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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
AS ATIVIDADES NO MERCOSUL:
DE SUA CRIAÇÃO ATÉ O ANO DE 1997
Monografia apresentada por
Luciana Vasconcelos Gomes
Em cumprimento às exigências do Curso de Pós-Graduação em
Marketing no Mercado Globalizado
Rio de Janeiro, dezembro de 2001
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AGRADECIMENTOS
Agradeço ao meu orientador, Professor Marco Larosa, e
aos meus amigos, que me incentivaram e apoiaram na realização
desta monografia.
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho monográfico aos meus pais, pois
devo-lhes quem sou e tudo aquilo que vier a conseguir; e ao
carinho e companheirismo do Rogério.
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DÍSTICO
“ O Mercosul vive uma crise diferente, de crescimento.
Isso pode até parecer um contra-senso, mas não é. O Mercosul
está crescendo em todos os sentidos: político, econômico, social
e internacional. É uma das regiões mais prósperas do nosso
planeta.”
Carlos Saul Menem
(1997)
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................... 01 Capítulo I. ANTECEDENTES DO MERCOSUL ..................... 04 Capítulo II. CARACTERIZAÇÃO DOS PAÍSES INTEGRANTES DO MER- COSUL ....................................... 12 2.1. Desempenho Macroeconômico do Mercosul ...... 14 2.2. Fluxo Econômico do Mercosul ................ 20 2.3. Aspectos Econômicos do países-membros ...... 26 2.3.1. Argentina ............................ 26 2.3.2. Brasil ............................... 27 2.3.3. Paraguai ............................. 28 2.3.4. Uruguai .............................. 29 Capítulo III. ASPECTOS DA TRIBUTAÇÃO NO MERCOSUL ......... 31 3.1. Regime de Adequação ........................ 32 3.2. Regras de Origem ........................... 34 3.3. Restrições não-tarifárias (RTNs) e Medidas não-tarifárias (MTNs)....................... 36 3.4. Setores Especiais .......................... 37 3.4.1. Açúcar ............................... 38 3.4.2. Setor Automotriz ..................... 39 3.5. Incentivos às Exportações .................. 41 3.6. Tributação dos Estados-membros ............. 42 3.6.1. Brasil ............................... 42 3.6.2. Argentina ............................ 43 3.6.3. Paraguai ............................. 44 3.6.4. Uruguai .............................. 44 Capítulo IV. A TARIFA EXTERNA COMUM (TEC) ................ 46 Capítulo V. O MERCOSUL E AS RELAÇÕES ECONÔMICAS EXTERNAS. 55 5.1. Relações com a Aladi ....................... 57 5.1.1. Livre comércio com o Chile ........... 58 5.1.2. A incorporação da Bolívia ............ 60 5.2. A União Européia e o Mercosul .............. 62 5.3. Negociações com a Alca ..................... 63 CONCLUSÃO ................................................ 66 ANEXOS ................................................... 68 BIBLIOGRAFIA ............................................. 71
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INTRODUÇÃO
O processo de integração regional é um conjunto de
elementos de caráter econômico que tem por objetivo criar a
aproximação e a união entre as economias de dois ou mais países.
A estratégia desse presente trabalho é abordar a
importância do Mercosul, como bloco regional, dentro do fenômeno
da globalização que se dá, na medida em que os fluxos de
comércio mundiais crescem de forma mais acelerada do que as
economias, de tal modo que a exportação e importação representam
uma fatia cada vez mais significativa do PIB de cada país.
O Mercosul tem sido um processo extremamente benéfico
para todos os seus membros. Na esfera econômica, a integração
vai gerando mais riqueza, mais comércio e mais investimentos, e
estimula a busca de maior eficácia das políticas públicas. O
primeiro capítulo aborda os antecedentes do Mercosul,
descrevendo as várias etapas da integração e, a partir daí,
analisa todo o processo de construção, desde da criação da
ALALC, em 1960, até a assinatura do Tratado de Assunção, em
março de 1991. Ressalta-se, ainda, o comentário sobre a formação
da Alca, onde o Mercosul negocia na qualidade de bloco do Cone
Sul com os Estados Unidos.
Os processos de integração econômica afetam não só os
fluxos de comércio, como, também os de investimento. O segundo
capítulo descreve os países integrantes do Mercado Comum do Sul,
avaliando seu desempenho macroeconômico e seu fluxo econômico,
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já que o principal objetivo de um acordo de comércio
preferencial é aumentar o bem-estar dos países-membros,
permitindo o aproveitamento dos benefícios de um comércio mais
livre e de maior integração de mercados. Por fim, caracterizam-
se os Estados-membros, no âmbito econômico, de política externa
e de laços de comércio com outros países. O Mercosul não é uma
fortaleza comercial, onde a liberalização do comércio, dentro do
bloco, beneficiou igualmente produtos de países-membros e não-
membros, assim como os consumidores no âmbito desse comércio.
O acesso efetivo aos mercados é a característica
principal de uma união alfandegária. O terceiro capítulo aborda
os aspectos da tributação no Mercosul, avaliando o Regime de
Adequação, as Regras de Origem, as Restrições não-tarifárias e
as Medidas não-tarifárias. Ressalta a existência dos setores
especiais, formado pelo açúcar e pelo automóvel, onde estes não
fazem parte, ainda, do livre comércio. Também devem constar nos
setores especiais, os bens de capitais e de informática. Trata-
se do único caso de exceção setorial dentro do objetivo de livre
comércio intra-Mercosul. Aborda, também, o incentivo às
exportações e descreve a tributação dos Estados-membros, citando
seus impostos. O Mercosul existe, antes de mais nada, porque os
quatro países entendem que os benefícios de eliminar as tarifas
no comércio entre eles são maiores do que os benefícios de
manter essas tarifas e, justificam todo o desafio que a
integração implica.
A Tarifa Externa Comum existe, antes de mais nada para
equalizar as condições de concorrência e para garantir margens
de preferência para o produtor regional em relação ao produtor
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de extrazona. O quarto capítulo aborda a TEC, resultando num
modelo de integração aberto ao resto do mundo. A TEC aprovada
para o Mercosul tem uma média de 12%, com amplitude de 0% a 20%
e apresenta alíquotas crescentes em dois pontos de percentagem,
de acordo com o grau de elaboração ao longo da cadeia produtiva.
Sua negociação foi lenta e difícil e houve críticas do seu nível
de detalhamento. A TEC foi negociada nos termos em que
mundialmente se negociam tarifas nos espaços plurinacionais, ou
seja, uma tarifa aduaneira, instrumento de proteção utilizado
por todos os países mundiais e por isso sempre negociada
internacionalmente.
Por fim o quinto e último capítulo aborda o Mercosul e
suas relações econômicas externas, avaliando sua participação
econômico-comercial com a Aladi, com seus novos parceiros, Chile
e Bolívia; com a União Européia, passando de um estágio de
cooperação para o livre comércio; e finalmente, suas negociações
com a Alca, já que a abertura de mercados ou o nivelamento
tarifário no hemisfério merece um pouco mais de atenção e
seriedade para o caso.
O Mercosul deve ser visto como um grande campo de
negociação, já que o processo de integração é na realidade,
conduzido por idéias, embora lastreado em fatos.
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CAPÍTULO I
ANTECEDENTES DO MERCOSUL
O Mercosul é a iniciativa mais determinada e mais
efetiva na história da integração regional da América Latina e a
que reúne as maiores e melhores possibilidades de sucesso.
As tentativas de projetos de integração latino-
americanos tiveram início nos anos 50 com a idéia da Cepal de
que a cooperação regional, baseada em um sistema de preferências
comerciais, aceleraria o desenvolvimento econômico da região.
O processo de integração regional é um conjunto de
mecanismos de natureza econômica que tem por fundamento criar a
aproximação e a união entre as economias de dois ou mais países.
Esse processo é classificado em cinco tipos, exemplificados a
seguir, conforme o grau de profundidade dos vínculos que são
formados entre as economias dos países envolvidos.
O primeiro processo de integração, o mais simples, é a
chamada Zona de Preferência Tarifária. Consiste em assegurar
níveis tarifários preferenciais para o conjunto de países que
pertencem à Zona. Pode ser citado como exemplo deste tipo de
integração a Alalc (Associação Latino-Americana de Livre
Comércio).
O segundo processo de integração econômica é a Zona de
Livre Comércio (ZLC), que consiste na eliminação das barreiras
tarifárias e não-tarifárias que incidem sobre o comércio entre
dois ou mais países. Como exemplo, pode ser citado o NAFTA
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(sigla, em inglês, de “Acordo de Livre Comércio da América do
Norte).
Um terceiro modelo de integração econômica é a União
Aduaneira, onde os países-membros adotam adicionalmente
políticas comerciais comuns para os produtos provenientes de
terceiros países, utilizando uma Tarifa Externa Comum (TEC).
Como fato histórico, pode ser citado o caso mais famoso dessa
modalidade, que foi a Zollverein (em alemão, significa União
Aduaneira), que ocasionou a base econômica para a unificação
política da Alemanha. Como um exemplo que já fez parte desse
modelo, a Comunidade Econômica Européia pode ser citada, porque
foi uma União Aduaneira até 1992, quando ultrapassou para uma
etapa mais avançada de integração, o de Mercado Comum. Como
exemplo presente, pode ser citado o Mercado Comum do Sul -
Mercosul, que tornou-se uma União Aduaneira, em 1995.
A quarta modalidade de integração é o chamado Mercado
Comum, que tem como exemplo único a União Européia (UE). È
importante ressaltar a diferença fundamental entre o Mercado
Comum e a União Aduaneira, onde esta última prevê apenas a livre
circulação de bens, enquanto que no Mercado Comum circulam
livremente também os serviços e os fatores produtivos - capital
e trabalho. Além disso, o Mercado Comum pressupõe a coordenação
de políticas macroeconômicas: todos os países devem seguir os
mesmos parâmetros para fixar suas taxas de juros e de câmbio e
para definir sua política fiscal.
A última e a mais elevada etapa de integração
econômica, a União Econômica e Monetária, é uma fase que ainda
não foi alcançada por nenhum processo de integração regional.
Ela ocorre quando existe uma inteira unificação de moeda e de
política monetária conduzida por um Banco Central comunitário,
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obrigando todos os países a adotarem a mesma política
macroeconômica.
Pode se dizer, assim, que o Mercosul é o projeto de
construção de um Mercado Comum, cuja execução encontra-se na
fase de União Aduaneira.
Os antecedentes mais remotos do Mercosul podem ser
encontrados na criação, em 1960, da Associação Latino-Americana
de Livre Comércio (ALALC), sob o amparo do General Agreement of
Tarifs and Trade (GATT), congregando todos os países da América
do Sul (exceto as Guianas) e o México. A ALALC tinha como meta
básica estimular a industrialização, diversificando as economias
dos países latino-americanos e reduzindo sua dependência em
relação às economias dos países desenvolvidos. Foram negociadas
multilateralmente reduções tarifárias através de listas comuns e
de listas nacionais, assim como a extinção de restrições não
tarifárias. A ALALC buscava modificar o modelo de
desenvolvimento dos países latino-americanos, que se
caracterizavam por serem economias com produção pouco
diversificada, voltadas para o mercado dos países desenvolvidos.
Muitos obstáculos, fundamentalmente de natureza
econômica, surgiram, impedindo o progresso da ALALC, como a
recessão, a estagnação e a instabilidade das economias latino-
americanas e as diferenças das políticas macroeconômicas entre
essas economias.
A constatação do fracasso da ALALC levou, em 1980, à
criação da Associação Latino-Americana de Integração (ALADI),
com o objetivo mais modesto de formar uma área de preferência
tarifária, composta por acordos regionais e por acordos de
alcance parcial travados entre dois ou mais países.
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Os acordos regionais logo se tornaram a principal força
motora da ALADI. Ainda, em 1980, firmaram-se, sob o amparo da
ALADI, dois importantes acordos sub-regionais de complementação
econômica: o Protocolo de Expansão do Comércio (PEC), entre
Brasil e Uruguai, e o Convênio Argentino-Uruguaio de
Complementação Econômica (CAUCE).
A partir de meados da década de 80, a redemocratização
do continente, a crise da dívida externa e o avanço do
protecionismo nos países desenvolvidos conduziram a uma mudança
gradual da postura brasileira quanto ao seu relacionamento com
os países vizinhos. Brasil e Argentina interromperam então anos
de rivalidade e deram início a um novo tipo de convivência,
visando a uma melhor inserção na nova ordem econômica
internacional marcada pela articulação de espaços geo-econômicos
de cunho regional. Firmou-se o Programa de Integração e
Cooperação Econômica, que buscava a liberalização comercial
bilateral e a cooperação em várias áreas, como produção de
alimentos básicos, investimento industrial, transportes e
comunicações.
Em 1988, Brasil e Argentina assinaram um Tratado de
Integração, Cooperação e Desenvolvimento, que visava a formação
de uma zona de livre-comércio em 10 anos, com a completa
harmonização das políticas setoriais, a adoção de uma Tarifa
Externa Comum e a coordenação de políticas macroeconômicas -
passos iniciais em direção à constituição de um mercado comum.
O movimento em direção à integração econômica adquiria,
assim, uma força sem precedentes. Por um lado, a mudança no
curso do processo de integração bilateral foi condicionada pela
opção feita pelos governos dos dois países pela implementação de
um projeto liberal de modernização, baseado na abertura
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comercial, na privatização e na desregulamentação da economia.
Por outro, coincidiu com a proposta, em junho de 1990, pelo
presidente norte-americano, George Bush, da criação, no longo
prazo, da “Iniciativa para as Américas“, uma espécie de zona de
livre comércio hemisférica, do Alasca à Terra do Fogo. Esta
proposta oferecia uma nova modalidade de relacionamento dos
E.U.A. com a América Latina, pautada não mais na ajuda, mas sim
no comércio, nos investimentos e na solução do problema da
dívida externa. O NAFTA, criado no final de 1992, pareceu ser o
primeiro passo nessa direção.
Não podiam ficar indiferentes a esse fenômeno o
Uruguai e o Paraguai, países que, historicamente, sempre tiveram
em Argentina e Brasil seus principais parceiros externos.
Assim, em 1991, Paraguai e Uruguai incorporaram-se às
negociações, assinando o Tratado de Assunção. Manteve-se o
objetivo de construir um Mercado Comum e estabeleceu-se como
prazo para essa tarefa o dia 31 de dezembro de 1994. Criou-se,
para designar esse projeto, o nome Mercado Comum do Sul - o
Mercosul.
Esse caminho percorrido desde 1960 permite perceber que
o Mercosul está apoiado sobre uma base tríplice: econômica,
política e jurídica. A base econômica é configurada pela
crescente diversidade e capacidade produtiva das quatro
economias. A base política consiste no processo de
redemocratização vivido pelos quatro países na década de 80, e
no empenho de seus mais altos mandatários, ao longo dos anos, em
criar e estimular um processo de integração. A base jurídica é
representada pela Aladi: o Mercosul está vinculado à Aladi na
forma de um Acordo de Complementação Econômica entre Brasil,
Argentina, Paraguai e Uruguai, e obedece àquela Associação.
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Existe um conjunto de fatores favoráveis à integração
como ausência de conflitos étnico-culturais, fronteiras vivas, o
advento da democracia e o desaparecimento das rivalidades
políticas graças ao fim dos regimes militares. Esses fatores
explicam, em grande parte, a emergência do Mercosul como uma
opção natural para o Brasil.
A abertura da economia brasileira é um fenômeno que tem
que estar presente, devido a sua importância em relação ao
processo de integração do Cone Sul. Sem ela, provavelmente, o
Mercosul não teria ocorrido ou poderia até ocorrer, mas apenas
como um processo de integração de feições excludentes e não da
forma aberta como vem se desenvolvendo.
Com a assinatura do Tratado de Assunção, em 26 de março
de 1991, iniciou-se o “período de transição” do Mercosul, que se
estendeu até 31 de dezembro de 1994, sendo caracterizado por
dois elementos fundamentais: a negociação dos instrumentos de
política comercial comum e o desenvolvimento do programa de
desgravação tarifária. Com o fim do “período de transição”, o
Mercosul passou a constituir em 1° de janeiro de 1995, uma União
Aduaneira, iniciando-se uma nova etapa de um programa de
liberalização comercial, baseado em reduções tarifárias
progressivas e na eliminação de restrições comerciais de
qualquer natureza.
O governo brasileiro já propôs a formação da Associação
de Livre Comércio Sul-Americana (ALCSA) em um prazo de 10 anos.
A ALCSA, que congregaria o Chile e os países do Mercosul e do
Pacto Andino, aprofundaria as preferências comerciais já
concebidas no âmbito da ALADI, lançando mão do mecanismo adotado
pelo Mercosul de desgravação linear e automática de todo
universo tarifário.
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Surge a discussão da formação do ALCA (Área de Livre
Comércio das Américas), área de livre comércio que abrangerá
todo o continente americano, do Alasca à Terra do Fogo.
O Mercosul anunciou que negociará na qualidade de bloco
do Cone Sul com os Estados Unidos, enquanto o país do norte se
mostra mais inclinado à discussão bilateral, usando o sistema
“Hub and Spock”, um termo diplomático que usa a roda de
bicicleta como analogia, onde os Estados Unidos atuariam como o
eixo e os outros países girariam a sua volta.
A política de discussão proposta pelos Estados Unidos
deve-se centrar no cenário de atritos que este país manteve com
o Brasil em torno das datas para a abertura da área de livre
comércio continental: os norte-americanos querem ver a ALCA
funcionando a partir de 2005, enquanto os países do Mercosul,
colocam esse ano como o início das definições para levantar
as barreiras comerciais. O ponto de partida das discussões
será os cinco primeiros blocos comerciais constituídos ou em
constituição no continente, entre eles o Mercosul. A criação do
Mercosul faz parte de um processo evolutivo dos países da
América, que vêm procurando se desvincular das políticas
protecionistas para se adaptar a uma difícil convivência
internacional, baseada na eficiência e na competitividade.
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CAPÍTULO II
CARACTERIZAÇÃO DOS PAÍSES INTEGRANTES DO MERCOSUL
O Mercosul é muito mais do que um fenômeno comercial ou
de investimentos . Trata-se de um fenômeno histórico, cultural e
político, de amplo alcance no cenário latino-americano e
internacional. Ele abrange um imenso espaço geográfico de quase
12 milhões de km2 e conta com uma ampla e variada riqueza de
recursos naturais. Sua população de 200 milhões de habitantes,
produto da ordem de quase US$ 1 trilhão, e exportações de US$ 70
bilhões, representam, atualmente, apenas cerca de 3% da
população, produto e comércio mundiais. No entanto, conta com um
grande potencial de crescimento, daí as expectativas que
despertou dentro da região e no resto do mundo.
A área de livre comércio transformada em união
aduaneira a partir de 01/01/95, possui a vantagem de manter a
autonomia na política comercial, um instrumento importante em
alguns programas de estabilização de preços, mas, em
contrapartida, requer uma definição de produção regional para
beneficiar, com isenção tarifária, apenas os produtos fabricados
dentro da região. É reconhecido que a administração aduaneira do
regime de origem é extremamente complexa, o que aumentaria os
custos dos bens comercializados entre os países do Mercosul.
Para o Brasil e a Argentina são considerados produtos nacionais
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aqueles cujos componentes estrangeiros são 40% do produto. Para
o Paraguai e o Uruguai, o coeficiente de nacionalização é menor,
de 50%. Uma avaliação dos benefícios e custos do Mercosul é uma
tarefa bastante complexa e abrange múltiplas dimensões, tanto
políticas quanto econômicas. Além disso, ocorreram
simultaneamente ao Mercosul programas tanto de liberalização
unilateral de comércio como de estabilização macroeconômica que
dificultam a análise, pois estes fatores têm influência
importante sobre as variáveis que são normalmente utilizadas
para avaliar o desempenho de um bloco econômico.
Para o Brasil, o Mercosul é uma plataforma para a
inserção competitiva do país na economia internacional, em
perfeita convivência com as regras multilaterais de comércio.
Sem dúvida, a situação macroeconômica dos membros do
Mercosul está longe de se consolidar. Uma tradição de
instabilidade e o acúmulo de tensões fiscais e externas
estabelecem eventuais riscos para o futuro. Além disso, e apesar
de assinalada convergência “exógena”, os Estados-membros diferem
consideravelmente na sua institucionalidade cambial e monetária
(o que reflete diferentes preferências em torno dos “trade-off
da política) e na solidez das instituições de gestão da política
pública. Essa situação ocorre em um contexto no qual se aumentou
a interdependência econômica entre os Estados-membros e,
especialmente, entre os dois maiores.
O principal veículo, pelo qual ocorre esse aumento na
interdependência foi o aumento no comércio dos bens.
Efetivamente, entre 1991 e 1995, as exportações intrazona como
proporção do PIB aumentaram de 0,86% para 1,42%. Embora essa
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relação seja ainda modesta em termos absolutos, a tendência é
clara.
Mesmo quando a intensidade da vinculação entre os
sócios do Mercosul por meio dos fluxos de comércio e
investimento ainda não parecia suficientemente intensa para
criar relações de interdependência macroeconômica significativas
- as que por outro lado estão estruturalmente limitadas por
diferenças de tamanho entre as economias -, o aumento no
comércio de bens e a convergência de políticas incentivaram a
percepção de interesses comuns entre os dois Estados-membros
maiores.
Até o momento, o intercâmbio de informação e a
consulta em matéria macroeconômica entre os governos dos
Estados-membros têm sido informal e vinculada à existência de
canais pessoais mais do que a rotinas burocráticas-
institucionais. Isso parece lógico, em vista do contexto de alta
volatilidade e incerteza que caracterizou o desempenho
macroeconômico da região no passado. Sem dúvida, a permanência
dos processos de estabilização e a convergência no papel de
certos instrumentos de política poderiam assentar as bases para
o desenvolvimento de interesses comuns que estimulem a
cooperação orientada a enfrentar dilemas de aversão comum.
2.1 - Desempenho Macroeconômico do Mercosul
Em 1996, a macroeconomia dos Estados-membros do
Mercosul se caracterizou por duas tendências. A primeira foi uma
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19
melhora no seu desempenho, do ponto de vista do crescimento e da
inflação, em um contexto de relativa fragilidade fiscal e
externa. A segunda foi uma redução da disparidade no
comportamento das duas primeiras variáveis (crescimento e
inflação) no contexto de uma relativa estabilização das
paridades bilaterais reais. A maior sincronia dos ciclos
econômicos nacionais nas duas maiores economias (em contraste
com o que ocorreu em 1991/92 e em 1995) permite antecipar que,
no futuro imediato, os fluxos de comércio serão menos afetados
pelas divergências macroeconômicas de curto prazo do que no
passado. Não obstante, a situação subjacente não permite
antecipar quão duradoura será essa tendência.
Em 1996, o Produto Interno Bruto (PIB) regional cresceu
a uma taxa anual estimada de 3,2%, bastante superior ao 1,1%
registrado em 1995. Essa aceleração é explicada pela recuperação
da atividade econômica na Argentina (que contribui com cerca de
um terço do produto regional) e no Uruguai, depois da profunda
recessão que ambas as economias experimentaram em 1995. A
recuperação da economia argentina foi iniciada no segundo
trimestre de 1996, acelerando-se a partir de meados do ano. Não
obstante, em fins de 1996, os níveis de produção continuavam
abaixo dos registrados antes da recessão. Também no caso do
Uruguai, o que inicialmente foi uma lenta recuperação ganhou
dinamismo a partir de meados do ano, levando os registros de
crescimento do PIB ao dobro dos inicialmente previstos.
Por outro lado, a atividade econômica no Brasil (que
contribui com cerca de dois terços do PIB regional) e no
Paraguai registrou uma ligeira desaceleração sobre a base anual,
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mas manteve positivas as taxas de crescimento para o ano todo.
No caso da maior economia do Mercosul, a desaceleração no
crescimento registrado em 1995 se reverteu a partir do fim desse
ano, deixando espaço para uma recuperação mais vigorosa a partir
de meados de 1996. A desaceleração no ritmo de crescimento da
economia paraguaia, entretanto, esteve influenciada por fatores
tais como a crise financeira de 1995, o comportamento das
economias argentina e brasileira, as crescentes restrições ao
comércio ilegal de Ciudad del Este e a uma política fiscal
restritiva.
O aumento no ritmo de atividade econômica na região foi
acompanhado por uma redução da inflação (medida pelos índices de
preços ao consumidor), a qual para fins do ano atingia um ritmo
anual estimado de 7,6%. De fato, em 1996 o ritmo do aumento dos
preços se contraiu (na média e em cada um dos países) pelo
terceiro ano consecutivo.
A aceleração do crescimento foi acompanhada por um
aumento no desequilíbrio das contas externas da região. Esse
comportamento foi influenciado pela evolução das duas maiores
economias. De fato, as estimativas para o Brasil correspondentes
a 1996 antecipam um déficit comercial superior ao do ano
precedente (US$ 4 bilhões sobre uma base FOB) e um saldo
negativo da conta corrente superior a US$ 21 bilhões
(equivalente a mais de 3% do PIB). Em 1996, a posição externa da
Argentina também se deteriorou, com déficit em conta corrente
estimado em torno de US$ 4,2 bilhões. De fato, tanto as
autoridades econômicas argentinas como as brasileiras enfrentam
a difícil tarefa de compatibilizar o dinamismo da atividade
21
21
econômica interna com o controle das contas externas, no âmbito
de um regime de política no qual o tipo de câmbio desempenha um
papel importante como âncora antiinflacionária. De fato, embora
o mecanismo cambial no Brasil seja mais flexível do que no caso
da Argentina, a possibilidade de uma desvalorização parece
temporariamente descartada em ambos os países, pelo menos
enquanto prevalecem as atuais condições de abundante liquidez
nos mercados internacionais de capital. O saldo da conta
corrente do Uruguai também piorou em 1996, em um contexto no
qual as exportações enfrentaram problemas de competitividade. O
Paraguai foi o único Estado-membro do Mercosul cuja conta
corrente teve uma melhora nesse período, como conseqüência da
desaceleração no ritmo de crescimento da demanda interna, as
crescentes restrições impostas pelo Brasil ao comércio de
fronteira pela Ciudad del Este (que reduzem as importações para
a reexportação) e a boa colheita e os altos preços
internacionais da soja. Destaque-se que, em 1990, 94% das vendas
de soja do Mercosul para o Brasil provinham da Argentina e, em
1996, o Paraguai contribuiu com 76,5%. Isto se deveu à presença
dos chamados “brasilguaios”.
A situação fiscal da região também está longe de se
consolidar. No Brasil, as contas do setor público experimentaram
uma sensível deterioração a partir de 1994 e, desde então, o
processo de ajuste fiscal tem sido muito lento. De fato, a
dificuldade para corrigir a situação fiscal gerou tensões no
programa de estabilização, particularmente devido ao rápido
acúmulo de dívida interna ( a dívida pública federal interna
cresceu 50,8% entre setembro de 1995 e o mesmo mês de 1996).
Espera-se que uma vez que sejam resolvidas as questões políticas
22
22
domésticas e sejam destravadas no Congresso as reformas
pendentes, o processo de consolidação fiscal possa ser
acelerado, já que o ritmo atual de acumulação de dívida pública
não parece sustentável no médio prazo.
Por outro lado, o desequilíbrio fiscal da Argentina
(embora bem menor do que o da maior economia do Mercosul)
aumentou em 1996 como conseqüência da recessão e da conseqüente
queda na arrecadação tributária. Não obstante esse fator
cíclico, a fragilidade fiscal da Argentina parece ter
determinantes mais permanentes, tais como o efeito sobre a
arrecadação pública da reforma do regime de previdência social.
Isso tem levado as autoridades a colocarem como prioridade a
melhora da situação fiscal como forma de descomprimir a pressão
sobre os mercados financeiros, reduzir o risco e melhorar as
expectativas , eventualmente estimulando o gasto em investimento
e em bens de consumo duráveis.
As economias dos outros dois sócios também não exibem
uma posição fiscal consolidada. No caso do Paraguai, em 1996, as
autoridades reagiram à queda na arrecadação fiscal com uma
política agressiva de corte de gastos públicos, contribuindo
para a desaceleração da atividade econômica registrada durante o
ano. Tendo em vista que a maior parte dos desembolsos do setor
público é de gasto corrente, o corte caiu majoritariamente sobre
o investimento público. O governo do Uruguai seguiu adiante com
a sua política de consolidação fiscal (refletida na redução do
déficit do governo central), embora a médio prazo essa melhora
dependerá da continuidade do processo de reforma estatal, o qual
ainda se encontra nos seus primeiros passos.
23
23
Em qualquer caso, nas atuais condições dos mercados
financeiros internacionais, o financiamento dos desequilíbrios
fiscais e externos não parece fora do alcance para os governos
da sub-região. No caso do Brasil, o processo de privatizações se
encontra no começo e existem expectativas de entrada maciça de
capitais do exterior para 1997. Contudo, é incerto que uma
trajetória de desequilíbrios fiscais significativos financiados
com recursos de capital seja uma opção sustentável a médio
prazo. No caso da Argentina, a maior parte da entrada de capital
dentro do conceito de privatizações já ocorreu. Por conseguinte,
o financiamento dos desequilíbrios fiscais e externos deverá ser
feito por um novo endividamento do setor público (como aconteceu
no ano de 1996) e/ou novas entradas de capitais privados de
carteira do exterior e investimento estrangeiro direto. Por
conseguinte, para a Argentina, o mercado brasileiro é
fundamental.
Em 1996, o desempenho macroeconômico regional se
caracterizou não só por uma aceleração do crescimento e uma
queda da taxa de inflação, como também por uma redução das
divergências de desempenho econômico dos Estados membros. Tal
redução da divergência foi registrada tanto no que se refere ao
ritmo de expansão da produção, como dos preços.
Existe um consenso amplo de que as políticas e o
desempenho macroeconômico podem ser importantes para o êxito ou
o fracasso de um processo de integração e, por conseguinte,
geralmente se requer algum grau de coordenação de políticas. No
Mercosul, porém, nenhum dos planos econômicos dedicados à
24
24
estabilização foi comunicado aos vizinhos, antes de seu anúncio
oficial à população interna.
2.2 - Fluxo Econômico do Mercosul
Os processos de integração econômica afetarão não só os
fluxos de comércio, como também os de investimento. De fato,
este é um dos seus efeitos dinâmicos mais importantes, pois o
investimento direto é uma das respostas estratégicas adotadas
pelas empresas ante mudanças na competitividade relativa e nas
vantagens de localização. A experiência recente indica que o
investimento e o comércio internacionais, ao contrário do que
sustenta a teoria convencional do comércio, são complementares
antes que substitutos.
O principal objetivo de um acordo de comércio
preferencial é aumentar o bem-estar dos Estados-membros,
permitindo o aproveitamento dos benefícios estáticos e dinâmicos
que possam ser derivados de um comércio mais livre e de maior
integração dos mercados. Em parte, esses ganhos se materializam
por meio de maiores fluxos de comércio e de investimento. Sem
dúvida, nem todo o aumento no comércio entre os sócios implica
uma melhora no bem-estar: efetivamente, o desvio de comércio (a
substituição de fornecedores mais eficientes extrazona por
fornecedores intrazona que gozam de preferências) pode acarretar
perdas.
Entre 1991 e 1995, os países do Mercosul absorveram
30,3% dos investimentos estrangeiros diretos da América Latina e
25
25
do Caribe, para atingir um recorde de US$ 9,159 bilhões em 1995.
Nesse período a participação do Brasil reduziu-se (em relação ao
quinquênio anterior), enquanto a Argentina, o Paraguai e o
Uruguai experimentaram crescimento. Em 1995, os fluxos de
investimento estrangeiro direto às duas economias menores mais
do que duplicaram o registrado no início da década. Não
obstante, a partir de 1994, o Brasil voltou a retomar sua
posição de liderança como receptor de investimentos diretos na
sub-região.
Mesmo quando não se dispõe de estimativas definitivas
para 1996, as previsões de crescimento dos investimentos
estrangeiros diretos para o ano corrente atingem uma taxa de
35%, especialmente como conseqüência dos fortes investimentos
dirigidos ao Brasil (US$ 8,1 bilhões, de acordo com estimativas
privadas). Em parte, esse aumento deve-se ao processo de
privatização iniciado com o Programa Nacional de Desestatização,
lançado no início da década.
As privatizações e o comportamento da demanda interna
parecem ter sido os principais fatores de atração de fluxos de
investimentos estrangeiros diretos para as economias maiores. Em
comparação, até o momento, o processo de integração parece ter
exercido uma influência menor.
Apesar de que, quantitativamente, o processo de
integração sub-regional não tenha tido um impacto importante
sobre os fluxos de investimento, é possível detectar em várias
áreas efeitos qualitativos significativos. Esse é o caso
daqueles setores onde predominam filiais de empresas
transnacionais e onde foi gerado um processo gradual de
26
26
racionalização e complementação produtiva. Efetivamente, o
chamado “investimento de reorganização” parece ter sido mais
significativo nos setores automotriz e de autopeças, alimentos e
bebidas, petroquímica e têxtil. Razoavelmente, à medida que o
processo de remoção de restrições não-tarifárias se aprofunde,
os estímulos à organização produtiva serão mais intensos.
A perspectiva de integração do mercado regional de
equipamentos de transporte, os estímulos dos regimes
promocionais setoriais, os acordos bilaterais existentes desde
meados dos anos 80 e as possibilidades de complementação
produtiva já foram aproveitados por um número de empresas
estabelecidas e outras que se estabeleceram ou anunciaram o seu
estabelecimento no período recente. Entre as primeiras podem ser
apontados os casos da Ford e da Volkswagen(empresas que fizeram
novos investimentos no Brasil e, em menor grau, na Argentina) ou
os da Fiat, General Motors e Toyota, que, estando estabelecidas
ou desenvolvendo atividades produtivas diretamente em um só
país, também se estabeleceram no vizinho. Empresas não
estabelecidas também realizaram ou anunciaram investimentos
diretos na região, como nos casos da Chrysler, Peugeot, Renault
ou Asia Motors. A quantidade total de investimentos anunciados
na Argentina e no Brasil até o ano 2000 no setor automotriz se
aproxima de US$ 18 bilhões, uma quantia significativa sob
qualquer parâmetro. No Paraguai, foi aprovado um plano de
investimento da Toyota para a construção de uma fábrica de
autopeças e de montagem de caminhões. Existe também um projeto
de investimento da coreana Daewoo.
27
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A indústria de alimentos, particularmente na Argentina,
também experimentou um significativo aumento do investimento
estrangeiro direto, principalmente pela aquisição de empresas já
existentes. Exemplos dessas operações foram as aquisições feitas
pela RJR Nabisco, Seagram, Heinz e Cadbury Schweppes. O setor de
vinhos recebeu um fluxo significativo em 1996, como no caso da
Bodegas y Viñedos Santa Ana (uma das quatro adegas mais
importantes da Argentina), que teve 65% do seu pacote acionário
adquiridos pela Santa Carolina, do grupo chileno Larrain. Embora
ainda não existam evidências de que esses investimentos estejam
orientados predominantemente à exportação, o estabelecimento de
empresas estrangeiras em setores nos quais existam vantagens
comparativas evidentes pode se tornar o prelúdio de um maior
comércio e especialização. Exemplos mais diretamente vinculados
ao processo de integração regional são a instalação na Argentina
em 1996 de dois fabricantes internacionais de batatas fritas
congeladas, Mc Cain Foods e Farm Fries, com o objetivo de
exportar ao Brasil sem pagar tarifas. Os investimentos em
laticínios no Uruguai são outro exemplo a se destacar.
O setor petroquímico também atraiu o interesse dos
investidores estrangeiros. Em 1995, a Dow Chemical (maior
produtor mundial de polietileno) estabeleceu-se na Argentina e
adquiriu uma fábrica já existente, com o objetivo de abastecer o
mercado brasileiro de eteno (derivado do gás natural), mais
barato do que o produzido a partir da gasolina no Brasil. Os
investimentos anunciados para o setor até o final do século
atingem os US$ 2 bilhões na Argentina e US$ 6 bilhões no Brasil.
Os principais empreendimentos na Argentina estão vinculados ao
abastecimento do mercado brasileiro, como é o caso do projeto
28
28
Nega para produzir etano e a expansão da fábrica de “cracker” de
Baía Blanca para produzir etileno. O primeiro projeto tem como
sócios principais a empresa argentina YPF, a Petrobrás
brasileira e a Dow Chemical.
Um levantamento feito em maio de 1996 identificava um
total de 313 empreendimentos conjuntos argentino-brasileiros,
dos quais 60% estavam vinculados ao setor produtor de bens.
Segundo a mesma fonte, 44% do total têm um impacto produtivo
direto. Se esses resultados são comparados com um levantamento
semelhante feito em fins de 1992, constata-se que o número total
de empreendimentos mais do que triplicou em um período de pouco
mais de três anos, Entre os setores onde está estabelecida a
cooperação, destacam-se alimentos e bebidas (13%), automotriz e
autopeças (13%), bancos (9%), telecomunicações (5%), imprensa e
comunicações (4%), químicos (4%), construção (4%), franquias
(4%) e máquinas agrícolas (4%).
O comércio intra-Mercosul foi acompanhado por um
significativo crescimento, que passou de cerca de US$ 5 bilhões
para, aproximadamente, US$ 15 bilhões, em 1995 e,
principalmente, as importações de terceiros países fora do bloco
também cresceram de US$ 29 bilhões para US$ 55 bilhões. Isso foi
devido essencialmente a dois fatores concorrentes. Em primeiro
lugar, à crescente abertura das economias dos membros do
Mercosul, que hoje praticam, no âmbito da TEC, uma tarifa média
de 11,3%. Esse fenômeno é sobretudo significativo, no caso do
Brasil, cuja alíquota máxima já foi da ordem de 105%, combinada,
em alguns casos com a virtual proibição à importação. Em segundo
lugar, os crescentes valores registrados nas importações do
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29
Brasil decorrem da retomada do crescimento econômico interno e
do aumento do poder aquisitivo da população.
As importações totais dos países do Mercosul aumentaram
à taxa média anual de 22% entre 1991 e 1995. As importações
intra-Mercosul cresceram à taxa média de 25%, as oriundas da
União Européia registraram incremento em ritmo semelhante, e as
procedentes dos Estados Unidos e dos países da América Latina
não-membros do Mercosul expandiram-se à taxa de 21% e 20%,
respectivamente.
Estes dados constituem evidência clara e convincente de
que o Mercosul não é uma fortaleza comercial. Ao contrário,
desde o estabelecimento desse pacto comercial em 1991, seus
maiores parceiros comerciais conseguiram aumentar as vendas para
a região a taxas semelhantes ou apenas ligeiramente inferiores
às dos próprios membros do Mercosul. Este fato mostra que a
liberalização comercial dentro do Mercosul beneficiou igualmente
produtores de países membros e não membros, assim como os
consumidores no âmbito desse acordo. Assim, não está havendo
desvio do comércio, em termos globais, como já acusaram os
E.U.A. É, ademais, um dado totalmente consistente com a nova
orientação dos pactos regionais celebrados na América Latina que
se baseiam em reformas do mercado e na liberalização do
comércio. O Mercosul foi bem sucedido na eliminação de tarifas e
outras restrições comerciais para o grosso do comércio entre
seus países membros. Ao mesmo tempo, acompanhou o ritmo da
liberalização do comércio vis-à-vis resto do mundo. Isso explica
o comportamento do setor importador.
