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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “ A VEZ DO MESTRE “ MIRIAN CHAVES DE SOUSA A MULHER NO MERCADO DE TRABALHO TRABALHO MONOGRÁFICO APRESENTADO COMO REQUISITO PARCIAL PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE ESPECIALISTA EM RELAÇÕES HUMANAS RIO DE JANEIRO 2001

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … CHAVES DE SOUSA.pdf · Daí a necessidade de instruí-la, ... Manu, Livro IXº, As Leis Civis e criminais ; deveres da classe comerciante

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E

DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “ A VEZ DO MESTRE “

MIRIAN CHAVES DE SOUSA

A MULHER NO MERCADO DE

TRABALHO

TRABALHO MONOGRÁFICO APRESENTADO COMO REQUISITO PARCIAL PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE ESPECIALISTA EM RELAÇÕES HUMANAS

RIO DE JANEIRO

2001

AGRADEÇO A TODOS QUE DIRETA E INDIRETAMENTE CONTRIBUÍRAM PARA A EXECUÇÃO DESTA PESQUISA

DEDICO ESTE TRABALHO A PAULO GOUVEIA DO NASCIMENTO

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“ DESDE A INFÂNCIA E ATÉ MESMO ANTES DO NASCIMENTO, UMA SÉRIE DE CONDICIONAMENTOS SOCIAIS E CULTURAIS SE FAZEM SENTIR SOBRE A FORMAÇÃO DOS PAPÉIS FEMININO E MASCULINO “

RACHEL SOIHET

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RESUMO

Esta monografia se ocupa do papel desempenhado no

mercado de trabalho brasileiro (mais especificamente de São

Paulo), na época atual. Descreve a luta feminina na reconquista

de seus direitos usurpados pelo patriarcalismo. Evidencia como, a

partir da Revolução Industrial, a mulher passa a desempenhar o

papel de agente produtivo e consumidora. O retrato da mulher que

faz parte desse mercado de trabalho, resultante de uma ampla

pesquisa efetuada pela Datafolha por solicitação do CREA-SP,

encerra a monografia .

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

1.1. A pesquisa

1.2. Força-Trabalho e Mercado

CAPÍTULO PRIMEIRO

A MULHER COMO FORÇA-TRABALHO

2.1. Das origens pré-históricas ao século XIX

2.2. A Revolução Industrial e o trabalho das

mulheres

2.2.1. A mulher trabalhadora

2.2.2. A economia política e a mulher operária

CAPÍTULO SEGUNDO

A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E

A MULHER COMO AGENTE PRODUTIVO

3.1. A sociedade industrial burguesa

3.2. A emancipação profissional da mulher brasileira

CONCLUSÃO

BIBLIOGRAFIA

ANEXOS

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INTRODUÇÃO

1.1. A pesquisa

Durante muito tempo, desde a época colonial até os fins do

século XIX, a mulher sofreu uma rejeição na sociedade

praticamente patriarcalista . Competia a ela os trabalhos de

manutenção da casa e mesmo a educação em seu grau mais

elementar lhe era negada. Esta situação não era a dominante nas

classes menos favorecidas . Também a classe dominante

(senhores da casa grande , na época do açúcar e fazendeiros, na

era do baronato do café) não propiciava à mulher de sua condição

melhores condições. Durante toda a colônia e império somente

exercia trabalho braçal aquele que era escravo . Aos brancos e “

forros “ era vedado qualquer forma de trabalho físico .

Com os primórdios da sociedade burguesa e inícios da

industrialização a sociedade passa por uma transformação total .

A mulher passa a ser utilizada, nas fábricas, como força de

trabalho . Também passou-se a vê-la como “ consumidora em

potencial “ . Daí a necessidade de instruí-la, ao menos no nível

elementar de ensino .

Justifica-se plenamente a pesquisa da natureza desta pois

ela representa a redescoberta da mulher como agente produtivo

amparado progressivamente pelos novos estatutos jurídicos.

Perseguiram-se aos seguintes objetivos :

1. Objetivo Geral – analisar o desempenho da mulher no

atual mercado de trabalho brasileiro.

