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UUNNIIVVEERRSSIIDDAADDEE CCÂÂNNDDIIDDOO MMEENNDDEESSPPRRÓÓ RREEIITTOORRIIAA DDEE PPLLAANNEEJJAAMMEENNTTOO EE DDEESSEENNVVOOLLVVIIMMEENNTTOO
IInnssttiittuuttoo ddee PPeessqquuiissaass SSóócciioo--PPeeddaaggóóggiiccaassPPóóss--GGrraadduuaaççããoo LLaattuu SSeennssuu
MMAATTEERRIIAALLIIZZAAÇÇÃÃOO DDAA TTEEOORRIIAA DDOO EENNCCOONNTTRROO DDEE
CCAARRLL RROOGGEERRSS//FFRRIITTZZ PPEERRLLSS AATTRRAAVVÉÉSS DDAA
AARRTTEE TTEERRAAPPIIAA UUTTIILLIIZZAANNDDOO AA
IINNTTEELLIIGGÊÊNNCCIIAA PPIICCTTÓÓRRIIAA
FFrraanncciissccoo ddee AAssssiiss SSoouuzzaa NNeettoo -- 1100889988RRiioo ddee JJaanneeiirroo -- 22000022
II
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AARRTTEE TTEERRAAPPIIAA UUTTIILLIIZZAANNDDOO AA
IINNTTEELLIIGGÊÊNNCCIIAA PPIICCTTÓÓRRIIAA
Relatório final apresentado comoparte das exigências do
Curso de Docência do Ensino Superior, ao professor José Palmiro Ferreira Costa
da Universidade Cândido Mendes
FFrraanncciissccoo ddee AAssssiiss SSoouuzzaa NNeettoo -- 1100889988RRiioo ddee JJaanneeiirroo -- 22000022
III
À você que me apontou o caminho do encontro,(sem comigo se encontrar).À você que gestou comigo,
(sem comigo se deitar).À você que soube esperar,
(sem comigo se confessar).À você que soube incentivar,
(sem comigo caminhar).À você que soube dialogar,
(sem comigo falar).E a você, bem maior,
(que o tempo se encarregará de mostrar).À você Palmiro Costa,
pela atenção, paciência, dedicaçãoe os imprescindíveis encorajamento e apoio
sem o qual muitos teriam ficadosno meio do caminho.
IV
A todos que compartilharam comigo
dessas maravilhosastardes de sábados,
principalmente o grupo G-8, dedico este trabalho.
V
EEuu ffaaççoo mmiinnhhaass ccooiissaass,,VVooccêê ffaazz aass ssuuaass..
NNããoo eessttoouu nneessttee mmuunnddooppaarraa vviivveerr ddee aaccoorrddoo ccoomm ssuuaass eexxppeeccttaattiivvaass
ee vvooccêê nnããoo eessttáá nneessttee mmuunnddoo ppaarraa vviivveerr ddee aaccoorrddoo ccoomm aass mmiinnhhaass..
VVooccêê éé vvooccêê,, ee eeuu ssoouu eeuu..
EE,, ssee ppoorr aaccaassoo nnooss eennccoonnttrraarrmmooss,, éé lliinnddoo..
SSee nnóóss nnããoo nnooss eennccoonnttrraarrmmooss,, nnããoo hháá nnaaddaa aa ffaazzeerr..
FFrr ii ttzz PPeerr ll ss
VI
SUMÁRIO
Introdução ....................................................................... 03
Capítulo I - Carl Ransom Rogers ................................... 101.2 A Teoria Rogeriana ................................................ 231.2.1 A Teoria do Encontro/A teoria Centrada na Pessoa ...... 281.2.1.1 Introdução ............................................................. 281.2.2 Tendência à Realização ou Auto Realização ................341.2.3 Conhecimento Subjetivo ..........................................371.2.4 Conhecimento Objetivo............................................. 371.2.5 Conhecimento Interpessoal ou Fenomenológico ......... 381.2.6 Carl Rogers e a Educação na visão Existencialista......... 39
Capítulo II - Frederick Salomon Perls .............................432.2 A Gestalt ................................................................ 46
Capítulo III - Howard Gardner ..........................................493.1 A Teoria das Inteligências Múltiplas ..........................513.4 Características das Inteligências Múltiplas ................... 523.4.1 Introdução ............................................................. 573.4.2 Quadro das Inteligências Múltiplas .............................64
Capítulo IV - Arte Terapia ................................................ 644.1 Antes Artes do que Nunca .......................................65
Capítulo V - A Interrelacionalidade entre Arte Terapia,Teoria do Encontro, Inteligências Múltiplas..68
5.1 A Relação Entre Inteligência Múltiplas e Arte Terapia .. 705.2 A Relação Entre Teoria do Encontro e Arte Terapia ..... 735.4 A Relação Entre Teoria do Encontro e Inteligência
Múltipla ................................................................ 745.6 Conclusão ............................................................. 76
Capítulo VI - Como Representar A Teoria do EncontroAtravés da Arte Terapia Utilizando aInteligência Pictórica ................................ 79
6.1 Introdução ............................................................. 826.2 O Desenvolvimento da Dinâmica ................................ 846.3 Os Materiais Utilizados ............................................. 846.4 Os Ambientes .......................................................... 866.5 Os Participantes .......................................................906.5.1 Os Alunos da Escola Barão Homem de Mello ................93
VII
6.5.2 Os Estagiários em Arteterapia no Campus Tijuca daUniversidade Cândido Mendes .................................... 94
6.5.3 Os Alunos do Curso de Docência Superior do Projeto aVez do Mestre no Campus Centro da UniversidadeCândido Mendes.......................................................95
6.6 Conclusão ............................................................. 96
Conclusão .......................................................................... 101
Bibliografia ....................................................................... 104
Anexos ..............................................................................107
3
IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO
Foi a partir do registrado numa aula de psicologia,
particularmente sobre Carl Rogers, de que "nada tem produção
expontânea", que "somos fruto do nosso encontro de uns com outros"
que nasceu a vontade de "ver" esse encontro registrado, de “ver” esse
fruto amadurecido, germinado a partir da semente do encontro. Esse
produto – esse encontro - tinha que, alguma forma, mostrar sua cara,
tinha que aparecer - ou não estamos falando de fenomenologia?
Como? De que forma? Não se sabia, mas haveria de haver.
Numa dessas manhãs de domingos, participando-se das
atividades da Arte Terapia, uma das estagiárias – eram todos
estagiários – apresentando seu projeto (é exigência que cada estagiário
apresente um) realizando uma dinâmica sobre um texto de Marina
Colassanti - "O Direito de Mudar de Opinião" - que gestou-se a idéia de,
através do desenho, representar, registrar esse “encontro”.
Saiu-se em busca do objetivo com entusiasmo de um menino.
Os caminhos trilhados, foram desanimadores pois "a
fenomenologia não admite testagens" e essa concretização "não
combina com Carl Rogers" foram as respostas obtidas quando exposta a
idéia.
Alguns dias, semanas de tristezas pois o embrião estava
ameaçado de aborto e da forma mais cruel: Não pode e ponto!
Não pode? Por quê?
Não admite " testagens" ? Por quê?
Quem falou em " testagens"?
De novo o texto de Marina Colassanti veio à tona agredindo.
Por quê?
A humanidade, acredita-se, Já passou da "idade das trevas" e
da aceitação pura e simples dos dogmas indiscutíveis.
4
Hoje tudo se contesta, tudo se discute. Mesmo o
incontestável, mesmo o indiscutível. Não há mais o incontestável, não
há mais o indiscutível. Pelo menos espera-se que assim seja nos seres
que não precisam ser cultos obrigatoriamente, mas amadurecidos
obrigatoriamente.
E foi com esse inconformismo que pensou-se inicialmente em
“materializar”, “concretizar”, “registrar” (nomeie-se como quiser) a
Teoria do Encontro com uma dinâmica simples e “inédita”, utilizando-se
de uma das Inteligências Múltiplas, estudadas por Howard Gardner - a
Inteligência Pictórica - e a “ferramenta” do desenho - segmento da Arte
Terapia - para atingimento da finalidade.
Com o desenrolar das diversas pesquisas, leituras, conversas e
trocas de idéias com professores, educadores, terapeutas, psicólogos,
foi-se descobrindo que esta dinâmica não é tão “inédita” já que ela é
utilizada (de uma forma bem parecida na dinâmica e semelhante no
objetivo) pela Sra. Maria Elizabete Barbosa da Silva - a tia Bete - ,
professora da Segunda Série do Ensino Fundamental do Segundo Ciclo,
da Escola Municipal Barão Homem de Mello, à rua João Cândido Brasil
n.º 352, no Bairro Maracanã, nesta cidade, bem como o Dr. José Luiz
Belas, da Clínica J. L. Belas, no bairro de Jurububa, na cidade de Niterói
- RJ, utiliza uma dinâmica bem semelhante como terapia nos seus
clientes através de um método que vem desenvolvendo, entitulado de
RECAPITULAÇÃO DA HISTÓRIA DA PESSOA – RHP, apresentado no
Encontro Sudeste da A.C.P. realizado em janeiro de 1998 em Itaipava
na cidade de Petrópolis, RJ.
Então, com esse pensamento de inconformismo, de confronto,
de não aceitação dos dogmas, e animado por essas experiências e
vivências já existentes, resolveu-se por em prática a dinâmica que
segue descrita na Parte II, capítulo 6.1 deste trabalho.
Certa ocasião um jovem perguntou a um ancião o que era
necessário para se caminhar 100 léguas ao que o ancião, após alguns
5
segundos de silêncio com o olhar parecendo vago (próprio das pessoas
avançadas na idade), respondeu: basta dar o primeiro passo.
Tem-se consciência que longo e árduo será o caminho para
alcançar o objetivo deste trabalho mas com ânimo de aventureiro,
acredita-se que lograr-se-á êxito.
Fica aqui o convite para a caminhada.
Aqui e agora é dado o primeiro passo.
Este trabalho mostrará a materialização deste caminho e, para
melhor compreensão, ele está divido em três partes.
A primeira parte abrange a teoria mínima necessária para
sustentação e compreensão do objetivo, a segunda parte a descrição da
prática e a dinâmica em si e, findando, a terceira e última, os anexos
que complementam e ajudam.
Assim sendo . . .
Na Primeira Parte - A Teoria
• Teve-se a preocupação de apresentar Carl Rogers, autor da famosa
Teoria Centrada na Pessoa, para que, os que tomarem conhecimento
deste trabalho, entendam como é harmonioso o ciclo da vida. Carl
Rogers nasce e é educado dentro de uma rígida educação religiosa,
se distancia dela no auge da sua carreira profissional, mas termina
seus dias reencontrando-se com a religião que, na verdade - depois
ele próprio reconheceu isso -, nunca deixou de guia-lo.
• Com Fritz Perls, autor do pensamento/oração deste trabalho e pai da
Gestalt-terapia (alguns autores dizem que o verdadeiro pai é Sören
Kierkergard, mas essa é outra discussão), o caminho foi o mesmo.
Apresenta-se sua biografia com sua trajetória de vida com uma
infância revoltada, uma adolescência rebelde e uma maturidade de
confrontos, e, por findando esta parte, sua teoria e tudo que pensa
sobre o encontro, ultimando com a Gestalt-terapia.
6
• Quase como uma indução, apresenta-se Howard Gardner,
autor/descobridor/descritor/decodificador da Teoria das Inteligências
Múltiplas e descreve-se sucintamente essa teoria enfatizando-se a
Inteligência Pictórica com o suporte do professor e educador Celso
Antunes. Aqui cabe um aparte para explicar porque o termo
"decodificador". Alguns críticos dizem que Gardner nada descobriu,
tudo já estava aí, ele só trouxe á tona essas inteligências e, aí sim,
junto com sua equipe, normatizou estabelecendo critérios para que
uma inteligência seja entendida como inteligência múltipla.
• Como precisa-se de uma das ferramentas - o desenho - da Arte
Terapia para objetivação deste trabalho, nada mais justo que
apresentar um dos muitos conceitos de Arte Terapia. O conceito
apresentado é dos mais simples e próprio para quem nunca pensou
que houvesse tal coisa e, embasando esse conceito, o que pensam e
o que disseram pessoas conhecidas a respeito. A que se ressaltar
que essa mesma Arte Terapia e sua ferramenta - o desenho - será
abordada por Rogers, por Perls, por Gardner, por Celso Antunes nos
textos adiante e diversos outros estudiosos da psicologia também a
utilizam, além de deparar-se com ela sendo largamente usada pelo
psicólogo José Luiz Belas anteriormente citado e que se estudará na
sua sinopse no Anexo V, sem esquecer de mencionar a tia Bete que
também a utiliza como se poderá examinar nos desenhos que fazem
parte do Anexo I.
• Somente apresentar Carl Rogers e sua teoria, Fritz Perls e sua teoria,
Howard Gardner e sua teoria e conceituar a Arte Terapia seria muito
vago, faltava apresentar a relação existente entre essas teorias.
Utilizando-se da matemática, apresenta-se as relações e correlações
entre Inteligência Múltiplas, Arte Terapia e Teoria do Encontro. Com
esses conhecimentos teóricos apresentados, conclui-se a primeira
parte e inicia-se a parte prática - a mais envolvente e emocionante.
7
Na Segunda Parte - A Dinâmica
Alcança-se o capítulo VI e, a partir dele, inicia-se a parte
dinâmica com:
• a descrição de como representar a Teoria do Encontro através da
Inteligência Pictórica, utilizando-se a Arte Terapia, e, começa-se a
trilhar o caminho final do objetivo desse trabalho detalhando-se,
• sua dinâmica e
• seu desenvolvimento,
• os materiais utilizados,
• apresenta-se seus participantes,
• descreve-se os ambientes onde foram realizados.
Finalmente, na terceira parte do trabalho, estão reunidos, como
Anexos:
I. Os desenhos dos alunos da Escola Municipal Barão Homem, suas
redações originais e suas transcrições "ipsi literis".
II. Os trabalhos dos estagiários em Arte terapia e seus depoimentos
escritos.
III. Os trabalhos dos alunos do Projeto A Vez do Mestre, curso de
Pós Graduação em Docência do Ensino Superior e seus
depoimentos escritos.
IV. Registro fotográfico de acompanhamento da evolução de um dos
desenhos realizado com um grupo de alunos do curso de Pós
Graduação em Docência do Ensino Superior, durante a parte
final da aula de Dinâmica de Grupo.
V. A sinopse do método do Dr. José Luiz Bellas, entitulado de
RECAPITULAÇÃO DA HISTÓRIA DA PESSOA – RHP.
VI. O texto O DIREITO DE MUDAR DE OPINIÃO de Marina
Colassanti.
8
CCOONNCCLLUUSSÃÃOO
Por fim, com as exposições, mesmo de forma sucinta, das
Teorias de Rogers, Perls, Gardner e uma das definições de Arte Terapia
e ,com a apresentação dos trabalhos dos alunos da Professora Elisabete
da Escola Municipal Barão Homem de Mello; dos trabalhos dos
estagiários em Arte Terapia; dos trabalhos dos alunos do curso de
Docência Superior do Projeto A Vez do Mestre; se conseguirá, com
alguma facilidade, aceitar que os trabalhos/desenhos são a
materialização do encontro de cada com cada um.
Ultimando, acredita-se que, em perfeita comunhão, com os
princípios de contestação e inconformismo, este trabalho conseguirá
materializar o pensamento de Fritz Perls que tanto animou, aguçou a
curiosidade, fez buscar, infringiu normas e quebrou ortodoxias
atingindo, dois objetos: a) o objeto primeiro deste trabalho, a
materialização da Teoria do Encontro de Carl Rogers/Fritz Perls através
da Arte Terapia utilizando uma das Inteligências Múltiplas - a
Inteligência Pictórica e, b) mostrar, sutilmente, que pode-se eliminar o
homem, só não se conseguirá eliminar jamais seus sonhos e ideais.
9
AA TTEEOORRIIAA
10
CCAAPPÍÍTTUULLOO II
CCAARRLL RRAANNSSOOMM RROOGGEERRSS
Carl Rogers, nascido Carl Ransom Rogers, nasceu a 08 de
janeiro de 1902 em Oak Park nos arredores de Chicago. Tinha quatro
irmãos e uma irmã, sendo o antepenúltimo.
Faleceu aos 85 anos em La Jolla, na Califórnia, a 04 de
fevereiro de 1987 na seqüência de uma fratura do colo do fêmur. De
acordo com as instruções que deixara, as máquinas que mantinham
“artificialmente” a sua vida foram desligadas após três dias de coma.
Os pais, de educação universitária, faziam parte de uma
comunidade protestante de forte pendor fundamentalista. A família
valorizava uma educação moral, religiosa, sendo muito conservadora,
isto é, muito enraizada nos valores tradicionais e fechada sobre ela
mesma; contudo, intelectualmente era muito estimulante.
Desde muito novo Carl Rogers mostrou-se interessado pela
leitura e pelo “saber”. Foi sempre um aluno excepcionalmente brilhante,
mantendo, no entanto, uma colaboração constante nos trabalhos do
quotidiano familiar, reduzindo ao mínimo a sua rede relacional fora da
família. A hipervalorização do trabalho físico ou intelectual, não dava
vez a outras atividades de lazer, que não fosse a leitura dos clássicos,
de preferência de caráter religioso, força da orientação paterna.
Quando Rogers tem 12 anos o pai compra uma grande quinta
nos arredores de Chicago para onde a família vai morar, com a intenção
oficial de fazer uma agricultura “científica”. Segundo Carl Rogers, o
objetivo real era afastar os filhos dos “perigos da vida da cidade”.
A vida na quinta e o trabalho na agricultura levam-no
naturalmente a matricular-se em 1919, aos 17 anos, em Agronomia na
Universidade de Wisconsin. Envolve-se em várias atividades
comunitárias desenvolvendo as suas capacidades de “facilitador” e
11
organizador. Entra em contato com meios evangélicos militantes e
decide mudar para o curso de História com a intenção de se dedicar
posteriormente à carreira eclesiástica.
No terceiro ano da faculdade faz uma viagem à China
integrado numa delegação americana com o objetivo de participar no
Congresso da Federação Mundial dos Estudantes Cristãos. A viagem
dura seis meses e, no decorrer da mesma, abandona parte das suas
convicções religiosas, abrindo-se à diversificação das idéias e opiniões.
Ao chegar de novo aos Estados Unidos ganha uma nova independência
e autonomia face às opiniões e posições da família, tendo começado a
sofrer de uma úlcera gastroduodenal, provavelmente como resultado
deste processo de afirmação.
Guarda, contudo, a sua motivação para uma carreira pastoral
e empenha-se social e politicamente, tentando demonstrar a
incompatibilidade do cristianismo e da guerra através de escritos sobre
o pacifismo do reformador Wyclif ou sobre a posição de Lutero face à
autoridade.
Em 1924, aos 22 anos, Carl Rogers termina a sua licenciatura
em História e casa-se com Hellen Elliot, sua amiga de infância, de quem
virá a ter dois filhos: David e Natalie.
Após ter obtido a sua licenciatura em História, Carl Rogers
matricula-se no Seminário da União Teológica em Nova Iorque,
seminário conhecido pelas suas posições “liberais” e, ao mesmo tempo,
academicamente bem cotado, recusando a ajuda financeira que o pai,
Walter Rogers, lhe oferecia se aceitasse matricular-se no Seminário de
Princeton conhecido, então, como muito conservador.
Durante o primeiro ano nesta instituição, Rogers tem a
oportunidade de freqüentar alguns cursos na faculdade de psicologia,
contatando assim com os psicólogos Goodwin Watson e William
Kilpatrick que muito o impressionam. Com outros colegas organiza um
seminário de reflexão auto-facilitado e acaba por tomar consciência da
12
sua “não vocação” para o ministério pastoral, apesar do estágio
realizado nesse mesmo verão, como pastor substituto na paróquia de
Dorset em Vermont. Assim, no segundo ano do curso transfere-se para
o Teachers’ College da Universidade de Columbia com o objetivo de
freqüentar o curso de psicologia clínica e psicopedagogia. Nessa
instituição é marcado pela filosofia de John Dewey que terá um grande
impacto na evolução das suas idéias. Entretanto, para sustentar
economicamente a família continua a colaborar com instituições
eclesiásticas no ensino religioso.
Em 1926, aos 24 anos, Carl Rogers postula e obtém um lugar
de interno no Instituto de Aconselhamento (“guidance”) Infantil recém
criado pelo Fundo Comunitário de Nova Iorque. Após ter recebido um
contrato de 2.500 dólares anuais, querem reduzir-lhe o salário para
metade, visto não ser psiquiatra mas psicólogo. Começa a sua primeira
“guerra” com a psiquiatria, mas consegue ser pago em igualdade com
os psiquiatras.
