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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” FACULDADE INTEGRADA AVM AS CONTRIBUIÇÕES DAS BRINCADEIRAS NO DESENVOLVIMENTO DAS HABILIDADES PSICOMOTORAS FUNCIONAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL Por: Beatriz Brum da Silva Orientador Prof.Geni Lima Rio de Janeiro 2011

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · 2011. 10. 19. · FUNCIONAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL Por: Beatriz Brum da Silva Orientador Prof.Geni Lima Rio de Janeiro

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1

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

AS CONTRIBUIÇÕES DAS BRINCADEIRAS NO

DESENVOLVIMENTO DAS HABILIDADES PSICOMOTORAS

FUNCIONAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Por: Beatriz Brum da Silva

Orientador

Prof.Geni Lima

Rio de Janeiro

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

AS CONTRIBUIÇÕES DAS BRINCADEIRAS NO

DESENVOLVIMENTO DAS HABILIDADES PSICOMOTORAS

FUNCIONAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como condição prévia para

conclusão para o curso de Pós Graduação “Latu

Sensu” em Neurociência Pedagógica.

Por: Beatriz Brum da Silva

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AGRADECIMENTOS

.... À minha família, por sua capacidade

de acreditar e investir em mim.

Aos meus amigos, pelas alegrias,

tristezas e dores compartilhadas.

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DEDICATÓRIA

.....dedico à minha família e seu apoio

sem restrições.

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RESUMO

O presente trabalho além de conceituar a neurociência, evidência o

contexto interdisciplinar da neurociência do movimento aplicada no cotidiano

escolar, promovendo conhecimento que entre inúmeras capacidades,

propiciarão o entendimento da maneira como o sistema nervoso central

desenvolve os aspectos de aprendizagem da fala, leitura e escrita; a

importância da psicomotricidade na educação infantil, o desenvolvimento

psicomotor e as contribuições do psicopedagogo para os distúrbios

psicomotores; a necessidade que há de os Educadores da Educação Infantil

procurem se aperfeiçoar mais sobre a importância dos jogos e brincadeiras

para que possam melhor contribuir na formação integral do desenvolvimento

da criança, pois jogos e brincadeiras são elementos de grande importância no

processo de ensino-aprendizagem.

Tenho como objetivo ressaltar a importância da descoberta e/ou

aprofundamento do tema “integração do corpo, ação e emoção” na área

educacional.

Brincar é uma ação que ocorre no campo da imaginação, assim, ao

brincar estar-se-á fazendo uso da linguagem simbólica. Poder brincar já é um

processo terapêutico, brinca-se com o que não se pode entender, brinca-se

para poder entender melhor e brinca-se para ressignificar a vida. Na

brincadeira o sujeito exercita-se cognitivamente, socialmente e efetivamente.

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METODOLOGIA

No intuito de se obter uma monografia autêntica, objetiva e bem

estruturada abordou-se primeiramente nesta pesquisa um levantamento

bibliográfico. Em seguida foi realizado um estudo que abordasse informações e

conhecimentos sobre neurociência, motricidade e psicomotricidade,

brincadeiras e jogos.

A pesquisa seguiu a estratégia de revisão de literatura, análise

documental e análise de conteúdo, sendo um estudo histórico e também

comparativo. Comparativo, pois, foram verificadas as ausências, semelhanças

e diferenças nas definições encontradas.

Quanto ao modelo de estudo, é tipificada como uma pesquisa

qualitativa e bibliográfica, tendo a análise de conteúdo como a sua

característica principal.

Apresenta uma pesquisa bibliográfica, fundamentada na reflexão de

leituras de textos, de autores diversos (Livros, enciclopédias, e outros). É

caracterizada como uma pesquisa indireta, pela utilização de informações,

conhecimentos e dados que já foram coletados, através de uma pesquisa

documental.

As fontes foram diversas e tiveram um tratamento qualitativo. Portanto,

procurei realizar uma revisão de literatura no intuito de, inicialmente, conhecer

o início da história e desenvolvimento do assunto abordado, encontrando a sua

definição por diversos autores utilizados como pressuposto teórico na

pesquisa.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

BASE NEUROLÓGICA DOS MOVIMENTOS 11

CAPÍTULO II

MOTRICIDADE E PSICOMOTRICIDADE 31

CAPÍTULO III

A IMPORTÂNCIA DO JOGO E DA

BRINCADEIRA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 56

CONCLUSÃO 76

BIBLIOGRAFIA 78

ÍNDICE 80

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INTRODUÇÃO

Nesta monografia farei uma apresentação resumida da anatomia

envolvida no controle motor, discutindo a participação e execução dos

movimentos em prol do funcionamento harmônico característico da

movimentação voluntária do corpo humano, abordarei o tema neurociência e

mais especificamente o tema neurociência dos movimentos que é o estudo do

sistema nervoso: sua estrutura, seu desenvolvimento, funcionamento,

evolução, relação com o comportamento e a mente, e também suas

alterações. São tão numerosas as estruturas nervosas envolvidas no controle

dos movimentos, e tão complexas as interações entre elas, que o estudo do

sistema motor se torna uma tarefa difícil e árdua.

A psicomotricidade como uma técnica que busca conhecimentos nas

várias ciências apresenta como seu objeto de estudo o corpo em movimento e

o corpo em movimento é essencial para o convívio, para as interações sociais.

Assim parto do pressuposto de que estaremos contribuindo para a otimização

corporal dos potenciais neuro e psico-cognitivos funcionais. Esses potenciais

estão sujeitos às leis de desenvolvimento e maturação, manifestadas pela

dimensão simbólica corporal própria, original e especial do ser humano.

Considerando a psicomotricidade como a ciência que envolve toda a

ação realizada pelo indivíduo, que representa suas necessidades e permite

suas relações com os demais, vejo que é indispensável sua atuação durante a

vida pré-escolar da criança. O movimento permite a criança explorar o mundo

exterior, sem o contato com o concreto, a criança pode desenvolver um

bloqueio e se isolar por toda vida.

Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 20 de

dezembro de 1996 (Lei nº 9394) art.29 “A educação infantil, primeira etapa da

educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança

até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e

social, complementando a ação da família e da comunidade.” Para que aja

esse desenvolvimento integral é preciso que tenhamos profissionais capazes e

conscientes da importância da psicomotricidade.

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Nesta monografia apresento também uma reflexão sobre a

importância dos jogos e brincadeiras para o desenvolvimento integral das

crianças. Vale ressaltar que os jogos não estão relacionados só com o ato de

brincar e sim com o desenvolvimento físico, afetivo, cognitivo, moral e social.

Portanto é com o desenvolvimento harmonioso e global da criança que o

educador deverá; desenvolver o lúdico através dos jogos e brincadeiras como

recursos pedagógicos acessível aos diversos níveis de ensino. No brincar,

aprendemos e ensinamos sobre o mundo em que vivemos e por esse motivo a

brincadeira é a forma como toda a criança inicia sua relação, com o mundo.

Sendo assim considero de vital importância que a ação pedagógica

desenvolvida com crianças da educação infantil e ensino fundamental deva

basear-se no respeito e no conhecimento de suas características específicas.

No entanto, faz-se necessário a constante formação dos professores

em relação a ação dos mesmos sobre esses recursos, pois em sua maioria

constitui-se que o professor tem pouco conhecimento sobre a importância do

lúdico em sala de aula e fora dela também. E a falta desse conhecimento

impede que o professor lance mão de um recurso tão valioso quanto o brincar

das crianças e conseqüentemente, não o utilizando, impedirá que se promova

um melhor desenvolvimento e aprendizado das mesmas.

Assim, é de competência do educador, em especial o que trabalha na

educação infantil, compreender as fases do desenvolvimento da criança para

adequar os jogos e brincadeiras e encaminhá-los dentro do processo ensino-

aprendizagem.

Sem a brincadeira (lúdico) fica tedioso o processo de aprendizagem. É

necessário que a construção se faça a partir do jogo, da imaginação, do

conhecimento do corpo.

Para isto, as contribuições de Piaget, Vygotsky e Wallon entre outros

pensadores da Educação apresentam experiências concretas na realidade

brasileira que permitem uma perspectiva em que se prioriza na Educação

Infantil, as bases primeiras da formação para cidadania, percebendo-se a

criança como ser humano pleno.

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10 Para atuar na Educação Infantil é necessário conhecer as crianças,

suas características e seus direitos, conhecer a metodologia própria para atuar

com mediador, bem como a legislação que possibilite a formação de um

cidadão na atualidade, e que respalde um verdadeiro trabalho pedagógico na

Educação Infantil.

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CAPÍTULO I

BASE NEUROLÓGICA DOS MOVIMENTOS

A Neurociência é o estudo do sistema nervoso, segundo LENT (2005)

podemos classificá-la de acordo com os níveis de abordagem, consideramos

então cinco grandes disciplinas neurocientíficas. A Neurociência molecular que

tem como objetivo de estudo as diversas moléculas de importância funcional

no sistema nervoso, pode ser também chamada de Neuroquímica ou

Neurobiologia molecular. A Neurociência celular aborda as células que formam

o sistema nervoso, sua estrutura e sua função, pode ser chamada também de

Neurocitologia ou Neurobiologia celular. A Neurociência sistêmica considera

populações de células nervosas situadas em diversas regiões do sistema

nervoso, que constituem sistemas funcionais como o visual, o auditivo, o

motor, etc. Quando apresenta uma abordagem mais morfológica é chamada

Neuro-histologia ou Neuroanatomia, e quando lida com aspectos funcionais é

chamada Neurofisiologia. A Neurociência comportamental dedica-se a estudar

as estruturas neurais que produzem comportamentos e outros fenômenos

psicológicos como o sono, os comportamentos sexuais, os comportamentos

emocionais etc. É às vezes conhecida também como Psicofisiologia ou

Psicobiologia. Finalmente, a Neurociência cognitiva trata das capacidades

mentais mais complexas, geralmente típicas do homem, como linguagem, a

autoconsciência, a memória etc, pode ser chamada também de

Neuropsicologia.

É claro que o limite entre essas disciplinas não são nítidos, o que nos

obriga a saltar de um nível a outro, ou seja, de uma disciplina a outra, sempre

que tentamos compreender o funcionamento do sistema nervoso.

Segundo BEAR (2002), observando a estrutura do sistema nervoso,

percebemos que eles têm partes situadas dentro do cérebro e da coluna

vertebral e outras distribuídas por todo corpo. As primeiras recebem o nome

coletivo de sistema nervoso central (SNC), e as últimas de sistema nervoso

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12periférico (SNP). É no sistema nervoso central que está a grande maioria das

células nervosas, seus prolongamentos e os contatos que fazem entre si. No

sistema nervoso periférico estão relativamente poucas células, mas um grande

número de prolongamentos chamados fibras nervosas, agrupados em filetes

alongados chamados nervos.

Os nervos (conjunto de neurônios) podem ser divididos em nervos que

levam informação para o SNC e nervos que levam informação do SNC. Os

primeiros são chamados fibras aferentes e os últimos de fibras eferentes. As

fibras aferentes enviam sinais dos receptores (células que respondem ao

estímulo sensorial nos olhos, ouvidos, pele, nariz, músculos, articulações) para

o SNC. As fibras eferentes enviam sinais do SNC para os músculos e as

glândulas.

Segundo LENT (2005) Apesar de nosso cérebro ser divido em dois

hemisférios não existe relação de dominância entre eles, pelo contrário, eles

trabalham em conjunto, utilizando-se dos milhões de fibras nervosas que

constituem as comissuras cerebrais e se encarregam de pô-los em constante

interação.

Existem redundâncias consideráveis no sistema nervoso. A existência

de processamento paralelo é amplamente aceita na neurociência e acredita-se

que ele seja necessário devido a rapidez e complexidade do processamento da

informação no cérebro das criaturas vivas. O poder da computação paralela

pode ser observado nos modernos computadores seriais que demoram muito

mais que o cérebro humano para processar informações visuais. Nos últimos

anos, reconheceu-se que computadores com processamento paralelo são

necessários para acelerar o processamento de imagens, aproximando-o da

velocidade do cérebro humano.

1.1 – Neurociência dos movimentos

1.1.1 – Sistema Motor

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13O sistema motor descreve os mecanismos que o SNC utiliza para

promover os segmentos do nosso corpo e manter a postura de acordo com os

objetivos de determinada tarefa.

O trabalho conjunto do córtex cerebral, do gânglios da base, do

cerebelo e de certas estruturas segmentares é responsável pelo controle de

toda motricidade do nosso corpo. O planejamento desse controle requer

informações sobre as condições dos diversos segmentos corporais, sejam os

segmentos envolvidos diretamente no movimento, bem como aqueles que

formarão a base do movimento, servindo de apoio e promovendo o equilíbrio

do corpo no espaço.

Segundo LENT (2005), são quatro os elementos

de operação do sistema motor: os efetuadores, que

realizam os movimentos; os ordenadores, responsáveis

pelo comando dos efetuadores; os controladores, que

zelam pela execução correta dos comandos; e os

planejadores, responsáveis pelas sequências de

comandos que produzem os movimentos voluntários

complexos.

Os músculos estriados esqueléticos são os

efetuadores do sistema motor somático. São formados

por células musculares dentro das quais estão as

proteínas contráteis. Estas moléculas são partes do

citoesqueleto capazes de deslizar umas sobre as outras

encurtando ou alongando de cada célula muscular. Há

tipos diferentes de células musculares, e a sua

composição dentro de cada músculo determina as

propriedades dele.

Os primeiros ordenadores, isto é, aqueles que

entram em contato direto com os efetuadores

musculares, são os motoneurônios. Cada motoneurônio

pode inervar diferentes células musculares de um mesmo

músculo, mas cada célula muscular só é inervada por um

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14único motoneurônio. O conjunto do motoneurônio com

suas células musculares é a unidade motora, a unidade

de comando do sistema motor. Para que os ordenadores

funcionem a contento, precisam ter acesso a informações

vindas dos efetuadores, e as obtêm através dos

receptores musculares: os fusos, situados dentro da

massa muscular, e os órgãos de Golgi, situados nos

tendões. Esses receptores informam os motoneurônios,

através de fibras nervosas aferentes, sobre o

comprimento e o grau de tensão dos músculos

correspondentes.

Há reflexos com dois neurônios (monossinápticos) como os

miotáticos, outros com três neurônios (dissinápticos) como os miotáticos

inversos, e outros com muitos neurônios (multissinápticos) como os reflexos

flexores de retirada. Os músculos ativados reflexamente são determinados

pelo local de estimulação, e a força empregada – bem como a duração da

resposta – depende da intensidade do estímulo. Assim, os reflexos

representam a forma mais elementar de comando motor coordenado.

Movimentos mais elaborados podem ser obtidos por sequências de

comandos automáticos geradas por ciclos rítmicos produzidos na própria

medula. É o que ocorre no ato de coçar e na locomoção.

1.1.2 – As áreas motoras do córtex cerebral e suas funções.

Uma área motora deve: projetar e receber de outras regiões motoras,

provocar distúrbios motores quando lesada, provocar movimentos quando

estimulada e possuir atividade neural e fluxo sanguíneo aumentados

precedendo e acompanhando a execução de movimentos.

Segundo AFIFI e BERGMAN (2008) podem-se considerar três grandes

áreas motoras no córtex cerebral: a área motora primária (abreviada M1), que

ocupa giro pré-central do lobo frontal e relaciona-se ao comando dos

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15movimentos voluntários; a área motora suplementar (ou MS), que se localiza

rostral e dorsalmente a M1, Penfield e Welch , em 1949 e 1951 for os primeiros

a denominá-la; a área pré-motora (PM) que se situa rostral e lateralmente a

M1, o conceito de córtex pré-motor foi inicialmente proposto em 1905 por

Campbell. MS e PM estão relacionadas ao planejamento dos movimentos

voluntários, mais que ao comando de sua execução, e MC parece participar

dos movimentos que têm conotação emocional.

