47
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL UMA SAÍDA PARA O ENSINO BÁSICO ? Por: Suzana Henrique da Silva Orientador Prof. Dr. Fernando Gouvêa Rio de Janeiro 2009

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · 2009-08-06 · Avaliação Institucional Externa defendida e promovida em larga escala pelo governo, não é suficiente

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL UMA SAÍDA PARA O ENSINO

BÁSICO ?

Por: Suzana Henrique da Silva

Orientador

Prof. Dr. Fernando Gouvêa

Rio de Janeiro

2009

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL UMA SAÍDA PARA O ENSINO

BÁSICO ?

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Administração

e Supervisão Escolar.

Por: . Suzana Henrique da Silva.

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos familiares, amigos e

alunos.

4

DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho à Ana, amiga de

todas as horas.

5

RESUMO

Sabendo que nos dias atuais a Avaliação Institucional adquire um peso cada vez maior para as instituições educacionais, assim como, para a sociedade em geral, e sendo a Avaliação um mecanismo que orienta e acompanha o processo educativo, é inevitável à reflexão sobre a ação que o educador deve ter frente à Avaliação Institucional. Se faz necessário desvelar que implicações (positivas e negativas) tal avaliação legou para a educação brasileira. A partir desta compreensão escolheu-se o tema: “Avaliação Institucional uma saída para o Ensino Básico?”. Acreditamos que somente a Avaliação Institucional Externa defendida e promovida em larga escala pelo governo, não é suficiente para sanar as mazelas educacionais brasileiras, pois mascara e deturpa inúmeros aspectos sociais envolvidos. Ela pode e deve ser mais um instrumento, mas não o único e decisivo instrumento no qual se lançam todas as tomadas de decisões sobre os rumos da educação. A pesquisa realizada procurou analisar o caminho que a Avaliação Institucional percorreu no Brasil especificamente no Ensino Básico. A pesquisa foi iniciada a partir do histórico da Avaliação Institucional Externa, passando pelas políticas contemporâneas de Avaliação Institucional (também externas) até chegar na Avaliação Institucional Interna, ou seja, a Avaliação Institucional que queremos e que deveríamos ter, mas que não acontece na prática cotidiana das escolas e que também não é fomentada pelas políticas educacionais vigentes no país.

Palavras-chave: Avaliação,Institucional, Ensino

6

METODOLOGIA

A metodologia adotada para realizar este trabalho monográfico foi

realizada mediante pesquisa bibliográfica e webgráfica. Através da leitura e

análise de vários textos e obras de renomados autores, como também de sites

oficiais como o INEP, procurou-se o aprofundamento necessário ao tema

proposto.

Após coleta de material, buscou-se organizar cada capítulo de acordo

com uma ordem cronológica, tendo por objetivo facilitar a leitura e

compreensão do trabalho monográfico.

No interior do trabalho encontra-se a abordagem histórica e teórica da

Avaliação Institucional brasileira, bem como informação acerca do uso de tais

avaliações pelo governo.

De forma clara e objetiva procurou-se abordar o conceito de Avaliação

Institucional e provocar uma reflexão a respeito das dificuldades/distorções que

podem ser produzidas por tal avaliação.

Com esta construção espera-se contribuir para uma melhor

compreensão, por parte de todos os atores envolvidos no mundo educacional,

acerca das Avaliações Institucionais e sua influência direta no universo escolar.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - O Histórico 10

CAPÍTULO II - Avaliação Contemporânea 24

CAPÍTULO III - A Proposta 34

CONCLUSÃO 42

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 43

ÍNDICE 45

FOLHA DE AVALIAÇÃO 46

8

INTRODUÇÃO

A preocupação com a qualidade da educação pública que é oferecida

à população vem crescendo e tem sido expressa com relativa freqüência pela

mídia em geral.

Tem-se como referencial de qualidade de uma escola a aprendizagem

alcançada por seus alunos que é comprovada através de inúmeras avaliações

escolares. Essas avaliações não se limitam a avaliar o aluno simplesmente, na

verdade, as avaliações alcançam toda a instituição escolar. São as chamadas

Avaliações Institucionais Externas, promovidas, elaboradas e disseminadas

pelo aparelho governamental, ou seja, é investigada a capacidade que a

instituição demonstra em favorecer a superação das dificuldades encontradas

pelos alunos.

Este trabalho monográfico levanta a seguinte problemática: Porque a

Avaliação Institucional Interna não é realizada no Ensino Fundamental ?

Este estudo tem como objetivo analisar a Avaliação Institucional no

Ensino Fundamental, sua importância, seus acertos e equívocos. Também se

propõe a estudar a quem cabe a tarefa de realizar tal avaliação, se cabe ao

governo ou a comunidade escolar como um todo.

Utilizamos como delimitação ao trabalho o estudo sobre a Avaliação

Institucional realizada no Ensino Básico.

Este trabalho monográfico está organizado em três capítulos. O

primeiro capítulo fala do histórico da Avaliação Institucional Externa no Brasil,

buscando relatar as suas origens, a criação de inúmeros órgãos de controle e

suas atribuições e tempo de duração.

No segundo capítulo fala-se da Avaliação Institucional Contemporânea,

suas políticas públicas atuais de Avaliação Institucional Externa.

9

Já o terceiro capítulo trata da Avaliação Institucional que queremos e

desejamos para a escola pública, ou seja, a Avaliação Institucional Interna,

como reflexo de uma escola autônoma e participativa. Tal avaliação é dirigida,

construída e direcionada por toda a comunidade escolar, ela nasce e cresce no

interior da escola e não vem pronta e acabada como a avaliação externa.

Na conclusão apresentamos algumas considerações apuradas no

desenvolvimento ao longo dos capítulos que julgamos pertinentes.

Neste sentido foi proposta uma pesquisa que visa esclarecer dúvidas a

respeito das avaliações institucionais, levantar questionamentos.

Assim, esperamos que o presente trabalho possa contribuir para uma

reflexão e análise mais aprofundadas acerca do verdadeiro papel que a

Avaliação Institucional provoca na vida educacional de milhões de crianças e

adolescentes no nosso país.

10

CAPÍTULO I

HISTÓRICO DA AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL NO

BRASIL

Podemos dar inúmeras aplicações para a avaliação institucional.

Uma delas,de Pedro Demo (2002) é a seguinte: “ Toda proposta que se quer

qualitativa precisa recorrer à avaliação para poder gerar e manter qualidade,

além de avançar nela ” (p.73).

1.1 - Origens da Avaliação Institucional (Externa)

A estrada que levou à construção de um sistema nacional de avaliação

da educação básica no Brasil foi longa. As primeiras medições da educação

faziam parte do Anuário Estatístico do Brasil e começaram a ser realizados a

partir de 1906. Eram levantados dados sobre os níveis de ensino público e

privado existentes na época, que eram: superior, profissional, secundário e

primário. Os dados eram coletados basicamente no Distrito Federal,na época

a cidade do Rio de janeiro, e forneciam anualmente, até 1918, informações

sobre o número de escolas, de pessoal docente, de matrículas e de

repetências. Após uma longa interrupção, os dados voltam a ser coletados a

partir de 1936, envolvendo agora informações não somente do Distrito Federal,

mas de todo o Brasil (IBGE,2003).

11

Em 1925, a administração da educação ganhou um órgão próprio com

a edição do Decreto 16.782 que criou o Departamento Nacional de Ensino

vinculado ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Menos de um mês

depois da vitória da Revolução de 1930, é criado o Ministério dos Negócios da

Educação e Saúde Pública pelo Decreto 19.402, e o antigo Departamento

Nacional de Ensino passa a fazer parte do novo ministério. No ano seguinte é

aprovado o regulamento que rege o novo ministério, através do Decreto

19.560/31, que definia entre outras medidas a criação da Diretoria Geral de

Informações Estatísticas e Divulgação, que seria a responsável pelo

levantamento dos dados relativos à educação.

No início da década de trinta, houve no mundo um renovado interesse

pela avaliação dos processos que aconteciam na escola, notadamente nos

Estados Unidos, coincidindo com o momento em que houve um forte aumento

da demanda por educação nos países centrais, trazendo questionamentos

sobre se o conteúdo do que se aprendia na escola era o necessário para a

vida em sociedade. Esta preocupação não era a central quando a educação

ainda não era massiva, e era destinada à elite que mantinha seus filhos na

escola e que controlava de perto seus resultados.

