38
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A AÇÃO DO PEDAGOGO NA BRINQUEDOTECA HOSPITALAR Por: Márcia Rita Coelho Bittencourt Cavalcanti Orientador Prof. Maria Poppe Brasília 2010

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A AÇÃO DO PEDAGOGO NA BRINQUEDOTECA HOSPITALAR

Por: Márcia Rita Coelho Bittencourt Cavalcanti

Orientador

Prof. Maria Poppe

Brasília

2010

Page 2: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A AÇÃO DO PEDAGOGO NA BRINQUEDOTECA HOSPITALAR;

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Educação

Infantil e Desenvolvimento

Por: Márcia Rita Coelho Bittencourt Cavalcanti

Page 3: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

3

AGRADECIMENTOS

....a minha querida amiga Karine que

com sua primordial ajuda consegui

chegar ao fim deste trabalho.

Page 4: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

4

DEDICATÓRIA

.....dedico este trabalho as minha amadas

filhas e marido que por eles superei todos

os obstáculos para chegar até aqui .

Page 5: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

5

RESUMO

Ao serem internadas em um hospital, as crianças são separadas,

subitamente, da família, da escola, dos brinquedos, dos animais de estimação

e dos amigos.

A adaptação da criança a este ambiente estranho, com pessoas

desconhecidas, submetidas a procedimentos muitas vezes agressivos e

dolorosos, a presença de aparelhagem complexa e ameaçadora, geralmente

causam um grande trauma para a criança. Sentimentos como depressão,

angústia, tristeza e rebeldia por parte das crianças, são comumente

observadas nestes espaços.

Todo este quadro, fez-me refletir de que forma, educação e saúde, em

uma proposta multidisciplinar, poderiam propiciar às crianças hospitalizadas

um momento de prazer, de integração, de espontaneidade e de liberdade de

escolha, auxiliando na superação de conflitos existentes, pelo fato de estar em

um ambiente hospitalar.

Neste contexto, a Brinquedoteca seria uma forma de criar um ambiente

lúdico, com o envolvimento das crianças hospitalizadas e seus familiares,

buscando a possibilidade de diminuir a dor e aumentar a vontade de viver.

A ação do pedagogo, a meu ver, seria a de mediar essas relações e

interações. Penso a Brinquedoteca como forma de humanização, de

solidariedade e de socialização.

Portanto, por acreditar que a Brinquedoteca pode em muito

contribuir para o bem estar físico, psíquico e emocional de crianças

hospitalizadas, considero de grande relevância e significado para o

desenvolvimento do tema escolhido.

Page 6: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

6

METODOLOGIA

Com o intuito de verificar a real inserção e atuação do pedagogo em

Brinquedotecas Hospitalares, tal estudo se caracterizou por uma pesquisa

além de qualitativa até então, agora quantitativa, em campo, de caráter

descritivo exploratório.

Foram analisados hospitais públicos nos municípios do Rio de Janeiro,

de Niterói e de São Gonçalo, quantificando primeiramente os que possuem

setor de internação pediátrica e em caso positivo, se a Brinquedoteca é parte

integrante do trabalho realizado com crianças hospitalizadas.

Posteriormente, foram analisados nestes hospitais que possuem

Brinquedotecas, e que nas quais possuam em seu quadro multidisciplinar, o

pedagogo inserido.

Como instrumento de coleta de dados, destacamos o check list,

conforme em anexo.

Tal pesquisa foi realizada em 27 hospitais nas esferas municipais,

estaduais e federais.

Page 7: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - A Importância do Brincar 10

CAPÍTULO II - Brinquedoteca: Definição,

Histórico e os Diferentes Tipos 15

CAPÍTULO III – A Equipe da Brinquedoteca

Hospitalar e a Atuação do Pedagogo 25

ANÁLISE E CONCLUSÃO 29

ANEXO 33

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 34

ÍNDICE 37

FOLHA DE AVALIAÇÃO 38

Page 8: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

8

INTRODUÇÃO

A Declaração dos Direitos da Criança, instituída pela Organização das

Nações Unidas, em 1959, foi um marco importantíssimo para o resgate do

brincar, garantindo para todas as crianças, dentre vários aspectos, condições

de vida digna, proteção, alimentação e acesso à escola, saúde e lazer. No

Brasil, tais direitos e suas garantias foram reforçados com a Constituição

Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente em 1990.

A UNESCO, em 1966, no Fórum de Educação para todos, apresentou

quatro pilares para a educação, ressaltando a importância do brincar para a

criança e o adolescente. Através do brincar, a criança é capaz de aprender a

conhecer, a conviver, a fazer e a ser, desenvolvendo auto – conhecimento,

auto – estima, autonomia, independência e confiança.

O brincar estimula a representação da realidade. Ao representá-la, a

criança estará vivendo algo ou alguma situação remota e irreal naquele

momento. Favorece que a criança expresse sentimento de fantasias, medo e

conflitos.

Através da brincadeira a criança se apropria de conhecimentos que

possibilitarão sua ação sobre o meio em que se encontra, interagindo

consigo mesma e com o mundo que a rodeia.

A hospitalização traz sérios prejuízos ao desenvolvimento infantil. Além

das limitações impostas pela doença, a restrição do espaço físico e a

ausência de espaços adequados para brincar e de estímulos propícios ao

ritmo do desenvolvimento e de exploração do meio, podendo comprometer

seu desenvolvimento.

Page 9: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

9

Segundo Cunha (1994), a Brinquedoteca Hospitalar não existe

somente para distrair a criança de sua doença e hospitalização, mas para

prepará-la para as novas situações, inclusive para a volta ao seu lar.

A idéia de se criar um ambiente hospitalar que, diferentemente de

representar uma ameaça, pudesse trazer conforto e bem-estar às crianças,

é que se vislumbrou a possibilidade de fazer da Brinquedoteca um espaço

de envolvimento coletivo, dissolvendo o clima de tensão existente, de

acordo com Matos ( 2006 ).

Acreditando que a Brinquedoteca Hospitalar seja justamente um

espaço adequado ao brincar e que pode favorecer o desenvolvimento bio-

psico-social da criança, possibilitando reafirmar sua condição de criança e

não apenas de paciente, além da atuação do pedagogo como facilitador

deste processo, julgo de grande relevância o tema abordado, possuindo um

caráter inovador, uma vez que se percebe a existência de poucos trabalhos

acadêmicos e artigos publicados sobre o mesmo, bem como literaturas a

respeito do assunto.

Boff ( 2000 ) cita que só o cuidado de um para com o outro humaniza

verdadeiramente a existência; e o cuidado é o modo próprio do ser

humano.

Nos capítulos a seguir, trataremos da importância da infância e do

brincar, o contexto histórico- social das brinquedotecas em seus diferentes

espaços, a especificidade das brinquedotecas hospitalares e a atuação do

pedagogo, como parte integrante da equipe multidisciplinar nestas

brinquedotecas, articulando, conduzindo e desenvolvendo o trabalho

pedagógico.

Page 10: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

10

CAPÍTULO I

A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR

A concepção de infância dos dias atuais é bem diferente de alguns

séculos atrás. É importante salientar que a visão que se tem da criança é algo

historicamente construído, por isso é que se pode perceber os grandes

contrastes em relação ao sentimento de infância no decorrer dos tempos. O

que hoje pode parecer uma aberração, como a indiferença destinada à criança

pequena, há séculos atrás era algo absolutamente normal. Por maior

estranheza que se cause, a humanidade nem sempre viu a criança como um

ser em particular, e por muito tempo a tratou como um adulto em miniatura.

De um ser sem importância, quase imperceptível, a criança num

processo secular ocupa um maior destaque na sociedade, e a humanidade lhe

lança um novo olhar. Para entender melhor essa questão é preciso fazer um

levantamento histórico sobre o sentimento de infância, procurar defini-lo,

registrar o seu surgimento e a sua evolução. Segundo Áries:

o sentimento de infância não significa o mesmo que afeição

pelas crianças, corresponde à consciência da particularidade

infantil, essa particularidade que distingue essencialmente a

criança do adulto, mesmo jovem ( 1978 : 99).

Nessa perspectiva o sentimento de infância é algo que caracteriza a

criança, a sua essência enquanto ser, o seu modo de agir e pensar, que se

diferencia da do adulto, e portanto merece um olhar mais específico

Page 11: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

11

Na antiguidade, as crianças se expressavam com mais liberdade,

porém não era dada a devida importância a afetividade.

Na era medieval, a criança não contava como membro da família.

Nesta época, a criança era vista como um adulto em miniatura, por possuir as

mesmas tarefas dos mais velhos.

Na transição entre Idade Média e a Moderna, ocorreram muitas

alterações acerca dos sentimentos pelas crianças, principalmente as de

família nobre. Estas crianças passaram a ser vistas como indivíduos frágeis e

ameaçados, carentes de cuidado. Enquanto isso, as crianças de classes

menos favorecidas continuavam a ser adultos de pequeno porte.

A partir do século XVIII, solidificou-se a discriminação social no sistema

educacional, demonstrando a diferença de classes, evidenciadas

principalmente pelas vestimentas e nas escolas.

Inicia-se uma fase de defesa a inocência infantil. Segundo Cruz (2003),

a criança passa a ser protegida para que não viva na permissividade e não

precise ser corrigida na fase adulta. Como característica da nova concepção

de infância, a criança passa a ser vista como um anjo, vestuários

diferenciados, a censura, a literatura com cunho disciplinador e a escola como

espaço de isolamento da criança do mundo adulto.

As escolas passam a ser organizadas de acordo com a idade das

crianças.

A família se constrói sobre a criança, sendo a instituição responsável

em protegê-la.

Com o advento do capitalismo, a criança torna-se um ser que precisa

ser cuidado e preparado para uma atuação posterior.

Page 12: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

12

Atualmente, repensando a concepção de infância e a imensa

diversidade social que a cerca, é muito importante reconhecer a

heterogeneidade, considerando as especificidades infantis e as diferenças que

se destacam de acordo com as idades.

A concepção de infância como sujeito de direitos, onde a criança tem

sua constituição como ser histórico,social e cultural, com características e

necessidades diferentes dos adultos, passa a surgir com a modernidade,

segundo Aires (1981) e Kramer (1992,1998). Faz necessário valorizar as

experiências das crianças, contribuindo para seu desenvolvimento e ampliando

seus conhecimentos a respeito do mundo que as cercam. Desta forma, é de

suma importância findar com a concepção de uma criança igual, ideal, única e

universal e passar a assegurar o direito de ser diferente.

Partindo desta premissa, objetivando o desenvolvimento integral da

criança, de sua criatividade, aprendizagem e socialização, que o brincar torna-

se elemento essencial de equilíbrio, renovação de emoções e de necessidades

de descobertas e reinvenções.

O brincar é mais do que uma atividade sem conseqüência para a

criança. Brincando, ela não apenas se diverte, mas recria e interpreta o mundo

em que vive, se relacionando com esse mundo.

Por meio da brincadeira, a criança estabelece uma ponte entre o

imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções,

encontrando respostas e compreensão para o que antes lhe parecia tão difícil.

O brincar funciona como espaço de socialização e de interação com

outras crianças. É visto como elemento que propicia um resgate de

experiências vividas e a sua própria condição de criança, como uma marca

identitária, uma linguagem universal e que remete ao prazer, à alegria. Um

verdadeiro espaço de afetividade e democracia, onde há uma valorização das

Page 13: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

13

experiências individuais e as reais possibilidades de escolhas, exercendo

assim sua autonomia.

É brincando que a criança se desenvolve e exerce suas

potencialidades. As situações lúdicas contêm muitos desafios que provocam o

pensamento e que levam à criança a alcançar níveis de desempenho que só

as ações por motivação intrínseca conseguem.

No brincar, a criança aprende fazendo¸ com espontaneidade, com

prazer pela aquisição do conhecimento, desenvolvendo a sociabilidade,

aprendendo a conviver respeitando o direito dos outros e as normas

estabelecidas pelo grupo.

Através do lúdico, prepara-se para o futuro, experimentando o mundo

ao seu redor, dentro dos limites que a sua condição atual permite.

Os brinquedos desafiam as crianças, são parceiros silenciosos, criando

possibilidades de descobertas e estimulando a auto – expressão. È preciso

haver tempo e espaço para que a criança possa brincar, soltando a

imaginação, inventando, sem medo de desgostar alguém, sem medo de ser

punida, sem medo de sua própria condição de criança.

Refletir sobre os diversos espaços da infância, permite focar o olhar

nas dimensões físicas e ambientais que consideramos os mais adequados

para a criança, ignorando muitas vezes que em outros espaços também

ocorrem encontros, desencontros, descobertas e trocas. Desta forma, é

preciso entender que espaços, embora prontos, idealizados e construídos

pelos adultos, não necessariamente garantirão relações humanas, pautadas

em sentimentos de respeito pela diversidade acerca da infância.

Vygostsky (1984) evoca a idéia de que, na infância, imaginação e

fantasia não são atividades ligadas somente ao prazer e que o brinquedo faz

Page 14: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

14

parte componente de suas necessidades. O espaço em que a imaginação é

um campo privilegiado para planejar suas ações de criança, no brinquedo...

...as crianças operam com significados desligados dos

objetos e ações aos quais estão habitualmente

vinculados; entretanto, uma contradição muito

interessante surge, uma vez que, no brinquedo, ela inclui,

também, ações reais e objetos reais. Isso caracteriza a

natureza de transição da atividade do brinquedo ( ... ) a

criação de uma situação imaginária não é algo tão fortuito

na vida de uma criança; pelo contrário, é a primeira

manifestação da emancipação da criança em relação às

restrições situacionais.O primeiro paradoxo contido no

brinquedo é que a criança opera com um significado

alienado numa situação real. O segundo é que, no

brinquedo, a criança segue o caminho do menor esforço –

ela faz o que mais gosta de fazer, porque o brinquedo

está unido ao prazer e ao mesmo tempo, aprende a

seguir os caminhos mais difíceis, subordinando-se a

regras e, por conseguinte, renunciando ao que ela quer,

uma vez que a sujeição de regras e a renúncia à ação

impulsiva constituem o caminho para o prazer no

brinquedo. ( PP.129-130 )

Objetivando resgatar e garantir o direito à brincadeira e à infância,

direito este que está sendo de tantas maneiras desrespeitado, que considero

de suma importância um espaço privilegiado para estimular a criança a brincar,

possibilitando o acesso a brinquedos dos mais diversos, sendo convidada a

explorar, a sentir e a experimentar, dentro de um ambiente especialmente

lúdico, a própria Brinquedoteca.

Page 15: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

15

CAPITULO II

BRINQUEDOTECA: DEFINIÇÃO, HISTÓRICO E OS

DIFERENTES TIPOS

A Brinquedoteca é um espaço criado para o favorecimento do brincar.

È um espaço onde crianças e adultos brincam livremente, com todo o estímulo

para manifestar suas potencialidades e necessidades lúdicas.

Resgatando o contexto histórico da Brinquedoteca, podemos citar seu

início em 1934, em Los Angeles, onde os empresários emprestavam

brinquedos para a comunidade

Em 1956, no Hospital Universitário de Umeo, na Suécia. A enfermeira

Ivonny Lindquist desenvolvia atividades com brinquedos na enfermaria

pediátrica.

A Lekotek ( ludoteca ) foi criada em 1963, em Estocolmo por duas

professoras, mães de crianças portadoras de necessidades especiais,

emprestando e orientando a utilização dos brinquedos.

Na Inglaterra foi criada a Toy Libraries, em 1967 com empréstimos de

brinquedos. Igualmente ocorreu na Ludoteca da Itália, em 1990.

Vale ressaltar a diferença entre ludoteca e brinquedoteca. A primeira

tem como objetivo o empréstimo de brinquedos, onde as crianças e/ou adultos

levam os brinquedos para casa e tem um prazo para devolvê-los, e a segunda,

como espaço próprio para o brincar.

Page 16: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

16

Como característica comum a grande parte destes países, foi a de que

o trabalho específico com brinquedos, começou a ser desenvolvido a partir de

necessidades de ajudar a estimular crianças portadoras de necessidades

especiais.

