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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAÇÃO ROBSON ASHTOFFEN A Informação e o Ser: uma visão ontológica-fenomenológica para a Ciência da Informação. São Paulo 2011

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE …rabci.org/rabci/sites/default/files/A Informação e o Ser... · Internet é o ápice tecnológico dessa crise que nos coloca frente ao conceito

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES

DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAÇÃO

ROBSON ASHTOFFEN

A Informação e o Ser: uma visão ontológica-fenomenológica para a Ciência da Informação.

São Paulo

2011

ROBSON ASHTOFFEN

A Informação e o Ser: uma visão ontológica-fenomenológica para a Ciência da Informação.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Departamento de Biblioteconomia e Documentação da

Universidade de São Paulo (CBD-ECA-USP) para a

obtenção de título para bacharel em Biblioteconomia e

Documentação.

Orientador: Marcos Luiz Mucheroni

São Paulo 2011

Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer

meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que

citada a fonte.

Contato: [email protected]

Catalogação publicada pelo próprio autor.

ASHTOFFEN, Robson. A Informação e o Ser: uma visão ontológica-fenomenológica para a Ciência da Informação / Robson Ashtoffen; Marcos Luiz Mucheroni (Orientador). São Paulo, 2011. 107 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Biblioteconomia) - Departamento de Biblioteconomia e Documentação. Escola de Comunicações e Artes. Universidade de São Paulo. 1. Ciência da Informação – Conceito de Informação. 2. Epistemologia da Ciência – crítica a Ciência da Informação. 3. Ciências da Comunicação – Ontologia e Fenomenologia. 4. Chaiss I. Autor. II. Título. III. Orientador.

Nome: ASHTOFFEN, Robson.

Título: A Informação e o Ser: uma visão ontológica-fenomenológica para a

Ciência da Informação.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de

Biblioteconomia e Documentação da Escola de Comunicações e Artes da

Universidade de São Paulo para obtenção do título de Bacharel em

Biblioteconomia e Documentação.

Aprovado em:

Banca Examinadora

Prof. Dr. Martin Grossmann Instituição: CBD-ECA-USP Assinatura: ______________ Prof. Dr. Johanna W. Smit Instituição: CBD-ECA-USP Assinatura: ______________ Prof. Dr. Marcos Luiz Mucheroni Instituição: CBD-ECA-USP Assinatura: ______________

Agradecimentos

Aos meus progenitores, Mãe como guerreira e Pai como mago, que me

afirmaram como ser e transformação, base para que estas linhas de

pensamento fossem escritas.

Aos irmãos que me fazem ser eu na substância do outro e ajudaram-me

na crítica ao que nos rodeia com conversas e vivências, David, Rodrigo Mano

Guiga, Fábio Albuquerque, Guilherme, Messias, Felipe Lima, Darilha, e todos

do Jd. São Luiz e Pq. Santo Antônio; Abraão “EVO” Antunes da Silva, Tomé

“Thor”, Roberto Brizaks, Ana Marysa, Otávio Rossato, João Pedro Quadro

Moraes “JP”, Sônia Barreto, Vagnão Djahdema, Guilherme “raiado”, Mariana

Restani, Mariana Marcondes, Viviane Neves, Turma do noturno de

Biblioteconomia de 2006, Victor Toso e todos de Perus, Marcos Mucheroni,

Andréia, Xis, Rafael E.T., Renata Silva, Nair Kobashi, Johanna Smit, Gilvani

Moletta, entre infinitos outros.

Às bibliotecas da ECA e FFLCH e ao restaurante central do campus

Butantã.

Ao Chaiss.

Não entendo.

Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender.

Entender é sempre limitado.

Mas não entender pode não ter fronteiras.

Sinto que sou muito mais completa quando não entendo.

Não entender, do modo como falo, é um dom.

Não entender, mas não como um simples de espírito.

O bom é ser inteligente e não entender.

É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida.

É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice.

Só que de vez em quando vem a inquietação: quero

entender um pouco.

Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.

Clarice Lispector

Quando a raiz é firme, os ramos florescem.

(Provérbio Chinês)

Resumo

ASHTOFFEN, Robson. A Informação e o Ser: uma visão ontológica-fenomenológica para a Ciência da Informação / Robson Ashtoffen; Marcos Luiz Mucheroni (Orientador). São Paulo, 2011. 107 p. Apresenta-se a partir de uma estrutura dialética uma linha argumentativa crítica, que através do questionamento sobre a natureza do conceito de Informação e da epistemologia da Ciência da Informação propõe-se que somente uma mudança de visão de mundo (Weltanschauung) possibilita uma relação não-instrumentalizada e não-reducionista do conceito de informação. A hipótese deste trabalho através da visão ontológica-fenomenológica e da Etimologia do conceito de Informação postula-se que informar-se é um processo. Pensada ontologicamente permite um caminho para se pensar a posição do ser, do cidadão comum, daquele que informa-se e detém o direito de tal. A partir do pensamento e questões ontológicas de Martin Heidegger o trabalho estende uma crítica ao esquecimento do ser e a operacionalização da vida cotidiana que desvelam a atual crise socioeconômica, cultural e global. A Internet é o ápice tecnológico dessa crise que nos coloca frente ao conceito de Informação e sua impassibilidade de definições em uma mudança de relações sociais culturais, lingüística e ontológica. A crítica a Ciência Moderna revela a incapacidade desse sistema de pensar informação na sociedade atual. Há de se pensar uma nova prática científica considerando o ser, o indivíduo que vive no mundo como parte dele, o ser-no-mundo. Palavras-chave: Informação, Ontologia, Fenomenologia, Ciência da Informação, Epistemologia, Ser.

Sumário

Exórdio

TESE Cap. 1 – Contextualização histórica e as origens da Ciência da Informação...13 1.1 – O Conceito de Informação e o problema epistemológico..............16 Cap. 2 – Principais correntes teóricas da Ciência da Informação.....................24 2.1 – O Paradigma Físico, Social, Cognitivo e outras vertentes.............25 Cap. 3 – As pseudo-definições..........................................................................40 ANTÍTESE Cap. 4 – O conceito de informação ontológica-fenomenológica.......................42 4.1 – Etimologia de Informação – um conceito metafísico......................51 4.2 – Metafísica de Aristóteles – Potência e Ato.....................................54 4.3 – O Meio Elucidativo. A contingência, a língua, a cultura, a moral, a vivência (visão de mundo) e a psiqué (estado psíquico do indivíduo)...............59 4.4 – A fenomenologia de Heidegger e a crítica à objetividade da ciência (ou o Esquecimento do Ser)..............................................................................68 SÍNTESE Cap. 5 – O problema interdisciplinar e considerações para uma construção epistemológica da CI.........................................................................................82 Cap. 6 – Uma outra visão de mundo - A Questão social, cultural e ética da informação. O questionar na práxis...................................................................91

Cap. 7 – Considerações finais – Um novo horizonte na ciência e no pensamento crítico da Informação. As visões de mundo e a possibilidade de transformação pelo ser......................................................................................95 Bibliografia.........................................................................................................98

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Exórdio. 1

Informação é antes uma questão. A Ciência da Informação tem como

objeto de estudo a Informação, um conceito complexo, que escapa a

definições. Não há um consenso na área nessa Ciência sobre o que é

informação, o que resulta em uma inconsistência epistemológica. É possível

pensar cientificamente a informação? O que pensa sobre informação a C.I.,

além disso, é suficiente a sua abordagem frente aos problemas sociais do

Brasil e do mundo? Ao pensarmos informação é inegável a relação deste

conceito com a sociedade, a cultura, a historicidade e principalmente o ser,

este esquecido pelo positivismo científico e o fazer sistema científico moderno.

A importância de se voltar a questão da informação para aquele que se informa

e relaciona-se com informação é urgente. A posição crítica perante a situação

política, social e estrutural da Ciência da Informação e seu objeto é base neste

trabalho, deste modo, o objetivo é tratar a questão da Informação no sentido do

ser tecendo uma análise crítica do campo teórico da C.I. e da busca por uma

definição de informação. Crítica esta baseada na filosofia e questionamentos

sobre o ser de Martin Heidegger propondo uma visão de mundo ontológica-

fenomenológica diante do conceito de informação levantando questionamentos

sobre a condição social da ciência, da ideologia na sociedade atual e a cultura,

educação e tecnologia.

A estrutura deste trabalho se dá em uma tríade axial dialética, a saber:

Tese, Antítese e Síntese. A razão da estrutura dialética é o ob-jetar para

superar. É uma objeção que se torna meio, para o fim da síntese, assim,

propondo outros caminhos e visões de mundo, sustentado pelas visões

antitetizadas. Não se trata aqui de excluir as teorias da Ciência da Informação,

mas pô-las em oposição a si mesmas e a um outro pensar. É como diria

Platão, “um passeio através das ideias”, Dialektikê em grego, antes de

qualquer acepção hegeliana. Como diz Mário Ferreira dos Santos:

“A dialética, portanto, trabalhando entre trevas e luz, não

poderia ter melhor concretização que na discussão, no discorrer,

1 Começo, início, preparação ou parte do discurso que tem por finalidade preparar o espírito dos ouvintes para ouvir o orador. (BUENO, 1963, v. 3, p.1314).

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portanto no diálogo. (...) E da oposição, do pôr-se em face do outro (e

posição em grego é thesis, e oposição antithesis), não seria difícil que

surgisse muitas vezes um esclarecimento com-posto de ambas

posições opostas. (e syn-thesis é composição).” (SANTOS, 1956, p.

88-89).

A partir deste método constitui este trabalho crítico perante as teorias e

os estudos sobre o conceito de informação na Ciência da Informação, sob o

eixo dialético que pressupõe em sua essência o diálogo e um esclarecimento

do conceito tão difuso como informação.

A Tese contempla a análise das principais correntes teóricas da Ciência

da Informação no que tange a definição e a natureza do conceito de

informação. A partir de uma exposição das teorias a presente monografia

descreve pontos convergentes e divergentes em relação aos paradigmas

adotados à hipótese deste trabalho. Com o conjunto de divergências e

convergências explanados de modo argumentativo-lógico, a Tese não se limita

somente em uma exposição teorética, vai além em si mesma, construindo as

bases de esclarecimento da hipótese.

Para a seleção de autores e principais teorias foram consultadas as

bases de referência BRAPCI e os autores mais citados na área que pesquisam

e publicam sobre o conceito de Informação, sobre Epistemologia da Informação

e Filosofia da Informação, nas principais revistas científicas online

especializadas em Ciência da Informação, tais quais, Journal of Information

Science, Revista Ciência da Informação (IBICT), Information Research (IR),

Perspectivas em Ciência da Informação, Informação & Sociedade, Encontros

Bibli: revista de Biblioteconomia e Ciência da Informação da UFSC,

DatagramaZero, Social Science Information Studies, Journal of the American

Society for Information Science and Tecnology (JASIST), para citar os

principais. As palavras-chave para a pesquisa a partir dessas bases foram:

Informação, Conceito de Informação, Teoria da Informação, Paradigma Físico,

Cognitivo e Social, Concept of Information, Philosophy of Information,

Information Ethics, Etimologia da Informação, Epistemologia da Ciência da

Informação, Interdisciplinaridade, Correntes teóricas, Information,

Fenomenology, fenomenologia.

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A partir da ambientação das visões diversas do conceito de informação

formata-se a Antítese, que discorre criticamente sobre as falhas conjecturais,

epistemológicas e filosóficas da Ciência da Informação, moldada na Hipótese

(conceito de Informação Ontológica-Fenomenológica) cuja fundamentação

teórica está na metafísica de Aristóteles e na fenomenologia de Heidegger.

Propõe-se uma outra visão sobre o conceito, identificando o pseudo-problema

da definição de informação como falha epistemológica, pois informação não é

passível de definição como demonstra este eixo Antítese. A questão modifica-

se: ao invés de se pensar “O que é informação?” deve-se indagar “O que é o

conceito de Informação?” sob o aspecto filosófico, crítico e histórico. A

sociedade, o cidadão, a informação pública, o mercado, as contingências, etc,

são fatores que influenciam diretamente no pensar sobre a informação e

constituem a essência do informar-se. Uma mudança de visão de mundo é

necessária para a academia, a política e a ciência e através dessa mudança

viabilizar transformações sociais e culturais sobre o ser-no-mundo, ou seja,

todo aquele que se informa, que conhece e transforma.

A Síntese é o desaguar dos questionamentos numa fundamentação

prática. O que a mudança da visão de mundo influencia no transformar e no

viver deste? O que podemos transformar com uma outra maneira de pensar a

informação? Esta parte final do trabalho não expõe uma conclusão, mas

apontamentos críticos sobre a estrutura científica da C.I., do pensamento e da

prática sob o conceito de informação. Uma transformação na atual estrutura

das ciências é urgente. Informação é um conceito que não objetiva-se e não

restringe aos saberes de uma única ciência. Nesta síntese há uma proposta de

uma C.I. articuladora de áreas do conhecimento que a partir de três eixos

principais; educação, tecnologia e cultura, dialogam diretamente entre si e

questionam-se sobre os problemas sociais e suas ideias sobre a informação na

sociedade e para o indivíduo que detém do direito de informar-se, conhecer e

transformar. Os entraves do sistema político, da ciência no Brasil, e da

estrutura acadêmica dificultam uma proposta de diálogo entre as ciências e,

portanto, de uma mudança no pensamento científico, todavia a crítica

apresentada neste trabalho traz a tona a situação atual da ciência e da

universidade, assim como, a postura da Ciência da Informação em relação a

sociedade e a cultura.

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A justificativa construiu-se a partir de leituras sobre a Ciência da

Informação e sua situação epistemológica, além da questão de importância

sobre a informação na nossa sociedade, do dever ético de se pensar algo

crítico e não somente reprodutor de pensamentos já sedimentados no meio

acadêmico. As leituras filosóficas, principalmente de Heidegger me aludiram

questionamentos e uma posição crítica perante o reducionismo e a forma

positivista da ciência. A situação socioeconômica do Brasil, as pessoas que

vivem neste país e não enxergam em si uma possibilidade qualquer de

transformação do seu meio, o terrível estado da educação e o esquecimento da

cultura e da existência do ser são justificativas vivas e suficientes para a feitoria

deste trabalho.

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TESE

Cap. 1 – Contextualização histórica e as origens da Ciência da

Informação.

Nascida sob a categoria de ciência interdisciplinar, a C.I. teve sua

origem em meio à revolução científica do pós-guerra. A publicação do artigo

seminal “As may we think” de Vannevar Bush, um dos líderes no

desenvolvimento militar-industrial dos Estados Unidos causou alvoroço no meio

acadêmico e ecoou de forma que soasse verdadeira a sua preocupação no

tratamento (ou controle) da informação científica peça chave de uma guerra, e

sua melhor compreensão, dados os aprendizados dolorosos das duas grandes

guerras.

Os ecos políticos de suas declarações percorreram a Europa

(claramente os países que participaram das guerras tinham a mesma

preocupação com as tecnologias, a informação e os poderes de decisão) e em

1946, em Londres a Royal Empire Society Scientific Conference fora realizada

para discutir a informação, como mesmo o nome diz, científica. Na Rússia, na

época ainda URSS, criou-se em 1952, vinculado à Academia de Ciências da

Rússia, o VINITI – Vserossiisky Institut Nauchnoi i Tekhnicheskoi, ou, All-Union

Institute for Scientific and Technical Information, (FREIRE, 2006). Podemos,

ironicamente sugerir, que a criação deste instituto na União Soviética e sua

relação com a guerra fria são meras coincidências. No Brasil, tardiamente, pelo

IBICT (Instituto Brasileiro de Informação, Ciência e Tecnologia) a Ciência da

Informação instituiu-se na pesquisa nos anos 70.

Muitos cientistas, principalmente das ciências naturais, interessados nos

assuntos pertinentes à ciência, à informação e à comunicação científica

compareceram à conferência e publicaram resultados. Nos EUA houve também

uma conferência, no estado da Geórgia, chamado Conferences on Training

Science Information Speacialists. Fora uma pequena reunião que não mostrou

sólidos resultados; entre os participantes havia bibliotecários e professores da

própria universidade (BARRETO, 2008).

Paul Otlet, o pai da Documentação, é considerado também por muitos o

pai da C.I. Se compararmos o nascimento dos estudos em informação

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científica e o pensamento de Otlet, há uma clara divergência. Otlet tinha em

mente a visionária, porém eurocentrista ideia de acesso aos documentos e a

importância do estudo destes. O contexto histórico é dispare. Na Royal Empire

Society Scientific Conference a intenção era de entender a informação e sua

importância nas comunidades científicas criando linhas de pesquisa e

impulsionando a discussão da informação científica para o uso político desta.

Quanto mais se estuda e compreende a informação, mais se manipula a

tecnologia a favor daquele que detém o poder monetário e de investimentos,

esta é a lógica militar. A C.I. nasceu em uma gama de interesses, regiões,

culturas e ideologias2 diferentes; sendo que as interpretações e textos que

discorrem a “História da Ciência da Informação” divergem quanto ao seu

começo. Uns relatam a gênese na biblioteconomia/documentação (com Otlet),

confundindo documentação com informação (visão esta considerada

materialista3) (LE COADIC, 2004), outros remetem ao início da C.I. com as

conferências citadas acima, dos EUA e Europa (SARACEVIC, 1996), porém, o

conceito de informação é pertinente tanto quanto a documentação e

biblioteconomia e tanto a C.I. como uma ciência autônoma, independentemente

de questionamentos quanto a quem detém o nascimento da ciência. É sabido

que esse nascimento é crítico e mantém-se em uma crise de mutagênese, pois

aderiu a si um conceito peculiar, ou não passível de definição, a informação.

Analisemos a citação de Borko que define a meta da C.I.:

“Information science is that discipline that investigates the properties and behavior of information, the forces governing the flow of information, and the means of processing information for optimum accessibility and usability. It is concerned with that body of knowledge relating to the origination, collection, organization, storage, retrieval, interpretation, transmission, transformation, and utilization of information. This includes the investigation of information representations in both natural and artificial systems, the use of codes for efficient message transmission, and the study of information processing devices and techniques such as computers and their programming systems. It is an interdisciplinary science derived from

2 Ideologia – uma questão de contexto discursivo, de relação de poder, sendo direcionada à promoção ou legitimação de uma ideia correspondente a uma visão de mundo, ou crenças situadas em relações vivenciadas. (EAGLETON, 1997).

3 Materialista aqui é retratada como uma visão objetivada do conceito de informação, ou seja, informação como coisa, confundindo-se com o documento, o livro, etc. De nada nos referimos ao Materialismo Histórico ou qualquer doutrina marxista neste ponto.

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and related to such fields as mathematics, logic, linguistics, psychology, computer technology, operations research, the graphic arts, communications, library science, management, and other similar fields. It has both a pure science component, which inquires into the subject without regard to its application, and an applied science component, which develops services and products.” (BORKO, 1968, p. 3).

A posição de Borko é derivada do pragmatismo, identificado nos termos

“optimum” e “use”, otimizar e usar, respectivamente. Otimizar para satisfazer a

quem? Borko define a C.I. pelo ponto de vista materialista, confere à

informação seu caráter sólido e tangível: “origination, collection, organization,

storage, retrieval, interpretation, transmission, transformation, and utilization of

information.” Não há uma definição clara e consensual do que é informação,

esta só está subentendida como derivada do pensamento de que informação é

documento e pode ser manipulável, estocado, recuperado operacionalmente.

O aspecto mercantilista é desvelado quando abordado pelo autor, “which

develops services and products”. Pergunta-se: produtos para quem? Serviços

para o mercado somente? De quem é o interesse na “organização e

disseminação” da informação? Para quem a C.I. estuda? Wersig e Neveling4

(1975 apud SARACEVIC, 1996, p. 45) apontam a direção desta questão,

“atualmente, transmitir o conhecimento para aqueles que dele necessitam é

uma responsabilidade social, e essa responsabilidade social parece ser o

verdadeiro fundamento da C.I.” Ao se falar em responsabilidade social tocamos

no assunto da ética, da ideologia, da política, pontos críticos, complexos e

importantes para o desenvolvimento de uma ciência e sua razão de ser. O

criticismo tem seu lugar para reconhecer as fendas e tornar mais claro o estado

atual de uma ciência, e embate com as posições ideológicas de grupos e

governos, pois achar fendas pode comprometer o interesse de alguns. A

ingenuidade teórica, ou mesmo pensar numa neutralidade da ciência é

descartada neste trabalho. A crítica está na historicidade, na análise lógico-

argumentativa e em todo decorrer permeado nestas linhas, deste modo, a partir

de uma recorrência histórica podemos melhor compreender as fendas e propor

discussões e caminhos solucionáveis para a nascente C.I.

4 WERSIG, G., NEVELING, U. The phenomena of interest to information science. The Information Scientist. v.9, n.4, 1975.

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Como dito exatamente no início deste capítulo, a C.I. é uma ciência

interdisciplinar. Nascida no meio de cientistas que pretenderam estudar a base

primária das suas ciências, a informação. As visões de mundo são conflituosas

e criam o debate a quem pertence a C.I., ou se deve bastar-se a si mesma

como autônoma. A interdisciplinaridade é tanto um problema quanto uma

solução; problema quando se pensa uma relação entre ciências e disciplinas

de épocas diferentes com diferentes doutrinas e a dificuldade de se transformar

o sistema acadêmico e científico departamental e especializado, avesso ao

diálogo entre as áreas do saber; e solução, quando se pensa que o termo

informação é pertinente para a Ciência como sistema, e que pensar informação

gera, instantaneamente, uma incursão na psicologia, na filosofia, nas ciências

naturais, na computação, na sociologia, recentemente, nas ciências cognitivas

e neurociências. Informação é um termo peculiar, indefinível, permite diversas

interpretações e definições, ao mesmo tempo em que não se basta em uma

definição única e solucionável para todas as ciências e principalmente a C.I.

1.1 – O Conceito de Informação para a Ciência da Informação e o problema epistemológico.

Toda ciência tem o seu objeto de estudo específico, definido e

objetivado. A Ciência da Informação tem o seu problema conceitual, pois define

e objetiva um conceito não passível de objetivação. Informação, o que é? Deve

ser analisada pela filosofia? É possível que uma ciência consiga objetivá-la? E

como os estudos sobre informação, que a primeira vista aparenta ser um termo

demasiadamente abrangente, podem ser válidos e coerentes à sociedade?

Como a sociedade pensa a informação? Esse é apenas um lapso de questões

que surgem ao nos debruçarmos sobre este complexo conceito, e levando em

consideração a historicidade das ciências, dos estudos filosóficos da Teoria do

Conhecimento, e a comunicação. Não há como deixarmos isolado o termo

informação, da cultura, do indivíduo, do meio, etc. São diversos fatores e

contingências a se considerar, cria-se uma rede complexa e obscura de

pesquisa. A Ciência da Informação desenvolve-se nesse complexo de

conceitos e velamentos teóricos. A fundamentação teórica é dispare e pouco

convergente; as convergências encontradas são fechadas em paradigmas e

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visões de mundo que não se comunicam com outras formas de pensamento.

Esse conflito teórico, que será abordado no próximo capítulo, é a elucidação da

situação epistemológica da C.I. Há um problema categórico de conceitos,

teorias, pseudoproblemas, demasiada objetivação das concepções científicas.

Os conflitos de uma ciência são acompanhados por interesses,

ideologias, estas atreladas às visões de mundo dos cientistas, as doutrinas de

suas criações, nacionalidades. A neutralidade do discurso científico é uma

falácia, tenhamos isso em mente. Como uma ciência social, a C.I. encontra o

clássico problema do sujeito e objeto. Diferentemente das ciências naturais, as

ciências humanas nascem no mar da complexidade de pensamentos e

permeiam mais questões do que verdades, ou mesmo Leis. O questionar está

no embasamento das ciências, sendo que encontramos uma contradição em

dizer algo sobre uma ciência das questões. Objetivação do homem,

cientificismo, olhar analítico, cartesiano, positivista, etc; todas essas

denominações buscam por verdades, fins e utilidade, porém um conceito que

não se deixa delinear é impalpável, impossível de se experimentar em um

laboratório, ou em modelos de análise, foge desta caixa objetivadora. Ciência

da Informação é antes uma questão, e toda questão emerge conflitos, a não

ser que o interesse ideológico mútuo seja a unificação teórica, mas estamos

longe desta realidade de dubitável concretização.

A questão do conceito de informação e seu problema epistemológico

movimentam as publicações científicas sobre metateorias5. Este é um sinal do

estágio de construção epistemológica da C.I. Se nos referimos a construção,

isto quer dizer que há uma meta, uma teleologia. Especulações sobre uma C.I.

com uma epistemologia única, concreta e produtiva são meros vôos ideais,

como no exemplo do trabalho de Schrader (1983), que identificou mais de 700

definições no contexto da C.I. Há um claro esforço na construção de uma

epistemologia da C.I., porém as divergências ainda apontam para maiores e

contínuos conflitos. A posição de Brookes (1991) mostra a necessidade de uma

unificação teórica, em que esta ciência tenha sua própria visão dos casos

humanos e desenvolva seus próprios princípios e técnicas. Mas como é

5 Metateoria é a discussão teórica frente a teorias e paradigmas de uma ciência, uma discussão sobre as teorias predominantes em uma ciência, pelo viés, ontológico, axiológico, epistemológico, teleológico e ideológico. (TALJA, 2005).

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possível desenvolver tal ambição se a ciência tem um problema congênito em

sua epistemologia e recorre a conceitos de outras ciências? Como podemos

pensar informação sem uma relação com o conhecimento, comunicação,

política, direitos, ética? Sua junção com outros correlatos de outras áreas é

inevitável. Talvez o que se pode dizer de lúcido em Brookes é a construção de

uma nova visão de mundo, uma concepção própria da C.I., para que então esta

consiga delinear-se, tornar-se clara a si, porém sempre remetendo ao meio e a

rede emaranhada de relações científicas. Não há possibilidade para se pensar

numa ciência estanque, mas sim numa ciência comunicativa e permeadora, ou

seja, uma ciência do conflito de ideias per se.

Há ainda uma confusão entre informação e documentação, onde se

situa a visão materialista da informação. O reducionismo materialista de

considerar ‘documento = informação’ é um facilitador da objetivação dos

conceitos, porém simultaneamente, limitador. Onde está a prova concreta que

informação de fato é documento? O discursar não é informação? O registro é

somente material? E a memória? A oralidade fora banida, assim como o meio e

tempo desta oralidade, do documento e daquele que o gerou? Emergimos aqui

questões que iremos discutir mais a fundo na hipótese, e sua função nesta

primeira parte é gerar os primeiros movimentos de conflito, continuemos.

A importação de teorias da Filosofia, Matemática, Física, Psicologia,

Sociologia geram as principais confusões. Sem uma clareza epistemológica, a

importação de termos e ideias não convencem mesmo maquiadas como

interdisciplinaridade. Utilizar conceitos já consagrados de outras áreas é uma

tarefa que exige cuidado. A etimologia permite compreender o percorrer

histórico de um conceito, sua utilização e concepção pelas ciências e pelas

linhas de pensamento em determinada época. É impossível pensar informação

a partir do zero conceitual e a interpretação deve ser coerente e com a função

de gerar ideias questionadoras, críticas, não somente delimitadoras. Talvez a

necessidade de logo se pensar a prática, as condições do mercado,

condicionem a uma simplificação definidora do conceito de informação. O

conceito de entropia, por exemplo, atribuído originalmente à Física, é utilizado

em larga escala e creditado e definido somente como “caos”, “desordem”, não

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se consideram as leis da termodinâmica, suas atuais revisões6; e importam o

termo para as ciências humanas, sendo que a Física considera a entropia

como uma teoria física, ou seja, somente aplicável aos cálculos físicos sob o

ponto de vista desta ciência. A integração de termos de outras ciências é

sempre passível de confusões e incoerências lógicas, ou mesmo tautologias. O

que deve ser feito com cuidado e com um estudo acurado é a interpretação

desses termos, que muitas vezes não resultam em sucesso. Ao cruzar as

ciências, a interpretação e as justificativas devem ser claras e coerentes, e não

cheias de definições simplórias e pseudo-definições.

Uma maior atenção ao aspecto semântico da informação causou uma

reconsideração na teoria de Shannon, emergindo o Paradigma Cognitivo da

Informação que considera o significado e não somente o sinal. Significado está

intrínseco à linguagem e esta, por sua vez, ao indivíduo em sociedade. A C.I.

afirma-se uma ciência social de fato, porém de que modo são entendidos,

linguagem, significado e indivíduo social? Resquícios do behaviorismo, do

positivismo e do reducionismo cartesiano ainda perduram nas teorias da C.I.,

tal como visto em (BATES, 2005), sobre o leitor ser informado no ato da leitura,

e então se faz conhecimento neste ato, além de segregar informação em duas

concepções distintas, 1 e 2. Uma materialista: The pattern of organization of

matter and energy”. E outra complementar e semântica: “Some pattern of

organization of matter and energy given meaning by a living being”. São

definições, e a partir destas, Bates constrói sua linha de pensamento sob a

visão de mundo reducionista e mesmo declara, “In this essay, the objective has

been to provide a definition that is usable for the physical, biological and social

meaning of the term” (BATES, 2005, p. 26, grifo nosso). A busca pela definição

é clara, como sublinhamos, sendo que as definições são demasiadamente

gerais, a partir do ponto de vista de diversas áreas, que não necessariamente

convergem quanto ao significado do termo informação.

A objetivação do conceito de informação está diretamente relacionada à

tecnocracia e a situação econômica e social contemporânea. A informação,

mesmo no seu conceito materialista vista pelo interesse econômico e político,

6 Jacob Bekenstein, físico israelense, estudou os buracos negros e postulou em 1973 a Segunda Lei Generalizada da Termodinâmica, reformulando num caso de buracos negros a famosa lei de Rudolf Clausius.

20

por corporações e governos, deve ser controlada, e para tal, é necessário criar

uma ciência que estude métodos eficientes de busca e indexação dessas

informações. O poderio militar tem interesse neste ponto, os governos,

principalmente dos EUA, que investem avultosas quantidades de dinheiro nas

pesquisas tecnológicas, também corroboram para este panorama complexo da

C.I. Nesta crítica colocamos em cheque a razão de existência de uma ciência

social que deveria pensar realmente a sociedade, no idealismo (para alguns,

infelizmente ingênuo) de que a ciência existe para o progresso humano e para

o bem-estar comum. Existe alguma ciência para tal? E o bem-estar de quem é

a meta das ciências? Realmente quer-se democratizar a informação para

todos? Todos os governos desejam investir em pesquisas que expandam a

capacidade de conhecer, de criticar e consequentemente, de transformar? É

importante que não esqueçamos destas questões, para que a crítica vá além

da simples análise de teorias e paradigmas e fundamente-se no ser.

Quanto mais simplificadas, mais comprimidas estiverem as teorias sobre

informação, mais distante estaremos de vislumbrar as possibilidades de

compreender, a partir de outras lentes, como conhecemos o mundo, de que

modo podemos apontar os interesses escusos de pequenos grupos, de

fomentar a crítica e de valorar o que nos afirma como ser, o Outro. As

tecnologias nos permitem visualizar, sentir o mundo de múltiplas maneiras, são

ferramentas na sua materialidade, sendo que em essência são um saber.

Aqueles que manipulam as ferramentas constroem e modificam-nas,

sustentam-se na sociedade que tem poder de consumo. Consumir deriva de

consumar, destruir. O que se usa se descarta. A tecnologia do descartável nos

leva a uma discussão mais profunda e ao questionamento do papel da ciência

na sociedade. Frente a ideologias e a hierarquização do poder do Estado,

situa-se mais uma ciência que é a C.I. Seu papel é importante e discutível, e

como ciência evolui perante o criticismo e a proposição de outros caminhos a

seguir.

Com as novas mídias esse quadro é confrontado com novas

possibilidades nunca antes vistas. A internet e a rede inauguraram um novo

mundo do agir, da participação e da comunicação. Nunca antes na História foi

possível escrever uma opinião sobre qualquer assunto e compartilhar com o

mundo rapidamente. Pode-se criar um blog, comentar, interagir, ler e ser lido,

21

sendo que o tempo nesse processo é condensado e o espaço configurado a

perder as distâncias. Um brasileiro pode reivindicar no seu blog próprio, ter

comentários do Japão, e replicar praticamente no mesmo momento.

Claramente esta revolução das comunicações trouxe uma mudança no viver, e

no agir da sociedade. Porém ainda se mostra como processo, está distante da

sua queda e vê-se nova sua nascente. O que difere de outros processos de

revolução tecnológica é que na Internet acontecem mudanças em curtos

espaços de tempo. A noção cronotópica7 foi completamente transformada, mas

essa realidade não é possível para todos, não em todas as culturas. A

hierarquização, o modelo emissor-receptor de comunicação (no sentido

ontológico) tem sua insuficiência demonstrada na relação inter-subjetiva da

Rede. O centro está por toda parte, por nós de rede, que ao tornarem-se

ativos, produzem em uma interação possível de modo aberto e horizontalizado.

Temos aí um outro caminho proposto que discutiremos melhor em relação ao

conceito de informação no Eixo Síntese deste trabalho.

Mário Ferreira dos Santos foi um filósofo notável, buscou uma própria

forma de pensar, olhando de modo crítico às teorias classicamente estudadas

da filosofia e como ele mesmo diz com uma acidez digna, “confrontando o

espírito colonialista passivo de muitos brasileiros, que não crêem, não admitem

e não toleram que algum de nós tenha a petulância de formular pensamentos

próprios.” (SANTOS, 1956, p. 16). Suas considerações sobre a Teoria do

Conhecimento contribuem para um esclarecimento do pensamento grego e as

raízes do pensamento ocidental sobre o conhecer. Do mesmo modo que o

filósofo, este trabalho não se fecha em nenhuma categoria definidora

geralmente tendenciosa e a posteriori das intenções do autor. É acima de tudo

um fazer crítico concatenando logicamente as ideias que melhor possam

mostrar o quanto é profundo a fenda epistemológica da Ciência da Informação

e o quanto é peculiare o conceito que esta toma de objeto. Para assim,

acharmos outras fendas, ou modificarmos o nosso pensar sobre as fendas

atuais. O criticismo neste trabalho está em primeira vista muito além de

alguma intenção de seguir doutrinariamente categorizações e posições

filosóficas quaisquer.

7 Ou seja, de tempo-espaço.

22

As razões da crise epistemológica de uma ciência, mais complexamente

quando se trata de uma ciência humana, está no divórcio entre a metafísica e a

ciência. Quando, a partir do século XVII e atinge seu ápice no século XX, a

ciência era a detentora da verdade e a poderosa entidade de força e influência

na vida comum, houve um desdém para o pensar filosófico, que mais parecia

anacrônico e não congruente à rapidez da evolução tecnológica, do avanço das

pesquisas. Como a ciência era capaz de mostrar aos nossos olhos sua

intervenção no mundo e a filosofia somente instigava, portanto, a filosofia não

satisfazia a necessidade desta tangiblidade.

O problema maior é a própria Ciência crer nessa cisão e tomá-la como

guia, deste modo, falhas epistemológicas vem a galope. Epistemologia vem do

grego epistasthai, saber como compreender; e analisando sob a égide

científica, a epistemologia é o método, o caminho percorrido pelo conhecer, o

modo de conhecer o objeto estudado. É o elo entre filosofia e ciência.

Ora, para se ater no como conhecer deve-se saber onde se está

pisando, de outro modo, obter a claridade dos conceitos, e aqui surge a

filosofia. O que está além da observação, o que o telescópio e o microscópio

não veem a metafísica questiona. O além do físico é a forma, a ideia, eidos,

retornando aos gregos. E esta forma dá sentido ao objeto, àquilo que vemos,

sentimos e questionamos, portanto. Para ter a sua base, a ciência deve pensar

metafisicamente, compreender, redimensionar as perguntas, como criar seu

caminho, sempre tortuoso, por entre a pluralidade dos conceitos, sua

historicidade e mutabilidade inexoráveis.

Reflitamos sobre uma citação do pensador William James (SANTOS,

1956, p.24):

“Não pergunteis a um geólogo o que é o tempo: isto o ultrapassa; nem a um

profissional da mecânica como são possíveis ações e reações: ele não poderá tratar delas.

Muito tem a fazer um psicólogo sem se ocupar da questão de saber como pode ele e as

consciências que ele estuda conhecerem um mesmo mundo exterior. Há bastantes problemas

que não existem debaixo de certos pontos de vista, os quais, sob outro ponto de vista, são

problemas essenciais, e os quebra-cabeças da metafísica são os problemas mais importantes

que existem para quem quiser penetrar a fundo na íntima constituição do universo visualizado

como um todo.”

23

O que queremos mostrar é a importância de se pensar metafisicamente,

de modo a questionar e não somente definir, pois nem tudo está sob o limitado

poder da definição, e trazer à vista mais horizontes para se pensar as múltiplas

visões de mundo. Questionando os conceitos e suas formas, seu lugar em um

contexto histórico, social e temporal, portanto, podemos ir além da própria

estrutura e dos problemas agregados a esta. O erro de distinguir a metafísica

da ciência trouxe essa deficiência em algumas ciências, delas a Ciência da

Informação. A metafísica, o pensar filosófico sobre os conceitos, e a ciência, o

fazer objetivo sobre os fenômenos e as coisas, relacionam-se dialeticamente

numa construção epistemológica. É preciso sempre realizar a crisis para que

então a visão de mundo sofra seu abalo necessário. Pois é no abalo das

estruturas que se fica evidente o quão forte e duráveis são.

As estruturas são construídas na complexidade das relações sociais, em

um tempo, sob a visão de mundo predominante e não somente na simples

ação humana da subjetividade pura ou mesmo em face do dado, como objeto,

numa suposta objetividade pura. O criticismo aqui empregado deseja

apreender o fenômeno e sua manifestação nessa complexidade de existência.

Pensar a estrutura de uma ciência é pensar na visão de mundo que ela fora

construída e de que modo (a partir das considerações políticas, ideológicas,

sociais e particularidades) ela se molda no tempo, e como pode encontrar

caminhos para um melhor esclarecimento da sua epistemologia. A

compreensão aqui de epistemologia é o caminho do conhecimento, como

tecer, sempre considerando os fatores adversos que se situam na

manifestação entre sujeito e objeto. Neste sentido, SANTOS (1956), cita o que

Lavelle, filósofo francês metafísico, pensa sobre a tarefa da filosofia:

“A filosofia não inventa nada. Ela é em cada um de nós a

consciência do ser e da vida. Ela é esse esforço de reflexão pelo qual

ensaiamos atingir, no fundo de nós mesmos, a fonte de uma

existência, que parece ter-nos sido imposta (...). Ela busca captar a

realidade internamente num ato de viva participação em vez de nos

dar um espetáculo do qual nós mesmos estaríamos ausentes.” (L.

Lavelle “Le moi et son destin” apud SANTOS, 1956, p.31).

24

Objetivar em análises esse aspecto fenomênico seria uma contradição,

por isso há o trabalho crítico, ausente de determinações e condições

objetivadoras, instrumentalizadoras do conceito de informação. Como Lavelle

diz, a filosofia é a consciência crítica da questão presente em todos e

necessária para toda ciência. Não nos referimos, como também Lavelle, à

filosofia como profissão, como cargo acadêmico, mas o ato de filosofar, de

refletir sobre a nossa condição na sociedade e na existência, ou seja, como

seres pensantes dotados de voz ativa e viva, que permite o diálogo e cria

possibilidades de construir e propor novos caminhos para o vislumbramento,

sendo assim, nos fazemos seres presentes na realidade.

Cap. 2 – Principais correntes teóricas da Ciência da Informação.

Como conceito abrangente e peculiar, a informação fora tratada e

descrita de diversas formas teóricas sob múltiplos e conflituosos pontos de

vista. A visão de mundo do pós-guerra era a cientificista permeada pelo

positivismo e pela objetivação. A partir dessas concepções, Shannon e Weaver

construíram a Teoria da Informação, nascida nas ciências naturais. Este

conceito de informação, já agregado com definições de outras áreas, importou-

se à Ciência da Informação, esta ainda em formação e com um entrave

epistemológico, justamente pela pluralidade de interpretações do conceito de

informação. A intenção deste capítulo é explanar sumariamente os principais

paradigmas abordados por alguns autores, (PINHEIRO; SILVA, 2009);

(CAPURRO, HJORLAND, 2007); (TALJA, et. al., 2005); (LE COADIC, 2004),

entre outros, dos quais são divididos em três correntes, o Paradigma Cognitivo,

o Paradigma Físico e o Paradigma Social; criar um retrato crítico de algumas

teorias derivadas desses paradigmas e entre exemplos de outras vertentes que

não agregam-se aos paradigmas principais.

O confrontamento das teorias é permeado pela argumentação crítica e

deste modo discute-se as convergências e divergências entre as teorias e os

paradigmas discutidos. A visão de mundo abordada neste trabalho (que irá ser

explanada por completo na hipótese) é o ponto de partida para a argumentação

crítica, considerando a historicidade da C.I. e a consolidação do positivismo e

behaviorismo na concepção destas teorias.

25

2.1 – O Paradigma Físico, Cognitivo, Social e outras vertentes.

Paradigma Físico

Nascido no bojo das ciências naturais, o paradigma físico tem como seu

precursor o modelo de Shannon e Weaver, que postula uma teoria da

informação baseada na transmissão de sinais no momento em que a discussão

sobre informação estava em alta na cibernética. O texto seminal de Vannevar

Bush, As may we think, trouxe a tona essa questão. Mas em qual ponto de

vista?

Shannon pensava em uma definição de informação e comunicação entre

sistemas cibernéticos, ou seja, programáveis. Escolheu-se um sentido ao

conceito a partir do ponto de vista físico e para esclarecer as dificuldades

teóricas deste paradigma físico às ciências naturais. Como o próprio diz:

“Frequentemente as mensagens têm significado; isto é,

referem-se ou são correlacionadas a algum sistema com certas

entidades físicas ou conceituais. Estes aspectos semânticos da

comunicação são irrelevantes para o problema da engenharia. O

aspecto significante é que a mensagem real é selecionada de um

conjunto de mensagens possíveis.” Shannon8 (1949, apud TENÓRIO,

2003, p. 64).

Justamente o significado, ou nível semântico, do processo informacional

é imprescindível para as ciências humanas. Pensar no processo como input -

output, ou nível sintático, é relevante para as ciências naturais, pois os

conceitos são determinados, definidos com clareza e precisão. A exatidão dos

resultados e medições é parte da visão de mundo destas ciências exatas

(justifica-se o nome) e não cabe fazer uma importação de métodos e conceitos

de uma ciência para outra. Apesar de pensar no mesmo termo, existem as

diferenças de visão de mundo. Uma grande confusão ocorre nas interpretações

de teorias da comunicação e informação, pois basearam-se erroneamente em

Shannon, traduzindo o seu conceito de teoria da informação para as ciências

8 SHANNON, Claude E. The mathematical theory of communication. Urbana/Chicago: University of Illinois Press, 1949.

26

sociais. Não se pensou na epistemologia e nem na discussão filosófica do

termo. Seria até mais apropriado referir-se à Teoria da Informação de Shannon

como uma Teoria dos Sinais, já que se limita a compreender sistemas

cibernéticos, programados. A complexidade e o caos das relações humanas

não se deixam apreender por definições exatas e quantificadoras. Mesmo

assim, Shannon tem sua importância no avanço das pesquisas sobre

comunicação entre computadores, mas sua relevância como teoria restringe-se

à visão técnica. Cabe para as ciências que estudam e criticam o ser humano

em suas relações construir, sob outro ponto de vista, esclarecimentos perante

o peculiar termo, informação, e para tal é necessário mergulhar em um

pensamento ontológico e filosófico.

O pensamento de Carl Weizsäcker se aproxima da nossa hipótese (ver

Eixo Antítese, Cap. 3), porém ainda arraigado no pensamento objetivo e

cientificista. Suas posições teóricas sobre o conceito de informação incorporam

outras linhas de pensamento do paradigma físico (lembremos-nos da sua

origem como físico e filósofo).

Para Weizsäcker, informação porta uma categoria dupla (CAPURRO,

HJORLAND, 2007), “a informação é apenas o que é entendido, [...] e apenas o

que gera informação”. No mesmo método que usamos, o filósofo reflete sobre

o pensamento hilemórfico aristotélico9, relacionando o conceito de informação

com o conceito de forma e tornando clara a sua relação etimológica com sua

concepção conceitual. Weizsäcker parece criar delimitações demais ao

conceito quando diz que informação deve ser uma entidade lingüística e deve

ser unívoca, (CAPURRO, HJORLAND, p. 164, 2007). É clara a sua

desconsideração pela informação analógica, ou seja, dos sentidos, que não

pode ser quantificada, apenas expressa, relatada e sentida. Reduz-se então o

pensamento na lingüística e no seu sistema, ao considerar que a informação

somente se processa pela linguagem e de modo unívoco. Weizsäcker

concentra seu argumento no pensamento fisicista, nega o ontológico e mostra

traços de um materialismo sobre o conceito de informação, e/ou uma leitura do

hilemorfismo aristotélico baseado na forma tangível (corporeidade), tais quais

9 Hilemorfismo deriva do léxico grego, sendo que Hile – matéria, e morfos – forma. Aristóteles baseou sua obra, Física a partir do conceito hilemórfico da realidade, ou seja, que o real é composto por matéria e forma.

27

os filósofos medievais consideraram. Completa Weizsäcker, “a matéria tem

forma, a consciência conhece a forma” (CAPURRO, HJORLAND, 2007.) Mas

de que modo é concebível essa forma? O que o filósofo considera forma? De

que modo interpreta Aristóteles, neste contexto?

Apesar de misturar concepções físicas da informação (termodinâmica,

Teoria da Informação, evolução biológica) com uma interpretação filosófica

nem sempre compatível, o filósofo e físico alemão é coerente, ao afirmar que

não existe nenhum conceito absoluto de informação e que este deve ser

concebido como uma forma que se modifica diacronicamente, além de chamar

atenção à relação entre informação e linguagem - univocidade e plurivocidade

da palavra – porém restrita ao pensamento exato, (1985, apud, CAPURRO,

HJORLAND, 2007, p.165). Desenvolveu também uma Teoria Quântica da

Informação, Ur-theorie, passível de questionamento quanto a sua coerência

lógica e teórica, criada sobre uma visão de mundo objetivista representando o

conteúdo informacional de algo como bit de informação potencial. A forma está

contida nas coisas em potência, todavia, a interpretação do conter é variável.

Pode-se pensar um “conter” metafisicamente, como Aristóteles, e fisicamente

como o paradigma físico diz, sendo mais aceitável deduzir que fisicamente não

podemos ter provas de uma forma interna e potencial dos corpos e seres,

portanto, pensar metafisicamente nos ajuda a questionar o que é a forma, e

não engessá-la numa concepção objetiva somente, mas sim de processo.

A teoria da informação de Brookes (1977), por exemplo, é um claro

absurdo teórico quando postula sua definição K(S) + I, pois quantifica um valor

qualitativo, tal qual suas incógnitas: K (Knowledge) e I (Information) são o ápice

dos reducionismos inconsistentes. Capurro o credita como uma definição

persuasiva e uma citação, aqui refletida, complementa a visão que tem dessas

destas teorias respaldadas nos interesses de status e repercussão no meio

acadêmico,

“A literatura de C.I. é caracterizada pelo caos conceitual. Este

caos conceitual advém de uma variedade de problemas na leitura

conceitual da C.I.: citação a-crítica de definições anteriores, fusão de

teoria e prática, afirmações obsessivas de status, uma visão estreita

da tecnologia, analogias inadequadas, definições circulares e

multiplicidade de noções vagas, contraditórias e, às vezes bizarras

28

quanto à natureza do termo informação.” (SCHRADER, 1983, apud,

CAPURRO, HJORLAND, p.154, 2007).

Diga-se de passagem, que este autor (Brookes) é um dos mais citados

da área, portanto está nesta bibliografia, o que nos mostra falhas claras no

sistema acadêmico de publicações, invadido pela parcialidade e por interesses

de autopromoção, que neste exemplo, obteve seu sucesso.

Paradigma Cognitivo

Um forte nicho da Ciência da Informação atualmente deriva das ciências

cognitivas e seus paradigmas correlatos às teorias que aplica no seu escopo. A

cibernética é o desenvolvimento prático do pensar cognitivo como ciência, que

perpassa a conflituosa situação política da metade do século XX no ápice das

ciências, da quantificação e tecnocracia. Disto nasceram as visões da

cibernética (de origem grega, designa aquilo que é controlável, manejável) que

se dividem em dois momentos, de acordo com (PINHEIRO; SILVA, 2009), a

saber: a primeira cibernética, corrente que postulava a mensurabilidade da

informação e seu processamento, e a visão do processo físico do ato cognitivo,

sendo assim, possível ser reproduzido através de algoritmos matemáticos e de

uma estrutura análoga aos processos físicos do cérebro. O conexionismo e o

cognitivismo pertencem a essa primeira forma da cibernética, em partes

reducionista e mensurável. Pensam os conceitos de informação e

conhecimento de modo objetivo, tendo uma realidade previamente dada, daí o

conceito de dado (datum, plural, data, do latim) pensado como um elemento

que compõe a informação. Assim, para o pensamento cognitivista, o dado é

uma parte do todo que é a informação. Pensando analiticamente, ou

cartesianamente, ao analisarmos as partes, entenderemos o todo. Um claro

reducionismo.

Além disso, o cognitivismo pensa a cognição humana como a

capacidade de “resolver problemas”, de acordo com Dupuy10 (1996 apud

PINHEIRO; SILVA, 2009, p. 246), ou seja, centraliza-se a capacidade cognitiva

10 DUPUY, Jean Pierre. Nas origens das ciências cognitivas. São Paulo: Editora UNESP, 1996.

29

na inteligência, ou intelecto (inter-lec, escolher entre, do latim)11. O cognitivismo

peca ao centralizar o pensar na mente, resquícios de uma interpretação

cartesiana de separação mente-corpo, que também torna o indivíduo passivo e

resignado a sua própria mente e do processo mental, traços behavioristas que

ainda perduram na Ciência da Informação (PINHEIRO; SILVA, 2009). Tal qual

a definição mentalista de (TALJA et. al.):

“The cognitivism viewpoint in IS (Information Science) differs

from cognitivism by laying major emphasis on the way which

knowledge is actively built up by the cognizing subject, that is, by the

individual mind to serve the organisation of internal and external

reality.” (TALJA, et. al, 2005, p.81, grifo nosso).

Como citado acima, “[...] no modo como o conhecimento é ativamente

construído pelo sujeito cognoscente” (tradução livre). Tem-se aqui uma prévia

concepção de conhecimento construído, e resulta uma prévia definição. A

realidade “externa” e “interna” e sua organização são conceitos de realidade já

postos, portanto, unívocos e centrados no ponto de vista cognitivo. O foco na

organização remete a lembranças biblioteconômicas, sendo que muitas vezes,

nessas teorias, faz-se valer essa relação entre a biblioteconomia e a C.I.

Organizar documentos não é o mesmo que organizar informação, já que ao

falarmos “organizar a informação” no mesmo momento é requerida a definição

de informação, ou seja, é uma questão complexa aderir ao conceito de

informação verbos e categorias implícitas no discurso argumentativo.

As múltiplas e impressionantes possibilidades que a máquina oferece

são somente exploráveis com o desenvolvimento e o avanço da tecnologia, da

aptidão de utilizar as máquinas para diversos intuitos. Para tal, um sistema

(Ciência) é requisitado para o manejo e a compreensão de tais máquinas. Por

baixo deste véu que cobre a máquina e a tecnologia estão os interesses

políticos e ideológicos, principalmente dos governos, que juntamente com o

discurso científico e sua comunidade respaldou-se na objetivação e no

reducionismo quantitativo. O ser não era alvo de discussão, não havia razões

11 SANTOS, Mário Ferreira. Teoria do Conhecimento (Gnoseologia e Criteriologia) . 2a. ed. São Paulo: Logos, 1956, p. 70.

30

para se ocupar com questões metafísicas, assim viam os estadistas, cientistas

e a sociedade. Heidegger critica esse ponto, onde era justamente o momento

para se pensar a metafísica, face o esquecimento do ser e a rapidez destrutiva

e alienadora do discurso capitalista.

O cognitivismo supervalorizou a máquina (eis a ideologia e sua

historicidade) e condicionou seus estudos a esse ponto de vista. O pensamento

vigente na C.I., para (PINHEIRO; SILVA, 2009) é o cognitivismo, sendo o

cérebro um processador de informações, e tendo como base epistemológica o

behaviorismo e o positivismo.

A segunda cibernética, datada nos anos 60/70 muda sua perspectiva

para a historicidade do pensar e do ato cognitivo, porém ainda arraigada na

formulação fisicista e tecnológica da primeira. Segundo Venâncio; Borges12

(2006 apud PINHEIRO; SILVA, 2009) “[...] apresenta a realidade como

construída pelo sujeito em interação com o ambiente.”. São expressas,

portanto as teorias construtivistas, tendo Piaget como base teórica, o

Coletivismo, e interacionistas ou construcionistas baseados em Vygotsky,

respectivamente. 13 Não há uma separação entre mente, corpo e sociedade.

Os construtivistas pensam uma interação entre o indivíduo e o meio, e que

progressivamente é construída com o contato entre sujeito e objeto, Eu e o

mundo. Esse modelo teórico foi uma reação ao modelo clássico e

predominante no fim da década de 1970, o Information Transfer Model, ou

Modelo de Transferência de Informação, fortemente ancorado na Teoria da

Comunicação, de emissor, receptor. Trata-se de uma visão materialista da

informação, unidirecional, autoritária, pois pressupunha uma hierarquização

entre o detentor da informação para aquele que não a possui. É comum o uso

de verbos como apropriação, manejo, otimização, que exprimem com clareza

esse ponto de vista unívoco e não tão predominante, porém presente,

especialmente nas publicações brasileiras.

12 VENÂNCIO Ludmila Salomão; BORGES, Mônica Erichsen Nassif. Cognição Situada: fundamentos e relações com a Ciência da Informação. Enc. Bibli: R. Eletr. Bibliotecon. Ci Inf., Florianópolis, n.22, 2º sem. 2006. 13 Alguns teóricos situam essas teorias no paradigma social, outros no cognitivo, mas o que se pode concluir é que as teorias construtivistas, coletivistas e interacionistas nascem no meandro dos dois paradigmas. A divisão paradigmática é passível de críticas, servindo aqui como uma amostragem crítica de alguns pontos de vista e teorias da C.I.

31

A reação buscava dar atenção às complexas interações humanas, como

um construto contínuo, porém o centro da atenção é o indivíduo, numa

metodologia de modelos fixos e quantificadores, esquecendo-se da presença

da ideologia na linguagem e das contingências de uma conversa, por exemplo.

Estas são as principais críticas à visão idealista e bem próxima do cognitivismo,

que o Construcionismo tem como metateoria, e são efetuadas por Hjorland,

Frohmann, Talja, entre outros.

O ponto de vista interacionista, e também coletivista, tem por base a

interação sócio-histórica do indivíduo no meio e pretende analisar o reflexo do

mundo exterior no mundo interior de cada indivíduo num determinado meio.

Daí deriva o paradigma sócio-cognitivo, apoiado na C.I. mais fortemente por

(HJORLAND, 2002). Este paradigma apóia-se no estudo de domínios de

coletivos, grupos de profissionais, ou seja, seleciona pelos seus critérios,

usuários que possuem categorias em comum, tal qual, o grupo dos astrônomos

e sua linguagem própria, os matemáticos, os advogados, ou determinada

classe social, etc. Criar um método de homogeneização de grupos é uma

solução metateórica e metodológica dos construcionistas, sendo assim, o alvo

principal de críticas está na arbitrariedade com que esses modelos e domínios

são traçados. Há um consenso sobre o que seria um domínio especifico?

Todos os astrônomos, matemáticos e advogados utilizam a mesma linguagem

dentro de seus respectivos nichos? E a historicidade desses nichos, a evolução

do pensamento desses domínios? Se não há consideração sobre essas

questões, decerto o método é arbitrário e limitador.

Apesar de divergentes em alguns pontos, as teorias da Segunda

Cibernética convergem para um pensamento histórico-social e não-unilateral. A

teoria de Vygotsky, por exemplo, considera a linguagem e a aprendizagem

como importantes no processo cognitivo, além de não imaginar um sujeito

passivo no ato de conhecer, este é antes um ser social, como já dizia

Aristóteles “O homem é um animal político”, ou zoon politikon, há mais de dois

mil anos. Porém no construcionismo, considera-se a linguagem como fator

importante no processo informacional e esta visão é válida para uma teoria,

mas como esta teoria aborda essa questão? Com modelos quantificadores?

Com um idealismo cognitivista? O Construcionismo tem várias abordagens, e o

pensamento de Piaget fora interpretado de diversas maneiras nessas

32

metateorias. Com a pluralidade de aplicações e usos das teorias as

divergências aparentam-se.

É vista uma evolução conceitual e teórica na Ciência da Informação de

acordo com as autoras que estamos discutindo nesta parte do trabalho. Deste

modo, existem três diferentes paradigmas vigentes na Ciência da Informação, o

Paradigma Físico, o Cognitivo e o Social, ou Sócio-cognitivo. Ora, mas qual a

razão desta separação se é categoricamente errôneo pensar numa ciência

social, o cognitivo abstraindo-se o próprio social. Somos seres, indivíduos com

a faculdade do pensar, do questionar, somos políticos, sociais, pois não há por

que pensar em um humano fora de uma sociedade, e nem um ser cognitivo

fora da relação entre humanos. Seriam especulações hipotéticas e tautológicas

pelo ponto de vista de uma ciência social, ou, por outro lado, como pretende o

cognitivismo, uma intenção de desenvolver as inteligências artificiais criando

uma mente tecnológica e análoga a nossa. O cognitivismo e a Inteligência

Artificial (IA) pensam o homem em relação à máquina e suas potencialidades

de criação, caso contrário à Ciência da Informação, que deve pensar o homem

político, a relação entre os indivíduos numa sociedade, suas situações críticas,

mutáveis, éticas.

“[...] no campo da C.I., a abordagem dominante é o

cognitivismo, cuja tônica está centrada nos estudos de

comportamento de uso e buscas de informação, ou seja, na busca de

uma abordagem orientada para o usuário e não para os sistemas.”

(PINHEIRO; SILVA, 2009, p. 255).

O cognitivismo é abordado na CI do ponto de vista behaviorista, pelo seu

estudo centrado no comportamento, como diz a citação acima, de “usos e

buscas de informação”, porém é deficiente o estudo das conseqüências

sociais, éticas do uso e da busca da informação. A Ciência da Informação se

fecha numa redoma técnica ao concentrar-se apenas nos processos de uso.

Mas como se dá esse uso? Qual de fato é a utilidade da informação? Qual

informação? Podemos realmente generalizar a informação, mesmo sem

conceituá-la historicamente? Estas são questões que ferem o cerne basal da

C.I. e nos incita ao criticismo. Podemos ir além da simples análise objetiva dos

fatos, do uso e da busca. Existe algo além, e de tamanha importância para uma

33

ciência social, que deve considerar a historicidade, a cultura e as variantes não

passíveis de objetivação.

Paradigma Social

Com a predominância das ciências naturais, suas soluções objetivas e o

rápido avanço tecnológico, a questão da informação abordada pela C.I. foi

rodeada de perguntas sobre “onde está o sujeito?”. Não somente o sujeito no

aspecto cognitivo, mas através de uma crítica ao cognitivismo que clamava a

questão social do indivíduo. Todos nós estamos inseridos numa sociedade,

somos cidadãos, existem etnias, formas de sociedades, arcaicas ou modernas,

temos direitos e deveres. O debate social sobre o direito à informação, o

“poder” político da informação veio à luz no meio acadêmico. Emerge o

paradigma social, que abre questões sobre a ideologia, a ética, as relações

políticas e a historicidade.

Teorias derivadas da psicologia, e da biologia, como por exemplo,

Maturana (2001), são adaptadas ao paradigma social da informação. A

linguagem, a cultura são os focos de estudo, além de algumas mesclas entre o

paradigma cognitivo, vide a abordagem sócio-cognitiva de Hjorland.

Realmente é um passo importante para se pensar a informação dentro

de um contexto, e não isolada em questionários e análises modelares. O

construtivismo, como dito acima, encontra algumas raízes no paradigma social,

como também não desconsidera o pensar cognitivo. Diversas teorias surgem a

partir deste ponto de vista descendente da hermenêutica e semiótica, das

ciências sociais (Max Weber). Discussões frente ao caráter ideológico da

informação é um avanço para a C.I., há de fato uma reconfiguração dos

paradigmas, sendo que pouco se sustenta o paradigma cognitivo fechado em

um cognitivismo clássico. O termo “Sociedade da Informação” atiçou os

pesquisadores a discutir sobre o social na informação. A C.I. é por definição

uma ciência social, estuda o indivíduo e seu contexto cultural e social. Seus

objetivos de organizar, coletar, disseminar, armazenar a informação (como dito

pelo ponto de vista materialista da informação) inferem diretamente numa

razão ética e social. Porém, apesar disso, as abordagens diferem.

34

A Teoria Semântica da Informação desenvolvida por Yehoshua Bar-Hillel

e Rudolf Carnap analisa o informar numa estrutura lingüística, através de um

estudo de probabilidades que mede a quantidade de informação em um nível

semântico (FLORIDI, 2011). Teoremas matemáticos (Carnap era um filósofo

defensor do positivismo lógico), uma forte influência de Ludwig Wittgenstein e

do Círculo de Viena trouxeram uma visão quantificadora na análise semântica

da informação, e apesar da abordagem social tida pela teoria, a partir desta

visão de mundo (positivismo lógico), ainda há a objetivação do conceito e da

historicidade desta abordagem social.

Dretske também cria sua Teoria Semântica da Informação, porém

baseia-se na distinção entre o que é informação e significado (CAPURRO,

HJORLAND, 2007). Para Dretske, a informação deve satisfazer condições para

se definir como tal, e nunca é absoluta, “[...] a informação é sempre relativa em

relação ao ‘conhecimento pré-existente do receptor’.” (CAPURRO,

HJORLAND, 2007). Outra definição de Dretske, em Capurro, “Se A detém a

informação de B e B detém a informação de C, então A detém a informação de

C.” (CAPURRO, HJORLAND, 2007, p. 170). Claramente, Drestke exagera no

uso da lógica arbitrariamente definindo informação como coisa, analogamente

com a lógica aristotélica. Tal reducionismo não está somente no paradigma

físico, ou mesmo cognitivo, está presente na visão de mundo dos

pesquisadores e da academia. Uma característica deste paradigma que

estamos dissertando é a sua herança positivista. O positivismo bem recebido

nas ciências sociais, também é a visão de mundo presente na C.I. Atualmente,

este contexto está em mudança, caminha-se para uma visão de mundo não

reducionista, não analítica, em demasiado quantificadora. Apoiar-se em

fórmulas e expressões matemáticas é uma saída frequentemente tomada por

alguns pesquisadores, porém estas decisões somente aumentam o atrito já

desgastado entre as Ciências Naturais e Sociais, não cumprindo o que

pretendem em suas teorias, de clarear os conceitos e relações sobre

Informação.

Os temas chave em sociologia englobam, a princípio, política, economia,

ideologia, tecnologia, cultura (antropologia) e informação. Todos estes termos

estão relacionados numa sociedade, cada qual delineada com a sua

historicidade. Essa visão para a C.I. trouxe um outro método de estudo, e de

35

questões, como por exemplo, o que há entre informação e comunicação?

Como esses dois termos se relacionam? São congruentes? Opostos? Para

Bougnoux, “os conceitos de informação e comunicação são inversamente

relacionados. A comunicação está relacionada à previsibilidade e à

redundância, enquanto a informação, com o novo e o imprevisto.” (CAPURRO,

HJORLAND, 2007, p. 173). Mas o que é imprevisto? O que é o novo? Novo

para quem? O que é novo para um esquimó ou para um irlandês? O que era

novo para um vassalo nascido na Idade Média? As simplificações fazem

nascer questões sobre os termos empregados arbitrariamente e as condições,

a historicidade, esses fatores múltiplos devem ser considerados. Este é mais

um exemplo de pseudo-definição, pois não há uma explanação do que é o

novo, (aliás, outro termo de grande complexidade), e sobre o que é

redundância. Uma informação sempre será algo novo? A definição aqui é

construída a partir do conceito de informação para a realidade, o que se mostra

absurdo. Devemos compreender os fatores determinantes e condicionantes

dos sistemas que permeiam o informar-se, as ideologias, a política, a cultura,

para então construirmos um conceito mais claro de informação. Este método

de fechar o conceito e aplicá-lo arbitrariamente é típico do reducionismo

positivista. Obviamente clareza lhe falta, e continuamos com mais um ponto de

vista e mais uma definição generalista sobre informação.

Fala-se também em Era da Informação, Era do Acesso, Sociedade da

Informação, Sociedade do Conhecimento (MATTELART, 2002), entre outros

termos. Esta discussão é longa e não se restringe somente a C.I. Na

sociologia, Mattelart levanta o problema de imposição ideológica de países

imperialistas e da cultura de massa. Para alguns teóricos da sociologia, e em

concordância com os da C.I. estamos na Era do Boom da Informação, a

informação é mercadoria e poder. Já ouvimos muito falar que conhecimento é

poder, mesmo no senso comum, e com o desenvolvimento das tecnologias da

informação surge a justificativa que modificara esta estrutura social criando

uma confusão de termos, muitas vezes dados como sinônimos, outras vezes

hierarquicamente (dado – informação – conhecimento – e ainda mais absurdo

– sabedoria). Um forte tecnicismo acompanha a C.I. nesse sentido tratando as

tecnologias da informação como centro de pesquisa pautado no ponto de vista

materialista de organizar, coletar, disseminar, armazenar a informação. Porém,

36

como pensar as tecnologias omitindo o percorrer da história e da cultura na

relação entre os povos? A ausência desta criticidade leva a interpretações

ingênuas sobre a situação desta dita “sociedade da informação”, otimismos

dizem sobre a disseminação e democratização da informação, a Era do

Acesso. Desconsiderar os interesses políticos, militares sobre esses estudos é

olhar com uma lente reducionista e simplista para a questão. Até mesmo os

próprios estudos pautados nessas áreas sobre informação e comunicação

estão sob a égide de interesses econômicos e políticos, vide universidades e

governos (juntos discursam a mesma política). O pragmatismo dos EUA, por

exemplo, sua cultura do controle e domínio imperialista não nos permite ignorar

a importância do estudo social, ético e acima de tudo humano.

A partir destes três paradigmas, traçamos resumidamente a situação

teórica da C.I. e suas divergências quanto ao conceito de informação. É claro a

impossibilidade de um consenso sobre o conceito em uma Teoria Geral da

Informação. A visão de mundo da ciência moderna mostra-se enfraquecida

perante o problema conceitual da informação. Outras vertentes, que assumem

um outro eixo de problematização não classificável a paradigmas quaisquer

percorrem seu pensamento com outras ideias oriundas de diversas áreas do

conhecimento. Tomamos como exemplo a interpretação da teoria de Habermas

de Maria Nélida González Gómez e o modelo de Norman Roberts.

Outras vertentes – A interpretação de Habermas e o modelo de

Roberts.

Ir além das propostas paradigmáticas é um traço de evolução crítica de

uma ciência, e esta é a ideia interpretativa de Habermas que Maria Nélida

González Gómez traça em seu texto, “A Informação no pensamento

contemporâneo” (GÓMEZ, 2009) analisando o conceito de informação como

lastro semântico da representação, tomando a discussão para o viés filosófico,

propondo questões além da tríade paradigmática comum à C.I.

Para (GÓMEZ, 2009, p. 185), “Habermas resgata primeiro o conceito de

informação como momento da relação do homem com o mundo.” E cita

Habermas logo em seguida, “[...] as experiências só podem ter conteúdo

informativo porque (e na medida em que) nos surpreendem.” (HABERMAS,

37

1994, apud GÓMEZ, 2009). No percorrer dos argumentos há uma tentativa de

interpretação sob égide da Teoria da Ação Comunicativa ao compreender do

conceito de informação e da sua importância ética no discurso. E quando

pensamos em discurso, pensamos em um diálogo, uma relação nós-outros,

social, portanto. Uma atenção está dada ao que é pouco ou nada abordado na

C.I., as contingências do discurso, das ideologias e interesses políticos. É uma

abordagem que vai além da clássica intenção de definir um conceito com a

visão positivista e determinista, o dito “isto é”, “aquilo é”. Uma ciência não se

baseia somente em definições, mas sim aguça o olhar sobre a técnica e o

pensamento lógico no intuito de melhor objetivar aquilo que lhe ocupa e lhe dá

sentido, no caso da C.I., o conceito de informação, não redutível a argumentos

generalistas e definidores.

Uma importante consideração da autora está nessa passagem que

discorre rapidamente, “[...] dos sistemas de informação, nos quais são

reformuladas regras de transformação da informação em representações, à luz

dos interesses econômicos e dos contextos regulatórios e finalísticos das

organizações.” (GÓMEZ, 2009, p. 197). A Ciência da Informação tem um eixo

fadado aos interesses de organizações, pois essas bem sabem da importância

da ciência da suas informações e das ações delas gerada. A captação

monetária e as taxas de lucro, por exemplo, podem variar para muito ou para

pouco dependendo o quão organizadas estiverem as informações corporativas,

os dados sobre estratégias, o conhecimento empresarial. Dados, conhecimento

e informação são vistos a partir de um sistema mercadológico, analisados e

estudados sob o ponto de vista de interesses que se cruzam, e muitas vezes

estão ocultos, pois não trazem à tona discussões com a ética ou moral. Apenas

têm como meta a sua funcionalidade, para tanto seu contexto finalístico.

O pensamento de Habermas

O postulado filosófico de Habermas diz que através do discurso pode-se

alcançar uma pragmática universal, uma fundamentação dos saberes. Discurso

como foco mediatizado pela linguagem. Porém, Habermas encontra-se numa

emboscada lógica, tal qual o argumento cético, pois ao argumentar que todo

discurso é passível de averiguação, o mesmo discurso encontra-se na cadeira

38

do réu que o próprio discurso de Habermas e Karl-Otto Apel criaram. O que

Habermas toma como defesa e centro do seu pensamento não é a cadeira do

réu, ou o julgamento final, mas sim a inevitabilidade da argumentação na corte

judicial. A importância do pensamento de Habermas e Apel está na atenção

que ambos fomentam para a ética do discurso, ou seja, no proceder político do

discurso, que nas suas manifestações infinitas e incalculáveis, nos aproxima de

questões críticas, ideológicas e nos afasta do pensamento moderno de uma

verdade infalível, ou mesmo de uma razão transcendental, como postulava

Kant.

Um voto de sinceridade mútuo no discursar (isso implica uma

homogeneização de ideias, ou uma tendência ao consenso) é além de

idealista, irreal. É o que Habermas chama de garantia performática, ou garantia

argumentativa, a primeira frente aos objetos, a segunda frente ao argumento

(GÓMEZ, 2009).

Um argumento comum contra essa posição é que o discursar deverá ter

uma decisão, para que a discussão, em algum momento, se interrompa. Caso

contrário, nos achamos num discursar sem fim e sem fundamento, pois não há

meta, não há ação. O agir não está somente no discurso e no ato de discursar,

mas também nas decisões que implicam conseqüências. O que podemos

aprender de Habermas é o olhar mais apurado para o discurso e sua ação, seu

fazer-se discursar perante ideologias, intenções, argumentos retóricos, e como

isso gera conseqüências éticas, morais e na política cívica, por exemplo. Nossa

hipótese se baseia também nessas indagações, porém com uma outra visão de

mundo.

O modelo de Norman Roberts

39

Figura 1 – O modelo de Norman Roberts. (WERSIG, 1985).

Este é o modelo de Norman Roberts, que propõe já no título A search for

information man (Em busca do homem informacional) a sua intenção de

40

construir modelos para compreender o homem que se informa e o seu modo

ativo de informar-se. Seu método é quantitativo, inspirado no conceito de

economic man (homem econômico) das teorias econômicas modernas14. Criar

concepções análogas a outras áreas de pesquisa é sempre perigoso e a

construção de pseudo-definições vem à tona. O que Roberts deseja é uma

atenção maior à pesquisa empírica na Ciência da Informação, principalmente

voltada aos estudos de usuário.

Apesar da complexidade de seu modelo, Roberts, limita-se na

quantificação e do uso de termos como Goal (meta), Cognitive operators

(operadores cognitivos), entre outros, transparecem uma redução extremada

da tomada de decisões a partir de opções binárias.

Ao apontar para a necessidade da investigação das ações informativas

(information actions), Wersig traz à tona a discussão além da “satisfação

informacional”. Existem outras maneiras que não a formal (atendimento e

satisfação), há uma ação nesse processo, sendo uma ação respaldada na

contingência, na imprevisibilidade do complexo contato social. O erro da

Information Actions é construir modelos para aquilo que não pode ser

modelado e importar conceitos e teorias de outras áreas. Este é mais um

retrato de que a Ciência da Informação deve compreender o que é a

interdisciplinaridade além de um simples empréstimo de ideias e fomentar um

pensamento próprio sobre suas concepções de mundo (nem sempre

convergentes), em outras palavras, há necessidade de um filosofar na C.I., um

pensamento crítico perante as visões de mundo abordadas e estudadas nesta

área.

2.2 - As pseudo-definições.

A vasta gama de definições do conceito de informação em C.I.

caracteriza o que podemos chamar de pseudo-definições. Definição é um

recorte analítico de negação àquilo que não está na afirmação, em outras

palavras, definir é afirmar assertivamente o que algo é mesmo em uma

negação. Definir informação seria uma tarefa de objetivá-la por premissas e

14 Cf. WERSIG, 1985.

41

conclusões, ou um conceito central. Informação é..., informação é isto,

informação é tudo aquilo, informação não é isto, aquilo, etc. Como protestamos

ao longo deste trabalho, o conceito de informação não se deixa definir,

portanto, devemos modificar a visão de mundo, além desta maneira categórica

de insistir na objetivação do que é informação. Sendo assim, por que então se

criam diversas definições? O fato é que as definições criadas e teorizadas que

não objetivam o conceito, e podem ser mais facilmente aceitas, pois são

demasiadamente gerais. Aqui cito algumas das definições encontradas no texto

de caráter compilador de (CAPURRO, HJORLAND, 2007), tais quais:

“Informação é qualquer coisa que é de importância na resposta a uma

questão.”

“Informação é informação, não é matéria ou energia.”

“Informação é uma diferença que faz a diferença”

“Informação é o que é capaz de produzir conhecimento e uma vez que o

conhecimento requer verdade, a informação também a requer.”

“Informação é uma construção do observador de uma diferença mental

que faz e/ou encontra uma diferença no mundo externo.”

“A informação é, na verdade, o resultado causal dos componentes

físicos e processos existentes. Além do mais, é um resultado emergente de tais

entidades físicas.”

Tais definições podem ser aceitas, pois categorizam de um modo geral o

que não podemos dizer como falso. Mas podemos contra-argumentar. Definir,

como dito acima, é objetivar, distinguir o que se define daquilo que não está na

definição, o mesmo que dizer que uma parede é verde, é dizer que ela não é

cinza, não é amarelo, não é azul, enfim, é negar tudo aquilo que não fora

afirmado no ato de definir. Tais definições acima citadas fazem justamente o

contrário, ao generalizar, afirmam de modo geral o que é a informação,

falhando em definir de modo objetivo. Essa contrapartida do conceito o destrói

por si, e mostra sua falseabilidade. São, portanto, pseudo-definições.

ANTÍTESE

42

Cap. 3 – O conceito de informação ontológica-fenomenológica.

No eixo TESE, vimos um breve recorte de algumas teorias, posições

ideológicas e teóricas sobre o que é informação. Existem diversas opiniões,

hipóteses sobre o tal conceito, que se mostra inerte às definições. Algumas

definições podem ser refutadas ou parcialmente aceitas, porém mostram-se

insuficientes. Questões sobram frente às definições que simplesmente

recortam um nicho de interesse, geralmente o aplicável, quantificável.

Pensamos em uma abordagem de base filosófica, refletindo já filosoficamente,

atingindo a pergunta feita: O que é informação? Quando muitas respostas

aparecem, e mais se nubla o conceito, ou o reduz é sinal que o problema não

está na resposta e sim na própria questão. Quando perguntamos o que é algo,

remetemos a definir algo. Definir, etimologicamente, definire, dar fim; (ver

TESE – Cap. 2.2) é uma forma de resposta perante uma questão, “o que é

informação?”, por exemplo; e oferece uma determinação máxima, ou seja, não

é preciso ir além da definição ela mesma para se compreender a pergunta e o

objeto da pergunta. Porém a definição tem um limite. Não é possível definir

todas as palavras ou mesmo tentar em algumas possíveis reduzi-las à

determinação máxima. Cremos que informação é um termo não passível de

determinações, e isto nos recorre a explicações, explanações abertas, críticas,

com intuito de aclarar-nos analisando a multiplicidade de suas características e

propriedades com uma meta diferente de dar fim, objetivar o conceito. A partir

disso a pergunta reformula-se: O que é o conceito de Informação?

Conceito é uma representação de um objeto, uma abstração do

pensamento perante algo e sua ideia primária. Tomemos como exemplo

Napoleão Bonaparte: ele foi único e não haverá outro que possa executar as

mesmas ações que fazem dele, no tempo presente, um conceito. E não

podemos negar que temos uma imagem, no mínimo, ofuscada do imperador,

derivada provavelmente do que lemos ou vimos, pois foi um fato existente, real

e então abstraído no imaginário.

Podemos também despojar Napoleão da sua imagem e entendê-lo como

ente puramente lógico no momento que lemos, falamos ou pensamos, esta é a

capacidade de abstração: competência para criar esquemas lógicos, sistemas

e estruturas de compreensão e ordem. Criamos esquemas lógicos, sistemas e

43

estruturas de compreensão, uma ordem, portanto. O conceito é uma maneira

abstrata de se compreender e corresponder à realidade, aos objetos, presentes

ou não; e aos processos, que não vemos, mas são percebidos pelo

pensamento, pois são abstratos em forma cognoscível e concretos em ato

(temporalidade), tal qual o conceito de informação: uma abstração de um

processo, não de um objeto (afirmamos como ser, como presença no tempo).

Neste processo há a participação de sujeito e objeto, portanto não pode ser o

objeto tangível, só pode ser o processo, o movimento, a presença, sempre

aderida à temporalidade.

O conceito é geral e permite posições de visão amplas e diversas, pois

compõe-se de diversas formas. Voltemos ao exemplo de Napoleão; esse não é

apenas um homem nascido na França, mas é também o Napoleão militar,

imperador, revolucionário, o Napoleão de Santa Helena, o Napoleão infante,

etc. (SANTOS, 1955). Essa amplitude de situações vinculadas à vida de

Napoleão, ou às propriedades de um objeto (inserido no tempo, ou seja,

existindo) remarcam a grande possibilidade de ideias e imagens que podemos

ter sobre um conceito. Informação se aproxima dessa característica, que na

sua abstração mostra sua obscuridade lógica para a definição e pede um outro

ponto de vista para refletir sobre o conceito. Propomos neste trabalho uma

hipótese de pensar a Informação pelo ponto de vista crítico-filosófico e deste

modo podemos ir além das quantificações ou significações esparsas. Com o

pensamento filosófico podemos, além de questionar a generalidade da

Informação, compreender sua origem histórica e sua transformação.

Os conceitos transformam-se historicamente e estão ligados à

imaginação, faculdade constituinte inerente ao ser humano. Dessa forma, ao

nos aproximarmos do conceito de informação nos aproximamos também do

ser, pois conhecer está intimamente relacionado com o informar. Esta hipótese

parte da ideia de que informação é um processo entre sujeito e objeto, também

intersubjetiva, considerando o meio, que chamamos de Elucidativo (ver Cap.

3.3). Por ser um processo não podemos apreendê-la, manipulá-la, ou mesmo

quantificá-la. A partir de uma crítica da Visão de Mundo, ou o modo ideológico,

cultural que abordamos os fatos, nossas angústias perante o desconhecido, a

filosofia se manifesta para questionar a prática, o dia a dia, nas pessoas, as

complicações políticas, a realidade de um país.

44

Considerar o ser-no-mundo é raro nas metateorias da Ciência da

Informação, que privilegiam o achado para uma definição clara e sucinta, que

permita otimizar a quantificação e a instrumentalização desta ciência e de seu

conceito agregado. Como uma Ciência Social, a C.I. deve pensar o ser, o

outro, ou mais comumente, as pessoas, o cidadão comum; este que está

cercado de possibilidades de informações e tem direito a tais como cidadão. O

aspecto ontológico-fenomenológico que adotaremos emerge a discussão do

ser e do fenômeno15, a partir da concepção heideggeriana da fenomenologia e

ontologia, e da sua crítica à Ciência, pois desta maneira, analisaremos

criticamente a Ciência da Informação e também seu objeto, a informação.

Ontologia é sumariamente o estudo do ser. A filosofia tem uma longa

história de pensadores que viram o mundo a partir da ontologia, a partir do ser,

da sua razão, do seu logos; e do ôntico, ao ente, ao fato de existir. Ontológico é

o ser-no-mundo, ou seja, entender o ser e suas relações, compreender como

se existe, por que, para quê, etc. Ôntico pode ser empregado como coisa (rei,

de reificar), como um conceito concreto, o ser concreto, denso e amplo.

Ontológico refere-se ao metafísico, como esclarece o filósofo, Mário Ferreira

dos Santos:

O termo ontologia foi cunhado propriamente por Johannes

Clauberg e popularizado por Wolf. Consequentemente se pode dizer

que a próte philosophia de Aristóteles, a philosophia prima dos

escolásticos, a Ontologia, ou a Metafísica Geral, e em algumas vezes

a Metafísica, referem-se à mesma ciência do ser enquanto ser, que é

a Ontologia. (SANTOS, 1959, p. 13).

A metafísica, além do físico, ou ainda transfísico; é a característica prima

da informação, pois se é um processo está além de uma concepção puramente

materialista, ou seja, o conceito de informação não é tão claro quanto o

conceito de cor, ou mesmo um objeto comum, por exemplo, uma cadeira, um

livro. O ser está em processo, pois assim se designa ser, simplesmente é, está

sendo, sempre em movimento, na sua temporalidade. O ser tem

15 Ou processo. Nesta hipótese, sob o ponto de vista ontológico, partirmos da premissa que informação não é somente material, física, e sim metafísica, ligada ao ser, ao processo de comunicação e conhecimento.

45

temporalidade, se manifesta no físico, mas a sua essência está além desta

física. A metafísica não nega a física, mas a completa, com os fenômenos e

conceitos que só podemos ter noção abstraindo, questionando e criticando,

criando uma noção abstrata da complexidade de termos como a informação,

num saber transcendente do físico e do experimental. Entende-se por

complexo o meio em que informação se dá. O sujeito só pode ser devir, existir

de fato, numa relação com o mundo e somente com o mundo o eu se

desenvolve, da mesma maneira que o objeto que só é objeto manifestado em

sua forma para um sujeito, mas não depende do sujeito para ser.

Esta relação com o mundo, o devir e o processo são as bases da

Fenomenologia, a ciência dos fenômenos, nascida com Edmund Husserl (1859

– 1938) que interpretara a obra de Aristóteles no que tange a Física e a

Metafísica, em outras palavras, no processo do conhecer e de como as coisas

são. Como o estagirita diz, Tò ón légetai pollakhõs “O sendo-ser torna-se, de

múltiplos modos, fenômeno”. (HEIDEGGER, 1983, p.24). Em suma, para

Husserl, os objetos possuíam múltiplas formas, manifestáveis de acordo com a

sua potência, tendo em vista a relação entre o sujeito cognoscente e este

objeto, e esta manifestação se dava no fenômeno, tal qual o conceito de

potência e ato aristotélico. Porém, Husserl se ateve às coisas elas mesmas

como um caminho para o saber, o conhecer. Para se compreender informação

pensemos em como ela se dá, ou seja, como ela é em fenômeno, mas não

somente no objeto fenomênico, há também a questão do ser.

A fenomenologia abordada neste trabalho está em concatenação com a

de Heidegger, que trata a fenomenologia como método não determinante de

análise do como, ou seja, como se manifesta a coisa investigada, quais são

suas peculiaridades existenciais, o que assim se mostra em si mesmo,

(DUBOIS, 2004). A lógica da ontologia e fenomenologia de Heidegger está na

hermenêutica, na interpretação das sentenças e na relação do ser com a

linguagem e na intencionalidade do ser. Estes tópicos são cruciais para se

pensar a informação pelo âmbito do ser, por uma ótica ontológica que se presta

ao fenômeno para ampliar a compreensão do como da informação, ou, como a

informação se dá, processa como tal, no ser.16

16 A relação do Ser e a Informação será explanada no capítulo 3.4.

46

O principal tradutor e estudioso da obra heideggeriana, Emmanuel

Carneiro Leão, descreve numa síntese a condição da fenomenologia em

Heidegger e também da sua ontologia no posfácio da edição brasileira de Ser e

Tempo:

“A necessidade de um esquematismo espacial, temporal e

gestual para dizer e compreender todos os modos de ser e agir

mostra à sociedade que a presença fundadora de nossa existência

não se dá na órbita de consciência de um cogito sem mundo, nem na

complementaridade recíproca de sujeito e objeto. Abrange, ao

contrário, todas as peripécias de uma co-presença originária que se

realiza através de uma história de tempos, espaços e gestos, que se

desenvolve num mundo de interesses e explorações, de lutas e

fracassos, de libertação e escravidão.” (HEIDEGGER, 2009, p. 557).

A fenomenologia de Heidegger, como método, se molda a partir da coisa

mesma, isto é, não se acaba como método próprio, imóvel e infalível, tal qual o

cartesiano. O fenômeno é a própria questão e o método para se pensá-lo se dá

nele mesmo. O caminho a se percorrer é a própria questão, que vai se

clareando à medida em que se caminha. Se informação é um processo, um

fenômeno e logo temos que adentrar na sua ação através do questionamento

de como o informar-se se dá. Deste modo escapamos dos estanques

metodológicos de análise positivista, e de qualquer outra universalização

totalizante. Pensar informação, filosofar sobre este conceito, é uma ação

informativa, que através do próprio caminho se descobrem as possibilidades de

caminhar. Nessa pretensão fenomenológica podemos clarear e expandir as

possibilidades de compreender o que é informar-se. Dar sentido ao ser no ato

informativo, imerso e vivo no mundo, em essência, significante.

Como muito se vê nas ideias disseminadas pela Ciência da Informação

e até em algumas linhas de pesquisa em educação, o termo Apropriação do

conhecimento ou da informação (a distinção dos termos muitas vezes não se

mostra para esses pesquisadores) forma uma descrição objetiva e materialista

do ato de conhecer ou de informar-se. Existe uma apropriação daquilo que

vemos, lemos, relacionamos, há um apreender, no sentido de obter, aquela

informação, como se houvesse uma via única do objeto que obtém a

informação como tal, e uma passagem por um canal imaginário até a mente do

47

receptor. Essa visão unilateral e passiva da anacrônica Teoria da Comunicação

quebra a coerência lógica, como no exemplo a citar, “Nosso conhecimento da

árvore nada implica com a árvore que continua sendo ela mesma, conhecida

ou não por nós. Nosso conhecimento não faz parte da árvore, que continua

sendo como é.” (SANTOS, 1956, p. 90). Ou seja, não há uma apropriação

(tornar-se próprio no sentido material), mas há uma abstração, uma

virtualização individual do objeto, que não necessariamente seja própria

daquele que infere sobre o objeto, pode relacionar-se também como um

construto social, um conjunto de indivíduos que compartilham visões

semelhantes. É um pensar individual influenciado por outrem. Em outras

palavras, a nossa compreensão do mundo se dá não somente como uma

apreensão individual isenta de qualquer influência externa. Na sociabilidade, na

língua, no tempo existe uma permuta de compreensões que se modelam e se

relacionam na heterogeneidade do conhecer. Além do que, o termo apropriar

remete a alguém que se apropria, e, portanto, também origina-se de alguém

que tem como própria a informação, em claras palavras, existe aquele que tem

a informação e aquele que não tem; e para se informar, o que não tem

informação deve recorrer ao que possui. Este pensar adere a si uma

hierarquização necessária, uma polarização separatista entre aquele que a tem

com aquele não a tem; talvez este seja um reflexo inconsciente de uma

afirmação da nossa situação socioeconômica mundial.

Nega-se então a possibilidade de informar-se, questionar-se, buscar

cada um a si próprio a sua maneira de aprender lidando com as diferenças e

agindo por si. Como se pode transformar se a informação é dada como

propriedade, algo apropriável? De que modo se pensa em uma

democratização, em acesso à informação a partir deste conceito? Eis a

importância do questionar sobre a visão de mundo adotada.

Considerando o contra-argumento acima explanado reflitamos no ato

valorativo de pensar. Pensamos em um contexto, pensamos dentro de uma

estrutura de linguagem e em visões de mundo que são herdadas pela tradição,

pela família, pela sociedade. Quando incluímos esse eixo no processo

informativo, manifesta-se a condição ideológica, valorativa, a intencionalidade

do discurso, que por sua vez nos leva a uma complexidade social e política,

sendo que todos esses termos mostram-se muito próximos e interdependentes.

48

Forma-se aos nossos olhos a grande malha heterogênea e complexa que o

homem tece e faz parte ao mesmo tempo. Portanto, o ato de conhecer, o

informar-se (inclusive de formular teorias e uma ciência sobre tal) é um ato

político, intencional, social e essencialmente existencial que recusa

reducionismos e objetivações materialistas. É necessário um olhar mais

profundo e aguçado nessas complexas relações intencionais e valorativas, daí

então perceberemos o processo, o “como” deste fenômeno do informar-se que

constrói a si através do outro, sempre em um meio social. Conhecer é uma

relação entre sujeito e objeto, que se opõem dialeticamente, mas não se

negam substancialmente. A separação clássica entre sujeito e objeto é apenas

uma inferência abstrata, um método de análise que a filosofia ocidental pôs a

discutir. Existe uma relação entre sujeito e objeto e isso nos interessa.

Somente podemos inferir sobre os fenômenos, e não os objetos em si, isto é,

alienados do processo ou mesmo por inferências imediatas, pois não podemos

separá-los da nossa percepção.

Kant foi o responsável por uma revolução copernicana na filosofia,

quando postulou a dependência do pensar aos sentidos, ao sujeito, porém o

isolou de certo modo, recebendo críticas pelo seu idealismo e desconsiderar a

materialidade do mundo. Não nos cabe entrar nessas discussões sobre o

Idealismo ou Realismo, ambos pensamentos extremistas que caíram por terra

nas discussões filosóficas17 e se mostraram insuficientes ao tempo. A

pluralidade das verdades se dá no fenômeno quando a coisa (ente) manifesta-

se aos nossos sentidos (não de modo unilateral ou hierárquico), estes

passíveis à pluralidade e à infinitude das interpretações, que vai além de

sabermos onde se forma a realidade. Temos de primeiramente compreender a

relação sujeito-objeto para então abordarmos com mais clareza o conceito

ontológico-fenomenológico de informação.

A Teoria Crítica de Adorno e Max Horkheimer alerta-nos sobre a

condição objetivadora do espírito na sociedade industrial, e do modo de

produção capitalista infiltrado na cultura e nas artes. Em momentos turbulentos

de uma Europa assolada pela mais genocídica guerra da história, o

pensamento crítico seria a única saída válida para transformar a visão de

17 Cf. BERGSON, 1984.

49

mundo e aprofundar as fendas no sistema capitalista, que iria além da análise

da época de Marx; vai ao cerne de questões filosóficas do ser, do homem,

microcosmo, dentro de uma sociedade complexa, e se constroem como tais

dialeticamente.

Nesse contexto, Adorno faz uma reflexão crítica sobre o sujeito e objeto,

sobre a clássica ambigüidade e oposição entre os dois conceitos:

“A ambigüidade não pode ser eliminada simplesmente

mediante uma classificação terminológica. Pois ambas as

significações necessitam-se reciprocamente; mal podemos apreender

uma sem a outra”. (ADORNO, 1995, p. 62).

Nos caminhos permeados pela Teoria do Conhecimento na história da

filosofia sempre houve o grande questionamento da natureza do sujeito e do

objeto. Ob-jeto, aquilo que se opõe ao sujeito e que, por sua vez, pro-jeta, é

entendido como aquilo que está fora da consciência de um indivíduo, assim

assinala-se a concepção clássica. Porém, Adorno atenta-se para a questão

social não considerada em discussões filosóficas da teoria do conhecimento. O

homem é um ser social, o conceito de indivíduo não pode fechar em si mesmo.

Não há indivíduo fora de uma sociedade e a alteridade é uma determinante

para o conceito de homem, ser que se faz, atualiza-se no outro, na sociedade,

e cria deste modo, o movimento complexo entre sujeito e objeto, alvos da

persistente ideia categorizadora e definidora da Teoria do Conhecimento.

Sobre definir, Adorno nos esclarece: “Definir é o mesmo que capturar –

objetividade, mediante o conceito fixado, algo objetivo, não importa o que isto

seja em si. Daí a resistência de sujeito e objeto a se deixarem definir.”

(ADORNO, 1995, p. 62). O mesmo se dá com o conceito de informação, um

conceito peculiar, que foge a qualquer definição reducionista, pois o olhar

objetivador não se identifica com este conceito, sendo que na sua etimologia já

existe como conceito plural, metafísico, e requisitado para os olhos do filosofar

que não se restringe totalmente à visão de mundo objetiva. O pensar filosófico

faz o caminho do questionar à pluralidade conceitual de “Informação”, suas

definições modificadas e reestruturadas pela história construindo uma

epistemologia.

50

Adorno questiona a veracidade dos postulados da Teoria do

Conhecimento sobre a separação sujeito-objeto, e percebe em sua

manifestação os interesses ideológicos dessa cisão, principalmente em Kant,

na sua revolução copernicana da filosofia, onde põe o sujeito à frente dele

mesmo, questionando sua origem como tal e a cognoscência dos objetos, eis o

indivíduo vivente, indivíduo de fato. Há para Adorno, uma íntima relação entre

sujeito e objeto e nessa relação um complexo movimento ideológico, político, e

interesses condicionantes que vão além de qualquer análise restrita à

metafísica. A condição histórica e social do homem é o viés que deve ser

abordado quando se questiona filosoficamente sujeito e objeto. Salienta essa

relação indissociável, Adorno,

“Nenhum dos dois existe sem o outro; o particular só existe

como determinado e, nesta medida, é universal; o universal só existe

como determinação do particular e, nesta medida, é particular. Ambos

são e não são. Este é um dos motivos mais fortes de uma dialética

não-idealista.” (ADORNO, 1995, p. 70).

O sujeito é objeto tanto quanto o objeto é sujeito em níveis variantes,

sempre em movimento e indeterminação. Ao descentrarmos sujeito e objeto

podemos refletir no seu fazer, no ato e relação; e isso nos conduz à

historicidade deste fazer, suas variantes, e nos afasta da ilusão do poder

absoluto da objetividade e da analítica, complementa Adorno,

“Somente a tomada de consciência do social proporciona ao

conhecimento a objetividade que ele perde por descuido enquanto

obedece às forças sociais que o governam, sem refletir sobre elas.

Crítica da sociedade é crítica do conhecimento, e vice-versa.”

(ADORNO, 1995, p. 65).

Uma intenção de crítica à Ciência da Informação e uma investigação

filosófica sobre o conceito de informação que permeia também uma crítica do

conhecimento, pois informação e conhecimento estão intrinsecamente ligados,

pode-se dizer que são semelhantes, em outras palavras, distintos em

concepção, porém idênticos em conceituação. Abordar um conceito

informacional é tomar a consciência imediata de um conceito do conhecer.

51

Informar e conhecer são o mesmo no seu sentido ontológico, porém ao mesmo

tempo, distintos como concepção. Podemos dizer que o ato de informar é um

ato de conhecer, mas não podemos igualar informação e conhecimento; este

último termo vai além da ação, perdura na memória, situa-se na história e na

própria efetivação do ser. Daí uma necessidade de se aproximar o conceito de

Informação com o conceito de Conhecimento, cuja reflexão se estenderia além

da proposta deste trabalho. Mesmo assim, faz-se mister salientar a importância

dessa discussão.

A partir desse pensamento crítico, atual e emergencial construímos os

argumentos da hipótese deste trabalho que sugere um outro olhar perante esse

conceito “que não se deixa definir”.

4.1 – Etimologia de Informação

Para se conhecer um conceito deve-se primeiramente atentar-se à sua

historicidade. As palavras e seus significados são flutuantes, mutantes no

percorrer da história. Buscar a origem da palavra através da etimologia, para o

poeta Cícero, por exemplo, era ter-se à notatio de uma palavra que estava

contida na sua força, vis. A força da palavra está no seu significado que é

interpretável, e as interpretações, por sua vez, conduzem os rumos que

determinada palavra toma registrada em documentos históricos. A intenção

aqui com a etimologia é melhor compreender a palavra Informação, a partir de

fontes como Silveira Bueno, José Pedro Machado, Saraiva e os dicionários de

Oxford, interpretar esse significado pelo ponto de vista fenomenológico e

argumentativo-lógico, criando assim uma base sólida para a construção da

hipótese do presente trabalho. Define, por fim, Silveira Bueno, a etimologia

sinteticamente, “A etimologia é a origem dos vocábulos, cuja força (de

significação), quer em nomes, quer em palavra é desvendada pela

interpretação.” (BUENO, 1963, p. XV).

Informação, em consenso com os dicionários consultados vem do latim,

Informatio, Informatione que significa, “modelar, formar, representar idealmente

[...] formar no espírito”, segundo Machado (1990); de acordo com Saraiva

(1924), “Dar forma, afeiçoar, formar; formar no espírito, delinear, esboçar,

instruir, educar”. Nos dicionários em inglês encontramos a etimologia em

52

Scheller (1835), “a representation, idea, sketch, to frame in the mind”; e

também em Glare (1982), “Sketch (in words), to form in the mind, to form and

idea of (something), imagine.”

Dentre os verbetes é consenso a origem da palavra informação, sendo

que in – dentro, e formatio – deriva de forma, dar forma a algo. É a origem da

palavra que permite diversas interpretações em dependência da visão de

mundo, assim como o termo fora usado nos escolásticos (Idade Média),

diferentemente depois das ideias de Descartes e mais precisamente Kant, que

considerou o sujeito como cognoscente e primordial no processo do conhecer.

No aspecto figurativo, todos os dicionários consultados remetem para “formar

no espírito”, ou algo que se forma no espírito, daí a interpretação de in-formar,

dar a formação no interior, imaginar, ou seja, no intelecto, ou sujeito

cognoscente. O sujeito é, portanto, um conceito chave para se compreender o

conceito de informação, mas ainda mostra limitações, pois esse carrega uma

definição insuficiente, abstrata e idealista de informação. É preciso pensar

como o processo se dá, em que meio e de que forma.

Essas questões vão além da simples definição, nos mostra a magnitude

do conceito e nos clareia a pergunta, o que é informação além do definível? É o

mesmo quando levantamos a questão, como se dá informação? Ela se dá, ela

acontece, se promove, se forma? Veja que o emprego de verbos influencia na

definição, condicionando a ideia da palavra, seu conceito (como explanado no

capítulo 3). Através da nossa interpretação podemos naturalmente dizer que

informação é dar cognoscência a algo, uma ideia, dar forma, enfim. Dar forma

em uma mente pensante, em um sujeito. Mas de que modo? Podemos pensar

além da simples definição que a etimologia nos dá?

Se há um sujeito há um objeto; se pensamos um sujeito cognoscente,

pensamos numa sociedade em que esse sujeito está inserido, no contexto

histórico, na sua linguagem, na sua cultura. Diversos fatores tornam a

discussão mais complexa e a interpretação pode ir além. Do mesmo modo, se

pensamos em forma, pensamos em matéria, no conteúdo desta forma, na

apreensão das coisas, de certa forma, pensamos também sujeito e objeto, e,

além disto, pensamos no processo em sua totalidade na relação entre sujeito e

objeto, matéria e forma. São estas relações que compõe a complexidade da

53

informação e abrange a nossa investigação através do pensamento filosófico e

crítico.

Quantificar a informação é criar enunciados sem um fundamento

ontológico; é destituir do conceito da informação sua essência, pois não é

possível pensarmos o informar-se sem considerarmos o homem que pensa e

seu meio. Os labirintos da mente e do fenomênico não são quantificáveis

ainda. Se, por conseguinte, afirma-se que se pode manipular a informação,

logo, se pode manipular alguma forma de pensamento. 18

Há de se tomar cuidado com definições como “redução de incertezas” e

“informar de modo a surpreender o informado”. Reduzir incertezas implica em

aumentar certezas, que são ilusões, pois não temos certeza de nada, nem

mesmo de uma informação qualquer, não importa sua origem. Ao lermos, ou

ouvirmos uma história, ou argumento, a veracidade da mesma deve ser posta

em discussão, pois o que é verossímil? Mesmo sabendo que o sol nascerá

amanhã, não temos certeza de tal fato para sempre, como o filósofo George

Berkeley postula. Sabemos disso e não há uma redução de incertezas

percebida, nem mesmo algo surpreendente. Nos informamos, porém de

diferentes maneiras, apesar da incerteza sempre habitar o nosso pensamento,

sempre em par com a dúvida, inexorável ao ato de pensar, ou de ser-no-

mundo. Dizer que a informação se dá no surpreendente é tomar que informar-

se é estar à frente de algo novo. O que é então o conceito de novo? Não se

fecharia a uma profunda subjetividade tal conceito? E de que adiantaria sua

discussão se o surpreendente se dá de diferentes maneiras em cada um de

nós? É uma definição vaga, portanto. Mas se aplicarmos esse conceito em um

sistema fechado, num ambiente de conceitos próprios, talvez haja coerência ao

falarmos em certezas, ou incertezas reduzidas, porém somente num contexto

fechado, com termos próprios e forjados a um intuito. Quando nos referimos à

informação no contexto do ser, do social e da vida cotidiana não nos

prendemos a um contexto fechado, hipotético e forjado, mas sim às

contingências do mundo, às imprevisibilidades constantes e ao sempre

questionar, esse último, impulsiona o movimento crítico e nos faz sair de uma

ataraxia ilusória. A Ciência da Informação deve pensar os sistemas abertos e

18 Reditum ad absurdum.

54

complexos (como também o conceito de Rede, Internet), os sistemas humanos

e sua relação com a informação. Abstrair para criações de linguagens próprias,

ou mesmo sistemas funcionalistas retira o trabalho ético de uma ciência que

visa retornar à sociedade pensamentos pertinentes e possibilidades de

transformações sociais.

4.2 – Metafísica de Aristóteles – Potência e Ato.

Figura 2 - Scuola di Atenas de Rafael Sanzio (1509-1510).

Duma maneira geral, como a filosofia investiga a causa dos

sensíveis, é precisamente isto que nós deixamos de lado (nada, pois,

afirmamos da causa, que é o princípio da mutação), e, julgando

explicar a substância dos mesmos [sensíveis], admitimos, na

realidade, a existência de outras substâncias. (ARISTÓTELES, 1979,

p.33).

55

Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) fundamenta seus pensamentos em uma

crítica a seu mestre, Platão, sobre a inteligibilidade das coisas. O poético e

sintético retrato desses dois pensamentos conflituosos é o afresco de Rafael

Sanzio, onde Platão aponta para cima, sugerindo sua teoria gnosiológica, e o

Mundo das Ideias, em contraposição, diametralmente oposta, a Aristóteles, que

aponta para o chão, reclamando a seu mestre o esquecimento das coisas, do

ob-jeto, do real.

Para Aristóteles, existe uma distinção entre a coisa, ou o ente, e a ideia

(ou forma), eidos, porém essa distinção é somente analítica. Ao contrário de

Platão, que imaginava as coisas como derivações do perfeito eidos, Aristóteles

imaginava que as coisas têm forma e matéria (Hilemorfismo). A forma está

contida em todos os entes, juntamente com a sua matéria. Em outras palavras,

a coisa pode vir-a-ser, tem a potência de ter uma forma inteligível, “A causa

material existe, por conseguinte, e, além disso, a forma é realmente algo que

determina essa matéria e que a ela se acrescenta.” (BERGSON, 2005, p.122).

Forma tem o sentido de “tornar-se inteligível”. É a ideia de cadeira, por

exemplo, que está contida no objeto que recebe essa categorização, que se

forma quando nossos sentidos, nossa linguagem, nossa visão de mundo,

entram em contato com a cadeira.

O filósofo distingue na sua Física (conjuntamente na Metafísica), quatro

espécies de causas, a causa material, que corresponde ao objeto como ente, a

causa formal, a forma fenomênica que dá sentido ao objeto, a causa motora,

que atualiza de modo sincrônico e intrínseco forma e matéria, criando assim, o

movimento; e a causa final, ou seja, o objetivo, o fim, o intuito. Heidegger

questiona na sua conferência A questão da técnica (HEIDEGGER, 2007), o

sentido das causas no pensamento grego. Para o filósofo, existe um

comprometimento (Verschulden)19 entre as quatro causas, no sentido em que

estão relacionadas não somente de modo linear, um reagir e efetuar

simplesmente, mas as causas resultam-se entre si. Assim, este

comprometimento nos revela a produção, isto é, como as coisas se dão e que

19 Verschulden é um composição lingüística com base no substantivo Schuld (culpa). A tradução optou por comprometimento para evitar interpretações de sentido moralista, ou legalista. Ao ponto em que Heidegger explica o termo no seu sentido grego de destino. (HEIDEGGER, 2007).

56

uma causa material ou matéria-prima, tomando a prata como exemplo de

Heidegger, tem uma relação de cumplicidade/comprometimento com a causa

formal, como citado no exemplo, a taça de prata. Em outras palavras, para

Heidegger, a prata pode gerar uma fivela, uma colher, e também uma taça de

prata, e seguindo esse raciocínio, a prata que fora moldada para ser uma taça

não é a mesma existencialmente que a da colher; é sim, cúmplice de toda

relação causal. Fato este que une todo o processo numa relação de

interdependência causal. Quando desvendamos os processos causais

desvendamos a produção e o fundamento do produzir, pois não vemos as

causas como fatos intermitentes, recalcados, mas sim uma globalidade no

processo, considerando-os justificados entre si. O destrinchar desta complexa

interpretação em Heidegger se dá no seu questionamento sobre a posição do

ser na técnica e do sentido da relação entre os dois. Abordaremos o

pensamento de Heidegger alguns capítulos à frente.

De acordo com Bergson, “Portanto, as obras da natureza, a causa

motora, o princípio da mudança, e a causa final confundem-se com a causa

formal e só se distinguem dela pelo ponto de vista.” (BERGSON, 2005, p.123).

O movimento das coisas, o crescer, o caos e a ordem que flertam-se no mundo

natural se confunde com a finalidade, pois a causa final é existir, criar o

movimento e mantê-lo perpétuo, assim como a causa formal confunde-se com

o movimento, portanto, se atualiza, somente se torna perceptível, através do

cum crescior, crescer junto, no latim, ou concreto no português.

Bergson exemplifica a ideia central da potência e ato aristotélica,

“(...) a árvore, a planta que provém da semente. A semente é

a matéria, a planta, a forma. Essa forma é o objetivo, o fim que o

desenvolvimento da semente persegue; (...) esse devir tem sua causa

na necessidade de realizar a forma, na necessidade de tornar-se

planta, de modo que é a atração da forma que causa o movimento e

a forma é realmente causa motora, ao mesmo tempo em que causa

final.” (BERGSON, 2005, p.123).

Para que haja uma realização da potencialidade de algo é preciso o

movimento, a passagem do poder vir-a-ser para o devir, o fenômeno. Nesse

movimento que o ente torna-se ser, pois deixa de poder ser algo para sê-lo

57

efetivamente, “é a forma que dá o ser” (BERGSON, 2005, p.125). Nesse

movimento estão as contingências, na causa motora. Este é o momento em

que o ente tem uma relação com o meio e exprime sua existência como tal, ou

seja, como vemos em nossa percepção, na forma. Ele se atualiza em si, mas é

na percepção dessa atualização, na forma com que ele aparece a nós, que

podemos afirmar que há de fato um atualizar.

Pela interpretação bergsoniana de diferença de ponto de vista entre

matéria e potência, Aristóteles não as separa, apenas salienta que pelos

sentidos, ou ponto de vista, é possível ter uma visão analítica e obter, portanto,

mais de uma visão sobre matéria e potência. Distingui-las é possível apenas

nas abstrações, tal qual o próprio Aristóteles utilizou como método para chegar

às suas conclusões, mas não são distinguíveis em essência.

Para Aristóteles, a forma está (em potência) nos objetos, nas coisas, no

ente, pois assim é logicamente permitido haver mais de uma visão, ou

compreensão dos objetos. Eles podem ter múltiplas formas. A prova está no

microscópio, por exemplo, um copo contém água num recipiente no estado

líquido. Quando olho com olhos microscópicos, vejo não mais a forma líquida,

mas sim as moléculas de água, “vejo” H2O, assim como se pode usar uma

“lente quântica” e “ver” os quantas, o interior do núcleo e outro mundo físico

com outras leis mecânicas. A matemática permite, através da sua linguagem,

esta outra visão que experimentalmente já mostra sucesso.

Nossa percepção cognitiva efetiva-se em quatro dimensões (três

dimensões espaciais e uma temporal), um outro ser, hipotético, pode ver o

mundo em 4, 5, 9 dimensões. Como ele veria? E em duas dimensões? A partir

da percepção, como agiria esse ser? Parece aceitável que esse ser agiria

completamente diferente de nós, seres de uma percepção em quatro

dimensões. A forma está em potência no objeto, pois independe de nós para

essencialmente ter a forma, já que pode ser visto em diversas realidades

formais, microscópica, quântica, macroscópica, mítica, etc;

A realidade está em partes no subjetivo e no objetivo, logicamente

falando, é uma relação fenomênica entre ambos que dá a forma, que in-forma.

A visão de mundo determina a forma, o informar. Temos uma limitação

fisiológica, fato que a neurociência estuda, por isso sua importância,

justamente para sabermos o quão longe nosso cérebro pode ir fisicamente,

58

quantas realidades, quantas formas pode se desprender e desenvolver dos

objetos e da realidade que nos mostra, infinita, e obscura.

A nossa interpretação de potência e ato se limita aqui20, no seu cerne

conceitual, apesar de Aristóteles tomar uma posição objetiva da realidade

quando diz que ao considerar matéria e forma intrínsecas a si mesmas, toda

forma tem matéria e toda matéria tem forma, portanto as coisas são inteligíveis.

Mas por qual meio? Pela forma, portanto, considerada primeira perante a

matéria. Deste modo, pode-se ter uma interpretação realista de Aristóteles tal

qual uma interpretação fenomênica. Ficaremos com a fenomênica, com foco no

movimento. Este movimento nos pede atenção ao “como” as coisas se

apresentam a nós, e como as coisas se relacionam e se comportam perante o

sujeito que depende do objeto para ser. Como Aristóteles refletiu sobre a

distinção entre matéria e forma, não há distinção essencial entre sujeito e

objeto, somente analítica. São categorias diferentes e opostas, porém não se

negam, e interdependem-se em essência. Sobre a questão do fenômeno, do

movimento que dá forma (informatio), Aristóteles diz,

“Ora, nós dizemos que o homem vem da criança como o já

gerado, ou o já completo do que se está completando, pois sempre

há um intermédio, como entre o ser e não-ser, o devir, e o que se

está gerando, entre o que é e o que não é.” (ARISTÓTELES, 1979,

p.41).

Nesse intermédio está a contingência, aquilo que a ciência não atinge,

apenas quantifica e abstrai. Apesar de estar além da ciência, o ato, o

movimento de organização das coisas, o ser em sua afirmação de si é crucial

para compreendermos a magnitude do conceito de informação. É o que

chamamos de Meio Elucidativo, cuja complexidade é explícita na linguagem, na

cultura, na diferença. É a partir da diferença do Outro (alteridade) que devemos

refletir o conceito de informação e como a prática desse pensamento se dá na

educação, na epistemologia da C.I., na configuração das bibliotecas, na

20 Apesar da ideia aristotélica das quatro causas não afirmamos aqui que o universo é regido pelo conceito engendrado na causa-efeito. O que exploramos em Aristóteles é a sua visão do fenômeno, de potencialidade da forma como uma maneira de se entender a metafísica e deste modo, questionar o que podemos entender como “informação”. A filosofia das causas se faz necessária para entender o pensamento de Aristóteles, complexo e sistemático.

59

Documentação, que neste caso especial estuda a organização dos

documentos e principalmente para quem organizar. Documentos não existem

sem uma ação, e esta ação é causada por um ser, com direitos e deveres, num

contexto político, numa temporalidade, em uma forma de discurso, em uma

cultura. Abordar esses temas complexos é a meta dos seguintes capítulos.

4.3 – O Meio Elucidativo. A contingência, a língua, a cultura, a moral, a vivência (visão de mundo) e a psiqué (estado psíquico do indivíduo).

Uma linguagem é um sistema particular de signos que serve como meio

de comunicação de ideias ou sentimentos, e todo sistema deve ser

convencionado para permitir uma comunicação não ambígua podendo os

signos convencionados serem sonoros, gráficos, gestuais etc., e percebida

pelos diversos interlocutores. Como o essencial da linguagem é a comunicação

ela refere-se à significação, à Semântica.

Inerente à linguagem, a língua diz respeito à capacidade ou faculdade

de exercitar a comunicação, latente ou em ação, podendo ser um idioma

quando usado por um grupo social ou nação, e refere-se a um conjunto de

palavras e expressões usadas por este grupo, munido de regras próprias e

portanto, portador de uma sintaxe. A significação está na base da língua e da

linguagem. São as significações que se transformam em som na necessidade

de comunicar, desse modo, a língua é o processo em que a significação se faz

no ser-no-mundo e atualiza-se transformando o meio comunicacional. O ser se

faz na sua fala, e portanto, nas significações que ali existem, passíveis de

interpretação (DUBOIS, 2004).

Cada língua é uma visão de mundo em ação, no movimento, viva e

mutável; é também a expressão do entremeio do espírito humano e os ob-

jetos21 e não somente um instrumento de comunicação embasado em uma

linguagem técnica, como pensam as ciências objetivas. A língua técnica serve

à ciência como facilitadora e articuladora das ideias e suas práticas, porém

está determinada pelo saber técnico. O modo da língua está compartilhado

21 No sentido de estar oposto, portanto o outro mesmo sendo sujeito é um objeto para outro sujeito.

60

com as máquinas desenvolvidas. A linguagem objetiva das máquinas, a

linguagem documentária, a língua técnica em geral objetivada na meta da

técnica per se, afirma-se como parte crucial do método científico para a

finalidade útil garantida pela ciência. Para Heidegger, a língua tornou-se

informação, ou seja, técnica; porém o filósofo refere-se à Teoria da Informação

de Shannon, e da cibernética de Weiner, teorias que nascem numa visão de

mundo fisicista.

Weiner e Shannon exploram a língua técnica e sua teoria é restrita aos

sinais; não havia uma intenção humanística ou ontológica nessas teorias, como

visto anteriormente. O conceito de informação fora apropriado a uma área

técnica e faz parte da língua técnica, apesar de ainda manter sua origem

etimológica. A apropriação técnica limita-se a sua definição, que de certo

modo, não desvia da sua origem de formar, dar forma; porém definição é

restritiva ontologicamente. A língua de tradição, como dita por Heidegger

(1995), é a que se mantém polissêmica, viva e mutável e é considerada frente

à língua técnica em uma relação de presença do ser. Questões de

mutabilidade da língua técnica e de tradição merecem uma discussão a parte,

mesmo assim, é possível considerar a diferença e a implicação da viva língua,

mutável e imaginativa na existência do ser-no-mundo e como a C.I. pode

investigar essa relação entre essas duas manifestações da língua.

Na Ciência da Informação, as questões sociais chamam a atenção a si,

apesar de ser uma das abordagens entre um conjunto amplo e não tão bem

delimitado dessa ciência naturalizada técnica. O profissional não lida somente

com a língua técnica, dele exige-se mais, e neste ponto da comunicação

humana, a técnica tem um limite de influência e a relação ser e mundo

apresenta-se ativa no contato com o outro, no projetar de uma profissão à

sociedade, na vivência do profissional, ou no pesquisador ativo na área. Isto

está além da técnica, porém não a exclui. Ela é presente como visão de mundo

e determina os atos e consequentemente o trabalho que este profissional

atende. A importância da linguagem e da compreensão além da visão técnica é

a possibilidade de transformação daquele que se utiliza do serviço.

Podemos pensar num serviço de informação, nas estruturas de bases

para os usuários, na questão prática, técnica e vivencial; todas estão

sustentadas na base da visão de mundo, portanto, cultura e língua, para citar

61

duas fortes realidades determinantes; além do estado psíquico do indivíduo

determinante na expressão e posição deste indivíduo no mundo e na

comunicação com um registro, ou mesmo outra pessoa. A cultura, a língua, a

vivência (a experiência particular de cada um), a psiqué (estado consciente, ou

intencionalidade), a contingência, isto é, as possibilidades de existência de um

processo comunicativo e informativo são fatores condicionantes e correntes no

Meio Elucidativo.

Elucidar vem de esclarecer, tornar lúcido, deriva do latim elucidativus

(BUENO, 1963). Para se tornar elucidado, o meio deve organizar-se de uma

maneira em que estes fatores estejam consoantes no ato de informar-se e

distinguível para aquele que está se comunicando. Na relação comunicativa,

seja entre pessoas, ou numa leitura de análise a um documento, existe uma

conexão cognitiva, uma atenção do indivíduo para aquilo que se estabelece

comunicação. O pensamento se faz atento, intencional, atualizando-se com o

outro e nesse movimento de pensamento, linguagem, cultura e individualidades

existe o ato de informar.

Informar-se é uma palavra que possui um pronome reflexivo “se”,

remete, de acordo com a língua portuguesa, (além de um pronome integrante

do verbo informar), ao sujeito que aplica a ação a si. Não é possível pensar em

um informar-se como uma ação isolada, de si para si; pelo contrário, se

estabelece uma relação fenomênica entre sujeito e objeto, e neste meio é

necessário elucidação. O pensamento faz-se claro por si, isto é, participa do

clarear e este mesmo se faz claro. Informar-se é um processo reflexivo,

essencialmente de pensamento, numa subjetividade e no mesmo sentido,

objetividade. É um movimento contínuo de pensamento e exterioridade, que se

determinam na complexidade não linear e não hierarquizada. A hierarquização

teorética da comunicação, sua efetivação simplificada como fez a Teoria da

Comunicação do Emissor-Receptor, são posturas que demonstram sua

funcionalidade em exemplos reais, por exemplo, nos computadores (como

pensa o paradigma físico), porém mostram-se limitados e abstratos às

contingências de uma conversa ou em relações humanas quaisquer.

Uma horizontalidade é possível nesse processo comunicativo e o ato de

informar-se, se movimenta em sua temporalidade afirmada pelo potencial de

informar, que se atualiza e informa. O potencial de informar, como foi analisado

62

em Aristóteles, se torna ato no Meio Elucidativo, ao ponto que os objetos

tomam forma no espírito, ou vouç em grego, e neste sendo do ser, há o

processo, o movimento, portanto, ação em que se informa; a informação. Logo,

as coisas têm a potencialidade de informar, assim como a semente tem em

potência a árvore e seus frutos, ou seja, existe uma virtualidade. Nesse sentido

podemos pensar a Internet como outra realidade, virtual e não irreal, de

possibilidades técnicas, de compartilhamento de saberes e de relações

humanas, assim como uma possível horizontalização dessas relações. A partir

dessa hipótese, distinguimos o que é registro, ou documento, de informação.

Um livro tem a potencialidade de informar, mas este ato dependerá dos fatores

de linguagem, da cultura, da temporalidade, do sujeito que é informado.

E como se dão esses fatores do Meio Elucidativo? O Meio Elucidativo é

uma potencialidade em si; pode vir a tornar-se quando em contato

comunicativo com aquele capaz de atualizar a forma a partir deste meio, e

subjugado a ele. Pois aquele que se comunica faz parte do meio, ou seja, não

há uma centralização ou polarização comunicativa; há o ser-no-mundo, as

influências históricas, culturais, a língua, o tempo, as contingências e

principalmente a visão de mundo. O Meio Elucidativo não é único, um método,

uma fórmula; é uma possibilidade, é o ambiente real e ontológico em que se dá

o informar-se. A cultura particulariza o meio, cada cultura é única (identidade),

uma unidade de ação, múltipla e diversa, agregada à tradição e mutável como

um organismo vivo, também complexo como tal (diferença). Ainda neste

trabalho não é possível ir adiante com as definições de cultura, outro conceito

que não se deixa definir, por isso permite amplas interpretações, mas

tomaremos neste ponto como fator a ser considerado, e de extrema

importância para aquele que pensa a informação.

O atualizar da informação, o informar-se é basicamente ontológico,

humano, considera-se a sua cultura como base do informar-se, que

determinará como as formas serão interpretadas pelo indivíduo. Com as

particularidades culturais de cada povo, e consequentemente as

particularidades da informação em cada cultura, não se pode objetivar o

conceito de informação a todos como única fórmula aplicável. Esquece-se o

ser, o ente principal deste processo. Este ente está inserido no mundo, e

pertence à humanidade, juntamente com aquilo que lhe torna único, seu

63

espírito. Pelo que vimos da etimologia, formar no espírito é informar-se, e o

espírito pertence a um universo de ser, de vivência, de afirmação existencial de

si. Neste sentido, o informar se dá em cada um, forma-se no pensar, no

processo imaginativo, lógico, em nossas estruturas mentais e também no meio,

no outro. Como diria o poeta Rimbaud “Eu é um outro” (Je est un autre). O

informar-se é uma busca de si em relação com o mundo. Não se informa o

outro, mas se cria um processo em que há possibilidades de informação. Os

objetos têm a potência de tomar diversas formas, como dito no capítulo

anterior, e tudo depende do sujeito que tem contato (comunica-se) com o

objeto, a partir desse contato sujeito e objeto se tornam processo e assim

atualiza-se (potência e ato) o processo informativo. Só podemos pensar em

sujeito e objeto de modo analítico; é uma abstração lógica que facilita o pensar,

mas no sentido real não há essa diferenciação, o contato é uma mescla entre

sujeito e objeto que co-determinam-se no movimento de elucidação. O Meio

Elucidativo se dá nos sistemas, pois é um processo que remete à interação e a

articulação dos fatores determinantes no informar, “[...] os elementos são

constituintes de um todo que se define como estrutura articulada de funções e

disposições interativas.” (ARISTÓTELES, 2009, p.19). Os elementos, de

acordo com Aristóteles, são substâncias e estão fadadas ao acidental, no

sentido de acaso nas suas propriedades, efetivando-se nas suas funções. A

organização do modo funcional da substância é o todo referido na citação, que

se aproxima com a Teoria dos Sistemas, considerando não somente coisas

objetiváveis, mas também sua forma de expressão organizadora, o modo como

se relacionam e se manifestam em conjunto e interdependência. Este é o Meio

Elucidativo, onde as contingências se dão e a organização entre o caos e a

ordem se manifesta no ato de informar.

Imaginemos uma mesa. Ela é um objeto, pois está ob-jetada à

consciência do Eu. Quando isolamos esta mesa numa sala adiabática longe de

qualquer contato com outro objeto, ou algum outro ser, ela ainda manterá,

logicamente, suas características físicas, portanto, aqui excluímos o discurso

idealista de que a realidade está somente na percepção. Existe uma realidade

além de nossa percepção, existe a coisa em-si, mas o nosso foco é o

cognoscível, pois estamos tratando de ontologia, do ser que pensa. Saber se

existe a coisa em-si ou não é um assunto paralelo, o que queremos saber é da

64

temporalidade e da relação viva entre sujeito e objeto. Voltando à mesa, ainda

temos a mesa isolada, e agora pensemos em outra mesa: uma na qual alguém

escreve um texto. A mesa sofre a força gravitacional do peso da pessoa que se

apóia, dos livros que estão por cima, dos possíveis arranhões, ou seja, a

durabilidade é outra em relação ao exemplo da mesa isolada, a temporalidade

do objeto modifica-se. Estar isolado numa sala adiabática é possível para uma

mesa, mas para um ser vivo não, ele morreria em isolamento, pois a condição

de existência de um ser é o outro. Do mesmo modo em que uma mesa isolada

numa sala adiabática perde sua razão de ser, ou seja, a de servir como apoio,

sua instrumentalidade é destituída, pois há a realidade do ser-no-mundo,

condição inexorável ao ser. Os objetos existem em si, mas quando estão em

contato, ou seja, para-si manifestam sua forma e materialidade, manifestam

sua potência de informar. A relação entre sujeito e objeto nunca é isolada e

analítica como pensava Descartes, pelo contrário, ambos são intrínsecos,

inalienáveis. Quando se pensa no sujeito cognoscente, pensa-se no seu objeto

que afirma-se diferença e identidade simultaneamente, ou seja, pensa-se no

outro. Deste modo, cai por terra o pensamento de emissor, o que apropria o

informar, ou conhecer; como também o receptor, aquele ausente do conhecer.

Não existe o que sabe e o que não sabe, existe o mútuo apreender, o mútuo

comunicar-se para conhecer. O outro é indistituível do ser, pois se afirmam

como tais no processo interdependente de existir.

Pensemos agora em outro exemplo elucidativo. Imaginemos uma sala

de aula, e um professor, naturalizado brasileiro, falante do português do Brasil

está explicando justamente essa hipótese que estamos explanando para um

homem, brasileiro, leitor frequente já formado em algum curso de graduação.

Também para um outro brasileiro, idoso, analfabeto que nunca visitou uma

escola. Outro personagem é uma mulher chinesa, não entende nada de

português; e finalmente um jovem alfabetizado que pouco sabe de filosofia, ou

mesmo sobre a Ciência da Informação. É possível conjecturar que o primeiro

aluno possa entender o que o professor diz, já que este está falando a mesma

língua que o aluno, ambos compreendem a conduta de uma sala de aula e um

diálogo comunicacional se estabelece. Alguns destes pontos citados

convergem nas outras pessoas presentes em sala (como a conduta de uma

sala de aula de uma instituição de ensino, que pressupõe-se que todos

65

entendam), outros não. A chinesa não terá nenhuma noção do que o professor

diz. Talvez ela possa ter ouvido alguma palavra em português em algum lugar,

mas o contexto informativo dificilmente se dará, há um limite semântico, ou

seja, de linguagem. Já no analfabeto, acontece o mesmo, porém este entende

o português, exceto a língua técnica que o professor recorre para explicar a

sua hipótese com bases filosóficas. O jovem, mesmo compreendendo alguns

termos, terá dificuldades em compreender alguns conceitos que requerem uma

base de estudos básicos em filosofia. Além do que, se pensarmos no primeiro

homem, o mais apto a, hipoteticamente, estabelecer um conhecer mais

abrangente sobre a fala do professor; com um estado psíquico anormal,

incômodo, etc; sua atenção não está suficientemente apta a compreender o

que o professor diz. O mesmo vale para todos, já que o estado psíquico

(comportamento emocional, estresse, ou mesmo disfunções de saúde) interfere

no compreender, pois não somente se conhece o mundo com a mente, mas

também com o corpo. E consideramos aqui ambos indissociáveis.

O que podemos concluir nesse exemplo que pode se estender por várias

páginas é a contingência de fatores que existem num processo

comunicacional, e que, principalmente, cada um informa-se de uma maneira

particular, e quantificar essa maneira, essa forma, portanto, é impossível.

Teríamos que não somente adentrar na consciência do outro, como também

ser o outro, já que o ser não é somente consciência, é também, a vivência, a

experiência vivencial única de si, o ser-no-mundo. Visto essa impossibilidade

questões surgem. Como podemos pensar o outro no informar? Como ir além

nestes fatores determinantes sobre o conhecer? Uma investigação crítica é

suficiente? Não seria necessário um diálogo com outras áreas de investigação,

e quais as contribuições que essas áreas poderiam trazer para essa linha de

raciocínio? É necessária uma investigação sobre o conhecer, sobre a

comunicação, sobre a cultura, a língua, etc. O informar-se não se restringe a si

como conceito, agrega-se a esses outros conceitos tão complexos e amplos

quanto a informação. No caminho de nossa investigação filosófica e

fenomenológica do conceito de informação muitas questões pairam, e estas

implicam na continuação do caminhar investigativo. A intenção é

compreendermos o quão complexo é o conceito e como o nosso pensamento

66

perante tal sofre as crises do questionar. Continuemos, portanto, a investigar o

compreender e o conhecer, e sua relação com a informação.

Compreender é o aprender mútuo, como afirma Mário Ferreira dos

Santos, “Compreender alguma coisa é cum prehendere, é apreender com, é

captá-la com os co-variantes que se coordenam numa cooperação capaz de

criar uma realidade.” (SANTOS, 1956, p. 52). Aqui se estabelece o

compreender como apreender, ou seja, formar a partir do que percebemos uma

figura (no inglês é mais claro o conceito, figure out) da realidade, é moldar uma

realidade a partir da relação entre consciência e o fenômeno, ou como as

coisas se mostram a nós, estética (αισθητική). E nesse meio existe aquilo que

é elucidativo e o que não é, ou seja, aquilo que é captado claramente ou não

pela percepção individual. Para assimilarmos algo, este algo deve ser

semelhante, deve ter um grau mínimo de homogeneidade com o que

construímos como consciência de si e de outrem. O Meio Elucidativo, nesta

hipótese, é o meio que permite, em graus, a elucidação, o clareamento, ou o

desvelar das coisas, o compreender. Eis uma passagem pelo pensamento de

Heidegger quanto ao termo compreender, “[...] a compreensão de ser não é

meramente um conjunto de categorias acumuladas como uma coleção de

moedas; ela se desenvolve junto com a formação de mundo, com a

transcendência” (HEIDEGGER, 2002, p. 19). Esta transcendência significa

estar através do mundo, na ação e moção de ser, e inevitavelmente nos

deparamos com o mundo e consequentemente com o outro. Este deparar

Heidegger conceitua como um pro-jeto, ou seja, lançar-se a, em que o ser é

projetado, lançado pelo compreender, e assim cria-se seu movimento

expansivo. Compreender é uma possibilidade, um poder-ser, que se dá na

contingência, na existência do caos e da ordem das quais transcende quando

se efetiva a captação dos covariantes (caos) coordenados (ordem), voltemos à

citação no início deste parágrafo, e relacionemos o compreender com o

conhecer que são, por sua vez, conceitos participantes e presentes quando

tratamos de informação.

Conhecer deriva do latim co-gnoscere, que se traduz por gerar junto,

nascer junto. Portanto, todo conhecer é um processo de nascimento, que gera

algo que não havia anteriormente, além de remeter a uma relação no seu

prefixo (co), junto. Todo conhecimento gera-se num processo, numa relação,

67

pois permite o conhecer e o perpetua. A relação entre “formar no espírito” e o

nascer junto como essência do conhecer se dá claramente. Informar-se é

conhecer. E o que gera ontologicamente aquilo que nos deparamos e o que

cria o movimento da geração? A questão, o espantar-se perante aquilo que nos

cruza existencialmente e faz-se, assim, o conhecer com o impulso do

questionar, a dúvida inelutável perante aquilo que se mostra como objeto a

nós, que, por sua vez, dá-se em forma, tendo em vista a capacidade de nosso

aparato cognitivo e perceptivo; não somente pelas características da

consciência no sensível, mas também da existência do ser-no-mundo, sua

concepção histórica, na personalidade única de cada ser. Não podemos ainda

ver ou “ter em mãos” o pensamento, consequentemente é óbvia a

intransponibilidade entre a experiência do próprio ser para a externalização

deste saber, desta experiência. Há somente um relato, uma tradução daquilo

que se pensa em palavras, gestos, ações expressivas. O pensamento é o

mistério que só pode ser alcançado numa relação entre ser e o mundo.

Objetivamente não atingiremos o pensar, é impossível distingui-lo, colocá-lo à

luz da consciência de outrem. Para se ter contato com o pensar do outro

inevitavelmente mistura-se com este outro, ontologicamente. Na comunicação,

que é este contato existencial do pensamento, há então, o eu que se faz outro.

Somos um organismo aberto em comunicação com o mundo, daí o ser-no-

mundo, pois somos essencialmente o mundo como ato.

Compreendendo esta forma de pensamento, podemos concluir que o

pensar é único mostrando-se somente como o maior dos mistérios, e como

cada um é para o mundo, e para o Outro, é uma forma de seu ser. Não

apreendemos esta forma de ser, ou modo de ser do outro, mas também somos

este modo de ser sendo nós mesmos. Uma pessoa, um ser que existe no

mundo, não é por si; está em relação, está em interdependência, está sendo o

outro e a si mesmo constantemente, e assim se configura o ser como tal.

Aquele que nos depara, por assim dizer, um outro, uma pessoa, detém da

capacidade de pensar, de questionar (-se), de informar (-se). O que isso nos

diz política, social e eticamente? E, sobretudo, existencialmente? O que se dá

como processo, no meio que pode vir-a-ser elucidativo, é não só uma questão

gnosiológica, ou de teorias do conhecimento; mas também se fazem surgir

dúvidas sociais, políticas, éticas, culturais. O conhecer está relacionado ao ser

68

essencialmente, e quando enunciamos isto, não se pode ignorar a gama

complexa deste existir e a consideração do outro, que é um ser-no-mundo.

Neste estágio do investigar somos levados a compreender o que é o ser-

no-mundo e como a informação está atrelada ao conhecer. A filosofia de

Heidegger nos conduz a refletir a ciência, a língua, a técnica e o pensamento

de modo que clareie melhor e conclua os intentos desta hipótese que não se

limitam a definir informação, mas ir além através do pensamento crítico.

4.4 – A fenomenologia de Heidegger e a Crítica à objetividade da Ciência (ou o Esquecimento do Ser).

Nos estudos de filosofia na universidade, Heidegger teve contato com a

obra de Husserl, pai da Fenomenologia, que se tornara seu professor e assim

lhe fez compreender um conceito tão nublado para época. Apesar de uma

desavença posterior em que Husserl declarava que seu pupilo havia

desvirtuado suas ideias e compreendido-as erroneamente, Heidegger elucida a

sua compreensão da obra de Husserl, mais precisamente, as Investigações

Lógicas datada de 1900,

“[...] o que para a fenomenologia dos atos conscientes se

realiza como o automostrar-se dos fenômenos é pensado mais

originariamente por Aristóteles e por todo o pensamento e existência

dos gregos como Alétheia, como o desvelamento do que se pre-

senta, seu desocultamento e seu mostrar-se.” (HEIDEGGER, 1983,

p.300).

A fenomenologia levou Heidegger a questionar o ser, ir além da

proposição fenomenológica de Husserl, no Alétheia é que o desvelar; tirar o

véu das coisas e ver o que há além do mistério que a realidade nos mostra;

deriva-se a interpretação desta realidade pelo sujeito, e como os entes se

mostram para nós. Este modo de ser das coisas perante a nossa percepção é

o fenômeno e a forma (eidos) de que Aristóteles trata os objetos. Questionando

o fenômeno, questionamos o sujeito e o objeto, principalmente a essência de

ambos, o ser. Heidegger se ateve a percorrer esse caminho filosófico que vai

além de Husserl, portanto, moldando a si uma fenomenologia própria,

69

questionadora não só dos fenômenos, mas também do ser, ou seja, as

questões essenciais, metafísicas e ontológicas. Heidegger sintetiza seu

pensamento perante a Fenomenologia em um post scriptum, “o essencial para

ela (a Fenomenologia) não consiste em realizar-se como ‘movimento’ filosófico.

Acima da atualidade está a possibilidade. Compreender a Fenomenologia quer

unicamente dizer: captá-la como possibilidade” (HEIDEGGER, 1983, p. 302).

Heidegger não desejava criar uma doutrina, como de praxe na história

da filosofia, mas sim questionar, sobretudo. O que o filósofo entende por

possibilidade está no fenômeno, essência da fenomenologia, cuja manifestação

remete à contingência, a questões não quantificáveis, à valoração, um caminho

epistemológico profundo e destituído das famosas antinomias da filosofia

moderna, como exemplo a dualidade entre sujeito e objeto (como já fora

explicitado anteriormente). Logicamente entre Husserl e Heidegger existe uma

diferença de entendimentos perante a Fenomenologia, isto posto, adotamos a

postura filosófica de Heidegger pela sua crítica à situação da modernidade e

seus questionamentos sobre o ser, sobre o que é de fato um humano, uma

pessoa e os processos vitais e mundanos que essa pessoa está inserida.

Heidegger levanta questões sobre o que somos perante a nós mesmos e o que

nos cerca. Fato importante de se tratar quando pensamos em uma Ciência da

Informação, Documentação, ou mesmo qualquer ciência que tem na sua razão

de existência nada mais do que o sujeito que pensa e questiona, mais

claramente, o indivíduo comum, pois todos nós, filósofos, médicos, lixeiros,

técnicos, crianças, estudantes, etc. pertencemos a esta esfera comum que é o

ser.

“[...] o método fenomenológico visa o redimensionamento da

questão do ser, não uma abstrata teoria do ser, mas uma imediata

proximidade com a práxis humana, como existência e faticidade; a

linguagem [...] é analisada ao nível da historicidade.” (HEIDEGGER,

1983, p.88).

A dimensão do ser, esquecida em nossos dias, omitida pela ciência faz-

se como questionamento primordial no destino da humanidade. Heidegger

entende a fenomenologia como um caminho para compreender o ser

70

considerando a historicidade e a língua principalmente, porém, fenômeno é

aquilo que se mostra, e neste mostrar temos dúvidas. Manifestar-se é o mesmo

que mostrar-se? A fenomenologia trataria os dois igualmente em termos? O

manifestar de uma doença não é ela mesma, são apenas indícios; ou, “o

anunciar-se de algo que não se mostra através de algo que se mostra.

Manifestar-se é um não mostrar-se.” (HEIDEGGER, 2009, p. 68). A partir do

manifestar-se podemos pressupor um mostrar-se e de forma hermenêutica,

interpretar os sinais do fenômeno, a fim de atingir sua essência, desvelá-lo. O

diagnóstico do médico se dá a partir dos indícios, mas não sobre a fonte da

doença, neste sentido, manifestar-se é o que entendemos por linguagem,

enquanto mostrar-se é o modo pelo o qual o ser mostra-se.

A doença mostra suas formas, de modo obscuro muitas vezes, através

destas manifestações que nos induzem a completá-la no seu mostrar. A

fenomenologia é um método que se constrói a partir dos sinais e não se

encontra pronto e aplicável, permite uma interpretação da historicidade do uso

de conceitos, e seu estado no mundo, evita-se assim, uma abstração

doutrinária categórica e impositiva. Pensemos informação sob a crítica,

analisando sua transformação histórica a partir de seu significado etimológico,

seus usos pelas ciências, e podendo assim, propor outra abordagem a partir de

uma mudança de visão de mundo para com a Informação no movimento

contrário ao esquecimento do ser.

O logos (em grego, λόγος) que torna a Fenomenologia uma ciência dos

fenômenos é analisada por Heidegger na sua origem aristotélica. “O λόγος faz

e deixa ver aquilo sobre o que se discorre e o faz para quem fala (medium) e

para todos aqueles que falam uns com os outros.” (HEIDEGGER, 2009, p. 72).

O logos se dá na comunicação, o fazer e deixar ver remete à verdade ou a

falsidade; de um lado, o verdadeiro, deixa-se ver a coisa como ela é, desvela-

se o ente, des-cobrir o ente, portanto. De outro lado, o falso, en-cobrir é colocar

algo na frente do ente tal qual ele é; uma dissimulação, enfim. O λόγος é este

encontro com a coisa, com a verdade grega, ou mesmo a falsidade; este

movimento do saber, através da comunicação com o mundo é o logos, ou seja,

o fundamento em que pode-se afirmar sobre algo da sua manifestação e

fenômeno. Deriva-se daí o ratio, razão, comumente associado à raiz grega do

λόγος.

71

Voltando à Fenomenologia na sua origem formula-se: “Fenomenologia

diz então [...], deixar e fazer ver por si mesmo aquilo que se mostra, tal como

se mostra a partir de si mesmo.” (HEIDEGGER, 2009, p.74). Sendo assim, esta

frase de Heidegger é o mesmo que diz Husserl, “voltar-se para as coisas elas

mesmas”. Porém, a questão do ser ainda se mostra viva e sem resposta. Onde

está o ser na Fenomenologia? Para o filósofo alemão, somente é possível

haver uma ontologia como fenomenologia. O ser em seu desvelamento se dá

através de uma imersão fenomenológica das suas peculiaridades, sendo que

seu encobrimento, dissimulação, só pode vir à tona quando se considera sua

historicidade, quando se constrói o método a partir do objeto interpretando-o,

daí o caráter hermenêutico da filosofia heideggeriana. As investigações de

Heidegger vão muito além, pois seu intuito é compreender o ser em sua

magnitude e, neste trabalho, nosso intuito limita-se em esboçar a relação entre

ser e a informação com o aspecto fenomenológico de análise, deste modo,

construímos uma ontologia da informação. A exposição sobre a fenomenologia

de Heidegger é importante para clarearmos as intenções da hipótese que virão

no eixo Síntese.

Postulamos neste trabalho a indefinição do conceito de informação. Para

compreendê-lo de outra maneira foi necessário recolocar a questão do que é

informação para “o que é o conceito de informação?”, como já esclarecido.

Heidegger constrói o mesmo pensamento em relação ao ser. O modo como foi

entendido pela filosofia trouxe o seu esquecimento pelo simples definir da

ontologia clássica. Informação é um conceito universal, válido para todos os

humanos, todos que pensam, portanto, que conhecem; e isto os afirma como

tais. A questão do ser vai além da informação, dá base a esta e cria uma

relação do conhecer, informar-se; e do ser na sua complexidade de mostrar-se

claramente a nós.

Heidegger entende a informação como um enquadramento objetivista da

linguagem, reduz a experiência vivente a uma forma analítica de compreensão.

Esse enquadrar exclui o ser como tal, sua manifestação sensorial e de

pensamento. O ser-no-mundo não é considerado pela Teoria da Informação,

que se importa com sinais e aquilo que é quantificável. Heidegger, no entanto,

se referia ao que corresponde a clássica Teoria da Informação de Shannon, ou

seja, uma teoria física, baseada em postulados matemáticos, da informação.

72

Na época do filósofo, esta era a principal teoria, não havia um pensar teórico

da informação de tamanha expressão. A condição histórica da crítica marxista

ao capitalismo e o ascender das grandes guerras pode nos explicar melhor

essa postura crítica, adotada não só por Heidegger, mas também por Walter

Benjamin e a Escola de Frankfurt, a qual este último também o pertencia. A

ciência desconsidera aquilo que foge do seu diâmetro, e é a detentora da

verdade. Esse pensamento, instaurado no senso comum, além da própria

comunidade científica, foi diagnosticado pelos pensadores dessa época, como

uma emergência para o deslocar do olhar para o ser. Como o próprio

Heidegger diz:

“(...) the kind of communication which “informs” man uniformly,

that is, gives him the form in which he is fitted into the technological-

calculative universe and gradually abandons ‘natural language’...

Information theory conceives of the natural aspect of language as a

lack of formalization” (HEIDEGGER, 1971, p.132, apud, DAY, 2001).22

Ainda adotamos a postura da Teoria da Informação? Desconsideramos

o sentido, a narração, o fenômeno, a ação, o humano? O que Heidegger

aponta é uma necessidade de superação da visão objetivadora da ciência. É

um diagnóstico, e como tal, um alerta. A Ciência da Informação tem o seu

dever social de pensar além da teoria de sinais de Shannon. Informação é

além, e é possível conceber “informação”, informar-se, pelo ponto de vista

ontológico, considerando a ação e o fenômeno. A própria etimologia da palavra

não impede de pensarmos a partir dessa concepção. É o que sustentamos na

hipótese deste trabalho.

Pelo seu caráter amplo de significações e modificações semânticas pela

história, o conceito de informação nos permite uma interpretação ontológica

viável e transformadora para a ciência que o estuda. Portanto, caracterizamos

informação como um conceito ontológico, metafísico (transfísico), que vai além

da interpretação teorética matemática da informação. A multiplicidade de

22 DAY, R. The modern invention of information: discourse, history and power. Carbondale: Southern Illinois University Press, 2001.

73

acepções nos mostra que o conceito de informação é intangível e incompleto.

Todas as concepções são parcialmente válidas como num caleidoscópio, e

contrariamente são passíveis de antinomias (vide Kant). Funde-se aqui um jogo

de tese e antítese contínuo nas teorias diversas e definições de informação,

sendo que nenhuma delas consegue atingir um consenso, são rasas,

generalistas, universalistas, ou mesmo extremamente particulares em sua

acepção. Porém, o que as caracteriza em sua grande parte é o esquecimento

do ser, uma negação às questões ontológicas.

O problema desse quadro não está somente nas próprias concepções,

mas sim na própria natureza do conceito. Este, portanto, metafísico e imune de

qualquer objetivação. O não-consenso das teorias da informação é somente

um sinal da sua natureza semântica. A definição de informação é um pseudo-

problema e uma postura crítica, ambientada nas questões contemporâneas, e

na visão de mundo adotada é um caminho para reverter esse entrave. A crítica

propõe o movimento e o abalar das posturas ideológicas, com o debate de

outras ideologias e a sugestão de novas. Deste modo, podemos reconhecer as

fendas ocultas do autoritarismo científico, respaldado pela ideologia, interesses

governamentais, no impassível caminhar da história.

Informação e pensamento.

A relação entre informação e pensamento é essencial para entendermos

o conceito de informação. Na representação de ambos, ou manifestação, existe

a identidade entre informação e pensamento no sentido de haver uma

possibilidade de forma inteligível, no significar de algo perante um indivíduo e

esta significação referente ao mundo em que o sujeito existe como tal, na sua

língua, cultura, visão de mundo e expressa em sua subjetividade. Todavia, o

pensar vai além, seu mistério é abissal e é condição de existência para todo

homem. Todo homem é pensador e este pensar não é somente atualizado em

representações, formas. Não há semântica, sintaxe, um sistema harmônico ou

algo derivado, há a essência do ser, a querência do saber, a inquietude do

perguntar-se, a imaginação e essa condição cria o momento das

representações, a formação dos sistemas que nos fazem enxergar o outro e

nos faz humanos. O pensar nos faz essência de nós mesmos; é o que nos

74

diferencia dos outros seres. Somos ser e também nos questionamos, portanto

somos humanos, somos ser-aí, ser-no-mundo; e justamente nesse ponto

encontramos a identidade entre o informar-se e o pensamento, a

representação, a práxis do pensar, onde este se faz em movimento e no

processo se externaliza ao outro. Informar é conhecer e necessita

essencialmente de um pensar, de um tino questionador, da Alethéia, o pavor

perante o desconhecido que nos impulsiona a formar algo no espírito e assim

permitir saciar sua fome, e também continuar a tê-la permitindo o movimento.

Alétheia é traduzida por Heidegger como desvelamento (em alemão,

Unverborgenheit), como o movimento de retirar o véu de algo e descobrir o que

está velado, dissimulado. Esse movimento não é a verdade, mas a ação que

conduz a tal. Baseado nas leituras de Aristóteles, Platão e nos ditos “pré-

socráticos” (Heráclito, Parmênides), Heidegger atinge a reflexão etimológica

sobre o Alethéia onde compara com um círculo a partir de um fragmento de

Parmênides (HEIDEGGER, 1983), pois cada ponto, começo e fim se coincidem

e deste modo é impossível qualquer desvio, deformação ou velamento; vem à

tona a clareza. A representação etimológica de Alétheia deriva de Léthe que

significa ocultar, velar, e a sua negação A-létheia é o próprio desvelar.

Conhecer e desconhecer estão, portanto, na mesma palavra. A ação de

conhecer, de desvelar, questionando-se frente ao oculto (léthe) realiza o

clareamento do ser.

“Alétheia é o próprio enigma, a questão do pensamento. [...]

não poderia dar-se um desvelamento em si, que desvelamento é

sempre desvelamento ‘para alguém’. E com isto estaria provada a

sua subjetivação” (HEIDEGGER, 1983, p. 212,13).

Esta subjetivação é a experiência do pensamento que se dá na

particularidade existencial de cada um, nisto criamos a heterogeneidade do

pensar e a inevitabilidade da diferença. Existir é estar na diferença, ser a

diferença e estar dis-posto a esta. O desvelar de cada indivíduo não é um

processo fechado em si. Dizer “subjetivação” não significa negar objetivação,

muito menos o meio em que existem sujeito e objeto. A subjetivação aqui deve

75

ser compreendida como a experiência23 única de cada um, traduzida pela

linguagem, adaptada pela mundanidade do relato e da narração. O

pensamento como tal é somente concebido àquele que o tem e qualquer

exteriorização deste pensar é uma tradução para a linguagem e se afasta do

seu sentido primeiro. Todo comunicar, falar, informar é uma tradução do

pensamento, uma tentativa de relatar o que se desvela para si. Não há um

conhecer ditado de um para outro, há um desvelar próprio, um informar-se

próprio; pois tal qual o desvelamento que é individual e aberto, o informar-se é

dar forma, tomar forma no espírito, o que nos remete à experiência subjetiva,

isto é, a experiência do espírito só é experienciável para o próprio espírito.

Cada ente é e somente sabe o que é. O pensamento, o questionamento, o

desvelar, conhecer, aprender é inalienável em si, ao mesmo tempo em que

ontologicamente fazem parte do outro, ou seja, é sujeito e objeto na sua

relação, pois o pensamento não é gerado a partir do nada. No sentido que o

ser e sua vivência estão no mundo, também está o pensamento, por

conseguinte. O questionar-se torna a possibilidade de conhecer, de se apelar

ao ente de “ser”, válida. Todo o caminho de questionar-se originário do Arkhé

grego, do espanto perante o mundo desconhecido, é atualizado como

fenômeno e se realiza como processo.

O informar-se corresponde à questão, o páthos (πάθος), a linguagem e

o meio em que esse páthos se mostra, assim como o éthos ήθος, à

subjetividade experienciável de cada ser traduzida numa linguagem. Essa

disposição ao encontro da correspondência é o processo da qual se atualiza a

informação. O desvelamento e o informar se complementam, relacionam-se

como ser-no-mundo. Cada ser presente se faz no movimento do existir,

pensando, questionando-se, e informando-se. Como vimos no capítulo anterior,

informar-se remete (pronome reflexivo) “a si”, aquilo que age e atinge a si

mesmo. Mas uma pergunta surge, atinge a si derivando-se de onde? O

informar está em relação com o mundo, o ser e o ente. Quando nos

informamos, a forma se dá em nós, porém não se fecha em uma redoma em

nossa consciência ou subconsciência; está em nós em ato, em nossas

opiniões, na linguagem, está culturalmente vivo e formado em nós, por isso o

23 Não confundir com o conceito de experiência do Empirismo Clássico.

76

“informar-se sob um ponto de vista”. É a forma que se dá no espírito, e este o

modifica, dá movimento ao espírito, ao pensamento, e exige o questionar. É

importante usar o pronome nós, no sentido de remeter ao mundo, quando nos

referimos à informação, pois a solidão do cogito não é mais tomada como

verdade. Há de se superar o pensamento isolado do cartesianismo e pensar o

“nós”, ao invés da consciência pura. A experiência viva, ainda que mesclada

com o ser e os outros entes, se dá unicamente em cada um de nós, por isso é

um ponto de vista, ou seja, somente uma posição (dentro da interpretação de

espacialidade que este conceito remete) que tem sua unidade de

posicionamento e não de completude, pois um ponto se dá num espaço, e este

é mais abrangente, deste modo, o ponto de vista é por si relativo. Todavia, o

pensamento, fundamento desta experiência viva e do humano, é compreendido

como ao mesmo tempo único em cada ser (pode-se dizer de consciência) e

total para o ser (pode-se dizer a existência do Outro).

Existir é compreender, e no pensamento, em que nasce o questionar,

nos fazemos ser. Informar, conhecer, fazer parte do processo do conhecer a si

e ao outro (ser-no-mundo) é questionar-se, não somente como uma dúvida a

ser sanada, mas o próprio informar-se no seu processo de atualização é o

questionar, daí se deriva a sua essência, não presa a um sujeito, nem mesmo

ao objeto, mas na relação entre o ser e o mundo, no fenômeno, na história24.

A Ciência e a Técnica.

A Ciência da Informação nasceu no bojo das ciências modernas, sob o

prestígio da técnica e a mistificação da ciência. Como uma ciência do espírito,

ou ciência humana, a C.I. também deve deter de uma técnica, um saber, uma

epistemologia, baseada em uma ontologia.

“[...] technè não é um conceito do fazer, mas um conceito do

saber. Technè e também técnica querem dizer que qualquer coisa

está posta (gestellt) no manifesto, acessível e disponível, e é dada

enquanto presente à sua posição (Stand).” (HEIDEGGER, 1995, p.

22).

24 Deve-se entender história dentro da historicidade experimentável do ser.

77

A partir do conceito de saber, a technè exige um desenvolvimento deste

saber, sistematizado e aplicável; há então a ciência como correspondente à

técnica, que constrói numa relação complementar à expansão do conceito de

saber, para um fazer, uma utilidade. O saber desta técnica (ciência), sua

aplicabilidade e possibilidades de expressão são co-determinantes no

conhecer. Heidegger se dirige às ciências naturais, pela objetividade com que

as ciências do cálculo vislumbram a realidade e o seu objeto de estudo, e

também às ciências do espírito, pelo modo como entendem a história do

homem como objeto de estudo, sendo mais complicado retratarmos a

objetividade destas ciências do espírito, ou mesmo como trata a história pelo

ponto de vista científico25.

A ciência moderna se baseia em resultados, pesquisas sob o molde de

um projeto de procedimentos que miram a objetividade para a exploração da

natureza. O rigor e os procedimentos técnicos de exploração configuram o

projeto científico e nesse sentido a natureza se rende, é tomada sob a visão

científica, e por ela dominada e transformada. Tomemos o conceito de

Natureza de modo distinto dos românticos. O sentido aqui tomado é de uma

natureza em que o Homem também faz parte, influencia na sua decorrência

histórica e principalmente no seu ser. A crítica de Heidegger à técnica e à

ciência moderna (há uma clara distinção na obra de Heidegger entre a ciência

antiga aristotélica e a moderna) pode recorrer a opiniões de demonização da

ciência e um niilismo anacrônico, porém o filósofo em vez de diagnosticar a

situação moderna com fatalismos situa o ser diante da técnica, fazendo-o

refletir sobre a interferência do pensar científico em sua própria vida.

Para se pensar a própria ciência deve-se levar as questões numa

proximidade maior ao ser, retirando as questões do seu isolamento metódico e

metrificado. Eis então a necessidade da mudança do modo científico ainda

persistente, o moderno. Dentro das duras estruturas desta ciência com

resquícios positivistas e behavioristas, fomentado pela experimentação e a

exploração sob o respaldo do rigor não se pode pensar no questionamento do

ser, na historicidade e numa efetiva transformação social e de pensamento. A

25 Cf. HEIDEGGER, 2009, § 76.

78

técnica não é simplesmente um instrumento que está dis-posto para o homem,

assim, Heidegger entende technè como uma destinação da história do ser, que

faz parte da sua própria essência. Estamos na idade da ciência, um ápice da

técnica na historicidade do ser que configura o homem em sua existência. O

questionar sobre a técnica e a relação do ser-no-mundo na existência da

ciência como uma diretriz, principalmente, na vida social associam-se a

urgências de uma ciência já nascida interdisciplinar, tal qual a Ciência da

Informação que recusa uma epistemologia pensada nos antigos formatos da

ciência moderna, mesmo com a insistência de tal projeto. Pensar informação é

pensar aquele que se informa e detém esse direito, como cidadão e como ser,

este último por sua vez compreendido na sua historicidade e cultura.

Qual a similaridade conceitual entre a pergunta “Que dia é hoje?”,

seguida, então, da resposta “Sexta-feira”; e a constatação de que um quadrado

tem quatro lados? Para uma resposta objetivista, estes são o mesmo, isto é, se

sanam a necessidade de informação do “usuário” ambos informam. Se a

pergunta “Que dia é hoje?” fosse feita séculos antes do calendário justiniano,

qual seria a resposta? Haveria tal? Aqui se instaura a fragmentação deste

conceito com uma incoerência de fundamento e ausente de temporalidade e

historicidade, limitando-se ao enunciado. A inferência de que informar-se detém

a mesma definição através do tempo é falacioso e nega-se a historicidade e

seu fator cultural. Esses dois pontos formam o pensar ontológico da

informação. Antes da resposta, veritas universal do conceito de informação, há

que se aproximar primeiramente do questionar-se desse termo, em busca do

desvelar na sua historicidade e complexidade de existência.

Heidegger refere-se à ciência moderna na sua essência no Gestell, que

pode ser traduzido como esqueleto, ou armação. Stell, em alemão, significa

pôr, e a ciência põe-se à frente da natureza, moldando-a numa armação

objetivadora, como o próprio Heidegger afirma, “a física [...] nunca pode

renunciar a uma coisa: que a natureza se anuncie em algum modo asseverado,

calculado, e permaneça possível de ser requerida como um sistema de

informações.” (HEIDEGGER, 2007, p. 387). Informação neste texto do filósofo

é atribuída, como explicamos acima, no sentido calculável, como informação

objetiva, precisa, dados e registros com somente uma via de interpretação, a

das regras da ciência exata. No ápice da física moderna (este texto de

79

Heidegger data de novembro de 1953) o conceito de informação era abordado

principalmente pelas ciências exatas (vide Teoria da Informação, Teoria

Matemática da Comunicação de Shannon, ou TMC, de 1948).

A partir desta crítica de Heidegger podemos refletir no eixo Tese deste

trabalho e nos paradigmas que sustentam-se as ciências exatas, mesmo

abordando um foco humano, social. Há uma transposição de visão de mundo,

ou mesmo uma reprodução desta visão objetivadora que arma (Gestell) o

conceito de informação como algo passível de objetivação e manipulável.

Pensar a técnica tendo em vista o ser e o desvelamento a partir das questões

no caminho para a sua essência (isto é, sua decorrência, vivência, seu

desdobrar perante a existência) nos aproxima do reconhecimento do ser, do

descobrimento de nós mesmos como seres históricos e culturais. O olhar

objetivo limita-se a requerer a objetividade da natureza, sendo que somos parte

desta natureza, porém além do objetivado; e é nesta essência que se

desdobra, desvela, se faz atualizada, que reside a complexidade da cultura, da

história e seu caráter substancialmente não-objetável. Há de se pensar a

informação, e conjuntamente a ciência, tendo em vista o ser e sua essência. A

profunda crítica carregada de questões existenciais de Heidegger nos põe

numa posição não somente limitada ao viver, à economia e à cultura, mas

também a quem somos de fato e o que fizemos com a pergunta essencial:

quem somos nós?

Informação é essencialmente o questionar-se. Todo ato de informar-se

remete a uma questão, não se informa sem uma dúvida. É uma busca

particular incutida nos mistérios da mente e do pensar, do ser, portanto.

Informação é antes uma característica existencial, ontológica. Pensar a

informação é debruçar-se sobre o questionar-se, tendo em vista o ôntico, o

histórico, a cultura e o tempo. A essência do informar-se está em cada ente

que transcende no seu ser, de modo que o conceito de ser-aí (HEIDEGGER,

2009) está além do informar-se26, é antes o fundamento deste; portanto, pensar

informação é um pensar de geração, pelo espírito de um tempo. Pensa-se em

educação, o educar de uma sociedade, sua história e cultura. O nosso tempo

deve sempre perguntar-se da essência do saber do informar-se na sua cultura,

26 Questionamento: ou podemos considerar que o informar-se vai além, tal qual o ser-aí? Ter uma dúvida sanada, satisfazer a necessidade do saber é existir?

80

pois a nossa busca pela essência varia, nos diferenciamos, pelo tempo. O

mundo é descoberto, assim como descobrimos a nós mesmos criando

identidade na diferença, dialeticamente. Informação nos remete à relação de

diferença e identidade, portanto, a cultura.

Não há como se pensar informação sem essas considerações, deste

modo, a ciência como entendida hoje é incapaz de objetivar o conceito de

cultura, generalizar dedutivamente com fórmulas e métodos. Através do

questionar sobre a própria ciência, sua relação com o mundo, considerando a

técnica, o conhecimento e o sentido de existir (ser-no-mundo), construímos a

sua epistemologia de acordo com a urgência do ser, do pensamento e da

questão, do direito a informar-se, em uma necessidade ética de uma ciência

que reflita e crie soluções para as questões informacionais (o acesso, as

tecnologias, o confronto de ideias, a crítica e a transformação) numa

sociedade. Se refletirmos sobre informação no Brasil, o faremos considerando

como o brasileiro se informa, e que difere do americano, ou de um imigrante

latino que mora na Europa, etc. Cada ente carrega em si sua história, cultura,

seu tempo. Desconsiderar esses fatos, as peculiaridades de cada nação e

daqueles que a compõem é distanciar-se do ser, justamente o que Heidegger

critica em sua obra Ser e Tempo, o esquecimento do ser.

Está em voga a opinião de que estamos em uma Sociedade da

Informação, a Era da Informação. Mas como se dá esta informação? O que

entendemos por sociedade hoje? O advento tecnológico das redes, da nova

mídia, da Internet trouxe essa discussão à tona e conjuntamente uma definição

obscura do que entende-se por sociedade. Quem está inserido nesta

sociedade, quem pertence a ela? A internet está para todos? Ainda existem

países sem luz elétrica, outras civilizações ainda vivem em culturas antigas

comparadas a ocidental. Eis a sociedade do consumo, pós-moderna, pós-

humana, etc. Inúmeros termos e chavões são utilizados com supostos

fundamentos teóricos ainda muito nublados e controversos. Porém, o que se

abstém é o questionamento desta sociedade em sua essência, e

consequentemente de nós mesmos. O ser ainda esquecido é omitido pela

teoria, baseada em fundamentações exatas e conceitos arbitrários. O

questionar aparentemente cessa com as afirmações empíricas de analistas e

cientistas. Onde está o ser, o homem comum nesta sociedade? Em que ponto

81

pode-se pensar a Internet como um estágio tecnológico de avanço humano? A

informação teve somente seu ápice nesta era contemporânea? Nota-se que a

origem etimológica do conceito transformou-se.

Como visto no capítulo 3.1, informação remete a “formar no espírito”; e

se nos debruçarmos sobre o caminho histórico do conceito vemos que houve

um distanciamento deste “formar no espírito”, consequentemente, um

distanciamento ontológico. O ser fora esquecido pela técnica e pelo seu

caminho trilhado na história que nos leva aos dias de hoje como uma crise do

ser. Heidegger refere-se ao distanciamento da experiência da palavra quando

ela teoricamente surge e nasce, atrelada a uma língua originária; e o

contraponto do seu uso em diferentes épocas e outras línguas, ou seja, a

tradução e a mutabilidade do uso das palavras e seus significados. Os

conceitos são herdados, portanto, da sua origem etimológica e dispostos

perante o tempo e a língua viva, daí a inevitabilidade de acontecer um uso

inadequado entre nossas palavras e nossas experiências, o que levou

Heidegger a crer no esquecimento do ser frente à tecnologia moderna

(HEIDEGGER, 2002). O retorno ao ser reclama uma visão de mundo

ontológica perante o conceito de informação, é justamente o fundamento

essencial deste trabalho, pois deste modo, podemos pensar não somente o

conceito na sua abstrata concepção, mas também, na sua atualização perante

a sociedade, até então definida como “da Informação”.

Onde estamos nesta sociedade? E para onde estamos indo? A Ciência

da Informação é requisitada para pensar essas questões, fomentar o

questionar não isoladamente, mas perante as outras ciências, a academia e a

política das nações. Pensar na existência de uma Ciência da Informação é

questionar um novo modo de se fazer ciência e de se refletir a sociedade, o

agir de cada ente, e principalmente, retirar o véu sobre o ser colocado pelo dito

“avanço” tecnológico e científico. O tempo, em outras palavras, a

temporalidade do ser, urge por um novo meio de se compreender a nós

mesmos, na sociedade, na política, na vida daqueles que detém o direto de

informar-se, pois ainda há um espírito, e, portanto, ainda há um questionar.

Através destes pontos de crítica tecidos nesta Antítese, podemos nortear

um outro pensamento perante o conceito de informação, e imediatamente

vemos que as questões somente multiplicam-se. A complexidade de se pensar

82

informação cria caminhos para questioná-la de diversas maneiras. Esta

Antítese formatou-se como a crisis nos eixos teóricos da Ciência da

Informação, a fim de gerar mais questões perante o ser que informa-se. Não se

definiu informação, porque ainda não se determinou um fim ao conceito. A

discussão não se basta e a intenção ainda é, sobretudo, questionar e identificar

as crisis da Ciência da Informação e sua relação com seu ob-jeto de estudo.

Neste momento tomaremos uma posição crítica perante a prática deste

pensamento antitético, para deste modo, surgir a Síntese que irá clarear os

caminhos que percorremos durante esse constante questionar.

Síntese

Cap. 5 – O problema interdisciplinar e considerações para uma

construção epistemológica da C.I.

É possível pensar a informação pelo ponto de vista da sensação (visão

objetiva), da imagem e da memória? Essas três categorias formam a definição

de ciência para Aristóteles, e aqui nasce o pensar científico com o genótipo de

objetividade, pois trabalha com a sensação engendrada pela memória, a

experiência. Neste ponto temos o retorno ao pensamento de potência e ato e o

conceito aristotélico de ciência, “É preciso, para que a ciência se realize em

ato, que uma nova faculdade intervenha, a inteligência, nous.” (BERGSON,

2005, p.128). A inteligência, a faculdade de conhecer, a intuição, guia e

estrutura, através da linguagem, uma epistemologia, um método de pensar, de

se fazer ciência, objetiva. A partir disso podemos pensar criticamente se é

possível haver uma Ciência da Informação, na sua concepção originária, já que

o conceito de informação é intangível, ao contrário do conceito das ciências

naturais. Informação é um conceito peculiar que não se deixa definir, que

escorrega das mãos objetivas da ciência como uma enguia. Assim se faz

necessário pensar filosoficamente sobre a informação, que nos parece mais

concernente à ontologia do que à objetividade da experimentação.

A historicidade do conceito de informação brilha no olhar filosófico como

uma maneira mais clara de se tratar o peculiar conceito. Sua origem

etimológica se mantém, mas as interpretações do conceito se modificam, daí a

importância da historicidade, pois esta nos abrange os pontos de vista das

83

razões modificadoras do conceito. É necessário um olhar aguçado no

movimento do conceito através de interesses políticos, de ideologias,

utilizações, apropriações, etc.

A Ciência da Informação, para não cair no paradoxo do seu próprio

objeto de estudo, que não se configura nem mesmo etimologicamente como

objetivável, deve não usurpar conceitos, ou arbitrariamente emprestar de

outras disciplinas definições reducionistas, cercadas por ideologias unilaterais;

mas sim pensar seu conceito filosoficamente como a base do fazer social, a

atualização do informar-se numa sociedade, e a partir disto considerar a ética,

as estruturas, o desenvolvimento, os direitos e deveres, a cultura, a questão

política, e uma gama extensa de questões e problemas que justificam a

existência de uma ciência social, e claramente a esta categoria pertence a

Ciência da Informação.

As Ciências do Espírito que se concentram nas questões humanas e

suas peculiaridades em relação à cultura, o homem no mundo, para tanto,

devem basear-se em filosofia para analisar seus conceitos e refletir sobre o

aspecto qualitativo, não propondo posições fechadas em si, exatas e aplicáveis

a uma só particularidade. As particularidades são analisadas e possivelmente

solucionadas com teorias que se baseiam em diversas áreas de atenção,

criando questões, propondo caminhos, considerando as contingências, a

historicidade, sem a meta de quantificar e simplificar esses problemas com

soluções imediatas. Pensar o ser como ponto de partida, buscar na ontologia

esclarecimentos sobre problemas práticos, vivenciais, nos abre uma gama de

propostas muito maiores e participativas, um diálogo científico, deste modo,

interdisciplinar.

A interdisciplinaridade deve ser compreendida a partir do momento

histórico considerado, e também a partir dos meios de produção em que se

encontra a C.I. Inter significa entre, isto é, um diálogo entre disciplinas; como

há também teorizações acerca de transdisciplinariadade, e outras variações,

que muitas vezes condenam o conceito de interdisciplinaridade a uma limitação

etimológica. A grande questão é tomar a interdisciplinaridade como proposta de

uma relação entre as disciplinas, e através de uma epistemologia

interdisciplinar, pensar a prática científica. A ideologia e interesses das

universidades, da indústria e dos governos influenciam diretamente no pensar

84

epistemológico de qualquer ciência. A especialização crescente é um fato

agravante neste momento histórico que vivenciamos.

A C.I. pode-se ser categorizada como uma especialização? Uma Ciência

geral, ou especializada? Informação abrange diversas áreas e o termo

“organização” é de interesse a todas as ciências, pois a comunicação científica,

os saberes desses cientistas, os documentos, publicações, todas as ações de

uma ciência devem estar organizados com fluência para que aja uma

efetivação no seu intuito de pesquisa e investigação. A ciência é um sistema e

sua funcionalidade está posta numa ordenação, em uma forma de governança,

uma realidade geopolítica, um entremeio de ideologias conflitantes. O cenário é

complexo, que exige uma discussão mais apurada, mais extensa.

Interdisciplinaridade é também criticada como modismo, um assunto

fragmentado, nebuloso em suas intenções e praticidade, mas apesar das

opiniões e críticas, é vista a insuficiência das ciências estanques tratadas pelo

método positivista, frente à realidade de ciências instrumentalizadas, moldadas

ante uma racionalidade operatória que responde subjugada às metas

financeiras do mercado empresarial investidor. Este diagnóstico é mais claro

quando nos referimos às ciências exatas, tecnológicas, que garantem avanços

e patentes para a indústria; fato que se complica quando nos referimos às

ciências do espírito, ou sociais. Nesse sentido, a C.I. é revelada como uma

ciência nova inserida inevitavelmente no meio profissionalizante e

instrumentalizador, além de estar nos moldes políticos e ideológicos das

universidades que acompanham com relativo atraso as necessidades sociais e

os imbróglios trazidos com a história. Como dito no eixo inicial deste trabalho

(eixo Tese), a C.I. é uma ciência já nascida interdisciplinar, justamente pelo seu

objeto de investigação. Informação permeia todas as ciências, sejam exatas,

sejam do espírito, seja na educação ou na política governamental. Nada leva a

crer que pensar informação é possível fechando-se numa redoma positivista e

estaque em métodos analíticos e numeráveis, muito menos com linguagens

técnicas que visam resolver as questões práticas e pontuais somente. A

Ciência da Informação deve pensar sobre seu objeto historicamente, pensá-lo

em conjunto a uma ética e tomando como problema essencial, o ser, ou seja,

aquele que se informa e tem o direito de tal.

85

As ciências estão aptas (ideologicamente, ou historicamente) a

dialogarem? E como se dá esse diálogo? Como, em vias protocolais, há de se

fazer, produzir esse diálogo entre cientistas que aparentemente falam

diferentes línguas? Interdisciplinaridade pode ser vista como uma babel de

ciências que pensam um ponto em comum? E se pensam nesse ponto em

comum, os interesses são os mesmos? Ingenuidade seria pensar numa

harmonia de pensamentos e teorias, principalmente de visões de mundo, assim

como (FLORIDI, 2002) toca em um ponto incômodo para as estruturas

acadêmicas e sua política, muitas vezes violenta e segregatória, onde dá o

nome de Scholasticism, que em uma livre tradução remete à Escolasticismo,

ou Academicismo, porém o sentido atribuído por Floridi vai além,

“Scholasticism understood as an intellectual typology rather

than a scholarly category, represents the inborn inertia of a

conceptual system, when not its rampant resistance to innovation. It is

institucionalized philosophy at its worst.” (FLORIDI, 2002, p.127).

O autor refere-se à filosofia e a profissionalizarão desta área do

conhecimento, além da especialização dos experts que se denominam pelo

sufixo “-anos”, os Nietzschenianos, os Kantianos, Hegelianos, etc; e por

situarem-se fechados em seus feudos intelectuais e doutrinas impedem

diálogos mais frutíferos com outras áreas do saber e na própria filosofia

catedrática. O mesmo se aplica às ciências, também vítimas das

especializações e valorização instrumental de uma área científica. O criticismo

e o auto-escrutínio não aderem ao discurso do Scholasticism, este por sua vez,

limita-se no senso intelectual de interesses sedimentados pela política

acadêmica, e por essa razão, a crítica gera conflitos nas discussões

metateóricas. Como diz Floridi, “[...] innovation is always possible, but

scholasticism is historically inevitable.” (FLORIDI, 2002, p. 128), ou seja, ter em

mente como sucedem os movimentos políticos do antro acadêmico nos

esclarece ainda mais a situação epistemológica da C.I., juntamente com as

teorias e linhas de pesquisa derivadas de vários países, e suas correlatas

ideologias e conflitos políticos e históricos.

86

Dialogar resoluções para problemas complexos da sociedade não se dá

de forma harmoniosa, o conflito é iminente. Mas será mesmo que a

universidade e a ciência estão convergindo suas pesquisas para os problemas

sociais? Aqui instaura-se uma crítica à estrutura da universidade e da ciência

juntamente com o contexto histórico pautado em interesses que geralmente

não priorizam os problemas estruturais da sociedade. O estado, os

partidarismos, todos os entraves políticos e ideológicos pautam a existência e a

moção das universidades, da ciência e do mercado, cuja influência no

nascimento e no desenvolvimento de toda ciência é determinante. Isto posto,

uma Ciência da Informação brasileira é necessária, pautada em suas

particularidades políticas, legais, sociais e principalmente culturais. Como uma

ciência social, a C.I. deve pensar nos problemas sociais, é o seu dever ético

para com a sociedade que sustenta e promove a estrutura das universidades,

suas pesquisas e ensino. Mas, além de tudo, há interesse por parte da

universidade em cumprir esse dever ético? O mercado é uma realidade, não

podemos aqui ignorar sua forte influência nas pesquisas e no direcionamento

de interesses da universidade. Existem problemas na sociedade brasileira de

difícil resolução, pois necessitam de um planejamento a longo prazo, um

diálogo mais efetivo com a situação política do país, entre outros entraves.

Estes problemas são claros, estão na educação, no sistema político, no acesso

às tecnologias, no sistema público de saúde, na burocracia, nas universidades,

na administração de municípios e cidades, na cultura e seu incentivo, etc.

Uma questão surge na urgência desses problemas: O que a Ciência da

Informação pode propor, ou contribuir perante tantos imbróglios? Sozinha, com

certeza pouco ou nada, e até podemos estender a pergunta para outras

ciências. Um fazer científico restrito a áreas do conhecimento que se isolam em

suas pesquisas protocoladas, trabalhos de praxe, uma acomodação

reprodutora de publicações que se traduzem em números e classificações nas

organizações de fomento à pesquisa são mais problemas para aquela que

deveria buscar soluções para outros problemas essenciais. A ciência não está

isolada, neutra; uma discussão política e ética é necessária em todas as

instâncias científicas. Quando pensamos em uma epistemologia para a C.I.

estamos nos referindo ao método pelo qual há de se construir uma ciência que

lida com informação, questiona informação na sociedade e propõe novos

87

caminhos para se desobstruir os entraves sociais, que obviamente não surgem

naturalmente; são resultados históricos, conseqüências de ações políticas, de

interesses estatais, partidários, como cansadamente repetimos. Percebemos

que a discussão se amplia para um discurso politizado, portanto crítico, frente à

complexidade de se pensar informação, e a C.I. que pretende estudá-la e

pesquisá-la.

Surge outra pergunta: Mas, para quem? Quem tem interesse nessa

Ciência da Informação? Pensar e pesquisar informação interessa a quem?

Primeiramente temos o mercado, as organizações corporativas e os governos,

já que informação remete a todo saber que permeia uma corporação, suas

intenções, seus documentos, sua história. Organizar, ter maior controle sobre o

que a própria corporação produz é uma estratégia de mercado. Avanços e

otimizações são possíveis com um nível organizacional alto de documentos,

das técnicas, etc. O próprio termo em voga, Sociedade da Informação, remete

um interesse claro de qualquer instituição privada ou mesmo pública, já que

toda organização necessita saber como se dão os processos para melhorar e

efetivar seu avanço. Neste sentido, há uma instrumentalização da ciência,

crítica já explanada no capítulo anterior com a tese de Heidegger, e novamente

pautamos sua tese principal; o ser-no-mundo, onde está? O cidadão comum,

os moradores de rua, a empregada doméstica, ou o pesquisador de

biogenética e funcionário de uma grande multinacional, assim como o

professor, o médico, a mãe, o idoso, tem interesse a informar-se? Tais quais

aqueles que são excluídos da sociedade, também o são da Sociedade da

Informação? Esta questão toca num ponto crítico e essencialmente ético.

Talvez haja a contrapartida de que a Ciência da Informação não necessite e

não deva considerar todas essas questões para si, com o temor de uma

sobrecarga e perda de foco no seu objeto. Há de se concordar em primeira

vista com tal objeção, porém o objeto desta ciência, inevitavelmente, exige ser

compreendido expansivamente, em um aprofundamento substancial e nega

qualquer negligência a esses problemas, pois quando consideramos

informação, estamos perante aquele que conhece e que se informa, ou seja, o

Homem. Omitir tal fato corresponde ao mesmo que destituir o conceito de

Informação de sua essência. Torna-se um conceito vazio, um manto que toma

forma do lugar qualquer que o colocamos.

88

Não pretendemos polarizar a sociedade entre os mercados e governos,

ou o privado e o público. É fato que estão todos na mesma categoria geral; ali

existem pessoas, e são a sociedade, portanto. Mas os interesses e objetivos,

até a percepção da possibilidade de interesse à informação por parte de alguns

é um debate importante e inegável. O controle informacional é um interesse

estratégico, militar, político. Os EUA dominam tecnológica e estruturalmente

este meio, sendo não facilmente refutável a tese de que Vannevar Bush,

diretamente envolvido com o avanço científico militar dos Estados Unidos na

Guerra Fria, se preocupava com a informação científica para uso e controle

militar e governamental. Como a C.I. deve se posicionar perante tal cenário?

Ignorar somente e confundir-se na sua identidade como uma ciência

documentária restrita ao instrumentalizável? Nem mesmo a documentação

pode ignorar aquele que produz os documentos. Documentos derivam de

ações, e estas não são neutras, há de se considerar o ponto de vista ideológico

da criação de documentos e também de seu acesso e método de organização.

Podemos pensar numa construção não só epistemológica, mas também

histórica e crítica de um novo fazer científico, que nega o atual, como antítese,

propondo assim uma interdisciplinaridade efetiva, um diálogo prático entre

outras ciências que se interessem e sejam importantes para se pensar

informação no Brasil e no mundo, em uma interdisciplinaridade conceituada

como algo prático e histórico. Não somente uma instância legal, ou

epistemológica limitada na formalidade do conceito, que falseia o suposto

diálogo entre ciências. Deve haver antes uma proposta geral e uma aceitação

deste diálogo entre a universidade e suas áreas de pesquisa. Esse consenso

de intervenção dialógica é o primeiro passo para uma efetivação entre ciências

que consentem a importância de pensar a informação e trocar saberes para

realizá-los na prática cotidiana, sendo também um passo antropológico.

Primeiramente, pensar a Ciência da Informação não como uma ciência

única que empresta conceitos descontextualizados e postos a radical

simplificação, o que gera teses falhas e incipientes, mas como uma ciência

articuladora interdisciplinar. Articular deriva de unir, juntar, ligar uma coisa a

outra (BUENO, 1963, p. 364), e nesse sentido a informação pelo ponto de vista

de uma nova ciência deve contar com a possibilidade de criar um contato entre

as principais áreas de estudo e pesquisa, a saber:

89

- a educação;

- a tecnologia;

- e a cultura.

Nestes três principais eixos articulados (educação, tecnologia e cultura)

podemos formular uma C.I. que pensa informação além de um simples objeto

de pesquisa básica, a partir da visão de mundo que considera sujeito

cognoscente e o objeto relacional passível de conhecimento, portanto in-

formação, integrados e não isolados. Primeiramente estes três eixos estão

diretamente relacionados e se complementam. Os problemas em educação

são diversos e urgentes, pois pela educação é possível pensarmos e

discutirmos o acesso à informação, não somente restrita a um conceito de

informar, mas além na sua práxis, no transformar. A informação pública,

importante para o cidadão, a capacidade de interpretação dessas informações,

o senso crítico, e também o agir ético são as principais questões da educação.

A tecnologia que traz outras possibilidades de aprendizado, comunicação e

expressão, incluindo a Internet como revolução comunicacional. A cultura,

ponto de importância ontológica, pois a partir desta podemos refletir e repensar

o ser e a nação desvelando mais profundamente os problemas que existem de

possibilidades de acesso a informação, de ensino, do sistema político, das

artes, criatividade, etc.

Tardou-se o tempo de concretizarmos uma ciência que pense o ser; e

pensar informação é essencial, já que, como postulamos neste trabalho em

essência, pensar a informação é pensar quem se informa, é pensar o ser. As

Ciências da Computação, engenharias, a Matemática, robótica entre outras

ciências tecnológicas muito contribuiriam juntas para a resolução destes vários

e epidêmicos problemas sociais, em um diálogo aberto com as áreas de

educação, pedagogia, sociologia, história, geografia, matemática, física, artes,

licenciaturas, enfim. Todas pensando a cultura como meio e fim, como “espaço

dialógico”. A escolha destes três principais eixos também engloba a

biblioteconomia, a documentação, a arquivística e a museologia com seus

saberes técnicos e históricos onde se pode haver uma contribuição mútua

entre as ciências, da qual não encontra possibilidades de concretização através

90

da visão positivista e da estrutura atual da universidade. É necessária uma

mudança estrutural e de visão de mundo.

A C.I. trataria de estudar articuladamente com essas áreas e identificar

quais contribuições o pensar ontológico da informação pode contribuir para os

problemas sociais e para as demandas do mercado. Não podemos

desconsiderar a existência e a exigência social que o mercado manifesta.

Demonizar o mercado está fora de cogitação, seria uma ingenuidade, ou uma

postura demasiadamente parcial; há de se pensar em um profissional com uma

visão de mundo questionadora, consciente da historicidade, da política, da

ideologia, e principalmente crítico. A C.I. também deve pensar seu ensino de

modo articulado, porém não generalista, mas existente em um foco, e este é o

da informação. Porém pensemos informação articuladamente, compreendendo

cultura, educação e tecnologia, a ponto de identificar as necessidades sociais e

contemporâneas sobre informação a partir deste contexto complexo. O

questionamento e o debate são os fomentadores desse avanço de pesquisas

em informação de modo articulado, em um diálogo aberto e prático, contando

com pesquisas e projetos em conjunto com autores das outras áreas. A partir

desta articulação pode-se remodelar ensino, pesquisa e extensão na C.I.

primeiramente, como o jargão das universidades exalta, todavia de modo

concreto.

Contudo, tal proposta aparenta à primeira vista utópica considerando a

complexidade das ruídas estruturas políticas da universidade e do que é

ciência hoje em grande escala. Logicamente neste trabalho apenas esboçamos

um esforço que deve ser completado em um trabalho maior e mais profundo,

todavia aqui mostramos sua fundamentação tendo em vista a realidade social

do Brasil e o contexto global perante o conceito de informação. As

possibilidades de mudança partem de um questionar contínuo da visão de

mundo e consequentemente, da ação daquele que vivencia com o outro, o ser-

no-mundo. Voltando ao pensamento de Aristóteles que abre este capítulo,

dizemos que é plausível existir uma Ciência da Informação, porque há um

nous, a inteligência que realiza a ciência, porém reformulada, não atada ao

conceito grego, ou moderno de ciência. O objeto é a informação, porém objetar

é abstrair, sendo que essa ação limita o agir da ciência, presa a uma visão de

mundo que não mais acompanha as urgências da civilização atual. Quando

91

questionamos o ser-no-mundo frente ao conceito de informação, um novo fazer

científico é exigido, o que não nega a ciência como conceito primário, mas a

supera, assim como o conceito abstrato de sujeito-objeto. A visão de mundo da

ciência moderna, que separa sujeito e objeto está em vias de superação, e

deste modo não nos limitamos a excluir o ser na sua vivência, na sua

complexidade de existir e as contingências que este está fadado a enfrentar.

Para se pensar a C.I. devemos pensar na transformação de visão de mundo, e

como um determina o outro, para então não apenas reproduzirmos a visão de

mundo da ciência moderna que aparenta sua senilidade perante o tempo.

Tomamos uma posição teórica apontando caminhos e identificando as

rachaduras da ciência moderna frente às urgências da temporalidade e da

sociedade vivenciada, acreditando em uma possibilidade de mudança a partir

de uma superação na concepção de mundo, e o fundamento disto é a crítica e

o questionamento, sobretudo educação, e consequentemente, informação. O

próximo capitulo aprofunda este ponto essencial.

Cap. 6 – Uma outra visão de mundo - A Questão social, cultural e

ética da informação. O questionar na práxis.

Como vimos, a complexidade de conceitos conjuntos e fatores de

contingência que abordam a informação e, sobretudo, o informar-se se amplia

ao ponto em que questionamos mais a natureza e a historicidade do conceito

de informação e da existência da Ciência da Informação. Esta complexidade,

na sua universalidade, é sintetizada a partir da palavra alemã Weltanschauung

deriva de, welt – mundo, e Anschauung - visão, intuição. Geralmente traduzida

por visão de mundo, ou visão da vida, e pode ser interpretada como a nossa

posição no mundo e o modus do nosso agir. (HEIDEGGER, 2002).

Regularmente usada na filosofia, este termo sintetiza o ser-no-mundo, isto é, a

visão de mundo premedita a ação de cada ser, é condicionada pela cultura,

pela temporalidade, pelo pensamento que temos em nossa subjetividade e ao

mesmo tempo, mesclada ao objetivo, ao mundo, às relações que mantemos

em sociedade e a cultura como determinante na formação de cada um. A visão

de mundo da ciência atual encontra-se em uma crise, como dito, juntamente

com o conflito de outras visões emergentes. Esta mudança de visão gera o

conflito, e afirma o diálogo. O que propomos é uma substancial mudança de

92

visão de mundo, para então pensarmos como o agir há de se modificar, tal qual

Heidegger, que relê a famosa frase de Marx, “[...] a transformação do mundo,

[...] exige, antes, que o pensamento se transforme, assim como já se oculta

uma modificação do pensamento atrás da aludida exigência.” (HEIDEGGER,

1983, p. 236).

Heidegger refere-se à provocação de Marx na Ideologia Alemã de 1846,

onde este último critica os filósofos de somente interpretar as maneiras do

mundo, sendo que o importante é transformá-lo. A transformação só é possível

com uma mudança de visão de mundo, uma mudança essencial, ou seja,

profunda e cultural. A C.I. está neste momento de mudança, sob um

capitalismo senil, no avanço tecnológico da Internet e na reestruturação das

formas e possibilidades de comunicação e de conhecimento. A tecnologia é um

fenômeno cultural e a Internet nos mostra como essa cultura age, se atualiza,

se transforma e se movimenta na sociedade. Informação permeia a tecnologia

(technè), a cultura, a sociedade, a ética, a educação e o saber principalmente.

O questionamento, a visão crítica, a ética do diálogo e do convívio com o

diferente devem ser levadas em consideração não somente nas teorias de uma

ciência, mas na sua construção epistemológica, na ação e educação de seus

cientistas e profissionais.

É necessário construir uma prática profissional a partir de um ensino e

pesquisa que não consideram primordialmente aquele que detém o

conhecimento, ou a informação; aquele que a controla, mas aquele que pode

alcançá-la a partir da própria reflexão, da busca conjunta, da consideração do

outro. O pesquisador da informação irá relatar e estudar os problemas sociais

sobre a informação, o acesso, a democratização, o uso de novas tecnologias,

pesquisas com novas mídias direcionadas para o serviço público, a educação;

assim como para o profissional do mercado de trabalho que encontra uma

possibilidade de pensar o contexto político e prático em que o mercado se situa

e nos atinge diretamente. No método de ensino, o professor que supostamente

detém o conhecimento e articula todas as informações em si, cai por terra. Há

um diálogo entre professor e aquele que quer aprender, e não mais o aluno; a-

luminum, o sem luz. Analogicamente tal como o usuário da biblioteca, ou de

uma base de dados, é antes um ser, um indivíduo.

93

A Internet permite um compartilhamento de conhecimentos, uma outra

noção de tempo na comunicação de ideias e projetos. Grandes revoltas estão

acontecendo pelo mundo frente a formas de governos impositivos e não

igualitários graças ao impulsionamento das redes sociais (vide as atualíssimas

revoltas árabes na Tunísia e no Egito), das comunidades de compartilhadores

de arquivos e informações. O estágio de comunicação humano avançou

velozmente, e trouxe crises com esta ferocidade de manifestação. Passamos

por uma crise civilizatória e cultural cuja urgência de se repensar uma Ciência

da Informação, ou mesmo a prática daqueles que a pertencem e articulam-se

por ela, é inexorável. Caso não haja o clarear de um outro modo de se pensar

a Ciência da Informação e sua prática, bem como a relação da sociedade com

o saber e com a informação, portanto, de se questionar uma iminente mudança

de Weltanschauung, a C.I. encontrará sua obsolescência prática e teórica, e se

configurará como uma ciência menor, com uma profunda crise de identidade e

metateórica, limitando-se apenas como uma instrumentalização técnica de uso

e descarte em problemas não estruturais, particulares e pontuais.

Esta síntese propõe o caminho de um novo fazer científico de

transformação que requer um processo conflituoso e complexo perante a

realidade política e econômica, principalmente da situação da ciência no Brasil,

no sentido de investimentos e grau de importância dado pelos governos que

administram este país.

O questionar na práxis se dá na articulação entre as ciências que

pensam informação com suas técnicas e saberes, construindo a partir do

diálogo caminhos e proposições que na sociedade encontram sua efetivação

ou negação. Uma diferente relação com o cidadão comum que freqüenta a

instituição ou sistema de informação revela-se essencial para se entender o

quanto as pessoas potencialmente informam-se e o quanto podem saber. Para

tal, a relação aproximada do cidadão e dos serviços de informação deve tornar-

se mais ativa. Este é o grande desafio no pensar da informação, não somente

trancafiarmos numa redoma teórica e definirmos o que é, sendo que o que está

é velado aos nossos olhos. A ciência não promove a verdade, ou aplica na

sociedade um soro das resoluções de problemas, argumenta o epistemólogo

francês, Gilles Gaston Granger,

94

“Por outro lado, a ciência não se propõe de modo algum

resolver as questões que envolvem escolhas de valor. (...) ela deve

contribuir para nos informar e nos esclarecer a respeito desses

problemas, mas absolutamente não seria capaz de resolvê-los. O

erro mais grave sobre esse ponto consistiria em transformar

conhecimentos positivos cientificamente estabelecidos em preceitos

de escolha e de ação.” (GRANGER, 1994, p. 114).

As contingências (éticas, axiológicas, ontológicas, políticas, culturais,

etc) estão no meandro do ser-no-mundo. A pretensão de método e resolução

se dissolve quando consideramos a historicidade. A proposta de soluções,

portanto, se tratamos de proposta tratamos de diálogo, da ciência para a

sociedade remete a um abrir de portas da universidade e da ciência para o

agir, a práxis que questiona e aponta soluções. A ação social, determinada

pelas contingências do existir em sociedade, é feita na relação entre a ciência,

o saber, a educação, e a sociedade com o direito a informar-se e a

democratização autêntica desta política cultural e pública. Porém a realidade é

outra, os interesses mercadológicos e de governos omitem-se ou dissimulam a

questão quanto a uma democratização da informação. O acesso não é

mecânico somente, é permeado por ideologias conflitantes, e nesta guerra, a

força e o velamento são armas para o falseamento desta democratização. Uma

sociedade questionadora, com uma educação pautada no ser-no-mundo, no

reconhecimento do outro, e na busca do saber além de qualquer

hierarquização ou privilégio apropriador é desinteressante para o governo

partidário e de premiações oligárquicas. A realidade socioeconômica mundial

não é homogênea, porém a necessidade de controle informacional a partir do

Estado hierarquizado é transparente (vide EUA, e o mundo Pós-Guerra),

desvelando assim a importante discussão da informação pública e como a

partir de diversas ideologias pô-la em crítica.

Uma epistemologia da Ciência da Informação pensada sob um viés

crítico e transformador, consolidado a partir de uma mudança de Visão de

Mundo pode contribuir para os primeiros passos a uma sociedade democrática

autenticamente, e promover mudanças pelas ciências em articulação. O

pensamento é social, não isolado. Compartilhar informações e saberes é

também promover o avanço tecnológico em vias democráticas, considerando o

95

direito de informar-se da sociedade e a partir disso transformar. Porém, este

discurso distancia-se da rápida concretude; está, portanto, fadado às

contingências históricas, a aceitação desta geração de pesquisadores e

professores que se situam, em sua maioria, nos regimentos da ciência

moderna e positivista. Apesar deste quadro irregular e dissimulado, ideias

perduram e criam fendas nas visões de mundo daqueles que são afetados por

novas formas de pensamento. O questionar é o embasamento, o caminho e o

modo de se caminhar que tem como meta ir além do que já somos. Aquilo que

nos cerca, ou seja, nós mesmos (considerado como o Outro, lembremos de

Rimbaud), é a principal questão que não se encontra estática, ou absoluta; é

movente e incomensurável, e sua relação com a informação e o saber é mais

outra questão que nos fomenta a dialogar e conduzir energias para uma práxis,

através de uma crise na Weltanschauung. Eis o filosofar, o questionar e o

fomentar de ideias que traz outra luz para o momento que vivemos.

Cap. 7 – Considerações finais – Um novo horizonte na ciência e no

pensamento crítico da Informação. As visões de mundo e a possibilidade

de transformação pelo ser.

Ao ponto que atingimos este estágio do trabalho não é possível traçar

notas conclusivas sobre a complexidade do conceito de Informação. A partir

dos eixos dialéticos percorremos criticamente sobre as principais teorias da C.I.

com o objetivo de retratá-las de modo claro para que a antítese surgisse. A

proposta ontológica desse trabalho deriva de um questionamento sobre a

situação da Ciência da Informação, não somente limitada a sua epistemologia

ainda embrionária, cuja meta é aprofundar-se nos questionamentos, apontar

crises que existem no campo científico, como também no político, social e

ético.

A visão heideggeriana abordada não se estabelece como doutrina, muito

menos a de Aristóteles. Atemos-nos aos questionamentos e visões propostas

por esses filósofos mostrando que uma discussão sobre o conceito de

Informação limitado a definições, é insuficiente perante a possibilidade de

transformações que um pensar científico da informação pode trazer para a

sociedade. Atentar-se a culturalidade da Informação é substancial, assim como

96

a educação, tecnologia, ética, etc. A proposta de formação epistemológica da

C.I. neste trabalho formata-se como uma crítica questionadora, contrariamente

a uma concepção fechada em si, pronta como uma receita médica. A Síntese

aqui apresentada é uma nova tese, ainda considerada hipótese, que necessita

maduração e maior aprofundamento, mas de antemão, este é o primeiro passo

de uma possível transformação fundamentada na ontologia filosófica e no

pensamento crítico para a Ciência da Informação.

O esforço empenhado nesta monografia está em propor caminhos,

levantar questões e debates. A satisfação da meta deste trabalho é alcançada

nestas considerações que apresentam as ideias que permeiam a monografia

de modo a causar no leitor mais questionamentos e um convite à ampliação de

sua visão sobre o conceito de informação, ou mesmo sobre ciência.

O informar é um processo que depende do outro, daquele que ob-jeta o

sujeito e também pode ser sujeito, ou além, é uma ação derivada de um

sujeito. Dar forma ao espírito é o conceito primário de informação que ao ser

retomado, nos apresenta uma nova forma de se desvelar o conceito de

informação, ao ponto de reestruturarmos a nossa visão de mundo como uma

possibilidade de transformação. O transformar está fadado à historicidade do

ser, tais quais as ideias deste trabalho, que enfrenta a realidade da ciência no

Brasil, do sistema político atual e da crise do sistema socioeconômico

capitalista. As ideias são sementes, podem vir a ser, e fadadas à latência,

podem ser germinadas sob o ditar da temporalidade e das contingências.

A ideia de transformação social é relacionada ao saber e neste trabalho

a nossa intenção remete-se a relacionar informação ao saber e, portanto,

transformar. Informar-se é um vir a ser da transformação. E transformar

necessita da crise, da crítica, do questionar, o que nos faz humanos e nos

afirma o ser-no-mundo. Esta é a mudança de Visão de Mundo, que nos permite

explorar outras maneiras de vivência e novas possibilidades de existir mais

próximos de um conceito de humanidade, e não fadados ao esquecimento do

ser, ou um distanciamento dissimulado do que somos de fato. A busca é

incessante e este trabalho representa esta necessidade do questionar e do

conflito crítico, que até então, se mostra como a mais lúcida maneira de atingir

o transformar.

97

“Mas onde há perigo, cresce também a salvação.”

Friedrich Hölderlin

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