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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A INFLUÊNCIA DO VÍNCULO AFETIVO E DA AUTO-ESTIMA NA APRENDIZAGEM Por: Lucilene de Oliveira Lopes Tarouquella Rodrigues Orientador Prof. Geni Lima Rio de Janeiro 2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A INFLUÊNCIA DO VÍNCULO AFETIVO E DA AUTO-ESTIMA NA

APRENDIZAGEM

Por: Lucilene de Oliveira Lopes Tarouquella Rodrigues

Orientador

Prof. Geni Lima

Rio de Janeiro

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A INFLUÊNCIA DO VÍNCULO AFETIVO E DA AUTO-ESTIMA NA

APRENDIZAGEM

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Psicopedagogia

Institucional.

Por Lucilene de Oliveira Lopes Tarouquella

Rodrigues.

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AGRADECIMENTOS

Cada ação nossa está sempre

marcada por vivências e sentimentos

expressos por meio de emoções. Ao

olhar para este trabalho, sinto-me feliz

ao reconhecer nele a contribuição de

tantas pessoas queridas. Escrevê-lo foi

um exercício de solidão, impregnada

de alegria. Uma solidão acompanhada

de muita gente, o tempo todo ao meu

lado. A importância de cada uma me

fez comprovar que a afetividade é

mesmo a energia que move nossas

ações. Portanto não vai ser difícil, em

poucas palavras, agradecer, pois

encontrei uma, que expressa tudo:

GRATIDÃO, no seu mais puro

significado.

Aos meus filhos, Vinícius, Victor e

Wagner, presentes de DEUS em minha

vida, os quais amo

incondicionalmente. Meus

companheiros de todas as horas, que

estiveram presentes em toda a minha

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trajetória acadêmica. Meu eterno

agradecimento por terem tantas

renúncias em família, para focalizar a

busca pela especialização .

Ao meu querido e amado marido Jorge

Alex, que me impulsionou a caminhar

com os meus próprios pés, buscando a

realização dos meus ideais.

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DEDICATÓRIA

Dedico a todos que acreditaram em mim,

em meu potencial, nas minhas ideias e

que sofreram comigo as angústias

próprias do meu momento. Ao meu

esposo, aos meus filhos pela minha

ausência durante a construção dos meus

conhecimentos acadêmicos. Aos meus

pais ( in memória ) pela vida e os valores

que carrego comigo. À mim pela força de

vontade e superação.

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RESUMO

Este trabalho fundamenta-se em apresentar as contribuições da relação

afetiva e da auto-estima para o processo de aprendizagem, compreendendo

como acontece a relação afetiva entre professor e aluno dos anos iniciais do

ensino fundamental.

A formação da auto-estima do aluno é um tema que vem sendo visto por

alguns profissionais da educação, como o caminho para a obtenção de bons

resultados escolares e consequentemente, na vida adulta destes alunos. A

priori são apontadas as estratégias mais utilizadas pela escola, na figura do

professor, como atitudes, que acredita, viáveis para resolução de problemas de

sala de aula. Segundo Wallon, durante a escolarização da criança pressupõe-

se que haverá varias interações, nas quais a afetividade está presente. A

escola deve proporcionar um espaço de reflexões sobre a vida do aluno como

um todo, contribuindo para o desenvolvimento de uma consciência critica e

transformadora, na qual esse processo não deveria dissociar-se da afetividade

e da auto-estima. Sendo que o professor é fundamental para a aprendizagem

dos alunos, tornando a afetividade um dos elementos que influenciam esse

processo. A afetividade é imprescindível para o desempenho educacional.

Como resultado pode-se dizer que a afetividade professor e aluno deve

estar voltada ao processo de ensino, pois o professor além de transmitir

informações ou fazer perguntas, ele também deve ouvir os alunos de forma a

entender suas carências e suas dificuldades. Nesse sentido, o professor deve

usar o diálogo, pois o diálogo pode ser uma fonte de riquezas e alegrias, é uma

arte a ser cultivada e ensinada para a formação de seus alunos como seres

pensantes e atuantes, capazes de construir o seu conhecimento. E finalizamos

esta pesquisa com a certeza de que a única arma capaz de quebrar as

barreiras e ranços que nos envolve é o amor, junto com ele vem o

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compromisso, o respeito, a necessidade de estudar sempre, de proporcionar

aulas mais participativas para que as crianças possam estar mais ocupadas de

forma que o aprendizado ocorra com tranquilidade.

Palavras-chave – Afetividade , aprendizagem, professor, aluno.

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METODOLOGIA

A pesquisa, por ser de caráter teórico, foi realizada fundamentalmente

através de análise de textos. Optei por uma maneira clássica de interpretação

de textos, que busca a ordem interna das razões levantadas pelo autor. Na

análise do texto, busca-se atingir as justificações que um autor dá de seu

próprio sistema (ordem das razões levantadas por ele).

Portanto, a metodologia adotada é a de interpretação do texto buscando

re-apreender, conforme a intenção do autor, a ordem das razões e sem jamais

separar as teses dos movimentos que as produziram.

No primeiro momento, atentei a estudar os textos de Jean Piaget, dada

a abrangência de sua obra. Pesquisei também autores como Henri Wallon,

Paulo Freire, Augusto Cury dentre outros, que possibilitassem uma maior

compreensão de sua tese. Busquei em cada leitura a essência de sua

concepção sobre a construção do conhecimento.

Há na pesquisa o propósito de verificar as influências da relação

professor-aluno, estabelecidas em sala de aula, para a construção de uma

aprendizagem significativa. As relações interpessoais estabelecidas com o

professor no cotidiano escolar podem incentivar ou desmotivar o aluno para o

aprendizado, prejudicando ou favorecendo a disposição do mesmo para

aprender significativamente e no cotidiano escolar, de que maneira essas

influências da relação professor-aluno podem contribuir para a construção de

uma aprendizagem significativa e afetiva.

Os livros analisados estão sistematicamente descritos nas referências.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 10

CAPÍTULO I – Afetividade segundo Jean Piaget 13

CAPÍTULO II – Afetividade segundo Henri Wallon 17

CAPÍTULO III - Afetividade na Relação Professor -

Aluno 22

CAPÍTULO IV – O Papel da Escola na Relação Professor – Aluno 29

CAPÍTULO V – Estratégias de integração das práticas pedagógicas à

afetividade. 34

CAPÍTULO VI – Objeto de estudo da Psicopedagogia 39

CONSIDERAÇÕES FINAIS 43

BIBLIOGRAFIA CITADA 45 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 48

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INTRODUÇÃO

“ Chega de fazer fórmulas e cultivar a inteligência;

devemos agora cultivar os sentimentos, pois o homem já

é suficientemente sábio, porém não é ainda

suficientemente bom”. ( Einstein )

Afetividade é: conjunto de fenômenos psíquicos que se manifestam sob

a forma de emoções, sentimentos e paixões, acompanhados sempre da

impressão de dor ou prazer, de satisfação ou insatisfação, de agrado ou

desagrado, de alegria ou tristeza. (AURÉLIO, 1984).

Sendo a afetividade essencial às relações humanas, vejo o educando

como um sujeito em fase de formação, com características peculiares e que

necessita de educação e cuidados que favoreça sua constituição como

indivíduo.

A afetividade está muito presente no processo de aprendizagem,

principalmente quando se trata de criança. Ela é facilitadora deste processo e

o professor um mediador.

No cotidiano escolar, as relações interpessoais observadas ao longo de

minha experiência, demonstram que a afetividade está sempre vinculada na

relação professor-aluno e no processo ensino aprendizagem. Isso deixa claro

que interfere no processo de ensinar e aprender. O mais importante é que o

professor tome consciência do papel da afetividade na aprendizagem , mesmo

que para isso, ele busque novas formas de se relacionar com seus alunos.

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Observei que algumas crianças que não acompanhavam o conteúdo e

atrapalhavam a aula, queriam muitas vezes uma palavra, ou um gesto que lhe

transmitisse atenção, pois a escola é uma complementação familiar, não

apenas um local para crescer cognitivamente ou um espaço de lazer, mas sim

um espaço de trocas e prazerosas.

Minha prática vem demostrando a relevância dessas observações,

onde posso identificar claramente a afetividade como o melhor caminho para a

construção de uma relação mais significativa. Para aceitar e respeitar o outro, é

preciso se auto aceitar e se auto respeitar. Para que isso aconteça, o ser

humano precisa ter constituído uma vivência emocional saudável ao longo de

sua vida.

Segundo Rossine,( 2001) as crianças que possuem uma boa relação

afetiva são seguras, têm interesse pelo mundo que as cerca, compreendem

melhor a realidade e apresentam melhor desenvolvimento intelectual.

Muitos educadores enfatizam que a afetividade está nas interações

sociais, influenciando no aspecto cognitivo de cada educando. Consideram que

as decisões relacionadas ao ensino têm várias implicações afetivas no

desenvolvimento do comportamento do aluno, impactando na sua

aprendizagem. Segundo Wallon, para construir a pessoa ou o conhecimento, o

aspecto afetivo é o foco principal, pois a atividade emocional é ao mesmo

tempo social e biológica.

Devido estas constatações observa-se a necessidade de atuação do

psicopedagogo no sentido de orientar o educador, ressaltando a importância do

relacionamento afetivo com o educando, pois este é um agente auxiliador neste

processo, levando-o a superar as suas dificuldades de aprendizagem e seu

comportamento.

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Nesse sentido, procurei embasamento teórico para explicar os

aspectos que fazem parte da afetividade e da auto-estima e como podem

contribuir para o desenvolvimento das crianças.

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CAPÍTULO I

AFETIVIDADE SEGUNDO JEAN PIAGET

Piaget,(1976, p. 13) diz que a afetividade não se restringe somente as

emoções e aos sentimentos, mas engloba também as tendências e a vontade.

Ele estabelece uma importante visão nas dimensões afetivas e cognitivas no

campo da ação moral. Segundo o teórico, toda a ação remete a um “fazer”, a

um “saber fazer” é a dimensão afetiva que corresponde ao “querer fazer”,

sendo assim, as dimensões cognitiva e afetiva, aparecem em seus postulados

teóricos como indissociáveis.

Para compreender o tema afetividade de forma ampla é necessário

entender a perspectiva de afetividade e a teoria de desenvolvimento cognitivo,

de acordo com Jean Piaget (1976, p. 16) o afeto é essencial para o

funcionamento da inteligência.

(...) vida afetiva e vida cognitiva são inseparáveis, embora

distintas. E são inseparáveis porque todo intercâmbio com

o meio pressupõe ao mesmo tempo estruturação e

valorização. Assim é que não se poderia raciocinar,

inclusive em matemática, sem vivenciar certos

sentimentos, e que, por outro lado, não existem afeições

sem um mínimo de compreensão.

Piaget atribui a todos os estágios de desenvolvimento da inteligência

funções, invariáveis e constantes, de assimilação e acomodação, chamando de

adaptação ao equilíbrio entre as assimilações e as acomodações. Ao lado das

funções, ele distingue as estruturas variáveis, que assumem formas diferentes

de acordo com o desenvolvimento intelectual, sendo definidas como as formas

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de organização da atividade mental, sob um duplo aspecto: motor ou

intelectual, de uma parte, e afetivo de outra, com suas duas dimensões

individual e social (interindividual) (Piaget, 1964; Ed. Br., 1972).

Apesar de entender que o desenvolvimento intelectual envolve sempre

os aspectos cognitivo e afetivo, Piaget considera a afetividade como um agente

motivador da atividade intelectual.

Segundo Piaget, afirmar que a inteligência e a afetividade são

indissociáveis pode envolver duas significações bastante diferentes: a) num

primeiro sentido, pode-se querer dizer, com essa afirmação, que a afetividade

intervém nas operações da inteligência, que ela as estimula ou as perturba,

que ela é causa de aceleração ou de atraso no desenvolvimento intelectual,

mas que ela não poderia modificar as estruturas da inteligência enquanto tais;

b) num segundo sentido, pode-se querer afirmar, ao contrário, que a afetividade

intervém nas estruturas da inteligência, que ela é fonte de conhecimento e de

operações cognitivas originais.

Segundo o autor supracitado ( 1976 ) defende a primeira interpretação,

afirmando que a afetividade desempenha um papel de fonte energética da qual

dependeria o funcionamento da inteligência, mas não suas estruturas. Para ele,

a afetividade não engendra, ela própria, estruturas cognitivas e nem modifica

as estruturas no funcionamento nas quais ela intervém. Estabelecendo uma

distinção entre funções cognitivas e funções afetivas, Piaget afirma que essas

duas funções têm natureza diferente, embora elas permaneçam indissociáveis

na conduta concreta do indivíduo. As funções cognitivas, para Piaget, vão da

percepção e das funções sensório-motoras até a inteligência abstrata, com as

operações formais, e as funções afetivas compreenderiam os sentimentos de

satisfação-insatisfação, sentimentos estéticos, a vontade, o interesse etc.

Piaget resume sua tese nas seguintes proposições: a) a afetividade

trabalha incessantemente no funcionamento do pensamento, mas não cria

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novas estruturas; b) pode-se dizer que a energética da conduta tem a ver com

a afetividade, enquanto as estruturas têm a ver com as funções cognitivas.

Segundo o autor, a distinção entre estrutura e energética mostra bem que

inteligência e afetividade são constantemente indissociáveis na conduta

concreta do indivíduo, embora devamos considerá-las como sendo de natureza

diferente .

Portanto, do ponto de vista piagetiano, é importante ressaltar que, se

não existe estrutura cognitiva sem energética, isto é, sem afetividade, e,

reciprocamente, se a toda nova estrutura deve corresponder uma nova forma

de regulação energética, a cada nível de conduta afetiva deve corresponder,

igualmente, um certo tipo de estrutura cognitiva. Todos nós temos experiência

de nos dedicarmos com mais empenho aos assuntos de que gostamos e que

nos são agradáveis. Outras vezes, pelos mais variados motivos, tomamos

tamanha aversão a certas matérias, as quais se tornam impossíveis de

aprender. São situações em que observamos como o afeto pode interferir na

nossa capacidade racional de agir. Piaget (1980) nos diz:

[...] a afetividade constitui a energética das condutas, cujo

aspecto cognitivo se refere apenas às estruturas. Não

existe, portanto, nenhuma conduta, por mais intelectual

que seja, que não comporte, na qualidade de móveis,

fatores afetivos; mas, reciprocamente, não poderia haver

estados afetivos sem a intervenção de percepções ou

compreensão, que constituem a estrutura cognitiva. A

conduta é, portanto, uma, mesmo que, reciprocamente,

esta não tome aquelas em consideração: os dois

aspectos afetivo e cognitivo são, ao mesmo tempo,

inseparáveis e irredutíveis.

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Piaget defende que não há comportamento afetivo sem vínculo

cognitivo ou vice-versa, há apenas uma diferença de natureza. O interesse,

para Piaget, é o elemento poderoso e comum de afetividade que, por sua vez,

influencia a seleção de atividades intelectuais, ou seja, a seleção não é

provocada pelas atividades cognitivas, mas pela afetividade.

Sua teoria, portanto, vem esclarecer e fortalecer mais ainda a relação

professor-aluno, caracterizada, positiva ou negativamente, pelas intenções

afetivas que por ela perpassam.

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CAPÍTULO II

AFETIVIDADE SEGUNDO HENRI WALLON

Para Henri Wallon, a evolução afetiva está intrinsecamente ligada ao

desenvolvimento cognitivo, visto que difere sobremaneira entre uma criança e

um adulto, supondo-se a partir disto que há uma incorporação de construções

de inteligência por ela, seguindo a tendência que possui para racionalizar-se.

Wallon (1994) explica que seu objetivo é compreender a formação do

individuo, sua teoria do desenvolvimento da personalidade se divide em duas

funções: a afetividade e a inteligência. O crescimento da inteligência esta

ligada a afetividade de tal forma que uma determinada relação interfere e pode

determinar o desenvolvimento da inteligência. Sendo assim a obra walloniana

diz que a afetividade e a inteligência são parceiros inseparáveis na evolução

psíquica, pois ambas ajudam no desenvolvimento das crianças. Wallon (1999

apud Almeida 1993, p.14) afirma um pouco mais explicito a teoria do

desenvolvimento da personalidade dentro da inteligência da criança que:

[...] em grande parte, é função do meio social. Para que

ela possa transportar o nível da experiência ou da

invenção imediata e concreta, tornam-se necessários os

instrumentos de origem social, como a linguagem e os

diferentes sistemas de símbolos surgidos desse meio.

Constituem seus objetivos a aquisição ou o

desenvolvimento de noção e de conhecimento existentes

fora do individuo e que representam o patrimônio do

grupo.

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A concepção dialética da construção do conhecimento, segundo Henri

Wallon (1962) coloca no mesmo grau de importância os aspectos motores,

afetivos, cognitivos, pessoais e sociais. “O homem é um ser biológico, é um ser

social e é uma e a mesma pessoa.” (Wallon, 1975, p. 128-129).

Segundo Wallon,(1994) desde as primeiras fases da infância, as

relações afetivas estabelecidas, tanto no meio familiar quanto no contexto

pedagógico, são determinantes na construção da identidade e do caráter da

criança. Sendo assim, a constituição da consciência se dá pela interferência do

meio social no meio orgânico. A estrutura orgânica se modifica na medida em

que sofre influências do ambiente e de todos os valores ali presentes, em um

processo contínuo, progressivo e recíproco. Os vários estágios de

desenvolvimento da criança, caracterizados por Wallon, desde o início da

infância, até a vida adulta, têm como característica central a predominância

alternada dos aspectos afetivos e cognitivos, numa construção progressiva e

complexa, tramada com as influências do contexto. Wallon denomina esse

processo de “princípio de alternância funcional”.

Por serem aspectos interdependentes no desenvolvimento humano, a

inteligência, a afetividade e a motricidade são consideradas como “campos

funcionais”, por meio dos quais se desenvolvem as atividades infantis. Nas

primeiras fases da infância são predominantes as reações afetivas primárias,

caracterizadas pelo contato físico, como por exemplo, o beijo e o abraço. Na

teoria de Wallon também se entrelaça a emoção que está presente dentro da

afetividade e da inteligência. Assim a emoção passa a ser um fator importante

da relação de convivência do indivíduo que se torna uma expressão própria da

afetividade. Como Dantas (1999 apud Almeida1993, p.74) afirma que “a

emoção estabelece, pois, as bases da inteligência; se identifica com o seu

desenvolvimento próximo, a afetividade, surge como condições para toda e

qualquer intervenção sobre aquela”.

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Para a formação do indivíduo com sua personalidade para o meio

social, Wallon distingue as emoções como ponto chave para o desenvolvimento

da criança e assim intercala também essas emoções dentro de sala de aula.

Wallon (1989) acredita que a afetividade não é apenas uma das dimensões da

pessoa, mas também uma fase do desenvolvimento, a mais arcaica. Segundo

ele, o ser humano foi, logo que saiu da vida puramente orgânica, um ser

afetivo. Da afetividade diferenciou-se, lentamente, a vida racional e, portanto,

no início da vida, afetividade e inteligência estão sincreticamente misturadas,

com predomínio da primeira. Desta forma, em sua teoria, o desenvolvimento da

pessoa é visto como uma construção progressiva em que fases se sucedem

com predominância alternadamente afetiva e cognitiva. Almeida (1999, p. 42)

ao mencionar Wallon diz que ele atribui à emoção como os sentimentos e

desejos, são manifestações da vida afetiva, um papel fundamental no processo

de desenvolvimento humano. Entende-se por emoção as formas corporais de

expressar o estado de espírito da pessoa, este estado afetivo pode ser penoso

ou agradável.

Henri Wallon traz a dimensão afetiva como ponto fundamental em sua

teoria psicogenética. "As emoções, assim como os sentimentos e os desejos,

são manifestações da vida afetiva”. Na linguagem comum costuma-se substituir

emoção por afetividade, tratando os termos como sinônimos. Todavia, não o

são. A afetividade é um conceito mais abrangente no qual se inserem várias

manifestações, Wallon. A afetividade, além de ser uma das dimensões da

pessoa, é uma das fases mais antigas do desenvolvimento, pois o homem logo

que deixou de ser puramente orgânico passou a ser afetivo e, da afetividade,

lentamente passou para a vida racional. Nesse sentido, a afetividade e

inteligência se misturam, havendo o predomínio da primeira e, mesmo havendo

logo uma diferenciação entre as duas haverá uma permanente reciprocidade

entre elas.

Para o mesmo autor,(1999) as emoções são a exteriorização da

afetividade; são as manifestações orgânicas possíveis de serem percebidas

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pelo outro social, aliás, esta é a sua característica específica, ou seja, vir

sempre acompanhada por alterações orgânicas, que adquirem valor

expressivo, através da função tônico-postural. É a emoção que estabelece o

vínculo entre a pessoa e o mundo, sendo o elo que une a vida orgânica à

psíquica. Na teoria de Wallon, a emoção se integra de maneira indissociável a

inteligência, e ambas se expressam através do movimento, que, por sua vez,

afetará as emoções e a inteligência. Nesse sentido, é a afetividade que vai dar

condições ao surgimento da atividade cognitiva.

A afetividade é um dos principais elementos do desenvolvimento

humano. Ainda conforme a teoria Walloniana, as emoções dependem

fundamentalmente da organização dos espaços para se manifestarem. A

motricidade, portanto, tem caráter pedagógico tanto pela qualidade do gesto e

do movimento, quanto por sua representação. Portanto a disposição do espaço

da sala de aula deveria ser diferente, a rigidez e a imobilidade deveriam ser

quebradas, adaptando a sala de aula para que os alunos possam se

movimentar mais, disponibilizando material para que possam ter atividades

mais lúdicas. Ainda nessa teoria, a relação entre os progressos da afetividade

e os da inteligência só pode ser compreendida a partir de uma relação de

reciprocidade e de interdependência. As condições para a evolução da

inteligência têm raízes no desenvolvimento da afetividade e vice-versa. Dessa

forma, para se pensar a pessoa na psicogenética walloniana, é preciso

compreendê-la a partir da inteligência, da afetividade e do ato motor.

Assim, na interação afetiva com outro sujeito, cada sujeito intensifica

sua relação consigo mesmo, observa seus limites e, ao mesmo tempo, aprende

a respeitar os limites do outro.

É importante reafirmar a posição de Wallon(1992) quanto ao

desenvolvimento da afetividade, pois segundo o autor, ela manifesta-se

primitivamente nos gestos expressivos da criança. "Enquanto não aparece a

palavra, é o movimento que traduz a vida psíquica, garantindo a relação da

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criança com o meio, Almeida, 1999. Através das interações sociais, as

manifestações posturais vão ganhando significado e, com a aquisição da

linguagem, a afetividade adquire novas formas de manifestação, além de

ocorrer também uma transformação nos próprios níveis de exigência afetiva.

Wallon (1879-1962), nos deixou uma enorme contribuição nesse

sentido, e é por meio dessas contribuições que muitos educadores procuravam

desenvolver seu trabalho, observando de forma peculiar seus alunos. Já que, a

educação deve ser vista como sendo de fundamental importância no processo

do desenvolvimento humano.

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CAPÍTULO III

AFETIVIDADE NA RELAÇÃO PROFESSOR – ALUNO

Educar é ser um artesão da personalidade, um poeta da

inteligência, um semeador de ideias. (Cury, 2003)

No contexto afetividade, Miranda diz que a relação professor-aluno

ultrapassa os limites profissionais e escolares, pois é uma relação que envolve

sentimentos e deixa marcas para toda a vida.

Davis e Oliveira (1992) dizem que a presença do adulto dá à criança

condições de segurança física e emocional que a levam a explorar mais o

ambiente, e, portanto, a aprender. Por outro lado a interação humana envolve

também a afetividade, a emoção como elemento básico.

Paulo Freire (1983)dizia que cabe ao professor um importante papel

nas inter-relações escolares. As características individuais dos professores

(autoritário, permissivo, organizado) e seus traços de personalidade são

apontadas como responsáveis por maior ou menor eficiência como docentes,

assim como a predisposição deste indivíduo para o magistério.

Ainda para esse autor, para aprender, o aluno precisa ter ao seu lado

alguém que o perceba-nos diferentes momentos da situação de aprendizagem

e que lhe responda de forma a ajudá-lo a evoluir no processo, alcançando um

nível mais elevado de conhecimento. Por meio da interação que se estabelece

entre eles, o aluno vai construindo novos conhecimentos, habilidades e

significações, sendo a afetividade primordial neste processo.

Almeida afirma (1999), citada por Leite :

Entre as interações que possuem grande papel em nossas vidas,

encontram-se as interações que vivemos com nossos professores, pois a

relação professor e aluno é mais do que ser pautada pelas ações que um dirige

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ao outro, é afetada pelas ideias que um tem do outro, ou seja, pelas

representações mútuas entre alunos e professores.

Cury nos diz, com base no que foi visto:

“ Um excelente educador não é um ser humano perfeito,

mas alguém que tem serenidade para se esvaziar e

sensibilidade para aprender “ (Cury, 2006 p. 17)

Antunes ( 1996, p.56) nos diz que o professor precisa estabelecer uma

relação afetiva com os alunos e que perceba que como indivíduo, seus alunos

também têm algo a oferecer e que a aprendizagem se faz por intermédio das

interações que são estabelecidas. O professor oferece por meio de suas

atitudes, uma série de informações ao aluno que irão contribuir na formação de

seu autoconceito. Portanto, as expectativas que o professor tem para com seu

aluno poderão contribuir sobre seu desempenho.

Ainda segundo Antunes, O aluno que tem suas características

valorizadas pelo professor, tende a acentuá-las cada vez mais, enquanto

aquele que se sente rejeitado ou discriminado tende a se afastar da situação e

acaba por ver as expectativas negativas do professor confirmadas. Acreditando

nisto,o autor afirma que a relação professor e aluno deve ser baseada em

afetividade e sinceridade, pois:

Se um professor assume aulas para uma classe e crê que

ela não aprenderá, então está certo e ela terá imensas

dificuldades. Se ao invés disso, ele crê no desempenho

da classe, ele conseguirá uma mudança, porque o

cérebro humano é muito sensível a essa expectativa

sobre o desempenho. Antunes,(1996)

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O mesmo autor, diz que quando o professor pouco se importa com as

crianças que apresentam dificuldades de aprendizagem acentua-se muito

mais a necessidade delas se veem como incompetentes, o que interfere em

seu autoconceito e em sua capacidade de reverter a situação. Socialmente

pode apresentar comportamento de isolamento, dependência, passividade e

até mesmo submissão, por se sentir em menos respeitadas e aceitas.

Para Augusto Curry, (2003), o papel do professor requer uma reflexão

que aponta à necessidade de mudança na concepção quanto a Educação,

proporcionando mudança de metodologia caminhando ao encontro da real

necessidade de seus alunos. O professor, em colaboração com seus alunos e

de acordo com sua individualidade, modifica suas próprias ideias em

conformação com a realidade, que é móvel e dependente da existência de

todos, e que também deve visar ao interesse de cada um. A experiência

professor-aluno para que seja significativa, deve ser permeada por afetividade,

já que cognição e afeto caminham lado a lado na trilha do conhecimento

humano. Por isto mesmo, aprender é uma forma de desenvolvimento de

competências individuais, além de ser um exercício constante em estar de

braços abertos para todo e qualquer conhecimento.

De acordo com Cury, (2003) para realizar as propostas do ensino, o

professor deve conhecer bem as possibilidades de aprendizagens do aluno e

suas características individuais, para que possa adequar a metodologia de

ensino ao aluno. O conhecimento será feito por intermédio da interação e da

comunicação, da observação constante de seus processos de aprendizagem e

da reavaliação da proposta a cada nova fase do processo. O professor assume

um papel de grande destaque para a aprendizagem da criança, pois ele é o

mediador no processo da aprendizagem e não o detentor de conhecimentos.

Por meio da afetividade, o professor influencia no resultado da educação de

seus alunos. Cury afirma que a maneira como o professor se comporta em sala

de aula, através de seus sentimentos, intenções, desejos e valores, afeta seus

alunos, uma simples maneira de falar, já faz toda diferença.

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“Bons professores são mestres temporários, professores fascinantes

são mestres inesquecíveis.” (Augusto Cury, 2003, pág.72).

Para Leite, a participação ativa dos alunos acontece quando estes

sentem que podem ter êxito em sua aprendizagem e para isso devem ser

propostas atividades que eles sejam capazes de resolver com as ajudas

necessárias, e sejam encorajados pelo esforço e não pelo resultado.

Leite afirma que:

" as relações afetivas se evidenciam, pois a transmissão

do conhecimento implica, necessariamente, uma

interação entre pessoas. Portanto, na relação professor-

aluno, uma relação de pessoa para pessoa, o afeto esta

presente.” (Leite, 2006,p. 29, 30)

Em síntese, Leite ( apud Piaget, 1980 ) acredita que a sala de aula é

um grande laboratório para que se observe e questione os motivos que levam o

convívio escolar do professor e aluno, muitas vezes, a ficar desgastado e sem

estímulo. Sabe-se que o ser humano tem grande necessidade de ser ouvido,

acolhido e valorizado contribuindo dessa forma para uma boa imagem de si

mesmo. Neste sentido, a afetividade está intimamente ligada à construção da

auto-estima. Sendo assim, sua importância em toda relação é fundamental

para os sujeitos envolvidos. Logo, a relação entre professor e aluno, deve ser

mais próxima possível, pautada em partilha de sentimentos e respeito mútuo

das diferentes ideias.

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Algumas observações feitas por mim em salas de terceiro e quarto anos

do ensino fundamental, percebi a exigência constante de disciplina, o

estabelecimento de uma relação autoritária entre a professora e seus alunos, o

trabalho obrigatório e repetitivo.

Um dos meios de controlar a disciplina é a divisão do tempo. Há hora

determinada para entrar, sair, para o recreio, a merenda, para tomar água, para

ir ao banheiro, etc. O cumprimento do horário é obrigatório, sem se levar em

conta o que a criança está fazendo ou qual é sua vontade no momento.

Observei também que a professora vigiava e cobrava constantemente seus

alunos em forma de ameaças, gerando um clima de tensão entre as crianças.

O aluno sempre corre o risco de ficar sem recreio, de ser retido após as aulas,

ficar na coordenação, além de outras ameaças de castigo. Quem é “bem

comportado” recebe recompensas e é apresentado como modelo aos colegas.

Na sala de aula é proibido falar. Há um verdadeiro culto ao silêncio. A

professora é o centro da atenção. Todos devem olhar para ela, ouvi-la, ela

exige silêncio o tempo inteiro e quer que a classe aprenda do seu jeito.

Vygotsky (1994) em seus estudos, dizia que a aprendizagem escolar, a

relação entre alunos, professores, conteúdo escolar, livros e escrita, não se dá

puramente no campo cognitivo, existe uma base afetiva permeando essas

relações, visto que, para aprender é necessário um vínculo de confiança entre

quem ensina e quem aprende. Vygotsky ainda destaca a importância das

interações sociais, ressaltando a ideia da mediação e da internalização como

aspectos fundamentais para a aprendizagem e, defendendo que a construção

do conhecimento ocorre a partir de um intenso processo de interação entre as

pessoas. Portanto, é a partir de sua inserção na cultura que a criança, através

da interação social com as pessoas que a rodeiam, vai se desenvolvendo na

constituição do seu eu.

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Apropriando-se das práticas culturalmente estabelecidas, ela vai

evoluindo das formas elementares de pensamento para formas mais abstratas,

que a ajudarão a conhecer e controlar a realidade. Nesse sentido, Vygotsky

(1994, p. 55) destaca a importância do outro no processo não só de construção

do conhecimento, mas também de constituição do próprio sujeito e de suas

formas de agir. É o ponto de partida para um bom desempenho no processo de

ensino-aprendizagem, pois nela estão inseridos elementos que irão resultar em

produtividade para ambas as partes. Davis e Oliveira dizem que a presença do

adulto dá à criança condições de segurança física e emocional que a levam a

explorar mais o ambiente, e, portanto, a aprender.

Por outro lado a interação humana envolve também a afetividade, a

emoção como elemento básico. Segundo Paulo Freire:

“ O bom educador é o que consegue enquanto fala trazer

o aluno até a intimidade do movimento do seu

pensamento. Sua aula é assim, um desafio e não uma

cantiga de ninar. Seus alunos cansam, não dormem.

Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu

pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas,

suas incertezas “ (1996:96).

Paulo Freire nos diz que quem ensina aprende ao ensinar e quem

aprende ensina ao aprender e que o aprender precedeu do ensinar. É de suma

importância que exista dentro de quem ensina, uma vontade de sempre

aprender; Acompanhada de vontade, garra, imaginação entre outros tudo

devidamente dosado.

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De acordo com Morales (2006, p.61) “a conduta do professor influi

sobre a motivação, afetividade e a dedicação do aluno ao aprendizado”. Pode

reafirmar que o aluno se vê influenciado por sua percepção em relação ao

professor. O professor deve sempre reforçar a autoconfiança dos alunos,

manterem sempre uma atitude de cordialidade. Contudo, todo aluno precisa

aprender a ser feliz e descobrir o prazer de aprender. O professor tem as

mesmas necessidades, precisa ser feliz para contagiar seus alunos com sua

felicidade, e encontrar prazer também em aprender, afinal o educador é um

eterno aprendiz.

Ao encontrar prazer em aprender e ensinar, reconhecerá seu erro e o

erro de seu aluno como parte do processo ensino aprendizagem. Não terá

medo, dos novos desafios que surgirão, diante de uma nova educação que não

seja a tradicional, ao procurar escolher com otimismo projetos inovadores que

proporcione aos educandos interesse e prazer consciente, sem medo de

encarar os obstáculos que surgirão durante o aprendizado.

professor deve acolher e respeitar a diversidade e trabalhar com a

dificuldade comportamental, tirando dessas situações proveitos para melhorar

sua prática. Aprender a conviver com estas situações faz parte, sem dúvida, da

aprendizagem de ser professor, pois diante de cada situação devemos analisar

nossa prática e postura e mudá-la quando se fizer necessário.

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CAPÍTULO IV

O PAPEL DA ESCOLA NA RELAÇÃO PROFESSOR –

ALUNO

(...) É minha obra livre de mim.

Se não vejo na criança, uma criança É porque alguém a violentou antes

E o que vejo é o que sobrou De tudo que lhe foi tirado

(...) o mundo deveria parar Para começar um novo encontro,

Porque a criança É o princípio sem fim

E seu fim é o fim de todos nós. Betinho Souza (1992)

Paulo Freire (1996), diz que da escola, enquanto relação professor e

aluno, é de suma importância para que a formação da auto-estima seja

pautada em segurança, autonomia de ideias, conceitos que o próprio aluno

tenha de si e que contribuem para seu desempenho escolar e de sua vida

como um todo.

As pessoas precisam aprender durante toda a vida que o papel da

escola é ensiná-las a desenvolver a capacidade de pensar. Paulo Freire

defendia que ninguém ensina nada a ninguém, aprendemos juntos. É preciso

criar tempos, oportunidades e estímulos para aprender e enriquecerem-se uns

aos outros.

A escola deve ser o lugar onde se aprende com qualidade, havendo,

portanto necessidade cada vez maior de contar com profissionais

comprometidos e competentes. O professor deve perceber que a grande

responsabilidade está no amor àquele com quem convivemos, o nosso aluno.

Pois, como dizia Cury, bons professores educam para uma profissão,

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professores fascinantes educam para a vida.

Cury (2003) afirma que é através da aprendizagem que o homem muda

e transforma o meio. É importante perceber que cada pessoa tem o seu próprio

ritmo de aprender e o processo é gradual, basta compreender a necessidade

de cada um.

A interação do aluno com a escola, possui uma enorme parcela de

contribuição para o crescimento da criança. Como Almeida (1999, p.106)

ressalta:

“A escola – tanto quanto a família – tem o papel de

desenvolvimento infantil, e a relação professor-aluno, por

ser de natureza antagônica, oferece riquíssimas

possibilidades de crescimento. Os conflitos que podem

surgir dessa relação desigual exercem um importante

papel na personalidade da criança “

Para Capelatto, muitos problemas enfrentados em nossas escolas, entre

eles a indisciplina, preveem de várias situações sócio-afetivas não resolvidas

no decorrer dos anos e da debilitação que muitas crianças passam a ter,

causando, muitas vezes, consequências irreversíveis na escola. Geralmente

as escolas elaboram uma programação que privilegia o aspecto cognitivo sobre

o afetivo, ignorando que desenvolvimento afetivo e desenvolvimento intelectual

são aspectos diversos de uma mesma e única realidade: o desenvolvimento

pessoal do indivíduo.

Ao destacar a escola como ambiente relevante para o desenvolvimento

cognitivo e afetivo, Capelatto (p.8) diz que a afetividade é a dinâmica mais

profunda na qual o ser humano pode participar, e que se inicia no momento em

que um sujeito se liga a outro por amor. Sabe-se, no entanto, que a escola não

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é a solução para todas as dificuldades existentes do ser humano, porém, como

órgão educacional que tem como uma de suas funções a formação do cidadão

como sujeito construtor do seu contexto histórico, pode e deve contribuir para

mudanças significativas na relação professor e aluno, pois, além da sala de

aula que oferece conteúdos e provas, a afetividade está presente em cada

ação e busca seu espaço no espelho que a turma repassa aos técnicos quando

dispõem do diário de notas, conselho de classes, conselho escolar e tantos

outros instrumentos e setores que retratam esta relação. Desse modo:

“ Algumas escolas preocupam-se apenas com a

quantidade de informações que transmitem por meio de

competição e do uso de modernas tecnologias, de forma

meramente burocrática e mercadológica. Afastam-se

assim do “ser humano”, tratando os alunos apenas como

número de registro. Com isso, apesar de dispor de um

grande espaço onde os jovens passam metade do seu dia

durante duzentos dias por ano, acabam por perder a

oportunidade de ajudá-los a desenvolver a afetividade “

(Capelatto, p. 14)

Se um professor for competente, ele, através de seu compromisso de

educar para o conhecimento, contribuirá com a formação da pessoa, podendo

inclusive contribuir para a superação de desajustes emocionais, Capelatto (

1992: 72 ).

Para Tiba (1999), cuidar é mais que um ato, é uma atitude, portanto

abrange mais que um momento de atenção, de zelo e desvelo. Representa

uma atitude de ocupação, preocupação, responsabilização e envolvimento

afetivo. Por isto, é preciso cuidar da terra antes e depois da semente ser

lançada, para que a planta possa crescer, florescer e dar bons frutos. Mais do

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que aula, muitas vezes o aluno vai para a sala de aula em busca de respostas

que esclareçam o seu verdadeiro papel na sociedade. Considera esta escola,

como grupo social que pode contribuir para sua formação como cidadão e, na

maioria das vezes, a escola e o professor não se preocupam com o “tipo” de

aluno que estão convivendo, muito menos, em estabelecer um vínculo afetivo

mais forte nesta relação favorecendo atitudes positivas que favoreçam na

formação da auto-estima do aluno.

Segundo Morales (1998 ), afeto e auto-estima constituem

aspectos inseparáveis, presentes em qualquer atividade. A afetividade se

estrutura nas ações dos indivíduos. O afeto pode, assim, ser entendido como

energia necessária para que a estrutura de auto estima possa operar. Ela

influencia a velocidade com que se constrói o conhecimento, pois, quando as

pessoas se sentem seguras, aprendem com mais facilidade.

Morales (1998:61) afirma que a conduta do professor influi sobre a

motivação, afetividade, auto estima e a dedicação do aluno ao aprendizado”.

Podemos reafirmar que o aluno se vê influenciado por sua percepção em

relação ao professor. O professor deve sempre reforçar a autoconfiança dos

alunos, manterem sempre uma atitude de cordialidade e de respeito.

In Rubem Alves (2001),diz que hoje, educar significa também

preocupar-se com a construção e organização da dimensão afetiva das

pessoas, afinal a escola, para cumprir seu papel, deve ser um lugar de vida e,

sobretudo, de sucesso e realização pessoal para alunos e professores. A

experiência entre professor e aluno promove o ser, reduz a angústia, facilita os

acertos da vida, conduzindo-os a vencer desafios da afetividade e educação na

conquista da aprendizagem significativa.

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Rubem Alves (2001), comenta que os professores devem ensinar

com paixão e alegria, dificilmente o professor conseguirá transmitir satisfação

ou provocar desejo de aprender se não estiver feliz exercendo sua profissão.

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CAPÍTULO V

ESTRATÉGIAS DE INTEGRAÇÃO DAS PRÁTICAS

PEDAGÓGICAS À AFETIVIDADE

Precisamos ser felizes para contagiar nossos alunos com nossa

felicidade. Precisamos encontrar prazer também em aprender, afinal, nós

educadores somos eternos aprendizes. Cury.

No ano de 2001 passei por uma experiência de trabalho com uma

turma de terceiro ano, na qual haviam alunos totalmente sem controle. Eu seria

a terceira professora a assumir essa turma. Fiquei muito preocupada e de cara

pensei, preciso conquistá-los através do afeto e do carinho, pois eram as

ferramentas que eu possuía e que sempre fizeram parte do meu ambiente

familiar. Trabalhar com essa turma foi muito difícil, mas aos poucos fui

conseguindo interagir e percebi que uns eram levados por outros a agirem

dessa forma e causar essa falta de controle.

Tinham dois alunos que eram realmente difíceis, o comportamento

totalmente comprometido, sem limites, sem amor a si e ao próximo. Havia

muita dificuldade em resolver os acontecimentos através do diálogo e na qual a

afetividade pelo outro não existia. O conteúdo nessa turma estava sempre

atrasado, porque era necessário interromper a aula constantemente para

resolver os conflitos existentes.

Após o recreio, eu reservava sempre um tempo para pontuar as brigas

que ocorriam no pátio. Percebi de cara que deveria fazer um trabalho

diferenciado e comecei a introduzir os valores, aqueles que deveriam ser

passados em casa, no dia-a-dia. Pois percebo que é preciso esclarecer às

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famílias de nossos alunos a importância de sua presença na vida escolar de

seus filhos e trabalhar a necessidade do vínculo afetivo nas relações.

Percebia muita individualidade, do tipo, eu quero, eu preciso, eu, eu eu.

Havia pouco respeito, amizade, companheirismo. Os pais pouco queriam saber

se os filhos agiam de forma civilizada e com respeito, mas acreditavam em

tudo que a criança passava em casa e culpava a escola e a professora, como

defesa, fortalecendo assim a indisciplina da criança. A verdade, o que estava

importando era a nota e se iria passar no final do ano. Reclamavam na

coordenação que pouco tinha para resolver.

Posso dizer que para alguns alunos dessa turma, a única forma de

carinho que eles tinham vinha de mim, alunos que chegavam a me dizer que

eu era mais preocupada e que gostava mais deles do que a própria mãe, pois

eu os abraçava, os escutava e sua mãe não. Procuro dizer sempre que são

capazes, que são importantes. Quando tenho que conversar com eles sobre

algum comportamento que foi inadequado, procuro auxiliá-los na

conscientização sobre o que aconteceu, de maneira afetiva, procurando fazer

com que a crítica seja vista por eles como construtiva e não destrutiva.

Nesses momentos lembro-me de meus pais, dizendo sempre que o

elogio é o que de fato todos querem ouvir, elogiar e, ao criticar devemos ter o

devido cuidado. Também, segundo Cury (2003), antes de criticar, devemos

dizer ao aluno o quanto ele é importante, pois, ao elogiá-lo antes de mostrar-

lhe seu defeito, ele acolherá melhor as observações que lhe serão feitas.

“Criticar sem antes elogiar obstrui a inteligência, leva o jovem a reagir

por instinto, como um animal ameaçado.” (Cury, 2003, pág.144).

Pela minha prática pedagógica vejo que com o afeto é mais fácil

conseguir se aproximar daquele aluno que se mantém o mais distante possível

e conseguir fazer com que ele se enxergue como alguém especial e que tenha

muita coisa boa para oferecer.

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Estas duas crianças apresentavam um nível de auto-estima muito baixo

e a descrença em todas as atividades que se propunha a realizar. Ao participar

a família de determinadas situações, percebi que eles vinham de famílias

totalmente desestruturadas e sem comprometimento nenhum com seu

processo educacional.

Iniciei um trabalho de afetividade e aumento de sua auto-estima.

Procurava valorizar tudo o que eles faziam e mostrava confiança em suas

atitudes. Os elogiava sempre! Segundo a teoria de Piaget, o afeto se

desenvolve no mesmo sentido que a cognição ou inteligência e é o afeto o

princípio norteador da auto-estima. Assim, a autoestima mantém uma estreita

relação com a motivação ou interesse da criança para aprender. Estes alunos

apresentaram progressos em sua aprendizagem durante o ano, passaram a

ser mais participativos em debates e rodas de conversa e a ter mais vontade

em aprender e desenvolver as atividades que lhes eram propostas.

Durante o resto do ano não apresentaram problemas sérios

comportamentais.

O aluno necessita ser visto e tratado como alguém que tem muito a

oferecer e eles tiveram essa oportunidade.

“Ser educador é ser promotor de auto-estima.” (Augusto

Cury, 2003, pág.145)

Para Freire (1996 ), o professor é um intermediário entre o aluno e o

conhecimento. Através da sua fala o professor pode ser o responsável por

várias escolhas na vida do educando.

Desenvolvi algumas estratégias também por virtude dos demais alunos.

Criamos nossas regras, elegemos uma pessoa por dia que seria chamada de

CAPITÃO, esse capitão seria responsável por organizar a fila para o recreio,

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lanche, entrada e saída dos alunos. No dia seguinte tínhamos outra criança

comandando. O que demorou para eles perceberem era que o capitão sempre

mandava no resto do grupo e o respeito foi fundamental.

Tudo foi conquistado com afetividade e diálogo. As crianças começaram

a ter uma aproximação maior umas das outras, trabalhavam mais em grupo e

participavam ativamente das aulas com sucesso, porque todo ser humano

necessita de limites, mas de carinho e amor também. Um aluno respeita a partir

do momento em que vê o professor como uma pessoa que tem e espera

respeito, como alguém que se preocupa de verdade com ele e que lhe mostra

caminhos. Aprendi, no decorrer de minha atuação como educadora, que não

existe receita pronta, que cada aluno é único e que cada ano letivo deve ser

visto como um desafio que pode ser vencido e não como uma barreira

intransponível.

De acordo com Cury (2006), sendo a afetividade essencial às relações

humanas, vejo o educando como um sujeito em fase de formação, com

características peculiares e que necessita de educação e cuidados que

favoreça sua constituição como indivíduo. A afetividade está muito presente no

processo de aprendizagem, principalmente quando se trata de criança. Ela é

facilitadora deste processo e o professor um mediador.

Eu também acredito que, através da afetividade e da proximidade,

possamos despertar a sensibilidade, formar valores e, consequentemente,

construir uma sociedade mais consciente e mais capaz de alcançar objetivos

para si e para o próximo.

A atuação do psicopedagogo é fundamental para que ele possa

conhecer o aluno. Este profissional deve estar preparado para lidar com

possíveis reações frente a algumas tarefas, tais como: resistências, bloqueios,

raiva e sentimentos. Ele não deve parar de buscar meios; conhecer, estudar

para compreender de forma mais completa estas crianças e adolescentes já

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tão criticados por não corresponderem às expectativas dos pais e professores.

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CAPÍTULO VI

OBJETO DE ESTUDO DA PSICOPEDAGOGIA

A psicopedagogia chegou ao Brasil na década de 70, época em que as

dificuldades de aprendizagem eram associadas a uma disfunção neurológica,

denominada de disfunção cerebral mínima (DCM), que virou moda neste

período, servindo para camuflar problemas sociopedagógicos. Inicialmente, os

problemas de aprendizagem foram estudados e tratados por médicos na

Europa no século XIX e no Brasil percebemos, ainda hoje, que na maioria das

vezes a primeira atitude dos familiares é levar seus filhos a uma consulta

médica. Na prática do psicopedagogo, ainda hoje é comum receber no

consultório crianças que já foram examinadas por um médico, por indicação da

escola ou mesmo por iniciativa da família, devido aos problemas que está

apresentando na escola.

A Psicopedagogia foi introduzida aqui no Brasil baseada nos modelos

médicos de atuação e foi dentro desta concepção de problemas de

aprendizagem que se iniciaram, a partir de 1970, cursos de formação de

especialistas em Psicopedagogia na Clínica Médico-Pedagógica de Porto

Alegre, com a duração de dois anos. A Psicopedagogia foi inicialmente uma

ação subsidiada da Medicina e da Psicologia, perfilando-se posteriormente

como um conhecimento independente e complementar, possuída de um objeto

de estudo, denominado processo de aprendizagem, e de recursos

diagnósticos, corretores e preventivos próprios. Com esta visão de uma

formação independente, porém complementar, destas duas áreas, o Brasil

recebeu contribuições para o desenvolvimento da área psicopedagógica de

profissionais argentinos tais como: Sara Paín, Jacob Feldmann, Ana Maria

Muniz, Jorge Visca, dentre outros.

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Temos o professor argentino Jorge Visca como um dos maiores

contribuintes da difusão psicopedagógica no Brasil. Foi o criador da

Epistemologia Convergente, linha teórica que propõe um trabalho com a

aprendizagem utilizando-se da integração de três linhas da Psicologia: Escola

de Genebra - Psicogenética de Piaget (já que ninguém pode aprender além do

que sua estrutura cognitiva permite), Escola Psicanalítica - Freud ( já que dois

sujeitos com igual nível cognitivo e distintos investimentos afetivos em relação

a um objeto aprenderão de forma diferente) e a Escola de Psicologia Social de

Enrique Pichon Rivière. "Se ocorresse uma paridade do cognitivo e afetivo em

dois sujeitos de distinta cultura, ainda assim suas aprendizagens em relação a

um mesmo objeto seriam diferentes, devido às influências que sofreram por

seus meios sócio-culturais". (VISCA, 1991: 66).

Visca implantou CEPs no Rio de Janeiro, São Paulo, capital e

Campinas, Salvador, e Curitiba. Deu aulas em Salvador, Porto Alegre, Rio de

Janeiro, São Paulo, Campinas, Itajaí, Joinville, Maringá, Goiânia, Foz do Iguaçu

e muitas outras.

Muitos outros cursos de Psicopedagogia foram surgindo ao longo deste

período até os dias atuais e este crescimento não para de acontecer o que

indica uma grande procura por esta profissão. Existe, em nosso país há 13

anos a Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp) que dá um norte a

esta profissão. Ela é responsável pela organização de eventos, pela publicação

de temas relacionados à Psicopedagogia e pelo cadastro dos profissionais.

A psicopedagogia se ocupa da aprendizagem humana, que adveio de

uma demanda muito grande: "o problema de aprendizagem" colocando-o num

espaço muito pouco explorado, situado além dos limites da psicologia e da

própria pedagogia. Portanto, vemos que, a psicopedagogia estuda as

características da aprendizagem humana: como se aprende, como a

aprendizagem varia evolutivamente, como reconhecer problemas, como tratá-

los e prevení-los.

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Nadia Bossa em seus estudos expressa: À atitude do profissional no

sentido de adequar as condições de aprendizagem de forma a evitar

comprometimentos. (...) Nesse processo o psicopedagogo elege a metodologia

e/ou a forma de intervenção com objetivo de facilitar e /ou desobstruir tal

processo, função primeira da psicopedagogia.(1994:11).

A atuação do psicopedagogo é fundamental para que ele possa

conhecer o aluno. Este profissional deve estar preparado para lidar com

possíveis reações frente a algumas tarefas, tais como: resistências, bloqueios,

raivas e sentimentos. Ele não deve parar de buscar meios; conhecer, estudar

para compreender de forma mais completa estas crianças e adolescentes já

tão criticados por não corresponderem às expectativas dos pais e professores.

De acordo com Bossa, "o reconhecimento do caráter interdisciplinar, significa

admitir sua especificidade, uma vez que a psicopedagogia, na busca de

conhecimentos de outros campos, cria o seu próprio objeto de estudo".

(1994:5-6). Partindo dessa premissa temos que abandonar a ideia de tratar a

psicopedagogia apenas como aplicação da psicologia à pedagogia, pois ainda

que se tratasse de recorrer apenas à essas duas disciplinas na solução de

problemas de aprendizagem, não seria como mera aplicação de uma à outra,

mas sim, na constituição de uma nova área.

A função do psicopedagogo na área educativa é cooperar para diminuir

o fracasso, seja este na instituição escolar, seja do próprio sujeito ou, o que é

mais frequente, de ambos. E tudo isso deve ser feito através de

assessoramento aos pais, professores e diretores, para que possam decidir e

opinar na elaboração de planos metodológicos. Quanto à função do

psicopedagogo clínico, ele trabalha em consultórios particulares e/ou instituição

de saúde, hospitais públicos e particulares. Ele procura sistematicamente,

reconhecer as alterações na aprendizagem.

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A psicopedagogia, como pode ver, tem o seu lugar na clínica e na

instituição. Cada um desses espaços implica uma metodologia específica de

trabalho. Em ambos, no entanto, devem ser consideradas as circunstâncias, ou

seja, o contexto de vida do sujeito, da família, da escola e da comunidade.

A psicopedagogia se ocupa da aprendizagem humana, que adveio de

um demanda muito grande: “o problema de aprendizagem” colocando-o num

espaço muito pouco explorado, situado além dos limites da psicologia e da

própria pedagogia. Portanto, vemos que, a psicopedagogia estuda as

características da aprendizagem humana: como se aprende, como a

aprendizagem varia evolutivamente, como reconhecer problemas, como tratá-

los e prevení-los. Tais questionamentos adquirem características especificas a

depender do trabalho clínico ou preventivo. No trabalho preventivo, a

instituição, enquanto espaço físico e psíquico da aprendizagem, é objeto de

estudo da psicopedagogia.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS: AFETIVIDADE E AUTO-

ESTIMA

O sentido não está na partida nem na chegada.

Ele se coloca para nós no meio das travessias.

(Guimarães Rosa)

Para o autor Paulo Freire (1993 p,71), “cabe ao professor

observar a si próprio; olhar para o mundo, olhar para si e sugerir que os alunos

façam o mesmo e não apenas ensinar regras, teorias e cálculos”. O professor

deve ser um mediador de conhecimentos, utilizando sua situação privilegiada

em sala de aula não apenas para instruções formais, mas para despertar os

alunos para a curiosidade; ensiná-los a pensar, a ser persistentes a ter empatia

e ser autores e não expectadores no palco da existência.

Segundo o autor supracitado, o educador precisa estar atento para

perceber as contradições da turma, as dificuldades, as frustrações, as

identificações com a aprendizagem, enfim, perceber as características mais

evidentes em sua turma de alunos e buscar sempre novos caminhos para as

dificuldades que surgem todos os dias, procurando, dessa maneira, favorecer e

reforçar a decisão de aprender.

É importante que o professor entenda que o lugar que ele ocupa em

relação aos seus alunos não é apenas daquele que ensina, mas sim daquele

que deixa marcas.

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Pelos pressupostos teóricos expostos ao longo do presente trabalho,

podemos identificar como os conceitos de auto-estima e afetividade são

importantes para um desenvolvimento pessoal do indivíduo.

Na perspectiva genética de Wallon, inteligência e afetividade estão

integradas: a evolução da afetividade depende das construções realizadas no

plano da inteligência, assim como a evolução da inteligência depende das

construções afetivas.

Ser amigo dos alunos, compreensivo e companheiro, é ser, realmente,

sujeito. É ter a mentalidade aberta e acompanhar o processo de construção do

conhecimento, agindo como agente entre os objetos do saber e a

aprendizagem, ser para o aluno o seu decifrador de códigos e receptor de suas

muitas linguagens, significa estabelecer limites e construir democraticamente

uma interação onde em lugar da opressão e da prepotência, eleva-se a

dignidade de quem educa, a certeza de quem planta amanhãs.

Com este breve estudo ficou nítido que a afetividade é fundamental para

o desenvolvimento integral de todas as crianças. Criança amada, respeitada é

criança feliz e consequentemente capaz de ser um cidadão crítico e exercer

com clareza a cidadania.

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Novembro/2006

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