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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
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CONSUMO VERSUS IMAGEM CORPORAL
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Por: Thaís dos Santos Aquino
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Orientador
Prof. Celso Sanchez
Rio de Janeiro
2007
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE <>
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CONSUMO VERSUS IMAGEM CORPORAL
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Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em
Psicomotricidade.
Por: Thaís dos Santos Aquino
AGRADECIMENTOS
A Deus que a cada dia me proporciona
força e coragem para ir além e atingir
meus objetivos profissionais e
pessoais.
Às minhas amigas do curso pelas
alegrias e tristezas compartilhadas
tanto em nossa vida afetiva quanto
profissional.
DEDICATÓRIAS
Aos meus pais Benedito e Maria de
Lourdes pela confiança, apoio, estímulo,
dedicação que me deram para subir mais
um degrau em minha vida.
Aos meus irmãos, Tatiana e Thales, que
sempre contribuem com seus
conhecimentos e suas experiências de
vida.
"Verifiquei que a vida persiste em meio à destruição. Deve existir, portanto, uma Lei superior à destruição. Únicamente sob esta lei poder-se-a conceber uma sociedade organizada e a vida digna de ser vivida. Se esta Lei é a Lei da existência, devemos praticá-la na rotina diária. Sempre que defrontarmos com um adversário, devemos conquistá-lo com amor."
(Mahatma Gandhi)
RESUMO
Este estudo tem como objetivo analisar as interferências do consumo na
construção da imagem corporal de adolescentes. Adota-se o método
exploratório, com análise bibliográfica. Conceitua imagem corporal como
sendo uma experiência do corpo enquanto uma unidade. Sendo inseparável
da realidade circunstancial de cada momento e da individualidade de cada
pessoa. Reflete sobre o fenômeno do consumo pelo viés da Educação
Ambiental, propondo um novo estilo de vida pautado no consumo sustentável.
Relaciona consumo com a adolescência, ilustrando o poderio do marketing no
poder de compra dos adolescentes, bem como a influência que exerce na
imagem corporal dos mesmos. Aponta a Psicomotricidade Relacional como
uma intervenção na distorção da imagem corporal dos adolescentes. A
Psicomotricidade Corporal toca a globalidade do SER, garante a preservação
da sua saúde global, redimensiona seus valores dentro de um processo de
comunicação autêntico. Permite uma maior disponibilidade e autonomia diante
das atividades inerentes aos valores do homem, de sua vida relacional,
facilitando a afirmação do seu poder de construção na transformação social.
Prioriza a valorização da afetividade como sendo imprescindível para o
desenvolvimento da personalidade.
METODOLOGIA
A metodologia adotada nesse estudo foi de caráter exploratório, tendo como
procedimento de coleta e seleção de dados consulta e análise em acervo
bibliográfico pertinente. Com o propósito de analisar as relações estabelecidas
entre o consumo e a sociedade atual e apontar caminhos que visem à
construção da imagem corporal de adolescentes pelo viés da Psicomotricidade.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................... 9
CAPÍTULO I - IMAGEM CORPORAL.............................................................. 13
CAPÍTULO II - CONSUMO
2.1 Refletindo sobre o fenômeno do consumo através da Educação Ambiental.........19
2.2 Consumo e adolescentes....................................................................................... 22
CAPÍTULO III - A INTERVENÇÃO DA PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL
3.1 O que é Psicomotricidade Relacional?..............................................................28
3.2 A afetividade nas relações sociais..........................................................................31
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 38
REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS.................................................................... 40
ANEXOS............................................................................................................42
ÍNDICE...............................................................................................................43
INTRODUÇÃO
A escolha desse tema de investigação se deu pelo fato da pesquisadora
já ter iniciado em sua graduação, um estudo crítico sobre como a escola pode
contribuir para a transformação da práxis humana degradadora do ambiente.
Entretanto, o enfoque desse trabalho está pautado na relação entre a
Educação Ambiental e a Psicomotricidade, pois ambas buscam a melhoria da
qualidade de vida e o desenvolvimento das relações humanas.
Esse tema debruça-se na problemática de analisar as interferências que
o consumo vem proporcionando na construção da imagem corporal de
adolescentes. A interpretação, análise e melhor compreensão do objeto de
estudo têm por base teórica os estudos de BAUMAN (2001), SCHILDER
(1999), WALLON (1994), LAPIERRE (1988).
Portanto, este estudo tem como objetivo geral analisar as interferências
do consumo na construção da imagem corporal de adolescentes e tendo como
objetivos específicos definir imagem corporal; analisar criticamente as relações
estabelecidas entre o consumo e a sociedade atual; apontar caminhos que
visem à construção da imagem corporal de adolescentes pelo viés da
psicomotricidade.
A sociedade do século XXI demonstra-se narcisista, busca a imagem
estética à imagem corporal, que é exclusivamente constituída de afeto. As
relações afetivas estão sendo esquecidas, predominam as relações
profissionais. Não se têm amigos e sim contatos. Essa sociedade tenta suprir
suas carências através do consumo indiscriminado.
De acordo com Bauman (2001) “uma sociedade de consumidores se
baseia na comparação universal – e o céu é o limite”. Enquanto uma
sociedade baseada no papel do produtor o principal cuidado é com a
conformidade, isto é, há um mínimo para a sobrevivência e um máximo com
que se pode sonhar, desejar e perseguir, contando com a aprovação social das
ambições, sem medo de ser desprezado, rejeitado e posto na linha. Já em
uma sociedade de consumidores o principal cuidado diz respeito à adequação:
a estar “sempre pronto”; a ter a capacidade de aproveitar a oportunidade
quando ela se apresentar; desenvolver novos desejos.
Consome-se visando à adesão a determinados valores (prestígios,
status), à possibilidade de distinção social, à satisfação das necessidades
fixadas culturalmente, à realização de desejos, o que gera um tipo de
consumidor impaciente, impetuoso, indócil, inquieto, instável, insatisfeito,
levando-o a acreditar que apenas o consumismo alivia o mal-estar, servindo
como um remédio para os males da alma, pois caso sinta-se mal: coma,
compre, gaste, sinta prazer em consumir incomensuravelmente. O consumo
passa a ser entendido culturalmente como sinônimo de bem-estar.
Entretanto, não se pode menosprezar o poderio e a capacidade de
criação de necessidades artificiais geradas pela publicidade que sob o ponto de
vista ambiental é altamente insustentável, pois exerce uma importante pressão
sobre o consumidor que o estimula a ter sempre “mais e mais”, a assumir
posturas de lealdade para com as marcas e “estilos de vida” (FURRIELA,
2000b, p.32).
Isso tudo faz com que os pais percam a autoridade sobre os filhos
devido às campanhas de marketing, que incubem valores materialistas nas
crianças. Independente do empenho dos mesmos em tentar impor limites, a
publicidade é mais forte. Há pessoas especializadas em explorar as fraquezas
infantis e a vincular campanhas muito agressivas na televisão. Contribuindo
para o desenvolvimento de adolescentes que baseam seus argumentos na
seguinte frase “todo mundo tem, menos eu”. Oferecer tudo o que o
adolescente pede só porque ele leva em consideração o gosto dos amigos
pode fazê-lo perder o senso de individualidade.
Basear-se no discurso do TER e não do SER, proporciona indivíduos
que segundo Zöller (2004), são constituídos somente de desejos e expectativas
insatisfeitas ou queixas e frustrações eternas, e não podendo se auto-respeitar
nem respeitar os outros porque não há nada a ser respeitado.
A indústria corporal através da mídia encarrega-se de criar desejos e
reforçar imagens, padronizando corpos. Corpos que se vêem fora de medidas,
sentem-se cobrados e insatisfeitos. O reforço dado pela mesma em mostrar
corpos atraentes, faz com que uma parte da sociedade se lance na busca de
uma aparência física idealizada. Pode-se associar o corpo à idéia de consumo.
Em muitos momentos este corpo é objeto de valorização exagerada dando
oportunidade de crescimento no “mercado do músculo” e ao consumo de bens
e serviços destinado à “manutenção deste corpo”. Essa valorização excessiva
do corpo estimula os adolescentes e jovens a consumir compulsivamente
alimentos, bens e produtos da moda ou a aderir-se a dietas.
Na tentativa de ultrapassar essa visão reducionista, esse tema tem como
importância social analisar as relações estabelecidas entre o consumo e a
sociedade atual e apontar caminhos que visem à construção da imagem
corporal de adolescentes pelo viés da Psicomotricidade.
Para efeito de entendimento, o estudo foi organizado em três capítulos
dispostos da seguinte forma: I – Imagem Corporal – aborda diferentes
definições sobre a imagem corporal; II – Consumo – faz uma reflexão sobre o
fenômeno do consumo e as interferências do consumo da imagem corporal de
adolescentes; III – A intervenção da Psicomotricidade Relacional – conceitua a
Psicomotricidade Relacional e faz um breve estudo sobre a afetividade
segundo a teoria de Wallon.
CAPÍTULO I
IMAGEM CORPORAL
“A imagem corporal é a representação interna da aparência externa”
(THOMPSON, 1999)
A imagem sempre exerceu um encantamento, quer por transformar a
realidade - base material do mundo do homem - em representação, isto é,
transformar a realidade em uma outra forma de expressão, quer por investir de
magia o ato de ver.
As tentativas de compreender a imagem como uma cópia simplificada da
realidade, ou seja, enquanto reprodução daquilo que se vê e que, portanto,
cumpre a tarefa de estar em lugar da base material, estiveram durante muito
tempo dominadas pela fisiologia e pela física da visão.
Assim, ao se falar em imagem corporal pode acontecer de se pensar,
principalmente, no aspecto visual, da aparência do corpo. No entanto, as
imagens não são apenas visuais e a imagem do corpo inclui muitos fatores
além daquele da aparência.
As imagens não ocorrem necessariamente como memórias ou
imaginações de situações, são também representações de sensações e
processos de pensamento que se tem no presente. Segundo Damásio (1996
apud TURTELLI, 2003, p. 30), é principalmente através de imagens que
constantemente se apreende informações sobre o meio e sobre o corpo.
Formam-se imagens visuais, imagens sonoras, imagens olfativas, imagens de
palavras, de ações, de esquemas relacionais, imagens somatossensoriais,
imagens de equações matemáticas e assim por diante.
Não existe entre os pesquisadores um consenso quanto ao conceito de
imagem corporal. Muitos abordam o assunto, mas não se referem a este
termo, enquanto outros abordam aspectos que fazem parte, ou relacionam-se
de perto, com a imagem corporal: auto-estima, consciência corporal e outros.
Tomando como base os estudos de Turtelli (2003, p. 38-51) encontram-se
diferentes definições do assunto, apresentadas a seguir.
Segundo Schilder (1999) – uma referência para muitos pesquisadores
da imagem corporal –, “entende-se por imagem do corpo humano a figuração
de nosso corpo formada em nossa mente, ou seja, o modo pelo qual o corpo se
apresenta para nós”.
Para o autor, figuração são produtos das imagens e interações que o
indivíduo dirige ao meio externo. Fala ainda que: ”nenhuma figuração deixa de
ser, ao mesmo tempo, desejo, ação e emoção (1999, p.193-194)”. E ressalta
que fazem parte da imagem corporal dados conscientes e inconscientes, que
as imagens não são apenas visuais, mas também motoras, que estão sendo
construídas a cada instante e que estão ligadas às experiências vividas
anteriormente.
Para Adame et al (1991), que conceitua imagem corporal como a
imagem que o indivíduo tem do seu corpo formado em sua mente, o modo
como corpo se apresenta para ele. Imagem corporal seria a auto-percepção, o
próprio conceito-corporal.
Conforme Lewis & Scannell (1995), definem que a imagem corporal é
formada por representações subjetivas da aparência física e da experiência
corporal, respondendo a novos estímulos do ambiente e relacionando-se
intimamente à auto-estima.
De acordo com Radell e colaboradores (1993), definem a auto-imagem
como uma auto-atitude compreendida por três dimensões psicológicas ou
disposições em relação ao corpo de alguém: afetiva (avaliação), cognitiva
(atenção/importância), comportamental (ação).
Fischer (1990) enfatiza que imagem corporal não é apenas uma
construção cognitiva, como também um reflexo dos desejos, atitudes
emocionais e interações com os outros indivíduos.
Eilan, Marcel & Bermúdez (1998) refletem sobre o uso do termo imagem
corporal. Consideram que este termo vem sendo usado para indicar várias
dimensões diferentes que na visão dos autores não poderiam ser colocadas
juntas.
