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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE MERCADO DE CARBONO: O DIREITO DE POLUIR Por: DIOGO CAMPOS VERSARI Orientador Prof.ª Jaqueline Guerreiro Rio de Janeiro 2009

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · 2009. 8. 6. · meio ambiente faz com que os grandes chefes de Estado reúnam-se para discutir o futuro mundial. Desta

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

MERCADO DE CARBONO: O DIREITO DE POLUIR

Por: DIOGO CAMPOS VERSARI

Orientador

Prof.ª Jaqueline Guerreiro

Rio de Janeiro

2009

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

MERCADO DE CARBONO: O DIREITO DE POLUIR

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Gestão

Ambiental.

Por: . Diogo Campos Versari

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por todas as

oportunidades de evolução. E a todas

as pessoas que, de alguma forma,

partilham desta jornada.

4

DEDICATÓRIA

À minha querida mãe por todo o apoio.

5

RESUMO

O planeta enfrenta uma série de calamidades climáticas jamais vista em

toda sua existência. Derretimentos de camadas de gelo, furacões, estações

climáticas sem temperaturas definidas, etc.

Dentro deste cenário e na preocupação da continuidade de sua

existência, os personagens mais influentes do mundo se reuniram para discutir

e tomar providencia a respeito da vida no planeta.

Em reunião realizada na cidade de Kyoto, no Japão, em 1997, foi

assinado um acordo que comprometia os países signatários a redução de suas

emissões de gases do efeito estufa.

O protocolo previa uma série de medidas para mitigar os efeitos dos

gases causadores do efeito estufa no meio ambiente, liberados pela atividade

de crescimento industrial e o desenvolvimento econômico do homem.

Um dos mecanismos de flexibilização, chamado de Mecanismo de

Desenvolvimento Limpo (MDL), criado no âmbito do Protocolo de Kyoto,

permitia a negociação de créditos entre os países desenvolvidos,

considerados altamente poluidores.

Esses créditos geraram um mercado de negociação de títulos, mais

conhecido como mercado de carbono, onde os países que ultrapassassem

suas cotas de emissão de poluentes poderiam adquirir créditos de países que

conseguiram reduzir suas emissões para aquém das metas impostas pelo

Protocolo ou através certificados emitidos de projetos de MDL, em países em

desenvolvimento, que comprovem a eficiências destes projetos em retirar

carbono da atmosfera.

Neste cenário, a solução proposta ao problema ambiental foi criação de

um mercado de créditos que atribui um valor monetário a poluição. Os países

desenvolvidos adquirem o direito de poluir e o favorecimento ao mercado

capitalista sobressai em relação à preocupação com o meio ambiente.

6

METODOLOGIA

O primeiro passo para elaboração deste documento foi a identificação

dos autores e pessoas ligadas diretamente ao tema. Através de pesquisa na

internet foi possível a estruturação da coerência cronológica da abordagem

dos fatos para que posteriormente chegasse à discussão final, tema do título

da monografia.

Paralelamente a isto, a consulta em livros se fez necessária à medida

que se aprofundava no assunto. Diversos autores consultados e comentados

durante a elaboração deste documento. Vale ressaltar que alguns destes livros

foram-me cedido pela Universidade Candido Mendes por intermédio de sua

biblioteca central.

Outro passo importante foi a locação de filmes relacionados ao Tema

Mudanças Climáticas os quais forma de grande valia para o decorrer do tema.

Em posse de todas estas fontes de consulta, o trabalho trouxe a

comparação das visões dos diferentes grupos envolvidos na temática do

mercado de carbono, de forma a fornecer ao leitor uma rica visualização do

contexto em que estamos inseridos e muitas vezes não é dada a devida

importância.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - O Aquecimento Global 09

CAPÍTULO II - Tratados Mundiais 14

CAPÍTULO III – Comercialização de Carbono 22

CAPÍTULO IV – Pontos de Vista – O Contraste 27

CONCLUSÃO 45

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 49

BIBLIOGRAFIA CITADA 50

REFERENCIAS WEBGRÁFICAS 51

VIDEOGRAFIA 52

ANEXO 53

ÍNDICE 56

FOLHA DE AVALIAÇÃO 58

8

INTRODUÇÃO

A constante preocupação com o desenvolvimento industrial mundial

gerou uma série de problemas ambientais que não estavam previstos. A

mentalidade da constante busca do ser humano em satisfazer suas

necessidades materiais tornou o mundo uma espécie de mina de recursos

naturais onde a extração poderia ser realizada infinitamente.

Com o passar dos anos, essa teoria caiu e surgiu uma nova realidade

perante as mudanças ambientais que eram observadas.

A partir de 1972, a consciência ecológica começa a tomar forma de

maneira que a necessidade de cooperação internacional para a proteção ao

meio ambiente faz com que os grandes chefes de Estado reúnam-se para

discutir o futuro mundial.

Desta data em diante, os problemas ambientais foram enfocados com

maior seriedade, tendo os países sido encorajados a efetivar mudanças de

proteção ambiental e um estímulo a um novo comportamento sustentável foi

motivado.

9

CAPÍTULO I

O AQUECIMENTO GLOBAL

O CONCEITO

“A maior parte da sociedade humana vive como se fosse

a última geração.”

(Genebaldo Dias)

A temperatura do globo vem aumentando cada vez mais. Alterações

permanentes das condições meteorológicas estão sendo observadas em todo

o mundo. Desde a Revolução Industrial, em meados do século XVIII, onde o

homem passou a substituir a mão de obra bruta por maquinário, grandes

quantidades de gases foram e continuam sendo emitidos para a atmosfera.

Acompanhando a proporção da evolução tecnológica e industrial,

associado ao consumo de combustíveis fósseis, os níveis de gás carbônico

emitidos na atmosfera só vêm aumentando.

A causa mais importante para o aquecimento global é a influência

antrópica, em diversos níveis, na natureza.

“Toda atividade humana, se não bem planejada, é

prejudicial, principalmente ao meio ambiente e a própria

humanidade.”

(FRANCISCO AQUINO, GEOGRAFO UFRGS, 1967,

p.32).

10

1.1 – Causas do Aquecimento Global

O efeito do aquecimento global é uma resposta do meio ambiente às

ações realizadas pelo homem em seu processo de industrialização e

progresso.

Para o funcionamento de máquinas e indústrias, o homem passou a

queimar combustíveis fósseis, como o carvão e o petróleo, liberando para a

atmosfera grande concentrações de gás carbônico e outros potencializadores

do efeito estufa, os chamados gases do efeito estufa (GEE´s).

1.1. 1 – Efeito Estufa.

O chamado efeito estufa ocorre quando a radiação solar atravessa a

atmosfera e se encontra com a superfície do planeta. A maior parte desta

radiação é absorvida pela superfície da Terra, aquecendo-a, e o restante é

refletido e retorna para a atmosfera.

Na atmosfera se encontram gases capazes de absorver esta energia

refletida. Quanto maior a concentração destes gases, maior a retenção de

calor e, por conseguinte, ocorre a elevação da temperatura em todo o globo.

O efeito estufa é condicionante para que haja vida no planeta. Sem

ele, não haveria condições ideais de temperatura para os seres vivos.

O problema acontece quando esses gases do efeito estufa (GEE´s)

estão presentes em altas quantidades na atmosfera. Por absorverem o calor,

não permitindo que este seja liberado para o espaço, fazem com que a

superfície receba mais energia do que deveria, tendo sua temperatura

elevada.

1.1.1.1 – Tipos de Gases.

Os gases presentes na troposfera passam a ser considerados

poluentes quando suas concentrações ultrapassam padrões (Tabela 1)

11

estabelecidos por medições em ambientes especiais, como por exemplo,

laboratórios.

TABELA 1. Emissões globais e outras características de poluentes importantes

do ar.

Poluentes

Emissão anual (106t) Concentração Típica (ppm)

Pelo homem

Natural

Tempo de Residência Na atmosfera Ar limpo Ar poluído

SO2 146-187 5 4 dias 0,0002 0,2 H2S 3 100 < 1 dia 0,0002 - CO 304 33 <3 anos 0,1 40-70 NO/NO2 53 NO:430 5 dias < 0,002 - (como NO2) NO2:658 < 0,004 0,2 (como

NO2)

NH3 4 1160 7 dias 0,01 0,02 N2O 0 590 4 anos 0,25 - Hidrocarbonetos 88 200 ? < 0,001 - CH4 1.600 4 anos 1,5 2,5 CO2 14.000 1.000.000 2-4 anos 340 400 Particulados 3.900 3.700 - - - O3 - - 0,02 0,5

Fonte: Freedman (1989)

Os gases poluentes mais importantes são: dióxido de enxofre (SO2),

ácido sulfídrico (H2S), óxidos de nitrogênio (NOx), amônia (NH3), monóxido de

carbono (CO), dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), ozônio (CO3),

peróxido-acetil-nitrato (PAN) e fluoretos (principalmente HF). Os particulados

são materiais líquidos ou sólidos com diâmetros inferiores a 1µm, comportam-

se como gases, permanecendo longo tempo em suspensão na atmosfera.

O CO2 representa, atualmente, 55% do fenômeno do efeito estufa. O

restante é causado pelo metano (15%) e pelos clorofluorcarbonos que

contribuem com 20%, cabendo 10% ao dióxido de nitrogênio, ozônio e outros.

Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) retratam as

perspectivas de emissões de gases, dos países do Anexo I e Não Anexo I,

conforme tabela abaixo (Tabela 2):

12

TABELA 2.

Tabela de Emissões

Países Anexo I Países Não Anexo I

Emissões em 1990 75 % 25 %

Concentrações em 1990 79 % 21 %

Contribuições no aumento da

temperatura em 1990

88 % 12 %

Estimativa para 2010 82 % 18 %

Estimativa para 2020 79% 21 %

1.1. 2 – Desmatamentos.

Desmatamentos freqüentes também contribuem para aumentar o efeito

estufa. O Brasil, apesar de emitir modestas toneladas de carbono anualmente

derivados da queima de combustíveis fósseis, ocupa um dos primeiros lugares

quando se trata de contribuições devidas ao desmatamento.

Cerca de 75% de um bilhão de toneladas de gás carbônico emitidas

pelo Brasil anualmente, vem de desmatamentos (IPCC). Ocasionado sempre

pela mudança de uso da terra, em atividades como pecuária, agricultura

intensiva e outros fatores. E quase todo desmatamento se concentra na

Amazônia.

Segundo Luis Carlos Molion, do Instituto de Pesquisas Espaciais

(INPE), medições realizadas em 1987 mostraram que cada hectare (10 mil

metros quadrados) da floresta retira da atmosfera, em média, cerca de 9 quilos

de carbono por dia. Nestas proporções, somente a Amazônia com seus 350

milhões de hectares, retira do ar aproximadamente 1,2 milhão de toneladas

anuais.

Os organismos vivos são compostos por água e vários componentes

de carbono. Nas plantas, o carbono participa, na forma de dióxido de carbono,

nos processos de respiração e fotossíntese. O termo “seqüestro de carbono”

13

vem da capacidade das plantas em retirá-lo do ar e retê-lo na biomassa (tanto

na parte aérea quanto nas raízes) ou ser liberado para a atmosfera, se este

material vegetal for queimado.

1.2 – Conseqüências

Fatos de proporções inimagináveis vêm ocorrendo por toda a Terra

nos últimos anos. Tempestades e furacões tropicais, enchentes, ciclones

atingem populações de várias partes do mundo, arrasando casas, prédios,

escolas deixando um rastro de medo e destruição.

No ano de 2003 uma onda de calor assolou vários países europeus,

sendo sentida com mais intensidade na França onde mais de 10 mil pessoas

morreram, principalmente crianças e idosos que foram pegos de surpresa.

O Fundo Mundial para a Natureza – WWF (World Wide Fund for

Nature) produziu um estudo denominado “Mudanças Climáticas e Fatores

Meteorológicos na Europa”. Divulgado em 2005, a pesquisa estabeleceu

ligação entre as modificações das condições meteorológicas européias e o

aquecimento global.

O Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica dos Estados Unidos

divulgou outro estudo, em 2006, no qual traz o aquecimento global como

principal responsável pelo aumento das temperaturas oceânicas que resultam

na intensificação dos furacões. Fenômenos como o Katrina, uma das maiores

tempestades tropicais enfrentadas pelos EUA, foram atribuídos ao

aquecimento global.

Mudança no regime de chuvas, aumento dos níveis dos oceanos,

alterações aceleradas dos processos ecológicos de diversos habitats são

outros exemplos da gravidade das alterações decorrentes do aquecimento

global, trazendo conseqüências imprevisíveis para o homem.

14

CAPÍTULO II

TRATADOS MUNDIAIS

Fatos observados ao decorrer do século XX levaram as autoridades a

olhar o meio ambiente como um direito das pessoas. De forma que normas

punitivas foram estabelecidas para os poluidores, uma vez que a situação

estava alarmante.

Se antes a preocupação com a natureza se restringia ao fato de que a

falta dos recursos naturais poderia ser um entrave para a estagnação do

crescimento econômico1, passou a ser considerada um “bem” mundial, no qual

só seriam alcançados resultados efetivos adotando-se políticas

preservacionistas em todo o planeta.

A ONU ganhou mais importância política nesta década e os países

passaram a ser contados como Estados soberanos e independentes, que

tomavam decisões em conjunto, não mais prevalecendo somente a vontade

dos membros dominantes2.

Por meio da Convenção de Viena, assinado em 1969, o tratado foi

consagrado como principal fonte de acordos internacionais. Entrando em vigor

em 1980, é um instrumento por meio do qual o relacionamento entre os

Estados ganha solidez e validade, trazendo segurança nas relações da

comunidade internacional.

1 ELLIOTT, Lorraine. The global politics of the environmente. New York: New York University Press,1988, p.18. 2 Calsing, Renata de Assis. O Protocolo de Quioto e o Direito do desenvolvimento sustentável. Porto Alegre. Sergio Antonio Fabio ED., 2005. 144p.

15

2.1 – Histórico

2.1.1. Conferencia de Estolcomo

Organizada em 1972 pela ONU, a Conferencia de Estolcomo foi o

ponto de partida para a conscientização ecológica mundial e a necessidade da

cooperação internacional para a proteção ao Meio Ambiente. Contou com a

participação de 114 países de diversos níveis econômicos e sociais, diferentes

religiões e crenças e inúmeras ONG´s. O resultado foram 26 princípios na

Declaração para Preservação Ambiental.

A partir da Declaração, foi elaborado um plano de ação onde o direito

ao desenvolvimento ficaria assegurado contanto que fosse “limpo”, sem ferir o

meio ambiente. Foi criado o Programa das Nações Unidas sobre o Meio

Ambiente – PNUMA, órgão especializado em questões de trato ambiental e

que atuaria junto a outros órgãos ambientais da ONU3.

2.1.2. Protocolo de Montreal

A constante preocupação com a poluição fez com que a ONU em 1983

realizasse uma Conferencia Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento, de

onde surgiu a idéia de “Desenvolvimento Sustentável” e em 1985 foi adotada a

Convenção de Proteção a Camada de Ozônio.

Diferente da Declaração para Preservação Ambiental, na qual os

princípios não aplicavam sanções jurídicas, o Protocolo de Montreal torna-se

um instrumento mais eficiente de proteção à natureza por condicionar os

infratores a legislação ambiental pertinente. Assinado em 1987, foi ratificado

pelo Brasil em 1989.

Já em 1988, a preocupação com emissão de gases do efeito estufa

começa a tomar forma. Foi estabelecido o Painel Intergovernamental de

Mudanças Climáticas (IPCC) que trouxe dados científicos dos efeitos da ação

3 Conforme ELLIOTT, op. Cit., p.13; SOARES, Guido, op. Cit., p.54-59.

16

do homem sobre o clima. Através de seu primeiro relatório, em 1990, a ONU

deu início aos trabalhos o quais resultariam na Convenção Quadro das

Nações Unidas.

Também nesta época, o PNUMA levantou dados que enquadravam os

aspectos políticos e sociais da problemática ambiental. Este trabalho deu

origem ao Relatório de Brundtland, que traz um resumo dos principais danos

ambientais e estratégias para saná-los.

Segundo Varella4, foi o relatório de Brundtland que trouxe pela

primeira vez o conceito de desenvolvimento sustentável, onde a necessidade

de continuar o crescimento estaria na destinação dos recursos naturais mas

garantindo que esse desenvolvimento não afetasse o meio ambiente de forma

prejudicial.

2.1.3. Convenção Quadro das Nações Unidas (UNFCCC) – United

Nations Framework Convention on Climate Changes

Com o objetivo de estabilizar a emissão de gases do efeito estufa, a

Convenção foi firmada por 182 países. Estes foram divididos em grupos de

acordo com suas diferenças econômicas, sociais e de desenvolvimento.

Países desenvolvidos, ricos e industrializados, são chamados de Anexo I. Os

demais países, na sua maioria em desenvolvimento, pertencem ao grupo dos

países Não Anexo I. As partes do Anexo I foram, ainda, subdivididas em Anexo

II, que são formadas por países que apresentam maior potencial de emissão

de GEE´s.

Como os países do Anexo I são os maiores causadores pelo efeito

estufa não seria justo que suas metas e responsabilidades fossem iguais as

dos países Não Anexo I, portanto essas obrigações foram atribuídas de acordo

com o potencial poluidor de cada país.

A Convenção foi finalizada no ano de 1992, a ponto de serem abertas

as assinaturas e ratificação na Eco 92, no Rio de Janeiro.

4 VARELLA, Marcelo, op. Cit., p.37.

17

2.1.4. Eco 92

Popularmente conhecida como Eco92, a Conferencia das Nações

Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, teve o objetivo de elaborar

estratégias para adequar um modelo de crescimento econômico menos

consumista ao equilíbrio ecológico.

A grande diferença da Eco92 para a Conferencia de Estolcolmo foi a

enorme presença de chefes de estado. Participaram 178 delegações de

Estados e mais de 14 mil ONG´s. O que se reflete com uma maior importância

atribuída ao meio ambiente na década de 90.

Como resultado da Conferência, foram assinados os seguintes

documentos oficiais: A Carta da Terra, Declaração do Rio sobre ambiente e

desenvolvimento ( que contém 27 princípios que guiam na busca do

desenvolvimento sustentável), três convenções (Biodiversidade, Desertificação

e Mudanças climáticas), uma declaração de Princípios sobre florestas e

Agenda 21.

2.1.5. Tratados da Sociedade Civil

Paralelamente à realização da Eco92, onde seriam definidas as

estratégias de desenvolvimento ambiental equilibrado perante o crescimento

industrial desenfreado, foi realizado um fórum com a participação de 3.180

pessoas, representando 1.300 Organizações Não Governamentais com

atuação em 108 países tendo como objetivo discutir e propor alternativas

referentes à questão ambiental. Como resultado, 36 planos de ação foram

aprovados e reunidos em quatro grupos:

• Tratados de cooperação: tomada de decisões, relatórios e

monitoramento, partilha de recursos, código de conduta;

• Tratados econômicos: as estratégias econômicas alternativas, o

comércio, a dívida, a corrupção;

18

• Tratados sobre o meio ambiente: as florestas, as

biodiversidades, o clima, a agricultura sustentável;

• Trados sobre movimentos sociais: as mulheres, os jovens, os

povos indígenas.

Dentre os produtos alcançados por esta reunião, destaca-se o “Acordo

Alternativo Sobre Mudança Climática”

Este acordo originário do consenso comum dos participantes do

evento, relativos às graves ameaças ao meio ambiente causadas pelo

aumento da concentração de gases do efeito estufa, tendo como causas o

desenvolvimento econômico, as elevadas taxas de consumo relativas ao

abuso da utilização de combustíveis fósseis e o uso inapropriado das terras.

Os cidadãos, representando as ONG´s e os movimentos sociais de todo o

mundo adotaram como objetivo desta Convenção atingir a estabilização da

concentração de gases na atmosfera, “a um nível que evitaria uma

interferência antrópica perigosa no sistema climático. Tal nível deveria ser

atingido em um período de tempo suficiente, para permitir que os ecossistemas

se adaptassem naturalmente à mudança climática, assegurando que a

produção alimentícia não seja ameaçada, e permitindo que o desenvolvimento

econômico prossiga de uma forma sustentável.”5

2.2 – Protocolo de Kyoto e o Mecanismo de Desenvolvimento

Limpo

Com o objetivo de reduzir as emissões de GEE´s, foi assinado em

1997, na cidade de Kyoto, Japão, um documento que comprometia os países

do Anexo I na redução de 5,2% das emissões abaixo do nível de 1990 entre os

anos de 2008 e 2012.

