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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL À LUZ DE “A ÁGUIA E A
GALINHA – UMA METÁFORA DA CONDIÇÃO HUMANA”
Por: Luciano Felismino de Melo
Orientador
Prof. Luiz Cláudio Lopes Alves
Niterói
2004
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL À LUZ DE “A ÁGUIA E A
GALINHA – UMA METÁFORA DA CONDIÇÃO HUMANA”
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como condição prévia para a
conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato
Sensu” em Orientação Educacional.
Por: Luciano Felismino de Melo
3 RESUMO
Este trabalho monográfico pretende oferecer uma reflexão sobre o
perfil e o papel do orientador educacional dentro do processo ensino-
aprendizagem, a partir da obra de Leonardo Boff “A águia e a galinha –
Uma metáfora da condição humana”.
O objetivo é mostrar que o trabalho do Orientador Educacional é
muito mais abrangente que o aspecto pedagógico abordado por ele, isto é,
sua tarefa é orientar o educando quanto à sua formação integral, como
pessoa humana que é, ajudando-o a descobrir e despertar sua riqueza
interior.
4 METODOLOGIA
Este trabalho foi elaborado a partir leitura de livros voltados para a
orientação educacional e o livro de Leonardo Boff. Levaram-se em
consideração, também, a experiência do autor como orientador educacional
ao longo dos dois últimos anos, quando desempenhou tal função em duas
escolas particulares do Rio de Janeiro, em uma delas junto à segunda etapa
do Ensino Fundamental, e na outra, junto ao Ensino Médio.
Também foi de grande importância seu trabalho como professor de
Filosofia junto ao Ensino Médio.
Após leitura do livro de Leonardo Boff, foi feito um fichamento da
obra, levantando-se os pontos a serem abordados na monografia, o
relacionamento de situações vividas no dia-a-dia que inspirariam a reflexão
do assunto e a redação deste trabalho, passando-se depois à elaboração da
monografia propriamente dita.
5 SUMÁRIO
RESUMO 03
METODOLOGIA 04
INTRODUÇÃO 06
CAPÍTULO I - “A águia e a galinha” – considerações iniciais 07
CAPÍTULO II - A Orientação Educacional 16
CAPÍTULO III - O Orientador Educacional à luz de “A águia e a galinha” 28
CAPÍTULO IV – O arquétipo do herói/heroína 33
CONCLUSÃO 37
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 38
ÍNDICE 39
FOLHA DE AVALIAÇÃO 40
6 INTRODUÇÃO
O presente trabalho foi redigido no intuito de refletir sobre o perfil e o
trabalho do orientador educacional, figura essencial no processo ensino-
aprendizagem, embora muitas instituições prescindam de sua presença.
Tomou-se como ponto de referência o livro de Leonardo Boff “A águia
e a galinha – Uma metáfora da condição humana”, em que o autor defende a
idéia de que cada ser humano traz em si “uma águia e uma galinha”, que
representam o que há em nós de imanência e transcendência.
A estória contada pelo autor é transcrita no primeiro capítulo, uma vez
que todo o trabalho gira em torno dela.
Após breve análise filosófica da estória contada por Boff, o capítulo
segundo trata da orientação educacional em linhas gerais, apresentando os
pressupostos filosóficos que baseiam sua existência, os conceitos
elaborados sobre ela até nossos dias, suas funções, seus desafios e as
estratégias de ação que podem ser sugeridas ao orientador educacional.
O capítulo terceiro procura fazer uma leitura do papel do orientador
educacional a partir da estória da águia e da galinha e, por último, no quarto
capítulo, apresenta-se o arquétipo do herói/heroína desenvolvido por
Leonardo Boff como forma de superação das dificuldades da existência
humana e tomado por nós como parâmetro da atuação do serviço de
orientação educacional.
7 CAPÍTULO I – “A ÁGUIA E A GALINHA” –
CONSIDERAÇÕES FILOSÓFICAS INICIAS
Levando-se em consideração que toda esta monografia tem por
ponto-de-partida a estória apresentada por Leonardo Boff em seu livro “A
águia e a galinha – Uma metáfora da condição humana”, julgou-se ser
conveniente que, antes de qualquer reflexão, aquela estória fosse aqui
transcrita, no intuito de que a mesma fosse aproveitada com a máxima
fidelidade. Vamos a ela:
“Numa tarde sonolenta de verão, voltava um criador de cabras, do alto
de uma planura verde, na floresta atlântica do norte do estado do Rio de
Janeiro. Ao pé da montanha por onde passava, encontrou, de repente, um
ninho de águias todo estraçalhado. Semicoberta de gravetos, uma jovem
águia, ferida na cabeça. Parecia morta, toda ensanguentada. Era uma águia
rara, a águia-harpia brasileira, ameaçada de extinção.
Recolhendo-a com cuidado, pensou:
- Vou levá-la ao meu vizinho que é um amante de pássaros.
Gosta de empalhar gaviões, garças, patos selvagens e veados. Talvez ele
queira empalhar este filhote de águia!
E assim fez, pois o caminho passava junto à casa do empalhador.
Este acolheu alegremente o criador de cabras. Ficou admirado por se tratar
de uma águia-harpia, rara naquela região. Encheu-se de pena dela.
Também ele supôs que estivesse morta. Colocou-a ternamente debaixo de
uma cesta.
Amanhã vou empalhá-la, matutou resignadamente consigo mesmo.
Embora pequena, vais er uma ave soberba depois de empalhada, enchendo
de grandeza qualquer sala!
No dia seguinte, teve grata surpresa. Ao retirar o cesto, percebeu que
a águia se mexia levemente. As garras, ainda novas, estavam fechadas.
Havia feridas em várias partes do corpo. A águia estava cega.
Novamente sentiu pena da jovem águia. Por misericórdia quase quis
sacrificá-la. Pensando com seus botões, encontrava até razões para isso:
8 “Elas matam muitos animais pequenos, especialmente preguiças e macacos.
Desequilibram o sistema ecológico circundante, pois cada casal de águias-
harpia precisa de um território exclusivo de caça de cinquenta quilômetros
quadrados, com incursões num raio de mais de trezentos quilômetros”. (...)
Pensava em tudo isso como justificativa do atentado que,
piedosamente, queria cometer. Mas nisso lembrou-se da tradição espiritual
de Buda e de São Francisco. Eles viviam e pregavam uma ilimitada
compaixão por todos os seres que sofem. Recordou-se também da ética
ecológica que reza: “bom é tudo o que conserva e promove a vida, mau é
tudo o que diminui e elimina a vida”. Até uma frase bíblica veio-lhe à
mente:”escolha a vida e viverá”.
Por todos esses argumentos, convenceu-se de que não deveria
sacrificar a águia. Decidiu preservá-la. Começou, então, a tratá-la com
carinho.
Ela, porém, pouco reagia. Não procurava comida nem andava. Como
era colocada, assim ficava. Sem luz e sem sol, a águia não é águia.
Todo dia o empalhador partia-lhe pedaços de carne e a alimentava
com dificuldade. Depois de um ano começou a perceber que os seus
sentidos despertavam para a vida. Primeiro os ouvidos reagiam felizes ao
ruído dos passos, quando lhe traziam carne. Esticava a cauda, geralmente
em forma de cunha, e abria as asas alegremente. (...)
Depois começou a mover-se por si mesma. Andava pela sals e pelo
jardim. Postava-se sobre um tronco mais alto. Por fim, recuperou sua própria
voz, o kau-kau típico da águia.
Mas, continuava cega. Os olhos são tudo para uma águia. Seu olhar
penetrante vê oito vezes mais que o olho humano. (...)
Por fim, o empalhador decidiu colocá-la junto às galinhas. Uma águia
não é uma galinha. Mas a galinha pode provocá-la para viver, para
locomover-se e, quem sabe, para despertar em si a imagem das alturas e
buscar, um dia, o sol. Quem sabe... os olhos poderão renascer?...
Mas há também o risco de a águia esquecer o céu e o vasto horizonte
do sol e acomodar-se aos limites estreitos do terreiro das galinhas. Poderá
comportar-se como galinha. Será que vai virar galinha?
9 E foi assim que a jovem águia continuou a ser criado com as galinhas.
Durante dois anos circulava, cega, entre elas. Andava com dificuldade, pois
suas garras não foram feitas para andar. Ciscava aqui e ali como fazem as
galinhas, mas sem poder ver.
Eis que, um belo dia, o empalhador se deu conta de um milagre. A
águia via. Sim, via e já distinguia os alimentos. Seus olhos eram enormes.
(...)
Enfim, a águia estava curada e perfeita! Depois de três anos de
paciente cuidado, ela recuperara seu corpo de águia. Contudo à força de
viver com galinhas virara, também ela, uma galinha. Vivia com as galinhas,
ciscava com as galinhas, dormia no poleiro com as galinhas. O empalhador,
ocupado em seu ofício de empalhar aves, já se acostumara com a águia-
galinha entre as demais galinhas. Esqueceu-se dela.
A águia recuperara seu corpo. Mas, e o coração? Será que tinha
perdido seu coração de águia? Essa pergunta foi suscitada, um dia, por
certo fato curioso.
Certa manhã ensolarada, sobrevoou o galinheiro um casal daquelas
águias brasileiras grandes e imponentes. (...)
Ao perceber o casal de águias no céu, a águia-galinha espalmava as
asas, sacudia a cauda e ensaiava pequenos vôos. O sol começava a
despertar em seus olhos.
Foi então que o nosso empalhador se deu conta. A águia-galinha
começava a despertar para o seu ser-águia. Seu coração de águia voltava a
pulsar aos poucos.
O casal de águias foi embora em elegantes vôos circulares. A águia-
galinha se aquietou. Um pouco mais e mais um pouco, enturmou-se às
companheiras galinhas. No entanto, algo havia acontecido com ela. (...)
Nesse momento, o empalhador começou a dar-se conta desses
pequenos sinais. Disse consigo mesmo:
- Uma águia é sempre uma águia. Ela possui uma natureza
singular. Tem as alturas dentro de si. O sol habita seus olhos. O infinito dos
espaços anima suas asas para enfrentar os ventos mais velozes. Ela é feita
10 para o céu aberto. Não pode ficar aqui embaixo, na terra, presa ao terreiro
como as galinhas.
Passado um tempo, o empalhador recebeu a visita de uma naturalista
amigo. Conversaram sobre as aves da região e foram observar aquela águia
tornada galinha. O naturalista ficou perplexo com a capacidade adaptativa
da águia. Logo ponderou:
A águia jamais será galinha. Ela possui um coração. E este é de
águia. Ele a fará voar. Ela voltará a ser plenamente águia.
Aí mesmo decidiram fazer um teste. Queriam ver o quanto da águia
originária ainda vivia dentro da águia-galinha. O empalhador tomou uma
proteção de couro para o braço a fim de não ser espetado pelas garras
pontiagudas da águia. A muito custo conseguiram pegá-la. O empalhador
colocou-a no braço estendido, sustentando seu peso de mais de três quilos.
Animado pelo amigo falou-lhe com voz imperiosa:
- Águia, você nunca deixará de ser águia! Você já sobreviveu a
tantas desgraças! Você recuperou, um dia, seus olhos. Você é feita para a
liberdade e não para o cativeiro. Então, estenda suas asas! Erga-se! E voe
para o alto.
A águia parecia abobada. Não fez sequer um movimento. Ao olhar em
redor de si, vendo as galinhas comendo milho, deixou-se cair pesadamente.
E somou-se a elas.
Encorajado pelo amigo naturalista, o empalhador não desanimou.
Ponderou com ele:
- Uma águia tem dentro de si o chamado do infinito. Seu coração
sente os picos mais altos das montanhas. Por mais que seja submetida a
condições de escravidão, ela nunca deixará de ouvir sua própria natureza de
águia que a convoca para as alturas e para a liberdade!
No dia seguinte, agarrou a águia quando ainda estava no galinheiro.
Colocou novamente a proteção de couro e subiu com seu amigo ao terraço
de sua casa. Sob o olhar de expectativa do naturalista, disse-lhe com
convicção:
11 - Águia, já que você é e será sempre uma águia, desperte de
seu sono Liberte sua natureza feita para as alturas. Deixe nascer o sol
dentro de você. Abra suas asas! E voe para o infinito!
A águia parecia totalmente distraída diante de palavras tão
comovedoras. Olhou para baixo. Viu as galinhas ciscando o chão e bebendo
água no cocho. O empalhador lançou-a lá de cima, na esperança de que
voasse. Ela despencou pesadamente. Voou apenas alguns metros, como
voam as galinhas. Tentou uma, duas, até três vezes. E a águia não chegava
a voar. Comentou com seu amigo naturalista:
- Efetivamente, nesta galinha-águia, a galinha parece triunfar.
Aí ambos se lembraram da importância do sol para os olhos da
águia.(...)
- Não será, por acaso, o sol que irá devolver-lhe a identidade
perdida? Reanimar seu coração adormecido?
No dia seguinte, bem cedo, levantaram-se antes de o sol nascer. (...)
Quando chegaram ao alto, o sol despontava, fagueiro, por detrás das
montanhas. Os raios eram doces.
O empalhador de aves colocou a proteção de couro, sustentou
fortemente a águia e sob o olhar confiante do naturalista lhe disse:
- Águia, você que é amiga das montanhas e filha do sol, eu lhe
suplico: Desperte de seu sono! Revele sua força interior. Reanime seu
coração em contato com o infinito! Abra suas potentes asas. E voe para o
alto!
A águia mostrou-se surpreendentemente atenta. Parecia voltar a si
depois de um longo esquecimento. Olhou ao redor, viu as montanhas e
estremeceu. Por mais que o empalhador a ajudasse, com movimentos para
cima e para baixo, ela não superava o medo. Ele não conseguia fazê-la
voar.
Então, a conselho do naturalista, tomou-a firmemente entre as duas
mãos e, por bom espaço de tempo, segurou-a pela cabeça na direção do
sol. Os olhos da águia se iluminaram. Encheram-se do brilho juvenil do sol,
amarelo e alaranjado forte. (...)
Com voz forte e decidida retornou:
12 - Águia, você nunca deixou de ser águia! Você pertence ao céu e não
à terra! Mostre agora que você é de fato uma águia. Abra seus olhos. Beba o
sol nascente. Estenda suas asas. Erga-se sobre você mesma e ganhe as
alturas. Águia, voe!
Segurou-a firmemente pelas pernas emplumadas. Alçou-a para cima.
Deu-lhe um último impulso.
Oh, surpresa! A águia ergueu-se, soberba, sobre seu próprio corpo.
Abriu as longas asas titubeantes. Esticou o pescoço para frente e para cima,
como para medir a imensidão do espaço. Alçou vôo. Voou na direção do sol
nascente. Ziguezagueando no começo, mais firme depois, voou para o alto,
sempre para mais alto, para mais alto ainda, até desaparecer no último
horizonte.
