36
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL, QUEM CONSEGUE? Por: Mírian da Silva Villa Orientador Prof. Paulo José Gonçalves Rio de Janeiro 2012

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · 2012-03-01 · Sobre as emoções negativas, Goleman esclarece que a ira é a mais sedutora e intransigente e que ruminar

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

INTELIGÊNCIA EMOCIONAL, QUEM CONSEGUE?

Por: Mírian da Silva Villa

Orientador

Prof. Paulo José Gonçalves

Rio de Janeiro

2012

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

INTELIGÊNCIA EMOCIONAL, QUEM CONSEGUE?

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para conclusão do

curso de Pós Graduação “Latu Sensu” em Gestão

de Recursos Humanos.

Por: Mírian da Silva Villa

3

AGRADECIMENTOS

À minha família, pela paciência;

aos amigos, pela colaboração e

ao professor Paulo José pela

orientação.

4

DEDICATÓRIA

Dedico a todos que acreditam na

superação, que aceitam as diferenças,

compreendem as limitações, respeitam o

tempo, trabalham para o bem comum e

buscam seus caminhos.

5

RESUMO

Inteligência emocional é um tema muito discutido e sempre será,

pois a cada dia a ciência faz novas descobertas e acrescenta dados que

merecem estudo e reflexão. O movimento de ler ou estudar inteligência

emocional se dá somente àquele que acredita na evolução do ser humano.

Pare aí! Olhando por outro ângulo, será realmente possível controlar as

emoções? Pense. Pense no seu chefe. Pense na porta giratória do banco.

Pense nas horas perdidas dentro do transporte público.

Quando o pensamento entra no campo das ações, no campo do

concreto, o discurso muda. Diariamente nos deixamos levar pelo automatismo,

pela falta de educação disfarçada de medo, pela ignorância fingida de

autoconfiança. O fato é que há muito estudo, publicações, reflexões – essa é

mais uma – mas pouca prática.

Não será apresentada aqui nenhuma receita de bolo para acabar

com a agressividade nas ruas tampouco manual prático com regras de como

se tornar um chefe admirável. Será oferecido um repertório vasto de

pensamentos que permitirá refletir sobre as origens dos problemas e como

eles refletem nos comportamentos apresentados hoje no nosso meio social.

Este trabalho tem como base o estudo das pesquisas de Daniel Goleman

sobre inteligência emocional e inteligência social. Quanto à prática, vai

depender da curiosidade seguida de desprendimento de cada um.

6

METODOLOGIA

Utilizou-se como recurso material para a pesquisa: bibliografia de

diversos autores, bem como sites na internet que pudessem agregar

informação e facilitar o entendimento sobre o tema, permitindo assim, maior

capacidade para a crítica.

SUMÁRIO

7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I - O QUE É INTELIGÊNCIA 9

1.1 Inteligências Múltiplas 9

1.2 Aptidões da Inteligência Emocional 11

CAPÍTULO II - INTELIGÊNCIA SOCIAL 15

2.1 Neurociência Social e Isolamento Tecnológico 15

2.2 Inteligência Social e Sabedoria 18

2.3 Ingredientes da Inteligência Social 18

2.3.1 Primeira parte: Consciência social 19

2.3.2 Segunda parte: Facilidade social 22

CAPÍTULO III – OS GENES NÃO DETERMINAM NOSSO DESTINO 26

3.1 Epigenética Social e Responsabilidade Social 27

3.2 Os Caminhos Cerebrais para a Felicidade 29

CONCLUSÃO 35

BIBLIOGRAFIA 37

INTRODUÇÃO

8

Este trabalho tem como objetivo discorrer sobre inteligência

emocional e, consequentemente sobre inteligência social. A possibilidade de

trazer a teoria para a prática, de gerar reflexão, discussão e de auxiliar no

desenvolvimento pessoal e profissional também foi pensado na elaboração

deste trabalho.

No capítulo I são apresentados os conceitos sobre inteligência, as

diversas formas de entender inteligência e as múltiplas inteligências que

possuímos. A seguir temos as aptidões da inteligência emocional, como por

exemplo, autoconsciência e questões relativas a relacionamentos.

O capítulo II entra no campo da inteligência social. O que é, como

ela se dá, para que serve. Apresenta também a neurociência social, explica

sobre o isolamento tecnológico que vivemos hoje. Trata de sabedoria e detalha

os ingredientes que compõem a inteligência social, como empatia, consciência

social, sincronia, facilidade social e apresentação pessoal.

O capítulo III aborda a relação entre genética e destino, entre

educação e temperamento. Trata de epigenética social, de responsabilidade

social no campo das emoções e apresenta ainda reflexões sobre alegria,

felicidade e amor.

CAPÍTULO I – O QUE É INTELIGÊNCIA?

Aurélio Buarque de Holanda (2010) esclarece o significado de

inteligência como 1. Faculdade ou capacidade de aprender, apreender,

9

compreender ou adaptar-se facilmente; intelecto, intelectualidade. 2. Destreza

mental; agudeza, perspicácia. 3. Pessoa inteligente. (p. 432).

O site do Google (2011) fornece mais de 900 mil resultados em

décimos de segundos, são explicações das mais variadas vertentes e para os

mais diversos públicos, cada qual com sua linguagem própria. O assunto é

complexo, se não fosse, todos os “inteligentes” seriam bem sucedidos, não

passariam por dificuldades, contratempos e desagrados.

Numa visão tradicional, a inteligência é definida

operacionalmente como a capacidade de responder a

itens em testes de inteligência. A inferência, a partir dos

resultados de testes, de alguma capacidade subjacente é

apoiada por técnicas estatísticas que comparam

respostas de sujeitos em diferentes idades; a aparente

correlação desses resultados de testes através das

idades e através de diferentes testes corrobora a noção

de que a faculdade geral da inteligência, g, não muda

muito com a idade ou com treinamento ou experiência.

Ela é um atributo ou faculdade inata do indivíduo.

(GARDNER, 2000, p. 21).

O psicólogo Howard Gardner esclarece sobre a insatisfação com o

tradicional conceito de Qi e sugere observar as capacidades dos seres

humanos para resolver seus diferentes tipos de problemas, partindo dessa

observação ele criou a teoria das inteligências múltiplas.

1.1 As Inteligências Múltiplas

De acordo com Gardner (2000), os diversos papéis culturais que

desempenhamos exigem várias inteligências. A dança envolve inteligências

cinestésica, musical, interpessoal e espacial em graus variados, enquanto que

a política requer capacidades interpessoal, liguística e lógica. No adulto essas

multiplas faculdades funcionam combinadas, embora sejam independentes,

em grau significativo, uma das outras (p.30).

