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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” FACULDADE INTEGRADA AVM FRAUDES: ATÉ QUE PONTO VAI A RESPONSABILIDADE DAS EMPRESAS DE AUDITORIA Por: Marcelo Araújo Sousa Orientadora Prof. Luciana Madeira Rio de Janeiro 2011

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · 2012-02-05 · O Lehman Brothers um grande banco de investimentos foi à falência levando junto uma parte da confiança

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

FRAUDES: ATÉ QUE PONTO VAI A RESPONSABILIDADE DAS

EMPRESAS DE AUDITORIA

Por: Marcelo Araújo Sousa

Orientadora

Prof. Luciana Madeira

Rio de Janeiro

2011

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

FRAUDES: ATÉ QUE PONTO VAI A RESPONSABILIDADE DAS

EMPRESAS DE AUDITORIA

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Auditoria e

Controladoria.

Marcelo Araújo Sousa

3

AGRADECIMENTOS

À minha família, em especial, aos meus

afilhados Gabriel e Matheus, à minha

sobrinha Olívia e minha irmãe Adriana.

4

DEDICATÓRIA

À minha santa mãe que infelizmente se foi

prematuramente, mas que com certeza

ainda está muito perto de mim.

5

RESUMO

O objetivo deste trabalho visa estabelecer um paralelo com os recentes

escândalos contábeis que, de um lado, abalaram a credibilidade das empresas

de auditoria e, de outro, exigiram medidas corretivas por parte dos órgãos

reguladores para estabelecer uma nova ordem no mundo das corporações,

ainda hoje em configuração, no sentido de assegurar máxima transparência aos

resultados das empresas e recuperar a credibilidade dos investidores e da

sociedade em geral.

O Lehman Brothers um grande banco de investimentos foi à falência

levando junto uma parte da confiança que os acionistas depositavam na

auditoria. A empresa Ernst & Young, responsável pela auditoria da empresa

deu parecer sem ressalvas, fazendo o mercado acreditar que tudo estava bem

na empresa, mas não estava. Até que ponto deve-se responsabilizar a auditoria

e os gestores da empresa?

Para tentar atenuar os fraudes e escândalos contábeis, o rodízio de

firmas de auditoria foi introduzido no Brasil, tendo como objetivo a preservação

da independência do auditor e a diminuição dos erros contábeis e fraudes

relacionados ao processo de auditoria das demonstrações contábeis.

Entretanto, o rodízio de firmas é um assunto polêmico, pois afeta a

relação comercial e profissional dos auditores com seus clientes bem como

toda a estrutura de mercado das firmas de auditoria, além não assegurar

integralmente a independência do auditor no seu trabalho e não diminuir os

riscos de erros e de fraudes.

6

METODOLOGIA

No desenvolvimento desse trabalho foram utilizadas algumas definições,

principalmente, dos seguintes autores: Marra (2000), Franco (2000) e Sikka

(2009).

Embora a auditoria não se destine especificamente à descoberta de fraudes, erros ou irregularidades praticadas por administradores ou funcionários, ela freqüentemente apura tais fatos, através dos procedimentos que lhes são próprios. (FRANCO e MARRA, 2000 e 2001).

O auditor deverá, portanto, proceder com extrema independência e

imparcialidade durante a realização da auditoria justamente para poder

identificar e principalmente relatar tais desvios de maneira fidedigna aos

usuários das informações contábeis/financeiras analisadas. “É a auditoria que

dá credibilidade às demonstrações contábeis e às informações nelas contidas”.

(Franco e Marra, 2000 e 2001).

Na metodologia, propriamente dita, adotou-se as seguintes linhas de

pesquisas: será a de pesquisa bibliográfica – textos, artigos, livros, jornais,

revistas, internet e professores. Cervo (1983) define pesquisa bibliográfica

como a que “explica um problema a partir de referências teóricas publicadas em

documentos que buscam conhecer e analisar as contribuições culturais ou

científicas do passado existentes sobre determinado assunto”.

No que diz respeito à abordagem do problema, tendo em vista que a

presente pesquisa visa investigar a consistência dos dados pesquisados e

sistematizados, são analisados na perspectiva qualitativa.

Quanto aos procedimentos trata-se de uma pesquisa bibliográfica,

através de coleta de dados secundária em livros, revista e internet.

7

SUMÁRIO

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - A Responsabilidade do Auditor 09

CAPÍTULO II - A Crise de Confiança 16

CAPÍTULO III – Alternativas para se Restabelecer 24

a Credibilidade

CONCLUSÃO 37

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 40

ÍNDICE 42

8

INTRODUÇÃO

O objetivo do presente trabalho visa compreender melhor as falhas,

intencionais ou não, das empresas de auditoria externa. Pesquisar o que leva

essas firmas a cometerem tais deslizes e investigar o que foi feito para atenuar

o problema.

O tema escolhido justifica-se pela constatação de que os recentes

escândalos contábeis desencadearam uma crise de credibilidade no meio

corporativo tão grande que suas medidas corretivas determinaram o

aparecimento de uma nova ordem no ambiente corporativo.

A pesquisa se desenvolverá por capítulos que irão buscar jogar uma luz

nas questões propostas. O capítulo 1 abordará o perfil do auditor, suas

responsabilidades e aspectos gerais da auditoria.

Já no capítulo 2, será explorada a origem e as causas da crise, a postura

das empresas de auditoria frente aos escândalos contábeis e os mais afetados

pela tsunami que devastou parte do meio corporativo.

Para concluir, o capítulo 3 tratará das alternativas para reverter o quadro

de incertezas geradas. O tema rodízio de firmas será muito explorado, bem

como suas ramificações e instrumentos criados para atenuar a crise.

9

CAPÍTULO I

A RESPONSABILIDADE DO AUDITOR

A auditoria, um dos ramos da contabilidade, visa avaliar

sistematicamente as transações, procedimentos, operações e rotinas que

gerem demonstrações financeiras. Erros técnicos e irregularidades, sobretudo,

aparecem nas mais diversificadas esferas dos negócios e o auditor na emissão

de seu parecer deve estar ciente da confiança que lhe é depositada, pois sendo

negligente e se isto vier a ocasionar danos a terceiros, poderá ser

responsabilizado.

Vale demonstrar, portanto, o comportamento profissional do auditor,

relacionado à sua independência, integridade, eficiência e sigilo.

1.1 Aspectos Gerais da Auditoria

Sikka (2009) cita que a auditoria surgiu na Inglaterra, que dominava os

grandes mares do comercio mundial, foi a primeira a instituir a taxação do

imposto de renda baseados nos lucros das empresas.

No século XIV surgiu na Europa a associação de contadores públicos,

profissionais que exercem as funções de auditores. A evolução da auditoria

contábil no Brasil esta relacionada com a instalação de empresas internacionais

de auditoria independente, uma vez que os investimentos também

internacionais foram aqui implantados e compulsoriamente tiveram de ter suas

demonstrações financeiras auditadas.

Por conta da atuação na defesa de interesses coletivos, defesa da

equidade e justiça, na apuração de corretas prestações de contas, e

apresentação dos saldos que constituem a Demonstração Financeira, o auditor

deverá se cercar de independência, responsabilidade social e ética quando

estiver executando o serviço contratado.

Diversos temas retornam a tona para discussões e avaliações, dentre

eles cita-se a questão que envolve a independência dos auditores em relação

às empresas auditadas. Um levantamento feito mostra os valores envolvidos,

10

tanto no serviço de auditoria, quanto a valores relativos a serviços prestados de

assessorias.

Tabela 1 に Serviços de auditoria e assessoria e pareceres em Bancos. Fonte: SIKKA (2009)

Serviços de Auditoria e Pareceres em Bancos.

Valor dos Serviçoes Prestados em

Milhares de US$ Empresa País Balanço Auditoria Parecer Auditoria Assessoria

Abbey National UK 31/12/2007 D & T SEM RESSALVAS 2,80 2,10 Bear Stearms USA 31/12/2007 D & T SEM RESSALVAS 23,40 4,90 Bradford UK 31/12/2007 KPMG SEM RESSALVAS 0,60 0,80 Citigroup USA 31/12/2007 KPMG SEM RESSALVAS 81,70 6,40 Fortis Holanda 31/12/2007 KPMG SEM RESSALVAS 20,00 17,00 Hypo R.State Alemanha 31/12/2007 KPMG SEM RESSALVAS 5,40 5,70 Lehman Brothers USA 31/12/2007 E & Y SEM RESSALVAS 27,80 3,50 RBS UK 31/12/2007 D & T SEM RESSALVAS 17,00 14,40

A tabela 1 mostra que em muitos casos, as fontes de rendimentos dos

auditores provêm de serviços de assessoria ou consultoria, e os próprios

valores dos serviços de auditoria são consideráveis, e isso, inevitavelmente

levanta a questão sobre a independência dos auditores, onde parece haver um

conflito particular de interesses entre o papel de auditar e o de sugerir.

Humphrey (2009) comenta que a crise financeira levanta algumas

questões antigas e novas sobre auditoria. Há constantes afirmações,

especialmente dos mercados, de que a auditoria externa aumenta a

credibilidade nas demonstrações financeiras, e esta credibilidade provém da

opinião de que o auditor tem conhecimento dos processos internos da empresa

auditada.

O que pode contradizer esta hipótese, é o fato de que a maior parte das

empresas, dentre elas a Lehman Brothers, teve um parecer sem reservas,

sendo a maioria feita pelas grandes empresas de auditorias.

Sikka (2009) menciona ainda algumas considerações que devem ser

consideradas, dentre elas o fato de que em geral, pouco é sabido sobre como

são feitas as auditorias nestas e em outras empresas, quais provas e

11

documentos são analisados e cujos processos não são disponíveis ao público

em geral.

Ferguson (2008) procura fazer uma relação entre o mercado e o estado.

Pesquisadores têm constatado que a liberdade das leis de informação para explorar a relação entre o Estado e as empresas de auditoria é muito abrangente e as empresas de auditoria podem alegar que a crise financeira aconteceu de repente, e eles foram assim, mal preparados para fazer julgamento sobre a situação financeira de uma empresa, e que o capitalismo financeiro tem estado numa crescente e desempenhou papel fundamental de liderança nas crises bancárias, especialmente as da América Latina.

Essa profissão, que já existia em muitos países, vem alcançando um

nível de desenvolvimento cada vez maior no Brasil por conta da maturidade do

mercado de capitais, cuja legislação exige a revisão das Demonstrações

Financeiras das companhias que procedem à emissão e colocação pública de

ações por um auditor independente, aumentado assim a responsabilidade

desse profissional que no fim do processo prestará contas ao grande à

sociedade. Dependendo do parecer emitido pelo auditor os investidores

subscreverão as ações das companhias abertas de interesse ou não. Isso é o

que ocorre nos Estados Unidos e em outros países altamente capitalizados,

onde os auditores são contratados por representantes dos acionistas e não

pelos administradores das sociedades.

Daí a grande responsabilidade decorrente desse processo de avaliação

e julgamento que irá defender o interesse de terceiros que muitas vezes não

possuem meios para fiscalizar a atuação dos administradores da sociedade.

Embora a maior parte das auditorias realizadas em território brasileiro

servirem para ajuste de controles e práticas contábeis, nota-se que, com o

aprimoramento do comércio popular, poderá aumentar ainda mais a

participação de pequenos na estrutura social das empresas, aumentando,

assim, a importância do auditor.

Responsabilidade e importância são um binômio que devem andar em

conjunto, especialmente quando se trata de auditorias, e torna-se cada vez

maior num momento em que fraudes são supostamente identificadas e

12

merecedoras de especial atenção. Portanto, para consolidar essa afirmação, o

auditor precisa seguir alguns pressupostos.

1.2 Independência

É um dos princípios norteadores do auditor. É condição primordial para

que no exercício de suas funções a sua interpretação de tudo que foi

constatado esteja absolutamente independente e imparcial.

Para Attie (1998), o auditor não pode ter vínculos conjugais ou

parentesco com pessoas de algum cargo administrativo ou acionista, não se

pode ter relação direta ou indireta com o acionista interessado, relação de

trabalho como empregado e outros impedimentos.

1.3 Integridade

Para Taylor (2009), o auditor independente deverá agir com integridade

quando:

a) emitir alguma opinião acerca dos trabalhos realizados em cada

um dos clientes auditados, serviços oferecidos e honorários

profissionais cobrados;

b) for consultado pelos usuários das informações contábeis,

transmitindo validade e certificando a veracidade das informações

contidas nas demonstrações financeiras outrora examinadas;

O auditor terá a reputação abalada quando, no desempenho de suas

funções:

a) deixar de expressar nas Demonstrações Financeiras do cliente

auditado um fato importante que conheça e cuja exposição seja

indispensável;

b) deixar de informar aos usuários das informações contábeis os

itens que deveriam ser alterados, bem como o efeito do ajuste

prorposto nas Demonstrações Financeiras;

c) for culpado por negligência em seu exame ou relatório;

13

d) não reunir evidências suficientes para justificar a conclusão final

de seu exame;

e) não relatar qualquer desvio e/ou omissão importante dos

princípios contábeis.

1.4 Eficiência

O serviço da auditoria independente precisa ser estabelecido mediante

uma abrangência técnica adequada, estimando-se, dentro do possível,

perspectivas de sua concretização quanto a prazos, extensão e momento de

obtenção das provas, explica Taylor (2009).

O auditor só deve emitir sua opinião ou dar informações quando o exame

assim o permitir e houver condições para fazê-lo. Seu parecer precisa ser

redigido com objetividade e clareza, apresentando as razões que motivaram o

auditor a tal conclusão.

1.5 Sigilo

Taylor (2009) ainda reforça que uma vez que o auditor possui acesso

irrestrito às informações estratégicas durante a revisão dos registros contábeis

de uma empresa a confidencialidade torna-se elemento fundamental na

atividade da auditoria, sendo as informações obtidas utilizadas tão somente na

execução do serviço para o qual o auditor foi contratado, não devendo ele, em

nenhuma hipótese, divulgar fatos que conheça e/ou utilizar-se dessas

informações em seu próprio benefício ou de terceiros.

Informações sobre o trabalho realizado pelo auditor somente poderão ser

dadas a terceiros se houver determinação legal para tanto.

1.6 Responsabilidades

Ainda para Taylor (2009), a função social stricto sensu do auditor é a de

defensor do contexto empresarial externo e interno, pois empresas privadas

contratam auditores para avaliar se o seu controle administrativo é eficaz, se a

sua contabilidade é feita de acordo com as normas contábeis e legais e analisar

a atuação de funcionários e até a dos próprios dirigentes e sócios da entidade.

14

1.6.1 A Responsabilidade Profissional

Brandt (2011) esclarece que não existe claramente definida na legislação

civil, penal e comercial as responsabilidades legais do auditor, pois esta

profissão é considerada como técnica ou de aplicação de conhecimento

contábil. Perante a lei ele é responsável pelo seu parecer sobre as

demonstrações contábeis embora sem definição positiva e especial. Sendo

assim, aplicadas pelo CFC (Conselho Federal de Contabilidade) as sanções

disciplinares, enquanto as sanções civis são próprias do Estado, podendo

mesmo haver cumulação de sanções.

Para o auditor, sua principal proteção na emissão de seu parecer está na

execução cuidadosa de seu trabalho, juntamente com a aplicação das normas

profissionais geralmente aceitas, isto salvaguarda sua pessoa, pois ele é

responsável pelo seu parecer e se este foi elaborado de acordo com as normas

não poderá ser responsabilizado.

Sua responsabilidade profissional é regulada pelo Decreto-Lei n° 9.295

art. 10 alínea C que estabelece a seguinte função do Conselho.

"Fiscalizar o exercício da profissão do contador e guarda-livros, impedindo e

punindo infrações e bem assim enviando às autoridades competentes

minuciosos documentos e relatórios sobre fatos que apuram e cuja solução ou

repressão não seja de sua alçada".

Pode-se perceber que a lei não atinge diretamente o profissional auditor,

mas apenas por extensão. Um contador que pratique qualquer ato lesivo a um

cliente ou esteja em situação irregular será susceptível de penalidades pelo

Conselho Regional de Contabilidade.

1.6.2 A Responsabilidade Civil

Indaga-se comumente, segundo Brandt (2011), a existência ou não da

responsabilidade civil do contador na função de auditor independente. É óbvio

que ela existe pelo fato de que esse profissional é um cidadão inserido no

Estado de Direito com profissão regulamentada estando sujeito a direitos e

deveres.

15

Deve-se atentar que se referindo a responsabilidade civil, o auditor e

qualquer profissional de contabilidade estão condicionados a obrigação de

meios e não de resultados, ou seja, se o profissional trabalhar de acordo com

as normas técnicas e éticas contábeis não responderá civilmente pelos atos

que praticou, uma vez que inexiste prejuízo a apurar, dada a inexistência da

responsabilidade pelos resultados, caso contrário por culpa estrita e literal em

que se comprove imprudência e negligência por dolo ou não, fica o profissional

responsável por sua obra.

Ainda de acordo com Brandt (2011), somente por erro inescusável, que

é aquele ocorrido por ignorância patente e profunda, é que poderá levar-se o

contabilista e auditor às barras dos tribunais para responsabilizá-lo por

eventuais danos aos clientes ou terceiros.

O Novo Código Civil Brasileiro Lei nº 10.406 de janeiro de 2002, no seu

artigo 186, dos atos ilícitos prevê genericamente o seguinte: "Aquele que, por

ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar ou causar

prejuízo a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito".

1.6.3 A Responsabilidade com Clientes

No que tange a um exame de auditoria este deve ser baseado em um

entendimento entre o auditor e seu cliente. É prática extremamente imprudente

comprometer-se a executar algo tão importante como um trabalho de auditoria,

sem haver descrição específica do trabalho que o auditor terá que executar, ou

seja, é imprescindível um contrato de prestação de serviços que especifique

com razoável exatidão a natureza do exame que ele se compromete a fazer,

pois o cliente pode mais tarde afirmar, em prejuízo do auditor, que pretendia

uma investigação mais ampla e detalhada, esclarece Brandt (2011).

Na realização de seu trabalho, o auditor deve agir de acordo com os

termos de seu contrato, uma vez que deixe de aplicar devido cuidado e

capacidade, ou deixe de guardar sigilo da informação a que ele teve acesso, ele

pode tomar-se legalmente responsável perante o cliente, por quebra de

contrato, finaliza Brandt (2011).

16

CAPÍTULO II

A CRISE DE CONFIANÇA

2.1 A Origem

Bartran (2009) diz que, nos últimos dez anos o sistema capitalista

americano passou por uma crise de confiança que ainda ameaça arrastar todo

o mundo para uma nova onda recessiva. As raízes da referida crise de

confiança remontam ao início da década de 80, que apresentou ao mundo o

espantoso ciclo de crescimento das bolsas de valores que, na época, se

mostraram uma alternativa consistente para obtenção de financiamento barato,

levando-se em consideração o ponto de vista das grandes corporações, que no

período experimentaram excepcionais ganhos de produtividade.

Apesar do ambiente favorável, as empresas não foram capazes de

cumprir as promessas de lucratividade feitas ao longo de uma década de

crescimento econômico. Entre 1995 e 2000, período de excessivo otimismo,

que uma Nova Economia estava surgindo e se acreditava que nenhum número

era alto demais, mais de 400 empresas ligadas à tecnologia abriram seu capital.

Há pouco mais de dois anos, quando a bolha especulativa das bolsas estourou,

mais de 4 trilhões de dólares foram perdidos.

O maior risco oriundo dessa crise de confiança está ligado com a fonte

de financiamento barato obtido pelas empresas que possuem ações no

mercado de capital que até hoje representam uma das mais importantes

vantagens comparativas do sistema americano. As formas de financiamento

mais comuns nos demais países, bancos ou do governo, são bem mais caras e

problemáticas.

A onda de falcatruas corporativas que ocorreram em 2001 cria um

ambiente de desilusão com o sistema acionário como um todo, bem como os

profissionais relacionados com todo esse ambiente corporativo.

A mídia que faz campanha pela moralidade é a mesma que incensou o

mito dos heróis da Nova Economia, e os investidores que protestam contra as

falcatruas são os mesmos que exigiam resultados no curto prazo, a qualquer

custo.

17

Uma medida da especulação vivida pelo mercado investidor durante a

última década é o tempo médio que as ações de empresas de tecnologia eram

retidas pelos investidores, que na década de 90, passou de dois anos para

cinco meses.

O otimismo dos primeiros anos de uma economia saudável começou a

ser substituído pela escalada de expectativas. Com elas, veio um aumento de

pressão sobre executivos e empresas para atender à demanda do mercado.

Não uma demanda de produtos, do mercado real, mas uma demanda de

números, do mercado financeiro.

2.2 As Primeiras Vítimas

Sob pressão, muitas corporações estremeceram: Enron, WorldCom,

Arthur Andersen, Merck, Xerox, Tyco. Essas empresas, antes tidas como

modelos passaram a lançar nuvens de suspeita sobre o mundo corporativo

americano. Suspeitas razoavelmente fundadas, pois em um ambiente de

competição por números, todas as empresas com ações em bolsa tinham de

tentar convencer seus possíveis investidores de que são atraentes e para isso,

muitas lançaram mão de premissas duvidosas para tornar as demonstrações

financeiras mais atrativas.

Com base em inúmeros recursos, as empresas divulgaram para o

mercado demonstrações contábeis que não estavam de acordo com as

exigências do governo local.

Para resolver estes problemas, aprovou-se uma legislação que tentava

impedir que estes problemas ocorressem novamente. Esta lei recebeu a

denominação de Sarbannes-Oxley, nome dos dois congressistas que

elaboraram a lei.

Uma das consequências dos escândalos contábeis foi à falência da Artur

Andersen, uma grande empresa de auditoria, que estava envolvida em alguns

desses escândalos contábeis.

2.3 A Tsunami

18

Com a nova lei, acreditava-se que as empresas teriam menos incentivos

para fraudar as demonstrações contábeis. A crise financeira de 2008 mostrou

que isto não era verdade. Entre as empresas que sofreram com a crise,

encontra-se o Lehman Brothers, auditado pela Ernst & Young.

O Lehman Brothers era um banco de investimento tradicional do

mercado de capitais dos Estados Unidos. Em setembro de 2008 ele pediu

concordata. Foi uma das maiores falências da história daquele país.

Uma investigação divulgada recentemente mostrou que os executivos da

empresa provavelmente estavam manipulando as demonstrações contábeis.

Isto talvez seja um sinal de que a legislação Sarbannes-Oxley talvez não tenha

resolvido alguns dos problemas que motivaram sua criação.

Taylor (2009) procura demonstrar a questão envolvendo a fragilidade dos mercados.

Em 2007 a volatilidade nos mercados de câmbio aumentou também em outras classes de ativos. Devido às perdas em aplicações em renda fixa e carteiras o apetite de risco caiu e os investidores procuraram reduzir o tamanho de suas exposições ao risco e os participantes do mercado começaram a prever que o problema do subprime americano iria se tornar um problema global.

Bartram (2009) menciona que em março de 2008, outra grande empresa

no ramo financeiro, a Goldman Sachs teria informado clientes do fundo de

hedge que assumiria a Bear Stearns, porém, ao final do dia, as declarações

foram no sentido contrário, gerando uma grande tensão no meio financeiro.

Taylor (2009) acrescenta que o segundo trimestre de 2008 foi um

período em que muitos pensavam que o mundo iria retornar a um estado

normal para os mercados financeiros, foi um período em que o apetite pelo

risco foi aumentando e os investidores estavam construindo posições que

refletiam sua visão, mas quando o verão chegou ao fim, ninguém esperava que

a tsunami que estava logo ali na frente.

O economista Paul Krugman (2002), em um de seus artigos no jornal

International Herald Tribune, 5/06/02 atribuiu os escândalos financeiros daquela

época a avareza transformada em critério durante a administração de

empresas.

19

Um sistema que retribui maravilhosamente os seus diretores pelo sucesso, tende, através desses executivos, que controlam a maioria da informação acessível a terceiros, a fabricar a aparência de sucesso. E não estou falando de alguns ramos podres. As estatísticas dos últimos cinco anos mostram uma importante divergência entre os lucros que a companhias declaram aos investidores e outras medidas de crescimento dos lucros. Este fato é uma prova clara de que muitas das grandes empresas alteraram os números.

Vê-se que o modelo de remuneração dos dirigentes, que por muito

tempo foi considerado ideal, pode, dependendo do profissional, virar uma

ameaça a sobrevivência do mercado acionário e da própria empresa.

2.4 Os Auditores e a Crise Financeira

Power (1999) cita que “a auditoria externa é promovida como uma

relação de confiança gerando tecnologia, para persuadir o público de que as

corporações e sua gestão não são corruptas”.

Sikka (2009) menciona que “em um mundo incerto, as auditorias das

empresas são esperadas para produzir conforto, para tranquilizar seus

interessados, se transformando numa garantia para todos os que tenham

interesse na empresa”.

O’Connor (1987) procura fazer uma relação entre o auditor e o

contabilista.

Esta relação é promovida por auditores, que antes de serem auditores, são contabilistas, que desenvolveram técnicas ao longo dos anos. Esta perícia, alega-se, permite que os mercados, investidores, funcionários, cidadãos e estado para limitar e gerir riscos. Porém, é uma alegação consubstanciada, e contestada acima de tudo, pelo fato de economias capitalistas são inerentes e propensas a crise.

Esta relação de confiança é frequentemente comprometida pela

inesperada quebra de empresas, fraudes e falhas. Tais eventos trazem a tona

algumas questões que envolvem a auditoria, dentre eles a questão que envolve

a independência dos auditores, e também servem para refletir sobre o papel da

auditoria na sociedade contemporânea. Uma das características mais salientes

da crise financeira de 2008, retratada anteriormente, é que ela foi incubada pela

20

abundância de crédito, notadamente no mercado americano, trazendo consigo

o risco, o custo financeiro foi enorme e o social de difícil estimativa.

No total o custo financeiro para o governo dos Estados Unidos, segundo

Sikka (2009), foi de 8,5 trilhões de dólares, cerca de 60% do seu Produto

Interno Bruto (PIB) para deter o colapso do seu sistema financeiro. No âmbito

da União Européia, segundo o autor, estima-se que o Banco Central tenha

fornecido cerca de 467 bilhões de euros para apoiar bancos. A Alemanha

reservou mais de $ 400 bilhões de euros para resgatar seus bancos em

dificuldades.

Sikka (2009) ainda comenta que “uma estimativa inicial sugere que,

apesar das normas de contabilidade, os bancos tenham cerca de 5 trilhões de

dólares de ativos e passivos fora do balanço”. O executivo-chefe de um líder de

empresas de consultoria financeira argumentou que uma parte do problema é

que as normas de contabilidade permitiram que os bancos inflacionassem seus

ativos.

A auditoria é realizada nestas corporações por grandes empresas de

auditoria, as chamadas big four, PricewaterhouseCoopers (PWC), a Deloite &

Touche (D&T), Ernst Young (E&Y) e KPMG. Juntas auditam uma boa parte do

PIB mundial e são elas as responsáveis por analisar, avaliar e dar um parecer

sobre as demonstrações financeiras. Sikka (2009) diz que “a Lehman Brothers

recebeu um parecer sem reservas da empresa de auditoria Ernst & Young em

28 de janeiro de 2008, seguido de um atestado de saúde em suas contas

trimestrais em 10 de julho de 2008. No entanto, no início de agosto, ela estava

enfrentando sérios problemas financeiros e entrou em processo falimentar”.

2.5 Possíveis Causas

Sikka (2009) levanta em hipótese algumas causas possíveis para que

ocorram problemas dessa natureza e com gravidade cada vez maior, onde se

ressalta o ambiente, especialmente econômico em que as empresas expõem

seus negócios. A intensificação do capitalismo financeiro coloca questões sobre

a base de conhecimento dos auditores.

21

Por mais de um século auditores têm utilizado métodos de uma era

industrial em que os bens tangíveis podiam ser examinados, contados e

medidos os seus valores a partir documentos como recibos, notas fiscais,

contratos etc.

Ainda segundo o autor esse mundo tem sido detonado por complexos

instrumentos financeiros, como derivativos e swaps, cujo valor depende de

acontecimentos futuros incertos e podem variar qualquer coisa entre zero e

bilhões. Derivativos foram à peça central para o colapso de empresas

financeiras como a Barings em 1995, a Enron em 2002, apenas para mencionar

duas grandes empresas.

Dunbar (2009) demonstrou um estudo mostrando que os ganhadores de

Prêmio Nobel de Economia tiveram dificuldades em valorizar seus derivativos.

É duvidoso que o conhecimento de auditor ultrapasse, ao menos nesta área, os

de um Prêmio Nobel. Aparentemente se chegou ao limite das tecnologias

convencionais de auditoria e deve-se pensar em formas alternativas de

auditoria e a divulgação de seus relatórios.

2.6 Fraude e Responsabilidade

Independência e responsabilidade são um binômio que devem andar em

conjunto, especialmente quando se trata de auditorias, e torna-se cada vez

maior num momento em que fraudes são supostamente identificadas e

merecedoras de especial atenção.

Afinal, deve a sociedade esperar que a auditoria seja a solução final para

os problemas decorrentes da crise financeira de 2008 e suas conseqüências?

Segundo Hassink (2009) a auditoria demonstrou amplamente a existência de

uma lacuna nas expectativas criadas pela sociedade em que os auditores

devem ir além da responsabilidade exigida pelos órgãos regulamentadores e

normas profissionais. A profissão de auditor tem sido objeto de equívocos,

sendo um deles que os auditores podem fornecer uma garantia absoluta sobre

a exatidão das demonstrações financeiras de uma empresa.

22

A profissão tornou-se polêmica durante a última década, face aos

escândalos ocorridos, Enron e Parmalat, apenas para ficar em dois, ter a noção

exata da responsabilidade nem sempre é uma tarefa simples.

Essa lacuna entre as expectativas e a real função da auditoria é um fato

que mereça uma atenção especial de pesquisadores, porém, não pode deixar-

se de constatar que tal lacuna é prejudicial à profissão. Hassink (2009)

destacam que a responsabilidade por detecção de fraudes deve ser um dos

objetivos, e ao mesmo tempo devem evitar a responsabilidade legal a fim de se

proteger de reclamações.

Um estudo sobre as causas de mortalidade das empresas, ainda

segundo os autores, mostrou que o papel dos auditores em relação à falência

de empresas foi questionado muito mais freqüentemente do que as falhas

relacionadas aos empregados ou fraude de gestão.

Bollen (2005) realizou um estudo e constatou que em caso de fraude, as

partes interessadas (acionistas, credores, governo etc) frequentemente tinham

fortes dúvidas sobre o papel dos auditores e que foram tomadas ações legais

contra os auditores individuais ou empresas de auditoria.

Hassink (2009) explica que existe uma série de explicações potenciais

como razão pela qual o papel do auditor é questionado com mais frequência no

contexto de fraude corporativa. Uma delas é que pode ser verdade que os

auditores não executam o seu trabalho conforme esperado, em muitos casos,

uma falha de negócio está intimamente relacionada com às ações tomadas por

um gerente ou acionista dominante. O fato de que tais pessoas - gerentes ou

acionistas - podem estar envolvidas em atos fraudulentos ou dolo, sem

entraves poderiam indicar uma grave falta de controle da empresa. Nessas

situações, a eficiência das estruturas de governança corporativa que deveriam

ter detectado qualquer comportamento ilegal ou antiético dos dirigentes tiveram

falhas gravas.

O autor menciona ainda que a função do auditor externo geralmente é

importante na fiscalização das empresas, e a falta de governança corporativa,

nestes casos, pode também refletir sobre o funcionamento e a percepção do

auditor.

23

Portanto, uma possível explicação para o grande número de casos em

que o papel do auditor foi questionado pode ser a existência de uma lacuna de

razoabilidade, que sugere que a sociedade tem expectativas pouco realistas

sobre o papel dos auditores na prevenção e detecção de fraudes corporativas.

Assim, seria justo e correto atribuir a responsabilidade pela ocorrência de

fraudes ou de problemas de gestão que ocasionaram a falência de uma

empresa exclusivamente aos auditores? Os diretores financeiros, em conjunto

com auditores financeiros, que são responsáveis pela organização do controle

interno, têm também responsabilidades específicas na prevenção de fraudes e

podem ser responsabilizados em caso de ocorrência de uma delas.

Os membros do conselho fiscal também desempenham um papel

especial em matéria de fraude corporativa. Hassink (2009) aponta que o

conselho fiscal tem responsabilidade específica em matéria de fraude de

gestão, bem como quando a administração se recusa a tomar medidas

corretivas. Além disso, a decisão quanto à existência ou não de fraude

corporativa deve ser tornado público pelo conselho fiscal. Diretores financeiros,

controllers financeiros e membros de supervisão são, portanto, incluídos na

relação como representantes dos gestores empresariais.

Todos estes fatores levam a um ponto em comum. Mais um a vez a

auditoria se encontrou no centro dos escândalos financeiros, um filme já visto e

com final também previsível. A credibilidade deve ser constantemente

conquistada, novos escândalos surgirão com novos protagonistas e talvez

velhos e conhecidos problemas, será o mundo em evolução?

24

CAPÍTULO III

ALTERNATIVAS PARA SE RESTABELECER A

CREDIBILIDADE

Em dezembro de 2005, após 3 anos de experiência, o Conselho

Monetário Nacional decidiu suspender os efeitos do rodízio de firmas de

Auditoria para Instituições Financeiras para exames de auditoria a serem

realizados nos exercícios a findar em dezembro de 2006 e de 2007. A

Resolução no 3.332, do Conselho Monetário Nacional, determinou:

Suspender, até 31 de dezembro de 2007, a obrigatoriedade prevista no art. 9º. do Regulamento anexo à Resolução 3.198, de 27 de maio de 2004, relativa à substituição periódica do auditor independente contratado pelas instituições financeiras[...].

Instituída após a comprovação de falha nos exames das demonstrações

contábeis de Instituições Financeiras na década de 80, a substituição periódica

e obrigatória de auditores, no Brasil, passou a ser requerida pelo BACEN –

Banco Central do Brasil e pela CVM – Comissão de Valores Mobiliários, no

intuito de atenuar a falta de credibilidade que o mercado financeiro passou a

apresentar com a descontinuidade das instituições financeiras e também pelos

prejuízos financeiros gerados a diversos correntistas. Assunto polêmico, ele foi

amplamente discutido pelo mercado, com posições favoráveis e desfavoráveis,

entretanto, a nova decisão do Banco Central é conseqüência da experiência de

três anos do sistema no mercado financeiro e carece, como mencionado a

referida resolução, de uma nova avaliação, explica Brandt (2011).

A atuação do auditor independente no âmbito do mercado de valores

mobiliários passou a ser discutida no Brasil e foi incrementada com as

evidências de fraudes e de escândalos corporativos nos Estados Unidos e na

Europa. O desaparecimento prematuro da firma de auditoria Arthur Andersen e

os erros dos trabalhos de auditoria sobre as demonstrações contábeis das

entidades americanas, ocasionaram uma grande intervenção do governo

americano no mercado de valores mobiliários.

25

Como enfatiza Vampel (2004), para responder aos escândalos

corporativos que abalaram os mercados de capitais do mundo inteiro, o governo

americano promulgou a Lei Sarbanes-Oxley (SOX) para dar maior credibilidade

ao mercado de capitais.

Destaque-se a posição do General Accounting Office (GAO) que

concluiu para o mercado americano que “a ação em curso mais prudente neste

momento é para a SEC – Securities Exchange Commission – e para o PCAOB

– Public Accounting Oversight Board – seria monitorar e avaliar a efetividade

dos requerimentos da Lei Sarbanes-Oxley no que tange à melhoria da

independência do auditor e da qualidade da auditoria” e, portanto, atrasar o

rodízio obrigatório de firma até que as reformas produzidas pela SOX pudessem

ser avaliadas. O posicionamento mencionado ocorreu em 2003 e, apesar de o

rodízio obrigatório de firmas não ter sido recomendado, o GAO sugeriu,

entretanto, que tal procedimento se tornará necessário se a Lei Sarbanes-Oxley

não aumentar a qualidade da auditoria.

Ainda de acordo com Vampel (2004), por ser uma atividade em que a

confiança entre cliente e auditor é conquistada de forma lenta, a auditoria

independente tem sido caracterizada por relacionamentos comerciais de longo

prazo com seus clientes. Nesse pressuposto, a CVM – Comissão de Valores

Mobiliários (2004) justificou o rodízio de firmas no seguinte contexto “quando

uma auditoria trabalha por muito tempo na mesma empresa, é natural uma

acomodação”.

A função da auditoria independente é muito importante no mercado de

capitais, pois proporciona proteção aos interesses do investidor, requerendo

que as firmas de auditoria sejam independentes do seu cliente e atuem em

nome da sociedade. Entretanto, o controle sobre a contratação e a troca de

auditores está sob a responsabilidade da administração do cliente que,

combinada com a forte motivação da administração na obtenção de melhores

desempenhos e resultados, impõe sobre o auditor uma forte pressão a respeito

dos resultados dos trabalhos de auditoria.

O rodízio de firmas, portanto, é capaz de preservar a independência do

auditor e evitar fraudes no exame de auditoria das demonstrações contábeis

das empresas?

26

3.1 A Auditoria Independente e as Fraudes Corporativas

Para Vampel (2004), o conceito de fraudes apresenta uma dimensão

bastante ampla. O SAS (Statement on Auditing Standard) nº 82, “Consideração

de fraude em uma auditoria contábil”, estabelece que o interesse do auditor se

relaciona especificamente a atos fraudulentos que provoquem distorções

relevantes nas demonstrações contábeis. Essas distorções são divididas em

dois tipos: (1) àquelas relativas à preparação fraudulenta de demonstrações

contábeis e (2) às referentes à apropriação indébita de ativos.

A responsabilidade do auditor pela detecção de fraudes ou de erros não

intencionais concerne ao planejamento da auditoria de forma tal que obtenha

segurança razoável de que as demonstrações contábeis não contêm distorções

relevantes causadas por erro ou fraude. O auditor deve avaliar no planejamento

o risco de fraude.

As normas de auditoria brasileiras apresentam-se harmonizadas em

relação às normas internacionais e americanas no que concerne ao tema da

fraude. Dentro de sua estrutura conceitual, determina procedimentos de

auditoria que devem ser realizados e enfatiza a responsabilidade da

administração na prevenção e na identificação de fraudes mediante a

manutenção de um sistema de controles internos.

Apesar de o trabalho em auditoria não ser voltado necessariamente para

a descoberta de fraudes, o tema foi objeto de pesquisa recente pela firma de

Auditoria KPMG (2004). Em sua terceira edição, o relatório da pesquisa de

2004 sobre “A Fraude no Brasil” ressalta que os controles internos deficientes

permitiram a ocorrência de fraudes e as organizações estão se concentrando

em métodos internos de detecção de fraudes, em treinamento de pessoal e no

estabelecimento de um código de conduta ou de comportamento profissional. A

constatação de fraudes é, em sua grande maioria, feita pela auditoria interna

(39%) e pelos controles internos (52%). A auditoria independente apareceu em

apenas 2% das citações, explica Vampel (2004).

A pesquisa “2004 Report to the Nation on Occupational Fraud and

Abuse”, elaborada pela Association of Certified Fraud Examiners, ressalta, em

seu sumário executivo, a utilização dos Comitês de Auditoria como

27

canalizadores do recebimento desses relatórios confidenciais demandados por

avisos anônimos de funcionários sobre operações fraudulentas nas

organizações, além da constatação de que esse procedimento é mais eficiente

que a prática de auditoria independente e até mesmo de auditoria interna.

O dilema sobre a responsabilidade de identificar fraudes pelos auditores

independentes é abordado por Antunes (1998) que menciona a mudança de

visão dos auditores, ao longo do tempo, com relação a fraudes. Antes de 1900,

a detecção de fraudes era um dos objetivos primários da atividade de auditoria.

Em 1912, Montgomery, em sua obra Auditing Theory and Practice, constatava

que a detecção de fraudes era um objetivo menor do trabalho dos auditores

independentes.

Nepomuceno (2002) ressalta que, em 1933, quando o Congresso

Americano analisava a Lei de Ações, houve uma proposta para submeter às

demonstrações contábeis aos auditores do Governo, em vez de aos auditores

independentes. Com efeito, entre 1940 e 1950, os auditores não tinham

nenhuma responsabilidade de identificar fraudes. Em 1951, as publicações do

AICPA indicavam que a auditoria não era projetada para descobrir

irregularidades.

Nos anos 60, para Nepomuceno (2002), tais publicações consideravam

que os auditores assumiam alguma responsabilidade na detecção, no caso de

suspeitas de eventos que estimulassem as fraudes. A SAS -16, The

Independent Auditor’s Responsibility for the Detection of Errors or Irregularities,

publicada em 1977, esclarecia que o auditor tinha a responsabilidade de

pesquisar irregularidades relevantes. Em 1988, a SAS (Statement on Auditing

Standard) 53 obrigou os auditores a avaliarem o risco de fraude e planejarem a

auditoria para prover razoável segurança na detecção desses riscos. Em

fevereiro de 1997, a SAS - 82 - Consideration of Fraud in a Financial Statement

Audit, que determinava que o “auditor tem a responsabilidade de planejar e

desenvolver a auditoria para obter razoável segurança de que as

demonstrações financeiras estão livres de classificações indevidas relevantes,

ocasionadas por erros ou fraudes”.

28

3.2 Cronologia do Rodízio das Firmas de Auditoria

Chew (2003) em seu estudo sobre a história do rodízio de firmas de

Auditoria menciona que no início do século XX, as práticas britânicas de

contabilidade e de auditoria tinham grande influência sobre o mercado

americano. Não obstante um número extenso de fraudes em corporações

inglesas, com os casos “Leeds Estate Building and Investments Co”. “The

Kingston Cotton Mill Company em 1896 e Rex v Kylsant em 1931”, a

estabilidade do auditor não havia sido questionada, apesar de suspeitas.

Algumas companhias consideraram os benefícios da mudança de

auditores externos como uma forma de buscar mais valor do que foco em seus

custos. De fato, a maior empresa americana, E. I. DuPont de Nemours &

Company (Du-Pont), começou a adotar como política o processo de mudar

seus auditores e procedeu ao rodízio de auditores a cada ano, no período de

1911 até 1927, exceto em 1919. Em 1928, a companhia alterou sua política e

experimentou ter um mesmo auditor por anos consecutivos. A rotação periódica

aconteceu até 1954, quando a DuPont decidiu apontar um único auditor

independente de forma permanente.

Outro caso destacado por Chew (2003), em 1939, o caso McKesson e

Robbins foi o primeiro exemplo em que as práticas de auditoria foram

publicamente criticadas e julgadas. O caso envolveu uma fraude do seu ex-

presidente e de seus três irmãos para fraudar a companhia. Eles elaboraram

um esquema com empresas fictícias, estoques inexistentes e forjaram uma

variedade grande de documentos. Quando a fraude foi descoberta, constatou-

se que havia ocorrido um desvio de aproximadamente US$ 2,9 milhões do

caixa da companhia em um período de 12 anos. Em razão da falta de dois

procedimentos de auditoria, o primeiro, a observação física dos estoques e o

segundo o de se obter a confirmação de contas a receber, naquela

oportunidade procedimentos de auditoria ainda não requeridos, o auditor

independente não detectou o montante de US$ 19 milhões de ativos não

existentes e US$ 1,8 milhões de vendas fictícias. Em consequência, o rodízio

de firmas passou a ser discutido e, ao final do processo de avaliação, o

29

acompanhamento dos inventários físicos e a confirmação de saldos passaram a

ser procedimentos obrigatórios em um trabalho de auditoria.

Na década de 70, graças ao aumento da competitividade entre as firmas

de auditoria, o debate sobre o rodízio foi iniciado e Chew (2003) enfatiza que,

em 1976, dois eventos contribuíram para incitar novamente a discussão:

primeiro, a tentativa no Senado Federal dos Estados Unidos, na Comissão de

Direitos e Responsabilidades Corporativas, de adotar o rodízio a cada cinco

anos para as empresas listadas em Bolsa de Valores. Não houve sucesso

nessa petição.

O segundo evento foi precipitado pelo apoio à rotação de firmas de

auditoria na Subcomissão do Senado Federal para Relatórios de Auditoria e da

Administração. O senador Lee Metcalf, em seus estudos, menciona a existência

de erros e falhas corporativas e dificuldades financeiras não informadas pelas

grandes empresas ao mercado. O relatório final sobre diversos temas

contábeis, em suas 16 recomendações, propõe na recomendação nº 4, a

adoção do rodízio de firmas.

3.3 Aspectos Positivos e Negativos do Rodízio de Firmas

Em pronunciamentos específicos, o AICPA (1992) e o IBRACON, (2003)

se posicionaram contra o rodízio de firmas de auditoria. Além disso, as

pesquisas internacionais compiladas por Oliveira e Bastos (2007) sobre o tema

descrevem os principais aspectos negativos e positivos sobre o rodízio de

firmas que são apresentados no quadro.

Tabela 2 に Aspectos Negativos e Positivos sobre o Rodízio de Firmas. Fonte: OLIVEIRA e

BASTOS (2007)

Aspectos Negativos Aspectos Positivos

a) Não mantém o conhecimento acumulado da firma de auditoria que tem feito os trabalhos. O foco dos trabalhos do novo auditor pode não ser direcionado para áreas de risco; b) Desestabiliza a relação econômica entre as partes. No primeiro ano de trabalho é realizado um investimento considerável pelas firmas na expectativa de ser recuperado em anos subseqüentes por trabalhos mais

a) Socializa o conhecimento técnico pois quebra o monopólio do conhecimento e da prática de auditoria de determinado segmento; b) Satisfaz o público com a quebra de relacionamento de longo prazo, conferindo a determinados usuários de demonstrações contábeis uma percepção de maior independência;

30

eficientes e mais bem planejados; c)Redução dos investimentos em especialização dos auditores, pois as firmas não alocariam recursos na formação técnica, sem a certeza de que a interrupção do relacionamento ocorreria por circunstâncias normais, e não por decisão regulatória; d) A governança corporativa é afetada, pois liberdade de escolha estaria sendo impactada em sua essência; e) Desequilibra o mercado das firmas, pois a busca pela recomposição de carteiras de clientes, seria estruturada de forma inadequada, sem respeitar as condições normais de mercado; f) A carreira em auditoria seria dificultada, pois a perda desses clientes pode propiciar até mesmo a interrupção da prática de auditoria de firmas.

c) Muda o perfil do auditor nas empresas submetidas ao rodízio. Um perfil mais técnico do auditor é privilegiado em detrimento do perfil comercial e gerador de novos trabalhos; d) Requer maior atenção do auditor pelo processo frequente de troca, pela exposição de seus papéis de trabalho a outros auditores, sucessores ou revisores; e) Focaliza a atenção do auditor no acionista, e não na administração. f) Muda a metodologia de auditoria com foco concentrado nos procedimentos obrigatórios e maior objetividade na alocação e no foco dos testes de auditoria. g) Atenua a falta de fiscalização do Estado, pois a possibilidade de o auditor sucessor ter acesso aos papéis de trabalho referentes ao processo de auditoria das demonstrações contábeis das empresas pode ser considerada uma forma de fiscalização adicional, que deveria estar sendo feita pelo Estado.

3.4 Pesquisas Realizadas e a Posição Internacional ao Rodízio

Chew (2003) explica que na Itália, a pesquisa desenvolvida pela

Universidade de Bolonha, SDA Universitá Bocconi, sobre os efeitos do rodízio

de firmas de auditoria no mercado de capitais, chamada de “The impact of

mandatory audit rotation on audit quality and on audit pricing: the case of Italy”

foi realizada com empresas listadas na Bolsa de Valores e visa identificar as

bases empíricas dos possíveis impactos do rodízio das firmas de auditoria,

introduzido em 1975.

Os resultados dessa pesquisa, emitidos em 2002, demonstraram uma

grande concentração do mercado pelas grandes firmas de auditoria e que as

normas de rodízio não davam às pequenas e às médias firmas de auditoria

oportunidade de competir com as grandes firmas. Além disso, foi confirmado

um impacto significativo nos custos de serviços de auditoria nos primeiros anos

do trabalho, pois mais horas seriam necessárias para realização dos trabalhos

e staff mais qualificado em relação a trabalhos de auditoria de demonstrações

contábeis considerados rotineiros. Foi confirmado que os erros nos pareceres

foram cometidos no primeiro ano de relacionamento do novo auditor, quando

31

ele ainda não tinha todo o conhecimento requerido para auditar a companhia. A

pesquisa confirma que o rodízio de firmas tem um impacto negativo na

qualidade dos trabalhos durante o primeiro ano do serviço.

Constatou-se, também, segundo Chew (2003) que existe uma freqüência

muito grande de pareceres qualificados com ressalvas a partir do terceiro ano

de relacionamento, quando se presume que as firmas de auditoria adquirem um

conhecimento profundo a respeito da entidade auditada.

Nos Estados Unidos o Congresso dos Estados Unidos encomendou ao

Departamento Geral de Contabilidade Norte-Americano, conhecido como GAO

– General Accounting Office, um relatório para avaliar se o rodízio de firmas de

auditoria seria uma medida adequada para evitar fraudes contábeis.

Após um ano de estudo, o GAO decidiu não recomendar o rodízio de

firmas, por considerar que os benefícios ainda seriam difíceis de prever e

quantificar, ao passo que os custos para as companhias certamente

aumentariam.

Os resultados confirmaram que a troca de auditorias aumenta o risco de

falhas nos primeiros anos após a mudança, em razão da falta de conhecimento

das operações da companhia, do ambiente de sistemas internos e das práticas

financeiras. As firmas, também, afirmaram que o custo dos honorários subiria

cerca de 20% em virtude do conhecimento a ser adquirido em cada novo

cliente. Ainda, o estudo confirmou que, aos olhos dos investidores individuais, o

rodízio de firmas seria positivo. A concorrência no mercado seria afetada, com

as firmas acreditando que o mercado de auditoria de empresas abertas se

tornaria mais concentrado em um pequeno número de firmas de auditoria.

O prazo de dois a três anos foi estabelecido pelos auditores pesquisados

como ideal para obter o conhecimento da estrutura operacional e dos processos

do novo cliente e, conseqüentemente, aprofundar e desenvolver uma auditoria

mais eficaz.

Na Inglaterra, em 29 de janeiro de 2003, o grupo denominado

Coordinating Group on Audit and Accounting Issues (CGAA) emitiu o relatório

final sobre a revisão dos procedimentos e políticas empregadas no Reino Unido

no que tange à atividade de auditoria independente.

32

O relatório final reconheceu que, sejam quais forem os efeitos reais do

rodízio sobre a independência dos auditores, ele teria em si a virtude de

melhorar a percepção de independência e, portanto, de ampliar a confiança no

trabalho do auditor. A explicação estaria no fato de que é freqüente a suspeita

de que relacionamentos mais longos com o auditor podem gerar acomodação,

menos rigor na análise e perda do sentimento crítico na apuração dos números.

Entretanto, esse mesmo grupo identificou que, com o aumento da

complexidade dos negócios nas grandes empresas, os auditores podem levar

anos para compreender plenamente uma empresa ou as operações dessa

empresa; dessa forma, o rodízio poderia ampliar os riscos de falhas decorrentes

desse aprendizado. Ademais, foi salientada a falta de exemplos de sucesso

dessa prática na comunidade internacional, explica Chew (2003)

O relatório final não recomenda o rodízio de firmas e solicita a adoção do

rodízio de sócios a cada cinco anos e de outros sócios-chave para o processo a

cada sete anos.

No contexto internacional, o procedimento de rodízio de auditores

independentes tem sido debatido em vários ambientes de negócio, porém com

aplicação concreta extremamente restrita.

Nos Estados Unidos da América, como exemplo de ambiente de negócio

e profissional de alto desenvolvimento, o debate do assunto iniciou-se na

década de 1930, sendo subseqüentemente rediscutido com certa periodicidade.

Porém, a adoção do procedimento de rodízio de firmas de auditoria nesse país

tem sido reiteradamente rejeitada. Recentemente, em setembro de 1996, a

General Accounting Office (agência do governo americano), decidiu novamente,

de forma expressa, não recomendar esse procedimento.

Quanto à América do Sul, cita Chew (2003), esse procedimento foi

aplicado no Peru e limitado às instituições financeiras. Contudo, em setembro

de 1997, esse procedimento foi alterado, sendo agora somente requerido o

rodízio da equipe de Auditoria a cada cinco anos, e não mais o rodízio de firma

de Auditoria. Esse procedimento está em linha com as regras sobre rodízio de

auditores adotadas na Argentina.

No contexto europeu, a Grécia, a Espanha e a Itália adotaram a rodízio

de firmas de Auditoria; porém, a Grécia a aboliu em 1994 e, no caso da

33

Espanha, esse procedimento foi abandonado em 1995, não chegando a ser

adotado, e a Itália estuda sua eliminação, no contexto da Comunidade

Econômica Européia.

Da mesma maneira, a Turquia, também, abandonou esse procedimento

em 1998, justificando essa decisão pelo fato de não ser adotado nas economias

mais desenvolvidas.

Tabela 3 に Aplicação do Rodízio に em firmas e em profissionais. Fonte: GAO (2003)

País Rodízio de Profissionais Rodízio de Firmas Estados Unidos SIM NÃO

Reino Unido SIM NÃO

Itália NÃO SIM

Brasil SIM SIM

Cingapura SIM SIM

Áustria NÃO SIM

França SIM NÃO

Espanha SIM ABANDONOU

Holanda SIM NÃO

Japão SIM NÃO

Canadá SIM ABANDONOU

Alemanha SIM NÃO

Catar NÃO SIM

Grécia SIM ABANDONOU

Índia NÃO SIM

Lituânia NÃO SIM

Republica Checa SIM ABANDONOU

Turquia SIM ABANDONOU

Eslováquia SIM ABANDONOU

34

3.5 Pesquisa Realizada com Executivos e Auditores

Para Brandt (2011), a complexidade do tema “Rodízio de firmas de

Auditoria” e a diversidade de opiniões a respeito de sua aplicabilidade nos

diversos segmentos que compõem o mercado de capitais no Brasil, determinou

a elaboração de uma pesquisa com os auditores independentes, representados

por profissionais de firmas de Auditoria e por auditores pessoas físicas e com

os executivos de empresas, representados pelos responsáveis pela elaboração

das demonstrações contábeis, pelos profissionais que atuam em contato direto

com os auditores e pelas pessoas em funções de controle de componentes

estratégicos das demonstrações contábeis das empresas.

O objetivo da pesquisa é o de confirmar se o rodízio de firmas da

Auditoria tem a capacidade de diminuir os riscos de perda de independência

dos auditores e de evitar erros e fraudes na elaboração de um exame das

demonstrações contábeis.

Brandt (2011) esclarece que a amostra para os executivos foi

determinada pelas 300 maiores empresas indicadas na Revista Exame e pelos

50 maiores Bancos brasileiros indicados na Revista Conjuntura Econômica.

Foram obtidos 84 questionários de executivos que se colocaram à disposição

para respondê-los. No que tange aos auditores independentes, foram enviados

70 questionários para profissionais que trabalham em 30 firmas de auditoria

independente e foram obtidos 43 questionários respondidos. Dessa amostra, os

profissionais solicitados a opinarem são categorizados em sócios de firmas,

diretores, gerentes, supervisores, seniores e assistentes.

A pesquisa foi efetuada de 15 de maio a 30 de junho de 2004, e os

principais resultados estão assim apresentados:

Confirmou-se que os auditores alteraram a forma de trabalhar nos

clientes. O foco adicional aos trabalhos vem enfatizando o conhecimento do

ambiente de controles internos e a identificação de fraudes contábeis na

empresas, com novos procedimentos de auditoria focados em fraudes.

É importante destacar que a pesquisa confirmou que os auditores se

sentem mais à vontade não atuando como consultores. Essa posição já reflete

35

uma pressão externa regulatória. A cultura do auditor-consultor tem-se

reduzido, não por iniciativa das firmas, mas pela consciência de quem contrata.

O conhecimento acumulado pelo auditor na empresa é considerado um

ponto fundamental para os clientes. As opiniões identificaram problemas de

eficiência nos primeiros anos de auditoria. Os auditores sentem-se mais

eficientes quando conhecem os controles internos e o segmento de atuação do

cliente. A posição similar dos entrevistados confirma que é fundamental o

conhecimento acumulado no processo de auditoria.

Tabela 4 に Eficácia do Rodízio, Perfil dos Auditores e das Firmas. Fonte: Revista EXAME (2004)

Afirmações dirigidas aos executivos Concorda % Discorda %

Forma de trabalhar dos auditores mudou após os escândalos coorporativos 85 15

Troca de auditores deve ser definida pelo órgão regulador 52 48

Os auditores não devem atuar como consultores de seus clientes 63 37

Não devem ser utilizados profissionais sem experiência nas equipes de auditoria 55 45

Auditores recém-contratados são pouco eficientes em seu trabalho 65 35

Os erros contábeis aumentam com a relação de longo prazo do auditor e cliente 46 54

Troca constante de staff aumenta a qualidade dos trabalhos 25 75

Mudar a firma de auditoria gera maior sensação de independência 58 42

Existem situações de conflito de interesses em trabalhos feitos por auditores 75 25

O rodízio de firmas de auditoria

Afirmações Muito Importante Pouco /Sem

Importante Importância

O conhecimento acumulado do auditor 54 41 5

Mudanças de sócios gera nova visão nos trabalhos 31 52 17

Auditor deve identifi car fraudes e erros contábeis 82 18 0

A empresa de auditoria deve ter Código de Ética 71 19 10

Governo deve quebrar a concentração do mercado de auditoria 25 16 59

Depart de monitoramento de problemas de independência 76 23 1

Presença de sócios e gerentes em campo 55 35 10

Uma nova forma de trabalho de auditoria é requerida 39 47 14

36

Perguntas Sim % Não %

Foi modificada a forma de trabalhar dos auditores após os escândalos? 74 26

A perda compulsória do cliente altera a forma de trabalho? 51 49

A atualização técnica disponível no mercado é suficiente para os auditores? 38 62

Auditor deve atuar como consultor em clientes de auditoria? 34 66

A utilização de profissionais menos experientes aumenta o risco do trabalho? 33 67

Preço de um serviço de auditoria é compatível com a responsabilidade? 14 86

Conhecimento acumulado gera maior eficiência nos trabalhos? 84 16

Erros contábeis são identificados pelo auditor? 83 17

Prática e normas de auditoria são capazes de identificar fraudes contábeis? 39 61

Governo deve atuar na concentração de mercado de auditoria? 19 81

Favorável ao rodízio de firmas? 22 78

Favorável ao rodízio de profissionais? 71 29

Foi discrepante a diferença de visão em relação a fraudes contábeis.

Nesse tópico, as partes apresentaram visões completamente distintas em

relação ao assunto. As empresas consideraram essencial a identificação de

fraudes pelas firmas de auditoria, e os auditores confirmaram que os

procedimentos que executam nos exames de auditoria não são capazes de

identificar fraudes.

Os procedimentos de auditoria são direcionados para que as

demonstrações contábeis estejam adequadamente apresentadas, portanto,

muito distantes dos procedimentos de identificação de fraudes contábeis, nos

quais a relevância não é levada em consideração e a forma de atuação é

completamente distinta do padrão de auditoria atual. Desse modo, a presença

de mais auditores seniores em campo foi requerida pelos executivos das

empresas.

37

CONCLUSÃO

O estudo não confirma a efetividade do rodízio como uma medida que

visa à emissão de demonstrações contábeis mais adequadas e reais e a

realização de exames de auditoria mais eficazes nas empresas.

A independência do auditor, a questão ética identificada nas fraudes, foi

estudada no contexto da formação do valor ético pessoal e sob a ótica do

relacionamento do auditor com o cliente. A determinação de prazos para

diminuir o relacionamento pessoal e profissional de longo prazo entre firmas de

auditoria e clientes não extingue a possibilidade de falhas e erros no trabalho do

novo auditor.

A formação ética, o histórico moral e, principalmente, a estrutura

emocional como pessoa serão os atributos que definirão se o auditor aceitará

conviver com situações que possam ser consideradas inadequadas dentro do

campo da Contabilidade e das normas de Auditoria Independente.

As propostas inadequadas de funcionários a auditores, ocorrências de

fraudes corporativas e erros contábeis, tentativas de suborno, omissão de

informações financeiras ao mercado e outras situações similares podem

acontecer em um relacionamento de poucos meses, 2 anos, 20 anos ou até 50

anos. Os anos de relacionamento não interferem na conduta pessoal. A perda

de independência decorre da perda da integridade e da objetividade, padrões

comportamentais e de fundo mental que são inerentes a cada pessoa.

O estudo identifica várias pesquisas com evidências de aumento de

erros cometidos nos primeiros anos de relacionamento do novo auditor, quando

esse ainda não tinha todo o conhecimento requerido para auditar a companhia.

Na pesquisa local, o aspecto do “conhecimento acumulado” do auditor na

empresa foi considerado fundamental pelos clientes que constataram

procedimentos de auditoria pouco eficientes nos primeiros anos de

relacionamento. Em igual sentido, a quase totalidade dos auditores sente-se

mais eficiente quando conhece os controles internos e o segmento de atuação

do cliente.

A diferença de visão entre executivos e auditores em relação a fraudes é

relevante e preocupante. As empresas consideraram essencial a identificação

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de fraudes pelas firmas de Auditoria e os auditores confirmaram que os

procedimentos que executam nos exames de auditoria não são capazes de

identificar fraudes.

Os procedimentos de auditoria são direcionados para que as

demonstrações contábeis estejam fidedignamente apresentadas de acordo com

os princípios de contabilidade geralmente aceitos, portanto, muito distantes dos

procedimentos específicos, utilizados na identificação de fraudes, nos quais a

relevância e materialidade não são levadas em consideração e a forma de

trabalho é completamente distinta do padrão de auditoria atual. Tal fato é

salientado na pesquisa local com auditores, na confirmação de que as normas

de Auditoria não são capazes de identificar fraudes e pela grande solicitação de

presença de auditores mais experientes no ambiente corporativo das empresas.

O estudo confirma que os riscos de fraude e de erros contábeis são

aumentados no processo de auditoria das demonstrações contábeis das

empresas quando se adota o rodízio de firmas. A pouca convivência do auditor

com o ambiente interno de seu cliente, a baixa exposição à cultura corporativa

e o fato de não atuar diretamente no processo produtivo aumenta os riscos para

entendimento e crítica do ambiente de controles internos das entidades.

As pesquisas internacionais e locais sobre fraudes e sobre corrupção

empresarial confirmaram a pouca competência dos auditores externos na

identificação de fraudes. Ademais, como aspecto negativo, foi confirmado que a

educação continuada, disponibilizada aos auditores e contadores, não abrange

o conceito de fraudes na intensidade solicitada pelo mercado.

Assim, mesmo com a troca de auditores, se não houver um foco

específico no seu treinamento e na mudança das normas de Auditoria para a

identifi cação de fraudes, é certo que, com ou sem o rodízio, processos

fraudulentos devem continuar nas empresas.

Apesar das opiniões favoráveis e contrárias ao rodízio, o estudo confirma

que os aspectos inerentes à natureza humana na vida corporativa e no mundo

dos negócios - dimensionados na cobiça, na ambição e na vaidade - são

características comuns às pessoas e potencializadas no dia a dia do trabalho e

em determinadas ocasiões pode fazer prevalecer o interesse pessoal em

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detrimento do interesse público. Nessas circunstâncias, não há auditoria que

esteja livre de erros, fraudes e substituições de firmas de Auditoria.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02 AGRADECIMENTO 03 DEDICATÓRIA 04 RESUMO 05 METODOLOGIA 06 SUMÁRIO 07 INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I A RESPONSABILIDADE DO AUDITOR 09 1.1 – Aspectos Gerais da Auditoria 09 1.2 – Independência 12 1.3 – Integridade 12 1.4 – Eficiência 13 1.5 – Sigilo 13 1.6 – Responsabilidades 13 1.6.1 A Responsabilidade Profissional 14

1.6.2 A Responsabilidade Civil 14 1.6.3 A Responsabilidade com Clientes 15

CAPÍTULO II A CRISE DE CONFIANÇA 16 2.1 – A Origem 16 2.2 – As Primeiras Vítimas 17 2.3 – A Tsunami 18 2.4 – Os Auditores e a Crise Financeira 19 2.5 – Possíveis Causas 21 2.6 – Fraude e Responsabilidade 21 CAPÍTULO III ALTERNATIVAS PARA SE RESTABELECER A CREDIBILIDADE 24 3.1 – A Auditoria Independente e as Fraudes Corporativas 26 3.2 – Cronologia do Rodízio das Firmas de Auditoria 28 3.3 – Aspectos Positivos e Negativos do Rodízio de Firmas 29 3.4 – Pesq Realizada e a Posição Internacional ao Rodízio 30 3.5 – Pesq Realizada com Executivos e Auditores 34 CONCLUSÃO 37 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 40 ÍNDICE 42

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