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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” GESTÃO AMBIENTAL PROJETO A VEZ DO MESTRE A IMPORTÂNCIA DOS PRINCÍPIOS AGROECOLÓGICOS NA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS VISANDO A PRODUÇÃO DO BIODIESEL. Luís Gustavo Leitão Ramos Orientadora Profª. Ana Paula Ribeiro Magé - RJ 2009

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · e café. Por outro lado nas serras e vales do interior da província do Rio de Janeiro, a agricultura brasileira inicia

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

GESTÃO AMBIENTAL

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DOS PRINCÍPIOS AGROECOLÓGICOS NA

RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS VISANDO A

PRODUÇÃO DO BIODIESEL.

Luís Gustavo Leitão Ramos

Orientadora

Profª. Ana Paula Ribeiro

Magé - RJ

2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DOS PRINCÍPIOS AGROECOLÓGICOS NA

RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS VISANDO A

PRODUÇÃO DO BIODIESEL.

Monografia apresentada à Universidade Candido

Mendes como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Gestão Ambiental.

Por: Luís Gustavo Leitão Ramos

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AGRADECIMENTOS

A Deus, aos amigos de curso, aos

produtores familiares de Magé e todos

que de alguma forma contribuíram para

realização deste trabalho.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha mãe Marilda

que não está mais entre nós, meu pai

Roberto, minha esposa Camila e meus

familiares.

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RESUMO

Hoje em dia vive-se uma crise mundial de esgotamento de recursos

naturais, de perda da biodiversidade, diminuição da capacidade suporte dos

ecossistemas e de dependência tecnológica de recursos fósseis (não

renováveis). Por este motivo, o desenvolvimento econômico não pode

continuar a ser pautado pela mística da competitividade a partir da obtenção

do maior lucro possível no menor preço cabível. Então a busca de uma

alternativa energética para os combustíveis fósseis depende de que sejam

avaliadas fontes renováveis e “limpas” produzidas pela natureza. Neste

contexto, o biodiesel se enquadra como biocombustível limpo, renovável e

confiável, podendo fortalecer a economia do país gerando mais empregos.

Sendo assim, pode-se fazer uma relação entre o biodiesel e os sistemas

agroflorestais, onde os mesmos constituem alternativas de uso da terra,

visando o desenvolvimento rural sustentável, reflexos positivos sobre a renda

familiar, recuperação de áreas degradadas, além de geração de serviços

ambientais. Desta forma, para a viabilização econômica de áreas degradadas

sugere-se a utilização das mesmas para o cultivo de oleaginosas (Pinhão

Manso, Soja, Dendê, Girassol, Mamona, etc.), em consórcio com outras

espécies – uso de sistemas agroflorestais – para produção de biodiesel.

Palavras-chaves: Recuperação de áreas degradadas, sistemas agroflorestais,

desenvolvimento rural sustentável, biodiesel.

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METODOLOGIA

A preparação deste trabalho de conclusão de curso teve como base

pesquisas bibliográficas em livros, artigos científicos, periódicos e referências

eletrônicas sobre o tema. Foram coletados alguns dados com produtores

familiares do município que vive em áreas de preservação e que estão vendo

suas terras se degradarem com a erosão hídrica e exposição direta do sol,

além da invasão de espécies de plantas oportunistas. As informações

coletadas foram submetidas a processos de fichamentos e resenhas.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Histórico da Agricultura 11

CAPÍTULO II - Características da Produção Agrícola Tradicional 21

CAPÍTULO III - Biodiesel 30

CONCLUSÃO 41

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 44

ÍNDICE 52

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INTRODUÇÃO

Nos anos setenta o mundo viveu uma explosão demográfica e um

crescimento econômico acelerado, como isso ocorreu de forma desordenada o

meio ambiente foi seriamente afetado, houve escassez de alimentos e muitas

florestas foram derrubadas, transformadas em pastos e áreas agricultáveis,

surgiram assim novas fronteiras agrícolas para suprir a demanda por esses

alimentos, tudo isso sem que pensassem no meio ambiente. Foi então que

surgiu a “Revolução Verde”, ou seja, a implantação de tecnologia altamente

químico-mecanizada (PRIMAVESI, A. 1992), que degrada violentamente o solo

e o meio ambiente.

A situação alimentar crítica em muitos países em desenvolvimento, o

aumento do desmatamento, a degradação ambiental, a crise energética e a

escassez de fertilizantes levaram os países a repensar uma nova ordem de

crescimento (VARELLA L.B., 2003), o chamado desenvolvimento sustentável.

Desde então vem ocorrendo, a nível mundial, uma explosão de

interesse pela busca de caminhos sustentáveis para a produção de alimentos.

Ainda assim a produção é altamente tecnológica, focando a substituição dos

insumos a fim de trocar as tecnologias agroquímicas caras e degradantes por

tecnologias seguras para o meio ambiente. (ALTIERI M.A. 2002).

No Brasil, que tem a maior biodiversidade do mundo, o uso desta

tecnologia tem sido predatória, não tão diferente do que foi visto no planeta. A

modernização da agricultura brasileira ocorreu neste mesmo período, essa

modernização levou à perda de cultivares local e a eliminação de sistemas

tradicionais de cultivos e como acontecia no resto do mundo, aqui não foi

diferente, ocorreu à conversão dos ecossistemas naturais em áreas com

monocultura e áreas para pastagens (VIANA et al., 1998). As práticas de

monocultivo, tanto em áreas extensas quanto em áreas pequenas, mas que

dependesse de pesadas mecanização e elevadas doses de fertilizantes

químicos, desequilibram de tal forma os ambientes naturais, que a

necessidade de agrotóxicos foi apenas uma conseqüência da intensificação da

produção agrícola (BAGGIO & MEDRADO, 2003). Na tentativa de reverter este

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cenário, buscam-se práticas agroecológicas modernas que, desenvolvidas por

diferentes linhas de pesquisas, apresentam-se como alternativa para

fundamentar um novo paradigma, baseado no desenvolvimento sustentável,

com custos sociais, econômicos e ambientais mínimos.

Os sistemas agroflorestais, pela aproximação aos ecossistemas

naturais em estrutura e diversidade, representam um grande potencial para

recuperação de áreas e ecossistemas degradados e têm papel de destaque

como alternativa para o desenvolvimento rural sustentável, principalmente por

transformar atividades de produção degradantes em regenerativas (VIANA et

al.1997).

Diante da preocupação que engloba desde áreas ocupadas com

monocultivos em sistemas produtivos latifundiários até pequenas propriedades,

a recuperação de áreas degradadas sugere a necessidade de práticas

conservacionistas de manejo. Estas práticas, para serem amplamente

aplicadas, devem apresentar baixo custo, promover a recuperação da área

empobrecida e conservação da biodiversidade, além de serem adequadas às

características sócio-culturais locais (DURIGAN 1999).

Nota-se ainda a importância deste trabalho pelo panorama energético

brasileiro atual. A busca de alternativas energéticas para os combustíveis

fósseis depende de que sejam avaliadas fontes renováveis e “limpas”

produzidas pela própria natureza. O importante é definir uma tecnologia

apropriada e qual matéria-prima utilizar para a geração de energia com o

mínimo ou até mesmo sem prejuízos para o meio ambiente, atualmente

prejudicado pelas diversas fontes geradoras e transformadoras de energia, que

entre outras conseqüências aumentam a concentração dos Gases do Efeito

Estufa (GEE) liberados pela queima de combustíveis fósseis, queimadas e

decomposição da matéria orgânica, provocando cada vez mais, o aumento do

aquecimento global, trazendo sérios prejuízos para a humanidade (BARROS,

2005).

O biodiesel vem sendo considerado como biocombustível limpo,

renovável e confiável, podendo fortalecer a economia do país gerando mais

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empregos, além de agregar valores às oleaginosas, abrindo assim novo

mercado para estas culturas (BIODIESELBRASIL, 2005).

Desta forma, para a recuperação de áreas degradadas sugere-se o

cultivo de oleaginosas, em consórcio com outras espécies – uso de sistema

agroflorestal – para produção de biodiesel. Sendo uma fonte limpa e renovável

de energia, as oleaginosas podem ser produzidas com baixo custo, até mesmo

em áreas consideradas pouco produtivas, com possibilidade de geração de

emprego e renda no campo, pois o país abriga o maior território tropical do

planeta e é a nação mais rica em água doce do mundo, com clima e tecnologia

que permitem a produção de mais de uma safra por ano dependendo da

cultura. Sendo assim, não são poucas as motivações para o cultivo de

variedades para a produção de biodiesel em áreas degradadas, já que áreas

empobrecidas são comprovadamente recuperadas através da implantação de

Sistemas Agroflorestais – SAF’s –e ao mesmo tempo produz uma alternativa

energética com muitos benefícios ambientais, sociais e econômicos.