Como um instrumento vinculado a Convenção Quadro das Nações

Unidas, seu objetivo era “estabilização das concentrações de gases de efeito

5 Tratados das ONG´s, Aprovados no Fórum internacional de Organizações Não Governamentais e Movimentos Sociais, no âmbito do Fórum Global – Eco 92, p. 92.

19

estufa na atmosfera num nível que impeça a interferência antrópica perigosa

no sistema climático”

Cada país recebeu uma meta de redução de acordo com as suas

diferenças históricas e o grau de desenvolvimento industrial, contudo

mantendo a meta global acordada.

O propósito do acordo está em reduzir a emissão de seis gases

causadores do efeito estufa. São eles, dióxido de carbono, relacionado a

atividades de queima de combustíveis fósseis, incêndios florestais; Metano,

relacionado a atividades agrícolas, criação de gado, decomposição vegetal;

Óxido nitroso, resultante de indústrias de fertilizantes químicos, queima de

madeira e combustíveis fósseis; Hidrofluorcarbono/ Perfluorcarbono,

proveniente de aerossóis, indústrias de plásticos, aparelhos de ar

condicionado, refrigeradores, fundição de alumínio; Hexafluoreto de enxofre,

gás de isolamento utilizado em equipamentos eletrônicos, bolas de tênis,

sapatos esportivos.

Os países em desenvolvimento, que também fizeram parte do

protocolo, têm a obrigação de nivelar a poluição em seus territórios, sendo que

como tal fato poderia estagnar o crescimento econômico destes signatários,

ficou compactuado que só os países desenvolvidos teriam mecanismos

vinculantes de redução de emissões.

Para cumprir os princípios do protocolo, os países poderiam celebrar

acordos para redução de metas em conjunto. Como muitos países não

possuem um sistema tecnológico e econômico que possibilite desenvolver

tecnologia de produção limpa, foram adotados os chamados mecanismos de

flexibilização que tornam possível esta consecução. Dentre eles, os projetos

de “Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL)”.

20

2.2.1. Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL)

Os MDL entraram em funcionamento no início de 2005 e o Brasil foi o

primeiro país a estabelecer uma Autoridade Nacional Designada (AND),

encarregada de analisar os projetos nacionais candidatos a financiamentos.

Os aprovados são enviados à ONU para serem registrados e analisados no

Conselho Executivo.

São projetos financiados por países desenvolvidos nos países em

desenvolvimento, com a finalidade de promover, nos países Não Anexo I, seu

crescimento econômico utilizando técnicas de desenvolvimento limpo e ao

mesmo tempo contribuir para que os países do Anexo I atinjam suas metas de

emissão.

Estes projetos consistem na redução de emissões de GEE ou da

absorção destes por meio da criação de sumidouros naturais (seqüestro de

carbono). Funcionando como um meio de flexibilização para as reduções das

emissões, é a única forma de países Não Anexo I fazerem parte das reduções

destes gases, já que o custo gerado é menor quando os projetos são

implantados nestes países.

Para que o projeto seja desenvolvido deve estar embasado nas

metodologias registradas na Convenção Quadro das Nações Unidas

(UNFCCC) e aprovadas pelo Conselho Executivo do MDL. Também podem

ser utilizadas metodologias próprias que constem na UNFCCC e também

aprovadas pelo Conselho Executivo. Antes de o projeto ser registrado na

UNFCCC, deverá obter uma Carta de Aprovação (Letter of Approval) da

autoridade Nacional Designada (AND), que no Brasil é representada pelo

Ministério da Ciência e Tecnologia por meio da Secretaria Executiva da

Comissão Interrministerial de Mudança Global no Clima (CIMGC). Os projetos

são executados em duas etapas separadamente: uma documental,

demonstrando sua viabilidade e resultados esperados e outra é prática,

referente à implantação física do mesmo.

21

As reduções efetivas de emissões provenientes da implementação de

projetos MDL resultam na geração de créditos e denominados “Redução

Certificada de Emissões (RCE)” ou simplesmente créditos de carbono. Estes

certificados são emitidos por organizações credenciadas e são garantias de

que os países foram bem sucedidos na aplicação de projetos de redução de

emissões.

Um projeto só pode resultar em RCE´s após passar por sete etapas:

elaboração de Documento de Concepção de Projeto (DCP), utilizando

metodologia de linha de base e plano de monitoramento aprovados; validação,

em que é verificado se o projeto está em conformidade com a regulamentação

do Protocolo; aprovação pela Autoridade Nacional Designada (AND), que

examina a contribuição do projeto para o desenvolvimento sustentável;

submissão ao Conselho Executivo para registro; monitoramento;

verificação/certificação; e emissão de unidades segundo e acordo do projeto.

Quando países signatários do protocolo conseguem atingir suas

metas, os créditos de carbono excedentes poderão ser vendidos a outros que

ainda não atingiram suas cotas, gerando um mercado de redução de GEE,

dando um valor monetário a poluição.

Vale ressaltar que só podem participar dos projetos MDL países que

fazem parte da Convenção e que ratificaram o Protocolo de Kyoto.

22

CAPÍTULO III

COMERCIALIZAÇÃO DE CARBONO

“Os seres humanos nascem ignorantes, mas são necessários anos de

escolaridade para torná-los estúpidos.”

(George Bernard Shaw, dramaturgo irlandês -1856 - 1950)

Quando os países desenvolvidos necessitam cumprir suas metas nas

emissões de gases do efeito estufa, poderão, através do MDL, comprar de

países em desenvolvimento, títulos conhecidos como Certificados de Emissões

Reduzidas (CRE´s), que representam abatimentos verificados de emissões em

países em desenvolvimento.

Dentre os diversos segmentos de mercado que podem se beneficiar

com o comércio de carbono destacam-se:

� Projetos de recuperação de gás de aterro sanitário, de gás de

autofornos, biodigestores e outros gases;

� Energias limpas (biomassa, PCH´s, eólica, solar, etc.);

� Troca de combustíveis;

� Eficiência energética e eficiência em transporte;

� Melhorias tecnológicas industriais;

� Projetos florestais;

3.1 – Mercado de Carbono

A negociação de créditos de carbono já ocorre na Bolsa de Chicago e

em países como Canadá, República Checa, Dinamarca, França, Alemanha,

Japão, Holanda, Noruega e Suécia.

No Brasil, em 2005, o Banco de Projetos do Mercado Brasileiro de

Redução de Emissões, foi lançado pela Bolsa de Mercadorias e Futuros

(BM&F), a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro e o Ministério do

23

Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Este Banco é um sistema eletrônico

de registro de projetos. Operado via internet, faz uma correlação entre as

demandas e ofertas. Se existe, por exemplo, uma empresa com intenção em

investir em energia renovável e há um projeto sobre o mesmo tema, o sistema

automaticamente “liga” os dois. Isto gera uma redução de custos já que o

mercado de crédito de carbono é muito fragmentado, proporcionando assim,

compradores da Europa e Japão tomarem conhecimento dos projetos no

Brasil.

Em 2007, o presidente da Bovespa, Raymundo Magliano Filho,

anunciou a ampliação da área de atuação da Bolsa de Valores Sociais (BVS)

que abrigará projetos ambientais, passando a se chamar Bolsa de Valores

Sociais e Ambientais (BVS&A), funcionado como um ambiente de encontro

entre investidores sociais e ambientais e projetos que necessitem de recursos

financeiros para serem implantados ou ampliados.

3.1.1. Quantificação dos Poluentes

Os créditos de carbono são comercializados em toneladas de CO2

equivalente.

As especificidades do Prototype Carbon Fund, PCF, criado pelo Banco

Mundial, definem os projetos de comercialização de créditos de carbono. Estes

projetos são baseados em cálculos que demonstrariam a quantidade de

dióxido de carbono a ser removida ou a quantidade de GEE´s que deixará de

ser lançada na atmosfera com a efetivação do mesmo.

Com o objetivo de medir o Potencial de Aquecimento Global (Global

Warming Potencial, GWP) foi criada uma medida internacional para cada um

dos seis gases causadores do efeito estufa.

Cada crédito de carbono equivale a uma tonelada de dióxido de

carbono equivalente. Portanto o metano que possui GWP de 20 é

potencialmente, 20 vezes mais poluente que o CO2. Existem gases utilizados

na Índia que possuem GWP de 11.700, ou seja, extremamente poluentes.

24

3.2 – Projetos Brasileiro Aprovados

A maioria dos projetos aprovados no Brasil é baseada na geração de

energia elétrica a partir de gases emitidos em aterros sanitários de lixo. Há

também vários projetos de co-geração de energia a partir do bagaço da cana e

Iniciativas de criação de pequenas centrais hidrelétricas (PCH´s), além de

projetos de substituição de óleo combustível por gás natural.

Cabe lembrar que o projeto “NovaGerar”, em Nova Iguaçu, na Baixada

Fluminense, um aterro sanitário que reutiliza o gás metano liberado na

decomposição de lixo, foi o primeiro projeto MDL aprovado pela ONU, em

2004, no mundo. Este projeto atraiu o interesse do governo da Holanda, que

por meio do Banco Mundial, fechou contrato para comprar os créditos de

carbono gerados.

3.3 – Valores Negociados

O Banco Mundial divulgou em maio deste ano que o mercado de

carbono dobrou em 2007, movimentando a cifra de 64 bilhões de dólares.

Segundo o relatório “State and Trends of the Carbon Market Report 2008”, no

setor de MDL´s ocorreu uma ligeira alta, passando de 537 milhões de

toneladas de dióxido de carbono equivalente (MtCO2e) em 2006 para 551

MtCO2e em 2007. Isto significa que o mercado pode estar em uma fase

decisiva na qual muitos países em desenvolvimento estão investindo mais em

projetos sustentáveis e, por conseguinte obtendo benefícios financeiros dos

créditos de carbono.

Mesmo os EUA, maior poluidor mundial, não assinando o Protocolo de

Kioto, empresas sediadas no país com uma visão sócio ambiental responsável

e com o intuito de incrementar sua imagem institucional, aumentando o valor

de suas ações, resolveram contribuir para a preservação atmosférica.

25

Ao neutralizar suas atividades quanto à emissão de gases efeito-

estufa, e ao mesmo tempo relacionar sua marca a projetos que fazem uma

diferença na sociedade, com bonitas histórias de redução de pobreza, nasce

um mercado paralelo, o Mercado Voluntário de Carbono, com a

comercialização de créditos de carbono (VER's).

Catorze empresas que respondem pela metade das emissões de GEE

dos Estados Unidos criaram a Bolsa do Clima de Chicago – CCX, a qual é

auto-regulável. As empresas que se associaram à Bolsa do Clima de Chicago

assumiram um compromisso de redução de emissões de GEE em 4%

relativamente a 1998. As que conseguem cumprir as metas recebem créditos

de carbono que podem ser negociadas livremente na Bolsa.

Brasil participa do Mercado Voluntário. Isto quer dizer que assim como

outros países participantes, não possui cotas de emissões, entrando no

mercado por iniciativa própria. Dentro deste grupo, um credito de carbono,

equivalente a uma tonelada de CO2, custa cerca de 5 euros enquanto os

países que tem a obrigação de redução, de acordo c/ o Protocolo a mesma

quantidade custa entre 13 e 15 euros.

Ao longo de 2008, o preço dos créditos de carbono voluntários (VER´s)

– Verified Emission Reduction – tiveram alta de 26% em relação a 2007. As

negociações dos meses de julho a agosto apresentaram uma média de 6,3

dólares por tonelada de CO2e (equivalente) em comparação a 5 dólares por

tonelada de CO2e em 2007.

Existem fatores que influenciam nestes valores. O padrão VCS (

Voluntary Carbon Standard) é o mais comum e apresentou um aumento de

33% em relação a 2007, alcançando o preço de 7,3 dólares/tonelada de CO2e.

O Gold Standard continua sendo o mais valorizado, chegando a 15,8

dólares/tonelada de CO2e (fonte New Carbon Finance).

Outro fator que influencia o preço é o tipo de projeto. Projetos que

retiram metano têm valores mais elevados, chegando a 7,3 dólares/tonelada

de CO2e. Projeto de energia renovável foram negociados em 6,7

26

dólares/tonelada de CO2e. Os VER´s de gases industriais 3,6 dólares/tonelada

de CO2e. Os projetos florestais 4,2 dólares/tonelada de CO2e.

Para efeito de comparação, os valores dos RCE´s negociados no

Protocolo de Kioto chegam a 26 dólares/tonelada de CO2e.

GRÁFICO 1. Evolução da estimativa de preços (fonte New Carbon

Finance)

27

CAPÍTULO IV

PONTOS DE VISTA

O CONTRASTE

“Sempre que uma teoria lhe aparece como a única possível, considere isso um sinal de que ou você não entendeu a teoria ou não compreendeu o problema.” que ela pretende resolver.

Karl Raimund Popper filósofo austríaco (1902-1994)

Dos maiores avanços alcançados pela filosofia ou a teoria da ciência

em sua caminhada histórica evolutiva da humanidade destaca-se pela

descoberta de que não existem “verdades absolutas” quando se está

produzindo um discurso científico.

O não questionamento das teorias científicas que cotidianamente são

elaboradas com o objetivo de decifrar parcelas de específicos assuntos em

todo o mundo, levaria a um entendimento de que os produtos advindos da

ciência não abririam espaço para incertezas, seriam sempre verdades

inabaláveis.

É exatamente a percepção de que a ciência trabalha com um

conhecimento probabilístico e não definitivo que torna possível seu avanço.

Os contrastes advindos das divergentes opiniões trazem toda uma

série de atritos entre os diferentes grupos sociais que defendem suas posições

em função de suas diferentes visões de mundo e sociedade, enriquecendo,

desta forma, ainda mais a discussão.

Este contraste de mentalidades é de fundamental importância para o

crescimento social e evolutivo da humanidade.

4.1 – A visão do Setor Privado

As mudanças climáticas e o aquecimento do planeta oferecem riscos e

oportunidades para todos. O fato de 75% das emissões brasileiras

corresponderem ao setor de uso do solo, florestas e mudanças do uso do solo,

28

não isenta os outros setores de suas responsabilidades, de forma que façam o

necessário para alterar os padrões de produção, tornando-os ecologicamente

mais corretos.

O Brasil, atualmente não possui nenhum compromisso de limitação

quantitativa ou metas de redução de emissões de gases do efeito estufa

determinadas pelo regime internacional, mas é certo que no período pós 2012

estará comprometido com as ações nacionais de mitigação mensuráveis.

Neste sentido é importante que o setor empresarial já antecipe e discuta

estratégias futuras.

As oportunidades que poderiam surgir de mecanismos de

flexibilização como a execução conjunta (Joint Implementation), atividades

implementadas conjuntamente (Activities Implemented Jointly) e projetos

apoiados pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (Global Enviroment Facility

– GEF) começaram a ser identificadas nas primeiras discussões durante os

anos 90, antes da Cop-3 em Kyoto.

Além do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento

Sustentável (CBDS), uma das primeiras indústrias a se interessar pelo assunto

foi a de papel e celulose, seguida pelos produtores de carvão vegetal devido a

oportunidade de usar os recursos de captura de carbono para o financiamento

de suas atividades.

Após a entrada em vigor do Protocolo de Kyoto, outros setores

empresariais perceberam as oportunidades contidas no Mecanismo de

Desenvolvimento Limpo (MDL) de forma que hoje no Brasil, existem 189

projetos aprovados pela Autoridade Nacional Designada (CIMGC), dos quais,

142 estão registrados no Conselho Executivo do MDL.

O Brasil é o terceiro país em número de projetos, atrás da China e

Índia.

Do total de projetos aprovados, quase a metade está relacionada a

energia renovável. Projetos de suinocultura ocupam em torno de 16% do total.

Troca de combustível fóssil está com 13% e o restante está dividido em

29

projetos de aterro sanitário, eficiência energética, resíduos, processos

industriais, entre outros.

Seguindo o leque de oportunidades, empresas de engenharia e

consultoria especializadas em elaboração e apresentação de projetos para

obtenção de créditos de carbono criaram em junho de 2008 a ABEMC –

Associação Brasileira das Empresas do Mercado de Carbono. Esses

profissionais e empresas proponentes de projetos atuam junto os Governos

Estaduais e Federais de forma a apoiar o MDL, impedindo assim, a criação de

políticas ou programas compulsórios de redução dos gases de efeito estufa,

visto que buscam maximizar suas oportunidades e ganhos com uma linha de

base que não inclua a limitação obrigatória de emissões.

O setor industrial brasileiro se declara cada vez mais disposto a

adotar medidas de redução de emissões de GEE´s. Os investimentos serão

voltados a pesquisa de inovações tecnológicas com ênfase em eficiência

energética, de forma a buscar incentivos econômicos dentro do MDL e

elaborar inventário de emissões.

A FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e a

CIESP (Centro das Indústrias de São Paulo) elaboraram, em 2007, uma

proposta com metas voluntárias de redução de emissão de gases do efeito

estufa. Entretanto, no processo de consulta pública para o Plano Nacional

sobre Mudanças Climáticas, a indústria, representada pela CNI, posicionou-se

contra metas obrigatórias de redução de emissões e reconheceu que a adoção

de medidas pelo setor será lenta, principalmente se não houver incentivos

governamentais.

4.1.1. Posicionamento de algumas empresas

Tanto a Petrobrás como outras empresas do ramo energético tem

investido em pesquisas sobre a eficiência de seus sistemas produtivos,

energias renováveis, biocombustíveis e armazenamento e captura de carbono.

Sendo a companhia detentora do monopólio do refino e produção de petróleo

30

no Brasil, esta empresa se torna fundamental durante as discussões

energéticas e de mudança do clima no país. Apesar de investir maciçamente

em projetos socioambientais e na publicidade (marketing) de suas ações

ambientalmente corretas, seu comportamento se torna ambíguo quando o

assunto retrata os rumos da exploração petrolífera de acordo com critérios de

sustentabilidade e repete o discurso do governo brasileiro de que o

investimento em biocombustíveis é sua contribuição na mitigação das

mudanças climáticas.

Em contrapartida, há setores progressistas na esfera privada: o

CEBDS lançou o Pacto de Ação em Defesa do Clima. Em conjunto com o

Greenpeace e o WWF-Brasil, em abril de 2007, este pacto contém dez

propostas gerais a serem consideradas pela sociedade e governo. Medidas

incentivando o fim do desmatamento, fomentando iniciativas que tornem a

matriz energética mais limpa; conscientização da sociedade quanto aos efeitos

adversos das mudanças do clima e outras são exemplos de ações que devem

ser observadas e executadas conjuntamente entre as esferas públicas e

privadas.

No ramo da construção civil, destacam-se iniciativas do Conselho

Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS) e do Green Building Council

Brasil.

O mercado financeiro possui uma iniciativa global relacionada às

mudanças climáticas, que é o “Carbon Disclosure Project” (Projeto de

Informações sobre a Emissão de GEE´s ou Relatório de Informações sobre

Carbono – CDP, na sigla em inglês). O CDP consiste num questionário

coletivo formulado por investidores institucionais (fundos de pensão, bancos,

seguradoras) e inicialmente foi endereçado as 500 maiores empresas do

mundo (listadas no FT500), tendo como objetivo, obter informações sobre suas

políticas de mudanças climáticas com a finalidade de adequar as decisões de

investimento.

Em 2006, o CDP passou a ter versão brasileira, tendo como patronos

o Banco Real e a ABRAPP (Associação Brasileira das Entidades Fechadas de

31

Previdência Complementar) e facilitador a consultoria Fábrica Ethica Brasil,

enviou questionários para as 50 maiores empresas brasileiras de capital

aberto listadas no índice IBrX da Bovespa.

Algumas outras empresas brasileiras, por estarem incluídas no índice

FT500 já haviam participado em outras edições do CDP internacional, mas foi

em novembro de 2008 que foi lançada a edição nacional do CDP-6, que

abrangeu 75 maiores empresas de capital aberto do Brasil.

Além de incorporarem medidas de mitigação de emissão de poluentes,

seguindo a tendência internacional, ainda mais evidenciada pelo lançamento

do CDP, as empresas passaram a considerar questões sociais e ambientais

para concessão de créditos e apólices de seguro. Algumas empresas tem

programas de neutralização de emissões de carbono, no qual calculam o

quanto de carbono foi lançado no meio ambiente desde a retirada da matéria

prima até o descarte dos produto e a partir destes cálculos, compensam suas

atividades através de reflorestamento.

Apesar de alguns setores industriais já se encontrarem em um

caminho ambientalmente mais coerente com a realidade, outros setores ainda

são os grandes vilões do assunto em questão. A expansão do agronegócio

acaba induzindo ao desmatamento. Atividades ligadas à pecuária, aliada à

agricultura extrativista realizada de forma expansiva, necessitando de novas

áreas aptas à continuidade de referidos empreendimentos, contribuem para o

aumento de desmatamentos que comprometem todo ecossistema regional.

Por sua vez, no processo industrial das mineradoras e siderúrgicas, a

energia consumida é proveniente, em sua maioria, da utilização intensiva de

carvão vegetal de mata nativa ou plantada, o que as torna diretamente ligadas

a desmatamentos. Isto implica a necessidade de revisão de seu processo de

produção de forma a realizar mudanças necessárias em sua matriz energética.

Estes setores, juntos, são responsáveis por mais de 70% das

emissões de gases de efeito estufa no Brasil.

De forma a combater o desmatamento, entra em vigor, em julho de

2008, uma resolução do Conselho Monetário Nacional que restringem a

32

concessão de crédito, para a safra de 2008/2009, a proprietários rurais do

bioma amazônico que não cumprirem critérios ambientais.

Podemos concluir que para o setor privado os cuidados relativos ao

ambiente não funcionariam apenas como marketing verde de seus produtos e

mercadorias comercializadas. O empresário brasileiro, de modo geral,

identificou oportunidades de redução de emissões na incorporação da teoria

de mudança do clima em seu processo produtivo.

Alguns setores, como o agronegócio, ainda enxergam a realidade

ambiental como um entrave para seu desenvolvimento, não visualizando as

oportunidades geradas por esse novo nicho de mercado.

Este processo ocorre ainda de forma lenta tendo em vista o

descompasso entre o discurso e a prática realizada pelos empresários, além

da expectativa e pressão por incentivos governamentais, mostrando que existe

a real necessidade da criação de medidas regulamentadoras para o setor

privado.

4.2 – A visão do Poder Público

Com a perspectiva de entrada em vigor do Protocolo de Kyoto e as

cifras potenciais que seriam direcionadas ao Mecanismo de Desenvolvimento

Limpo (MDL), surgiu a necessidade de formalização de um mecanismo dentro

do Governo que pudesse encaminhar esse potencial para as prioridades de

desenvolvimento nacionais.

Como não existia um órgão específico na estrutura da Administração

Pública Federal para realizar a coordenação e a articulação necessárias, foi

criada em 1999, a Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima

(CIMGC).

Tendo em vista a relevância que o tema vem adquirindo no cenário

das relações internacionais, a complexidade e o aspecto multifacetado dos

assuntos relacionados com clima, o tratamento do assunto requer articulação

de ações de diversos órgãos governamentais setoriais. Essa comissão é

33

composta por 11 ministérios, sendo presidida pelo Ministério da Ciência e

Tecnologia (MCT) e vice presidida pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA).

Dentre suas atribuições:

a) emitir parecer, sempre que demandado, sobre propostas de

políticas setoriais, instrumentos legais e normas que contenham componente

relevante para a mitigação da mudança global do clima e para a adaptação

do País aos seus impactos;

b) fornecer subsídios às posições do Governo nas negociações sob

a égide da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima

e instrumentos subsidiários de que o Brasil seja parte;

c) definir critérios de elegibilidade adicionais aos considerados

pelos Organismos da Convenção, encarregados do Mecanismo de

Desenvolvimento Limpo (MDL), previsto no Artigo 12 do protocolo de Quioto

da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima,

conforme estratégias nacionais de desenvolvimento sustentável;

d) apreciar pareceres sobre projetos que resultem em reduções de

emissões e que sejam considerados elegíveis para o Mecanismo de

Desenvolvimento Limpo (MDL), e aprová-los, se for o caso.

e) realizar articulação com entidades representativas da sociedade

civil, no sentido de promover as ações dos órgãos governamentais e

privados, em cumprimento aos compromissos assumidos pelo Brasil perante

a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima e

instrumentos subsidiários de que o Brasil seja parte.

4.2.1. Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima (CIM)

Em 2007, o governo decreta instituição do Comitê Interministerial

sobre Mudança do Clima (CIM), de caráter permanente e formado por 16

ministérios, liderados pela Casa Civil. Este Comitê é responsável por alinhar

as diferentes iniciativas do governo nesta área e em especial, por orientar a

34

elaboração e implementação da Política Nacional e do Plano Nacional sobre

Mudanças do Clima.

O CIM estabeleceu o Grupo Executivo sobre Mudança do Clima (GEx),

coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, responsável por

elaborar,implementar, monitorar e avaliar o Plano Nacional sobre Mudança do

Clima e também formular a Política Nacional sobre Mudança do Clima.

De acordo com o decreto, o GEx teria que ter elaborado versão

preliminar do Plano Nacional sobre Mudança do Clima até 30 de abril de 2008,

porém, o rascunho da primeira versão do Plano foi divulgado no dia 25 de

setembro de 2008 e estará disponível para consulta pública até 31 de outubro.

Essa versão preliminar do Plano é bastante genérica e superficial, aglomera

uma série de programas em curso que podem ser relacionados às mudanças

climáticas e é falho ao não prever metas, prazos e instrumentos efetivos e de

relevância para a redução das emissões brasileiras.

A partir da iniciativa do decreto de instituição do CIM, foi possível o

estabelecimento de estratégias para a elaboração da Política Nacional sobre

Mudanças do Clima, que tem como diretrizes gerais o cumprimento dos

compromissos assumidos pelo Brasil junto à Convenção sobre Mudança do

Clima; adotar ações de mitigação que sejam mensuráveis, passíveis de ser

informadas e verificáveis, no contexto do desenvolvimento sustentável; adotar

medidas de adaptação para reduzir os impactos e a vulnerabilidade dos

sistemas ambiental, social e econômico; garantir e estimular a participação

dos governos, da sociedade civil organizada e dos setores acadêmico e

privado; promover a pesquisa, o desenvolvimento e a difusão de tecnologias;

utilizar mecanismos financeiros e econômicos para promover ações de

mitigação e adaptação; promover a cooperação internacional e aperfeiçoar e

garantir a observação sistemática e precisa do clima. O plano nacional

deverá ser fundamentado em quatro eixos principais que incluem ações

nacionais de mitigação; identificação das vulnerabilidades e potenciais

impactos da mudança do clima, e medidas de adaptação; pesquisa e

desenvolvimento; e ações nas áreas de educação, capacitação e divulgação.

35

4.2.2. Fundo Nacional sobre Mudança do Clima (FNMC)

Para que a Política Nacional sobre Mudanças do Clima e o Plano

Nacional sobre Mudança do Clima sejam viabilizados, o governo brasileiro

lançou, em agosto de 2008, o Fundo Nacional sobre Mudança do Clima

(FNMC), que tem como objetivo assegurar recursos para apoio a projetos ou

estudos e financiamento de empreendimentos que visem à mitigação da

mudança do clima e à adaptação aos seus efeitos.

O Fundo contará com os seguintes recursos: até 60% dos recursos

de que trata o parágrafo 2º inciso II da Lei do Petróleo; dotações consignadas

no Orçamento Geral da União e em créditos adicionais; recursos decorrentes

de acordos, ajustes, contratos e convênios celebrados com órgãos e

entidades da administração pública federal, estadual, distrital ou municipal;

doações realizadas por entidades nacionais e internacionais, públicas ou

privadas; empréstimos de instituições financeiras nacionais e internacionais;

recursos diversos previstos em Lei; a reversão dos saldos anuais não

aplicados; e ainda recursos oriundos de juros e amortizações de

financiamentos.

O FNMC será administrado por um Comitê Gestor vinculado ao MMA,

que o coordenará, e será formado por seis representantes do Poder

Executivo e cinco representantes do setor não-governamental.

4.2.3. Projetos de MDL

Os projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL),

submetidos à aprovação, são verificados pela Autoridade Nacional

Designada para esta atividade, que no caso do Brasil, é o Ministério da

Ciência e Tecnologia, através da Coordenação Geral de Mudanças Globais

do Clima, que identifica a contribuição dos projetos no desenvolvimento

sustentável, pré requisito para posterior expedição ao Conselho Executivo

36

do MDL. Também por meio da Coordenação Geral de Mudanças Globais do

Clima oferece apoio técnico ao Itamaraty.

4.2.4. Comunicação Nacional

Dentre os compromissos assumidos pelo país dentro da Convenção

Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças no Clima, está o de desenvolver

e atualizar periodicamente inventários nacionais das emissões antrópicas por

fontes e remoções por sumidouros dos gases de efeito estufa não controlados

pelo Protocolo de Montreal, além de fornecer uma descrição geral das

providencias para implementar a Convenção. O documento contendo tais

informações é chamado de Comunicação Nacional no jargão da Convenção.

De forma que o Brasil cumprisse seus compromissos neste campo, coube ao

MCT a coordenação destes trabalhos para elaboração deste documento em

parceria com instituições e especialistas com reconhecida capacidade em

cada área específica dos mais diversos setores energéticos, industrial,

florestal, agropecuário, de tratamento de resíduos entre outros. O primeiro

documento foi publicado no final do ano de 2004, referente ao período de

1990-1994 e a segunda está prevista para ser divulgada neste ano, em 2009,

referente ao período de 1995 a 2000. Ambas as Comunicações Nacionais

contaram com recursos do GEF/PNUD.

O Ministério da Ciência e Tecnologia faz uso do princípio das

responsabilidades comuns, porém diferenciadas para defender que o Brasil

não deve aceitar novos compromissos no âmbito da UNFCCC, já que a

contribuição do país na mitigação das mudanças climáticas deve acontecer

pela ampliação dos projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.

4.2.5. A Questão Florestal

A Atuação do Ministério do Meio Ambiente (MMA), concentrando-se

na questão florestal vem crescendo, de forma que em 2006, na CoP-12, em

37

Nairobi, Quênia, a na época ministra do Meio Ambiente, Marina Silva,

apresentou a proposta da criação de um mecanismo de incentivos positivos

para países em desenvolvimento que efetivamente reduzirem suas emissões

de gases de efeito estufa por meio do combate ao desmatamento.

Conforme a proposta, os países em desenvolvimento poderão receber

recursos internacionais para aprimorar ainda mais as ações na área de

combate ao desmatamento. Os incentivos deverão incluir a provisão de

recursos financeiros e a transferência de tecnologia, além de meios para

capacitação e aperfeiçoamento das potencialidades dos países em

desenvolvimento.

4.2.6 Secretaria de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental

(SMCQ)

Em abril de 2007, foi criada a Secretaria de Mudanças Climáticas e

Qualidade Ambiental (SMCQ) na nova estrutura regimental do Ministério do

Meio Ambiente (MMA), consagrando a importância da temática de mudança

no clima no âmbito das ações do ministério.

A secretaria subsidia e assessora diversas unidades do ministério e

entidades vinculadas nos assuntos relacionados com a mudança do clima,

assim como desenvolve políticas e estratégias para a mitigação e a

adaptação aos seus impactos, apóia a ampliação do uso de alternativas

energéticas ambientalmente adequadas e implementa o Protocolo de

Montreal no Brasil. O Departamento de Mudanças Climáticas está abrigado

na SMCQ cabendo lhe o papel da coordenação das ações do ministério

relacionadas à mudança do clima.

4.2.7. Conferência das Partes (COP-14)

A CoP-14 ocorreu em dezembro de 2008, na cidade de Poznan, na

Polônia e tinha como objetivo apresentar e debater propostas para controlar o

38

aquecimento global. O MMA apresentou na reunião, o Plano Nacional sobre

Mudança do Clima e o Fundo Amazônia. O objetivo no evento foi demonstrar a

relação entre os dois instrumentos para a redução do desmatamento. Este

fundo é gerido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social

(BNDES) e as doações arrecadadas financiarão ações que possam contribuir

para a prevenção, o monitoramento e o combate ao desmatamento da floresta.

4.2.8. CONAMA

Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA é o órgão consultivo

e deliberativo do Sistema Nacional do Meio Ambiente-SISNAMA, foi instituído

pela Lei 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente,

regulamentada pelo Decreto 99.274/90.

Em abril de 2007, a primeira reunião do Grupo de Trabalho (1º GT)

sobre Impactos das Mudanças Climáticas no Brasil, discutiu o papel do

CONAMA na adoção de Medidas de Adaptação às mudanças climáticas dentro

do poder público brasileiro. Anteriormente à instalação deste GT, já existia a

proposta de instituição de um grupo de trabalho para elaborar o plano nacional

de mudanças climáticas, entretanto, o governo se posicionou contra.

4.2.9. Fórum Brasileiro sobre Mudanças Climáticas (FBMC)

Criado pelo Decreto nº 3.515, de 20 de junho de 2000 e presidido

pelo Presidente da República, tem por objetivo conscientizar e mobilizar a

sociedade para a discussão e tomada de posição sobre os problemas

decorrentes da mudança do clima por gases de efeito estufa, bem como

sobre o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) definido no Artigo 12

do Protocolo de Kyoto à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre

Mudança do Clima, ratificada pelo Congresso Nacional por meio do Decreto

Legislativo nº 1, de 3 de fevereiro de 1994.

39

O FBMC deve auxiliar o governo na incorporação das questões

sobre mudanças climáticas nas diversas etapas das políticas públicas.

O Fórum é composto por agentes com responsabilidade sobre a

mudança do clima: 12 ministérios, representantes de organizações não-

governamentais, academia e setor privado, presidente da Câmara dos

Deputados, presidente do Senado Federal, governadores de estados,

prefeitos de capitais dos estados e é presidido pelo presidente da República,

mas, geralmente, cabe ao secretário-executivo do Fórum conduzir os

encontros.

Em junho de 2007, o Fórum encaminhou ao presidente da República

e à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, uma proposta de plano

nacional de combate às mudanças climáticas.

Este plano está estruturado em três eixos:

• O primeiro trata das ações coordenadas de governo com questões

práticas para redução das emissões brasileiras e medidas de

adaptação, contendo metas de redução da taxa de desmatamento e

queimadas;

• O segundo define a criação de uma rede de pesquisa de ciência do

clima e;

• Terceiro prevê a formação de um instituto do clima que elabore estudos

e instrumentos para que a questão seja incorporada nas tomadas de

decisão.

Em julho de 2008, o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, que

integra o GEx, recebeu a incumbência de promover diálogos setoriais com a

CNI, setor elétrico, setor financeiro, empresas relacionadas ao setor de

carbono, movimento municipalista brasileiro, organizações não-

governamentais e movimentos sociais, setor de agricultura, floresta e mudança

do uso do solo como parte do processo de consulta pública para colher

contribuições para o Plano Nacional sobre Mudanças Climáticas. O MMA

marcou encontros com as pastas da Agricultura, Minas e Energia, Cidades,

40

Transportes e Desenvolvimento, Indústria e Comércio, com governos

estaduais, além de reuniões regionais e setoriais.

De forma a facilitar a comunicação entre o governo estadual e a

sociedade civil, um dos objetivos do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas

é estimular a criação de fóruns estaduais de forma a exercer a mesma função,

no âmbito estadual, que o FBMC exerce no âmbito federal.

4.3 – A visão do FBOMS

Fundado em 1990, de forma a facilitar a participação da sociedade

civil brasileira no processo da Conferência das Nações Unidas para o Meio

Ambiente e Desenvolvimento, que ocorreria posteriormente em 1992, o Fórum

Brasileiro de Organizações Não Governamentais e Movimentos Sociais para o

Meio Ambiente e o Desenvolvimento (FBOMS) baseia sua plataforma de

princípios nos tratados oriundos do consenso das reuniões realizadas em

1992.

Segundo o FBOMS, o desafio das ONG´s e movimentos sociais é que

através da democratização do debate, pode-se chegar a novos

posicionamentos oficiais em busca do equilíbrio entre o homem e natureza.

Nos últimos anos, o FBOMs, através de seu Grupo de Trabalho de

Mudanças de Clima – GT Clima – tem pressionado o governo brasileiro a

implementar políticas que estejam de acordo com o regime de clima

internacional, fazendo com que o país avance em suas contribuições.

Entretanto, segundo nota do GT-Clima, de 24 de setembro de 2008 (ver

anexo), o Brasil não está preparado para lidar com os problemas do

aquecimento global e as mudanças climáticas. Os planos e as políticas sociais

e ambientais favorecem a crise ambiental pois dão prioridade ao crescimento

econômico irresponsável por desconsiderar os impactos ecológicos derivados

de atividades altamente questionáveis como as usinas hidrelétricas no Rio

Madeira e outras, as usinas nucleares, a expansão da fronteira agrícola e

41

pecuária e a transposição de águas do Rio São Francisco e outras iniciativas

incluídas no Programa de Aceleração de Crescimento (PAC).

Em função de sua responsabilidade diferenciada, o Brasil tem

ignorado seus compromissos referentes aos prazos de elaboração de planos e

objetivos compatíveis com a necessidade mundial de redução do aquecimento

global. As tendências de evolução do setor energético apontam para um maior

consumo de combustíveis fósseis, seja para termelétricas ou transportes. O

simples estímulo ao uso do etanol e biocombustíveis não pode ser

considerada com a única contribuição que o país pode oferecer como resposta

adequada a uma política séria e sustentável.

Segundo anunciado pelo governo, por intermédio do Ministro Carlos

Minc e do Comitê Interministerial sobre Mudança de Clima (CIM), a primeira

versão do Plano Nacional sobre Mudanças Climáticas (PNMC) tornar-se-ia

público em 23 de setembro de 2008 e ficaria aberta para comentários por 30

dias, para depois ser lançada pelo presidente Lula em um evento anterior à

14ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre

Mudança do Clima (UNFCCC), em Poznan, Polônia. O atraso na divulgação

mostrou a dificuldade do governo na condução de um processo participativo

relacionado ao tema ambiental.

Com a incumbência de promover diálogos inter-setoriais como parte

do processo de consulta pública para colher contribuições para o PNMC, em

11 de setembro de 2008, o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC)

durante apresentação da síntese das consultas por ele realizadas, percebeu-

se que determinados setores privados e do governo s e mostram resistentes à

adoção de medidas de mitigação de emissões de GEE`s.

“Temos um governo deslumbrado com o petróleo do pré-sal, com o

crescimento econômico e insensível, imaturo, em face ao cataclisma climático

que se anuncia. Quem se preocupa com o futuro do país deve organizar sua

agenda para preparar-se, evitar, mitigar e – inclusive – aproveitar as

oportunidades da nova realidade crítica que se agiganta. Fomos abençoados,

“gigantes pela própria natureza”, mas não podemos viver “deitados em berço

42

esplêndido”. Nosso governo - deslumbrado com a expansão agrícola no

Cerrado, com a produção de carne na Amazônia, com o crescimento das

colunas de fumaça das fábricas, dos escapamentos dos automóveis e das

motocicletas – ainda não consegue envidar esforços para gerar uma estratégia

nacional para as mudanças climáticas. A competência para elaborar este Plano

é do CIM, presidido pela Ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff que, como

divulgado pela mídia, pressiona o quanto pode (e não pode) por novas usinas

hidrelétricas, novas usinas nucleares, por novos projetos concentradores de

capital; porém não quer se empenhar com questões sócio-ambientais. O

ministro do Meio Ambiente, que coordena o Grupo Executivo do CIM, não

consegue articular a elaboração do Plano Nacional sobre Mudanças

Climáticas. E assim, nós do GT Clima/FBOMS nos manifestamos com

veemência em repúdio à inépcia do CIM. Aqui estamos, e pressionamos, pois

como sabemos todos: “O clima vai esquentar e é bom se planejar para o que

virá!””6

4.4 – A visão de alguns ambientalistas

De forma a enriquecer um pouco mais a discussão, professores

universitários, políticos e acima de tudo atores sociais influentes no meio

ambiental fornecem seus pontos de vista sobre as visões do mundo e

sociedade.

4.4.1. A análise de Carlos Walter7

De acordo com o ambientalista, “nunca se falou tanto em salvar o

planeta como nos últimos 30 anos e nunca se devastou tanto. Assim, estamos

tendo que reavaliar nossas reflexões, conceitos e práticas. O ambientalismo

6 Nota do GT-Clima, de 24 de setembro de 2008 (anexoI) 7 Carlos Walter Porto Gonçalves – ambientalista e professor da Universidade Federal Fluminense autor do livro “A globalização da natureza e a natureza da globalização” Editora Civilização Brasileira.

43

dos anos 60 e 70 era considerado subversivo e desafiante, pois colocava em

xeque a civilização industrial. De lá pra cá, vem acontecendo uma cooptação e

um esvaziamento desta visão crítica.

Em sua opinião, “o incômodo que nós ambientalistas estamos vivendo

é:se tudo que fizemos não impediu a devastação, a quem interessa o

ambientalismo senão aos próprios ambientalistas? Surgem congressos,

seminários, bolsas de carbono, tudo com muita mídia e muita ONG e, assim,

se esvazia o conteído radical do pensamento que tenta pegar o problema pela

raiz. Hoje se diz que tudo tem solução, dede que passe pelo mercado”.

Segundo o professor, “a economia mercantilista baseia-se na

matemática, e faz tanta abstração que se esquece das dimensões físicas e

biológica das coisas, não considera as leis de entropia, por exemplo. É como o

plantador de tomate que se preocupa em quanto vai colher e não se importa

de colocar muito agrotóxico na plantação, pois ele mesmo não vai comer o

tomate, só vai vendê-lo”.

Em sua opinião, “tudo isso” está relacionado ao Protocolo de Kioto e

ao mercado de carbono. Caso as soluções para os problemas ambientais

sejam buscadas no mercado, o problema só será aprofundado. Segundo ele,

“o capitalismo não é um sistema de organização social natural, aliás como

nenhum outro jamais será. A questão é saber se o sistema que tudo

mercantiliza é capaz de ver a natureza enquanto um potencial criativo e a

cultura dos povos, como diversidade do potencial criativo da espécie humana.

As regiões onde há mais riqueza em biodiversidade e em água são aquelas

que ficaram à margem do desenvolvimento mercantil, A combinação de

ecologia com economia tem que deixar de confundir economia com a forma

capitalista de pensar a economia.

4.4.2. A crítica do Gabeira

O deputado federal Fernando Gabeira considera o MDL e o

desenvolvimento do mercado de carbono realidades positivas, ainda que

44

signifiquem pouco diante do aquecimento global. Segundo ele “as iniciativas

por mais amplas que sejam, são limitadas com relação às necessidades reais.

Mas esta é uma discussão bizantina: não interessa muito saber se vou salvar o

planeta ou apenas retardar uma catástrofe. Ambas as causas são justas.”

Nesse cenário ele critica o que tem ocorrido no Brasil: “No nosso país,

a regulamentação interna do MDL foi retardada por causa da incompreensão

política com relação ao Protocolo de Kyoto”. O tema era tratado de forma

secundária e estava relacionado aos países desenvolvidos, o que provocou

um atraso na regulamentação do MDL.

Para Gabeira, todas as iniciativas comprovadamente eficazes para

reduzir a emissão de poluentes devem analisadas, e todos os entraves devem

ser combatidos.

4.4.3. Luis Gilvan de Meira Filho8

O professor Luis Gylvan Meira Filho integrou a equipe de

negociadores brasileiros do Protocolo de Kyoto. Para ele, “ a limitação das

emissões de gases causadores do efeito estufa exige esforços sem

precedentes. Não há indícios de que a economia global vá ser prejudicada,

mas os governos precisam adotar medidas de compensação dos setores

prejudicados pelos efeitos decorrentes das mudanças que devem ser

adotadas, principalmente na área de geração de energia, industria e

transporte. É preciso mexer dentro da economia e, principalmente, repartir os

custos. A tendência é que essa repartição seja feita de forma que o ônus maior

caiba a quem polui mais, e o menor a quem polui menos.

O cientista elogia o MDL – “é uma maneira coletiva de compensar

reduções de emissões” – mas ressalta: “ele precisa ser aperfeiçoado, de modo

a fazer com que baixe o custo geral de redução para o conjunto de países. Na

Europa, Japão e Estados Unidos, estes custos já estão sendo internalizados. A

8 Doutor em astrofísica e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), integrou a equipe de negociadores brasileiros do Protocolo de Kyoto.

45

sociedade está se dispondo a incorporá-los em suas atividades econômicas e

financeiras.

4.4.4. A proposta de Minc

Segundo o atual ministro de Meio Ambiente Carlos MInc, “uma

compensação para indústrias e países que poluem mais não pode ser

rechaçada, mas ela pode indicar que os ambientalistas estão monetarizando a

poluição, criando um mercado para ela. Os países ricos não conseguem

diminuir suas emissões e podem, nos países mais pobres, ajudar a preservar

florestas ou diminuir as emissões de gás metano do lixo. Isso é uma maneira

de ver a questão.”

Por outro lado, em sua opinião, quem provoca um desequilíbrio, ainda

que local, tem que arcar com os custos de diminuir a poluição ambiental

global. “Não se pode ser contra que um país rico invista em diminuir a poluição

nos países em desenvolvimento. Mas temos que ir mais fundo. Por isso,

proponho que o mercado de carbono deve ser ampliado e os mecanismos de

controle sejam mais eficazes e transparentes. Além disso, penso que essas

medidas não podem calar os ambientalistas, que devem continuar exigindo

que os países mais ricos diminuam suas emissões de gases nocivos à vida.”

4.4.5. A ponderação de Lutes9

O pesquisador considera que algumas críticas ao mercado de carbono

são válidas mas diz que é preciso fortalecer o Protocolo com um todo.

Segundo ele “o mercado internacional de carbono não contribui

diretamente para proteger o meio ambiente. Ele só cria mais flexibilidade para

os países com metas a cumprir. Mas esse mercado gera interesse, apoio e

oportunidades de engajamento por parte do setor privado.”

Ele afirma que a entrada em vigor do Protocolo de Kyoto foi um passo

muito pequeno e demorado, mas necessário para construir um regime

9 Mark Lutes é pesquisador da ONG Vitae Civilis, sociólogo e especialista em mudança climática.

46

internacional capaz de limitar as emissões e concentrações atmosféricas de

gases de efeito estufa.

“O mais importante é que o regime internacional negociado para

depois de 2012 seja capaz de reduzir mais as emissões em países

industrializados e, ao mesmo tempo, faça o mesmo nas nações em

desenvolvimento. Para isso, os mercados de carbono podem cumprir papel

mais amplo do que estão desempenhando agora. Mas, em geral, as regras

negociadas são razoáveis, e o Conselho Executivo do MDL está cumprindo

suas responsabilidades, evitando os piores abusos.”

“A questão para o futuro é: a quantidade de créditos precisa ser

contrabalançada com metas de redução muito fortes para os países

industrializados, para evitar o risco de uma super-oferta de créditos, que

reduziria os preços a um ponto em que eles não mais interessariam aos países

ricos”, conclui o pesquisador.

47

CONCLUSÃO

A discussão sobre o mercado de carbono e o direito de poluir

comprado pelos países desenvolvidos é polêmica e envolve vários atores

sociais. Opiniões de diversos especialistas divergem no assunto. Para alguns

cientistas que defendem o mercado de carbono, todas as catástrofes naturais

que são hoje observadas são causadas por fatores naturais, estando o

“homem” como um simples coadjuvante no enredo. Não existe um consenso

comum entre as pessoas ligadas a esta questão.

O objetivo desta pesquisa foi trazer à tona esta discussão a partir dos

diferentes pontos de vista dos grupos envolvidos no tema.

Como a sugestão, durante as discussões internacionais sobre

Mudanças Climáticas, de ser criada uma forma dos países em

desenvolvimento participarem do protocolo de Kyoto foi lançada pelo Brasil, os

benefícios monetários desta proposta destacaram o país como um alvo

potencial de investimentos e projetos referentes à emissão de gases

poluentes. As cifras provenientes destes projetos são altas e para os grupos

beneficiados, a poluição, o meio ambiente e a vida na Terra ficam em segundo

plano.

Apesar dos esforços na busca da solução para o problema ambiental,

os créditos de carbono não impedem que países altamente poluidores deixem

de continuar emitindo gases tóxicos em quantidades elevadas, pois caso suas

quotas sejam ultrapassadas, eles podem compensar comprando estes “papéis”

de outros países que lhes outorgam o direito de poluir. Estas negociações

acabam gerando um valor monetário à poluição, de forma que o cerne da

questão acaba desfocado.

A finalidade deste mecanismo é funcionar como um problema de

compensação dos danos ambientais que estão sendo causados e não uma

solução permanente para a crise que por hoje passamos.

48

A urgente necessidade é a redução da poluição drasticamente, de tal

forma que se isso não for feito imediatamente, a vida no planeta está

ameaçada.

49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

Carvalho, Vilson Sérgio de. Educação Ambiental e Desenvolvimento

Comunitário. Rio de Janeiro: Wak, 2002.

Dias, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: Princípios e Práticas. 9ª edição,

São Paulo: Gaia, 2004, 552p.

Freedman, B. Environmental Ecology. San Diego: Academic, 1989,424p.

Revista Mãe Terra, ano 01, número 02, Ed. Minuano

Calsing, Renata de Assis. O Protocolo de Kyoto e o Direito do

Desenvolvimento Sustentável. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fábio Ed., 2005,

144p.

Motta, Ronaldo S. da. O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo e o

Financiamento do Desenvolvimento Sustentável no Brasil. Rio de Janeiro:

IPEA, 2000.

Araújo, Antônio Carlos Porto de. Como Comercializar Créditos de Carbono.

São Paulo: Trevisan,2006.

50

BIBLIOGRAFIA CITADA

1 – Elliot, Lorraine. The Global Politics of the environment. New York: New

York University Press, 1988,p.18.

2 - Calsing, Renata de Assis. O Protocolo de Kyoto e o Direito do

Desenvolvimento Sustentável. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fábio Ed., 2005,

144p.

3 - Elliot, Lorraine. The Global Politics of the environment. New York: New York

University Press, 1988,p.18.

4 – Varella, Marcelo Dias. L´inégalité Nord – Sud et la construction juridique du

“developpement durable” dans le droit international. Tese defendida na

Universidade de Paris I, Panthéon – Sorbonne para obtenção do título de

Doutor em Direito, Paris, 2002.

5 - Tratados das ONG´s, Aprovados no Fórum internacional de Organizações

Não Governamentais e Movimentos Sociais, no âmbito do Fórum Global – Eco

92, p. 92.

6 - Nota do GT-Clima, de 24 de setembro de 2008 (anexoI)

7 - Carlos Walter Porto Gonçalves – ambientalista e professor da Universidade

Federal Fluminense autor do livro “A globalização da natureza e a natureza da

globalização” Editora Civilização Brasileira.

8 - Luis Gilvan de Meira Filho - Doutor em astrofísica e pesquisador do

Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), integrou

a equipe de negociadores brasileiros do Protocolo de Kyoto.

51

9 - Mark Lutes é pesquisador da ONG Vitae Civilis, sociólogo e especialista em

mudança climática.

REFERÊNCIAS WEBGRÁFICAS

www.greenpeace.org/brasil, acesso em 11/08/2008

www.ipcc.ch, acesso em 11/08/2008

www.cvm.gov.br/port/public/publ/cvm-ambiental-daniel-clovis.doc, acesso em

09/08/2008

www.plantebiodiesel.com.br, acesso em 09/11/2008

http:\\web.worldbank.org, acesso em 09/11/2008

www.newcarbonfinance.com, acesso em 09/11/2008

www.carbonnews.com.br, acesso em 09/11/2008

www.bmf.com.br, acesso em 09/11/2008

www.rts.org.br, acesso em 09/11/2008

www.mudancasclimaticas.andi.org.br, acesso em 07/01/2009

www.vitaecivilis.org.br, acesso em 07/01/2009

52

www.fboms.org.br, acesso em 18/01/2009

www.mct.gov.br, acesso em 18/01/2009

www.24horasnews.com.br, acesso em 18/01/2009

www.camara.gov.br, acesso em 18/01/2009

www.brasilpnuma.org.br/pordentro/artigos_046.htm, acesso em 19/01/2009

www.mma.gov.br/conama, acesso em 19/01/2009

www.forumclima.org.br, acesso em 19/01/2009

VIDEOGRAFIA

Gore, Al. Uma Verdade Incoveniente (An inconvenient Truth). EUA, 100

min.Documentário, 2006 .

Greenpeace. Mudanças do Clima, Mudanças de Vida. Brasil, 51 min.

Documentário, 2006

53

ANEXO 1

Reportagens Nota GT Clima sobre o PNMC Data: 24/9/2008

Nota do Grupo de Trabalho de Mudança do Clima (FBOMS) sobre o conteúdo e o atraso da divulgação do Plano Nacional sobre Mudanças Climáticas

CIM ou Não para o Plano Nacional sobre Mudanças Climáticas?

O governo federal, mais uma vez, demonstra que não está preparado para lidar seriamente com os desafios brasileiros de um problema global: o aquecimento planetário e as mudanças climáticas. O próprio governo, por intermédio do ministro de Meio Ambiente Carlos Minc e do Comitê Interministerial de Mudança de Clima (CIM), chefiado pela Ministra-Chefe da Casa Civil Dilma Rousseff havia anunciado e reiterado que no dia 23 de setembro tornaria pública a primeira versão do Plano Nacional sobre Mudanças Climáticas. Essa versão, segundo o governo, ficaria aberta para comentários através de consulta pública por 30 dias para, depois, ser lançado pelo presidente Lula em evento anterior à 14ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), em Poznan, Polônia.

Apesar de, nas negociações internacionais, o Brasil desempenhar um papel importante; no campo interno, o governo federal tem políticas setoriais e programas que aprofundam a crise ambiental e social, uma vez que dão prioridade ao crescimento econômico irresponsável; desconsiderando os impactos ecológicos e a necessidade da integridade de nossos ecossistemas para permitir um desenvolvimento sustentável e digno para todos e todas. Isso se traduz em agressiva dedicação a obras e iniciativas altamente questionáveis como as usinas hidrelétricas no Rio Madeira e outras, as usinas nucleares, a expansão da fronteira agrícola e pecuária, transposição de águas do rio São Francisco e outras iniciativas incluídas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Nos últimos anos, o governo federal ignorou a responsabilidade brasileira, diferenciada dos países industrializados e de outros países em desenvolvimento mais pobres, no tocante a compromissos apropriados referente a suas emissões de gases de efeito estufa. É sabido que a maior parte das emissões brasileiras provém do desmatamento e de mudança do uso do solo, mas as tendências da

54

evolução do setor energético apontam para aumento de emissões pelo uso de combustíveis fósseis (seja para termoelétricas ou transportes). A mera expansão do uso de etanol e de biocombustíveis não é resposta adequada e de longo prazo para uma política séria de transporte e mobilidade sustentável. Além disso, não é suficiente para responder aos desafios globais de mitigação de gases de efeito estufa e, portanto, não é a única contribuição que o Brasil, como quarto emissor global, pode oferecer.

Um plano sério em qualquer tema ou área deve ter objetivos e ações que possam ser mensuráveis, verificáveis e relatáveis. Isso se traduz em metas e compromissos para os diferentes setores da economia e da sociedade, bem como responsabilidades e atribuições para os diferentes níveis de governo. O Brasil não pode, em função de sua responsabilidade comum e diferenciada, fugir do debate sobre a adoção de compromissos nacionais que sinalizem na direção da desaceleração do crescimento das emissões, estabilização e posterior redução, em prazos compatíveis com a necessidade mundial de conter o aquecimento global nos níveis indicados pelo IPCC. Isso significa que o país deve urgentemente ter um plano com ações e objetivos que permitam de hoje, e ao longo da próxima década, ampliar a sustentabilidade socioambiental do nosso desenvolvimento, por um lado, e contribuir efetivamente para os esforços mundiais de mitigação do aquecimento global, por outro.

O atraso na divulgação de um rascunho do Plano é sinal também da incapacidade do governo de conduzir um processo participativo e bastante abrangente para a pactuação de ações em mudança de clima. O CIM, criado pelo Decreto no. 6.263 de novembro de 2007, tinha inicialmente até 30 de abril de 2008 para apresentar uma versão preliminar do Plano, prevendo consultas públicas. Nem o prazo, nem o processo de consultas, foram levados a cabo pelo governo federal. Algumas consultas só foram realizadas por iniciativa do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC), com apoio financeiro estrangeiro, e em parceria voluntária com entidades de diversos setores da sociedade, entre eles o Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (FBOMS).

Em 11 de setembro, na apresentação da síntese das consultas setoriais feitas pelo FBMC, percebeu-se que alguns setores privados e do governo se mostram resistentes à adoção de compromissos nacionais para limitação ou estabilização das emissões brasileiras, apesar desses setores muitas vezes declararem publicamente que são favoráveis a metas. Nas consultas, representantes governamentais afirmavam que o plano conteria somente ações de curto prazo já em curso e, portanto, não é surpresa, conforme noticiado pela mídia, que o resultado desse processo seja um simplório apanhado de várias ações esparsas e desconexas que o Governo pretende chamar de “Plano” ou talvez, queira fazer a sociedade acreditar que há “estratégia”: Não há!

Temos um governo deslumbrado com o petróleo do pré-sal, com o crescimento econômico e insensível, imaturo, em face ao cataclisma climático que se anuncia. Quem se preocupa com o futuro do país deve organizar sua

55

agenda para preparar-se, evitar, mitigar e – inclusive – aproveitar as oportunidades da nova realidade crítica que se agiganta. Fomos abençoados, “gigantes pela própria natureza”, mas não podemos viver “deitados em berço esplêndido”. Nosso governo - deslumbrado com a expansão agrícola no Cerrado, com a produção de carne na Amazônia, com o crescimento das colunas de fumaça das fábricas, dos escapamentos dos automóveis e das motocicletas – ainda não consegue envidar esforços para gerar uma estratégia nacional para as mudanças climáticas. A competência para elaborar este Planoé do CIM, presidido pela Ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff que, como divulgado pela mídia, pressiona o quanto pode (e não pode) por novas usinas hidrelétricas, novas usinas nucleares, por novos projetos concentradores de capital; porém não quer se empenhar com questões sócio-ambientais. O ministro do Meio Ambiente, que coordena o Grupo Executivo do CIM, não consegue articular a elaboração do Plano Nacional sobre Mudanças Climáticas. E assim, nós do GT Clima/FBOMS nos manifestamos com veemência em repúdio à inépcia do CIM. Aqui estamos, e pressionamos, pois como sabemos todos: “O clima vai esquentar e é bom se planejar para o que virá!”

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INDICE

INTRODUÇÃO 08 CAPITULO I 09 O AQUECIMENTO GLOBAL 09 1.1 . As Causas do Aquecimento Global 10

1.1.1 Efeito Estufa 10 1.1.1.1. Tipos de Gases 10

1.1.2. Desmatamentos 12 1.2. Conseqüências 13 CAPITULO II 14 TRATADOS MUNDIAIS 14

2.1 . Histórico 15 2.1.1 Conferencia de Estolcomo 15 2.1.2 Protocolo de Montreal 15 2.1.3 Convenção Quadro das Nações Unidas 16 2.1.4 Eco92 17 2.1.5 Tratados da Sociedade Civil 17

2.2 . Protocolo de Kyoto e Mecanismo de Desenvolvimento Limpo 18 2.2.1. Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) 20

CAPITULO III 22 COMERCIALIZAÇÃO DE CARBONO 22

3.1. Mercado de Carbono 22 3.1.1. Quantificação dos Poluentes 23

3.2. Projetos Brasileiros Aprovados 24 3.3. Valores Negociados 24

CAPITULO IV 27 PONTOS DE VISTA – O CONTRASTE 27

4.1 A Visão do Setor Privado 27 4.1.1 Posicionamento de Algumas Empresas 29

4.2. A Visão do Poder Público 32 4.2.1 Comitê Interministerial de Mudança do Clima (CIM) 33 4.2.2 Fundo Nacional sobre Mudança do Clima (FNMC) 35 4.2.3 Projetos de MDL 35 4.2.4 Comunicação Nacional 36 4.2.5 A Questão Florestal 36 4.2.6 Secretaria de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental 37 4.2.7 A Conferência das Partes 37

57

4.2.8 CONAMA 38 4.2.9 Fórum Brasileiro sobre Mudanças Climáticas (FBMC) 38

4.3. A Visão do FBOMS 40 4.4. A Visão de Alguns Ambientalistas 42

4.4.1 A Análise de Carlos Walter 42 4.4.2 A Crítica de Gabeira 43 4.4.3 Luis Gilvan de Meira Filho 44 4.4.4 A Proposta de Minc 45 4.4.5 A Ponderação de Lutes 45

CONCLUSÃO 47 ANEXOS 53 INDICE 56

58

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição:

Título da Monografia:

Autor:

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito: