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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO- UPE FACULDADE DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO DE PERNAMBUCO - FCAP MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL - GDLS Sílvio Romero Pinto Bezerra Júnior PROGRAMA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO ESCOLAR: CONTRIBUIÇÕES PARA O ARRANJO PRODUTIVO LOCAL SUSTENTÁVEL DA AGRICULTURA FAMILIAR EM GLÓRIA DO GOITÁ - PERNAMBUCO RECIFE 2014

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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO- UPE

FACULDADE DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO DE PERNAMBUCO - FCAP

MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL

SUSTENTÁVEL - GDLS

Sílvio Romero Pinto Bezerra Júnior

PROGRAMA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO ESCOLAR: CONTRIBUIÇÕES PARA

O ARRANJO PRODUTIVO LOCAL SUSTENTÁVEL DA AGRICULTURA FAMILIAR

EM GLÓRIA DO GOITÁ - PERNAMBUCO

RECIFE

2014

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SÍLVIO ROMERO PINTO BEZERRA JÚNIOR

PROGRAMA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO ESCOLAR: CONTRIBUIÇÕES PARA

O ARRANJO PRODUTIVO LOCAL SUSTENTÁVEL DA AGRICULTURA FAMILIAR

NO GLÓRIA DO GOITÁ - PERNAMBUCO

Dissertação apresentada ao Mestrado Profissional em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável da Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco – FCAP / Universidade de Pernambuco - UPE, como requisito à obtenção do grau de Mestre em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável, sendo objeto de defesa oral, perante banca examinadora, em sessão pública.

Orientadora: Profa. Dra. Andrea Karla Pereira da Silva

Recife

2014

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Universidade de Pernambuco - UPE

Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco – FCAP

Biblioteca Leucio de Lemos

SÍLVIO ROMERO PINTO BEZERRA JÚNIOR

B574p

Bezerra Júnior, Sílvio Romero Pinto.

Programa Nacional de Alimentação Escolar: contribuições para o arranjo

produtivo local sustentável da agricultura familiar em Glória do Goitá. Silvio Romero

Pinto Bezerra júnior. – Recife: do autor, 2014.

179 f.: il.; graf,. tab. – Orientadora: Andrea Karla Pereira da Silva.

Dissertação (Mestrado) - Universidade de Pernambuco, Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco, Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável, Recife, 2014. 1. Desenvolvimento sustentável. 2. Agricultura orgânica. 3. Nutrição

escolar. I. Silva, Andrea Karla Pereira da Silva (orient.). II. Título. 338.927 CDD (23. ed.) 502.131.1 CDU (2007) Edna Meirelles – CRB-4/1022 FCAP-UPE 12/2014

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PROGRAMA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO ESCOLAR: CONTRIBUIÇÕES PARA

O ARRANJO PRODUTIVO LOCAL SUSTENTÁVEL DA AGRICULTURA FAMILIAR

NO GLÓRIA DO GOITÁ - PERNAMBUCO

Dissertação apresentada ao Mestrado Profissional em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável da Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco – FCAP / Universidade de Pernambuco - UPE, como pré-requisito à obtenção do grau de Mestre em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável.

Orientadora: Profa. Dra. Andrea Karla Pereira da Silva

COMISSÃO EXAMINADORA

_______________________________________________________________ Prof. Dr. Emanuel Sampaio Silva - Universidade Salgado de Oliveira – UNIVERSO

Examinador Externo

_______________________________________________________________ Prof. Dr.Luiz Márcio Assunção - Universidade de Pernambuco

Examinador interno

_______________________________________________________________ Prof. Dr. Ericê Bezerra Correia - Universidade de Pernambuco

Examinador interno

Recife – PE, 14 de agosto de 2014

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A Deus, razão da minha existência...

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AGRADECIMENTOS

A Deus, meu tudo e razão de tudo, foi com ele que aprendi entre tantas

coisas a amar e respeitar a natureza.

À minha mãe Maria, a quem sempre rogo em todos os momentos da

minha vida, bem como, aos demais Santos da Igreja Católica.

Ao meu melhor amigo, com quem sempre pude contar, com a sua

sabedoria e exemplo de retidão, meu querido pai Sílvio Romero Pinto Bezerra.

À minha amada mãe, Maria Auxiliadora Pinto Bezerra, mulher de fibra,

minha primeira e eterna professora, com quem sempre posso contar.

À minha amada e maravilhosa esposa, Fabiana Maria, mulher da minha

vida, companheira de todos os momentos e aos meus lindos filhos Fernando e

Gabriel, que inocentemente tiveram que conviver com a minha ausência, enquanto

me dedicava à pesquisa.

À minha família e aos meus amigos, que sempre acreditaram e torceram

por mim, pelo apoio e compreensão pela minha ausência, em razão deste curso.

Aos meus colegas de trabalho que me apoiaram nesta trajetória.

À minha orientadora, Profª. D. Sc. Andréa Karla Pereira da Silva, que me

apoiou com a sua experiência e com seus conhecimentos.

Aos professores que compuseram a minha banca: Prof. Dr. Emanuel

Sampaio Silva, Prof. Dr. Luiz Márcio Assunção, Prof. Dr. Ericê Bezerra Correia, que

com as suas contribuições enriqueceram esta pesquisa.

Aos que compõem o Mestrado em Gestão do Desenvolvimento Local

Sustentável, na pessoa da Sra. Célia Ximenes, que me recepcionou e me apoiou

desde o primeiro momento no mestrado.

Aos agricultores orgânicos e demais atores sociais participantes da

construção deste trabalho, pela a atenção dispensada.

Aos meus companheiros de mestrado

Aos excelentes professores que compõem o corpo docente deste

mestrado.

A todos os meus sinceros agradecimentos, pois sem a compreensão e a

colaboração de todos, não seria possível concluir este trabalho.

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O Cio da Terra

“Debulhar o trigo Recolher cada bago do trigo Forjar no trigo o milagre do pão E se fartar de pão

Decepar a cana Recolher a garapa da cana Roubar da cana a doçura do mel Se lambuzar de mel

Afagar a terra Conhecer os desejos da terra Cio da terra, a propícia estação E fecundar o chão”

Chico Buarque e Milton Nascimento

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RESUMO

O estudo analisa como o Programa Nacional da Alimentação Escolar – PNAE pode, de forma institucionalizada, fomentar e proporcionar mais eficiência aos processos produtivos existentes, ligados à produção agroecológica dos alimentos, especificamente sobre o sistema de produção orgânica. Descreve como é comercializada a produção agropecuária dos agricultores familiares associados à APRUP, quanto é absorvido pelo mercado institucionalizado formado pelas escolas do município locus da pesquisa; avalia a operacionalização do PNAE focando na forma de aquisição destes alimentos, analisando o processo de gestão da alimentação escolar na rede municipal de ensino, observando as repercussões do PNAE na agricultura familiar, com ênfase nos produtores de alimentos orgânicos. Busca identificar as inovações surgidas, com implantação do PNAE, bem como, qual a estrutura das organizações envolvidas no processo de produção, comercialização e consumo dos alimentos orgânicos, fornecidos para a alimentação escolar. Analisa ainda, como ocorre a produção dos alimentos pelo sistema orgânico, como os agricultores se organizam, e se tais processos, através do PNAE, contribuem para a formação de um Arranjo Produtivo Local, que promova o desenvolvimento local sustentável. A pesquisa qualitativa utilizou-se da observação direta, entrevistas e questionários, dirigidos aos gestores de escolas, aos órgãos governamentais, ao setor privado e ao terceiro setor, potenciais componentes do APL, além de agricultores socialmente organizados. Os resultados despontam com boas perspectivas, para consolidação de um modelo de desenvolvimento que respeita a vocação do município e vem se destacando regionalmente em produtos agroecológicos, orgânicos e de agricultura familiar, com aproveitamento de produção e consumo internos, fortalecidos pela proposta do PNAE, inserindo assim uma relação de interdependência econômica, social e ambiental, que consolida um modelo de desenvolvimento sustentável. Foi possível identificar elementos, para consolidação de um APL, envolvendo escolas, produtores locais, associações de produtores e instituições relacionadas, tendo como garantia a reserva de mercado criada pelo PNAE que visa a um desenvolvimento sustentável, com envolvimento direto das escolas, visando à qualidade de vida dos estudantes e daqueles que vivem no campo e se enquadram na categoria de agricultores familiares.

Palavras-chave: Desenvolvimento Sustentável. Arranjo Produtivo Local. Agricultura Orgânica Familiar e Agroecologia. Alimentação e Nutrição Escolar.

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ABSTRACT The study discusses how the National School Feeding Programme – NSFP, conventionally, is able to support and efficiently provide the existing production processes, related to the existing agroecological food production processes, specifically on the organic production system. It describes the commercialization of agricultural production in small farms, associated to the APRUP, its absorbing by the institutionalized market, formed by local schools, where the research was made; as long as evaluates the operation of NSAFP focusing on the purchase of these foods, analyzing the process of management of school meals in municipal schools, observing the repercussions of NSFP as well as what the structure of the organizations involved in the production, marketing and consumption of organic foods provided for the school feeding process. It analyses yet the production of organic foods, agriculturists organization and if such disputes, by the help of NSFP, contribute to the formation of a Local Productive Arrangement (LPA) that promotes sustainable local development. This qualitative research utilized the direct observation, interviews and questionnaires for school administrators, government agencies, private sector and third sector, potential components of LPA, and socially organized farmers. The results emerge with good prospects for consolidation of a model of development that respects the vocation of the city and has been highlighting regionally in agroecology, organic and family agriculture products, with use of internal production and consumption, strengthened by the proposed of the NSFP, thus entering a relationship of economic, social and environmental interdependence, which consolidates a model of sustainable development. It was possible to identify elements for consolidating a cluster involving schools, local producers, producer associations and related institutions, taking as collateral the market reserve created by NSFP aimed at sustainable development with direct involvement of schools, objectifying the students life quality and those who live in the countryside, under the category of family farmers. Key Words: Sustainable Development. Local Productive Arrangement. Organic Family and Agroecologial Agriculture. School Feed and Nutrition.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01: Mapas de Localização do território do Município de Glória do Goitá,

Estado de Pernambuco Brasil ...................................................................................19

Figura 02: Mapa de localização e limites geopolíticos do município de Gloria do Goitá Pernambuco, Brasil ..........................................................................................20 Figura 03: Fotografia de uma área de agricultura orgânica. Sítio Palmeiras, Glória do Goitá – PE ................................................................................................................ 21 Figura 04: Relação entre as práticas e percepções do PNAE / Glória do Goitá .....155

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01: Indicadores demográficos em Glória do Goitá – PE ................................21

Tabela 02: Produção agrícola das lavouras permanentes e temporárias. Período de

referência: 2012......................................................................................................... 22

Tabela 03: Consumo de agrotóxicos em algumas culturas agrícolas no Brasil ....... 31

Tabela 04: Consumo de agrotóxicos por unidade de área em algumas culturas

agrícolas no Brasil, em quantidade de ingredientes ativos, 1998 ............................ 31

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RELAÇAO DE SIGLAS

AEO Alimentação Escolar Orgânica

ABRASCO Associação Brasileira de Saúde Coletiva

ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária

AO Agricultura Orgânica

AOF Agricultura Orgânica Familiar

APL Arranjo Produtivo Local

APLS Arranjo Produtivo Local Sustentável

ADAGRO Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária

APRUP Associação dos Produtores Rurais de Palmeira

APORG Associação dos Profissionais Orgânicos

ATER Assistência Técnica e Extensão Rural

BDE Banco de Desempenho Educacional

BNB Banco do Nordeste do Brasil

CAE Conselho da Alimentação Escolar

CF Constituição Federal

CEASA Centro Estadual de Abastecimento

CPORG Comissão da Produção Orgânica

CMMAD Comissão Mundial Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

CNA Comissão Nacional de Alimentação

CONAB Companhia Nacional de Abastecimento

CONSEA Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

DAP Declaração de Aptidão ao PRONAF

DHAA Direito Humano à Alimentação Adequada

DLS Desenvolvimento Local Sustentável

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

FAO Food and Agriculture Organization

FIOCRUZ Fundação Oswaldo Cruz

FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação

GEPM Gestor da Escola Pública Municipal

GP Gestor público

GPR Gestor Privado

GTP APL Grupo de Trabalho Permanente para APLs

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IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICEI Brasil Instituto Cooperação Econômica Internacional

INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

IPA Instituto Agronômico de Pernambuco

ITEP Instituto de Tecnologia de Pernambuco

MDA Ministério do Desenvolvimento Agrário

MAPA Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento

MDIC Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

MMA Ministério do Meio Ambiente

OMS Organização Mundial da Saúde

ONG Organização Não Governamental

ONU Organização das Nações Unidas

PAA Programa de Aquisição de Alimentos

PCN Parâmetros Curriculares Nacionais

PIB Produto Interno Bruto

PNAE Programa Nacional de Alimentação Escolar

PNAIC Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa

PNAPO Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica

PNSAN Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

PNATER Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural

PNUD Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento

PMEs Pequenas e Micro Empresas

PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

PRONATER Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural na

Agricultura Familiar e na Reforma Agrária

REDESIST Rede de Sistemas Produtivos e Inovativos Locais

SAN Segurança Alimentar e Nutricional

SDC Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário

SISAN Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

SINDVEG Sindicato Nacional da Indústria de Produtos Para a Defesa Vegetal

SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio Às Micro e Pequenas Empresas

SERTA Serviço de Tecnologia Alternativa

SISORG Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica

SMD Sistema de Medição do Desempenho

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SUDENE Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste

TPA Técnicos e Pesquisadores em Agricultura

UFC Universidade Federal do Ceará

UPAs Unidades de Produção Agrícolas

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO …………………………………………………..……… 15 2 METODOLOGIA ...........................................………………………… 18 2.1 CARACTERIZAÇÃO DO LOCUS DA PESQUISA ............................ 18 2.2 CARACTERIZAÇÃO SUJEITOS DA PESQUISA …………………… 22 2.3 INSTRUMENTOS DE COLETA ……………………………………….. 24 2.3.1 Documentação Indireta ……………………………………………… 24 2.3.2 Documentação Direta …...……………………………………………. 25 2.4 ANÁLISE DE DADOS ………………………………………………….. 26 3 MARCOS CONCEITUAIS ……………………………………………... 28 3.1 AGRICULTURA ORGÂNICA FAMILIAR ……………………………… 28 3.1.1 Sistema orgânico de produção.......................................................... 33 3.2 ALIMENTAÇÃO ESCOLAR .............................................................. 44 3.3 ARRANJO PRODUTIVO LOCAL...................................................... 50 3.4 DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL …………………….. 57 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ……………………………………….. 63 4.1 ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO ESCOLAR...................................... 63 4.1.1 Percepções pelos Gestores das Escolas Públicas Municipais

quanto à alimentação e nutrição escolar. ......................................... 63

4.1.2 Percepções pelos Gestores Públicos sobre a alimentação e nutrição escolar...............................................................................

72

4.1.3 Percepções pelos Gestores Privados sobre a alimentação e nutrição escolar...............................................................................

82

4.1.4 Percepções pelos técnicos e pesquisadores em agricultura sobre a alimentação e nutrição escolar.........................................

89

4.2 PERCEPÇÕES SOBRE AS QUESTÕES RELACIONADAS AO PNAE E O FORNECIMENTO DE ALIMENTOS POR PARTE DOS AGRICULTORES FAMILIARES LOCAIS PARA AS ESCOLAS MUNICIPAIS .....................................................................................

93

4.2.1 Percepções pelos Gestores das Escolas Públicas Municipais quanto às questões relacionadas ao PNAE e o fornecimento de alimentos por parte dos agricultores familiares locais para as escolas municipais.............................................................................

94

4.2.2 Percepções pelos Gestores Públicos quanto às questões relacionadas ao PNAE e o fornecimento de alimentos por parte dos agricultores familiares locais para as escolas municipais .........

97

4.2.3 Percepções pelos Gestores Privados quanto às questões relacionadas ao PNAE e o fornecimento de alimentos por parte dos agricultores familiares locais para as escolas municipais ...........................................................................................................

107

4.2.4 Percepções pelos técnicos e pesquisadores em agricultura quanto às questões relacionadas ao PNAE e o fornecimento de alimentos por parte dos agricultores familiares locais para as escolas municipais .........................................................................................

116

4.3 PERCEPÇÕES SOBRE A RELAÇÃO DO FORNECIMENTO DE ALIMENTOS PRODUZIDOS LOCALMENTE PARA AS ESCOLAS E O DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL ......................

115

4.3.1 Percepções pelos Gestores das Escolas Públicas Municipais sobre

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a relação do fornecimento de alimentos produzidos localmente para as escolas e o desenvolvimento local sustentável ...........................................................................................................

116

4.3.2 Percepções pelos Gestores Públicos sobre a relação do fornecimento de alimentos produzidos localmente para as escolas e o desenvolvimento local sustentável .............................................

123

4.3.3 Percepções pelos Gestores Privados sobre a relação do fornecimento de alimentos produzidos localmente para as escolas e o desenvolvimento local sustentável .............................................

134

4.3.4 Percepções pelos técnicos e pesquisadores em agricultura sobre a relação do fornecimento de alimentos produzidos localmente para as escolas e o desenvolvimento local sustentável ...........................................................................................................

144

5 PRÁTICAS E PERCEPÇÕES DO PNAE.......................................... 148 6 PROPOSTA DA CRIAÇÃO DE UM APL SUSTENTÁVEL DA

AGRICULTURA FAMILIAR EM GLÓRIA DO GOITÁ – PE.............. 156

7 CONCLUSÃO …….…………………………………………………….. 162 REFERÊNCIAS …………………………………………………………. 165 APÊNDICE…..…………………………………………………………… 172 APÊNDICE 1 – ENTREVISTA APLICADA AOS GESTORES,

TÉCNICOS E PESQUISADORES EM AGRICULTURA................... 172

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1 INTRODUÇÃO

O estudo analisa como o Programa Nacional de Alimentação Escolar -

PNAE pode, de forma institucionalizada, fomentar e proporcionar mais eficiência aos

processos produtivos ligados à produção agroecológica dos alimentos,

especificamente sobre o sistema de produção orgânica. Descreve como é

comercializada a produção agropecuária dos agricultores familiares associados à

APRUP, quanto é absorvido pelo mercado institucionalizado formado pelas escolas

do município locus da pesquisa. Avalia a operacionalização do PNAE focando na

forma de aquisição destes alimentos, analisando o processo de gestão da

alimentação escolar na rede municipal de ensino, observando as repercussões do

PNAE na agricultura familiar, com ênfase nos produtores de alimentos orgânicos.

Com o mercado local criado pelas compras institucionalizadas da

alimentação escolar, através do Programa Nacional da Alimentação escolar – PNAE,

viabiliza-se um canal de escoamento para a produção proveniente da agricultura

orgânica familiar. Neste contexto, os agricultores precisão se organizarem para

participarem da oferta de alimentos produzidos, atendendo as exigências da Política

Nacional da Segurança Alimentar e Nutricional, e por consequência, albergarem um

mercado promissor e rentável. Visando agregar os valores necessários ao

desenvolvimento local sustentável, analisar como o PNAE contribui para surgimento

de um arranjo produtivo local, que promova o desenvolvimento sustentável no

Município de Glória do Goitá, constitui-se como o objetivo geral desta pesquisa.

Os objetivos específicos desta pesquisa são: avaliar a operacionalização

do PNAE no Município de Glória do Goitá e se existe uma fomentação para o

surgimento de um APL; analisar o processo de gestão da alimentação escolar no

Município e Analisar as repercussões do PNAE na agricultura familiar, como

promotor do desenvolvimento local sustentável.

Como problematização da pesquisa, questionam-se quais as inovações

surgidas com a implantação do PNAE, bem como se tais processos, através do

PNAE, contribuem para a formação de um APL que promova o desenvolvimento

local com perspectiva sustentável.

O presente estudo traz à baila as variadas opiniões a respeito do PNAE,

nas suas múltiplas faces interligadas com o desiderato de promover o

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desenvolvimento local sustentável; pretende analisar, avaliar e identificar como se dá

o processo de aquisição e fornecimento da produção orgânica proveniente da

agricultura familiar local, tendo como referência a legislação alimentar pátria que

alberga as políticas públicas visionárias de uma sustentabilidade tão almejada.

Neste sentido, Lago et al (2006) lembram que a agricultura familiar, levando-se em

conta o aspecto econômico, é considerada a mais adequada para a prática desses

princípios que preenchem a lacuna de tecnologias adaptadas às reais necessidades

dos agricultores familiares. Por está amplamente vinculada ao espaço local,

possibilita a integração dos interesses dos componentes desta cadeia produtiva para

a viabilidade do desenvolvimento sustentável a partir da ação local.

O PNAE cria um mercado através das compras institucionais que vem

garantir o crescimento de uma agricultura sustentável, minimizando os impactos

ambientais. Infelizmente, a sustentabilidade encontra-se incipiente, quando se refere

às práticas, que acontecem de forma desarticulada. A noção de sustentabilidade

agrícola tem sido, assim, de uso limitado para formuladores de políticas e

pesquisadores, na tentativa de determinar os efeitos das várias políticas e

tecnologias (ALTIERI, 2008).

Para a efetivação de práticas sustentáveis, decorrentes das diretrizes

contidas no PNAE no locus da pesquisa, é importante que se observe a questão

ambiental na aquisição da produção agrícola familiar. Neste sentido, é importante

conhecer e identificar o alinhamento entre a forma como os gestores e os técnicos,

relacionados ao tema estudado, compreendem tanto as questões ligadas à

segurança e nutrição alimentar dos estudantes, como também os processos

relacionados à preservação da saúde do meio ambiente, quando da produção

destes alimentos.

Portanto, o PNAE, enquanto instrumento transformador e indutor do

desenvolvimento local sustentável, pode contribui para estimular novas práticas

pedagógicas, no ato de se alimentar. Em paralelo, incentiva à adoção de um novo

modelo de produção da agricultura familiar local, onde vários aspectos estão

envolvidos dentro desta política pública.

Numa visão agronômica, para Trivellato e Freitas (2003), os sistemas

orgânicos de agricultura buscam obter solos e lavouras saudáveis, através de

práticas de reciclagem dos nutrientes e da matéria orgânica, na forma de composto

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ou restituição dos resíduos de cultura ao solo; rotação de culturas; e práticas

apropriadas de preparo do solo.

Dentro deste raciocínio, no locus da pesquisa, existem instituições como a

APORG, a APRUP, o SERTA e o ICE Brasil, dedicadas às práticas ora estudadas,

dentre outros, tanto na seara pública como no setor privado que, impulsionados pelo

PNAE, propiciarão o surgimento de um arranjo produtivo local, que venha a viabilizar

a agricultura orgânica e familiar, promovendo o desenvolvimento local sustentável.

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2. METODOLOGIA

O presente estudo foi realizado seguindo as diretrizes da pesquisa

científica aplicada, utilizando o enfoque indutivo na análise de dados e dando

importância aos significados atribuídos pelas pessoas às coisas e à vida. O tipo de

pesquisa qualitativa adotado tem o ambiente natural como à fonte direta de dados e

o pesquisador como instrumento fundamental e como pesquisa descritiva não é

necessária à utilização de ferramentas estatísticas de análise de dados (ALMEIDA,

2011; GODOY, 1995).

Para Lakatos e Marconi (2010), a parte de uma aproximação dos

fenômenos caminha no sentido dos planos cada vez mais abrangentes, iniciando

das constatações mais particulares às leis e teorias numa conexão ascendente.

Com o desiderato de analisar como o PNAE pode apresentar

contribuições para o APL sustentável da agricultura familiar no Município de Glória

do Goitá – PE, é que se realizou o presente estudo, que tem como foco principal as

práticas e percepções sobre as questões referentes ao tema sob análise, no

território do locus da pesquisa.

Utilizou-se da pesquisa participante, que promoveu uma maior interação

entre pesquisador e os sujeitos da pesquisa, buscando a promoção de uma maior

reflexão, sobre os conhecimentos referentes à temática abordada. Foram levadas

em consideração as práticas e percepções quanto ao PNAE, fazendo diagnósticos e

propondo sugestões, visando apresentar contribuições para o surgimento de um

arranjo produtivo local sustentável da agricultura familiar, no Município de Glória do

Goitá – PE.

2.1 CARACTERIZAÇÃO DO LOCUS DA PESQUISA

O locus da pesquisa foi o Município de Glória do Goitá, no interior do

Estado de Pernambuco, pois há uma reunião de fatores que se coadunam para uma

análise da eficácia da política pública voltada para segurança nutricional e alimentar,

prevista no PNAE, quando do fornecimento de alimentos saudáveis na rede pública

de ensino municipal, para atender às diretrizes previstas na lei federal nº

11.947/2009 (BRASIL, 2013d), disciplinada pela Resolução/CD/FNDE nº 38, de

16/2009 (BRASIL, 2013g). Neste Município existem práticas agroecológicas por

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parte de agricultores organizados em associação, no caso, a Associação de

Produtores Rurais de Palmeira – APRUP, com vinte e quatro agricultores orgânicos

cadastrados no Ministério da Agricultura (19/07/2010). Há ainda a Associação dos

Profissionais Orgânicos – APORG, a ONG Serviço de Tecnologia Alternativa –

SERTA que trabalham com agricultura orgânica. No município existem, ainda, as

instituições públicas que prestam a extensão rural e assistência técnica, v.g. o

escritório local do Instituto Agronômico de Pernambuco - IPA.

De acordo com Ramos (2011) o PNAE atende hoje cerca de 47 milhões

de alunos das redes públicas e filantrópicas de ensino no Brasil, da educação infantil

até a educação de jovens e adultos, o que corresponde a cerca de 25% da

população brasileira.

Segundo dados coletados na Secretaria de Educação do Município de

Glória do Goitá, a rede municipal de ensino é composta por trinta escolas rurais e

oito escolas urbanas, além de uma creche. Deste universo foram pesquisadas nove

escolas distribuidas na zona rural e urbana, que possuem 2.096 alunos

matriculados. No ano de 2013, foram matriculados 4.467 alunos no ensino

fundamental e na creche na rede de ensino municipal.

O Município de Glória do Goitá, localiza-se no Estado de Pernambuco, na

Região do Nordeste do Brasil, conforme o mapa constante da Figura 01.

Figura 01: Mapas de Localização do território do Município de Glória do Goitá, Estado de Pernambuco, Brasil

Fonte:18rodasdeferro.blogspot.com.br

Glória do Goitá – PE limita-se ao Norte com os Municípios de Feira Nova,

Lagoa de Itaenga e Paudalho, ao Sul com Vitória de Santo Antão, ao Leste com Chã

de Alegria e ao Oeste com Passira, conforme o mapa da figura 2 a seguir.

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Figura 02: Mapa de localização e limites geopolíticos do município de Gloria do Goitá Pernambuco, Brasil.

Fonte:weather-forecast.com

Glória do Goitá possui o distrito de Apoti e faz parte da mesorregião da

Zona da Mata do Estado de Pernambuco e da Microrregião de Vitória de Santo

Antão, distante 65 Km² da cidade do Recife, capital pernambucana (IBGE, 2010).

O referido município encontra-se inserido nos domínios da Bacia

Hidrográfica do Rio Capibaribe. Seu principal tributário é o Rio Goitá e os riachos:

Macambira, Monjolo, Tanque, Braga, Jamaforno, Massaranduba, Grota Funda,

Camurim, Salinas, Antinho, Mocó, Tapera, Macacos, Guilherme, Água Peba, Urubas,

Canavieira, Ribeirão da Onça e Limãozinho. O principal corpo de acumulação é o

açude Goitá, com 52.000.000m3. Todos os cursos d’água no município têm regime

de escoamento intermitente e o padrão de drenagem é o dendrítico. (MARGOLIS,

GALINDO e MELLO NETTO, 1991).

Segundo ibiden (1991), Glória do Goitá está localizada entre as

coordenadas geográficas de latitude Sul 8°01’00”, e 35º18'00" de longitude Oeste;

representa a microrregião homogênea 107 do Estado de Pernambuco, com clima,

segundo a classificação de Koeppen, do tipo As', chuvoso com verão seco e

precipitação anual com média de 1.200 mm, concentrados principalmente entre os

meses de abril a julho. O relevo predominante varia de ondulado a montanhoso.

Glória do Goitá possui uma área de 231,83 Km², apresentando uma

densidade demográfica de 125,17 hab./Km², com 53,19% de taxa de urbanização. A

taxa geométrica de crescimento populacional 2000-2010 foi de 0,5 % aa, enquanto o

Estado de Pernambuco apresentou uma taxa de 1,06 % aa. O Quadro 01 a seguir

mostra as informações a cerca da área e de indicadores demográficos do município.

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TABELA 1 - Indicadores demográficos em Glória do Goitá - PE

Área e Indicadores Demográficos Ano Município Estado

Área (km²) 2010 231, 831 98.146,315

Densidade demográfica (hab./km²) 2010 125,17 89,63

Taxa de urbanização (%) 2010 53,19 80,17

Taxa geométrica de crescimento populacional 2000-2010 (% aa)

2010 0,52 1,06

Fonte: O autor, baseado em BDE. Arquivos Perfil Municipal.

O Município de Glória do Goitá, que atualmente encontra-se num

processo de industrialização, tem como principais atividades econômicas a

agricultura e o comércio. Quanto à produção agropecuária, esta é bastante

diversificada. A avicultura de corte e postura, além das pequenas lavouras, a

fruticultura e a olericultura são algumas atividades do agronegócio local. A produção

de farinha de mandioca é outra fonte de renda para os agricultores do município.

De acordo com dados da Associação dos Profissionais Orgânicos –

APORG, o município encontra-se incluído no Polo Orgânico do Estado de

Pernambuco.

Figura 03: Fotografia de uma área de agricultura orgânica. Sítio Palmeira, Glória do Goitá – PE

Fonte: o autor, 2014

A agricultura orgânica1 (figura 3), vem se destacando como uma das

atividades promissora, sendo a sua produção escoada para a Ceasa no Recife, além

de para as feiras de alimentos orgânicos da região metropolitana.

1 Por “agricultura orgânica” de acordo com o conceito legal, refere-se ao sistema de produção agropecuária em

que se adotam técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos

disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade

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Este sistema de produção agroecológico tem gerado uma renda extra

para a agriclutura familiar, devido ao valor agregado por este sistema de produção,

contribuindo para melhorar a economia local das comunidades rurais, participantes

deste processo. De acordo com o presidente da Associação dos Produtores Rurais

de Palmeira (APRUP), os agricultores familiares estão migrando aos poucos para

este sistema de produção agroecológico, em razão tanto do aumento na sua

demanda, como pela melhoria na qualidade de vida, das comunidades produtoras e

consumidoras destes produtos, propiciando uma nova forma de desenvolvimento

rural, em que a sustentabilidade está presente.

Glória do Goitá possui uma área de 3.915 ha, destinada à produção

agrícola das lavouras de cana-de-açucar, feijão e milho, conforme Tabela 2.

TABELA 2: Produção agrícola das lavouras permanentes e temporárias. Período de referência: 2012

Município/Produtos agrícola

Área colhida (ha)

Quantidade produzida (t)

Rendimento médio Kg/ha

Valor da produção

R$ 1.000,00 Glória do Goitá 3.915 - - 8.439

Cana-de-açucar 2.000 75.000 37.500 4.941

Feijão 715 143 200 358

Milho 500 2.500 5.000 3.000

Fonte: IBGE, Produção Agrícola Municipal.

De acordo com o IBGE, no Censo Agropecuário (BRASIL, 2006) Glória do

Goitá possuía um total de 2.450 estabelecimentos enquadrados como da agricultura

familiar, conforme a Lei nº 11.326/06, com uma área de 7.573 ha; e 253

estabelecimentos rurais, que compreendem uma área de 8.144 ha, não

considerados como da agricultura familiar.

2.2 CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS DA PESQUISA

Na realização da pesquisa, foram considerados como sujeitos os atores

sociais, compostos por gestores, técnicos e representantes dos órgãos e instituições

envolvidas no contexto da produção e consumo de produtos agrícolas, produzidos

pelo sistema orgânico, provenientes da agricultura familiar, no Município de Gloria do

econômica e ecológica, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energia não-

renovável, empregando, sempre que possível, métodos culturais, biológicos e mecânicos e a proteção do meio

ambiente. Estes conceitos serão abordados durante o decorrer desse estudo.

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Goitá – PE, potenciais participantes de um APL sustentável, que são: a Associação

dos Produtores Rurais de Palmeiras – APRUP; a Associação de Profissionais da

Agricultura Orgânica – APORG; o Serviço de Tecnologia Alternativa – SERTA;

Instituto Cooperação Econômica Internacional - ICEI Brasil; o SEBRAE – PE; bem

como as três esferas administrativas de governo, representadas pelo Governo

Federal do Brasil, através da Delegacia do Ministério da Agricultura no Estado de

Pernambuco e do Banco do Nordeste do Brasil – BNB, pelo Governo do Estado de

Pernambuco através da Secretaria Executiva da Agricultura Familiar, do Instituto

Agronômico de Pernambuco – IPA e da Agência de Defesa e Fiscalização

Agropecuária de Pernambuco – ADAGRO. A esfera municipal foi representada pelos

gestores das Secretarias de Educação e de Desenvolvimento Econômico nas

gestões atuais e passadas, bem como dos diretores das escolas da rede municipal

de ensino.

A amostra analisada foi não-probabilística e intencional, pois foram

escolhidos casos que constituem a amostra, pelo julgamento do pesquisador. Diante

deste contexto, é útil a descrição das características dos atores que compõem os

grupos de sujeitos da pesquisa:

a) Gestores Públicos - GP: Entre os gestores públicos foram selecionados um

representante da Delegacia do Ministério da Agricultura no Estado de Pernambuco

(Presidente da Comissão Estadual da Agricultura Orgânica no Estado de

Pernambuco); um representante da Secretaria Executiva da Agricultura Familiar do

Estado de Pernambuco; dois gestores das Secretarias da Educação e dois gestores

da Secretaria do Desenvolvimento Econômico Municipal de Glória do Goitá (da

gestão atual e da gestão anterior); Diretor de Pedagogia do Município de Glória do

Goitá e a Nutricionista da Secretaria da Educação do Município de Glória do Goitá.

b) Gestores das Escolas Púbicas do Município - GEPM: Foram escolhidos nove

Dirigentes das escolas municipais, distribuídos aleatoriamente na zona urbana e

rural, por serem estes responsáveis por desenvolver as políticas de segurança

alimentar e nutricional, visando dar eficácia ao PNAE e determinar como é feita a

abordagem da Educação Alimentar nas instituições que representam. Mesmo o

programa alimentar sendo nacional a sua prática é concebida pelos diretores e

coordenadores das unidades de ensino. Dessa forma, analisou-se a representação

desses atores, sobre os fatores que interferem na alimentação escolar, refletindo

sobre como são desenvolvidas as políticas de segurança alimentar dentro da escola.

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c) Gestores Privados - GPR: Este grupo está composto pelos gestores das

instituições privadas e do terceiro setor que participam do processo de produção de

alimentos destinados, ou que deveriam ser destinados ao fornecimento para o

PNAE, no município estudado, composto pelo SERTA, ICEI Brasil, SEBRAE – PE,

APRUP e a APORG, por participarem direta ou indiretamente do processo de

produção e fornecimento de alimentos para a rede de ensino municipal, visando

atender aos critérios do desenvolvimento sustentável.

d) Técnicos e Pesquisadores em Agricultura - TPA: Neste grupo, os três atores

são os responsáveis pela pesquisa agronômica, assistência técnica, fiscalização da

produção e financiamentos para a agricultura orgânica e familiar, ou seja, estão

diretamente ou indiretamente envolvidos nos processos produtivos da agricultura,

representando as instituições públicas, nas esferas estadual e federal, compostas

pelo IPA, a ADAGRO e o BNB.

2.3 INTRUMENTOS DE COLETA

A coleta de dados para a pesquisa ocorreu de forma indireta, através de

pesquisa documental e bibliográfica, e de forma direta, com pesquisa de campo,

através da observação passiva e entrevista aos sujeitos da pesquisa.

A entrevista dirigida aos sujeitos, constante do apêndice, como forma de

observação direta intensiva, foi realizada a partir de um roteiro com tópicos acerca

da participação das escolas na aquisição de alimentos nos moldes previstos pelo

PNAE e observância aos processos participativos dos potenciais integrantes do APL

e suas contribuições para o desenvolvimento local sustentável. Foi contemplado o

conhecimento sobre o tipo de alimentação que é fornecida nas escolas, abordando

suas origens, qualidade e conservação, valores nutricionais; Conhecimento sobre o

PNAE e sobre o status de adesão ao Programa, além da percepção a respeito das

melhorias trazidas com a agricultura orgânica e sua inserção na alimentação escolar

em relação ao desenvolvimento local sustentável.

2.3.1 Documentação Indireta

A pesquisa utilizou-se de duas formas de documentação, quando do

levantamento de dados. Na primeira fase, com a pesquisa documental, buscando

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nos registros existentes nos órgãos públicos, municipal, estadual e federal, além das

legislações existentes sobre as políticas públicas envolvidas no processo analisado,

planos e programas de governo, entre outros, onde se situa a agricultura orgânica, a

agricultura familiar, a assistência técnica e extensão rural e o fornecimento da

produção agrícola local para a alimentação escolar, via PNAE, no município.

Foi também realizada a pesquisa bibliográfica, visando o aprofundamento

sobre as teorias já existentes quanto à agricultura orgânica familiar; o sistema

orgânico da produção de alimentos; a alimentação escolar, o arranjo produtivo local

e o desenvolvimento local sustentável, com o desiderato de construir um marco

teórico, visando à fundamentação do método, bem como a discussão de resultados

logrados nesta pesquisa.

2.3.2 Documentação Direta

Este trabalho utilizou-se da documentação direta, feita através de

pesquisa de campo, de caráter exploratório-descritivo, com descrição completa dos

fenômenos estudados (LAKATOS e MARCONI, 2001), sendo este o fim almejado na

seara desta pesquisa, por este ser concebido a partir da análise de temas já

conhecidos, porém numa nova perspectiva da realidade.

Foram aplicadas entrevistas, buscando-se extrair informações

necessárias, para atender ao objetivo de pesquisa junto aos atores sociais ligados a

temática estudada, compostos por Gestores Públicos das três esferas

administrativas, Gestores das Escolas Municipais, Gestores Privados ligados ao

processo de produção de alimentos orgânicos e aos técnicos e pesquisadores em

agricultura, de acordo com um roteiro pré-definido. As entrevistas buscaram a

percepção dos sujeitos da pesquisa, quanto ao conhecimento sobre o tipo de

alimentação que é fornecida nas escolas, relacionadas ao PNAE e ao fornecimento

destes alimentos por parte dos agricultores locais e a sua repercussão para um

provável desenvolvimento local sustentável.

O tipo de entrevista aplicado foi a semi-estruturada, onde o entrevistador

orientou, quando necessário, os entrevistados, para que os mesmos abordassem os

temas norteadores da pesquisa, visando colher ao máximo, as informações da

realidade vivenciada pelos respondentes inseridos no contexto do assunto explorado

na pesquisa.

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26

2.4 ANÁLISE DE DADOS

A análise dos dados, associada à pesquisa teórica pertinente, permitiu

identificar elementos para consolidação de um APL envolvendo escolas,

associações de produtores e instituições relacionadas, tendo como garantia a

reserva de mercado criada pelo PNAE, que visa a um desenvolvimento local

sustentável com envolvimento direto das escolas, visando à qualidade de vida dos

estudantes e daqueles que vivem no campo e se enquadram na categoria de

agricultores familiares.

As informações e as análises da pesquisa produziram uma resposta

adequada, acerca da aplicação da política pública de inserção de alimentos

orgânicos, na rede municipal de ensino de Glória do Goitá – PE, com o fim de

analisar se esta contribui para a construção de um modelo de arranjo produtivo local,

envolvendo o terceiro setor, os agricultores e as escolas, numa perspectiva de

desenvolvimento sustentável.

Foram feitas as transcrições das entrevistas, com sistematização das

ideias apresentadas que permitiram identificar a relação existente entre as práticas

da agricultura orgânica familiar desenvolvida no município e como estas práticas são

percebidas pelos atores da pesquisa, revelando como estas estão sendo absorvidas

pelo PNAE.

As informações obtidas passaram por um tratamento de dados, quando

foram interpretados a partir de categorias de análise eleitas, a partir das abordagens

levantadas no roteiro das entrevistas verificando o atendimento aos critérios

predefinidos e listados em escala de prioridade para averiguação ao cumprimento de

diretrizes obrigatórias, na concepção de um arranjo produtivo local, com base em

conhecimentos teórico-empíricos, obtidos a partir de pesquisa documental e

bibliográfica.

A análise de conteúdo (BARDIN, 1977) foi o instrumento aplicado nesta

pesquisa qualitativa. O pesquisador munido dos dados e fazendo uma pré-análise,

em seguida, passou para a exploração do material coletado e ao final, foram

tratados os resultados obtidos nas entrevistas, para posterior interpretação.

Para cada tema abordado nas entrevistas, foram criadas categorias de

análise, baseadas na interpretação das percepções sobre o conhecimento quanto ao

tipo de alimentação que é fornecida nas escolas, sua origem, qualidade e

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conservação; percepções sobre a operacionalização do PNAE pelo Município; se

aquisição de alimentos produzidos localmente pela escola contribui para o

desenvolvimento local sustentável de acordo com os opinativos externados pelos

atores sociais, quando da entrevista.

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3. MARCOS CONCEITUAIS

São aqui descritos os objetos teóricos Agricultura Familiar; a Agricultura

Orgânica; Alimentação e nutrição escolar; Arranjo Produtivo Local e

Desenvolvimento Sustentável.

3.1 AGRICULTURA ORGÂNICA FAMILIAR

A princípio, os seres humanos que viviam no continente africano, há

aproximadamente 50 mil anos, possuíam hábitos nômades. Houve uma mudança de

hábitos culturais na humanidade, e 12 mil anos atrás, o homem deixou de ser

nômade e passou a ser sedentário, fixando-se no Oriente Próximo. Devido à farta

oferta de alimentos encontrada no Crescente Fértil, o homem, com hábitos

predadores, passou a praticar a agricultura, surgindo, por consequência, as

primeiras aglomerações humanas, as aldeias. (STANDAGE, 2005)

A agricultura espalhou-se por todo o Crescente Fértil entre 7000 a.C. e 5000 a.C., à medida que um número crescente de plantas e animais (começando com carneiros e bodes) era domesticado e novas técnicas de irrigação tornavam a agricultura possível nas terras baixas quentes e secas da Mesopotâmia e do vale do Nilo, no Egito. (STANDAGE, 2005, p. 25).

A agricultura expandiu-se para outros continentes influenciando nas mais

variadas ciências, sendo em certos momentos da história, fornecedora de produtos

que eram utilizados como escambo. Bem mais tarde,

A revolução verde implementada na década de 50, estava fundamentada na produção de larga escala com alta tecnologia, demonstrando como resultado, excelente produtividade. Nos anos 90, é preconizada a nova revolução verde: revolução genética, unindo a biotecnologia e a engenharia genética, promovendo assim significativas transformações na agricultura mundial. (CAVALLI, 2001, p. 02).

De acordo com Cavalli (2001) a biotecnologia e a engenharia genética

geram um aumento da produtividade, provavelmente com produção de novos

organismos vegetais e animais. Porém, em paralelo, surgem questionamentos

quanto às novas tecnologias e quais as consequências ambientais, econômicas e

sociais desse modelo de produção. A população encontra-se em pleno crescimento,

necessitando de suprimento alimentar com equidade para os povos, o que traz à

baila uma preocupação com o aumento na produtividade agrícola (BRASIL, 2013a).

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A primeira e a segunda revolução verde trazem consigo a metáfora do confronto da fome, de como solucionar o problema alimentar no mundo. Neste novo contexto, renasce a crença de que é preciso viabilizar a segunda revolução verde, para solucionar a fome que se configura no momento e a futura. Esse enfoque é largamente utilizado em defesa e justificativa da biotecnologia e da engenharia genética (Fontes, 1998; Pinazza & Alimandro, 1998 apud CAVALLI, 2001, p. 02).

No ano 2025, 83% da população mundial, prevista em 8,5 bilhões de

habitantes, estarão vivendo nos países em desenvolvimento. Não obstante, a

capacidade de que os recursos e tecnologias disponíveis satisfaçam às exigências

de alimentos e outros produtos agrícolas dessa população em crescimento

permanecem incertos. (BRASIL, 2013a)

O crescimento populacional mundial impulsionou uma maior demanda por

suprimento alimentar de forma isonômica para todos os povos, servindo como

indutor da revolução verde2, em meados do século passado, voltada para uma

produção em larga escala, com investimento maciço em tecnologia mesmo

inadequada as particularidades climáticas e edáficas de cada região. Surgiu então, a

biotecnologia dos alimentos, mais conhecida como a segunda revolução verde3.

Dentro dessa linha de desenvolvimento agrário, Jara (1998) ressalta que

desde a década 1970 ocorreram rápidas e profundas transformações na

organização socioeconômica e técnica do espaço rural. A modernização da

agricultura foi incentivada pelo Estado Brasileiro, favorecendo os latifúndios e a

constituição de grandes e médias empresas, em direção contrária à reforma agrária,

o que agravou a miséria dos pequenos agricultores, por estarem à margem deste

modelo de desenvolvimento que articulava a produção agropecuária com os

complexos agroindustriais de produção de insumos e de transformação industrial.

Segundo Jara (1998), este paradigma técnico foi a chamada Revolução

Verde implantada no Brasil. Nesse modelo desenvolvimentista globalizado4, a

pesquisa e o desenvolvimento dos sistemas produtivos incorporaram os pacotes

tecnológicos, destinados a maximizar o rendimento dos cultivos. Tinha-se como

objetivo elevar ao máximo a capacidade potencial dos cultivos, criando uma

2 A revolução verde visava uma produção de larga escala, através do emprego de uma avançada tecnologia,

alcançando uma excelente produtividade, para atender a demanda crescente de alimentos, a nível mundial. 3 Nos anos 90, é preconizada a nova revolução verde: revolução genética, unindo a biotecnologia e a engenharia genética, promovendo assim significativas transformações na agricultura mundial. (CAVALLI, 2001, p. 02) 4 Trata-se de um modelo de desenvolvimento econômico que não observa as diretrizes almejadas no desenvolvimento sustentável, como será oportunamente conceituado durante este estudo.

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condição ecológica ideal, aplicando agrotóxicos5 para o controle das pragas e de

outros predadores naturais e, para completar, adubando o solo como o uso de

fertilizantes sintéticos. Toda a institucionalidade esteve focada na modernização

agrícola, utilizando-se da Assistência Técnica e Extensão Rural – ATER, do crédito e

financiamento, comercialização e estrutura de mercados. Todo aparato estatal

estava direcionado para expandir e consolidar a modernização das práticas

agrícolas. Tal processo produz impactos ambientais negativos, a degradação dos

solos agrícolas, contaminação dos recursos hídricos, desmatamento,

empobrecimento da diversidade genética. Todo este contexto foi vivenciado dentro

de uma lógica econômica, que visava a maximização dos rendimentos físicos e

econômicos à curto prazo e a qualquer custo.

Mesmo com a implantação deste modelo produtivo, Azevedo e Pelicioni

(2011) aduzem, que a humanidade ainda não conseguiu resolver os problemas da

desigualdade social e, consequentemente, os relacionados à falta de alimentos.

Existem ainda outros riscos sobre a saúde humana que atingem todas as classes

sociais. São os relacionados à contaminação das águas e do solo, bem como da

modificação da qualidade dos alimentos consumidos, no que se refere à sua

toxicidade, devido à presença de contaminantes químicos utilizados na sua

produção.

Nesta linha, de acordo com ibidem (2011), existem estudos compilados

que sinalizam riscos de agrotóxicos sobre a saúde humana, na forma de alguns

tipos de câncer, infertilidade e má formação congênita. Outras repercussões incluem

sintomas respiratórios, Mal de Parkinson e depressão.

Quanto à problemática, ligada à saúde humana e ambiental, decorrente

dos processos gerados pela “Revolução Verde”, Spadotto e Gomes (2007),

afirmaram que nas culturas agrícolas brasileiras há uma aplicação demasiada de

agrotóxicos: soja, milho, citros, cana-de-açúcar, conforme pode ser observado na

Tabela 3. Com o atual crescimento das áreas com cultura de cana-de-açúcar,

o consumo de agrotóxicos no Brasil foi se modificando rapidamente.

5 Por “agrotóxicos”, refere-se aos controles químicos das pragas incidentes na agricultura, podendo receber ainda, outras designações agronômicas, como defensivo agrícola, pesticida, agroquímico, produtos fitofarmacêutico ou fitossanitários, entre outras designações a serem abordadas durante o decorrer desse estudo.

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TABELA 3 - Consumo de agrotóxicos em algumas culturas agrícola no Brasil, em quantidade de

ingredientes ativos, 1998.

Cultura agrícola Quantidade (ton) Participação (%) Soja 42.015 326 Milho 15.253 11,8 Citros 12.672 9,8 Cana-de-Açúlcar 9.817 6 Café 8.780 6,8 Batata 5.122 4,0 Algodão 4.851 3,8 Arroz Irrigado 4.241 3,3 Feijão 4.199 3,3 Tomate 3.359 2,6 Total 128.712

Fonte: SINDVEG (Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal), 1998.

Spadotto e Gomes (2007) ressaltam que, pela quantidade total elevada

de agrotóxicos usados, algumas culturas agrícolas merecem destaque, não por

esses produtos serem aplicados intensivamente por unidade de área cultivada, mas

por ocuparem extensas áreas no Brasil, como é o caso da soja, do milho e da cana-

de-açúcar. De acordo com esses autores, tais culturas são fontes potenciais de

contaminação, pelo uso de agrotóxicos em grandes áreas. Outras culturas agrícolas,

apesar de ocuparem menores áreas, destacam-se pelo uso intensivo de agrotóxicos

por unidade de área cultivada, como é o caso das culturas de tomate e batata,

conforme a tabela 4.

Tabela 4 - Consumo de agrotóxicos por unidade de área em algumas culturas agrícolas no Brasil, em quantidade de ingredientes ativos, 1998.

Cultura Quantidade (kg / ha) Tomate 52,5 Batata 28,8 Citros 12,4 Algodão 5,9 Café 4,2 Cana-de-Açúlcar 2,0 Soja 3,2 Geral 2,9

Fontes dos dados básicos para os cálculos: SINDIVEG e IBGE.

Ao discorrer sobre o consumo de agrotóxicos pela população brasileira,

Kugler (2012) escreve reportagem intitulada “O paraíso dos agrotóxicos”, onde

chama a atenção para o uso de substâncias já proibidas em vários países, que

ainda estão sendo comercializadas no Brasil. Apesar de sua economia agrária

pujante, o Brasil é o país, que pelo quinto ano consecutivo, é o maior consumidor de

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agrotóxicos do planeta e quem paga pela intoxicação dos trabalhadores e pela

contaminação ambiental é a sociedade.

Como alternativa a este modelo de desenvlovimento econômico, surge

o sistema orgânico de produção de alimentos, o qual, segundo Trivelato e Freitas

(2003), foi proposto pelo engenheiro agrônomo inglês, Albert Howard, como fruto de

um longo período de pesquisas agrícolas na Índia, no início do século XX. Logo no

princípio, percebeu que os agricultores não utilizavam fertilizantes químicos nem

agrotóxicos, na agricultura e na pecuária. Levando em conta o conhecimento dos

camponeses, fez vários experimentos que o levaram a reconhecer que o fator

essencial para a saúde das plantas e dos animais estava na fertilidade do solo.

Todavia, este não é um processo novo, visto que entre 1924 e 1931,

desenvolveu o método Indoor de compostagem, pelo qual os resíduos vegetais e

animais da fazenda eram transformados em húmus, os quais, aplicado ao solo, em

época conveniente, restaurava a fertilidade, por meio de processos biológicos

naturais e estimulados pela manutenção da vida biológica do solo e favorecia a

nutrição equilibrada e a sanidade das culturas (BONILLA,1992 apud TRIVELLATO;

FREITAS, 2003, p.12).

A saúde humana e das demais espécies que compõem a biota, está

diretamente ligada à saúde do solo. A maneira em que o solo é tratado, o manejo

que ele recebe, vai refletir na qualidade de vida de todos, sem exceção. Quando se

utiliza de agrotóxicos no controle das pragas agrícolas, contamina-se toda uma

cadeia alimentar, bem como, os demais recursos naturais, como o ar atmosférico, as

àguas e principalmente o solo, com toda a sua vida microbiana, o que irá refletir na

saúde do consumidor destes alimentos.

Segundo Fonseca (2009) surgiu na Europa o embate entre os

representantes da agricultura convencional e os ativistas da agricultura alternativa, o

qual foi para nos tribunais da Alemanha, momento no qual a denominação

agricultura orgânica surgiu como exclusividade do modelo de agricultura não

industrial, sendo oficializado a níveis internacionais, sendo assim, adotaram algumas

terminologias, para efeito de regulamentação em geral, como a biológica, que está

ligada aos países de língua francesa; a ecológica nos países de língua espanhola e,

por fim, a orgânica aos países de língua inglesa e/ou de origem anglo-saxônica, a

qual foi adotada pelas normas internacionais como referência para a agricultura

orgânica. No Brasil, o termo “orgânico” foi o institucionalizado nos regulamentos

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técnicos, absorvendo os demais: biodinâmico, natural, biológico, agroecológico,

como também, da permacultura.

Nesta linha, Almeida (2003) informa que já existem muitas iniciativas tanto

de grupos e organizações sociais, como no âmbito governamental e não-

governamental (experiências de ONGs, associações de agricultores, sindicatos,

dentre outros), focadas na pesquisa ou na recuperação de alternativas tecnológicas

aos sistemas produtivos “convencionais”, considerados esgotados, pois são

“poluentes”, antieconômicos e incapazes de promover a autonomia dos agricultores

familiares envolvidos.

Com tanta modernização degradativa, asseveram Aligleri, Aligleri e

Kruglianskas (2009) que tem surgido novas oportunidades para o setor dos

agronegócios, propiciado pelas políticas públicas pautadas no desenvolvimento

sustentável6, que auxiliam a mudar a imagem do setor.

3.1.1 SISTEMA ORGÂNICO DE PRODUÇÃO

Os alimentos produzidos pelo sistema de produção de alimentos

convencional têm contribuído para as sequelas provocadas na saúde humana pelo

consumo de alimentos provenientes de uma agricultura, cujo modelo de produção

tem se valido do uso intensivo de recursos externos. Esse modelo de produção está

esgotado, por promover a exclusão social e a degradação ambiental, com elevados

custos sociais e de produção. Visando garantir a oferta de alimentos seguros, de

forma sustentável e a manutenção do pequeno agricultor no campo, os sistemas de

produção alternativos, baseados em princípios agroecológicos têm sido cada vez

mais aceitos.

A agroecologia é uma ciência, surgida na década de 1970, como forma de

estabelecer uma base teórica, para diferentes movimentos de agricultura alternativa,

que então ganhavam força, com os sinais de esgotamento da agricultura moderna.

No entanto, apesar de ser um termo que surgiu vizinho às diferentes correntes da

agricultura alternativa, não deve ser entendida como uma prática agrícola. É uma

ciência que busca o entendimento do funcionamento de agroecossistemas

6 Jara (1998) assinala que: “trata-se da emergência de um novo paradigma para orientação dos processos, de uma

reavaliação dos relacionamentos da economia e da sociedade com a natureza e do estado com a sociedade civil.”

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complexos, bem como das diferentes interações presentes nestes, tendo como

princípio a conservação e a ampliação da biodiversidade dos sistemas agrícolas,

como base para produzir auto-regulação e consequentemente, sustentabilidade.

(ASSIS e ROMEIRO,2002)

Para Caporal, Costabeber e Paulus (2011) a Agroecologia vem se

sedimentando como ciência que serve de alicerce para um novo paradigma de

desenvolvimento rural, devido à mesma se apresenta como uma matriz disciplinar,

integradora, totalizante, holística, capaz de apreender e aplicar conhecimentos

oriundos de várias disciplinas científicas, sendo considerado o principal enfoque

científico contemporâneo, tendo como desiderato a transição dos modelos de

desenvolvimento convencional e de uma agricultura altamente impactante para um

novo paradigma de desenvolvimento rural e de agricultura sustentáveis. A ciência da

Agroecologia reconhece, de forma integradora e empírica, os saberes, os

conhecimentos, bem como, as experiências dos agricultores, dos povos indígenas e

dos demais atores sociais que, de alguma forma, participam dos processos de

desenvolvimento rural, incorporando o potencial endógeno como um elemento

fundamental, de forma incipiente para a transição agroecológica, o que facilita a

aprendizagem levando em conta os fatores socioculturais e agro ecossistêmicos que

constituem as bases estratégicas de qualquer iniciativa de desenvolvimento rural ou

de desenho de agroecossistemas que visem à sustentabilidade.

Neste sentido, Caporal, Costabeber e Paulus (2011) aduzem que a

Agroecologia não se enquadra no paradigma convencional, cartesiano e

reducionista, conhecido como o paradigma da simplificação (disjunção ou redução),

pois, como ensinam os autores, esse não consegue reconhecer a existência do

problema da complexidade. Numa visão holística, observa-se que tanto nas relações

do homem com seus semelhantes, bem como com os outros seres vivos e com o

meio em que vivemos, tem que ser estudadas através de um novo enfoque

paradigmático, valendo-se dos saberes populares, como também, dos

conhecimentos gerados por diversas disciplinas científicas, tratando dos problemas

de forma completa, na sua totalidade.

Segundo Altieri (2008), a agroecologia fornece uma estrutura

metodológica de trabalho, para um entendimento aprofundado tanto da natureza dos

agroecossistemas, como dos princípios que regem a matéria ventilada. Nesta nova

abordagem há uma integração dos princípios agronômicos, ecológicos e

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socioeconômicos à compreensão e avaliação do efeito das tecnologias sobre os

sistemas agrícolas, bem como, na sociedade como um todo. Os agroecossistemas

são utilizados como unidade de estudo, saindo de uma visão unidimensional da

genética, agronomia e edafologia, incluindo dimensões ecológicas, sociais e

culturais. Através da agroecológica os pesquisadores utilizam-se do conhecimento e

das técnicas dos agricultores, passando a desenvolver agroecossistemas com uma

dependência mínima de insumos agroquímicos e energéticos externos.

Para Lago et al (2006), a agricultura familiar é considerada a mais

adequada para a prática desses princípios, que preenchem a lacuna de tecnologias

adaptadas às reais necessidades dos agricultores familiares. Ressaltando que a

agricultura familiar, levando-se em conta o aspecto econômico, está amplamente

vinculada ao espaço local, o que viabiiza a formação de mercados regionais,

possibilitando a integração dos interesses dos componentes desta cadeia produtiva

para a viabilidade do desenvolvimento sustentável a partir da ação local.

O desenvolvimento sustentável pode ser atingido com a adoção do

sistema orgânico de produção de alimentos, por parte da agricultura familiar. Dentro

dessa visão local, Faver (2004) aduz que a agricultura familiar pode proporcionar

resultados econômicos mais lentos, porém mais viáveis no aspecto econômico,

ambiental, bem como, no aspecto social, a longo prazo.

Sendo assim, a escolha das tecnologias visando o aumento da

produtividade na agricultura, deve racionalizar o uso da água e evitar agroquímicos,

passando a aplicar adubos orgânicos e defensivos alternativos, o que se coaduna

com o sistema orgânico de produção.

O desenvolvimento sustentável da agricultura familiar alberga o conceito

exposto por Cunha, Sousa e Machado (2010), segundo o qual, o sistema orgânico

de produção agropecuária, de acordo como está expresso na Lei 10.831, de 2003, é

todo aquele em que se adotam técnicas específicas, mediante a otimização do uso

dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade

cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e

ecológica, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de

energia não-renovável, empregando, sempre que possível, métodos culturais,

biológicos e mecânicos, em contraposição ao uso de materiais sintéticos, a

eliminação do uso de organismos geneticamente modificados e radiações

ionizantes, em qualquer fase do processo de produção, processamento,

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armazenamento, distribuição e comercialização, e a proteção do meio ambiente

(BRASIL, 2013e). De acordo com as autoras, a agricultura orgânica teria surgido no

Brasil, apenas na década de setenta, porém só na década posterior, devido a

conscientização ecológica, ocorreu a expansão do mercado dos alimentos

produzidos pelo sistema orgânico, quando surgiram várias cooperativas e

associações voltadas para este tipo de atividade.

Nesse sentido, Fonseca (2009) afirma, com fulcro na legislação que

alberga a matéria, que a agricultura orgânica compreende os sistemas agrícolas que

promovam não só a produção de alimentos, mas também outras produções como as

de fibras e outros produtos, como os cosméticos, óleos essenciais, etc., sempre de

forma sustentável, ambiental, social e economicamente responsável. Tais sistemas

de produção visam otimizar a qualidade, em todos os aspectos da agricultura, bem

como, do ambiente e da sua interação com a humanidade, respeitando à

capacidade natural das plantas, animais e ecossistemas, dentro de um limite de

tolerância dos seus ecossistemas.

Na visão de Lima e Sousa (2011), os alimentos orgânicos são aqueles in

natura ou processados, provenientes de sistemas de cultivo, cujas técnicas visam

ofertar produtos saudáveis e descontaminados, com práticas que respeitam o meio

ambiente, visando o desenvolvimento sustentável. Nessa linha, Santos e Monteiro

(2004) afirmam que a agricultura orgânica tem como princípios e práticas a

valorização dos ciclos biológicos, que estão presentes, nos ecossistemas naturais,

imitando-os nas práticas agrícolas com o objetivo de garantir a fertilidade do solo,

bem como a sua conservação.

A agricultura orgânica tem como princípios e práticas, a valorização dos

ciclos biológicos, que estão presentes nos ecossistemas naturais, imitando-os nas

práticas agrícolas, com o objetivo de garantir a fertilidade do solo, bem como a sua

conservação. Visando a produção de alimentos de boa qualidade e quantidade,

outros princípios presentes neste sistema de produção agroecológica é a

preservação da diversidade genética, levando-se sempre em conta os aspectos

ambientais e sociais. Os produtores e consumidores adeptos deste sistema de

produção de alimentos observaram que os mesmo são mais saudáveis, por não

usarem insumos químicos, que acarretam impactos e danos para a saúde dos

consumidores e do meio ambiente.

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Por ser ecologicamente correto, socialmente justo e economicamente

viável, o sistema orgânico de produção de alimentos vem crescendo de forma

acentuada, tanto em áreas cultivadas, como em termos de mercado consumidor,

sem contar com o mercado institucionalizado que existe, através dos programas

previstos nas políticas de incentivo a agroecologia, a agricultura familiar, de

assistência e extensão rural e do PNAE.

Para Santos e Monteiro (2004), o crescimento da agricultura orgânica se

deve, principalmente, à utilização em larga escala de produtos químicos pela

agricultura convencional, assim como à conscientização quanto aos efeitos danosos

provocados pelos agrotóxicos, à saúde dos consumidores. Apesar disso, o mercado

de produtos orgânicos apresenta algumas dificuldades, como a baixa produtividade,

o atendimento às exigências legais, para que estejam adequados aos critérios

colocados, para que receba o reconhecimento como alimentos produzidos pelo

sistema orgânico de produção, a necessidade do pagamento da certificação, quando

empregado o método de auditoria, de fiscalização e assistência técnica que

aumentam os custos.

Mesmo diante de tais dificuldades, alguns estudos comparativos entre os

sistemas orgânico e convencional, mostraram que o sistema orgânico pode ser

vantajoso e competitivo tanto do ponto de vista econômico quanto ambiental

(SANTOS E MONTEIRO, 2004). Tais vantagens podem ser percebidas no texto da

Lei dos Alimentos Orgânicos, Lei nº 10.831/2003, no seu art.1º, § 1º, a finalidade de

um sistema de produção orgânico é:

I – a oferta de produtos saudáveis isentos de contaminantes intencionais; II – a preservação da diversidade biológica dos ecossistemas naturais e a recomposição ou incremento da diversidade biológica dos ecossistemas modificados em que se insere o sistema de produção; III – incrementar a atividade biológica do solo; IV – promover um uso saudável do solo, da água e do ar, e reduzir ao mínimo todas as formas de contaminação desses elementos que possam resultar das práticas agrícolas; V – manter ou incrementar a fertilidade do solo a longo prazo; VI – a reciclagem de resíduos de origem orgânica, reduzindo ao mínimo o emprego de recursos não-renováveis; VII – basear-se em recursos renováveis e em sistemas agrícolas organizados localmente; VIII – incentivar a integração entre os diferentes segmentos da cadeia produtiva e de consumo de produtos orgânicos e a regionalização da produção e comércio desses produtos; IX – manipular os produtos agrícolas com base no uso de métodos de elaboração cuidadosos, com o propósito de manter a integridade orgânica e as qualidades vitais do produto em todas as etapas. (BRASIL, 2013e)

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Da análise do art.1º, § 1º da Lei dos Alimentos Orgânicos, Lei nº

10.831/2003, ressalta-se a previsão contida no inciso VI, que reza o seguinte: “a

reciclagem de resíduos de origem orgânica, reduzindo ao mínimo o emprego de

recursos não-renováveis.” Observa-se que há uma preocupação com a questão da

produção dos resíduos sólidos pela atividade agrícola, estimulando-se, inclusive, a

reciclagem dos resíduos de origem orgânica e pregando a minimização do uso de

recursos não renováveis.

A Lei dos Alimentos Orgânicos (Lei nº 10.831/2003) encontra-se em

sintonia com a previsão contida na Lei nº 7.802/89, alterada pela Lei 9.974/00,

complementada posteriormente pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº

12.305, de agosto de 2010) quanto aos aspectos da reciclagem de resíduos de

origem orgânica, minimização do emprego de recursos não renováveis, que por

consequência reduz a produção de resíduos sólidos, por também se basear em

recursos renováveis e em sistemas agrícolas organizados localmente.

Com o advento da responsabilidade compartilhada, pelo ciclo de vida dos

produtos, segundo Araújo e Juras (2011), o Brasil acompanhou a legislação Alemã,

que se aplica em toda a União Europeia, de forma visionária, a abordagem da

temática da gestão dos resíduos sólidos é ultramoderna, indo além da implantação

de um eficiente sistema de coleta, tratamento e disposição do lixo produzido,

incentivando a redução da geração e da periculosidade, bem como, o seu

reaproveitamento, efetivando-se o princípio constitucional do poluidor-pagador, ou,

como também é conhecido, “princípio da responsabilização pelo dano ambiental”,

aplicando-se tanto na atividade produtiva, mas também pelo consumidor.

Araújo e Juras (2011) observam que já havia previsão da

responsabilidade pós-consumo para os agrotóxicos, seus resíduos e embalagens

previstas na Lei nº 7.802/89, alterada pela Lei 9.974/00.

Na questão dos resíduos gerados pelo uso de agrotóxicos, de ser levada

em conta como ela é percebida pela sociedade, pois de acordo com Siqueira (2008),

existe uma inconsistência da percepção da sociedade, sobre os riscos ambientais,

levando-se ao questionamento se tais inconsistências devem ser consideradas

quando da formulação das políticas ambientais. Pois tais opiniões sobre as

consequências dos problemas ambientais têm uma maior prioridade nas diretrizes

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das políticas públicas do que as probabilidades de ocorrência de um problema

ambiental.

Como se denota, a percepção quanto aos problemas ambientais devem

ser levados em conta, quando se refere às políticas públicas focadas na

sustentabilidade da agricultura. Para assegurar o sustento de uma população em

expansão é preciso dar prioridade à manutenção e aperfeiçoamento da capacidade

das terras agrícolas de maior potencial. No entanto a conservação e a reabilitação

dos recursos naturais das terras com menor potencial, com o objetivo de manter

uma razão homem/terra sustentável, também são necessárias. Os principais

instrumentos do desenvolvimento rural e agrícola sustentável são a reforma da

política agrícola, a reforma agrária, a participação, a diversificação dos rendimentos,

a conservação da terra e um melhor manejo dos insumos. O êxito do

desenvolvimento rural e agrícola sustentável dependerá em ampla medida do apoio

e da participação das populações rurais, dos Governos nacionais, do setor privado e

da cooperação internacional, inclusive da cooperação técnica e científica. (BRASIL,

2013a)

Ao tratar da temática referente à segurança alimentar e agricultura

sustentável, na Rio + 20, foi Produzido pelo Departamento de Informação Pública

das Nações Unidas, junho de 2012, um texto no qual se defende que: “se feito da

forma correta, a agricultura, o aproveitamento das florestas e a pesca podem

oferecer alimentos nutritivos para todos e gerar salários decentes para trabalhadores

nestes setores, ao mesmo tempo em que provê suporte necessário para o

desenvolvimento rural voltado para o ser humano e também para a proteção do

meio ambiente.

Quase toda definição de agricultura sustentável encontra-se ancorada na

manutenção da produtividade e lucratividade das unidades de produção agrícola,

minimizando, ao mesmo tempo, impactos ambientais. Entretanto, nenhuma dessas

definições foi quantitativa, e a produtividade da base de recursos naturais,

fundamental à sustentabilidade, ainda não foi contabilizada em seus diferentes

fatores nas definições de produtividade agrícola. A noção de sustentabilidade

agrícola tem sido, assim, de uso limitado para formuladores de políticas e

pesquisadores, na tentativa de determinar os efeitos das várias políticas e

tecnologias (ALTIERI, 2004).

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Com a sua evolução, tanto quanto a ampliação de mercado, como em

razão da sua importância social, ambiental e alimentar, a agricultura orgânica

passou a ser tratada através da Lei nº 10.831, de 23 de dezembro de 2003 que

normatizou a referida prática dessa agricultura em nosso país, suas técnicas de

cultivo agropecuário vem crescendo não só no Brasil, mas em várias partes do

nosso planeta. O Decreto nº 6.323, de 28 de dezembro de 2007, regulamentou a

matéria hora ventilada, esclarecendo os seus conceitos e as suas diretrizes.

Como se observa, ab initio, o legislador ao conceituar o sistema orgânico

de produção agropecuária prever a aplicação de técnicas específicas, sem, no

entanto, enumerá-las, sabe-se que estas são as mais naturais possíveis, inclusive

imitando os processos ecológicos presentes na natureza, os ciclos biológicos

observados nas demais técnicas, tidas como sistema orgânico de produção, entre

eles os ecológico, biodinâmico, natural, regenerativo, biológico, agroecológicos,

permacultura e outros que atendam os princípios estabelecidos pela lei trazida à

baila. No Art. 2º, o legislador, ao conceituar os produtos da agricultura orgânica ou

produto orgânico fez referência aos produzidos pelo sistema orgânico de produção

agropecuário ou oriundo de processo extrativista sustentável, que não seja

prejudicial ao ecossistema local, colocando assim um dos pilares do

desenvolvimento sustentável em evidência, ao seja, que sejam ecologicamente

corretos, independentemente de se apresentarem in natura ou processados.

Numa visão agronômica, para Trivellato e Freitas (2003), “os sistemas

orgânicos de agricultura buscam obter solos e lavouras saudáveis através de

práticas de reciclagem dos nutrientes e da matéria orgânica, na forma de composto

ou restituição dos resíduos de cultura ao solo; rotação de culturas; e práticas

apropriadas de preparo do solo”.

São requerimentos básicos da agricultura orgânica: - matéria orgânica responsável pela melhoria da fertilidade e vida do solo; - substâncias húmicas são indispensáveis na nutrição vegetal (estimulam o crescimento das raízes, aumentando sua capacidade de absorção de nutrientes, hormônios de crescimento, antibióticos, vitaminas, aminoácidos e de outros componentes minerais e orgânicos, liberados no solo pela atividade microbiana); - o solo é considerado um organismo vivo, onde ocorre uma série de processos biológicos e dinâmicos essenciais à saúde das plantas; - associação entre produção vegetal e produção animal; - compostagem em pilhas (processo Indore) e - integração produtor e consumidor final. (TRIVELLATO; FREITAS, 2003, p.12).

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O sistema orgânico é o resultado de técnicas que imitam o que acontece

naturalmente nos ecossistemas: reciclagens, decomposição, relações ecológicas

harmônicas e desarmônicas, equilíbrio, fatores bióticos e abióticos, provocados por

um dos elementos da cadeia alimentar, o homem. O solo recebe um tratamento de

conservação e preservação adequado a suas características edáficas e climáticas,

observando-se um correto manejo dos recursos hídricos, levando-se sempre em

conta a biodiversidade, com a preservação e recuperação das matas e vegetações

nativas, sendo terminantemente proibido o uso de agrotóxicos, de adubos químicos

e a ultilização de materiais trangênicos. Existe uma certa tolerância ao uso de

vacinas para uso animal, apesar de já ser utilizada a homeopatia.

O Brasil Agroecológico prevê ainda, que:

“Outro aspecto a ser considerado é a conservação dos ecossistemas

naturais e a recomposição ou incremento da diversidade biológica dos ambientes modificados. A conservação da agrobiodiversidade é fundamental para manter a autonomia e a sustentabilidade da produção. Essa visão nos remete à necessidade de se entender a dinâmica do conjunto dos recursos naturais, não só da unidade de produção, mas também no contexto do território onde está inserida.

Para avançar nesse caminho, é necessário empoderar as

comunidades para que sejam protagonistas de suas próprias histórias e tenham a capacidade de gerar processos sustentáveis com a mediação, quando necessária, de agentes externos. As instâncias de participação e controle sociais já constituídas, na forma de redes, fóruns e organizações, terão importante papel na implementação e acompanhamento do Plano.”

(BRASIL, 2014c)

Para uma produção ser tida como orgânica, além de observar as

diretrizes previstas no Plano, a cima trancritas pelo MDA, necessita observar as

obrigações sociais, tais como as decorretes das leis trabalhistas, previdenciárias e

tributárias. A segurança alimentar prevista na legislação que trata da alimentação

orgânica, não se preocupou somente com a oferta quantitativa de alimentos,

priorizou também com a qualidade dos produtos ofertados na mesa dos brasileiros.

Quem consome estes produtos ajuda a preservar os ecossistemas e a

biodiversidade, onde está inserido o consumidor local. Há um cuidado com os

elementos da natureza, em especial com o solo, cujo manejo que lhe é aplicado leva

em conta a sua condição como um organismo vivo, preservando e melhorando suas

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características físicas, químicas e microbiológicas. O sistema agrícola organizado

promove o desenvolvimento local, incentivando a integração entre os diferentes

segmentos da cadeia produtiva e de consumo.

Através do manejo ecológico do solo se promove a recuperação e o

enriquecimento da fertilidade do solo, para isso, mais uma vez imitando a natureza,

adota-se a reciclagem de resíduos de origem orgânica e se minimiza o emprego de

recursos não renováveis, reduzindo o impacto ambiental decorrente das práticas

agropecuárias.

[...] Promover qualidade de vida com proteção ao meio ambiente.

Este é o objetivo da produção orgânica vegetal e animal. Sua principal característica é não utilizar agrotóxicos, adubos químicos ou substâncias sintéticas que agridam o meio ambiente. Para ser considerado orgânico, o processo produtivo contempla o uso responsável do solo, da água, do ar e dos demais recursos naturais, respeitando as relações sociais e culturais. O Brasil já ocupa posição de destaque na produção mundial de orgânicos. (BRASIL, 2013h)

Como se observa para ser considerado orgânico, o produtor tem que

atender a algumas exigências, que começam com uma “quarentena”, que equivale a

um período de dois anos, sem a utilização de agrotóxicos e de adubação química na

propriedade, onde vai ser instalado o referido sistema de produção de alimentos,

que serve como se fosse um período de desintoxicação do ambiente, bem como

uma garantia, para se adequar a uma nova prática agrícola.

Santos e Monteiro (2004) apontam alguns requisitos, para que haja uma

produção de alimentos orgânicos. Neste sentido, o agricultor ficará submetido às

orientações técnicas e a um processo de investigação, no qual se analisará a

viabilidade ambiental da propriedade e se as práticas e manejos que estão sendo

aplicados estão de acordo com os preceitos do sistema orgânico de produção de

alimentos, bem como, as condições de trabalho e de vida dos trabalhadores, se as

legislações laboral, previdenciária, sanitária e de resíduos sólidos estão sendo

observadas. Visando a racionalização e preservação dos recursos naturais, o

produtor deverá observar as exigências e recomendações em todas as etapas de

produção, desde a preparação do ambiente e do solo à embalagem dos alimentos.

Para dar garantias para o mercado consumidor, de que aquele alimento

atendeu aos requisitos da produção orgânica, este passa por uma certificação por

Auditoria ou através do Sistema Participativo, mas em qualquer das opções ele

recebe um selo que deve constar da embalagem dos produtos. O Ministério da

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Agricultura Pecuária e Abastecimento disponibiliza uma listagem de organismos

credenciados a prestarem os serviços de avaliação da conformidade orgânica, que

atuam no Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica, bem como, os

Organismos Participativos de Avaliação da Conformidade Orgânica (Sistema

Participativo). Certificadoras e seus respectivos selos, que tem a finalidade de

facilitar a identificação dos alimentos produzidos pelo sistema orgânico pelo

consumidor, dão uma garantia de que estão em conformidade com os regulamentos

e normas técnicas do referido sistema de produção, respeitando as vertentes do

desenvolvimento sustentável.

O Decreto nº 6.323, de 27 de Dezembro de 2007, que regulamenta a Lei

nº 10.831 sobre a agricultura orgânica, prever o Sistemas Participativos de Garantia

como um dos mecanismos de garantia que integram o Sistema Brasileiro de

Avaliação da Conformidade Orgânica (SISORG/ MAPA).

De acordo com o SISORG/ MAPA, para dar garantia ao consumidor de

que foram observadas as diretrizes que regulamentam a produção orgânica, existem

alguns meios, dentre eles, o selo SisOrg que é obtido através de uma Certificação

por Auditoria ou por um Sistema Participativo de Garantia. Os agricultores familiares

são os únicos autorizados a realizar vendas diretas ao consumidor sem certificação,

desde que integrem alguma organização de controle social cadastrada nos órgãos

fiscalizadores. Existe uma Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e

Cooperativismo (SDC), que coordena a Agroecologia no Brasil, através do Ministério

da Agricultura, o qual é o responsável pelo desenvolvimento da agricultura orgânica

no nosso país. Tem como atribuições: a promoção, o fomento, a elaboração de

normas e a implementação de mecanismos de controle.

Segundo Lima e Sousa (2011), com a certificação os consumidores terão

uma maior garantia quanto ao processo de produção dos alimentos produzidos no

sistema orgânico, o que dá credibilidade a quem o consome, já que apresenta uma

maior transparência dos métodos utilizados. Ainda, quanto à questão da certificação,

continuam as autoras, esta é dispensada no caso das associações de produtores

orgânicos, existe uma fiscalização por parte dos próprios associados, que têm

interesse em assegurar a lisura de processo produtivo e de comercialização.

Como se observa, na hora dos alimentos in natura ou processados,

produzidos pelo sistema orgânico serem comercializados, terão os mesmos que

atenderem alguns pré-requisitos previstos na legislação que trata da presente

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política, dentre eles a certificação feita por certificadoras reconhecidas pelos Órgãos

Públicos que lidam com a matéria ou através da certificação social feita através de

associações e instituições privadas.

Para que haja uma maior adesão aos sistemas de produção

agroecológicos, o Ministério do Desenvolvimento Agrário, através das suas

parcerias, executa o programa de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER),

com ênfase na agroecologia, visando aperfeiçoar os sistemas de produção da

agricultura familiar por meio do apoio especializado, o qual, através de um modelo

de educação não formal transversal, coloca em prática a política pública que leva

assistência técnica às propriedades rurais, promovendo, assim, melhorias nos

processos de trabalho, o que reflete na qualidade de vida dos agricultores. (BRASIL,

2014e)

Portanto, há um liame de credibilidade envolvendo os atores que

participam do processo fomentado pelo PNAE, pois, além de visar à aquisição de

alimentos mais saudáveis para serem servidos nas escolas, outro objetivo, bem

claro, está ligado a questão do comércio solidário criado através de um mercado

institucional para favorecer os agricultores familiares, que atendam as

determinações contida nas políticas públicas envolvidas.

3.2 ALIMENTAÇÃO ESCOLAR

O Programa Nacional da Alimentação Escolar - PNAE, através da Lei nº

11.947/2009, apresenta as diretrizes que procuram integrar a Política Nacional da

Segurança Alimentar e Nutricional, criando um sistema de base agroecológica e

sustentável de produção, extração, processamento e distribuição de alimentos, junto

com a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, que é um marco

regulatório na produção orgânica nacional, definido pela Lei nº 10.831/2003. A Lei

dos Alimentos Orgânicos, regulamentada pelo Decreto nº 7.794 de 20 de agosto de

2012, instituiu a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, visando de

forma institucionalizada promover o desenvolvimento rural local sustentável.

Segundo Belik e Chaim (2009), bem antes, em 1954, aqui no Brasil a

Comissão Nacional de Alimentação (CNA), vinculada ao Setor de Saúde Pública do

Ministério da Saúde, criava o Programa Nacional de Merenda Escolar, hoje

denominado Programa Nacional da Alimentação Escolar, que naquela época, já

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visava reduzir a deficiência nutricional de estudantes carentes do nosso país.

Posteriormente, já em 1988, o referido programa passou a ter abrangência nacional,

quando a alimentação escolar ficou garantida como um direito de status

constitucional previsto no artigo 208, inciso VII da Constituição Federal como “dever

do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de atendimento ao

educando, no ensino fundamental, a partir de programas suplementares de material

didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde”.

O desenvolvimento local sustentável está contido no conceito de

segurança alimentar e nutricional, uma vez que este almeja garantir o direito

universal de acesso a uma alimentação produzida observando a diversidade cultural

e a questão da conservação dos recursos naturais. Alinhados com as políticas

públicas supramencionadas leva em conta as dimensões econômicas e sociais,

presentes nas atividades sustentáveis.

O conceito ampliado de segurança alimentar e nutricional – SAN remete à realização do direito universal ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade adequada em quantidade suficiente, sem que isso represente comprometimento do acesso a outras necessidades essenciais e tendo como base, práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis (BRASIL, 2010a; GALLINA et al. 2012,p.2)

Segundo Gallina et al. (2012), o Programa Nacional de Alimentação

Escolar - PNAE é o mais antigo programa do Governo Federal brasileiro na área de

alimentação e nutrição. Para Chaves et al (2009) é considerado um eixo das

políticas públicas específicas destinadas a promover a segurança alimentar e

nutricional. O PNAE, segundo fontes do Fundo Nacional de Desenvolvimento

Educacional - FNDE (2011), atendeu a 45,6 milhões de estudantes da educação

básica e de jovens e adultos no ano de 2010, devido a sua amplitude e qualidade,

vem sendo considerado um exemplo a nível mundial, servindo de referencial na área

da alimentação escolar, atendeu cerca de 24,0% da população brasileira (IBGE,

2010).

Desde 1955, ano de sua criação, até 1993, a execução do Programa deu-

se de forma centralizada, quando o órgão gerenciador era o responsável pelo

planejamento de cardápios e pela aquisição, controle de qualidade e distribuição de

gêneros alimentícios em todo o território nacional (PIPITONE et al 2003). A partir daí,

com a descentralização, transferiram-se aos Estados e Municípios os recursos e,

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juntamente com eles, a autonomia para o planejamento e a execução do Programa.

(GALLINA et al., 2012).

A descentralização do PNAE promove o desenvolvimento local

sustentável, através da aquisição da produção de alimentos saudáveis, visando

observar a segurança alimentar e nutricional, através da oferta regular e contínua de

alimentos com a qualidade e quantidade adequadas às necessidades dos

estudantes da rede pública de ensino, criando, assim, práticas saudáveis que

respeitem a diversidade cultural dos hábitos alimentares nos cardápios escolares.

Para que as práticas sejam saudáveis, é importante que se evite a oferta

de alimentos contaminados, neste sentido, a agricultura familiar e os sistemas de

produção agropecuários praticados, dentro dos parâmetros da agroecologia, estão

implícitos na Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional e do Sistema

Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - SAN, conforme diretrizes que visam

assegurar o desenvolvimento socioeconômico sustentável.

Segundo Melão (2012) o PNAE leva em conta a vocação agrícola local,

bem como, a culinária e os hábitos alimentares peculiares de toda a nação,

atendendo a uma faixa da população considerada de risco, constituída por um

grande universo de estudantes das escolas públicas, fomentando o desenvolvimento

sustentável local. Dentre as vantagens supra elencadas, Belik e Chaim (2009)

aduzem que o PNAE garante as diretrizes da Política de Segurança Alimentar e

Nutricional, que se coaduna com a definição do conceito de Segurança Alimentar

adotando as recomendações e diretrizes emitidas na Cúpula Mundial da

Alimentação, realizada pela Food and Agriculture Organization - FAO, em Roma, a

qual reconhece que:

“A pobreza é a maior causa de insegurança alimentar. Um desenvolvimento sustentável, capaz de erradicá-la, é crucial para melhorar o acesso aos alimentos. Conflitos, terrorismo, corrupção e degradação do meio ambiente também contribuem significativamente para a insegurança alimentar. Esforços para aumentar a produção de alimentos, incluindo os alimentos de base, devem ser feitos. Estes devem ser realizados dentro de um quadro sustentável de gestão dos recursos naturais, eliminação de modelos de consumo e produção não sustentáveis, particularmente nos países industrializados, e a estabilização imediata da população mundial. Nós reconhecemos a contribuição fundamental da mulher para a segurança alimentar, principalmente nas zonas rurais dos países em desenvolvimento, e a necessidade de promover a igualdade entre homens e mulheres. Para reforçar a estabilidade social e impedir o êxodo rural, que muitos países enfrentam, deve-se considerar prioritária também a revitalização das zonas rurais” (FAO, 1996).

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Uma forma de contribuir para a fixação do homem no campo, vivendo

com dignidade, é a garantia mínima de vendas da sua produção, através do

institucionalizado criado pelo PNAE.

Como se observa é dever do Estado elaborar programas que visem

suplementar a alimentação escolar, com esse desiderato foi elaborada a Política

Nacional da Alimentação Escolar (PNAE), que através da Lei nº 11.947/2009

apresenta em seu conjunto às diretrizes que procura integrar a Política Nacional da

Segurança Alimentar e Nutricional, que visa criar um sistema justo de base

agroecológica e sustentáveis de produção, extração, processamento e distribuição

de alimentos de forma descentralizada, para as escolas públicas que venham a

aderir ao programa.

No Brasil, devido a sua amplitude territorial, Chaves et al (2009) aduzem

que o PNAE esta inserido no contexto alimentar complexo que devido aos mais

variados fatores levam a uma rica diversidade de hábitos alimentares locais,

caracterizando a cultura da cada região geográfica do país. Sendo assim, é

importante que sejam observadas as necessidades nutricionais do alunado, bem

como a importância de se preservar o resgate da cultua alimentar brasileira,

presente na sua culinária.

Percebe-se que não só os aspectos nutricionais almejados pelo PNAE

estão presentes no cardápio escolar, mas vários fatores que representam a cultura

de um povo, através de seus hábitos alimentares que estão diretamente ligados ao

clima, à geografia, à religiosidade, à miscigenação, bem como, à produção agrícola

local, dentre outros importantes aspectos.

Outro aspecto importante foi levantado por Triches e Schneider (2010) ao

ressaltar que no agronegócio são muito fortes as práticas tradicionais, representadas

pela agricultura intensiva, com demasiado uso de agrotóxicos e da mecanização,

que visam um modelo produtivo no qual se produz e oferta alimentos que trazem

consigo danos à saúde e ao meio ambiente, acarretando ainda, problemas sociais

na zona rural. Visando minimizar estes impactos, o Estado adotou políticas públicas

que observam a questão da segurança alimentar e nutricional sustentável, criando

um modelo de produção e consumo de alimentos sustentáveis.

Neste contexto, o PNAE criou um mercado institucionalizado, visando

observar a questão socioambiental no novo modelo produtivo que beneficia a

agricultura familiar, que vai fornecer alimentos produzidos diretamente pelo pequeno

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produtor ao mercado consumidor, observando os cardápios elaborados para

atenderem aos estudantes das escolas públicas.

Complementa Marques (2012), afirmando ser uma medida importante

tomada pelo governo federal, por meio do PNAE, atender às necessidades

nutricionais do aluno com refeições saudáveis. Ressalta a autora, que desde junho

de 2001, uma medida provisória, por exemplo, estabelece que a merenda deve

respeitar os costumes regionais e a vocação agrícola do município.

De acordo com Triches e Schneider (2010), o Estado teria papel

primordial no que se refere aos mecanismos de aquisições institucionais, como

também, quanto ao incentivo de determinadas cadeias alimentares e de modelos de

saúde pública, em razão do seu poder de regulação, supervisão da qualidade,

quando exerce o seu poder de polícia, além de exercer um papel de destaque

quanto ao abastecimento alimentar. Dessa forma, o Estado promove práticas

sustentáveis e hábitos alimentares saudáveis. Ao adotar determinadas diretrizes nas

suas políticas públicas, viabilizará mudanças de comportamento do setor público,

privado e do terceiro setor, bem como de indivíduos e famílias.

Como se pode observar, o direito a uma alimentação saudável e

adequada, inserido dentro os que fazem parte da dignidade da pessoa humana, está

garantido pela Constituição Federal de 88, in verbis:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: ... III - a dignidade da pessoa humana;...

Acompanhando as diretrizes da Agenda 21, o direito fundamental do ser

humano a uma alimentação adequada, foi incluído, de forma positivada, na

Constituição Federal de 1988, no art. 6º, in verbis:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 64, de 2010).

Dando continuidade, o sistema legislativo brasileiro, em 2009, recepciona

a Medida Provisória nº 455, de 2008 que foi convertida na conhecida Lei da

Alimentação Escolar (Lei nº 11.947, de 16 de Junho de 2009), a qual dispõe sobre o

atendimento da alimentação escolar e do Programa Dinheiro Direto na Escola aos

alunos da educação básica.

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No seu artigo 1º, conceitua merenda escolar como: “todo alimento

oferecido no ambiente escolar, independentemente de sua origem, durante o

período letivo”. Em seguida traça as diretrizes da alimentação escolar. “O Programa

Nacional de Alimentação Escolar - PNAE tem por objetivo contribuir para o

crescimento e o desenvolvimento biopsicossocial, a aprendizagem, o rendimento

escolar e a formação de hábitos alimentares saudáveis dos alunos por meio de

ações de educação alimentar e nutricional e da oferta de refeições que cubram as

suas necessidades nutricionais durante o período letivo”, conforme preceitos do

artigo 4º a referida Lei.

No Art. 14. determina que: “do total dos recursos financeiros repassados

pelo FNDE, no âmbito do PNAE, no mínimo 30% (trinta por cento) deverão ser

utilizados na aquisição de gêneros alimentícios diretamente da agricultura familiar e

do empreendedor familiar rural ou de suas organizações, priorizando-se os

assentamentos da reforma agrária, as comunidades tradicionais indígenas e

comunidades quilombolas.” Verifica-se claramente uma observância às diretrizes da

Política Nacional da Segurança Alimentar e Nutricional, de forma entrelaçada, além

de fomentar o desenvolvimento local sustentável da agricultura familiar.

A presente política pública, instrumentalizada pela Lei da Alimentação

Escolar, Lei nº 11.947/2009, visa garantir o desenvolvimento sustentável,

movimentando a economia local, com o incentivo a produção de alimentos

orgânicos, por serem mais saudáveis e produzidos de forma ecologicamente correta.

Com foco a atender à Política Nacional da Segurança Alimentar e Nutricional, de

acordo com as diretrizes traçadas pelo o Sistema Nacional de Segurança Alimentar

e Nutricional (SISAN), e as determinações da referida lei, pelo menos 30% dos

recursos repassados pelo FNDE para a alimentação escolar devem ser aplicados na

compra de produtos oriundos da agricultura familiar, priorizando os produtos

orgânicos, o que serve como estímulo para o aumento deste sistema de produção

agroecológico, dentro do viés da sustentabilidade previsto no próprio PNAE.

Segundo Silva e Sousa (2013), tais previsões estão contidas nas novas

diretrizes de execução do PNAE foram estabelecidas por meio da Lei nº

11.947/2009, regulamentada pela Resolução 38, de julho de 2009. A qual determina

que no mínimo, 30% do total de recursos repassados pelo Fundo Nacional de

Desenvolvimento da Educação (FNDE), devem ser destinados para a aquisição de

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alimentos, preferencialmente orgânicos, produzidos pela agricultura familiar do local,

sendo dispensado o processo licitatório.

Segundo Lima e Sousa (2011) existem alguns estudos, no que se refere

às análises das vantagens desse tipo de alimento para os consumidores e/ou

análises decorrentes, do ponto de vista do produtor/fornecedor, que adotam estas

técnicas de produção, porém existe uma ausência, ou pouca discussão quanto à

temática trazida à baila, no que se enfoque do consumidor institucional, incluído pelo

PNAE. O que leva ao diagnóstico de que há uma carência na literatura científica de

informações sobre a gestão do processo de produção de refeições a partir da

introdução de alimentos orgânicos em escolas.

3.3 ARRANJO PRODUTIVO LOCAL

Os Arranjos Produtivos Locais são aglomerações de várias empresas,

localizadas em um mesmo território, que apresentam especialização produtiva e

mantêm vínculos de articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si e

com outros atores locais, tais como: governo, associações empresariais, instituições

de crédito, ensino e pesquisa. O mesmo fenômeno é às vezes denominado arranjo

produtivo local, sistema produtivo local ou mesmo cluster. No Brasil, a expressão

mais utilizada é arranjo produtivo local. Entre os diversos conceitos existentes,

destaca-se o de autoria da Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos

Locais - Redesist, uma rede de pesquisa interdisciplinar, formalizada desde 1997,

sediada no Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Seu

principal foco de pesquisa são os arranjos e sistemas produtivos locais (BRASIL,

2013i).

Arranjos produtivos locais são aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais - com foco em um conjunto específico de atividades econômicas - que apresentam vínculos mesmo que incipientes. Geralmente envolvem a participação e a interação de empresas - que podem ser desde produtoras de bens e serviços finais até fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de consultoria e serviços, comercializadoras, clientes, entre outros - e suas variadas formas de representação e associação. Incluem também diversas outras organizações públicas e privadas voltadas para: formação e capacitação de recursos humanos, como escolas técnicas e universidades; pesquisa, desenvolvimento e engenharia; política, promoção e financiamento.” (IBIDEM, 2013i).

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Campos e Carvalho (2011) afirmam que é de suma importância identificar

as potencialidades locais que resultem, por meio da execução de políticas públicas,

bem como, de investimentos privados, no desenvolvimento de atividades

econômicas voltadas para a produção, geração de emprego, aumento da renda,

com elevado grau de competitividade.

Neste contexto, dentre os atores sociais que fazem parte do Arranjo

Produtivo Local, podemos citar o fortalecimento do papel das Organizações Não-

Governamentais, conhecidas comumente como ONGs, foi incentivado e disciplinado

no Capítulo 27 da Agenda 21, quando tratou dos parceiros para um desenvolvimento

sustentável. Ressaltando a importância da sociedade organizada, traçou a sua base

para a ação, anunciando a importância do papel desempenhado pelas organizações

não governamentais, quanto à implementação da democracia participativa, devido a

sua credibilidade junto à sociedade. As organizações formais e informais, bem como

os movimentos populares, exercem um papel fundamental na implementação das

políticas traçadas na Agenda 21, em decorrência da sua independência, conforme

se depreende, do texto infra:

27.2. Um dos principais desafios que a comunidade mundial enfrenta na busca da substituição dos padrões de desenvolvimento insustentável por um desenvolvimento ambientalmente saudável e sustentável é a necessidade de estimular o sentimento de que se persegue um objetivo comum em nome de todos os setores da sociedade. As chances de forjar um tal sentimento dependerão da disposição de todos os setores de participar de uma autêntica parceria social e diálogo, reconhecendo, ao mesmo tempo, a independência dos papéis, responsabilidades e aptidões especiais de cada um. (BRASIL, 2013a)

A Agenda 21 reconhece a importância das ONGs devido à vasta

experiência, conhecimento especializado e capacidade firmemente estabelecidos,

que ajudam na execução e implementação de um programa votado para o

desenvolvimento sustentável, ambientalmente saudável e socialmente responsável.

Portanto, a comunidade das ONGs favorece a realização desses objetivos comuns.

Para a exequibilidade dos projetos sustentáveis, vislumbrados nos programas

traçados na Agenda 21, é de suma importância a interação das organizações não

governamentais, para isso, deve-se promover a comunicação e cooperação entre

elas e as organizações internacionais e os Governos nacionais e locais dentro das

instituições encarregadas.

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A partir de seu desenvolvimento no final dos anos 90, a abordagem de

arranjos produtivos locais (APLs) teve difusão rápida no nosso país, substituindo

termos afins na grande maioria das agendas de políticas. Desde então, os esforços

realizados para o seu entendimento e promoção foram pioneiros e importantes, com

um intenso processo de aprendizado e de incorporação de conhecimentos. A adoção

generalizada do termo levou à inclusão de APLs como prioridade do governo federal,

formalizada nos seus Planos Plurianuais desde 2000, no Plano Nacional de Ciência

Tecnologia e Inovação 2007-2010 e na Política de Desenvolvimento Produtivo 2008-

2013, entre outros. Destaca-se particularmente a criação de uma instância de

coordenação das ações de apoio a APLs no país, o Grupo de Trabalho Permanente

para APLs (GTP APL), coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e

Comércio Exterior (MDIC), e integrado por 33 instituições públicas e privadas. Estes

esforços contribuíram para a adesão ao termo para além da esfera pública federal,

estimulando a criação de Núcleos Estaduais de Apoio a APLs em cada uma das

Unidades da Federação, além de iniciativas privadas de organismos de

representação empresarial e de agências internacionais. (BRASIL, 2013i).

Para Fuini (2008), um APL se refere a reuniões de empresas locais, que

apresentam especialização produtiva, vinculadas de forma articuladas, de tal

maneira, que a interação flui na forma de cooperação e aprendizagem entre si e com

outros atores locais, devido a uma troca sinergética entre as empresas e os

governos, associações, instituições de crédito, ensino e pesquisa.

Uma cadeia produtiva composta por empresas especializadas,

aglomeradas em um dado território, também conhecido como distritos industriais,

onde acontece uma divisão social do trabalho, de concatenada e harmônica, como

se fosse uma relação ecológica, do tipo simbiótica, onde cada uma produz de forma

especializada, para suprir as necessidades das outras, e dessa forma, segundo

Fuini (2008), realizam as economias externas de escala, ou seja, o crescimento

desses sistemas industriais urbanos é geralmente acompanhado por um suporte

institucional de atividades e serviços, que contribuem para a consolidação do

desenvolvimento econômico local, ou seja, há toda uma política pública por traz

fomentando esta rede de associações comerciais, e demais instituições, que

preparam a comunidade local, para ser absorvida nesta seara de trabalho, através

de cursos técnicos, voltados para as necessidades das empresas, as agências

governamentais, os bancos financiadores. No Nordeste brasileiro, de forma

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tradicional, a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste - SUDENE e o

Banco do Nordeste do Brasil - BNB se destacam como estimuladores do

desenvolvimento local, de forma institucionalizada.

De acordo com Fuini (2008), o APL possui uma organização estrutural, de

grande complexidade, que envolve tanto as instituições, como os demais atores

sociais que participam de forma hierarquizada da cadeia produtiva. Essa harmonia

só é possível, em razão da governança, onde uma grande empresa pode exercer o

controle do conjunto de subcontratados e fornecedores, de formas mais horizontais,

v.g. de um conjunto de pequenas e médias empresas compartilhando de objetos e

fins comuns (associações, poder público, mão-de-obra). Segundo Aligleri; Aligleri;

Kruglianskas (2009) é justamente a unidade, a coerência e consistência das

decisões estratégicas dos agentes da cadeia, que orientam uma identidade de forma

positiva e sustentável no mercado, o que vem a garantir um equilíbrio nas relações

da rede produtiva, entre os fornecedores e consumidores.

Conforme Aligleri, Aligleri e Kruglianskas (2009), os problemas

socioambientais devem ser tratados de forma sistêmica, numa visão holística, onde

a empresa faz parte do contexto socioambiental onde está inserida, e por isto possui

responsabilidade pelo papel que exerce no APL. Isso ocorre porque as empresas

são cada vez mais cobradas, quanto ao impacto ambiental7, provocado pelas suas

atividades, fora dos limites das corporações.

Atualmente a busca pelo ótimo sistêmico das empresas transborda os

limites das mesmas, levando-se sempre em conta o contexto geográfico, onde estão

inseridas, refletindo na competitividade empresarial. São verdadeiros sistemas

abertos, onde a troca de influências acontece de forma mais intensas.

Para Aligleri, Aligleri e Kruglianskas (2009), a competitividade exige um

relacionamento mantido de forma harmônica com os mais variados agentes externos

à empresa, onde se torna possível a busca pelo desenvolvimento sustentável ao

longo de toda a cadeia produtiva, de forma concatenada.

De acordo com Goulart (2006), parcerias, consórcios, arranjos produtivos

locais, redes e outras variações interorganizacionais vêm sendo pesquisadas e

criadas, visando promover o desenvolvimento local sustentável, com várias

7 Na visão de Szabó Júnior, refere-se a qualquer alteração benéfica ou adversa causada por atividades, serviços e/ou produtos de uma atividade natural ou antrópica (lançamento de efluentes industriais sem prévio tratamento, desmatamentos e destinação inadequada de resíduos sólidos).

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abrangências geográficas. Há várias teorias, nas diversas áreas da Administração,

todas com o desiderato de promover o desenvolvimento levando-se em conta a

globalização. Segundo a referida autora, isso acontece visando a desoneração do

Estado, do papel de principal indutor do desenvolvimento, viabilizando o livre

funcionamento das leis de mercado, na economia globalizada; ou então, como forma

de garantir a sobrevivência e competitividade das pequenas e médias empresas.

Essas teorias podem também visar o resgate das vocações e identidades locais;

viabilizando a articulação de diferentes atores, inseridos na cadeia produtiva, de

forma participativa nas decisões de investimentos governamentais e/ou na

elaboração de políticas públicas. Por fim, porque faz surgir espaços fecundos, para a

modernização dos processos produtivos, que estimulam a competitividade.

Em geral, os governos, nas escalas municipal ou estadual, as organizações

não-governamentais (ONGs) ou as agências de serviços especializados,

como o SEBRAE, por exemplo, são identificados como protagonistas nas

iniciativas de criação de tais formas interorganizacionais. Criação de

emprego e renda, fortalecimento dos laços de solidariedade e construção de

matrizes institucionais confiáveis são, igualmente, apontadas como

resultantes de tais iniciativas e propulsoras de patamares mais elevados de

desenvolvimento. (GOULART, 2006, p.1/2).

Seguindo a linha de raciocínio dos autores, o estudo de arranjos

produtivos locais - APL são de suma importância, pois dentro desta perspectiva, as

micro e pequenas empresas, bem como a agricultura familiar, necessitam de

abordagem, que se leve em conta, procedimentos específicos, dentro de um estudo

que considere vários aspectos. Segundo posição firmada por Aligleri, Aligleri e

Kruglianskas (2009), que apontam “a necessidade de as empresas tornarem-se

mais pró-ativas na definição de relacionamentos simbióticos, com os stakeholders

da cadeia de negócios, o que institui um complicado xadrez organizacional”, já que

há uma interdependência dos atores sócio-econômicos envolvidos de forma

interdependente no APL, num sistema que funciona com um desiderato único.

Galdámez, Carpinetti e Gerolamo (2009) ao tratarem da proposta de um

sistema de avaliação do desempenho para arranjos produtivos locais, afirmam que

através dos conceitos, métodos, técnicas e práticas de gestão da produção podem

contribuir com o processo de desenvolvimento das Pequenas e Médias Empresas

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(PMEs) que façam parte das APLs, seguindo este pensamento, o Sistema de

Medição do Desempenho (SMD)8 apresenta-se como estrutura para os Arranjos

Produtivos Locais. Afirmam, esses autores, que “um modelo de SMD pode direcionar

o processo de melhoria e mudança das PMEs do APL, promover a gestão

colaborativa e aprimorar a tomada de decisão ou a coordenação das ações

planejadas pelas instituições, empresas e outros órgãos que fazem parte dos APLs.”

Dessa forma, o SMD será um instrumental que vai auxiliar no monitoramento do

desempenho das PMEs inseridas numa APL, favorecendo o cooperativismo, que vai

refletir em melhorias nas diversas necessidades empresariais, bem como na tomada

de decisões em toda a cadeia produtiva.

Entende-se por APL as aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais – com foco em um conjunto específico de atividades econômicas – que apresentam vínculos, mesmo que incipientes. Assim, o estudo de um APL deverá incluir atores internos e externos à atividade produtiva, de forma a permitir uma compreensão econômica, social e política do setor estudado (IPIRANGA et.al, 2007 apud MILANEZ; PUPPIM, 2009, p. 529).

A existência dos APLs está ligada a alguns pré-requisitos, que fazem com

que os mesmos sejam identificados quando há presença de alguns elementos

comuns, tais como, um ambiente onde haja uma interação contínua e repetida entre

os atores participantes do arranjo. Segundo Milanez e Puppim (2009) faz-se

necessário também, uma pluralidade de redes formais e informais de relação, bem

como a valorização pela comunidade onde está inserida, em relação ao

empreendedorismo, que corporifica os participantes que se encontram circundando

todo o processo, fazendo com que se sintam parte do mesmo.

Numa localidade, onde se encontram uma coletividade de agricultores

familiares, que praticam a agricultura orgânica, associados com o apoio de uma

ONG que estuda e pesquisa a matéria, faz surgir um arranjo produtivo local de forma

espontânea, uma vez que os fatores de produção propiciam a concentração dos

8 Galdámez, Carpinetti e Gerolamo (2009) definem como uma nomenclatura muito usual na Administração de Empresa que se refere à atividade de mensuração dos processos produtivos, através de indicadores que servem de análise sistêmica, quanto aos parâmetros aplicados, servindo de instrumento para o monitoramento, bem como para o planejamento das atividades e a gestão das empresas envolvidas no processo, visando o seu aprimoramento quanto a eficiência e a eficácia das práticas corporativas.

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atores econômicos em torno de objetivos comuns, com base ecológica, estimulados

pelas políticas públicas dedicadas, ao assunto in tela.

Vale salientar que quando se trata de APLs, foca-se prioritariamente no

desenvolvimento econômico e na inserção de novas tecnologias, quando se deveria

agregar a questão do desenvolvimento local de forma sustentável, onde os aspectos

socioambientais sejam levados em conta. O processo de inovação tecnológica,

através da cooperação, reside justamente no incremento das tecnologias

sustentáveis, esta é que faz a diferença. Neste sentido, as práticas agrícolas da

agricultura familiar, bem como a presença destes atores fazendo o papel de PMEs,

junto com as suas associações, servirão de lastro para o surgimento de um APLS

(Arranjo Produtivo Local Sustentável).

Existe uma potencial relação entre inovação tecnológica e a melhoria do desempenho ambiental. Apesar de ser uma vertente importante, ela ainda parece não ocorrer naturalmente no contexto das PMEs. Na literatura sobre inovação ambiental, existem os autores que argumentam que novas tecnologias seriam capazes de reduzir impactos ambientais e, ao mesmo tempo, de aumentar a competitividade das empresas (MOL, 1996; NEALE, 1997; YOUNG, 2000). Essa argumentação tem por base principal o pressuposto de que novas soluções tecnológicas estariam voltadas principalmente para o aumento da eficiência dos processos produtivos, que não apenas seria um objetivo econômico, mas também ambiental. Outra possível contribuição da inovação tecnológica seria o desenvolvimento de processos produtivos que evitassem os impactos ambientais criados pelas atividades atuais. Segundo esse ponto de vista, prevenir a poluição valeria a pena, pois evitaria gastos relacionados à correção de tais impactos (COHEN, 1997; RINKEVICIUS, 2000 apud MILANEZ; PUPPIM, 2009, p. 530).

Neste sentido, o PNAE, através das suas diretrizes, tende a promover um

canal que viabiliza o surgimento de um arranjo produtivo local sustentável, ao

adquirir os alimentos, provenientes das comunidades locais, constituídas por

agricultores familiares ou não, que observem nas suas práticas agrícolas, o sistema

orgânico de produção de alimentos. Com estas aquisições, que incentivam uma

nova forma de produzir alimentos, onde sejam observadas as questões ambientais,

garante-se uma ampliação de mercado, que vem assegurar o mínimo de renda para

os agricultores familiares, que não vão ficar a mercê de programas assistencialistas

que viciam o cidadão, quando não empregadas de forma apenas excepcional.

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3.4 DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTAVEL

A degradação ambiental cada vez mais acentuada é consequência da

espansão da capacidade produtiva dos ecossistemas antrópicos, segundo Seiffert

(2011), aduzindo que a humanidade percebeu que a qualidade de vida, bem como,

a saúde foram severamente atingidas, o que provocou uma reflexão sobre o medelo

de crescimento econômico até então adotado, onde as questões ambientais não

eram observadas. Surgiu, no decorrer do tempo, o desenvolvimento sustentável,

como resultado de um amadorecimento das discursões científicas, políticas e

tecnológicas, motivadas por várias convenções celebradas por várias nações.

Em decorrência do dano ambiental e do custo para revertê-lo é que o

homem passou a consirerar a questão ambiental, no processo do desenvolvimento

econômico, ou seja, quando percebeu as perdas que comprometiam a sua

existência no planeta, é que usou o raciocínio que lhe é peculiar para tentar reverter,

ou ao menos estancar o processo degradativo dos recursos naturais, minimizando o

consumo dos mesmos e tomando novas atitudes.

De acordo com Seiffert (2011), o homem criou um mundo focado na

economia global, com base na tecnologia, como se não dependesse do mundo

natural, constituído de um ecossitema com elevadissímo nível de entropia, em

decorrência da insustentabilidade causada por um modelo econômico que busca o

lucro acima de tudo, sem levar em conta a capacidade de recomposição dos

recursos naturais por parte dos ecossitemas. Conforme Scotto, Carvalho e

Guimarães (2007), a expressão “desenvolvimento sustentável” aparece na Internet

em inúmeros blogs, sites do governo, empresas, organizações não governamentais

- ONGs, bem como, de instituições internacionais,v.g. ONU, entre outras. E quando

se refere ao termo “sustentável” ou “sustentabilidade”, estes aparecem ligados a

diversos estudos, pesquisas, indicadores, agricultura e alimentação, programas,

ecossistemas, agroecologia, responsabilidade social, entre várias temáticas

correlatas.

Dentro desta seara, Andion (2003) lembra que as mudanças na

sociedade têm criado movimentos simultâneos e interdependentes de reformulação

das bases de regulação econômica, política e social. Por conseguinte, com

entrelaçamento desses movimentos, provocou-se uma mudança no conceito de

desenvolvimento, que a princípio, significava crescimento econômico. Porém, o

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termo passou a ter novo significado, qualificado por adjetivos que lhe dão uma nova

dimensão. A noção de sustentabilidade, a ênfase no local, o fortalecimento da

participação cidadã e a busca de valores éticos, onde quando se trata dos

processos de desenvolvimento, têm criado novas teorias sobre a temática,

influenciando as novas condutas.

Esse processo de ressignificação é acompanhado da crescente atuação

das redes locais, como agentes promotoras do desenvolvimento. Lipietz e Benko

(2000) chegam a apontar as relações sociais e os elos de reciprocidade gerados por

elas como a própria substância do espaço local. Sendo assim, tais relações tornam-

se determinantes para que a dinâmica do desenvolvimento ocorra ou não em uma

região. (ANDION, 2003)

O conceito de desenvolvimento sustentável e de sustentabilidade é muito

variado, mudando de acordo com o contexto e com as disciplinas envolvidas no

mais variados estudos e ciências que se entrelassam.

Segundo Jara (1998), a definição do desenvolvimento sustentável é

complexa. É surgimento de um novo significado, por consequência de uma

mudança essencial dos nossos pensamentos, atitudes e valores. Segundo este

autor, trata-se de uma reorientação ética, que induz a uma reflexão a respeito dos

relacionamentos da sociedade com a natureza e do Estado com a sociedade civil, à

luz de princípios interdependentes de equidade social, equilíbrio ambiental, bem-

estar econômico e autodeterminação política.

Definida de forma ampla, sustentabilidade significa que a atividade

econômica deve suprir as necessidades presentes, sem restringir as opções futuras.

Em outras palavras, os recursos necessários para o futuro não devem ser

esgotados para satisfazer o consumo de hoje. Os livros definem renda como a

quantidade máxima que pode ser consumida no presente ano, sem reduzir o

potencial de consumo nos anos futuros (isto é, sem consumir os bens de capital),

(ALTIERI, 2004).

A idéia de desenvolvimento sustentável e de sustentabilidade tem uma

grande amplitude que envolve campos de disputa de diferentes concepções de

sociedade, conforme Scotto, Carvalho e Guimarães (2007). Para eles, é importante

conhecer a sua origem, seus antecedentes, contextualizando a viabilidade do

surgimento e da aceitação desta associação entre o desenvolvimento e preservação

ambiental por diferentes grupos sociais. Nos idos de 80, como consequência do

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trabalho desempenhado pela Comissão Mundial Sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento (CMMAD) foi elaborado um documento intitulado Our common

future (“Nosso futuro comum”) dando origem ao conceito de desenvolvimento

sustentável, que se tornou célebre nos anos 90, é a de um “desenvolvimento que é

capaz de garantir as necessidades do presente, sem comprometer a capacidade

das gerações futuras atenderem também às suas” (CMMAD, 1988:9).

Por conseguinte, Jesus (2007) afirma que a as Empresas, Governos e

Organizações Não Governamentais ao traçarem suas metas e políticas públicas de

desenvolvimento, estão levando em conta o desenvolvimento local e territorial. Já

na cátreda a temática trazida à baila tem sido alvo de pesquisas, dissertações e de

publicações as mais variadas, o que fez surgiu a necessidade de reflexões acerca

do termo desenvolvimento local e desenvolvimento territorial.

Neste sentido, para Gehlene (2004) as políticas públicas eficientes

dispensam políticas sociais compensatórias, recomendadas para situações

emergenciais e de risco, ou de inclusão social, no processo de desenvolvimento. O

assistencialismo deve ser transitório, devendo ser substituído por políticas públicas

que promovam do desenvolvimento econômico com inclusão social.

Conforme Assis (2006), o desenvolvimento, na visão tradicional, pode

atingir cada vez mais um nível elevado de riquezas matérias, onde o crescimento

econômico é almejado pela maioria das sociedades contemporâneas. Na década de

80, os custos ambientais, passaram a ser contabilizados, depois da crise existente

naquela época, o que trouxe uma reflexão sobre o modelo globalizado implantado

na economia, que excluía e massificava o consumo dos recursos naturais, quando

então, foi levado em conta o desenvolvimento social e a preservação ambiental,

possibilitando-se a sustentabilidade da economia.

Para que isto ocorra, ibidem (2006) destaca que o desenvolvimento

sustentável tem como norte a melhoria da qualidade de vida humana, observando-

se o conceito ecológico dos limites da capacidade de suporte dos ecossistemas,

bem como a inserção da espécie humana como agente beneficiário e participativo

dos processos.

Apesar dos conceitos supra-referidos, o termo desenvolvimento

sustentável ou mesmo, sustentabilidade, continua sendo de debates e discussões

que não chegam ao consenso sobre o significado.

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Mesmo que todos pareçam concordar na avaliação de que existiria uma

crise ambiental e social a ser encarada com urgência e no diagnóstico de que o

estilo atual de desenvolvimento é “insustentável”, a identificação sobre as causas do

problema, assim como as soluções e estratégias propostas , são bastante

diferenciadas, e inclusive, antagônicas (SCOTTO; CARVALHO e GUIMARÃES,

2007).

O debate continua atual, que levam a caminhos convergentes, em um

dado momento, dependendo dos interesses que estão sendo discutidos, no

contexto social, econômico e ambiental, entre os atores envolvidos, em outro

momento torna-se dicotômico, ambíguo, mas de qualquer forma, provoca reflexões

e mudanças de hábitos, que são guiados para um mundo, com melhor qualidade de

vida.

Para Ferreira (2011), é indispensável que se promova uma transformação

interior de cada ser humano, para que se possa almejar a criação de um novo

mundo consorciado com o desenvolvimento sustentável. Esta mudança de hábitos

refletirá nos atos de consumo, ocorrendo uma metamorfose da civilização centrada

no “ter para o ser”, onde as pesquisas de evolução social passem a levar conta o

desenvolvimento de cada um, enquanto ser humano.

Essa transformação é gradual e lenta, pois envolve vários fatores que

interagem e interferem na postura da civilização estudada, quanto à questão da

sustentabilidade. A educação ambiental é um instrumento fundamental a ser

utilizado, visando a mudança de hábitos de consumo, bem com de condutas,

voltadas para uma responsabilidade socioambiental. A ética ambiental influencia na

sensibilidade do indivíduo que passa a agir levando em conta a coletividade e a

preservação dos recursos naturais existentes no meio ambiente.

Desenvolvimento sustentável é aquele cujos princípios sugerem

crescimento, sem que ocorra comprometimento da qualidade de vida, tanto das

presentes quanto das futuras gerações (SZABÓ JÚNIOR, 2009).

Neste sentido, de acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano

2011, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD,

recomenda a integração dos custos sociais e ambientais do mesmo modo como são

os preços mundiais e as medidas de atividades econômicas (ONU, 2013).

O documento exige também um conjunto de indicadores de

desenvolvimento sustentável, que vão além da abordagem tradicional do Produto

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Interno Bruto (PIB) e recomenda que os governos desenvolvam e apliquem um

conjunto de objetivos de desenvolvimento sustentável, que possam mobilizar a ação

global e ajudar a monitorar o progresso. No total, são 56 recomendações para

colocar em prática o desenvolvimento sustentável e integrá-lo às políticas

econômicas o mais rápido possível (IBIDEM, 2013).

Há uma preocupação mundial acerca do desenvolvimento sustentável, o

que tem provocado mudanças de atitudes que refletem nas antigas práticas, em

diversas áreas do saber humano. Em relação às necessidades básicas das

civilizações, um dos hábitos que estão sendo revistos é a alimentação, e nessa

linha foi elaborada a Política Nacional da Segurança Alimentar e Nutricional, que se

anteveio em 2003, ao marco regulatório da produção orgânica nacional, definido

pela Lei nº 10.831, e, em 2012, instituímos a Política Nacional de Agroecologia e

Produção Orgânica, regulamentado pelo Decreto nº 7.794/12. Ao falar sobre

alimentos orgânicos, a Presidenta Dilma Rousseff falou sobre incentivos e políticas

públicas que tem sido feitas para garantir o acesso aos alimentos orgânicos. De

acordo com seu discurso: essa política prevê ações de pesquisa, assistência

técnica, gestão ambiental, formação profissional, financiamento para o setor e

estímulos à produção. Neste desiderato foi composto um conselho interministerial,

responsável pela política, que conta com participação da sociedade civil e de

entidades de agroecologia. (BRASIL, 2013j).

Esta política tem como desiderato o desenvolvimento sustentável, onde

se observa o aspecto social, econômico e ambiental, numa nova visão de mundo,

mudando nossas atitudes, para que possamos garantir um amanhã com qualidade

para todos.

Toda atividade econômica humana provoca um impacto ambiental. O que

se busca através da sustentabilidade é justamente minimizar este impacto, e para

isso, devemos racionalizar o uso dos recursos naturais renováveis e não

renováveis. Neste contexto, a questão alimentar, intrinsecamente ligada a qualidade

de vida, deve observar, na sua produção e manejo, os sistemas menos impactantes

que provocam uma menor degradação ambiental. Dentro desta linha, o sistema de

produção agroecológico de alimentos orgânicos, através das suas práticas e

métodos, já devidamente testados e comprovados mundialmente, vem a atender as

três vertentes do desenvolvimento local sustentável almejado pelas políticas

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públicas trazidas à baila, na sonhada qualidade de vida para as presentes e futuras

gerações.

Para que se atinja o desenvolvimento sustentável global, segundo

Jara (1998), é necessário primeiro promover o desenvolvimento local sustentável,

pois é o único meio que permite visualizar perspectivas palpáveis de

desenvolvimento humano, de segurança alimentar e nutricional, de saúde, etc.,

incentivando as vocações locais e as potencialidades específicas.

Nesta nova ótica de desenvolvimento, o Brasil, traçou várias políticas

públicas focadas no desenvolvimento local sustentável, dentre elas o Programa

Nacional de Alimentação Escolar, o qual ao ser analisada a questão dos hábitos

alimentares regionais por Paiva, Freitas e Santos (2012), aduzem que existe uma

previsão de se observar a “adequação dos cardápios aos hábitos alimentares

regionais” como um dos seus objetivos, quando se observa a vocação agrícola

local, sendo este, um dos principais avanços na política pública sob análise, por

valorizar o setor primário de produção na economia municipal. Dentro desta visão,

quando o PNAE prevê a aquisição local dos alimentos, bem como que se observe a

questão dos hábitos alimentares regionais, leva-se em conta o traço cultural de

cada região retratado na culinária regional e nos hábitos alimentares, o que facilita a

absorção da produção do agronegócio local, uma vez que, é respeitada a vocação

agrícola de cada região.

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados a serem elencados refletem a compreensão a cerca do

conhecimento sobre o tipo de alimentação que é fornecida nas escolas, sua origem,

qualidade e conservação, bem como se os sujeitos em suas funções de gestores

públicos ou privados, técnicos e pesquisadores, envolvidos direta ou indiretamente

no processo, conhecem e identificam os moldes previstos pelo PNAE assim como se

compreendem a relação do uso desses alimentos na escola para o desenvolvimento

local sustentável.

4.1 ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO ESCOLAR

Neste tópico, são analisadas as percepções dos sujeitos da pesquisa,

quanto ao conhecimento sobre o tipo de alimentação que é fornecida nas escolas,

sua origem, qualidade e conservação, tendo sido agrupados os atores, de acordo

com a similitude das atividades exercidas dentro deste processo, para posterior

análise individual, viabilizando o seu posterior diagnóstico sobre as temáticas, hora

ventiladas, cuja totalização encontra-se representada no quadro sinóptico abaixo.

Quadro sinóptico dos resultados 01 - Percepção quanto a alimentação e nutrição escolar.

ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO ESCOLAR GEPM GP GPR TPA Total

Tem conhecimento 3 3 3 0 9

Não tem conhecimento 3 2 2 2 9

Tem conhecimento parcial 3 3 0 2 8

Total 9 8 5 4 26

Fonte: pesquisa de campo, o autor.

4.1.1 Percepções pelos Gestores das Escolas Públicas Municipais quanto à

alimentação e nutrição escolar.

Ao verificar as percepções da amostra, composta pelo grupo dos nove

diretores das escolas municipais de Glória do Goitá – PE, observa-se que mais de

um terço tem conhecimento sobre a origem, ou o tipo de alimentação que é

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fornecida nas escolas municipais, outro um terço dos gestores escolares municipais,

não tem um conhecimento seguro, os demais desconhecem a temática abordada.

Entre os que têm conhecimento quanto à alimentação e nutrição escolar,

pode ser apresentado conforme recorte do GEPM1:

A gente tem a merenda regional, aquela merenda que a gente tem uma porcentagem para ser comprada ao agricultor regional. Temos aquele outro tipo de merenda que é fornecida através de licitação, não é [...], que são os cereais, o feijão, aquela parte que realmente na orgânica, na agricultura a gente não tem. [...] A merenda vem do campo, da zona rural, né? De Glória do Goitá, e a gente oferece tapioca, oferece bolo de mandioca, bolo de trigo, a gente oferece o inhame, a macaxeira, a gente oferece a batata, tudo isso comprado [...] ao homem do campo, pra que a gente possa ter realmente esse intercâmbio entre a educação do campo e a educação da zona urbana. [...] Quanto à qualidade dessa alimentação, ela passa pela licitação, e dentro dessa licitação existe aqueles critérios que ela que deve ter né, isso, e se tratando dos laticínios, da comida em geral, do feijão, um tempo de validade, que a gente estipula assim, mais ou menos um período que não possa vir a ficar vencido. [...] Quanto à conservação, a gente tá sempre dedetizando. [...] a limpeza, a gente tem o maior cuidado nas escolas, nas merendeira. [...] A gente visita as escolas. (GEPM1)

De acordo com este ator, é importante que haja um intercâmbio entre a

cultura do campo e da zona urbana, processo que está previsto nas diretrizes do

PNAE, uma vez que não basta alimentar os estudantes, mas precisa também criar

novos hábitos alimentares, pautados na política de segurança alimentar e

nutricional. Sendo assim, é pertinente quanto à segurança alimentar que a aquisição

da alimentação escolar seja realizada no próprio município. Na ótica ambiental, deve

ser valorizado o conhecimento dos camponeses locais, pois, quando é adotado o

sistema orgânico na produção dos alimentos. Albert Howard levou em consideração

esse conhecimento, como fator essencial para a eliminação das doenças em plantas

e animais, por existir uma ligação entre a fertilidade do solo e saúde da produção de

alimentos (BONILLA, 1992 apud TRIVELLATO; FREITAS, 2003).

Não basta vir da agricultura familiar, para a produção de alimentos ser

considerada sustentável. É necessário que se observe o sistema de produção

desses alimentos, bem como, as questões trabalhistas, previdenciárias e as

tecnologias que estão sendo empregadas na produção.

Aligleri, Aligleri e Kruglianskas (2009) lembram que a ideia de agricultura e

pecuária sustentáveis é um tema muito atual na nossa sociedade, devido à

consciência de que a observação das normas ambientais propiciam o

desenvolvimento sustentável. Neste sentido, já existem várias práticas agrícolas

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estruturadas nas premissas de aumento da produtividade, que apresentam uma

viabilidade econômica, mitigando os impactos ambientais provocados pelas práticas

convencionais, o que se coaduna com as recomendações previstas na legislação

que rege o PNAE, contidas nos conceitos da alimentação saudável.

Este ator aponta a questão da higiene ambiental como um aspecto

diretamente ligado a conservação dos alimentos, que por sua vez interfere na

qualidade dos mesmos. Abordou outro aspecto importante, a preocupação com a

questão da validade dos produtos alimentícios, o que é louvável. Nesta esteira,

Gallina et al. (2012) ressaltam que a higiene é um fator de segurança alimentar e

nutricional – SAN fundamental, sendo uma prioridade para se evitar as doenças

transmitidas por alimentos contaminados, uma vez que são os causadores dos

maiores problemas de saúde pública da atualidade. Nesse contexto e, considerando

que a legislação prima pela qualidade higiênica da alimentação escolar, como uma

de suas atribuições (Brasil, 2009a), o Conselho de Alimentação Escolar - CAE

exerce um papel crucial na garantia da inocuidade dos alimentos oferecidos na

merenda das escolas, em razão da faixa etária dos escolares participantes do

PNAE, matriculados no ensino infantil e fundamental, torna-os um grupo altamente

vulnerável à gravidade das doenças transmitidas por alimentos, vulnerabilidade que

é potencializada pelas condições debilitadas de estado nutricional, sistema

imunológico, desenvolvimento fisiológico.

Eu tenho conhecimento porque agente participa de reuniões com a nutricionista e ela informa para nós. Ela informa de onde vem a merenda e como é que ela seleciona. Aí, sempre tá tendo reunião pra debater a respeito da merenda. Olhe..., os alimentos assim..., não perecíveis, eles é..., tem um fornecedor, eu não seu o nome do fornecedor né..., e os perecíveis, aí eles compram..., aí..., eu sei que eles estão dando prioridade para as pessoas do município, sempre compra a gente do município mesmo, pra dar ajuda pra eles..., os agricultores. [...] Os alimentos são bons, porque melancia mesmo, eles trazem, eu passo até quinze dias com as melancias aí e elas não se estragam. [...] Quanto à conservação desses alimentos, quando vem, ele vem novos, bem novos, conservados. E aqui a gente da um jeito de conservá-los. Aqui tem quarto da merenda e tem a cozinha que a gente coloca assim..., freezer, geladeira, essas coisas. Quanto ao alimento orgânico é aquele tirado da natureza né..., que é plantado na natureza, que é colhido pelos agricultores e eu noto que eles dão prioridade para os agricultores do município mesmo. (GEPM8)

Quanto à percepção referente à qualidade e conservação, por parte dos

atores entrevistados, em sua maioria, sutilmente, observa-se os critérios albergados

pelas diretrizes do PNAE, que visa à aquisição de uma alimentação saudável e

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adequada, que sejam variados, seguros, apresentando boa aparência, higiene,

qualidades nutricionais, observando sempre a cultura, as tradições e os hábitos

alimentares da localidade, promoverá um crescimento saudável dos alunos,

contribuindo para a melhoria do rendimento escolar de acordo com a faixa etária, o

sexo e demais fatores ligados à qualidade de vida humana. Alguns fazem referência

à validade dos produtos, à forma de transporte, às embalagens, à dedetização dos

locais nas escolas onde ficam armazenados, à ventilação, ao uso de freezers e

geladeiras, bem como a outros fatores, que ajudam a manter a qualidade original

dos alimentos provenientes da agricultura familiar.

Quanto ao consumo dos alimentos orgânicos, Silva e Sousa (2013)

lembram que os estudos mostram benefícios do seu consumo tanto pelos

consumidores, como para o meio ambiente e os produtores rurais. Afirmam ainda,

que o PNAE é um importante comprador institucional de alimentos produzidos pela

agricultura familiar e nesta seara, chamam a atenção para o planejamento dos

cardápios escolares, que devem basear-se em novos paradigmas que visem ao

mesmo tempo à promoção da saúde dos consumidores, observando sempre à

sustentabilidade ambiental, cultural, econômica e social. Outro aspecto importante é

a necessidade de um estudo dos alimentos orgânicos, quanto à compatibilidade

entre a demanda e a oferta da agricultura familiar, levando-se em conta o

fortalecimento de ações relacionadas à produção e à aquisição de alimentos

orgânicos, bem como a saúde de populações vulneráveis, no caso, os estudantes.

[...] ela vem composta por [...] alimentos não perecíveis e alguns perecíveis, não é..., como carne moída, carne de boi, frango, entre outros. Bolo..., bolo de banana, bolo de trigo, bolo de mandioca... Eu já ouvi comentário que os bolos, eles são vindo de uma localidade aqui próxima, não é..., pra ajudar o Araçá, que é pra ajudar o pessoal local não é? Contribuir com o desenvolvimento local, não é..., as frutas e verduras também..., não é..., são retiradas de alguns agricultores locais, não é..., pra que estes também tenham vez na contribuição do município e..., gere sua renda. [...] Os alimentos orgânicos são aqueles que não estão propensos a ter materiais agrotóxicos, não é? Que são cultivados sem nenhuma toxina para o ser humano. [...] A qualidade dos alimentos é muito boa! [...] as validades são bem extensas, não é..., o armazenamento é feito de uma forma bem adequada, não é..., e [...] nós procuramos manter sempre o ambiente, onde eles são guardados, limpos..., não é..., sempre estamos revisando..., esses alimentos, caso algum venha a se estragar pra não serem inseridos na merenda dos nossos alunos. Os alimentos orgânicos são aqueles que não estão propensos a ter materiais agrotóxicos, não é? Que são cultivados sem nenhuma toxina para o ser humano. (GEPM9)

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Este ator afirma ser de boa qualidade os alimentos destinados à merenda

escolar. Aduz ainda, que o armazenamento é feito de forma adequada visando uma

boa conservação destes. Porém, quanto ao aspecto da qualidade dos alimentos,

devem-se levar em conta os novos hábitos alimentares.

Contemporaneamente, na visão a respeito do comportamento do

consumidor de alimentos, já se observa algumas mudanças de hábitos, com

cuidados em relação à qualidade sanitária e nutricional, que refletem na valorização

das qualidades que caracterizam certo produto, o que vem a determinar a escolha

do consumidor por alimentos mais saudáveis. (LAGO; LENGLER e CORONEL et al.

2006)

Na visão deste grupo de gestores, demonstra-se que conhecem da

origem dos alimentos fornecidos para a merenda das escolas, distinguindo,

inclusive, o que é adquirido no comércio e os alimentos que são fornecidos pelos

agricultores familiares locais. O que caracteriza a agricultura familiar é ser a própria

família a dona dos meios de produção, agregando a força de trabalho, a posse da

terra e os meios de produção. Além disso, a unidade produtiva deve ser

administrada pela própria família, que tem como fonte de renda a proveniente da

atividade agrícola, sendo esta, no mínimo de 80%, deve-se levar também conta o

tamanho da área, bem como, o quantitativo de mão-de-obra contratada, devendo

residir na própria comunidade rural, participando de suas atividades

socioeconômicas. (LAGO; LENGLE e CORONEL, et al, 2006)

Analisando as respostas dos gestores que não têm conhecimento sobre a

alimentação e nutrição escolar, apresentam-se como exemplo:

[...] é um bom alimento, uma boa merenda, diretamente vindo do..., não é orgânica, mas diretamente vindo do pequeno produtor, né? E..., os..., é..., cereais, né..., vem diretamente do mercado. É..., só que as verduras..., frutas e verduras não é orgânico, mas vem da agricultura familiar. A produção dos alimentos horfrutigranjeiros vem de Glória do Goitá, agora não sei se vem de outro tipo CEASA..., não sei se é de alguma..., como é que se diz..., alguma horta de lá do município mesmo, eu não tenho essa..., essa informação, se é horta do município de Glória, ou se é de outro município, se vem da CEASA. Eu sei que fornece aqui, mais eu não tenho esse conhecimento não. [...] Quanto à qualidade desses alimentos os que vêm aqui são todos bons, saudável. Não vem nenhum estragado. [...] A conservação desses alimentos, é conservado direitinho, né..., até tem..., tem boa durabilidade, [...] aqui na escola temos uma geladeira e um freezer né..., no freezer, a gente conserva as carne e na geladeira, a gente coloca as verduras, as frutas que dá pra conservar fora, a gente coloca dentro de um recipiente [...]. Não tem aquelas caixa que os pessoal carrega, vem nelas, como é que chama o nome delas? Sabe como é? [...] Os alimentos orgânicos não é aqueles que não têm

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agrotóxicos, não é isso? Conservados sem agrotóxicos e é muito saudável pra saúde né? Isso eu sei. E assim..., até aqui tem pessoas que plantam coentro, cebolinha..., alface sem esse agrotóxico. Então o que eu entendo desses produtos..., orgânicos, é..., são produzidos sem o uso de agrotóxicos. (GEPM5)

O presente questionamento visa observar se está sendo oferecida uma

alimentação adequada, por ser esta um direito fundamental do ser humano,

reconhecido internacionalmente pela Declaração Universal dos Direitos Humanos,

no seu artigo 25.

A qualidade e a conservação dos alimentos escolares têm que estar

condizente com as diretrizes do PNAE, uma vez que este está incluso dentro das

políticas públicas e das ações necessárias para promover e garantir a segurança

alimentar e nutricional da população estudantil, atendendo ao disposto na Lei n°

11.346, de 15 de setembro de 2006, que criou o Sistema Nacional de Segurança

Alimentar e Nutricional.

O PNAE envolve as três esferas dos entes federativos previsto

constitucionalmente, visando garantir um direito inerente à dignidade da pessoa

humana e indispensável à realização dos direitos consagrados na Constituição

Federal.

Pela fala do GEPM5, a alimentação oferecida nas escolas municipais é

tida como de boa qualidade, apesar de não ser orgânica. Mesmo sendo proveniente

da agricultura familiar, a alimentação tem que oferecer a segurança alimentar

encontrada nos sistemas de produção agroecológicos, para que se evitem os

contaminantes presentes nos alimentos produzidos pelos meios convencionais, e

assim, possa ser classificada como uma alimentação de boa qualidade.

Nesse sentido, Santos e Monteiro (2004), afirmam que há um princípio

mínimo que deve ser seguido, ao definir a agricultura orgânica como um sistema de

produção integrado, o qual promove e realça agrossistemas saudáveis, incluindo

biodiversidade, ciclos biológicos e atividade biológica do solo. Neste sistema, as

práticas de administração adotam preferencialmente o uso de baixa quantidade de

insumo, levando em conta que condições regionais requerem sistemas adaptados

localmente. Estas técnicas buscam um objetivo comum que seria um sistema de

produção sustentável, alcançado quando se respeita a natureza, racionalizando o

uso dos recursos naturais, sem a utilização de produtos químicos, mantendo a

biodiversidade e levando-se em conta a cultura local dos agricultores. O que pode

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ser observado, quando a agricultura familiar local adota sistemas agroecológicos de

produção.

Sim. É..., o pessoal que fornece esses alimentos. Fizeram uma reunião com os gestores escolar e levaram a degustação, não é? A amostra dos alimentos que ia ser fornecido pra escola. [...] Aí tudo é colocado em saco plástico e conservado na freezer, para que possam caber todos os alimentos. Já os alimentos orgânicos são aqueles que não têm produto químico, não é..., onde ele produzido pelos agricultores do município e eles não colocam agrotóxicos naquele produto, então porque que eles são alimentos orgânicos. (GEPM6)

Quando se refere à alimentação e nutrição escolar, deve-se levar em

conta o sistema de produção destes. Neste sentido, Lima e Sousa (2011), afirmam

que o Guia Alimentar para População Brasileira recomenda o consumo de alimentos

orgânicos como uma prática alimentar saudável. É salutar ressaltar que o conceito

de Segurança Alimentar e Nutricional adotado pela Organização Mundial da Saúde

(OMS) reconhece que o modo de produção de alimentos orgânicos está incluso

nessa previsão, chamando a atenção no sentido de que as práticas alimentares

promotoras de saúde devem ser social, econômica e ambientalmente, sustentáveis.

O sistema de produção orgânico tem dentro de suas características, a

necessidade de observar os ciclos naturais dos vegetais, bastante conhecido por

quem é da área, como a sazonalidade, ou seja, alimentos que estão disponíveis

naquele período do ano, em razão dos mais variados fatores agronômicos, o que

vem a influenciar nos cardápios oferecidos nas escolas, quando levado em conta a

alimentação escolar orgânica (AEO). Outro aspecto importante é a manutenção de

conservação dos alimentos produzidos na linha orgânica que possuem uma maior

durabilidade, em decorrência da sua maior vida útil, mantendo bom aspecto, quando

comparados com os alimentos produzidos de forma convencionais.

Estes gestores demonstram não conhecerem o processo de aquisição

dos alimentos que serão servidos para as crianças matriculadas nas escolas

municipais, dirigidas por eles. Ao se indagar a origem dos alimentos servidos na

merenda escolar, pelas suas falas, observa-se ainda, que não conhecem os

conceitos da agricultura orgânica. De acordo com Santos e Monteiro (2004), são

aqueles livres de contaminantes intencionais, por não usar agrotóxicos, fertilizantes

sintéticos, de organismos geneticamente modificados, aditivos alimentares, de

radiações ionizantes e de hormônios, e pelo uso estritamente controlado de drogas

veterinárias, por consequência esses alimentos são menos contaminados

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quimicamente do que os alimentos produzidos pelas técnicas de agricultura

convencionais.

Apesar de algum dos atores classificarem a alimentação escolar como

boa, afirmando vir dos pequenos agricultores e negando conhecimento sobre a

participação da produção orgânica nesse processo, demonstram não terem certeza

quanto a sua origem, em alguns momentos, afirmam que conhecem a origem e

posteriormente, na sua própria fala, negam essa afirmativa. Já o outro, inicia

negando e finaliza afirmando, comprovando, assim uma insegurança nos seus

conhecimentos sobre a questão in tela.

Entre os que têm conhecimento parcial sobre o tipo de alimentação que é

fornecida nas escolas:

[...] É um depósito central que abastece todas as escolas. Os alimentos que vem da agricultura familiar é batata, inhame, jerimum, banana [...] Conheço os alimentos orgânicos. Não..., não, não só quando o próprio agricultor fala. Estão sendo fornecidos alimentos orgânicos produzidos aqui no município porque o Secretário de Agricultura, não é? [...] Ele..., ele..., ele fica assim..., bem a par desse assunto..., ele acompanha, justamente. (GEPM2)

Na percepção deste gestor, não há menção quanto à qualidade e

conservação dos alimentos fornecidos nas escolas do município e quando se refere

aos alimentos orgânicos, demonstra desconhecimento sobre a matéria, que é

bastante rica e diversificada, abrangendo vários aspectos.

De acordo com Lago, Lengler e Coronel et al (2006), devido à

contaminação ambiental do ecossistema e em decorrência do aumento das

pesquisas relacionadas às consequências para a saúde humana, por conta do

consumo de alimentos com contaminantes químicos, vem crescendo o mercado

consumidor dos produtos orgânicos, devido as suas qualidades que o faz um

alimento diferenciado, principalmente em decorrência de todo o processo e estrutura

que está por traz deste modelo de produção. Segundo os autores, a agricultura

orgânica compreende muito mais do que apenas a produção sem a presença de

agrotóxicos, pois nesse sistema de produção as interações ecológicas são

essenciais, onde suas práticas têm como desiderato à preservação do meio

ambiente.

[...] ela é daqui mesmo da própria região. [...] É do município. É..., é dos sítios né..., é..., do Araçá..., [...], é..., Guilherme, Olho D’Água, é desses

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sítios. Tipo de alimentação..., a macaxeira, o inhame, que é inhame..., a batata doce, não é..., o coentro, as verdura, é..., cebola, frutas, bastantes frutas, [...] A qualidade são boas. É..., às vezes..., às vezes chega assim, um pouco..., muito madura, né? [...] Mai..., a deixa assim..., o quarto abafado, procura aventilar o mais..., o mais ventilação..., quanto mais ventilação é melhor né! Aí, a gente..., qualidade são boa! A conservação é..., a gente coloca sempre num..., na geladeira, não é..., na escola mermo [...] não sempre conserva ele dentro da geladeira. Muita qualidade e conservado, bem conservado. As crianças aqui, ha! Adora. (GEPM4)

Pela fala deste participante, observa-se uma carência de informação

quanto à matéria debatida, o que demonstra uma necessidade de capacitação e

reciclagem, pois se trata de um gestor escolar, indivíduo responsável pela

socialização do conhecimento.

Desta forma, para que haja um progresso quanto à garantia da

Segurança Alimentar e Nutricional e Soberania Alimentar e, por consequência, uma

superação das violações ao Direito Humano à Alimentação Adequada, é necessário

um apoderamento da informação e dos instrumentos existentes por parte da

sociedade civil organizada, como dos titulares de direitos, para que se observem os

direitos humanos. Faz-se mister, um fortalecimento das competências das

instituições governamentais e seus agentes públicos, dos membros de conselhos de

políticas públicas e direitos humanos e de outros atores, para o desenvolvimento das

ações necessárias ao cumprimento de suas obrigações e responsabilidades,

visando ao respeito, à proteção, à promoção e ao provimento do Direito Humano à

Alimentação Adequada – DHAA, no Contexto da Segurança Alimentar e Nutricional.

(BURITY, et al., 2010)

Num contexto geral, estes atores tentaram demonstrar o seu

conhecimento sobre a origem dos alimentos fornecidos para a merenda escolar do

município. Em algum momento, descrevem alguns alimentos adquiridos por meio de

licitação, em outros, citam alguns alimentos de origem agrícola, fazendo referência

às comunidades produtoras locais. Esta postura tenta passar que a origem desses

produtos vem da agricultura familiar, o que não está errado, porém, surgem algumas

dúvidas, quanto à região produtora, uma vez que foi ventilada a hipótese de serem

oriundos de outros municípios.

Quando se indaga quanto à origem alimentar, um dos aspectos a ser

investigado é se é proveniente das atividades agropecuárias locais. Vale lembrar que

o espaço local, de acordo com os estudos da nova geografia socioeconômica, além

de ser dimensão do desenvolvimento endógeno, é o locus privilegiado onde tudo

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acontece, por conter dimensão histórica e cultural, que serve de alicerce para as

possibilidades futuras de transformação da realidade, com a participação dos atores

e do uso dos próprios recursos existentes no local, sem a necessidade de

dependência externa. (ANDION, 2003)

4.1.2 Percepções pelos Gestores Públicos sobre a alimentação e nutrição escolar.

Na análise do grupo dos Gestores Públicos é possível identificar que

mesmo fazendo uma diferenciação entre a aquisição dos produtos adquiridos via

licitação e os adquiridos dos agricultores locais, via chamada pública, já é mais

evidente o entendimento quanto ao que determina o PNAE, com relação à aquisição

de alimentos vindos da agricultura familiar, como pode ser visto nas transcrições que

seguem. No que se refere à qualidade e a conservação dos alimentos fornecidos

nas escolas da rede pública municipal de Glória do Goitá - PE e os que reconhecem

as dificuldades enfrentadas referentes a esses pontos, já é bem sutil o entendimento

diante da perspectiva segurança alimentar, como se observa nas falas infra:

Os que têm conhecimento sobre a alimentação e nutrição escolar:

Os produtos da agricultura familiar sim. Nós organizamos todo o processo da chamada pública pelo Programa Nacional da Alimentação Escolar. [...] colocamos 49% da merenda da agricultura familiar daqui do local, no ano passado. [...] nós contemplamos três associações rurais, então dentro dessas três associações, uma média de quatro a sete produtores rurais, todos aqui do nosso município. [...] Todos esses produtos são acompanhados pela nutricionista da secretaria de educação [...] então, a gente acompanha também toda a entrega. No dia da entrega, nós vamos lá dar acompanhamento para saber com relação à qualidade do produto. Outra coisa que a gente faz com relação à qualidade é no início do ano passado o SEBRAE, esse produtores receberam capacitação pelo SEBRAE, como manusear o alimento, como vender, como planejar, [...] então nós estamos tendo este cuidado de oferecer um produto de qualidade. [...] Fizemos um evento, chamamos professores, alunos para fazer degustação do produto que estava indo para a merenda. Então tudo está dentro dessa rigorosidade para manter a qualidade do produto. (GP2)

Quando se refere à qualidade da alimentação escolar, este ator aponta a

participação de uma nutricionista, conforme previsto no PNAE, que faz o

acompanhamento do processo estudado, bem como, a participação do SEBRAE

junto aos agricultores familiares, prestando orientações quanto à manipulação da

produção agrícola.

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Sendo a qualidade e a conservação requisitos para se atender as

exigências da segurança alimentar para atender a um público vulnerável, que é o

dos estudantes das redes públicas de ensino, segundo Chaves et al (2009) aduz

que é por esta razão que a alimentação escolar está prevista na política pública que

visa compensar a insegurança alimentar, como garantia universal do direito humano

à alimentação.

Sim [...] Com relação à origem, nós fazemos anualmente licitação pra compra de gêneros básicos, perecíveis e não perecíveis. E da licitação em geral, nós temos dois tipos de licitação, um para a aquisição de gêneros básicos e outro para hortifrutis, os hortis são adquiridos aqui do município, dos agricultores do município de Glória. [...] Com relação à qualidade [...] durante a licitação, especificamos que o..., o fornecedor tem que deixar amostras pra a gente analisar esta qualidade e temos uma equipe na secretaria de educação que recebe estes produtos e distribui para as escolas. Então, essa equipe tá é..., orientada, com relação à qualidade dos gêneros que agente está recebendo. Quanto à conservação dos hortifrútis, [...] nós tivemos a preocupação de escolher já aqueles hortifrútis que têm uma maior durabilidade, até porque a gente não tem uma..., uma, vamos dizer assim, armazenamento correto nas escolas. E até para distribuir também, a gente tem uma dificuldade com relação a isso. [...] escolhemos aqueles que têm uma maior durabilidade para não ter tanto prejuízo. Mas um..., um po..., problema que agente tem atualmente é a questão de armazenamento nas escolas. Tem uma dificuldade pra a gente tentar assim..., conservar o produto com mais..., um período maior. Então um problema que a gente está tendo atualmente com relação à alimentação nas escolas é esse, a conservação. Os alimentos hortifrútis quem fornece pra a gente são os agricultores do município. [...] Vimos à vocação agrícola do município, introduzimos esses produtos que os produtores daqui fornecem pra gente na..., no cardápio da merenda escolar. [...] É levado em conta o hábito alimentar da população e a vocação agrícola. O que eles mais produzem aqui pra a gente introduzir no nosso cardápio, assim dessa forma a gente está beneficiando o agricultor do município. (GP5)

É possível perceber que esses atores ao se referirem à origem dos

alimentos servidos na merenda escolar, leva em consideração o fato de ser a

mesma fornecida pela agricultura familiar, através do mecanismo da chamada

pública pautada pelo PNAE, seguindo o que determina a Lei nº 11.947, de 16 de

junho de 2009, que dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar e do

Programa Dinheiro Direto na Escola aos alunos da educação básica.

Essa percepção pode ser interpretada com base na compreensão de

atender as diretrizes da alimentação escolar, conforme determinação infra:

2o São diretrizes da alimentação escolar:

[...] V - o apoio ao desenvolvimento sustentável, com incentivos para a aquisição de gêneros alimentícios diversificados, produzidos em âmbito

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local e preferencialmente pela agricultura familiar e pelos empreendedores familiares rurais, priorizando as comunidades tradicionais indígenas e de remanescentes de quilombos; [...] (BRASIL, 2009).

Observa-se, à primeira vista, que já existe uma percepção, por parte

destes atores, da valorização da produção local, conforme a previsão contida no art.

2º, da Lei nº 11.947/2009, o que é bastante positivo, apesar de que, em momento

algum ter sido citado à questão da sustentabilidade. Porém, o entendimento geral

demonstra uma predisposição para a inclusão deste tema. Não se restringir ao

aspecto econômico do desenvolvimento local sustentável, revela uma necessidade

presente. Essa percepção pode ser interpretada com base na compreensão de que

entender o desenvolvimento local sustentável como a auto-sustentabilidade

econômica por parte de alguns, é primeiro passo a ser atingido, porém, não devendo

ser esquecido os aspectos sociais, ambientais e culturais contidos nesse novo

paradigma de desenvolvimento.

Os que não têm conhecimento sobre a alimentação e nutrição escolar:

[...] Atualmente, não posso dizer, com segurança, que tipo de alimentação eles estão oferecendo. Mas antes, sim..., a gente atendia os alunos com frutas, verduras e origem animal também, [...] era bem diversificada. [...] Inclusive a associação [...] que ganhou na licitação, [...] também tinha uma relação com a APORG, a Associação de Palmeira. Eles tinham, eles davam assistência a eles. A alimentação da merenda escolar vinha exclusivamente de Palmeira. [...]. A qualidade muito boa, a qualidade do material que a gente recebia. Mesmo material que a gente recebeu da agricultura familiar, do PNAE, que era comprado, quanto à alimentação que a prefeitura também comprava em licitação, a gente tinha o maior cuidado. [...] E a gente armazenava num espaço onde tinha..., adequadamente os espaços eram bem organizados. No começo a gente teve muito problema porque a gente não tinha..., por exemplo: as escolas não tinham uma geladeira para armazenar esses produtos [...]. Aí nós compramos..., nós deixamos todas as escolas rurais com geladeira para armazenar esse material. [...] A qualidade dos alimentos da APRUP era muito boa [...] como era muito próximo, a gente, assim que chegasse, levávamos direto para a escola, o que desse para levar, o que não a gente ficava..., armazenado no..., na secretaria, no depósito. Das associações rurais que existem em Glória, só quem fornecia os produtos hortifrutigranjeiros era a de Palmeira, porque as outras não estavam habilitadas para, é..., participar, entendeu! [...] No último ano nós já vimos..., a do Araçá também se integrou. (GP4)

Observa-se pela fala do gestor GP4 que as escolas municipais não eram

equipadas com eletrodomésticos essenciais para a conservação de alguns tipos de

alimentos perecíveis, pois não tinham uma geladeira para armazenar esses

produtos. E que a gestão municipal passada adquiriu geladeiras e freezers,

deixando todas as escolas rurais equipadas para armazenar esse tipo de material.

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Visualiza-se um progresso nesta seara, evitando intoxicações e infecções

alimentares em decorrência da má conservação.

Apesar de apenas um dos gestores público ter sinalizado uma resposta,

assegurando que está tudo dentro de uma rigorosidade para manter a qualidade do

produto, informando a contratação de consultoria para orientar os agricultores,

quanto ao manuseio correto dos produtos da agricultura familiar a serem adquirido

pelo município, é possível perceber que a visão deste é divergente da opinião do

gestor GP5, que reconhece que algumas dificuldades como não se ter um

armazenamento adequado nas escolas, bem como, com a distribuição dos

alimentos escolares, o que tem interferido, até mesmo na escolha de alguns

produtos produzidos pela agricultura familiar local, visando à conservação dos

mesmos.

De acordo com Gabriel et al (2012), os cardápios escolares devem ser

elaborados dentro das diretrizes do PNAE, para sirvam de instrumento para a

satisfação das necessidades nutricionais e a formação de hábitos alimentares

saudáveis, o que contribui pra o surgimento de uma nova cultura alimentar e para a

promoção da saúde.

Observa-se, que já havia na gestão anterior, esta prática de aquisição

local de produtos, vindos da agricultura familiar, apesar da aquisição de alimentos

provenientes de outras fontes. Embora, o fornecimento dos produtos agrícolas

tenham sido provenientes de uma única comunidade, este fato sinaliza o início de

um processo que tende a ser aprimorado, com a inclusão de outras comunidades.

Esse opinativo do gestor público sugere que o programa precisa passar a

ser observado quanto às questões ambientais, pois não foi feita nenhuma referência

quando das falas sobre a origem da alimentação escolar, o que denota a

necessidade de capacitação dos gestores públicos locais, principalmente, os ligados

à gestão das escolas, no que diz respeito à educação ambiental, para que possa

haver um aprimoramento do processo ligado à segurança alimentar e nutricional.

Nesta linha de raciocínio, Azevedo e Pelicioni (2011), ao discutir sobre

promoção da saúde, sustentabilidade e agroecologia, numa ótica intersetorial, afirma

que o conceito de sustentabilidade vem sendo estudado sob vários ângulos, o que

tem contribuído para sua construção, citando como exemplo a ótica da Agroecologia

e do sistema agroalimentar, a partir da discussão que envolve a promoção da saúde.

Sendo assim, tornou-se um desafio acadêmico relacionar saúde e sistema

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agroalimentar, o que não é tão fácil, apesar do fortalecimento dos movimentos da

Reforma Sanitária Brasileira e de Promoção de Saúde, na década de 1980, que

observaram os diferentes determinantes e condicionantes do processo saúde-

doença, não foi levado em conta na área da saúde pública, as repercussões

socioambientais do padrão produtivo dominante. De acordo com as autoras, tal

comportamento torna mais instigante, se observarmos que o Brasil ainda é um país

com perfil agrícola e que a população urbana, na sua maioria possui um liame com o

meio rural. Logo, as intervenções da Saúde Pública parecem ter sido,

essencialmente, encontrar soluções para muitas mazelas urbanas que se originaram

no meio rural.

Logo, o fornecimento de alimentos para a merenda escolar, tem que

observar a questão do desenvolvimento sustentável em sua plenitude,

principalmente porque o consumidor dessa relação comercial, são crianças e

adolescentes em formação, que se encontram numa zona de risco, quanto à

segurança nutricional e alimentar, o que vem a fortalecer o que está previsto no

PNAE, ou seja, não basta comprar a produção agrícola da agricultura familiar, mas

também, deve ser observado o sistema de produção agroecológica, por ser mais

nutritivo, natural e ecologicamente correto.

[...] os alimentos fornecidos para as escolas, através do PNAE deveria ser de uma qualidade aquela que nós desejamos [...] E nós acreditamos piamente [...] de que esses alimentos são classificados como convencionais, onde deveria ter uma grande parte da produção orgânica e da agricultura familiar [...] Nós temos um indicativo bem forte de que esses alimentos são adquiridos pelas prefeituras [...] nas áreas de produção locais e os alimentos e..., os produtos, os itens não produzidos [...] na localidade são adquiridos pela CONAB, de acordo com a..., a disponibilidade de..., dos produtos que são ofertados para a comercialização [...] A CONAB, como órgão de controle de abastecimento, ela tem [...] a atribuição de adquirir esses produtos..., [...] e faz o repasse, o abastecimento para as instituições e os comerciantes e..., e o mercado de uma forma geral. [...] Nós acreditamos que dentro dos armazéns da CONAB..., é..., a..., o sistema de armazenamento e de comercialização e de refrigeração esteja dentro [...] dos padrões exigidos pela ANVISA [...]. De Glória do Goitá nós temos uma informação [...] que é o berço da produção orgânica, onde se encontra sediado o SERTA, [...] nós temos cinco ou seis OCS..., OCS é a Organização de Controle Social, que estão credenciadas, estão cadastradas aqui no Ministério da Agricultura para a produção de alimentos orgânicos, na venda direta ao consumidor. Leia-se nesse caso, a venda direta ao..., ao... , a venda institucional, ao caso, o PNAE e o PAA e nas feiras orgânicas, então Glória do Goitá é um centro de referência na produção orgânica e agricultura sustentável dentro da região da Zona da Mata de Pernambuco. (GP7)

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É possível observar que, embora os gestores mencionados não se

posicionem claramente sobre o conhecimento quanto à qualidade e a conservação

dos alimentos fornecidos nas escolas públicas, e o relatem como o todo, as suas

afirmações apontam para as questões ligadas a qualidade dos mesmos. O GP7 fez

referência à Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA e a Companhia

Nacional de Abastecimento - CONAB e seus papéis institucionais, acreditando que

estes alimentos estejam dentro dos padrões aceitáveis. Mais adiante cita o SERTA

como paradigma, ligado a produção orgânica no município de Glória do Goitá, o que

induz a uma leitura, de que o sistema orgânico de produção desses alimentos deve

ser levado em conta, na aquisição dos mesmos via PNAE, com o intuito de atender

aos preceitos da sustentabilidade do processo estudado. Inserir os orgânicos nessa

discussão faz refletir as consequências sociais e ambientas no modo de produzir,

contribuindo para o desenvolvimento sustentável local e planetário, neste sentido,

necessita-se de uma nova visão administrativa.

Para Jara (1998), o problema fundamental da sociedade nordestina e,

principalmente de Pernambuco, é a escolha de uma estratégia de mudança das

estruturas, e não a formulação de planos regionais ou estaduais de desenvolvimento

convencional. Atualmente, a ideia é adotar uma nova filosofia de desenvolvimento,

baseada numa nova visão holística antagônica aos modelos economicistas, onde

tudo deve ser quantificado em de dólares ou reais. A nova visão é inclusive na

dimensão social, bem como resgata a matriz antagônica implícita no modelo de

crescimento linear prevalecente, hoje governado pelo valor da competitividade.

Essas novas idéias se fundamentam no conceito de desenvolvimento sustentável.

A percepção da prática agronômica do gestor GP07 é de suma

importância, para que se possa avaliar como está sendo executado o PNAE.

Observa-se, pelas falas, que já se adquire alimentos produzidos localmente pela

agricultura familiar, porém, é salutar que estes alimentos sejam livres de

contaminantes, como asseverou este entrevistado.

É importante que fique claro o porquê do questionamento a respeito da

origem dos alimentos fornecidos para as escolas. Com tal questionamento,

investiga-se o local onde está sendo produzida a alimentação, se é no próprio

município onde esta localizada as unidades educacionais municipais, se é produzido

pela agricultura familiar e por fim, se é proveniente do sistema de produção

agroecológico ou orgânico. Se confirmados tais questionamentos, está se

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promovendo o desenvolvimento local através de uma compra institucional justa,

socialmente falando, e ecologicamente correta, ou seja, o PNAE está servindo de

instrumento propulsor para o desenvolvimento sustentável.

Os gestores públicos que têm conhecimento parcial sobre a alimentação

e nutrição escolar:

[...] as demais, eu não tenho conhecimento. A alimentação proveniente dos agricultores vem da agricultura familiar, agora as outras que são compradas pela gestão atual, em não sei de onde vem. [...] Quanto à qualidade e a conservação dos alimentos, não tenho conhecimento. Eu sei até na entrega. Eu sei que o IPA, junto com os dois programas de governo federal, PNAE e PAA, recebem toda esta alimentação e é distribuída. Depois desta distribuição eu não sei o que acontece com elas não. Atualmente quem recebe toda a alimentação fornecida pelos agricultores para a merenda escolar é o IPA a do PAA e a Secretaria de Educação do município a do PNAE, mas eu não sei até chegar a eles, eu sei, conheço o produto, agora depois, eu não sei dizer como é armazenada não. Quanto à qualidade e conservação dos produtos agrícolas, eu sei que a do PNAE é de qualidade boa, é da agricultura familiar, de pessoas assistida pelo IPA, e sempre estão participando das reuniões do Conselho de Desenvolvimento Municipal, aí, eu tenho conhecimento, agora como é o armazenamento não sei não. (GP1)

Podem-se perceber de acordo com a fala do GP1, que as políticas

públicas de inserção social e econômica já estão presentes em grande parte do

território nacional, o que precisa, na realidade, é criar meios para viabilizá-las de

forma correta, para que se possa atingir a filosofia das mesmas.

Segundo Assis (2006), no Brasil, apesar das dificuldades para uma

difusão ampliada de sistemas agroecológicos de produção, é possível superá-las,

nas variadas organizações sociais de produção. Cabe ao Estado a difusão deste

modo de produção, exercendo, assim, um papel essencial ao estabelecer políticas

públicas específicas, nas diferentes hierarquias de poder, dentro das suas

competências específicas, particularmente, nas áreas de crédito, pesquisa e

extensão e, principalmente, criando mercados e fomentando a produção. O poder

estatal tem que agir no sentido de dar apoio às associações e cooperativas de

agricultores familiares, por serem os principais atores que possuem maior potencial

para participarem ativamente do processo de desenvolvimento rural sustentável,

movidos pelas práticas agroecológicas.

Ao analisar essas assertivas, conclui-se que a comunidade necessita de

ter mais acesso às informações ligadas ao PNAE, pois os atores sociais

participantes do processo não têm um conhecimento seguro sobre a origem dos

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alimentos fornecidos para a merenda escolar do município. Quando se refere aos

produtos alimentícios vindo do campo, pode-se perceber que a uma afirmação no

sentido de que é proveniente da agricultura familiar, o que vem a consolidar

posicionamentos de atores, de outros grupos de estudo, refletindo que o processo

está no caminho certo, precisando só de alguns ajustes, que com a implantação no

município estudado, de um arranjo produtivo local focado na produção agrícola

sustentável viabilizará.

[...] nós começamos a perceber que houve tanto a inserção maior dos produtos vindos da agricultura familiar, sobre tudo, os produtos vindos da produção orgânica para as escolas, como ao mesmo tempo, essas escolas passaram a ofertar para os seus alunos, um alimento mais adequado pra aquela realidade, como é o caso, por exemplo: é..., de..., da contribuição que o Município de Glória do Goitá [...] esses alimentos fornecidos têm duas vantagens: primeiro, que são alimentos mais saudáveis pra quem está produzindo, ou seja, pelos agricultores e também quem vai se alimentar com esse produto, que são os alunos, os estudantes das escolas..., dos municípios. E ao mesmo tempo que tem esse alimento mais saudável, com valor nutricional, respeitando a cultura local [...] e aí não, aí você tem um vínculo com a realidade local e ao mesmo tempo você melhora a condição de renda..., é..., do agricultor. [...] é preciso que os municípios, sobre tudo no que diz respeito à qualidade e a conservação [...] possam ter suas centrais de recebimentos, [...] também nós estamos trabalhando alguns projetos pra incentivar o beneficiamento, [...] É..., transportar em equipamentos adequados, como é o caso dos contentores plásticos. [...] ou seja, há toda uma orientação para que haja o cuidado com o manuseio desses alimentos, até porque quem vai se alimentar são as nossas crianças [...] Ao mesmo tempo também, estamos orientando os municípios que possam, ou nos abatedouros regionais, ou nos municipais, [...] ou seja, sendo [...] nestes equipamentos públicos, pra poder atender à legislação de manuseio desses alimentos, [...] como é o caso de Glória do Goitá, e ao mesmo tempo, [...] melhorando também a sua qualidade, levando em consideração a primeira etapa, que é a produção, [...] que nós estamos ainda num regime de transição, mas o nosso desafio é fazer com que a produção que vá para as escolas seja seguramente, aquela produção saudável, com eu já disse, pra quem tá produzindo e pra quem vai consumir. No Brasil, ainda é muito alto o índice de agrotóxico, de veneno, que é utilizado nas produções [...] e isso pode colocar em risco o programa..., e consequentemente a vida dessas crianças. [...] a qualidade desses alimentos passa primeiro por um processo de produção..., nós também estamos incentivando, no caso, ali da Zona da Mata, [...] o que nós estamos chamando de assistência técnica específica pra produção de alimentos pro PAA, que é o Programa de Aquisição de Alimentos e o PNAE, que é esse programa, não é..., pra que possa [...] gradativamente, ir substituindo o modelo convencional da produção, pra uma produção orgânica e ao mesmo tempo pra esse processo de beneficiamento, pra assegurar a qualidade e a conservação desses produtos. (GP8)

De acordo com este ator, a origem da alimentação escolar é

consequência de uma parceria entre o Governo Federal, o Estado e os Municípios,

como gestores locais do Programa Nacional de Alimentação Escolar. Dessa forma,

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começa a se perceber que houve tanto a inserção maior dos produtos vindos da

agricultura familiar, principalmente, os produtos vindos da produção orgânica para as

escolas, como ao mesmo tempo, essas escolas passaram a ofertar para os seus

alunos, um alimento mais adequado pra aquela realidade, como é o caso do

Município de Glória do Goitá.

Dentro desta linha, para Triches e Schneider (2010) o Estado passou a

criar políticas públicas nessa área, com base nos modelos estruturantes ditados

pelos conceitos de Segurança Alimentar e Nutricional sustentável (SAN). Tais

políticas, decorrentes dessa abordagem compreendem dois componentes básicos,

de acordo com o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional -

CONSEA de 2004: o componente alimentar, relacionado à produção, disponibilidade,

comercialização e acesso ao alimento, e o componente nutricional, relacionado às

práticas alimentares e à utilização biológica do alimento, e, portanto, ao estado de

nutrição da população.

Ambos os componentes propõem um modelo de produção e consumo de

alimentos mais sustentável, que aproxime a produção de pequenos agricultores

familiares e o consumo de alimentos, contribuindo para a reconexão da cadeia

alimentar e de uma relação mais estreita entre campo e cidade. (TRICHES e

SCHNEIDER, 2010)

O PNAE cria esse liame entre os atores da cadeia de produção e

comercialização: o agricultor familiar e a comunidade estudantil, atendendo assim,

às diretrizes contidas na Política Nacional da Segurança Alimentar e Nutricional,

oferecendo uma alimentação de boa qualidade para os estudantes, ao mesmo

tempo, viabilizam os meios, de forma integrada com a Política Nacional da

Agroecologia, para o surgimento de um arranjo produtivo local, onde os agricultores

orgânicos, associados, farão a vez das empresas dentro deste processo produtivo.

É possível perceber na fala do GP8, a sua preocupação, quanto à

qualidade e conservação dos alimentos produzidos pela agricultura familiar, quando

se refere às parcerias com o Ministério do Desenvolvimento Social, sobretudo com a

Secretaria de Segurança Alimentar e Nutricional, com o foco na criação das centrais

de recebimento dos alimentos, vindo da agricultura familiar, para apoiar o PNAE, nos

municípios do Estado de Pernambuco, ao mesmo tempo, quando se refere ao

beneficiamento de alimentos e a orientação no manejo dos alimentos. Chama a

atenção também, para o transporte e o acondicionamento adequado da produção. É

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de se destacar, a importante percepção deste ator, quanto ao consumo de

agrotóxicos, quando afirma que no Brasil, ainda é muito alto o índice de agrotóxico,

de veneno, que é utilizado nas produções, o que pode colocar em risco o programa,

e, consequentemente, a vida dessas crianças, comprometendo a qualidade da

alimentação escolar, em razão dos contaminantes químicos.

A fala do GP8 é ratificada, pelas informações trazidas por

Spadotto e Gomes (2007), quando aduzem que, anualmente são consumidos

mundialmente em torno de 2,5 milhões de toneladas de agrotóxicos. E no Brasil, o

consumo anual de agrotóxicos tem sido superior a 300 mil toneladas de produtos

comerciais. Expresso em quantidade de ingrediente-ativo (i.a.), são consumidas

anualmente, cerca de 130 mil toneladas no país; o que indica um aumento no

consumo de agrotóxicos de 700% nos últimos quarenta anos, enquanto a área

agrícola aumentou 78% no mesmo período. Deve-se ressaltar, que o respondente

GP8 conseguiu manter a linha de raciocínio, quanto à qualidade e conservação dos

alimentos e das problemáticas ambientais locais e globais, quanto ao uso

indiscriminado de agrotóxicos, na produção agrícola convencional, o que acarreta

grandes problemas ambientais.

Para Siqueira (2008), as diferenças nas diversas formas de se encarar os

problemas ambientais são também afetadas, pelas peculiaridades da percepção e

interpretação do indivíduo, como também pelos diversos grupos sociais e

profissionais. Tais peculiaridades, muitas vezes, fazem com que a população

perceba determinados aspectos do ambiente, como prioridade a serem solucionados

do que os problemas ambientais que realmente são ameaças, mas que não são

perceptíveis pelos órgãos sensoriais.

Dentro da contextualização investigada, quando da análise das

percepções dos gestores, das escolas públicas municipais (GEPM), quando

comparados aos gestores públicos (GP), é possível diagnosticar, que estes mostram

um conhecimento mais aprofundado, sobre a temática trazida à baila, ou seja, mais

da metade desse grupo conhece a origem da alimentação escolar do município

estudado. Observa-se que há uma carência quanto à educação ambiental e a

segurança alimentar por parte dos gestores das escolas municipais, apesar de

serem estes os responsáveis pelo planejamento do que vai ser repassado pelos

professores, que têm a atribuição de tratar das matérias aqui ventiladas, de forma

transversal e multidisciplinar.

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4.1.3 Percepções pelos Gestores Privados (GPR) sobre a alimentação e nutrição

escolar.

Nesse grupo serão observadas, as opiniões da sociedade organizada,

que contribui para esse processo, por possuírem também, uma função fiscalizadora

do PNAE. É importante analisar as opiniões de fontes diferentes, respeitando-se

sempre as divergências, pois é no debate das diferenças, que surgem as soluções

para as limitações observadas, e é nessa visão, que se construirão sugestões que

venham a aglutinar os atores envolvidos, direta ou indiretamente, na pesquisa, com

o desiderato de se atingir o tão almejado desenvolvimento local sustentável.

Na análise do grupo dos Gestores Privados Municipais, Estaduais e

Federais, nos quais se incluem os Gestores do SERTA, da APRUP, da APORG, bem

como Técnicos e Consultores do ICEI e do SEBRAE, é possível identificar que,

apesar de não ser predominante, há gestores privados que conhecem a origem dos

alimentos fornecidos, via PNAE, para as escolas da rede municipal de ensino e que

já compreendem a importância do programa alimentar, criado de forma institucional,

para o desenvolvimento local, como pode ser visto nas opiniões abaixo.

Os que têm conhecimento sobre o tipo de alimentação que é fornecida

nas escolas:

Hoje nas escolas, temos uma diversidade de produtos, como mamão, melancia, batata doce, melão, alface, com outras folhosas, no geral, vindo dos agricultores situados na zona rural de Glória do Goitá. [...] Quanto à conservação destes alimentos é muito decorrente de entregas imediatas. São entregas no depósito da Secretaria de Educação pela manhã, e sendo distribuídos na parte da tarde, ou no mais tardar, no dia seguinte. (GPR2)

O GPR2 considera de forma simplória, que a conservação dos alimentos

é muito decorrente de entregas imediatas, quando na verdade, observa-se que há

uma variante bastante ampla, que interfere na conservação dos alimentos. No

entanto, é possível constatar que, no posicionamento deste entrevistado, ele

destaca o tempo da colheita até o fornecimento.

Ab initio, ao analisar as falas dos gestores privados, participantes do

processo de fornecimento de alimentos para as escolas municipais de Glória do

Goitá, observa-se uma certa liberdade de expressão, talvez, por não estarem os

mesmos vinculados diretamente ao poder público local. As respostas são bastante

diversificadas e ricas de informações, saindo de um discurso padronizado e

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vinculado ao poder do estado. Por isso, é de suma importância, considerar os

opinativos divergentes, na coleta de informações voltadas para a construção do

saber.

Outro diagnóstico estampado e bem visível são os posicionamentos mais

extensos, sem serem comedidos. Pode-se observar também, que os opinativos

quanto à matéria in tela são mais envolventes, porque tem um quê de sensibilização

cultural e educacional, demonstrando que a participação destes atores sociais no

processo analisado, não acontece somente em virtude de uma imposição legal, mas

por uma identidade com a causa, o qual demonstra um sentimento de

pertencimento, que acontece de forma espontânea e não somente como

cumprimento do dever funcional ou institucional.

Esta análise é importante que seja feita, porque demonstra claramente

uma necessidade de que seja promovida pela administração municipal, uma

capacitação, ou até mesmo uma reciclagem, no que tange as práticas de gestão

ambiental.

Temos. Inclusive quero registrar que o PNAE favoreceu demais a melhoria da qualidade nutricional dos alunos não é [...] hoje nós temos uma alimentação bem mais saudável, ainda não é o desejável, mas já é um grande avanço, e o PNAE foi o grande responsável por esta mudança. Esta alimentação vem muito regionalmente, mais vem coisa muito de fora. [...] Então nós temos, por exemplo, produtos que vem de Condado até Glória do Goitá [...]. E nós..., mas pelo menos regionalmente, agente já vê uma luz vindo muito boa, porque essas culturas que estão aflorando após a monocultura da cana já estão dando um norte a nossa comercialização. [...] Quanto à qualidade e conservação destes alimentos, bom, não é muito boa, primeiro porque existem ainda resquícios daquela má conservação [...], outro aspecto também é o transporte, que a maioria vem por estradas vicinais que não são próprias para o transporte adequado, a falta de embalagem dos produtores, muitos com máquinas de embalagem, mas não tem condições técnicas de embalar a produção, de cortar a produção. Isso aí nos coloca muito em condição desvantagem, mas pouco a pouco vai se resolvendo isso com a aproximação dos produtores dos locais de consumo. A perda de alguns produtos lá da nossa região chega até 60%, é uma perda muito grande, principalmente quanto mais é..., dificuldade você tem de transportar, é mais alimento propenso à perda [...], isso é..., favorece o apodrecimento, o descarte e a contaminação de muitos lotes de produtos. Ali nós temos um clima que propicia muito a predadores naturais [...] Então, quanto mais nós melhorarmos [...] a nível de embalagens, de tecnologia, a nível de transporte, a nível de aproveitamento rápido, refrigeração, nós vamos reduzir drasticamente essas perdas. Já existe algum tipo de estrutura, a maioria das escolas, houve aquele programa PDDL – Dinheiro Direto na Escola favoreceu muito a aquisição de freezer, de geladeira, então já tem nas escolas um bom acondicionamento, e olhe que as escolas até pouco tempo só trabalhava com enlatados. [...] (GPR4)

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Pela fala destes atores, a origem da alimentação escolar, proveniente do

PNAE, leva em conta a aquisição local, observando o direito constitucional à

alimentação escolar, com vistas à garantia do acesso ao alimento, de forma

igualitária, que deve respeitar os hábitos alimentares de cada localidade,

considerados as práticas tradicionais, que fazem parte da cultura local e a

preferência por alimentos saudáveis, priorizando o desenvolvimento sustentável.

Esta deve ser oferecida de forma ininterrupta, de acordo com o princípio da

continuidade, propiciando aos alunos, o acesso regular e permanente à alimentação

saudável e adequada, sendo o sistema orgânico de produção de alimentos o mais

indicado, para atender as necessidades vitais destes alunos, em fase de

desenvolvimento físico e mental.

O ator GPR4 quando aponta algumas dificuldades do processo no

município estudado afirma que a qualidade e a conservação dos alimentos servidos

nas escolas de Glória do Goitá não são boas, aponta vários fatores que interferem

na conservação dos alimentos, ao mesmo tempo em que afirma que já houve um

avanço, quanto ao acondicionamento dos alimentos, nas unidades escolares, e por

fim, traz várias sugestões, para o aperfeiçoamento do fornecimento da alimentação

escolar, dentro do tópico analisado.

Quanto à qualidade e conservação dos alimentos, servidos nas escolas,

além dos fatores apontados pelo GPR4, Cunha, Sousa e Machado (2010) visualizam

como objetivo do PNAE, que é gerenciado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento

da Educação (FNDE), a melhoria na qualidade nutricional propiciado pela inserção

dos alimentos orgânicos, na merenda escolar, o que vai refletir de forma positiva na

aprendizagem e no rendimento escolar dos estudantes, bem como na formação de

hábitos alimentares saudáveis, devido a sua abordagem, no processo de

aprendizagem. Por consequência, o PNAE vem contribuir para uma nova visão

pedagógica, dentro das ações desenvolvidas na escola, desenvolvendo uma nova

importância no papel institucional, com novas práticas educativas que promovem

mudanças nos hábitos alimentares dos escolares. Seguindo o raciocínio, o PNAE

contribui com as suas diretrizes para a promoção da educação em saúde e nutrição,

numa perspectiva mais ampla, contribui para a construção da cidadania dentro do

contexto, através das práticas de educação alimentar e nutricional.

A função transformadora desta política pública, por ser transdisciplinar,

tem uma importância de grande relevância social, uma vez que a proposta

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apresenta, pode ser observada não só nos limites da escola, mas junto aos

familiares dos estudantes, que estão participando deste processo educativo-

nutricional. Com tais práticas, constrói-se uma nova concepção de desenvolvimento

e de saúde preventiva, de forma harmônica, através das relações existentes entre os

atores sociais que podem fazer parte de um APL, viabilizado pela política em

discussão.

[...] a alimentação escolar do Município de Glória, do ponto de vista da produção orgânica, a gente tem o conhecimento que vem da comunidade de Palmeiras, vem também da comunidade do Araçá e vem também da comunidade Chã das Amoras, que são as três comunidades que tem uma produção orgânica. E também alguns produtos da comunidade de Cortesia. [...] pela primeira vez, a escola passa a discutir e a conversar sobre alimentos da agricultura familiar, porque quando a alimentação escolar vinha de fora, [...] então não tinha nada haver com a relação local. A partir do momento que o alimento, que os filhos dos agricultores vê seus pais produzindo e que eles produzem e vê os produtos aqui na escola, então esta relação escola e comunidade se aproxima, não é..., quer dizer, começa a ter uma interação, uma relação da escola com a comunidade. [...] Mas a relação da escola com a alimentação, ela consegue aproximar a vida das crianças, dos estudantes com a vida da escola. A partir do momento que aqueles produtos que os estudantes estão consumindo na escola foram suas próprias famílias que produziram, e aí..., hoje se diz..., hoje um dos..., um dos dados mundiais está mostrando que o Brasil é um dos países que mais consome agrotóxico. E já estão..., os dados comprovam que o nosso maior inimigo é alimentação. [...] a produção orgânica, não é..., a produção limpa, [...] ela trabalha tanto a qualidade biológica do solo, como também a qualidade biológica dos seres humanos. Então..., quem come e quem consome produto orgânico, acima de tudo está consumindo vida, não é..., [...] você está também consumindo outra filosofia de vida, uma outra relação com a natureza, uma outra relação com o meio ambiente, uma outra relação com o mercado, um mercado mais justo..., um mercado mais igualitário. Então, a produção orgânica, do ponto de vista da qualidade não se relaciona só do ponto vista da qualidade biológica, mais também a qualidade política, uma outra forma de fazer política, que seja mais dialogada com o local, ela dialoga com a outra qualidade do ponto de vista da organização produtiva dos agricultores familiares, porque pra produzir, comercializar, exige que os agricultores trabalhem coletivo, né..., associativismo..., cooperativismo. A produção orgânica exige uma outra relação dos agricultores com o meio ambiente, então a natureza deixa de ser objeto, não é..., e passa a ser um ator importante no processo produtivo, então..., a relação de exploração não existe, é muito mais uma relação de cooperação. A qualidade da produção orgânica exige que o consumidor tenha uma outra forma de relação com o produtor e o produtor com o consumidor. Porque não é mais aquela relação fria como a gente vê no supermercado, onde você não tem uma relação com quem tá produzindo, quem tá consumindo. [...] Então é justamente isso né..., essa qualidade..., ela não é só do ponto de vista da..., da qualidade biológica do produto orgânico que não tem agrotóxico, [...] Essa relação da qualidade produtiva, não é..., com a, com as relações sociais, a relação com o meio ambiente, da relação com a política pública, da relação com a escola. (GPR5)

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O gestor GPR5 demonstra conhecimento prático, profissional e teórico,

sobre a temática estudada, numa visão que envolve a gestão e a educação

ambiental, ressaltando o aspecto da sustentabilidade albergado pelo PNAE, quando

se refere à aquisição institucional da produção orgânica local.

Almeida (2003) lembra que a experimentação de "novas" tecnologias,

mais adaptadas às necessidades e à situação da pequena agricultura, de caráter

familiar, v.g., o sistema de produção orgânico, de forma sistemática e organizada,

bem como, as reivindicações de racionalização dos recursos naturais não

renováveis, ou seja, os movimentos ecologista e ambientalista são algumas das

orientações que fundamentam o movimento de contestação à agricultura

convencional.

Os que não têm conhecimento sobre o tipo de alimentação que é

fornecida nas escolas:

[...] No momento, eu não tenho informação [...] porque no momento que mudou de gestão, aí agente não teve acesso nenhum mais, o grupo do..., da associação dos agricultores. Porque na gestão anterior, eles pegavam produto orgânico da associação e nessa gestão, agora, não tá pegando nenhuma mais. [...] Quanto ao fornecimento de alimentos orgânicos fornecidos através do PNAE para a merenda escolar lá de Glória do Goitá [...] agente teve dois anos botando mercadoria e teve uma renda [...] Quanto à qualidade e a conservação desses alimentos, no momento eu não sei dizer. (GPR1)

Observa-se, da análise da percepção do ator GPR1, que apesar dele não

saber informar quanto à qualidade e a conservação dos alimentos fornecidos para

rede municipal de ensino na gestão atual, ressalta que fornecia alimentos orgânicos

para as escolas através do PNAE, o que demonstra que quanto ao aspecto

ambiental e social da sustentabilidade, além do econômico, a gestão passada

observava as recomendações contidas no art. 20 da Resolução/CD/FNDE nº 38, de

16 de julho de 2009, que dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar, aos

alunos da educação básica no Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE,

ao tratar da aquisição de gêneros alimentícios da agricultura familiar e do

empreendedor familiar rural, conforme redação infra, que:

Art.20. Os produtos da Agricultura Familiar e dos Empreendedores Familiares Rurais a serem fornecidos para Alimentação Escolar serão gêneros alimentícios, priorizando, sempre que possível, os alimentos orgânicos e/ou agroecológicos. (BRASIL, 2013g)

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O art. 20 da Resolução/CD/FNDE n º 38/09, ao tratar da aquisição de

gêneros alimentícios da agricultura familiar, é claro e objetivo, quanto à qualidade

dos alimentos que devem ser servidos para os estudantes, destacando que são

aqueles prioritariamente de origem orgânica, sendo este um dos principais sistemas

agroecológicos.

Não, o conhecimento que eu tenho em relação à gestão passada, eu sei que..., até pelo um trabalho dos próprios técnicos da APORG, que é uma instituição parceira do ICEI, que atua mais diretamente na comunidade, eu seu que houve aquisição por parte da prefeitura de alimentos através do PNAE. Então eu sei que a partir dessa aquisição, como a gente trabalha com agricultura orgânica né..., incentiva os agricultores a plantarem dessa maneira, eu sei que havia uma alimentação, boa parte dela realmente se comprava orgânico, então, daí, eu imagino que era uma alimentação de qualidade [...] Quanto à qualidade e conservação destes alimentos eu não saberia te informar não. Olha..., assim, eu sinceramente confio no trabalho dos agricultores, no trabalho dos técnicos, eu acredito que eram fornecidas coisas de qualidade, que eram bem armazenados, tudo mais. [...] E nesta gestão, realmente a gente sabe que tá tendo um pouquinho de dificuldade em relação à aquisição, principalmente a que é adquirida a comunidade que principalmente a gente trabalha lá, que é Palmeira, que a gente sabe que é orgânico [...]. Então, a gente sabe que nesta gestão não houve aquisição por parte da prefeitura dessa comunidade, então, eu acredito que isso pode ter influenciado, e caído um pouquinho a qualidade, e né..., a relação à saúde da alimentação que está sendo fornecida [...] Sei que da comunidade que a gente tem mais conhecimento que produz orgânico não está sendo adquirido. Imagino que talvez tenha caído a qualidade. Basicamente as dificuldades são as questões políticas, as divergências políticas, isso é que tem dificultado é... [...] Basicamente assim, realmente bem claro a questão é essa, são divergências políticas. (GPR3)

Este ator ao responder quanto à origem da alimentação escolar,

demonstra a importância do terceiro setor neste processo, que vai desencadear no

surgimento de um APL, quando reconhece o trabalho dos próprios técnicos da

APORG, que é uma instituição parceira do ICEI Brasil, que atua mais diretamente na

comunidade. Afirma que houve aquisição por parte da prefeitura de alimentos

através do PNAE, da produção proveniente da agricultura orgânica, o que é

determinante como incentivo para os agricultores optarem por este sistema.

Segundo ele, boa parte da alimentação era orgânica, o que colabora para a

qualidade da merenda escolar.

Como se pode observar, além dos demais atores sociais envolvidos na

criação dos APLs, as ONGs têm o seu papel reconhecido mundialmente, sendo

objeto de políticas específicas para tratar da matéria, sendo alvo de incentivos e

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reconhecimento do seu papel para a sociedade, e numa nova visão para a economia

local, foco do desenvolvimento local sustentável.

Há mais de uma década, ações de apoio a atividades produtivas, com

foco no território, passaram a ser organizadas a partir da noção de APLs. Em todo o

país, iniciativas públicas do governo federal, dos estados e municípios, além dos

esforços privados, pautam-se na abordagem de arranjos produtivos, com destaque,

também, para a atuação dos bancos, públicos e privados, que reconhecem a

importância da disponibilização de crédito em APLs (BRASIL, 2013i).

Pode-se perceber que a postura do gestor GPR3 se coaduna

perfeitamente com as informações prestadas pelo gestor GPR1, reforçando o seu

discurso, e, por conseguinte, a análise já feita anteriormente. Por fim, na sua

percepção quanto à qualidade dos alimentos fornecidos para as escolas, imagina

que talvez tenha caído a mesma, e, ao final, traz à baila uma reflexão quanto às

dificuldades, acreditando que são basicamente as questões políticas, as

divergências políticas, que tem dificultado os processos analisados. Ressalta-se que

esta é uma opinião que contribui no resultado da pesquisa, que é qualitativa, e essas

impressões refletem o conhecimento sobre o fornecimento da alimentação escolar

municipal, apresentando um comparativo entre as gestões municipais, anterior e

atual, com relação ao desenvolvimento sustentável local.

A maioria dos gestores privados demonstra conhecer a origem da

alimentação fornecida nas escolas do município, de forma que, ou na gestão

administrativa municipal anterior, ou na atual, os atores envolvidos, pelas suas falas,

percebem, de forma sutil, as diretrizes traçadas pelo Programa Nacional da

Alimentação Escolar, que dentre outros, visa fomentar o desenvolvimento

sustentável, conforme se depreende da determinação contida no art. 2º da

RESOLUÇÃO/CD/FNDE N º 38, de 16 de julho de 2009, que reza:

I - DOS PRINCÍPIOS E DAS DIRETRIZES DO PROGRAMA Art. 2º São princípios do PNAE: [...] IV – a sustentabilidade e a continuidade, que visam ao acesso regular e permanente à alimentação saudável e adequada; V - o respeito aos hábitos alimentares, considerados como tais, as práticas tradicionais que fazem parte da cultura e da preferência alimentar local saudáveis [...] (BRASIL, 2013g).

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Dentro da complexidade que envolve o presente estudo, observa-se que

a administração local, busca respeitar o direito humano à alimentação adequada, de

forma universal e equitativa, com o desiderato de garantir a segurança alimentar e

nutricional dos alunos matriculados na rede pública municipal de educação básica.

É possível observar, que embora os gestores mencionados não se

posicionem claramente sobre meio ambiente como vertente a ser observada para

que se atinja o desenvolvimento local sustentável, mas de forma ainda superficial, já

se observa no relato como conjunto, que as suas afirmações apontam também para

essas questões. O GPR1 quando afirma que, “na gestão anterior, eles pegavam

produto orgânico da associação e nessa gestão, agora, não tá pegando nenhuma

mais.”, está observando a questão ambiental do desenvolvimento sustentável,

quanto ao fornecimento de alimentos orgânicos, adquiridos através do PNAE para a

merenda escolar de Glória do Goitá.

4.1.4 Percepções pelos técnicos e pesquisadores em agricultura sobre a

alimentação e nutrição escolar.

Em consideração às percepções grupo de Técnicos e Pesquisadores em

Agricultura, observa-se que existem conhecimentos distintos no que se refere ao tipo

de alimentação que é fornecida nas escolas.

Nenhum dos entrevistaram demonstrou que têm conhecimento sobre o

tipo de alimentação que é fornecida nas escolas.

Os que não têm conhecimento sobre o tipo de alimentação que é

fornecida nas escolas:

Eu não tenho conhecimento com relação à alimentação que é fornecida, nem de onde vem. Eu não tenho essa informação. [...] Agora a qualidade..., também nós fiscalizamos apenas essa parte de controle de resíduo. Então essa parte de produção, de controle como..., de qualidade, essas coisas, eu não tenho essa informação. Com relação aos resíduos no que está sendo oferecidos pelos agricultores para a merenda escolar, nós não coletamos assim o..., para a gente dar essa informação, teria que coletar é..., diretamente na recepção, na escola, na hora que recebe a alimentação, o produto não é..., então nós não fizemos ainda..., é..., nenhuma coleta em algum produto destinado as escolas. É interessante também que se faça isso, não é..., porque é uma confirmação do que se tá produzindo e entregando como se propõe, não é [...] (TPA3)

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Este ator, na sua fala, quanto à qualidade e conservação da alimentação

escolar, chama a atenção quanto à fiscalização e do controle de resíduos tóxicos.

Dentro do processo de fornecimento da alimentação escolar é necessário que se

faça esse tipo de controle de resíduos, observando-se a questão da logística reversa

quanto à produção agrícola proveniente da agricultura familiar que adquire

agrotóxicos para as suas atividades.

Neste sentido, ressaltam Araújo e Juras (2011), a questão da logística

reversa, prevista no do art. 33, dando destaque para a questão das embalagens de

agrotóxicos, no inciso I do mesmo artigo, da Lei de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305,

de agosto de 2010), infra:

“São obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente de serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes, importadores e comerciantes de:

I – agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, assim como outros produtos cuja embalagem, após o uso, constitua resíduo perigoso, observadas as regras de gerenciamento de resíduos perigosos previstas em lei ou regulamento, em normas estabelecidas pelos órgãos do Sinasa, do SNVS e do Suasa, ou em normas técnicas;... (BRASIL, 2013f)

A questão dos resíduos tóxicos ligados à agricultura convencional,

praticada também pela agricultura familiar e oferecidas nas escolas, deve ser

observada quanto à qualidade e conservação da mesma.

Apesar atividade do ator TPA3 está inserida na área da pesquisa e a sua

instituição ter um papel importantíssimo no fomento, tanto da agricultura familiar,

como, principalmente, da agricultura orgânica, o mesmo não conhecia a produção

orgânica do município estudado, vez que a sua instituição atua no controle do uso

indiscriminado de agrotóxicos e na produção de resíduos tóxicos, por parte da

agricultura.

O PNAE é um programa que busca proteger a saúde das crianças e dos

adolescentes matriculados na rede de ensino público, o qual tem por objetivo:

contribuir para o crescimento e o desenvolvimento biopsicossocial, a aprendizagem,

o rendimento escolar e a formação de práticas alimentares saudáveis dos alunos,

por meio de ações de educação alimentar e nutricional e da oferta de refeições que

cubram as suas necessidades nutricionais, durante o período letivo. (BRASIL,2013d)

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É importante que se destaque as práticas agrícolas sustentáveis, v.g. a

produção orgânica de alimentos, prevista dentre os sistemas agroecológicos que

devem ser priorizados na aquisição da merenda escolar, por respeitar os ciclos

naturais, dentre outras diretrizes contidas na lei regulamenta a matéria.

Segundo a Lei dos Alimentos Orgânicos, Lei nº 10.831/2003, no seu

art.1º, § 1º, a finalidade de um sistema de produção orgânico é:

I – a oferta de produtos saudáveis isentos de contaminantes intencionais; II – a preservação da diversidade biológica dos ecossistemas naturais e a recomposição ou incremento da diversidade biológica dos ecossistemas modificados em que se insere o sistema de produção [...] (BRASIL, 2013e)

Os que têm conhecimento parcial sobre o tipo de alimentação que é

fornecida nas escolas:

[...] a alimentação da escola é feita pelo PNAE, através da prefeitura junto com a CONAB, ou é o MDS [...]. Para o estudante, no semestre passado, nós tivemos o PAA fornecido à educação, à saúde, certo? E ao hospital. É o programa de aquisição de alimentos, dezoito produtores forneciam parte de estudantes, parte para o PRÓ-JOVEM, que também são estudantes, que é uma ação social, e parte para o hospital, que é a saúde. [...] Quanto à qualidade e conservação desses alimentos, veja..., [...] O governo do Estado, o governo federal passa a verba para o IPA, o IPA compra o material e a gente recebe e repassa para as instituições. O IPA compra pago pelo governo e passa para a instituição, faz o reparse [...] Recebemos, colocamos, é, trazemos do município o agente sanitário, pra da vigilância, no caso a nutricionista, o vigilante sanitário, para ver a qualidade, se ele achar que não está no padrão e até pela visualização nossa que trabalhamos, aconselhamos que todo produto seja colhido recente, para que ele venha em boa qualidade. (TPA1)

O TPA1 aponta a participação de uma equipe multidisciplinar que faz o

controle da alimentação escolar, quando da sua recepção, o que demonstra outro

avanço no sentido dos critérios da qualidade e conservação da alimentação escolar,

visando atender as determinações da PNSAN.

[...] Com o advento do PNAE, uma pequena parcela já tá sendo adquirido da produção orgânica familiar [...] dos próprios agricultores das regiões, produtoras. [...] Então, esse alimento vem dessas áreas que a gente chama brejos..., não é..., são geralmente..., é..., clima de altitude [...] em Glória do Goitá, eu conheço o trabalho realizado pelo SERTA..., e pela APORG, que são parceiras, nós somos entidades participantes da Comissão da Produção Orgânica de Pernambuco, que é vinculada ao Ministério da Agricultura. Qualidade e conservação dos alimentos orgânicos [...] ele tem que ser utilizado de imediato [...] e a qualidade, [...] são considerados bons, tem sido feito com essas entidades que acompanham [...], outras ONGS que trabalham também, acompanhando esses produtores ou grupos de produtores. Então a qualidade é boa, agora precisa aumentar é a

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quantidade [...] Então, eu acho que a gente precisava crescer em capacitação, não só em capacitação, mais também em aumento de área, pra aumentar a..., a quantidade de produtos. E a qualidade, eles são acompanhadas, eles são monitoradas pela..., por esses órgãos e também quando se tem alguma denúncia, a gente tem o apoio da ADAGRO [...], coletando produtos e fazendo análises no ITEP, [...]. (TPA4)

É perceptível pela fala deste entrevistado, quando afirma que

alimentação escolar, através do PNAE, passou a ser adquirida no local onde é

produzida, porém, não detalha qual a sua origem. Na sua percepção, os alimentos

orgânicos são perecíveis, mas são de boa qualidade. Vislumbra uma possível

ampliação de mercado em razão de eventos de grande porte que acontece no

Estado e o possível fornecimento desse tipo de produção de alimentos, para uma

rede de restaurantes, sendo necessária para isso, a capacitação.

É nítida a importância deste processo de aquisição dos alimentos a serem

servidos nas escolas, uma vez que, dependendo da sua origem se estará sendo

observado um direito garantido pela Constituição Federal, conforme preceito contido

no art. 208, verbis:

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: [...] VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares de material didático escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. [...] (BRASIL, 2013b)

De modo geral, é possível perceber, que os vinte e cinco atores

envolvidos, direta ou indiretamente, com o fornecimento da alimentação escolar,

através do PNAE, divididos em grupos de acordo com similitudes das suas

atividades, nove deles tem conhecimento sobre a sua origem, oito não tem

conhecimento e oito tem conhecimento parcial.

Análises a cerca das percepções por parte dos sujeitos da pesquisa

quanto à qualidade e conservação da alimentação que é fornecida nas escolas, é

possível verificar que os gestores se posicionam de forma distinta, o que é bom para

o município estudado, pois com as diversidades que surgem um crescimento

harmônico. As divergências são salutares, para que se amadureçam as ideias. Para

isso, é necessária a utilização de ferramentas adequadas para o alcance do

desenvolvimento local sustentável.

Como exemplo dessas ferramentas, segundo Buarque (1999), o

planejamento local e municipal, seria uma opção, onde a aplicação para subespaços

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de pequena escala dos métodos e técnicas, consagrados na teoria e na prática do

planejamento governamental, viabiliza o desenvolvimento. Estes métodos e técnicas

devem ser adaptados e ajustados à visão moderna de planejamento e de

desenvolvimento, onde se inclui os postulados do planejamento estratégico e do

desenvolvimento sustentável. O que implica numa visão de longo prazo, com uma

abordagem sistêmica, através de um tratamento multidisciplinar, bem como, através

da negociação política e participação social.

4.2 PERCEPÇÕES SOBRE AS QUESTÕES RELACIONADAS AO PNAE E O

FORNECIMENTO DE ALIMENTOS POR PARTE DOS AGRICULTORES

FAMILIARES LOCAIS PARA AS ESCOLAS MUNICIPAIS

Esta questão busca elucidar como os demais atores percebem as

questões que envolvem o fornecimento de alimentos produzidos pelos agricultores

do locus da pesquisa e as determinações contidas no PNAE, ou seja, avaliar como

percebem a problemática do fornecimento e consumo de alimentos escolares,

levando-se em conta os princípios determinantes do PNAE. Sendo assim, uma

maneira de lincar, de forma lógica, a questão anterior, analisando se a percepção do

desenvolvimento sustentável é compatível com o entendimento sobre a produção

dos alimentos orgânicos visando uma melhoria tanto da produção, ambientalmente

correta, como da qualidade da alimentação produzida, observando-se sempre os

sistemas agroecológicos. O levantamento, quanto à referida questão encontra-se

representado no quadro sinóptico abaixo.

Quadro sinóptico dos resultados 02 - Percepções sobre as questões relacionadas ao PNAE e o fornecimento de alimentos por parte dos agricultores familiares locais para as escolas municipais.

PNAE E O FORNECIMENTO DE ALIMENTOS POR PARTE DOS AGRICULTORES FAMILIARES LOCAIS.

GEPM GP GPR TPA Total

Percebem 7 7 4 1 19

Não percebem 0 0 0 3 3

Percebem parcialmente 2 1 1 0 4

Total 9 8 5 4 26

Fonte: pesquisa de campo, o autor.

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4.2.1 Percepções pelos Gestores das Escolas Públicas Municipais quanto às

questões relacionadas ao PNAE e o fornecimento de alimentos por parte dos

agricultores familiares locais.

Pelas falas dos gestores escolares do município, percebe-se que os

mesmos carecem de informação de base ambiental, bem como, de esclarecimentos

quanto ao sistema de produção de alimentos orgânicos e por fim, das diretrizes

contidas no Programa Nacional da Alimentação Escolar, visto que a minoria tem um

conhecimento muito superficial sobre a temática ventilada. - Como vão gerir a

execução da alimentação escolar nas suas unidades de ensino? Como vão repassar

para os professores e a comunidade escolar, as questões ligadas à Política Nacional

de Segurança Alimentar e Nutricional, se desconhecem o assunto? Como o PNAE

pode instrumentalizar o desenvolvimento local sustentável, sem um envolvimento de

quem é ator neste processo?

Os que não percebem as questões relacionadas ao PNAE, quanto ao

fornecimento de alimentos por parte dos agricultores familiares locais para as

escolas municipais:

Sim. [...] Assim, na hora da reunião, onde eles apresentaram as licitações de preço e tudo, e eu estava lá presente, lá os pessoal, assim..., os fornecedores dos sítios, entendeu? Tinha de..., de..., Chão de Amoras..., lá do Araçá e lá de Palmeiras. [...] Conheço os alimentos orgânicos. Não..., não, não só quando o próprio agricultor fala. Estão sendo fornecidos alimentos orgânicos produzidos aqui no município porque o Secretário de Agricultura, não é? [...] Ele..., ele..., ele fica assim..., bem a par desse assunto..., ele acompanha, justamente. (GEPM2) É. Fornece. Que são os bolo, tapioca..., é bolo, a tapioca e as verdura é daqui mesmo da cidade. Tem um fornecimento de alimentos orgânicos, tem como é o nome... Mas tem, eu esqueci o nome agora, mas tem. (GEPM3) Como assim? Não. Eu não sou, eu não sou assim..., é bem assim alterada pra responder essa pergunta. Mais eu creio que autóxico não tem não. Agora eles são bem conservado e vem da região! É..., eles não são autóxico, eu acho que não tem não! Acho exatamente que eles cumprem com o PNAE, eu acho que eles cumprem muito bem, sobre os alimento. (GEPM4) Sim. Acredito que sim! A porque ele vende é..., pelo que..., o pedido que eles solicitam vem tudo certinho. [...] (GEPM5) Adquire. Adquire, tem..., as frutas, os legumes..., não é... Tem o bolo que é servido pelo PNAIC. É... Tem o colorau, [...]. a batata, o inhame, às vezes vem a macaxeira. Quanto ao fornecimento de alimentos orgânicos produzidos pelos agricultores de Glória, olhe..., no vê, sim. Eu não sei assim..., porque a gente num..., mais assim..., quando... Fizeram a reunião que passaram pra agente, era que os alimentos era orgânicos, que era dos

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agricultores que plantavam dentro do município e ia fornecer para as escolas, esse produto. (GEPM6) Não né? Pelo PNAE? É [...] pelo PNAE, isso? Não! Eu não seu informar isso não. É justamente porque já vem fornecido da Secretaria da Educação pra a escola. A gente já recebe tudo aqui. (GEPM7) Olhe..., isso eu não sei. Não sei o que é PNAE. Acho que sim, porque as verduras duram! Demoram a se estragar e as frutas também. E a escola aqui não é tão grande, ai vem muitas fruta, muitas verdura e demora. Eu coloco ali, dou um jeitinho, conservo. Eu coloco assim..., na geladeira, o não dar, eu coloco assim..., num ambiente assim..., onde ficam frescos e eles duram bastante. (GEPM8)

A maioria dos gestores das escolas municipais demonstra não conhecer a

complexidade que envolve o PNAE, mostrando-se propensos a não vislumbrarem as

questões ambientais, sob a ótica da sustentabilidade, envolvendo a agricultura

orgânica e a agroecologia, entre outros aspectos. Assim, a maior parte afirma que, a

origem dos alimentos é proveniente da agricultura familiar local, ou seja, busca uma

visão que atende a um dos pilares do desenvolvimento sustentável, primado pelo

PNAE, o que demonstra uma necessidade de ser trabalhada a matéria, para que o

PNAE se torne realmente um instrumento de mudança na gestão municipal focada

no desenvolvimento local sustentável.

Neste contexto vê-se a necessidade da agricultura fazer frente às

demandas contidas nas diretrizes do PNAE, principalmente aumentando a produção

das terras atualmente exploradas e evitando a exaustão ainda maior, de terras que

só marginalmente são apropriadas para o cultivo. (BRASIL, 2013a)

Os gestores das unidades de ensino municipal que percebem

parcialmente as questões relacionadas ao PNAE quanto ao fornecimento de

alimentos por parte dos agricultores familiares locais para as escolas municipais:

Adquirem [...] a merenda é adquirida de forma de forma centralizada, aqui no município a gente faz a distribuição, o núcleo é a Secretaria de Educação, aqui a gente se encarrega de distribuir nas escolas. Com relação à aquisição dos alimentos orgânicos, é através de..., porque existe aquele processo né! A própria merenda dá o direito né..., o dinheiro da merenda né... Existem dois tipos. Aquele tipo você pode comprar, no caso, essa aquisição da merenda orgânica, que é a batata, o inhame, a macaxeira. [...] Existem pessoas aqui em Glória que já tem plantio mesmo, a gente tem em Glória do Goitá, a gente tem um percentual de dez por cento dos agricultores que vivem dessa mão-de-obra, que já é renda para o município. Esses agricultores participam desse processo de venda para o Município. A comunidade que participa..., a gente tem mais em Palmeira Velha, em Pau-D’arco, a gente tem em Chão de Pedra, pra aquele lado, sempre daquele lado que segue pra Vitória, através de associação. Temos a associação de Araçá, a gente também tem..., associação lá de Viração, Poças, pra aquele

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lado também [...] quem dá garantia que o produto é orgânico é o Secretário de Desenvolvimento de..., que hoje a gente não pode mais chamar Secretário de Cultura..., de Agricultura... Tem um outro nome. É de Planejamento e um dizerzinho..., [...] É o Secretário e ele se preocupa muito com isso, esse é o controle que é feito, é de responsabilidade dessa secretaria. (GEPM1)

O entrevistado GEPM1, ao afirmar que fornecimento de alimentos por

parte dos agricultores locais, para as escolas municipais, observa as questões

relacionadas ao PNAE faz referência à aquisição desses, junto aos agricultores

familiares do município, participantes de associações.

No entanto, pela sua fala é possível perceber que o entendimento do

mesmo, quanto ao PNAE, está limitado à questão econômica e social, quanto ao

aspecto ambiental, nota-se que o mesmo não apresenta compreensão do conceito

da produção agroecológica ou orgânica. É válido ressaltar, que no entendimento

geral deste ator, quanto aos procedimentos, para se ter a garantia de que os

alimentos são orgânicos, não estão em conformidade sobre as regulamentações que

tratam da matéria, porém, demonstra uma certa abertura para a discussão deste

tema. Não se pode restringir a responsabilidade da qualidade dos alimentos

orgânicos, ao gestor de agricultura. A escolha por alimentos saudáveis deve ser

preocupação de quem compra e consome, pois a questão do consumo de

agrotóxicos, por crianças em idade escolar é algo muito sério, principalmente, por

estarem numa faze de se criar novos hábitos alimentares.

Segundo Kugler (2012), seja na agricultura familiar ou nas grandes

propriedades rurais, “os impactos dos agrotóxicos na saúde pública abrangem

vastos territórios e envolvem diferentes grupos populacionais”, afirma dossiê

publicado em abril pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO).

Milhares de casos de contaminação são registrados todos os anos pelo Sistema

Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas, gerido pela Fundação Oswaldo

Cruz (Fiocruz) e pelo Sistema de Notificações em Vigilância Sanitária, da Agência

Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Mas, segundo a Organização Mundial da

Saúde, de cada cinquenta casos de intoxicação por agrotóxico no mundo, apenas

um é notificado. O que chama a atenção é que além dos agricultores e suas

famílias, milhares de profissionais envolvidos no comércio e manipulação dessas

substâncias correm risco vida por intoxicação. É fundamental para as escolas que

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aderiram ao PNAE, conhecer a origem e a forma de produção dos alimentos

produzidos de forma saudável.

Sim, devido à qualidade dos alimentos né..., porque também é um Órgão Federal, não é..., que já envia essa verba, e nós temos que..., é..., ir de encontro ao que nos é oferecido. Então se..., se o PNAE nos oferece um recurso, então ele está sendo bem utilizado em relação à alimentação dos nossos alunos. Sim, no meu consentimento a gestão ela visa, é..., a compra da merenda nesse sentido, não é? No local da própria cidade, então Glória do Goitá, ela tem os supermercados, não é..., que oferecem, os representantes que oferecem os materiais é..., tanto de limpeza, como de alimentos, não é..., e também os nossos agricultores pra fazer parte de todo o nosso processo e ajudar na renda do nosso município. Os agricultores estão participando desse processo devido à qualidade das verduras que vêm. Elas sempre vêm bem verdinhas, elas não têm vestígios nenhum que foram usados agrotóxicos. (GEPM9)

Quando questionados, se a escola adquire alimentos nos moldes

previstos pelo PNAE, os atores envolvidos nesta questão focam sempre no

fornecimento local junto aos agricultores, que é a compra por meio das associações

da agricultura familiar do próprio município, segundo informação passada em

reunião com os gestores escolares. Embora os entrevistados não caracterizem o

que são os alimentos orgânicos, fizeram menção aos mesmos, acreditando não

serem contaminados por produtos tóxicos. Tais considerações apresentam uma

preocupação principalmente com a questão de uma alimentação natural, visto que,

em ambas as falas, foram citadas questões ligadas à origem da produção agrícola.

Um aspecto relevante a considerar está na aquisição local, afirmada por

esses respondentes, quando abordam a questão, se a escola adquire alimentos nos

moldes previstos pelo PNAE.

4.2.2 Percepções pelos Gestores Públicos quanto às questões relacionadas ao

PNAE e o fornecimento de alimentos por parte dos agricultores familiares locais.

Os gestores públicos que percebem as questões relacionadas ao PNAE

quanto ao fornecimento de alimentos por parte dos agricultores locais para as

escolas municipais:

Sim. É..., todos nos moldes do PNAE, agora sim..., a gente tem dois produtos que a gente compra do agricultor. É o PNAE que daria uma articulação, a prefeitura que organiza todo o processo e o PAA, através de uma parceria com o IPA. Também a gente recebe os produtos do IPA, através de doação, também vai para as escolas. Então temos o PNAE e o

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PAA, temos os dois programas. O PAA é uma comercialização individual. Pelo PNAE o agricultor deve obrigatoriamente ser via associação. Pela PAA, ele como produtor rural, desde que ele tenha DAP, ele pode fornecer direto ao Estado. O Estado compra, ele recebe um cartão, o Estado deposita o dinheiro direto na conta dele e ele se compromete a entregar a quantidade de produtos durante o semestre. E aí o IPA recebe esse produto, a gente vai junto com o IPA no ponto de entrega, recebe e ai faz a doação para as escolas municipais e a creche. [...] Todos os produtos fornecidos pelo PNAE, a maioria dos produtos são orgânicos, e ai tem porcentagem de 30% do valor agregado do produto que é orgânico, ele tem um valor que é mais caro 30%. Só que aí a gente, como tinha produtos que são mistos, nós fizemos um acordo entre os próprios produtores, e todos comercializarem todos os produtos, priorizando o produto orgânico, mais aí por um valor que todos pudessem ser contemplados de forma igualitária. Com relação os orgânicos quem dá a garantia de que eles são orgânicos, tem a associação de palmeira que eu acredito que ela tem certificação, as outras associações não têm certificação de produto orgânico. Mas pelo acompanhamento que a gente dá, a gente sabe que o produto é sem a utilização de agrotóxicos. [...] O SERTA tem participação nenhuma nesse processo. Temos parcerias com todas as associações rurais, com a APORG, com as instituições que participam do conselho, mas depende também das necessidades das associações. (GP2)

De acordo com a fala do GP2, ele achou que poderia tratar os desiguais

de forma igual, pagando o mesmo valor para o alimento produzido pelo sistema

orgânico e o produzido de forma convencional. Assegura que prioriza o produto

orgânico, pagando um valor que todos pudessem ser contemplados de forma

igualitária. Sabe-se que o custo para produzir de forma orgânica não é o mesmo do

convencional, e que as exigências agronômicas, ambientais, sociais de toda a

legislação que tratam daquele tipo de produção são bem maiores, logo, não se deve

confundir o princípio da isonomia, pois nunca desiguais serão iguais, devendo os

produtos produzidos dentro dos sistemas agroecológicos serem pagos pelo preço

justo, pois, é justamente um dos fatores que motivam a ampliação do mercado

inclusivo, nos programas institucionais de aquisição de alimentos. A compra local

promove a racionalização nos custos e na logística, o que também viabiliza a

eficácia das diretrizes traçadas pelo PNAE, focada na promoção de uma agricultura

sustentável.

Sim. Adquirem. A gente fez pública né? Do..., para fazer dessa agricultura. E segue esse, os padrões do PNAE. A gente teve toda uma consultoria, quando a gente entrou, a gente não tinha muita experiência, a gente fez a do ano passado e aí a gente fez toda nos moldes do PNAE. - com relação ao fornecimento de alimentos orgânicos, com é que tem acontecido? Bem..., orgânicos, a gente não tem. Inclusive a gente é... Aqui em Glória a gente tem o SERTA né? Que produz isso aí e faz o acompanhamento, mais o nosso, ele não é orgânico. A APORG não está participando do processo, é, realmente, o SERTA só intermedia né? Mas, existe a possibilidade de que

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essa associação venha a participar, porque é de interesse nosso que seja usada a..., produtos a..., produtos orgânicos. (GP3)

Da perspectiva do gestor GP3, ao afirmar a adequação das compras da

alimentação escolar, aos preceitos elencados no PNAE, informa que recebeu

consultoria quando iniciou no processo, pois não tinha muita experiência. No que se

refere ao fornecimento de alimentos orgânicos para as escolas municipais, informou

que não tem e que alimentação escolar não é orgânica.

Chaves et al (2009), lembra que a construção de políticas públicas que

garantam os direitos do cidadão é um compromisso de quem defende a educação, a

consolidação da democracia e o combate às injustiças da sociedade

contemporânea. Dentro desta linha, encontra-se o PNAE, que é financiado através

de transferência de recursos financeiros de forma suplementar para garantir, no

mínimo, 15% das necessidades diárias dos alunos do ensino infantil e fundamental.

Além do desiderato nutricional dos alunos, visa contribuir para a criação de novos

hábitos alimentares saudáveis, atendendo aos princípios positivados pela Lei nº

11.947/09, que regulamenta o PNAE, contribuindo para a preservação dos hábitos

alimentares regionais, que faz parte da cultura de uma comunidade, através de

cardápios elaborados com a participação de um profissional da área de nutrição, que

é o técnico responsável pelo programa.

A gente tinha que escolher né! Só se não tivesse..., por exemplo, no primeiro ano, 2009, não conseguimos, justamente porque o agricultor familiar, as associações não estavam habilitadas para fornecer isso. Porque você sabe, depende de uma documentação que o município exige. Então eles não tinham como participar. Então, no primeiro ano nós não conseguimos fazer isso, comprar essa merenda, do PNAE, a que eles pede que compre, parece que é vinte ou trinta por cento. É uma exigência do Ministério que compre isso. Inclusive nós chegamos até a comprar mais de trinta por cento depois, não posso te quantificar com certeza, mais a gente chegou a comprar mais. A aquisição desses alimentos era feita de acordo com a legislação que rege o PNAE, [...] os orgânicos, a gente comprava o que eles tinham de orgânico..., e Palmeira geralmente ele trabalha com orgânico, então, a gente recebia esse alimento..., como a gente estava trabalhando a questão da sustentabilidade nas escolas também, mostra isso pra eles, a importância de comprar esse alimento, da escola, como..., trabalhar com educação, trabalha esse..., a sustentabilidade e mostrar que ela pode participar oferecendo esse tipo de alimento. Como é que você trabalha a sustentabilidade, se você tem no próprio município e você não oferece isso? Quer dizer, a gente não oferecia antes porque tem o entrave da questão burocrática, que as próprias associações que são produtoras desse..., não estão habilitadas. A gente só tinha praticamente quem? Palmeiras que tinham o apoio dos meninos da APORG. Os alunos sabiam o que estava sendo servido, o que se comprava no município e o que a gente recebia fora, porque a gente não tinha ainda... A..., o município não estava..., como é que eu posso te falar..., preparado pra..., porque você

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sabe que é um volume significativo não é! Então eles não estavam preparados para atender a demanda, e mesmo porque era uma coisa nova, porque ninguém comprava isso do próprio agricultor, se comprasse, era a um atravessador, e a gente não tinha atravessador. O atravessador não existia, eliminou o atravessador. [...] Nós não..., nós comprávamos ao próprio produtor. (GP4)

No que se refere a este aspecto, o GP4 focou na gestão passada da qual

participou, o que possibilita uma análise das limitações e dificuldades vivenciadas

quando da implantação do PNAE no município locus da pesquisa. Lembra que no

ano de 2009, não conseguiram cumprir a determinação da compra mínima local

porque os agricultores familiares, bem como, as associações, não estavam

habilitados para participarem do processo. Quanto aos orgânicos, estes vinham da

comunidade de Palmeira. Mantendo a mesma linha de raciocínio, o GP4, afirmando

que a questão burocrática é um entrave no processo. Registra-se, no geral, um

posicionamento dicotômico entre as falas do gestor GP2 com a dos gestores GP3 e

GP4.

A fala deste gestor se coaduna com a afirmação de Triches e Schneider

(2010), ao afirmarem que os programas públicos alimentares são potenciais

reintegradores entre os atores sociais do campo, representados pelo agricultor

familiar e o homem da cidade, que é formado pelo consumidor escolar, visando

aprimorar a relação de consumo e a produção de alimentos como consequência da

integração de políticas públicas que buscam melhorar à saúde dos estudantes, bem

como, a criação de um mercado socialmente justo e ecologicamente correto.

Sim. Na verdade o PNAE diz o que? Que trinta por cento do que..., da verba que vem do FNE deve ser é..., aqui..., a..., utilizado pra aquisição desses produtos né..., da agricultura familiar. Atualmente, a gente está utilizando mais que trinta por cento dessa verba. O ano passado, a gente utilizou em torno de quarenta..., quarenta e um pouquinho. Porque eu tenho uma verba que vem mensalmente em torno de R$ 36.000,00 (trinta e seis mil) que vem do FNDE pra aquisição de alimentos para a merenda escolar. Então desse quantitativo a gente usa mais que trinta por cento, que é o..., o valor que o FNDE recomenda pra a gente utilizar do..., na aquisição dos hortifrútis. [...] Com relação aos alimentos orgânicos, a gente não tem assim..., um..., um..., um quantitativo estabelecido porque a gente não tem produtor com o selo que produz alimento orgânico. É..., então a gente não tem..., essa..., esse..., quantitativo estabelecido, não..., orgânico..., ou não é orgânico, a gente não tem esse controle atualmente. Veja só, eu já sabia que tinha algumas associações já produziam e tinham esse selo, o problema é que se a gente compra esses produtos com selo, eles são mais caros, realmente são mais caros e lógico tem a qualidade melhor. Só que no momento da..., da chamada, da organização da chamada, tinha um produtor que tinha e outro que não tinha. Então pra beneficiar todos os produtores, a gente escolheu até então, não especificar se era agrícola ou não, na verdade, se era agroecológico ou não, pra beneficiar todo mundo. Todo mundo poder

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participar, mais dessa forma, a gente sabe que realmente tem produtores com selo, agora não..., não..., em..., em larga escala. (GP5)

Quando da análise da participação do respondente GP5, observa-se uma

harmonia com a fala do GP2, quanto à observação do quantitativo mínimo a ser

observado, na aquisição de produtos oriundos da produção da agricultura familiar

local. Com relação aos alimentos orgânicos informou “não ter um quantitativo

estabelecido porque a gente não tem produtor com o selo que produz alimento

orgânico.”

Mais adiante, contraditoriamente, afirma que já sabia que tinha algumas

associações que produziam e que tinham esse selo, porém eles não são adquiridos

em razão do preço destes produtos com selo, porque eles são mais caros, apesar

de terem uma qualidade superior. Então para beneficiar todos os produtores

orgânicos e não orgânicos, decidiram não especificar se era agroecológico ou não, o

que vem de certa forma, a confirmar a informação da gestora GP3, de que não se

adquire alimentos orgânicos, mesmo eles sendo produzidos conforme a previsão

legal, para atender o viés da compra institucional sustentável de alimentos

produzidos pelos agricultores orgânicos existente no município estudado.

É importante que se observe as diretrizes contidas no PNAE, quando da

aquisição dos alimentos produzidos pela agricultura familiar local para atender as

necessidades sustentáveis dos cardápios. De acordo com Gabriel et al (2012), é

necessário o planejamento adequado e o acompanhamento da execução dos

referidos cardápios para a eficácia do programa. Embora o PNAE possua uma longa

trajetória, existem poucos estudos sobre importante política pública e suas diretrizes.

Deveria ser. Nós..., nós estamos lutando [...] junto com os nossos parceiros da CEPORG [...] e nós estamos com um..., um trabalho..., de conscientização..., de esclarecimento, vamos dizer assim..., aos compradores institucionais, especificamente as prefeituras e o Governo do Estado, dentro dos programas do PNAE e do PAA, que estabelece a aquisição de produtos orgânicos de origem familiar e de produtos orgânicos para o fornecimento a estes programas, estes programas básico de alimentos. Então [...] nós estamos trabalhando para que essa realidade seja efetivada dentro desses dois programas de aquisição de alimentos do governo, [...] uma comercialização efetivas dos produtos orgânicos, para a alimentação das..., das crianças, dos adolescentes, no programa de alimentação escolar. (GP7)

Deve-se considerar que o GP7 ao fazer a sua explanação, expressou a

sua preocupação com a inserção dos alimentos orgânicos, na merenda escolar

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municipal para atender as determinações contidas no PNAE, visando o

desenvolvimento sustentável. Denota-se, portanto, um entendimento bastante

relevante sobre a temática trazida para discussão, visto que ao esclarecer as suas

afirmações, aponta para os pontos de extrema importância para o sucesso do

PNAE, quais sejam: a conscientização e o esclarecimento dos compradores

institucionais, especificamente as prefeituras e o Governo do Estado, quanto à

importância da produção orgânica para atender as determinações contidas na

Política nacional da Segurança Alimentar e Nutricional.

O diagnóstico do contexto sob análise, é de que existem, na localidade,

vários atores que fazem parte do processo de fornecimento de alimentos para as

escolas municipais via PNAE, no entanto, estão atuando de forma desordenada, o

que dificulta a promoção do desenvolvimento local sustentável. Observa-se ainda,

quanto aos agricultores familiares, que seria interessante intensificar as atividades

de apoio diferenciado aos mesmos, incluindo o sistema de produção orgânica para

atender o viés ambiental da sustentabilidade, o qual está também previsto no PNAE.

Um APL focado na produção orgânica familiar vai promover a articulação

e a complementaridade do PNAE, bem como, de outros projetos e atividades de

apoio à agricultura familiar, promovendo a nível local o desenvolvimento rural

sustentável. Para este desiderato, deve-se integrar o PRONAF, dando o apoio

necessário para a viabilidade econômica da agricultura familiar.

Nesta linha de raciocínio, foi elaborada a Lei de Assistência Técnica e

Extensão Rural, Lei nº 12.188/2010, que instituiu a Política Nacional de Assistência

Técnica e Extensão Rural para a Agricultura Familiar e Reforma Agrária - PNATER e

o Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural na Agricultura

Familiar e na Reforma Agrária - PRONATER, que entre as suas principais diretrizes

determina:

Art. 3

o São princípios da Pnater:

I - desenvolvimento rural sustentável, compatível com a utilização adequada dos recursos naturais e com a preservação do meio ambiente; II - gratuidade, qualidade e acessibilidade aos serviços de assistência técnica e extensão rural; III - adoção de metodologia participativa, com enfoque multidisciplinar, interdisciplinar e intercultural, buscando a construção da cidadania e a democratização da gestão da política pública; IV - adoção dos princípios da agricultura de base ecológica como enfoque preferencial para o desenvolvimento de sistemas de produção sustentáveis; V - equidade nas relações de gênero, geração, raça e etnia; e VI - contribuição para a segurança e soberania alimentar e nutricional. (BRASIL, 2014d).

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Ab initio, da interpretação do inciso I, do artigo supracitado, como

corolário das políticas públicas focadas na produção de alimentos, prever que o

alcance do almejado desenvolvimento rural sustentável deve ser compatível com a

utilização adequada dos recursos naturais e com a preservação do meio ambiente.

Tal diretriz serve de lume, para a execução de qualquer programa nesta seara. A

agricultura familiar ao inserir a produção orgânica como meta, para se adequar a

nova visão de gestão e de economia, precisa adotar uma metodologia participativa,

através das associações rurais, sindicato e ONGS, bem como das demais

instituições públicas e privadas, com enfoque multidisciplinar, interdisciplinar e

intercultural, buscando a construção da cidadania e a democratização da gestão das

políticas públicas, conforme previsão contida no inciso III supra.

Destaca-se mais uma vez, que a visão do GP7 se coaduna com a adoção

dos princípios da agricultura de base ecológica, como enfoque preferencial, para o

desenvolvimento de sistemas de produção sustentáveis, visando à adequação para

com a segurança e soberania alimentar e nutricional das crianças e adolescentes,

em formação físico e psicossocial, que devem ser cumpridos a risca pelo município

pesquisado, sob as penas previstas na lei.

[...] O programa prevê que o município tem que no mínimo comprar..., adquirir 30% da agricultura familiar. [...] Agora aqui, nós estamos incentivando através do programa mais produtivo, que incentiva a armazenagem de água, não pro consumo humano, mais também pra produção de alimentos, tendo um caráter produtivo e que essa produção que vai ser..., é..., através do processo de produção agroecológico, também possa ser ofertado pra escola, das hortaliças, em fim [...] Nós temos exemplos em Pernambuco, aonde o município já adquire 70% (setenta por cento), da alimentação que vai pra escola, da agricultura familiar, [...] esse alimento não é só um tipo de alimento, porque a agricultura familiar também tem essa vantagem, que é a diversificação, até pra a gente estimular e retomar aqueles hábitos saudáveis de alimentação [...] Nós vivemos e temos esse privilégio de viver em uma região onde tem uma diversidade enorme [...], tudo isso são produtos que podem ser ofertados, portando, [...] é claro que ainda precisamos dar mais paços, por exemplo: o programa que prever a venda de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) por agricultor, ele precisa ampliar, por que nós vamos ter aí o teto..., nós vamos ter aí agricultores que podem dar mais passos. [...] Através de um documento chamado DAP Jurídico, que é a declaração de aptidão do produtor rural, [...] a gente tem incentivado [...] a participação das associações, das cooperativas, ou seja..., dos instrumentos organizativos dessas comunidades, a gente também quer incentivar que através desse documento, de DAP Jurídico, os agricultores possam através das suas associações, também ofertar mais produtos. [...] Na medida que a gente faz isso, a gente melhora a economia local, porque é um dinheiro que deixa de sair do município..., mas ainda sobretudo, ele potencializa a renda desses agricultores [...] (GP8)

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Observa-se na fala do GP8 o desejo de expansão do processo de

produção agroecológico, como também, da sua oferta para as escolas públicas,

através do PNAE, defendendo o incentivo para que a agricultura familiar passe a

produzir esses alimentos e que o município adquira os mesmos, além do mínimo

previsto na legislação.

A visão deste gestor encontra-se em sintonia com a ampliação da

agricultura familiar e o sistema de produção de alimentos sustentáveis, visando o

desenvolvimento rural. Neste sentido, devem-se somar as ações do PRONAF, com a

participação dos demais parceiros do setor público e privado, de forma harmônica e

concatenada, sempre priorizando os agricultores familiares de menor renda, com o

objetivo de melhorar a qualidade de vida de quem vive da produção agrária, a maior

responsável pela elevação do PIB, dentro de um conceito que observe o

desenvolvimento sustentável. É nessa contextualização que o sistema de produção

de alimentos orgânicos, a partir do conhecimento científico, empírico e tradicional,

vai agregar valores culturais, socioeconômicos e ambientais, em conjunto com a

participação de vários agentes, angariando novas fontes de recursos para projetos

de apoio à agricultura familiar, promovendo o desenvolvimento local, principalmente

aqui no Nordeste, observando as potencialidades locais.

Neste sentido, a Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão

Rural para a Agricultura Familiar e Reforma Agrária - PNATER e o Programa

Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural na Agricultura Familiar e na

Reforma Agrária - PRONATER, veio justamente instrumentalizar a agricultura

familiar, conforme determinação infra da Lei nº 12.188, de 11 de janeiro de 2010:

Art. 4

o São objetivos da Pnater:

I - promover o desenvolvimento rural sustentável; II - apoiar iniciativas econômicas que promovam as potencialidades e vocações regionais e locais; III - aumentar a produção, a qualidade e a produtividade das atividades e serviços agropecuários e não agropecuários, inclusive agroextrativistas, florestais e artesanais; IV - promover a melhoria da qualidade de vida de seus beneficiários; V - assessorar as diversas fases das atividades econômicas, a gestão de negócios, sua organização, a produção, inserção no mercado e abastecimento, observando as peculiaridades das diferentes cadeias produtivas; VI - desenvolver ações voltadas ao uso, manejo, proteção, conservação e recuperação dos recursos naturais, dos agroecossistemas e da biodiversidade;

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VII - construir sistemas de produção sustentáveis a partir do conhecimento científico, empírico e tradicional; VIII - aumentar a renda do público beneficiário e agregar valor a sua produção; IX - apoiar o associativismo e o cooperativismo, bem como a formação de agentes de assistência técnica e extensão rural; X - promover o desenvolvimento e a apropriação de inovações tecnológicas e organizativas adequadas ao público beneficiário e a integração deste ao mercado produtivo nacional; XI - promover a integração da Ater com a pesquisa, aproximando a produção agrícola e o meio rural do conhecimento científico; e XII - contribuir para a expansão do aprendizado e da qualificação profissional e diversificada, apropriada e contextualizada à realidade do meio rural brasileiro. (BRASIL, 2014d)

Como se denota da letra da lei, a promoção do desenvolvimento rural

sustentável é o principal objetivo a ser alcançado pela Política Nacional de

Assistência Técnica e Extensão Rural - PNATER e o Programa Nacional de

Assistência Técnica e Extensão Rural na Agricultura Familiar e na Reforma Agrária -

PRONATER, nesse sentido devem ser apoiadas as iniciativas que promovam as

potencialidades locais, sempre observando a vocação agrícola das diferentes

cadeias produtivas, onde a assistência técnica deve assessorar as diversas fases

das atividades econômicas. Nesse sentido, as ações desenvolvidas devem ser

voltadas para as práticas agroecológicas.

Numa análise geral sobre a percepção dos atores da pesquisa quanto às

questões a adequação da aquisição dos alimentos para as escolas e as

determinações previstas pelo PNAE, deve-se considerar o aspecto destoante do que

estes percebem quanto à aquisição de alimentos orgânicos ou agroecológicos, onde

três dos sete gestores municipais, afirmaram que é observada a aquisição dos

mesmos, observando, assim os princípios e das diretrizes do programa, conforme

previsão contida na Resolução/CD/FNDE n º 38, de 16 de julho de 2009, que reza:

Art. 2º São princípios do PNAE: I - o direito humano à alimentação adequada, visando garantir a segurança alimentar e nutricional dos alunos; (...) IV – a sustentabilidade e a continuidade, que visam ao acesso regular e permanente à alimentação saudável e adequada; V - o respeito aos hábitos alimentares, considerados como tais, as práticas tradicionais que fazem parte da cultura e da preferência alimentar local saudáveis (...) (BRASIL, 2013g)

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106

Do contexto, eles, de forma unânime afirmaram a aquisição de alimentos

provenientes da agricultura familiar, porém, para cumprir a diretriz da

sustentabilidade, existindo, no município, a produção de alimentos orgânicos por

parte de agricultores familiares, organizados em associação, teria que os mesmos

estarem fazendo parte do processo, como forma de se observar o princípio da

sustentabilidade e da segurança alimentar previstos na legislação que traça o

programa alimentar institucionalizado em todo o país, visto que, é fácil de observar

quando se manifestaram sobre a aquisição dos mesmos, houve divergências entre

os atores pesquisados.

Os produtos da Agricultura Familiar a serem fornecidos para alimentação

escolar devem ser gêneros alimentícios, priorizando, sempre que possível, os

alimentos orgânicos e/ou agroecológicos, o que não está acontecendo no município

estudado. A aquisição preferencial da alimentação local saudável, além de promover

a segurança alimentar das crianças, promove o desenvolvimento local sustentável,

conforme está previsto no próprio programa nacional.

Registra-se, então, o caráter destoante das afirmações de alguns

gestores pesquisados, com exceção apenas quanto às práticas apresentadas pelo

GP4, que manteve uma coerência entre os conceitos, as diretrizes e princípios que

norteiam o PNAE e as práticas administrativas locais, focadas na promoção do

desenvolvimento local sustentável.

Numa tentativa de aprofundar as percepções dos atores sobre o contexto

que envolve a aquisição dos alimentos para as escolas do município ora estudado, e

as normas previstas no PNAE, foi analisado o entendimento e a compreensão

destes sobre o tema, com foco na promoção do desenvolvimento sustentável.

Ressalta-se que a maioria das respostas demonstra uma superficialidade sobre o

conhecimento da matéria. Dentro desta avaliação junto aos atores entrevistados, foi

observado que nenhum se enquadra neste grupo que não percebem as questões

relacionadas ao PNAE e o fornecimento de alimentos por parte dos agricultores

locais para as escolas municipais.

Na visão de Lima e Sousa (2011), existe na literatura científica uma

carência de informações e pesquisas sobre a gestão do processo de produção de

refeições em escolas, principalmente no que concerne à introdução de alimentos

orgânicos. Os estudos se atem às análises das vantagens desse tipo de alimento e

análises decorrentes, com foco no produtor orgânico, ficando a perspectiva do

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consumidor institucional carentes de análises e discussões sobre a matéria hora

ventilada.

Os gestores públicos que percebem parcialmente as questões

relacionadas ao PNAE, quanto ao fornecimento de alimentos por parte dos

agricultores familiares locais para as escolas municipais:

Fornecem. São os agricultores aqui da comunidade Palmeira, da comunidade Chã das Amoras e da comunidade Araçá. Nenhuma das comunidades de agricultores fornece a produção produzida de forma agroecológica, orgânica. A produção é da agricultura convencional porque são agricultores familiares. Não fornecimento de alimentos orgânicos para o PNAE, mas não sei lhe dizer por quê. (GP1)

De forma bem transparente, este gestor é um dos raros que assumem

claramente o desconhecimento sobre o fornecimento de alimentos orgânicos por

parte dos agricultores familiares, pertencentes às associações de agricultores

sediadas em Glória do Goitá, para as escolas municipais, através do PNAE. É

notório que os gestores entrevistados, das unidades educacionais do referido

município, que exercem os papéis de educadores, não podem repassar as

informações e viabilizar a aquisição do conhecimento sobre a alimentação saudável

e o desenvolvimento sustentável, nem tem como fazê-lo acreditar numa prática

ambientalmente correta, se os seus professores sequer sabem o que significam os

conceitos básicos sobre a matéria trazida á baila. Acredita-se que é por isso que se

questiona tanto a alimentação saudável e o desenvolvimento sustentável, pois são

tão sem nexo as opiniões externadas, devido, principalmente, pela insipiência dos

atores deste grupo estudado, quanto à temática trazida para o simpósio.

4.2.3 Percepções pelos Gestores Privados quanto às questões relacionadas ao

PNAE e o fornecimento de alimentos por parte dos agricultores familiares locais para

as escolas municipais.

Os que percebem as questões relacionadas ao PNAE quanto ao

fornecimento de alimentos por parte dos agricultores familiares locais para as

escolas municipais:

Agora no momento eu não sei lhe dizer, não sei lhe dizer. Por que..., pela relação que eu tive em 2012, todo município tem a obrigação de comprar

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trinta por cento da merenda escolar e principalmente orgânico. Então a Associação de Palmeira, é uma associação que tá em dia e no momento, não teve proposta nenhuma, não vendemos nenhum real até agora, nesta gestão, aí eu não sei dizer como é que tá. É porque em tudo que mudou de gestão, é..., tem duas pessoas que é contra esse novo governo, questão política, então, ele agora não permite mais. Eu não sei se somente por questão política, ou se tem algo mais que a gente não sabe. (GPR1)

Apesar do GPR1 afirmar que não sabe informar qual a relação atual da

agricultura local com a aquisição de alimentos, através do PNAE, para a rede

municipal de ensino de Glória do Goitá na atual gestão municipal, porém, é possível

perceber que o mesmo enxerga de forma objetiva o critério essencial que deve ser

obedecido para que a compra institucional no município promova o desenvolvimento

local sustentável de forma plena. Revela conhecimento sobre o tema, uma vez que a

sustentabilidade deve está aportada sobre os vieses da economia, ecologia e da

sociedade, não podendo ser restringido a meras práticas mercantilistas, pois, se

assim o for, é tão nocivo quanto o desconhecimento total.

Para Buarque (1999), um novo conceito de desenvolvimento, conhecido

como desenvolvimento sustentável é consequência dos debates e as reflexões

sobre novos modelos e alternativas que sejam capazes de enfrentar os desafios e

os problemas econômicos, sociais e ambientais contemporâneos. O

desenvolvimento local e municipal tem incorporado, de alguma forma, os postulados

de sustentabilidade, com o desiderato de salvaguardar a permanência e a

continuidade na almejada melhoria da qualidade de vida, no avanço da organização

econômica e na conservação do meio ambiente. Segundo o mesmo autor o

desenvolvimento sustentável, na definição conhecida da Comissão Brundtland, é

“aquele que satisfaz as necessidades do presente, sem comprometer a capacidade

de as gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades” (CMMAD,

1987). Observa-se que existe uma preocupação com as desigualdades sociais, bem

como, com o processo de degradação ambiental, gerado pelo crescimento

convencional, que não se preocupa com as gerações futuras. As possibilidades de

desenvolvimento e a qualidade de vida da população das populações presentes e

futuras podem ser afetadas pelo modelo de crescimento econômico que não leva em

conta a questão da sustentabilidade do planeta, agravado pelo crescimento

populacional, que consome os recursos naturais não renováveis de forma exaustiva,

além dos renováveis que estão sendo consumidos numa intensidade superior ao

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seu próprio ritmo de auto reprodução, provocando um desequilíbrio no meio

ambiente.

O incentivo às práticas agrícolas sustentáveis contribui não só para a

geração de renda para o agricultor orgânico, mas também para a preservação dos

recursos naturais, uma vez que tais práticas do ponto de vista ecológico são menos

impactante para os ecossistemas.

Sim. Temos hoje quatro ou cinco associações que são contempladas pelo PNAE no município de Glória do Goitá, onde cada uma apresenta suas particularidades quanto às questões de tubérculos, frutíferas e folhosas. E esses produtos são fornecidos para a Secretaria de Educação para que sejam destinados para a alimentação escolar dos alunos de Glória do Goitá. Em relação aos orgânicos hoje temos uma limitação decorrente de algumas questões políticas por parte da nova gestão municipal, que não chegou realmente até as comunidades que estão desenvolvendo as práticas de agricultura agroecológicas, porém nos anos anteriores fornecemos produtos agroecológicos para as escolas municipais. (GPR2)

O GPR2 além de perceber qual a relação atual da agricultura local com

a aquisição de alimentos, através do PNAE, para as escolas municipais de Glória do

Goitá, na gestão municipal atual, é possível visualizar que o mesmo destaca,

também de forma objetiva, os critérios essenciais, que devem ser obedecidos, para

que a compra institucional no município, promova o desenvolvimento sustentável.

Revelando, também, conhecimento sobre o tema, quando confirma o fornecimento

de produtos agrícolas provenientes da agricultura familiar local, porém, sem a

aquisição dos mesmos das comunidades que praticam, de forma já bastante

difundida, o sistema orgânico de produção agroecológica.

[...] É..., eu lembro que na gestão passada teve até um pouco, um apoio, um incentivo por parte dos técnicos, do pessoal da APORG pra que essa legislação fosse cumprida né. E aí sim, era nos moldes do PNAE. Nessa gestão eu não sei te informar como está sendo feito. [...] Tem até uma experiência num município próximo, que é Feira Nova, [...] lá é quase que cem por cento local, sabe? O prefeito de Feira Nova adquire quase que a totalidade do que pode ser adquirido no município, do que é produzido. Não todo orgânico, obviamente, mas agricultura familiar local. [...] Só assim, eu acho importante que ele valorize essa questão do orgânico, né..., e que tentasse, até se ele quer atingir esse objetivo né..., claro, Glória do Goitá tem uma área rural muito grande, muitos produtores. Acho que mais de cinquenta por cento da população é área rural, então tem muito agricultor. Mas acho que seria uma referência melhor ainda se fosse né..., tentando adquirir o máximo possível de produtos da agricultura orgânica, agroecológica, por uma questão de saúde mesmo, de valorizar a produção local, de também incentivar outros agricultores do município a se converterem para o orgânico né, eu acho que é uma maneira de incentivar mesmo [...]. (GPR3)

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Inicialmente, pela fala do GPR3, já dá para observar que a mesma

percebe a relação trazida à baila para discussão, quando na sua afirmativa, traz a

observação e como se dava o processo na gestão municipal passada, salientando a

participação da APORG, no sentido de fazer cumprir os ditames legais que tratam do

fornecimento da alimentação escolar institucionalizada em toda a federação. Na

continuação da sua explanação, afirma não saber como está sendo conduzido o

processo in tela, fazendo um apelo para que se observe a questão da aquisição dos

orgânicos, quando das compras feitas através do PNAE pela gestão municipal atual.

De acordo com Caporal, Costabeber e Paulus (2011) a Agroecologia vai

além do manejo ecologicamente responsável dos recursos naturais, por ser um

campo do conhecimento científico que, partindo de um enfoque holístico e de uma

abordagem sistêmica, visa ajudar as sociedades a redirecionar o curso da

coevolução social e ecológica, nas suas variadas inter-relações e influência. Este

novo campo de estudo busca a integração e a articulação de conhecimentos e

saberes, relativos a múltiplas disciplinas e a diversas ciências.

Dentro deste enfoque, a agroecologia se relaciona de forma muito

intrínseca com a segurança alimentar e nutricional, uma vez que dentro dos seus

objetivos, encontra-se a saúde do homem e dos ecossistemas. As técnicas e

estudos, adotados na sua base científica, observam a questão de uma produção de

alimentos através da manipulação dos recursos naturais de forma mais saudável,

respeitando nas suas relações, não só o consumidor, mais de forma ética, a própria

natureza.

Neste sentido, Caporal, Costabeber e Paulus (2011), afirmam que a ética

ambiental está focada na reflexão sobre comportamentos e atitudes adequadas,

voltadas para os processos e os seres de relevância, de forma contextualizada, no

caso o nosso ecossistema, onde praticamos nossas atividades agrícolas.

[...] O PNAE é um Programa Nacional de Alimentação Escolar, então ele exige que trinta por cento da alimentação dos agricultores, quer dizer..., trinta por cento da alimentação da escola seja da agricultura familiar. [...] então quer dizer que aquela agricultura que sempre foi tratada como marginal, não é..., marginalizada, inferiorizada, que não tinha mercado direcionado para aquele tipo de produção, com o PNAE..., as famílias começam a ter um mercado direto. [...] Fora essa dimensão..., se..., esses produtos, eles forem comprovados, que eles são orgânicos ou agroecológicos, tem uma porcentagem a mais..., né..., de preço, vinte por cento a mais daquele valor, esse produto eles são agregado. Então..., o PNAE..., ele permite isso..., essa relação da escola. Qual é a outra coisa? A

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outra coisa é que..., se ele é da agricultura familiar, então ele parte do princípio de que [...] a nutricionista do município, que vai montar o cardápio para os alunos..., eles vão montar o cardápio a partir dos produtos existentes naquela época da agricultura familiar, do local, diferente..., de quando a escola compra a merenda escolar a um fornecedor externo, [...] quer dizer..., se torna um padrão. O que é que a agricultura familiar traz nesse debate? Traz que a gente respeite os ciclos naturais da natureza. [...] Então..., isso leva uma relação da escola, do produtor, do professor, do aluno..., com os ciclos naturais da natureza. Então..., o PNAE, ele possibilita isso [...], estabelecer essa relação com a..., com as escolas e ele também, estimula a produção e distribuição de renda no local, porque você esta produzindo e a sua produção é distribuída naquele próprio local. Então baixa o custo..., diminui o custo, por exemplo, de você..., se for comercializar o seu produto lá em Recife, numa feira agroecológica..., na CEASA. Então o desenvolvimento local [...] se torna mais próximo, se torna mais evidente. [...] Uma vez que a escola se preocupa com a produção local..., então começa a reconstruir um outro paradigma de educação, porque nosso paradigma de educação estabelecida é que o local não é objeto de preocupação da ciência, não é objeto de preocupação da escola. A partir do momento que a política pública do PNAE exige de que..., a merenda escolar..., trinta por cento seja comprada no mesmo local, seja pela comprado pelos pais dos estudantes que produzem..., então ela começa a reconstruir esse modelo tradicional de ciência e começa a repensar a relação da escola com a comunidade, a relação da escola com a produção, a relação da escola com a qualidade da produção..., então eu acho que o PNAE possibilita isso..., essa relação..., essa reconstrução de paradigma de ciência, um paradigma que antes não dialogava com o local e agora ele passa a dialogar [...] (GPR5)

Deve-se ser levado em conta que o GPR5 conceituou de forma ampla e

pormenorizada a produção orgânica local, a relação da escola com a agricultura,

promovida pelo PNAE, bem como a importância desse programa de aquisição de

alimentos para o desenvolvimento local sustentável, o que demonstra na sua fala,

um entendimento bastante aprofundado sobre a temática discutida, uma vez que

exemplifica de forma muita rica e esclarece as suas afirmativas de forma embasada

no contexto e na vivência da própria localidade.

A agricultura orgânica é uma das várias práticas agroecológicas que

visam o desenvolvimento sustentável das comunidades locais. Dentro desta

perspectiva, Caporal, Costabeber e Paulus (2011) partindo da noção de

sustentabilidade, numa visão multidimensional, de acordo com alguns autores,

agrupam os elementos centrais da Agroecologia em três dimensões: a) ecológica e

técnico-agronômica; b) socioeconômica e cultural; e c) sócio-política. Estas

dimensões estão interligadas, interagindo entre si constantemente, razão pela qual

os agroecólogos levam em conta os conhecimentos empíricos, somados aos

conhecimentos oriundos da Física, da Economia Ecológica e Ecologia Política, da

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Agronomia, da Ecologia, da Biologia, da Educação e Comunicação, da História, da

Antropologia e da Sociologia, dentre outros saberes.

Os gestores privados que percebem parcialmente as questões

relacionadas ao PNAE, quanto ao fornecimento de alimentos por parte dos

agricultores familiares locais para as escolas municipais:

Sim, isso é uma característica interessante, os moldes que são previstos, porque a escola procura o máximo é atender ao edital, as demandas, as qualidades que às vezes ela não consegue pela condição é..., física, inclusive onde está esta produção, a questão de transporte, a questão da temperatura, a questão do nível de amadurecimento das matérias primas, dos produtos, dos insumos. Mais eu..., digamos que de oitenta a noventa por cento é molde propagado pelo PNAE. A previsão prevista no PNAE, salvo engano no artigo 13, que prevê a aquisição de 30% dos alimentos produzidos no local onde se encontram as escolas, preferencialmente produzidos de forma agroecológica ou orgânica, remunerando 30% sobre o valor de mercado, não, aí não acontece em Glória do Goitá, inclusive até mesmo pela própria qualificação do agricultor, que desconhece a prática orgânica. São agricultores que não tiveram o devido preparo, muitos já vieram diretamente da cana-de-açúcar, muitos também de assentamentos de programa do INCRA, que não tem a devida qualificação, mais é..., em algumas cidades como Vicência, por exemplo, que passa por uma capacitação mais adequada, ele já tem esse tipo de preocupação. [...]Tem um investimento forte em orgânicos e a gente acha que isso é uma coisa que vai crescer a partir de agora, porque a pressão da sociedade por alimentos orgânicos é inclusive o recuo de alguns produtores de implementos agrícolas nocivos saúde, desativaram suas bases de comercialização na região, isso vai favorecer que a busca por orgânicos se amplie e aceitação também pela população de produtos que tem a qualidade e a pureza que o orgânico pode dá. Os agricultores de Glória do Goitá não recebem alguma assistência técnica, ou orientação, certificação e controle voltados para a produção de alimentos orgânicos, no nosso diagnóstico é muito aquém do que é necessária, a Secretaria de Agricultura lá, ela não tem uma estrutura condizente com o tamanho do território de Glória do Goitá e as especificidades de lá, então a gente ainda acha muito precário isso aí. Apesar de hoje já ter uma preocupação de capacitar esses agricultores a melhores práticas agrícolas, porque é..., a própria parte de colheita se perdia muito, no transporte mais ainda, com embalagem inexistente [...] (GPR4)

Percebe-se que o GPR4 é bem informado quanto à logística e à

infraestrutura necessárias para a viabilização do PNAE no município sob exame, o

qual inclusive fez menção ao desaparelhamento da Secretaria de Agricultura local,

para poder viabilizar o desenvolvimento sustentável, tanto do ponto de vista físico,

como o nível do conhecimento. Quanto à questão dos produtores orgânicos, estes

existem, são pertencentes à comunidade de Palmeira, associados à APRUP e

cadastrados no Ministério da Agricultura, os quais recebem orientação técnica

através da APORG, inclusive já forneceram a sua produção para a merenda escolar

do município estudado, nos moldes do PNAE, porém, atualmente não fazem parte

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do processo de segurança alimentar voltada para a rede de escolas municipais, só

lhes restando fornecer para as feiras orgânicas situadas em Recife.

Quanto à capacitação e à assistência técnica, estas podem ser prestadas

em parceria com os órgãos estaduais que trabalham com a pesquisa e a extensão

rural, v.g., o IPA, pautando-se na Lei de Assistência Técnica e Extensão Rural, Lei nº

12.188, de 11 de janeiro de 2010, que instituiu a Política Nacional de Assistência

Técnica e Extensão Rural para a Agricultura Familiar e Reforma Agrária - PNATER e

o Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural na Agricultura

Familiar e na Reforma Agrária - PRONATER, que entre as suas principais diretrizes

determina:

Art. 2

o Para os fins desta Lei, entende-se por:

I - Assistência Técnica e Extensão Rural - ATER: serviço de educação não formal, de caráter continuado, no meio rural, que promove processos de gestão, produção, beneficiamento e comercialização das atividades e dos serviços agropecuários e não agropecuários, inclusive das atividades agroextrativistas, florestais e artesanais (...) (Brasil, 2014d).

Como se denota Assistência Técnica e a Extensão Rural – ATER é um

tipo de serviço de educação não formal, na qual se inclui a educação ambiental, que

deve ser repassada continuamente, de forma transdisciplinar, para os agricultores,

nas comunidades rurais, visando incentivar processos de gestão, produção,

beneficiamento e comercialização das atividades e dos serviços agropecuários e

não agropecuários, para que dessa forma possa agregar valores ao

desenvolvimento almejado.

Outro aspecto a se ressaltar são os resultados alcançados através de

assistência técnica eficaz quanto à qualidade dos alimentos a serem produzidos

para atenderem as demandas do PNAE.

Numa análise ampla quanto às explanações expostas pelos gestores

privados, envolvidos no processo, pode-se perceber uma melhor visão deste grupo,

visto que, além da diversidade quanto à representatividade dos que conhecem o

tema, estes, em sua maioria, lidam de forma mais sensibilizada com a questão da

produção agroecológica, com um sentimento de pertencimento ao processo

discutido, sem o ranço das questões político-partidárias apontadas por vários atores,

o que pode contribuir muito para o aprimoramento das ações já implantadas, pelos

gestores públicos locais, voltadas para o sucesso do PNAE no município estudado.

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4.2.4 Percepções pelos técnicos e pesquisadores em agricultura quanto às

questões relacionadas ao PNAE e o fornecimento de alimentos por parte dos

agricultores familiares locais para as escolas municipais.

Os que percebem as questões relacionadas ao PNAE quanto ao

fornecimento de alimentos por parte dos agricultores locais para as escolas

municipais:

Com certeza [...] a escola o ano passado, através de um convênio junto de um consultor [...] conseguiu fazer com que Glória do Goitá fosse inserida no PNAE pela CONAB, certo. Então, tem realmente a distribuição. São vários agricultores que estão cadastrados na agricultura familiar, entregando produto entregando produtos através do PNAE para as escolas em Glória do Goitá. Dentre estes agricultores cadastrados, tem algumas comunidades que estão fornecendo alimentos orgânicos, tem, por exemplo, a região de Chão de Amora, a região de Palmeira e de Canavieira trabalha com produto orgânico e fornecem para as escolas. (TPA1)

O sujeito da pesquisa TPA1 ao analisar o presente questionamento,

afirmou que houve a contratação de um consultor, quanto a este ponto, confirmando

a informação prestada pelo gestor GP3. Aduz o mesmo que são vários agricultores

cadastrados, que fornece alimentos, via PNAE, para as escolas do município

estudado e quanto ao fornecendo alimentos orgânicos, “tem algumas comunidades

que trabalham com produtos orgânicos e que as mesmas fornecem para as

escolas”, o que neste ponto, contraria o que foi afirmado pelos gestores GPM3 e

GPM5.

Os que percebem as questões relacionadas ao PNAE quanto ao

fornecimento de alimentos por parte dos agricultores familiares locais para as

escolas municipais:

[...] Agora aí eu desconheço, porque eu não sei, eu não tenho essa formação de..., de..., acadêmica de escola, de..., como é que chama isso? É..., como funciona esse trabalho lá da..., das escolas, como é que são feitas as aquisições. Não tenho como informar. (TPA4)

O gestor TPA4, da mesma forma que os gestores TPA2 e TPA3, nas suas

explanações afirmaram não conhecer da matéria hora ventilada, apesar de estarem

de forma direta ou indireta inclusos no processo de produção de alimentos. Mais

uma vez, demonstra-se a necessidade da criação de um APL, focado na produção

agrícola do município estudado, para que os técnicos tenham uma visão holística

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que promova o desenvolvimento local sustentável, e assim, sejam implementados os

programas de combate à pobreza, no meio rural do município pesquisado.

Faz-se então, numa ótica que não seja apenas assistencialista,

necessário integrar e interpretar os Programas oriundos das Políticas Públicas, de

forma que se possa criar um arcabouço harmônico, que sirva de norte para as

práticas construídas a partir da cooperação dos diversos setores da sociedade,

utilizando-se dos instrumentos científicos, técnicos e empíricos para a construção de

alternativas que venham a viabilizar o combate à miséria rural, das comunidades

vulneráveis, passando para um processo de desenvolvimento endógeno.

Observa-se, dentro deste grupo estudado, pela análise das falas

apresentadas, que nenhum ator se enquadra dentro dos que percebem parcialmente

as questões relacionadas ao PNAE quanto ao fornecimento de alimentos por parte

dos agricultores locais para as escolas municipais.

4.3 PERCEPÇÕES SOBRE A RELAÇÃO DO FORNECIMENTO DE

ALIMENTOS PRODUZIDOS LOCALMENTE PARA AS ESCOLAS E O

DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL.

Esta questão tem como fim a elucidação como os participantes da

pesquisa percebem as questões relacionadas ao fornecimento de alimentos

produzidos localmente para as escolas e a sua contribuição para o desenvolvimento

local sustentável, tais entendimentos irão dar uma sequência às demais questões de

forma concatenada, contribuindo para emissão de conclusões que possam viabilizar

sugestões para o aperfeiçoamento do processo, dando maior viabilidade aos fins

previstos no próprio PNAE, conforme ilustrado no quadro sinóptico a seguir.

Quadro sinóptico dos resultados 03 - Percepções sobre a relação do fornecimento de alimentos produzidos localmente para as escolas e o desenvolvimento local sustentável.

FORNECIMENTO DE ALIMENTOS PRODUZIDOS LOCALMENTE PARA AS ESCOLAS E O DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL. GEPM GP GPR TPA Total

Percebem 2 2 3 2 9

Não percebem 0 0 0 0 0

Percebem parcialmente 7 6 2 2 17

Total 9 8 5 4 26

Fonte: pesquisa de campo, o autor

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4.3.1 Percepções pelos Gestores das Escolas Públicas Municipais sobre a relação

do fornecimento de alimentos produzidos localmente para as escolas e o

desenvolvimento local sustentável.

Existe uma confusão por parte de alguns gestores entre desenvolvimento

sustentável e algo que é autossustentável, por isso, algumas respostas destoam do

que realmente representa a sustentabilidade. Isto mostra o desconhecimento sobre

a matéria por boa parte dos gestores, que confundem o conceito e desta forma não

podem favorecer e promover algo que desconhecem. Já outros, resumem o conceito

de desenvolvimento sustentável ao viés econômico, sem levar em conta os aspectos

socioambientais.

Muito. Contribui bastante! Já pensou a acriança vem pra escola com fome? Não é? E... Tem muita criança aqui..., aqui mesmo nessa escola tem muita criança carente, muita! Então tem criança que sai de casa num..., num..., num almoça. Então, no dia que tem merenda, ave Maria! Eles fica feliz. [...] Este programa contribui muito para o desenvolvimento intelectual das crianças, contribui muito... Aqui nessa escola contribui muito mermo. Aprendizagem..., já pensou uma criança com fome! Como é que ela vai aprender? Não é? A escola comprando os alimentos dos agricultores daqui isso é bom para a economia local, com certeza! É bom pra todos não é! É bom pro município e bom pra quem fornece o..., o..., não é! Os alimento. [...] Isso tem alguma interferência na questão do meio ambiente com certeza! Eu creio que tem. Por que..., o ambiente é o que? Você tem que valorizar o seu município, se você... Se é do município, tem qui..., que ser daquele município. A renda tem que ser daquele próprio município. Para o próprio município. Sustentável é..., é não faltar merenda nas escola. [...] (GEPM4)

A princípio o gestor reconhece a importância do processo analisado,

destacando a questão social e nutricional através dos seus relatos. Chama a

atenção para a questão da importância do PNAE para o desenvolvimento intelectual

das crianças, ao mesmo tempo em que faz girar a economia local e a interferência

da atividade agrícola no meio ambiente. Esta gestora ao afirmar que tem criança na

idade escolar que sai de casa para a escola sem ter comida em casa, chamando a

atenção para a carência das crianças da comunidade quanto à satisfação das suas

necessidades básicas alimentares, não supridas no seio da sua própria família,

sendo atentada a dignidade da pessoa humana. Em pleno século XXI, isto ainda

acontece na nossa região. É dever de todo cidadão fiscalizar de perto, como estão

sendo aplicados os recursos provenientes do FNDE destinados à execução de um

programa de alimentação escolar, que observa a questão da sustentabilidade local,

além de contribuir para a redução da evasão escolar.

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A opinião do gestor GEPM4 se coaduna com a proposta de servir

alimentos orgânicos nas escolas municiais de Glória do Goitá, com o objetivo

pedagógico, devido as suas práticas possuírem um caráter educativo, econômico e

social, o que via além da simples oferta de alimentos.

De acordo com Cunha, Sousa e Machado (2010), a utilização do alimento

orgânico como um dos instrumentos pedagógicos, numa visão holística, pode servir

como meio para um novo paradigma de educação para todos os atores envolvidos

no processo educacional. Essa nova forma de educar está respaldada nas Diretrizes

dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) do Ministério da Educação, bem

como, na Estratégia Global para Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde da

Organização Mundial da Saúde, nas recomendações da Portaria Interministerial nº

1.010 de 8 de maio de 2006, as quais dão as diretrizes para a promoção da

alimentação saudável nas escolas de educação infantil, fundamental e nível médio

das redes públicas e privadas.

[...] comprando assim..., os produtos que os agricultores do município plantam e colhem, eu acho que ele está contribuindo. Eu acho que o desenvolvimento local é sustentável, quando eles plantam e eles mesmo colhem aquele alimento e..., do jeito que eles estão fazendo no próprio município, é..., aproveitando o meio ali e protegendo o meio ambiente. [...] Sustentabilidade, eu acho que é muito importante né..., só que nós devemos melhorar mais. Nós professores mesmo..., os coordenadores... E a gente vê muito isso na faculdade né..., desenvolvimento sustentável, agora temos que por mais em prática né..., nas escolas, a gente fala, sempre a gente fala, só que a gente tem que por mais em prática. (GEPM8)

Este gestor acha importante o desenvolvimento sustentável. De forma

sintética, expos o seu entendimento quanto ao viés econômico, ao social e

ambiental. A proteção do meio ambiente citada pela GEPM8, quando se refere à

agricultura, deve adotar o sistema de produção de alimentos orgânicos, dentre

outros agroecológicos.

Pelas explanações apresentadas pelo grupo de gestores das escolas

públicas municipais, todos percebem a questão abordada. Demonstrando assim,

mesmo que a conceituação do desenvolvimento sustentável não esteja compatível

com as elencadas pela teoria, ou mesmo pela cátedra, um destaque quanto ao

fornecimento de alimentos produzidos localmente para as escolas contribuir para o

desenvolvimento local sustentável.

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Os que percebem parcialmente a relação do fornecimento de alimentos

produzidos localmente para as escolas e o desenvolvimento local sustentável.

É como eu falei: se vim diretamente do município, sim [...]. Se o alimento é produzido na própria região, dá trabalho, que fornece... Trabalho pras pessoas, pros pais de família... Né..., aí sim. Mas se vim diretamente, você pegar o dinheiro da escola e for buscar em outro lugar, vai dá lucro à outra cidade, a outro município, né... O desenvolvimento local sustentável é isso aí, é o trabalho do homem do campo, ali mesmo é..., ele fornecer pra... , pra outros setores o que ele planta, é... , ai vai se desenvolvendo, aparece emprego pros pais dos alunos, pros alunos trabalhar dentro do município mesmo, ter uma renda familiar dali, de dentro do município, é isso. [...] (GEPM5)

Pela fala do GEPM5, observa-se que o mesmo apresenta na sua

percepção uma visão do desenvolvimento sustentável que inclui a geração de renda

e emprego para a população local, além de uma movimentação da economia local,

em razão da comercialização da produção advinda da agricultura familiar. Falta uma

abordagem quanto à questão ambiental, talvez em razão das práticas da atual

gestão que reflete no conhecimento sobre a matéria junto aos profissionais da

educação municipal.

Dentro desta perspectiva, o Guia Alimentar para População Brasileira

recomenda o consumo de alimentos orgânicos como uma prática alimentar

saudável. Em adição, o modo de produção de alimentos orgânicos vem ao encontro

do conceito de Segurança Alimentar e Nutricional adotado pela Organização Mundial

da Saúde (OMS) ao destacar que as práticas alimentares promotoras de saúde

devem ser social, econômica e ambientalmente sustentáveis. (LIMA e SOUSA, 2011)

Com certeza, contribui. Favorece muito e ajuda muito os agricultores do município. Então ajuda muito. A partir do momento que ele não agride o meio ambiente, porque não tem queimada, não é... Ele já prepara a terra e já aproveita aquele mato pra servir de estrumo pra terra, não é... A partir do momento que tem a queimada ai já destrói o adubo da terra. E eles aproveitam tudo isso pra terra, pra beneficiar o produto, não é... Esse alimento é importante, esse PNAIC é importante dentro da educação pra os estudante, não é..., para as escolas porque ele vai beneficiar os alunos. [...]. (GEPM6)

De forma bem diversificada, porém não completa, o GEPM6 inicia

afirmando a importância da aquisição da alimentação escolar dentro do próprio

município, devido à contribuição que traz para a qualidade de vida dos agricultores.

Ressalta a importância de algumas práticas orgânicas e conservacionistas no

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manejo do solo, para a produção de alimentos saudáveis. Por fim, chama a atenção

para a importância do PNAIC, que no caso, trata-se do PNAE, para a educação e a

criação de novos hábitos alimentares.

Neste contexto, Cunha, Sousa e Machado (2010) aduz que o PNAE tem

uma dimensão dialética, podendo ser considerado um meio que viabilize as

possibilidades de emancipação, colaborando também para o aprendizado, não só

por atender as necessidades fisiológicas, mas por instrumentalizar através do saber

sistematizado e dessa forma, o estudante conscientizado da sua realidade, como

ator social, passa a desenvolver um agir crítico e transformador. Através da

Alimentação Orgânica na merenda escolar, além do aspecto nutricional, e do

processo ensino-aprendizagem, outros aspectos devem ser observados no processo

escolar, possibilitando o acesso uma qualidade de vida não só para os estudantes,

mas também para toda a comunidade, através de uma abordagem multidisciplinar

que contemple aspectos sociais, além da educação em saúde e nutrição.

Eu acredito que ele contribui [...] Se, gera renda local, há uma tendência de um incentivo, que a gente não pode deixar a agricultura morrer, não é. A cada dia ela tem que ser reativada e através de que, de um incentivo desse, de uma produtividade de renda. Então se a gente compra local e há essa produtividade, algum pode se interessar cada dia mais, e a gente ter realmente uma probabilidade de uma sustentabilidade maior para os comerciantes locais e os agricultores. (GEPM1)

Para este gestor, o fato da compra de alimentos produzidos no próprio

município gera renda para os agricultores e por isso configura a promoção do

desenvolvimento local sustentável. O desenvolvimento local sustentável é bem mais

amplo do que gerar renda local, como é sabido, envolve mudanças de atitudes que

vão refletir na sociedade como um todo e em vários aspectos que influenciam na

qualidade de vida das gerações presentes e futuras, não se referindo a

automanutenção econômica.

Nesta linha de raciocínio, Almeida (2003) argumenta que a proposta

agroecológica se apresenta como aspiração geral de outro paradigma de

desenvolvimento, a qual se baseia no uso potencial da diversidade social e dos

sistemas agrícolas mais próximos dos "modelos" camponês e indígena. Os mentores

desse tipo de agricultura têm motivos que para este tipo de raciocínio, uma vez que

interage com um projeto de desenvolvimento local descentralizado, o qual observa a

diversidade em cada meio, emitindo novas aspirações, novas formas de

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sociabilidade, que promove outros modos de desenvolvimento econômico e social,

sendo mais "controláveis" e aceitos no âmbito local, levando em conta os aspectos

culturais e tecnicamente fundados na "experiência do tempo", absorvendo o

conhecimento empírico. Dessa forma, muitas das iniciativas de grupos e

organizações sociais, tanto no âmbito institucional, como no não governamental,

visão a criação de alternativas tecnológicas aos sistemas produtivos

“convencionais”, tidos como esgotados, por serem impactantes, antieconômicos, não

promovendo a autonomia dos agricultores familiares envolvidos.

Contribui com certeza. Porque eles são da própria cidade, a gente comprando aqui não é..., claro que eles vão ter um rendimento não é..., vai ser melhor do que comprar fora não é..., vai ajudar esse pessoal do campo, vai..., vai..., ajuda. A empresa mesmo de bolo lá no Araçá trabalha muita gente, já é uma grande ajuda para o município não é. Quanto à questão do meio ambiente, olhe, eu não vou..., assim, eu não tenho certeza que eu não acompanho, tá entendendo? [...] Quanto ao desenvolvimento sustentável aplicável na merenda, não, eu acho que com relação à merenda, eu acho que..., tudo certo, assim..., é um negócio que a gente num..., num fica muito assim, porque já tem uma equipe que trabalha com isso aí, tá entendendo? A gente só faz receber. Aí a gente não tem assim..., por dentro das coisas assim muito não, tá entendendo? E os alunos não têm tanto conhecimento não, como os alimentos são produzidos. (GEPM3)

O gestor GEPM3 afirma que o processo contribui para o desenvolvimento

local sustentável, uma vez que os agricultores são da mesma cidade e a compra

local vai gerar renda para os mesmos. Porém, quando se refere à questão ambiental

e ao próprio desenvolvimento sustentável, ela demonstra total desconhecimento.

Quando se fala em desenvolvimento local sustentável, deve-se observar

se as práticas desenvolvimentistas respeitam o meio ambiente. E neste sentido, de

acordo com Szabó Júnior (2009) meio ambiente é a circunvizinhança, em que uma

organização exerce as suas atividades, levando-se em conta o ar, a água, o solo, os

recursos naturais, a fauna e a flora, bem com o homem e suas inter-relações,

devendo o mesmo ser visto com uma grande teia, onde ocorrem as inter-relações

bióticas e abióticas.

Para Faver (2004), o desenvolvimento econômico afeta os ecossistemas

e reduz a sua biodiversidade. Quando o desenvolvimento observa a

sustentabilidade, os processos de transformação e de exploração dos recursos

naturais visando os investimentos, bem como, o avanço tecnológico e as mudanças

decorrentes, ocorrem de forma mais harmônica, a fim de atender às necessidades e

aspirações do homem. A pobreza não contribui para a sustentabilidade, acarretando

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uma maior pressão sobre o meio ambiente, devido ao mau uso dos recursos

naturais.

Claro! [...] vai ajudar também o pessoal também da comunidade. Como aqui, agente compra o bolo..., a tapioca..., na associação aqui dos moradores do araçá, é... Em parceria com o município, pronto resolvido! [...] a parceria com a secretaria de educação e é distribuído para todas as escolas do município, todas que são no geral trinta e oito escolas que a gente tem. É bom assim..., porque além de gerar..., porque gera empregos, ajuda a população do próprio município, quer dizer..., o comércio cresce..., né..., e nós temos uma mercadoria de qualidade, principalmente para os alunos do município. [...] E ajuda também na alimentação dessas crianças da escola, ajuda, porque assim..., às vezes em casa, às vezes não tem, tá entendendo? Tem famílias que são muito carente e quando chegam aqui, eles consome um prato, dois. (GEPM7)

Este gestor afirma que o processo analisado promove o desenvolvimento

local, uma vez que possui sua função social, gerando emprego e renda para as

comunidades localizadas no município, o que movimenta a sua economia. Ressalta

ainda a questão do sabor da alimentação servida nas escolas, bem como o

envolvimento dos profissionais que fazem a merenda. Por fim, chama a atenção

mais uma vez para a questão carência nutricional e alimentar dessa faixa de risco da

população local.

Justamente para atender a necessidade dessa faixa da população

carente, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA, 2013) ressalta que:

“O Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica busca

integrar suas ações com o Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres e o Plano Nacional de Direitos Humanos, assim como o Código Florestal, o Plano de Ação Nacional de Combate à Desertificação e o Plano Nacional sobre Mudança do Clima, a partir de processo de convivência, mitigação e adaptação, diminuindo a vulnerabilidade dos agricultores que se encontram em situação de fragilidade econômica e social no campo.” (BRASIL, 2014c)

Na percepção do gestor GEPM9, o desenvolvimento local sustentável está

sendo atingido, uma vez que, pelo processo de fornecimento de alimentos para as

escolas, por parte dos agricultores sediados no local, está permitindo parcerias entre

eles e o poder público. Outra questão ligada à promoção da sustentabilidade está

presente nas práticas de reaproveitamento dos resíduos provenientes da merenda,

os quais são fornecidos para os criadores de animais da localidade, conforme sua

fala:

Sim, não é? Uma vez que nós estamos dando oportunidade, não é..., as pessoas do local de terem acesso a tá trabalhando em conjunto com a

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prefeitura. Então é um desenvolvimento bastante sustentável, uma vez que estamos dando oportunidade a essas pessoas. Na questão geral, [...] o que fica de restante, nós procuramos reaproveitar de uma outra forma né! [...] alguma pessoa vem pra escola e recolhe aquela comida que ficou estragada, ou resíduo e já vai servir para uma terceira pessoa que vai fazer a alimentação de alguns animais! Então isso tá contribuindo para o nosso desenvolvimento. (GEPM9)

Além das práticas apontadas pelo GEPM9, o fornecimento de alimentos

produzidos localmente para as escolas, através do PNAE, contribui para o

desenvolvimento local sustentável, se observar as diretrizes da PNAPO contidas no

art. 3º do Decreto Nº 7.794/2012, que institui a Política Nacional de Agroecologia e

Produção Orgânica, conforme elenco infra:

Art. 3º São diretrizes da PNAPO:

I - promoção da soberania e segurança alimentar e nutricional e do direito humano à alimentação adequada e saudável, por meio da oferta de produtos orgânicos e de base agroecológica isentos de contaminantes que ponham em risco a saúde;

II - promoção do uso sustentável dos recursos naturais, observadas as disposições que regulem as relações de trabalho e favoreçam o bem-estar de proprietários e trabalhadores;

III - conservação dos ecossistemas naturais e recomposição dos ecossistemas modificados, por meio de sistemas de produção agrícola e de extrativismo florestal baseados em recursos renováveis, com a adoção de métodos e práticas culturais, biológicas e mecânicas, que reduzam resíduos poluentes e a dependência de insumos externos para a produção;

IV - promoção de sistemas justos e sustentáveis de produção, distribuição e consumo de alimentos, que aperfeiçoem as funções econômica, social e ambiental da agricultura e do extrativismo florestal, e priorizem o apoio institucional aos beneficiários da Lei nº 11.326, de 2006;

V - valorização da agrobiodiversidade e dos produtos da sociobiodiversidade e estímulo às experiências locais de uso e conservação dos recursos genéticos vegetais e animais, especialmente àquelas que envolvam o manejo de raças e variedades locais, tradicionais ou crioulas;

VI - ampliação da participação da juventude rural na produção orgânica e de base agroecológica; e

VII - contribuição na redução das desigualdades de gênero, por meio de ações e programas que promovam a autonomia econômica das mulheres.

Ou seja, a aquisição da alimentação escolar, quando observa a oferta de

produtos orgânicos e de base agroecológica isentos de contaminantes, produzidos

pelas comunidades de agricultores familiares da localidade, promove a soberania e

segurança alimentar e nutricional e o direito humano à alimentação adequada e

saudável, pois estes alimentos não põe em risco a saúde das crianças e

adolescentes que irão consumi-los dentro do processo pedagógico gerador de

multiplicadores do conhecimento.

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4.3.2 Percepções pelos Gestores Públicos sobre a relação do fornecimento de

alimentos produzidos localmente para as escolas e o desenvolvimento local

sustentável.

Os gestores públicos que percebem que o fornecimento de alimentos

produzidos localmente para as escolas contribui para o desenvolvimento local

sustentável.

[...] Contribui. [...] A gente preza tanto pela questão da comercialização local, no sentido de beneficiar o agricultor, porque [...] ele tem mercado garantido para a comercialização. Inclusive, nós estamos dando esse apoio para que outras associações consigam comercializar para o PNAE. Então, [...] já com experiência do ano passado, a gente está dando este acompanhamento, né..., tanto pelo valor nutricional dos alimentos que vão para a merenda escolar, então ele contribui não só para esta questão do desenvolvimento local, mas contribui para uma merenda de qualidade para as crianças do município. A gente esta tendo todo o cuidado para essa valorização do homem do campo [...] inclusive, nós estamos participando de duas redes produtivas, que é a rede produtiva de raízes e tubérculos e a rede produtiva de horticultura agroecológica. São duas redes que estão reunindo vários municípios, e aí, pela característica do Município, nós fazemos parte destas duas redes que é o projeto do Estado. É estamos fazendo a elaboração do projeto com a participação das associações [...] O Pro-Rural formou 56 redes produtivas dentro da potencialidade de cada região. Então dentro da nossa realidade, nós estamos construção de duas redes, as raízes e tubérculos e horticultura agroecológica [...] É outra coisa é toda a iniciativa da abertura que nós estamos tendo para apoiar o homem do campo. Só que tem algumas dificuldades que interferem, por exemplo, a questão do acesso à água [...] Glória está no final da Zona da Mata e no início da Zona do Agreste, então área de transição é muito difícil o acesso à água, [...]. Então Palmeiras é uma região do município bastante favorável porque lá não tem problema de água [...]. (GP2)

Novamente o desenvolvimento sustentável é percebido de forma

simplista, focado apenas no aspecto econômico. Quando o gestor, na sua

abordagem, separa o desenvolvimento sustentável da segurança alimentar, distorce

o conceito de sustentabilidade, uma vez que a própria Política Nacional da

Segurança Alimentar e Nutricional traz no seu bojo, de forma entrelaçada com outras

políticas que fomentam a produção de alimentos provenientes da agropecuária, a

preocupação com o desenvolvimento sustentável, conforme se depreende do

normativo da referida política, a Lei nº 11.346/06, que cria o Sistema Nacional de

Segurança Alimentar e Nutricional – SISAN, com vistas em assegurar o direito

humano à alimentação adequada:

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Art. 2o A alimentação adequada é direito fundamental do ser humano,

inerente à dignidade da pessoa humana e indispensável à realização dos direitos consagrados na Constituição Federal, devendo o poder público adotar as políticas e ações que se façam necessárias para promover e garantir a segurança alimentar e nutricional da população.

§ 1o A adoção dessas políticas e ações deverá levar em conta as

dimensões ambientais, culturais, econômicas, regionais e sociais.

§ 2o É dever do poder público respeitar, proteger, promover, prover,

informar, monitorar, fiscalizar e avaliar a realização do direito humano à alimentação adequada, bem como garantir os mecanismos para sua exigibilidade.

Art. 3o A segurança alimentar e nutricional consiste na realização do

direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis. (BRASIL, 2014c)

No § 1º, do art. 2º, supramencionado, observa-se a determinação de que

deverá levar em conta as dimensões ambientais, culturais, econômicas, regionais e

sociais, ou seja, não se restringe apenas ao aspecto econômico, como boa parte

dos gestores tem se pronunciado, o conceito de sustentabilidade é bem mais amplo.

Dando sequência, de forma harmônica e concatenada com o sistema legislativo

pátrio, que tem com norte a Constituição Federal do Brasil de 1988, o art. 3º da Lei

nº 11.346/06 aduz que a segurança alimentar deverá tomar como base as práticas

alimentares promotoras de saúde, que respeitem a diversidade cultural e que sejam

ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis, ou seja, o sistema de

produção de alimentos escolares tem que observar a aquisição da produção de

alimentos orgânicos local, via PNAE, para que promova o desenvolvimento local

sustentável do município de Glória do Goitá - PE.

Sim. [...] Porque, é..., dos produtos da agricultura familiar que temos no cardápio, todos são dos agricultores do município. Dessa forma, [...] a gente tá deixando dinheiro que vem federal no município e beneficiando a..., a economia do próprio município. Com relação ao social, o que eu posso te dizer..., um..., a gente corta aquela questão do [...] atravessador não é? No caso se a gente compra do próprio fornecedor aqui do município, a gente tá comprando, [...] mais barato do que se eu fosse comprar na CEASA, em outro local, então, acho que também vai beneficiar a agricultura, [...] será mais barato pro Município. [...] Com relação à parte ambiental do desenvolvimento sustentável, comprando alimentos do município, via PNAE, promove o desenvolvimento sustentável porque estamos, no caso, como eu posso falar..., com relação ao ambiental..., rapaz eu tou..., fugiu. Eu acho importante, interessante, a questão da..., da agricultura familiar na merenda escolar por vários fatores, um deles é a questão de beneficiar o produtor local, deixar o dinheiro né..., [...]. É a alimentação vai ser mais saudável, se a gente está introduzindo os alimentos é... agroecológicos não é..., atualmente a gente não tem essa questão..., mas a gente tá pensando futuramente introduzir..., seria um próximo passo né! O primeiro, a primeira

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chamada pública o ano passado, nós conseguimos adquirir da agricultura familiar, em torno de quarenta por cento dessa verba federal [...] e..., [...] a gente tá querendo introduzir outros produtos, dependendo também, vai depender também um pouco da vocação agrícola da..., da..., do Município e introduzir essa questão de..., do agroecológico né..., daqueles alimentos mais saudáveis, porque são produzidos sem agrotóxicos. (GP5)

As considerações, quanto à problemática do fornecimento de alimentos

produzidos, localmente, para as escolas contribuir para o desenvolvimento local

sustentável, estão com o foco no aspecto econômico e no social, no sentido de

geração de renda e movimentação da economia local.

Estes aspectos foram os mais citados pelos gestores públicos municipais,

o que aparentemente pode ser uma tendência não compreensível, visto que, eles

estão construindo o argumento, nas suas áreas de atuação profissional, onde a

maior parte lida com os recursos naturais, de forma direta ou indireta, e outros,

labutam com a educação, um instrumento transformador da realidade, onde deveria

estar presente à educação ambiental, não havendo justificativa para este

direcionamento.

De acordo com este profissional, na sua fala aduz que a alimentação vai

ser mais saudável se for introduzido os alimentos de origem agroecológica; porém

em seguida, confessa que atualmente esta questão não está sendo observada. E

conclui que, depende também, um pouco, da vocação agrícola do Município, para

que haja a introdução de alimentos agroecológicos, reconhecendo que são

alimentos mais saudáveis, porque são produzidos sem agrotóxicos.

Neste sentido, Marques (2012), lembra que a ideia é, além de despertar o

interesse do estudante pela alimentação que é oferecida, também movimentar a

economia agrícola local. As ações do governo, ainda, não se restringem a esfera

pública, pois foi firmado um acordo entre o Ministério da Saúde e a Federação

Nacional das Escolas Particulares, com 18 mil colégios associados, para adotar

alimentos e hábitos mais saudáveis nas cantinas, visando a substituição de frituras

por assados e a redução de produtos industrializados, dando-se preferência aos

alimentos produzidos de forma mais natural.

É importante destacar a opinião do GP5, que, de forma clara e bastante

harmoniosa, descreveu sucintamente e revelou a importância ambiental, quando

afirma que os agroecológicos não se utilizam de contaminantes, bem como o

aspecto nutricional, ao afirmar que são alimentos mais saudáveis, só destoando o

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seu discurso ao afirmar que depende da vocação agrícola da região, a questão da

compra destes alimentos, quando se sabe que é mais uma questão de gestão

pública ambiental.

Com o objetivo de criar condições que permitam o desenvolvimento rural

e agrícola sustentável, verifica-se a necessidade de efetuar importantes ajustes nas

políticas para a agricultura, o meio ambiente e a macroeconomia, tanto no nível

nacional, como internacional, nos países desenvolvidos e nos países em

desenvolvimento. O principal objetivo do desenvolvimento rural e agrícola

sustentável é aumentar a produção de alimentos de forma sustentável e incrementar

a segurança alimentar. Isso envolverá iniciativas na área da educação, o uso de

incentivos econômicos e o desenvolvimento de tecnologias novas e apropriadas,

dessa forma assegurando uma oferta estável de alimentos, nutricionalmente

adequados, o acesso a essas ofertas por parte dos grupos vulneráveis,

paralelamente à produção para os mercados; emprego e geração de renda para

reduzir a pobreza; e o manejo dos recursos naturais juntamente com a proteção do

meio ambiente. (BRASIL, 2013a)

O desenvolvimento rural e agrícola sustentável, para serem alcançados,

precisa de um aumento na produção de alimentos, dentro dos princípios e diretrizes

da agroecologia, bem como do seu escoamento visando incrementar a segurança

alimentar, principalmente para assegurar uma oferta estável de alimentos

nutricionalmente adequados, para uma população que se encontra nos grupos

vulneráveis, qual seja os estudantes da rede pública de ensino. Para que isto

aconteça, precisa que os gestores públicos estejam conscientizados e sensibilizados

através da educação ambiental, só assim, poderá se promover o desenvolvimento

local sustentável, aumentando o número dos postos de emprego com a geração de

renda para reduzir a pobreza, sem se esquecer de se aplicar nas práticas agrícolas

o manejo racional dos recursos naturais, visando à proteção e preservação do meio

ambiente para as gerações presentes e futuras.

Quanto à afirmação do gestor GP5, de que os alimentos orgânicos ou

agroecológicos serem mais saudáveis do que os produzidos de forma convencional,

dessa forma, Silva e Sousa (2013), chamam a atenção no sentido de o Programa

Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) é uma das estratégias de Segurança

Alimentar e Nutricional (SAN) que se orientam pelos princípios do Direto Humano à

Alimentação Adequada (DHAA). Ou seja, quando foi normatizado, buscaram-se, de

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forma evidenciada, as orientações nutricionais para as crianças e adolescentes

matriculados nas escolas, visando estimular, não só o seu crescimento e seu

desenvolvimento, mas também, a aprendizagem e o rendimento escolar, bem como,

uma educação focada na promoção de hábitos alimentares saudáveis.

Embora os posicionamentos dos gestores públicos não estejam

totalmente dentro do que é proposto especificamente pelo desenvolvimento

sustentável, é possível perceber que as perspectivas apresentadas estão focadas na

questão de oferecer uma alimentação de qualidade para a população dos

estudantes da rede municipal de ensino de Glória do Goitá. No entanto, o PNAE só

estará contribuindo para o desenvolvimento local sustentável, se for observado o

equilíbrio entre o social, o econômico e o ecológico, necessitando para isso que as

ações dos atores envolvidos estejam harmonicamente inter-relacionadas na busca

da qualidade vida de toda a coletividade.

Os gestores públicos, os quais percebem parcialmente que o

fornecimento de alimentos produzidos localmente para as escolas contribui para o

desenvolvimento local sustentável.

Contribui, por que dessa forma existia uma preocupação do agricultor quanto à comercialização. E se eles estão fornecendo e já tem sabedoria e sabe e tem consciência de que quando termina o mês que o seu produto já está sendo vendido, tá sendo comercializado e que eles vão ter recursos para poder se tornarem alto-sustentáveis. (GP1)

Na opinião do GP1, o fornecimento de alimentos produzidos pela

agricultura familiar, das comunidades rurais do município para as escolas, contribui

para o desenvolvimento local sustentável. No entanto, ele foca apenas num dos

aspectos favorecidos pelo PNAE, que é justamente a garantia de mercado através

das vendas institucionais.

É bem sabido que a aquisição de alimentos para as escolas, promovida

pelo PNAE, vai além da garantia de um mercado para o agricultor familiar, pois o

referido programa alimentar visa contribuir também, com a promoção do uso

sustentável dos recursos naturais. Vale salientar que o desenvolvimento, para ser

considerado sustentável, tem que atentar para as disposições que regulem as

relações de trabalho e favoreçam o bem-estar de proprietários, bem como, dos seus

trabalhadores, o que tem reflexo nos aspectos social e econômico.

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Segundo Altieri (2004), as distorções que ameaçam o desenvolvimento

sustentável parecem lógicas, quando a sustentabilidade agrícola não é levada em

conta pela política econômica. Dessa forma, o que parece ter uma chancela

socialmente justa, quando os subsídios que incentivam o uso ineficiente de insumos

e recursos, as práticas agrícolas que causam impactos ambientais, degradando os

recursos naturais, como se não bastasse os programas de apoio à renda que

restringem as rotações de cultura, na verdade, geram um grande equívoco quanto à

sustentabilidade. Logo, a análise econômica deve ser modificada, levando-se em

conta os custos ambientais, para que se promova a sustentabilidade agrícola, tendo

de contabilizar o uso dos recursos naturais e refletir o real valor da produção e da

política agrícola, o que não está previsto na ótica econômica tradicional.

Sim, porque as associações são daqui, não é? E aí a gente esta sempre ajudando, sim. Não tem como explicar, elas são daqui de Glória, a gente compra a maioria, não acho que tem..., acho não. Tem uma empresa que não é daqui, ela é de Feira Nova, que é a de poupa, de frutas, mais o resto é tudo daqui, toda nossa fruta, toda nossa verdura, os legumes são comprados aqui, nas associações de Glória. As compras são feitas através da Secretaria, é centralizada e temos a participação de uma nutricionista. O cardápio precisa levar em conta as características locais, a vocação da agricultura da região, se não levar há uma rejeição, não é. [...] (GP3)

Pela percepção da GP3, o fornecimento de alimentos produzidos

localmente para as escolas contribui para o desenvolvimento local sustentável, uma

vez que adquirido junto às associações dos agricultores do município, salvo

exceções, mas é observada a vocação agrícola local e o hábito alimentar da própria

comunidade, o que reflete os aspectos econômicos, sociais, nutricionais e culturais,

previstos dentro do PNAE. Pela fala deste gestor, deduz-se que está sendo

observada parte das diretrizes contidas no art. 3º do Decreto Nº 7.794/12, que

institui a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, no que se refere à

valorização da agrobiodiversidade e dos produtos da sociobiodiversidade e estímulo

às experiências locais.

Porém, é salutar um aperfeiçoamento do processo de aquisição da

alimentação servida na rede pública municipal, quanto à promoção de sistemas

justos e sustentáveis de produção, distribuição e consumo de alimentos, que

aperfeiçoem não só as funções econômica, social, mas principalmente a ambiental

da agricultura e priorize o apoio institucional aos beneficiários da Lei nº 11.326/06,

criou a Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares

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Rurais, a qual tem como princípio a sustentabilidade ambiental, social e econômica,

conforme previsão literal do art. 4º, infra:

Art. 4

o A Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos

Familiares Rurais observará, dentre outros, os seguintes princípios:

(...) II - sustentabilidade ambiental, social e econômica; (...) (BRASIL, 2014b).

É necessário que se faça um trabalho de educação ambiental formal e

não formal junto aos gestores públicos municipais, gestores das escolas públicas

municipais, bem como, junto aos professores da rede municipal de ensino, para que

se sensibilize quanto ao aspecto ambiental nas práticas alimentares dos alunos

matriculados na rede de ensino municipal.

Com certeza. Contribui porque [...] está fomentando aquele trabalho naquela região. O trabalhador vai ter para quem vender isso e não existe outro melhor comprador do que a prefeitura. E não tem outro consumidor do que o aluno da escola, da escola pública. Ele vai ter uma merenda de qualidade, você sabe a procedência. [...] Acredito que agora, não sei agora, não posso falar de agora, porque realmente não tenho conhecimento. Pelo o que eu ouvi falar, eles não estão mais nesse processo. [...] De ouvir falar, ela sofreu uma alteração, não sei se eles oferecem nem esse tipo de material que a gente servia verdura, frutas..., não sei se eles servem ainda. (GP4)

De acordo com este gestor o processo de aquisição alimentar, via PNAE,

favorece o desenvolvimento local sustentável, uma vez que está fomentando o

trabalho na localidade, bem como, cria-se um mercado para o produtor do próprio

município. Observa-se que o conceito de desenvolvimento sustentável para este

gestor, está, também, focado no viés econômico. Nesta visão, não se contempla o

custo ambiental para a produção de alimentos, nem mesmo, as práticas agrícolas,

que possam contribuir para a preservação dos recursos naturais, viés ambiental do

desenvolvimento sustentável.

Neste raciocínio, Altieri (2004) ressalta que há evidências de que a

produtividade dos recursos agrícolas não é estática. Processos de degradação dos

recursos naturais podem ser acentuados, v.g. a erosão e a salinização, podem ter

enormes impactos sobre a produtividade dos solos agricultáveis, vai depender do

manejo que se dar ao solo. A agricultura é processo que interfere enormemente nos

recursos naturais, podendo provocar a deterioração e a contaminação, danificando

também, os recursos hídricos, assim como, os poluentes lixiviados dos cultivos

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podem reduzir drasticamente a produtividade dos ecossistemas e afetar a vida dos

mananciais hídricos.

Lembra Altieri (2004), que não estão sendo computadas essas perdas.

Pode o solo ser erodido, os recursos hídricos contaminados, a vida silvestre

envenenada e os reservatórios entulhados com sedimentos, não têm um impacto

aparente sobre o valor privado ou público da agricultura, não há uma contabilidade

ambiental efetiva.

Se a sustentabilidade é compreendida como a capacidade de um sistema

de manter sua produtividade, quando submetido a estresses e perturbações, então,

de acordo com princípios básicos de contabilidade, os sistemas de produção que

danificam a estrutura do solo ou exaurem seus nutrientes, matéria orgânica ou biota,

são insustentáveis. Se o solo fosse depreciado como outros recursos, a

sustentabilidade agronômica poderia ser quantitativamente determinada. Práticas

produtivas que degradassem a produtividade do solo resultariam em rendimentos

reduzidos, e seriam, portanto, depreciativas. Inversamente, as práticas que

aumentassem a produtividade do solo seriam apreciativas. (ALTIERI, 2004)

Para que o fornecimento de alimentos provenientes das comunidades

para a alimentação escolar promova o desenvolvimento local sustentável, tem que

se observar as práticas agrícolas realizadas no município, não sendo suficiente

apenas que sejam produzidas pela agricultura familiar in locu.

Eu acredito que ele contribui [...] Se, gera renda local, há uma tendência de um incentivo, que agente não pode deixar a agricultura morrer, não é. A cada dia ela tem que ser reativada e através de que, de um incentivo desse, de uma produtividade de renda. Então se agente compra local e há essa produtividade, algum pode se interessar cada dia mais, e a gente ter realmente uma probabilidade de uma sustentabilidade maior para os comerciantes locais e os agricultores. (GP6)

Observa-se a preocupação na fala deste gestor com a agricultura, ao

mesmo tempo em que reconhece o papel da aquisição da produção agrícola local

pelo mercado institucional criado pelo PNAE, no sentido de promover o

desenvolvimento local sustentável.

Nesse sentido, é necessário que se implementem as políticas públicas,

voltadas para desenvolvimento rural e agrícola sustentáveis, que servem de

instrumentos para a transformação fundiária do nosso país. Assim, deve-se destacar

a implantação da reforma da política agrícola e da reforma agrária.

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Tais processos de transformação devem ser realizados de forma

participativa, observando-se as diversidades existentes num país continental como é

o nosso, levando-se em conta as peculiaridades de cada microrregião, pois, para

que seja sustentável, é mister que se observe as características de cada

comunidade, bem como, a vocação agrícola de cada região.

Jesus (2007) afirma que o desenvolvimento local deve ser entendido

como um processo que envolve tanto pessoas, como instituições, com o objetivo de

transformar a economia e a sociedade local, tendo como consequências benéficas à

geração de renda e de novos postos de trabalho, ultrapassando os limites e

obstáculos, com o desiderato de se propiciar a qualidade de vida para a comunidade

local. Para isso acontecer, tem que haver uma articulação das instituições e das

lideranças locais, juntando esforços no sentido de viabilizar um meio, em que as

atividades econômicas, que venham a garantir melhores condições de vida para os

cidadãos, sempre levando em conta a valorização e ativação das potencialidades e

efetivos recursos locais.

Nesse desiderato, não se pode esquecer um aspecto fundamental que é

a aplicação correta das técnicas agronômicas e agroecológicas, levando-se em

conta o conhecimento empírico do agricultor, que nasceu e sempre viveu no meio

rural, visando a conservação do solo, através do devido manejo e utilização dos

insumos adequados à boa prática da produção de alimentos, de uma forma mais

saudável para o agricultor, o consumidor final e o meio ambiente. Para que esse

novo tipo de gestão se implante é salutar que se observe também, uma interação na

participação das comunidades rurais, de forma organizada, bem como das

instituições públicas, do terceiro setor e da cooperação internacional, através da

cooperação técnica e científica.

Segundo Campos e Carvalho (2011), no Nordeste, as atividades

agropecuárias são exercidas principalmente por agricultores familiares, pois, de

acordo com o estudo do INCRA/FAO (2000), a região aglutina o maior número de

estabelecimentos familiares do nosso país, apresentando a menor renda

proveniente destas atividades, pois, dos 149.506 estabelecimentos familiares, da

categoria “proprietários de terra”, 70.846, ou 47,4%, enquadram-se na tipologia de

“quase sem renda”, que compreende aqueles agricultores com renda total por

hectare/ano de R$ 23,00. Além do tradicionalismo das técnicas utilizadas que

provocam baixo desempenho produtivo, a baixa fertilidade dos solos e o uso

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inadequado das tecnologias disponíveis, bem como a escassez pluviométrica, a falta

de recursos financeiros e de escoamento da produção, somando-se as arcaicas

relações sociais de produção e os baixos níveis de escolaridade, são determinantes

para o baixo desempenho das atividades produtivas.

[...] Bom, sob todos os aspectos. Primeiro, que é a verticalização do consumo, ou seja, o que é produzido aqui é consumido aqui, comercializado, isso retroalimenta todo o sistema sustentável. O governo..., as instituições adquirem os produtos orgânicos, devem adquirir produzidos localmente, dentro dos padrões aceitáveis e dentro do..., dentro do que estabelece a produção orgânica, é comercializado..., é..., é fornecido para uma alimentação saudável para os alunos em formação, e isso é [...] o que nós chamamos da sustentabilidade do sistema, ou seja, a gente verticalizar a produção e o consumo dos produtos, produzidos e comercializados localmente. Eu acredito que seja a base de nós chegarmos a um ponto que toda a sociedade deseja. (GP7)

De acordo com o Ministério da Agricultura, no sistema de produção

orgânica de alimentos, é fundamental que exista uma relação de confiança entre

produtor e consumidor, bem como, um controle de qualidade.

É possível perceber pelas considerações deste gestor que a

verticalização do consumo, ou seja, o que é produzido aqui, é consumido aqui,

retroalimenta todo o sistema sustentável. Logo, as instituições adquirem os produtos

orgânicos produzidos localmente dentro das previsões do PNAE, favorecendo uma

alimentação saudável para os alunos em formação. Esta opinião mostra-se bastante

relevante, pois ela aborda as questões ligadas à economia local, à segurança

alimentar, bem como, à questão ambiental, previstas no programa alimentar

estudado.

O PNAE estará sendo bem executado se observar não só a questão

econômica com o aumento da produtividade, mas, necessariamente se estiver

levando em conta os aspectos sociais e ambientais. Neste sentido, Scotto, Carvalho

e Guimarães (2007) ao analisar o relatório de Brundtland (CMMAD, 1998), observa

que de acordo com o seu sumário, o mesmo abrange grandes partes que visam

incluir as questões econômica, social e ambiental, para se alcançar a

sustentabilidade do desenvolvimento, recomendando a adoção de políticas públicas

focadas no social e ambiental.

De acordo com MDA (2013) o Programa Nacional de Alimentação Escolar

(PNAE), administrado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação

(FNDE), adquiriu, cerca de R$ 520 milhões em produtos da agricultura familiar nos

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anos de 2011 e 2012. Apenas em 2012, foram adquiridos produtos orgânicos e de

base agroecológica em 1.733 municípios, equivalendo a 31% do total de registros de

compra no ano.

Outro aspecto que deve ser mencionado é a falta de conhecimento de

gestores públicos no âmbito estadual e municipal sobre a operação do PAA e do

PNAE. É necessário ampliar a troca de informação para orientar as políticas. O

MAPA pode disponibilizar o cadastro de produtores orgânicos aos gestores para

orientar as políticas PAA e PNAE, mas é necessário fazer cruzamento para

identificar os agricultores familiares. (MDA, 2014e)

[...] Quando você produz localmente, levando em consideração os aspectos da sustentabilidade, que é o aspecto social, o aspecto cultural. O aspecto econômico e o ambiental, não tou aí escalando por nível de importância. Mas na medida que você leva em consideração esses quatro fatores como instrumentos é..., determinantes para o desenvolvimento sustentável, então esse programa, ele contribui sim, porque do ponto de vista cultural [...], do ponto de vista da saúde, é muito mais importante. Do ponto de vista ambiental..., a preservação da natureza se dá, sobre tudo da nossa..., da nossa fauna e da nossa flora..., à medida que eu conheço, e os agricultores conhece muito bem a importância que tem..., preservar uma mata, preservar uma nascente de água. Então do ponto de vista ambiental, também esse programa ele incentiva..., na medida que possibilita que o agricultor não precisa, por exemplo, ter que fazer um carvão, ter que tirar uma mata, pra poder melhorar a sua renda..., porque a sua renda tá assegurada a partir da produção..., e uma produção que nós incentivamos que é a produção orgânica, que é a produção em harmonia entre eu produzir e conservar os recursos naturais, então, isso significa do ponto de vista ambiental também uma ação correta. Do ponto de vista econômico [...], ele promove tanto a melhoria de renda do agricultor, mas também, a economia local começa a ser aquecida. E por último, por fim, do ponto de vista social, ele possibilita a participação, ele tem o controle da sociedade muito maior, principalmente, através dos conselhos municipais. Então ele é um programa, que [...] a gente pretende que ele se amplie [...], pra que cada vez mais, mais escolas tem esse alimento, e isso sirva como estímulo para que a nossa criançada, nossa juventude..., não aconteça a evasão escolar. Por que a gente sabe que na verdade a sustentabilidade, as transformações sociais que o país ainda precisa, um dos itens fundamentais é a educação, e esse programa contribui pra que esse processo de educação possa permitir o acesso ao saber a maioria das nossas crianças e a juventude. (GP8)

O GP8 demonstra um posicionamento bastante pertinente, revelando

uma visão holística da importância do PNAE na promoção do desenvolvimento local

sustentável, quando aborda de forma ampla os reflexos deste programa alimentar na

agricultura familiar, com mudanças nas práticas agrícolas, sedimentadas na

agroecologia. Esta visão traz um aspecto diferencial, ao demonstrar como o

município deve operacionalizar o PNAE, para que se possa promover o

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desenvolvimento local sustentável, não observando apenas o aspecto econômico,

mas todos os aspectos que estão em voga dentro do contexto em que este está

inserido.

Sendo assim, Seiffert (2011) aduz que existe uma grande interrelação

entre os pressupostos econômico e ecológico, visto que a origem de grande parte da

degradação ambiental observada na atualidade é consequência de uma ultização

econômica não racionalizada dos recursos naturais dentro dos processos

produtivos. Logo, é necessária uma gestão eficiente dos recursos naturais, para que

se alcance o pressuposto econômico desse novo modelo de desenvolvimento, o que

implica na incorporação de valor do bem ambiental no processo produtivo,

observando-se uma valoração mais adequada dos recursos naturais.

4.3.3 Percepções pelos Gestores Privados sobre a relação do fornecimento de

alimentos produzidos localmente para as escolas e o desenvolvimento local

sustentável.

Os gestores privados que percebem que o fornecimento de alimentos

produzidos localmente para as escolas contribui para o desenvolvimento local

sustentável.

Sim, porque aí já vai ser um dinheiro extra pros agricultores. E cada agricultore vai ter os seus filho, sabendo que tá comendo um produto bom de boa qualidade. Porque hoje em dia, a maioria vem de..., eu tava assistindo uma reportagem, 60% dos câncer, hoje é os produto irregular que é comido hoje em dia. Que é muita e muita substância química, então a gente gostaria assim que..., a prefeitura junto com o governo tudinho..., olhassem mais a parte de orgânico e fosse uma lei que botasse mesmo pra a gente vender os trinta por cento de produtos orgânicos, da escola. Outro benefício que o trabalhador rural traz para ele e para a família dele é principalmente de tudo..., saúde. Que a gente com saúde é melhor. Hoje em dia, eu vi lá o meu vizinho, distante de mim um pouquinho, ele planta produto é..., convencional, então ele usa muito veneno. Então ele é sujeito diretamente tá com gripe, cansaço, porque ele lida diretamente com o veneno. Já nós..., é sem o veneno, [...] é somente saúde [...]. Os meninos da gente entra dentro da horta, como tomate, [...] tudo na hora, assim arrancando e comendo e não tem doença, porque nossos produtos é sem veneno, aí..., é uns produto que eu aconselho todo mundo a comer, é o produto orgânico. A gente trabalha junto com o orgânico e com a natureza, então o meio ambiente..., o meio ambiente precisa de limpeza, ar limpo. Então se a gente colocar veneno..., o ar vai ficar poluído, as nascente do rio vai sofrer e os bicho vai morrer devido o veneno no solo. Então..., é uma coisa vai levando a outra. Então..., bom mesmo é a gente não usar veneno. Sempre usar produto sem veneno, que é o produto orgânico [...] no momento nós temos sessenta e dois agricultore associados, com orgânico trabalha quarenta e seis. Se os agricultores orgânicos vendessem para as

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escolas traria saúde para as crianças, divulgação do nosso produto e ajudava mais nós agricultore, [...] era um dinheirinho extra e nós ia investir mais ainda na nossa produção. Olhe..., a opinião que eu queria dizer era isso: prefeitura..., secretário..., prefeito..., tudinho, deixasse essa discussão de divergência de partido. No momento agora, a gente tem sim, é de olhar o futuro, olhar nossas criança, que nossas criança não pode diretamente tá comendo veneno e a gente com um produto saudável, um produto de primeira qualidade..., jogando fora, não pode! A gente tem que botar esses produtos de boa qualidade pras crianças, nas escola. Então, as prefeitura tem que parar com isso, esse negócio de política, porque política é bom pra eles, agora pra criança não! Criança tem que crescer forte, saudável. (GPR1)

De modo geral, é possível perceber que quanto maior o envolvimento e

sentimento de pertencimento do ator participante do processo, maior o

conhecimento sobre o que representa o processo de inserção dos alimentos

provenientes da agricultura orgânica na alimentação escolar, repercutindo no

desenvolvimento sustentável, onde os gestores privados, no nível estratégico,

conseguem discernir melhor o que representa esse paradigma de desenvolvimento,

bem como, quais os seus reflexos benéficos na comunidade local. Pela fala do GPR,

ele consegue perceber de forma sensibilizada vários benefícios, decorrentes da

adoção do sistema de produção agroecológico, provenientes da agricultura orgânica.

Observa-se a sua preocupação com a saúde ambiental e seus reflexos na saúde de

todos os atores envolvidos direta ou indiretamente com o processo de aquisição

institucional de alimentos. Ressalta a questão da intoxicação do meio ambiente, do

homem que lida com agrotóxicos e dos consumidores deste tipo de alimentos

convencionais. Aborda as questões econômica, social, associativista, cultural e

político- partidária que interferem na filosofia das políticas públicas

desenvolvimentistas.

Observa-se que o gestor privado demonstra esclarecimento sobre o que

representa o conceito do desenvolvimento sustentável, visto que, na sua fala se

destaca vários elementos ligados a esta seara do conhecimento. Assim, pode-se

inferir que os atores que pertencem ao processo de produção de orgânicos

conhecem o que representa a sustentabilidade para a comunidade local, bem como,

a sua repercussão no planeta.

Por consequência, sabendo-se que o conhecimento e o acesso às

informações são essenciais para uma ação pensada e refletida, considera-se que a

aquisição da produção orgânica, através do PNAE, promove o desenvolvimento

sustentável de Glória do Goitá, se for levado em conta o opinativo deste gestor

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privado, que representa a fala dos agricultores associados à produção orgânica

local, o que se coaduna com a afirmativa de Ferreira (2011), ao se referir ao

desenvolvimento sustentável, como uma nova forma de desenvolvimento, que leva

em conta a inclusão social, as gerações futuras e o meio ambiente.

Neste contexto, Faver (2004) aduz que a Agricultura Orgânica é um dos

sistemas de produção de alimentos, que estão inseridos dentro da Agroecologia.

São princípios norteadores da agroecologia a menor dependência possível de

insumos externos e a conservação dos recursos naturais, para tal, ela maximiza a

reciclagem de energia e nutrientes, reduzindo as perdas destes recursos durante os

ciclos de produtivos. Destaca-se a Agricultura Orgânica pela sua importância, como

sistema de produção agrícola, o qual se encontra dentro do conceito da

agroecologia, pois tem um enorme cuidado com a biodiversidade. Este sistema

agrícola considera o agricultor como o sujeito da ação e a razão de ser do

desenvolvimento sustentável, o qual privilegia os recursos naturais locais e preserva

a saúde do meio ambiente, contribuindo para a qualidade de vida de toda a

coletividade, bem como, observando a dignidade da pessoa humana, viabilizando a

conquista da cidadania das comunidades dos agricultores e de suas famílias,

fomentando uma sociedade mais democrática e humanizada.

Com certeza. Eu acho que quanto mais à gente poder cortar o intermediário, melhor, né... Eu acho que se você incentiva a economia local, principalmente incentiva o agricultor a ser um ator autônomo dentro desse processo né..., que ele consiga produzir e comercializar ali mesmo, né... [...] Não ter também, até cortar o fato dele ter que vir a comercializar em Recife, já tem a questão da logística, à distância né..., é um trabalho a mais, essa coisa de ter de acordar de madrugada, tudo mais. Então quanto mais a gente incentivar as pessoas que elas consumam localmente é benefício para o planeta todo, em relação a tudo. Não é..., a logística, a gerar a economia local, é..., a incentivar o agricultor a ser autônomo mesmo, né..., e conseguir viver daquilo ali, de maneira digna, porque, na verdade essas políticas públicas de aquisição de alimentos né..., eu acho até que elas são muito bem estruturadas no sentido que não é para que o agricultor fique dependente daquilo, mas seria uma renda complementar, tanto é que tem um teto não é..., anual que pode ser vendido. Mas eu acho que é um complemento ótimo, um incentivo maravilhoso não é..., do governo e também reflete de uma maneira positiva nas instituições que recebem esses alimentos, sejam escolas, seja outras, no caso o PAA. E assim, eu acho que de uma maneira geral é a coisa mais benéfica que pode ser feita para o desenvolvimento local sustentável né..., você sempre incentivar a economia local. A única coisa que me preocupa realmente, acho que isso é uma questão mesmo a nível, acho que Pernambuco, eu não gosto generalizar, mas posso dizer que a nível Nordeste, são entraves político né..., que assim, falta nesses gestores uma visão holística, de continuidade do processo, de uma coisa mais humana e integral, assim, todo mundo tem essa coisa da disputa política que dificulta todos os processos. A gente tem uma legislação tão bacana que é referência mundial como essa legislação

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de agricultura familiar que tem no Brasil todo o incentivo e você às vezes se perde nos processos por disputas políticas, e isso sim, é uma pena realmente, porque se a legislação funcionasse de uma maneira para além desses interesses né..., seria assim, realmente é uma referência, só falta que seja colocada em prática de uma maneira pra além desses interesses, pra que seja efetuada de uma maneira que realmente funcione e que não venha prejudicar a população por interesses políticos né..., principalmente o agricultor. E é uma legislação realmente de referência, [...] (GPR3)

Foi possível, a partir dos conteúdos das afirmativas externadas por este

ator social, perceber dentro desta categoria de análise, entre aqueles que enxergam

o PNAE como indutor do desenvolvimento sustentável. É válido observar as suas

considerações, quando se refere aos incentivos da economia local, principalmente

quanto ao agricultor, como um ator autônomo dentro desse processo, na medida em

que ele consiga produzir e comercializar a sua produção, na própria localidade,

quanto maior o consumo local, maior o benefício para todo o planeta, em relação a

tudo.

Neste sentido, Gehlene (2004) aduz que algumas transformações

recentes na agropecuária brasileira são consequência das políticas públicas e

sociais, v.g, a que trata da agricultura familiar, interfere no modo de vida e de

produção rural, centrado no trabalho não assalariado e na organização da unidade

de produção. Nesta seara, a referida política pública traça estratégias visando à

qualidade de vida e a eficiência no uso do espaço rural e das tecnologias adaptadas

para esta realidade. Neste sentido, contribui para a constituição de sociedades

locais estruturadas e integradas por valores de cidadania e identidade.

É dentro deste raciocínio, que autonomia do agricultor é alcançada,

através de estímulos que não causem a dependência econômica e social, porém, o

PNAE, vai servir para garantir um mercado institucional, o qual servirá de suporte

para o agricultor familiar exercer o seu papel social, ambiental e econômico, não só

dentro da comunidade local, mas com reflexos na sustentabilidade planetária.

Quanto às políticas públicas de aquisição de alimentos, no caso analisado

o PNAE, o entrevistado chama a atenção para a elaboração das mesmas, aduzindo

que são muito bem estruturadas, no sentido que não cria uma dependência

institucional, mas gera uma renda complementar para os agricultores familiares, que

serve como um maravilhoso incentivo por parte do governo, refletindo de maneira

positiva nas instituições que participam do processo, recebendo esses alimentos e

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movimentando a economia local, promovendo assim, o desenvolvimento

sustentável.

Na ótica das políticas públicas voltadas para a questão alimentar,

Gehlene (2004) aduz que numa nova a abordagem sobre o rural complexificado,

resgata o cidadão agricultor familiar, para que se envolva de forma participativa, não

só nas questões locais, mas também nas nacionais e internacionais, num processo

de diferenciação e profissionalização. Dentro desta nova visão sobre o meio

ambiente rural, observam-se transformações profundas, bem como o dinamismo

social presentes nas lutas por interesses específicos e pela construção de um novo

paradigma, que dentro de uma visão holística, reflete nas sociedades local, regional,

nacional e mesmo global. Nesta linha, as políticas públicas, construídas de forma

participativas e dirigidas para segmentos específicos, v.g. a Política Nacional da

Agricultura Familiar, mesmo promovendo as mudanças necessárias, tendem a

fortalecer os que apresentam racionalidade “moderna” e embasada na ética do

trabalho e da competitividade, que aproveitam as oportunidades.

É possível observar, na percepção de GPR3, a mesma preocupação

externada pelo GPR1, quanto à questão das políticas partidárias que estão agindo

como movimentos estanques ao processo de desenvolvimento local, promovido

pelas Políticas Públicas tão bem idealizadas. Ele afirma que, sem generalização,

falta, nesses gestores, uma visão holística de continuidade do processo, de uma

coisa mais humana e integral, quando se tem as disputas políticas que dificultam

todos os processos.

Finaliza o seu discurso, afirmando que a legislação, que trata da temática,

é referência mundial, destacando a que regulamenta a agricultura familiar no Brasil.

Prossegue chamando a atenção, mais uma vez, no sentido de que existe todo um

incentivo que às vezes se perde nos processos por disputas políticas. Aduz que se a

legislação funcionasse, além desses interesses, seria uma referência. Só falta que

seja colocada em prática e que não venha prejudicar a população por interesses

políticos, principalmente o pequeno agricultor.

Tais práticas, para Gehlene (2004), estão atreladas as políticas públicas

que viabilizam o financiamento às atividades rurais, a descentralização da sua

execução por intermédio dos Conselhos Municipais, especialmente os de

Desenvolvimento Rural, entre outros incentivos, estão propiciando o surgimento de

novos atores sociais, representados pelo agricultor familiar profissionalizado e do

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granjeiro. A profissionalização prevê uma competitividade embasada numa

referência ideológica fomentada por mecanismos econômicos que colocam produtor

e consumidor como duas faces de uma mesma moeda. Com isso os conceitos

passam por uma nova roupagem, como o de identidade sociocultural, que inclui a

noção e o “lugar” do trabalho, e o de cidadania, que inclui as relações de trabalho e

com o meio ambiente, tudo em decorrência dos impactos gerados por estas

transformações.

Tal processo cria na concepção dos produtores, os conceitos de trabalho

e de competitividade nos seus aspectos de qualidade e de produtividade, cujos

impactos interferem na reelaboração da identidade socioprofissional. Ainda de

acordo com ibidem (2004), estas transformações não alcançaram cerca de 12% da

população do meio rural brasileiro que vive em condições abaixo da chamada “linha

de pobreza”.

Sim [...]. Quando a gente chegou nessa região de Glória do Goitá, a gente fez uma pesquisa..., na época o salário mínimo era de R$ 140,00 (cento e quarenta reais), e a gente fez uma pesquisa..., e a renda..., é..., a média da renda familiar dos agricultores era R$94,00 (noventa e quatro reais), então a produção local..., a produção orgânica, agroecológica tendo um mercado direto que é o PNAE, ele eleva o nível, não é..., da localização [...] é a produção para o mercado local. E aí, hoje a gente tem agricultores [...] que estão tendo uma média de r$ 500,00 (quinhentos reais)..., R$ 600,00 (seiscentos reais)..., R$ 700,00 (setecentos reais)..., tem agricultores que chegam até R$ 1.000,00 (mil reais) por semana, nesse processo produtivo. Isso eu estou falando do ponto de vista econômico, do que eles vendem, eu não tou falando do que eles consomem [...]. Eu não tou falando do solo que [...] não tá mais prejudicado e eu [...] Eu não estou [...] computando [...] o desmatamento que [...] o outro modelo de produção [...] estimula. [...] O PNAE [...] estimula o desenvolvimento local quando [...] começa a pensar a família, porque num processo produtivo pra a escola..., o estudante..., que está se alimentando daquele produto na escola, ele começa [...] a discutir quais são os produtos, por exemplo [...] que os estudantes da escola querem comer. [...] E essa relação do filho dele, por estar em sala de aula e está vendo estes comentários na sala de aula..., leva para dentro de casa e os agricultores começam a se organizarem pra atender aquela demanda da merenda escolar. Provoca o desenvolvimento local porque o custo da produção diminui [...] então tudo que é produzido ali..., vai pra escola que está ali ao seu entorno. O PNAE gera essa série de elementos que provoca [...] o desenvolvimento local, meche nas relações familiares, meche na relação do produtor com a terra, meche na relação do produtor com os recursos naturais, meche na relação do produtor com as políticas públicas locais, meche na relação do produtor com a escola e a escola com o produtor, então de fato é um dos melhores programas hoje, que a gente avalia como um programa que ele fortalece a agricultura familiar, ele fortalece o desenvolvimento local. (GPR5)

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É possível identificar pelo pronunciamento deste respondente, que assim

como a maioria, cita diretamente a geração de renda como forma de promoção ao

desenvolvimento sustentável, além de apontar aspectos ligados à logística e a

redução de custos na comercialização da produção, o que demonstra claramente

que o PNAE exerce a sua função quanto a este viés.

Neste sentido Paiva, Freitas e Santos (2012) asseveram que a

administração da aquisição da alimentação escolar através dos municípios,

descentralizou a sua administração trazendo vários benefícios, dentre eles a

racionalização da logística e dos custos de distribuição dos alimentos, o que

favoreceu a economia local, quando o comércio e os pequenos produtores do

agronegócio local passaram a participar do processo de fornecimento dos referidos

alimentos.

Em seguida, ele ressalta o consumo dos alimentos orgânicos diretamente

por quem produz, bem como pelas famílias dos agricultores orgânicos, o que reflete

uma melhoria na qualidade da alimentação das comunidades rurais, dentro da

perspectiva da segurança alimentar e nutricional, convertida em mais saúde para os

agentes sociais participantes do processo. Com muita sensibilidade ainda, de quem

tem o sentimento de pertencimento do processo analisado, aponta algumas das

repercussões do PNAE na agricultura familiar, com ênfase nos produtores de

alimentos orgânicos, quando se refere aos aspectos do manejo do solo e seus

benefícios ambientais. De forma consciente, aponta os aspectos sociais que

envolvem as famílias dos produtores e dos estudantes consumidores, num feedback

social, de forma positiva.

Finaliza, avaliando a operacionalização do PNAE, trazendo algumas das

transformações provocadas nas relações familiares, na relação do produtor com a

terra, na relação do produtor com os recursos naturais, na relação do produtor com

as políticas públicas locais, na relação do produtor com a escola e a escola com o

produtor, e conclui afirmando que o PNAE é um dos melhores programas na

atualidade, o qual fortalece a agricultura familiar e promove o desenvolvimento local

sustentável.

Dentro desta linha de raciocínio, Assis (2006) ao analisar os princípios

teóricos da agroecologia, em paralelo às características da agricultura familiar,

observou que a aquela, com seus sistemas de produção, é a mais indicada para a

realidade dos sistemas de organização da agricultura familiar, devido à diversidade

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apresentada na sua estrutura de produção, bem como, em razão do nível de

complexidade desejado, viabilizando as atividades de supervisão e controle do

processo de trabalho. O que não ocorre para os grandes produtores patronais.

Mesmo não se considerando que a agricultura orgânica com base agroecológica

seja inviável, observa-se que as dificuldades são maiores, especialmente quanto à

diversificação exigida para os agroecossistema. Nestes casos, consegue-se

trabalhar próximo das diretrizes exigidas pela agroecologia, visando assegurar a

sustentabilidade.

Observa-se que os sujeitos da pesquisa percebem a operacionalização

do PNAE no Município de Glória do Goitá, como instrumento indutor da promoção

do desenvolvimento local sustentável. Foi possível, a partir dos conteúdos das

afirmativas externadas pelos atores participantes do processo, concluir que dentro

desta categoria de análise, não houve entre eles quem não enxergasse o PNAE

como indutor do desenvolvimento sustentável.

Os gestores privados que percebem parcialmente que o fornecimento de

alimentos produzidos localmente para as escolas contribui para o desenvolvimento

local sustentável.

Sim. Olhando sempre as questões econômicas, culturais e sociais promovidas pelos recursos que circulam dentro do município. As técnicas e planejamentos realizados focados para atender estas demandas do PNAE e as questões culturais que hoje estão num momento de transição, porque antigamente não tínhamos este programa público. Está mudando este hábito cultural do agricultor que antigamente só vendia mais para os atravessadores, onde o qual descaracterizava os preços dos produtos, hoje os agricultores têm um preço mais justo e solidário, inclusive, o que veio melhorar as questões sociais, econômicas e culturais, proporcionando melhor qualidade de vida para os agricultores, porque é uma política pública direcionada para o pequeno agricultor, inclusive é uma lei federal. (GPR2)

De início se observa na boa visão do GPR2, quando da sua fala, que o

mesmo percebe parcialmente que o fornecimento de alimentos produzidos

localmente para as escolas contribui para o desenvolvimento local sustentável, uma

vez que o mesmo fez referência às questões econômicas, culturais e sociais

promovidas pelos recursos que circulam dentro do município, advindos do PNAE,

bem como, continuando a sua abordagem sobre a temática trazida a baila, ressaltou

a eliminação do atravessador, no momento da comercialização da produção

agrícola; o que veio garantir um preço justo sobre os produtos ofertados. No entanto,

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chama atenção, a não observância no seu discurso da questão ambiental, tão

importante para a conceituação do desenvolvimento local sustentável.

Dentro do conceito do desenvolvimento local sustentável, Buarque (1999)

afirma que a compatibilização entre os objetivos sociais, econômicos e ambientais

torna-se viável devido aos avanços científicos e tecnológicos, que servem de

instrumental, nas relações da economia e da sociedade com a natureza, bem como

de uma consciência ambiental da humanidade. Para este pensador, a partir de uma

combinação destes dois fatores, surge uma nova maneira de interagir, entre a

dinâmica econômica, a estrutura social e os ecossistemas, o que viabiliza um novo

modelo de desenvolvimento. Sendo assim, a consciência ambiental garante uma

sustentação política para as mudanças, e as inovações tecnológicas redefinem e

diminuem as tensões (trade-offs) entre a economia e a natureza.

Segundo Buarque (1999), o desenvolvimento sustentável consiste numa

transição para um novo estilo de organização da economia e da sociedade e das

suas relações com a natureza, prenunciando uma sociedade com equidade social e

conservação ambiental, para que isso ocorra, demandam tempo e iniciativas

transformadoras da base da organização da sociedade e da economia.

Com certeza, inclusive é um dos parâmetros do desenvolvimento local, [...] tem um programa chamado Zoneamento Territorial Local, que a gente coloca a aquisição número um, público-governamentais, é a maior empresa que cada cidade da Mata Norte tem, é sua prefeitura, é o grande consumo hoje Secretaria de Educação, então, em termos de alimentação são os grandes consumidores. Para você ter ideia, toda a rede de restaurantes instalados na Mata Norte consome cerca de dezoito por cento da produção agrícola. Então veja que sobra todo esse resto para ser consumido pela merenda escolar, pelas escolas estaduais e escolas municipais. [...] Glória hoje está muito bem, porque está próximo de um grande fornecedor de tubérculos e raízes, que ela ali, ela também faz parte. Ela tá próxima daquela região de verduras, ali de Inatuba, de Vitória de Santo Antão. Ela está próxima à área de fruticultura, banana, uva. Então Glória tem todas as condições de receber alimento de boa qualidade. Inclusive, existe hoje uma feira orgânica em Lagoa de Itaenga, cidade vizinha à Glória, que dizer essa agricultura já passa por uma qualificação, e a gente vê que é o caminho natural, [...] é onde os órgãos ligados à agricultura vai insistir, e o consumo governamental é a chave do desenvolvimento local. Então, se escola, também a rede de hospitais também deve consumir. [...] esses editais, nós precisamos simplificar esses editais da CONAB, de aquisição de produtos. O nosso agricultor não tem cultura, [...] porque ninguém sabe vender para o governo porque é complicado. É um edital que exige certidões. Um agricultor daquele, não entende muito disso, principalmente aquele pessoal de assentamento, é muito complicado. [...] Então..., [...] primeiro fortalecer este programas que já está em andamento, como o PNAE e PAA. Trabalhar forte a questão dos editais da CONAB. Fazer com que os outros órgãos governamentais também consumam. [...] É necessário descentralizar também esse tipo de aquisição [...] para estimular a economia local. O

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grande problema [...] se o valor econômico que é gerado na Mata Norte fosse gasto na Mata Norte, nós teríamos uma região desenvolvida. O problema é que tem cidade lá, como Nazaré que noventa por cento da renda produzida na cidade vai embora. (GPR4)

É possível identificar que este respondente, na maior parte da sua

explanação, cita diretamente ferramentas ligadas ao mercado consumidor,

propiciado pela compra via PNAE, como forma de promoção do desenvolvimento

local sustentável, o que sem dúvida é um importante aspecto que reflete na

qualidade de vida da comunidade. No entanto, na sua fala, não se vislumbra

qualquer referência às questões socioambientais previstas no programa alimentar

sob discussão.

Quanto aos aspectos socioambientais promovidos pelo PNAE, Melão

(2012) aduz que como política pública de inclusão, de garantia de direitos e controle

social, só terá confirmado esses propósitos se houver a participação efetiva dos

atores envolvidos, bem como pelo modo de execução de suas ações. Neste sentido,

os gestores públicos devem buscar o atendimento à alimentação escolar oferecendo

produtos de “base ecológica”, dando prioridade aos produtos locais, visando à

promoção da Agricultura Familiar. Nessa linha, deverá viabilizar o consumo destes

alimentos no contexto da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), no que se refere

às práticas alimentares e à nutrição da população (BRASIL, 2004) – no caso, os

estudantes da rede de ensino público. A aquisição de alimentos pelo PNAE deve

apoiar o desenvolvimento sustentável, incentivando a aquisição de alimentos

diversificados, preferencialmente produzidos e comercializados em âmbito local.

Pela fala do entrevistado, conclui-se que o município locus apesar de bem

situado geograficamente, levando-se em conta os referenciais apontados, para que

a aquisição da alimentação escolar, através do PNAE, promova o desenvolvimento

local, antes de tudo, precisa implantar medidas que incluam os atores sociais

envolvidos neste processo, através de uma sensibilização que envolva os fatores

econômicos, sociais e ambientais, numa dialética que leve ao equilíbrio na

exploração dos recursos naturais.

Para Jara (1998), o desenvolvimento sustentável trata-se do nascimento de

um novo paradigma, que servirá de norte para os processos, quando serão reavaliadas

as relações existentes entre a economia e a sociedade com a natureza, bem como, as

relações do estado com a sociedade civil. Onde estes processos de mudança

sociopolítica, socioeconômica e institucional, buscam garantir a satisfação das

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necessidades básicas da população e a equidade social das gerações presentes e

futuras, gerando oportunidades de bem-estar econômico que observem os processos

ecológicos a longo prazo.

4.3.4 Percepções pelos técnicos e pesquisadores em agricultura sobre a relação do

fornecimento de alimentos produzidos localmente para as escolas e o

desenvolvimento local sustentável.

Os que percebem que o fornecimento de alimentos produzidos localmente

para as escolas contribui para o desenvolvimento local sustentável.

Com certeza. Glória do Goitá está fortalecendo a agricultura familiar através do PAA e do PNAE e a tendência é de a gente ampliar muito mais, porque Glória do Goitá, por exemplo, através do PAA, a gente já dobrou o valor com relação aos outros municípios. E eu tenho certeza que o PNAE ele será muito mais fortalecido diante da demanda que vai surgir dos agricultores familiares produzindo para abastecer o PNAE, até porque [...] o PNAE e o PAA que são as instituições do MDS e da CONAB, ele tem um preço, que a nível de mercado, na ponta final do consumidor, evitando assim o atravessador. Então um agricultor, ele sai muito mais fortalecido com essa linha do PNAE. (TPA1)

O entrevistado TPA1, de forma bastante objetiva, traz na sua percepção

as questões ligadas ao fortalecimento da agricultura, através do fomento dos

programas PAA e do PNAE que garantem um preço justo para a produção familiar,

além de eliminar a figura indesejável do atravessador.

Nesta visão, Assis (2006), aduz que na busca de autoregulação dos

agroecossistemas visando à sustentabilidade, a agroecologia não só destaca a

importância dos parâmetros agronômicos e ecológicos, mas também os parâmetros

socioeconômicos, demonstrando assim, que a agricultura não se resume apenas

aos processos ecológicos, estando intimamente interligada ao processo social, onde

a tecnologia presta-se ao desenvolvimento rural que inclua os vieses econômicos e

sociais.

Sim, porque [...] quando a escola oferece ao aluno e até mesmo tem escola que chega a ter hortas, não é..., visando à educação alimentar, eu acho que ela tá contribuindo porque o aluno, a criança, o estudante, é..., nós precisamos mudar esse hábito. A gente vê hoje..., as crianças passaram de um quadro de desnutrição para obesidade. Muitas doenças precoces nas escolas e isso, a gente vê que é uma alimentação desequilibrada. E quando eles vão é..., saber da origem daquele produto, saber de como é produzido, talvez isso despertasse o maior consumo, a criança se interessasse mais

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em comer uma hortaliça, uma fruta, que hoje a gente não vê muito isso. Eu acho que [...] essa alimentação saudável, equilibrada, permite também [...] a formação dele como cidadão bom, porque ele tá vendo que ali tá havendo preservação do meio ambiente, tá contribuindo também socialmente e sobre o ponto de vista também econômico, porque hoje [...] a gente tem que agregar valor aos produtos pra que o agricultor não fique sempre um agricultor pobrezinho..., coitadinho..., a gente sabe que a renda..., é o alimento orgânico agrega valor e ele tem uma renda melhor do que se ele produzir..., é..., no sistema convencional. (TPA3)

Este entrevistado TPA3 demonstra um conhecimento mais aprofundado

quanto à temática trazida à baila, considerando que a vislumbra num contexto geral,

visando à educação alimentar, à segurança alimentar e nutricional, enxergando a

complexidade que envolve o PNAE, como instrumento transformador do cidadão,

que se preocupa com o meio ambiente, através das práticas adotadas pela

agricultura orgânica, visando promover a sustentabilidade local, com reflexos no

global.

De acordo com Jara (1998), a agricultura sustentável, nas suas práticas,

observa o uso dos recursos biofísicos e econômicos de acordo com a sua capacidade;

dentro de espaços geográficos determinados, utilizando-se de tecnologias compatíveis

com a agroecologia, visando à obtenção de bens e serviços para atender as

necessidades das comunidades. Assevera ainda, que todo estilo de desenvolvimento

que não adote práticas conservacionistas e preservacionistas do solo, que seja

excludente e mantenha as concentrações marginalizastes precisa ser questionado.

Nesse raciocínio, a aquisição institucional de alimentos via PNAE, para que possa ser

sustentável, tem que observar tal posicionamento.

Quanto aos que não percebem que o fornecimento de alimentos

produzidos localmente para as escolas contribui para o desenvolvimento local

sustentável, observa-se, pelos posicionamentos externados pelos atores

participantes do processo, que dentro desta categoria de análise, não houve dentre

eles quem não enxergasse o PNAE como indutor do desenvolvimento sustentável.

Os que percebem parcialmente que o fornecimento de alimentos

produzidos localmente para as escolas contribui para o desenvolvimento local

sustentável:

... É uma questão de comercialização, é um dos gargalos da produção agrícola. Se você tem já uma garantia de que parte do que é produzido, você já tem pra quem entregar, já é uma forma de incentivar essa produção. Eu acho muito válido e muito importante que isso seja, é..., feito nas áreas de produção. (TPA3)

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O sujeito TPA3 foi superficial na sua consideração, dissertou sobre a sua

opinião, mas não conseguiu produzir um conteúdo suficiente sobre o fornecimento

de alimentos produzidos localmente para as escolas e a sua contribuição para o

desenvolvimento local sustentável, assim, pode-se interpretar como um

conhecimento parcial do tema por este respondente, uma vez que se ateve apenas

à questão da comercialização da produção agrícola.

Em posição complementar ao que considera o entrevistado, Jara (1998)

considera que para viabilizar o desenvolvimento sustentável, é mister trilhar tanto pela

teoria como por métodos inexplorados, saindo do convencional, visando harmonizar os

postulados econômicos e sociais com os princípios ambientais e leis naturais. Pois o

futuro depende de uma visão holística de mundo, por consequência, de uma gestão do

desenvolvimento, à luz de postulados interdependentes de equidade social, equilíbrio

ambiental, bem-estar econômico e autodeterminação política.

[...] Desconheço essa informação. Não tenho conhecimento não. O desenvolvimento local sustentável, no caso, é a..., as famílias dos agricultores né..., que..., que podem vender a sua produção..., no caso pro PNAE, pra se desenvolverem, ter tipo..., ter uma renda fixa, né? [...] Até o meu conhecimento sobre o PNAE, o valor que eles pagam, é um valor bom pelos produtos, eu acredito que sim, que ajudaria bastante. (TPA2)

O entrevistado TPA2, apesar de suas atividades serem de suma

importância para a viabilização não só do PNAE, como também para a agricultura

orgânica local como um todo, inicia sua fala afirmando que desconhece a temática

abordada no questionamento apresentado, porém, logo em seguida, aborda

benefícios relacionados à comercialização e à renda dos agricultores familiares

propiciados pelo PNAE, o que demonstra um conhecimento superficial do programa

contextualizado. Demonstra então, certo desconhecimento, quanto ao conceito do

desenvolvimento sustentável.

Neste sentido, Jara (1998) aduz que o conceito de desenvolvimento

sustentável tem dimensões ambientais, econômicas, sociais, políticas e culturais, o que

demonstra uma atenção com o presente e o futuro das pessoas; com a produção e o

consumo de bens e serviços; com as necessidades básicas de subsistência; com os

recursos naturais, bem como, com o equilíbrio ecossistêmico; com as práticas

decisórias e a distribuição do poder e com os valores pessoais e a cultura.

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Como se percebe, o conceito é amplo e complexo e, necessariamente,

diferenciado, quando aplicado às diversas formações sociais e realidades históricas.

A maioria dos entrevistados consegue enxergar e fundamentar a relação

entre o PENAE e o desenvolvimento local sustentável, o que demonstra a grande

relevância dessa temática para o município, uma vez que estes são responsáveis

pela gestão para o desenvolvimento sustentável, pois estão direta ou indiretamente

inseridos no processo pesquisado, por isso entendendo que o PNAE contribui para o

apoio ao arranjo produtivo local sustentável.

Para que se concretize o desenvolvimento sustentável em nível municipal, com as diversas dimensões apontadas, são imprescindíveis, além da modernização da institucionalidade local, a mobilização e a organização da sociedade; a formação de recursos humanos; novos instrumentos que concorram para orientar e subsidiar as decisões sobre o desenvolvimento; mecanismos flexíveis de financiamento; uma estratégia participativa de administração pública e; o fortalecimento de sistemas de parceria e corresponsabilidade entre atores públicos e privados. Nessa perspectiva, o desenvolvimento municipal diz respeito ao processo de mudança social, promovido no conjunto das comunidades urbanas e rurais que conformam a sociedade local, dirigido à satisfação das necessidades humanas e elevação da qualidade de vida, mediante a criação de alternativas e oportunidades que possam compatibilizar o bem-estar econô-mico, a equidade social e política, maximizando a qualidade ecológica. (JARA, 1998)

De modo geral, nas suas entrevistas, os sujeitos da pesquisa conseguem

perceber a relação existente, entre desenvolvimento local sustentável e as diretrizes

previstas no Programa Nacional de Alimentação Escolar, sendo que a maioria

vislumbra este contexto, de forma superficial, o que pressupõe o desconhecimento

dos temas, demonstrando incipiência quanto à temática ambiental, num Município

que está em franco processo de desenvolvimento, o qual deveria observar

sustentabilidade como um todo, não se focando apenas no desenvolvimento

econômico convencional.

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5. PRÁTICAS E PERCEPÇÕES DO PNAE

Ao analisar as práticas e percepções acerca do PNAE quanto a sua

operacionalização no Município de Glória do Goitá e se existe uma fomentação para

o surgimento de um APL sustentável, foi possível constatar alguns aspectos

importantes referentes aos objetos de estudo.

Quando se buscou verificar o conhecimento acerca dos alimentos

orgânicos, parte dos atores pesquisados os compreende como aqueles livres de

toxinas químicas. Tal conceito não é suficiente, dada à complexidade que envolve

este sistema de produção agroecológica.

Vale à pena fazer os seguintes questionamentos: será que o que se

entende por agricultura orgânica é mesmo o todo contextual? E sendo positivo, por

que as práticas nos conteúdos não foram possíveis para confirmar as afirmações

anteriores? Será que o conceito de sustentabilidade é entendido apenas no seu viés

econômico? Ou não se tem o conhecimento sobre tais práticas? Alguma coisa não

tem lógica.

De acordo com Assis e Romeiro (2002), os sistemas de produção de base

agroecológica têm em comum adoção de tecnologias que respeitem a natureza,

visando manter o equilíbrio entre os organismos participantes no processo de

produção, bem como do ecossistema. Como base na utilização destes princípios,

surgiram diferentes correntes de produção, entre as quais a agricultura orgânica,

que tem sido a mais difundida. A agroecologia e agricultura orgânica não são

sinônimos, aquela é uma ciência que possui limites teóricos bem definidos,

procurando inter-relacionar os saberes de diferentes áreas do conhecimento,

visando criar um encaminhamento para uma agricultura, cujas práticas respeitem as

condicionantes ambientais impostas pela natureza a esta atividade econômica, que

observa o desenvolvimento social e econômico de forma sustentável.

No segundo caso, de acordo com ibidem (2002), a agricultura orgânica,

trata-se de uma prática agrícola, que envolve um processo social, que apresenta

alguns vieses expressos com encaminhamento tecnológico e uma inserção no

mercado, que dependendo de suas práticas, os limites teóricos da agroecologia são

respeitados em maior ou menor grau.

De acordo com Altieri (2008), a produção sustentável, em um

agroecossistema, é consequência do equilíbrio entre plantas, solos, nutrientes, luz

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solar, umidade e outros organismos coexistentes, de forma produtiva e saudável,

observando a preservação e ampliação da biodiversidade dos mesmos.

Verificou-se que entre os sujeitos estudados, não há compreensão sobre

a relação entre a produção orgânica e a segurança alimentar e nutricional albergada

pelo PNAE, nem tão pouco à questão do desenvolvimento sustentável, na sua

plenitude, em que a atividade de produção orgânica tem influência sobre aspectos

locais nos contextos ambientais, sociais e econômicos, como defendido por Ramos

(2011), ao enfatizar que uma alimentação saudável depende de uma agricultura

saudável. Nesse sentido, a Alimentação Escolar tem contribuído para a construção

de cardápios saudáveis e sustentáveis, observando a saúde coletiva na refeição

oferecida aos estudantes, bem como as estratégias de desenvolvimento rural

sustentáveis, quando compra da Agricultura Familiar, de forma preferencialmente

local e agroecológica.

A visão fragmentada sobre a temática estudada, demonstrada por parte

de alguns atores, onde a simples exclusão do uso do agrotóxico já representa, na

visão dessas pessoas, que o aquilo que produzem é um produto orgânico. Nota-se

que ainda não conseguem enxergar o liame entre a alimentação orgânica e a

qualidade, conservação e origem da alimentação escolar, prevista na Política

Nacional da Segurança e Alimentar e Nutricional.

Observa-se uma carência, quanto ao conhecimento do desenvolvimento

sustentável e do sistema orgânico de produção de alimentos. Neste contexto, Capra

(2011), chama a atenção de que todos os sistemas vivos se desenvolvem e todo

desenvolvimento envolve a aprendizagem. A nível de espécies, tanto o

desenvolvimento, como a aprendizagem se manifestam no desdobramento inventivo

vivo ao longo da nossa evolução. Tanto os indivíduos, como o meio se adaptam

simultaneamente. Não sendo linear o desenvolvimento, a evolução, não dá para

prevê de que maneira os processos iniciados irão se desenvolver. Ou seja, se os

alunos, numa horta escolar, passarem a produzir e a provar a sua própria produção,

isto implicará numa mudança de hábitos alimentares, que refletirá na criação de um

novo mercado para os agricultores locais, com reflexos sustentáveis nas suas

famílias.

Apenas um terço dos entrevistados demonstra ter algum conhecimento

sobre a origem ou o tipo de alimentação que é fornecida nas escolas municipais. Na

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maioria, fazem referência à agricultura familiar local, não apresentando uma certeza

quanto à região produtora destes alimentos, ou à forma como o mesmo é produzido.

De acordo com Ramos (2011), o PNAE é uma política estruturante da

segurança alimentar e nutricional, não se limitando a uma ação assistencialista de

distribuição de alimentos, pois promove a consolidação da produção interna de

alimentos diversificados, com identidade local/regional, através de um mercado

institucionalizado para a agricultura familiar, dando-se preferência por aqueles

alimentos orgânicos produzidos nas próprias localidades e regiões.

Quando se traz à baila a percepção sobre o desenvolvimento sustentável,

observa-se uma incipiência, quanto ao conhecimento sobre as questões ambientais

dos entrevistados, principalmente os gestores das escolas municipais,

demonstrando desconhecimento total ou parcial sobre a temática. Como gestores

educacionais que lidam com planejamento pedagógico dos facilitadores da

aprendizagem, esta realidade constatada demonstra-se destoante com o papel que

exerce na comunidade. Quanto à transmissão do conhecimento, este processo fica

comprometido, pois não se pode ensinar o que não se conhece, maculando assim o

papel do educador.

É possível perceber que o entendimento quanto ao PNAE está limitado à

questão econômica e social. Quanto ao aspecto ambiental, nota-se não

apresentarem compreensão do conceito da produção agroecológica ou orgânica.

Para gerir a execução do PNAE e repassar as informações para as comunidades

escolares é salutar que se apropriem destas informações, instrumentalizando-se

assim, do desenvolvimento local sustentável.

Quando foi necessário que os sujeitos revelassem como percebiam a

relação entre o desenvolvimento local sustentável e o PNAE, as opiniões

mostraram-se destoantes, visto que, não se conseguiu mostrar a relação direta entre

os temas. Existe uma confusão por parte de alguns gestores escolares entre

desenvolvimento sustentável e algo que é autossustentável, por isto, algumas

respostas destoam do que realmente representa a sustentabilidade, demonstrando

desconhecimento sobre a matéria, por boa parte desses gestores. Já outros,

resumem o conceito de desenvolvimento sustentável ao viés econômico.

Vale salientar, que foram destacadas as questões sociais e nutricionais do

PNAE para o desenvolvimento intelectual das crianças, além da contribuição para a

redução da evasão escolar. Observa-se ainda, que uma das percepções

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apresentada, inclui a geração de renda e emprego para a população local, além de

uma movimentação da economia local e a contribuição que traz para a qualidade de

vida dos agricultores.

Na análise do grupo dos Gestores Públicos é possível identificar que já é

mais evidente o conhecimento sobre o PNAE, com relação à aquisição de alimentos

vindos da agricultura familiar. No que se refere à qualidade e a conservação dos

alimentos fornecidos nas escolas e os que reconhecem as dificuldades enfrentadas,

referentes a esses pontos, já é bem sutil o entendimento diante da perspectiva da

segurança alimentar.

Quanto à qualidade da alimentação escolar, foi apontada a participação

de uma nutricionista, conforme previsto no PNAE, bem como, a participação do

SEBRAE, junto aos agricultores familiares, assim como os gestores das escolas

municipais.

No que se refere à conservação da alimentação escolar, há nas escolas

municipais geladeiras e freezers. Mesmo assim, foram identificadas algumas

dificuldades como a falta de ambiente adequado, para armazenamento dos

alimentos nas escolas e com a distribuição dos alimentos escolares, o que tem

interferido, até mesmo na escolha de alguns produtos produzidos pela agricultura

familiar local, visando à conservação dos mesmos.

É possível observar, que embora não haja um posicionamento claro sobre

o conhecimento quanto à qualidade e a conservação dos alimentos fornecidos nas

escolas públicas, houve referência à ANVISA e a CONAB e seus papéis

institucionais. Mais adiante foi citado o SERTA como paradigma, ligado à produção

orgânica no Município, o que induz a uma leitura de que o sistema orgânico de

produção desses alimentos deve ser levado em conta, quando da aquisição dos

mesmos via PNAE, com o intuito de atender aos preceitos da sustentabilidade do

processo estudado.

Outro aspecto a se observar, é que a comunidade necessita de ter mais

acesso às informações ligadas ao PNAE, pois os atores sociais participantes do

processo não têm um conhecimento seguro sobre a origem dos alimentos,

fornecidos para a merenda escolar do município. O processo de aquisição da

alimentação escolar está no caminho certo, precisando de alguns ajustes, que com a

implantação de um arranjo produtivo local focado na produção agrícola sustentável

será aprimorado.

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Dentro da contextualização é possível diagnosticar que os gestores

públicos demonstram um conhecimento mais aprofundado sobre a temática trazida à

baila. Quanto aos gestores privados foram observadas as opiniões da sociedade

organizada e a sua contribuição para o processo estudado, por possuírem também,

uma função fiscalizadora do PNAE. Na análise deste grupo é possível identificar que

apesar de não ser predominante, mas há gestores privados que conhecem, mesmo

que de forma superficial, a origem dos alimentos fornecidos via PNAE e que já

compreendem a importância desse programa alimentar para o desenvolvimento

local sustentável.

Foram apontadas algumas dificuldades no processo, quanto à qualidade

e a conservação dos alimentos servidos nas escolas, em razão de vários fatores que

interferem na conservação dos alimentos, ao mesmo tempo, aduz que houve um

avanço quanto ao acondicionamento dos mesmos nas unidades escolares.

Ficou evidente a importância do terceiro setor no processo que vai

desencadear no surgimento de um APL, ao se reconhecer o trabalho dos próprios

técnicos da APORG, que é uma instituição parceira do ICEI Brasil, que atua mais

diretamente na comunidade, quando aduz que houve aquisição por parte da gestão

passada do PNAE da produção proveniente da agricultura orgânica, o que é

determinante como incentivo para os agricultores optarem por este sistema. Quando

boa parte da alimentação é orgânica, ocorre melhoria da qualidade na merenda

escolar. A maioria dos gestores privados demonstra conhecer a origem da

alimentação fornecida nas escolas do município, de forma que os atores envolvidos

percebem que as diretrizes traçadas pelo PNAE visam fomentar o desenvolvimento

sustentável.

Devem ser levados em conta os conceitos sobre a produção orgânica

local, a relação da escola com a agricultura promovida pelo PNAE, bem como a

importância desse programa de aquisição de alimentos para o desenvolvimento local

sustentável, uma vez embasada no contexto e na vivência da própria localidade. Foi

bem informada à logística e a infraestrutura necessárias para a viabilização do

PNAE, quando foi mencionado o desaparelhamento da Secretaria de Agricultura

(Desenvolvimento Econômico) local, para poder viabilizar o desenvolvimento

sustentável, tanto do ponto de vista físico, como o nível do conhecimento.

Numa análise ampla, quanto às explanações expostas pelos gestores

privados envolvidos no processo, pode-se perceber uma melhor visão deste grupo,

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visto que, além da diversidade quanto à representatividade dos que conhecem o

tema, estes, em sua maioria, lidam de forma mais sensibilizada, com a questão da

produção agroecológica, com um sentimento de pertencimento ao processo

discutido, sem o ranço das questões político-partidárias, apontadas por vários

atores, o que pode contribuir muito para o aprimoramento das ações já implantadas

pelos gestores públicos locais, voltadas para o sucesso do PNAE no município

estudado.

De modo geral, foi possível perceber que quanto maior o envolvimento e

sentimento de pertencimento do ator participante do processo, maior o

conhecimento sobre o que representa o processo de inserção dos alimentos

provenientes da agricultura orgânica na alimentação escolar, repercutindo no

desenvolvimento sustentável, onde os gestores privados, no nível estratégico,

conseguem discernir melhor o que representa esse paradigma de desenvolvimento,

bem como quais os seus reflexos benéficos na comunidade local.

Foi abordada a questão da intoxicação ambiental do homem que lida com

agrotóxicos e dos consumidores deste tipo de alimentos convencionais, além da

questão econômica, social, associativista, cultural e político-partidária que interferem

na filosofia das políticas públicas desenvolvimentistas.

A questão do consumo dos alimentos orgânicos, diretamente, por quem

produz, bem como, pelas famílias dos agricultores orgânicos, reflete uma melhoria

na qualidade da alimentação das comunidades rurais, dentro da perspectiva da

segurança alimentar e nutricional convertida em mais saúde para os agentes sociais

participantes do processo. Os aspectos sociais que envolvem as famílias dos

produtores e dos estudantes consumidores refletem um feedback social de forma

positiva.

O PNAE foi avaliado numa perspectiva que traz algumas transformações

nas relações, sendo visto como um dos melhores programas na atualidade, o qual

fortalece a agricultura familiar e promove o desenvolvimento local sustentável.

Foram feitas referências às questões econômicas, culturais e sociais promovidas

pelos recursos que circulam dentro do município, advindos do PNAE. Pela fala de

um entrevistado conclui-se que o município locus, apesar de bem situado

geograficamente, antes de tudo, precisa implantar medidas que incluam os atores

sociais envolvidos neste processo, através de uma sensibilização que envolva os

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fatores econômicos, sociais e ambientais, numa dialética que leve ao equilíbrio na

exploração dos recursos naturais.

Apesar das atividades de alguns técnicos estarem inseridas na área da

pesquisa e a sua instituição ter um papel importantíssimo no fomento, tanto da

agricultura familiar, como da agricultura orgânica, os mesmos não conheciam a

produção orgânica do município estudado. Já outros técnicos apontam a

participação de uma equipe multidisciplinar que faz o controle da alimentação

escolar quando da sua recepção, o que demonstra outro avanço no sentido dos

critérios da qualidade e conservação da alimentação escolar, visando atender as

determinações da Política Nacional da Segurança Alimentar e Nutricional.

Ex expositis, revela-se que a percepção quanto ao aspecto ambiental do

desenvolvimento sustentável, na visão dos sujeitos envolvidos na pesquisa é

incipiente, o que demonstra uma lacuna a ser trabalhada, com o desiderato de se

transformar esta realidade, sendo um dos aspectos a serem lapidados através do

surgimento de um APL que venha viabilizar a gestão do desenvolvimento

sustentável nos municípios.

Quando se analisam as práticas de aquisição dos alimentos para atender

as diretrizes previstas no próprio PNAE, percebe-se a falta de prioridade no que se

refere à produção ecologicamente correta, que venha a garantir a segurança

alimentar e nutricional do alunado matriculado na rede de ensino do município,

evitando-se a contaminação pela ingestão de alimentos provenientes da agricultura

familiar, sem a devida fiscalização dos resíduos tóxicos contaminantes da saúde

humana e ambiental. Percebe-se a necessidade urgente da ampliação da produção

de alimentos orgânicos, por vários fatores ligados aos aspectos ambientais,

econômicos e sociais que concretizam o desenvolvimento sustentável. Há apenas

uma aquisição da produção local familiar que está carente de uma extensão rural

focada na conscientização ambiental, que não seja trabalhada apenas com ações

pontuais de educação ambiental.

O fornecimento da alimentação escolar tem que dar espaço para a

participação da sociedade civil, de forma organizada, visando à promoção dos seres

humanos, agricultores orgânicos e os estudantes do município e da sociedade como

agentes e beneficiários do desse processo de desenvolvimento.

Assim, depreende-se que as aquisições via PNAE condizem com as

percepções dos sujeitos que a envolvem, visto que, se mostra incipiente quanto ao

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aspecto ambiental, requisito essencial a ser observado no desenvolvimento local

sustentável. É um ciclo onde um é causa do outro, as aquisições agroecológicas não

acontecem, pois uma grande parte dos atores sociais participantes do processo não

percebe o viés ambiental da sustentabilidade prevista nas políticas públicas

envolvidas e o desenvolvimento sustentável instrumentalizado pelo PNAE não

ocorre devido a não aquisição dos alimentos orgânicos produzidos no município, o

que impede uma ampliação do potencial deste polo orgânico local, sendo necessária

uma intervenção através de um APL para que se viabilize o desenvolvimento

sustentável, alicerçado numa agricultura familiar ecologicamente correta,

transformando a realidade local.

As percepções trazem um diagnóstico numa visão holística e aponta

como salutar a criação de APL com os atores que participam do processo do

fornecimento da alimentação escolar visando à promoção do desenvolvimento

endógeno-sustentável.

Figura 04: Relação entre as práticas e percepções do PNAE / Glória do Goitá - PE

Fonte: o autor, 2014

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6. PROPOSTA DA CRIAÇÃO DE UM APL SUSTENTÁVEL DA AGRICULTURA

FAMILIAR EM GLÓRIA DO GOITÁ - PE

De acordo com o MDA (Brasil, 2014e), com o novo mercado que se abre

para a agricultura familiar, através das aquisições institucionalizadas destinadas a

alimentação escolar, é preciso se organizar para aproveitar as oportunidades de

comercialização de forma segura e rentável, uma vez que as políticas públicas para

o setor dão prioridade para o associativismo e o cooperativismo, com o fim de

viabilizar o escoamento da produção. Demonstra-se assim, que a produção

proveniente da agricultura familiar é diversificada e possui boa qualidade.

Prossegue o MDA (Brasil, 2014e), reconhecendo a importância da

articulação dos atores envolvidos em cada esfera administrativa. O encontro da

alimentação escolar com a agricultura familiar tem promovido uma verdadeira

transformação, nas escolas de nosso país, quando oferta uma alimentação

saudável, regional aos estudantes.

Para que o PNAE viabilize o desenvolvimento local sustentável em Glória

do Goitá – PE, faz-se necessário a criação de um APL, onde a questão ambiental

seja observada, numa visão moderna de se administrar, de forma sistêmica,

levando-se em conta as comunidades onde está inserida a rede das instituições

envolvidas no processo, utilizando-se dos recursos naturais de forma racional,

minimizando os impactos ambientais provocados pelas atividades econômicas,

adotando-se tecnologias sustentáveis no sistema de produção.

O arranjo produtivo local, atuando de forma concatenada em rede, com a

participação das instituições públicas e privadas, pode aprimorar os programas e

projetos previstos nas políticas públicas, com linhas de crédito rural específicas,

estimulará a agroecologia e a logística necessária ao empreendedorismo por parte

dos pequenos produtores rurais. Neste contexto, é importante que a gestão

municipal ofereça uma infraestrutura e serviços condizentes com as necessidades

apontadas. A assistência técnica, a extensão rural, a pesquisa agropecuária, a

capacitação, a profissionalização e a inserção no mercado dos produtos orgânicos,

dependem de ações conjuntas das instituições envolvidas no processo de produção

destes alimentos.

De acordo com Lastres, Cassiolato e Campos (2006), o termo arranjo

produtivo local atingiu certa popularidade entre os pesquisadores que visam

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compreender o processo de desenvolvimento, dentro de um modelo capitalista, com

a participação de diferentes agências públicas e privadas de políticas. Na proporção

que se observa o crescimento do processo de globalização, aumentando as

diferenças entre regiões do planeta, surge também uma revalorização da dimensão

espacial com ênfase no desenvolvimento local.

No processo de produção de alimentos orgânicos, o PNAE vai servir

como um estímulo a essa nova forma de produzir. De forma indireta, o Estado

exerce o seu papel no desenvolvimento local, com o incremento de novas

tecnologias e de novos conhecimentos multidisciplinares que venham a calhar com a

preservação dos recursos naturais e a minimização dos impactos ambientais

gerados pela agricultura convencional. A agricultura familiar passará de um modelo

de produção ultrapassado para um novo paradigma de desenvolvimento,

acarretando transformações de diversas ordens, que se transformará em qualidade

de vida.

Necessita-se de uma profunda participação dos diversos atores sociais,

envolvidos no processo, de forma articulada, para que haja uma ampliação do

número de agricultores familiares que passarão a adotar as novas tecnologias

presentes na agroecologia, de forma empreendedora e inovadora, modificando toda

a cadeia produtiva dessa heterogenia agricultura. Através da assistência técnica e

da extensão rural será inoculado os conhecimentos científicos e tecnológicos

visando melhora a produção sustentável de alimentos de forma inovadora, levando-

se sempre em conta os fatores locais e suas características próprias.

Neste sentido, Lastres, Cassiolato e Campos (2006), ressaltam a

importância da especificidade local para o progresso do conhecimento, dos

processos de aprendizagem e da capacitação, devendo-se ter cautela com o uso de

tipologias e modelos utilizados em outros contextos. Aduz ainda que a capacidade

inovadora de uma determinada região é decorrente do envolvimento e das relações

entre os diversos atores econômicos, políticos e sociais, refletindo a sua identidade

cultural e institucional.

Os autores destacam a sua natureza sistêmica, a importância da análise

das dimensões econômicas, levando-se em consideração as características nas

searas produtivas, financeiras, sociais, institucionais e políticas. Deve-se, portanto,

levar em conta as especificidades dos diferentes contextos e atores locais,

principalmente em regiões subdesenvolvidas, quando da sua análise. Os Sistemas

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Produtivos e Inovativos Locais (Aspils) dizem respeito a um conjunto de atores

econômicos, políticos e sociais em um território, focado em um conjunto de

atividades econômicas específicas, onde há interação, cooperação e aprendizagem,

essenciais para a geração e mobilização de capacitações produtivas e inovativas. Já

os APLs correspondem àqueles casos fragmentados, sem a devida articulação entre

os atores, o que os diferencia dos sistemas.

No caso estudado, existe um programa alimentar que pode ser utilizado

como um indutor do desenvolvimento local sustentável, desde que seja bem

executado. No locus pesquisado existem atores que fazem às vezes das pequenas

e microempresas no contexto de um APL, seriam os agricultores familiares orgânicos

e suas associações. Estes agricultores familiares encontram-se vinculados a mais de

trinta associações de produtores rurais, onde através da competitividade e do

dinamismo apresentado entre elas, absorveriam as novas técnicas, os

conhecimentos e as capacitações oferecidas por atores estatais ou do terceiro setor,

estimulando-se assim, o empreendedorismo rural.

Nesse processo, é possível observar que os atores econômicos e as

cadeias e complexos produtivos, somados as peculiaridades dos demais atores

sociais e políticos das três esferas administrativas, dentro do ambiente onde estão

inseridos favorecem o surgimento de APL que venha a consolidar o desenvolvimento

local sustentável.

Tem-se na localidade um conjunto de diversos atores e atividades

conexas entre a produção orgânica e a aquisição desta via PNAE, que promoverá

um sistema produtivo local de forma inovativa, com o apoio e participação do

terceiro setor, das universidades estatais e privadas promovendo a capacitação e as

novas pesquisas na área, com a presença do estado financiando todo o processo.

De acordo com o Centro SEBRAE de Sustentabilidade, SEBRAE/Mato

Grosso e SEBRAE/Mato Grosso do Sul (2014), ao contratar produtos ou serviços

que observam a proteção do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável local,

o município cria benefícios, que vão além da relação comercial, assegurando

também a qualidade de vida das gerações futuras. O empreendedor cria impactos

positivos para toda a sociedade, quando mesmo almejando a lucratividade, procura

resolver problemas ambientais ou aproveitar os recursos da biodiversidade.

O SEBRAE poderá exercer o seu pape,l quanto ao empreendedorismo no

espaço geográfico local, assim como fez em Brasília, coordenando um APL que

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envolve a agricultura orgânica, criando capacitações produtivas e inovativas,

somando-se a criatividade proveniente da cultura local. Neste sentido, poderá se

valer das políticas públicas entrelaçadas nesta seara estudada, para que possa

promover junto ao poder público local o aprendizado, a inovação e a criação de

competências, onde a vertente ambiental seja o norte de todo desenvolvimento a ser

implantado.

Neste novo modelo de produção agrícola, voltado para a agricultura

familiar, toda a economia local pode sofrer influências positivas, que só vem a

somar, facilitando a infra-estrutura necessária para a viabilização do processo. Em

rede, surgirão outras atividades ligadas direta ou indiretamente, não tendo como

base o individualismo, mais sim uma visão coletiva de produzir, compreende o

clusters, que por consequência alcançará outros municípios, ou região, incluindo as

diversidades sociopolíticas, de forma complementar às econômicas, onde a

inovação e a produção encontram-se interligados no mesmo contexto.

Segundo Celso Furtado (1998) apud Lastre et al (2006) a adoção de

políticas uniformes não considera as diferenças decorrentes de vários fatores, além

dos econômicos, que estão presentes nas matrizes sociopolíticas e nas

particularidades históricas.

Nesta linha, devem ser escolhidos os principais atores participantes dos

clusters, bem como investigar e aprofundar todas as informações que venham a

contribuir para o sucesso do novo paradigma de desenvolvimento a ser implantado

na localidade, absorvendo as políticas públicas disponíveis nesta seara. Deve-se

sempre observar as vocações naturais decorrentes dos seus espectros históricos e

culturais, que influenciarão na absorção das inovações que irão refletir na

produtividade agrícola do sistema agroecológico a ser adotado, que seria a

agricultura orgânica.

Como exemplo de APL envolvendo a agricultura orgânica, tem-se a

experiência do Distrito Federal, que segundo SEBRAE/DF (2007), as primeiras

atividades no sistema Orgânico ocorreram na década de oitenta, com poucos

produtores e uma produção incipiente. No final da década de noventa a atividade

cresceu dentro das tendências nacionais. Em 2000, várias instituições locais,

atuando junto com o SEBRAE/DF, passaram a desenvolver novas práticas, de forma

mais incisivas, com foco na Agricultura Orgânica, que à época existiam cerca de 30

produtores que praticavam este sistema agroecológico na produção de hortaliças.

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De acordo com SEBRAE/DF (2007), em 2005, foi diagnosticada a

expansão constante da atividade e das demandas, inclusive a necessidade de

organização A.O., o que fez surgir uma proposta de trabalho alicerçada na formação

de um APL para abrigar os grupos dessa produção local, que foi aceita pelos

agricultores que absorveram a metodologia e passaram a construir o APL da

produção orgânica do Distrito Federal.

Diante deste caso, observam-se as similitudes com a produção orgânica

de Glória do Goitá – PE, onde o surgimento de um APL serve como instrumental na

promoção do DLS envolvendo a agricultura familiar, com a participação dos demais

atores sociais, dentro deste novo modelo de desenvolvimento, com a interação das

diversas instituições públicas e privadas presentes no território, de forma intensa,

visando uma sincronização das práticas, entre atores participantes do processo.

De acordo com Faver (2004), ao analisar o APL da produção da

agricultura orgânica do Município de Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro, é

muito comum para os técnicos e profissionais que trabalham com o setor primário

apresentarem algumas preocupações quanto aos processos produtivos, e

conseguinte, com o mercado. Ressalta que além dos fatores operacionais dos

processos produtivos, os agricultores devem buscar dados, informações e parcerias

que façam a sua atividade ser mais eficiente. Lembra ainda, que os aspectos

mercadológicos e outros parâmetros dos APLs, contribuem para o sucesso das

atividades do setor agrícola, principalmente para a agricultura orgânica, promovendo

o DLS.

Faver (2004) lembra que em relação à sustentabilidade social, tanto a

agricultura orgânica como os arranjos produtivos locais buscam o processo de

desenvolvimento endógeno, que implica uma valorização dos atores sociais locais,

aproximando produtores e consumidores, fortalecendo a economia local com uma

boa distribuição das rendas. A sustentabilidade econômica é alcançada através das

negociações locais e por diversas ações coletivas fomentadas pelo poder público,

com a criação de uma infra-estrutura, bem como, através das regulamentações, nas

aquisições institucionais. Lembra o pesquisador que pode se aproximar os

estabelecimentos financeiros, a pesquisa, a assistência técnica, entre outros,

viabilizando o desenvolvimento de conhecimentos e até inovações com reflexos no

mercado.

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Além desses aspectos apresentados por Faver, o surgimento de um APL

sustentável dentro deste contexto em Glória do Goitá - PE promoverá a

sustentabilidade cultural, pois será observada vocação da agricultura local, em

conjunto com a sustentabilidade ecológica, devido às práticas da agricultura

orgânica, que minimiza os impactos ambientais e os hábitos alimentares regionais.

Com o aumento na produtividade, ocorrerão reflexos na fixação dos agricultores no

campo, com qualidade de vida para toda a comunidade.

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7. CONCLUSÃO

As aquisições institucionais de alimentos destinados à merenda escolar

da rede municipal de ensino, executadas pela Secretaria de Educação do Município

de Glória do Goitá – PE contemplam os aspectos econômicos e sociais do

desenvolvimento.

Limitando-se, apenas, à aquisição de alimentos provenientes da

agricultura familiar local, não se atinge os objetivos traçados no PNAE, que visa à

segurança alimentar e nutricional dos estudantes e a promoção do desenvolvimento

local sustentável, pois não há nenhum indicativo de aquisição de alimentos

orgânicos por parte do Município para atender as diretrizes ambientais contidas no

referido programa alimentar.

Quando o foco volta-se para as percepções quanto à origem, qualidade e

conservação dos alimentos é possível inferir que os sujeitos da pesquisa avaliados

apresentam superficialidade na compreensão e percepção quanto à segurança

alimentar e nutricional, à alimentação orgânica e a sua importância no contexto do

PNAE.

Muitos sujeitos demonstram o desconhecimento dos aspectos ambientais

gerais, principalmente no que concerne ao desenvolvimento sustentável. Ainda, foi

possível diagnosticar que mesmo quando as percepções revelam-se favoráveis aos

temas abordados, estas são construídas numa perspectiva muito superficial, sem

qualquer aprofundamento.

Foi possível verificar que as aquisições dos alimentos são compatíveis

com as percepções dos gestores públicos locais, onde as práticas restringem-se aos

aspectos sociais e econômicos do desenvolvimento, não sendo observado o aspecto

ambiental, nem mesmo quanto às práticas pedagógicas, uma vez que o processo

apresenta um contexto totalmente desconectado quanto aos atores sociais

participantes do processo.

Os sujeitos da pesquisa reconhecem a relevância da aquisição produção

proveniente da agricultura familiar, quanto aos aspectos econômicos e sociais, para

a promoção do desenvolvimento local sustentável, o que se confirma sob a ótica das

percepções. Quanto à agricultura orgânica e das aquisições da produção agrícola

local para o desenvolvimento sustentável, admitem a sua importância, mas não

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agem de acordo com suas percepções, principalmente os gestores púbicos locais e

os gestores das escolas municipais.

A agricultura orgânica familiar ainda não assumiu, em Glória do Goitá –

PE, o seu papel frente à perspectiva do desenvolvimento local sustentável, o que

implica na necessidade de maior investimento na capacitação e na formação dos

gestores públicos locais, bem como dos gestores das escolas públicas municipais,

visto que é verídica a relação de que só existirá desenvolvimento sustentável

previsto nas aquisições institucionais do PNAE, se for observada a aquisições de

alimentos produzidos preferencialmente pelos sistemas agrecológicos.

É vital que se incentive as práticas agrícolas ecologicamente corretas. No

caso, a agricultura orgânica seria a opção mais indicada, uma vez que a mesma já

está dentro contexto local, promovendo a valorização humana através da

participação política junto aos demais atores da sociedade, atendendo aos anseios

das organizações sociais, bem como dos consumidores, com a transparência e a

parceria necessárias a realização do processo de forma responsável, uma vez que

não serão oferecidos para as crianças em formação, alimentos contaminados,

provenientes da agricultura convencional.

Como alternativa de planejamento, para as aquisições dos alimentos

orgânicos produzidos pela agricultura familiar do município com vistas à

sustentabilidade, sugere-se a criação de um APL, como instrumento que promove a

articulação dos agentes que já estão presentes no lócus da pesquisa, bem como, de

outros que poderão ser incluídos no processo, estimulando o

ecoempreendedorismo, como já acontece em outras localidades do nosso país.

Dentro deste raciocínio, em Glória do Goitá existem instituições, como a

APORG - Associação dos Profissionais Orgânicos, ou a ONG SERTA - Serviço de

Tecnologia Alternativa, dedicadas às práticas ora estudadas, dentre outros atores na

seara pública e no setor privado, que impulsionados pelo PNAE, propiciarão o

surgimento de um arranjo produtivo local, promovendo, assim o desenvolvimento

local sustentável da agricultura familiar, com reflexos positivos para toda a

comunidade local.

Pode-se inferir que a criação de um APL voltado para a produção e a

aquisição dos alimentos orgânicos por parte do município, para atender as

demandas previstas no PNAE, funciona como instrumento indutor do

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desenvolvimento local sustentável, ideal previsto nas políticas públicas citadas neste

trabalho, a ser alcançado também no Município estudado.

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APÊNDICE I

ENTREVISTA APLICADA AOS GESTORES, TÉCNICOS E PESQUISADORES EM

AGRICULTURA.

1. Tem conhecimento sobre o tipo de alimentação que é fornecida nas escolas?

De onde vem? Qual a qualidade e conservação?

2. A escola adquire alimentos nos moldes previstos pelo PNAE?

3. A aquisição de alimentos produzidos localmente pela escola contribui para o

desenvolvimento local sustentável? Explique sua resposta.