Acabara de irromper plenamente a águia até aqui prisioneira da
galinha. Finalmente livre para voar, e voar como águia resgatada rumo ao
infinito. E assim voou! Voou até fundir-se no azul do firmamento”. 1
Leonardo Boff se utiliza da estória da águia e da galinha para
desenvolver, e o faz com profundidade, uma análise metafórica da existência
humana.
Por meio do relato acima, procura demonstrar que águia e galinha,
extrapolando o conceito ou definição que temos como simples animais,
representam e ilustram duas dimensões essenciais de todo e qualquer ser
humano:
“Para onde olharmos, encontraremos a dimensão águia e a
dimensão-galinha”. 2
A águia, com sua força intrínseca de arquétipo que possui, representa
a vida humana em sua transcendentalidade, captada por sonhos, desejos,
planos, projetos, buscas, vontade de ir além e por toda atitude humana que
1 Boff, Leonardo.A águia e a galinha – Uma metáfora da condição humana. Petrópolis, Rio de Janeiro. Vozes, 1997. p. 53-68. 2 Idem. Ibidem, p. 71
13 vise à superação de limites de toda espécie e à transformação do status
quo.
A galinha, por sua vez, representa o homem em seu cotidiano,
concretamente caracterizado por sua pertença a uma dada realidade,
envolto em uma teia de elementos políticos, históricos, sociais, culturais,
econômicos que o condicionam e tornam o “ser-aí”, de que nos fala
Heidegger. Tratam-se de suas características e traços
biopsicofisicogenéticos, sua família, sua comunidade social, seu dia-a-dia,
suas raízes.
O que alicerça a bidimensionalidade humana é o fato de que o
universo em si é, por essência e natureza, complexo, isto é, tudo está em
relação com tudo, tudo co-existe, inter-existe e inter-age com todos os seres
do universo.
Entender o universo pelo paradigma da complexidade significa
conceber cada par que compõe a realidade em questão como dualidade e
não dualismo, já que este vê os pares como realidades justapostas, sem
conexão ou relação entre si e apresentam os elementos que formam os
pares como excludentes. Já a dualidade procura unir o que o dualismo
separa, por entender aqueles mesmos elementos como aspectos articulados
de uma mesma complexidade.
Águia e galinha, portanto, são dimensões do ser humano que se
articulam e ganham forma no desenrolar do processo de personalização
vivido por cada um de nós.
Uma vez que somos seres inacabados essencial e existencialmente,
nossa vida consiste num trabalho de auto-construção, em que, lançando
mão da liberdade de que somos dotados, exercemos a possibilidade de nos
elaborarmos a nós mesmos.
Importante é lembrar que o exposto acima toma a liberdade em seu
conceito fenomenológico, que não elimina ou desconsidera a existência de
condicionamentos nem apresenta o outro como limite e ponto final da
liberdade de cada indivíduo, mas sim como condição sine qua non para a
existência e vivência da própria liberdade. Ser livre é ser CAPAZ de decidir e
escolher entre as diversas possibilidades, aquelas já existentes e as que o
14 próprio sujeito constrói, movendo-se criativamente entre os
condicionamentos que se apresentam, sejam eles impostos pela natureza
humana, ou pelo compromisso ético-moral, que garante e sustenta a
sobrevivência humana.
Há aqueles que pela dificuldade em lidar com a possibilidade da
escolha, preferem abrir mão deste privilégio, recusando-se a lidar com a
angústia que o leque de opções nos traz. O existencialismo os define como
inautênticos, já que voluntariamente se portam como objetos e não como
sujeitos de sua própria existência.
Assim sendo, o grande desafio a ser encarado por aqueles que optam
por assumir a possibilidade de construírem a si mesmos será fazer conviver
a águia e a galinha que co-existem em cada um de nós.
O sucesso na execução desta tarefa dependerá, antes de tudo, da
compreensão de que tentar aniquilar ou sufocar uma ou outra dimensão,
consistirá em atitude que só conduzirá à esquizofrenia.
Sobressaltar ou supervalorizar a águia retirará do homem seu
alicerce, seu chão, sua base sustentadora, sobre a qual se pretende erguer
seu edifício existencial.
Por outro lado, a fixação doentia no homem-galinha reduzirá o
indivíduo à condição de mero espectador da vida, prisioneiro que será de
seu cotidiano e limites.
O arquétipo da síntese apresentado por Leonardo Boff consiste na
transparência,
“uma das características que melhor definem a pessoa integrada e bem
realizada. A transparência é o efeito e a irradiação do diálogo constante e
fecundo entre o eu consciente e o eu profundo”. 3
Para o autor, é esse diálogo-interação que possibilita o alcance da
autenticidade, forma de vida daqueles que conseguem realizar a imanência
na transcendência e plenificar a transcendência na imanência. O autêntico
age para além do eu consciente, captando com a sensibilidade que lhe é
15 própria os anseios do eu mais profundo, estabelecendo uma sintonia fina
entre os dois eus que o faria autêntico e transparente.
A riqueza e profundidade com que Leonardo Boff desnuda a
existência humana nos tentam a prolongar ad eternum a abordagem
filosófica sobre o tema proposto por ele que até aqui se fez.
Todavia, o objetivo principal deste trabalho é estabelecer uma
reflexão acerca do papel e da atuação do orientador educacional. Assim
sendo, vejamos a partir de agora o que há de comum entre o trabalho do
orientador educacional e a estória contada por Leonardo Boff.
3 Idem, ibidem, p. 173-174
16 CAPÍTULO II – A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL
Pretender uma reflexão e análise coerentes sobre o papel e atuação
do orientador educacional de modo a buscar que sua ação seja efetivamente
educadora pressupõe e exige certa clareza conceitual quanto a esse
profissional.
Em outras palavras, antes de se tomar como fonte de reflexão a
estória proposta por Boff, é preciso esclarecer quem é o orientador
educacional, quais são seu papel e lugar dentro da educação, a trajetória
histórica percorrida pelo orientador no desempenho de sua função. De posse
desses conceitos, poderemos elaborar nossa concepção quanto ao papel e
atuação do orientador à luz de “A águia e a galinha – uma metáfora da
condição humana”.
Ao longo de toda a história da educação no Brasil, conceituar a
orientação educacional e definir seu papel se constituíram num desafio
constante, dadas as questões diversas que influenciaram e sempre
influenciarão o cumprimento daquela tarefa, tais como: O que significa
basicamente a orientação? Em que consiste sua qualificação “educacional”?
Qual o significado da orientação educacional no Brasil? Qual o perfil do
orientador educacional? Que contribuição dará a orientação ao pensamento
e planejamento de uma eficaz prática pedagógica?
As inúmeras tentativas de se responder a essas questões geraram
diversas variações do conceito da orientação educacional ao longo de sua
história. Em todas elas, no entanto, encontra-se sempre uma referência a
uma determinada ação de mudança a ser vivida por qualquer dos atores do
processo ensino-aprendizagem: aluno, escola, família, professor...
De qualquer forma, acredita-se que a orientação pode colaborar com
a educação na implantação de um projeto que torne a escola uma instituição
competente e qualificada, assim entendida por levar seus educandos à
consciência e vivência da cidadania.
Para que essa unidade seja obtida, é importante que se estabeleça a
concepção de homem a ser construído, já que ela será o referencial
norteador da prática pedagógica. Encontramos, assim, o caráter filosófico da
17 orientação educacional: para conceituá-la temos que nos valer de uma
determinada visão de ser humano, do sentido de sua existência e dos
valores que servem de parâmetro à sua ação.
2.1. Pressupostos Filosóficos
“Orientação” vem do latim oriens, particípio presente do verbo oriri,
levantar-se, ter sua origem (origo) de. Buscar a origem é procurar a gênese
e o caminho, ajudar o viajante a encontrar a direção a partir de uma viagem
interior rumo aos seus desejos mais profundos. Assim, a orientação pode ser
definida como toda e qualquer prática que visa a guiar, indicar o rumo,
instruir.
Já na vida tribal, a orientação, em seu sentido mais amplo, consistia
na ajuda dada por uma pessoa a outra, tendo em vista a sobrevivência e a
estabilidade do indivíduo e/ou do grupo.
Ao longo de toda a história da filosofia, grandes pensadores,
preocupados com a educação, apresentaram elementos da orientação
educacional.
Platão, em seu sistema educacional que se encarregava da seleção
de alunos mais aptos para os cursos superiores, destacou o papel
vocacional da orientação, que consistia na decisão do professor com base
no desempenho acadêmico do aluno.
Para Aristóteles, a educação deveria ser integral, visando a
desenvolver todas as potencialidades do indivíduo, já que seu fim último é
formar homens.
John Locke, por seu conceito de “tabula rasa”, segundo o qual todo
conhecimento humano provém da experiência, sugere a necessidade de um
orientador, que auxilie o educando na realização e exploração de suas
experiências.
Kant, ao conferir ao sujeito o papel central no mundo cognoscitivo,
inspira a orientação a conferir ao orientando o papel de centro de suas
atividades.
18 Na filosofia existencialista, a orientação encontra a reflexão sobre
uma de suas questões centrais: o processo de escolha. Cabe, aqui, uma
citação textual de Soren Kierkegaard:
“...nenhuma opção se pode fazer sem angústia. A opção é o sinal distintivo
da existência. (...) Existir é escolher-se. (...) Eu sou, de certo modo, o artífice
da minha própria essência e existo na medida em que completo essa
essência”.4
Muitos outros filósofos poderiam ser citados aqui, enquanto fontes de
reflexão sobre os fundamentos, os objetivos e o perfil do orientador
educacional. Não o faremos, contudo, já que pretendíamos, apenas, mostrar
que a orientação encontra em princípios filosóficos sua razão de ser.
2.2. Conceitos da Orientação Educacional
Ao longo dos últimos quarenta anos, a atuação do orientador
educacional passou por, pelo menos, três fases bem distintas.
A primeira delas, que coincide com o início da orientação educacional
no Brasil, é marcada pelo “orientador terapeuta”, que abordava e tratava as
situações problemáticas dos indivíduos.
Nas décadas de 60 e 70, vêem-se uma forte acentuação do caráter
preventivo da orientação educacional e a intenção clara de se retirar da
orientação seu caráter terapêutico. Nessa nova fase, a orientação buscou,
também, fazer a ponte entre a Psicologia e a educação. A prevenção era
realizada por meio de sessões de grupo, com palestras que visavam a levar
o aluno a um bom desempenho.
A terceira fase é aquela que está explícita em quase todos os
conceitos de educação e visa a atingir o aluno em sua totalidade, assistindo-
o em todos os seus momentos e decisões, colaborando, assim, com seu
desenvolvimento integral.
4 In GRISPUN, Mirian Paúra Sabrosa Zippin.O espaço filosófico da orientação educacional na realidade brasileira. Rio de Janeiro, Rio Fundo Ed., 1992, p. 79.
19 Em nossos dias, há uma tendência em situar o conceito de orientação
numa visão mais crítica, mais reflexiva da própria realidade educacional. Ela
deve ser concebida como um conjunto de atividades que, realizado no
contexto escolar, propicie ao aluno condições para que ele se posicione
criticamente em seu meio, como exercício para a vivência da cidadania.
Em síntese, é inegável a importância do trabalho do orientador
educacional no sentido de ajudar o aluno a identificar suas barreiras e
dificuldades pessoais nos estudos, de elaborar um trabalho que busque a
prevenção do fracasso escolar. Ainda mais importante, contudo, é que a
ação do serviço de orientação educacional tenha efeito perene e formativo.
2.3. Funções da Orientação Educacional
Ao longo da história, percebe-se que, se houve variação e
diversificação da forma como se conceituou a orientação educacional, o
mesmo também ocorreu quanto à definição das funções do orientador.
Se há algum tempo ao orientador foi atribuído apenas um papel de
coordenação, assessoria e consultoria, hoje seu papel está centrado nas
suas competências e no compromisso e participação no projeto
desenvolvido pela escola.
Na prática, espera-se o exercício de funções mais dinâmicas, críticas
e relacionadas com o momento atual. O grande desafio a ser vivido e
assumido pelos orientadores educacionais é caracterizado pela proposta de
uma mudança radical de suas funções, que deixam de enfatizar, em primeiro
lugar, a ajuda prestada ao aluno em seus desajustamentos emocionais, para
se fixar numa função mais política e social, que se preocupa com a escola
como um todo e com a formação do cidadão.
Em síntese, o orientador deve desempenhar as seguintes funções:
ü MEDIADORA: Por conciliar suas atribuições com as atribuições da
própria escola e por atuar como elo de ligação entre todas as
personagens envolvidas no processo educacional.
20 ü COMPLEMENTADORA: Por buscar informações que respondam às
questões que inquietam e problematizam o desempenho do aluno na
escola.
ü INVESTIGADORA: Por buscar com freqüência e constância todo o
saber necessário à sua preparação para o exercício de suas funções.
Para o cumprimento dessas funções, duas outras se apresentam
como cruciais:
ü POLÍTICA: Refere-se ao compromisso que ele assume com o
aluno e sua família, com os profissionais com quem trabalha, com
a instituição, em trabalhar da melhor forma possível.
TÉCNICA: Diz respeito ao compromisso pessoal do orientador (ele busca
um saber e realiza um fazer saber).
2.4. Desafios
Pensar a forma de atuação dos serviços que compõem a equipe
técnico-pedagógica de uma escola é deparar-se com algumas interrogações
sobre a postura que seus educadores têm diante do mundo, de seu trabalho,
de sua profissão e de seu aluno: caberá aos profissionais da educação
trabalharem pelo AJUSTAMENTO (do aluno à escola, do professor às
exigências da direção, do profissional ao mundo do trabalho) ou pela
TRANSFORMAÇÃO (do sujeito, da escola, das instituições, da sociedade)?
Acaso deve restringir-se a tarefa educativa a atender às necessidades
naturais apresentadas pelo e no cotidiano? Não caberia à escola a
provocação de novas necessidades a partir de outras dimensões da
realidade, como o sonho, o desejo, o compromisso, o afetivo?
Trata-se, no fundo, de buscar de toda atividade educativa, de toda
prática educacional o desenvolvimento e a formação do cidadão, aquele que
participa ativamente, que não espera ser chamado, mas que se engaja
espontânea e livremente na busca pela auto-determinação pessoal e social.
21 É sabido que o concreto existencial contemporâneo, no qual a
cidadania deve ser exercida, é assustador: desemprego, desestruturação
familiar, violência, a nível social; formação frágil de grande parte dos
professores, que vêem sua profissão cada vez mais desprestigiada pela
sociedade; à escola são entregues funções até então sob a prioritária
responsabilidade familiar, como a prevenção da gravidez, das drogas, a
educação dos bons costumes, o sentido da existência, entre outros.
Pelo exposto, o Serviço de Orientação Educacional, ciente de seu
papel de maior relevância, por trabalhar com a questão da construção das
identidades dos educandos e dos educadores vê-se no dever de assumir,
em todo aquele contexto, uma postura de liderança, articulando a
coletividade em torno de um novo projeto, que, comprometido com a
mudança, deve partir de onde o sujeito (professor, aluno ou pai) está,
levando em consideração seu momento pessoal, seu histórico de vida, suas
angústias e desejos, medos e sonhos, no intuito de compreender não para
justificar, mas para ajudar a mudar. Trata-se de estabelecer a dialética entre
continuidade e ruptura.
O serviço citado deve adotar como meta: o resgate da identidade do
professorado, a percepção do alunado como sujeito e a construção de uma
efetiva parceria com as famílias.
2.4.1. Resgate da identidade do professorado
Em nossos dias, percebe-se com relativa facilidade a existência de
uma séria crise de valores. É a situação do homem moderno que, ao buscar
o sentido, a motivação, o por quê de suas atitudes, depara-se com um
imenso vazio. Nas escolas, o que se encontra é um número considerável de
profissionais, principalmente professores, questionando o real valor de seu
trabalho e a utilidade de sua profissão, numa busca desenfreada por
respostas a perguntas as mais variadas.
Por todos os lados, observam-se sinais de uma realidade que precisa
ser alterada: achatamento salarial, degradação das condições de trabalho,
infra-estrutrura inadequada de muitas escolas, facilitação do acesso às
22 faculdades, os maus hábitos e a postura inadequada do aluno, entre outros
fatores, geram a constituição de um corpo docente que nem sempre tem a
sala de aula como uma opção radical e missionária pela profissão. Não é
pequeno o número de professores que, por uma relação desgastada com a
instituição em que trabalha, pelos desgostos rotineiros da profissão, pelo
cansaço dos anos a fio de trabalho, por descrença ou por qualquer outro
motivo, transformaram seu trabalho num mero meio de garantia da sua
sobrevivência.
Mas há algo ainda mais sério: não se pode esquecer daqueles que,
conformados com sua situação, já não mais perguntam. Estagnados
permanecem há muito, foram mecanizados com o tempo, engessados por
procedimentos outrora até eficazes, mas obsoletos na atualidade.
Nesse campo, a equipe técnico-pedagógica tem uma especial tarefa,
na medida em que pode ajudar a vivência do delicado processo de
hermenêutica existencial, de interpretação dos acontecimentos e de
renovação de sentido para o trabalho, auxiliando seus professores a re-
significar as opções outrora feitas.
Poderão os orientadores, a partir da abertura dada pelo professor,
pela acolhida e pelo diálogo, ajudá-lo na partilha das angústias impostas
pelo exercício da profissão e na busca conjunta de solução e respostas a
questões que também são suas.
A grande busca humana é de sentido. Quando ele falta, o sofrimento
advindo da vivência de uma determinada situação é ainda maior. Caberá
aos orientadores a responsabilidade da atuação como apoio incondicional
nessa busca.
2.4.2. Alunado como sujeito
É fato indiscutível que professor e aluno são peças imbricadas de um
mesmo processo, em que a atuação de um refletirá diretamente sobre o
outro.
23 A angústia e as dificuldades vividas pelo professor a partir da
ausência de sentido para o exercício de sua profissão também são vividas
pelo aluno. Não é à toa que percebemos em alguns alunos uma sede
enorme por um professor que tenha uma mística, que transmita alegria e
entusiasmo em sua prática pedagógica, que pensa sobre a vida além de
suas manifestações imediatas.
Ora, se queremos uma escola libertadora, que gere e transmita vida,
e vida repleta de sentido, é decisivo que os alunos assumam o papel
intransferível de sujeitos do processo de formação humana do qual
participam; que deixem de atuar como meros receptáculos do conhecimento
habitualmente transmitido e imposto pelo professor.
Aqui é importante apontar uma contradição muito concreta: muitas
vezes, na escola, nem sempre nos dispomos a “perder tempo” com as
questões de nosso aluno e com aquilo que ele tem a dizer. Há, inclusive,
aqueles profissionais que preferem mantê-lo à distância, não serem
procurados por ele, que sempre tem algo a reivindicar ou a sugerir.
Poderão os orientadores auxiliar nesse processo ao impedirem o
cerceamento da voz dos alunos, ajudando na construção de canais de
efetiva comunicação entre eles e a escola. Afinal, são eles a razão de ser de
toda a escola e de todos que nela atuam.
O trabalho da orientação com a organização dos alunos poderá, além
disso, ter um papel essencial no processo de mudança: em algumas
situações, a postura e os questionamentos dos alunos tem influência muito
maior na mudança de algumas práticas da escola do que longos discursos e
reuniões.
2.4.3. Parceria com as famílias
Desejar êxito por meio de uma proposta pedagógica que não valorize
a relação entre escola e família é absolutamente ilusório.
Cabe à família, pela transmissão dos valores e pela formação de
hábitos, a criação e o desenvolvimento de um sujeito suficientemente
24 equilibrado e paulatinamente maduro para o acompanhamento do trabalho
escolar a ser desempenhado pela escola.
Cabem à escola a corroboração dos valores trazidos de casa e a
transmissão do conhecimento intelectual que lhe é específico por sua
natureza e essência.
Todavia, é no seio familiar que o aluno deverá digerir o conteúdo
recebido da instituição e desenvolvê-lo.
A proximidade entre escola e família permitirá, assim, a avaliação do
desenvolvimento do aluno ao longo do processo, a análise das possíveis
dificuldades por ele encontradas e, pela troca de informações, o
replanejamento da atuação de ambas as partes e a formulação de
estratégias bilaterais que colaborem de maneira efetiva para o alcance dos
objetivos pré-estabelecidos.
2.5. Estratégias de ação
Na prática, o trabalho do orientador educacional poderá se concretizar
por meio de atividades como as relacionadas a seguir.
2.5.1. Eleição dos representantes de turma:
Cada turma fará a escolha por meio de voto direto de dois alunos que,
inicialmente atuarão como representantes da turma, servindo de elo de
ligação entre ela e os serviços oferecidos pela escola.
Uma vez eleitos, os mesmos terão encontros mensais com os
orientadores, no intuito de analisarem com os mesmos o momento vivido
pelas turmas, a relação entre os alunos e destes para com seus professores
e apresentarem sugestões para o dinamismo do segmento.
Além disso, receberão suporte teórico para que, aos poucos, possam
atuar em suas turmas como líderes das mesmas e não como seus meros
representantes.
A referida eleição será antecedida por um trabalho de
conscientização das turmas quanto ao papel do líder, suas qualidades
25 imprescindíveis, os critérios para sua escolha, sua forma de atuação, a
importância do voto enquanto exercício de cidadania e sobre a importância
de sua atuação junto aos serviços.
2.5.2. Realização de encontros de adolescentes
Assuntos como sexualidade humana, relações interpessoais,
prevenção ao uso de drogas, entre outros são elementos essenciais à
formação humana a serem desenvolvidos de forma interdisciplinar e sob a
liderança dos serviços.
Entendendo-se que sua discussão supera os limites de tempo e
espaço impostos pela sala de aula, os serviços proporão a realização de
encontros específicos para esse fim, fora do horário escolar, com a duração
aproximada de uma manhã ou uma tarde. Terão eles um momento de
espiritualidade, uma breve colocação sobre o tema escolhido, atividades de
discussão em grupo e um momento de lazer e descontração.
Serão, também, uma oportunidade de estreitamento dos laços que
unem os alunos e sua escola.
2.5.3. Atendimento individual a alunos, professores e famílias
A abertura ao outro por meio de sua escuta é atitude fundamental no
processo ensino-aprendizagem.
Assim, os serviços realizarão com freqüência o atendimento a alunos,
professores e famílias em sentido preventivo ou buscando, junto com eles, a
solução para problemas já existentes.
Espera-se, com isso, entre outras coisas, evitar-se a transferência
para o outro da parcela de responsabilidade que cabe a cada uma das
personagens envolvidos no trabalho pedagógico.
Os professores serão atendidos com os objetivos de apontamento das
dificuldades encontradas por eles, levantamento de alunos com dificuldades
e elaboração de estratégias de ação.
26 Os pais e/ou responsáveis serão chamados à escola oportunamente,
seja para partilhar a vivência de dificuldades ou, na inexistência das
mesmas, para o estreitamento dos laços que os unem à escola.
Atenção especial será dada aos alunos de quinta e oitava séries:
àquela, por seu ingresso em uma nova etapa do Ensino Fundamental; a
esta, como forma de preparação para sua passagem ao Ensino Médio.
Os serviços auxiliarão os alunos, também, no que diz respeito à
criação do hábito de estudos e na organização dos mesmos.
2.5.4. Trabalho junto às turmas
Eventualmente, o serviço de orientação educacional, se possível
juntamente com o serviço de orientação pedagógica, estará junto às turmas
no intuito de avaliar a vivência do processo até aquele momento, tratar de
sua relação com a escola, com os professores, de seu relacionamento
interno, em momentos de preparação para o Conselho de Classe, ou ainda
sempre que se julgar necessário.
2.5.5. Formação Continuada
A partir da relação cotidiana com os professores, alunos e todos os
que atuam junto ao segmento, os serviços estarão à disposição para o
auxílio na preparação e na realização dos encontros de formação continuada
previstos pela escola.
2.5.6. Direção
O serviço manterá junto à direção contato próximo e freqüente, que
visará a avaliar o andamento dos trabalhos realizados, o cumprimento das
atividades e ações planejadas e o alcance dos objetivos propostos, a fim de
buscar a superação das dificuldades em tempo hábil.
27 2.5.7. Integração à equipe geral
Também é importante que o orientador educacional busque estar
próximo às equipes responsáveis por outros segmentos e outros serviços e
setores da escola, de forma a promover a integração vertical de toda a
equipe técnico-pedagógica da instituição em que atua.
28 CAPÍTULO III – O ORIENTADOR EDUCACIONAL À
LUZ DE
“A ÁGUIA E A GALINHA”
3.1. O Orientador Educacional no contexto escolar
Desde o início de sua existência, o ser humano se percebe lançado
numa busca incansável de si mesmo.
Seu nascimento, que mexe e transforma o aconchego e a segurança
maternos que antes sentia, abre as portas para um mundo novo, a princípio
ameaçador, embora potencialmente rico, que deverá ser conhecido e
dominado.
A descoberta do tato, o choro, o mundo do simbolismo tratam de
devolver a sensação de poder e superioridade outrora perdida.
Os primeiros passos trazem a sensação de independência e sinalizam
seu firme desejo de construir, em pleno gozo da liberdade, seu próprio
caminho.
A descoberta da palavra e o domínio da linguagem garantem a
possibilidade da auto-manifestação de forma clara e autêntica; permitem
significar o real, buscar e transmitir conhecimento; constituem-se numa
ponte que conduz ao outro, que transmite sentimentos e emoções.
Todavia, em um dado momento, a conquista do novo exige o
desenvolvimento de habilidades e competências nem sempre alcançáveis
por uma busca solitária. A procura e a produção do conhecimento se
institucionalizam. A sede de saber se torna insaciável e incontida. As portas
da ciência se abrem e a capacidade de abstração garante o acesso a
instrumentos do pensar até então desconhecidos. A elaboração formal da
crítica e do questionamento leva “mais pra lá” a fronteira do limitado,
impossível, incompreensível e inatingível.
A escola se apresenta como local e entidade que oferece o trabalho
formal da educação, realizado por um grupo de profissionais especialmente
29 preparado para exercer determinadas funções e elaborar um projeto de ação
mais efetivo.
Historicamente falando, a escola nem sempre existiu, mas é um fruto
das transformações sociais e históricas. Quando nas sociedades primitivas,
a produção de bens ultrapassa o necessário para o consumo imediato, o
saber, que era coletivo, torna-se privilégio de alguns e surge a necessidade
de uma instituição que atuasse como responsável por transmitir o saber
acumulado.
A escola institucionalizada, como a conhecemos, é uma criação
burguesa do século XVI. Daquela época são os registros da fundação, nos
colégios criados pelas ordens religiosas, de uma escola que absorve todo o
tempo da criança, de modo a restringir sua convivência e separá-la do
mundo para que não fosse contaminada pelos vícios. A educação era
pautada na disciplina e um de seus objetivos era inculcar na criança regras
de conduta, ainda que para isso se fizesse indispensável a aplicação de
castigos corporais.
A escola burguesa despreza os interesses da criança, enfatiza a
formação moral e os estudos humanísticos e dá grande peso ao trabalho,
rigoroso e extenso.
A Revolução Industrial altera em alguns aspectos a estrutura escolar
burguesa, já que acentua a necessidade da formação técnica especializada,
mas não evita a perpetuação de um modelo tradicional de escola até nossos
dias, embora diversas teorias tenham sido elaboradas ao longo da história,
na tentativa de adequar a prática pedagógica às exigências da modernidade
e pós-modernidade.
Fato é que as diversas críticas atestam a insuficiência daquele
modelo educacional em atender a demanda de um mundo em constante
mudança, profundamente influenciado pela ciência e pela tecnologia.
Na busca por responder às diversas questões suscitadas pela
necessidade de construção de um novo modelo educacional, que venha a
diminuir o abismo existente entre a educação e a vida, entre os diversos
profissionais da educação, destaca-se o orientador educacional, cuja
atuação vai além do atendimento a alunos com notas ruins ou às suas
30 famílias. Cabe a ele a desafiadora missão de iniciar e encabeçar todo um
trabalho de reflexão sobre o fazer pedagógico da instituição da qual faz
parte, desde a escolha e vivência de seu marco doutrinal, passando pela
vigilância quanto à sua vivência, a organização do dia-a-dia escolar que
deve estar em consonância com os princípios filosóficos da escola até o
processo de avaliação institucional.
É esta atuação que pretendemos pensar a partir da obra de Leonardo
Boff.
3.2. O Orientador Educacional a partir de “A Águia e a
galinha”
Uma leitura atenta da estória da águia e da galinha possibilita
relacioná-la ao trabalho da orientação educacional.
Desde a queda sofrida pela águia, passando pelo seu encontro com o
viajante, pelo tratamento que recebeu, por todo o processo de recuperação
vivido por ela, até seu reencontro consigo mesma, que trouxe à tona seu eu
profundo, deparamo-nos com uma série de elementos ou situações
inerentes ao dia-a-dia do orientador.
Estabelecer esse paralelo possibilitará significar ou até mesmo re-
significar o educando, a forma como este encara a si mesmo e o processo
ensino-aprendizagem e o educador.
Talvez seja prudente iniciar nossa comparação a partir da definição
do papel da orientação educacional. Neste sentido, à pergunta: “o que é ou o
que faz o orientador?”, poderemos responder que ele é um elemento de
suma importância em uma equipe técnico-pedagógica, que deve ter acesso
a todos os profissionais da instituição da qual faz parte, pelo caráter
dinamizador intrínseco à sua função, isto é, deve ter atuação abrangente,
que extrapola o âmbito pedagógico do trabalho escolar.
No que diz respeito à sua ação junto ao educando, terá como um dos
desafios a serem enfrentados o fazer com que o mesmo se assuma e atue,
de fato, como SUJEITO de seu processo ensino-aprendizagem, o que
envolve responsabilidade, busca e construção da autonomia,
31 desenvolvimento do senso crítico e adoção de uma postura criativa e
produtora do conhecimento.
Possibilitar a construção do indivíduo como educador e não como
mero aluno significa reconhecer e valorizar o papel peculiar que lhe cabe na
educação. Toda e qualquer prática pedagógico-educacional que se pretenda
efetivamente construtora não pode prescindir da participação ativa do
educando: não se pode excluir do planejamento, da execução e da avaliação
de todo o processo aquele a quem os mesmos se destinam. Deve, portanto,
o orientador trabalhar para que seu educando assuma, paulatinamente e
com a maturidade que se requer, seu próprio espaço.
A colheita dos frutos do trabalho da orientação junto a seus
educandos dependerá significativamente da qualidade da relação que será
estabelecida entre eles. A exemplo das águias, espécie em que o macho e a
fêmea mantêm vínculo de fidelidade por toda a vida, é fundamental que o
relacionamento entre orientador e orientando seja marcado pela confiança e
transparência. Precisa ter o orientador uma postura tal, que garanta ao seu
educando a percepção da existência de um porto seguro, alguém com quem
possa contar de fato.
Nesse contexto, mais facilmente poderá o orientador auxiliar o
orientando na descoberta e construção de si mesmo, pela elaboração de sua
identidade, formação de sua personalidade e descoberta e concretização de
seu potencial. Levando-se em conta que a educação, mesmo aquela
oferecida no espaço escolar, não se restringe à transmissão de
conhecimentos pré-elaborados, mas visa à formação de todo homem e do
homem todo, deve-se buscar com constância a elevação da auto-estima do
formando, desenvolver sua capacidade de superação das dificuldades, sua
criatividade diante das situações negativas que venha a enfrentar, além de
ajudá-lo a descobrir e/ou elaborar suas fontes de energia.
O trabalho educacional está ligado, contudo, a alguns pressupostos
básicos.
O conhecimento da história do aluno é peça chave, já que o que
temos hoje nos chega como fruto de um passado e se apresenta como a
semente do que poderá ser desenvolvido no futuro. Além disso, as
32 dificuldades poderão ser mais facilmente solucionadas a partir da
consciência de suas raízes e das tentativas que já foram feitas em busca de
sua superação. O desejo de conhecer o outro implica em sua observação
minuciosa, que permite diagnosticar com precisão e sem enganos sua
situação real, a exemplo do que viveu a águia ferida: a primeira impressão
do empalhador dava-lhe conta de uma eventual morte da ave, o que não
correspondia à realidade.
Não se pode esquecer, também, que a trajetória de vida do educando
representa apenas uma parcela de todo um processo, que tem início com
seu nascimento, e não terá fim. Nesta visão, o resultado é sempre
importante, mas o são ainda mais as ações e os comportamentos e as
experiências realizadas no dia-a-dia. Cada homem tem seu tempo, seu
ritmo, que devem ser respeitados, assim como a recuperação da águia
ocorreu de forma lenta, mas constante e firme. Apressá-los poderá significar
uma queima de etapas ou estágios, que mais cedo ou mais tarde precisarão
ser vividos.
Entendida a caminhada do aluno como um processo vivido por ele, é
importante que esse mesmo processo seja acompanhado realmente pelo
orientador e da forma correta. Orientar é diferente de viver ou resolver pelo
outro e igual a estar próximo, por perto, refletir junto, aconselhar, ajudar a
visualizar e construir opções.
Cada mal requer um remédio na medida exata. O tratamento dado à
águia, tendo em vista sua recuperação, tem sua correspondência na relação
entre orientador e educando: a crença na capacidade de reação do aluno em
seus momentos de queda, o cuidado em detectar e analisar suas
deficiências (feridas), a paciência em ministrar com constância os cuidados
necessários à sua recuperação total, a persistência em ajudá-lo a descobrir
sua fonte de energia, conduzindo-o a ela até que possa produzir seu efeito
são elementos de uma atuação autêntica e realizadora do orientador
educacional.
33 CAPÍTULO IV – O ARQUÉTIPO DO HERÓI/HEROÍNA
De acordo com Leonardo Boff, assim como a estória da águia e da
galinha nos possibilitam a realização de uma metáfora da condição humana,
da mesma forma a queda vivida pela águia reflete as inúmeras situações
desafiadoras vividas pelo ser humano. Isto quer dizer, que assim como a
águia, também o homem se fere.
A queda humana, contudo, deve ser encarada como algo inerente ao
processo de personalização enfrentado pelo ser humano em seu dia-a-dia,
ou seja, na caminhada em busca de si mesmo, o indivíduo se depara com
aspectos e elementos positivos e negativos, também. A vida é feita de altos
e baixos. Toda estrada comporta encruzilhadas. E diante delas, o que fazer?
Para o autor,
“nas opções emerge o que somos por dentro: heróis e heroínas, fiéis até o
sacrifício pessoal. Ou indecisos, covardes, vítimas de nossa própria
omissão”.5
Em outra passagem, afirma Leonardo Boff:
“em toda situação de abandono está presente uma tentação e uma chance.
A tentação consiste nisto: a pessoa não enfrenta o desamparo. (...) Mas há a
chance de a pessoa aceitar o desafio do desamparo e crescer com ele”.6
Mas, quem é o herói de quem tanto fala Boff? Ele não se refere ao
herói que costumeiramente se vê nas estórias em quadrinhos, filmes ou
desenhos animados, e sim a todo aquele que corajosamente assume sua
vida como ela é e se dispõe a edificá-la pelo enfrentamento e superação das
dificuldades e não pela fuga dos mesmos.
5 Boff, Leonardo.A águia e a galinha – Uma metáfora da condição humana. Petrópolis, Rio de Janeiro. Vozes, 1997. p. 113 6 Idem, ibidem, p. 118.
34 Segundo Leonardo, o herói/heroína passa por seis situações ou
estágios no seu processo de individuação. O enfrentamento e a superação
de cada um deles simboliza um degrau a mais na escala do
amadurecimento humano.
Entendeu-se ser importante a abordagem dessa análise do autor,
uma vez que, em nossa visão, o trabalho do orientador deve ajudar seu
educando a perceber e vivenciar essas mesmas etapas em sua vida, na
busca pela realização e perfeição humanas.
Além disso, que também o próprio orientador reflita sobre o
cumprimento dessas mesmas etapas sua história de vida, as experiências
por que passou contribuirão de forma decisiva em seu trabalho, isto é, falar
sobre as etapas tendo passado por elas será muito mais frutífero do que
falar sobre elas sem tê-las vivido.
A primeira situação existencial que concretiza o arquétipo do
herói/heroína é a representada pela situação da águia caída e ferida.
Quedas e ferimentos simplesmente fazem parte da vida humana, e se
concretizam das mais variadas formas. Refere-se à fragilidade do homem,
que, com freqüência, se percebe isolado, diminuído, perdido, entregue à
sorte ou ao acaso, desprovido, à espera de quem o apanhe, erga do chão e
dele cuide.
Incapaz de reconhecer que o sofrimento faz parte da natureza do
homem, é comum que muitos deles se rebelem e reduzam a uma postura
sensacionalista, melancólica e covarde, que lhe impede a possibilidade do
crescimento.
O enfrentamento e a reação à queda representam, assim, a figura do
herói/heroína: do agüente, da resistência e da coragem.
Desse enfrentamento do abandono nasce o segundo traço do
arquétipo do herói. Trata-se do caminhante ou peregrino.
A busca de uma solução depende basicamente de se colocar a
caminho, uma postura que demanda tempo, paciência e autoconfiança e
impede o comodismo e a estagnação.
A figura do terceiro tipo de herói é a do lutador. Em nosso cotidiano
percebemos que as grandes conquistas exigem sempre grandes esforços e,
35 muitas vezes, grandes riscos também. Como não citar as muitas lutas
necessárias à garantia da sobrevivência de pessoas ou até de famílias
inteiras que compõem as camadas mais baixas de nossa sociedade, de
quem se retira até mesmo a dignidade? Nessas lutas, muitas vezes o
“inimigo” é externo, mas, em outras, ele se encontra dentro do próprio
indivíduo: são os próprios limites que precisamos superar, assim como a
águia teve que vencer seu medo para voar novamente, depois de tocada
pelo poder vivificador do Sol.
Quem luta precisa estar ciente de quem sempre se sai delas
vencedor. O mártir, quarto arquétipo do herói/heroína é aquele que aceita a
dor, todo tipo de sacrifício e até mesmo a morte, se necessária, não como
uma atitude masoquista, mas como preço a ser pago pelas causas e
objetivos pelos quais tudo vale a pena. Dessa forma, o sofrer ganha outro
sentido, ou melhor, passa a ter sentido, compreendido como última instância
da fidelidade a um projeto de vida, com o qual se busca a coerência.
Há ainda o quinto arquétipo do herói, que é o sábio. O sábio é aquele
que sabe o saber que tem sabor, o que resulta de experiências muitas delas
dolorosas, fruto de sofrimento. De acordo com Boff, trata-se daquele que
consegue ver além das aparências e nem se deixa iludir por elas, captando
com sensibilidade a verdade profunda, não perceptível pelo senso comum.
Leonardo ainda estabelece uma importante característica pela qual o
sábio é assim definido. Segundo ele, o sábio também é capaz de ver as
coisas pelo prisma do Absoluto, o que encaminha o homem para o encontro
com sua “Fonte Suprema”.
Por último, o sábio nos remete ao último traço característico do herói,
que é o mago. Este consegue “criar uma totalidade final sem deixar sobras”
e encurta a distância entre o eu profundo e o eu consciente, fazendo-nos ir
de encontro a Deus.
Pelo apresentado, o arquétipo do herói/heroína permanece de forma
irrecusável como um ideal e modelo a seguir na construção de nós mesmos,
uma vez que possibilita nova compreensão da dramaticidade da vida
36 humana e, ao mesmo tempo, apresenta um caminho alternativo para sua
vivência e superação.
O Orientador Educacional é alguém que deve buscar a experiência da
construção desse modelo de ser humano, de forma a apresentar esse
caminho a seus orientandos. Sua atuação será fundamental em seu
trabalho, principalmente se o desempenha junto à faixa etária da
adolescência, período em que se lida com mais intensidade e com maiores e
mais numerosos conflitos a condição humana manifestada pela águia e pela
galinha que convivem em nós.
37 CONCLUSÃO
O trabalho do orientador é atividade educacional carregada de
desafios.
O primeiro deles é justamente estender o conhecimento relativo à
importância da sua própria função dentro do âmbito escolar. É fato inegável
que muitos educadores, inclusive diretores de escolas, desconhecem, por
completo, a contribuição que o orientador pode dar ao trabalho desenvolvido
pelas instituições de ensino. Assim, acabam por vê-lo como peça
dispensável no processo ensino-aprendizagem.
Além disso, por seu caráter dinâmico, é imprudente transformar em
dogma um conceito para seu papel ou suas funções. Se dinâmica é sua
função, salvos seus princípios filosóficos que lhe dão especificidade, sua
atuação deve se adequar à realidade e às necessidades da instituição em
que atua e das pessoas com as quais lida.
Deve, ainda, estar atento ao orientador quanto ao limite de sua
atuação. Há que se ter cuidado de forma a evitar que não apenas seja visto,
mas que atue apenas como alguém que se dedica a atender a alunos com
notas ruins e suas famílias; por outro lado, deve estar atento a não invadir o
espaço de outros profissionais que podem e devem atuar junto aos
educandos, como psicólogos, psicopedagogos e outros mais.
O orientador educacional também deve ter em mente que o papel da
escola não se restringe à transmissão de conhecimentos, também sua
atuação deve extrapolar o pedagógico e visar à formação do indivíduo como
um todo, o que supera o horizonte meramente pedagógico.
Por fim, o zelo e a dedicação que demandam o trabalho do educador
estabelecem como condição ao sucesso esperado muita sensibilidade e
amor ao que se faz. Não se educa, tampouco será possível auxiliar na
construção do arquétipo do herói/heroína, sem sensibilidade ou sem
reconhecer em si mesmo a vocação para o trabalho educacional.
38
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BOFF, Leonardo. A águia e a Galinha – Uma metáfora da condição humana.
40ª edição. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
GRISPUN, Mirian Paúra Sabrosa Zippin.O espaço filosófico da orientação
educacional na realidade brasileira. Rio de Janeiro: Rio Fundo Ed., 1992
GRISPUN, Mirian Paúra Sabrosa Zippin (Org.). A prática dos orientadores
educacionais. São Paulo: Cortez, 1994.
NEVES, Maria Aparecida C. Mamede (Org.) A orientação educacional –
Permanência ou mudança. 3ª edição. Petrópolis, RJ: Vozes, 1986.
39
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02
RESUMO 03
METODOLOGIA 04
SUMÁRIO 05
INTRODUÇÃO 06
CAPÍTULO I – “A águia e a galinha” - considerações iniciais 07
CAPÍTULO II – A Orientação Educacional 16
2.1. Pressupostos filosóficos 17
2.2. Conceitos da Orientação Educacional 18
2.3. Funções da Orientação Educacional 19
2.4. Desafios 20
2.4.1. Resgate da identidade do professorado 21
2.4.2. Alunado como sujeito 22
2.4.3. Parceira com as famílias 23
2.5. Estratégias de ação 24
2.5.1. Eleição de representantes de turma 24
2.5.2. Realização de encontros de adolescentes 25
2.5.3. Atendimento individual a alunos, professores e famílias 25
2.5.4. Trabalho junto às turmas 26
2.5.5. Formação continuada 26
2.5.6. Direção 26
2.5.7. Integração à equipe geral 27
CAPÍTULO III – O Orientador Educacional à luz de “A águia e a galinha” 28
3.1. O Orientador Educacional no contexto escolar 28
3.2. O Orientador Educacional a partir de “A águia e a galinha” 30
CAPÍTULO IV – O arquétipo do herói/heroína 33
CONCLUSÃO 37
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 38
ÍNDICE 39
FOLHA DE AVALIAÇÃO 40
40 FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes
Título da Monografia: A Orientação Educacional à luz de “A águia e a
galinha – Uma metáfora da condição humana
Autor: Luciano Felismino de Melo
Data da entrega: 08 de Janeiro de 2005.
Avaliado por: Conceito: