mérito (Lei 9.099/95, art. 51, I), com sua condenação nas custas (art. 51, §,

2º, da Lei 9.099/95), a menos que comprove que a ausência deu-se por motivo

de força maior, caso em que poderá ficar isento. Não se exige requerimento do

réu.

Se o réu que não comparece à sessão de conciliação ou à

audiência de instrução e julgamento, presumem-se verdadeiros os fatos

alegados no pedido inicial, salvo se o contrário resulta da convicção do juiz (Lei

9.099/95, art. 20). É possível que se venha a restringir o alcance dessa norma

às empresas públicas, dado o generalizado entendimento de que os efeitos da

revelia não atingem a Fazenda Pública.

Não havendo conciliação, na mesma oportunidade ( Lei 9.099/95,

art. 27), ou em outra data, designada para um dos quinze dias subseqüentes

(Lei 9.099/95, art. 27, parágrafo único), realiza-se a audiência de instrução e

julgamento.

Nela o réu apresenta a contestação, oralmente ou por escrito que

deve conter toda a matéria de defesa, exceto a argüição de suspeição ou

impedimento do juiz (Lei 9.099/95, art. 30), exceções estas que obedecem ao

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rito dos artigos 312 e seguintes do CPC, com a diferença de que, não

reconhecendo o juiz o impedimento ou a suspeição, incumbe à Turma

Recursal o julgamento da exceção.

Não se admite reconvenção, mas o réu pode formular contra-

pedido, desde que fundados nos mesmos fatos que constituem objeto da

controvérsia (Lei 9.099/95, art. 31). Nessa hipótese, o autor pode oferecer

resposta imediata ou requerer a designação de nova data para a continuação

da audiência (9.099/95, art. 31, parágrafo único).

Na audiência ouvem-se as partes, colhe-se a prova e o juiz profere a

sentença (Lei 9.099/95, art. 28). Incidentes são decididos de plano, por

decisões interlocutórias, ou na própria sentença (Lei 9.099, art. 29). De regra, a

apresentação de documentos não provoca a interrupção da audiência,

devendo a parte contraria pronunciar-se imediatamente sobre os mesmos (Lei

9.099/95, art. 29, parágrafo único).

3.9. Provas

As provas são produzidas na audiência de instrução e julgamento

(Lei 9.099/95, art. 33), independentemente de prévia indicação, requerimento

ou admissão pelo juiz, que tem liberdade para determinar as que serão

produzidas (Lei 9.099/95, art. 5º). Não se exige, pois, que o autor apresente

seus documentos ao formular o pedido. Ao réu a Lei impõe o dever de

apresentar a documentação de que disponha, até a instalação da audiência

(Lei 10.259/01, art. 11).

O número de testemunhas é limitado a três para cada parte. Espera-

se que compareçam à audiência independentemente de intimação. Contudo, a

parte pode requerer sua intimação, desde que o faça no mínimo de 05 dias

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antes. Somente testemunha pode ser conduzida coercitivamente à presença

do juiz (Lei 9.099/95, art. 34).

Para efetuar exame técnico, o juiz deve nomear pessoa habilitada,

que apresentará o laudo até cinco dias antes da audiência (Lei 10.259/01, art.

12). Aplicam-se ao técnico os motivos de impedimento ou suspeição do juiz

(CPC, art. 138, III). Seus honorários são antecipados à conta da verba

orçamentária do respectivo Tribunal. Vencida na causa a entidade pública, seu

valor é incluído na ordem de pagamento em favor do Tribunal, que assim se

reembolsa o dispêndio (Lei 10.259/01, art. 12 § 1º).

Nas ações previdenciárias e relativas à assistência social, havendo

designação de exame, procede-se à intimação das partes para, em 10 dias,

apresentar quesitos e indicar assistentes (Lei 10.259/01, art. 12 § 2º).

A prova oral consiste em depoimento das partes, declarações de

testemunhas ou informações de perito, não será reduzida a escrito devendo a

sentença referir, no essencial, às informações prestadas (Lei 9.099/95, art. 36).

Tendo havido gravação em fita magnética ou meio equivalente, caberá à parte

interessada requerer posterior degravação, à sua custa (Lei 9.099/95, art. 44).

3.10. Sentença

A sentença deve ser motivada. Embora dispensado relatório formal.

Deve conter resumo dos fatos relevantes ocorridos na audiência (Lei 9.099/95,

art. 38).

Chimenti (2009) fala que: [...] Não há que se confundir a dispensa

do relatório com a dispensa da fundamentação, aqui denominada “elementos

de convicção do juiz”. Excetuados os despachos de simples expediente

(muitas vezes até dispensáveis, nos termos do § 4º do art. 162 do CPC) e as

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sentenças meramente homologatórias, as decisões judiciais devem ser

fundamentadas, conforme estabelece o inciso IX do art. 93 da CF.[...]

A sentença será meramente terminativa, com extinção do processo

sem exame do mérito, constatando o juiz a falta de pressuposto processual ou

de condição da ação. Apontam-se, entre outros casos, a incompetência do

Juizado Especial Federal, ainda que relativa, e o falecimento do autor, não se

habilitando os sucessores no prazo de 30 dias (Lei 9.099/95, art. 51). A

extinção do processo por incompetência relativa depende de requerimento do

réu.

Ricardo Cunha Chimenti ainda comenta alguns aspectos da

sentença nos Juizados:

[...] Para alguns, “sentença definitiva” para os fins do art. 5º da Lei

10.259/2001, significa toda sentença que ponha fim ao processo, com

ou sem julgamento do mérito, excluídas as que homologam acordos,

por serem irrecorríveis. Nesse sentido as lições de Fernando Costa

Tourinho Neto e Joel Dias Figueira Junior.

Para outros, o adjetivo “definitiva”, que qualifica a sentença sujeita ao

recurso, não precisaria ser utilizado pela Lei se a intenção do

legislador fosse a de excluir as sentenças homologatórias de acordo,

visto que o fez em norma específica (art. 41 da lei 9.099/95), não

afastada pela Lei 10.259/2001.

Entendo que a intenção do legislador foi a de propiciar o recurso

apenas das decisões que ponham fim ao processo, com julgamento

do mérito. É que somente nessa hipótese — de julgamento de mérito

— pode-se considerar que a lide teve solução dada pela sentença,

que faz coisa julgada material, impedindo seja reaberta a questão em

ação posterior. 24

O mesmo não ocorre com as sentenças que extinguem o processo

sem julgamento do mérito, porque, além de não darem solução à lide,

não fazem coisa julgada material e propiciam, conforme o caso, o

24 Teoria e Prática dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais e Federais, Editora Saraiva, 2009, p. 197.

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ajuizamento de nova demanda com o mesmo pedido. Nesse sentido o

entendimento de J. E. Carreira Alvim.25[...]

O juiz tem liberdade para apreciar as provas e para dar especial

valor as regras de experiência comum ou técnica (Lei 9.099/95, art. 5º).

A decisão deve obedecer ao principio da legalidade escrita.

Entendemos aplicável aos Juizados Especiais Federais o disposto no artigo 6º

da Lei 9.099/95: “O Juiz adotará em cada caso a decisão que reputar mais

justa e equânime, atendendo aos fins sociais da lei e às exigências do bem

comum”. O Juiz não está autorizado a decidir por equidade nem mesmo no

âmbito dos Juizados Especiais da Justiça Comum, entre pessoas privadas.

Esse poder é outorgado somente ao árbitro. O artigo 6º da Lei 9.099/95

apenas conclama o juiz, no plano da interpretação jurídica, à escolha de teses

que mais se coadunem com a indispensável justiça do caso concreto; não são

raros os casos em que o texto da lei comporta gramaticalmente mais de uma

interpretação, sendo indispensável optar pela mais justa, ainda que menos

usual e menos evidente nas palavras do legislador.

Não é admitida condenação em quantia ilíquida (Lei 9.099/95, art.

38, parágrafo único), ainda que genérico o pedido. Contudo, transitando em

julgado condenação que assim disponha, há que se proceder à liquidação da

sentença.

No que exceder o valor de 60 vezes o salário mínimo (Lei 9.099/95,

art. 39) vigente à data da propositura da ação, a condenação é eficaz. Desse

limite hão de se excluir, porém, os juros vencidos no curso do processo, bem

como a correção monetária.

3.11. Execução

25 Juizados Especiais Federais, p. 95.

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Diz o mesmo autor que na fase de conhecimento do processo

sumaríssimo da Lei 9.099/95 e 10.259/2001 não há sequer previsão de

aplicação subsidiária do CPC, tudo a indicar que eventuais lacunas da lei

preferencialmente devem ser superadas com base nos princípios próprios do

novo sistema.

Na fase de execução de título executivo judicial, porém, a lei

especial indica que o CPC pode ser aplicado subsidiariamente, no que couber.

A expressão condicional no que couber garante aos julgadores ampla

discricionariedade quanto à aplicação ou não das regras do CPC no caso

concreto, mantendo assim a ampla liberdade já prevista no art. 5º da lei

especial.

O Juizado Especial é competente para a execução de suas próprias

decisões, que se processa após seu transito em julgado, mediante pedido do

interessado, escrito ou verbal (Lei 9.099/95, art. 52, IV).

Não cumprida voluntariamente a sentença transitada em julgado

(trata-se aqui de execução definitiva), o credor pode solicitar o início da

execução (que não começa de ofício). (CHIMENTI, 2009)

Nos Juizados Federais, além dos critérios previstos na Lei n.

9.099/95, a satisfação dos julgados deve observar as regras previstas nos arts.

16 e 17 da Lei n. 10.259/2001.

O artigo 52, IV, da Lei 9.099/95 dispensa nova citação para a

execução. Não se trata, pois, de novo processo, mas de nova fase de uma

ação que é executiva lato sensu.

Na hipótese de título judicial definitivo, dispensa-se nova citação.

