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UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA CONHECIMENTOS DE PROFESSORES DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL DO MUNICÍPIO DE LAURO DE FREITAS SOBRE O ENSINO/APRENDIZAGEM/AVALIAÇÃO EM MATEMÁTICA TEREZA CRISTINA BASTOS SILVA LIMA Orientadora: Profa. Dra. Edda Curi Dissertação apresentada ao Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática, da Universidade Cruzeiro do Sul, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Ensino de Ciências e Matemática. SÃO PAULO 2013

UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL PROGRAMA DE PÓS … · terem aberto as portas de casa e do coração e, sobretudo, pelo apoio moral, amizade, companheirismo e carinho oferecidos incondicionalmente

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UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

MESTRADO EM ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA

CONHECIMENTOS DE PROFESSORES DOS ANOS INICIAIS

DO ENSINO FUNDAMENTAL DO MUNICÍPIO DE LAURO DE

FREITAS SOBRE O ENSINO/APRENDIZAGEM/AVALIAÇÃO

EM MATEMÁTICA

TEREZA CRISTINA BASTOS SILVA LIMA

Orientadora: Profa. Dra. Edda Curi

Dissertação apresentada ao Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática, da Universidade Cruzeiro do Sul, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Ensino de Ciências e Matemática.

SÃO PAULO

2013

AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL DA

UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL

L711c

Lima, Tereza Cristina Bastos Silva. Conhecimentos de professores dos anos iniciais do ensino

fundamental no município de Lauro de Freitas sobre o ensino/aprendizagem/avaliação em matemática / Tereza Cristina Bastos Silva Lima. -- São Paulo; SP: [s.n], 2013. 1 CD-ROM

145 p. : il. ; 30 cm. Orientadora: Edda Curi. Dissertação (mestrado) - Programa de Pós-Graduação em

Ensino de Ciências e Matemática, Universidade Cruzeiro do Sul. 1. Matemática 2. Processo de ensino-aprendizagem 3.

Matemática – Ensino fundamental 4. Ensino de séries iniciais (Lauro de Freitas, BA). I. Curi, Edda. II. Universidade Cruzeiro do Sul. Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática. III. Título.

CDU: 51(043.3)

UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

Conhecimentos de professores dos anos iniciais do

Ensino Fundamental do município de Lauro de Freitas

sobre o Ensino/Aprendizagem/Avaliação em Matemática

Tereza Cristina Bastos Silva Lima

Dissertação de mestrado defendida e aprovada

pela Banca Examinadora em 13/08/2013.

BANCA EXAMINADORA:

Profa. Dra. Edda Curi

Universidade Cruzeiro do Sul

Presidente

Profa. Dra. Norma Suely Gomes Allevato

Universidade Cruzeiro do Sul

Profa. Dra. Célia Maria Carolino Pires

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Dedico esse trabalho A todos os meus amigos e familiares.

Aos meus pais: Adalberto e Maria da Glória.

Às minhas irmãs: Bárbara Maria, Silvia Helena e Ana Angélica. Ao meu irmão Antônio Cesar.

Aos meus sobrinhos: Osman, Caio Rafael e José. Às minhas sobrinhas: Samanta, Aishia e Rhania.

Aos meus filhos: Luís Ismael e Tâmara.

Especialmente aos meus netos: Luís Arthur e Rafael Lucas

AGRADECIMENTOS

Neste momento tão significante, agradeço, primeiramente, a Deus por

ter me concedido alcançar mais uma etapa importante em minha vida,

ajudando-me a vencer barreiras que, em diversos momentos, pensei não

conseguir superá-las. Por todo esse tempo de estudo, dando-me coragem para

enfrentar todos os obstáculos encontrados e chegar ao final. Portanto, a Deus,

todo poderoso, toda honra e toda a glória do presente trabalho.

À Profa. Dra. Edda Curi, pela orientação, compreensão, tolerância e

principalmente por ter aceitado o desafio de lapidar um diamante

completamente bruto.

À Profa. Dra. Célia Maria Carolino Pires e à Profa. Dra. Norma Sueli

Gomes Allevato, por terem aceitado o convite para participar da banca e,

principalmente, pelas contribuições importantes, necessárias, fundamentais e

imprescindíveis para o aprimoramento do meu trabalho final. Tenho

consciência de que, sem esses subsídios, não teria obtido êxito.

A todos os professores do Mestrado, pelo carinho e amizade a mim

dispensados, especialmente à Profa. Dra. Norma Suely Gomes Allevato, pelas

palavras certas na hora certa.

Aos meus colegas de Mestrado, em especial a Soraya Mont’ Alegre, pela

paciência, amizade e tolerância, durante o desenvolvimento dos trabalhos em

grupo.

Aos meus pais, particularmente à minha mãe Maria da Glória, mulher

guerreira e batalhadora, de quem eu herdei a determinação e a coragem.

Aos meus filhos, Luís Ismael e Tâmara, por compreenderem e aceitarem

a minha ausência em momentos importantes de suas vidas.

Aos meus netos, Luís Arthur e Rafael Lucas, pela inspiração e

motivação, para continuar nessa caminhada, acreditando que uma educação

pública e de qualidade é possível.

Às minhas amigas Sandra Silveira e Iara Rangel, por terem me

proporcionado abrigo, apoio, aconchego, carinho e, acima de tudo, amizade,

nos meses em que permaneci em São Paulo.

Meus agradecimentos ao diretor da Escola Estadual Roosevelt,

especialmente ao Professor Luís Redondo e aos alunos das suas três turmas,

pelo apoio e incentivo durante o meu estágio.

Aos meus amigos Manoel Ricardo Severo e Maria Aparecida Severo por

terem aberto as portas de casa e do coração e, sobretudo, pelo apoio moral,

amizade, companheirismo e carinho oferecidos incondicionalmente.

À Secretaria Municipal de Educação do Município de Lauro de Freitas,

por ter autorizado a realização do meu trabalho de campo.

Às gestoras das escolas em que atuei e especialmente às professoras

colaboradoras, por terem proporcionado a realização da presente pesquisa.

A meu amigo Paulo Jorge, por ter realizado a primeira revisão

ortográfica e gramatical da dissertação.

Enfim, minha gratidão a todos que, direta ou indiretamente, contribuíram

para que eu pudesse concluir com êxito este trabalho.

“Vale a pena ser ensinado tudo o

que une e tudo o que liberta. Tudo o

que une, isto é, tudo o que integra

cada indivíduo num espaço de

cultura e de sentidos. Tudo o que

liberta, isto é, tudo o que promove a

aquisição de conhecimentos, o

despertar do espírito científico. [...] e

tudo o que torna a vida mais

decente” (Antônio Nóvoa, apud

Brasil, 2008).

LIMA, T. C. B. S. Conhecimentos de professores dos anos iniciais do ensino fundamental do Município de Lauro de Freitas sobre o ensino / aprendizagem / avaliação em matemática. 2013. 145 f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática)-Universidade Cruzeiro do Sul, São Paulo, 2013.

RESUMO

O objetivo geral deste trabalho é investigar conhecimentos de um grupo de

professoras dos anos iniciais do Ensino Fundamental do município de Lauro de

Freitas – BA, no que se refere ao ensino, à aprendizagem e à avaliação em

Matemática. A pesquisa foi desenvolvida com nove professoras do 5º ano, lotadas

nas escolas municipais do município em questão. Para obtermos os dados da

pesquisa, utilizamos dois instrumentos de coleta: entrevista e questionário. A

entrevista foi realizada com o propósito de levantar os perfis das professoras

pesquisadas, os elementos referentes às suas respectivas escolas, bem como, de

colher dados relativos ao conhecimento das professoras no que diz respeito ao

ensino e a aprendizagem em Matemática. O questionário foi dividido em três partes,

objetivando levantar dados referentes a: I – Conhecimentos das professoras com

relação à Prova Brasil; II – Conhecimentos das professoras a respeito da Matriz de

Referência de Avaliação da Prova Brasil e III – Conhecimentos das professoras no

que tange a algumas questões que compõem a Prova Brasil de Matemática. Para

nos respaldarmos, teoricamente, buscamos as contribuições nacionais e

internacionais referentes ao conhecimento do professor para ensinar Matemática.

Em nosso estudo, constatamos que os elementos que compõem a Prova Brasil nem

sempre foram compreendidos por essas professoras e, quando compreendidos,

muitas vezes não foram utilizados de forma adequada, devido à própria

complexidade dos componentes dessa avaliação. Além disso, o estudo apontou

lacunas na formação dessas professoras no que diz respeito ao ensino, à

aprendizagem e à avaliação em Matemática.

Palavras-chave: Ensino aprendizagem e avaliação em matemática, Conhecimentos

do professor, Prova Brasil.

LIMA, T. C. B. S. Knowledge of teachers in the early years of elementary school in the city of Lauro de Freitas on the teaching / learning / assessment in mathematics. 2013. 145 f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática)-Universidade Cruzeiro do Sul, São Paulo, 2013.

ABSTRACT

The overall objective of this work is to investigate knowledge of a group of teachers

of the early years of Elementary School in the municipality of Lauro de Freitas - BA,

in relation to Teaching, Learning and Assessment in Mathematics. The research was

developed with nine teachers of 5TH year, crowded in municipal schools of the

municipality in question. For we collect PII from anyone under the research data, we

used two instruments of collection: Interview and Questionnaire. The interview was

used with the purpose of raising the profiles of teachers surveyed and also, evidence

relating to their respective schools, as well as harvesting data relating to knowledge

of teachers with regard to teaching and learning in Mathematics. As For the

questionnaire, it was divided into three parts, aiming to raise data referring to: I -

Knowledge of teachers with regard to the Proof Brazil; II - Knowledge of the teachers

about the Reference Matrix of Evaluation of Evidence Brazil and III - Knowledge of

teachers with respect to the few questions that make up the Brazil Test of

Mathematics. For us supported theoretically, we seek contributions from national and

international regarding the knowledge of the teacher to teach Mathematics. In our

study we found that the elements that make up the Proof Brazil nor were always

understood by these teachers and, when understood, often were not properly used,

due to the very complexity of the components of this assessment. In addition, the

study indicated gaps in training these teachers with regard to teaching, learning and

assessment in Mathematics.

Keywords: Teaching, Learning and assessment in mathematics, Knowledge of

teacher, Proof Brazil.

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Resultados do IDEB das escolas pesquisadas. .............................. 78

Tabela 2 – Tempo de Magistério das professoras consultadas. ...................... 82

Tabela 3 – Percentagens explicitadas pelas Professoras. ............................. 113

Tabela 4 – Percentagens explicitadas pelas professoras. .............................. 115

Tabela 5 – Percentagens explicitadas pelas professoras. .............................. 118

Tabela 6 – Percentagens explicitadas pelas professoras. .............................. 121

Tabela 7 – Percentuais explicitadas pelas professoras .................................. 124

Tabela 9 – Percentagens explicitadas pelas professoras. .............................. 130

Figura 9 – Item 2 – Tema IV. .............................................................................. 132

Tabela 10 – Percentagens explicitadas pelas professoras. .............................. 133

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 – Os saberes dos professores. ............................................................ 44

Quadro 2 – Diferenças e semelhanças entre a ANRESC e a ABEB. .................. 66

Quadro 3 – Temas e descritores da Prova Brasil – 5º ano. ................................ 70

Quadro 4 – Descritores selecionados pela maioria das professoras. .............. 99

Quadro 5 – Descritores selecionados pela maioria das professoras. ............ 102

Quadro 6 – Descritores selecionados pela maioria das professoras. ............ 105

Quadro 7 – Descritores selecionados pela maioria das professoras. ............ 108

Figura 1 – Diagrama de elaboração de itens. .................................................... 71

Figura 2 – Item 1 – Tema I. ................................................................................ 112

Figura 3 – Item 2 – Tema I. ................................................................................ 114

Figura 4 – Item 1 – Tema II. ............................................................................... 118

Figura 5 – Item 2 – Tema II. ............................................................................... 121

Figura 6 – Item 1 – Tema III................................................................................ 123

Figura 7 – Item 2 – Tema III................................................................................ 126

Tabela 8 – Percentagens explicitadas pelas professoras. .............................. 126

Figura 9 – Item 1 – Tema IV. .............................................................................. 128

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANEB Avaliação Nacional da Educação Básica

ANRESC Avaliação Nacional do Rendimento Escolar

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CCPPM Grupo de Pesquisa Conhecimentos, Crenças e Práticas de

Professores que ensinam Matemática.

CIAEM Conferência Internacional de Educação Matemática

DAEEB Diretoria de Avaliação de Educação Básica

EJA Educação de Jovens e Adultos

ENCCEJA Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e

Adultos

ENEM Exame Nacional do Ensino Médio

GESTAR Gestão de Aprendizagem Escolar

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICEIA Instituto de Educação Isaias Alves

IDEB Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

Teixeira

MEC Ministério da Educação

PCN Parâmetro Curricular Nacional

PISA Programa Internacional de Avaliação de Alunos

PPP Projeto Político Pedagógico

PRODASEC Programa de Desenvolvimento da Educação Pré-Escolar

SAEB Sistema de Avaliação da Educação Básica

SIEM Seminário de Investigação em Educação Matemática

SIPEM Seminário Internacional de Pesquisa em Educação Matemática

UFBA Universidade Federal da Bahia

UNEB Universidade Estadual da Bahia

UNIFACS Universidade do Salvador

SUMÁRIO

TRAJETÓRIA PESSOAL E PROFISSIONAL DA PESQUISADORA/

APRESENTAÇÃO DA PESQUISA ........................................................................... 17

Introdução ................................................................................................................ 17

Início da caminhada ................................................................................................ 17

Contribuições das especializações ....................................................................... 18

Contribuições do mestrado .................................................................................... 18

Apresentação da pesquisa ..................................................................................... 19

Objetivo geral .......................................................................................................... 20

Objetivos específicos ............................................................................................. 20

Justificativa da escolha do tema ........................................................................... 21

Pergunta diretriz da pesquisa ................................................................................ 22

Questões norteadoras ............................................................................................ 22

O grupo de pesquisa “Conhecimentos, Crenças e Práticas de Professores

que ensinam Matemática” (CCPPM) ....................................................... 23

Relevância do Programa Observatório da Educação .......................................... 25

Organização da dissertação ................................................................................... 26

CAPÍTULO 1 – PROCEDIMENTOS DA PESQUISA ................................................ 28

1.1 Introdução ................................................................................................. 28

1.2 Procedimentos de pesquisa .................................................................... 28

1.3 Instrumentos de pesquisa ....................................................................... 30

1.4 Seleção das escolas ................................................................................. 31

1.5 Sínteses dos encontros realizados ......................................................... 32

1.5.1 Contato com as gestoras das nove escolas .......................................... 32

1.5.2 Primeiro encontro com as professoras .................................................. 32

1.5.3 Segundo encontro .................................................................................... 33

1.5.4 Terceiro encontro ..................................................................................... 34

1.5.5 Quarto encontro ....................................................................................... 35

1.5.6 Quinto encontro ........................................................................................ 36

1.5.7 Sexto encontro ......................................................................................... 36

1.5.8 Sétimo encontro ....................................................................................... 37

2.1 Introdução ................................................................................................. 40

2.2 Conhecimentos do professor .................................................................. 40

2.3 Conhecimentos do professor para ensinar Matemática ....................... 50

2.4 Conhecimentos do professor para ensinar Matemática nos anos

iniciais do Ensino Fundamental .............................................................. 55

2.5 Considerações a respeito do Capítulo ................................................... 60

CAPÍTULO 3 – CONTEXTUALIZANDO A PROVA BRASIL ................................... 62

3.2 Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica - SAEB .............. 62

3.3 Prova Brasil ............................................................................................... 64

3.4 Principais diferenças e semelhanças existentes entre a ANRESC

e a ANEB ................................................................................................... 66

3.5 Componentes da Prova Brasil ................................................................. 67

3.5.1 Matriz de Referência de Avaliação da Prova Brasil ............................... 67

3.5.2 Os descritores .......................................................................................... 68

3.5.2.1 Quadro da Matriz de Referência de Avaliação da Prova Brasil ............ 69

3.5.3 Os elementos que compõem a Prova Brasil .......................................... 70

CAPÍTULO 4: CENÁRIO DA PESQUISA ................................................................. 73

4.1 Introdução ................................................................................................. 73

4.2 História da cidade de Lauro de Freitas ................................................... 73

4.3 Perfil geral das escolas selecionadas .................................................... 73

4.3.1 Escola A .................................................................................................... 74

4.3.2 Escola B .................................................................................................... 75

4.3.3 Escola C .................................................................................................... 75

4.3.4 Escola D .................................................................................................... 75

4.3.5 Escola E..................................................................................................... 76

4.3.6 Escola F ..................................................................................................... 76

4.3.7 Escola G .................................................................................................... 77

4.3.8 Escola H .................................................................................................... 77

4.3.9 Escola I ...................................................................................................... 77

4.3.10 Tabela relativa ao IDEB das Escolas ...................................................... 78

4.3.10.1 Apreciação dos resultados ...................................................................... 78

CAPITULO 5 – REVELAÇÕES DAS PROFESSORAS ........................................... 81

5.1 Introdução ................................................................................................. 81

5.2 Perfil das professoras .............................................................................. 82

5.3 Revelações das professoras a respeito do ensino e da

aprendizagem da Matemática .................................................................. 82

5.3.1 Primeira Questão: o que julgam importante para o ensino da

Matemática ................................................................................................ 83

5.3.2 Segunda questão: descreva uma situação de sala que chamou a

sua atenção ............................................................................................... 85

5.3.3 Terceira Questão: principais problemas encontrados para

ensinar Matemática .................................................................................. 88

5.3.4 Quarta Questão: principais satisfações que a profissão lhe

permite....................................................................................................... 89

5.3.5 Quinta Questão: outras considerações que julgar necessário ............ 91

5.4 Conhecimentos sobre os elementos da Prova Brasil ........................... 92

5.5 Algumas considerações .......................................................................... 97

5.6 Revelações das professoras sobre os descritores da Matriz de

Referência de Avaliação .......................................................................... 98

5.6.1 Tema I - Espaço e Forma ......................................................................... 99

5.6.2 Tema II - Grandezas e Medidas ............................................................. 102

5.6.3 Tema III – Números e Operações .......................................................... 105

5.6.4 Tema IV – Tratamento da Informação ................................................... 108

5.6.5 Algumas considerações ........................................................................ 109

5.7 Revelações das professoras sobre as questões de avaliação ........... 110

5.7.1 Tema I – Espaço e Forma ....................................................................... 111

5.7.2 Tema II – Grandezas e Medidas ............................................................. 117

5.8 Considerações a respeito do capítulo .................................................. 134

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 137

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 141

17

TRAJETÓRIA PESSOAL E PROFISSIONAL DA PESQUISADORA/

APRESENTAÇÃO DA PESQUISA

Introdução

Acreditamos que uma breve retrospectiva, no intuito de nos compreendermos

como pessoa, profissional e pesquisadora, faz-se necessária, até porque, o que nos

leva a engajarmos numa pesquisa provém de indicativos das escolhas, das crenças,

das expectativas e das, perspectivas de como se delineou, ao longo do tempo, a

nossa história de vida. Desse modo, descrevemos alguns fatores decorrentes da

nossa trajetória no que diz respeito à formação no ensino da Matemática, analisando

principalmente, as motivações construídas ao longo desse percurso que nos

inquietaram e levaram-nos a definir pelo tema.

Informamos que o texto a seguir é escrito na primeira pessoa do singular, pois

se refere à nossa trajetória de formação.

Início da caminhada

Antes de começar a delinear o meu caminhar, passei por períodos de

questionamentos e reflexões, em que avaliei diversas etapas da minha vida

buscando partes de mim, da minha história, que tivessem significados particulares e

importantes na construção do meu pensar acadêmico. Essas ponderações me

fizeram perceber, de uma maneira mais consistente, o meu modo de ensinar e de

aprender, bem como o entendimento dessa relação tão complexa. Percepção essa,

que começou a tomar forma na ocasião da minha inserção ao Curso de Magistério

(1979-1981), no Instituto de Educação Isaías Alves (ICEIA), localizado no bairro de

Nazaré em Salvador – BA, e se intensificou ao começar um trabalho com crianças

de faixa etária de 4 a 6 anos de idade, como monitora, em um órgão do estado da

Bahia, chamado PRODASEC1.

Em março de 2004, uma nova etapa foi iniciada na minha vida. Fui

selecionada para trabalhar num Programa de Formação Continuada de Professores

1 PRODASEC: Programa de Desenvolvimento da Educação Pré – Escolar.

18

de Matemática dos anos iniciais do Ensino Fundamental, da Secretaria Estadual de

Educação, chamado GESTAR2. A partir das leituras realizadas nesse Programa e

também do desenvolvimento das oficinas mediadas por mim, ampliei a habilidade de

pesquisar e de refletir a respeito do conteúdo apresentado aos alunos, bem como a

forma que ele era exposto.

Contribuições das especializações

Na Universidade Estadual da Bahia (UNEB), tornei-me em 1993, especialista

em Metodologia do Ensino Pesquisa e Extensão em Educação. Apesar de esse

curso me dar aportes teóricos muito importantes para o meu crescimento pessoal,

eu não consegui avançar muito na minha prática pedagógica, tanto pelo fato dos

meus alunos continuarem sendo reprovados, quanto pelo meu desapontamento

diante disso. Consciente desse sentimento, em 2000, decidi fazer o curso de

Psicopedagogia Escolar e Clínica. Esse curso me abriu os olhos e a mente, fazendo-

me ver e entender, de modo diferente, as fragilidades dos alunos no tocante à

aprendizagem. Assim sendo, comecei a mudar a minha metodologia, o que

começou a surtir algum efeito, todavia brechas ainda existiam, fazendo-me perceber

que ainda tinha muito que ver e aprender.

O Curso de Especialização em Metodologia do Ensino da Matemática,

oferecido pela Faculdade da Cidade, Salvador - BA (2009-2011), motivou-me a

investir no Mestrado, assim sendo, em 2011, principiei o Mestrado em Ensino de

Ciências e Matemática, pela Universidade Cruzeiro do Sul, em São Paulo.

Começava aí uma nova, significativa e, principalmente, fundamental etapa da minha

vida.

Contribuições do mestrado

Em primeiro lugar, quero deixar registrado que todas as disciplinas cursadas

durante o Mestrado de Ensino de Ciências e Matemática contribuíram de modo

singular para o amadurecimento das ideias, bem como para sistematização da

minha dissertação. Todavia, darei destaque a três delas, por considerar serem as

2 GESTAR: Gestão de Aprendizagem Escolar. Programa que tem por finalidade capacitar professores das séries

iniciais em Matemática e Língua Portuguesa.

19

que mais me proporcionaram uma mudança na forma de agir e de pensar, tanto no

aspecto pessoal, quanto no aspecto profissional e principalmente, por me dar

subsídios para desenvolver a minha dissertação. A saber: a disciplina dada pela

Profa. Dra. Norma Allevato, Planejamento e Metodologia do Trabalho Científico me

abriu a mente e me fez compreender o quanto ainda estou imatura com relação à

apresentação e à discussão de Métodos de Pesquisa Científica, apesar dos vários

cursos desenvolvidos. Por mediação da Profa. Dra. Cintia Bento, pude entrar no

ensino da Didática Francesa, ao ministrar com louvor a disciplina Didática e

Metodologia do Ensino de Matemática, apropriando-me da compreensão de que o

funcionamento do processo das aprendizagens não depende apenas do ensino, mas

do contexto, das didáticas, da elaboração do saber pelos alunos. Na disciplina

ministrada pela minha orientadora, Profa. Dra. Edda Curi, tive a oportunidade de me

aprofundar a respeito do conhecimento relativo à nossa própria prática. Passei a

apreender que podemos fazer alterações em algum aspecto da prática, quando

abarcamos a necessidade de mudança, buscando o entendimento da natureza dos

problemas que a afetam, definindo assim, as estratégias de ação. A partir dessa

disciplina comecei a delinear meu estudo. Todavia, foi atendendo ao convite da

Profa. Dra. Edda, para participar do Grupo de Pesquisa, por ela coordenado, que

surgiu a verdadeira motivação, impulsionando-me assim a definir o meu objeto de

estudo.

Apresentação da pesquisa

Nossa Pesquisa está vinculada à linha quatro, do Programa de Mestrado do

Ensino de Ciências e Matemática, da Universidade Cruzeiro do Sul e refere-se à

Formação de Professores, Ensino, Aprendizagem e Construção do Conhecimento.

O estudo, por sua vez, está vinculado ao Projeto “Prova Brasil de Matemática:

revelações e possibilidades de avanços nos saberes de alunos de 4ª série/5º ano e

indicativos para formação de professores”, que se desenvolve em âmbito do

Programa Observatório para Educação e tem apoio financeiro da Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) - Brasil. O Projeto é

desenvolvido pelo Grupo de pesquisa “Conhecimentos, Crenças e Práticas de

Professores que ensinam Matemática” (CCPPM) da Universidade Cruzeiro do Sul,

sob a coordenação da Profª. Dra. Edda Curi. O Projeto de Pesquisa envolve uma

20

equipe constituída de doutores, doutorandos, mestrandos, alunos da graduação

dessa universidade e, também, seis professoras da rede pública de ensino da

cidade de São Paulo.

No período de um ano, participamos de reuniões no Grupo de pesquisa,

quando pudemos compartilhar as discussões a respeito do ensino dos números e

das operações.

Nas leituras e discussões dos documentos oficiais respectivos ao Sistema de

Avaliação da Educação Básica (SAEB) e à Prova Brasil, desenvolvidos durante os

encontros no Grupo de Pesquisa, pudemos perceber a falta de conhecimentos dos

participantes em relação a esses documentos, bem como constatamos as lacunas

existentes no tocante ao ensino, à aprendizagem e à avaliação em Matemática.

Dessa forma, decidimos nos debruçar nessa vertente, traçando enfim, os nossos

objetivos, apresentados a seguir.

Objetivo geral

Investigar conhecimentos de um grupo de professores dos anos iniciais do

Ensino Fundamental do município de Lauro de Freitas-BA, no que se refere

ao ensino, à aprendizagem e à avaliação em Matemática.

Objetivos específicos

Formar um grupo de estudos com professores do 5º ano, com a finalidade de

discutir alguns descritores e itens de Matemática apresentados na Matriz de

Referência de Avaliação da Prova Brasil.

Levantar e discutir expectativas dos professores com relação ao sucesso dos

seus alunos no que diz respeito às questões construídas a partir dos

descritores e itens estudados.

Refletir sobre o que deve conhecer um professor que ensina Matemática nos

anos iniciais do Ensino Fundamental.

Discutir estudos sobre as características do conhecimento do professor.

21

Estudar elementos e componentes da Prova Brasil.

Identificar conhecimentos dos professores sobre componentes da Prova

Brasil.

Identificar conhecimentos dos professores para ensinar Matemática nos anos

iniciais.

Refletir sobre indícios da ação pedagógica, diferentes formas de ensinar

Matemática e dificuldades encontradas.

Justificativa da escolha do tema

Justificamos este estudo, em primeiro lugar, pela nossa participação no

Projeto de Pesquisa “Prova Brasil de Matemática: revelações e possibilidades de

avanços nos saberes de alunos de 4ª série/5º ano e indicativos para formação de

professores”. Durante o ano em que fizemos parte desse grupo, refletimos a respeito

das lacunas relacionadas ao ensino, à aprendizagem e à avaliação em Matemática,

bem como às dificuldades em compreender os componentes da Prova Brasil,

principalmente os descritores e distratores. Em segundo lugar, o nosso estudo

justifica-se, pela repercussão que a Prova Brasil representa para o estabelecimento

das metas do IDEB3, sendo subsídio para um replanejamento das ações da escola,

na busca pela melhoria da qualidade do ensino público. Em terceiro, pelo fato de

que dentre as políticas públicas de Estado, a Prova Brasil é a avaliação que tem

recebido maior evidência como propulsora de uma gestão educacional que,

articulando os aspectos quantitativos e qualitativos das escolas e redes, objetiva a

melhoria do nível de ensino. Quarto, porque a temática em questão ainda não foi

alvo de muitas análises e estudos acadêmicos, principalmente referentes aos anos

iniciais do Ensino Fundamental.

Durante os nossos estudos, compreendemos que os documentos oficiais,

relativos à avaliação, não são de fácil entendimento. Essa percepção se solidificou,

durante a nossa participação nas reuniões do Grupo de Pesquisa Conhecimentos,

3 IDEB: Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. Instrumento utilizado pelo Plano de

Desenvolvimento da Educação (PDE), com a finalidade de identificar quais são as redes de ensino municipais e as escolas que apresentam maiores fragilidades no desempenho escolar.

22

Crenças e Práticas de Professores que ensinam Matemática (CCPPM), quando

notamos, que os participantes tinham dúvidas ao analisar os aspectos pedagógicos

diagnosticados pela avaliação nacional, e, também, os elementos que compõem

esses instrumentos. Deste modo, decidimos realizar esse estudo na Cidade de

Lauro de Freitas, pelo fato de termos encontrado ali o apoio da Secretaria de

Educação.

Definimos assim, nosso objeto de pesquisa, a pergunta diretriz e as questões

que nortearam o estudo.

Pergunta diretriz da pesquisa

“O que os professores do 5º ano da rede Pública Municipal de Lauro de

Freitas - BA conhecem e compreendem a respeito do ensino, da

aprendizagem, e da avaliação em Matemática.

Esse questionamento pessoal uniu-se a outro motivo que serviu de incentivo

para investigar a referida temática: a possibilidade de identificar e de apresentar aos

docentes as potencialidades da Prova Brasil, para aprimorar o trabalho pedagógico

e para promover o avanço das realidades e necessidades educacionais locais, bem

como para possibilitar uma reflexão no tocante ao ensino, à aprendizagem e à

avaliação em Matemática.

Com o intuito de estruturar da melhor forma possível o que gostaria de

investigar e quais os dados que deveríamos colher para orientar a nossa pesquisa,

elaboramos as questões a seguir.

Questões norteadoras

1. O que as professoras julgam importante para o ensino da Matemática?

2. Que situações, em sala de aula, chamam a atenção das professoras ao

ensinar Matemática?

3. Quais os principais problemas apontados pelas professoras ao ensinar

Matemática?

23

4. Quais as principais satisfações apontadas pelas professoras ao ensinar

Matemática?

5. Quais descritores da Matriz de Referência de Avaliação as professoras

consideram importantes (ou não) de serem parâmetros para avaliação?

6. Que entendimento as professoras possuem a respeito de alguns itens da

Matriz de Avaliação?

7. Que expectativas as professoras têm do sucesso de seus alunos ao

resolver questões organizadas de acordo com um determinado descritor?

8. Que erros as professoras pensam que seus alunos cometeriam ao resolver

questões organizadas de acordo com um determinado descritor?

O grupo de pesquisa “Conhecimentos, Crenças e Práticas de Professores que

ensinam Matemática” (CCPPM)

O grupo de pesquisa “Conhecimentos, Crenças e Práticas de Professores que

ensinam Matemática” (CCPPM), da Universidade Cruzeiro do Sul (UNICSUL),

desenvolve, desde o início de 2011, um projeto de pesquisa denominado “Prova

Brasil de Matemática: revelações e possibilidades de avanços nos saberes de

alunos de 4ªsérie/5º ano e indicativos para formação de professores”, no âmbito do

Programa Observatório da Educação com financiamento da Coordenação de

Aperfeiçoamento de pessoal de nível Superior (CAPES).

O projeto tem como finalidade colaborar para o avanço da pesquisa

acadêmica, por meio da análise do banco de dados de Matemática do Sistema de

Avaliação da Educação Básica (SAEB) e da Prova Brasil, relativa à 4ª série/5ºano,

disponibilizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

Teixeira (INEP), no Edital 2010, para o Programa Observatório da Educação. Além

disso, são finalidades do projeto estabelecer um diálogo entre a comunidade

acadêmica, os gestores de políticas educacionais e os diversos atores envolvidos no

processo e, ainda, contribuir com elementos para discussão sobre avaliação

educacional, ensino-aprendizagem de Matemática e formação de professores

(CURI, 2010).

Na época em que nós participávamos do grupo, ele era constituído de seis

mestrandos (três bolsistas e três colaboradores), um doutorando (bolsista), seis

24

professoras da rede pública (bolsistas) e quatro estagiários (bolsistas). Nossa

participação foi como mestranda colaboradora. Atualmente ele é formado por oito

alunos do curso de Graduação em Pedagogia da Universidade (seis bolsistas e dois

colaboradores); dez professoras da rede pública de São Paulo, que atuam com

crianças dos anos iniciais do Ensino Fundamental (seis bolsistas e quatro

colaboradores); três mestrandos e uma doutoranda, todos bolsistas; cinco

pesquisadoras da universidade e dois alunos do Programa de Pós-Graduação em

Ensino de Ciências e Matemática – mestrandos e doutorandos – que participam

voluntariamente do Projeto. O projeto, desde o seu início, envolve seis escolas do

Ensino Básico.

A partir da base de dados oferecidos pelo Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) sobre as aprendizagens

matemáticas de alunos de 4ªsérie/5ºano, reveladas na Prova Brasil, e dos itens de

avaliação disponibilizados para a pesquisa, o referido grupo realiza investigações

que trazem elementos para a discussão da melhoria da qualidade do ensino de

Matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental e indicativos para a formação

de professores.

O grupo se reúne a cada quinze dias na sede da universidade para refletir

sobre a tematização da prática pedagógica, e, baseando-se em estudos teóricos,

avançar na sua efetivação.

Entre as ações desenvolvidas por esse grupo, destacam-se as que

possibilitam ao professor analisar produções escritas de seus alunos e formular

hipóteses sobre as dificuldades apresentadas, buscando o avanço das

aprendizagens e a incorporação dessas análises à sua prática, como contribuição

para o desenvolvimento das aprendizagens matemáticas de seus alunos.

Um procedimento comum no grupo é análise dos dados quantitativos das

escolas participantes e, com base nesses dados, cuidar da preparação coletiva de

questões discursivas que possibilitem respostas construídas pelos alunos; do

desenvolvimento dessas questões em sala de aula; da análise coletiva dos erros e

das dificuldades; da reorganização das questões e da elaboração coletiva de

sequências de atividades para o progresso nas aprendizagens dos alunos. Alguns

25

temas matemáticos do currículo dos anos iniciais do Ensino Fundamental foram

pesquisados nos anos de 2011 e de 2012 por esse grupo, dentre eles o Sistema de

Numeração Decimal - SND, o Campo Aditivo e o Campo Multiplicativo.

Como esclarecido anteriormente, esse grupo envolve atores de vários

segmentos educacionais que se propuseram a realizar um trabalho coletivo. Dessa

forma, há no grupo experiências diferenciadas e trajetórias profissionais e

acadêmicas diversas, o que pode revelar diferentes fluxos do trabalho coletivo.

Relevância do Programa Observatório da Educação

A relevância do Programa Observatório da Educação tanto para o ensino

como para a pesquisa, no âmbito do qual esta investigação se desenvolve, reside no

fato de que ele permite uma pesquisa longitudinal de quatro anos, com o mesmo

grupo de professores e escolas; envolve políticas públicas, na medida em que

fomenta a análise dos resultados da Prova Brasil das escolas envolvidas; e promove

a integração e o diálogo entre elementos de várias instâncias educacionais, durante

um período de tempo considerável, em que se propõe realizar um trabalho coletivo.

Outro aspecto a ser considerado é a adesão de pesquisadores e de outros

interessados no Programa de Pós - Graduação em Ensino de Ciências e Matemática

da Universidade, do projeto de pesquisa.

Os resultados da pesquisa vêm sendo apresentados em congressos

internacionais, como a Conferência Internacional de Educação Matemática (CIAEM),

o Seminário de Investigação em Educação Matemática (SIEM) e o Seminário

Internacional de Pesquisas em Educação Matemática (SIPEM). Além disso foi

publicado um livro com relatos das pesquisas já realizadas e também veiculadas em

periódicos da área, dando visibilidade não só à investigação que vem sendo feita,

como também ao Programa Observatório da Educação.

Esse movimento vem alimentando tanto a produção acadêmica do grupo de

pesquisa, quanto as intervenções nas escolas participantes do projeto e no processo

de formação inicial no curso de Pedagogia e de Licenciatura em Matemática da

Universidade.

26

Organização da dissertação

A presente dissertação está organizada da seguinte forma:

Apresentação da pesquisa: discorremos a respeito da trajetória pessoal e

profissional da pesquisadora, como se delineou a caminhada inicial e as

contribuições trazidas pelas especializações e, principalmente, pelo Mestrado

profissional. Falamos sobre o grupo de pesquisa “Conhecimentos, Crenças e

Práticas de Professores que ensinam Matemática” (CCPPM), a inserção da

pesquisadora no projeto de pesquisa desse grupo, a “Relevância do Programa

Observatório”, a “Justificativa do Estudo”, a “Pergunta Diretriz”, os “Objetivos e

Organização” da dissertação.

Capitulo 1°: apresentamos os procedimentos da Pesquisa, explicitamos a

opção pela pesquisa qualitativa, pela decisão em utilizar os estudos de Bardin

(2007), sintetizamos os encontros com as nove professoras, dos quais levantamos e

coletamos os dados para o presente trabalho.

Capítulo 2°: apresentamos a “Fundamentação Teórica”, expomos uma

síntese a partir dos estudos que desenvolvemos de autores internacionais e

nacionais nos seguintes tópicos: conhecimentos do professor: Garcia (1992, 1998,

1999); Schön (1992, 2000); Shulman (1986, 1987, 1992) e Tardif (2000, 2002,

2006). Conhecimentos do professor para ensinar Matemática: Gomes (1996) e

Ponte (1994,1997,1998). Conhecimentos do professor para ensinar Matemática nos

anos iniciais: Curi (2004, 2005, 2011) e Serrazina (2002, 2003).

Capítulo 3°: contextualizamos a Prova Brasil, exibimos o histórico da Prova

Brasil, do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), e as principais

semelhanças e diferenças existentes entre essas duas avaliações. Discorremos a

respeito da Matriz de Referência de Avaliação da Prova Brasil, conceituamos os

Descritores e os Distratores, que compõem as questões utilizadas na Prova Brasil.

Capítulo 4°: exibimos o cenário da Pesquisa, apresentamos a história da

cidade de Lauro de Freitas – BA, o perfil das nove escolas selecionadas, o quadro

relativo ao Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), das escolas

27

pesquisadas, nos anos de 2007, 2009 e 2011 e expomos, nossa apreciação

referente aos resultados apresentados desse índice.

Capítulo 5°: apresentamos o perfil das professoras consultadas, exibimos as

revelações delas relativas às seguintes reflexões: 1. O que julgam importante para o

ensino da Matemática? 2. Descreva uma situação de sala que chamou a sua

atenção. 3. Principais problemas encontrados para ensinar Matemática. 4. Principais

satisfações que a profissão lhe permite. 5. Outras considerações que julgar

necessário. Nesse capítulo, levantamos a respeito da Prova Brasil, os

conhecimentos das professoras sobre a Prova Brasil, propriamente dita; os seus

objetivos; o resultado do Índice de desenvolvimento da Educação Básica (IDEB),

das suas respectivas escolas; a Matriz de Referência de Avaliação da Prova Brasil;

os descritores e os distratores, além das dificuldades em compreender a Matriz de

Referência de Avaliação da Prova Brasil. Exibimos ainda, as análises das respostas

das professoras no tocante à Matriz de Referência de Avaliação da Prova Brasil de

Matemática, nos quatro temas: I- Espaço e Forma; II- Grandezas e Medidas; III –

Números e Operações; IV - Tratamento da Informação. Por fim, expomos as

revelações das professoras após desenvolverem análises de alguns exemplos de

itens de Matemática, utilizados na avaliação da Prova Brasil de Matemática,

referentes a esses quatro temas.

Finalizando, apresentamos as nossas Considerações finais.

Passamos, a seguir, ao capítulo 1, que apresenta os procedimentos da

Pesquisa.

28

CAPÍTULO 1 – PROCEDIMENTOS DA PESQUISA

1.1 Introdução

Para realizarmos este estudo, optamos pela pesquisa de caráter qualitativa,

principalmente pelas suas características, pois de acordo com Bogdan e Biklen

(1991),

1. Na investigação qualitativa a fonte direta de dados é o ambiente natural, constituindo o investigador o instrumento principal;

2. A investigação qualitativa é descritiva;

3. Os investigadores qualitativos interessam-se mais pelo processo do que simplesmente pelos resultados ou produtos;

4. Os investigadores qualitativos tendem a analisar os seus dados deforma indutiva;

5. O significado é de importância vital na abordagem qualitativa. (BODGAN; BIKLEN, 1991, p. 47).

Diante do exposto pelos autores, compreendemos que as características da

pesquisa qualitativa nos assinalam que o seu desenvolvimento está vinculado

estritamente com a relação existente entre o pesquisador e os pesquisados. Em

primeiro lugar, pelo fato de a abordagem estar fundamentada na relação construída

entre os integrantes e, em segundo lugar, devido à análise constituir-se na

interpretação de dados, discursos e narrativas, valorizando os sujeitos envolvidos e

as suas ideias, buscando dar sentido aos conhecimentos e às compreensões

apresentadas pelos envolvidos no processo.

1.2 Procedimentos de pesquisa

Entre os procedimentos utilizados na pesquisa qualitativa, recorremos à

análise de conteúdo. Segundo Bardin (2007, p.33), “A análise de conteúdo é um

conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos

sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens.”

Entendemos que, a partir do momento que tomamos como ponto de partida a

palavra, oral ou escrita, na análise de conteúdo, a mensagem por sua vez,

29

apresenta-se como veículo carregado de expressões cognitivas, valorativas e

históricas, atreladas às condições contextuais de seus produtores.

Ao buscarmos a análise de conteúdo, compreendemos a possibilidade de

descrevermos, analisarmos e interpretarmos o sentido que cada professor revelou

nas mensagens escritas acerca do seu conhecimento e da sua compreensão a

respeito do que é solicitado na Prova Brasil em termos de objetivos de Matemática

(descritores da Matriz de Referência de Avaliação) e de expectativas de acertos de

seus alunos com relação a esses objetivos, considerando assim, a subjetividade de

cada um. Bardin (2007, p. 34) enfatiza que “A intenção da análise de conteúdo é a

inferência de conhecimentos relativos às condições de produção (ou,

eventualmente, de recepção), inferência esta que ocorre por indicadores

(quantitativos ou não).”

Deste modo, a inferência em análise de conteúdo, implica a comparação dos

dados obtidos mediante discursos e símbolos, com os pressupostos teóricos de

diferentes concepções de mundo, de indivíduo e de sociedade. No nosso caso,

devido ao nosso trabalho estar inserido no campo de currículo e na avaliação e

formação de professores, buscamos respaldos teóricos correspondentes aos eixos

em questão.

Bardin (2007) apresenta três procedimentos distintos e importantes para o

desenvolvimento da pesquisa, no que se refere à organização da análise de

conteúdo, são eles:

1. A pré-análise: fase de organização da pesquisa que envolve a leitura flutuante, ou seja, o primeiro contato com os documentos a partir de uma leitura geral, assim como, na escolha dos documentos a serem analisados de acordo com os objetivos de investigação. Neste momento também são levantadas as hipóteses e os objetivos de pesquisa mediante a projeção teórica;

2. A exploração do material: fase que envolve a administração sistemática dos rumos definidos pelo pesquisador, ou seja, momento em que se inicia o processo de codificação e categorização das análises;

3. Tratamento dos resultados obtidos e interpretação: fase em que os resultados brutos são condensados e revelados de acordo com as informações oferecidas pela análise e que por fim são confrontados com as teorias que sustentam a pesquisa.

30

Utilizamos os três procedimentos elencados por Bardin (2007) para

realizamos a análise do conteúdo dos questionários disponibilizados aos

professores, durante os encontros do grupo de estudos.

1.3 Instrumentos de pesquisa

Em anuência com Allevato (2008, p. 186), a atividade referente à seleção dos

instrumentos objetiva selecionar as estratégias que fazem parte da idealização da

pesquisa, resultantes diretamente do fenômeno de interesse, da pergunta de

pesquisa. Portanto, a estratégia determina o que será pesquisado.

A estratégia que auxiliou nossa pesquisa foi à formação de um grupo de

estudos, do qual pudemos colher dados, utilizando dois instrumentos metodológicos:

entrevista4 e questionário5, mas também discutir o ensino, a aprendizagem e a

avaliação em Matemática.

Ao realizarmos a entrevista, tínhamos como propósito investigar a respeito de:

1. Perfil dos professores – idade, tempo de magistério e formação.

2. Dados da escola, como nem todas as escolas possuíam o Projeto Político

Pedagógico; a entrevista realizada com as gestoras nos auxiliaram nessa

análise.

3. Relacionamento das professoras com a Matemática.

O questionário utilizado na pesquisa foi dividido em três partes:

Parte I – Conhecimentos a respeito da Prova Brasil;

Parte II - Análise da Matriz de Referência da Prova Brasil – 5º ano;

4Segundo Stake (2011), as entrevistas com caráter qualitativo, são usadas para vários propósitos, os

principais são: 1. Obter informações singulares ou interpretações sustentadas pela pessoa

entrevistada. 2. Coletar uma soma numérica de informações de muitas pessoas. 3. Descobrir sobre

“uma coisa” que os pesquisadores não conseguiram observar por eles mesmos (STAKE, 2011, p.

108). 5O questionário representa um conjunto de perguntas ou afirmações feitas para os sujeitos da

pesquisa. Nesse caso, os dados serão tratados de maneira a corresponder à abordagem qualitativa.

Eles serão usados, de maneira igual para todos os sujeitos, com a finalidade de obter dados e

informações acerca da percepção dos sujeitos quanto ao objeto de estudo.

31

Parte III - Análise de alguns itens de Matemática utilizados na avaliação

da Prova Brasil e divulgados pelo INEP.

Para desenvolvermos a análise do questionário, organizamos as respostas

apresentadas pelas professoras, seguindo os procedimentos indicados por Bardin

(2007):

1. Pré-análise dos questionários: leitura inicial das respostas dos questionários e

construção de quadros ilustrativos para facilitar os procedimentos de

agrupamentos, categorias e possibilidade de inferências, análise e

interpretação dos dados.

2. Exploração dos questionários: agrupamento das respostas por categorias

molares, ou melhor dizendo, por categorias mais amplas.

3. Tratamento e interpretação dos dados: proposição de inferências dos dados

de acordo com os objetivos e as fontes teóricas utilizadas na pesquisa.

1.4 Seleção das escolas

Com o propósito de colhermos os dados importantes e imprescindíveis à

nossa pesquisa, inicialmente selecionamos nove escolas, localizadas na cidade de

Lauro de Freitas, seguindo os seguintes critérios:

1. três escolas com IDEB baixo;

2. três com IDEB alto;

3. três com IDEB intermediário.

Vale ressaltar que consideramos o Índice da Educação Básica (IDEB), relativo

ao ano de 2009.

A escolha das professoras pesquisadas, que atuam no 5º ano (uma de cada

escola selecionada), foi realizada pelas próprias gestoras escolares.

Exibimos na sequência, resumidamente, os encontros acontecidos com as

professoras pesquisadas. Salientamos que, neles realizamos tanto as entrevistas

quanto os questionários, que foram instrumentos imprescindíveis para coletarmos os

32

dados inerentes ao nosso estudo. Também demos as devolutivas às professoras e

nos empenhamos em discutir os pontos que consideramos frágeis em relação ao

conhecimento delas para ensinar Matemática.

1.5 Sínteses dos encontros realizados

Apresentamos, a seguir, as sínteses dos encontros realizados, para fornecer

subsídios que proporcionem uma maior compreensão por parte dos leitores.

1.5.1 Contato com as gestoras das nove escolas

No primeiro contato com as gestoras escolares das nove escolas

selecionadas, inicialmente nos apresentamos, expusemos o Projeto de Pesquisa e

entregamos a autorização, concedida pela Secretaria de Educação do Município de

Lauro de Freitas, para que pudéssemos realizar o nosso estudo de campo. Em

seguida, pedimos, que cada uma delas nos indicasse uma professora que estivesse

atuando no 4ªsérie/5º ano, para ser o nosso objeto de estudo. Também solicitamos o

Projeto Político Pedagógico da escola com o intuito de levantarmos subsídios para

traçarmos o perfil da escola. Vale ressaltar que nem todas as escolas envolvidas

possuíam um Projeto Político Pedagógico, desta forma, o perfil foi elaborado, por

meio dos dados que nos foram fornecidos pelas gestoras, durante nossa conversa.

1.5.2 Primeiro encontro com as professoras

Nesse encontro, em primeiro lugar nos apresentamos, expusemos o nosso

projeto de pesquisa, bem como nos colocamos à disposição para continuarmos

ajudando-as na reflexão a respeito do ensino, da aprendizagem e da avaliação em

Matemática.

Docentes e especialistas, preocupados com a problemática que envolve o

ensino de Matemática, estão se mobilizando com o intuito de buscar possíveis

soluções para resolver a questão. Afinado com esse propósito, o nosso estudo

objetiva investigar professores do 5º ano do Ensino Fundamental, a respeito do

ensino, da aprendizagem e da avaliação em Matemática, na cidade de Lauro de

Freitas. Desse modo, sentimos a necessidade de formar um grupo de estudos onde

33

pudéssemos refletir a respeito do nosso objeto de estudo, e também colher dados

para a nossa pesquisa.

Realizamos uma entrevista com as nove professoras indicadas pelas gestoras

escolares, com o propósito de conhecê-las melhor.

Percebemos, nesse primeiro encontro, certo desconforto das professoras com

a nossa presença, bem como, desconfiança quanto ao objetivo do estudo, todavia,

apesar disso, elas se mostraram interessadas em participar da pesquisa,

principalmente após a nossa explanação a respeito do estudo.

Todos os encontros aconteceram na Escola A, por ela estar localizada no

centro da cidade e, consequentemente, ser fácil o acesso para todos os envolvidos,

e também pela gestora, gentilmente, ter cedido a sala de informática.

1.5.3 Segundo encontro

No segundo encontro, com todas as nove professoras colaboradoras

reunidas, primeiramente, tivemos uma conversa informal, em que nos empenhamos

em esclarecer quaisquer dúvidas a respeito da nossa pesquisa. Algumas desejavam

saber o que nós queríamos “de verdade” com o estudo, pois isso não tinha ficado

claro no primeiro encontro. Assim que elas sanaram as angústias, colocaram-se à

disposição, ressaltando, inclusive, que queriam aprender mais a respeito da Prova

Brasil, pois apenas participavam de cursos dados pelo município em épocas de

aplicação da avaliação. Concordaram em nos reunirmos quinzenalmente às sextas-

feiras, por esse dia ser destinado à atividade complementar (AC).

Ainda nesse encontro, realizamos uma entrevista com todas as professoras

colaboradoras, quando, baseando-nos em um roteiro (anexo em CD), e

apresentamos alguns questionamentos:: 1.O que julgam importante para o ensino

da Matemática? 2. Descreva uma situação de sala que chamou a sua atenção. 3.

Principais problemas encontrados para ensinar Matemática. 4. Principais satisfações

que a profissão lhe permite. 5. Outras considerações que julgar necessário. Com

esse propósito, construímos um roteiro (anexo em CD).

34

Propusemos essas questões, porque acreditarmos que a aprendizagem que

se origina na prática é um elemento formativo importante e que deve ser levado em

consideração como ponto de partida nos programas de formação continuada de

professores. Buscamos proporcionar às professoras, sujeitos do nosso estudo,

momentos de reflexão a respeito do ensino da Matemática. Desse modo, a partir da

análise das respostas coletadas é possível iniciar as discussões..

Segundo Tardif (2002), os saberes dos professores são personalizados,

portanto, é necessário levar em consideração, além dos fatores cognitivos, os

fatores particulares de cada profissional, como a sua própria história de vida e o

percurso da sua carreira profissional.

1.5.4 Terceiro encontro

No terceiro encontro, decidimos, primeiramente, verificar se o nosso propósito

em reuni-las ficara bem claro ou se ainda havia dúvidas. Depois, demos o retorno da

coleta do 2º encontro e discutimos alguns aspectos do ensino da Matemática.

Constatamos que algumas professoras apresentavam dúvidas a respeito de como

trabalhar a Matemática de forma a fazer com que os seus alunos se apropriassem

verdadeiramente do conteúdo. Esse desafio incentivou-as ainda mais a participar do

nosso grupo de estudo, para juntos refletirmos e quem sabe, tentarmos encontrar

algumas soluções necessárias para a superação das fragilidades encontradas ao

ensinar e aprender Matemática.

Nesse encontro, ao discutirmos juntos a respeito das dificuldades

encontradas pelos alunos, algumas professoras responsabilizaram os estudantes

dizendo que eles “não queriam nada”, enquanto outras discordaram, e justificaram

considerando que a culpa também poderia ser delas, por conta do despreparo em

proporcionar aos alunos o avanço da sua aprendizagem.

Tranquilizamo-las, esclarecendo que não existiam “culpados” e, sim, alguns

fatores que podem estar, de alguma forma, potencializando essas dificuldades e

causando o baixo rendimento nos seus alunos, como por exemplo, problemas

auditivos, visuais e também problemas relacionados com a escrita e a leitura.

35

Consideramos essas discussões pertinentes, pois, segundo Schön (1992), a

partir da vivência real, o professor será capaz de enfrentar as problemáticas e tomar

decisões mais precisas em sua área profissional.

Nesse encontro também, algumas professoras comentaram que, como

aplicaram a Prova Brasil pela primeira vez no ano de 2011, não se sentiam seguras

para responder algumas questões. Acalmamo-las, elucidando que poderiam deixar

em branco, caso desejassem, pois o importante era a boa vontade e o interesse

delas e, principalmente, e reiteramos que o foco da nossa pesquisa, não era avaliá-

las, e sim, conhecer, até que ponto, iam os seus conhecimentos relativos a essa

forma de avaliação.

1.5.5 Quarto encontro

Nesse encontro demos o retorno, para as nove professoras colaboradoras, da

parte I do questionário e entregamos a parte II, com o objetivo de levantar os

conhecimentos delas, no tocante à Matriz de Referência de Avaliação da Prova

Brasil de Matemática.

Com relação à parte I do questionário, discutimos a necessidade de conhecer

de forma mais substancial a Prova Brasil e de refletir a respeito dos seus

componentes. Além disso, as professoras perceberam que são simplesmente

aplicadoras desse instrumento, e que nunca haviam refletido sobre a importância

dele para a tomada de decisões. Assim sendo, sentimos a necessidade de discutir

sobre o ensino da Matemática e de pontuar que ele não está desvinculado das

concepções a respeito do conhecimento matemático. Portanto, cabia a elas refletir

sobre suas concepções no que se refere à Matemática, e perceber que este fato

influencia as suas práticas na sala de aula.

As professoras se mostraram o tempo todo accessíveis às reflexões, tanto no

que diz respeito ao objetivo da Prova Brasil, quanto ao conhecimento matemático e,

principalmente, interessaram-se em pensar sobre as suas ações na sala de aula.

Para Shön (1992), refletir sobre a ação é diferente de refletir na ação, pois

exige um distanciamento da ação, para reconstruí-la e analisá-la mentalmente.

36

1.5.6 Quinto encontro

No 5º encontro, inicialmente apresentamos os resultados dos dados

analisados com relação à Matriz de Referência da prova Brasil de Matemática,

destacando os descritores apontados pela maioria delas, nos quatro blocos, no que

diz respeito às categorias: 1. Mais difíceis do ponto de vista matemático; 2. Mais

difíceis em termos de aprendizado do aluno; 3. Despertam maior interesse por parte

dos alunos; 4. O que você considera inadequado para o 5º ano; 5. Que erros seriam

mais cometidos pelos seus alunos e 6. Em que seus alunos têm maior

aproveitamento. Assim elas puderam, além de verificar os descritores mais

evidenciados por todas, identificar a necessidade de uma reflexão mais

aprofundada, pois os seus conhecimentos a respeito do tema mostraram-se

superficiais.

Pensando em dirimir algumas dúvidas das professoras, esclarecemos que a

Matriz de Referência de Avaliação de Matemática busca verificar, por meio da Prova

Brasil, se os alunos apresentam algumas habilidades que deverão ser desenvolvidas

por elas, no 5º ano. Assim pontuamos a importância de elas perceberem como cada

aluno aprende e demonstra essas habilidades.. Desse modo, o professor deve ficar

atento para perceber quando acontece um atraso muito grande no desenvolvimento

de alguma habilidade inerente ao ano em questão e intervir rapidamente. Elas

precisam verificar se não se trata, em alguns casos, de encaminhar para a avaliação

de um especialista, para diagnosticar qual a sua dificuldade de aprendizagem.

Percebemos que as professoras ficaram surpresas em saber que elas, por

meio da leitura, da interpretação e do tratamento dos resultados da Prova Brasil,

poderiam investigar as habilidades e as dificuldades de seus alunos, em alguns

conteúdos matemáticos, ao mesmo tempo em que seriam auxiliadas na intervenção

pedagógica.

1.5.7 Sexto encontro

No sexto encontro, iniciamos as discussões relativas aos descritores,

apresentados na Matriz de Referência de Avaliação da Prova Brasil de Matemática,

pois compreendemos que um melhor entendimento deles possibilitaria uma reflexão

37

sobe a prática no ensino da Matemática, dos conteúdos inerentes a esses

descritores, bem como, permitiria uma ponderação a respeito da qualidade das

questões divulgadas pelos documentos oficiais. Desta forma, nesse encontro

iniciamos as discussões pelo tema Espaço e Forma. Escolhemos dentre os cinco

descritores, apenas dois, o descritor D2 e o descritor D3. O descritor D2 tem, como

objetivo, verificar se os alunos do 5º ano possuem a habilidade de identificar

propriedades comuns e perceber as diferenças entre poliedros e corpo redondo,

relacionando figuras tridimensionais com suas planificações. O descritor D3 verifica

se o aluno possui a habilidade de identificar, pelo número de lados e também pelos

tipos de ângulos, propriedades comuns e as diferenças existentes entre as figuras

bidimensionais.

Nesse encontro, a partir das análises desenvolvidas pelas professoras,

pudemos discutir a respeito do Tema I - Espaço e Forma, analisando, portanto, as

habilidades referentes aos conhecimentos do espaço e das formas geométricas.

Esclarecemos que os descritores que fazem parte desse bloco, de acordo com os

documentos, verificam se o aluno compreende o espaço com as suas diferentes

formas e também se ele é capaz de descrever e de representar o mundo em que

vive com compreensão, conectando a Matemática com as demais áreas do

conhecimento.

Após as discussões com relação aos descritores D2 e D3, apresentamos as

questões que envolviam os descritores D7 e D8, referentes ao Tema II – Grandezas

e Medidas, para que as professoras pudessem realizar as análises.

1.5.8 Sétimo encontro

No sétimo encontro, retomamos as discussões relativas aos descritores da

Matriz de Referência de Avaliação. Dessa vez foram analisados pelas professoras

os descritores D7 e D8, selecionados dentre os sete, que compõem o Tema II –

Grandezas e Medidas.

Nesse encontro, além de discutirmos as respostas fornecidas pelas

professoras, esclarecemos a respeito das habilidades avaliadas pelos descritores

desse tema, os quais têm por objetivo, verificar: se os alunos compreendem as

38

medidas convencionais e não convencionais; se sabem realizar comparações de

grandezas; se conseguem utilizar medidas para calcular áreas, perímetros, volumes;

se conseguem utilizar o sistema monetário corretamente; e, se estabelecem

relações entre as unidades de tempo. No caso dos descritores selecionados,

informamos que o descritor D 7 verifica se o aluno já possui desenvolvida a

habilidade de resolver problemas significativos, utilizando unidades de medidas

padronizadas como km/m/cm/mm/kg/mg/l/ml. O descritor D8 avalia se o aluno sabe

estabelecer relações entre unidades de tempo.

Percebemos que as professoras se envolveram nas discussões e que, apesar

de acharem essas análises difíceis de fazer, após cada encontro se sentiam mais

seguras no que toca as análises restantes.

De acordo com Ponte (1998), a formação do professor não pode levar em

consideração exclusivamente o conhecimento de determinado conteúdo

matemático, mas ele precisa ser capaz de modificar esse conhecimento obtido.

Desta forma, compreendemos que essas discussões a respeito de algumas

questões da Prova Brasil poderão proporcionar às professoras a capacidade de

modificar um conhecimento obtido, realizando a transposição didática e, com isso,

dirimindo os problemas relacionados com o ensino, a aprendizagem e a avaliação

em Matemática.

Após as discussões, entregamos as questões relativas ao Tema III –

Números e Operações, e, dentre os quatorzes descritores que compõem esse tema,

decidimo-nos pelos descritores D13 e D20, para que as professoras realizassem as

análises.

1.5.9 Oitavo encontro

No oitavo encontro, fizemos a devolutiva das questões analisadas pelas

professoras no que se refere ao Tema III – Números e Operações. As questões

selecionadas diziam respeito aos descritores D13 e D20. Esclarecemos que o

descritor D13 verifica se os alunos possuem a habilidade de reconhecer e de utilizar

características do sistema de numeração decimal, tais como agrupamentos e trocas

na base 10 e princípio do valor posicional. Enquanto o D20 avalia se os alunos

39

sabem resolver problemas com números naturais, envolvendo diferentes

significados da multiplicação ou da divisão: multiplicação comparativa, ideia de

proporcionalidade, configuração retangular e combinatória.

Nossas discussões também serviram para elucidar que, dentro desse tema,

estão as quatro operações fundamentais e as suas relações com os números

naturais e racionais.

Nossas reflexões nos levaram a concluir que, nesse tema em questão, existe

uma maior concentração de esforços por parte das professoras envolvidas, pois se

referem às operações.

Ao concretizarmos as discussões, acreditamos que proporcionamos às

professoras ocasião para refletir na ação que, de acordo com Shön (1992), são

momentos de reflexão de valor epistêmico, levando o educador a progredir no seu

desenvolvimento profissional, adquirindo autonomia para determinar ações futuras,

ao compreender problemas e descobrir novas soluções.

Após as reflexões, oferecemos a parte III – segundo bloco, do questionário,

com o propósito de investigar os conhecimentos das professoras referentes aos

itens correspondentes aos descritores D27 e D28 relativos ao

Tema IV: Tratamento da Informação.

Esclarecemos que, por ter sido o último encontro, nós não realizamos as

discussões relativas a esse tema, como fizemos nos anteriores, apenas realizamos o

levantamento e o tratamento dos dados, que serão apresentados no capítulo 5.

Apresentamos, na sequência, o capítulo 2, quando exporemos a síntese dos

nossos estudos referentes ao conhecimento do professor, ou seja, à

Fundamentação Teórica da nossa pesquisa.

40

CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Introdução

O presente capítulo contempla os referenciais teóricos utilizados com o

propósito de refletir a respeito dos conhecimentos do professor. Dessa forma,

expomos uma síntese a partir dos estudos que desenvolvemos de autores

internacionais e nacionais nos seguintes tópicos: conhecimentos do professor:

Garcia (1992, 1998, 1999); Schön (1992, 2000); Shulman (1986, 1987, 1992) e

Tardif (2000, 2002, 2006). Conhecimentos do professor para ensinar

Matemática: Ponte (1994,1997,1998) e Gomes (1996). Conhecimentos do

professor para ensinar Matemática nos anos iniciais: Serrazina (2002, 2003) e

Curi (2004, 2005, 2011).Todos eles nos forneceram parâmetros fundamentais

referentes ao estudo do nosso fenômeno de interesse bem como nos auxiliaram na

interpretação das evidências dos fatos coletados, respaldando-a.

2.2 Conhecimentos do professor

Um dos autores que discute a formação profissional, a partir da reflexão é

Schön (1992).

Para esse autor, a formação do futuro profissional deve se desenvolver a

partir de uma intensa reflexão no tocante às situações práticas reais. Elucida que a

vivência real motiva o aprendiz a ser capaz de enfrentar as problemáticas e de tomar

decisões mais precisas em sua área profissional.

Em consonância com o autor, são características do conhecimento

profissional, o conhecimento tácito, quando ele transparece apenas na execução da

ação, desta forma, nem sempre pode ser explicitado ou teorizado pelo profissional.

E o conhecimento dinâmico, quando forem utilizados diferentes conhecimentos no

contexto da sua profissão, na medida em que constrói e os utiliza em função do

próprio raciocínio.

41

Pontua que algumas noções fundamentais são intrínsecas à prática

profissional:

Conhecimento na ação: refere-se ao conhecimento tácito expresso

espontaneamente na execução da ação, ou seja, é um saber inteligente. Trata-se de

um conhecimento dinâmico e resulta no aperfeiçoamento da própria ação;

Reflexão na ação: diz respeito à reflexão na própria ação, durante o momento em

que ela é executada, possibilitando ao profissional intervir e reformular o percurso da

ação no instante mesmo em que acontece;

Reflexão sobre a ação: exige o distanciamento da ação de modo a reconstruí-la e

analisá-la mentalmente, diferentemente da reflexão na ação;

Reflexão sobre a reflexão na ação: significa momentos de reflexão de valor

epistêmico, levando o profissional a progredir no seu desenvolvimento profissional,

adquirindo autonomia para determinar ações futuras, bem como para compreender

os problemas e para descobrir novas soluções.

Sinalizamos que Schön (1992), apesar de não apresentar propostas

diretamente voltadas para a formação de professores, desenvolve uma análise

profissional, evidenciando o valor epistemológico da prática e valorizando o

conhecimento que nasce na essência da atividade profissional de forma consciente

e refletida. Por isso é que compreendermos ser relevante referenciar esse autor,

visto que, estamos lidando, no nosso estudo, com um grupo de professores que, ao

mesmo tempo em que realiza uma formação continuada, pensa sobre suas ações

em relação ao ensino da Matemática e, consequentemente, reflete sobre sua prática

de ensino.

Salientamos que a aprendizagem que se origina na prática é um elemento

formativo importante e que deve ser levado em consideração como ponto de partida

nos programas de formação continuada de professores. No nosso estudo,

proporcionamos às professoras, a partir de suas práticas, momentos de reflexão

sobre o ensino da Matemática e sobre alguns componentes da Prova Brasil.

Outro autor que desenvolve investigações a respeito do conhecimento do

professor é Tardif (2002).

42

Tardif (2002) investiga a respeito dos saberes que proporcionam alicerces ao

trabalho e à formação dos professores nas escolas. Considera o saber do professor

como um saber plural, formado pelo amálgama mais ou menos coerente de saberes

oriundos da formação profissional e de saberes disciplinares, curriculares e

experienciais. (TARDIF, 2002, p. 36).

De acordo com esse autor, os saberes dos professores têm procedências

diversas. A formação profissional é constituída de um conjunto de saberes

transmitido pelas instituições de formação de professores. Quer sejam eles

disciplinares - correspondem aos diversos campos de conhecimentos e surgem da

tradição cultural-, quer sejam os curriculares, adquiridos com base em programas e

documentos curriculares.

Tardif (2002) pontua que, muitas vezes, a forma como o formador trabalha -

selecionando conteúdos, organizando situações didáticas-, influi, mesmo que

indiretamente, na formação de concepções e de atitudes dos professores.

O professor, em sua atuação profissional, baseia-se em juízos provenientes de tradições escolares que ele interiorizou, em sua experiência vivida, enquanto fonte viva de sentidos a partir da qual o passado lhe possibilite esclarecer o presente e antecipar o futuro. (TARDIF, 2002, p.72).

O pesquisador canadense considera que o saber do professor, na interface

entre o individual e o social, entre o ator e o sistema, capta a natureza social e

individual como um todo. Dessa forma, os saberes profissionais dos professores são

situados à medida em são construídos e praticados em situações particulares de

trabalho, ganhando assim, sentido.

Em anuência com o autor, o conhecimento situado contribui, com o passar do

tempo, para a evolução dos saberes do professor. Os conteúdos que ensina e o

modo de ensinar evoluem de acordo com as necessidades de trabalho e as

mudanças que acontecem na sociedade.

Durante o processo de formação continuada de professores, devem ser

levados em conta os conhecimentos construídos no dia a dia escolar – saberes

situacionais-, tornando a escola um verdadeiro lugar de desenvolvimento

profissional, partindo da reflexão crítica referente à própria prática.

43

De acordo com o autor, cada professor constrói o seu próprio saber, que além

dos fatores cognitivos, vale-se de sua própria história de vida e o do percurso da sua

carreira profissional.

De acordo a concepção de Tardif (2006), falar em professor competente é o

mesmo que dizer aquele que tem a capacidade de adquirir saberes a partir da

própria prática. O autor ressalta que os professores devem ter domínio do conteúdo,

integrando e mobilizando os saberes para assim desenvolver uma prática docente

significativa. Contudo, eles também precisam dos saberes experienciais, os quais

exigem momentos de improvisação e habilidade pessoal, capacidade de enfrentar a

sala de aula e, principalmente, dos que exigem momentos de reflexão sobre o que

lhe foi ensinado durante a sua formação,

[...] os saberes experienciais não são saberes como os demais; são, ao contrario, formados de todos os demais, mas retraduzidos, polidos. e submetidos as certezas construídas na prática e na experiência. (TARDIF, 2006, p. 54).

44

Modelo tipológico, segundo Tardif (2006).

Saberes dos

professores

Fontes sociais de

aquisição

Modelos de integração

no trabalho docente

Saberes pessoais dos

professores.

A família, o ambiente de

vida, a educação no

sentido lato, etc.

Pela história de vida e

pela socialização

primária.

Saberes provenientes

da formação escolar

anterior.

A escola primária e

secundária, os estudos

pós-secundários não

especializados, etc.

Pela formação e pela

socialização pré-

profissionais.

Saberes provenientes

da formação profissional

para o Magistério.

Os estabelecimentos de

formação de professor,

os estágios, os cursos

de reciclagem, etc.

Pela formação e pela

socialização com

profissionais nas

instituições de formação

de professores.

Saberes provenientes

dos programas e livros

didáticos usados no

trabalho.

A utilização das

“ferramentas” dos

professores: programas;

livros didáticos;

cadernos de exercícios;

fichas; etc.

Pela utilização das

“ferramentas” de

trabalho na adaptação

às tarefas.

Saberes provenientes

de sua própria

experiência na

profissão, na sala de

aula, na escola.

A prática do ofício na

escola e na sala de aula,

a experiência dos pares,

etc.

Pela prática do trabalho

e pela socialização

profissional.

Quadro 1 – Os saberes dos professores. Fonte: Tardif, 2006, p.63

De acordo com o autor, todos os saberes exposto no modelo tipológico acima,

são utilizados pelos professores tanto no contexto da sua profissão quanto no da

sala de aula, e originam-se de fontes diversas. Desta forma, segundo o autor, a

capacidade de mobilizar e de articular os saberes contraídos, ao longo da história de

vida, constitui-se como condição essencial para a prática da profissão professor.

45

Acreditamos que esses saberes, apresentados por Tardif (2006), norteiam o

modo de ser e de ensinar de todas as professoras envolvidas em nossa pesquisa,

pois cada uma delas carrega em sua bagagem: os seus saberes pessoais; os

provenientes da formação escolar; os adquiridos na formação de Magistério e

algumas na formação do nível superior; os originários de programas e livros

didáticos utilizados no trabalho e; por fim os derivados da sua própria experiência

em sala de aula. Esses saberes é que delineiam as suas ações.

Compreendemos que a visão do professor como um profissional que mobiliza

diferentes tipos de saberes é contrária à concepção de mero transmissor de

conhecimento. Desta forma, entendemos que a construção e a renovação

constantes de todos os saberes confirmam o contexto e a complexidade desse

profissional.

No nosso estudo, pudemos constatar que todas as professoras estão

procurando mudar a sua concepção de que o professor é um mero transmissor de

conhecimento, pois compreendem que cabe a elas mobilizar diferentes tipos de

saberes no seu aluno, de forma a fazer com que eles sejam autônomos em sua

aprendizagem.

Tardif pondera ainda, que a concepção tradicional é contrária à realidade,

uma vez que teoria e saber - ou conhecimentos- existirão de verdade, apenas

quando o principal protagonista no processo educacional, o professor, souber

direcioná-los em sua prática cotidiana, articulando essas teorias, saberes ou

conhecimentos. Assim sendo, sinaliza que os professores, como sujeitos do

conhecimento, possuem saberes específicos do seu trabalho docente e precisam de

um espaço para produzir, para transformar e para mobilizar os saberes próprios de

cada um.

Acreditamos que, ao referenciarmos Tardif (2002), estamos trazendo aportes

relevantes para a nossa pesquisa, visto que seus estudos evidenciam e valorizam a

complexidade da profissão docente. Suas contribuições nos servem de fundamento

teórico não só para analisar os conhecimentos das professoras pesquisadas, mas,

principalmente, para nos compreendermos como professora e pesquisadora.

46

Lee Shulman, psicólogo e pedagogo americano, durante as décadas de 1980

e 1990, realizou estudos que foram referência no tocante aos aspectos mais gerais

da formação do professor.

Ao abranger o conteúdo de ensino e aprendizagem, como foco de formação,

Shulman (1992) analisa a especificidade própria de cada área de conhecimento, o

que justifica a necessidade de estudar os conhecimentos dos professores

considerando o que está sendo ensinado.

Em consonância com o autor, há três vertentes do conhecimento que servem

de base para o exercício da função docente e devem ser levadas em consideração

nos programas de formação tanto inicial quanto continuada:

O conhecimento do conteúdo (content knowledge);

O conhecimento didático do conteúdo (pedagogical content knowledge);

O conhecimento curricular (curricular knowledge).

De acordo com o autor, o conhecimento do conteúdo da disciplina diz respeito

ao domínio dos conceitos, das propriedades e dos procedimentos do que será

ensinado. .Isso corresponde à natureza e aos significados do conteúdo, seu

desenvolvimento histórico e às diferentes formas de compreendê-lo e organizá-lo. O

autor recomenda que a compreensão do conteúdo aconteça, a partir de diferentes

perspectivas e de relações com outros conteúdos da mesma ou de outras áreas.

Para Shulman (1992), o conhecimento didático do conteúdo (1992), significa a

combinação entre o conhecimento da disciplina e o modo como ensiná-la de forma

que o aluno a compreenda.

De acordo com o autor, o conhecimento curricular significa a compreensão

dos programas e documentos curriculares. Pontua que o conhecimento de suportes

e materiais necessários para o professor ensinar a sua disciplina também está

relacionado ao conhecimento curricular. Esclarece que este tipo de conhecimento

não está restrito apenas a isso, mas envolve também a predisposição do professor

para rever objetivos, planos e procedimentos de ensino, desenvolvidos, ao longo do

trabalho.

47

Os estudos desse psicólogo e pedagogo americano tornam-se importante

referência, pois nos fornecem subsídios para analisar especificamente o

conhecimento que os professores possuem a respeito do ensino, da aprendizagem e

da avaliação em Matemática. Portanto, compreendemos que, na prática profissional,

essas três vertentes do conhecimento do professor evidenciadas por Shulman

(1992), apresentam-se de forma articuladas.

Outro autor que investiga a respeito do conhecimento do professor é Garcia.

Para Garcia (1992), as diferentes disciplinas incorporam conhecimentos

específicos. O conhecimento sobre o conteúdo de apenas uma determinada

disciplina é insuficiente para proporcionar um ensino eficaz para os alunos. Coaduna

com a concepção de Shulman no que diz respeito à afirmação de que não basta

conhecer o conteúdo, é necessário saber transformá-lo ao ensinar de forma a fazer

com que os alunos compreendam.

Aponta que a formação inicial deve ter em mente o modelo de professor que

deseja formar, bem como as perspectivas dos conhecimentos, as habilidades e as

atitudes que os professores devem adquirir em diferentes disciplinas para ensinar.

De acordo com o autor, o conhecimento do professor vai se construindo

durante o processo ensino-aprendizagem de sua formação. Ainda que o nível de

conhecimentos seja diferente, os professores precisam saber fazer a transposição e

assim, inseri-los em seu desenvolvimento profissional.

Garcia (1992) abaliza que os professores iniciantes, às vezes, podem sentir

dificuldades para adequar o conteúdo à capacidade de compreensão dos alunos,

isso porque em sua formação inicial, eles não tiveram uma disciplina especifica que

lhes ensinasse selecionar os conteúdos, Desta forma, no seu trabalho docente, ao

tentar ensinar todo o programa, sobrecarregam os alunos que não aprendem de

forma eficiente.

Constatamos esse fato em nossos encontros, principalmente em se tratando

de professoras que estavam trabalhando com o 5º ano, pela primeira vez. Como

elas se sentiam inseguras para selecionar os conteúdos voltados para esse ano,

48

isso acabava acarretando numa escolha inadequada e no consequentemente

fracasso, causando frustrações tanto ao aluno quanto ao professor.

O autor aborda que professores primários ou secundários encontram

dificuldades em articular conhecimentos aos conteúdos, de forma a fazer com que

os alunos aprendam e igualmente desenvolvam crenças e concepções sobre a

matéria que ensinam e que essas crenças e concepções influenciam a forma de

ensinar dos professores. Como os docentes têm preferências por determinados

conteúdos, eles acabam influenciando os seus alunos. Muitas vezes por não gostar

de determinado assunto, o professor acaba provocando no aluno a rejeição pelo

conteúdo.

Já tivemos a oportunidade de vivenciar esse fato, apontado por Garcia (1992),

com relação à Geometria. Muitos professores, por não gostarem ou por não

saberem essa vertente da Matemática, acabavam passando por cima ou não

trabalhando esse assunto, e isso, muitas vezes, provoca, nos alunos, mesmo sem

que eles se deem conta, a aversão a esse conteúdo.

No nosso grupo de estudos, verificamos que as professoras apresentavam

preferências a determinados assuntos, como por exemplo, os que envolvem o tema

Números e Operações, e trabalhavam pouco os outros temas, principalmente a

Geometria.

De acordo com o autor, existem níveis e componentes do conhecimento

profissional e que a formação inicial deve considerar conhecimentos, competências

e atitudes. Tanto Tardif (2000) quanto Garcia (1999) concordam que a formação

inicial deve contemplar várias vertentes do conhecimento. Tardif (2000) oferece um

significado para o saber dos professores, enquanto Garcia (1999) caracteriza os

conhecimentos. Todavia ambos utilizam o termo saber-fazer.

Pudemos perceber em nossa investigação, que as professoras estão

procurando complementar a sua formação inicial, pois têm a consciência de que o

mundo mudou e, portanto devem buscar mudanças também na sua forma de

ensinar e de aprender Matemática e, principalmente, por entenderem que a sua

formação inicial deixou lacunas, pois não contemplou as várias vertentes do

conhecimento.

49

Em anuência com Garcia (1999), os conhecimentos significam a conexão do

saber pedagógico (conhecimentos de teorias e conceitos), do saber-fazer

(esquemas práticos de ensino) e, principalmente, do saber por que (justificação da

prática).

Compreendemos ser interessante abordar a concepção do autor no que diz

respeito aos conhecimentos relativos aos professores. Assim sendo, apresentamos

na sequência.

Conhecimento pedagógico geral: envolve o ensino, a aprendizagem e os alunos.

É o conhecimento profissional propriamente dito, pois, o professor precisa conhecer

currículo, técnicas didáticas, tempo de aprendizagem, teorias de desenvolvimento

humano e saber lidar com a diversidade cultural;

Conhecimento do conteúdo: não pode estar separado do conhecimento

pedagógico, o professor deve possuir conhecimentos sobre a matéria que ensina.

O autor diferencia o conhecimento didático do conteúdo do conhecimento do

contexto:

Conhecimento didático do conteúdo: refere-se ao conhecimento da matéria que

vai ensinar e desenvolver em ensino que propicie a compreensão dos alunos. Sob

essa perspectiva estão relacionados os propósitos para ensinar um conteúdo: como

escolher e utilizar materiais e recursos para a matéria que vai ensinar; como

propiciar a compreensão das habilidades e interesses dos alunos ao lidar com

determinado tema, as metáforas, explicações e ilustrações que tornam o conteúdo

compreensível e interessante para o aluno.

Conhecimento do contexto: precisam os professores conhecer o seu local de

trabalho e os alunos que farão parte do processo ensino-aprendizagem. Conhecer

as características socioeconômicas e culturais do bairro e como essas

características podem ser integradas ao currículo, ao conhecimento da escola, da

cultura escolar, dos professores. Afirma o autor que esse é um tipo de conhecimento

que se adquire.

Garcia (1999) discorre que:

50

[...] quando o professor não possui conhecimentos adequados sobre a estrutura da disciplina que está a ensinar, o seu ensino pode apresentar erradamente o conteúdo aos alunos. O conhecimento que os professores possuem do conteúdo a ensinar também influencia o que e como ensinam (GARCIA, 1999, p. 87).

Compreendemos ser essa afirmação de suma importância para o nosso

estudo, pois estamos investigando os conhecimentos de um grupo de professores

dos anos iniciais do Ensino Fundamental no que se refere ao ensino, aprendizagem

e avaliação em Matemática. Compreendemos que a partir do momento que o

professor desconhece o ensino da Matemática, isso influenciará na sua forma de

ensinar, acarretando uma dificuldade no ensino e, consequentemente, uma

aprendizagem prejudicada.

Após refletirmos a respeito do conhecimento do professor de forma geral,

compreendemos ser sobremaneira importante começarmos a estreitar essa reflexão,

passando agora ao estudo no que tange aos conhecimentos do professor para

ensinar Matemática.

2.3 Conhecimentos do professor para ensinar Matemática

João Pedro da Ponte é um dos autores que realiza investigações a respeito

do conhecimento do professor.

Ponte (1998) pondera que a formação do professor não pode levar em

consideração exclusivamente o conhecimento de determinado conteúdo

matemático, mas ele precisa ser capaz de modificar esse conhecimento obtido.

O autor assegura que existem domínios de formação necessários ao

professor em relação à:

área de especialidade: o assunto que o professor ensina;

formação cultural e social: o professor deve estar inserido nos problemas do mundo

contemporâneo e conhecer outras áreas do saber e da cultura;

formação educacional: diversos saberes sobre a educação;

formação prática: formações anteriores que podem exigir uma mudança de

paradigma. Nesse período o professor transmite o conhecimento aprendido em sua

51

formação por meio de mudanças em suas práticas cotidianas durante o processo

ensino-aprendizagem.

Ressalta que um professor exerce de forma adequada a sua atividade

docente se ele for capaz de:

Ter bons conhecimentos e uma boa relação com a Matemática;

Conhecer bem o currículo e recriá-lo de acordo com a sua situação de trabalho; Conhecer o aluno e a aprendizagem; Dominar métodos e técnicas de acordo com objetivos e conteúdos curriculares;

Conhecer o seu contexto de trabalho, a escola e o sistema educativo;

Conhecer-se a si mesmo como profissional (PONTE, 1998, p. 4).

O autor compreende a formação científico-cultural, não apenas como

conhecimentos específicos da Matemática. Para ele, o professor precisa ter uma

boa relação com a disciplina, integrando-a a outras áreas do conhecimento e

dominando as linguagens próprias como as novas tecnologias, na sociedade

contemporânea.

A formação matemática dos professores, tanto inicial quanto continuada representará de forma positiva a atividade docente quando o professor manifestar interesse pela sua disciplina, buscando conhecer os seus desenvolvimentos e aplicações e, sobretudo, resolvendo problemas. (PONTE, 1998, p. 5).

Por conhecimento profissional, o autor entende que o professor deve associar

à prática letiva a situação didática, pensar na escola como uma organização e o

lugar onde o professor procura o seu próprio desenvolvimento profissional.

Conhecer tradições, normas e mitos e, também, o saber e o saber fazer

incrementam a experiência do professor. Bem como a compreensão de que o

conhecimento profissional é constantemente reelaborado pelo professor decorrente

das necessidades vivenciadas por ele em sua prática docente.

Em consonância com as ideias do autor, o professor age como um técnico na

medida em que transmite a informação e avalia por diferentes meios de ensino e

diagnósticos; como um ator quando possui crenças e concepções que influenciam

52

seu trabalho e, finalmente, como um profissional quando diariamente se depara com

situações complexas e contraditórias.

Para Ponte (1998), ancorado em Shulman (1986), a base do conhecimento

para ensinar está presente no domínio dos conteúdos (conhecimento do conteúdo

específico) e na boa formação pedagógica geral (conhecimento pedagógico). Para o

autor, o mérito da importância de uma terceira base do conhecimento, que segundo

ele, está entre os dois anteriores, pertence a Shulman (1986) e é o “conhecimento

didático do conteúdo que se apresenta como a capacidade de compreensão

profunda das matérias de ensino, admitindo encontrar os modos mais ajustados de

apresentar aos alunos, promovendo, consequentemente a aprendizagem" (PONTE,

1994, p. 3).

Compreendemos que a formulação desse conhecimento didático do conteúdo

pelo professor tem significado quando é proporcionada pela inferência de formas de

representação das ideias, as analogias mais importantes, as ilustrações e,

principalmente, a forma de representar e formular a matéria para torná-la de fácil

entendimento.

Ponte (1994), ao referenciar Shulman (1986), aponta que existem outros

conhecimentos que não são ensinados em cursos de formação inicial e, sim, na

prática cotidiana dos professores:

Conhecimento de casos: conhecimento muito detalhado de situações

concretas;

Conhecimento estratégico: o conhecimento que informa a tomada de

decisões;

Conhecimento proposicional: o saber docente insere-se, sobretudo na prática

pedagógica, na ação e se relaciona a atividades escolares e extraescolares

com as quais o professor está envolvido.

Pondera que, na carreira docente, os conhecimentos e as competências

adquiridos em formação inicial dos professores não são suficientes para que eles

exerçam as suas funções, devido ao fato de o professor estar em constante

desenvolvimento profissional.

53

Refletindo a respeito desse contexto educacional, carregado de

transformações, Ponte (1994, p. 9) fala a respeito do papel da didática no

desenvolvimento profissional. “Significa refletir sobre o que é fazer Matemática, o

que constitui o seu processo de criação e aplicação e a sua relação com a realidade

extra matemática”.

Ponte (1994) relaciona algumas características inerentes ao professor de

Matemática. Na concepção dele, o professor de Matemática é:

pelo menos, em parte, um matemático;

em certa medida um especialista curricular, um construtor de situações de

aprendizagem;

um agente direto da ação educativa, pois, só ele é capaz de avaliar tanto a

aprendizagem, quanto a sua própria prática.

Desta forma, o autor compreende que a didática ajuda a conceber situações

de aprendizagem; identifica questões, sugerindo alternativas, fornecendo

instrumentos teóricos e metodológicos que orientam e sistematizam o processo da

educação; e norteia o professor para que alcance sucesso em seu trabalho do dia a

dia.

Com relação à formação didática, o autor sustenta o ensino de saberes

específico e esclarece que o professor irá desempenhar o seu papel com

competência e qualidade, se possuir um conjunto de competências e capacidades

profissionais capazes de norteá-lo em sua prática diária.

Gomes (1996), outra autora que versa a respeito do conhecimento do

professor para ensinar Matemática, ao realizar a sua pesquisa de Mestrado, chegou

à seguinte constatação:

As concepções são tomadas como preexistentes em relação às práticas. Nessa mesma via, diz-se que o professor pensa sobre e, porque pensa assim, faz o que faz; não se questiona por que ele pensa desse modo. Não há questionamento, reiteramos, sobre de onde vêm e como são formadas tais concepções. (GOMES, 1996, p.17).

Além desta constatação, a autora pontua que

a postura do professor é autoritária;

54

a ação pedagógica fica subjacente a um fazer mecânico e acaba sendo identificada com esse fazer;

a comunicação em sala de aula é fictícia;

a relação não se faz em torno do objeto matemático, mas sim, em torno da aprovação/promoção;

o mecanicismo no tratamento do conteúdo explicita a busca pelo “correto” em detrimento das situações motivadoras que ocorrem na sala de aula. (GOMES, 1996, p.21, grifo da autora)

Diante do exposto pela autora, podemos inferir que, muitas vezes, a relação

do professor com a Matemática é pautada na concepção do “poder”, atitude que

muitos professores de Matemática ainda possuem, devido a essa disciplina ser

considerada muito difícil. Quem a ensina é quem detém o poder, quem apresenta

uma postura autoritária e isso, consequentemente, torna o ensino e a aprendizagem

da Matemática mecânicos.

Esclarecemos que, apesar do que a autora aponta ser fato, não concordamos

que a postura do professor de Matemática seja autoritária, muito menos não

consideramos que a Matemática esteja vinculada ao “poder”.

De acordo com Gomes (1996), a sua pesquisa permitiu concordar com a

afirmativa de que existe uma metodologia “clássica” para a sala de aula de

Matemática, orientada pelas faces epistemológicas, psicológicas, didáticas,

pedagógicas e políticas:

Epistemológicas: baseadas na crença de que o conhecimento matemático é descoberto por aqueles que "produzem" Matemática;

Psicológicas: baseadas na certeza de que o aluno aprende vendo e o professor ensina mostrando;

Didáticas: baseadas na crença de que o mais abstrato é mais "fácil" para o aluno- organizar o ensino segundo a ordem axiomática de arquivamento dos conteúdos: primeiro conjuntos, depois números (naturais); primeiro números reais, depois funções de variável real; primeiro limites, depois continuidade etc.; devendo-se incluir no ensino, se não a fundamentação (demonstração), pelo menos a possibilidade dela;

Pedagógicas: baseadas na crença de que se devem aprovar os que “aprendem”, usando critérios subsidiários (não matemáticos) de aprovação: mandar decorar, valorizar nas provas tudo o que tiver aparência de estar ridiculamente um pouco certo, dar duas questões "muito fáceis" e outras "mais difíceis", passar um "trabalho" ou uma “pesquisa” para casa etc.;

Políticas: baseadas na crença de que se deve aprovar o aluno que, de alguma forma, participa dessa estrutura promocional, historicamente definida, e reprovar o que, por algum motivo, não se submete a ela. (GOMES, 1996, p.24-25, grifos da autora)

55

Concordamos com a autora no que se refere a essas faces. Acreditamos que,

até hoje, mantém-se a crença de que o conhecimento matemático é domínio

daqueles responsáveis pela produção da Matemática (epistemológico); a crença que

o aluno aprende o abstrato com mais facilidade (didático); a concepção de que o

aluno aprende vendo o professor fazer (psicológico); o critério de aprovação é

apenas um tipo de avaliação, em que de preferência o aluno gabarita, não se

importando em refletir a respeito do erro cometido pelos demais (pedagógicos) e; a

política, em que se acredita no dever de aprovar alunos inseridos no contexto

historicamente construído.

Todavia, apesar de concordarmos com o levantamento realizado por Gomes

(1996), cremos que essa concepção está mudando, principalmente por meio dos

estudos, realizados pelos pesquisadores, voltados para a educação matemática,

bem como, pelas novas tendências matemáticas, como por exemplo, a História da

Matemática e a Etinomatemática. Contradizendo sobremaneira a Matemática

“clássica”.

Ao concluirmos as nossas reflexões no tocante aos conhecimentos do

professor para ensinar Matemática, estreitamos ainda mais esse tema, passando, no

seguimento, a refletir a respeito dos conhecimentos do professor para ensinar

Matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental, por se tratar, principalmente,

do grupo envolvido na nossa pesquisa.

2.4 Conhecimentos do professor para ensinar Matemática nos anos iniciais

do Ensino Fundamental

Serrazina (2001) apud Curi (2011, p. 82), sinaliza que para ensinar

Matemática é necessário que se conheça o que os alunos já aprenderam a respeito

do assunto e quais procedimentos eles utilizam para resolver situações-problema.

Com relação ao professor que vai ensinar Matemática, a autora ressalta que é

preciso que ele se aproprie dos conceitos matemáticos, das operações, das

conexões existentes entre os procedimentos e a compreensão a respeito das

dificuldades apresentadas pelos alunos. Para a autora, os distintos aspectos a

respeito do conhecimento do professor são sólidos, entretanto estão

56

sucessivamente se transformando, destarte, o conhecimento do professor não pode

ser estudado separadamente de sua prática e do contexto em que está inserido.

Serrazina e Monteiro (2002) ponderam a respeito do processo de construção

do conhecimento matemático por parte dos alunos do 1º ciclo do ensino básico em

Portugal.

De acordo com a perspectiva da construção do conhecimento, durante essa

etapa escolar, para as autoras é necessário:

caracterizar os conhecimentos matemáticos dos alunos dessa etapa escolar;

investigar o desenvolvimento de modelos conceituais de Matemática por parte dos

alunos durante essa etapa escolar;

identificar os obstáculos durante a aquisição dos conceitos matemáticos e saber

ultrapassá-los;

identificar práticas docentes que possam favorecer ou impedir o desenvolvimento de

conceitos por parte dos alunos;

identificar aspectos sociais como escola, turma ou família que favorecem ou

impedem a aprendizagens da disciplina Matemática por parte dos alunos dessa

etapa escolar.

As autoras asseguram que existem competências fundamentais a serem

desenvolvidas por todas as crianças, dentre elas,

[...] aprender matemática com compreensão, construindo ativamente os novos conhecimentos partindo da experiência e do conhecimento que já possuem. (SERRAZINA; MONTEIRO, 2002, p. 2).

Em consonância com as autoras é necessário que o professor conheça a

disciplina que leciona, se aproprie do currículo de Matemática e articule o

conhecimento que possui com situações imprevisíveis que ocorrem na sala de aula.

Ressaltando o que já foi pontuado no início do tópico.

Com relação ao currículo, propriamente dito, as autoras sinalizam que o

professor, sendo um profissional competente, será capaz de refletir tanto no que diz

respeito a sua prática, quanto ao seu desenvolvimento profissional.

57

De acordo com os estudos desenvolvidos pelas autoras, o currículo, nos

cursos de formação, é fragmentado e o conteúdo é ensinado de acordo com o

domínio dos professores pelo "gosto" e importância que esses lhe dão.

Apontam que o conhecimento dos professores que ensinam Matemática deve

ser diferente de profissionais de outras áreas que utilizam a disciplina matemática

em situações diferentes da sala de aula. Argumentam que, durante a formação

inicial, os formadores precisam levar em consideração o conhecimento matemático

adquirido pelos futuros professores durante a educação básica e também as

dificuldades que os alunos poderão enfrentar.

Serrazina (2003) assinala que um professor generalista deve vivenciar

situações de aprendizagem em Matemática que contribuam ao processo ensino-

aprendizagem, especificamente a resolução de problemas.

Para a autora, o conhecimento matemático dos alunos, na fase da educação

básica, não deve estar pautado exclusivamente naquilo que o professor transmite

como conhecimento. Assevera ainda que, quando os alunos interagem entre si, a

comunicação e a investigação trazem para os alunos novas descobertas.

Para haver uma assimilação de novas ideias e novos conhecimentos, não basta que o aluno participe em atividades palpáveis, é preciso que ele se envolva num processo de reflexão sobre essa atividade (ABRANTES; SERRAZINA; OLIVEIRA, 1999, p. 25).

Ressalta que, ser matematicamente competente, significa possuir a

capacidade de identificar, mobilizar os conhecimentos e saber transformá-los em

determinada situação, de modo positivo, tanto em relação à Matemática como

ciência quanto à aprendizagem dessa disciplina.

Tanto Shulman (1986), quando se refere ao conhecimento pedagógico

(Pedagogical Knowledge), quanto Serrazina (2003), asseguram que, para promover

a aprendizagem da Matemática, o professor precisa assumir o papel de mediador

das situações dessa aprendizagem. Serrazina (2003) completa que o professor

possui crenças muitas vezes intactas e concepções sobre a maneira mais eficaz

para transmitir o conhecimento.

A autora afirma que

58

[...] os cursos de formação de professores devem ser organizados de modo a possibilitar-lhes vivenciar experiências de aprendizagem que se almeja que os seus alunos experimentem e que constituam um desafio intelectual (SERRAZINA, 2003, p. 68).

Para Serrazina (2003), um curso de Pedagogia deve se atentar para que os

futuros professores se tornem profissionais empenhados com aquilo que ensinam e

tenham a capacidade de experimentação e inovação além da investigação sobre a

própria prática.

De acordo com a autora, os professores dos anos iniciais além de possuir os

conhecimentos matemáticos necessários aos alunos dessa fase da educação

básica, precisam saber qual é o papel que essa disciplina representa no momento

atual. O conhecimento deve ser explícito, ou seja, o professor deve explicar o

porquê e saber fazer a relação das ideias ou metodologias.

Segundo Curi (2004), outra autora que investiga a respeito dos

conhecimentos dos professores dos anos iniciais para ensinar Matemática, neste

terceiro milênio em que a conjuntura educacional surge de forma democratizada,

possibilitando o acesso de um novo público à escola, em que as tecnologias de

informação e de comunicação invadem o espaço escolar, necessário se faz que os

professores se adaptem, de forma apropriada, a essa nova demanda.

A autora argumenta que

A formação de docentes está inserida no contexto educativo nacional regulamentada pela LDBEN 9394/96 e por resoluções do Conselho Nacional de Educação - CNE- sobre o assunto. Esta legislação estabelece a necessidade de se efetuar estudos específicos para a formação profissional em nível superior e as diretrizes gerais para organização desses cursos. (CURI, 2004, p.2)

Ressalta que, na formação dos professores dos anos iniciais, é necessário

levar em consideração as especificidades próprias do ensino/aprendizagem de

Matemática pelas crianças, bem como conhecer as características necessárias aos

professores dessa clientela. Desta forma é imprescindível buscar subsídios que

sejam adequadas a essas reflexões e consequentes mudanças.

A autora considera que o professor além de saber bem os conceitos da área

determinados para a escolaridade na qual ele pretende agir, ele necessita expandir

59

seus conhecimentos, aprendendo sobre sua historicidade, sua articulação com

outros conhecimentos e o tratamento didático.

Argumenta que a acepção das competências específicas, para educar

matematicamente os futuros professores, carece ter o intento de nortear os objetivos

da formação para o ensino de Matemática, a escolha de conteúdos, a organização

de modalidades pedagógicas, dos tempos e espaços da formação, a abordagem

metodológica, a avaliação.

Pondera que

Em decorrência do princípio da simetria invertida e do objetivo que é o de formar um professor para ensinar Matemática nos anos iniciais do ensino fundamental é preciso garantir espaços para uma formação que contemple os conhecimentos matemáticos abordados nos anos iniciais da escolaridade básica, preferencialmente, numa perspectiva que inclua questões de ordem didática e orientações dos PCN para esses anos do ensino fundamental, mas deve orientar-se por e ir além daquilo que os professores irão ensinar nas diferentes etapas da escolaridade. (CURI, 2004, p. 4-5).

Shulman, Tardif (2002) apud Curi (2004, p.10) avaliam que o professor, ao

realizar seu trabalho, ampara-se nos conhecimentos disciplinares, didáticos e

pedagógicos adquiridos na escola de formação; nos conhecimentos curriculares

conduzidos em programas e livros didáticos; na sua cultura pessoal; na sua história

de vida; na sua escolaridade anterior; e no seu próprio conhecimento natural de

experiências profissionais.

Em consonância com Curi (2005), existem alguns conhecimentos

imprescindíveis para ensinar Matemática:

conhecimento dos objetos de ensino;

conhecimentos dos conceitos definidos para as séries que irá lecionar;

articulação de conteúdos matemáticos com outros conhecimentos;

tratamento didático adequado ao conteúdo e à série em que será

ensinado;

conhecimento da natureza da Matemática e da organização interna

dessa área do conhecimento;

apreensão dos princípios subjacentes aos procedimentos matemáticos

e dos significados em que se baseiam estes procedimentos;

60

conhecimento do fazer matemático, incluindo a resolução de problemas

e o discurso matemático;

entendimento das ideias fundamentais da Matemática e o papel dessa

área do conhecimento no mundo atual;

conhecimento sobre a aprendizagem matemática dos alunos do ensino

básico;

conhecimentos dos processos instrucionais, das interações e tarefas;

conhecimentos de diferentes representações de um objeto matemático

e de transformação dessas representações.

A autora esclarece que, com certeza, essa relação de conhecimentos

demanda cuidados especiais dos formadores de professores e objetivos bem

definidos nos cursos de Licenciatura em Matemática e de Pedagogia. Além disso,

completa a autora, é fundamental ter lucidez de que esse conjunto de

conhecimentos é composto ao longo do tempo, por meio de várias fontes

institucionais e não apenas em cursos superiores.

De acordo com Curi (2011), os conhecimentos para ensinar Matemática são

diversos, vão desde os conhecimentos específicos, até os modos de aprendizagens

dos alunos, seus interesses suas motivações, as dificuldades apresentadas pelos

alunos, além da forma de gerir a sala de aula. No caso dos professores dos anos

iniciais do Ensino Fundamental, assinala a autora, as necessidades se apresentam

ainda maiores, devido ao fato de trabalharem com diferentes áreas do

conhecimento,. É necessário conhecer a respeito de disciplinas diversas para assim

poder ensinar.

2.5 Considerações a respeito do Capítulo

As leituras nos levaram a compreender que o conhecimento do professor para

ensinar uma determinada disciplina tem várias vertentes e se revela dinâmico e de

forma contextualizada.

Os estudos também revelam que o professor necessita adquirir, no mínimo, o

conhecimento do conteúdo, o conhecimento didático do conteúdo e o conhecimento

curricular. Fazendo alguma relação entre as referências teóricas verificamos que os

61

autores concordam que o conhecimento do professor vai além do conhecimento

transmitido em cursos de formação inicial. Essa formação deve ter características

especiais devido à diversidade do conhecimento do professor. No que diz respeito

aos professores generalistas, os conhecimentos para ensinar apresentam uma

complexidade maior, pois eles devem conhecer várias outras disciplinas, o que torna

sua formação inicial muito mais completa.

Os estudos sobre a compreensão dos conhecimentos do professor revelam

que esses são construídos a partir das diferentes experiências vivenciadas no seio

familiar, social, educacional e cultural. O papel dessas influências torna o

desenvolvimento profissional um processo heterogêneo, plural e temporal, assim

como, a construção dos conhecimentos de forma personalizada e situada.

Identificamos ainda que os professores que ensinam Matemática nos anos iniciais

possuem uma relação distante com a disciplina, repercutindo diretamente em sua

prática e formação.

No capítulo seguinte, apresentamos a contextualização da Prova Brasil, pois

compreendemos ser pertinente devido ao nosso questionário ter levantado

conhecimentos das professoras envolvidas na pesquisa, a respeito dos elementos

constitutivos dessa avaliação.

62

CAPÍTULO 3 – CONTEXTUALIZANDO A PROVA BRASIL

3.1 Introdução

Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

Teixeira (INEP), a avaliação externa deve ser um processo contínuo que tem o papel

de fornecer informações, com base em procedimentos sistematizados, sobre a

complexa realidade educacional (alunos, professores, recursos etc.), de modo que

os agentes escolares (gestores públicos e escolares, comunidade escolar) definam

sobre as interferências e as alterações necessárias de forma a garantir a

aprendizagem do aluno.

As avaliações externas fazem parte da nossa realidade escolar, mas temos a

hipótese de que a comunidade escolar conhece pouco a respeito dos documentos

que subsidiam essas provas, devido ao fato de serem muito técnicos, com

linguagem nem sempre compreensível. Por este motivo apresentamos, nesse

capítulo, alguns elementos que compõem o SAEB.

3.2 Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica - SAEB

De acordo com o documento oficial, Brasil (2009), no período de 1985 e 1986,

iniciaram-se as discussões a respeito da importância de se implantar no Brasil, um

sistema de avaliação em larga escala. O documento aponta que naquela época

estava em curso o Projeto EDURURAL, um programa financiado pelo Banco

Mundial, voltado para as escolas da área rural do nordeste brasileiro.

De acordo com esse documento, assim surgiu o SAEB:

Com o objetivo de se ter um instrumento que pudesse medir a eficácia das medidas adotadas durante a sua execução, estudou-se a elaboração de uma pesquisa que avaliasse o desempenho dos alunos que estavam frequentando as escolas beneficiadas pelo Projeto e compará-lo com o dos alunos não beneficiados. A partir dessa experiência, em 1988, o MEC instituiu o SAEP, Sistema de Avaliação da Educação Primária que, com as alterações da Constituição de 1988, passa a chamar-se Saeb, Sistema de Avaliação da Educação Básica. O objetivo do MEC era oferecer subsídios para a formulação, reformulação e monitoramento de políticas públicas, contribuindo, dessa maneira, para a melhoria da qualidade do ensino brasileiro. A primeira avaliação ocorreu em 1990. (BRASIL, 2009)

63

O documento oficial Brasil (2009), destaca que o Instituto Nacional de

Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) seria responsável pela

aplicação da Prova Brasil.

Nesse documento existe também a informação de que, em 1993, aconteceu o

segundo ciclo de avaliação e que, a partir daquela data, a cada dois anos,

aconteceria um novo ciclo. Essa avaliação, em larga escala, vem sendo

aperfeiçoada a cada ano, todavia, foi no período de 1995 a 2001, que foram

realizadas as inovações mais significativas.

Horta Neto (2011, p.11), assinala que o ciclo de 1997 do SAEB pode ser

estimado como o passo crucial para se instituir a avaliação da educação básica no

Brasil. Esclarece que, a partir daquele ciclo, poucas foram as alterações adotadas

nos ciclos seguintes e, como novidade, o INEP trouxe a construção de uma escala

de proficiência única para cada disciplina avaliada, admitindo assim a comparação

entre os resultados obtidos pelo ciclo de 1995 do SAEB e acendendo a possibilidade

de se fazer o mesmo com os próximos ciclos. Ressalta que os serviços relacionados

com a impressão das provas, sua aplicação, bem como, a correção e a análise de

dados continuam sendo terceirizados até os dias de hoje.

O autor supracitado esclarece que, no ciclo de 2005, o Sistema de Avaliação

da Educação Básica (SAEB) sofreu novas reformulações, transformando-se em um

sistema composto por dois tipos de avaliação: a primeira; Avaliação Nacional da

Educação Básica (ANEB), que manteve a mesma característica e objetivos do

Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), aplicada até o ano de 2003 e; a

segunda, Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (ANRESC), que pretende

verificar a aprendizagem dos alunos das escolas públicas do Ensino Básico. Os

objetivos gerais dessa avaliação, foram definidos pela Portaria MEC6 nº 931, no seu

artigo 1º, 2º, em conformidade com Horta Neto (2003).

Acreditamos que o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), bem

como os demais sistemas de avaliação em larga escala, dele decorrentes,

trouxeram dados relevantes para gestores públicos, educadores e pesquisadores,

instigando inovações na gestão administrativa e pedagógica das escolas. Entretanto,

6 MEC: Ministério da Educação.

64

percebemos que ainda pouco é feito no sentido de ponderar pedagógica e

qualitativamente as informações trazidas, no intento de provocar a transformação de

práticas e de ações do cotidiano das instituições de ensino.

A seguir apresentamos alguns aspectos da Prova Brasil, denominada, pelo

Sistema de Avaliação da Educação Básica, de “Avaliação Nacional do Rendimento

Escolar” (ANRESC).

3.3 Prova Brasil

De acordo com ao documento oficial, Brasil (2009), a Avaliação Nacional do

Rendimento Escolar (ANRESC), conhecida como “Prova Brasil”, possui o objetivo de

avaliar, de dois em dois anos, as habilidades dos alunos da Educação Básica, em

Língua Portuguesa, com foco na Leitura; e as habilidades em Matemática, com foco

na Resolução de Problemas.

O documento oficial aponta que a Prova Brasil é aplicada apenas em

estudantes de 4ª série/5º ano e 8ª série/9º ano de escolas da rede pública de ensino,

que possuam mais de 20 estudantes matriculados, por série alvo da avaliação em

questão. Esse documento destaca que, devido ao fato de a Prova Brasil apresentar

um caráter universal, ela vai além do alcance dos resultados oferecidos pela

Avaliação Nacional da Educação Básica (ANEB), pelo fato de fornecer médias de

desempenho para todo o Brasil, para as regiões e também para as unidades da

Federação, para cada um dos municípios e para as escolas participantes. Essa

avaliação tem por prioridade demonstrar os resultados de cada unidade escolar da

rede pública de ensino, objetivando

A) contribuir para a melhoria da qualidade do ensino, redução de desigualdades e democratização da gestão do ensino público;

B) buscar o desenvolvimento de uma cultura avaliativa que estimule o controle social sobre os processos e resultados do ensino.

Percebemos que cada um dos objetivos apresentados denota uma

preocupação em acompanhar e em elevar a qualidade educacional, bem como em

instaurar uma cultura avaliativa nas comunidades escolares. Desse modo,

acreditamos que, independentemente da concentração estatal, via Prova Brasil, uma

avaliação que produz dados para as unidades escolares, possibilita oportunidades

65

de agenciar transformações, já que para a melhoria da qualidade do sistema

educacional, primeiro se deve alcançar a dimensão micro - as escolas-, para depois

atingir a macro - as redes de ensino.

Com o intuito de fornecer uma melhor compreensão das principais diferenças

existentes entre a Avaliação Nacional da Educação Básica (ANEB) e a Avaliação

Nacional do Rendimento Escolar (ANRESC), conhecida como “Prova Brasil”,

apresentamos o Quadro 2, retirado do Portal do INEP.

66

3.4 Principais diferenças e semelhanças existentes entre a ANRESC e a

ANEB

ANRESC ANEB

Foi criada em 2005. Primeira aplicação ocorreu em 1990.

Avalia as habilidades em Língua

Portuguesa (foco em leitura) e

Matemática (foco na resolução de

problema).

Alunos fazem prova de Língua

Portuguesa (foco em leitura) e

Matemática (foco na resolução de

problemas).

Avalia apenas estudantes do Ensino

Fundamental, do 5º e 9º anos da rede

pública.

Avalia estudantes do 5º e 9º anos do

Ensino Fundamental e também

estudantes do 3º ano do Ensino Médio,

da rede pública e privada.

Avalia os alunos das escolas da rede

pública, localizadas em área urbana e

rural.

Avalia alunos da rede pública e da rede

privada, de escolas localizadas nas

áreas urbana e rural.

A avaliação é quase universal: todos

os estudantes das séries avaliadas,

de todas as escolas públicas urbanas

e rurais do Brasil com mais de 20

alunos no ano devem fazer prova.

A avaliação é amostral, ou seja, apenas

parte dos estudantes das séries

avaliadas participa da prova.

Como resultado, fornece as médias

de desempenho para o Brasil, para

regiões e unidades da Federação,

para cada um dos municípios e

escolas participantes.

Oferece resultados de desempenho

apenas para o Brasil, regiões e

unidades da Federação.

Parte das escolas que participarem da

Prova Brasil ajudará a construir

também os resultados da ANEB, por

meio de recorte amostral.

Todos os alunos farão uma única

avaliação.

Quadro 2 – Diferenças e semelhanças entre a ANRESC e a ABEB. Fonte: http://provabrasil.inep.gov.br/semelhancas-e-diferencas

67

3.5 Componentes da Prova Brasil

No próximo segmento, serão apresentados os componentes da Matriz de

Referência de Avaliação da Prova Brasil para proporcionar uma melhor

compreensão de cada um deles.

3.5.1 Matriz de Referência de Avaliação da Prova Brasil

De acordo com o documento, Brasil (2009), no ano de 1997, foi produzida a

Matriz de Referência de Avaliação de Matemática, na qual estão relacionadas as

competências e as habilidades de que os alunos necessitam ter domínio em cada

série avaliada, possibilitando uma maior exatidão técnica tanto na construção das

questões do teste, como na análise dos resultados da avaliação. É pontuado nesse

documento que a Matriz de Referência não foi desenvolvida de forma eventual, mas

sim, por intermédio de uma consulta nacional na qual foram levantados os

conteúdos praticados nas escolas de Ensino Fundamental e Médio, aliando a

análise de professores, pesquisadores e especialistas sobre a produção científica

em cada área que seria componente de avaliação escolar e utilizando como

referência as secretarias de educação estaduais e das capitais que apresentaram ao

INEP os currículos que estavam sendo praticados em suas escolas.

Segundo o documento, Brasil (2009), em 2001 as Matrizes de Referência de

Avaliação foram atualizadas em decorrência da ampla disseminação, pelo Ministério

da Educação e Cultura (MEC), por meio dos Parâmetros Curriculares Nacionais

(PCN). De acordo com esse documento, para essa atualização, foi feita uma ampla

consulta, repetindo-se o procedimento usado em 1997. Desse modo, foram

contactados cerca de 500 professores de 12 estados da Federação, com

representação de todas as regiões do País, com o objetivo de comparar as Matrizes

de Referência de Avaliação existentes e o currículo utilizado pelos sistemas

estaduais com os Parâmetros Curriculares Nacionais.

De acordo com o documento Brasil (2009), enquanto a Matriz Curricular

norteia o currículo de uma instituição de ensino, levando em conta as concepções de

ensino e aprendizagem da área e apresenta: objetivos, conteúdos, metodologias e

68

processos de avaliação, a Matriz de Referência de Avaliação da Prova Brasil é

apenas de um referencial curricular mínimo a ser avaliado em cada disciplina e

série, informando as competências e as habilidades esperadas dos alunos. Assim

apesar de a Matriz Curricular e a Matriz de Referência de Avaliação da Prova Brasil

não desempenharem a mesma finalidade, é impraticável pensar na Matriz de

Referência de Avaliação da Prova Brasil, para uma determinada avaliação sem

considerar a Matriz Curricular que lhe dá suporte.

3.5.2 Os descritores

De acordo com o documento Brasil (2008), o descritor exprime as habilidades

ou as competências esperadas, agregando conteúdos curriculares e operações

mentais desenvolvidas pelos estudantes.

Esse documento esclarece que a Matriz de Referencia de Avaliação de

Matemática do 5º ano é composta por 28 descritores de desempenho. O descritor

representa a síntese de uma habilidade cognitiva (em termos de grau de

complexidade), que está sempre integrada a um conteúdo que o estudante deve

dominar na fase de ensino em analise. Esses descritores são apresentados da forma

mais detalhada possível, possibilitando a mensuração por meio de aspectos que

podem ser observados. Consta também, nesse documento, que os descritores

determinados para uma avaliação, como a Prova Brasil, buscam delinear algumas

das habilidades matemáticas que serão priorizadas na avaliação. Assim, uma

questão é elaborada com o intuito de aferir se o aluno já é capaz de mobilizar essa

habilidade no processo de resolução do problema. Como a Prova Brasil é composta

por questões objetivas, os descritores não se adéquam a alguns conteúdos

indicados em Orientações Curriculares, pois há casos em que não é possível

elaborar itens em forma de testes, como construção de gráficos, cálculo mental, etc.

Apresentamos no encadeamento, com intento de um melhor entendimento, o

Quadro 3, no qual estão expostos os 28 descritores de Matemática, que compõem a

Matriz de Referência de Avaliação para o 5º ano.

69

3.5.2.1 Quadro da Matriz de Referência de Avaliação da Prova Brasil

MATRIZ DE REFERÊNCIA – PROVA BRASIL

MATEMÁTICA – 4ªSÉRIE/5ºANO DO ENSINO FUNDAMENTAL

TEMAS E SEUS DESCRITORES

I – Espaço e Forma

D1 Identificar a localização /movimentação de objeto em mapas, croquis e outras representações gráficas.

D2 Identificar propriedades comuns e diferenças entre poliedros e corpos redondos, relacionando figuras tridimensionais com suas planificações.

D3 Identificar propriedades comuns e diferenças entre figuras bidimensionais pelo número de lados, pelos tipos de ângulos.

D4 Identificar quadriláteros observando as posições relativas entre seus lados (paralelos, concorrentes, perpendiculares).

D5 Reconhecer a conservação ou modificação de medidas dos lados, do perímetro, da área em ampliação e /ou redução de figuras poligonais usando malhas quadriculadas.

II - Grandezas e Medidas

D6 Estimar a medida de grandezas utilizando unidades de medida convencionais ou não.

D7 Resolver problemas significativos utilizando unidades de medida padronizadas como km/m/cm/mm, kg/g/mg, l/ml.

D8 Estabelecer relações entre unidades de medida de tempo.

D9 Estabelecer relações entre o horário de início e término e /ou o intervalo da duração de um evento ou acontecimento.

II - Grandezas e Medidas

D10 Num problema, estabelecer trocas entre cédulas e moedas do sistema monetário brasileiro, em função de seus valores.

D11 Resolver problema envolvendo o cálculo do perímetro de figuras planas, desenhadas em malhas quadriculadas.

D12 Resolver problema envolvendo o cálculo ou estimativa de áreas de figuras planas, desenhadas em malhas quadriculadas.

III - Números e Operações /Álgebra e Funções

D13 Reconhecer e utilizar características do sistema de numeração decimal, tais como agrupamentos e trocas na base 10 e princípio do valor posicional.

D14 Identificar a localização de números naturais na reta numérica.

D15 Reconhecer a decomposição de números naturais nas suas diversas ordens.

D16 Reconhecer a composição e a decomposição de números naturais em sua forma polinomial.

D17 Calcular o resultado de uma adição ou subtração de números naturais.

D18 Calcular o resultado de uma multiplicação ou divisão de números naturais.

D19

Resolver problema com números naturais, envolvendo diferentes significados da adição ou subtração: juntar, alteração de um estado inicial (positiva ou negativa), comparação e mais de uma transformação (positiva ou negativa).

70

D20 Resolver problema com números naturais, envolvendo diferentes significados da multiplicação ou divisão: multiplicação comparativa, ideia de proporcionalidade, configuração retangular e combinatória.

D21 Identificar diferentes representações de um mesmo número racional.

D22 Identificar a localização de números racionais representados na forma decimal na reta numérica.

D23 Resolver problema utilizando a escrita decimal de cédulas e moedas do sistema monetário brasileiro.

D24 Identificar fração como representação que pode estar associada a diferentes significados.

D25 Resolver problema com números racionais expressos na forma decimal envolvendo diferentes significados da adição ou subtração.

D26 Resolver problema envolvendo noções de porcentagem (25%, 50%, 100%).

IV - Tratamento da Informação

D27 Ler informações e dados apresentados em tabelas.

D28 Ler informações e dados apresentados em gráficos (particularmente em gráficos de colunas).

Quadro 3 – Temas e descritores da Prova Brasil – 5º ano. Fonte: Matriz de Referência de Avaliação de Matemática, Brasil (2009)

3.5.3 Os elementos que compõem a Prova Brasil

Consta no documento oficial, Brasil (2008), que, na elaboração das questões

de Matemática da Prova Brasil, leva-se em consideração o que um estudante

aprendeu e o quão ele é capaz de utilizar esse aprendizado para resolver um dado

problema, já que a resolução de problemas permite o desenvolvimento de

capacidades de raciocínio, tais como intuição, indução, dedução e estimativa.

Nesse documento existe a informação de que essas questões são elaboradas

por meio da Matriz de Referência de Avaliação, composta por descritores de

desempenho em determinada área de conhecimento. E para uma maior

compreensão, é apresentado um diagrama que explica o procedimento inicial de

elaboração dos itens dos testes de proficiência das avaliações em larga escala.

71

Na Figura 1, o diagrama elucida mais claramente a elaboração de itens.

Figura 1 – Diagrama de elaboração de itens. Fonte: Guia de Orientações de itens (Brasil, 2008, p.18).

3.5.4 Os distratores

O documento, Brasil (2009), revela que cada questão que compõe a ANRESC

ou a ANEB do 5º ano, apresenta quatro alternativas e que apenas uma delas

corresponde à resposta verdadeira, denominada gabarito; as outras três são

denominadas distratores. Esse documente esclarece que os distratores dão

informações para a análise dos níveis de proficiência, na medida em que se buscam

focalizar erros comuns nessa fase de escolarização. As respostas previstas nos

distratores de uma questão devem ser capaz de dar informações referentes ao

raciocínio desenvolvido pelo estudante na procura da solução para a tarefa

proposta. A análise das respostas dadas pelos estudantes possibilita identificar os

erros mais comuns nas distintas condições de competência.

O documento, Brasil (2009), informa que, ao elaborarmos questões para a

avaliação em larga escala, devemos levar em consideração que a resposta correta -

o gabarito-, deve legitimar a capacidade do estudante em relação à determinada

habilidade cognitiva. As demais alternativas, os distratores, produzem informações

importantes para a avaliação, na medida em que assinalam prováveis caminhos de

raciocínio dos estudantes, demarcando a fase do desenvolvimento da aprendizagem

em que o estudante está. É recomendado pelo documento que não se apresentem

alternativas mutuamente excludentes, nem que sejam construídas de forma a

direcionar o acerto por eliminação.

3.6 Considerações sobre o capítulo

O presente capítulo foi útil, necessário e imprescindível para o

aprofundamento e a apropriação dos elementos que compõem a Prova Brasil,

Matriz de

Referência

Área de

Conhecimento

Descritor

Conteúdos/

Habilidades Cognitiva

Questão

Avalia um

descritor

72

fornecendo-nos subsídios para entendermos melhor como são elaborados os itens e

principalmente, ampliando a nossa concepção a respeito das habilidades verificadas

por meio dos 28 descritores que compõem a Matriz de Referência de Avaliação da

Prova Brasil do 5º ano.

A Prova Brasil é elaborada com base em propostas curriculares de alguns

estados e municípios e também nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN).

Apresenta um caráter padronizado para justamente perceber as habilidades que

deveriam ser alcançadas por todos os educandos do País, e dessa maneira

constatar as insuficiências e os avanços nessas habilidades.

Entendemos que a análise da Prova Brasil. como um dos principais

instrumentos para se buscar a qualidade educacional, implica compreender o

desempenho dos alunos na realização da prova, para, partindo dessa afirmação,

refletirmos a respeito de soluções para melhorar o processo educativo.

Acreditamos que o que foi exposto, neste capítulo, é apenas uma ação inicial,

para a melhor compreensão dos elementos que compõem a Matriz de Referência de

Avaliação da Prova Brasil.

No capítulo 4, apresentamos o cenário, propriamente dito, em que ocorreu a

nossa pesquisa, ou seja, a cidade de Lauro de Freitas. Discorremos, de forma

sucinta sua história, os perfis das escolas selecionadas e as professoras

pesquisadas.

73

CAPÍTULO 4: CENÁRIO DA PESQUISA

4.1 Introdução

Esse capítulo tem como finalidade apresentar o cenário da pesquisa, ou seja,

falar um pouco da história da cidade de Lauro de Freitas e o perfil das escolas

envolvidas neste estudo.

4.2 História da cidade de Lauro de Freitas

O município de Lauro de Freitas, faz parte da Região Metropolitana de

Salvador, instituída pela Lei Complementar Federal, número 14, de 8 de junho de

1973, sendo a segunda região mais populosa do nordeste brasileiro e a sexta do

Brasil.

A história de Lauro de Freitas se inicia no século XVI, mais precisamente em

1552, quando o então governador geral Tomé de Souza fez a distribuição de lotes

de terra do litoral baiano a Garcia D'Ávila. Na região, instalou-se uma missão

jesuítica, que deu origem à freguesia de Santo Amaro de Ipitanga. Sua população

era formada por um grande número de indígenas habitantes do Morro dos Pirambás.

Devido à sua proximidade com o mar, o que favorecia o escoamento da produção

agrícola, instalaram-se, na região engenhos de açúcar, e com eles veio um grande

contingente de africanos.

É considerado um dos municípios mais industrializados da Bahia, ocupando o

3º lugar entre eles e possuindo uma planta industrial baseada em inúmeras

"indústrias limpas". Seu comércio concentra-se na Estrada do Coco (BA-099), que

corta o município e as zonas centrais de alguns bairros.

4.3 Perfil geral das escolas selecionadas

Compreendemos ser importante conhecer, ao menos superficialmente, as

particularidades de cada uma das escolas envolvidas. Com esse intuito, solicitamos

das diretoras o Projeto Político Pedagógico para traçarmos um adequado perfil

74

delas. Como nem todas o possuíam, utilizamos os dados fornecidos pelas gestoras

escolares, por meio de entrevista.

A seguir, apresentamos o perfil geral das nove escolas envolvidas, de acordo

com o Projeto Político Pedagógico e também com as informações prestadas pelas

gestoras, por meio de entrevista.

4.3.1 Escola A

Ressaltamos que os dados sobre essa escola foram retirados do PPP.

A escola A, localizada na região metropolitana de Salvador, apresenta hoje

uma comunidade escolar com características afro-descendentes, com atividades

econômicas voltadas para os trabalhos informais como trabalhadores de barraca de

praia, feirantes, pescadores, diaristas, lavadores de carro, trabalhadores de

transportes alternativos, bem como mão de obra absorvida pelas fábricas e comércio

do município.

Com 12 salas de aula, funcionando nos dois turnos: matutino e vespertino

com o Fundamental de nove anos e o anexo de Educação Infantil, a escola enfrenta

hoje algumas dificuldades como a violência decorrente do bairro onde está

localizada, a ausência da família no acompanhamento do processo ensino

aprendizagem e o baixo rendimento de aprendizagem dos alunos, apesar de existir

uma boa participação da comunidade em projetos como Escola Aberta e Segundo

Tempo.

De acordo com a gestora escolar, a escola conta com uma gestão

democrática e participativa formada por um grupo de gestores eleito pela

comunidade; com conselho escolar; um grêmio estudantil, representantes de sala e

Colegiado Escolar. Constatamos que 80% dos professores são concursados e

graduados, e, apesar de não residirem no bairro, eles apresentam compromisso e

envolvimento com o trabalho que desenvolvem na comunidade. Por sua vez, os

funcionários administrativos são contratados para prestação de serviço, na sua

maioria, são moradores do bairro e apresentam também compromisso e

envolvimento com o trabalho inerente às suas funções.

75

4.3.2 Escola B

Essa unidade de ensino também está localizada na região metropolitana de

Salvador, funciona nos turnos matutino e vespertino com as séries iniciais do 1º ao

5º ano do Ensino Fundamental, totalizando 389 alunos. No noturno funciona uma

classe com Projeto de Alfabetização. Atende uma clientela cujos pais, em sua

maioria, são participativos e atuantes no cotidiano da escola. O corpo docente é

composto por quinze professores, sendo: dez graduados, dois em curso e dois com

formação de Magistério.

4.3.3 Escola C

Na escola C, devido ao grande número de alunos matriculados, a Secretaria

de Educação resolveu dividi-la em dois anexos: anexo A, matriculados no ano de

2012, 210 alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental; e o Anexo B,

matriculados 127 alunos das séries iniciais do Ensino Fundamental, totalizando, 437

anos das séries iniciais. Essa escola possui 84 professores, uma diretora, três vice-

diretores, três coordenadoras pedagógicas e uma secretária escolar e 121

funcionários administrativos e gerais.

Esclarecemos que, como os anos finais do Ensino Fundamental não fazem

parte do nosso estudo, decidimos por não levantar dados a respeito dele.

4.3.4 Escola D

A escola D está localizada numa área urbana, porém com perfil rural. A

comunidade enfrenta algumas dificuldades, entre elas a má distribuição de renda, a

falta e/ou baixa escolaridade da maioria dos pais. De acordo com a gestora, estes

aspectos colaboram para um baixo aproveitamento escolar, por parte dos alunos em

curso.

De acordo com as informações levantadas por meio do Projeto Político

Pedagógico dessa escola, apesar das dificuldades apresentadas, a comunidade

escolar tem se dedicado com afinco, no sentido de enfrentar os problemas e dirimir

os conflitos, visando à construção de uma nova história para a educação.

76

Esta escola é constituída de uma diretora geral, duas vice-diretoras, 18

professores, seis agentes administrativos. Atua com a clientela do 1º ao 6º ano do

Ensino Fundamental.

Obs.: Não nos foi fornecido o número total de alunos atuais em curso.

4.3.5 Escola E

A escola E apresenta um diferencial com relação às outras escolas. De

acordo com a entrevista realizada com a gestora, a prefeitura de Lauro de Freitas

alocou um prédio onde funciona uma escola da rede privada, assim sendo, pela

manhã funciona a privada e pela tarde a pública. Portanto a escola é frequentada

por dois tipos de clientela; no matutino, a classe média e; no vespertino, a classe de

baixa renda.

De acordo com a gestora, a escola E funciona em um dos bairros mais

violentos de Lauro de Freitas, o qual está sempre nas manchetes de jornais, como o

local onde ocorrem muitos homicídios, na maioria dos casos, envolvendo jovens na

faixa etária de 17 a 20 anos.

No turno vespertino, funcionam 9 salas, assim distribuídos: duas salas – 1º

ano; uma sala – 2º ano; duas salas – 3º ano, duas – 4º ano e duas – 5º ano. Há 17

funcionários, uma diretora e uma vice-diretora.

A gestora esclareceu que o Projeto Político Pedagógico ainda está em

construção e que a Secretaria Municipal não possui uma Matriz Curricular. Concluiu

dizendo que a clientela que frequenta a escola no turno vespertino é de baixa renda.

Sinalizamos que, em 2005, a escola E não participou da Prova Brasil, pois ela

ainda não existia oficialmente.

4.3.6 Escola F

A escola F possui seis salas, funciona nos três turnos da seguinte forma: no

matutino e vespertino, do pré-escolar ao 6º ano dos anos iniciais do Ensino

77

Fundamental e, no noturno com o EJA. Seu corpo administrativo é composto por um

diretor e dois vice-diretores.

Vale ressaltar que não há coordenador pedagógico na escola F.

4.3.7 Escola G

Segundo ao Projeto Pedagógico Político (PPP), o objetivo geral dessa

unidade escolar consiste em aprofundar, na consciência de sua própria dignidade,

um espaço de humanização e de valores para a conquista do exercício da

cidadania. Sua ação pedagógica será alicerçada nos três focos essenciais que

fundamentam a educação: epistemológico, didático e ético. Possui, como missão,

educar para a autonomia moral e intelectual, para a autoestima, para o

autoconhecimento, para a democracia consolidada por meio da prática e estimular

ao resgate existencial na formação da cidadania. Visa à formação integral,

compreendendo o cidadão além de um membro respeitável na sociedade. Possui

quatro salas de aulas, oito classes, um diretor, oito professores, três funcionários

gerais e administração, um funcionário de suporte pedagógico, sete zeladores e

quatro vigilantes. Apresenta uma clientela do pré-escolar ao 6º ano, dos anos iniciais

do Ensino Fundamental.

4.3.8 Escola H

A escola H possui uma clientela do 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental de

nove anos, distribuídos nos dois turnos, matutino e vespertino. Possui uma diretora,

uma secretária escolar, um vice, oito professores, quatro zeladores, e apoio

administrativo.

4.3.9 Escola I

A escola I atua com uma clientela do 1º ao 6º ano do Ensino Fundamental.

Seu corpo administrativo-pedagógico é formado por: uma diretora, um vice-diretor,

10 professores, 13 funcionários, uma coordenadora pedagógica.

78

Ressaltamos que não nos foi disponibilizado o quantitativo atual de alunos em

curso da Escola I.

Dando continuidade a esse item que trata dos perfis das escolas

selecionadas, exporemos na sequência, o IDEB dos últimos três anos: 2007, 2009 e

2011, e na sequência, realizamos comentários.

Apresentamos a Tabela 1 em que estão expostos os IDEB das escolas

pesquisadas.

4.3.10 Tabela relativa ao IDEB das Escolas

Tabela 1 – Resultados do IDEB das escolas pesquisadas.

ESCOLA 2007 2009 2011

A 3,5 4,7 4,8

B 3,6 4,0 4,5

C 3,2 4,0 3,7

D 3,4 3,8 3,6

E ------- 5,1 5,4

F 3,2 3,9 3,5

G 3,2 3,9 3,5

H ------- 4,1 4,5

I ------- 3,7 3,6

Fonte: http//ideb.inep.gov.br.

4.3.10.1 Apreciação dos resultados

Conforme é possível observar pelos resultados expostos na Tabela 1, as

escolas A, B e E obtiveram um aumento no IDEB, e a H, que não participou da

avaliação no ano 2007, nos anos seguintes, – 2009 e 2011-, também apresentou um

aumento.

Verificamos nos resultados apresentados no Quadro 1, que as escolas C, D,

F e G, apesar de terem seus IDEB aumentados nos anos de 2007 para 2009,

decresceram desse último para 2011 e que a escola I como a escola H, não

79

participou da Avaliação no ano de 2007, todavia diferentemente da Escola H, o IDEB

da Escola I, decresceu entre os anos de 2009 e 2011.

Ao realizarmos as análises dos resultados do IDEB das escolas pesquisadas,

não queremos nos ater apenas aos números e, sim, iniciar uma reflexão a respeito

de quais caminhos deverão ser trilhados para promover a transformação de dados

em informações e em conhecimentos a favor da educação no município de Lauro de

Freitas. Assim sendo, compreendemos que não é uma tarefa simples fazer uso

dessa informação um prol de ações que modifiquem os resultados obtidos, pois

todos os envolvidos no processo precisariam estar dispostos a compreender e a

atuar na mudança. Por isso ressaltamos a importância do Grupo de Estudos, pois ali

podemos desenvolver as nossas reflexões a respeito de ações que favoreçam a

melhoria da educação, tendo a Prova Brasil e seus componentes, como ferramenta

de análise.

Baseando-nos principalmente na concepção de Schön (1992) - reflexão a

partir da ação-, e, em Ponte (1994), ao referenciar Shulman (1986), aprendemos que

existem outros conhecimentos que não são ensinados em cursos de formação inicial

e, sim, na prática cotidiana dos professores:

Conhecimento de casos: conhecimento muito detalhado de situações

concretas;

Conhecimento estratégico: o conhecimento que informa a tomada de

decisões;

Conhecimento proposicional: o saber docente insere-se, sobretudo na

prática pedagógica, na ação e relaciona-se a atividades escolares e

extraescolares com as quais o professor está envolvido.

Queremos registrar que, durante os encontros, as professoras explicaram que

a diminuição no IDEB, seria resultado do número significativo de alunos que

evadiram ou da repetência que fez com alguns se mantivessem no mesmo ano. Em

razão dessa constatação,, compreendemos a necessidade de identificar as

principais causas dessas ocorrências no cotidiano escolar. Seriam elas

consequências de questões pessoais do aluno, tais como, necessidade de ingressar

no mercado de trabalho, dificuldade em conciliar o estudo com o trabalho, falta de

80

motivação causada pela repetência por vários anos seguidos na mesma série, ou

estariam ligadas à própria escola, como por exemplo: aulas desinteressantes,

desconectadas com a realidade; falta de professores; falta de merenda?. Mas, esse

não é o propósito deste trabalho.

No próximo capítulo, apresentamos as respostas das questões respondidas

pelas professoras colaboradoras, referentes ao ensino e a aprendizagem da

Matemática. Expomos as revelações das professoras no que diz respeito à Prova

Brasil.

81

CAPITULO 5 – REVELAÇÕES DAS PROFESSORAS

5.1 Introdução

Nesse capítulo, apresentamos o perfil das professoras, exibimos as suas

respostas a respeito das suas percepções sobre o ensino e a aprendizagem da

Matemática, e as suas reflexões referentes à Prova Brasil. Os dados foram colhidos

por meio de entrevista e de um questionário, dividido em três partes, com o objetivo

de levantar o quanto as professoras conheciam.

I – sobre a Prova Brasil;

II –sobre a Matriz de Referência de Avaliação da Prova Brasil e

III –sobre alguns itens que compõem a Prova Brasil.

Esclarecemos que, em anexo (CD), encontram-se os inventários relativos ao

questionário no que toca às partes I e III.

A análise do conteúdo na perspectiva de Bardin (2007) e a fundamentação

teórica estudada foram ferramentas que nos auxiliaram para analisar as respostas

dadas pelas professoras e inferir sobre suas reflexões.

De acordo com Bardin (2007), cada etapa de exploração do material é longa e

consiste em operações codificadas em função de regras formuladas previamente,

que nos permitem um esclarecimento acerca das características do texto que

estamos analisando.

Tratar o material é codificá-lo. A codificação corresponde a uma

transformação efetuada segundo regras precisas dos dados em bruto no texto,

transformação esta que, por recorte, agregação e enumeração, permite atingir uma

representação do conteúdo, ou da sua expressão susceptível de esclarecer o

analista acerca das características do texto, que podem servir de índices. (BARDIN,

2007, p.97)

Nesta etapa foram construídos, inicialmente, os quadros ilustrativos com as

respostas das professoras sobre os seus conhecimentos a respeito da Prova Brasil.

82

Sendo assim, valendo-se do referencial teórico, agrupamos as respostas recorrendo

ao critério de agregação, em busca do significado e do sentido comuns nas

expressões explicitadas, o que Bardin (2007) define, dentro da unidade de registro,

como tema.

Segundo Bardin (2007), o tema é uma unidade de significação, ou seja:

Na verdade, o tema é a unidade de significação que se liberta naturalmente

de um texto analisado segundo critérios relativos à teoria que serve de guia à leitura.

O texto pode ser recortado em ideias constituintes, em enunciados e em

preposições portadores de significações isoláveis. (BARDIN, 2007, p.99)

5.2 Perfil das professoras

Das nove professoras pesquisadas, duas possuíam idades entre 25 e 30

anos, três de 36 e 40 anos e quatro com idades acima dos 45 anos. Uma possui

Licenciatura em Matemática, uma tem Licenciatura em Ciências Biológicas, cinco

são pedagogas e duas possuem o curso médio de Magistério. Dentre as sete que

possuem curso superior, duas têm pós-graduação.

A Tabela 2 se refere ao tempo de magistério das professoras pesquisadas.

Tabela 2 – Tempo de Magistério das professoras consultadas.

TEMPO DE MAGISTÉRIO PROFESSORAS

4 a 10 anos 2

11 a 15 anos 3

16 a 20 anos 3

Mais de 30 anos 1

Fonte: Entrevistas realizadas com as professoras, sujeito da pesquisa.

Em seguida, apresentamos as respostas da entrevista que nos permitem

identificar o perfil das professoras e a visão que elas têm sobre o ensino de

Matemática.

5.3 Revelações das professoras a respeito do ensino e da aprendizagem da

Matemática

83

Ao realizarmos a entrevista, além de investigar a respeito do perfil das

professoras, tínhamos como propósito também, identificar o que elas pensam a

respeito do ensino e da aprendizagem da Matemática.

Ressaltamos que todos os nomes utilizados nesse estudo, são fictícios, em

respeito à privacidade das professoras pesquisadas.

5.3.1 Primeira Questão: o que julgam importante para o ensino da Matemática

Ao analisarmos as respostas dadas pelas professoras a respeito do que elas

julgam ser importante para o ensino de Matemática, percebemos uma preocupação

com estratégias de ensino com o foco em situações do cotidiano e no uso de

materiais concretos.

As afirmações a seguir, referem-se ao foco em situações do dia a dia:

É importante que a Matemática esteja voltada para o cotidiano do aluno (Helena).

Aulas práticas, envolvendo situações comparativas com esse dia a dia com sua vivência e experiência (Bernadete).

Ao analisarmos as respostas manifestas pelas professoras, percebemos que

as elas apresentam uma reflexão a respeito do seu fazer pedagógico para conseguir

com que seus alunos aprendam. Esse processo de reflexão significa uma forma de

avaliar o próprio trabalho realizado na sala de aula, com o propósito de perceber as

implicações da prática pedagógica na sua formação.

Ao propor atividades voltadas para o cotidiano, as professoras estão refletindo

a respeito da importância dessas atividades para seus alunos. Desse modo, essa

reflexão na e sobre a prática docente contribuirá para o redirecionamento do seu

fazer pedagógico em busca do aperfeiçoamento da sua ação docente e,

consequentemente, do melhor desempenho do seu aluno. Esta atividade

corresponde a uma Reflexão na Ação (SHÖN, 1992).

De acordo com Shön (1992), a Reflexão na Ação diz respeito à reflexão na

própria ação, ou seja, ela ocorre durante o momento em que é executada,

possibilitando, assim, ao profissional intervir e reformular o percurso da ação no

instante em que ocorre.

84

Outras duas professoras, destacaram a utilização de materiais concretos:

Uso de materiais concreto(Cláudia).

Diminuir a distância entre o abstrato e o concreto (Maria).

Ao analisarmos as respostas manifestas pelas professoras Cláudia e Maria,

verificamos que ambas estão de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais

(PCN), quando destacam que um dos princípios que devem nortear o ensino da

Matemática no Ensino fundamental é a utilização de recursos didáticos numa

perspectiva problematizadora. Todavia o documento chama a atenção para o fato

de: que os

[...] recursos didáticos como livros, vídeos, televisão, rádio, calculadora, computadores, jogos e outros materiais têm um papel importante no processo de ensino e aprendizagem. Contudo eles precisam estar integrados a situações que levem ao exercício da análise e da reflexão (BRASIL, 1997, p.57).

A partir desse pressuposto, compreendemos que o ensino da Matemática

com materiais concretos não deve ficar reduzido a simplesmente uma transposição

meramente qualitativa. Portanto, para que ele seja eficaz, necessário se faz que os

professores desenvolvam nos seus alunos a capacidade de estabelecer

semelhanças e diferenças, de perceber regularidades e singularidades, pois, ao

compreender as representações simbólicas da Matemática, os estudantes

conseguem estabelecer relações com outros conhecimentos e com a vida cotidiana.

Enquanto que uma delas apontou a utilização de jogos:

Tenho a experiência com meus educandos que trabalhando com jogos, as aulas ficam mais dinâmicas. Eles alcançam um nível de aprendizagem muito bom (Fábia).

Quando a professora Fábia, aponta que, utilizando jogos em sala, as aulas

ficam mais dinâmicas e os alunos alcançam um bom nível de aprendizagem, ela não

está sozinha. Essa afirmação vai ao encontro de outras pesquisas realizadas no

Brasil e também no exterior. Diversas instituições de ensino estão pesquisando

como elaborar metodologias de ensino de Matemática diversificadas, para

desenvolver nos alunos a capacidade de pensar, de questionar e de arriscar-se a

propor soluções para os problemas do seu cotidiano. Ou seja, há de se investir na

85

construção de jogos que possibilitem aos alunos serem protagonistas da sua

aprendizagem.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) já nos indicam que, para o

ensino da Matemática, os jogos

[...] constituem uma forma interessante de propor problemas, pois permitem que estes sejam apresentados de modo atrativo e favoreçam a criatividade na elaboração de estratégias de resolução de problemas e busca de soluções. Propicia a simulação de situações-problema que exigem soluções vivas e imediatas, o que estimula o planejamento das ações (BRASIL, 1998, p. 46).

A professora Júlia tem a preocupação com bons resultados de seus alunos:

Eu sempre acreditei que o importante é conseguir uma estratégia que dê bons resultados, não importando quantas vezes seja necessário trocar a estratégia, o foco é conseguir o objetivo (Júlia).

Inferimos que a afirmação da professora Júlia está condizente com a de

Serrazina (2000), quando a estudiosa considera que:

[...] todos os alunos devem ter a oportunidade e o apoio necessário para aprender matemática com profundidade e compreensão e de modo significativo de forma a serem matematicamente competentes e poderem prosseguir a sua escolaridade (SERRAZINA, 2000, p. 1).

Acreditamos que, quando a professora Júlia, argumenta que o importante é

conseguir uma estratégia que dê bons resultados, ou seja, que faça o aluno

aprender significa, portanto, buscar caminhos para que todos os alunos consigam

desenvolver sua aprendizagem. Dessa forma a sua opinião coaduna com a de

Serrazina e também com a nossa, pois acreditamos que a aprendizagem dos

nossos alunos é possível, desde que busquemos tantas quantas estratégias forem

necessárias para facilitar isso, como afirma Serrazina (2000).

5.3.2 Segunda questão: descreva uma situação de sala que chamou a sua

atenção

Esclarecemos que, das nove pesquisadas, apenas três professoras

responderam à segunda questão.

As professoras Sandra e Maria descreveram uma situação de sala de aula

que lhes chamou à atenção. Relataram uma experiência utilizando como recurso a

Resolução de Problemas:

86

Preparação para festa de aniversário (Circo). Total de alunos 34; Confecção de chapéus e bengalas. Contagem na véspera: Chapéus: 24 prontos; Bengalas: 18 prontas. As respostas de quantos faltavam foi imediata, sem usar nenhum material didático (Sandra).

Durante uma aula sobre divisão, pedi aos alunos que trouxessem caixa de ovos vazias. Os alunos no momento não entenderam o que poderia se fazer com tal material. Pedi que confeccionassem bolinhas de papel e pedi que todos segurassem 9 bolinhas de papel e dividissem em dois buraquinhos da caixa. Esperei e todos fizeram o cálculo, ficando muito entusiasmados com a novidade. Um aluno me contou que realizou uma divisão para a mãe com o auxílio da caixa (Maria).

Ao analisarmos os problemas citados pelas professoras, podemos perceber

que ambas trabalharam, de uma maneira interessante, uma questão adequada para

o 5°ano. Os exemplos apresentados por Sandra e Maria evidenciam que, quando

desafiados, os alunos se envolvem.

Entretanto faltou ao relato da professora Sandra uma maior explicitação sobre

a atividade e sobre os procedimentos que os alunos utilizaram para resolver o

problema, pois a professora apenas cita que a resposta fora imediata. Isso pode ter

acontecido por eles terem se identificado com o problema.

Por outro lado, a colocação da professora Maria foi detalhada, no tocante a

forma pela qual os alunos solucionaram o problema, apenas dividindo as bolinhas

nos dois buraquinhos da caixa de ovos. Todavia, faltou esclarecer se os alunos

fizeram os registros ou não dos resultados encontrados, e, se fizeram, de que

maneira procederam, o que observaram com relação ao resto, etc.

De acordo com Shulman (1992), o conhecimento do conteúdo da disciplina

está relacionado com o domínio dos conceitos, das propriedades e dos

procedimentos a serem ensinados, o que corresponde à natureza e aos significados

do conteúdo, ao seu desenvolvimento histórico e às diferentes formas de

compreendê-lo e organizá-lo. Inferimos que ambas as professoras, Sandra e Maria,

possuem o conhecimento do conteúdo e sabem relacioná-lo com a estratégia

Resolução de Problemas, com o objetivo de fazer com que os seus alunos

desenvolvam a aprendizagem.

Acreditamos que, ao proporem esses problemas, as atitudes das professoras

estão condizentes com o que os Parâmetros Curriculares Nacionais apresentam.

87

A Matemática caracteriza-se como uma forma de compreender e atuar no mundo e o conhecimento gerado nessa área do saber como um fruto da construção humana na sua interação constante com o contexto natural, social e cultural (BRASIL, 1998, p. 24).

As duas atividades relatadas criaram oportunidades de aprendizagem apesar

de, aparentemente, serem pouco desafiadoras para os alunos de cerca de 10 anos.

Entretanto apenas as professoras conhecem, de forma mais substancial, a

capacidade de seus alunos. Até porque, como esclarecem Nacarato, Mengali e

Passos:

[...] é o professor quem cria as oportunidades para a aprendizagem - seja na escolha de atividades significativas e desafiadoras para seus alunos, seja na gestão de sala de aula: nas perguntas interessantes que faz e que mobilizam os alunos ao pensamento, à indagação; na postura investigativa que assume diante da imprevisibilidade sempre presente numa sala de aula [...] (NACARATO; MENGALI; PASSOS, 2009, p. 35).

Baseando-nos nesse comentário, inferimos que as professoras, em questão,

estão buscando, nas resoluções de situações problemas, estratégias que tornem o

ensino da Matemática mais significativo e criativo, que envolvam os alunos e com

isso promovam a aprendizagem. Diante do exposto, elas tiveram êxito no pleiteado.

O comentário da professora Júlia elucida esta afirmação:

Trabalhar Matemática com jogos e brincadeiras usando materiais concretos e cartazes ajudam muito os alunos com dificuldades a avançar. Além disso, é um prazer vê-los participando e também verificar alunos que já dominaram a situação ajudando os colegas (Júlia, 5º ano).

A professora Júlia ao afirmar que trabalhar a Matemática com jogos e

brincadeiras, utilizando materiais concretos e cartazes, ajuda muito os alunos com

dificuldade a avançar, vai ao encontro dos PCN:

As necessidades cotidianas fazem com que os alunos desenvolvam capacidades de natureza prática para lidar com a atividade matemática, o que lhes permite reconhecer problemas, buscar e selecionar informações, tomar decisões. Quando essa capacidade é potencializada pela escola, a aprendizagem apresenta melhor resultado (BRASIL, 1998, p.37).

De acordo com Serrazina (2003), um curso de Pedagogia deve se atentar

para que os futuros professores se tornem profissionais empenhados com aquilo

que ensinam e tenham a capacidade de experimentação e de inovação além da

investigação sobre a própria prática. Desta forma, ponderamos que as professoras

Maria, Sandra e Júlia necessitam de uma formação continuada, que potencialize a

88

sua prática, bem como possibilite uma aprendizagem matemática mais rica,

complementando assim a sua formação inicial, pois vontade de fazer bem feito e

direito não lhes falta.

5.3.3 Terceira Questão: principais problemas encontrados para ensinar

Matemática

Ao elaborarmos essa questão, tínhamos por objetivo conhecer o que as

professoras identificam como dificuldades para ensinar Matemática.

Apresentamos, a seguir, as afirmações das professoras Fábia e Bernadete.

Na minha prática em sala de aula, um dos meus maiores problemas é fazer com que os meus educandos entendam a matemática de outra forma, pois ele já vem trazendo aquela matemática como um quadro com moldura em que não pode haver modificação, nem uma forma diferente e mais interessante para trabalhar a temida Matemática (Fábia).

O aluno sente muita dificuldade e alguns rejeitam a disciplina em virtude de aprendizagem anterior deficiente no que diz respeito ao pensar matemático, muito embora já o tenha em sua vida prática (Bernadete).

Analisando as respostas dadas pelas professoras, podemos verificar que

tanto a professora Fábia, quanto a professora Bernadete veem como dificuldade

para ensinar Matemática, a forma como essa disciplina é apresentada aos alunos:

um “quadro com moldura”, uma Matemática “engessada”, uma Matemática

descontextualizada.

Cabe destacar que, durante muito tempo, a Matemática era ensinada de

forma descontextualizada, em que se acreditava que, por meio da repetição de

“exercícios”, os alunos pudessem aprender. Hoje, graças às constantes pesquisas,

notamos uma transformação com relação ao modo de ensinar e de aprender

Matemática. No entanto, ao que parece, o ensino mais “tradicional” de Matemática,

centrado em algoritmos, ainda permanece nessas escolas, mesmo com a professora

Júlia, percebendo que os alunos aprendem os algoritmos de forma mecânica, sem

compreensão.

Os alunos fazem as operações de forma mecânica, sem compreenderem direito a operação que devem usar para solucionar determinado problema (Júlia).

89

Autores apontam que, a partir do momento que os professores ensinam os

algoritmos das operações diretamente de forma convencionais, eles fazem com que,

muitas vezes, os estudantes apenas decorem os procedimentos, todavia, sem

compreender o que estão fazendo. (BRASIL, 2009, p.102).

O fato de os alunos “mecanizarem” processos sem reflexão sobre a atividade

que realizam faz com que eles, como não constroem um conhecimento sólido,

tenham dificuldades em resolver operações com reservas, como declara a

professora Júlia:

O maior problema é o aluno entender as operações com reservas, principalmente subtração quando precisa tomar uma dezena emprestada (Júlia).

De acordo com os PCN, a história da Matemática pode auxiliar os professores

a transformarem a Matemática tradicional, numa Matemática mais accessível aos

alunos. A história da Matemática:

[...] pode oferecer uma importante contribuição ao processo de ensino e aprendizagem dessa área do conhecimento. Ao revelar a Matemática como uma criação humana, ao mostrar necessidades e preocupações de diferentes culturas, em diferentes momentos históricos, ao estabelecer comparações entre os conceitos e processos matemáticos do passado e do presente, o professor cria condições para que o aluno desenvolva atitudes e valores mais favoráveis diante desse conhecimento (BRASIL, 1998, p. 42).

Acreditamos que a história da Matemática pode, de fato, ajudar as

professoras a superar essa Matemática vista como “engessada”, principalmente pelo

fato de que, em muitas situações, de acordo aos PCN, ao explicar os porquês, ao

estabelecer relações com a realidade, ao clarear para os alunos as ideias

matemáticas, elas colaborarão para a construção do conhecimento.

5.3.4 Quarta Questão: principais satisfações que a profissão lhe permite

Ao pensarmos essa questão, queríamos investigar a respeito do que as

professoras consideram como suas principais satisfações, até porque, entendemos

que, em uma sala de aula, não existem apenas problemas, e sim, satisfações

também.

Esclarecemos que apenas duas, das professoras entrevistadas, responderam

essa questão.

90

É gratificante encontrar uma sala de bons ouvintes, aí a aprendizagem tem mais fluência (Sandra).

Analisando a resposta da professora Sandra, verificamos a sua satisfação

com a profissão. De acordo com ela, os alunos são bons ouvintes, Há uma

tendência a acreditar que alunos passivos e não participativos sejam bons alunos.

Nem sempre os alunos “calados” significa que eles sejam bons ouvintes, muito

menos que alunos “falantes” não prestam atenção. No entanto, apesar de

expressarmos a nossa opinião a respeito da leitura feita pela professora Sandra, no

que diz respeito aos alunos “bons ouvintes”, entendemos que apenas o professor,

no seu ambiente de trabalho, é capaz de saber discernir, de fato, como o seu aluno

se realiza. Tardif (2000, p. 11) esclarece que.

O trabalho não é primeiro um objeto que se olha, mas uma atividade que se faz, e é realizando-a que os saberes são mobilizados e construídos. Esse enfoque considera que o profissional, sua prática e seus saberes não são entidades separadas, mas “copertencem” a uma situação de trabalho na qual “coevoluem” e se transformam.

Compreendemos Tardif, ao afirmar que “o trabalho não é [...] um objeto que

se olha, mas uma atividade que se faz [...], pois sentimos que as professoras

envolvidas no nosso estudo realizam o seu trabalho para mobilizar e construir

conhecimento, tanto na sua própria prática pedagógica, quanto na apoderamento de

seus alunos.

Quanto a professora Maria, ela suscitou como satisfação a própria profissão:

É e sempre foi para mim, um prazer lecionar, pois não fui eu que escolhi a educação. Ela que me escolheu, desde bem cedo. (Maria).

Pelo que podemos observar no depoimento da professora Maria, ser

professora, para ela é muito prazeroso, é um motivo de satisfação. Inclusive ela

afirma que não foi ela que escolheu a profissão e sim foi a profissão que a escolheu.

Verificamos uma afirmação carregada de emoção, fruto da sua história como pessoa

e como profissional.

Segundo Tardif (2000, p. 15):

Um professor tem uma história de vida, é um ator social, tem emoções, um corpo, poderes, uma personalidade, uma cultura, ou mesmo culturas, e seus pensamentos e ações carregam as marcas dos contextos nos quais se inserem.

91

Diante dessa afirmação, compreendemos o fato de apenas duas professoras

terem respondido a essa questão: é, mais fácil expor os problemas do que as

satisfações, justamente por sermos seres imbuídos de emoções e possuidores de

uma história de vida.

Consideramos os depoimentos das professoras Sandra e Maria reveladores

dos papéis de protagonistas da sua história, atores competentes e sujeitos ativos.

Nossa concepção vai ao encontro a Tardif, ao afirmar:

Se assumirmos o postulado de que os professores são atores competentes, sujeitos ativos, deveremos admitir que a prática deles não é somente um espaço de aplicação de saberes provenientes da teoria, mas um espaço de produção de saberes específicos oriundos dessa mesma prática (TARDIF, 2002, p. 234).

5.3.5 Quinta Questão: outras considerações que julgar necessário

Tínhamos como propósito, ao elaborarmos essa questão, deixar as

professoras mais à vontade para expor o que consideram necessários e importantes

relatar.

Informamos que, das nove professoras pesquisadas, apenas três

responderam a essa questão.

É importante que a matemática esteja voltada para o cotidiano do aluno. As atividades precisam chegar o mais próximo possível do seu dia-a-dia, para que o mesmo possa visualizar a aplicação dos conteúdos no seu cotidiano. O estudo de gráficos, situações problemas, uso da moeda e outros são conteúdos que deixam o aluno mais próximo da realidade (Helena).

O ensino da Matemática busca diminuir a distância entre o abstrato e o concreto. É uma tarefa árdua, porém o aluno terá sucesso em seu aprendizado (Maria).

Percebemos, ao analisarmos as respostas, novamente a crença de que é

preciso estudar a Matemática no cotidiano, que a Matemática é árdua e se for

ensinada mais próxima do concreto, o aluno terá sucesso no aprendizado.

De acordo com Garcia (1992), os professores primários e secundários

incorporam crenças e concepções sobre a matéria que ensinam, no nosso caso a

Matemática, que vão influenciar a sua forma de ensinar. Relacionando com os

depoimentos das professoras, Helena e Maria, podemos perceber claramente a

92

crença e a concepção de que a Matemática é difícil e o aluno terá uma melhor

aprendizagem, caso os conteúdos estejam relacionado com o cotidiano.

Compreendemos que esses depoimentos se referem aos conhecimentos das

professoras revelados em suas respectivas ações, que de acordo com Schön (2000,

p.31)"[...] é uma característica pessoal, nem sempre verbalmente explícita, é um

conhecimento tácito e espontâneo”.

Vejamos o que a professora Bernadete nos revela.

Ler, entender o que leu e desenvolver esse entendimento através de cálculos e comparações simples que desenvolvem o raciocínio e o pensar matemático, é o objetivo e a meta a ser alcançada. Até porque gostar, eles gostam, só não aprenderam, na grande maioria dos casos, a demonstrar como é esse gostar (Bernadete).

Podemos notar aí uma certa preocupação com o pensar matemático, todavia

inferimos que, no seu entender, os alunos devem demonstrar que aprendem por

meio de cálculo, como se, ao realizar algoritmos, eles demonstram que aprenderam.

Novamente percebemos as concepções enraizadas e entendemos que há lacunas

na formação da professora Bernadete e que não apenas ela, mas todas as nove que

fizeram parte do nosso estudo, necessitam de uma formação científico-cultural,

como concebida por Ponte (1998).

[...] a formação científico-cultural, vai além dos conhecimentos específicos da Matemática. Pontua que, é necessário que o professor tenha uma boa relação com a disciplina, e consiga integrá-la a outras áreas do conhecimento a partir do domínio das linguagens, como por exemplo, as novas tecnologias.

Por meio das respostas manifestas pelas professoras, percebemos que

ambas realizaram uma reflexão na ação, pois, segundo Schön (2000).

[...] a reflexão na ação ocorre quando o inesperado nos leva à reflexão durante determinada ação. De acordo com o autor, essa reflexão é de alguma forma, consciente, apesar de não precisar advir por meio de palavras.

A seguir, damos início ao levantamento e às análises dos dados, coletados

por meio da parte I do questionário.

5.4 Conhecimentos sobre os elementos da Prova Brasil

93

Ao analisarmos as respostas apresentadas pelas professoras, inferimos que,

apesar de cinco delas afirmarem conhecer a Prova Brasil, esse conhecimento se

restringe, meramente, às aplicações das provas de dois em dois anos e ao curso

dado no ano de execução dela, mas desconhecem seus objetivos e os constitutivos

do processo. Isso reforçou o nosso interesse em dar continuidade ao grupo de

estudos formado durante a nossa pesquisa, para juntos refletirmos e discutimos com

relação à Prova Brasil, provocando, assim, as professoras para que eles se sintam

motivados a aprender mais a respeito dessa avaliação.

Das sete professoras que responderam conhecer os objetivos da Prova

Brasil, apenas uma construiu uma resposta que melhor se assemelhasse aos

objetivos propostos pelo INEP:

A prova Brasil busca identificar e melhorar o nível de ensino da aprendizagem no Brasil (Carla).

Diante desse fato, percebemos, por meio das respostas dadas, que há uma

falta de conhecimento mais profundo e condizente com o real objetivo da Prova

Brasil que é:

A. Contribuir para a melhoria da qualidade do ensino, redução de desigualdades e democratização da gestão do ensino público;

B. Buscar o desenvolvimento de uma cultura avaliativa que estimule o controle social sobre os processos e resultados do ensino (BRASIL, 2009, p.11).

Das quatro professoras que responderam saber o IDEB de sua escola, ao que

parece, elas apenas o relacionam a um número. Apesar de concordarmos com as

professoras, que o IDEB, a princípio significa um número, compreendemos que esse

número pode nos revelar a alguns aspectos relevantes, caso seja investigado

pedagogicamente. Para isso, os professores deveriam ter acesso às provas

realizadas e por meio dos resultados dos distratores, poderiam avaliar quais

habilidades seus alunos precisam desenvolver e criar situações problemas que

pudessem dirimir as dificuldades evidenciadas.

Segundo o INEP, o IDEB tem por finalidade aferir a qualidade e as intenções

periódicas na realidade da sociedade, permitindo comparar localidades e situações.

No entanto, parece que esse indicador é pouco utilizado nas escolas participantes

94

de nossa pesquisa. Inferimos que seja pelo fato, de apenas ser mostrado como um

número seco e descontextualizado.

Ao investigarmos a Matriz de Referência de Avaliação de Matemática da

Prova Brasil, observamos que a professora Fábia confessou que tem muito que

aprender, o que nos levou a concluir que se mostra disponível e aberta para

aprender mais a respeito da Matriz de Referência da Prova Brasil.

As professoras Cláudia e Maria responderam não ter acesso à Matriz de

Referência da Prova Brasil. As professoras Helena, Carla e Sandra, afirmaram já

terem ter tido contato com a Matriz de Referência da Prova Brasil, por intermédio da

internet e de cursos. Quanto as professoras que não responderam à questão,

podemos concluir que ou não se sentiram à vontade de respondê-la, ou

desconhecem a Matriz de Referência de Avaliação de Matemática da Prova Brasil.

De acordo com Brasil (2009), na Matriz de Referência de Avaliação de

Matemática, estão relacionadas às competências e as habilidades que os alunos

necessitam ter domínio em cada série avaliada, possibilitando uma maior exatidão

técnica tanto na construção das questões do teste, como na análise dos resultados

da avaliação.

Como o município Lauro de Freitas procura envolver os professores na Prova

Brasil por meio de cursos de capacitação, esperávamos maior conhecimento deles a

esse respeito.

Ao abordarmos sobre a Matriz de Referência de Avaliação de Matemática,

constatamos que, das cinco professoras que responderam, duas apontaram

elementos que a fazem interessante, outras duas falaram a respeito do que

esperavam desse documento e uma delas sinalizou o desconhecimento e a

necessidade de tomar conhecimento referente a esse documento. Quatro não

responderam.

A partir da resposta da Professora Maria (5º ano): “Acho que deveríamos

tomar conhecimento desses conteúdos para uma troca efetiva”, acreditamos que

essa professora está carente de informação relativa à Matriz de Referência de

95

Avaliação da Prova Brasil. Esta afirmação se solidifica ao analisarmos a resposta da

Professora Carla:

O professor poderá através da matriz, ter o registro do que se quer alcançar em nível de aprendizado, ou seja, são parâmetros que os alunos alcancem (Carla).

Portanto, podemos deduzir que, como o município não possui uma matriz

curricular, as professoras poderiam recorrer à Matriz de Referência de Avaliação, no

momento do seu planejamento. Todavia, como consta em Brasil (2009), a Matriz de

Referência de Avaliação significa apenas um recorte da Matriz Curricular, assim

sendo pensamos que poderia ser de suma importância, o município começar a

pensar em uma Matriz Curricular baseada, principalmente em que:

O conhecimento matemático para ensinar deve proporcionar condições ao professor de tratar corretamente, de modo flexível, os conteúdos matemáticos relacionando-os com outros conhecimentos dos alunos a fim de torná-los capazes de resolver uma determinada situação (CURI, 2011, p.79).

Compreendemos que as professoras pesquisadas necessitam não apenas de

conhecimentos relativos à Prova Brasil e seus componentes e, sim, de

conhecimentos inerentes a sua profissão.

Em consonância com Curi (2005), existem conhecimentos essenciais para

ensinar Matemática sendo eles: conhecimento dos objetos de ensino; dos conceitos

inerentes à escolaridade que irá atuar; da articulação com outros conhecimentos; da

natureza e da organização interna da Matemática; do "fazer Matemática"; do

entendimento das ideias fundamentais da disciplina e seu papel no mundo atual; da

aprendizagem das noções matemáticas; da estrutura da Matemática e; finalmente,

do desenvolvimento de habilidades especificamente a resolução de problemas.

Ao analisarmos as respostas dadas, compreendemos que as professoras têm

dificuldades em compreender, de uma forma ou de outra, a Matriz de Referência de

Avaliação da Prova Brasil. Mesmo a professora Célia, que declarou não ter

dificuldade nenhuma, deixa transparecer, na sua fala, que ela tem uma visão

distorcida da real importância dessa Matriz ao auferir o conhecimento do aluno.,Isso

porque ela atribui apenas ao aluno a responsabilidade pelo êxito na Prova Brasil,

esquecendo-se de que a Matriz é um excelente referencial para o

professor.identificar dificuldades e encontrar meios para saná-las.

96

Com relação à resposta dada pela professora Carla:

Pelo que foi ministrada, a dificuldade está no nível que as crianças chegam no 5º ano, pois muitos não conseguiram alcançar objetivos mínimos das séries anteriores (Carla).

Garcia (1999) nos elucida que o conhecimento pedagógico geral envolve o

ensino, a aprendizagem e os alunos. É o conhecimento profissional propriamente

dito, pois o professor precisa conhecer o currículo; as técnicas didáticas; o tempo de

aprendizagem; as teorias de desenvolvimento humano; e saber lidar com a

diversidade cultural. Ou seja, é necessário ao professor não apenas se apropriar da

Matriz de Referência de Avaliação e, sim, articular esse conhecimento com a grade

curricular, e buscar maneiras de apresentá-lo ao aluno, para que o educando possa

desenvolver a sua cidadania, como se refere Curi (2011).

Quanto ao conhecimento das professoras a respeito dos descritores e

distratores, constatamos que sete professoras conhecem os descritores, quatro os

desconhecem, duas professoras disseram já ter trabalhado com esses componentes

da Prova Brasil, uma delas já ouviu falar sobre eles em um curso que frequentou e

uma delas, manifestou desconhecimento.

Podemos observar também nas respostas, que elas possuem algumas

noções a respeito dos descritores, como vemos na fala da professora Cláudia: “...

são objetivos que pretendemos alcançar.” E no depoimento da professora

Bernadete: “São metas para se seguir com um bom andamento em sala de aula.”

Segundo Brasil (2008), o descritor descreve as habilidades ou as

competências esperadas, agregando conteúdos curriculares e operações mentais

desenvolvidas pelos estudantes. Enquanto os distratores (BRASIL, 2009) dão

informações para as análises dos níveis de proficiência, na medida em que buscam

focalizar erros comuns nessa fase de escolarização. Além disso, as respostas

previstas nos distratores de um item devem ser capazes de dar informações

referentes ao raciocínio desenvolvido pelo estudante na procura da solução da

tarefa proposta, identificando os erros mais comuns nas distintas condições de

competência.

Acreditamos que as respostas manifestas pelas professoras são

interessantes e pertinentes para a nossa pesquisa, pois a partir dessas falas,

97

podemos pensar em como trabalhar no grupo de estudo, com relação aos

descritores e distratores.

Queremos registrar que, segundo as professoras, a Secretaria de Educação

da Prefeitura de Lauro de Freitas oferece curso para os professores voltado a

discutir alguns exemplos de questões da Prova Brasil, no entanto, afirmam que o

referido curso só ocorre para os professores dos anos em que são aplicadas a Prova

Brasil. Como algumas professoras, sujeitos da nossa pesquisa, começaram a atuar

no 5° ano, naquele ano, isso explica o desconhecimento de algumas delas.

Após analisarmos as respostas dadas pelas professoras referentes à

organização da Prova Brasil, constatamos que cinco delas admitem desconhecer

como a Matriz de Referência é organizada; uma esclarece que sabe como é

aplicada a prova, conhece os objetivos, todavia não sabe como é organizado esse

documento. Uma delas manifesta a necessidade de uma maior discussão a respeito

e duas delas colocam a responsabilidade na escola, como podemos verificar nos

depoimentos a seguir.

Sei como é aplicado nas escolas, seu objetivo. Mas, desconheço a sua

elaboração e organização (Carla).

Falta-nos esse tipo de discussão ou pelo menos, relato para uma troca e

prática mútua (Maria).

Deveria ser mais bem divulgada em outros anos e não só quando acontece

(Fábia, 5º ano).

Essa informação nunca foi divulgada pela instituição (Helena).

Todas as respostas dadas nos fazem inferir a necessidade de trabalhar, no

grupo de estudo, como é organizada essa Prova e suas reais consequências no

ensino e na aprendizagem da Matemática.

5.5 Algumas considerações

Até aqui, buscamos compreender até que ponto as professoras pesquisadas

conhecem e compreendem a Prova Brasil, por meio das respostas dadas à primeira

parte do questionário.

98

Constatamos que as professoras envolvidas não conhecem de fato a Prova

Brasil, apesar de a Secretaria Municipal oferecer cursos sobre esse assunto. Deste

modo, percebemos que discutir a respeito da avaliação é o primeiro passo para uma

reflexão no que concerne à sua importância para a comunidade escolar e também

para a comunidade local.

Ressaltamos que as professoras reconhecem a importância da Prova Brasil,

todavia precisam desenvolver uma discussão crítica sobre o assunto. Dessa forma,

sentimos necessidade de um estudo mais aprofundado para possibilitar uma

reflexão que resulte em uma tomada de decisão no que se refere à Prova Brasil.

Entendemos assim a relevância de propiciar um espaço de reflexão, por meio

do grupo de estudos, no qual se discuta a importância de avaliar, não no sentido de

excluir, mas, sim, com o propósito de melhorar a aprendizagem do aluno. Portanto,

há necessidade de discutir tanto a avaliação externa, quanto a interna, e de buscar

na literatura a compreensão desse instrumento fundamental e necessário.

Passamos à parte II do questionário.

5.6 Revelações das professoras sobre os descritores da Matriz de

Referência de Avaliação

Para essa parte do questionário, apresentamos 5 critérios para que as

professoras analisassem os Descritores e identificassem quais poderiam ser

categorizados nesses critérios.

99

5.6.1 Tema I - Espaço e Forma

I – ESPAÇO E FORMA

Critérios Descritores

Que despertam maior

interesse por parte

dos alunos D1 – Identificar a localização/movimentação de objeto

em mapas, croquis e outras representações gráficas. Que seus alunos

tenham maior

aproveitamento

Mais difíceis do ponto

de vista matemático.

D5 – Reconhecer a consevação ou modificação de

medidas dos lados, do perímetro, da área em

ampliação e/ou redução de figuras poligonais usando

malhas quadriculadas.

Mais difíceis em

termos de

aprendizagem do

aluno

Que você considera

inadequado para o 5º

ano

Onde seus alunos

cometem mais erros

Quadro 4 – Descritores selecionados pela maioria das professoras. Fonte: Questionário - Parte II – Tema I.

Como podemos perceber, no Quadro 4, o descritor mais evidenciado foi o

descritor D5. As respostas das professoras estão convergentes com o documento

Brasil (2009), ao apontá-lo como sendo o mais difícil do ponto de vista matemático e

o mais difícil em termos de aprendizado do aluno, pois, quando se trata do assunto

Geometria, os alunos apresentam dificuldades, principalmente, quando se trata de

medida de perímetro,. Dessa forma, as professoras o consideram inadequado para o

5º ano e também assinalam que esse descritor é o que os alunos cometem mais

100

erros. Para uma maior compreensão, exibimos, a seguir, o que esse descritor

avalia.

De acordo com Brasil (2009), por meio do descritor D5:

[...] pode-se avaliar a habilidade de o aluno reconhecer a manutenção ou a alteração do perímetro e da área de um polígono em ampliações ou reduções da figura, com o apoio de malhas quadriculadas. As situações-problema podem trazer, também, a transferência da figura de um lugar a outro ou ainda a realização de um giro na posição dela. (BRASIL, 2009, p.117)

Compreendemos que, a partir do momento que se constroem tipos de

questões problematizadoras, utilizando malha quadriculada, os alunos terão mais

facilidade em estabelecer relações em função da questão proposta, que,

posteriormente, poderão ser generalizadas com o auxílio do professor. Desta forma

acreditamos que o tipo de questões da Prova Brasil não consente esse tipo de

exploração, assim sendo, para resolvê-la com desempenho, o aluno deveria já ter

internalizado as relações de conservação ou de modificação das medidas de lados,

perímetro ou área em função de ampliação ou redução de figuras, o que

consideramos muito complicado para alunos do 5º ano.

Ponderamos que a discussão e a reflexão sobre a ampliação e/ou redução

das medidas dos lados de uma figura poligonal e as relações dessas mudanças nas

áreas e perímetros dessas figuras é interessante de ser feita na sala de aula, mas

pouco adequada num teste para crianças do 5º ano, mesmo usando malhas

quadriculadas.

Quanto ao descritor 1, as professoras consideram como sendo o que

desperta maior interesse por parte dos alunos e também onde seus alunos têm

maior aproveitamento.

De acordo com Brasil (2009):

As habilidades que podem ser avaliadas por este descritor referem-se ao reconhecimento, pelo aluno, da localização e movimentação de uma pessoa ou objeto no espaço, sob diferentes pontos de vista (BRASIL, 2009, p. 110).

Concordamos com a análise desenvolvida pela maioria das professoras, pois

se trata de uma habilidade focada na observação e na identificação de

localização/movimentação de pessoas/objetos em relação a pontos de referência.

101

Todavia, esclarecemos que as questões utilizadas para verificar esse descritor, de

um modo geral, apresentam desenhos de cenas estanques, a localização ou a

movimentação de um personagem ou um objeto.

Ponderamos que essas habilidades são de suma importância e devem ser

desenvolvidas nos alunos em sala de aula, bem como, acreditamos que o professor

necessita incentivar a participação do aluno em atividades que permitam a eles

melhorar a habilidade de descrever o espaço, utilizando terminologia adequada;

concretizar o esboço de trajetos; fazer a utilização dos pontos de referência, bem

como realizar a análise e a percepção do contexto. Desta forma, compreendemos

que essas habilidades não podem ser avaliadas em uma prova tipo teste.

Diante das análises desenvolvidas pelas professoras, bem como graças às

considerações apresentadas, podemos concluir que as habilidades indicadas no

descritor D1 não contradizem as orientações dadas nos PCN, entretanto, também

não explicam a magnitude das atividades que podem ser ampliadas, quando os

professores trabalham com esses conteúdos. Elucidamos que, no nosso entender,

as questões que esses descritores permitem elaborar são muito limitadas, devido ao

próprio formato de teste previsto pela Prova Brasil, que não permite ao aluno realizar

representações ou descrições do espaço.

No Quadro 5 estão relacionados os descritores selecionados pela maioria das

professoras no que tange ao Tema II.

102

5.6.2 Tema II - Grandezas e Medidas

II – GRANDEZAS E MEDIDAS

Critérios Descritores

Mais difíceis em

termos de

aprendizagem do

aluno

D7 - Resolver problemas significativos utilizando

unidades de medida padronizadas como km/m/cm/mm,

kg/g/mg, l/ml.

Que despertam maior

interesse por parte

dos alunos

D10 - Num problema, estabelecer trocas entre cédulas

e moedas do sistema monetário brasileiro, em função

de seus valores. Que seus alunos têm

maior aproveitamento

Mais difíceis do ponto

de vista matemático.

D11 - Resolver problema envolvendo o cálculo do

perímetro de figuras planas, desenhadas em malhas

quadriculadas.

Que você considera

inadequado para o 5º

ano

Que seus alunos

cometem mais erros

Quadro 5 – Descritores selecionados pela maioria das professoras. Fonte: Questionário – Parte II – Tema II

Verificamos que o descritor D7 foi considerado pelas professoras o mais difícil

em termo de aprendizagem dos alunos, talvez por abarcar transformações entre

unidades de medidas de uma mesma grandeza.

Nossa hipótese é que as dificuldades dos alunos, apontadas por essas

professoras, podem originar-se do foco dado no ensino desse tema com conversões

pouco significativas entre unidades de medidas, fora do contexto de resolução de

problemas. Provavelmente as professoras não fazem nenhuma relação entre os

sistemas de medidas de comprimento, massa ou capacidade e o Sistema de

Numeração Decimal, o que, provavelmente, possibilitaria melhor compreensão das

crianças.

103

Pires (2012) destaca a importância da compreensão das relações de

conversão entre unidades de medida fazendo um paralelo com a estrutura do

Sistema de Numeração Decimal. A autora comenta que o ensino das conversões de

uma unidade à outra não deve ser feito de forma mecânica por meio de exercícios

“descontextualizados”, mas que as crianças devem se apropriar dessas relações

pelo uso que se faz deles em situações cotidianas por meio de resolução de

problemas.

Esse comentário de Pires (2012) pode ser reforçado pela indicação das

professoras de que o descritor D10 desperta o maior interesse dos alunos, bem

como as questões referentes a esse descritor revelam maior aproveitamento

Consideramos que trabalhar com dinheiro é mais significativo e faz com que

os alunos, ao se interessarem mais, tenham maior aproveitamento. Dessa forma,

inferimos que, pelo uso social do dinheiro e pelo domínio do Sistema Monetário, as

professoras trabalhem esse tema com mais tranquilidade.

As respostas da maioria das professoras são coerentes quando avaliam o

descritor D11, como sendo o mais difícil do ponto de vista matemático; o mais

inadequado para o 5º ano e o que seus alunos cometem mais erros. A noção de

perímetro envolvida pelo descritor costuma ser trabalhada por meio de situações

descontextualizadas e de cálculos sem significado, muitas vezes por meio de

fórmulas.

Pesquisas citadas por Pires (2012) mostram as dificuldades dos alunos do

Ensino Fundamental com relação às noções de área e perímetro e apontam para um

trabalho integrado com esses conceitos.

Em consonância com Pires (2012):

Algumas hipóteses podem ser levantadas para explicar esses erros e uma delas é a de que o ensino de perímetros e áreas foi tradicionalmente realizado pela apresentação quase imediata de fórmulas a serem aplicadas em situações-problema. A esse respeito, Héraud (1989) fez estudos em que aponta para a conceitualização da área enquanto grandeza, como um processo anterior à aprendizagem da sua medida (PIRES, 2012, p. 240).

O que a autora aborda é relevante para o nosso estudo, pois levanta

algumas hipóteses que elucidam os erros cometidos pelos alunos no que se refere

104

ao trabalho com perímetro. Desta forma, conjecturamos que o fato de as professoras

elencarem tanto no tema I quanto no Tema II, os descritores que envolvem

perímetro, elas estão reconhecendo que existe uma lacuna em relação a essa

noção.

A conceituação de área e de perímetro depende de conhecimentos

específicos das professoras sobre esses conteúdos, reforçando a relevância do

aprimoramento do professor, conforme nos revela os estudos teóricos sobre o

conhecimento do professor Shulman:

O conhecimento do conteúdo (content knowledge);

O conhecimento didático do conteúdo (pedagogical content knowledge);

O conhecimento curricular (curricular knowledge).

No prosseguimento, apresentamos o quadro 6.

105

5.6.3 Tema III – Números e Operações

TEMA III – NÚMEROS E OPERAÇÕES/ÁLGEBRA E FUNÇÕES

Critérios Descritores

Que despertam

maior interesse

por parte dos

alunos

D15 – Reconhecer a decomposição de números naturais

nas suas diversas ordens.

Que seus

alunos têm

maior

aproveitamento

Que seus

alunos

cometem mais

erros

D20 – Resolver problema com números naturais envolvendo

diferentes significados da multiplicação ou divisão:

multiplicação comparativa, idéia de proporcionalidade,

configuração retangular e combinatória.

Mais difíceis do

ponto de vista

matemático. D25 – Resolver problema com números racionais expressos

na forma decimal envolvendo diferentes significados da

adição ou subtração.

Mais difíceis em

termos de

aprendizagem

do aluno

Que você

considera

inadequado

para o 5º ano

D26 – Resolver Problema envolvendo noções de

porcentagem (25%, 50%, 100%).

Quadro 6 – Descritores selecionados pela maioria das professoras. Fonte: Questionário – Parte II – Tema III.

Como é possível perceber, o descritor D15 foi considerado, pela maioria das

professoras, como o de maior aproveitamento e o que desperta maior interesse,

devido ao fato de ele estar ligado aos números naturais e também ao Sistema de

106

Numeração Decimal, conteúdos, em nossa opinião, muito trabalhados pelos

professores de modo geral, no 5º ano dos anos iniciais do Ensino Fundamental de

nove anos. No entanto, os resultados obtidos pelas crianças na Prova Brasil não

mostram grande aproveitamento. Uma dissertação defendida no âmbito do nosso

grupo de pesquisa por Rabelo (2012) revela que os alunos do 5º ano decompõem

números naturais em suas diversas ordens, quando esses números são da ordem

das centenas. Quando os números são de quatro ou mais ordens diminui

consideravelmente a quantidade de acertos das crianças. Cabe destacar que a

pesquisa de Rabelo foi feita com 385 alunos do 5º ano de seis escolas diferentes.

O descritor D20 foi considerado, pela maioria das professoras, como sendo o

que seus alunos cometem mais erros. Inferimos que este fato se deva à falta de uma

abordagem dos números naturais em problemas envolvendo diferentes significados

da multiplicação ou divisão e também ao foco inadequado ao cálculo com essa

operação.

De acordo com Pires (2012):

[...], diferentes estudos destacam a importância de trabalhar um conjunto de problemas que explorem a multiplicação e a divisão com base em um campo mais amplo de significados do que tem sido usualmente realizado. Esses estudos apoiam-se geralmente na Teoria dos Campos Conceituais de Vergnaud (PIRES, 2012, p.132).

Uma outra dissertação, defendida por Zaran (2013), também no nosso grupo

de pesquisa, revela que os alunos de 5º ano identificam a operação de multiplicação

(ou divisão) em um problema do campo multiplicativo quando o significado envolvido

é o de proporcionalidade. Nos outros significados, o percentual de alunos que

identificam a operação que resolve o problema é bem menor.

O descritor D25 foi considerado como o mais difícil do ponto de vista

matemático e também como o mais difícil em termos de aprendizagem do aluno.

Conjecturamos que seja pela mesma razão da falta de abordagem na resolução de

problemas utilizando-se diferentes significados.

Pires (2012), ao referenciar os PCNEF (1997), esclarece que:

[...], o trabalho a ser realizado com as operações deve ser centrado na compreensão dos diferentes significados de cada uma delas, nas relações

107

existentes entre elas e no estudo do cálculo, contemplando diferentes tipos – exato e aproximado, mental e escrito (PIRES, 2012, p.131).

Em Brasil (2009, p.146), consta que o descritor D25, verifica “A habilidade de

o aluno resolver problemas com números racionais na forma decimal, utilizando-se

das operações de adição ou subtração”.

Desta forma, podemos inferir que, quanto mais os professores trabalharem

nos alunos habilidades e competências, que envolvam tanto dinheiro quanto

medições, por meio de situações-problema, mais eles proporcionarão a seus alunos

oportunidades de se apropriar do descritor D25, podendo preencher assim essa

lacuna, referente a habilidade de o aluno resolver problemas com números racionais

escritos na forma decimal, pois tanto o Sistema Monetário como os Sistemas

Decimais de medidas utilizam números racionais.

Cabe destacar a afirmação de Pires (2012) sobre o trabalho com as

representações decimais que deve explorar a extensão do quadro de ordem e

classes que as crianças já aprenderam e acrescentar novas ordens à direita das

unidades – a dos décimos, a dos centésimos e a dos milésimos, etc.

Também nos foi possível verificar, conforme consta no Quadro 6, que as

professoras consideram o descritor D26 o mais inadequado para o 5º ano, no Tema

III. Esse descritor se refere à habilidade de resolver problemas utilizando a noção de

porcentagem, especialmente na utilização de 25%, 50% ou 100%, por meio de

situações-problema contextualizadas, presentes no cotidiano do aluno.

Podemos supor que, ao selecionar o descritor D26, como inadequado, as

professoras estão considerando o trabalho com porcentagem, da forma como

aprenderam, por meio da chamada “regra de três”.

Segundo Pires (2012), o conceito de porcentagem insere-se no campo

conceitual da proporcionalidade e, ao mesmo tempo, no campo conceitual das

estruturas aditivas e multiplicativas. A autora comenta que a aproximação com a

noção de porcentagem deve ser feita por meio do cálculo de 10%.

Consideramos que, se os professores tiverem essa visão, a abordagem desse

tema é adequada a essa faixa etária, inclusive usando cálculo mental para 10%.

108

De acordo com Pires (2012), a organização do estudo do cálculo deve

priorizar um trabalho em que se realize a exploração, simultaneamente, entre os

procedimentos de cálculo mental e o cálculo escrito, exato e aproximado, para dessa

forma o aluno perceber as relações que existem entre eles e assim, aprimorar suas

estratégias pessoais.

Passamos agora a discorrer a respeito das análises realizadas pelas

professoras no que diz respeito ao Tema IV.

5.6.4 Tema IV – Tratamento da Informação

TEMA IV – TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO

Categorias Descritores

Que seus alunos têm

maior aproveitamento

D27 - Ler informações e dados apresentados em

tabelas.

Mais difíceis do ponto

de vista matemático.

D28 - Ler informações e dados apresentados em

gráficos (particularmente em gráficos de colunas).

Mais difíceis em

termos de

aprendizagem do

aluno

Que despertam maior

interesse por parte

dos alunos

Que seus alunos

cometem mais erros

Que você considera

inadequado para o 5º

ano

Nenhum Descritor selecionado.

Quadro 7 – Descritores selecionados pela maioria das professoras. Fonte: Parte II do questionário - Tema IV.

Observamos por meio dos dados apresentados, que o descritor D28 foi

considerado pelas professoras como sendo o mais difícil do ponto de vista

matemático, o mais difícil em termos de aprendizagem do aluno e onde os alunos

109

cometem mais erros. No entanto, chamou-nos a atenção o fato de elas ponderarem

também que esse descritor é o que desperta maior interesse nos alunos. Temos por

hipótese que essas professoras, por não terem realizado um trabalho com gráficos e

tabelas quando eram alunas da Educação Básica, considerem que esse tema é

difícil.

Seria interessante que as professoras aproveitassem o interesse dos alunos

por esse descritor e explorassem mais atividades com esse tema, proporcionado

uma maior compreensão do tópico avaliado, afinal de contas, como argumenta Tufte

(1983) apud Pires, (2012, p.267): entre todos os métodos para realizar análises e

comunicar informações, os gráficos são os mais simples e, ao mesmo tempo, os

mais adequados para isso.

Verificamos também, por meio do exposto no quadro 7, que as professoras

consideram o descritor D27, como aquele onde seus alunos apresentam maior

aproveitamento.

Compreendemos ser importante o trabalho com gráficos, principalmente os

mais usuais, como o de coluna, pois eles ajudariam os alunos para entender o

mundo que os cerca.

Em consonância com Pires (2012), vemos a relevância de as crianças

aprenderem a observar como outras pessoas – crianças e adultos – trabalham com

os dados para interpretar os gráficos. Além disso, esclarece a autora, é necessário

que elas aprendam a inventar formas de transmitir mensagens sobre dados

significativos, e que elas possam construir conhecimentos que expandam não

exclusivamente seu conhecimento matemático, mas também a possibilidade de

exercer a sua cidadania.

Ressaltamos que as professoras não apontaram nenhum dos dois

descritores, como sendo inadequado para o 5º ano.

5.6.5 Algumas considerações

Após a análise dos elementos levantados na parte II do Questionário,

cogitamos a necessidade de a Secretaria de Lauro de Freitas propiciar às

110

professoras uma formação continuada sobre a Matriz de Referência de Avaliação da

Prova Brasil, não de forma pontual, como está ocorrendo nos anos em que são

aplicadas as avaliações, mas, sim, de forma permanente. Ficou bem claro, para nós,

que há lacunas a serem preenchidas quanto ao aprofundamento desse

conhecimento, até porque constatamos que, em todas as escolas selecionadas, não

existe uma Matriz Curricular no Município.

Embora existam lacunas na formação das professoras e no conhecimento e

na compreensão da Prova Brasil, elas revelaram, durante os encontros,

comprometimento e responsabilidade em oferecer um ensino digno e de qualidade

aos seus alunos. As respostas dadas nessa parte do questionário foram bastante

coerentes e revelam que, quando há um tema que desperta maior interesse nos

alunos, eles têm maior aproveitamento. Se o tema é considerado difícil, do ponto de

vista matemático, eles cometem mais erros pois tiveram maior dificuldade em

compreendê-lo.

Apresentamos, a seguir, a análise da parte III do Questionário, referente aos

elementos levantados a respeito de exemplos de itens utilizados na Prova Brasil, no

que diz respeito aos quatro temas: I – Espaço e Forma; II – Grandezas e Medidas; III

– Números e Operações/Álgebra e Funções; IV – Tratamento da Informação.

5.7 Revelações das professoras sobre as questões de avaliação

Nesse segmento apresentamos as revelações das professoras, após

analisarem algumas questões de Matemática utilizadas na Avaliação da Prova Brasil

do 5º ano. Compreendemos a necessidade de essas professoras conhecerem as

questões apresentadas na avaliação, dando-lhes a possibilidade de iniciar uma

reflexão que resulte na busca por uma melhoria da aprendizagem dos seus alunos.

Disponibilizamos também a lista de descritores referentes às questões

escolhidas para análise.

Procuramos selecionar duas questões publicadas, de cada tema matemático,

destacado nos documentos oficiais.

111

Para essa escolha analisamos o documento denominado: Orientações para o

professor (2009), publicado pelo INEP.

As respostas serão apresentadas por temas. As questões propostas para

cada item foram:

a) Que habilidades, em sua opinião, pretende-se avaliar com o exemplo de

item apresentado?

b) Qual o percentual de acertos que os seus alunos conseguiriam nesse tipo

de questão? Justifique.

5.7.1 Tema I – Espaço e Forma

A questão apresentada refere-se ao descritor D2, segundo Brasil (2009).

D2

Identificar propriedades comuns e diferenças entre poliedros

e corpos redondos, relacionando figuras tridimensionais com

suas planificações.

De acordo com Brasil (2008), por meio do descritor D2, o professor pode

verificar se o aluno consegue diferenciar um sólido com faces, arestas e vértices

(poliedro) de corpos redondos (cilindro, cone e esfera), por meio das características

apresentadas. Aponta que os alunos podem fazer a distinção a partir da visualização

dos objetos que os representam, baseando-se no reconhecimento de cada com-

ponente (faces, arestas, vértices, ângulos) tanto de poliedros quanto dos corpos

redondos, sendo considerada também a forma planificada dos respectivos sólidos.

Logo, os itens devem contemplar uma das habilidades desse Descritor.

A seguir apresentamos o item escolhido para esse estudo.

Vítor gosta de brincar de construtor. Ele pediu para sua mãe comprar blocos de madeira com superfícies arredondadas.

A figura abaixo mostra os blocos que estão à

112

venda. Quais dos blocos acima a mãe de Vítor poderá comprar?

(A) A e C.(B) A e B. (C) B e D.(D) C e D.

Figura 2 – Item 1 – Tema I. Fonte: Brasil (2009).

Entre a variedade de respostas manifestas pelas professoras, sobre a

habilidade relativa ao item, verificamos que apenas uma delas não identificou a

habilidade, pois, escreveu:

Composição e decomposição de figuras (Cláudia, 5º ano).

As outras oito, de alguma forma, reconheceram as habilidades relativas ao

item, conforme é possível observar nas afirmações a seguir.

Identificar as diferentes formas das figuras geométricas (Helena, 5º ano).

Reconhecer semelhanças e diferenças entre poliedros e corpos redondos (Ana, 5º ano).

Comparar diferentes sólidos geométricos (Carla, 5º ano).

O descritor destaca similaridade, diferenças e elementos das formas

tridimensionais.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais, Brasil (2008), ressaltam a importância

do trabalho com formas geométricas a partir das formas tridimensionais, devido às

vivências das crianças no mundo tridimensional. No entanto, nem sempre foi assim.

Na década de 1990, no ensino da Geometria, privilegiavam-se as formas planas.

Segundo Pires (2012, p. 203):

Durante muito tempo, o ensino de Geometria partiu da apresentação às crianças de formas bidimensionais, especialmente o quadrado, o retângulo, o triângulo e o círculo. Provavelmente, pensava-se que era mais fácil para as crianças aprender sobre elas.

113

De acordo com a autora, ao se tentar relacionar as formas a os objetos

conhecidos pela criança, ocorriam muitos equívocos, como por exemplo, relacionar

dados e quadrados, chapéu do palhaço e triângulo, caixas de presentes e

retângulos, bolas e círculos.

Relacionando essa afirmação às habilidades elencadas pelas professoras,

podemos inferir que, apesar de elas compreenderem os objetivos do item, faltam-

lhes subsídios que lhes permitam fazer com que os alunos se apropriem do

conhecimento das formas geométricas, até porque, ainda hoje elas continuam

fazendo as comparações apresentadas por Pires (2012), pois, no decorrer da

pesquisa, percebemos que há lacunas no que tange ao conhecimento geométrico,

quando, nas suas exemplificações, elas comparam: o quadrado, o retângulo, o

triângulo e o círculo.

A Tabela 3 explica como as professoras responderam à questão: qual o

percentual de acertos que os seus alunos conseguiriam no item apresentado.

Tabela 3 – Percentagens explicitadas pelas Professoras.

Professoras

Percentagens Explicitadas Nº

Entre 50 e 60% 2

Entre 70 e 80% 2

Entre 90 e 100% 5

Fonte: Questionário – Parte III – Tema I – Descritor D2

Observamos, por meio dos dados apresentados na Tabela 3, que as

professoras foram bastante otimistas ao apresentarem os percentuais de acertos do

item. Dessa forma, podemos inferir que a maioria delas aposta de forma positiva em

seus alunos, - 90 a 100% de acertos -, considerando que eles já teriam desenvolvido

a habilidade em questão.

Em seguida, apresentamos um item referente ao Descritor D3.

D3 Identificar propriedades comuns e diferenças entre figuras bidimensionais pelo número de lados, pelos tipos de ângulos.

114

Segundo Brasil (2009), a habilidade, relativa, ao Descritor D3 se refere aos

polígonos regulares - têm os lados congruentes e os ângulos congruentes -, ou não

regulares - não têm lados e ângulos congruentes -, e a classificação dos triângulos e

dos quadriláteros, quanto aos lados e aos ângulos.

No encaminhamento, exibimos um exemplo de item relativo ao Descritor D3,

selecionado para este estudo.

Ao escolher lajotas para o piso de sua varanda, Dona Lúcia falou ao vendedor que precisava de lajotas que tivessem os quatro lados com a mesma medida.

Que lajotas o vendedor deve mostrar a Dona Lúcia? (A) Losango ou quadrado. (B) Quadrado ou retângulo. (C) Quadrado ou trapézio. (D) Losango ou trapézio.

Figura 3 – Item 2 – Tema I. Fonte: Brasil (2009).

Com relação ao item apresentado, observamos que, das professoras

consultadas, quatro delas acreditam que a habilidade que o aluno deve possuir é a

de reconhecer figuras geométricas, como podemos verificar nos depoimentos a

seguir:

Reconhecer os quadriláteros Identificar diferenças entre figuras bidimensionais (Ana).

Reconhecer polígonos, classificando pelo número de lados e tipos (Sandra). Perceber forma e tamanho das figuras geométricas (Bernadete, 5º ano).

Identificar figuras bidimensionais e suas representações em diferentes situações (Maria).

Outras quatro acreditam que a habilidade referente ao item, situa-se na

comparação, enquanto que uma delas apontou a representação de figuras

geométricas, como podemos constatar pelas respostas manifestas:

115

Comparar figuras geométricas (Carla). Associar a ideia de lados, tamanhos iguais (Cláudia). Noção de tamanho (Fábia). Avaliar propriedades comuns e diferentes entre figuras bidimensionais pelo número de lados e tipo de ângulos (Júlia).

Representação geométrica e suas faces (Helena).

Pelo que podemos verificar, com exceção da professora Carla que acredita

que a habilidade referente ao item seja de representação geométrica, todas as

demais responderam de forma mais ou menos coerente, com a questão

apresentada.

Nos exemplos que deram, as professoras ressaltaram que seus alunos

identificavam a figura pelo número de lados. Esses apontamentos nos levam a crer

que as elas realizavam esse tipo de trabalho e, provavelmente, tinham expectativas

que as crianças acertariam esse tipo de questão.

De acordo com Pires (2012):

Quando solicitadas a observar diferenças entre figuras poligonais, o critério que aparece em primeiro lugar é o de número de lados das figuras. Algumas crianças observam que as figuras que tem 4 lados também têm 4 bicos(vértices) e que isso acontece igualmente para as crianças que têm 3, 5 ou outro número de lados (PIRES, 2012, p.206).

No entanto, a autora esclarece que, de uma forma geral, a partir do 3º ano,

algumas crianças possuem capacidades de realizar a diferenciação existente entre

figuras que têm ângulo reto das que não têm.

Na Tabela 4, estão relacionadas às percentagens de acertos manifestos pelas

professoras pesquisadas, com relação à questão apresentada.

Tabela 4 – Percentagens explicitadas pelas professoras.

Professoras

Porcentagens Explicitadas Nº

15% 1

50% a 60% 2

70%a 87% 2

90% ou mais 4

Fonte: Questionário – Parte III – Tema I.

116

Diante dos resultados apresentados na Tabela 4, podemos inferir que, apesar

de a maioria (4), das professoras considerarem que seus alunos, ao resolverem

esse item, acertariam 90%, ou mais, uma professora avalia e aponta a porcentagem

muito baixa (15%); duas 50%, a 60% e duas delas elencaram as percentagens de

70 a 87%.

Podemos inferir que algumas professoras ainda trabalham pouco com a

identificação de polígonos por meio de seus elementos. No entanto, de acordo com

Brasil (2009, p.115), na Prova Brasil, a maioria dos alunos identifica polígonos a

partir da observação de seus lados e essa identificação consiste em reconhecer que

quadrados e losangos apresentam quatro lados congruentes.

Pires (2012), ao referenciar Van Hiele, apresenta os níveis para analisar as

figuras bidimensionais:

1) Visualização ou reconhecimento – neste nível podem reconhecer, comparar e nomear figuras geométricas por sua aparência global. São capazes de observar diferenças entre figuras circulares e poligonais.

2) Análise – este nível caracteriza-se pela análise das figuras com destaque aos seus elementos, ao reconhecimento de suas propriedades e ao uso dessas propriedades para resolver problemas.

3) Dedução informal – neste nível, os alunos podem estabelecer inter-relações entre propriedades de uma forma, como por exemplo, reconhecer que para caracterizar um quadrado basta verificar sua propriedades “mínimas” (4 lados iguais e 4 ângulos retos) ou compreender que o quadrado é também um losango, por ter 4 lados com a mesma medida, e que também um retângulo, pelo fato de ter 4 ângulos retos(PIRES, 2012, p. 203-205).

Se considerarmos os níveis de Van Hiele, citados por Pires (2012), as

crianças que identificam um polígono por meio de seus elementos, estariam no nível

2 (Análise).

A seguir, apresentamos as justificativas, apresentadas pelas professoras, no

que concerne às percentagens elencadas por elas.

Duas professoras deram respostas vagas como:

Sim. Pois já dominam o conteúdo que é de fácil compreensão (Carla).

Sim, pois já possuem habilidades para o conteúdo proposto. (Fábia).

Duas professoras apresentam alguma familiaridade com o item como:

117

Sim. Após o estudo das figuras geométricas o aluno será capaz de identificar quais as figuras que tem lados com a mesma medida (Helena)

Sim, pois não é difícil de acertar o losango tem quantidade de lados iguais (Júlia).

A professora que conjecturou que apenas 15% de seus alunos acertariam

essa questão, afirmou que eles têm dificuldades e precisam desenvolver mais essa

habilidade com exercícios. Verificamos que essa professora foi mais otimista, com

relação à primeira questão, justificando que seus alunos já diferenciam poliedros.

Pelas respostas das professoras, temos por hipótese que elas desenvolvem mais

noções de figuras tridimensionais do que das planas, o que, de certa forma, atende

orientações recentes sobre o ensino de Geometria.

Segundo Pires (2012):

[...] há propostas de iniciar o estudo da Geometria pelas formas tridimensionais (uma vez que os objetos com os quais a criança tem contato são esféricos, cilíndricos, cônicos, cúbicos, piramidais etc.) e que, ao planificá-las, as crianças terão oportunidade de explorar as figuras bidimensionais (PIRES, 2012, p. 203).

Na sequência, apresentamos as análises das respostas manifestas pelas

professoras consultadas, após analisarem os itens relativos ao Tema II.

5.7.2 Tema II – Grandezas e Medidas

Apresentamos um item relativo ao Descritor D7 para que as professoras

identificassem habilidades passíveis de avaliar com ele.

D7 Resolver problemas significativos utilizando unidades de medida padronizadas como km/m/cm/mm, kg/g/mg, l/ml.

Em consonância com a Matriz de Referência de Avaliação, Brasil (2009), o

item relativo ao Descritor D7, verifica se o aluno possui a habilidade de resolver

problemas significativos utilizando unidades de medida padronizadas como

km/m/cm/mm,kg,g/mg/l/ml.

118

No seguimento, expomos o exemplo de item utilizado no estudo.

A distância da escola de João à sua casa é de 2,5 km. A quantos metros corresponde essa distância?

(A) 25 m(B) 250 m (C) 2 500 m (D) 25 000 m

Figura 4 – Item 1 – Tema II. Fonte: Brasil (2009).

Ao analisarmos as habilidades explicitadas pelas professoras, com relação ao

item apresentado, podemos verificar que todas, de uma forma ou de outra,

apresentaram habilidades condizentes ao que se propõe com a questão. No entanto,

algumas professoras apontam, corretamente, como habilidade relativa a essa

questão, a transformação de unidades de medidas, como é possível observarmos

nas afirmações:

Transformação das unidades de medidas (Fábia).

Análise e interpretação de problemas envolvendo conversão de unidades de medidas (Ana).

Outras revelam menos intimidade com esse tipo de item, como as

professoras:

Resolver problemas relacionando às medidas de tempo (Helena).

Utilizar instrumentos de medidas de comprimento para realizar medidas convencionais (Cláudia).

Noção de distância e reconhecer medidas de comprimento (Bernadete).

Quanto ao percentual de acertos, nessa questão, os dados serão

apresentados na tabela 5.

Tabela 5 – Percentagens explicitadas pelas professoras.

Professoras

Percentagens Explicitadas Nº

Até 20% 2

40% 2

60% 2

70% a 80% 3

Fonte: Questionário – Parte III – Tema II.

119

Verificamos que, apesar de três professoras terem sido otimistas o bastante

para apostarem que seus alunos acertariam 80% dessas questões, podemos

constatar que a maioria indicou porcentagens abaixo de 50%.

Consideramos que as professoras, que apostaram em percentuais mais

baixos que 50%, estavam levando em consideração que a habilidade que esse item

pretende avaliar se relaciona a problemas contextualizados que requer do aluno a

compreensão da ordem de grandeza das unidades de medida, bem como o

reconhecimento da base dez como fundamento das transformações de unidades,

mais complexa do que dos descritores que envolvem apenas

identificação/reconhecimento de formas geométricas.

A falta de compreensão das professoras em relação ao item apresentado,

pode indicar que elas trabalham pouco os conteúdos referentes a ele.

Quanto às justificativas apresentadas pelas professoras, duas delas referem-

se á medida de tempo, não identificando as grandezas indicadas no item, como

podemos observar nas respostas exibidas a seguir:

A maioria sim, pois já compreendem as convenções de unidades de tempo e já possuem conhecimentos que o dia tem 24horas(Ana).

Sim acertariam, trabalhando medida de tempo, etc.(Sandra)

Duas afirmam que seus alunos têm dificuldades com cálculo.

Não acertariam. Os alunos precisam ter uma boa noção de cálculo com multiplicação e transformação das unidades de medidas (Helena)

Não acertariam. Teriam dificuldades, pois eles ainda têm certas dificuldades em cálculo (Júlia).

Quatro apresentam justificativas amplas.

Não acertariam, pois existe a dificuldade do aluno em raciocínio lógico e também em tabuada (Bernadete);

Acertariam, pois já dominam o conteúdo (Carla);

Acertariam. Se houver vivências atreladas ao interesse e experiência do aluno ();

Acertariam, pois o descritor está sendo apresentado aos alunos e os conhecimentos prévios já foram adquiridos em séries anteriores (Maria).

120

Apenas uma justifica o percentual de acertos de seus alunos afirmando que já

possuem a noção de transformação de unidades de medida.

A maioria acertaria, pois já possuem noção de transformação e que 1km é igual a 1000 metros (Fábia).

As respostas das professoras nos levam a refletir sobre os conhecimentos

profissionais desse grupo. Consideramos importante o avanço dessas professoras

no que se refere à ampliação dos conhecimentos matemáticos necessários para

ensinar os sistemas de medida (de comprimento, massa e capacidade) e as

relações entre suas unidades.

Ressaltamos que as respostas das professoras a essa parte do questionário

serão problematizadas nas reuniões do grupo de estudo, o que esperamos que

contribua para o aprimoramento dos conhecimentos de todos.

Segundo Serrazina (1999), os programas de formação de professores devem

levar em conta que os professores precisam adquirir um conhecimento profundo da

Matemática que vão ensinar a seus alunos e não apenas ser apresentados a

atividades que possam ser introduzidas ou adaptadas nas suas aulas. A autora

chama a atenção, ainda, para que, na formação dos professores, o foco dado à

Matemática na sua formação não pode estar muito distante da sala de aula, pois os

professores perderiam a motivação para aprendizagem e se distanciariam da

prática.

Ainda com relação ao Tema Grandezas e Medidas, apresentamos um item

relativo ao Descritor D8.

D8 Estabelecer relações entre unidades de medida de tempo

Em consonância com Brasil (2009), o descritor D8 verifica se o aluno possui a

habilidade de compreender, de relacionar e de utilizar as medidas de tempo

desenvolvendo conversões simples, como, por exemplo, horas para minutos e

minutos para segundos.

121

Na continuação, um exemplo de item utilizado nesse estudo.

A avó de Patrícia mora longe. Para ir visitá-la a menina gastou 36 horas de

viagem. Quantos dias durou a viagem de Patrícia?

A) 1 dia (B) 1 dia e meio (C) 3 dias (D) 36 dias

Figura 5 – Item 2 – Tema II. Fonte: Brasil (2009).

Após a realização do inventário, constatamos que sete professoras

relacionam o item à utilização de unidades de medidas de tempo e algumas

conversões, conforme afirmações a seguir.

Interpretação de problemas que envolvam as unidades de tempo (Ana).

Identificar e relacionar unidades de medidas de tempo-hora, dia, semana, mês e ano (Helena).

Estabelecer relações entre unidades de medidas de tempo (Maria).

Outras duas relacionam o item à Resolução de Problemas ou ao cálculo de

adição e subtração, de acordo com as citações abaixo.

Calcular resultados de adição ou subtração de números naturais (Júlia).

Interpretar e resolver problemas (Carla).

A Tabela 6 apresenta o percentual de acertos em relação a essa questão.

Tabela 6 – Percentagens explicitadas pelas professoras.

Professoras

Percentagens Explicitadas Nº

20% 1

De 40 a 60% 5

80% 2

Não respondeu 1

Fonte: Questionário – Parte III – Tema III.

Algumas das professoras justificam o percentual de acertos que atribuem a

seus alunos a essa questão, dizendo:

A maioria sim, pois já compreendem as conversões de unidades de tempo e já possuem conhecimento que o dia tem 24h (Ana);

122

Eles sabem que o dia tem 24 horas, seria fácil a adição, eles resolveriam assim (Júlia)

Sim. Trabalhando com o aluno medida de tempo (Sandra).

As demais dão respostas vagas.

Sim. Porque eu estarei repetindo o enunciado (Bernadete).

Sim. Mas teriam dificuldade na interpretação (Carla).

Sim. Se for vivenciado antes (Cláudia).

Mais ou menos, pois exige deles uma interpretação do problema e essa é uma grande dificuldade (Fábia).

Não. A falta de visualização do concreto pode prejudicar a resposta do aluno (Helena). Sim. O item é bem claro e simples (Maria).

As respostas vagas, oferecidas pelas professoras, podem revelar pouca

intimidade com o tema e, ao que parece, relacionam a falta de sucesso das crianças

com problemas de leitura e interpretação de textos dos problemas. No entanto,

investigações realizadas, no âmbito do nosso grupo de pesquisa, como a de Pereira

(2013), mostram que as crianças compreendem os textos dos problemas, identificam

a operação que o resolve, mas erram nos cálculos, no geral, quando utilizam

algoritmos.

Cabe destacar que, apesar de as unidades de medidas de tempo estarem

presentes na vivência diária, a conversão entre essas medidas não é tão simples

para os alunos. Muitas vezes os alunos usam a base dez na conversão das

unidades de medida de tempo, quando as medidas de tempo se convertem por meio

de relações sexagesimais, ou seja, de base 60.

De acordo com Pires (2012):

O ensino de conversões de uma unidade a outra não deve ser feito de forma mecânica, por meio de listas intermináveis de exercícios repetitivos que não conduzem necessariamente à aprendizagem, mas é preciso que as crianças se apropriem dessas relações pelo uso que fazem delas e das observações que vão extraindo de situações-problema que envolvem as medidas (PIRES, 2012, p .238).

A autora destaca que as crianças precisam se apropriar dessas relações pelo

seu uso no cotidiano e por observações que fazem dessas vivências. Assim, no item

123

analisado, as crianças poderiam subtrair 24h das 36h, obtendo 1 dia e relacionar as

12h que sobram com meio dia.

Na continuação, apresentamos as análises desenvolvidas pelas professoras

referentes ao Tema III. Esclarecemos que, por problemas pessoais, apenas seis das

nove professoras responderam ao Questionário, Parte III, Tema III.

5.7.3 Tema III – Números e Operações

Para este estudo, selecionamos um exemplo de item referente ao descritor D

13.

D13 Reconhecer e utilizar características do sistema de numeração decimal, tais como agrupamentos e trocas na base 10 e princípio do valor posicional.

Em consonância com Brasil (2009), o item referente ao descritor D13, verifica

a habilidade de o aluno explorar situações em que ele possa perceber que cada

agrupamento de 10 unidades pode ser trocado por uma dezena, um agrupamento

de 10 dezenas pode ser trocado por uma centena, etc.

A seguir, apresentamos o exemplo de item selecionado para este estudo.

O litoral brasileiro tem cerca de 7.500 quilômetros de extensão.

Este número possui quantas centenas?

(A) 5...... (B) 75 ......(C) 500...... (D) 7.500

Figura 6 – Item 1 – Tema III. Fonte: Brasil (2009).

Ao analisarmos as habilidades explicitadas pelas professoras, podemos

deduzir que todas de alguma forma ou de outra, responderam de forma condizente a

respeito do item apresentado.

Nesse caso, embora consideremos o contexto forçado, para saber quantas

centenas têm 7.500 quilômetros é preciso buscar quantos agrupamentos de 100 é

possível formar com esse número para identificar quantas centenas ele possui.

A Tabela 7 demonstra os percentuais de acertos de seus alunos nesse item.

124

Tabela 7 – Percentuais explicitadas pelas professoras

Professoras

Percentagens Explicitadas Nº

20% 1

De 60% a 80% 3

Acima de 80% 2

Fonte: Questionário – Parte III – Tema III.

Pelos dados apresentados na Tabela, constatamos que, das seis professoras

que responderam a essa categoria, apenas uma delas apresentou uma

porcentagem baixa (20%), enquanto que as demais demonstraram bastante

otimismo (de 60% a 95%), no tocante aos acertos dos alunos nesse item.

Com relação às justificativas apresentadas pelas professoras, destacamos

que, das seis professoras que responderam a essa questão, apenas uma delas

acredita que seus alunos não iriam acertar o item apresentado e aponta, como

motivo, a falta de atenção do próprio aluno. Enquanto que as demais apostam que

seus alunos acertariam, ora porque já possuem desenvolvidas habilidades inerentes

a esse item, ora porque já trabalharam na sala de aula, ora porque faz parte do

cotidiano do aluno e até mesmo pelo fato de eles gostarem de Matemática.

Compreendemos que trabalhar com o Sistema de Numeração Decimal não é

algo fácil nem para os alunos e nem para os professores.

Curi, Santos e Rabelo (2012) consideram que os motivos para os baixos

índices de aprendizagem sobre o SND na Prova Brasil não são decorrentes apenas

das incoerências entre os currículos, prescrito, praticado e avaliado; mas sim, das

grandes lacunas nos currículos praticados.

Analisam que a compreensão do SND não é simples para as crianças, pois,

embora elas o usem no cotidiano, desconhecem suas características, não exploram

suas regularidades ou a falta delas, há, portanto, a necessidade de um trabalho

efetivo da escola sobre este sistema.

Investigações realizadas no nosso grupo de pesquisa, relatadas por Curi

(2004, 2005, 2006), mostram que o uso do nosso Sistema Numérico no dia a dia não

125

garante a compreensão pelos professores das regras de formação desse sistema.

Esse fato faz com que nas aulas, o tema seja focalizado mecanicamente,

compartimentando o número em casas (unidades/dezenas/centenas), explorando

cópias de sequências numéricas sem análise das regularidades do sistema. Além

disso, os números trabalhados são da ordem de até unidades de milhar. Não se

trabalha uma das características principais do SND que é o agrupamento de 10 em

10 ou de potências de 10.

Outros educadores matemáticos, como Pires (2012), destacam a importância

de se trabalhar com números maiores.

Segundo a autora:

É no trabalho com números “maiores” e menos frequentes na vivência das crianças que será necessário explorar os procedimentos de leitura, associando-os à representação escrita do número, discutindo-se as características do sistema de numeração – agrupamentos de 10 em 10, valor posicional etc.(PIRES, 2012, p.39).

Apresentamos, a seguir, um item relativo ao Descritor D20, antes, porém

expomos a habilidade referente a este descritor.

D20

Resolver problema com números naturais, envolvendo diferentes significados da multiplicação ou divisão: multiplicação comparativa, ideia da proporcionalidade, configuração retangular e combinatória.

De acordo com a Matriz de Referência, Brasil (2009, p.139), é por meio do

descritor D20 que se verifica se os alunos já possuem desenvolvidas as habilidades

referentes à resolução, de problemas envolvendo operações de multiplicação e de

divisão. E para atingir esse objetivo os alunos são avaliados por meio de situações-

problema contextualizadas.

126

Dando continuidade, expomos o exemplo de item selecionado para este

estudo.

Um caderno tem 64 folhas e desejo dividi-lo, igualmente, em 4 partes.

Quantas folhas terá cada parte?

A) 14...... (B) 16...... (C) 21...... (D) 32

Figura 7 – Item 2 – Tema III. Fonte: Brasil (2009).

Após analisarmos as respostas manifestas pelas professoras, constatamos

que as seis professoras responderam de forma satisfatória a essa questão, pois

todas se referiram à resolução de situações problemas ou ao reconhecimento da

operação de divisão, como mostram as citações a seguir.

Interpretar e resolver situações problemas, compreendendo as ideias de divisão e efetuando operações de divisão (Ana).

Reconhecer a divisão, ou seja, partes do todo e o todo nas partes (Bernadete).

Resolver situação problema envolvendo divisão (Helena).

A Tabela 8 apresenta as respostas referentes ao percentual de acertos dos

alunos nesse item.

Tabela 8 – Percentagens explicitadas pelas professoras. Professoras

Percentagens Explicitados Nº

30% 1

80% 4

Não Respondeu 1

Fonte: Questionário III – Parte III – Tema III.

Verificamos que apenas uma das professoras apontou um percentual de 30%,

ou seja, abaixo da metade. Nesse caso, podemos inferir que essa professora

considera que seus alunos ainda não desenvolveram a habilidade de resolver um

problema que envolve uma divisão.

Consideramos esse item bastante simples para alunos do 5º ano. Ele envolve

a ideia de repartição em partes iguais da divisão.

127

Pires (2012) ressalta a importância da diversidade de propostas de trabalho

em sala de aula e chama a atenção da necessidade de não condicionar os alunos a

resolver problemas baseando-se em palavras-chave. Além disso, ela reforça que é

interessante observar que, apesar de duas situações apresentarem semelhanças, o

tipo de pergunta formulada as torna muito diferentes para as crianças.

A justificativa mais citada pelas professoras - Sim, pelo domínio/Clareza,

demonstra que elas creem que seus alunos acertariam a resposta, pois ou já

dominam a operação da divisão ou tem clareza da situação - problema apresentada.

A maioria sim, pois já conseguem identificar qual operação devem realizar no problema e possuem habilidades para efetuá-la (Ana).

Sim. Pelo domínio que o aluno já possui, a respeito da Divisão (Helena).

Uma das professoras acredita que seus alunos acertariam se fosse utilizado

material concreto ou lúdico.

Sim. Desenvolvendo atividades com materiais concretos e lúdicos (Carla).

Conjecturamos que provavelmente a professora Carla desenvolve a ideia de

repartição da divisão com atividades usando materiais como palitos, feijões, etc.

para fazer a partição em partes iguais.

Apenas uma considerou que seus alunos não acertariam, pois teriam

dificuldade nas operações implícitas.

A dificuldade do aluno é perceber as operações implícitas (Bernadete).

Na sequência, passamos agora a refletir a respeito do Tema IV.

5.7.4 Tema IV: Tratamento da Informação

Com relação à habilidade referente ao Descritor D27.

D27 Ler informações e dados apresentados em tabelas.

Em consonância com a Matriz de Referência, Brasil (2009, p.148), podemos

verificar com o Descritor D27 se o aluno já possui desenvolvida a habilidade de ler,

de analisar e de interpretar informações e dados contidos em uma tabela.

128

Exibimos a seguir, o exemplo de item relativo ao Descritor D27, destacado

para este estudo.

A tabela abaixo mostra as altitudes de algumas cidades, em relação ao nível do mar. Altitudes acima de 2 600 m provocam dor de cabeça e falta de ar nas pessoas que não estão acostumadas.

Em qual dessas cidades as pessoas poderão sentir dor de cabeça e falta de ar devido à altitude? (A) Rio de Janeiro. (C) São Paulo. (B) Cidade do México. (D) Quito.

Figura 9 – Item 1 – Tema IV. Fonte: Brasil (2009).

Podemos constatar que, das nove professoras que responderam a essa

questão, quatro delas analisaram o item de forma a dar uma resposta condizente

com o objetivo proposto pela Matriz de Referência Brasil, (2009, p.148), como

podemos constatar nas citações a seguir.

Analise e interpretação de dados expressos em tabelas (Ana).

Leitura e interpretação de tabelas (Beatriz).

A respeito da habilidade apresentada pela professora Carla, inferimos que,

ao redigir a resposta, ela deve ter pensado que, ao explicitar a posição, o aluno

estaria interpretando a tabela, pois não teria outra forma de localizar a posição da

cidade, sem analisar a tabela antes. A seguir apresentamos a afirmação da

professora Carla.

Explicitar a posição utilizando tabelas (Carla).

Com relação à resposta dada pela professora Helena, conjecturamos que ela

ou não conseguiu analisar com exatidão o exemplo de item dado, ou não entendeu o

enunciado da questão.

129

Resolver problemas envolvendo medidas (Helena).

Curcio (1987), apud Pires (2012, p.269), elenca três níveis de leitura de

gráficos. Consideramos que esses níveis podem também ser estendidos à leitura de

tabelas.

a) “Ler os dados”: nível de compreensão que requer leitura literal do gráfico; não se realiza a interpretação da informação.

b) “Ler entre os dados”: nível que inclui a interpretação e integração dos dados do gráfico, requerendo habilidades para comparar quantidades e o uso de outros conceitos e habilidades matemáticas.

c) “Ler além dos dados”: neste nível, o leitor realiza previsões e faz inferências com base nos dados sobre informações que não estão diretamente no gráfico.

O que o autor apresenta é algo bastante relevante, pois a leitura do gráfico na

concepção dele vai além do simplesmente “ler e interpretar”, ou seja, a leitura vai

além dos dados.

Compreendemos que, caso as professoras queiram desenvolver nos seus

alunos de forma mais abrangente a habilidade verificada pelo Descritor D27,

deverão apresentar atividades que lhes permitam avançar nos três níveis

apresentados por Curcio (1987), apud Pires (2012, p.269).

O item apresentado, segundo esse autor, está no nível “ler entre os dados”,

pois requer a comparação de quantidades e o uso de outras noções, além da

interpretação do texto do problema.

Consideramos esse item bem complexo.

130

A Tabela 9 apresenta os dados referentes à segunda questão.

Tabela 9 – Percentagens explicitadas pelas professoras. Professoras

Percentagens Explicitadas Nº

30% 1

90% a 95% 4

Não respondeu 1

Fonte: Questionário – Parte III – Tema

Podemos observar que a maior parte das professoras - quatro delas-, acredita

que 90 a 95% de seus alunos acertariam a questão. Ou seja, elas compreendem

que eles já possuem desenvolvida a habilidade de ler, de analisar e de interpretar

dados contidos em uma tabela. Talvez tenham percebido a complexidade da

questão.

Uma das professoras acredita que apenas 30% de seus alunos acertariam a

questão, talvez por ter percebido que o item exigia mais do que a leitura simples dos

dados da tabela.

De acordo com Pires (2012), ler e interpretar tabelas não significa uma ação

simples, requer a ativação de diferentes funções cognitivas. De acordo com Duval

(apud Pires, 2012, p.275), é necessário realizar a diferenciação entre dois aspectos:

a própria representação da tabela, que ele chama de composição semiótica e as

funções cognitivas mobilizadas pelas elas.

Concordamos com essa ideia, pois ler, analisar, interpretar e inferir a respeito

de dados contidos em uma tabela é uma ação que vai mobilizar os conceitos

atitudinais, procedimentais e conceituais e, portanto está longe de ser uma ação

simples.

Com relação à justificativa das professoras, chamou nossa atenção a aferição

da professora Helena:

Não acertariam. A situação problema apresenta muita informação ao mesmo tempo. Requer mais habilidade e conhecimento para interpretação (Helena).

131

O argumento dado por Helena vai ao encontro do que Pires (2012) aponta ao

sinalizar que a leitura e a interpretação de tabelas não é uma ação simples. Assim

sendo, podemos inferir que essa professora, diferentemente das demais, ao analisar

o exemplo, considerou-o com muita informação ao mesmo tempo, dificultando com

isso que o aluno pudesse acertar. Nesse caso, sem saber, a professora está

levando em consideração os aspectos descritos por Duval (apud Pires, 2012), a

composição semiótica e o cognitivo que essa composição mobiliza.

Uma das professoras sugeriu que seus alunos acertariam, pois faz parte do

cotidiano. Inferimos que, talvez, ela não tenha entendido bem o teor do proposto,

uma vez que essa questão em especial não faz parte do cotidiano do aluno.

Pires (2012) aponta que:

Alguns estudos mostram que a tradução mais frequente da ideia de contextualização é a de “trabalhar com o cotidiano do aluno”, o que, muitas vezes, se traduz em propostas ingênuas nas quais se coloca o nome das crianças enunciados ou se usa o saci-pererê como personagem do problema, por estar na Semana do Folclore etc. Geralmente, a consequência mais comum dessa prática é a do empobrecimento do trabalho, à medida que problemas muito interessantes são descartados, pelo simples fato de serem rotulados como não fazendo parte do cotidiano ou da realidade do aluno (PIRES, 2012, p.101).

Consideramos a abordagem da autora pertinente e real, pois essa confusão

existente entre as relações cotidiano – aluno – contexto, ainda persiste na prática

pedagógica de muitos professores.

Com relação à habilidade referente ao Descritor D28.

D28 Ler informações e dados apresentados em gráficos (particu-larmente em gráficos de colunas).

De acordo com a Mariz de Referência de Avaliação, Brasil (2009, p. 150), o

Descritor D28 possibilita averiguar se o aluno possui desenvolvida a habilidade de

ler, de analisar e de interpretar as informações dadas, contidas em gráficos.

132

Em seguida, apresentamos um item relativo ao descritor D28.

Numa pesquisa feita em uma cidade, 1500 pessoas opinaram sobre a sua preferência musical. Veja a conclusão no gráfico a seguir:.

Quantas pessoas, aproximadamente, preferem o Samba?

(A) 50 (B) 250 (C) 280 (D) 450

Figura 9 – Item 2 – Tema IV. Fonte: Matriz de Referência, Brasil (2009).

Observando os dados analisados, podemos constatar que todas as

professoras explicitaram as habilidades coadunando com a proposta da Matriz de

Referência, de acordo as citações:

Analise e interpretação de dados expressos em gráficos de colunas (Ana).

Realizar uma análise de um gráfico de colunas com base nas informações contidas nele (Carla).

Entretanto, uma delas se confundiu ao nomear o gráfico como sendo de

barra, enquanto que o exemplo de item apresentado refere-se a um gráfico de

colunas:

Interpretar gráficos de barras (Helena).

Pires (2012) aponta que:

Embora haja uma diversidade imensa de tipos de gráficos, nos anos iniciais do Ensino Fundamental os mais trabalhados costumam ser os gráficos de

133

colunas e os gráficos de barras. Um gráfico de coluna exibe um conjunto de colunas verticais agrupadas por categoria, enquanto um gráfico de barras mostra um conjunto de barras horizontais, também agrupadas por categorias (PIRES, 2012, p.276).

De acordo com a autora, a leitura, a interpretação bem como a construção de

gráficos tanto de colunas, quanto de barras, abrangem conceitos e processos

matemáticos, como por exemplo, ordenação, escala medição, etc.

Exibimos na sequência a Tabela 10, que apresenta, as respostas das

professoras sobre o percentual de acertos para a questão.

Tabela 10 – Percentagens explicitadas pelas professoras.

Professoras

Percentagens Explicitadas Nº

70% a 85% 2

90 a 95% 3

Não respondeu 1

Fonte: Questionário – Parte III – Tema IV.

Constatamos pelos dados que as professoras acreditam que mais de 70% de

seus alunos acertariam esse item.

Inferimos que elas a consideram de fácil compreensão as atividades que

abrangem gráficos. Entretanto, como nas tabelas, a leitura de gráficos é algo que

requer do aluno leitura e interpretação, procedimentos que necessitam de uma maior

atenção e que precisam ser desenvolvidos ao longo dos anos iniciais do Ensino

Fundamental.

Pires (2012) aborda que:

Os procedimentos de uso e tratamento da informação são desenvolvidos progressivamente e, por essa razão, ainda que o objetivo possa ser o mesmo ao longo de todo o ano, os desafios colocados devem apresentar um nível de complexidade crescente, considerando o que os alunos já aprenderam. (PIRES, 2012, p.289).

Concordamos com o que Pires (2012) elucida a respeito dos procedimentos

referentes ao uso do tratamento da informação, além disso, conjecturamos que as

professoras, ao apontarem percentuais tão altos, podem estar subestimando a

complexidade desse tema.

134

Com relação às justificativas apresentadas, podemos verificar que as

professoras acreditam que seus alunos acertariam o item apresentado porque já

possuem a habilidade de ler, de interpretar e de perceber os dados apresentados

por um gráfico.

Sim acertariam, pois já possuem habilidades e competência para analisar dados expressos em gráficos de colunas (Ana).

Sim. Eles já possuem a percepção visual desenvolvida e sabem ler e interpretar gráficos (Bernadete).

Uma das professoras, ao explicitar que seus alunos acertariam, caso

vivenciassem uma experiência, denota que ela havia trabalhado com esse tema.

5.8 Considerações a respeito do capítulo

Ao longo das análises desenvolvidas, fomos percebendo que o conhecimento

das professoras em relação aos descritores da Matriz de Referência de Avaliação da

Prova Brasil é frágil. Essa reflexão nos leva a propor a continuidade do grupo de

estudos, para que elas possam compreender melhor as habilidades referentes aos

descritores e construir exemplos relacionados a cada um dos itens apresentados e.

adequados a seus alunos.

As respostas às questões referentes ao ensino da Matemática mostram que o

conhecimento dessas professoras com relação ao tema apresenta lacunas

significativas. Além disso é bastante recorrente o discurso sobre o material do

cotidiano, o uso de material concreto.

Chamou nossa atenção os exemplos de atividades propostos pelas

professoras, eles estão muito aquém do recomendado por documentos curriculares

para ensinar no 5º ano. Os números são muito pequenos além de usar recursos

materiais para realizar a atividade (chapéus, bengalas, caixas de ovos). Todavia,

temos consciência de que as professoras pesquisadas buscam dar o melhor de elas

mesmas.

Um dos problemas apresentados pelas educadoras diz respeito à rejeição das

crianças pela matemática. Essa rejeição pode ser oriunda da herança de medo

135

passada pelas próprias professoras, fato esse já evidenciado em pesquisas de Curi

(2012).

Diante de todas as respostas levantadas, compreendemos a necessidade de

os professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental, buscarem uma formação

continuada, partindo, inicialmente, da abordagem da sua prática e de seu convívio

com a Matemática, levando em consideração suas crenças para ensinar e aprender

a disciplina e a importância que se deve dar a ela. Todavia, esperamos que essa

formação não proporcione um conhecimento superficial e, sim,

[...] aprofundado, de forma que compreendam o significado da Matemática, sua estrutura e importância social, que saibam identificar as dificuldades de seus alunos e que possam intervir de modo que seus alunos superem os obstáculos do processo de aprendizagem (CURI, 2011, p.83).

Ao concluirmos esse capítulo, podemos inferir que a forma de ver e conceber

a Matemática está atrelada à forma de ensinar e aprender essa disciplina, uma vez

que o modo como essa professoras aprenderam essa disciplina na sua formação

inicial será significativo para a transmissão dela aos seus alunos. Podemos

constatar também que as mudanças que elas propõem se referem à busca por

aproximar o ensino da Matemática com o cotidiano, fazendo uso de material

concreto, como jogos, por exemplo. Essa percepção está, sem sombra de dúvidas,

diretamente ligado ao saber que essas professoras adquiriram ao longo de sua

história profissional.

Para Tardif:

O saber do professor não é um conjunto de conteúdos cognitivos [...], mas um processo em construção ao longo de uma carreira profissional na qual o professor aprende progressivamente a dominar seu ambiente de trabalho, ao mesmo tempo que se insere nele e o interioriza por meio de regras de ação que se tornam parte integrante de sua consciência prática (TARDIF, 2006, p. 14).

Conjecturamos também que os professores que ensinam Matemática nos

anos iniciais do Ensino Fundamental, por possuírem uma relação distante com a

disciplina, isso repercute diretamente em sua prática e formação.

Ponte (1998) assegura que, para um professor exercer de forma adequada a

sua atividade docente, é necessário que ele seja capaz de:

Ter bons conhecimentos e uma boa relação com a Matemática;

136

Conhecer bem o currículo e recriá-lo de acordo com a sua situação de trabalho;

Conhecer o aluno e a aprendizagem;

Dominar métodos e técnicas de acordo com objetivos e conteúdos curriculares;

Conhecer o seu contexto de trabalho, a escola e o sistema educativo;

Conhecer-se a si mesmo como profissional (PONTE, 1998, p.4).

Acreditamos que a compreensão da necessidade de formação dos

professores para ensinar Matemática deve nortear os projetos de formação

continuada. Eles devem ter a finalidade de favorecer o desenvolvimento

profissional, a partir da revisão e da construção das relações pessoais sobre o

conhecimento matemático no próprio campo de trabalho do professor, a sala de

aula.

Ponte, ao referenciar Shulman (1996), ratifica que existem outros

conhecimentos que não são ensinados em curso de formação inicial e, sim, na

prática cotidiana dos professores:

Conhecimento de casos: conhecimento muito detalhado de situações

concretas;

Conhecimento estratégico: o conhecimento que informa a tomada de

decisões;

Conhecimento profissional: o saber docente insere-se, sobretudo na

prática pedagógica, na ação e relaciona-se a atividade escolar e

extraescolar as quais o professor está envolvido.

Portanto, os resultados da nossa pesquisa, aliados aos estudos a respeito da

formação continuada de professores decorrentes do grupo CCPPM, bem como as

leituras desenvolvidas, orientam-nos nosso, para que juntos possamos refletir a

respeito da questão a ser enfrentada: como melhorar o ensino, a aprendizagem e a

avaliação em Matemática e a formação das professoras participantes da pesquisa?

137

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao concluirmos a nossa pesquisa, resta-nos uma única certeza de que ainda

temos muito a ver, a refletir, a estudar e a agir.. Todavia, acreditamos que

conseguimos alcançar o nosso objetivo principal: Investigar os conhecimentos de um

grupo de professores das séries iniciais do município de Lauro de Freitas-BA, no que

se refere ao ensino da Matemática e a alguns componentes da Prova Brasil.

O nosso questionamento pessoal uniu-se a um motivo mais substancial que

serviu de estímulo para investigar a referida temática: a possibilidade de identificar e

de apresentar aos docentes as potencialidades da Prova Brasil para que eles

possam aprimorar o seu fazer pedagógico e minimizar as dificuldades de

aprendizagem locais. Assim sendo, ao refletirmos sobre essa avaliação, queríamos

abrir espaço para que os professores envolvidos construíssem uma nova visão a

respeito da Prova Brasil e, além disso, se sentissem motivados a investigar sobre

essa avaliação e sobre o ensino da Matemática.

A motivação para a elaboração do presente estudo emergiu, principalmente

pela minha participação no Projeto de Pesquisa “Prova Brasil de Matemática:

revelações e possibilidades de avanços nos saberes de alunos de 4ª série/5º ano e

indicativos para formação de professores”.

Os estudos que realizamos mostram a complexidade das competências

exigidas para o professor que atua nos anos iniciais do Ensino Fundamental, as

fragilidades de sua formação inicial e os desafios que se apresentam para melhoria

da formação desse profissional. O curso de formação inicial deve ter o compromisso

de formar professores que deverão ensinar conhecimentos básicos às crianças,

entre as quais, está a Matemática. Ou seja, a formação do professor precisa

contemplar domínios de conhecimentos diversos, de modo a constituir uma base em

que possíveis traumas ou lacunas sejam superadas e não sejam transferidos para

as crianças (FERNANDES; CURI, 2012, p.45).

Descobrimos em cada resposta nuances de formas de pensar e agir das

professoras envolvidas e também das nossas próprias concepções e crenças.

138

Aprendemos muito mais do que ensinamos, pois compreendemos que houve uma

relação de trocas, e não simplesmente um “fazer acadêmico”.

Uma das conclusões foi que os conhecimentos dos professores e as lacunas

existentes na forma de ensinar Matemática devem nortear os projetos de formação

continuada na região, com a finalidade de favorecer o desenvolvimento profissional

a partir da revisão e da construção das relações pessoais sobre o conhecimento

matemático no próprio campo de trabalho do professor, a sala de aula.

As contribuições tanto internacionais quanto nacionais nos subsidiaram,

fortalecendo a nossa concepção, o aprendizado, a compreensão, bem como a

fundamentação, tanto no momento da redação da presente dissertação, quanto nos

momentos da pesquisa propriamente dita, principalmente nas análises dos dados. A

conclusão apresentada no parágrafo acima corrobora nossos estudos teóricos.

Compreendemos, por meio do presente estudo, que a avaliação externa deve

fornecer informações sobre a complexa realidade educacional - que envolve alunos,

professores, recursos etc e, principalmente, que as informações fornecidas por esse

instrumento avaliativo devem ser compreendidas pelos professores e socializadas

na comunidade escolar.

Comprovamos que os professores possuem muitas dificuldades para

compreender as questões. Dificuldades que podem ser oriundas de uma má

formação profissional ou da falta de cultura de estudo e reflexão da Prova Brasil e

seus elementos, ou a soma destas situações.

As revelações sobre ensino/aprendizagem/avaliação de Matemática

apontadas, no decorrer da pesquisa, deixaram-nos muito preocupados e lançaram

como desafio buscar, daqui pela frente, a melhoria das escolas pesquisadas nas

avaliações nacionais.

Ao concluirmos o estudo dos dados de campo, localizamos a necessidade de

as professoras terem uma formação continuada referente à Matriz Referência de

Avaliação da Prova Brasil de Matemática, não de forma pontual, como está

acontecendo nos anos que são aplicadas as avaliações, e, sim, de forma

permanente. A nossa análise reitera a necessidade de a Secretaria Municipal de

139

Lauro de Freitas oferecer oportunidades para que todos os professores possam

aprofundar esses conhecimentos, até porque nas escolas do município não há uma

matriz curricular. Desse modo poderia ocorrer uma melhoria em relação ao ensino

oferecido, especialmente no tocante ao ensino da Matemática.

Ao finalizarmos o presente estudo fica a convicção de que muito ainda existe

por ser feito para que a Prova Brasil possa, de fato, se constituir em um processo

que colabore de maneira efetiva para a melhoria da qualidade educacional, não

somente em Lauro de Freitas, mas em todo o Brasil.

As descobertas e argumentos expostos durante o presente estudo não devem

ser de forma alguma, tomados como conclusivos e, sim, como uma forma de

incentivo à reflexão que poderá contribuir para o enfrentamento dos desafios, no

tocante a um desempenho educacional plausível, no município de Lauro de Freitas.

Deste modo, esperamos que a Secretaria Municipal de, Lauro de Freitas, promova

debates mais aprofundados a respeito da utilização da avaliação externa, que vá

além do simplesmente “treinar” professores e alunos.

Consideramos como maior desafio envolver os professores em formação

continuada para ensinar Matemática. É preciso imbricar conhecimentos do conteúdo

matemático, conhecimentos pedagógicos dos conteúdos matemáticos,

conhecimentos curriculares, visto que esses professores se consideram bem

preparados para exercer sua função.

Esperamos que essa pesquisa possa vislumbrar uma proposta importante

para contribuir com a formação dos professores para o ensino de Matemática, não

só do grupo pesquisado, mas também dos professores de outras escolas da região.

Queremos esclarecer que, apesar de termos utilizado como critérios para

selecionar as escolas os seus respectivos Índices de Desenvolvimento da Educação

Básica, (IDEB) não percebemos diferenças no que toca ao ensino, à aprendizagem

e à avaliação em nenhuma das nove escolas. Os Índices de Desenvolvimento da

Educação Básica diferenciados - altos, médios ou baixos.- não refletiu em um

resultado diferente, todas as escolas se encontram em um mesmo patamar.

140

Por fim esperamos dar continuidade ao grupo de estudos para que possamos

discutir e apronfundar cada vez, o ensino e a aprendizagem em Matemática.

Meditamos que o conhecimento e as práticas de ensino de professores

podem mudar, quando são oferecidas oportunidades para que ocorra o

desenvolvendo profissional que incorpora os estudos teóricos à prática pessoal de

cada um deles. A nossa participação no grupo, coordenado pela Profa. Dra. Edda

Curi, ratificou que os grupos de estudo são o contexto propício para que isso

aconteça.

141

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