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CAPÍTULO I

HISTÓRICO DA AGRICULTURA

1.1 - Histórico da Agricultura Brasileira

A agricultura como forma de aperfeiçoar a produção local remete aos

primórdios da antiga África, já na pré-história. Em torno de 12.000A.C. surgem

as primeiras formas de agricultura, visando manter a produção local de forma

contínua e garantindo a consorciação com a criação de animais, através da

pecuária, por meio da domesticação dos animais. Aldeias garantiam a criação

de determinadas espécies herbívoras por meio do pastoreio extensivo em

pequenos nichos agrícolas. Essas aldeias praticavam a agricultura de forma

rudimentar, contudo já utilizando ferramentas agrícolas, esterco animal e

seleção de sementes, visando otimizar a sua produção, muitos conhecimentos

empíricos praticados na agricultura “primitiva” ainda são utilizados por

comunidades tradicionais até hoje.

O fogo também era usado para limpeza de área em criação de pastos e

com isso as foi surgindo as pequenas vilas com o surgimento posterior das

cidades.

O surgimento da agricultura no Brasil remete à chegada dos

portugueses, onde os povos indígenas, que viviam no litoral, alimentavam-se

de caças e de pesca marinha, abundantes na costa brasileira; além disso,

consumiam diversas raízes como mandioca, cará e etc, alem de praticar a

caça em áreas mais ao interior das matas. Com a chegada dos colonizadores

europeus no século XVI, começa a devastação das vegetações litorâneas

brasileiras, quando se deu início a exportação do pau-brasil e de outras

culturas como a cana-de-açúcar, pecuária extensiva, passando pelos ciclos do

ouro, até a exploração do café. Toda a economia girava em torno de uma

agricultura de exportação.

Com o crescimento populacional e o empobrecimento dos solos,

decorrente de monocultivo intenso, inúmeros problemas apareceram, dentre os

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quais a falta de alimento. Por volta dos séculos XVII e XIX, intensifica-se a

adoção de sistemas de rotação de culturas com plantas forrageiras capim e

leguminosas, visando fixar nitrogênio no solos pro parte destas últimas, além

de uma pecuária mais integrada com a agricultura. Esta fase foi denominada

como a: Primeira Revolução Agrícola. No final do século XIX e início do

século XX, começa a intensa escassez de alimentos na Europa, levando a

necessidade de uma dedicação mais cuidadosa nos âmbitos da ciências e

tecnologias agrícolas, surge o advento dos fertilizantes químicos,

melhoramento genético, máquinas e motores à combustão, específicas para

colheitas de grandes culturas. Esta resolução agrícola leva ao abandono das

antigas práticas agrícolas e de pecuária. Iniciava-se então a Agricultura

Industrial (AI), Agricultura Convencional ou Agricultura Química. Surge a

Segunda Revolução Agrícola.

No Brasil a agricultura acompanhava, de certa forma, aos avanços

alcançados na Europa em meados do século XVIII e no século XIX,

impulsionado pelo crescimento das lavouras de exportação de cana-de-açúcar

e café. Por outro lado nas serras e vales do interior da província do Rio de

Janeiro, a agricultura brasileira inicia uma profunda crise, decorrente da falta

de mão-de-obra com o fim da escravidão, ocasionando atrasos técnicos e

administrativos na condução das culturas. A crença de uma agricultura

extensiva leva ao abandono das lavouras atuais já que estas não produziam

mais satisfatoriamente, fazendo com que muitos agricultores buscassem novas

áreas. Entrava-se no ciclo da cultura nômade de expropriação do solo

brasileiro.

Em medos dos séculos XVIII início do século XIX uma tradição de

intelectuais brasileiros, basicamente estudantes da Universidade de Coimbra,

começam a reproduzir e traduzir escritos condenando as atuais práticas de uso

do solo brasileiro. Grande parte das críticas ecológicas brasileira, se basearam

nos trabalhos de José Bonifácio de Andrada e Silva, onde, mais tarde veio a

influenciar um grupo de intelectuais defendendo suas idéias ao longo do

período monárquico. Próximo à corte de D. Pedro II existia um grupo de

intelectuais e naturalistas que dirigiam associações, cujo propósito era

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defender os interesses no império, como o Instituto Geográfico Brasileiro e o

Museu Nacional. Além deles, políticos e fazendeiros na província do Rio de

Janeiro, capital da monarquia. Surgem as primeiras discussões levantando

questões de natureza ecológica.

Basicamente dois princípios norteadores permitem entender a ecologia

política do Brasil nos séculos XVIII e XIX: a modernização que se almejava

estava ligada com o progresso do mundo rural do que uma opção pelo mundo

urbano e industrial. A vocação agrícola do país era vista como uma vantagem

comparativa em termos de conquista da civilização, desde que a paisagem

rural fosse otimizada e modernizada, principalmente por meio da capacitação

da mão de obra com o uso de máquinas e instrumentos agrícolas. Em outras

palavras era uma crença calçada em princípios ecológicos.

Todas as prerrogativas levavam a uma suspensão da mão-de-obra

servil pela derrubada de árvores e queimada de pastagens, praticadas pela

agricultura extensiva e de grandes proprietários em favor de uma ordem rural

baseada no trabalho livre, na lavoura intensiva e na pequena propriedade.

Uma prerrogativa que não se perdeu totalmente a sua base, continuando a ser

um desafio da sociedade em busca de democratização da sociedade

brasileira.

Segundo vários autores a agricultura moderna tem sua origem ligada às

descobertas do século XIX, a partir de estudos dos cientistas Saussure (1797-

1845), Boussingault (1802-1887) e Liebig (1803-1873), que derrubaram a

teoria do húmus, segundo a qual as plantas obtinham seu carbono a partir da

matéria orgânica do solo (De Jesus, 1985). Liebig difundiu a idéia de que o

aumento da produção agrícola seria diretamente proporcional à quantidade de

substâncias químicas incorporadas ao solo. Toda a credibilidade de autores

como Liebig deu-se ao fato de suas descobertas estarem apoiadas em

comprovações científicas. Juntamente de Jean-Baptite Boussingault, que

estudou a fixação de nitrogênio atmosférico pelas plantas leguminosas, Liebig

é considerado o maior precursor da "agroquímica".

Ainda segundo os mesmos autores as descobertas de todos estes

cientistas marcam o fim de uma longa data que antecede o século XIX, na qual

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o conhecimento da agronomia era essencialmente empírico. A nova fase se

caracteriza por rápidos progressos científicos e tecnológicos. No início do

século XX, Louis Pasteur (1822-1895), Serge Winogradsky (1856-1953) e

Martinus Beijerinck(1851-1931), precursores da microbiologia dos solos, dentre

outros, contribuíram com mais fundamentos científicos que fizeram uma

contraposição às teorias de Liebig, ao provarem a importância da matéria

orgânica nos processos produtivos agrícolas.

De certa forma o surgimento de novas comprovações científicas e

pontos questionáveis de Liebig, os impactos de suas descobertas haviam

extrapolado o meio científico dando fôlego para novos setores produtivos e

industriais, abrindo um amplo leque de mercado, o chamado de “fertilização

artificial”.

Com o advento de mecanismos como os agroquímicos, paralelo ao uso

de agrotóxicos produzidos pela indústria, sistemas de rotação de culturas e de

integração da produção animal e vegetal passaram a ser abandonados,

passando a ser realizados separadamente. Tais fatos deram início a uma nova

fase da história da agricultura, que ficou conhecida como "Segunda

Revolução Agrícola". Paralelo ao processo de desenvolvimento de

maquinários a combustão e a seleção de produtos como sementes melhoradas

geneticamente além do aprimoramento industrial impulsionando um sensível

aumento da produção em algumas culturas.

Essa expansão da revolução verde foi rapidamente sendo impulsionada

pelo apoio de órgãos governamentais, pela criação de pesquisas nas áreas

agronômicas e pelas empresas, produtoras de insumos (sementes híbridas,

fertilizantes sintéticos e agrotóxicos); além do incentivo de organizações

Internacionais como o Banco Mundial, o Banco Interamericano de

Desenvolvimento (BID), a United States Agency for International Development

(USAID - Agência Norte Americana para o Desenvolvimento Internacional), a

Agência das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), dentre

outras.