Afinal presume-se (presunção relativa elidível na fase dos embargos à

execução — inciso IX deste art. 52 que para chegarmos ao título executivo

judicial definitivo o devedor já foi devidamente citado no processo de

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conhecimento e instado a cumprir a sentença logo após seu trânsito em

julgado).

Dispensada a nova citação, a execução por quantia certa contra

devedor solvente terá início com a penhora. O mandado deve consignar a

determinação da penhora, da avaliação (que, em observância aos critérios do

art. 2º da Lei 9.099/95, pode ser feita pelo próprio oficial de justiça, a exemplo

do que prevê o art. 13 da Lei 6.830/80 e agora consta do art. 475-J, § 2º do

CPC), do depósito e da intimação do executado quanto ao prazo de quinze

dias para a oposição de embargos à execução.

[...] Acolhidos ou não os embargo o recurso cabível é o inominado,

sendo inaplicável a regra do art. 475-M, § 3º, do CPC (já que a lei especial

trata dos embargos e prevê o recurso inominado).

A análise do art. 52, IV, da Lei n. 9.099/95, determina que, desde

logo, expeça-se o mandado de penhora, depósito, avaliação e intimação,

inclusive da eventual audiência de conciliação designada, considerando-se o

executado intimado com a simples entrega de cópia do referido mandado em

seu endereço, devendo, nesse caso, ser certificado circunstanciadamente

(Enunciado 38 do FONAJE).

A sentença que condene no pagamento de quantia em dinheiro

deve necessariamente ser liquida, com explicitação da forma de correção

monetária. Cálculos eventualmente necessários, como os de conversão de

índices e de honorários de advogado incumbem ao servidor judicial (Lei

9.099/95, art 52, I e II). Não há “homologação do cálculo”, o que importaria

ressuscitar o indesejável processo de liquidação por cálculo, eliminado pela

Reforma do Código de Processo Civil.

O juiz requisitará o pagamento à autoridade citada para a causa,

que deverá, no prazo de 60 (sessenta dias) depositar a importância, à

disposição do Juízo, na agência mais próxima da Caixa Econômica Federal ou

do Banco do Brasil. Dispensa-se o precatório, como previsto no artigo 100 §3º,

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da Constituição Federal , acrescentando pela Emenda Constitucional nº. 20, de

15.12.98). O descumprimento da decisão autoriza o seqüestro do numerário

correspondente (Lei 10.259/01, art. 17, §2º).

A dispensa de precatório somente é autorizada até o limite de 60

salários mínimos, não se admitindo fracionamento. Não é licito expedir-se ou

mais requisições, cada uma de valor inferior, mas cuja soma ultrapasse o limite

legal e constitucional (Lei 10.259/01, art. 17, §3º).

Pode ocorrer que, em virtude da aplicação de índices de correção

monetária ou do acréscimo de juros, o valor da condenação ultrapasse a

alçada do Juizado Especial. Impõe-se, nesse caso, a forma de precatório. O

exeqüente poderá, porém, optar pela requisição, renunciando ao valor

excedente (10.259/01, art. 17, §§ 3º e 4º).

Não se tratando de pagamento em dinheiro, mas de obrigação de

fazer, não fazer ou de entregar coisa certa, efetua-se a execução mediante

ofício do Juiz à autoridade para a causa, com copia da sentença que transitou

em julgado ou do acordo (Lei 10.259/01, art. 16).

Qualquer que seja a forma da execução, cabem embargos do

executado, que poderá alegar falta ou nulidade da citação no processo, se

correu à revelia; erro de cálculo , excesso de execução ou qualquer causa

impeditiva, modificativa ou extintiva, desde que superveniente à sentença (Lei

9.099/95, art. 52, IX).

3.12. Recursos nos Juizados Especiais Federais

Embargos declaratórios, recurso da decisão que defere medida

cautelar, recurso de sentença, uniformização de jurisprudência e recurso

extraordinário são os recursos cabíveis nos Juizados Especiais Federais.

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3.12.1 Embargos declaratórios

Atendendo aos princípios da oralidade, simplicidade e da celeridade

que regem o novo sistema, a lei especial autorizou a interposição dos

embargos de declaração tanto por petição (forma escrita) quanto oralmente.

Nesta última hipótese, a manifestação do embargante é reduzida a termo pela

Secretaria do Juizado ou mesmo pelo servidor que atua na sala de audiências,

já que o procedimento simplificado faculta a interposição do recurso logo após

a prolação da sentença e a imediata deliberação do juiz sobre a questão.

Os embargos de declaração podem ser interpostos no prazo de

cinco dias contados da ciência da decisão, oralmente ou por escrito, da

sentença ou acórdão que contiver obscuridade, contradição, omissão ou

duvida (Lei 9.099/95, arts. 48 e 49). Tais embargos suspendem (não

interrompem) o prazo para a interposição de outro recurso, quando interpostos

contra sentença (Lei 9.099/95, art. 50). Também quando interpostos contra

decisão de Turma. Se protelatórios, cabe a imposição de multa prevista no

artigo 538, parágrafo único do CPC. Erros materiais podem ser corrigidos de

oficio (Lei 9.099/95, art. 48, parágrafo único), a qualquer tempo.

3.12.2 Recurso da decisão concessiva de medida cautelar

As decisões interlocutórias são, de regra, irrecorríveis. Por isso

mesmo, não ocorre preclusão, podendo a matéria ser reexaminada no recurso

interposto da sentença. Por exceção. Cabe recurso da decisão que defere

medida cautelar (Lei 10.259/01, arts. 4º e 5º). Há de se supor que se trate de

medida concedida incidentalmente, porque a sentença proferida em processo

cautelar é recorrível como qualquer outra. A Lei não prevê a concessão de

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medidas antecipatórias. Se concedida, caberá recurso, dada sua eficácia

imediata. Na hipótese, não há razão para distinguir medida cautelar e medida

antecipatória. Trata-se de medida cautelar lato sensu.

Quanto à distinção entre tutela antecipada e tutela cautelar, merece

destaque a seguinte lição de Nelson Nery Junior e Rosa Maria Andrade

Nery26.

“ A tutela antecipada dos efeitos da sentença de mérito não é tutela

cautelar, porque não se limita a assegurar o resultado prático do processo, a

assegurar a viabilidade da realização do direito afirmado pelo autor, mas tem

por objetivo conceder, de forma antecipada, o próprio provimento jurisdicional

pleiteado ou seus efeitos. Ainda que fundada na urgência (CPC 273, I), não

tem natureza cautelar, pois sua finalidade precípua é adiantar os efeitos da

tutela de mérito, de sorte a propiciar sua imediata execução, objetivo que não

se confunde com a medida cautelar (assegurar o resultado útil do processo de

conhecimento ou de execução ou, ainda, a viabilidade do direito informado

pelo autor)”.

A Lei n. 10.259/2001, em se art. 4º, expressamente autoriza o Juiz

do Juizado Especial Federal a deferir medidas cautelares no curso do

processo, de ofício ou a requerimento das partes, para evitar dano de difícil

reparação. A regra explicita o entendimento já prevalente de que não cabe

ação cautelar preparatória nos Juizados Cíveis, devendo a medida cautelar ser

pleiteada no corpo do próprio processo de conhecimento.

Na lição de Tourinho Neto e Joel Dias, a Lei 10.259/2001 acolheu a

tese que vinha sendo defendia por eles inicialmente na doutrina e, logo em

seguida, acolhida na jurisprudência no sentido de que as interlocutórias de

mérito que pudessem causar gravame às partes, notadamente aquelas de

caráter de urgência (cautelar ou antecipatória – art. 4º, da Lei 10.259/2001)

haveriam de ser revistas, quando necessárias, por intermédio de recurso de

26 Código de Processo Civil, cit., nota 3, p. 546.

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agravo, na modalidade instrumental, segundo se infere do disposto no art. 5º

da norma específica. Aliás, a redação do art. 43 insculpida no Anteprojeto de

Lei de autoria da Ajufe, no Capítulo VII, responsável pelo “sistema recursal”,

ação rescisória e revisão criminal”, dispunha expressamente que “as decisões

interlocutórias são irrecorríveis, salvo quando concessivas de tutela cautelar ou

antecipatória”.

A Lei não nomeia o recurso no art. 5º. Todavia, não se fazia mesmo

mister, em face da aplicação subsidiária do Código de Processo Civil, na

qualidade de macrossistema instrumental e da adequação específica do

recurso de agravo por instrumento para servir adequadamente como

mecanismo do decisium.27

3.12.3 Recurso de sentença

Não há reexame necessário, ainda que a sentença seja contrária à

Fazenda Pública (Lei 10.259/01 art. 13). A sentença homologatória de

transação é irrecorrível (Lei 9.099/95, art. 41). Contudo, é preciso admitir o

recurso, em casos como o de acordo celebrado por procurador sem poder para

transigir, bem como no de transação sobre direito indisponível. Da sentença,

executada a homologatória de conciliação, cabe recurso voluntário, no prazo

de dez dias, contados da ciência da decisão (Lei 9.099/95, art. 41 e 42). O

recurso somente deve ser interposto por petição, subscrita por advogado, com

exposição das razões da inconformidade e pedido de anulação ou reforma

total ou parcial da sentença. Também a resposta deve ser subscrita por

advogado, que será nomeado pelo juiz, se o vencedor estiver pleiteando sem a

assistência de procurador habilitado (Lei 9.099/95, art. 41, §2º).

27 Juizados Especiais Federais Cíveis e Criminais : comentários à Lei 10.259, de 10.07.2001 / Fernando da Costa Tourinho Neto, Joel Dias Figueira Junior. — São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2002, p. 357.

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Os recursos interpostos de sentença ou decisão do Juiz Presidente

do Juizado são julgados por uma Turma, composta por três Juízes Federais,

em exercício no primeiro grau de jurisdição (Lei 9.099/95, art. 41, §§ 1º e 2º e

42), instituída pelo respectivo Tribunal Regional Federal, que terá definido sua

composição e área de competência, podendo abranger mais de uma Seção ou

Estado (Lei 10.259, art. 21).

O recurso tem efeito apenas devolutivo, podendo, porém, o Juiz dar-

lhe efeito suspensivo, para evitar dano irreparável (Lei 9.099/95, art. 43). Da

ausência de efeito suspensivo de regra irrelevante, porque subordinada ao

trânsito em julgado a execução da sentença definitiva (Lei 10.259/95, arts. 16 e

17).

Interposto o recurso, a parte autora tem o prazo de 48 horas para,

independentemente de intimação, efetuar o preparo, sob pena de deserção

(Lei 9.099/95, art. 42, § 1º, e 54, parágrafo único). Supõe-se que o interessado

tenha condições de saber o quantum exigido, independentemente de cálculo

do contador.

Estão dispensados do preparo a parte a que se concedeu o

benefício da assistência judiaria gratuita (Lei 9.099/95, art. 54, parágrafo

único), o Ministério Publico, a União e suas autarquias (CPC, art. 511, § 1º).

Após o preparo, intima-se o recorrido para oferecer resposta escrita

no prazo de dez dias (Lei 9.099/95, art. 42, § 2º). A falta de preparo determina

a deserção do recurso, salvo prova de justo impedimento (CPC, art. 519).

No caso de sucumbência recíproca, Cada parte interporá,

independentemente, o seu recurso, pois a Lei dos Juizados Especiais não

prevê recurso adesivo.

As partes devem ser intimadas da data da sessão de julgamento do

recurso pela Turma (Lei 9.099/95, art. 45), com a antecedência mínima de 48

horas (CPC, art. 522, § 1º). Não há sustentação oral. O recorrente, se vencido,

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será condenado nas custas e honorários advocatícios, fixados estes entre dez

e vinte por cento do valor da condenação, se houver, ou sobre o valor da

causa corrigido monetariamente (Lei 9.099/95, art. 55). Não há condenação do

recorrido em honorários. Ele é, porém, condenado nas custas, se vencido, de

outro modo o recorrente vencedor não se ressarciria das despesas do preparo.

Não se exige a lavratura de acórdão. Basta que da ata conste

indicação suficiente do processo, fundamentação sucinta e o dispositivo. A

sentença pode ser confirmada pelos próprios fundamentos (Lei 9.099/95, art.

46).

A lei não prevê agravo da decisão que inadmita o recurso ou que

decrete a deserção. Que se trata de decisão recorrível não há dúvida, porque

não pode juiz singular impedir que a Turma exerça sua competência recursal.

Certo é que tal decisão é impugnável.

3.12.4. Uniformização de jurisprudência

No sistema do Código de Processo Civil, a uniformização de

jurisprudência tem a natureza de incidente recursal. Na sessão de julgamento

de órgão fracionário do tribunal, qualquer juiz, constatando divergência com

orientação de outra turma, câmara ou grupo, pode solicitar o pronunciamento

prévio do tribunal (CPC, art. 476).

Nos Juizados Especiais Federais, regulados pela Lei 10.259/01, a

uniformização de jurisprudência tem uma natureza de recurso, assemelhando-

se aos embargos de divergência. Após o julgamento, o vencido formula pedido

de uniformização, assim provocando o pronunciamento do órgão competente.

Mas há uma diferença importante em relação aos embargos de divergência:

Após o julgamento do órgão competente. Mas há uma diferença importante em

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relação aos embargos de divergência: a uniformização é restrita a questões de

direito material. (art. 14, caput). Levantamentos feitos nos tribunais superiores

mostraram predominância de questões processuais. Resolveu-se diminuir o

número de recursos, restringindo-os às questões de direito material.

Busca-se a uniformização da jurisprudência por três caminhos:

• Por recurso às Turmas em conflito da mesma região;

• Por recurso à Turma (nacional) de Uniformização;

• Por recurso ao Superior Tribunal de Justiça;

Se apontada divergência sobre o direito material em base, entre

Turmas da mesma Região, o recurso é julgado pelas Turmas em conflito, sob

a presidência do Juiz Coordenador (Lei 10.259/01, art. 14 § 1º).

Se a decisão recorrida diverge de outra, preferida por Turma de outra

Região ou de súmula ou jurisprudência dominante do STJ, o recurso será

julgado pela Turma (nacional) de Uniformização, integrada por juízes de

Turmas Recursais, sob a presidência do Coordenador da Justiça Eleitoral (\lei

10.259/01, art, 14, § 2º).

Da decisão da Turma de Uniformização cabe outro recurso de

uniformização, fundado em contrariedade a súmula ou jurisprudência

dominante do STJ, que por este será julgado (10.259/01, art. 14, §4º). Não

cabe o recurso por contrariedade ou negativa de vigência a lei federal, o que o

distingue do recurso especial, que, alas, não podem ser interpostos, dado o

entendimento de que Turma Especial não constitui tribunal, para efeito de

cabimento do citado recurso. Merece destaque a circunstância de que o relator

da uniformização no Superior Tribunal de Justiça tem poderes para determinar

a suspensão de outros recursos de uniformização nos quais a controvérsia

esteja estabelecida (art. 14, § 5º). Significa isso que pedidos de uniformização

idênticos, recebidos subseqüentemente, ficarão retidos, aguardando-se o

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pronunciamento do STJ (art. 14, § 6º). Publicado o respectivo acórdão, tais

feitos de retratação ou declarar prejudicado o recurso de uniformização.

O artigo 14, § 6º, da Lei 10.259/01, contem uma previsão

revolucionária. No caso de julgamento por Turmas em conflito ou pela Turma

(nacional) de Uniformização, havendo necessidade de se colher os votos de

juízes domiciliados em cidades diversas, a reunião será feita por via eletrônica.

A Lei não detalha o procedimento a ser adotado, confiando-o aos

Tribunais Regionais e ao Superior Tribunal de Justiça (art. 14, § 14).

Na forma da Constituição, tais julgamentos deverão ser públicos,

condição facilmente razoável, utilizando-se a \internet. Os votos não precisarão

(nem deverão) ser colhidos simultaneamente, a fim de que cada juiz possa, na

sua vez, ponderar os fundamentos dos votos anteriormente proferidos. Há que

se esperar que o resultado não decorra da simples soma dos votos, mas da

interação dos integrantes do colegiado, ainda que pela via eletrônica.

O projeto, elaborado por juízes, não prevê sustentação oral nos

julgamentos das Turmas. Espera-se que o regulamento preveja formas de

apresentação de memoriais que, em atenção aos princípios da publicidade e

do contraditório, também ser inscritos em site da Web.

3.12.5. Recurso Extraordinário

A Constituição outorga competência, ao Supremo Tribunal Federal,

para julgar, em recurso extraordinário, causas decididas em única ou ultima

instancia, (art. 101, III); ao Superior Tribunal de Justiça, para julgar, em recurso

especial, causas decididas, em única ou ultima instancia, pelos Tribunais

Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados, do Distrito Federal e

Territórios (art. 105, III). Da diversidade de redação, tem-se concluído que, das

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decisões das Turmas dos Juizados Especiais cabe recurso extraordinário, para

o Supremo Tribunal Federal, mas não o especial, para Superior Tribunal de

Justiça.

Decisão de Turma é de última instância, ainda que eventualmente

possível a interposição do recurso de uniformização de jurisprudência, por não

se poder exigir que a parte saiba que, em algum lugar do País, outra Turma

divergiu, adotando a tese sustentada pelo recorrente.

Os recursos se subdividem em comuns, normais ou ordinários, por

oposição aos especiais, excepcionais ou extraordinários. A inconformidade da

parte com a própria sucumbência é suficiente para justificar a interposição dos

primeiros. Quanto aos demais, isso não basta: é preciso que ocorra outra

condição, prevista em lei, como, v.g., a contrariedade à Constituição, para

justificar recurso extraordinário para o Supremo Tribunal Federal de Justiça. A

Súmula 281 do STF dispõe: “é inadmissível o recurso extraordinário quando

couber, na Justiça de origem, recurso ordinário da decisão impugnada”. Ora,

assim como recurso especial, o de uniformização de jurisprudência não é um

recurso ordinário, porque subordinado seu cabimento à existência de

divergência jurisprudencial, não bastando à mera inconformidade da parte:

Havendo a interposição dos dois recursos, devera sustar-se o

processamento do extraordinário, até o julgamento da uniformização,

observando-se a sistemática prevista no Código de Processo Civil para a

hipótese de interposição de recurso especial e extraordinário.

Cabe agravo, para o Supremo Tribunal Federal, da decisão que não

admite recurso extraordinário (CPC, art. 544).

O relator do recurso extraordinário poderá determinar a suspensão

de todos os processos nos quais a controvérsia esteja estabelecida (Lei

10.095/01, art. 15 e 14, §§ 5º, combinados), caso em que se procederá de

modo idêntico ao previsto para o recurso de uniformização da competência

(Lei 10.095/01, art. 15).

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3.13. Mandado de Segurança

Cabe mandado de segurança contra atos do Juizado Especial.

“Conceder-se-á mandado de segurança”, diz a Constituição, “para proteger

direito liquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data,

quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade

pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder

Público” (art. 5º, XLIX). Desde que se fixou a jurisprudência no sentido de

cabimento do mandamus inclusive contra ato jurisdicional, nenhuma razão há

para excluir os Juizados Especiais do âmbito de sua proteção. Pelo contrário,

maior aí é sua necessidade, dada a irrecorribilidade das decisões

interlocutórias. Indubitável a admissibilidade, duvidosa é a competência para

processá-lo e julgá-lo.

Segundo a Comissão de Interpretação da Lei dos Juizados

Especiais, “os tribunais estaduais têm competência originária para o habeas

corpus e mandado de segurança quando o coator for o juiz especial” mas,

operando o mandado de segurança nesse caso como sucedâneo

extraordinário do sistema recursal, é mais razoável atribuir essa competência

ao órgão que seria competente para o julgamento de eventual recurso, ou seja,

ao colégio recursal; mas é razoável a competência dos tribunais estaduais

quando o ato impugnado for do próprio colégio. Há, porém, entendimento no

sentido de competir à própria Turma Recursal conhecer de mandato de

segurança contra ato seu: “A Turma Recursal é o órgão revisor das decisões

monocráticas e, por conseguinte, com competência para conhecer e julgar

mandado de segurança tanto contra ato do juízo singular, assim mesmo como

da decisão proferida pelo próprio Colegiado do Juizado Especial, porque nem

o Tribunal de Justiça, nem o Tribunal de Alçada possuem competência

originária, nem recursal, para rever as decisões do Colégio Recursal”. Em

sentido diametralmente oposto, afirmou-se a competência, conforme o caso,

do Tribunal de Justiça ou do Tribunal de Alçada, negando-se à Turma

Recursal, competência para processar e julgar qualquer mandado de

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segurança: “A turma recursal do Juizado Especial não reúne competência para

julgar mandado de segurança originário, visto tê-la unicamente para julgar

recurso, nunca ação mandamental.

Para a solução do problema há que se acrescentar mais um dado,

que é a estrutura impressa aos Juizados Especiais da Justiça Federal.

Instituíram Turmas de Uniformização e criou-se uma Turma Nacional de

Uniformização, dela cabendo recurso para o Superior Tribunal de Justiça, por

contrariedade a súmula ou à jurisprudência dominante desse Tribunal.

A linha, estabelecida na Lei 9.099/95, tornou-se clara com a Lei

10.259/2001: não se incluem, na estrutura dos Juizados Especiais, os tribunais

locais. Em, impetrado contra ato jurisdicional, o mandado de segurança é um

sucedâneo recursal. Assim, na Justiça Comum, é competente para conhecer

de mandado de segurança a Turma Recursal, quer se trata de ato de Juiz

Presidente do Juizado, quer se trata de ato dela própria.

Na Justiça Federal, não são competentes as Turmas Locais de

Uniformização, porque criadas apenas para fins de uniformização de

jurisprudência. Também por não haver propriamente uma turma de

uniformização, com juízes certos, convocando-se para julgamento das

divergências os juízes de turmas em conflito. Essas razões restritivas não

atingem a Turma (Nacional) de Uniformização, criada não apenas para fins de

uniformização, mas também para âmbito da Justiça Federal a ela caberá, pois,

processar e julgar os mandados de segurança impetrados conta Turma

Recursal.

3.14. Ação rescisória e incompetência absoluta

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A Lei dos Juizados Especiais (Lei 9.099/95), dispõe: “Art. 59 - Não

se admitirá ação rescisória nas causas sujeitas ao procedimento instituído por

esta Lei”, qual seja o sumaríssimo.

Já a Lei 10.259/2001 silencia a respeito do cabimento ou não de

ação rescisória como meio de impugnação das sentenças proferidas sob a

égide deste microssistema, enquanto determinada expressamente aplicar

subsidiariamente a Lei 9.099/95, no que não conflitar com a norma (art. 1º),

enquanto o Código de Processo Civil, como é assente, encontra a sua

aplicação somente num plano consecutivo de fundo, na qualidade de

macrossistema.

Não acho conveniente excluir a ação rescisória do elenco dos meios

de impugnação contra as decisões proferidas nesses Juizados, porque é

inconcebível achar que os juízes de primeiro grau ou os Colégios Recursais

jamais incidirão em quaisquer das hipóteses do art. 485 do CPC. Acho que

seria entender que são perfeitos. Livre de erros. Porém, apesar de não

concordar, entendo ser razoável, pelo menos no momento, aplica-se o que diz

a Lei em vigor e esperar que em futuro breve isto possa ser visto.

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CAPÍTULO 4 – PROCESSO ELETRÔNICO

4.1 - Breves comentários sobre a criação e desenvolvimento do

processo eletrônico

Hoje em dia, cada vez mais se torna indispensável o uso da

informática na atividade jurídica em geral. A chamada informática jurídica,

respeita à aplicação das tecnologias de informação e comunicação ao Direito.

Quando esse tema é abordado, diversos assuntos são trazidos à baila, a

saber: a utilização do computador nas atividades jurídicas; o impacto da

avançada tecnologia perante a sociedade; as perspectivas do desenvolvimento

da informática e do direito; bem como, as suas aplicações práticas28.[...]

O nascimento do processo virtual on line participa da idéia de

atender ao preceito do tempo razoável de duração do procedimento,

eliminando por completo o uso do papel, permitindo completamente o acesso,

desde o início até a coisa julgada, ao caminho on line.

Trata-se de predicado inerente à modernidade, próprio da revolução

cibernética, a qual se desenvolveu mediante a utilização de modos e formas de

aprimoramento da linguagem eletrônica. O Supremo Tribunal Federal baixou a

Resolução 344, de 31.05.2007, regulamentando, dentro do seu âmbito, o

processo eletrônico e, mais do que isso, prevendo a comunicação de atos e a

transmissão de peças de maneira a serem encurtadas as distâncias e

28 CARDOSO, Sérgio Eduardo. Juizados Especiais Federais. In Inovações e Aspectos Polêmicos. Anais do Seminário. Brasília, mar. 2002. p. 221. Parte do artigo extraído do Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, aprovado, com grau máximo pela banca examinadora composta pelo orientador Prof. Dr. Araken de Assis, Profª. Me. Maria Cristina da Rosa Martinez, e Prof. Luciano Ademir José D’avila, em 09 de novembro de 2006, adaptado em razão da votação ocorida em 30/11/2006, no plenário da Câmara dos Deputados, onde, por unanimidade, foi aprovado o PL 5828/2001, que, dispõe sobre a informatização do processo judicial e dá outras

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propiciando sobremodo o enfrentamento sem a necessidade do deslocamento

dos processos submetidos a sua jurisdição.

Idêntico propósito fora colimado pelo Superior Tribunal de Justiça na

Resolução 1/2009, e no âmbito da Justiça Trabalhista, normatizando o

assunto, conforme ato conjunto CSJT/TST 9/2008, além da Portaria CNJ

516/2009.

Concretizando o ideal, a Lei 11.419/2006 trouxe, associado a outro

diploma legal, um parâmetro para a criação do processo eletrônico e seu

conseqüente desenvolvimento, determinando o credenciamento para uso e

acesso do sistema e a denominada certificadora, que, no Estado de São

Paulo, compete ao Serasa.

Destarte, temos a comunicação eletrônica com a petição inicial e,

em algumas hipóteses, a sua digitalização, inclusive aquela de documentos, no

propósito substancial da eliminação de papéis, dando ensejo ao pressuposto-

base da formação do litígio digital.

Inúmeras ferramentas se alimentam do processo eletrônico. No

entanto, falta a principal, isto é, a própria criação do processo eletrônico, seu

desenvolvimento e as suas etapas.

Ressaltamos que tal meio processual se destina tanto às questões

de ordem penal, trabalhista e fiscal quanto à jurisdição cível.

A própria Lei 6.830, de 1980, num gesto típico de modernidade, já

cogitava do meio eletrônico quando disciplinava a certidão da dívida ativa,

muito provavelmente em razão do volume processual e das condições de infra-

estrutura desse procedimento (art. 2º, § 7º).

Nessa linha de pensamento, a origem do processo eletrônico se

reporta à transformação observada no fim do século XX e início do século XXI

providências, atualmente no aguardo da sanção presidencial. Disponível em: http://www.pucrs.br.

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com as ferramentas e instrumentos colocados à disposição da sociedade.

Evidentemente, pois, o desenvolvimento se pautava pelas regras

estabelecidas, em todo o território nacional, conforme orientação do Conselho

Nacional de Justiça, sem perder de vista as competências locais e os aspectos

regionais. [...]

Em outras palavras, passamos do processo em papel para o

processo virtual.

Sabemos que os Juizados Especiais Federais estão todos

disciplinados pelo processo virtual eletrônico, teor da Lei 10.259, de

12.07.2001, o que se mostra adequado e consentâneo com esta realidade. [...]

A agilização permite maior compatibilidade entre o meio eletrônico e

a própria realidade, resultando disso que a Justiça Eleitoral foi pioneira na

implantação do sistema de urnas eletrônicas com facilidade plural, não apenas

na votação como no resultado apuratório, em tempo recorde.

Revela-se o processo eleitoral seguro por mecanismo de chave de

acesso e código, aprimorando senha para facilitar discernimento e a prática do

voto em relação à legenda, no candidato, em branco, ou nulo.

Desenvolve-se, portanto, metodologia que imprime o sistema

informatizado, desde a informação, passando pelo surgimento do processo

eletrônico, fase de provas, de decisão e, substancialmente, de recurso.

Na evolução do pensamento, inúmeras alterações produzidas no

Código de Processo Civil permitiram também melhoria e redução do

custo/benefício a partir da autenticidade dos atos oficiais praticados pelo

denominado mecanismo de Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP

Brasil).

Acessado em: 31/01/2010.

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A respeito, na atualidade, admite-se o recurso especial e também o

extraordinário pelo meio eletrônico, inclusive internet. Implementa-se, pois, um

sistema informatizado, sem sombra de dúvida, capaz de atingir o seu

desiderato e promover, interna e externamente, segurança no processamento

da informação e, sobretudo, transparência do processo eletrônico.

Ressalte-se, ainda, que esse sistema permite a feitura de

intimações pelo caminho eletrônico, cadastramento de correio eletrônico, atos

processuais, e também a própria assinatura digital do magistrado em

despachos ou decisões, singulares ou coletivas.

Disciplina-se, ainda, a comunicação eletrônica do Poder Judiciário

com os demais órgãos da administração direta e indireta.

Em síntese, todo o mecanismo descrito faz parte de um aparato

maior, associado ao padrão de cada órgão jurisdicional, porém exclusivamente

voltado à satisfação do serviço público e sua qualidade. [...]29

4.2 - Formação, desenvolvimento e instrumentalização do processo

eletrônico

O processo eletrônico, como não poderia deixar de ser, apresenta

fases e etapas, que caracterizam sua constituição, formação válida,

desenvolvimento, com todos os princípios constitucionais e processuais

assegurados, objetivando, assim, acesso e consulta, permitindo que o juízo

natural, mesmo ausente do local de sua jurisdição, acesse e possa receber,

em tempo real, todas as informações. Dessa maneira, o processo eletrônico

tem a sua instrumentalização baseada nos informes que são armazenados no

sistema, processando-se regularmente, recebendo, especificamente códigos

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de barras, pretendendo a unificação universal do sistema, afim de que possa

ser processado e chegar até a fase da sentença.

Dentro dessa linha de pensar, ao ser apreciada a inicial, verificará o

juízo a compatibilidade do pedido, dentro do sistema eletrônico, em rede

mundial, podendo ser digitalizado o documento físico, com viabilidade de

destruição posterior.

Preferencialmente, predominará o meio eletrônico, cuja distribuição

estará também conectada, mediante informação, passo a passo, ao

seqüenciamento do processo virtual. Em poucas palavras, a

instrumentalização do processo revelará uma técnica flexibilizada que a

disciplina legal sujeita, inclusive em relação aos documentos e extratos de

acompanhamento, para que todos possam, inclusive o Ministério Público,

assistentes e auxiliares do juízo, compreender a movimentação dessa

ferramenta processual eletrônica. [...]

Não existirá mais a necessidade de se fazer a autuação do

processo, capa, anotações e outras observações, que se tornarão

dispensáveis mediante processo eletrônico.

Dessa forma, o cartório trabalhará em harmonia com o juízo,

fazendo com que o processo tenha imediata sequência, no cumprimento dos

atos e na expedição de ofícios do seu próprio interesse. [...]

Assim, o juízo, mesmo não estando fisicamente presente, poderá se

utilizar do acesso ao sistema, mediante senha, proferir despachos e

sentenças, lançando sua assinatura digital, em qualquer parte do planeta.

Consequentemente, a distância física não causará solução de continuidade ao

procedimento e nem mesmo impedirá que as decisões sejam precisas, como

ressaltou o Presidente do TRF4 (grifo nosso):

29 ABRÃO, Carlos Henrique. Processo Eletrônico : Lei 11.419 de 19 de dezembro de 2006 / Carlos Henrique Abrão – 2. ed. Ver., atual. Ampl. – São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2009.

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“O processamento eletrônico, tanto judicial quanto administrativo, permitirá a gestão do conhecimento, fincada em parâmetros modernos, redundando em decisões mais precisas e qualificadas dos administradores e julgadores da Justiça Federal da Região Sul.” (Des. Federal Vilson Darós Presidente do TRF da 4ª Região – Novo Horizonte da Justiça Federal. Artigo publicado no Jornal do TRf4, p. 2 – dezembro de 2009)

4.2.1 – Comunicação dos atos processuais

Os atos processuais, como a juntada de petições, documentos e

certidões, serão praticados virtualmente pelos usuários30 cadastrados que

possuirão login e senha pessoal. Através do acesso à internet, o sistema

identificará a senha do operador e demonstrará uma relação dos processos

pendentes onde o mesmo atua, para que este possa trabalhar nos processos e

gerar suas fases e eventos, que no momento da movimentação já restarão

registrados, sendo, desta forma, abolida a tradicional carga dos autos para

cumprimento de diligências.

Da mesma maneira mencionada acima serão proferidos atos e

pronunciamentos judiciais, dentre outros: as sentenças, as decisões

interlocutórias, e os despachos. O Magistrado, do mesmo modo que os

advogados e demais usuários cadastrados, terá através do sistema, acesso

aos processos em que atua e assinará digitalmente31 suas decisões com seu

login e senha, aparecendo sua assinatura somente no ato processual

concluído.

30 Refere-se à todos usuários cadastrados no sistema virtual e que tenham acesso ao processo eletrônico, como: juízes, advogados, funcionários da Justiça Federal, estagiários, peritos, procuradores, curadores, etc. 31 ESPAÇO VITAL. <espacovital.com.br>. ABC da certificação digital. Assinatura Digital é a técnica de identificação ou autenticação eletrônica que permite determinar a veracidade da identidade do emissor, bem como a condição de que o conteúdo do documento eletrônico não tenha sido modificado após ter sido assinado. Disponível em: http://www.espacovital.com.br/noticia_ler.php?id=4756. Acesso em 03/02/2010.

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No caso de citações, intimações e notificações, o sistema outorgará

um prazo para que as partes consultem seus processos e tomem ciência do

andamento processual clicando sobre o link próprio do site. E, quando isso

ocorrer dentro do lapso temporal estipulado, os eventos serão gerados

automaticamente, sendo contados os atos processuais a partir do dia seguinte

da data motivada pelo próprio sistema virtual. Frise-se que as pessoas

jurídicas de direito público não possuirão prazo diferenciado para a prática de

qualquer ato processual32.

Segundo a determinação dada pelo diploma legal que rege os

Juizados Estaduais33, e que se aplica, subsidiariamente, aos Juizados de

competência Federal, somente os atos considerados essenciais34 serão

registrados resumidamente. Mas, no processo eletrônico qualquer

movimentação processual, ficará registrada por meio de um protocolo

numérico eletrônico, que irá para um banco de dados sem possibilidade de

modificação.

Todos os documentos que integram os autos virtuais serão

anexados em formato eletrônico e receberão uma assinatura digital do usuário

que proceder alguma movimentação.

As partes que não possuírem advogado para que tomem ciência das

fases processuais, receberão: ARMP (aviso de recebimento em mão própria),

32 BRASIL. Juizados Especiais Civis e Criminais na Justiça Federal. Lei 10.259 de 12 de julho de 2001.Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 03/02/2010. Art. 9º. “Não haverá prazo diferenciado para a prática de qualquer ato processual pelas pessoas jurídicas de direito público, inclusive a interposição de recursos, devendo a citação para audiência de conciliação ser efetuada com antecedência mínima de 30 dias”. 33 BRASIL. Juizados Especiais. Lei 9.099 de 25 de setembro de 26 de setembro de 1995. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 03/02/2010. Art. 13 § 3º.”Apenas os atos considerados essenciais serão registrados resumidamente, em notas manuscritas, datilografadas, taquigrafadas, ou estenotipadas. Os demais atos poderão ser gravados em fita magnética ou equivalente, que será inutilizada após o trânsito em julgado da decisão”. 34 SANTOS, Marisa Ferreira dos. Juizados Especiais Federais. In Inovações e Aspectos Polêmicos. Anais do Seminário. Brasília, mar. 2002., p. 208. São considerados atos essências nos Juizados Especiais: a petição inicial, alguns dos documentos apresentados que são indispensáveis à propositura da ação, a certificação da citação, o laudo pericial, o termo da audiência de conciliação, se houver, a contestação, instrução e julgamento, sentença, recurso e julgamento”. Evitando-se anexar petições de juntada ou manifestações que não se atenham a contestar ou recorrer. Acessado em: 03.12.2009.

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sendo que a confirmação do recebimento do aviso será escaneada pelos

funcionários da Vara e anexada aos autos; e-mail ou telefonema, que deverá

ser certificada nos autos virtuais pelo chefe de secretaria. Não obstante esses

meios de comunicação, as partes, sempre que quiserem, poderão acessar à

internet e ter acesso aos seus processos (porém sem a possibilidade de

movimentá-los), bem como, se dirigirem à secretaria da Vara para que

recebam informações e orientações sobre como procederem aos atos

processuais necessários ao bom andamento do processo, inclusive de como

receberão seus créditos, (grifo nosso).

Assinala Carlos Henrique Abrão:

[...] No processo eletrônico, prioriza-se a digitalização dos documentos, que serão acessados e ficarão disponíveis também para a rede externa, as respectivas partes e para o Ministério Público, com a ressalva das circunstâncias peculiares do sigilo e do segredo.[...] Bastará o acesso à integra do processo para validar o ato e lhe emprestar legalidade. O documento em papel, em algumas hipóteses, será digitalizado, e, não havendo mais interesse prático algum, poderá ser destruído [...]35.

Segundo Ricardo Perlingeiro Mendes da Silva, é fundamental o

estabelecimento de regras de transição na veiculação do processo eletrônico e

na manutenção dos atos com validade e eficácia, sob pena de incorrermos no

grave erro da inexistência processual36. A legislação processual civil colaciona

casos de inexistência, nulidade absoluta, relativa, anulabilidade, irregularidade

e ineficácia, de forma complexa e não pormenorizada, e, para que o processo

eletrônico não sofra as conseqüências desses impasses, necessário se torna a

35 Id. Ibid., p. 59, 60 e 69. 36 Silva, Ricardo Perlingeiro Mendes da. Teoria da inexistência do direito processual civil. Porto Alegre: Fabris , 1998.

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criação de mecanismos que evitem toda e qualquer anomalia, sob o plano da

existência, da validade e da eficácia37.

Com a sentença líquida proferida, consequentemente, após o

trânsito em julgado, imediatamente passa-se à fase de execução. O

pagamento da condenação será feito por meio de alvará ou requisição de

pequeno valor (RPV), ambos de forma virtual, sendo que a segunda será

encaminhada ao Tribunal Regional Federal e o primeiro deverá ser retirado em

cartório e resgatado numa das agências da Caixa Econômica Federal.

4.2.2 – Processo eletrônico – Modernidade, inovação e

comprometimento

É notável como à criação dos Juizados Especiais Federais trouxe

uma nova visão de justiça menos burocrática e distante do cidadão e mais

célere. Para corroborar com esta inovação, a adoção do processo eletrônico

torna cada vez mais visível estas mudanças.

É fato que isto é fruto de um longo trabalho fundamentado na

revolução tecnológica que o mundo vem sofrendo e, também na necessidade

de se dar à população uma prestação jurisdicional de maior qualidade e

satisfação.

O Estado-juiz com a implementação do processo eletrônico assume

um papel de vanguarda na prestação jurisdicional efetiva, com

responsabilidades ainda maiores, podendo até mesmo sofrer algum tipo de

sanção já que todos os seus atos estão sendo fiscalizados pelo Conselho

Nacional de Justiça e pela Corregedoria, por meio de estatísticas e metas que

são priorizadas. Tal procedimento é uma forma de se prestar contas à

sociedade, já esta é a principal interessada.

37 Id. Ibid., p. 71.

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Finalizando, podemos dizer que existe uma certa resistência de

juízes, advogados e partes quanto ao processamento eletrônicos, mas mesmo

assim é preciso apostar nesta modernidade e inovação da justiça porque o

sistema é seguro, sendo possível detectar com precisão a origem de qualquer

consulta ou movimentação processual, já que as peças recebem uma

certificação eletrônica.

Mesmo que exista risco de fraude no processo eletrônico, a

segurança no processo físico não é garantida também, como bem comenta

Sérgio Tejada:

Qual a garantia de que não vai ser quebrado o sigilo no processo tradicional? O processo está em um armário com possibilidade de acesso por meio de um servidor mal-intencionado que pode fraudá-lo. Da mesma forma, já que no Brasil o processo judicial é público, o que impediria um advogado ou uma das partes falsificarem alguma parte dele? O processo eletrônico deixa rastros, pois sempre que o mesmo for acessado, o sistema terá registro desse acesso, com todas as informações necessárias para se chegar ao responsável pela entrada no sistema. Portanto, quando se fala em segurança do processo eletrônico, ele é muito mais seguro que o tradicional, em papel38.

O processo eletrônico é um avanço e uma resposta aos anseios da

sociedade por uma justiça mais acessível, célere e justa.

38 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. <www.stf.gov.br>. otícias. TEJADA, Sérgio. Disponível em: <HTTP://www.stf.gov.br/noticias/imprensa/ultimas. Acessado em: 06/02/2010.

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CONCLUSÃO

Por todo o exposto, a criação dos Juizados Especiais Federais não

representa a solução para o problema do acesso à Justiça, mas é apenas uma

das formas.

A Lei 10.259/2001 nos trouxe uma nova e eficiente modalidade de

justiça, que indiscutivelmente vem beneficiando as camadas menos

favorecidas da sociedade que gratuitamente ajuízam a ação em busca da

solução célere para dirimir o seu litígio.

Esta nova modalidade de Justiça ressalta seu sucesso perante o

Judiciário, tendo como base inicial a presença marcante de seus princípios

orientadores, fazendo com que os Juizados Especiais Federais lancem efeitos

imediatos, como: a facilidade de acesso do cidadão à Justiça, o barateamento

de seus custos para o jurisdicionado, a simplificação do procedimento — com

vistas a dar maior celeridade à Justiça — sem sacrificar a análise do bom

direito e a abolição das formalidades desnecessárias.

O legislador ao criar a citada Lei dos Juizados Especiais Federais,

teve como visão primordial a simplificação desta modalidade de Justiça,

objetivando desafogar o tão solicitado Judiciário.

O importante é ressaltar que a finalidade dos Juizados Especiais

Federais está voltada para a harmonização do bem social, pois o homem

simples a ele se socorre sem despender custas e honorários, bastando o relato

de sua pretensão e observada à admissibilidade do mesmo, para que a parte

contrária seja chamada a juízo, a fim de se buscar a conciliação.

Caso necessite ou solicite um profissional para atuar na defesa de

seus interesses e não puder arcar com os honorários advocatícios, ser-lhe-á

indicado um advogado voluntário para atuar no feito, de forma gratuita. O que

também é uma das formas de acesso à Justiça, em respeito ao princípio da

dignidade humana.

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A democratização do acesso à Justiça, como garantia fundamental

e instrumento e aperfeiçoamento social, deve estar aliada também, à

reestruturação do Poder Judiciário, sob pena de se tornar irreversível o colapso

do Estado democrático frente às expectativas da nação.

Pensando nisso, a Justiça vem se modernizando a cada dia,

qualificando seus servidores, criando metas de desempenho de trabalho e

modernizando seus sistemas de informações processuais. Um exemplo disso

é a transformação dos processos físicos, ou melhor, de papel, em eletrônicos,

consubstanciada na Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006, com a

digitalização das peças, inclusive, dos que já estavam tramitando, antes da

implantação da nova sistemática processual. A experiência mostra que tanto o

processo oral como o escrito retardam a solução dos pleitos, faz a justiça mais

lenta e complica algumas questões que poderiam ser resolvidas até mesmo de

plano pelo juiz, sem afastar sobremaneira a segurança das decisões judiciais.

O processo eletrônico trouxe muitas mudanças e quebrou

paradigmas perante a sociedade e os operadores de Direito. A implantação

deste novo modelo processual de forma virtual possibilitou muitos benefícios,

facilitando o acesso à ordem jurídica justa. O objetivo, desde a antiguidade, é

proporcionar a todos o efetivo acesso à Justiça. Sendo assim, o processo oral,

foi adotado pelos Juizados Especiais e englobam os seus princípios

norteadores, quais sejam: a celeridade, informalidade, economia processual e

simplicidade. Portanto, o modelo processual eletrônico se revela como uma

tendência futurista que extrapola os limites das varas federais especializadas.

Ainda neste contexto de inovações digitais temos o peticionamento

eletrônico, que contribui para a celeridade processual e ajuda sem dívida

nenhuma no trabalho dos nossos operadores de Direito, diminuindo suas

saídas dos escritórios onde concentram seus serviços e estudos.

Sendo assim, é a sociedade quem determina a dinâmica dessa

busca de justiça mais eficiente e rápida de acordo com suas necessidades. Por

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esta razão, um dos indicadores de desenvolvimento social de um povo é o seu

nível de acesso ao aparato judiciário do Estado, sem muitas formalidades e

barreiras sociais.

É inquestionável que a criação dos Juizados Especiais Federais

Cíveis trouxe um novo alento ao jurisdicionado que já se encontrava

desesperançado com a tradicional, pesada, custosa d lenta máquina judiciária.

Eles são responsáveis pela rápida resposta da justiça aos cidadãos.

Constituem uma realidade importante na prestação jurisdicional do país.

Viabilizam o acesso à Justiça deixando de lado as barreiras de ordem

econômica, social, cultural e jurídica. Todas impeditivas na ordem jurídica

tradicional. O rito dos Juizados Especiais iguala os litigantes, contemplando

uma ordem jurídica justa e ataca um dos obstáculos ao acesso efetivo à

justiça, a fim de que o utópico passe a ser real para o cidadão.

Talvez o sonho de uma justiça perfeita, esteja um pouco distante do

âmbito dos Juizados Especiais Federais, não pela ineficiência da lei especial,

pois ela é apenas uma semente que foi colocada no solo da Justiça, mas

porque tem que sobreviver enfrentando todos aqueles problemas de estrutura

física, pessoal e, porque não dizer, processual — legal —, até que se faça a

tão sonhada “Reforma do Judiciário”.

O que nos cabe agora é não deixar que estes tipos de problemas,

impeçam esta semente de germinar, crescer e virar uma árvore frondosa cheia

de bons frutos. É preciso adubar e irrigar esta terra para que o querer de uma

Justiça justa, acessível, célere e eficiente não se perca.

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ANEXOS

Índice de anexos

Anexo 1��Lei nº 11.419, de 19 de dezembro de 2006.

Anexo 2 Artigos copiados da Revista HABEAS DATA - Publicação do Tribunal

Regional Federal da 2ª Região – ano XIII - Nº 71 |Abr / Mai / Jun 2009

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ANEXO 1

LEI Nº 11.419, DE 19 DE DEZEMBRO DE 2006.

Mensagem de veto

Dispõe sobre a informatização do processo judicial; altera a Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 –Código de Processo Civil; e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

CAPÍTULO I

DA INFORMATIZAÇÃO DO PROCESSO JUDICIAL

Art. 1o O uso de meio eletrônico na tramitação de processos judiciais, comunicação de atos e transmissão de peças processuais será admitido nos termos desta Lei.

§ 1o Aplica-se o disposto nesta Lei, indistintamente, aos processos civil, penal e trabalhista, bem como aos juizados especiais, em qualquer grau de jurisdição.

§ 2o Para o disposto nesta Lei, considera-se:

I - meio eletrônico qualquer forma de armazenamento ou tráfego de documentos e arquivos digitais;

II - transmissão eletrônica toda forma de comunicação a distância com a utilização de redes de comunicação, preferencialmente a rede mundial de computadores;

III - assinatura eletrônica as seguintes formas de identificação inequívoca do signatário:

a) assinatura digital baseada em certificado digital emitido por Autoridade Certificadora credenciada, na forma de lei específica;

b) mediante cadastro de usuário no Poder Judiciário, conforme disciplinado pelos órgãos respectivos.

Art. 2o O envio de petições, de recursos e a prática de atos processuais em geral por meio eletrônico serão admitidos mediante uso de assinatura eletrônica, na forma do art. 1o desta Lei, sendo obrigatório o credenciamento prévio no Poder Judiciário, conforme disciplinado pelos órgãos respectivos.

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§ 1o O credenciamento no Poder Judiciário será realizado mediante procedimento no qual esteja assegurada a adequada identificação presencial do interessado.

§ 2o Ao credenciado será atribuído registro e meio de acesso ao sistema, de modo a preservar o sigilo, a identificação e a autenticidade de suas comunicações.

§ 3o Os órgãos do Poder Judiciário poderão criar um cadastro único para o credenciamento previsto neste artigo.

Art. 3o Consideram-se realizados os atos processuais por meio eletrônico no dia e hora do seu envio ao sistema do Poder Judiciário, do que deverá ser fornecido protocolo eletrônico.

Parágrafo único. Quando a petição eletrônica for enviada para atender prazo processual, serão consideradas tempestivas as transmitidas até as 24 (vinte e quatro) horas do seu último dia.

CAPÍTULO II

DA COMUNICAÇÃO ELETRÔNICA DOS ATOS PROCESSUAIS

Art. 4o Os tribunais poderão criar Diário da Justiça eletrônico, disponibilizado em sítio da rede mundial de computadores, para publicação de atos judiciais e administrativos próprios e dos órgãos a eles subordinados, bem como comunicações em geral.

§ 1o O sítio e o conteúdo das publicações de que trata este artigo deverão ser assinados digitalmente com base em certificado emitido por Autoridade Certificadora credenciada na forma da lei específica.

§ 2o A publicação eletrônica na forma deste artigo substitui qualquer outro meio e publicação oficial, para quaisquer efeitos legais, à exceção dos casos que, por lei, exigem intimação ou vista pessoal.

§ 3o Considera-se como data da publicação o primeiro dia útil seguinte ao da disponibilização da informação no Diário da Justiça eletrônico.

§ 4o Os prazos processuais terão início no primeiro dia útil que seguir ao considerado como data da publicação.

§ 5o A criação do Diário da Justiça eletrônico deverá ser acompanhada de ampla divulgação, e o ato administrativo correspondente será publicado durante 30 (trinta) dias no diário oficial em uso.

Art. 5o As intimações serão feitas por meio eletrônico em portal próprio aos que se cadastrarem na forma do art. 2o desta Lei, dispensando-se a publicação no órgão oficial, inclusive eletrônico.

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§ 1o Considerar-se-á realizada a intimação no dia em que o intimando efetivar a consulta eletrônica ao teor da intimação, certificando-se nos autos a sua realização.

§ 2o Na hipótese do § 1o deste artigo, nos casos em que a consulta se dê em dia não útil, a intimação será considerada como realizada no primeiro dia útil seguinte.

§ 3o A consulta referida nos §§ 1o e 2o deste artigo deverá ser feita em até 10 (dez) dias corridos contados da data do envio da intimação, sob pena de considerar-se a intimação automaticamente realizada na data do término desse prazo.

§ 4o Em caráter informativo, poderá ser efetivada remessa de correspondência eletrônica, comunicando o envio da intimação e a abertura automática do prazo processual nos termos do § 3o deste artigo, aos que manifestarem interesse por esse serviço.

§ 5o Nos casos urgentes em que a intimação feita na forma deste artigo possa causar prejuízo a quaisquer das partes ou nos casos em que for evidenciada qualquer tentativa de burla ao sistema, o ato processual deverá ser realizado por outro meio que atinja a sua finalidade, conforme determinado pelo juiz.

§ 6o As intimações feitas na forma deste artigo, inclusive da Fazenda Pública, serão consideradas pessoais para todos os efeitos legais.

Art. 6o Observadas as formas e as cautelas do art. 5o desta Lei, as citações, inclusive da Fazenda Pública, excetuadas as dos Direitos Processuais Criminal e Infracional, poderão ser feitas por meio eletrônico, desde que a íntegra dos autos seja acessível ao citando.

Art. 7o As cartas precatórias, rogatórias, de ordem e, de um modo geral, todas as comunicações oficiais que transitem entre órgãos do Poder Judiciário, bem como entre os deste e os dos demais Poderes, serão feitas preferentemente por meio eletrônico.

CAPÍTULO III

DO PROCESSO ELETRÔNICO

Art. 8o Os órgãos do Poder Judiciário poderão desenvolver sistemas eletrônicos de processamento de ações judiciais por meio de autos total ou parcialmente digitais, utilizando, preferencialmente, a rede mundial de computadores e acesso por meio de redes internas e externas.

Parágrafo único. Todos os atos processuais do processo eletrônico serão assinados eletronicamente na forma estabelecida nesta Lei.

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Art. 9o No processo eletrônico, todas as citações, intimações e notificações, inclusive da Fazenda Pública, serão feitas por meio eletrônico, na forma desta Lei.

§ 1o As citações, intimações, notificações e remessas que viabilizem o acesso à íntegra do processo correspondente serão consideradas vista pessoal do interessado para todos os efeitos legais.

§ 2o Quando, por motivo técnico, for inviável o uso do meio eletrônico para a realização de citação, intimação ou notificação, esses atos processuais poderão ser praticados segundo as regras ordinárias, digitalizando-se o documento físico, que deverá ser posteriormente destruído.

Art. 10. A distribuição da petição inicial e a juntada da contestação, dos recursos e das petições em geral, todos em formato digital, nos autos de processo eletrônico, podem ser feitas diretamente pelos advogados públicos e privados, sem necessidade da intervenção do cartório ou secretaria judicial, situação em que a autuação deverá se dar de forma automática, fornecendo-se recibo eletrônico de protocolo.

§ 1o Quando o ato processual tiver que ser praticado em determinado prazo, por meio de petição eletrônica, serão considerados tempestivos os efetivados até as 24 (vinte e quatro) horas do último dia.

§ 2o No caso do § 1o deste artigo, se o Sistema do Poder Judiciário se tornar indisponível por motivo técnico, o prazo fica automaticamente prorrogado para o primeiro dia útil seguinte à resolução do problema.

§ 3o Os órgãos do Poder Judiciário deverão manter equipamentos de digitalização e de acesso à rede mundial de computadores à disposição dos interessados para distribuição de peças processuais.

Art. 11. Os documentos produzidos eletronicamente e juntados aos processos eletrônicos com garantia da origem e de seu signatário, na forma estabelecida nesta Lei, serão considerados originais para todos os efeitos legais.

§ 1o Os extratos digitais e os documentos digitalizados e juntados aos autos pelos órgãos da Justiça e seus auxiliares, pelo Ministério Público e seus auxiliares, pelas procuradorias, pelas autoridades policiais, pelas repartições públicas em geral e por advogados públicos e privados têm a mesma força probante dos originais, ressalvada a alegação motivada e fundamentada de adulteração antes ou durante o processo de digitalização.

§ 2o A argüição de falsidade do documento original será processada eletronicamente na forma da lei processual em vigor.

§ 3o Os originais dos documentos digitalizados, mencionados no § 2o deste artigo, deverão ser preservados pelo seu detentor até o trânsito em

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julgado da sentença ou, quando admitida, até o final do prazo para interposição de ação rescisória.

§ 4o (VETADO)

§ 5o Os documentos cuja digitalização seja tecnicamente inviável devido ao grande volume ou por motivo de ilegibilidade deverão ser apresentados ao cartório ou secretaria no prazo de 10 (dez) dias contados do envio de petição eletrônica comunicando o fato, os quais serão devolvidos à parte após o trânsito em julgado.

§ 6o Os documentos digitalizados juntados em processo eletrônico somente estarão disponíveis para acesso por meio da rede externa para suas respectivas partes processuais e para o Ministério Público, respeitado o disposto em lei para as situações de sigilo e de segredo de justiça.

Art. 12. A conservação dos autos do processo poderá ser efetuada total ou parcialmente por meio eletrônico.

§ 1o Os autos dos processos eletrônicos deverão ser protegidos por meio de sistemas de segurança de acesso e armazenados em meio que garanta a preservação e integridade dos dados, sendo dispensada a formação de autos suplementares.

§ 2o Os autos de processos eletrônicos que tiverem de ser remetidos a outro juízo ou instância superior que não disponham de sistema compatível deverão ser impressos em papel, autuados na forma dos arts. 166 a 168 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil, ainda que de natureza criminal ou trabalhista, ou pertinentes a juizado especial.

§ 3o No caso do § 2o deste artigo, o escrivão ou o chefe de secretaria certificará os autores ou a origem dos documentos produzidos nos autos, acrescentando, ressalvada a hipótese de existir segredo de justiça, a forma pela qual o banco de dados poderá ser acessado para aferir a autenticidade das peças e das respectivas assinaturas digitais.

§ 4o Feita a autuação na forma estabelecida no § 2o deste artigo, o processo seguirá a tramitação legalmente estabelecida para os processos físicos.

§ 5o A digitalização de autos em mídia não digital, em tramitação ou já arquivados, será precedida de publicação de editais de intimações ou da intimação pessoal das partes e de seus procuradores, para que, no prazo preclusivo de 30 (trinta) dias, se manifestem sobre o desejo de manterem pessoalmente a guarda de algum dos documentos originais.

Art. 13. O magistrado poderá determinar que sejam realizados por meio eletrônico a exibição e o envio de dados e de documentos necessários à instrução do processo.

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§ 1o Consideram-se cadastros públicos, para os efeitos deste artigo, dentre outros existentes ou que venham a ser criados, ainda que mantidos por concessionárias de serviço público ou empresas privadas, os que contenham informações indispensáveis ao exercício da função judicante.

§ 2o O acesso de que trata este artigo dar-se-á por qualquer meio tecnológico disponível, preferentemente o de menor custo, considerada sua eficiência.

§ 3o (VETADO)

CAPÍTULO IV

DISPOSIÇÕES GERAIS E FINAIS

Art. 14. Os sistemas a serem desenvolvidos pelos órgãos do Poder Judiciário deverão usar, preferencialmente, programas com código aberto, acessíveis ininterruptamente por meio da rede mundial de computadores, priorizando-se a sua padronização.