2. Objetivos Secundários

2.1. Especificar, por área de trabalho, a presença da

mulher como agente produtivo .

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2.2. Destacar, dentro do mercado de trabalho atual

brasileiro, as mulheres no exercício profissional no domínio das

Relações Humanas .

Foi formulada um hipótese de trabalho para que se pudesse

dirigir as atividades da pesquisa . Esta se expressa da seguinte

maneira : “ As conquistas femininas no mercado de trabalho

constituem uma característica fundamental da recuperação dos

direitos da mulher face às necessidades de mão-de-obra da atual

sociedade burguesa industrial “ .

Sendo por demais vasto o campo abrangido pelo tema fez-

se o recorte necessário para que se pudesse trabalhar com ele

dentro da precisão que se deve esperar de uma pesquisa desta

natureza . Assim , a pesquisa representa um recorte no amplo

universo representado pela reconquista dos direitos da mulher,

limitando-se ao estudo da atuação feminina, em atividades

profissionais que requerem formação em nível superior, no

mercado de trabalho brasileiro contemporâneo .

1.2. Força-trabalho e mercado

Se o capitalismo é o momento econômico do racionalismo,

ele reproduz em si as próprias características da ratio : controle e

domínio dos meios em relação ao fim , através da calculabilidade,

da generalizabilidade e da previsibilidade . O agir capitalista é um

exercício pacífico de um poder de disposição , posto em ato

racionalmente para conseguir lucro através da exploração

inteligente das conjunturas de mercado . Se desejarmos falar de “

essência do capitalismo ela deve ser considerada como os

processos de racionalização e otimização das oportunidades do

mercado – inclusive o mercado de trabalho livre .

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A relação de trabalho assalariado e os traços coercitivos

ínsitos na organização capitalista do trabalho (disciplina de fábrica,

a inderrogável necessidade de vender a força-trabalho) naão

constituem, como tais, a essência do capitalismo . Esta consiste

mais do que tudo na exploração racional das regras de troca em

geral – de cujas regras a troca de força-trabalhocontra salário é

somente um aspecto . Para Weber (1999) , de quem nos servimos

, a coerção inerente à venda da força-trabalho é um aspecto da “

vontade de trabalho “ , que dá lugar à lógica da troca .

O mercado é a transposição econômica da incessante luta

entre os homens . A economia racional é orientada pelos traços

monetários, que por sua vez se formam no mercado pela luta

entre os interesses : “ Sem uma avaliação em preços monetários ,

ou seja, sem aquela luta , não é possível nenhum cálculo “ .

A lógica do cálculo formal capitalista é, portanto, ligada –

através do livre mercado – à lógica da luta entre os interesses .

Onde não há livre luta, não há cálculo racional .

Aquela , que para Marx era uma cadeia de elementos em

contradição (trabalho – mercadoria – dinheiro) , torna-se em

Weber a dinâmica vital da economia racional capitalista .

O potencial de crise interna ao capitalismo não consiste em

uma presumida contraditoriedade de seus elementos, mas na

virtual extinção de sua dinâmica por obra de um papel burocrático.

Weber não auspicia a abolição do mercado , que para ele é

garantia de cálculo racional e de autonomia dos sujeitos: à

extinção do mercado sucederia somente o despotismo puro e

simples do poder burocrático .

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CAPÍTULO PRIMEIRO

A MULHER COMO FORÇA-TRABALHO

2.1. Das origens pré-históricas ao século XIX

Desde a mais remota pré-história que a mulher, no grupo

social, vem desempenhando um tipo de trabalho especificamente

ao grupo feminino. Cuidar da prole, preparar a alimentação do

grupo encarregado da função de caça e pesca foram certamente,

as primeiras atividades próprias das mulheres . Se considerarmos

a fase anterior da coleta, iremos encontrá-la (segundo as

confirmações das pesquisas etnológicas) , auxiliando os homens

na tarefa de arrancar, com as estacas-de-cavar, as raízes e

gramíneas.

“ A humanidade, em seus inícios obscuros e miseráveis, não conhecia senão uma medíocre economia individual de sobrevivência que durou centenas de milênios, no velho mundo, antes da descoberta da economia tribal de subsistência com a vida caçadora “ (Nougier,1970,6) .

Na atual sociedade patriarcalista, de longa dominação , a

mulher tem sofrido humilhações, sendo privada do

reconhecimento dos direitos os mais elementares. E tem sido

assim pelos tempos a fora . Afastada do convívio dos demais,

confinada à parte reclusa da moradia, negou-se-lhe as formas

mais rudimentares de educação. E, isso porque a força

libertadora da educação lhe poderia permitir reaver o poder

usurpado pela dominação masculina.

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Aquela que, inicialmente deteve o mando do grupo em

função da posse dos meios de produção - a descoberta das

práticas agrícolas - após o contra-golpe masculino tornou-se ,

através dos séculos, reduzida à condição de criatura submissa

ao pai e depois, ao marido .

As civilizações se sucederam e muitas foram as mulheres

sacrificadas pelo atrevimento de se baterem contra sua condição

servil. Pode-se dizer com Perrot (1988, 167/231), que desde a

antigüidade até os fins do século XVIII as mulheres engrossaram o

populoso grupo dos excluídos sociais.

Tudo é reflexo da perda do poder feminino. Que somente

sobreviveu, mantido dentro da civilização faraônica , onde a

mulher até a dominação Ptolomáica conseguiu conservar sua

equiparação de direitos aos dos homens .

A história da família ocidental revela a supremacia do

homem, tanto no papel de pai quanto no de marido . Segundo

alguns estudiosos, a historiografia indica que esse duplo poder

origina-se da Índia, “ onde o pai é o chefe do grupo religioso “

(Araújo,1993,44) .

As idéias de submissão da mulher na civilização indú são

facilmente constatadas pela leitura de artigos do famoso Código

de Manú .

“ 1. Dia e noite, as mulheres devem estar em um estado de dependência em relação a seus protetores ; e mesmo, quando elas estiverem muito inclinadas para os prazeres inocentes e legítimos , devem se manter submissas àqueles aos quais dependem de sua autoridade “ (Código de Manu, Livro IXº, As Leis Civis e criminais ; deveres da classe comerciante e da classe servil, Garnier,s/d.,256) .

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Entretanto , deve-se esclarecer-se que essa situação

somente passou a ter lugar entre o povo indiano após a invasão

de seu território pelo povos indo-europeus . Essa preponderância

do homem em decorrência da chefia do culto familiar – do qual as

mulheres eram excluídas – igualmente vigiu na Grécia e em

Roma, também civilizações da mesma origem étnica .

A autoridade do pai de família, reflexo da autoridade do

próprio Deus, fica bem clara frente às disposições do antigo direito

romano (Burguière,1986,231/269) .

No Brasil, até o século XIX e ainda hoje no interior das

áreas mais atrasadas, os testemunhos informam sobre as

barbaridades cometidas pelos homens contra as infelizes

dominadas.

Durante a colônia e o império as mulheres, por causa de

heranças, muitas vezes eram internadas pelo pai e/ou irmãos nos

conventos . E a Igreja sempre, em momentos como estes, esteve

ao lado do poder patriarcal .

O poder jurisdicional da época determinava a reclusão das

filhas e esposas rebeladas contra o poder paterno ou marital, em

Casas de Recolhimento (Silva,1998) .

Na realidade social da família brasileira, o homem ocupou

sempre posição tridimensional, na maneira de ver de Rosa Maria

Barboza de Araújo que, assim justifica sua opinião :

“ Em primeiro lugar, como chefe de família ; em segundo, como uma pessoa dotada de aspirações próprias; e, em terceiro, como cidadão. Estas três esferas não são naturalmente isoladas nem excludentes, principalmente se desejamos perceber o universo masculino pela perspectiva da família” (1993,43/44) .

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Desde a antigüidade até os fins do século XVIII a mulher

ficou adstrita às atividades econômicas domésticas e ao trabalho

no campo .

2.2. A Revolução Industrial e o trabalho das mulheres

Com o advento da sociedade capitalista burguesa em

decorrência da Revolução Industrial a mulher passou a ocupar

uma nova posição no grupo social . Era negado a ela até mesmo o

acesso ao estudo . Tratando-se de uma organização patriarcal as

mulheres eram relegadas às partes afastadas da casa como já

acontecia desde a Grécia antiga, onde elas ficavam, como nos

harens muçulmanos, adstritas ao gineceu .

No Brasil, desde o século XVI , quando tem início o

processo de colonização por Portugal, as mulheres também

permaneciam reclusas dentro das casas e somente saindo às ruas

em companhia dos pais ou maridos .

A grande maioria delas, até os fins do século XIX,

permaneceram incultas visto que os patriarcas acreditavam

desnecessário e até mesmo perigoso fazê-las estudar .

Verdade é que estas afirmações somente são válidas em

relação às mulheres das classes privilegiadas . As escravas e a

mulher do povo achavam-se, desde a antigüidade, submetidas a

trabalhos pesados.

Com o advento da produção fabril, a ganância dos

burgueses, levou para as linhas de produção mulheres e crianças.

O trabalho na indústria tornava necessário algum nível de

instrução elementar . Daí que as meninas passaram a ser

admitidas nas escolas que, entretanto, utilizavam então o método

de educação separada para meninos e meninas .

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A partir do acesso à educação, ainda que de forma ainda

precária, as mulheres foram adquirindo consciência de sua

importância na sociedade . Surgiram então, os primeiros

movimentos reinvidicatórios de direitos .

Pode-se dizer que, o século XX assistiu o desenvolvimento

da consciência feminina à par da valorização de seu trabalho .

A Revolução Industrial colocou fim aos Tempos Modernos.

A aplicação de novas formas energéticas à produção deu

em resultado um aumento considerável na produção e o

aperfeiçoamento da mesma através da aplicação de novas

tecnologias.

Em conseqüência da utilização da força do vapor,

inicialmente, e da energia elétrica, a seguir, a sociedade como um

todo se beneficiou. O adiantamento urbano logo se fez sentir e o

adensamento populacional decorrente da necessidade de braços

para a indústria acabou por despovoar os campos.

O trabalhador industrial, ao contrário de seus antecessores,

tinha de ter uma certa escolarização. Daí impor-se o crescimento

das escolas que visavam a educação básica.

A mulher, necessariamente mantida inculta desde a

Antigüidade , foi substituída por uma outra que, trabalhando em

afazeres fora da própria casa, ajudava o marido no sustento desta.

2.2.1. A mulher trabalhadora

A mulher trabalhadora ganhou no século XIX uma

proeminência extraordinária .

É evidente que ela já existia, como se viu , muito antes do

advento do capitalismo industrial , ganhando o seu sustento como

fiandeira, costureira, ourives, cervejeira, polidora de metais,

fabricante de botões ou de rendas, ama, criada de lavoura ou

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criada doméstica nas cidades e nos campos da Europa e da

América .

Entretanto, no século XIX é que ela passou a ser

observada, descrita e documentada com uma atenção sem

precedentes, quando os seus contemporâneos debateram a

conveniência , a moralidade e até a legalidade das suas atividades

assalariadas .

A mulher trabalhadora foi um produto da revolução

industrial , não tanto porque a mercanização tenha criado para ela

postos de trabalho onde antes não existiam , mas porque no

decurso da mesma ela se tornou uma figura pertubadora e visível .

A visibilidade da mulher trabalhadora resultou da sua

percepção como um problema , um problema de criação recente e

que exigia uma resolução urgente . Este problema implicava o

próprio sentido da feminilidade e a sua compatibilidade com o

trabalho assalariado ; foi posto e debatido em termos morais e

categoriais .