Em 1934, no Brasil, é criado, através do Decreto 24.609, o Instituto

Nacional de Estatísticas, embrião do atual Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística – IBGE, com o objetivo de “promover e fazer executar, ou orientar

tecnicamente, em regime federalizado, o levantamento sistemático de todas as

estatísticas nacionais. Esse instituto coordenava os trabalhos dos organismos

responsáveis pelos levantamentos estatísticos dos diversos órgãos do governo

federal, entre eles a Diretoria Geral de Informações Estatísticas e Divulgação.

De acordo com o decreto, esta Diretoria tinha como responsabilidade “os

levantamentos pertinentes aos fatos educacionais, culturais e médicos

sanitários”.

12

Em 1937, o Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública,

passa a chamar-se Ministério da Educação e Saúde, por determinação da Lei

378. Essa lei também criou o Instituto Nacional de Pedagogia “destinado a

realizar pesquisas sobre os problemas do ensino nos seus diferentes

aspectos”.

No ano seguinte, já na vigência do Estado Novo, o nome e os

objetivos do Instituto são alterados e ele recebe o nome de Instituto Nacional

de Estudos Pedagógicos – INEP, com a atribuição de funcionar como “centro

de estudos de todas as questões educacionais relacionadas com os trabalhos

do Ministério da Educação e Saúde”. O artigo 2º do Decreto 580/38

determinava que o INEP teria as seguintes competências:a) Organizar

documentação relativa à história e ao estudo atual das doutrinas e das

técnicas pedagógicas, bem como das diferentes espécies de instituições

educativas; b) manter intercâmbio, em matéria de pedagogia, com as

instituições educacionais do país e do estrangeiro; c) promover inquéritos e

pesquisas sobre todos os problemas atinentes à organização do ensino, bem

como sobre os vários métodos e processos pedagógicos; d) promover

investigações no terreno da psicologia aplicada à educação, bem como

relativamente ao problema da orientação e seleção profissional; e) prestar

assistência técnica aos serviços estaduais, municipais e particulares de

educação, ministrando-os, mediante consulta ou, independentemente dessa,

esclarecimentos e soluções sobre os problemas pedagógicos; f) divulgar, pelos

diferentes processos de difusão, os conhecimentos à teoria e à prática

pedagógicas.

Nos seus primeiros anos de vida, o órgão tinha como preocupações

temas que variavam desde a “psicologia escolar, aos custos e despesas por

nível de governo, no Brasil e no exterior, com enfoque comparado” (CASTRO

1999,p.2).

13

Foi somente em 1953, durante o segundo mandato constitucional de

Vargas, que acontece a separação entre as ações da educação e as da saúde.

A Lei 1.920 determinava que o antigo ministério passasse a chamar-se

Ministério da Educação e Cultura e cria o Ministério da Saúde. Na estrutura do

Ministério da Educação é criado o Serviço de Estatística da Educação e

Cultura – SEEC, que assume as funções de realizar os levantamentos

estatísticos dos dados da educação e da cultura.

Em 1961, durante o regime parlamentarista, tendo Tancredo Neves

como Primeiro Ministro, é aprovada pelo congresso a Lei de Diretrizes e Bases

da Educação Nacional – LDBEN. Entre os diversos temas de que tratava a Lei

4.024/61, destaca-se a primeira referência de um instrumento legal ao termo:

qualidade da educação. No seu artigo 96, a Lei determina que cabe ao

Conselho Federal de Educação e aos conselhos estaduais de educação

desenvolver esforços para:

[...] Melhorar a qualidade e elevar os índices de produtividade do ensino em relação ao seu custo:

-Promovendo a publicação anual das estatísticas do ensino e dados complementares, que deverão ser utilizados na elaboração dos planos de aplicação de recursos para o ano subseqüente.

-Estudando a composição de custos do ensino público e propondo medidas adequadas para ajustá-lo ao melhor nível de produtividade.

É interessante destacar no termo dessa Lei, datada de 1961, a

associação entre qualidade e os índices de produtividade do ensino, tendo

como parâmetro seu custo. Esse tema só começaria a ganhar relevância no

mundo todo a partir da década de 1980 na onda das reformas neoliberais.

Na década de sessenta, a relação entre avaliação e qualidade foi tema

de destaque internacional e teve seu marco de referência nos Estados Unidos

a partir de 1965. Nesse ano foi realizado o primeiro grande levantamento

educacional em larga escala, que deu origem ao chamado Relatório Coleman.

Este estudo baseou-se em uma pesquisa do governo americano envolvendo

645 mil alunos distribuídos em cinco diferentes níveis de ensino, com o objetivo

14

de verificar entre diversas escolas, qual era a variação dos conhecimentos

adquiridos pelos alunos. Este estudo foi resultado direto da Lei dos Direitos

Civis de 1964 daquele país, que procurava resgatar os direitos dos negros.

Pela primeira vez verificou-se que as diferenças existentes entre os alunos

eram explicadas muito mais pelas variáveis socioeconômicas do que por

causas existentes no interior das escolas (BONAMINO e FRANCO, 1999:

Vianna, 2005). Os resultados desse relatório foram amplamente divulgados

em diversos países, inclusive aqui no Brasil, dando origem a debates e estudos

acadêmicos sobre os fatores que influenciavam a qualidade educacional.

Nessa mesma época, também é criado nos Estados Unidos o National

Assessment Educational Program – NAEP, ligado ao Departamento de

Educação do governo americano, que desde 1969 vem periodicamente

realizando avaliações educacionais.

No Brasil, em 1970, durante o governo Médici, o INEP ganha

autonomia administrativa e financeira. Em 1972, através do Decreto 71.407, o

órgão recebeu nova denominação passando a chamar-se Instituto Nacional de

Estudos e Pesquisas Educacionais. Entre suas atribuições, estava a de

“exercer todas as atividades necessárias ao estímulo, coordenação, realização

e difusão da pesquisa educacional no país” (Brasil, 2005), mas ainda não fazia

parte de suas atividades a avaliação educacional. Nos anos seguintes, os

decretos 75.625/75 e 99.678/90, alteram algumas funções do INEP, sem que a

essência do que fora definido pelo Decreto anterior fosse alterada.

A primeira experiência de avaliação na educação aconteceu por

iniciativa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior,

CAPES, órgão ligado ao MEC. Em 1976 ela ainda inicia a avaliação dos

programas de pós-graduação existentes no país.

No período entre fins dos anos oitenta e início dos anos noventa,

durante os governos João Figueiredo e Sarney, respectivamente, o INEP teve

15

uma inexpressiva atuação, e chegou quase a ser extinto durante o governo

Collor (15/03/1990 a 02/10/1992).

Depois de mais de 25 anos, o termo qualidade voltou a aparecer nos

textos legais, agora na Constituição Federal de 1988. No seu capítulo sobre

Educação, a Constituição estabelece que a educação deve ser ministrada com

base em sete princípios, dentre eles a “garantia do padrão de qualidade”.

Apesar de presente na Constituição nenhuma legislação complementar definiu

qual seria esse padrão.

Em 1993, o então ministro Murílio Hingel divulga o Plano Decenal de

Educação para Todos. Esse Plano, que previa uma série de ações com o

objetivo de melhorar a educação brasileira, encaminhava-se para a aplicação

e o desenvolvimento do Sistema de Avaliação da Educação Básica – SAEB,

com a finalidade de “aferir a aprendizagem dos alunos e o desempenho das

escolas de 1º grau e prover informações para a avaliação e revisão de planos

e programas de qualificação educacional” (BRASIL, 1993, p. 51) Destaca

também que seus objetivos seriam a implantação de núcleos de estudos de

avaliação em universidades e centros de pesquisa, formação e capacitação de

recursos humanos na área, e a produção de pesquisa aplicada para subsidiar

políticas públicas de qualidade educacional.

Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, no ano de 1995, é

elaborado um Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado. Neste Plano

estão indicadas algumas diretrizes que influenciaram determinantemente o

processo educacional brasileiro. Dentre elas, podemos citar a

descentralização, como uma nova visão para a gestão das instituições

públicas, balizadas pelos princípios de eficiência, autonomia e participação

social; esta última considerada como fator de “melhoria da qualidade e

eficiência na prestação de serviços pelo setor público” (BRASIL/MARÉ, 1995ª,

p. 5). Uma outra questão que ganha relevância no Plano é a qualidade dos

serviços prestados pelo Estado. Para tanto, o Plano propõe a implantação de:

16

Uma ação de avaliação institucional, com o objetivo de identificar a finalidade

de cada órgão da administração pública no sentido de promover o

(re)planejamento com os objetivos maiores do Estado. Em seguida, será

elaborada uma sistemática de avaliação, a partir da construção de indicadores

de desempenho que permitam mensurar os graus de concepção dos objetivos

pretendidos (BRASIL/MARÉ, 1995ª p. 4).

Determinações legais também aparecem nos textos legais que seriam

editados na década de 1990. Em 1996, foi aprovada a nova LDBEN, Lei

9.394. Pela primeira vez a legislação refere-se à coleta de informações e à

avaliação com o objetivo de atuar sobre a qualidade do ensino. Em seu artigo

9º, inciso V, a Lei determina que cabe à União a coleta, a análise e a

disseminação de informações sobre educação. O inciso VI, desse mesmo

artigo, estabelece também que a União, em colaboração com os sistemas de

ensino, deve assegurar um processo nacional de avaliação do rendimento

escolar nos dois níveis de ensino com o objetivo de definir prioridades para

melhorar a qualidade do ensino,

Ainda em 1996, durante a gestão do ministro Paulo Renato no

Ministério da Educação, foi editado o Decreto MEC nº1.917 que determinava,

entre outras medidas, a criação da Secretaria de Avaliação e Informação

Educacional (SEDIAE). Por meio dela, o MEC buscava dar concretude à

determinação da LDBEN de assegurar um processo de avaliação do

rendimento escolar. Algumas das atribuições dessa Secretaria eram: Planejar,

orientar e coordenar o desenvolvimento de sistemas de avaliação institucional,

visando ao estabelecimento de parâmetros e indicadores de desempenho nas

atividades de ensino do país: subsidiar a formulação de políticas e o

monitoramento do sistema de ensino, com os dados gerados pelos sistemas

de estatísticas e informações educacionais.

Faziam parte da estrutura dessa secretaria os departamentos de:

Avaliação da Educação Básica, Apoio Técnico à Avaliação dos Cursos de

17

Graduação, por fim, Estatísticas Educacionais. Esta Secretaria teve vida curta

e nove meses depois o decreto que a criou foi revogado pelo Decreto

2.146/97, que transfere as suas funções para o INEP, ao mesmo tempo que

aprova uma nova estrutura para esse Instituto.

O INEP então passou a ter as seguintes atribuições:

-Organizar e manter o sistema de informações e

estatísticas educacionais.

-Planejar, orientar e coordenar o desenvolvimento de

sistemas e projetos de avaliação educacional, visando o estabelecimento de

indicadores de desempenho das atividades de ensino no país.

-Apoiar os Estados, o Distrito Federal e os Municípios no

desenvolvimento de sistemas e projetos de avaliação educacional.

-Desenvolver e implementar, na área educacional,

sistemas de informação e documentação que abranjam estatísticas, avaliações

educacionais, práticas pedagógicas e de gestão das políticas educacionais.

-Subsidiar a formulação de políticas na área de educação,

mediante a elaboração de diagnósticos e recomendações decorrentes da

avaliação da educação básica e superior.

-Coordenar o processo de avaliação dos cursos de

graduação, em conformidade com a legislação vigente.

-Definir e propor parâmetros, critérios e mecanismos para

a realização de exames de acesso ao ensino superior.

-Promover a disseminação de informações sobre

avaliação da educação básica e superior.

-Articular-se, em sua área de atuação, com instituições

nacionais, estrangeiras e internacionais, mediante ações de cooperação

institucional, técnica e financeira, bilateral e multilateral.

Em 2001, obedecendo a determinação do artigo 14 da Constituição

Federal, que consistia na elaboração de um plano plurianual para a educação,

foi aprovada a Lei 10.172 que estabelece o Plano Nacional de Educação –

18

PNE. Com duração de 10 anos, ele tinha como objetivos a articulação e o

desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis e a integração das ações

do Poder Público. O Plano partiu da premissa de que existia limitação de

recursos financeiros e que a construção da qualidade da educação é uma

tarefa constante e progressiva, e estabeleceu cinco prioridades definidas

segundo “o dever constitucional e as necessidades sociais”. A quinta dessas

prioridades, que de certa forma reafirma o artigo 9º da LDBEN, determina:

Desenvolvimento de sistemas de informação e de avaliação em todos

os níveis e modalidades de ensino, inclusive educação profissional,

contemplando também o aperfeiçoamento dos processos e difusão dos dados,

como instrumentos indispensáveis para a gestão do sistema educacional e

melhoria do ensino (BRASIL, 2001, p. 35).

O PNE também estabelece objetivos e metas para cada nível de

ensino, que devem ser atingidos até 2011. Do total de 30 objetivos e metas

para o ensino fundamental, merece destaque o de número 26, que estabelece

a necessidade de um programa de monitoramento de desempenho dos

alunos, ao definir a necessidade de:

Assegurar a elevação progressiva do nível de desempenho dos alunos mediante a implantação, em todos os sistemas de ensino, de um programa de monitoramento que utilize os indicadores do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica e dos sistemas de avaliação dos Estados e Municípios que venham a ser desenvolvidos (BRASIL, 2001, p.52).

Para o ensino médio, são 20 os objetivos e metas, destacando-se a

de número 3, que também se referia a sistemas de avaliação de desempenho,

que define como uma meta:

Melhorar o aproveitamento dos alunos do ensino médio, de forma a atingir níveis satisfatórios de desempenho definidos e avaliados pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB), pelo exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e pelos sistemas de avaliação que venham a ser implantados nos Estados (BRASIL, 2001, p. 59).

19

O Plano também estabelece 44 metas para Financiamento e Gestão.

No total, 26 são específicas para Gestão dos sistemas de ensino, e merecem

destaque as metas de número 31,38 e 39:

31.Estabelecer, em todos os Estados, com o auxílio técnico e financeiro da União, programas de formação do pessoal técnico das secretarias, para suprir, em cinco anos, pelo menos, as necessidade dos setores de informação e estatísticas educacionais, planejamento e avaliação.

38.Consolidar e aperfeiçoar o Sistema Nacional de Avaliação

da Educação Básica – SAEB e o censo escolar.

39.Estabelecer, nos Estados, em cinco anos, com a colaboração técnica e financeira da União, um programa de avaliação de desempenho que atinja, pelo menos, todas as escolas de mais de 50 alunos do ensino Fundamental e Médio (BRASIL, 2001, pp. 113 e 114).

Percebe-se, pelos últimos instrumentos legais indicados (Lei

9.394/96 e Lei 10.172/01), a grande ênfase que passa a ter a coleta de

informações e a avaliação como instrumentos de gestão da educação. Outro

aspecto que merece destaque é o fato de que a legislação tenha deixado

bastante claro o caráter descentralizador da avaliação, quando estabeleceu

que programas de avaliação de desempenho da educação básica deveriam

ser disseminados por todos os estados brasileiros, com o apoio técnico e

financeiro da União.

No bojo das políticas neoliberais, a partir dos anos 1990, surgem os

primeiros estudos internacionais com o objetivo de estabelecer comparações

entre os resultados obtidos por estudantes de diversos países (mais de 60),

submetidos a um mesmo teste. Em praticamente todos os países da América

Latina, são criados sistemas nacionais de avaliação da aprendizagem.

No Brasil, os primeiros estudos com o objetivo de se estabelecer um

sistema de avaliação ocorreram dentro do Programa de Educação Básica para

o Nordeste Brasileiro – EDURURAL. O programa foi lançado em 1980 e previa

um investimento de US$ 91,4 milhões, sendo que 35% do total eram oriundos

de um empréstimo solicitado ao Banco Mundial. Tinha por objetivo expandir o

acesso à escola primária, diminuir as taxas de repetência e evasão e melhorar

20

o rendimento escolar dos alunos. Em 1977 o Banco mundial começou a dar

aporte técnico e em 1980 a Fundação Carlos Chagas foi contratada para

desenvolver os estudos, elaborar os projetos e aplicar essa avaliação.

Em meados do ano de 1984, começou a ser desenhado o Projeto

Nordeste Pela Secretaria Nacional de Educação Básica – SENEB do MEC.

Este projeto, foi desenvolvido com o Banco Mundial, os governos dos nove

estados nordestinos e o governo federal, cujo valor total do investimento foi de

US$ 736,6 milhões. O projeto, com duração de 5 anos (1994 até 1999) seria

organizado em subprojetos estaduais e um subprojeto nacional. Neste último

estava previsto um componente de avaliação da educação “com o objetivo de

propiciar uma avaliação sistemática dos resultados escolares, medidos em

termos do desempenho do aluno, dos professores e da rede escolar” (BRASIL

1994, p.10). Como uma das metas previstas estabelecia-se “aumentar a

capacidade nacional para a avaliação sistemática do desempenho dos

sistemas de ensino básico” (op cit., p.12).

Paralelamente, em 1987, o INEP estudava a criação de um programa

externo de avaliação do então 1º grau que permitisse fornecer informações às

secretarias estaduais de educação do país sobre problemas ligados à

aprendizagem. Para tanto, foi assinado um convênio entre as secretarias e o

MEC para a realização dessa avaliação, contratando-se a Fundação Carlos

Chagas. Em 1988, a Fundação assinou um contrato com o governo do estado

do Paraná para a realização de uma pesquisa em sua rede de ensino.

Também em 1988, o MEC, por intermédio da SENEB, decide criar

mecanismos de avaliação da educação que fossem aplicados em todo o Brasil,

ampliando-se a abrangência da avaliação proposta pelo Projeto Nordeste.

Surge assim o Sistema de Avaliação do Ensino Público de 1º grau – SAEP,

que utilizou os recursos de um convênio firmado entre o Instituto

Interamericano de Cooperação para a Agricultura – IICA e o Ministério da

Educação. Em agosto de 1990 ocorreu a primeira avaliação em nível nacional

(BRASIL, 1992).

21

Para adequar o recém-criado sistema à nomenclatura consagrada pela

nova Constituição, em 1991, o SAEP passa a ser chamado de Sistema de

Avaliação da Educação Básica – SAEB.

Como a experiência da primeira avaliação foi bem sucedida, e para

caminhar no sentido de buscar a institucionalização do sistema, o MEC definiu

que deveriam ser realizadas novas avaliações a cada dois anos. Cada

avaliação é conhecida como um ciclo de avaliação.

Em 27 de dezembro de 1994, portanto, nos últimos dias do governo

Itamar Franco, o Ministro da Educação, Murílio Hingel, assinou a Portaria

1.795, que institucionalizou o SAEB como um processo nacional de avaliação

(BRASIL, 2005).

No preâmbulo da Portaria 1.795/94, o Ministro apresentou algumas

considerações, tais como: a necessidade de assegurar uma educação básica

de qualidade com eqüidade e eficiência, como o acordado no Plano Decenal

de Educação para Todos; permanente monitoramento de execução e

avaliação de resultados das políticas públicas; a necessidade de uma

organização sistêmica dos processos de monitoramento e avaliação,

envolvendo órgãos governamentais, universidades e centros de pesquisa; a

necessidade de disseminação das informações geradas pelas avaliações seja

de domínio público, de forma a haver um controle social de seus resultados; a

necessidade da institucionalização da experiência acumulada pelo MEC em

processos avaliativos. Com base nessas considerações, a portaria cria o

Sistema de Avaliação da Educação Básica. Para assessorar o MEC seria

constituído um Comitê Técnico-Científico, composto por especialistas em

planejamento e avaliação educacional.

De acordo com a portaria mencionada, o SAEB deveria: contribuir para

o desenvolvimento de uma cultura avaliativa que estimulasse a melhoria dos

22

padrões de qualidade e controle social do seus resultados; aplicar e

desenvolver processos permanentes de avaliação em articulação com as

secretarias de educação; mobilizar recursos humanos; proporcionar à

sociedade informações sobre o desempenho e os resultados dos sistemas

educativos.

Determinava ainda que o Sistema seria dirigido por um Conselho

composto pela Secretaria de Educação Fundamental, pelo INEP, pela

Secretaria de Educação Média e Tecnológica, pelo Presidente do Conselho

Nacional de Secretários de Educação – CONSED, pelo Presidente da União

dos Dirigentes Municipais de Educação – UNDIME, por um representante dos

secretários de educação dos municípios das capitais, pelo Presidente do

Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras.

Com a sofisticação técnica que o SAEB adquiriu e com as dificuldades

operacionais próprias de uma avaliação de porte nacional, o INEP decide que

os serviços deveriam ser terceirizados para as fundações CESGRANRIO e

Carlos Chagas (GATTI et alii, 1991).

O ciclo de 1997 do SAEB pode ser considerado como o passo decisivo

para a institucionalização da avaliação da educação básica no Brasil. A partir

deste ciclo, poucas foram as modificações adotadas nos ciclos seguintes. Os

serviços de impressão das provas, sua aplicação, correção e análise de dados

continuam sendo terceirizados, e continuam assim até hoje.

Em 2001, em seu sexto ciclo, as Matrizes de Referência foram

atualizadas em função da ampla disseminação pelo MEC dos Parâmetros

Curriculares Nacionais – PCN.

Além dos testes, os professores, o diretor e também os alunos

respondem a questionários individualizados, com o objetivo de identificar os

chamados fatores associados, ou seja, aqueles que teriam o poder de influir,

23

tanto positiva, quanto negativamente, no desempenho dos alunos. Até 1995,

as questões eram relativas apenas a variáveis intra-escolares. A partir desse

ano, foram introduzidas questões envolvendo características socioeconômicas

e sobre os hábitos de estudo dos alunos. A partir daí, as variações ocorridas

nos questionários foram pequenas.

A divulgação dos relatórios é feita a partir da publicação de relatórios

técnicos. Além disso, em todos os estados realizam-se reuniões envolvendo o

INEP e as secretarias estaduais com o objetivo de discutir os resultados

obtidos.

Para o ciclo de 2005, o SAEB sofreu novas modificações,

transformando-se em um sistema composto por dois processos de avaliação: a

Avaliação Nacional da Educação Básica – ANEB, que mantém a mesma

característica e objetivos do SAEB, e a Avaliação nacional do Rendimento

Escolar – ANRESC, para avaliar apenas as escolas públicas do ensino básico.

Instituíram-se também sistemas de avaliação em diversos estados da

Federação.

24

CAPÍTULO II

AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL CONTEMPORÂNEA

Segundo Ferreira (2002): “ Avaliar é um processo que se aplica a

qualquer prática da vida, de maneira consciente ou inconsciente. No âmbito

educativo o ato de avaliar como procedimento sistemático, consciente, reveste-

se de muito significado e importância, pois é o meio mediante o qual se

evidenciam os avanços e as limitações no processo ensino-aprendizagem para

o devido encaminhamento, seja relativo a pessoas, programas ou instituições ”

(p. 09).

2.1 – Políticas Contemporâneas da Avaliação Institucional

(Externa)

O caminho para edificar a avaliação da educação básica no Brasil a

nível nacional, entra agora na era contemporânea. Além do Sistema Nacional

de Avaliação da educação Básica (SAEB), contamos também com: PROVA

BRASIL, PROVINHA BRASIL, ENEM, ENCCEJA e o IDEB. Vamos analisar

detalhadamente cada um deles.

O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica foi a primeira

iniciativa brasileira, em escala nacional, para se conhecer o sistema

educacional brasileiro em profundidade. Ele começou a ser desenvolvido no

final dos anos 1980 e foi aplicado pela primeira vez em 1990.

25

Em 1995, o SAEB passou por uma reestruturação metodológica que

possibilita a comparação dos desempenhos ao longo dos anos. Desde a sua

primeira avaliação, fornece dados sobre a qualidade dos sistemas

educacionais do Brasil como um todo, das regiões geográficas e das unidades

federadas (estados e Distrito Federal).

O SAEB é feito a cada dois anos e avalia uma amostra representativa

dos alunos regularmente matriculados nas 4ª e 8ª séries do ensino

fundamental (atualmente 5º e 9º anos, respectivamente) e 3º ano do ensino

médio, de escolas públicas e privadas, localizadas em área urbana ou rural.

A Prova Brasil foi criada, a partir da necessidade de se tornar a

avaliação mais detalhada, em complemento à avaliação já feita pelo SAEB. A

Prova Brasil é censitária. Por esta razão, expande o alcance dos resultados,

porque oferece dados não apenas para o Brasil e unidades da Federação,

mas também para cada município e escola participante. A Prova Brasil avalia

todos os estudantes da rede pública urbana de ensino, de 4ª e 8ª séries

(atualmente 5º e 9º anos, respectivamente) do ensino fundamental.

Uma vez que a metodologia das duas avaliações é a mesma, elas

passaram a ser operacionalizadas em conjunto, desde 2007. Como são

avaliações complementares, uma não implicará na extinção da outra.

Fizeram a Prova Brasil todos os alunos de escolas públicas urbanas de

4ª e de 8º série (atualmente 5º e 9º anos, respectivamente). O SAEB é feito

por alguns alunos selecionados estatisticamente de 4ª e de 8ª série do ensino

fundamental das redes particulares e rural e de 3º ano do Ensino Médio das

redes pública e particular, de área urbana.

Os resultados da Prova Brasil e do SAEB são divulgados a toda a

sociedade. A Prova Brasil informa o desempenho de cada município e de cada

26

escola. Não há nota individual para o aluno. Já o SAEB apresenta um

resultado nacional e outro por unidade da Federação.

Estes resultados não seguem a lógica das provas clássicas que

avaliam conteúdos. Por exemplo, essas avaliações não vão de zero a dez e

não têm relação direta com a quantidade de questões acertadas. Suas médias

são apresentadas em uma escala de desempenho. A escala descreve as

competências e as habilidades que as crianças são capazes de demonstrar.

A legislação que ampara o SAEB e a Prova Brasil são: Portaria nº47,

de 3 de maio de 2007 (estabelece sistemática para a realização da Prova

Brasil e do SAEB em 2007); Portaria nº89, de 25 de maio de 2005 (estabelece

sistemática para a realização do SAEB em 2005); Portaria nº69, de 4 de maio

de 2005 (estabelece sistemática para realização da Prova Brasil em 2005);

Portaria nº931, de 21 de março de 2005 (Portaria ministerial que institui o

Sistema de Avaliação da Educação Básica, composto pela Prova Brasil

(Anresc ) e pelo SAEB (Aneb)).

A Provinha Brasil foi criada em consonância com o objetivo do Plano

Nacional de Desenvolvimento da Educação (PDE) do MEC de viabilizar ações

que contribuam para a eqüidade e qualidade da educação pública brasileira.

Nessa perspectiva, a Provinha Brasil tem o intuito de oferecer aos

professores, diretores, coordenadores e gestores das redes de ensino um

instrumento para diagnosticar o nível de alfabetização dos alunos (com idade

entre 6 e 8 anos de idade), ainda no início do Ensino Fundamental, prevenindo

assim, a elaboração de ações que visem sanar as possíveis insuficiências

apresentadas nas áreas de leitura e escrita.

Essa avaliação diferencia-se das demais que vêm sendo realizadas

pelo INEP porque fornecerá respostas diretamente aos professores e gestores

27

da escola, reforçando assim uma de suas características, que é a de um

instrumento pedagógico sem finalidades classificatórias.

Em termos imediatos, a Provinha Brasil tem dois objetivos nos anos

iniciais do ensino fundamental: O primeiro objetivo é avaliar o nível de

alfabetização dos anos iniciais do ensino fundamental, tendo como

conseqüência a correção de possíveis distorções, o investimento em medidas

que garantam melhor aprendizado e a melhoria da qualidade de ensino e

redução das desigualdades. O segundo objetivo é diagnosticar precocemente

possíveis insuficiências das habilidades de leitura e escrita tendo como

conseqüência o desenvolvimento de ações imediatas para a mudança desse

quadro.

Segundo proposta do governo a Provinha Brasil pode ajudar gestores

e professores a trabalhar pela melhoria da qualidade da Educação no País.

Também pode auxiliar os alunos a superar as dificuldades iniciais no

aprendizado e prosseguir nos estudos mais preparados. Isso diminui ainda as

chances de que abandonem a escola, contribuindo para que completem o ciclo

de escolarização básica.

Ainda segundo a proposta governamental o Gestor terá possíveis

benefícios com a Provinha Brasil que seriam: A Provinha Brasil permite que

seus professores conheçam as possíveis dificuldades de alfabetização dos

alunos, e isso também pode facilitar sua gestão. Com os resultados o Gestor

pode incrementar o planejamento do currículo em sua rede e os programas de

formação dos professores que trabalham com alfabetização.

Já para o professor, a Provinha Brasil poderá permitir que ele conheça

as dificuldades em alfabetização de seus alunos e que dessa forma planeje

melhor suas aulas no decorrer do ano letivo. O professor vai saber quais

aspectos priorizar e a quais assuntos deverá dedicar mais atenção. Além

disso, as análises e interpretações dos resultados e o documentos

28

pedagógicos sobre a Provinha Brasil poderão constituir mais uma fonte de

formação.

O teste da Provinha Brasil é composto por 24 questões de múltipla

escolha, cada uma com quatro opções de resposta. Algumas dessas questões

deverão ser lidas pelo aplicador da prova (na íntegra ou em parte) e outras

questões deverão ser lidas apenas pelos alunos. Há, ainda, três questões de

escrita, para verificar a habilidade de escrever palavras e frases.

Como nem todas as habilidades a serem desenvolvidas durante o

processo de alfabetização são passíveis de verificação por meio de um

instrumento padronizado como o teste da Provinha Brasil, foi necessário

selecionar algumas dessas habilidades para construir o teste. Assim as

habilidades definidas para avaliar a leitura e a escrita são aquelas que podem

dar informações relevantes para construir o teste.

A aplicação da prova será feita na sala e no horário de aula. O

aplicador será o próprio professor da turma, outro professor da mesma escola

ou um aplicador especialmente contratado para isso – a critério da Secretaria

de Educação.

Os resultados também poderão ser processados pelo próprio professor

da turma ou pelo aplicador do teste, a partir do guia com as orientações de

como corrigir as questões e de como interpretar os dados.

O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), é um exame individual,

de caráter voluntário, oferecido anualmente aos estudantes que estão

concluindo ou que já concluíram o ensino médio em anos anteriores. Seu

objetivo principal é possibilitar uma referência para auto-avaliação com vistas a

auxiliar nas escolhas futuras dos cidadãos, a partir das competências e

habilidades que estruturam o Exame.

29

O modelo de avaliação adotado pelo ENEM foi desenvolvido com

ênfase na aferição das estruturas mentais com as quais construímos

continuamente o conhecimento e não apenas na memória, que, mesmo tendo

importância fundamental, não pode ser o único elemento de compreensão do

mundo.

Diferentemente dos modelos e processos avaliativos tradicionais, a

prova do ENEM é interdisciplinar e contextualizada. Enquanto os vestibulares

promovem uma excessiva valorização da memória e dos conteúdos em si, o

ENEM coloca o estudante diante de situações-problemas e pede que mais do

que saber conceitos, ele saiba aplicá-los.

O ENEM não mede a capacidade do estudante de assimilar e

acumular informações, e sim o incentiva a aprender a pensar, a refletir e a

“saber como fazer”. Valoriza, portanto, a autonomia do jovem na hora de fazer

escolhas e tomar decisões.

O principal objetivo do ENEM é avaliar o desempenho do aluno ao

término da escolaridade básica, para aferir desenvolvimento de competências

fundamentais ao exercício pleno da cidadania. Desde sua concepção, porém,

o Exame foi pensado também como modalidade alternativa ou complementar

aos exames de acesso aos cursos profissionalizantes pós-médio e ao ensino

superior.

Este objetivo vem sendo atingido um pouco a cada ano, graças ao

esforço do Ministério da Educação na sensibilização e convencimento das

instituições de ensino superior (IES) para o uso dos resultados do ENEM como

componente dos seus processos seletivos.

Além disso, o ENEM tem como meta possibilitar a participação em

programas governamentais de acesso ao ensino superior, como o Programa

Universidade para Todos (ProUni), por exemplo, que utiliza os resultados do

30

Exame como pré-requisito para a distribuição de bolsas de ensino em

instituições privadas de ensino superior.

Na sua 1ª edição, em 1988, o ENEM contou com 157,2 mil inscritos e

de 115,6 mil participantes. Na 4ª edição, em 2001, teve 1,6 milhão de inscritos

e de 1,2 milhão de participantes.

Uma medida adotada pelo governo para popularizar o ENEM veio em

2004, quando o Ministério da Educação instituiu o Programa Universidade para

Todos (ProUni) e vinculou a concessão de bolsas em IES privadas à nota

obtida no Exame. No ano seguinte o ENEM alcançava a marca de 3 milhões

de inscritos e 2,2 milhões de participantes. Em 2006, o ENEM contou com 3,7

milhões de inscritos e 2,8 milhões de participantes.

O principal incentivo para que os concluintes e egressos do ensino

médio façam o Exame é a possibilidade concreta de ingresso no ensino

superior. Afinal, a nota obtida no ENEM pode significar tanto uma bolsa integral

ou parcial do ProUni quanto a conquista de uma vaga em instituições de

ensino superior, entre elas universidades públicas.

A legislação que ampara o ENEM é: Portaria nº71, de 12 de maio de

2008; Portaria nº55, de 03 de abril de 2008; Portaria nº25, de 15 de março de

2005; Portaria nº08, de 06 de fevereiro de 2007; Portaria nº26, de 23 de março

de 2006; Portaria nº07, de 19 de janeiro de 2007; Portaria nº152, de 10 de

agosto de 2005; Portaria nº65, de 28 de abril de 2005; Portaria nº61, de 14 de

abril de 2005; Portaria nº06, de 02 de fevereiro de 2005; Portaria nº24, de 23

de março de 2004; Portaria nº110, de 04 de dezembro de 2002; Portaria

nº438, de 28 de maio de 1998.

Intitulado pelo governo de “Prova para a Vida” o ENEM chega neste

ano à sua 11ª edição, e ao completar mais de uma década de existência,

31

passou a ser um dos instrumentos de avaliação de desempenho dos

estudantes, individualmente , e do sistema de educação básica, como um todo.

O Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e

Adultos (Encceja) é um instrumento de avaliação que mede as competências e

habilidades de jovens e adultos, residentes no Brasil e no exterior, em nível de

conclusão do Ensino Fundamental e Médio. A adesão ao Encceja pelas

secretarias de Educação (dos Estados, Distrito Federal e municípios) é

opcional.

O principal objetivo do Encceja é avaliar as habilidades e competências

básicas de jovens e adultos que não tiveram oportunidade de acesso à

escolaridade regular na idade apropriada. Dessa forma, o participante se

submete a uma prova e, alcançando a média mínima exigida, obtém a

certificação de conclusão daquela etapa educacional.

Espera-se ainda, por meio do Encceja, construir um indicador

qualitativo que possa ser incorporado à avaliação de políticas públicas da

Educação de Jovens e Adultos.

O Encceja foi criado em 2002, e após modificações ocorridas em 2006

o participante atualmente poderá ser certificado, no Ensino Fundamental, nas

seguintes áreas: 1) Língua Portuguesa, Língua Estrangeira, Moderna,

Educação Artística e Educação Física; 2) História e Geografia; 3) Matemática;

e 4) Ciências Naturais.

No Ensino Médio a certificação abrange: 1) Linguagens, códigos e

suas Tecnologias; 2) Ciências Humanas e suas Tecnologias; 3) Matemática e

suas Tecnologias; 4) Ciências da Natureza e suas Tecnologias.

A legislação que ampara o Encceja é: Portaria nº192, de 22 de

Outubro de 2008; Portaria nº147, de 04 de Setembro de 2008; Portaria nº100,

32

de 04 de Julho de 2008; Portaria Ministerial nº783, de 25 de Junho de 2008;

Portaria INEP nº66, de 10 de Maio de 2007; Portaria nº44, de 20 de Abril de

2007; Portaria nº348, de 13 de abril de 2007, Portaria Encceja nº1674, de

2006; Portaria Encceja nº131, de 2006; Portaria nº102, de 2006;

Homologação-Parecer 19.2005 CNE-DOU, de 2006; Portaria nº93, de 07 de

Julho de 2006; Portaria INEP nº195, de 26 de Setembro de 2005; Portaria

nº145, de 03 de Agosto de 2005; Portaria nº44, de 10 de Março de 2005;

Portaria nº3.415, de 21 de Outubro de 2004; Portaria nº2.134, de 7 de Agosto

de 2003, Portaria nº111, de 04 de Dezembro de 2002; Portaria nº2.270, de 14

de Agosto de 2002; Portaria nº77, de 16 de Agosto de 2002.

O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) foi criado

pelo INEP em 2007 e representa a iniciativa de reunir num só indicador dois

conceitos igualmente importantes para a qualidade da educação: fluxo escolar

e médias de desempenho nas avaliações. Ele agrega ao enfoque pedagógico

dos resultados das avaliações em larga escala do INEP a possibilidade de

resultados sintéticos, facilmente assimiláveis, e que permitem traçar metas de

qualidade educacional para os sistemas. O indicador é calculado a partir dos

dados sobre aprovação escolar, obtidos no Censo Escolar, e médias de

desempenho nas avaliações do INEP, O SAEB – para as unidades da

federação e para o país, e a PROVA BRASIL – para os municípios.

Com o IDEB, ampliam-se as possibilidades de mobilização da

sociedade em favor da educação, uma vez que o índice é comparável

nacionalmente e expressa em valores os resultados mais importantes da

educação: aprendizagem e fluxo. A combinação de ambos tem também o

mérito de equilibrar as duas dimensões: se um sistema de ensino retiver seus

alunos para obter resultados de melhor qualidade no SAEB ou PROVA

BRASIL, o fator fluxo será alterado, indicando a necessidade de melhoria do

sistema. Se, ao contrário, o sistema apressar a aprovação do aluno sem

qualidade, o resultado das avaliações indicará igualmente a necessidade de

melhoria do sistema. O IDEB vai de zero a dez.

33

Segundo o governo o IDEB é mais que um indicador estatístico,

também é importante por ser condutor de política pública em prol da qualidade

da educação, tanto no âmbito nacional, como nos estados, municípios e

escolas. Sua composição possibilita não apenas o diagnóstico atualizado da

situação educacional em todas essas esferas, mas também a projeção de

metas individuais intermediárias rumo ao incremento da qualidade de ensino.

É importante também para o Programa de Desenvolvimento da

Educação (PDE) para a educação básica. O Plano de Desenvolvimento da

Educação estabelece, como meta, que em 2022 o IDEB do Brasil seja 6,0 –

média que corresponde a um sistema educacional de qualidade comparável a

dos países desenvolvidos.

As metas são exatamente isso: o caminho traçado de evolução

individual dos índices. Tais metas são diferenciadas para todos, e são

apresentadas bienalmente de 2007 a 2021. Estados, municípios e escolas

deverão melhorar seus índices e contribuir, em conjunto, para que o Brasil

atinja a meta de 6,0 em 2022concentrado, para que elas melhorem mais

rapidamente, diminuindo assim a desigualdade entre esferas. O Ministério da

Educação prevê apoio específico para reduzir essa desigualdade.

34

CAPÍTULO III

A AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL QUE QUEREMOS

Müller referencia a avaliação institucional como um instrumento

importante, sendo que: “É preciso que essa autonomia seja assumida pela

comunidade escolar e a luta ser novamente pela sua ampliação no interior da

comunidade escolar, com a participação de todos como resposta de quem

possui responsabilidade e deseja maior liberdade de ação, isto é, o sujeito

cidadão que faz história, assumindo coletivamente os destinos da instituição

com o objetivo de melhora-lá.” (MÜLLER, 2001, p.19).

3.1 - Avaliação Institucional (Interna)

A Avaliação institucional é um valioso instrumento na construção e

implantação da avaliação como um todo, uma vez que seu objetivo está

centrado numa melhor qualidade da instituição educacional. Sua utilização

pode ser um instrumento valioso para avaliar e revelar as ações desenvolvidas,

tendo em vista que promove a ampliação da participação e da autonomia, bem

como serve de referência para a prestação de contas da qualidade do serviço

educacional objetivando aperfeiçoa-lo. Nessa perspectiva, segundo Müller, a

avaliação institucional destaca-se como uma das melhores formas de como a

gestão, a aprendizagem, o currículo e os objetivos da escola estão sendo

atingidos no todo ou em parte.

35

Também Vasconcellos destaca que com o crescimento da autonomia

escolar, vai ganhando importância cada vez maior a avaliação da escola no

seu conjunto, feita por ela mesma, na medida em que está buscando se

aperfeiçoar; trata-se de uma espécie de auto-avaliação da escola. No passado,

a avaliação da escola era feita por um sistema centralizador e baseada em

parâmetros formais e burocráticos (dados estatísticos, relatórios, etc.), tendo

pouco efeito formativo.

Na linha do Planejamento Participativo, o próprio Projeto Político-

Pedagógico tem como uma das suas partes constituintes o Diagnóstico, que

corresponde justamente a esta avaliação institucional. O Diagnóstico funciona

como um “balanço geral” da escola que propicia a passagem do ideal à prática.

Estava avaliação mais geral e sistemática da escola deve ser

articulada com outras, mais de processo, sendo importante a criação de

dispositivos simples e exeqüíveis para tal. Em termos de geração de

oportunidades, a própria reunião pedagógica semanal é um espaço singular

para isto. Um outro espaço para estas avaliações mais periódicas é o conselho

de Escola, envolvendo a participação de pais e alunos.

Para além da avaliação do aluno, é necessário, pois, avaliar também

constantemente a prática pedagógica, (além do próprio contexto em que ela se

insere). Na verdade, a avaliação institucional deve abarcar todas as dimensões

da escola: Pedagógica, Comunitária e Administrativa.

Ainda segundo Vasconcellos, devemos destacar que o caráter da

avaliação institucional, assim como o da aprendizagem, deve ser formativo,

emancipatório. De nada adianta aumentar o campo de incidência da avaliação,

se não houver uma ruptura com sua intencionalidade seletiva, punitiva.

36

A avaliação institucional interna esta intimamente ligada uma escola

autônoma e participativa. A escola tem papel fundamental no compromisso

com a práxis, pois ela o transcende quando potencializa, não somente a

participação dos professores, alunos e funcionários, mas dos pais e de toda a

comunidade escolar.

Na perspectiva de Müller, a escola autônoma seria aquela que se

autogoverna. Mas segundo ele, não existiria uma autonomia absoluta, pois a

escola sempre está sempre condicionada pelas circunstâncias, portanto a

autonomia será sempre relativa e determinada historicamente. A autonomia,

nessa perspectiva, oportuniza relações sociais que são contrárias.

A autonomia da escola deveria ser de ordem filosófica, política,

administrativa, pedagógica e didática. A escola, no entanto, não possui

autonomia filosófica, pois seus fins e objetivos são estabelecidos pela

sociedade e consagrados em lei; se assim não fosse haveriam escolas

integradas com os valores da sociedade e escolas em conflito com esses

valores. Em relação a essa questão, a autonomia filosófica é concebida por

Müller como uma linha de pensamento que não é possível de estar articulada

com a linha de pensamento da sociedade.

Müller ainda afirma que a escola não tem também autonomia política,

pois deveria elaborar as políticas para a educação, o que não é realidade.

Assim, quando o autor cita “política”, ele na verdade está se referindo somente

a macropolítica nacional, não contemplando em suas citações a elaboração

das micropolíticas que ocorrem dentro da escola e/ou na comunidade.

A escola, segundo Müller (2001), não possui autonomia administrativa,

já que não contrata e não demite seus recursos humanos, limita-se a

administrar pequenos gastos com materiais, além de não determinar sua verba

no orçamento do Estado. Portanto, sob o ponto de vista do autor, a autonomia

administrativa está diretamente relacionada à financeira e administrativa de

37

recursos humanos e não somente a execução e/ou coordenação de tarefas

corriqueiras no cotidiano escolar.

O autor defende a proposta de que os programas de educação

devem incluir formas de participação como os conselhos Escolares (que

deverão envolver os pais e a comunidade.) e fundamentalmente a escola deve

construir um novo saber científico, o da participação, que tem origem na sua

prática diária.

Müller afirma ainda que a comunidade escolar deve ser capaz de

decidir os destinos da instituição e que é preciso preparar a comunidade

escolar para a avaliação institucional, pois ela pode desacomodar, revelando a

necessidade de mudança, o que pode não ser o desejo de alguns. Mas

quando se quer melhorar uma instituição, a avaliação é algo insubstituível,

sendo umas das formas mais eficientes e verdadeiras de se poder aquilatar “ a

quantas anda a educação”.

O processo de avaliação institucional é, sem dúvida complexo. Porque

complexa é também a realidade. E pressionadas por injunção externa, as

instituições de ensino são obrigadas a se olhar e esse é um bom uso da

avaliação.

Segundo Sordi (1998), algumas perguntas Básicas para as instituições

de ensino podem ser assim resumidas: A quem pertence a legitimidade de

conceber um projeto de educação? Por que estão se avaliando? Para quem os

dados são construídos (por vezes fabricados)? Qual o uso que se pretende

fazer deles findo o ritual sumário da emissão dos conceitos?

A avaliação bem-intencionada e madura não pode se furtar a ser ela

própria objeto de avaliação. Assim, os modelos de avaliação, para garantirem

coerência, devem se comportar como sistemas abertos, desejosos de

aperfeiçoamento, sujeitos a desconstrução para novas construções

38

qualitativamente superiores, sujeitos ao questionamento crítico capaz de

desocultar os reais interesses que se encobertam por trás das classificações

oficiais.

Ainda segundo Sordi, uma boa avaliação nasce e se fortalece na

capacidade de formular perguntas pertinentes do ponto de vista social. E os

resultados avaliativos podem ter seu valor questionado dependendo dos fins

que se busca atingir, ou seja, as perguntas nos fazem encontrar as respostas e

não o contrário. A lógica que determina a pergunta desvela o que se quer

revelar ou esconder. Iluminar as zonas de opacidade de projeto institucional

está na dependência direta de nossa capacidade de saber perguntar,

interrogar a realidade, ouvir o silêncio eloqüente, tradutor da cultura

institucional que escapa aos roteiros padronizados.

Avaliar implica o desejo de conhecer, tirar as máscaras, ato de entrega

que não pode ser imposto simplesmente. Daí a defesa de processos de

avaliação regidos pela adesão voluntária, que sinalizam na direção de

compromisso com os resultados avaliativos, dando-lhes conseqüência.

Avaliar não é um ato utópico, como nos lembra Coelho (2000, p.59);

“não visa à constatação da instantaneidade, mas a um processo que

acompanha a existência mesma da instituição”.

Segundo Sordi (1998), devemos insistir no resgate das práticas de

auto-avaliação institucional como estratégia eficaz do ponto de vista social para

tentar construir um modelo de qualidade de ensino, uma marca distintiva de

uma instituição, capaz de expressar sua singularidade e de acrescentar

significado ético-político aos dados obtidos pelas diferentes formas de

avaliação externa, relativisando-os, de modo a recompor a dimensão

multifacetada da avaliação, obscurecido pela obsessão de impor a visão da

parte como expressão do todo institucional, induzindo a uma miopia perigosa e

falaciosa.

39

Um desserviço da avaliação pelo desuso ou uso ético e tecnicamente

equivocado de seus dados, tomados como verdades incontestáveis,

desconsiderando o contexto de fabricação da excelência ou fracasso

institucional. Sendo a avaliação uma realidade multifacetada e plural, talvez

fosse o caso de falarmos em avaliações também no plural. E assim a

diversidade não pode ser pasteurizada, empobrecendo a chance de as

instituições poderem cumprir seu papel diante das demandas sociais que se

complexificam.

Leitores leigos ou ideologicamente convencidos de que a questão da

avaliação é uma questão de natureza técnica tendem a simplificar as análises

possíveis dos verdadeiros significados dos fracassos e êxitos institucionais.

Segundo Sordi (1998), festeja-se a nota, não necessariamente o

contexto de produção do resultado (este necessariamente revelador do projeto

institucional). O que expressa uma boa nota no Provão? O que os alunos

aprenderam? As competências conquistadas mediante um determinado tipo de

pergunta que se preocupa em “medir” quanto se assimilou ao longo do

processo educacional, independentemente da lógica e da complexidade do

pensamento cognitivo explorado? E a formação do homem, do cidadão? A

quem compete avaliar e porque não se deve, igualmente, prestar contas à

sociedade dessa dimensão reveladora de um bom projeto educativo?

Devemos uma vez mais insistir na importância de reconhecer os

contornos do projeto institucional e de propor complementarmente novas

experiências de auto-avaliação, exercício saudável de busca de

autoconhecimento, para sustentar intervenções conseqüentes no cotidiano

escolar, único recurso capaz de evitar o pragmatismo. Pragmatismo esse que

tem sido tomado como instrumento de gestão. O que se tem visto são

gestores, em todos os níveis, assoberbados com o cumprimento de novas

40

deliberações governamentais, que tendem a ofuscar os reais compromissos

das instituições para com a sociedade.

Estamos diante de uma pergunta inquietante. Como sustentar um

projeto educacional que articule o compromisso com a qualidade de vida

social, com a cidadania coletiva em uma sociedade submetida a processos de

mudanças aceleradas e atravessada por uma crise ética de grandeza

inimaginável?

Sordi, nos lembra que embora a avaliação externa acoberte inúmeras

ciladas mascaradas pelo discurso da eficiência, não podemos nos negar a

participar, pois tal avaliação não se trata mais de uma opção e sim uma

imposição governamental. Mas devemos atentar para a possibilidade de

aproveitamento por parte de inescrupulosos na “ fabricação de resultados “ que

suportam uma análise tecnicista, mas que silenciam sobre as dimensões éticas

implicadas nas tramas de um projeto institucional verdadeiramente

comprometida com a inovação.

Segundo Sordi (1998), vivemos uma cultura de avaliação positivista na

qual não há espaço para a dúvida, nem tempo para a reflexão e a participação.

Tudo esta orquestrado para funcionar sem problemas, sem hesitações. Não há

interesse em que se interroguem as lógicas que estão em jogo.

Não seria o caso de nos permitirmos assumir essa atitude de

indagação diante das atuais reformas educativas para mantermos viva a utopia

de um projeto educacional verdadeiramente democrático?

Nessa perspectiva, surge a necessidade de restabelecer a rede de

comunicação interinstitucional, visando construir possibilidades avaliativas que

possam ir superando os limites do modelo vigente, que precisa ser contestado

para possibilitar a superação das inconsistências que o sufocam.

41

Reassumir o protagonismo na condução do processo de avaliação

institucional nos coloca no meio da cena decisória, tiranos da perplexidade que

nos exauriu na frenética luta por produzir resultados confiáveis e

demonstráveis num verdadeiro retrocesso no campo da avaliação, em que se

outorga a terceiros o direito/dever/legitimidade de proferir o veredicto acerca de

quanto vale nosso projeto político-pedagógico.

Ao recuperarmos nosso espaço de negociação, ganhamos estatura

para não mutilar nosso projeto e respeito por defendê-lo em cada um e em

todos os espaços em que isso de fizer necessário, sobremaneira em nossa

realidade local, nossa comunidade interna a quem a prestação de contas de

nossos avanços, retrocessos, mudanças de rumo e suas justificativas torna-se

imperativo ético.

Segundo Barroso (1996), a criação de um projeto e em um projeto é

condição básica para que ele se mantenha contemporâneo e sensível ao

caráter mutante dos novos tempos. Também nos lembra que não se trata de

fidelidade ao projeto, mas a idéia de projeto e este está prenhe de utopias,

desaconselhando tentativas de avaliação estáticas que não conseguem

apreender sua complexidade e aprender com seu movimento contínuo e

incansável entre o não e o vir-a-ser.

42

CONCLUSÃO

A escola pública brasileira historicamente vem sendo construída sobre

inúmeras contradições, contradições essas que a distancia do seu objetivo

maior que é, ou pelos menos deveria ser, o pleno desenvolvimento humano.

Sabemos que essa plenitude no desenvolvimento humano somente será

conquistada com uma escola qualitativa para todos.

No mundo contemporâneo em que vivemos, uma escola pública de

qualidade não pode estar dissociada de uma avaliação constante. Avaliação

que deve englobar alunos, professores, funcionários, gestor, comunidade

escolar, enfim, todos aqueles envolvidos no universo escolar. Uma verdadeira

Avaliação Institucional deve ter como finalidade diagnosticar dificuldades,

erros, acertos e propor possibilidades de mudança. A avaliação bem-

intencionada e madura não pode ser furtar a ser ela própria objeto de

avaliação.

Nesta perspectiva, acreditamos que a avaliação deva nascer e crescer

dentro do universo escolar, não pode e não deve ser um “alienígena” na

escola, pois, corre-se o grande risco de transformar esse importante

instrumento de mudança em um erro, instigando práticas de dissimulação da

realidade com vistas à fabricação de bons desempenhos. Não somos contra a

Avaliação Institucional Externa, apenas acreditamos que esta deve ser

considerada mais um instrumento de ação (não o instrumento principal que

dita todas as regras) e que jamais deve ser imposta. Defendemos a ênfase nos

processos de Avaliação Institucional Interna como estratégia eficaz do ponto

de vista social.

Finalizamos este trabalho monográfico afirmando que a Avaliação

Institucional deve ser um ato conjunto, consciente e vinculado à concepção de

mundo, de sociedade e de ensino que queremos.

43

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BARROSO, J. (org.) O estudo da escola. Porto: Porto Editora, 1996.

BONAMINO, Alicia; FRANCO, Creso. Avaliação e política educacional: o

processo de institucionalização do SAEB. In Cadernos de pesquisa, nº 108,

novembro, pp 101-132. São Paulo, 1999.

BRASIL. Relatório do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica:

Ciclo 1990. Brasília: INEP, 1992.

BRASIL. Plano decenal de Educação para Todos. Brasília: MEC, 1993.

BRASIL. Projeto de educação básica para o Nordeste: assinatura do

acordo de empréstimo. Brasília: MEC, 1994.

BRASIL. Relatório do 2º ciclo do Sistema de Avaliação da Educação

Básica – SAEB – 1993. Brasília: INEP, 1995.

BRASIL. Ministério da Educação. Plano Nacional de Educação –

PNE/MEC. Brasília: INEP, 2001.

BRASIL. Ministério da Educação. Plano Nacional de Educação –

PNE/MEC. Brasília: INEP, 2005.

CASTRO,Maria Helena Guimarães de. O INEP ontem e hoje. 1999.Disponível

em http://www.inep.gov.br. Acessado em 01/09/2008.

COELHO, I.M. “Avaliação institucional na universidade pública”. In: DIAS

SOBRINHO, J e RISTOFF, D. I. (orgs.), Universidade desconstruída: Avaliação

institucional e resistência. Florianópolis: Insular, 2000.

44

DEMO, Pedro. Avaliação sobre o olhar propedêutico. São Paulo: Papirus,

2002.

FERREIRA, Lucinete. Retratos da Avaliação: conflitos, desvirtuamentos e

caminhos para a superação. Porto Alegre: Mediação, 2002.

GATTI, Bernadete A; VIANNA, Heraldo Marelim, e DAVIS, Cláudia.

Problemas e impasses da avaliação de projetos e sistemas educacionais:

dois estudos de caso. In Avaliação Educacional, jul-dez 1991, pp. 7-26. São

Paulo, 1991.

IBGE. Estatísticas do século XX. Rio de Janeiro: IBGE, 2003.

MÜLLER, Ademir. Avaliação institucional da gestão escolar na escola

pública: a democracia no processo decisório. Santa Cruz do Sul: Edunisc,

2001.

SORDI, M.R.L. “Usos e desusos da avaliação na contemporaneidade”. Pro-

posições, Revista Quadrimestral da Faculdade de Educação da Unicamp,

vol.9, nº 3 (27), novembro. São Paulo: Unicamp, 1998.

VIANNA, Heraldo Marelim. Fundamentos de um programa de avaliação

educacional. Brasília: Líber Livro Editora, 2005.

VILLAS BOAS, Benigna Maria de Freitas (org.). Avaliação: políticas e

práticas. Coleção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico. Campinas,

São Paulo: Papirus, 2002.

http://www.inep.gov.br. Acessado em 05/10/2008.

45

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

HISTÓRICO DA AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL NO BRASIL 10 1.1 – Origens da Avaliação Institucional (Externa) 10

CAPÍTULO II

AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL CONTEMPORÂNEA 24 2.1 – Políticas Contemporâneas da Avaliação Institucional (Externa) 24

CAPÍTULO III

A AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL QUE QUEREMOS 34 3.1 – Avaliação Institucional (Interna) 34

CONCLUSÃO 42

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 43

ÍNDICE 45

46

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes

Título da Monografia: Avaliação Institucional uma saída para o Ensino

Básico?

Autor: Suzana Henrique da Silva

Data da entrega: 07/02/2009

Avaliado por: Conceito:

47