10

Inteligência lógico-matemática

Habilidade para raciocínio dedutivo e para solucionar problemas

matemáticos. Possuem esta caracaterística matemáticos, cientistas, filósofos,

engenheiros, cirurgiões, escultores e pintores. Grande parte da nossa

testagem está baseada nesta alta valorização das capacidaes verbais e

matemáticas;

Inteligência linguística

Caracteriza-se por um domínio e gosto especial pelos idiomas e

pelas palavras e por um desejo em os explorar. É predominante em poetas,

escritores e linguistas;

Inteligência espacial

É a capacidade de compreender o mundo visual com precisão,

permitindo transformar, modificar percepções e recriar experiências visuais até

mesmo sem estímulos físicos. É predominante em arquitetos, artistas,

escultores, cartógrafos, navegadores e jogadores de xadrez;

Inteligência musical

Habilidade para compor e executar padrões musicais, executando

pedaços de ouvido, em termos de ritmo e timbre, mas também escutando-os e

discernindo-os. Pode estar associada a outras inteligências, como a lingüística,

espacial ou corporal-cinestésica. É predominante em compositores, maestros,

músicos e críticos de música;

Inteligência corporal cinestésica

É a capacidade de controlar e orquestrar movimentos utilizando o

corpo inteiro ou partes do corpo. É predominante entre atores, dançarinos,

atletas e cirurgiões;

11

Inteligência intrapessoal

Expressa na capacidade de se conhecer, estando mais

desenvolvida em escritores, psicoterapeutas e conselheiros;

Inteligência interpessoal

É a habilidade de entender as intenções, motivações e desejos dos

outros. Encontra-se mais desenvolvida em políticos, religiosos bem sucedidos,

professores, vendedores, políticos e terapeutas.

Goleman definiu inteligência emocional como "...capacidade de

identificar os nossos próprios sentimentos e os dos outros, de nos motivarmos

e de gerir bem as emoções dentro de nós e nos nossos relacionamentos."

(Goleman, 1998). O autor trata de autoconhecimento, emoções, motivação e

equilíbrio.

1.2 Aptidões da Inteligência Emocional

Diversas teorias desenvolveram os estudiosos sobre Inteligência

emocional, uns estudaram o modo de se transmitir inteligência às nossas

emoções, outros tentaram introduzir as emoções nos domínios da inteligência,

as idéias foram se ampliando até que Salovey, psicólogo, expande o conceito

de Gardner em cinco bases:

Autoconsciência

Trata da consciência dos nossos sentimentos, da auto reflexão das

emoções durante situações turbulentas. É conseguir analisar o sentimento no

momento da raiva. Segundo Goleman, significa estar “consciente ao mesmo

tempo de nosso estado de espírito e de nossos pensamentos sobre esse

estado de espírito”. (p.60).

Cada pessoa adota um método para administrar suas emoções, as

Autoconscientes possuem clareza quanto suas emoções, são autônomas e

seguras, não ruminam pensamentos; as Mergulhadas são submergidas por

suas emoções, não têm muita consciência dos próprios sentimentos, são

12

instáveis e sentem-se esmagadas e as Resignadas aceitam seus estados de

espírito e não tentam mudá-los. Há ainda, os portadores de aleximitia, do

grego a (ausência), lexis (palavra) e thymós (emoção), incapacidade de

manifestar emoção, tais pessoas têm dificuldade para descrever sentimentos.

Ter consciência dos sentimentos auxilia nas decisões da vida das

quais depende grande parte o nosso destino, são escolhas que não podem ser

tomadas pela razão, exigem intuição e sabedoria emocional acumulada.

Conforme Goleman, “A chave para uma tomada de decisão, em suma: estar

sintonizado com nossos sentimentos.” (p.67).

Lidar com as emoções

É dar atenção a emoção na proporção certa, sem exagero e sem

subestimá-la. Todo sentimento tem seu valor e não se trata de eliminar e sim

de equilibrar as emoções, pois são os extremos que minam nossa estabilidade.

O controle das emoções ocorre em tempo integral, quase todas as nossas

escolhas são tentativas de controlar o estado de espírito. O problema está no

quando seremos arrebatados por uma emoção e qual será, porém podemos

definir por quanto tempo ela vai durar.

Sobre as emoções negativas, Goleman esclarece que a ira é a mais

sedutora e intransigente e que ruminar sobre seus motivos alimenta suas

chamas. A boa notícia é que a ira pode ser completamente detida se

conseguirmos gerar pensamentos que suavizem a cólera antes que se dê

vazão a ela.

A ansiedade tem seu núcleo na preocupação. Refletir sobre um

assunto incerto é buscar solução, o problema está com as preocupações

crônicas que não chegam a uma solução positiva, são incontroláveis, geram

ansiedade e consequentemente fobias, obsessões, compulsões e pânico.

Goleman (1995) ilustra: “A única coisa que os preocupados crônicos não

podem fazer é seguir o conselho que com mais freqüência lhes dão: “Pare de

se preocupar” (ou pior: “Não se preocupe – seja feliz”).” As experiências

descobriram que técnicas de relaxamento, contestar os pensamentos

preocupantes e autoconsciência são caminhos para o controle do hábito de

preocupar-se demais.

13

Quanto ao sentimento de melancolia, de tristeza, pontua o autor,

existem estratégias eficazes de combate que é aprender a contestar os

pensamentos centrais de ruminação e pensar alternativas positivas, a terapia é

grande aliado, outra alternativa é procurar distrações que mudem o estado de

espírito, para as depressões leves os exercícios aeróbicos funcionam bem,

raro, porém, não menos eficaz é ajudar os necessitados e quando se é

religioso, a prece.

Motivação

O significado da palavra emoção é “mover”, de acordo com o autor,

movimentamos nossas emoções no sentido de dificultar ou aumentar nossas

capacidades de pensar, planejar, alcançar uma meta. As emoções

descontroladas travam o raciocínio, já o estado de espírito positivo aumenta a

capacidade de pensar facilitando a solução de problemas. São as emoções

que definem como nos saímos na vida. O autor acrescenta:

Talvez não haja aptidão psicológica mais fundamental

que a resistência ao impulso. É a raiz de todo

autocontrole emocional, uma vez que todas as emoções

por sua própria natureza, levam a um ou outro impulso

para agir. (Goleman, 1995, p. 94).

As pessoas esperançosas destacam-se, elas acreditam serem

capazes, confiam nas suas habilidades, possuem flexibilidade, elas têm o

poder de se motivarem enquanto que as outras não trazem a certeza de que

atingirão suas metas.

Reconhecer as emoções nos outros

O desenvolvimento da autoconsciência leva à empatia, permite o

indivíduo entender como o outro se sente e esse processo se dá pela

observação de ações, palavras, tom, mudança de postura, o próprio silêncio –

que passam quase despercebidos pela maioria, mas não por aquele que

possui sintonia emocional. O oposto de empatia é antipatia. Quando nos

colocamos no lugar do outro entendemos como ele funciona, como pensa, age

14

e o que sente, esse exercício aprimora certos princípios morais. Os

relacionamentos têm origem na empatia.

Lidar com relacionamentos

O autocontrole e a empatia permitem o aprimoramento das aptidões

pessoais, que são as características sociais de cada um e que determinam o

sucesso ou desastre de uma relação, seja ela no formato de encontros,

reuniões profissionais ou de família. Todo tipo de relação exige o exercício de

aptidões sociais, são elas que nos permitem inspirar os outros, convencer,

influenciar e deixar os outros à vontade.

As crianças aprendem a disfarçar seus sentimentos quando eles vão

magoar alguém que amam, se seguem bem essa regra têm boa aceitação

social, se seguem mal criam problemas emocionais. Demonstrar emoção

sempre causa impacto no receptor. Saber como e quando expressar os

sentimentos dentro de um consenso social é um dos fatores da inteligência

emocional, pois as emoções são contagiosas como explica o autor.

A maior parte do contágio emocional é muito mais sutil,

parte de um tácito intercâmbio que ocorre em todo

encontro. Transmitimos e captamos modos uns dos

outros no que equivale a uma economia subterrânea da

psique, em que alguns encontros são tóxicos, alguns

revigorantes. Esse intercâmbio emocional se dá

tipicamente num nível sutil, quase imperceptível. (...)

Inteligência emocional inclui o controle desse intercâmbio.

(Goleman, 1995, p. 128).

CAPÍTULO II - INTELIGÊNCIA SOCIAL

2.1 Neurociência Social e Isolamento Tecnológico

Goleman explica sobre a descoberta da neurociência de que nossos

cérebros interagem atraídos por uma íntima ligação sempre que há afinidade

entre as pessoas. Trata-se de uma “ponte neural” que faz a ligação entre os

cérebros. Esta conexão afeta além do cérebro o corpo de todas as pessoas

que estão na mesma sintonia e exemplifica:

15

Tais circuitos entram em ação quando os olhos de dois

amantes se encontram e eles trocam o primeiro beijo, ou

quando lágrimas reprimidas rolam pelo rosto. São

responsáveis pelo brilho de uma conversa com um amigo

que nos renova as energias. Este sistema neural entra

em ação em qualquer interação em que sintonia e timing

sejam essenciais. É o que confere a um advogado a

certeza de que deseja determinada pessoa no júri; a um

negociador, a intuição de que aquela é a oferta final da

outra parte; ao paciente, a sensação de que pode confiar

o médico. É responsável pela magia que ocorre em uma

reunião em que todos param de mexer nos papéis, fazem

silêncio e se concentram no que o líder está dizendo.

(GOLEMAN, 2006, p. 4).

Essa ligação ocorre em todo tipo de relacionamento, os positivos

atuam de forma benéfica, enquanto que os relacionamentos deletérios atuam

como um envenenamento lento no nosso corpo. Quanto mais forte a ligação

emocional com a outra pessoa, maior é a força mútua. Com as pessoas mais

queridas, que passamos a maior parte do tempo, as trocas são mais potentes.

Todos os sentimentos atuam como vias de tráfego para o contágio emocional,

seja a tristeza ou da ansiedade à alegria. O autor esclarece (2006, p. 12):

“Sempre que ocorre uma conexão face a face (ou voz a voz, ou pele com pele)

com outra pessoa, nossos cérebros sociais se entrosam.”

Descobertas da neurociência com a célula fusiforme e os neurônios-

espelho, acrescenta o autor, ilustram o funcionamento do cérebro neural. A

célula fusiforme é um tipo de neurônio existente em maior quantidade nos

humanos, que atua com extrema velocidade, permitindo-nos tomar decisões

sociais em milésimos de segundo; Já os neurônios-espelho possuem células

capazes de sentir tanto os movimentos que a outra pessoa está prestes a fazer

quanto seus sentimentos, preparando-nos para a imitação.

O chamamento do autor atenta para a qualidade dos nossos

relacionamentos, para as escolhas que fazemos, para o desenvolvimento de

pessoas, o autoconhecimento e o tipo de sociedade que queremos.

16

Experiências vividas repetidas vezes esculpem a forma, o tamanho

e o número de neurônios bem como suas ligações sinápticas do nosso cérebro

social e com isso nós adotamos o mesmo comportamento sempre que ocorre

determinada situação. O cérebro social fica moldado de tantas vezes que

repetiu aquela ação e não sabe com agir diferente, isso tudo ocorre por meio

da “neuroplasticidade”. A repetição de ações gera um caminho dentro do

cérebro que vai se repetir sempre que a pessoa viver aquela situação.

Os pais têm grande influência no desenvolvimento das crianças,

pois o autor informa que padrões de comportamento dos pais modelam o

cérebro social das crianças de forma que elas cresçam satisfeitas com mundo

ou triste e retraída. Antes, essas atribuições eram do “temperamento”, hoje a

ciência concentra-se nos genes moldados pelas rotinas que a criança

vivenciou. Se os pais proporcionarem segurança e sintonia, o córtex

orbitofrontal floresce, esta é a região do cérebro neural para o mau

funcionamento emocional que regula os “caminhos” de relacionamento do

cérebro. Se eles forem indiferentes ou abusivos com as crianças o resultado é

uma limitação de regular a duração, a intensidade ou a frequencia de emoções

perturbadoras como raiva, terror ou vergonha.

A maneira com que escolhemos nos relacionar com o mundo

impacta na construção de nossas conexões neurais e, consequentemente, de

nossas conexões sociais, portanto quando preferimos alimentar as mágoas e

os relacionamentos negativos ou quando optamos pelos relacionamentos

positivos estamos moldando nosso cérebro. Com base na neuroplasticidade

que forma o cérebro social fica o questionamento do autor: O que significa ser

inteligente com relação ao mundo social?

Os estudos mostram a importância do relacionamento social,

contudo, a tecnologia conduz ao isolamento social. São crianças que passam

horas na frente da televisão quando poderiam estar interagindo com pessoas e

aprendendo a conviver com outras pessoas. Os clubes sociais reúnem

pessoas para práticas sociais, hoje, porém, as novas organizações não exigem

contato pessoal, a participação acontece por meio eletrônico.

De acordo com o exemplo do autor, o processo de isolamento

elimina a possibilidade de contato com a vida:

17

Essa cápsula individual criada pelos fones de ouvido

intensifica o isolamento social. Mesmo quando seu

usuário tem um encontro pessoal seus ouvidos tampados

são uma desculpa pronta para tratar o outro como um

objeto, e não como alguém cuja presença se deve

reconhecer ou, pelo menos, notar. Embora a rotina dos

pedestres ofereça a chance de cumprimentar uma

pessoa que se aproxima ou de conversar com um amigo

por alguns minutos, o usuário de ipod pode prontamente

ignorar qualquer pessoa, olhando através dela como se

fosse invisível. (GOLEMAN, 2006, p. 8).