Fosse o objeto de atenção uma vulgar operária fabril, uma

pobre costureira ou uma compositora tipográfica emancipada ,

fosse ela descrita como uma jovem rapariga solteira, uma mãe de

família , uma viúbva idosa ou a mulher de um trabalhador

desempregado ou de um hábil artesão ; quer fosse tomada como

o exemplo último das tendências destrutivas do capitalismo ou

como prova das suas progressivas potencialidades, as questões

que ela levantava eram as mesmas : deve a mulher trabalhar por

um salário ? Qual o impacto do trabalho assalariado no corpo

feminino e na sua capacidade de desempenhar as funções

maternais e familiares ? Que gênero de trabalho é adequado para

uma mulher ?

Nem toda a gente esteve de acordo com o legislador

francês Jules Simon que afirmou , em 1860 , que “ uma mulher

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que se torna trabalhadora deixa de ser mulher “ , mas a maior

parte das facções intervenientes nos debates sobre a mulher

trabalhadora enquadrava os seus argumentos em termos de uma

oposição assumida entre lar e trabalho, entre maternidade e

salário , entre feminilidade e produtividade .

Se a história da separação objetiva entre lar e trabalho não

explica inteiramente o “ problema “ das mulheres trabalhadoras no

século XIX , o que o explica?

Acreditam certos estudiosos que em vez de procurar

causas técnicas ou estruturais específicas, deve-se usar uma

estratégia que analise os processos discursivos pelos quais se

constituíram as divisões sexuais do trabalho . Isto permitirá uma

análise mais complexa e crítica das interpretações históricas

dominantes .

A identificação do trabalho feminino com certo tipo de

empregos e como mão-de-obra barata foi formalizada e

institucionalizada de várias maneiras durante o século XIX , de tal

maneira que se tornou axiomática , uma questão de senso

comum.

Até aqueles que procuravam mudar o estatuto do trabalho

feminino se viram na situação de ter de argumentar contra o que

era tido como “ fatos “ observáveis .

Estes “ fatos “ não existiam objetivamente, mas eram

produzidos por histórias que sublinhavam os efeitos causais da

separação entre lar e trabalho , potr teorias de economistas

políticos e por preferência de contratação dos empregadores que

criavam uma força de trabalho claramente segregada pelo sexo .

Os estudos de reformadores, médicos , legisladores e

estatísticos tornavam efetivamente naturais os “ fatos “ , tal como

o faziam as políticas da maioria dos sindicatos masculinos , que

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tomavam por adquirisdoo mais baixo valor produtivo das mulheres

trabalhadoras .

A publicação de legislação protetora para as mulheres ,

desde as primeiras leis fabris ao movimento internacional do final

do século XIX , assumia a idéia de que todas as mulheres eram

inevitavelmente dependentes e que as assalariadas eram um

grupo insólito e vulnerável , necessariamente limitado a certos

tipos de empregos .

Neste vasto coro de harmonia, as vozes dissidentes de

algumas feministas , de dirigentes laboriais e de socialistas tinham

dificuldade de se se fazerem ouvir .

2.2.2. A economia política e a mulher operária

A economia política era um dos terrenos , onde era

produzido o discurso da divisão sexual do trabalho . Os

economistas políticos do século XIX desenvolveram e

popularizaram as teorias de seus predecessores setecentistas . E

apesar de existirem importantes diferenças nacionais , assim

como diferentes escolas de economia política dentro do mesmo

país , alguns princípios básicos eram comuns a todos .]

Entre eles , a noção de que o salário de um homem tinha

de ser suficiente não somente para a sua própria subsistência mas

também para manter uma família , pois de outra maneira ,

assinalava Adam Smith , “ a raça de tais trabalhadores não

poderia durar para além da primeira geração “ .

Pelo contrário , o salário de uma esposa , “ tendo em conta

a atenção que necessariamente tinha de dar aos filhos , não se

esperava mais do que o suficiente para o seu próprio sustento “ .

A idéia de que o trabalho dos homens e o das mulheres

tinham valores diferentes , não excluía completamente as

18

mulheres da força de trabalho dos países em industrialização,

nem as confinava ao calor do lar .

Porém a economia política tinha ainda outros efeitos .

Ao propor duas “ leis “ diferentes para os salários , dois

sistemas diferentes de cálculos do preço de trabalho , os

economistas distinguiam a força de trabalho segundo o sexo ,

explicando-a em termos de uma funcional divisão sexual do

trabalho .

