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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A INLCUSÃO DE AUTISTA NA ESCOLA
Por: Mariana Cardoso de Mello
Orientadora
Profª. Dayse Serra
Rio de Janeiro
2011
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A INCLUSÃO DE AUTISTA NA ESCOLA
Apresentação de monografia à AVM
Faculdade Integrada como requisito parcial
para obtenção do grau de especialista em
psicopedagogia institucional.
Por: . Mariana Cardoso de Mello
3
AGRADECIMENTOS
Ao meu marido João que sempre me
incentivou e me acompanhou na
trajetória do curso.
À minha sogra Márcia pela dedicação ao
seu neto durante várias sextas-feiras.
À orientadora Dayse Serra pela ajuda na
conclusão desta monografia.
4
DEDICATÓRIA
Ao meu filho Felipe, aos meus alunos
e equipe de trabalho pelo enorme
aprendizado.
5
RESUMO
Motivada por sua prática profissional e com o intuito de ampliar sua
visão sobre o “espectro autístico”, a autora desenvolveu este trabalho com o
objetivo de evidenciar aspectos relacionados ao autismo infantil,como histórico,
características e alguns critérios diagnósticos, tendo como prisma a educação
inclusiva dessas crianças. A escolha do autismo deveu-se ao fato de existirem
poucos movimentos para promover a inclusão escolar de autistas.
Portadores desta condição têm uma desvantagem baseada numa
desordem do desenvolvimento que resulta em um estilo de pensamento
diferente, caracterizado por um processo cognitivo linear, literal e as vezes
mais lento. Apresentam dificuldades de organização do pensamento, em
sequências, de resolver problemas e em compreender a noção de tempo.
Foi feito um levantamento bibliográfico sobre o conceito de inclusão
na sociedade e na escola, sua origem, evolução histórica e legislação
pertinente no Brasil e exterior. Esta etapa já realizada conclui que, no Brasil,
existem leis que definem a prática da inclusão, mas carecem de mecanismos
que garantam o seu cumprimento. Para que os autistas sejam beneficiados
pela inclusão escolar, é preciso contar com programas educacionais
específicos que incluam a formação da equipe pedagógica e orientação
familiar.
Destacamos também o papel do professor e seu posicionamento, e
de professores em formação, quanto a questões relativas ao tema. Devemos
entender o autismo como uma cultura, respeitando o estilo e a forma com que
estas pessoas compreendem o ambiente. Cabe entender que eles são
diferentes e não inferiores. Em outras palavras, entender o Autismo como uma
cultura é entender que eles vivem em “uma ilha”, e que os profissionais
envolvidos no processo de tratamento são os engenheiros que constroem a
ponte de acesso e os responsáveis pela tradução do “nosso mundo”.
6
METODOLOGIA
O presente trabalho monográfico foi desenvolvido a partir de uma
pesquisa bibliográfica ampla sobre Autismo e Inclusão.
Autores de enorme importância para o estudo nesta área foram
pesquisados e citados, com o objetivo de clarificar o entendimento deste
processo cognitivo particular. Dentre eles, Schwartzman(2003),
Perissinoto(2003), Lampreia e Lima(2008), Serra e Vilhena(2009). Pesquisas
da internet também foram realizadas para melhor obtenção deste mesmo
objetivo.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................08
CAPÍTULO I - Autismo: Histórico, Características comportamentais da criança
autista e Critérios diagnósticos.............................10
1.1 - Histórico
1.2 - Características comportamentais da criança autista.
1.3 - Critérios diagnósticos
CAPÍTULO II - Inclusão: conceito de inclusão ,breve construção histórica e
legislativa e a escola inclusiva............................21
2.1 - Conceito de Inclusão
2.2 - Breve construção histórica e legislativa
2.3 - A escola inclusiva
CAPÍTULO III – Autismo e educação: processo de escolarização, o papel do
professor e do mediador escolar........................29
3.1 -Processo de escolarização
3.2 - O papel do professor e do mediador escolar
CONCLUSÃO..............................................................37
BIBLIOGRAFIA............................................................39
8
INTRODUÇÃO
Dentre os inúmeros distúrbios ou doenças identificados até os dias
atuais, poucos provocam tamanha confusão, dor, ansiedade e perturbação ao
ser humano como os psicológicos.
Pessoas que se encontram neste quadro se defrontam com um
enorme preconceito e estigma, em função da falta de informação da sociedade
no que diz respeito ao entendimento das doenças ditas psiquiátricas.
Considerada por muitos profissionais como “misteriosa” capaz de
causar enorme instabilidade emocional está o Autismo, atualmente classificado
dentro do “Espectro Autístico”.
O Autismo Infantil é uma condição neuropsicológica conhecida, ao
menos sob esta denominação, desde a década de 40. Quando foi descrita, de
forma magistral por Kanner. Este autor identificou, entre crianças “deficientes”,
algumas que se diferenciavam das demais por um comportamento diferente,
caracterizado, entre outros sinais e sintomas, por dificuldade extrema em
estabelecer relações interpessoais.
Por ser um transtorno que instiga e mobiliza um inusitado interesse,
o autismo vem sendo tema de vários filmes de sucesso, livros e artigos
publicados no Brasil e outros países, contribuindo para o maior conhecimento
desta patologia, que mesmo assim, ainda surpreende com sua diversidade de
características que pode apresentar, além do fato de, na maioria das vezes, a
criança que tem autismo ter uma aparência totalmente normal.
No primeiro capítulo foi desenvolvido um histórico a cerca do
Autismo, incluindo a primeira vez em que este termo foi utilizado, algumas
características comportamentais da criança e critérios diagnósticos.
O segundo capítulo aborda a inclusão, foi explorado o conceito de
inclusão, com isso foi apresentada um pouco da construção histórica da
inclusão, algumas da principais legislações e a escola inclusiva.
9
Para Bastos, pensar a escola como um espaço público privilegiado
para a construção da cidadania e tomá-la como um instrumento social que
possibilite avançar na direção de uma sociedade que não segrega o diferente é
uma pretensão, sem dúvida, louvável, mas que padece de inúmeros
complicadores e alguns graves equívocos.
No terceiro e último capítulo foi ressaltado o autismo na
educação,como o processo de escolarização, o papel do professor frente a
propostas de intervenções educacionais que permeiam o tratamento do
indivíduo autista e a importância do mediador escolar para desenvolver
estratégias de tratamento individualizado com o objetivo de promover uma
melhor qualidade de vida social e escolar para um indivíduo Autista.
Para que a escola possa promover a inclusão do autista é
necessário que os profissionais que nela atuam tenham uma formação que
lhes permita conhecer as características e as possibilidades de atuação destas
crianças. Tal conhecimento deveria ser efetivado no processo de formação
desses profissionais. Em resumo, para que haja uma aprendizagem efetiva por
parte do aluno autista, é necessário que a escola e o professor esteja disposto
a mudar suas concepções de ensino aprendizagem, e reconhecer que a
inclusão deste no ensino regular trará a ele e aos demais alunos os benefícios
de uma nova visão sobre o mundo e as pessoas.
10
CAPÍTULO I
AUTISMO: HISTÓRICO, CARACTERÍSTICAS
COMPORTAMENTAIS DA CRIANÇA AUTISTA E CRITÉRIOS
DIAGNÓSTICOS
1.1Histórico
“ O que cresce além dos muros alegra os olhos.
Em todos existe uma tênue esperança.”
Búrger Sellín (autista)
O estudo do autismo envolve pesquisadores há décadas. Os
comportamentos observados em indivíduos portadores desta síndrome mobilizam
os estudiosos em busca da explicação de suas origens e compreensão do processo
de evolução.
Segundo Mello (2005) O autismo foi descrito pela primeira vez em 1943
pelo Dr. Leo Kanner ( médico austríaco, residente em Baltimore, nos EUA) em seu
histórico artigo escrito originalmente em inglês: Distúrbios Autísticos do Contato
Afetivo.
Anteriormente, em 1911, o termo (autismo) foi usado por Bleuler para
descrever um dos sintomas da esquizofrenia no adulto.
Amy (2001) coloca que em seu artigo “os distúrbios autísticos da relação
afetiva”, Kanner descreveu, apoiando-se em onze casos de crianças que
apresentavam um estado divergente de tudo que havia sido escrito até então, uma
síndrome à qual denominou “autismo infantil precoce”.
11
“Kanner ficou intrigado com um menino, Donald, de cinco anos de idade, que lhe foi encaminhado em 1938 para diagnóstico. Segundo as próprias palavras de Kanner: Eu fiquei perplexo com as peculiaridades que Donald exibia; desde a idade de dois anos e meio ele conseguia dizer os nomes de todos os presidentes e vice-presidentes, falar as letras do alfabeto na sequência habitual e de trás para frente, e recitar de forma impecável o salmo 23; ao mesmo tempo ele era incapaz de manter uma conversação ordinária; não estabelecia contacto com as pessoas, embora pudesse nomear objetos com facilidade; sua memória era fenomenal; as poucas vezes em que ele se dirigia a alguém, em geral para satisfazer suas necessidades, ele se referia a ele mesmo como ‘você’, e à pessoa como ‘eu’; ele não respondia a nenhum teste de inteligência, porém conseguia manipular encaixes complexos com destreza” (Kanner apud Schwartzman, 2003, p 5).
Baseado no estudo e acompanhamento destes casos, Kanner definiu
como principal aspecto o isolamento social. Analisou a tendência daquelas crianças
para atividades repetitivas, comportamento sistemático, preservação da ordem de
objetos e de rotinas, falha em assumir postura antecipatória para ser carregado,
inabilidade para usar a linguagem para comunicação, ecolalia retardada e
concretude de expressões, reação de horror diante de barulhos com volume alto e
aspecto físico essencialmente normal. Concluiu que apresentavam inabilidade inata
para a forma usual de contato afetivo com as pessoas desde o começo da vida.
Como peculiaridade, Kanner descreveu a existência de habilidades excepcionais
como, por exemplo, a memória (Perissinoto, 2003).
Ao descrever a síndrome do autismo infantil como um “distúrbio autista
inato do contato afetivo”, Leo Kanner assinalou como aspecto mais relevante uma
anormalidade do desenvolvimento social e enfatizou que o distúrbio apresentava-se
nos primeiros estágios de desenvolvimento. Primeiramente, devido ao fato das
crianças autistas comportarem-se de forma anormal e apresentarem-se incapazes
de uma adaptação adequada à realidade (Rutter apud Gauderer, 1993).
Condição esta que ficou, inadequadamente, inserida no grupo de
psicoses da infância, pois acreditava-se que o Autismo seria uma forma de
patologia que afetava crianças previamente normais. O reconhecimento de que, na
realidade, o que ocorre é uma distorção grave e generalizada do processo de
desenvolvimento originou o termo Distúrbios Difusos do Desenvolvimento; criando,
12
portanto, uma classificação geral de patologias das quais o Autismo é apenas o
exemplo mais significativo.
Ao longo de seus anos de observações e pesquisa Leo Kanner discutiu
as possíveis causas desta desordem e sugeriu, primeiramente, que essas crianças,
ditas normais ao nascimento apresentavam os severos problemas comportamentais
observados em decorrência de problemas ambientais, de modo mais específico, de
maternagem inadequada (Schwartzman, 2003).
Os pais destas crianças foram descritos com extremamente
intelectualizados, rígidos e pouco afetuosos sendo considerados emocionalmente
muito comprometidos (Facion, 2005).
Porém, neste mesmo trabalho em 1943, Kanner observou que em
algumas crianças os desvios comportamentais eram tão precoces e severos que
seria tempo insuficiente para que algo externo à criança pudesse afetá-la deste
modo e, levantou a hipótese de que seria a causa desta desordem biológica
(Schwartzman, 2003).
Em 1944, Hans Asperger (psiquiatra austríaco) escreveu o artigo
intitulado “Psicopatia Autística”, descrevendo um grupo de crianças e adolescentes
que apresentavam características muito similares às descritas por Kanner.
Características estas, definidas como: falta de empatia pelos outros; limitada
comunicação não verbal; interesses em atividades repetitivas; apego às rotinas e
aos rituais, dificuldade de adaptação à mudança e fixação em assuntos específicos;
dentre outras (Perissinoto,2003).
A definição de Asperger para “psicopatologia autista” é bem mais ampla
que a de Kanner, incluindo casos que mostravam um dano orgânico severo e
aqueles que transitavam para a normalidade.