As áreas motoras do córtex cerebral são densamente interconectadas,

e apresentam também conexões com outras regiões corticais, como a área

somestésica primaria (S1) e áreas associativas dos lobos parietal e frontal.

Todas as áreas projetam-se para regiões motoras sub-corticais, núcleos da

base e cerebelo (LENT2005). É importante ressaltar também que todas elas

projetam para regiões motoras subcorticais e contribuem para o feixe córtico-

espinhal. M1, entretanto, é dentre todas a que possui maior densidade de

neurônios que formam vias descendentes para regiões subcorticais.

1.1.3 – Os músculos

Músculos são conjuntos maciços ou frouxos de

células alongadas, capazes de mudar seu comprimento

ativamente, contraindo-se ou relaxando sob controle

direto ou indireto de fibras nervosas, ou mesmo

espontaneamente segundo ritmos intrínsecos que eles

mesmos produzem (LENT, 2005, p.344).

A capacidade contrátil das células musculares é fornecida por

proteínas especializadas do citoesqueleto, ativadas por um complexo sistema

de sinalização molecular disparado por potenciais de ação que percorrem a

sua membrana plasmática. As células musculares, assim, são excitáveis como

os neurônios.

“As células musculares podem ser lisas ou estriadas. As lisas são

geralmente as responsáveis pelos movimentos das vísceras (exceto o

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16coração), as estriadas podem ser esqueléticas (a maioria) ou cardíacas.”

(LENT, 2005)

Como as células musculares são alongadas, são também chamadas

fibras musculares. Em um músculo típico, centenas ou milhares dessas fibras

se aglomeram em fascículos paralelos envoltos em tecido conjuntivo, e se

estendem de uma extremidade a outra do músculo. Nas extremidades o tecido

conjuntivo torna-se mais fibroso e rígido formando os tendões que ligam os

músculos aos ossos e, em alguns casos como na face, a tecidos moles. Cada

fibra muscular é inervada por um único neurônio, mas como o axônio pode se

ramificar, um mesmo neurônio pode inervar diversas fibras musculares.

Neurônio e célula muscular formam uma dupla extremamente interdependente,

que troca fatores químicos essenciais à sobrevivência de ambos (fatores

tróficos). Quando um deles desaparece, o outro sofre atrofia.

Bem antes dos bioquímicos e biólogos moleculares decifrarem o

funcionamento da maquinaria molecular envolvida na contração muscular, os

histologistas examinavam detalhadamente cortes de músculos corados de

varias maneiras. Desse trabalho resultou a descoberta de que dentro de um

músculo esquelético há diferentes tipos de fibras musculares, dispersamente

distribuídas. A importância de conhecer os tipos morfológicos de fibras

musculares vem do fato de que eles se correlacionam estreitamente com a

função que exercem. Isso repercute no tipo de função desempenhada pelo

músculo com um todo, já que em cada um deles pode predominar um dos

tipos de fibras, em detrimento dos demais.

Segundo FORREST, 1979, as fibras musculares se dividem em três

tipos: (1) as fibras vermelhas lentas que dispõem de um rico suprimento

sanguíneo, muitas mitocôndrias, muita mioglobina e metabolismo fortemente

aeróbico, são especializadas em contrações lentas e sustentadas, e muito

resistentes à fadiga. (2) As fibras brancas rápidas, ao contrário, possuem

poucos capilares, poucas mitocôndrias, pouca mioglobina mas grandes

reservas de glicogênio, e metabolismo anaeróbico gerador de acido lático, são

especializadas em contrações rápidas, fortes e transitórias, mas são muito

fatigáveis. (3) As intermediárias possuem características mistas, alguns

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17trabalhos recentes sugerem que essas fibras são raras ou mesmo inexistentes

no homem.

1.1.4 - Os músculos sob comando neural

“Os músculos esqueléticos funcionam estritamente sob comando

neural. Por essa razão as lesões neurais provocam paralisias e paresias”

(LENT, 2005, p.353).

Segundo CORTEZ (2008) os motoneurônios são localizados na

substância cinzenta e sua fibras nervosas abandonam a medula via raiz

anterior e inervam os músculos esqueléticos. Há três tipos de motoneurônios:

motoneurônio-a, motoneurônio-y e motoneurônio-B. Uma única fibra nervosa

de motoneuronio-a pode inervar de três a várias centenas de fibras musculares

esqueléticas. O conjunto formado por essa fibra nervosa e suas fibras

musculares coletivamente é chamado de unidade motora. São eles que

comandam realmente a contratibilidade muscular. Já as fibras de

motoneurônios-y inervam fibras musculares esqueléticas chamadas fibras

intrafusais, que são parte dos fusos musculares, receptor localizado dentro dos

músculos sensível a variações no comprimento do músculo.

Segundo LENT (2005) os motoneurônios não influem diretamente

sobre a contração do músculo, mas participam de um mecanismo de controle

indireto da contração muscular. Motoneurônios-B têm propriedade

intermediárias, seus axônios bifurcam-se em ramos que inervam as fibras

musculares comuns (como os motoneurônis-a), e outros que inervam as fibras

dos fusos musculares (como os motoneurônios-y). São comuns nos

vertebrados inferiores, mas se acredita que cheguem a 30% dos

motoneurônios dos primatas.

A substância cinzenta medular contém não apenas os motoneurônios

mas também grande número de interneurônios.

Segundo CORTEZ (2005) os interneurônios são menores e mais

numerosos do que os motoneurônios e são altamente excitáveis. São

amplamente interconectados entre eles, e muito deles invervam diretamente os

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18motoneurônios. Entre os cornos anterior e posterior da medula existe uma

zona intermediaria ocupada por extensa rede de interneurônios, que faz a

conexão entre núcleos medulares, alguns dentro do mesmo segmento medular

(conexão intra-segmentar) e outros localizados em outros segmentos (conexão

intersegmentar). A maioria dos sinais vindos dos nervos espinhais e sinais

vindos do cérebro são transmitidos primeiro aos interneurônios e processados

por eles, para depois atingirem os motoneurônios-a.

Os sinais que descem pelo córtico-espinhal são entregues a

interneurônios da medula espinhal e não provocam necessariamente uma

contração muscular. O trato córtico-espinhal termina quase inteiramente sobre

interneurônios. Após os sinais vindos por esse trato terem sido processados

com os sinais oriundos de outros tratos e pelos nervos espinhais, o

interneurônio finalmente envia o resultado do processamento para os

motoneurônios. Na verdade, os sinais motores encefálicos podem comandar a

medula espinhal na execução de muitas tarefas motoras complexas sem que

cheguem a excitar diretamente um único músculo. Entretanto, quando a

contração de um único músculo é necessária, são os sinais que passam pelo

feixe córtico-espinhal que possuem essa capacidade. O número de neurônios

motores que inervam um determinado músculo é diretamente relacionado com

a precisão dos movimentos dos quais participa.

“Os interneurônios podem ser excitatórios e inibitórios, os excitatórios

são especialmente utilizados nos circuitos da locomoção, enquanto os

inibitórios estão envolvidos com os reflexos” (LENT, 2005, P. 356)

1.1.5 – A unidade de comando

“Na população de motoneurônios de um músculo, a

unidade funcional de comando é constituída por um

motoneurônio e suas fibras musculares. Esse conjunto

recebe o nome de unidade motora. Dito de outro modo: a

unidade motora é o menor elemento de um músculo sob

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19controle neural, ou seja, o grupo de fibras musculares

com seu motoneurônio ordenador.”(LENT, 2005, 357)

A razão de inervação é máxima para unidades motoras de uma única

fibra muscular, razão de inervação de uma unidade motora, então, é o inverso

do número de fibras musculares. Para um músculo pode-se também calcular

uma razão de inervação, que neste caso é definida como o quociente entre o

número entre numero de motoneurônios e o número de fibras musculares

daquele músculo. A razão de inervação reflete a função de um músculo, assim

os músculos que movem o polegar humano apresentam alta razão de

inervação: sua função exige um grande número de neurônios para comandá-

los. Os músculos do dorso, por outro lado, têm baixa razão de inervação, pois

os movimentos que apresentam são pouco precisos e mais grosseiros,

necessitando de menos motoneurônios.

Do mesmo modo que a razão de inervação reflete a função de um

músculo e de suas unidades motoras, também o tipo de unidade motora

predominante em cada músculo se correlaciona com a sua função. E os tipos

de unidades motoras, por sua vez, se relacionam com as fibras musculares

que cada motoneurônio inerva. Cada unidade motora tem fibras musculares do

mesmo tipo, e elas se apresentam dispersas no músculo, essa dispersão tem

importância protetora: quando ocorre lesão de uma unidade motora, os efeitos

são “diluídos” por todo o músculo, e tornam-se menos perceptíveis. A

nomenclatura usualmente leva em conta dois aspectos funcionais essenciais: a

velocidade de contração e a resistência à fadiga.

Para Robert Lent (2005) os motoneurônios-a – na medula e no tronco

encefálico – representam o mais baixo nível de comando na hierarquia de

ordenadores do sistema motor, isto é, o mais próximo dos efetuadores. Mas

todos os ordenadores até mesmo os mais simples como os motoneurônios-a,

necessitam obter informações sobre o seu desempenho. Isso significa que é

necessário informá-lo a todo momento sobre o estado dinâmico do músculo

que comandam: se está contraído ou relaxado, qual o seu comprimento e qual

a tensão que está exercendo. A chegada dessas informações – acessíveis aos

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20motoneurônios e também aos níveis mais altos de comando e planejamento

motor – pode ser fundamental para corrigir erros de comando e de execução

dos movimentos. Neste ponto é preciso conhecer os detectores que fornecem

essas informações de retroação ao SNC: os receptores situados no próprio

tecido muscular e nos tendões. Trata-se de dois tipos diferentes de receptores:

os fusos musculares e os órgãos tendinosos de Golgi.

Os fusos musculares são pequenos e sofisticados órgãos receptores

cuja função é detectar as variações do comprimento, cada um deles é formado

por fibras musculares modificadas, muito finas e agrupadas em forma de fuso,

envoltas por uma cápsula conjuntiva que as separa das fibras musculares.

Sendo uma fibra muscular, a fibra intrafusal também se contrai sob comando

neural, por tanto, possui uma inervação eferente de comando motor,

constituída principalmente por fibras pertencentes a um grupo específico de

motoneurônios, os motoneurônios-y. Uma parte da inervação eferente dos

fusos é formada também por motoneurônios-B, ou seja, os que inervam tanto

as fibras intrafusais como as extrafusais. Em conjunto, motoneurônios-y e

motoneurônios-B são chamados de neurônios fusimotores.

Quando um músculo se contrai ou se relaxe sob comando dos

motoneurônios, seu comprimento varia, e com ele também o dos fusos

musculares em seu interior. O comprimento muscular pode variar também, é

claro, quando o músculo é estirado pelo próprio individuo ou por outra pessoa.

“Os órgãos tendinosos de Golgi são proprioceptores

que estão encapsulados nas fibras tendinosas, sendo

sensíveis a estriamento. Os órgãos tendinosos de Golgi

são menos sensíveis ao estriamento comparados ao

fusos, para serem ativados é necessário um estriamento

muito forte, sua principal forma de ativação é o

estriamento exercido sobre os mesmos pela contração

dos músculos onde os tendões estão localizados.” (FOSS

E KETEYIAN 2000)

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21. Característica importante dos órgãos tendinosos, que os diferencia

dos fusos musculares, é o fato de que não estão dispostos “em paralelo” mas

sim “em série” , entre o músculo e o tendão. Essa disposição é apropriada para

detectar as variações de força (tensão) muscular, que se comunicam direto ao

tendão

O limiar de ativação do órgão tendinoso é alto, e ele só entra em ação

quando um considerável acréscimo de tensão é aplicado sobre o músculo

Tanto os fusos musculares como órgãos tendinosos de Golgi são receptores

tônicos, isto é, possuem adaptação lenta e portanto codificam com precisão os

níveis de comprimento e de tensão muscular.

No caso dos órgãos tendinosos, a faixa de variação é relativamente

restrita, porque o limiar é alto e não há mecanismo regulador da sensibilidade.

No caso dos fusos musculares a faixa de variação é ampliada pela atuação do

sistema aferente y, que regula a sensibilidade desses receptores aos níveis

extremos de comprimento muscular.

1.1.6 – As vias descendentes de comando

“O sistema motor é frequentemente dividido em dois componentes: o

piramidal e o extrapiramidal, que são dois conjuntos de estruturas cujas lesões

produzem síndromes de características tais que justificam essa divisão.”

(CORTEZ, 2008, p. 80)

A via piramidal é constituída pelo córtex motor e pelos tratos nervosos

que conectam este córtex e estruturas motoras segmentares. Assim, os sinais

motores são transmitidos do córtex para os núcleos motores do tronco

encefálico e da medula espinhal por meio da via piramidal.

A via piramidal é formada pelos pares de tratos: córtico-espinhal,

córtico-nuclear e córtico-pontino.

O trato córtico-espinhal é uma via direta, com origem no córtex motor,

e que desce sem fazer sinapse até a medula espinhal. As fibras córtico-

espinhais terminam na medula espinhal, mas precisamente no corno anterior

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22na substância cinzenta, e se relacionam com a motricidade voluntaria do

tronco e membros.

O trato córtico-nuclear emerge do córtex motor e termina nos núcleos

motores de nervos cranianos, ao longo do tronco encefálico. As fibras córtico-

nucleares se destinam aos núcleos de nervos cranianos responsáveis pela

motricidade da maioria dos músculos voluntários da cabeça.

O trato córtico-pontino é oriundo de áreas do córtex motor e se dirige

aos núcleos pontinos (na ponte), também no tronco encefálico. Desses núcleos

surgem fibras que vão formar os pedúnculos cerebelares médios, que levam

informações sobre as “intenções motoras” do córtex cerebral ao cerebelo, para

que este possa promover a coordenação motora.

A via extrapiramidal é constituída por várias estruturas subcondrais

intimamente envolvidas no assessoramento ao córtex para o cumprimento da

função motora. É formada por todos os tratos que transmitem sinais motores

para a medula espinhal com exceção do córtico-espinhal. Esses tratos

incluem: o trato rubro-espinhal, dois tratos retículo-espinhais distintos, o trato

tecto-espinhal e o trato vestíbulo-espinhal.

Segundo CORTEZ (2008) há três grupos nucleares que dão origem a

tratos extrapiramidais que influenciam os neurônios motores e seus

interneurônios associados.

O trato rubro-espinhal se forma no núcleo rubro do mesencéfalo e

termina em núcleos motores contralaterais da medula. Recebendo importante

aferência do cerebelo e das áreas motoras do córtex cerebral; esse trato tem

grande importância para a função de controle dos movimentos, especialmente

das partes distais dos membros durante a locomoção. A ação do trato-rubro

espinhal aumenta a atividade dos neurônios motores que inervam os músculos

flexores dos membros, enquanto inibe os que inervam os músculos

extensores. Lesões nesse trato produzem deficiência na flexão distal dos

membros, com pouca alteração nos músculos proximais.

O trato vestíbulo-espinhal tem origem nos núcleos vestibulares do

bulbo e a ponte, terminando na medula. São quatro núcleos: o superior, o

lateral, o medial e o inferior. Esse núcleos recebem aferência do órgão

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23vestibular necessária à manutenção do equilíbrio corporal, e são

reciprocamente conectados com os colículos superiores, o cerebelo e a

formação reticular. O trato vestíbulo-espinhal é totalmente envolvido com os

reflexos medulares responsáveis pela manutenção do equilíbrio e da postura

corporal.