Paralelo a estas inovações, o chamado "pacote tecnológico" advindo

dessa revolução verde estruturou o crédito rural, subsidiado os custeios

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agrícolas e, consequentemente estruturando o ensino e a pesquisa, causada

pela extensão rural, como modelo norteador. Contudo, esse modelo de

agricultura a partir da década de 60 começava a dar sinais de fragilidade,

provocado pelo desmatamento de novas áreas e a diminuição da

biodiversidade. Como conseqüência surge problemas com erosão e perda da

fertilidade dos solos, contaminação da água, dos animais silvestres e dos

agricultores por agrotóxicos, a agricultura a ser considerada como Uma

Atividade Potencialmente Impactante, decorrente principalmente desse modelo

de agricultura praticado.

Mesmo com a inquietude do “mundo civilizado” a agricultura

convencional continuava avançando em países do “terceiro mundo”,

agravando-se ainda mais os danos ambientais. Em 1987 foi produzido pela

Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento, o Relatório de

Brundtland, mais conhecido como Nosso Futuro Comum, que teve como uma

de suas principais recomendações a realização de uma conferência mundial

para direcionar os assuntos ambientais – o que culminou na Rio-92. Nesse

relatório foi cunhada a clássica definição de desenvolvimento sustentável. Em

1989, surge no Conselho Nacional de Pesquisa (NRC) as primeiras

preocupações sobre a agricultora sustentável com a publicação do relatório

"Alternative Agriculture" um dos principais reconhecimentos da pesquisa oficial

a esta tendência da produção agrícola. Retomando, em 1992, na Conferência

Mundial da RIO 92, o conceito de sustentabilidade manifestou uma nova

ordem mundial e até hoje expressa a vontade das nações em conciliar ou

reconciliar o desenvolvimento econômico e o meio ambiente, buscando

integrar a agricultura produtiva levando em consideração princípios de

sustentabilidade aos diversos campos da economia. Hoje, contudo, a palavra

sustentabilidade transcende diversos âmbitos dos modelos sócio – político -

ambiental.

Na década de 90 emerge o conceito de "selos verdes", onde a

certificação ambiental fundamenta-se no princípio da produção com uso de

técnicas que minimizem o uso de agrotóxicos e se calça em processos que

não degradem o meio ambiente. A iniciativa visa certificar e fiscalizar produtos

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que sejam produzidos de forma degradatória, e esta se apóia principalmente

em organizações não governamentais. Nascem os adeptos dos produtos

orgânicos ou biodinâmicos, cujo principio se dissemina pelo consumo de

produtos saudáveis e livres de químicos agrícolas. Hoje a chamada

Agroecologia ocupa um lugar especial nas prateleiras das grandes redes de

supermercados do mundo garantindo um nicho de mercado promissor e

emergente.

1.2 – DEGRADAÇÃO DA BIODIVERSIDADE

O Brasil é o país mais rico em biodiversidade do mundo. Tem clima e

recursos que propiciam a vida em abundância. No entanto adotou um modelo

de crescimento econômico que tem provocado uma série de desequilíbrios.

Grande parte da biodiversidade brasileira tem sido extinta em função do uso de

modelos de produção equivocados. Uma das formas de produção mais limpa

que podem minimizar a erosão da biodiversidade é através de práticas

agroflorestais (BAGGIO E MEDRADO, 2003).

A expansão econômica mundial no século XX promoveu uma intensa

ocupação de áreas, causando com isso, grandes perturbações ao meio

ambiente pela intensa fragmentação de biomas (ARAKI, 2005). Inegavelmente

essa expansão e modernização da agricultura brasileira, proporcionaram

significativos aumentos da área plantada e da produtividade, mas por outro

lado, conseqüentemente vem resultando numa severa erosão da

biodiversidade (RODIGHERI, 2002).

Como em diversos países em desenvolvimento, a biodiversidade

brasileira (flora, fauna, solo e população) e os recursos econômicos decaíram

com a introdução da “Revolução Verde”, após o golpe militar de Estado. Dentro

desta lógica, a implantação da revolução verde no Brasil, na década de 60/70,

trouxe, num primeiro momento, o aumento da produtividade, notadamente nos

produtos de exportação. Este modelo (com o incremento do uso de insumos,

mecanização e monoculturas sem uma visão mais abrangente entre

produtividade e estabilidade dos ecossistemas tropicais) levou, em pouco

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tempo, à degradação de grandes superfícies, muitas delas abandonadas

depois de poucos anos de cultivo (FERRAZ, 1997).

Pode-se notar que a história brasileira de uso não sustentável da

biodiversidade nativa tem representado perdas de oportunidades sociais e

econômicas para o desenvolvimento sustentável (VIANA et al., 1998). O uso

não sustentável da diversidade biológica é resultante de diversos fatores,

sendo o principal, a tecnologia de produção agrícola baseada em sistemas de

monoculturas.

O uso e a ocupação desordenados do solo têm ocorrido em todo o

território brasileiro, tanto para exploração agrícola, como para a expansão de

áreas urbanas e industriais e tem acarretado preocupações sobre o uso de

recursos naturais por esta e pelas gerações futuras (BARBOSA &

MANTOVANI, 2000).

Entre os principais fatores de degradação de ambientes terrestres estão:

os desmatamentos para fins de agricultura, a urbanização, as obras de

engenharia para construção de estradas, ferrovias ou represas, mineração a

céu aberto, a exploração vegetal, as práticas agrícolas inadequadas, como o

uso excessivo de produtos químicos, o uso de máquinas inadequadas, a

ausência de práticas conservacionistas do solo e as atividades industriais que

causam a poluição do solo (DIAS & GRIFFITH, 1998).

1.2.1 – NECESSIDADE DE SE RECUPERAR ÁREAS DEGRADADAS

A recuperação de ecossistemas degradados vem recebendo

importância crescente diante do quadro cada vez mais drástico de crise

ambiental e diminuição da qualidade de vida das populações humanas e

naturais. O que hoje predomina no meio rural são grandes áreas intensamente

cultivadas com monoculturas, solo nu sofrendo intenso processo erosivo,

zonas ripárias sem vegetação provocando o assoreamento de rios, e pequenos

fragmentos florestais, isolados e permanentemente perturbados pelas

atividades humanas (AMADOR, 1999). Este modelo mostra-se hoje

insustentável, com conseqüências ambientais graves e irreversíveis, como o

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aquecimento global, o esgotamento das fontes de água, a perda dos solos pela

erosão e a extinção de espécies vegetais e animais.

A transformação dos ecossistemas não pode ser considerada de modo

isolado ao contexto histórico, social, cultural, político e econômico das

populações humanas envolvidas (VIVAN, 1998). Assim, como a degradação foi

fruto de um processo histórico iniciado pelo ser humano, a recuperação

depende também de ações humanas efetivas e emergenciais. Além da

recuperação, os modelos de desenvolvimento – rural e urbano – devem buscar

novos caminhos que conciliem as atividades econômicas com a conservação

da biodiversidade e dos recursos naturais.

A necessidade de se recuperar o meio ambiente vem sendo a cada dia

uma discussão pertinente. Isto se deve à real situação na qual se encontram

os ecossistemas brasileiros.

Na natureza, a recuperação de solos degradados pode levar muito

tempo, e sua abreviação é um dos objetivos de Sistemas Agroecológicos

(GÖTSCH, 1995). Contudo, para que realmente haja a recuperação de

ecossistemas por proprietários rurais, empresas e órgãos governamentais, o

fator econômico tem que ser levado muito em consideração, para que

aspectos financeiros não inviabilizem este processo. A conservação da

biodiversidade deve ser coordenada com a utilização de seu potencial de gerar

renda, sendo esta a melhor forma de convencer as comunidades locais e os

empresários a preservarem-na. Diante disto, os Sistemas Agroflorestais, sendo

uma tecnologia agroecológica sustentável, podem cumprir este papel inovador

no sentido de conciliar recuperação e conservação de ambientes naturais e

geração de renda. Assim, a preservação da biodiversidade associada à

produção de alimentos, por exemplo, desde que exista consciência e respeito

por ela. Práticas agrícolas antigas, que ainda subsistem em alguns locais, além

de não utilizarem insumos industriais, eram implementadas em forma de

mosaicos de pequenas parcelas, separados sempre por valas. A rotação de

culturas garantia uma produção diversificada, e com controle de pragas e

doenças (BAGGIO & MEDRADO, 2003).

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Um movimento no sentido de uma “agricultura orgânica”, incluindo

produtores rurais, pesquisadores e ativistas sociais, tem sido organizado

durante os últimos vinte anos. Este movimento tem o objetivo de desenvolver e

mostrar ao público, ao governo, consumidores e produtores, novas alternativas

ecológicas e econômicas para a agricultura nos trópicos (ORTEGA E

POLIDORO, 1998).

Apesar do acúmulo de produção científica, da existência de técnicas

adequadas de manejo da terra e de leis vigentes, ainda são poucos os

esforços dos proprietários e empresas dedicados à recuperação de suas áreas

e ecossistemas degradados. A implantação e disseminação de sistemas de

manejo sustentável são limitadas pela baixa competitividade econômica

desses sistemas em relação aos sistemas convencionais de produção não-

sustentável. Vive-se um momento de transição em que a crise ambiental global

leva as pessoas a refletirem sobre suas ações e conseqüências: Começa a

acontecer uma revisão de valores que sai da cultura predatória, que busca o

lucro máximo com a exploração dos recursos naturais, antes tidos como

infinitos e inesgotáveis, levando a uma cultura de coexistência com a natureza,

e não de exploração, onde cada vez mais a sociedade exigirá dos produtores

rurais atitudes ambientalmente corretas (LUTZENBERGER,2001).

A intensificação da produção em áreas não aptas, ou acima de sua

capacidade de suporte, tem provocado erosão e contaminação dos solos e

água com agroquímicos, tornando-os cada vez mais dependentes do aporte de

energia externa ao sistema e reduzindo sua capacidade produtiva ao longo do

tempo (FERRAZ, 1997). Existem extensões significativas de áreas degradadas

e/ou em processo adiantado de degradação e empobrecidas (BAGGIO E

MEDRADO, 2003), mas com grande potencial para o cultivo de oleaginosas

para produção de biodiesel, por exemplo. Nesses casos, o produtor pode usar

suas terras pobres ou abandonadas, principalmente com a implantação de

Sistemas Agroflorestais (SAF’s), cujas práticas refletem a preocupação dos

agricultores em prol da sustentabilidade, fato aprendido com os erros

cometidos no passado. Almeida et al(2002), por exemplo, mostra em seus

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trabalhos, várias modalidades de SAF’s comerciais desenvolvidas no sul da

Bahia, envolvendo plantação de dendê, além de outras variedades. Pelo fato

do dendê se adaptar muito bem a áreas empobrecidas, a utilização desta

variedade para recompor áreas degradadas tem sido muito considerada. O

Dendê tem sido muito estudado e testado como recurso natural na produção

do biodiesel.

É consenso que para se evitar ou minimizar a perda da biodiversidade, a

atividade humana que resulta em simplificação e fragmentação tem que parar.

Assim, as práticas agroecológicas, incluindo aqui os Sistemas Agroflorestais,

surgem como alternativas reais para se reduzir as perdas de biodiversidade em

áreas ocupadas, provendo ao mesmo tempo as necessidades humanas. De

qualquer maneira, a redução da velocidade de destruição dos recursos

naturais depende da conscientização dos detentores de terras e/ou aplicação e

fiscalização das leis existentes.

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CAPÍTULO II

CARACTERISTICAS DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA

TRADICIONAL

2.1 – Sistemas de Consumo

O homem depois de ser coletor e caçador, começou a modificar os

ecossistemas, desenvolvendo a pecuária e a agricultura. Sempre aproveitou os

recursos acumulados para civilizar-se, sem preocupar-se com a reposição,

dando caráter transitório a estas práticas (PIMENTEL, 1989).

No passado, o estoque de terras novas para ocupação era imenso, já

nos dias de hoje, as cidades e as indústrias estruturam-se como super

consumidoras, que extraem recursos renováveis acima da taxa de

recomposição e que dependem, como fonte principal de energia, de recursos

não renováveis como o carvão, o petróleo e a energia nuclear (BRANDT-

WILLIANS & ODUM, 1998). Sistemas assim tendem a esgotar rapidamente

seus recursos e podem converter recursos renováveis em não renováveis

(biodiversidade, solos). Na ausência de controles, colocam em risco,

ecossistemas terrestres e sua própria existência, como estamos observando

constantemente ultimamente.

A civilização atual, de maneira gradual no início e depois com grande

velocidade, se organizou para explorar ao máximo todas as energias possíveis.

Segundo Ortega e Polidoro (1998), os recursos bióticos que maximizam o

aproveitamento de energia que a Terra recebe e incorpora em seu estoque

interno, diminuíram muito. As energias do petróleo e do carvão foram

colocadas em circulação, mas seu uso tem como efeito reduzir a

biodiversidade. Os benefícios começam a ser superados pelos prejuízos.

O atual panorama energético com suas enormes limitações exige um

novo modelo de aproveitamento dos recursos naturais, com consumo mais

baixo de energia. É assustadoramente crescente a necessidade de se reduzir

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riscos decorrentes da dependência de sistemas de produção que privilegiam

poucos produtos e que influenciam negativamente as relações de mercado e

do uso de recursos.

Portanto, com o rápido crescimento econômico que tem sido verificado

no Brasil e em outros países, muitas questões são levantadas a respeito de

qual agricultura é mais apropriada, sustentável e benéfica à médio e longo

prazos, bem como qual seria a melhor maneira de utilizar os recursos

disponibilizados pela natureza.

2.2 – Sistemas Agrícolas

O estudo da evolução dos sistemas agrícolas evidencia situações de

mau funcionamento dos ecossistemas rurais que acarretam em problemas

urbanos e vice-versa (PIMENTEL, 1989). Quando são analisados os

diagramas energéticos dos sistemas de produção rural, aparecem os seguintes

problemas: êxodo dos habitantes do meio rural, redução drástica das florestas

que faziam parte da paisagem rural, perda de solo por erosão, falta de

recomposição dos nutrientes, lixiviação de fertilizantes e pesticidas e uso

intensivo de produtos derivados de petróleo. Já quando são analisados os

sistemas energéticos urbanos, aparecem os fatores de pressão interna,

derivados do desajuste ambiental, ruído, poeira, poluição, congestionamentos,

confusão visual, alienação cultural, alto custo no tratamento de resíduos, etc

(BRANDT-WILLIANS & ODUM, 1998).

O paradigma da produção agrícola vigente tem como alicerces a

homogeneidade, a produtividade e o tempo, ou seja, valendo-se de todo um

arsenal tecnológico, procurando ter a maior produção por área da forma mais

homogênea possível obtendo o maior retorno financeiro no menor tempo de

investimento (PÁDUA & RUSSO, 2001). De acordo com esse paradigma é que

as atividades de pesquisa e extensão até então privilegiaram práticas voltadas

para formação de campos ou monoculturas empresariais, obedecendo ao

modelo agrícola, baseado nos princípios da Revolução Verde, que favorecem a

destruição da biodiversidade dando importância secundária à agricultura

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familiar, que normalmente está abandonada, destinada a uma agricultura

migratória de corte e queima (OLIVEIRA, 1999).

2.3 – Agricultura Tradicional

Cerca de 60% da área agrícola do mundo é cultivada com base em

métodos tradicionais e/ou de subsistência (RUTHENBERG, 1971). Este tipo de

agricultura vem beneficiando-se através de séculos de evolução cultural e

biológica, adaptando-se assim às condições locais (EGGER, 1981). Desta

forma, os pequenos produtores desenvolveram ou herdaram sistemas

agrícolas complexos, os quais durante séculos ajudaram a satisfazer suas

necessidades de subsistência, inclusive sob condições ambientais adversas

(solos marginais, áreas secas ou sujeitas à inundação e à baixa disponibilidade

de recursos), sem o uso de mecanização, fertilizantes ou pesticidas químicos.

Geralmente, tais sistemas agrícolas consistem na combinação de atividades

produtivas destinadas ao mercado e ao auto-consumo (ALTIERI, M. 2002).

Em sua maioria, os pequenos agricultores adotam práticas

desenvolvidas para otimizar a produtividade a longo prazo, em vez de

aumentá-las ao máximo no curto prazo (GLIESSMAN et. al. 1981). Os

insumos, em geral, são originários das proximidades e o trabalho agrícola é

realizado por agricultores e animais abastecidos com energia proveniente de

fontes locais (ALTIERI, M. 2002).

Trabalhar com esta energia e com este tipo de restrições fez com que

os pequenos agricultores aprendessem a reconhecer e utilizar os recursos que

existem em suas regiões. Os agricultores tradicionais são muito mais

inovadores do que crêem os especialistas. Na realidade, as comparações de

produtividade entre a “Revolução Verde” e os sistemas agrícolas tradicionais,

têm sido parciais e pouco justas, pois ignoram o fato de que os agricultores

tradicionais valorizam a totalidade do sistema agrícola produtivo e não somente

os rendimentos de uma cultura, como é o caso do modelo agrícola da

“Revolução Verde”. Muitos cientistas de países desenvolvidos estão

começando a mostrar interesse pela agricultura tradicional, especialmente

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pelos sistemas de pequena escala, diversificados, buscando formas para

remediar as deficiências da agricultura moderna. Entretanto, essa transferência

de aprendizado deve acontecer rapidamente ou esta riqueza de

conhecimentos práticos perder-se-á para sempre (ALTIERI, M. 2002).

Segundo Primavesi (1992), a modernização da agricultura não resultou

apenas em elevados aumentos na produção, mas, também, em enormes

danos em outros importantes fatores da produção agrícola, como:

Erosão do solo;

Perda de fertilidade do solo;

Poluição e assoreamento de rios e encostas;

Degradação de fontes de água;

Redução da biodiversidade (causado pela monocultura);

Contaminação de recursos naturais;

Êxodo rural;

Aumento de pragas e doenças fitopatogênicas;

Destruição das comunidades ecológicas;

Poluição atmosférica;

Uso intenso de energias fósseis e consequentemente o fim destas;

Declínio de produtividade com o tempo, devido ao aumento de ervas

daninhas.

Comprovadamente a agricultura moderna exaure o solo, substituindo a

fertilidade perdida por nutrientes que vêm de fora. Fertilizantes comerciais, tais

como fosfatos, provém de minas que estarão brevemente esgotadas, as minas

de potássio são mais abundantes, mas o nitrogênio, um dos mais importantes

macronutrientes, embora venha da atmosfera, uma fonte teoricamente

inesgotável, acaba sendo um fator limitante. Ele é obtido através de um

processo que consome quantidades enormes de energia, principalmente de

combustíveis fósseis (LUTZENBERGER, 2001).

No último século, a intensidade de uso de insumos industriais na

agricultura aumentou consideravelmente, passando a depender de insumos

comprados, tais como fertilizantes, pesticidas, herbicidas e tecnologia de ponta

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para poder gerar elevadas produções por hectare. A maioria destes insumos

depende economicamente de forma direta ou indireta da disponibilidade global

de combustíveis fósseis baratos e também do fornecimento de alguns minerais

(BRANDT-WILLIANS & ODUM, 1998).

Comprovadamente a agricultura moderna não é sustentável, e o grande

desafio é repensar o modelo agrícola a ser implementado, pois a repetição do

modelo extremamente dependente de insumos externos torna o agricultor

dependente de crédito bancário e acarreta danos ambientais (FERRAZ, 1997).

Frente a esta realidade, vários países do mundo insatisfeitos com esse

modelo de produção, decidiram projetar sistemas que fossem menos

dependentes de insumos externos e que se enquadrassem nos princípios do

Desenvolvimento Sustentável. Trata-se de modelos baseados em experiências

agroecológicas.

A Agroecologia está fundamentada em princípios que respeitam

aspectos ecológicos, culturais, sociais e econômicos da produção e sua

sustentabilidade. O uso potencial de produtos agroflorestais para substituir

combustíveis fósseis tem sido muito debatido e pesquisado pela Agroecologia.

A Agroecológica considera os sistemas produtivos como unidade

fundamental, onde os ciclos minerais, as transformações energéticas, os

processos biológicos e as relações sócio–econômicas são analisados como

um todo. Desta forma, a preocupação não está em maximizar a produção de

uma atividade em particular, mas sim otimizar o uso do agro-ecossistema

(ALTIERI, M. 2002).

2.4 – Agroecologia Sustentável

A busca por um sistema de produção que vise a sustentabilidade, no

seu sentido mais amplo, engloba todo processo de desenvolvimento que deve

obrigatoriamente apontar para a solução de problemas ambientais decorrentes

do processo da produção agrícola nos moldes convencionais (PÁDUA &

RUSSO, 2001).

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O direcionamento dado às políticas agrícolas em fortalecer sistemas

pouco eficientes, em detrimento da implantação de sistemas de produção

sustentáveis do ponto de vista ambiental e sócio-econômico, está fazendo com

que não seja possível manter ao mesmo tempo a integridade da diversidade

biológica e o aumento da qualidade de vida da população.

Diante deste panorama, torna-se importante a adoção de medidas que

assegure a oferta de produtos agrícolas associadas a procedimentos de

recuperação e conservação de solos, despoluição da água e da preservação

da diversidade biológica. Possivelmente uma das melhores opções para o

alcance destes objetivos seja a utilização por parte dos agricultores de

Sistemas Agroflorestais (RODIGHERI, 1997). Portanto, no Brasil,

especialmente nestes últimos anos, além do aumento de conscientização da

sociedade sobre a importância da preservação ambiental, que vem se

tornando a cada dia uma necessidade premente, vêm sendo realizadas várias

pesquisas e ações visando a conservação da biodiversidade. Estas iniciativas

envolvem recuperação de áreas degradadas através de sistemas de produção

agrícola sustentáveis, como por exemplo, os Sistemas Agroflorestais

(SANTOS, 2000).

As tecnologias agroecológicas reconhecem o valor dos antigos e

tradicionais sistemas e técnicas de agricultura com o intuito de resgatar,

atualizar e usar esta sabedoria na elaboração de novos modelos de agricultura.

Estes sistemas agroecológicos estão voltados para maximizar a energia de

produção e a sua utilização dentro do sistema, através da integração de ciclos

de vida e mecanismos de autocontrole (BONILLA, 1992). Para Kageyama &

Gandara (2003), essas tecnologias mais limpas de agrossistemas utilizam-se

de conceitos de diversidade de espécies e interação entre espécies, sendo que

a meta é criar no local degradado, empobrecido, um novo ecossistema, o mais

semelhante possível ao original, de modo a criar condições de biodiversidade

renovável, em que as espécies existentes tenham condições de se auto-

sustentar.

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2.5 – Sistemas Agroflorestais

Sistema agroflorestal é um nome genérico que se utiliza para descrever

sistemas tradicionais de uso da terra amplamente utilizados, nos quais as

árvores são associadas no espaço e/ou no tempo com espécies agrícolas

anuais e/ou animais. Combina-se, na mesma área, elementos agrícolas com

elementos florestais, em sistemas de produção sustentáveis. Entretanto,

apenas recentemente têm sido desenvolvidos os conceitos modernos sobre

sistema agroflorestal e embora muitas sugestões tenham sido apresentadas,

não existe uma definição universalmente aceita, incluindo-se entre elas, a

definição do ICRAF: “Sistema agroflorestal é um sistema sustentável de

manejo do solo e de plantas que procura aumentar a produção de forma

contínua, combinando a produção de árvores (incluindo frutíferas e outras)

com espécies agrícolas e/ou animais, simultaneamente ou sequencialmente,

na mesma área, utilizando práticas de manejo compatíveis com a cultura da

população local” (centro Internacional para Pesquisa Agroflorestal, 1982).

Qualquer que seja a definição, em geral é consenso que o sistema

agroflorestal representa um conceito de uso integrado da terra, particularmente

adequado às ares marginais e a sistemas de baixo uso de insumos. O objetivo

da maioria dos sistemas agroflorestais é otimizar os efeitos benéficos da

interações entre os componentes arbóreos, agrícolas e animais a fim de obter

uma produção comparável àquela obtida com um monocultivo, com os

mesmos recursos, dadas as condições econômicas, ecológicas e sociais

predominantes.

2.5.1 – Características dos Sistemas agroflorestais

a) Estrutura - Combinação de árvores, culturas anuais e animais no

tempo e/ou espaço;

b) Sustentabilidade - Uso de sistemas naturais como modelo,

buscando-se a otimização dos efeitos benéficos da interação entre as

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espécies, mantendo a produtividade em longo prazo, sem causar danos

ambientais;

c) Aumento da Produtividade - Uso racional das condições que irão

promover o crescimento das plantas e uso mais eficiente dos recursos naturais

(espaço, água, solo, luz, etc.);

d) Adaptabilidade sócio-econômica e cultural - adaptação a uma

variedade de situações sócio-econômicas, podendo ser aplicados a todos os

tipos de propriedades rurais, até mesmo para áreas de menor valor na

propriedade como as áreas degradadas (empobrecidas);

2.5.2 – Vantagens dos Sistemas Agroflorestais

A prática dos SAF’s utilizadas nas mais diversas regiões do planeta, em

milhões de propriedades ao longo dos tempos, permite visualizar as vantagens

de tais sistemas em comparação com outras atividades de uso da terra

(SANTOS,2000).

Segundo Vilas Boas (1991), os Sistemas Agroflorestais devem funcionar

como uma ferramenta fundamental para alcançar o objetivo do rendimento

sustentado, sobretudo em regiões onde a fragilidade ambiental é um grande

obstáculo, como é o caso de áreas degradadas ou com solos de baixa fertilidade.

Além disso, os sistemas agroflorestais podem contribuir para a viabilidade

econômica de pequenos produtores e melhoria na qualidade de vida das

comunidades através da diversificação da produção e diminuindo os riscos de

flutuações de preços no mercado (PASSOS & COUTO, 1997). Barros (2005),

corrobora com a vantagem de se utilizar o SAF em pequenas propriedades, pois

seus custos de implantação e manutenção são baixos e podem ser mantidos entre

limites aceitáveis. Além disso, podem aumentar a renda familiar e também

contribuir para a melhoria da alimentação das populações rurais.

Segundo Passos e Couto (1997), os Sistemas Agroflorestais podem trazer

vantagens ecológicas, econômicas e sociais em relação aos sistemas

convencionais de produção agrícola tais como:

a) Econômicas – obtenção de produtos agrícolas e florestais na mesma

área, redução das perdas na comercialização e aumento da renda líquida por

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unidade de área da propriedade, apresentando menores riscos técnicos de

produção;

b) Sociais – melhoria da distribuição da mão-de-obra ao longo do ano,

diversificação da produção, melhoria das condições de trabalho no meio rural e

melhoria da qualidade de vida do produtor já que são atividades economicamente

rentáveis para os produtores rurais;

c) Ecológicas – melhoria na conservação do solo, da água e do

microclima para as plantas e animais, reduzindo o impacto das chuvas,

proporcionando refúgio contra a radiação solar, às altas temperaturas, ventos e

um risco futuro de erosão; redução dos impactos ambientais negativos locais e

regionais além de uma melhor racionalização do uso do solo, beneficiando

suas propriedades físicas, químicas e biológicas, já que há uma melhor

ciclagem de nutrientes, além de algumas espécies introduzidas neste sistema

serem capazes de controlar ou reduzir a toxidez do solo; demandam menores

quantidades de agroquímicos e por fim estimulam o aumento da

biodiversidade.

Da Croce et al. (1997), comparando sistemas agrícolas convencionais e

SAF’s observaram que em sistemas agroflorestais houve menor ataque de pragas,

minimizando a necessidade de uso de defensivos agrícolas. Portanto, pode-se

afirmar que os SAF’s constituem-se uma das melhores alternativas sócio-

econômicas.

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CAPÍTULO III

BIODIESEL

3.1 – História

O processo de se fazer combustível a partir da biomassa usado desde o

século XIX é praticamente o mesmo usado atualmente. Em 1898, quando

Rudolfh Diesel demonstrou pela primeira vez um motor a diesel na Exibição

Mundial de Paris, usando óleo de amendoim – aquele que seria o biodiesel

original. Os óleos vegetais foram usados nos motores a diesel até a década de

1920 quando uma alteração foi feita nos motores, possibilitando o uso de um

resíduo do petróleo que atualmente é conhecido como diesel (BIODIESEL

BRASIL, 2005).

Diesel não foi o único em acreditar que os combustíveis de biomassa

seriam importantes na indústria do transporte. Henry Ford desenhou seus

veículos para usar o etanol, sendo o primeiro o Modelo T de 1908. Ele estava

tão convencido de que os combustíveis renováveis era a chave do sucesso

dos seus automóveis, que construiu uma fábrica de produção de etanol, e

através de sua parceria com a Stardard Oil, pode vender seu combustível nos

postos de distribuição. Ford continuou a promover o uso do etanol até a

década de 1930. Com o declínio do preço do barril de petróleo, a indústria do

petróleo derrubou as vendas dos biocombustíveis, e em 1940 a usina de

produção de etanol foi fechada (BIODIESEL BRASIL, 2005).

Portanto, na década de 70 o mundo tornou-se dependente dos países

produtores e exportadores de petróleo. Em 1973 houve a primeira das duas

grandes crises energéticas do mundo. A OPEP, instituição que controla a

maior parte do petróleo do mundo e que é composta majoritariamente por

países do Oriente Médio, reduziu o fornecimento e incrementou os preços. Isso

levou muitos países se preocuparem em fazer seu próprio biocombustível

(BIODIESEL BRASIL, 2005).

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Figura 1: Pós Crise do Petróleo.

3.2 – Conceito e Características

Biodiesel é um combustível biodegradável derivado de fontes

renováveis, que pode ser produzido a partir de gorduras animais ou de óleos

vegetais que, estimulados por um catalisador, reagem quimicamente com o

álcool. Esse combustível substitui total ou parcialmente o diesel de petróleo em

motores de caminhões, tratores, automóveis e também na geração de energia

e calor. O biodiesel pode ser usado puro ou misturado ao diesel em diversas

proporções. A mistura de 2% de biodiesel ao diesel de petróleo é chamada de

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B2 e assim sucessivamente, até o biodiesel puro, denominado B100 (MME,

2007).

Segundo Lima (2004), o biodiesel é a denominação genérica dada a

combustíveis com aditivos de fontes renováveis. Comparado ao óleo diesel

derivado de petróleo, o biodiesel pode reduzir em 78% as emissões de gás

carbônico, considerando-se a reabsorção pelas plantas. Além disso, reduzem

90% as emissões de fumaça e praticamente elimina as emissões de óxido de

enxofre.

O processo de produção do biodiesel é composto das seguintes etapas:

preparação da matéria-prima, reação de transesterificação, separação de

fases, recuperação e desidratação do álcool, destilação da glicerina e

purificação deste combustível renovável.

Somente álcoois simples, tais como metanol, etanol, propanol, butanol e

Amil – álcool, podem ser utilizados no processo de transesterificação. O

metanol é mais freqüentemente utilizado por razões de natureza física e

química (cadeia curta e polaridade). Contudo o etanol está se tornando mais

popular, pois ele é renovável e muito menos tóxico que o metanol.

A molécula do óleo vegetal é formada por três ésteres ligados a uma

molécula de glicerina, o que faz ele um triglicerídeo. O processo para a

transformação do óleo vegetal em biodiesel chama-se transesterificação. Esse

processo nada mais é do que a separação da glicerina do óleo vegetal. Cerca

de 20% de uma molécula de óleo vegetal é formada por glicerina. A glicerina

torna o óleo mais denso e viscoso. Durante o processo de transesterificação, a

glicerina é removida do óleo vegetal, deixando o óleo mais fino e reduzindo a

viscosidade.

A tendência é que no futuro, seja desenvolvida uma tecnologia de

craqueamento do óleo vegetal, para que elimine a produção de glicerina como

subproduto (BARROS, 2005).

A metodologia comercial de obtenção utiliza freqüentemente meios

alcalinos para a transesterificação do óleo ou gordura, na presença de um

álcool, produzindo ésteres metílicos de ácidos graxos e glicerol.

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Termicamente é estável e possui alto ponto de fulgor, podendo ser

armazenado e transportado da mesma forma que o óleo diesel.

Possibilita geração de novos empregos na agricultura.

Segundo HOLANDA (2004), o biodiesel permite um ciclo fechado de

carbono onde o dióxido de carbono, principal responsável pelo aquecimento

global, é absorvido quando a planta cresce e é liberado quando o biodiesel é

queimado na combustão do motor.

O potencial de geração de emprego é outra importante motivação paraa

produção de biodiesel.

3.4 – Desenvolvimento do Biodiesel e Geração de Empregos

Além da preocupação com a recuperação de ambientes degradados, há

também uma crescente preocupação mundial com os desdobramentos da

geração de energia, não só por fatores ambientais, como também por estar

baseada em produtos não renováveis. Assim, nos biocombustíveis é

encontrada uma alternativa para geração de energia a partir de produtos

renováveis sendo menos agressivos ao meio ambiente (TORQUATO &

MARTINS, 2006). Desta forma o biodiesel vem ganhando espaço na pauta de

discussão e recentemente foi inserido oficialmente na matriz energética

brasileira.

No Brasil, o programa nacional de biodiesel foi oficialmente instituído no

início de 2005, pela aprovação da lei 11.097 que estabelece como obrigatória à

mistura de 2% de biodiesel (B2) em todo o diesel consumido no país até 2008,

o que representaria nos níveis atuais uma demanda maior que 800 mil litros de

biodiesel / ano (IPEA, 2005). Essa lei possibilita que o processo de inclusão da

agricultura familiar seja uma prioridade.

O programa nacional do biodiesel é tratado com prioridade no atual

Governo Federal, conforme amplamente divulgado pelos meios de

comunicação, tendo destaque diferenciado comparando-se ao interesse por

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outras fontes de energia renovável e respectivos programas de implementação

(JANUZZI & NETO, 2006). Sendo assim, direta ou indiretamente, as variadas

atividades ligadas à produção de biodiesel podem ser inseridas dentro do

contexto de inclusão social através da agricultura familiar, graças a seu amplo

potencial produtivo, aliada as práticas sustentáveis de uma produção agrícola

mais limpa.

Não esquecendo também de inúmeros problemas de saúde inerentes

associados à emissão de fumaça e outras emissões, sejam em veículos

urbanos nos grandes centros ou mesmo em fontes energéticas que utilizam

comburentes sólidos como carvão, que podem ser reduzidos com a

substituição, mesmo que parcial, por um combustível menos poluidor e mais

moderno.

Couto et al (2004) reportam que a consolidação do uso do biodiesel é

promissor para o mundo inteiro por estar diretamente associado ao meio

ambiente, possibilitando a redução dos níveis de poluição ambiental, bem

como por valorizar o potencial que representa como fonte de energia renovável

aos resíduos agrícolas e agroindustriais.

Portanto, o cultivo de variedades para a produção do biodiesel,

associado com a atividade agrícola, deverá ser um potencial gerador de

empregos e vetor prático na fixação de pessoas à terra, desde que

implementada de forma sustentável. Segundo cálculos oficiais do governo

brasileiro, estima-se que o B2 poderá promover a geração de cerca de 90 mil

empregos diretos no campo, além de outras dezenas de milhares indiretos

(LIMA, 2004).

O modelo para as culturas voltadas para a produção do biodiesel deve

priorizar a recuperação das áreas degradadas, dentro de uma estratégia de

agricultura sustentável, adequada a cada micro-região (ALMEIDA et al. 2002).

Em etapas sucessivas, combinando espécies naturais da floresta e do

cerrado, com a agricultura de subsistência e aproveitando espaços, o

reflorestamento se desenvolverá em conjunto com as plantações para a

produção do biodiesel, chegando no processo final a florestas secundárias. A

própria fruticultura pode também servir de parte integrante deste processo pois

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na fase de consolidação os “produtos e serviços florestais” garantirão a

sustentabilidade dos produtores e de suas propriedades, e as áreas hoje

degradadas passarão a ser produtivas e ambientalmente equilibradas e

restauradas (ABIDES, 2005).

Em se tratando de áreas degradadas, a utilização das mesmas para

cultivo de oleaginosas visando à produção de biodiesel, é a proposta desse

trabalho. A inclusão social e o desenvolvimento regional, especialmente em

Magé - RJ, visando também à geração de emprego e renda, devem ser os

princípios orientadores básicos das ações direcionadas ao biodiesel, o que

implica dizer que sua produção e consumo devem ser promovidos de forma

descentralizada em termos de tecnologia e matérias-primas utilizadas.

Estudos desenvolvidos pelos Ministérios do Desenvolvimento Agrário,

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ministério da Integração

Nacional e Ministério das Cidades mostram que a cada 1% de substituição de

óleo diesel produzido com a participação da agricultura familiar podem ser

gerados cerca de 45 mil empregos no campo, com uma renda média anual de

R$ 4.900,00 por emprego. Admitindo-se que para um emprego no campo são

gerados três empregos na cidade, seriam criados, então, 180 mil empregos.

Para observar a quantidade de trabalhadores que são empregados na

agricultura empresarial em relação à familiar veja a comparação:

Na agricultura empresarial, em média, emprega-se um trabalhador para

cada 100 hectares cultivados, enquanto que na familiar a relação é de apenas

10 hectares por trabalhador. A cada R$ 1,00 aplicado na agricultura familiar

são gerados R$ 2,13 adicionais na renda bruta anual, o que significa que a

renda familiar dobraria com a participação no mercado do biodiesel (PORTAL

DO BIODIESEL, 2007). Sendo assim, esses dados mostram claramente a

importância de priorizar a agricultura familiar na produção de biodiesel.

Segundo o IBGE (2000), a agricultura familiar é uma das principais

categorias sociais. Mais de 15 milhões de pessoas, no país vivem do trabalho

do campo, numa enorme gama de diferentes realidades econômicas, sociais,

culturais e étnicas. A agricultura familiar é responsável, também pela geração

de 40 % do valor bruto da produção agropecuária, pelo desencadeamento de

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10 % do Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB) e por uma expressiva ocupação

no espaço territorial em 80 %dos municípios do país.

O Programa Biodiesel já resulta em ganhos sócio-econômico e

ambiental, uma vez que o Governo vem incentivando iniciativas na área de

financiamento em linhas de crédito. De acordo com o Ministério de

Desenvolvimento Agrário, essas linhas de crédito têm o objetivo de financiar

sistemas de produção de base agroecológica, já que a Agroecologia propõe

um conjunto de princípios e metodologias participativas que apóiam o processo

de transição da agricultura convencional para estilos de agricultura de base

ecológica. Essa linha de crédito de investimento Pronaf Agroecologia é

recente, mas já é um avanço no âmbito de incentivo a se produzir de maneira

sustentável (INCRA, 2007).

3.5 – Pesquisas no Brasil

A abordagem do biodiesel teve seu início na necessidade de estudar,

pesquisar e desenvolver novos processos para fonte de energia com base na

biomassa. O Brasil depois de acumular experiências no abastecimento do

álcool etanol através do programa Nacional do Álcool – PNA, que apesar de

alguns acertos entre vários erros apresentou saldo satisfatório, atingindo e

superando as ambiciosas metas, o demonstra o valor da potencialidade da

biomassa no país (PARENTE, 2003).

Com o propósito de desenvolver alternativas com base na biomassa,

foi criado em Fortaleza, o Núcleo de Fontes Não-Convencionais de Energia, na

Universidade Federal do Ceará, gerando uma moderna e sólida consciência,

no meio acadêmico local e nacional, sobre o uso da biomassa para fins

energéticos (PARENTE, 2003).

Atualmente, o Brasil vem desenvolvendo muitas pesquisas com os

biocombustíveis. Existem dezenas de espécies vegetais no Brasil que podem

ser utilizadas no cultivo para produção de biodiesel, tais como mamona,

dendê, girassol, babaçu, amendoim, pinhão manso e soja. O dendê, por

exemplo, é muito pouco explorado no Brasil, e se adapta muito bem a terras

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degradadas. De acordo com dados da CEPLAC, a Bahia é o único estado do

nordeste brasileiro com condições climáticas adequadas na faixa costeira para

o plantio do dendezeiro, com disponibilidade de áreas litorâneas que se

estendem desde o Recôncavo Baiano até os Tabuleiros Costeiros do sul do

Estado. Além desse importante fator de viabilidade, tem também os aspectos

ambientais e ecológicos, que possibilitam a recomposição do espaço florestal

em processo adiantado de degradação, por “florestas de cultivo”; econômico-

social, proporcionando aumento da renda regional e criação de novos

empregos, e finalmente o fator estratégico, buscando através da agricultura

integrada o caminho do desenvolvimento harmônico dos recursos da terra com

os valores humanos.

No âmbito ambiental há muitas vantagens da utilização do dendezeiro;

sendo uma planta perene arbórea apresenta grande potencial para absorver

gás carbônico, perdendo somente para o eucalipto, podendo contribuir com a

redução de emissão de carbono para a atmosfera através da fixação deste

elemento na biomassa, possibilitando a sua utilização em áreas desmatadas,

contribuindo, desta forma, para a conservação de energia e recursos naturais

(CEPLAC, 2007).

No Acre foi fundado o Núcleo de Produção de Biomassa onde se tem

como primeiro trabalho o desenvolvimento de biodiesel a partir da capacidade

de produção de óleo em sistema produtivo agroflorestal, de acordo com o

relatório do grupo interministerial destinado a analisar a aplicação do biodiesel

no Brasil.

Segundo a TecBio (2004) no Maranhão, assim como no Pará, há

abundância de babaçu, que produz um óleo de suas amêndoas, rica fonte para

produção de biodiesel. O carvão obtido dele também pode ser usado como

matéria-prima para obtenção de metanol. Ou seja, de uma única fonte pode

ser tirado o óleo vegetal e o álcool de diluição.

No Rio Grande do Norte, a Embrapa, em parceria com a Petrobrás,

desenvolve um projeto para obtenção de biodiesel a partir da mamona.

Segundo Criar e Plantar (2007), a mamona deve se consolidar como o

principal componente do biodiesel a ser produzido no Brasil. A região Nordeste

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além de ter aptidão para a mamona, mostra-se eficiente no consórcio com

outros cultivos, como o milho e o feijão (TORQUATO & MARTINS, 2006).

O Estado do Mato Grosso tem pesquisado seus plantios para produção

de biodiesel oriundo da extração do óleo de girassol, através do projeto das

Unidades Experimentais que faz parte do Programa de Biocombustíveis do

Mato Grosso (Probiomat) junto ao Ministério da Ciência e Tecnologia

(INSTITUTO GÊNESIS, 2003). Em Dourados (MS) o girassol já está sendo

testado como biodiesel em tratores, substituindo o diesel, com o objetivo de

avaliar a viabilidade do mesmo.

No Estado de São Paulo existem outros núcleos, como o LaDeTeL

(Laboratório de Desenvolvimento de Tecnologias Limpas) da USP Ribeirão

Preto, onde se desenvolve o Projeto Biodiesel Brasil. A partir dele foi criado um

novo processo e toda uma tecnologia para produção de biodiesel com álcool

de cana. Além disso, o grupo também realiza pesquisas para avaliar as

diferentes proporções de mistura do biodiesel ao diesel. A mais comum é a B-5

(5% de biodiesel), porém, os testes são feitos com diferentes combinações até

se chegar a 100%. Os óleos utilizados em testes são os obtidos de soja,

amendoim, pinhão manso, girassol, algodão, milho, canola, mamona, pequi,

macaúba, babaçu e dendê (Rede de Agricultura Sustentável, 2002).

Resumindo, o biodiesel que aparece como um tema crescente em

oportunidades de desenvolvimento tecnológico e de forte potencial de

comercialização promove, simultaneamente, a criação de empregos no meio

rural e redução da importação de óleo diesel pelo Brasil (CRUZ;NOGUEIRA,

2004). Dessa forma, aprimoramentos nos testes de produção e uso do

biodiesel continuam sendo feitos em todo o país com o intuito de se

estabelecer padrões de qualidade adequados para seus vários usos.

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CONCLUSÃO

Neste fim de século, nenhum país herdou tanta responsabilidade face à

preservação do mundo vivo da Biosfera quanto o Brasil. É certa que a

conservação da biodiversidade dos mares e oceanos é uma obrigação de

todas as nações do mundo. Mas, a preservação dos grandes estoques de

componentes bióticos terrestres, ou seja, uma melhor utilização da terra

tornou-se uma tarefa predominantemente brasileira.

Depois de ter se conquistado toda a Terra, a preço de pesado estresse

da biosfera, é urgentíssimo ter cuidado com o que restou e também regenerar

o ambiente vulnerado. Desta vez, se o ambiente não tiver o devido cuidado, a

vida terá um encontro com o pior. Daí urge passar do paradigma da conquista,

ao paradigma do cuidado. Se os interesses individuais continuarem a

prevalecer, só caberá à humanidade aguardar pela completa destruição do

ecossistema e sua biodiversidade, além do agravamento dos problemas

ambientais com inúmeras conseqüências.

Apesar de uma crescente divulgação de resultados de pesquisas e

experiências práticas, e uma crescente adoção das tecnologias geradas, os

sistemas agroflorestais têm recebido poucas atenções como práticas

agroecológicas e como reservatórios potenciais de biodiversidade.

Nesse contexto, diante da época atual de intensificação do aquecimento

global, o sistema agroflorestal não é só interessante do ponto de vista

econômico, mas primeira e principalmente do ponto de vista ambiental.

Sendo assim, o desenvolvimento de projetos utilizando essas

tecnologias de produção limpa demanda tempo e deve ser feito passo a passo

com apoio consciente da sociedade para que o objetivo de se reformar o

sistema rural a fim de se tornar ecologicamente sustentável e economicamente

viável e socialmente justo, seja alcançado o mais rápido possível.

Portanto, são necessários sistemas agrícolas sustentáveis, não só do

ponto de vista ecológico, mas também social, econômico e cultural, onde as

práticas dos agricultores respeitem não apenas fatores ambientais, bióticos e

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culturais, mas reflitam estratégias de subsistência e sustentabilidade

econômica. Sistemas Agroflorestais (SAF’S), por exemplo, são capazes de

recuperar áreas degradadas dentro de uma abordagem ecologicamente mais

correta.

Tecnologias agroecológicas são mais abrangentes do que sistemas de

produção extrativistas pouco eficientes e mostram-se insustentáveis. Do ponto

de vista ambiental a agricultura convencional é desastrosa, provocando

destruição generalizada da diversidade biológica. Mesmo se fosse tão

produtiva quanto é afirmado, o desastre seria apenas adiado. Se a justificativa

de se utilizar esse sistema de produção é de alimentar a população cada vez

mais crescente, é necessário então desenvolver métodos de produção agrícola

sustentável.

Desde o surgimento da idéia da utilização do óleo vegetal em motores,

por Hudolph Diesel, até a atualidade, este combustível sempre teve como

maior concorrente o diesel mineral e, por conta disso, ficou muito tempo

inviabilizado. Os investimentos atuais em produção de biodiesel são frutos de

uma maior preocupação mundial com o aquecimento global. Hoje, através do

Protocolo de Kioto, tem se apresentado modelos de controle de emissões e

incentivos financeiros através do mercado de carbono, a projetos que visem

reduções nas emissões de gases causadores do efeito estufa.

Além da questão ambiental, outros focos das atenções atuam é a social.

O mundo está procurando alternativas para o crescente número de pessoas

desempregadas nos grandes centros urbanos, e uma das possibilidades é

viabilizar a vidas das pessoas que vivem no campo. Com vista nisso, o Brasil e

outros países como Índia e China estão procurando utilizar seu potencial de

produção de biodiesel para geração de renda para pequenos agricultores.

Assim os países têm investido em oleaginosas características das regiões mais

carentes. No Brasil, há um destaque para a mamona no semi-árido e o dendê

no Sul da Bahia.

Sendo assim, pelo fato de agricultores familiares viverem sofrendo ao

longo dos anos um processo de redução nas suas rendas, boa parcela do

processo de empobrecimento dos pequenos produtores rurais pode ser

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explicada pela pouca oferta e pela baixa qualidade de serviços públicos

voltados para os mesmos, além do mau uso de suas terras, fazendo com que

suas áreas produtivas se tornem empobrecidas e até mesmo em graves

condições de degradação. Sendo assim, a produção de oleaginosas em

lavouras familiares faz com que o biodiesel seja alternativa importante para a

diminuição da miséria no país, principalmente pela possibilidade de ocupação

de um enorme contingente de pessoas.

Cabe, porém um alerta – esta iniciativa de utilizar áreas degradadas

para o cultivo de oleaginosas visando a produção de biodiesel, não é uma

alternativa que resolverá o problema energético em curto prazo, por razões de

custos e outros fatores tecnológicos. Pelo contrário, para que ela tenha o

sucesso garantido, terá que ser vista sob a ótica de um programa integrado de

desenvolvimento sustentável, com etapas a serem vencidas em curto, médio e

longo prazos. Não se pode pensar, por exemplo, em extensas plantações de

mamona, babaçu, dendê, buriti, etc. – não se pode pensar em “fazendas de

biodiesel”, pois se estaria repetindo os modelos da monocultura extensiva,

como a cana de açúcar no passado e a soja nos dias de hoje.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

Histórico da Agricultura 11

1.1 – Histórico da Agricultura Brasileira 11

1.2 – Degradação da Biodiversidade 16

1.2.1 – Necessidade de se Recuperar Áreas Degradadas 18

CAPÍTULO II

Características da Produção Agrícola Tradicional 21

2.1 – Sistemas de Consumo 21

2.2 – Sistemas Agrícolas 22

2.3 – Agricultura Tradicional 23

2.4 – Agroecologia Sustentável 26

2.5 – Sistemas Agroflorestais 27

2.5.1 – Características dos Sistemas Agroflorestais 28

2.5.2 – Vantagens dos Sistemas Agroflorestais 28

CAPÍTULO III

Biodiesel 30

3.1 – História 30

3.2 – Conceito e Características 31

3.3 – Motivos Para se Produzir Biodiesel 33

3.4 – Desenvolvimento do Biodiesel e Geração de Empregos 34

3.5 – Pesquisas no Brasil 37

CONCLUSÃO 41

BIBLIOGRAFIA CONSULTDA 44

ÍNDICE 52

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

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