Importante recordar também, que as práticas dos

empregadores eram um outro domínio da produção do discurso da

divisão sexual do trabalho . Os empregadores descreviam

freqüentemente os empregos que ofereciam como tendo

características inerentes a um dos sexos .

Finalmente , outro exemplo da forma como a divisão sexual

do trabalho se constitui de maneira discursiva pode ver-se na

política e nas práticas dos sindicatos .

Na sua maioria, os sindicalistas procuravam proteger os

seus empregos e salários mantendo as mulheres afastadas das

suas profissões e , a longo prazo , afastadas do mercado de

trabalho .

Aceitavam como inevitável o fato dos salários femininos

serem mais baixos do que os masculinos , e por isso tratavam as

mulheres trabalhadoras mais como uma ameaça do que como

potenciais aliadas . Justificavam as suas tentativas para excluir

as mulheres das suas respectivas profissões argumentando, em

termos gerais , que a estrutura física da mulher determinava o seu

destino social como mãe e dona de casa e que portanto ela não

podia ser nem uma trabalhadora produtiva nem uma boa

sindicalista .

Entretanto , a nova função feminina, como agente

produtivo , levou-a a lutar pela aquisição de direitos .

19

Esses direitos resultaram da reformulação sofrida pela

instituição familiar que, a despeito da permanência insistente do

ranço patriarcal, se viu obrigada a incorporar algumas

concessões à consorte . Portanto, o surgimento da família

burguesa, característica da sociedade industrial, foi um marco

decisivo do surgimento de novos direitos femininos.

Atualmente, ainda a despeito de, contrariando a legislação,

a mulher receber menos que o homem no exercício de funções

idênticas, já se pode divisar a equiparação total dos direitos no

próximo milênio.

O Direito é levado a se adequar às transformações sociais.

No Brasil contemporâneo a mulher já exerce profissões e

cargos até então apenas reservados aos homens . Assim, já

existem mulheres no poder jurisdicional, no legislativo e, um pouco

menos, no executivo .

Na administração de empresas o trabalho feminino vem

sendo destacado pela qualidade e seriedade do mesmo .

Pode-se dizer que o século XX além de devolver à mulher

seus direitos usurpados pelo patriarcalismo, propiciou condições

para que se cumprisse na íntegra a Carta dos Direitos Universais

do Homem (ONU,1948) com a equiparação dos direitos entre os

dois sexos .

20

CAPÍTULO SEGUNDO

A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E

A MULHER COMO AGENTE PRODUTIVO

3.1. A sociedade industrial burguesa

De grande intensidade foi a Revolução Feminina

iniciada no século XIX e desenvolvida ao longo da vigésima

centúria. Trata-se de um movimento social dos mais expressivos

que esteve ligado à Revolução Industrial . Esta, de significado

profundo, alterou profundamente a estrutura do corpo social,

fazendo surgir a sociedade industrial burguesa plena de novas

formas, idéias e valores . Em especial, firmou-se uma nova forma

de família, com suas variantes de classe : a proletária, a da classe

média e a dos abastados. Apesar de suas distinções referentes à

posse dos bens, todas elas se caracterizam por serem “

nucleares.”

A mulher, até então isolada do convívio social, sem acesso

a qualquer tipo de instrução, passa – com o advento do modo de

produção industrial – a ser tida não como agente produtivo de

riqueza como igualmente, como consumidora.

Esta nova situação irá permitir-lhe o acesso à instrução e

esta, por seu turno, vai descortinar-lhe progressivamente, os

direitos que teve e que, com o passar dos séculos, lhe foram

subtraídos pelo patriarcalismo .

A luta pela retomada de seus direitos está materializada na

campanha feminista e, esta, tem sua expressão máxima, na

chamada Revolução Sexual.

21

3.2. A emancipação progressiva da mulher brasileira

Na sociedade brasileira é possível recuperar-se a trajetória

emancipativa da mulher através das obras literárias e da

frequência de notícias veiculadas ´pela imprensa. Durante muito

tempo, a brasileira sofreu no isolamento interiorano das grandes

casas, ocupada tão somente com os afazeres domésticos. Essa

segregação brutalizou-a.