Segundo os autores, podem ser distinguidos três parâmetros ao longo
dos quais as conceituações de imagem corporal e de esquema corporal
variam:
• No conteúdo da representação (propriedades estruturais e físicas do
corpo, postura atual, aparência física, qualidades estéticas e assim por
diante);
• Tipo de representação, ou estado, que produz o conteúdo (experiências
perceptivas conscientes, imagens mentais conscientes, representações
que são a base para o conhecimento disponível das propriedades do
próprio corpo, representações inconscientes);
• Propósito explicativo para o qual a representação está sendo colocada
(coordenação dos movimentos, consciência proprioceptiva da postura,
sentimento da localização das sensações, as várias desordens
neuropsicológicas da consciência corporal, a possibilidade da imitação
corporal e outros).
Shontz (1977) também critica a amplitude do uso do termo imagem
corporal. O autor coloca que a imagem corporal vem sendo definida de tantas
maneiras que perdeu seu significado específico e sua relação com outras
construções teóricas tem sido ignorada ou descrita tão imprecisamente que
suas propriedades têm sido ofuscadas ao invés de clareadas.
O pesquisador traz uma preocupação prática com a realidade das
pessoas que sofrem de distúrbios da imagem corporal e a dificuldade em se
encontrar na literatura científica "leis e princípios" que guiem descrições e
tratamentos para distúrbios da imagem corporal.
Shontz procura fazer entender o que é imagem corporal deixando claro o
que ela não é. Cita três idéias a respeito de imagem corporal que impedem
uma abordagem adequada do assunto:
1 – Imagem corporal não é um órgão do corpo. O autor ressalta que a imagem
corporal é fisiológica e também psicológica que pode ser modificada tanto por
alterações na estrutura corporal, quanto pelo aprendizado.
2 – Imagem corporal não é um desenho, uma fotografia ou um diagrama do
corpo. Se uma imagem (no sentido visual) do corpo fosse necessária para que
pudesse se locomover adequadamente, como explicar que um caçador
primitivo pudesse correr atrás de uma presa, sem nunca ter se visto no espelho
nem ter a capacidade de se reconhecer em uma fotografia? Para caçar, o
caçador não precisa literalmente se ver correndo atrás da presa.
3 – Imagem corporal não é uma pequena pessoa que se tem na cabeça. A
imagem corporal está em estreita relação com a personalidade e com o
chamado "ego corporal". Este, interpreta as sensações corporais e acentua ou
diminui essas sensações dependendo de seu significado. Neste ponto de vista
corre-se o risco de acreditar que o "ego corporal", ao qual a imagem corporal
está intrinsecamente associada, corresponde a um ser dentro de si tomando
decisões independentemente de eventos observáveis externamente.
Campbell (1998 apud TURTELLI, 2003, p. 47) afirma que imagem
corporal é usada para “registrar o impacto do próprio comportamento nas
outras pessoas”. Assim o autor coloca a imagem corporal como ligada ao
próprio comportamento em relação ao outro.
Pruzinsky & Cash (1990), salientam que fazem parte das imagens
corporais percepções, pensamentos e sentimentos sobre o corpo e sobre a
experiência corporal. A imagem corporal é uma experiência “altamente
personalizada”.
Segundo os autores:
“A experiência corporal abrange a percepção de uma atitude a respeito da aparência, tamanho do corpo, posição espacial do corpo, fronteiras do corpo, competência do corpo e os aspectos relacionados ao gênero do corpo de uma pessoa. A atenção de um indivíduo pode mudar de um destes componentes para o outro, ou ficar simultaneamente em um ou mais níveis" (p. 338, apud TURTELLI, 2003, p. 49).
Os autores ressaltam que a experiência corporal de uma pessoa "não
está limitada ao domínio da aparência/estética corporal, mas inclui experiências
da sensação corporal, função, aptidão física e saúde/doença". E acrescentam
que as "experiências com relação ao corpo podem ocorrer em níveis
conscientes, pré-conscientes e inconscientes da atenção" (p.339 apud
TURTELLI, 2003, p. 49).
Acredita-se que conceituar imagem corporal apenas como "a imagem do
corpo que forma-se na mente" pode dar margem a equívocos, pela tendência
que foi explicitada por vários autores em associar "imagem" apenas com um
componente visual, e imagem corporal apenas com aparência corporal. É
certo que na sociedade atual se lida com freqüência com a imagem no sentido
de aparência física, tanto nos espelhos quanto em fotos e vídeos, além de se
lidar com imagens de outras pessoas, não só "ao vivo", como através da
Internet, televisores, revistas, filmes e jornais. Além disso, a imagem do corpo
humano é largamente utilizada em veículos de publicidade, tanto nos meios
anteriormente citados, quanto em outdoors e nos rótulos de vários produtos
comercializados. Dessa forma, inevitavelmente tem um papel importante na
sociedade atual o componente de aparência física na construção da imagem
corporal. No entanto, não é só essa imagem externa e visual que forma a
imagem corporal.
Considera-se que ao se definir imagem corporal em apenas uma ou
duas linhas, corre-se o risco de gerar interpretações simplistas, que podem
acabar por distorcer a natureza do fenômeno.
Assim, segundo Schilder, a imagem corporal envolve sensações que são
dadas pelas terminações nervosas do próprio corpo, tanto periféricas quanto da
parte interna do corpo. Envolve uma experiência do corpo enquanto uma
unidade. Envolve a própria experienciação de si mesmo a cada instante, sendo
um tanto plástica e mutável, e está inevitavelmente ligada às experiências
anteriores, assim como aos desejos para o futuro. As inter-relações destes
fatores fazem imprimir significados diferentes a cada momento que se vivencia.
A imagem corporal é inseparável da realidade circunstancial de cada momento
e da individualidade de cada pessoa.
CAPÍTULO II
CONSUMO
“A Terra tem o suficiente para todas as nossas necessidades, mas somente o necessário”.
(Mahatma Gandhi)
2.1 Refletindo sobre o fenômeno do consumo através da Educação Ambiental
O terceiro milênio tem provocado sentimentos contraditórios, pois ao
mesmo tempo em que se contemplam os avanços tecnológicos e científicos, a
eliminação das fronteiras entre as nações e a herança cultural deixada aos
novos da sociedade, ele também produz um misto de indignação e
apavoramento devido às alterações planetárias causadas pelo homem que
podem desencadear a sua própria extinção.
Estes sentimentos afloraram com a globalização da economia mundial,
considerada como a expressão máxima do capitalismo sem fronteiras, que
acentua as desigualdades sociais e culturais, pois empurra os indivíduos da
sociedade atual a manterem padrões de consumo que só contribuirão para
intensificar a degradação ambiental.
Segundo Bauman (1999, p.88), a sociedade atual ou pós-moderna
caracteriza-se como uma sociedade de consumo, pois é um tipo distinto e
separado de qualquer outra sociedade vista até aqui. Enquanto, a sociedade
moderna precisava engajar seus membros à condição de consumidores, a
sociedade atual molda seus membros a desempenharem o papel de
consumidor, tendo como norma colocada a estes a capacidade e vontade de
desempenharem esse papel primeiro e acima de tudo.
Nesta sociedade a ordem econômica predominante é caracterizada pelo
consumo desenfreado, pela produção em série e pela distribuição massiva de
produtos e serviços.
Questionamentos e críticas são feitos sobre o modo de produção
industrial e o estilo de vida opulento e consumista proporcionado pela
sociedade que consome objetos nem sempre ligados a uma função ou
necessidade definidas, mas correspondem à lógica social ou à lógica do
desejo.
Consome-se visando à adesão a determinados valores (prestígio,
status), à possibilidade de distinção social, à satisfação das necessidades
fixadas culturalmente, à realização de desejos, o que gera um tipo de
consumidor impaciente, impetuoso, indócil, inquieto, instável, insatisfeito,
levando-o a acreditar que apenas o consumismo alivia o mal-estar, servindo
como um remédio para os males da alma, pois caso sinta-se mal: coma,
compre, gaste, sinta prazer em consumir incomensuravelmente. O consumo
passa a ser entendido culturalmente como sinônimo de bem-estar.
Não se pode menosprezar o poderio e a capacidade de criação de
necessidades artificiais geradas pela publicidade que sob o ponto de vista
ambiental é altamente insustentável, pois exerce uma importante pressão
sobre o consumidor que o estimula a ter sempre “mais e mais”, a assumir
posturas de lealdade para com as marcas e “estilos de vida” (FURRIELA,
2000b, p.32).
A partir dos questionamentos e críticas acima citados propõe-se um
novo estilo de vida pautado no consumo sustentável, o que requer um
processo de conscientização do consumidor a respeito da importância de
tornar-se consumidor responsável, bem como, um trabalho de formação de um
“consumidor-cidadão”, que, segundo Furriela (2000a, p.20), é um trabalho
essencialmente político, pois leva o consumidor a perceber-se como agente de
transformação do modelo econômico vigente, “já que tem em suas mãos o
poder de exigir um padrão de desenvolvimento socialmente justo e
ambientalmente equilibrado”.
A autora salienta que assim esse agente, consciente de seus atos de
consumo, compreende o seu papel enquanto cidadão, passando a exigir das
esferas públicas e privadas a consideração das dimensões sociais, culturais e
ecológicas em seus modelos de produção, gestão, financiamento e
comercialização.
Entretanto, ela considera que essa não é uma tarefa simples, pois
reivindica uma mudança de posturas e atitudes individuais e coletivas no
cotidiano, como a redução do volume de bens consumidos, a recusa do sonho
americano (sonho de propriedade de uma casa grande, carros suntuosos,
produtos de alta tecnologia, constantemente sujeitos à obsolescência e troca,
escravidão da moda, do status, da imagem vendida pela mídia) e a alteração
dos hábitos de consumo de forma a promover a melhoria da qualidade de vida
e a proteção do meio ambiente.
Ao exigir a implantação de conceitos de eqüidade e justiça social
defende-se a alteração do padrão de consumo das elites dos países ricos e em
desenvolvimento e a adequação dos padrões de consumo dos países pobres a
patamares mínimos de dignidade social (FURRIELA, 2000a, p.20).
Portanto, cabe analisar as conseqüências sociais e ambientais do
consumismo desenfreado, pois os altos padrões de consumo e produção
aliados ao crescimento populacional, ao modelo socioeconômico e político da
sociedade atual contribuem de maneira fundamental para a degradação
ambiental.
2.2 Consumo e adolescentes
Antes de iniciar a análise crítica entre consumo e adolescentes se faz
necessário conceituar a adolescência. Segundo a Organização Mundial da
Saúde, adolescente é o indivíduo que se encontra entre os dez e vinte anos de
idade. No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece outra faixa
etária: dos doze aos dezoito anos.
Para Wallon, a adolescência é o período dos doze anos em diante,
sendo caracterizada pela crise pubertária que rompe a “tranqüilidade” afetiva e
impõe a necessidade de uma nova definição dos contornos de personalidade,
desestruturados devido às modificações corporais resultante da ação
hormonal. A afetividade torna-se cada vez mais racionalizada: os sentimentos
são elaborados no plano mental, os adolescentes teorizam sobre suas relações
afetivas. Há uma crise de oposição: conflito EU – OUTRO. Procuram apoiar
suas oposições em sólidos argumentos intelectuais. Exploração de si mesmo
com uma identidade autônoma, mediante atividades de confronto, auto-
afirmação.
A adolescência é uma das etapas do desenvolvimento humano
caracterizada por alterações físicas, psíquicas e sociais, sendo que estas duas
últimas recebem interpretações e significados diferentes dependendo da época
e da cultura na qual está inserida.
Na adolescência, a imagem do corpo parece ter tanta importância para a
constituição do EU, que possivelmente explica a tendência à formação de
grupos de adolescentes. Verifica-se que o processo de reconhecimento da
imagem corporal costuma ser uma fonte de angústia para o adolescente.
E essa angústia vem sendo reafirmada a cada instante pela sociedade
atual, que induz seus membros a desempenharem o papel de consumidor e a
serem vistos. Os avanços tecnológicos atuais permitem a fabricação de
múltiplos aparelhos reprodutores de visão, não apenas para que o ser humano
possa se ver, mas, principalmente, para ser visto. Há um reducionismo da
imagem.
Segundo Porto (2002, apud FREITAS, 2005, p.77), trata-se de imagens
que chegam como imperativos de ideais a serem seguidos, que se
transformam em modelos de identificação, constituintes da identidade fabricada
pela propaganda, pelo esporte, onde o corpo equivale ao espetáculo. E é
nessa equivalência entre corpo e espetáculo que a mídia se baseia.
Muitos estudos sobre o comportamento do consumidor tentam
compreender como os indivíduos tomam as suas decisões em relação ao ato
de consumir e o que os levam a comprar determinados produtos e terem
fidelidades por determinadas marcas.
Para Almeida e Rocha (2006, apud SZUSTER, 2006, p. 37), o consumo
deve ser entendido como um processo pelo qual os indivíduos se relacionam
não apenas com os objetos, mas também com a coletividade em que se
inserem. Os objetos são uma forma verbal utilizada pelos indivíduos para se
comunicarem.
O consumo não é um ato de desprendimento. É uma experiência onde
estão presentes emoções, algumas positivas, outras negativas. O consumidor
compra produtos não somente por seus aspectos funcionais, mas também pelo
seu significado, pelo seu caráter de preencher lacunas afetivas dos
consumidores, por sua influência no auto-conceito do indivíduo e pela maneira
como esse se mostra para os outros (WOLFF, 2002 apud SZUSTER, 2006, p.
37).
Solomon (2000) afirma que a idade do consumidor exerce uma
influência significativa sobre sua identidade. Apesar de pessoas da mesma
faixa etária diferirem sob outros aspectos, elas têm uma real tendência a
compartilhar um conjunto de valores e experiências culturais comuns, que
serão mantidas ao longo da vida. Conforme o consumidor cresce, cria um elo
cultural com os milhões de outros que ficam adultos no mesmo período. À
medida que envelhece, mudam as necessidades e preferências,
freqüentemente de modo semelhante às de outros que têm a mesma faixa de
idade.
Segundo Busch et al. (2004) o principal mercado alvo para as
propagadas é o de adolescentes, uma vez que representa um grande e
desafiante potencial. Com um contínuo aumento da exposição de produtos à
população jovem, os responsáveis pelo marketing tentam capturar e persuadir
os consumidores em uma idade cada vez menor. Esse grupo constitui um alvo
mais fácil para o mercado porque os adolescentes cresceram em uma
sociedade orientada para o consumo (JONES e SCHUMANN, 2000; BUSH et
al., 2004).
Estudos mostram que jovens consumidores são responsáveis por
compras ou influenciam a decisão de compras em casa. Os adolescentes
exercem uma grande influência sobre as decisões de compra de seus pais
(JONES e SCHUMANN, 2000; SOLOMON, 2000).
Ademais, as experiências de infância são de grande importância para
definir parâmetros do comportamento dos adultos. Os jovens, que se
encontram em processo de adquirir preferências por produtos e lealdade a
marcas, possuem grande potencial para se tornarem consumidores de longo
prazo. Além disso, o estudo de experiências tidas na infância e na
adolescência ajuda a entender não apenas o comportamento do consumidor
dos jovens, mas também o desenvolvimento do comportamento dos adultos
(CHURCHILL e MOSCHIS, 1979; AGRAWAL e KAMAKURA, 1995; BUSH,
2004).
Assim, os profissionais de marketing vêem os adolescentes como
“consumidores em treinamento”, já que a lealdade à marca cria uma barreira
para a entrada de outras marcas, que não foram escolhidas durante esses
anos.
Ao associar produtos a serem consumidos por adolescentes e
celebridades esportivas ou artísticas encontra-se um amplo mercado, já que os
adolescentes tendem a respeitar estas celebridades e a consumirem suas
imagens por afinidade, pois essas conferem credibilidade e aumentam a
lealdade à marca. Portanto, criam-se fiéis seguidor-consumidores de imagens
– celebridades e marcas – que as comentarão e divulgarão.
Na atual sociedade consomem-se corpos esguios, muitas vezes
desfigurados por excesso de magreza ou de músculos. Na mídia o que não
falta são propagandas oferecendo produtos dietéticos, emagrecedores,
aparelhos e roupas que ajudarão a diminuir as medidas do corpo. Bem como,
rostos bonitos e magros.
Essa valorização da imagem pode conduzir ao narcisismo do corpo que
cada um visualiza no espelho físico. Os adolescentes são estimulados a
consumir, a buscar o corpo perfeito, a seguir dietas rigorosas, com uso de
medicamentos e correções cirúrgicas. A auto-estima e a solidariedade social
ficam relegadas a um plano secundário. Na verdade, corpos obesos são
rejeitados e vistos como algo que causa espanto, porque não coincide com a
norma, com os modelos ditados pelo meio externo.
Entretanto, o ser humano é um ser social que necessita e depende do
outro para sua sobrevivência, e o adolescente busca sua identidade grupal, a
auto-afirmação – que é construída com a opinião do outro, ou seja, precisa de
reconhecimento, baseado no consentimento, na confirmação dos membros do
grupo do qual faz parte.
E esse reconhecimento, aceitação perpassa pela aquisição de bens
(roupas, tecnologia, calçados) da moda e de marca, de imagens físicas que
coincidem com a norma do meio externo.
Vive-se em uma sociedade de consumo, na qual tempo e dinheiro são
os grandes motivadores da mesma. E seus membros ativos (pais de
adolescentes) devem oferecer aos seus filhos o que necessitam (isso não quer
dizer que realmente necessitem), mas devem preencher as lagunas que a falta
de tempo em desfrutar a infância e adolescência dos seus proporcionou.
Nas relações afetivas estabelecidas entre pais e filhos há uma troca
baseada no consumo, pois os pais para suprir a ausência no crescimento dos
filhos oferecem bens de consumo e os filhos distribuem afeto na proporção que
seu poder de consumidor é atendido. Tornando as relações superficiais,
descartáveis e insensíveis.
Assim, ao se valorizar o consumo desenfreado, seja ele baseado em
bens da moda, de marca ou de imagens cria-se adolescentes que se tornarão
adultos incapazes de amar, de aceitar, de respeitar a si mesmo e aos outros
(pessoas e natureza).
CAPÍTULO III
A INTERVENÇÃO DA PSICOMOTRICIDADE
RELACIONAL
“A qualidade da vida é a qualidade do ser, e não do ter”.
(André Lapierre)
3.1 O que é Psicomotricidade Relacional?
A Psicomotricidade Relacional é um método criado pelo eminente
educador francês André Lapierre, com fundamentos na teoria de Henry Wallon.
Difundido no Brasil desde 1983, tem seu alicerce na comunicação não-verbal,
enfatiza os aspectos relacionais, psicofísicos, socioemocionais, cognitivos e
afetivos do ser humano.
Segundo Lapierre (2002) a psicomotricidade relacional não é uma
técnica que se possa aprender intelectualmente nos livros. É mais um método,
uma maneira de atuar, uma possibilidade de se estabelecer uma comunicação
mais humana, mais verdadeira com qualquer pessoa, até mesmo com as
crianças, desde a creche e a escola.
É uma ciência que lida com o ser humano e suas variadas formas de
manifestação. Sendo uma práxis que procura dar espaço de liberdade onde o
indivíduo aparece inteiro: com seu corpo, suas emoções, sua fantasia, sua
inteligência em formação. Destaca-se como uma ferramenta essencial para a
compreensão do ser humano em sua globalidade. Pois, é através do corpo
que demonstram-se os desejos, as frustrações, as necessidades, desde a mais
tenra idade.
Os membros da sociedade de consumo baseiam seus argumentos no
verbo TER e não no SER, fazendo com que sentimentos como a discriminação,
a violência, o descaso com os valores morais e éticos, a falta de limites ou o
excesso dos mesmos se tornem presentes e próximos a eles.
E esses sentimentos influenciam de modo significativo o comportamento
dos adolescentes, que podem apresentar dificuldades de aprendizagem e de
relacionamento, não conseguindo se expressar adequadamente.
A Psicomotricidade Relacional tem como característica a prevenção, ou
seja, leva o indivíduo a alcançar o equilíbrio no seu desenvolvimento. É ainda
um espaço de desenvolvimento pessoal e interpessoal, de estruturação do
indivíduo como ser, de investimento não em dificuldades e sintomas, mas nas
suas possibilidades de crescimento.
Trabalhar com a psicoprofilaxia é tutelar a saúde sem necessariamente
ocupar-se da patologia ou do problema já instaurado e identificado, o que torna
o campo preventivo um espaço privilegiado da Psicomotricidade Relacional.
A Psicomotricidade Relacional é importantíssima para se compreender o
desenvolvimento humano, por aponta uma perspectiva contemporânea. Isto é,
o seu método está alicerçado num conjunto de teorias, que podem apontar o
sofrimento psíquico sem, com isso, ter que enquadrá-lo em uma única teoria.
O que está em foco é o ser humano, e não o seu sintoma. A partir dessa
teorização, procura-se potencializar as soluções ativas de cada indivíduo,
tendo como intenção, portanto, ajudá-la a construir e conservar um equilíbrio
pessoal dinâmico.
Essa construção acontece à medida que o indivíduo vai, através do jogo
espontâneo, integrando as suas dificuldades, necessidades e linguagem, de
forma harmônica, com a realidade familiar e socioeducativa, ou seja, com o
meio em que está inserido. O psicomotricista atua como parceiro simbólico
procura ajudá-lo a viver no simbólico àquilo que na realidade ele não pode
viver. Pois, através do simbólico o indivíduo expressará seus conflitos em nível
profundo.
Ao privilegiar o trabalho com a Psicomotricidade Relacional no espaço
educacional, por meio de vivências em grupo no qual se prioriza a
comunicação não-verbal, busca-se proporcionar:
• O despertar para o desejo de aprender.
• A prevenção das dificuldades de expressão motora, verbal e gráfica.
• A facilitação da integração social, elevando a capacidade da criança e
do adolescente para enfrentar situações novas e criar estratégias
positivas em suas relações.
• A estimulação para o ajuste positivo da agressividade, inibição,
dependência, afetividade, auto-estima, entre outros distúrbios do
comportamento.
• A melhora no desempenho escolar, desbloqueando a aprendizagem.
• A aceitação das diferenças, promovendo a maior percepção de si
mesmo e do outro.
• A autenticidade na comunicação entre as crianças/adolescentes e com o
adulto.
• O prazer do movimento e o prazer de brincar.
• O desenvolvimento da criatividade, espontaneidade e autonomia em
busca de uma maior independência.
Nesta técnica se proíbe a comunicação verbal do adulto
(psicomotricista), pois este a utiliza como defesa. Trabalhando com crianças e
adolescentes, é preciso deixá-los falarem porque é falando que vivem. O
psicomotricista, fala o mínimo para não reintroduzir a idéia de que é o adulto
quem manda. Mas, ao final de uma sessão, as crianças e os adolescentes
falam, dizem o que querem, e o psicomotricista participa um pouco e, muitas
vezes, se expressa de forma poética.
Assim, a Psicomotricidade Relacional toca a globalidade do SER,
garante a preservação da sua saúde global, redimensiona seus valores dentro
de um processo de comunicação autêntico. Permite uma maior disponibilidade
e autonomia diante das atividades inerentes aos valores do homem, de sua
vida relacional, facilitando a afirmação do seu poder de construção na
transformação social.
3.2 A afetividade nas relações sociais
A imagem corporal é, ao mesmo tempo, desejo, ação e emoção. A
afetividade perpassa pela sua construção, pois esta, segundo Wallon, tem
papel imprescindível no processo de desenvolvimento da personalidade.
O trabalho com a Psicomotricidade Relacional está fundamentado na
afetividade, portanto se fará um breve estudo com base na teoria de Henri
Wallon.
A posição de Wallon a respeito da importância da afetividade para o
desenvolvimento da criança é bem definida. Em sua opinião, ela tem papel
imprescindível no processo de desenvolvimento da personalidade e este, por
sua vez, se constitui sob a alternância dos domínios funcionais. Wallon faz
referência a quatro domínios funcionais: o ato motor; o conhecimento; a
afetividade e a pessoa. São eles que dão uma determinada direção ao
desenvolvimento e no decurso da vida humana, cada um desses domínios tem
seu próprio campo de ação e organização, mas mantém em relação com os
demais uma espécie de mecanismo interfuncional.
A afetividade é um domínio funcional, cujo desenvolvimento é
dependente da ação de dois fatores: o orgânico e o social. Entre esses dois
fatores existe uma relação estreita tanto que as condições medíocres de um
podem ser superadas pelas condições mais favoráveis do outro. Essa relação
recíproca impede qualquer tipo de determinismo no desenvolvimento humano,
tanto que “… a constituição biológica da criança ao nascer não será a lei única
do seu futuro destino. Os seus efeitos podem ser amplamente transformados
pelas circunstâncias sociais da sua existência, onde a escolha individual não
está ausente.” (WALLON, 1959, p. 288 apud ALMEIDA, 2001, p. 1).
Ao longo do desenvolvimento do indivíduo, esses fatores em suas
interações recíprocas modificam tanto as fontes de onde procedem as
manifestações afetivas, quanto as suas formas de expressão. A afetividade
que inicialmente é determinada basicamente pelo fator orgânico passa a ser
fortemente influenciada pela ação do meio social. Tanto que Wallon defende
uma evolução progressiva da afetividade, cujas manifestações vão se
distanciando da base orgânica, tornando-se cada vez mais relacionadas ao
social – e isso é visto tanto em 1941, quando ele fez referência à afetividade
moral, quanto em suas teorias do desenvolvimento e das emoções, que
permitiram evidenciar o social como origem da afetividade.
Conceitualmente, a afetividade deve ser distinguida de suas
manifestações, diferenciando-se do sentimento, da paixão, da emoção. A
afetividade é um campo mais amplo, já que inclui esses últimos, bem como as
primeiras manifestações de tonalidades afetivas basicamente orgânicas. Em
outras palavras, afetividade é o termo utilizado para identificar um domínio
funcional abrangente e, nesse domínio funcional, aparecem diferentes
manifestações: desde as primeiras, basicamente orgânicas, até as
diferenciadas como as emoções, os sentimentos e as paixões.
Embora sejam geralmente confundidas, essas formas de expressão são
diferentes. Enquanto as primitivas manifestações de tonalidade afetiva são
reações generalizadas, mal diferenciadas, as emoções, por sua vez,
constituem-se em reações instantâneas e efêmeras que se diferenciam em
alegria, tristeza, cólera e medo. Já o sentimento e a paixão são manifestações
afetivas em que a representação torna-se reguladora ou estimuladora da
atividade psíquica. Ambos são estados subjetivos mais duradouros e têm sua
origem nas relações com o outro, mas ambos não se confundem entre si.
Analisando a teoria do desenvolvimento, pode-se identificar, em cada
estágio, os tipos de manifestação afetiva que são predominantes, em virtude
das necessidades e possibilidades maturacionais. O estágio impulsivo é
marcado pelas expressões/reações generalizadas e indiferenciadas de bem-
estar e mal-estar; o estágio emocional pela diferenciação das emoções – as
reações ou atitudes de medo, cólera, alegria e tristeza; no estágio personalista
e no da adolescência e puberdade, por outro lado, evidenciam-se reações
sentimentais e passionais, sendo o sentimento mais marcante neste último
estágio.
Assim, pode-se afirmar a existência de manifestações afetivas anteriores
ao aparecimento das emoções. As primeiras expressões de sofrimento e de
prazer que a criança experimenta com a fome ou saciedade são manifestações
com tonalidades afetivas primitivas. Estas manifestações, ainda em estágio
primitivo, têm por fundamento o tônus, o qual mantém uma relação estreita
com a afetividade, durante o processo de desenvolvimento humano, pois o
tônus é a base de onde sucedem as reações afetivas.
Com a influência do meio, os gestos lançados no espaço, de
manifestação basicamente orgânica, transformam-se em meios de expressão
cada vez mais diferenciados, inaugurando o período emocional. Agora, os
movimentos não são carregados de pura impulsividade, nem baseados nas
necessidades orgânicas, mas são reações orientadas resultantes do ambiente
social; é o momento em que as reações emocionais se diferenciam. A vida
afetiva da criança, inaugurada por uma simbiose alimentar, é logo substituída
por uma simbiose emocional com o meio social. Com a emoção, as relações
interpessoais se intensificam; é ela que une o indivíduo a outro, possibilitando a
participação do outro e, conseqüentemente, a delimitação do eu infantil.
Para Wallon, a emoção é uma forma de exteriorização da afetividade
que evolui, como as demais manifestações, sob o impacto das condições
sociais. É interessante perceber a relação complexa entre a emoção e o meio
social, particularmente, o papel da cultura na transformação das suas
expressões. Se, por um lado, a sociedade especializa os meios de expressão
da emoção, transformando-os em instrumentos de socialização, por outro lado,
essa especialização tende a reprimir as expressões emocionais. As formas de
expressão tornam-se cada vez mais socializadas, a ponto de não expressarem
mais o arrebatamento característico de uma emoção autêntica.
Na história da humanidade, a emoção foi responsável pela agregação
dos indivíduos; como afirma o autor, nas emoções “se baseiam as experiências
gregárias, que são uma forma primitiva de comunhão e de comunidade” (1994,
p. 127 apud ALMEIDA, 2001, p. 4). As emoções revelam-se como o elo entre o
indivíduo e o ambiente físico, tanto quanto entre o indivíduo e outros indivíduos.
Estes laços interindividuais iniciam nos primeiros dias de vida e se fortalecem a
partir das emoções, antes mesmo do raciocínio e da intenção.
Ao se defender que a afetividade em seus primórdios é basicamente
orgânica, chama-se a atenção para o fato de que, mesmo nos períodos em que
o desenvolvimento do ser humano sofre limites de seu aparato fisiológico, o
domínio afetivo está iniciando seu desenvolvimento. E o limite fisiológico vai
ser superado pelo importante papel desempenhado pelo meio social na
evolução da criança.
A importância das relações humanas para o crescimento do homem está
escrita na própria história da humanidade. O meio social é uma circunstância
necessária para a modelagem do indivíduo. Sem ele a civilização não existiria,
pois foi graças à agregação dos grupos que a humanidade pôde construir os
seus valores, os seus papéis, a própria sociedade. Cruzando psicogênese e
história, Wallon demonstrou a relação estreita entre as relações humanas e a
constituição da pessoa, destacando o meio físico e humano como um par
essencial do orgânico na constituição do indivíduo. Sem ele não haveria
evolução, pois o aparato orgânico não é capaz de construir a obra completa
que é a natureza humana, que pensa, sente e se movimenta no mundo
material.
No decorrer do desenvolvimento, seja em virtude das condições
maturacionais, seja em virtude das características sociais de cada idade, a
criança estabelece diferentes níveis de relações sociais e estas interferem na
construção do campo afetivo. Por exemplo, no estágio personalista, as
relações sociais da criança são intensas e sua autonomia é conquistada nos
conflitos que mantém com o outro. No bojo dessas relações, vão sendo
despertados sentimentos e paixões, manifestações afetivas que parecem estar
diretamente relacionadas a um outro indivíduo.
Num processo de autonomia crescente, o adolescente atravessa
transformações e experimenta, para consigo e para com o outro, os mais
diversos sentimentos, que se alternam e se combinam, numa fase de
ambivalência de atitudes e sentimentos. Igualmente, o adolescente é
suscetível a paixões. Quando chega a puberdade, é no campo da moralidade
que operam as relações do adolescente com o mundo que o rodeia. O
adolescente passa a questionar os valores e relações sociais existentes, os
quais podem passar a ser origem de manifestações afetivas, ao lado daquelas
diretamente relacionadas a outro indivíduo.
O exposto até o momento permite concordar com Heloysa Dantas
(1992) sobre a possibilidade de haver etapas de desenvolvimento da
afetividade, pois Wallon parece propor uma evolução da afetividade que, pode-
se interpretar, inicia nos primeiros dias de vida e se prolonga no processo de
desenvolvimento, diferenciando-se em suas formas de expressão sob a
influência social. Acredita-se que essa proposição é plausível, na medida em
que os estados de bem-estar e mal-estar apresentam-se primitivamente, já
com conotações afetivas, relacionados às sensibilidades orgânicas e
posteriormente diferenciam-se em manifestações diversas, como as emoções,
os sentimentos e as paixões. Essas manifestações vão aparecendo em
períodos diferentes da evolução infantil, e vão incorporando as conquistas
realizadas no domínio cognitivo, modificando suas formas.
Embora a análise realizada no presente trabalho não apresente
informações suficientes para permitir delimitar os estágios de desenvolvimento
da afetividade do indivíduo, Wallon sugere sua evolução ao mostrar que a
afetividade se desenvolve em um processo que, se inicialmente tem forte
componente orgânico (a chamada afetividade orgânica), posteriormente
incorpora cada vez mais o fator social (a afetividade moral). De fato, Wallon
sugere uma evolução da afetividade. No entanto, sua proposta não permite
vislumbrar muito além das formas infantis de afetividade, pois não fornece
dados suficientes relativos ao adolescente e ao adulto.
Parece que a afetividade é, ainda, um campo aberto para investigações.
Wallon indica caminhos a serem trilhados para estudos complementares ao
estabelecer nítida diferença, em sua obra, entre a afetividade e suas
manifestações e ao identificar que, no desenvolvimento humano, existem
estágios que são predominantemente afetivos. Crê-se que, se pudesse separar
os estágios predominantemente afetivos dos demais, apenas para efeito de
análise, já se teria, possivelmente, um caminho, mesmo que incipiente, a ser
trilhado. Por conseguinte, acredita-se que uma aproximação cada vez maior
com a proposta walloniana da afetividade permitirá uma compreensão dos
possíveis desdobramentos e limites nela existentes.
Entender como se processa a afetividade no desenvolvimento humano
permitirá ao psicomotricista realizar um trabalho que priorize a relação afetiva
entre ele e o “cliente”. Entretanto, se faz necessário que o profissional trabalhe
seu emocional e seu motor, para que suas habilidades sejam melhor
desenvolvidas, tendo segurança no que propõe e clareza no que deseja atingir
como meta. Com isso, os resultados obtidos serão mais satisfatórios.
Assim, pode-se concluir que ao se valorizar a afetividade nas relações, a
aceitação corporal, a atenção aos desejos e necessidades do outro se destrói o
sentimento de domínio e se cria o sentimento da amizade, da companhia.
Quando isso ocorre, a competição é substituída pela cooperação e a luta se
transforma em aceitação e respeito mútuos na coexistência.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A questão central desta pesquisa foi proporcionar uma reflexão-crítica de
como o consumo interfere na construção da imagem corporal de adolescentes.
Nesse sentido, conceituou imagem corporal como sendo uma
experiência do corpo enquanto uma unidade. Envolvendo a própria
experienciação de si mesmo a cada instante, sendo um tanto plástica e
mutável, e estando inevitavelmente ligada às experiências anteriores, assim
como aos desejos para o futuro. As inter-relações destes fatores fazem
imprimir significados diferentes a cada momento que se vivencia. A imagem
corporal é inseparável da realidade circunstancial de cada momento e da
individualidade de cada pessoa.
Nesse estudo, refletiu-se sobre o fenômeno do consumo pelo viés da
Educação Ambiental, que para a autora não é entendida como a solução
definitiva para resolver as problemáticas de ordem sócio-ambientais, pois não
age isoladamente. Depende de uma educação crítica e de uma série de
modificações nos planos: político, social, econômico e cultural da sociedade.
A relação entre o consumo e o adolescente tem sido palco de inúmeros
estudos de marketing, pois estes vêem o adolescente como consumidor em
potencial, que influencia no poder de compra familiar, que prega a fidelidade à
marca, a imagem, ao produto.
Entretanto, cria um adolescente que, muitas vezes, estabelece relações
sociais descartáveis e superficiais, que baseia seu discurso no TER e não no
SER, que busca um corpo esguio – definido por músculos ou excesso de
magreza e que sofre uma angústia gerada pelas imposições sociais.
Ao se valorizar o consumo desenfreado, seja ele baseado em bens da
moda, de marca ou de imagens cria-se adolescentes que se tornarão adultos
incapazes de amar, de aceitar, de respeitar a si mesmo e aos outros (pessoas
e natureza).
A Psicomotricidade Relacional vem como técnica intervencionista,
proporcionando uma globalidade do SER, garantindo a preservação da sua
saúde global, redimensionando seus valores dentro de um processo de
comunicação autêntico. Permitindo uma maior disponibilidade e autonomia
diante das atividades inerentes aos valores do homem, de sua vida relacional,
facilitando a afirmação do seu poder de construção na transformação social.
Assim, pode-se concluir que ao se valorizar a afetividade nas relações, a
aceitação corporal, a atenção aos desejos e necessidades do outro se destrói o
sentimento de domínio e se cria o sentimento da amizade, da companhia.
Quando isso ocorre, a competição é substituída pela cooperação e a luta se
transforma em aceitação e respeito mútuos na coexistência.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Universidade Estadual de
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WALLON, Henri. A evolução psicológica da criança. Lisboa: Edições 70, 1994.
ANEXOS
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTOS 3
DEDICATÓRIAS 4
EPÍGRAFE 5
RESUMO 6
METODOLOGIA 7
SUMÁRIO 8
INTRODUÇÃO 9
CAPÍTULO I 13
IMAGEM CORPORAL 13
CAPÍTULO II 19
2.1 Refletindo sobre o fenômeno do consumo através da Educação Ambiental 19
2.2 Consumo e adolescentes 22
CAPÍTULO III
3.1 O que é Psicomotricidade Relacional 28
3.2 A afetividade nas relações sociais 31
CONSIDERAÇÕES FINAIS 38
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 40
ANEXOS 42
ÍNDICE 43
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição:
Título da Monografia:
Autor:
Data da entrega:
Avaliado por: Conceito: