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Universidade de Aveiro 2004 Departamento de Física Sinibaldo de Jesus Varela Canhanga Modelação Hidrodinâmica da Baía de Maputo

Universidade de Aveiro Departamento de Física 2004 · não apenas pelo meu empenhamento pessoal, mas especialmente pela constante disponibilidade do professor Doutor João Dias,

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Universidade de Aveiro

2004 Departamento de Física

Sinibaldo de Jesus Varela Canhanga

Modelação Hidrodinâmica da Baía de Maputo

Universidade de Aveiro 2004

Departamento de Física

Sinibaldo de Jesus Varela Canhanga

Modelação Hidrodinâmica da Baía de Maputo Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Ciências das Zonas Costeiras, realizada sob a orientação científica do Doutor João Miguel Dias, Professor Auxiliar do Departamento de Física da Universidade de Aveiro

o júri

presidente Prof. Dr. Alfredo Moreira Caseiro Rocha professor associado da Universidade de Aveiro

Prof. Dr. Joaquim Guilherme Henriques Dias

professor auxiliar da Universidade de Lisboa

Prof. Dr. José Fortes de Nascimento Lopes

professor auxiliar da Universidade de Aveiro

Prof. Dr. João Miguel Sequeira Silva Dias

professor auxiliar da Universidade de Aveiro

ÍNDICE

Agradecimentos. …………………………………………………………………….........I

Resumo. ……………………………………………………………………………..........II

Abstract …..…….. …………………………………………………………………..…...III

CAPÍTULO I – Introdução........................................................................................ 1

1.1 Introdução e motivação.................................................................................. 1

1.2 Objectivos ...................................................................................................... 4

1.3 Estrutura do trabalho ..................................................................................... 4

CAPÍTULO II – Caracterização Hidrológica da Baía de Maputo ............................. 7

2.1 Introdução ...................................................................................................... 7

2.2 Descrição geral da área em estudo ............................................................... 9

2.3 Distribuição de temperatura da água e salinidade ....................................... 11

2.4 Rios.............................................................................................................. 16

2.5 Climatologia ................................................................................................. 17

2.6 Marés ........................................................................................................... 19

2.6.1 Formulação do algoritmo T_TIDE ......................................................... 19

2.6.2 Fase e amplitude da maré no Porto de Maputo .................................... 23

2.7 Correntes de maré ....................................................................................... 25

CAPÍTULO III – Equações Hidrodinâmicas Fundamentais; Modelação matemática

de Processos Físicos ............................................................................................ 26

3.1 Introdução .................................................................................................... 26

3.2 Equações hidrodinâmicas para ondas gravíticas de longo período ............. 26

3.2.1 Aproximação hidrostática. ..................................................................... 30

3.3 Formulação em termos da velocidade média vertical .................................. 32

3.4.1 Aproximação de Boussinesq ................................................................. 38

3.4 Integração vertical das equações hidrodinâmicas fundamentais ................. 39

3.4.2 Aproximação de águas pouco profundas .............................................. 43

CAPÍTULO IV – Discretização das Equações do Movimento e da Continuidade.. 45

4.1 O método das diferenças finitas .................................................................. 45

4.2 Consistência, estabilidade e convergência .................................................. 48

4.3 Aproximação das equações do movimento e da continuidade pelo método

das diferenças finitas ......................................................................................... 51

4.3.1 Discretização da equação do movimento .............................................. 54

4.3.2 Discretização da equação da continuidade ........................................... 55

CAPÍTULO V – O Modelo Numérico e as Condições de Fronteira ....................... 58

5.1 O modelo numérico de propagação de ondas gravíticas de longo período . 58

5.2 Condições de fronteira ................................................................................. 66

5.2.1 Fronteiras móveis .................................................................................. 66

5.2.2 Fronteiras fixas e condições iniciais ...................................................... 68

CAPÍTULO VI – Dados e Calibração ..................................................................... 69

6.1 Dados .......................................................................................................... 69

6.2 Calibração .................................................................................................... 71

6.2.1 Elevação da superfície livre .................................................................. 72

6.2.2 Velocidades de corrente de maré ......................................................... 74

CAPÍTULO VII – Hidrodinâmica da Baía de Maputo ............................................. 78

7.1 Introdução .................................................................................................... 78

7.2 Resultados e análise dos resultados ........................................................... 79

7.2.1 Amplitudes, fases e elipses de maré ..................................................... 79

7.2.2. Evolução da maré em situações extremas ........................................... 85

7.2.3 Diferença de fase entre a onda de maré e as correntes de maré ......... 92

CAPÍTULO VIII – Circulação Residual Euleriana .................................................. 96

8.1 Introdução .................................................................................................... 96

8.2 Formulação da teoria da circulação residual euleriana ................................ 98

8.3 Resultados e análise dos resultados ........................................................... 99

8.3.1 Correntes residuais induzidas pela interacção não linear da maré com a

topografia. ...................................................................................................... 99

8.3.2 Correntes residuais induzidas pelos rios e pelo vento ........................ 106

CAPÍTULO IX – Transporte Lagrangeano de Partículas ..................................... 113

9.1 Introdução .................................................................................................. 113

9.2 O módulo Lagrangeano de trajectória das partículas ................................ 114

9.2.1 Equações do módulo do transporte Lagrangeano .............................. 114

9.3 Resultados e análise dos resultados ......................................................... 117

9.3.1 Padrão da trajectória das partículas .................................................... 117

9.3.2 Trajectória das partículas .................................................................... 121

9.3.3 Pontos de emissão contínua ............................................................... 123

9.3.4 Tempo de residência ........................................................................... 125

CAPÍTULO X – Conclusão .................................................................................. 127

Referências ......................................................................................................... 130

agradecimentos

Um estudo pormenorizado da hidrodinâmica da Baía de Maputo, foi possível não apenas pelo meu empenhamento pessoal, mas especialmente pela constante disponibilidade do professor Doutor João Dias, que ao longo de todo o período da minha dissertação acompanhou a evolução deste trabalho. A disponibilidade mostrada pelo Instituto de Investigação Pesqueira (Moçambique) e HIDROPROJECTO (Portugal), na cedência da batimetria numérica e dos dados para a calibração do modelo, sem os quais seria impensável a realização deste trabalho, constituíram também gestos inesquecíveis. Foi também importante a atribuição da bolsa de estudo pelo IPAD (Instituto de Apoio e Desenvolvimento), através da embaixada de Moçambique em Portugal, para a minha estadia durante dois anos e meio em Portugal. Gostaria de não esquecer os bons momentos que tive ao longo do mestrado, com a respectiva turma (estudantes e professores), especialmente com aqueles com quem foi possível trocar experiência, tanto no âmbito académico como no âmbito social. Um outro aspecto importante que gostaria de recordar é a aprendizagem que tive durante dois anos e meio relativamente à importância dos nossos amigos distantes, pois: “a distância pode causar saudade, mas nunca o esquecimento”; neste aspecto queria lembrar a apreciação que tive da minha família e de modo especial da minha mãe. Queria também recordar todos os amigos que fiz em Portugal, pela experiência construtiva que deles colhi, especialmente no laboratório de atmosfera da Universidade de Aveiro, e a Paula Alexandra pela revisão e correcção ortográfica desta tese. Finalmente, queria realçar a boa intenção e interesse mostrado no ínicio deste trabalho pelo INAHINA, e de modo particular pelo malogrado David Chemane, pelo director Albano Gove e pela Cândida Sete. A todos as pessoas aqui mencionadas, bem como às que tiveram um papel crucial de decisão nas instituições acima referidas, queria deixar expressa a minha sincera gratidão, principalmente pelo apoio e encorajamento. Bem hajam

I

II

resumo

O objectivo deste trabalho foi efectuar um estudo das características hidrodinâmicas (com auxílio de um modelo numérico) da Baía de Maputo, e posteriormente avaliar as implicações do padrão hidrodinâmico nos diferentes processos que possam ocorrer na Baía. Na parte inicial deste trabalho é efectuada uma descrição sucinta da hidrologia da Baía de Maputo, através da análise de valores de perfis de salinidade e temperatura, de séries temporais de velocidade e da elevação da superfície livre de água. Os valores médios da intensidade do vento e dos caudais dos rios que desaguam na Baía foram também estudados. Análises dos perfis de salinidade e temperatura mostraram que a Baía de Maputo pode considerar-se verticalmente homogénea; porém, nos periodos de ocorrência de cheias ou nas épocas de Verão, com intensificação da precipitação, podem ser observadas estratificações horizontais de salinidade e temperatura na Baía. Foi identificada a maré como o principal forçador da hidrodinâmica da Baía, e determinados os valores característicos para os outros forçadores (vento e caudais fluviais). Atendendo as características da Baía (verticalmente homogénia) e ao tipo de fenómeno que se pretende estudar (propagação de ondas longas), optou-se por utilizar um modelo numérico bidimensional (SYMS/S2D). Este modelo foi posteriormente calibrado, comparando as séries temporais observadas da elevação da superfície livre da água e das componentes da velocidade, com as respectivas séries temporais obtidas por simulações numéricas. Os resultados da calibração mostraram um bom ajuste entre os valores observados e simulados. Após a calibração do modelo numérico, foi efectuado um estudo da hidrodinâmica da Baía de Maputo, permitindo a determinação do tipo da maré, da amplitude e fase dos principais constituintes e da influência dos forçadores não periódicos na hidrodinâmica da Baía, através da determinação da circulação residual. Os resultados do modelo hidrodinâmico mostram que a maré na Baía de Maputo é essencialmente semi-diurna, e que os principais constituintes, M2 e S2, representam quase 90% da maré astronómica total. Em toda a Baía a onda da maré apresentou características mistas entre uma onda estacionária e progressiva. A análise dos resultados da circulação residual, mostrou que os ventos, o caudal dos rios, e a topografia constituem os forçadores hidrodinâmicos não periódicos importantes em processos com escalas temporais relativamente longas. Foi também acoplado ao modelo hidrodinâmico um módulo de transporte Lagrangeano, para avaliação de fenómenos de dispersão de partículas passivas na Baía. Os resultados do módulo Lagrangeano, indicam que para uma escala temporal superior à do ciclo da maré, os processos de mistura e dispersão são mais significativos no centro da Baía e na zona do estuário do Espirito Santo, respectivamente, sendo praticamente insignificantes nas restantes zonas. O tempo de residência na zona do estuário do Espirito Santo variou entre um dia (na embocadura do Estuário) e uma semana (na foz dos rios Matola, Umbeluzi e Tembe).

III

abstract

The aim of this work was to understand by using a numerical model, the main characteristics of the Maputo Bay hydrodynamics; and furthermore to assess the hydrodynamics implications on different processes that can occur in the Bay. The study was initiated with a description of the hydrological characteristics of Maputo Bay, through the analysis of vertical profiles of salinity and temperature, time series of the components of tide currents and water elevation. The wind intensity and the river runoff patterns were also studied. Analysis of temperature and salinity profiles have revealed that the Maputo Bay can be considered vertically homogeneous; however, when floods occur or when there are an high intensity of precipitation on summer season, a horizontal stratification of salinity and temperature in the Bay was observed. The tides were identified as the main forcing on the Bay hydrodynamics. The general patterns of other forcing (winds and river discharges) were also identified. Through the characteristics of the Bay (vertically homogeneous), and the process that is intended to be understood (long wave propagation), a bi-dimensional numerical model (SYMS/S2D) was chosen as the best to perform this study. Afterwards, the model was calibrated by comparison of observed and simulated time series of tide elevation, the horizontal and the vertical components of tidal currents. Results of calibration have shown that the model reproduces with accuracy the wave propagation in the Bay. The hydrodynamic study of Maputo Bay was done after the calibration of the numerical model; which allows the determination of the form number (type of the tide); the amplitude and phase of the main constituents, as well as, the influence of non-periodic forces on the Bay hydrodynamics, through the determination of residual currents. The results of the hydrodynamic model have shown that in the Maputo Bay, the tide is essentially semi-diurnal, and that the main semi-diurnal constituents, M2 and S2, represented almost 90% of the total astronomical tide. In most part of the Bay, the tidal wave has exhibited a characteristic that lies between a standing and a progressive wave. Was also noticed by the results of the Eulerian residual circulation, that the influences of rivers, winds and bathymetry on non-periodic forces were very important on long-term processes. A Lagrangian module was also coupled to the hydrodynamic model, to assess the evolution of dispersion processes of passive particles in the Bay. The results of the Lagrangian module have shown that for time scales superior than a tidal cycle, the mixing and dispersion processes are more important in the central part of the Bay and in the Estuário do Espirito Santo zone, respectively; in other zones these values are actually insignificants. The range of flushing time in the Estuário do Espirito Santo zone lied between one day (on the mouth of the estuary) and one week (on the mouth of Matola, Umbeluzi and Tembe rivers).

1

CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO

1.1 Introdução e motivação

As zonas costeiras são regiões sensíveis a mudanças morfológicas e muito

vulneráveis a processos costeiros naturais ou antropogénicos. A pressão exercida

sobre os recursos costeiros, como resultado da actividade humana, tem vindo a

acelerar a degradação da qualidade destas áreas. É também do conhecimento

geral que os recursos marinhos estão entre as riquezas mais valiosas do mundo e

ainda não totalmente compreendidos.

Estas zonas são importantes no transporte de substâncias entre a terra e o

oceano, actuando como um sistema de interface entre estes dois meios. São

também economicamente importantes para os países adjacentes. Assim, o estudo

destas zonas torna-se importante não só para a comunidade científica, mas de

um modo particular para as populações que nelas habitam.

A Baía de Maputo (figura 1.1) faz parte de um dos mais importantes sistemas

costeiros da zona sul de Moçambique.

Moçambique (figura 1.2), está situado na costa leste da África Austral, entre as

latitudes 10º 27’ e 26º 52’ Sul e longitudes 30º 12’ e 40º 51’ Este. A linha de costa

moçambicana tem aproximadamente 2700 km, e é a terceira maior costa de

África. A costa é caracterizada por uma grande variedade de ecossistemas,

incluindo praias, dunas, sistemas estuarinos, baías, etc.

A densidade populacional de Moçambique é de cerca de 20.1 habitantes por

km2 (INE, 2000), sendo maior nas zonas costeiras, como por exemplo na cidade

de Maputo (1525 habitantes por km2).

A zona sul de Moçambique é também conhecida pela sua grande

biodiversidade, existindo quatro géneros endémicos e pelo menos 168 espécies

diferentes. A Ilha de Inhaca, por exemplo, (localizada na Baía de Maputo), apesar

de ter uma área relativamente pequena, abriga cerca de 33% de todas as

espécies de pássaros existentes em toda a África Austral e nela ainda se

reproduzem duas espécies de tartarugas marinhas. De um modo geral, estas

espécies estão protegidas, contudo, as condições físicas e geoquímicas da Ilha

não são estáticas, estando sujeita a erosão, sedimentação e à existência de

2

poluição, pondo em risco de vida estas espécies e as comunidades de recife de

coral lá existentes.

Práticas pesqueiras têm também sido comuns na zona sul de Moçambique; por

exemplo, a captura do camarão é comum e variável de ano para ano. Pensa-se

que o conhecimento das diversas condições ambientais apropriadas ao

desenvolvimento destas espécies seria importante para compreensão da origem

desta variabilidade. Um estudo das variações da salinidade, da temperatura, da

circulação, da maré e do sistema de ventos é, portanto, fundamental para o

conhecimento da dinâmica funcional deste ecossistema costeiro, permitindo uma

correcta gestão dos recursos lá existentes.

Figura1.1: Imagem da Baía de Maputo, obtida do catálogo da NASA, 1989

Estuário do Espirito Santo

Área de estudo

Figura 1.2: Mapa geográfico de Moçambique, extraído do world fact book, 1988

3

Os transportes marítimos também são reconhecidos a sul de Moçambique

como uma económica via de comunicação. Já em tempos contribuíram como

importantes fontes de receita externa. O porto de Maputo (localizado na Baía de

Maputo), é um dos três maiores portos de Moçambique; localizado no interior da

Baía, caracteriza-se à entrada por fundos com bancos de areia dinâmicos. Para

além de fins nacionais, este porto tem sido também importante para uso dos

países “interiores” como a África do Sul e a Suazilândia. Portanto, existe uma

necessidade de um desenvolvimento eficiente de mecanismos que garantam um

conhecimento eficaz da dinâmica do fundo da Baía, de modo a garantir a

segurança da navegação aos navios que utilizam os seus canais.

São também evidentes indícios de poluição proveniente dos portos de

navegação. Destacando-se como os principais poluidores: o petróleo, que pode

escapar dos petroleiros, os produtos usados na lavagem dos tanques, bem como

o lixo despejado no mar pelos navios.

Existem também ameaças de poluição na Baía de Maputo, com origem em

instalações indústriais situadas na zona costeira (1). Este facto esteve evidente na

segunda reunião da MOZAL (a maior indústria de fundição de alumínio na zona

austral da África), onde foi levantada a hipótese de a poluição das águas na foz

do rio Matola ser devida a descargas de resíduos provenientes da indústria da

MOZAL.

Pensa-se também que a agricultura tem consequências nefastas para o

ambiente marinho, devido às descargas nos rios e no mar de produtos agro-

químicos. Pratica-se agricultura intensiva em Moçambique e nos países vizinhos,

nas bacias dos diversos rios que desaguam no estuário do Espírito Santo (no

interior da Baía, figura1.2).

Da abordagem até agora feita, verifica-se que embora se compreenda que o

uso das zonas costeiras seja inevitável para o desenvolvimento dos sectores cima

(1)..... “Até aqui, a explicação dada mostra não terem sido ainda detectadas situações de contaminação das águas

daquele rio acima dos níveis recomendáveis. Entretanto, um interveniente questionou o facto dos mariscos, peixes, e

outros que anteriormente abundavam, terem desaparecido. A este questionamento não houve uma explicação

plausível........, ”. (in MEDIAFAX, 29-11-2002, João Chamusse)

4

referidos (sectores de transportes marítimos, agricultura, pescas e industrial), uma

eficiente exploração e gestão destas zonas exige uma percepção prévia e uma

capacidade de previsão dos processos físicos (hidrodinâmicos) dominantes

nestas áreas.

É em torno desta abordagem que se insere a motivação e se definirão os

objectivos deste trabalho.

1.2 Objectivos

Foram seleccionados com base na motivação os seguintes objectivos para este

trabalho:

- Estudar a aplicabilidade de um modelo numérico bidimensional “SYMS/S2D”,

(Leendertse, 1987) na Baía de Maputo.

- Utilizar um modelo numérico bidimensional para simular a hidrodinâmica da

Baía do Maputo, possibilitando o estudo e a caracterização da maré, assim como,

das correntes de maré.

- Compreender os processos de transporte de longo termo na Baía de Maputo,

através da análise de correntes residuais

- Acoplar ao modelo hidrodinâmico um módulo de transporte Lagrangeano e

avaliar possíveis fenómenos localizados de poluição.

1.3 Estrutura do trabalho

Este trabalho é dividido em 10 capítulos. Nestes capítulos são analisados os

dados experimentais, assim como é efectuado o desenvolvimento, a aplicação do

modelo numérico bidimensional (SYMS/S2D) e a apresentação dos respectivos

resultados.

No primeiro capítulo é feita uma introdução do trabalho, sendo dado destaque à

motivação para a sua realização, aos seus objectivos e à sua estrutura. A

apresentação geral da área de estudo é também feita neste capítulo.

No segundo capítulo efectua-se a caracterização hidrológica da Baía de

Maputo. Foram utilizados para esta caracterização os valores observados (em

diversas estações de amostragem) de perfis de salinidade, de temperatura da

5

água, e séries temporais de elevação da superfície livre da água. Caracteriza-se

também a distribuição da profundidade ao longo da Baía. Analisa-se ainda, neste

capítulo, a influência dos diversos forçadores hidrodinâmicos na Baía de Maputo.

Nos capítulos III, IV e V é feita a descrição do modelo numérico “SYMS/S2D”,

utilizado neste trabalho. No capítulo III aborda-se de uma maneira generalizada a

teoria de modelação matemática dos processos físicos em águas pouco

profundas. São estabelecidas no final deste capítulo as equações hidrodinâmicas,

simplificadas e verticalmente integradas. No capítulo IV, analisam-se os métodos

de discretização das equações que constituem o modelo matemático, bem como

os conceitos de estabilidade, consistência e convergência das equações

discretizadas e consequentemente do modelo numérico. No capítulo V, abordam-

se questões relativas ao modelo numérico, especialmente, as condições de

fronteira adoptadas neste trabalho.

No capítulo VI realiza-se a implementação e calibração do modelo numérico.

Os resultados da calibração revelaram que o modelo reproduz com precisão a

hidrodinâmica da Baía de Maputo.

No capítulo VII, inicia-se o estudo da hidrodinâmica da Baía de Maputo; o

principal objectivo é analisar o comportamento da Baía sob a influência dos

principais forçadores periódicos hidrodinâmicos; neste âmbito foi determinada a

distribuição da amplitude e da fase dos principais constituintes da maré, assim

como as elipses da corrente de maré em toda a Baía de Maputo. Foram também

apresentados e analisados os resultados de simulações em condições extremas

da amplitude de maré (máxima amplitude da maré viva e mínima amplitude da

maré morta).

No capítulo VIII, apresentam-se os resultados da circulação residual Euleriana

na Baía de Maputo, sob a influência de vários forçadores não periódicos,

nomeadamente, o vento, os caudais dos rios, e a interacção da maré com a

batimetria. Neste capítulo é também mostrado que embora o constituinte da maré

S2 represente aproximadamente 50% do principal constituinte M2, será suficiente

utilizar o constituinte M2 para a determinação do padrão e da intensidade típica

das correntes residuais induzidas pela maré.

6

No capítulo IX, efectua-se o acoplamento de um módulo Lagrangeano de

transporte de partículas passivas ao modelo hidrodinâmico. Este permitiu a

análise dos processos de mistura e dispersão das partículas na Baía, bem como a

determinação do tempo de residência na zona do Estuário de Espírito Santo.

O capítulo X é o capítulo das conclusões; são aqui apresentadas as conclusões

dos diversos capítulos, bem como as recomendações para estudos futuros.

7

CAPÍTULO II – CARACTERIZAÇÃO HIDROLÓGICA DA BAÍA DE MAPUTO

2.1 Introdução

Antes de se iniciar o estudo de modelação numérica da Baía de Maputo, uma

descrição geral das características morfológicas, hidrológicas, bem como

oceanográficas, é de importância primordial, pois esta descrição será importante

na definição da metodologia, nas assunções, nas simplificações e na identificação

dos processos primários e secundários que ocorrem nesta área.

Uma descrição geral das características acima referidas exige uma série de

dados observados. Poucas observações de interesse científico foram efectuadas

na Baía de Maputo. Na primeira etapa deste capítulo, mencionam-se as

campanhas que resultaram na amostragem dos dados utilizados nesta tese.

Nos anos de 2000 e 2001 o IIP (Instituto de Investigação Pesqueira) realizou

várias campanhas hidrológicas em 29 estações (figura 2.1) na Baía de Maputo.

Nestas campanhas foram medidas em cada uma das estações perfis verticais da

salinidade e da temperatura da água. Neste trabalho são utilizados os dados

relativos a três secções transversais distintas (figura 2.1). Na tabela 2.1

apresentam-se as coordenadas geográficas e os nomes das estações de

amostragem destas secções transversais. Com o intuito de promover a realização

de mais estudos nesta Baía, estes dados foram disponibilizados à comunidade

científica e fornecidos para a realização deste trabalho.

Alturas de maré referentes ao Porto de Maputo (figura 2.2) medidas em 1974,

1984, 1986, 1993, 1994 e 1998 foram cedidas pelo INAHINA (Instituto de

Hidrografia e Navegação de Moçambique). O comprimento da série temporal das

alturas de maré do ano de 1993 corresponde a 15 dias com alturas registadas de

6 em 6 minutos; ao passo que, as restantes séries temporais têm um

comprimento igual a um ano e variações horárias da superfície livre do mar.

Informação referente aos caudais médios mensais dos rios Maputo, Umbeluzi e

Incomati foi obtida das campanhas realizadas pela Direcção Nacional de Águas

(DNA).

Os dados meteorológicos foram cedidos pelo INAM (Instituto Nacional de

Meteorologia).

8

Tabela 2.1: Coordenadas geográficas das estações nas secções de amostragens

Algumas descrições das características físicas (temperatura da água,

distribuição de salinidade, precipitação, regime dos ventos, etc.) relativas à Baía

de Maputo podem ser encontradas em artigos escritos por: Hoguane (1994),

Hoguane e Dove (2000), Hoguane et al (2000) e Hoguane et al (2002). Em muitos

destes trabalhos abordaram-se problemas em áreas localizadas, ou ainda,

assuntos específicos. Seguidamente faz-se neste capítulo uma descrição das

principais características morfológicas, bem como dos principais forçadores

hidrológicos da Baía de Maputo, recorrendo à análise dos dados observados e as

publicações anteriormente descritas.

Estação Latitude (Sul) Longitude (Este)

A1 25º57.7’ 32º 34.2’

A2 25º59.4’ 32º 52.4’

A3 25º 59.4’ 32º 48.4’

A4=B3 25º 59.4’ 32º 41.0’

A5 25º 59.4’ 32º 44.0’

A6 25º 59.4’ 32º 48.6’

A7 25º 59.4’ 32º 52.9’

B1 25º 55.5’ 32º 40.5’

B2 25º 57.0’ 32º 41.0’

B4 26º 02.0’ 32º 41.0’

B5 26º 05.0’ 32º 41.2’

B6 26º 05.0’ 32º 40.3’

B7 26º 07.0’ 32º 41.0’

D1 25º 54.6’ 32º 50.2’

D2 25º 56.0’ 32º 51.8’

D3 25º 5720’ 32º 53.1’

D4 ……… ……….

9

Pro

fundid

ades (

m)

Figura 2.1: Localização das estações de amostragem no domínio de calculo; o sinal “٭ “ representa as estações da secção A; o sinal ” ٭ “ representa as estações da secção D; e o sinal “٭ “ representa as estações da secção B.

2.2 Descrição geral da área em estudo

A Baía de Maputo, com uma área de cerca de 1875 km2 (75 km de

comprimento e 25 km de largura), localiza-se na zona Sul de Moçambique, entre

os paralelos 25º 55’ e 26º10’ Sul e os meridianos 32º 40’ e 32º 55’ Este. É

adjacente à cidade de Maputo pelo lado Oeste, e faz fronteira com o oceano

Índico do lado Norte, fazendo fronteira Este com a Ilha de Inhaca e com a

península de Machangulo. Uma análise da distribuição das profundidades na Baía

é feita, após a digitalização da seguinte informação cartográfica da Baía:

- Carta de aproximação da Baía de Maputo n.º 16301 à escala de 1:65000,

publicada pelo Instituto de Hidrografia e Navegação de Moçambique em 2000

- Carta de acesso ao Porto de Maputo n.º 16659 à escala de 1:75000,

publicada pelo Ministério da Defesa da URSS em 1985

- Carta hidrográfica da foz do Limpopo à Ponta do Ouro n.º 440 à escala de

1:25000, publicada por Instituto Hidrográfico de Portugal em 1961.

- Batimetria da carta náutica n.º 495 (Porto de Maputo), à escala de 1:20000,

publicada pelo Instituto Hidrográfico de Portugal em 1972.

10

Desta análise conclui-se que a Baía é pouco profunda (figura 2.2); na sua maior

parte tem profundidades inferiores a 10 metros, com excepção da zona adjacente

ao Oceano, com profundidades superiores a 15 metros.

Figura 2.2: Distribuição da profundidade na Baía de Maputo; profundidade em metros com

referência ao zero hidrográfico

Existem bancos de areia que cobrem uma área de 138 km2. O fundo é arenoso

do lado oriental e lodoso do lado ocidental (Hoguane, 1994). A profundidade

460000 480000 500000

7060000

7080000

7100000

7120000

7140000

7160000

7180000

h < - 2

-2 < h < 0

0 < h < 2

2 < h < 5

5 < h < 10

10 < h < 20

20 < h < 35

100 < h < 200

200 < h < 300

h > 300

Profundidade (m)

Porto de Maputo

Ilha dosPortugueses

Ilha de Inhaca

Baixo Ribeiro

Estu

ári

o d

o E

spír

ito S

anto

Estu

ário

do E

spirito S

anto

11

aumenta para Este e para Norte no interior da Baía, ao passo que no exterior a

profundidade aumenta para Sul e para Este da Baía.

2.3 Distribuição de temperatura da água e salinidade

A fronteira do oceano Índico adjacente à Baía de Maputo (lado Este), é

caracterizada pela corrente quente de Moçambique, que fluí para o Sul. As águas

da Baía são frias durante o Inverno e quentes durante o Verão, quando

comparadas com a água do oceano. A temperatura média diária da água na Baía

varia de 17º C a 27º C (Hoguane, 1996), do Inverno ao Verão.

Nesta secção foi efectuada e posteriormente analisada a distribuição dos

campos de salinidade e temperatura da água (figura 2.3). As medições foram

efectuadas pelo Instituto de Investigação Pesqueira (IIP), nos dias 23 de Janeiro e

1 de Abril de 2000. As estações correspondentes às três secções transversais

(secção A, secção B e secção D) estão ilustradas na figura 2.1. A estação A1 não

foi considerada na elaboração da secção A, pois a sua localização está

relativamente fora desta secção. Os campos podem ser observados na figura 2.3.

De acordo com os registos dos campos da salinidade e da temperatura da

água efectuados em Janeiro (secção B e D), e Abril de 2000 (secção A), a Baía

pode ser dividida em duas partes (Hoguane, 1994): o lado Oeste com

variabilidade considerável da salinidade e mais influenciado pelas descargas

fluviais, e o lado Este com pouca variabilidade de salinidade durante todo o ano.

Resultados similares são visíveis na figura 2.3. A heterogeneidade apresentada

nas secções (nas extremidades das secções A e B, e ao centro da secção D)

relaciona-se com o facto de estas zonas serem adjacentes à fronteira terrestre da

Baía (o que corresponde à proximidade de zonas de afluência dos rios), ou

coincidirem com zonas de canais profundos (secção D). As secções da

temperatura mostram a existência de uma massa de água fria (provavelmente

proveniente do oceano), que flúi para o interior da Baía na direcção NE – SW.

12

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24

Distanica (km)

-19

-17

-15

-13

-11

-9

-7

-5

-3

-1

pro

fun

did

ad

e (

m)

Salinidade (ppm) da secção A

0.0

6.0

12.0

18.0

24.0

30.0

A2 A3 A4 A5 A6 A7

01/04/2001

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24

Distancia (km)

-15

-10

-5

0

pro

fundid

ade (

m)

-19

-17

-15

-13

-11

-9

-7

-5

-3

-1

19.5

21.0

22.5

24.0

25.5

Temperatura (ºc) da secção A

A2 A3 A4 A5 A6 A7

01/04/2000

0 2 4 6 8 10 12

Distância (km)

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

pro

fun

did

ad

e (

m)

16

19

22

25

28

31

34

Salinidade (ppm) da secção B

B1 B2 B3 B4 B5 B6 B7

23/01/2000

0 2 4 6 8 10 12

Distância (km)

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

pro

fund

idade (

m )

Temperatura (ºC) da secção B

16.0

19.0

22.0

25.0

B1 B2 B3 B4 B5 B6 B7

23/01/2000

0 2 4 6 8 10-22

-20

-18

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

Pro

fun

did

ad

e (

m)

0 2 4 6 8 10

Distância (Km)

Salinidade (ppm) da secção D

28.5

30

31.5

33

34.5

D4 D3 D2 D1

23/01/2000

0 2 4 6 8 10

Distancia (Km)

-22

-20

-18

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

pro

fundid

ade (

m)

Temperatura (ºC) da secção D

25

.7

25

.8

26

.0

26

.1

26

.3

26

.4

26

.6

26

.7

D4 D3 D2 D1

23/01/2000

Figura 2.3: Distribuição dos campos de salinidade e temperatura em três secções transversais

(Figura 2.1); o sinal “●” ou “●”, representa a localização dos pontos de amostragem.

13

Nas figuras 2.4.a e 2.4.b apresentam-se os perfis de salinidade e temperatura

da água nas estações A3, B4 (estações localizadas no interior da Baía), D2 e A7

(estações localizadas em zonas supostamente fora da influência dos caudais

fluviais). Os perfis foram medidos na época de Verão (Janeiro de 2000), no

Inverno (Abril de 2001) e em situações típicas de cheias (Abril de 2000). A

profundidade nos gráficos é expressa em metros, a salinidade em “ppm” (partes

por mil) e a temperatura em ºC.

Figura 2.4.a: Perfis de salinidade e temperatura da água nas estações A3, B4

5

4

3

2

1

0

30.0 30.1 30.2 30.3 30.4 30.5

6/04/2001

Salinidade (ppm)

Pro

fun

did

ad

e (

m)

A3

5

4

3

2

1

0

18.0 18.5 19.0 19.5 20.0 20.5

1/04/2000

Temperatura (ºC)

Pro

fun

did

ad

e (

m)

A3

5

4

3

2

1

0

18 20 22 24 26 28 30

1/04/2000

Salinidadde (ppm)

Pro

fun

did

ad

e (

m)

A3

5

4

3

2

1

0

25.0 25.2 25.4 25.6 25.8 26.0 26.2 26.4 26.6 26.8 27.0

6/04/2001

Temperatura (ºC)

Pro

fun

did

ad

e (m

)

A3

8

7

6

5

4

3

2

1

0

25.2 25.6 26.0 26.4 26.8

09/04/2001

Temperatura (ºC)

Pro

fun

did

ad

e (

m)

B4

8

7

6

5

4

3

2

1

0

23 24 25 26 27 28 29 30 31

23/01/2000

Salinidade (ppm)

Pro

fun

did

ad

e (

m)

B4

8

7

6

5

4

3

2

1

0

31.2 31.6 32.0

09/04/2001

Salinidade (ppm)

Pro

fun

did

ad

e (

m)

B4

8

7

6

5

4

3

2

1

0

25.6 26.0 26.4 26.8

23/01/2000

Temperatura (ºC)

Pro

fun

did

ad

e (

m)

B4

14

Figura 2.4.b: Perfis de salinidade e temperatura da água nas estações D2 e A7

Nas estações A3 e B4, os perfis da salinidade na época de Inverno de 2001,

mostram uma variação entre 30.35 e 31.30 ppm; nas estações D2 e A7, valores

18

16

14

12

10

8

6

4

2

0

25.2 25.6 26.0 26.4 26.8

09/04/2001

Temperatura (ºC)

Pro

fun

did

ad

e (

m)

D2

18

16

14

12

10

8

6

4

2

0

34.0 34.4 34.8

09/04/2001

Salinidade (ppm)

Pro

fun

did

ad

e (

m)

D2

18

16

14

12

10

8

6

4

2

0

32.6 32.8 33.0 33.2 33.4

23/01/2000

Salinidade (ppm)

Pro

fun

did

ad

e (

m)

D2

18

16

14

12

10

8

6

4

2

0

25.2 25.6 26.0 26.4 26.8

23/01/2000

Temperatura (ºC)

Pro

fun

did

ad

e (

m)

D2

10

8

6

4

2

0

34,0 34,2 34,4 34,6 34,8 35,0

A7

09/04/2001

Salinidade (ppm)

Pro

fun

did

ad

e (

m)

10

8

6

4

2

0

25.0 25.5 26.0 26.5 27.0

09/04/2001

Temperatura (ºC)

Pro

fun

did

ad

e (

m)

A7

10

8

6

4

2

0

24 26 28 30 32 34

01/04/2000

Salinidade (ppm)

Pro

fun

did

ad

e (

m)

A7

10

8

6

4

2

0

25.2 25.4 25.6 25.8 26.0 26.2 26.4

01/04/2000

Temperatura (ºC)

Pro

fun

did

ad

e (

m)

A7

15

típicos de salinidade foram de 34.5 ppm, aproximadamente. As temperaturas

típicas das estações A3 e B4 foram de 25.8º C, e para as estações D2 e A7, os

valores da temperatura aproximaram-se a 26.2º C. Estes resultados indicam uma

boa mistura vertical em todas as estações na época de Inverno. Porém, a análise

dos perfis de salinidade nas estações A3 e B4, bem como nas estações D2 e A7,

indica a existência de um gradiente horizontal de salinidade entre as águas do

interior (influenciada pela descarga dos rios) e as do exterior da Baía (as menos

influenciadas pelas descargas dos rios).

Análises dos perfis correspondentes à amostragem das estações B4 e D2, no

ano 2000, indicam uma variação vertical da salinidade de 24 a 30 ppm na estação

B4, e 32.6 a 33.4 ppm na estação D2. Relativamente às temperaturas, os perfis

das duas estações mostram uma diminuição da temperatura com a profundidade

de 26.2 para 25.6 na estação B4, e de 26.2 para 25.8 na estação D2. Destes

resultados conclui-se que durante o Verão prevalecem os gradientes horizontais

descritos para a situação de Inverno, porém, a característica quente e chuvosa do

Verão no hemisfério sul influencia a estratificação da temperatura e salinidade na

Baía de Maputo, o que se reflecte pelo aumento da salinidade e diminuição da

temperatura com a profundidade.

Os perfis de salinidade nas estações A3 e A7, correspondentes ao Inverno de

2000, apresentam maior estratificação relativamente aos do Inverno de 2001; os

gradientes horizontais também foram maiores quando comparados com

gradientes entre as mesmas estações, na mesma época do ano 2001. Embora

esta observação pareça contraditória, justifica-se pela influência dos diversos

forçamentos da Baía. De facto, o ano 2000 foi caracterizado pelo prolongamento

da época chuvosa até ao inicio do Inverno e pela ocorrência de cheias na região

sul de Moçambique, o que teve como consequência o aumento da estratificação e

dos gradientes horizontais de salinidade ao longo da Baía.

Destas análises conclui-se que a estrutura vertical da Baía se pode considerar,

de um modo geral, como verticalmente homogénea. Porém, em épocas chuvosas,

bem como em situações particulares de ocorrência de cheias ou prolongamento

da estação chuvosa, a Baía de Maputo pode ser caracterizada por uma ligeira

16

17-10-1995 17-10-1996 17-10-1997 17-10-1998 17-10-1999

0

100

200

300

400

1995-2000

Ca

uld

al (m

3/s

)

Tempo (anos)

R. Maputo

estratificação vertical e pela intensificação dos gradientes horizontais de

salinidade e temperatura.

2.4 Rios

Na Baía confluem cinco rios principais: Incomati, a Norte, Umbelúzi, Tembe e

Matola a Oeste, e o rio Maputo a Sul (figura 2.1) Os rios Umbelúzi, Tembe e

Matola desaguam no estuário do Espírito Santo antes de chegar à Baía.

Existem ainda pequenos rios, canais, pântanos e mangais. O volume total de

água doce de todas as fontes acima referidas que desaguam na Baía estima-se

em cerca de 6 km3/ano (Hoguane e Dove, 2000), sendo que a maior parte deste

caudal entra na Baía durante o Verão. O rio Maputo apresenta maior variabilidade

do caudal, conforme se pode verificar pela figura 2.5, em que são representadas

as séries temporais dos caudais médios mensais dos rios Incomati, Umbeluzi e

Maputo, correspondentes aos períodos de 1983-2000, 1985-2000 e 1995-2000,

respectivamente. É ainda possível verificar pela análise desta figura que o caudal

do rio Incomati, nos últimos cinco anos, foi o que apresentou variações extremas.

Figura 2.5: Séries temporais dos caudais dos rios Incomati, Umbeluzi e Maputo

Os valores médios mensais dos caudais (em m3/s) dos principais rios que

desaguam na Baía de Maputo são apresentados na tabela 2.2.

O rio Incomati e o rio Maputo apresentam maior caudal médio mensal,

comparativamente aos restantes rios. Para todos os rios, o caudal médio máximo

foi observado no mês de Fevereiro, ao passo que, com excepção dos rios Tembe

e Incomati (onde os caudais mínimos foram observados no mês de Agosto) o

14-12-1985 14-12-1989 14-12-1993 14-12-1997

0

20

40

60

80

100

120

140

1985-2000

Ca

ud

al (

m3/s

)

Tempo (anos)

R. Umbeluzi

15-09-1983 15-09-1987 15-09-1991 15-09-1995 15-09-1999

-200

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1800

1983-2000

Ca

ud

al (m

3/s

)

Tempo (anos)

R. Incomati

17

caudal mínimo foi observado no mês de Setembro. O caudal máximo (que

correspondeu a 260.19 m3/s) registou-se no rio Incomati, e o mínimo

(correspondente a 0.58 m3/s) foi registado no rio Matola.

Tabela 2.2: Caudal médio mensal (m3/s) na foz dos rios

Rios

Mês Maputo Incomati Umbeluzi Tembe Matola

Janeiro 188.96 197.13 30.0 6.16 3.26

Fevereiro 242.95 260.19 37.0 8.13 4.19

Março 134.97 137.40 21.0 4.29 2.33

Abril 80.98 86.42 11.5 2.70 1.40

Maio 60.74 64.16 9.0 2.00 1.05

Junho 43.87 47.16 6.7 1.47 0.76

Julho 40.49 44.32 6.0 1.39 0.70

Agosto 37.12 40.96 5.5 1.28 0.64

Setembro 33.74 61.73 5.0 1.93 0.58

Outubro 47.24 65.71 7.7 2.05 0.81

Novembro 67.49 86.42 11.0 2.70 1.16

Dezembro 134.97 137.40 22.3 4.29 2.33

2.5 Climatologia

Situada na região tropical, com transição de clima tropical para temperado

quente, a Baía de Maputo caracteriza-se por apresentar duas estações: uma seca

e outra húmida. A estação seca estende-se de Abril a Setembro e a estação

húmida estende-se de Outubro a Março. A média da precipitação total anual é de

1100 mm (Hoguane e Dove, 2000).

A humidade relativa varia entre 59% e 67% durante o dia e 79% e 82% durante

a noite (Hoguane e Dove, 2000).

18

A temperatura diurna do ar atinge 31º C no Verão e 24º C no Inverno. A

temperatura máxima registada nos últimos 30 anos foi de 44º C (Janeiro de 1980)

e a mínima registada foi de 8.6º C (Junho de 1984).

Na tabela 2.3 apresenta-se a intensidade média mensal dos ventos registados

entre os anos de 1931 e 1960, (Teles et al, 2001). Os ventos predominantes na

Baía (tabela 2.3) são de Sudeste (SE) e de Este (E), durante o Verão (Novembro

a Março), sendo no Inverno predominantes os ventos de Nordeste (NE) (Maio a

Agosto).

Tabela 2.3: Intensidade média do vento por sector de rumo no Maputo (1931-1960); valores expressos em km/h

Sector dos Ventos

Mês N NE E SE S SW W NW

Janeiro 13.7 16.7 15.8 15.8 18.6 15.6 9.4 10.0

Fevereiro 13.5 16.8 15.8 16.2 16.8 14.2 8.0 10.8

Março 13.5 16.2 13.8 15.0 16.7 12.7 7.9 12.4

Abril 14.6 14.2 12.0 13.9 16.3 13.1 8.7 12.2

Maio 15.1 12.6 10.0 11.5 15.9 14.3 9.9 13.6

Junho 15.2 12.0 8.7 10.8 15.7 14.7 11.0 13.6

Julho 16.3 13.4 10.3 12.4 16.6 14.4 10.6 14.4

Agosto 17.6 16.2 14.1 15.7 18.2 13.8 8.5 14.8

Setembro 17.7 17.9 15.8 17.3 19.0 15.0 9.2 15.8

Outubro 17.6 17.8 16.5 17.1 19.6 14.9 8.7 14.0

Novembro 15.8 18.3 16.0 16.4 19.1 15.8 9.5 14.1

Dezembro 14.9 17.3 15.9 15.4 18.6 16.2 6.5 10.0

Tanto no Verão como no Inverno, os ventos sopram com uma intensidade

aproximadamente igual a 16 km/h (4.4 m/s) mudando de orientação em direcção a

Nordeste na passagem do Verão a Inverno.

Os ventos de Inverno e de Verão são relativamente fracos e fortes, quando se

comparam com os ventos observados em terra e no mar aberto respectivamente.

19

Para além dos ventos prevalecentes, os ventos de Este causam fortes

ondulações, com implicações na morfologia da Baía (Hoguane e Dove, 2000).

2.6 Marés

Existem vários programas para efectuar a análise harmónica da maré, com

períodos de observação das séries temporais correspondentes a 1 ano ou

inferiores. Neste trabalho utilizou-se o programa “T_TIDE”2 (desenvolvido em

Matlab por Pawlowicz et al, 2002), para a execução da última parte deste capítulo,

que consistiu na análise harmónica das séries temporais das alturas da maré no

Porto de Maputo.

Posteriormente, efectuou-se a reprodução da maré (“T_TIDE”2) para o Porto de

Maputo, para o intervalo compreendido entre 1990 e 2000. Neste intervalo foram

determinados os períodos correspondentes às situações de extrema influência da

maré na Baía; ou seja, encontraram-se os períodos correspondentes a máxima

maré viva e mínima maré morta, assim como as respectivas amplitudes da maré.

2.6.1 Formulação do algoritmo T_TIDE

O algoritmo utilizado pelo T_TIDE (Pawlowicz et al, 2002) para a estimativa das

amplitudes e das fases baseia-se no uso da álgebra complexa (inclusão do eixo

imaginário na análise harmónica), o que permite a unificação do tratamento

escalar (importante para a análise harmónica das alturas da maré) e do

tratamento vectorial (importante para a análise harmónica da corrente de maré).

Assim, nesta secção descreve-se toda a teoria relativa à análise harmónica de

correntes de maré, uma vez que quando a parte complexa é nula, a teoria é

aplicada para análise harmónica das alturas da maré.

A descrição da formulação do algoritmo inicia-se considerando a corrente Z(t)

decomposta em componentes Norte-Sul e Este-Oeste (as direcções Norte e Este,

por convenção, são positivas).

2 Uma “função” escrita em MATLAB, usada actualmente para a realização da análise harmónica de séries temporais das

alturas ou das componentes da velocidade da maré, bem como para a respectiva previsão.

20

Assumiu-se ainda que cada componente da corrente é composta por um

conjunto de constituintes não periódicos e constituintes da maré (periódicos),

sendo que cada constituinte da maré ocorre com uma frequência j (em

ciclos/hora), sendo Mj .... 1, , onde M é o número máximo de constituintes

incluídos na análise harmónica. Considera-se ainda que eixo yy é imaginário, e

faz um ângulo de 90º (no sentindo horário) com o eixo real xx .

Então, a forma complexa de Z(t) pode ser expressa como:

M

j

M

j

jjjjjj tYtYitX

tXtZ

1 1

0

0

)(2cos)()(2cos

)()(

(2.1)

Consideremos agora que jCX e jSX são as variáveis correspondentes aos

termos associados ao co-seno e seno, respectivamente, da fase da componente

real. Sejam ainda jCY e jSY as variáveis correspondentes aos termos associados

ao co-seno e seno, respectivamente, da fase da componente imaginária, isto é:

jjj XCX 2cos , jjj senXSX 2 , jjj YCY 2cos , jjj senYSY 2 (2.2)

A função Z(t) pode então ser expressa como:

M

j

jjjj

M

j

jjjj

tsenSYtCYtYi

tsenSXtCXtXtZ

1

0

1

0

22cos)(

)22cos()()(

(2.3)

Recordando as relações trigonométricas:

2

cosixix ee

x

e

2

ixix eesenx

,

21

e substituindo na equação anterior obtém-se:

)2exp()()(

)2exp()()()()(

1

1

0

tSXCYiSYCXi

tSXCYiSYCXtXtZ

jjj

M

j

jj

M

j

jjjjj

(2.4)

Excluindo os índices j e considerando:

2

122

22

SXCYSYCX

a

2

122

22

SXCYSYCX

a

SYCX

SXCYarctan e

SYCX

SXCYarctan

Então, a distribuição da corrente para cada constituinte é tal que pode ser

descrita como se segue:

)2exp()2exp()()()( tiiatiiatZtZtZ (2.5)

tisenaaitiaaitZ

2)2

()(2)2

(cos)()2

(exp)( (2.6)

A análise das duas últimas equações (2.5 e 2.6), começando pela primeira,

revela que a função consiste em dois vectores )()( tZtZ e e que cada um

deles roda a uma velocidade angular de ciclos/hora.

22

O primeiro vector ( )(tZ ) tem um comprimento correspondente ao a e roda no

sentido anti-horário, estando a radianos (no sentido anti-horário) do eixo real,

ou seja, da direcção Este-Oeste no tempo 0t . Enquanto que o segundo vector

( )(tZ ) tem o comprimento a , roda no sentido horário e está a radianos no

sentido horário do eixo xx (eixo real) no instante 0t .

O efeito rotacional resultante irá mover o vector )(tZ no sentido anti-horário se

aa , no sentido horário se aa e linearmente se aa .

Da segunda expressão, verifica-se que durante o período de tempo

correspondente a horas

1, a trajectória do vector composto ( )(tZ ) desenha uma

elipse (ou um segmento de recta no caso degenerado em que aa ), cujos

respectivos eixos maiores e menores têm comprimentos iguais a aa e aa

respectivamente. O ângulo de inclinação relativamente ao eixo real (eixo dos xx )

é: 2

radianos.

E a fase para cada constituinte será igual a: 2

)(0

tVg , ou seja,

2

)(0

tVg

Onde )( 0tV é o argumento astronómico do constituinte.

Na análise harmónica quando a latitude é referenciada o argumento

astronómico é corrigido (correcções nodais).

O algoritmo baseia-se no ajustamento da amplitude e fase dos constituintes

pelo método dos mínimos quadrados. Para tal, considera-se uma série temporal

)( itZ regularmente espaçada (normalmente com espaçamentos de hora em hora,

isto é Ni 3, 2, ,1 horas). Sendo j , onde Mj ..... ,1 as frequências (em

ciclos/hora) do j-ésimo constituinte escolhido para a inclusão na análise pelo

critério de Rayleigh, o objectivo é encontrar os eixos maiores e menores

23

(amplitudes) e fase para cada constituinte incluído que melhor se ajusta à série de

observação )( itZ .

No tratamento vectorial, a série temporal observada é representada como um

vector complexo ivu onde u e v representam, respectivamente, as

componentes das velocidades nas direcções Este-Oeste e Norte-Sul (Pawlowicz

et al, 2002). Este tratamento apenas é valido para ondas de maré lineares ou

quase lineares. Em alguns casos (por exemplo ao longo da secção transversal ou

mesmo ao longo dos canais) é melhor tratar as duas componentes

separadamente (tratamento escalar).

Quando a componente v é zero (tratamento escalar), a elipse degenera-se em

uma recta. O ângulo de inclinação da “elipse” relativamente ao eixo real, bem

como o eixo menor torna-se nulo, isto é:

2

=0

0 aa

A grandeza aa passa a ser a amplitude do constituinte. O ajustamento

pelo método dos mínimos quadrados neste caso é feito para a amplitude e fase

de cada constituinte da maré.

2.6.2 Fase e amplitude da maré no Porto de Maputo

Para a caracterização da maré, utilizaram-se dados do marégrafo do Porto de

Maputo. O intervalo de espaçamento das alturas da maré nas séries temporais foi

de uma hora. Através da função T_TIDE, e das séries temporais das alturas da

maré no Porto de Maputo, determinou-se a amplitude e fase dos principais

constituintes da maré.

Na tabela 2.4 apresentam-se as amplitudes (metros) e as fases (em graus)

obtidas através de análise harmónica das séries temporais da altura da maré

observada nos anos de: 1974, 1984, 1986, 1994 e 1998.

24

Da tabela 2.4 verifica-se que no Porto de Maputo a maré é essencialmente

semi-diurna, sendo as amplitudes dos constituintes semi-diurnos superiores uma

ou duas ordens de grandeza em relação às amplitudes dos constituintes diurnos.

Tabela 2.4: Constantes harmónicas da maré no Porto de Maputo; onde ampl representa a amplitude do constituinte e são expressas em metros (m).

Constitu

inte

s

Ano

1974 1984 1986 1994 1998

ampl Fase ampl fase Ampl fase ampl fase ampl Fase

M2 0.94 121.17 0.94 122.72 0.94 122.89 0.94 125.87 0.94 122.22

S2 0.55 163.90 0.55 163.97 0.54 166.97 0.54 166.99 0.54 165.73

N2 0.14 107.28 0.15 103.64 0.15 108.87 0.15 115.70 0.15 113.86

K2 0.14 161.01 0.15 158.15 0.15 154.34 0.16 168.53 0.15 162.20

O1 0.028 359.12 0.02 353.71 0.02 355.90 0.02 353.38 0.02 2.27

K1 0.035 200.99 0.04 200.17 0.03 204.17 0.06 192.43 0.03 194.18

As fases dos principais constituintes semi-diurnos M2 e S2, foram

aproximadamente iguais a 122º e 164º respectivamente, o que representa um

atraso de aproximadamente 4 horas para o constituinte M2 e um atraso de 6 horas

para o constituinte S2 relativamente ao meridiano de Greenwich.

Na figura 2.6 representa-se uma série temporal da elevação de superfície livre

da água na estação do Porto de Maputo.

Figura 2.6: Elevação da superfície livre da água no Porto de Maputo; elevações em metros e referenciadas ao nível médio

-2 0 2 4 6 8 10 12 14 16

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

4,5

Ele

vaçã

o (m

)

Tempo (dias)

Porto de Maputo

28/04/93 a 13 /05/93

25

O comprimento da série corresponde a um período de duas semanas com início

no dia 28/4/93. As elevações estão em metros e em relação ao nível médio.

Pela figura 2.6 é possível observar que a maré média viva é de

aproximadamente 3.8 metros, e a maré média morta é de cerca de 2.6 metros.

Foi também determinada (através da função T_TIDE) a série temporal da maré

durante um período longo (1990 a 2000), o que permitiu a determinação da

amplitude de máxima maré viva e da amplitude de mínima maré morta num

período de 10 anos. A figura 2.7 ilustra os resultados da maré prevista 12 horas

antes e depois da ocorrência da amplitude da máxima maré viva e da amplitude

da mínima maré morta. As alturas estão em metros e o tempo em horas. A

amplitude máxima da maré viva registou-se durante a primeira semana de Abril do

ano 1994, e correspondeu a 4.57 metros, ao passo que, a amplitude mínima da

maré morta foi registada na terceira semana de Setembro de 1995 e

correspondeu a 2.61 metros.

0 4 8 12 16 20 242.3

2.5

2.7

2.9

tempo (horas)

Ele

vação (

m)

0 4 8 12 16 20 240

1

2

3

4

5

tempo (horas)

Ele

vação (

m)

Figura 2.7: Séries temporais da elevação da superfície livre da água correspondente a máxima maré viva (à esquerda), e a mínima maré morta (à direita)

2.7 Correntes de maré

Poucos estudos relativos à distribuição das correntes de maré na Baía de

Maputo foram efectuados. Os resultados dos estudos efectuados por Moura

(1973) e Achimo (2000), revelaram que as correntes de maré na Baía de Maputo

variam de lugar para lugar, com velocidades máximas que oscilam entre 1.3 m/s e

1.5 m/s durante a estação seca.

26

CAPÍTULO III – EQUAÇÕES HIDRODINÂMICAS FUNDAMENTAIS;

MODELAÇÃO MATEMÁTICA DE PROCESSOS FÍSICOS

3.1 Introdução

A compreensão e desenvolvimento da modelação matemática de processos

físicos em águas pouco profundas têm vindo a ser durante as ultimas décadas

assunto de interesse, pois muitos fenómenos de transporte são dependentes da

descrição dos processos hidrodinâmicos. Devido à complexidade dos processos

envolvidos, certamente que este desenvolvimento irá continuar ainda por longos

anos. Porém, alguns modelos podem já considerar-se no estado “maduro”, como

é o caso dos modelos bidimensionais verticalmente integrados (2DH). Portanto,

os modelos 2DH podem ser utilizados como uma importante ferramenta para o

estudo da hidrodinâmica dos ambientes costeiros (Neves, 1985; Cheng et al,

1993; Dias, 2001).

A crescente utilização das zonas costeiras pelas actividades humanas tem

motivado e aumentado o esforço no desenvolvimento de tecnologias e métodos

para a simulação e o prognóstico dos fenómenos complexos que tem lugar nestes

sistemas.

Neste capítulo começa-se por descrever as equações fundamentais da

propagação das ondas longas (base do modelo bidimensional). Realiza-se ainda

a integração vertical das equações obtidas para o regime médio. Serão utilizadas

algumas expressões empíricas para a parametrização de alguns termos destas

equações

3.2 Equações hidrodinâmicas para ondas gravíticas de longo período

Algumas hipóteses serão assumidas para a simplificação das equações que

seguidamente se descrevem, nomeadamente:

- O fluído é incompreensível (neste caso assume-se que a densidade da água

do mar é constante).

- O fluído é Newtoniano e anisotrópico.

- As acelerações e velocidades verticais são desprezáveis.

27

- O equilíbrio é localmente hidrostático (em primeira aproximação o balanço

faz-se entre a força de gravidade e o gradiente vertical de pressão).

O estudo da hidrodinâmica dos oceanos baseia-se no estudo do movimento de

uma fina camada de fluído estratificado que se encontra sobre a superfície da

terra em rotação, recorrendo-se inicialmente a uma descrição matemática deste

movimento.

As principais leis físicas que governam este movimento são: lei de conservação

de massa, lei de conservação do momento linear, equação de estado e leis

termodinâmicas.

Na apresentação destas equações, é utilizada a descrição Euleriana, em que, a

velocidade da partícula ( u ), a pressão ( p ), a densidade ( ), a temperatura (T ) e

a salinidade ( S ), são todas tratadas como função do vector de posição, r

( r

é

medido para o exterior do centro da terra) e do tempo, t . Todas as posições são

referidas relativamente a um sistema de coordenadas ortogonal directo, que roda

uniformemente com a velocidade angular da terra. Sendo:

rad/s1029.7 5

(3.1)

A velocidade u neste movimento de rotação relaciona-se com a velocidade

inércial pela relação:

ruuinercial

(3.2)

Sendo R o raio médio da terra (do centro da terra até a superfície livre do

oceano) e z a distância média (medida verticalmente para cima) a partir da

superfície não perturbada do oceano, então:

zRrr

(3.3)

A conservação da massa expressa-se pela seguinte relação:

0).(

u

t

(3.4)

28

ou:

0. udt

d

(3.5)

Onde: )(.)()(

u

tdt

d representa a derivada total segundo o movimento.

A conservação do momento linear toma a seguinte forma:

2

2

2

2

2

21)cos(2

z

u

y

u

x

u

x

pvsenw

dt

du

(3.6.1)

2

2

2

2

2

21)(2

z

v

y

v

x

v

y

pusen

dt

dv

(3.6.2)

gz

w

y

w

x

w

z

pu

dt

dw

2

2

2

2

2

21)cos(2

(3.6.3)

Onde ),,( wvuu

, é o coeficiente de viscosidade cinemática e é a latitude.

A densidade da água do mar é dada pela equação do estado e tem a seguinte

forma:

),,( STp (3.7)

A hipótese da incomprensíbilidade do fluido, traduz-se na seguinte equação:

t

10 (3.8)

Então, a equação de conservação da massa toma a forma:

29

0

z

w

y

v

x

u (3.9.1)

Ou:

0)( udiv

(3.9.2)

Analisando as equações de conservação do momento linear, e atendendo ao

domínio em que se pretende aplicá-las, verifica-se que algumas simplificações

podem ser feitas.

Nas latitudes médias o termo )cos(2 w pode não ser considerado, pois a

componente da velocidade vertical é muito pequena quando comparada com as

componentes da velocidade horizontal.

Este termo na equação de conservação de momento linear também pode ser

desprezado na equação segundo o eixo zz , pois comparando com o termo da

pressão e das forças volúmicas (gravidade) é bastante pequeno.

A aplicação das simplificações acima descritas às equações de conservação do

momento linear conduz a um novo conjunto de equações, conhecidas por

equações de Navier-Stokes, expressas da seguinte forma:

2

2

2

2

2

21

z

u

y

u

x

u

x

pfv

dt

du

(3.10.1)

2

2

2

2

2

21

z

v

y

v

x

v

y

pfu

dt

dv

(3.10.2)

gz

w

y

w

x

w

z

p

dt

dw

2

2

2

2

2

21

(3.10.3)

30

Onde )(sin2 f é o parâmetro de Coriolis.

Estas equações descrevem a propagação da onda da maré, sendo as

principais forças aplicadas a uma partícula da água as forças de gravidade e de

gradiente de pressão. Considera-se também o efeito da rotação da terra sobre a

partícula em movimento e a dissipação de energia representada pelo termo de

atrito.

O termo de atrito, que se deve à presença da viscosidade da água, representa

os efeitos da tensão do vento à superfície e do atrito no fundo, bem como os

efeitos das fricções laterais.

A onda da maré é considerada uma onda longa (o comprimento de onda é

muito maior que a profundidade dos estuários ou das baías). A teoria clássica que

se aplica a estas ondas despreza a aceleração vertical das partículas do fluído,

pois quando comparada com a aceleração do campo gravitacional a aceleração

vertical torna-se muito pequena.

3.2.1 Aproximação hidrostática.

Na definição da circulação costeira e estruturação da sua teoria, considera-se

que a extensão da superfície livre é tão grande que o movimento vertical de uma

partícula de água associada à maré pode ser desprezado face aos movimentos

horizontais (Koutitas, 1988); então, em alguns casos de estudos de circulação

costeira, os termos que contenham w na equação de Navier-Stokes podem ser

desprezados. A importância relativa de cada um dos termos da equação (3.10.3)

é estimada pela análise de escala.

A ordem de grandeza dos principais parâmetros descritos anteriormente é a

seguinte para o domínio deste trabalho:

- As dimensões horizontais nas direcções xx e yy variam entre 104 e 105

metros respectivamente, correspondendo à escala horizontal típica da Baía.

- As velocidades horizontais apresentam um intervalo de variação desde 10-1

m/s a 1m/s;

- As profundidades típicas no domínio são da ordem de grandeza de 10 m no

interior e na zona central da Baía e 1000m na zona exterior.

31

- A frequência do constituinte mais importante da maré (M2) é da ordem de

grandeza de 10-5 s-1, consequentemente, a escala temporal típica do fenómeno

em estudo é da ordem de 105 s.

Então, os valores típicos para efectuar a análise de escala de um fenómeno

como a propagação da onda de maré na Baía de Maputo são os seguintes:

s m/s, m/s,

m m, m,

51

45

10101

101010

TUV

HLxLy

A escala da velocidade vertical é estimada pela equação de continuidade, isto

é:

yx L

V

L

U

H

W , o que implica que a escala da velocidade vertical seja:

m/s 4

5410

10

10

10

1 yx L

HV

L

HUW .

Os valores do coeficiente de viscosidade variam normalmente de 1 a 103 m2/s

(coeficientes de viscosidade horizontal) e de 10-4 a 10-1 m2/s (coeficientes de

viscosidade vertical) (Weiyan, 1992). Consideram-se os valores máximos para se

obter o efeito máximo do termo de atrito (Pond e Pickard, 1983).

Então, a equação do movimento na direcção vertical tem a seguinte ordem de

grandeza:

2

1

2

3

2

32

1010101

10H

W

L

W

L

W

z

pO

H

W

L

VW

L

UW

T

W

yxyx

Ou seja:

665999 1010101

10101010

z

pO

Desta análise de escala, conclui-se que o termo que contém o gradiente de

pressão é balanceado com o termo que contém a aceleração de gravidade, pois

os restantes termos têm ordens de grandeza consideravelmente inferiores. Neste

caso, a equação do movimento na vertical é reduzida a:

32

gz

p

10 , que assume que a distribuição da pressão obedece à lei

hidrostática (Proudman, 1953; Dias, 2001).

Assim, as equações de Navier-Stokes terão a seguinte forma:

2

2

2

2

2

21

z

u

y

u

x

u

x

pfv

y

uv

x

uu

t

u

(3.11.1)

2

2

2

2

2

21

z

v

y

v

x

v

y

pfu

y

vv

x

vu

t

v

(3.11.2)

gz

p

10 (3.11.3)

3.3 Formulação em termos da velocidade média vertical

O factor gerador da circulação é uma perturbação periódica ou não-periódica

da elevação da superfície livre, com origem no oceano aberto que se desenvolve

durante um período de várias horas (no caso comum da influência da lua na

geração do constituinte M2 da maré, o período é de 12.42 horas). As ondas longas

com origem no oceano propagam-se através da fronteira aberta do sistema e são

reflectidas pelas fronteiras da costa. Estas ondas estão sujeitas a várias

deformações devido à refracção, difracção e perdas friccionais de energia, sendo

parte da sua energia radiada pela fronteira aberta e assim devolvida ao oceano.

As equações desenvolvidas até agora são válidas para campos instantâneos

do movimento e distribuição das propriedades da água da Baía (densidade e

pressão). Entretanto, em casos reais em que há ocorrência de turbulência, estas

equações podem não ser tão úteis. É então necessário encontrar métodos de

separação da parte do movimento que por natureza é aleatória.

O método escolhido consiste na decomposição das grandezas numa

componente média e numa perturbação (decomposição à Reynolds).

A assunção feita é que o operador da média temporal, t , é grande

comparativamente à escala temporal característica na qual se pretendem resolver

33

os campos dos movimentos. A vantagem deste método está no facto de se poder

filtrar o modo aleatório do movimento em todas as escalas temporais.

As equações daí resultantes expressam a estimativa do campo de movimento

mais provável, em vez de determinarem os valores instantâneos das grandezas

em cada momento.

As variáveis ,,, wvu e p serão separadas num valor médio e num valor

aleatório: uuu

Onde por definição 0u .

Este procedimento realiza-se nas equações da continuidade e do movimento.

Seguidamente, determina-se a equação da continuidade referente aos valores

médios.

A equação de continuidade terá assim a seguinte forma:

0)()()(

z

ww

y

vv

x

uu (3.12)

Como:

0u , 0v , 0w (3.12.1)

A equação de continuidade para o regime médio tem a seguinte forma:

0

z

w

y

v

x

u (3.13)

Considerando agora as equações do movimento (equações 3.11.1 a 3.11.3) e

prestando atenção ao segundo termo da direita da equação (3.11.1), obtém-se,

depois de substituir as variáveis pela soma dos seus valores médios e aleatório:

x

p

x

p

x

p

x

p

x

pp

)()( (3.14.1)

onde:

34

)(

1)(

De uma forma geral, a média de qualquer termo que tenha apenas flutuação de

uma variável será nula. Assim, o segundo e o terceiro termo da equação (3.14.1)

são nulos. O último termo desta equação pode não ser nulo se existir uma relação

entre as perturbações de e de p . Entretanto, quando se compara esta

grandeza com o valor médio do primeiro termo, nota-se que a ordem de grandeza

deste termo (o último termo) é inferior ou igual à ordem de grandeza do primeiro.

Esta comparação permite-nos desprezar o último termo. Então:

x

p

x

pp

)()( (3.14.2)

Do termo de Coriolis obtém-se:

)(2)(2 vvsenvvsen (3.14.3)

Pela equação (3.12.1), uma vez que o termo sen2 é constante (e que a média

da soma de duas variáveis é igual à soma da média das mesmas), obtém-se:

vfvvsen )(2 (3.14.4)

Prestando agora atenção ao termo de atrito, às assunções (3.12.1) e

atendendo a que o coeficiente da viscosidade molecular é constante obtém-se:

2

2

2

2

2

2

2

2

2

2

2

2 )()()(

z

u

y

u

x

u

z

uu

y

uu

x

uu (3.15)

Todos os termos do lado direito da equação (3.11.1) têm a mesma forma tanto

para o regime instantâneo como para o regime médio.

35

Esta conclusão também é válida para os termos correspondentes às equações

segundo os eixos yy e zz .

Prestando agora atenção aos termos do lado esquerdo da equação (3.11.1),

tendo em conta as mesmas assunções e considerações efectuadas

anteriormente, obtém-se:

z

uw

y

uv

x

uu

z

uw

y

uv

x

uu

z

uuww

y

uuvv

x

uuuu

)()(

)()(

)()(

(3.16)

Nesta equação, para além de os valores médios substituírem os valores

instantâneos, há uma quantidade nova (o último termo da equação (3.16)), que

envolve flutuações da velocidade. Estes novos termos representam o efeito da

turbulência e do transporte médio das flutuações do momento linear pelas

flutuações da velocidade turbulenta. Pelo facto de estes termos provirem dos

termos não lineares, conclui-se que a existência da turbulência e os efeitos de

atrito estão relacionados com a natureza não linear das equações do movimento.

Agora procuremos parametrizar o termo responsável pelos efeitos de

turbulência.

Recordando que os campos instantâneos e médios são não divergentes, e que

uuu , pode-se facilmente concluir que também os campos das perturbações

são não divergentes. Como:

z

uw

y

uv

x

uu

z

w

y

v

x

uuwu

zvu

yuu

x

).().().( (3.16.1)

Pela equação da continuidade o primeiro termo do lado direito é nulo, ou seja, o

último termo da equação (3.16) pode ser substituído pelo lado esquerdo da

equação (3.16.1).

Tendo em conta as equações (3.14.2) a (3.16.1), a equação do movimento

(3.11.1) toma a seguinte forma:

36

wuz

vuy

uuxz

u

y

u

x

u

x

pvf

y

uv

x

uu

t

u

2

2

2

2

2

21

(3.17)

Recordando que o termox

u

representa a tensão na direcção xx devida aos

efeitos moleculares e turbulentos, e que a unidade de grandeza no sistema

internacional é idêntica à unidade de uu , que é igual a [2.

1

sm], pode-se

concluir que os últimos três termos identificam a tensão devida à turbulência.

Provavelmente os seus efeitos são qualitativamente semelhantes. O efeito

turbulento deve-se ao movimento aleatório das parcelas do fluído que trocam

momento com o fluído circundante. Uma vez que tanto a distância percorrida

como a massa envolvida são maiores quando comparadas com as mesmas

provocadas pelo efeito molecular, conclui-se que os efeitos turbulentos são

bastante mais eficientes que os efeitos moleculares, pelo que os efeitos

moleculares podem ser desprezados.

As tensões turbulentas são conhecidas por tensões de Reynolds e relacionam-

se com as velocidades médias tal como as tensões moleculares, ou seja:

x

uAuu x

,

y

uAvu y

,

z

uAwu z

Onde as constantes de proporcionalidade, iA , são designadas por coeficientes

de viscosidade turbulenta cinemática. Estes coeficientes, ao contrário do

coeficiente de viscosidade molecular que é uma propriedade do fluído (varia

com as variáveis do estado do sistema), dependem do tipo da escala do

movimento, da estratificação do fluído, bem como das respectivas interacções, ou

seja, são propriedade do fluxo.

Desprezando as variações espaciais dos coeficientes de viscosidade

turbulenta, o termo do atrito na direcção xx terá a seguinte forma:

2

2

2

2

2

2

z

uA

y

uA

x

uA zyx

(3.17.1)

37

Define-se como circulação costeira, uma circulação que se caracteriza

normalmente pelo desenvolvimento de velocidades não constantes e campos de

elevação da superfície num domínio geofísico costeiro cuja profundidade é da

ordem dos 10 ou mais metros. As dimensões horizontais são da ordem de 10 ou

mais quilómetros e a geometria da linha de costa não é simples (Koutitas, 1988).

Atendendo a esta definição, verifica-se que se podem desprezar os efeitos da

viscosidade horizontal na equação (3.17.1), quando comparados com os efeitos

verticais sempre que não sejam importantes por motivos computacionais.

Deste modo, a forma final das equações que descrevem o movimento da

propagação de uma onda longa em regiões costeiras e em regime médio terá a

forma:

2

21

z

uA

x

pvf

y

uv

x

uu

t

uz

(3.18.1)

2

21

z

vA

y

puf

y

vv

x

vu

t

vz

(3.18.2)

gz

p

10 (3.18.3)

A distribuição dos campos das velocidades no interior de uma Baía, é descrita

pelas equações do movimento e da continuidade em regime médio. O modelo

usado neste trabalho, resolve as equações (3.18.1) a (3.18.3) anteriormente

descritas, com as respectivas assunções e simplificações.

O estabelecimento do regime médio das equações do movimento e da

continuidade é importante, uma vez que separa o movimento aleatório do

movimento “médio”. Embora este procedimento simplifique e aproxime as

equações hidrodinâmicas à realidade, muitas vezes a complexidade da geometria

das zonas costeiras, as condições de fronteira, bem como a natureza não

estacionária do escoamento, dificultam a obtenção de soluções hidrodinâmicas

correspondentes ao regime médio.

38

Uma alternativa à questão exposta, é o procedimento de simplificações e

aproximações, em que as hipóteses introduzidas devem ser compatíveis com as

condições naturais verificadas no domínio em que as equações se pretendem

resolver.

3.4 Aproximação de Boussinesq

Na aproximação de Boussinesq descreve-se a influência da variação de

densidade nas equações do movimento.

Integrando segundo o eixo zz a equação hidrostática, tem-se:

),,()( tyxfgzzp (3.19)

Na fronteira, ),,( tyxz e opp . Substituindo as condições de fronteira na

equação acima, obtém-se:

0),,( pgtyxf (3.20)

Considerando a densidade do fluído expressa pela soma da densidade média

0 e de uma pequena variação da densidade ' , ou seja, ),,,('0 tzyx , a

equação hidrostática integrada verticalmente tem a forma:

dzy

gdzx

gzgpzpzz

'')()( 00 (3.21)

Em que 0p representa a pressão atmosférica.

As derivadas da pressão no plano horizontal serão funções da elevação da

superfície livre e da pressão atmosférica:

z

dzx

gx

gx

p

x

p'0

0 (3.22.1)

39

z

dzy

gy

gy

p

y

p'0

0 (3.22.2)

Estas últimas equações ((3.22.1) e (3.22.2)) facilitam a integração das

equações (3.18.1), (3.18.2) e (3.18.3) (equações hidrodinâmicas em regime

médio).

3.5 Integração vertical das equações hidrodinâmicas fundamentais

A integração vertical das equações (3.18.1) a (3.18.3) conduz-nos a uma

situação em que se descreve um fluxo bidimensional; para tal, considere-se um

sistema de coordenadas cartesiano no plano horizontal da superfície da água não

perturbada.

A distância entre o plano de referência e o fundo é designada por h e a

distância entre este plano e a superfície é designada por (figura 3.1). Por

questão de simplificação, embora todas as grandezas representem valores

médios, serão omitidas as barras indicadoras de grandezas médias.

0Z

),( yxhZ

Figura 3.1 Referencial geográfico OXYZ

Antes de efectuar a integração vertical das equações hidrodinâmicas, efectuou-

se a aproximação de Boussinesq, que permite a representação dos termos que

contém o gradiente de pressão de uma forma simplificada.

O

),,( tyx

),,( tyxh

Z

Y

X

),,( tyxZ

40

Assim, substituindo as equações (3.22) nas equações do movimento (3.18), e

integrando desde o fundo até a superfície livre da água obtêm-se:

0'

1

2

2

0

0

0

h h

z

h

hhhhh

dzz

uAfvdzdz

x

g

dzx

pdz

xgdz

y

uvdz

x

uudz

t

u

(3.23)

0'

1

2

2

0

0

0

h h

z

h

hhhhh

dzz

vAfudzdz

y

g

dzy

pdz

ygdz

y

vvdz

x

vudz

t

v

(3.24)

Onde:

),( yx , ),( yxhh

Ao dividir ambas as equações por )( h e substituindo o termo:

hz

z

z

z

h

zz

uA

hz

uA

hdz

z

uA

h

11

)(

12

2

por '

xA (3.24.a)

e

hz

z

z

z

h

zz

vA

hz

vA

hdz

z

vA

h

11

)(

12

2

por '

yA (3.24.b)

Introduzindo nas equações (3.18.1) e (3.18.2) as componentes verticalmente

integradas das velocidades médias, expressas pelas equações seguintes

(Hansen, 1956):

h

dzuh

U .1

(3.25)

41

h

dzvh

V .1

(3.26)

Tendo em conta as condições de fronteira e recorrendo a regra de Leibnitz (Dias,

2001), obtêm-se finalmente as seguintes equações:

'

0

0 '1x

h

Adzx

g

x

p

xgfV

y

UV

x

UU

t

U

(3.27)

'

0

0 '1y

h

Adzy

g

y

p

ygfU

y

VV

x

VU

t

V

(3.28)

Os primeiros termos do lado direito da equação (3.24.a) e (3.24.b),

representam o atrito à superfície, enquanto os segundos termos representam o

atrito no fundo. A parametrização destes termos é inicializada assumindo que a

tensão no fundo ( b

) é proporcional ao quadrado da velocidade, e portanto afecta

consideravelmente as ondas longas. O factor que representa a resistência

oferecida pelo atrito do fundo apenas pode ser obtido por observação. Este factor

relaciona a tensão no fundo e o quadrado da velocidade e depende da rugosidade

do fundo, do material que constitui o fundo, e da profundidade. Segundo Dronkers

(1964), esta relação para o fluxo numa direcção pode ser expressa por:

VVgCb

. 2 (3.29)

Onde:

- é a densidade do fluído;

V - é a velocidade;

C - é o coeficiente de Chézy.

As parametrizações para a tensão à superfície são também obtidas através de

várias observações e englobam termos que representam o efeito da pressão

barométrica. Este termo é menos importante quando comparado com o descrito

anteriormente. A função resultante depende da velocidade, da direcção do vento e

da rugosidade da superfície da água.

42

As componentes da tensão do vento, também estabelecidas por Dronkers

(1964), têm a forma:

senWCDa

s

x

2 (3.30)

cos2WCDa

s

y (3.31)

Em que:

a - é a densidade do ar;

W - é a intensidade do vento;

DC - é o coeficiente de tensão de vento.

- é o ângulo entre a direcção do vento e a direcção yy

A integração vertical da equação da continuidade, após aplicação da regra de

Leibnitz (Dias, 2001) e utilização das condições de fronteira, resulta em:

0),(),(

hh

dzyxvy

dzyxuxt

(3.32)

Introduzindo os termos das componentes da velocidade verticalmente

integradas (U e V ) na equação anterior, obtém-se:

0)()(

y

Vh

x

Uh

t

(3.33)

O termo h representa a altura total da coluna de água e pode ser

representado por H . Obtém-se assim as equações da continuidade e do

movimento integradas para um fluxo bidimensional:

01)(

'1

2

21

22

0

0

s

x

h

HHC

VUUg

dzx

g

x

p

xgfV

y

UV

x

UU

t

U

(3.34)

43

01)(

'1

2

21

22

0

0

s

y

h

HHC

VUVg

dzy

g

y

p

ygfU

y

VV

x

VU

t

V

(3.35)

0

y

HV

x

HU

t

(3.36)

3.6 Aproximação de águas pouco profundas

Pela ordem de grandeza, os termos que contêm o coeficiente de difusão

horizontal (termos de atrito horizontal) podem ser desprezados quando

comparados com outros termos da equação de movimento, porém, para garantir a

estabilidade computacional (Hansen, 1962), é importante a inclusão destes

termos nas equações de movimento. Na integração vertical destes termos é

efectuada a aproximação de águas pouco profundas. Segundo Hansen (1949) e

Dias (2001), nesta aproximação assume-se que as velocidades horizontais são

quasi-constantes ao longo da direcção vertical. Considera-se também que o

movimento é barotrópico, o que significa que a estratificação da densidade é

desprezável.

Assim, os termos lineares e não lineares do atrito horizontal podem ser

aproximados pela seguinte equação:

UAhdzuA h

h

h

22 )(

(3.37)

e

VAhdzvA h

h

h

22 )(

(3.38)

Considerando a aproximação de águas pouco profundas, incluindo os termos

do atrito horizontal e considerando que as variações espaciais da pressão

44

atmosférica podem ser desprezadas, as equações hidrodinâmicas em águas

pouco profundas expressam-se pelas relações:

01)( 2

2

21

22

UA

HHC

VUUg

xgfV

y

UV

x

UU

t

Uh

s

x

(3.39)

01)( 2

2

21

22

VA

HHC

VUVg

ygfU

y

VV

x

VU

t

Vh

s

y

(3.40)

0

y

HV

x

HU

t

(3.41)

45

CAPÍTULO IV – DISCRETIZAÇÃO DAS EQUAÇÕES DO MOVIMENTO E DA

CONTINUIDADE

4.1 O método das diferenças finitas

Neste capítulo descreve-se o método das diferenças finitas, que permite a

discretização no domínio computacional das equações já referidas.

O método das diferenças finitas consiste na determinação das funções, bem

como das suas derivadas, sob a forma de quantidades definidas num sistema

discreto. Pelo uso deste método, um espaço contínuo onde as grandezas são

definidas é transformado num espaço discreto definido por uma malha regular,

constituída por células de dimensões x e y (pontos nodais).

A forma básica das diferenças finitas para derivadas parciais pode ser definida

a partir do desenvolvimento em série de Taylor de uma determinada função n

jif ,

num ponto genérico ),( ji . Os índices referem-se aos valores de yx e , n refere-

se a um certo instante, x e y correspondem aos afastamentos dos pontos

nodais nas direcções i e j, respectivamente.

Expandindo a função n

jif , em série de Taylor até ao termo da 2ª ordem, obtém-

se:

TOSxxx

fxx

x

fff jiji

ji

jiji

ji

jiji

2

,,1

,

2

2

,,1

,

,,1 )(2

1)( (4.1)

TOSxx

fx

x

fff

jiji

jiji

2

,

2

2

,

,,12

1 (4.2)

Utiliza-se a abreviatura TOS para designar termos de ordem superior.

Isolando o termo x

f

tem-se:

TOSxx

f

x

ff

x

f jiji

ji

2

2,,1

, 2

1 (4.3)

46

)(,,1

,

xOx

ff

x

f jiji

ji

(4.4)

Onde )( xO refere-se aos restantes termos que possuem factores de x com

expoentes iguais ou superiores à unidade. Representando a diferença x

f

por

x

f

,

obtém-se a seguinte expressão para diferenças avançadas:

x

ff

x

f jiji

ji

,,1

,

(4.5)

Esta aproximação tem uma precisão da primeira ordem, ou seja, o erro de

truncatura é da ordem de x .

A função anterior poderia ser expandida com incrementos negativos, obtendo-

se assim, a seguinte equação, com precisão igual à da equação anterior:

x

ff

x

f jiji

ji

,1,

,

(4.6)

Subtraindo a expansão da série de Taylor com incrementos positivos pela série

com incrementos negativos, obtém-se a aproximação por diferenças finitas

centradas, ou seja:

ji

ji

ji fxOx

f

x

fx

x

ff ,1

4

3

3

2

2

,

, )(6

1

2

1

(4. 7.a)

ji

jijiji

ji fxOx

f

x

fx

x

ff ,1

4

,

3

3

,

2

2

,

, )(6

1

2

1

(4.7.b)

então ao fazer (3.7.a)-(3.7.b) tem-se:

47

x

ff

x

f jiji

ji

2

,1,1

,

(4.8)

Um desenvolvimento detalhado desta expressão mostra que os termos

desprezados são de ordem igual ou superior a três. Ou seja, tem uma precisão de

segunda ordem. Por analogia obtêm-se as expressões equivalentes para y e t .

Os termos de segunda ordem

2

2

x

f também podem ser aproximados por

diferenças centradas, somando as equações (4.7.a ) e (4.7.b), resultando:

)(2

2

2

,,1,1

,

2

2

xOx

fff

x

f jijiji

ji

(4.9)

A expressão para diferenças centradas

x

f2

2

será então:

2

,,1,1

,

2

2 2

x

fff

x

f jijiji

ji

(4.10)

Que tem uma precisão de segunda ordem.

Utilizando as equações (4.5), (4.6), (4.8) e (4.10), podem-se aproximar as

equações do modelo bidimensional (equações diferencias de Navier-Stokes) sob

a forma de equações com diferenças finitas.

Embora o método de discretização possa estar correcto, nem sempre a solução

da equação de diferenças finitas se ajusta à solução analítica da aproximação que

deste resulta. É também necessário que os esquemas de aproximação sejam

coerentes relativamente ao princípio de conservação de energia, massa, vortidade

e entropia.

48

4.2 Consistência, estabilidade e convergência

O método de diferenças finitas consiste na aproximação de cada derivada

parcial por uma razão de diferenças finitas

x

f

x

f. Para que esta aproximação

seja valida, é necessário que a razão x

f

seja o mais próximo possível do valor

da derivada neste ponto, à medida que os incrementos tendem para zero. Esta

condição verifica-se quando são usadas as aproximações com diferenças

atrasadas, centradas ou adiantadas. Por consequência, a equação de diferenças

finitas deve ter as mesmas propriedades da equação diferencial correspondente

para que constitua uma boa aproximação.

Nesta secção são analisadas três propriedades fundamentais: a convergência,

a consistência e a estabilidade.

Os fundamentos de convergência e estabilidade de esquemas numéricos estão

bem desenvolvidos somente para sistemas lineares. Os resultados da teoria linear

são usados como base para problemas que envolvem sistemas não lineares,

porém, a conclusão final depende de experiências numéricas.

Esquemas convergentes de diferenças finitas, definem-se como esquemas em

que os valores da solução das equações de diferenças finitas se aproximam da

solução da equação diferencial contínua, à medida que as dimensões das células

se aproximam de zero (Roache, 1985; Dias, 2001). Este conceito de limite que

aqui se referencia abrange toda a solução da equação diferencial, não meramente

os termos individuais (termos diferenciais) da equação.

Todas as equações diferenciais podem ser escritas representando as derivadas

parciais que as constituem por expansões em séries de Taylor. A diferença entre

as equações diferenciais e as equações obtidas pelo método das diferenças

finitas, é denominada por erro de truncatura. Sempre que o erro de truncatura se

aproxima de zero quando os incrementos x , y e t se aproximam de zero,

diz-se que as equações são consistentes. Este erro estabelece a precisão do

esquema numérico, em que a ordem do esquema numérico é geralmente definido

como uma função de ordem da potência mais baixa de x , y e t presente no

erro de truncatura. Em certos casos uma equação diferencial pode ser consistente

49

com a sua “congénere” (obtida pelo método de diferenças finitas), ser instável e

consequentemente não convergir.

Diz-se que uma equação é estável se os erros associados ao esquema

numérico não crescem com o tempo, ou seja, se num intervalo de tempo

consideravelmente longo a solução numérica obtida permanece uniforme;

portanto o conceito de estabilidade associa-se ao crescimento ou decaimento dos

erros de arredondamento.

Se a solução numérica converge para a solução analítica, os erros associados

a esta aproximação tendem para zero à medida que os incrementos x , y e t

se aproximam de zero. Em princípio, estes erros têm duas contribuições:

A primeira, devido à aproximação feita na discretização das equações

diferenciais, erro de discretização. E a segunda, resultante da solução numérica

das equações pelo método das diferenças finitas, introduzindo em cada operação

algébrica um erro de arredondamento.

Designemos agora:

n

jiF , - A solução da equação de diferenças finitas (contém erros de truncatura)

n

jif , - A solução exacta da equação, ou seja, a solução analítica da equação

n

jiN , - A solução numérica (contém erros de arredondamento).

O erro da solução numérica será então:

)()( ,,,,,

n

ji

n

ji

n

ji

n

ji

n

ji FNfFe

)( ,,,

n

ji

n

ji

n

ji fNe

Embora sendo desprezáveis os erros de arredondamento (pois são muito

insignificantes quando comparados com os erros de discretização), é ainda difícil

obter-se uma explicação conclusiva relativamente à convergência. Devido a

limitações computacionais, o estudo da convergência ainda tem sido difícil de se

realizar, uma vez que a diminuição dos incrementos x e y corresponde ao

aumento do tempo de cálculo e de memória disponível nos computadores. O

50

problema da convergência deve ser abordado de outra forma, ou seja, através da

análise da evolução temporal da solução numérica, uma vez que as instabilidades

têm a sua origem no aumento dos erros de discretização e de arredondamento ao

longo do tempo computacional.

A diminuição dos incrementos x , y e t , permanecendo constantes as

razões t

x

e t

y

, aumenta o número de operações a realizar. Se o sistema é

instável, a diferença entre a solução numérica e a solução exacta da equação

diferencial aumentará. Porém, quando a solução numérica permanece constante

ao longo do tempo, ou seja, quando a solução numérica é estável, os erros

permanecem constantes com o tempo e aproximam-se de zero à medida que os

incrementos x , y e t se aproximam de zero. Esta observação final

estabelece a equivalência entre os conceitos de convergência e estabilidade e

baseia-se no teorema de Lax: para um esquema consistente de diferenças finitas,

a estabilidade é a condição necessária e suficiente para a convergência (Roache,

1985).

O conceito de estabilidade em esquemas de diferenças finitas tem importância

na teoria de modelação numérica, uma vez que partindo da análise da solução

analítica pode-se determinar a consequência na solução numérica (condições de

convergência) por adopção de células no domínio com determinadas

características.

Para o modelo SYMS/S2D, um estudo exaustivo do esquema de equações de

diferenças finitas usado para a aproximação das equações hidrodinâmicas já foi

feito (Leendertse, 1967). O estudo das propriedades do esquema de discretização

e da solução numérica do modelo hidrodinâmico utilizado neste trabalho, foi

efectuado usando o método de Fourier e a versão linearizada das equações de

diferenças finitas (Leendertse, 1967). Este esquema numérico obedece aos

requisitos que foram referenciados ao longo desta secção. Deste estudo a

principal conclusão foi que o esquema do algoritmo aplicado às equações de

águas pouco profundas é incondicionalmente estável tanto no espaço como no

tempo (Leendertse, 1967, Cheng et al, 1982a). Desde então este modelo foi com

sucesso usado por vários autores.

51

4.3 Aproximação das equações do movimento e da continuidade pelo método das

diferenças finitas

Vários esquemas numéricos para a solução de modelos de circulação de ondas

longas em domínios costeiros continuam a ser objecto de estudo por parte dos

investigadores. O modelo adoptado neste trabalho consiste nas equações (3.39) a

(3.41) na forma apresentada ou ligeiramente modificada. O esquema é baseado

em diferenças finitas. Este esquema é escolhido com base na sua simplicidade e

eficiência.

O domínio é discretizado por uma malha ortogonal e horizontal, com células de

lado x e y . As fronteiras laterais aproximam-se pelos lados xx e yy das

células que constituem a malha. A fronteira aberta do oceano corresponde à parte

da malha em que um dos lados da célula é aberto, o que garante a ligação com o

oceano. As funções desconhecidas U , V e são calculadas em locais

característicos de modo alternado.

As coordenadas dos pontos a calcular (figura 4.1), são caracterizadas pelos

índices i, j , e n . O primeiro refere-se à abcissa (direcção xx ), o segundo à

ordenada (direcção yy ) e o terceiro ao tempo (múltiplos do passo temporal).

Os valores de V e U referem-se aos lados yy e xx da célula, respectivamente,

e refere-se aos nós da célula, e a profundidade é referida em relação ao centro

da célula figura (4.2).

Ou seja, o nível de água é descrito por valores inteiros de i, j , a componente

U é descrita em valores semi-inteiros de ie inteiros de j , a velocidade V é

calculada em valores semi-inteiros de j e inteiros de ie a profundidade

determinada pela batimetria numérica é referenciada em valores semi-inteiros de

ie j .

Os termos que contêm as derivadas temporais e a força de Coríolis são

considerados alternadamente de forma avançada ou atrasada; este procedimento

é possível, uma vez que o passo temporal é decomposto em duas partes, pelo

52

que no intervalo de tempo correspondente ao incremento temporal efectuam-se

duas operações sucessivas.

Figura 4.1: Esquema da discretização de domínios para a solução de modelos de circulação de ondas longas

Figura 4.2: Localização das variáveis do modelo; as variáveis de entrada (profundidade) são definidas em índices semi-inteiros; as variáveis vectoriais (componentes da velocidade) definem-se num índice inteiro e noutro semi-inteiro; as variáveis escalares (elevação da superfície livre) definem-se em índices inteiros

Δy

Δx

(i, j+1)

(i-1, j)

(i, j-1)

(i+1, j)

(i,j)

X

Y

Nível de água Velocidade U Velocidade V Profundidade

53

Na aproximação de equações diferenciais pelo sistema de equações de

diferenças finitas, utilizam-se as seguintes notações:

),,(, tnyjxiFf n

ji

Onde ),(),( yjxiyx , representa as coordenadas dos pontos na malha

espacial.

Os índices ,j i tomam os valores 0 , 2

1 , 1 , ...,

2

3 e o índice n toma os

valores 0 ,2

1,1, ...,

2

3

Será ainda comum o uso da notação seguinte para representar a média no

espaço:

a) grandezas centradas na malha,

n

ji

n

ji

n

ji

n

jiFFFFF

2

1,

2

1

2

1,

2

1

2

1,

2

1

2

1,

2

14

1

b) grandezas com índices semi-inteiros de ,j

n

ji

n

ji

n

ji

n

jivvvvv

2

1,

2

1,

2

1,1

2

1,14

1

c) grandezas com índices semi-inteiros de ,i

n

ji

n

ji

n

ji

n

jiuuuuu

,2

11,

2

1,

2

11,

2

14

1

54

Em cada passo temporal o sistema de equações é resolvido em duas etapas:

na primeira, desde o instante n até ao instante 2/1n , obtêm-se os valores de

2

1n

e 2

1n

u , partindo dos campos de 2

1n

e 2

1n

u , e nv por uma operação implícita.

Na segunda, do instante 2/1n ao instante 1n , obtêm-se os valores de 1n

e 1nv , partindo dos campos de n e 2

1n

u , e nv , também por uma operação

implícita.

4.3.1 Discretização da equação do movimento

Então, a discretização da equação de movimento na primeira etapa, recorrendo

à equação (2.34) e todos os conceitos já adquiridos até agora relativos à

descrição da malha, permite a obtenção da seguinte equação:

02

2

21

)(2

1(

2

1)(

4

1

)(.2

1

2

.2

1

2

1

2

2

1

,2

12

1

,2

12

1

,2

3

,,1

2

1,

2

1

2

1,

2

1

,,1

2

1,

2

1

2

1,

2

1,,1

2

2

2

1

,2

12

1

,2

12

1

,2

1

2

1

,2

1

,12

1

,2

1

,1

2

1

1,2

12

1

,2

12

1

,2

12

1

1,2

1

2

1

,2

12

1

,2

12

1

,2

12

1

,2

32

1

,2

1

2

1

,2

12

1

,2

1

x

uuu

A

hhhhCC

vuuu

g

x

g

vfuuuuy

v

uuuux

ut

uu

n

ji

n

ji

n

ji

h

n

ji

n

jijiji

s

x

n

ji

n

jijiji

n

ji

n

ji

n

ji

n

ji

n

ji

n

ji

n

ji

n

ji

n

ji

n

ji

n

ji

n

ji

n

ji

n

ji

n

ji

n

ji

n

ji

n

ji

n

ji

n

ji

Ao multiplicar a equação por t e agrupando as incógnitas vem a equação

seguinte que pela sua extensão é de difícil análise.

55

tx

uuu

A

hh

t

hhCC

vutug

x

tgvtfuu

y

tu

x

tg

hhCC

vutg

uux

tu

x

tg

n

ji

n

ji

n

ji

h

n

ji

n

jijiji

s

x

n

ji

n

jijiji

n

ji

n

ji

n

ji

n

ji

n

ji

n

ji

n

ji

n

ji

n

ji

n

ji

n

ji

n

jijiji

n

ji

n

ji

n

jin

ji

n

ji

n

ji

n

ji

2

2

1

,2

12

1

,2

12

1

,2

3

,,1

2

1,

2

1

2

1,

2

1

,,1

2

1,

2

1

2

1,

2

1

2

,,1

2

1

2

2

2

1

,2

12

1

,2

1

2

1

,2

1

,12

1

1,2

12

1

1,2

12

1

,2

12

1

,1

,,1

2

1,

2

1

2

1,

2

1

2

,,1

2/1

2

2

2

1

,2

1

2

1

,2

12

1

,2

32

1

,2

1

2

1

,

2

22

)(

)(4

222

)(

)(4

21

2

Por uma questão de simplicidade, denominam-se os termos associados a

por k , os associados a u por ji

p,

2

1

e o termo independente por ji

A,

2

1

.

Neste caso obtém-se a seguinte equação geral:

ji

n

ji

n

jiji

n

ji Akupk,

2

12

1

,12

1

,2

1,

2

12

1

,

(4.11)

4.3.2 Discretização da equação da continuidade

Recorrendo à equação (3.39), e considerando as malhas apresentadas nas

figuras 4.1 e 4.2, obtém-se:

56

02

1

2

1

2

1,,

2

1,

2

1

2

1,

2

1

2

1,

,1,

2

1,

2

1

2

1,

2

1

2

1,

,1,

2

1,

2

1

2

1,

2

12

1

,2

1,,1

2

1,

2

1

2

1,

2

12

1

,2

1

,2

1

,

n

ji

n

jijiji

n

ji

n

ji

n

jijiji

n

ji

n

ji

n

jijiji

n

ji

n

ji

n

jijiji

n

ji

n

ji

n

ji

hhvhhvy

hhuhhux

t

Multiplicando a equação por 2/t e colocando em evidência as incógnitas,

obtém-se:

Considerando que o termo associado a 2

1

,2

1

n

jiu pode ser representado por

jiq

,2

1

,

o termo associado a 2

1

,2

1

n

jiu por

jiq

,2

1

e o termo independente por jB , obtém-se a

equação final de continuidade discretizada:

j

n

jiji

n

ji

n

jijiBuquq

2

1

,2

1,

2

12

1

,2

1

,2

1,

2

1 (4.12)

As equações (4.11) e (4.12), representam as equações discretizadas do

movimento segundo o eixo xx e da continuidade.

De modo análogo pode-se efectuar a discretização para v e no instante

1n .

n

ji

n

jijiji

n

ji

n

ji

n

jijiji

n

ji

n

ji

n

ji

n

jijiji

n

ji

n

ji

n

ji

n

jijiji

n

ji

hhvhhvy

t

x

thhu

x

thhu

1,,

2

1,

2

1

2

1,

2

1

2

1,

,1,

2

1,

2

1

2

1,

2

1

2

1,

,,,1

2

1,

2

1

2

1,

2

12

1

,2

1

2

1

,,1,

2

1,

2

1

2

1,

2

12

1

,2

1

4

2

4

57

Usando os mesmos procedimentos descritos anteriormente, e ainda por uma

questão de simplicidade considerando todos os termos associados a

correspondentes ao valor 'k , os termos associados a v correspondentes ao valor

2

1, ji

r e o termo independente correspondente ao valor 2

1, ji

C , obtém-se neste

caso:

2

1,

1

1,

'1

2

1,

2

1,

1

,

'

ji

n

ji

n

jiji

n

ji Ckvrk (4.13)

A equação de continuidade para o instante 1n , é também obtida pelo mesmo

método usado para a obtenção desta no instante 2/1n . Ao designar o termo

associado a 1

2

1,

n

jiv por

2

1, ji

s , o termo associado a 1

2

1,

n

jiv por

2

1, ji

s e ainda sendo o

termo independente kD , teremos a equação de continuidade discretizada para o

instante 1n :

k

n

jiji

n

ji

n

jijiDusvs

1

2

1,

2

1,

1

,

1

2

1,

2

1,

(4.14)

As equações (4.13) e (4.14) representam as equações do movimento na

direcção yy e da continuidade discretizadas no instante 1n .

Assim, o conjunto das equações (4.11), (4.12), (4.13) e (4.14) constitui a

aproximação por diferenças finitas das equações de movimento e da continuidade

em duas etapas consecutivas em cada incremento temporal (1ª etapa de n a

2/1n ; 2ª etapa de 2/1n a 1n ). A metodologia de discretização dos vários

termos apresentados recorre a um elevado número de valores médios. O principal

objectivo é eliminar eventuais picos, ou seja, as instabilidades, obedecendo aos

requisitos para a convergência do esquema numérico.

58

CAPÍTULO V – O MODELO NUMÉRICO E AS CONDIÇÕES DE FRONTEIRA

5.1 O modelo numérico de propagação de ondas gravíticas de longo período

O modelo hidrodinâmico utilizado (Leendertse & Gritton, 1971; Leendertse,

1987) tem como objectivo principal a simulação de campos da velocidade e da

altura da coluna de água em todo o domínio computacional. Seguidamente

efectua-se pelo uso do modelo um estudo das influências da hidrodinâmica em

eventuais episódios de poluição, por meio da análise da dispersão de partículas

passivas (a parte Lagrangeana do modelo). Tendo em conta os objectivos deste

trabalho, primeiro faz-se um estudo hidrodinâmico da Baía e seguidamente

analisa-se o transporte Lagrangeano das partículas.

A solução numérica das equações (4.11) a (4.14), permite determinar o campo

das velocidades e o nível da superfície livre do escoamento nos M N pontos do

domínio computacional em função do tempo. Para tal, um conhecimento prévio da

geometria da Baía e as especificações das condições de fronteira da Baía no

modelo são requeridos.

Neste capítulo, procura-se descrever o modelo numérico de propagação de

ondas longas (Leendertse e Gritton, 1971; Leendertse, 1987); assim, partindo das

equações (4.11) a (4.14), procura-se determinar os valores das componentes da

velocidade e do nível, em qualquer ponto do domínio computacional em função do

tempo, pelo método implícito em direcções alternadas (Alternating direction

implicit) “ADI”.

Por este método, através das equações (4.11) e (4.12), determinam-se os

valores das incógnitas u e no instante tn )2/1( ao longo de uma linha j , ou

seja, ao longo do eixo xx para qualquer j , sendo conhecidas as incógnitas v e

no instante tn , u e no instante tn )2/1( e ainda sendo conhecidas as

profundidades e as condições iniciais de fronteira.

Utilizando as equações (4.13) e (4.14), determinam-se os valores das

incógnitas v e no instante tn )1( , segundo a direcção do eixo dos yy , ou

seja, ao longo da linha i . Sendo assim necessário conhecer para além das

variáveis referidas anteriormente, os valores das incógnitas u e nos instantes

tn )2/1( e de v e no instante tn . O método utilizado para a determinação

59

dos campos do nível tem assim dois passos temporais, calculando-se

alternadamente os campos da velocidade segundo o eixo dos xx e dos yy .

Começa-se por resolver as equações (4.11) e (4.12), ou seja:

ji

n

ji

n

jiji

n

ji Akupk,

2

12

1

,12

1

,2

1,

2

12

1

,

j

n

jiji

n

ji

n

jijiBuquq

2

1

,2

1,

2

12

1

,2

1

,2

1,

2

1

Sendo as incógnitas deste conjunto 2

1

,

n

ji , 2

1

,1

n

ji , 2

1

,2

1

n

jiu , 2

1

,2

1

n

jiu .

Nas fronteiras abertas e fechadas da Baía são estabelecidas condições de

modo a serem conhecidos os valores da velocidade ou do nível. Neste trabalho,

na fronteira aberta especificam-se os valores de e na fronteira fechada os

valores de u (pois vamos resolver a equação ao longo do eixo xx , o índice j , no

instante 2/1n permanece constante).

Então, os valores conhecidos na fronteira serão 2

1

,1

n

j , que representam o valor

da altura de água na fronteira aberta, e o valor de 2

1

,2

1

n

jNu .

Então para a linha j , a forma matricial das equações (4.11), (4.12) será a

seguinte:

(5.1)

N

NNN

NN

B

A

B

A

uquq

kupk

uquq

kupk

.

.

.

.

.

.

...............00

..............

..............

................

.

................

0.......00

0.......00

0......00

2

5

2

2

3

2

1

2

1

2

1

2

1

3

2

5

2

52

2

5

2

52

2

3

2

3

2

2

3

2

31

.. ..

.. ..

..

... ... ... ... ... ..

..

60

Considerando a representação matricial na forma FA

. = B

, em que o vector

F

contém todos os valores desconhecidos de u e no instante )2/1( n , o

vector B

representa toda a informação conhecida para os instantes n e )2/1( n

e a matriz A é uma matriz tridiagonal que contém os coeficientes das incógnitas

u e , obtém-se:

NN

N

N

NN

B

A

B

A

u

u

u

u

qq

kpk

uquq

kpk

.

.

.

.

.

.

.

.

.

1.......00

..............

..............

................

.

................

0....00

0......00

0.......00

2

5

2

2

3

2

1

2

1

2

5

2

2

3

1

2

1

2

1

2

5

2

5

2

5

2

3

2

3

2

3

... ....

.. ..

.. ..

..

... ... ... ... ... ..

..

-

. .... 1

....

(5.2)

O sistema obtido resolve-se pelo método do duplo varrimento. Os valores

desconhecidos que integram o vector F

, no instante ( 2/1n ), determinam-se por

um número ilimitado de operações utilizando o método de eliminação das

incógnitas.

Começando com a primeira equação da matriz, determina-se a velocidade

2

1

,2

3

n

ju , que vem expressa em função de: 2

1

,2

n

j .

Ou seja:

S

p

kA

R

p

ku

n

jjn

j

n

j

11

2

3

2

1

,1,

2

3

2

1

,2

2

3

2

1

,2

3

(5.3)

Escrevendo a segunda equação da matriz e utilizando a equação (5.3), obtém-

se:

61

22

1

,2

5

2

52

1

,2

2

3

2

1

,1,

2

3

2

1

,2

2

32

3 Buqp

kA

p

kq

n

j

n

j

n

jjn

j

Ou então:

Q

p

q

k

kAp

q

B

u

P

p

q

k

q

n

jj

n

j

n

j

22

2

3

2

3

2

1

,1,

2

3

2

3

2

3

2

2

1

,2

5

2

3

2

3

2

5

2

1

,2

11

(5.4)

E agora, escrevendo a terceira equação da matriz em função da equação (5.4)

obtém-se:

S

p

q

k

kq

p

p

q

k

kAp

q

B

kA

R

p

q

k

q

kp

ku

n

jj

j

n

j

n

j

22

2

3

2

3

2

5

2

5

2

3

2

3

2

1

,1,

2

3

2

3

2

3

2

,2

5

2

1

,3

2

3

2

3

2

5

2

5

2

1

,2

5

1

1

1

(5.5)

Analisando as equações já apresentadas (5.3), (5.4) e (5.5), conclui-se que se

podem estabelecer expressões genéricas para o nível da água e para a

velocidade u como se segue:

62

ji

n

jiji

n

ji

ji

n

jiji

n

ji

SRu

QuP

,12

1

,,12

1

,2

1

,2

1

,2

1,2

1

,

(5.6)

Onde:

jiji

ji

jiqR

q

P

,2

1,1

,2

1

,1

(5.7)

jiji

jiji

ji

jiqR

SqB

Q

,2

1,1

,1,

2

1,

,1

(5.8)

jiji

jikPp

kR

,,

2

1

,

(5.9)

jiji

jiji

jikPp

kQA

S,

,2

1

,,

2

1

,

(5.10)

Os factores recursivos , , PSR e Q das equações (5.7) a (5.10) facilitam o

cálculo das variáveis u e do esquema numérico apresentado. Estes factores

calculam-se sucessivamente desde a fronteira aberta, começando portanto por

determinar os valores de 1R e 1S que se apresentam na equação (5.3), e que só

necessitam do valor de 2

1

,

n

ji , que é conhecido. Seguidamente, calculam-se os

63

factores recursivos , , NNN PSR e NQ , através da realização dos cálculos em

passos avançados e intercalados entre as variáveis , SR e QP, .

A primeira equação do conjunto de equações (5.6), resolve-se utilizando o valor

de u na fronteira. Prosseguindo até 2j , determinam-se valores de

1

2,

1

, , n

i

n

Ni , ..... (o índice j varia de N a 2, ou seja, efectuam-se os cálculos com

passo atrasado)

A segunda equação deste mesmo conjunto, resolve-se também por passos

atrasados e intercalando as incógnitas u e , obtendo-se os valores de

2

1

2,2

12

1

,2

1

n

i

n

Niuu até .

De modo semelhante ao cálculo das incógnitas u e no instante tn )2

1( ,

podem-se também determinar as incógnitas v e no instante tn )1( . Para tal,

consideram-se as equações (4.13) e (4.14).

2

1,

1

1,

'1

2

1,

2

1,

1

,

'

ji

n

ji

n

jiji

n

ji Ckvrk

k

n

jiji

n

ji

n

jijiDusvs

1

2

1,

2

1,

1

,

1

2

1,

2

1,

Neste caso as incógnitas são: 1

,

n

ji , 1

1,

n

ji , 1

2

1,

n

jiv , 1

2

1,

n

jiv .

Nas fronteiras abertas e fechadas são estabelecidas condições de modo a

serem conhecidos os valores da velocidade ou da elevação da superfície livre.

Neste trabalho, na fronteira aberta especificaram-se os valores de e na fronteira

fechada os valores de v .

Então, os valores conhecidos na fronteira serão 1

,1

n

j (que representa o valor da

altura da água na fronteira aberta) e o valor de 1

2

1,

n

Niv (que representa a velocidade

na fronteira fechada).

64

Para a coluna i , os procedimentos da determinação da forma matricial das

equações (4.13) e (4.14) são os mesmos descritos para o caso das equações

(4.11) e (4.12). Por analogia com a descrição anterior, também por duplo

varrimento resolvem-se as equações (4.13) e (4.14).

Sendo:

2

3

'

1r

kN (5.11)

2

3

1

1,

'

2

3,

1r

kC

O

n

ii

(5.12)

2

3

2

3

'

2

5

2

1r

s

k

s

L

(5.13)

2

3

2

3

'

1

1,

'

2

3,

2

3

2

3

2

2

1

)(

r

s

k

kCr

s

D

M

n

ii

(5.14)

2

3

2

3

'

2

5

'

2

5

'

2

1r

s

k

s

kr

kN

(5.15)

65

2

3

2

3

'

2

5

'

2

5

2

3

2

3

'

1

,

'

2

3,

2

3

2

3

2

'

2

5,

2

1

1

r

s

k

sk

r

r

s

k

kCr

s

D

kC

O

n

jii

i

(5.16)

Obtém-se as equações genéricas para a altura da água e para a velocidade v ,

como se segue:

ji

n

jiji

n

ji

ji

n

jiji

n

ji

ONv

MvL

,

1

1,,

1

2

1,

,

1

2

1,

,

1

,

(5.17)

Onde:

1,

2

1,

2

1,

,1

jiji

ji

jiNs

s

L (5.18)

1,

2

1,

1,

2

1,

,

,1

ji

ji

jiji

ji

jiNs

OqD

M (5.19)

2

1,

,

'

'

,

jiji

jirLk

kN (5.20)

2

1,

,

'

,

'

2

1,

,

jiji

jiji

jirLk

MkC

O (5.21)

66

Este último conjunto de seis equações permite determinar o valor da velocidade

v e da altura de água no instante tn )1( . Então, começa-se por determinar os

valores de 1O e 1N , uma vez que para o respectivo cálculo só é necessário o

valor de 1

,

n

ji , que é conhecido na fronteira aberta. Seguidamente, usando as

equações (5.18) e (5.15), calculam-se os restantes factores recursivos, variando o

k de 2 a N , ou seja, NM e NL são os últimos factores determinados (valores

correspondentes a fronteira fechada).

Finalmente, calcula-se v e . Usando as equações (5.17), determinam-se os

valores da velocidade na fronteira fechada e os valores de até 1

2

3,

1

2

1,

n

i

n

Nivv . De

modo análogo ao anterior efectua-se a primeira etapa com um passo avançado e

alternado entre as variáveis L, MON e , , posteriormente, uma nova etapa com

um passo atrasado alternando as incógnitas v e .

Este modelo resolve as equações (5.6) a (5.10) e as equações (5.17) a (5.21),

obtendo-se os campos da velocidade e da elevação da superfície livre.

Nas fronteiras fechadas assumem-se como nulos os valores das componentes

da velocidade.

5.2 Condições de fronteira

5.2.1 Fronteiras móveis

O coeficiente de Chézy ( C ), para além de ser utilizado na parametrização do

atrito do fundo, é utilizado neste modelo para definir os pontos “terra” e os pontos

“água”. Nos pontos terra, o valor do coeficiente de Chézy ( C ) é nulo e nos pontos

água é diferente de zero.

A dinâmica da maré conduz a que ao longo da sua evolução temporal alguns

pontos que foram “terra” sejam preenchidos por água (figura 5.1) ou vice-versa

(fronteira móvel), havendo então a necessidade de definir as fronteiras móveis.

De modo a tornar possível a determinação de novas fronteiras terra-água,

definiu-se neste modelo uma variável, relacionada com o volume de água numa

dada célula. Se num ponto particular do domínio do cálculo o valor do nível

67

diminuir de maneira a que o volume seja negativo, então esta célula será retirada

do cálculo.

Figura 5.1: Perfil vertical das áreas onde se impõe as condições das fronteiras móveis

O coeficiente de Chézy e os valores das velocidades que conduzem a este

ponto da grelha tomam o valor zero e todos os processos que envolvem fluxos

são eliminados. Recalculam-se os valores das fórmulas recursivas da velocidade

e do nível da água da coluna anterior, considerando o novo ponto terra. Este

procedimento obriga o modelo a andar meio passo para trás. Existe uma variável

que define a frequência de alisamento temporal, impondo ao modelo o recuo meio

passo, reiniciando posteriormente os cálculos com os valores médios do passo

temporal atrás. O método acima descrito, pode ser instável devido ao fenómeno

de Gibbs3.

Uma verificação mais eficiente é realizada da seguinte forma: se num dado

ponto da malha computacional qualquer dos transportes tomar um valor inferior a

uma constante pré-definida, este ponto é retirado dos cálculos.

3 Fenómeno de Gibbs consiste na formação da ondulação devido à súbita variação do fluxo causada pela retirada ou

acréscimo da água numa determinada célula do domínio computacional

O nível de água é mantido no seu valor presente, até que se inicie a enchente.

O mecanismo pelo qual o ponto terra passa a ser considerado ponto água, devido

à subida do nível da água, é realizado através do seguinte procedimento: se um

ou mais dos quatro pontos que circundam o ponto seco se encontra debaixo da

água, realiza-se a média dos quatro pontos. Se este valor for superior à constante

pré-definida anteriormente (quando o ponto se tornou seco), então o ponto da

Nível de referência

h

68

malha que anteriormente estava seco tem possibilidades de voltar a estar

molhado e ser integrado nos cálculos. A seguir fazem-se os cálculos dos

transportes através das secções que separam o ponto seco; se um destes

transportes for negativo, o ponto permanece seco. Se todos forem positivos, então

considera-se existirem condições para o ponto voltar a ser integrado no domínio

computacional.

5.2.2 Fronteiras fixas e condições iniciais

Na aplicação deste modelo considerou-se a fronteira Este e algumas células da

fronteira Oeste (correspondentes à foz dos diferentes rios que fazem parte do

domínio), abertas. As restantes fronteiras foram consideradas fechadas,

especificando-se valores da velocidade nestes pontos iguais a zero.

Na fronteira aberta do lado Este especificam-se valores do nível da maré de 6

em 6 minutos. As correntes nesta fronteira terão somente a componente Este-

Oeste. Nas fronteiras abertas correspondentes à foz dos rios especificam-se

valores do caudal dos respectivos rios.

O modelo numérico necessita de condições iniciais, a partir das quais a solução

numérica é construída de acordo com os valores das condições de fronteira. A

inicialização dos valores das componentes da velocidade é feita pela atribuição de

valores nulos a estas variáveis.

Relativamente à inicialização das elevações da superfície livre (altura da maré),

antes do início dos cálculos faz-se um teste para a determinação dos pontos terra

e dos pontos água. Na batimetria numérica da Baía do Maputo, os pontos terra

são representados por – 88.0, e aos restantes pontos atribuíram-se as respectivas

profundidades, em metros.

Nos pontos “água” (com profundidade diferente de – 88.0), atribui-se um valor

para a elevação da superfície livre da água diferente de zero, definido por uma

variável do modelo.

Para o estabelecimento do parâmetro de Coriolis, a latitude considerada é a

latitude média do domínio, correspondente para a Baia de Maputo a 25.9º Sul.

O coeficiente de Chézy foi definido a partir dos valores da altura de água e dos

valores do coeficiente de Manning. Os valores do coeficiente de Manning não são

69

constantes em toda a malha computacional, tendo o valor de 0.021 nas células

cujas abcissas são inferiores à coordenada numérica 160, e 0.033 nas restantes

células. O coeficiente de viscosidade utilizado é de 20 m2/s.

Foram também definidas a aceleração de gravidade, densidade do ar e

densidade da água do mar.

O passo temporal é de 60 segundos, sendo, o tempo de inicialização do

modelo (período de aquecimento) de 3 dias.

CAPÍTULO VI – DADOS E CALIBRAÇÃO

6.1 Dados

Para dar continuidade a este trabalho são requeridos vários dados, pois as

equações que constituem o modelo são resolvidas num domínio de cálculo onde

as especificações das condições de fronteira do fundo e condições de fronteiras

laterais são fundamentais. Posteriormente, o modelo é calibrado comparando

resultados obtidos através de simulações com dados observados na Baía.

70

O domínio do cálculo especificando as fronteiras do fundo e laterais, ou seja, a

batimetria numérica utilizada neste trabalho foi cedida pela empresa

HIDROPROJECTO4. É representada por uma malha regular de 250×250 metros.

Por razões computacionais, efectuou-se uma rotação de 20 graus da malha para

Este em relação ao Norte geográfico. O domínio (figura 6.1), tem uma extensão

de 95 km e 87.5 km nas direcções Norte-Sul e Este-Oeste, respectivamente.

Os limites da Baía foram prolongados para a zona Este, para o Sul e para o

Norte, de modo a centrar a zona da Baía e o estuário do Espirito Santo e afastar a

fronteira aberta que se localiza na zona oceânica (Teles et al, 2001).

Foi utilizada a seguinte informação cartográfica da região para a digitalização

das profundidades da Baía:

- A Batimetria da carta náutica 644 (Baía de Maputo) do Hydrographic Office

(UK), à escala 1:75000, publicada em 1994.

- Batimetria da carta náutica n.º 2930 (Josser point to Boa Paz) do

Hydrographic Office (UK), à escala de 1:300000, publicada em 1985.

- Batimetria da carta náutica n.º 495 (Porto de Maputo), à escala de 1:20000,

publicada pelo Instituto Hidrográfico de Portugal em 1972.

Na construção da batimetria utilizou-se o SoftWare AUTOCAD/DTM (Barata et

al, 2001).

4 Uma empresa Portuguesa que tem trabalhado na área de modelação hidrodinâmica

71

Figura 6.1: Batimetria numérica da Baía do Maputo. As profundidades são referidas relativamente ao zero hidrográfico e estão em metros

6.2 Calibração

Por definição, um modelo matemático constitui uma reconstrução aproximada

dos fenómenos reais. As aproximações e simplificações assumidas nas equações

gerais, bem como na sua discretização, geram diferenças entre os resultados

reais e computacionais. Por isso, embora o modelo satisfaça todas as condições

de estabilidade, consistência, etc., anteriormente referidas pode não reproduzir

integralmente os fenómenos tal como ocorrem na realidade.

Para que se possa garantir que o modelo reproduz a realidade com máxima

precisão possível, fazem-se simulações antes da aplicação do modelo, com o

objectivo de comparar os valores observados com os valores computacionais. Se

houver discrepâncias significativas entre este dois conjuntos de valores, novas

simulações são feitas, alterando-se individualmente e de uma forma progressiva

os parâmetros da tensão do vento, as condições de fronteira aberta, o atrito do

fundo, e, se possível, a batimetria numérica. Assim, a calibração é a parte da

modelação em que se investiga e se melhora a precisão dos resultados

computacionais por comparação com os resultados observados.

A verificação da reprodução correcta dos valores observados pelo modelo

depende também do grau de precisão da amostragem, pois pouco se pode

esperar da calibração com dados observados se estes não forem precisos.

Neste trabalho para a calibração, foram utilizados séries temporais da elevação

da superfície livre observadas nas estações do Porto de Maputo (PM) e Ilha dos

Portugueses (IP), bem como séries temporais das componentes da velocidade

observadas nas estações da Ilha dos Portugueses e do Baixo Ribeiro (BR) (figura

2.2). Estas séries foram obtidas em campanhas oceanográficas realizadas pelo

72

IIP (Instituto de Investigação Pesqueira) em Abril de 1993. O intervalo de

amostragem e o comprimento da série temporal das elevações da superfície livre

no Porto de Maputo é de 6 minutos e 15 dias respectivamente. Para as restantes

séries o intervalo de amostragem é de 10 minutos e o comprimento das séries

correspondeu a um mês. As coordenadas numéricas das estações de calibração

acima referidas são apresentadas na tabela 6.1.

Tabela 6.1: Coordenadas numéricas das estações utilizadas para a calibração do modelo numérico

6.2.1 Elevação da superfície livre

O processo de calibração iniciou-se comparando valores de elevação da

superfície livre. Com este objectivo, foram feitas várias simulações no período

correspondente ao mês de Abril de 1993. O modelo foi forçado na fronteira aberta

com a maré gerada pelos 35 constituintes mais significativos determinados na

secção 2.6 através da análise harmónica da série temporal de alturas de água do

Porto de Maputo. Os resultados destas simulações foram posteriormente

comparados com resultados observados. Com o objectivo de ajustar as saídas do

modelo aos valores observados, em cada nova simulação variou-se a amplitude e

fase dos constituintes da maré determinados anteriormente e impostos na

fronteira aberta, o que permitiu a diminuição das diferenças por comparação

qualitativa entre os valores observados e calculados.

Comparando os resultados das amplitudes e fases dos principais constituintes

da maré no Porto de Maputo e da maré registada na Ilha dos Portugueses, a maré

foi extrapolada para a fronteira aberta impondo-se um factor de redução de 0.8 na

amplitude, relativamente às alturas registadas no marégrafo do Porto de Maputo.

No que se refere às fases, em função de cada constituinte, foram impostos

atrasos (ou adiantamentos) correspondentes aos apresentados na tabela 6.2.

Estação Coordnum_i Coordnum_j

PM 143 144

IP 260 182

BR 231 197

73

Tabela 6.2: Atrasos impostos aos constituintes da maré do Porto de Maputo para extrapolação da maré para a fronteira aberta

Constituinte M2 S2 N2 K1 M8 OO1 Ms4 S4 O1 M4

Correcção () 13.0 -15.7 23.0 -63.1 -41.0 -45.3 151.0 -28.3 17.0 140.0

Os resultados da comparação entre as séries temporais simuladas e

observadas dos níveis de água nas estações de calibração (tabela 6.1), após a

aplicação do factor de correcção de 0.8 nas amplitudes da estação PM e a

correcção das fases de acordo com a tabela 6.2, são ilustrados na figura 6. 2.1

Ao analisar a figura verifica-se a existência de um bom ajuste entre os valores

observados e simulados. Os valores observados e simulados correspondentes às

séries temporais das elevações da superfície livre da água foram então sujeitos a

um tratamento estatístico, o que permitiu o cálculo do desvio quadrático médio

dos valores simulados em relação aos valores observados. Para as duas

estações de calibração o desvio foi igual a 0.013 metros.

Figura 6.2.1: Comparação das séries temporais da elevação da superfície livre observadas e simuladas

Tabela 6.3: Amplitude e fase dos principais constituintes harmónicos das séries temporais observadas e simuladas, bem como suas diferenças; aplmod e aplobs representam a amplitude determinada a partir dos valores simulados e observados, respectivamente; faobs e famod representam a fase determinada a partir dos valores observados e simulados, respectivamente; D_apl e D_fa representam a diferença entre as amplitudes e as fases, respectivamente

0 5 10 15 20 25

-1.0

-0.5

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

3.0

i=143 j=144

altu

ras

(m)

tempo (horas)

níveis do modelo

níveis observados

Porto do Maputo - 2/5/93

0 5 10 15 20 25

-1.5

-1.0

-0.5

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

3.0

i=260 j=182

altu

ras

(m)

tempo (horas)

níveis do modelo

níveis observados

Ilha dos Portugueses - 18/4/93

74

Posteriormente a este tratamento estatístico preliminar, efectuou-se a análise

harmónica (Foreman, 1977; Foreman e Henry, 1989) para as alturas de água (na

estação IP e PM). Na tabela 6.3 são apresentados os resultados da análise

harmónica efectuada a séries observadas e calculadas, bem como as suas

diferenças para os cinco constituintes mais significativos.

Da tabela 6.3 é possível verificar que a diferença entre as amplitudes obtidos

para os valores observados e simulados relativamente aos principais constituintes

M2 e S2, não é superior a 10 cm; relativamente às fases, as diferenças não

excedem 3.37º (a diferença máxima foi observada na estação IP para o

constituinte M2) o que corresponde aproximadamente a um atraso de 7 minutos

para os constituintes M2 e S2.

6.2.2 Velocidades de corrente de maré

Após o ajuste obtido ao comparar os valores simulados e observados da

elevação da superfície livre, procedeu-se à comparação dos valores simulados e

Constantes M2 S2 N2 K1 MSF Estação

Aplmod (m) 0.84 0.57 0.11 0.05 --

IP

Aplobs (m) 0.81 0.46 0.13 0.03 --

D_apl (m) 0.03 0.10 -0.02 0.02 --

Famo (º) 87.27 116.76 63.06 148.92 --

Faobs (º) 90.64 119.51 66.96 134.81 --

D_fa (º) -3.37 -2.75 -3.90 14.11 --

Aplmod (m) 0.90 0.53 -- 0.05 0.04

PM

Aplobs (m) 0.98 0.49 -- 0.04 0.05

D_apl (m) -0.08 0.04 -- 0.01 -0.01

Famo (º) 123.57 155.11 -- 115.73 280.81

Faobs (º) 126.85 158.42 -- 159.54 281.09

D_fa (º) -3.28 -3.31 -- -43.81 -0.28

75

observados da velocidade de corrente de maré (figura 6.2.2). Este procedimento,

apesar de integrado no processo de calibração, pode ser interpretado como uma

espécie de validação do modelo.

Figura 6.2.2: Comparação das séries temporais das correntes e das componentes da velocidade observadas e simuladas

Desta figuras conclui-se que existe um bom ajuste entre os valores observados e

simulados. O desvio quadrático médio da simulação em relação aos dados

observados das componentes U e V da velocidade nas estações da Ilha dos

Portugueses e do Baixo Ribeiro foram iguais a 7.5 cm/s, 8.3 cm/s, 10.8 cm/s e

10.8 cm/s, respectivamente. O desvio quadrático médio dos valores simulados em

relação aos dados observados da corrente de maré nas estações da IP e BR

foram iguais a 7.9 cm/s e 10.83 cm/s, respectivamente. Efectuou-se ainda a

0 5 10 15 20 25

-60

-50

-40

-30

-20

-10

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

i= 231 j=197

velo

cida

de (

cm/s

)

tempo (horas)

componente u do modelo

componente u observada

Baixo ribeiro - 18/4/93

0 5 10 15 20 25

-50

-40

-30

-20

-10

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

i= 260 j=182

velo

cida

de (

cm/s

)

tempo (horas)

componente u do modelo

componente u observada

Ilha dos Portugueses - 18/4/93

0 5 10 15 20 25

-80

-60

-40

-20

0

20

40

60

80

100

i=260 j=182

velo

cida

de (

cm/s

)

tempo (horas)

componente v do modelo

componente v observada

Ilha dos Portugueses - 18/4/93

0 5 10 15 20 25

-80

-60

-40

-20

0

20

40

60

80

100

i= 231 j= 197

velo

cida

de (

cm/s

)

tempo (horas)

componente v do modelo

componente v observada

Baixo Ribeiro - 18/4/93

0 5 10 15 20 25

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

110

120

i=231 j=197

Inte

nsi

da

de

da

co

rre

nte

(cm

/s)

tempo (horas)

correntes do modelo

correntes observadas

Baixo Ribeiro - 18/4/93

0 5 10 15 20 25

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

110

120

i=260 j=182

Inte

nsid

ade

da c

orre

nte

(cm

/s)

tempo (horas)

correntes do modelo

correntes observadas

Ilha dos Portugueses 18/4/93

76

análise harmónica para as correntes de maré nas estações de BR e IP, tanto dos

dados observados como dos obtidos nas simulações (análise harmónica dos

valores observados e calculados). Os valores calculados e observados, bem

como as suas diferenças para os cinco constituintes mais significativos, nas

estações de calibração são apresentados na tabela 6.4, onde:

Emamod e Emaobs, Ememod e Emeobs representam valores simulados e

observados dos eixos maiores e dos eixos menores, respectivamente; faobs e

famod, representam os valores da fase observada e simulada; Dfa, DEma, DEme, Dinc

representam as diferenças das fases, diferenças das amplitudes dos eixos

maiores, diferenças das amplitudes dos eixos menores e diferenças da inclinação

dos valores simulados e observados, respectivamente.

A diferença mais significativa entre os valores observados e simulados na

estação BR (9.69 cm/s), corresponde à diferença entre os eixos maiores relativa

ao constituinte S2. Porém, excluindo este valor, para os principais constituintes M2

e S2 as diferenças obtidas foram sempre inferiores a 3 cm/s, tanto para o eixo

maior como para o eixo menor, enquanto que os desvios das fases não foram

superiores a 3.72º, correspondente aproximadamente a um atraso de 8 minutos

para o constituinte M2 ou 7 minutos para o constituinte S2.

Uma comparação qualitativa entre os resultados da análise harmónica da

corrente efectuada às séries temporais simuladas e observadas foi também

realizada pela representação das elipses de maré, traçadas através dos

respectivos parâmetros da elipse. As figuras 6.3a e 6.3b, mostram que os

resultados destas comparações não apresentam discrepâncias qualitativas.

Tabela 6.4: Eixos maiores e menores das elipses de maré, fases e inclinações, bem como suas diferenças obtidas por análise harmónica das séries temporais observadas e simuladas da corrente de maré

Constantes M2 S2 N2 K1 MSF Estação

Emamod (cm/s) 56.88 38.98 7.03 1.56 2.11

Emaobs (cm/s) 57.30 29.29 10.32 2.45 4.19

Ememod (cm/s) 2.41 1.55 0.34 0.05 -0.02

Emeobs (cm/s) 1.00 0.26 0.35 -0.16 0.34

DEma (cm/s) -0.42 9.69 -3.29 -0.89 2.08

77

Dos resultados apresentados anteriormente, apesar das diferenças referidas

para o constituinte S2, verifica-se que o modelo reproduz com precisão a evolução

temporal e espacial da elevação da superfície livre induzida pela maré, assim

como das correntes de maré. Assim, conclui-se que a calibração foi efectuada

78

com sucesso e que o modelo reproduz com precisão a propagação da onda de

maré na Baía de Maputo.

Figuras 6.3a: Elipses de corrente de maré relativas aos dados observados e calculados pelo modelo. Correspondem aos constituintes da maré M2 e S2: Baixo Ribeiro

Figuras 6.3b: Elipses de corrente de maré relativas aos dados observados e calculados pelo modelo. Correspondem aos constituintes da maré M2 e S2: Ilha dos Portugueses

CAPÍTULO VII – HIDRODINÂMICA DA BAÍA DE MAPUTO

7.1 Introdução

A circulação na Baía de Maputo caracteriza-se principalmente por ser forçada

pela maré astronómica.

A informação que se tem em relação ao comportamento da maré na Baía de

Maputo é referente a apenas duas estações (a estação do Porto de Maputo e do

-60 -40 -20 0 20 40 60 -60

-40

-20

0

20

40

60 M2

local: I P mare observada: ------ mare calculada: ____

-60 -40 -20 0 20 40 60 -60

-40

-20

0

20

40

60 S2

local: I P mare observada: --- mare calculada: ___

-60 -50 -40 -30 -20 -10 0 10 20 30 40 50 60 -60 -50 -40 -30 -20 -10

0 10 20 30 40 50 60 M2

local: B R maré observada: ---- maré calculada:____

-60 -50 -40 -30 -20 -10 0 10 20 30 40 50 60 -60 -50 -40 -30 -20 -10

0 10 20 30 40 50 60

S2

local: B R maré observada: ------

maré calculada: ____

79

Baixo Ribeiro). Nenhum registo de período longo (com excepção ao do Porto de

Maputo) foi feito na Baía.

Uma vez calibrado o modelo, neste trabalho fez-se um estudo pormenorizado

do comportamento da maré na Baía determinando-se (para cada célula da malha

do domínio computacional), as amplitudes e fases das alturas da maré, os eixos

maiores e menores das elipses de maré, bem como as fases correspondentes às

correntes.

Fez-se seguidamente a simulação da evolução hidrodinâmica da Baía em

situações de máxima amplitude na maré viva e mínima amplitude na maré morta,

permitindo uma análise das situações extremas que eventualmente possam

ocorrer na Baía.

7.2 Resultados e análise dos resultados

7.2.1 Amplitudes, fases e elipses de maré

Os resultados da análise harmónica das séries temporais simuladas da

elevação da superfície livre durante a calibração (secção 6.2), mostraram que a

amplitude do constituinte K1 representa aproximadamente 5% da amplitude do

maior constituinte M2; a contribuição conjunta da amplitude dos constituintes M2 e

S2 em relação à maré astronómica total, foi de aproximadamente 90%.

Relativamente às séries temporais observadas da elevação da superfície livre nas

estações PM e BR, a amplitude do constituinte K1 representa aproximadamente

3% da amplitude do constituinte M2 e a soma das amplitudes dos constituintes M2

e S2 representa aproximadamente 90% da maré astronómica total. Assim, os

constituintes com amplitudes inferiores às da amplitude do constituinte K1 não

foram considerados nesta secção, pois pela sua reduzida contribuição podem ser

desprezados.

Recorrendo ao modelo, fez-se uma simulação correspondente a um período de

dois meses começando no dia 29 de Dezembro de 2002 à 1 hora. O intervalo das

saídas do modelo foi de 1 hora, obtendo-se assim séries temporais das

componentes da velocidade e das alturas da maré, para cada célula do domínio

num período de dois meses.

80

Posteriormente, efectuou-se a análise harmónica das séries obtidas através da

simulação, utilizando a função T_TIDE (secção 2.6.1), obtendo-se assim para os

constituintes principais a distribuição de fases e amplitudes na Baía.

A maré astronómica é reconhecida como um dos principais mecanismos

forçadores da hidrodinâmica da Baía de Maputo; por isso, para todo o domínio

computacional, determinaram-se os valores das amplitudes e fases dos principais

constituintes diurnos e semi-diurnos, (M2, S2, N2 e K1) que são representados nas

figuras 7.1 e 7.2.

A análise da Figura 7.1 revela que a amplitude do constituinte M2 é

aproximadamente o dobro da amplitude do constituinte S2, indicando a

importância deste constituinte na dinâmica da Baía. Verifica-se também que as

amplitudes dos constituintes M2, S2, N2 e K1 aumentam conforme a onda de maré

se propaga para o interior da Baía, diminuindo de amplitude ao longo dos canais.

Estes resultados podem ser interpretados como uma consequência da interacção

da onda da maré com o fundo da Baía e da lei da conservação de energia. De

facto, em águas pouco profundas a onda da maré propaga-se com uma

velocidade dada pela seguinte equação:

ghv (7.1)

Onde:

v - velocidade de propagação da onda em aguas pouco profundas (m/s);

g - aceleração de gravidade (m/s2);

h - profundidade (m).

81

Figura 7.1 Amplitude dos constituintes M2,S2,N2,K1

82

Figura 7.2: Fase dos constituintes M2, S2, N2 e K1

A equação (7.2) revela que a onda da maré ao propagar-se em direcção à

costa diminui a sua velocidade em consequência da diminuição da profundidade;

porém, a energia cinética da onda (que provém do seu movimento) pode ser

83

transformada em energia potencial relacionada com a amplitude da onda

(amplitude do constituinte) ou dissipada devido ao atrito com o fundo.

A figura 7.1 mostra que os efeitos do atrito no centro da Baía (zonas mais

profundas) são menores relativamente aos mesmos efeitos nos canais (zonas

menos profundas), o que se reflecte na transformação da energia cinética

(diminuição da velocidade de propagação da onda) em energia potencial

(traduzida pelo aumento da amplitude dos constituintes) no centro da Baía. Nas

áreas dos canais, correspondentes a zonas em que os efeitos do atrito são

relativamente maiores, a onda dissipa a sua energia potencial (anteriormente

adquirida através da transformação da energia cinética em potencial) sob a forma

de atrito, o que implica uma diminuição da amplitude da onda de maré.

Relativamente às fases dos principais constituintes diurnos e semi-diurnos, os

resultados obtidos (figura 7.2), revelam que há um aumento da fase (atraso na

propagação da onda de maré) em direcção à costa; os atrasos da onda da maré

intensificam-se quando a maré se propaga ao longo dos canais devido ao efeito

significativo do atrito no fundo. O atraso determinado na propagação dos

constituintes semi-diurnos desde a fronteira com o oceano até à extremidade mais

distante dos canais é da ordem dos 90, correspondente a aproximadamente 3

horas.

A determinação da natureza da maré (figura 7.3) para toda a Baía foi

Figura 7.3: Distribuição do factor de Forma na Baía de Maputo

84

M2

obtida pelo cálculo da razão (factor de Forma), entre as amplitudes dos

constituintes diurnos e semi-diurnos ( 1122 ,,, OKSM ), ou seja:

22

11

SM

OKF

(7.2)

Da figura 7.3 verifica-se que para todo o domínio a maré é essencialmente

semi-diurna (factor de forma entre 0 e 0.25), (Pugh, 1987). A análise desta figura

revela ainda que a influência dos constituintes M2 e S2 aumenta relativamente à

influência dos constituintes diurnos K1 e O1 conforme a onda de maré se propaga

na Baía, voltando a ser menor nas extremidades dos principais canais

A determinação, por análise harmónica, das elipses de maré para os

constituintes M2 e S2, em todo o domínio computacional, permite a observação e

análise da distribuição das correntes de maré (figuras 7.4.1 e 7.4.2).

Figuras 7.4.1: Elipses de maré do constituinte M2

85

Figuras 7.4.2: Elipses de maré do constituinte S2

Na Baía, a corrente de maré atinge valores máximos (na ordem de 1m/s e de

0.5 m/s para os constituintes M2 e S2, respectivamente), no centro e nos canais;

valores menores da corrente foram encontrados próximo da fronteira com o

oceano e próximo da costa. A orientação e rotação das elipses revela a

importância da batimetria no estabelecimento dos fluxos de maré na Baía de

Maputo, com o escoamento principal a orientar-se de acordo com as zonas de

maior profundidade.

7.2.2. Evolução da maré em situações extremas

Utilizando a função T_TIDE, foi possível “reconstruir” as séries temporais

correspondentes a situações de amplitudes extremas (amplitude máxima na maré

viva e amplitude mínima na maré morta) da elevação da onda da maré no Porto

de Maputo (e consequentemente na fronteira aberta), entre os períodos de 1990 e

2000 (secção 2.6.2 - figura 2.7).

86

Nesta secção apresenta-se a caracterização hidrodinâmica da Baía de Maputo

nas duas situações de amplitudes extremas, através das simulações realizadas

forçando o modelo com as séries referidas. A evolução das correntes de maré e

da elevação da superfície livre 1 hora, 3, 7, 10 e 12 horas lunares após o inicio da

baixa-mar na fronteira aberta com o oceano, são ilustradas nas figuras 7.5 e 7.6

nas situações de máxima amplitude na maré viva e mínima amplitude na maré

morta, respectivamente. As séries temporais (gráfico do canto superior esquerdo

das figuras) representam a elevação da superfície livre imposta na fronteira

aberta, e o último sinal “” corresponde ao instante em que é representado o

campo horizontal.

Em todos os instantes da evolução da maré foi possível notar que a corrente de

maré é mais intensa tanto na vazante como na enchente no centro da Baia

(figuras 7.5.1 a 7.5.5) comparativamente às outras áreas.

Figura 7.5.1: Padrão de corrente de maré 1 hora após a baixa-mar (maré viva)

87

Figura 7.5.2: Padrão de corrente de maré 3 horas após a baixa-mar (maré viva)

Figura 7.5.3: Padrão de corrente de maré 7 horas após a baixa-mar (maré viva)

88

Figura 7.5.4: Padrão de corrente de maré 10 horas após a baixa-mar (maré viva)

Figura 7.5.5: Padrão de corrente de maré 12 horas após a baixa-mar (maré viva)

89

Figura 7.6:1 Padrão de corrente de maré 1 hora após a baixa-mar (maré morta)

Figura 7.6.2: Padrão de corrente de maré 3 horas após a baixa-mar (maré morta)

90

Ele

vação (

m)

Figura 7.6.3: Padrão de corrente de maré 7 horas após a baixa-mar (maré morta)

Figura 7.6.4: Padrão de corrente de maré 10 horas após a baixa-mar (maré morta)

91

Figura 7.6.5: Padrão de corrente de maré 12 horas após a baixa-mar (maré morta)

Na maré viva, em toda a Baía as intensidades da corrente máxima foram

observadas 3 horas e aproximadamente 9 horas (a figura não é apresentada

neste trabalho) após o início da enchente na fronteira aberta. Nestes instantes os

valores das intensidades variam entre 0.0 m/s e 0.64 m/s e 0.0 m/s e 0.70 m/s,

respectivamente. Os valores da elevação da superfície livre atingiram o máximo,

correspondente a 4.5 m, 7 horas após o início da enchente na fronteira aberta.

Relativamente aos ciclos da maré morta, a corrente atinge valores máximos em

toda a Baía 3 horas e 7 horas após o início da enchente na fronteira aberta. Os

valores oscilam entre 0.0 m/s e 0.34 m/s e 0.0 m/s e 0.24 m/s, respectivamente.

Os valores das elevações da superfície livre atingiram o valor máximo de 2.60 m,

7 horas após o início da enchente na fronteira aberta.

Os resultados do ciclo correspondente ao período da maré morta mostram que

há uma redução em toda a Baía de aproximadamente 50% (de 5 metros a 2.24

metros) da amplitude da onda de maré comparativamente ao ciclo da maré viva.

92

No ciclo de maré viva, é evidente uma diferença de amplitude de

aproximadamente um metro entre a onda de maré na fronteira aberta e na

entrada do estuário do Espírito Santo; ao passo que para o mesmo espaço é

pouco evidente esta variabilidade no ciclo de maré morta. O facto de a

variabilidade espacial no ciclo de maré viva ser maior relativamente à do ciclo de

maré morta, poderá estar relacionada com as diferenças das correntes de maré

nos dois ciclos. Durante a maré morta, em toda a Baía os valores das

intensidades da corrente de maré variaram entre 0.0 m/s e 0.30 m/s

aproximadamente; ao passo que no ciclo da maré viva as intensidades da

corrente variaram entre 0.0 m/s a 1.15 m/s aproximadamente.

A análise das séries temporais das alturas da maré na fronteira aberta mostra

que 12 horas após o início da enchente, no ciclo da maré viva (figura 7.5.5), inicia-

se a nova enchente na fronteira aberta. Pela análise da série temporal na maré

morta (figura 7.6.5), verifica-se que no mesmo instante ainda permanecem

correntes de vazante. Uma vez que nos dois ciclos (maré viva e maré morta) o

período da enchente foi de aproximadamente 6 horas (figuras 7.5.1, 7.5.3 e

figuras 7.6.1 e 7.6.3) conclui-se que durante a maré morta a onda de maré se

propaga mais lentamente na vazante do que durante a enchente.

7.2.3 Diferença de fase entre a onda de maré e as correntes de maré

A equação (7.2) pressupõe que a distorção da onda da maré é muito pequena,

o que implica que a diferença de fase entre a elevação da superfície livre e a

intensidade da corrente é de 90º. Consequentemente, não existem fluxos quando

a elevação da superfície livre atinge valores extremos (máximos e mínimos), bem

como o fluxo médio num ciclo completo da maré seria igual a zero (Lewis, 1997).

Em águas pouco profundas, quando devido ao atrito com o fundo a onda é

distorcida, a velocidade de propagação da onda toma a forma (Lewis, 1997):

)3( hgv (7.3)

onde é a elevação da superfície livre.

93

Neste caso, a elevação da superfície livre, e a corrente de maré, podem perder

a sua forma simétrica, resultando na alteração dos instantes de ocorrência das

amplitudes máximas da corrente e da elevação da superfície livre. Esta mudança

de fase de ocorrências de máximos, indica que a distorção da forma da onda das

elevações de superfície livre e da corrente tem como consequência um aumento

ou diminuição (relativamente ao caso de uma onda estacionária) da diferença de

fase entre estas duas ondas. Assim, durante o ciclo de maré, uma mudança de

fase entre as ondas de maré e da corrente de maré pode ocorrer de tal modo que

a corrente máxima de enchente ocorre quando a elevação da superfície livre é

maior que o nível médio da maré e o máximo da corrente de vazante ocorre

quando a elevação da superfície livre é menor do que o nível médio.

Consequentemente, a corrente em média seria fraca na enchente e forte na

vazante (Lewis, 1997). Deste modo, pela distorção da onda de maré, uma

mudança de fase induziria um fluxo médio na direcção do fluxo da vazante (ou em

direcção ao fluxo de enchente nos casos em que o máximo da enchente ocorre a

um nível inferior ao nível médio da maré e o máximo da vazante ocorre a um nível

superior ao nível médio da maré). Em casos mais complicados de uma onda

progressiva, o fluxo médio das correntes de maré depende da relação entre a fase

da corrente de maré e da onda da maré (Pugh, 1987). Estas correntes (correntes

residuais) que surgem devido às variações das diferenças de fase têm sido

comuns em zonas costeiras e têm sido assunto de análises detalhadas (Longuet-

Higgins, 1969).

Outro aspecto importante da análise das diferenças de fase entre a onda de

maré e da corrente de maré está no facto de o fluxo médio de energia (fluxo numa

secção transversal), da onda de maré ser proporcional ao co-seno da diferença de

fase entre a onda de maré e da corrente da maré. Assim, o fluxo médio de energia

é máximo quando a onda for progressiva (diferença entre as fases é nula), e

torna-se mínimo quando a onda for estacionária (diferença entre as fases é de

90º). Apesar de não ter sido objectivo deste trabalho um estudo pormenorizado

destes conceitos, uma abordagem sucinta mostra as implicações, bem como a

importância, de uma análise das diferenças de fase entre a onda de maré e a

corrente de maré. Assim, com base nos resultados do modelo, foram

94

determinadas as fases das correntes de maré dos constituintes M2 e S2, assim

como foram determinadas as diferenças de fase entre a onda de maré

(determinadas na secção 2.7.1) e a corrente de maré; estes resultados são

ilustrados nas figuras 7.7a e 7.7b.

Em poucas áreas da Baía a diferença entre as fases foi de aproximadamente

0º, tanto para o constituinte M2 como para o constituinte S2. A diferença de fases

para ambos os constituintes no interior da Baía variou entre -135º e -45º. Foram

também identificadas diferenças de fase com valores compreendidos entre 45º e

90º à entrada do rio Incomati e em algumas áreas do Estuário do Espirito Santo.

Os valores típicos da diferença de fase em toda a Baía para os constituintes M2 e

S2 corresponderam a 117º e 120º, respectivamente. O que demonstra que para os

dois constituintes as correntes atingem valores máximos aproximadamente quatro

horas após a ocorrências dos valores máximos da altura da maré.

Os resultados indicam também que em quase toda a Baía o fluxo de energia

não atinge o valor máximo para ambos os constituintes. Pois, mostram diferenças

entre as fases que indicam a quase inexistência de coincidências entre os

instantes de ocorrência de valores máximos da corrente de maré e os valores

nulos das elevações da superfície livre da maré. De facto as diferenças de fase

são maiores que 90º na maior parte da Baía para os dois constituintes da maré.

Figuras 7.7a: Fase da corrente da maré do constituinte M2 (a); diferença de fase do constituinte M2 (b)

b

a

95

Figuras 7.7b: Fase da corrente da maré do constituinte S2 (c) e diferença de fases do constituinte S2 (d)

Assim na maior parte do domínio, a onda de maré apresenta características

entre uma onda estacionária e uma onda progressiva, podendo ser classificada

como uma onda mista. No que concerne à corrente média, estes resultados

poderão revelar ocorrência de correntes mais fracas na vazante relativamente às

correntes de enchente ou vice-versa, isto é, ocorrência de correntes residuais ao

longo dos ciclos de maré.

c

d

96

CAPÍTULO VIII – CIRCULAÇÃO RESIDUAL EULERIANA

8.1 Introdução

A análise das correntes de maré na Baía de Maputo revelou que no centro da

Baía a corrente alcança velocidades máximas próximas de 70 cm/s

(aproximadamente na ordem de 1m/s). Intensidades da corrente menores foram

observadas junto à entrada da Baía e próximo das fronteiras fechadas.

A diferença de fase determinada na secção 7.2.3 mostrou a possível existência

de um fluxo médio diferente de zero ao longo do ciclo de maré em muitas partes

da Baía; ou seja, que correntes resultantes do forçamento do modelo com a maré

podem não ser periódicas durante o ciclo de maré.

Evidentemente, a característica fundamental do movimento do fluido em Baías

é o fluxo oscilatório, forçado pelas marés das bacias oceânicas adjacentes. Um

estudo prévio deste fluxo oscilatório foi efectuado no capítulo anterior. Contudo, a

circulação da maré em baías é definida pelas correntes devido à acção da “maré

oscilatória” (maré astronómica), dos ventos, dos rios, bem como pela corrente

produzida devido à interacção entre estes forçamentos. Por isso, embora o

conhecimento e a compreensão da dinâmica das marés seja importante, não é

ainda suficiente para determinar as propriedades do transporte associado ao

fluido (tais como o transporte da matéria suspensa, de poluentes, etc.), (Robinson,

1983). Mesmo que a distribuição média destas propriedades ao longo do ciclo de

maré seja fortemente influenciada pelo fluxo oscilatório que actua para dispersar

as suas concentrações (pelo processo da difusão de maré), o transporte médio

em cada ciclo de maré é controlado pelo fluxo residual. O conceito de fluxo

residual, é então associado à parte não oscilatória do fluxo total da água em cada

ciclo da maré.

De uma maneira geral, a ordem de grandeza das velocidades relacionadas

com o fluxo residual ou com o transporte residual, pode ter valores

correspondentes a uma ou mesmo duas ordens de grandeza inferiores aos

valores típicos da corrente de maré. Uma consequência evidente desta

discrepância de ordens de grandezas, é a dificuldade existente na determinação

experimental das correntes residuais. Por exemplo, o sinal da corrente residual

obtido com o auxilio de um correntómetro (atendendo à sua ordem de grandeza),

97

por vezes é inferior ao sinal do ruído associado à medição da corrente de maré, o

que gera um falso registo de correntes residuais, como os já abordados por Gould

(1973) e Booth et al (1978). Assim, mesmo os mais detalhados registos de

circulação residual baseada em técnicas de medição por instrumentos

oceanográficos são questionáveis do ponto de vista da sua precisão. O uso dos

modelos numéricos tem sido, consequentemente, frequente na compreensão da

dinâmica das correntes residuais.

A compreensão do conceito de circulação residual, como um mecanismo de

verificação da razoabilidade da interpretação dada à observação das correntes é

de importância relevante. Contudo, é necessário ter-se alguma cautela na

interpretação dos campos residuais obtidos pelo uso dos modelos numéricos, pois

os erros associados ao esquema das diferenças finitas podem estar “mascarados”

nos campos residuais.

Na descrição do movimento residual do fluido, podem ser considerados dois

tipos de abordagens: a abordagem Euleriana, em que se descreve o movimento

do fluido num referencial fixo e a abordagem Lagrangeana, em que a descrição é

feita de modo que o referencial corresponde ao centro de massa da partícula do

fluido. De acordo com a abordagem Euleriana (a considerada neste capítulo),

considera-se a velocidade e outras propriedades da partícula do fluido, como

sendo funções do tempo e das coordenadas espaciais referenciadas em relação a

um ponto fixo. Esta abordagem é mais adequada em estudos de processos com

escalas temporais superiores às escalas das excursões de maré, que são

fundamentais em sistemas costeiros, uma vez que o transporte de substâncias

com taxas lentas de decaimento ou com reprodução lenta são processos de longo

termo (Dias, 2001). A compreensão da distribuição e movimento destas

substâncias em sistemas costeiros (depende também da correcta descrição da

hidrodinâmica do sistema), é de importância relevante em outros estudos, tais

como na compreensão das implicações de operações de dragagem, na

identificação de zonas com extinção da luz e seus efeitos na produtividade

primária (quando a partícula é suspensa e não biodegradável), na determinação

dos depósitos dos contaminantes, etc.

98

8.2 Formulação da teoria da circulação residual euleriana

Recordando a assunção feita relativamente à homogeneidade vertical da Baía

de Maputo, a velocidade média Euleriana 5 é definida como:

),(

),(

),,(1

),,(,),,(),,(

yx

yxh

ee dztyxuh

tyxVtyxUtyxU

(8.1)

Onde U e V são as componentes verticalmente integradas da velocidade nas

direcções dos eixos xx e yy , respectivamente, ),( yxh é a profundidade em

relação ao nível de referência (zero hidrográfico) e ),,( tyx é a elevação da

superfície livre relativamente ao nível de referência (nível médio).

Separando a parte periódica correspondente às velocidades devido à maré

(índice m), a componente residual (índice r) é formalmente expressa por:

mmrr VUVUVU , , , (8.2)

Definindo o operador média do ciclo da maré por:

dtT

T

0

1 (8.3)

Onde T é o período de cada constituinte utilizado para forçar o modelo (por

exemplo para M2, T=12h 25 min.

A velocidade residual é definida como se segue:

dtdztyxuhT

tyxVtyxU

T yx

yxh

err

0

),(

),(

),,(11

),,(,),,(

(8.4)

Onde eu é a velocidade Euleriana que é determinada pelo modelo

bidimensional previamente calibrado.

5 Definem-se grandezas Eulerianas as grandezas com propriedades de um ponto fixo no espaço.

99

Para determinar a velocidade residual euleriana para todas as células do

domínio computacional, são efectuadas simulações numéricas em que se

determinam os campos da velocidade euleriana em todos os instantes que

correspondem a múltiplos do passo temporal do modelo. O período da simulação

corresponde ao período do constituinte da maré utilizado como forçamento do

modelo. O número dos campos da velocidade euleriana determinados nesta

simulação, corresponde ao produto do período do constituinte da maré pelo passo

temporal de integração do modelo numérico. A velocidade residual euleriana (em

cada ponto do domínio) é determinada somando as velocidades (neste ponto)

obtidas em todos os campos e dividindo pelo período do constituinte da maré.

Este procedimento permite a eliminação da componente periódica da maré, e

consequentemente a determinação da parte não periódica da maré (componente

residual da maré).

8.3 Resultados e análise dos resultados

8.3.1 Correntes residuais induzidas pela interacção não linear da maré com a topografia.

A maré na Baía de Maputo, é principalmente caracterizada pelos constituintes

M2 e S2 da maré. O constituinte S2 representa quase 50% da maré gerada pelo

constituinte M2. Esta relação percentual entre os principais constituintes, indica a

importância da inclusão da constituinte S2 nos cálculos da corrente residual. Neste

caso, o período T , foi definido como:

22

111

MS TTT (8.5)

Para forçamentos do modelo com os constituintes M2 e S2 em simultâneo, o

período T foi igual a: T min 22 h 354 (ou seja aproximadamente 14.77 dias).

Três casos foram estudados; no primeiro efectuou-se a simulação forçando o

modelo com a maré correspondente aos dois principais constituintes (M2+S2);

seguidamente fizeram-se duas simulações, onde para cada uma forçou-se o

modelo com a maré correspondente a apenas um dos principais constituintes.

100

1.4 cm/s

Pro

fundid

ade (

m)

As figuras 8.1, 8.2a e 8.2b mostram os resultados da distribuição da corrente

residual, nos casos em que o forçamento do modelo foi efectuado com os dois

principais constituintes em simultâneo, e nos casos em que o forçamento do

modelo foi efectuado com cada um dos principais constituintes separadamente.

A partir da análise das figuras 8.1, 8.2a e 8.2b, verifica-se que a corrente

residual é maior no centro da Baía (com ordem de grandeza de 1 cm/s), e

relativamente menor próximo da fronteira aberta e no interior da Baía próximo da

fronteira fechada (na parte Sul da Baía).

As correntes residuais produzidas pelos constituintes M2+S2, M2 e S2 (figuras

8.1, 8.2a e 8.2b), são de igual ordem de grandeza. Os resultados das figuras 8.2a

e 8.2b mostram que comparativamente ao constituinte S2, o constituinte M2 é o

que produz a maior corrente residual e um padrão de distribuição espacial

semelhante ao produzido pela acção simultânea dos constituintes M2+S2 (figura

8.1).

Figura 8.1: Correntes residuais, obtidas forçando o modelo com os constituintes M2 e S2 da maré

101

Figura 8.2.a: Correntes residuais, obtidas forçando o modelo com o constituinte M2 da maré

Norte

Figura 8.2b: Correntes residuais obtidas forçando o modelo com o constituinte S2 da maré

Pro

fundid

ade (

m)

102

Estes resultados mostram ser suficiente o forçamento do modelo somente com

o constituinte M2 no estudo das distribuições do padrão e da intensidade típica da

corrente residual. Um estudo similar efectuado no Golfo da Califórnia (Marinone,

1997), mostrou que embora as correntes residuais produzidas pela acção do

constituinte M2 tivessem intensidades relativamente inferiores às correntes

residuais produzidas pela acção simultânea dos constituintes M2 e S2 ou pela

acção simultânea de todos os constituintes, o forçamento do modelo com este

constituinte (M2), seria suficiente para descrever os padrões da circulação residual

influenciada pela maré.

Os fluxos residuais representados nas figuras 8.1, 8.2a e 8.2b, podem ser

gerados pela interacção não linear da maré com o fundo, pois com o mesmo

coeficiente de atrito do fundo teremos maiores efeitos dissipativos em locais

pouco profundos relativamente aos locais mais profundos. A característica mais

importante e talvez a mais significativa dos fluxos nas figuras 8.2a e 8.2b, é o

conjunto de vórtices que se formam no centro da Baía.

A distribuição da vorticidade devido à interacção da maré com o fundo é

avaliada teoricamente. Por analogia com a equação do movimento verticalmente

integrada, num sistema de referência rotacional, em fluidos com densidade

constante, a equação da vorticidade verticalmente integrada é obtida, pela

seguinte expressão, (Zimmerman, 1978):

VH

HvtH

fV

t D

b

D

D

2

)()(.).(

(8.6)

Onde:

é a vorticidade relativa

é a densidade do fluido

t é o incremento temporal

f é o parâmetro de Coriolis

),,( tyx é a elevação da superfície livre da água

é o coeficiente de viscosidade

),,( tyxV é a velocidade média horizontal verticalmente integrada

103

),( yxH D é a profundidade

b é tensão de atrito no fundo

Neste modelo a tensão do fundo é expressa pela equação (3.29).

Admitindo que a profundidade ),( yxH D pode ser expressa como a soma de

uma profundidade característica (constante) e uma flutuação da profundidade, ou

seja, por:

),(),( yxhHyxH D (8.7)

sendo ainda

),( yxH D , Hh e ),( yxh (8.7a)

Recordando que o rotacional de um campo escalar é sempre nulo e na base

das assunções já feitas ((8.7) e (8.7a)), a equação da vorticidade devido à

interacção com o fundo pode ser reescrita da seguinte maneira:

VHC

Vgv

HC

hVghV

tH

fV

t

2

222

..).(

(8.8)

Os termos que contém a irregularidade do fundo ( h ) no lado direito da

equação (8.8) são os termos responsáveis pela produção da vorticidade devido às

interacções não lineares com o fundo. Estes termos também podem ser

designados por termos da perturbação do campo da vorticidade e são nulos

quando h =0; neste caso, a vorticidade será expressa por H

f , que é

equivalente à vorticidade da onda de Kelvin. Ou seja, uma vez que a onda possui

uma vorticidade planetária devida ao seu movimento superficial, a vorticidade

relativa da onda de Kelvin, , é a vorticidade obtida pelo aumento da elevação da

superfície livre (elevação da coluna de água) da onda à medida que ela se vai

propagando.

Assim, qualquer outra vorticidade será consequência do efeito das

irregularidades do fundo. Portanto, define-se a perturbação da vorticidade (ou

vorticidade residual) , por , que por sua vez se relaciona com a

104

perturbação da velocidade pela expressão KUVu ; onde KU é a velocidade da

onda de Kelvin e é dada por c

gU K

, sendo ainda válida a aproximação

KUu .

Neste caso, a equação da perturbação da vorticidade (vorticidade residual), em

primeira aproximação é dada por:

2

222

).(

HC

UgU

HC

hUg

H

hfUhU

tHuU

t

K

K

KKK

(8.9)

Os termos do lado direito da equação (8.9) contêm as fontes e a dissipação da

vorticidade; o segundo, o terceiro, e o quarto termos do lado esquerdo da mesma

equação, contêm as interacções da perturbação do campo da vorticidade com a

onda da maré não perturbada.

Para se ter uma ideia da ordem de grandeza dos diferentes termos da última

equação, na tabela 8.1 mostram-se os resultados da análise de escala dos

respectivos termos. Sendo a ordem de grandeza dos principais parâmetros

descritos anteriormente a seguinte: no domínio deste trabalho as dimensões

horizontais variaram entre 104 m e 105 m, correspondendo à escala horizontal

típica da Baía; as velocidades horizontais apresentaram um intervalo de variação

desde 10-1 m/s a 1m/s; as profundidades típicas no domínio foram da ordem de

grandeza de 10 m no interior e no centro da Baía, e 100 m mais para o lado Este

da Baía (no exterior da Baía); a perturbação da profundidade ),( yxh variou entre

as ordens de grandezas de 10-1 m a 101 m; sendo ainda, a frequência do

constituinte M2, que tem a ordem de grandeza de 105s e o parâmetro de Coriolis

da ordem de grandeza de 10-4 1/s; o coeficiente 2C

g variou entre 1 e 10-3; o

coeficiente de viscosidade utilizado foi de ordem de grandeza de 102m2/s. Ou

seja:

m/s 10 -

s m m, , s , s 10

m, m, m/s, m,

3

2 1 - 1 - 5 -

2 2 2

2 4

1 2 1 5 4

10 , 10 1

/ 10 1 10

10 10 10 10 1 10 10 10

c C

g

A f

h H U L

105

Tabela 8.1: Termos da equação de vorticidade e as respectivas ordens de grandeza

Após a aplicação do operador média do ciclo de maré aos termos da equação

(8.9) num período correspondente ao ciclo do constituinte M2 da maré, e

desprezando os termos de ordem de grandeza inferior a 10-6 (uma vez que a

análise de escala mostrou que estes termos são menos importantes relativamente

aos restantes), a equação toma a forma:

2

2).(

HC

Ug

tHuU

K

K (8.10)

Onde a barra superior indica a aplicação do operador média aos termos na

equação (8.10).

Desta equação, conclui-se que o balanço da vorticidade residual no interior da

Baía de Maputo depende da advecção da perturbação da vorticidade pela

velocidade não perturbada da maré (1º termo do lado esquerdo), da advecção da

vorticidade não perturbada (vorticidade da onda de Kelvin) pela perturbação da

velocidade (2º termo do lado esquerdo) e da variação da vorticidade de Kelvin

Termos Aproximação Ordem de grandeza

KU 1LU K 10-5

-10-6

u 12 )( HcALf 10-6

-10-10

tH

1HA 10

-6-10

-7

).(1 hUH K 1)( HLhU K 10

-7-10

-9

).(1 hUfH K

fHLhU K

1)( 10

-11-10

-13

KK UhUHCg .)( 122

KK UHLChgU 122 )( 10

-8-10

-10

KUHCg 12 )( 12 )( HCgU K 10

-2-10

-4

2 2L 10-6

-10-8

106

(terceiro termo do lado esquerdo). A vorticidade residual é dissipada tanto pelo

atrito no fundo (1º termo do lado direito) como pela viscosidade devida à

turbulência interna (último termo da última equação). Na zona exterior da Baía, o

termo correspondente à variação da vorticidade de Kelvin (pela sua ordem de

grandeza) pode ser desprezado. Portanto, este balanço depende da advecção da

perturbação da vorticidade pela velocidade não perturbada da maré, da advecção

da vorticidade não perturbada pela perturbação da velocidade (a vorticidade

residual devido às interacções não lineares), e é dissipada pelo atrito no fundo,

bem como pela viscosidade devida à turbulência interna. Esta descrição está de

acordo com os resultados obtidos pelo modelo numérico utilizado neste trabalho,

pois o 1º e o 2º termos do lado esquerdo da última equação relacionam-se

linearmente com a intensidade da corrente de maré (campos das velocidades) e

com as irregularidades do fundo. A sobreposição das correntes residuais à

batimetria numérica efectuada nas figuras 8.1 e 8.2, mostra que a localização dos

vórtices da corrente residual se aproxima, ou por vezes chega mesmo a coincidir,

com os locais da Baía correspondentes à maiores irregularidades do fundo. Na

zona correspondente à entrada do estuário do Espirito do Santo, a ausência de

vorticidade provavelmente deve-se à ausência de irregularidades do fundo, fracas

variações da intensidade da corrente de maré, bem como ao excesso dos

fenómenos de dissipação da vorticidade pelo efeito de atrito que aparenta ser

mais importante nesta área.

De uma maneira geral, embora os resultados indiquem diferentes padrões da

dinâmica dos fluxos residuais no interior e no centro da Baía, os sentidos dos

vectores da corrente residual indicam uma transferência de substâncias do interior

para o exterior da Baía.

8.3.2 Correntes residuais induzidas pelos rios e pelo vento

Seguidamente, impuseram-se simultaneamente ao modelo os forçamentos não

periódicos (caudais médios mensais dos rios e ventos predominantes) e

forçamentos periódicos (maré).

Relativamente às correntes residuais induzidas pelos rios, foram efectuadas

oito simulações, sendo quatro (na época de Verão) durante o mês de Fevereiro,

107

que corresponde ao mês de maior caudal médio mensal, e as restantes (na época

de Inverno) durante o mês de Setembro, que corresponde ao mês de menor

caudal médio mensal, de acordo com a análise efectuada na secção 2.4 do

capítulo II. Para cada uma destas quatro simulações (nas duas épocas do ano), o

modelo foi forçado impondo-se individualmente na fronteira aberta “Rio-Baía”, o

caudal médio dos rios Incomati, Maputo e, dos três rios (Umbeluzi, Matola e

Tembe) que desaguam no estuário do Espirito Santo, e os caudais de todos os

rios em simultâneo, respectivamente. Na fronteira aberta “Oceano – Baía”, foi

imposta a série temporal da maré gerada apenas pelo constituinte M2. O período

de simulação correspondeu ao período de oscilação do constituinte M2.

Efectuou-se posteriormente uma simulação, impondo na fronteira aberta

apenas a série temporal da maré gerada pelo constituinte M2 (forçamento

periódico na fronteira aberta).

A corrente residual induzida pelos rios foi determinada subtraindo os campos

das correntes de maré obtidos nas simulações em que foram impostos

simultaneamente forçamentos periódicos e não periódicos, pelos campos das

correntes de maré obtidos nas simulações em que foram impostos somente os

forçamentos periódicos.

A distribuição destas correntes residuais durante a época de Verão é

apresentada nas figuras 8.3. Os rios Maputo e Incomati (figuras 8.3a e 8.3b),

geram fortes correntes residuais comparativamente aos rios que desaguam no

estuário de Espírito Santo. Com excepção do rio Maputo, as correntes residuais

geradas por cada rio (figuras 8.3a, 8.3b, 8.3c), são apenas significativas junto à

foz dos respectivos rios. A acção simultânea de todos os rios dá origem a

correntes residuais em toda a Baía que se orientam (de acordo com a orientação

dos caudais dos rios), para o exterior da Baía.

Os resultados das simulações em que se impuseram os caudais dos rios

correspondentes à época de Inverno (meses de menor caudal), não foram

apresentados neste trabalho. Estes resultados revelaram padrões de distribuição

da corrente residual semelhante, mas de menor intensidade comparativamente

aos padrões obtidos quando se impôs ao modelo os caudais de Verão.

108

Pro

fundid

ade (

m)

Figura 8.3.a: Correntes residuais induzidas pelo caudal do rio Maputo

Figura 8.3.b: Correntes residuais induzidas pelo caudal do rio Incomati

109

Figura 8.3.c: Correntes residuais induzidas pelo caudal dos três rios (Tembe, Matola e Umbeluzi)

1.2 cm/s

110

Figura 8.3.d: Correntes residuais induzidas simultaneamente pelos caudais dos cinco rios

Relativamente à influência dos ventos na circulação residual, foram realizadas

duas simulações correspondentes a períodos de ventos típicos de Verão (figura

8.4a) e ventos de Inverno (figura 8.4b). O procedimento de determinação da

corrente residual induzida pelo vento, é idêntico ao descrito para o caso de

determinação da corrente residual induzida pelos rios. Ou seja, foram subtraídos

os resultados das simulações obtidas forçando o modelo com a maré gerada pelo

constituinte M2 e o vento (forçamento periódico e não periódico em simultâneo)

pelos resultados obtidos forçando o modelo apenas com a maré gerada pelo

constituinte M2 (apenas forçamento periódico).

Foram impostos ventos com intensidade de 4.4 m/s e direcções de Sudoeste

(Inverno) e Oeste (Verão) de acordo com a tabela 2.3.

Devido à influência do vento há uma transferência de momento do ar para as

águas da Baía, embora de reduzida intensidade, mas significativa relativamente

ao momento inerente às correntes residuais.

Os ventos típicos de Verão (figura 8.4a) induzem a formação de correntes

residuais orientadas para Este nas zonas Sul e Norte da Baía. Durante o Inverno,

com ventos predominantes de sudeste (figura 8.4b), há um transporte de massa

de água para Nordeste.

Relativamente às zonas mais profundas da Baía, os resultados são pouco

conclusivos, pois embora tivesse sido imposto o mesmo valor da intensidade de

vento nas simulações das duas estações, verificou-se maior intensidade da

corrente residual no Inverno (com ventos de Sudoeste) comparativamente à

intensidade determinada durante o Verão. Estes resultados mostram um

relacionamento não linear da influência do vento nas correntes residuais. As

figuras mostram ainda que independentemente da época do ano, há poucas

evidências da alteração da direcção das correntes residuais devido ao fundo, o

que revela a complexidade da determinação da influência dos ventos em zonas

muito profundas. Os efeitos directos da influência da tensão do vento nas massas

de água são mais evidentes em profundidades reduzidas, devido à menor

111

quantidade de massa de água existentes comparativamente a zonas mais

profundas.

Figura 8.4a: Correntes residuais induzidas por ventos de Oeste (Ventos de Verão)

112

Figura 8.4b: Correntes residuais induzidas por ventos de Sudoeste (Ventos de Inverno)

Estes resultados mostram que os modelos bidimensionais respondem

razoavelmente à influência dos ventos nas correntes residuais apenas em águas

pouco profundas; assim, a aplicação de modelos tridimensionais poderia ser

relevante na percepção da influência dos ventos em áreas mais profundas da

Baía.

113

CAPÍTULO IX – TRANSPORTE LAGRANGEANO DE PARTÍCULAS

9.1 Introdução

A abordagem Lagrangeana, ao contrário da abordagem Euleriana, considera a

partícula de fluido e as suas propriedades como função do tempo e da nova

posição da partícula. Analiticamente, os dois sistemas de coordenadas são

capazes de produzir soluções exactas; ou seja, estes sistemas analiticamente

consideram-se equivalentes, exceptuando o facto de na abordagem Lagrangeana

existir a informação da evolução da partícula (Hui, 2002). No capítulo VIII

efectuou-se o estudo da circulação residual utilizando-se a formulação Euleriana.

Este estudo permitiu a determinação da influência dos factores forçadores não

periódicos na hidrodinâmica da Baía de Maputo, numa escala temporal superior à

escala do ciclo da maré.

Neste capítulo faz-se uma descrição sucinta da teoria subjacente ao transporte

residual Lagrangeano. Acoplou-se ao modelo hidrodinâmico anteriormente

descrito três subrotinas relativas ao transporte Lagrangeano, duas das quais

desenvolvidas por Dias et al (2000) e a terceira correspondente a uma ligeira

modificação destas subrotinas. Estes procedimentos permitiram a análise da

advecção de massas de água, representadas como partículas passivas, bem

como o cálculo do tempo de residência destas partículas na Baía, num intervalo

de tempo computacional relativamente inferior ao tempo necessário para resolver

estas questões usando a formulação Euleriana. Estas subrotinas seguem a

trajectória efectuada por partículas passivas, ao contrário do módulo Euleriano,

em que os cálculos da concentração de qualquer propriedade são feitos em todos

os pontos do domínio computacional (Hofmann et al, 1991; Dias, 2001).

Algumas partículas foram emitidas na foz dos principais rios, no Porto de

Maputo e em locais considerados de maior risco de ocorrência de poluição. As

suas trajectórias foram posteriormente estudadas; determinaram-se também as

áreas de maior risco no caso de eventual ocorrência de episódios de poluição,

bem como o tempo de residência das partículas emitidas na zona do estuário do

Espírito Santo.

114

9.2 O módulo Lagrangeano de trajectória das partículas

9.2.1 Equações do módulo do transporte Lagrangeano

Muitas vezes é difícil interpretar os campos de velocidade Euleriana em termos

de processos de transporte inerentemente Lagrangeano. Contudo, é possível

recuperar a informação Lagrangeana, a partir do conhecimento dos campos de

correntes de Euler. O objectivo torna-se então, partindo de campos de velocidade

Euleriana, obtidos de um modelo bidimensional, determinar a trajectória da

partícula Lagrangeana integrando a seguinte equação:

),( tXudt

Xd n

ii

n

i

(9.1)

Onde ),( tXu n

ii

representa o campo de velocidade Euleriana da partícula i; n

iX

representa o vector da trajectória Lagrangeana da partícula i.

Portanto, a trajectória bidimensional da partícula é calculada usando a

aproximação Lagrangeana, resolvendo a seguinte equação para cada incremento

temporal:

dtyxuyxXyxX

tnt

tnt

i

n

i

n

i ),(),(),(

)1(

000000

10

0

(9.2)

),( 00

1 yxX n

é a posição no instante n+1 da partícula libertada no ponto ),( 00 yx

e no instante 0t ( ),( 00

0 yxX

).

As trajectórias calculadas podem ser sensíveis aos detalhes dos algoritmos

usados para a realização da integração; neste trabalho o passo integral é

calculado recorrendo a um esquema de Runge-Kutta de quarta ordem (Dias,

2000):

ttyxXuK n

iii ),,( 001

(9.3a)

tt

tK

yxXuK in

iii

2,

2),( 1

002

(9.3b)

115

tt

tK

yxXuK in

iii

2,

2),( 2

003

(9.3c)

tttKyxXuK iniii ,),( 3004

(9.3d)

6236

),(),( 43210000

1 iiiinn KKKKyxXyxX

(9.4)

Onde ),( 00

1 yxX n

representa a nova localização da partícula, que por

advecção se moveu da sua posição prévia ),( 00 yxX n

com a velocidade

),( iii vuu

num intervalo de tempo t . Os coeficientes de Runge-Kutta são

representados por jiK .

O incremento temporal utilizado na integração da trajectória da partícula foi o

mesmo utilizado na integração do modelo hidrodinâmico, ou seja, 60 segundos.

O módulo acima é estritamente dependente do campo da velocidade simulado

pelo modelo hidrodinâmico. Uma vez que a velocidade euleriana verticalmente

integrada é conhecida, a trajectória residual Lagrangeana pode ser determinada

pela equação (9.4).

Sendo N o numero de integrações feitas, a velocidade média residual

Lagrangeana é definida por:

tN

yxXyxXtyxXu

n

lr

.

),(),()),,(( 00

0

00

1

00

(9.5)

Quando a geometria do fundo é praticamente uniforme de modo a não

influenciar a fase da maré e, consequentemente a trajectória da partícula, ou seja,

quando a escala da evolução da maré é inferior às irregularidades do fundo

(Cheng et al, 1982a), esta velocidade pode ser igual à velocidade residual

Euleriana.

As partículas podem-se mover tanto por difusão, dissolução, deposição, bem

como por outros processos adicionais próprios da dinâmica costeira. A assunção

implícita feita neste estudo é que a distribuição das partículas é imposta por

advecção passiva das partículas dentro do fluxo do campo gerado pelo modelo

bidimensional.

116

Os cálculos do modelo hidrodinâmico são efectuados numa malha discreta ao

longo de um plano horizontal, no entanto, as partículas são livres de se mover

para qualquer ponto do espaço horizontal. Assim, as velocidades determinadas

pelo modelo hidrodinâmico devem ser interpoladas para as posições instantâneas

das partículas, para posterior aplicação nas equações dos coeficientes de Runge-

Kutta e na equação da trajectória da partícula.

A interpolação (figura 9.1), é feita considerando a velocidade da partícula em

cada ponto proporcional à velocidade calculada nas quatro células da malha

computacional mais próximas da localização da partícula. É aplicado um peso que

é inversamente proporcional à distância entre a posição da partícula e os pontos

onde foram determinadas as velocidades (Dias et al, 2000)

Figura 9.1: Interpolação da velocidade para cada posição da partícula: interpolação da componente U (à esquerda) interpolação da componente V (à direita)

Assim:

4

1

4

1

))(

j

ji

j

jiji

ji

P

UP

u (9.6)

4

1

4

1

) )(

j

ji

j

jiji

ji

P

VP

v (9.7)

Sendo ainda:

d 1i

d 2i

d 3i

d 4i

y0

x0

d 1id 2i

d 3i

d 4iy0

x0

117

ji

jid

P1

e 22 )()( jijiji yyxxd (9.8)

Uma vez conhecidas as duas componentes da velocidade no ponto de

localização da partícula, a partícula é advectada no próximo instante pelo método

de Runge-Kutta (equação 9.4)

Assume-se que as partículas que se movem para fora da fronteira aberta nunca

mais voltam, ou seja, perdem a sua identidade. As que atingem a fronteira

fechada são localizadas novamente na sua posição anterior, para garantir a

conservação do número de partículas dentro do domínio computacional.

A precisão deste módulo foi testada efectuando a comparação da trajectória

das partículas advectadas num campo de velocidades com características

similares ao campo de velocidades da Ria de Aveiro, com a solução analítica da

trajectória (Dias et al, 2000). A conclusão neste estudo foi que as duas trajectórias

foram quase coincidentes, demonstrando a boa precisão do módulo Lagrangeano

na advecção das partículas passivas.

9.3 Resultados e análise dos resultados

9.3.1 Padrão da trajectória das partículas

Neste capítulo obtém-se ideias e informações mais completas sobre a

circulação na Baía de Maputo e sobre o transporte de substâncias com baixas

taxas de decaimento. Este estudo foi possível pelo acoplamento do módulo

Lagrangeano ao modelo hidrodinâmico; este módulo tem como principal função a

advecção de partículas passivas. Estudos da importância relativa dos três

principais processos da dispersão (advecção, difusão devida à turbulência e

dispersão devida aos efeitos de arrastamento), revelam que em águas bem

misturadas a advecção é o processo mais importante (Gomes-Gesteira et al,

1999). As partículas (“partículas Lagrangeanas”), são utilizadas neste capítulo

como simples traçadores passivos, ou seja, como se fossem partículas com uma

taxa de decaimento quase nula, de modo que o volume da partícula não

aumentasse ao ponto de serem importantes os efeitos de viscosidade, bem como

o volume não diminuísse ao ponto de serem importantes as interacções com o

meio.

118

Antes de se descrever o padrão da trajectória das partículas emitidas em

células seleccionadas, é importante descrever o padrão geral das trajectórias e

das velocidades residuais Lagrangeanas das partículas emitidas em todas as

células; este estudo permite avaliar o comportamento típico das trajectórias em

toda a Baía. Deste modo, a Baía foi dividida em cinco partes tendo em conta as

possíveis proveniências das partículas. Nas fronteiras abertas, impuseram-se os

caudais dos rios correspondentes ao mês de Fevereiro e séries temporais da

maré. Em cada célula do domínio computacional emitiu-se uma partícula ao início

da vazante na fronteira aberta, e após um período inicial de aquecimento de 3

dias. Através do módulo Lagrangeano, acompanhou-se a evolução da trajectória

das partículas durante um período de aproximadamente três semanas.

Posteriormente, determinaram-se as velocidades residuais Lagrangeanas que são

ilustradas na figura 9.1.

Figura 9.1: Distribuição do campo das intensidades da velocidade residual Lagrangeana

Os valores típicos da velocidade residual Lagrangeana variam entre 0 cm/s a

3.5 cm/s na Baía. Os valores máximos foram obtidos no centro da Baía e na foz

dos rios Maputo e Incomati, ao passo que os valores mínimos correspondem aos

valores na foz dos rios Matola, Umbeluzi e Tembe (os rios que desaguam no

estuário do Espirito Santo) e às restantes zonas no interior da Baía. Os valores

das velocidades residuais foram duas ordens de grandeza inferiores aos valores

da velocidade da onda da maré na Baía de Maputo, indicando a boa

119

representatividade do comportamento dinâmico da Baía de Maputo pelo módulo

Lagrangeano.

A evolução temporal da posição das partículas emitidas na Baía está ilustrada

nas figuras 9.2, onde as figuras 9.2.a, b, c e d, mostram a posição das partículas

3, 6, 9 e 12 horas após o início da vazante na fronteira aberta e as figuras 9.2e e f

referem-se à posição das partículas 18 e 20 dias após o início das simulações.

Após o primeiro ciclo de maré quase todas as partículas ainda continuam dentro

da Baía (figuras 9.2.a,b,c,d), indicando que durante a vazante as partículas são

advectadas para o exterior da Baía com uma velocidade relativamente baixa.

Consequentemente terão um deslocamento menor que o comprimento da Baía,

impossibilitando a advecção da partícula para o exterior da Baía durante a

vazante. Com a nova enchente, a maioria destas partículas é trazida de volta para

a Baía, efectuando-se assim um movimento aproximado de “vai e vem” da

partícula nos ciclos subsequentes de maré. Consequentemente, só muito poucas

partículas saem da Baía no primeiro ciclo da maré. Vinte dias após o inicio das

simulações, os resultados (figuras 9.2.e e 9.2.f), mostram que, com excepção da

zona central da Baía, das zonas próximas à foz dos rios Maputo e Incomati, bem

como no Estuário do Espírito Santo, as partículas ainda permanecem próximo das

zonas onde foram libertadas. Este comportamento mostra que nestas áreas (onde

as partículas permaneceram até ao 20º dia de simulação), existem condições

propícias para a ocorrência de sedimentação; no centro da Baía, na proximidade

da foz dos rios Maputo e Incomati, bem como no estuário do Espírito Santo, os

resultados mostram que provavelmente existem boas condições de erosão e de

renovação das massas de água.

A evolução temporal da posição das partículas mostrou também que com a

evolução da maré, as partículas foram livres de ocupar as “faixas” (figura 9.2.a)

adjacentes das partículas com coloração diferente. Porém, os resultados mostram

uma maior tendência para a ocorrência de mistura entre as partículas

correspondentes a todas as faixas localizadas na zona central da Baía (faixas:

vermelhas, verde, amarela, azul clara, e azul escura), relativamente à mistura

entre as partículas de outras zonas da Baía.

120

Figuras 9.2: Sequência da evolução temporal da posição das partículas libertadas 3 (a), 6 (b) 9 (c)

e 12 (d), horas após o início da vazante na fronteira aberta, e 18 (e) e 20 (f) dias após o inicio das

simulações.

a a

a

b

e

f

c

d

121

Esta característica da evolução temporal do posicionamento das partículas está

de acordo com a descrição do padrão da distribuição dos vórtices da corrente

residual induzida pelos principais constituintes da maré, M2 e S2 (capítulo VIII,

secção 8.3.1). Devido à influência dos vórtices residuais localizados na zona

central da Baía (responsáveis pelo transporte em escalas temporais longas,

relativamente à escala da maré), as partículas emitidas nesta zona da Baía são

sensíveis aos processos de mistura e dispersão, comparativamente às partículas

emitidas em outras zonas da Baía. As partículas emitidas ao Sul da Ilha de

Inhaca, escaparam pelo “canal” localizado ao Sul da Ilha; este resultado revela a

existência de boas condições de renovação da água nesta área.

9.3.2 Trajectória das partículas

Para a determinação da trajectória das partículas foram seleccionadas cinco

áreas correspondentes às áreas de maior risco de ocorrência de poluição. Em

cada área foram emitidas partículas em dois pontos diferentes, permitindo analisar

a dependência da trajectória da partícula com o ponto de emissão.

Na figura 9.3, são ilustradas as trajectórias das partículas libertadas em dez

pontos distintos na Baía de Maputo. O tempo de simulação foi de 20 dias. As

coordenadas dos pontos de emissão estão apresentadas na tabela 9.1. Com

excepção da primeira área (na zona do estuário do Espírito Santo), as partículas

foram separadas por 10 células tanto na direcção xx como na direcção yy do

domínio computacional. O espaçamento da primeira área correspondeu a 24

células na direcção xx e 38 células na direcção yy.

Na zona do Porto de Maputo, dependendo do ponto de emissão, as partículas

seguem trajectórias diferentes: a emitida mesmo no Porto de Maputo (PM -

trajectória de cor violeta na figura 9.3 b), saiu do Estuário do Espírito Santo, ao

passo que a que foi libertada a Sudoeste do Porto de Maputo (SW-PM - trajectória

de cor violeta na figura 9.3 a) durante o período de simulação permaneceu

sempre dentro do Estuário do Espírito Santo.

As partículas emitidas ao Norte da Ilha de Inhaca também tiveram trajectórias

influenciadas pela posição inicial de emissão. Na situação apresentada na figura

9.3.a (área do N-II), a partícula no início deslocou-se para Sudoeste e

122

posteriormente teve um deslocamento para Nordeste, permanecendo durante

todo o período no centro da Baía, enquanto que na mesma área a partícula na

situação 9.3.b (NE-II), teve no início um movimento para Noroeste e

posteriormente seguiu uma trajectória que a conduziu para o exterior da Baía.

Tabela 9.1: Coordenadas dos pontos de emissão das partículas Lagrangeanas; onde PM

representa o ponto de emissão localizado na estação do Porto de Maputo; SW-PM, o ponto de

emissão localizado a Sudoeste do Porto de Maputo; RM, o ponto localizado na foz do rio Maputo;

NE-RM, ponto localizado a Nordeste do rio Maputo; S-II, o ponto localizado a Sul da Ilha de

Inhaca; SE-II, o ponto localizado a Sudeste da Ilha de Inhaca; RI, o ponto localizado na foz do rio

Incomati; NE-RI, o ponto localizado a Nordeste do rio Incomati, NE-II, o ponto localizado a

Nordeste da Ilha de Inhaca e N-II, o ponto localizado ao Norte da Ilha de Inhaca

Y 144 120 76 86 120 130 190 200 180 170

X 143 105 210 220 280 290 210 220 280 270

área PM SW-PM RM NE-RM S-II SE-II RI NE-RI NE-II N-II

Figuras 9.3: Evolução temporal das partículas libertadas em cinco áreas diferentes da Baía; ” *” indica o ponto de emissão; o tempo de simulação corresponde a 20 dias.

Embora com menores diferenças, foram também evidentes as discrepâncias

das trajectórias das partículas libertadas nas zonas a Sudoeste da Ilha de Inhaca

(S-II e SE-II), e na foz do rio Maputo (RM e NE-RM). Na zona do rio Incomati, as

partículas tiveram trajectórias similares nos casos representados nas figuras 9.3a

a

b

123

e 9.3b. Estes resultados mostram a natureza não linear das correntes residuais

Lagrangeanas, como as já descritas por Zimmerman (1986) e por Dias (2001).

9.3.3 Pontos de emissão contínua

Para simular os fenómenos de emissão contínua de poluentes em áreas

localizadas na Baía de Maputo, foram consideradas as áreas de maior risco de

ocorrência de poluição referidas na secção 9.3.2. Nomeadamente, nas zonas

sujeitas a poluição devido a práticas indevidas da actividade turística (a e e), nas

zonas sob influência de agricultura intensiva com recurso a produtos agro-

químicos (b e c), nas proximidades da zona da indústria de fundição de alumínio e

no porto comercial (d). Foram seleccionadas cinco células pertencentes às cinco

áreas já referidas. Em cada uma destas células, emitiram-se partículas em cada

passo temporal. As emissões iniciaram-se ao princípio da vazante na fronteira

aberta e tiveram uma duração de 12 horas. Seguidamente, acompanharam-se

(num período de 20 dias) as trajectórias das partículas emitidas nestes pontos, o

que permitiu a determinação de possíveis áreas contaminadas após as emissões.

Os resultados destas simulações estão ilustrados na figura 9.4.

A área da Baía afectada pelas partículas emitidas depende da localização do

ponto de emissão. Quando as partículas são emitidas ao Norte da Ilha de Inhaca

(a), a área afectada é a maior, o que poderá dever-se ao facto de nesta área as

velocidades residuais Lagrangeanas serem mais intensas relativamente às

restantes áreas da Baía. As partículas emitidas nas zonas próximas da foz dos

rios Maputo e Incomati ((b) e (c), respectivamente), no início deslocam-se para

Nordeste (no interior da Baía); posteriormente espalharam-se dentro da Baía,

uma vez que não existem correntes residuais Lagrangeanas que as deslocassem

para fora. As partículas emitidas na zona do Porto de Maputo (d), tiveram o

mesmo comportamento. As partículas emitidas ao Sul da Ilha de Inhaca atingiram

o exterior da Baía, o que mostra tratar-se da zona com melhores condições de

renovação das águas relativamente aos pontos anteriormente descritos.

124

e

Figuras 9.4: Zonas afectadas (após três semanas de simulação) por emissão continua (durante 12

horas) de partículas em pontos localizados; o sinal “*”, indica a posição do ponto de emissão das

partículas

d

c

a

b

125

Os resultados das emissões dos traçadores nos cinco pontos diferentes,

mostram de modo claro o efeito das correntes residuais. No caso da água contida

na zona central da Baía, o elevado espalhamento das partículas indica uma

dispersão rápida, o que demonstra tratar-se de numa zona sujeita a elevados

riscos em eventuais episódios de poluição. A maior parte das partículas emitidas

ao Sul da Ilha de Inhaca foi expelida para o exterior da Baía, revelando para esta

área a importância do canal localizado ao Sul da Ilha de Inhaca nos mecanismo

de renovação de água nesta região da Baía. Os resultados mostraram também

que em todos os casos os episódios locais de poluição não afectam somente as

áreas de emissão das partículas.

9.3.4 Tempo de residência

Entende-se por tempo de residência, o tempo necessário para que se possa

substituir a água doce existente numa secção do estuário ou Baía a uma taxa

igual à descarga dos rios (Dyer, 1997).

Os resultados da secção 9.3.1 indicam que, com excepção de algumas zonas

do Estuário do Espirito Santo, até ao vigésimo dia um elevado número de

partículas ainda permanece próximo dos locais em que foram emitidas. Assim,

estabeleceu-se a coordenada numérica com o índice 190 na direcção xx como a

fronteira do Estuário do Espirito Santo para a determinação do tempo de

residência. Emitiram-se partículas (em todas as células do Estuário do Espirito

Santo), em 12 fases diferentes do ciclo de maré. Os intervalos de emissão

corresponderam a uma hora lunar. Na fronteira aberta foram impostos os

forçamentos da maré e de todos os rios que desaguam na Baía. Posteriormente,

acompanhou-se a trajectória das partículas até que se libertassem do estuário do

Espirito Santo. Uma vez que o tempo de libertação das partículas depende do

instante de emissão, o tempo de residência foi determinado pelo cálculo da média

(dos 12 conjuntos dos resultados) do tempo necessário para que as partículas

advectadas pelo modelo abandonassem a zona do Estuário do Espirito Santo.

Este procedimento permitiu a eliminação da influência dos instantes de emissão

na determinação do tempo de residência. Na figura 9.5, representa-se o tempo de

residência (em dias) das partículas nesta área num período de 15 dias. Assumiu-

126

se que as partículas que permaneceram na zona do estuário até ao décimo quinto

dia têm um tempo de residência superior a 15 horas.

Através da análise da figura 9.5 verifica-se a que maior parte das partículas são

libertadas do Estuário a partir do oitavo dia. O tempo de residência aumenta da

embocadura do Estuário (fronteira Este do Estuário do Espirito Santo) em

direcção a foz dos rios que desaguam no Estuário (rios Tembe, Umbeluzi e

Matola), indicando condições excelentes de renovação das águas no Estuário.

Figura 9.5: Distribuição do tempo de residência (em dias) das partículas libertadas na zona do estuário do Espirito Santo

127

CAPÍTULO X – CONCLUSÃO

Este trabalho teve como objectivo principal a modelização hidrodinâmica da

Baía de Maputo, pretendendo-se caracterizar os padrões hidrodinâmicos da Baía

com o auxílio de um modelo numérico bidimensional. Estes resultados permitiram

uma posterior avaliação das implicações do padrão hidrodinâmico nos diversos

processos que ocorrem dentro da Baía. A importância de um estudo desta

natureza reside no facto de se poder avaliar os principais riscos a que está sujeita

a Baía de Maputo, nomeadamente pelos diferentes usos que são feitos das suas

águas.

Para tal, iniciou-se o trabalho com uma descrição das características

hidrológicas e morfológicas da Baía de Maputo. Destas descrições concluiu-se

que na sua maior parte a Baía é pouco profunda, com profundidades que oscilam

entre 1 e 35 metros. Os padrões de salinidade e temperatura revelaram que

verticalmente a Baía poderá ser considerada homogénea e que horizontalmente,

em épocas chuvosas como também em anos com prolongada estação chuvosa,

ou ainda em anos de ocorrência de cheias, são evidentes gradientes horizontais

de salinidade e temperatura que dividem a Baía em duas áreas: uma mais

estuarina, e outra com características mais oceânicas. Foram também

identificados os principais forçadores da hidrodinâmica da Baía de Maputo.

Atendendo às características da Baía de Maputo, optou-se por utilizar um

modelo numérico hidrodinâmico bidimensional SYMS/S2D neste trabalho.

Analisaram-se posteriormente as equações fundamentais da propagação das

ondas longas (base do modelo numérico bidimensional), tendo sido dada especial

atenção à descrição das principais aproximações, às integrações efectuadas para

a simplificação das equações, ao método de discretização das equações e às

condições de consistência, estabilidade e convergência da solução numérica das

equações do modelo de propagação das ondas longas. Destas análises, a

principal conclusão foi que o esquema do algoritmo “ADI” (o que foi utilizado no

modelo SYMS/S2D), aplicado às equações de águas pouco profundas é

incondicionalmente estável tanto no espaço como no tempo.

A implementação e calibração do modelo numérico mostraram que o modelo é

estável com os passos temporal e espacial de 60 segundos e 250 metros,

128

respectivamente. Este resultado está de acordo com as conclusões de Leendertse

(1967) e Cheng et al, (1982) que afirmam que a escolha do incremento temporal

pode ser independente do critério “CFL” (Courant Friederichs Levy) para garantir a

estabilidade do modelo numérico, quando é aplicado o algoritmo “ADI” nas

equações hidrodinâmicas de águas pouco profundas.

Efectuou-se também um estudo da hidrodinâmica da Baía de Maputo. Deste

estudo conclui-se que 90% da maré astronómica na Baía pode ser representada

pelos constituintes semi-diurnos M2 e S2. Conclui-se também que a amplitude dos

principais constituintes aumenta à medida que a onda de maré se desloca em

direcção à costa, ao passo que relativamente à fase nota-se um atraso da onda

de maré quando se desloca em direcção à costa.

Foram determinados os padrões dos campos da velocidade residual na Baía de

Maputo, através da implementação do modelo numérico acoplado ao módulo do

transporte Euleriano. Nesta secção mostrou-se que embora o constituinte S2

represente 50% do constituinte M2, o uso unicamente do constituinte M2 será

suficiente para determinar a ordem de grandeza e o padrão da influência da

interacção da maré e do fundo na corrente residual da Baía de Maputo.

A topografia, os ventos e os rios, foram identificados como os factores não

periódicos mais influentes na hidrodinâmica da Baía de Maputo. Verificou-se que

a topografia influencia a formação de vórtices residuais no centro da Baía, os

caudais influenciam a formação de correntes residuais com direcção da vazante

(para o exterior da Baía), e dependendo da época do ano, os ventos influenciam a

formação de correntes residuais de Nordeste (durante o Inverno) e a formação de

vórtices anti-horários de correntes residuais (durante o Verão).

Resultados do modelo Lagrangeano indicaram que para uma escala temporal

superior à do ciclo de maré, os processos de mistura e dispersão são mais

significativos no centro da Baía e na zona do Estuário do Espirito Santo,

respectivamente, sendo praticamente insignificantes nas restantes zonas. O

tempo de residência para a zona do Estuário do Espirito Santo variou entre um dia

e uma semana, indicando uma boa renovação das águas nesta zona.

Uma limitação deste trabalho consiste em que a calibração do modelo

hidrodinâmico foi efectuada comparando as séries temporais da elevação de

129

superfície livre e das componentes da velocidade da corrente de maré (dados

observados com um comprimento máximo de um mês), em apenas três estações

da Baía de Maputo. Dada a extensão da Baía, para futuros estudos seria

conveniente que fossem efectuadas mais amostragens em que sejam definidas

estações que possam abranger toda a área da Baía. Este procedimento poderia

ser importante no melhoramento do processo de calibração e na validação do

modelo numérico. Medições recentes dos caudais dos rios, e dos ventos também

seriam importantes para uma melhor compreensão do comportamento

hidrodinâmico da Baía de Maputo.

Na caracterização hidrológica da Baía de Maputo, foram identificados

gradientes horizontais de salinidade, o que poderá ser uma evidência da

existência de duas massas de água com características diferentes. Assim, o

acoplamento de um módulo de transporte ao modelo hidrodinâmico, seria também

de importância relevante em estudos futuros, pois possibilitaria uma explicação

mais consistente da influência dos gradientes de densidade na circulação

residual, e consequentemente, nos processos de transporte de longo termo.

Estudos experimentais dos perfis da velocidade poderiam também ser incluídos

nas recomendações dos trabalhos futuros, pois permitiriam o desenvolvimento e

implementação de modelos numéricos tridimensionais na Baía de Maputo, para

estudos dos processos que ocorrem à escala tridimensional.

Embora a selecção do incremento temporal não seja dependente do critério

CFL, a precisão dos resultados da modelação numérica depende tanto da

discretização temporal como da espacial. Numa primeira abordagem da

modelação hidrodinâmica da Baía de Maputo, consideraram-se apropriados os

incrementos temporais e espaciais utilizados neste trabalho. Porém, novos

estudos da Baía com passos espaciais relativamente menores podiam ser

importantes, pois permitiriam uma descrição pormenorizada da batimetria

numérica e, consequentemente, uma análise mais detalhada dos processos

hidrodinâmicos que ocorrem nos canais da Baía.

130

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