Nas fazendas, paradoxalmente, possuía maior liberdade de

ação . Nas cidades, entretanto, sair à rua somente acompanhada

do pai ou do marido, em um tipo de procissão doméstica – tão

bem retratadas por Debret e Rugendas – onde primeiro vinham as

crianças, depois os moços seguindo-se as aias com suas crias,

para finalmente, a mulher acompanhada do senhor absoluto da

casa, o pater familia .

Durante as décadas de 20 e 30 assiste-se a gradual

libertação da mulher .

Quanto ao ingresso da mesma no mercado de trabalho,

isso teve lugar desde cedo, entre os grupos desprotegidos da

sociedade : escravos, forros e libertos . Nesta época as escravas ,

no permetro urbano, trabalhavam como “ negras de ganho “ ,

vendendo dôces, frutas, missangas, etc. Prestavam também

serviço doméstico , ou diretamente na casa de seus senhores, ou

em outras residências “ alugadas “ pelos seus donos .

Quanto às mulheres das classes média e abastada, como

no caso dos homens, era vedado às mesmas qualquer tipo de

atividade braçal, “ degradante, serviço que era de escravo “ .

Com o advento do século XX , suas três primeiras décadas

assistiram o desenfurnar-se as mulheres dos interiores das casas .

A cultura citadina se transforma influenciada pelo rádio , folhetins

e, pouco mais tarde, pelo “ cinematógrafo “ , que é como se dizia

22

na época . Mulheres e moças já saíam, após o almoço, para

assistir as famosas “ seções da tarde “ .

Surgem periódicos especialmente dirigidos ao público

feminino, alguns editados em papel couché como a “ Vida

Doméstica “, de ampla divulgação .

No Rádio, as novelas e os programas femininos, com

locutores que fizeram fama, fazem a “ cabeça “ do público

feminino.

Mas essas são mulheres ainda alheias ao mercado de

trabalho . Para as integrantes das classes médias (principalmente)

e as oriundas dos estratos privilegiados, uma só profissão era

aceita : professora . Daí que as meninas desses grupos sociais

além de serem preparadas para os trabalhos do lar, igualmente o

fossem para o magistério primário . A preparação para o

magistério deste nível se fazia nas Escolas Normais e a

normalista, logo irá povoar o imaginário dos poetas .

A revolução feminina somente levará a mulher ao emprego

público e às atividades liberais no decorrer da década de 40 .

Após a década de 50 começa a se acentuar a presença

feminina em diversos setores produtivos, quer de especialização

média, quer superior .

Encontram-se no mercado de trabalho advogadas,

médicas, professoras, engenheiras (em menor número) .

As Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras, a partir da

década de 40 começam a formais profissionais liberais, fora das

especializações clássicas, frente às necessidades da produção

industrial .

Surgem as químicas, as contadoras, as auditoras, as

administradoras de empresa, as psicólogas, etc...

23

O mercado de trabalho atual, com sua exigência de

constante atualização, vem abrindo espaços cada vez mais

amplos para a profissional feminina .

Na área política assiste-se a chegada da mulher aos

mandatos mais significativos, desde prefeitas e governadoras, a

ministras de Estado e congressistas.

No Poder Judiciário tornou-se uma constante a presença

feminina, desde promotoras até juízas e desembargadoras.

Assistiu-se há muito pouco tempo atrás a investitura de uma

mulher como Ministro do STJ – Superior Tribunal de Justiça .

O estudioso da presença da mulher no mercado de trabalho

tem se preocupado em saber qual a maneira como as executivas

pensam e agem .

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CONCLUSÃO

Pesquisa de grande vulto da Datafolha obteve respostas

significativas para o traçado do perfil dessa mulhger dinâmica que

dirige empresas além de comandar seu próprio lar.

Este levantamento solicitado à Datafolha pelo CREA-SP

pesquisou , entre outros itens :

1. Posicionamento da mulher no mercado de trabalho

(Anexos 1e2) concluindo que :

1.1. A proporção das mulheres no cargo de chefia

permanece sendo menor que a dos homens ;

1.2. A legislação referente à maternidade é fator de

rejeição parta o emprego de mulheres ;

1.3. As mulheres têm menos oportunidades

profissionais do que os homens ;

1.4. Existe discriminação de função no ambiente de

trabalho ;

1.5. As mulheres sofrem discriminação sexual /;

1.6. As mulheres sofrem discriminação racial ;

1.7. Existe igualdade de direitos no ambiente de

trabalho ;

1.8. O assédio sexual no trabalho tem aumentado .

2. Em relação à Participação em movimentos e

associações(Anexo 3 e 4) :1. Entidades de classe/sindicatos –

somente 7% das entrevistadas participam ;

2. Atividades religiosas – a participação é de

20% ;

3. Atividades filantrópicas - igualmente, só

participam 20% ;

25

4. Clubes recreativos – tem uma participação

de 28% .

3. Quanto aos Fatores importantes para o

aperfeiçoamento profissional (Anexo 5) , a pesquisa

apurou que 4,5 (média) têm conhecimento de

informática ;:

4,3 (média) têm fluência no idioma inglês ;

3,8 (média) cursou especialização/educação

continuada;

3,4 (média) possuem curso de pós-graduação ;

3,2 (média) têm experiência profissional no exterior .

Outro aspecto importante pesquisado diz respeito à

Percepção dos problemas sociais do Brasil (Anexo 6) .

As seguintes informações percentuais se assinalam :

Referente à educação – de 78 , 40%

Referente à saúde – de 63 , 18%

Referente a desemprego – de 37 , 12%

Referente à violência – de 28 , 6%

Referente à moradia/habitação – de 25 , 8%

Referente à miséria/fome – de 9 , 4%

Referente à melhor distribuição de renda – de 8 , 4%

Referente à salários – de 7 , 2%

Referente à corrupção de políticos – de 6 , 1%

Referente à reforma agrária – de 5 , 1%

Outras respostas – de 14 , 3% .

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BIBLIOGRAFIA

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Rocco : 1993 .

BARROS, A . M . A Mulher e o Direito do Trabalho . São Paulo :

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ANEXOS

PESQUISA DATAFOLHA CREA-SP

ANEXO 1

PERCEPÇÃO DOS PROBLEMAS SOCIAIS DO BRASIL

ANEXO 2

FATORES IMPORTANTES PARA O APERFEIÇOAMENTO

PROFISSIONAL

ANEXO 3

POSICIONAMENTO DA MULHER NO MERCADO DE

TRABALHO I

ANEXO 4

POSICIONAMENTO DA MULHER NO MERCADO DE

TRABALHO I I

ANEXO 5

PARTICIPAÇÃO EM MOVIMENTOS E ASSOCIAÇÕES I

ANEXO 6

PARTICIPAÇÃO EM MOVIMENTOS E ASSOCIAÇÕES I I

29

ANEXO 1

30

ANEXO 2

31

ANEXO 3

32

ANEXO 4

33

ANEXO 5

34

ANEXO 6

35

OUTROS ANEXOS

36

ÍNDICE

RESUMO 5

SUMÁRIO 6

INTRODUÇÃO 7

1.3. A pesquisa 7

1.4. Força-Trabalho e Mercado 8

CAPÍTULO PRIMEIRO

A MULHER COMO FORÇA-TRABALHO 10

2.1. Das origens pré-históricas ao século XIX 10

2.2. A Revolução Industrial e o trabalho das

mulheres 13

2.2.1. A mulher trabalhadora 14

2.2.2. A economia política e a mulher operária 17

CAPÍTULO SEGUNDO

A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E

A MULHER COMO AGENTE PRODUTIVO 20

3.1. A sociedade industrial burguesa 20

3.3. A emancipação profissional da mulher

Brasileira 21

37

CONCLUSÃO 24

BIBLIOGRAFIA 26

ANEXOS 28

OUTROS ANEXOS 35

ÍNDICE 36

38