O trato retículo-espinhal tem origem na formação reticular do tronco

encefálico e termina na medula. A formação reticular é uma área envolvida no

controle sobre todo padrão reflexo espinhal, tendo importante papel no controle

da função motora antigravitacional da musculatura postural, mas sua ação

sobre os neurônios motores depende dos comandos oriundos de níveis mais

altos. Há dois centros da formação reticular que são implicados no controle dos

neurônios motores da medula: o centro reticular pontino e o centro reticular

bulbar. O centro reticular pontino que da origem ao trato retículo-espinhal

pontino, seus axônios levam sinais excitatórios para interneurônios que

influenciam os motoneurônios que controlam os músculos axiais e o centro

reticular bulbar, a partir dele se forma o trato o retículo-espinhal bulbar, seus

axônios têm influencia inibitória sobre os interneurônios que modulam os

motoneurônios extensores.

Em resumo, os tratos vestíbulo-espinhal e retículo-espinhal formam

duas vias medulares importantes para o controle motor da manutenção da

postura e posição da cabeça durante os movimentos. O trato rubro espinhal

não só complementa essas duas vias no controle postural, como também

auxilia o trato córtico-espinhal na execução dos movimentos independentes

dos membros.

1.1.7 – Os movimentos reflexos

Segundo CORTEZ (2008) na substância cinzenta da medula espinhal

há uma série de circuitos neurais que geram respostas motoras reflexas. O

reflexo motor é uma atividade estereotípica produzida em resposta a um

estímulo aplicado na periferia do corpo. Uma das funções dos reflexos é a de

gerar resposta rápida. A substância cinzenta da medula integra as informações

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24para os reflexos espinhais. Os sinais sensoriais entram no SNC através das

raízes nervosas dorsais e tomam dois diferentes destinos: a substância

cinzenta da medula espinhal, onde algumas fibras sensoriais ou suas

colaterais terminam e níveis mais altos do SNC, atingindo as áreas supra-

segmentares, especialmente o córtex cerebral. Esse caminho até o córtex

envolve muitas sinapses, isto implica um intervalo de tempo maior entre a

entrada da informação e a resposta, devido ao retardo sináptico. Chama-se

período de latência o intervalo de tempo decorrido entre o estímulo e a

resposta motora reflexa.

Segundo CORTEZ (2008) existem três tipos básicos de reflexo: o

reflexo miotático, o miotático inverso e flexor de retirada.

O Reflexo Miotático ou Estiramento Muscular, está associado a um

circuito monossináptico e o neurônio sensitivo faz sinapse diretamente com o

motoneurônio, tendo um pequeno período de latência. O reflexo miotático é

composto por dois componentes que caracterizam as duas fases do reflexo: a

fásica e a tônica. A extensão de cada uma dessas fases depende da influência

das outras sinapses, de onde chegam informações de outras áreas do SNC e

do periférico, capazes de influenciar a resposta motora. A fase tônica do

reflexo miotático é importante para a manutenção da postura, esse tipo de

reflexo desempenha varias funções. Ele é envolvido com a correção rápida no

controle dinâmico do movimento, além de formar a base dos reflexos posturais,

que mantêm a posição do corpo independentemente da variação de forças

externas agindo sobre o corpo.

No Reflexo Miotático Inverso a contração ativa de um músculo causa a

inibição reflexa desta mesma contração. A função é gerar um feedback para

ajustar a intensidade da contração durante as contrações prolongadas.

Consiste no relaxamento de um músculo submetido a uma força contrátil forte.

Os reflexos miotáticos inversos são fundamentais para o ajustamento

muscular antigravitário e a manutenção postural, além de estarem envolvidos

nos ajustes necessários durante a geração de tensão para sustentação de

pesos, pois regulam a rigidez muscular.

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25O Reflexo da Retirada consiste na contração dos músculos flexores e

relaxamento dos extensores do membro estimulado, podendo também ocorrer

contração simultânea dos extensores no membro contralateral, é um reflexo

que pode ser deflagrado por estimulação cutânea (tato, pressão, temperatura e

dor), sendo um reflexo associado ao sistema de defesa da integridade física.

Os receptores sensoriais cutâneos enviam os sinais para interneurônios da

coluna posterior de medula, que excitam os motoneurônios dos músculos

flexores e inibem os músculos extensores do mesmo lado. Para estímulos

fortes, a resposta pode ocorrer também contralateral, porque os interneurônios

enviam sinais que cruzam a linha média da medula, e excitam os músculos

extensores e inibem os flexores contralaterais. Dependendo da intensidade do

estímulo, a resposta reflexa de retirada se dá com diferentes intensidades,

devido à ativação de diferente número de fibras ou grupos musculares para

estímulos muito intensos ou nocivos, a resposta reflexa é abrupta, como na

retirada do pé em contato com um objeto pontiagudo, já que é um reflexo de

defesa. Essa resposta acontece muito antes de o estímulo chegar ao córtex

cerebral e gerar a sensação do contato. Já para estímulos inócuos, a resposta

reflexa é localizada tendo a função de apenas ajustar o corpo à presença do

objeto em contato.

Sua utilidade funcional não é postural mas protetora contra estímulos

que podem provocar lesões dos tecidos e outros que podem provocar o

desequilíbrio do corpo e a sua queda.

Embora a descrição dos reflexos necessariamente os individualize,

fazendo crer que eles operam de modo independente, na vida cotidiana todos

eles estão em ação, simultânea e coordenadamente.

1.1.8 – O controle dos movimentos

“A complexidade, a velocidade e a precisão dos

movimentos que produzimos exige um sofisticado

sistema de controle que se encarregue de verificar a

cada momento, permanentemente, se cada movimento

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26se inicia no instante correto, se é executado de acordo

com a necessidade ou a intenção do executante e se

termina no momento adequado. Essa função cabe a

dois agrupamentos neurais muito importantes: o

cerebelo e os núcleos de base, ambos as estruturas

controladoras, e não ordenadoras”. (LENT, 2005, 405)

Coerentemente, tanto o cerebelo como os núcleos da base se

caracterizam por não possuir acesso direto aos motoneurônios, embora

apresentem conexões com praticamente todas as regiões motoras. Alem

disso, funcionam independentemente, já que não têm conexões mútuas. Tem

em comum, entretanto, um circuito básico de retroação: recebem de extensas

regiões do córtex cerebral e projetam de volta ao córtex motor através do

tálamo. Tudo indica que é dessa “conversa” de mão dupla entre eles e córtex

cerebral que se estabelece o controle motor, isto é, que o sistema nervoso se

assegura de que os movimentos estão sendo produzidos de acordo com as

suas ordens.

O cerebelo atua como um centro de coordenação motora para a

manutenção do equilíbrio e do tônus muscular, participando de mecanismos de

feedback complexos relacionados com a regulação motora. Através desses

mecanismos, ele cria condições para a execução de movimentos suaves e

precisos, característicos do sistema muscular voluntario. Para desempenhar

todas as funções, o cerebelo recebe informações diretamente da medula, dos

núcleos vestibulares e do córtex cerebral.

Os núcleos da base não constituem um órgão bem definido como o

cerebelo. São um conjunto de núcleos situados em diferentes partes do

sistema nervoso, que têm conexões entre si e participação no mesmo sistema

funcional de controle motor. Alguns deles são telencefálicos, como corpo

estriado e globo pálido; outros são diencefálicos, como é caso do núcleo

subtalâmico e outros ainda as mesencefálicos, como a substância negra. Os

núcleos da base apresentam três diferenças marcantes com o cerebelo:

recebem apenas aferentes corticais (não há aferentes sensoriais ou de regiões

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27motoras subcorticais, como é o caso do cerebelo), emitem eferentes

exclusivamente para o tálamo e seus eferentes são inibitórios (e não

excitatórios como os do cerebelo).

A função geral dos núcleos de base, bem como a participação

especifica de cada um deles, têm sido tradicionalmente inferidas de casos de

pacientes com lesões nesses núcleos. Disso resultou a concepção prevalente

de que os núcleos da base são iniciadores e terminadores dos movimentos: o

disparo inibitório de seus axônios eferentes seria um “freio” permanente de

movimentos indesejados. A necessidade de realizar um movimento

interromperia esse disparo tônico frenador e liberaria os comandos motores

corticais para ordenadores subcorticais. Essa concepção é apoiada pelos

distúrbios motores apresentados pelos pacientes com doenças

neurodegenerativas dos núcleos de base. Os portadores de doença de

Parkinson, por exemplo, são vitimas de degeneração dos neurônios da

substância negra compacta, as células dopaminérgicas cujos axônios projetam

ao corpo estriado.

As funções dos núcleos de base permanecem um enigma por ser

resolvido. Sua participação no controle motor está estabelecida, mas sua exata

função ainda não está esclarecida em bases sólidas.

1.1.9 – Controle dos movimentos de precisão e da fala.

Segundo CORTEZ (2008) durante todo o processo de aprendizagem

de um movimento, o sistema nervoso sensorial avalia o grau de sucesso na

sua execução. Todas as modalidades sensoriais são potencialmente úteis

nessa avaliação, mas, sem dúvida, as informações mais frequentemente

utilizadas são as visuais, as somestésicas (proprioceptivas e exteroceptivas),

as vestibulares e as auditivas.

Todos os movimentos de precisão são aprendidos e sua execução

necessita do controle freqüente executado pelo córtex motor. Sem o

funcionamento perfeito do córtex, movimentos de precisão não podem ser

executados especialmente os delicados como os relacionados a escrita.

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28Após a primeira tentativa de execução correta de um movimento, as

tentativas subseqüentes serão já acompanhadas por revisões feitas a partir

das informações sensoriais corretivas, colhidas durante a primeira tentativa. A

repetição desse processo de tentativa e correção leva ao aperfeiçoamento do

movimento. Dessa forma, o sistema sensorial desempenha grande papel no

estabelecimento de todas as funções motoras de precisão e aprendidas. O

aumento da habilidade na execução de um ato motor leva ao aumento da

velocidade na sua realização, em função desse processo de aprendizagem.

No caso de atividade que exijam movimentos muito rápidos, de forma

que a resposta motora tenha que anteceder o tempo necessário para o retorno

de informação sensorial para cérebro, o córtex cerebral desenvolve blocos ou

conjuntos de padrões de atividades motoras. Esses padrões podem ser

selecionados e mobilizados pela consciência do ato motor desejado ou pelo

pensamento. Uma vez iniciado o processo, uma sequência ordenada de

movimentos musculares será desencadeada, até que se esgote o conjunto de

padrões ou se interrompa o processo voluntariamente. Um exemplo disso é ato

de escrever rapidamente, o primeiro movimento ativa o padrão de uma letra,

os padrões referentes às outras letras vêm dentro do conjunto de padrões que

representa a palavra escrita. Quando ocorrer a ativação do padrão de uma

letra errada para aquela palavra, observa-se que a escrita dessa letra é

completada antes do reconhecimento do erro. Assim, a escrita de uma letra ou

de uma frase é, na realidade, a ativação de uma sequência de padrões de

atividade motora já armazenada e memorizada em bloco ou conjunto

representativo daquela letra ou frase. O armazenamento de tais padrões não

envolve apenas o córtex motor, mas também algumas áreas sensoriais, o

córtex associativo e alguns centros motores mais profundos, como gânglios da

base.

A estimulação elétrica de pontos distintos do córtex pré-motor produz

padrões de movimentos de precisão, em especial das mãos e formação das

palavras durante a fala. O córtex pré-motor é considerado a parte do cérebro

relacionada com os movimentos aprendidos que podem ser executados com

extrema rapidez. Entretanto, a essencialidade do sistema sensorial para a

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29resposta motora é de tal dimensão, que se torna inviável a separação dessas

duas funções ao nível do córtex cerebral, sendo comum referência à área

sensório-motora do córtex.

Dentre as áreas envolvidas no controle dos mecanismos de memória

de sequências de padrões de atos motores encontramos a área de Wernicke,

localizada na fronteira dos lobos pariental, occpital e temporal e classificada

área associativa do córtex. A área de Wernicke é considerada a área da

escolha de palavras. A expressão dos pensamentos, de sensações ou de

sentimentos através da palavra envolve ações motoras dependentes da

interpretação e da formação das idéias. Tais funções são desempenhadas nas

áreas associativas do córtex. As informações sensoriais de todas as origens,

após passar pelas respectivas áreas sensoriais primarias, são conduzidas para

a área de Wernicke e aí são integradas, em busca de um significado integral,

que permita o estabelecimento dos pensamentos e das palavras que possam

expressar este significado através linguagem falada ou escrita. Assim, a

seqüência de palavras capaz de expressar esse significado é dependente do

córtex sensorial e do associativo, e não apenas do córtex motor.

A área de Wernicke está intimamente relacionada com o

desenvolvimento do pensamento a ser expresso em palavras. No caso da

palavra falada, os sinais sonoros da fala alcançam os receptores auditivos e

são transformados em sinais nervosos, que seguem para a área auditiva

primária, na parte superior do lobo temporal, onde são interpretados como

palavras. Por sua vez, o conjunto de palavras é interpretado com frases nas

áreas associativas de audição. Essas frases são interpretadas com

pensamentos na área de Wernicke. No caso da palavra escrita, as imagens

das letras alcançam os transdutores da retina e são transformadas em sinais

nervosos, que seguem para o córtex visual primário, no lobo occipital, e são

decodificados como palavras. Estas são interpretadas como frases nas áreas

associativas da visão, e as frases viram pensamentos na área de Wernicke.

A área de Wernicke atua em associação com a parte mais lateral do

córtex somestésico para iniciar uma sequência de sinais, que é transmitida

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30para regiões especificas do córtex motor primário e pré-motor, que fazem

controle motor do aparelho fonador.

Em 1861, o neurologista francês Paul Broca identificou um paciente

que era quase totalmente incapaz de falar e tinha uma lesão nos lobos frontais,

o que gerou questionamentos sobre a existência de um centro da linguagem

no cérebro. Mais tarde, descobriu casos nos quais a linguagem havia se

comprometido devido a lesões no lobo frontal do hemisfério esquerdo. A

recorrência dos casos levou Broca a propor, em 1864, que a expressão da

linguagem é controlada por apenas um hemisfério, quase sempre o esquerdo.

Esta visão confere com resultados do procedimento de Wada, no qual um

hemisfério cerebral é anestesiado. Na maioria dos casos, a anestesia do

hemisfério esquerdo, mas não a do direito, bloqueia a fala. A área do lobo

frontal esquerdo dominante que Broca identificou como sendo crítico para a

articulação da fala veio a ser conhecida como área de Broca. (BEAR, 2002)

"O modelo neurolingüístico de Wernicke considerava

que a área de Broca conteria os programas motores de

fala, ou seja, as memórias dos movimentos necessários

para expressar os fonemas, compô-los em palavras e

estas em frases. A área de Wernicke, por outro lado,

conteria as memórias dos sons que compõem as

palavras, possibilitando a compreensão." (LENT, 2005, p.

637)

Assim, se essas duas áreas fossem conectadas, o indivíduo poderia

associar a compreensão das palavras ouvidas com a sua própria fala.

1.1.10 – Lesões Medulares

Segundo CORTEZ (2008) quando a medula espinhal é gravemente

lesada, os movimentos voluntários e reflexos gerados as áreas caudais à lesão

são imediatamente perdidos. Esse comprometimento agudo da função é

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31conhecido como choque medular. A perda completa do controle motor

voluntário é designada pelo sufixo plegia, a perda parcial é designada pelo

sufixo paresia, e a perda dos reflexos arreflexia. O choque medular por durar

de dias a meses, dependendo da gravidade da lesão. Os reflexos tendem a

reaparecer com o tempo, bem como algum grau de controle voluntario.

As lesões medulares completas causam: paralisia, perda de todas as

modalidades sensitivas (abaixo da lesão) e alteração do controle esfincteriano

(urinário e fecal). As lesões cervicais altas determinam tetraplegia (paralisia

dos quatro membros) e as lesões cervicais baixas causam paralisia dos

membros inferiores e das mãos. Já as lesões mais baixas torácicas e lombares

causam paraplegia (paralisia dos membros inferiores). Na tetraplegia, pode

ocorrer insuficiência respiratória pelo comprometimento do nervo frênico, que

inerva os músculos diafragma. Na fase aguda da lesão se encontram flacidez

dos membros paralisados, abolição dos reflexos tendinosos e retenção

urinária, quadro que pode se estender por vários meses. Entretanto, parte da

função motora pode ser recuperada com o tempo e a retenção urinária,

substituída por incontinência urinária.

Nas lesões medular incompletas as alterações são parciais, podendo

ter manifestações motoras ou sensitivas, dependendo da área afetada. Nesses

casos, além da recuperação parcial, é possível a obtenção mais tardia da

recuperação total.

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CAPITULO II

MOTRICIDADE E PSICOMOTRICIDADE

2.1 – Motricidade

Desde o momento da concepção, o organismo humano segue uma

lógica biológica dentro de uma organização maturativa, evolutiva e integrada.

Entre o nascimento e a idade adulta no organismo humano se produzem

profundas modificações que o leva a interação e a estimulação. As

possibilidades motoras da criança evoluem de acordo com sua idade, sendo

cada vez mais variadas, completas e complexas.

“Durante a gravidez, os sinais de vida do feto em

relação ao mundo exterior, se dá fundamentalmente pela

atividade motora, que evolui amplamente. O movimento

contém em si mesmo sua verdade, tem sempre uma

orientação significativa em função da satisfação das

necessidades que o meio promove, portanto, o

movimento e o seu fim são uma unidade relacional. Esses

dois aspectos se aperfeiçoam cada vez mais como

resultado de uma diferenciação progressiva das

estruturas do ser humano” (NETO, 2002, p. 11).

Os estudos da motricidade, (GUILMAIN, 1981, P.24) empreendidos no

começo do século XX e orientaram em quatro direções, ainda que

complementares:

• A elaboração da síndrome de debilidade motriz e busca das relações

entre essa e a debilidade intelectual.

• Estudo da evolução das funções motrizes na criança e busca de testes

de níveis de desenvolvimento da habilidade manual e das aptidões motrizes

em função da idade.

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33• Estudo da lateralidade dominante, dos transtornos perceptivos motores

e da busca de suas correlações com as dificuldades de aprendizagem das

técnicas escolares de base (leitura, escrita, cálculo) em crianças com

inteligência lógica normal.

• Elaboração de teste motores que permitam a determinação das

características afetivas motrizes na criança e o estudo das relações existentes

entre o comportamento motor de um sujeito e as características fundamentais

de seu caráter.

2.1.1 – Elementos Básicos da Motricidade

Apresento os elementos básicos da motricidade, inspirados nos

referenciais propostos por Jean Claude Coste (A Psicomotricidade, 1989) e

Vitor da Fonseca (Psicomotricidade: Filogênese, Ontogênese e Retrogênese,

1998)

• Motricidade fina (óculo manual)

Os três componentes utilizados nesta coordenação, que representa a

atividade mais freqüente e mais comum no homem, é o objeto/olho/mão.

O homem utiliza-se da coordenação para pegar um objeto e lançá-lo,

para escrever, desenhar, recortar, etc. Ela inclui uma fase de transporte de

mão, seguida de uma fase de agarre e manipulação.

A atividade manual, guiada por meio da visão, faz intervir, ao mesmo

tempo, no conjunto dos músculos que asseguram a manutenção dos ombros,

braços, do antebraço e de mão que é responsável pelo ato motor ou manual

de agarrar. Já os músculos oculomotores regulam a fixação do olhar, as

sacudidas oculares e os movimentos de perseguição.

Para a coordenação desses atos, participam diferentes centros

nervosos motores, o córtex pré-central, por exemplo, corresponde a

motricidade fina e tem um papel fundamental no controle dos movimentos

isolados das mãos e dedos para pegar algo.

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• Motricidade global

O movimento motor global, seja ele mais simples, é um movimento

sinestésico, tátil, labiríntico, visual, espacial, temporal, e assim por diante.

Os movimentos dinâmicos corporais desempenham um importante

papel na melhora dos comandos nervosos e no afinamento das sensações e

das percepções.

O que é educativo na atividade motora não é a quantidade de trabalho

efetuado, mas sim o controle de si mesmo obtido pela qualidade do movimento

executado, da precisão e da maestria de sua execução.

O equilíbrio é a base primordial de toda ação diferenciada dos

segmentos corporais. Quanto mais defeituoso for o movimento, mais energia o

corpo consome e dessa luta constante, mesmo que inconsciente, contra o

desequilíbrio, resulta uma fadiga corporal, mental e espiritual, aumentando o

nível de estresse, ansiedade e angústia do indivíduo.

• Esquema corporal

A construção do esquema corporal é a organização das sensações

relativas a seu próprio corpo em associação com os dados do mundo exterior

exercendo um papel fundamental no desenvolvimento da criança, já que essa

organização é o ponto de partida de suas possibilidades de ação, então,

esquema corporal é a organização das sensações relativas a seu próprio corpo

em associação com os dados do mundo exterior.

Abordaremos mais profundamente este assunto no próximo tópico.

• Organização espacial

A noção de espaço é ao mesmo tempo concreta e abstrata, finita e

infinita, envolve tanto o espaço do corpo, como o espaço que nos rodeia. A

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35idéia de espaço está imbuída em nossas sensações, resultante de

experiências e aprendizagens.

O espaço psicológico, associado à nossa atividade mental, revela-se

em nosso nível de consciência.

A nossa atividade perceptiva baseada na experiência do aprendizado é

que nos permite dar significado à organização espacial. A organização espacial

depende, ao mesmo tempo, da estrutura do nosso próprio corpo (estrutura

anatômica, biomecânica, fisiológica, etc.), da natureza do meio que nos rodeia

e de suas características.

Todas as modalidades sensoriais participam em certa medida na

percepção espacial: a visão, a audição, o tato e o olfato.

• Organização temporal

O tempo é, antes de tudo, memória: à medida que leio, o tempo passa.

Dessa maneira existem dois grandes componentes da organização temporal: a

ordem e a duração que o ritmo reúne.

A ordem define a sucessão que existe entre os acontecimentos que

produzem, uns sendo continuação dos outros, em uma ordem física

irreversível.

A duração permite a variação do intervalo que separa o principio e o

fim de um acontecimento. Essa medida possui diferentes unidades

cronométricas como o dia e suas divisões, as horas, os minutos e os

segundos.

A organização temporal inclui uma dimensão lógica (conhecimento da

ordem e da duração), uma dimensão convencional (sistema cultural de

referencias, horas dias, semanas, etc.) e um aspecto de vivencia que surge

antes dos outros dois.

Os aspectos relacionados à percepção do tempo evoluem e

amadurecem com a idade. No tempo psicológico, organizamos a ordem dos

acontecimentos e estimamos a sua duração, construindo, assim, nosso próprio

tempo.

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• Lateralidade

O corpo humano está caracterizado pela presença de partes

anatômicas pares e globalmente simétricas.

A lateralidade é a preferência da utilização de uma das partes

simétricas do corpo: mão, olho, ouvindo, perna; a lateralização cortical é a

especialidade de um dos dois hemisféricos quanto ao tratamento da

informação sensorial ou quanto ao controle de certas funções.

A lateralidade está em função de um predomínio que outorga a um dos

dois hemisférios a iniciativa da organização do ato motor, o qual chegará à

aprendizagem e na consolidação das praxias.

A seguir apresentamos uma pirâmide psicomotora. Essa pirâmide foi

apresentada por Vitor da Fonseca no Congresso Mundial de Psicomotricidade

neste ano de 2007.

2.1.2 – Conceitos de esquema corporal:

A expressão esquema corporal é de fundamental importância para o

trabalho na área de psicomotricidade. Podemos considerar as seguintes

definições:

“O esquema corporal não é um conceito inicial ou uma entidade

biológica ou física, mas o resultado e a condição da justa relação entre o

indivíduo e o próprio ambiente”. (H. Wallon)

“O esquema corporal pode ser considerado uma intuição de conjunto

ou um conhecimento imediato que temos do nosso próprio corpo, seja em

posição estática ou em movimento, em relação às diversas partes entre si e,

sobretudo, nas relações com o espaço e os objetos que os circundam”. (J. Le

Boulch)

A expressão esquema corporal nasceu em 1911 com o neurologista

Henry Head, tendo um cunho essencialmente neurológico. Segundo ele, o

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37córtex cerebral recebe informações das vísceras, das sensações e percepções

táteis, térmicas, visuais, auditivas e de imagens motrizes, o que facilitaria a

obtenção de uma noção, um modelo e um esquema de seu corpo e de suas

posturas, afirma ainda que o esquema corporal armazena não só as

impressões presentes como também as passadas.

“A nominação das partes do corpo, confirma o que é percebido,

reafirma o que é conhecido e permite verbalizar (por um mecanismo de

redução) aquilo que é vivenciado” ( AJURIAGUERRA 1980, p.343).

Para uma criança agir através de seus aspectos psicológicos,

psicomotores, emocionais, cognitivos e sociais, precisa ter um corpo

“organizado”. É necessário, que o educador auxilie seus alunos no sentido de

fazê-los centrarem sua atenção sobre si mesmos para uma maior

interiorização do corpo. A interiorização é um fator muito importante para que a

criança possa tomar consciência de seu esquema corporal. Pela interiorização,

a criança volta-se para si mesma, possibilitando uma automatização das

primeiras aquisições motoras. A criança que não consegue interiorizar seu

corpo pode ter problemas tanto no plano gnosiológico, como no práxico.

“A interiorização torna possível uma dissociação de

movimentos que permite um maior controle das praxias.

No plano gnosiológico, percebemos que a interiorização

garante uma representação mental do seu corpo, dos

objetos e do mundo em que vive” (BOULCH ,1982)

Um esquema corporal organizado, portanto, permite a uma criança se

sentir bem, na medida em que seu corpo lhe obedece, em que tem domínio

sobre ele, em que o conhece bem, em que pode utilizá-lo para alcançar um

maior poder cognitivo.

Com a interiorização das sensações a criança aprende a conhecer e a

diferenciar seu corpo como um todo e também a sentir suas possibilidades de

ação. Ela precisa, também, adquirir um equilíbrio econômico e postural, uma

lateralidade bem definida, uma independência dos diferentes seguimentos

corporais e um domínio das pulsões e das inibições.

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2.1.2.1 – Etapas do esquema corporal:

Segundo Le Boulch, o esquema corporal possui três etapas

fundamentais:

• 1ª etapa: Corpo Vivido (até 3 anos de idade)

Esta etapa corresponde à fase da inteligência sensório-motora de Jean

Piaget. Um bebê sente o meio ambiente como fazendo parte dele mesmo. À

medida que cresce, com um maior amadurecimento de seu sistema nervoso,

vai ampliando suas experiências e passa, pouco a pouco, a se diferenciar de

seu meio ambiente. Nesse período a criança tem uma necessidade muito

grande de movimentação e através desta vai enriquecendo a experiência

subjetiva de seu corpo e ampliando a sua experiência motora. Suas atividades

iniciais são espontâneas, isto é, não pensadas.

De início, portanto, a criança corre, brinca, trabalha seu corpo, passa

pelo que De Meur, chamada de atividade espontânea (dos brinquedos ), para

uma atividade integrada. É dominada pela experiência vivida pela criança, pela

exploração do meio, por sua atividade investigadora e incessante. Ela precisa

ter suas próprias experiências, para que a criança mesmo que sem a

interferência da reflexão, adeque suas ações às situações novas.

Ela adquire também uma verdadeira memória do corpo. No final desta

fase pode-se falar em imagem do corpo pois o “eu” se torna unificado e

individualizado.

• 2ª Etapa: Corpo Percebido ou “Descoberto” (3 a 7 anos)

Esta etapa corresponde à organização do esquema corporal devido à

maturação da “função de interiorização”, permite também a passagem do

ajustamento espontâneo, citado na primeira fase, a um ajustamento controlado

que, por sua vez, propicia um maior domínio do corpo, culminando em uma

maior dissociação dos movimentos voluntários. A criança com isto passa a

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39aperfeiçoar e refinar seus movimentos adquirindo uma maior coordenação

dentro de um espaço e tempo determinado.

Ela descobre sua dominância e com ela seu eixo corporal. Passa a ver

seu corpo como um ponto de referência para se situar e situar os objetos em

seu espaço e tempo. Ela tem acesso a um espaço e tempo orientado a partir

de seu próprio corpo, assimila conceitos como embaixo, acima, direita,

esquerda.

Adquire também noções temporais como a duração dos intervalos de

tempo, de ordem e sucessão, isto é, o que vem antes, depois, primeiro, último.

No final desta fase, o nível do comportamento motor bem como o nível

intelectual pode ser caracterizado como pré-operatório, porque será submetido

à percepção num espaço em parte representado, mas ainda centralizado sobre

o próprio corpo.

• 3ª Etapa: Corpo Representado (7 a 12 anos)

Nesta etapa observa-se a estruturação do esquema corporal, ela

amplia e organiza seu esquema corporal.

No início desta fase a representação mental da imagem do corpo

consiste numa simples imagem reprodutora. É uma imagem de corpo estática

e é feita da associação estreita entre os dados visuais e cinestésicos. A

criança só dispõe de uma imagem mental do corpo em movimento a partir de

10 / 12 anos. Sua imagem de corpo passa a ser antecipatória, e não mais

somente reprodutora.

A imagem do corpo representado permite à criança de 12 anos “dispor”

de uma imagem de corpo operatório que é o suporte que a permite efetuar e

programar mentalmente suas ações de pensamento. Torna-se capaz de

organizar, de combinar as diversas orientações. Isto quer dizer que os pontos

de referência não estão mais centrados no corpo próprio mas são exteriores ao

sujeito, podendo ele mesmo criar os pontos de referência que irão orientá-lo.

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2.2 – Psicomotricidade

Segundo Assunção & Coelho (1997, p.108) a psicomotricidade é a

“educação do movimento com atuação sobre o intelecto, numa relação entre

pensamento e ação, englobando funções neurofisiológicas e psíquicas”.

É uma técnica em que se misturam vários olhares e que se utiliza das

várias ciências: a Biologia, a Psicologia, a Psicanálise, a Sociologia e a

Linguística.

Historicamente o termo "psicomotricidade" aparece a partir do discurso

médico, mais precisamente neurológico, quando foi necessário, no início do

século XIX, nomear as zonas do córtex cerebral situadas mais além das

regiões motoras. Com o desenvolvimento e as descobertas da neurofisiologia,

começa a constatar-se que há diferentes disfunções graves sem que o cérebro

esteja lesionado ou sem que a lesão esteja claramente localizada. São

descobertos distúrbios da atividade gestual, da atividade práxica. Portanto, o

"esquema anátomo-clínico" que determinava para cada sintoma sua

correspondente lesão focal já não podia explicar alguns fenômenos

patológicos. É, justamente, a partir da necessidade médica de encontrar uma

área que explique certos fenômenos clínicos que se nomeia, pela primeira vez,

o termo Psicomotricidade, no ano de 1870. As primeiras pesquisas que dão

origem ao campo psicomotor correspondem a um enfoque eminentemente

neurológico. (SBP, 2003)

No Brasil, Antonio Branco Lefévre buscou junto às obras de

Ajuriaguerra e Ozeretski, influenciado por sua formação em Paris, a

organização da primeira escala de avaliação neuromotora para crianças

brasileiras.

A SBP - Sociedade Brasileira de Psicomotricidade, entidade de caráter

científico-cultural sem fins lucrativos, foi fundada em 19 de abril de 1980 com o

intuito de lutar pela regulamentação da profissão, unir os profissionais da

psicomotricidade e contribuir para o progresso da ciência, promovendo

congressos, encontros científicos, cursos, entre outros. Começa então, a ser

delimitada uma diferença entre postura reeducativa e uma terapêutica, já

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41demonstrando diferenças em intervenções da psicomotricidade, e que, ao

despreocupar-se da técnica instrumentalista e ao ocupar-se do corpo em sua

globalidade, vai dando progressivamente, maior importância à relação, à

afetividade e ao emocional.

Encontramos várias definições para a Psicomotricidade, cada autor

coloca o seu olhar para defini-la. Resumidamente podemos descrevê-la como

a integração psiquismo-motricidade, visto que a motricidade pode ser definida

como resultado da ação do sistema nervoso sobre a musculatura e o

psiquismo como o conjunto de sensações, percepções, imagens,

pensamentos, afeto, etc.

“A psicomotricidade é um caminho, é o desejo de fazer, de querer

fazer; o saber fazer e o poder fazer” (OLIVEIRA, 2001)

A função psicomotora é a unidade onde se integram a incitação, a

preparação, a organização temporal, a memória, a motivação, a atenção, etc.

O movimento é de fundamental importância no desenvolvimento físico,

intelectual e emocional da criança, estimula a respiração e a circulação.

No início a psicomotricidade foi introduzida nas escolas especializadas

como um recurso psicopedagógico que visava corrigir distúrbios no

desenvolvimento das crianças especiais. Nesta abordagem, surgiram os

exercícios conhecidos da maioria dos professores: coordenação visomotora,

ritmo, orientação espacial, esquema corporal, lateralidade, etc.

Já na década de 70, se percebia a necessidade de dar um lugar ao

corpo e ao movimento na escola. A pré-escola começava a se orientar pela

idéia de partir da ação para o pensamento.

A educação psicomotora deixa de lado a postura mais rígida, de

reabilitação, terapia, para dar lugar à expressão da criança.

Em nível institucional seria necessário agir para tornar possível a

abertura de um espaço mais livre na escola, permitindo à criança desenvolver-

se e elaborar espontaneamente os conflitos do crescimento. Neste espaço a

criança teria acesso a um encontro consigo mesma, através de atividades

psicomotoras livres, jogos criativos e dramatizações inseridas numa relação

mais inteira e afetiva entre ela e o educador.

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42Assim, a criança de 2 – 3 anos, ao entrar na escola, perde o prazer dos

cuidados da maternagem e do corpo direto com a mãe, mas conquista sua

autonomia, cresce e pode elaborar suas angústias de separação.

O período pré-escolar, de 3 a 6 anos, testemunha uma verdadeira

reconstrução do mundo da criança. Ela passa por mudanças cognitivas, vai do

conhecimento prático sensório-motor, para o pensamento e organização do

universo representativo. Sua linguagem evolui permitindo-lhe estruturar melhor

suas aquisições cognitivas e ela é capaz de narrativa, o que lhe possibilita falar

de sua história, expressar suas idéias e emoções, ou seja, o espaço das

relações interpessoais lhe é desvendado.

A prática psicomotora educativa é preventiva pois é uma ajuda à

maturação psicológica pela via da ação e do jogo, tem um caráter profilático

porque favorece a maturação psicomotora, ela estimula a comunicação, a

expressão, a simbolização, que são aspectos fundamentais para o acesso pela

criança ao pensamento operatório.

O psicomotricista educador permanece um dinamizador da

comunicação, também está sempre atento à resolução dos conflitos no grupo,

pelo diálogo e pela firmeza, de forma que possa garantir uma autoridade

estruturante ao grupo de crianças. A atitude permanente é de favorecer com

suavidade o prazer de agir, de transformar e de criar junto, como base da

comunicação e do desenvolvimento, do sentimento de solicitude de uns para

com os outros, ele lembra regras de funcionamento, ele se ajusta às ações e

aos jogos, mas propõe também: favorecer jogos de reasseguramento e os

jogos de identificação, propondo torres para destruição, lugares para se

desequilibrar, para cair, mas também um lugar para ser cuidado após jogos de

acidente (hospital), ajuda a construir, a fantasiar-se, a envolver-se. Ele pode

regulamentar o material para evitar confusão e pode reduzir sua utilização, se

este estimula a instabilidade ou a agressividade.

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43

2.2.1 – Educação Psicomotora na Escola

Ao pensar em educação psicomotora, logo pensamos em prevenção

do desenvolvimento integral do indivíduo em várias etapas de

desenvolvimento.

Através da Psicomotricidade e dos órgãos dos sentidos a criança

descobre o mundo e se autodescobre.

“A educação psicomotora deve ser considerada como

uma educação de base na escola primária. Ela

condiciona todos os aprendizados pré-escolares; leva a

criança a tomar consciência de seu corpo, da lateralidade,

a situar-se no espaço, a dominar seu tempo, a adquirir

habilmente a coordenação de seus gestos e movimentos.

A educação psicomotora deve ser praticada desde a mais

tenra idade; conduzida com perseverança, permite

prevenir inadaptações difíceis de corrigir quando já

estruturadas” (LE BOULCH, 1982)

A educação psicomotora deve ser considerada como uma educação

de base na escola primária. Ela condiciona todos os aprendizados pré-

escolares, leva a criança a tomar consciência de seu corpo, da lateralidade, a

situar-se no espaço, a dominar seu tempo, a adquirir habilmente a

coordenação de seus gestos e movimentos. A educação psicomotora deve ser

praticada desde a mais tenra idade; conduzida com perseverança, permite

prevenir inadaptações difíceis de corrigir quando já estruturadas.

A educação psicomotora pode ser vista como preventiva, na medida

em que dá condições à criança de se desenvolver melhor em seu ambiente. É

vista também como reeducativa quando trata de indivíduos que apresentam

desde o mais leve retardo motor até problemas mais sérios. “É um meio de

imprevisíveis recursos para combater a inadaptação escolar” (FONSECA,

1988, p. 368)

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44O indivíduo não é feito de uma só vez, mas se constrói, através da

interação com o meio e de suas próprias realizações e a psicomotricidade

desempenha um papel fundamental.

Lapierre (1986) e Le Boulch têm a mesma posição quando afirmam

que a educação psicomotora deve ser uma formação de base indispensável a

toda criança.

Tanto dentro da ação educativa como reeducativa, devemos unir o

aspecto funcional ao afetivo, pois os dois devem caminhar lado a lado.

Por aspecto afetivo ou relacional podemos entender a relação da

criança com o adulto, com o ambiente físico e com as outras crianças. A

maneira como o educador penetra no universo da criança assume um aspecto

primordial. É muito importante que o professor demonstre carinho e aceitação

integral do aluno para que este passe a confiar mais em si mesmo e consiga

expandir-se e equilibrar-se.

Um educador, a partir de um bom conhecimento do desenvolvimento

do aluno, poderá estimulá-lo de maneira que todas as áreas como

psicomotricidade, cognição, afetividade e linguagem estejam interligadas.

Muitas dificuldades podem surgir com uma aprendizagem falha na

escola. Está certo que algumas habilidades motoras começam a ser

desenvolvidas na família, mas não se pode negar a importância dos primeiros

anos de escolaridade. Por outro lado, também há alunos que já vêm para a

escola com problemas motores que prejudicam seu aprendizado e que não

são sanados em nenhum momento, acarretando uma maior desadaptação

escolar

A psicomotricidade serve como ferramenta para todas as áreas de

estudo voltadas para a organização afetiva, motora, social e intelectual do

indivíduo acreditando que homem é um ser ativo capaz de se conhecer cada

vez mais e de se adaptar às diferentes situações e ambientes.

Emocionalmente, a criança conseguirá todas as possibilidades para

movimentar-se e “descobrir” o mundo, tornar-se feliz, adaptada, livre,

socialmente independente.

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45Na educação infantil, o mais importante deve ser ajudar a criança a ter

uma percepção adequada de si mesma, compreendendo suas possibilidades e

limitações reais e ao mesmo tempo, auxiliá-la a se expressar corporalmente

com maior liberdade, conquistando e aperfeiçoando novas competências

motoras.

O movimento e sua aprendizagem abrem um espaço para

desenvolver: (Alves, 2003)

• Habilidades motoras que levem a criança a aprender a conhecer seu

próprio corpo e a se movimentar expressivamente;

• Um saber corporal que deve incluir as dimensões do movimento, que

indiquem estados afetivos até representações de movimentos mais elaborados

de sentidos e idéias, oferecendo um caminho para trocar afetividades;

• Facilitar a comunicação e a expressão das idéias;

• Possibilitar a exploração do mundo físico e o conhecimento do espaço;

• Apropriação da imagem corporal;

• Percepção rítmica, através de jogos corporais e danças;

• Habilidades motoras finas, através de diversas atividades que facilitem a

escrita.

2.2.2 – A Importância da Psicomotricidade no Processo da

Aprendizagem

A Psicomotricidade existe nos menores gestos e em todas as

atividades que desenvolve a motricidade da criança, visando ao conhecimento

e ao domínio do seu próprio corpo. Por isso dizemos que a mesma é um fator

essencial e indispensável ao desenvolvimento global e uniforme da criança. A

estrutura da Educação Psicomotora é a base fundamental para o processo

intelectivo e de aprendizagem da criança. O desenvolvimento evolui do geral

para o específico; quando uma criança apresenta dificuldades de

aprendizagem, o fundo do problema, em grande parte, está no nível das bases

do desenvolvimento psicomotor.

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46Durante o processo de aprendizagem, os elementos básicos da

psicomotricidade são utilizados com freqüência. O desenvolvimento do

Esquema Corporal, Lateralidade, Estruturação Espacial, Orientação Temporal

e Pré-Escrita são fundamentais na aprendizagem; um problema em um destes

elementos irá prejudicar uma boa aprendizagem.

O ato antecipa a palavra, e a fala é uma importante ferramenta

psicológica organizadora. Através da fala, a criança integra os fatos culturais

ao desenvolvimento pessoal. Quando, então, ocorrem falhas no

desenvolvimento motor poderá também ocorrer falhas na aquisição da

linguagem verbal e escrita. Faltando a criança um repertório de vivências

concretas que serviriam ao seu universo simbólico constituído na linguagem,

conseqüentemente, afetando o processo de aprendizagem. A criança, cujo

desenvolvimento psicomotor é mal constituído, poderá apresentar problemas

na escrita, na leitura, na direção gráfica, na distinção de letras (ex: b/d), na

ordenação de sílabas, no pensamento abstrato (matemática), na análise

gramatical, dentre outras.

A aprendizagem da leitura e da escrita exige habilidades tais como:

• dominância manual já estabelecida;

• conhecimento numérico para saber quantas sílabas formam uma

palavra;

• movimentação dos olhos da esquerda para a direita que são os

adequados para escrita;

• discriminação de sons (percepção auditiva);

• adequação da escrita às dimensões do papel, bem como proporção das

letras e etc;

• pronúncia adequada das letras, sílabas e palavras;

• noção de linearidade da disposição sucessiva das letras e palavras;

• capacidade de decompor palavras em sílabas e letras;

• possibilidade de reunir letras e sílabas para formar palavras e etc.

A escola ainda mantém o caráter mecanicista instalado na Educação

Infantil, ignorando a psicomotricidade também nas séries iniciais do Ensino

Fundamental. Os professores, preocupados com a leitura e a escrita, muitas

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47vezes não sabem como resolver as dificuldades apresentadas por alguns

alunos, rotulando-os como portadores de distúrbios de aprendizagem. Na

realidade, muitas dessas dificuldades poderiam ser resolvidas na própria

escola e até evitadas precocemente se houvesse um olhar atento e qualificado

dos agentes educacionais para o desenvolvimento psicomotor.

Entendemos hoje que a psicomotricidade, oportunizando as crianças

condições de desenvolver capacidades básicas, aumentando seu potencial

motor, utilizando o movimento para atingir aquisições mais elaboradas, como

as intelectuais, ajudaria a sanar estas dificuldades.

Neuropsiquiatras, psicólogos, fonoaudiólogos têm insistido sobre a

importância capital do desenvolvimento psicomotor durante os três primeiros

anos de vida, entendendo que é nesse período o momento mais importante de

aquisições extremamente significativas a nível físico. Aquisições que marcam

conquistas igualmente importantes no universo emocional e intelectual.

Aos três anos as aquisições da criança são consideráveis e possui,

então, todas as coordenações neuromotoras essenciais, tais como: andar,

correr, pular, aprender a falar, se expressar, se utilizando de jogos e

brincadeiras. Estas aquisições são, sem dúvida, o resultado de uma maturação

orgânica progressiva, mas, sobretudo, o fruto da experiência pessoal e são

apenas parcialmente, um produto da educação. Estas foram obtidas e são

complementadas progressivamente ao tocar, ao apalpar, ao andar, ao cair, ao

comparar, por exemplo, e a corticalização, em si mesma, “é uma estreita

função das experiências vivenciadas”. (Koupernik)

Esta ligação estreita entre maturação e experiência neuromotora,

segundo Henri Wallon passa por diferentes estados:

• Estado de impulsividade motora - onde os atos são simples descargas

de reflexos;

• Estados emotivos - as primeiras emoções aparecem no tônus muscular.

As situações são conhecidas pela agitação que produzem, evidenciando uma

interação da criança com o meio;

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48• Estado sensitivo-motor - coordenação mútua de percepções diversas

(adquire a marcha, a preensão e o desenvolvimento simbólico e da linguagem);

• Estado projetivo - mobilidade intencional dirigida para o objeto. Associa

à necessidade do uso de gestos para exteriorizar o ato mental (inteligência

prática e simbólica).

Do ato motor à representação mental, graduam-se todos os níveis de

relação entre o organismo e o meio (Wallon). O desenvolvimento para Wallon

é uma constante e progressiva construção com predominância afetiva e

cognitiva.

Na segunda infância, surgem em funcionamento territórios nervosos

ainda adormecidos, processos da mielinização; as aquisições motoras,

neuromotoras e perceptivo-motoras efetuam-se num ritmo rápido: tomada de

consciência do próprio corpo, afirmação da dominância lateral, orientação em

relação a si mesmo, adaptação ao mundo exterior.

Este período de 3-4 a 7-8 anos é, ao mesmo tempo, o período de

aprendizagens essenciais e de integração progressiva no plano social.

Segundo Wallon, nesse período outras fases estarão presentes e

assim as descreve:

• Estado de personalismo – formação da personalidade que se processa

através das interações sociais, reorientando o interesse da criança com as

pessoas, predominância das relações afetivas;

• Estado categorial – observa-se progressos intelectuais, o interesse da

criança para as coisas, para o conhecimento e as conquistas do mundo

exterior, imprimindo suas relações com o meio, com predominância do aspecto

cognitivo.

Trata-se do período escolar, onde a psicomotricidade deve ser

desenvolvida em atividades enriquecedoras e onde a criança de aprendizagem

lenta terá que ter, ao seu lado, adultos que interpretem o significado de seus

movimentos e expressões, auxiliando a na satisfação de suas necessidades.

Na educação infantil, a prioridade deve ser ajudar a criança a ter uma

percepção adequada de si mesma, compreendendo suas possibilidades e

limitações reais e ao mesmo tempo, auxiliá-la a se expressar corporalmente

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49com maior liberdade, conquistando e aperfeiçoando novas competências

motoras.

Enfim, estimular atividades corporais, para além da sala de aula,

propiciando experiências que favorecerão a motricidade fina, auxiliariam os

alunos de ritmo normal e os de aprendizagem lenta a vencer melhor os

desafios da leitura e da escrita.

2.2.3 – Dificuldades de aprendizagem decorrentes dos

distúrbios psicomotores.

O desenvolvimento do conhecimento é um processo espontâneo ligado

ao processo global, inicia-se na infância e só termina na vida adulta.

Aprendizagem é um processo em que suas unidades básicas ocorrem quando

o indivíduo relaciona-se com outros, essa relação concretiza as aprendizagens

significativas. Por aprendizagem significativa entende-se uma aprendizagem

que é mais do que um acúmulo de fatos, é uma aprendizagem que provoca

uma modificação quer seja no comportamento do indivíduo, na orientação

futura que escolhe ou nas atitudes e personalidade. É uma atitude penetrante

que não se limita a um aumento de conhecimento, mas que penetra

profundamente todas as parcelas de sua existência.

O conceito de aprendizagem em muitas situações é restrito aos

conhecimentos escolares, entretanto é bem mais amplo, abrangendo todo

ambiente social, vida afetiva e valores culturais.

O processo de aprendizagem sofre uma intervenção de vários fatores:

social, físico, intelectual, psicomotor. Na educação infantil o foco principal é o

emocional. Há quatro elementos que fazem parte da aprendizagem como

processo de comunicação:

• Comunicador: professor ou meios de informação

• Mensagem: conhecimento transmitido adequado à idade

• Receptor: aluno devendo ser crítico

• Meio ambiente: escola, família e social. Todos devem ser estimulados

na aprendizagem.

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50Esses quatro elementos têm um papel fundamental no processo

ensinoaprendizagem, se ocorrer falhas e barreiras entre a comunicação

desses elementos, poderá causar problemas de aprendizagem.

Existem vários distúrbios de aprendizagem: na fala, na escrita, física,

comportamental e psicomotores, sendo o último o meu objeto de estudo.

Distúrbios Psicomotores são aqueles que se relacionam com

dificuldades na execução de movimentos e deficiência perceptíveis. As

crianças que demonstram distúrbios no seu esquema corporal apresentam

dificuldades na percepção de partes do seu corpo, a relação entre elas e o

conhecimento da lateralidade.

A não realização dessas necessidades manterá a criança em posição

de desigualdade diante da sua turma ou de crianças da mesma idade,

causando inquietação, ansiedade, tensão, insegurança e consequentemente,

problemas emocionais que interferem nas suas atividades intelectuais e na sua

adaptação sócio-afetiva.

Nota-se que atualmente há um incidente de crianças com distúrbios

psicomotores. Essas crianças aparentemente normais para pais e

responsáveis apresentam dificuldades na leitura, na escrita, no cálculo, na fala,

falhas em imagem e esquemas corporais, noção e posição espaciais,

orientação tempo espacial, lateralidade, direcionalidade, atenção e memória,

equilíbrio e coordenação motora.

As atividades motoras desempenham um grande papel na vida da

criança, no momento em que explora o mundo que a cerca e que é seu meio

de convívio.

Distúrbios psicomotores e afetivos estão estreitamente ligados. Eles se

influenciam e reforçam mutuamente, com isso, as dificuldades se traduzem no

comportamento criando novas dificuldades. A psicomotricidade leva em conta

o indivíduo como um todo, pesquisando as causas no corpo, na inteligência ou

na afetividade. Antes de 1 ano de idade, podemos detectar precocemente

distúrbios psicomotores na criança. Se não correr, à medida que for se

desenvolvendo outros se associam à perturbação motora, e só quando ela

inicia na escola para uma aprendizagem formal, eles ficam acentuados. As

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51características mais acentuadas além das existentes são os transtornos no

ritmo, atenção e no comportamento.

Haim Grunspun (1985), em Distúrbios Neuróticos da Criança, classifica

os distúrbios como: instabilidade psicomotora onde a criança apresenta

instabilidade emocional e intelectual, falta de atenção e concentração,

atividade muscular contínua falta de coordenação geral e motora final e

também comportamento com dificuldades de relacionamentos; debilidade

psicomotora.

A criança pode apresentar:

• paratomia que é a rigidez muscular, que pode aparecer nas quatro

extremidades do corpo ou só em duas. A criança se movimenta rigidamente

• sincinesia que é o conjunto dos músculos em movimento, sendo que

não são necessários inibição psicomotra. A criança apresenta estados de

ansiedade constante, problemas na coordenação motora e tiques, mas possue

um rendimento diferenciado podendo permanecer em uma classe comum,

pode apresentar também lateralidade cruzada com a mão, o pé, o olho e

ouvido, não apresentam a dominância do mesmo lado. Quando isso ocorre, os

distúrbios psicomotores são claros e resultam em deformação no esquema

corporal;

• imperícia onde a criança não consegue realizar uma série de atividades

manuais como amarrar o cadarço, comer sozinha.

Enfim, muitas vezes esses distúrbios são apresentados no início da

escolaridade, porém os pais devem ficar atentos a outros sinais perfeitamente

notáveis, antes do início da escolaridade. Eles poderão se tornar a causa de

problemas de aprendizagem seríssimos.

“Tais problemas podem fazer-se notar tanto na pré-escola como nas

séries iniciais do primeiro grau, com maior ou menor intensidade e decorrendo

das mais variadas causas como: debilidade intelectual, problemática

emocional, retardo de maturação, certas desarmonias tônico-motoras, etc.”

(José e Coelho, 1995)

São exemplos de distúrbios:

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• Dificuldades do grafismo

Entende-se como dificuldades do grafismo: má coordenação motora,

rigidez dos dedos e problemas psicológicos como, por exemplo, instabilidade

da criança e escrever com rigidez.

A evolução gráfica da criança é resultado de uma tendência natural,

expressiva, representativa que revela o seu mundo articular.

Desenvolvimento do grafismo:

ESTÁGIO:

Pré- caligráfico

FAIXA ETÁRIA:

De 5-6 a 8-9 anos

CARACTERÍSTICAS:

• a criança não possui perfeito domínio motor para os traçados gráficos;

• não tem controle na inclinação edimensão das letras;

• não faz margens ou apresenta-as de forma desordenada;

• têm postura errada do tronco, cabeça e braços ao escrever;

• copiar as palavras letra por letra.

• Disortografias

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53Entende-se como disortografias a dificuldade ligada à ortografia da

escrita, envolvendo planos espaço-temporais, ritmo, atenção, concentração,

noção de lateralidade, entre outros. Essas dificuldades estão relacionadas a

características pedagógicas do processo de escrita dos pais. Omissões,

inversões, acréscimos de letras com características visuais.

Exemplos:

• X/CH, Z/S, S, SS,Ç

• Final e intermediário U e L

• J/G, M/N, AO/AM,P/Q, D/Q, P/D

Exemplos como esses são quase sempre reflexos de um esquema

corporal mal vivenciado e pouco conscientizado, envolvendo também a

dificuldade específica de discriminação do grafema x fonema.

• Discalculias

Entende-se por discalculia a dificuldade de transcrever, associar,

seriar, reconhecer, parear, discriminar o símbolo numérico com características

de imaturidade de espaço-temporal.

Características: rotação e espelho.

Exemplo:

Exemplos como esses são quase sempre reflexos de dificuldades de

dominância lateral, lateralidade e esquema corporal.

• Deficiência motora fina

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54Entende-se por deficiência motora fina a dificuldade de controle dos

pequenos músculos das mãos, o empenho escolar é prejudicado pela

capacidade de comunicação pela escrita. A criança que possui essa

dificuldade não consegue escrever bem e tem uma caligrafia ilegível.

Os sintomas de deficiência motora fina consideram não somente as

situações que envolvem a sala de aula, mas também situações extra-classe.

Assim não se pode emitir um diagnóstico somente por meio de observações

pontuais de sala de aula. Todas as atividades devem ser consideradas,

inclusive as desenvolvidas em casa.

• Dislexia

Entende-se como dislexia a dificuldade de leitura e escrita,

caracterizadas por falta de orientação temporo-espacial, sequencialização do

raciocínio, classificação, uso do pensamento lógico-estrutural, que envolve

trocas, omissões, acréscimos e inversões de letras, palavras e em muitos

casos, frases.

É prejudicada a compreensão e a elaboração do texto ou do conteúdo

gráfico, quase sempre ligado aos fatores do tônus, dominância lateral,

lateralidade, ritmo e esquema corporal, fazendo com que o complexo

psicomotor de base quando mal organizado, vivenciado ou estruturado,

provoque de maneira significativa este distúrbio. Podem também ser

conseqüências de lesões neurológicas sérias, deficiência mental, deficiências

sensoriais, síndromes ou desorganizações psicológicas.

• Hiperatividade

Entende-se que a hiperatividade é um aumento da atividade motora, o

sujeito hiperativo é inquieto e quase sempre está em movimento. Na escola a

criança hiperativa se levanta da cadeira a todo instante, mexe com o

amiguinho e fala muito.

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55Muitas crianças têm dificuldade em se interessar por uma brincadeira

em que tenham que ficar quieta, sempre está correndo, subindo em móveis,

árvores e frequentemente em locais perigosos. Assim a hiperatividade pode

ser constatada através dos vários fatores e não somente pela presença de

alguns fatores.

• Dispraxia

Entende-se por dispraxia um distúrbio da motricidade. Praxias são

sistemas de movimentos coordenados em função de uma intenção ou de um

resultado.

A criança com esse distúrbio apresenta dificuldade em vestir-se,

amarrar sapatos, cai com facilidade e possui os movimentos desajeitados,

lentos e pesados.

As crianças que possuem distúrbios psicomotores costumam

apresentar alguns sintomas na educação infantil, por isso que é de suma

importância que os educadores observem seus alunos e apliquem uma

educação psicomotora de acordo com o desenvolvimento da criança. A

realização de um diagnóstico de distúrbio psicomotor é realizado por uma

equipe interdisciplinar composta por neurologista, psicólogo, psicopedagogo,

psicomotricista e pedagogo.

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56

CAPITULO III

O JOGO E A BRINCADEIRA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Os jogos e as brincadeiras que por muito tempo fizeram parte da

didática de grandes educadores do passado, hoje surgem como necessidade

absoluta e indispensável no processo educativo.

Brenelli (1996) afirma que o jogo é uma atividade poderosa que

estimula a atividade construtiva da criança, criando assim, um espaço para

pensar, abrindo lugar para a criatividade, a afirmação da personalidade e a

valorização do eu.

“A infância é um conjunto de possibilidades criativas que não devem

ser abafadas. Todo ser humano tem necessidade vital de saber, de pesquisar,

de trabalhar. Essas necessidades se manifestam nas brincadeiras, que não

são apenas uma diversão, mas um verdadeiro trabalho”. (GADOTTI, 1994,

p.53)

Brincar é um direito de todas as crianças do mundo, garantido no

Principio VII da Declaração Universal dos Direitos da Criança da UNICEF. É

uma atividade de grande importância para a criança, pois a torna ativa, criativa,

e lhe dá oportunidade de relacionar-se com os outros; também a faz feliz e, por

isso, mais propensa a ser bondosa, a amar o próximo, a ser solidária.

Brincar é uma necessidade básica assim como é a nutrição, a saúde, a

habitação e a educação, ajuda a criança no seu desenvolvimento físico,

afetivo, intelectual e social, pois, através das atividades lúdicas, a criança

forma conceitos, relaciona idéias, estabelece relações lógicas, desenvolve a

expressão oral e corporal, reforça habilidades sociais, reduz a agressividade,

integra-se na sociedade e constrói seu próprio conhecimento.

Brincando a criança desenvolve potencialidades; ela compara, analisa,

nomeia, mede, associa, calcula, classifica, compõe, conceitua e cria. O

brinquedo e a brincadeira traduzem o mundo para a realidade infantil,

possibilitando a criança a desenvolver a sua inteligência, sua sensibilidade,

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57habilidades e criatividade, além de aprender a socializar-se com outras

crianças e com os adultos.

Manipular, explorar e experimentar objetos reais é muito importante às

crianças. Por serem naturalmente ou pelo mundo e interessadas em aprender

sobre ele, as crianças são ativas ao aprendizado e fazem isso de diversas

formas

Cunha (1988) reafirma que o brinquedo é oportunidade de

desenvolvimento. É um convite ao brincar, facilita e enriquece a brincadeira,

proporciona a motivação, ele traduz o mundo real para a realidade infantil. É o

alimento para a fome de conhecimento da criança.

O brinquedo estimula a inteligência porque faz com que a criança solte

a sua imaginação e desenvolva a sua criatividade. Ao mesmo tempo,

possibilita o exercício da concentração, da atenção e engajamento. Os jogos

oferecem excelentes oportunidades para nutrir a linguagem da criança. O

contato com diferentes objetos e situações estimula a linguagem interna e o

aumento do vocabulário.

É por meio da brincadeira que a criança desenvolve o seu senso de

companheirismo; aprende a conviver, ganhando ou perdendo; procura

entender regras e conseguir participação satisfatória. Brincar é indispensável à

saúde física, emocional e intelectual da criança. A desvalorização do

movimento natural e espontâneo da criança em favor do conhecimento

estruturado e formalizado ignora as dimensões educativas da brincadeira e do

jogo como forma rica e poderosa de estimular a atividade construtiva da

criança.

O jogo é um meio eficiente de ensinar uma criança, ele aprende os

conceitos complicados, princípios filosóficos e emoções que são difíceis de

descrever em palavras. Diferente de outros métodos de ensino, o jogo envolve

inteiramente a criança na lição ao envolver todos os sentidos, porque ela não

ouve ou vê a lição, ela a faz.

O jogo é o domínio da criança. Para ela, é o método natural de

compreender o mundo, uma criança que aprende a construir um castelo de

areia, ao mesmo tempo, ela aprendeu a construir sua confiança e sua

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58independência, para ela foi um aprendizado que aconteceu naturalmente seria

ótimo se todas fossem assim. Por isso precisamos injetar experiência de jogos

significativos na vida de nossas crianças. Ele tem um papel integral para um

desenvolvimento sadio. Além de ensinar o jogo reduz o estresse e abre a

mente para criatividade e ajuda a educar as crianças a respeito do caráter.

Cada criança tem seu estilo particular de aprendizagem em umas áreas mais

fortes em outras mais fracas. Algumas aprendem melhor com o material que

lhes é apresentado visualmente ou demonstrativamente.

Dando mais ênfase ao aprendizado do que à aquisição de

informações, criando um clima de abertura e animação o professor ensinará a

criança a amar o processo de dominar o conhecimento sobre coisas novas. O

sucesso é um motivador poderoso; a criança que aprende pela experiência

conhece o prazer de entender uma coisa, ela nunca será carente de

motivação.

A ludicidade é uma necessidade do ser humano em qualquer idade e

não pode ser vista apenas como diversão. O desenvolvimento do aspecto

lúdico facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, sócio cultural,

colabora para uma boa saúde mental, prepara para um estado interior fértil,

facilita os processos de socialização, comunicação, expressão e construção do

conhecimento.

A ludicidade é um assunto que tem conquistado espaço no panorama

nacional, principalmente na educação infantil, por ser o brinquedo a essência

da infância e seu uso permiti um trabalho pedagógico que possibilita a

produção do conhecimento. A palavra lúdico significa brincar e vem do latim

ludus e neste brincar estão incluídos os jogos, brinquedos e divertimentos e é

relativa também à conduta daquele que joga,que brinca e se diverte.

Os elementos do jogo, como o conjunto de regras, a competição, o

tempo e o espaço em que ele ocorre, colocam a criança em situações de

adaptação e readaptação, que provocam diferentes atitudes comportamentais

e, conseqüentemente, exigem que ela esteja constantemente desempenhando

seu papel social de criança.

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59Desta forma, o jogo não representa apenas as experiências vividas,

mas prepara o indivíduo para o que está por vir, pois, exercita habilidades e,

principalmente, estimula o convívio social. Por tudo isso, ressalta o grande

valor educativo do jogo e a importância de se trabalhar esse conteúdo nas

escolas, de forma comprometida com a formação física, intelectual, moral e

social do aluno. O jogo e a brincadeira são reconhecidos como meios de

fornecer à criança um ambiente agradável, motivador, planejado e enriquecido,

que possibilita a aprendizagem de várias habilidades, sem que os mesmos

percebam. A aprendizagem é o processo de modificação da conduta por

treinamento e experiência, variando da simples aquisição de hábitos à técnicas

mais complexas.

Pode-se perceber a importância dos jogos e brincadeiras infantis para

o desenvolvimento intelectual e social da criança, mas faz-se necessário

também associar os mecanismos da aprendizagem com a integridade do

sistema nervoso. Crianças com algum tipo de problema neurológico ou motor

necessitam de materiais especialmente criados, para auxiliá-las nas atividades

pedagógicas. O jogo, em seu sentido integral, é o mais eficiente meio

estimulador das inteligências. O espaço do jogo permite que a criança (e até

mesmo o adulto) realize tudo quanto deseja. Quando entretido em um jogo, o

indivíduo é quem quer ser, ordena o que quer ordenar, decide sem restrições.

Graças a ele, pode obter a satisfação simbólica do desejo de ser grande, do

anseio em ser livre. Socialmente, o jogo impõe o controle dos impulsos, a

aceitação das regras mas sem que se aliene a elas, posto que são as mesmas

estabelecidas pelos que jogam e não impostas por qualquer estrutura

alienante. Brincando com sua espacialidade, a criança se envolve na fantasia e

constrói um atalho entre o mundo inconsciente, onde desejaria viver, e o

mundo real, onde precisa conviver.

Para Huizinga (apud ANTUNES, 1998) o jogo não é uma tarefa

imposta, não se liga a interesses materiais imediatos, mas absorve a criança,

estabelece limites próprios de tempo e de espaço, cria a ordem e equilibra

ritmo com harmonia.

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60Existem expressivas diferenças entre os jogos para crianças não

alfabetizadas e crianças que se alfabetizaram. Para as primeiras, os jogos

devem ser vistos como leituras da realidade e como ferramenta de

compreensão de relações entre elementos significantes (palavras, fotos,

desenhos, cores etc.) e seus significados (objetos). Nessas relações, Piaget

(apud ANTUNES, 1998) destaca quatro etapas que, em todos os jogos, podem

ser claramente delineadas: os índices, relações significantes estreitamente

ligadas aos significados (é o caso de uma pegada de um animal indicando sua

passagem pelo local); os sinas, relações indicadoras de etapas e marcações

dos jogos (como é o caso do apito ou dos sinais de início, término ou etapas),

os símbolos, relações já mais distantes entre os significante e o significado

(fotos, desenhos, esquemas) e, finalmente, os signos, elementos significantes

inteiramente independentes dos objetos (como as palavras e os números).

Utilizando essas etapas, a seleção dos jogos que eventualmente se empregará

deverá evoluir de jogos estimuladores de índices aos estimuladores de

signos,e, desta forma, jogos que estimulam o tato, a audição, o paladar

(índices) devem preceder aos que estimulam ou se apóiam em sinalizações e

após estes tornam-se inteiramente válidos os que levam à descoberta de

símbolos (pesquisar revistas, recortar, colar, desenhar, dramatizar) e após, os

que exploram símbolos e que já pressupõem a compreensão de letras e

desenhos de objetos correspondentes às palavras.

Pensando em crianças, desde a vida pré-natal até a adolescência,

convictos de que o desenvolvimento da inteligência humana não termina nessa

faixa etária, ao contrário, cresce por toda vida, principalmente para as pessoas

que acreditam no poder de seu cérebro e sabem construir suas próprias

motivações. O desenvolvimento das inteligências se processa de maneira mais

acentuada quando premiadas pela oportunidade de estímulos. Essa afirmação,

entretanto, precisa ser vista nos limites da coerência. Antunes (1998, p.17)

Uma criança que não brinca não se constitui de maneira saudável, tem

prejuízos no desenvolvimento motor e sócio/afetivo. Possivelmente tornar-se-á

apática diante de situações que proporcionam o raciocínio lógico, a interação,

a atenção.

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61"Brincar é parte integrante da vida social e é um processo interpretativo

com uma textura complexa, onde fazer realidade requer negociações do

significado, conduzidas pelo corpo e pela linguagem". Ferreira (2003, p. 84)

3.1 – Ação e significado do brinquedo

É enorme a influência do brinquedo no desenvolvimento de uma

criança. Para uma criança com menos de três anos de idade é essencialmente

impossível envolver-se numa situação imaginária, uma vez que isso seria uma

forma nova de comportamento que liberaria a criança das restrições impostas

pelo ambiente imediato. O comportamento de uma criança muito pequena é

determinado, de maneira considerável. E o de um bebê, de maneira absoluta.

É no brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera cognitiva, ao

invés de numa esfera visual externa, dependendo das motivações e

tendências internas, e não dos incentivos fornecidos pelos objetos externos.

Os objetos têm uma tal força motivadora inerente, no que diz respeito às ações

de uma criança muito pequena, e determinam tão extensivamente o

comportamento da criança.

Segundo Vygotsky (1988) a criança vê um objeto, mas age de maneira

diferente em relação àquilo que vê. Assim, é alcançada uma condição em que

a criança começa a agir independentemente daquilo que ela vê. Na idade pré-

escolar ocorre, pela primeira vez, uma divergência entre os campos do

significado e da visão. No brinquedo, o pensamento está separado dos objetos

e a ação surge das idéias e não das coisas. A ação regida por regras começa

a ser determinada pelas idéias e não pelos objetos.

A criança não consegue, ainda, separar o pensamento do objeto real.

A debilidade da criança está no fato de que, para imaginar um cavalo, ela

precisa definir a sua ação usando um cavalo-de-pau como pivô. Para a

criança, o objeto é dominante na razão objeto/significado e o significado

subordina-se a ele. No momento crucial em que, por exemplo, um cabo de

vassoura torna-se pivô da separação do significado cavalo do cavalo real, essa

razão se inverte e o significado passa a predominar, resultando na razão

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62significado/objeto. Um símbolo é um signo, mas o cabo de vassoura não

funciona como signo de um cavalo para criança, a qual seu significado. No

brinquedo, o significado torna-se o ponto central e os objetos são deslocados

de uma posição dominante para uma posição subordinada. No brinquedo, a

criança opera com significados desligados dos objetos e ações aos quais estão

habitualmente vinculados; entretanto, uma contradição muito interessante

surge, uma vez que, no brinquedo, ela inclui, também, ações reais e objetos

reais. Isto caracteriza a natureza de transição da atividade do brinquedo: é um

estágio entre as restrições puramente situacionais da primeira infância e o

pensamento adulto, que pode ser totalmente desvinculado de situações reais.

A criação de uma situação imaginária é a primeira manifestação da

emancipação da criança em relação às restrições situacionais. O brinquedo

cria na criança uma nova forma de desejos. Ensina-a a desejar, relacionando

seus desejos a um eu fictício, ao seu papel no jogo e suas regras. Dessa

maneira, as maiores aquisições de uma criança são conseguidas no

brinquedo, aquisições que no futuro tornar-se-ão seu nível básico de ação real

e moralidade (VYGOTSKY, 1988).

3.2 – Papel do professor

Cientes da importância dos jogos e das brincadeiras na Educação

Infantil, o professor deve elaborar propostas de trabalho que incorporem as

atividades lúdicas. Com brincadeiras e jogos o espaço escolar pode-se

transformar em um espaço agradável, prazeroso, de forma a permitir que o

educador alcance sucesso em sala de aula.

Os jogos e brincadeiras infantis não devem ser vistos pelo professor

somente como entretenimento, mas como atividades que possibilitam a

aprendizagem de várias habilidades, pois são recursos capazes de contribuir

para o desenvolvimento das funções cognitivas da criança. No processo da

educação infantil o papel do professor é de suma importância, pois é ele quem

cria os espaços, disponibiliza materiais, participa das brincadeiras, ou seja, faz

a mediação da construção do conhecimento. A desvalorização do movimento

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63natural e espontâneo da criança em favor do conhecimento estruturado e

formalizado, ignora as dimensões educativas da brincadeira e do jogo como

forma rica e poderosa de estimular a atividade construtiva da criança. É

urgente e necessário que o professor procure ampliar cada vez mais as

vivências da criança com o ambiente físico, com brinquedos, brincadeiras e

com outras crianças. O jogo, compreendido sob a ótica do brinquedo e da

criatividade, deverá encontrar maior espaço para ser entendido como

educação, na medida em que os professores compreenderem melhor toda sua

capacidade potencial de construir para com o desenvolvimento da criança.

NEGRINE (1994:20), em estudos realizados sobre aprendizagem e

desenvolvimento infantil, afirma que “quando a criança chega à escola, traz

consigo toda uma pré-história, construída a partir das suas vivências, grande

parte delas através da atividade lúdica”. Segundo esse autor, é fundamental

que os professores tenham conhecimento do saber que a criança construiu na

interação com o ambiente familiar e sociocultural, para formular sua proposta

pedagógica.

Entendemos, a partir dos princípios aqui expostos, que o professor

deverá contemplar a brincadeira como princípio norteador das atividades

didático-pedagógicas, possibilitando às manifestações corporais encontrarem

significado pela ludicidade presente na relação que as crianças mantêm com o

mundo. A criação de espaços e tempos para os jogos e brincadeiras é uma

das tarefas mais importantes do professor, principalmente na escola de

educação infantil. Cabe a ele organizar os espaços de modo a permitir as

diferentes formas de brincadeiras, de forma, por exemplo, que as crianças que

estejam realizando um jogo mais sedentário não sejam atrapalhadas por

aquelas que realizam uma atividade que exige mais mobilidade e expansão de

movimentos, ou seja, observando e respeitando as diferenças de cada um.

O professor precisa estar atento à idade e às capacidades de seus

alunos para selecionar e deixar à disposição materiais adequados. O material

deve ser suficiente tanto quanto à quantidade, como pela diversidade, pelo

interesse que despertam pelo material de que são feitos. Lembrando sempre

da importância de respeitar e propiciar elementos que favoreçam a criatividade

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64das crianças. Uma observação atenta pode indicar o professor que sua

participação seria interessante para enriquecer a atividade desenvolvida,

introduzindo novos personagens ou novas situações que tornem o jogo mais

rico e interessante para as crianças, aumentando suas possibilidades de

aprendizagem. Não há necessidade de o jogo ser espontâneo, idealizado pela

criança. O que faz do jogo um jogo é a liberdade de ação física e mental da

criança nessa atividade.

Para que um professor introduza jogos no dia-a-dia de sua classe ou

planeje atividades lúdicas, é preciso, que ele acredite que brincar é essencial

na aquisição de conhecimentos, no desenvolvimento da sociabilidade e na

construção da identidade.

O professor pode assumir três funções diferenciadas, conforme o

desenrolar da brincadeira:

1) Função de observador, na qual o professor procura intervir o mínimo

possível, de maneira a garantir a segurança e o direito à livre manifestação de

todos;

2) Função de catalisador (perceber), procurando, através da

observação, descobrir as necessidades e os desejos implícitos na brincadeira,

para poder enriquecer o desenrolar de tal atividade;

3) Função de participante ativo nas brincadeiras, quando como um

mediador das relações que se estabelecem e das situações surgidas.

Dessa forma, percebe-se a importância do professor em se fazer

presente não apenas no ato de repassar o conteúdo para o aluno, mas

também estar atento à absorção dos conteúdos repassados aos alunos,

buscando perceber o que eles estão ou não incorporando, e nesse sentido,

procurando introduzir entre as várias opções de jogos os mais adequados ao

estímulo da aprendizagem do aluno e conseqüentemente do seu

desenvolvimento para que possa obter melhores resultados.

O professor possui o papel de mediador de conhecimentos a serem

adquiridos pelos seus alunos; através da colaboração de um indivíduo mais

experiente a criança pode construir e ampliar conceitos, os quais ela não teria

condições de realizar sozinha naquele momento de seu desenvolvimento.

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65O professor como mediador do conhecimento, tem a função de

proporcionar na criança através dos jogos educativos, o estímulo do despertar

para o conhecimento através da brincadeira, permitindo assim, a ação e a

compreensão das diversas atividades vivenciadas. O educador deve assumir

que é sua responsabilidade garantir o tempo e o espaço para o brincar. Brincar

tem hora sim, e inserir essa temporalidade é dever do adulto. A rotina diária

não é neutra e o modo como a tempo é ocupado na sala de aula diz muito

sobre as concepções de ensino, aprendizagem, aluno, professor e

conhecimento.

Também é incumbência do educador lúdico a adequada seleção de

atividades, pois esse gesto evoca a intencionalidade de seu fazer pedagógico.

Os critérios para a seleção vão desde os objetivos que o professor tem em

mente para a realização daquela atividade – objetivos esses que nunca devem

ser impermeáveis ao inesperado que surge quando se trata de jogos -, até sua

adequação espacial e temporal.

Sendo assim, entende-se a necessidade de o educador manter um

papel ativo no desenvolvimento das aprendizagens a serem repassadas para

os seus alunos, procurando estar sempre intermediando as ações dos alunos,

incentivando, orientando, organizando situações de aprendizagem e

adequando-as à realidade dos alunos.

Para concluir é oportuno transcrever o pensamento de um dos grandes

poetas brasileiros:

Brincar não é perder tempo, é ganhá-lo. É triste ter meninos sem

escola, mas mais triste é vê-los enfileirados em salas sem ar, com exercícios

estéreis, sem valor para a formação humana. (CARLOS DRUMMOND DE

ANDRADE)

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66

3.3 – As visões de alguns autores.

3.3.1 – O jogo na concepção de Piaget

Para Piaget (1978), a origem das manifestações lúdicas acompanha o

desenvolvimento da inteligência vinculando-se aos estágios do

desenvolvimento cognitivo. Cada etapa do desenvolvimento está relacionada a

um tipo de atividade lúdica que se sucede da mesma maneira para todos os

indivíduos. Outro conceito essencial da teoria sobre o jogo é a relação deste

com o processo de adaptação, que implica dois processos complementares: a

assimilação e a acomodação.

A assimilação se caracteriza como o processo pelo qual a criança,

quando se depara com determinados problemas do mundo externo, utiliza,

para resolvê-los, estruturas mentais já existentes.

A acomodação é o processo pelo qual a criança, quando se depara

com o problema e não consegue resolver com as estruturas existentes,

modifica-as. Para Piaget, as crianças adaptam-se ao ambiente, através do

processo de equilibração. Este conceito piagetiano se evidencia na atividade

lúdica infantil à medida que as crianças, ao jogarem, assimilam novas

informações e acomodam-nas às suas estruturas mentais.

Piaget (1978), identifica três grandes tipos de estruturas mentais que

surgem sucessivamente na evolução do brincar infantil: o exercício, o símbolo

e a regra. O jogo de exercício, representa a forma inicial do jogo na criança e

caracteriza o período sensório-motor do desenvolvimento cognitivo. Manifesta-

se na faixa etária de zero a dois anos e acompanha o ser humano durante toda

a sua existência, da infância à idade adulta. O jogo de exercício não supõe o

pensamento nem qualquer estrutura representativa especificamente lúdica.

De acordo com Piaget (1978), o jogo simbólico tem início com o

aparecimento da função simbólica, no final do segundo ano de vida, quando a

criança entra na etapa pré-operatória do desenvolvimento cognitivo. Um dos

marcos da função simbólica é a habilidade de estabelecer a diferença entre

alguma coisa usada como símbolo e o que ela representa, seu significado.

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67Sendo assim, concebendo a estrutura do símbolo como instrumento de

assimilação lúdica, Piaget observa que durante o desenvolvimento da criança,

surgem novos e diversos símbolos lúdicos que determinam à evolução do jogo

simbólico. Para Piaget (1978), o jogo de regras constitui-se os jogos do ser

socializado e se manifestam quando, por volta dos 4 anos, acontece um

declínio nos jogos simbólicos e a criança começa a se interessar pelas regras.

Não se identifica nos jogos de regras segundo Piaget (1978) o

processo de involução. Estes, se desenvolvem e se mantém por toda a vida,

como é o caso dos esportes, cartas e outros. Neste sentido, para o autor

supracitado, o jogo de regras apresenta um equilíbrio entre a assimilação ao

eu e a vida social, marcando a passagem do jogo infantil para o jogo adulto. As

regras conferem legitimidade ao jogo, inserindo, na competição, uma disciplina

coletiva e uma moral de honra. Portanto, Piaget (1978) forneceu uma

percepção sobre as crianças que serve como base de muitas linhas

educacionais atuais. Piaget acredita que o jogo é essencial na vida da criança,

constitui-se em expressão e condição para o desenvolvimento infantil, já que

as crianças quando jogam assimilam e podem transformar a realidade ele diz

que a atividade lúdica, é o berço obrigatório das atividades intelectuais da

criança, sendo, por isso, indispensável à prática educativa.

É possível estabelecer, frente ao desenvolvimento proposto por Piaget

(1978), as condutas, ações e, conseqüentemente, os tipos de brinquedos e

jogos para a aprendizagem e o desenvolvimento infantil.

CONDUTAS COGNITIVAS

CONDUTAS COGNITIVAS AÇÕES

1. Conduta Sensório-motora - repetição

- reconhecimento sensório-motor

- generalização sensório-motora

- raciocínio prático

2. Conduta Simbólica - evocação simbólica

- ligações imagens/palavras

- expressão verbal

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68- pensamento representativo

3. Conduta Intuitiva - triagem

- pareamento

- discriminação de cores

- discriminação de tamanhos

- discriminação de formas

- discriminação de texturas

- discriminação temporal

- discriminação espacial

- associação de idéias

- raciocínio intuitivo

4. Conduta Operatória Concreta - classificação

- seriação

- correspondência de agrupamentos

- relação imagens/palavras

- enumeração

- operação numérica

- conservação de quantidades físicas

- relações espaciais

- relações temporais

- coordenadas simples

- raciocínio concreto

5. Conduta Operatória Formal - raciocínio hipotético

- raciocínio dedutivo

- raciocínio indutivo

- raciocínio combinatório

- sistema representações complexas

- sistemas de coordenadas

complexas

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69PERÍODO SENSÓRIO-MOTOR

+ / - 1 aos 4 meses - móbiles

- varais de berço

+/- 4 aos 8 meses - chocalhos

- brinquedos

-bonecos de plástico e de borracha,

que façam sons e sejam coloridos.

- mordedor

- rolos

- brinquedos com cordas que, ao

serem puxadas, mexem braços e

pernas.

+/- 8 aos 12 meses - cubos, potes para encaixe.

- bichos plásticos perfumados

- cubos de espumas coloridos e com

desenhos

+/- 12 meses aos 18 meses - brinquedos que possibilitem à

criança procurar, apertar e repetir

ações para alcançar um objetivo

(intencionalidade).

- brinquedos de puxar

- caixas para pôr e tirar objetos

- carrinhos, caminhões grandes

(puxar, empurrar).

+/- 18 meses aos 24 meses - brinquedos sonoros

- brinquedos com encaixe de formas:

cubos etc.

- bate-estacas

- torres de encaixe

- livros (panos ou plastificados).

- triciclo

- bichos de pelúcia

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70PERÍODO OPERATÓRIO CONCRETO

+/- 2 aos 7 anos - livros

- baldes, pás, etc. (areia, terra).

- quebra cabeças (que vão dos

encaixes mais simples aos mais

complexos)

- bichos de pelúcia

- jogos de encaixe

- fazendinhas

- zoológico

- telefone

- blocos de construção

- bancadas

- pranchas de encaixes (saúde,

higiene etc.).

- trenzinho

- lotos

-tinta guache

- massinha

Panelinhas, xícaras etc.

- roscas

- completar peças (análise e síntese)

- água

- lousa, giz

- cidades (prédios, árvores etc.).

- casa de bonecas

- boliche

- fantoches

- ábaco

-dominós

- bonecas

- bicicletas

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71- tiro ao alvo (acertar bolinhas em

espaços vazados)

- trabalho com texturas

- trabalhos com atividades de abotoar,

zíper, dar laços etc.

- bolas

- jogo com seqüência de figuras

- fantasias

- jogos com conceitos temporais

- contas

- memória

- pescaria

- jogo número/numerais

- jogos com letras

- pinos mágicos

- balanças

- pinos coloridos.

- costura

- relógio

- jogos de percepção visual (lince-olho

vivo)

- blocos lógicos

+/- 7 aos 12 anos - pescaria

- fantoches

- classificação

- costura

- massinha

-balança

- mosaicos

- seqüência temporal

- lotos

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72- blocos para montagem

- jogo da velha

- bingo

-peteca

- jogos-exercícios com palitos de

dente, sorvete ou fósforos.

- loto com letras para formar palavras

- quebra-gelos

- cuboteca

- lousa mágica

Quebra-cabeças

- memória

- dominó

- jogos de silabação e soletração

- números e letras plásticas –

imantadas

- do A ao Z

- costura

- calendário

- cubos/material para frações

- tear

- jogo da forca (passa letra)

- jogos de socialização

- conhecendo o Brasil

3.3.2 – O jogo na concepção de Vygotsky

Vygostky (1999), estabelece uma relação estreita entre o jogo e a

aprendizagem, atribuindo-lhe uma grande importância. A sua principal teoria do

desenvolvimento cognitivo é que o desenvolvimento cognitivo resulta da

interação entre a criança e as pessoas com quem mantém contato regular.

Convém lembrar também que o principal conceito da teoria de Vygotsky é o de

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73zona de desenvolvimento proximal, que ele define como a diferença entre o

desenvolvimento atual da criança e o nível que atinge quando resolve

problemas com auxílio, o que leva à conseqüência de que as crianças podem

fazer mais do que conseguiriam fazer por si só.

Conforme Vygotsky (1999), não é todo jogo da criança que possibilita a

criação de uma zona de desenvolvimento proximal, do mesmo modo que nem

todo o ensino o consegue; porém, no jogo simbólico, normalmente, as

condições para que ela se estabeleça estão presentes, haja vista que nesse

jogo estão presentes uma situação imaginária e a sujeição a certas regras de

conduta. Sendo assim, o autor supramencionado, afirma que as regras são

partes integrantes do jogo simbólico, embora, não tenham o caráter de

antecipação e sistematização como nos jogos habitualmente regrados. Ao

desenvolver um jogo simbólico a criança ensaia comportamentos e papéis,

projeta-se em atividades dos adultos, ensaia atitudes, valores, hábitos e

situações para os quais não está preparada na vida real.

Vygotsky (1999), também detecta no jogo outro elemento a que atribui

grande importância: o papel da imaginação que coloca em estreita relação com

a atividade criadora. Ele afirma que os processos de criação são observáveis

principalmente nos jogos da criança, porque no jogo ela representa e produz

muito mais do que aquilo que viu.

Na visão sócio-histórica de Vygotsky (1999), a brincadeira, o jogo, é

uma atividade específica da infância, em que a criança recria a realidade

usando sistemas simbólicos. Essa é uma atividade social, com contexto

cultural e social. A noção de zona proximal de desenvolvimento interliga-se,

portanto, de maneira muito forte, à sensibilidade do professor em relação às

necessidades e capacidades da criança e à sua aptidão para utilizar as

contingências do meio a fim de dar-lhe a possibilidade de passar do que sabe

fazer para o que não sabe. Assim sendo, as brincadeiras que são oferecidas à

criança devem estar de acordo com a zona de desenvolvimento em que ela se

encontra, desta forma, pode-se perceber a importância do professor conhecer

a teoria de Vygotsky.

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74Vygotsky diferentemente de Piaget, considera que o desenvolvimento

ocorre ao longo da vida e que as funções psicológicas superiores são

construídas ao longo dela. Ela não estabelece fases para explicar o

desenvolvimento como Piaget e para ele o sujeito não é ativo nem passivo: é

interativo.

Segundo ele a criança usa as interações sociais como formas

privilegiadas de acesso a informações; aprendem a regra do jogo, por

exemplo, através dos outros e não como o resultado de um engajamento

individual na solução de problemas. Desta maneira, aprende a regular seu

comportamento pelas reações, que elas pareçam agradáveis ou não.

3.3.3 – O jogo na concepção de Wallon

Wallon foi um estudioso que se dedicou ao psiquismo humano na

perspectiva genética, ou seja, ele defendeu a gênese da pessoa, na qual

justifica o seu interesse pela evolução psicológica da criança.

Segundo Ferreira (2003), a psicogenética Walloniana oferece

subsídios para reflexão sobre as práticas pedagógicas. Ele considera que não

é possível selecionar um único aspecto do ser humano e perceber o

desenvolvimento nos vários campos funcionais nos quais se distribuem a

atividade infantil (afetivo, motor e cognitivo). Pois o estudo do desenvolvimento

humano deve considerar o sujeito como geneticamente social e estudar a

criança contextualizada, nas relações com o meio. Para Ferreira (2003),

partindo desse pressuposto, podemos dizer que a infância é um momento real

e distinto de todos os outros, por isso mesmo, deve ser considerado de acordo

com as suas peculiaridades. É neste período que expressamos nossos

sentimentos, nossa criatividade da forma mais espontânea possível quando as

atividades lúdicas são predominantes. Sabemos que é através das

brincadeiras que as crianças estabelecem relação com o meio, interagem com

o outro, para construir a própria identidade e desenvolver sua autonomia.

Segundo Espíndola (2002), em sua teoria Wallon mostra que é através

da imitação que a criança vive o processo de desenvolvimento que é seguido

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75por fases distintas, no entanto, é a quantidade de atividades lúdicas que

proporcionarão o progresso, e diante do resultado, temos a impressão que a

criança internalizou por completo o aprendizado, mas, ela só comprova seu

progresso através dos detalhes.

Wallon (1981), compreende que as etapas do desenvolvimento

evidenciam atividades em que as crianças buscam tirar proveito de tudo. Os

jogos comprovam as múltiplas experiências vividas pelas crianças, como:

memorização, enumeração, socialização, articulação, sensoriais, entre outras.

Debruçando-se nas idéias de Wallon, percebe-se que os jogos para a

criança são progressão funcional, já para o adulto é regressão, "porque o que

existe é a desintegração global da sua atividade face ao real" Wallon (1981,

p.79). Ou seja, para o adulto acontece o contrário, pois ao longo da vida o

homem se aborrece por ser criança e quer o mais rápido possível se desligar

completamente das atividades lúdicas, aproximando-se de atividades como o

trabalho. Posteriormente deseja ser criança outra vez, então relaxa quando

está ao lado de uma criança, se permitindo realizar atividades sem

compromisso.

Percebe-se que sua concepção diz que, o lúdico e infância não podem

ser dissociados, toda atividade da criança deve ser espontânea, livre de

qualquer repressão, antes de tornar-se subordinada a projetos de ações mais

extensas e transformadas. Portanto, o jogo é uma ação voluntária, caso

contrário, não é jogo, mas sim trabalho ou ensino.

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76

CONCLUSÃO

Ao longo da pesquisa foi discutido, da parte neural do movimento até a

importância deles para o desenvolvimento da criança, falou-se em sistema

motor, unidade de comando, movimentos reflexos, controle dos movimentos,

motricidade, esquema corporal, psicomotricidade, distúrbios psicomotores,

jogos, brincadeiras, papel do professor.

Os avanços e descobertas na área da neurociência ligada ao processo

de aprendizagem é sem duvida, uma revolução para o meio educacional. A

Neurociência em termos gerais, é o estudo de como o cérebro aprende, é o

entendimento de como as redes neurais são estabelecidas no momento da

aprendizagem, bem como de que maneira os estímulos chegam ao cérebro, da

forma como as memórias se consolidam, e de como temos acesso a essas

informações armazenadas. É nosso cérebro que descreve os mecanismos que

utilizados para promover os segmentos do nosso corpo e manter a postura.

Quando falamos em movimentos e aprendizagem, estamos falando em

processos neurais, redes que se estabelecem, neurônios que se ligam e fazem

novas sinapses.

Neurociência é uma ciência em constante evolução que muda a cada

instante, por isso estamos longe de apresentar idéias conclusivas sobre esse

assunto.

Ao finalizarmos este trabalho e resgatarmos nossos objetivos de

ampliar os estudos sobre psicomotricidade, bem como sobre a importância das

contribuições do psicopedagogo para o desenvolvimento psicomotor da

criança, podemos afirmar que a psicomotricidade se constitui em um tema de

estudo altamente relevante. Isto se deve especialmente ao considerar que a

criança se desenvolve a medida que interage com seu corpo, com os objetos

de seu meio e com as pessoas ao seu redor.

A educação psicomotora também pode ser utilizada em caráter

preventivo, assim os possíveis fatores que influenciariam as dificuldades de

aprendizagem decorrentes dos distúrbios psicomotores poderiam ser

prevenidos, isto é, evitados.

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77Brincando a criança expressa as emoções, sentimentos, pensamentos,

desejos e suas necessidades. No ato de brincar, os sinais, os gestos, os

objetos e os espaços valem e significam outra coisa daquilo que aparentam

ser. Ao brincar as crianças criam e recriam e reorganizam os acontecimentos

que lhes deram origem, sabendo que estão brincando.

A valorização do professor pelo caráter lúdico e educativo dos jogos e

brincadeiras na educação infantil tornará o espaço de sala de aula, um espaço

adequado ao desenvolvimento da criança, assim como, o aprendizado dos

conhecimentos escolares.

Durante o curso de pedagogia estudando teóricos como Piaget,

Vygotsky, Wallon e outros, é que considero necessário que cada vez mais se

exija a qualificação de profissionais principalmente na área da educação

infantil. Educadores realmente comprometidos com uma educação de

qualidade e transformadora para que as crianças de hoje se tornem cidadãos

críticos de amanhã.

Todo o referencial teórico aqui abordado vem de encontro à minha

própria necessidade e incorporá-lo, em mim mesma, para o exercício do meu

trabalho.

Diante destas considerações espero ter contribuído com a ampliação

dos estudos sobre o desenvolvimento das estruturas motoras, psicológicas e

cognitivas das crianças.

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81

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

NEUROCIÊNCIA 11

1.1 – Neurociência dos movimentos 13

1.1.1 – Sistema motor 13

1.1.2 – As áreas motoras do córtex cerebral e suas funções 15

1.1.3 – Os músculos 15

1.1.4 – Os músculos sob comando neural 17

1.1.5 – A unidade de comando 19

1.1.6 – As vias descendentes de comando 21

1.1.7 – Os movimentos reflexos 23

1.1.8 – O controle dos movimentos 25

1.1.9 – Controle dos movimentos de precisão e da fala 27

1.1.10 – Lesões musculares 30

CAPÍTULO II

MOTRICIDADE E PSICOMOTRICIDADE 32

2.1 – Motricidade 32

2.1.1 – Elementos básicos da motricidade 33

2.1.2 – Conceitos de esquema corporal 36

2.1.2.1 – Etapas do esquema corporal 38

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822.2 – Psicomotricidade 40

2.2.1 – Educação Psicomotora na escola 43

2.2.2 – A importância da psicomotricidade no processo de aprendizagem 45

2.2.3 – Dificuldades de aprendizagem decorrente dos distúrbios

psicomotores 49

CAPÍTULO III

O JOGO E A BRINCADEIRA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 56

3.1 – Ação e significado do brinquedo 61

3.2 – Papel do professor 62

3.3 – As visões de alguns autores 66

3.3.1 – O jogo na concepção de Piaget 66

3.3.2 – O jogo na concepção de Vygotsky 72

3.3.3 – O jogo na concepção de Wallon 74

CONCLUSÃO 76

BIBLIOGRAFIA 78

ÍNDICE 81