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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE Por: Emanuela Almeida de Oliveira Alves Orientador Prof. Dr. Jean Almeida Rio de Janeiro 2008

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · porque nela o juiz determina as medidas necessárias para o cumprimento da sentença, observando ainda nesta fase o contraditório,

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR

SOLVENTE

Por: Emanuela Almeida de Oliveira Alves

Orientador

Prof. Dr. Jean Almeida

Rio de Janeiro

2008

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR

SOLVENTE

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Direito

Processual Civil.

Por: Emanuela Almeida de Oliveira Alves

3

AGRADECIMENTOS

A Deus por tudo que tem realizado em

minha vida.

4

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao meu marido José

Luiz, que tanto me apoiou para concluir

este curso.

5

RESUMO

Este trabalho procurou de forma objetiva dar ao leitor uma visão geral

da execução por quantia certa contra devedor solvente após a introdução da

Lei 11.232/2005.

Tivemos alterações significativas no Código de Processo Civil as quais

puderam ser brevemente abordadas aqui. Assim, como alguns artigos

sofreram mudanças que interferem e muito no processo de execução,

procuramos abordar alguns pontos mais significativos para o leitor.

6

METODOLOGIA

O método utilizado para o desenvolvimento do trabalho foi a pesquisa

bibliográfica, que abrangessem o tema em questão, bem como a consulta a

jurisprudência. As alterações são recentes por isso foi interessante consultar o

que tem está sendo abordado pelos doutrinadores. Alguns julgados foram

importantes para completar o trabalho já que temos algumas divergências na

doutrina.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Parte Histórica 10

CAPÍTULO II – Princípios informativos da fase executiva 12

CAPÍTULO III – Pressupostos da execução e do cumprimento

de sentença 16

CAPÍTULO IV – Do título executivo 19

CAPÍTULO V – Da execução por quantia certa contra devedor solvente

34

CONCLUSÃO 51

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 52

ÍNDICE 53

FOLHA DE AVALIAÇÃO 55

8

INTRODUÇÃO

A atividade jurisdicional tem por finalidade aplicar a vontade da lei,

buscando uma decisão mais justa possível, dando ao vencedor da ação o bem

jurídico pleiteado através da sentença.

Por muitas vezes o comando contido na sentença é cumprido

voluntariamente, mas não sendo este comando suficiente, a jurisdição usa

artifícios jurídicos para efetivar o direito do credor. A execução é um meio de

ver o decreto sentencial cumprido e conseqüentemente o direito do credor

satisfeito.

Conforme conceitua Cândido Rangel Dinamarco (1997, p.115):

“A execução é um conjunto de atos estatais através de

que, com ou sem o concurso da vontade do devedor (e

até contra ela), invade-se seu patrimônio para, à custa

dele, realizar-se o resultado prático desejado

concretamente pelo direito objetivo material”.

É praticamente unânime na doutrina afirmar a natureza jurisdicional da

execução, por exemplo, segundo o jurista Vicente Greco Filho a “atividade

executória seria eminentemente jurisdicional e não meramente administrativa,

porque nela o juiz determina as medidas necessárias para o cumprimento da

sentença, observando ainda nesta fase o contraditório, o respeito ao devedor e

a nossos valores culturais”(Vicente, 2008, p.7).

Acompanhando o mesmo entendimento Alexandre Freitas Câmara

quando afirma que “a natureza da execução é jurisdicional, porque sendo a

jurisdição a função estatal de substituir a atividade das partes e atuar a

vontade concreta da lei” (Câmara, 2008, p.140).

9

Na execução a fase de cognição é eventual e acontece por iniciativa do

devedor que pode utilizar-se dos embargos do devedor ou da impugnação.

Porém, deve-se observar a imutabilidade da coisa julgada quando se tratar de

execução de sentença.

No momento processual atual, estão em parte unificadas as execuções

fundadas em título judicial (sentença), e as execuções fundadas em titulo

extrajudicial (negócios jurídicos documentados).

O código atual abrange praticamente todas as espécies de execução e

recentemente foi complementado pela Lei nº 11.232, de 22 de dezembro de

2005, onde separou a execução de títulos judiciais, sendo denominado

cumprimento de sentença da execução, da execução por títulos extrajudiciais.

Algumas outras espécies de execução estão regulamentadas em leis

extravagantes: a) a execução fiscal, prevista na lei nº 6.830, de 22 de setembro

de 1980; b) a execução de créditos resultantes de financiamento de bens

imóveis vinculados ao Sistema Financeiro da Habitação, regulada na Lei nº

5.741, de 1º de dezembro de 1971; c) a falência, que é uma execução coletiva

e universal do patrimônio do devedor comerciante insolvente, disciplinada pela

Lei nº 11.101/2005; e d) as execuções de cédulas hipotecárias – Decreto-lei nº

70, de 21 de novembro de 1966 – e de títulos de crédito rural ou industrial –

Decretos-leis nº 167, de 14 de fevereiro de 1967, e 413, de 9 de janeiro de

1969.

Neste breve estudo que vamos fazer nos voltaremos para a execução

regulamentada pelo código de processo civil que sofreu algumas alterações

com a Lei nº 11.232/2005.

10

CAPÍTULO I

PARTE HISTÓRICA

No antigo direito romano, a execução era uma atividade privatística

segundo Vicente Greco Filho; da qual o juiz era um jurisconsulto ao qual as

partes concordavam em submeter-se as suas questões.

Têm-se relatos que a execução mais antiga era realizada diretamente

na pessoa do devedor, que, era vendido pelo credor para fora da cidade

perdendo a condição de cidadão romano e até mesmo de membro de uma

família, tendo sua condição de liberdade transformada em coisa.

Segundo Celso Neves “o primeiro processo referido de execução

patrimonial foi a apreensão de bens como pena, podendo ao credor até

mesmo destruir o referido bem apreendido” (Neves, 1958, p.24-5). Essa forma

de execução era um privilegio de certas categorias sociais em contraste com a

execução que acarretava a perda da liberdade. Após sentença determinando o

pagamento era estipulado ao devedor um prazo de trinta dias para quitar o

débito, caso ele não quitasse a dívida ele era entregue pelo magistrado para a

execução pessoal.

A execução foi evoluindo e no chamado terceiro período do direito

romano ocidental foi utilizado a apreensão dos bens do devedor para serem

vendidos pelo credor até o limite de seu crédito.

No direito romano privativo predominou a idéia de que a execução

visava coagir a vontade do devedor para constrangê-lo e não a finalidade de

satisfazer o crédito do credor.

11

No período das Ordenações Filipinas, em Portugal, a execução vinha de

um processo de conhecimento e era realizada sobre o patrimônio do devedor

mantida a precedência de que primeiro penhorava.

No Brasil a execução foi regulamentada em nosso primeiro diploma

processual, no regulamento nº 737.

O código de 1939 previa a ação executiva para títulos extrajudiciais, a

ação executória de sentença e o concurso de credores no processo de

execução. Também neste diploma desapareceu a precedência do credor que

primeiro penhora; e a segunda penhora transformava o processo de execução

em concurso de credores.

No código atual a execução para títulos extrajudiciais acontece num

processo autônomo enquanto os demais títulos como a execução contra a

Fazenda Pública, os alimentos, a sentença penal condenatória, a sentença

arbitral e a sentença estrangeira acontecem no cumprimento de sentença.

Tanto no cumprimento de sentença como na execução, a precedência do

credor que primeiro penhorava, agora desaparece, dando lugar à igualdade

entre credores de igual categoria perante a lei civil, quando a insolvência for

decretada.

As sentenças para serem cumpridas não mais dependem de processo

de execução, porque se cumprem por ordem judicial.

12

CAPÍTULO II

PRINCÍPIOS INFORMATIVOS DA FASE EXECUTIVA

A execução forçada esta regulada pelos mesmos princípios do processo

cognitivo, porém aqui eles recebem características novas.

2.1. Princípio do desfecho único

Este princípio tem por finalidade a satisfação do crédito exeqüendo,

realizando o direito substancial. O único fim pretendido na fase executiva é a

satisfação do exeqüendo.

2.2. Princípio do ônus

Todas as despesas correm por conta do executado (art.651 e 659 do

CPC), inclusive os honorários advocatícios do advogado do credor.

2.3. Principio da atipicidade dos meios executivos

Faculdade do juiz em adotar meios executivos necessários para

satisfazer a execução.

2.4. Princípio do contraditório na execução civil

Alguns doutrinadores acham que esse princípio não existe no processo

de execução. Para outros na fase executiva existe uma forma atenuada do

princípio do contraditório, para uma terceira corrente, entendem que o

contraditório existe sim na fase executiva encontrando ainda respaldo no art.

5º, LV, da Constituição da República. Ele só não tem contraditório a respeito

do montante devido já decidido. No mérito, o valor do título não se pode

discutir.

13

No processo de execução a discussão se dá do título em diante (já feita

a liquidação de sentença). Se não houvesse contraditório, como é que poderia

o devedor não concordar com os cálculos feitos pelo contador ou com o valor

do bem vendido.

O juiz, quando decide a respeito de um pedido de impenhorabilidade,

ele decide até no processo de execução. Na exceção de pré-executividade

poderá ser alegado até mesmo antes da penhora. Hoje, quando nos

insurgimos contra o valor do bem, preço vil, penhora, tudo isso é cognição,

pois o juiz deve dar vistas à outra parte e decidir com fundamentação. Então, é

impossível hoje, negar esse princípio do contraditório na execução (art. 92 CF).

Há matérias dentro do processo de execução, que o juiz deve conhecer de

ofício, mas pode passar despercebido alguma coisa, devido ao grande volume

de processos.

2.5. Princípio da Realidade da Execução

O cumprimento, a responsabilidade dos bens do devedor para que a

execução atinja a sua realidade. Tanto o patrimônio presente ou futuro do

executado é responsável pela dívida, enquanto ela não for prescrita.

2.6. Princípio da Máxima Utilidade da Execução

Esse princípio beneficia o credor dizendo que a execução deve apanhar

do devedor o máximo de bens, para que se aproxime do que o credor teria que

receber. Uns dizem que é derivado do princípio da atuação jurisdicional. É uma

redundância, mas não é igual a esse princípio. Em suma, esse princípio quer

que o credor receba aquilo que realmente tem direito.

Esse é um princípio de resultado, se pretende o resultado máximo

dentro do processo de execução. O contrabalanceamento desse princípio é o

princípio da não oneração indevida do devedor. A própria lei no artigo 653 do

14

CPC autoriza a proceder ao arresto, para depois procurar o devedor. Durante o

processo de execução transformam-se em bens penhorados.

2.7. Princípio do Menor Sacrifício do Executado

Este princípio tenta balancear o prejuízo do executado, pois, se por um

lado, preocupa-se com a total realização da execução, por outro, a justiça tenta

onerar da menor forma possível o devedor. Ordena o juiz que fique como

depositário o próprio devedor.

2.8. Princípio da Proporcionalidade:

Conforme o art. 655 do CPC para o princípio da proporcionalidade

existem alguns mecanismos para tornar viável a retirada de bens do executado

ocorrendo a gradação de penhora com a relação de bens. É preciso ver qual é

a finalidade da penhora e garantir que o credor irá receber. A liquidação existe

para transformar uma sentença transitada em julgado em título executivo.

Em razão do princípio do menor sacrifício não pode-se desfalcar o

estabelecimento comercial. Não pode deixar que alguém fique sem seu

rendimento diário.

Até o momento da arrematação ou adjudicação, o devedor pode pedir a

substituição do bem penhorado por uma quantia em dinheiro. Se a quantia

cobre o valor devido, deve-se evitar a venda do imóvel (contrabalanceamento

entre o direito do credor e do devedor). Caso não seja feito a arrematação ou a

adjudicação, deverá ser penhorado o bem, senão houver lance, seguirá para

um segundo lance, que não poderá ser aceita lance vil (aquele que não condiz

com a realidade, é insignificante). Esse lance depende do caso, não existe

parâmetro. Deve-se fazer uma análise da jurisprudência, e esta tem

considerado como lance vil, o lance abaixo de 60%. Pode-se embargar a

venda do bem e recorrer, dizendo que o bem foi vendido por preço vil.

15

O credor pode dar lance no praceamento. Dando lance na arrematação

ou adjudicação, pode ofertar o crédito que ele tem, mas sempre pagando

acima da base.

Sempre é possível ao devedor alegar embargos ou, sua esposa ou

descendentes, poderão usar o direito de remissão de bens. Há a remissão do

processo (ato pelo qual o devedor vai a juízo dois minutos antes do

praceamento), ou remissão depois que vende (24 horas depois de arrematado

o bem). A adjudicação só pode ocorrer se não houver lançador. Se houver um

lançador é praceamento.

16

CAPITULO III

PRESSUPOSTOS DA EXECUÇÃO E DO CUMPRIMENTO

DE SENTENÇA

3.1. Das Partes

Tanto no cumprimento de sentença como no processo de execução é

necessário que as partes sejam legítimas para que se cumpram às condições

da legitimatio ad causam. As partes na execução são denominadas como

credor e devedor.

Podem promover a execução forçada ou o cumprimento de sentença:

• o credor a quem a lei confere o título executivo

• o Ministério Público nos casos prescritos em lei (art. 566)

• o espólio, os herdeiros ou os sucessores do credor, sempre que,

por morte deste, lhes for transmitido o direito resultante do título

executivo;

• o cessionário, quando o direito resultante do título executivo lhe foi

transferido por ato entre vivos;

• o sub-rogado, nos casos de sub-rogação legal ou convencional

(art. 567)

A legitimação ordinária e comum para a execução é a do credor que

figure no título executivo. No título pode constar mais de um credor,

resolvendo-se a legitimidade pelas regras civis referentes á natureza da

obrigação. Somente nos casos previstos em lei pode o Ministério Público

propor a execução, e ainda nos casos que é autorizado a propor ação de

conhecimento conseqüentemente terá legitimidade para a execução.

17

Podem ainda promover a execução os sucessores por atos inter vivos

ou causa mortis, o sub-rogado legal e o convencional nos termos dos arts. 346

a 351 da lei civil.

O sujeito passivo da execução, em regra, é aquele que figura como

devedor no título executivo, por força da lei civil ou comercial. São devedores

os emitentes do título, o avalista, o endossante, o aceitante, nos termos da lei

comercial. Havendo solidariedade passiva, qualquer devedor pode ser

executado, ou todos em litisconsórcio passivo.

O fiador civil também pode ser parte na execução, pois ele é devedor ou

pelo menos responsável pela obrigação. Caso ele não tenha renunciado

expressamente ao benefício de ordem (direito de ver penhorado primeiro os

bens do devedor principal), poderá indicar os bens do devedor para serem

penhorados, mas a execução poderá ser proposta contra ele. Se ele renunciou

ao benefício de ordem, converte-se em devedor solidário.

Para Alcides de Mendonça cabe assistência na execução baseada em

título extrajudicial e se houver embargos. Segundo Vicente Greco Filho, tanto

para execução fundada em título judicial ou extrajudicial; desde que haja

embargos ou impugnação, é sempre possível em tese à assistência.

3.2. Da Competência

Segundo Vicente Greco Filho, “a competência em se tratando de

cumprimento de sentença segue o processo funcional, ou seja, pelas fases do

processo” (Vicente, 2008, p.21). Se o processo tem competência originária nos

tribunais, a fase executiva também será de competência dos tribunais. Agora,

se a ação iniciar no primeiro grau de jurisdição este também será o juízo

competente para a execução, mesmo que no processo tenha havido recurso e

que haja alguma decisão proferida em tribunal superior.

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O art. 475 – P, III traz uma exceção, pois quando o título executivo for

de sentença penal condenatória ou sentença arbitral, a execução processar-

se-á perante o juiz cível competente.

Quando o credor se deparar com a competência de dois foros

alternativos ele poderá optar: * pelo local onde se encontram bens sujeitos à

expropriação, ou, * pelo local do atual domicilio do réu.

Em execuções fundada em título extrajudicial será determinada para

fixar competência as mesmas regras gerais relativas ao processo de

conhecimento.

3.3. Inadimplemento do devedor

Conforme art. 580 do CPC são necessários dois requisitos para verificar

o inadimplemento do devedor: * que a dívida seja certa, líquida e exigível e *

que seja consubstanciada em título executivo.

Tem-se como início para começar a contar o inadimplemento à partir do

vencimento do título ou do momento de sua exigibilidade. A mesma maneira é

usada para contar a inclusão dos juros. Se o credor possui título executivo os

juros são devidos à partir do vencimento, se o credor não tem título e propõe

uma ação de conhecimento para adquirir o título os juros são contados à partir

da citação válida, conforme art. 219 do CPC.

Conforme previsto no art. 475 J, se depois de prolatada a sentença

(título executivo judicial) o devedor não pagar a quantia devida no prazo de 15

dias, o credor deverá requerer a expedição de mandado de penhora dentro do

prazo se 6 meses sob pena de arquivamento do processo.

19

CAPITULO IV

DO TÍTULO EXECUTIVO

4.1. Conceito

É um dos requisitos indispensável para propor uma execução. Para

Alexandre Freitas Câmara o título executivo é um dos temas mais

controvertidos de toda ciência processual. Na doutrina há divergência acerca

de seus conceitos e de sua função. Parte da doutrina afirma que o título

executivo é o documento que consiste na prova legal da existência do crédito

afirmado pelo exeqüente. Para a teoria documental o título executivo, seria um

documento representativo da existência do crédito exeqüendo. Este

documento seria uma prova do crédito, daí ser considerada uma prova legal.

A outra parte da doutrina defende a teoria do título executivo como ato

jurídico capaz de tornar adequada à via executiva como meio de atuação

concreta da vontade da lei, através da imposição da sanção processual

consistente na responsabilidade patrimonial.

Ainda houve parte da doutrina que tentou estabelecer a teoria mista, em

que o título executivo é visto a um só tempo como ato e documento. Outros

autores afirmam ser o título executivo um ato de acertamento do direito.

Segundo a análise realizada pelo professor Alexandre Freitas Câmara a

teoria do título executivo como ato de acertamento do direito substancial tem

duas falhas: em primeiro lugar, é difícil reconhecer a existência de acertamento

do direito em atos extrajudiciais. Em segundo lugar, ao exigir o acertamento do

direito como requisito da execução, esta concepção liga a execução,

excessivamente, à existência do direito substancial.

20

Quanto a teoria documental, ao afirmar que o título é um documento,

está dando a ele a função de demonstrar a existência do direito de crédito

afirmado pelo demandante. Ao afirmar que o título executivo prova a existência

do direito, os defensores da teoria documental estão modificando,

arbitrariamente o conceito de prova.

Em segundo lugar, se o título fosse mesmo uma prova, deveria haver na

execução uma atividade cognitiva, consistente na valoração da prova

produzida, cabendo ao juiz afirmar se a existência do crédito está mesmo

demonstrada ou não, e só depois disto é que se poderia passar aos atos

executivos.

A teoria documental confunde a prova do ato jurídico com a sua forma.

O que a lei exige para, todos eles, forma escrita. A forma escrita que revestem

os títulos executivos é, tão somente, a forma do ato jurídico, e não a sua prova.

O título executivo não é o escrito, mas o seu conteúdo.

O título executivo é, portanto, um ato (ou fato) jurídico que a lei (e só

ela) atribui eficácia executiva. A eficácia executiva consiste na aptidão para

produzir o efeito de fazer incidir sobre o devedor a responsabilidade

patrimonial.

Alexandre Freitas Câmara conceitua título executivo

como ato (ou fato) jurídico a que a lei atribui eficácia

executiva, tornando adequada à utilização da via

executiva como forma de fazer atuar a responsabilidade

patrimonial (Câmara, 2008, p.164).

Para Vicente Greco Filho o título é o documento ou o ato

documentado que consagra obrigação certa e que

permite a utilização direta da via executiva (Vicente,

2008, p.25).

21

4.2. Função do título executivo

Há autores que vêem no título executivo um fator de legitimação, ligando

o título à legitimidade das partes para a demanda executiva. Outra posição é a

que afirma ser o título executivo a causa petendi da demanda executiva.

A verdadeira função do título executivo liga-se ao interesse de agir. O

título executivo é, pois, responsável por tornar adequada à via executiva como

instrumento de atuação da vontade concreta do ordenamento jurídico. Verifica-

se que o título executivo encontra-se localizado no campo das condições da

ação, como um dos elementos formadores do interesse de agir in executivis.

4.3. Dos Títulos Executivos Judiciais

Conforme o “Art. 475 – N do CPC, são títulos executivos judiciais:

I – a sentença proferida no processo civil que reconheça a existência

de obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia;

II – a sentença penal condenatória transitada em julgado;

III – a sentença homologatória de conciliação ou de transação, ainda

que inclua matéria não posta em juízo;

IV – a sentença arbitral;

V – o acordo extrajudicial, de qualquer natureza, homologado

judicialmente;

VI – a sentença estrangeira, homologada pelo Superior Tribunal de

Justiça;

VII – o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao

inventariante, os herdeiros e aos sucessores a título singular ou

universal.

Parágrafo único. Nos casos dos incisos II, IV e VI, o mandado inicial

(art.475-J) incluirá a ordem de citação do devedor, no juízo cível, para

liquidação ou execução, conforme o caso”.

Faremos breve comentário sobre cada título executivo judicial.

22

I – a sentença proferida no processo civil que reconheça a existência de

obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia;

Se a sentença impõe uma obrigação ela tem força condenatória e

executória. Nas sentenças declaratórias, elas por si mesmas declaram a

existência ou inexistência de uma relação jurídica. As sentenças constitutivas

podem provocar alterações no mundo jurídico ou vão se cumprir através de

mandado ao registro competente.

Uma sentença condenatória ainda pode encontrar a inércia ou

resistência do devedor quanto a sua satisfação, necessitando ser cumprida por

meios executivos.

Com este inciso entende-se que a sentença declaratória que reconheça

a existência de uma obrigação, bem como as condenatórias tem naturalmente

efeito executivo por força de lei.

Segundo Vicente Greco Filho “ A obrigação contém dois elementos, o

vínculo e a exigibilidade: o juiz, ao reconhecer a obrigação declara a existência

do vínculo e condena ao cumprimento da prestação exigível.” (Vicente, 2008,

p.28)

II – a sentença penal condenatória transitada em julgado;

Neste caso o ofendido tem duas opções: pode aguardar o encerramento

da ação penal e seu trânsito em julgado tendo em mãos um título executivo

judicial e indiscutível ou propor imediatamente a ação civil de conhecimento

onde é possível incluir outro eventual responsável. O credor de um título

executivo de uma sentença penal condenatória pode ser o ofendido, seu

representante legal ou seus herdeiros independente de quem tenha promovido

a ação penal.

O Ministério Público pode promover a execução como um substituto

processual com legitimação extraordinária conforme preceitua art. 566, II CPC.

23

III – a sentença homologatória de conciliação ou de transação, ainda

que inclua matéria não posta em juízo;

Este inciso quando na sua parte final inclui a expressão “ainda que

inclua matéria posta em juízo”, quis o legislador afastar a orientação

jurisprudencial que restringia a coisa julgada e o título executivo judicial

somente à matéria objeto do processo, excluindo as questões que

ultrapassassem essa matéria. Significa ainda dizer que deve haver o

contencioso e nele ocorrendo conciliação ou transação, poderão ser

acrescidas disposições não cogitadas no processo sendo muito comum para

facilitar a transação.

Nas sentenças referidas aqui pela lei, o juiz não terá julgado o objeto do

processo, o qual terá sido resolvido nos termos do ato de composição de

interesses celebrados pelas partes. Aqui o juiz verificará a validade do ato

autocompositivo e homologá-lo, conferindo assim eficácia ao ato. A sentença

será definitiva, pois que contém resolução de mérito embora não contenha o

julgamento dele.

IV – a sentença arbitral;

A arbitragem é o mecanismo que substitui a jurisdição do estado para

resolver um conflito. Ela pode ocorre para dirimir litígios relativos a direitos

patrimoniais disponíveis sendo as partes maiores capazes. Ao escolherem a

arbitragem, as partes podem também decidir se a decisão será de direito ou de

eqüidade e ainda se as regras de direito aplicadas serão as nacionais ou

estrangeiras, desde que não haja violação dos bons costumes e à ordem

pública.

Foi conferida eficácia executiva à decisão proferida pelo árbitro, pondo

termo a um conflito que tenha sido levado à solução por via arbitral.

24

Conforme Alexandre Freitas Câmara a “inclusão da sentença arbitral

entre os títulos executivos coloca o Brasil no caminho de uma tendência

internacional, de valorização da arbitragem como meio de pacificação social,

essencial para o descongestionamento do Judiciário, e permitindo um novo

meio de acesso aos escopos sociais da jurisdição e de seus equivalentes.”

(Câmara, 2008, p.174)

V – o acordo extrajudicial, de qualquer natureza, homologado

judicialmente;

É a homologação judicial do acordo extrajudicial de qualquer natureza

ou valor, celebrados entre as partes. Após a homologação judicial, o acordo

torna-se um título executivo judicial.

Apesar de alguns doutrinadores como Vicente Greco Filho entender que

homologar acordos extrajudiciais não é função do Poder Judiciário, quando

homologado o acordo torna-se um título executivo judicial.

VI – a sentença estrangeira, homologada pelo Superior Tribunal de

Justiça;

A sentença de homologação não acrescenta eficácia diferente à

sentença estrangeira, de modo que somente será executada a sentença

estrangeira condenatória.

A execução das sentenças estrangeiras homologadas pelo Superior

Tribunal de Justiça é da competência da Justiça Federal da Capital do Estado

do domicílio do devedor, obedecidas as regras normais para a execução de

julgado nacional de mesma natureza (art. 484 CPC). Em se tratando de título

extrajudicial estrangeiro não depende de homologação e a competência é da

justiça comum.

VII – o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao

inventariante, os herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal.

25

A execução do formal de partilha é da competência do juiz do inventário.

Conforme a natureza do bem que integra o quinhão sucessório, a execução

fundada neste título poderá ser por quantia certa (dinheiro) ou entrega da coisa

(qualquer outro bem diverso do dinheiro) neste caso a execução não será

processo autônomo, mas sim um prolongamento do processo de inventário e

partilha.

Nos incisos II, IV e VI, o mandado inicial (art.475-J) incluirá a ordem de

citação do devedor, no juízo cível, para liquidação ou execução.

4.4. Dos Títulos Executivos Extrajudiciais

Conforme o “Art. 585 do CPC, são títulos executivos extrajudiciais:

I – a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o

cheque;

II – a escritura pública ou outro documento público assinado pelo

devedor; o documento particular assinado pelo devedor e por duas

testemunhas; o instrumento de transação referendado pelo Ministério

Público, pela Defensoria Pública ou pelos advogados dos transatores;

III – os contratos garantidos por hipoteca, penhor, anticrese e

caução, bem como os seguros de vida;

IV – o crédito decorrente de foro e laudêmio;

V - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel

de imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e

despesas de condomínio;

VI – o crédito de serventuário de justiça, de perito, de intérprete, ou

de tradutor, quando as custas, emolumentos ou honorários forem

aprovados por decisão judicial;

VII – a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos

Estados, do Distrito Federal, dos territórios e dos Municípios,

correspondente aos créditos inscritos na forma da lei;

26

VIII – todos os demais títulos a que, por disposição expressa, a lei

atribuir força executiva.”

Faremos breve comentário sobre cada título executivo extrajudicial.

I – a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o

cheque;

A letra é um título de crédito que enuncia uma ordem de pagamento de

uma quantia determinada dada pelo sacador ao sacado em favor do tomador

ou à sua ordem.

A promissória (livrança) é uma promessa feita, no título, pelo subscritor

de pagar determinada quantia ao tomador ou à sua ordem.

E o cheque, tal como a letra, é uma ordem de pagamento dada pelo

sacador a um Banco (sacado) para que pague determinada quantia por conta

da provisão bancária constituída pelo sacador. E pode apresentar-se como

título de crédito à ordem ou ao portador.

Porém, para que a letra, a promissória e o cheque possam reclamar-se

da categoria de título de crédito cada um deles tem de satisfazer determinados

requisitos exigidos pela respectiva Lei Uniforme.

Assim, a letra tem de satisfazer os requisitos essenciais prescritos no

artº 1º, enquanto a promissória os do no artº 75º da Lei Uniforme Sobre Letras

e Livranças, e o cheque, por sua vez, os requisitos enunciados no artº 1º da Lei

Uniforme Sobre Cheques, sob pena de não poderem valer como letra,

promissória ou cheque.

Entendemos que uma letra, uma promissória ou um cheque que reúna

todos os requisitos exigidos pela respectiva Lei Uniforme possa constituir título

27

executivo, apesar da alteração introduzida pela Reforma de 95/96 ao artº 46 do

CPC.

Antes da Reforma de 1995/1996, as espécies de documentos

particulares exequíveis e os respectivos requisitos de exequibilidade

constavam da al. c) do artº 46 e do artº 51 CPC.

A alínea “c” dizia, que à execução apenas podiam servir de base: "As

letras, livranças, cheques, extractos de factura, vales, facturas conferidas e

quaisquer outros escritos particulares, assinados pelo devedor, dos quais

conste a obrigação de pagamento de quantias determinadas ou de entrega de

coisas fungíveis".

Com aquela reforma processual, o Código deixou de elencar

especificadamente e à parte os títulos de crédito (letras, livranças, cheques,

etc.) como documentos particulares executivos. Mas essa alteração não visou

restringir o número dos títulos executivos, muito pelo contrário teve antes em

vista - como se pode ler do preâmbulo do Dec. Lei nº 329-A/95, de 12/12 - uma

«ampliação significativa do elenco dos títulos executivos, conferindo-se força

executiva aos documentos particulares, assinados pelo devedor, que importem

constituição ou reconhecimento de obrigações pecuniárias, cujo montante seja

determinável em face do título.

Antes da alteração já havia quem defendesse que a referência genérica

que a alínea c) do artº 46 faz a todos os documentos particulares retira toda a

utilidade à especificadamente feita às letras, livranças, cheques e extractos de

facturas, que se não distinguem dos demais títulos, no que aqui interessa,

senão na disciplina substancial própria da relação cartular.

II – a escritura pública ou outro documento público assinado pelo

devedor; o documento particular assinado pelo devedor e por duas

28

testemunhas; o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público,

pela Defensoria Pública ou pelos advogados dos transatores;

A reforma ampliou sensivelmente o alcance desse inciso II de forma a

abranger várias espécies de documentos. Na realidade, pela redação atual

desse dispositivo, podemos considerar como títulos executivos extrajudiciais

todos os atos jurídicos documentados por escrito, desde que presentes os

requisitos da liquidez e da certeza, conforme se verá. O primeiro seria a

escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor.

O documento particular assinado pelo devedor e por duas testemunhas

também tem força executiva. Na realidade, trata-se do ato praticado pelo

devedor assumindo uma obrigação e a promessa de cumpri-la. Entretanto, o

CPC condicionou a eficácia executiva de tais documentos à assinatura de duas

testemunhas. A esse respeito, ARAKEN DE ASSIS colaciona jurisprudência no

sentido de que em julgado da 3ª. Câm. Cív. do TARS, estatuiu-se que rubrica

não é assinatura, nem ‘avalista’ substitui testemunha. Teori Albino ZAVASCKI

ainda revela que a chamada assinatura a rogo não é assinatura do devedor e

sim de terceiro e, portanto, não vale para os fins desse dispositivo. Por outro

lado, têm-se entendido de que não se exige o reconhecimento das firmas.

O inciso II ainda trata da executividade do instrumento de transação

referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública ou pelos

advogados dos transatores. São os chamados atos referendado sem que

estão incluídos todos os atos pelos quais os litigantes se compõem para a

solução de uma situação conflituosa. A participação do Ministério Público, da

Defensoria Pública e dos advogados se justificam na medida em que são

idôneos para orientar e fiscalizar que as partes não assumam compromissos

além do razoável e do que serão capazes de cumprir.

III – os contratos garantidos por hipoteca, penhor, anticrese e caução,

bem como os seguros de vida;

29

Para alguns doutrinadores esse inciso é considerado um aglomerado

heterogêneo de negócios jurídicos, afinal, em um só dispositivo, o legislador

enumerou oito figuras de títulos executivos. Os contratos de caução ou de

garantia previstos nesse dispositivo configuram o ajuste que visa dar ao credor

uma segurança de pagamento. Desdobram-se em duas classes: os de

garantia real e os de garantia pessoal. Hipoteca, penhor e anticrese são

direitos reais de garantia sobre coisas alheias previstos no Código Civil. São

meios do credor da obrigação assegurar a responsabilidade patrimonial de

certos bens do devedor. A hipoteca tem como garantia um bem imóvel; no

penhor se dá em garantia um objeto móvel mediante a efetiva entrega ao

credor; e a anticrese consiste na entrega ao credor um imóvel para que este

perceba os frutos e rendimentos dele provenientes para compensação da

dívida. Note-se que a hipoteca, o penhor e anticrese não impedem a penhora

do bem por outro credor que não o com garantia real. Entretanto, esse credor

quirografário tem o ônus de intimar o credor preferencial sob pena de ineficácia

da penhora. Como visto, a caução também é uma forma de garantia do credor.

A forma mais comum de caução é a fiança. A fiança acaba por gerar um

vínculo obrigacional entre o fiador e o credor do afiançado. O instituto da fiança

pertence ao direito privado e é no Código Civil que reside sua disciplina.

Por fim, o inciso III deixa claro que os contratos de seguro também dão

ensejo à execução forçada, sejam eles de vida ou de acidentes pessoais.

Nesses casos, a liquidez desses títulos extrajudiciais pode ficar condicionada a

documentos ou declarações posteriores à celebração do contrato, como a

certidão de óbito ou o atestado médico.

IV – o crédito decorrente de foro e laudêmio;

30

O senhorio direto de um imóvel sobre o qual incide uma enfiteuse

poderá exigir do titular do domínio útil, através do processo de execução, não

só o foro, mas também o laudênio.

O foro é a verba anualmente paga pelo enfiteuta ao proprietário como

prestação pelo domínio útil do imóvel na enfiteuse da lei civil. Entretanto, o

Novo Código Civil proibiu expressamente a figura da enfiteuse (art. 2.038,

caput). O laudêmio também dizia respeito à enfiteuse e tratava da indenização

a ser paga ao proprietário toda vez que o domínio útil for transferido por venda

ou dação em pagamento.

V - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de

imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de

condomínio;

Havendo locação de imóvel em condomínio, celebrada por contrato

escrito, e deixando o locatário de pagar as despesas que estejam em seu

encargo, poderá o locador executar tais créditos.

Aluguel e renda são os frutos periódicos do imóvel que o proprietário

recebe em função do uso da coisa locada ou arrendada. As palavras "aluguel"

e "renda" se equivalem, sendo que a primeira se refere aos imóveis urbanos e

a segunda ao imóvel rural. Embora a locação tenha forma livre, a lei

processual limita a eficácia executiva ao contrato celebrado por escrito. Já não

foi assim outrora. No CPC de 1939 o contrato de locação verbal tinha força

executiva.

As despesas de condomínio também encontram sua força executiva no

largo espectro da lei processual civil brasileira desde estejam devidamente

documentados pelo síndico. De acordo com a lei do inquilinato, despesas de

condomínio são aquelas necessárias à administração das áreas comuns,

manutenção de elevadores, equipamentos em geral, etc. (art. 23, §1.º). A

31

documentação necessária a conferir força executiva seria a prova da

investidura do síndico, o orçamento geral, relação das unidades autônomas

bem como o valor de cada quota, balancete mensal e apresentação da

convenção de condomínio. Entretanto, há clara orientação jurisprudencial no

sentido de que as despesas de condomínio só autorizam o ingresso na via

executiva quando o condômino locador pretender reaver do locatário aquilo

que pagou. Em outras situações, como quando o síndico cobra do condômino,

deve seguir o rito sumário do processo comum de conhecimento previsto no

art. 275, III, b, do CPC.

VI – o crédito de serventuário de justiça, de perito, de intérprete, ou de

tradutor, quando as custas, emolumentos ou honorários forem aprovados por

decisão judicial;

Trata dos créditos dos auxiliares da justiça aprovados por decisão

judicial. Entretanto, essa decisão é dada incidentalmente no curso do processo

em que esses auxiliares da justiça trabalharam: não é provimento resultante de

discussão em contraditório, nem necessariamente homologatório do consenso

entre os envolvidos. Auxiliares da justiça são os serventuários, como o

escrivão, os oficiais de justiça, o contador, o avaliador, o distribuidor, o porteiro,

bem como o perito, intérprete e tradutor. O devedor das custas será a parte

vencida no processo. Os valores a cobrar serão somente aqueles que já não

foram adiantados no curso do processo.

VII – a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos

Estados, do Distrito Federal, dos territórios e dos Municípios, correspondente

aos créditos inscritos na forma da lei;

A execução da dívida ativa da Fazenda Pública está regulada pela Lei

6.830/80, porém, esta lei não contém nenhuma disposição a respeito do título

executivo.

32

Conforme o jurista Alexandre Freitas Câmara, (2008, p.187), passamos

a “enumerar alguns títulos executivos extrajudiciais que recebem sua eficácia

executiva de outras leis, que não o Código de Processo Civil:

a) cédula hipotecária (art. 29 do Decreto-lei nº 70/66);

b) crédito de alienação fiduciária em garantia (art. 5º do Decreto-lei nº

911/69);

c) contrato escrito de honorários advocatícios (art. 24 da Lei nº 8.906/94);

d) crédito alimentar decorrente do “ajustamento dos interessados às

exigências” do Estatuto da Criança e do Adolescente (art.211 do ECA);

e) compromisso arbitral que fixa os honorários do árbitro (art.11, parágrafo

único, da Lei nº 9.307/96).”

Entretanto, importante destacar que a jurisprudência não tem

considerado como título executivo o contrato de cheque especial

acompanhado pelos extratos da conta-corrente sob o fundamento de que falta

liquidez a esse crédito, uma vez que no momento da formalização do negócio

não há débito algum a ser reconhecido pelo correntista. Tal entendimento já

está consolidado no STJ na Súmula 233, in verbis: "O contrato de abertura de

crédito, ainda que acompanhado de extrato de conta-corrente, não é título

executivo".

O CPC reconhece a total validade do título executivo extrajudicial,

oriundo de país estrangeiro, ao qual empresta força executiva, nesses termos:

"Art. 585.

§2.º. Não dependem de homologação pelo STF, para serem

executados, os títulos executivos extrajudiciais, oriundos de

país estrangeiro. O título, para ter eficácia executiva, há de

satisfazer aos requisitos de formação exigidos pela lei do lugar

de sua celebração e indicar o Brasil como o lugar de

cumprimento da obrigação".

33

Entretanto, o entendimento jurisprudencial dominante afirma que o título

há de ser devidamente traduzido para a língua portuguesa, convertendo-se o

valor da moeda estrangeira para a nossa no ato da propositura da ação, posto

que é nulo o título que estipula o pagamento em moeda que não a nacional

(Resp. 4819-RJ, RSTJ 27/313).

Processo

REsp 4819 / RJ RECURSO ESPECIAL 1990/0008530-6

Relator(a)

Ministro WALDEMAR ZVEITER (1085)

Órgão Julgador

T3 - TERCEIRA TURMA

Data do Julgamento

30/10/1990

Data da Publicação/Fonte

DJ 10.12.1990 p. 14805 RSTJ vol. 27 p. 313 RT vol. 668 p. 182

Ementa

PROCESSUAL CIVIL - TITULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL ORIUNDO DE PAIS ESTRANGEIRO - VALIDADE. I - LEGISLAÇÃO ESPECIFICA (DECRETO-LEI 857/69), DISPONDO SOBRE CONTRATOS E TITULOS REFERENTES A IMPORTAÇÃO OU EXPORTAÇÃO DE MERCADORIAS OU A EMPRESTIMOS OU QUAISQUER OUTRAS OBRIGAÇÕES CUJO CREDOR OU DEVEDOR RESIDA NO EXTERIOR OU NESTE TENHA SEU DOMICILIO, CONSIDERA COMO CERTA PARA EFEITO DE AJUIZAMENTO A QUANTIA EM DOLARES. II - O CODIGO DE PROCESSO CIVIL RECONHECE A TOTAL VALIDADE DO TITULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL, ORIUNDO DE PAIS ESTRANGEIRO, AO QUAL EMPRESTA FORÇA EXECUTIVA. TODAVIA HA DE SER O TITULO TRADUZIDO PARA A LINGUA NACIONAL, CONVERTENDO-SE O VALOR DA MOEDA ESTRANGEIRA EM CRUZEIRO, NO ATO DA PROPOSITURA DA AÇÃO, POSTO QUE E NULO DE PLENO DIREITO O TITULO QUE ESTIPULE O PAGAMENTO EM MOEDA QUE NÃO A NACIONAL. III - RECURSO NÃO CONHECIDO.

Acórdão

POR UNANIMIDADE, NÃO CONHECER DO RECURSO.

34

CAPÍTULO V

DA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA

DEVEDOR SOLVENTE.

Este rito divide-se em três fases: postulatória, instrutória e satisfativa. A

primeira fase é formada pelo ajuizamento da demanda e pela citação. A

segunda, pela penhora e demais atos preparatórios do pagamento. A fase

satisfativa é formada pelo pagamento ao demandante, que pode se dar por

diversas formas.

A execução por quantia certa tem por objeto a expropriação de bens,

que a atividade executiva incidirá sobre os bens que compõem o patrimônio do

executado. Sua finalidade, porém, não é a expropriação, mas a satisfação do

crédito exeqüendo.

5.1. Da execução provisória e da definitiva

O art. 475-I § 1º, preceitua que: “É definitiva a execução da sentença

transitada em julgado e provisória quando se tratar de sentença impugnada

mediante recurso ao qual não foi atribuído efeito suspensivo”.

Em regra os recursos de apelação e os embargos infringentes tem efeito

suspensivo; e o agravo de instrumento, o recurso especial e o recurso

extraordinário tem efeito devolutivo. Porém, a apelação correspondente a

segunda parte do art. 520 do CPC, não tem efeito suspensivo, permitindo

assim, a execução provisória.

35

Tivemos até aqui um aparato geral do que é execução. Porém, existem

várias espécies de execução: execução para a entrega de coisa certa e de

coisa incerta, execução das obrigações de fazer e não fazer, execução por

quantia certa contra devedor solvente, execução contra a fazenda Pública e da

execução de prestação alimentícia e da execução da dívida da fazenda

Pública. Desta forma, tomaremos como tópico para o desenvolvimento do

trabalho a Execução por quantia certa contra devedor solvente.

5.2. Citação e Arresto

5.2.1. Citação

Proposta a execução a citação não poderá ser feita por via postal,

conforme proibição decorrente do art. 222, d, do CPC. Como regra, a citação

será feita através do oficial de justiça.

Quando o demandado encontrar-se em local ignorado, a citação poderá

ser feita por edital. O que se discute é a possibilidade da citação por hora

certa. A jurisprudência predominante tem negado tal possibilidade, mas na

doutrina são encontrados alguns posicionamentos no sentido de aceitarem

essa modalidade de citação.

Vemos jurisprudências nos dois sentidos: admitindo a citação por hora

certa e outras inadmitindo, conforme podemos observar pela transcrição

abaixo:

2008.002.06915 - AGRAVO DE INSTRUMENTO - 1ª

Ementa

DES. FERNANDO FOCH LEMOS - Julgamento: 14/03/2008 - TERCEIRA CAMARA CIVEL PROCESSUAL CIVIL. Execução por quantia certa contra devedor solvente. Arresto da cota-parte de um dos executados - como os demais, não localizado - sobre determinado imóvel. Frustração da

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citação que deveria ser procedida em seguida, em razão de não ter sido o devedor encontrado pelo oficial de justiça incumbido de citá-lo. Requerimento da exeqüente no sentido de citação com hora certa, o que foi indeferido. Agravo de instrumento contra tal decisão.1. Feito o arresto, se nos dez dias subseqüentes o oficial de justiça procurar em datas distintas o devedor para citá-lo, mas não o encontrar, certificará o ocorrido (CPC, art. 653, parágrafo único), sendo ônus do credor requerer a citação por edital (idem, art. 654). Descabimento da citação com hora certa.2. Recurso manifestamente improcedente ao qual se nega seguimento. INTEIRO TEOR Decisão Monocrática: 14/03/2008

2007.002.11449 - AGRAVO DE INSTRUMENTO - 2ª

Ementa

DES. MILTON FERNANDES DE SOUZA - Julgamento: 10/07/2007 - QUINTA CAMARA CIVEL AGRAVO LEGAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. ÂMBITO. MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA. EXECUÇÃO. TÍTULO. OBRIGAÇÃO. INEXIGIBILIDADE. 1- A doutrina e jurisprudência aceitam a exceção de pré-executividade, embora sem a previsão no ordenamento positivo, como incidente capaz de deter a atividade executiva quando se alega matéria de ordem pública.2- Assim, esse incidente excepciona o sistema que disciplina a execução, os respectivos embargos, e seu âmbito restringe-se à apreciação daquelas matérias imediatamente conhecíveis pelo juiz.3- Nesse aspecto, as normas relativas à citação por hora certa se harmonizam com o processo de execução e subsidiariamente regem o respectivo ato processual que, se regularmente realizado, afigura-se válido e eficaz para autorizar a constrição patrimonial necessária ao seguimento da atividade executiva. INTEIRO TEOR

SESSÃO DE JULGAMENTO: 10/07/2007

Íntegra do Acórdão

Decisão Monocrática: 08/05/2007

Para os doutrinadores Alexandre Freitas Câmara e Figueiredo Teixeira

Assis a citação por hora certa é possível por força do art. 598 do CPC, apesar

a interpretação literal da lei determinar que o oficial de justiça deverá voltar ao

37

endereço do executado por três vezes, a fim de realizar a citação. Após as três

tentativas, e não encontrado o executado, determina o CPC que o demandante

requeira sua citação por edital.

5.2.2. Arresto

Determina o art. 653 do CPC que, não sendo encontrado o executado,

deverá ser realizado o arresto de tantos bens quantos bastem para garantir a

realização do crédito exeqüendo. Este arresto é um ato de apreensão

provisória de bens do executado, destinado a garantir a execução, de natureza

controvertida.

Para alguns doutrinadores este arresto é uma medida cautelar inserida

no processo de execução.

5.3. Pagamento ou Penhora

5.3.1. Pagamento

O executado é citado para que no prazo de três dias pague a dívida da

execução por quantia certa contra devedor solvente. Após o pagamento a

execução será extinta.

Não tendo o executado realizado o pagamento, é necessária a

realização da penhora que será efetivada com a constrição do bem para a

satisfação da execução por quantia certa contra devedor solvente. A seguir

teremos mais minúcias com relação a realização da penhora e seus efeitos no

processo.

5.3.2. Penhora

Para Vicente Greco Filho a “penhora é o ato de apreensão de bens com

finalidade executiva e que dá início ao conjunto de medidas tendentes à

38

expropriação de bens do devedor para pagamento do credor.” (Vicente, 2008,

p.82)

Na definição de Barbosa Moreira a “penhora é o ato pelo qual se

apreendem bens para empregá-los, de maneira direta e indireta, na satisfação

do crédito exeqüendo.” (Moreira, 1997, p.225)

De acordo com a precisa definição este ato de apreensão judicial de

bens garante a satisfação do direito do exeqüendo. Os bens penhorados

podem ser entregues ao exeqüente, passando a integrar seu patrimônio

satisfazendo assim diretamente seu crédito. Quando os bens são

desapropriados e convertidos em dinheiro a satisfação do crédito é indireta

porque o bem primeiro será convertido em dinheiro para somente após ser

entregue ao exeqüente o numerário obtido até o limite de seu crédito.

Existe divergência doutrinária acerca da natureza jurídica da penhora,

há quem entenda ser medida cautelar, para outros é ato executivo, outros

consideram que ela tem natureza de cautelar e executiva ao mesmo tempo.

5.3.3. Efeitos da penhora

O principal efeito da penhora é a vinculação definitiva do bem à

execução. Ocorrendo alienação posterior do bem penhorado torna-se

irrelevante para o processo de execução, prosseguindo-se na expropriação de

bem ainda que em poder de terceiro. O bem não se torna inalienável;

simplesmente sua eventual alienação é ineficaz ou irrelevante para a

execução.

A penhora produz efeitos processuais e materiais. Os processuais são:

a garantia do juízo, a individualização dos bens que suportarão a execução e o

direito de preferência para o exeqüente. Os efeitos materiais são: retirar do

39

executado a posse direta do bem penhorado e tornar ineficazes os atos de

alienação ou oneração do bem apreendido judicialmente.

Faremos aqui um breve resumo sobre cada um dos efeitos processuais

da penhora.

Da garantia do juízo

O intuito da penhora é garantir o juízo para que o processo possa

prosseguir com segurança suficiente para assegurar a realização do direito do

exeqüente. A penhora tem o efeito processual de conservação e preservação

do bem penhorado nas mãos do depositário judicial que ficará com ela até que

seja objeto de expropriação ou até que ocorra fato novo que libere o encargo

sobre o bem.

Da individualização dos bens que suportarão a execução

A expropriação dos bens incidirá sobre os bens apreendidos, e não

sobre o restante dos bens pertencentes ao executado. Todavia, sabe-se que a

responsabilidade patrimonial atinge todos os bens do executado tanto os que

integram o seu patrimônio no momento que se inicia a execução, como

aqueles que venham a ser adquiridos no curso do processo. E ainda os bens

que forem alienados antes de instaurada a execução que comprovadamente

tenha sido realizada mediante fraude.

Do direito de preferência para o exeqüente

Quando num determinado bem recair mais de uma penhora, terá

preferência no recebimento do dinheiro em que aquele bem será convertido, o

exeqüente que em primeiro lugar, tiver realizado a penhora e os outros

receberão sucessivamente.

Retirar do executado a posse direta do bem penhorado

Para que melhor se entenda este efeito é bom que recordar que com a

penhora não se encontra o efeito da perda do domínio do bem, ou seja, o bem

40

penhorado continua integrando o patrimônio do executado. Em regra,

conforme o art. 666, o executado será o depositário dos bens penhorados

podendo ser escolhido um terceiros para esta função. Desta forma, o

depositário terá mera detenção sobre o bem penhorado, ainda que seja ele o

próprio executado, titular do domínio sobre o bem.

Tornar ineficazes os atos de alienação ou oneração do bem apreendido

judicialmente

O executado pode alienar ou instituir ônus sobre os bens penhorados,

porém, este ato será relativamente ineficaz, ou seja, a alienação ou oneração

do bem será incapaz de retirar o bem penhorado do campo de incidência da

responsabilidade patrimonial.

5.3.4. Dos Bens Impenhoráveis

Todos os bens que se encontram no campo de incidência da

responsabilidade patrimonial podem ser penhoráveis. Pode ainda a penhora

recair sobre os bens elencados no art. 592 do Código de Processo Civil.

Porém, há que se atentar com o disposto na parte final do art. 591 do CPC que

se refere aos bens excluídos da responsabilidade patrimonial sendo estes

bens impenhoráveis por força de lei.

Da impenhorabilidade absoluta

O art. 649 do CPC enumera os bens absolutamente incapazes de recair

a penhora. Sobre estes bens a penhora não pode incidir sobre forma alguma

ainda que o executado não disponha de outros meios para pagar o valor da

execução.

I – os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos

à execução.

41

Como um exemplo temos o instituto do bem de família e ainda os bens

dados como doação com cláusula de inalienabilidade ou impenhorabilidade.

II – Os móveis, pertences e utilidades domésticas que guarnecem a

residência do executado, salvo os de elevado valor ou que ultrapassem as

necessidades comuns correspondentes a um médio padrão de vida.

III – Os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do

executado, salvo se de elevado valor.

IV – os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações,

proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as quantias

recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e

sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de

profissional liberal, observando o disposto no § 3 deste artigo;

Esta redação em vigor esclareceu a impenhorabilidade sobre às

aposentadorias e honorários de profissionais liberais. Cabe ressaltar aqui que

o § 3º foi vetado e ele defendia a penhorabilidade de vencimentos e

rendimentos em determinado percentual e acima de certo valor.

V – Os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os

instrumentos ou outros bens móveis necessários ou úteis ao exercício de

qualquer profissão.

Estes bens são impenhoráveis porque garantem a subsistência do

devedor e de sua família. Esta proteção refere-se apenas aos bens ligados

diretamente a atividade profissional do devedor que deverá ser pessoa natural.

Se a atividade se dá no regime de empresa individual ou como pessoa jurídica,

não se aplica este dispositivo.

VI – O seguro de vida.

42

VII – Os materiais necessários para obras em andamento, salvo se

estas forem penhoradas.

Se a obra puder ser objeto de penhora, ela se estenderá aos bens

materiais para a construção.

VIII – A pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que

trabalhada pela família.

IX – Os recursos públicos recebidos por instituições privadas para

aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência social.

X – Até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos, a quantia depositada

em caderneta de poupança.

Esta norma não pode ser estendida a outros meios de aplicações

financeiras, pois todas as outras podem ser penhoráveis.

5.4. Da execução por quantia certa contra devedor solvente fundada em

título judicial

Como bem colocado por Vicente Greco Filho, “Caso o devedor,

condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada em liquidação, não o

efetue no prazo de quinze dias, o montante da condenação será acrescido de

multa no percentual de dez por cento e, a requerimento do credor e observado

o disposto no art. 614, inciso II, desta lei, expedir-se-á mandado de penhora e

avaliação” (Vicente, 2008, p.86), (art.475- J incluído pela Lei n. 11.232, de

2005).

Esta lei trouxe para o nosso ordenamento jurídico um procedimento

para ser usado como regra geral na execução por quantia certa contra devedor

solvente fundada em título judicial. Este procedimento será empregado nos

43

títulos previsto nos incisos I, III, V ou VII do art. 475-N do CPC e terá início a

partir do momento em que a sentença condenatória a pagar dinheiro tornar-se

eficaz.

Após a sentença condenando o devedor em quantia certa e líquida, o

advogado será intimado da sentença (art.236 e 237 CPC), ou na falta deste o

seu representante legal, ou pessoalmente, por mandado ou pelo correio para

que no prazo de quinze dias o devedor pague a condenação; caso ele não

pague será acrescido no décimo sexto dia após da intimação da sentença uma

multa de dez por cento sobre o valor da condenação. A multa de dez por cento

determinada no art. 475-J do CPC é automática, a fim de desestimular a

inadimplência.

Não tendo havido recurso para instância superior e decorrido o prazo

sem o depósito, o credor deverá requerer a penhora de bens do devedor com

o acréscimo de dez por cento. Caso o devedor tenha recorrido e o recurso for

recebido no efeito devolutivo, ao credor compete extrair cópias para requerer a

execução provisória.

A sentença de liquidação, mesmo que seja por simples cálculo deverá

ser liquidada nos termos dos arts. 475-B a 475-H a partir do requerimento do

credor do qual deverá o devedor ser intimado, correndo o prazo para a

incidência da multa da intimação da decisão de fixa o valor do pagamento,

aplicando-se a partir do décimo sexto dia a multa de dez por cento sobre o

valor total do cálculo.

O credor não requerendo a execução no prazo de seis meses contados

da publicação da sentença que não teve recurso, o juiz mandará arquivar os

autos, sem prejuízo de seu posterior desarquivamento a pedido da parte.

No requerimento de execução poderá o exeqüente indicar os bens do

executado aos quais ele deseja que a penhora recaia. Na execução de

sentença não reconhece ao executado a faculdade de nomear bens à

44

penhora. Desconhecendo o credor os bens que compõe o patrimônio o

executado, caberá ao juízo auxiliar o credor na determinação dos bens que

suportarão a penhora.

5.4.1. Da impugnação

A lei nº 11.232/05 criou a impugnação como o meio de defesa do

executado quando a execução for fundada em título executivo judicial, salvo

nos casos da execução contra a Fazenda Pública e da insolvência civil,

quando permanece cabível o oferecimento de embargos do executado

(falaremos sobre estas exceções da lei no tópico referente aos Embargos do

Executado).

Após lavrado o auto de penhora, o devedor será intimado para que no

prazo de 15 (quinze) dias querendo oferecer impugnação. A impugnação para

alguns doutrinadores não é considerada ação, mas sim um incidente

processual da fase executiva do procedimento comum, mediante o qual o

devedor exerce a sua defesa.

Conforme o art. 475-L do CPC, “A impugnação somente poderá versar

sobre:

“I – falta ou nulidade da citação, se o processo correu à revelia;

II – inexigibilidade do título;

III – penhora incorreta ou avaliação errônea;

IV – ilegitimidade das partes;

V – excesso de execução;

VI – qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação,

como pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição,

desde que superveniente a sentença.”

Este rol não é taxativo, porque há outras razões legais que podem

impedir a execução. Desta forma, se o fundamento da impugnação é

45

pertinente e consistente, ela deve ser recebida no efeito suspensivo da

execução.

A impugnação em regra, não terá o efeito suspensivo, porém o juiz pode

atribuí-lo, desde que relevantes seus fundamentos e ainda quando o

prosseguimento da execução puder causar ao executado grave dano de difícil

e incerta reparação.

O ato do juiz que resolve a impugnação é decisão interlocutória,

impugnável por agravo de instrumento. Porém, se ao julgar a impugnação o

juiz determinar a extinção do processo executivo, caso em que se estará diante

de sentença, impugnável por apelação.

5.4.2. Da execução por quantia certa contra devedor solvente

fundada em título extrajudicial

O art. 652 do CPC preceitua que após proposta a execução por título

extrajudicial, o devedor será citado para, no prazo de três dias efetuar o

pagamento da dívida. O pagamento da dívida incluindo honorários

advocatícios fixados pelo juiz extinguirá a execução.

Não efetuando o pagamento, o oficial de justiça procederá de imediato à

penhora de bens, sua avaliação e nesta mesma oportunidade lavrará o auto de

penhora intimando o executado de tais atos. O sistema anterior a esta lei

previa um arresto cautelar se o devedor não fosse localizado e a oportunidade

do devedor indicar os bens para a penhora. Com a inovação da Lei nº

11.382/2006, caso o executado não seja localizado para a intimação da

penhora, o juiz poderá dispensar a intimação ou determinará novas diligências.

Porém, o art. 653 do CPC determina que se o devedor não for encontrado para

a citação, mesmo sem novo despacho judicial, o oficial de justiça arresta-lhe-á

tantos bens quantos bastem para garantir a execução. O § ú do mesmo artigo

informa que nos dez dias seguintes da efetivação do arresto, o oficial de justiça

46

procurará o devedor três vezes em dias distintos e não o localizando certificará

ao juízo o ocorrido. Sendo o devedor intimado do arresto, cabe o credor dentro

de dez dias contados desta intimação, requerer a intimação por edital do

devedor, passando este prazo e não havendo pagamento, o arresto converterá

em penhora.

A ordem de preferência da penhora obedecerá ao art. 655 do CPC.

I – dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição

financeira;

II – veículos de via terrestre;

III – bens móveis em geral;

IV – bens imóveis;

V – navios e aeronaves;

VI – ações e quotas de sociedades empresárias;

VII – percentual do faturamento de empresa devedora;

VIII – pedras e metais preciosos;

IX – títulos da dívida pública da União, Estados e Distrito Federal com

cotação em mercado;

XI – outros direitos

Esta ordem expressa pelo art. 655 do CPC tem por finalidade facilitar a

execução, dando preferência aos bens de mais fácil conversão em dinheiro, o

que atua em favor da efetividade da execução. Porém, tem-se a necessidade

de atentar para a menor onerosidade do devedor se a sua falta de iniciativa

não prejudicar ou dificultar a efetivação do título. O executado pode pedir a

substituição do bem penhorado e o juiz irá analisar neste caso o princípio da

menor onerosidade e efetividade.

O código no seu art. 655-A dispõe sobre a possibilidade de ser realizada

a penhora on line. É uma das mais recentes inovações que possibilita ao

exeqüente obter uma maneira mais célere e efetiva de ver realizada a

satisfação da execução. A penhora on line acontece a requerimento do

47

exeqüente e o juiz solicita por meio eletrônico ao Banco Central, supervisora

do sistema bancário brasileiro; que seja expedido ofício aos bancos com

informações pessoais do executado, solicitando o bloqueio do valor indicado

na execução. Este valor quando encontrado em alguma das contas correntes

existentes em nome do executado, o bloqueio é realizado para a garantia do

cumprimento da execução. Cabe ao executado comprovar que o valor

bloqueado refere-se à hipótese de impenhorabilidade para que o juízo

determine seu desbloqueio.

Temos também a possibilidade da penhora ser realizada sobre o

percentual de faturamento, quando a parte executada é uma empresa. Neste

caso, será nomeado depositário, com a atribuição de submeter-se à aprovação

judicial a forma de efetivação, bem como de prestar contas mensalmente,

entregando ao exeqüente as quantias recebidas, a fim de serem imputadas no

pagamento da dívida.

Com relação ao direito de meação do bem indivisível, o cônjuge poderá

através de embargos de terceiro pleitear a separação da sua meação. Se os

embargos forem julgados procedentes ele terá direito a meação do produto de

arrematação.

5.4.3. Embargos do executado

Nos Embargos do executado fundado em título extrajudicial pode o

devedor alegar todas as matérias relevantes em direito, além das relacionadas

no art 741, e que poderiam ser apresentadas no processo de conhecimento

(art.745, V).

Os Embargos do Executado tem natureza jurídica de processo de

conhecimento autônomo em relação à execução. Podendo ser definido como

processo de conhecimento, autônomo em relação ao processo executivo

48

fundado em título extrajudicial, embora a ele ligado por uma relação de

prejudicialidade.

Os Embargos do Executado deverá serão ser apreciado pelo juízo antes

do desfecho do processo executivo, pois através dele o processo de execução

poderá ser declarado extinto ou ainda diminuir o excesso na execução. Um dos

elementos desta demanda cognitiva é ter um pedido imediato consistente na

postulação de uma sentença de mérito.

Embora os Embargos do Executado seja uma demanda incidente à

execução fundada em título extrajudicial, há no nosso código duas exceções

referentes à execução fundada em título judicial em que o executado pode

oferecer embargos: a execução contra a Fazenda Pública (art. 741) e a

execução por quantia certa contra devedor insolvente.

Nos termos do art. 738 do CPC “os embargos serão oferecidos no prazo

de 15 (quinze) dias, contados da juntada aos autos do mandado de citação”,

isto torna um requisito específico para o ajuizamento desta demanda.

No caso dos Embargos serem opostos pela Fazenda Pública o prazo é

alterado para 30 (trinta) dias.

Se a citação ocorrer por carta precatória o juízo deprecado informará ao

juízo deprecante que a citação foi realizada e o prazo neste caso começa a

contar da juntada do mandado aos autos da execução.

A competência para apreciar os Embargos do Executado é do mesmo

juízo da execução. Os embargos poderão ser opostos tanto no juízo

deprecante como no deprecado, mas o juízo deprecado só poderá apreciar

embargos do executado que versem exclusivamente sobre vícios da penhora,

avaliação e expropriação de bens. Todos os outros demais casos, competente

para os embargos do executado será o juízo deprecante.

49

Com relação a legitimidade das partes é legitimado ativo o executado e

passivo o exeqüente. O que se tem de divergente na doutrina com relação a

legitimidade está quando no processo de execução temos um litisconsórcio

passivo. Neste caso, se a penhora ocorresse em relação ao bem de um

executado; somente ele ou todos os outros executados teriam legitimidade

para opor os Embargos do executado.

Para alguns doutrinadores só o executado que teve seus bens

penhorados é que teria legitimidade para ajuizar os embargos do executado

porque só ele estaria sendo executado. Outros, porém, entende que todos os

litisconsortes passivos podem opor os embargos isso porque a penhora tem

por finalidade a garantia do juízo, razão pela qual deve ela ser feita sobre bens

que bastem para assegurar a satisfação do crédito exeqüendo.

A partir da entrada em vigor da lei 11.382/2006 todos os litisconsortes

passivos na execução podem após a citação oferecer seus embargos. Isso fez

com que a prévia garantia do juízo deixasse de ser requisito para oferecimento

dos embargos do executado e toda essa controvérsia perdeu sentido.

Recebidos os embargos do executado, será o embargado citado para

oferecer sua impugnação, no prazo de quinze dias, com efeito, de contestação.

Na ausência de impugnação aos embargos implica revelia, presumindo

verdadeiros os fatos alegados em sua petição inicial. Contra a sentença dos

embargos cabe apelação.

5.4.4. Exceção de Pré-Executividade

A exceção de pré-executividade é mais um recurso utilizado na fase de

execução onde só tínhamos os Embargos do devedor e a impugnação. É um

meio de defesa de que o executado pode utilizar alegando qualquer matéria de

50

ordem pública, ligada à admissibilidade da execução, e que poderia ser

conhecida de ofício pelo juiz da execução.

Através da exceção de pré-executividade pode ser alegada alguma das

condições da ação (a falta de liquidez da obrigação ou a inadequação do meio

escolhido para obtenção da tutela jurisdicional executiva, legitimidade das

partes, a possibilidade jurídica da demanda, capacidade processual e

irregularidade formal da demanda executiva).

A exceção de pré-executividade permite ao executado, dentro do próprio

módulo processual de execução, sem necessidade de opor embargos ou

impugnação, apresentar alegação em defesa, restritas tais alegações às

matérias que podem ser conhecidas de ofício, por dizerem respeito à

admissibilidade da tutela jurisdicional executiva.

A exceção pode ser apresentada a qualquer tempo, ao longo do

processo de execução, já que versa matérias de ordem pública, a cujo respeito

não se opera a preclusão.

51

CONCLUSÃO

A redação deste trabalho procurou de forma simplificada expor os

entendimentos mais diversos e recentes sobre a introdução da Lei

11.232/2005.

O código de processo civil teve alterações significativas no que tange a

execução de sentença e a execução de títulos extrajudiciais. Tentamos

propiciar ao leitor do trabalho uma visão geral das mudanças ocorridas em

relação à Execução por Quantia Certa contra Devedor Solvente.

Doutrinadores renomados com os mais conflitantes entendimentos

enriquecem o nosso horizonte ao interpretar a lei. Com isso o trabalho

alcançou o objetivo de expor as alterações do Código de Processo Civil com

relação ao processo de execução e seus meios mais eficazes de satisfazer o

direito do exeqüente.

52

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ALVIM, J.E.Carreira. Alterações do Código de Processo Civil, 3ª. Edição, RJ: Editora Impetus, 2006.

ASSIS, Araken. Manual do Processo de Execução, 5ª. Edição, SP: Editora RT, 1998.

CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil, Volume 2,15ª edição RJ: Editora Lúmen Juris, 2008.

DINAMARCO, Cândido Rangel. Execução Civil, 5ª edição SP: Editora Malheiros, 1997.

FILHO, Vicente Greco. Direito Processual Civil Brasileiro, Volume 3, 19ª edição SP: Editora Saraiva, 2008.

GRINOVER, Ada Pellegrini e outros. Teoria geral do Processo, 23ª edição, SP: Editora Malheiros, 2007.

MEDINA, José Miguel Garcia. Execução Civil – teoria geral e aspectos fundamentais, 2ª. Edição, SP: Editora RT, 2004.

MOREIRA, José Carlos Barbosa. O Novo Processo Civil Brasileiro, 19ª ed., Rio de Janeiro: Editora Forense, 1997.

NEVES, Celso. Da Arrematação de real a real, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1958.

NERY JUNIOR, Nelson. Princípios do Processo Civil na Constituição Federal, 6ª ed., São Paulo: Editora RT, 2000.

WAMBIER, Teresa Arruda Alvim e outros. Processo de Execução – Série Processo de Execução e Assuntos Afins - v. 2, 1ª. Edição, SP: Editora RT, 2001.

Vade Mecum. Legislação Brasileira, 4ª edição, Editora Saraiva, 2007.

ZAVASCKI, Teori Albino. Comentários ao Código de Processo Civil, Volume 8, SP: Editora RT, 2000.

53

ÍNDICE

2

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I - Parte Histórica 10

CAPÍTULO II – Princípios informativos da Fase Executiva 12

CAPÍTULO III – Pressupostos da execução e do cumprimento de sentença

16

3.1 – Das partes

16

3.2 – Da competência

17

3.3 – Inadimplemento do devedor

18

CAPÍTULO IV – Do título executivo 19

4.1 – Conceito 19

4.2 – Função do título executivo

21

4.4 – Dos títulos executivos extrajudiciais

25

CAPÍTULO V – Da execução por quantia certa contra devedor solvente

34

5.3 – Pagamento ou penhora 37

5.1 – Da execução provisória e da definitiva

34

5.2 – Citação e arresto

35

5.2.1 – Citação 35

5.2.2 – Arresto 37

5.3.1 – Pagamento 37

4.4 – Dos títulos executivos extrajudiciais

21

54

5.3.3 – Efeitos da Penhora 38

5.3.4 – Dos bens impenhoráveis 40

5.4 – Da execução por quantia certa contra devedor solvente

fundada em título judicial

42

5.4.1 – Da impugnação 44

5.4.2 – Da execução por quantia certa contra devedor solvente fundada em título extrajudicial

45

5.4.3 – Embargos da execução 47

5.4.4 – Exceção de pré-executividade 49

CONCLUSÃO 51

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 52

ÍNDICE 53

5.3.2 – Penhora 37

55

FOLHA DE AVALIAÇÃO

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