Segundo Cunha (1981), aqueles que mais se preocupam com o

processo de aprendizagem e suas dificuldades são os que pesquisam e

valorizam o uso de brinquedos, pois vêem neles auxiliares indispensáveis ao

seu trabalho educacional.

No Brasil, em 1971, com a inauguração da APAE de São Paulo,

aconteceu uma grande exposição de brinquedos pedagógicos, com a

finalidade de mostrar aos pais de excepcionais, profissionais e estudantes, o

que havia de material disponível no mercado e a partir deste movimento foi

criado na APAE de São Paulo o Setor de Recursos Pedagógicos. E em 1973,

este setor implantou a Ludoteca, que consistia em fazer um rodízio de

brinquedos e materiais pedagógicos, provocando uma maior valorização da

utilização do brinquedo, não somente educadores, mas também médicos,

enfermeiros, terapeutas ocupacionais, psicólogos, fonoaudiólogos e demais

interessados nas grandes contribuições dos brinquedos em diversos contextos.

Com o passar dos anos, verificou-se que o brinquedo era muito mais

do que um recurso metodológico de tecnologia educacional. A importância do

brinquedo e do brincar, como até os dias de hoje, consiste no desenvolvimento

pleno de ser humano.

Em 1981 foi criada a primeira brinquedoteca no Brasil, pela pedagoga

Nylse Cunha, conforme nos conta em seu relato:

Page 17: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

17

Descobrimos muitas coisas, aprendemos muito sobre

crianças e sobre o que elas sofrem. A cada dia havia um

caso novo para partilhar. Embora soubéssemos que

muitas coisas estariam envolvidas no dia a dia da

brinquedoteca, éramos surpreendidas por novos fatos e

por novas possibilidades que surgiam para alimentar o

nosso encantamento. O empréstimo de brinquedos para

as crianças levarem para casa foi um sucesso: os

brinquedos voltavam direitinho, pois as crianças queriam

trocá-los por outros. Alguns pais começaram a estranhar

o fato de terem que ajudar a tomar conta dos brinquedos,

pois as crianças não queriam perder o direito ao

empréstimo. Isso foi bom: pais aprenderam mais sobre

seus filhos e a família ficou enriquecida com a facilidade

das interações que os jogos proporcionavam. (2001,

PP.172 )

Conforme cita a autora, cada nova brinquedoteca que se abria,

representava um espaço a mais para o crescimento das crianças que eram

beneficiadas e especialmente dos adultos que a elas se dedicavam,

percebendo a grande importância de se trabalhar com uma variedade de

experiências vividas, despertando a criatividade e enriquecendo a vida de

todos os que dela participavam e participam até hoje.

Nas brinquedotecas as crianças brincam, criam, se expressam, com

vários brinquedos e com muita variedade de materiais, desafiando e

promovendo a inventividade, resgatando assim o direito à verdadeira

especialidade, que é a de ser diferente e único.

Apresenta-se como um espaço de participação coletiva, onde há um

resgate de experiências e exercício da cidadania e da autonomia,

Page 18: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

18

possibilitando a reafirmação de sua condição de criança através da expressão

de sentimentos, medos e fantasias.

Inicialmente, a brinquedoteca foi criada para o empréstimo de

brinquedos.Com sua evolução e para atender as necessidades de cada país,

ao longo de sua expansão, passa a oferecer uma multiplicidade de serviços.

Conforme esclarece Kishimoto(1990, pp75) “cada brinquedoteca

apresenta o perfil da comunidade que lhe dá origem. Tais características

dependem do sistema de educação, dos valores adotados e dos serviços

oferecidos pelos países à sua população”.

A afirmação da autora colabora com o pensamento de que da

diversidade de brinquedotecas, há um objetivo em comum que une e as

diferenciam de outras instituições sociais, que é justamente o desenvolvimento

de atividades lúdicas e o empréstimo de brinquedos e jogos.

As Brinquedotecas tem como finalidade atender às necessidades

lúdicas e afetivas das crianças. Cada criança possui sua especificidade, está

inserida em um contexto sócio- histórico específico. Justamente por este

motivo, há diferentes tipos de brinquedotecas, em museus, favelas, circos,

escolas, shoppings, restaurantes, presídios, hospitais, circulantes terapêuticas

e demais instituições onde se vê a necessidade deste espaço propício ao

brincar.

As brinquedotecas nas escolas, por exemplo, tem como finalidade

suprir o espaço de brinquedos e jogos necessários às atividades pedagógicas,

estimulando a interação entre crianças, pais, professores e comunidade

escolar. Geralmente este tipo de brinquedoteca encontra-se em escolas de

educação infantil.

Já as brinquedotecas de comunidades atendem um público de um ou

mais bairros e são, normalmente, mantidas pelo governo, por associações ou

organizações filantrópicas. Atendem a população local, oferecendo serviços de

Page 19: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

19

empréstimos de brinquedos, espaços de convivência e também atividades

complementares envolvendo toda a comunidade

As brinquedotecas circulantes levam brinquedos às crianças que

moram em locais distantes e se encontram em ônibus, caminhonetes, circos,

estantes com rodas, malas portáteis, permitindo que as crianças de periferias

usufram, por um período ainda que curto, de brinquedos e jogos.

Além desta diversidade de brinquedotecas, encontramos também

aquelas em presídios, destinadas a crianças que visitam os pais encarcerados,

justificando e reforçando a necessidade de cada grupo social, de cada

contexto histórico e social.

Como o objetivo central de estudo de pesquisa deste trabalho, cito um

específico tipo de brinquetoteca: a hospitalar, que tem como objetivos permitir

a interiorização e a expressão de vivência da criança doente por meio do

brincar, auxiliando na recuperação da criança hospitalizada e amenizando

traumas oriundos da internação, por meio da atividade lúdica.

2.1 BRINQUEDOTECA HOSPITALAR

A lei Federal nº 11.104 de 21 de março de 2005, dispõe sobre a

obrigatoriedade de instalação de brinquedotecas hospitalares nas unidades de

saúde que ofereçam atendimento pediátrico em regime de internação. A lei

surgiu devido aos movimentos de humanização nos hospitais e tem como

simbologia a inserção do brinquedo neste ambiente, sendo concebido como

parte integrante de assistência e terapia às crianças e adolescentes

hospitalizados.

Page 20: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

20

A criança hospitalizada quando sofre uma internação hospitalar, há

uma interrupção na rotina de vida, deixando-a insegura por estar privada de

seus parentes, amigos, brinquedos e tudo mais que lhe é familiar. Segundo

Paula e Foltran ( 2007 ) a internação promove uma série de alterações na

rotina e na vida da criança, por isso faz-se necessário uma atuação que

busque reduzir os efeitos da doença e do seu tratamento, acometendo muitas

vezes às crianças e adolescentes de forma global.

São muitas as conseqüências psicológicas de uma internação, assim

como alterações do sono, alimentação, comportamento, dificuldades escolares

logo após a alta, pela impossibilidade de dar continuidade aos estudos dentro

do hospital, o que nas brinquedotecas mais estruturadas, se resolve pela

intervenção psicopedagógica nesse período, com a classe hospitalar.

A criança doente, mesmo nesta condição, continua sendo criança, e

com o objetivo de garantir seu equilíbrio e desenvolvimento emocional,

intelectual e motor, o brincar é essencial, o que torna fundamental a existência

de brinquedoteca no hospital.

O brincar passa a ser uma atividade essencial à saúde física,

emocional e intelectual de todo ser humano. Uma das contribuições neste

sentido é realizada pelos Doutores da Alegria, que são palhaços que divertem

as crianças e os adolescentes nos hospitais brasileiros, são descritos por

Masetti (1988, pp119) que afirma:

A mudança de comportamento das

crianças é o resultado mais marcante do trabalho dos

palhaços. Em muitos casos, essas mudanças são

importantes. Crianças que estavam prostadas se

tornaram mais ativas. As quietas passaram a se

comunicar mais. As que choravam passaram a sorrir e

Page 21: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

21

também a se queixar menos de dores. Observou-se

melhora e aumento de contato e colaboração com a

equipe e com o tratamento médico. Estes foram dois

aspecto significativos. As crianças passaram a se

alimentar melhor e aceitar mais as medicações e exames.

Segundo os profissionais, há também uma melhoria na

imagem da hospitalização em si. Modifica-se a percepção

do hospital como ambiente

O brincar visto como uma ação mediadora frente à situações adversas,

assim como a hospitalização. Além de ser um direito, o brincar contribui para

uma recuperação mais rápida e ajuda a criança a encontrar meios para

enfrentar seus medos e angústias.

É brincando que se desenvolve o equilíbrio e se refaz emoções vividas,

reinventando a realidade.

Winnicott (1975) baseado em sua experiência clínica de atendimento

ludoterápico com crianças, desenvolveu o conceito de fenômeno transicional,

consistindo em um espaço intermediário entre realidade interna e externa da

criança. Estas duas realidades, porém, devem coexistir e se relacionarem

independentemente uma da outra, sendo neste espaço intermediário que a

brincadeira acontece.

Muitas coisas acontecem ao mesmo tempo, dentro e fora da criança

hospitalizada, que ela não consegue controlar, esconder e entender.

Considerando tais questões, que se faz necessário o espaço

específico para tornar o ambiente hospitalar mais acolhedor, oportunizando

situações de socialização e desenvolvimento da atenção, concentração,

afetividade e cognição.

Page 22: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

22

A brinquedoteca hospitalar se caracteriza como um espaço onde a

criança hospitalizada pode brincar livremente, espontaneamente e

criativamente. Nas brinquedotecas hospitalares os pacientes aprendem a

compartilhar brinquedos, histórias, emoções, alegrias e tristezas sob a

condição de hospitalização. Permite uma maior aproximação entre pais e

filhos, pois além de garantir o direito de brincar é também um espaço de

cidadania, adquirindo noções de democracia e de direitos sociais, no que

tange o cuidado com o acervo de brinquedos, com a preservação do

patrimônio e do aprendizado do desprendimento e da posse dos brinquedos.

Como objetivos da brinquedoteca hospitalar, segundo Cunha (2001),

podemos citar:

• a preservação da saúde emocional da criança ou do adolescente

proporcionando oportunidade para brincar, jogar e encontrar

parceiros;

• preparar a criança para situações novas que irá enfrentar, levando-

a a situações lúdicas;

• preparar a criança para a volta para casa, após uma internação

prolongada e traumática;

• proporcionar condições para que a família e os amigos que vão

visitar a criança encontrem-se com ela em um ambiente favorável;

• dar continuidade à estimulação de seu desnvolvimento, pois a

internação poderá privá-la de oportunidades e experiências de que

necessite. Se a hospitalização for longa, pode ser necessário um

apoio pedagógico, como classe hospitalares, para que a criança

não fique defasada no seu processo de escolarização.

Page 23: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

23

A brinquedoteca hospitalar rompe aos poucos as algemas do espaço

restrito fisicamente ao hospital e se expande, alonga e flexibiliza, por meio de

várias formas de brinquedos, ultrapassa fronteiras do tempo e do espaço e

acompanha a criança aonde quer que ela vá, mantém viva em sua lembrança

a imagem da brinquedoteca, o lugar de origem do brinquedo e de onde podem

vir muitos outros, como uma fonte inesgotável de alegria e renovação.

Em processo de busca e recuperação da saúde, é fundamental a

auto-estima, e essa vivência contribui decisivamente para fortalecer a auto-

imagem da criança. Ela não se sente sozinha e impotente, mas atuante e

ligada a outras pessoas por meio do brinquedo, algo que lhe é vital e muito

significativo.

È de suma importância que, na criação e no funcionamento da

Brinquedoteca Hospitalar, certos critérios sejam seguidos para que se

alcancem os objetivos:

• apoio da Direção do hospital

• disponibilidade de espaço físico

• definição dos objetivos da Brinquedoteca Hospitalar

• recursos materiais

• planejamento dos locais onde serão desenvolvidas as atividades

dos projetos

• planejamento destas atividades na Brinquedoteca Hospitalar

• recursos humanos interessados nesta participação

• participação da família na Brinquedoteca

Page 24: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

24

• respeito às regras do hospital

• prevenção da contaminação hospitalar por meio dos brinquedos

• análise da repercussão da Brinquedoteca na qualidade de vida dos

pacientes atendidos e de suas famílias

• equipe responsável pela Brinquedoteca

Tais critérios só alcançarão seus objetivos se toda equipe que compõe

a Brinquedoteca estiver integrada, de forma multidisciplinar.

No próximo capítulo, analisaremos de que forma a equipe constituinte

da Brinquedoteca pode contribuir neste processo de humanização junto às

crianças hospitalizadas e de que forma o pedagogo estaria inserido neste

projeto.

Page 25: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

25

CAPITULO III

A EQUIPE DA BRINQUEDOTECA HOSPITALAR E A

ATUAÇÃO DO PEDAGOGO

Segundo Andrade (1981), somente a existência de um espaço físico

destinado ao brincar, com recursos lúdicos disponíveis, bem montado, não é

suficiente para que seja garantido à criança a potencialização máxima da

brincadeira. É necessário que existam profissionais com formação prática e

teórica, com suficiente clareza do seu papel junto à criança, para uma real

atuação em sua brinquedoteca.

No tocante à Brinquedoteca Hospitalar, é de suma importância que a

equipe que ali irá atuar, tenha consciência da condição especial em que cada

criança se encontra, seus anseios e angústias, medos e incerteza e de que

modo esta equipe pode contribuir para o bem-estar físico e emocional da

criança hospitalizada.

Para o bom funcionamento de uma Brinquedoteca Hospitalar se faz

necessário requerer tarefas de responsabilidade bem específicas e distintas,

tais como a coordenação geral das atividades, o atendimento aos usuários da

Brinquedoteca e o atendimento aos pacientes que não podem sair do leito. É

importante ressaltar o planejamento dos locais onde serão desenvolvidas as

atividades, como serão estas atividades e que recursos humanos farão parte

da Brinquedoteca.

Podemos citar membros da equipe da Brinquedoteca : pedagogos,

psicólogos, terapeutas ocupacionais, enfermeiros, médicos, arteterapeutas,

psicomotricistas, contadores de histórias e outros profissionais afins.

Page 26: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

26

O essencial é que estas pessoas estejam comprometidas de fato com

o trabalho e que disponham de um horário regular na Brinquedoteca. Ter

consciência que de quanto melhor for tais colaborações em nível organizativo,

mais chances tem a Brinquedoteca de expandir suas atividades recreativas,

educacionais e culturais, além de já significar o cumprmento de uma função

formativa e social.

Da concepção que cada membro da equipe tem da criança

hospitalizada, do seu brincar e dos brinquedos, nascem às atitudes frente às

brincadeiras e emergem uma prática concreta no dia-a-dia da Brinquedoteca

É importante que a equipe possa ir além de tarefas mais práticas como

elaboração de fichas, a compra de brinquedos e outras atividades deste tipo,

igualmente indispensáveis para o funcionamento da Brinquedoteca. É preciso

que a equipe tenha tempo destinado a discussões, planejar as atividades

desenvolvidas na Brinquedoteca e que supervisione também a manutenção

de todo o seu contexto. Bem como selecionar e treinar profissionais que

trabalharão na Brinquedoteca , como brinquedistas.

Percebo que tais funções são inerentes ao pedagogo, uma vez que

segundo Libanêo (2005), é um profissional qualificado para atuar em diversos

campos educativos para atender demandas sócio- educativas do tipo formal e

informal, decorrentes de novas realidades, não apenas na gestão, supervisão

e coordenação pedagógica de escolas, como também na pesquisa, na

administração dos sistemas de ensino, nos serviços de psicopedagogia, na

televisão, no rádio e, inclusive, nos hospitais, atuando sempre em um leque de

práticas educacionais.”...pedagogo é um profissional que lida com fatos,

estruturas, contextos, situações, referentes à prática educativa em suas várias

modalidades e manifestações.”(p.183).

Em se tratando do contexto hospitalar e especialmente da

Brinquedoteca como espaço para brincar e para o desenvolvimento de outras

Page 27: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

27

práticas pedagógicas, se faz de extrema necessidade e importância a atuação

do pedagogo, visando a adaptar condições de aprendizagem, bem como

oferecer oportunidade para o desenvolvimento de práticas pedagógicas

específicas, tendo em mente a sua significação em termos físicos e

emocionais.

Quando afirmamos que o brincar auxilia na superação de conflitos

existentes e pode propiciar melhores condições de desenvolvimento ao ser

humano, nos questionamos: como então favorecer por meio de espaços

planejados oportunidades de brincadeiras? Quem as planejará e idealizará

para serem efetivadas? Que profissionais se fazem necessários nesta

atuação?

Respeitando todos os profissionais que podem efetivamente

desenvolver atividades na Brinquedoteca, eu coloco aqui a questão que em

escolas que atendem crianças, desde creches até a educação básica como um

todo, o brincar se faz presente. E muitas delas com espaços próprios para

isso, inclusive com brinquedotecas. O profissional da educação, o pedagogo,

tem esta competência e habilidade já bem desenvolvida, pois sua ação prática

é também voltada para esta preparação em planejamento e atuação, bem

como, treinar, capacitar brinquedistas, planejar projetos e atividades, organizar

cursos e palestras para auxiliar familiares destas crianças hospitalizadas.

Libanêo (2005,p.179) afirma que:

“Há uma diversidade de práticas

educativas na sociedade e, em todas elas, desde que se

configurem como intencionais, está presente a ação

pedagógica. A contemporaneidade mostra uma

“sociedade pedagógica” (Beillerot, 1985), revelando

amplos campos de atuação pedagógica.”

Page 28: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

28

E ainda aponta que:

“ Considerando-se a variedade de níveis de

atuação profissional do pedagogo, há que se convir que

os problemas , os modos de atuação e os requisitos de

exercício profissional nesses níveis não são

necessariamente da mesma natureza, ainda que todos

sejam modalidades de prática pedagógica. De fato, os

focos de atuação e as realidades com que lida, embora

se unifiquem em torno das questões do ensino, são

diferenciados, o que justifica a necessidade de formação

de profissionais da educação não diretamente docentes.

Ou seja, níveis distintos de prática pedagógica requerem

uma variedade de agentes pedagógicos e requisitos

específicos de exercício profissional que um sistema de

formação de educadores não pode ignorar. “

Page 29: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

29

ANÁLISE E CONCLUSÃO

Para analisar a inserção do pedagogo em espaços não-escolares, como

nos hospitais e especificamente em Brinquedotecas Hospitalares , foi

realizada uma pesquisa em 27 (vinte e sete) hospitais, com o objetivo

inicialmente de perceber quantos destes possuem internação pediátrica, pelo

fato de ser o público alvo , como crianças e adolescentes, das atividades

realizadas em Brinquedoteca.

Dos 27 (vinte e sete ) hospitais pesquisados, 25 ( vinte e cinco)

possuem internação pediátrica.

Page 30: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

30

Percebe-se, de acordo com o gráfico abaixo, que em apenas 52%

(cinqüenta e dois por cento) dos hospitais pesquisados, há brinquedotecas.

Em conformidade com a Lei Federal n 11.104, de 21 de março de 2005,

que dispõe sobre a obrigatoriedade de instalação de brinquedotecas nas

unidades de saúde que ofereçam atendimento pediátrico em regime de

internação, podemos constatar que tal lei não é cumprida efetivamente nos

municípios pesquisados.

Page 31: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

31

Embora exista um campo muito amplo para a atuação do pedagogo em

espaços não-escolares, é notório ,observando o gráfico, que nos hospitalais e

mais ainda, nas Brinquedotecas Hospitalares há pouca presença deste

profissional efetivamente.

Durante as entrevistas, constatou-se que os outros profissionais que

fazem parte da equipe multidisciplinar nos hospitais em atividades relacionadas

à brinquedoteca, são recreadores, animadores de festas, psicólogos e

terapeutas ocupacionais.

Vale ressaltar que nos hospitais onde há atuação do pedagogo, o

mesmo realiza uma proposta multidisciplinar com os profissionais citados

acima.

Repensando toda a pesquisa, percebe-se que a atuação do pedagogo

ainda não é tão valorizada em espaços não-escolares.

Page 32: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

32

Libâneo (1999, p.59) cita:

Todos os educadores seriamente interessados nas ciências da educação, entre elas a Pedagogia, precisam concentrar esforços em propostas de intervenção pedagógica nas várias esferas do educativo para enfrentamento dos desafios colocados pelas novas realidades do mundo contemporâneo.

Diante dos desafios atuais no campo da Educação com mudança na

legislação, mudança do currículo dos cursos de Pedagogia, muitas polêmicas

giram em torno desses cursos e de qual seria sua função neste momento. A

Pedagogia deveria estar integrada ao ensino e a pesquisa, pois não é possível

pensar num pedagogo que não saiba, ou que não possa ensinar/pesquisar.

É imprescindível adequação do currículo a ser desenvolvido com a

formação do novo educador, que deverá, sobretudo, ser capaz de integrar a

dimensão técnica a uma preocupação com a ética, a estética, a política e a

prática cotidiana do fazer escolar (RIOS, p. 2002), ou de garantir a articulação

entre as abordagens da docência e da gestão do trabalho administrativo,

pedagógico e comunitário, desenvolvidos em espaços de educação formal e

não formal, evitando-se assim, a fragmentação na formação deste profissional.

