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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL ANA CAROLINA AZEVEDO CASEMIRO CERTEZAS E DÚVIDAS SOBRE O PROCESSO DE DIGITALIZAÇÃO DAS RÁDIOS AM DE BENTO GONÇALVES CAXIAS DO SUL 2014

UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL ANA CAROLINA AZEVEDO … · 2014-09-04 · Artur Ferraretto, que, em sua breve passagem pela Universidade de Caxias do Sul, despertou em mim o interesse

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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

ANA CAROLINA AZEVEDO CASEMIRO

CERTEZAS E DÚVIDAS SOBRE O PROCESSO DE DIGITALIZAÇÃO DAS RÁDIOS AM DE BENTO GONÇALVES

CAXIAS DO SUL

2014

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ANA CAROLINA AZEVEDO CASEMIRO

CERTEZAS E DÚVIDAS SOBRE O PROCESSO DE DIGITALIZAÇÃO DAS RÁDIOS AM DE BENTO GONÇALVES

Trabalho de Conclusão de Curso de Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo apresentado ao Centro de Ciências da Comunicação da Universidade de Caxias do Sul, como requisito para a obtenção do título de bacharel.

Orientador: Prof. Dr. Alvaro Fraga Moreira Benevenuto Junior

CAXIAS DO SUL

2014

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ANA CAROLINA AZEVEDO CASEMIRO

CERTEZAS E DÚVIDAS SOBRE O PROCESSO DE DIGITALIZAÇÃO DAS RÁDIOS AM DE BENTO GONÇALVES

Trabalho de Conclusão de Curso de Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo apresentado ao Centro de Ciências da Comunicação da Universidade de Caxias do Sul, como requisito para a obtenção do título de bacharel.

Banca Examinadora

_____________________________________

Prof. Dr. Alvaro Fraga Moreira Benevenuto Junior

Universidade de Caxias do Sul – UCS

_____________________________________

Prof. Ms Jacob Raul Hoffmann

Universidade de Caxias do Sul – UCS

_____________________________________

Prof. Ms Ronei Teodoro da Silva

Universidade de Caxias do Sul – UCS

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Dedico este trabalho a meus pais, Ana, Orlando e Rozimeri (mãe do coração), pelo amor, pelos recursos e por permitirem que eu descobrisse as alegrias e pesares da vida por meus próprios passos. Ao Jonathan, que esteve a meu lado na maior parte desses 10 anos de vida acadêmica e que compartilhará comigo para todo o sempre um tesouro chamado Joana. À minha filha, que diariamente inunda minha vida de inseguranças e medos antes desconhecidos, mas que me ensina a todo instante o real sentido do amor e da família. Ao meu noivo, Felix, que suportou os momentos de total desespero e acreditou que eu chegaria aqui quando pensei repetidas vezes em desistir.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos professores do curso de Comunicação Social Habilitação em

Jornalismo pelo conhecimento transmitido, o qual me conduziu até aqui. Especialmente

aos Doutores Paulo Ribeiro, que alimentou a cada aula minha paixão pelo texto, e Luiz

Artur Ferraretto, que, em sua breve passagem pela Universidade de Caxias do Sul,

despertou em mim o interesse pelo rádio.

Agradeço, especialmente, ao Prof. Dr. Alvaro Benevenuto pela sensibilidade

demonstrada nestes meses e por ter, em vários momentos, extrapolado seu papel de

orientador para atuar como um verdadeiro mestre. Sua serenidade foi, certamente,

coautora deste trabalho.

Aos gestores da Rádio Difusora e Rádio Viva de Bento Gonçalves, pela

disponibilidade e pela conversa franca, essenciais para que se pudesse relatar as

expectativas e projetos das emissoras diante da migração para o FM.

Ao meu noivo Felix Polo, por relevar meus destemperos nos momentos de

ansiedade e por secar minhas lágrimas nos de angústia. Às amigas Fernanda Monte

Mezzo Forest e Josiane Ribeiro, pelas orientações e palavras de estímulo.

Por fim, agradeço ao Café Melitta, que testemunhou cada linha desta

monografia.

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RESUMO

Esta monografia apresenta um relato sobre o processo de digitalização do rádio

e migração do AM para o FM, com ênfase nas emissoras Difusora e Viva, de Bento

Gonçalves. Para tanto, pontua a trajetória do rádio desde sua invenção, passando pela

chegada ao Brasil e sua ascensão meteórica até a chegada da televisão. Para situar o

rádio nos dias atuais, pontua-se o advento da internet, das webradios e das rádios

comunitárias. A partir do estudo das legislações pertinentes, descreve-se o processo de

digitalização e como as discussões a respeito evoluíram no Brasil, chegando-se ao

decreto que autoriza a migração das emissoras de AM para FM. Para entender como a

mudança impactará na radiodifusão do município de Bento Gonçalves, foram ouvidos

executivos das duas emissoras AM locais. Procede-se à análise das entrevistas e, a

partir disso, entende-se que existe elevada preocupação com as questões técnicas. A

produção de conteúdo, por outro lado, parece estar à mercê dos indicativos do

mercado.

Palavras-chaves: Rádio. Internet. Digitalização. Migração.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 8

2 O RÁDIO E HISTÓRIA ................................................................................................ 13

3 NOVIDADES NO AR: A INTERNET ............................................................................ 30

4 A DIGITALIZAÇÃO DO RÁDIO .................................................................................... 43

4.1 DAB – DIGITAL AUDIO BROADCASTING ........................................................... 47

4.2 IBOC – IN BAND ON CHANNEL .......................................................................... 50

4.3 DRM – DIGITAL RADIO MONDIALE .................................................................... 53

4.4 ISDB-TSB – INTEGRATED SERVICES DIGITAL BROADCASTING,

TERRESTRIAL, SEGMENTED BAND ........................................................................ 54

4.5 HORA DE DEFINIR O SISTEMA .......................................................................... 55

4.6 MIGRAÇÃO DO AM PARA O FM ......................................................................... 62

5 A PESQUISA ............................................................................................................... 65

5.1 OS MÉTODOS CONSAGRADOS ......................................................................... 67

5.2 MÉTODO APLICADO ........................................................................................... 69

5.2.1 Técnicas ........................................................................................................ 72

5.3 CONTEXTO LOCAL ............................................................................................. 74

5.3.1 As rádios AM ................................................................................................. 78

5.4 ENTREVISTAS ..................................................................................................... 81

5.5 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS ............................................................................. 89

6 NOTAS CONCLUSIVAS .............................................................................................. 92

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1 INTRODUÇÃO

O rádio, em sua origem, foi um aparelho que permitiu a transmissão de sons

por meio de ondas eletromagnéticas. Levando música, notícia e entretenimento sem

exigir atenção exclusiva do ouvinte, o rádio elevou-se ao status de companheiro para

todas as horas, algo não experimentado por nenhum outro meio de comunicação.

As primeiras transmissões de som sem uso de fios ocorreram nos últimos anos

do século XIX, conforme Ferraretto (2001). Os créditos do invento são, ainda hoje,

divididos entre o italiano Guglielmo Marconi e o brasileiro Landell de Moura, que

realizaram experimentos com sucesso na Itália e no Brasil, respectivamente.

Inicialmente seu uso foi direcionado a transmissões oficiais por meio de alto-falantes

instalados no alto das igrejas e nos prédios públicos.

A indústria da radiodifusão, no sentido de produção e transmissão de

conteúdos, com a ideia de que cada família poderia ter um aparelho de rádio, propagou-

se no ano de 1920. Ferraretto (2001) situa como marco a fundação da KDKA, nos

Estados Unidos. A chegada do novo meio de comunicação ao Brasil ocorreria dois anos

depois, nas comemorações do centenário da Independência, quando a própria

Westinghouse, empresa proprietária da KDKA, promoveu as primeiras transmissões no

país.

O rádio teve ascensão meteórica no Brasil, especialmente pelos índices de

analfabetismo da população, na primeira metade do século XX1, o que desfavorecia a

penetração dos meios de comunicação impressos. A chegada da televisão, porém,

decretou o fim da Era do Rádio, já que “o espetáculo começa a migrar para o novo

meio” (FERRARETTO, 2001, p.137).

1 Conforme informações do portal da Fundação Getúlio Vargas na internet, o Censo de 1940 apontava

para uma taxa de analfabetismo de 56,17% entre a população com idade superior a 15 anos. Fonte: http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/artigos/Educacao/Anos1950. Acesso: 23 jun. 2014.

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As grandes estrelas das radionovelas e dos programas de auditório

rapidamente migraram para o novo veículo e restou ao rádio aproveitar sua vantagem

na transmissão de música e a dinamicidade na cobertura jornalística, enquanto a

concorrente ainda não contava com a possibilidade dos chamados links ao vivo.

Na atualidade, diante da internet, do processo de digitalização e da

convergência das mídias, a definição original de rádio não mais se aplica. A mensagem

sonora já não é formatada somente em hertz, mas também em bits. Tampouco está

limitada à transmissão em ondas, pois está também nos satélites e na rede mundial de

computadores. Conforme Kischinhevsky (2007), aspectos como a recepção, as

tecnologias de transmissão e a produção de conteúdo foram rapidamente alteradas

pela internet.

No Brasil, o rádio prepara-se para a transição do analógico para o digital, com

estudos e testes desenvolvidos desde 2005 em busca do melhor sistema para operação

no Brasil: o IBOC, padrão criado e implantado nos Estados Unidos, ou o DRM, que

funciona na Europa. Em meio a essas indefinições prestes a completar uma década, o

governo brasileiro optou por interromper provisoriamente o processo de digitalização

para autorizar a migração das emissoras AM para FM.

A decisão teve rápidos desdobramentos, com decreto presidencial publicado

em novembro de 2013, normas regulamentadoras definidas em março de 2014,

audiências coletivas em cada unidade da federação para agrupar as solicitações e

promessa de que as primeiras autorizações venham a público ainda neste ano. Mais

que uma questão mercadológica no sentido de melhorar a qualidade de áudio das

rádios, a migração – que ainda não é obrigatória – abre campo para a extinção do AM,

liberando espaço no espectro para outros usos, como a internet, a televisão digital e o

próprio rádio digital, no futuro.

Considerando o contexto histórico acima, que coloca o rádio brasileiro em um

momento de decisiva transição, o objetivo deste trabalho monográfico é relatar o

andamento da digitalização, culminando no anúncio da migração e com ênfase no

planejamento das rádios AM de Bento Gonçalves. Os objetivos específicos a são

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resgatar a história do rádio, pontuando acontecimentos que impactaram, de alguma

forma, o modo de produção e transmissão de conteúdo; detalhar o processo de

digitalização do rádio, elencando todos os modelos implantados em diversos países e

aqueles que vêm sendo testados no Brasil; compreender como as indefinições acerca

da migração resultaram em um Decreto de Lei autorizando a migração das rádios AM

para FM; e, por fim, relatar a analisar como as emissoras AM do município de Bento

Gonçalves estão se preparando financeira e estruturalmente para a migração.

O município de Bento Gonçalves, localizado na Encosta Superior do Nordeste

do Rio Grande do Sul, dista 124 quilômetros da capital do Rio Grande do Sul, Porto

Alegre. De acordo com dados do IBGE de 2013, sua população estimada é de 111.384

habitantes. Os principais setores da economia atualmente são o moveleiro, vinícola,

metalúrgico, de transportes e a fruticultura.

Bento Gonçalves possui colocação elevada no Índice de Desenvolvimento

Socioeconômico (Idese), tendo liderado o ranking no ano de 2010 entre os municípios

com população acima de 100 mil habitantes no Rio Grande do Sul. Além de sua

importância econômica para o estado, esse é o município de residência da autora da

pesquisa, o que justifica a escolha pelas rádios locais AM como estudo de caso.

As hipóteses que nortearam esta pesquisa foram três:

1) Por se tratar de um processo irreversível, as emissoras AM

de Bento Gonçalves estão envolvidas;

2) O investimento em equipamentos e regularização da

documentação para migração será robusto;

3) O movimento de migração pode impactar no perfil do

conteúdo ofertado pelas emissoras.

Para atingir o objetivo deste trabalho, foi realizada uma revisão bibliográfica

sobre as origens do rádio, sua chegada ao Brasil e como ele se desenvolveu no país

até os dias atuais. Fez-se necessário analisar, também, a legislação pertinente ao tema

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da digitalização e da migração. Criou-se um instrumento de pesquisa em forma de

questionário aberto para a realização de entrevistas presenciais com os diretores das

duas emissoras AM localizadas em Bento Gonçalves: Rádio Difusora 890 AM e Rádio

Viva 1070 AM.

A apresentação deste trabalho monográfico foi feita em sete capítulos. O

capítulo de número 1 é a Introdução, onde se apresenta o objeto de estudo, pontuando

brevemente os conceitos que permeiam este trabalho: rádio, internet, digitalização,

migração, o município de Bento Gonçalves e as rádios entrevistadas.

No segundo capítulo, Rádio e história, conduz-se um recorte histórico sobre a

trajetória do rádio no mundo e no Brasil, iniciando pela polêmica sobre o real inventor

do rádio: Marconi ou Landell de Moura? A seguir, descreve-se o período de

transmissões experimentais no Brasil, até a primeira transmissão oficial, em 1822, e a

fundação do primeiro Rádio Clube, no ano seguinte. Pontua-se os primeiros decretos

envolvendo o serviço de radiodifusão no país, o advento da televisão, a chegada das

rádios FM, da transmissão via satélite e a criação das rádios comunitárias.

Novidades no ar: a internet é o capítulo 3, que contextualiza o período de

estagnação do rádio brasileiro coincidente com a chegada da internet no país,

abordando-se as origens dessa tecnologia e as possibilidades de uso que foram

desenvolvidas, principalmente a criação dos programas que possibilitaram o uso

doméstico da internet. A seguir, apresenta-se o uso inicial dado pelas emissoras

brasileiras de rádio para a internet, até a criação das primeiras webradios, que

alteraram rapidamente os processos de produção e transmissão de conteúdos. Pontua-

se brevemente a inexistência de mecanismos de regulação da internet que colocam as

webradios em patamares diferentes do rádio convencional. Por fim, apresenta-se o

Marco Civil da internet, primeira tentativa de definir direitos e deveres dos usuários e

provedores da web.

No quarto capítulo, A digitalização do rádio, aborda-se a perda de espaço do

rádio nos lares brasileiros, onde predomina a presença da televisão e se registra

elevação gradual no número de computadores. Em um cenário de convergência das

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mídias, reforçada pela internet, a digitalização do rádio surge como um recurso para

sua revitalização e recuperação da audiência. São apresentados os modelos

implantados com êxito em diferentes partes do mundo e como iniciaram os testes no

Brasil para eleger um sistema apropriado para o país. São citados os testes e

audiências realizados e a indefinição sobre o tema, que culminou do adiamento da

digitalização e anúncio da migração das rádios AM para FM, bem como suas

consequências.

No capítulo 5, é desenvolvida a pesquisa em si, descrevendo-se seus objetivos,

hipóteses e a metodologia utilizada para a obtenção dos resultados. Detalham-se os

métodos e técnicas aplicados para, então, estabelecermos o contexto local que envolve

a pesquisa. Abordam-se as origens e características do município de Bento Gonçalves,

escolhido como cenário desse estudo, enumerando-se também os veículos de

imprensa existentes no município. Após, remonta-se o histórico das rádios AM da

cidade para, então, pormenorizar as entrevistas realizadas com Volnei Pertile, diretor da

Rádio Difusora 890 AM, e Marcos Piccoli, diretor do Grupo RSCOM, detentor da Rádio

Viva 1070 AM. Por fim, é feita uma breve análise das falas dos entrevistados.

As Notas conclusivas, tema do capítulo 6, exploram informações

apresentadas anteriormente sobre a história do rádio, as promessas para seu futuro e

as dificuldades do processo de digitalização. Com isso, procede-se a uma avaliação

das certezas e dúvidas identificadas nas rádios entrevistadas. Com base nas

entrevistas abertas, foi possível determinar os aspectos que recebem maior atenção e

investimentos por parte dos radiodifusores, indicando, por exemplo, que as questões

envolvendo conteúdo estão em segundo plano.

Cabe pontuar que o presente estudo não tem caráter conclusivo, mas

representa um recorte do momento atual do rádio brasileiro com ênfase nas emissoras

AM de Bento Gonçalves. Portanto, decisões governamentais e mudanças do próprio

cenário mercadológico podem, a qualquer momento, alterar as percepções

apresentadas.

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2 RÁDIO E HISTÓRIA

Nos dicionários da Língua Portuguesa Aurélio, Houaiss, Michaelis e Priberam,

as definições de rádio predominantes são “osso do antebraço”, “elemento metálico

branco, brilhante, alcalinoterroso, intensamente radioativo, quimicamente semelhante

ao bário” e “aparelho de radiofonia que recebe ondas hertzianas”. A versão online do

Michaelis ainda amplia suas significações com a definição de “atividade artística,

educativa e informativa da radiofonia”. Das três definições mais vistas, apenas uma está

relacionada ao objeto desse estudo. Não trataremos aqui sobre elementos químicos ou

partes do corpo humano, mas a respeito de um aparelho que revolucionou a

comunicação à distância, ao possibilitar a emissão de mensagens sonoras sem fio de

um transmissor para diversos receptores simultâneos.

Para melhor compreender o passado e o presente do rádio, deve-se considerar

que existem dois aspectos a serem avaliados: de um lado, está a tecnologia que

permite a transmissão de sons usando ondas eletromagnéticas; de outro, estão os usos

dessa tecnologia e sua evolução como veículo de comunicação massivo nesses mais

de 120 anos transcorridos desde que o padre Landell de Moura realizou a primeira

transmissão pública por meio de ondas hertzianas no Brasil ou, do outro lado do

Oceano Atlântico, desde que Marconi fez sua demonstração pública e confirmada de

radiotelegrafia, na Itália.

Ferraretto (2001, p. 86) situa a primeira transmissão radiofônica comprovada e

eficiente no ano de 1906, em Massachussets, Estados Unidos. O dono do feito foi o

canadense Reginald Aubrey Fesseden, que, “usando um alternador desenvolvido pelo

sueco Ernest Alexanderson, transmitiu o som de um violino, de trechos da Bíblia e de

uma gravação fonográfica”. Ele é, contudo, mais um entre os vários pesquisadores de

diversas nacionalidades apontados como o criador do rádio.

A pesquisa de Ferraretto (2001) situa a origem dessa tecnologia no legado de

Samuel Morse, com o telégrafo desenvolvido entre 1832 e 1837, e Alexander Graham

Bell, detentor da patente do telefone, em 1876. Nos anos que se seguiram, muitos

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pesquisadores de diversos países desenvolveram estudos sobre a eletricidade e suas

características. Mas foi na última década do século XIX, como aponta Prado (2012),

que o italiano Guglielmo Marconi utilizou seus estudos sobre as ondas hertzianas para

produzir ondas de rádio. Em palestra feita na Fundação Nobel em dezembro de 1909,

Marconi explicou os objetivos de seus estudos:

Na minha casa perto de Bolonha, na Itália, iniciei, em 1895, testes externos e experiências com o objetivo de determinar se seria possível, por meio de ondas hertzianas, transmitir a uma distância telegráfica sinais e símbolos, sem o auxílio de fios de ligação. Depois de alguns experimentos preliminares com ondas hertzianas, fiquei muito convencido de que, se essas ondas ou ondas semelhantes poderiam ser confiavelmente transmitidas e recebidas por distâncias consideráveis, um novo sistema de comunicação se tornaria disponível, possuindo enormes vantagens sobre os refletores e métodos óticos, que são muito dependentes para o seu sucesso da clareza da atmosfera (NOBEL, 1909, tradução nossa).

Assim, Marconi é citado como o responsável pelas pesquisas que trouxeram à

realidade a radiotelegrafia. Em 1896, ele conseguiu realizar “a primeira demonstração

pública e confirmada de radiotelegrafia” (FERRARETTO, 2001, p. 82), transmitindo uma

mensagem em Código Morse. Com isso, obteve em Londres a patente sobre o telégrafo

sem fio.

Embora seu nome tenha ficado para a História, Marconi é considerado um

homem visionário, mas não o pai dessa invenção, pois “baseou-se nas teorias já

estudadas por outros cientistas para aperfeiçoar suas ideias” (PRADO, 2012, p.30).

Ainda que o seu trabalho seja apontado como o resultado exitoso das pesquisas de

seus antecessores, Prado reconhece seus méritos:

O sucesso de Marconi deu início a uma revolução mundial no campo das comunicações. Outros inventores passaram a ocupar-se do rádio, várias nações reivindicaram a primazia da invenção (na França era atribuída a Brianey, nos Estados Unidos a Lodge, na Alemanha a Staby). O próprio governo italiano viria a demonstrar interesse tardio e oferecer a Marconi o navio Carlos Alberto para outras experiências (2012, p.32).

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Embora a primeira transmissão sonora radiofônica comprovada e eficiente seja

atribuída, como citado anteriormente, a Reginald Aubrey Fesseden pelo experimento

realizado em 1906, a emissão de sons via rádio teria sido feita antes disso. Antes até da

transmissão do Código Morse por Marconi, o padre gaúcho Roberto Landell de Moura

“chegou a obter resultados por vezes superiores aos dos cientistas estrangeiros”

(FERRARETTO, 2001, p. 83). Mas suas descobertas nunca chegaram a ter a

repercussão obtida pelo italiano. Prado situa:

Diferentemente do ocorrido com Landell de Moura, Marconi conseguiu ser reconhecido e foi agraciado em 1909, recebendo, juntamente com o alemão Karl Ferdinand Braun, o Nobel de Física. Braun é o descobridor dos semicondutores, dentre eles, o sulfeto de chumbo natural, um mineral conhecido como galena, base do histórico rádio de galena (2012, p.33).

O padre Roberto Landell de Moura nasceu em Porto Alegre, onde iniciou seus

estudos, tendo concluído sua formação em Roma, no Colégio Pio Americano e

estudado Química na Universidade Gregoriana. De volta ao Brasil, por volta de 1886 e

instalado no Rio de Janeiro, celebrou missas na presença do Imperador Dom Pedro II.

Alencar situa que, na Capital Federal, o padre encontrou-se em algumas ocasiões com

o Imperador do Brasil D. Pedro II, tendo lhe falado sobre suas pesquisas acerca da

transmissão do som. O assunto fascinava D. Pedro II a ponto de ele ter financiado, em

1856, parte dos trabalhos de Alexander Graham Bell nos Estados Unidos.

Nos anos que se seguiram, ele exerceu o ministério sacerdotal em cidades do

Rio Grande do Sul e São Paulo. Instalado na capital paulista entre 1893 e 1894 –

portanto, pelo menos dois anos antes da demonstração pública de Marconi – Landell de

Moura teria realizado “as suas primeiras experiências com transmissão e recepção de

sons por meio de ondas eletromagnéticas [...]” (FERRARETTO, 2001, p. 83).

Precisamente em 1894, de acordo com Alencar, o padre realizou a primeira transmissão

pública por meio de ondas hertzianas, entre o alto da Avenida Paulista e o alto de

Sant'Anna, em São Paulo, cobrindo uma distância de oito quilômetros. Apesar de seus

avanços, o padre era vítima da descrença e, em certa ocasião, declarou:

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Quero mostrar ao mundo que a Igreja Católica não é inimiga da Ciência e do progresso humano. Indivíduos, na Igreja, podem, neste ou naquele caso, haver-se oposto a esta verdade; mas fizeram-no por cegueira. A verdadeira fé católica não a nega. Embora me tenham acusado de participante com o diabo e interrompido meus estudos pela destruição de meus aparelhos, hei de sempre afirmar: isto é assim e não pode ser de outro modo... Só agora compreendo Galileu exclamando: E pur se muove! (ALENCAR apud FORNARI, 1960).

Foi somente em março de 1901 que Landell obteve, no Brasil, a Carta Patente

número 3.279. “O objeto da invenção é um aparelho que se presta à transmissão a

distância com fio e sem fio condutor, tanto através do espaço e da terra, como do

elemento aquoso” (FERRARETTO, 2001, p.84). Em vida, Landell de Moura não obteve

apoio, reconhecimento ou recursos financeiros para suas atividades científicas. Num

esforço para levar adiante suas descobertas, rumou aos Estados Unidos, onde

conseguiu, em 1904, outras três cartas patentes: para o telégrafo sem fio; para o

telefone sem fio e para o transmissor de ondas sonoras.

Depois disso, sem conseguir efetivar parcerias que pudessem levar adiante

suas ideias, o padre voltou ao Brasil e retomou sua vida eclesiástica e acadêmica. O

mérito pela primeira transmissão de voz coube a Fesseden, em 1906. Mas, na forma

como conhecemos atualmente, o rádio foi imaginado “[...] a partir de 1916, quando o

russo radicado nos Estados Unidos, David Sarnoff, anteviu a possibilidade de cada

indivíduo possuir em casa um aparelho receptor” (FERRARETTO, 2001, p.23).

Sarnoff era funcionário da empresa que Guglielmo Marconi fundou com atuação

na Grã-Bretanha e Estados Unidos, sendo uma espécie de pioneira nas comunicações

presente em vários países. A pesquisa de Ferraretto (2001) situa que o russo registrou

suas intenções para a direção da empresa por meio de um memorando, concebendo a

ideia de aproveitar o rádio como meio de comunicação de massa, pois até então a

ferramenta havia sido utilizada para o envio de mensagens de uma pessoa à outra ou

de uma pessoa a um público reunido em torno de uma caixa receptora.

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A ideia permaneceu por alguns anos nas gavetas da corporação, somente

tendo sido levada adiante por outra empresa, a Westinghouse Eletric and Manufacturing

Company, a partir da criação da KDKA, em novembro de 1920. Conforme Ferraretto,

“nascia com a KDKA oficialmente a indústria de radiodifusão, no sentido de produção e

transmissão de conteúdos, um novo campo para investimento de capital” (2001, p.89).

No Brasil, a partir de 1919, já havia algumas experiências de radioamadorismo,

como o Rádio Clube de Pernambuco, em Recife. Porém, a chegada efetiva do rádio

veio por intermédio da própria Westinghouse, que “numa investida da estratégia de

busca de novos mercados [...] enviou, a título de demonstração, duas estações

transmissoras de 500W ao Brasil” (FEDERICO, 1982, p. 15).

A década de 1920 é descrita por Federico (idem) como uma época de

transmissões experimentais e iniciais em todo o mundo. A autora enumera a chegada

do rádio nessa época em pelo menos 12 países, além do Brasil: Alemanha, Bélgica,

Canadá, Inglaterra, Espanha, Argentina, França, Itália, Portugal, Japão, Polônia e

Suécia. A primeira demonstração em terras brasileiras ocorreu por ocasião do

centenário da Independência, em 1922, com uma estação de radiotelefonia montada no

alto do Corcovado:

Essa estação teve receptores alto-falantes colocados estrategicamente nos recintos da exposição do centenário da nossa independência, pelos quais os visitantes puderam ouvir o pronunciamento do Presidente Epitácio Pessoa que a inaugurou. Esses receptores em forma de corneta propiciaram ainda a audição da canção O Aventureiro, da obra O Guarani, de Carlos Gomes (FEDERICO, 1982, p. 33).

Ferraretto destaca que “a demonstração promovida pelo capital norte-

americano atingiria o seu objetivo, despertando o interesse dos pioneiros do rádio no

Brasil” (2001, p.94). Presente na ocasião, o antropólogo Edgar Roquette-Pinto, que

ocupava o cargo de secretário na Academia Brasileira de Ciências, prontamente

vislumbrou aquela revolucionária invenção utilizada com objetivo cultural e educativo.

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Para implantar a primeira emissora de rádio com funcionamento regular no país,

Roquette-Pinto contou com o apoio dos membros da Academia – especialmente de seu

presidente, Henrique Morize. Fundada em 20 de abril de 1923, a Rádio Sociedade do

Rio de Janeiro passou a operar durante uma hora por dia2.

Logo no começo, o Governo designou o Departamento de Correios e

Telégrafos, vinculado ao Ministério da Viação, como responsável pela emissão de

licenças para os primeiros proprietários de aparelhos de rádio. Naturalmente, os

primórdios do rádio no Brasil foram marcados por um período de adaptação, sem uma

programação totalmente definida e com público ainda muito insipiente. Além disso, a

ideia de Roquette-Pinto de que o Rádio iria “trabalhar pela cultura dos que vivem em

nossa terra e pelo progresso do Brasil” (FERRARETTO, 2001, p.97) não se concretizou

tão cedo.

Magaly Prado (2012) esclarece que apenas a elite brasileira tinha condições

financeiras de acesso ao aparelho nessa fase inicial do rádio. Além do custo alto, as

pessoas pagavam uma mensalidade para ouvir a emissora, já que era a contribuição

dos associados que cobria os custos da operação. Os interessados nessa nova

tecnologia da época esbarravam, ainda, na escassez de aparelhos no país. Em 1922,

quando da demonstração da Westinghouse, apenas 80 aparelhos foram trazidos junto

com os dois transmissores. Além deles, de acordo com Federico, havia “alguns do tipo

alto-falantes e outros do tipo galena (fabricados em casa) com fones de ouvido. Esses

aparelhos individuais foram distribuídos a pessoas de destaque no Distrito Federal”

(1982, p.46).

Além das contribuições mensais e do preço elevado dos aparelhos de rádio,

houve outros fatores que elitizaram esse meio de comunicação nos seus primeiros

anos. Segundo Federico (1982), havia taxas a serem pagas por quem desejasse

2 Para efetuar essas transmissões, conforme Ferraretto (2001), a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro

obteve autorização do governo para utilizar, durante uma hora por dia, a estação de transmissão da Praia Vermelha – uma das duas instaladas no Rio de Janeiro por ocasião do centenário da Independência. Sensibilizado pela utilidade dos equipamentos para radiotelefonia, o governo acabou adquirindo a estação instalada na Praia Vermelha. A outra, no Corcovado, já havia sido desmontada e regressara aos Estados Unidos.

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escutar de casa as transmissões radiofônicas da Rádio Sociedade. Antes de instalar o

aparelho, devia-se protocolar junto ao Ministério da Viação um requerimento de licença

pelo qual se cobrava uma estampilha, ou taxa administrativa. Também era necessário

um certificado de idoneidade emitido pela própria Rádio Sociedade, para o qual também

havia custos. A autora esclarece que isso se devia ao temor do Governo da então

Capital Federal de que os ouvintes interceptassem correspondências radiotelefônicas

em seus aparelhos domésticos.

Todos esses requisitos formais, que deviam ser preenchidos pelos ouvintes para usufruírem dos benefícios da radiodifusão, eram não só desencorajantes como onerosos. Portanto, só uma minoria economicamente privilegiada poderia despender não só o dinheiro necessário como o tempo para a obtenção de todos os deferimentos (FEDERICO, 1982, p.47).

E, como se não bastasse, a programação era basicamente constituída por

música clássica e discursos altamente eruditos – o que se agravava pela falta de

regularidade das transmissões. Conforme Ferraretto, a primeira sequência de

programas organizados pela Rádio Sociedade contemplava “notícias de interesse geral,

conferências literárias, artísticas e científicas, números infantis, poesia, música vocal e

instrumental” (2001, p. 96).

As dificuldades existiam porque o rádio brasileiro estabeleceu-se a partir de

uma dupla determinação, segundo Lia Calabre: “um veículo de comunicação privado,

portanto subordinado às regras do mercado econômico, mas, ao mesmo tempo,

controlado pelo Estado” (2004, p.12). Nesse período, os pioneiros do rádio ainda não

haviam percebido a possibilidade de exploração da publicidade, o que mudou em 1924:

Esta nova consciência das possibilidades lucrativas do veículo tem suas origens na Rádio Clube do Brasil, fundada em 1º de junho de 1924 por Elba Dias, um dos técnicos que auxiliara na estruturação da Rádio Sociedade. A emissora foi a primeira a obter autorização para transmitir publicidade (FERRARETTO, 2001, p.100).

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A década de 1920 foi marcada, portanto, pelo surgimento das primeiras

emissoras de rádio e por uma exploração ainda pouco estruturada desse meio de

comunicação. A grande virada da radiodifusão no país se deu entre 1931 e 1932, com a

publicação de dois decretos governamentais. O primeiro, de número 20.047 e publicado

em de 27 de maio de 1931, “regula a execução dos serviços de radiocomunicações no

território nacional3” (BRASIL, 1931).

Esse decreto caracterizou como serviços da radiocomunicação, “a

radiotelegrafia, a radiotelefonia, a radiofotografia, a radiotelevisão, e quaisquer outras

utilizações de radioeletricidade, para a transmissão ou recepção, sem fio, de escritos,

sinais, imagens ou sons de qualquer natureza por meio de ondas hertzianas” (idem).

O outro, de número 21.111, regulamentou o decreto anterior e ainda

contemplou a inserção de comerciais até um limite de 10% da programação, como

descrito em seu parágrafo de número 73:

Art. 73. Durante a execução dos programas é permitida a propaganda comercial, por meio de dissertações proferidas de maneira concisa, clara e conveniente à apreciação dos ouvintes, observadas as seguintes condições: a) o tempo destinado ao conjunto dessas dissertações não poderá ser superior a dez por cento (10%) do tempo total de irradiação de cada programa; b) cada dissertação durará, no máximo, trinta (30) segundos; c) as dissertações deverão ser intercaladas nos programas, de sorte a não se sucederem imediatamente; d) não será permitida, na execução dessas dissertações, a reiteração de palavras ou conceitos (BRASIL, 1932).

Nessa época, Ferraretto (2001, p. 101) elenca a existência de emissoras nos

estados da Bahia, Ceará, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de

Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. O advento da publicidade

3 No decreto 20.047, é usado, pela primeira vez em um documento legal, o termo radiodifusão. Ferraretto elucida que, antes dele, as emissoras de rádio eram enquadradas na legislação da telefonia e da telegrafia sem fios (2001, p. 103).

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mudou o modo de fazer rádio, que passou a ser visto como um novo e promissor meio

de comunicação.

O projeto inicial de Roquette-Pinto de uma rádio voltada à educação não foi de

todo perdido. Nos anos que se seguiram, o fundador da primeira emissora de rádio no

Brasil promoveu mudanças em sua programação que conquistaram maior simpatia

popular – até que, em 1936, ele doou a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro ao

Ministério da Educação e Saúde. Magaly Prado cita que a doação foi feita sob a

condição de que “o governo mantivesse os ideais de programação baseados na

transmissão de educação e cultura (2012, p. 55)”. Esse é considerado o marco do

surgimento do rádio educativo no país.

O momento seguinte do rádio é diretamente influenciado pela conjuntura

política – a priori, do país; depois, do mundo. “A decretação, em novembro de 1937, do

Estado Novo, que implantou uma ditadura com forte esquema de censura, afetou o

setor do rádio, que se retraiu, para, logo em seguida, continuar seu processo de

crescimento” (CALABRE, 2004, p. 19).

A consolidação do rádio no país deve-se ao papel que o veículo cumpriu na

transmissão de informações durante a Segunda Guerra Mundial (1939/1945).

Paralelamente a esse impulso e ao consequente aumento da comercialização, o rádio

foi, conforme Federico, “encontrando novos caminhos, nova programação, novos

públicos e novas modalidades de atuação junto a eles” (1982, p. 66). Ao longo da

década de 1940, o rádio ganhou mais e mais anunciantes, o que suscitou o

desenvolvimento das agências de propaganda. Segundo Calabre, os maiores

patrocinadores dessa fase do rádio eram as multinacionais que se instalavam no país

(2004, p. 15).

Também legado estrangeiro – nesse caso, dos Estados Unidos – foi a primeira

tentativa de uma rede de rádios do país, a Rede Verde-amarela, da empresa Byington &

Cia (mais tarde absorvida pela multinacional Motorola, conforme situa Ferraretto). Com

emissoras em São Paulo e no Rio de Janeiro, a rede “realizaria a primeira cobertura

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esportiva de um Campeonato Mundial de Futebol, na França, em 1938”

(FERRARETTO, 2001, p. 109).

Porém, com linhas de baixa qualidade e sem a concessão pelo governo de

canais de ondas curtas para levar a informação em rede, a empreitada fracassou. Com

isso, segundo Ferraretto, “o Brasil só contaria com redes a partir dos anos 70, quando a

estrutura de telecomunicações do país permitiu a interligação de emissoras via satélite”

(idem).

A programação radiofônica em seus tempos áureos dividia-se basicamente em

quatro segmentos de conteúdo, elencados por Lia Calabre (2004): as radionovelas, que

arrebatavam legiões de brasileiros até a década de 1950, em algumas emissoras

chegavam a ter até seis diferentes títulos veiculados diariamente; a música, por meio da

transmissão de discos em emissoras de pequeno porte ou da contratação de grandes

orquestras e cantores que se apresentavam ao vivo nas emissoras de maior expressão;

os programas de humor, variedade e calouros, que disputavam com os dois anteriores a

liderança da audiência; e, por fim, o jornalismo.

Nos primeiros anos do rádio, como acontecia na Rádio Sociedade do Rio de

Janeiro, as notícias eram lidas dos jornais e, posteriormente, comentadas. Depois, já

nessa fase, as emissoras contavam com os serviços de agências de notícia

internacionais e nacionais. Até que passaram a ter suas próprias equipes de

reportagem. “Ao longo dos aos 1940, as emissoras foram se especializando [...]. Muitas

vezes uma mesma emissora possuía vários informativos, cada qual com seu caráter

específico” (CALABRE, 2004, p. 43).

Foi nesse contexto que nasceu, na Rádio Nacional4, o Repórter Esso –

programa jornalístico que marcou época no rádio no Brasil, permanecendo no ar em

4 Criada em 1936, a Rádio Nacional foi a principal responsável pela popularização do rádio no país. Em

sua fundação, fez propostas irrecusáveis aos principais artistas da época, reunindo um elenco estelar do Rio de Janeiro e São Paulo, como remonta Prado (2012). Em 1940, foi encampada pela ditadura Vargas. Porém, mesmo estatizada, permaneceu funcionando com modelo comercial e “paradoxalmente, reinou absoluta na „Época de Ouro‟ da radiofonia brasileira, transformada na rádio padrão do país” (PRADO, 2012, p.113).

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três emissoras diferentes entre os anos de 1941 e 1968 e tendo sido também veiculado

na televisão entre os anos de 1953 e 1970. “A maior contribuição do Esso foi a

introdução, no Brasil, de um modelo de texto linear, direto, corrido e sem adjetivações,

apresentando um noticiário ágil e estruturado” (FERRARETTO, 2001, p. 127).

Magaly Prado (2012, p.121) divide o Repórter Esso em duas fases distintas e

igualmente pautadas por guerras. Na primeira, enquanto durou a Segunda Guerra

Mundial, o programa apoiava os Aliados “desenvolvendo reportagens direto do front” e

servindo como uma espécie de correspondente oficial do Brasil. Depois, na Guerra Fria,

as notícias nacionais ganharam espaço e, efetivamente, ocorreu a supressão da

linguagem pomposa e adjetivada, que predominava no rádio até então, em detrimento

de um texto mais claro e conciso.

Entre uma fase e outra, ocorre o fato responsável por desencadear uma

mudança iniciada na Rádio Nacional e que depois foi adotada pelas demais emissoras.

Heron Domingues, o locutor oficial do Repórter Esso na Rádio Nacional, implanta e

dirige, a partir de 1948, “a Seção de Jornais Falados e Reportagens da Nacional, o

primeiro departamento de uma emissora no país dedicado ao jornalismo”

(FERRARETTO, 2001, p.129). Esse novo modelo fez toda a diferença para a

sobrevivência desse veículo de comunicação nas décadas seguintes, quando o rádio

passa a dividir espaço com a televisão.

O início da década de 1950 tem especial relevância na história das

comunicações no Brasil. No primeiro ano desse período, Assis Chateaubriand inicia as

transmissões da primeira emissora de televisão da América Latina, a TV Tupi. Ao

mesmo tempo, ocorre a chegada do transistor, “que livrou o aparelho de fios e tomadas,

proporcionando a criação de uma nova linguagem, apropriada para um veículo com alta

mobilidade, que acompanhava o ouvinte onde quer que ele estivesse” (PRADO, 2012,

p. 215).

Nos anos que se seguiram, o rádio perdeu gradativamente seu prestígio junto

ao público e precisou reinventar-se, aproveitando-se de sua mobilidade para isso.

Ocorre que a concorrência com a televisão na área do entretenimento era inviável,

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afinal, a nova tecnologia saciava toda a curiosidade do público de conhecer o rosto de

seus ídolos, o que antes só se fazia por meio das revistas publicadas pelas emissoras

ou estando na plateia das transmissões radiofônicas. Ferraretto pontua que o rádio foi

vendo seus mais prestigiados artistas transferindo-se para a televisão e também

vivenciou a perda das verbas publicitárias. “O espetáculo começa a migrar para o novo

meio [...]” (2001, p. 137).

Em 27 de agosto de 1962, foi promulgada a legislação da radiodifusão, incluída

no Código Brasileiro de Telecomunicações. Esse decreto regulou a atividade de

radiodifusão e determinou em seu artigo 4º como serviços de telecomunicações:

[...] a transmissão, emissão ou recepção de símbolos, caracteres, sinais, escritos, imagens, sons ou informações de qualquer natureza, por fio, rádio, eletricidade, meios óticos ou qualquer outro processo eletromagnético (BRASIL, 1962).

O Código ainda classificou as telecomunicações de acordo com o fim a que se

destinam, caracterizando a radiodifusão como serviço “destinado a ser recebido direta e

livremente pelo público em geral, compreendendo radiodifusão sonora e televisão”

(BRASIL, 1962).

No campo da prática, o transistor trouxe novo fôlego para o rádio, já que

“deslocado de um lugar de destaque na sala de estar, agora ocupado pelo televisor, o

receptor radiofônico passa com a transistorização, em definitivo, a acompanhar os

ouvintes” (FERRARETO, 2001, p. 138). Ferraretto ainda situa que, na década de 1950,

o rádio passa a basear sua programação no trinômio jornalismo, esporte e serviço à

população – o que se consolidou nos anos de 1960 e 1970, muito em função da

Ditadura Militar:

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O golpe militar de 1964, que levou à investigação e à cassação de muitos dos grandes astros da Rádio Nacional e ao fechamento da Rádio Mayrink Veiga

5, de

orientação legalista, juntamente com questões internas das emissoras, representou um momento de ruptura definitivo na história do rádio brasileiro. O governo militar investiu na integração televisiva do país e as emissoras foram adotando o modelo de rádios locais, com notícias e prestação de serviços, músicas gravadas e esportes (CALABRE, 2004, p. 50).

É também nesse período e 30 anos depois de sua descoberta que iniciam as

transmissões regulares e comerciais em frequência modulada (FM). A tecnologia foi

inventada em 1933 pelo engenheiro americano Edwin Armstrong, “permitindo a

sintonização com qualidade sonora muito melhor, embora com alcance apenas em linha

de visibilidade” (PRADO, 2012, p.95). Nos Estados Unidos, sua expansão se dá nos

anos seguintes à Segunda Guerra Mundial – o que, no Brasil, vai ocorrer somente ao

longo dos anos 1970.

Magaly Prado aponta que, inicialmente, a FM não começou no Brasil como

emissora, mas como link para as estações de AM – ou seja, uma ligação entre o estúdio

e o transmissor, o que anteriormente era feito por linha telefônica. Somente em 1968,

quando o governo proibiu seu uso como link, é que a transmissão em Frequência

Modulada passou efetivamente a ser realizada, mas “afastando-se da rádio educativa e

ainda não atingindo a rádio pop, as FM apareceram primeiramente para fornecer

música ambiente” (PRADO, 2012, p. 261).

5 Segundo informações do acervo do jornal O Globo, a Rádio Sociedade Mayrink Veiga foi fundada em 21

de janeiro de 1926, tendo sido um dos berços da Era do Rádio. A emissora deu espaço para os maiores craques da Música Popular Brasileira da época: Francisco Alves, Silvio Caldas, Vicente Celestino, as irmãs Carmem e Aurora Miranda, Noel Rosa, Gastão Formenti, Carlos Galhardo e Moreira da Silva, entre outros. A emissora foi líder de audiência até o surgimento da Rádio Nacional e teve programas que marcaram época na história do rádio no Brasil. Em 1962, a Mayrink participou da chamada Cadeia da Legalidade (uma rede de rádios organizada por Leonel Brizola para defender a democracia), o que serviria como justificativa para o regime militar fechá-la em 1965. Fonte: http://acervo.oglobo.globo.com/rio-de-historias/radio-mayrink-veiga-abre-os-seus-microfones-para-os-astros-da-era-do-radio-8849357. Acesso: 19 abr. 2014.

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Seguindo o modelo econômico vigente na época, considerado uma nova

expressão do capitalismo6, os grupos que conseguem se consolidar entre as décadas

de 1970 e 1980, “articulam-se no campo da propriedade cruzada dos meios,

controlando, de modo simultâneo, jornais, emissores e rádio e/ou estações de TV”

(FERRARETTO, KLÖCKNER, 2010, p. 544). São conglomerados que se

profissionalizam e fortificam sua presença diante do consumidor, não deixando espaço

para a concorrência com empresas de menor porte.

Na segunda metade da década de 1970, fortificou-se o processo de

segmentação do rádio. Espelhadas no modelo norte-americano, as estações de FM

conquistam o público jovem. Colabora para essa divisão natural a qualidade técnica de

áudio superior das FMs. “[...] as estações de amplitude modulada concentram-se no

jornalismo, nas coberturas esportivas e na prestação de serviço à população. [...] Nas

FMs, predomina a música” (FERRARETO, 2001, p. 155).

A passagem da radiodifusão comercial brasileira para a era das redes via

satélite ocorreu em março de 1982, quando a Bandeirantes AM, de São Paulo,

começou a gerar e retransmitir seu radiojornal Primeira Hora. Até então, o que havia era

a retransmissão de programas gravados entre emissoras de um mesmo grupo, mas

ainda não se contava com a tecnologia necessária para a transmissão simultânea em

rede. “Em 1985 o país passa a contar com um satélite próprio de comunicações, o

Brasilsat A1, tendo o A2 sido lançado no ano seguinte. Está formado, então, um sistema

nacional de telecomunicações via satélite” (FERRARETTO, 2001, p. 166).

Nos anos 1990, já havia diversas redes nacionais e regionais, que logo se

deparariam com o desafio de dosar a programação nacional com os conteúdos locais.

Foram anos de aprendizado. Conforme Magaly Prado (2012, p. 399), “após ajuste do

horário com momentos dedicados à programação em rede e outros exclusivos aos

6 Conforme Ferraretto (FERRARETTO, KLÖCKNER, 2010, p. 543), essa nova expressão econômica

ocorre quando o capitalismo liberal dá lugar ao monopólico, em que um pequeno número de grandes empresas disputa a preferência do consumidor e “o autor vai se preocupar com a consolidação do seu setor, motivo pelo qual cria entidades como a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), fundada em 27 de novembro de 1962”.

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assuntos locais, a preocupação recaiu à linguagem [...]. A questão do sotaque veio à

tona”.

Ao mesmo tempo em que o rádio no Brasil enfrentava seus últimos desafios

antes do advento da internet (que iria modificar completamente o modo de produzir e

transmitir conteúdo), multiplicaram-se as emissoras comunitárias, que atuariam por

quase 20 anos através de meios alternativos até serem regulamentadas pelo governo.

Entre os anos 1970 e 1990, o rádio comercial e o rádio comunitário

desenvolvem-se paralelamente, em um cenário onde os avanços tecnológicos

contemplam as emissoras convencionais, mas o fazer popular foi ganhando gradativa

importância. “Surgem e se desenvolvem na América Latina, a partir da década de 1970,

as primeiras experiências de comunicação popular, que passam a receber diferentes

denominações: comunitária, alternativa, dialógica, participativa, grupal, libertadora, de

resistência” (COGO, 1998, p. 29).

Conforme Cogo (1998, p. 39), o novo modelo emergiu principalmente no interior

dos movimentos e organizações sociais – especialmente dentro da Igreja Católica e dos

sindicatos de trabalhadores – “em meio a uma conjuntura de profunda insatisfação por

parte do povo e de profundas restrições à liberdade de expressão”.

A legislação vigente impedia o acesso de grupos populares a concessões de

rádio e televisão. Sendo assim, a rádio comunitária teve seu início ocupando espaço em

emissoras comerciais geralmente de propriedade da Igreja Católica ou por meio de alto-

falantes instalados em favelas paulistas.

A primeira experiência brasileira nesse sentido, como registra Cogo, deu-se em

1983, na Zona Leste de São Paulo, precisamente na favela de Nossa Senhora

Aparecida, na região de São Miguel Paulista. O alto-falante que inicialmente percorria a

comunidade propagando avisos de utilidade pública, acabou sendo fixado na sede do

centro comunitário e, posteriormente, no alto da igreja.

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Com isso, Denise Cogo conta que os alto-falantes foram transformados em

rádio popular, seguindo o exemplo bem-sucedido que vinha sendo utilizado em Lima,

no Peru. Feita pelas pessoas da comunidade, a rádio passou a transmitir uma

programação melhor elaborada e sistematizada, com horário fixo aos sábados pela

manhã. Os programas eram constituídos “basicamente de notícias, entrevistas e

serviços informativos elaborados com a colaboração de várias comunidades da favela”

(1998, p. 104).

Foi somente em 1998 que o Governo Federal instituiu o serviço de radiodifusão

comunitária, por meio do decreto número 9.612, que a define como “radiodifusão

sonora, em frequência modulada, operada em baixa potência e cobertura restrita,

outorgada a fundações e associações comunitárias, sem fins lucrativos, com sede na

localidade de prestação do serviço” (BRASIL,1998).

Entende-se por baixa potência o limite de 25 watts e altura do sistema irradiante

não superior a trinta metros. Inicialmente, o decreto 9.612 determinou que a outorga

dessas estações tinha validade de três anos, podendo ser renovada. Posteriormente,

em 2002, esse prazo foi ampliado para 10 anos.

As emissoras comunitárias foram criadas para colaborar com o

desenvolvimento das comunidades, com a transmissão de conteúdos educativos,

artísticos, culturais e informativos, além da participação ativa da comunidade. Tanto que

a lei previu que “qualquer cidadão da comunidade beneficiada terá direito a emitir

opiniões sobre quaisquer assuntos abordados na programação da emissora, bem como

manifestar ideias, propostas, sugestões, reclamações ou reivindicações” (BRASIL,

1998).

Na prática, porém, não foi dessa forma que elas se desenvolveram. Em sua

pesquisa com rádios comunitárias paulistas, realizada entre 2004 e 2005, Bruno Araújo

Torres demonstrou que existem inúmeras emissoras clandestinas que, “por operarem

em baixa frequência, com programação cultural e sem fins lucrativos, se

autodenominam comunitárias” (2010, p. 256).

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Além do que, mesmo entre as emissoras legalmente instaladas, a participação

do público ocorre de forma muito restrita, descaracterizando o conceito de rádio

comunitária. Segundo Torres (2010, p.263), 94% dos entrevistados responderam que o

ouvinte poderia participar da programação por telefone, carta ou e-mail. Somente 4%

disseram que o ouvinte poderia participar ativamente da programação, fazendo ou

produzindo programas de acordo com seu gosto. A conclusão do autor é que “o

exercício da cidadania por meio do rádio se encontra ameaçado em função da

apropriação privada por comerciantes e políticos de um espaço que deveria ser

público”.

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3 NOVIDADES NO AR: A INTERNET

A internet chegou ao Brasil em um cenário de estagnação do rádio no país,

depois de longos anos de uso político e concessões outorgadas em espécie de

apadrinhamento. De acordo com Kischinhevsky (2007), o modelo de radiodifusão

brasileiro é essencialmente privado e está nas mãos de empresários com fortes

ligações político-regionais.

Durante o governo de Getúlio Vargas, houve um forte controle da imprensa

exercido pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), criado no Brasil em

dezembro de 1939 e extinto em 1945, com o fim do Estado Novo. Entretanto, foi

durante a Ditadura Militar, e mesmo no primeiro governo civil, após esse período, que

ocorreu a multiplicação das emissoras, num modelo de troca de favores apontado por

Kischinhevsky como o grande responsável pela expansão do rádio entre o fim da

década de 1960 e o fim dos anos 1980.

Um levantamento feito pelo autor pontua que “em 1985, havia no país, entre

emissoras instaladas e em fase de implantação, quase 3.400 estações de rádio, 35%

delas concedidas ao longo dos 21 anos de Ditadura Militar” (2007, p. 93 e 94). Esse

fenômeno ampliou-se ainda mais no período de transição democrática, quando o Brasil

foi governado por José Sarney. Kischinhevsky relata que integrantes do governo Sarney

admitiram que “dias antes da promulgação da Constituinte de 1988, mais de 400

outorgas para operação de rádio e TV foram concedidas”.

Apesar de serem escusas as relações de apoio político em troca de concessões

de radiodifusão, o resultado dessa prática foi que o rádio pôde chegar ao interior do

país:

Esse regime de concessões de critério político, privilegiando empresários ligados a parlamentares da base de sustentação do governo, levou à interiorização das emissoras. Enquanto na Argentina e no Uruguai, as estações se concentram em torno de Buenos Aires e Montevidéu, no Brasil as grandes capitais reúnem nem uma parcela ínfima do total. Segundo relatório da agência de publicidade McCann-Erickson, a maioria absoluta das 1.440 emissoras AM e

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925 emissoras FM em operação no país, em 1989, estava instalada fora dos grandes centros urbanos (KISCHINHEVSKY, 2007, p. 94).

Depois de tantos anos relacionadas ao interesse político, as outorgas de rádio

foram suspensas no governo de Fernando Collor de Melo, o que teve prosseguimento

com Itamar Franco e no início do governo de Fernando Henrique Cardoso. A partir de

1996, tentou-se retomar as concessões por meio de licitação, processo que se

desenrolou a passos lentos e contribuiu para estratificar um cenário de estagnação do

rádio. Kischinhevsky (2007) situa que, de 1990 a 1998, o número de emissoras

permaneceu praticamente inalterado.

Do ponto de vista mercadológico, Nelia Del Bianco (1999, p.185) aponta que o

gerenciamento das emissoras de rádio vinha se transformando em decorrência dos

novos equipamentos digitais e do uso do satélite. Com isso, “emissoras tradicionais

procuram fórmulas inovadoras para manter posições [...]. Outras lutam para recuperar o

prestígio do passado, incorporar a tecnologia emergente e vencer as incertezas”.

Com uma fatia cada vez menor do bolo publicitário, o rádio atravessava

dificuldades e foi beneficiado pela tecnologia de transmissão via satélite. No início da

década de 1990, as emissoras buscavam dosar da melhor forma suas programações

locais com a transmissão em rede. O modelo ganhou espaço rapidamente, pois

possibilitou a redução de custos operacionais com mão de obra e também ampliou as

oportunidades de faturamento, pela transmissão de publicidade em cadeia. Além das

questões práticas, Del Bianco (1999, p. 197) aponta que as redes deram início a uma

nova fase no modelo de gestão, com “uma nova geração de empresários do rádio: o

manager, aquele que faz do meio o seu negócio e o explora de maneira racional e

profissional”.

A autora ainda coloca os anos 1990 como a época onde o rádio buscou novos

meios de sustento, a partir da criação de eventos para os ouvintes, promoções

patrocinadas, sorteios e lançamento de produtos personalizados, como CDs

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promocionais. Essas ferramentas foram os meios utilizados para diferenciação entre as

emissoras e, tendo entrado no país nesse contexto, logo a internet seria mais um deles.

Pesquisadores como Luiz Artur Ferraretto, Nair Prata e Nelia Del Bianco situam

a chegada da internet como o quarto grande fato na história radiofônica do país. A

conexão do mundo pela rede mundial de computadores deu real sentido ao termo

globalização e marcou tanto o rádio quanto o nascimento da televisão, a

transistorização e a chegada das emissoras em Frequência Modulada (FM).

O rádio já havia atravessado seus momentos de desprestígio, quando perdeu

espaço na sala de estar para os aparelhos televisores; depois, recobrou seu fôlego

quando se miniaturizou e pôde funcionar apenas com o uso de algumas pilhas; ainda,

ganhou novos contornos e usos atraindo o público jovem por meio da música em

transmissões mais audíveis pelo FM. Entretanto, o cenário que se desenha na década

de 1990, com o surgimento de novas tecnologias, foi o mais transformador para o rádio

pelas incógnitas que carregava.

A internet teve sua origem nos anos 1970, sem relações com comunicação de

massa. Ao contrário, a tecnologia foi criada com objetivos bélicos. Segundo Nair Prata,

a iniciativa foi do Departamento de Defesa Americano e teve o intuito de interligar

virtualmente as faculdades de centros de pesquisa daquele país para canalizar as

descobertas e informações obtidas pelos pesquisadores e que pudessem fortalecer o

os Estados Unidos durante a Guerra Fria.

A Arpanet, como foi chamada esta primeira rede, logo deu origem a outras, que

existiam sem ligação entre si. A pesquisa de Luciana Miranda Costa revela que o uso

comercial da internet foi liberado em 1987 e, em 1990, a Arpanet saiu de operação,

ficando a administração da internet sob responsabilidade da National Science

Foundation. Com computadores já preparados para a conexão com a internet, “os

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Estados Unidos acabaram registrando uma rápida adaptação das emissoras de rádio

para a Internet” (COSTA7).

A rede mundial de computadores ganhou novas possibilidades de uso nos anos

seguintes, o que provocou uma verdadeira revolução nas comunicações. A

pesquisadora Sônia Virgínia Moreira (1999) situa para esse fenômeno a criação do

World-Wide Web (www), em 1991, que foi concebido para interligar computadores de

laboratório. Ela traça um panorama de como a nova tecnologia modificou as

comunicações na época:

A Internet está conseguindo unir meios de comunicação distintos, com conteúdos variados e destinados a audiências em qualquer ponto do globo, bastando para tanto ter um endereço eletrônico (...) e um leitor, ouvinte, espectador interessado – agora simplesmente usuário – na outra ponta do sistema (BIANCO, MOREIRA, 1999, p. 210 e 211).

O que possibilitou o uso da internet nas empresas e residências, ampliando

rapidamente sua popularidade, foi a criação de um programa chamado Mosaic, um

ambiente gráfico semelhante ao Windows antes do qual somente era “possível exibir

textos na web” (MARTINS, 2008, p. 35).

No Brasil, a exploração comercial da internet foi liberada em 1995. No que

tange ao rádio, sua entrada para a rede mundial de computadores inicialmente ocorreu

com a criação de home pages na internet. Com isso, as emissoras buscavam ampliar

os meios de interação com o público e, consequentemente, a publicidade. Ferraretto

(2010, p. 545) pontua que, na última década do século 20, já sob a vigência da internet,

começa o processo de convergência dos meios “entre tecnologias tradicionais – os

meios de comunicação de massa existentes e a telefonia fixa – com inovações então

recém-introduzidas no país como a TV por assinatura, a telefonia móvel e a internet”.

7 Pesquisa disponível no site http://www.oparanasondasdoradio.ufpa.br.

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Conforme Del Bianco (1999), a rede Transamérica foi a primeira a entrar na

rede mundial de computadores, em abril de 1996. Nesse mesmo ano, conforme Moreira

(1999, p. 213), o total de emissoras brasileiras com endereço na Internet chegava a

cerca de 20. Com isso, “os anunciantes e ouvintes que têm acesso a essa rede podem

mandar mensagens ou escolher a melhor música por computador. Interatividade de

verdade” (DEL BIANCO, 1999, p. 200).

As grandes emissoras investiram em suas páginas na internet, apesar das

ferramentas disponibilizadas estarem limitadas a informações básicas – endereço,

telefone, grade de programação, tabela de preços para publicidade e um canal para o

envio de mensagens. Nair Prata situa melhor esse marco da chegada da internet no

país:

A web comercial brasileira comemorou dez anos no dia 31 de maio de 2005, data de criação do Comitê Gestor da Internet no Brasil, entidade responsável pela rede mundial de computadores no país. Apesar de a primeira conexão à web ter sido feita em janeiro de 1991, e em 1994 a Embratel ter começado a oferecer acesso à rede, a criação do Comitê Gestor é o marco inaugural da internet comercial no Brasil (2008, p. 39).

No mesmo ano em que a internet chegava ao Brasil, 1995, nos Estados Unidos

a companhia Real Networks lançou o RealAudio, o primeiro recurso disponível para

transmissões ao vivo pela internet em tempo real. Com isso, nasceu o conceito de

webradio, que foi trazido para o Brasil três anos depois.

Como elucida Kischinhevsky (2007, p. 116), a ferramenta consiste em um plug-

in que digitaliza e comprime o som, que depois é transmitido através de modems com

velocidade acima de 14.400 bps. Antes do RealAudio, o usuário de internet precisava

fazer o download de arquivos para escutar posteriormente. Com a tecnologia disponível

na época, a chamada internet discada, esse processo poderia levar horas.

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O formato de áudio em MP3, que permitiu a compressão do som em até 12

vezes, contribuiu ainda mais para a troca de conteúdos via web. O recurso foi

popularizado a partir de 1997 pela empresa Sony Company, criadora de um formato

padrão de MP3 que todas as empresas do mundo adotaram. As mudanças foram

percebidas com intensidade pela indústria fonográfica.

Os rápidos aperfeiçoamentos tecnológicos no campo da informática

representaram, segundo Kischinhevsky (2007, p. 116), “um salto e tanto para uma rede

de computadores que, até 1989, permitia apenas trocas de arquivos de textos e que só

em 1996 passou a comportar vídeo”.

Nair Prata (2008, p. 18) aponta que a internet reconfigurou os gêneros

conhecidos e trouxe novas possibilidades de interação, levando a novas formas de

radiofonia. Dito isso, a autora defende que se deveriam traçar novos conceitos de

radiodifusão, os quais contemplem o conceito de convergência – isto é, “todos os

veículos de comunicação funcionando num mesmo suporte, a internet”. A autora

defende que:

O advento da internet (...) faz surgir uma nova forma de radiofonia, onde o usuário não apenas ouve as mensagens transmitidas, mas também as encontra em textos, vídeos, fotografias, desenhos, hipertextos. Além do áudio, há toda uma profusão de elementos textuais e imagéticos que resignificam (sic) o velho invento de Marconi (2008, p. 50).

Aspectos como a recepção, as tecnologias de transmissão e a produção de

conteúdo foram rapidamente alteradas pela Internet. Kischinhevsky (2007, p. 66)

enumera algumas dessas transformações. Primeiramente, o receptor tornou-se também

emissor, na medida em que surgem novas e facilitadas formas de interação. Além do

que, a internet reabre o campo de atuação para o rádio e, rapidamente, “um número

cada vez maior de emissoras está migrando para a Internet, que não oferece limites

geográficos, bastando um computador com acesso à banda larga”.

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A transmissão de conteúdo pela Internet passou a ser o grande diferencial das

emissoras diante do público. O rádio na internet ultrapassa as limitações da

transmissão convencional. Ainda que desconsidere os problemas que ocorreriam no

futuro com conexões ruins de internet, Sônia Moreira exalta que a superposição de

emissoras no dial, os ruídos e os sinais fracos deixaram de existir.

Martins (2008) pontua que, nos Estados Unidos, a primeira emissora comercial

a transmitir pela internet de forma contínua e ao vivo foi a Rádio Klif, do Texas, em

1995. Já no Brasil, a novidade chegou três anos depois, com a Rádio Totem, em

outubro de 1998. É importante observar que essa emissora nasceu e permaneceu

somente no ambiente da internet. Costa8 revela que ela foi fundada pelo empresário

Eduardo Oliva, que, na época, era o representante da Real Networks para o mercado

brasileiro e pretendia demonstrar os usos e possibilidades dos programas da empresa.

A emissora enfrentou, desde o princípio, uma limitação característica da

webradio: o número de acessos simultâneos, que varia de acordo com a configuração

técnica do servidor. No caso da Totem, a capacidade era de 500 usuários simultâneos.

Por isso, logo a emissora aproveitou uma das vantagens da webradio sobre o rádio

convencional, que é a possibilidade de oferecer múltiplos canais em um mesmo

ambiente.

Nesse caso, a Totem chegou a possuir 11 canais com estilos musicais variados,

além de programas, notícias e atalhos para videoclipes e entrevistas. Sendo assim, a

emissora correspondia ao entendimento de Nair Prata acerca de webradio, sendo “uma

grande constelação de elementos significantes sonoros, textuais e imagéticos

abrigados no suporte internet” (2008, p. 61).

A Rádio Totem saiu do ar em 2001, por falta de recursos, mas deixou sua

herança para a webradio brasileira. Dois anos após sua fundação, por volta de 2000,

havia 191 emissoras brasileiras na web, entre as operadoras do espectro hertziano com

presença na internet ou de existência exclusiva na internet.

8 Em http://www.oparanasondasdoradio.ufpa.br/00radiototem.htm. Acesso: 14 abr. 2014.

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No novo suporte, o rádio viu-se diante de novos elementos e novas

possibilidades de interação. Segundo Ferraretto (2010, p. 545), foi somente ao longo da

primeira década do século 21 que a convergência se amplia, com a criação de portais

de conteúdo na internet, “englobando conteúdos gerados – ou retrabalhados a partir

destes – por seus veículos tradicionais de imprensa, rádio e/ ou televisão”.

Com o modelo convergente que se construía, integrando serviços sonoros,

visuais e escritos, configurava-se um modelo de rádio multimídia. Naturalmente, as

características clássicas do rádio sofreram transformações. Embora avaliasse o modelo

convergente como algo ainda em fase de construção, Martins enumerou e reavaliou

cada uma dessas características:

1. Linguagem Oral: Essa característica deixa de existir, pois a webradio é também textual e imagética; 2. Penetração: Essa característica se expande, pois a webradio tem alcance mundial, podendo ser acessada em todo o planeta; 3. Mobilidade: A webradio ainda se parece com o velho rádio dos anos 40, mas é uma questão apenas de tempo. Com certeza, brevemente o rádio na internet terá a mobilidade que possui hoje o aparelho receptor de ondas hertzianas; 4. Baixo Custo: A webradio ainda é inacessível para boa parte da população, excluída digitalmente. Com o tempo, também se espera que a webradio tenha o baixo custo do receptor tradicional; 5. Imediatismo: Essa característica se mantém na webradio; 6. Instantaneidade: Essa característica ganha novidades na webradio, pois os arquivos, tanto de áudio quanto de vídeo, permitem o acesso posterior do usuário; 7. Sensorialidade: Essa característica permanece apenas com relação ao aspecto sonoro da webradio. No tocante aos recursos textuais e imagéticos, a sensorialidade perde o sentido; 8. Autonomia: A webradio ainda é presa a fios e tomadas, mas o emissor pode falar a toda a sua audiência como se estivesse falando com cada um em particular (2008, p. 54 e 55).

Nos anos decorridos desde a publicação da autora, houve muitos avanços no

campo das tecnologias disponíveis e da acessibilidade. Em relação à mobilidade, a

webradio passou de uma ferramenta atrelada a personal computers ligados a uma rede

de internet para um dispositivo cada vez mais acessado via telefone celular. Na

atualidade, portanto, a questão da mobilidade já não figura mais como uma

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desvantagem em relação ao rádio hertziano – desde que o usuário tenha disponível

uma rede de internet sem fio.

O custo também é outro fator que veio adaptando-se com o decorrer dos anos.

Embora o rádio hertziano ainda seja absolutamente mais barato e acessível, vem-se

registrando um crescimento no número de pessoas conectadas à internet – e,

consequentemente, com acesso ao webradio. Levantamento da Associação Brasileira

de Telecomunicações (Telebrasil) registrou 133,7 milhões de acessos à internet em

banda larga, em 2013, o que equivale a crescimento de 55% no ano. O aumento foi

impulsionado, principalmente, pela banda larga móvel das redes 3G e 4G, responsáveis

por 111,4 milhões de conexões. Já na banda larga fixa, os acessos somaram 22,3

milhões no fim de 2013 (EBC, 2014).

Também existe a questão da interatividade com o público, que se ampliou com

o advento da internet, apesar dos anos necessários para a maturação da ideia de que o

ouvinte poderia interferir até mesmo gerando conteúdo radiofônico:

A opinião do público, que antes aparecia na forma de enquetes, de telefonemas e até mesmo de cartas, torna-se mais constante, incluindo as já citadas mensagens de e-mails, chat, MSN ou celular. Várias emissoras incentivam a participação da audiência – o chamado ouvinte-repórter – também com informações. Há, ainda, as que colocam questões, disponibilizando números de telefone associados a programas de computador, permitindo mensurar quantos dos que ligarem possuem esta ou aquela posição a respeito de um determinado assunto. Todas estas práticas têm alterado, na contemporaneidade, o conteúdo das irradiações (FERRARETTO, 2010, p. 550).

Com tantos elementos novos alterando o modo de fazer e acessar o rádio,

naturalmente sua definição não é mais a mesma apresentada no capítulo 2 deste

trabalho. Nem as definições do dicionário, nem a definição de Guglielmo Marconi ou

Landell de Moura expressam o que é o rádio na atualidade. Dessa forma, Martins

(2008, p. 71) sugere uma nova conceituação, com base na agregação de elementos

textuais e imagéticos à radiofonia: “Meio de comunicação que transmite informação

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sonora, invisível, em tempo real. A informação sonora poderá vir acompanhada de

textos e imagens, mas estes não serão necessários para a compreensão da

transmissão”.

Perceba-se que o conceito proposto situa a presença de novos elementos, mas

os caracteriza como acessórios da mensagem radiofônica, de forma que o usuário

ainda poderá ater-se a outras atividades enquanto escuta sua programação musical ou

informativa por meio de aparelhos portáteis e conectados à internet. Além do que, o

novo rádio não extingue o antigo – que, em essência, transmite informação sonora,

invisível e em tempo real.

É importante ressaltar que, delimitando como rádio os elementos citados acima,

a autora compreende que formatos de áudio armazenados pelo usuário para uso

posterior estão à margem da definição de rádio. Ou seja, para Martins (2008), playlists

pessoais ou podcasts não são rádio, mas serviços de arquivamento de áudio tal qual

são as fitas cassete, os discos ou CDs.

Kischinhevsky (2007) situa a criação do podcast em 2004, tendo-se

popularizado a partir do ano seguinte, tornando o próprio ouvinte um potencial emissor

de conteúdos digitais. O serviço consiste no download de gravações em formato MP3

para um aparelho portátil, utilizando o formato RSS (Real Simple Syndication), que

funciona como um agregador de conteúdo com atualizações automáticas.

Em análise, no entanto, Kischinhevsky não exclui esse formato da definição de

rádio. Apenas distingue o podcast do rádio comercial online pela ausência de regras.

Ainda assim, reconhece que “a despeito do alto grau de liberdade de circulação de

formas simbólicas via podcasts, há algum grau de hierarquização [...] nos diretórios, que

geralmente operam com classificações de gêneros que remetem ao rádio convencional”

(2007, p. 118).

Já Ferraretto inclui o podcast nas modalidades possíveis de rádio da atualidade

e indica, inclusive, que ele poderia ser melhor explorado pelas emissoras comerciais.

Segundo o autor, não se pode ignorar que o rádio não é o mesmo de antes do

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surgimento e consolidação da internet, em todas as etapas de processo de

comunicação. Citando Eduardo Meditsch, Ferraretto (2010, p. 540) resume “que o

termo rádio passava a indicar, de modo crescente, uma linguagem específica

independente do suporte técnico ao qual se associava”.

No caso específico do podcast, de desconsiderarmos o suporte e avaliarmos

somente a linguagem, Ferraretto identifica os mesmos aspectos verificados no rádio

hertziano: forma determinada e conjugada de manipulação da palavra falada, da

música, dos efeitos sonoros e do silêncio.

Se o broadcasting corresponde à estratégia mercadológica de difusão e o narrowcasting, expressão mais comum no mercado dos Estados Unidos, à de segmentação, o podcasting e as web radios (sic), tocados por amadores e mesmo por profissionais, passam ao largo em uma espécie de hipersegmentação (FERRARETTO, 2010, p. 548).

O território livre da web mostrou-se com grande alternativa para as emissoras

que não conseguem obter outorga governamental. O cenário que se desenhou para a

webradio é oposta ao que se impôs ao rádio convencional que, desde o seu princípio,

foi fortemente regulado pelo Estado nas duas pontas: nos primeiros anos do rádio no

Brasil, os usuários precisavam apresentar um atestado de idoneidade para possuir

aparelhos domésticos. A indústria radiofônica, por sua vez, sempre dependeu de

licenças estatais e, até a década de 1990, esteve à mercê dos interesses políticos.

Já na internet, não existem meios de regulamentação ou limitações de

conteúdo. Em função disso, o espaço virtual tornou-se atrativo não somente para o

surgimento de rádios comerciais online, mas também de emissoras comunitárias

“altamente segmentadas ou de conteúdo ideológico específico [...]. Emissoras

analógicas que migram para a web, mesmo tendo a concessão, sabem que na internet

é possível fazer qualquer tipo de programação sem interferência estatal” (MARTINS,

2008, p. 226).

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O ambiente virtual desenvolveu-se sem censura, mas a discussão em torno da

liberdade de expressão versus as melhores práticas existe desde o advento da internet

– que, no Brasil, completará 20 anos em 2015. Nesse período, destacaram-se as

tentativas da sociedade civil de regulamentar a atividade online, como o guia publicado

pela instituição Repórteres Sem Fronteiras em parceria com a Organização para

Segurança e Cooperação na Europa (OSCE):

1. Qualquer lei sobre o fluxo de informação online deve estar ancorada no direito à liberdade de expressão conforme definido no artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos. 2. Em uma sociedade democrática e aberta, é de livre arbítrio dos cidadãos decidir o que pretendem acessar e visualizar na internet. Filtrar ou criar índices de conteúdo online por iniciativa governamental é inaceitável. Filtros só podem ser instalados pelos próprios internautas. 3. Qualquer solicitação para registrar websites com autoridades governamentais não é aceitável. Ao contrário de licenças como frequências de transmissão, uma infraestrutura abundante como a internet não justifica exigência de licenças. 4. Um provedor de serviços técnicos não pode ser responsabilizado pela conduta de hospedagem ou conteúdo, a menos que o site de hospedagem se recuse a obedecer a ordens judiciais. 5. Todo o conteúdo da internet deve estar de acordo com a legislação do país de origem dos arquivos (origem do upload) e não de acordo com a legislação do país onde é feito o download. 6. A internet combina vários tipos de mídia e novas ferramentas de publicação como blogs. Redatores de internet e jornalistas online devem ser protegidos legalmente sobre o princípio básico do direito de livre expressão e direitos complementares de privacidade e sigilo de fonte (MARTINS, 2008, p. 43).

No Brasil, é recente a primeira lei que define direitos e deveres dos usuários e

provedores da web. Conhecido como Marco Civil da Internet, a lei número 12.965

tramitou na Câmara dos Deputados por quase três anos até ser aprovada pelo

Legislativo, em março de 2014, e pelo Senado, em abril do mesmo ano. Em cinco

capítulos e 32 artigos, a lei “estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para uso

da internet no Brasil” (BRASIL, 2014).

O Marco Civil da Internet não trata especificamente da produção de conteúdo,

tampouco se aprofunda nas questões de direitos autorais. Contudo, prevê a livre

iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor. Também determina uma série

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de princípios como a garantia da liberdade de expressão, comunicação e manifestação

de pensamento, nos termos da Constituição.

No que diz respeito a aspectos técnicos, há incisos que podem colaborar com a

qualidade de transmissão do conteúdo radiofônico pela web, como o que determina “a

preservação da estabilidade, segurança e funcionalidade da rede, por meio de medidas

técnicas compatíveis com os padrões internacionais e pelo estímulo ao uso de boas

práticas” (BRASIL, 2014).

Outro princípio previsto no Marco Civil da Internet é a questão da Neutralidade

da Rede, disposto no Art. 9:

O responsável pela transmissão, comutação ou roteamento tem o dever de tratar de forma isonômica quaisquer pacotes de dados, sem distinção por conteúdo, origem e destino, serviço, terminal ou aplicativo, sendo vedada qualquer discriminação ou degradação do tráfego que não decorra de requisitos técnicos necessários à prestação adequada dos serviços, conforme regulamentação (BRASIL, 2014).

Conforme o portal da Agência Brasil na internet, esse princípio diz que a rede

deve ser igual para todos, devendo o usuário pagar apenas pela velocidade contratada,

não podendo haver sanções de acordo com o tipo de conteúdo acessado. O portal de

notícias G1 complementa que a neutralidade de rede não impede a oferta de pacotes

com velocidade diferenciada, mas “pressupõe que os provedores não podem ofertar

conexões diferenciadas, por exemplo, para acesso somente a e-mails, vídeos ou redes

sociais” (G1, 2014).

Ainda de acordo com informações coletadas no portal G1, o princípio da

Neutralidade será regulamentado pelo Executivo, com a previsão de sua aplicação e

exceções, após consulta feita à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e o

Comitê Gestor da Internet (CGI).

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4 A DIGITALIZAÇÃO DO RÁDIO

Na era da convergência, tudo acontece ao mesmo tempo, em plataformas

interligadas e que se acessam ao simples clique de um botão. A internet foi a principal

catalizadora desse fenômeno, incorporando todos os demais meios de comunicação e

inserindo-os em uma comunicação em rede. Porém, convergência não se limita à

presença na web, mas também aos dispositivos móveis. Ou, como situa Del Bianco

(2012, p. 16), é um fenômeno caracterizado “por um sistema de informação em rede,

formado pela conjunção da informática, telecomunicações, optoeletrônica,

computadores e que incluiu dispositivos móveis e meios tradicionais de comunicação”.

A convergência pressupõe mudanças na forma de fazer, de transmitir e receber

a comunicação. Conforme Del Bianco (2012), não basta que se altere o modelo de

produção, marketing, venda e distribuição dos serviços de informação e comunicação.

É preciso disponibilizar as mesmas informações através de diferentes plataformas de

rede e em formato de texto, vídeo e som. Ou seja, “decorre também em alterar a lógica

como operam as indústrias midiáticas, ou seja, na forma como processam a informação

e o entretenimento para o público desses meios” (2010, p. 558). A autora exemplifica:

A evolução da tecnologia tem ampliado radicalmente todos os meios de comunicação frente às opções à disposição dos consumidores, incluindo o centenário meio rádio. No passado, o rádio era limitado ao que estava disponível nas frequências AM e FM. Hoje as possibilidades de escuta se estenderam com as plataformas digitais: internet, players de MP3, celulares, satélite e rádio digital. Situação que levou o instituto americano de pesquisa Arbitron denominar de “rádio sem limites”.

As próprias operadoras de televisão por assinatura a cabo ou por satélite

anteciparam a demanda, oferecendo canais de áudio variados. Atualmente, operadoras

como a Claro TV e Sky retransmitem a programação de dezenas de emissoras de rádio

do país e oferecem, também, outros canais musicais próprios, segmentados por estilo

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musical e sem intervalos comerciais. A NET, por sua vez, disponibiliza um único canal

de música, mas oferece em seu portal na internet a opção de gravar a programação

para audição posterior.

Enquanto isso, o rádio analógico amargura dias de declínio. Concebido no final

do século XIX e aperfeiçoado com a invenção do transistor e transmissão em

frequência modulada, ele teve seu ápice no Brasil até a chegada da televisão. Depois,

adaptou-se à concorrência com o aparelho que emitia som e imagem e sobreviveu nas

décadas seguintes oferecendo música, jornalismo e variedades ao ouvinte. Atualmente,

apenas aguarda os novos horizontes que a digitalização poderá oferecer. A implantação

de um novo modelo ocorrerá num momento em que o rádio convencional perde espaço

na vida dos brasileiros.

Kischinhevsky compara o momento atual do rádio ao processo de declínio

enfrentado pelo disco de vinil nos anos de 1980, quando a indústria fonográfica se

preparava para lançar no mercado um aparato de tamanho reduzido e qualidade de

áudio indiscutivelmente superior: o compact disc (CD). Não havendo possibilidade de

resistência, os velhos long plays tornaram-se item de colecionador. Da mesma forma,

as novas tecnologias digitais sentenciam o rádio hertziano de uma forma ainda não

conhecida e, embora ainda não se saiba qual padrão o sucederá, “seu fim já vem sendo

acertado” (2007, p.15).

De acordo com o Censo Demográfico 2010, o rádio está perdendo cada vez

mais espaço nos lares brasileiros, onde se sobressai o número de aparelhos de

televisão, além de uma elevação gradual no número de computadores. Entre 2000 e

2010, a parcela das 57,3 milhões de residências brasileiras que possuem computador

aumentou de 10,6% para 38,3%. Também aumentou a presença de televisores

(existentes em 95% dos lares), geladeiras (93,7%) e máquinas de lavar roupas (47,2%).

Já a percentagem de lares que possuem rádio diminuiu de 87,9% para 81,4%, como

mostra a Tabela 1.

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Para entendimento desses resultados, cabe pontuar que o Censo considera

como rádio apenas os aparelhos convencionais, inclusive a pilha. Não inclui, portanto,

rádios integrados a telefone celular ou MP3 player, por exemplo.

TABELA 1 - BENS DURÁVEIS, SEGUNDO AS GRANDES REGIÕES E AS

UNIDADES DA FEDERAÇÃO – 2010

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Ao mesmo tempo, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios realizada em

2011, e publicada em 2013, reforçou que o número de internautas no país e o número

de celulares vem crescendo progressivamente, inclusive entre pessoas com mais de 50

anos de idade. O estudo investigou, entre outros aspectos, o acesso à internet.

Perguntou-se para todos os moradores entrevistados com 10 anos ou mais de idade,

com base na data da entrevista, se tinham acessado a Internet nos últimos três meses

em qualquer local.

Os resultados da pesquisa mostram que, em 2011, 77,7 milhões de pessoas de

10 anos ou mais de idade acessaram a internet no período determinado –

representando 46,5%. Dois anos antes, na mesma pesquisa, o número de internautas

equivalia a 41,6% da população-alvo. Nos anos de 2008 e 2005, esses totais foram

estimados em 34,7% e 20,9% da população-alvo, respectivamente. A título de

contextualização, de 2005 para 2011, a população em idade ativa com mais de 10 anos

cresceu 9,7%, enquanto o contingente de pessoas que utilizaram a Internet aumentou

143,8%. Ou seja, de acordo com o PNAD, em seis anos o número de internautas no

país cresceu 45,8 milhões.

Em relação a faixas etárias, de 2005 para 2008, o aumento da proporção de

pessoas que acessaram a Internet foi maior entre pessoas de 10 a 24 anos. No período

de 2008 para 2011, foi maior entre pessoas de 25 a 39 anos de idade. Já o percentual

de pessoas com mais de 50 anos, que acessavam a Internet, passou de 7,3%, em

2005, para 18,4%, em 2011.

A digitalização do rádio é a transmissão de dados na forma de bits e bytes – ou

seja, combinações binárias em substituição às ondas eletromagnéticas. A principal

diferença entre o modelo analógico e o digital é a qualidade de som, além da

possibilidade de transmissão de outros dados simultaneamente. MARTINS (2008)

considera esta a grande mudança acarretada pela digitalização: novos tipos de serviço

que podem ser prestados oferecem novas possibilidades de interação com o ouvinte,

por meio da transmissão de imagens, mapas, gráficos e textos.

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Del Bianco (2004, p. 2) reforça que esta pode ser a mudança mais radical

experimentada pelo rádio desde a invenção do transistor e da Frequência Modulada. A

digitalização “abre as portas para o rádio integrar-se ao processo de convergência entre

as telecomunicações, os meios de comunicação de massa e a informática que está

dando origem a um novo sistema de comunicação em rede identificado por seu alcance

global”. Para a autora, a distribuição de áudio digital é uma estratégia de revitalização e

também um meio de garantir a sobrevivência do rádio diante de tantas outras mídias.

A discussão sobre a digitalização do rádio iniciou-se mundialmente em 1996 –

quando, durante a Feira Industrial de Hannover, apresentou-se o protótipo de

radiodifusão digital portátil pertencente ao consórcio Digital Audio Broadcasting (DAB).

Para Kischinhevsky (2007), essa foi a primeira possibilidade real de substituição das

interferências que ocorrem no rádio analógico por um som digital, semelhante ao de um

CD. Embora tenha sido levado a público em 1996, o autor situa que o sistema vinha

sendo testado desde 1980 e havia sido adotado de forma experimental em 1995 pela

BBC de Londres.

Depois dele, surgiram outros modelos e aperfeiçoamentos, cada qual com suas

características de operação e suas limitações. Abaixo, serão detalhadas as

particularidades de cada opção atualmente oferecida ao modelo analógico para a

melhor compreensão das dificuldades que levam o Brasil a não ter, até hoje, definido

qual deles implantar no país.

4.1 DAB – DIGITAL AUDIO BROADCASTING

O padrão europeu foi o primeiro a ser colocado em operação, na BBC de

Londres. Foi desenvolvido por um consórcio de empresas coordenado pela União

Europeia de Radiodifusão. É empregado apenas para transmissões em FM e deu

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origem, nos anos seguintes, a outras variações, como uma versão que opera via

satélite, a DSR (Digital Sattelite Radio).

Conforme Del Bianco (2004, p. 3), cada transmissor possui seis canais de

programa. Seis estações diferentes partilham o mesmo transmissor, antena, faixa de

frequências e, consequentemente, a mesma área de cobertura de sinal. Com emissoras

partilhando da mesma frequência e transmissor, os custos de transmissão caem, “sem

contar que o DAB favorece a formação de rede e cobertura nacional, regional, local e

até internacional”.

Por outro lado, é alto o preço dos aparelhos receptores: entre US$ 800 e US$

1.800. Além disso, o DAB é um sistema out-of-band. Ou seja, exige uma faixa de

frequência exclusiva, pois não funciona simultaneamente com as emissoras analógicas.

Também é considerado um problema o fato de que a difusão é feita por um transmissor

multiplex, gerenciado por um operador de rede que pode ser privado. Ou seja, “não

haveria como garantir diferencial técnico quando o transmissor não é propriedade das

emissoras e sim de uma entidade independente, uma provedora de meios de

transmissão” (DEL BIANCO, 2004, p. 4).

Com o passar dos anos, porém, o DAB não conquistou a popularidade

desejada, alcançando níveis distintos de aceitação nos diferentes países da Europa e

Ásia em que foi implantado:

Na Suécia, o governo cessou os investimentos na tecnologia DAB,

depois de gastar mais de 100 milhões de coroas suecas (aproximadamente 33

milhões de reais nos dias atuais);

Na Alemanha, transmite-se em DAB desde 1999 e já existem 80

rádios transmitindo para 500 mil receptores. Ainda assim, o número representa

somente 1% dos receptores ativos de rádio do país;

A Espanha, o rádio digital opera desde 1999, quando o governo

distribuiu licenças para grupos sem tradição no segmento, no intuito de

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reestruturar o setor. Contudo, não houve apoio ao barateamento dos aparelhos

e, com isso, a meta de se atingir 80% da população em 2006, prorrogada para

2011, não foi alcançada.

A Inglaterra, com uma programação diversificada para o rádio

digital, teve os melhores resultados com a implantação do DAB. Ainda assim, em

2008, a penetração equivalia a um quinto da audiência. De acordo com Nair

Prata, “em relatório divulgado em 2008, a Digital Radio Working Group

recomendou ao governo criar critérios e condições que possam ser cumpridos

pelas emissoras britânicas de modo a permitir o apagão do analógico até 2020”.

De acordo com o portal www.worlddab.org, a ramificação do DAB em outros

padrões ocorreu por questões técnicas. Quando o DAB original (Digital Audio

Broadcasting) foi desenvolvido, no final de 1980, era baseado em MPEG Audio Layer II

(MP2), o que ainda é utilizado na radiodifusão atualmente. Com o passar dos anos,

porém, surgiram novos padrões de compressão, como o MP3, mais utilizado

atualmente, e o MP4, também denominado Advanced Audio Coding (AAC).

A integração do AAC no sistema DAB permitiu maior eficiência, ou seja, a

mesma qualidade de áudio em taxas de bits mais baixas. Nasceu, assim, o DAB+.

Outra inovação importante foi a adição de recursos de vídeo, permitindo ao DAB evoluir

para uma plataforma de televisão móvel digital e rádio digital multimídia, com o

lançamento do DMB (Digital Multimedia Broadcasting)9.

Atualmente, o portal WorldDAB indica o uso do padrão DAB+ para novos

mercados, por fornecer o sistema de compressão de áudio mais eficiente. Com isso,

cada estação de rádio usa menos do multiplex, potencialmente resultando em menores

custos de transmissão e mais espaço em cada canal.

9 De qualquer modo, o portal WorldDAB afirma que, tanto para DMB quanto DAB+, a base técnica

permanece DAB. Em outras palavras, a camada física é ainda a mesma, apenas há novas aplicações, novos protocolos de transporte e uma camada de controle de erro de codificação foram adicionados. Todas as três tecnologias, portanto, podem ser utilizadas no mesmo aparelho.

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Mesmo assim, Del Bianco (2012) relata críticas à qualidade do som do padrão

DAB – o que ocorre, segundo especialistas, como consequência da divisão excessiva

de estações dentro de uma mesma frequência. É sabido que cada espectro comporta

até seis emissoras, porém, elas dividem os bits. Na prática, conforme relata a autora, as

empresas “utilizam uma taxa de bits em níveis demasiado baixos para se atingir a

qualidade desejável”. Ademais, a própria existência de inúmeras ramificações do DAB

cria outras dificuldades:

O problema do DAB atual é a falta de unificação dos padrões disponíveis. Além do tradicional, há o DAB + (permite maior eficiência com menos bits) e o multimídia DMB (Digital Multimedia Broadcasting) uma plataforma de áudio e televisão digital móvel. Em todo mundo existem mais de um mil diferentes receptores de DAB, 190 de DMB. Os receptores de DAB + receptores são mais recentes no mercado (2010, p.564).

4.2 IBOC – IN BAND ON CHANNEL

O padrão de rádio digital dos Estados Unidos, desenvolvido pelo consórcio

iBiquity Digital, recebeu o nome comercial de High Definition Radio (HD Radio). Ao

contrário do padrão europeu, é um in band – ou seja, permite a transmissão simultânea

nas mesmas frequências utilizadas atualmente no AM e FM. Kischinhevsky ressalta que

a promessa do modelo era equiparar a qualidade do som de Ondas Médias ao da

Frequência Modulada e a do FM a de um CD. Segundo o autor, “dados e voz são

veiculados nos mesmos canais e faixas das estações analógicas10” (2007, p. 110).

10

O portal da HD Radio na internet, www.hdradio.com, explica aos usuários seu funcionamento na prática: “Vamos dizer que sua estação de rádio local favorito é em 96.9FM. Com a tecnologia HD Radio, a mesma estação está sendo transmitida em som digital em 96,9 HD1. Além disso, você pode acessar todo conteúdo novo em até três estações adicionais: 96,9 HD2, HD3, e HD4” (tradução nossa).

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Por essas características, aliadas à possibilidade de transmissão

simultânea de áudio e dados, Martins (2008, p. 59) considera que o padrão permite “às

emissoras se digitalizarem com um processo rápido e simples de migração”. Del Bianco

(2004, p. 04) completa: “trata-se de um sistema híbrido que facilitará a transição entre

essas tecnologias até a substituição total dos atuais aparelhos pelos digitais”. Em outro

artigo, a mesma autora pontua ainda que “é possível utilizar a infraestrutura existente,

desde torres e transmissores, sendo necessário adquirir novo excitador de radiodifusão

digital e alguns equipamentos e periféricos” (2012, p. 566).

Se o DAB enfrentou, na Europa, problemas pelo alto custo dos aparelhos

receptores e pela baixa qualidade do som emitido, o IBOC teve outros problemas em

sua fase de testes, conforme Del Bianco (2004). Inicialmente, o sinal digital interferia

nas transmissões analógicas, mas esse problema foi resolvido pelo consórcio com a

redução da taxa de compressão do áudio digital e, “diante da comprovação de que os

problemas técnicos foram superados, o sistema IBOC foi aprovado em 2002 pela FCC

(Federal Communications Commission), órgão regulador da radiodifusão nos Estados

Unidos” (2004, p. 04).

O HD Radio está em funcionamento desde 2003 nos Estados Unidos. Sem

necessidade de conexão com a internet ou taxa mensal, o padrão IBOC é encontrado

em aparelhos domésticos, portáteis e já está sendo instalado na linha de montagem em

mais de 170 modelos de 34 montadoras11. Os aparelhos fornecem informações na tela,

como a arte de um álbum, informações sobre a música, o tráfego e condições

meteorológicas.

Assim como o DAB, o IBOC também enfrentou dificuldades de aceitação pelo

público, ocasionadas por dois fatores principais, segundo Del Bianco. Inicialmente, a

necessidade de trocar o aparelho por outro considerado caro não agradou aos usuários.

Por volta de 2008, o mais barato custava 80 dólares. Além disso, faltavam atrativos no

conteúdo, considerando que “apenas metade das estações oferecem mais de duas ou

11

Esses dados e os apresentados no parágrafo seguinte foram coletados no portal www.hdradio.com em 25 de abril de 2014 (tradução nossa).

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três programações diferentes no mesmo canal digital que, muitas vezes, não é diferente

das frequências analógicas” (2012, p. 567).

Em artigo de agosto de 2013, publicado no portal do consórcio iBiquity, o

presidente e CEO Bob Struble comparou as dificuldades do HD Radio à eterna pergunta

sobre quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha. O executivo pontua que as emissoras

estão relutantes em investir na criação de novos conteúdos antes que haja um número

significativo de receptores no mercado. Ao mesmo tempo, “os fabricantes não investirão

em novos aparelhos até que haja conteúdo para apoiá-los” (tradução nossa).

Ainda no mesmo artigo, Bob Struble explica os fatores que impulsionaram as

vendas de HD Radio, que passaram de 3,3 milhões de unidades, em 2012, para 5,4

milhões, em 2013:

De 2010 a 2013, o que vemos é 50% de crescimento anual, a maior parte impulsionado pela captação automotiva: quase 30% dos carros novos serão lançados com receptores de HD Radio em 2013 e, no próximo ano, não haverá uma concessionária de automóveis nos Estados Unidos que não tenham modelos equipados com HD Radio. Prevemos resultados semelhantes para os próximos anos [...]. Com cerca de 15 milhões de receptores de HD Radio vendidos até agora, nós ainda precisamos de mais alguns ovos para nos tornarmos mercado totalmente em massa e para as emissoras rentabilizarem totalmente seus investimentos.

Em relação às falhas técnicas detectadas no passado, como os sistemas

analógico e digital ainda funcionam simultaneamente, se o HD Radio perde o sinal

digital da emissora, o aparelho irá alternar automaticamente para a transmissão em

sinal analógico na mesma frequência. Quando o sintonizador alcança novamente o

sinal digital, ele retoma a transmissão. No que diz respeito ao preço dos receptores,

atualmente variam de US$ 49,99, para versões portáteis mais simples, até US$ 7.000,

para modernos aparatos para home theather com Blu-ray, toca-discos e outros

dispositivos de entretenimento. Existem, ainda, versões com GPS integrado (HD

RADIO, 2014, tradução nossa).

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4.3 DRM – DIGITAL RADIO MONDIALE

O modelo europeu DRM (Digital Radio Mondiale) surgiu em 1997, como uma

alternativa às limitações do DAB, que funciona como um sistema out-of-band, exigindo

frequências exclusivas para transmissão, além de digitalizar somente estações de FM.

Segundo o portal do DRM na internet, ele foi projetado para ser “um substituto digital de

alta qualidade para a transmissão de rádio analógica atual em bandas AM e FM / VHF,

e, como tal, pode ser operado com a mesma canalização e alocações de espectro

como atualmente empregados” (DRM, 2014, tradução nossa).

Ainda segundo informações do portal, o Consórcio DRM é uma organização

internacional sem fins lucrativos, composta por empresas de radiodifusão,

fornecedores, fabricantes de equipamentos, universidades, sindicatos da radiodifusão e

institutos de pesquisa. Atualmente, conta com 93 membros e 90 apoiadores de 39

países ativos. Inicialmente, seu objetivo era a digitalização das bandas de radiodifusão

AM até 30MHz (longa, média e onda curta).

Acompanhando o sistema dos Estados Unidos, o DRM atua in band, sem a

necessidade de atribuir novas frequências e mantendo o status das atuais emissoras.

Del Bianco (2012) aponta, ainda, que se trata do único sistema digital aberto do mundo

para ondas AM (curtas, médias e longas), que cobre transmissões para bandas abaixo

de 30MHz. Segundo a autora, “a versão do DRM para o AM tem sido apresentada como

um sistema mais robusto, com som equivalente à qualidade de CD, além de permitir

redução significativa no uso da potência dos transmissores” (2012, p.568).

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O DRM, tal qual o seu antecessor na Europa, ganhou uma versão DRM+,

lançada em 200512.

O sistema utiliza a mesma codificação de áudio, serviços de dados, multiplexagem e esquemas de sinalização que o standard DRM para as ondas curta, média e longa até 30 MHz, mas opera em frequências mais elevadas entre 30 e 174 MHz, incluindo as bandas de broadcast I e II. O padrão DRM+ apresenta vantagens sobre a FM convencional, porque utiliza menor potência de transmissão para uma igual cobertura; abre novas possibilidades de áudio como o suporte surround, aumentando a eficiência do espectro e a oferta de serviços de dados, a exemplo de guia de programação e informação adicional (2012, p. 568).

Conforme Del Bianco (2012), a evolução desse padrão tem sido vista como

alternativa para as emissoras europeias que resistem em adotar o DAB por razões

como “a área de cobertura, custos e o desejo de permanecer no controle de suas

operações de transmissão sem terceirização”.

4.4 ISDB-TSB – INTEGRATED SERVICES DIGITAL BROADCASTING, TERRESTRIAL,

SEGMENTED BAND

A concepção tecnológica do sistema japonês faz parte do ISDB, o sistema de

televisão digital do Japão. Barbosa Filho (2005, p.145) elenca que ele é flexível e

apresenta características que lhe permitem a recepção móvel de áudio e dados, “sendo

considerado o mais robusto entre os sistemas em operação no mundo”. Martins (2008,

p.59) complementa que o sistema é considerado uma convergência tecnológica de

12

O padrão DRM acabou sendo dividido em dois grupos, como enumerado em seu portal na internet: o DRM30, especificamente para utilizar as bandas de radiodifusão AM abaixo de 30MHz, e o DRM+, que utiliza o espectro de 30MHz para VHF Banda III, centrado na banda de transmissão em FM II.

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rádio com televisão digital, pois, “diferentemente dos demais, permite o rádio no mesmo

canal de TV digital”. Porém, ele permanece em uso apenas no Japão.

4.5 HORA DE DEFINIR O SISTEMA

A escolha do modelo de transmissão digital a ser adotado no Brasil é uma

prerrogativa do Estado, por meio do Ministério das Comunicações. Em setembro de

2005, respondendo a manifestações dos radiodifusores junto ao Ministério das

Comunicações, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) expediu as primeiras

autorizações permitindo o início das operações em caráter digital para fins científicos ou

experimentais.

Entretanto, nessa discussão há outros fatores que pesam tanto ou mais do que

os prós e contras de cada modelo em estudo. Del Bianco (2012) traça os dois

movimentos opostos que se originaram com o processo de digitalização no Brasil:

De um lado os empresários manifestam suas preferências, antecipando-se a qualquer possibilidade de debate público sobre a questão; e de outro, setores da sociedade civil pressionando o Ministério das Comunicações para que estabeleça parâmetros de adoção de um padrão técnico de digitalização que contemple a diversidade de exploração e financiamento do sistema de radiodifusão. Esses segmentos entendem que adoção de uma tecnologia não pode ser fator de aprofundamento de diferenças de padrões técnicos, de produção e financiamento de emissoras, ou mesmo de exclusão de modelos de exploração com finalidade educativa, cultural, institucional e comunitária (2012, p. 569).

Desde o princípio, o padrão IBOC foi o eleito pela Associação Brasileira de

Rádio e Televisão (Abert), que vem debatendo o tema da digitalização do rádio desde

1991. Del Bianco situa que, precisamente, desde 1998, a entidade incluiu o assunto em

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seu congresso nacional anual e que nos anos seguintes buscou entender as

particularidades de cada um entre os padrões disponíveis.

Ainda em 1998, a Deutsche Telekon, empresa de equipamentos de radiodifusão

alemã, apresentou a membros da entidade o sistema europeu. Na época, o DAB lhes

foi apresentado por meio de “um protótipo nas modalidades de recepção fixa e móvel”

(DEL BIANCO, 2004, p.05). Dois anos depois, estiveram presentes em um seminário

técnico representantes da Ibiquity, que defendem o IBOC, e da Dibeg, responsáveis

pela divulgação do ISDB-Tn.

Tendo em mãos o material dos três modelos, a Abert organizou, em 2001, um

grupo técnico para estudar a implantação do rádio digital no Brasil. Logo, a entidade

divulgaria a escolha que reflete o posicionamento dos radiodifusores brasileiros:

Pelas manifestações de técnicos da Abert publicadas em várias edições do jornal da entidade, é forte a preferência pelo IBOC e por várias razões. Primeiro: porque sua implantação não implicará em atribuir novas faixas para transmissão digital, o que garante a posição conquistada historicamente pelos donos das emissoras além de preservar a base de ouvintes associada àquele dial. Segundo: porque as emissoras teriam de fazer baixos investimentos para aderir ao sistema, considerando que o processo de produção radiofônica atualmente está praticamente digitalizado. Acredita-se que não seria necessário trocar torres e nem mudar os locais de transmissão, embora algumas emissoras precisarão de um novo excitador de radiodifusão digital e alguns equipamentos periféricos. Terceiro: o novo sistema provê uma fonte adicional de renda com a comercialização de serviços de datacasting (DEL BIANCO, 2004, p.6).

Na primeira audiência pública sobre a Implantação do Rádio Digital no Brasil,

realizada no Senado Federal em agosto de 2006, o então Superintendente de Serviços

de Comunicação de Massa da Anatel, Yapir Marotta, apresentou a radiodifusores e

senadores os modelos em avaliação e as primeiras emissoras a receberem

autorizações de testes.

Conforme apresentado pela Anatel no Congresso de Tecnologia de Rádio,

Televisão e Telecomunicações, foram avaliados os padrões que apresentavam

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conformidade com as recomendações da União Internacional de Telecomunicações

(UIT). Eram eles: Digital Audio Broadcasting (DAB); Integrated Services Digital

Broadcasting -Terrestrial Sound Broadcasting (ISDB-TSB); HD Radio (OM IBOC e FM

IBOC) e Digital Radio Mondiale (DRM).

A escolha dos modelos a serem testados no país deu-se em decorrência dos

apontamentos feitos pelos radiodifusores. Desde o início do processo, as entidades

representativas do setor indicaram desejar a digitalização em mesma frequência; a

transmissão simulcast para manter o sistema analógico enquanto o digital se consolida;

e a redução dos custos na implantação do sistema digital, com a possibilidade de se

usar a infraestrutura existente. Determinou-se, então, que os dois padrões que

entrariam em fase de testes no Brasil eram o IBOC OM/FM e o DRM em OM.

Conforme os dados de agosto de 2006, foram concedidas 20 autorizações: 10

para testes em FM com o padrão IBOC; oito para testes em emissoras de Ondas

Médias com padrão IBOC; e duas para testes com o padrão DRM, que não contempla a

faixa de FM. Nem todas as emissoras conseguiram realizar os testes e, entre aquelas

que o fizeram, nenhuma havia entregado o relatório final no prazo determinado de 12

meses, sendo que apenas parte delas encaminhou ao Ministério das Comunicações

requerimento de prorrogação.

Os testes, que deveriam ter sido encerrados entre 2007 e 2008, deveriam

englobar algumas avaliações pretendidas pela Anatel, envolvendo o desempenho do

sistema digital e sua compatibilidade com o sistema analógico. Isso porque, desde seus

primeiros estudos, a Anatel já alertava os radiodifusores sobre a necessidade de se

avaliar as consequências da transmissão simultânea. Segundo a agência, as condições

técnicas existentes deveriam ser minuciosamente analisadas, pois a “a transmissão

simultânea analógico-digital, por ocupar os canais adjacentes, poderá provocar reflexos

na canalização distribuída pelos Planos Básicos” (ANATEL, 2006).

Dessa forma, os testes deveriam apontar o nível de robustez quanto a

perturbações provocadas por ruídos radioelétricos, a interferências de outras

transmissões e a multipercursos; a extensão da área de cobertura; a qualidade do

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áudio digital e se poderiam ocorrer interferências provocadas pelo sinal digital nas

transmissões analógicas existentes, incluindo a da própria estação.

O que ocorreu é que as informações fornecidas até então não atendiam aos

critérios estipulados, especialmente no que tange à compatibilidade do sistema digital

com os canais distribuídos pelos Planos Básicos. Ademais, a Anatel concluiu que “o

aproveitamento da infraestrutura existente não oferece as condições favoráveis de

linearidade para a transmissão digital, retardando o cronograma de testes e suscitando

pedidos de prorrogação” (ANATEL, 2006).

A inconsistência dos primeiros testes levou a Anatel a criar uma metodologia,

padronizando critérios e procedimentos compatíveis com as condições brasileiras.

Firmou-se, em 2008, parceria com a Abert para a repetição de novos testes e medições,

de modo a reunir resultados mais representativos do que aqueles obtidos

individualmente. Esses testes foram realizados com apoio da Universidade

Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo, que orientou cientificamente os trabalhos.

De acordo com o relatório apresentado em dezembro de 2008, os testes não

envolveram a comparação entre sistemas. Dez emissoras de OM e dez de FM foram

autorizadas a executar o Serviço Especial para Fins Científicos e Experimentais para

realizar avaliações. Todas as estações autorizadas implementaram o HD Radio, nas

versões disponíveis para OM e FM. Ao final do processo, as conclusões da nova bateria

de testes foram divididas em três campos, conforme detalhado abaixo (ANATEL, 2008):

a) Sobre padrão IBOC – “In-Band On-Channel”:

É o mais adequado para a digitalização das estações brasileiras de OM e

FM;

É o que proporciona a transição de tecnologia com o menor impacto, tanto

para as emissoras quanto para o público em geral, já que a emissora opera no seu

próprio canal; o ouvinte pode continuar a sintonizar sua rádio no sistema analógico por

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algum tempo em função das transmissões híbridas; cada radiodifusor poderá iniciar a

transição de acordo com sua disponibilidade e estratégia.

b) Sobre o sistema HD Radio:

Dispõe de uma versão para a faixa de OM e uma versão para a faixa de

FM;

No atual estágio de desenvolvimento tecnológico, melhora o desempenho

com relação à modulação analógica, mas na faixa de OM ainda demanda melhorias na

robustez;

Mesmo já tendo sido adotado oficialmente em seu país de origem,

continua em processo de evolução e deverá desenvolver versões mais robustas, mais

imunes ao ruído urbano, crescente nos grandes centros;

Na versão para FM, apresenta um bom desempenho em baixa potência,

inclusive nos níveis de potência aplicáveis às Rádios Comunitárias;

Não foram observadas interferências nos casos testados;

Foi considerada uma opção para o padrão de rádio digital a ser adotado

no Brasil e, no presente momento, é a única alternativa em situação operacional.

c) Quanto ao processo de digitalização das estações:

A digitalização das estações de OM e FM é uma necessidade real diante

do aparecimento das novas tecnologias competidoras na distribuição de conteúdo,

assim como dos crescentes desafios à qualidade de recepção analógica e do fato de

que somente o Rádio ainda é analógico;

É necessário que se promova um conhecimento mais aprofundado e

estruturado da tecnologia;

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É necessário promover a qualificação de profissionais;

É necessário que haja um estreito acompanhamento dos constantes

avanços da tecnologia que permitam melhorar o desempenho do sistema;

É importante a continuidade da operação das emissoras com os sistemas

híbridos instalados e, ainda que sejam permitidas novas autorizações aos

radiodifusores interessados em promover o treinamento dos profissionais envolvidos,

possibilitar a pesquisa e a geração de novos conteúdos, estimular inovações na

linguagem da radiodifusão, bem como permitir a implementação e avaliação imediata

das novas versões desenvolvidas.

Apesar de as conclusões do documento apontarem claramente para a adoção

do IBOC no Brasil, falhas técnicas pesaram contra o modelo. Del Bianco (2012, p.570)

relata que o relatório menciona sérios problemas de propagação do IBOC e que “o

digital não proporciona a mesma cobertura do rádio AM analógico com qualidade”.

Dessa forma, em vez de autorizar a implantação do HD Radio no país, em fevereiro de

2010, o ministro das Comunicações da época, Hélio Costa, recuou e determinou que

fossem realizados testes também com a tecnologia DRM.

Ao mesmo tempo, em 31 de março de 2010, foi publicada uma portaria no

Diário Oficial da União criando o Sistema Brasileiro de Rádio Digital. A lei, que contém

apenas quatro artigos, teve sua criação às vésperas da saída do ministro Hélio Costa

do governo, deixando registrados os objetivos a serem alcançados com a digitalização,

independente do modelo a ser escolhido. A principal finalidade é garantir a operação

eficiente da radiodifusão sonora tanto em Ondas Médias (OM) quanto em Frequência

Modulada (FM).

Entre outras finalidades, a lei prevê que a transferência de tecnologia de

transmissores e receptores para a indústria brasileira seja livre de royalties, sempre que

possível. Fica determinado, ainda, que o modelo eleito possibilite “a emissão de

simulcasting, com boa qualidade de áudio e com mínimas interferências em

outras estações” (BRASIL, 2010, grifo nosso).

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A decisão do então ministro Hélio Costa levou a um chamamento público, com

edital publicado em 13 de junho de 2011, convidando sistemas de rádio digital a se

candidatarem a testes no Brasil. Apresentaram-se para a bateria de testes o DRM e HD

Radio e os relatórios foram sistematizados pelo Inmetro. Foram testadas emissoras de

várias classes e potências, em diferentes cidades do Brasil.

A necessidade de análise e interpretação dos seus resultados dos testes levou

à criação do Conselho Consultivo do Rádio Digital, por meio da Portaria número

365/2012. Com o objetivo de “assessorar o Ministro de Estado das Comunicações na

implantação do Rádio Digital no Brasil” (MINISTÉRIO DAS COMUNICAÇÕES, 2012), o

grupo conta com 19 conselheiros, sendo sete representantes de órgãos/entidades

públicos, dois parlamentares, sete entidades representativas do setor de radiodifusão e

três do setor industrial.

O conselho discute os serviços e aplicativos a serem agregados ao áudio

transmitido; a política industrial para a produção de equipamentos; a gestão do

espectro; a transmissão simultânea dos sinais analógico e digital; e a escolha do padrão

tecnológico de rádio digital no Brasil.

De acordo com informações do portal da Abert na internet, a discussão da

digitalização do rádio continua no Conselho Consultivo de Rádio Digital. A entidade

acredita que as questões técnicas envolvendo a determinação da relação de potência

entre a transmissão analógica e digital sejam definidas até o fim 2014. Contudo, a Abert

espera não somente a definição de um padrão digital para a radiodifusão, mas que

evoluam também as discussões envolvendo o modelo de negócios e serviços para o

rádio digital além de uma a política industrial positiva com a massificação de receptores

digitais. “Infelizmente, não há como prever o resultado final das discussões nem quando

elas terminarão, pois a questão principal é a viabilização da digitalização do rádio e não

apenas a determinação de um padrão tecnológico de rádio digital” (ABERT, 2014).

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4.6 MIGRAÇÃO DO AM PARA O FM

Enquanto permanece indefinido o modelo de radiodifusão digital a ser adotado

no país e os detalhes técnicos e mercadológicos do processo, a presidente do Brasil,

Dilma Rousseff, decidiu atender a uma antiga reivindicação dos radiodifusores

brasileiros, autorizando, no dia 07 de novembro de 2013, a migração das emissoras AM

para FM. O decreto presidencial, de número 8.139, dispõe sobre as condições para

extinção do serviço de radiodifusão sonora em Ondas Médias de caráter local e sobre a

adaptação das outorgas vigentes para execução desse serviço.

A proposta foi encaminhada ao Governo Federal pela Abert, com respaldo das

entidades estaduais, em virtude das dificuldades enfrentadas pela faixa AM por causa

das interferências no sinal. De acordo com o decreto, as emissoras interessadas

deverão apresentar requerimento ao Ministério das Comunicações solicitando a

adaptação de suas outorgas no prazo máximo de um ano. As emissoras que tiverem o

pedido deferido terão que devolver à União os canais utilizados para a execução do

serviço de radiodifusão sonora em ondas médias. Contudo, o Ministério das

Comunicações poderá autorizar, por um prazo de até cinco anos, a transmissão

simultânea do sinal da entidade em ondas médias e frequência modulada a título de

adaptação.

Segundo o Portal Brasil, site oficial do Governo Federal, a estimativa da Abert é

que 90% das 1.78413 emissoras AM passarão a operar na faixa FM. A publicação afirma

que, “nesta frequência, as rádios ganharão qualidade de áudio e de conteúdo,

competitividade e poderão ser acessadas por meio de telefones celulares” (PORTAL

BRASIL, 2014).

13

Em outra notícia, disponível no link http://www.brasil.gov.br/governo/2013/11/as-radios-am-sao-um-verdadeiro-patrimonio-do-brasil-afirma-dilma, o número de rádios AM do Brasil aparece como 1.772. De acordo com informação fornecidas por e-mail pela assessoria de imprensa da Abert, o número oficial é 1.784 rádios AM (número de 2013).

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A mudança resultará em custos para as emissoras, no que tange à diferença no

valor de outorga14 e aos equipamentos de transmissão. Mesmo assim, o processo deve

ocorrer em curto prazo. Conforme o Governo Federal, “a expectativa é que, a partir de

agosto, sejam anunciadas as primeiras emissoras autorizadas a fazer a migração, e,

até o fim do ano, algumas estações comecem a operar na nova faixa” (BRASIL, 2014).

De fato, quatro meses após o anúncio feito pela presidente Dilma Rousseff,

estavam definidas as regras para a migração das emissoras AM para a faixa FM. A

portaria publicada no Diário Oficial da União no dia 13 de março de 2014 regulamentou

o decreto assinado em dezembro e definiu como os radiodifusores deverão proceder

para pedir a mudança da frequência. O texto também esclareceu a forma como os

processos serão analisados pelo Ministério das Comunicações e pela Agência Nacional

de Telecomunicações (Anatel).

De acordo com a publicação, o pedido de migração deve ser realizado por meio

de formulário em sessões públicas, promovidas pela Secretaria de Serviços de

Comunicação Eletrônica, realizadas especialmente para essa finalidade. As audiências

encerraram no dia 09 de abril de 2014 e, até essa data, haviam sido protocolados 1.386

pedidos de migração – o que corresponde à cerca de 80% das emissoras AM do país.

Porém, conforme determinado no decreto presidencial, as emissoras que não fizeram

durante as audiências realizadas em cada estado, ainda têm prazo até 10 de novembro

de 2014 para apresentar ao Ministério das Comunicações o pedido de adaptação de

outorga.

A partir de abril de 2014, quando encerraram as sessões para pedido de

migração, a Anatel passou a realizar estudos de viabilidade técnica em cada unidade da

federação para determinar se há espaço para a migração de todas as emissoras

interessadas em cada município. De acordo com informações publicadas no site da

14

Para operar legalmente no Brasil, considerando o processo licitatório da radiodifusão implantado a partir de 1996, cada rádio deve passar por um processo de licitação que envolve o pagamento de uma outorga de funcionamento, cujo valor final é variável e balizado por fatores como a posição geográfica da localidade a ser implantado o serviço, bem como população e grupo de enquadramento. Ao solicitar a migração do AM para o FM, as emissoras terão que arcar com a diferença monetária dessa mudança de outorga.

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Associação Gaúcha de Emissoras de Rádio e Televisão (Agert), “nos casos em que não

haja espaço no espectro, a agência deverá analisar a necessidade de uso da faixa

estendida de FM (de 76 MHz a 88 MHz), que deve ser liberada com a digitalização da

TV” (AGERT, 2014). Aquelas rádios que não protocolaram o pedido no período das

sessões terão seus casos analisados individualmente somente depois que a Anatel

concluir os estudos de viabilidade técnica naquele Estado.

A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) esclarece

que o pedido de migração não é obrigatório, mas aquelas emissoras de ondas médias

locais (potência igual ou inferior a 1 kW) que não se interessarem na adaptação de

outorga para FM deverão “alternativamente e pelo mesmo prazo de um ano, fazer um

requerimento ao Ministério das Comunicações para o reenquadramento para caráter

regional” (ABERT, 2014). No Rio Grande do Sul, conforme informações da Agert, do

total de 170 emissoras AM, 140 pediram a migração (AGERT, 2014).

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5 A PESQUISA

Em seu livro sobre métodos e técnicas de pesquisa social, Antônio Carlos Gil

reconhece a observação como uma importante fonte de conhecimento. Contudo, por si

só, ela tem valor científico restrito, já que lhe faltam mecanismos de verificação. O autor

esclarece que somente por meio das ferramentas da ciência é que se pode oferecer um

caminho seguro de conhecimento, já que é esta a definição etimológica da palavra

ciência: conhecimento.

Na atualidade, essa definição já não encontra consenso entre estudiosos e

pesquisadores, que admitem outros tipos de conhecimento, não necessariamente de

caráter científico, ou seja, que não possibilitam a verificação de resultados, como o

conhecimento popular, religioso ou mesmo filosófico. Sendo assim, Gil estrutura uma

definição mais abrangente para ciência, conceituando-a como “uma forma de

conhecimento objetivo, racional, sistemático, geral, verificável e falível” (1999, p.20). Em

outras palavras, “uma forma de conhecimento que tem por objetivo formular, mediante

linguagem rigorosa e apropriada [...] leis que regem os fenômenos” (idem).

Essa forma de produção do conhecimento só foi possível graças à revolução

científica, fenômeno que ocorreu paralelamente ao Renascimento Europeu, no século

XVIII, quando o modelo econômico baseado em feudos deu lugar ao surgimento de

grandes cidades, que se desenvolveram em função de um novo modelo, baseado em

transações de mercado.

Apoiando-se nesse contexto histórico, Mascarenhas (2012) situa que

estudiosos da época, como Copérnico, Galileu, Bacon e Descartes, passaram a

dissociar o conhecimento científico do religioso e filosófico, criando um método

experimental baseado em critérios mais metódicos e racionais. Esse novo modo de

fazer ciência baseia-se em um “conjunto de procedimentos que tem como objetivo

construir conhecimento de modo preciso e objetivo, por meio de um experimento”

(MASCARENHAS, 2012, p.5). Com base nisso, o autor também traça uma definição de

ciência próxima à de Gil, caracterizando-a como “fruto da acumulação de

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conhecimentos duradouros das épocas passadas, ampliados e aperfeiçoados ao longo

do tempo” (idem).

Gil classifica as ciências em duas grandes categorias, a partir das quais se

desdobram outras subclassificações: formais e empíricas. A primeira diz respeito ao que

o autor entende como entidades ideais, sendo a matemática sua principal

representante. As ciências empíricas, por sua vez, tratam de “fatos e de processos”

(GIL, 1999, p.21) e são, ainda, subdivididas como naturais ou sociais. Entre as naturais,

estão contempladas ciências como Física, Química, Astronomia e Biologia. Já as

sociais, grupo sobre o qual diz respeito esta monografia, incluem Psicologia, História,

Antropologia, Ciência Política e Economia.

O surgimento das ciências sociais, como situa Mascarenhas, deu-se no século

XIX, em meio à Revolução Industrial, que suscitou a necessidade de estudos na área

da educação e direito, por exemplo, acompanhando o rápido desenvolvimento

econômico verificado no período.

Foi assim que diversos temas sociais – tanto econômicos quanto culturais e políticos – viraram objeto de estudo científico. Pouco a pouco, as ciências sociais aprenderam a usar as ferramentas metodológicas existentes para conduzir estudos que fossem além do senso comum (MASCARENHAS, 2012, p.6).

Como visto, a possibilidade de verificação e confrontamento de resultados é o

que difere o conhecimento científico dos demais tipos de conhecimento. Contudo, entre

os tipos de saber científico, Gil (1999, p.23) aponta que os fenômenos humanos não

podem ser quantificados com o mesmo grau de precisão das ciências naturais. Ainda

assim, seguindo-se técnicas – um caminho para se chegar a determinado fim,

procedimentos lógicos previamente determinados ou método, como explica Gil – pode-

se chegar à solução de um problema.

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5.1 OS MÉTODOS CONSAGRADOS

Gil define como método “o caminho para se chegar a determinado fim” e, no

escopo da ciência, “o conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos adotados para

se atingir o conhecimento” (1999, p.26). A premissa de qualquer pesquisa científica é a

definição de um problema e, a partir disso, a escolha de um ou mais métodos que

tenham afinidade com o problema em questão. Existe uma variedade muito grande de

métodos de pesquisa, que foram consagrados ao longo da história por terem

apresentado efetividade na aplicação de pesquisas com raízes semelhantes.

Metaforicamente, os métodos são como moldes. Determinado objeto de estudo

pode ser compatível com um, vários ou mesmo nenhum método já conhecido de

pesquisa. Veronese e Guareschi (2006), em seu artigo sobre Hermenêutica de

Profundidade, oferecem uma síntese sobre a questão: “A indicação metodológica,

portanto, tem de ser criteriosa e adequada para aquele objeto específico que se

investiga” (2006, p.2).

Para entendermos melhor cada método e sua aplicabilidade, autores como Gil e

Mascarenhas os diferenciam dividindo-os em cinco grupos, que respeitam critérios de

acordo com a abordagem e procedimentos. São eles:

Os que proporcionam as bases lógicas da investigação. Podemos

representá-los como a boca de um funil. São métodos desenvolvidos a partir de

“elevado grau de abstração” (GIL, 1999, p.27), que dão liberdade ao pesquisador para

que ele opte pelo alcance de sua pesquisa no que diz respeito à profundidade de

investigação e validade de suas conclusões. Gil inclui entre esses métodos o dedutivo,

indutivo, hipotético-dedutivo, dialético e fenomenológico, caracterizando que a escolha

entre um ou outro depende de variáveis como “a natureza do objeto que se pretende

pesquisar, dos recursos materiais disponíveis, do nível de abrangência do estudo e

sobretudo (sic) da inspiração filosófica do pesquisador” (1999, p.27).

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Cada um deles [métodos acima expostos] vincula-se a uma das correntes

filosóficas que se propõem a explicar como se processa o conhecimento da realidade.

O método dedutivo relaciona-se ao racionalismo, o indutivo ao empirismo, o hipotético-

dedutivo ao neopositivismo, o dialético ao materialismo dialético e o fenomenológico,

naturalmente, à fenomenologia (GIL, 1999, p.27).

Os que indicam a abordagem do problema. Esses métodos vão indicar se o

estudo será uma análise aprofundada sobre determinado tema ou se trará conclusões

estatísticas, parâmetros numéricos. Ou seja, se a pesquisa será quantitativa ou

qualitativa, como indica Mascarenhas (2012). A primeira será conduzida na

quantificação dos dados obtidos para posterior análise. O autor aponta a necessidade,

nesse tipo de pesquisa, do uso de técnicas estatísticas, como porcentagens, médias e

desvio padrão, “para tornar o estudo mais imparcial, evitando, assim, a influência do

pesquisador sobre os resultados”. Já na pesquisa qualitativa, a mais comum quando se

trata de estudos comportamentais, por exemplo, o levantamento de dados ocorre

simultaneamente à análise, pois as informações estatísticas são apenas o caminho

para se compreender o objeto da pesquisa. Mascarenhas aponta esses como estudos

descritivos, em que “a influência do pesquisador sobre a pesquisa não é evitada; muito

pelo contrário, é considerada fundamental”. Com base nas definições acima, pode-se

identificar que esta será uma pesquisa qualitativa.

Os que indicam o objetivo geral da pesquisa. De acordo com essa

ramificação, Mascarenhas aponta que as pesquisas podem ser exploratórias ou

descritivas. A essas definições, Gil acrescenta a de pesquisa explicativa, que objetiva

identificar fatores que contribuem ou determinam a ocorrência do fenômeno em

questão. É um tipo aprofundado de pesquisa, onde os riscos de erros são agravados,

mas que também é de grande valia para a ciência moderna. Embora reconheça a

relevância dos estudos exploratórios – calcados em levantamentos bibliográficos – e

descritivos – que estabelecem relações entre as variáveis que caracterizam uma

população ou fenômeno –, Gil indica que o maior valor científico está mesmo é nos

estudos explicativos. “Pode-se dizer que o conhecimento científico está assentado nos

resultados oferecidos pelos estudos explicativos” (GIL, 1999, p.44).

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Os que indicam o propósito da pesquisa. Aqui, Mascarenhas aborda como

possibilidades a pesquisa aplicada, a avaliação de resultados, a avaliação formativa, a

proposição de planos e a pesquisa-diagnóstico.

E, por fim, os que revelam os procedimentos técnicos adotados.

5.2 MÉTODO APLICADO

O objetivo geral deste trabalho monográfico é relatar o andamento da

digitalização no Brasil, culminando no anúncio da migração e com ênfase no

planejamento das rádios AM de Bento Gonçalves. Para alcançá-lo, a análise de

conteúdo é o método que norteará essa pesquisa monográfica que, em última instância,

pretende compreender o processo de migração das duas emissoras AM situadas no

município de Bento Gonçalves, contextualizando a mudança com a proposta de

digitalização do rádio no Brasil. Esse método de pesquisa está abrigado sob o guarda-

chuva da hermenêutica, descrita pela professora francesa Laurence Bardin (2000)

como uma arte antiga, usada para interpretar textos sagrados ou misteriosos muito

antes que as ciências sociais formalizassem técnicas modernas de análise das

comunicações. O objetivo era, então, o de desvendar o real sentido por trás de textos

carregados de simbolismos e polissemias.

As hipóteses que nortearam esta pesquisa foram três: 1) Por se tratar de um

processo irreversível, as emissoras AM de Bento Gonçalves estão envolvidas; 2) O

investimento em equipamentos e regularização da documentação para migração será

robusto; 3) O movimento de migração pode impactar no perfil do conteúdo ofertado

pelas emissoras.

Na atualidade, Veronese e Guareschi (2006) apontam a Hermenêutica de

Profundidade como um paradigma de ampla abertura metodológica, que oportuniza ao

pesquisador analisar o contexto sócio-histórico e espaço-temporal que cerca o

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fenômeno pesquisado, podendo “empreender análises discursivas, de conteúdo,

semióticas ou de qualquer padrão formal que venha a ser necessário [...], conferindo

um caráter potencialmente crítico à pesquisa” (2006, p.87).

Trata-se de construir uma análise plausível, dentro de um paradigma compreensivo; não de acessar e revelar a verdade, mas de fazer uma leitura qualificada da realidade tal qual ela se apresenta, no nível do sentido apreendido do fenômeno, no campo investigado (idem).

É essa atitude interpretativa que se pretende conferir a presente monografia

através da análise do discurso, aliada a outros métodos práticos de validação, que

serão abordados adiante.

Historicamente, como situa Bardin, a análise de conteúdo desenvolveu-se nos

Estados Unidos, no século XX, como uma ferramenta comparativa aplicada a

publicações na imprensa. A partir da Primeira Guerra Mundial, a prática difundiu-se com

o estudo da propaganda dos governos no período. A mais clássica definição da análise

de conteúdo, aceita durante muitas décadas entre os estudiosos do tema, é a de B.

Berelson e data desse período de solidificação da técnica – mais exatamente em 1948.

Diz Berelson que a análise de conteúdo é uma “técnica de investigação que tem por

finalidade a descrição objectiva (sic), sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto

da comunicação” (Bardin apud Berelson, 2000, p.19).

Após a Segunda Guerra Mundial, a análise de conteúdo como método de

pesquisa cai em desuso, até receber um novo olhar mais abrangente e com aceitação

de quesitos quanti e qualitativos.

Na análise quantitativa, o que serve de informação é a frequência com que surgem certas características do conteúdo. Na análise qualitativa é a presença ou a ausência de uma dada característica de conteúdo ou de um conjunto de características num determinado fragmento de mensagem que é tomado em consideração (Bardin apud George, 2000, p. 21).

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Com aperfeiçoamentos técnicos no que diz respeito à combinação de

abordagens quanti e qualitativas, a análise de conteúdo volta a ser mais

frequentemente aplicada. A partir da segunda metade do século XX, admite-se que o

fator decisivo não é necessariamente a informação quantitativa, mas a possibilidade de

inferência, seja ela ou não quantitativa. Inferência é a dedução lógica de conhecimentos

que se obtém a partir do tratamento de mensagens captadas a respeito de seu emissor

ou seu meio. “Se a descrição é a primeira etapa necessária e se a interpretação é a

última fase, a inferência é o procedimento intermediário, que vem permitir a passagem,

explícita e controlada, de uma à outra”, (Bardin, 2000, p.39).

Considerando-se a evolução da técnica, Bardin descreve duas funções para a

análise de conteúdo, que podem coexistir ou, ao contrário, serem dissociadas, de

acordo com cada objeto de pesquisa.

a) Função heurística: a análise de conteúdo enriquece a

tentativa exploratória, aumenta a propensão à descoberta.

b) Função de administração de prova. Hipóteses sob a forma de

questões ou de afirmações provisórias servindo de directrizes (sic), apelarão

para o método de análise sistemática para serem verificadas no sentido de

uma confirmação ou de uma infirmação.

Em suma, não se trata de um instrumento único, mas, metaforicamente, de um

canivete com funções diversas que estão à disposição do pesquisador para apoiá-lo no

processo de pesquisa e oferecer parâmetros de resultado aceitáveis para a comunidade

científica. No que tange à organização da análise de conteúdo, Bardin aponta três fases

cronológicas que apoiam o pesquisador na organização do material a ser investigado: a

pré-análise, a exploração do material e o tratamento dos resultados, quando se dá a

inferência e posterior interpretação dos dados obtidos.

Bardin aponta como missões da pré-análise a escolha dos documentos, a

formulação de hipóteses e objetivos que norteiem a pesquisa e, por fim, a elaboração

de indicadores a serem avaliados. A pré-análise só estará concluída, abrindo caminho

ao pesquisador para a exploração efetiva, após uma leitura atenta do material e escolha

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das amostras a serem consideradas de acordo com critérios que devem ser

exemplarmente expostos pelo pesquisador. “A análise pode efectuar-se (sic) numa

amostra desde que o material a isso se preste. A amostragem diz-se rigorosa se a

amostra for uma parte representativa do universo inicial” (BARDIN, 2000, p.97).

5.2.1 Técnicas

Basicamente, foram duas as técnicas aplicadas nesta monografia: pesquisa

bibliográfica e entrevista. A pesquisa bibliográfica feita nos capítulos anteriores embasa

a abordagem das entrevistas e contextualiza a trajetória do rádio desde sua invenção

até os dias de hoje, passando pela chegada ao Brasil e todas as transformações que

ocorreram desde então.

Esgotado o referencial teórico publicado sobre digitalização do rádio, a

pesquisa teve continuidade com os relatórios do Conselho Consultivo do Rádio Digital

disponíveis no site do Ministério das Comunicações. Com isso, pôde-se estabelecer a

evolução das tentativas de se estabelecer um sistema digital para o país – processo

que, em dado momento, foi estagnado em detrimento da autorização de migração das

emissoras AM. Portanto, foram consultados os decretos e projetos de lei envolvendo a

regulamentação da radiodifusão no Brasil, o processo de digitalização e a autorização

para migração das rádios AM para FM.

Embora existam pesquisas exclusivamente bibliográficas, que se apoiam

somente em livros e estudos já publicados – muitas das quais desenvolvidas a partir da

análise de conteúdo, como aponta Gil (1999) –, nesta monografia foi necessária a

complementação por meio de entrevistas, uma prática rotineira no exercício do

jornalismo e que consiste na aplicação de perguntas a sujeitos que possam colaborar

com dados importantes para o desenrolar da investigação. Amplamente utilizada em

pesquisas sociais, a entrevista é definida por Gil (idem) como uma forma de diálogo

assimétrico, em que uma das partes tem o interesse de coletar dados relevantes e a

outra se presta a servir como fonte de informação.

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Para esta pesquisa, optou-se pela realização de entrevistas pessoalmente e

não por telefone. Para que se pudesse descrever a percepção das emissoras locais de

AM sobre a migração e de que forma elas vêm se organizando para a mudança, foram

entrevistados presencialmente representantes das duas rádios AM de Bento Gonçalves:

na Difusora 890, o diretor da emissora, Volnei Pertile; na Viva 1070, o diretor do Grupo

RSCOM, Marcos Piccoli. As entrevistas foram realizadas na sede das rádios – na

Difusora, no dia 30 de maio de 2014; na Viva, no dia 19 de maio de 2014.

A grande vantagem em comparação ao envio de questionários por e-mail é o

grau de fidedignidade das respostas. No contato presencial, o entrevistado tem a

possibilidade de indagar questões mal entendidas e, também, responde-as

espontaneamente, já que existe um conhecimento prévio da temática da entrevista,

mas não das questões a serem feitas.

Gil elenca a existência de cinco tipos possíveis de entrevista – a) informal, onde

se pretende basicamente conhecer o entrevistado e sua visão sobre o problema

pesquisado; b) focalizada, quando se permite ao entrevistado que fale livremente sobre

um tema previamente determinado; c) estruturada, quando se desenvolve um

questionário fixo de perguntas que é aplicado a vários entrevistados da mesma forma e

d) por pautas, quando o pesquisador elabora um questionário até certo ponto flexível, já

que possibilita ao entrevistado falar livremente sobre os pontos abordados, mas dá ao

entrevistador certa liberdade para conduzir as perguntas para o tema de maior

interesse. Esse último foi o tipo aplicado, considerando que o escopo inicial de

perguntas foi se adaptando às respostas dos entrevistados, o que configura um

questionário aberto de entrevista.

Três questões principais nortearam as entrevistas: 1) Como a rádio está lidando

com o processo de migração do AM para o FM; 2) Quais os investimentos financeiros

que a rádio já fez e que pretende fazer para a migração; 3) De que forma a migração

deverá impactar a programação da rádio. Outros questionamentos surgiram no decorrer

dos diálogos, enriquecendo a abordagem. Com isso, foi possível compreender até que

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ponto as emissoras ouvidas estão preparadas para a migração e quais aspectos do

processo ainda são percebidos genericamente.

5.3 CONTEXTO LOCAL

Bento Gonçalves é um município da Encosta Superior do Nordeste do Rio

Grande do Sul, distante 124 quilômetros da capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

De acordo com dados do IBGE de 2013, sua população estimada é de 111.384

habitantes.

De colonização predominantemente italiana, Bento Gonçalves e os demais

municípios próximos desenvolveram-se a partir de 1875, quando receberam milhares

de famílias estrangeiras que fugiam das dificuldades na enfrentadas pela Europa como

consequência da Revolução Industrial. As transformações políticas, sociais e

econômicas do período, conforme Caprara e Luchese (2005), foram decorrência da

expansão do capitalismo e fizeram surgir um número expressivo de desempregados.

O Brasil, por sua vez, estava em pleno processo de adaptação ao fim da

escravidão, enfrentando um “processo de modificação e modernização das estruturas

sociais e econômicas vigentes” (CAPRARA, LUCHESE, 2005, p.14), bem como a

afirmação do capitalismo. Em função disso, a mão-de-obra era escassa e a imigração

tornou-se um projeto do governo imperial, que investiu em propaganda na Europa para

atrair trabalhadores. Essas pessoas, segundo relatam Caprara e Luchese (2005),

tinham predominantemente três destinos: as fazendas de café, o trabalho urbano em

São Paulo e a colonização de terras devolutas em pontos longínquos do Brasil, como

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Encosta Nordeste da então denominada Província de São Pedro do Rio Grande do

Sul15.

Os primeiros imigrantes a aportarem na província foram os alemães, a partir de

1824, instalados no Vale dos Sinos, na região de São Leopoldo. O incentivo à vinda de

italianos ocorreu a partir da redução da imigração alemã, especialmente após a criação

das colônias Conde d‟Eu e Dona Isabel, em 1870, e da colônia de Nova Palmira, em

1875 – atualmente, Garibaldi, Bento Gonçalves e Caxias do Sul, respectivamente.

A Colônia Dona Isabel recebeu, primeiramente, 48 famílias francesas, que não

se estabeleceram em virtude da precariedade da colônia. Os primeiros italianos a se

instalarem foram 20 famílias de trentinos que chegaram à colônia no dia 24 de

dezembro de 1875. Dois anos depois, a população era de “2.431 habitantes, sendo 749

austríacos, 1.660 italianos, 12 franceses e 10 brasileiros” (CAPRARA, LUCHESE, 2005,

p. 40). A colônia desenvolveu-se por meio da agricultura até 1890, quando conquistou

sua emancipação, por meio do Ato Imperial nº 474, publicado no dia 11 de outubro.

Com isso, as colônias Dona Isabel e Conde d‟Eu, juntas, formariam o município de

Bento Gonçalves. O território de Conde d‟Eu emancipou-se de Bento Gonçalves no dia

31 de outubro de 1900, quando foi criado o município de Garibaldi.

Economicamente, Bento Gonçalves teve três etapas básicas em seu processo

de desenvolvimento, como situam Caprara e Luchese (2005): a agricultura de

subsistência (1875-1910); o desenvolvimento da vitivinicultura (1910-1950); e a

instalação de cooperativas e empresas de industrialização (a partir de 1950). Na

verdade, “desde o início a videira foi cultivada pelos imigrantes pensando num porvir

onde o vinho pudesse afirmar-se como produto de importância econômica regional”

(2005, p. 215). O que ocorreu é que, com o passar do tempo, o vinho de Bento

15

Caprara e Luchese esclarecem que, nessas terras devolutas, foram criadas colônias organizadas pelos poderes imperiais, provinciais ou mesmo particulares. A vinda de imigrantes para essas colônias era incentivada pelo governo como forma de povoar e motivar a produtividade agrícola. Além disso, as autoras situam que a vinda de europeus também objetivava o “branqueamento do Brasil” (2005, p.17).

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Gonçalves ganhou espaço nacional, elevando o município à condição de Capital

Brasileira da Uva e do Vinho.

Conforme o site oficial da prefeitura de Bento Gonçalves, por volta de 1950, a

população era de 22.600 habitantes. As principais atividades econômicas eram as do

setor agrícola. Contudo, começaram a surgir várias indústrias, como de acordeões,

laticínios, móveis, curtume, fábrica de sulfato e vinícolas. Em 1967, foi realizada a

primeira edição da Fenavinho, a Festa Nacional do Vinho, que teve sua última edição

realizada em 2011, devido a dificuldades financeiras.

Atualmente, o município possui quatro distritos: Faria Lemos (com 517 famílias

residentes), Tuiuty (com 698 famílias), São Pedro (com 186 famílias) e Vale dos

Vinhedos (com 467 famílias) (PREFEITURA, 2014). Os principais setores da economia

são o moveleiro, vinícola, metalúrgico, de transportes e a fruticultura. O município

possui colocação elevada no Índice de Desenvolvimento socioeconômico (Idese), tendo

liderado o ranking no ano de 2010 entre os municípios com população acima de 100 mil

habitantes no Rio Grande do Sul.

A imprensa local desenvolveu-se a partir de 1900, de acordo com a pesquisa do

radialista Alceu Salvi Souto (1997) por ocasião do aniversário de 50 anos da Rádio

Viva. Segundo ele, até meados da década de 1950, quando o rádio chegou a Bento

Gonçalves, foram inúmeros os jornais que circularam no município. O primeiro deles foi

o Bento Gonçalves, publicado em 02 de setembro de 1900, em edição única. Depois

dele, circularam diversos outros jornais no município antes da chegada do rádio, como

“o Recreio, em 1907; A Thesoura, em 1911; Il Corriere D‟Italia, em 1913; O Echo da

Serra, em 1914; O Estado, em 1915; O Intruso, em 1916; A Ordem e O Sabe-Tudo, em

1922; O Semanário, em 1925 e O Nordeste, em 1941” (1997, p. 19).

Depois disso, instalou-se a primeira emissora de rádio de Bento Gonçalves e,

naturalmente, também outros jornais e revistas foram editados. A imprensa local

atualmente é formada por (PREFEITURA, 2014):

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Dois jornais de circulação bissemanal: Jornal Semanário,

com tiragem às quartas-feiras e sábados, e Jornal Gazeta, com tiragem às

terças-feiras e sextas-feiras. Ambos com distribuição paga por meio de

assinaturas e venda em banca. Ambos possuem página no Facebook e

apenas o Jornal Semanário possui site com publicação periódica de

notícias;

Um jornal com circulação semanal: Jornal SerraNossa,

publicado às sextas-feiras e distribuído gratuitamente em pontos

localizados no comércio, indústria e serviços. Possui página no Facebook

e site com publicação periódica de notícias;

Outros cinco jornais com publicação mensal ou periodicidade

não informada;

Sucursais de jornais estaduais: Correio do Povo, Jornal do

Comércio, Pioneiro/Zero Hora e O Sul;

Sucursais de emissoras de televisão: RBS TV, Rede Pampa,

TV Cidade e UCS TV;

Duas rádios FM comerciais: Rádio Rainha FM 90.9,

pertencente ao mesmo grupo do Jornal Semanário, e Rádio Oi FM 92.5,

integrante do Grupo RSCOM;

Uma rádio educativa: UCS FM 89.9, pertencente à

Universidade de Caxias do Sul;

Duas rádios AM: Rádio Viva 1070 AM, pertencente ao Grupo

RSCOM, e Rádio Difusora 890 AM.

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5.3.1 As rádios AM

A história das duas rádios AM de Bento Gonçalves, atualmente em operação,

confunde-se a tal ponto que, para compreender a trajetória da Rádio Difusora é preciso

antes pontuar a história da Rádio Viva News – que foi a primeira emissora do município

e operou durante aproximadamente 30 anos com o nome de Rádio Difusora de Bento

Gonçalves.

Por ocasião dos 50 anos da Rádio Viva, o radialista Alceu Salvi Souto realizou

extensa pesquisa que, ainda hoje, é a única fonte bibliográfica sobre a imprensa do

município. Seus levantamentos revelam que, aos 24 anos, um jornalista chamado Luís

Neves deixou sua cidade-natal, Alegrete, para consolidar a carreira na capital Porto

Alegre. Atuou inicialmente no Diário de Notícias e Correio do Povo, sendo nomeado

diretor da Agência Nacional16 no estado.

Nessa época, segundo Souto (1997), Luís Neves habilitou-se junto ao

Departamento de Correios e Telégrafos, recebendo autorização para instalar uma

emissora de rádio em Bento Gonçalves ou Caxias do Sul. Preferiu a primeira opção,

pois não havia ainda nenhuma emissora no município. Em 10 de outubro de 1947,

estava autorizada a abertura da Rádio Difusora de Bento Gonçalves e, cerca de 40 dias

depois, ocorriam as primeiras transmissões, como detalha Souto:

16

A Agência Nacional foi um órgão de comunicação criado pelo governo Getúlio Vargas, que funcionava como gerador de notícias oficiais “sobre assuntos de interesse da nação, ligados a sua vida econômica, industrial, agrícola, social, cultural e artística”. Tinha grandes equipes de redatores e repórteres espalhados pelo país. Dessa forma, atuava como uma espécie de assessoria de imprensa, conteúdo para os jornais de todo o país. No período da Ditadura Vargas, de 1937 a 1945, considera-se que a agência tenha sido mais um dos mecanismos de controle do Estado à imprensa, embora não explicitamente, como atuava o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Depois, no período democrático, “não apresentou como sendo sua função a censura à imprensa nem outra conduta que lhe provesse de controle ou autoridade mediante as demais empresas de comunicação” (CASTRO, 2013, p. 53). Disponível em http://www.historia.uff.br/stricto/td/1718.pdf. Acesso: 25 jun. 2014.

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E foi justamente às 9h30min do dia 21 de novembro de 1947 (sexta-feira), sob os acordes do Hino Nacional Brasileiro, com a presença do prefeito nomeado, intendente Antônio Galileu Contino, autoridades e convidados, que vai ao ar pela primeira vez o som da ZYQ 5, Rádio Difusora de Bento Gonçalves, atuando na frequência (sic) de 1.570 kHz, com transmissor de 100 watts de potência (1997, p 62).

Inicialmente, a rádio transmitia das 9h às 23h. Souto (1997) indica que as ondas

da Rádio Difusora iam longe, alcançando até cidades fronteiriças como Uruguaiana,

Itaqui e Santana do Livramento.

Nos anos que se seguiram, a Difusora passou pelo controle de diversos

empresários, políticos e religiosos. Souto pontua essas passagens. Seis anos após sua

fundação, em 1953, Luís Neves vendeu a emissora para um grupo de quatro pessoas

que, por sua vez, convidaram dois bancários a tomarem parte na sociedade. Já em

1957, a Mitra Diocesana de Caxias do Sul assumiu o controle acionário, pagando o

irrisório valor de três mil cruzeiros, “mas o preço efetivamente pago foi de cr$ 2.500,00,

isto porque no saldo do caixa da emissora restavam cr$ 500,00 que o Sr. Luís Matheus

Todeschini deixou como donativo para a Igreja Cristo Rei” (1997, p.197).

Na alteração acionária seguinte, ocorrida em 1981, o controle da Rádio Difusora

passou da Mitra Diocesana para um grupo político formado por quatro pessoas, entre

as quais o ex-prefeito de Bento Gonçalves, Darcy Pozza, que futuramente se elegeria

por mais dois mandatos (1997 a 2004). Em 1983, porém, entra para a administração da

rádio o atual proprietário, o engenheiro Carlos Domingos Piccoli e outros três sócios,

incluindo seu irmão Antônio Luís Piccoli. Ocorreu, então, a virada que levou a rádio à

fase atual:

A programação fica 24 horas no ar. Novos equipamentos foram adquiridos e no ano de 1986, para acompanhar o desenvolvimento do setor das comunicações, houve a mudança no nome, quando a Rádio Difusora Bento Gonçalves passou a se chamar Rádio Viva. A fase atual da Rádio Viva começou em março de 1993, quando assumiu a frequência (sic) de 1070 kilohertz e a potência de 1 kilowatt, com o prefixo ZYK 357 (1997, p.327).

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Souto conta que, em fins da década de 1980, do grupo político, apenas Darcy

Pozza ainda detinha uma fatia acionária da rádio. Nos anos seguintes, os sócios

adquiriram novas rádios e ganharam novas concessões. A rádio transformou-se em um

grupo inicialmente denominado Rede Serrana de Comunicações e chamado de Grupo

RSCOM a partir de 1983.

Entre os anos de 2009 e 201217, numa tentativa de acompanhar o mercado e a

evolução das rádios all-news (ou totalmente noticiosas), a Viva migrou para o canal FM

do grupo e passou a chamar-se Viva News 92.5. Para isso, a emissora musical jovem

que operava no dial foi extinta. Porém, questões comerciais levaram o grupo a firmar

parceria com um grupo de comunicadores a partir de outubro de 2013, dando origem à

Rádio Oi! 92.5, de perfil musical popular. A Viva News, então, voltou a operar no dial

1070 AM, como Rádio Viva.

Foi o rompimento da sociedade entre o engenheiro Carlos Domingos Piccoli e o

político Darcy Pozza que deu origem à atual Rádio Difusora de Bento Gonçalves. A

sociedade, que contemplava somente as três concessões comerciais do grupo

localizadas em Bento Gonçalves, foi desfeita em 2009. À Pozza, restou a frequência

890 AM, que operava como Rádio Viva e passou a funcionar como Rádio Difusora.

Piccoli permaneceu com a emissora 1070 AM, que passou de Rádio Bento a Rádio

Viva, e comprou de Pozza sua parte na emissora 92.5 FM.

Atualmente, o Grupo RSCOM é formado por um jornal semanal com

distribuição gratuita e circulação em Caxias do Sul: Jornal Comércio do Povo; quatro

rádios FM em Bento Gonçalves, Farroupilha, Flores da Cunha e Montenegro; uma rádio

comunitária em Bento Gonçalves; uma rádio AM em Bento Gonçalves e uma rádio na

cidade de Conegliano, Itália.

17

Fonte: entrevista com o diretor do Grupo RSCOM, Marcos Piccoli, realizada no dia 19 de maio de 2014.

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A Rádio Viva 1070 AM é a emissora do grupo que solicitou ao Ministério das

Comunicações a migração para o FM. A rádio caracteriza-se como “uma emissora de

caráter comunitário, comprometida com o bem-estar e o desenvolvimento social da

comunidade” (VIVA, 2014). Sua programação contempla música, esporte, jornalismo e

serviços de utilidade pública, além de atuar “na transmissão de eventos e campanhas

realizadas pelas comunidades, cobertura dos campeonatos do esporte amador e

profissional ou realizando a promoção de campanhas próprias e de datas

comemorativas”.

A Rádio Viva 1070 AM tem em sua área de abrangência as cidades de Bento

Gonçalves, Barão, Carlos Barbosa, Caxias do Sul, Cotiporã, Farroupilha, Garibaldi,

Monte Belo do Sul, Pinto Bandeira, Salvador do Sul, Santa Tereza, São Pedro da Serra,

São Valentim do Sul e Veranópolis.

Já a Rádio Difusora 890 AM, em sua nova fase, alcança quase 40 municípios

da Serra Gaúcha, com programação transmitida 24 horas por dia. A rádio, de

propriedade do político Darcy Pozza, é gerenciada pelo empresário Volnei Pertile desde

2009. Depois de alguns anos de embate entre as duas emissoras, atualmente a Rádio

Difusora é quem divulga ter 67 anos de história.

Com o slogan A Rádio que Faz Amigos, a Difusora possui programação variada,

que contempla noticiários e entretenimento, seguindo um modelo de rádio-revista

baseado no tripé informação/música/entretenimento. Todo o conteúdo veiculado tem

suporte do departamento de jornalismo que, mesmo fora dos programas noticiosos,

veicula notícias ao longo da programação.

5.4 ENTREVISTAS

Atualmente, 1.784 emissoras operam na frequência de AM em todo o Brasil,

divididas de acordo com o alcance: local, regional ou nacional. Esse cenário sofrerá

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rápidas modificações em decorrência do decreto presidencial número 8.139 de 07 de

novembro de 2013, que dispõe sobre as condições para extinção do serviço de

radiodifusão sonora em Ondas Médias de caráter local e sobre a adaptação das

outorgas vigentes para execução desse serviço. As rádios AM, que representam 40%

do total de aproximadamente 4,5 mil emissoras legalmente instituídas no país,

mostraram interesse imediato na migração. Cerca de 80% delas oficializaram o pedido

de migração para o FM, incluindo as duas emissoras AM sediadas e operantes em

Bento Gonçalves: Rádio Difusora 890 e Rádio Viva 1070.

Elas protocolaram seus pedidos de migração junto ao Ministério das

Comunicações em março de 2014, durante reunião realizada na sede da Anatel em

Porto Alegre. Desde então, aguardam a análise de seus processos e a definição dos

valores a serem pagos ao MiniCom como diferença entre as outorgas de AM e FM.

A portaria número 127, de 12 de março de 2014, fornece um indicativo de como

será feita essa cobrança. O documento, que define os procedimentos para pedido de

migração e indica como os processos vão ser analisados pelo MiniCom e pela Agência

Nacional de Telecomunicações (Anatel), traz em seu artigo 5º:

Art. 5º Constatada a habilitação técnica e jurídica da requerente, a SCE expedirá notificação para a requerente efetuar o pagamento do valor relativo à adaptação da outorga, que corresponderá à diferença entre os preços mínimos de outorga estipulados pelo Ministério das Comunicações para os serviços de radiodifusão sonora em frequência modulada e os serviços de radiodifusão sonora em ondas médias nos grupos de enquadramento referentes à respectiva localidade.

No momento, a principal apreensão dos radiodifusores no que concerne ao

processo de migração é a inexistência de informações sobre o montante que caberá a

cada emissora a título de diferença de outorga. O diretor do Grupo RSCOM, Marcos

Piccoli, afirma que já estão ocorrendo desistências por parte de emissoras de pequeno

porte, mesmo antes de ser conhecido o custo total da migração, por conta das

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incertezas que cercam o processo. Piccoli, que também ocupa o cargo de Diretor de

Novas Tecnologias na Associação Gaúcha de Emissoras de Rádio e Televisão (Agert),

entende que o mercado vem mostrando desconfiança sobre o processo, a ponto de

considerar que o Ministério das Comunicações pretende fazer caixa com a migração.

O Ministério quer fazer a digitalização e a migração, mas não estabelece critérios para isso. Existe uma lei que não diz nada. Recentemente, surgiram alguns indicativos de que o valor a ser cobrado para uma emissora do interior, por exemplo, será algo em torno de R$ 20 a R$ 30 mil – totalmente viável. Mas são apenas especulações. Uma publicação no Diário Oficial da União de 8 de agosto de 2013 dá a entender que a cobrança será de acordo com o potencial socioeconômico da cidade. Nesse caso, embora Bento Gonçalves tenha um mercado péssimo para a mídia de rádio, a cidade é pujante. Sendo assim, se o critério for este, o valor da migração tende a ser muito alto para nós (PICCOLI, 2014).

O diretor da Rádio Difusora, Volnei Pertile, espera que os valores sejam

divulgados até agosto de 2014, período no qual se iniciariam também os estudos

técnicos para determinar se existe espaço para a migração das duas emissoras de

Bento Gonçalves sem necessidade uso da faixa estendida18. A questão da outorga,

entretanto, não impedirá a migração da emissora, conforme seu diretor. Pertile

considera, inclusive, que esta será a menor fatia do investimento necessário para ir ao

FM. “A concessão é apenas a primeira parte. Depois de paga, vem o investimento em

equipamentos”. (PERTILE, 2014).

A possibilidade de não haver espaço no espectro atual para as duas rádios AM

de Bento Gonçalves é a questão técnica que mais preocupa o diretor da Rádio Viva,

Marcos Piccoli. O Ministério das Comunicações já anunciou que realizará estudos

técnicos em cada unidade da federação onde existem rádios interessadas em migrar

18

O Serviço de Radiodifusão Sonora em Frequência Modulada atualmente ocupa a faixa de 88 a 108 MHz. As faixas de 54 a 88 MHz, por sua vez, são destinadas aos canais baixos de televisão e ficarão totalmente desocupadas a partir de julho de 2016, quando se encerrará o período de transição da TV analógica para o Sistema Brasileiro de Televisão Digital. A Faixa Estendida de FM compreende a incorporação dos canais 5 e 6 UHF, ou seja, as frequências de 76 a 88 MHz.

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para o FM para determinar se o uso da faixa estendida será ou não necessário,

considerando que devem ser respeitados os limites de segurança para que não

ocorram interferências entre as rádios.

Conforme o MiniCom, nas localidades onde não houver espaço no espectro

atual, as emissoras terão de aguardar a liberação dos canais 5 e 6 da televisão

analógica, o que vai ocorrer com a digitalização da TV no país. “Hoje, as FMs são

sintonizadas na faixa de 87.9 MHz a 107.9 MHz. Com a liberação dos canais, essa

frequência será estendida de 76 MHz a 107.9 MHz” (MINISTÉRIO DAS

COMUNICAÇÕES, 2014).

A tendência é que as cidades menores e mais afastadas de regiões

metropolitanas tenham menos empecilhos à migração. Porém, existe uma preocupação

de que em Bento Gonçalves seja necessário recorrer à faixa estendida, como revela

Piccoli:

Em Bento, fizemos um estudo preliminar que foi entregue ao Ministério das Comunicações, apontando a existência de apenas um canal disponível em função da configuração técnica de potências das emissoras existentes. Naturalmente, o Ministério fará seu próprio estudo, mas digamos que o resultado seja o mesmo, aí entramos em um leilão, pois há duas rádios pleiteando a migração. É importante sabermos, antes de mais nada, se há somente um canal disponível para Bento Gonçalves ou dois. E qual valor? Que tipo de equipamento estará disponível? E, caso haja apenas um canal, qual das emissoras irá ficar com ele? Se alguém tiver que ficar na faixa estendida, em que canal será? Que receptor existe para isso? Como meu ouvinte vai sintonizar uma rádio na faixa estendida? A única certeza no momento é que protocolamos o interesse de migrar (PICCOLI, 2014).

O diretor da Rádio Difusora, Volnei Pertile, é mais otimista em relação à faixa

estendida:

Talvez isso adie o processo em seis meses ou um ano, mas se voltarmos quatro ou cinco anos, quando se falava em TV digital, também havia grande

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preocupação de que os aparelhos não iriam funcionar ou o público não iria se adaptar. Hoje, não existe nenhum problema: em alguns lugares o sinal analógico ainda funciona paralelamente ao digital, mas o processo se desenvolveu. Isso não preocupa, desde que a qualidade do áudio seja 100%. A Difusora não sabe ainda se estará na faixa normal ou na estendida. Quem sabe em agosto saibamos (PERTILE, 2014).

O decreto presidencial número 8.139 indica a possibilidade de transmissão

simultânea por até cinco anos em AM e FM para as emissoras que migrarem na faixa

estendida. Além disso, a lei determina que o Ministério das Comunicações adote “as

providências necessárias para que os terminais estejam aptos a receberem os sinais da

faixa estendida de frequência modulada” (BRASIL, 2013). Mesmo assim, o diretor do

Grupo RSCOM questiona a aceitação do público à faixa estendida.

Marcos Piccoli diz que os investimentos da empresa em troca de transmissores

e pagamento de outorga não preocupa tanto quanto a inexistência de receptores

adaptados à faixa estendida no mercado:

Na faixa atual, há antenas e transmissores disponíveis no mercado e haverá uma linha de financiamento pelo BNDES com juros reduzidos para a compra de equipamentos pela rádio. A questão financeira interessa, claro, mas o que mais nos preocupa são os receptores. Se eu estiver na faixa estendida, como vou fazer com que todos os receptores da cidade sejam substituídos? As pessoas já não compram rádio há muitos anos. Ninguém vai trocar de celular porque a minha rádio foi para a faixa estendida (PICCOLI, 2014).

Apesar dos muitos questionamentos em relação às condições técnicas e

valores de outorga, ambas as rádios de Bento Gonçalves confiam que o início da

migração será breve, com anúncio das primeiras emissoras aptas a transmitir em FM

ainda nesse ano. Já o caso de Bento Gonçalves, segundo Pertile, não deverá ter

novidades até o próximo ano:

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Algumas emissoras com potência mínima poderão migrar logo, mas há uma certeza de que nas capitais isso não poderá ocorrer. Pela potência da Difusora, creio que o nosso caso fique para o ano que vem. Existe a possibilidade de que a rádio migre com 30 kW de potência, o que representa um alcance excelente, mas temos que avaliar se é possível enquadrar essa potência no atual espectro sem passar por cima de outras emissoras da região. Estamos preparados e acredito que, depois da liberação, em três ou quatro meses poderemos estar operando (PERTILE, 2014).

Da mesma forma, Piccoli diz que pelas dimensões do país, existem regiões

onde a migração será simples e poderá ocorrer brevemente. Segundo ele, os

fornecedores estão preparados para a migração com antenas e transmissores

disponíveis para a faixa atual. Entretanto, ele aponta que o Ministério não alcançará o

objetivo central da migração – liberar espaço no espectro e oferecer novas condições

de atuação para o mercado radiofônico – enquanto o processo não chegar aos grandes

centros, onde está o principal problema de atuação da rádio AM e onde a faixa

estendida precisará ser utilizada:

A sobrevivência do rádio, pelo menos nas regiões metropolitanas, é ir para o FM em função da interferência cada vez maior no sinal da AM. Mas não há canais disponíveis. Além do que, salvo melhor juízo, o Ministério das Comunicações e a Anatel estão muito preocupados com as telefônicas e o 4G, que interferem na TV digital, e também com a radiodifusão comunitária. O resto parece não ser prioridade. Não tenho dúvida de que haverá a migração das primeiras emissoras ainda nesse ano, pelo menos no interior, mas não vai resolver o problema, pois ele não está lá (PICCOLI, 2014).

Em relação à potência, a Rádio Difusora 890 opera com 5 kW e a Viva 1070,

com 2,5 kW. Ambas são consideradas emissoras de caráter regional e pretendem

receber concessões de mesmo alcance no FM. Apesar disso, Piccoli situa que a grande

vantagem está na qualidade do som, já que o AM sofre pela interferência de outros

aparelhos e pela baixa qualidade dos receptores. Ademais, a migração multiplicará os

meios de acesso às emissoras, já que o AM não está presente na maioria dos celulares,

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bem como nos tablets e outros dispositivos, estando limitadas ao acesso online ou por

aparelhos convencionais, cada vez menos utilizados pelo consumidor.

No que diz respeito à produção, as rádios Difusora e Viva vislumbram de forma

diferente as necessidades de suas emissoras no FM no que tange ao conteúdo e a

equipes. O projeto da Rádio Difusora para a migração é balizado pela abertura de

sucursais, como detalha o diretor Volnei Pertile:

Nossa programação é bastante extensa, temos um departamento de jornalismo forte que faz a cobertura local, regional e estadual, participando de eventos em todo o estado. Já temos uma sucursal em Garibaldi e temos projeto de inserir outras na região, como Caxias, Veranópolis ou mesmo municípios menores, como Cotiporã ou São Valentim do Sul. Nossa estrutura atual já permite a cobertura de quatro ou cinco eventos simultâneos. Temos pessoal e equipamento técnico para isso. Algumas emissoras trabalham com sistema de custos reduzido e são poucas que contam com comunicador no ar 24 horas por dia. Nossa equipe já é forte, mas com a migração deverá crescer em 40% ou 50% (PERTILE, 2014).

Atualmente, a rádio segue um modelo popular de programação e tem, em seu

corpo de funcionários, os dois locutores mais antigos em atividade no município: Alceu

Salvi Souto e Elmo Marques. Embora considere a possibilidade de agregar profissionais

com características mais sóbrias para o quadro de comunicadores, Volnei Pertile

entende que os locutores antigos devem ser mantidos na equipe:

Para mim, ter radialistas como Alceu Salvo Souto e Elmo Marques é motivo de orgulho, pois eles carregam a história do rádio. Não abro mão dessas pessoas de jeito nenhum e, mesmo se um dia eles não quiserem, eu proporia que fizessem ao menos cinco ou 10 minutos por dia, mesmo que fosse de suas casas. Não mudarei nada disso. Podem ser adequadas algumas programações, criando programas sobre a história da rádio, por exemplo. É claro que precisamos inovar, mas eu penso que um equipamento pode ser substituído e virar museu, mas o ser humano não, ele carrega uma história e precisamos valorizá-la (PERTILE, 2014).

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Já o diretor do Grupo RSCOM revela que os investimentos recentes do grupo

são no sentido de ampliar a produção e conteúdo em plataformas variadas. A exemplo

disso, em 2014, a empresa implantou um estúdio de vídeo para a gravação de

programas e boletins a serem veiculados pelo portal do grupo na internet: o

www.leouve.com.br. Essas mudanças, segundo Marcos Piccoli, não vêm sendo

promovidas apenas como resposta à migração, mas como um recurso contra a queda

de audiência do rádio convencional:

As mudanças não se justificam somente pela migração da Viva 1070. Uma pesquisa realizada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (SECOM) apontou que o rádio perdeu quase 30% da audiência nos últimos anos. Ou seja, o jovem não ouve rádio, migrou para outras plataformas. Então, não estamos pensando apenas na Viva 1070, mas em todos os veículos do grupo RSCOM. Definimos que, nos próximos anos, vamos investir em novas mídias. Estamos buscando ter vídeo e uma estrutura de web mais robusta para comportar nossas mídias, de modo a estarmos onde o consumidor está: a internet. A tendência da mídia é estar na nuvem. O modelo de publicidade ainda é muito complexo, mas é isso: o off-line vai perder espaço. Temos visto que o que faz a diferença no dia a dia é o conteúdo, então estamos investindo também em reportagem para todas as emissoras do grupo de modo a termos conteúdo de qualidade independente da plataforma (PICCOLI, 2014).

Com o alcance das redes sociais e o poder da interatividade na programação

da rádio, Piccoli ainda adianta que o grupo deve aperfeiçoar os canais de interação com

o público:

Principalmente em função das redes sociais, o ouvinte tem cada vez mais poder diante da produção de conteúdo. Precisamos estar preparados para receber esse tipo de demanda ligada à interatividade. As redes sociais têm o problema de que muitas pessoas se mascaram e fazem um mau uso, mas precisamos interagir através de todas as plataformas e a web proporciona muitas ferramentas nesse sentido – não somente redes sociais, mas portais e aplicativos oferecem ao ouvinte rádios de todo o mundo para acesso livre. Estamos ainda buscando o melhor formato para oferecer essa estrutura, o que demandará mais pessoas e equipamentos. Atualmente, não temos uma equipe específica para a interatividade. É o comunicador do ar que faz a interação com o ouvinte e com o comercial (PICCOLI, 2014).

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Em consonância com as expectativas dos gestores entrevistados, a Anatel

anunciou, no dia 13 de junho, a abertura de uma consulta pública para o recebimento

de contribuições para a mudança no Plano Básico de Distribuição de Canais de

Radiodifusão Sonora em Frequência Modulada (PBFM) no Rio Grande do Norte,

possibilitando a migração das rádios AM daquele estado. Essa deve ser a primeira de

uma série de consultas que a agência procederá em todo o país.

As sugestões “devem ser encaminhadas por meio de formulário eletrônico [...]

até às 24h do dia 4 de julho” (AGERT, 2014). Ainda de acordo com notícia publicada no

portal da Abert, “foram contemplados todos os 24 canais de FM solicitados pelas

emissoras AM durante sessão pública realizada no estado para pedidos de migração.

Na proposta, também foram excluídos canais de FM, mas todos estavam vagos” (idem).

5.5 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS

A partir das falas dos entrevistados Volnei Pertile, diretor da Rádio Difusora 890

AM, e Marcos Piccoli, diretor da Rádio Viva 1070 AM, é relevante pontuar que, a priori,

as rádios estão preparadas para os investimentos operacionais que a migração

demandará, como a substituição de antenas e aquisição de novos transmissores, seja

através de recursos próprios ou lançando mão das opções de financiamento

disponibilizadas pelo BNDES.

Ademais, as emissoras pretendem efetivar a migração para o FM,

independentemente do valor anunciado pelo Ministério das Comunicações (Minicom) a

título de diferença de outorga. Ambas consideram a relevância da migração como

alternativa para a sobrevivência comercial e ferramenta para uma reconquista dos

ouvintes que atualmente acessam o conteúdo apenas pelas redes sociais e internet.

Estabelecidas as questões financeiras que permeiam a migração, o aspecto

técnico que mais preocupa as emissoras entrevistadas é a possibilidade de uso da faixa

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estendida, caso seja definido pelo Minicom que a faixa atual do espectro não comporte

duas novas emissoras. Fatalmente, esse cenário imporia a troca de todos os

receptores, pois, na atualidade, nenhum aparelho de rádio sintoniza a faixa estendida.

Por parte das rádios, seria necessário um planejamento sofisticado para a

migração, já que caberia a elas convencer o ouvinte a adquirir novos aparelhos – que,

sequer, estão disponíveis no mercado brasileiro atualmente. Ou, num cenário ainda

mais complexo, seria indicada uma parceria com a indústria automotiva, garantindo que

os carros saíssem de fábrica equipados com rádio em faixa estendida. Para todas

essas questões de adaptação, as emissoras contam com a autorização do governo

para transmissão simultânea durante cinco anos, possibilidade que a lei aventa, mas

não garante.

Com expectativa compartilhada entre as emissoras ouvidas de que as primeiras

migrações ocorrerão ainda em 2014 em algumas cidades com maior facilidade de

estudos técnicos, é pertinente salientar que um projeto contemplando o aspecto do

conteúdo deveria estar em plena execução pelas rádios. A melhor qualidade de som

aliada à multiplicidade de pontos de acesso, traz à tona uma questão: as rádios

migrarão para o FM levando consigo o estilo de programação do AM?

Cada uma a sua maneira, as rádios declaram estar se preparando para a

entrada no FM, mas o fato é que ainda não se prospectam inovações no modo de fazer

rádio. Os investimentos levados a efeito estão mais ligados à ampliação da cobertura

da emissora para outras plataformas e outros municípios do que propriamente à

idealização de conteúdos diferenciados.

Considerando um cenário em que a maior audiência do rádio se dá nos horários

de pico, quando o ouvinte está no trânsito com o rádio ligado e off-line das redes

sociais, parece existir um cenário propício à produção de conteúdos dinâmicos, em

outros formatos. Entretanto, há pouco espaço para novas vozes e a grade ainda está

concentrada nos programas bem sucedidos no passado: radiojornal, debates,

transmissão esportiva, plantão policial e música popular.

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Ocorre questionar por quanto tempo as emissoras manterão o modelo

tradicional e se intencionam oferecer novas experiências para o ouvinte no FM.

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6 NOTAS CONCLUSIVAS

O rádio nasceu com a promessa de ser um fiel companheiro do ouvinte,

levando informação e divertimento, quando muitos não sabiam ler e quando a televisão

era um invento inimaginável. Imponente, muitas vezes talhado em madeira nobre,

reinou como protagonista na sala de estar da família brasileira, reunindo pais, filhos e

vizinhos ao seu redor até a chegada de um aparelho que deu rostos àquelas vozes.

A televisão roubou o status quo do rádio, mas não ameaçou sua popularidade

prontamente. Sem lugar de honra na estante, ele ganhou ainda mais importância a

partir da transistorização. Portátil, tornou-se um acompanhante de seu público. Chegou

aos carros, aos ônibus e, à pilha, pôde ser levado aos estádios de futebol.

A chegada da televisão, a partir da década de 1950, marcou o fim da era do

rádio ao ameaçar dois dos quatro pilares que sustentavam sua programação: as

radionovelas e os programas de variedades, calouros e humor. Com a agregação de

imagem ao som, esses programas naturalmente tiveram aceitação imediata na nova

tecnologia disponível.

O início das transmissões regulares e comerciais do FM no Brasil, a partir de

1968, incitou novas mudanças no rádio e impulsionou o processo de segmentação que

se intensificara nas décadas de 1970 e 1980. Com qualidade superior de áudio, as

estações em Frequência Modulada, que iniciaram suas atividades transmitindo música

ambiente e tinham como público-alvo empresas e consultórios médicos, logo cativam

jovens ouvintes e assumem sua vocação musical.

Com essa realidade imposta, coube ao rádio AM aproveitar-se do trinômio

composto por aparelhos de baixo custo, alcance superior de sinal e instantaneidade de

transmissão – que a televisão ainda não oferecia por limitações técnicas – para fidelizar

o ouvinte com sua programação jornalística/esportiva.

Em sua história no Brasil, o rádio teve primórdios imponentes, mas logo

enfrentou a pressão para manter sua relevância como meio de comunicação. Obteve

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algumas conquistas que alavancaram sua penetração no país, como os exemplos

citados anteriormente: o transistor, que levou para as ruas o pesado aparelho até então

prostrado na casa das pessoas, e as emissoras FM, que trouxeram qualidade à música

transmitida pelo rádio. Na maior parte do tempo, contudo, o que o rádio fez foi resistir

aos avanços de outras mídias, perdendo gradativamente espaço e importância no

mercado.

A partir de 2000, os lares passaram a ter mais televisores do que rádios,

segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Nos anos que

se seguiram, a internet e a telefonia móvel impactaram irremediavelmente o setor

radiofônico. Enquanto o IBGE afere uma curva ascendente em relação à presença de

telefones celulares e computadores, o número de lares com aparelho convencional de

rádio vem caindo expressivamente. Em 2002, havia rádio em 87,8% das residências

pesquisadas; em 2012, eram 80,9%.

Embora os números não indiquem simplesmente que não se ouve mais rádio,

eles expressam que o brasileiro o faz utilizando outras ferramentas que não o aparelho

convencional. O processo de digitalização chega nesse contexto em que o rádio está

perdendo espaço não apenas para outros veículos de comunicação, mas para outras

formas de fazer rádio.

Muito se questiona sobre qual o real objetivo da digitalização, que envolverá

altíssimos investimentos e poderá não resultar em retorno para os radiodifusores, já que

se pode ouvir rádio pela internet e pelos celulares. Nelia Del Bianco elucida a questão,

indicando que não digitalizar significa deixar de participar do código comum que é a

base da convergência, abrindo mão da possiblidade de chegar ao ouvinte com melhor

qualidade de som e novos conteúdos agregados.

As primeiras autorizações para testes com rádio digital no Brasil foram

expedidas pela Anatel em 2005 e, nesses nove anos, o governo não pôde ainda definir

sequer o modelo digital mais adequado para implantação no país. A morosidade que se

imprimiu aos estudos e testes do rádio digital no Brasil indica que nem o governo nem o

mercado estão preparados para tamanha revolução. O desdobramento mais recente

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sobre o assunto ocorreu na última reunião do Conselho Consultivo do Rádio Digital, em

junho de 2013. Na ocasião, foram definidos novos testes com os padrões HD Radio e

DRM em 10 emissoras FM de São Paulo, cinco emissoras AM em todo o país e 40

emissoras comunitárias de Santa Catarina. O cronograma dos trabalhos previa a

importação de equipamentos até outubro de 2013 e a realização dos testes entre

novembro daquele ano e janeiro de 2014.

O processo foi estancado a partir do anúncio da migração das rádios AM e a

publicação do decreto presidencial de novembro de 2013. Desde então, todo o esforço

do Ministério das Comunicações e Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) tem

sido no sentido de sistematizar os pedidos de migração e proceder com os estudos

técnicos que determinarão a disponibilidade de espaço no espectro, de acordo com o

plano básico de distribuição dos canais. As emissoras de rádio AM representam

atualmente 40% do total das 4,5 mil emissoras de rádio legalmente instituídas no Brasil

e o pedido de migração foi protocolado por 80% delas.

O decreto presidencial que autoriza a migração foi publicado em novembro de

2013 e os procedimentos para a solicitação da adaptação de outorga foram definidos

pelo Ministério das Comunicações em março de 2014, determinando como os

processos serão analisados. Ainda pesa para as rádios AM de Bento Gonçalves a

indefinição dos custos dessa operação. Tanto a Rádio Difusora 890 quanto a Rádio Viva

1070, emissoras AM sediadas no município e consultadas para este trabalho,

protocolaram junto ao Minicom seus pedidos de migração e afirmam estar preparadas

para os investimentos em equipamento de transmissão. Entretanto, ambas mostram-se

apreensivas em relação à diferença entre o valor da outorga AM e FM, que deverá ser

paga ao governo e cujos parâmetros não foram divulgados até a presente data.

O Ministério das Comunicações defende que a mudança acarretará uma

recuperação da audiência dessas emissoras, prejudicada não apenas pelas

interferências de transmissão sofridas pelo AM, mas também porque elas não estão

acessíveis ao ouvinte em celulares, tablets ou, mesmo, nos receptores automotivos

mais modernos.

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Mas é preciso situar que, tanto a digitalização quanto a migração da AM para

FM, são apenas condições técnicas para o reposicionamento do rádio no mercado. É

somente através de um conteúdo atrativo, diferenciado e identificado com a

regionalidade do ouvinte que esse rádio poderá manter seu espaço ou, eventualmente,

recuperar parte da audiência perdida.

Em décadas passadas, o conteúdo do rádio foi repensado para sobreviver à

televisão, para aproveitar a miniaturização e para dividir espaço com a FM quando de

seu surgimento. Porém, nesse momento de migração que prenuncia o fim do rádio AM,

não se percebe uma sistematização de projetos e investimentos voltados ao conteúdo.

Nas emissoras estudadas, a realidade é de uma preocupação muito mais latente com

os custos operacionais da migração.

Rádio Difusora 890 e Rádio Viva 1070 estão acompanhando o processo de

migração e se declaram financeiramente preparadas – seja com reservas próprias ou

por meio de financiamento bancário – para a compra de novos transmissores e

antenas. O temor principal diz respeito ao valor que será cobrado pelo Ministério das

Comunicações a título de diferença da outorga necessária para operação. Esses

valores ainda não foram definidos pelo governo, embora exista a expectativa da

migração das primeiras emissoras ainda este ano.

Enquanto se mostra latente a apreensão pelas questões técnicas que envolvem

a migração, parece estar em segundo plano a preocupação com a programação a ser

transmitida, dando a entender que o modelo permanecerá o mesmo, transferindo-se a

emissora do AM para o FM. Mesmo que intencionem algum incremento na

programação, não parece claro para as emissoras de que forma isso ocorrerá.

De um lado, a Rádio Difusora planeja a abertura de novas sucursais para uma

maior cobertura das cidades a seu alcance. De outro, a Viva anuncia que já está

investindo em uma estrutura mais robusta de web que comporte os conteúdos da

emissora e garanta a rápida interatividade com o ouvinte. Ambas estão fortemente

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presentes no Facebook e apostam em sua relevância na captação e fidelização do

público nos próximos anos.

De fato, as rádios movimentam um número expressivo de seguidores em suas

fan pages na rede social, mas não se pode precisar quanto desse público virtual

reverte-se em audiência para a emissora, ou mesmo se esse público já teve acesso à

emissora pelo menos uma vez. Esse comportamento tipicamente convergente garante

a visibilidade das rádios, mas não sua sobrevivência como meio de comunicação. Tanto

Difusora quanto Viva estão fortemente ligadas à cultura do rádio dos anos 1980, com

estilo popular de locução, grade de programação similar, vozes imponentes e trejeitos

típicos do AM.

Percebe-se um baixo grau de renovação das equipes, em que os âncoras da

programação permanecem sendo os mesmos radialistas que conduzem o rádio local

nos últimos 20 anos. Aos novos profissionais, cabem somente as funções ligadas à

produção e reportagem. Naturalmente, sabe-se que as funções de ar exigem

experiência e desenvoltura, além de prudência na emissão de opiniões. Isso justifica a

permanência dos radialistas de carreira, mas não a estagnação do fazer radiofônico.

Também predomina entre as emissoras a locução masculina. Até junho de

2014, inexistiam mulheres na apresentação da programação das duas rádios. Com a

promoção da repórter Marina Teles à produção e apresentação do radiojornal do meio-

dia na Rádio Viva, ela é a única representante feminina nos microfones das emissoras

estudadas.

A Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET) prevê que primeira

fase da migração deva ser concluída entre 24 e 27 de agosto de 2014, com expectativa

de anúncio das primeiras emissoras autorizadas a migrar durante seu congresso anual.

Ou seja, supõe-se que o processo da migração correrá em curto prazo, liberando

espaço no espectro para outros usos ainda desconhecidos.

Porém, a melhor qualidade de som, aliada à multiplicidade de pontos de

acesso, traz à tona a necessidade de capacitação de equipes e geração de novos

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conteúdos, já que a migração por si só não reverterá a queda de público e mídia do

setor radiofônico. Até o momento, as rádios AM de Bento Gonçalves que solicitaram

migração têm-se ocupado mais com os custos dos equipamentos. Não está nos planos

imediatos das emissoras uma análise em profundidade do conteúdo atualmente

produzido, no intuito de verificar quanto da programação realmente supre as

expectativas do ouvinte. Também parece necessário um planejamento de mídia para a

execução de novos projetos e para a atração de anunciantes que viabilizem todo o

investimento feito em transmissores e antena para a migração.

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