Upload
nguyenbao
View
213
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
I
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
A EDUCAÇÃO FORMAL NO BRASIL.
JÁ FOI MELHOR UM DIA?
JOÃO PAULO CESAR
ORIENTADORA: PROFª. Ms. MARY SUE CARVALHO PEREIRA
RIO DE JANEIRO OUTUBRO/2003
II
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
Apresentação de monografia ao Conjunto UniversitárioCandido Mendes como condição prévia para aconclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”em Docência do Ensino Fundamental e Médio.
RIO DE JANEIRO OUTUBRO/2003
A EDUCAÇÃO FORMAL NO BRASIL.
JÁ FOI MELHOR UM DIA?
JOÃO PAULO CESAR
III
A todos os docentes do Projeto “A Vez do Mestre”que me conduziram na construção doconhecimento.
AGRADECIMENTOS
IV
Dedico esta monografia à minha querida irmãAlice do Carmo, que tentou me incentivar emtoda minha vida acadêmica.
DEDICATÓRIA
V
RESUMO
O leitor ao ler esta monografia, terá a oportunidade de vivenciar de
forma clara e precisa, como se desenvolveu a educação (formal), desde o
período colonial até os nossos dias. Tomará consciência como os períodos
políticos e as fases econômicas (cana de açúcar, café, mineração etc), e as
correntes pedagógicas conduziram a educação, ao longo dos anos. Outrossim,
este mesmo leitor, identificará neste trabalho, as várias correntes pedagógicas
que influenciaram a nossa escola, até que o pensamento pedagógico brasileiro
desse os seus primeiros passos.
Fica, também evidenciado em nossa narrativa o quanto a nossa
educação foi e continua sendo elitista, excludente e perversa, com a grande
parte da população. E com muita esperança enfatizamos as boas novas
trazidas pela nova LDB – Lei nº: 9394, de 20 de dezembro de 1996, conhecida
como Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
VI
METODOLOGIA
O trabalho monográfico foi desenvolvido a partir de pesquisa
bibliográfica e documental, tomando-se como referência, grandes educadores e
autores brasileiros, que se dedicaram, com grande sabedoria, mostrando, às
sucessivas gerações a historicidade da educação formal brasileira.
VII
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
Escolarização colonial 10
CAPÍTULO II
A Educação eletista do Império 35
CAPÍTULO III
A Educação Republicana 54
CAPÍTULO IV
Educação formal no Brasil de hoje 75
CONCLUSÃO 96
BIBLIOGRAFIA 98 ÍNDICE 99 ANEXOS 101 FOLHA DE AVALIAÇÃO 102
VIII
INTRODUÇÃO
Este trabalho foi concebido para oferecer uma visão a respeito da
educação formal do Brasil através dos tempos. E também têm como intenção
mostrar como as correntes filosóficas influenciaram a educação formal
brasileira ao longo dos anos. Paralelamente abordamos com a política, a
economia e as ciências interagiram com a educação.
No capítulo I, transportamos o leitor até a fase colonial, quando o
Brasil incorporou idéias educacionais com pensamentos filosóficos da idade
média. Isto se deu através do jesuitismo, que a priori, visava atender as
exigências e interesses da metrópole portuguesa. Buscou-se inicialmente a
formação da elite da colônia e, via catequese, a conversão dos índios a fé
católica e a submissão incondicional ao trabalho escravo, de tal forma que aos
filhos dos colonos era reservada uma educação humanista centrada nos
valores espirituais e morais da civilização ocidental e cristã. Em termos de
educação para o povo, os negros, índios e mestiços a recebiam no próprio
ambiente de trabalho, de forma bastante elementar. Mais tarde, na fase
pombalina, as atenções se voltaram para a classe burguesa, a fim de dar
continuidade aos estudos em nível superior em Portugal, formando agora o
homem para o Estado e não mais para a vida religiosa.
No capítulo II, na fase imperial, mostramos as grandes mudanças na
cultura e na educação, principalmente o incentivo aos cursos superiores, de
modo a atender as necessidades sociais da nação que caminha para a
autonomia política em relação a dominação portuguesa. Da mesma forma que
no período colonial, a educação elementar e secundária, não eram prioridades
do governo. A lógica permaneceu a mesma, o acesso a escolarização
continuou a ser feita de acordo com a origem da classe – educação
universitária para a burguesia ascendente e o trabalho duro para o restante da
população.
IX
No capítulo III (período republicano), mostramos a decadência do
modelo educacional herdado do império, que privilegia a educação da elite, em
detrimento da educação oferecida ao restante da população, focalizamos as
inúmeras discussões, que antecederam a revolução de 1930, que
determinaram o avanço no processo educacional do país.
No capítulo IV, debruçamos na atual educação formal do Brasil,
sintetizado na nova Lei de Diretrizes e Bases, Lei 9394/96.
Vale ressaltar que não esquecemos de mencionar o papel relevante
dos vários correntes pedagógicos que é parte da história da educação formal
do Brasil.
X
CAPÍTULO I
ESCOLARIZAÇÃO COLONIAL
“A educação habitua o educando a desabrochar todasas suas potencialidades”.
São Tomas de Aquino
XI
1.1. IDÉIAS PEDAGÓGICAS MEDIEVAIS
Após a decadência do Império Romano e as invasões dos povos
bárbaros, a cultura greco-romana, começa a perder sua influência.
Uma nova força espiritual, submete a cultura antiga ao seu crivo
ideológico, porém preservando aquela cultura (greco-romana).
A educação medieval ocorre de acordo com os grandes
acontecimentos da época, entre eles, a pregação apostólica.
A patrística que ocorreu no século I ao VII conciliou a fé cristã com
os doutrinos greco-romanos e difundiu a escola catequista por todo o império.
Ao mesmo tempo, a educação medieval conservou a tradição e a cultura
antiga. “Non scholae, sed vitae est docendum” (não se deve ensinar para a
escola, mas para a vida). (Sêmeca, 4 a.C. – 65). Muitas obras clássicas foram
reproduzidas nos conventos. Nos séculos seguintes o ensino foi centralizado
por parte do poder cristão. A escola no século IV, a partir de Constantino,
tornou-se aparelho ideológico do Estado e a religião, o cristianismo foi
efetivado como religião oficial do Império. Foi criada uma educação para o
clérigo, humanista e filosófico-teológico, e ao mesmo tempo uma educação
para o povo, que consistia numa educação catequista e dogmática.
Os clérigos originários das classes populares sujeitavam-se a
subserviência. Mediante juramentos de fidelidade a fé cristã, a castidade e a
pobreza. Já aqueles cuja origem era as camadas mais ricas, que detinham o
poder, não eram obrigados a tantas obrigações.
Deus era a justificação de tudo, e o sumo sacerdote, não tinha que
prestar contas a ninguém.
XII
No século IX, no Império de Carlos Magno, havia a escola elementar
ministrada em escolas paroquiais, pelos sacerdotes; escolas secundárias
ministradas em escolas monásticas (nos conventos); e a educação superior,
ministrada nas escolas imperiais. Ao contrário dos cristãos, os árabes não
queriam mutilar a cultura grega em função dos seus interesses. Foram eles que
a levaram ao ocidente, com a invasão cultural que realizaram. Desse conflito
inicia-se um novo tipo de vida intelectual chamada escolástica, que procura
conciliar a razão histórica com a fé cristã, cujo maior expoente foi São Tomás
de Aquino (1224-1274), para o qual a revelação divina era supra-racional, mas
não anti-racional.
Partindo das premissas de Aristóteles, afirma São Tomás de Aquino
que a educação habitua o educando a desabrochar todas as suas
potencialidades (educação integral), operando assim a síntese entre a
educação cristã e a educação grego-romana.
Para muitos, São Tomás de Aquino abusava do princípio da
autoridade. Com toda sua reconhecida inteligência, ele não foi capaz de
admitir, que a existência de homens escravos desagradava a existência
humana.
Ao lado do clero, a nobreza também se realizava, seu ideal era o
perfeito cavaleiro com formação musical e guerreira, experiente nas sete artes
liberais: cavalgar, atirar com arco, lutar, caçar, nadar, jogar xadrez e versificar.
A profissão da nobreza consistia apenas em cuidar de seus interesses.
A classe trabalhadora nascente não tinha senão a educação oral
transmitida de pai para filho, e só herdava a cultura da luta pela sobrevivência.
As mulheres consideradas pecadoras pela Igreja, só podiam ter
alguma educação quando “vocacionadas” (chamadas) para ingressar nos
conventos femininos, mas só eram “chamadas” aquelas que tinham a vocação
XIII
principal: ser proprietária de terras ou herdeiras. Assim, a igreja impedindo o
casamento de padres e freiras, constituiu-se no maior latifundiário da terra.
A igreja não se preocupava com a educação física. Considerava o
corpo pecaminoso – ele tinha de ser sujeitado e dominado. Os jogos ficavam
por conta da educação do cavaleiro.
Fato importante da idade média foi a criação das universidades de
Paris, Bolonha, Salermo, Oxford, Heidelberg, Viena. Eram centros que
buscavam a universalidade do saber. Elas se constituíram na primeira
organização liberal da idade média.
Para muitos historiadores atuais, a idade média não foi a idade das
pedras, da ignorância e do obscurantismo, como os ideológicos do
renascimento pregaram. Ao contrário, foi fecunda em lutas pela autonomia,
com greves e grandes debates livres.
Este modelo de educação e idéias da Idade Média foram trazidos
pelos jesuítas no início da colonização do Brasil, como veremos adiante.
1.2. JESUITISMO
A Pedagogia trazida pelos jesuítas teve grande influência no Brasil,
até hoje, é defendida pela educação tradicional. Os jesuítas aqui chegaram tal
logo foi criado o Governo Geral, isto é, o primeiro representante do poder
público na Colônia. Entre as diretrizes básicas constantes no Regimento, isto é,
na nova política ditada então, por D. João III (1548), é encontrada uma
referente à conversão indígena a fé católica pela catequese e pela instrução.
Em cumprimento a isto, chegam com Tomé de Souza, quatro padres
e dois irmãos jesuítas, chefiados por Manoel de Nóbrega em 1549.
XIV
Luiz A. de Mattos (1958), destaca a importância deste item dos
“Regimentos”, dizendo que
“dele dependeria (...) o êxito da arrojada empresa
colonizadora, pois que somente pela aculturação
sistemática e intensiva do elemento indígena aos valores
espirituais e morais da civilização ocidental e cristã é que
a colonização portuguesa poderia lançar raízes definitivas
(...)” (MATTOS, 1958, p. 31).
Percebe-se, por estes poucos fatos, que a organização escolar no
Brasil-Colônia está como não poderia de ser, estritamente vinculada à política
colonizadora dos portugueses.
Fernando A. Novais (1975), diz que a política colonial apresenta-se
como um tipo particular de relações políticas, com dois elementos: um centro
de decisão (metrópole) e outro subordinado (colônia), de tal forma que as
relações através das quais se estabelece o quadro institucional para que a vida
econômica da metrópole seja dinamizada pelas atividades coloniais. Este tipo
de dinamização era necessário para impulsionar a passagem do capitalismo
mercantil do capitalismo industrial. O objetivo dos colonizadores era o lucro, e a
função da população colonial era proporcional tais lucros às camadas
dominantes metropolitanas.
Obrigatório se tornou empreender a colonização em termos de
povoamento e cultivo da terra. Os interesses da metrópole determinaram o
produto, a quantidade e a forma de ser produzido, bem como os elementos
dispostos e em condições de produzir. A natureza desta tarefa e produção de
mercadorias, os riscos inerentes e a necessidade de capital inicial excluíram, a
um tempo, a burguesia mercantil, os membros da alta nobreza e seus servos.
Os que se dispuseram vieram para tarefas de organização, escravizaram os
que trabalhavam a terra: os índios e os negros. Estes atendiam aos interesses
da burguesia mercantil portuguesa, porque possibilitou a produção de baixo
XV
custo e porque os escravos, enquanto mercadoria, era fonte de lucro, já que
era a burguesia mercantil que os transportava.
É assim que a grande produção açucareira foi a única base da
economia colonial até meados do século XVII.
Num contexto social com tantas características e instrução, a
educação escolarizada só podia ser convincente e interessar a camada
dirigente, cujo modelo de organização adotado, caberia a articulação dos
interesses metropolitanos e as atividades coloniais.
Nos regimentos ver-se-á que a clientela citada explicitamente foi a
indígena, através da catequese e instrução. Mas não caberia aos jesuítas
apenas a educação popular indígena, já que os subsídios recebidos e a
obrigação decorrente também sugerem que os jesuítas deveriam fundar
colégios que receberam subsídios do Estado português relativo a missões.
Desta forma, ficaram periodicamente obrigados a formar gratuitamente
sacerdotes para a catequese, pois tal determinação específica a forma de
financiamento da obra, parece restringir os objetivos ao âmbito da catequese.
Por outro lado, o primeiro plano elaborado pelo padre Manoel de Nóbrega,
percebe-se a intenção de catequizar e instruir os indígenas, mas também a
necessidade de incluir os filhos dos colonos, uma vez que, naquele instante,
eram os jesuítas os únicos educadores de profissão que contavam com
significativo apoio real da colônia.
O plano de estudos propriamente dito foi elaborado de forma
diversificada com o objetivo de atender a diversidade de interesses e de
capacidades começando pelo aprendizado de português, incluiu o ensino da
doutrina cristã, a escola de ler e escrever. Daí em diante, continua em caráter
opcional, o ensino de canto orfeônico e de músico instrumental, e uma
bifurcação tendo em um dos lados o aprendizado profissional e agrícola e, de
outro, aula de Gramática e viagem de estudo à Europa.
XVI
Vejamos o gráfico de representação do plano de estudos do padre
Manoel de Nóbrega.
PLANO DE ESTUDO
DE NÓBREGA DE RATIO
ESCOLA DE LER E ESCREVER
CANTO ORFEÔNICO
DOUTRINA CRISTÃ
APRENDIZADO DO PORTUGUÊS
MÚSICA INSTRUMENTAL
CURSO DE HUMANIDADES
CURSO DE FILOSOFIA
CURSO DE TEOLOGIA
VIAGEM À EUROPA
APRENDIZADO PROFISSIONAL E
AGRÍCOLA
GRAMÁTICA LATINA
VIAGEM À EUROPA
XVII
A partir de 1556 começa a vigorar Constituição da Companhia de
Jesus, o plano de Nóbrega encontra sérias resistências, já que fica claro, de
alguma forma, ter entrado em choque com a orientação da própria ordem
religiosa, isto fica constatado pelo fato de o plano que vigora durante o período
de 1570, ano da morte do padre Nóbrega até 1579, excluiu as etapas iniciais
de estudo, o aprendizado de Canto Orfeônico, da música instrumental,
profissional e agrícola.
Nota-se que a orientação contida no novo plano Ratio Studiorum foi
promulgada em 1599, depois de um período de elaboração e experimentação.
O Ratio Studiorum, da Companhia de Jesus, evidencia desta forma
um desinteresse ou a constatação da impossibilidade de “instruir” também o
índio. Era necessário concentrar pessoal e recursos em “pontos estratégicos” e
tais “pontos” eram os filhos dos colonos em detrimento do índio, os futuros
sacerdotes em detrimento do leigo, conforme justificativa dos religiosos. Os
instruídos seriam os descendentes dos colonizadores, enquanto os indígenas
apenas catequizados. Com o movimento da Reforma (Martin Lutero)
protestante, a catequese interessava a Companhia de Jesus na busca de
novos adeptos ao catolicismo, muito abalado por aquele movimento religioso.
Do ponto de vista econômico a Companhia de Jesus e o colonizador tinham
interesses comuns, a medida que tornava o índio mais dócil, de tal forma, mais
fácil de ser aproveitado com mão-de-obra.
A educação profissional restringiu-se ao trabalho manual de forma
rudimentar, era alcançado no próprio ambiente de trabalho, quer de mestiços,
quer de índios ou negros, que formavam a grande parte da população colonial.
A educação feminina restringia-se a boas maneiras e prendas
domésticas.
XVIII
A elite era preparada para o trabalho intelectual conforme um
modelo religioso (católico) isto devido ao apoio da coroa real portuguesa,
oferecido a Companhia de Jesus que se tornava a ordem dominante no campo
educacional, isto por sua vez fez com que os seus colégios fossem procurados
por muitos que não tinham realmente vocação religiosa, mas que reconheciam
que esta era a única via de preparo intelectual. Haja vista que, em
determinadas épocas, a procura era tão maior que a capacidade, limitada, é
certo, dos colégios que chegou a causa problemas, como a “Questão dos
moços pardos”, resolvida em 1689.
O Ratio Studiorum que nos referimos anteriormente e que continha
os planos, programas e métodos da educação católica, tinha em seu conteúdo
a formação em latim e grego, em filosofia e teologia. Seu método predominante
verbal compreendia cinco momentos: a preleção, a contenda ou emulação, a
memorização, a expressão e a imitação. Todavia, o plano era seguido com
extrema rigidez, na sua aplicação, senão vejamos, as regras do professor de
filosofia.