Parágrafo único. Os sistemas devem buscar identificar os casos de ocorrência de prevenção, litispendência e coisa julgada.

Art. 15. Salvo impossibilidade que comprometa o acesso à justiça, a parte deverá informar, ao distribuir a petição inicial de qualquer ação judicial, o número no cadastro de pessoas físicas ou jurídicas, conforme o caso, perante a Secretaria da Receita Federal.

Parágrafo único. Da mesma forma, as peças de acusação criminais deverão ser instruídas pelos membros do Ministério Público ou pelas autoridades policiais com os números de registros dos acusados no Instituto Nacional de Identificação do Ministério da Justiça, se houver.

Art. 16. Os livros cartorários e demais repositórios dos órgãos do Poder Judiciário poderão ser gerados e armazenados em meio totalmente eletrônico.

Art. 17. (VETADO)

Art. 18. Os órgãos do Poder Judiciário regulamentarão esta Lei, no que couber, no âmbito de suas respectivas competências.

Art. 19. Ficam convalidados os atos processuais praticados por meio eletrônico até a data de publicação desta Lei, desde que tenham atingido sua finalidade e não tenha havido prejuízo para as partes.

Art. 20. A Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil, passa a vigorar com as seguintes alterações:

"Art. 38. ...........................................................................

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Parágrafo único. A procuração pode ser assinada digitalmente com base em certificado emitido por Autoridade Certificadora credenciada, na forma da lei específica." (NR)

"Art. 154. ........................................................................

Parágrafo único. (Vetado). (VETADO) § 2o Todos os atos e termos do processo podem ser produzidos, transmitidos, armazenados e assinados por meio eletrônico, na forma da lei." (NR)

"Art. 164. ....................................................................... Parágrafo único. A assinatura dos juízes, em todos os graus de jurisdição, pode ser feita

eletronicamente, na forma da lei." (NR)

"Art. 169. .......................................................................

§ 1o É vedado usar abreviaturas.

§ 2o Quando se tratar de processo total ou parcialmente eletrônico, os atos processuais praticados na presença do juiz poderão ser produzidos e armazenados de modo integralmente digital em arquivo eletrônico inviolável, na forma da lei, mediante registro em termo que será assinado digitalmente pelo juiz e pelo escrivão ou chefe de secretaria, bem como pelos advogados das partes.

§ 3o No caso do § 2o deste artigo, eventuais contradições na transcrição deverão ser suscitadas oralmente no momento da realização do ato, sob pena de preclusão, devendo o juiz decidir de plano, registrando-se a alegação e a decisão no termo." (NR)

"Art. 202. .....................................................................

.....................................................................................

§ 3o A carta de ordem, carta precatória ou carta rogatória pode ser expedida por meio eletrônico, situação em que a assinatura do juiz deverá ser eletrônica, na forma da lei." (NR)

"Art. 221. ....................................................................

....................................................................................

IV - por meio eletrônico, conforme regulado em lei própria." (NR)

"Art. 237. ....................................................................

Parágrafo único. As intimações podem ser feitas de forma eletrônica, conforme regulado em lei própria." (NR)

"Art. 365. ...................................................................

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...................................................................................

V - os extratos digitais de bancos de dados, públicos e privados, desde que atestado pelo seu emitente, sob as penas da lei, que as informações conferem com o que consta na origem;

VI - as reproduções digitalizadas de qualquer documento, público ou particular, quando juntados aos autos pelos órgãos da Justiça e seus auxiliares, pelo Ministério Público e seus auxiliares, pelas procuradorias, pelas repartições públicas em geral e por advogados públicos ou privados, ressalvada a alegação motivada e fundamentada de adulteração antes ou durante o processo de digitalização.

§ 1o Os originais dos documentos digitalizados, mencionados no inciso VI do caput deste artigo, deverão ser preservados pelo seu detentor até o final do prazo para interposição de ação rescisória.

§ 2o Tratando-se de cópia digital de título executivo extrajudicial ou outro documento relevante à instrução do processo, o juiz poderá determinar o seu depósito em cartório ou secretaria." (NR)

"Art. 399. ................................................................

§ 1o Recebidos os autos, o juiz mandará extrair, no prazo máximo e improrrogável de 30 (trinta) dias, certidões ou reproduções fotográficas das peças indicadas pelas partes ou de ofício; findo o prazo, devolverá os autos à repartição de origem.

§ 2o As repartições públicas poderão fornecer todos os documentos em meio eletrônico conforme disposto em lei, certificando, pelo mesmo meio, que se trata de extrato fiel do que consta em seu banco de dados ou do documento digitalizado." (NR)

"Art. 417. ...............................................................

§ 1o O depoimento será passado para a versão datilográfica quando houver recurso da sentença ou noutros casos, quando o juiz o determinar, de ofício ou a requerimento da parte.

§ 2o Tratando-se de processo eletrônico, observar-se-á o disposto nos §§ 2o e 3o do art. 169 desta Lei." (NR)

"Art. 457. .............................................................

.............................................................................

§ 4o Tratando-se de processo eletrônico, observar-se-á o disposto nos §§ 2o e 3o do art. 169 desta Lei." (NR)

"Art. 556. ............................................................

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Parágrafo único. Os votos, acórdãos e demais atos processuais podem ser registrados em arquivo eletrônico inviolável e assinados eletronicamente, na forma da lei, devendo ser impressos para juntada aos autos do processo quando este não for eletrônico." (NR)

Art. 21. (VETADO)

Art. 22. Esta Lei entra em vigor 90 (noventa) dias depois de sua publicação.

Brasília, 19 de dezembro de 2006; 185o da Independência e 118o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

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ANEXO 2

Em fase de testes e aberto a sugestões, novo portal do TRF2 atenderá às regras de acessibilidade na web

Segundo estimativas da ONG Acessibilidade Brasil, existem cerca de

24,5 milhões de pessoas em todo o país com algum tipo de necessidade

especial como deficiência visual, surdez, problemas cognitivos,

comportamentais e motores, entre outros. Pensando nisso, o Tribunal Regional

Federal da 2ª Região disponibilizou na rede mundial de computadores um novo

portal, em fase de testes, mais funcional e acessível. E está aberto a

sugestões. O objetivo é disponibilizar um site que possibilite a pessoas com

deficiência ter acesso às diversas funcionalidades, já existentes atualmente,

porém, com um design mais moderno, agradável e acessível. O serviço integra

uma rede de ações voltadas para a acessibilidade que vêm sendo promovidas

pela Corte (vide matéria das páginas 8 e 9).

O novo site é o fruto de um criterioso estudo das regras de

acessibilidade e de pesquisas junto a grupos de comunidades com dificuldades

de acesso à internet, formados por deficientes visuais, auditivos e pessoas

com dificuldades locomotoras, dentre outros usuários que possuem outros

graus de deficiência (idosos, míopes, vista cansada, etc.). O objetivo é

realmente integrar estes grupos de usuários à comunidade, recebendo o

mesmo tratamento das demais pessoas. Todo o serviço de consulta do site,

por exemplo, foi concentrado no canto superior direito, a fim de facilitar o

acesso a este serviço com poucos movimentos. Em suma, todo o conteúdo da

página foi analisado, reorganizado e padronizado, de forma clara, concisa e

coerente.

A acessibilidade na internet trata do oferecimento de conteúdos

gráficos e sonoros alternativos, claros, compreensíveis e capazes de garantir o

controle da navegação pelos usuários, independente das suas capacidades

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físico-motoras e perceptivas, culturais e sociais. Além disso, deve assegurar

que as tecnologias utilizadas funcionem, de maneira acessível, independente

de programas, versões e futuras mudanças. No Brasil, a construção de sítios

acessíveis é uma exigência do Decreto 5.296/2004 que torna obrigatória a

acessibilidade nos portais e sítios eletrônicos da administração pública na rede

mundial de computadores para o uso das portadoras de deficiência,

garantindo-lhes o pleno acesso aos conteúdos disponíveis.

A versão preliminar do novo portal está disponível no seguinte

endereço: http://novosite.trf2.gov.br:8383 e as sugestões e colaborações

podem ser enviadas para o e-mail: sugestõ[email protected].

A Era Virtual

Atualmente, os cerca de 200 mil internautas que acessam

mensalmente a página do TRF2, de qualquer lugar do planeta, têm acesso a

consultas processuais e ao acompanhamento automático por e-mail, o qual

permite que o interessado receba mensagens eletrônicas com os andamentos

e decisões dos processos em tramitação na Corte. Também é possível

acessar informações institucionais sobre o Tribunal e sobre os concursos em

andamento, bem como realizar pesquisas de jurisprudência on-line. A página

também conta com um espaço jornalístico, abastecido com novas matérias -

foram 480 só em 2008 -, destinado, prioritariamente, a publicar reportagens

elaboradas a partir de julgados do Tribunal, com o objetivo de divulgar a

produção judicante da Corte em linguagem acessível ao público em geral,

dando conta de como os magistrados se posicionam maiormente em relação a

direitos individuais e coletivos, tal como os asseguram as leis. Em suma, trata-

se de uma ferramenta importantíssima para magistrados, advogados,

jornalistas e a sociedade em geral. (HABEAS DATA - Publicação do Tribunal

Regional Federal da 2ª Região – ano XIII - Nº 71 |Abr / Mai / Jun 2009, p. 5)

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

Título da Monografia: OS JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS CÍVEIS E AS

CONTRIBUIÇÕES PARA UM EFETIVO ACESSO À JUSTIÇA E A

INOVADORA FACE DO PROCESSO ELETRÔNICO

Autor: MÁRCIA VIEIRA DO NASCIMENTO MANGUEIRA

Data da entrega: 08/02/2010

Avaliado por: WILLIAM LIMA ROCHA Conceito: