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Universidade Católica de Brasília - UCB Adriana Oliveira Mendes Professora-Orientadora: Anelise Pereira Sihler Educação em Direitos Humanos no Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte do Distrito Federal (PPCAAM-DF) Autora: Adriana Oliveira Mendes Orientadora: Anelise Pereira Sihler CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS: PROTEÇÃO E ASSISTÊNCIA A VÍTIMAS E A COLABORES DA JUSTIÇA UCB VIRTUAL

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Universidade Católica de Brasília - UCB

Adriana Oliveira Mendes

Professora-Orientadora: Anelise Pereira Sihler

Educação em Direitos Humanos no Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes

Ameaçados de Morte do Distrito Federal (PPCAAM-DF)

BRASÍLIA – DF2009

Autora: Adriana Oliveira Mendes

Orientadora: Anelise Pereira Sihler

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS: PROTEÇÃO E ASSISTÊNCIA A VÍTIMAS E A COLABORES DA

JUSTIÇA

UCB VIRTUAL

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Universidade Católica de Brasília - UCB

Adriana Oliveira Mendes

EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS NO PROGRAMA DE PROTEÇÃO ÀS

CRIANÇAS E ADOLESCENTES AMEAÇADOS DE MORTE DO DISTRITO

FEDERAL (PPCAAM-DF)

Monografia apresentada ao curso de Especialização em Direitos Humanos: Proteção e Assistência a Vítimas e a Colaboradores da Justiça da Universidade Católica de Brasília como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista.

Orientadora: Anelise Pereira Sihler

BRASÍLIA – DF2009

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FOLHA DE APROVAÇÃO

Monografia de autoria de Adriana Oliveira Mendes, intitulada EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS NO PROGRAMA DE PROTEÇÃO ÀS CRIANÇAS E ADOLESCENTES AMEAÇADOS DE MORTE DO DISTRITO FEDERAL (PPCAAM-DF), apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista da Universidade Católica de Brasília, em 10/12/2009, defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada:

Prof. Msc Anelise Pereira SihlerOrientadora

(curso/programa) - UCB

Prof. Msc Carlos Daniel Dell" Santo SeidelOrientador

(curso/programa) - UCB

BRASÍLIA – DF2009

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AGRADECIMENTOS

Aos meus amados pais, pelo apoio incondicional.

Aos Professores da UCB Virtual, especialmente, Prof. Daniel e Profa. Anelise pelas

orientações e incentivo para concluir esse curso.

Aos colegas de curso, pelas contribuições fundamentais nas discussões virtuais.

Às amigas e aos amigos, pelo apoio, incentivo e compreensão por minhas ausências, durante

essa jornada. Especialmente, a Lu, Dani e Edu pela ajuda eficaz para conclusão deste

trabalho.

Aos colegas e dirigentes da entidade executora do PPCAAM-DF, pela contribuição

fundamental para as minhas reflexões na elaboração deste trabalho.

Aos usuários do PPCAAM-DF, pelos desafios e lições aprendidas no cotidiano dessa

experiência.

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RESUMO

Referência: Adriana Oliveira Mendes. Título: Educação em Direitos Humanos no

Programa de Proteção as Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte do Distrito

Federal (PPCAAM-DF). Curso de Especialização em Direitos Humanos: Proteção e

Assistência a Vítimas e a Colabores da Justiça - Universidade Católica de Brasília, Brasília –

DF, 2009.

O sistema de proteção a vítimas de violência do Estado brasileiro é uma política pública que vem se construindo, muito recentemente, através de parceria entre governos e sociedade civil. A complexidade das violações aos direitos humanos no país e as deficiências da proteção social demonstra que as políticas públicas ainda são incipientes perante as demandas da sociedade. O Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM) foi instituído pelo Decreto n° 6.230 de 11/10/07, como uma estratégia do Governo Federal para enfrentar o crescimento de homicídios entre jovens, adolescentes e crianças no Brasil. Com o objetivo de proteger a vida das crianças e dos adolescentes ameaçados de morte, esse Programa tem a responsabilidade de identificar o local de proteção adequado; oferecer acompanhamento de uma equipe técnica visando à inserção social; fornecer auxílio financeiro, ao ameaçado e sua família para a manutenção em local seguro. Esse trabalho de término de especialização verificou como a equipe técnica aborda a temática de educação em direitos humanos com os usuários do PPCAAM. A análise se baseou na experiência profissional da autora nesse Programa no Distrito Federal, nos relatórios da equipe técnica e nos depoimentos dos usuários, além do levantamento bibliográfico sobre Educação em Direitos Humanos. A problemática enfrentada na execução do Programa aponta a necessidade de discussão e avaliação sobre o cumprimento efetivo das responsabilidades do Estado acerca da proteção a vítimas e testemunhas. Concluiu-se que embora a equipe técnica trabalhe com uma diversidade de temas de direitos humanos, não há um plano de ação ou uma sistematização das atividades; não utiliza uma metodologia participativa e não possui um projeto educativo em direitos humanos. A concepção de um projeto de formação de Educação em Direitos Humanos, na perspectiva da educação popular para a equipe técnica e os usuários do PPCAAM, favorecerá a sua emancipação e a concretização do processo de inserção social.

Palavras-chave: Educação em direitos humanos. Proteção à vida. Crianças e adolescentes.

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ABSTRACT

Author: Adriana Oliveira Mendes. Subject: Educação em Direitos Humanos no Programa

de Proteção as Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte do Distrito Federal

(PPCAAM-DF). Curso de Especialização em Direitos Humanos: Proteção e Assistência a

Vítimas e a Colabores da Justiça - Universidade Católica de Brasília, Brasília – DF, 2009.

The Brazilian violence victims protection system is a public policy that has been building recently, through a partnership between governments and civil society. The complexity of the human rights violations in the country and the deficiencies of social protection demonstrate that public policy are crude before the society needs. The Program to Protect Children and Adolescents threatened with death (PPCAAM) was set by Decree n° 6.230 from October, 11/2007, like a Federal Government strategy to face the growth of homicides among young people, adolescents and children in Brazil. In order to protect the lives of children and adolescents at risk of death this program has the responsibility to identify the suitable location for protection; offer up monitoring of a technical team looking for social inclusion; provide financial aid to the threatened and his family to maintain in a safe place. This specialization conclusion work could check as the crew deals with the issue of human rights education to the beneficiaries of the PPCAAM. The analysis was based on the author's professional experience in this Program at the Brazilian Federal District, the reports of the technical team and the testimonies of the beneficiaries besides the literature on Human Rights Education. The problems faced in implementing the Program highlights the need for discussion and evaluation of the effective accomplishment of state responsibility about the protection of victims and witnesses. It was concluded that although the technical team works with a variety of issues of human rights, doesn´t exist a plan of action or a systematization of the activities, not uses a participative methodology and doesn´t have an educational project on human rights. The design of a project for training of Human Rights Education in the perspective of popular education for technical team and beneficiaries of the PPCAAM, will promote the emancipation and the achievement of social inclusion process

Keywords: Human rights education. Life protection. Children and adolescents.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO....................................................................................................................................................2

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO..................................................................................................................................21.2 DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA.....................................................................................................................41.3 OBJETIVOS...................................................................................................................................................51.4 QUESTÕES...................................................................................................................................................51.5 JUSTIFIFCATIVA...........................................................................................................................................61.6 PARTES QUE COMPÕEM O TRABALHO.........................................................................................................7

2. MATERIAL E MÉTODOS................................................................................................................................9

3. CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS .................................................................11

4. OS DIREITOS HUMANOS E O PPCAAM ..................................................................................................20

5. RESULTADOS .................................................................................................................................................34

6. DISCUSSÃO......................................................................................................................................................39

7. CONCLUSÃO...................................................................................................................................................41

8. REFERÊNCIAS..................................................................................................................................................44

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1 INTRODUÇÃO

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

O sistema de proteção a testemunhas e vítimas de violência do Estado brasileiro é uma

política pública que vem se construindo, muito recentemente, através de parceria entre

governos e sociedade civil. Dada a complexidade e o aprofundamento da violência, das

violações aos direitos humanos e as deficiências da proteção social básica e especial em nosso

país, tais políticas ainda se mostram incipientes perante as demandas da sociedade.

Em vista do fenômeno da “juvenização da violência”1, o Programa de Proteção a

Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM) foi instituído em 2003, como uma

estratégia do Governo Federal para enfrentar o crescimento de homicídios entre jovens,

adolescentes e crianças no Brasil.

Com o objetivo de proteger a vida das crianças e dos adolescentes ameaçados de

morte2, esse Programa tem a responsabilidade de identificar o local de proteção adequado;

oferecer acompanhamento de uma equipe técnica (Psicólogo, Assistente Social, Educadora

Social e Advogada), visando à inserção social; fornecer auxílio financeiro, caso haja

necessidade, ao ameaçado e sua família para a sua manutenção em local seguro.

Para promover a reintegração social, a equipe do PPCAAM articula e orienta o acesso

dos usuários aos serviços públicos como saúde, educação, qualificação profissional. Além de

encaminhá-los às ações e programas vinculados ao Sistema Único de Assistência Social

(SUAS) que lhes garante o respeito aos direitos humanos, favorecendo o exercício da

cidadania.

Quando o PPCAAM recebe uma solicitação das portas de entrada – Poder Judiciário,

Conselhos Tutelares e Ministérios Públicos, responsáveis pela realização da pré-avaliação –

para a inclusão de uma criança ou adolescente sob proteção desse Programa, as informações

que se sobressaem na avaliação do caso estão relacionadas ao contexto da ameaça de morte. O

foco nessas informações é compreensível em função da situação, por vezes traumática,

vivenciada por eles, bem como, da necessidade da equipe em providenciar a remoção para um

local de proteção para a família.

1 O termo se refere à tendência crescente do envolvimento dos jovens como autores e vítimas da violência e da criminalidade, resultando no aumento de jovens na população carcerária, bem como, das taxas de homicídios concentradas na faixa etária de 15 a 24 anos, do sexo masculino, negros e pobres.2 A situação ameaça de morte é identificada pela porta de entrada (Poder Judiciário, Conselho Tutelar, Ministério Público), e avaliada pela equipe técnica do PPCAAM que verifica a existência de grave risco de morte ou coação a integridade física.

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Todavia, na experiência recente do Distrito Federal (DF), tais famílias não

demonstraram ter domínio dos direitos fundamentais que o Estado tem por obrigação lhes

garantir, e o dever de reparar os danos causados aos cidadãos que sofreram as violações. Na

verdade, as famílias que foram atendidas, mal tinham ouvido falar sobre o Estatuto da Criança

e do Adolescente (ECA), comumente obtido informações sobre o Conselho Tutelar. No geral,

ao serem vitimados, e a violência vivida ter sido publicizada, é que os indivíduos são

incluídos em programas e serviços de proteção social, reconhecendo-os como vítimas.

Após a inclusão dos ameaçados de morte, a equipe do DF que os acompanha, trabalha

cotidianamente as regras do PPCAAM articulando-as com o ECA, o Plano de Convivência

Familiar e Comunitária, bem como outros instrumentos legais, que servem como diretrizes

para orientar a conduta em prol da proteção da ameaça de morte e da inserção social dos

usuários do Programa, em conformidade com o Decreto n° 6.231 de 11 de outubro de 2007.

A proteção é efetuada retirando a criança ou o adolescente ameaçado de morte do local

de risco, preferencialmente com seus familiares, e inserindo-os em uma comunidade com

segurança. Prima-se pela garantia de sua proteção integral através de inclusão de todos os

protegidos em serviços de saúde, educação, esporte, cultura e se necessário, em cursos

profissionalizantes, políticas de assistência social e mercado de trabalho.

A experiência profissional da autora na Coordenação do Programa de Proteção a

Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte do Distrito Federal (PPCAAM-DF) causou

inúmeras indagações acerca da execução, por uma organização não-governamental, de um

programa governamental de proteção a vítimas de violência por parte das instituições que

deveriam lhes assegurar a proteção integral e o cumprimento dos direitos humanos, em

conformidade com a legislação brasileira; tais sejam: a Família, o Estado e a Sociedade.

Muitas indagações da equipe durante as atividades não eram respondidas pela

Coordenação Nacional do Programa no governo federal, nem por teorias ou estudos nessa

temática por estes serem muito escassos e pelo ineditismo da experiência de serviços de

proteção a vítimas de violência – crianças e adolescentes. Foi o que motivou essa investigação

no intuito de provocar reflexão e debate sobre uma prática que não tem sido monitorada nem

avaliada.

O cotidiano de trabalho indica que se faz necessário a realização de algum trabalho

pedagógico com os usuários durante a permanência sob proteção do PPCAAM, em prol da

inserção social, pautada no exercício da cidadania e autonomia dos sujeitos. Por isso, um

profissional de Educação Social também deve atuar integrado ao trabalho da equipe técnica.

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1. 2 DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA

Considerando o perfil socioeconômico e o nível de escolaridade da maioria dos

usuários do PPCAAM, dificilmente eles têm acesso à informação acerca dos direitos

humanos. Tendo em vista que, esse público demonstra desconhecer a concepção sobre a

proteção social que deveria ser garantida as crianças e adolescentes pelo Estado, muitos

usuários do PPCAAM se sentiam injustiçados, diante da impunidade do ameaçador e não

demonstravam a compreensão das violações dos direitos humanos que sofreram. Reclamavam

da perda de sua liberdade, cabendo questionar se a inclusão no Programa ocorria por coerção,

e se havia violação de outros direitos, como o direito de ir e vir e o direito de acesso à justiça.

Na rotina de trabalho dessa equipe, freqüentemente, as discussões sobre os casos

atendidos eram pautadas pelas reflexões acerca da garantia dos direitos fundamentais das

crianças e adolescentes sob a proteção do PPCAAM, frente às atitudes – por vezes

incongruentes com as responsabilidades da família – adotadas por seus pais ou responsáveis

legais incluídos no Programa.

No acompanhamento dos casos, a equipe técnica verifica a falta de informação e de

acesso aos serviços públicos. Consequentemente, os responsáveis demonstravam ignorância

ou atitude passiva, no que tange à reivindicação de acesso a tais serviços, a seus direitos ou à

justiça. O que leva a inferir que os usuários não exerciam sua cidadania, nem se reconheciam

como sujeitos de direitos.

Durante a atuação profissional da autora no Programa de Proteção a Crianças e

Adolescentes Ameaçados de Morte do Distrito Federal (PPCAAM-DF), iniciado em março de

2008, as discussões remetiam ao questionamento sobre a compreensão desses usuários acerca

dos seus direitos e deveres para com seus filhos, bem como, dos tipos de violações sofridas.

Pelo contrário, em geral, a família atribuía a culpa às vítimas pela situação enfrentada.

Ou seja, responsabilizavam seus próprios filhos pela situação de ameaça de morte, quando

estes deveriam ser protegidos da violação dos direitos pelas instituições responsáveis: a

família, a sociedade e o Estado. No período de permanência no PPCAAM-DF, a relação

intrafamiliar baseada na culpa, comprometia muito a convivência e por vezes, acarretava

prejuízo à segurança e à inserção social no local de proteção desse Programa.

Nesse sentido, o profissional de Psicologia, dentre as suas atribuições, devia oferecer

apoio psicológico para adaptação, construção de um novo projeto de vida dos indivíduos sob

proteção do PPCAAM, promover a integração familiar, buscando manter o vínculo dos

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protegidos com seus familiares. Cabia ao profissional de Educação Social acompanhar a

equipe técnica nos atendimentos de avaliação e estudo dos casos; acompanhar e orientar o

beneficiário e a sua família em suas demandas, tais como: saúde, educação, compras, passeios

e lazer, rotinas de higiene e limpeza, dentre outras atribuições. Contudo, a experiência

demonstrou que isso não supria a deficiência desses indivíduos, no que se refere a sua

emancipação e ao exercício pleno da cidadania, inclusive após o desligamento do Programa.

1. 3 OBJETIVOS

O objetivo geral do trabalho é discutir a concepção de educação em direitos humanos e

sua aplicação na execução do PPCAAM-DF.

Além do objetivo geral, pretende-se, com esse estudo, alcançar os seguintes objetivos

específicos:

- Verificar a existência de um projeto de Educação em Direitos Humanos, adequado aos

usuários sob a sua proteção e integrado ao processo de inserção social promovido pelo

PPCAAM.

- Identificar os elementos fundamentais da Educação em Direitos Humanos que favoreçam o

processo de inserção social e o exercício da cidadania dos usuários do PPCAAM, a partir da

experiência no Distrito Federal.

1.4 QUESTÕES

O processo de acompanhamento técnico aos indivíduos incluídos no Programa se

baseava num projeto educativo em direitos humanos? Na medida em que, nos procedimentos

adotados pela equipe junto aos usuários, foi transmitida informação sobre os instrumentos

legais que fundamentam o PPCAAM, os seus direitos e deveres; gerou alguma compreensão

sobre direitos humanos violados? Quais os elementos da Educação em Direitos Humanos que

poderiam qualificar a atuação profissional do Programa, em benefício dos usuários para que

adquirissem novos valores e atitudes, desenvolvendo o seu nível educacional global acerca

dos direitos humanos que foram violados?

Diante dessas questões, neste trabalho de conclusão do curso de especialização

propõe-se discutir os benefícios da aquisição de conhecimento em direitos humanos, como

subsídio ao processo de inserção social dos usuários no local de proteção, durante a

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permanência no PPCAAM, a partir de um projeto de Educação em Direitos Humanos que

favoreça a emancipação dos usuários após o desligamento do Programa.

1.5 JUSTIFICATIVA

No Brasil, o histórico da implementação da Declaração Universal dos Direitos

Humanos está intimamente relacionado ao processo de democratização pós-ditadura militar,

culminando com a Constituição Federal de 1988. No entanto, a concepção de políticas

públicas que garantam os direitos humanos ao povo brasileiro apresenta certo descompasso

em relação à execução dessas políticas, ressaltando que todo esse processo implica também

numa mudança cultural.

A história brasileira de proteção a vítimas e testemunhas se iniciou com a iniciativa

pioneira, em 1996, de uma organização não-governamental Gabinete de Assessoria Jurídica as

Organizações Populares (GAJOP) e da sociedade civil organizada em defesa dos direitos

humanos e da “Luta contra impunidade”. Inspirada nas experiências internacionais,

principalmente a inglesa, a ação conquistou o apoio do governo do estado de Pernambuco, no

decorrer da realização do Programa de Apoio e Proteção a Testemunhas e Vítimas da

Violência (Provita), nesse estado.

Posteriormente, o governo federal atendeu as pressões sociais dos movimentos de

defesa de direitos humanos, promulgando a Lei Federal nº 9.807 de 13 de julho de 1999 que

normatizou os programas especiais de proteção a vítimas e testemunhas ameaçadas no Brasil.

Isso possibilitou também consolidar a expansão do Provita para outros estados brasileiros,

através de convênio entre o GAJOP, Ministério da Justiça e o Programa das Nações Unidas

para o Desenvolvimento (PNUD).

Atualmente, no âmbito da Secretaria Especial de Direitos Humanos na Presidência da

República (SEDH/PR) consta a ação “Proteção a Pessoas Ameaçadas”, que possui status de

política pública prioritária do governo federal por integrar o Plano Nacional de Direitos

Humanos e constar como meta do Plano Plurianual de 2004-2007 e o de 2008 -2011.

De acordo com a SEDH/PR, essa ação é constituída pelas atividades relacionadas à

proteção de testemunhas, de defensores de direitos humanos e de crianças e adolescentes

ameaçados. A proteção de crianças e adolescentes ameaçados de morte mobiliza o sistema de

garantia de direitos da criança e do adolescente, cujo programa, iniciado em 2003; passou a

integrar-se ao projeto “Bem-me-quer”, uma das ações do Governo Federal prevista na Agenda

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Social Criança e Adolescente, a partir de 2008, visando o enfrentamento da violência em

relação a esses segmentos.

O Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM)

é coordenado nacionalmente pela Subsecretaria de Promoção dos Direitos da Criança e do

Adolescente (SPDCA) que articula as ações nas Unidades da Federação por meio de convênio

e parceria com os Governos Estaduais, Municipais e Organizações Não Governamentais, para

implementação do sistema de proteção a crianças e adolescentes ameaçados de morte.

Mediante a proteção aos ameaçados de morte ofertada pelo PPCAAM, a equipe

trabalha a adesão às regras desse programa desde o momento de sua inclusão. A equipe

também cabe apoiar os usuários no processo denominado inserção social. Este consiste na

orientação e oferta de meios que proporcionem a inserção social dos usuários a uma nova

comunidade no local de proteção.

Para promover a inserção social, a equipe do PPCAAM articula e orienta o acesso dos

usuários aos serviços públicos como saúde, educação, qualificação profissional. Além de

encaminhá-los às ações e programas vinculados ao Sistema Único de Assistência Social

(SUAS) que lhes garanta o respeito aos direitos humanos, favorecendo o exercício da

cidadania.

Em vista da escassa produção acadêmica acerca desse Programa inovador e com

pouco tempo de execução, destaca-se dessa temática uma questão que emergiu na execução

do PPCAAM-DF: se um Projeto Pedagógico de Educação em Direitos Humanos para os

usuários durante sua permanência no Programa repercute na convivência familiar, na

segurança dos usuários e no processo de emancipação destes para o desligamento do

Programa; quais os elementos da Educação em Direitos Humanos que se integram à atuação

profissional da equipe técnica do PPCAAM? O intuito de discutir as indagações mencionadas

justifica a realização deste trabalho monográfico.

1.6 PARTES QUE COMPÕEM O TRABALHO

Diante disso, este trabalho de conclusão de curso de especialização possui o intuito de

contribuir para o aperfeiçoamento da proteção ofertada pelo PPCAAM, visando à inserção

social dos sujeitos. Compõem-se de três partes, sendo apresentada na primeira, uma

contextualização do PPCAAM para que o leitor tenha noção da experiência. A segunda parte

contém a discussão do referencial teórico relativo ao problema estudado, o aporte de

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elementos conceituais da Educação em Direitos Humanos e a concepção do Programa. Na

terceira parte encontram-se algumas contribuições para o aprimoramento do PPCAAM, na

discussão dos resultados e conclusão do trabalho.

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2 MATERIAL E MÉTODOS

Segundo Minayo (1999), “a metodologia é o caminho do pensamento e a prática

exercida na abordagem da realidade”. Neste trabalho, o estudo de caso se deu sobre um

fenômeno de uma realidade pouco investigada, em virtude do ineditismo e do pouco acúmulo

da experiência de proteção a crianças e adolescentes ameaçados de morte no Brasil, mas que

está relacionado diretamente à temática do curso de especialização.

Diante disso, a pesquisa qualitativa é uma escolha adequada por responder às questões

particulares num nível de realidade que não pode ser quantificado. O método do Estudo de

Caso atende aos objetivos da investigação de campo, visto que permite a observação e a

compreensão dos fenômenos em seu ambiente natural, na medida em que estes ocorrem,

sendo analisados o contexto e os processos envolvidos (Dias, 2000).

Conforme André (1984), os estudos de caso procuram retratar a realidade, dando

ênfase a sua representação singular, no particular. Esse tipo de estudo “valoriza o

conhecimento experiencial e enfatiza o papel importante do leitor na geração desse

conhecimento”.

O caso selecionado para esse estudo consiste no Programa de Proteção a Crianças e

Adolescentes Ameaçados de Morte do Distrito Federal (PPCAAM-DF) que devido a uma

situação emergencial, iniciou suas atividades em janeiro de 2008, enquanto a equipe técnica

só foi contratada a partir de março do mesmo ano. Esse Programa recebeu, até dezembro de

2008, vinte e oito solicitações para inclusão de indivíduos. Durante doze meses, ingressaram

nove crianças e adolescentes ameaçados de morte mais nove familiares sob a proteção do

Programa.

A autora trabalhou nesse Programa durante um ano, quando vivenciou a interação

direta com os usuários, além do monitoramento das atividades de acompanhamento destes

pela equipe técnica. Na pesquisa exploratória, buscou-se fazer uma aproximação com o tema

através de teorias que possibilitam a análise dessa realidade. Com esse intuito, o trabalho de

campo consistiu na observação direta dos fatos e fenômenos durante a permanência dos

usuários sob a proteção ofertada pelo PPCAAM-DF, no período da atuação profissional da

autora.

No levantamento bibliográfico acerca da relação entre o PPCAAM e a Educação em

Direitos Humanos, não foi identificada nenhuma publicação, o que indica que este estudo

consiste na primeira aproximação ao tema proposto. Assim, foram utilizados os documentos

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oficiais e textos eletrônicos produzidos sobre o PPCAAM. Quanto à temática da Educação em

Direitos Humanos, fez-se opção pelos autores cujo referencial teórico se baseia na educação

para a mudança, visando à formação de uma cultura de respeito à dignidade humana e à

cidadania plena, na perspectiva da autonomia do sujeito.

Para a análise dos dados foram eleitas algumas categorias referentes ao PPCAAM e a

Educação em Direitos Humanos (EDH) para se verificar a existência de correlação entre

estes. Acerca do PPCAAM, buscaram-se elencar os temas trabalhados pela equipe técnica no

procedimento de Acompanhamento dos casos incluídos neste Programa, enquanto que sobre a

EDH recorreu-se ao Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (2006), tendo em

vista ser um documento de referência na política de direitos humanos do país e estar

disponível à sociedade brasileira.

Quanto à utilização dos resultados, estes poderão ser utilizados para reflexão e

aperfeiçoamento da prática do PPCAAM, possibilitando-lhe a definição de uma proposta

educacional que difunda a compreensão dos direitos humanos para a equipe e os usuários do

Programa, visando à promoção e vivência dos direitos humanos.

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3 CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS

“A educação deve formar gente capaz de se situar corretamente no mundo e de influir para que se aperfeiçoe a sociedade humana como um todo” (Milton Santos)

A educação é reconhecida como uma ferramenta para o crescimento pessoal dos

indivíduos, que adquiriu status de direitos humanos ao contribuir para a ampliação da

dignidade humana com o acesso ao conhecimento e ao saber. Embora, a educação provoque

impacto na economia, sua força política é maior, consistindo num instrumento de combate à

pobreza política, como almejava Paulo Freire. Pois a escola pública e gratuita propicia a

oportunidade de se constituir uma consciência crítica, de ascender à condição de sujeito

autônomo e politicamente mais emancipado. (Demo, 2004)

Então, destaca-se a importância da educação para os direitos humanos por representar

uma conquista política. As populações que “não sabem pensar copiam os direitos e os

realizam como objeto, deturpando nisto mesmo a própria noção de direito”. (Demo, 2004)

As diretrizes que fundamentam a Educação em Direitos Humanos têm uma trajetória

recente no cenário internacional e nacional, o que reforça a necessidade de se desenvolver a

produção acadêmica acerca dessa temática, principalmente para avaliar os resultados

alcançados até então.

O Plano Mundial de Ação para a Educação em Direitos Humanos foi instituído em

1993, no Congresso Internacional sobre Educação em Prol dos Direitos Humanos e da

Democracia realizado pela ONU. O Plano, que visava promover, estimular e orientar

compromissos em prol da educação em defesa da paz, da democracia, da tolerância e do

respeito à dignidade da pessoa humana; foi referendado na Conferência Mundial de Viena de

1993.

Essa Conferência atribuiu à educação, a capacitação e a informação pública em

direitos humanos aos Estados e instituições que deveriam incluir a matéria em todas as

instituições de ensino formal e não-formal, devendo promover programas e estratégias

educativas que ampliassem a educação em direitos humanos da população.

Para Zenaide (2007), o direito à educação em direitos humanos está associado ao

direito à educação. Desde a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem (1948)

e a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) em 1948, a educação foi

reconhecida como um direito universal. A DUDH determinou que todos tivessem direito a

instrução, sendo obrigatória e orientada para “o pleno desenvolvimento da personalidade

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humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades

fundamentais”.

A inclusão dos direitos humanos, do direito humanitário, da democracia e do Estado de Direito, a paz, o desenvolvimento e a justiça social, os instrumentos internacionais e regionais de direitos humanos como matérias dos currículos de todas as instituições de ensino dos setores formal e informal, são ações prioritárias para que os Estados, com a assistência de organizações intergovernamentais, instituições nacionais e organizações não-governamentais, promovam maior “conscientização dos direitos humanos e da tolerância mútua” de modo a fortalecer a construção de uma cultura universal dos direitos humanos. (Zenaide 2007)

Em 1994, a ONU promulgou a Década da Educação em Direitos Humanos (1995 a

2004), reafirmando a educação em direitos humanos como parte do direito a educação,

garantindo às pessoas o direito de informar-se, saber e conhecer os seus direitos, bem como, a

forma para protegê-los e defendê-los.

Conforme Zenaide (2007), a educação em direitos humanos abrange uma diversidade

de instrumentos internacionais acerca da proteção dos direitos humanos, dos quais se

destacam:

- O Pacto Internacional dos Direitos Econômicos e Sociais de 1966 recomenda por sua vez a necessidade de se construir uma ética comunitária universal que se funde na educação para a tolerância e a amizade entre todas as nações e entre todos os grupos raciais e a promoção da manutenção da paz entre todos os povos;- A Declaração e o Plano de Ação Integrado sobre a Educação para a Paz, os Direitos Humanos e a Democracia, ratificada pela Conferência Geral da UNESCO em 1995, reafirma o compromisso em dar prioridade à educação de crianças, adolescentes e jovens face às formas de intolerância, racismo e xenofobia;- A Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e Formas Correlatas de Intolerância realizada em Durban, África do Sul, em 2001, indicou para os Estados o compromisso com a luta contra o racismo, a discriminação racial, a xenofobia e a intolerância correlata, a implementação de programas culturais e educacionais que incluam componentes antidiscriminatórios e anti-racistas, a realização de campanhas públicas de informação, programas de educação em direitos humanos para todos os níveis de ensino, produção de material didático e programas de educação pública formal e informal que promovam a diversidade cultural e religiosa e a implementação de políticas de promoção da igualdade de oportunidades.

A II Conferência Mundial de Direitos Humanos (Viena, 1993) representou um marco

na história da educação em direitos humanos, cujo texto possui um item denominado “Ensino

dos direitos humanos” com os incisos de 78 a 82. Esse item define a educação sobre os

direitos humanos que deve incluir a paz, a democracia, o desenvolvimento e a justiça social.

O texto atribui aos Estados a tarefa relativa ao ensino, à formação e à informação

sobre direitos humanos para a promoção e a obtenção de relações harmoniosas e estáveis

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entre as comunidades. O inciso 82 determina que os governos promovam uma maior

conscientização dos direitos humanos e da tolerância mútua com apoio das organizações

intergovernamentais, das instituições nacionais e das organizações não-governamentais.

Cabendo aos Estados “empreender e apoiar a educação sobre direitos humanos e encarregar-

se da efetiva divulgação da informação neste domínio” (DECLARAÇÃO DE VIENA E

PROGRAMA DE AÇÃO, 1993).

No cumprimento do cronograma da Década para Educação em Direitos Humanos das

Nações Unidas (1995-2004), o Gabinete do Alto Comissariado para Direitos Humanos

(OHCHR) definiu as diretrizes que orientavam os Estados para elaborar e desenvolver os

planos nacionais de ação para a educação em direitos humanos, atendendo as resoluções da

Assembléia Geral como também da Comissão de Direitos Humanos.

Nas "Diretrizes para Planos Nacionais de Ação para Educação em Direitos Humanos"

se encontra a definição de educação em direitos humanos; os Princípios que regem um plano

nacional de ação para educação em direitos humanos; os Passos direcionados à

implementação de um plano nacional de ação para educação em direitos humanos. O referido

instrumento orienta os Estados membros a criarem um comitê nacional para educação em

direitos humanos e formularem um plano nacional de ação.

A definição de educação em direitos humanos se baseia nas referências de diversos

instrumentos internacionais de direitos humanos que contém “a concepção de educação em e

para direitos humanos”, incluindo a Declaração Universal de Direitos Humanos (art. 26), o

Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (art. 13), a Convenção sobre

os Direitos da Criança (art. 29) e, mais recentemente, a Declaração e Programa de Ação de

Viena (item D, 78-82).

Em consonância com o conjunto dessas referências e com os propósitos da Década

(1995 - 2004), a educação em direitos humanos é definida como,

Treinamento, disseminação e informação objetivados à construção de uma cultura universal de direitos humanos através do compartilhamento de conhecimento e habilidades e da mudança de atitudes, que são direcionados a: O fortalecimento do respeito aos direitos humanos e liberdades fundamentais; O desenvolvimento completo da personalidade humana e de seu senso de dignidade; A promoção da compreensão, tolerância, igualdade entre os sexos e amizade entre todas as nações, pessoas indígenas e grupos raciais, nacionais, étnicos, religiosos e linguísticos; A capacitação de todas as pessoas de participar efetivamente de uma sociedade livre; A ampliação de atividades das Nações Unidas para a manutenção da paz.

As Diretrizes para Planos Nacionais de Ação para Educação em Direitos Humanos

tem por finalidade:

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Promover uma compreensão comum dos propósitos e conteúdo da educação em direitos humanos e da Década; Enfatizar padrões mínimos para educação em direitos humanos; Identificar processos/passos necessários para delinear, implementar, avaliar e reformular um plano nacional para educação em direitos humanos; Dirigir a atenção para os recursos humanos, financeiros e técnicos necessários para adotar uma abordagem nacional para educação em direitos humanos; Encorajar a interação efetiva entre instituições e organizações nacionais e internacionais de direitos humanos e promover a implementação de padrões internacionais de direitos humanos ao nível nacional; Fornecer mecanismos para estabelecer objetivos razoáveis de educação em direitos humanos e para medir suas conquistas.

Segundo Claude (2005), a educação em direitos humanos se constitui num direito

social, econômico e cultural.

Direito social porque, no contexto da comunidade, promove o pleno desenvolvimento da personalidade humana. Direito econômico, pois favorece a auto-suficiência econômica por meio do emprego ou do trabalho autônomo. E direito cultural, já que a comunidade internacional orientou a educação no sentido de construir uma cultura universal de direitos humanos.

O autor considera que os latino-americanos tiveram um papel de liderança acerca da

concepção de educação em direitos humanos. O primeiro a declarar a importância da

educação baseada em valores foi o brasileiro Belarmino Austregésilo de Athayde, defendendo

que a educação oferece recurso ao indivíduo para o desenvolvimento de sua personalidade.

Uma proposta argentina reproduziu o Artigo 12 da Declaração Americana dos Direitos e

Deveres Humanos. E a Declaração de Bogotá, dizia que toda pessoa tem direito a uma

educação que a prepare para uma vida digna e útil à sociedade. Essas contribuições resultaram

na expressão “pleno desenvolvimento da personalidade humana”, adotada pelos elaboradores

da DUDH que acresceram ainda, “e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e

pelas liberdades fundamentais”.

De acordo com Claude (2005),

Para esse pleno desenvolvimento, a educação para a dignidade deve levar em conta a lista completa dos direitos humanos: direitos pessoais, como a privacidade; direitos políticos – como a participação, bem como a busca e a divulgação de informações; direitos civis, como a igualdade e a ausência de discriminação; direitos econômicos, como um padrão de vida digno; e o direito a participar da vida cultural da comunidade.

O autor faz analogia à visão do Educador, brasileiro Paulo Freire, cujo livro

“Pedagogia do Oprimido” de 1973 ressaltava “as conexões entre a educação do povo e a auto-

realização, em conseqüência do aprendizado e do exercício dos direitos humanos”.

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De fato a Década Mundial para a Educação em Direitos Humanos ao definir como

objetivo “o pleno desenvolvimento da personalidade humana num espírito de paz,

compreensão mútua e respeito pela democracia e pelas leis” marcou uma perspectiva

evolutiva nesse campo. A Resolução 49/184 da Assembléia Geral da ONU afirmou que o

ensino em direitos humanos seria desenvolvido em todos os níveis da educação formal

(sistema escolar convencional) e adotado na educação informal (chamada “educação

popular”). Além disso, acerca da metodologia de ensino, valorizava os métodos de ensino

interativos, participativos e culturalmente relevantes (Claude, 2005).

A avaliação do estado da educação em direitos humanos realizada na Conferência

Regional sobre Educação em Direitos Humanos na América Latina (México, dezembro de

2001) apontou os avanços nessa área, de acordo com a UNESCO (2001): a Declaração de

Mérida em 1997, aprovada na VII Conferência Iberoamericana de Educação o Encontro de

Lima de Investigadores em Direito Humano, organizado pelo IIDH no Peru, a Reunião de

Governos sobre a Promoção e a Proteção dos Direitos Humanos na Região da América Latina

e no Caribe em Equador em 1999, o Seminário Latino-Americano de Educação para a paz e

os Direitos Humanos na Venezuela em 2001 e o Plano Latino-Americano de para a Promoção

da Educação em Direitos Humanos, organizado pela Rede Latino-Americana de Educação

para a Paz e os Direitos Humanos do CEEAL (Zenaide, 2007).

Semelhante à América Latina, no Brasil a Educação em Direitos Humanos surgiu

como resistência cultural às violações aos direitos humanos e como fundamentos para o

processo emancipatório de conquista de direitos, no contexto das lutas dos movimentos

sociais e populares (Zenaide, 2007).

No fim da ditadura militar brasileira emergiram os movimentos sociais de luta pelos

direitos humanos que levaram o tema ao debate público. Do mesmo modo, o direito à

educação em direitos humanos foi defendido, inicialmente, pela sociedade civil organizada.

As entidades que atuavam nos movimentos de resistências e de conquistas de direitos

desenvolveram as primeiras experiências nessa área, na modalidade não-formal.

No caso brasileiro, deve-se considerar que a república federativa convive com grandes

diferenças e enfrenta conflitos entre os diferentes níveis de governo (federal, estadual e

municipal), bem como na relação entre poder público e os movimentos sociais. Além disso, o

impacto das mudanças ocorridas nas diversas dimensões da vida social com a consolidação do

projeto neoliberal, desde os anos 1990, gerou mais recessão econômica, desemprego, exclusão

social, anomia social, recrudescimento da violência.

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Nesse contexto, hoje o cenário está marcado pela contradição: enquanto a hegemonia

neoliberal se afirma no plano internacional e os diferentes governos, não se desprendem de

sua lógica, no que se refere às políticas econômicas; o discurso sobre os Direitos Humanos, é

assumido e ressituado (Melo Neto, 2007).

A partir do Programa Nacional de Direitos Humanos em 1996 a Conferência Nacional

dos Direitos Humanos propôs como uma das metas de ação, a implementação do Plano

Nacional de Educação em Direitos Humanos, criado apenas em 2003. Com isso, a educação

em direitos humanos tornou-se objeto de política pública, de programas e projetos no sistema

de ensino formal e não-formal, “como uma estratégia para sensibilizar e formar educadores e

gestores do sistema de ensino a se engajarem na missão de construir uma cultura de e para os

direitos humanos” (Zenaide, 2007).

Tendo em vista a conquista e a implementação dos Direitos Humanos no Brasil, em

2003, o Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos elaborou a primeira versão do

Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH), objetivando contribuir na

construção de uma cultura voltada para o respeito aos direitos fundamentais da pessoa

humana.

Diante disso, considera-se que a criação e a consolidação de uma cultura de Direitos

Humanos, favorecendo o pleno exercício da cidadania brasileira, dependem da solidificação

de um processo educativo voltado para esta temática. Posto que, a colaboração dos atores

sociais é essencial para a efetividade dos direitos humanos fundamentais, mas tem que se

investir na formação desses atores.

De acordo com Mazzuoli (2001),

“A educação em direitos humanos deve se dar de uma forma tal que os princípios éticos fundamentais que o cercam, sejam para todos nós – membros da coletividade – tão naturais como que o próprio ar que respiramos. A consolidação da cidadania, em sua forma plena, deve ser o fator principal da criação de uma cultura em direitos humanos.”

Melo Neto (2007) destaca três dimensões que os processos de educação em direitos

humanos devem contemplar: a primeira diz respeito à formação de sujeitos de direito, no nível

pessoal e coletivo, que articulem as dimensões ética, político-social e as práticas concretas; a

segunda, ao processo de “empoderamento” (“empowerment”), orientado aos atores sociais

que, historicamente, possuem menos condições de influírem nas decisões e nos processos

coletivos; e a última dimensão, refere-se aos processos de mudança, de transformação,

necessários para a construção de sociedades verdadeiramente democráticas e humanas.

Conforme o PNEDH (2003),

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“Educar em direitos humanos é fomentar processos de educação formal e não-formal, de modo a contribuir para a construção da cidadania, o conhecimento dos direitos fundamentais, o respeito à pluralidade e à diversidade sexual, étnica, racial, cultural, de gênero e de crenças religiosas.”

O Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (2006) visa impulsionar um

conjunto de fatores, como a promoção de interesses das pessoas para conteúdos globais; a

institucionalização de padrões de valoração, sanção e pressão, além de mecanismos de

avaliação das políticas; a definição de princípios que objetivem a força e o poder de setores

sociais historicamente vulneráveis.

O PNEDH (2006) definiu os espaços prioritários para atuação: “educação formal”

(subdividida em ‘educação básica’ e ‘educação superior’), “educação não-formal”, “educação

dos profissionais do sistema de justiça e segurança” e, por fim, “educação e mídia”. Para cada

um desses espaços de atuação prioritários, foi formulada a concepção norteadora dessa

atuação e os princípios dela advindos, bem como um conjunto de ações programáticas.

No que se refere à educação não-formal, o foco está na sua relevância como ação promotora da emancipação e autonomia de cada e de todos os integrantes da espécie.No que diz respeito aos profissionais de Justiça e Segurança, a questão central é a construção de seu compromisso com os valores democráticos, e, na perspectiva colocada por esses valores, sua participação na construção efetiva de sistemas conspícuos de Justiça e Segurança, submetidos a controle social (Náder, 2009).

Segundo Melo Neto (2007), na perspectiva desse Plano, a educação se transforma em

um instrumento fundamental de exercício e de busca desses direitos. Processos educativos que

precisam estar norteados na perspectiva de uma educação traduzida como um processo

sistemático e de variadas dimensões para a orientação e formação do sujeito e da pessoa,

orientada à luta por seus direitos.

O PNEDH (2006) definiu um conjunto de princípios que orientam as ações de cada

eixo temático. Nesse sentido, a educação não-formal é vista como

a) mobilização e organização de processos participativos em defesa dos direitos humanos de grupos em situação de risco e vulnerabilidade social, denúncia das violações e construção de propostas para sua promoção, proteção e reparação;b) instrumento fundamental para a ação formativa das organizações populares em direitos humanos;c) processo formativo de lideranças sociais para o exercício ativo da cidadania;d) promoção do conhecimento sobre direitos humanos;e) instrumento de leitura crítica da realidade local e contextual, da vivência pessoal e social, identificando e analisando aspectos e modos de ação para a transformação da sociedade;f) diálogo entre o saber formal e informal acerca dos direitos humanos, integrando agentes institucionais e sociais;

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g) articulação de formas educativas diferenciadas, envolvendo o contato e a participação direta dos agentes sociais e de grupos populares.

Dentre as Ações Programáticas da Educação não-formal (PNEDH, 2006), foram

destacadas aquelas que apresentam uma aproximação com a realidade vivenciada na execução

do PPCAAM-DF:

1. Identificar e avaliar as iniciativas de educação não-formal em direitos humanos, de forma a promover sua divulgação e socialização; 2. investir na promoção de programas e iniciativas de formação e capacitação permanente da população sobre a compreensão dos direitos humanos e suas formas de proteção e efetivação;3. estimular o desenvolvimento de programas de formação e capacitação continuada da sociedade civil, para qualificar sua intervenção de monitoramento e controle social junto aos órgãos colegiados de promoção, defesa e garantia dos direitos humanos em todos os poderes e esferas administrativas;5. promover cursos de educação em direitos humanos para qualificar servidores(as), gestores(as) públicos(as) e defensores(as) de direitos humanos;6. estabelecer intercâmbio e troca de experiências entre agentes governamentais e da sociedade civil organizada, vinculados a programas e projetos de educação não-formal, para avaliação de resultados, análise de metodologias e definição de parcerias na área de educação em direitos humanos;12. apoiar técnica e financeiramente programas e projetos da sociedade civil voltadas para a educação em direitos humanos;14. propor a incorporação da temática da educação em direitos humanos nos programas e projetos de esporte, lazer e cultura como instrumentos de inclusão social, especialmente os esportes vinculados à identidade cultural brasileira e incorporada aos princípios e fins da educação nacional.

Melo Neto (2007) ressalta a constatação de que a introdução da temática dos Direitos

Humanos na formação de professores e educadores em geral, na formação inicial e continuada

ainda é tímida e que poucas organizações trabalham nessa perspectiva. Ele defende que é

fundamental buscar-se estratégias que colaborem para a construção de uma cultura dos

direitos humanos, que penetre as diferentes práticas sociais.

A Educação Popular, com suas metodologias diversificadas e integradas às realidades,

é que contribui para a criação de uma cultura universalizante, reconhecendo as culturas locais, “e

para o exercício do respeito, da tolerância, da valorização da diversidade e fortalecimento de

regimes democráticos, além de ser capaz de difundir os direitos humanos no país” (Melo Neto,

2007).

Segundo Melo Neto (2007),

A educação popular em sua dimensão política passa a se orientar por princípios da autonomia e da emancipação. Em qualquer ambiente onde ocorra o fenômeno da educação, aí esses valores precisam estar presentes – os valores dos direitos humanos. A sua implementação direciona-se pelo exercício da crítica, como a capacidade humana de discernir as dimensões positivas e negativas de cada fenômeno, decidindo-se a partir desse processo mental.

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O autor afirma que as reivindicações populares do cotidiano serão elementos

educativos, pois os conteúdos e as práticas dessas reivindicações tornam-se efetivos como

direitos humanos. A luta por qualificação profissional, acesso a educação básica, pela

educação política dos movimentos sociais que geram organização e mobilização social capaz

de promover a participação das pessoas em processos de decisão, ampliando a cidadania é que

concretizam os direitos humanos.

De acordo com Maués e Weyl (2007),

A educação em direitos humanos requer refletir em torno das condições de possibilidades, reprodução e justificação das formas simbólicas, sociais e políticas permissivas, que tornam banal a violação da natureza e vulgarizam violações diversas e naturalizam relações humanas de submissão, exclusão, exploração, discriminação, da violência, preconceito, perseguição, enfim.

Visando sugerir uma proposta educacional que difunda a compreensão dos direitos

humanos intrínsecos a todos os ambientes da sociedade e que se faça presente em todos os

níveis, como cognitivo, social, ético e político; neste trabalho se propôs estudar a contribuição

da educação em direitos humanos para o PPCAAM.

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4 OS DIREITOS HUMANOS E O PPCAAM

"Quando uma sociedade deixa matar as crianças é porque começou seu suicídio como sociedade. Quando não as ama é porque deixou de se reconhecer como humanidade". (Herbert de Souza - Betinho)

Em função do objeto de estudo, este trabalho aborda a discussão dos direitos humanos

da criança e do adolescente com ênfase na educação em direitos humanos. No caso brasileiro,

essas temáticas tiveram seu arcabouço fundado nos tratados internacionais de direitos

humanos das convenções da Organização das Nações Unidas (ONU), dos quais o país é

signatário.

O PPCAAM foi instituído por meio do Decreto nº. 6.231, de 11 de outubro de 2007

com a finalidade de proteger crianças e adolescentes sob grave ameaça no território nacional,

em consonância com a Lei nº. 8.069, de 13 de julho de 1990, mais conhecido como ECA –

Estatuto da Criança e do Adolescente. A abordagem de direitos humanos no PPCAAM está

centrada na proteção a vida das crianças, dos adolescentes e excepcionalmente, até 21 anos

que sejam egressos do sistema sócio-educativo. A SEDH/PR, coordenadora da

implementação desse programa, adotou como princípio a garantia da proteção integral da

criança e do adolescente.

A partir da abordagem social-política do direito que remonta a história da construção

dos Direitos Humanos, desde o século XVIII até a concepção contemporânea, discutiremos

sobre a Educação em Direitos Humanos no âmbito do Programa de Proteção a Crianças e

Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM).

Através das gerações, os Direitos Humanos associados a diversos modelos de Estado

marcaram a difusão de um conjunto de idéias, cuja prática se diversificou nas diferentes

sociedades, em conformidade com as forças e as resistências de cada sociedade.

Embora a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) tenha incentivado a

promoção de sistemas desses direitos em nível local, regional e nacional, a experiência

demonstra que a existência de Constituições não garante os direitos fundamentais aos seres

humanos. Assim, os Direitos Humanos contemporâneos tem se construído no curso da

história, por meio da evolução da garantia de direitos fundamentais, estabelecidos por

mecanismos internacionais.

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Compreendendo os Direitos Humanos como um processo histórico de lutas e

conquistas, seu conceito é composto por uma série de normas jurídicas precisas que visam a

proteção aos interesses fundamentais dos seres humanos.

De acordo com Mazzuoli, desde a Declaração Universal de 1948 que foi reiterada pela

Declaração de Direitos Humanos de Viena de 1993 “a concepção contemporânea” dos

direitos humanos deve-se afastar da visão fragmentada e hierarquizada das diversas categorias

destes direitos. Opondo-se a idéia geracional de direitos, o autor cita Carlos Weis:

"Além de consolidar a imprecisão da expressão em face da noção contemporânea dos direitos humanos, pode se prestar a justificar políticas públicas que não reconhecem indivisibilidade da dignidade humana e, portanto, dos direitos fundamentais, geralmente em detrimento da implementação dos direitos econômicos, sociais e culturais ou do respeito aos direitos civis e políticos previstos nos tratados internacionais já antes citados". Mazzuoli (2001)

No caso do Brasil, a Constituição Federal de 1988 (CF/1988) é um marco histórico do

processo de democratização iniciado em 1985 que consagrou a universalidade dos direitos

humanos, reconhecendo a dignidade como condição inerente à pessoa humana e vedando

qualquer discriminação a todo cidadão brasileiro. Essa Constituição também definiu a

indivisibilidade dos direitos humanos, integrando os direitos sociais aos direitos

fundamentais. A partir de então, uniu-se o valor liberdade (direitos civis e políticos) ao valor

igualdade (direitos sociais, econômicos e culturais).

Piovesan (2003:57) enfatiza a atuação dos operadores de direito diante do novo

paradigma e referência que é a prevalência dos direitos humanos:

“Hoje, mais do que nunca, os operadores do Direito estão à frente do desafio de resgatar e recuperar no aparato jurídico seu potencial ético e transformador, aplicando a Constituição e os intrumentos internacionais de proteção de direitos humanos por ela incorporados”.

Entretanto, comemoramos os vinte anos dessa CF/1988 ainda sob inúmeras críticas

pelo não cumprimento de muitos direitos que não foram garantidos na prática, na vida

cotidiana da maioria do povo brasileiro. A começar, pela falta de acesso a tais direitos,

culminando pela violação destes por parte inclusive do Estado.

A reinserção do Brasil na arena internacional de proteção dos direitos humanos se

deve ao processo de democratização. Mas, ainda se faz necessário que o Estado brasileiro

adote medidas para o alinhamento efetivo à sistemática internacional de proteção dos direitos

humanos, “relativamente aos tratados ratificados de proteção, é emergencial uma mudança

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radical de atitude política. [...] Superar esta postura de recuo e retrocesso é fundamental à

plena e integral proteção dos direitos humanos no âmbito nacional”. (Piovesan, 2003:65)

A incorporação do Direito Internacional dos Direitos Humanos e a sistemática de

monitoramento internacional de proteção dos direitos humanos provocaram o processo de

redefinição do conceito de cidadania, no Brasil. Este conceito foi ampliado, quando com o

acréscimo das garantias de natureza internacional às garantias nacionais desses direitos.

“Consequentemente, o desconhecimento dos direitos e garantias internacionais importa no desconhecimento de parte substancial dos direitos da cidadania, por significar a privação do exercício de direitos acionáveis e defensáveis na arena internacional”. (Piovesan, 2003:72)

Para Demo (2004), os direitos humanos são produtos de um processo político. Sendo

uma das faces mais convincentes da luta contra a pobreza política, comumente, o discurso

ainda é utilizado para encobrir barbaridades históricas que cometemos, assim como, na

educação que enquanto se fala ser prioridade, diminui o compromisso com ela. O autor

defende que “a noção de direitos humanos nasce da consciência crítica e contém sempre

projeto alternativo de sociedade, proveniente da sociedade que sabe pensar”.

Para melhor compreensão da concepção de proteção a vida das crianças e adolescentes

do PPCAM, esse conceito será discutido, considerando o contexto de sua origem histórica, no

âmbito internacional e nacional, tendo em vista a trajetória brasileira na área de Direitos

Humanos, na qual o Estado incorpora os tratados internacionais a sua legislação para proteção

dos direitos humanos, embora sua aplicação ainda seja incipiente. Contudo, a despeito do

quadro atual da infância brasileira e da falta de monitoramento qualificado da proteção aos

direitos humanos, nosso país demonstrou avanços muito significativos na história recente,

desde a CF de 1988 e o ECA de 1990.

Em relação aos Direitos da Criança, podem ser apontados histórica e

cronologicamente alguns instrumentos normativos que fundamentam a doutrina da proteção

integral, nacional e em âmbito internacional, conforme se segue:

1924 – Declaração de Genebra dos Direitos das Crianças – Assembléia da Liga das

Nações.

1959 – Declaração dos Direitos da Criança – Resolução da Assembléia Geral da ONU

em 20/11/1959.

1989 – Convenção sobre os direitos das crianças – Resolução nº. 44/25 da Assembléia

Geral da ONU em 20/11/1989.

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1990 – Brasil: Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº. 8.069, de 13 de julho de

1990.

As primeiras discussões acerca dos direitos da criança se deram no início do século

XX, por parte da extinta Liga das Nações e da Organização Internacional do Trabalho (OIT),

preocupadas com a situação da infância no mundo. Essas discussões provocaram a adoção de

três Convenções pela OIT com o objetivo de abolir ou regular o trabalho infantil em 1919 e

1920, e a criação de um comitê especial pela Liga das Nações que tratava das questões

relativas à proteção da criança e da proibição do tráfico de crianças e mulheres.

Em 1924, a Assembléia da Liga das Nações adotou a Declaração de Genebra dos

Direitos da Criança. Segundo Souza (2001), essa declaração não obteve o pleno

reconhecimento internacional dos direitos da criança, “talvez até como decorrência do próprio

panorama histórico que já se desenhava e do previsível insucesso da Liga das Nações”.

A Declaração dos Direitos da Criança (Resolução da Assembléia Geral da ONU em

20/11/1959) estabelece que a criança precisa de proteção e cuidados especiais, inclusive

proteção legal apropriada, antes e depois do nascimento, em decorrência de sua imaturidade

física e mental. O Princípio 9° enfatiza que “a criança gozará proteção contra quaisquer

formas de negligência, crueldade e exploração”.

Essa proteção foi baseada na premissa da necessidade de proteção à criança

estabelecida pela Declaração Universal dos Direitos Humanos e pela Declaração dos Direitos

da Criança em Genebra, de 1924:

... “A necessidade de proporcionar à criança uma proteção especial foi enunciada na Declaração de Genebra de 1924 sobre os Direitos da Criança e na Declaração dos Direitos da Criança adotada pela Assembléia Geral em 20 de novembro de 1959, e reconhecida na Declaração Universal dos Direitos Humanos, no Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (em particular nos artigos 23 e 24), no Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (em particular no artigo 10) e nos estatutos e instrumentos pertinentes das Agências Especializadas e das organizações internacionais que se interessam pelo bem-estar da criança.” (Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF)

A Declaração Universal dos Direitos Humanos se constituiu no primeiro

reconhecimento das necessidades de cuidados especiais às crianças, por força do item 2 do

artigo XXV, onde se dispôs que "a maternidade e a infância têm direito a cuidados e

assistência especial. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da

mesma proteção social".

Segundo Souza (2001),

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“O primeiro instrumento específico a surgir com real importância dentro da nova ordem internacional que se estabelecia foi a Declaração Universal dos Direitos da Criança, no ano de 1959. Essa Declaração tornou-se um guia para a atuação, tanto privada como pública, em favor da criança. Ao afirmar que "a Humanidade deve dar à criança o melhor de seus esforços" a Declaração passou a constituir-se, no mínimo, num marco moral para os direitos da criança.”

Entretanto, nesse campo considera-se que o avanço mais significativo para as Nações,

em termos de efetivação da garantia de direitos das crianças, se deu a partir da Convenção

sobre os Direitos das Crianças – Resolução nº. 44/25 da Assembléia Geral da ONU em

20/11/1989.“A Convenção sobre os Direitos da Criança foi adotada por unanimidade, pela Assembléia Geral das Nações Unidas, em 20 de novembro de 1989. Tal ato foi um marco em relação aos esforços que se realizam no plano internacional para fortalecer a justiça, a paz e a liberdade em todo o mundo mediante a promoção e a proteção dos direitos humanos. [...] Em 02 de setembro de 1990, como demonstração do alto interesse e apoio suscitado em todo o mundo, a Convenção sobre os Direitos da Criança entrou em vigor, relativamente aos primeiros vinte Estados, assumindo um caráter de lei internacional, com força vinculante entre os Estados que a ratificaram.” (Souza, 2001)

No que tange às conquistas da Convenção de 1989, pode ser citada a consolidação da

Doutrina da Proteção Integral da Criança, cuja origem se encontra textualmente na Declaração

Universal dos Direitos da Criança (1959). No preâmbulo, traz o reconhecimento da

necessidade de um sistema de proteção diferenciado para a criança, dando-lhe prerrogativas e

privilégios concernentes à seguridade social, educação, trabalho, convívio, a fim de

proporcionar-lhe condições favoráveis ao seu desenvolvimento saudável.

Assim, destacam-se alguns artigos da Convenção sobre os Direitos da Criança, porque

trazem o conceito de criança (art. 1) e estabelecem as responsabilidades da proteção especial a

este sujeito em desenvolvimento:

Artigo 1: definiu a criança como todo ser menor de 18 anos.

Artigo 3: Todas as decisões que digam respeito à criança devem levar em conta o seu

interesse superior. O Estado deve garantir cuidados adequados à criança, quando os

pais ou outras pessoas responsáveis por ela não tenham capacidade para fazê-lo.

Artigo 6: Todas as crianças têm o direito inerente à vida, e o Estado tem obrigação de

assegurar a sua sobrevivência e seu desenvolvimento.

Artigo 19: O Estado deve proteger a criança contra todas as formas de maus tratos por

parte dos pais ou de outros responsáveis pelas crianças e estabelecer programas sociais

para a prevenção dos abusos e para tratar as vítimas.

A partir desse processo histórico, nos anos 80, por ocasião da redemocratização

brasileira, as pressões dos movimentos sociais em defesa da infância, em torno da Assembléia

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Constituinte marcaram uma das maiores conquistas pelos direitos da criança: a incorporação

de uma nova visão sobre a infância à Carta Magna."Para conseguir colocar os direitos da criança e do adolescente na Carta Constitucional, tornava-se necessário começar a trabalhar, antes mesmo das eleições parlamentares constituintes, no sentido de levar os candidatos a assumirem compromissos públicos com a causa dos direitos da infância e adolescência". (Antonio Carlos Gomes da Costa apud Gisella Werneck Lorenzi)

Nesse período, um grupo de trabalho sobre a temática da criança e do adolescente na

Constituinte incluiu um artigo na Constituição Federal, introduzindo a Doutrina da Proteção

Integral a Criança preconizada nos tratados internacionais da ONU: Art. 227 - É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Constituição Federal, 1988)

Esse artigo que garantiu os direitos fundamentais as crianças e aos adolescentes,

constituiu a base da Lei nº. 8.069, de 13 de julho de 1990, o Estatuto da Criança e do

Adolescente (ECA), elaborado por uma comissão formada por representantes da sociedade

civil, dos juristas e dos técnicos dos órgãos governamentais, contando com a participação

fundamental do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua (MNMMR) e da Pastoral

da Criança.

O referido documento de direitos humanos é considerado uma das legislações mais

avançadas, em termos dos direitos infanto-juvenis. É a lei que reconhece esse público como

sujeito de direitos em nosso país, defendendo o seu interesse superior e na qual se

fundamenta, legalmente, o conceito de proteção à vida, adotado na atuação do PPCAAM.

Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência. (Lei nº. 8.069, de 13 de julho de 1990)

Esse é o artigo que abre o Capítulo do Direito à Vida e à Saúde, sendo do rol dos

direitos fundamentais que estão interligados, visto que o legislador os destacou em relação aos

demais direitos fundamentais.

O direito à vida é pressuposto da personalidade e da constituição do sujeito de direitos. Neste sentido, é impossível que o ser humano possa fruir de qualquer outro direito sem vida. A vida, por ter uma dimensão orgânica, não pode se realizar sem a saúde, sem o completo bem-estar do ser humano em nível físico e psicológico. Assim sendo, faz muito sentido que estes dois direito se encontrem interligados na lei. (Comentário de Ilanud)

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O direito a vida possibilita a concretização dos outros direitos, como: direito à

educação, ao esporte e ao convívio familiar. Assim, a proteção à vida e à saúde permeia todas

as políticas públicas voltadas à criança e ao adolescente.

A realização desse artigo implica a reformulação das prioridades nacionais tanto no nível da sociedade como, principalmente, do Estado. Passa a ser prioridade o gasto público com as crianças e adolescentes, de modo a garantir-lhes condições plenas de vida. (Comentário de Herbert de Souza)

Pela legislação brasileira, o direito a proteção especial às crianças e adolescentes

abrange os aspectos relativos ao trabalho, como idade mínima de catorze anos para a

admissão, direitos trabalhistas e previdenciários; garantia de acesso do trabalhador

adolescente à escola; conhecimento da atribuição de ato infracional com defesa técnica por

profissional qualificado; respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento,

obedecendo aos princípios de excepcionalidade na aplicação de medidas privativas de

liberdade; estímulo do poder público para o acolhimento por guarda de órfãos ou

abandonados; acesso a programas de prevenção e atendimento especializado aos dependentes

químicos. Além disso, a lei prevê a punição contra abuso, a violência e a exploração sexual

infanto-juvenil.

Vale ressaltar que, o ECA (Lei nº. 8069/1990) prevê a aplicação das medidas

protetivas, mediante a violação dos direitos das crianças e adolescentes forem ameaçados ou

violados, pela ação ou omissão da sociedade ou do Estado, por falta, omissão ou abuso dos

pais ou responsável. As medidas protetivas também são aplicáveis à conduta conflitante com

lei, por parte dos adolescentes, considerados penalmente inimputáveis até os 18 anos.

Contudo, tais medidas devem levar em conta as necessidades pedagógicas, visando ao

fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, o que comumente tem se distanciado

das práticas instituições responsáveis e do poder público. Apesar da priorização absoluta dos

direitos das crianças e dos adolescentes, da clareza das regras da proteção integral da criança e

do adolescente no sistema jurídico brasileiro, a atenção do Estado dada a estes sujeitos ainda é

deficitária e por vezes, incongruente com o arcabouço normativo construído no âmbito

nacional e internacional.

A realidade da infância e da juventude brasileira se configura numa problemática de

violações de direitos fundamentais enfrentada cotidianamente, dos quais se destacam: a

mortalidade infantil e juvenil, a exploração do trabalho infantil, a tráfico e exploração sexual

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infanto-juvenil, os diversos tipos de violência. Esse é o tratamento prioritário brasileiro para

com a infância?

Diante da legislação mais avançada acerca dos direitos da criança, o que se observa é

um quadro de descaso, abandono e exclusão social da infância brasileira. Inclusive,

paradoxalmente, as crianças, mulheres e jovens tem sido considerado como “grupos

vulneráveis” e não prioritários, na execução de políticas públicas na esfera federal.

O nosso país desrespeita vários dispositivos contidos nos principais tratados

internacionais, dos quais o Brasil é signatário e que orientaram a legislação sobre os direitos

da criança: a Declaração Universal dos Direitos da Criança e a Convenção Internacional sobre

os Direitos da Criança. Dentre os princípios descumpridos pelo país, destaca-se a proteção

contra abandono, crueldade e exploração, por referir-se a violação do direito à vida enunciado

na CF/1988 e no ECA, visto que consiste no objetivo principal do PPCAAM.

Assim, no quadro lastimável das condições de vida da população infanto-juvenil,

focaliza-se a mortalidade, por sua relação à temática deste trabalho, que no Brasil apresenta-se

com os seguintes indicadores3 descritos pela Agência de Notícias dos Direitos da Infância

(ANDI, 2007):

a) Mortalidade infantil:• A taxa de mortalidade infantil no País é de 21,1 mortes por mil nascidos vivos, a terceira maior da América Latina, atrás da Bolívia e da Guiana. O índice brasileiro é considerado médio pelos critérios da OMS. Contudo, em alguns estados é bem mais elevado, como em Alagoas (44,4 por mil), Maranhão (32,7) e Paraíba (34).• Acidentes e agressões, juntos, são a primeira causa de morte de meninos e meninas com até seis anos no País, de acordo com a Análise da Violência Contra a Criança e o Adolescente, do Unicef. A pesquisa A Ponta do Iceberg, do Laboratório de Estudos da Criança da Universidade de São Paulo (Lacri), estima que apenas 10% dos casos de violência intrafamiliar chegam a ser conhecidos.

b) Mortalidade juvenil:• Os jovens de 15 a 24 anos continuam sendo as maiores vítimas de homicídio, conforme aponta o Mapa da Violência 2006 – Os Jovens do Brasil, da Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e Cultura (OEI). O estudo, que abrange a década de 1994 a 2004 com base em dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, revela que aconteceram 175.548 assassinatos no período. De toda a população dessa faixa etária no País, 39,7% são atingidos pela violência letal. A situação é mais grave nos estados de Pernambuco, Rio de Janeiro e Espírito Santo, onde metade dos jovens foram alvos de mortes violentas na década analisada. Outro dado apontado pela OEI é de que os homicídios cresceram 48,4% no geral da população, mas o acréscimo foi de 64,2% entre os jovens. No principal grupo de risco estão os adolescentes do sexo masculino, afrodescendentes, que residem em bairros pobres ou nas periferias das metrópoles, com baixa escolaridade e pouca qualificação profissional.

3 Deve-se considerar que, no Brasil, os dados estatísticos sobre mortalidade e violência, principalmente homicídios, apresentam divergências relativas às fontes, em função da deficiência na consolidação de dados.

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Desde os anos 1990, há de se reconhecer os avanços, em termos da concepção da

proteção integral a criança, da criação de um sistema de garantias, dos investimentos em

programas governamentais na área de saúde e educação que apresentaram reduções nas taxas

de mortalidade, analfabetismo, desnutrição da população infantil.

Em vista da realização da 8ª Conferência Nacional da Criança e do Adolescente, o

Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) disponibiliza um

texto-base para que municípios e estados aprofundem o debate sobre os eixos prioritários

dessa conferência. Dentre os eixos, consta a “Proteção e Defesa no Enfrentamento das

Violações de Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes” que expressa a preocupação do

Conselho com o crescimento das denúncias de diversas violências e violações contra crianças

e adolescentes na mídia.

Através do Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (VIVA) do Ministério da

Saúde, no período de 2006-2007, os dados demonstraram que crianças e adolescentes estão

expostos às mais variadas formas de violência em 27 unidades da federação. Além de tantos

estudos que demonstram o recrudescimento das violências, inclusive com altos índices de

letalidade que possui um recorte etário, étnico, econômico e de gênero; sendo vitimados

majoritariamente, os jovens do sexo masculino, negros e pobres, residentes em comunidades

periféricas.

No texto-base da 8ª Conferência, o CONANDA destaca as ações governamentais

como resposta ao enfrentamento das violações, as quais a população infanto-juvenil tem sido

vítima preferencial e cita a criação do PPCAAM. Esse Programa foi implementado em sete

unidades da federação, dentre estas, Espírito Santo, Pernambuco e Rio de Janeiro,

considerados de maior gravidade pelas taxas de homicídios que atingem a metade da

população juvenil em cada Estado.

Entretanto, diante desse cenário, não se pode mensurar o volume de investimento e a

estrutura necessária para o PPCAAM proteger tantos alvos, vidas ameaçadas pelo contexto da

exclusão social e da impunidade enraizada na realidade brasileira. Posto que, até então, não se

tem avaliação da efetividade dessa resposta – o PPCAAM, em relação à redução dos índices

mencionados.

O Decreto n° 6231 de 11/10/2007 define a concepção, gestão e execução do

PPCAAM. O Art. 3° que trata da proteção delimita a idade dos jovens e o grau de parentesco

de familiares que podem ser atendidos no Programa.

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Art. 3o  O PPCAAM tem por finalidade proteger, em conformidade com a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990, crianças e adolescentes expostos a grave ameaça no território nacional.§ 1o  As ações do PPCAAM podem ser estendidas a jovens com até vinte e um anos, se egressos do sistema socioeducativo.§ 2o  A proteção poderá ser estendida aos pais ou responsáveis, ao cônjuge ou companheiro, ascendentes, descendentes, dependentes, colaterais e aos que tenham, comprovadamente, convivência habitual com o ameaçado, a fim de preservar a convivência familiar.

No PPCAAM, a proteção à criança e adolescente é condicionada a sua remoção junto

com a família, do local de ameaça de morte para um lugar seguro. E a garantia de sua

proteção integral, se dá através de inclusão dos protegidos em serviços de saúde, educação,

esporte, cultura e se necessário, em cursos profissionalizantes, políticas de assistência social e

mercado de trabalho, em consonância com o art. 7° do ECA e o art. 227 da CF/1988.

No art. 7º, § 2o  do Decreto n° 6231 de 11/10/2007 consta que “a proteção concedida

pelo PPCAAM e as ações dela decorrentes serão proporcionais à gravidade da ameaça e à

dificuldade de preveni-las ou reprimi-las por outros meios”. O art. 4° determina que a

implementação do Programa ocorra por meio de convênio entre a União e os Entes federados

ou organizações não-governamentais.

De acordo com o art. 7o desse decreto, as ações de proteção ofertadas aos ameaçados e

seus familiares abrangem: I - transferência de residência ou acomodação em ambiente compatível com a proteção;II - inserção dos protegidos em programas sociais visando à proteção integral;III - apoio e assistência social, jurídica, psicológica, pedagógica e financeira; eIV - apoio ao protegido, quando necessário, para o cumprimento de obrigações civis e administrativas que exijam seu comparecimento.

O processo de inclusão no Programa depende de uma solicitação oficial dos Conselhos

Tutelares, Ministério Público ou autoridade judicial que devem conter a qualificação do

ameaçado e da ameaça de morte, comunicando-as ao Conselho Gestor. Segundo o mesmo

decreto, os requisitos para inclusão no seguinte artigo:

Art. 11.  A inclusão no PPCAAM considerará:I - a urgência e a gravidade da ameaça;II - a situação de vulnerabilidade do ameaçado;III - o interesse do ameaçado;IV - outras formas de intervenção mais adequadas; eV - a preservação e o fortalecimento do vínculo familiar.Parágrafo único.  O ingresso no PPCAAM não poderá ser condicionado à colaboração em processo judicial ou inquérito policial.

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Acerca da permanência dos indivíduos sob proteção no Programa, não há um prazo

rigoroso, por depender da voluntariedade dos usuários e da sua inserção social num local

seguro, mas o decreto define:

Art. 12.  A proteção oferecida pelo PPCAAM terá a duração máxima de um ano, podendo ser prorrogada, em circunstâncias excepcionais, se perdurarem os motivos que autorizaram seu deferimento.Art. 13.  Após o ingresso no PPCAAM, os protegidos e seus familiares ficarão obrigados a cumprir as regras nele prescritas, sob pena de desligamento.Parágrafo único.  As ações e providências relacionadas ao PPCAAM deverão ser mantidas em sigilo pelos protegidos, sob pena de desligamento.

O art. 14 do Decreto n° 6231, de 11/10/2007 determina que o protegido possa ser

desligado do Programa a qualquer tempo, nas seguintes circunstâncias:

I - por solicitação do protegido; II - por decisão do conselho gestor do PPCAAM em conseqüência de:a) cessação dos motivos que ensejaram a proteção; b) consolidação da inserção social segura do protegido;c) descumprimento das regras de proteção; eIII - por ordem judicial.Parágrafo único. O desligamento do protegido deverá ser comunicado às instituições notificadas do ingresso.

A descrição sobre a estrutura e a execução se encontra no edital publicado para

seleção da instituição executora do PPCAAM em cada Unidade da Federação. No caso do

Distrito Federal, o edital público foi dirigido as Organizações, Entidades, Associações sem

fins lucrativos para que apresentassem propostas de implementação do PPCAAM, mediante

convênio com a Secretaria Especial de Direitos Humanos.

Conforme esse Edital, no Projeto Técnico apresentado pela instituição, eram avaliados

pela Comissão Julgadora, dentre os critérios se sobressai, os instrumentos de garantia dos

direitos:

“Congruência da proposta com o fortalecimento do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente e com o Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária, de forma a verificar as possibilidades que a proposta apresentada oferece para alcance das metas indicadas neles.”

O “Guia de Procedimento do PPCAAM” contém as diretrizes para execução do

Programa, descritas em etapas que abrangem desde a Pré-avaliação à Permuta de casos. A

solicitação de inclusão nesse Programa é submetida a um processo de avaliação por sua

equipe técnica, cuja conclusão é comunicada ao órgão solicitante e ao Conselho Gestor do

PPCAAM.

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Mediante o parecer favorável a inclusão do caso avaliado no Programa, define-se a

modalidade de inclusão, dentre as seguintes modalidades: 1. Criança ou adolescente incluído com seus responsáveis;2. Criança ou adolescente incluído sem responsável legal, mas com sua autorização (neste caso, o órgão solicitante deverá ser comunicado);3. Criança e adolescente incluído sem a autorização do responsável legal (neste caso, a autoridade judiciária da comarca de moradia do ameaçado deverá ser consultada para autorizar inclusão no PPCAAM).

Segundo os documentos da SEDH, as modalidades de proteção que o PPCAAM

dispõe, em geral, são: Abrigo; Instituição para tratamento de drogadição; Família acolhedora;

Família do ameaçado.

Ao ingressar no Programa, os indivíduos assinam um Termo de Compromisso que

define as regras de proteção, conforme as particularidades do caso; um Termo de Inventário

com a descrição dos bens pessoais trazidos e um Termo de Comodato que se refere ao uso dos

bens emprestados à família durante a permanência sob proteção.

Os casos incluídos no PPCAAM recebem apoio de uma equipe técnica composta por

Advogada, Assistente Social, Educadora, Psicólogo que desenvolvem as atividades de

Acompanhamento, em conformidade com as seguintes diretrizes do Guia de Procedimentos:

O PPCAAM funciona articulando a rede protetora de crianças e adolescentes para alocar os protegidos em local seguro e incentivá-los a construir um projeto de vida seguro, digno e saudável. O Conselho Tutelar e demais órgãos integrantes da rede de proteção do novo local de moradia serão acionados segundo as necessidades de cada caso. Esta aproximação deverá ser realizada com cautela para evitar que os protegidos sejam estigmatizados e a sua proteção fragilizada. No novo local de moradia, os incluídos serão acompanhados por uma equipe interdisciplinar que irá colaborar no processo de reinserção social segura, apresentando os equipamentos sociais locais. O Programa buscará intervir para o sustento e a autonomia dos incluídos, de acordo com as necessidades e possibilidades de cada caso. Os incluídos receberão, ao menos, uma visita técnica mensal para acompanhamento do caso. Nos casos de transferência para outro estado, a equipe do PPCAAM deverá realizar o monitoramento através de contato com profissional de referência no local. Os profissionais do PPCAAM discutirão permanentemente com os incluídos as dificuldades enfrentadas para permanência no Programa e a concretização da reinserção social.

Conforme o Edital PPCAAM/DF (SEDH/SPDCA, 2006), publicado para seleção da

instituição executora do PPCAAM, “a forma de intervenção da equipe técnica –

coordenador/a, psicólogo/a, assistente social, advogado/a, educador/a – será interdisciplinar,

do inicio ao fim do acompanhamento dos casos (estudos, acompanhamento e desligamento),

respeitando-se as especificidades técnicas de cada profissional”.

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Na prática do dia-a-dia, essas orientações precisam ser adequadas às particularidades

de cada caso. Por exemplo, as pessoas que vieram de outros Estados tinham um

acompanhamento mais próximo, pois não conheciam a cidade e requeriam um processo de

adaptação cultural, o que é mais difícil. Nesses casos, em geral, os técnicos eram as principais

relações sociais delas.

No geral, o trabalho da equipe técnica no acompanhamento dos casos atendidos no

PPCAAM consistia em visitas técnicas quinzenais ou semanais, entrega de suprimentos,

pagamento do aluguel dos imóveis, condução a atendimento de saúde especializado e de

assistência social, visita às escolas para monitorar o desenvolvimento dos adolescentes nas

atividades educacionais, além de orientações psicossociais sobre a convivência familiar.

Se por um lado, esses procedimentos garantiam mais segurança aos incluídos no

Programa; por outro dificultava o processo de autonomização destes que tendiam à falta de

iniciativa para a resolução de problemas cotidianos, como: manutenção do imóvel, busca de

atividade laboral, atender ao chamado da escola ou permitir aos filhos saírem em atividades

de lazer.

Embora, o decreto afirme que o prazo máximo de proteção no Programa é de um ano,

o desligamento dos indivíduos é condicionado a algumas circunstâncias, como mencionado.

Entretanto, a experiência demonstra que a “consolidação da inserção social segura do

protegido” é muito difícil de ser atingida, do ponto de vista conceitual e prático, quando os

indivíduos estão em situação de proteção, cujas regras do PPCAAM, principalmente, relativas

ao sigilo que têm características de um tipo de vida clandestina, mas que são essenciais à

segurança de suas vidas.

Além disso, o cumprimento da legislação que fundamenta a proteção integral

frequentemente lhes impõe um novo cotidiano na convivência, por vezes, produzindo um

efeito desagregador da família. A começar pela remoção do local de moradia, quando a

família perde os laços afetivos e sociais com a rede que lhes fornecia proteção social na

comunidade de origem, gerando isolamento social.

Desse modo, as atividades de acompanhamento da equipe técnica se tornam um

suporte para a família se integrar à rede de proteção social na nova comunidade.

Considerando que os direitos sociais são violados nos serviços públicos e as políticas sociais

são inacessíveis para uma volumosa parcela da população das periferias, a experiência

demonstra que o processo de inserção social é comumente prejudicado, prorrogando a

permanência no PPCAAM.

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Tendo em vista, esse Programa pretender se configurar como uma política pública dos

governos federal e estadual nota-se que é necessário revisar os conceitos e procedimentos,

bem como, ampliar a rede de instituições vinculadas ao Programa, no que se referem aos

demais programas governamentais com intuito de garantir aos indivíduos o respeito aos

direitos humanos e da cidadania, dadas às condições de segurança sob a proteção.

A mercê dos esforços dos movimentos sociais e dos poderes públicos instituídos, a

situação da infância e da juventude brasileira revela uma sociedade, historicamente, desumana

e suicida. A inquietação que decorre dessa revelação traz a questão: como combater essa

desumanidade social?

Segundo Adorno (2003),

Registre-se ao menos uma convicção (não só sobre os direitos de crianças e adolescentes, mas sobre o respeito de todos os Direitos Humanos), a de que tanto para o âmbito doméstico ou público, com esforços individuais, coletivos, legislativos, judiciários ou executivos, é imprescindível que toda ação tenha como base a educação.

Ultimamente, a educação tem sido citada como solução a toda problemática sofrida

pela população brasileira de baixa renda. Contrariamente a essa premissa, diante da dívida

histórica do Estado brasileiro para com essa classe social, considera-se que a educação pode

ser o ponto de partida para promover uma mudança estrutural de nossa sociedade, revertendo

a desumanidade social num processo de aprendizagem de civilidade e respeito aos direitos

humanos, no qual todos sejam partícipes.

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5 RESULTADOS

Dentre as atividades desenvolvidas pela equipe técnica do PPCAAM-DF com

crianças, adolescentes ou seus familiares, buscou-se identificar o conteúdo trabalhado relativo

aos direitos humanos para verificar a existência de alguma correlação com elementos da

Educação em Direitos Humanos, no eixo Educação não-formal.

Essas informações foram obtidas através de observação direta, dos relatórios da equipe

técnica e das reuniões de estudo de casos. Entretanto, verificamos que os temas não eram

trabalhados de forma sistemática e sim, conforme a demanda espontânea, como: o interesse

dos usuários, para resolução de problemas na proteção, principalmente, envolvendo a

segurança no local de proteção, fosse este provisório ou definitivo.

Em seguida, será descrito os temas que a equipe técnica do PPCAAM-DF trabalhou

com os usuários do Programa com intuito de observar se há relação com o Plano Nacional de

Educação em Direitos Humanos (PNEDH, 2006), considerando o contexto dos indivíduos em

situação de proteção contra ameaça de morte.

Temas abordados pela equipe técnica do PPCAAM-DF:

Regras de segurança: sigilo sobre a inclusão no Programa e ameaça de morte;

impossibilidade de comunicação com parentes ou pessoas relacionadas à situação de

ameaça de morte; locomoção com autorização da equipe técnica; não exposição aos meios

de comunicação; prestação de contas dos recursos financeiros recebidos;

comprometimento com o processo de inserção social; manutenção do imóvel e da mobília

emprestada; condutas conflitantes com o Programa e com a lei.

Educação Social: saúde, educação, rotinas de higiene e limpeza, adaptação à cidade,

abrangendo compras, passeios e lazer.

Psicologia: adesão às normas de segurança, psicodinâmica familiar, perdas e ganhos do

PPCAAM, tratamento psicoterápico e psiquiátrico, comunicação interpessoal, vínculos

afetivos, socialização, uso de medicação psicotrópica, uso de substâncias entorpecentes,

preparação para o desligamento do PPCAAM-DF.

Assistência Social: construção de projeto de vida, qualificação profissional, inserção

educacional, profissional, inclusão em programas e benefícios sociais, planejamento

financeiro familiar, preparação para o desligamento do PPCAAM-DF.

Direito: ingresso e desligamento do PPCAAM-DF, noções de direito à vida e à educação,

direitos trabalhistas, direito processual civil e criminal direitos da criança e do

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adolescente, incluindo a proteção integral e as responsabilidades dos pais.

Vale ressaltar que, foi observado que os temas vinculados ao acesso às políticas

sociais, serviços públicos, a maioria dos usuários era conduzida pelos técnicos para obter

atendimento, motivado pela falta de protocolos de atendimento para os casos do PPCAAM-

DF junto à rede pública de assistência, consequentemente para garantir a segurança dos

ameaçados que não podiam ficar expostos em longos períodos de filas nas instituições

públicas.

No que diz respeito ao acesso às políticas sociais, constatou-se que os casos do

PPCAAM também dependiam de orientação e autorização da equipe técnica para reivindicar

algum benefício, por duas razões principais: uma, para garantir a segurança com o sigilo sobre

as identidades dos indivíduos protegidos pelo Programa, o que não era possível quando

requeria cadastramento nacional; e outra, para receber o atendimento propriamente dito.

Devido a falta de execução das políticas por parte do Governo do Distrito Federal era

necessário solicitar o atendimento através das relações interpessoais entre os técnicos e os

servidores públicos.

Tendo em vista que a rede de proteção social do Distrito Federal não é atuante nem

estruturada para atender à demanda, por vezes, até para conseguir vaga em instituições para

abrigamento, o Programa tinha que recorrer às relações pessoais da equipe técnica em órgãos

de assistência social. Constantemente, o Ministério Público aciona tais órgãos para determinar

o atendimento aos cidadãos. Nesse contexto, não foi localizado nenhuma instituição que

desenvolvesse projetos de educação em direitos humanos.

Nesse estudo também foram identificados, dentre os documentos que o PNEDH

(2006) orienta como subsídio aos programas, projetos e ações na área da educação em direitos

humanos, aqueles que podem contribuir com a atuação do PPCAAM-DF nessa perspectiva,

conforme a listagem abaixo:

Constituição Federal (1988) Lei Federal nº 7.716/1989 - Define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de

cor Lei Federal nº 8.069/1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente- ECA, e dá outras

providências Lei Federal nº 9.394/1996 - Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional Programa Nacional de Direitos Humanos - SEDH/PR (1996 e 2002) Lei Federal nc 9.455 1997 - Tipificação do crime de tortura Lei Federal n° 9.459/1997 - Tipificação dos crimes de discriminação com base em

etnia, religião e procedência nacional Lei Federal n° 9.534/1997 - Gratuidade do registro civil de nascimento e da certidão

de óbito

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Decreto n° 3.298/1999 - Regulamenta a Lei Federal n° 7.853/1989 - Política Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência e consolida as normas de proteção

Programa Assistência a Vítimas e a Testemunhas Ameaçadas - SEDH/PR (1999) Sistema Nacional de Assistência a Vítimas e a Testemunhas Ameaçadas (2000) Programa Direitos Humanos, Direitos de Todos - SEDH/PR (2000) Lei Federal n° 10.098/2000 - Estabelece normas gerais e critérios básicos para a

promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências.

Programa Nacional de Acessibilidade - SEDH/PR (2000) Serviço de Proteção ao Depoente Especial (2000) Decreto n° 3956/2001 - promulga a Convenção Interamericana para Eliminação de

Todas as Formas de Discriminação contra Pessoas Portadoras de Deficiência Lei Federal n° 10.172/2001 - Plano Nacional de Educação - MEC Programa Nacional de Direitos Humanos - SEDH (2002) Programa Nacional de Ações Afirmativas - SEDH (2002) Matriz Curricular Nacional para Formação de Profissionais de Segurança Pública -

SENASP/MJ (2003) Estatuto do Idoso (2003) Mobilização Nacional para o Registro Civil - SPDDH/SEDH/PR (2003) Programa de Segurança Pública para o Brasil - SENASP/MJ (2003) Sistema Único de Segurança Pública - SUSP/MJ (2003) Polícia Comunitária - SENASP/MJ (2003) Programa Educacional de Resistências às Drogas e à Violência - SENASP/MJ (2003) Projetos Municipais de Prevenção à Violência - SENASP/MJ (2003) Programa de Promoção e Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente -

SPDCA/SEDH/PR Portaria n° 98/1993 - Institui o Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos - SEDH/PR/MEC (2003) Plano

Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo - SPDDH/SEDH/PR (2003) Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para

o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (2004) Decreto sobre Acessibilidade n° 5.296/2004 Lei Federal n° 10.098/2004 - Programa Promoção e Defesa dos Direitos da Pessoa

com Deficiência - SEDH/PR Brasil sem Homofobia - Programa de Combate à Violência e à Discriminação contra

GLTB e de Promoção da Cidadania Homossexual - SEDH/PR (2004) Plano Nacional para o Registro Civil de Nascimento - SEDH/PR (2004) Plano Presidente Amigo da Criança e do Adolescente - SEDH/PR (2004) Programa Nacional de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos (2004) -

SPDDH/SEDH/PR Programa Promoção e Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente -

SPDDCA/SEDH Programa Atendimento Socioeducativo ao Adolescente em Conflito com a Lei -

SPDDCA/SEDH/PR Programa Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes -

SPDDCA/SEDH/PR Programas estaduais e municipais de direitos humanos Programa Diversidade na Universidade - SESU/MEC Programa Educação Inclusiva - Direito à Diversidade - SEPPIR/PR Programa Estratégico de Ações Afirmativas - SEPPIR/PR

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Programa Proteção da Adoção e Combate ao Seqüestro Internacional – MJ Programa Brasil Alfabetizado - MEC Programa Escola que Protege - SESU/MEC Programa Conexões de Saberes: diálogos entre a universidade e as comunidades

populares - SECAD/MEC Programa Pró-Eqüidade de Gênero: oportunidades iguais. Respeito às Diferenças -

SPM/PR Programa de Ações Integradas e Referenciais de Enfrentamento à Violência Sexual

Infanto-Juvenil no Território Brasileiro - PAIR - SEDH/PR Jornadas Formativas de Direitos Humanos - SENASP/MJ (2004) Plano de Ação para o Enfrentamento da Violência contra a Pessoa Idosa -

SPDDH/SEDH/PR (2005) Plano de Ações Integradas para Prevenção e Controle da Tortura no Brasil -

SPDDH/SEDH/PR (2005) Plano Nacional de Políticas para as Mulheres - SPM/PR (2005) Política Nacional do Esporte - ME (2005) Sistema Nacional de Cultura - MinC (2005) Programa Afroatitude (2005/2006) Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo - SPDDCA/SEDH/PR (2006) Programa Gênero e Diversidade na Escola - SPM/PR Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio - SEB/MEC Programa Nacional do Livro Didático - PNLD/SEB/MEC Programa Nacional Biblioteca - SEB/MEC Programa Escola Ativa - SEB/MEC Programa do Ensino Médio - SEB/MEC Programa Ética e Cidadania - SEB/MEC Programa de Apoio à Extensão Universitária - SESU/MEC Prouni - Programa Universidade para Todos - SESU/MEC Programa de Ações Afirmativas para a População Negra nas Instituições Públicas de

Educação Superior - SESU/MEC Programa Incluir - SEESP/MEC Programa Reconhecer - SECAD/SESU/MEC e DEPEN/MJ Programa de Educação Tutorial - SESU/MEC Programa Jovens Artistas - SESU/MEC Programa Cultura e Cidadania - MinC Programa Identidade e Diversidade Cultural - MinC Programa Cultura Viva - MinC Política Nacional do Esporte - ME Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD Programa Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego - PNPE Plano Nacional de Políticas para as Mulheres - PNPM Plano Nacional de Qualificação - PNQ Plano Plurianual - PPA Programa Federal de Assistência a Vítimas e a Testemunhas Ameaçadas – PROVITA

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6 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Consoante aos resultados anteriormente apresentados, percebeu-se que os temas

trabalhados pela equipe técnica do PPCAAM-DF são bem diversificados, do ponto de vista

dos direitos humanos, dos aspectos sociais e psicológicos, visando apoiar a permanência no

Programa e a inserção social. Entretanto, não havia um plano ou estratégia metodológica para

a realização das atividades em torno desses temas, visto que foram abordados por demanda

espontânea.

Constatou-se ainda que essas atividades, direta ou indiretamente, estavam relacionadas

às regras de segurança do Programa, consistindo na maior preocupação da equipe técnica

além da inserção social. Considerando que o PPCAAM atende crianças, adolescentes e seus

familiares de baixa renda, com pouca qualificação educacional e profissional, havia uma

limitação até cognitiva para assimilação dessas regras que são descumpridas frequentemente.

Todavia, há que se questionar a fundamentação dessas regras, posto que os

profissionais do PPCAAM-DF não receberam treinamento de segurança nem contavam com a

assessoria de profissionais especializados em segurança ou de inteligência, o que seria mais

apropriado ao Programa. Os procedimentos adotados foram orientados pela Coordenação

Nacional do PPCAAM e inspirados na conduta utilizada no PROVITA, consistindo num

contexto muito distinto, em termos da motivação para ingresso, do público atendido e da

rotina de trabalho.

No que tange aos direitos humanos, o que se observou é que a proteção do PPCAAM

como foi concebida, em geral, não favorece a autonomia dos sujeitos e pode violar outros

direitos devido a priorização da proteção do direito à vida. Contudo, os indivíduos

constantemente questionavam a equipe técnica do DF acerca da sensação de injustiça, diante

da impunidade do ameaçador, bem como, do sentimento de culpa por ter feito alguma

denúncia que lhe causou a privação de liberdade extensiva a seus familiares. Essa

problemática também foi observada no PROVITA, de acordo com estudo de realizado por

Santa (PUC-SP, 2006).

De fato, a conduta de proteção do PPCAAM-DF era a remoção dos ameaçados de sua

comunidade, e a segurança deles se faz ocultando-os, isolando-os de suas relações parentais,

sociais e comunitárias. O que por si só já desestabilizava os indivíduos e dificultava que estes

recuperassem a sensação de segurança, especialmente, emocional. Isso era agravado com a

falta de ação do Programa contra os agressores e ameaçadores, e essa postura provocava

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inconformação aos usuários do Programa que se consideravam impotentes diante de toda

estrutura que teria que confrontar, não se reconhecendo como sujeito de direitos para exercer

a sua cidadania. Alguns se deprimiram, outros descumpriram as “regras de proteção” e outros,

optaram por se desligar do Programa.

Nesse estudo, não foram identificadas ações de Educação em Direitos Humanos nas

atividades desenvolvidas pela equipe técnica do PPCAAM-DF. Embora os temas abordados

tenham relação direta com os elementos conceituais da EDH e com as ações programáticas do

PNEDH (2006), o Programa não atendeu aos princípios desse Plano. Pois, não possuía

nenhum projeto pedagógico como referencial para sua atuação, especialmente, no que se

refere à metodologia da educação não-formal ou educação popular. Deve-se esclarecer, ainda,

que não houve orientação nesse sentido, por parte das diretrizes do PPCAAM, mas as

instituições executoras possuíam autonomia para desenvolver projetos junto aos usuários.

Entretanto, no Distrito Federal, a instituição executora não contava com nenhum apoio

ou investimento do governo distrital, bem como dos demais poderes locais. Além disso, no

âmbito do governo federal não há uma estratégia de integração das ações do “sistema de

proteção a vítimas e testemunhas” entre os governos federal, estadual, distrital e municipal, de

modo a proporcionar o atendimento com segurança das informações no Sistema Único de

Saúde (SUS), Sistema Único de Assistência Social (SUAS), Sistema Único de Segurança

Pública (SUSP), dentre outros.

A prática demonstrou que o exercício da cidadania e a inserção social dos usuários do

PPCAAM dependem do acesso as políticas e benefícios sociais com segurança, o que requer a

definição de um fluxo de procedimentos entre os sistemas e órgãos públicos, através da

articulação e integração do governo federal com as subunidades nacionais.

Por fim, a análise dos resultados esclarece que os documentos, apontados no PNEDH

(2006) como subsídios para ações e programas nessa área, possuem uma interrelação com os

conceitos que o PPCAAM precisa utilizar para trabalhar com seus usuários e podem ser

aproveitados como fundamentação para um projeto educativo com esse público, através das

metodologias de intervenção participativa, como da educação popular.

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7 CONCLUSÃO

O contexto social e cultural do Brasil atual que convive com a impunidade mediante o

recrudescimento da violência, a mortalidade infantil e juvenil, a inversão de valores, os crimes

organizados e a falta de tolerância na convivência social; requerem do Estado e da sociedade

respostas imediatas, compensatórias tanto quanto, as soluções estratégicas de médio e longo

prazo que sejam eficazes e contínuas.

Nesse sentido, já se sabe da necessidade de profundas mudanças da mentalidade dos

dirigentes, em relação à implementação de ações integradas nas políticas públicas nacionais e

locais para enfrentamento dessa problemática. Também é de conhecimento público que se faz

necessário a intervenção estratégica e conjunta das ações de repressão e prevenção à violência

e à criminalidade. Apesar disso, a prática ainda caminha em passos lentos e a sociedade não

demonstra apropriação dos mecanismos de participação e pressão sobre o Estado para exigir o

cumprimento de suas obrigações nesse campo.

Diante disso, a implementação de ações emergenciais como as do PPCAAM se

explicam. Porém, de que adianta esse Programa proteger as vítimas de violência, de ameaça

de morte, se os poderes judiciário, legislativo e executivo não se responsabilizam e se

comprometem com as questões da segurança pública e da redução da impunidade no país?

Atuando sozinho, o que representa estatisticamente a proteção do PPCAAM para algumas

centenas de jovens, enquanto outros milhares morreram antes de completar 18 anos?

Quanto à concepção e execução do PPCAAM, é fundamental se avaliar e monitorar o

respeito dos direitos humanos e a autonomia dos usuários. Assim, serão mensurados os

avanços e as deficiências do Programa, por parte de um agente externo e principalmente, pela

visão e avaliação dos sujeitos que vivenciam essa experiência.

Os usuários passam a depender da autorização da equipe técnica para muitas

iniciativas individuais e tem cerceadas as suas liberdades de ir e vir, de comunicação com

seus parentes, de operar conta bancária ou os benefícios sociais, como o Bolsa Família, e

algumas vezes de votar. Vale ressaltar que há pouco conhecimento por parte da equipe do

PPCAAM, acerca dos procedimentos que de fato comprometem a segurança dos usuários, no

que tange aos sistemas de informações e cadastros dos programas sociais, inclusive federais.

Os procedimentos de segurança são reproduzidos a partir das orientações da Coordenação

Nacional do PPCAAM com flexibilização relativa por parte da equipe e da instituição

executora de cada Unidade da Federação.

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Em relação ao Programa Bolsa Família, por exemplo, caberia à SPDCA/SEDH

estabelecer uma cooperação com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome

(MDS) para a padronização de procedimentos de acesso ao programa, de modo a garantir a

segurança das informações dos usuários.

Segundo Santa (2006),

A questão pauta-se na necessidade de realizar uma discussão mais aprofundada da proteção, sobretudo quanto à responsabilidade do Estado e de todo o seu sistema jurídico, político, econômico, social, e não somente substituir tal procedimento de sanar falha de forma imediatista, com a oferta de recursos para que a sociedade civil administre o processo de proteção à testemunha.

A autora se refere ao PROVITA que funciona no Brasil desde os anos 1990 e conta

com as experiências de outros paises como referência para análise, essa questão se torna

essencial no caso do PPCAAM que possui pouco tempo de atuação e cuja experiência se

encontra em processo de construção e consolidação no país. No entanto, uma discussão

profunda requer a disposição para desconstruir conceitos teórico-práticos para que se atinja

todo o sistema do Estado brasileiro que precisa sair da inoperância visando o cumprimento de

suas obrigações acerca da proteção social.

Vale ressaltar que o Estado precisa ampliar efetivamente sua responsabilidade e

atuação na problemática da segurança pública de forma integrada com as demais políticas

públicas para garantir o atendimento eficaz das necessidades dos usuários do PPCAAM.

Nesse intuito, é fundamental que seja discutida e avaliada a concepção de um sistema de

proteção às testemunhas para torná-lo efetivo, solucionando a problemática enfrentada pelo

PPCAAM e PROVITA, de modo a comprometer todos os poderes do Estado.

Os resultados desse estudo indicam que a concepção do PPCAAM também precisa ser

revista, quanto a sua conduta e a proposta metodológica de proteção à vida, ofertada às

crianças e adolescentes em situação de ameaça de morte. Além disso, nota-se que as

atividades informativas realizadas pelo Programa no Distrito Federal não favorecem aos

usuários um processo de ensino-aprendizagem sistemático com a participação ativa do sujeito

ou a consideração de sua realidade, visando a sua autonomia.

Considerando que a Educação em Direitos Humanos proporciona a formação de uma

consciência crítica, potencializando a conquista de direitos e cidadania; deve-se apontar que

um projeto de Educação em Direitos Humanos para formação da equipe técnica do

PPCAAM-DF e de seus usuários pode ser vislumbrado como uma perspectiva de

emancipação para romper com a dependência deles para com o Programa, favorecendo a

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aquisição da autonomia dos indivíduos mesmo sob a proteção do Programa e

consequentemente, a concretização da inserção social.

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