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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE L I D E R A N Ç A E C R I S E Juaris Weiss Gonçalves Trabalho monográfico apresentado como requisito parcial para obtenção do Grau de Especialista em Reengenharia e Recursos Humanos Rio de Janeiro, RJ, outubro de 2001

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTODIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO A VEZ DO MESTRE

L I D E R A N Ç A E C R I S E

Juaris Weiss Gonçalves

Trabalho monográfico apresentado

como requisito parcial para obtenção do Grau

de Especialista em Reengenharia e Recursos

Humanos

Rio de Janeiro, RJ, outubro de 2001

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTODIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO A VEZ DO MESTRE

L I D E R A N Ç A E C R I S E

Juaris Weiss Gonçalves

Orientador: Prof. Marco Antônio Chaves

Rio de Janeiro, RJ, outubro de 2001

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Aos mestres e aoscompanheiros desta jornada nabusca do conhecimento.

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SUMÁRIO

__________________________________________________________

P.

Resumo

Introdução

1. O Estado ................................................................................................ 11

1.1. Definição, fins e funções do Estado .................................................... 11

1.2. A crise e o Estado Democrático de Direito .........................................13

1.3. O sistema constitucional da crise ........................................................15

1.4. O equilíbrio federativo ......................................................................... 16

2. Intervenção .............................................................................................17

2.1. Natureza da Intervenção ..................................................................... 17

2.2. Intervenção federal nos estados ......................................................... 18

2.3. Pressupostos formais da Intervenção ................................................. 19

2.4. Controle político e jurisdicional da Intervenção ...................................21

2.5. Conseqüências da cessação da Intervenção ..................................... 22

3. As Forças Armadas ................................................................................24

3.1. Composição o e organização das Forças Armadas ............................24

4. Segurança Pública ................................................................................. 27

4.1. Definição ............................................................................................. 27

4.2. Previsão constitucional ........................................................................27

4.3. As Polícias ...........................................................................................28

5. Liderança ................................................................................................29

5.1. Liderança militar .................................................................................. 29

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5.1.1. Conceito de liderança militar ...........................................................

29

5.2. Conceitos relativos à liderança ........................................................... 30

5.2.1. Área afetiva ...................................................................................... 30

5.2.2. Atitudes ............................................................................................ 30

5.2.3. Caráter ............................................................................................ 30

5.2.4. Crenças ........................................................................................... 31

5.2.5. Ética militar ..................................................................................... 31

5.2.6. Interesses ....................................................................................... 31

5.2.7. Motivação ....................................................................................... 31

5.2.8. Valores ........................................................................................... 31

5.3. Teorias da liderança........................................................................... 31

5.3.1. Teoria inatista ................................................................................. 32

5.3.2. Teoria sociológica ........................................................................... 32

5.3.3. Teoria do campo social ................................................................... 32

5.4. Princípios de liderança ....................................................................... 33

5.5. Aspectos conjunturais ........................................................................ 33

5.5.1. O líder ............................................................................................. 34

5.5.2. Os liderados .................................................................................... 35

5.5.3. A comunicação ............................................................................... 36

5.5.4. A situação ....................................................................................... 37

6. O estado de Alagoas ............................................................................. 38

6.1. Avaliação da conjuntura ..................................................................... 38

6.1.1. Aspectos fisiográficos ...................................................................... 38

6.1.2. Aspectos políticos ............................................................................ 39

6.1.3. Aspectos econômicos ...................................................................... 41

6.1.4. Aspectos psicossociais .................................................................... 43

6.2. A segurança pública ........................................................................... 43

6.2.1. A Polícia Militar................................................................................. 44

6.2.2. A Polícia Civil ................................................................................... 46

6.2.3. O Corpo de Bombeiros Militar .......................................................... 46

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6.3. A participação do Governo Federal ....................................................

47

6.3.1. Precedentes da crise ....................................................................... 47

6.3.2. A eclosão da crise .......................................................................... 48

7. A participação do Exército Brasileiro ..................................................... 52

7.1 Generalidades ..................................................................................... 52

7.2. Ações implementadas ........................................................................ 54

7.3. Aceitação das medidas adotadas ....................................................... 58

Conclusão .................................................................................................. 63

Bibliografia ..................................................................................................66

Anexos

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RESUMO

O presente trabalho aborda a ação do Exército,

no período de 25 de julho a 01 de novembro de 1997, após a crise político-

social que culminou com a saída do então governador de Alagoas Divaldo

Suruagy.

Tendo como cenário a crise, o foco é destacar,

no trabalho realizado pelo oficial designado para comandar a Polícia Militar de

Alagoas, a importância da liderança para a restauração da normalidade.

A situação do estado era extremamente

complexa, tornando imprescindível à participação do Governo Federal para o

encaminhamento da solução. Em função dessa necessidade, nos capítulos

iniciais foram abordados conceitos, que se destinam a caracterizar as

responsabilidades da União e do estado membro na crise político-social que se

abateu sobre Alagoas.

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Na seqüência, é apresentado o papel

constitucional das Forças Armadas onde são definidas as condições legais

para a participação das mesmas, de forma episódica, na Segurança Pública.

Como a Segurança Pública do estado passava

por sérios problemas, a ponto de ter sofrido intervenção do Governo Federal, é

apresentado o conteúdo constitucional que explicita o seu significado, a sua

organização e a sua abrangência.

A seguir, foi abordado o assunto liderança

militar, cujos princípios são referenciais para o comportamento dos militares

do Exército.

Para que o contexto existente no estado de

Alagoas e sua influência em todas as decisões pudesse ser conhecida foi

realizada a avaliação da conjuntura, abrangendo os aspectos fisiográficos,

políticos, econômicos e psicossociais.

Apresentados os conteúdos necessários para o

entendimento da crise e de suas condicionantes, foram elencadas as

realizações do oficial do Exército que exerceu o Comando Geral da Polícia

Militar, cujos resultados repercutiram positivamente no âmbito da corporação e

da sociedade civil.

Na conclusão fica caracterizado que os

resultados obtidos foram decorrentes da adequada e oportuna aplicação dos

princípios de liderança militar e que em cenário de crise, liderança não é uma

escolha a ser feita. É a única.

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INTRODUÇÃO

O líder tem de ter coraçãogrande para acolher as pessoas eestrutura de aço para tocar osnegócios. Cristina Weiss

Em 13 de junho de 1997, quando os policiais

militares de Minas Gerais saíram às ruas de Belo Horizonte, em greve, por

aumento salarial, não imaginavam que estavam acendendo o estopim da pior

crise na história da Polícia Militar brasileira.

Durante o cerco dos grevistas ao Palácio da

Liberdade sede do governo mineiro, onze dias após, houve confronto com os

próprios PM que protegiam o Palácio.

Com a greve fora do controle, o governador

Eduardo Azeredo cedeu um reajuste de 48% aos grevistas. Ao se render à

pressão dos policiais, o ato do governador se transformou na senha que faltava

para as polícias do resto do país também iniciarem seus movimentos grevistas.

Em menos de duas semanas, a crise já havia se

estendido para outros 12 estados, mas foi em Alagoas que assumiu dimensões

de crise de estado.

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Em 17 de julho, o prédio da Assembléia Legislativa

do estado de Alagoas, foi cercado por mais de 10 mil manifestantes que

ameaçavam de morte os deputados caso mantivessem o governador Divaldo

Suruagy no cargo.

Houve troca de tiros entre tropas do Exército,

seguranças de deputados e policiais militares e civis, em greve.

Depois do incidente, Suruagy, já envolvido no

escândalo dos precatórios, preferiu optar por uma licença de seis meses com

vencimentos.

A partir daí o vice-governador assumiu a tarefa de

administrar a caótica situação e recebeu, como imposição do governo federal,

a inclusão no seu secretariado de três oficiais do Exército que assumiram,

respectivamente, as Secretarias da Fazenda, da Segurança e o Comando

Geral da Polícia Militar.

O presente trabalho destina-se a fazer uma análise

da crise político-social ocorrida no estado de Alagoas, abordando a liderança

exercida, no período de 25 de julho a 01 de novembro de 1997, pelo oficial do

Exército nomeado Comandante Geral da Polícia de Alagoas.

Com o intuito de bem analisar a crise e avaliar a

capacidade de liderar do novo Comandante, foi realizada uma pesquisa

bibliográfica, constando da consulta de livros, jornais e artigos, além do

conhecimento decorrente da vivência do autor no episódio.

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1. O ESTADO

A democracia moderna repousa na

soberania, não do povo mas do

cidadão. Norberto Bobbio

1.1. Definição, fins e funções do Estado

Os estados são ordens jurídicas regionais

que detêm autonomia, nos termos da Constituição Federal. Possuem

capacidade política e administrativa, tendo as competências e autoridades

próprias.1

Pode-se dizer que o estado, como

sociedade política, existe para realizar a segurança, a justiça e o bem-estar

econômico e social, os quais constituem os seus fins.

1 MOTTA, Sylvio, DOUGLAS, Willian. Direito Constitucional. Rio de Janeiro: Impetus, p. 159.

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A justiça possibilita que, nas relações

entre os homens, seja substituído o arbítrio da violência individual por um

complexo de regras capazes de satisfazer o instinto natural da própria

justiça.

O bem-estar econômico e social é outra

finalidade do estado. O que se objetiva é a promoção de boas condições de

vida dos indivíduos, garantindo-lhes o acesso aos bens econômicos que

permitam a elevação de camadas sociais mais pobres, contemplando-as

com educação, saúde, habitação, dentre outros serviços.

É preciso, contudo, não exagerar o papel

desses serviços, para que não se agigante o Estado, e não haja o

comprometimento das liberdades públicas.

O estado é um meio e não um fim em si

mesmo. Existe para a realização individual e social do homem. O bem

comum constitui a finalidade legítima do Estado. O Estado, igualmente, não

é uma instituição para governar idéias, muito menos par impô-las, existindo

para regular condutas.

Não existem apenas funções jurídicas do

estado. Há o Estado cultural, o do bem-estar, Estado ético e ainda o social.

Além da criação e da execução do Direito, outras funções não jurídicas se

processam mediante atos políticos e atos materiais, a despeito de serem

cercados pela malha de uma regulamentação jurídica e influírem na esfera

do Direito.

Define-se, então, a função política como uma

conexão de funções legislativas, regulamentares, planificadoras e militares,

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de natureza econômica, social, financeira e cultural, dirigida à

individualização e graduação de fins constitucionalmente estabelecidos.

Além disso, fica comprometida a idéia de ser

a função política considerada juridicamente livre pelo fato de que todo o

poder estatal, no Estado de Direito, se acha juridicamente vinculado à

Constituição.

Assinale-se que, embora sejam as funções

do Estado abstratamente distintas umas das outras, os atos que manifestam

podem ter caráter misto.

Desta forma, pode haver atos que embora

tidos como legislativos, simultaneamente são manifestações do Poder

Executivo, e mesmo certos atos jurisdicionais que contêm elementos do

Poder Legislativo.

1.2. A crise e o Estado Democrático de

Direito

O Estado Democrático de Direito,

compreende a limitação jurídica do arbítrio do poder político e a estabilidade

jurídica das garantias individuais, tendo, a Constituição como norma

suprema, o que reclama uma adequação de todo o ordenamento

infraconstitucional com as normas constitucionais.

Sendo o arbítrio político incompatível com a

segurança individual, pode-se dizer que o traço prático pelo qual se

reconhece o Estado de Direito é o grau de garantia de que são cercados os

indivíduos.

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Na vida de uma comunidade política,

podem, no entanto, ocorrer situações de crise (econômica, bélica, política,

social, física, como epidemias, terremotos, inundações, etc.), acarretando a

ruptura do equilíbrio institucional.

As crises que incidem sobre a organização

estatal podem ser assim tipificadas:

crises deflagradas com a finalidade de destruir a independência ou a

integridade territorial do Estado;

crises engenhadas para derrubar o regime político-institucional e, assim,

a ordem constitucional vigente;

crises econômico-financeiras.

Para debelar a anormalidade, superando a

situação de crise, surge a necessidade da constitucionalização das

circunstâncias excepcionais, vale dizer, a Constituição passa a estabelecer

medidas destinadas à defesa do Estado e de suas instituições.

Fala-se então, em direito constitucional, de

crise ou legalidade especial, cuidando-se de fixar o alcance, os limites e as

garantias das medidas excepcionais, sobretudo as referentes ao retorno à

normalidade.

A defesa do Estado e das Instituições

Democráticas não está autorizando a defesa do governo, que é transitório,

ou de um determinado sistema político, que nem sempre representa o

verdadeiro conceito de democracia, mas a integridade do sistema jurídico

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constitucional com respeito às liberdades e garantias individuais,

traduzida na origem popular do poder político e na prevalência da

legalidade.

1.3. O sistema constitucional das crises

O sistema constitucional das crises,

entendido como o conjunto de normas constitucionais estruturadas,

ordenadas e coerentes é fundado nos princípios da necessidade e da

temporariedade.

O princípio da necessidade caracteriza-se

pela ocorrência de situações que, pela sua gravidade, colocam em risco a

estabilidade do regime, objetivando, por isso mesmo, a manutenção e a

preservação da ordem constitucional e das instituições.

O princípio da temporariedade significa que

a exceção constitucional terá duração e prazo determinados.

Esses princípios acarretam a decretação de

medidas excepcionais que, por traduzirem uma legalidade especial, não

podem ser efetivadas sem a ocorrência fundada em elementos seguros da

emergência; não podem exceder os limites da defesa do regime e das

instituições democráticas, nem quanto à natureza das medidas, nem quanto

à extensão no espaço e duração no tempo, necessárias e suficientes. Não

se podem furtar ao controle político do Legislativo, ainda que a posteriori, e

não podem fugir ao controle jurisdicional que repare desvios e abusos.

Ressalte-se, contudo, que a Constituição

não impede golpes de Estado. Sendo assim, não há dispositivo legal que

impeça os riscos de abuso das medidas excepcionais.

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1.4. O equilíbrio federativo

O Estado federal assenta-se no princípio

da autonomia das entidades componentes e se apoia em dois elementos

básicos: existência de governo próprio e a posse de competência exclusiva.2

A autonomia, estabelecida nos artigos

25, 29 e 32 da Constituição, é o poder limitado e circunscrito, em que se

verifica o equilíbrio da federação, caracterizado pela capacidade que têm os

Estados, Municípios e Distrito Federal, todos autônomos, de agir dentro de

círculo preestabelecido.

Esse equilíbrio federativo realiza-se por

mecanismos instituídos na Constituição Federal, entre os quais sobreleva o

da intervenção federal nos estados e agora também no Distrito Federal e

dos estados nos municípios, que está prevista nos artigos 34 a 36 da

Constituição.

2 SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional. Rio de Janeiro:Malheiros, 1997, p. 482.

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2. INTERVENÇÃO

A intervenção é instituto essencial aosistema federativo, sendo exercido em funçãoda integridade nacional e da tranqüilidadepública. (José Afonso da Silva)

2.1. Natureza da Intervenção

A intervenção é ato político que consiste na

incursão da entidade interventora nos negócios da entidade que a suporta.3

Intervenção é a antítese da autonomia. Por

ela afasta-se, momentaneamente, a atuação autônoma do Estado que a

tenha sofrido. A União não é, no plano interno, superior aos estados e a

prova disso é o fato de não poder neles intervir sem atender aos requisitos

impostos pela Constituição Federal.4

3 SILVA, José Afonso. Op.cit. 483/484.4 MOTTA, Sylvio, DOUGLAS, Willian. Direito Constitucional, p.158. Riode Janeiro: Impetus, 2000.

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Uma vez que a Constituição assegura

a essas entidades a autonomia como princípio básico da forma de Estado

adotada, decorre daí que a intervenção é medida excepcional, e só há de

ocorrer nos casos nela taxativamente estabelecidos e indicados como

exceção ao princípio da não intervenção, preconizado pelo artigo 34, que

determina que a União não intervirá nos Estados, “exceto para”, “exceto

quando”, arrolando-se em seguida os casos em que é facultada a

intervenção estreitamente considerados.

2.2. Intervenção federal nos Estados

Os pressupostos de fundo da intervenção

federal nos Estados constituem situações críticas que põem em risco a

segurança do Estado, o equilíbrio federativo, as finanças estaduais e a

estabilidade da ordem constitucional.

Trata-se de um instituto típico da estrutura

do Estado federal que tem por finalidade:

a defesa do Estado (País) quando nos casos do Art 34, I e II, é

autorizada a intervenção para: manter a integridade nacional e repelir

invasão estrangeira;

a defesa do princípio federativo, quando, nos casos do mesmo artigo 34,

II, III e IV, é facultada a intervenção para: repelir invasão de uma

unidade da Federação em outra; pôr termo a grave comprometimento da

ordem pública; garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas

unidades da Federação;

a defesa das finanças estaduais, quando, nos casos do artigo 34, V, é

permitida a intervenção para reorganização das finanças da unidade da

Federação que: suspender o pagamento da dívida fundada por mais de

dois anos consecutivos, salvo força maior; deixar de entregar aos

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Municípios receitas tributárias fixadas na Constituição, dentro dos prazos

estabelecidos em lei;

a defesa da ordem constitucional, quando o artigo 34 autoriza a

intervenção: no caso do inciso VI, para prover a execução de lei federal,

ordem ou decisão judicial; no caso do inciso VII, para exigir a

observância dos seguintes princípios constitucionais: forma republicana,

sistema representativo, regime democrático; direito da pessoa humana;

autonomia municipal; prestação de contas da administração pública,

direta ou indireta; aplicação do mínimo exigido da receita resultante de

impostos estaduais, compreendida a procedente de transferências, na

manutenção e desenvolvimento do ensino.

2.3. Pressupostos formais da Intervenção

Os pressupostos formais da intervenção são

aqueles que dizem respeito a efetivação, limitação e requisitos da

intervenção. 5

A intervenção federal efetiva-se por decreto

do Presidente da república, o qual especificará a sua amplitude, prazo e

condições de execução e, se couber, nomeará o interventor nos termos do

artigo 36, § 1º, da Constituição Federal.

Há, pois, intervenção sem interventor. Isso

porque a medida pode atingir qualquer órgão do poder estadual. Se for no

Executivo, o que tem sido regra, a nomeação do interventor será necessária

para que exerça as funções do Governador.

5 MOTTA, Sylvio, DOUGLAS, Willian. Op.Cit. p. 355.

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Se for no Legislativo apenas, tornar-se-

á desnecessário o interventor, desde que o ato de intervenção atribua as

funções legislativas ao Chefe do Executivo estadual

Se for em ambos os Poderes, o interventor

será, também, necessário para assumir as funções executivas e legislativas.

O decreto de intervenção dependerá:

nos casos dos incisos I II III e V do Art.34, da simples verificação dos

motivos que a autorizam;

no caso do inciso IV do Art.34, de solicitação do Poder Legislativo ou do

Poder Executivo coacto ou impedido, ou de requisição do Supremo

Tribunal Federal, se a coação for exercida contra o Poder Judiciário;

no caso de desobediência a ordem ou decisão judicial (inciso VI do

artigo 34), de requisição do Supremo Tribunal Federal, do Supremo

Tribunal de Justiça ou do Tribunal Superior Eleitoral, segundo a matéria.

no caso do inciso VII do artigo 34, de provimento, pelo Supremo Tribunal

Federal, de representação do Procurador-Geral da República,

representação essa que caracteriza a ação direta de

inconstitucionalidade interventiva;

na hipótese do artigo 34, VI, que trata da recusa à execução de lei

federal, dependerá de provimento pelo Superior Tribunal de Justiça, de

representação do Procurador–Geral da Republica; aqui não se trata de

obter declaração de inconstitucionalidade, portanto essa representação

tem natureza diversa da referida no inciso III do artigo 36. Seu objetivo

consiste em garantir a executoriedade da lei federal pelas autoridades

estaduais.

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nos casos dos incisos VI e VII do Art. 34, o decreto de intervenção

limitar-se-á a suspender a execução do ato impugnado, se essa medida

bastar ao restabelecimento da normalidade, isto é, se for suficiente para

eliminar a infração àqueles princípios constitucionais neles arrolados.

Aplica-se o processo estabelecido na Lei

4337/64, com possibilidade de suspensão liminar do ato impugnado (Lei

5778/72). Se, porém, a simples suspensão do ato não for bastante, efetivar-

se-á a intervenção.

Esta não é mera faculdade, mas também um

dever que se impõe à União, e, portanto, ao Presidente da República, que

terá de executá-la sempre que for necessária, uma vez que se cuida aí de

medida de defesa da Constituição, mormente nas hipótese de requisição

dos Tribunais, nos termos do artigo 36, I e IV, da Constituição Federal.

2.4. Controle político e jurisdicional da

Intervenção

O decreto de intervenção será submetido,

pelo Presidente da República, à apreciação do Congresso Nacional no

prazo de vinte e quatro horas, que será convocado extraordinariamente, no

mesmo prazo, se não estiver funcionando, para conhecer do ato

interventivo, dispensada a exigência se a suspensão do ato impugnado

houver produzido seus efeitos nos casos de provimento à representação do

Procurador–Geral da República, ex vi do artigo 36, §1º a 3º).

É despiciendo dizer que o Congresso

Nacional não se limitará a tomar ciência do ato de intervenção, pois o

decreto interventivo lhe será submetido para apreciação, o que envolve

julgamento de aprovação e rejeição, como aliás, está expressamente

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estabelecido no Art. 49, IV, que lhe dá competência exclusiva ara

aprovar ou suspender a intervenção.

Se suspender a intervenção, esta passará

a ser ato inconstitucional, e deverá cessar imediatamente, pois, se for

mantida, constituirá atentado contra os poderes constitucionais do estado,

caracterizando o crime de responsabilidade do Presidente da República,

previsto no Art. 85 II, da Constituição Federal, que fica sujeito ao processo e

sanções correspondentes.

Não há controle jurisdicional sobre o ato de

intervenção nem sobre esta, porque se trata de um ato de natureza jurídica

insuscetível de controle jurisdicional, salvo manifesta infringência às normas

constitucionais, mormente naqueles casos em que a intervenção dependa

de solicitação do poder coato ou impedido ou de requisição dos tribunais e

elas não tenham sido feitas ou tenham sido feitas irregularmente.

Outra hipótese de apreciação jurisdicional

da intervenção se dará quando a intervenção tiver sido suspensa pelo

Congresso Nacional e ela persista, pois, neste caso, como dissemos acima

o ato perderá legitimidade esse tornará inconstitucional, sendo pertinente

recorrer-se ao Judiciário para a garantir o exercício dos poderes estaduais.

Haverá também controle jurisdicional em relação aos atos do interventor.

2.5. Conseqüências da cessação da

Intervenção

Cessados os motivos da intervenção, as

autoridades afastadas de seus cargos a eles voltarão, salvo impedimento

legal, conforme determinação expressa do artigo 36, § 4º. O afastamento

das autoridades visa permitir a reposição da normalidade constitucional.

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Pode ocorrer que, terminado o prazo

da intervenção e cessados os seus motivos, as autoridades afastadas

estejam legalmente impedidas de voltar às respectivas funções, seja porque

já findou seu mandato, seja porque este foi cassado ou declarado extinto,

ou porque tenha renunciado (ou até morrido); ou tenham tido suspensos ou

perdidos, nos termos da própria constituição, seus direitos políticos, o que

impede à reassunção dos cargos.

Em tais casos, salvo na primeira hipótese,

deverão assumi-los aqueles que a constituição estadual indicar como

sucessor: Vice-Governador ou Presidente da Assembléia Legislativa.

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3. AS FORÇAS ARMADAS

3.1. Composição e organização das Forças

Armadas

As Forças Armadas, compostas da

Marinha, Exército e Aeronáutica, são organizadas com base na hierarquia e

na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República.6

As Forças Armadas são instituições

nacionais permanentes e regulares que se destinam à defesa da Pátria, à

garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da

lei e da ordem.

A Constituição, em seu artigo 142,

estabelece que as Forças Armadas são instituições nacionais permanentes

e regulares que se destinam à defesa da Pátria, à garantia dos poderes

constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.

6 Constituição da República Federativa do Brasil, artigo 84, XIII.

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Constituem, assim, elemento

fundamental da organização coercitiva a serviço do Direito e da paz social,

que zela pela afirmação da ordem na órbita interna e do prestígio estatal na

sociedade das nações.

São, portanto, os garantes materiais da

subsistência do Estado e da perfeita realização de seus fins.

É em função de seu poderio que se

afirmam, nos momentos críticos da vida internacional, o prestígio do Estado

e a sua própria soberania.

Dado o relevo de sua missão, as

constituições brasileiras sempre reservaram a essas instituições, posição

especial.

A Constituição vigente destina a elas um

capítulo sobre a defesa do Estado e das instituições democráticas com a

destinação acima referida, de tal sorte que sua missão essencial é a da

defesa da Pátria e a garantia dos poderes constitucionais, o que vale dizer

defesa, por um lado, contra agressões estrangeiras em caso de guerra

externa e, por outro lado, defesa das instituições democráticas, pois a isso

corresponde a garantia dos poderes constitucionais, que, nos termos da

Constituição, emanam do povo.

Só subsidiária e eventualmente lhes

incumbe a defesa da lei e da ordem, porque essa defesa é de competência

primária das forças de segurança pública, que compreendem a polícia

federal e as polícias civil e militar dos Estados e Distrito Federal.

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Sua interferência na defesa da lei e

da ordem depende, além do mais, de convocação dos legítimos

representantes de qualquer dos poderes federais: Presidente da Mesa do

Congresso Nacional, Presidente da República ou Presidente do Supremo

Tribunal Federal.

Ministros, Juizes de Direito, Deputados e

Senadores não são considerados poderes constitucionais, mas simples

membros dos Poderes e não os representam.

Portanto, a atuação das Forças Armadas

será inconstitucional e arbitrária se convocada pelas autoridades acima

citada

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4. SEGURANÇA PÚBLICA

4.1. Definição

A palavra segurança assume o sentido geral

de garantia, proteção, estabilidade de situação ou pessoa em vários

campos, dependente do adjetivo que a qualifica.

Segurança social significa a previsão de

vários meios que garantam aos indivíduos e as suas famílias condições

sociais dignas; tais meios se revelam basicamente como conjunto de

direitos sociais.

4.2. Previsão constitucional

A Constituição de 1988 declara que a

segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é

exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das

pessoas e do patrimônio7, indicando em seguida os órgãos encarregados

de exerce-la:

7 Constituição da República Federativa do Brasil, artigo 144.

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I - Polícia Federal

II - Polícia Rodoviária Federal

III - Policia Ferroviária Federal

IV - Polícia Civil

V - Polícia Militar e Corpo de Bombeiros Militares

A segurança pública consiste numa

situação de preservação ou restabelecimento da convivência social que

permite que todos gozem de seus direitos e exerçam suas atividades sem

perturbação de outrem, salvo nos limites de gozo e reivindicação de seus

próprios direitos e defesa de seus legítimos interesses. É uma atividade de

vigilância, prevenção e repressão de condutas delituosas.

4.3. As Polícias

A atividade de polícia realiza-se pelas

polícias ostensiva e judiciária.

A Polícia Ostensiva tem por objetivo a

preservação da ordem pública e, pois, as medidas preventivas que em sua

prudência julga necessárias para evitar o dano ou o perigo para as pessoas.

A Polícia Judiciária realiza as atividades

investigação, de apuração das infrações penais e de indicação de sua

autoria, a fim de fornecer os elementos necessários ao Ministério Público

em sua função repressiva das condutas criminosas, por via de ação penal

pública.

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5. LIDERANÇA

A conduta é um espelho no

qual todos exibem sua

imagem. (Goethe)

5.1. Liderança Militar

5.1.1. Conceito de Liderança MilitarLiderança militar é a capacidade de

influenciar o comportamento humano e conduzir pessoas ao cumprimento

do dever. Está fundamentada no conhecimento da natureza humana,

compreendendo a análise, a previsão e o controle de suas reações.

A liderança militar não é privilégio de

alguns poucos chefes, dotados de qualidades inatas para influenciar o

comportamento de outras pessoas. É natural que tais qualidades concorram

para a formação e o aperfeiçoamento do líder, mas sua simples existência

não determina o sucesso do seu desempenho.

A liderança militar é um construto

classificável no domínio afetivo dos objetivos educacionais, portanto,

passível de ser desenvolvida pela via do processo ensino-aprendizagem,

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permitindo e tornando desejável que todo militar, independente do

escalão ou da natureza dos cargos de chefia para os quais esteja habilitado,

seja um líder em sua profissão.

5.2. Conceitos relativos à liderança

5.2.1. Área afetiva

Liderar pessoas sempre envolve conduzir

mudanças.8 Um dos domínios do comportamento humano que compreende

todos os aspectos relacionados com valores, atitudes, interesses e

emoções.

5.2.2. Atitudes

São predisposições aprendidas de fundo

emocional, para pensar, sentir, perceber e agir consistentemente de

maneira favorável ou desfavorável, em relação a pessoas, conceitos ou

fatos.

5.2.3. Caráter

Soma total dos traços de personalidade

que dão consciência ao comportamento e tem por base as crenças e

valores, sendo o fator preponderante nas decisões e no modo de agir de

qualquer pessoa.

5.2.4. Crenças

São suposições ou convicções julgadas

verdadeiras a respeito de pessoas, conceitos ou fatos.

8 WALSH, Diana Chapman. Organização do Futuro. São Paulo: Futura, 1997,p.334.

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5.2.5. Ética Militar

É o conjunto de regras ou padrões que

leva o profissional militar a agir de acordo com o sentimento do dever,

dignidade militar e decoro da classe.

5.2.6. Interesses

São atitudes favoráveis em relação a

objetos e a idéias.

5.2.7. Motivação

É a força interna que emerge, regula e

sustenta todas as ações humanas. É o impulso interior que leva as pessoas

a realizarem coisas.

5.2.8. Normas

São padrões, regras e diretrizes usadas

para dirigir o comportamento dos membros de determinado grupo.

5.2.9. Valores

Os valores guiam as ações das pessoas.9

Representam o grau de importância atribuído, subjetivamente, às pessoas,

aos conceitos e aos fatos.

5.3. Teorias da liderança

Liderança é um fenômeno extremamente

amplo que abrange as relações sociais e há muito vem desafiando

historiadores, sociólogos e psicólogos, todos empenhados em encontrar

razões que, teoricamente, justifiquem o surgimento de um líder. De seus

estudos, pelo menos três teorias se fizeram conhecidas.

9 TICHY,M. Noel. O motor da liderança. São Paulo: Educator,1999,p.132.

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5.3.1. Teoria inatista

Defende a tese do líder inato, na qual

fatores relacionados com a hereditariedade determinam a existência do

líder. As influências do meio são minimizadas e até desprezadas pelos

inatistas.

Para estes, a liderança é um atributo da

personalidade, que torna o líder reconhecido como tal em todas as

situações. Isto, porém, não acontece, pondo à mostra a fragilidade dos

argumentos em que se fundamenta esta teoria, que, de resto, também não

explica destituição de líderes, tão freqüente, em face de situações variadas.

5.3.2. Teoria sociológica

Afirma que o líder é função do meio social,

só alcançando prestígio e aceitação por representar os ideais da

coletividade naquela determinada situação, caracterizando, deste modo, o

líder emergente.

Esta teoria também não encontra meios

de justificar porque, somente a determinadas pessoas, a sociedade confere

delegação de autoridade, ou por que estas pessoas adquirem prestígio.

5.3.3. Teoria do campo social

Estabelece que a liderança é uma relação

funcional entre membros de um grupo, na qual o líder adquire prestígio

através de uma participação ativa e pela demonstração de suas

capacidades.

Assim, a liderança só poderá ser exercida

por quem participe dos ideais da comunidade e neles esteja altamente

integrado. Fica evidente que suas qualidades devem coincidir com as

exigidas para o momento, pelo campo social.

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5.4. Princípios da liderança

Os princípios de liderança militar são a base

da doutrina de liderança. Proporcionam a orientação para o

desenvolvimento do líder, dos subordinados e da unidade. São eles:10

Conhecer sua profissão;

Conhecer-se e procurar o auto-aperfeiçoamento;

Assumir a responsabilidade por seus atos;

Decidir com acerto e oportunidade;

Desenvolver o senso de responsabilidade em seus subordinados;

Servir de exemplo para seus subordinados;

Conhecer e cuidar do bem-estar de seus subordinados;

Manter seus subordinados informados;

Assegurar-se que as ordens são compreendidas, fiscalizadas e

executadas;

Treinar seus subordinados como uma equipe;

Atribuir missões a seus subordinados de acordo com as possibilidades

destes.

5.5. Aspectos conjunturais

A estrutura organizacional militar define os

limites da participação individual, as responsabilidades, a autoridade e as

relações funcionais com chefes, pares e subordinados. Contudo, cada um

traz para a organização suas experiências, suas necessidades, seus ideais

e seus objetivos, que podem interferir na sua capacidade de participação.

Estes aspectos determinam a importância

do papel do chefe e líder, cujo propósito é integrar os subordinados,

impulsionando-os na direção do cumprimento de suas atribuições.

10 Unidade é uma Organização Militar

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Na estrutura dinâmica da liderança

existem quatro fatores:

líder

os liderados

a comunicação; e

a situação.

A característica básica desta estrutura é a

mudança.

O líder altera sua conduta quando se

renovam os aspectos da estrutura e na medida em que ele próprio promove

transformações. Esta dinâmica explica porque um grupo medíocre obtém

melhores resultados com um bom líder, enquanto um grupo excelente

desintegra-se com um líder medíocre.

5.5.1. O líder

A crescente complexidade de seus

encargos impõe, ao líder, um papel cada vez mais abrangente,

aumentando sua responsabilidade na realização dos propósitos do grupo.

Os bons líderes são também bons

seguidores, o que é lógico quando se concebe a liderança inserida num

quadro institucional como a Organização Militar.

O líder, independente de sua vontade,

atua como elemento modificador do comportamento de seus subordinados.

Controlar as reações ante o inesperado,

evidenciável sob formas aceitáveis e adaptadas de conduta, define a

capacidade de agir com equilíbrio e presteza, essenciais ao líder eficaz.

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A função militar está relacionada com a

responsabilidade pela vida de seres humanos. Nenhum outro profissional é

forçado a assumir tarefa tão dramática como a de liderar subordinados,

muitas vezes em direção ao sacrifício de suas próprias vidas. Nem se

conseguirá, fora da ética castrense, explicar porque os homens estarão

preparados para aceitar tal risco.

Os atributos do líder militar devem ser

ampliados e aprofundados à medida que progride na carreira, mediante um

processo de educação, treinamento e aquisição de experiências.

Tal enriquecimento pessoal o capacitará a

superar os desafios e as responsabilidades crescentes, que se apresentam

quando este alcança posições mais elevadas.

5.5.2. Os liderados

O conhecimento dos liderados é fator

essencial para o exercício da liderança e depende do entendimento claro da

natureza humana, das suas necessidades, emoções e motivações.

Os escalões subordinados contribuem

decisivamente para o êxito da organização militar a que pertencem, pois

todo líder precisa da colaboração do subordinados bem treinados, para que

o grupo alcance sucesso nas missões, mesmo a despeito de sua ausência.

5.5.3. A comunicação

A comunicação é um processo essencial à

liderança, que consiste na troca de ordens, informações e idéias, só

ocorrendo quando a mensagem é recebida e compreendida.

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A comunicação envolve um emissor

(líder) transmitindo uma idéia para um receptor (subordinado).

É através desse processo que o líder

coordena, supervisiona, avalia, ensina, treina e aconselha seus liderados.

Primeiramente, existe uma idéia ou

informação na mente do líder. Ele decodifica esta idéia em palavras ou

outros símbolos e a transmite ao subordinado que, por sua vez, também

decodifica as palavras ou símbolos num conceito ou informação.

Se esta informação é a mesma que o líder

transmitiu, então houve uma comunicação efetiva. Este processo é

recíproco e simultâneo ocorrendo dentro dos mesmos círculos hierárquicos

e entre os diversos escalões.

O que é comunicado e a forma como isto é

feito aumentam ou diminuem o vínculo das relações pessoais, criam o

respeito, a confiança mútua e a compreensão. Os laços que se formam,

com o passar do tempo, entre o líder e os subordinados, são a base da

disciplina e da coesão de uma unidade militar.

O líder precisa ser claro e escolher

cuidadosamente as palavras, de tal forma que signifiquem a mesma coisa

para ele e para os subordinados.

5.5.4. A situação

Todas as organizações funcionam dentro

de uma estrutura cultural e ambiental mais ampla e nenhuma pode evitar as

influências da situação externa.

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A disponibilidade de recursos, as

mudanças sociais, a competência de outras organizações com que mantém

contato, a capacidade e a lealdade de seus componentes e outros aspectos

que escapam ao controle da própria unidade são circunstâncias que afetam

a organização e influem sobre a liderança no grupo.

Muitas forças se combinam para

determinar a melhor ação de liderança a ser tomada num dado momento.

Identificando-as, o líder pode criar um clima mais favorável ao cumprimento

da missão.

Não existem normas nem fórmulas que

indiquem, com exatidão, o que deve ser feito. O líder precisa compreender a

dinâmica do processo de liderança, os fatores principais que a compõem, as

características de seus liderados e aplicar estes conhecimentos como guia

para cada situação em particular.

As condições inerentes à liderança que

afetam o sucesso da missão e o bem estar dos subordinados são as

relações com os superiores, o adestramento, a organização da unidade e,

em combate, incluem a missão, o inimigo, o terreno e os meios.

A situação inclui todos os aspectos que

afetam a capacidade e a motivação da unidade para o cumprimento das

metas. O líder deve ser hábil em identificar e avaliar os fatores

preponderantes, usando a ação correta no momento preciso.

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6. O ESTADO DE ALAGOAS

6.1. Avaliação da conjuntura

Neste capitulo será feita a avaliação da

conjuntura existente no estado de ALAGOAS, que acarretou a ocorrência da

crise político-social que serve de escopo para este trabalho de fim de curso.

Com o intuito de sistematizar as informações

a avaliação será feita considerando os aspectos fisiográficos, políticos,

econômicos e psicossociais.

6.1.1. Aspectos fisiográficos

O estado de ALAGOAS está situado na

região nordeste do país, não possui relevo de destaque e sua parte sul é

banhada pelo rio SÃO FRANCISCO.

Possui uma faixa estreita de terra fértil

localizada no litoral onde se desenvolve a cultura da cana-de-açúcar.

Seu litoral é baixo e apresenta praias de

rara beleza natural, favorecendo as atividades turísticas.

Parte de seu território localiza-se no

sertão onde as secas predominam, restringindo as atividades agropecuárias

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6.1.2. Aspectos políticos

No estado de ALAGOAS, vigia o pleno

estado de direito. Os três Poderes independentes conviviam num clima

letárgico que bem caracterizava a alienação dos mesmos face a gravidade

crescente da crise que assolava o estado.

O Poder Executivo, totalmente

desgastado, pelas sucessivas crises vividas no estado, que aliadas aos

desmandos dos agentes do Executivo, aos repetidos escândalos

decorrentes do desvio de verbas estaduais e federais destinadas ao estado,

a ineficácia da máquina administrativa, a vultosa e crescente dívida do

estado e sua incapacidade de saldá-las e o empreguismo indiscriminado

que inchava os órgãos públicos e aumentava as despesas de pagamento

de pessoal.

O Governo perdia a capacidade de se

organizar politicamente e para sua sobrevivência, buscava alianças na

Assembléia Legislativa do Estado e apoio dos representantes do estado na

Câmara de Deputados e no Senado Federal que lhe permitisse obter

recursos e garantir sobrevida temporária, a governabilidade em face do

crescente estado de desordem.

O Poder Legislativo ordenado em grupos

de situação e oposição tinha como legendas predominantes o Partido do

Movimento Democrático Brasileiro (PMDB),o Partido Trabalhista Brasileiro

(PTB), o Partido Socialista Brasileiro (PSB), Partido Social Democrático

Brasileiro (PSDB) e como partido de minoria atuante, o Partido dos

Trabalhadores(PT).

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40

As alianças de apoio ao Governo do

estado se mantinham na medida em que havia possibilidade de distribuição

de cargos e recursos que cada vez mais escasseavam.

Apesar da organização político-partidária

a expressão política de um deputado, estadual ou federal, se realizava

através do número de prefeitos municipais que lhe apoiavam. O estado era

dividido em verdadeiros feudos onde a presença e o poder do deputado se

fazia sentir em qualquer circunstância.

Esses espaços eram mantidos em troca

de recursos que eram destinados às prefeituras, de projetos regionais

defendidos em plenário, de benesses pessoais e até mesmo pelo uso da

histórica violência, que respaldada pela impunidade, era, naturalmente,

usada para eliminar adversários políticos.

A mesa diretora da Assembléia era

permanentemente acusada de malversação de recursos destinados a

administração e ao pagamento da onerosa folha de salários decorrente do

excessivo número de funcionários que pertenciam aos gabinetes.

A busca de aumento na parcela do

orçamento destinado ao Legislativo era motivo de periódicos

enfrentamentos com o Executivo que, sistematicamente, era

responsabilizado pelos reflexos que resultassem de sua negativa.

A maioria dos deputados permaneceu

alienada aos problemas do estado mesmo após o levante armado.

Promoviam grandes polêmicas na mídia em torno de assuntos subalternos

alheios às restrições a que era submetida a maioria da população.

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Mesmo após nova organização do governo

que substituiu o deposto, mantiveram-se alheios, lutando apenas para

novamente organizar as facções partidárias para o prosseguimento dos

seus mandatos e pela manutenção de grandes grupos de seguranças que

de forma agressiva ostentavam, em via pública e na Assembléia Legislativa,

armamento pesado.

A carência de recursos do estado afetou a

fidelidade partidária e impôs uma constante migração dos deputados para

outros partidos.

O estado tinha no Senado Federal

representantes de renome nacional, tais como os Senadores Teotônio

Vilela, presidente do Partido Socialista Democrático Brasileiro (PSDB) e

RENAM CALHEIROS (PMDB), que naqueles momentos de crise, muito

trabalharam em favor da harmonia no estado.

A administração pública estava totalmente

desorganizada não conseguindo prestar serviços a população. Seus

agentes preocupavam-se, somente, em obter recursos públicos e

desenvolver projetos que lhes facilitasse manter o poder em detrimento do

bem estar da população.

6.1.3. Aspectos econômicos

A economia do estado, estruturada na

monocultura da cana-de-açúcar, era decadente. A área plantada vinha

sendo reduzida desde a muito e vários engenhos deixaram de produzir. O

estado de São Paulo já detinha a hegemonia da cultura, que em outra

época, não tão remota, era de ALAGOAS.

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A exploração da cana-de-açúcar era

feita utilizando processos rudimentares, sem tecnologia e empregando

grandes contingentes de mão-de-obra sem qualificação.

Além da cana-de-açúcar, o estado

desenvolvia também atividades agropecuárias, na região do sertão, cujos

resultados eram extremamente dependentes das condições climáticas.

As condições climáticas também criavam

sérias restrições à atividade agrícola gerando grande contingentes de mão-

de-obra desqualificada nas cidades do interior, que por falta de opção de

trabalho, migravam para as principais cidades onde era, em parte,

absorvida pelas atividades de serviços.

Em função de política histórica no estado,

também os órgãos públicos absorviam grandes contingentes de mão-de-

obra.

Os órgãos estatais, transformados em

“cabides de emprego”, deixaram de prestar serviço à população e em

decorrência da carência de recursos para o pagamento de salários, muitos

foram simplesmente extintos sem que seus funcionários recebessem

qualquer tipo de indenização.

Desenvolveram-se, também, no estado,

com reduzido investimento, atividades econômicas voltadas ao turismo que

aproveita as belezas naturais do seu litoral.

As atividades econômicas tinham

considerável dependência de recursos do estado, sendo muito reduzido o

número de empresários com recursos próprios para investir na produção.

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6.1.4. Aspectos psicossociais

ALAGOAS destacava-se, negativamente,

dentre os demais estados brasileiros, pelas péssimas condições de vida de

sua população.

Apresentava índices alarmantes de

analfabetismo, subnutrição e mortalidade infantil.

A carência de recursos aliada à histórica

falta de visão de seus administradores públicos fazia com que os

investimentos nas áreas de saúde, educação, habitação e de infra-estrutura

urbana fossem mínimos, criando péssimas condições de vida nas cidades

do interior e fazendo com que grande parte dessa população desassistida e

com reduzida qualificação migrasse e se confinasse em conglomerados

urbanos formando cinturões de pobreza nas periferias das cidades maiores.

6.2. A segurança pública

O índice de violência que existia no estado

desenvolvia-se para o insustentável. Os assassinatos aconteciam em plena

luz do dia, deixando alarmados os moradores das cidades. A impunidade

era reconhecida e sistematicamente denunciada pela imprensa nacional.

Munidos com armas modernas e potentes e

protegidos pela impunidade reinante no estado, os matadores agiam com

muita liberdade.

No estado de Alagoas, a Segurança Pública

estava organizada em três Secretarias, a saber:

Secretaria do Corpo de Bombeiros Militar;

Secretaria Policia Militar; e

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Secretaria de Segurança Pública, que na prática dirigia somente a

Polícia Civil.

6.2.1. Polícia Militar

A Polícia Militar, com o efetivo de sete mil e

oitocentos homens, encontrava-se distribuída em todas os municípios do

estado, com efetivos que variavam de um grupo, composto por

aproximadamente oito homens, até um Batalhão com duzentos homens. A

maioria do seu efetivo estava concentrada na capital.

A Polícia Militar já há mais de dois anos

vinha passando por sucessivos períodos de atraso de salários, chegando ao

clímax, em 1997, quando acumularam-se sete meses de salários

atrasados.

A par desse fato, observava-se, também,

outros fatores complicadores, tais como a carência de recursos para seu

funcionamento, a crescente deterioração do seu material, armamento,

equipamento de comunicações, instalações, viaturas e, principalmente, a

inadequada formação e aperfeiçoamento do seu pessoal, que

culminaram com sua total imobilização na oportunidade do levante armado.

O sistema de saúde era inexistente, a

ponto de um policial ferido ter que utilizar seus próprios recursos para

receber o socorro que necessitava e que era de responsabilidade da

Corporação.

As dívidas eram consideráveis e a maioria

dos fornecedores deixou de atender aos pedidos de entrega de material de

consumo, gêneros alimentícios, fardamento, equipamento e combustível.

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A carência de recursos para o

funcionamento e o atraso dos salários tiveram profundos reflexos na moral

da tropa, desgastando totalmente a autoridade dos comandantes, em todos

os níveis, levando seu comandante geral, a consentir em um relaxamento

em todos os procedimentos referentes a disciplina e à hierarquia, que

afetou profundamente a cadeia de comando da corporação.

As Organizações Policiais Militares não

tinham expediente normal, ficando o mesmo a critério de seus

comandantes, quando não de seus subordinados, que compareciam aos

seus postos de trabalho na medida do seu interesse.

Grande parte do seu efetivo estava

desviada para funções em órgãos da Justiça, do Legislativo e mesmo do

Executivo do estado em busca de gratificações que supririam o salário

mensal da corporação que não era pago. Havia, também, PMs que

prestavam, oficialmente, serviços ao Banco do Brasil e da Caixa Econômica

em troca de cesta básica.

O enfraquecimento da autoridade do

comandante geral, que impotente, em face da incapacidade do governo do

estado para resolver os inúmeros problemas vividos pela corporação, não

conseguia responder à expectativa de seus subordinados, criou as

condições ideais para o surgimento de forças paralelas que conduziram a

tropa ao levante armado de 17 de julho de 1997.

Existia na Polícia Militar uma gama enorme

de associações (de Cabos e Soldados, de Sargentos, de Oficiais e outras),

que, em permanente luta pelo poder político buscavam, aproveitando a

fragilidade do Comando da Corporação, ascender a cargos eletivos.

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6.2.2. Polícia Civil

A Polícia Civil apresentava os mesmos

problemas que da Militar, o que afetou profundamente o funcionamento das

delegacias, aumentando, em muito, o número de crimes que não eram

investigados.

Durante o período em que os salários não

foram pagos, seus componentes permaneceram sem trabalhar.

A Policia Civil possuía uma associação de

agentes e uma de delegados, que orquestraram sua participação no

levante armado.

Em função da desordem vigente no estado,

o Secretário de Segurança, chefe da Polícia Civil, não conseguia fazer com

que os delegados exercessem suas atividades nos municípios para os quais

eram designados. A substituição e nomeação de delegados era

permanente.

6.2.3. O Corpo de Bombeiros Militar

O Corpo de Bombeiros Militar possuía

apenas dois quartéis, um no interior e outro na capital e poucas viaturas.

Apesar do seu reduzido efetivo, sofreu as

conseqüências da crise, tendo paralisado seus serviços e participado das

ações realizadas por ocasião do levante armado.

6.3. A participação do Governo Federal

6.3.1. Precedentes da crise

Um dos pivôs da crise financeira de

Alagoas foi uma dívida de R$ 248.000,00 (duzentos e quarenta e oito

milhões) do estado para com os usineiros.

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Em fevereiro de 1997, o governador

de Alagoas vendeu títulos lançados no mercado com a finalidade de pagar

precatórios (dívidas judiciais) com deságio de até 37,10% e recebeu, como

pagamento de dívidas de usineiros os mesmos títulos, com ágio de 17%.11

O Governo Federal vinha acompanhando

o desenvolvimento da crise que se agravava quando, em março de 1997,

após novas exigências, começou a gerenciar a administração do estado,

que passou a viver uma intervenção branca.12

A situação era crítica e, dois meses após,

o governador Divaldo Suruagy (PMDB),recorreu, novamente, ao

presidente Fernando Henrique Cardoso, que lhe negou a ajuda federal para

resgatar mais de R$ 100 milhões de títulos da dívida pública.13

Sem receber os recursos que necessitava

para saldar seus compromissos básicos e com a folha de pagamento do

funcionalismo em atraso, o Governador já admitia a participação do governo

federal para sanear as finanças do estado.14

Como primeira medida, o Presidente

Fernando Henrique Cardoso designou um oficial da reserva do Exército

para atuar na Secretária da Fazenda dando prazo de três meses para

Suruagy sanear as finanças, acenando com a possibilidade de decretação

de uma intervenção formal se após este período os problemas não fossem

resolvidos. 15

11 Jornal Folha de São Paulo, 25 de fevereiro de 1997.12 Idem, 16 de março de 1997.13 Ibidem, 30 de maio de 1997.14 Jornal Folha de São Paulo, 04 de junho de 1997.15 Idem, 11 de junho de 1997.

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Com a finalidade de liberar recursos

que permitissem ao estado saldar suas dívidas salariais e com

fornecedores, propôs a assinatura de um Protocolo no qual, dentre outras,

constavam as seguintes cláusulas:

redução do número de funcionários públicos;

demissão dos funcionários admitidos ilegalmente após a vigência da CF

de 1988;

privatização de estatais para o pagamento de adiantamento recebido;

revogação de acordo firmada com usineiros, que reduzia

consideravelmente a arrecadação do estado.

6.3.2. A eclosão da crise

No dia 17 de julho, policiais civis e

militares em greve trocaram tiros com soldados do Exército e seguranças de

deputados governistas em frente do prédio da Assembléia Legislativa.

O poder público alagoano deixou de existir.

Localmente, não existia mais Estado. Os últimos acontecimentos

representavam grave comprometimento da ordem pública, o que

constitucionalmente permitia uma intervenção federal.16

Depois do incidente, o governador Divaldo

Suruagy, já envolvido no escândalo dos precatórios, viu-se diante de um

impasse: resistir ou renunciar.

A saída do governador, que vinha sendo

esperada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, ocorreu em 18 de

16 Jornal Folha de São Paulo, 18 de julho de 1997.

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julho, quando a Assembléia Legislativa de Alagoas, autorizou o seu

afastamento por seis meses.

A partir daí, o vice assumiu a tarefa de

administrar a caótica situação do estado.

O presidente Fernando Henrique Cardoso,

pressionado pela bancada de Alagoas, determinou ao Ministério da

Fazenda que fizesse uma injeção de recursos no caixa do governo de

Alagoas, para quitar parte dos salários atrasados e garantir que o

pagamento fosse feito em dia.

A quebra da economia de Alagoas e a

confusão política levaram o presidente Fernando Henrique Cardoso a impor

uma nova intervenção branca.17

A insubordinação das polícias, culminando

com tiroteios em praça pública, em confronto com o Exército convocado

para restabelecer a ordem, tocou em um ponto fraco da atual administração

brasileira: a insensibilidade dos governos estaduais para prever e evitar

problemas estruturais.

O governador foi obrigado a aceitar a

nomeação de mais dois oficiais do Exército designados para a Secretaria de

Segurança e para o Comando Geral da Polícia Militar.

17 Jornal Folha de São Paulo, 19 de julho de 1997.

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Além das nomeações, o governo

federal, para auxiliar o estado a pagar parte da folha do funcionalismo em

atraso, fez as seguintes exigências:

que fossem privatizadas as estatais;

que se procedesse a um ajuste fiscal;

que fosse criada uma procuradoria da Fazenda Estadual;

que fosse implementada maior velocidade na adoção do Plano de

Demissões Voluntárias (PDV); e

que os órgãos estatais alagoanos fossem implantados no Sistema

Integrado de Administração Financeira dos Estados e Municípios.

O Presidente Fernando Henrique

apresentou, em 17 de julho de 1997, ao governador em exercício, Manoel

Gomes de Barros, a missão de sanear as contas do estado sob pena de

intervenção federal por grave comprometimento da ordem pública e para

reorganização das finanças.

O programa de austeridade fiscal incluía o

rompimento de acordo que isentava os usineiros do estado de ICMS. Em

troca dos cortes, o Governo federal antecipou recursos de futuras

privatizações, que só poderiam ser gastos com servidores.

Após a eclosão da crise nomeou um

Oficial General da reservado Exército para Secretário de Segurança e um

Oficial Superior do Exército para Comandante Geral da Polícia Militar.

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No âmbito do Ministério da Justiça

foram iniciados vários projetos que visavam à unificação das Polícias,

mudanças em artigos da CF e a criação do Ministério da Segurança

Pública.

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7. A PARTICIPAÇÃO DO EXÉRCITO BRASILEIRO

A credibilidade é o sustentáculo da

liderança. As pessoas não seguem sua técnica.

Elas seguem você, sua mensagem e sua

personificação desta mensagem. (James M.

Kouzes)

7.1. Generalidades

A seguir será abordada somente a atuação do

oficial do Exército no âmbito da Polícia Militar de Alagoas, embora a Secretaria

da Fazenda e a Secretaria de Segurança Pública também tenham sido

ocupadas por oficiais do Exército, durante a crise.

Mesmo sendo bastante diversificado o conteúdo

programático previsto para a formação do oficial do Exército, este não

contempla conhecimentos referentes às atividades específicas de policial

militar.

A cultura institucional obriga o oficial a adotar

uma conduta ética irrepreensível comprometida com o decoro da classe, com o

sentimento do dever e com a dignidade militar.

O exercício diário das atividades do oficial está

voltado para o adestramento, cujo componente fundamental é o homem que

deve ser preparado para cumprir sua missão.

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A estrutura organizacional militar define os

limites da participação individual, as responsabilidades, a autoridade e as

relações funcionais com chefes, pares e subordinados.

Contudo, cada um traz para a organização suas

experiências, suas necessidades, seus ideais e seus objetivos, que podem

interferir na sua capacidade de participação.

Estes aspectos determinam a importância do

papel do chefe e líder, cujo propósito é integrar os subordinados,

impulsionando-os na direção do cumprimento de suas atribuições.

Quer no adestramento de seus subordinados

quer em missões reais ou complementares os oficiais exercitam,

permanentemente, a liderança nos quartéis, quando praticam e incutem nos

seus subordinados os princípios da liderança.

Segundo a Constituição da República

Federativa do Brasil cabe às Forças Armadas, subsidiaria e eventualmente, a

defesa da lei e da ordem, porque esta defesa é de competência primária das

forças de segurança pública.

Essa destinação complementar das Forças

Armadas obriga a todo o oficial do Exército a manter-se informado sobre a

conjuntura nacional.

7.2. Ações implementadas

Desde o inicio da crise da Polícia Militar de

Minas Gerais, o oficial designado para comandá-la estava acompanhando o

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desenrolar dos fatos e as suas conseqüências para o estado de direito

para as corporações, e para as populações dos estados onde ocorreram as

revoltas.

Nomeado Comandante Geral, o oficial buscou

complementar seus conhecimentos inteirando-se das medidas adotadas pelo

Presidente Fernando Henrique Cardoso, sobre as condições política,

econômica e psicossocial do estado e, principalmente, sobre as perspectivas

do movimento grevista da Policia Militar.

Chegando a Maceió, constatou que a crise era

mais grave do que qualquer cenário, anteriormente, elaborado.

Assumiu o Comando Geral, contra a vontade do

Governador e do oficial da Polícia nomeado para o cargo.

Integrou-se, de imediato, e começou a participar

intensamente dos ideais de reconstrução do estado e do resgate da identidade,

da auto-estima e da credibilidade da Polícia Militar.

Para firmar-se como novo comandante, iniciou

seu trabalho buscando, de imediato, o contato com os policiais que se

apresentavam como responsáveis pela paralisação e com aqueles que ainda

não haviam aderido ao movimento paredista.

Nos primeiros dias, além de buscar

intensamente o contato com os policiais para conhecê-los e, com a

interferência dos mesmos, reduzir o número de grevistas, manteve em plena

atividade, com sua presença, os efetivos prontos para o policiamento.

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Tal atitude buscava conhecer os seus

subordinados e assegurar-lhe de que as suas ordens eram compreendidas,

fiscalizadas pelos escalões intermediários e executadas com exatidão, cujo

reconhecimento pela população foi objeto de publicação em jornal local, que

divulgou: “Desde que assumiu o comando tem sido um comandante presente”18

Com os efetivos completos, desencadeou

ações que buscavam atender as necessidades peculiares de uma corporação,

que tem como missão impedir ou reprimir as ameaças à segurança da

população do estado.

Em observância aos princípios de liderança19,

implementou as seguintes ações:

atuou com insistência junto ao governo do estado e seu secretariado,

visando a que o pagamento do salário fosse mantido em dia e reduzir a

influência nefasta de componentes dos Poderes Executivo e Legislativo;

iniciou um programa de treinamento específico para comandantes de

Organizações de Polícia Militar e seus oficiais, com o objetivo de trazer-lhes

a importância da prática dos princípios de liderança e do comportamento

ético coerente com a missão da instituição;

visitou todas as Organizações de Polícia do interior e da capital;

reativou o hospital da Polícia Militar para atender militares feridos em

serviço e seus dependentes;

reativou o serviço odontológico da corporação;

18 O Jornal, 23 de outubro de 1997.19 Página 33.

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iniciou a recuperação das poucas viaturas que existiam;

instalou, utilizando equipamentos considerados obsoletos, uma rede de

comunicações, que lhe permitiu fazer chegar a ação de comando a todos os

seus subordinados;

reorganizou o sistema de alimentação da corporação, criando condições

para que os policiais em serviço ou hospitalizados tivessem refeições

condignas;

reorganizou e pôs em funcionamento a seção de comunicação social, com a

finalidade de manter informados os componentes da Corporação e os

veículos de comunicação locais e nacionais;

implantou a administração financeira da corporação no Sistema Integrado

de Administração Financeira dos Estados e Municípios, buscando dar

transparência a sua administração, credibilidade a seus atos administrativos

e permitir que os integrantes da Polícia acompanhassem o emprego dos

recursos sob sua responsabilidade;

instituiu o Processo de Prestação de Contas Mensais das despesas

realizadas;

realizou o pagamento das dívidas da corporação quando comprovadas;

revisou contratos, anteriormente firmados, com a finalidade de adquirir

fardamento para os policiais que estavam com péssima apresentação

individual;

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atuou junto às forças políticas do estado para coibir manifestações e

impedir passeatas que se realizadas afetariam profundamente a rotina da

população de Maceió;

esteve à frente dos contenciosos que envolviam o Movimento dos

Trabalhadores Rurais sem Terra, organizando equipes de crise compostas

dos principais interessados para resolver os conflitos decorrentes de

invasões de terras, evitando com essa medida o emprego de tropas da

Polícia ;

apoiou os demais órgãos de segurança pública em suas ações;

realizou em todo o estado um combate sistemático a violência através de

incessantes buscas volantes e inopinadas, para apreensão de armamentos

portados ilegalmente;

com a finalidade de criar melhores condições de trabalho para seus

subordinados, realizou reuniões e firmou parcerias com governos

municipais;

incentivou e participou da implantação do Conselho Estadual de Defesa dos

Direitos Humanos; e

pensando em resgatar a crença dos oficiais, compromissá-los com a

corporação, estimular a criatividade, a dedicação e o profissionalismo, além

de criar uma concepção atual e eficiente de bom gerenciamento deu início a

dezessete projetos especiais, todos gerenciados por jovens oficiais, que

abrangiam as seguintes áreas: saúde, habitação, finanças, cultura, ensino

assistencial, legislação, recursos humanos e logística.

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Tratou a todos com dignidade e justiça, agiu com coragem,

honestidade e comprometimento, dando o tempo necessário para que cada

um se recuperasse dos traumas sofridos.

7.3. Aceitação das medidas adotadas

Após três meses de intervenção, o governador

do estado solicitou a substituição do oficial do Exército, que exercia o comando

da Polícia Militar.

Mesmo tendo permanecido somente três meses

no comando da corporação, a aplicação dos princípios de liderança surtiram os

efeitos esperados, no âmbito da corporação, pois seus subordinados assim se

expressaram ao saber da sua exoneração:

“Vimos pelo presente, em nome do FORUM EM

DEFESA DA SEGURANÇA PÚBLICA NO ESTADO DE

ALAGOAS, composto por entidades associativas e

classistas dos POLICIAIS FEDERAIS, RODOVIÁRIOS

FEDERAIS ,FERROVIÁRIOS FEDERAIS e POLICIAIS

CIVIS e MILITARES das Instituições integrantes do

sistema de segurança pública neste Estado, externar

nossa solidariedade ao Comandante Geral da nossa

briosa Polícia Militar por sua administração competente e

autônoma, desvinculada de ingerências políticas, o que

vem corroborando para que a sofrida sociedade alagoana

tenha fortalecido suas esperanças por um futuro mais

seguro e sem violência.

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Somos testemunhas de que o povo alagoano está satisfeito com o excelente

trabalho realizado e clama pela sua permanência à frente

da Polícia Militar.”20

O reconhecimento pelo trabalho realizado,

transcendeu aos limites dos órgãos da segurança pública, envolvendo, diversos

segmentos da sociedade civil, que assim se manifestaram:

“ALAGOAS QUER A SEGURANÇA PÚBLICA

NAS MÃOS DO EXÉRCITO BRASILEIRO

Os partidos políticos, personalidades e

instituições signatárias da presente nota dirigem-se ao

Exmo. Sr. Presidente da República, Dr. Fernando

Henrique Cardoso, para impedir que o Exército Nacional

seja enxotado do comando da Polícia Militar e do

aparelho de segurança pública do Estado de Alagoas, em

função das enormes pressões que o crime organizado

está promovendo nesta direção, com claro intuito de

ampliar a impunidade que é marca registrada no Estado.

Ao contrário do que pretendem os setores ligados

à violência, os segmentos representativos da sociedade

civil declaram publicamente que o Exército Nacional não

somente deve permanecer à frente da Segurança Pública

em Alagoas, até a posse do governo a ser eleito no

próximo ano, como também deve estender sua presença

para o comando e os subcomandos da Policia Militar do

estado e para os principais departamentos da Polícia

Civil.

Queremos acreditar que a trajetória e os

compromissos democráticos a que se obrigou o Sr.

Presidente da República, ao jurar cumprir a Constituição

20 Nota Oficial do Fórum em Defesa da Segurança Pública no Estado de Alagoas, 24Outubro1997.

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60

Brasileira, e o empenho das Forças Armadas no cumprimento dos seus deveres

constitucionais, impedirão

as manobras dos setores que querem destruir a ordem

democrática. Não podemos admitir que os homicídios, as

intimidações e a violência substituam a ação do Estado

de Direito Democrático contra o crime organizado.

Na hipótese de não ser atendida nossa

reivindicação, que é a reivindicação de toda população

ordeira, trabalhadora e pacífica de Alagoas, ficarão as

mãos do Exmo. Sr. Presidente Fernando Henrique

Cardoso, eventualmente manchadas com o verdadeiro

banho de sangue que está sendo preparado em Alagoas

par calar a boca de tantos quanto ousem desafiar o

sistema de violência e corrupção que há tanto tempo

infelicita nossa terra.

Prefeitura de Maceió, PSB, PPS, PRONA, PTN,

PRP, PCdoB, PST, PTdoB, PV, PMN, PSD, Prefeitura de

Maragogi, Prefeito Fernando Sérgio Lira; Vereadores

Galba Novaes, Nilton Lins, Mauricio Quintella, Régis

Cavalcante, Carlos Ronalsa, Eduardo Holanda, Arnaldo

Fontan, Ronaldo Melo, Isnaldo Bulhões Jr., Jaldeni

Coutinho, Arthur Lira, JorgeVI, Francisco Mello, Arnaldo

Camelo, David Davino, Givaldo Carimbão e Deputado

Estadual João Caldas.”21

“MOBILIZAÇÃO. A falta de segurança no Estado

está mobilizando as instituições que lidam com a questão

dos direitos humanos, preocupadas com o agravamento

da situação e um possível ”derrame de sangue em

Alagoas” como teme o coordenador de Direitos Humanos

e Cidadania da Prefeitura, Geraldo Magela.

A maior insatisfação das entidades é com a saída

do comandante da Polícia Militar. O Fórum Contra a

Violência, a Pastoral da Terra, a OAB, dentre outras

21 O JORNAL-24Out97; Jornal Tribuna de Alagoas-24Out97

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61

querem que o Governo se posicione sobre o caso e mantenha o comandante no cargo.”22

“CRESCE O APOIO PARA O EXÉRCITO

CONTINUAR NO COMANDO.

A saída do Exército do Comando Geral da PM de

Alagoas ainda repercute em todo o estado.

Representantes do Fórum Permanente Contra a

Violência e outras entidades ligadas a defesa dos direitos

humanos enviaram correspondência ao Ministério da

Justiça, em Brasília, tentando sensibilizar o ministro Íris

Resende para a importância da permanência do

comandante à frente da corporação. Ontem foram

divulgadas várias notas expressando apoio a

permanência do comandante da PM. A Pastoral da Terra

emitiu ofício ao ministro do Exército, Zenildo de Lucena,

pedindo que intervenha na manutenção do Exército em

Alagoas. A correspondência ressalta que “o comandante

da PM tem demonstrado equilíbrio e competência para

evitar litígios diretos entre trabalhadores rurais e

policiais”.23

O Fórum Permanente Contra a Violência enviou

correspondência ao general Alberto Mendes Cardoso,

chefe da Casa Militar da Presidência da República, ao

general Zenildo Lucena, ministro do Exército, e ao

deputado Pedro Wilson, presidente da Comissão de

Direitos Humanos da Câmara de Deputados,

manifestando preocupação com a mudança do atual

comando da PM.

Ontem, algumas entidades se reuniram e pediram

uma audiência para prestar solidariedade ao comandante

da PM.” 24

22 O Jornal, 24 de outubro de 199722 O Jornal, 24 de outubro de 1997

24 O Jornal, 24 de outubro de 1997.

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CONCLUSÃO

Quando o líder é fraco e semautoridade, quando suas ordensnão são claras e compreensíveis,quando não há obrigaçõesdeterminadas para os oficiais e ossoldados e as fileiras são formadasde forma desleixadas o resultado éa desorganização absoluta. (SunTzu)

A correta aplicação dos princípios de liderança

permitiu que o oficial do Exército designado para Comandante Geral da

Polícia Militar de Alagoas lograsse êxito no desempenho da difícil missão de

comandar uma corporação com sérios problemas internos, que iam desde o

envolvimento de alguns de seus membros com o crime organizado até a

questão salarial, que sufocava a tropa, passando ainda pela manipulação

política, sempre maléfica para os interesses gerais da sociedade.

O momento de singular importância para a vida

político-social do estado, fez necessária a aplicação dos princípios de

liderança materializados nos atos do oficial do Exército para garantir a

prevalência da hierarquia e da disciplina no seio da corporação.

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64

Com suas ações restabeleceu a ordem

pública, iniciou e conduziu com firmeza o processo de moralização,

contribuindo para o restabelecimento da tranqüilidade institucional

necessária.

Sua participação ativa, em todos os setores

conflitados da sociedade alagoana, e na relação funcional entre os membros

da corporação, que se desenvolveu entre dois extremos, a saber: a rejeição

inicial e a aceitação absoluta a partir de determinada fase do seu comando,

bem caracterizam a pertinência da aplicação dos princípios de liderança.

Interagiu com seus subordinados guiando-os na

direção desejada, auxiliado por sua percepção do que era importante para a

Corporação e para os seus componentes, aos quais dispensou atenção

especial procurando atender, em curto prazo, suas necessidades.

Orientou, aconselhou e criou desafios aos jovens

oficiais e sargentos, dedicando grande parte do seu tempo a necessários

contatos pessoais com a tropa que comandava.

O processo de deterioração instaurado por mais

de dois anos, maculou a hierarquia e a disciplina, princípios basilares da

corporação.

Tendo o exemplo como princípio basilar, levou

seus subordinados à busca da realização e do fortalecimento coletivo,

fundamental para a manutenção do espírito de corpo da Polícia Militar.

Seu comportamento e seus atos inspiraram nos

seus subordinados, não o ressentimento, mas o intenso desejo de obedecer,

criando um ambiente onde eles, verdadeiramente pudessem desenvolver

as suas potencialidades.

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Com sua presença constante junto dos seus

subordinados, criou fortes laços de lealdade, respeito recíprocos, confiança

e compreensão entre os policiais.

Desenvolveu e manteve a disciplina, criando um

ambiente de espontaneidade e real consciência do que deveria ser

executado, forjando novas lideranças destinadas a fortalecer a corporação.

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BIBLIOGRAFIA

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