Page 33: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

33

ANEXO

CHECK LIST

HOSPITAL:______________________________________________________ MUNICÍPIO:_____________________________________________________ POSSUI SETOR DE INTERNAÇÃO PEDIÁTRICA? ( ) SIM ( ) NÃO NO SETOR DE INTERNAÇÃO PEDIÁTRICA, HÁ BRINQUEDOTECA? ( ) SIM ( ) NÃO EM CASO POSITIVO, HÁ ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO ESPAÇO DA BRINQUEDOTECA? ( ) SIM ( ) NÃO FAZEM PARTE DA EQUIPE INTEGRANTE DA BRINQUEDOTECA: ( ) PSICÓLOGOS ( ) TERAPEUTAS OCUPACIONAIS ( ) ENFERMEIROS ( ) TÉCNICOS DE SAÚDE ( ) MÉDICOS ( ) VOLUNTÁRIOS ( ) DEMAIS PROFISSIONAIS:________________________________

Page 34: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

34

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ARIÉS, Philippe. História social da criança e da família. Rio de

Janeiro:Guanabara,1981.

BENJAMIM, Water.Reflexões: a criança, o brinquedo, a educação. Trad de

Marcos Vinicius Massari.São Paulo:Summus,1984

BRASIL. Lei n 11.104, de 21 de março de 2005. Dispõe sobre a

obrigatoriedade de instalação de brinquedotecas nas unidades de saúde que

ofereçam atendimento pediátrico em regime de internação.Diário Oficial [da]

República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF,21 mar,p.1

BOFF, Leonardo. Saber cuidar – ética do humano, compaixão pela terra.

Petrópolis:Ed Vozes,2000

CRUZ, G. B. da. Concepções de infância ao longo da história. mimeo. Niterói,

2003

CUNHA, Nylse. Brinquedoteca: um mergulho no brincar. 3.Ed. São Paulo:

Vetor, 2001

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei n. 8069, de 13 de julho de

1990. Disponível em<http//www.eca.org.br/eca.htm>. Acesso em 23 nov 2008

HEEGAARD, Marge. Quando alguém tem uma doença muito grave: as

crianças podem aprender a lidar com a perda e a mudança. Tradução

Maria Adriana Veríssimo Veronese. Porto Alegre: Artmed, 1998

LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para quê. 8.ed. São Paulo:

Cortez,2005

Page 35: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

35

LINDQUIST, Ivonny. Brincar no hospital. In FRIEDMANN, A.; AFLALO,

C.;ANDRADE, C.M.R.J. E ALTAMN, R.Z.(orgs). O direito de brincar.4 ed. São

Paulo:Scritta,1998

KRAMER, Sonia. A políica do pré-escolar no Brasil: a arte do disfarce. Rio

de Janeiro: Achiamé,1982

KRAMER,Sonia; LEITE, Maria Isabel Ferraz Ferreira. (Orgs.). Infância e

produção cultural. Campinas,SP: Papirus,1998

MASETTI,Morgana. Soluções de Palhaços: transformações na realidade

hospitalar.São Paulo:Palas Athena,1998.

MATOS, Elizete Lúcia e MUGIATTI, Margarida. Pedagogia Hospitalar: a

humanização integrando educação e saúde. Petrópolis: Ed. Vozes, 2006

MOTTA, Alessandra Brunoro e ENUMO, Sônia Regina. Brincar no hospital:

estratégia de enfrentamento da hospitalização infantil. 2004, v.9, n.1,

pp.19-28

NIGRO, Magdalena. Hospitalização: o impacto na criança, no adolescente

e no psicólogo hospitalar. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004

ONU. Declaração dos Direitos da Criança, 1959. Disponível em

http://culturabrasil.pro.br/. Acesso em: 03 nov 2008

PORTO, Cristina . Brinquedo e brincadeira na brinquedoteca. In KRAMER,

Sônia (orgs.). Infância e produção cultural. São Paulo: Papirus, 1998

PORTO, Olívia. Psicopedagogia Hospitalar : intermediando a humanização

na saúde. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2008

Page 36: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

36

SANTOS, Santa. Brinquedoteca – o lúdico em diferentes contextos. 10 ed.

Rio de Janeiro : Vozes, 1997

SILVA, Silvana Maria. Atividades lúdicas e crianças hospitalizadas por câncer:

o olhar dos profissionais e das voluntárias. In BOMTEMPO, Edda. Brincando

na escola, no hospital, na rua... . Rio de Janeiro:Wak Editora, 2006. p. 127-

142

UNESCO. Fórum de Educação Para Todos. 1996 Disponível em:

http://www.brasilia.unesco.org/noticias. Acesso em : 30 out 2008

VIEGAS, Drauzio (org.) . Brinquedoteca Hospitalar: isto é humanização. Rio

de Janeiro: Wak Editora, 2007

WINNICOTT, D.W. O brincar e a realidade.1.ed.Rio de Janeiro:Editora

Imago,1975

Page 37: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

37

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMÁRIO 07

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

A IMPORTÃNCIA DO BRINCAR 10

CAPÍTULO II

BRINQUEDOTECA; DEFINIÇÃO, HISTÓRICO E OS

DIFERENTES TIPOS 15

2.1 – Brinquedoteca hospitalar 19

ANÁLISE E CONCLUSÃO 29

ANEXOS 33

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 34

ÍNDICE 37

Page 38: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …imaginário e o real e passa a manipular a realidade, explorando suas emoções, encontrando respostas e compreensão para o

38

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição:

Título da Monografia:

Autor:

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito: