Upload
others
View
3
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
AS FAMÍLIAS COM TRANSTORNO MENTAL, FRENTE À REFORMA
PSIQUIÁTRICA
Por: QUITÉRIA FERREIRA DE ALMEIDA TOZATO
Orientador
Profª. FABIANE MUNIZ
Rio de Janeiro
2011
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
AS FAMÍLIAS COM TRANSTORNO MENTAL, FRENTE À REFORMA
PSIQUIÁTRICA
Apresentação de monografia à Universidade Cândido
Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de
especialista em Terapia de Família.
Por: Quitéria Ferreira de Almeida Tozato.
3
AGRADECIMENTOS
....aos amigos e parentes, em especial a
toda a minha família, e aos professores
desta Universidade.
4
DEDICATÓRIA
....Dedico em memória a minha mãe Antônia
Modesto Ferreira, minha querida sogra
Angelina Tozato, meu querido e sempre
presente cônjuge Carlos Alberto Tozato e
minhas filhas Andréia Tozato e Thais Tozato
que são os grandes amores da minha vida.......
5
RESUMO
A presente pesquisa, irá analisar como se dá a vida das famílias dos
pacientes que tem transtorno mental e o apoio junto aos seus familiares.
Analisar se a sociedade está preparada para atender esta demanda, que vem
crescendo a cada dia, de forma assustadora, sem a devida assistência das políticas
públicas voltadas para os pacientes com transtornos mentais.
Verificar como se deu a reforma psiquiátrica em nosso país, e como a nossa
sociedade tem aceitado estes pacientes, bem como, analisar se a sociedade tem
condições de ressocializar e integrar os pacientes com transtorno mental.
Apresentar o papel fundamental do Estado, e se o mesmo realiza políticas públicas
para esta demanda, que vive na sua maioria à margem da sociedade.
Nossa Sociedade não está preparada para o desafio de acolher e cuidar das
pessoas que adoecem mentalmente. Essas famílias de deparam no universo de
preconceitos, se faz necessário urgentemente de um trabalho de aproximar essas
famílias na sociedade com um trabalho de inclusão/transformação social, para que
dessa forma de diminua a dor e o sofrimento dessas famílias.
6
METODOLOGIA
Os métodos utilizados para a pesquisa bibliográfica; entrevista com pacientes da
Clínica Vilar dos Telles e vários livros conforme a referência bibliográfica
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.................................................................................... 08
CAPÍTULO I - UMA ANÁLISE DA REFORMA
PSIQUIÁTRICA E DA DESISTITUCIONALIZAÇÃO NO BRASIL ........... . .09
1.1. A história da Reforma Psiquiátrica ................................................... 09
1.2. Desinstitucionalização Psiquiátrica................................................... 17
1.3. Família x Direitos: Uma interface necessária.................................... 22
1.4. Aspectos relevantes sobre o Benefício da Prestação Continuada -
BPC.......................................................................................................24
CAPÍTULO II - A DOENÇA MENTAL E A LUTA
PELA SOBREVIVÊNCIA EM FAMÍLIA VULNERÁVEIS..............................29
2.1. A doença mental e a luta pela sobrevivência
em família vulneráveis............................................................................32
3. CONSIDERAÇÃO FINAIS.......................................................................40
4. ANEXOS..................................................................................................42
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................44
6. ÍNDICE.....................................................................................................45
8
INTRODUÇÃO
No Brasil, a reforma psiquiátrica foi um processo que surgiu mais concreta e
principalmente a partir da conjuntura da redemocratização, em fins da década de
1970, fundado não apenas na crítica conjuntural ao subsistema nacional da saúde
mental, mas, também e principalmente, na crítica estrutural ao saber e às
instituições psiquiátricas clássicas, no bojo de toda a movimentação político-social
que caracteriza essa conjuntura de redemocratização.
Tinha como objetivo questionar o asilo psiquiátrico como forma única de tratar
o louco. Tal questionamento partiu da própria comunidade científica diante do
caráter excludente e violento como o louco era "tratado". A proposta era suscitar
discussões, idéias e reformulações: fazer com que todos os setores da sociedade
pudessem ter uma visão crítica diante de um tratamento que exclui e segrega, que
era organizado em função da periculosidade. A noção de periculosidade era gerida
pelo saber científico da psiquiatria.
A internação psiquiátrica era uma custódia, o que significa que o louco era
destituído de desejos, emoções, voz, enfim, de sua cidadania. Perdia sua condição
de sujeito e não conseguia a sua recuperação.
Este movimento propunha uma transformação da instituição psiquiátrica, mas
percebeu que para isso não bastava modificar o pensamento da saber médico no
interior do manicômio, e sim desmontar toda uma rede de psiquiatrização que havia
fora dele. O saber e a prática psiquiátrica entraram em crise.
Aponta-se para uma reforma além dos muros, para uma reforma social,
cultural, ideológica e política.
Este movimento está longe de terminar, de ser concluído, pois toda e
qualquer mudança ideológica leva tempo. Se faz necessário que os sujeitos
portadores deste sofrimento possam ser ouvidos, cuidados e reconhecidos como
cidadãos, para que haja uma efetiva ressocialização e assim possa contribuir de fato
com a inclusão social.
9
CAPÍTULO I
1 - UMA ANÁLISE DA REFORMA PSIQUIÁTRICA E DA DESISTITUCIONALIZAÇÃO NO BRASIL 1.1 - A HISTÓRIA DA REFORMA PSIQUIÁTRICA
A psiquiatria preventiva, na sua versão contemporânea, nasce dos Estados
unidos, propondo-se a ser a terceira revolução psiquiátrica (após Pinel e Freud),
pelo fato de ter ‘descoberto’ a estratégia de intervir nas causas ou no surgimento
das doenças mentais, almejando, assim, não apenas a prevenção das mesmas,
mas, e fundamentalmente, a promoção da saúde mental.
Em 1955, nos Estados unidos, é realizado um censo que denuncia as
péssimas condições da assistência psiquiátrica, apontando para a necessidade de
medidas saneadoras urgentes. No Congresso, o discurso do presidente Kennedy,
em fevereiro de 1963, e o livro de Gerald Caplan, Princípios de Psiquiatria
Preventiva (1980) são os indicadores desta mudança de objeto da prática
psiquiátrica. O decreto assinado por Kennedy direciona os objetivos da psiquiatria,
que, de agora em diante, incluirá como objetivo a redução da doença mental nas
comunidades (Veras et at., 1976;1977)
As taxas de incidência dos distúrbios mentais continuavam a crescer em
progressão geométrica, as cronificações se mantinham e os custos que isto
acarretava às famílias e ao Estado cresciam em igual velocidade.
Necessário mudar os métodos, as estratégias e os espaços das novas
intervenções. (Birman & Costa, 1994:53)
10
O termo ‘reforma’ não se deu no sentido estrito do termo, mas sim na medida
em que deram início a processos de rompimentos com o paradigma psiquiátrico
tradicional.
Inconformado com o modelo tradicional de atendimento à saúde Mental
Franco Basaglia (1985) protagonizou a reforma psiquiátrica sugerindo que
Uma vez acionado o processo de transformação institucional, damo-nos
conta de quanto é contraditória a existência de uma instituição que nega a
própria institucionalidade no seio de nosso sistema social, e cuja dinâmica
tende a absorver qualquer movimento que poderia alterar o equilíbrio geral
(...) nossa situação não tem outra saída senão continuar sendo contraditória:
a instituição é concomitantemente negada e gerida; a doença é
simultaneamente posta entre parêntese e curada; a ação terapêutica é ao
mesmo tempo refutada e executada.
Conquanto a proposta de Basaglia date dos anos 80, A experiência italiana
começou no início dos anos 60, em Gorizia, uma pequena cidade ao norte de Itália.
Franco Basaglia, acompanhado de Antonio Slavich e outros jovens psiquiatras, se
propôs a reformar o hospital psiquiátrico ali existente.
Comentando a proposta de Basaglia, Giuseppe Dell`Acqua, coordenador de
Saúde Mental de Trieste, relata que Basaglia ao entrar pela primeira vez em um
hospital foi como se houvesse recebido um choque. Sua impressão foi a de estar
entrando em uma prisão, ou melhor, em um campo de concentração. Teria vindo à
sua mente, diz Dell´Acqua, uma fábula que ouviu quando estivera preso na ditadura
de Belnito Mussolini. A fábula fala de uma serpente que entrou pela boca de um
homem enquanto este dormia e se alojou em seu estômago. E daí passou a
comandar a sua vida, seus desejos, seu destino. Para Basaglia a serpente seria a
própria instituição psiquiátrica, seus processos de mortificação e des-historicização.
A insistência de Basaglia em imprimir um novo rumo à questão da saúde
mental, fundamentou-se, principalmente, a partir do contato com as obras de Michel
Foucault e Erving Goffman que questionavam o modo vigente de atendimento à
saúde mental. Basaglia percebeu que o combate deveria ser de outra forma: teve
início o período de negação da psiquiatria enquanto ideologia. Franco Basaglia
11
passou a formular um pensamento e uma prática institucional absolutamente
originais, voltadas para a idéia de superação do aparato manicomial, entendido não
apenas como estrutura física do hospício, mas como o conjunto de saberes e
práticas, científicas, sociais, legislativas e jurídicas, que fundamentam a existência
de um lugar de isolamento e segregação e patologização da experiência humana.
Muitas foram às experiências no sentido de se pensar uma outra modalidade
de atendimento. Destaca-se a experiência de Gorizia que deu origem ao trabalho A
Instituição Negada, sob a coordenação de Basaglia, com a participação de muitos
atores do processo, contendo todos os debates, os princípios e as estratégias da
nova etapa das reformas psiquiátricas, cuja base será a desconstrução do
manicômio.
No início dos anos 70, Basaglia com grande parte da equipe que atuou em
Gorizia, iniciou um trabalho no hospital psiquiátrico de Trieste, uma cidade de médio
porte, também situada ao norte da Itália. Lá teve início a mais rica e original
experiência de transformação radical da psiquiatria contemporânea que inspira
muitas experiências por todo o mundo.
As duas grandes Guerras Mundiais fizeram com que a sociedade passasse a
refletir sobre a natureza humana, tanto sobre a crueldade quanto sobre a
solidariedade, existentes entre os homens e foram criando assim condições de
possibilidade histórica para outro período das transformações psiquiátricas. Após a
Segunda Guerra, a sociedade dirigiu seus olhares para os hospícios e descobriu
que as condições de vida oferecidas aos pacientes psiquiátricos ali internados em
nada se diferenciavam daquelas dos campos de concentração: o que se podia
constatar era a absoluta ausência de dignidade humana! Assim nasceram as
primeiras experiências de ‘reformas psiquiátricas’.
Inclusive no Brasil, a partir da 2ª Guerra Mundial, surgem tentativas de
oferecer às pessoas com transtornos mentais graves, tratamentos que superassem
os limites encontrados na assistência tradicional. Desde a inauguração do Hospício
de Alienados Pedro II, no Rio de Janeiro, e ao longo do século até os anos
sessenta, a assistência psiquiátrica brasileira caracterizou-se por ser eminentemente
hospitalocêntrica e pública e, de maneira geral, a qualidade da assistência prestada
pelos hospitais nunca tenha sido exemplar, nos anos cinqüenta e sessenta. No
início do século XX com o surgimento do capitalismo ocorreram mudanças no
12
quadro político, econômico e social do país. A partir de 1912, até a década de 20, a
psiquiatria torna-se especialidade médica sendo constatado um aumento importante
do número de estabelecimentos destinados aos loucos. Este foi o período de
construção das colônias agrícolas, a colônia do Engenho de Dentro, e em 1923 a
Colônia de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Na Paraíba, surgiu em 1928 o Hospital
Colônia Juliano Moreira, e em 1929 o Manicômio Judiciário Barbacena em Minas
Gerais.
Será a referência fundamental do processo que virá a ser implantado na
cidade de Santos (SP), na virada dos anos 80 para os 90, que se tornou o eixo da
mais importante face do processo de reforma psiquiátrica brasileira.
É salutar identificar que em Trieste, simultaneamente ao fechamento dos
pavilhões ou enfermarias psiquiátricas, foram sendo criados vários outros serviços e
dispositivos substitutivos ao modelo manicomial. A expressão serviços substitutivos
passou a ser adotada no sentido de caracterizar o conjunto de estratégias que
vislumbrassem, efetivamente, tomar o lugar das instituições psiquiátricas clássicas,
e não serem apenas paralelos, simultâneos ou alternativos às mesmas. (Giuseppe
Dell’Acqua)1
Quanto ao processo de fechamento do hospital, como ocorreu em Gorizia,
foram muito importantes as influências da Comunidade Terapêutica e da
Psicoterapia Institucional. Mas Franco Basaglia não as toma como fim em si, como o
objetivo último a ser alcançado, mas como estratégias provisórias e intermediárias
de desmontagem da estrutura manicomial. As assembléias, os clubes de internos, a
mobilização dos atores sociais, dentre os quais, pacientes, familiares, técnicos etc.,
não serviriam a outro fim que não o de construir as bases. As possibilidades, o
entendimento de que seria possível superar a instituição da clausura.
Os primeiros serviços substitutivos foram os centros de saúde mental (CSM),
todos regionalizados, isto é, distribuídos criteriosamente pelas várias regiões da
cidade. No que diz respeito à implantação dos CSM, seria possível constatar a
influência do setor francês, ou da saúde mental comunitária americana. Mas, ao
contrário destas, os centros triestinos não funcionavam em mão dupla. Ou sejam
não eram serviços que davam continuidade ao tratamento após a alta hospitalar e
1 Giuseppe Dell’Acqua – Coordenador de Saúde Mental de Trieste do norte da Itália.
13
que reinternavam os pacientes no manicômio quando as situações eram
consideradas graves, e justificada a impossibilidade do tratamento em regime
externo. A partir do conceito e ‘tomada de responsabilidade’, os CSM passavam a
assumir a integralidade das questões relativas ao cuidado no campo da saúde
mental de cada território. Assim, mais do que centros regionalizados, eram centros
de base territorial. Em outras palavras, centros que, atuando no território e
reconstruindo as formas como as sociedades lidam com as pessoas com sofrimento
mental, passariam a restabelecer o lugar social da loucura que, tradicionalmente,
desde Pinel, estava relacionada ao erro, à periculosidade, à insensatez, à
incapacidade.
Outras estratégias diziam respeito às possibilidades reais de inclusão social,
seja através da criação de cooperativas de trabalho ou da construção de residências
para que os ex-internos do hospital passassem a habitar a própria cidade, seja
através da invenção de inúmeras formas de participação e produção social (grupos
musicais e de teatro, produtora de vídeo, oficinas de trabalho, dentre muitas outras).
Franco Basaglia, em um de seus últimos escritos, confessou que se algum
dia a história desta experiência fosse relatada, ele preferia que não fosse por meio
de datas, números de atos legislativos ou portarias de serviços, mas pela história
das vidas que foram reinventadas, reconstruídas, redescobertas a partir deste
processo de transformação.
Franco Rotelli, que substituiu Basaglia após seu falecimento em 1980,
observa que a proposta italiana rompeu com as experiências anteriores
principalmente no que diz respeito ao entendimento de desinstitucionalização,
adotado como sinônimo de mera desospitalização na Psiquiatria Preventiva e em
outras que nela se inspiraram, e como desconstrução do paradigma racionalista
problema-solução no processo italiano.
Teve como inspiração os fundamentos de Basaglia, e ampara-se nos
pressupostos da "desinstitucionalização" que, segundo ROTELLI (1990) é um
processo que tem como palavra-chave o conceito de desconstrução, não só dos
manicômios, como também dos saberes e das estratégias, todos referidos ao objeto
abstrato, ou seja, à "doença”.
14
Foram muitas as experiências de reformas que aconteceram em vários
países. Algumas, no entanto, foram mais marcantes por sua inovação e impacto, a
ponto de serem reconhecidas ainda hoje e de permanecerem influenciando as
experiências contemporâneas.
São estes os grupos que foram divididos em ‘dois grupos’. O primeiro grupo,
composto pela Comunidade Terapêutica e pela Psicoterapia Institucional, destaca
duas experiências que investiram no princípio de que o fracasso estava na forma de
gestão do próprio hospital e que a solução, portanto, seria introduzir mudanças na
instituição. O segundo grupo é formado pela Psiquiatria de Setor e a Psiquiatria
Preventiva, experiências que acreditavam que o modelo hospitalar estava esgotado,
e que o mesmo deveria ser desmontado “pelas beiradas” como se diz na linguagem
popular, isto é, deveria ser tornado obsoleto a partir da construção de serviços
assistenciais que iriam qualificando o cuidado terapêutico (hospitais-dia-, oficinas
terapêuticas, centros de saúde mental etc.)
Portanto, a Comunidade Terapêutica e a Psicoterapia Institucional tinham em
comum a convicção de que seria possível qualificar a psiquiatria a partir da
introdução de mudanças no hospital psiquiátrico, de tal formar que o mesmo se
tornasse a instituição efetivamente terapêutica almejada por Esquirol.
No período pós-guerra, eram bastante comoventes os dados psicológicos,
sociais e físicos sofridos pelos jovens soldados ingleses. Muitos destes eram
internados em hospitais para tratamento de seus problemas emocionais. Esta
situação acarretava dois problemas: uma quantidade excessiva de pessoas que
necessitavam de cuidados e, em contrapartida, uma oferta muito escassa de
profissionais para atendê-las; excesso de pacientes e precariedade de recursos num
contexto de grande necessidade de recuperação da mão-de-obra para o projeto de
reconstrução nacional. Finda a guerra, os jovens deveriam passar de soldados a
trabalhadores, e para tanto deveriam ser tratados de suas enfermidades.
Surgem então, outras propostas inovadoras. O Monthfield Hospital
(Birmingham, Inglaterra), sob a orientação de Main, Bion Reichman, encontra uma
saída muito original e criativa: passa a utilizar o potencial dos próprios pacientes no
tratamento. Organizam reuniões em que discutiam as dificuldades, os projetos, os
planos de cada um; realizava assembléias com duzentos ou mais pacientes,
15
elaborava propostas de trabalho em que todos (pacientes e funcionários) pudessem
estar envolvidos etc.
A experiência ficou ainda mais conhecida com Maxwell Jones, a partir de
1959, ao imprimir maior sistematização e maior dinâmica. Jones passou a organizar
‘grupos de discussão’ e ‘grupos operativos’, envolvendo ainda mais os internos em
seus tratamentos, chamando-os a participar ativamente de todas as atividades
disponíveis. Ele entendia que a função terapêutica era uma terá que deveria ser
assumida por todos, fossem os técnicos, fossem os familiares, fossem os pacientes.
Para tanto, introduziu reuniões e assembléias diárias, quando todos os aspectos
relacionados à instituição eram debatidos. Todas as possibilidades eram analisadas,
com ênfase para a ação da equipe, com o objetivo de evitar situações de abandono,
de descuido e, principalmente, de violência.
A partir de então, concebeu-se Comunidade Terapêutica como um processo
de reformas institucionais que continham em si mesmas uma luta contra a
hierarquização ou verticalidade dos papéis sociais, ou enfim, um processo de
horizontalidade e ‘democratização’ das relações, nas palavras do próprio Maxwell
Jones, que imprimia em todos os atores sociais uma verve terapêutica. Neste
sentido, Jones entende que
A ênfase na comunicação livre entre equipe e grupos de pacientes e nas
atitudes permissivas que Encorajam a expressão de sentimentos implica
numa organização social democrática, igualitária, e não numa organização
social do tipo hierárquico tradicional. (Maxwell Jones (1978:89)
Desde a década de 1980, quando houve início das manifestações que
impulsionaram a Reforma Psiquiátrica na Itália, aconteceu uma ampliação
significativa da função da família no que tange ao papel de co-participante do
processo de tratar e reabilitar as pessoas mentalmente enfermas.
Porém, olham de um lugar do qual percebem a ocorrência de uma mudança
radical, "da exclusão inicial da família no setting tradicional" às propostas de
inclusão e participação ativas reivindicadas pelos profissionais no modelo da
16
Reforma como um processo a ser construído no cotidiano com vistas a melhorar a
qualidade da vida de ambos: usuários e familiares. (Autoras: SILVA et al. (1998))
Portanto, Rotelli (1990) considera que o mal obscuro da psiquiatria está em
haver separado um objeto fictício, ‘a doença’, da existência global, complexa e
concreta dos sujeitos e do corpo social. E é sobre esta separação artificial que se
construiu o conjunto de aparatos científicos, legislativos, administrativos
(precisamente, a ‘instituição’), todos referidos à ‘doença’.
A operação denominada de desconstrução seria, então, a desmontagem
deste conjunto de aparatos para poder restabelecer uma relação com os sujeitos em
sofrimento. Rotelli nos propõe ‘uma outra via’, ao considerar ser este um processo
social complexo, que procura acionar os atores sociais diretamente envolvidos; que
compreende que a transformação deva transcender à simples reorganização do
modelo assistencial e alcançar as práticas e concepções sociais.
17
1.2 – DESINSTITUCIONALIZAÇÃO PSIQUIÁTRICA
A discussão da desinstitucionalização psiquiátrica no Brasil começou a partir
da década de 70, propondo-se a mudança do tratamento psiquiátrico, baseado na
internação hospitalar para alternativas de atendimento na comunidade
(Dalgalarrondo & Gattaz, 1992; Menezes & Mann, 1996).
Contudo, essa política não foi implementada, conforme relata o autor
Amarante (1995) em 19 de julho 1973, a Ordem de Serviço (SAM 304.3) aprova o
Manual de Serviços para Assistência Psiquiátrica do antigo INPS, esta OS
reorientava a assistência psiquiátrica do INAMPS, dava maior ênfase à assistência
extra-hospitalar, à readaptação do doente e à equipe multidisciplinar, e em 1974 foi
lançada a terceira versão foi denominada Manual de Assistência Psiquiátrica do
INPS. Na prática, estes manuais têm uma forte influência no pensamento crítico
nacional, assim como na formação do campo ideológico público em saúde mental.
A razão da não implementação fora que os recursos da Previdência Social
são destinados prioritariamente à compra de serviços privados (fundamentalmente
hospitalares), e estes, por sua força política, não acatam as instruções normativas
do INPS. Por outro lado, os investimentos nos serviços públicos não são
significativos e a rede própria não tem como desenvolver uma ‘política autônoma’.
Apesar das boas iniciativas previdenciárias de estabelecer um programa de
psiquiatria preventiva, a Previdência Social é absolutamente dominada pela iniciativa
privada, que não permite o avanço de programas considerados não-hospitalizantes.
De fato, o que aconteceu foi uma diminuição mais acelerada dos leitos psiquiátricos públicos em comparação com os privados, não havendo uma correspondente implantação de serviços alternativos na comunidade e nem um aumento significativo de unidades psiquiátricas em hospitais gerais para suprir a demanda. (Botega & Schetchman, 1997; Lima & Teixeira, 1995)
18
Os pacientes dos hospitais públicos não passaram a ser atendidos, nos
centros comunitários e sim transferidos para clínicas conveniadas, num processo de
transinstitucionalização.
Houve, na década de 70, um aumento de internações por neuroses,
sobretudo na rede contratada, através de um incremento no financiamento de
convênios firmados pelo INPS com clínicas privadas (Andrade, 1992). Atualmente, a
grande maioria dos leitos psiquiátricos, tanto do Brasil como do estado do Rio de
Janeiro, são privados e filantrópico (Ministério da Saúde, 1997).
Estabeleceu-se, então, uma hierarquização perversa dos serviços: o
ambulatório atende aos problemas sociais; o hospital contratado, interna pacientes
que deveriam ser atendidos nos ambulatórios; o hospital público assume um papel
custodial (Morgado & Coutinho, 1986).
A leitura que se tem é que O Brasil tinha, em 1941, 21.079 leitos
psiquiátricos públicos e 3.034 privados. A partir da década de 70, o número dos
leitos privados passou a ter um crescimento acelerado, enquanto acontecia uma
redução dos leitos públicos. Em 1998, o quadro se inverte em relação ao de 1941,
havendo um número muito maior de leitos privados em comparação com os leitos
públicos.
Outro dado de extrema importância para a avaliação da assistência
psiquiátrica no País é a taxa de leitos psiquiátricos por /1.000 habitantes. Em 1941,
essa era de 0,58, atingindo o pico de 0,88, em 1984. Atualmente, a taxa é de 0,44,
havendo algumas regiões do Brasil, como na Região Norte, onde essa taxa tem um
valor muito pequeno, sendo em torno de 0,05. Nos últimos dez anos, houve uma
diminuição de 32% dos leitos psiquiátricos, em geral, no Brasil.
Essa diminuição dos leitos psiquiátricos não foi acompanhada pela
construção suficiente de centros alternativos para o tratamento de indivíduos com
problemas mentais. Nos países desenvolvidos, o principal serviço criado para tratar
os pacientes na comunidade foi a instalação de Unidades Psiquiátricas em Hospitais
Gerais (UPHG). O Brasil tinha 60 dessas unidades, em 1994, sendo 36 delas em
hospitais públicos e 24 em hospitais contratados. Nos últimos cinco anos, o
percentual de UPHGs em relação ao total de leitos psiquiátricos se manteve
constante em torno de 2,9%, enquanto nesse mesmo período houve uma
diminuição de 10% dos leitos psiquiátricos.
19
Uma outra alternativa que vem sendo desenvolvida no Brasil, a partir de 1987
para o tratamento na comunidade, são o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) e
o Núcleo de Atenção Psicossocial (NAPS).
“Eles eram 234 unidades em todo o País, em 1998, tendo um aumento de 35% em quatro anos, sendo o seu número ainda muito insignificante para suprir toda a demanda dos pacientes crônicos e daqueles novos que necessitam de tratamento” (Lima, 1999).
.
Sob o aspecto legal, A lei 10.216, conhecida como a Lei da Reforma
Psiquiátrica no Brasil, em vigência desde abril de 2001, dispõe sobre a proteção e
os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo
de atenção na Saúde Mental nos país. Em meio a uma série de reformas políticas,
econômicas, sociais e culturais, no rastro do processo de redemocratização
ocorridos nos anos 80, onde a saúde destaca-se como um dos vértices da
Seguridade Social, foi constituído novo paradigma que visa a reabilitação e a
reintegração psicossocial do indivíduo adoecido mentalmente.
Teve como inspiração os fundamentos de Basaglia, e ampara-se nos
pressupostos da "desinstitucionalização" que, segundo ROTELLI (1990)
é um processo que tem como palavra-chave o conceito de desconstrução, não só dos manicômios, como também dos saberes e das estratégias, todos referidos ao objeto abstrato, ou seja, à "doença". Transformam-se os modos como as pessoas são tratadas, e o objeto deixa de ser a doença e passa ser a existência - sofrimento do indivíduo e sua relação com o corpo social, portanto, a ênfase não se centra mais no processo de cura e sim no projeto de "invenção de saúde". O olhar passa a ser direcionado à pessoa, sua cultura e vida cotidiana, tornando-se esta o objetivo do trabalho terapêutico e não mais a doença.
Foi no âmbito da Psiquiatria Preventiva que surgiu o conceito de
‘desinstitucionalização’, que se tornou uma das principais diretrizes das políticas de
saúde mental nos EUA. Por desinstitucionalização, entendia-se um conjunto de
medidas de ‘desospitalização’, isto é, de redução do ingresso de pacientes em
hospitais psiquiátricos, ou de redução do tempo médio de permanência hospitalar,
ou ainda de promoção de altas hospitalares.
20
Como estratégias de efetivação das políticas de desospitalização, foram
implantados vários centros de saúde mental, oficinas protegidas, lares abrigados,
hospitais-dia, hospitais-noite, enfermarias e leitos em hospitais gerais etc. O objetivo
era tornar o hospital um recurso obsoleto, que fosse caindo em desuso na medida
em que a incidência das doenças mentais fosse diminuindo em decorrência das
ações preventivas, e que os serviços comunitários de saúde mental fossem
adquirindo maior competência e efetividade em tratar as doenças em regime extra-
hospitalar.
No contexto deste novo paradigma, que transcende a idéia de simplesmente
realizar a desospitalização, na prática, trouxe efetivamente problemas de diversas
ordens. Ou seja, neste percurso transitório para uma nova organização assistencial,
as primeiras ações concretas se deram pela diminuição das internações em
hospitais psiquiátricos e pela busca de criar recursos assistenciais de caráter extra-
hospitalar.
Em conseqüência, há uma intensificação das exigências de
comprometimento da família, que tem um de seus membros adoecidos, o que
modifica significativamente sua trajetória de participação neste processo
assistencial. O estudo desenvolvido por LUIZ (2000), "A respeito da exclusão:
instituição asilar e desinstitucionalização", traz à tona a emergência da solicitação da
participação da família, em seu dizer:
"No Brasil, a desinstitucionalização veio a consistir num termo atribuído aos reformadores, mas utilizado com diferentes propósitos: representar a negação do asilo como tratamento, e a substituição por novas práticas que realçam a participação efetiva das famílias e dispositivos comunitários na assistência; símbolo da perspectiva da abolição de todas as instituições de controle social...". (LUIZ, 2000).
O tema família é muito importante e deve ser sempre nuclear nas práticas
que se pretendem inovadoras, pois não há desinstitucionalização sem a
participação efetiva dos familiares. Neste sentido, algumas referências são
imprescindíveis: Família e Doença Mental: repensando a relação entre profissionais
de saúde e familiares de Jonas Melman ( São Paulo: Escrituras, 2001) e Transtorno
Mental e o Cuidado na Família de Lúcia Cristina dos S. Rosa (São Paulo: Cortez,
2003). Eduardo Mourão Vasconcelos tem como preocupação refletir não apenas
21
sobre os familiares, mas também sobre os próprios usuários. Com Richard
Weingarten, Carla Leme e Patrícia Novaes, publicou Reinventando a Vida:
narrativas de recuperação de convivência com o transtorno mental ( o que se
recorda um dos últimos ensejos de Basaglia), com histórias e depoimentos de
(usuários) militantes do Movimento da Luta Antimanicomial (Rio de Janeiro:
EncantArte, 2005).
22
1.3 - FAMÍLIA X DIREITOS: UMA INTERFACE NECESSÁRIA
Este capítulo tem como objetivo mostrar a importância do apoio da familiar e
a Lei da Reforma Psiquiátrica no Brasil.
Conceituando família, Fausto Neto, (1982) afirma que é “uma unidade de
relações sociais, de vivências sócio-afetivas que se estrutura em torno a um sistema
de códigos e categorias que estabelecem uma rede de reciprocidade, de trocas de
direitos e deveres entre seus membros”.
Buscar-se-á analisar as reais condições que vivem as famílias brasileiras de
baixa renda dos pacientes que tem transtorno mental e a importância do apoio dela
junto aos seus familiares com a doença que não contagia, mais acaba sendo
contagiante, desgastante, ocasionando um grande estresse.
“É importante ressaltar que entendo que a instituição familiar “ é um fato
cultural historicamente condicionado” (Mioto, 1997:115) ) e, portanto, sua
configuração está diretamente ligada ao tipo de sociedade em que está
inserida”.
Segundo a autora, família, não é considerada como uma instituição natural da
sociedade, mas sua estrutura é historicamente condicionada conforme os diferentes
tipos de sociedade, nos tempos atuais a família é composta de forma bem diferente
da época dos nossos antepassados. E o apoio da familiar junto ao seu ente querido,
é um fator extremamente primordial, no que tange a recuperação do paciente.
“Ao referir-se à instituição familiar e aos cuidados para com esta, Alves
(1960) ressalta a importância de que a família seja “indissolúvel, estável e
harmoniosa” e justifica a intervenção no espaço familiar, como sendo um
esforço de manter tais características, consideradas “básicas para uma boa
comunidade”. (Vasconcelos, 1994)
23
Conforme relata o autor a importância da estabilidade familiar é de grande
relevância, para que em especial as crianças, não sejam prejudicadas, e assim,
passem a ter sérios problemas emocionais.
No tratamento desta doença, é fundamental participar de algum grupo de
acolhimento para as famílias, não somente ao paciente, mas é imprescindível a
presença de toda a família, para aprender a ligar com o que está acontecendo, com
seu familiar.
A convivência com outros portadores, ajuda não somente a compreender a
doença em si, mas a lidar com as dificuldades existentes. Existem tratamentos
chamados psicossociais, como a terapia ocupacional e a psicoterapia. O terapeuta
ocupacional irá mostrar várias questões a serem entendidas e mais bem elaboradas
em sua realidade, através dos chamados grupos terapêuticos.
Para que haja um tratamento eficaz é necessário ter paciência e não desistir
do tratamento, para que não haja uma recaída, uma vez que na maioria das vezes
os sintomas serão bem piores. Esse processo é longo e desgastante, mas é
fundamental não desanimar para poder assim explorar todo o potencial do paciente,
uma vez que todos nós temos limitações, mas precisamos aprender a lidar com elas
e, na medida do possível, ir superando.
Aponta-se para uma reforma além dos muros, para uma reforma
social, cultural, ideológica e política.
Um dos princípios da saúde mental na saúde da família é exatamente o
princípio da desmedicalização, no sentido de não se apropriar de todos os
problemas de uma comunidade como sendo problemas médicos-sanitários.
A lei 10.216, conhecida como a Lei da Reforma Psiquiátrica no Brasil, em
vigência desde abril de 2001, dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas
portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo de atenção na Saúde
Mental no país. Foi constituída a partir de um novo paradigma que visa a
reabilitação e a reintegração psicossocial do indivíduo adoecido mentalmente.
Teve como inspiração os fundamentos de Basaglia, e ampara-se nos
pressupostos da "desinstitucionalização" que, segundo ROTELLI (1990) é um
processo que tem como palavra-chave o conceito de desconstrução, não só dos
24
manicômios, como também dos saberes e das estratégias, todos referidos ao objeto
abstrato, ou seja, à "doença”.
Este movimento está longe de terminar, de ser concluído, pois toda e
qualquer mudança ideológica leva tempo. Se faz necessário que os sujeitos
portadores deste sofrimento possam ser ouvidos, cuidados e reconhecidos como
cidadãos, para que haja uma efetiva ressocialização e assim possa contribuir de fato
com a inclusão social.
1.4. ASPECTOS RELEVANTES SOBRE O BENEFÍCIO DA
PRESTAÇÃO CONTINUADA – BPC
A origem do beneficio da prestação continuada está intrinsecamente
relacionada com as intenções da Constituição da República. Sabe-se que esta está
calcada na dignidade da pessoa humana, sendo, inclusive, reputada de Constituição
Cidadã.
A criação deste benefício, pois, remonta ao artigo 203, V da Constituição
Federal de 1988 (BRASIL, 1988).
A assistência social será prestada a quem dela necessitar,
independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de
deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria
manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.
Tem-se, por conseguinte, desde 1988, a previsão de um meio apto a amparar
(ou melhor, tentar amparar) algumas das pessoas geralmente mais necessitadas, os
idosos e os deficientes físicos.
O próprio artigo 203 supracitado previu expressamente a necessidade de
criação de um dispositivo legal para versar acerca de um benefício às pessoas
portadoras de necessidades especiais e aos idosos. Neste sentido, fez-se
25
necessária a edição da Lei Federal nº 8.742 de 03 de dezembro de 1993. Ela foi
regulamentada, sobretudo pelo Decreto 1.744/95 e alterada pelas leis 9.720 e
10.689/2003.
O Beneficio da Prestação Continuada, consiste, portanto, em um dos meios
de se concretizar alguns dos objetivos da República Federativa do Brasil, quais
sejam construir uma sociedade livre, justa e solidária; erradicar a pobreza e a
marginalização; reduzir as desigualdades sociais e regionais e promover o bem de
todos. (artigo 3° da Constituição da República). É, pois, instrumento da Assistência
Social.
É bom dizer que o Benefício da Prestação Continuada possui uma
terminologia mais correta: benefício assistencial. Muitos autores o chamam de
‘benefício do amparo social’.
No que tange à esta denominação é imprescindível fazer-se uma ressalva. A
nomenclatura ‘Benefício da Prestação Continuada’ com o intuito apenas de se
referir ao benefício assistencial previsto na LOAS não é adequada. Isto decorre do
fato de que quase todos os benefícios de cunho assistencial ou previdenciário são
de prestação continuada, sendo pagos a cada certo período e não apenas o
benefício assistencial.
Verifica-se, após essas considerações iniciais, que o maior escopo do
benefício assistencial é garantir o atendimento de necessidades básicas de
cidadãos que não conseguem prover sozinhos seu sustento. Esta lei, como
versado na maioria dos autores, se destina aos idosos com mais de 65 anos (idade
propiciada pelo advento do estatuto do idoso) ou que não exerce atividade
remunerada, aos portadores de necessidades especiais incapacitados para a vida
independente.
Neste viés, teve-se, recentemente (abril de 2006), uma tentativa de se alargar
a abrangência do benefício assistencial. A Defensoria Publica da União apresentou
ao Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome proposta para melhor
atuação em conjunto pela promoção do Benefício Assistencial de Prestação
Continuada, para que se pudesse incluir os indigentes no âmbito de destinação
deste benefício.
Imperioso se faz frisar que a maior parte da doutrina cita que o benefício de
prestação continuada é destinado apenas para os portadores de deficiência e para
26
os idosos com mais de 65 anos que não tenham condições de proverem seus
sustento ou tê-los provido pela família.
No que tange aos idosos tem-se, inicialmente, que o artigo 20 da lei 8.742/93
dispunha que o benefício assistencial destinava-se aos idosos com mais de 65 anos
que não possuíam meios de prover a própria manutenção e nem de tê-la provida por
sua família. Este limite de idade passou a ser 67 anos. Com o advento, entretanto,
do Estatuto do Idoso (lei 10.741/03) tem-se que a idade passou a ser de 65 anos,
conforme artigo 34 da Lei Federal nº 10.74 de 2003, conforme já estava previsto na
LOAS – Lei Orgânica de Assistência Social.
No que concerne à pessoa portadora de deficiência tem-se, para que faça jus
ao benefício em comento, que seja incapacitada para o trabalho e sem condições
de se sustentar ou até mesmo de ser sustentada pela família (com impossibilidade
de vida independente).
É forçoso dizer que não há limite de idade para as pessoas portadoras de
necessidades especiais, existindo limite apenas para os idosos (mais de 65 anos).
A deficiência é constatada mediante apresentação de Laudo de Avaliação,
devidamente elaborado ou por peritos do INSS, ou por peritos do SUS, ou até
mesmo por peritos de algumas entidades de reconhecida técnica (como a APAE).
Assim sendo, o portador de deficiência que preencha as condições acima
mencionadas deverá dirigir-se pessoalmente ou através de seu representante ao
posto de benefícios do INSS mais próximo de sua residência e preencher o
requerimento relativo ao benefício da prestação continuada apresentando os
documentos exigidos pelo posto.
Ademais, para que os idosos e as pessoas portadoras de necessidades
especiais possam receber o benefício assistencial têm de, além dos requisitos
referidos acima, possuírem renda per capta de até ¼ do salário mínimo e não
podem estar recebendo nenhum benefício da Previdência Social.
No que se refere à renda per capta de ¼ do salário mínimo tem-se para
divisão da renda familiar que é considerado o número de pessoas que vivem sob o
mesmo teto, assim entendido: cônjuge, o(a) companheiro(a), os pais, os filhos e
irmãos não emancipados, de qualquer condição, menores de 21 (vinte e um) anos
ou inválidos.
27
Ressalta-se que o benefício pode ser pago a mais de um membro da família, desde
que comprovadas todas as condições exigidas e que, mesmo assim, ainda se tenha
a renda per capta de ¼ do salário mínimo.
Neste caso, o valor do amparo assistencial concedido a outros membros do
mesmo grupo familiar passa a fazer parte do cálculo para apuração da renda
mensal familiar. O beneficio assistencial é intransferível, não gerando direito à
pensão a herdeiros ou sucessores.
Estabelece também a Lei nº 8.742/93 que, uma vez cumpridos os requisitos
para a concessão do benefício da prestação continuada, o primeiro pagamento
deverá ocorrer no prazo de 45 dias.
O benefício em tela possui caráter provisório, sendo sua concessão revisada
a cada dois anos, devendo ser cancelado caso seu titular venha a superar a
situação de deficiência ou vulnerabilidade social em que se encontra.
Vê-se, pois, que o benefício da prestação continuada constitui instrumento
indispensável para que as pessoas idosas e as portadoras de necessidades
especiais tenham suas necessidades básicas atendidas e vivam com o mínimo de
dignidade, quando não possam manter-se por si mesmas ou por suas famílias.
Desse modo, os princípios que embasam os benefícios assistenciais são os
mesmos que abordam acerca da assistência social. Tendo-se de enfatizar que o
principal princípio é, pois, da dignidade da pessoa humana.
Para finalizar, um dado que deve ser acrescido é que o benefício da
prestação continuada equivale a um salário mínimo. Enquanto persistirem os
requisitos que implicaram a sua concessão este valor será pago mensalmente.
Entretanto, a ausência de quaisquer de seus pressupostos ensejam a sua extinção.
Sendo importante dizer que existem, anualmente, 12 prestações, pois o
benefício assistencial não permite o 13° salário.
A negativa ao benefício da prestação continuada, desde que cumpridos todos
os requisitos para a sua concessão, possibilita o acionamento ao Judiciário com a
finalidade de concedê-lo. A ação é proposta perante a Justiça Federal ou perante a
Justiça Estadual (caso não se tenha Justiça Federal na comarca).
Torna-se forçoso, após todas as considerações acima, abordar acerca de
alguns entendimentos atuais da jurisprudência dos Tribunais brasileiros, que têm
28
visado, acima de tudo, analisar cada caso concreto para poder conceder o benefício
assistencial.
Alguns juízes e desembargadores, assim sendo, têm concedido o benefício
assistencial para as pessoas realmente necessitadas, mesmo que elas não se
adéqüem aos critérios rigorosos da lei 8.742/93 no tocante ao limite de renda nela
versado.
É imprescindível dizer que o benefício assistencial é demasiadamente
importante para uma sociedade pobre quanto a do Brasil. O objetivo, por
conseguinte, da sua lei de regência é louvável (lei 8.742/93).
O critério, entretanto, de aferição de miserabilidade (renda per capta inferior
a ¼ do salário mínimo) nem sempre é justo. Muitas vezes existem famílias,
compostas pelas pessoas as quais o benefício se destina – idosos e portadores de
necessidades especiais que não têm condições de proverem ou de ter provida a
própria subsistência, com renda superior a referida que não conseguem ter o
mínimo para sobreviverem com dignidade.
Aproveitando-se o ensejo, é pertinente asseverar que um salário mínimo, se
observar a realidade, não possibilita a nenhuma família a dignidade em sentido
amplo. Esse valor, quando muito, apenas possibilita as pessoas que o recebem a
não passar fome. É preciso muito ainda para que haja a dignidade dos destinatários
do benefício em comento.
Faz-se importante também destacar que posição que está sendo consolidada
no Superior Tribunal de Justiça é um grande avanço para a sociedade brasileira,
pois esta é muito carente e possui milhares de habitantes em situação de miséria.
No que tange a este grande número de brasileiros que passam fome, dever-
se-ia ampliar o rol de destinatários do benefício assistencial, para que este fosse
destinado também a todas as pessoas que demonstrassem a miserabilidade.
Diante ao exposto, mesmo que o benefício assistencial, na prática, seja
irrelevante, é bastante significativa a intenção da lei 8.742/93. Esta consiste na
aplicabilidade dos princípios que norteiam a Assistência Social. Devendo, contudo,
haver constantes avanços nesta área, para que o Poder o Público efetive os
objetivos demasiadamente ilusórios da Constituição da República Federativa do
Brasil.
29
CAPÍTULO II
2. A DOENÇA MENTAL E A LUTA PELA SOBREVIVÊNCIA
EM FAMÍLIA VULNURÁVEIS
Este capítulo tem como objetivo, apresentar a fragilidade e precariedade das
políticas públicas perante as famílias com parentes vítimas de transtorno mental.
Trabalhar no âmbito da saúde mental requer uma aproximação do conceito
que assume contornos distintos. O conceito de transtorno mental de acordo Lúcia
Cristina dos Santos Rosa (2000)
“ Tem origem multifatorial (biológica, social, psíquica e cultural) e é identificado sobretudo pelos seus sintomas, com freqüências o comportamento desviante, transgressor, que viola as normas socialmente aceitas. Uma outra particularidade do transtorno mental decorre do fato de que o “paciente”, mesmo sofrendo psiquicamente, quase nunca de reconhece como um portador de transtorno mental, como um “doente” ,
Através deste conceito analisar-se-á como se manifesta a doença no
paciente, uma vez que ele não é diagnosticado através de exames e sim somente
pelo comportamental.
As pessoas dão muitos significados para a palavra loucura, geralmente,
associam-na a uma mudança no jeito de ser, a uma perda permanente da razão e
da autonomia, e que pode levar a uma perda do controle das próprias ações. Muita
gente acha que loucura não tem cura e que como conseqüência as pessoas que
enlouquecem devem ser internadas definitivamente, pois não são confiáveis e
podem se tornar perigosas.
“Loucura” é uma palavra que as pessoas usam há séculos para explicar o
que elas desconhecem; chamam de loucas as pessoas que têm um comportamento
que não é igual ao de todo mundo. A esquizofrenia com tratamento, é possível
controlar os sintomas, e com o tempo é possível entender o que se passa, bem
como lidar com a doença.
30
No tratamento desta doença, é fundamental participar de algum grupo de
acolhimento para as famílias, não somente ao paciente, mas é imprescindível a
presença de toda a família, para aprender a ligar com o que está acontecendo, com
seu familiar.
A Lei 10.216/2001 conhecida como a Lei Paulo Delgado ou Lei da Reforma
Psiquiátrica, traz uma série de conquistas para o campo da saúde mental em nosso
país. Entre estas conquistas a Lei da Reforma Psiquiátrica busca estabelecer uma
política de atenção à saúde mental adequada a reinserção social de seus usuários.
Esta lei foi uma conquista, que prever mudar a história da psiquiatria brasileira.
Conforme o Art. 2º, inciso II ‘a pessoa deve ser tratada com humanidade e respeito
e no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação
pela inserção na família, no trabalho e na comunidade’.
O Art. 3º do mesmo parâmetro legal afirma que: ‘é responsabilidade do
Estado o desenvolvimento da política de saúde mental...’ de forma que é o Estado
que deve dar todo o respaldo necessário para a sobrevivência com dignidade à
todos os pacientes com transtorno mental.
O texto legal prevê garantia de direitos. Todavia o aparato legal por si só não
garante a operacionalização da mesma. Vê-se nesta estrutura uma precariedade na
execução das políticas públicas em atenção ao portador de transtorno mental. O
Estado não repassa a verba necessária adequada ou mesmo não faz os reajustes
necessários para cada paciente internado. Em contrapartida as instituições praticam
um atendimento de baixa qualidade, criando desta forma, um ciclo vicioso onde
quem sai perdendo é o usuário dos serviços.
Apesar dos pacientes com transtorno mental terem todo um aparato,
conforme a Lei nº 10.216, o que vemos na realidade é algo bem diferente, ficando a
Lei somente no papel.
No âmbito do atendimento, são inúmeros os problemas que o Sistema Único
de Saúde apresenta, no atendimento ao PTM (pacientes transtorno mental)
consideramos, importante destacar a precariedade dos atendimentos que são
oferecidos para a população que varia desde uma espera de horas pelo
atendimento até a falta de medicamentos.
No Brasil, sob a égide do neoliberalismo, o desmantelamento das políticas
públicas e a violação dos direitos essenciais, o sucateamento dos serviços
31
públicos, a qualidade dos serviços prestados é uma afronta ao direito da população
que tem no seu cotidiano o confisco de direitos constituídos por parte do Estado.
O portador de transtorno mental torna-se vulnerável não somente sob o
ponto de vista pessoal como social, razão pela qual entende-se que os segmentos
vulneráveis, enquanto sujeitos de direitos, necessitam de proteção especial, sendo
que se faz necessária a implantação e ampliação das políticas publicas para
atendimento das demandas emergentes da população.
A precariedade, a fragilidade e a focalidade de políticas públicas que
garantam uma qualidade de vida para o trabalhador é uma realidade vivenciada no
cotidiano das famílias trabalhadoras no Brasil. pode-se dizer que são famílias
abandonadas pelo Estado, ou seja, desassistidas. As transformações que
ocorreram na sociedade contemporânea relacionadas a ordem econômica,
acarretaram a exclusão social e quando existe a doença no cotidiano da família a
vulnerabilidade dos sujeitos são cada vez mais potencializadas. As privações
econômicas, as enfermidades associam-se quotidianamente com o analfabetismo,
violência, alcoolismo, desemprego, submoradia e destituição de direitos.
32
2.1. A DOENÇA MENTAL E A LUTA PELA SOBREVIVÊNCIA
EM FAMÍLIA VULNERÁVEIS.
Este capítulo tem como objetivo analisar a luta das famílias com parentes
com transtorno mental e sua vulnerabilidade, uma vez que o portador de transtorno
mental dependendo da gravidade de sua doença requer cuidados constantes, não
podendo ficar sozinho e com isso sobrecarregando os seus cuidadores. Este
cenário contribui para a vulnerabilidade social especialmente Quando um dos
cônjuges neste caso, o homem é acometido pela doença mental. Os encargos antes
assumidos pelo homem são assumidos pela mulher tem que ficar responsável pelo
sustento da família, recaindo sobre ela uma sobrecarga relativa aos cuidados com
os filhos, prover recursos financeiros para sobrevivência e ainda se responsabilizar
pelo doente. Muitas famílias se vêem obrigadas a manter o doente longe de casa,
internado no hospital, pois é a única estratégia para conseguir sobreviver, a
hospitalização libera a família de uma serie
de encargos.
Com a implantação da política de desinstitucionalização o Estado se isenta e
responsabiliza a família, sendo que quando o mesmo recebe alta a família do
doente é obrigada a cuidar dele e levá-lo para casa, não importando suas reais
condições.
É importante ressaltar que o cuidado com o doente mental impõe exigências
emocionais e materiais que são inexistentes na realidade das famílias com poucos
recursos financeiros, pois se vêem desassistidas pelo Estado que mantém o ideário
neoliberal, responsabilizando os familiares. A precariedade dos programas
assistenciais que garantam os direitos do portador de transtorno mental e de seus
familiares tem sido uma realidade no cotidiano destas famílias.
A política de desinstitucionalização é extremamente importante e necessária
para os portadores de deficiência mental, mas no caso do Brasil se faz necessário
um trabalho atuante aonde o sujeito em sofrimento tenha mais importância do que a
sua doença em si, conforme ressalta (Basaglia, 2005:243)
33
...podemos vislumbrar espaços terapêuticos em que é possível escutar e acolher suas angústias e experiências vividas; espaços de cuidados e acolhimento, de produção de subjetividade e de sociabilidade.
Se funcionasse de verdade seria excelente e com certeza alteraria o cotidiano
destas famílias que na maioria das vezes se vêem obrigadas a ter que se humilhar
em busca de seus direitos.
Mas, sabemos que falar de cidadania e direitos não basta, como não basta
apenas aprovar leis, pois não se determina que as pessoas sejam cidadãs e sujeitos
de direitos por decreto. A construção de cidadania diz respeito a um processo social
complexo. É preciso mudar mentalidades, mudar atitudes, mudar relações sociais,
conforme (Amarante 1998) Loucos pela Vida
A originalidade brasileira encontra-se na maneira de integrar, no discurso da
cidadania, na consciência social, a trama de atuações que deve construir um
programa comunitário e o estilo e inventar novas fórmulas de atenção a partir do
protagonismo de todos.
Sabemos que população brasileira enfrenta muitos problemas, o
desemprego, um salário mínimo que não garante o mínimo para a sobrevivência
existem milhões de portadores de transtorno mental que sobrevivem privados dos
direitos que lhe são inerentes, a situação de miséria vivida por grande parte da
situação brasileira debilita suas relações e vínculos familiares.
O preconceito com relação ao fenômeno da doença mental resulta na
marginalização afetiva e social de um grande número de pessoas que tem o seu
cotidiano marcado pela doença o relacionamento com os vizinhos é cheio de
cobranças, pois predomina em nossa sociedade a exclusão do portador de
transtorno mental as famílias precisam de ajuda, pois chegam abaladas ao serviço
social, carentes de informações adequadas que lhes dê suporte para lidar com a
doença, a exclusão e a desassistência do Estado.
A família brasileira tem passado por um acelerado processo de
empobrecimento. Este fenômeno tem cada vez mais vitimizado as famílias que não
tem suas necessidades básicas supridas, pois se vêem desassistidas, com isso
34
fragilizando os vínculos familiares cada vez mais. O amor, o casamento, a família, a
sexualidade e o trabalho, antes vividos a partir dos papeis pré-estabelecidos , agora
não mais, pois muitas vezes uma só pessoa tem que viver vários papeis ao mesmo
tempo. No caso da família do portador de transtorno mental essa situação é
agravada com o surgimento da doença, a família fica fragilizada, suas relações
internas e externas ficam totalmente comprometidas.
As mudanças no mundo do trabalho e sua precarização, que transforma um
contingente cada vez maior de mulheres em “chefes de família” e a ausência do pai
fragiliza ainda mais os vínculos familiares. Podemos destacar ainda que a condição
biológica da mulher de ser mãe não lhe dá condições inatas de estabelecer vínculos
de afeto com o filho, o amor o afeto acontecem através da convivência e para que
possa acontecer é preciso que condições de sobrevivência econômica física e
emocional estejam presentes.
As famílias que tem algum membro com transtorno mental, sofrem uma
sobrecarga financeira que é expressa pela dificuldade do paciente em manter
vínculo empregatício ou mesmo ingressar no mercado de trabalho após
manifestação da doença. Além disso, há despesas com a compra de medicamentos
e, muitas vezes, comprometimento do trabalho de outro familiar se este necessitar
acompanhante.
As familiares sofrem alterações das atividades cotidianas deste grupo, como
ir e vir do trabalho, escola, cuidados pessoais e mesmo tarefas corriqueiras na casa.
Tudo fica comprometido quando o paciente deixa de realizar o que era de sua
responsabilidade ou quando, por apresentar comportamento alterado, requer
cuidados familiares com sua própria higiene, alimentação, sono e acompanhamento.
Também existe a sobrecarga em forma de doença física e emocional pela
alteração da dinâmica familiar, pelo aumento de demandas desta nova situação,
pela falta de compreensão do processo e pela falta de recursos de enfrentamento.
Em conseqüência, a família passa a viver uma situação de desgaste que evolui para
manifestações de doença de um ou mais de seus membros.
Outra alteração na família é no lazer e nas relações sociais, decorrentes das outras
sobrecargas, uma vez que esta doente não contagia, mais é contagiante.
O que constatamos é que a efetivação do processo de desospitalização com
o incentivo do Estado, a não criação de estruturas de apoio para o processo de
35
desinstitucionalização do portador de transtorno mental, gerou desamparo aos
doentes. A redução da responsabilidade do Estado tem acometido as famílias com a
responsabilidade de provimento de cuidados ao portador de transtorno mental.
Os familiares dos doentes se vêem desassistidos, pois suas condições
econômicas e sociais não lhes possibilita condições adequadas de cuidado.
VASCONCELOS (1992) destaca que a ameaça de desassistência aumenta,
com um certo beneplácito do próprio movimento de luta antimanicomial que, ao
ressaltar apenas os aspectos negativos das estruturas asilares, omitem a dimensão
historicamente positiva, que cumpriram ao assegurar o “direito do usuário a local
apropriado de refúgio nos períodos de sofrimento psíquico, e do direito da família à
co-responsabilidade pública com o cuidado e tratamento de seus membros com
problemas mentais”.
O que se observa em nossa realidade é que o processo de desospitalização
responsabiliza a família do portador de transtorno mental em relação ao provimento
de cuidado do doente. A família diante desta realidade se desespera, pois a
presença do doente em casa impõe exigências de cuidado e atenção emocional e
material que lhes são inexistentes. Muitos familiares se vêem desassistidos e sem
ter o que fazer, recusam-se a levar o paciente para casa.
É importante ressaltar que quando uma família se recusa em levar seu
doente para casa é porque ela já foi abandonada pelo Estado, pela falta de
programas assistenciais que lhes garantam seus direitos. A desospitalização tem
provocado a desassistência e o desamparo. Nesta lógica a família reproduz o
processo de exclusão, gerado pela não concretização de proteção social através de
políticas e programas necessários ao atendimento das necessidades sociais destes
segmentos subalternizados.
Quando a sociedade e os profissionais de saúde culpam a família – por
desconsiderarem as condições sociais e econômica destas famílias - estão
reforçando as políticas regressivas nos moldes sugeridos pela proposta neoliberal
que retira o Estado da assistência ao portador de transtorno mental e responsabiliza
a família.
A família precisa ser vista não apenas como um recurso como um ‘lugar’
como outro qualquer. Evidentemente é um espaço de afeto e relações
personalizadas significativas, mas nem sempre é vivenciada como um afeto positivo
36
tanto pelo portador de transtorno mental como pela própria família. O cuidado da
família não envolve somente amor, mas sim condições materiais concretas para o
mesmo.
Neste sentido é importante compreendermos a visão de família predominante
em nossa sociedade, a representação social que temos de família é aquela da
classe dominante, que estabeleceu padrões sociais de “ser família" e ficou como
modelo para toda a sociedade não levando em conta as determinações sociais e
históricas de cada indivíduo.
Este modelo de família burguesa, é ultrapassado, não podemos dizer que
família é a célula mater da sociedade porque nos últimos séculos o mundo passou
por intensas transformações sociais e marcantes mudanças culturais e valorativas.
As mudanças ocorridas na família relacionam-se a luta pela sobrevivência,
vivemos numa sociedade onde é preciso trabalhar muito, onde a supervalorização
do trabalho é uma exigência do mundo capitalista.
O amor, o casamento, a família, a sexualidade e o trabalho, antes vividos a
partir de papéis preestabelecidos, agora não mais, pois muitas vezes uma só
pessoa tem que viver vários papéis ao mesmo tempo.
A sociedade baseia-se no princípio de igualdade, mas é totalmente desigual,
a família brasileira tem passado por um acelerado processo de empobrecimento,
este fenômeno tem cada vez mais vitimizado as famílias que não tem suas
necessidades básicas supridas, pois se vêem desassistidas, com isso fragilizando
os vínculos familiares cada vez mais.
A precariedade das condições de vida contribui para que outras formas
familiares se apresentem. Na maioria das vezes conciliar a unidade doméstica, a
intimidade, a relação conjugal, o afeto e o cuidado para com os filhos é quase que
impossível pois a luta pela sobrevivência é a preocupação central dos sujeitos
embricados nesta relação.
Família é um grupo social com uma particularidade e com uma dinâmica
específica que está sujeita às determinações sociais da macro estrutura, é o núcleo
básico da produção e reprodução social que reforça o modo de produção capitalista.
É preciso levar em conta a família vivida e não a idealizada, ou seja, aquela
na qual observam-se diversas formas de organização e de ligações e na qual as
estratégias relacionadas à sobrevivência muitas vezes sobrepõem aos laços de
37
parentesco.
Nas famílias em situação de pobreza, assalariadas, urbanas com parcos e
insuficientes recursos econômicos, (OLIVEIRA, 1995) fato que as torna vulneráveis
em suas condições de vida em geral, apreender o impacto do diagnóstico de doença
mental é uma tarefa complexa, pois, é impossível isolar o fenômeno, que, por si só,
é complexo e multifacetado, visto que engloba a dimensão biológica, psicológica,
social e econômica. Este diagnóstico no seio da família produz sentimentos de
tristeza, angustia, medo, rejeição e desespero.
Percebe-se que a doença mental afeta a vida familiar, o clima emocional
tencionando, as ansiedades e os encargos que recaem sobre a família, com efeitos
danosos sobre o seu funcionamento, a dinâmica familiar é totalmente alterada.
A família fica fragilizada, suas relações internas e externas ficam totalmente
comprometidas.
O impacto que o transtorno mental provoca no grupo familiar está
estreitamente relacionado à posição que o PTM (Pacientes Transtorno Mental)
ocupa na família. Sendo uma unidade de relações sociais (FAUSTO NETO, 1982)
estruturada com base num código de reciprocidades em que direitos e deveres se
constroem baseados em laços consangüíneos, parentais e numa divisão sexual de
trabalho em que certas atividades ganham significados específicos e são atribuídas
a determinadas pessoas que ocupam certas posições no grupo conforme a idade e
o sexo, o transtorno mental vai afetar sobremaneira o grupo familiar à medida que
atinge aqueles sujeitos que ocupam um papel importante na organização familiar, ou
seja, um dos cônjuges.
O homem (marido / pai) quando presente no grupo destina-se a ter o papel de
seu provedor financeiro. Quando é acometido pelo transtorno mental tende então a
comprometer a renda familiar. O fato de não gerar renda sobrecarrega a mulher que
fica responsável pelo sustento da família, e também pelo cuidado do doente.
A mulher (esposa /mãe/ dona de casa), quando é portadora de transtorno
mental parece afetar muito mais a família sua internação afeta mais intensamente
todos os seus integrantes pois “ausência da mãe do âmbito domestico" (ZALUAR,
1985) é o principal fator desorganizador dos grupos familiares dos segmentos de
baixa renda, pois geralmente a mãe é responsável pelo andamento da casa e da
família.
38
Os familiares de portador de transtorno mental convivem com o conceito do
que é “ser família" e como deve se relacionar de acordo com o pensamento de
família ideal apontando-lhes padrões que serão inatingíveis, pois suas organizações
familiares ou os arranjos domésticos apresentam outras particularidades.
Estes familiares sofrem pressões sociais vivenciando difíceis situações no
seu dia a dia que fogem do seu controle, cria-se então uma estratégia de
sobrevivência que é manter o doente longa da família internado em um hospital
psiquiátrico, a hospitalização libera a família de uma série de encargos pois o
doente é na maioria das vezes dependente total ou parcial de algum membro da
família que ficará disponível para trabalhar caso o doente seja mantido no hospital.
Muitas vezes o desemprego ou o trabalho informal fazem parte desta
realidade, a rede de apoio familiar ou de vizinhança muitas vezes esgota suas
possibilidades de ajuda, a falta de políticas públicas que lhes dê suporte precariza
as condições de vida do doente e dos familiares, que muitas vezes tranca e amarra
o paciente em algum quartinho, pois a luta pela sobrevivência impõe-se como
preocupação central.
Muitas famílias moram em casas ou barracos muito pequenos, com várias
pessoas convivendo, sem espaço de privacidade.
A impossibilidade de cuidar do doente trás culpa, rejeição, raiva, vergonha e
desamparo.
Nos últimos anos o conceito de sobrecarga familiar foi desenvolvido para
definir os encargos econômicos, físicos e emocionais a que os familiares estão
submetidos e quanto a convivência com um paciente representa um peso. As
alterações no cotidiano da família, as relações sociais, motivados pela vergonha,
cansaço ou frustração, é comum observar os familiares se distanciarem das
atividades sociais, deixando de comparecer a festas e eventos culturais, restringindo
visitas a casa de amigos próximos e parentes.
De modo geral, os estudos revelam que os familiares apresentam uma certa
tendência a minimizar as vivências de sobrecarga. Com a implantação da política de
desinstitucionalização, a família passou a ser responsabilizada de cuidar do doente.
Na literatura inglesa foi introduzido o conceito de sobrecarga, fardo e peso sobre a
família de portador de transtorno mental. O convívio com o doente produz uma
sobrecarga intensa que compromete a saúde, a vida social, e a relação com os
39
outros familiares.
Na sociedade brasileira predomina uma visão preconceituosa em relação ao
fenômeno Doença Mental, o que acaba resultando em exclusão afetiva, social e
econômica de um grande número de pessoas. Quando um familiar procura o serviço
de saúde mental para tratar de seu parente, são tantas dúvidas, questionamentos e
culpas sentem-se paralisados, carentes de informações, perdidos e isolados.
O preconceito da sociedade acaba resultando numa exclusão afetiva, social e
econômica para o portador de transtorno mental e seus familiares, pois para o
capitalismo não interessa, quem não produz é uma população sobrante totalmente
excluída.
A luta dos portadores de transtorno mental e seus familiares deve ser
principalmente para que o doente mental tenha direito a ter direitos.
No plano social e político a cidadania é construída. É luta, é processo de
incorporação de novas categorias aos direitos já existentes. A cidadania, então, é
mutável, apropriável e sofre transformações. Neste sentido, a luta pela cidadania do
portador de transtorno mental se escreve na luta pelo direito das minorias, mas não
só, pois além dos clássicos direitos civis, políticos e sociais, postulasse a invenção
de uma cidadania especial, que abarque a dimensão da subjetividade e da
desrazão. (VASCONCELOS, 1997)
É de suma importância eliminarmos o preconceito e buscarmos a garantia
dos direitos dos portadores de transtorno mental e sua inclusão nas políticas
públicas de uma maneira mais efetiva.
O que se percebe na população trabalhada é que os familiares do portador
de transtorno mental são pessoas marcadas por um conjunto de necessidades,
muitas vezes excluídos do convívio social, enfrentam diariamente o confisco de
seus direitos elementares e buscam no serviço social, alternativas para conseguir
sobreviver.
40
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao fim da pesquisa, a reforma psiquiátrica mostrou-se imprescindível para a
nossa sociedade, uma vez que a mesma não está preparada para ressocializar e
assim integrar os pacientes de transtorno mental.
A sociedade define o paciente de transtorno mental como uma pessoa
diferente, que apresenta uma sintomatologia e que não são normais, porém, se os
mesmos tiverem oportunidades de emprego, eles poderão mostrar para si e para a
sociedade, que são diferentes sim, porém são capazes de produzir e trabalhar
dentro das suas limitações.
Percebeu-se, ainda, que os pacientes realmente precisam ser aceitos pela
sociedade, com oportunidades de trabalho, para que os mesmos possam ter a sua
cidadania e assim não serem excluídos da sociedade que contraditoriamente se diz
inclusiva, mas concomitantemente, acaba excluindo-os, quando não dão
oportunidade de emprego, entre outros direitos sociais.
Um outro dado, de fundamental importância, trata-se da questão de
capacitação de material humano para lidar com a questão. Foi percebida a
necessidade de humanização, para que através do diálogo possam interagir com o
doente e desenvolver um certo grau de confiança, visando uma melhor estratégia
para ajudá-los.
As análises sociais apontaram para a necessidade das ações da saúde
mental serem direcionadas de forma mais articulada com os CAPs, abrigos do
município do Rio de Janeiro, bem como é imprescindível realizar capacitações
sistemáticas através de uma construção de conhecimentos coletivos de forma clara
e simplificada enfatizando sobretudo a problemática psicossocial.
A diminuição excessiva dos leitos psiquiátricos, com o fechamento de
algumas instituições, e o não cumprimento das promessas de tratamento alternativo,
tem sido responsáveis pelo aumento da impossibilidade das famílias cuidarem de
seus pacientes, ocasionando assim um aumento de população marginalizada.
Constatou-se ainda que, a despeito de serem oferecidos recursos
temporários com a promessa de que os pacientes poderiam exercer atividades
laborativas, mas não há para a saúde mental, o mesmo tratamento dado aos
41
deficientes físicos que tem sido absorvido para o mercado de trabalho,
possibilitando assim o resgate de sua cidadania e inclusão social.
Uma outra conclusão volta-se par a necessidade de serem revistas as
práticas adotadas na desospitalização para que e efetive o seu objetivo, com
responsabilidade, humanidade, levando-se em conta que todos envolvidos,
familiares, pacientes e a própria sociedade, sejam beneficiados com tais medidas.
Esta pesquisa pretendeu fazer uma amostragem de como vivem as famílias
que têm pacientes com transtorno mental, investigando as suas maiores
dificuldades diante de tal realidade, uma vez que na sua grande maioria são
discriminados e excluídos da sociedade; os pacientes da Clínica de psiquiatria Vilar
dos Teles que fica localizada em São João de Meriti.
O processo de desinstitucionalização, por exemplo, de cidadãos com
problemas de saúde mental, embora correto como caminho, exige como
contraponto políticas de apoio às famílias para poder manter consigo seus membros
portadores de vulnerabilidades.
Sobretudo, focando a relevância de seus direitos sociais, tão necessários,
que na sua grande maioria, são cidadãos de classe menos favorecida, que precisam
ser tratados com dignidade e respeito. Ela não se esgota nestas conclusões; pelo
contrário, ela instiga novas propostas de aprofundamento do tema.
“A possibilidade de realizar um sonho é o que torna a vida interessante”. (Paulo coelho)
42
4. ANEXOS
Anexo 1 >
Reportagem do jornal o Globo datado 17 de abril de 2011, onde mostrava
um paciente deitado no chão no Hospital Nise da Silveira, no Engenho de Dentro:
“falta de atividade para os interno prejudica tratamento”; mostrando que os paciente
com problemas mentais sofrem com a ineficiência dos serviços públicos de saúde
no Rio. Segundo denúncias, a espera para atendimento ambulatorial com
psiquiatrias ou psicólogos nas unidades municipais leva até quatro meses. A
situação também é caótica em hospitais de internação para pacientes graves. Há
casos como no Nise da Silveira, no Engenho de Dentro, onde enfermarias estão em
péssimo estado, com pacientes amarrados e falta de atividades para internos. Nos
hospitais de Atendimento médicos (PAMs), as vagas são limitadas, levando os
doentes a desistir.
Por outro lado, estatísticas do Corpo de Bombeiros mostram um crescimento
nos atendimentos de emergência a doentes mentais. Em 2009, foram 8.543
ocorrências passando para 9.045 casos em 2010. De janeiro até março deste ano já
foram 2.152 atendimentos. Para especialistas, o crime de Wellington Menezes de
Oliveira poderia ter sido evitado caso ele estivesse amparado pela família e em
tratamento. Um dos irmãos adotivos do atirador contou que Wellington ia ao
psicólogo, mas interrompeu o tratamento aos 17 anos.
Em Bangu, vagas na fila para atendimento são vendidas, no PAM de Bangu,
atende a oito bairros, incluindo Realengo, são distribuídas apenas seis vagas por
semana para atendimento a doentes mentais, sempre na segunda-feira. Para ser
atendido, o paciente passa a noite de domingo na fila. Ambulantes cobram entre R$
40 e R$ 25 para conseguir a senha. É preciso chegar até as 22h de domingo para
conseguir a senha. Às 23h:30m já tem as seis pessoas na fila, mas eu fico aí por
R$25. O pessoal aqui costuma cobrar R$ 40 – disse um ambulante, sem saber que
conversava com jornalistas.
Essas pessoas foram excluídas da sociedade, das suas famílias e do por
público. Não há dignidade no tratamento desses hospitais, que mais se parecem
com cadeias – disse o vereador Carlos Eduardo de Matos.
43
Nem todo doente mental será um assassino. É importante que a sociedade
esteja em vigilância nas políticas públicas de saúde mental, até mesmo porque essa
população (de doentes mentais) não faz protestos nem passeatas.
Segundo a secretaria municipal de Saúde, a rede conta com 60 ambulatórios
de saúde mental, fazendo, em média 200 mil procedimentos por ano. Há ainda os
Hospitais Philippe Pinel, Nise da Silveira e Jurandyr Manfredini, atendem, cada um,
até cinco mil pessoas por mês.
O superintendente dos institutos municipais de saúde mental, Mário Barreiras,
admitiu a falta de profissionais, mas anunciou a contratação de novos profissionais
até o fim do ano e obras nas unidades. Sobre o PAM Bangu, a coordenação de
saúde mental informou que já contactou a direção para melhorar o fluxo de
pacientes.
44
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICA
AMARANTE, Paulo (org) Loucos pela vida: a trajetória psiquiátrica no Brasil; Rio de
Janeiro: SDE/ ENSP, Ed. Oswaldo Cruz, 1995.
AMARANTE, Paulo – Saúde mental e atenção psicossocial; Rio de Janeiro: Ed.
Fiocruz, 2007.
BRAVO, Maria Inês Souza; VASCONCELOS, Ana Maria; Gama, Andréa de Sousa;
Monnerat, Giselle Lainas (org.) Saúde e serviço social.: São Paulo: Ed. Cortez;
Rio de Janeiro: UERJ, 2004.
DESVIAT, Manuel; A reforma psiquiátrica; tradução de Vera Ribeiro, Rio de Janeiro;
Ed. Fiocruz, 1999.
FOCAULT, Michel – História da Loucura na idade média; Ed. Perspectiva – 6ª
edição 1978.
VASCONCELOS, Eduardo Mourão (org), Lúcia Cristina dos Santos Rosa.; Ivana
Carla Garcia Pereira; José Augusto Bisneto – Saúde Mental e Serviço Social: o
desafio da subjetividade e da interdisciplinaridade: São Paulo: Ed. Cortez.
45
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO.....................................................................................01
AGRADECIMENTO.....................................................................................03
DEDICATÓRIA............................................................................................04
RESUMO.....................................................................................................05
METODOLOGIA..........................................................................................06
SUMÁRIO....................................................................................................07
INTRODUÇÃO............................................................................................ 08
CAPÍTULO I - UMA ANÁLISE DA REFORMA
PSIQUIÁTRICA E DA DESISTITUCIONALIZAÇÃO NO BRASIL ........... . 09
1.1. A história da Reforma Psiquiátrica .................................................... 09
1.2. Desinstitucionalização Psiquiátrica................................................... 17
1.3. Família x Direitos: Uma interface necessária.................................... 22
1.4. Aspectos relevantes sobre o Benefício da Prestação Continuada -
BPC.......................................................................................................24
CAPÍTULO II - A DOENÇA MENTAL E A LUTA
PELA SOBREVIVÊNCIA EM FAMÍLIA VULNERÁVEIS..............................29
2.1. A DOENÇA MENTAL E A LUTA PELA SOBREVIVÊNCIA
EM FAMÍLIA VULNERÁVEIS................................................................32
3. CONSIDERAÇÃO FINAIS.......................................................................40
4. ANEXOS...............................................................................................................42
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................44
6. ÍNDICE..................................................................................................................45