Sobre as intervenções da tecnologia nas questões humanas

Goleman (2006) cita Alvin Weinberg, diretor do Oak Ridge National Laboratory

e fundador do Institute for Energy Analysis: “Vivemos em um metamundo, com

o olhar fixo na próxima tecnologia. No entanto, as questões mais importantes

são as famílias, a comunidade e a responsabilidade social.”

2.2 Inteligência Social e Sabedoria

A história conta que na década de 20, o psicólogo Edward Thorndike

definiu inteligência social como “a capacidade de entender e administrar

homens e mulheres”. Goleman pontua que essa definição permite a

manipulação de pessoas como sendo um talento pessoal, que a manipulação

de um em detrimento de outro não deve ser entendida como inteligência social.

Trata-se do contrário, a inteligência social deve ser aplicada em

nossos relacionamentos como que uma mudança de foco. O olhar que era

individual passa para a perspectiva do coletivo, para isso ocorrer entram em

cena a empatia e a solicitude, que permitem o exercício de respeitar o

18

interesse de todos. É o que Thorndike sugeriu: “Agir com sabedoria nos

relacionamentos humanos”.

Goleman atenta para a importância da responsabilidade de nosso

cérebro social que influência diretamente o cérebro social de quem convivemos

diariamente. Se nós sofremos influência também influenciamos e, portanto

somos responsáveis pela qualidade dos nossos relacionamentos:

Os relacionamentos em si assumem um novo significado,

por isso é preciso refletir sobre eles sob uma ótica

radicalmente diferente. As implicações têm interesse

teórico mais do que passageiro: levam-nos a reavaliar de

que forma vivemos. (GOLEMAN, 2006, p. 14).

2.3 Ingredientes da Inteligência Social

O teste de QI que desprezou a inteligência social considerando

apenas uma “inteligência geral aplicada a situações sociais” tornou-se

insuficiente. Com os estudos da neurociência e a possibilidade de

mapeamento de áreas do cérebro, a inteligência social começa a ser

repensada. Identifica-se, agora, quais são as habilidades humanas sociais e

quais são as emocionais. Goleman (2006) cita Richard Davidson, diretor do

Laboratório de Neurociência Afetiva da Universidade de Wisconsin: “Não

podemos separar a causa de uma emoção do mundo dos relacionamentos –

nossas interações sociais impulsionam nossas emoções.”

Goleman assume que seu modelo de inteligência emocional não

dava a devida atenção à inteligência social. Inserir a inteligência social no

âmbito da inteligência emocional permite repensar as habilidades humanas

desenvolvidas e aplicadas nos relacionamentos. A inteligência social se divide

em duas partes: consciência social e facilidade social.

2.3.1 Primeira parte: Consciência social

É perceber o outro, seu estado interno, desde compreender seus

sentimentos e pensamentos a entender determinadas situações sociais

19

difíceis. A consciência social é composta de empatia primordial, sintonia,

precisão empática e cognição social.

Empatia primordial

É a habilidade de sentir as emoções do outro, pode ocorrer de

maneira automática, ou não. Os neurocientistas acreditam que se trata de uma

empatia visceral e intuitiva. A todo o momento enviamos sinais sobre o que

sentimos, seja pelo tom da voz ou pelas expressões, mesmo quando tentamos

abolir os sinais de emoção, os sentimentos encontram formas de fluir de

alguma maneira, é impossível não nos comunicarmos.

Segundo o autor existem testes medidores de sensibilidade

interpessoal (entre pessoas). Os profissionais que se saem bem nesses testes

geralmente são considerados como sendo os mais sensíveis por seus colegas

ou gestores. Os professores conseguem melhores pontuações nas avaliações

de desempenho e são considerados mais eficientes já os médicos possuem os

pacientes mais satisfeitos.

As mulheres costumam se sair melhores que os homens no campo

da empatia que ao longo do tempo e das experiências vividas são aprimoradas

como exemplifica o autor (2006, p. 100): “As mulheres com filhos pequenos

são melhores decodificadoras não-verbais do que outras da mesma idade que

não têm filos. Mas quase todas melhoram do início da adolescência até os

vinte e poucos anos”.

Sintonia

É saber ouvir. É realmente se interessar pelo outro, não querendo

prevalecer sua opinião, mas ouvindo e opinando sem impor, respeitando as

necessidades do outro. A sintonia ultrapassa a empatia, é a certeza de que

“ambos” comungam do mesmo pensamento. Assim como as demais

capacidades, essa também pode ser aprimorada.

Há diferença, embora pareça sutil, quando simplesmente falamos

com uma pessoa e não a ouvimos. Nesse caso travamos um monólogo, pois a

fala não tem o retorno do outro, isso ocorre porque somente falamos e não

20

paramos para ouvir, a mensagem não muda de acordo com o estado de

espírito da outra pessoa. Importamo-nos somente conosco.

Quando iniciamos uma conversa, a pessoa (o nosso ouvinte) mostra

sua capacidade de ouvir e absorver nossa fala, após alguns momentos de

conexão nos sintonizamos com os sentimentos, o que dizemos é justamente o

que o outro sente, diz ou faz. Saber ouvir faz toda a diferença. Quando ambos

sabem ouvir cada um ajusta o que diz de acordo com o que o outro responde e

pensa. Saber ouvir distingue os melhores gerentes, professores e líderes.

Saber ouvir requer atenção total, tão ameaçada nessa era de

multitarefas, principalmente quando dividimos ou diminuímos o nosso foco. A

absorção em nós mesmos bem como as preocupações reduz a percepção no

outro, nos seus sentimentos e necessidades. Goleman esclarece:

Mas a presença total não exige muito de nós. “Uma

conversa de cinco minutos pode ser um momento

humano perfeitamente significativo”, observa um artigo

publicado na Harvard Business Review. “Para que

funcione, é preciso deixar de lado o que se está fazendo,

largar o memorando que se está lendo, deixar o

computador de lado, para de sonhar de olhos abertos e

prestar atenção na pessoa diante de nós.” (GOLEMAN,

2006, p. 103).

Saber ouvir conecta nossos circuitos neurais, maximiza a sincronia

psicológica, permite que as emoções se alinhem e gerem sentimentos

positivos.

Precisão empática

É a base da diplomacia, é entender os pensamentos, sentimentos e

intenções do outro, o que ele pretende fazer, mas faz isso em nível subliminar.

É sentir os sinais não verbais com o acréscimo de um entendimento claro

sobre o que o outro sente e pensa. São os políticos mais queridos, as

autoridades mais diplomáticas. O autor ilustra como a precisão empática se dá

no casamento:

21

A precisão empática parece ser um dos segredos para o

sucesso de um casamento, sobretudo nos primeiros

anos. Os casais que, durante o primeiro ou segundo ano

do casamento, são mais exatos na leitura um do outro

têm níveis mais altos de satisfação e seu casamento tem

mais chance de durar. Um déficit em tal exatidão é um

mau presságio: um sinal de uma relação mais difícil pode

ser lido quando um parceiro percebe que o outro se sente

mal mas não tem idéia do que se passaria exatamente

em sua mente. (GOLEMAN, 2006, p. 104).

Cognição Social

É saber se comportar adequadamente nos ambientes sociais,

entender como o mundo social funciona, conhecer seu sistema de significação,

decodificar seus sinais e ter uma conduta nos moldes que a situação exige.

Para isso, informação e calma é primordial.

É atentar para quem deve ser a pessoa mais poderosa em um

grupo, por exemplo, ou perceber as correntes políticas de uma organização.

Desde criança somos submetidos a essas regras sociais – como se comportar

na hora do recreio, explica o autor. Outra maneira de exprimir a cognição social

é a sutileza na disposição de lugares à mesa de pessoas inimigas; até mesmo

fazer amigos em uma nova cidade.

A cognição social nos leva a circular nas diversas correntes

interpessoais, auxilia a entender os acontecimentos sociais, o motivo pelo qual

uma pessoa se aborrece com algo que é banal para outra. Goleman

acrescenta (2006, p. 105): “Entender as normas implícitas que governam as

interações é essencial para as interações com pessoas de outra cultura, onde

as normas podem diferir marcadamente daquelas que aprendemos em nosso

grupo”.

Há uma interação entre as habilidades da consciência social. Para

entender a intenção do outro é necessário sentir seus sinais não verbais e

entrar em sintonia com ele. Com esses três componentes terei acesso ao

mundo social.

22

2.3.2 Segunda parte: Facilidade social

A facilidade social se baseia na consciência em âmbito social, na

fluidez da interação, no resultado da interação. É importar-se com o outro. A

facilidade social é composta de sincronia, apresentação pessoal, influência e

preocupação.

Sincronia

Trata de interação fluente e harmoniosa no nível não verbal com

outra pessoa. Um problema de sincronia causa desequilíbrio nas interações. É

a base dos outros aspectos da facilidade social.

Para haver sincronia é preciso que ambos façam as leituras não

verbais instantaneamente e tomem providências sem parar para pensar a

respeito. Os sinais não verbais de sincronia podem ser sorrir, balançar a

cabeça no momento certo ou inclinar o corpo na direção do outro. Os sinais de

quando não há sincronia podem ser balançar nervosamente o pé ou ficar

imóvel.

Há os que não possuem essa habilidade social, eles costumam

sofrer de “dissemia”, que é a incapacidade de ler (e agir) os sinais não verbais

que orientam as interações fluentes. São pessoas desligadas, não conseguem

observar os sinais implícitos, não percebem que uma conversa está chegando

ao fim, por exemplo. O autor discorre sobre a dissemia em crianças:

A dissemia tem sido estudada de forma mais eficaz em

crianças, principalmente porque atinge muitas que

acabam socialmente rejeitadas no contexto escolar. Por

exemplo, uma criança com esse problema pode deixar de

olhar para as pessoas que estão falando com ela, ficar

perto demais enquanto fala com alguém, ter expressões

faciais inapropriadas a seu estado emocional ou

demonstrar falta de tato ou insensibilidade para com os

sentimentos dos outros. Embora todos esses aspectos

possam parecer apenas “coisas de criança”, a maior parte

23

das outras crianças da mesma idade não tem tais

dificuldades. (GOLEMAN, 2006, p. 107).

No adulto, os problemas infantis transformam-se em relações

problemáticas. Os problemas vão desde a incapacidade de seguir pistas não

verbais até a dificuldade de iniciar novos relacionamentos e acabam isolados.

Apresentação pessoal

O foco é apresentar-se de maneira a produzir no outro o efeito

desejado, é apresentar-se de maneira eficiente. O carisma, a capacidade de

conquistar, é um componente da apresentação pessoal, ele desperta as

emoções. Isso acontece quando um líder arrebata uma multidão, Goleman

explica (2006, p. 108): “As pessoas carismáticas têm um instinto para a

expressividade que arrebata os outros a entrar em sincronia com seu ritmo e

captar seus sentimentos”.

Um belo exemplo de carisma é de um palestrante capaz de

“dominar” uma audiência, ele apresenta argumento conceitual com a dose

correta de emoção ao ponto de causar impacto emocional nas pessoas. Já as

pessoas da área de entretenimento precisam de habilidade para identificar o

tempo certo de agir, qual ação empregar e na cadência rítmica certa para

entreter a platéia.

Algumas pessoas possuem uma segurança natural na apresentação

pessoal, elas possuem a capacidade de “controlar” e “mascarar” a expressão

das emoções. São autoconfiantes, sabem agir e reagir com sutileza, a pose

social é natural, terão sucesso em qualquer situação.

As mulheres costumam ser mais expressivas emocionalmente que

os homens, havendo, muitas vezes, a necessidade de equilibrar a emoção na

apresentação pessoal. No ambiente organizacional convencionou-se que

expressões de emoção não são de bom tom sendo necessário conter o

impulso, inclusive, para as mulheres. Porém, se ela está no poder é permitido

demonstração de raiva quando se refere aos objetivos da equipe. O autor

explana sobre regras sociais:

Em nossa sociedade, existem normas sutis para quem

“deve” expressar emoções, limitando implicitamente tanto

24

homens quanto mulheres. Na vida privada, as mulheres

costumam ser vistas como capazes de expressar mais

apropriadamente medo e tristeza, e os homens, raiva –

uma norma que aprova tacitamente uma mulher que

chora abertamente, mas desaprova um homem que

derrama lágrimas quando está chateado. (GOLEMAN,

2006, p. 109).

Há pessoas que se preocupam somente com a apresentação

pessoal, sem possuírem nenhum conteúdo. Ignorar os demais ingredientes da

inteligência social não dá sustentação, pois apresentação sem conteúdo não

gera credibilidade.

Influência

A base da influência é a expressão, saber manifestar-se por gestos

e/ou palavras escritas ou faladas exerce influência construtiva no receptor e

gera resultado social positivo. Goleman pontua (2006, p. 111): “As pessoas

expressivas são consideradas pelos outros confiantes e dignas de amor e, em

geral, causam impressões favoráveis.”

Os simpatizantes do emprego da influência se orientam pela

percepção social. Eles reconhecem quando olhar para o lado é o melhor para

beneficiar uma relação, dependendo da situação é mais prudente absorver o

insight e agir de acordo.

Para adaptação às situações sociais, a discrição evita que sejamos

bombardeados por desconfortos emocionais gerados pelos outros. Conhecer

os padrões culturais bem como o comportamento apropriado de um contexto

social é sempre muito importante.

Preocupação

A preocupação tratada aqui é a preocupação com o bem estar do

próximo, do meu semelhante. Isso é sinal de inteligência social. Ela ocorre

quando nos colocamos no lugar do outro, quando geramos empatia e nos

motivamos a ajudar o outro. Trata-se de compaixão. Os manipuladores são

hábeis em outras capacidades sociais, mas são fracos nessa.

25

No contexto organizacional, as pessoas que se predispõem e se

oferecem a ajudar os colegas são as que se preocupam com o próximo, são

sensíveis ao sofrimento alheio e praticantes da boa cidadania organizacional.

Elas compreendem que com o trabalho em grupo consegue-se atingir objetivos

maiores. Algumas profissões têm como base o auxílio ao próximo, é o caso do

assistente social e do médico. O profissional que consegue desenvolver a

facilidade social da preocupação prospera na sua área.

Preocupação sem ação não significa muito, é necessário agir

efetivamente, produzir um efeito real utilizando talentos e conhecimentos

adquiridos. Eticamente, quanto maior o conhecimento maior a

responsabilidade no meio social. Se o indivíduo conseguiu desenvolver,

mesmo que mínima alguma percepção sobre consciência social e facilidade

social, ele está apto a fazer escolhas.

CAPÍTULO III – OS GENES NÃO DETERMINAM

NOSSO DESTINO

No final da década de 1970, Jerome Kagan, psicólogo de Harvard,

anunciou pela primeira vez que características de temperamento têm causas

biológicas e possivelmente genéticas. Na época, acreditava-se que problemas

comportamentais das crianças eram causados por características da educação

recebida: Pais autoritários, filhos tímidos, por exemplo. A declaração de Kagan

aliviou vários pais.

Hoje, a ciência comprova que determinados hábitos de

comportamento e temperamento são controlados por grupos de DNA. A

neurociência consegue descobrir com precisão o circuito neural que apresenta

problemas em uma determinada doença mental, assim como os

neurotransmissores que parecem não funcionar corretamente quando uma

criança se apresenta excessivamente sensível ou quando o comportamento é

de um psicopata em desenvolvimento.

Goleman descreve que testes de ansiedade realizados com ratos de

uma mesma linhagem apresentaram decisivas diferenças de laboratório para

26

laboratório. Pequenas diferenças como o modo como os ratos eram tratados e

quem os manipularam criavam desigualdade no comportamento dos animais e

de seus genes. O autor explica:

Para entender como funcionam nossos genes, devemos

avaliar a diferença entre ter um determinado gene e o

grau no qual tal gene expressa suas proteínas de

assinatura. Na expressão genética, essencialmente, um

pouco de DNA produz RNA, que por sua vez, produz uma

proteína que faz alguma coisa acontecer em nossa

biologia. Dos aproximadamente trinta mil genes existentes

do corpo humano, alguns só são expressos durante o

desenvolvimento embrionário e depois desaparecem para

sempre. Outros são ativados e desativados

constantemente. Alguns se expressam somente no

fígado; outros somente no cérebro. (GOLEMAN, 2006, p.

170).

3.1 Epigenética Social e Responsabilidade Social

A epigenética esclarece como fatores ambientais podem interferir no

funcionamento dos genes, essa ciência estuda como o ambiente programa

nossos genes ao ponto de determinar seu nível de atividade. As pesquisas da

epigenética identificaram vários mecanismos biológicos que controlam a

genética, inclusive sobre a molécula metil responsável por moldar o organismo,

inclusive o cérebro.

Logo, são nossos genes ou nossas experiências que determinam o

que seremos? Segundo Goleman, não há determinismo genético, é

biologicamente impossível um gene operar de forma independente de seu

meio, inclusive, alguns são profundamente influenciáveis por nossas

interações sociais, exemplo simples é como nossa alimentação regula

determinados genes.

O desafio da epigenética social está em calcular o impacto do meio

na genética. Criar uma criança segura ou empática implica não somente um

27

conjunto de genes, mas também o acompanhamento dos pais e experiências

sociais apropriadas, de modo a incluir os relacionamentos.

A adoção é um experimento natural em que pode ser avaliado o

impacto da influência dos pais adotivos nos genes da criança. Conforme

Goleman, estudos com crianças adotadas apontam que a vida familiar parece

alterar a atividade dos genes quanto à agressão e a outras características. O

fator determinante é a quantidade de amor ou negligência que o jovem recebe.

Podemos transferir essa reflexão para os diversos momentos da vida.

Os relacionamentos tóxicos são um fator de risco para doenças e

morte, assim como o tabagismo, a hipertensão arterial, o colesterol, a

obesidade e o sedentarismo, é o que indicam os estudos epidemiológicos. A

neurociência prova que não somos imunes a encontros sociais tóxicos.

Assim como a transmissão de um vírus de pessoa a pessoa,

podemos ser contagiados por um estado de espírito que nos torne vulneráveis

a esse vírus ou que mine nosso bem estar. Certamente que os

relacionamentos são parte de um histórico, outros fatores de risco

desempenham papel igualmente importante.

Fazendo uma analogia, repulsa, desprezo e raiva geram fumaça

tóxica que penetra nos pulmões daqueles que a inalam, deixando-os doentes.

O contra ponto seria gerar emoções positivas no ambiente que nos cerca.

É importante atentar para o impacto biológico das relações

cotidianas, para a qualidade dos nossos relacionamentos, como estamos

utilizando nosso cérebro e para a nossa própria saúde e bem estar. Isso é

responsabilidade social.

A influência que exercemos sobre os outros traduz como suprimos

nossas responsabilidades como cônjuges, parentes, amigos e membros de

nossas comunidades. A nossa responsabilidade é de ordem pessoal e coletiva,

desde os encontros casuais até aqueles que mais amamos passando por

questões políticas e sociais. Goleman pontua ainda:

A nova ciência da inteligência social nos oferece

ferramentas capazes de expandir essas fronteiras, passo

a passo. Em primeiro lugar, não precisamos aceitar as

divisões geradas pelo ódio, mas sim ampliar nossa

28

empatia, de modo a entender uns ao outros, apesar de

nossas diferenças, e eliminar tais divisões. As conexões

do cérebro social nos ligam a todos em nosso núcleo

humano, comum a todos. (GOLEMAN, 2006, p. 170).

Nas diferentes culturas espalhadas pelo mundo, os relacionamentos

positivos são o aspecto universal para uma vida agradável. O contato com

pessoas que gostamos gera vitalidade é como uma carga de energia

revigorante.

A sensação de bem estar, seja ela chamada de felicidade ou

satisfação, é o que faz a vida valer a pena. As fontes desses sentimentos são

os relacionamentos de boa qualidade, eles são como vitaminas emocionais,

sustentando-nos nos momentos difíceis garantindo-nos nutrição diária.

3.2 Os Caminhos Cerebrais para a Felicidade

Como introdução das reflexões sobre felicidade Goleman descreve

um exemplo prático de uma criança mal-humorada de três anos com seu tio:

“Eu odeio você”, declara.

“Mas eu te amo”, ele sorri de volta, confuso.

“Eu odeio você”, ela responde mais alto, determinada.

“Mesmo assim, eu te amo”, diz ele, com mais doçura.

“Eu odeio você!”, ela grita, dramática.

“Continuo amando você”, ele reafirma, envolvendo-a em seus

braços.

“Eu amo você”, ela cede suavemente, derretendo-se com o

abraço. (GOLEMAN, 2006, p. 198).

O diálogo mostra a desconexão entre Eu te odeio/Eu te amo, um

erro de interação entre sobrinha e tio e o ajuste que repara o erro. A conquista

de felicidade ao longo da vida está na capacidade da criança de reparar

desconexões, se equilibrar emocionalmente e voltar a se conectar. O exercício

está em não evitar frustrações e aborrecimentos inevitáveis da vida, mas em

aprender a se recuperar deles. Quanto mais rápida a recuperação, maior a

capacidade e conexão.

29

A criança tem como modelo todas as pessoas que interagem com

ela, para o bem ou para o mal, de como lidar com as dificuldades. O

aprendizado ocorre de forma implícita, à medida que a criança assiste como o

irmão mais velho, colega ou pais controlam as próprias tempestades

emocionais. O aprendizado continua explicitamente quando alguém ajuda a

criança a controlar os próprios sentimentos. Com tempo a prática, circuito do

córtex orbitofrontal que regula os impulsos emocionais se fortalece.

As crianças aprendem a fortalecer o próprio repertório de

experiências de como afetar os outros. É a base da formação de um adulto

capaz de reagir com o tio da menina que venceu a irritação com amorosidade.

Um sinal de amadurecimento acontece aos quatro ou cinco anos, pois as

crianças desenvolvem a capacidade de entender o que causa a sua angústia e

o que fazer para acalmá-la.

Nem sempre os adultos oferecem os melhores exemplos. O modo

como os casais resolvem seus conflitos reflete no comportamento de seus

filhos. Passando para uma visão otimista, uma família socialmente inteligente

ajuda a construir um “núcleo afetivo positivo”. O resultado será uma criança

resiliente, capaz de se recuperar da agonia e de sintonizar-se bem com os

outros. Uma criança feliz.

Como dizer não

Mais um exemplo de Goleman: Um bebê de 14 meses arrisca-se ao

tentar subir numa mesa. Possíveis reações dos pais: um “Não” firme e levar a

criança para o parquinho; Gritar um “Não” bravo, sentir culpa e abraçar o bebê

depois ignorá-lo como castigo; Ignorar a escalada do menino.

Os momentos educativos enviam mensagens que constroem a

noção que a criança tem si, de como relacionar-se e o que esperar das

pessoas. O pai que levou a criança a um lugar livre exemplifica o estilo de

disciplina que resulta no apego seguro. Ele definiu o limite da criança com o

“Não” e o levou para queimar energia.

Os pais que reagiram com diversos sentimentos (raiva, culpa e

decepção) que podem ser amorosos, mas enviam sinais de rejeição à criança

com linguagem corporal que transmite desconexão. Essa postura pode deixar

30

a criança magoada e humilhada, elas reagem com oscilações emocionais, mau

comportamento, como o filho problemático. O cérebro dessa criança não

aprendeu a técnica de como dizer não ao impulso. Quando adulto ela inclui em

seus relacionamentos a mesma ambivalente combinação de necessidade de

afeto e um medo de não conseguir esse afeto, até mesmo um medo maior de

abandono.

Quanto aos pais que ignoram as ações dos filhos, Goleman

descreve:

Os filhos de pais evitativos tornam-se pessoas ariscas; quando

adultos, sua expressão de emoções é inibida, particularmente

as emoções que os ajudariam a formar elos com um parceiro.

Ao adotar o modelo de seus pais, evitam não apenas

expressar seus sentimentos, mas também os relacionamentos

amorosos íntimos. (GOLEMAN, 2006, p. 202).

Brincadeira de criança

O desejo da criança de brincar, explorar o mundo ocorre quando ela

se sente amada e cuidada, cria-se um reservatório de positividade que

alimenta o desejo pelo desconhecido. Pode ser andar de bicicleta, encontrar

pessoas, fazer amizades ou satisfazer curiosidades intelectuais.

A criança necessita de um porto seguro emocional, pode ser seu

quarto ou sua casa para onde ela volta após explorar o mundo. As brincadeiras

geram experiências sociais e estimulam a alegria, pois os circuitos cerebrais

que controlam a brincadeira são os mesmo que estimulam a alegria.

As brincadeiras ensaiam nas crianças uma maneira natural de

controlar o medo do abandono e da separação, oferecendo oportunidade de

domínio e auto descoberta. No nível do cérebro, todas essas práticas

fortalecem os caminhos do cérebro, pois geram crescimento neuronal e

sináptico.

A Alegria

A atitude de alguns pais de superproteger a criança ao ponto de não

permitir contato com outras pessoas ou crianças a fim de evitar possíveis

31

conflitos é uma forma de privação. É uma distorção da vida real e impedimento

de ensinar a criança a encontrar a felicidade. Quando uma criança se irrita, o

valor dessa experiência está no aprendizado de dominar suas reações,

inclusive, é a repetição dessas experiências que torna a criança mais resiliente

no enfrentamento do estresse da vida adulta. Importante atentar que em

excesso, a carga de estresse pode ficar gravada no circuito neural para o

medo e não para a resiliência.

A neurociência afetiva – o estudo das emoções e do cérebro –

descobriu que pessoas com maior atividade cerebral no lado direito do cérebro

alimentam emoções aflitivas enquanto que as pessoas com intensidade

cerebral concentrada no lado esquerdo optam por emoções positivas como a

alegria.

Certamente que estamos propensos a dias mais ou menos alegres

ou tristes, contudo, as pesquisas associam os cuidados da infância à

capacidade de alegria na vida adulta. Um dos caminhos para a felicidade é a

resiliência, ou seja, a capacidade de superar o turbilhão das emoções e voltar

ao equilíbrio, ao estado de calma e felicidade.

A Felicidade

Daniel Kahneman, psicólogo da Princeton University, esclarece que

satisfação na vida não está associada à riqueza, para isso ele utiliza o que

chama de “esteira hedonista”. O argumento é que adaptamos nossas

expectativas ao enriquecermos, elevando-as, consequentemente passamos a

desejar prazeres cada vez mais sofisticados e caros (uma esteira que nunca

termina), nem para os bilionários.

Para escapar da esteira hedonista, pesquisas de Kahneman

sugerem uma vida com relacionamentos recompensadores. Conforme suas

pesquisas, o nível de felicidade das mulheres esta relacionado às pessoas

com as quais elas passam seu tempo, não à sua renda, nem às pressões

profissionais, tampouco seu estado civil.

Quanto à classificação das pessoas que estimulavam sua felicidade,

a pesquisa apontou em ordem decrescente: amigos, parentes, cônjuge ou

parceiro, filhos, clientes, colegas de trabalho, chefe e ficar sozinho.

32

Fazer amor e socializar-se foram classificadas pelas mulheres

participantes da pesquisa as atividades mais prazerosas. As menos agradáveis

foram o trabalho e o trajeto de ida e volta para o trabalho.

Sobre os relacionamentos difíceis, que são inevitáveis, terminá-los

ou eliminar a pessoa do nosso convívio não é solução, uma demonstração de

amor é fazer o que estiver ao nosso alcance para melhorar o comportamento

perturbador. Para isso é necessário que ambos estejam dispostos a tentar.

Caso contrário, estimular a própria resiliência e praticar a inteligência social, de

modo a mudarmos a sintonia surte efeitos benéficos. Essas lições são básicas

não somente em relação ao mundo social, mas quanto a capacidade do

indivíduo de enfrentar o turbilhão do amor adulto.

O amor

A neurociência classifica os mistérios do amor em três grandes

sistemas cerebrais independentes e interligados, cada um causando um

estimulo a seu modo, abastecidos por um conjunto de substancias químicas,

cerebrais e hormonais diferentes. São as redes neurais referentes a apego,

cuidados e sexo. Cada uma dá seu tempero químico às diversas variedades de

amor.

O apego define a quem pedimos socorro, são as pessoas de quem

mais sentimos falta quando estão ausentes. O cuidado gera o impulso de

cuidar das pessoas que mais nos preocupamos. E sexo é sexo. Quando há

equilíbrio no intercambio desses três sistemas, há estímulo da natureza para a

perpetuação da espécie. Goleman esclarece:

O apego serve de cola não apenas para o casal, mas

para a família como um todo, e o ato de cuidar envolve o

impulso de se encarregar da prole, para que nossos filhos

tenham seus próprios filhos. Essas três modalidades de

afeto conectam as pessoas de maneiras diferentes.

Quando há apego, cuidado e atração sexual, vivenciamos

um romance completo. No entanto, quando um desses

três elementos está ausente, o amor romântico tropeça.

(GOLEMAN, 2006, p. 217).

33

As diferentes combinações desse circuito definem as varias

graduações de amor (romântico, familiar e paternal), bem como nas amizades,

no sentimento de compaixão ou no ato de brincar com um animal de

estimação. Os mesmos circuitos atuam na necessidade de espiritualizar-se ou

no prazer de estar na natureza.

O cuidar pode ser exemplificado por um pai que morre num ato

heróico para assegurar a sobrevivência de um filho. Só um amor altruísta

poderoso como esse vence o impulso de sobrevivência pessoal. Do ponto de

vista racional, é uma atitude irracional; visto do coração, a única escolha a

fazer. O autor explica que os sociobiólogos atentam para a prioridade do

coração sobre a mente nesses momentos.

Esse sistema possui regras complexas, em qualquer momento um

pode predominar sobre os outros dois. Um casal pode sentir fortalecimento da

relação quando brincam com o bebê ou fazem amor, por exemplo. Em ação,

os três sistemas alimentam o romance, geram uma relação relaxada, afetuosa

e sensual.

Para formar uma união o primeiro sistema envolvido é o apego. Ele

entra em ação desde a infância, guiando o bebê buscar proteção da mãe e de

quem cuida dele. A curiosidade é que existe sempre um paralelo entre a

maneira que formamos nossos primeiros apegos e a maneira como iniciamos

um romance.

34

CONCLUSÃO

O que verificamos com este trabalho é que a inteligência emocional

pode ser construída, assim como uma obra de engenharia. Dada a magnitude

do projeto, trata-se de uma construção demorada que não fica pronta com a

leitura de um livro, com a elaboração de um trabalho nem com a palestra do

orador mais bem preparado. Ela requer dedicação diária e desprendimento.

Mais precisamente, autoconsciência.

Esta obra exige mudança de valores, de comportamento, de

pensamento. Para executá-la é necessário ter coragem para lidar com as

emoções, nossas e das pessoas que interagem conosco, dia e noite,

conhecidas e desconhecidas, sabendo que as feridas emocionais quando

abertas também provocam dor.

Para manter a obra em andamento é preciso de motivação. Ter a clara

certeza de que ela será sim concluída, não importa o que dizem, quanto tempo

levará ou se em algum momento será preciso parar para tomar fôlego, para

esperar a chuva passar e depois seguir construindo.

Para a realização da obra será necessário obter material, isso gera

negociação com fornecedores. Exige respeitar o tempo de cada um, suas

diferenças, sua maneira de trabalhar, ou seja, lidar com relacionamentos.

O operário dessa empreitada precisa preencher alguns requisitos

necessários para o cargo. Como ter afinidade com o trabalho, estar na mesma

sintonia e estabelecer entrosamento com a equipe. Nesse canteiro não tem

espaço para isolamento.

A principal característica desse profissional deve ser a sabedoria, para

respeitar o interesse de todos. Com empatia ele está apto a se colocar no lugar

35

do outro para entendê-lo melhor. A sintonia ajuda a ouvir o outro, o que é

primordial em todo relacionamento. Diplomático é mais uma característica,

para entender o que o outro pretende fazer. A sincronia facilita a interação com

os demais. Outra qualidade necessária é saber se comportar adequadamente

nos ambientes sociais, numa reunião com fornecedores, por exemplo.

Por fim, esse profissional saberá o momento e a maneira certa de dizer

não, de brincar com os colegas, consequentemente será uma pessoa alegre,

feliz e amorosa.

Sabemos que esse profissional é hipotético. Na verdade somos todos

que desejamos nos melhorar e vencer nossas dificuldades. O caminho foi o do

conhecimento e agora de posse dele somos responsáveis pela concretização

da obra de reforma intima.

36

BIBLIOGRAFIA

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini aurélio: o dicionário da língua

portuguesa. 8ª. ed., Curitiba: Positivo, 2010.

GARDNER, Howard. Inteligências múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre:

Artmed Editora, 2000.

GOLEMAN, Daniel, Inteligência emocional: a teoria revolucionária que redefine

o que é ser inteligente. 28ª. ed., Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 1995.

GOLEMAN, Daniel, Inteligência social: o poder das relações humanas. 1ª. ed.,

Rio de Janeiro: Editora Campus, 2006.

WEISINGER, Hendrie, Ph.D. Inteligência emocional no trabalho: como aplicar

os conceitos revolucionários de I.E. nas suas relações profissionais, reduzindo

o stress, aumentando sua satisfação, eficiência e competitividade. Rio de

Janeiro: Editora Objetiva, 1997.

www.google.com.br. Google, Inteligência Emocional. 1p., acessado em

28/12/2011.

www.wikipedia.org. Wikipédia, a enciclopédia livre, Inteligência Emocional. 1p.,

acessado em 28/12/2011.