Em 1928, aos 26 anos, Carl Rogers doutora-se no Teachers’
College. Na sua tese desenvolvia um teste de personalidade para
crianças ainda hoje utilizado. Nessa altura trabalhava como psicólogo no
Centro de Observação e Orientação Infantil da Sociedade para a
Prevenção da Crueldade sobre as Crianças, em Rochester. Durante 12
anos, de 1929 a 1941, dirige este Centro e interessa-se pelo trabalho
com crianças delinqüentes e marginais. Na instituição entra em contato
com Otto Rank que o marca mais pela sua prática terapêutica do que
pelas suas teorias. Maior impacto terá, sem dúvida, Jessie Taft que
publica em 1933 o livro "The Dynamics of Therapy in a Controlled
Relationship" que Carl Rogers considerará como uma obra prima, quer
ao nível da forma quer do conteúdo literário. Progressivamente, Rogers
abandona uma orientação diretiva ou interpretativa, optando por uma
perspectiva mais pragmática de escuta dos clientes, numa posição
13
precursora do que mais tarde estruturará como Orientação Não Diretiva
em terapia.
A partir de 1935 começa a lecionar no Teachers’ College, mas
não vê nem o seu ensino nem o seu estatuto de psicólogo reconhecido
pelo departamento de psicologia da faculdade e só muito mais tarde,
após vários anos de ensino nos departamentos de sociologia e
psicopedagogia, e quando já está para abandonar Rochester, o
departamento de psicologia o reconhecerá como psicólogo e como
docente.
Em 1938, aos 36 anos, Carl Rogers entra de novo em “guerra”
com os psiquiatras. O Centro, em que trabalha e que dirige,
transforma-se e amplifica-se e o conselho de administração sob a
pressão dos médicos psiquiatras, decide, como então era tradição,
contratar para diretor um psiquiatra, apesar de estarem satisfeitos com
o trabalho que Rogers até então realizara. Carl Rogers luta vivamente e
consegue ser reconhecido como primeiro diretor do novo Centro de
Aconselhamento de Rochester.
Em 1939, aos 37 anos, publica o seu primeiro livro: “O
tratamento clínico da criança-problema” no qual expõe o essencial das
suas reflexões e pesquisas realizadas até esse momento.
Com a publicação desse livro começa a ser conhecido na
qualidade de psicólogo clínico e é convidado para professor catedrático
da Universidade de Estado do Ohio, sendo da sua responsabilidade a
cadeira de “Técnicas de Psicoterapia”. Não deixando de referir os
modelos mais importantes em psicoterapia e aconselhamento, tem a
possibilidade de explicitar a sua abordagem terapêutica numa
perspectiva que ele considera mais genericamente como “as novas" ou
“mais recentes terapias” e que define, por oposição às “antigas”, como
sendo centrada sobre a expressão, a auto-aceitação, a tomada de
consciência e a relação terapêutica, e não sobre a análise do passado, a
sugestão ou a interpretação.
14
Assim, durante a sua passagem pela Universidade de Ohio
introduz na faculdade o ensino e a prática da psicoterapia assim como a
supervisão e, ainda, surge com a inovação de, pela primeira vez, utilizar
a gravação integral das entrevistas e de tratamentos completos, como
metodologia de investigação sobre os processos terapêuticos.
Desenvolve progressivamente e de uma forma pragmática,
uma intervenção cada vez mais “não diretiva”, utilizando técnicas de
reformulação e clarificação dos sentimentos, assentes numa atitude de
maior aceitação dos sentimentos do cliente por parte do terapeuta.
Carl Rogers só tem consciência da originalidade do seu
pensamento quando é confrontado com as reações provocadas pela
conferência que faz na Universidade de Minnesota a 11 de dezembro de
1940, aos 38 anos. Ele intitula-a: “Novos conceitos em psicoterapia” e
nela afirma que “o alvo da nova terapia não é resolver um problema
particular, mas ajudar o indivíduo a crescer, de maneira que ele possa
fazer face ao problema atual e aos problemas que mais tarde apareçam
de uma maneira mais bem integrada... ela baseia-se muito mais na
tendência individual para o crescimento, saúde e adaptação...”,
perspectiva bem percursora da corrente atual da Psicologia da Saúde.
Em segundo lugar, diz ainda Rogers, “esta nova terapia põe mais
ênfase nos elementos emocionais, nos aspectos emocionais da situação,
do que nos aspectos intelectuais...” Em terceiro lugar, “esta nova
terapia dá maior ênfase à situação imediata do que ao passado do
indivíduo...” Finalmente, diz Rogers, “esta abordagem considera a
relação terapêutica em si mesmo como uma experiência de
crescimento.”
Criticado ou apreciado, ele não deixa os auditores indiferentes
e toma consciência de que a sua posição relativamente à terapia é
singular. Rogers diz: “Pode parecer absurdo alguém poder nomear o dia
em que a Terapia Centrada no Cliente nasceu. Contudo, eu sinto que é
possível nomeá-lo como sendo o dia 11 de dezembro de 1940”. Essa
15
data passou, assim, a ser considerada no movimento rogeriano como
sendo a fundadora do movimento, ou, talvez fosse mais justo dizer, o
mito-fundador da comunidade rogeriana.
Carl Rogers prepara então uma exposição mais detalhada e
sistemática da sua abordagem da terapia, que publicará em 1942 no
livro Aconselhamento e Psicoterapia . Os conceitos de “aconselhamento”
e “psicoterapia” parecem cada vez mais equivalentes assim como os de
“Orientação Não Diretiva em Terapia” e “Terapia Centrada no Cliente”.
O livro aparece como uma inovação, publicando-se pela primeira vez, e
na íntegra, um tratamento a partir da transcrição da sua gravação. Esta
obra foi um sucesso e best-seller profissional, se bem que tenha
passado despercebido aos jornais e revistas da especialidade quer
psiquiátricas, quer psicológicas.
Se por um lado o reconhecimento oficial de Carl Rogers se
exprime em honras profissionais — é eleito vice presidente da
Associação Americana de Ortopsiquiatria e presidente da Associação
Americana de Psicologia Aplicada — , por outro existe uma ambivalência
das instituições manifestada pela falta de apoio e por uma certa
marginalização na sua Universidade.
Assim, quando no verão de 1944, aos 42 anos, é convidado
por Ralph Tyler para professor de psicologia na Universidade de Chicago
e lhe propõe criar um novo Centro de Aconselhamento, Carl Rogers
aceita, deixando atrás de si um grupo de discípulos, alguns dos quais se
tornaram em figuras de proa da abordagem centrada na pessoa, tais
como, Virgínia Axline, Arthur Combs, Nat Raskins e John Shlien, ou
mesmo traçando caminhos novos como Thomas Gordon e Eugene
Gendlin.
A criação deste Centro de Aconselhamento Psicológico, leva-o
mais uma vez a ter que vivenciar situações de tensão com os
psiquiatras e neste caso mais especificamente, com o departamento de
psiquiatria da mesma Universidade.
16
O período de 1945 a 1957 é para Carl Rogers muito rico quer
do ponto de vista humano quer do ponto de vista científico, publicando
extensa bibliografia e, mais particularmente, o livro “Terapia Centrada
no Cliente” onde, com a colaboração da sua equipe, faz o ponto das
suas pesquisas e reflexões.
No entanto, entre 1949 e 1951, Carl Rogers atravessa um
período de profundo sofrimento, pois, após ter vivido momentos de
extrema dificuldade no processo psicoterapêutico de uma paciente
esquizofrênica, passa por um período de depressão afetando a sua
capacidade de trabalho e de funcionamento. Finalmente, aceita a ajuda
de um dos seus discípulos, Ollie Bown, com quem faz uma psicoterapia
pessoal, experimentando nele mesmo a eficácia do seu modelo, o que
lhe proporcionou um longo percurso de “crescimento” pessoal que
nunca mais o abandonou.
Podemos dizer que o seu reconhecimento profissional, foi,
finalmente, expresso pela sua eleição como presidente da Associação
Americana de Psicologia em 1946, aos 44 anos, pela sua eleição como
presidente da recém criada Academia Americana de Psicoterapeutas em
1956, aos 54 anos, e pela atribuição, no mesmo ano, do Prêmio pelo
Eminente Contributo Científico (Distinguished Scientific Contribution
Award), pela Associação Americana de Psicologia, que sublinhava: "por
ter desenvolvido um método original para descrever e analisar o
processo terapêutico, por ter formulado uma teoria da psicoterapia e
dos seus efeitos na personalidade e no comportamento, susceptível de
ser testada, pela extensa e sistemática pesquisa para explicitar o valor
do método e explorar e testar as implicações da teoria. A sua
imaginação, persistência e adaptação flexível do método científico no
ataque dos grandes problemas envolvidos na compreensão e
modificação da pessoa moveram esta área de interesse psicológico para
dentro das fronteiras da psicologia científica".
17
O fulcro da sua abordagem passa da importância dada às
técnicas para, progressivamente, acentuar as atitudes, isto é, da
técnica da reformulação para as atitudes de compreensão empática, de
aceitação do cliente, de congruência do terapeuta, de confiança nas
capacidades do cliente para a auto-atualização das suas potencialidades
e para a auto-organização e, finalmente, para uma valorização das
potencialidades terapêuticas da relação.
É também um período de intensa atividade de investigação
durante o qual mais de duzentos pesquisas são realizadas assim como
milhares de sessões de terapia são gravadas e analisadas. Publica em
1957, aos 55 anos, um dos seus mais importantes artigos, no qual
procura de maneira rigorosa definir "as condições necessárias e
suficientes para mudança terapêutica da personalidade", condições
essas que seriam comuns a todas as relações terapêuticas quaisquer
que fossem os modelos teóricos que as inspirassem e susceptíveis de
serem testada experimentalmente. Este artigo continua a ser hoje um
dos pilares do modelo da Terapia Centrada no Cliente e tem sido objeto
de um corpo numeroso de pesquisa.
O seu nome começa a ser bem conhecido e é convidado por
várias Universidades para ensinar como professor convidado (UCLA,
Harvard, Berkley, Brandeis, etc.) e, mais particularmente, em 1957 pelo
Departamento das Ciências da Educação da Universidade de Wisconsin
onde, após uma experiência de alguns meses, acaba por se instalar.
Durante os sete anos que vai durar a sua permanência nessa
Universidade, Carl Rogers e a sua equipa fazem um esforço colossal de
pesquisa na área da psicoterapia dos doentes esquizofrênicos,
publicada, no essencial, em 1967, no livro "A relação terapêutica e o
seu impacto".
No verão de 1961, aos 59 anos, Carl Rogers faz uma longa
viagem ao Japão onde é recebido calorosamente e onde estabelece
laços de amizade e de partilha profissional que considera como muito
18
enriquecedores. Nesse mesmo ano publica o livro "Tornar-se pessoa”
que rapidamente se torna um best-seller mundial.
Nesse livro Carl Rogers explora a aplicação dos princípios da
terapia centrada no cliente a outros domínios do humano - educação,
relações inter-pessoais, relações familiares, comunicação intergrupal,
criatividade — e apresenta a sua abordagem como uma filosofia de
vida, uma "maneira de ser" ("a way of being"), com profundas
implicações e aplicações em todos os domínios do humano. Foram
vendidos quase um milhão de exemplares desta obra.
Rogers investe cada vez mais no trabalho com os grupos de
encontro. O interesse pelos grupos já tinha começado em 1946-1947,
sensivelmente ao mesmo tempo que Kurt Lewin o havia feito no
National Training Laboratories em Bethel.
Kurt Lewin e a sua equipa pareciam mais interessados na
formação de quadros profissionais, considerando como acessório o
aspecto de progresso pessoal dos participantes. Rogers, pelo contrário,
considerava este último aspecto como prioritário e fundamental e,
sobretudo desde 1960, após a criação do Centro para o Estudo da
Pessoa, em La Jolla em 1968, considera o trabalho dos grupos de
encontro como o instrumento privilegiado não só para o
desenvolvimento pessoal mas também para a educação, para a gestão
e administração e para a resolução de conflitos.
O livro "Grupos de encontro", publicado em 1970, aos 68
anos, aparece como um instrumento de trabalho apreciado tanto pelos
profissionais como pelos leigos e impõe-se rapidamente como um livro
de consulta obrigatória na área. Ele segue uma linha de divulgação e
análise da sua pesquisa, que vê premiada, em 1966, através da
atribuição do Oscar do melhor documentário de longa duração do ano,
ao filme produzido por Bill McGaw "Journey into Self". Este filme
apresenta na íntegra uma sessão de “grupo de encontro facilitada” por
Carl Rogers.
19
Em 1971, aos 69 anos, em colaboração com o filho David e
Orienne Strode, Rogers desenvolve o "Human Dimension Project" para
utilização dos grupos de encontro na educação médica e na formação à
relação médico-doente.
A sua atenção dirige-se também de maneira prioritária, nesta
época, para o campo da educação, propondo uma pedagogia centrada
no aluno, experiencial. Esta pedagogia aparece como tendo muitos
pontos comuns com a que Paulo Freire proporá como "educação não
bancária", apesar de Carl Rogers ainda não ter, nesse momento,
conhecimento do trabalho de Paulo Freire. A Pedagogia Experiencial é
objeto de um grande número de trabalhos de pesquisa que se
encontram parcialmente descritos nos dois grandes livros: "Liberdade
para Aprender", publicado em 1969, e "Liberdade para Aprender nos
Anos 80", publicado em 1983. O essencial da sua mensagem consiste
no fato de que os alunos aprendem melhor, são mais assíduos, mais
criativos e mais capazes de solucionar problemas quando os professores
proporcionam o clima humano e de facilitação que Carl Rogers propõe.
Com 70 anos, Carl Rogers é o primeiro psicólogo americano a
receber os dois maiores galardões da Associação Americana de
Psicologia, tanto pelo seu contributo científico como pelo seu contributo
profissional.
A partir dessa idade, em 1972, dedica-se preferencialmente à
intervenção e reflexão sobre os aspectos referentes às áreas do social e
do político, explorando as possibilidades maturativas e criativas que os
grupos de encontro oferecem.
Expõe o essencial destas reflexões no livro publicado em 1977
"Poder Pessoal" e em 1967 apresenta o seu modelo de abordagem
centrada na pessoa e a sua filosofia de intervenção não só como um
modelo de psicoterapia mas também como uma abordagem eficaz em
todas as relações humanas, quer elas sejam relações de ajuda, relações
pessoais ou políticas. Richard Farson dirá que Carl Rogers é "o homem
20
cujo efeito cumulativo na sociedade o tornou num dos revolucionários
sociais mais importantes do nosso tempo".
Carl Rogers faz uma análise do sucesso das negociações de
Camp David, em 1978, entre Israelitas e Egípcios em termos de
dinâmica de grupo de encontro e propõe essa formula para a resolução
dos conflito sociais e políticos.
Recordemos que o "modelo de Campo David" é aplicado de
novo em 1995, com relativo sucesso, para pôr fim ao tão desejado
conflito armado da Bósnia e de novo em 1998 para dar um novo
impulso aos acordos de paz no médio oriente.
Rogers facilita, em 1985, em Rast, na Áustria, um workshop
com 50 líderes internacionais, incluindo o ex-presidente da Costa Rica,
embaixadores e pessoas de grande influência política e diplomática,
tendo como objetivo trabalhar, segundo o modelo dos grupos de
encontro, na problemática das tensões, então muito fortes na América
Central.
Carl Rogers investe cada vez mais nos últimos anos da sua
vida na investigação, empenhando-se em grandes workshops
transculturais, ou de esforço pela paz e, finalmente em 1987, aos 85
anos, o seu nome faz parte do grupo das personalidades indicadas para
a atribuição do prêmio Nobel da Paz. Infelizmente a morte colheu-o
antes, num momento em que, apesar da sua idade avançada,
continuava perfeitamente lúcido, extremamente ativo, e gozando
plenamente da vida em todos os domínios desta e, como ele dizia aos
seus amigos mais próximos, como nunca o fizera antes.
Estes últimos anos foram também marcados, sobretudo após a
morte de sua esposa Helen, em março de 1979, por um maior interesse
pela dimensão espiritual do homem, pela sua integração numa
globalidade que o transcende e que se insere numa harmonia global do
universo. Toma consciência da importância da dimensão da "presença"
na terapia, que ele associa a uma forma de comunicação transpessoal e
21
na qual a intuição tem um papel importante. Apresenta-a como um
novo campo a explorar no âmbito da sua abordagem e no domínio
daquilo que se poderia chamar, talvez, os estados alterados de
consciência.
Assim, de uma certa maneira, o circulo se fechara. Dos
primeiros interesses e empenhos numa teologia e numa carreira
pastoral, Carl Rogers chega ao fim da sua vida a um interesse renovado
pelo campo do espiritual no homem, mas num espírito de liberdade e de
tolerância, muito longe da visão fundamentalista e estreita da sua
juventude. Guardara talvez o aspecto proselitista, a confiança
indestrutível num futuro melhor, não ignorando, como ele fez questão
de sublinhar em numerosas ocasiões, toda a miséria, dor, sofrimento e
mal que nos acompanham na nossa peregrinação.
11..22 AA TTEEOORRIIAA RROOGGEERRIIAANNAA
Depois de receber seu título de Doutor, Rogers passou a fazer
parte da equipe do Rochester Center, do qual passaria a ser diretor.
Neste período, Rogers muito tirou das idéias e exemplos de Otto Rank,
que havia se separado da linha ortodoxa de Freud. Foi trabalhando em
Rochester que Rogers atingiu novos insights e percepções do tratamento
psicoterapêutico que lhe liberou da forte amarra acadêmica e conceitual
que havia (e ainda há) no ensino e prática da psicologia:
"A equipe era eclética, constituída de elementos de várias
procedências, e nossas discussões sobre métodos de
tratamento baseavam-se na nossa experiência pessoal diária
com nossos clientes (crianças, jovens e adultos). Era o
princípio de um esforço transdisciplinar que muito significou
para mim, e com o qual podíamos descobrir a ordem que
existe em nossas experiências ao trabalhar com pessoas (...)"
22
(Rogers, 1977).
O posicionamento filosófico de Rogers, e sua perspectiva e
visão do ser humano foram bastante avançadas para a sua época, pois
apresentam um entendimento altamente holista e sistêmico do homem,
que fica extremamente claro em seus livros, e, em resumo, nesta
passagem de "Liberdade Para Aprender":
"Sinto pouca simpatia pela idéia bastante generalizada de que o
homem é, em princípio, fundamentalmente irracional e que os seus
impulsos, quando não controlados, levam à destruição de si e dos
outros. O comportamento humano é, no seu conjunto,
extremamente racional, evoluindo com uma complexidade sutil e
ordenada para os objetivos que o seu organismo, como um todo
sistêmico, se esforça por atingir. A tragédia, para muitos de nós,
deriva do fato de que as nossas defesas internas nos impedirem de
surpreender essa racionalidade mais profunda, de modo que
estamos conscientemente a caminhar numa direção, enquanto
organicamente caminhamos em outra".
É extremamente interessante que Rogers se refira à lógica do
organismo como um todo, intuindo um tipo de racionalidade orgânica
que é muito mais sutil e mais profunda que o tipo de racionalidade
intelectual e linear que ordinariamente se põe como a única coisa digna
deste termo, racionalidade, e que, via de regra, se resume à capacidade
de reter algumas informações ou habilidades técnicas, adestradas a
partir da educação formal. Nisto, podemos lembra a célebre citação de
Pascal de que "O Coração possui razões que a própria razão
desconhece".
É este tipo de sabedoria interna ao organismo que se expressa
no equilíbrio ecológico de todo o sistema vital do planeta. Assim como
no amplo espectro do leque natural, a mesma racionalidade implícita à
23
vida se expressa no homem, como tendência à auto-atualização, que é a
tendência natural do organismo para atingir um grau de maior harmonia
dinâmica interna e externa, exercitando suas potencialidades adaptivas
de acordo com o seu desenvolvimento global junto ao meio em que
vive.
"O ser humano, como todos os organismos, tende a crescer e a se
atualizar. É claro que todos os fatores sociais, econômicos e
familiares podem interromper esse crescimento, mas a tendência
fundamental é em direção ao crescimento, ao seu próprio
preenchimento ou satisfação. Costumo exemplificar esse processo
lembrando batatas que guardávamos no porão de nossa casa na
fazenda. Elas criavam brotos porque havia uma janela no quarto.
Era uma tentativa inútil, mas parte da tentativa do organismo de
se satisfazer. Você consegue um produto muito diferente quando
planta uma batata na terra, e comparo esse processo ao que pode
ser encontrado em delinqüentes e em pessoas que são tidas como
doentes metais: o modo como suas vidas se desenvolveram pode
ser muito bizarro, anormal; no entanto, tudo o que eles estão
fazendo é uma tentativa para crescer, para atualizar seus
potenciais. O fato de essa tentativa causar maus resultados situa-
se mais no meio ambiente do que na tendência interna básica do
indivíduo. A pedra fundamental da psicologia humanista, pelo
menos como eu a vejo, é portanto, essa crença de que o ser
humano tem um organismo positivo e construtivo.
(Revista VEJA, 16 de fevereiro de 1977)
Rogers está convencido que, tal como ocorre com uma planta
que, mesmo em locais insalubres, luta em busca do sol e da vida,
embora os meios lhe sejam adversos, nós, os seres humanos, temos
um impulso inerente ao organismo como um todo para nos
direcionarmos ao desenvolvimento de nossas capacidades tanto quanto
for possível, quer sejam físicas, intelectuais ou morais, em conjunto.
24
Embora Rogers não tenha incluído formalmente uma dimensão religiosa
ou transcendente em sua formulação da Tendência à Auto-Atualização,
ele deixa claro suas percepções deste nível transpessoal em seus
últimos livros, particularmente em "Um Jeito de Ser", e a grande
aproximação entre seus insights do contato profundo e transcendente
no encontro terapêutico com a nova visão de mundo da Física Moderna
que é um ponto comum à Psicologia Transpessoal, que é a abordagem
mais sofisticada em termos de psicoterapia, atualmente.
De um modo geral, as escolas humanistas de psicologia,
opõem-se às concepções fragmentadoras da visão de homem de outras
escolas não inseridas no trabalho de Rogers.. É por isso que elas
criticam à psicanálise ortodoxa, por esta ter como visão de homem uma
concepção semi-animalizada, onde a pessoa é movida muito mais por
forças pulsionais ou instintivas de prazer e agressão. Os humanistas
também se recusam a aceitar a visão do behaviorismo radical de
Skinner, que identifica o homem ao robô ou marionete do meio, cuja
natureza comportamental é moldada, manipulada e controlada pelo
condicionamento ambiental. Seria um crasso erro, segundo os
humanistas, a tendência exagerada a generalizar conclusões obtidas a
partir de experimentos realizados com animais, ou mesmo com pessoas,
ao fato de se reduzir a aspectos fisiológicos ou outros mecanicistas,
perdendo a dimensão psicológica propriamente dita.
Os psicólogos humanistas preferem o estudo do homem em
seu potencial mais positivo e a abordar a Psicologia a partir do prisma
da saúde e do crescimento psicológico.
Além deste aspecto teórico altamente positivo, a contribuição
de Rogers para a psicoterapia é constituída pelos princípios de sua
experiência terapêutica denominado propriamente de "Terapia Centrada
na Pessoa", onde é de fundamental importância a ênfase na experiência
atual, relacionado ao material trazido pelo cliente no momento do
encontro terapêutico, e que é ligado à totalidade da experiência
25
subjetiva vivenciada, o que se liga, igualmente, ao amplo oceano fluido
e corrente dos sentimentos mais íntimos. Ela se refere ao que se é
sentido imediatamente e que é implicitamente significativo para o
sentimento que o sujeito experimenta ao ter uma experiência.
"Prefiro chamar de "facilitador" o terapeuta no lugar de chama-lo
de "líder", porque o termo "lidar" implica que uma pessoa sabe
para onde o grupo irá se dirigir e o orientará nessa direção. Então
eu prefiro chamá-lo de "facilitador" , porque minha idéia de seu
propósito no grupo é a de que ele deve permitir que as pessoas se
expressem sem saber onde isso as levará. Ele facilita essas
expressões do grupo mas não controla sua direção. O facilitador
pode saber alguma coisa sobre o processo de grupos e o mesmo é
verdadeiro para a terapia. O tipo de terapeuta que eu gosto é o
que age como um facilitador, pois não tem noção do que surgirá na
terapia, ou que direções a pessoas escolherá para si mesma."
(Revista VEJA, 16 de fevereiro de 1977)
O terapeuta, assim, age como um facilitador e um espelho
para os sentimentos e pensamentos do cliente, que passa a tomar maior
consciência e contato com o seu material vivencial, "percebendo"
aspectos de sua personalidade e de seus comportamento que lhe
escapavam anteriormente. Daí, o cliente, auxiliado pela ajuda
terapêutica, acaba por modificar ou amadurecer o conceito que tem de
si e, consequentemente, a reavaliar suas estratégias de vida e visão de
mundo.
1. 2.1 A TEORIA DO ENCONTRO / A TEORIA
CENTRADA NA PESSOA
1.2.1.1 Introdução
Cabe, nesta altura deste trabalho, um “chamamento à
atenção” para como Carl Rogers introduz o conceito do “encontro”
utilizado fortemente por Fritz Perls para desenvolvimento da Gestalt
26
terapia, findando com a sua máxima, transcrita como “pensamento”,
razão básica de todo desenvolvimento desse trabalho.
"Um grupo de encontro, é uma oportunidade para as mais diversas
pessoas se encontrarem, sem nenhum planejamento, a não ser
elas mesmas e seus inter-relacionamentos. Não existe um tópico a
ser discutido nem problemas imediatos a serem resolvidos. Então,
sobre o que se vai falar ? Quando as pessoas percebem que
qualquer coisa pode ser discutida, então começam a falar mais de
si mesmas e o encontro torna-se mais profundo. A pessoa começa
a acreditar que o grupo pode compreendê-la e o processo pode ser
descrito como uma percepção dos próprios sentimentos, que as
pessoas nunca pensaram possuir, tentando novas maneiras de se
comportar no grupo, desenvolvendo relacionamentos mais íntimos,
sejam eles positivos e de amor, ou de raiva e confrontação, mas,
de um jeito ou de outro, se aproximam mais como pessoas."
(Revista VEJA, 16 de fevereiro de 1977)
No fundo, todo o processo, em seu andamento, é fruto da
ação do próprio cliente, de sua imersão ou não no processo terapêutico
e de seu grau de investimento no mesmo. Daí o nome "Abordagem
Centrada no Cliente ou na Pessoa".
Muito apropriadamente, Rogers usa a palavra "cliente" ao invés
do termo "paciente", carregado do ranço mecanicista da abordagem
biomédica. Um paciente é visto como alguém doente que se submete à
ação ativa de profissionais formados, que são mais "sábios" e
competentes que ele mesmo. Um cliente é alguém que deseja um
serviço que não pode executar sozinho, mas que está mais em pé de
igualdade e, por isso, é menos "incompetente" que o paciente, ou seja,
o cliente é visto como uma pessoa inerentemente capaz de entender e
atuar sobre a sua própria situação.
27
"A razão mais profunda de chamar as pessoas de "clientes", em
vez de "pacientes", foi nunca ter sentido que as pessoas que me
procuravam eram "pacientes". Não eram doentes, e sim pessoas
em dificuldades. Então, qual o termo mais apropriado ? Em inglês,
"cliente" é aquele que vem buscar o seu serviço. Mas ele ainda é
responsável por si mesmo." (Revista VEJA, 16 de fevereiro de
1977)
Há uma igualdade implícita no modelo terapeuta-cliente, que
não existe na abordagem mecanicista médico-paciente: "O indivíduo
tem dentro de si a capacidade, ao menos latente, de compreender os
fatores de sua vida que lhe causam infelicidade e dor, e de reorganizar-
se de forma a superar tais problemas". Rogers, portanto, entende a
terapia como um processo que leva uma pessoa a descobrir as nuanças
de seu próprio dilema com o mínimo de ação por parte do terapeuta,
que funciona como um espelho para o cliente. A terapia é "a liberação
de capacidades já presentes em estado latente (...). Tais opiniões se
opõem diretamente à concepção da terapia como uma manipulação, por
um especialista, de um organismo mais ou menos passivo" (Rogers &
Kinget, 1977, p. 192). Tal aspecto é fundamentalmente diferente da
abordagens onde o terapeuta é visto como o "mecânico" apto a
"consertar" o problema do "paciente".
Outra extraordinária contribuição de Rogers à psicoterapia foi
sua dedicação à dinâmica da psicoterapia de grupo. Rogers
compreendeu profundamente que os indivíduos em um grupo deixam-se
envolver mais fortemente por um clima terapêutico, e que o grupo, em
si, é um organismo, um sistema auto-regulador, onde cada indivíduo é
parte fundamental constituinte do todo, ao mesmo tempo que também é
um todo em si.
"Na terapia de um-para-um, o cliente sente que é um milagre que
ele possa ser aceito e compreendido - mas será que alguém mais o
28
compreenderá ? Em um grupo de encontro, ele logo percebe:
"Todas as pessoas me aceitam? E nem ao menos estão sendo
pagas para isso?" E isso é muito forte, pois provoca o sentimento
de que, "quem sabe, eu sou uma pessoa aceitável ". Nesse sentido,
o grupo de encontro pode ser de maior efeito que a terapia
individual."
(Revista VEJA, 16 de fevereiro de 1977)
Caracteristicamente, todos os grupos de encontro possuem um
clima de segurança psicológica que encoraja a expressão de sentimentos
à estímulos dos membros do próprio grupo, e abrange sempre o
envolvimento afetivo como um todo. O modo como se dá o
desenvolvimento do grupo é, quase sempre, imprevisível, mas segue,
via de regra, um percurso auto-regulador e auto-dirigente de uma
criatividade impressionante, levando eficazmente a uma atuação
terapêutica e cartática grupal, ligando os indivíduos do organismo
coletivo, mesmo que haja um amplo amálgama de sentimentos díspares
em momentos críticos do encontro coletivo.
"Tanto na terapia quanto no grupo de encontro, a mudança mais
notável é a expansão da conscientização do indivíduo. Ele vem
para o grupo achando que sabe quem é e que está consciente de si
mesmo. Mas, quando começa a se abrir e a notar como as pessoas
ouvem com atenção, ele descobre, dentro de si mesmo, coisas que
não havia percebido antes. Começa a sentir que é mais do que
pensava ser, que tem sentimentos que nunca havia notado. Uma
pessoa que nunca mostra raiva, por exemplo, perceberá, no grupo,
que tem raiva dentro de si . Ela não se esquecerá disso e
reconhecerá, no futuro, quando sentir raiva, que não poderá mais
escondê-la - e terá condições para lidar com ela."
(Revista VEJA, 16 de fevereiro de 1977)
29
"Quando o material afetivo significativo emerge, as pessoas
começam a expressar umas às outras seus sentimentos imediatos,
tanto positivos quanto negativos"
(Fadiman & Frager, Teoria da Personalidade,1986, p. 243).
Quanto mais expressões emocionais vêm à tona, maior o
desenvolvimento da capacidade terapêutica do grupo auto-regulador.
"As pessoas começam a fazer coisas que parecem ser de grande
auxílio, que ajudam os outros a tomar consciência de sua própria
experiência de uma forma não ameaçadora. O que o terapeuta
bem treinado aprendeu a fazer durante anos de supervisão e
prática, começa a emergir de modo espontâneo da própria
situação"
(Fadiman & Frager, Teorias da Personalidade, 1986,p.243-
244).
Ou seja, Rogers descobriu, em psicoterapia, a mesma
tendência sistêmica à auto-organização que os modernos biólogos
sistêmicos.
"Se ocorrer uma crise dramática dentro do grupo, o facilitador
inexperiente pode se sentir tentado a fazer o papel de líder, mas o
experiente procurará acreditar no grupo. Lembro-me do que
aconteceu com um membro de nossa equipe quando um homem
sofreu uma terrível crise psicótica, numa sessão de grupo de
encontro. As pessoas entram em pânico e exigiram que o
facilitador fizesse alguma coisa, mas ele se manteve calmo e fez
com que o grupo discutisse sobre que atitude tomar. Algumas
pessoas que se sentiam mais próximas ao homem tentaram
conversar com ele, mas o grupo ainda achava que ele deveria ser
internado. Pediram-lhe então que voltasse ao grupo, discutiram
seus sentimentos e suas preocupações com ele. No fim, tudo foi
30
resolvido e mais tarde ele fez terapia, sem hospitalização. O ponto
é que o grupo, como um todo, é capaz de agir muito mais
sabiamente do que uma pessoa sozinha."
(Revista VEJA, 16 de fevereiro de 1977)
Por tudo isso, está claro que o legado de Rogers é de extrema
importância e atualidade, não podendo certos representantes da
corrente racionalista dominante defini-lo como ultrapassado ou
superficial. Diante das mazelas de nossa época tecnocrata, onde as
coisas estão cada vez piores em termos de qualidade de vida, não pode
alguém que se diz representante de uma abordagem com 102 anos se
arvorar como sabedor de toda a verdade, pois, apesar dela, o mundo
está cada vez pior. Neste momento, o aspecto existencial e otimista da
Psicoterapia Centrada no Cliente parece ser um método altamente
positivo para nossa saúde psíquica. Cabe ao tempo, enfim, confirmar ou
não tudo isso.
11..22..22 TTEENNDDÊÊNNCCIIAA ÀÀ RREEAALLIIZZAAÇÇÃÃOO OOUU AAUUTTOO RREEAALLIIZZAAÇÇÃÃOO
É como se define a tendência própria do indivíduo de buscar
seu desenvolvimento, de buscar seu crescimento, de buscar ampliar
conhecimento no seu campo pessoal e/ou no seu campo emocional. Por
isso, na linha não diretiva, o professor não precisa "motivar" o aluno a
aprender, e, "motivar" - no seu sentido negativo - pode ser entendido
como tudo aquilo que possa atrapalhar o desenvolvimento do aluno,
como por exemplo, tudo aquilo que regula, tudo aquilo que impede que
o aluno desenvolva sua capacidade interna de crescer e de aprender
(exagero disciplinar de conduta, incutir medo da avaliação, não dar,
deliberada e assintosamente, atenção aluno, etc. ...)
Rogers não usa a expressão "EU" e sim "SELF", porque, para
ele, ao contrário do "EU" do Freud, o "SELF" tem uma estrutura mais
31
dinâmica e flexível tendo uma configuração em função daquilo que se
passa com a mente e com o outro com que nos relacionamos, no meio
em que estamos inseridos.
Self tem essa definição flexível porque a teoria existencialista
acredita que a pessoa pode mudar suas escolhas, seus ambientes
configurando um novo espaço, uma nova realidade e tudo isso em
função da atividade que ela escolher.
Partindo desse princípio de self, Rogers sugeriu o "self ideal"
que é tudo quilo que o sujeito projeta como gostaria de ser.
Este self ideal, está presente em todas as pessoas, mas ele
chama atenção para o problema embutido neste conceito, que é o fato
de muitas das vezes, a pessoa se envolve tanto com aquilo que gostaria
de ser, que acaba se perdendo do seu verdadeiro self.
Uma das características centrais do existencialismo é a busca
de aceitação do verdadeiro self e isso está presente na prática
pedagógica do cotidiano, além do aspecto clínico e terapêutico. É muito
comum uma pedagogia que investe no afastamento do verdadeiro self,
estabelecendo tantos critérios de self ideal para o aluno, que ele se
afasta do seu verdadeiramente self para ser aquilo que o outro
(professor, pais, sociedade, etc. ...) quer que ele seja. Essa é uma das
grandes críticas feita por C. Rogers, é o seu grande "chamamento à
atenção".
Como fundamento na sua vida, para o humanismo, o sujeito
busca constantemente a consideração positiva, ou seja, uma das suas
buscas nas relações interpessoais, nas relações humanas, é a busca pelo
amor, pela aceitação. O sujeito busca tanto ser aceito, que é capaz de
nortear as suas escolhas em função do que imagina que agrade mais ao
outro do que aquilo que agrada mais a si próprio. Isso, segundo Rogers,
é o afastamento do verdadeiro self, é uma distorção do seu verdadeiro
self em função da grande necessidade de ser amado que o ser humano
tem.
32
Quando o sujeito passa a fazer suas escolhas, em função do
que, imagina que tenham valor para o outro, perdendo, dessa forma, a
referência da sua própria vida no que tem valor para si mesmo, que
seria uma atribuição de valor próprio do seu verdadeiro self. Isso é o
que Rogers chama de construção de valor.
Atitude favorecedora dessa harmonização com seu verdadeiro
self, é receber do outro, uma consideração positiva incondicional ou
seja, se sentir diante do outro aceito tal como ele é, ou, dito de outra
forma, não precisar se modelar, para ser amado pelo outro.
No meio acadêmico, essa consideração positiva incondicional,
essa aceitação a priori, é o ponto de partida do clima de confiança que
deve existir numa relação professor aluno para que o aluno se sinta a
vontade e confiante na sua escolha.
Esse conceito de consideração positiva incondicional, é muito
importante para Rogers.
Quando estruturou e apresentou esse conceito, ele foi muito
criticado porque entenderam, erradamente, que, dessa forma, ele
estava dando margem para a total liberdade sem controle, em outras
palavras, para a libertinagem, ou seja, que qualquer um podia fazer
qualquer coisa o tempo todo, mas o que na verdade Carl Rogers estava
propondo, era uma atitude profissional, uma atitude de respeito pelo
outro e um respeito a priori.
Entendamos o que ele se referia com respeito a priori: "eu te
aceito antes de te conhecer porque antes de qualquer coisa o homem
tem direito de ser o que ele é e de fazer as escolhas mais importante
para sua vida." Outro: "Quando alguém te olha e te reconhece, tu te
sentes capaz de ser, de fazer escolhas e de seguir o teu caminho". Esse
é o conceito que demarca esse clima livre de ameaças, de cobranças, de
exigências que predispõe, segundo Carl Rogers, ao clima educacional,
ao clima da prática pedagógica ideal.
33
A consideração positiva incondicional, é a forma de fazer com
que a pessoa faça escolhas em função dos valores que ela atribui às
ações que ela acha importante e não que o outro ache importante. O
existencialismo chama atenção para o fato do quanto nos esforçamos,
do quanto nos formamos, do quanto nos deformamos e do quanto nos
transformamos para ser amado pelo outro e ai, deixamos de ser nós
mesmos.
O self ideal, aquilo que se imagina que se quer ser, em geral,
se quer ser aquilo que agrada ao outro e, normalmente, é formado pelo
valor que o outro atribuí.
Pela ótica educacional, essa situação de self ideal, está
presente quando o aluno procura cumprir funções, as vezes muito mais
para agradar o professor, do que buscando o seu desenvolvimento. Por
isso que o professor, na qualidade de facilitador, deve ter todo o cuidado
para minorar ou, se possível, extinguir a rigidez da avaliação e da
cobrança para que o aluno se sinta imbuído da responsabilidade do seu
próprio contexto, na sua própria vida.
1.2.3. CONHECIMENTO SUBJETIVO
Para Carl Rogers, o ser possui uma inteligência interna
chamada de inteligência organística que é o mesmo que ter a
capacidade interna de escolher o que é melhor para si. Rogers afirma
que não é bom, que não é a melhor atitude, quando o ser se desvirtua
da sua intuição, distorcendo-se para fazer o que acha que o outro quer,
por outro lado, se, atentamente ele dá atenção à sua intuição
"escutando" o que realmente se quer, faz-se melhor escolha. Todos têm
uma inteligência, uma sabedoria interna de escolher o melhor para si e
quando isso não acontece, é porque estão alienados, estão distantes do
contato consigo mesmo.
34
11..22..44.. CCOONNHHEECCIIMMEENNTTOO OOBBJJEETTIIVVOO
É o conhecimento intelectual, é a capacidade da fazer
especulações, questionar teorias, de trabalhar com a lógica, com todo
arcabouço teórico que se lida no dia a dia.
11..22..55.. CCOONNHHEECCIIMMEENNTTOO IINNTTEERRPPEESSSSOOAALL OOUU FFEENNOOMMEENNOOLLÓÓGGIICCOO
É a capacidade de conhecer o outro (empatia), de
compreender o outro, compreender como ele se vê, inclusive
questionando para saber se o que estamos entendendo do outro, é o
verdadeiro entendimento.
Empatia não é entender como o outro me entende, mas como
o outro se entende.
Conhecimento interpessoal se aproxima com a pessoa do
verdadeiro self dela. É o sair dessa primeira camada (persona) que todo
ser tem - camada de relacionamento social - que é natural em todo ser,
e tem-se porque se tivermos sempre o verdadeiro self exposto, não nos
encontraríamos conosco mesmo e sim com o outro.
Quase que como uma expressão matemática, Rogers afirma
que se você conseguir desenvolver bem esse seu conhecimento
subjetivo (o que você quer, o que tem valor para você), com o seu
conhecimento e do outro, você desenvolve o conhecimento objetivo dos
seus conteúdos, de uma forma muito forte.
11..22..66.. CCAARRLL RROOGGEERRSS EE AA EEDDUUCCAAÇÇÃÃOO NNAA VVIISSÃÃOOEEXXIISSTTEENNCCIIAALLIISSTTAA
Na visão do existencialismo, tem-se o sujeito como a pessoa
integral que aprende e acima de tudo que se relaciona, que acredita,
que se emociona, e, numa visão atual, temos a CONCEPÇÃO HOLÍSTICA
que vem a ser a visão da pessoa integral - matéria e espírito - com
ênfase, com a ótica central do ser humano em relação com o mundo. É
35
por isso que o aluno esta na escola aprendendo para, no chamar de Carl
Rogers, tornar-se pessoa. O objetivo da educação, numa abordagem
existencial humanista, não é que a pessoa aprenda o conteúdo, não é
que a pessoa produza conhecimento, mas sim que a pessoa se torne um
ser integral e que desenvolva suas potencialidades em todas as
direções. É uma visão totalmente diferente no que diz respeito a
metodologia de transmissão de conteúdo.
"Uma das premissas básicas da psicologia rogeriana é a de que o
indivíduo, visto como um todo, tende à auto realização. Esta
“tendência à auto-atualização” é o pressuposto de que o indivíduo
tende à procura do seu crescimento pessoal, tende à
aprendizagem. O aluno é visto como pessoa integral . A educação
visa portanto a pessoa inteira, que envolve e transcende os três
tipos gerais de aprendizagem: cognitiva, afetiva e psicomotora. Na
concepção de ser humano existencial-humanista, este é o
“arquiteto de si mesmo”. Consciente de sua incompletude assume
sua condição de ser em transformação e agente transformador da
realidade."
(Carly Machado, Fundamentos Psicológicos da Educação, UCAM-
Rio)
Vejamos: no existencialismo, não encontramos métodos de
transmissão de conteúdo, teorias, conceitos e sim ênfase na relação, no
clima favorável entre pessoa-pessoa. Em outras palavras, na relação
professor-aluno, aluno-professor, aluno-aluno, enfim nesse encontro
que produz conhecimento. Por isso o professor é entitulado de facilitador
da aprendizagem.
36
"O papel do professor nesta abordagem, é de um especialista em
relacionamento interpessoal. O professor assume um papel definido
como “facilitador da aprendizagem”, onde sua função deixa de ser
uma tentativa de exercer influência direta sobre o aluno, para ser,
essencialmente, a de criar um clima facilitador da aprendizagem.
São características do facilitador: autenticidade, estima pelo aluno
e empatia. Por autenticidade ou congruência entende-se a
coerência entre o que o professor sente, pensa e fala. O professor
é visto como uma pessoa integral e se compreende também assim
nesta relação. A estima consiste em prezar, aceitar e
principalmente confiar na tendência ao crescimento presente no
aluno. É a crença de que a outra pessoa é digna de confiança e
plena da oportunidade de buscar, experimentar e descobrir aquilo
que lhe engrandece o eu. Finalmente, compreensão empática é a
capacidade de compreender de que maneira o aluno compreende
seu mundo, sua experiência. Diferente de compreender o aluno,
empatia é compreender como o aluno se compreende. É uma
atitude de colocar-se no lugar do aluno buscar considerar o mundo
através de seus olhos."
(Carly Machado, Fundamentos Psicológicos da Educação, UCAM-
Rio)
Nessa visão, o papel do professor não é de interferência direta
no processo mas sim de "arrumar" as relações para que elas se
estabeleçam e o processo seja desencadeado; auto desencadeado -
chamado de aprendizagem auto dirigida e criativa.
"A transmissão de conteúdos é vista como secundária numa visão
não-diretiva, em razão da ênfase dada aos processos de elaboração
e criação do conhecimento pelo sujeito da aprendizagem, ou seja,
o aluno. Apesar de criticar a transmissão de conteúdos, essa
37
proposta não defende a supressão do fornecimento de informações.
Estas no entanto devem ser significativas para os alunos e
percebidas como mutáveis. A pesquisa dos conteúdos deve ser
feita pelos alunos que deverão ser capazes de criticá-los."
(Carly Machado, Fundamentos Psicológicos da Educação, UCAM-
Rio)
A metodologia de ensino não-diretiva não valoriza os métodos
usualmente utilizados na escola. O professor deve desenvolver um estilo
próprio para facilitar a aprendizagem do aluno.
"O objetivo do processo educacional existencial-humanista é que o
aluno possa “tornar-se pessoa”, uma pessoa de iniciativa, de
responsabilidade, de auto determinação, de discernimento, que
saiba aplicar o que aprendeu, se adaptar com flexibilidade às novas
situações, com espírito livre e criativo. O professor deve facilitar a
comunicação do estudante consigo mesmo, para ele mesmo
estruturar seu comportamento experiencial."
(Carly Machado, Fundamentos Psicológicos da Educação,
UCAM-Rio)
No existencialismo, ninguém ensina nada a ninguém, ninguém
faz o aluno aprender, o aluno é que é construtor do seu próprio
conhecimento.
38
CCAAPPÍÍTTUULLOO IIII
FFRREEDDEERRIICCKK SSAALLOOMMOONN PPEERRLLSS
Em 1893, nasce em Berlim, Frederick Salomon Perls, filho de
pais judeus de classe média baixa, é cognominado, até o presente,
como Fritz Perls.
Com uma infância vivida entre dificuldades financeiras de sua
família, Perls estava freqüentemente irritado e desdenhoso em relação
a seus pais. Mesmo tendo sido expulso da escola após ter repetido duas
vezes a sétima série e durante toda sua rebelde adolescência ter se
envolvido em problemas com autoridades, conseguiu terminar seus
estudos recebendo o diploma de médico, especializado em psiquiatria.
Foi durante seu treinamento médico que juntou-se ao exército
alemão servindo como médico na Primeira Guerra Mundial, mas com o
fim da guerra, retorna a Berlim e, ingressando na Sociedade dos
Boêmios Berlinenses, começa a formular as idéias filosóficas que
forneceriam, futuramente, fundamentos para o desenvolvimento da
Gestalt-terapia.
Em 1926, trabalhando com Kurt Goldestein, no Instituto de
Soldados com Lesões Cerebrais, compreende a importância de
considerar o organismo humano como um todo, ao invés de vê-lo como
um aglomerado de partes funcionando desordenadamente.
Em 1927, com o início do Movimento Psicanalítico, muda-se
para Viena iniciando seu treinamento em psicanálise sendo, nesta
ocasião, analisado por Wilhelm Reich e supervisionado por Karen
Homey, Otto Fenichel e Helene Deutsch, entre outros.
Em 1933, com a ascensão de Hitler ao poder, Perls partiu para
a Holanda e depois para a África do Sul, onde fundou o Instituto Sul-
Africano de Psicanálise.
39
Em 1936, volta à Alemanha para apresentar um trabalho no
Congresso Psicanalítico e num rápido encontro com Sigmund Freud,
desejado há muito, decepcionou-se pela rapidez do encontro onde não
teve nenhuma oportunidade para explorar as idéias de Freud. Mesmo
após seu rompimento formal com Freud, Perls continuou a julgar suas
próprias idéias como uma revisão do trabalho de Freud e, mais ainda,
como uma revisão da psicanálise de acordo com a interpretação de
muitos da segunda geração psicanalítica. As divergências entre Perls e
Freud estavam relacionadas principalmente com os métodos de
tratamento psicoterápico de Freud, mais do que com suas exposições
teóricas sobre a importância das motivações inconscientes, a dinâmica
da personalidade, padrões de relacionamentos humanos e assim por
diante.
“Não as descobertas de Freud, mas sua filosofia e técnica,
tornaram-se obscuras”
(in Gestalt terapia Explicada, SP, Summus Editorial Ltda.1976)
Em 1946, já abertamente rompido com o Movimento
Psicanalítico, migra para os Estados Unidos prosseguindo com o desen-
volvimento da Gestalt-terapia.
“Meu rompimento com os freudianos aconteceu alguns anos mais
tarde (após meu encontro com Freud), mas o fantasma nunca foi
completamente tranqüilizado . . . . Tentei tornar a psicanálise
meu lar espiritual, minha religião . . . . Sobreveio então a revelação
. . . . Eu mesmo tinha que me responsabilizar pela minha
existência”
(in Gestalt terapia Explicada, SP, Summus Editorial Ltda.1976)
40
Em 1952, aos 57 anos, já inteiramente voltado para a Gestalt-
terapia – razão primeira de sua vida - , fundou o Instituto Nova-
iorquino de Gestalt-terapia.
No início dos anos sessenta, com sua mudança para o Instituto
Esalen em Big Sur na Califórnia, onde propôs workshops e lecionou,
passa a ser amplamente conhecido como expoente de uma filosofia e de
um método de psicoterapia novos e viáveis – A Gestalt-terapia.
Pouco antes de sua morte, seu interesse voltou-se para o
estabelecimento de um kibbutz gestáltico.
Em 1970, vivenciando seu sonho realizado, morre na ilha de
Vancouver, o local da primeira comunidade gestáltica terapêutica.
Muito há para se dizer de Fritz Perls, mas esse não é o espaço,
esse não é o momento e fiel ao seu AQUI E AGORA, encerra-se esse
capítulo AQUI E AGORA, entretanto . . .
22..22 AA GGEESSTTAALLTT
Formulada entre fins do século passado e início do nosso século, a
Psicologia dos Padrões de Totalidade ou de Totalidades Significativas
(Gestalten, em alemão) surgiu como um protesto contra a tentativa de
se compreender a experiência psíquico-emocional através de uma
análise atomística-mecanicista tal como era proposto por Wundt -
análise esta no qual os elementos de uma experiência são reduzidos aos
seus componentes mais simples, sendo que cada um destes
componentes são peças estudadas isoladamente dos outros, ou seja, a
experiência é entendida como a soma das propriedades das partes que
a constituiriam, assim como um relógio é constituído de peças isoladas.
A principal caraterística da abordagem mecanicista é, pois, a de que a
totalidade pode ser entendida a partir das características de suas partes
constitutivas.
41
Porém, para os psicólogos da Gestalt, a totalidade possui
características muito particulares que vão muito além da mera soma de
suas partes constitutivas.
Para melhor entendimento deste raciocínio, tomemos como
exemplo, uma fotografia de jornal que é constituída por inúmeros
pontos negros espalhados numa área da folha de jornal. Nenhum
desses pontinhos, isoladamente, pode nos dizer coisa alguma sobre a
fotografia. Apenas quando tomamos a totalidade da figura, é que
percebemos a sua significação.
A própria palavra Gestalt significa uma disposição ou
configuração de partes que, juntas, constituem um novo sistema, um
todo significativo. Sendo assim, o princípio fundamental da abordagem
gestáltica é a de que as partes nunca podem proporcionar uma real
compreensão do todo, que emerge desta configuração de interações e
interdependências de partes constituintes. O todo se fragmenta em
meras partes e/ou deixa de ter um significado quando é analisado ou
dissecado, ou seja, deixa de ser um todo.
Esta escola teve como principais expoentes Max Wertheimer,
Wolfgang Kohler e Kurt Koffka.
Posteriormente, Kurt Lewin elaboraria uma teoria da
personalidade com base na compreensão gestáltica da totalidade
significativa, onde se afirma que o comportamento do indivíduo é a
resultante da configuração de elementos internos num "espaço vital",
que é a totalidade da experiência vivencial do indivíduo num dado
momento (ou seja, todo o conjunto de experiências que se faz sentir
num dado momento, de acordo com a percepção/interpretação do
indivíduo).
Nota: tomou-se esse pensamento para elaborar a dinâmica
exposta no capítulo VI deste trabalho, concretizando /
42
colocando no papel / registrando, a Teoria do Encontro
(como se rebatizou esse pensamento).
Estas idéias foram, em parte, adotadas por Carl Rogers em
sua teoria da personalidade, conhecida como Abordagem Centrada na
Pessoa já que é o cliente que dirige o andamento do processo
psicoterapêutico, trazendo e vivenciando o material pessoal exposto nas
sessões.
Já o Psicoterapeuta Frederick Salomon Perls, baseado nas
experiências de Carl Rogers, desenvolveria uma corrente de
psicoterapia baseada nos fundamentos da escola da Gestalt, pondo em
prática uma ação terapêutica voltada aos padrões vivenciais
significativos do indivíduo. Esta corrente é conhecida como Gestalt-
Terapia.
Gestalt quer dizer, ESTRUTURA. Capturar aquilo que se vê
como uma totalidade e cada novo elemento que se inclui, ou se exclui,
forma uma nova Gestalt, uma nova estrutura. O Todo não é igual a
soma das Partes, ou seja, quando se somam as partes, o que se
constrói, é mais do que o todo (é diferente).
O sujeito não é sempre o mesmo nos diversos ambientes que
freqüenta: Você é um em casa e outro em sala de aula; você é um sala
de aula com essa turma e é outro em outra sala de aula com outra
turma; você é um como aluno e é outro como professor.
Self, na visão de Fritz Perls, é extremamente dinâmico. A cada
configuração, o Self vai se estruturando de maneira diferente A cada
novo encontro, há uma nova configuração e uma nova Gestalt.
Self é o que se "abre" para ser várias coisas sem nunca deixar
de ser.
Com esse pensamento, Fritz Perls afirma que somos fruto do
nosso encontro com o outro. Que cada um de nós, colocados no mundo,
isolados do mundo, não é nada.
43
Há, inclusive, um filme/documentário iraniano que retrata bem
essa situação onde duas meninas de 8 e 9 anos foram trancadas pelo
pai em um quarto sem nenhum contato com o exterior além do pai que
as alimentavas, que quando foram descobertas, por denúncia de
vizinhos, estavam animalizadas.
44
CCAAPPÍÍTTUULLOO IIIIII
HHOOWWAARRDD GGAARRDDNNEERR
Considerado um dos mais importantes pesquisadores da
criatividade deste final de século, Howard Gardner é o pai da Teoria
denominada Inteligências Múltiplas, que critica a noção de que existe
um único tipo de inteligência que pode ser acessada por testes e
instrumentos psicométricos. Observando informações sobre o
desenvolvimento, colapsos, populações especiais e assim por diante,
Gardner recolheu uma grande quantidade de informações que lhe
permitiu determinar 7 (sete) tipos de inteligência, a saber: lingüística,
lógico-matemática, espacial, musical, corporal cinestésica, interpessoal
e intrapessoal.
Gardner, é professor de Educação e Psicologia da Harvard
University, e professor de Neurologia da Boston University School of
Medicine. Desde 1972, Gardner é co-diretor do Projeto Zero, um grupo
de pesquisa em cognição humana fundado em 1967 pelo filósofo Nelson
Goldman que desenvolve estudos sobre criatividade, especialmente na
área de artes, com crianças normais e talentosas. Gardner é autor de
cinqüenta livros e centenas de artigos e recebeu várias honrarias,
incluindo a MacArthur Prize Fellowship em 1981 e em 1990, foi o
primeiro americano a receber o Prêmio Grawemeyer da Universidade de
Louisville em Educação.
Trabalhando há cerca de vinte e cinco anos, ele e seus colegas
do Projeto Zero realizaram um mapeamento da performance de
conhecimentos, educação para a compreensão e o uso das inteligências
múltiplas de crianças como chave para um currículo mais personalizado
e mais recentemente, Gardner vem pesquisando intensivamente sobre
estudos de casos exemplares de personalidades criadoras, as relações
entre criatividade em diferentes domínios.
45
Mas quando encontrou as obras psico-históricas de Erik
Erikson, encontrou também um "lar intelectual", mudando seus estudos
de Ciências Sociais e começando a se entregar a Psicologia do
Desenvolvimento Humano. Entre o lado emocional da experiência
humana e a cognição, Gardner optou pela cognição, influenciado pela
leitura intensiva da obra de Jean Piaget, do final da faculdade a seus
estudos de pós-graduação na Inglaterra. Enquanto aprendia técnicas e
métodos da Psicologia do Desenvolvimento e Experimental, que lhe
permitiu ter uma formação mais sistemática, Gardner deixou
temporariamente de lado a biografia e a história.
33..11 AA TTEEOORRIIAA DDAASS IINNTTEELLIIGGÊÊNNCCIIAASS MMÚÚLLTTIIPPLLAASS
A Teoria das Inteligências Múltiplas se inspira em estudos de
Howard Gardner que procura demonstrar que o cérebro humano
apresenta diversificadas inteligências e que desta forma esse mesmo
cérebro pode operar para diferentes ações e diferentes competências.
O teórico Howard Gardner se coloca entre aqueles que
resistem fortemente a qualquer tentativa de usar um contraste entre
inteligência e talento, tentativa normal de ignorar ou minimizar a gama
de capacidades criticas humanas.
”Reconhecer um espectro de inteligências é o primeiro passo para
reavaliar a metodologia dos testes educacionais atualmente
empregados em educação onde me afasto do fluxo principal da
prática psicométrica e é minha insistência de que uma análise da
cognição deve incluir todas as habilidades humanas para a
resolução e elaboração de problemas e não apenas as que por
acaso se prestam a testagem".
(Entrevista cedida pela revista Pátio – Editora Artes Médicas)
46
Assim, um músico competente apresentará uma inteligência
musical, mas também algumas habilidades corporais cinestésicas para
ser capaz de obter efeitos sutis a vontade, uma inteligência interpessoal
que lhe permita ser capaz de se comunicar de modo eficaz com um
público, uma inteligência matemática que lhe possa, enfim, ter lucro, e
assim por diante.
"No mundo prático, apenas a combinação das inteligências em um
indivíduo intacto possibilita a resolução de problemas e a criação
de produtos significativos".
(Entrevista cedida pela revista Pátio – Editora Artes Médicas)
33..22 AA QQUUEESSTTÃÃOO CCOONNCCEEIITTUUAALL DDEE HHOOWWAARRDDGGAARRDDNNEERR
Não há como analisar a inteligência de uma pessoa só a partir
dos testes conhecidos e largamente aplicados, porque estes avaliam
somente a inteligência lógico-matemático.
"A teoria das Inteligências Múltiplas, tornou-se popular em muitos
países porque proporciona apoio para um fato que a maioria dos
professores (e a maioria dos pais) sabe: as crianças têm mentes
muito diferentes umas das outras, elas possuem forças e fraquezas
diferentes, e é um erro pensar que existe uma única inteligência,
em termos da qual todas as crianças podem ser comparadas.
Muitos programas educacionais têm sido baseados na teoria, e
esses programas contém inovações promissoras no currículo, na
pedagogia, na avaliação e no uso de recursos fora do prédio da
escola." (Entrevista cedida pela revista Pátio – Editora Artes
Médicas)
Howard Gardner propõe a análise sob uma nova ótica; a ótica
das, inicialmente, 7 (sete) e depois mais 2 (dois) acrescentadas por ele,
47
totalizando 9 (nove) Inteligências Independentes. Quais sejam: (as 7
iniciais) lingüística, lógico-matemática, espacial, musical, corporal
cinestésica, interpessoal e intrapessoal, e as 2 acrescentadas
posteriormente que são: a naturalista (entender o mundo da natureza)
e a existencial (fazer perguntas básicas sobre a vida, a morte, o
universo).
"A implicação educacional mais importante das teorias das IM é
esta: todos nós temos tipos diferentes de mente, e o bom
professor tenta se dirigir à mente de cada criança da forma mais
direta e pessoal possível. Se os professores têm uma turma de
alunos muito grande, é difícil fazer isso. Mas se o foco começa no
jardim de infância, e se os pais (e mais tarde as crianças) entram
no esquema, torna-se possível um tipo de educação mais
personalizado. Atualmente estou escrevendo um livro em que
demonstrarei como tópicos importantes – como a teoria da
evolução e o Holocausto – podem ser ensinados, de modo que as
crianças com diferentes perfis intelectuais compreendam as idéias
básicas."
(Entrevista cedida pela revista Pátio – Ed. Artes Médicas)
E, enfim, o que Howard Gardner afirma com isso, é que você
tem várias capacidades e habilidades e um único teste para avaliar
todas juntas. Segundo Howard Gardner, essas Inteligências Múltiplas
são independentes. Todos temos todas, mas elas têm uma certa
independência neurológicas a ponto de funcionarem perfeitamente mais
em uma, menos em outras. Howard Gardner chama atenção para esse
aspecto, afirmando que a Inteligência Lógico Matemática não é
sinônimo de inteligência simplesmente e sim de Inteligência lógico
matemática e nesse ponto, ele introduz o conceito de Inteligência
Pessoal.
48
”Reconhecer um espectro de inteligências é o primeiro passo para
reavaliar a metodologia dos testes educacionais atualmente
empregados em educação onde me afasto do fluxo principal da
prática psicométrica e é minha insistência de que uma análise da
cognição deve incluir todas as habilidades humanas para a
resolução e elaboração de problemas e não apenas as que por
acaso se prestam a testagem".
(in Estruturas da Mente – A Teoria das Inteligências Múltiplas)
Assim, um músico competente apresentará uma inteligência
musical, mas também algumas habilidades corporais cinestésicas para
ser capaz de obter efeitos sutis a vontade, uma inteligência interpessoal
que lhe permita ser capaz de se comunicar de modo eficaz com um
público, uma inteligência matemática que lhe possa, enfim, ter lucro, e
assim por diante.
No mundo prático, apenas a combinação das inteligências em
um indivíduo intacto possibilita a resolução de problemas e a criação de
produtos significativos.
“É um erro pensar que existe uma única inteligência. A implicação
educacional mais importante das teorias das Inteligências Múltiplas
é esta: todos nós temos tipos diferentes de mente (grifo ausente
no original), e o bom professor tenta se dirigir à mente de cada
criança da forma mais direta e pessoal possível. Se os professores
têm uma turma de alunos muito grande, é difícil fazer isso. Mas se
o foco começa no jardim de infância, e se os pais (e mais tarde as
crianças) entram no esquema, torna-se possível um tipo de
educação mais personalizado. Os objetivos da aprendizagem – os
papéis a serem atingidos, as habilidades a serem dominadas, os
desempenhos a serem buscados. Isso seria avaliado, então, da
maneira mais direta possível, e não através de testes de respostas
curtas, avaliados por uma máquina.
49
Se você quer saber se alguém é capaz de escrever um editorial
efetivo, ou executar um experimento, deve fazer com que as
pessoas realizem essas tarefas (*). E se você quer saber se os
professores são capazes de ajudar os alunos nessas atividades,
observe os alunos trabalhando sob a supervisão dos professores e
examine o trabalho dos alunos e o feedback que recebem.
Todo indivíduo tem o potencial para ser criativo. Mas as pessoas só
serão criativas se quiserem ser – se estiverem dispostas a
contestar a ortodoxia, a aceitar as críticas, a não se perturbar com
ataques ou insultos.
Minha contribuição a respeito deste assunto é dupla:
ao invés de ver a criatividade como uma propriedade geral, vejo os
indivíduos como criativos ou não-criativos em domínios específicos,
que geralmente mapeam a inteligência;
vejo a criatividade como envolvendo não apenas mentes humanas,
mas também domínios em que os indivíduos trabalham, e campos
que realizam julgamentos sobre a qualidade e a novidade do
trabalho.
(Entrevista cedida pela revista Pátio – Editora Artes Médicas)
(*) esse o princípio que norteia a dinâmica adiante
desenvolvida neste trabalho.
Diferentemente de outros autores e psicólogos, Howard
Gardner enfatiza a Inteligência Pessoal como o relacionamento Intra
Pessoal e Inter Pessoal.
“Em sua forma mais primitiva, a inteligência intrapessoal equivale a
pouco mais do que a capacidade de distinguir um sentimento de
prazer de um de dor e, com base nesta discriminação tornar-se
mais envolvido ou retrair-se de uma situação. Em seu nível mais
50
avançado, o conhecimento intrapessoal permite que detectemos e
simbolizemos conjuntos de sentimentos altamente complexos e
diferenciados.”
(in capítulo 10 "As Inteligências Pessoais", à página 184 do livro
"Estruturas da Mente - A Teoria das Inteligências Múltiplas")
Howard Gardner, traça um caminho extremamente extenso
para explicar-se sobre o que pensa como relacionamento Intra Pessoal
e Inter Pessoal, contudo aborda-se de forma simplista esses
relacionamentos da Inteligência Pessoal, pois enveredar neste caminho,
fugiria ao objetivo central deste trabalho, mas, a título de subsídio a
esse desenvolvimento...
“Enquanto cada uma das nossas outras inteligências foi
confortavelmente discutida independentemente das outras, aqui
vinculei duas formas de inteligência.
Certamente, cada forma apresenta seu próprio atrativo, estando a
INTELIGÊNCIA INTRAPESSOAL envolvida principalmente no
exame e no conhecimento que o indivíduo faz de seus próprios
sentimentos, enquanto a INTELIGÊNCIA INTERPESSOAL olha
para fora, em direção ao comportamento, sentimentos e
motivações dos outros.”
(in capítulo 10 "As Inteligências Pessoais", à página 184 do
livro "Estruturas da Mente - A Teoria das Inteligências
Múltiplas")
33..33 AA IINNTTEELLIIGGÊÊNNCCIIAA PPIICCTTÓÓRRIICCAA
Howard Gardner, em suas obras, não fala na inteligência
pictórica e nem mesmo a aceitou quando “apresentado” a ela por Nilson
Machado em um seminário sobre inteligências múltiplas realizado em
São Paulo aqui no Brasil. Gardner não duvida de que competências
51
pictóricas e a conseqüente capacidade de reproduzir ou criar imagens
por meio de traços ou cores sejam inerentes ao ser humano, e que ela
se mostra particularmente elevada em poucos, mas não acredita que
essa possibilidade caracterize uma inteligência e, portanto, passe pelos
oito pontos básicos para sua existência.
Gardner aponta oito “sinais” ou “critérios” que considera
essenciais para que uma competência possa ser incluída como uma
inteligência.
Afirma ele não incluir como tal, conhecimentos que
apresentam um ou dois dos seguintes sinais:
1. IDENTIFICAÇAO DA “MORADA” DA INTELIGENCIA POR
DANO CEREBRAL.
2. A EXISTENCIA DE INDIVIDUOS EXCEPCIONAIS EM ÁREAS
ESPECÍFICAS DA SOLUÇÃO DE PROBLEMAS OU CRIAÇÃO.
3. GATILHO NEURAL PRONTO PARA SER DISPARADO EM
DETERMINADOS TIPOS DE INFORMAÇÃO INTERNA OU
EXTERNA.
4. A SUSCETIBILIDADE À MODIFICAÇÃO DA INTELIGENCIA
POR TREINAMENTO.
5. UMA HISTÓRIA DE PLAUSIBILIDADE EVOLUTIVA.
6. EXAMES ESPECÍFICOS POR MEIO DE TAREFAS
PSICOLÓGICAS ESPERIMENTAIS.
7. APOIO DE EXAMES PSICOMETRICOS.
8. A CRIAÇAO DE UM SISTEMA SIMBÓLICO ESPECÍFICO.
NOTA: Deixa-se de comentar cada um desses critérios pois
suas definições, fogem ao tema principal deste trabalho,
contudo eles podem ser estudados no capítulo 05 - O Que São
Inteligências Múltiplas - , à página 25, do livro As Inteligências
Múltiplas e Seus Estímulos, de Celso Antunes da Papirus
Editora, Campinas, SP.
52
Em sua obra "Mentes Que Criam", Gardner analisa
cuidadosamente o talento e o prodígio de Picasso e destaca-o como
verdadeiro ícone caracterizador das inteligências espacial, cinestésica
corporal e interpessoal. Acredita que o pintor, o ilustrador ou mesmo o
especialista em computação gráfica não expressem a qualidade
especifica da inteligência pictórica, como pretende Machado, mas
externem sensibilidade espacial para captar a composição que ilustram,
destreza cinestésica para executar essa composição e até mesmo a
capacidade de administrar a percepção interpessoal sobre como outras
pessoas podem valorizar os traços ou a pintura que apresentam. Em
síntese, podemos identificar a polêmica: para Nilson Machado, a
extrema competência pictórica é uma inteligência, para Gardner, ela é o
fluxo de três inteligências atuando de forma simultânea.
Para o educador, essa polêmica não necessita, no entanto,
atravessar os limites acadêmicos de sua discussão; bem mais
importante que aceitá-la como independente ou não, parece ser a
capacidade de pais e professores para:
1)saber percebê-la;
2)reconhecê-la como linguagem autônoma que, portanto,
pode representar expressão válida do conhecimento; e
3)descobrir “ferramentas” capazes de estimulá-la.
A percepção da inteligência pictórica é identificada pela
capacidade de
expressão por meio do traço, pela sensibilidade para dar
movimento, beleza e expressão a desenhos e pinturas, pela
autonomia;
para apanhar as cores da natureza e traduzi-las em uma
apresentação;
seja pela pintura clássica, seja pelo desenho publicitário.
53
Manifesta-se também pela formidável síntese expressa em
algumas caricaturas, pelo uso de linguagens específicas de computador.
É assim a inteligência de Pablo Picasso, e certamente também
a de precursores renascentistas extraordinários como Gíotto e Botticelli,
e naturalmente Rafael, Leonardo da Vinci, Michelângelo e muitos outros
vultos do renascimento de várias origens. Da mesma forma como
outras inteligências, a competência pictórica pode alcançar pessoas
simples — belíssimos quadros são vistos em obras primitivas — e
revelar progresso sensível, claramente expresso, entre outras, nas
obras de nosso Portinari. Mas essa habilidade não reside apenas na
pintura. As histórias em quadrinhos destacam expressivos modelos
dessa capacidade de imprimir força, beleza e movimento aos traços, e
cartunistas como Bill Anderson, criador de Calvin e Haroldo, e muitos
outros possuem certamente extraordinário poder de “falar” usando a
linguagem pictórica.
Localizada em ponto a ser definido do hemisfério direito do
cérebro, nessa inteligência, é bem mais difícil reconhecer o valor de
expressão do saber do que propriamente admiti-la como muito
expressiva em algumas pessoas. A metáfora apresentada a seguir - O
Luisinho da Segunda Fila - , extraída do livro de Celso Antunes,
"Marinheiros e Professores", procura ilustrar, ainda que com sarcasmo,
o difícil reconhecimento pedagógico do saber de um aluno com essa
inteligência.
(transcrição do texto citado, extraído do livro " Marinheiros e
Professores" de Celso Antunes)
""OO LLUUIISSIINNHHOO DDAA SSEEGGUUNNDDAA FFIILLAAMarcelo é um excelente professor de geografia. Na aula
sobre o Pantanal, até excedeu-se. Falou com entusiasmo, relatou
com detalhes, descreveu com precisão. Preencheu a lousa com
critério, soube fazer com que os alunos descobrissem na
54
interpretação do texto do livro a magia dessa região quase
selvagem. Exibiu um vídeo, congelou cenas e enriqueceu-as com
detalhes, com fatos experimentados, acontecimentos do dia-a-dia
de cada um.
Em sua prova, é evidente, não deu outra: uma redação
sobre o tema e questões operatórias que envolviam o Pantanal.
Seus rios, suas aves, sua vegetação.., a planície imensa. Os alunos
acharam fácil. Apanharam suas folhas e começaram a trazer,
palavra por palavra, suas imagens para o papel. As canetas
corriam soltas e as linhas transformavam-se em parágrafos.
Marcelo sabia o quanto teria de corrigir, mas vibrava... Sentia que
os alunos aprendiam. Descobria o interesse que sua ciência
despertava. Não pôde conter uma emoção diferente quando
Heleninha, sua aluna predileta, foi até sua mesa e arfante solicitou:
— Posso pegar mais uma folha em branco?
O único ponto de discórdia. o único sentimento opaco que
aborrecia Marcelo, era o Luisínho, aquele da segunda fila. “Puxa
vida!” pensava. Luisinho assistira a todas as suas aulas, arregalara
os olhos com as explicações e agora, na prova, silêncio absoluto,
imobilidade total... nem sequer unia linha. Sentiu ímpetos de
esganar Luisinho. Mas, tudo bem, não queria se irritar. Luisinho
pagaria seu preço, iria certamente para a recuperação. Se
duvidassem, poderia, até mesmo, levá-lo à retenção. Seria até
possível arrancar um ano inteirinho de sua vida.
Minutos depois, avisou que o tempo estava terminando.
Que entregassem as folhas. Viu então que, rapidamente. Luisinho
desenhou, na primeira página das folhas de prova, o Pantanal.
Rico, minucioso, preciso. Marcelo emocionou-se ao ver aquele
quadro de irretocável perfeição nas mãos de Luisinho. que coloria
as últimas sobras. Entusiasmado. indagou: “E aí, Luís, você já
esteve no Pantanal ?“ Não. Luisinho jamais saíra de sua cidade.
55
Construiu sua imagem com base nas aulas assistidas. Marcelo
sentiu-se. um gigante e, de repente, descobriu-se o próprio Piaget.
Havia, com suas palavras. construído uma imagem completa,
correta e absoluta na mente de seu aluno.
Mas deu zero na redação. É claro. Naquela escola não era
permitido que se rabiscassem as folhas de prova."
A história de Luisinho repete-se em muitas escolas ainda hoje.
Sua inteligência pictórica é imensa, colossal, lúcida, clara e contrasta
visivelmente com as limitações de sua competência verbal. Expressou o
que sabia, da maneira como conseguia.
Mas não são todos os professores que se encontram treinados
para ouvir linguagens diferentes das que a escola institui como única e
universal.
Existem muitas maneiras de estimular essa capacidade. O
primeiro desafio a ser vencido consiste em abandonar a idéia de que a
“beleza” de uma reprodução pictórica está limitada à capacidade de
cópia do objeto que se quer representar. Cada ser humano “vê” a
natureza de forma diferente do outro ser humano. Valorizar sua
representação é aceitar outras maneiras de identificar essa visão. Se o
cavalo desenhado por uma criança de 5 anos se parece muito diferente
da forma como um adulto enxerga cavalos, é provável que exista muito
mais urna deficiência na aceitação de que existem outras maneiras de
ver coisas do que uma limitação no desenho, e também uma correção
preocupada em mostrar se o cavalo está certo ou errado. Desenho não
é fotografia e não se pode esperar que se enquadre nas limitações
desta. A criança, quando desenha, enxerga o que seus olhos percebem,
mas também, e principalmente, o que percebe sua espacialidade e,
dessa forma, não pode ser limitada a fazer desenhos “bonitos” apenas
porque eles se parecem com fotografias.
O simples reconhecimento óbvio de que “pessoas diferentes
enxergam as coisas de maneiras diferentes das quais enxergamos” já
56
representa uma aceitação mais ampla da criatividade do desenho e essa
criatividade precisa ser estimulada. No exemplo ilustrado pela metáfora
descrita, seria absurdo o professor Marcelo ignorar que Luisinho efeti-
vamente aprendeu tudo sobre o Pantanal, ainda que sua expressão
desse saber se mostrasse diferente do esperado.
Assim como é possível descrever um conceito com palavras, é
possível pensar que outros signos, além das letras, possam ser usados
para sua expressão. Nesse sentido, por que não estimular o aluno a
descrever usando sons, gestos, e, no caso específico da inteligência
pictórica, apenas a desenhar? O pai que “brinca” com a filha pedindo
que ela desenhe sua “raiva”, sua “alegria”, sua “esperança” é tão
importante estimulador da linguagem pictórica quanto o que aceita que
a criança possa identificar cores alegres ou tristes, sisudas ou
barulhentas. Afinal de contas, nossa tradição cultural já há muitos anos
não aceita cores frias e quentes? Por que então não estender essa
percepção pictórica para formas de expressão bem mais amplas?
Vista como forma de linguagem, essa inteligência se relaciona
com a inteligência lingüística, a espacial, a musical e ainda outras.
Experiências que visam integrar a comunicação gráfica com a
expressão verbal ou sonora geralmente se traduzem em sugestivas
descobertas pedagógicas.
33..44 CCAARRAACCTTEERRÍÍSSTTIICCAASS DDAASS IINNTTEELLIIGGÊÊNNCCIIAASS MMÚÚLLTTIIPPLLAASS
33..44..11 IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO
Os quadros apresentados a seguir, visam:
• auxiliar o entendimentos das Inteligências Múltiplas,
• apresentam suas presumíveis localizações no cérebro,
• suas descrições de forma resumida,
• a relação de cada uma com as demais,
• as habilidades que facilitam seus estímulos, bem como
57
• os agentes responsáveis por seus desenvolvimentos.
Este trabalho se utilizará particularmente da Inteligência
Pictórica mas ressalta-se que, como bem pode-se observar nos
quadros, todas as demais, em maior ou menor grau, interagem com a
Inteligência Pictórica dando base à razão primeira deste trabalho que é
a materialização do encontro entre seres humanos através de uma das
ferramentas - o desenho - da Arte terapia.
58
3.4.2 QUADRO DAS INTELIGÊNCIASMÚLTIPLAS
IINNTTEELLIIGGÊÊNNCCIIAA2.1.1 D
ESCRIÇÃO
RELAÇÃO COM ASOUTRAS
AGENTESESTIMULADOR
ES
59
L INGUISTICA
Hemisférioesquerdo.Vocabulário = lobofrontal acima dolobo temporal.Linguagem = lobotemporal
Capacidade de processarrapidamente mensagenslingüísticas, de ordenarpalavras e de dar sentidolúcido às mensagens
Relaciona-se com todasas demais e,particularmente com aInteligência Lógico-Matemática e aInteligência CinestésicaCorporal.
Descrever,Narrar,Observar,Comparar,Relatar,Avaliar,Concluir,Sintetizar.
Pais,Avós,Professores emgeral,Amigos
LLÓÓGGIICCOO--MMAATTEEMMÁÁTTIICCAALobos frontais eParietaisesquerdos
Facilidade para cálculo e para apercepção da geometriaespacial. Prazer específico emresolver problemas embutidosem palavras cruzadas,charadas ou problemas lógicoscomo os jogos de tabuleiros(xadrez, gamão, etc.)
Bem com aInteligência Lingüística,com a Espacial, com aCinestésica Corporal eprincipalmente com aInteligência Musical.
Enumerar,Seriar,Deduzir,Medir,Comparar,Concluir,Provar,
PaisProfessoresEspecificamenteTreinados
EESSPPAACCIIAALLHemisfério direito
Capacidade de perceber formase objetos mesmo quandoapresentados em ângulos nãousuais.Capacidade de perceber omundo visual com precisão, deefetuar transformações sobreas percepções.Capacidade de imaginarmovimento ou deslocamentointerno entre as partes de umaconfiguração.Capacidade de recriar aspectosda experiência visual e deperceber as direções no espaçoconcreto e abstrato
Relaciona-se com todasas demais,especialmente com aInteligência Lingüística,a Inteligência Musical ea InteligênciaCinestésica Corporal
Localizarnoespaço,Localizarno tempo,Comparar,Observar,Deduzir,Relatar,Combinar,Transferir.
Pais,Professores,Alfabetizadoreslingüísticos eCartógrafos
60
QUADRO DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS((ccoonnttiinnuuaaççããoo 33..44..22))
IINNTTEELLIIGGÊÊNNCCIIAA2.1.3
RELAÇÃO COMAS OUTRAS 2.1
AGENTESESTIMULADOR
ES
MMUUSSIICCAALLHemisfério direito,Lobo frontal
Facilidade para identificarsons diferentes, percebernuanças em suaintensidade edirecionalidade.Reconhecer sons naturaise, na música, perceber adistinção entre tom,melodia, ritmo, timbre efreqüência. Isolar sons emagrupamentos musicais.
Mais intensamentecom a Lógico-Matemática e comas InteligênciasPictórica eCinestésicaCorporal.
Observar,Identificar,Relatar,Reproduzir,Conceituar,Combinar.
Pais,Avós,Professoresdevidamentesensibilizados.
CINESTÉSICA
CORPORAL
Hemisfério esquerdo
Capacidade de usar opróprio corpo de maneiradiferenciada e hábil parapropósitos expressivos.Capacidade de trabalharcom objetos, tanto os queenvolvem motricidadeespecífica quanto os queexploram uso integral docorpo.
Principalmentecom a InteligênciaLingüísticas, com aInteligênciaEspacial e aInteligênciaPictórica.
Comparar, Medir,Relatar, Transferir,Demonstrar,Interagir,Sintetizar,Interpretar,Classificar.
Pais,Instrutores dedança eesportes,Professores
Hemisfério direito
Capacidade de expressãopor traço, desenho oucaricatura.Sensibilidade para darmovimento e beleza adesenhos e pinturas,autonomia para captar eretransmitir as cores danatureza.Movimentar-se comfacilidade em diferentesníveis da computaçãográfica.
InteligênciaLingüística,InteligênciaEspacial,InteligênciaCinestésicaCorporal, masprincipalmentecom a InteligênciaMusical.
Observar, Refletir,Reproduzir,Transferir, Criticar,Concluir.
Pais,Professoresespecialmentepreparados.
61
QUADRO DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS((ccoonnttiinnuuaaççããoo 33..44..22))
IINNTTEELLIIGGÊÊNNCCIIAA2.1.5
RELAÇÃO COM ASOUTRAS 2
AGENTESESTIMULADO
RES
Hemisfério direito(presumivelmente)
Atração pelo mundonatural e sensibilidadeem relação a ele.Capacidade deidentificação dalinguagem natural ecapacidade de êxtasediante da paisagemhumanizada ou não.
Com todas as demais,especificamente com asInteligênciasLingüísticas, com aInteligência Musical ecom a InteligênciaEspacial.
Relatar,Demonstrar,Selecionar,Levantarhipótese,Classificar,Revisar
Avós,Pais,Professores
Interpessoal eIntrapessoalLobos frontais
InterpessoalCapacidade de percebere compreender outraspessoas, descobrir asforças que as motivam esentir grande empatiapelo indistinto.IntrapessoalCapacidade de auto-estima, automotivação,de formação de ummodelo coerente everídico de si mesmo edo uso desse modelopara operacionalizar aconstrução de felicidadepessoal e social.
A Inteligências Pessoaisinteragem e relacionam-se com todas asdemais, particularmentecom a InteligênciaLingüística, com aInteligência Naturalistae com a InteligênciaCinestésica Corporal.
Interagir,Perceber,Relacionar-secom empatia.Apresentar auto-estima e auto-conhecimento.Ser ético
PaisPsicólogosProfessoresdevidamenteTreinados.
62
CCAAPPÍÍTTUULLOO IIVV
AARRTTEE TTEERRAAPPIIAA
A Arte Terapia pode ser entendida como sendo um processo
terapêutico que utiliza como instrumento as mais diversas modalidades
expressivas - pintura, escultura, desenho, colagens, mitos, contos de
fadas, e outros recursos complementares como a dança, a música, o
teatro, e diversos outros.
Essas imagens simbólicas são aquelas que expressam os
níveis mais profundos do inconsciente: são imagens que possibilitam o
confronto das informações nelas contidas, vindas dos cantos mais
obscuros da alma humana, para o nível da consciência. São imagens
que propiciam verdadeiro insight e conseqüente transformação e
expressão da estrutura psíquica.
A Arte Terapia utiliza a arte no processo terapêutico, mas a
arte entendida como processo expressivo, ou seja, linguagens que vão
possibilitar uma ”nova” forma de comunicação.
Arte, portanto, sem preocupação estética, sem dependência a
técnicas elaboradas; arte que privilegia a expressão, a criação singular,
a comunicação; arte que tem como universo dominante a
sensoralidade, a materialidade e o lúdico.
Os vários recursos expressivos usados pela Arte Terapia
permitem que fatos do inconsciente sejam simbolizados e configurados
em imagens.
Assim, conflitos esquecidos, afetos reprimidos, talentos
escondidos ou freados, são desvendados. E a descoberta do significado
desses eventos psíquicos, ou a condução destes à consciência, através
da materialização das imagens, ampliam a possibilidade de estruturação
da personalidade da pessoa.
63
Quando o indivíduo materializa o símbolo, ou seja, quando ele
cria uma imagem concreta que o representa, está no caminho da
compreensão, transformação e expressão de sua personalidade.
44..11 AANNTTEESS AARRTTEESS DDOO QQUUEE NNUUNNCCAA
A arte faz parte das nossas vidas e faz parte por inteiro,
integralmente.
Ela está presente a cada instante, em todas os lugares e em
todas as ocasiões. Nas coisas mais simples como tomar banho, se
alimentar ou emitir um cheque, por exemplos. Ela é como o ar que
respiramos. Não nos damos conta dessa presença pois fomos educados
- programados - para "entender" arte como inerente aos artistas. Mas
todos nós, queiramos ou não, somos artistas e produzimos arte
consciente ou inconscientemente.
Para que o véu que encobre nosso olhar caia e possamos
vislumbrar o caminho, quebrando essas amarras da nossa programação
tacanha, lista-se, a seguir, o que pensam e expressaram alguns nomes
de renome desta área ou da área da sensibilidade.
"As atividades confluem a uma orientação natural para a reflexão"
(SARA PAIN / GALDYS JARREAU - 1996)
"A arte surge a meio caminho do homem e do universo. Nela se
reconhece, encontra seus pensamentos e seus sentimentos, ao
mesmo tempo que faz aquilo que o cerca e que não é ela. (...)"
(RENÉ HUYGHE - 1967)
" A mente humana é uma intrincada estrutura, um verdadeiro
labirinto, que é orientado, guiado, sinalizado igualmente pela razão
e pela emoção e aí, mesmo tendo certeza plena dos nossos
objetivos, sucumbimos aos encantos da emoção e tomamos
64
veredas e atalhos que nos levam a lugares lindíssimos e, por
vezes, perigosíssimos."
(FREI LEÔNCIO - SEC. XII)
"O homem é este ser que faz imagem.
O homem é este ser que se faz das imagens.
O homem é este ser que faz as imagens"
(B.CAPELIER 1980)
"(...) o objetivo do terapeuta na atividade artística é justamente
tentara tirar o sujeito de seu delírio por intermédio da matéria."
(ler O Barro - G. Bachelard 1948)
"O processo da Arte Terapia está centrado na pesquisa do sujeito
para encontrar e elaborar um universo de imagens significantes de
seus conflitos subjetivos."
"Além disso, o trabalho plástico constitui um cenário privilegiado
para fazer viver no sujeito o encontro que Freud chamou "o
princípio de realidade" e "o princípio de prazer", visto que as leis da
matéria e as leis da ideação estética devem achar um lugar de
acordo."
(SARA PAIN - 1996)
"A tarefa da Arte Terapia será estabelecer conexões entre as
imagens que emergem do inconsciente e a situação emocional que
esta sendo vivenciada pelo indivíduo."
(NICE DA SILVA - 1952)
"A arte não é exclusiva dos artistas e sim própria do ser humano,
porque é fator de emoção."
(ANKA MEIER - 1998)
65
"Não é preciso recolher-se (...), para dar asas à imaginação e para
brotar a arte dentro de nós."
(CAMILLE CLAUDEL - 1943)
"A arte transforma-se numa linguagem composta de imagens e
símbolos (...)"
(ODSON COSTA - 1998)
"A arte não pensa. O olho vê, a lembrança revê e a imaginação
transvê"
(MANUEL DE BARROS - 1997)
Diante desses pensamentos e expressões, não é difícil, para
qualquer tipo de conexão neurônica, entender que se as terapias
apontam o caminho e que se este não lhe é agradável, tente a arte
porque . . .
AANNTTEESS AARRTTEESS DDOO QQUUEE NNUUNNCCAA
66
CCAAPPÍÍTTUULLOO VV
AA IINNTTEERRRREELLAACCIIOONNAALLIIDDAADDEE EENNTTRREE AARRTTEE TTEERRAAPPIIAA,,
TTEEOORRIIAA DDOO EENNCCOONNTTRROO,, IINNTTEELLIIGGÊÊNNCCIIAASS MMÚÚLLTTIIPPLLAASS
Até aqui, tomou-se conhecimento da Teoria Centrada na
Pessoa de Rogers (Carl Ransom Rogers) e o seu pensamento sobre o
encontro, assistiu-se o surgimento da Gestalt-terapia pela teoria de
Fritz Perls (Frederick Salomon Perls) e o seu pensamento sobre o
encontro, conheceu-se a Teoria das Inteligências Múltiplas de Gardner
(Howard Gardner) e suas normas para que uma inteligência seja
identificada como uma das Inteligências Múltiplas e acompanhou-se o
raciocínio do educador Celso Antunes descrevendo a Inteligência
Pictórica e pode-se, através do Quadro das Inteligências Múltiplas ter
uma visão geral das Inteligências incluída a Inteligência Pictórica.
Mas um pensamento certamente assalta-nos.
O que esses conhecimentos têm em comum para atingimento
do objeto deste trabalho?
Em que a Teoria do Encontro de Carl Rogers / Fritz Perls, a
Inteligência Pictórica e a ferramenta desenho da Arte Terapia, se
relacionam para obtenção da materialização do encontro?
Entende-se que há essa relação e se mostrará essa relação
sem a qual nada fará sentido neste trabalho.
Buscou-se na matemática o caminho para tanto.
Acompanhem.
67
55..11 AA RREELLAAÇÇÃÃOO EENNTTRREE IINNTTEELLIIGGÊÊNNCCIIAA MMÚÚLLTTIIPPLLAASS EE
AARRTTEE TTEERRAAPPIIAA
O raciocínio utilizado para apresentar esta relação entre a
Inteligência Múltipla – particularmente a Inteligência Pictórica – e a Arte
Terapia é o mesmo artifício utilizado pela matemática abordado no
Capítulo V anterior.
Vamos ao raciocínio:
Como analisou-se no capítulo 3.4.2. Quadro das Inteligências
Múltiplas,
2.1.7 “INTELIGÊNCIA PICTÓRICA
Capacidade de expressão por traço, desenho ou caricatura.
Sensibilidade para dar movimento e beleza a desenhos e pinturas,
autonomia para captar e retransmitir as cores da natureza.
Movimentar-se com facilidade em diferentes níveis da computação
gráfica.”
E no capítulo IV Definição de Arte terapia,
“A Arte Terapia pode ser entendida como sendo um processo
(...) (...) que utiliza como instrumento as mais diversas modalidades
expressivas - pintura, escultura, desenho, colagens, mitos, contos de
fadas (...), e (...) diversos outros.
Se a = b, eSSee bb == cc,,
EEnnttããoo cc == aa
68
Essas imagens simbólicas são (...) a arte (...) sem
preocupação estética, sem dependência a técnicas elaboradas; arte que
privilegia a expressão, a criação singular, a comunicação; arte que tem
como universo dominante a sensoralidade, a materialidade e o lúdico.”
Então, acredita-se que basta reler essas definições de
Inteligência Pictórica e Arte Terapia, para se perceber e, indo mais
além, aceitar, com bastante facilidade a total e inequívoca relação entre
elas.
Mas se assim não for, retorna-se ao artifício matemático para
mostrar essa relação.
Acompanhando:
Se a Inteligência Pictórica utiliza o desenho com o propósito
de se fazer presente,
Se a Arte Terapia utiliza o desenho com o propósito de se
fazer presente,
Então a Inteligência Pictórica e a Arte Terapia, unidas pelo elo
do desenho, tem a mesma relação e o mesmo propósito de se
fazerem presentes.
69
55..22 AA RREELLAAÇÇÃÃOO EENNTTRREE TTEEOORRIIAA DDOO EENNCCOONNTTRROO EE
AARRTTEE TTEERRAAPPIIAA
O raciocínio utilizado para apresentar esta relação entre a
Teoria do Encontro e a Arte Terapia, é o mesmo artifício utilizado pela
matemática abordado na introdução do capítulo V.
Vamos ao raciocínio:
Como premissa, lembremos que a) Rogers é um
existencialista, e como tal, acredita que a “pessoa pode mudar suas
escolhas, seus ambientes configurando um novo espaço, uma nova
realidade e tudo isso em função da atividade que ela escolher.”, b) que
sua Teoria dá-se dentro do ambiente da fenomelogia, e c) a definição
de FENÔMENO: ”fenômeno é o que aparece”.
Carl Rogers afirma, como leu-se no capítulo 1.2. A Teoria
Rogeriana,
“Quase que como uma expressão matemática, Rogers afirma
que se você conseguir desenvolver bem esse seu conhecimento
subjetivo (o que você quer, o que tem valor para você), com o seu
conhecimento e do outro, você desenvolve o conhecimento objetivo dos
seus conteúdos, de uma forma muito forte.”
E no capítulo 2.2. A GESTALT
“. . . configuração de partes que juntas constituem um novo
sistema, em todo significativo (..) as partes nunca podem proporcionar
Se a = b, eSSee bb == cc,,
EEnnttããoo cc == aa
70
uma real compreensão do todo, que emerge desta configuração de
interações e interdependências de partes constituintes. . . .”
No capítulo IV Definição de Arte Terapia, temos:
“A Arte Terapia pode ser entendida como sendo um processo
(...) utiliza como instrumento as mais diversas modalidades expressivas
- pintura, escultura, desenho, (...) e diversos outros.
(...) essas imagens simbólicas são aquelas (...) que
possibilitam o confronto das informações (...) vindas dos cantos mais
obscuros da alma humana, para o nível da consciência. (...) Arte (...)
sem preocupação estética, sem dependência a técnicas elaboradas; arte
que privilegia a expressão, a criação singular, a comunicação; arte que
tem como universo dominante a sensoralidade, a materialidade e o
lúdico (...) quando o indivíduo materializa o símbolo, ou seja, quando
ele cria uma imagem concreta que o representa, está no caminho da
compreensão, transformação e expressão de sua personalidade.” – é
quando o indivíduo sabe o que quer (acréscimo de raciocínio
diferentemente do original)
Então, acredita-se que:
Se a Teoria do Encontro afirma que “o que você quer, o que
tem valor para você e – (...) “as partes nunca podem proporcionar
uma real compreensão do todo, que emerge desta configuração de
interações e interdependências de partes constituintes. . . .” ;
Se a Teoria das Inteligências Múltiplas – particularmente a,
Inteligência Espacial e sua Relação com a Inteligência Pictórica - afirma
que “(...) capacidade de perceber e efetuar transformações sobre as
percepções (...)” ,
Então a Teoria do Encontro e a Teoria das Inteligências
Múltiplas, estão relacionadas através do elo das interações e
transformação das percepções humanas.
71
Então, acredita-se que basta reler esses tópicos das Teoria do
Encontro e da Arte Terapia para se perceber e, indo mais além, aceitar,
com bastante facilidade a total e inequívoca relação entre elas.
Mas se assim não for, retorna-se ao artifício matemático para
mostrar essa relação.
Acompanhando:
Se Carl Rogers, quando formulou a Teoria do Encontro –
também utilizada por Fritz Perls - utiliza a percepção humana com o
propósito de se fazer entender,
Se a Arte Terapia utiliza a percepção humana com o propósito
de se fazer entender,
Então Teoria do Encontro e a Arte Terapia, unidas pelo elo da
percepção humana, tem a mesma relação e o mesmo propósito de se
fazerem entender.
55..44 AA RREELLAAÇÇÃÃOO EENNTTRREE TTEEOORRIIAA DDOO EENNCCOONNTTRROO EE
IINNTTEELLIIGGÊÊNNCCIIAA MMÚÚLLTTIIPPLLAA
O raciocínio utilizado para apresentar esta relação entre a
Teoria do Encontro e a Teoria das Inteligências Múltiplas –
particularmente a Inteligência Pictórica (ferramenta/objeto deste
trabalho) é o mesmo artifício utilizado pela matemática abordado nos
capítulos V.
Vamos ao raciocínio:
Se a = b, eSSee bb == cc,,
EEnnttããoo cc == aa
72
Como premissa, lembremos que Rogers era um existencialista,
e como tal, acredita que a “pessoa pode mudar suas escolhas, seus
ambientes configurando um novo espaço, uma nova realidade e tudo
isso em função da atividade que ela escolher.”
Carl Rogers afirma, como leu-se no capítulo 1.2. A Teoria
Rogeriana,
“Quase que como uma expressão matemática, Rogers afirma
que se você conseguir desenvolver bem esse seu conhecimento
subjetivo (o que você quer, o que tem valor para você), com o seu
conhecimento e ou outro, você desenvolve o conhecimento objetivo dos
seus conteúdos, de uma forma muito forte.” , e mais “(...) o ser possui
uma inteligência interna chamada de inteligência organística que é o
mesmo que ter a capacidade interna de escolher o que é melhor para si
(...), (...) todos tem uma inteligência, uma sabedoria interna de
escolher o melhor para si e quando isso não acontece, é porque estão
alienados, estão distantes do contato consigo mesmo.”
E no capítulo 2.2. A GESTALT
“. . . configuração de partes que juntas constituem um novo
sistema, em todo significativo (..) as partes nunca podem proporcionar
uma real compreensão do todo, que emerge desta configuração de
interações e interdependências de partes constituintes. . . .”
No capítulo 3.1. A Teoria das Inteligências Múltiplas, temos:
“(...) é um erro pensar que existe uma única inteligência (...)
todos nós temos tipos diferentes de mente e diferentes tipos de
inteligências (...), (...) todos temos todas, mas elas têm uma certa
independência neurológica a ponto de funcionarem perfeitamente mais
em uma, menos em outras.”
73
Então, acredita-se que basta reler esses tópicos das Teoria do
Encontro e das Inteligências Múltiplas para se perceber e, indo mais
além, aceitar, com bastante facilidade a total e inequívoca relação entre
elas.
Mas se assim não for, retorna-se ao artifício matemático para
mostrar essa relação.
Acompanhando:
Se Carl Rogers, quando formulou a Teoria do Encontro –
também utilizada por Fritz Perls - utiliza a imagem da inteligência
interna do ser humano com o propósito de se fazer entender,
Se Howard Gardner, quando formulou a Teoria das
Inteligências Múltiplas utiliza a imagem da inteligência interna do ser
humano com o propósito de se fazer entender,
Então Teoria do Encontro e a Teoria das Inteligências
Múltiplas, unidas pelo elo da imagem da inteligência interna do ser
humano, tem a mesma relação e o mesmo propósito de se fazerem
entender.
5.6 CCOONNCCLLUUSSÃÃOO
Pode parecer ao primeiro exame que o artifício matemático,
por ser tão simples, foi uma "invenção" utilizada para se atingir o
objetivo, todavia é bom que se esclareça que o raciocínio matemático
existe e que o fato de ser de fácil compreensão não o impede de ser
largamente aplicado em todos (TODOS) os exercícios matemáticos dos
mais elementares quanto aos mais complexos toda vez que se quer
provar uma relação.
Acredita-se com a descrição da relação entre as Teorias do
Encontro e a Arte Terapia, a relação entre a Teoria do Encontro (TE) e a
Teoria das Inteligência Múltiplas (IM), a relação entre a Teoria do
Encontro (TE) e a Arte Terapia (AT) e, por último, a relação entre a
74
Teoria das Inteligências Múltiplas (IM) e a Arte Terapia (AT), consegue-
se, sem dificuldade entender e (usando um termo mais familiar ao
existencialismo) perceber a interrelacionalidade entre elas, mas,
mesmo já tendo-se aceitado esse raciocínio, volta-se a utiliza-lo.
A matemática encerra expressando-se : CQD (como se queria
demonstrar) e, mais uma vez utiliza-se dela para expressar-se
exatamente como ela: CQD
AA DDIINNÂÂMMIICCAA
Se TE =IM, eSe IM = AT,
EEnnttããoo TTEE == AATT
75
CCAAPPÍÍTTUULLOO VVII
CCOOMMOO RREEPPRREESSEENNTTAARR AA TTEEOORRIIAA DDOO EENNCCOONNTTRROO
AATTRRAAVVÉÉZZ DDAA AARRTTEE TTEERRAAPPIIAA UUTTIILLIIZZAANNDDOO AA
IINNTTEELLIIGGÊÊNNCCIIAA PPIICCTTÓÓRRIICCAA
66..11 IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO
Com a conclusão da apresentação sucinta da teoria na Parte I,
entra-se na parte mais agradável de toda esta exposição - A dinâmica.
Como já foi exposto anteriormente, a dinâmica inicialmente
imaginada como "inédita"(*), é a de reunir um grupo de pessoas, mas
não um grupo de encontro como preconiza Rogers, mas um grupo
qualquer - qualquer mesmo - e incentiva-los, através da facilitação
(papel do facilitador) do que se pretende.
Como se perceberá adiante, é uma dinâmica simples, os
participantes são pessoas as mais comuns, os materiais utilizados são
os mais conhecidos e os ambientes são os normalmente freqüentados
por todos. Nada há nada de especial e nada há de excepcional.
Partindo-se do princípio que a dinâmica objetiva materializar o
encontro, utilizando-se a Inteligência Pictórica, através da Arte Terapia,
que, como já foi explicado nos capítulos anteriores, é o encontro de
cada um com cada um, os participantes não devem ser pré-
selecionados, selecionados, escolhidos, indicados, convidados ou
qualquer outra forma de condução. O ambiente não deve ser
preparado, arrumado, incensado ou qualquer outra arrumação que
modifique, altere suas características originais. Os materiais nada
devem ter de especiais e por isso devem ser os mais comuns, os
encontrados com facilidade em qualquer papelaria e utilizados pelas
crianças nas escolas. Nada de tintas especiais, nada de pincéis
76
especiais, nada de papéis especiais e nada que desvie a atenção dos
participantes.
Eles devem ser despertados a participar da dinâmica, pela
curiosidade da novidade exposta pelo facilitador (já conhecemos o
termo).
Se perceberá que os trabalhos expõem o encontro entre as
pessoas (como minuciosamente explicado no Capítulo 6.2 - O
DESENVOLVIMENTO DA DINÂMICA) porque cada qual, ao registrar, ao
traçar no papel o imaginado, imprime também seu "self" (já
conhecemos o termo) e o resultado final resulta no encontro da pessoa
com todos do grupo.
Desta forma convida-se o acompanhamento passo a passo das
etapas seguintes.
(*) Na Introdução deste trabalho explica-se o porque do termo "inédita"
está entre aspas.
66..22 OO DDEESSEENNVVOOLLVVIIMMEENNTTOO DDAA DDIINNÂÂMMIICCAA
O desenvolvimento da dinâmica proposta, está dividido em 05
(cinco) momentos:
a) PRIMEIRO MOMENTO : relaxamento
b) SEGUNDO MOMENTO : leitura de texto elucidativo
c) TERCEIRO MOMENTO : a concretização do encontro
d) QUARTO MOMENTO : identificação/complementariedade
e) QUINTO MOMENTO : depoimentos
a) PRIMEIRO MOMENTO (relaxamento)
O facilitador (e não líder, e não chefe e não orientador, como
preconceitua Rogers) do grupo, a título de relaxamento, de dispersão
77
das tensões geradas pela tão natural curiosidade humana, explicará
sucintamente a teoria de Carl Rogers (sem cita-lo) que:
X Nada tem produção expontânea
X As coisas só acontecem no encontro
X Que é verdadeira a máxima de Fritz Perls (sem cita-lo):
"Eu sou eu. Você é você. Se nós nos encontrarmos, vai
ser lindo, mas se nós não nos encontrarmos, nada vai
acontecer."
b) SEGUNDO MOMENTO (leitura do texto elucidativo)
O facilitador faz a leitura de parte do texto "O QUE É A MENTE" extraído
do capítulo 8, do livro Modificação do Comportamento e Auto-
Realização, de Jorge Renato Johann, Edições Paulinas, São Paulo, SP,
1985 que segue transcrito ao final deste capítulo.
c) TERCEIRO MOMENTO (a concretização do encontro)
A concretização se dá utilizando-se de um grupo de 12/15 pessoas (um
grupo maior dispensaria um tempo maior de realização e a
concentração se dispersaria. Esse número nada tem de cabalístico) que
funciona assim:
As pessoas sentam em círculo tendo ao centro:
a) folhas de papel em branco todas do mesmo tamanho e cor,
b) materiais diversos para desenho.
Cada um recebe uma folha e escolhe o material que deseja
trabalhar inicialmente não importando se se vai trabalhar com a folha
na vertical ou na horizontal desde que a pessoa marque com um traço
toda a margem direita desta desde cima até abaixo sinalizando que o
desenho inicial foi concebido/idealizado/imaginado, por ela para a folha
ser trabalhada neste sentido: tendo sempre a margem marcada à
direita.
Sentados no círculo, cada qual com sua folha identificada no
verso com seu nome ou codinome (preferencialmente), marcada a
78
margem direita na posição que desejar (verticalmente ou
horizontalmente), com o material para desenho inicialmente escolhido,
cada pessoa imagina um desenho qualquer e colocar no papel um
único traço inicial desse desenho imaginado, sem relevar o que
imaginou. Após 10 segundos, ao sinal do facilitador, passa a sua folha
para o(a) companheiro(a) do seu lado direito e recebe do(a)
companheiro(a) do lado esquerdo a folha com um traço iniciado pelo(a)
companheiro(a) do lado esquerdo. Sem saber do que se trata a pessoa
tem dois caminhos:
1) Identificar naquele traço o seu desenho inicial e
complementa-o ou;
2) Verificando que aquele traço em nada se identifica com seu
desenho imaginado originalmente, tenta identificar o que
o(a) companheiro(a) da esquerda quis representar e dá
seguimento ou imagina um outro desenho e
complementa-o com um segundo traço.
Nesse exato momento em que é dado o segundo traço, a folha
já apresentará, já registrará, já terá concretizado, já terá materializado
o resultado do encontro de duas pessoa (dela com o(a) companheiro(a)
da esquerda e, partir daí, a cada 10/15 segundos (esse tempo é flexível
e dinâmico, de acordo com a necessidade dos participantes), ao sinal do
facilitador, a pessoa passa a folha para o(a) companheiro(a) da direita e
recebe do(a) companheiro(a) da esquerda complementando com mais
uma elaboração o desenho segundo a premissa dos dois caminhos
utilizadas ao receber a primeira folha, até se completar o círculo e a
folha inicialmente marcada no verso com seu nome ou codinome,
retornar para si.
Teremos assim, um desenho final que é fruto do encontro dele
com cada um dos círculo e de todos com todos.
79
d) QUARTO MOMENTO (identificação/complementariedade)
Duas situações distintas podem acontecer neste instante:
• Se a folha à sua frente, registra/mostra o seu desenho
inicialmente imaginado, ele complementa-o finalizando-o;
• Se a folha à sua frente não registra/mostra o seu desenho
inicialmente imaginado, ele . . .
1) Tenta identificar o que aquele desenho tem do seu desenho
original e se assim for, complementa-o finalizando-o;
2) Constata que aquele desenho nada tem com o seu desenho
original imaginado e que "tomou outro rumo, outro
caminho" e se transformou em outra coisa totalmente
diferente e, então, procura identificar o que aquele desenho
lhe sugere e complementa-o finalizando-o.
e) QUINTO MOMENTO (depoimentos)
Este é o momento marcante. Os participantes respondem a questão
contidas no verso da folha do desenho e dão depoimentos escritos
sobre esse momento.
66..33 OOSS MMAATTEERRIIAAIISS UUTTIILLIIZZAADDOOSS
Como o objetivo não é descobrir nenhum dom artístico nos
participantes, muito menos revelar qualquer habilidades para o desenho
e/ou pintura e sim fazer com que os participantes identifiquem, com o
exame visual, que nada há de excepcional, que nada há de especial,
que nada há de desconhecido, o material utilizado deve ser o mais
simples possível, sem qualquer sofisticação, como por exemplo:
lápis de grafite comum normalmente utilizado para escrita;
borracha comum normalmente utilizado nas escolas de
ensino fundamental e outras;
lápis de grafite colorido dos mais conhecidos e com o maior
número possível de matizes;
80
lápis de cera colorida dos mais conhecidos e com o maior
número possível de matizes;
canetas hidrocolor de várias cores e várias espessuras;
giz de cera colorida dos mais conhecidos e com o maior
número possível de matizes;
tubos de cola coloridas no maior número de cores possíveis;
todo e qualquer material utilizado para desenhar e marcar
normalmente utilizados pelas crianças.
Um outro detalhe é que a quantidade deve ser suficiente para
que não haja disputa por determinado material. Exemplificando: se
alguém escolher utilizar o “lápis de cera na cor verde” e outro e mais
outro também resolver(em) escolher o mesmo material, deve existir
número suficiente de “lápis de cera na cor verde” para que ninguém
fique esperando o(a) companheiro(a) acabar de usar o “lápis de cera na
cor verde” para utiliza-lo, muito menos resolver utilizar outra cor por
falta do desejado.
Essa “falta momentânea” do material pode modificar
irremediavelmente o desenho imaginado e levar o participante a outra
imaginação.
Não deve haver qualquer tipo de interferência nos trabalhos
que se desenrolam.
66..44 OOSS AAMMBBIIEENNTTEESS
Resolveu-se abordar esse assunto para alertar sobre o que
não se deve fazer com os ambientes onde a dinâmica será
desenvolvida.
Como não deve haver qualquer tipo de interferência, os
ambientes devem ser os mais comuns e os mais conhecidos dos
participantes.
Para desenvolvimento da dinâmica, não se deve usar:
a) ambiente previamente preparado,
81
b) músicas de fundos com conteúdos religiosos, místicos ou
que façam qualquer tipo de indução,
c) ambientes incensados,
d) iluminação especial com lâmpadas que distorçam as cores
Entenda-se que o facilitador, deste caso, faz parte integrante
do ambiente e não deve se apresentar de maneira extravagante,
diferentemente da indumentária por ele usada normalmente. Ou seja,
se é seu padrão de indumentária o paletó e a gravata, deve se
apresentar de paletó e gravata. O que se quer ressaltar é que nada
deve ser ou estar diferente do que normalmente é.
Não deve haver qualquer tipo de interferência nos trabalhos
que se desenrolam.
66..55 OOSS PPAARRTTIICCIIPPAANNTTEESS
Para que não paire qualquer dúvida sobre a dinâmica, optou-
se por esta apresentação a seguir.
Assim, os participantes são . . .
66..55..11.. OOSS AALLUUNNOOSS DDAA EESSCCOOLLAA BBAARRÃÃOO HHOOMMEEMM DDEE MMEELLLLOO .. .. ..
. . . são crianças, na maioria, de famílias bem estruturadas
constituída de seus principais membros, como pai, mãe e irmãos,
presentes e atuantes nas atividades familiares. A família, da maioria
(+/- 95%) é bastante atuante e interessada, estando presente nas
atividades escolares com seus filhos.
São crianças bastante curiosas que gostam de pesquisar, de
estudar, de ler, de desafios, principalmente os de matemática e por
isso, estão sempre buscando mais informações. São crianças amigas
entre si, não são agressivas entre si nem com os professores e
funcionários da escola, demonstrando possuir valores éticos e morais.
Valorizam a educação, a escola e acreditam que só através da educação
e da informação conseguirão atingir seus objetivos e seus sonhos.
82
Em especial esta turma, através da realização de suas
atividades, demonstra que há um encontro de idéias, de ideais, de
sonhos e aspirações, tornando-a especial; sobressaindo-se das demais
turmas da Escola Barão Homem de Mello.
Esta turma foi escolhida para o desenvolvimento da dinâmica,
razão primeira deste trabalho, por um acaso e não por suas
características de excepcionalidade que só foram reveladas dias após a
realização da dinâmica. É bom que se esclareça que essas
características tão relevantes com o pensamento de Carl Roger/Fritz
Perls, não foram só identificadas pela sua professora Sra. Maria
Elisabete Barbosa da Silva mas, por todo corpo docente.
Outro fato relevante a se registrar é que foi através de uma
conversa informal e casual, que tomou-se conhecimento que tal
dinâmica era praticada pela professora Maria Elisabete Barbosa da
Silva, na Escola Municipal Barão Homem de Mello. Confirmada a
informação, partiu-se para lá sendo muito bem recebido e após as
devidas explicações do objeto deste trabalho, a professora Maria
Elisabete Barbosa da Silva – a "Tia Bete" – permitiu que se assistisse a
aplicação da dinâmica bem como ofereceu os desenhos (anexos) para
compor esse trabalho.
A que se notar uma diferença entre os desenhos dos alunos da
"Tia Bete" e os outros desenhos das pessoas adultas. A "Tia Bete"
utiliza a mesma técnica de passar e repassar as folhas com os traços de
um por um, porém, ao retornar a folha à sua origem (a pessoa que deu
o primeiro traço), ela solicita que o(a) aluno(a) finalize o desenho e faça
um redação que tenha relação com o desenho acabado.
66..55..22 OOSS EESSTTAAGGIIÁÁRRIIOOSS EEMM AARRTTEETTEERRAAPPIIAA NNOO CCAAMMPPUUSS
TTIIJJUUCCAA DDAA UUNNIIVVEERRSSIIDDAADDEE CCÂÂNNDDIIDDOO MMEENNDDEESS .. .. ..
. . . são pessoas adultas, sem qualquer vínculo de parentesco
com o autor e/ou outro participante, e de formação acadêmica e
83
profissional das mais distintas e variadas, existindo uma única pessoa
participante do curso de Arte Terapia. Era um grupo eclético sem
qualquer excepcionalidade sendo a única coisa que os unia, era a visível
alegria e prazer de ali estarem.
A que ressaltar que como no dia em que a dinâmica foi
aplicada, nada tinha sido combinado “a priori”, não havia qualquer
material para desenho, não havia nem folha de papel e havia um
número reduzido de estagiários presentes, a dirigente do estágio,
Professora Aristô Carvalho, resolveu, por iniciativa própria (como se
preconiza) participar também.
66..55..33 OOSS AALLUUNNOOSS DDOO CCUURRSSOO DDEE DDOOCCÊÊNNCCIIAA SSUUPPEERRIIOORR DDOO
PPRROOJJEETTOO AA VVEEZZ DDOO MMEESSTTRREE NNOO CCAAMMPPUUSS CCEENNTTRROO DDAA
UUNNIIVVEERRSSIIDDAADDEE CCÂÂNNDDIIDDOO MMEENNDDEESS .. .. ..
. . . são pessoas adultas, sem qualquer vínculo de parentesco
com o autor e/ou outro participante, dentro da faixa etária 40 / 55 anos
e de formação acadêmica e profissional das mais distintas e variadas.
66..66 CCOONNCCLLUUSSÃÃOO
Ressalte-se que no QUINTO MOMENTO do DESENVOLVIMENTO
da dinâmica, anteriormente citado, é momento de constatação que se é
fruto do relacionamento com cada um dos seres humanos que
compõem esse Universo, não levando em conta, neste instante, a
extensão desse universo. Pode-se entender o universo como o espaço
cósmico, como pode-se entender o universo como a família, como os
colegas e amigos do grupo social ou o universo do grupo de pessoas
que participaram dessa concretização / materialização do encontro com
cada um com os demais.
Observe-se que o desenho é fruto desse encontro dessas
pessoas, sentadas naquela ordem, dentro daquele ambiente,
84
vivenciando as angustias e ansiedades do momento comum a
todas e que, como tão bem explicita Fritz Perls e também Carl Rogers
quando falam no "AQUI E AGORA", se se mudar a ordem de sentar de
duas pessoas, ou se esse mesmo grupo em outro ambiente, ou em
outro dia, ou no mesmo dia mas em outro horário, produzirá outro
desenho e o resultado será outro porque, repetindo, nada tem produção
expontânea e se é produto do encontro e esse encontro de dá a cada
instante - consciente ou inconscientemente.
Mas essa consciência ou inconsciência, é outra discussão e
foge do objetivo desse trabalho.
Essa dinâmica foi realizada em três ocasiões diferente, com
grupos diferentes e seus resultados estão expostos nos anexos a este
trabalho.
Recomenda-se o exame destes trabalhos e a leitura dos
depoimentos dos participantes do estágio em Arte Terapia e dos alunos
do curso em Docência do Ensino Superior e a imaginação, criatividade e
singeleza das crianças da Escola Municipal Barão Homem de Mello.
Como facilmente se percebe, ao comparar os desenhos das
crianças com os desenhos dos adultos, que os desenhos das crianças
estão bem mais elaborados e isso se deu porque, a professora das
crianças, a Sra. Maria Elizabete Barbosa da Silva - a Tia Bete - , orienta
seus alunos a elaborarem o desenho final, desenvolvendo
principalmente, a Inteligência Lingüistica (objetivo da professora),
através de uma ferramenta da inteligência Pictórica - o desenho.
Há que ressaltar o primor e a emoção dos relatos (tanto dos
alunos quanto dos demais) e, que alguns deles são verdadeiros campos
abertos para investigações terapêuticas, en t r e t an t o , chama-se
bastante atenção para o fato que nesse comentário acima, isento de
qualquer intencionalidade, não há, e não se fez, qualquer tipo avaliação
pois isso não é objeto deste trabalho.
85
Os seres humanos tendem, naturalmente a "analisar",
"classificar" e "avaliar" qualquer obra de terceiros (principalmente
pinturas) e a tentação também alcançou este trabalho e quase incorreu-
se nesse gravíssimo erro mas, mais uma vez, prevaleceu o bom senso
da busca pelos que sabem mais e consultados alguns professores,
mestres, terapeutas e psicólogos, informaram unanimemente, que não
se deve fazer qualquer comentário sobre os desenhos e os
relatos/redações, pois pode ser entendido como avaliação. E disseram
mais: um simples comentário que o desenho é “bonito”, já pode ser
encarado como avaliação e este trabalho não objeta avaliar nada.
O objeto deste trabalho é materializar o encontro e, através
desses registros, desses desenhos, dessas materializações, acredita-se
ter alcançado seu objetivo pois com a eficiência da Teoria, a dinâmica
mostra-se eficaz.
(transcrição do texto citado referente ao segundo momento do
desenvolvimento)
"O QUE É A MENTE
Na verdade, não existe uma definição cabal do que seja a mente.
É algo assim como a energia elétrica. Sabe-se tudo sobre ela, como
produzi-la e como usá-la, mas ninguém diz, com certeza, o que é a
eletricidade. Com relação à mente, sabemos que é produto do
cérebro humano e que este órgão é extremamente complexo e que
apesar dos grandes avanços verificados, nos últimos tempos, na
área da medicina em que ele se enquadra, dele muito pouco se
sabe. É desta massa encefálica cinzenta que emergem os
pensamentos, os sentimentos, as emoções, enfim, tudo aquilo que
denominamos de produto mental ou mente.
86
A mente se divide em consciente, a menor parte (+/- 10%), e em
inconsciente, a maior parte (+/- 90%).
A mente consciente corresponde, na imagem cibernética que
pegamos emprestada para nosso raciocínio, ao programador do
computador e a mente inconsciente corresponde ao computador
propriamente dito. Portanto, é a mente consciente que se liga ao
mundo exterior e que transmite para a mente inconsciente todas
as informações recebidas. Esta, por sua vez, elabora todas estas
mensagens, fazendo com que se manifestem em nós na forma de
ações, reações e comportamentos.
A mente inconsciente armazena tudo o que experimentamos,
dentro e fora de nós, desde o momento de nossa concepção. Por
exemplo, a atitude de rejeição dos pais, em relação a um filho que
é gerado por acaso, sem ser planejado e que chega de repente, já
é o primeiro dado (negativo) gravado profundamente no
inconsciente desta criança. Muitas vezes, não compreendemos por
que um indivíduo é tão negativo, doente e infeliz. E provável que
ele esteja apenas realizando aquilo para que foi programado, desde
antes de nascer.
Ao contrário, quando alguém é concebido com amor, programado e
esperado com carinho, seu inconsciente já vem carregado de men-
sagens positivas e boas. Sem dúvida, sua vida tenderá a ser alegre
e feliz, por uma disposição de coragem e de fé que brotam de
dentro dele.
A mente é uma perseguidora de objetivos. Tudo o que for sugerido
ao nosso computador mental, ele procurará transformar em
realidade. Todas as coisas criadas, foram um dia, idéias concebidas
pelo homem. Tudo o que existe, está aí porque alguém acreditou
que isto era possível.
Por vezes, esta realização só acontece muito tempo depois da
concepção da idéia. Tudo o que alguém ousa conceber em sua
87
mente, tenderá a se materializar, mesmo que seja algo
absolutamente utópico no momento.
A mente inconsciente, sensibilizada pela sugestão da mente
consciente, é um mecanismo automático de busca de objetivos.
Por exemplo, tudo o que for sugerido a ela como verdadeiro,
mesmo que não seja, será tomado como se de fato fosse. Isto
acontece porque a mente inconsciente não distingue o real do
imaginário. Basta você pensar vivamente em um limão, que o seu
cérebro logo enviará uma mensagem para as glândulas salivares
para que entrem em funcionamento e sua boca se enche de água.
Podemos também comparar a mente a um navio. Todo o
movimento da embarcação depende do comandante. Porém, quem
executa as suas ordens é o chefe de máquinas. Este não discute as
mensagens que recebe no fundo de seu porão. Assim também a
mente inconsciente procurará, sem duvidar, perseguir a realização
de tudo o que lhe é sugerido. Isto funciona tanto para o positivo
quanto para o negativo. Se as informações que alguém fornecer à
sua mente inconsciente forem boas, certamente a sua existência
tenderá a ser cheia de realizações positivas. Mas se forem
mensagens de medo e de fracasso, tudo acontecerá de acordo com
o que elas sugerem.
A linguagem - o software - de nosso computador mental é a
imaginação. São as imagens que criamos em nossa mente que dão
origem àquilo que realizamos.
Uma boa programação depende menos do querer do que do
imaginar.
Na embate entre o querer e o imaginar, aposte sempre na
imaginação."
88
CCOONNCCLLUUSSÃÃOO
Acredita-se que Fritz Perls ao exteriorizar seu pensamento
(infantil por tão simples),para falar do encontro, estava na verdade
querendo mostrar que todos somos fruto da nossa relação com nossos
semelhantes e os nossos encontros são lindos e que, se ao contrário,
não houver o encontro, nada somos e se não nos encontrarmos, nada
irá acontecer.
O homem é movido pela emoção e pela razão.
ENTÃO QUE FALE A EMOÇÃO
Frei Leôncio, um Franciscano que pertenceu ao grupo de
Francisco de Assis, na Itália, no século XII, deixou-nos um pensamento
belíssimo pela sua simplicidade e profundo na sua interioridade e que
esteve presente diuturnamente em cada letra, em cada palavra, em
cada sentença, em cada capítulo deste trabalho.
"A mente humana é uma intrincada estrutura, um verdadeiro
labirinto, que é orientado, guiado, sinalizado igualmente pela razão
e pela emoção e aí, mesmo tendo certeza plena dos nossos
objetivos, sucumbimos aos encantos da emoção e tomamos
veredas e atalhos que nos levam a lugares lindíssimos e, por
vezes, perigosíssimos."
Frei Leoncio
Se se deu voz à emoção, é de direito e de justiça que se de
voz à razão.
ENTÃO QUE FALE A RAZÃO
Buscou-se na aridez da materialidade, da razão simples e
pura, a transcrição de uma experiência laboratorial com dois minerais
isentos de sentimentos.
89
EXPERIÊNCIA CIENTÍFICA LABORATORIAL COM DOIS
MINERAIS
Em um bem aparelhado laboratório de um Instituto de
Pesquisas numa cidade da França, fez-se a seguinte
experiência: pegou-se uma placa de prata e outra de ouro, e
encostou-se uma à outra. Só se encostou uma à outra. Não
se fez nenhuma pressão, muito menos qualquer fricção entre
elas.
Após um pequeno intervalo de tempo, mais ou menos 120
segundos, afastaram as placas e examinou-se,
microscopicamente, a placa de prata e encontraram partículas
de ouro e, fazendo o mesmo com a placa de ouro,
encontraram partículas de prata.
Chegou-se então, a seguinte conclusão: Há troca de
partículas entre dois minerais pelo simples contato.
Com tudo que se viu até aqui, com a releitura das diversas
conclusões dos capítulos anteriores, o estudo do método do psicólogo
José Luiz Belas no anexo V, sobre o qual chamamos a atenção para a
primordial diferença entre o desenvolvimento do seu método e o
método deste trabalho, em que ele utiliza a música e este trabalho não
a aceita em nenhuma hipótese (mas isso também é outra discussão),
acredita-se que o objetivo deste trabalho foi atingido plenamente,
en t r e t an t o , este trabalho não se encerra aqui.
Iniciou-se este trabalho "quebrando-se" ortodoxias,
"quebrando-se" dogmas, indo-se de encontro a pensamentos
confortáveis e, fiel a essa forma de conduta, não poderia se termina-lo
de outra forma que esta apresentada.
Como previsto, longo e árduo foi o caminho percorrido para se
chegar até aqui mas é grande e agradável a sensação de novos
horizontes conquistados, de novas terras pisadas.
90
Esta estrada trilhada até aqui, está na sua reta final mas -
repetindo - não se encerra aqui.
A faixa que se vê adiante, não é a faixa de FIM, não é faixa de
CHEGADA, mas sim faixa de INÍCIO, faixa de PARTIDA.
O assunto é fascinante e não pode e não deve ser encerrado
com um ponto, mas, e sobretudo, pelo seu fascínio, será encerrado
como adiante com as sinceras desculpas aos mais ortodoxos.
Se entre dois minerais, há trocas de partículas,
pelo simples contato, qual não será a troca existente
entre dois seres humanos? Qual não será a troca
entre dois seres humanos pelo simples contato? Qual
será o produto desse encontro?
Reflita-se . . .
91
BIBLIOGRAFIA
• Rogers, C. (1979). : O tratamento clínico da criança-problema. São
Paulo: Livraria Martins Fontes Editora
• Rogers, C. (1942). Counseling and Psychotherapy: Newer concepts
in practice. Boston: Houghton Mifflin. 28-30
• Rogers, C. (1942). Counseling and Psychotherapy: Newer concepts
in practice. Boston: Houghton Mifflin
• Rogers, C. (1951). Client-Centered Therapy: Its Current Practice,
Implications and Theory. Boston: Houghton Mifflin
• Rogers, C. (1961) On Becoming a Person. Boston: Houghton Mifflin
• Rogers, C. (1986). Sobre o Poder Pessoal. São Paulo: Martins Fontes
• Hall, Calvin S. & Lindzey, Gardner. Theories of Personality, 3º Ed.,
Jonh Wiley & Sons, Inc. 1978
• Fadiman, James & Frager, Robert. Teorias da Personalidade. Ed.
Harbra, São Paulo, 1986
• Capra, Fritjof. O Ponto de Mutação, Ed. Cultrix, São Paulo, 1986.
• Guimarães, Carlos. Percepção e Consciência, Ed. Persona, João
Pessoa, 1996
• Lloyd Mayer, Elisabete. in Frederick S. Perls e a Gestalt-terapia,
Cap.5 de Teorias da Personalidade Ed. Harbra, São Paulo, 1986
• Naranjo, Claudio. Terapia de Grupo versus Terapia Individual, in Isto
é Gestalt, John O. Stevens. Summus Editorial Ltda., São Paulo, 1977
• Naranjo, Claudio. Gestalt Terapia Explicada, Summus Editorial Ltda.,
São Paulo, 1976
• Naranjo, Claudio. A Abordagem Gestáltica; Testemunha Ocular da
Terapia, Zahar Editores, 1977
• Machado, Carly. Fundamentos Psicológicos, Universidade Cândido
Mendes, Rio de Janeiro,2000
• Belas, José Luiz. Recapitulação da História da Pessoa-RHP, simpósio
apresentado no encontro sudeste da ACP, Itaipava, Petrópolis,
RJ,JUN/98
92
• Johann, Jorge Renato. Modificação do comportamento e Auto-
Realização, Edições Paulinas, São Paulo, 1985.
• Antunes, Celso. As Inteligências Múltiplas e Seus Estímulos, Papirus
Editora Ltda., Campinas, São Paulo.
• Ribeiro, Jorge Ponciano. Gestalt-terapia: Refazendo um Caminho,
Summus Editorial, São Paulo, 1985
93
AANNEEXXOOSS
94
AANNEEXXOOSS
NO ANEXO I
Os desenhos obtidos no desenvolvimento desta dinâmica com os alunos
da Escola Municipal Barão Homem de Mello, bem como as redações
inspiradas nos desenhos. Esclarece-se que como as redações referentes
aos desenhos foram escritas em folhas a parte pelos próprios alunos e a
caligrafia de alguns não é tão compreensível, segue junto de cada
desenho, a transcrição literal respeitando-se, inclusive, os erros
cometidos. Tal dinâmica foi registrada em vídeo mas infelizmente não
se conseguiu recurso para transformar as imagens em fotografias.
TOTAL : 18 desenhos
18 redações originais
18 transcrições
NO ANEXO II
Os desenhos obtidos no desenvolvimento desta dinâmica com alguns
participantes do Estágio em Arte Terapia oferecido pela Universidade
Cândido Mendes no Campus Tijuca, nas manhãs de domingos, bem
como seus depoimentos. Os depoimentos estão no verso de cada
desenho. Ratifica-se a informação anterior sobre esta dinâmica
desenvolvida durante o Estágio em Arte Terapia que nada havia sido
combinado e portanto não tinha material de desenho, não tinha papel e
mesmo assim a dinâmica apresentou sua eficácia apesar da deficiência
do material o que corrobora com o pensamento central deste trabalho
que é possível "materializar" o encontro.
TOTAL : 06 desenhos
95
NO ANEXO III
Os desenhos obtidos no desenvolvimento desta dinâmica com alguns
alunos do Curso de Docência Superior, do Projeto A Vez do Mestre, da
Universidade Cândido Mendes, Campus Centro, durante a parte final da
aula de Dinâmica em Grupo em 02 de fevereiro de 2002.
TOTAL : 12 desenhos
NO ANEXO IV
As fotos de acompanhamento de um dos desenhos obtidos da dinâmica
com alguns alunos do Curso de Docência Superior, do Projeto A Vez do
Mestre, da Universidade Cândido Mendes, Campus Centro, durante a
parte final da aula de Dinâmica em Grupo em 02 de fevereiro de 2002
TOTAL : 11 fotos
NO ANEXO V
A sinopse do método RECAPITULAÇÃO DA HISTÓRIA DA PESSOA – RHP,
do Dr. José Luiz Belas.
TOTAL : 07 folhas
NO ANEXO VI
O texto de Marina Colassanti, O Direito de Mudar de Opinião.
TOTAL : 02 folhas
96
AANNEEXXOO II
Os desenhos dos alunos da Escola Municipal Barão Homem de
Mello, contendo:
1. 18 (dezoito) desenhos originais
2. 18 (dezoito) redações originais
3. 18 (dezoito) trancrições "ipsi literis" das redações.
97
AANNEEXXOO IIII
Os desenhos dos estagiários em Arte Terapia e seus
depoimentos escritos, contendo:
4. 06 (seis) desenhos originais com os depoimentos no verso
OBSERVAÇÃO RELEVANTE
Como foi explicado anteriormente, no dia em que a dinâmica
foi aplicada, nada tinha sido combinado “a priori”, não havia qualquer
material para desenho, não havia nem folha de papel e havia um
número reduzido de estagiários presentes e a dirigente do estágio,
Professora Aristô Carvalho, resolveu, por iniciativa própria (como se
preconiza) participar também. Assim sendo as folhas anexas foram
cuidadosamente coladas em uma das pontas para que se possa ler o
depoimento no verso.
98
AANNEEXXOO IIIIII
Os desenhos dos alunos do Projeto A Vez do Mestre, curos de
Pós Graduação em Docência do Ensino Superior e seus depoimentos
escritos, contendo
5. 12 (doze) desenhos originais
6. 12 (doze) depoimentos
OBSERVAÇÃO RELEVANTE
O primeiro desenho da seqüência é o que foi acompanhado
fotograficamente.
99
AANNEEXXOO IIVV
Registro fotográfico de acompanhamento da evolução de um
dos desenhos durante a aplicação da dinâmica com os alunos do Projeto
A Vez do Mestre, Curso de Pós Graduação em Docência do Ensino
Superior, contendo:
7. 06 (seis) folhas com 02 (duas) fotos cada e
8. 01 (um) folha com 01 (um) foto
100
AANNEEXXOO VV
(transcrição do método desenvolvido pelo psicólogo José Luiz Belas)
RECAPITULAÇÃO DA HISTÓRIA DA PESSOA - RHP
Autor: Psic. José Luiz Belas
“Mas o que considero diferenciador no que estou propondo é o
modo de se fazer isso, de se "compreender” para “construir”
de novo”
Na tentativa de encontrar um meio de compreender o cliente,
sua história, venho desenvolvendo um método de trabalho que
denomino de RHP, (Recapitulação da História da Pessoa).
ESTRUTURA DO MÉTODO
ESQUEMA BÁSICO DE UMA SESSÃO DE RHP
Uma sessão dura aproximadamente 50 minutos.
Ela é dividida em quatro momentos principais.
Primeiro Momento = Tempo
A. Criação de um estado de relaxamento físico do cliente = 5
minutos.
B. Aquecendo a imaginação = 3 minutos.
C. Caminhada no tempo, para trás = 3 minutos.
D. Exploração de uma idade ou período de vida determinado = 9
minutos.
E. Retorno no tempo até aqui e agora = 3 minutos.
F. Relaxamento físico = 5 minutos.
Segundo Momento:
A - Expressão gráfica.
Proposta: colocar, numa folha de papel, traços, rabiscos,
qualquer expressão gráfica que possa significar, para o cliente, o tom
101
emocional e momentos importantes da exploração da idade ou fase de
sua vida que foi revista no primeiro momento dessa sessão;
B- Expressão corporal.
Em alguns casos, quando é muito difícil a expressão gráfica,
incentiva-se o cliente a se expressar corporalmente, de tal modo que
seus movimentos físicos possam complementar, ou até substituir, o que
experimentou ao se expressar graficamente, ou ao tentar fazer isso,
momentos atrás.
Terceiro Momento:
Preenchimento de um “questionário” no qual constam sete
perguntas as quais deverão ser respondidas de modo muito sucinto.
As perguntas são:
1) Como era seu mundo nesse período de sua vida?
2) Como as pessoas conceituavam você?
3) O que você sentia pelas pessoas com as quais convivia nessa
época?
4) Qual o conceito que você fazia de você mesmo?
5) Se fosse possível, o que você mudaria nessa parte de sua vida?
6) Qual a relação que você estabeleceu com “você” mesmo durante
esse trabalho?
7) Agora. após responder todas essas perguntas. como você está se
sentindo ? O que esse período representou pai você?
Quarto Momento:
Gravação em Vídeo. Durante aproximadamente cinco minutos,
momento no qual o cliente tem a oportunidade de registrar todo o tom
emocional que vivenciou na sessão.
Um quinto momento é possível: Caso o cliente necessite, um
aprofundamento e discussão de questões que surgiram nesse trabalho,
nesse dia, nessa sessão.
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Após dar essa visão bem geral de como é composta uma
sessão, vejamos, passo a passo, como tudo acontece.
O primeiro momento:
A - CRIAÇÃO DE UM ESTADO DE RELAXAMENTO
Quase sempre o cliente quando chega ao consultório, mesmo
aquele que se mostra tranqüilo, calmo, se encontra num situação de
ameaça. Ele “sabe” que no espaço terapêutico há uma possibilidade de
entrar em contato com verdades sobre si mesmo que seriam muito
difíceis para ele admitir.
Uma sessão terapêutica coloca sempre o cliente em risco de
ter que admitir aspectos de si muito pouco aceitáveis para si mesmo e
talvez para os outros.
Este estado de ameaça provoca , a nível físico, uma tensão e
ela pode dificultar o surgimento de uma permeabilidade de percepção
agindo assim sobre a memória, sobre a compreensão da realidade,
sobre a capacidade de contato com suas sensações, ou seja, uma
pessoa que está muscularmente tensa não consegue identificar com
facilidade as alterações que estão ocorrendo em si num momento dado,
sejam elas de ordem muscular ou não, nem no mundo exterior a ela.
Considero, pelo que tenho podido vivenciar na prática, que
iniciar uma sessão de RPHP com um relaxamento facilita em muito o
trabalho, pois cria uma diminuição na tensão muscular aumentando a
possibilidade do cliente “caminhar” com mais segurança e menos
“defesa desnecessária” e, com isso, avançar mais na compreensão da
dinâmica da estruturação de seu modo de ser.
O relaxamento proposto geralmente é o que a maioria de nós
conhece: um modo de tomar consciência do corpo, parte por parte, pés,
pernas, quadris, tronco, braços e mãos, pescoço, cabeça.
Através desse exercício que dura aproximadamente 5 (cinco)
minutos procuro ajudar o cliente a aumentar o seu grau de consciência
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de seu corpo, do estado de tensão dele, das panes que lhe parecem
mais congestionadas, as mais relaxadas... enfim, se perceber
corporalmente.
O relaxamento é dirigido por mim e sempre acompanhado de
uma música, uma mesma música, à qual dei o nome de Música A. Isso
provoca, progressivamente, sessão após sessão, uma associação entre
música/relaxamento. o que ajuda cada vez mais o cliente a conseguir, a
cada encontro, níveis mais profundos de descontração física.
O trabalhado, até então, se situa basicamente no nível físico,
nos músculos, vísceras...
B- AQUECENDO A IMAGINAÇÃO
Complementando o relaxamento proponho um outro exercício
que atua a nível da imaginação. Pretendo com isso, além de provocar
um relaxamento físico, provocar também um “aquecimento” da
imaginação (outro elemento importante para o método). Ela será muito
útil quando o cliente estiver explorando sua história, ao mesmo tempo
que ajuda também o cliente a se desligar do seu "aqui-agora”.
Para isso uso de uma imagem que é proposta para o cliente e
lhe peço que a desenvolva, que mergulhe nela, que crie algo a partir
dela e sobre ela.
Dou a ele cerca de 3 (três) minutos para isso e nesse
momento estou lhe apresentando, simultaneamente, uma outra música
à qual denominei de Música B.
Tendo relaxado e exercitado a imaginação nosso cliente está
em condições de iniciar a terceira etapa desse primeiro momento.
Qual o papel da imaginação em nosso método?
Na realidade, quando se pergunta a alguém sobre sua história
ela utiliza uma parcela considerável de lembranças reais, concretas, de
fatos documentados, e uma outra que é feita basicamente de fantasias
104
criadas por ele, por uma necessidade de preencher lacunas da
memória.
Ao “aquecer” a imaginação do cliente, o estou convidando a
utilizar desse recurso de modo mais pleno, pois tenho certeza que o que
ele criar, imaginar sobre si e sua história, certamente contém o seu
modo peculiar de ser, sua verdade sobre si mesmo e ela é que lhe dá
condições de articular suas “lembranças reais”, em algo maior que é
seu modo de ser no mundo. A realidade dele é seu mundo fatual e seu
mundo imaginário. Ambos são somente dele. Ambos são molas que
impulsionam, dirigem e orientam seu modo de perceber o mundo e.
portanto, de interpretá-lo.
Imaginação e realidade, de um mesmo sujeito, são o sujeito e,
portanto, portas de entrada para a compreensão de seu mundo.
C- A CAMINHADA NO TEMPO
Nunca vi um encontro terapêutico que não contivesse uma
história a ser contada. Sempre procuramos os fatos antigos para que
eles possam dar condições ao que nos ouve de entender o que se está
querendo contar.
Na terapia o cliente chega e se expressa de certo modo para o
terapeuta. Essa expressão só terá sentido, só poderá ser compreendida,
dentro de um contexto, de uma história.
Quando somos alunos do curso de graduação em psicologia,
ouvimos constantemente a sugestão para que acompanhemos o fluir do
discurso do cliente, não o atropelemos...
Ouvimos também sugestões que mostram como é importante
a seqüência. às vezes aparentemente desconexa, do discurso dele, pois
isso, certamente, mostra os caminhos que ele precisa percorrer para,
finalmente, chegar às suas descobertas, seus “insights”.
105
Organizar uma história, colocar nela uma seqüência
cronológica, seria simplesmente um absurdo, algo que contrariaria
profundamente o “flutuar com o cliente”.
Talvez seja importante fazer uma ressalva aqui.
Não considero errado que se “flutue” com o cliente, que se
deixe por conta dele a seqüência que ele bem desejar.
Não creio que seja necessário, para se fazer unia terapia, para
se compreender um cliente, que se organize, no tempo, os fatos de sua
vida....
Tudo isso é profundamente pertinente se não estivermos
aplicando o RHP.
E é exatamente de modo profundamente solto que atuamos
com um grande número de clientes, aqueles que não estão vivenciando
o método de reconstrução da história pessoal.
Por uma questão puramente prática, é fácil se perceber que é
muito mais simples se entender uma história se você a começa pelo
começo.
Uma situação A que antecede a uma B que por sua vez vem
antes de C.... É mais fácil compreender C se conheço A e B. Nossa
compreensão será mais ampla, mais segura.
Poderemos argumentar se é indispensável conhecer A e B para
se compreender C . Diria que não. Mas certamente poderemos afirmar
que a compreensão de C se toma muito mais difícil e limitada quando
não conhecemos A e B.
Mas é crucial que falemos, antes que o leitor fique com uma
idéia distorcida do que de fato ocorre na prática do RHP, que, para nós,
o fato C é também muito importante para a compreensão do A e do B.
Em outras palavras, o presente ajuda a compreender o passado e vice-
versa. Mais ainda, as fantasias projetadas para o futuro, sem dúvida
também interferem na configuração do que se percebe no presente do
sujeito.
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A história não é um fio descontínuo.
Um momento da história está fatalmente ligado, e até
determinado, por todos os outros que o antecederam, numa sucessão
retro infinita, bem como com todos os outros que o sucederão.
Onde começa uma história ? Impossível se responder.
Onde terminará unia história ? Igualmente impossível
responder.
Se é impossível responder onde começa uma história, por
outro lado é possível se afirmar que quanto mais longe, para trás,
pudermos ir nela, mais o momento presente se tornará compreensível,
mais forma, mais inteligibilidade, mais próximos estaremos de sua
“natureza”, e o mesmo se dirá em relação ao “futuro”.
Não podemos nos esquecer que o futuro é também uma força
poderosa que dá sentido. força e movimento para o presente
107
AANNEEXXOO VVII
OO DDIIRREEIITTOO DDEE MMUUDDAARR DDEE OOPPIINNIIÃÃOO
Opinião é feito navio: a gente não abandona, afunda com ela
se for preciso. Foi o que pensei desde criança, desde quando me
convenceram de que assim estava certo. A vida, pensava eu, era para
ser levada na base do "repete se você é homem", e a gente ali, homem
paca, repetindo incansável e heroicamente, agarrada naquele ponto de
vista, fazendo do manutenção do opinião uma questão de honra.
Foi por isso o que me disseram, e foi nisso que acreditei até
certa hora. Depois pulei fora. Agora convivo serenamente com a
evidência de que as minhas opiniões não são definitivas.
"A melhor surpresa - segundo o slogan de uma grande cadeia
de hotéis americana - é não Ter surpresa nenhuma". É encontrar tudo
como esperávamos.
Gostamos de chegar em casa e deparar com as coisas nos
seus devidos lugares. O jarro no centro da mesa, o sofá e poltronas um
esquadro bem comportado. Qualquer quebra nessa arrumação, é
suficiente para nos mergulhar no espanto. O mesmo acontece com as
idéias. Gostamos da nossa cabeça bem arrumada. Opiniões já
conhecidas, nos seus conhecidos lugares. Pensar parece assim mais
fácil, viver parece mais seguro. Basta estabelecer os parâmetros
iniciais, e tocar o bonde. Os trilhos da vida, porém, não são tão
paralelos. Crescemos, aprendemos, e de repente aquela bitolinha fica
estreita demais, e o caminho traçado, que acreditávamos tão exclusivo,
revela-se apenas um, entre tantos. E hora de mudar. E hora mas
hesitamos: é? Seria? Não é?
A incerteza nos pega pelo pé, e o medo nos abocanha pelo
estômago. E os preconceitos cravados na nuca, no pé do ouvido,
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murmuram que mudar de opinião é sinônimo de inconstância, que o
bonito é manter-se nas próprias opiniões.
Qualquer mudança de opinião encontra grandes resistências.
Resistências de fora, em primeiro lugar. Os outros, ou seja, a sociedade
como um todo, não costuma gostar de pessoas questionadoras.
E o mesmo fenômeno da sala. Tudo é mais fácil quando ocupa
apenas um espaço já estabelecido. Tudo é mais controlável. Uma
pessoa que não questiona aquilo que aprendeu desde pequena, uma
pessoa que não pergunta o porque das coisas, uma pessoa que não
procura a própria verdade é certamente uma pessoa fácil de ser
manipulada.
Da mesma forma, uma pessoa que embora tenha questionado
algumas verdades iniciais, "empaca" numa verdade que estabelece
como sendo a única verdadeira e imutável, é uma pessoa previsível, em
relação á qual podem-se armar os esquemas.
Mas a pessoa questionadora, a que esta sempre repensando
as coisas e procurando novos ângulos de visão, esta não é uma mobília
bem comportada, um sofá, é um ponto de interrogação no meio da
sala, a exigir dos outros um diálogo dinâmico, pois o mundo não se fez
ficando parado, nem é ancorados a idéias já superadas que
encontraremos nosso crescimento como ser humano.
E por que? Por que temos dificuldade em pegar uma idéia que
já tínhamos e estudá-la minuciosamente, para depois decidir se é o
caso de recompô-la ou de transformá-la em cadáver e logo enterrá-la?
Por que hesitamos? Por que?
Marina Colassanti