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30
É certo que as exportações intra-Mercosul cresceram a
taxas superiores às das exportações para a União Européia, os
Estados Unidos e o resto da América Latina. Esta é não só uma
boa notícia como algo que se pode esperar de países que
liberalizam seu comércio recíproco, e de modo especial de dois
países economicamente fortes como o são o Brasil e a Argentina,
que antes se encontravam separados por barreiras comerciais
importantes. Os acordos de integração latino-americanos foram
criticados no passado pelo seu insucesso em incrementar o
comércio entre os países participantes. É irônico que eles
estejam sendo questionados agora, justamente por produzirem
resultados inversos. Com efeito, desde a implantação do
Mercosul, a interdependência econômica de seus países-membros
vem crescendo interruptamente.
Uma abertura maior do comércio exterior de um país
possibilita aos consumidores adquirir produtos de fontes de
abastecimento mais eficientes, cujos preços relativos se
encontravam artificialmente aumentados devido às barreiras ao
comércio. Isso resulta em um incremento do intercâmbio comercial
e um aumento do bem-estar da população.
2.3 - Caracterização dos países-membros
2.3.1 - Argentina
Hoje, a economia argentina passa por um processo de
estabilização, com uma taxa inflação mensal muito baixa. Há,
também, uma redefinição do papel do Estado na economia, através
31
31
de um programa de privatização de atividades que foram
estatizadas, no passado, por razões políticas e para socorrer o
setor privado nas diversas crises econômicas que o país
atravessou. Quase 50% do PIB vêm dos estabelecimentos
financeiros, comércio, hotéis e restaurantes, seguros, imóveis
e outros serviços prestados. Cerca de 35% vêm da indústria,
principalmente, dos setores de alimentos, metalurgia, químico,
têxtil e automóveis. Os 15% restantes vêm da produção agrícola,
com destaque para carnes , couro, cereais e frutas. Quanto ao
aspecto do minério e mineração, o petróleo e o gás natural
satisfazem as necessidades internas e são exportados; são
explorados o minério de zinco, ferro de baixo teor e pequenos
depósitos de zinco, urânio, carvão, chumbo e prata. Os
principais laços de comércio são os E.U.A, Brasil, países da ex-
URSS, Alemanha, Holanda e Japão.
A exportação se baseia em produtos primários (64%),
combustíveis, minerais e metais (8%), máquinas e equipamentos de
transporte (7%), outros manufaturados (21%). As importações se
constituem, principalmente, de máquinas e equipamentos de
transportes (33%), alimentos e produtos primários (5%) e
combustíveis (9%).
2.3.2 - Brasil
Hoje, o Brasil vive um programa de estabilização e
ajustamento de sua economia, graças ao Plano Real, o mais bem
concebido dos últimos vinte anos.
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A economia tem 50% do PIB, vindo dos estabelecimentos
financeiros, comércio, hotéis e restaurantes, seguros imóveis e
outros serviços prestados. Cerca de 30% é gerado pela indústria,
principalmente alimentos, produtos químicos, téxteis,
metalúrgicos, veículos e equipamentos elétricos e de
comunicação. Os produtos agrícolas respondem por 13% do PIB e o
restante, 7% vêm dos serviços de eletricidade, gás, água,
transporte, armazenamento e comunicações.
Na aspecto de minério e mineração, o Brasil possui
grandes depósitos de minério de ferro, manganês, bauxita,
níquel, chumbo, petróleo, gás natural, entre outros.
No âmbito do comércio exterior, os produtos básicos
exportados são café em grãos, minério de ferro, soja em grão e
outros, que respondem a 25% do total. Setenta e cinco por cento
do total exportado foi constitúido pelos produtos
industrializados, principalmente semimanufaturados, café
industrializado, suco de laranja, calçados e material de
transporte. O volume importado corresponde a 6% de combustíveis
e lubrificante, 28% de bens de capital e 11% de bens de consumo.
Os principais laços de comércio são E.U.A., Argentina,
Japão, Holanda, Itália, França e Alemanha.
2.3.3 - Paraguai
O Paraguai sempre foi um país voltado para a atividade
agrícola e para o comércio.
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33
Economicamente, os serviços - comércio,
estabelecimentos financeiros, seguros, imóveis e outros serviços
- respondem por 41% do PIB. Em segundo lugar vem a agricultura,
que responde por 30%, sendo seguida pela indústria (20%) outros
serviços - água, gás, eletricidade, transporte, armazenamento e
comunicações - respondem pelos 9% restantes.
No aspecto mineral, possui algumas jazidas de pedra
calcária, gesso, argila, entre outros.
O volume exportado corresponde por 35% do PIB, como
produtos não tradicionais - fibras de algodão, sementes de soja,
frutas e legumes. Por sua vez, os produtos tradicionais -
pecuários, madeira, azeite, tabaco e outros - respondem por 22%
da pauta de exportação. Na importação, os bens de consumo não-
duráveis respondem por 33%, os bens de capital por 26% e os bens
intermediários, 20%.
Os principais laços de comércio são Brasil, Argentina,
E.U.A. e Alemanha.
2.3.3 - Uruguai
Nesses últimos anos, o Uruguai tem se esforçado para
recuperar a sua estabilidade política, econômica e social. O
fortalecimento do seu regime democrático, a diversificação da
sua pauta de exportação e, principalmente, a política de
abertura da sua economia aos capitais internacionais têm trazido
resultados promissores, que apontam na direção da recuperação da
estabilidade perdida dos anos 60.
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Economicamente, cerca de 52% do PIB são gerados pelos
estabelecimentos financeiros, seguros, imóveis, hotéis e
restaurantes, comércio e outros serviços. A indústria responde
por 26%, e a agricultura por 15%. O restante é gerado pelos
setores de eletricidade, água, gás e transporte.
Os produtos mais importantes na pauta de exportação
foram os seguintes: têxteis e suas manufaturas (27%), animais
vicos e produtos do reino animal (22%) e couros, peles e
produtos de couro (12%). Na pauta de importação, destacam-se as
matérias-primas e bens intermediários (61%), incluindo petróleo
e combustível e os bens de consumo duráveis e não duráveis (23%)
e bens de capital (16%).
Os principais laços de comércio são Brasil, Argentina,
E.U.A., Alemanha e Japão.
CAPÍTULO III
ASPECTOS DA TRIBUTAÇÃO NO MERCOSUL
35
35
A constituição de um mercado comum, genuíno e
sustentável ao longo do prazo, demanda decisões mais profundas e
complexas do que as de natureza tarifária e não-tarifária, ou
apenas ligadas diretamente aos fluxos comerciais.
O acesso efetivo aos mercados é o componente central de
uma união alfandegária. Embora o Mercosul tenha obtido
progressos significativos nisso, ainda persistem regulamentações
nacionais que limitam o livre comércio de bens. As mais
transparentes são as tarifas (que ainda sobrevivem no “regime
de adequação”) e o tratamento especial concedido aos setores
automotriz e açucareiro. Também existem obstáculos menos
visíveis materializados em restrições não-tarifárias de caráter
fronteiriço e não-fronteiriço.
O livre acesso ao mercado intrazona também requer
mecanismos idôneos para regular as condições de concorrência no
mercado ampliado, evitar práticas comerciais “desleais” ou, pelo
menos, assegurar que as medidas de defesa contra aquelas
(principalmente a aplicação de direitos compensatórios e de
anti-dumping) não tenham um viés favorável à proteção.
3.1 - Regime de Adequação
O Regime de Adequação exime transitoriamente do
tratamento livre de impostos ao comércio intrazona uma série de
produtos considerados “sensíveis” incluídos em listas nacionais.
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36
O objetivo desse regime é permitir que os produtos constantes da
última parcela das listas de exceções, em lugar de cair no
processo global de liberalização em 31 de dezembro de 1994,
pudessem gozar de um programa de desgravação distinto, começando
com percentual de desgravação de 10% em 31 de dezembro de 1994,
passando a 30% em 31 de dezembro de 1995, 55% em 1996, 77,5% em
97 e 100%, ou seja tarifa zero em 1998 (os produtos das listas
paraguaia e uruguaia seguem o mesmo esquema, mas começando em 31
de dezembro de 1995 e indo até 1999). A convergência ao livre
comércio intrazona é feita mediante um cronograma de redução de
impostos linear e automático, cujo ponto de partida foram as
respectivas tarifas nominais totais vigentes em agosto de 1994,
com uma margem de preferência inicial que se concedem os
Estados-membros.
Os produtos escolhidos para fazer parte do Regime de
Adequação foram aqueles remanescentes das listas nacionais de
exceção em 31 de dezembro de 1994 e os que foram objetos de
cláusulas de salvaguarda previstas no Tratado de Assunção. Para
os produtos afetados por salvaguardas, dever-se-ia estabelecer
uma quota livre de tarifas, que beneficiaria um volume de
comércio não inferior ao vigente no momento de invocar a medida.
O Paraguai e Uruguai, pelos menores tamanhos de suas economias,
foram os países que incluíram um maior número de bens no Regime
de Adequação, enquanto suas listas nacionais de exceção eram as
mais extensas no fim do período de transição estabelecido pelo
Tratado de Assunção.
Durante o período de vigência do Regime de Adequação,
os Estados-membros tiveram a faculdade de retirar e
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37
reintroduzir produtos em suas respectivas listas, assim como
também de aumentar e restabelecer as quotas fixadas para
produtos previamente sujeitos a cláusulas de salvaguarda. Assim,
os países-membros foram autorizados a adiantar o tratamento
previsto no cronograma de redução de impostos. Todas essas
decisões podem ser adotadas unilateralmente.
Até agora o cronograma de redução tarifária do Regime
de Adequação vem sendo cumprido normalmente. Em primeiro de
janeiro de 1997, a margem de preferência tarifária com respeito
à inicial, aumentou 50% nos casos da Argentina e do Brasil, e
25% nos do Paraguai e Uruguai. O aumento na margem de
preferência para os produtos incluídos no Regime de Adequação
começou a gerar pressões de alguns setores produtivos,
especialmente na Argentina. É de se esperar que essas pressões
aumentem, à medida que o cronograma de redução de impostos se
aprofunde em fins de 1997 e 1998.
Tinha-se estabelecido que as listas do Regime de
Adequação seriam protocoladas ante a Aladi, antes de 31 de
dezembro de 1994, prevendo-se a consideração e a aprovação pelo
Grupo Mercado Comum (GMC). O “Programa de Ação do Mercosul até
2000” (aprovado em dezembro de 1995) destacou esse objetivo como
um elemento essencial para a consolidação e o aperfeiçoamento da
União Aduaneira. Até o momento, e a quase três anos do início do
funcionamento do regime, essa tarifa ainda não foi executada. As
razões são alguns desacordos entre os Estados-membros sobre a
escolha de certos bens e o tratamento de produtos beneficiados
com a cláusula de salvaguarda, questões que estão sendo
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38
tratadas pelo mecanismo de consultas da Comissão de Comércio do
Mercosul (CCM).
3.2 - Regras de Origem
Em uma união alfandegária “em formação” , o comércio
intrazona deve estar parcialmente sujeito à regra de origem. Não
obstante, deve-se assegurar que as mesmas cumpram com o seu
objeto de evitar o desvio dos fluxos de comércio sem formar
barreiras ao comércio intrazona. O âmbito de aplicação das
regras de origem no Mercosul inclui o seguinte universo de
produtos:
♦ produtos que são exceção da Tarifa Externa Comum ( TEC) quando sejam
exportações dirigidas a um ou mais países-membros que tenham o
produto entre as exceções com uma alíquota maior do que a da
respectiva tarifa externa comum ( convergência descendente) ou sejam
exportações feitas por um ou mais países sócios que tenham o produto
entre as suas exceções com alíquota menor do que a da Tarifa Externa
Comum respectiva ( convergência ascendente);
♦ produtos com mais de 40% do seu valor FOB em materiais importados
nas exceções da Tarifa Externa Comum;
♦ produtos para os quais existe uma política comercial diferenciada
(automotriz, açúcar, têxtil, direitos antidumping ou compensatórios
aplicados a terceiros países, regimes especiais de importação,
etc.);
♦ os casos excepcionais determinados pela Comissão de Comércio do
Mercosul (CCM).
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A regra de origem geral combina a mudança de
classificação tarifária e um requisito de 60% de valor agregado
regional (quando não houver mudança na classificação tarifária).
Sem dúvida, muitos dos produtos que fazem parte da lista de
exceção da tarifa externa comum (como os da indústria de
informação e de telecomunicações) e outros, como os químicos e
os siderúrgicos, têm requisitos específicos.
No caso das operações feitas amparadas nos acordos
bilaterais entre a Argentina e o Uruguai (Cauce) e o Brasil e o
Uruguai (PEC) continuam-se exigindo os requisitos de origem
estabelecidos nesses acordos (50% de conteúdo regional) até a
sua extinção no ano 2001. A partir deste ano, e até o ano 2006,
regerá a norma geral do Mercosul.
A quase três anos da realização da união alfandegária,
a maioria dos Estados-membros continua exigindo requisitos de
origem de todos os produtos que entrem desde outro país-membro,
dificultando assim a livre circulação de mercados. Uma razão
desse procedimento é que ainda não se dispõe de uma lista
consolidada definitiva que inclua os produtos sujeitos ao regime
de origem do Mercosul e os requisitos aplicáveis a cada um
deles. Por esse motivo torna-se imprescindível finalizar as
tarefas de definição do universo de produtos contemplados, no
âmbito de aplicação desse regime, gerando distorções nas
condições de concorrência dentro da sub-região.
3.3 - Restrições não-tarifárias (RTNs) e Medidas não-tarifárias (MNTs)
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Para fins de 1994, foram identificadas várias
restrições não-tarifárias (RTNs) e medidas não-tarifárias (MNTs)
implementadas pelos Estados-membros e foram determinados os
parâmetros para a sua eliminação e harmonização,
respectivamente. A Comissão de Comércio do Mercosul tem a
responsabilidade de zelar pelo cumprimento desse processo por
meio do Comitê Técnico n° 8 (CT n° 8) de “Restrições e Medidas
não-tarifárias”, o que não só deveria manter atualizadas as
listas de restrições e medidas existentes, senão identificar
outras novas.
Nos anexos da Decisão 3/94, figuram 224 restrições e
medidas não alfandegárias às importações e 51 às exportações
identificadas pelos Estados-membros. O país que identificou
maior número de casos foi o Brasil (33,5% do total). Quase dois
terços do total das restrições não-tarifárias e medidas não-
-tarifárias identificadas correspondiam aos Subgrupos de
Política Agrícola (40%) e Normas Técnicas (24%). Em 80% dos
casos, tratavam-se de medidas sujeitas à harmonização.
Em setembro de 1996, o Brasil apresentou no Grupo
Técnico n° 8 uma proposta metodológica de classificação das
medidas e das restrições identificadas. A propostas consiste em
agrupar as mesmas categorias : a) medidas justificadas pelo
GATT/OMC; e b) restrições não-tarifárias propriamente ditas. As
primeiras não seriam necessariamente objeto de negociação
intrazona (embora nada impeça sua harmonização) e incluem
dezesseis categorias relacionadas com a proteção da Saúde, do
meio-ambiente, da moral pública, do controle de armas e
materiais nucleares, do combate a práticas desleais etc. As
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restrições, por outro lado, seriam objeto de negociação entre os
Estados-membros. A classificação em uma ou outra categoria das
medidas e das restrições identificadas é uma tarefa árdua, como
refletem as consultas desenvolvidas na CCM e as diferenças que
surgiram entre os Estados-membros em matérias afim.
Previamente, uma proporção significativa das consultas
feitas na CCM referia-se à identificação de restrições não-
tarifárias e medidas não-tarifárias. Desde o início das mesmas (
em 1995) até outubro de 1996, a Argentina foi o país que fez o
maior número de consultas (64,2% do total), sendo o Brasil o
principal destinatário das mesmas (53%). Como se pode ver, o
grosso das consultas se concentrou em torno desses países, o que
é previsível em função dos valores elevados do comércio
envolvido.
3.4 - Setores Especiais
Os setores automotriz e açucareiro têm sido
transitoriamente excluídos do livre comércio intrazona e das
políticas comuns. A principal razão são as severas assimetrias
nas regulações públicas que prevalecem em ambos os setores,
especialmente entre a Argentina e o Brasil. Um comitê técnico
(para o setor automotriz) dependente da CCM e um grupo ad hoc
(para o setor açucareiro) no âmbito do Grupo Mercado Comum estão
encarregados de elaborar uma proposta para liberar o comércio
intrazona em ambos os setores, eliminar os incentivos domésticos
que distorcem a competitividade e propor um mecanismo de
transição até atingir um regime comum.
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3.4.1 - Açúcar
O setor açucareiro estará excluído do livre comércio
intrazona e das políticas comuns até o ano 2001, tendo sido
criado um grupo ad hoc para montar uma proposta de regime de
adequação e políticas comuns. Esse grupo também analisou as
alternativas para a neutralização das distorções derivadas das
assimetrias nas políticas nacionais para o setor. Enquanto não
for aprovado o regime comum, os países poderão manter suas
tarifas nominais totais para o comércio intrazona e extrazona.
O centro da controvérsia reside nas diferenças
existentes entre a Argentina e o Brasil a respeito de como
compatibilizar a inclusão do setor açucareiro no compromisso de
liberalização do comércio intrazona com as assimetrias nacionais
existentes em termos de políticas de abastecimento e preços. Em
setembro de 1996, a Argentina optou por ampliar a taxação sobre
o açúcar brasileiro, provocando nova crise nas relações
internacionais. Pelo lado brasileiro, logo se procurou minimizar
o problema, com a lembrança de que as exportações brasileiras
estão caindo muito.
3.4.2 - Setor Automotriz
Em dezembro de 1994, os Estados-membros assumiram o
compromisso de fazer uma proposta de regime comum automotriz
para antes de 31 de dezembro de 1997, que deveria ser adotada a
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partir de primeiro de janeiro do ano de 2000. Essa proposta
deveria conter três elementos básicos, a saber: a liberalização
total do comércio intrazona, uma tarifa externa comum e a
ausência de incentivos nacionais que distorçam a competitividade
na sub-região.
Além disso, os Estados-membros revisaram os acordos
bilaterais ( entre Argentina e Brasil e entre Uruguai e esses
países) com o objetivo de melhorar as condições de acesso aos
mercados a partir de primeiro de janeiro de 1995.
No caso do acordo argentino-brasileiro, a Argentina
reconhecia como nacionais as autopeças brasileiras, dentro do
cômputo do índice de conteúdo nacional do seu programa setorial,
sujeito ao requisito de compensação com exportação a qualquer
destino. As exportações argentinas de autopeças dirigidas ao
Brasil eram multiplicadas por 1,2 para a compensação das
autopeças importadas desse país. O Brasil, por outro lado,
considerava como nacionais as autopeças argentinas para
cumprirem com o requisito de conteúdo nacional previsto para o
então vigente programa do “carro popular”, que eram considerados
como nacionais no Brasil. Também foi estabelecido o livre
comércio de veículos, caminhões e ônibus entre as terminais (sem
quota e com tarifa zero). Embora o Brasil aceitasse o regime
automotriz argentino até 31 de dezembro de 1999, a Argentina
fazia o mesmo com o regime do “carro popular” e outras
regulamentações referentes ao setor automotriz brasileiro até
fins de 1996.
Em meados de 1995, o governo brasileiro promoveu um
novo programa de incentivos setoriais (pela Medida Provisória
44
44
1.024). As montadoras instaladas no Brasil foram autorizadas a
importar veículos com uma preferência tarifária de 50%. A reação
que gerou essa iniciativa pelos outros Estados-membros do
Mercosul, particularmente da Argentina, culminou na decisão do
governo brasileiro de excluir o comércio intrazona da região de
quotas. No início de 1996, tentou-se resolver o conflito em
torno do setor automotriz com a negociação e instrumentação
antecipada de um regime comum de transição (similar ao regime
argentino preexistente) que estaria vigente até 1999. Manteve-se
o livre comércio de veículos entre os dois países sujeitos aos
requisitos de desempenho estabelecidos pelos regimes nacionais (
as importações devem ser compensadas com exportação a qualquer
destino) e os países reconheceram, mutuamente, a vigência dos
seus regimes até 31 de dezembro de 1999. Com relação às
autopeças, ficou estabelecido o livre comércio (tarifa zero e
sem quotas ) para aquelas que fossem originárias da sub-região,
as quais serão consideradas como nacionais do país importador
para o efeito do cálculo do índice médio de nacionalização de
veículos terminados, quando houvessem sido compensadas com
exportação a qualquer destino.
3.5 - Incentivos às Exportações
Os Estados-membros do Mercosul acertaram não usar
incentivos às exportações intrazona, com a exceção do
financiamento às exportações, a devolução ou isenção de impostos
45
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indiretos e os regimes alfandegários especiais, que poderão ser
aplicados com certas restrições. O acordo estabelece que, no
caso do comércio intrazona, os sócios poderão conceder
financiamento de longo prazo apenas para as exportações de bens
de capital e em condições e taxas compatíveis com as
internacionais. Não obstante, existem divergências sobre a
interpretação desses acordos. No caso do Brasil, as linhas
oficiais de crédito que beneficiam outras exportações são
justificadas sob o argumento de que essas medidas devem ser
consideradas como uma assimetria de crédito, objeto de
negociação no âmbito do comitê técnico encarregado das políticas
públicas que distorcem a competitividade. O resto dos países do
Mercosul também tem linhas de financiamento oficial a
exportações, embora em menor magnitude.
Os regimes alfandegários especiais, como os “draw back”
e a admissão temporária, podem ser utilizados no comércio
intrazona exclusivamente para os insumos, partes ou peças
utilizadas na fabricação de bens que sejam exceção da Tarifa
Externa Comum ou para aqueles produtos cujos insumos são
exceções na Tarifa Externa Comum e superam os 40% do valor FOB
do produto final. O objetivo dessa limitação é evitar que os
benefícios desses regimes sejam estendidos a fornecedores de
terceiros países. Sem dúvida, os Estados-membros têm usado esses
regimes de maneira generalizada.
3.6 - Tributação dos Estados-membros 3.6.1 - Brasil
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O sistema tributário nacional é dividido em três formas
distintas de Direito Público, tais como: União, estados e
municípios. A Constituição Federal não cria tributos e, sim
atribui competências às fontes de receitas, para recolher
impostos.
A União possui como receita tributária sete impostos, a
saber: Imposto de Importação, Imposto de Exportação, Imposto de
Renda, Imposto sobre Produtos Industrializados, Imposto sobre
Operações Financeiras, Imposto Territorial Rural e Imposto sobre
Grandes Fortunas. Já o estado arrecada quatro tributos, tais
como: Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços,
Imposto de Transmissão Causa Mortis, Imposto sobre Propriedade
de Veículos Automotores e Adicional Estadual do Imposto de
Renda. O município possui três impostos para arrecadar receitas,
descritos a seguir: Imposto sobre Serviços, Imposto de
Transmissão Intervivos e Imposto sobre Vendas a Varejo de
Combustíveis.
O Brasil optou por dividir o Imposto sobre Valor
Agregado,(IVA), entre duas fontes de receitas tributárias
distintas (União e estado): os impostos que incidem sobre a
produção (Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI) e sobre
a Circulação (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
- ICMS); ambos, a exemplo do IVA europeu, são de natureza não-
acumulativa.
3.6.2 - Argentina
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Os tributos na Argentina também são divididos em três
níveis: federal, estadual (províncias) e municipal.
A maior fonte de receita para o governo federal provém
dos seguintes tributos: Imposto sobre Valor Agregado, Imposto de
Importação, Exportação e Imposto sobre a Renda. As províncias
tem o direito de coletar tributos sobre a propriedade, veículos
e selos.
A Argentina é o único Estado-membro do Mercosul, que
adota a forma de tributação internacional da renda(princípio da
universalidade)pelo critério da residência. Essa avaliaçao pode
ocasionar, futuramente, alguns problemas, em especial, para as
empresas binacionais.
Na Argentina, o IVA é um imposto de competência do
governo federal e funciona da mesma forma que o ICMS brasileiro:
é gravado à alíquota de 18%, com extensão a 27%. Os tributos
argentinos são os seguintes: Imposto de Renda Pessoa Jurídica,
Imposto sobre Ativos, Imposto sobre Valor Agregado, Imposto de
Exportação e Imposto sobre Ativos Pessoais.
3.6.3 - Paraguai
O sistema tributário no Paraguai apresenta certas
singularidades, dentre as quais destacam-se a desoneração ao
pagamento do Imposto de Renda para as pessoas físicas, e a
existência do decreto 19.189, o qual outorga uma série de
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benefícios fiscais e creditícios, visando atrair o capital
estrangeiro.
Em 1992, entrou em vigor o Imposto sobre Valor
Agregado, que onera todas as transações comerciais, inclusive
serviços, tendo por base o valor da operação. A alíquota inicial
foi de 8%.
Os impostos mais importantes que incidem sobre a renda
e o consumo são: Imposto de Renda Pessoa Jurídica, Imposto
Imobiliário, Imposto Seletivo de Consumo, Imposto sobre a
Comercialização Interna do Gado, Imposto sobre Ativos e
Documentos, Imposto Aduaneiro e Contribuição para a Seguridade
Social.
3.6.4 - Uruguai
O Uruguai tem um sistema tributário muito simples e a
sua legislação distingue basicamente as corporações em
residentes e não-residentes. Para as primeiras haverá incidência
normal de Imposto Renda das Pessoas Jurídicas, sobre os
rendimentos produzidos pelas fontes locais à alíquota de 30%.
As empresas consideradas não-residentes (SAFI), pela
legislação uruguaia, são regidas por um sistema fiscal
diferenciado e mais benéfico.
Outra particularidade do sistema tributário uruguaio é
que as pessoas físicas são totalmente isentas do Imposto Renda
local.
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O Uruguai instituiu o IVA, que onera serviços e
mercadorias, o que compreende bens provenientes da
agroindústria, imóveis, combustíveis, etc., assim como os
serviços em geral. Suas alíquotas variam de 12% a 22%. As
exportações são completamente isentas de impostos.
O sistema tributário do Uruguai apresenta-se da
seguinte forma: Imposto de Renda Pessoa Jurídica, Imposto de
Renda na Fonte, Imposto sobre Valor Agregado e Imposto Especial.
Toda a lógica do Mercosul baseia-se no cálculo de
custos e benefícios. O Mercosul, existe, antes de mais nada,
porque os quatro países entendem que os benefícios de eliminar
as tarifas no comércio entre eles são maiores que os benefícios
de manter essas tarifas, e justificam todo o desafio que a
integração implica.
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CAPÍTULO IV
A TARIFA EXTERNA COMUM ( TEC )
Para um país pequeno, que não apresenta distorções
domésticas, a recomendação clássica é o livre comércio, que
maximiza a renda ( pelo menos no sentido potencial) via uma
alocação de recursos compatível com as vantagens comparativas.
Entretanto, usualmente os países utilizam a tarifa aduaneira
para alcançar um ou uma combinação dos seguintes objetivos:
política industrial para favorecer os investimentos em setores
escolhidos, controle de importações para superar problemas no
Balanço de Pagamentos e aumento da receita fiscal.
Em um programa de integração econômica, a Tarifa
Externa Comum pode ser utilizada para minimizar os custos do
desvio de comércio, isto é, uma diferença entre o valor das
importações de parceiros do Mercosul, a preços superiores aos
vigentes no mercado internacional e o valor das importações
anteriormente adquiridas do resto do mundo. Isto pressupõe que,
pelos menos, uma parcela da isenção tarifária concedida aos
produtores localizados no bloco regional é apropriada sob a
forma de incrementos nos preços, cujo limite é dado pela Tarifa
Externa Comum. Dessa forma, quanto menor a TEC, mais o preço do
parceiro regional se aproxima do preço vigente no resto do
mundo, fazendo com que o custo do desvio de comércio tenda a
zero.
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A Tarifa Externa Comum é, obviamente, comum. Até 31 de
dezembro de 1994, Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai tinham
cada qual suas próprias tarifas. A partir de primeiro de janeiro
de 1995, passaram a ter uma mesma tarifa - a Tarifa Externa
Comum, ou TEC, de difícil negociação.
As tarifas nacionais vigentes em cada país do Mercosul
até 1994 eram muito diferentes entre si. De um modo geral, a
tarifa brasileira era um pouco mais alta do que a tarifa
argentina e muito mais alta do que as tarifas paraguaia e
uruguaia. Se essa situação persistisse, combinada com o livre
comércio intrazona, ter-se-iam dois efeitos:
a) um grande diferencial nas condições de concorrência: um
produtor brasileiro que necessitasse importar seus insumos e
máquinas de fora da região pagaria tarifas mais elevadas do que
o produtor argentino, pelos mesmos insumos e máquinas. Essa
diferença refletiria nos preços, e o produtor argentino estaria
em melhores condições de competir no mercado brasileiro do que o
brasileiro no mercado argentino;
b) margens de preferência muito baixas: se o produtor brasileiro
tem acesso ao mercado uruguaio com tarifa zero para seu produto,
mas ao mesmo tempo o Uruguai pode importar esse produto com
tarifa de 2% de um país de fora do Mercosul, a margem de
preferência do exportador brasileiro é muito pequena. Quanto
maior for a tarifa cobrada de terceiros, maior será a margem de
preferência e, portanto, maiores as vantagens do produtor de um
país do Mercosul nos mercados dos demais membros, em relação à
convergência de produtos de terceiros países.
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A Tarifa Externa Comum aprovada para o Mercosul tem uma
média de 12%, uma amplitude de 0% a 20% e apresenta alíquotas
crescentes em dois pontos de percentagem, de acordo com o grau
de elaboração ao longo da cadeia produtiva. Assim, as alíquotas
dos insumos variam entre 0 e 12%, as de bens de capital de 12 a
16% e as de bens de consumo de 18 a 20%.
A negociação da Tarifa Externa Comum foi uma ocasião
muito importante para o Brasil, levando a uma revisão de sua
estrutura tarifária, no sentido de proporcionar maiores
estímulos à competitividade. As alíquotas da Tarifa Externa
Comum são, de um modo geral, mais baixas do que as alíquotas das
tarifas brasileiras antes vigentes, e trazem a concorrência
externa para mais perto do produtor brasileiro. Ao adotar a
Tarifa Externa Comum, os demais países do Mercosul, sobretudo
Paraguai e Uruguai, estão conscientemente renunciando à
possibilidade de adotar o modelo de plataforma de exportações,
em favor de um processo de mudança econômica de resultados mais
lentos, porém mais sólidos.
De maneira geral, o resultado obtido indica um modelo
de integração aberto ao resto do mundo. A principio, duas
críticas poderiam ser feitas a esta estrutura tarifária: a
primeira, ao número excessivo de alíquotas, em detrimento de uma
simplicidade maior na administração aduaneira: e a segunda, à
falta de uniformidade da proteção efetiva, pois privilegiou-se a
escalada na tarifa nominal, com o objetivo de assegurar uma
proteção efetiva crescente, em cada etapa da estrutura
produtiva. Assim, encontrarm-se tarifas efetivas diferenciadas
para produtos com processos tecnológicos similares. Entretanto,
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um número grande de alíquotas permitiu acomodar mais facilmente
os interesses dos quatro países, enquanto a escalada da tarifa
nominal reproduziu o antigo dogma predominante na América do
Sul, de que as proteções efetivas de bens finais devem ser
superiores às de bens intermediários e às de bens de capital,
fato que não encontra respaldo teórico.
Uma solução para os produtos que geravam mais
controvérsia, em decorrência de tarifas nacionais muito
distantes, foi aceitar temporariamente tarifas diferenciadas, de
modo que o ônus de maior tarifa fosse assumido apenas pelo
próprio país. Assim, a Tarifa Externa Comum permite exceções
para três grupos de produtos: o primeiro é composto de bens de
capital (900 itens tarifários) e produtos de informática e
telecomunicações (200 itens tarifários), nos quais as tarifas
nacionais eram bastante distintas e tiveram um processo de
negociação específico; o segundo grupo, denominado Lista de
Exceção Nacional, abrange os produtos para os quais cada país
considerava inapropriada uma mudança repentina na tarifa
nacional, por motivos protecionistas ou para evitar impacto
sobre os custos de produção ou investimento, e o terceiro,
chamado Lista de Exceção para o Regime de Adequação, compreende
os bens cujo período de transição foi insuficiente para
enfrentar a livre competição com os demais produtores do grupo
regional.
Sob a ótica brasileira, o resultado para o primeiro
grupo de produtos foi bastante satisfatório pois, apesar das
reduções tarifárias aceitas no processo de negociação terem
acarretado uma falta de uniformidade das proteções efetivas
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54
entre as categorias de uso, a Tarifa Externa Comum ainda
assegura um nível de proteção razoável para a produção
doméstica. Para o setor de bens de capital, cuja produção é
geográficamente mais concentrada no Brasil, a tarifa externa
modal é de 14%, inferior em seis pontos de percentagem à tarifa
modal brasileira para o setor, mas bastante superior às
efetivamente pagas nos países-sócios. Para os produtos de
informática e telecomunicações, a tarifa externa é de 16%,
contra uma tarifa de 35 e 40%, respectivamente, no Brasil, que é
o único produtor regional. Evidentemente, este nível de proteção
não seria compatível em uma economia com fortes vínculos
comerciais com o exterior. Além disso, os incentivos domésticos
foram mantidos, o que assegura a isenção de IPI de 15% para os
produtos que cumprem o processo produtivo básico, ao passo que
este tributo incide sobre os produtos adquiridos do resto do
mundo. Para evitar que o custo do desvio de comércio, provocado
pela substituição das importações do resto do mundo pelas
compras a preços mais elevados dos parceiros do bloco comercial,
seja assumindo instantaneamente pelos sócios importadores, foi
fixado um programa de convergência linear até o ano 2001, para
bens de capital, e 2006, para os bens de informática e
telecomunicações.
No segundo grupo, para contornar as mudanças abruptas
nas tarifas nacionais, cada país apresentou produtos em uma
Lista de Exceção Nacional, cujas alíquotas vigentes deverão
convergir linearmente à Tarifa Externa Comum no prazo de cinco
anos. O Brasil, ao contrário do esperado, evitou inicialmente o
viés protecionista e privilegiou apenas uma lista preliminar de
175 produtos com alíquotas inferiores à tarifa externa, com o
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intuito de evitar pressões de custos em sua economia.
Posteriormente, em abril de 1995, o governo brasileiro preencheu
a quota de 300 itens tarifários, limite previsto para a Lista de
Exceção Nacional. A Argentina, o Paraguai e o Uruguai indicaram
de forma preliminar, respectivamente, 170, 219 e 212 produtos
para a Lista de Exceção Nacional. A quota de bens para a
Argentina é idêntica à do Brasil, enquanto o Paraguai e o
Uruguai poderão apontar 399 produtos cada um.
No terceiro grupo, por pressão do governo argentino, e
com o objetivo específico de acomodar os problemas regionais de
competição, foi criado um Regime de Adequação, que manterá as
tarifas nacionais com reduções lineares, que alcançarão a Tarifa
Externa Comum em cinco anos, mantendo-se desde o primeiro ano
uma margem de preferência em torno de 20%. O Brasil apresentou
uma lista de apenas 29 itens tarifários, enquanto a Argentina, o
Paraguai e o Uruguai indicaram, respectivamente, 221, 427 e 950
produtos. O elevado número de produtos permitidos ao Uruguai
reflete as concessões feitas diante das queixas uruguaias quanto
à necessidade de um mecanismo compensatório para os países
pequenos em virtude da Tarifa Externa Comum aprovada ser muito
próxima à estrutura vigente no Brasil. Os produtos listados pelo
Uruguai compreendem aqueles já abrangidos pelo PEC e CAUCE, que
desfrutarão, durante o período de convergência, de um regime de
origem mais favorável.
Para a indústria automobilística, os regimes nacionais
existentes foram mantidos com pequenas adaptações, através da
concessão de tratamento nacional para os produtos similares
produzidos na região e de maior preferência aos produtores
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regionais de autopeças. No Brasil, os carros populares
fabricados na Argentina terão a mesma redução do IPI e do ICMS,
desde que atendam aos requisitos exigidos. Na Argentina, as
autopeças brasileiras terão tratamento de conteúdo nacional e
receberão a isenção do Imposto de Importação, desde, que
compensadas por vendas externas na proporção de US$ 1,20
adquirindo no Brasil por US$ 1 exportado, enquanto somente US$ 1
de autopeças importadas do resto do mundo usufruirá da isenção
da Tarifa Externa Comum para cada US$ 1 exportado. Na realidade,
apesar das concessões realizadas pela Argentina, o seu regime
automotriz manteve as restrições ao livre fluxo de automóveis e
autopeças no Mercosul.
O governo brasileiro, preocupado com as projeções
iniciais do déficit na balança comercial feitas no final de
março de 1995, elevou as tarifas de cerca de 109 bens de consumo
duráveis, tais como automóveis, televisores, radiogravadores e
toca-discos a laser. Ademais, com o intuito de pressionar os
preços domésticos, solicitou a inclusão de mais 150 produtos na
Lista de Exceção Nacional, 61 dos quais podem ser revisados e
substituídos a cada três meses, ficando os restantes sujeitos a
uma revisão anual.
O Paraguai também procurou manter o acesso a
importações de matérias-primas no mercado internacional, sem o
pagamento da Tarifa Externa Comum. Em conseqüência, decidiu-se
permitir a importação pelos países sócios de até 50 produtos sem
pagamento da Tarifa Externa Comum, nos casos de insuficiência da
oferta regional e sob a aprovação da Comissão de Comércio do
Mercosul.
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57
O livre comércio sem Tarifa Externa Comum seria
prejudicial sobretudo para o Brasil: sem a TEC, os produtos
brasileiros poderiam perder espaço em seu próprio mercado para
produtos dos demais países do Mercosul (que importariam insumos
e máquinas a custos menores); muitos investidores externos
prefeririam instalar-se nos outros países, e não no Brasil; e os
produtos brasileiros teriam pouca vantagem no mercado dos demais
países. A TEC existe também como instrumento de estímulo à
competitividade. Tarifas muito elevadas fornecem proteção
excessiva ao produtor local, e o desincentivam a buscar um
imcremento da competitividade, já que a tarifa garante um
diferencial entre seu preço e o preço do produto importado.
Com a adoção da TEC, politicamente, o grau de
compromisso dos países membros com o processo de integração
atinge um patamar muito mais alto do que aquele envolvido no
livre comércio intrazona. Esse novo patamar é atingido não só
pelo fato de a TEC ser comum, mas sobretudo porque ela só pode
ser alterada em comum. A política tarifária, desde primeiro de
janeiro, deixou de ser uma questão individual para tornar-se um
instrumento que pertence aos quatro, e só pode se administrado
pelos quatro em conjunto. A TEC representa, assim, uma
transferência de soberania.
A ausência de uma Tarifa Externa Comum significaria a
estagnação do processo integrador na fase de Zona de livre
Comércio. Se no Mercosul, tivesse havido a renúncia a uma Tarifa
Externa Comum, no dia seguinte começariam as idéias de rever o
livre comércio intrazona, de limitá-lo, excetuar setores, criar
mecanismos de restrição para equilibrar os fluxos de comércio,
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dar prazos muito longos para a convergência dos setores
sensíveis, tudo condicionado ao equilíbrio macroeconômico dos
parceiros.
A Tarifa Externa Comum constitui, ainda, um fator de
respeitabilidade do Mercosul no cenário internacional . Não é
todos os dias que quatro países adotam uma Tarifa Externa Comum.
Ao fazê-lo, dão prova de seriedade e solidez do processo em que
estão engajados, demonstram maturidade e eficiência negociadora.
Se são capazes de superar as diferenças e definir uma TEC entre
eles, também se prevê que sejam capazes de negociar, de forma
construtiva, acordos com países de outras regiões. A TEC existe,
antes de mais nada, para equalizar as condições de concorrência
e garantir margens de preferência para o produtor regional, em
relação ao produto extrazona.
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CAPÍTULO V
O MERCOSUL E AS RELAÇÕES ECONÔMICAS EXTERNAS
A consolidação do Mercosul fortalece a capacidade dos
países membros de elevar sua competitividade e seu desempenho. A
formação de zonas de livre comércio com outras regiões e
sistemas é um dos temas prioritários na agenda da inserção do
Mercosul no resto do mundo. Até para o Brasil, que, como “global
trader” não depende de um só parceiro.
O dinamismo revelado pelo comércio intralatino-
americano nos últimos dez anos mostra o potencial dos
intercâmbios do Mercosul com o resto da América Latina. O caso
do Chile é particularmente significativo pela importância de
suas relações com a Argentina e pelo potencial dos outros
integrantes do mercado sub-regional.
No atual contexto, as opções de ampliação do processo
de integração do Mercosul envolvem três possibilidades efetivas:
negociações com os países da Aladi; negociações com os EUA (ou
NAFTA); e negociações com a União Européia (UE).
As exportações brasileiras para a Aladi e para os
Estados Unidos são mais concentradas em produtos manufaturados
quando comparadas, por exemplo, com a pauta de exportação para a
União Européia, mais especializada em produtos básicos. Isto
significa que os EUA e a América Latina são os mercados que, do
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ponto de vista da demanda por importações, apresentam maior
dinamismo para o comercio exterior do Mercosul.
As maiores dificuldades para o estabelecimento de
esquemas de preferência comercial com a União Européia residem
no enfoque da exportação do Mercosul para aquele conjunto de
países. A Política Agrícola Comum (PAC), bem como as
preferências negociadas com os países do Tratado de Lomé,
limitam significativamente a abrangência da possíveis concessões
que o Mercosul obteria no âmbito de um acordo com a UE (alguns
produtos de clima temperado, produzidos especialmente pela
Argentina, por exemplo, certamente ficariam excluídos de um
provável acordo).
Embora os EUA sejam um dos principais mercados de
exportação de produtos manufaturados para o Mercosul, o
desenvolvimento de esquemas de negociação com este país esbarra
em dificuldades relacionados com o conteúdo da agenda de
conversações. As negociações que envolveram o estabelecimento do
NAFTA demonstram a amplitude das concessões feitas pelo México
em áreas não diretamente relacionadas ao comércio de bens.
A proposta brasileira de estabelecer uma Área de Livre
Comércio Sul Americana (ALCSA) pretende colocar a aproximação do
Mercosul com os outros países latino-americanos (ou entre os
diversos blocos regionais) em um esquema global de
liberalização do comércio. Uma abordagem global da América
Latina parece uma estratégia adequada.
Os vínculos com a área da Ásia e Pacífico constituem o
outro grande espaço com o qual se abrem possibilidades de
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61
formalização de entendimentos comerciais de tipos diferentes.
Existem, de fato, boas possibilidades de ampliar as relações do
Mercosul com a região de mais intenso crescimento, de produção e
comércio no mundo. O Chile tem investido muito em promoção de
seus produtos naquela região e realizou este ano a primeira
reunião dos presidentes de países da bacia do Pacífico na
América do Sul. O Brasil foi convidado a participar.
A formação do Mercosul se dá num momento de
liberalização das trocas mundiais de bens, serviços e fatores.
Ao mesmo tempo, a Rodada Uruguai do GATT dispôs um conjunto de
regras do jogo em todos os campos, que será administrado pela
Organização Mundial do Comércio.
5. 1 - Relações com a Aladi
O Mercosul é um participante ativo nas relações
comerciais intra-Aladi. Efetivamente, em 1995, seus membros
contribuíram com 64,4% do total das exportações feitas pelos
membros sul-americanos da Aladi e com um terço das exportações
totais dos países da América Latina e do Caribe. Do mesmo modo,
as exportações intra-Mercosul representaram 60,3% das
exportações intrazona dos membros sul-americanos da Aladi e
35,6% das exportações intrazona totais dos países da América
Latina e do Caribe. Para o Mercosul, esses fatos são de vital
importância na rede de acordos comerciais preferenciais que
vincula as economias da região.
Nesse período, foram concluídos vários acordos de livre
comércio com o Chile (junho de 1996) e Bolívia (dezembro de
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62
1996). Com os demais membros da Associação, foram desenvolvidas
negociações de diferentes níveis e intensidade.
As negociações entre o México e o Mercosul foram
acertadas por um acordo de caráter transitório, essencialmente
comercial, que substituirá os acordos vigentes no marco da
Aladi. Cobrirá os produtos que constam do “patrimônio histórico”
e outros produtos de interesses para os países participantes.
As negociações com os membros do Grupo Andino têm
avançado mais lentamente, devido às dificuldades para definir o
formato do acordo. Os países do Mercosul também avaliaram que as
renegociações do “patrimônio histórico” não atendiam aos
interesses do grupo, nem estabeleciam as bases para o
desenvolvimento futuro de um acordo do livre comércio. Por isso,
ficou acertado estenderem as negociações e o prazo de vigência
dos acordos bilaterais até o final de 1997.
5. 1.1 - Livre Comércio com o Chile
Em junho de 1996, depois de dois anos de negociações, o
Mercosul concluiu um acordo de livre comércio com o Chile, o
qual passou a vigorar em primeiro de outubro do mesmo ano, sob a
forma de um Acordo de Complementação Econômica (ACE). Para o
Mercosul, a importância do acordo com o Chile está não só no
potencial de comércio envolvido senão, também, na sua
importância como padrão e precedente de futuras negociações com
os demais membros da Aladi. Efetivamente, o acordo com o Chile
foi o primeiro convênio de livre comércio do Mercosul com
terceiros países.
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63
As diferentes posturas negociadas do Chile e do
Mercosul ficaram evidentes desde a primeira rodada de
negociações, celebrada em setembro de 1994, envolvendo âmbitos
tão diversos como a cobertura do acordo; a mobilidade de
eliminação de tarifas; o tratamento do “patrimônio histórico”,
produtos novos, sensíveis e exceções; o tratamento da
Preferência Tarifária Regional (PTR); as restrições não-
tarifárias; e os critérios a aplicar frente a negociações extra-
regionais e modificações da tarifa geral.
O Acordo de Complementação Econômica, assinado em junho
de 1996, incluiu um programa de liberação comercial, que
contempla eliminações progressivas e automáticas sobre as
tarifas vigentes para terceiros países. Foi estabelecido um
programa de Eliminação Geral para oito anos, que começa com uma
preferência inicial de 40%, uma lista de produtos sensíveis para
dez anos, que começa com uma diminuição de 30% fixos durante
três anos e reduções lineares a partir do quarto; uma lista de
produtos sensíveis especiais com três anos de carência nos
quais se mantém a tarifa completa e a eliminação linear entre o
quarto e o décimo ano; uma lista de produtos de alta
sensibilidade nos quais a eliminação só começa a partir do
décimo ano e é prolongada até o décimo quinto(com a exceção do
açúcar, cuja eliminação começa no décimo primeiro ano e é
concluído no décimo sexto) e, finalmente o caso do trigo e da
farinha de trigo, que estarão totalmente eliminados no décimo-
oitavo ano, segundo uma metodologia a ser definida no oitavo ano
de vigência do acordo.
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5.1.2 - A Incorporação da Bolívia
O Mercosul e a Bolívia assinaram um Acordo de
Complementação Econômica que entrou em vigor em primeiro de
abril de 1997, incluindo um Programa de Liberalização Comercial
que, de forma paulatina e automática, liberalizará o comércio
recíproco. A Bolívia foi autorizada, pelos seus sócios do Grupo
Andino, a negociar individualmente.
A Bolívia concluiu a negociação pendente do acordo de
livre comércio, baseada numa decisão com vários fundamentos e
sustentações. Do ponto de vista do governo, a Bolívia não
poderia ingressar como membro pleno no Mercosul, uma vez que no
Tratado de Assunção, há uma clausula assinalando que, em um
prazo de cinco anos de vigência do Tratado, não poderão fazer
parte do Mercosul, os países que pertencem a outros acordos
regionais. Os impedimentos de caráter político se referiam a uma
possível deterioração que tal decisão poderia ter em suas
relações com outros países. Ao mesmo tempo que a Bolívia não
poderia ficar plenamente dentro do Mercosul, também havia plena
consciência de que não poderia estar totalmente fora.
Em primeiro lugar, é preciso ter em conta que a
negociação entre a Bolívia e o Mercosul teve características
diferentes, tanto políticas como econômicas, da negociação do
Mercosul com o Chile. Embora houvesse uma vontade política de
negociar com a Bolívia, essa vontade não teve a mesma ênfase que
na negociação com o Chile. Isso ocorreu, principalmente, pelo
lado do Brasil e da Argentina, havendo um interesse forte que
foi percebido até pelo noticiário da imprensa. Foram os
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bolivianos que tiveram que dar impulso permanente às
negociações.
Como no caso do acordo com o Chile, o convênio com a
Bolívia inclui diferentes categorias de produtos sensíveis,
alguns dos quais manterão um prazo de dez anos para a eliminação
total, mas partindo de margens menores de preferência e o seu
congelamento por um número variado de anos. Um grupo de bens
terá sua eliminação adiada até janeiro de 2005 e atingirá uma
margem de preferência de 100% em quinze anos. Os produtos
correspondentes à cadeia produtiva do açúcar e das oleaginosas
terão suas tarifas eliminadas, totalmente, após dezoito anos do
início do acordo. O Acordo de Implementação Econômica inclui
aspectos normativos vinculados às restrições não-tarifárias,
regime geral de origem, medidas de salvaguarda e mecanismos de
solução de controvérsias.
Um dos principais obstáculos para uma vinculação mais
intensa entre as economias do Mercosul e a Bolívia é a carência
de infra-estrutura adequada de transporte. Ainda não existe uma
ligação terrestre por rodovia, operável sob qualquer condição
climática entre a Bolívia e o Brasil ou o Paraguai, e as
conexões com a Argentina são precárias.
Para os países do Mercosul, o comércio envolvido com a
Bolívia não é significativo em termos globais, mas o acordo
representa um passo importante no sentido de constituir uma rede
de acordos de livre comércio sul-americanos vinculados à união
alfandegária. A Bolívia também tem o potencial de se transformar
em um importante fornecedor de gás natural a centros urbanos
brasileiros.
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A Bolívia é o primeiro país da Aladi que tem acordos de
livre comércio com nove países, faltando unicamente o Chile, com
o qual se espera avançar alguma coisa no próximo ano. A Bolívia
é um país que já tem praticamente aberto o mercado regional, o
que lhe confere um papel importante no projeto de corredor
inter-oceânicos.
5.2 - A União Européia e o Mercosul
Foi realizado um acordo de cooperação interregional
entre a U.E e o Mercosul, firmado em dezembro de 1995, que
constitui um instrumento, um passo intermediário para se chegar,
posteriormente, a uma associação interregional. Esta associação
contempla elementos de ordem política e econômica, compreendendo
cooperação política, direcionamento comercial, promoção de
investimentos e cooperação econômica, técnica e tecnológica.
As negociações Mercosul-União Européia abrangem uma
ampla variedade de temas e se encontram em uma fase de
levantamento de informações. A falta de cronogramas de
trabalho, a envergadura da tarefa e o conteúdo da agenda não
permitem antecipar resultados concretos em um futuro próximo.
Contudo, o procedimento desenhado proporciona um marco de alto
nível para o desenvolvimento de intercâmbio e, eventualmente, a
liberalização do comércio entre os grupos.
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5.3 - Negociações com a Alca
As relações com o principal mercado do hemisfério são
de singular importância para o Mercosul.
A criação da Alca começou a ser discutida, em dezembro
de 1994. foram propostos sete grupos de trabalho que abordariam
os seguintes temas: acesso a mercados; procedimentos aduaneiros
e regras de comércio; investimentos; padrões e barreiras
técnicas ao comércio; medidas sanitárias e fitossanitárias;
subsídios, anti-dumping e direitos compensatórios, e economias
menores. Houve um má interpretação por parte do Brasil ao
entender que, em 2005, referia-se à negociação da Alca e não à
sua concretização.
Por existir muitos países envolvidos no mesmo assunto,
surge um problema de falta de técnicos especializados para
acompanhar a discussão. Esses investimentos, que muitas vezes
são públicos, pesam no orçamento dos países pobres e, é preciso
o apoio do setor privado, principalmente dos empresários para
dar continuidade a essas pesquisas.
Não há dúvidas de que o ritmo e o andamento do processo
hemisférico dependerão em boa parte da iniciativa e do
compromisso dos Estados Unidos. Do mesmo modo, é igualmente
evidente que o processo hemisférico dificilmente poderá avançar
sem uma participação construtiva e dinâmica do Mercosul.
Os membros do Mercosul conduzem a sua participação no
processo da Alca por meio da coordenação feita no marco do Grupo
ad hoc de Relações Externas Mercosul-Alca, onde são feitas
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reuniões prévias de coordenação em todas as instâncias. Os
membros do Mercosul têm advertido quanto à necessidade de
desenvolver um esforço de negociação intra-subregional em áreas
onde ainda não existe uma posição comum, reservando-se o direito
de atuação individual nesses casos, ante prévia notificação aos
demais estados.
Para a formatação da Área de Livre Comércio das
Américas - Alca, pretendem os EUA utilizar a estrutura do Nafta.
Para países como o Brasil e a Argentina, a adesão à Alca
formatada nos moldes do Nafta seria um desastre sem precedentes.
Esse desastre seguramente ocorreria no setor de serviços, que
representa mais de 50% do PIB brasileiro. O setor financeiro
migraria em grande parte para os EUA, que passariam a ser o
local mais atraente para a presença comercial de terceiros
países. Isso representa uma hipótese na qual o Brasil não teria
nada a ganhar e tudo a perder.
Priorizar o aprofundamento destas relações implica a
necessidade de integração que permita tratar uniformemente os
distintos parceiros comerciais de forma a garantir a conformação
gradual de relações comerciais estáveis e livres de obstáculos.
Todas as discussões para a formação da Área de Livre
Comércio das Américas (Alca) esbarram no enorme peso da economia
dos Estados Unidos dentro do Grupo. São 34 países do continente
porque só Cuba está de fora - mas, o Produto Interno Bruto (PIB)
dos EUA corresponde a mais de três vezes a soma do PIB dos
outros 33 países, Em números, EUA são 75,6% do PIB da Alca. DO
ponto de vista da presença mundial, o Mercosul consegue ter
alguma expressão entre os blocos que compõem a Alca. É também
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disparada a vantagem do Nafta, o acordo de livre comércio que
reúne Estados Unidos, Canadá e México, com 80,01% das
exportações e exportações do continente. O Mercosul vem em
segundo, com 5,76%. Menor expressão tem o Pacto Andino (Bolívia,
Colômbia, Equador, Peru e Venezuela), com participação de 2,39%.
É preciso ter cautela nas negociações de acesso a
mercados no contexto da Alca. O Brasil, com o parque industrial
mais diversificado da América Latina, poderia sair fortemente
prejudicado, uma vez que a ampla abertura do mercado brasileiro
aos manufaturados dos norte-americanos poderia colocar em risco
as indústrias nacionais.
Não há dúvidas de que o ritmo e o andamento do processo
hemisférico dependerão em boa parte da iniciativa e do
compromisso dos Estados Unidos. Do mesmo modo, é igualmente
evidente que o processo hemisférico dificilmente poderá avançar
sem uma participação construtiva e dinâmica do Mercosul.
Definitivamente, o contexto mundial contemporâneo
estabelece desafios e oportunidades. A capacidade de prevenir-se
dos primeiros e aproveitar os segundos, depende da firmeza e
lucidez do espírito comunitário. O sistema está, agora, na
metade do caminho e as decisões estratégicas de segunda geração
serão cruciais para determinar se o Mercosul será um instrumento
efetivo para o desenvolvimento humano sustentável através da
consolidação da identidade dos países-membros e seu crescimento
autoconcentrado em um mundo global. Ou, ao contrário, será
apenas um novo esquema de liberalização comercial de resultados
modestos e, certamente, incapaz de contribuir para a resolução
dos problemas fundamentais.
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CONCLUSÃO
O presente trabalho concluiu que, efetivamente, o
Mercosul tem sido um processo extremamente benéfico para todos
os seus membros. Na esfera econômica, a integração vai gerando
mais riqueza, mais comércio e mais investimentos, e estimula a
busca de maior eficácia das políticas públicas. O Mercosul
contribui eficazmente, por outra parte, para a consolidação do
regime democrático em seus países-membros. A intensidade, a
fluidez, a franqueza dos contatos entre os quatro Estados
pressupõem e reforçam, também, no plano interno de cada um
deles, a convivência democrática. O engajamento em um projeto
internacional dinâmico e participativo como o Mercosul é
compatível com qualquer opção interna que necessita desse mesmo
espírito de abertura. Assim, o processo integrador externo e o
processo democrático interno se constroem sobre o mesmo conjunto
de valores.
O Mercosul é ainda uma entidade desconhecida por grande
parte dos brasileiros. Metade da população sabe da existência do
Mercosul, enquanto a outra metade simplesmente não sabe dizer o
que é. Entre estes, 20% jamais ouviram falar a respeito do bloco
econômico formado entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai,
criado em 1991.
O Mercosul tem produzido equilíbrio de benefícios. Os
seis anos já decorridos desde o início do processo indicam
claramente que todos os países-membros obtiveram benefícios.
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Cabe ressaltar que esses benefícios foram provavelmente
mais expressivos para o Brasil e Argentina do que para o Uruguai
e Paraguai. O aumento de exportações com destino ao Mercosul e
do afluxo de investimentos motivados pelo processo integrador
vem se dando de forma menos acelerada nos dois países menores.
Este fato pode ser explicado por dois elementos: inicialmente,
as economias uruguaia e paraguaia, por possuirem setores
produtivos menos diversificados, e por trabalharem
tradicionalmente com escala mais reduzida, respondem mais
lentamente às oportunidades geradas pelo Mercosul; a segunda
razão é um aumento, em âmbito nacional, dessa realidade do nível
empresarial, exigindo uma grande transformação nas economias
paraguaia e uruguaia e uma nova estratégia de desenvolvimento.
Assim os dois sócios menores vão maximizar seus benefícios
dentro do Mercosul. Essa questão avalia o enorme esforço
político que os governos paraguaio e uruguaio têm empreendido
para participar plenamente do processo de integração.
O ponto de equilíbrio talvez possa ser alcançado a
partir da visão de que o Mercosul é, atualmente, um projeto e,
também, um patrimônio. Esse duplo movimento permite
correlacionar a lógica interna do processo à sua dimensão
econômica e social.
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BIBLIOGRAFIA A ALCA e a nova face do imperialismo. Gazeta Mercantil, Rio de Janeiro, 10 mai.1997. ALMEIDA, Fernando Roberto de Freitas. Alca e a Regionalização na América Latina. Agroanalysis. FGV/IBRE. Rio de Janeiro: vol. 17, n.º 9, set.1997. p.14-17. ANDIMA : Relatório Econômico Mercosul - O desafio da Integração do Cone Sul. BAPTISTA, Luiz Olavo. Mercosul: A estratégia legal dos negócios. São Paulo: Maltese, 1994. p.73-85. DONAT, Osvaldo Moreira. Alca, Visão Estratégica do Setor Privado. Gazeta Mercantil, Rio de Janeiro, 27/02/97. FERRER, Aldo. Mercosul: Trajetória, Situação Atual e Perspectivas. Revista Brasileira do Comércio Exterior. Rio de Janeiro, n.º 46, p. 53-62, jan./mar. 1996. FLORÊNCIO, Sergio Abreu e Lima. ARAÚJO, Ernesto Henrique Fraga. Mercosul Hoje. São Paulo: Alfa-Ômega, 1996. 109 p. Gazeta Mercantil Latino Americana - Semanário do Mercosul, Gazeta Mercantil, Rio de Janeiro, 17 a 23 de junho de 1996, ano 1, n.º 11. Gazeta Mercantil Latino Americana - Semanário do Mercosul, Gazeta Mercantil, Rio de Janeiro, 08 a 14 de julho de 1996, ano 1, n.º 14. Gazeta Mercantil Latino Americana - Semanário do Mercosul, Gazeta Mercantil, Rio de Janeiro, 03 a 09 de março de 1997, ano 1, n.º 47. Gazeta Mercantil Latino Americana - Semanário do Mercosul, Gazeta Mercantil, Rio de Janeiro, 10 a 16 de março de 1997, ano 1, n.º 48. Gazeta Mercantil Latino Americana - Semanário do Mercosul, Gazeta Mercantil, Rio de Janeiro, 24 a 30 de março de 1997, ano 1, n.º 50. Gazeta Mercantil Latino Americana - Semanário do Mercosul, Gazeta Mercantil, Rio de Janeiro, 31 de março a 06 de abril de 1997, ano 1, n.º 51. Gazeta Mercantil Latino Americana - Semanário do Mercosul, Gazeta Mercantil, Rio de Janeiro, 14 a 20 de abril de 1997, ano 2, n.º 53.
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73
Gazeta Mercantil Latino Americana - Semanário do Mercosul, Gazeta Mercantil, Rio de Janeiro, 26 de maio a 1º de junho de 1997, ano 2, n.º 59. Informativo Mercosul. CEF. Rio de Janeiro, p.58-611, dezembro/96 - janeiro/97. KUME, Honorio. Mercosul - 1995: Uma avaliação preliminar. Perspectivas IPEA 1996. Rio de Janeiro, p.157-185, 1996. MARQUES, Renato. Os desafios para o Mercosul. Revista Brasileira do Comércio Exterior. Rio de Janeiro, n.º 50, p.6, jan./mar. 1997. MENDOZA, Miguel Rodríguez. Afinal, que Mercosul é este? Revista Brasileira do Comércio Exterior. Rio de Janeiro, n.º 50, p.19-24, jan./mar. 1997. METADE do país ignora o que é Mercosul. Gazeta Mercantil, Rio de Janeiro, 24 mar.1997. PAÍS lucra mais com U.E. do que com Alca. Gazeta Mercantil, Rio de Janeiro, 02,03 e 04 mai.1997, p.A-4. REGO, Elba Cristina Lima. O Processo de Constituição do Mercosul. Texto para discussão n.º 23, BNDES. 1995. “TRATAMENTO diferenciado”. Gazeta Mercantil, Rio de Janeiro, 14 mai.1997. TRIBUTAÇÃO no Mercosul. Conjuntura Econômica. Rio de Janeiro: FGV, abr.1997. p.21-27. VENTURA, Luciano Carvalho. O Empresário e o Mercosul: o potencial dos Negócios e os Instrumentos de Gestão das Empresas. São Paulo: Maltese, 1994. p.31-34;p.57-65.
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ANEXO I
ÁREA DO MERCOSUL E SEUS RESPECTIVOS PAÍSES (EM %)
3%
23%
73%
1%
Argentina
Brasil
Paraguai
Uruguai
Fonte: Anuário Abril/1994
75
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ANEXO II
MERCOSUL : INFORMAÇÕES SÓCIO-ECONÔMICAS DOS PAÍSES INTEGRANTES (90-96)
ARGENTINA BRASIL PARAGUAI URUGUAI Área (em km2/milhões) 2,8 8,5 0,407 0,176 Balanço em conta-
corrente (em milhões)-4.200 -20.300 -540 -535
Dívida externa (em milhões)
84.000 169.000 1.335 2.750
Emprego (em %)
1,0 2,6 5,8 4,0
Expectativa de vida 72,1 66,3 70,0 72,5 Inflação IPC (em %)
1,6 22,0 10,5 35,4
Média de anos de estudo
9,2 4,0 4,9 8,1
Moeda Peso($) Real(R$) Guarani (G/)
Peso Uruguaio (Ur$)
PEA (em %)
3,2 2,7 5,6 1,9
PIB per capita (US$) 8.860 5.240 3.390 6.070 PIB real (em %) 3,5 3,0 2,0 5,0
População(em milhões)
34,6 155 5,0 3,2
Produtividade (em %)
4,1 -0,1 -2,7 2,1
Salário Mínimo (em US$)
200,00 112,00 300,00 120,00
Salário Real (em %)
0,2 5,1 -0,3 0,8
Fonte: Relatório sobre o Desenvolvimento Humano no Brasil 1996, para o Brasil; e Human Development Report 1995, para os demais países. Organização Internacional do Trabalho (OIT), Panorama laboral”96, Lima, Escritório Regional da OIT para América Latina e Caribe, 1996, sobre a base de informação da Cepal e cifras oficiais dos países. Cepal, com base em informações oficiais. Gazeta Mercantil NEST/FIERGS FMI “Exchange Arrangements and Exchange Restrictions” Annual Reports 1995, IMF Cepal, “Balanço Preliminar da Economia da América Latina e do Caribe”.
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ANEXO III
TARIFAS NO MERCOSUL: 1995
TAXAS APLICADAS TEC MERCOSUL
ARGENTINA BRASIL PARAGUAI URUGUAI Coméstiveis e animais
11,0 11,1 10,9 11,2 11,0
Bebidas e fumo 17,9 18,0 16,6 17,6 18,0 Materiais crus exceto combustíveis
5,3 5,2 5,3 5,1 5,3
Combustíveis e lubrificantes
0,7 5,4 0,5 0,6 0,7
Óleos vegetais e animais
8,2 8,0 8,2 8,1 8,2
Produtos Químicos 8,9 8,8 8,2 8,3 9,0 Bens manufaturados 13,8 13,0 12,7 12,9 13,1 Máquinas e eqptos. de transporte
10,6 16,8 6,9 6,6 13,9
Manufaturados diversos
16,8 16,6 14,8 15,3 16,2
Outros 7,1 7,1 7,1 7,1 7,1 Fonte: Juan José Echavarria, “Tarifs, Preferences and Trade Expansion in the Mercosur”, a ser publicado.