Fim
Como as artes e as ciências da natureza preparam a inteligência
para a teologia e contribuem para a sua perfeita compreensão e aplicação
prática e por si mesmas concorrem para o mesmo fim, o professor, procurando
sinceramente em todas as coisas a honra e a glória de Deus, trate-as com a
diligência devida, de modo que, prepare os seus alunos, sobretudo os nossos,
para a teologia e acima de tudo os estimule ao conhecimento do Criador.
Como seguir Aristóteles
Em questões de alguma importância não se afaste de Aristóteles, a
menos que se trate de doutrina oposta à unanimemente recebida pelas
escolas, ou, mais ainda, em contradição com a verdadeira fé. Semelhantes
XIX
argumentos de Aristóteles ou de outro filósofo, contra a fé, procure, de acordo
com as prescrições do Concílio de Latrão, refutar com todo vigor.
Autores infensos ao Cristianismo
Saem muito critério não leia nem cite na aula os intérpretes de
Aristóteles infensos ao Cristianismo; e procure que os alunos não lhes cobrem
afeição.
Averróis
Por essa mesma razão não reúna em tratado separado as
digressões de Averróis (e o mesmo se diga de outros autores semelhantes) e,
se alguma coisa boa dele houver de citar, cite-a sem encômios e, quando
possível, mostre que hauriu em outra fonte.
Não se filiar em seita filosófica
Não se filie nem a si nem a seus alunos em seita alguma filosófica
como a dos averroístas, dos alexandristas e semelhantes; nem dissimule os
erros de Averróis, de Alexandre e outros, antes tome daí ensejo para com mais
vigor diminuir-lhes a autoridade.
Santo Tomás
De Santo Tomás, pelo contrário, fale sempre com respeito,
seguindo-o de boa vontade todas as vezes que possível, dele divergindo, com
pesar e reverência, quando não for plausível a sua opinião.
XX
Curso de filosofia de três anos
Ensine todo o curso de filosofia em não menos de três anos, com
duas horas diárias, uma pela manhã outra pela tarde, a não ser que em alguma
universidade se oponham os seus estatutos.
Quando se deve concluir
Por esta razão não se conclua o curso antes que as férias do fim do
ano tenham chegado ou estejam muito próximas.
Estima do texto de Aristóteles
Ponha toda a diligência em interpretar bem o texto de Aristóteles; e
não dedique menos esforço à interpretação do que às próprias questões. Aos
seus alunos persuada que será incompleta e mutilada a filosofia dos que ao
estudo do texto não ligarem grande importância.
Que textos se devem explicar e como
Todas as vezes que deparar com textos célebres e muitas vezes
citados nas disputas, examine-os cuidadosamente, conferindo entre si as
interpretações mais notáveis a fim de que, do exame do contexto, da força dos
termos gregos, da comparação com outros textos, da autoridade dos
intérpretes mais insignes e do peso das razões, se veja qual deve ser preferida.
Examinem-se por fim as objeções que, se por um lado não devem esmiuçar
demasiadamente, por outro, não se deverão omitir, se têm certa importância.
Escolha a ordem das questões
Escolha com muito cuidado as questões; as que não se prendem
imediatamente ao pensamento principal de Aristóteles, mas derivam
ocasionalmente de algum axioma por ele referido de passo, se em outros livros
XXI
se tratam expressamente, para eles as remeta; do contrário explique-as logo
em seguida ao texto que as sugerir.
As questões a serem introduzidas entre os textos
As questões que por si pertencem à matéria da qual disputa
Aristóteles não se tratem senão depois de explicados todos os textos que ao
assunto se referem, no caso em que se possam expor em uma ou duas lições.
Quando, porém, se estendam mais como são os relativos aos princípios, às
causas, ao movimento, então nem se espraie em longas dissertações nem
antes das questões se explique todo o texto de Aristóteles, mas de tal modo
com elas se combine que depois de uma série de textos se introduzam as
questões com eles relacionadas.
Repetição na aula
No fim da aula, alguns alunos, cerca de dez, repitam entre si por
meia hora o que ouviram e um dos condiscípulos, da Companhia, se possível,
presida à decúria.
Disputas mensais
Cada mês haja uma disputa na qual arguam não menos de três, de
manhã, e outros tantos, de tarde; o primeiro, durante uma hora, os outros,
durante três quartos de hora. Pela manhã, em primeiro lugar dispute um
teólogo (se houver teólogos em número suficiente) contra um metafísico, um
metafísico contra um físico, um físico contra um lógico; de tarde, porém,
metafísico contra metafísico, físico contra físico, lógico contra lógico. Assim
também pela manhã um metafísico e pela tarde um físico poderão demonstrar
uma ou outra tese breve e filosoficamente.
XXII
Disputas durante o estudo da lógica
Enquanto o professor explica o resumo da lógica, nem ele nem os
alunos assistam a estas disputas. Mais: na primeira e na segunda semana
aproximadamente não deverão os lógicos disputar, contentando-se com a
simples exposição da matéria; em seguida, poderão na aula defender algumas
teses aos sábados.
Disputas solenes
Onde só houver um professor de filosofia, organize algumas
disputas mais solenes três ou quatro vezes no ano, em dia festivo ou feriado.
É assim que Portugal, entre outras nações se considera defensor do
catolicismo e estimula a atuação educacional, tanto no território metropolitano
como no colonial, de uma ordem religiosa que se constitui para servir de
instrumento do catolicismo e, conseqüentemente, de ataque a toda heresia.
A formação intelectual oferecida pelos jesuítas e, portanto, a
formação da elite colonial será marcada por uma intensa “rigidez” na maneira
de pousar e, como conseqüência, na maneira de interpretar a realidade.
Os jesuítas planejaram, e foram eficientes na conversão e seus
alunos ao catolicismo, afastando-os das heresias e todas as influências
consideradas nocivas.
A formação dos professores recebia uma atenção especial que
somente se tornavam prontos dos 30 anos, selecionavam, previamente os
livros e controlavam de forma rigorosa as questões a serem suscitadas pelos
professores, especialmente em Filosofia e Teologia.
XXIII
O seu objetivo acima de tudo religioso, o seu conteúdo literário, a
metodologia dos cursos inferiores (humanidades), culminava na prática
destinava a adquirir o estilo literário de autores clássicos e a dos cursos
superiores (Filosofia e Teologia), subordinada ao “escolaticismo”, faziam com
que os religiosos de profissão e intelectuais se afastassem não apenas de
outras orientações religiosas como também se afastassem do espírito
científico, durante o século XVII, uma etapa bastante significativa, isto porque a
busca de um novo método de conhecimento, método este que caracteriza a
ciência moderna, tem origem no reconhecimento das insuficiências do método
escolístico medieval, adotado pelos jesuítas.
Este isolacionismo, fruto não apenas desta orientação educacional
como também do simples fato de ser colônia, e, enquanto tal, subordinada a
um monopólio que é também intelectual, no caso do Brasil teve conseqüência
bastante grave para a vida intelectual, porque a própria metrópole portuguesa
encontrava-se afastada das influências modernas.
A formação da elite colonial em tais moldes adequa-se quase que
completamente à política colonial, uma vez que:
a orientação universitária jesuítica baseada na literatura antiga e
na língua latina;
a necessidade de complementação dos estudos na metrópole
(Universidade de Coimbra);
o privilegiamento do trabalho intelectual em detrimento do
manual afastavam os alunos dos assuntos e problemas relativos
a realidade imediata, distinguia-os da maioria da população que
era escrava, iletrada, e alimentava a idéia de que o mundo
civilizado estava “lá fora” e servia de modelo. Os “letrados”
acabavam por rejeitar não apenas esta maioria, e exercer sobre
ela uma eficiente dominação.
XXIV
Baseado pelo fato que os melhores alunos eram os escolhidos para
cursarem Teologia e tornarem-se futuros membros da Companhia de Jesus,
fazia com que a maior beneficiada fosse, a própria ordem religiosa.
A adoção da orientação de administração dos bens materiais contida
nas constituições é mais uma indicação de como esta união entre o governo
português e os jesuítas foi conduzida em benefícios maior destes últimos. Isto
levou posteriormente a um choque, culminando com a expulsão da companhia
de Jesus de Portugal e do Brasil, em 1759.
Além disso, seria interessante destacar que as missões jesuíticas
foram a base da economia florestal amazônica durante a primeira metade do
século XVII, advindo daí grande lucro.
A importância social destes religiosos chegou a tal ponto, que se
transformaram na única força capaz de influir do domínio do senhor do
engenho. Isto foi conseguido não só através dos colégios, como do
confessionário, do teatro e, particularmente, pelo terceiro filho, que deveria
seguir a vida religiosa (o primeiro seria o herdeiro, o segundo, o letrado). O
número de estabelecimento que a ordem possuía quando de sua expulsão
(1759) para Fernando de Azevedo (historiador) eram
“36 residências, 36 missões e 17 colégios e seminários.
Sem contar os seminários menores e as escolas de ler e
escrever (...)” (AZEVEDO, 1759).
1.3. FASE POMBALINA
Antes de iniciar, propriamente dito, esta fase, vale ressaltar que a
fase anterior visava a passagem mercantil para a industrial do regime
capitalista, todavia isto não aconteceu. A Inglaterra, que então liderava este
XXV
processo, passa a ser beneficiada pelos próprios lucros coloniais portugueses,
especificamente a partir do início do século XVIII.
Com o Tratado de Methuen (1703), o processo de industrialização
em Portugal é sufocado pelos produtos manufaturados ingleses.
A Inglaterra canaliza para si, o capital português com preços
convidativos do seu produto. Desta forma, enquanto uma metrópole entrava em
decadência (Portugal) outra estava em ascensão.
Como nação continuava um país pobre com uma lavoura decadente,
sem capitais, quase despovoada com uma lavoura decadente, pela falta de
braços que a trabalhassem, pelas relações de caráter feudal ainda existentes,
dirigidos por um rei absoluto, uma nobreza arruinada onde se salientava uma
burguesia mercantil rica, mas politicamente débil, preocupada em importar e
vender para os estrangeiros especiarias e escravos e viver no luxo e na
ostentação.
Era o país uma nação em que o feudalismo se desagregava por si
mesmo, sem que se consolidasse um capitalismo sobre seus escombros.
Quanto ao aspecto econômico, a decadência já podia ser constatada
após o período de dominação espanhola (1580-1640).
O Marquês de Pombal (Sebastião José de Carvalho e Melo),
ministro da monarca ilustrado D. José I, orienta-se no sentido de recuperar a
economia através de uma concentração de poder real e de modernizar a
cultura portuguesa, que incluem o âmbito escolar metropolitano e colonial.
Diante desta realidade era necessário tirar o maior proveito possível
da Colônia. Uma mais interior fiscalização das atividades desenvolvidas para
tanto o aparato humano e material deveria ser aumentado, e, ainda mais,
deveria ser discriminado o nascido na colônia do nascido na metrópole, quando
XXVI
da distribuição dos cargos, as posições superiores deveriam ser ocupadas
apenas pelos metropolitanos.
A mineração, com os primeiros achados no final do século XVII,
surge neste contexto como um acontecimento providencial, mas na verdade o
ouro brasileiro será na sua parte mais significativa, canalizado para a
Inglaterra, em decorrência do Tratado de Methuen, e desta forma dando
grande impulso ao processo de industrialização do inglês.
Por outro lado este ciclo econômico da mineração provoca algumas
mudanças no Brasil Colônia:
• aumento do vínculo entre as áreas baianas, fluminenses,
pernambucanas e paulistas;
• aumento do preço da mão-de-obra escrava;
• aumento das possibilidades de alforria e de impulso à
rebeldia;
• aparecimento da classe média e de um mercado interno;
• deslocamento da população colonial e da capital para o sul
(RJ – 1763);
• descontentamento das camadas dominantes e média
coloniais pelas discriminações.
A decadência intelectual e institucional, tanto na metrópole como na
colônia, decorre o simultaneamente reforça este estado econômico.
Portugal chega em meados do século XVIII com sua universidade, a
de Coimbra, tão medieval que desconhecia a filosofia moderna (Descartes), a
ciência físico-matemática e os novos métodos de estudo da língua latina. Com
isto, boa parte da intelectualidade portuguesa toma consciência da
necessidade de recuperação, produza uma literatura expressando isto e
apresentando um programa de modernização. Esta manifestação tem início
XXVII
ainda no reinado de D. João V, com o aparecimento da Academia Real de
Ciências (1779).
A fonte de idéias ai defendidos está no movimento iluminista que
toma corpo no final do século XVII e caracteriza o século XVIII.
O que Pombal tenta, enquanto Ministro de Estado é tornar concretas
as reformas entre as quais as da instrução pública traduzem dentro do plano de
recuperação nacional, a política que as condições econômicas e sociais tão
reclamada.
Do ponto de vista educacional, a orientação adotada foi de
simplificar e abreviar os estudos fazendo com que um maior número se
interessasse pelos cursos superiores, proporcionar o aprimoramento da língua
portuguesa; diversificar o conteúdo, incluindo o de natureza científica; torná-los
os mais práticos possíveis. Surge, com isto, um ensino público propriamente
dito. Não mais aquele financiado pelo Estado, mas que formava o indivíduo
para a Igreja, e sim o financiado pelo e para o Estado.
O alvará de 28/06/1759 criava o cargo de Diretor Geral dos Estudos,
determinava a prestação de exames para todos os professores, que passaram
a gozar do direito de nobres, proibia o ensino público ou particular sem licença
do diretor geral dos estudos e designava comissários para o levantamento.
1.4. SOBRE O ESTADO DAS ESCOLAS E PROFESSORES
Como conseqüência, foi aberto um inquérito com o fim de verificar
os professores que lecionavam sem licença e quais usavam livros proibidos.
O ensino secundário, que ao tempo dos jesuítas era organizado em
forma de Curso - Humanidades – passa a vê-lo em aulas avulsas (aulas régias)
de latim, de grego, de filosofia, de retórica.
XXVIII
O que pedagogicamente foi um retrocesso esta nova organização,
em compensação ao se exigir novos métodos e novos livros, representou um
avanço, porém, esta nova organização apresenta suas dificuldades:
a O ensino do latim deveria ser orientado, apenas como um
instrumento de domínio da cultura latina com o auxílio da língua
portuguesa.
a O ensino do grego, indispensável a teólogos, advogados,
artistas e médicos deveria ter suas dificuldades gradualmente
vencidas.
a A retórica não deveria ter seu uso restrito ao público e a cátedra.
a As diretrizes para as aulas de Filosofia ficaram para mais tarde e
pouca coisa aconteceu.
a As dificuldades que existiram na metrópole, quanto a falta de
gente preparada e de dinheiro, se fizeram sentir na Colônia
(Brasil) de forma mais aguda.
A primeira dificuldade teve como conseqüência a continuidade do
exercício profissional de boa parte de professores com formação jesuítica. A
segunda só foi minorada no reinado seguinte de D. Maria I, com recursos
provenientes da cobrança do “Subsídio literário” decretado pelo governo
anterior.
Porém, as transformações ocorridas no nível secundário, não
afetaram as questões fundamentais, permaneceu-se desvinculado dos
assuntos e problemas fundamentais.
XXIX
O paradigma continuou sendo o exterior “civilizado” a ser irritado, e
quem pretendia cursar o ensino superior, deveria enfrentar os riscos de viagem
e se deslocar até a Universidade de Coimbra.
Ficou então evidenciado que as reformas pombalinas visavam
transformar Portugal numa metrópole capitalista, a exemplo do que a Inglaterra
já era a mais de um século, tais reformas pretendiam provocar algumas
mudanças, no Brasil, com o objetivo de adaptá-lo enquanto Colônia, a nova
ordem como intencionava Portugal. Uma das exigências para tornar a elite
colonial mais eficiente em sua função articuladora das atividades internas e dos
interesses da camada dominante portuguesa era ter uma formação
“modernizada”.
Sai alguns exemplos de “ilustrados” que ao retornarem,
desempenharam grande atuação.
Francisco Lopes Lacerda e Almeida (geólogo), Alexandre Rodrigues
Ferreira (médico), José Bonifácio de Andrade e Silva (mineralogista), Silva
Alvarenga (poeta), José Joaquim de Azevedo Coutinho (fundador do Seminário
de Olinda).
É certo que esta “nova” formação obtida por uns poucos (eletizado)
levou alguns a participarem de movimentos que chegavam a propor a
emancipação política.
Mas a base do descontentamento, não era fruto do contato com
essas teorias iluministas, e sim de mudanças verificadas na estrutura social
brasileira, por ocasião do ciclo econômico da mineração.
No governo seguinte de D. Maria I, ocorre o movimento conhecido
sob o nome de “Viradeira”, isto é, o combate sistemático do pombalismo, a
tentativa de retornar a tradição como a maneira mais adequada de se
resolverem os problemas os quais em realidade, vão se agravando.
XXX
O movimento iluminista representou o fundamento da pedagogia
burguesa, isto é, o iluminismo educacional, que até hoje insiste
predominantemente na transmissão de conteúdos e na formação social
individualista.
Para o alemão Emanuel Kant (1724-1804) – “o homem é o que a
educação faz dele”, vamos, portanto conhecer um pouco mais destas idéias
iluministas que tanto influencia a educação da época.
1.5. PENSAMENTO PEDAGÓGICO ILUMINISTA
O movimento chamado Iluminista, do que participou com muito
destaque Jean-Jacques Rousseau também conhecido por Ilustração ou Época
das Luzes, no século XVIII rebelou-se contra todas as formas de absolutismo.
Os pensadores iluministas pregaram a supremacia da razão humana contra o
poder absoluto exercido pelo Estado e pela Igreja. Suas idéias favoráveis a
liberdade intelectual e a independência do homem tiveram grande influência no
fim do absolutismo através da Revolução Francesa (1789).
Entre a principal obra de Rosseau estão o discurso sobre a
desigualdade entre os homens e o contrato social. Na primeira afirma que a
desigualdade não é natural entre os homens, mas se desenvolveu juntamente
com a propriedade privada, a partir do momento em que foi construída a
primeira cerca. Na segunda (o contrato social) Rosseau defende o ponto de
vista que a organização social resultou de um contrato, de uma convenção
entre os homens, que delegaram o poder aos governantes e autoridades, mas
que deve ser exercido de acordo com a vontade geral do povo. Para Rosseau
a felicidade e o bem estar são direitos naturais de todas as pessoas e não
privilégios especiais de uma classe como ocorreu sob o absolutismo. A
organização social e a educação existem para garantir esses direitos.
XXXI
A influência de Rosseau no campo educacional deve-se
principalmente a seu livro “Emillio”. Nele descreve a educação de uma criança
que é retirada da influência dos pais e da escola e entregue a um professor dito
ideal que educa segundo os padrões da natureza e em contato puramente com
esta. A primeira fase de Emillio formula o princípio básico do pensamento de
Rosseau; “Tudo é bom ao sair das mãos do autor da natureza, ma tudo se
degenera nas mãos do homem”.
As principais contribuições de Rosseau, que influenciaram toda a
educação posterior, foram quatro:
1) A Educação Natural – é um processo natural e não artificial, e
deve ocorrer por meio da ação dos instintos e das forças naturais
e não por uma posição externa.
2) A Educação como processo – a educação é um processo
contínuo que dura toda a vida.
3) A simplificação do processo educativo – a educação deve ser
tão simples quanto simples é a natureza. A Geografia deve ser
aprendida nos bosques e campos, pelo estudo dos rios, da
chuva, da mudança de temperatura que a Botânica seja estudada
em contato com as plantas, a Física pela observação e pela
experimentação.
4) A importância da criança – deve ser considerada como tal, com
sentimentos, desejos e idéias próprias, diferentes dos do adulto.
Foi o precursor da Psicologia do Desenvolvimento, ao dar
atenção as diversas fases do desenvolvimento da criança e ao
defender uma educação diferente para cada fase, cujo processo
seria determinado pela natureza da criança e do seu
crescimento. Muitas das suas idéias influenciaram o movimento
da educação nova e são discutidos até hoje.
XXXII
Suas idéias em oposições aos padrões e normas impostas pela
sociedade tiveram acentuada influência sobre outros iluministas, como:
Pestalozzi, Herbarte Froebel.
Na verdade Rosseau e outros intelectuais, do movimento iluministas,
se opuseram ao absolutismo, fonte de muitas injustiças, privilégios dos nobres
e clérigos, enquanto a maior parte da população permanecia na ignorância.
Como já foi dito este movimento foi muito defendido pela burguesia,
para combater o absolutismo um verdadeiro entrave ao desenvolvimento do
capitalismo.
Ainda com relação a este movimento sabe-se que o Absolutismo
Ilustrado era uma forma de governo monárquico idealizado e praticado como
conseqüência do movimento iluminista. Os monarcas seriam absolutos
enquanto propiciassem a difusão das conquistas científicas e garantissem os
direitos reconhecidos pelas investigações desta natureza.
No século XIV, surgem novas idéias acerca da Educação,
influenciados pelos propostos de Rosseau, principalmente pelo trabalho de
Pestalozzi, Herbert e Froebel.
Ü Pestalozzi
Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), tentou colocar em prática e
desenvolver as idéias de Rousseau sobre a Educação, inicialmente com seu
próprio filho, depois a primeira escola profissional para pobres (1757-1780); em
segunda, com os escritos literários, defendendo a educação como fator de
Reforma Social (1780-1798) e finalmente, tornando-se mestre-escola aos
cinqüenta anos, função que exerceu durante vinte anos. Suas duas grandes
obras são:
XXXIII
X Leonardo e Gertrudes (1781) – ele descreve a vida simples
do povo rural e as grandes mudanças ali verificados pela
inteligência de Gertrudes, uma mulher simples que conquista
todos os vizinhos e reforma toda aldeia através da educação.
X Como Gertrudes ensina seus filhos – nesta obra Pestalozzi
procura determinar que conhecimento e que habilidades
práticas eram necessárias para a criança e como deveriam
ser ensinados.
Ü Herbart
Johann Freedrich Herbart (1776-1841), como professor de Filosofia
e Educação nas universidades de Gottingen e Honigsberg na Alemanha,
aprofundou os projetos de Pestalozzi, dando-lhe um cunho mais teórico. Em
Komgsberg, entretanto Herbart não deixou de ter uma preocupação pela
prática educacional, ai estabeleceu um seminário pedagógico, com uma escola
prática anexa, a precursora das escolas de aplicação e de experimentação
universitária em matéria de educação. “A instrução formará o círculo do
pensamento e a educação, o caráter. A última não é nada sem a primeira. Aqui
está contido o total da minha pedagógica”.
Ü Froebel
Friedrich Froebel (1782-1852), também professor universitário, mas
com experiência em tarbalhos práticos, enfatizou a importância da criança,
destacando suas atividades estimuladas e dirigidas. Sua grande contribuição
para a Educação rende em seus estudos e aplicações práticas acerca dos
Jardins de Infância, dos quais é considerado o iniciador.
“A Escola para Froebel é o lugar onde a criança deve
aprender as coisas importantes da vida, os elementos
essenciais da verdade, da justiça, da personalidade, livre
XXXIV
da responsabilidade, da iniciativa das relações causais e
outros semelhantes, não os estudando, mas vivendo-os”
(Monroe).
XXXV
CAPÍTULO II
A EDUCAÇÃO ELETISTA DO IMPÉRIO
“O homem é o que a educação faz dele”.
Emanuel Kant
XXXVI
2.1. A CÔRTE PORTUGUESA E A EDUCAÇÃO FORMAL
A estrutura social do Brasil foi organizada à base de relações
predominantes e de submissão.
Num regime de extrema opressão, eclodiu em violentos episódios,
nas zonas em que os objetos de escravização, que separou colonos de índios,
refletindo-se, nos atritos que separaram colonos dos missionários. Outra
contradição antiga foi a que se levantou entre escravos e senhores de
escravos. Nos três primeiro séculos sucederam-se motins, resistências, fugas,
atentados e violências, particularmente caracterizados nos episódios dos
Quilombos.
Outros contendos surgiram e se prolongaram:
Ü Rebelião Maranhense de Beckman – entre monopolizadores e
consumidores;
Ü Guerra dos Mascates – separou senhores da terra, escravos e
comerciantes que teve episódios tão significativos na luta entre Recife e
Olinda;
Ü Guerra dos Emboabas – na zona mineradora entre os descobridores
paulistas e adventistas que chegaram da metrópole;
Ü Inconfidência Mineira – entre os contribuintes da colônia e o fisco da
metrópole, mostra já uma clara expressão de anseios de libertação
contra a brutal repressão da metrópole.
Neste processo, o elemento novo da contradição é a emancipação,
resultado da configuração de interesses internos e externos da sociedade
brasileira.
Quando Portugal é invadido em 1807 pelas tropas francesas, a
família real e a Côrte se vêem obrigados a virem para o Brasil escoltados pelos
ingleses. Para conciliar interesses comerciais com a Inglaterra, o príncipe
XXXVII
regente se vê obrigado a decretar a abertura dos portos em 1808, mesmo que
inicialmente em caráter temporário, isto agrada aos senhores de escravos e
das terras, a burguesia dominante ou em processo de dominação nas
sociedades industriais, especialmente a Inglaterra.
O Rio de Janeiro daquela época vivia problemas urbanos
gravíssimos, entre eles o de falta de saneamento básico e de moradia. Além da
falta de estrutura geral, a nova rede da coroa portuguesa era muito carente nos
campos intelectual e cultural. Daí a necessidade de várias mudanças no campo
intelectual, tais como:
ê A criação da Imprensa Régia, que deu início à circulação do
primeiro jornal, A Gazeta do Rio, em 1808.
ê A criação da biblioteca pública e do Jardim Botânico, em 1810.
ê A criação da Biblioteca Nacional, em 1818.
Na Educação, algumas modificações foram realizadas, como:
Ensino primário
Continua sendo um nível de instrumentalização técnica (escola de
ler e escrever), pois apenas se tem notícias da criação de “mais de 60 cadeiras
de primeiras letra”. Tem sua importância aumentada à medida que cresce o
número de pessoas que vêem nele, não só um preparo para o secundário
como também para pequenos cargos burocráticos.
Ensino secundário
Aumento ao ensino secundário permanece a organização de aulas
régias, tendo sido criados “pelo menos 20 cadeiras de gramática latina”. Essas
cadeiras e as de Matemática Superior em PE (1809), a de Desenho e História
em Vila Rica (1817) e a de Retórica e Filosofia em Paracatu (MG. 1821)
integram-se a um conteúdo de ensino em vigor desde a época jesuítica.
XXXVIII
Foram criadas também duas cadeiras de Inglês e uma de Francês
no Rio.
Ainda quanto ao campo educacional propriamente dito, são criados
cursos para o preparo do pessoal mais diversificado. É em razão da defesa
militar que são criados, em 1808, a Academia Real da Marinha e, em 1810, a
Academia Real Militar (que, em 1858, passou a chamar-se Escola Central), a
fim de atender à formação de oficiais e engenheiros civis e militares. Em 1808
é criado o curso de Cirurgia (Bahia), que se instalou no Hospital Militar, e os
cursos de Cirurgia e Anatomia no Rio de Janeiro. No ano seguinte no Rio,
organiza-se o de Medicina. Todos esses visando atender à formação de
médicos e cirurgiões para o Exército e a Marinha.
Em razão da renovação do alvará de 1785, que fechara todas as
fábricas, em 1812 é criada a escola de serralheiros, oficiais de lima e
espingardeiros (MG). São criados na Bahia os cursos de Agricultura (1812),
com estudos de Botânica e Jardim Botânico anexos; o de Química (1817),
abrangendo Química Industrial, Geologia e Mineração; em 1818, o de Desenho
Técnico. No Rio, o Laboratório de Química (1812) e o curso de Agricultura
(1814). Tais cursos deveriam formar técnicos em Economia, Agricultura e
Indústria.
Estes cursos representam a inauguração do nível superior de ensino
no Brasil.
Em 1821, a família real em face das exigências da coroa, retorna a
Portugal. Os anos que se seguiram à vinda da família imperial para o Brasil
haviam sido por forte instabilidade externa e interna. Entre outros cursos, a
Revolução constitucional iniciado na Cidade do Porto que, como o nome indica,
visava a uma liberalização do regime, a um fortalecimento das côrtes, em
detrimento do absolutismo real.
XXXIX
2.2. A ORGANIZAÇÃO DO ENSINO
Conseguida a autonomia política em 1822, fez-se necessário uma
constituição. O projeto foi inspirado na constituição francesa de 1791, porém
muito mais radical em suas proposições.
Quanto à educação, estava presente um “Sistema Nacional de
Educação” em seu duplo aspecto: graduação das escolas e distribuição
racional por todo território nacional. É assim que em seu artigo nº 250 declara:
“Haverá no Império escolas primárias em cada termo, ginásios em cada
comarca e universidades nos mais apropriados locais”.
Já no texto constitucional outorgado, esta idéia de sistema de
educação é abandonada, posto que com relação a educação, o artigo 179 se
refere aos seguintes termos: “A inviolabilidade dos direitos civis e políticos das
cidades brasileiras, que tem por base a liberdade, a segurança individual e a
propriedade, e garantida pela Constituição do Império”, entre outras maneiras,
pela instrução primária gratuita a todos os cidadãos e pela criação de colégios
e universidades onde serão ensinados os elementos das Ciências, Belas Artes.
Analisando-se a Lei de 15 de outubro de 1827, única lei geral
relativa ao ensino elementar até 1246, comprova a limitação com que a
organização educacional foi encarada.
Esta lei resultara do projeto de Januário da Cunha Barbosa (1826),
onde estavam presentes as idéias da educação como dever do Estado, da
distribuição racional por todo o território nacional dos diferentes graus e da
necessária graduação do processo educativo. Muitos outros fatos poderiam ser
citados para reforçar a opinião, anteriormente emitido, de uma organização
educacional limitada e frágil, como por exemplo, o número de projetos igual a
40 e a adoção do método lancaterismo, de influência inglesa, pela lei de 15 de
outubro de 1827.
XL
Vale lembrar que o método de Joseph Lancaster – Sistema
Monotorial, funcionário da seguinte maneira: os alunos de toda uma escola se
dividem em grupos que ficam sob a direção imediata de alunos mais
adiantados, os quais tinham por obrigação instruir seus colegas na leitura,
escrita, cálculo e catecismo, do mesmo modo como foram ensinados pelos
mestres, horas antes. Estes alunos se denominavam monitores. Na classe
havia outro funcionário importante: o inspetor que se encarregara e vigiar os
monitores e de lhes entregar os utensílios de ensino, bem como de apontar os
professores que deveriam ser premiados ou corrigidos.
Um severo sistema de castigo e prêmios mantêm a disciplina entre
os alunos. O mestre assemelha-se a um chefe de fábrica que tanto controla e
intervém nos casos extremos.
Proporciona somente lições aos jovens e monitores que desejam se
transformar em professores.
Este foi um sistema planejado para solucionar os problemas da
educação popular. Diga-se de passagem, com uma quantidade insuficiente de
professores.
Com agravamento do plano econômico, com déficit e com falta de
recursos, a opção foi adotar medidas que afetassem toda população e não
apenas o setor que se beneficiava com os lucros da empresa econômica
nacional. Medidas estas que, em realidade, possibilitaram uma melhoria da
situação apenas de imediato e aparentemente.
Foram taxadas as importações, foram feitas emissões, empréstimo,
tornando a economia brasileira dependente de capitais. Agravado pela
concorrência inglesa na atividade manufatureira, instala-se uma crise
econômica que leva a perturbações sociais, durante a primeira metade do
século XIX. Sem recursos para uma reorganização da estrutura escolar, além
XLI
do que, diante de tão grave situação a educação escolarizada não é vista como
setor prioritário.
Uma comprovação disto é que após a abdicação de D. Pedro I
(07/04/1831) é decretado o Ato Adicional à Constituição (1834), resultado do
domínio de uma orientação descentralizada (maior autonomia às províncias), e
que diz em seu artigo 10: “Compete às mesmas assembléias (Legislativas
provinciais) legislar (...). Sobre instrução pública e estabelecimentos próprios,
exceto as faculdades de Medicina, os cursos jurídicos, academias existentes e
outros estabelecimentos que vierem a ser criados por Lei Geral.
O curioso é que pelo artigo 83 da Constituição de 1824, ficava
vedadas as assembléias provinciais e deliberação sobre assuntos de interesse
geral da nação. Isto vem indicar que a instrução, em seus níveis elementar e
secundário, não era considerado como “assunto de interesse geral da nação”.
Não é, portanto, de se estranhar, levando-se em consideração tal
contexto, que a organização escolar brasileira apresenta na primeira metade do
século XIX, graves deficiências quantitativos e qualificativos.
Mesmo as “escolas de primeiras letras” são em número reduzido,
como limitado é o seu objetivo, seu conteúdo e sua metodologia. Havia
grandes dificuldades para encontrar pessoal preparado para o Magistério,
havia completa falta de amparo profissional fazendo a carreira algo
desinteressante e não motivando o aprimoramento constante, a população de
profissionais do ensino era mínima.
Em 1835 em Niterói, 1836 na Bahia e 1846 no Ceará, são criadas as
primeiras escolas normais, visando uma melhora no preparo do pessoal
docente. São escolas de, no máximo, 2 anos e em nível secundário.
XLII
Quanto à educação secundária, assiste-se a proliferação dos autos
avulsos e particulares para meninos sem a devida fiscalização e unidade de
pensamento. Em quantidade de escola deviam chegar a uma centena e
consistiam no ensino do latim, da retórica, da filosofia, da geometria, do francês
e do comércio.
Com o tempo estas aulas vão diminuindo com o tempo, por não
incluírem todos os materiais necessários nos exames preparatórios, pela
necessidade de deslocamento dos alunos às diversas residências do professor,
pelos numerosos encargos que sobrecarregavam estes últimos.
Nessas condições continuavam a ser procurados somente por
aqueles que não tinham condições de ingresso no curso superior e desejavam
ter algum elemento literário, e precisavam ter que esperar alguma oportunidade
(por exemplo, financeira) para o acesso em colégio ou faculdade.
Desta forma com a qualidade do ensino comprometida, houve uma
tentativa de imprimir alguma organicidade.
São criados liceus provinciais, que na prática não possam de
reunião de aulas avulsas num mesmo prédio, e é assim que em 1825, foi
criado o Ateneu, do Rio Grande do Norte; em 1836, os Liceus da Bahia e da
Paraíba e, em 1837, o Colégio Pedro II, na Côrte. Este estava destinado a
servir de padrão de ensino: adotaria e manteria bons métodos, resistiria a
inovações que não tivessem demonstrado bons resultados e combateria os
espertos e charlatões. Se este objetivo foi ou não alcançado, verificar-se-á
quando do estudo da organização escolar brasileira durante a segunda metade
do século XIX.
Quanto à instrução superior, a 09/01/1825 é criado um curso jurídico
provisório na Côrte. Vários projetos (1826/1827/1828/1830) são apresentados
para o ensino médio. Inaugura-se a Academia de Belas Artes, que em 1831
XLIII
passa por sua primeira reforma. O observatório Astronômico, criado em 1827, é
a instituição científica surgida no período.
Ficando o cargo do governo central pelo Ato Adicional, demonstra
ser este o nível que mais interessa às autoridades, isto é, aos representantes
políticos da época. Eram os cursos que formariam a elite dirigente de uma
sociedade aristocrática como a brasileira.
Mesmo assim, as queixas são freqüentes e dizem respeito ao mau
preparo dos alunos, ao critério “liberal” de aprovação, à falta de assiduidade
dos professores pela necessidade de completarem o orçamento com outras
atividades etc.
Continuam sendo cursos isolados e estritamente profissionalizantes,
com base na literatura européia consumida por professores e alunos.
2.3. REALIZAÇÕES EDUCACIONAIS NA DÉCADA DE 1850
Com a decadência da mineração, e uma série de rebeliões somadas
a insuficientes recursos arrecadados, instala-se uma crise, cuja solução vem
com o sucesso da lavoura do café que começou a partir de 1840 proporcionar
grandes lucros.
Apesar de ser uma matéria-prima de origem agrícola, como a cana-
de-açúcar (cujo apogeu foi na fase colonial), as diferentes relações
estabelecidas na sociedade brasileira não representaram uma pura e simples
repetição da situação característica da época áurea do ciclo da cana.
A cultura cafeeira se distingue pela capacidade para aproveitar o
que existe de velho no Brasil e gerar o novo, dá os seus primeiros passos, na
obediência às condições imperantes e valendo-se dos meios de produção
disponíveis. Edificada na grande propriedade e no trabalho escravo, a cultura
XLIV
cafeeira permaneceu no mercado externo, dando continuidade a uma estrutura
colonial de produção.
Na medida que se desenvolve, ganha a esfera da circulação, se
integra na produção, transforma as condições de trabalho, alicerça o surto
demográfico e leva o urbanismo ao interior. Outro aspecto que merece
referência e que o café (ouro negro) altera a destinação da exportação
brasileira.
Como o E.U.A. já havia alcançado a posição de líder como mercado
consumidor, recebendo mais da metade da exportação cafeeira.
Estava ocorrendo desta forma no Brasil, uma evolução exigida não
só pelas necessidades internas, como também por interesses do capitalismo
internacional. Este requer o desenvolvimento competitivo nos países periféricos
como condição de sua própria expansão.
Tais circunstâncias internas e externas, ao mesmo tempo em que
proporcionam limites e tal evolução por parte do capitalismo internacional, este
tem todo cuidado em não contribuir para o aparecimento de um concorrente.
Internamente a persistência de setores arcaicos com a conseqüente
concentração de capital.
A fase propicia que as cidades passam a ser os pólos dinâmicos do
crescimento capitalista interno. Elas promovem uma reorganização do sistema
de trabalho urbano, fazendo surgir novas categorias econômicas de relativa
importância. Surge como atração sobre o contingente populacional de renda
alta, média, gente de origem nativa, estrangeiros, gente do comércio, de
ocupações artesanais, escravos forros, comerciantes ambulantes, e pessoal de
renda baixa.
XLV
Os comerciantes profissionais liberais, funcionários do Estado,
professores, liberais, religiosos, intelectuais, trabalhadores escravos,
trabalhadores livres compõe a grande massa da população brasileira.
A década de 1850 foi uma época de férteis realizações no campo
educacional, restritas em sua quase totalidade, no entanto, ao município da
Côrte, por força da lei em vigor. São elas:
• criação da Inspetoria Geral da Instrução Primária e
Secundária do Município da Côrte, destinada a fiscalizar e
orientar o ensino público e particular;
• estabelecimento das normas para o exercício da liberdade de
ensino e de um sistema de preparação do professor primário;
• reformulação dos estatutos do Colégio de Preparatórios,
tomando-se por base programas e livros adotados nas
escolas oficiais;
• reformulação dos estatutos da Academia de Belas Artes;
• reorganização do Conservatório de Música; e
• reformulação dos estatutos da Aula de Comércio da Côrte.
A responsabilidade e o interesse econômico-político-social dos
grupos dominantes, durante o período agora analisado, restringiam-se ao
ensino superior, em âmbito nacional e, quanto aos outros níveis, limitavam-se à
sede do governo no Rio de Janeiro.
Mesmo tendo conhecido esses avanços, a defasagem entre o
sistema educacional brasileiro e o de países europeus ainda era enorme. E se,
finalmente, nos libertaram de uma organização exportadora-rural-agrícola e
XLVI
passaram a uma estruturação exportadora-urbano-comercial, a França, por
exemplo, já havia passado desta para uma organização industrial avançada,
que demandava a escolarização de um contingente maior da população. Muito
pelo contrário, o que estava acontecendo aqui era o seguinte:
não efetivamos a distribuição racional de escolas pelo território
nacional porque a grande seleção continuava sendo feita em
termos de não-escolarizados e escolarizados (RIBEIRO, 1995);
a exclusão escolar não se fazia paulatinamente, de um nível de
ensino para outro e, sim, no início da escolarização, porque a
grande maioria não tinha condições e, em boa parte, nem
interesse, diante do regime de vida a que estava submetida, em
ingressar e permanecer na escola. A reduzida camada média que
vai ampliando-se nas últimas décadas do Império, é que
pressiona pela abertura da escola;
como o preparo intelectual representava oportunidade de
ascensão social, os ouço alunos que conseguiam matricular-se
nos colégios e nos liceus não tinham outro objetivo senão o de
ingressar no curso superior, qualquer que fosse sua origem social
– média ou alta;
faltavam instituições que se dedicassem à pesquisa científica e
aos estudos filosóficos metódicos. Estes foram desenvolvidos, na
época, em grande parte pelos formados ns cursos jurídicos sob
influência quase sempre francesa, numa linha eclética;
continuavam sendo freqüentes as queixas quanto ao mau
preparo dos alunos, ao critério “liberal” de aprovação e à falta de
assiduidade dos professores, principalmente dos cursos jurídico e
médico, pela necessidade de complementarem o orçamento com
outras atividades;
XLVII
o mau preparo dos alunos remete às deficiências dos níveis
anteriores, o que demonstra que a medida referente ao controle
do governo central sobre o ensino superior, apenas como forma
de garantir uma conveniente formação da elite dominante e
participante do poder, não foi uma medida das mais eficazes.
Faltou uma política educacional integrada entre o centro e as
províncias;
não se instituiu um plano nacional de fiscalização das escolas
primárias e secundárias, com vistas a um aprimoramento de
objetivos, conteúdos e métodos e, conseqüentemente, uma
melhora de aproveitamento por parte dos alunos.
Enfim, todos esses fatores faziam com que a educação continuasse
apresentando sérios problemas.
A instrução primária permaneceu constituída de aulas de leitura,
escrita e cálculo. Pressupõe-se que cerca de um décimo da população a ser
atendida o era realmente, mas não se tem certeza, já que não existiam
estatísticas educacionais.
A organização das escolas normais, iniciada na terceira década do
século XIX, trouxe pequena melhora porque seus problemas eram estruturais e
dificultavam quaisquer tentativas de reformulação. Eram problemas quanto à
programação (detalhavam desnecessariamente alguns aspectos e tratavam
superficialmente de outros); promoviam poucas aulas práticas; e não ofereciam
garantia de profissionalização.
A instrução secundária se caracterizou por ser predominantemente
para alunos do sexo masculino, pela falta de organicidade (reunião espacial de
antigas aulas régias), pelo predomínio literário, pela aplicação de métodos
tradicionais e pela atuação da iniciativa privada.
XLVIII
O ensino secundário brasileiro não conseguia conciliar o preparo
para o curso superior com uma formação humana em nível médio, mesmo
atendendo a tão reduzido número. As condições concretas do meio
determinavam uma única função: preparo para o superior.
É necessário assinalar-se que, além dessa pressão no meio, as
limitações decorriam, também, da atitude dos interessados na solução dos
problemas escolares em buscar soluções teóricas em modelos estrangeiros.
Em 1862 é feita uma reforma acentuando os estudos literários. Com
a de 1870, voltam os conhecimentos científicos a ter importância. Nas reformas
de 1887 e 1881 e no decreto de 1888 estas diferentes tendências se repetem.
Neste acompanhamento fica revelado o dilema e a tentativa de
conciliação entre formação humana com base na literatura clássica e formação
humana com base na ciência. Este era o problema enfrentado pela estrutura
escolar francesa. A brasileira, na verdade, enfrentava um dilema anterior:
conciliar a formação humana e o preparo para o ensino superior.
Como seria de esperar, o ensino técnico, agrícola e industrial fica
reduzido a ensaios. Assim aconteceu com o Liceu de Artes e Ofícios do Rio,
com dois cursos de comércio (no Rio e em Pernambuco), com três de
agricultura (Rio, Pará e Maranhão) e os institutos de agricultura do Rio, da
Bahia, de Pernambuco, de Sergipe e de Rio Grande.
Criou-se na Côrte o ensino para cegos (1854) e surdos-mudos
(1856). Estes incluíam a instrução elementar e a iniciação técnica e só
continuaram pela boa vontade de diretores e professores.
2.3.1. E a educação das mulheres?
É, parece que não mudou muito. Dado o grau de subordinação da
mulher em todas as partes do mundo nesta época, a maioria dessa faixa da
XLIX
população era analfabeta. Uma pequena parte era tradicionalmente preparada
na família pelos pais e preceptores, limitando-se, entretanto, às primeiras letras
e ao aprendizado das prendas domésticas e de boas maneiras. Uma
quantidade menor ainda é que, no período tratado, recebe uma instrução
secundária não muito profunda. Mas pelo fato de estes cursos estarem
desobrigados da preparação para o superior, eles acabam tendo maior
organicidade, grande importância é dada às línguas modernas, às ciências
(especialmente consideradas em suas aplicações práticas) e incluem matérias
pedagógicas.
As duas últimas décadas do Império são pontuadas por importantes
acontecimentos, como você bem sabe. O fim do tráfico de escravos, em 1850,
e sua posterior abolição em 1888 deram início ao trabalho assalariado em
grande escala no país. Por outro lado, o crescimento acelerado da classe
média e a participação de seus elementos na vida pública por meio de
atividades intelectuais, militares e mesmo religiosas, criam condições de
expressão de seus interesses mais amplos, como o de participação no
aparelho de Estado.
No final do século, pesquisam certo desenvolvimento de atividades
industriais. A consolidação desse movimento econômico manifesta-se pelo
intercâmbio com a Europa, novos instrumentos e novos maquinários
importados.
A elite intelectual brasileira composta de elementos oriundos das
camadas dominantes e da classe média que se desenvolve rapidamente, em
conseqüência do processo de modernização da sociedade. O consenso de
“novas idéias” foi o meio mais eficaz para impulsionar esta modernização.
O manifesto liberal de 1868 é considerado o início de um amplo
movimento que vai agitar o final do Império e o início da República.
L
Os liberais e cientificistas (positivista) estabelecem pontos comuns
em seus programas de ação: abolição dos privilégios aristocráticos, separação
da Igreja do Estado, instituição do casamento e registro civil, secularização dos
cemitérios, abolição da escravidão, libertação da mulher para através da
instrução desempenhar seu papel na sociedade e a crença na educação
enquanto chave dos problemas fundamentais do país.
Em tal contexto, a organização escolar é atingida não só pelos
críticos pelas deficiências constatadas como também pela proposição e até peã
decretação de uma reforma.
Um exemplo de proposição de modelo a ser imitado está na difusão
das idéias a respeito do ensino alemão visto por intelectuais como Tobias
Barreto, Vieira da Silva e Teixeira de Macedo, como causa da vitória nas lutas
de unificação do país conseguida em 1870. Despertava especial atenção a
organização do ensino superior e é assim que se forma um grupo de
defensores do modelo germânico, jamais tenha sido concretizado no Brasil.
Para muitos liberais, a universidade alemã sintetiza a fórmula da realização das
suas teses pedagógicas. Voltada para a formação intelectual de alto nível, na
universidade alemã há plena liberdade de ensinar, e aprender. O estado cria e
mantém as universidades, mas não lhes dita doutrina, não intervém na
administração inteiramente autônoma.
A 17 de abril de 1879 é decretada a reforma “Leôncio de Carvalho”.
Alguns de seus princípios ficam dependentes da aprovação do legislativo,
aprovação esta que não chega a ocorrer. Mesmo assim é difundida e algumas
(poucas) conseqüências práticas acontecem.
Leôncio de Carvalho entendia que muito havia de ser feito para
imprimir um impulso à educação. Entre as medidas estavam:
LI
a Liberdade de ensino, isto é, a possibilidade de todos os que
sentissem capacitados explorem suas idéias segundo o método
que lhes parecesse mais adequado.
Entendia que o segredo da prosperidade dos E.U.A. e dos
países europeus estava na adoção do princípio de liberdade de
ensino.
a O exercício do Magistério era incompatível com o de cargos
públicos e administrativos.
Para que isso fosse possível, necessário se fazia o Estado ter
condições de pagar bem e oferecer outras garantias aos
profissionais de ensino.
Como reconhecidamente tais condições não existiam, a
proibição não seria baixada de imediato.
a Liberdade de freqüência, ou seja, da liberdade para os alunos
dos cursos secundários e superior estudarem com e com que
entendessem. À escola caberia, especificamente, ser severa
nos exames. Isto implicava também, na organização do curso
por matéria e não mais por anos, possibilitando ao aluno
escolher as matérias e o tempo para cumprir toda a série
estipulada.
As poucas conseqüências práticas dizem respeito à decretação da
liberdade de credo religioso dos alunos e à abertura ou organização de colégio
onde outras tendências pedagógicas, como a positivista, tentavam ser
aplicadas.
LII
Dado o grau de subordinação da mulher no período, a maioria dessa
faixa de população era analfabeta. Uma pequena parte era tradicionalmente
preparada na família pelos pais e preceptores, limitando-se, entretanto, às
primeiras letras e ao aprendizado das prendas domésticas e de boas maneiras.
Uma quantidade menor ainda e que, no período tratado, recebe uma
instrução secundária não muito profunda. Mas pelo fato de estes cursos
estarem desobrigados da preparação para o superior, eles acabam tendo maior
organicidade, grande importância é dada às línguas modernas, às ciências
especialmente consideradas em suas aplicações práticas e incluem cadeiras
pedagógicas.
Em termos de iniciativas particulares, protestantes norte-americanas
(Escola Americana – 1870 – Colégio Pernambucano), positivista (Escola
Neutralidade – 1884) criam escolas primárias modelo.
A iniciativa norte-americana a este nível é bastante significativa e vai
ampliar-se durante a Primeira República. Contribuiu diretamente na
organização escolar e nos processos didáticos e menos em termos doutrinários
propriamente ditos.
Na realidade se trouxe para o Brasil a experiência que os Estados
Unidos haviam desenvolvido, a partir das inovações que receberam da Europa,
pois foi a partir de sugestivas experiências de Pestalozzi, uma notável
renovação dos métodos de ensino atinge no século XIX a educação americana.
É o resultado dos progressos neste campo que as congregações religiosas
protestantes introduziram juntamente com seus ministros quando expandiam
sua ação missionária no Brasil.
No momento em que interesses comerciais americanos localizaram-
se nos principais centros comerciais e urbanos brasileiros, comunidades
americanas, no Rio, São Paulo, Porto Alegre, fez-se necessário o
aparecimento de escolas para os filhos de norte-americanos. Por outro lado, na
LIII
maioria eram escolas sectárias religiosas que visavam o prosetilismo religioso.
Entretanto, a influência deste modelo atinge a escola pública, especialmente
em São Paulo, no início da República.
Assim a atenção é chamada par ao fato da criança ser um ser ativo,
da necessidade de se respeitar a ordem natural do seu crescimento, de
desenvolver os sentidos, capacitando-os a descobrir a coisa para si mesma, e
como conseqüência o preparo do professor parece ser indispensável.
A influência positivista tornou-se mais marcante, no que se refere a
educação nacional, alguns anos depois, em decorrência das transformações
políticas, mas isso é o que mostraremos no próximo capítulo.
LIV
CAPÍTULO III
A EDUCAÇÃO REPUBLICANA
“Os únicos conhecimentos que podem influenciar ocomportamento de um indivíduo são aqueles que descobresozinho e dos quais ele se apropria”.
Celéstin Freinet
LV
3.1. PENSAMENTO PEDAGÓGICO POSITIVISTA
Para os pensadores positivistas, a libertação social possa pelo
desenvolvimento da ciência e da tecnologia. Foram idéias positivistas como
estas que inspiraram a velha república e golpe militar de 1964.
Augusto Comte (1798-1857), estudou na escola politécnica de Paris,
onde recebeu influência de alguns intelectuais entre os quais o matemático
Joseph-Louis Lagrange (1736-1813) e o astrônomo Pierre Simon de Laplace
(1749-1827). Foi secretário de Saint-Simon de quem seguiu a orientação para
o estudo das ciências sociais e as idéias de que os fenômenos sociais como os
físicos podem ser reduzidos a leis de que todo conhecimento científico e
filosófico deve ter por finalidade o aperfeiçoamento moral e político da
humanidade. Comte foi o expoente maior do pensamento pedagógico
positivista, que consolidou a concepção burguesa da educação. Este
movimento chegou ao Brasil e alcançou grande aceitação nestas plagas.
Comte acreditava que deveria organizar a humanidade de forma científica, de
modo a conduzi-la à plena realização no campo político e social. Segundo
Comte a humanidade evolui em três estados: teológico, metafísico e positivo. A
cada estado destes se atribuem uma ordem nas instituições e em todas as
formas de manifestação do indivíduo.
O estado teológico é a fase primitiva da humanidade, marcada no
indivíduo pelo politeísmo. O estado metafísico rompe com o anterior e o
espírito humano avança na sua busca de explicações filosóficas. O último
estado, o positivo seria aquele determinado pelo progresso do conhecimento
científico, caracterizando-se por ser definitivo na história da humanidade.
As idéias pedagógicas de Durkhein (1858-1917), outro expoente da
doutrina positivista opõe-se diametralmente à de Rosseau (iluminista) –
enquanto este afirma que “o homem nasce bom e a sociedade o perverte” –
Durkhein declara que “o homem nasce egoísta e só a sociedade através da
educação, pode torná-lo mais solitário”.
LVI
Devido a implicações político-ideológicos, os educadores
progressistas não demonstram grande entusiasmo por tais pensamentos –
todavia é inegável a contribuição desta filosofia ao estudo científico da
educação.
Nessa fase Republicana a influência positivista torna-se mais
marcante na educação nacional, alguns anos depois, em decorrência das
transformações políticas.
Ainda na fase do governo imperial o governo atendia aos interesses
da camada senhorial constituinte de duas facções:
a) A facção ligada à lavoura tradicional (cana, tabaco, algodão);
b) A facção ligada à nova lavoura (café) com muito maior poder
de influência.
Com o crescimento acentuado da classe média e a participação de
seus elementos na vida pública através de atividades intelectuais, militares e
religiosas criou-se condições de expressão e participação no aparelho do
Estado.
Apesar do seu crescimento a classe média era frágil, para sozinha
criar um movimento com o objetivo de mudar o regime político, embora grande
era o seu descontentamento.
Não restou outra alternativa, senão compor forças políticas, sob a
liderança dos elementos da camada média (militares em especial), com o apoio
significativo da poderosa camada dominante do café, com a aparente omissão
da maioria da população, quando então foi proclamada a República, isto
porque o aparelho do Estado se tornava obsoleto, não correspondia mais à
realidade econômica e política, um verdadeiro elefante branco.
LVII
O novo regime permite a participação no poder, embora de forma
transitória da classe média. Politicamente, adota-se o modelo norte-americano
que, segundo Rui Barbosa era o que mais se adaptava “ao vastíssimo
arquipélago de ilhas humanas que era o Brasil”.
Tal composição política foi bastante circunstancial e instável e logo
aflora uma divergência frontal entre a “pequena burguesia urbana”, de quem
fazia parte os militares (Marechal Deodoro e Marechal Floriano Peixoto) e os
que detinham os meios de produção.
Neste rápido e agitado período onde o componente médio lidera o
processo político, verifica-se uma tentativa de mudança tanto na orientação
econômica como escolar.
No primeiro caso tenta-se no final do Império intensificar a aplicação
de um plano capaz de ativar a economia, porém por falta de controle dos
responsáveis, tal iniciativa é fadada ao processo, já em 1891.
No segundo caso, quanto a organização escolar, percebe-se a
influência positivista. Era a forma de tentar implantar e difundir tais idéias
através da educação escolarizada, já que, politicamente, tal corrente de
pensamento sofre um declínio de influência a partir de 1890.
3.2. REFORMAS NA PRIMEIRA REPÚBLICA
Decretada neste ano e colocada em prática no ano seguinte, a
“Reforma Benjamin Constant” tinha como princípios orientadores:
X liberdade e laicidade do ensino;
X a gratuidade da escola primária, segundo a orientação do
texto constitucional;
LVIII
X formar os diversos níveis de ensino formadores e não
preparatórios para o ensino superior;
X fomentar esta formação nas ciências, rompendo com a
tradição humanista clássica.
Segundo os reformadores, a predominância literária, deveria ser
substituída pela científica e, para tanto foram, introduzidas as ciências,
respeitando-se a ordenação positivista (matemática, astronomia, física,
química, biologia, sociologia e moral). Para eles a formação humanista era
responsável pelo academicismo dominante no ensino brasileiro.
Essa reforma toca em mais manifestações de dualidade da nossa
cultura, trata-se de duas dicotomias do ensino secundário.
1. formação humana versus preparação para o ensino superior;
2. foco na educação humanista versus foco na educação
científica.
Talvez você mesmo tenha cursado ou conheça pessoas que tenham
cursado o “clássico” ou o “científico” no nível secundário. E talvez saiba de
pessoas que mesmo desejando seguir seus estudos no nível superior, foram
obrigados a fazer o 2º grau profissionalizante, perdendo horas em aulas,
atividade e estágios que absolutamente não atendiam os seus propósitos.
Quanto ao item que se refere a tornar os diversos níveis de ensino
“formadores” foi criado o exame madureza, destinado a verificar se o aluno
tinha cultura intelectual necessário ao término do curso.
Na questão referente a substituição da formação literária clássica
pelo científico, tal decisão, foi alvo de muita crítica pelo fato de não ter
respeitado o modelo pedagógico positivista de Comte, seu fundador, no que se
refere a idade de introdução dos estudos científicos.
LIX
Os próprios positivistas fizeram restrição a reforma, pois Comte não
recomendara o ensino das ciências senão após os 14 anos, até então a criança
deveria receber uma educação de caráter estético, baseado na poesia, na
música, no desenho e nas línguas.
Benjamin Constant incluía já na escola de 1º grau, a aritmética, a
geometria prática e, na de 2º grau, que se iniciava aos 13 anos, além destas, a
trigonometria, as ciências físicas e naturais. Na realidade o que aconteceu foi o
acréscimo de materiais científicos às tradicionais, tornando o ensino
enciclopédico.
Em 1898, na esfera política são empreendidas certas reformas cujo
objetivo era afastar a classe média do poder e utilizar o novo regime
“Republicano” para atender os interesses da “camada sensorial”, outrossim,
fez-se uma aliança com a burguesia internacional e se reorganiza internamente
o país. O grande beneficiário das reformas foi o London & River Plate Bank
intermediário dos grandes credores brasileiros.
A reorganização interna foi atingida com a adoção da “política dos
governadores”, isto é, a entrega de cada estado como fazenda particular, à
oligarquia regional que o dominasse. Assim, aquelas oligarquias tinham como
tarefa solucionar os problemas desses Estados, usando forças irregulares
próprios a base de um banditismo feudal ou através de organização policial,
assemelhados a verdadeiros exércitos feudais.
Implantou-se uma política de “valorização dos produtos agrícolas”,
mais diretamente o café, feito com o capital estrangeiro, se concentrando todo
o lucro na burguesia estrangeira e na “camada senhorial”.
Desta maneira fio restabelecido o equilíbrio das contas externas, em
um nível muito mais alto, propiciando a aquisição de máquinas e equipamentos
para os portos, ferrovias e usinas de energia elétrica.
LX
O resultado foi a modernização da sociedade brasileira, a um custo
muito alto, pesadamente pago pela maioria da população que não usufruía de
tais benefícios, por viver isolado no campo.
As condições de trabalho, o isolamento que viviam, impossibilitaram
manifestações de descontentamento, por outro lado o coronelismo feito pelos
“currais eleitorais” garantiam o sucesso do regime até o final da Primeira
Guerra Mundial.
No campo educacional, os reflexos advindos desta estruturação
social impõem uma série de reformas, tendo com base a “disputa” entre a
formação humanista clássica e a formação científica. Vejamos estas reformas:
OBJETIVOS DO CURSO SECUNDÁRIO (1890-1931)
REFORMA OBJETIVOS
Benjamin
Constant
(1890)
“Proporcionar à mocidade brasileira a instrução secundária e fundamental,
necessária e suficiente, assim para a matrícula nos cursos superiores da
República, como em geral para o bom desempenho dos deveres do cidadão
na vida social” (Art. 1º do Decreto nº 1075, de 22/11/1890).
Epitácio Pessoa
(1901)
“Proporcionar a cultura intelectual necessária para a matrícula nos cursos de
ensino superior e par a obtenção do grau de bacharel em ciências e letras”
(Decreto nº 3914, de 26/01/1901).
Rivadávia
Correia (1911)
“Proporcionar uma cultura geral de caráter essencialmente prático, aplicável
a todas as exigências da vida, e difundir o ensino das ciências e das letras,
libertando-o da preocupação subalterna de curso preparatório” (Art. 1º do
Decreto nº 8660, de 05/04/1911).
Carlos
Maximiliano
(1915)
“Ministrar aos estudantes sólida instrução fundamental, habilitando-os a
prestar, em qualquer academia, rigoroso exame vestibular” (Art. 158 do
Decreto nº 11530, de 18/03/1915).
João Luis Alves
(1925)
“Base indispensável para a matriculo nos cursos superiores”; “Preparo
fundamental e geral para a vida” (Exposição de Motivos). “Fornecer a cultura
média geral do país” (Art. 47 do Decreto nº 16782-A, de 13/01/1925).
LXI
Quanto à duração, o curso secundário da Primeira República oscilou
de quatro a sete anos, como se observa no quadro:
REFORMAS DURAÇÃO DO CURSO SECUNDÁRIO
Benjamin Constant (1890) Sete anos
Epitácio Pessoa (1901) Seis anos
Rivadávia Correia (1911) Externato – seis anos
Internato – quatro anos
Carlos Maximiliano (1915) Cinco anos
João Luis Alves (1925) Cinco anos – certificado de aprovação
Seis anos – bacharelado em Ciências e Letras
O resultado destas reformas, no entanto, foram desastrosas. A
dependência cultural traduz-se pela falta de capacidade criativa e atraso
constante e cada vez mais profundo em relação ao centro criador que serve de
modelo. Representa ainda um idealismo estreito e inoperante ao formar um
pessoal sem a instrumentação teórica adequada à transformação da realidade
em benefício da população como um todo e não de interesses de uma pequena
parte dele e de grupos estrangeiros, em detrimento de uma maioria.
É assim que entre outros problemas, o do analfabetismo não pode
ser solucionado ficando muito longe disso, já que aumenta em números
absolutos, 65% da população de 15 anos e mais era analfabeta.
De tal forma que o problema do analfabetismo se constitui num dos
graves problemas para a integração social. Senão vejamos:
ÍNDICES DE ANALFABETISMO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA PARA PESSOAS
DE TODAS AS IDADES
ESPECIFICAÇÃO 1890 1900 1920
TOTAL 14.333.915 17.388.434 30.635.605
SABER LER E ESCREVER 2.120.559 4.448.681 7.493.357
NÃO SABER LER E ESCREVER 12.213.356 12.939.753 23.142.248
% DE ANALFABETOS 85 75 75
FONTE: Inst. Nac. Est., Anuário Estatístico do Brasil, ano II, 1936, p. 43.
LXII
PROPORÇÃO DE ALFABETIZADOS E DE ANALFABETOS NA POPULAÇÃO
BRASILEIRA DE 15 ANOS E MAIS
ESPECIFICAÇÃO 1900 1920
TOTAL 9.752.111 17.557.282
SEM DECLARAÇÃO 22.791 -
SABEM LER E ESCREVER 3.380.451 6.155.567
NÃO SABEM LER E ESCREVER 6.348.869 11.401.715
% DE ANALFABETOS 65 65
FONTE: FERNANDES, Florestan. Educação e Sociedade no Brasil, Quadro I, p. 47.
3.3. A EDUCAÇÃO NO ESTADO NOVO
Tão logo termina a Primeira Guerra Mundial, as manifestações
urbanas de descontentamento contra o regime político, vão se intensificando já
no final da Primeira República, também conhecida como República Velha.
Com a Revolução de 30, o movimento que derrubou a República
Velha, fazendo emergir a Nova República ou Estado Novo, este movimento
intensificou o processo de industrialização capitalista do Brasil, processo este
que determinou o aparecimento de novas exigências educacionais.
Vejamos como isso aconteceu. Se antes, na estrutura oligárquica, as
necessidades de instrução não eram sentidas nem pela população nem pelos
poderes constituídos, a nova situação implantada na década de 30 veio
modificar profundamente o quadro das aspirações sociais. É que se criaram as
condições básicas para a implantação definitiva do capitalismo industrial no
Brasil, o que acabou criando, também, as condições para que se modificassem
o horizonte cultural e o nível de aspirações de parte da população brasileira,
sobretudo nas áreas atingidas pela industrialização. A demanda por educação
cresce e se consubstancia numa pressão cada vez mais forte pela ampliação
do sistema de ensino.
LXIII
Assim como a expansão capitalista não se fez por todo o território
nacional e de forma mais ou menos homogênea, a expansão da demanda
escolar desenvolveu-se marcantemente nas zonas urbanas, o que acabou
agravando as diferenças econômicas, culturais e sociais no nosso país –
problema que nos martela a cabeça até hoje.
Mas vejamos isso com mais detalhes.
Após a Primeira Guerra Mundial havia se desencadeado, entre
determinados círculos de intelectuais, especialmente educadores, uma viva
discussão sobre a “escola ativa”, um conceito pedagógico desenvolvido por
DEWEY. Muitos dos participantes da discussão haviam estudado no exterior,
especialmente nos Estados Unidos, e tentavam agora transferir os
conhecimentos adquiridos para aplicá-los à realidade brasileira. Mesmo que
ainda sob influência e motivação externas, observa-se aqui uma situação em
que pela primeira vez a realidade brasileira é criticamente pensada por
brasileiros. Desta discussão resultou um grupo que iniciou uma campanha
pública – através de panfletos, artigos em jornais etc., em favor da chamada
“Escola Nova” (AZEVEDO). Alguns anos mais tarde, alguns educadores
envolvidos aproveitaram a oportunidade que se lhes oferecia para por em
prática a teoria, planejando e reformando o sistema escolar nos níveis estadual
e municipal:
X Lourenço Filho – 1930-31 em São Paulo
X Fernando de Azevedo – 1933 em São Paulo
X Anísio Teixeira – 1932-35 no Distrito Federal
X Carneiro Leão – 1928 em Pernambuco
X Francisco Campos e Mário Casassanta – 1927-28 em Minas
Gerais
À margem da camada dominante irracional forma-se paulatinamente
uma consciência educacional (AZEVEDO, 1964), cujo reconhecimento público
aumenta a cada dia. A Associação Brasileira de Educação, que a partir de
LXIV
1927 realiza Conferências Nacionais sobre Educação, desempenha neste
processo um papel muito importante. Estimulado e orientado por Fernando de
Azevedo, realiza-se em São Paulo, em 1926, um levantamento empírico sobre
a situação educacional, sendo todos os políticos e intelectuais de renome
convidados a manifestar sua opinião e seus pontos de vista.
Essa tendência do desenvolvimento educacional conduziu, então,
com a realização da IV Conferência Nacional sobre a Educação no ano de
1931, a um resultado concreto: o Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova,
dirigido ao povo e à Nação.
O Manifesto, que contém a nova teoria pedagógica e as idéias
políticas através das quais se pretende renovar o sistema educacional
brasileiro, desencadeou imediatamente uma violenta discussão pública. Os
debates, que em parte se realizavam através da imprensa, concentravam-se
principalmente na laicidade do ensino, na co-educação e no monopólio
educacional do Estado (BERGER, 1976).
Como resultados práticos mais relevantes devem ser ressaltados:
É iniciada efetivamente pela primeira vez no Brasil uma reforma
de ensino a partir de baixo para cima, isto é, as necessidades
educacionais das massas populares pobres, até então marginais,
são levadas em consideração, sem, todavia que elas próprias
formulem ou articulem os seus interesses. As reformas
empreendidas pelos educadores anteriormente referidos
limitaram-se às escolas primárias e normais;
a primeira e mais importante medida educacional do governo
provisório de Vargas é a criação do Ministério da Educação em
1930, o qual, a partir de então, orienta a reforma, surgindo como
órgão central de coordenação;
LXV
realiza-se a Reforma Francisco Campos, cujos elementos mais
importantes foram a integração entre as escolas primária e
secundária e entre esta e o nível superior e a elaboração de um
estatuto da universidade brasileira, até então inexistente;
fundação da primeira universidade brasileira (1934). Para o
sistema escolar, em geral, este acontecimento é de relevância
especial visto que na recém-fundada faculdade de Filosofia surge
pela primeira vez a possibilidade de formação sistemática de
professores par a escola secundária;
a Constituição fascista de 1937 é a primeira que em seu texto se
refere explicitamente às escolas técnicas e vocacionais pelas
indústrias e sindicatos profissionais. É nesse contexto que
surgem o SENAI e o SENAC;
finalmente, é executada em 1942 a Reforma Capanema,
importante sobretudo devido às medidas tomadas quanto à
diversificação horizontal, equiparando os diversos tipos de
escolas de nível médio (BERGER, 1976).
A “redemocratização do Brasil no ano de 1945 e a nova constituição
de 1946 retomam os debates em torno da teoria e política educacionais,
iniciados na primeira parte da década de 30 e silenciados pela ditadura de
Vargas.
Os próximos quinze anos assistiriam a um intenso debate nacional
em torno de questões ideológicas e políticas, a saber, dos direitos da escola
privada a serviço das camadas superiores. Estas acirradas discussões
redundaram na promulgação da famosa Lei de diretrizes e Bases da Educação
Nacional (Lei nº 4.024/61), mais conhecida simplesmente como LDB.
Curiosamente, deixava-se de lado problemas fundamentais, como, por
exemplo, a democratização e desintelectualização do sistema educacional.
LXVI
Continuava a educação a viver uma vida desvinculada dos problemas práticos,
sem referência ao mundo do trabalho.
Neste contexto aprovou-se, em 1961, a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional. Conquanto ela não correspondesse nem de longe às
necessidades educacionais do país, sua maior contribuição foi a de suscitar
longos debates que acabaram por promover um papel conscientizador muito
importante. Como resultado concreto desse debate nacional, a oferta
educacional se transforma em tema político central; à cata de votos, os
políticos passaram a prometer abertura de escolas por todos os cantos do país.
Se isso sem dúvida alguma significou uma expansão do sistema educacional, é
preciso ressaltar-se que não houve nenhuma preocupação com a qualidade do
ensino oferecido, com a formação de professores ou com o meio financeiro da
educação (BERGER, 1976).
3.4. ESCOLA NOVA
Não poderíamos nos furtar de abordar as novas idéias pedagógicas
que se espalharam pelo mundo.
O início do século XX é marcado por avanços tecnológicos, que
muitos pensadores passaram a acreditar, que diante de tantos progressos, a
humanidade passaria a viver num imenso paraíso terrestre. Todavia, a Primeira
Guerra Mundial, viria lançar na humanidade uma grande dose de frustração e
pessimismo, acerca do futuro da raça humana.
Correntes filosóficas e literárias não se furtaram em alertar o luto
mais abominável de existência humana – a perseguição, o ódio, a morte e a
guerra, que se tornaram rotina em nossas vidas.
LXVII
Neste início de século, o mundo também se divide em dois blocos, o
socialista e o capitalista, com interesses opostos: o bloco capitalista, liderado
pelos Estados Unidos e o bloco socialista liderado pela União soviética. Mas o
mundo permanece o mesmo, a sociedade permanece injusta e não igualitária.
No campo da educação, começa a crescer idéias e propostas de
reformar a escola tradicional, para torná-la mais adequada aos novos e à nova
realidade. Todavia, em linhas gerais, a escola antiga resiste a essas inovações,
mais aos poucos vai se transformando, porém, mantendo alguns aspectos da
escola tradicional.
A escola nova representa o grande salto de qualidade do movimento
de renovação da educação. No início do século, já era evidente que as escolas
não poderiam conviver com relações pedagógicas tão autoritárias como as até
então existentes herdadas de modelos pedagógicos absolutamente
ultrapassados, que pressupunham que a criança não passava de homúnculo
com todas as habilidades e competências de um aluno sendo, portanto
responsável pelo seu processo de aprendizagem. Para essas velhas teorias, o
centro de aprendizagem era o professor, o astro rei sol, e os alunos, passivos e
muitos, deveriam gravitar ao seu redor.
Com o fim das monarquias européias, a adoção de modelos
democráticos de governo nos países democráticos de governo nos países
ocidentais, o impacto do desenvolvimento industrial e urbano que levou a um
enorme crescimento da classe média, e do proletariado, as classes dirigentes
foram obrigados a aceitar o compromisso da democratização da informação e
do saber, proposto já desde a Revolução Francesa.
No decorrer do século, a concepção de escola do passado começa a
ser demolidor. Graças as diferentes contribuições científicas. Foram os
avanços da psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem, da Neurologia,
da Epistemologia Genética, da Pedagogia moderna, do socioconstantivismo
que mostraram com enorme ênfase, que a aprendizagem das crianças tem
LXVIII
características próprias, diferentes dos adultos; que o processo de
aprendizagem é progressivo e cumulativo e nem sempre ocorre de forma
linear, mas sim por saltos; e que o medo e a passividade não geram
aprendizagem inteligente, ao contrário são seus inimigos.
Importantes educadores e estudiosos contribuíram para a sua
construção, Montessori, Freinet, Dewey, Piaget, Wallon, Anísio Teixeira, Paulo
Freire, Emília Ferreira, entre vários outros. Eles propõem uma escola
democrática marcada por relações pedagógicas de inclusão, troca, respeito e
estimulação. O aluno deve ser respeito, suas características biopsicossocios
considerados no processo de aprendizagem, isto é, o de criar as condições
necessárias e adequadas de exposição e apropriação do conhecimento pelos
alunos. O papel do professor não será menos importante do que era no
passado, mais implicará mais responsabilidade ao zelar e garante a
aprendizagem do educador. Da mesma forma, a direção escolar e o sistema de
supervisão, passarão a ser solidamente responsáveis com o professor pela
garantia de aprendiz das crianças e dos jovens.
A influência do pensamento pedagógico escolanovista tem sido
enorme. Muitas são as escolas que com diferentes denominações a mesma
filosofia educacional: as “classes nouvelles” francesas que deram origem, na
década de 60, no Brasil, aos “ginásios vocacionais”, às escolas ativas, às
escolas experimentais, aos colégios de aplicação das universidades, às
escolas piloto, às escolas livres, às escolas comunitárias, aos lares-escolas, às
escolas individualistas, às escolas do trabalho, às escolas não-diretivas e
outras.
Os métodos, centro de interesse da Escola Nova, se aperfeiçoaram
e levaram para a sala de aula o rádio, o cinema, a televisão, o vídeo, o
computador etc.
LXIX
Inovações que atingem de múltiplas maneiras, nossos educadores
que correm riscos de se perderem diante de tantos recursos. Para evitar tal
inconveniente surge a necessidade de buscar a análise de sua prática e
discutir o dia-a-dia da escola.
Considerando a idéia de educadores mais recentes que defendem
que toda educação é política, em função dos sistemas de educação
implantados pelos Estados modernos, de tal forma que as elites dominantes
preparam a mentalidade, a ideologia, a conduta da criança para perpetuar a
mesma sociedade, não a transformando. Vejamos o que pensa o nosso grande
educador Paulo Freire, “O futuro não é uma coisa escondida na esquina. O
futuro a gente constrói no presente”.
Paulo Freire nasceu em Recife, Pernambuco, no bairro de Casa
amarela, em 19 de setembro de 1921. Na visão deste educador, faz-se
necessário adequar o processo educativo às características do meio. Herdeiro
de muitas conquistas da Escola Nova denunciou o caráter conservador desta
visão pedagógica e de forma correta que a escola podia atender a educação
como prática de dominação quanto para a educação como prática da liberdade.
A educação nova na história das idéias e práticas pedagógicas representam
um considerável avanço. Toda a sua obra é voltada para uma teoria do
conhecimento aplicada à educação, sustentada por uma concepção dialética
em que educador e educando aprendem juntos, numa religião dinâmica na qual
a prática, orientada pela teoria, reorienta essa teoria, num processo de
constante aperfeiçoamento.
Paulo Freire é considerado um dos maiores educadores deste
século, ficou internacionalmente conhecido com o que se convencionou
chamar de método de Paulo Freire de Alfabetização de Adultos.
Em sua preocupação com a educação das classes populares, no
contexto do que denominou ser uma “pedagogia do oprimido”, construiu uma
verdadeira concepção política do ato de educar, adotando como princípios
LXX
fundamentais a valorização do cotidiano do aluno e a construção de uma práxis
educativa que estimule a leitura crítica do mundo.
A escola para Paulo Freire não é apenas uma instituição social
responsável por transmitir conhecimento – é bastante conhecido a sua crítica a
“educação bancária”. A escola é um centro produtor de cultura aberto ao
mundo, na confluência de uma via de mão dupla, sendo influenciado na
constituição desta mesma sociedade. Desta maneira, Freire se apresenta como
um intransigente defensor da crescente democratização das relações políticas
que se travam no interior da escola.
Vejamos agora os grandes pensadores da Escola Nova:
a Adolphe Ferriére (1879-1960) – Educador, escritor e
conferencista suíço, lecionou no Instituto Jean-Jacques
Rosseau, de Genebra. Foi o mais ardente divulgador deste
movimento, suas idéias se basearam inicialmente em
concepções biológicas, transformando-se depois numa filosofia
espiritualista. Ele criticava a escola tradicional afirmando que ela
havia substituído a alegria de viver pela inquietude, o regozijo
pela gravidade, o movimento espontâneo pela imobilidade, as
risadas pelo silêncio.
a John Dewey (1859-1952) – Educador norte-americano foi o
primeiro educador a formular o novo ideal pedagógico,
afirmando que o ensino deveria ser pela ação (Learning by
doing) e não pela instrução, com o queria Herbart. Segundo
Dewey, a experiência concreta da vida se apresentava sempre
diante de problemas que a educação poderia ajudar a resolver.
A educação se confunde com o próprio processo de viver, o
aluno é o autor de sua própria experiência, daí a necessidade de
métodos criativos e ativos.
LXXI
a Kilpatrick (discípulo de John Dewey) – cuja preocupação era a
formação do homem para a democracia e para uma sociedade
em constante mutação, diz que a educação baseia-se na vida
real para torná-la melhor. A educação é a reconstrução da vida
em níveis cada vez mais elaborados. E a base da educação
está na atividade.
a Ovideo Decroly (1871-1932) – dá grande contribuição para a
Escola Nova com o método dos centros de interesses. Para ele,
esses centros eram a família, o universo, o mundo vegetal,
animal etc. Educar era a partir das necessidades infantis.
a Eduardo Claparede (1873-1940) – chamou a escola nova de
educação funcional, ele explica que a mera atividade não era
suficiente para explicar a ação humana. Para ele atividade
educativa era só aquela que correspondia a uma função vital do
homem.
a Jean Piaget (1896-1980) – discípulo e colaborador de
Claparede, levou a pesquisa adiante. Propôs o método de
observação para a criança. Daí a necessidade de uma
pedagogia experimental que colocasse claramente como a
criança organiza o real. Ele criticou a escola tradicional que
ensina a copiar e não a pensar. O objetivo da educação não
deveria se repetir ou conservar verdades acabadas, mas
aprender por si próprio a conquista do verdadeiro. Sua teoria
epistemológica influenciou outros pesquisadores, como Emília
Ferreira, psicóloga Argentina, cujo pensamento hoje é difundido
nas escolas de 1º grau.
LXXII
a Rocer Cousinet (1881-1973) – desenvolveu o método de
trabalho por equipes, adotados até hoje, opondo-se ao caráter
rígido das escolas memoristas e intelectuais francesas.
Defensor da liberdade no ensino e do trabalho coletivo, propôs
que o mobiliário fosse desprezado do chão para que os alunos
pudessem rapiadmente formar grupos de classes e ficar um de
frente para o outro.
a Maria Montessori (1870-1952) – nascida na Itália, propunha
despertar a atividade infantil através dos estímulos e promover a
auto educação da criança, colocando meios adequados de
trabalho à sua disposição. O educador, portanto, não atuaria
diretamente sobre a criança, mais ofereceria meios para a sua
informação. Maria Montessori sustentara que soa a criança é
educadora da sua personalidade. Seu método empregava um
abundante material didático (cubos, prismas, sólidos, bastidores,
para enlaçar caixas, cartões etc.) destinado a desenvolver a
atividade dos sentidos. Morreu na Holanda. Sua didática
influenciou o ensino pré-escolar em vários países do mundo.
a Celestin Freinet (1896-1966) – nasceu na França, mais suas
idéias são estudadas em várias partes do mundo; da pré-escola
à universidade. ele afirma a existência de uma dependência
entre a escola e o meio social. Freinet disse com muita
propriedade: “O aluno não vai a escola para tirar notas, vai para
aprender, crescer, para se desenvolver”.
3.5. ESCOLA PÓS 1964
Todo esse turbilhão de debates e de reflexões sofreu uma brusca
ruptura com o Golpe de 64. Isto não significa que após essa data o problema
educacional fosse lançado no esquecimento. Os governos militares da
LXXIII
ditadura, conquanto se afastem ideologicamente de todas as tentativas e
projetos anteriores e se utilizem eventualmente da força para conduzir o
sistema educacional para outros rumos, deram certa prioridade ao setor
educacional em seus planos de desenvolvimento. Os resultados, contudo,
ainda permanecem incertos porque ainda não existe um conceito de educação
efetivamente realizável, muito em função do fato de que o problema de
financiamento da educação não fora resolvido.
A criação do salário-educação é o primeiro passo em direção à
solução deste problema de financiamento. Mas ainda insuficiente, o que nos
resta é mesmo buscar recursos financeiros no estrangeiro. É a época dos
Acordos MEC-USAID – uma série de convênios entre o MEC e a Agency for
International Development (AID), para assistência técnica e cooperação
financeira dessa agência à organização do sistema educacional brasileiro.
No ano de 1967 é criada a fundação MOBRAL (Movimento Brasileiro
de Alfabetização de Adultos), que deverá programar, orientar e financiar uma
campanha intensa de alfabetização do nosso contingente populacional adulto.
Dois anos depois, cria-se um grupo de trabalho para preparar um
plano de reestruturação e adaptação da escola de nível médio às exigências
econômicas do país. Os anos seguintes assistem à inauguração de 250
ginásios polivalentes nos estados da Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio
Grande do Sul. Em essência, esses ginásios baseavam-se na comprehensive
school americana, que balanceava a educação geral com disciplinas de
conteúdo prático.
Mais duas medidas tiveram especial importância nessa época:
a. Reforma Universitária, de 1968, que toma como
modelo à estrutura universitária americana dos
institutos centrais; e
LXXIV
b. Lei nº 5.692/71, que reforma os ensinos básicos e
secundário. Mediante essa Lei, a duração da escola
fundamental (antigo 1º grau), obrigatória para todos,
eleva-se para oito anos, sendo que os últimos anos
deverão propiciar ao aluno uma visão teórica e prática
do mundo das ocupações. Já o ensino médio (antigo 2º
grau) deveria dedicar-se à formação profissional
propriamente dita.
Os resultados e efeitos destas duas leis na situação educacional da
década atual é o que veremos no próximo capítulo.
LXXV
CAPÍTULO IV
EDUCAÇÃO FORMAL NO BRASIL DE HOJE
“Nunca em nossa história temos feito tantosprogressos no setor educacional, mas tambémnunca alcançamos uma consciência tão clara denossas próprias fraquezas ”.
Darcy Ribeiro
LXXVI
4.1. A EDUCAÇÃO NO FINAL DO SÉCULO XX
Foi na metade do século XX, que vários países se deram conta das
necessidades de adotar um novo modelo de educação e muitos radicalmente a
cultura das escolas, rompendo com o modelo anterior.
Essa mudança tem algumas premissas básicas fundamentais nas
ciências modernas, são elas:
I. O ser humano, desde o início da vida apresenta ritmos
e estilos significativamente diferentes para realizar toda
e qualquer aprendizagem – andar, falar, brincar, comer
com autonomia, ler, escrever etc.
II. Toda aprendizagem, inclusive cognitiva e um processo
contínuo, que ocorre em progressão e não pode nem
deve ser interrompido ou sofrer retrocessos pois isto
implica prejuízos enormes, tanto no que respeita à
auto-imagem do aprendiz como na sua motivação para
aprender.
III. Toda crença normal, sem traumas ou problemas
mentais, quando exposta a situações motivadoras de
ensino, é capaz de aprender e avançar em relação a
seus padrões anteriores de desempenho.
IV. Aprendizagens cognitivas exigidas pela escola podem
ocorrer com maior ou menor rapidez em função das
características e estimulação dos ambientes sociais de
onde as pessoas provêm.
LXXVII
V. O desempenho cognitivo e acadêmico de crianças e
jovens de diferentes extratos sociais tende a atingir,
nos anos iniciais de escolaridade, patamares médios
bastante semelhantes, se respeitados as dificuldades e
obstáculos iniciais dos alunos, e garantida a
aprendizagem continuada com reforço e orientação
para aqueles com maiores dificuldades e essas
premissas definem muito bem a Escola Nova.
De acordo com essa nova filosofia educacional (Escola Nova) é
inaceitável a concepção do passado de que o aluno deve ser reprovado. Para o
novo modelo de escola, existe uma incompatibilidade total, uma conciliação
impossível entre as idéias de respeito ao educando de Paulo Freire ou a de
aprendizagem socioconstruída de Emília Ferreira com a prática escolar
existente de que, caso o aluno fosse reprovado, toda aprendizagem feita por
ele durante aquele ano em praticamente desconsiderada “apagada” e depois
refeita no ano seguinte como se esse aluno fosse uma peça defeituosa numa
linha de montagem industrial mecanizada, e, uma vez rotulado “repetente”, o
aluno passa a personificar o fracasso.
Durante todo o século passado, educadores ilustres nos legaram
uma literatura educacional abundante mostrando que um aluno assim
humilhado desrespeitado e cognitivamente violentado, passaria a comportar-se
como um robô, amedrontado e passivo de que a escola altera o crescimento
intelectual de forma perversa. Com a sua auto-estima baixa ele abandona esta
escola, que personaliza o mais odioso tipo de autoritarismo. No entanto, este
modelo totalmente questionado já no início do século XX – por valorizar o
medo, o sofrimento, a humilhação, o fracasso – era muito apreciado e aplicado
na chamada “boa” escola brasileira dos anos 50. Por isso que o educador
português Rui Canário que esteve em São Paulo num congresso educacional e
que numa entrevista dada ao Jornal O Estado de São Paulo (em 29/09/00)
afirmou: “As pessoas criticam a educação hoje achando que ela foi melhor um
dia”.
LXXVIII
Chegamos ao final do século, mais apesar de esforços isolados de
educadores e de grupos ou, em alguns períodos, do próprio governo, nós
continuamos a enfrentar sérios problemas no campo educacional.
Muito embora nas três últimas décadas do século XX, a população
brasileira “arrombou” as portas da escola. O crescimento das matrículas foi
estrondoso. No entanto, por mais esforços que alguns educadores tenham
feito, haverá muita dificuldade em mudar a cultura dessa escola elitista,
autoritária, herdada do século XIX e serão usados todos os subterfúgios e
práticas para afastar os alunos do acesso ao saber. A mais avassaladora delas
será a reprovação, esta sim, o instrumento por excelência a serviço da
ignorância e da exclusão social. Em relação ao saber pode mesmo ser
comparada aos fornos crematórios do III Reich.
Nos anos 80, foram abundantes os estudos e pesquisas mostrando
os efeitos perversos e pouco producentes da reprovação. Sergio Costa Ribeiro,
físico e ilustre pesquisador, produziu alguns dos mais significativos trabalhos
denunciando que o acesso finalmente conseguido pelas escolas públicas era
enganoso, pois a soma das taxas de evasão e reprovação continuam tão altas
quanto às do ano 50. Os estudos mostraram, com clareza, que a evasão era o
subproduto das múltiplas repetências a que as crianças e jovens eram
submetidos, ou seja, eles denunciavam que 50% da população escolar
abandonava, evadiu-se da escola depois de 6 a 8 anos “estacionada” na
segunda ou terceira série do ensino fundamental e que de cada 100 crianças,
menos de 10 completaram o ensino fundamental em 8 anos. Ainda em 1995,
mais da metade de toda população da América Latina tinha estatística tão
perversa. Entretanto, convivíamos cínico e tranqüilamente com essa situação
de perdas enorme de auto-estima nacional, de capital humano e financeiro que
deprimiam cada vez mais a situação educacional do país.
Os anos 80 e 90 também foram férteis em pesquisa sobre o
rendimento escolar dos alunos associados a um conjunto enorme de variáveis
escolares e socioeconômicas.
LXXIX
Pesquisadores ilustres como Ana Maria Poppovic, Bernadete Gatti,
Guiomar Namo de Melo e outros educadores em vários Estados do Brasil,
verificaram que, a maioria dos alunos, a cada repetência ia desempenhando
cada vez pior, em decorrência das situações desestimuladoras a que eram
submetidos e da diminuição significativa da sua autoconfiança como aprendiz.
A maior parte das pesquisas na área apontava também que fatores como a
duração do período escolar, a assiduidade dos professores, a existência de
materiais didáticos na sala, a presença de coordenadores pedagógicos, bem
como a garantia de aulas sistemáticas de recuperação, eram fatores muito
mais determinantes no desempenho bem sucedido dos alunos.
Se você ainda não havia percebido, fique sabendo que a situação
educacional brasileira, no final da década de 90 era e ainda é bastante séria.
Como disse Veríssimo1, passamos tempo demais fazendo estragos sociais
sem pagar a conta: a desigualdade foi-se fazendo aos olhos e sob a conivência
de todos, mas as conseqüências não apareciam. Podíamos continuar
produzindo estragos e deitando a cabeça no travesseiro à noite tranqüilos de
que estava tudo bem.
A desigualdade social é marcante: a elite representa apenas 8% da
população brasileira. Destes, 74% têm curso superior e 64% ganham mais de
20 salários mínimos por mês. O Brasil dos excluídos conta com um contingente
de 59% de cidadãos. Destes, 86% não ultrapassaram o antigo 1º grau, 19%
vivem de trabalho precário e 10% são assalariados sem registro. Cerca de 17
milhões de pessoas acima de 10 anos de idade são analfabetos, isto é, não
sabem ler nem escrever2.
PERCENTAGEM DE ANALFABETOS NO BRASIL POR REGIÃO
NORDESTE 34%
NORTE 22,9%
CENTRO-OESTE 8%
SUDESTE 5,4%
SUL 3,6%
1 Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 07/05/1998. 2 IBGE. Pesquisa Nacional por amostra de Domicílios. Rio de Janeiro, 1996.
LXXX
Como reflexo das desigualdades socioeconômicas entre as várias regiões do
país, o analfabetismo no Norte e no Nordeste é de 22,9 e 34%,
respectivamente. Em contrapartida, no sul, esse índice cai para 3,6%. Na
região Centro-Oeste, a percentagem é de 8% e, na Sudeste, 5,4% dos
habitantes são analfabetos.
Não se tem notícia da quantidade de pessoas que são consideradas
alfabetizadas porque sabem emitir sons que de fato correspondem ao texto
impresso, mas que, na verdade, não são capazes de entender o que leram.
Com certeza, àqueles 15 milhões se somariam muitos outros milhões. Mas a
coisa não para por aí; no mundo digital de hoje, teremos que reformular o
conceito de analfabetismo. Analfabeto será também aquele que não souber
lidar com toda a tecnologia que chegou para ficar. É preciso aprender a apertar
os botões certos; essa será a nova habilidade a ser acrescentada ao conceito
de alfabetização.
Em todos os níveis de educação, os números são alarmantes.
Somente 13,1% das crianças que ingressam no ensino fundamental (antigo 1º
grau) chegam realmente a terminá-lo (FRIGOTO et. al., 1993). Mais da metade
deles (55%) salta do trem logo depois do primeiro ano (FERREIRA, 1993). E há
um outro vírus no sistema a repetência. Entre 1974 e 1985, 49,8 milhões de
alunos repetiram a 1ª série no país.
No ensino médio (antigo 2º grau), temos apenas 30% de quem nele
deveriam estar os jovens de 15 a 19 anos (SALM & FOGAÇA, 1995). Destes,
21%, em média, o abandonam todos os anos. Conseqüentemente, a parcela
dos que ingressam no ensino superior é diminuta demais.
É fácil deduzir que nossos trabalhadores ingressam na força de
trabalho com pouca ou nenhuma base educacional na qual se possa assentar
a qualificação profissional em serviço. Até 1980, apenas 38% possuíam o
antigo primário completo e não mais do que 15,4% haviam concluído o antigo
2º grau (SALM & FOGAÇA, 1995).
LXXXI
No entanto, o maior problema não é de oferta de escolas. Na
verdade, estamos em condição de receber pelo menos 90% das crianças
urbanas em escolas de ensino fundamental e o ensino médio não fica muito
atrás: 85% dos egressos de antigo 1º grau encontraram vagas em escolas
daquele nível. Atualmente, 81% da população entre 7 e 14 anos está
freqüentando a escola fundamental e há 2% de crianças na pré-escola. Os
17% que se encontram excluídos desta estatística enquadram-se nas
seguintes condições: 4% aguardam ingresso em virtude do congestionamento
provocado pelos repetentes; 8% já tiveram acesso e abandonaram a escola por
motivo de repetência; dos 5% restantes, considerados aqueles que
efetivamente não têm acesso, 80% vivem no Nordeste rural (MELLO, 1995).
Então, onde está o nó?
A resposta é simples e todos já sabiam: qualidade. Qualidade é a
palavra chave, é o que precisamos imprimir à educação brasileira, e que isso
deve ser feito de forma simples sem muito alarde.
Além da qualidade para se alcançar o sucesso existem mais duas
palavras que a nova Leis de Diretrizes e Bases cuidou com muito carinho:
descentralização e autonomia, o que veremos a seguir.
4.2. LDB – LEI 9.394/96
Antes de quaisquer consideração referente a Lei 9394/96 – Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, vamos retroagir no tempo e recordar
que:
Ü A primeira LDB foi a de número 4024 de 20 de dezembro de
1961.
LXXXII
Ü Ela veio em atendimento a um dispositivo específico da
Constituição de 1946 – o de ser competência da união legislar
sobre as Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
Ü No relatório da Comissão de Estudo da primeira LDB, traduz
com clareza o significado das palavras “Diretrizes” e “Bases”
– Diretriz é a linha de orientação, norma de conduta e que
Base é superfície de apoio, fundamento.
Ü Entre 1946 e 1961, foi o tempo gasto em discussões, debates
e negociações, a fim de se chegar a um consenso sobre a
estrutura e o funcionamento da educação brasileira.
Ü Em 28 de novembro de 1968, foi promulgada a Lei Federal nº
5.540 que estabeleceu normas para a organização e
funcionamento do ensino superior.
Ü Em 11 de agosto de 1971, foi promulgada a Lei Federal nº
5.692, que reformou o ensino de 1º e 2º graus. Que trouxe um
ponto controverso – a obrigatoriedade de imprimir-se ao
ensino de 2º grau um caráter profissionalizante e portanto
terminal.
A profissionalização do ensino de 2º grau não agradou nem
aos gregos nem aos troianos, o que obriga as escolas cuja
clientela não fazia demanda por esse tipo de ensino foi
obrigada a que os alunos viessem a conviver com dois
currículos – o profissionalizante, compulsório por lei e o
“propedêutico” (preparatório), que os deixava aptos para
enfrentar o vestibular.
LXXXIII
Ü Em 1982 promulgou-se a Lei nº 7044, veio reverter a situação
profissionalizante do ensino do 2º grau e deixou a cargo da
escola decidir pela sua necessidade ou não.
A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional é resultado
de um processo de tramitação que se iniciou em 1888, ano em que foi
promulgada a última Constituição da República Federativa do Brasil, vigente
até hoje. Levou oito anos em tramitação no Congresso Nacional e, finalmente,
em 20 de dezembro de 1996, ganhou o número 9,394 e foi sancionada e
promulgada. Isso a tornou a primeira lei a nascer como projeto inaugural do
legislativo, ao invés do executivo, como fora até então praxe. Ao ser
promulgada, todas as disposições das três leis anteriores mencionadas acima
ficaram revogadas.
Ela foi promulgada sob o impacto das enormes mudanças ocorridas
na sociedade, do avanço da tecnologia e meios de comunicação de massa, da
constatação. Cada vez mais óbvia de que a sociedade do futuro será a do
conhecimento e que este determinará a riqueza das nações.
Como já citamos a nova Lei de Diretrizes e Bases Nacionais (LDB)
foi aprovado em 1966, sob a inspiração do educador Darcy Ribeiro, depois de
exaustivamente debatida pela sociedade e trouxe os primeiros ventos de
modernização e real democratização para o sistema educacional brasileiro
recebendo a aprovação do Congresso Nacional, das entidades de classe e de
todos os diferentes partidos políticos.
É, portanto, na LDB de 1966, que já estão inscritos as diferentes
formas de organização do ensino, que ampliam as possibilidades de avanços e
respeito à aprendizagem dos alunos. Em outras palavras, podemos aflar de
uma nova era para a educação, vamos então conhecer a estrutura da atual
LDB.
LXXXIV
Estrutura da LDB:
• conceito de educação e fins, direitos e dever;
• educação básica;
• educação profissional;
• educação especial;
• recursos humanos;
• disposições gerais e transitórias.
4.3. NÍVEIS DE ENSINO
A nova LDB estabelece dois níveis de educação escolar:
1) o da Educação Básica, constituída pela educação infantil, pelo
ensino fundamental e pelo ensino médio.
2) O da Educação Superior, constituído pelos cursos de graduação,
de pós-graduação (mestrado, doutorado, especialização,
aperfeiçoamento e outros), de extensão e pelos cursos
seqüenciais por campo de saber.
4.3.1. Educação Infantil
Os legisladores demonstraram grande preocupação com o início da
vida escolar para a formação do indivíduo, seja na prevenção de problemas de
aprendizagem futuras, seja no desenvolvimento de habilidades relativas ao
convívio social. Ela será oferecida em creches, para crianças de até 3 anos de
idade e em pré-escolas para as de 4 a 6 anos. Neste nível de educação, o foco
e o desenvolvimento integral da criança, ou seja, dos seus aspectos físico,
psicológico, intelectual e social.
LXXXV
A implantação de uma verdadeira educação infantil precisará contar
com a colaboração do sistema de saúde e dos órgãos de assistência social.
A responsabilidade deste nível inicial de educação pertence aos
municípios. Todavia os empregos são chamados a dividir esses encargos, pela
obrigação de garantir assistência gratuita para os filhos e dependentes de seus
empregados em creches e pré-escolas, além da prevista com o recolhimento
do salário-educação.
4.3.2. Ensino Fundamental
Com relação ao ensino fundamental deverá ser a de melhoria de
qualidade. A lei nos mostra isso da seguinte forma:
A duração, atualmente de 8 anos, passará progressivamente a
ser de 9 anos, pela inclusão da criança de 6 anos na
obrigatoriedade.
A carga horária foi aumentada de 720 para 800 horas e de 180
para 200 o número de dias letivos.
Os currículos incluirão aulas de arte e de educação física.
A formação e o aperfeiçoamento dos docentes deverá merecer
muito mais atenção dos agentes educacionais que as promovem,
sob os olhos mais atentos das autoridades educacionais.
A jornada diária escolar não poderá ser inferior a 4 horas.
4.3.3. Ensino Médio
O ensino médio, etapa final da educação básica, com duração
mínima de três anos, terá como finalidades:
LXXXVI
1. A consolidação e o aperfeiçoamento dos conhecimentos
adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o
prosseguimento dos estudos.
2. Preparação para o trabalho e a cidadania do educando para
continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar
com flexibilidade a novas condições de ocupação ou
aperfeiçoamento posteriores.
3. O aprimoramento do educando como pessoa humana,
incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia
intelectual e do pensamento crítico.
4. Compreensão dos fundamentos científico e tecnológico dos
processos produtivos e teoria com a prática no ensino de
cada disciplina (Art. 35).
O currículo do ensino médio deverá privilegiar, a educação
tecnológica básica, a compreensão do significado da ciência, das letras e das
artes; o processo histórico de transformação da sociedade e da cultura; a
língua portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento
e exercício ad cidadania. Além disso fica obrigatória a inclusão de uma língua
estrangeira, sugerindo-se também uma segunda mas esta em caráter
facultativo.
4.3.4. Educação Superior
Uma das ênfases da lei relativamente a este nível de educação é a
necessidade de se definir Autonomia Universitária prescrita pela constituição e
até agora não clarificada. Por outro lado, abre-se a possibilidade de entender a
autonomia a outras instituições, de modo a evitar que estabelecimentos
busquem um único modelo de universidade. Quantas novidades merecem
destaque a partir da lei,
LXXXVII
“As instituições oferecerão, no período noturno, cursos de
graduação nos mesmos padrões de qualidade mantidos
no período diurno, sendo obrigatória a oferta noturna nas
instituições públicas” (LDB, art. 43, § 3).
De resto, a educação superior continua com seus objetivos de
ensino e de pesquisa, de forma diplomados, de divulgação de conhecimentos,
de ofertar educação permanente e de prestar serviços à comunidade,
basicamente sob a forma de discussão de problema de interesse para a
sociedade.
4.4. MODALIDADE DE ENSINO
A nova LDB prevê as seguintes modalidades:
ê educação de jovens e adultos, para os alunos que não tiverem
acesso ou continuidade de estudo no ensino fundamental e
médio na idade própria;
ê educação especial para portadores de necessidades das mais
diversas naturezas;
ê educação profissional, a ser desenvolvida em articulação com o
ensino regular ou por diferentes estratégias de educação
continuada.
4.5. PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO
A preocupação com a formação de professores é uma das marcas
da LDB num país em que não é exceção que pessoas recém saídas da
alfabetização adulta assumam a função docente, urgia marcar a data da
LXXXVIII
abolição desta prática. Até o fim da Década da Educação3 somente serão
admitidos professores habilitados em nível superior ou formados por
qualificação em serviço.
A LDB manteve a estrutura da legislação anterior no que se refere
aos requisitos para a formação de professores. A grande novidade é a
possibilidade de se organizar o curso normal em nível superior, assim como
licenciar docentes que possuem curso superior e queiram dedicar-se ao
magistério.
4.6. RECURSOS FINANCEIROS
O assunto “financiamento da educação” é uma preocupação
bastante recente, até a época da ditadura militar, não se tinha notícia de uma
política de financiamento para educação. Foi na década de 60 e que se iniciou
este tio de financiamento com:
X a instituição do salário educação através da arrecadação de
2,5% da folha de pagamento das empresas;
X os acordos MEC-USAD.
Na LDB é o artigo 68 que trata do assunto “financiamento da
educação” segundo ele, serão recursos públicos destinados a educação os
originários de:
X receita de impostos próprios da União, dos Estados, do
distrito Federal e dos municípios;
3 Prazo determinado pela LDB para cumprimento dos dispositivos da lei, a contar de 1 ano após a sua publicação.
LXXXIX
X receita de transferências constitucionais e outras
transferências;
X receita do salário-educação e de outras contribuições sociais;
X receita de incentivos fiscais;
X outros recursos previstos em lei.
O artigo 69 da LDB estabelece qual o percentual que deve ser
vinculado obrigatoriamente à educação:
X a união, um mínimo de 18%;
X aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios, 25%.
A prioridade destes recursos será para o ensino fundamental: até
2007 a lei lhe vincula 60% de todos os recursos que Estados e Municípios
alocam para a educação.
O que para alguns críticos da LDB apontam como uma ameaça a
qualidade de outros níveis de ensino (educação infantil, ensino médio e
educação superior).
A vinculação de percentuais também é vista por muitos como um
fator que limita a autonomia e a iniciativa dos Estados e Municípios. Todavia,
nós e outras estruturas achamos que tal mecanismo compulsório, na prática
produz resultados benéficos e que não sendo um mecanismo definitivo quando
os problemas forem solucionados de forma mais satisfatória, ela poderá ser
gradualmente eliminados.
Ainda com relação a recursos para financiar a educação a LDB
procura equacionar o problema definindo com clareza o que é despesa com
manutenção e desenvolvimento do ensino e o que não é.
XC
4.6.1. É despesa com Educação
1. Remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docente e demais
profissionais de educação.
2. Aquisição, manutenção, construção e conservação de instalações e
equipamentos necessários ao ensino.
3. Uso e manutenção de bens e serviços vinculados ao ensino.
4. Realização de atividades-meio necessárias ao funcionamento dos
sistemas de ensino.
5. Concessão de bolsas de estudo a alunos de escolas públicas e
privadas.
6. Amortização e custeio de operações de crédito destinados a atender ao
disposto nos incisos deste artigo.
7. Aquisição de material didático-escolar e manutenção de programas de
transporte escolar.
4.6.2. Não é despesa com Educação
1. Pesquisa, quando não vinculada à instituições de ensino, ou, quando
efetivada fora dos sistemas de ensino, que não visa, precipitadamente,
ao aprimoramento de sua qualidade ou à sua expansão.
2. Subvenção a instituições públicas ou privadas de caráter assistencial,
desportiva ou cultural.
3. Formação de quadros especiais para a administração pública, sejam
militares ou civis, inclusive diplomáticos.
XCI
4. Programas suplementares de alimentação, assistência médico-
odontológica, farmacêutica e psicológica, outras formas de assistência
social.
5. Obra de infra-estrutura, ainda que realizadas para benefícios direta ou
indiretamente a rede escolar.
6. Pessoal docente e demais trabalhadores da educação, quando em
desvio de função ou em atividade alheia à manutenção e ao
desenvolvimento do ensino.
4.7. ADMINISTRAÇÃO
A administração da escola é realizada através de distribuição de
competências entre as esferas do poder público de acordo com o
estabelecimento em lei, ou melhor, está definido no texto da lei máxima, isto é,
na nossa Constituição Federal.
A responsabilidade pelo ensino público, prioritariamente e não de
forma definitiva, encontra-se dividida como veremos:
• Ensino fundamental (1º grau) – é competência dos Estados,
Distrito Federal e Municípios.
• Ensino Médio (2º grau) – Estados e Distrito Federal.
• Ensino Superior Técnico e Tecnológico – União e Estados.
A participação da iniciativa privada é livre em todos os graus de
ensino, mediante autorização e avaliação do poder público.
Nas disposições constitucionais de 1988 esta implícita, portanto, a
descentralização das competências para os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios.
XCII
4.7.1. Outros organismos administrativos
Além dos órgãos diretamente ligados à educação, encontraremos
outras organizações participando desta importante tarefa. Na tarefa
educacional, encontra-se outros organismos governamentais – Ministério do
Trabalho, da Saúde, Militares, das comunicações, ou não governamentais, seja
por meio de convênios ou por ação conjuntas.
Vejamos então a forma de atuação destes órgãos:
a Ministério da Saúde – através de campanhas de vacinação,
conscientização aos aspectos higiênicos e profiláticos de
doença na escola. Juntamente com o MEC, vão adotando
política de desenvolvimento para a área de saúde, executadas
pelo Estado.
a Ministérios militares – mantêm escolas de ensino fundamental,
médio e cursos superiores em diversas academias para
preparação específica para cada arma.
a Ministério de Comunicações – contribui ao viabilizar
transmissões de programas educacionais, via rádio, televisão,
para várias regiões do Brasil, aprimorando o conhecimento de
professor, e beneficiando, cerca de 23 milhões de alunos.
Existem também convênios firmados, institucionalmente, entre o
MEC e organismos governamentais vinculados à agricultura e Zootecnia como
objetivo de desenvolver, nessas áreas, estudos e projetos de caráter
eminentemente educativo e pedagógico a fim de atender os alunos e
aperfeiçoar o corpo docente.
XCIII
4.8. INOVAÇÕES DA LDB
A opinião de vários especialistas e pensadores em educação quanto
as inovações trazidas pela LDB, pode-se dizer sem medo de errar, que são a
flexibilidade e a avaliação. Vê-se claramente que, pela primeira vez, uma lei
educacional deixar a União com o papel de mero coordenador, abrindo
caminho para a iniciativa autônoma dos Estados, Municípios e escolas, da
mesma forma, nunca se falou em avaliação sistemática e eficaz da situação
educacional.
Vamos então rever alguns artigos que fale da autonomia da escola e
projeto pedagógico, flexibilidade e avaliação:
Artigo 15 (autonomia) – os sistemas de ensino assegurarão às
unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos
graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira,
observadas as normas gerais de direito financeiro público.
Artigo 12 – os estabelecimentos de ensino respeitados as normas
comuns e os do seu sistema de ensino, terão a incumbência de elaborar e
executar sua proposta pedagógica.
Artigo 13 – Os docentes incuber-se-ão de participar da elaboração
da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino.
Artigo 14 – Os sistemas de ensino definirão as normas de gestão
democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas
peculiaridades e conforme aos seguintes princípios: participação dos
professores de educação na elaboração do projeto pedagógico da escola.
Artigo 23 – A educação básica poderá organizar-se em série
anuais, períodos semestrais, ciclos, alternâncias regular de períodos de
estudos, grupos não seriados, com base na idade, na competência e em outros
XCIV
critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o processo de
aprendizagem assim o determinar.
Artigo 24 – a educação básica, nos níveis fundamental e médio,
será organizado de acordo com as seguintes regras comuns: a classificação
em qualquer série ou etapa, exceto a primeira do ensino fundamental poderá
ser feita.
Alínea C – independentemente de escolarização interior, mediante
avaliação feita pela escola, que defina o grau de desenvolvimento e
experiência do candidato e permita sua inscrição na série ou etapa adquirida,
conforme regulamentação do respectivo sistema de ensino.
Temos ainda, artigo 3º inciso X, que valoriza a experiência extra
escolar. O artigo 4, o que dispõe que a educação profissional será
desenvolvida em articulação “com o ensino regular ou por diferentes
estratégias de educação continuada”, e ainda o artigo 41 que possibilita a
“avaliação, o reconhecimento e a certificação de conhecimentos adquiridos na
escola ou no trabalho”.
4.9. AVALIAÇÃO
Este é outro aspecto inovador da lei. O artigo 2º especificamente nos
incisos VI, VII e IX, estabelece que passou a ser incumbência da União:
• O controle sobre o processo de avaliação do rendimento
escolar de todos os níveis da educação escolar.
• O controle da avaliação das instituições e de cursos do ensino
superior.
As características desta avaliação, ainda estão por ser definidos, o
que implica na necessidade de muitos seminários para se ter uma definição.
XCV
4.10. MUNICIPALIZAÇÃO
Artigo 8º - A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios,
organização em regime de colaboração, os respectivos sistemas de ensino.
Este artigo abre a possibilidade de instituição dos sistemas municipais de
ensino, juntamente com o inciso VIII do artigo 3º - gestão democrática do
ensino público na forma da lei e da legislação dos sistemas de ensino, pondo a
gestão democrática como princípio do ensino público.
Vemos, portanto que foi nos últimos anos do século XX, sob o
impacto das enormes mudanças ocorridas na sociedade, do avanço, da
tecnologia e meios de comunicação de massa, da constatação cada vez mais
óbvia de que a sociedade do futuro será a do conhecimento e que este
determinará as riquezas das nações. É, portanto, na LDB, de 1966, que estão
lançadas as possibilidades de avanços e respeito à aprendizagem dos alunos e
os nossos esperança de uma escola voltada para toda a sociedade.
XCVI
CONCLUSÃO
Chegamos ao final do século XX, com uma educação em crise,
apesar dos grandes avanços alcançados. A nova LDB exaustivamente
debatida pela sociedade, antes de aprovada, trouxe os primeiros ventos de
modernização e democratização, objetivando grandes mudanças na escola
formal brasileira. Haja visto que desde a época colonial, temos uma escola
perversa, excludente e elitista. Uma escola que não prepara, tampouco oferece
condições de trabalho ao educador; e que não assiste o aluno de forma a
prepará-lo para a vida. Ela é perversa hoje quando não alcança as camadas
menos favorecidas da sociedade, como outrora acontecia. É uma educação
excludente quando exclui da sala de aula educandos e docentes, os primeiros
por não serem reciclados continuamente, e os educando, quando não recebem
acompanhamento pedagógico, quando fracassaram na construção do
conhecimento. Ela é também elitista, pois atende com privilégios as classes
dominantes, como na época da Colônia e do Império.
Sabiamente, o grande educador Darcy Ribeiro afirmou:
“Nunca em nossa história temos feito tantos progressos
no setor educacional, mas também nunca alcançamos
uma consciência tão clara de nossas próprias fraquezas”
(Darcy Ribeiro).
Isto se deve aos grandes avanços que se verificou, com a autonomia
alcançada pelo pensamento pedagógico brasileiro, principalmente a partir da
escola nova, pois até o final do século XIX, as idéias pedagógicas
predominantes refletiram o pensamento religioso medieval.
Tudo começou com os movimentos intelectuais no “Velho Mundo” –
Iluminismo, positivismo, idéias liberais culminando com o pensamento
pedagógico da Escola Nova.
XCVII
Como podemos perceber em nossa narrativa, atingimos um
invejável patamar em termos pedagógicos, mas o mesmo não podemos falar
com relação à estrutura da nossa escola.
Ruy Costa, um educador português, em uma entrevista concedida
no ano de 2000 ao jornal A Folha de São Paulo afirmou que as pessoas
criticam a educação de hoje como se ela tivesse sido melhor um dia. Tal
afirmação nos inspirou a esta incursão em torno da educação, e também nos
permite concluir este trabalho, dizendo que a educação hoje não é melhor nem
pior do que já foi um dia no passado. Embora tenhamos alcançado grandes
progressos, continuamos a refletir muitos erros do passado, como, por
exemplo, deixar o povo excluído do conhecimento.
XCVIII
BIBLIOGRAFIA
CURY, Carlos Roberto Jamil. LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação.
Lei 9394/96. 5 ed., Rio de Janeiro: DP & A, 2002.
ELIAS, Marisa Del Cioppo (org.). Pedagogia Freinet. Teoria e Prática. São
Paulo: Papirus, 1997.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários à prática
educativa. Coleção Educativa. S/l: Paz e Terra, s/d.
GADOTTI, M. História das Idéias Pedagógicas. 8 ed., São Paulo: Ática, 2002.
MATTOS, Luiz A. de. Primórdios da Educação no Brasil: o período heróico
(1549-1570). Rio de Janeiro: Aurora, 1958.
NOVAIS, Fernando A. Estrutura e Dinâmica do Antigo Sistema Colonial
(séculos XVI – XVIII). 2. ed., São Paulo: Brasiliense, 1975.
PILETTI, Cláudio; PILETTI, Nelson. Filosofia e História da Educação. 15 ed.,
São Paulo: Ática, 2001.
RIBEIRO, M. L. S. Introdução à História da Educação Brasileira. Coleção
Educação Universitária. São Paulo: Cortez & Moraes, 1978.
XCIX
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO II AGRADECIMENTOS III DEDICATÓRIA IV RESUMO V METODOLOGIA VI INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
Escolarização colonial 10 1.1. Idéias pedagógicas medievais 11 1.2. Jesuitismo 13 1.3. Fase pombalina 24 1.4. Sobre o estado das escolas e professores 27 1.5. Pensamento pedagógico iluminista 30 CAPÍTULO II A Educação eletista do Império 35 2.1. A Côrte Portuguesa e a Educação formal 36 2.2. A organização do ensino 39 2.3. Realizações educacionais na década de 1850 43 2.3.1. E a educação das mulheres? 48 CAPÍTULO III A Educação Republicana 54 3.1. Pensamento pedagógico positivista 55 3.2. Reformas na Primeira República 57 3.3. A Educação no Estado Novo 62 3.4. Escola Nova 66 3.5. Escola pós 1964 72
C
CAPÍTULO IV Educação formal no Brasil de hoje 75 4.1. A Educação no final do século XX 76 4.2. LDB – Lei 9.394/96 81 4.3. Níveis de ensino 84 4.3.1. Educação Infantil 84 4.3.2. Ensino Fundamental 85 4.3.3. Ensino Médio 85 4.3.4. Educação Superior 86 4.4. Modalidades de ensino 87 4.5. Profissionais da Educação 87 4.6. Recursos financeiros 88 4.6.1. É despesa com Educação 90 4.6.2. Não é despesa com Educação 90 4.7. Administração 91 4.7.1. Outros organismos administrativos 92 4.8. Inovações da LDB 93 4.9 Avaliação 94 4.10. Municipalização 95 CONCLUSÃO 96 BIBLIOGRAFIA 98 ANEXOS 101 FOLHA DE AVALIAÇÃO 102
CI
ANEXOS
CII
FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
Instituto de Pesquisa Sócio-Pedagógicas Pós-Graduação “Latu Sensu” Título da Monografia A Educação formal no Brasil. Já foi melhor um dia?
Data da Entrega: ___________________________ Avaliado por: ______________________________Grau: ________________
Rio de Janeiro, ______ de ______________________ de ________ _______________________________________________________________
Coordenação do Curso