Posteriormente Lorna Wing investigou as descrições de comportamento
feitas por Hans Asperger e identificou aspectos semelhantes àquelas feitas por
Kanner. Estabeleceu então o termo “Síndrome de Asperger”, que tende a ser
13
reservado para as raras crianças autistas quase normais, inteligentes e altamente
verbais (Perissinoto,2003).
“ As crianças acometidas por essa síndrome frequentemente desenvolvem modos de pensamento muito particulares baseados em modalidades de raciocínio pseudológicos, complexos e muitas vezes rígidos, pouco permeáveis às ideias dos outros. Com frequência, também desenvolvem interesses particulares em campos específicos de caráter muitas vezes técnico em que podem demonstrar uma memória extraordinária inserida entre as formas de “calculador prodígio”; são então capazes de apresentar uma hipertrofia importante da capacidade de memória”( Ferrari, 2007, p 88).
Os desvios qualitativos na comunicação, na interação e no uso da
imaginação, que ao aparecerem juntos caracterizam o autismo, foram chamados
por Lorna Wing e Judith Gould, em um estudo realizado em 1979, de “TRÍADE”. A
tríade identifica um padrão de comportamento restrito e repetitivo, mas com
condições de inteligência que podem variar do retardo mental a níveis acima da
média (Mello, 2004).
Segundo Lampreia e Lima, em 1972, Rutter passou a definir o “autismo”
como a “psicose” mais característica da infância. Mas eventualmente, o autismo
passou a ser classificado como um Transtorno Global do Desenvolvimento. Na
classificação do CID-10, o o autismo deixou de ser visto como uma psicose da
infância, e passou a ser conhecido como um Transtorno Global do
Desenvolvimento (TGD). Caracterizando um desenvolvimento anormal ou alterado,
o qual deve ocorrer antes da idade de três anos.
Segundo o DSM-IV-TR, o Transtorno Autístico está incluído na categoria
dos Transtorno Globais do Desenvolvimento, caracterizado por prejuízo severo e
invasivo em diversas áreas do desenvolvimento, tais como: nas habilidades da
interação social, nas habilidades de comunicação, nos comportamentos, nos
interesses e atividades. Os prejuízos qualitativos que definem essas condições
representam um desvio acentuado em relação ao nível de desenvolvimento ou
idade mental do indivíduo.
14
“ As crianças autistas, segundo o presente Instrumento, não devem apresentar o jogo de faz de conta. Além disso, no DSM-IV-TR, é necessário apresentar falhas em pelo menos dois itens da interação social, um item de comunicação e um item das estereotipias e mais dois itens quaisquer, para que seja feito o diagnóstico de transtorno autístico” ( Lampreia e Lima, 2008,p 10).
1.2 Características comportamentais da criança autista
Segundo Orrú, autismo é uma palavra de origem grega (autós), que
significa por si mesmo. É um termo usado para nomear comportamentos humanos
que se centralizam em si mesmos.
O Autismo Infantil é uma inadequação no desenvolvimento que envolve
grandes dificuldades ao longo da vida nas habilidades sociais, comunicativas, além
daquelas atribuídas ao atraso global do desenvolvimento e, comportamentos e
interesses limitados e repetitivos. Aparece tipicamente nos três primeiros anos de
vida e é quatros vezes mais comum entre meninos do que em meninas. É uma
enfermidade encontrada em todo o mundo e em famílias de toda configuração
racial, étnica e social.
O que é realmente autismo não é tão fácil de responder, pois não se
conseguiu, até hoje, uma definição e uma delimitação consensual das terminologias
sobre ele.
Para Facion, “ autismo é uma síndrome, portanto um conjunto de sintomas, presentes desde o nascimento e que se manifesta invariavelmente antes dos três anos de idade. Ele é caracterizado por respostas anormais a estímulos auditivos e/ou visuais e por problemas graves na compreensão da linguagem oral. A fala custa a aparecer e, quando isso acontece, podemos observar a ecolalia (repetição das palavras), o uso inadequado de pronomes, estrutura gramatical imatura e uma grande inabilidade para usar termos abstratos. Observa-se também uma grande dificuldade de desenvolver relacionamentos interpessoais, pois os autistas não se interessam pelas outras pessoas, dispensam o contato humano e apresentam também dificuldades no desenvolvimento de outras
15
habilidades sociais, principalmente na linguagem verbal e corpórea (gestos,mímicas etc). Esses problemas de relacionamento social aparecem antes dos cinco anos de idade, caracterizando-se, por exemplo, por uma incapacidade de desenvolver o contato olho a olho, jogos em grupos, contatos físicos etc. A pessoa com autismo poderá, às aparecer com um choro sem controle ou pode dar gargalhadas, sorrisos, aparentemente sem causa. É comum não apresentar medo do perigo (altura ou automóveis se locomovendo), podendo ocorrer movimentos corporais como o “balançar”. Existem formas mais graves como apresentar comportamento destrutivo e forte resistência a mudanças ( Facion, 2005, p 31).
Não se conseguiu provar nenhuma causa psicológica no meio ambiente
dessas crianças que possa causar o Autismo.
É importante ficar atento ao fato de que muitos comportamentos
presentes no autismo não são exclusivos desse transtorno, podendo encontrar-se
em outras desordens, como as estereotipias que são comuns em outros casos,
como esquizofrenia e na síndrome de X Frágil.(Lampreia e Lima,2008)
A Síndrome de Asperger é considerada mais suave e de alta
funcionalidade dentre o que é conhecido como espectro dos Transtornos Invasivos
do Desenvolvimento. Como as demais condições ao longo do espectro, parece
representar uma desordem de desenvolvimento neurologicamente fundamentada,
muito frequentemente de causa desconhecida, na qual há desvios e anormalidades
em três áreas do desenvolvimento, são elas: relacionamento social, uso da
linguagem para comunicação e certas características de comportamento e estilo
envolvendo características repetitivas ou perseverativas sobre um número limitado,
porém intenso, de interesses.
Portanto, a presença dessas três características de disfunção, que pode
variar de relativamente amena a severa, que clinicamente define todos os
Transtornos Invasivos do Desenvolvimento, desde a Síndrome de Asperger até o
Autismo Clássico. Toda essa variedade de sintomas entre uma criança e outra
pode contribuir para que se torne mais difícil traçar um perfil único e exclusivo de
um transtorno como o autismo. Torna-se necessário estar atento para realização de
diagnósticos diferencias.
16
1.3 Critérios diagnósticos
� Critérios Diagnósticos para - 299.00
Transtorno Autista (1) DSM-IV (1994)
A. Um total de seis (ou mais) itens de (1), (2) e (3), com pelo menos dois
de (1), um de (2) e um de (3):
1 - Prejuízo qualitativo na interação social, manifestado por pelo menos
dois dos seguintes aspectos:
(a) prejuízo acentuado no uso de múltiplos comportamentos não-verbais,
tais como contato visual direto,expressão facial, posturas corporais e gestos para
regular a interação social;
(b) fracasso em desenvolver relacionamentos com seus pares
apropriados ao nível de desenvolvimento;
(c) falta de tentativa espontânea de compartilhar prazer, interesses ou
realizações com outras pessoas (por exemplo, não mostrar, trazer ou apontar
objetos de interesse);
(d) falta de reciprocidade social ou emocional;
2 - Prejuízos qualitativos na comunicação, manifestados por pelo menos
um dos seguintes aspectos:
(a) atraso ou ausência total de desenvolvimento da linguagem falada
(não acompanhado por uma tentativa de compensar através de modos alternativos
de comunicação, tais como gestos ou mímica);
(b) em indivíduos com fala adequada, acentuado prejuízo na capacidade
de iniciar ou manter uma conversação;
17
(c) uso estereotipado e repetitivo da linguagem ou linguagem
idiossincrática;
(d) falta de jogos ou brincadeiras de imitação social variados e
espontâneos, apropriados ao nível de desenvolvimento;
3 - Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses e
atividades, manifestados por pelo menos um dos seguintes aspectos:
(a) preocupação insistente com um ou mais padrões estereotipados e
restritos de interesse, anormais em intensidade ou foco
(b) adesão aparentemente inflexível a rotinas ou rituais específicos e
não-funcionais
(c) maneirismos motores estereotipados e repetitivos (por exemplo,
agitar ou torcer mãos ou dedos, ou movimentos complexos de todo o corpo)
(d) preocupação persistente com partes de objetos
B. Atrasos ou funcionamento anormal em pelo menos uma das seguintes áreas,
com início antes dos 3 anos de idade:
(1) interação social,
(2) linguagem para fins de comunicação social, ou
(3) jogos imaginativos ou simbólicos.
C. A perturbação é melhor explicada por Transtorno de Rett ou Transtorno
Desintegrativo da Infância.
(AMERICAN PSYCHIATRY ASSOCIATION 1995)
� Diretrizes diagnósticas para autismo
infantil (f84.0) (CID 10)
18
Transtorno invasivo do desenvolvimento definido pela presença de
desenvolvimento anormal e/ou comprometido em todas as três áreas de interação
social, comunicação e comportamento restrito e repetitivo. Manifesta-se antes dos
três anos de idade e ocorre três a quatro vezes mais frequentemente em meninos.
a) Comprometimentos qualitativos na interação social recíproca:
- Apreciação inadequada de indicadores sócio emocionais, como
demonstrada por uma falta de respostas para as emoções de outras pessoas e/ou
falta de modulação do comportamento de acordo com o contexto social;
- Uso insatisfatório de sinais sociais, emocionais e de comunicação e,
especialmente, uma falta de reciprocidade sócio emocional;
b) Comprometimentos qualitativos na comunicação:
- Falta de uso social de quaisquer habilidades de linguagem que estejam
presentes;
- Comprometimentos em brincadeiras de faz de conta e jogos sociais de
imitação;
- Pouca sincronia e falta de reciprocidade no intercâmbio de
conversação;
- Pouca flexibilidade na expressão da linguagem e uma relativa ausência
de criatividade e fantasia nos processos de pensamento;
- Falta de resposta emocional às iniciativas verbais e não-verbais de
outras pessoas;
- Uso comprometido de variações na cadência ou ênfase para refletir
modulação comunicativa e uma falta similar de gestos concomitantes para dar
ênfase ou ajuda na significação na comunicação falada.
c) Padrões de comportamento,
interesses e atividades restritos, repetitivos e estereotipados:
19
- Tendência a impor rigidez e rotina a uma ampla série de aspectos do
funcionamento diário, usualmente isto se aplica tanto a atividades novas
quanto a hábitos familiares e a padrões de brincadeiras;
- Particularmente na primeira infância, pode haver vinculação específica
a objetos incomuns, tipicamente não-macios;
- Pode insistir na realização de rotinas particulares e rituais de caráter
não-funcional;
- Pode haver preocupações estereotipadas com interesses tais como
datas, itinerários, ou horários;
- Frequentemente há estereotipias motoras; um interesse específico em
elementos não-funcionais de objetos (tais como o cheiro e o tato);
- É comum e pode haver resistência à mudança na rotina e em detalhes
do meio ambiente pessoal (tais como as movimentações de ornamentos ou móveis
da casa).
Além dos aspectos diagnósticos específicos descritos acima, é frequente
a criança com autismo mostrar uma série de problemas não-específicos, tais como:
- Medo /fobias, perturbações de sono e alimentação e alimentação,
ataques de birra e agressão;
- A autolesão (ex. morder o punho), é bastante comum, especialmente
quando há retardo mental grave associado;
- A maioria dos indivíduos com autismo carece de espontaneidade,
iniciativa e criatividade na organização de seu tempo de lazer e tem dificuldade em
aplicar conceitualizações em decisões de trabalho (mesmo quando as tarefas em si
estão à altura de sua capacidade)
A manifestação específica dos déficits característicos do autismo muda à
medida que as crianças crescem, mas os déficits continuam através da vida adulta
20
com um padrão amplamente similar de problemas de socialização, comunicação e
padrões de interesse. Todos os níveis de QI podem ocorrer em associação com o
autismo, mas há um retardo mental significativo em cerca de três quartos dos
casos.
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE – 1993)
21
CAPÍTULO II
INCLUSÃO: CONCEITO DE INCLUSÃO ,BREVE
CONSTRUÇÃO HISTÓRICA E LEGISLATIVA E A ESCOLA
INCLUSIVA.
2.1 Conceito de inclusão
“Ensinar inexiste sem aprender e vice-versa e foi aprendendo que, historicamente, mulheres e homens descobriram que era possível ensinar.”
(Paulo Freire,1997)
Inclusão escolar vem sendo alvo de muitos estudos, pesquisas e
debates, nos últimos quinze anos, no Brasil. Vem despertando o interesse de
educadores, pesquisadores, pais e órgãos governamentais em discutir as questões
levantadas em torno deste assunto que se tem mostrado bem polêmico.
Não tem como pensar em inclusão de crianças com necessidades
especiais nas classes regulares de ensino, sem pensar no significado da palavra
incluir. O que é incluir? Segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa,
incluir, significa: 1- Pôr ou estar dentro= encerrar, inserir. 2- Inserir num ou fazer
parte de um grupo. 3- Abranger, compreender, conter. 5- Envolver, implicar.
Dentre esses significados, para Alves 2007, incluir é abranger,
compreender, envolver, implicar, acrescentar e somar. Portanto, que fique
compreendido que qualquer indivíduo pode ser incluído, pois nós podemos e
devemos envolvê-lo, implicá-lo, juntando-o a qualquer outro ser para somar o seu
22
crescimento a ambos. Para uma verdadeira inclusão, devemos respeitar e querer
desenvolver o indivíduo em todos os aspectos dentro do processo de
aprendizagem. Deve haver também a inclusão social, possibilitando a convivência
com os indivíduos ditos normais, através de trocas, dando-lhes assim condições
para o ajustamento social.
Quando fala-se de uma sociedade inclusiva, penso naquela que valoriza
a diversidade humana e fortalece a aceitação das diferenças individuais. É dentro
dela que aprendemos a conviver, contribuir e construir juntos um mundo de
oportunidades reais (não obrigatoriamente iguais) para todos. Isso implica numa
sociedade onde cada um é responsável pela qualidade de vida do outro, mesmo
quando esse outro é muito diferente de nós.
Para as pessoas com necessidades especiais deve ser oferecido um
ambiente saudável e fazer um trabalho com todos para que não seja formada uma
geração preconceituosa. Incluir, que dizer que podemos deixar pertencer,
adaptando-os em todos os aspectos, mostrando o que fazer, para que e com
quem. Há também um agrupamento com o intelectual, físico, social e
emocional.(ALVES,2007)
“Mais do que nunca, não podemos ficar de fora dos acontecimentos, precisamos entender o que significa a educação de inclusão, democrática, voltada ao desenvolvimento das potencialidades e habilidades da criança, e não para aquilo que o portador de necessidades especiais não consegue fazer”.( 1° ESEI )
2.2 Breve construção histórica e legislativa
Para compreender mais amplamente esse processo histórico há que se
conhecer os muitos caminhos já trilhados pelo homem ocidental em sua relação
com a parcela da população constituída pelas pessoas com necessidades
educacionais especiais.
23
Durante a História da Humanidade foram se diversificando a visão e a
compreensão que as diferentes sociedades tinham acerca da deficiência. A forma
de pensar e por consequência a forma de agir com relação à deficiência enquanto
fenômeno e à pessoa com necessidades especiais enquanto ser, se modificaram
no decorrer do tempo e das condições sócio históricas.
Por Martin, no que se refere à deficiência, começaram a surgir novas
ideias. Que quando concebida passou a ser tratada por métodos da então iniciante
medicina. Na Europa, começaram os primeiros movimentos, educadores se
tornaram instrutores de algumas crianças, principalmente aquelas cujas as famílias
tinham boa condição financeira.
No século XVII, ampliou a compreensão, o que favoreceu o surgimento
de ações e tratamentos médico. Inicialmente foram trabalhadas as crianças surdas
e cegas, os deficientes mentais ou com outro tipo de dificuldades continuavam nos
asilos. As pessoas com deficiência física começaram a receber educação em 1832,
quando foi criado o 1° instituto na Alemanha. E em 1848, nos Estados Unidos,
iniciou-se o atendimento da pessoa com deficiência mental. No início receberam
atendimento residenciais, e em 1896 começaram a receber atendimentos fora das
residências.
As primeiras classes especiais, dentro das escolas regulares, foram
criadas, por volta de 1900. O crescimento desse trabalho foi impulsionado pelos
movimentos organizados pelos pais das crianças deficientes, que desejavam lutar
pelos direitos de seus filhos.
No Brasil, assim como na Europa, as primeira instituições se voltaram
para o atendimento de pessoas surdas e cegas. Especificamente no Rio de Janeiro
onde foram criados os Institutos Benjamim Constant e o Instituto de Surdos Mudos.
Inicialmente estes institutos ofereciam abrigo e proteção, no sistema de internato.
A educação especial no Brasil, foi se ampliando lentamente. Em 1957 a
educação especial foi assumida em nível nacional pelo Governo Federal. Várias leis
24
e documentos internacionais serviram como base para o estabelecimento dos
direitos das pessoas com deficiência no nosso país.
Constituição Federal
� A Constituição Federal brasileira elegeu como fundamentos da
República a CIDADANIA e a DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA (art. 1°, incisos II
e III), e como um dos seus objetivos fundamentais a promoção do bem de todos,
sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação ( art. 3°, inciso IV).
� Garante ainda expressamente o direito à IGUALDADE (art.5°), e trata,
nos artigos 205 e seguintes, do direito de TODOS à educação. Esse direito deve
visar ao pleno desenvolvimento de pessoa, seu preparo para o exercício da
cidadania e dua qualificação para o trabalho(art.205).
� Além disso, elege como um dos princípios para o ensino, a igualdade
de condições de acesso e permanência na escola(art.206, inciso I), acrescentando
que o dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de
acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um (art.208,V).
� Conforme fica claro, quando garante a TODOS o direito à EDUCAÇÃO e
ao acesso à ESCOLA, a Constituição Federal não usa adjetivos. Assim, toda escola
deve atender aos princípios constitucionais, não podendo excluir nenhuma pessoa
em razão de sua origem, raça, sexo, cor, idade ou deficiência.
LEI N° 7853/19
Define como crime recusar, suspender, adiar, cancelar ou extinguir a
matrícula de um estudante por causa de sua deficiência, em qualquer curso ou nível
de ensino, seja ele público ou privado. A pena para o infrator pode variar de um a
quatro anos de prisão, mais multa.
25
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) 1990
Garante o direito a igualdade de condições para o acesso e a
permanência na escola, sendo o Ensino Fundamental obrigatório e gratuito
(também aos que não tiveram acesso na idade própria); o respeito dos educadores;
e atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular.
Declaração de Salamanca / 1994
O texto, que não tem efeito de lei, diz que todas as escolas deveriam
acomodar todas as crianças independentemente de suas condições física,
intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras. Neste contexto o termo
“necessidades educacionais especiais” refere-se a todas aquelas crianças ou
jovens cuja as necessidades se originam em função de deficiências ou dificuldades
de aprendizagem. A maioria das crianças apresentam dificuldades de
aprendizagem em algum momento de sua escolarização. As escolas têm que
encontrar a maneira de educar com êxito todas as crianças, inclusive as que tem
deficiências graves.
Decreto 3.956 ( Convenção da Guatemala)/2001
Põe fim às interpretações confusas da LDB, deixando clara a
impossibilidade de tratamento desigual com base na deficiência. O acesso ao
Ensino Fundamental é, portanto, um direito humano e privar pessoas em idade
escolar dele, mantendo ás unicamente em escolas ou classes especiais, fere a
convenção e a Constituição.
Lei 9.394/96
Na verdade em todo o texto da 9.394/96 perpassa a ideia de educação
escolar como ensino, embora, desde há muito tempo, a escola não desempenha,
apenas, essa sua atividade específica. Todos sabemos o quanto a escola vem
suplementando (às vezes até substituindo) a ação de outras agências sociais
educativas e com o consentimento dessas.
26
Reduzir a escola ao ensino, localizando apenas dentro de sala de aula, é
desconhecer uma das principais características de educação moderna, segunda a
qual o professor não é um profissional da ensino e sim da aprendizagem, como
processo ativo, participativo e cooperativo por parte do aluno.
Segundo Edler, a educação especial traduz-se à diversidade do alunado
no contexto de uma escola para todos. Trata-se de oferecer respostas educativas
centradas no processo de construção da cidadania , de todos os alunos, deficientes
ou não.
2.3 Escola Inclusiva
Para Bastos, pensar a escola como um espaço público privilegiado para
a construção da cidadania e tomá-la como um instrumento social que possibilite
avançar na direção de uma sociedade que não segrega o diferente é uma
pretensão, sem dúvida, louvável, mas que padece de inúmeros complicadores e
alguns graves equívocos.
A escola encontra-se perante um desafio: conseguir que todos os alunos
tenham acesso à educação básica, por meio da inclusão escolar, respeitando as
diferenças culturais, sociais e individuais, que podem configurar as necessidades
educacionais especiais.
Algumas necessidades educacionais são comum a todos os alunos,
outras podem requerer uma série de recursos e apoios de caráter mais
especializado para que o aluno tenha acesso ao currículo. Uma criança com
deficiência visual, por exemplo, não teria problema para aprender , se lhe fosse
ensinado o Braille ou lhe fossem proporcionados recursos ópticos e materiais
específicos.
A inclusão escolar de alunos com necessidades educacionais especiais
no sistema regular de ensino parte do pressuposto da própria natureza da escola
comum, segundo a qual todos os meninos e meninas de um comunidade têm o
direito de estudar juntos na mesma escola. É importante ressaltar que a escola não
pode exigir requisitos, nem selecionar as crianças para realizar a matrícula.
27
Escola inclusiva é aquela ligada à modificação da estrutura, do
funcionamento e da resposta educativa que se deve dar a todas as diferenças
individuais, inclusive as associadas a alguma deficiência.
Para que possa favorecer a construção de uma escola inclusiva, é
importante observar alguns pressupostos:
1. Valorizar a diversidade como elemento enriquecedor do
desenvolvimento pessoal e social.
2. Constar nas políticas educacionais, marcos legais que favoreçam a
educação inclusiva.
3. Definir a inclusão como um projeto de escola que incorpora a
diversidade como eixo central da tomada de decisões.
4. Eleger o currículo comum (RCNEI) com as devidas adaptações ou
complementações curriculares como referencial para educação.
5. Contar com currículos amplos, equilibrados, flexíveis e abertos.
6. Colocar serviços de apoio à disposição da escola, dos professores
e dos pais, colaborando na organização, estruturação do trabalho e reflexão da
prática pedagógica.
7. Incentivar atitudes solidárias e cooperativas entre os alunos e os
demais membros da comunidade escolar.
8. Adotar critérios e procedimentos flexíveis de avaliação do
desenvolvimento e da aprendizagem da criança.
9. Adquirir equipamentos, recursos específicos e materiais didático
pedagógico para dar suporte ao aluno e ao professor.
10. Garantir formação inicial e continuada ao professor, além de
subsidiar pesquisas ou inovações educativas.
28
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil apresenta
ainda características relevantes, tais como:
-Adequação: elaboração do currículo conforme a avaliação dos
interesses, habilidades e necessidades das crianças;
-Coerência: a organização interna é consistente como uma ordenação
didática que facilita a compreensão de seu curricular e sua relação com os
componentes que a integram;
-Flexibilidade: o conteúdo curricular tem estrutura aberta, que permite a
introdução de novos elementos e a modificação dos existentes;
-Multiplicidade: os referenciais devem gerar diferentes propostas
pedagógicas atendendo as demandas e peculiaridades de cada região;
-Abrangência: destina ao atendimento educacional de toda criança
independente da condição de seu desenvolvimento.
Contudo é importante ressaltar que a inclusão escolar, sobretudo de
alguns crianças com necessidades especiais específicas, como o autismo, não
pode ser feito a qualquer preço. Cabe aos profissionais indagar se essas crianças
têm as “ferramentas” necessárias para usufruir daquilo que o convívio escolar deve
proporcionar-lhes, enquanto gerador de laços sociais. E a escola deve se
questionar e repensar como um espaço para acolher não só as questões relativas
ao pedagógico, mas também aquelas que apontam na direção do sujeito, ou seja,
perguntar-se se é possível, para a escola, tomar a crianças não exclusivamente
pela ótica das suas capacidades cognitivas, mas na posição de sujeito do desejo,
enquanto construção de uma estruturação psíquica que aponta não coincidir com o
desenvolvimento biológico. (Bastos,2002.)
29
CAPÍTULO III
AUTISMO E EDUCAÇÃO: PROCESSO DE
ESCOLARIZAÇÃO, O PAPEL DO PROFESSOR E DO MEDIADOR
ESCOLAR.
1.1Processo de escolarização
A inclusão deve ser definida a partir de uma educação de qualidade que
contemple pessoas com deficiências em qualquer nível de ensino. Aquela que
garantirá aprendizagem e desenvolvimento, envolvendo a participação democrática
do Estado, comunidade escolar e local, familiares e alunos.(Serra e Vilhena , 2009)
A escola é o meio onde a criança retira recursos para atuar através das
condutas educativas disponíveis a ela. O ambiente escolar deve ser planejado e
estruturado, pois é através deste método que o desenvolvimento infantil será
promovido e terá um papel decisivo no futuro do indivíduo, Para que haja esse
planejamento e estruturação adequada se faz necessária a ampliação do raio de
abrangência da reflexão pedagógica.
É importante haver uma grande restruturação dos planejamentos diante
de todas as condutas realizadas na escola, como o espaço onde será realizada a
atividade, a área que deverá ser ocupada, os materiais, instrumentos utilizados, os
objetos colocados ao alcance das crianças, a disposição da mobília entre outros
aspectos fundamentais para uma boa utilização de educação.( Alves, 2007)
30
No Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9.394/96 dedica um
capítulo específico à educação especial, deixando claro o papel e as obrigações
das instituições sobre a adequação do ensino aos alunos com necessidades
especiais.
No artigo 59, está exposto:
Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais: I – currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades; II – terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados;
III – professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns.
Segundo Serra, embora o que se expressa por tal documento seja
louvável, pesquisas mostram que há pouco sucesso na proposta para suportar a
definição de inclusão total para alunos com autismo. Alunos autistas não
conseguem obter sucesso quando as condições não são adaptadas as suas
características, a maioria irá se beneficiar se utilizarmos os dois, contexto
individualizado e sala regular.
Um ponto inicial indispensável para a organização de qualquer programa
educacional é conhecer, de fato, quais são as características da criança autista e,
um dos princípios que deve reger a decisão de incluir uma criança é a disposição
para promover todas as adaptações curriculares de pequeno e grande porte.
Existem alguns critérios para “flexibilização das escolas e a
operacionalização da inclusão dos portadores de transtornos invasivos do
desenvolvimento”. Como:
� O treinamento dos profissionais deve
ser constante e a busca de novas informações um ato imperativo;
31
� Devem-se buscar consultores para
avaliar precisamente os alunos;
� A escola deverá preparar-se, bem como
os seus programas, para atender a diferentes perfis, visto que os autistas podem
possuir diferentes estilos e potencialidades;
� Os professores devem estar cientes
que inclusive a avaliação da aprendizagem deve ser adaptada;
� É necessário estar consciente de que,
para o autismo, conhecimentos e habilidades possuem definições diferentes;
� É preciso analisar ambiente, evitar
situações que tenham impacto sobre os alunos e verificar que as performances
podem ser alteradas se o ambiente também for;
� A escola deverá prover todo o suporte
físico e acadêmico para garantir a aprendizagem dos alunos incluídos;
� A atividade física regular é
indispensável para o trabalho motor;
� A inclusão não pode ser feita sem a
presença de um facilitador e a tutoria deve ser individual;
� A inclusão não elimina os apoios
terapêuticos;
� É necessário desenvolver um programa
de educação paralelo à inclusão e nas classes inclusivas o aluno deve participar
das atividades em que ele tenha chance de sucesso, especialmente das atividades
socializadoras;
32
� A escola deverá demonstrar-se
sensibilidade às necessidades do indivíduo e habilidade para planejar com a família
o que deve ser feito ou continuado em casa;
� Ao passo que as pesquisas sobre o
autismo forem se aprimorando, as práticas também deverão ser e, por isto, é
importante a constante atualização dos profissionais envolvidos. (Serra e Vilhena,
2009 apud Cutler,2000.)
Atualmente, já existem alguns métodos educacionais que podem ser
utilizados por professores ou mediadores em uma instituição. Um dos mais
frequentemente utilizado no Brasil e no mundo por instituições que trabalham com
autista e tem "seus princípios baseados na teoria comportamental". É o método
TEACCH, que visa indicar, especificar e definir de maneira operacional os
comportamentos que devem ser trabalhados.
"O método procura, principalmente, enfocar a comunicação receptiva do aluno, crendo que a ela se antepõe a linguagem expressiva. As atividades realizadas são conduzidas pela linguagem dos símbolos apresentados. Os princípios do TEACCH também enfocam que é muito difícil e mesmo improvável que um autista construa a generalização do que aprendeu e a realização de analogias, por isso estrutura totalmente o ambiente com os símbolos e direciona suas atividades.(Orrú, 2007,pg.61)
Alguns instrumentos de avaliação são sugeridos para este processo.
Baseado no TEACCH, o PEP-R (Perfil Psicoeducacional Revisado) é um
instrumento bastante usado na prática de muitos profissionais.
O PEP-R é um instrumento de avaliação que leva em conta os pontos
fortes e maiores dificuldades da criança, tornando possível um programa
individualizado.
Diferentemente dos muitos testes que avaliam a criança apenas nos
níveis definidos como conseguir ou fracassar, o PEP-R acrescenta um terceiro
nível, denominado emergente.
33
Neste nível é considerado que a criança ainda não adquiriu o
conhecimento total ou a habilidade a respeito de algo, mas não é totalmente leiga
sobre o assunto ou atividade.
O PEP-R é, portanto, um instrumento educacional utilizado para o
planejamento de programas educacionais especiais individualizados, que
compreende as respostas captadas como: passa, emergente e insuficiente.
Muitas instituições realizam uma avaliação baseada no PEP-R para
identificar as potencialidades e dificuldades da criança verificando as seguintes
informações:
Escala de habilidades funcionais:
� Imitação
� Comportamento motor amplo
� Comportamento motor fino
� Coordenação olho mão
� “Performance” cognitiva
� Percepção
� Percepção cognitivo verbal
� Comportamento de autocuidado
Áreas observadas:
� Afetiva
� Noção do eu
� Relação com os outros
� Relação com os objetos
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� Sentidos – percepção
� Linguagem
A partir dos resultados levantados nesta avaliação, é elaborado um
planejamento pedagógico semestral global. Este planejamento requer uma
avaliação contínua através de relatórios que registram as respostas dadas em cada
estratégia por cada criança, incluindo o aproveitamento pedagógico, o
comportamento, a independência geral e em AVDs (atividades de vida diária) e
reações socioafetivas.
1.2 Papel do professor e do mediador escolar
O educador inclusivo precisa ter uma clara preocupação do caminho que
terá que percorrer para conseguir alcançar os objetivos, por isso é importante se
interessar e conhecer os procedimentos pedagógicos atuais para avaliar as
mudanças necessárias de métodos e dos recursos específicos. Precisa se integrar
da vida pessoal, do ambiente familiar destes indivíduos para que possa planejar as
tarefas de ensinar contextualizando com toda a sua bagagem teórica, com mais
profundidade e atenção, só assim irá ocorrer uma transformação, por menos que
seja.
Para Edler, em sala de aula muitas barreiras podem ser enfrentadas e
superadas graças à criatividade e à vontade do professor que se percebe como
profissional da aprendizagem em vez de ser o tradicional profissional do ensino.
Colocando sempre sua energia em torno dos alunos, os aprendizes.
" O professor requer uma série de estratégias organizativas e metodológicas em sala de aula. Estratégias capazes de guiar sua intervenção desde processos reflexivos, que facilitem a construção de uma escola onde se favoreça a aprendizagem dos alunos como uma reinterpretação do conhecimento e não como uma mera transmissão da cultura. "(Edler apud Sánchez e Romeu, 1996, p.69)
Bosa (2002 apud COIMBRA 2010) relata que quando se trata do
indivíduo portador de autismo, é importante considerar alguns aspectos relevantes
35
para o entendimento das suas necessidades educacionais, mas é preciso ter muito
cuidado, pois há relatos de experiências de inclusão de alunos autistas que sem as
devidas adaptações, resultaram em práticas excludentes. É necessário familiarizar
os professores sobre orientações básicas e fundamentais que se aplicam à
educação de qualquer pessoa dentro do espectro autístico. Alunos autistas não
aprendem sem um suporte devido, afinal eles possuem uma forma própria de
aprendizagem e interação com o meio, com isso a necessidade dos mediadores
escolares.
O papel do mediador escolar é funcionar como intermediário nas
questões sociais e de linguagem. O objetivo é ensinar a criança com sintomas do
espectro autístico como participar das atividades sociais, como se relacionar com
crianças da sua idade e o que se espera dela em cada situação. Em alguns
momentos é necessário traduzir a informação auditiva em informações visuais,
apontando ou mostrando figuras relacionadas com o que foi dito.
E por que é necessário alguém disponível só para isto? O professor
encarregado pelo grupo não tem condições de acompanhar individualmente, à todo
tempo, as necessidades deste aluno. O mediador tem a possibilidade de observar
detalhadamente o comportamento da criança, perceber detalhes, que seriam
perdidos por um professor responsável por todo o grupo, e fazer intervenções
pertinentes ao momento.
Segundo Mousinho e Gikovate, estas intervenções, sendo feitas
diariamente, trazem um grande benefício para a melhora do quadro de autismo.
Aos poucos, algumas escolas privadas estão adotando os mediadores escolares
para estes alunos. As famílias arcam com os custos deste profissional e em pouco
tempo percebem a evolução dos seus filhos.
Os profissionais que atendem as pessoas pertencentes ao espectro
autístico necessitam compreender as peculiaridades envolvidas na maneira como
elas veem e vivem o dia a dia. Compreender estas diferenças e se esforçar para
36
em determinados momentos, como Mousinho e Gikovate coloca " ver o mundo
pelos olhos deles é essencial para a criação de boas estratégias terapêuticas e
educacionais(...)" p.98. A escola deve ser sempre um espaço significativo de
aprendizagem, ainda mais quando se trata de um trabalho inclusivo.
A inclusão escolar implica em redimensionamento de estruturas físicas
da escola, além de atitudes e percepções dos educadores, adaptações curriculares
e principalmente a elaboração de políticas públicas de educação e saúde que
efetivamente garantam o atendimento que as crianças com autismo necessitam. A
inclusão significa o direito à cidadania, sendo a inclusão escolar apenas uma
pequena parcela do processo; a cidadania do autista é um caminho recente que
evolui timidamente.
37
CONCLUSÃO
Neste trabalho monográfico foram apresentados aspectos inerentes ao
estilo cognitivo de indivíduos autistas que implicam em um processo de
aprendizagem particular, com o intuito de clarificar e possibilitar o conhecimento
desta condição em que muitos indivíduos são classificados.
Através de uma vasta pesquisa, podemos concluir que o autismo deve
ser entendido como uma cultura a partir da qual o psicopedagogo e os demais
profissionais atuaram como facilitadores desta ligação entre as diferentes culturas,
ou melhor, intérpretes deste mundo.
Em função das condições bastante peculiares que cada indivíduo com
autismo apresenta e o enorme mistério que encobre este transtorno, surgem
diferentes tipos de intérpretes, diferentes profissionais engajados neste processo.
Os progressos obtidos nos conhecimentos das especializações
disciplinares, por muitas vezes estão dispersos e desunidos. Com tais dificuldades
e complexidade já demonstradas, observamos que trabalhar com indivíduos nesta
condição requer do profissional profundo conhecimento sobre as diferentes
características do espectro autístico, e como administrá-las.
A Inclusão ainda é algo que deve ser alcançada no âmbito educacional é
mais do que simplesmente permitir a permanência de um aluno com alguma
deficiência em sala de aula. É um processo contínuo de possibilitar a este aluno um
real acesso à educação, tendo em vista que acesso à educação é mais do que
frequência a uma escola é oferecer a possibilidade do aluno autista de apropriar-se
de todos os serviços que a mesma oferece aos demais alunos. O aluno autista
deve ser considerado diferente sim, afinal, todas as pessoas são diferentes entre si,
38
mas a escola não pode deixar que esta diferença se transforme em desigualdade.
Diferença e desigualdade sob hipótese alguma devem ser tomadas como
sinônimos. A desigualdade é o não respeito à diferença, é não possibilitar que
pessoas diferentes tenham direitos iguais.
É notável, portanto, que o processo de Inclusão no âmbito educacional
constitui-se hoje como um processo de difícil consecução, visto que, para que isso
ocorra de fato, necessitasse de uma mudança de valores dentro das escolas e da
sociedade.
Portanto, ressalto o valor daqueles profissionais que se empenham em
fazer que a inclusão seja realidade em suas escolas, profissionais esses que muitas
das vezes abdicam de outras oportunidades profissionais na busca de trazer
transformações no âmbito educacional e também social de alunos com deficiência,
sabemos que essas iniciativas são quase isoladas, muitas das vezes esses
profissionais não tem apoio nem mesmo de suas escolas, mas são esses
professores comprometidos com a “educação para todos”.
39
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