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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENFERMAGEM DE RIBEIRÃO PRETO ELTON CARLOS DE ALMEIDA Doação de Órgãos e visão da família sobre atuação dos profissionais neste processo: revisão sistemática da literatura brasileira Ribeirão Preto 2011

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENFERMAGEM DE RIBEIRÃO PRETO

ELTON CARLOS DE ALMEIDA

Doação de Órgãos e visão da família sobre atuação dos profissionais neste processo: revisão sistemática da literatura

brasileira

Ribeirão Preto

2011

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ELTON CARLOS DE ALMEIDA

Doação de Órgãos e visão da família sobre atuação dos profissionais neste processo: revisão sistemática da literatura

brasileira

Ribeirão Preto

2011

Dissertação apresentada à Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo para obtenção do título Mestre em Ciências, Programa de Enfermagem Psiquiátrica. Linha de Pesquisa: Educação em Saúde e Formação de Recursos Humanos Orientadora: Profa. Dra. Sonia Maria Villela Bueno

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Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

FICHA CATALOGRÁFICA

Almeida, Elton Carlos de. Doação de Órgãos e visão da família sobre atuação dos profissionais neste

processo: revisão sistemática da literatura brasileira / Elton Carlos de Almeida; Orientadora Sonia Maria Villela Bueno. – Ribeirão Preto, 2011.

97f.; 30cm Dissertação (Mestrado) apresentada à Escola de Enfermagem de Ribeirão

Preto/USP., 2011. 1. Doação de órgãos. 2. Obtenção de tecidos e órgãos. 3. Doação dirigida de tecido. 4. Família. 5. Atitude do pessoal de saúde. I. Sonia Maria Villela Bueno, II. Título.

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FOLHA DE APROVAÇÃO

ALMEIDA, Elton Carlos de.

Doação de Órgãos e visão da família sobre atuação dos profissionais neste processo: revisão sistemática da literatura brasileira.

Aprovado em ....../ ....../ .........

Banca Examinadora

Prof. Dr.__________________________________________________________________________

Instituição:_________________________________Assinatura:_____________________________

Prof. Dr.__________________________________________________________________________

Instituição:_________________________________Assinatura:_____________________________

Prof. Dr.__________________________________________________________________________

Instituição:_________________________________Assinatura:_____________________________

Dissertação apresentada à Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, para obtenção do título Mestre em Ciências, Programa Enfermagem Psiquiátrica

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A priori a Deus, o qual em sua grandeza me presenteou com duas preciosidades, que deram início e acompanharam toda minha história até o presente momento, refiro-me aos meus pais.

Minha mãe (meu anjo da guarda), que em horas difíceis, as quais não mais conseguia caminhar, ela estava ali, dizendo: Não desista meu guerreiro, pois Deus é contigo. Sempre acreditou nos caminhos que escolhi trilhar. Você é o motivo da minha força e fé neste caminho. Como dizemos um ao outro “você é o ar que eu respiro”.

Ao meu Pai, o qual desde muito cedo me ensinou o valor e a dignidade do trabalho. Ele que, mesmo não conhecendo o caminho que decidi percorrer, nunca me abandonou, e investiu na minha formação com muito esforço. Não estaria concluindo mais esta fase sem o teu companheirismo.

Diante tal trabalho seria incoerente não homenagear grandes homens e mulheres, que acreditaram na vida e que mesmo pós-morte agiram com espírito altruísta e salvaram outras vidas, as quais caminhavam para vale da sombra da morte e aguardavam por um ato de misericórdia. Dedico aos DOADORES de órgãos e seus familiares que passaram por cima de muitos dogmas a favor da vida.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu grande e eterno Deus, pois, sem o qual nada seria ou faria. Posso dizer que, até aqui o Senhor me ajudou, e se o Senhor é por nós, quem será contra nós.

A palavra do Senhor diz que: “O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem”. Assim, por mero idealismo esperamos grandes seres com belas asas. Porém, estão entre nós, e o melhor, é possível vê-los e tocá-los. Diante tais palavras, quero agradecer todo apoio e confiança que recebi da minha orientadora Profa. Dra. Sonia Maria Villela Bueno. Ensinando-me e proporcionando-se muito mais do que ser pesquisador, pois, ensina-me a cada dia, a beleza da solidariedade, do companheirismo, da amizade, da amorosidade, dentre outros. Assim, acredito que, serei mais que pesquisador.

A Profa. Dra. Vanessa Denardi, a qual faz parte da minha história, desde 2005, sendo a primeira pessoa que observou em mim a possibilidade de seguir carreira acadêmica. Minha eterna gratidão.

A Profa. Dra. Luiza Hoga, meu respeito e admiração. Muito obrigado.

Aos Professores que fizeram parte da minha iniciação científica: Prof. Dr. Eduardo José de Almeida Araújo, inesquecível. Profa. Dra. Débora Santana, Profa. Dra. Tereza Rodrigues Vieira, Profa. Dra. Elma Zoboli. Prof. Msc. André Jaques. A todos, muito obrigado pela confiança.

Aos meus irmãos, Edson e Juliana, meus cunhados, Amanda e Odilei e aos meus sobrinhos Carlos Henrique e Davi. E demais familiares.

A todos os amigos que conquistei em Goioerê e em Umuarama. Dentre esses, alguns, por decorrência do destino estiveram mais próximos. Quero mencionar, Daniel Baltazar, Jerry Adriano, Cesar Mendes, Marcia Soares e Família Guimarães.

A todos os amigos que conquistei durante esse ano na EERP. Dentre esses, vale citar a minha amiga Daniella Baragatti, a conheci no dia da entrevista para o mestrado. Assim, como os demais orientandos da Profa. Sonia, que me acolheram. Sabrina, Janaina, Sara, Larissa, Pedro, Gisele, Marília, Camíla, Elaine. Eterna gratidão.

Aos meus amigos da Casa 12. Sandra de Souza, Pamina Roberta, Danielle Bezerra, Gilberto Sabino, Hugo Menezes, Carmen, Patrício, Ana Paula, Douglas, Eliane Ribeiro, Janaina, Greice, Fernando, e os novos moradores, Diógenes e Farhad. Muito obrigado pela paciência.

A Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, pela oportunidade de realização do mestrado.

A todo pessoal da Secretaria do DEPCH e todos da Secretaria da Pós graduação, muito obrigado pela atenção.

A todas as meninas da limpeza que cuidam do nosso ambiente de estudo, assim, como as meninas da cozinha, que sempre estão auxiliando.

E finalizando a todas as pessoas, que direta ou indiretamente me ajudaram para conquistar essa batalha, a qual sou grato a Deus.

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Mensagem de um doador Anônimo

Não chamem o meu falecimento de leito da morte, mas de leito da vida.

Dêem minha visão ao homem que jamais viu o raiar do sol, o rosto de uma criança ou o amor

nos olhos de uma mulher.

Dêem meu coração a uma pessoa cujo coração apenas experimentou dias infindáveis de dor.

Dêem meu sangue ao jovem que foi retirado dos destroços de seu carro, para que ele possa viver para ver os seus netos brincarem.

Dêem os meus rins às pessoas que precisam de uma máquina para viver de semana em

semana.

Retirem meus ossos, cada músculo, cada fibra e nervo do meu corpo e encontrem um meio para fazer uma criança inválida caminhar.

Explorem cada canto do meu cérebro. Retirem minhas células, se necessário, e deixem-nas

crescerem para que, um dia, um menino mudo possa ouvir o gritar em um momento de felicidade ou uma menina surda possa ouvir o barulho da chuva de encontro à sua janela.

Queimem o que restar de mim e espalhem as cinzas ao vento, para ajudarem as flores

brotarem.

Se tiverem que enterrar algo, que sejam meus erros, minhas fraquezas e todo o mal que fiz aos meus semelhantes.

Dêem meus pecados ao diabo. Dêem minha alma a Deus.

Se, por acaso, desejarem lembrar-se de mim, façam-no com ação ou palavra amiga a alguém

que precise de vocês.

Se fizerem tudo o que pedi, estarei vivo para sempre.

Robert N. Test - 1978

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RESUMO

ALMEIDA, E. C. Doação de Órgãos e visão da família sobre atuação dos profissionais neste processo: revisão sistemática da literatura brasileira 2011. 97 f. Dissertação (Mestrado) Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, 2011. A história dos transplantes vem rompendo barreiras e enfrentando desafios embora de forma incipiente, por diversas décadas, conquistando impressionantes resultados, demonstrando a evolução científica e tecnológica aplicada ao setor. Assim, observa-se que, ao longo dos tempos, o número de doações tem aumentado. Porém, não o suficiente para reduzir a lista de espera, cabendo então a reflexão acerca das causas que dificultam esse processo. Diversos são os motivos pelos quais afetam a doação de órgãos, ressaltando-se a recusa dos familiares e a não notificação de possíveis doadores. Assim, vale ressaltar a importância do preparo profissional no que diz respeito à abordagem familiar, momento decisivo para que se possa dar continuidade ao processo de captação de órgãos. Diante do exposto, o estudo tem por objetivo explorar, recolher, organizar, sintetizar e compartilhar visão dos familiares em relação a atuação dos profissionais no processo de doação de órgãos. A metodologia retrata uma revisão sistemática da literatura brasileira sobre o tema central baseando na busca de artigos que demonstrassem resultados de pesquisas realizados no País, entre 2001 e 2011, no portal PubMed e nas bases de dados SCOPUS, CINAHL, EMBASE, Web of Science, Science Direct, LILACS, BDENF. Tal busca guiou-se pela pergunta: Qual a visão dos familiares, que passaram pela abordagem para doação de órgãos, referente à atuação dos profissionais que atuam neste processo? Como resultados dos 265 trabalhos encontrados, foram considerados pertinentes, à temática em apreço, 06 artigos, os quais foram submetidos à leitura criteriosa da metodologia utilizada, dos sujeitos investigados, dos resultados obtidos e das conclusões. As sínteses foram construídas a partir da análise temática dos resultados. Surgiram 03 categorias. Sendo elas: 1) Falta de confiança na atuação profissional; 2) Atuação profissional sem compreensão e acolhimento no momento familiar; 3) Falta de informação pelo profissional. Desta última, emergiram duas subcategorias: 1) Falta de informação pelo profissional à família referente à possível Morte Encefálica; 2) Falta de informação pelo profissional à família referente aos trâmites pós-doação. Consideramos, portanto, que a complexidade de ações que são necessárias no processo de doação de órgãos, foi revelada como burocrático, demorado, desgastante e cansativo, resultando em sofrimento e submetendo tanto a família quanto os profissionais a situações estressantes. Disto depreendemos haver necessidade de maiores investimentos na formação dos profissionais que atuam neste processo, melhorando seu suporte emocional e sua atuação, a qual é considerada incipiente pelos familiares. Descritores: Doação de órgãos, Obtenção de tecidos e órgãos, Doação dirigida de tecido, Família, Atitude do pessoal de saúde.

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ABSTRACT

Almeida EC. Family’s opinion on professionals’ attitude during process of organs donation: a systematic review from Brazilian literature. 2011. 97f. Master thesis, School of Nursing in Ribeirão Preto, University of São Paulo, Brazil, 2011. Transplants’ history are breaking barriers and facing challenges for several decades achieving impressive results. It demonstrates scientific and technological developments applied to this sector. Although an increasing on organs donations have been noted, it is not enough to reduce waiting list. Therefore there is a need for reflection on the causes, which makes this process. There are several reasons that affect organ donation, and shall be emphasized: relatives’ refusal and failure in notifying potential donors. It is also worth highlighting the importance of professional competence in respect of family approach, a decisive moment that gives continuity to the process of organ retrieval. In this light, the study aims to explore, collect, organize, synthesize and share the opinion of relatives about the role of professionals during process of organ donation (POD). As methodology a systematic review of Brazilian literature was conducted between 2001 and 2011. Data was collected from (i) PubMed, (ii) SCOPUS, (iii) CINAHL, (iv) EMBASE, (v) Web of Science, (vi) Science Direct, (vii) LILACS, and (viii) BDENF. Such data collection was performed based on one question: What is the opinion of relatives, who went through organ donation approach, referring to professionals' actions working in this process? Six out of 265 papers were considered relevant, and then a careful reading executed to assess methodology, subjects investigated, results and conclusions. Analyses have enable to define three categories: (a) lack of confidence in the professional, (b) professional attitude without understanding of relatives emotional state, (c) professional apathy in provide information to family. The last category was subdivided in (i) lack of info about a possible brain death, and (ii) subsequent procedures about POD. These study revealed a complexity in POD particularly on bureaucracy, delay, family’s fatigue and wear. Thus, we may conclude to be necessary investing efforts on professional training involved in the POD to protect family’s psychological state. Descriptors: Directed Tissue Donation; Tissue and Organ Procurement; Family; Attitude of Health Personnel.

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RESUMEN

ALMEIDA, E. C. La donación de órganos y la perspectiva de la familia en la función de los profesionales en este procedimiento: revisión sistemática de la literatura brasileña 2011. 97f. Disertación (Maestría) Escuela de Enfermería de Ribeirão Preto, Universidad de São Paulo, 2011. A lo largo de la historia de los trasplantes puede verse que este viene rompiendo barreras y enfrentando desafíos. Por diversas décadas conquisto impresionantes resultados, demostrando una evolución científica y tecnológica. De esta manera, a través del tiempo el número de las donaciones viene aumentando, sin embargo, estas no son suficientes para poder reducir la lista de espera, por lo cual se llega a una reflexión de las causas que dificultan este proceso. Diversos son los motivos que afectan el proceso de donación de órganos, resaltando el rechazo de la familia a este proceso y la no notificación de los posibles donadores. De esta manera, es necesario resaltar la importancia de la preparación de los profesionales en el trato con la familia, siendo un momento decisivo para que se pueda dar una continuidad al proceso de captación de órganos. Debido a lo expuesto, este estudio tiene como objetivo: explorar, recoger, organizar, sintetizar y compartir la perspectiva de la familia en lo que se refiere al papel de los profesionales durante el proceso de donación de órganos. La metodología se basa en una revisión sistemática de la literatura brasileña, tomando el tema central para la busca de artículos con resultados de investigaciones realizados en el país, entre los años 2001 y 2011. Para esto fue utilizado el portal PubMed y las bases de datos SCOPUS, CINAHL, EMBASE, Web of Science, Science Direct, LILACS, BDENF. La busca fue guiada a través de la pregunta: ¿Cual es la perspectiva de la familia en la función de los profesionales durante el proceso de la donación de órganos?. De los 265 trabajos encontrados, fueron considerados solamente 06 artículos que demostraron resultados importantes, en los cuales fueron estudiados: la metodología utilizada, los sujetos investigados, los resultados obtenidos y las conclusiones. Las síntesis fueron construidas a través del análisis temático de los resultados. Surgiendo de esta manera 03 categorías, siendo estas: 1) La falta de confianza en la actuación profesional; 2) La actuación profesional sin comprensión y apoyo a la familia; 3) La falta de información por parte del profesional, siendo esta ultima dividida en otras 2 categorías: 1) La falta de información en la familia por parte del profesional cuando existe una posible Muerte Encefálica; 2) La falta de información en la familia por parte del profesional con relación al los tramites después de la donación. Siendo de esta manera observada la complejidad de los procedimientos necesarios para la donación de órganos, como: burocrática, lenta, desgastante e cansadora, llegando a ser un sufrimiento que lleva a la familia y a los profesionales a situaciones estresantes. De esta manera, resalta la necesidad de mayores inversiones en la educación de los profesionales que actúan en este proceso, con lo cual se podría alcanzar en estos un mejor soporte emocional y desempeño, siendo esta última considerada primordial para la familia. Descriptores: Donación Directa de Tejido; Obtención de Tejidos y Órganos; familia; Actitud del Personal de Salud.

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - DeCS, MeSH, Palavras-chave e/ou Termos Livres utilizados nas estratégias de busca nas bases de dados e porta. ........................................... 53

QUADRO 2 - Quantidade de Artigos Selecionados ............................................................ 55 QUADRO 3 - Artigos de Periódicos encontrados sobre Doação de Órgãos 2001 a 2011 ... 61 QUADRO 4 - Ideias Centrais e Situações Limites referentes à Atuação Profissional ao

Processo de Doação de Órgãos...................................................................... 62 QUADRO 5 - Referente à relação das Categorias e Subcategorias bem como as suas

Identificações ................................................................................................ 64

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LISTA DE SIGLAS

CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológigo

MS Ministério da Saúde

SNT Sistema Nacional de Transplantes

ABTO Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos

ME Morte Encefálica

UTI Unidade de Terapia Intensiva

CET Centrais Estaduais de Transplantes

COFEN Conselho Federal de Enfermagem

CNCDOs Centrais de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos

OPOs Organizações de Procura de Órgãos

GM Gabinete do Ministério

CIHDOTTs Comissões Intra-hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes

IML Instituto Médico Legal

HIV Human Immunodeficiency Virus

HTLV Human T Lymphotropic Virus

DeCS Descritores em Ciências da Saúde

BVS Biblioteca Virtual em Saúde

MeSH Medical Subject Headings

BDB Bases de Dados Bibliográficos

ISI Insttitute for Scientific Information

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior

LILACs Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde

BDENF Base de Dados em Enfermagem

NCBI National Center for Biotechonology Information

CNE Conselho Nacional de Educação

CES Conselho de Educação Superior

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LISTA DE FLUXOGRAMA

FLUXOGRAMA 1 – Processo de Doação/Transplantes de Órgãos e Tecidos Humanos...... 35

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................16 2. OBJETIVOS .......................................................................................................................24 3. REVISÃO DA LITERATURA .........................................................................................26 3.1 Doador Vivo .......................................................................................................................27

3.2 Doador Cadáver..................................................................................................................29

3.3 Xenotransplantes ................................................................................................................30

3.4 Legislação...........................................................................................................................31

3.5 Legislação atual ..................................................................................................................33

3.6 Entrevista Familiar .............................................................................................................37

3.7 Doação/transplantes de órgãos ...........................................................................................38

3.8 Situação Limite por Freire..................................................................................................43

4. METODOLOGIA...............................................................................................................46 4.1 Tipo de pesquisa .................................................................................................................46

4.2 Etapas do processo de revisão sistemática .........................................................................47

4.2.1 Definição da Questão Norteadora....................................................................................47

4.2.2 Critérios de Inclusão........................................................................................................48

4.2.3 Critérios de Exclusão.......................................................................................................49

4.2.4 Tipos de Estudos..............................................................................................................49

4.2.5 Fenômeno de Interesse ....................................................................................................50

4.2.6 Definição dos Locais de Busca........................................................................................50

4.2.7 Escolha dos Descritores...................................................................................................52

4.2.8 Coleta de Dados...............................................................................................................54

4.2.9 Seleção pela leitura do título ...........................................................................................55

4.2.10 Seleção pela Leitura do Resumo ...................................................................................55

4.2.11 Seleção pela Leitura do Artigo na Íntegra .....................................................................56

4.3 Segue as fases da análise dos artigos considerados pertinentes ao estudo em questão ......57

4.3.1 Processo de análise dos dados .........................................................................................57

4.3.2 Levantamento das Situações Limites ..............................................................................57

4.3.3 Levantamento dos Temas Geradores...............................................................................57

4.3.4 Organização do material coletado ...................................................................................57

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4.3.5 Seleção e codificação das frases identificadas nos artigos ..............................................58

4.3.6 Síntese das frases selecionadas........................................................................................58

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................................................60 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................80 7. REFERÊNCIAS .................................................................................................................84 ANEXOS .................................................................................................................................94 ANEXO A - TERMO DE DECLARAÇÃO DE MORTE ENCEFÁLICA .............................94

ANEXO B - JBI QARI Critical Appraisal Checklist for Interpretive & Critical Research .....97

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1. INTRODUÇÃO

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Introdução | 16

1. INTRODUÇÃO

Na possibilidade de contextualizar os caminhos que nortearam o desenrolar do

presente estudo, é de suma importância trazer à tona parte de nossa história científica. Assim,

pode-se dizer que na vida nada é por acaso, pois tudo tem seu objetivo e um significado

específico na vida do homem em sua individualidade.

Em meados de 1997, nos fora diagnosticado uma doença chamada Ceratocone, que

poderia causar uma deformidade de córnea, resultando em cegueira. Porém, o que não se

imaginava é que isto tinha relação conosco, dando-nos início à nossa história, fomentada por

anseios e expectativas sobre a doação e transplantes.

Anos depois, mais precisamente em 2005, fomos informados sobre a nossa

necessidade da realização do transplante de córnea, ao mesmo tempo em que estávamos

iniciando a nossa graduação no Curso de Enfermagem, no interior do Paraná.

Neste mesmo ano, com as novidades do mundo acadêmico e com proximidades a

identificações no campo da pesquisa, começamos a fazer buscas sobre o processo de

doação/transplantes.

Em 08/01/2007, recebemos uma ligação informando sobre o nosso possível

transplante, expectativa esta tornada realidade. Com isto, fortalecia-nos o ensejo de continuar

pesquisando, agora sobre a temática doação de órgãos. Isso aumentou o nosso desejo de

investimento em razão do fator incipiente do atendimento profissional durante todo processo,

deixando lacunas durante as etapas percorridas. Há que se pensar também que, por mais

significativo que seja receber um órgão e ter a certeza de que a qualidade de vida irá ocorrer,

há um ponto muito importante que sugere uma relativa reflexão de como estão sendo

preparados esses profissionais, pois, lidar com a beleza da doação é lidar com a tristeza da

morte, do luto e de ter a convicção de que a felicidade de alguém está aliada a tristeza do

outro. O que torna de suma importância neste sentido, então, é destacar a relevância da

atuação profissional de maneira educativa, ética, humana e acolhedora.

Percebemos particularmente que, durante o período de nossa internação, não nos fora

possível obter orientações educativa sobre as fases do processo de transplantes entre outros

aspectos; nem tão pouco houve informações sobre esse processo para família. Assim,

podemos dizer que, na experiência de lidar com o transplante não nos parece ser algo simples,

o que pressupõe a necessidade de entender de forma científica a atuação dos profissionais

neste sentido.

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Introdução | 17

A partir desses dados empíricos, decidimos elaborar um projeto de pesquisa que fosse

capaz de realizar a aproximação da realidade dos profissionais com a do paciente e família.

Essa pesquisa foi realizada durante o período de graduação, com apoio do Conselho Nacional

de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). E com os resultados pudemos

constatar a necessidade emergencial de investir na formação de recursos humanos, com

intuito de aumentar o número de doação de órgãos, e sem perder de vista, a qualidade de vida

dos profissionais, pois, trabalhar com os conceitos que fazem parte do processo

doação/transplantes de órgãos não é tarefa fácil. Assim, faz-se necessário conhecer as

situações que limitam o processo, o que pode ser evidenciado por familiares que passaram por

esse contato família/profissional durante a abordagem para doação de órgãos.

Diante do exposto, é de grande valia buscar conhecimento sobre o processo de

doção/transplantes de órgãos e a influência da atuação profissional neste intento.

Os Transplantes de órgãos e tecidos humanos no Brasil tiveram início em 1964,

evoluindo consideravelmente, no tocante às técnicas, resultados, variedades de órgãos

transplantados e números de procedimentos realizados (COELHO; MATIA; GODOY, 2003).

Diante dessa evolução, adveio a Lei dos Transplantes (Lei n. 9.434, de 04/02/1997),

modificada pela Lei n. 10.211 (de 23/03/2001), regulamentada pelo Decreto Presidencial n.

2.268 (de 30/06/1997), que dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo

humano, para fins de transplante e tratamento. Por esse decreto, foi criado no âmbito do

Ministério da Saúde (MS), o Sistema Nacional de Transplante (SNT), instituindo uma curva

ascendente de resultados promissores, no que diz respeito aos transplantes para a história

brasileira.

Contudo, mesmo com esta organização, dados da Associação Brasileira de

Transplantes de Órgãos (ABTO) relatam que houve uma curva descendente em relação ao

número de doação de órgãos, posto que, em 2004, havia 7,6 doadores por milhão de

habitantes. Em 2005 esse número caiu para 6,4; em 2006 para 6,0 e, em 2007, para apenas

5,4.

Recentemente, o Brasil chegou ocupar o segundo lugar em número de transplantes,

atrás dos Estados Unidos, com 27.961 transplantados no ano de 2008, e 101.944 pessoas

aguardando nas filas, em 30 de abril de 2009 (MARINHO; CARDOSO; ALMEIDA, 2010).

Os dados para o Brasil são: aumento de 44% no número de transplantes, entre 2001 e 2007. O

índice que era de 56,4 transplantes por milhão de habitantes, passou para 81. O número de

doadores falecidos, que é a maior preocupação das autoridades do setor, teve um pequeno

crescimento, chegando a 8,2%, no período.

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Introdução | 18

Conforme dados da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, o número de

transplantes cresceu 18% em 2010. Sendo esta unidade da federação a que mais realiza o

procedimento, seguido de Minas Gerais e Paraná. Este êxito se deve à capilaridade da rede de

captação de órgãos e tecidos. Contudo, apenas 30% da demanda teórica estimada é atendida e

16 estados, com 60 milhões de habitantes, não realizam o procedimento de forma regular. Nos

últimos cinco anos, triplicou os recursos do Ministério da Saúde destinados aos programas de

apoio (RAIA, 2011).

Dados da ABTO demonstra que, no primeiro semestre de 2011, notou-se uma pequena

queda na taxa de potenciais doadores notificados (2,2%), sendo que a taxa de doadores

efetivos com órgãos transplantados cresceu 6,7%, ultrapassando 9,6 por milhão de população

para 10,3 por milhão de população, em razão da melhor taxa de efetivação da doação (29,2%).

Todavia, observa-se que ao longo dos tempos o número de doações tem aumentado.

Porém, não o suficiente para reduzir a lista de espera (ROCHA, 2010), cabendo então reflexão

acerca das causas que dificultam esse processo. Diversos são os motivos pelos quais afetam a

doação de órgãos, ressaltando a recusa dos familiares e a não notificação de possíveis

doadores. Assim, vale destacar a importância do preparo profissional no que diz respeito à

abordagem familiar, momento decisivo para que se possa dar continuidade ao processo de

captação de órgãos. Pois o sucesso da prestação da assistência à família e ao paciente se faz

com os profissionais que, de certa forma, encontram-se preparados, na questão de

conhecimentos e emoções (CINQUE; BIANCHI, 2010).

Até mesmo os profissionais encontram dificuldades de lidar com a temática, para que

se possa dar início ao processo de doação/transplante é necessário encontrar-se com a morte, a

qual é temida pelo ser humano. Essa questão torna-se relevante quando se considera que a

morte pode refletir como um fracasso e, assim, evidenciar a inadequação e limitações do

profissional da área da saúde. Além do fato em que o profissional depara-se com sua

impotência na realização de suas atividades, a perda de um ente familiar leva o sujeito à

ciência de sua finitude e, muitas vezes, o profissional é alvo da indignação dos familiares

diante à perda do paciente (SILVA; SILVA; 2007).

A existência dos seres vivos é balizada por processos e fases de formação, nascimento,

crescimento, maturação, reprodução e extinção. Essas etapas sucedem-se a diferentes ritmos,

cumpridas necessariamente para que os indivíduos se realizem e as espécies durem e evoluam

na sucessão do tempo, cada uma ao longo de determinado tempo. A vida é assim, repete-se

em cada ser, segundo seu código genético e as condições do meio. Essa lei, esse

encadeamento inevitável de fenômenos, configura a normalidade da vida em termos

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Introdução | 19

biológicos e fisiológicos, para os vegetais, os animais e o homem. O desenrolar global

daqueles processos demanda, para cada gênero e espécie, momentos e tempos diversos, e

experimenta, sem alterar seu programa, as exigências da adaptação às variações e às

variedades do ambiente. O homem, enquanto ser biológico, está sujeito a idênticos processos:

forma-se, nasce, cresce, reproduz-se e morre como qualquer outro ser vivo (AZEVEDO,

1990).

Culturalmente, somos formados perante o conceito citado acima. Assim, acredita-se

que há tempo para todas as coisas.

Então, diz-se em Eclesiastes, II, 1-8, p. 818, que:

...todas as cousas têm seu tempo, e todas elas passam debaixo do céu segundo o termo que a cada uma foi prescrito. Há tempo de nascer, e tempo de morrer. Há tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou. Há tempo de matar, e tempo de sarar. Há tempo de destruir, e tempo de edificar. Há tempo de chorar, e tempo de rir. Há tempo de afligir, e tempo de saltar de gosto. Há tempo de espalhar pedras, e tempo de as ajuntar. Há tempo de dar abraços, e tempo de se por longe deles. Há tempo de adquirir, e tempo de perder. Há tempo de guardar, e tempo de lançar fora. Há tempo de rasgar, e tempo de coser. Há tempo calar, e tempo de falar. Há tempo de amor, e tempo de ódio. Há tempo de guerra, e tempo de paz.

A morte é um fato natural, assim como o nascimento, a sexualidade, o riso, a fome ou

a sede. Diante dela todos os homens se igualam: sua foice é desferida indiscriminadamente,

sem levar em consideração o status daqueles a quem escolhe; todos devem morrer: jovens e

velhos, ateus e crentes, homens e mulheres, brancos e negros – sejam ricos ou pobres. Em

todas as condições sociais, a morte nos mostra a absoluta igualdade entre os homens,

nivelando-os ao mesmo destino. Porém, o significado do fenômeno da morte não se esgota em

sua dimensão natural ou biológica. Ela comporta, também, como qualquer fato da vida

humana, uma dimensão social e, como tal, ela representa um acontecimento estratificado.

Todos morrem, é certo, contudo a duração da vida e as modalidades do fim são diferentes

segundos as classes a que pertencem os mortos (MARANHÃO, 1986).

Tecer comentários sobre a temática – morte – foi sempre um ponto permeado por

mistérios, os quais se tornam mais acentuados ao considerarmos que o homem é o único ser

vivo que sabe sobre sua finitude. No passado, as pessoas que morriam nos seus domínios

rodeados por familiares e amigos davam as últimas ordens e revelavam suas últimas vontades,

chegando ao fim de suas vidas com qualidade, de maneira mais humanizada. Momento

oportuno para familiares e pacientes repensarem a própria vida (QUINTANA; CECIM;

HENN, 2002).

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Introdução | 20

A morte acaba tornando-se uma questão ainda mais delicada quando é trabalhada em

associação com o tema doação de órgãos. O processo de aceitação da morte de pessoas

próximas ocorre de modo gradual: a morte social da pessoa, ou seja, a extinção da

convivência com o meio familiar acontece lentamente (KYES; HOFLING, 1985). Aceitar a

perda e o período de luto acontece através de rituais culturais e religiosos que preparam a

família para lidar com o fato de não ter mais a presença do ente querido entre os familiares.

Diante desse contexto, o impacto da notícia da morte e a solicitação para doação de órgãos

representam uma interrupção na trajetória dos rituais frente à morte do outro (SADALLA,

2001).

A definição de vida e seu começo correspondem ao seu fim e, portanto, da ocorrência

da morte. Definir a morte significa poder diagnosticá-la, o que, segundo neurologistas,

constitui um problema tão antigo quanto á própria humanidade e que tem variado no curso

histórico. A concepção teológica que se tem do mundo, o conhecimento científico e sua

democratização são elementos que contribuem para a construção dos diferentes conceitos.

Afirmar que uma pessoa está morta pressupõe que não há tratamento possível para rever a

cessação da vida, e na prática clínica, as manobras de reanimação cardiorrespiratória e a

possibilidade de manter aquelas funções com equipamentos de suporte, obrigaram a

redefinição do conceito de morte (MINAHIM, 2005).

Até a década de 60, a cessação das funções do coração e dos pulmões constituía o

critério aceito para indicar o fim da vida, tais sinais não eram satisfatórios e completos, mas,

por falta de conhecimentos científicos, os problemas de identificação da morte, quanto aos

suportes devidos para a manutenção da vida, eram menos inquietantes. A morte era definida

em razão de algumas de suas consequências, os chamados sinais de morte, uns tidos como

duvidosos, outros como prováveis e alguns como certos: apergaminhamento da pele, mancha

verde abdominal, parada completa e prolongada da circulação. Após surgirem as

possibilidades de manutenção dos batimentos cardíacos, com os recursos oferecidos pela

moderna tecnologia (inclusive aparelhos para circulação extracorpórea, respiradores

artificiais, entre outros), distinguiu-se a morte clínica (paralisação da função cardíaca e

respiratória), da morte biológica (destruição celular) e da morte cerebral (paralisação das

funções cerebrais). Essa atualmente definida como morte encefálica (ME), que consiste na

cessação irreversível das funções do encéfalo, ou seja, dos hemisférios cerebrais, do tronco

encefálico e do cerebelo. Desde que se avançou para o conceito de morte encefálica, vários

critérios diagnósticos foram estabelecidos, variando de um para outro país. No geral, aceitam-

se os seguintes indicadores: a) coma profundo, sem nenhum tipo de resposta; b) lesão

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Introdução | 21

irreversível e irreparável do encéfalo, ausência de reflexos integrados no tronco encefálico; c)

prova de atropia negativa; d) apnéia comprovada; e) eletroencefalograma; f) período de

observação. Não bastasse a complexidade dos meios para identificação da morte, há que se

notar a quantidade de adjetivos utilizados para qualificar cada um dos indicadores, o que

denota a dificuldade de estabelecimento de um critério uniforme e simples (MINAHIM,

2005).

Dentro de uma unidade de saúde é visível a dificuldade de lidar com a questão da

morte até mesmo entre os próprios profissionais que se sentem limitados pela finitude da vida,

pois, a morte lhes desperta sentimentos como frustração, medo e insegurança (KOVÁCS,

2004; COSTA; LIMA, 2005). E quando se fala de ME a compreensão diminui, pois se inicia

com a dificuldade de obter um diagnóstico preciso e, o assunto, não é simples para se

trabalhar com os familiares, uma vez que, os batimentos cardíacos, a temperatura corpórea e a

respiração estão presentes - o que pode desencadear dúvidas sobre o real estado do paciente.

Após o diagnóstico de ME o profissional se depara com um novo dilema que diz respeito à

abordagem familiar para doação de órgãos, e esse assunto necessita de atenção especial,

devido à falta de entendimento familiar tanto sobre este tipo de morte quanto ao processo de

doação de órgãos.

Observa-se que o entendimento da ME é um dos fatores que influenciam no processo

de doação de órgãos, geralmente os familiares só têm aproximação da temática quando um

ente recebe tal diagnóstico, devido a uma lesão cerebral, o que dificulta a compreensão da

ideia da cessação das funções do cérebro em um paciente aparentemente vivo. Pode-se dizer

que o desconhecimento e a não aceitação da morte encefálica é compreensível; já que,

classicamente, a morte era definida como a parada irreversível das funções cardíaca e

respiratória, o que resulta em resistência não somente na população, mas inclusive entre os

profissionais que atuam nessa área (SANTOS, MASSAROLLO, 2005).

E o profissional, durante o processo de doação de órgãos, precisa sentir-se seguro no

que está acontecendo ao seu redor e não ter dúvida dos procedimentos necessários, desde o

entendimento sobre morte encefálica até as condições técnicas e emocionais para esclarecer a

família referente a todo processo doação/captação/distribuição/transplante.

Estudos, mesmo que focados aos profissionais de enfermagem, mostram que, apesar

das implementações de mudanças, ainda são encontrados profissionais despreparados e alunos

que, ao término da graduação, definem-se como incapazes ou imaturos para exercerem essa

profissão (SILVA; SILVA, 2007). Tal lacuna é constatada no estudo em que os graduandos se

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Introdução | 22

defrontaram com as questões sobre o papel do enfermeiro no processo de captação de órgãos

e definições técnicas e burocráticas envolvidas no processo (GABRIELLI, 2004).

Assim, é indiscutível a necessidade de compreender o preparo dos profissionais, o que

pode ser evidenciado pelos próprios familiares envolvidos, através da visão da família nuclear

ou do responsável legal, com o intuito de entender as dificuldades que permeiam esse

processo e então, futuramente, propor estratégias educativas eficazes para lidar com esta

temática.

A busca da literatura, neste sentido, poderá nos auxiliar na compreensão desses

achados, nos permitindo responder ao objetivo traçado no presente estudo.

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2. OBJETIVOS

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Objetivos | 24

2. OBJETIVOS

Pretendemos neste estudo:

1- Explorar, recolher, organizar, sintetizar e compartilhar, através da revisão

sistemática da literatura, os resultados de artigos primários, realizados no Brasil, referentes à

percepção dos familiares em relação à atuação dos profissionais no processo de doação de

órgãos.

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3. REVISÃO DA LITERATURA

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Revisão da Literatura | 26

3. REVISÃO DA LITERATURA

A história dos transplantes vem rompendo barreiras e enfrentando desafios, embora de

forma incipiente, por diversas décadas, conquistando impressionantes resultados,

demonstrando a evolução científica e tecnológica aplicada ao setor. Pensando em progredir a

ciência, grandes cientistas deram início às pesquisas de alta relevância. E ao considerar esse

aspecto, não se pode perder de vista o início de toda a revolucionária história do

desenvolvimento do transplante de órgãos sólidos vascularizados, que teve seu primeiro

marco no início do século XX, com trabalhos experimentais de Aléxis Carrel e Emerich

Ullmann (COELHO, 2003).

O trabalho de Carrel foi agraciado com o Prêmio Nobel de Medicina em 1912, com o

desenvolvimento de técnicas de suturas vasculares com fios e agulhas, resumindo a sua

aplicação clínica aos transplantes de órgãos. Por outro lado, Ullmann realizou o primeiro

autotransplante de rim, no pescoço de um cão, no ano de 1902, em Viena (COELHO, 2003).

Desta forma, cumpre observar que já há feitos neste campo. Todavia, nem sempre com

resultados satisfatórios, pois realizações como o xenotransplante (transplantes entre espécies

diferentes), realizado no ano 1906 por Mathleu Jaboulay, em Lyon, não obteve efeito

suficiente. Em 1933, Voronoy, na Rússia, realizou o primeiro alotransplante (transplante

alogênico: seres da mesma espécie, mas geneticamente, diferente). Infelizmente os resultados

não atingiram as supostas expectativas, pois foi utilizado um rim obtido de um cadáver, seis

horas após a parada cardíaca. O receptor morreu 48 horas pós-cirurgia (COELHO, 2003).

De acordo com Varga (1998) e Emed e Emed (2003), o primeiro transplante com um

resultado favorável aconteceu em Boston, no ano de 1954, realizado pelo Dr. Jonh P. Merril.

Foi um transplante renal entre gêmeos univitelinos, com sobrevida do receptor, por 20 anos.

O primeiro transplante hepático foi realizado em cães, por Claude Welch, em 1955. Mas, por

ineficiência dos imunossupressores, os seus resultados e dos demais pesquisadores da época

não foram bem sucedidos. Após a ocorrência de fatos importantes na década de 50, como o

inicio da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e a definição da morte do sistema nervoso em

1959, por um grupo de especialistas de Lyon. Aliados ao inicio dos transplantes, houve a

definição da morte de uma pessoa, denominada morte encefálica, suplantando os critérios

clássicos da parada cardiorrespiratória. Esses fatos, somados com o imunossupressor

ciclosporina, nos anos 80, foram fundamentais para que uma série de transplantes,

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especialmente de rim, coração e fígado, conseguisse passar da fase experimental

(FERNANDEZ, 2000).

Já no Brasil, uma extensão natural de toda esta revolução científica, no ano de 1964,

no Rio de Janeiro e em 1965, na cidade de São Paulo, foi dado o inicio as atividades de

transplantes, com a realização de dois transplantes renais, respectivamente, no país. Outro

evento importante ocorreu em 1989, dando o início ao transplante hepático intervivos, após

realizar um transplante obtido de um doador adulto vivo. Isto abriu caminho para a utilização

da mesma técnica em outros órgãos como, por exemplo, o pulmão (COELHO, 2003).

O primeiro passo para o transplante cardíaco teve início com um xenotransplante,

realizado em 1964 por James Hardy, nos Estados Unidos. Infelizmente o resultado foi um

fracasso. Entretanto, cumpre destacar o sucesso do alotransplante cardíaco, realizado no ser

humano, por Christian Barnard, no ano de 1967, na cidade de Cabo, África do Sul,

impulsionando a ampliação desse tipo de transplante. E no Brasil, o primeiro transplante

cardíaco, realizou-se no ano de 1968, em São Paulo, pelo Dr. Euclides de Jesus Zerbini,

meses após ao realizado por Barnard.

Ao abordar os transplantes, faz-se necessário categorizar, didaticamente, este

processo, para melhor entendimento, ou seja, dividí-los em transplantes intervivos, de órgãos

de animais e de cadáveres (ALMEIDA, 1995).

3.1 Doador Vivo

Quando se aponta à possibilidade de utilizar doadores vivos, subentende-se que tal

procedimento só é possível quando se trata de órgãos duplos, com exceção à biparidade

hepática. Não há problema, quando a doação é ascendente, de primeiro grau, dos filhos para

os pais, ou descendente, quando se trata de uma doação dos pais para os filhos; quando a

doação é de segundo grau entre irmãos, não há maiores restrições. Mas, no que tange à

utilização de órgãos nas relações de terceiro grau (tios/sobrinhos) e quarto graus (primos)

ocorre o risco de existir limitações para a doação. No caso de doadores entre esposo-esposa,

quando não bem preparados, pode surgir um medo diante o procedimento, fato que deve ser

bem trabalhado entre o casal para que não ocorra interpretação errônea, surgindo a

desconfiança entre o parceiro e a parceira.

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Em relação aos doadores não relacionados, entram como opção para fonte de doação.

Mas, alguns questionamentos éticos devem ser levados em conta; evitando, assim, um olhar

de desconfiança referente ao gesto altruísta, alegando a possibilidade de haver qualquer tipo

de interesse comercial, o que passa a ser inaceitável. Então, é muito importante tentar

encontrar algum relacionamento emocional, com o intuito de diminuir a desconfiança da

conduta profissional.

Neste contexto os riscos da doação intervivo devem ser evidenciados. O percentual de

óbitos de doador vivo é de uma morte para 3,200 transplantes. Apesar de baixa, é uma

catástrofe para os familiares perder um indivíduo totalmente sadio. Fato recente, ocorrido com

a estudante de enfermagem que veio a óbito após procedimento para doação de medula óssea

(CANCIAN, 2011).

Relatos demonstram que, o primeiro transplante de rim intervivos não- consanguíneos

no Brasil ocorreu na década de 70, na cidade de São Paulo, entre esposa e marido

(BERLINGUER; GARRAFA, 2001). A Lei no 9.434 de 4 de fevereiro de 1997, amplia os

critérios da doação em vida, permitindo a qualquer pessoa juridicamente capaz doar, para

transplante, um de seus órgãos duplos, desde que essa doação não comprometa a saúde do

doador e que seja de forma gratuita. Em novas perspectivas, em 23 de março de 2001, foi

editada a Lei n0 10.2011, dando nova redação ao artigo 9o da Lei no 9.434. p.3: “É permitida à pessoa juridicamente capaz dispor gratuitamente de tecidos, órgãos e partes do corpo vivo para fins terapêuticos ou transplantes em cônjuges ou parentes consanguíneos até o quarto grau, (...), ou em qualquer outra pessoa, mediante autorização judicial, (...)”

Diante de tais exposições, surge a necessidade de reflexão sobre a temática discutida, a

intenção de compra e venda pode não ser transparente quando se utiliza alegações altruístas,

referindo a ajuda ao próximo como único motivo à doação. O doador frente à necessidade

financeira, e o receptor, fragilizado pela possível morte, encontram-se à mercê. É questionável

se a legislação brasileira tem forças para atuar diante dessa real situação (PASSARINHO;

GONÇALVES; GARRAFA, 2003). O que deixa evidente à necessidade de estudos que

possam auxiliar em decisões acertivas, para que não ocorram irregularidades, e assim surjam

desconfianças da conduta ética do profissional de saúde envolvido no processo, o que

resultaria na diminuição de doações de órgãos, tanto intervivos quanto cadáveres.

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3.2 Doador Cadáver

Para melhor entender o transplante através de doadores cadáveres, é necessário ter o

conhecimento de que a utilização dos órgãos está ligada ao tipo de diagnóstico atribuído ao

paciente.

O doador com diagnóstico de ME, a qual é definida como a parada total e irreversível

da atividade do tronco e hemisférios cerebrais, respeitando-se a resolução nº 1.480/97 do

Conselho Federal de Medicina, sendo necessários dois exames clíniconeurológicos e um

exame gráfico complementar. Nessa situação a função cardiorrespiratória é mantida através

de aparelhos e medicações. Em relação ao doador com coração parado recente ou doador sem

batimentos cardíacos é possível a retirada de órgãos, em especial os rins. Já o doador em

coração parado tardio, trata-se de um cadáver com parada cardíaca não recente (até 6 horas),

nesse caso só poderão ser utilizados os tecidos.

A realização de transplantes com órgãos provenientes de cadáveres é considerada por

muitos como a melhor opção, porém, ainda cercada por interessantes discussões éticas. Com a

utilização dessa terapêutica, mudou-se o enfoque da morte, que não é mais pela parada

cardiorrespiratória, mas encefálica. Deve-se definir que o indivíduo está clinicamente morto,

mesmo observando que seu coração ainda pulsa e que, ao toque pode-se sentir o corpo com a

temperatura considerada normal. Com a participação da comunidade científica, o Conselho

federal de medicina definiu os critérios para caracterizar a morte encefálica, através da

Resolução 1.480, de 8 de agosto de 1997. Então, a ME é estabelecida pela perda definitiva e

irreversível das funções do encéfalo (hemisférios cerebrais e tronco cerebral), de causa

conhecida e determinada de forma inequívoca. A especificidade do diagnóstico é de 100%. O

indivíduo deverá ser submetido a duas avaliações clínicas e a um exame complementar por

dois médicos não participantes das equipes de transplante, sendo que pelo menos um deles

deverá ser neurologista ou neurocirurgião ou neuropediatra. E os intervalos mínimos entre as

duas avaliações clínicas são definidos por faixa etária, conforme especificado no Termo de

Declaração de Morte Encefálica (ANEXO A). Nas duas avaliações clínicas, deverá ser

confirmada a presença de coma aperceptivo, com ausência de atividade motora supra-espinal

e apnéia.

Mesmo com toda esta esquematização e organização sobre ME, quando chega o

momento de informar o familiar sobre o diagnóstico não é tarefa simples, tanto para a família

receber a notícia de morte encefálica quanto para os profissionais que ficam com essa árdua

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tarefa de esclarecer sobre a morte do paciente. Ainda mais quando o próximo passo é realizar

a abordagem familiar em busca de uma possível doação de órgãos.

A expectativa pela aceitação da família não pode ser considerada como uma vitória

para os captadores; se ocorrer, deve ser sem qualquer coação ou constrangimento; mas, nesse

momento, o mais importante não é a ser a autorização da doação pela família, mas o saber

confortar, informar o que é morte encefálica, entender do que se trata, o que pode evitar o

medo de a morte ser declarada de forma antecipada.

A família deve ter a certeza que foram utilizados todos os recursos para a recuperação

do paciente e que a eventual recusa não é motivo de insatisfação. E o mais importante é

sentirem que nada será diferente com relação ao tratamento e aos cuidados necessários. Um

fator importante na decisão em doar os órgãos do paciente é a certeza que os órgãos não serão

utilizados para a comercialização ou para benefícios de indivíduos de maior poder social ou

econômico.

É preciso registrar que, existe um controle rigoroso durante todo o processo, para que

se diminuam as irregularidades e as desconfianças referente à atuação dos profissionais

envolvidos. Pois, pode-se notar que, com a implantação das centrais de transplantes nos

Estados, houve um grande avanço, uma vez que a notificação é obrigatória.

E para que esse processo continue evoluindo é de suma importância o

comprometimento de alguns profissionais, esse é muito heterogêneo e dependente do estilo

individual, de maior ou menor interesse na identificação de potenciais doadores (EMED;

EMED, 2003).

Diante o exposto, e para que isso ocorra de forma mais homogênea, é necessário um

trabalho intenso na preparação dos profissionais de saúde, implementando estratégias

educativas e seguir com a educação continuada junto às equipes que atuam neste processo.

3.3 Xenotransplantes

É denominada como a utilização de órgãos ou tecido provenientes de animais. Uma

das primeiras experiências foi polêmica, e ficou conhecida como Baby Fae. Em 1984 uma

paciente pediátrica com insuficiência cardíaca terminal, depois de utilizados todos os recursos

técnicos, não obtendo um coração humano, recebeu um coração babuíno na Universidade de

Loma Linda, USA. Mesmo com o conhecimento de que esse tipo de transplante não teria

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chances, os médicos o fizeram com a perspectiva de aparecer um potencial doador. A

Possibilidade de transmissão de retrovírus do animal para o homem e o risco de disseminação

de doença desconhecidas deixam esse procedimento discutível sob o ponto de vista ético.

Vale ressaltar que os primatas não são a melhor opção, devido seu alto grau de rejeição. Sabe-

se que tem sido utilizado com maior frequência suíno geneticamente modificado. Com o

avanço do estudo com genoma e com a introdução de genes modificados, poderíamos dispor

dessa fonte como potenciais doadores. Porém, antes de qualquer atitude, deve-se entender

melhor os mecanismos da genética, mas, principalmente, estabelecer as normas éticas para

esse procedimento (EMED, EMED; 2003).

As transplantações heterólogas se deparam com diversos problemas. O que ora nos

importa, resta-nos dizer, qual o poder que temos sobre procedimentos que impliquem na

morte de animais para nosso próprio benefício. O que nos leva a pensar sobre o momento em

que o ser humano se deparar com espécies em extinção, assim, faz-se importante refletir sobre

o direito à vida e à saúde de um paciente em conflito com a obrigação constitucional de

proteção dessas espécies. Sendo necessárias, restrições a utilização de espécies em vias de

extinção como fornecedores de tecidos e órgãos. E outra questão que deve ser ponderada é

não transformar os receptores em objetos de pura experimentação, respeitando sua decisão de

recusa ao tratamento, no caso, o transplante (FLOR, 2004).

3.4 Legislação

Todavia, cumpre ressaltar que para cada proveniência existe uma intervenção

adequada e, por esta razão, foi formulada a Resolução do COFEN 292/2004, com respaldo

nas Leis 9434/97, que dispõe sobre a remoção de órgãos tecidos e parte do corpo humano para

fins de transplantes e tratamentos. E da Lei n. 10.211/2001, que altera alguns dispositivos da

lei supracitada. Proclama a necessidade de permanência do doador em Unidade de Terapia

Intensiva, até a retirada dos Órgãos, incumbindo ao enfermeiro planejar, executar, coordenar

supervisionar e avaliar os procedimentos de Enfermagem prestados aos doadores de órgãos e

tecidos. Porém, vale ressaltar que, o processo de doação/transplante de órgão é algo complexo

que deve ser desenvolvido em conjunto com a equipe multiprofissional focando resultados

satisfatórios, e não só entendê-lo como função da equipe de enfermagem.

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Revisão da Literatura | 32

Para melhor compreensão das questões que envolvem a legislação, faz-se necessário

um breve esclarecimento sobre a temática. Como ponto de partida evidencia-se a realização

do primeiro transplante cardíaco realizado pelo Dr. Zerbini, 1968, se nesse procedimento

fosse analisado com respaldo à Lei, este poderia ser passível de penalização. Considerou-se o

altruísmo da doação, o perfil ético e moral do cirurgião, enfim a realização do transplante com

todos os critérios de beneficência. A partir de então, legisladores e eticistas deveriam

implantar as normas e os critérios de ME, para a doação de órgãos e, após uma longa reflexão,

definiu-se o novo conceito de morte.

Na intenção de contextualizar, vale dizer que, a existência jurídica dos transplantes foi

em decorrência da Lei 5.479, de 10 de agosto de 1968. Foi percursora no sentido de

normatizar a retirada e os transplantes de tecidos, órgãos e partes de cadáver para utilização

terapêutica e científica. Fundamentava-se em dois pressupostos: - primeiro: deveria ser

precedida de prova incontestável da morte; segundo: condicionava a retirada à manifestação

expressa da vontade do disponente ou familiares.

Essa fase foi importante para conferir existência jurídica ao doador vivo, permitindo-

lhe dispor de órgãos e partes do próprio corpo para transplantes em pessoa indicada,

relacionada ou não, por laços parentesco.

Quando melhor analisada pode-se observar algumas lacunas, foi incompleta a lei ao

não se aprofundar a respeito dos critérios de morte. Incompleta também em não declinar um

mínimo de preocupação com uma distribuição justa dos órgãos. Poderia um decreto suprimir

falhas operacionais, porém nunca houve regulamentação. Porém, não podemos criticar, pois

foi, entretanto, o mínimo possível para realidade da época.

Na década de 90, a lei se mostrava distante da realidade científica e apartada da arte

médica. Um novo texto legal foi sancionado em 18 de novembro de 1992, sob no 8.489. O

qual continuou respeitando os dois pressupostos fundamentais: considerar a vontade do

doador e familiares, porém não avançou na definição dos critérios de morte, embora no seu

artigo 12o tenha tornado obrigatória a notificação, em caráter de emergência, de todos os casos

de ME. Quanto a doadores vivos, restringiu a permissão para pessoa maior e capaz de dispor

de órgãos e tecidos apenas para familiares (receptores relacionados). O avanço foi em virtude

do decreto 879, de 22 de julho de 1993, que regulamentou a lei.

Procurando encontrar uma maneira de realizar uma distribuição mais justa de órgãos e

tecidos disponíveis, a lei e o decreto determinaram ampla estrutura administrativa: criação de

Centrais Estaduais de Transplantes e Centrais de notificação de casos de morte encefálica e

instituiu a fila de espera única em nível estadual. Os hospitais, segundo o decreto, deveriam

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ser cadastrados para a retirada e os transplantes de órgãos, depois de vistoriados e

considerados aptos, pelo Sistema Único de Saúde.

Nessa segunda lei, houve a iniciativa de legislar importantes avanços: principalmente

quanto aos diagnósticos do fim da vida humana, às formas mais justas de distribuir órgãos

disponíveis e às medidas administrativas mais claras no credenciamento de hospitais e

equipes médicas envolvidas na retirada e nos transplantes de órgãos (MARTINS, 2003).

3.5 Legislação atual

Em um curto período de tempo, cinco anos, ensejou nova iniciativa a respeito de

transplante. Havia dois problemas: primeiro, o número de receptores com interesses nos

órgãos de cadáveres é sempre muito maior do que a oferta. O segundo diz respeito à filosofia

do Direito: a relevância dos direitos coletivos em relação ao direito individual. O que leva a

refletir a quem pertence os órgãos de pessoas mortas ou a quem pertence a decisão a respeito

dos órgãos do cadáver.

Legisladores, almejando aumentar a oferta de órgãos, conseguiram aprovar, então a

Constituição de 1998 determinou o estabelecimento de critérios para facilitar as doações.

Assim, em 05/02/1997 foi publicada, no Diário Oficial da União, a lei que regulamenta a

doação de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento.

Refere-se à Lei no 9.434, citada acima, intitulada “Lei de Doação Presumida de Órgãos”, a

qual contém 25 artigos, distribuídos 6 capítulos, a saber; I – Disposições gerais; II –

Disposição Post Mortem de Tecidos, Órgãos e Partes do Corpo Humano para Fins de

Transplante; III – Disposição de Tecidos, Órgãos e Partes do Corpo Humano Vivo para Fins

de Transplante ou tratamento; IV – Disposições Complementares; V – Sanções Penais e

Administrativas; VI – Disposições Finais.

Essa lei além de proibir a comercialização de órgãos, e impedia qualquer anúncio pela

imprensa sobre a venda de órgãos e implantou a chamada doação presumida. Novas

discussões surgiram: caso o cidadão não manifestasse ser contrário a doação,

automaticamente passava a ser doador, e o Estado teria direito sobre o corpo. O único intuito

dessa nova lei era aumentar o número de doação de órgãos, porém, as coisas não foram como

imaginavam que seriam, houve uma reação contrária da sociedade, que passou a registrar em

seus documentos a decisão de não doar.

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O espírito da lei foi a criação do doador presumido, definido no artigo 4o. p.2: “Salvo manifestação de vontade em contrário, nos termos desta lei, presume-se autorizada a doação de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano, para finalidade de transplante ou terapêutica post mortem.”

O novo contexto legal não atingiu o propósito de aumentar a oferta de órgãos; pelo

contrário, milhares ou milhões se cadastraram como “não doador” em documentos oficiais. E

o Conselho Federal de Medicina publicou a resolução, determinando que a consulta aos

familiares, nos casos de morte encefálica, deveria ser mantida, contrariando o preceito legal.

Assim, em março de 2001, ocorreu nova mudança na lei, a autorização para retirada de órgãos

deve ser decisão familiar. E para que isso ocorra de forma digna, a família deve receber toda a

informação necessária para a tomada de decisão, sem qualquer coação ou constrangimento;

deve prevalecer o consentimento e a doação altruísta (EMED, EMED; 2003).

A aprovação pelo Congresso Nacional à Lei no 10.211 que deu nova redação à Lei no

9.434/97; restou assim o artigo 4o. p.1: “A retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas para transplantes ou outra finalidade terapêutica depende da autorização do cônjuge ou parente maior de idade, obedecendo a linha sucessora, reta ou colateral, até segundo grau, inclusive, firmado em documento subscrito por duas testemunhas presentes à verificação da morte.”

Vale ressaltar que, o texto legal continua sob no 9.434, de 4 de fevereiro de 1997, com

artigos revogados pela lei 10.211.

A atual Lei dos transplantes, além da fracassada figura do doador presumido, inovou e

modificou em outros capítulos. No seu artigo 1o descarta do seu âmbito o sangue, o esperma e

o óvulo, disciplinados por estatutos próprios e específicos.

Os casos nos quais é imprescindível a verificação da causa médica da morte, a

remoção somente poderá acontecer após autorização do médico responsável pela necropsia, a

qual também se estende aos cadáveres objetos de retirada de órgãos e tecidos.

Quanto a doador vivo, permanece a possibilidade para receptores relacionados; quanto a

não parentes, só se permite a doação com autorização judicial, com exceção para medula óssea.

E para melhor organizar todo esse árduo processo, o decreto 2.268, de 30 de junho de

1997, foi importante na estrutura administrativa com avanços significantes. Criou o Sistema

Nacional de Transplantes, as Centrais Estaduais de Transplantes (CET), as Centrais de

Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDOs). No Estado de São Paulo, o

processo foi descentralizado com a criação das Organizações de Procura de Órgãos (OPOs).

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Outro ponto foi a elaboração da Lista Única Nacional de receptores e determinou que a morte

encefálica seja constatada e atestada por dois médicos, um dos quais neurologista titulado.

Já no ano de 2001, por determinação da portaria GM/MS nº 905/2000, foram criadas

as Comissões Intra-hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes

(CIHDOTT’s), as quais, baseadas no modelo espanhol, passam a ter importante papel no

processo de doação-transplante.

O Brasil possui uma grande experiência legislativa na temática. E os médicos e suas

equipes de transplantes têm amparo legal suficiente para prosseguirem no exercício adequado

e ético da profissão. Assim como, pacientes, familiares e a sociedade como um todo dispõem

de um estatuto minucioso e suficiente para enfrentar o drama dos transplantes com segurança

(MARTINS, 2003).

Neste sentido, vale destacar a importância de constantes atividades educativas junto à

equipe envolvida no processo, aproveitando toda estrutura administrativa oferecida, no intuito

de oferecer orientação adequada e efetiva sobre o desenvolvimento do processo de doação de

órgão, tanto nos procedimentos intra-hospilar, quanto no esclarecimento populacional, o que

justifica a relevância do presente estudo.

Fonte:Diretrizes Básicas para Captação e Retirada de Múltiplos Órgão e Tecidos da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos

Fluxograma 01 – Descrição do Processo de Doação/Transplantes de Órgãos e Tecidos Humanos.

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A descrição realizada nesse estudo, referente às etapas do processo de

doação/transplante foi baseado nas Diretrizes Básicas para Captação e Retirada de Múltiplos

Órgão e Tecidos da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos.

Todo o processo tem inicio com a identificação de um paciente diagnosticado com

morte encefálica. Então, a equipe intra-hospitalar deve realizar a notificação às Centrais de

Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos. E após toda a avaliação realizada ao paciente

e não identificado contraindicações que podem apresentar riscos aos receptores, pode-se dizer

que há um potencial doador. Mantê-lo em perfeito estado para doação é tarefa complexa,

fazendo-se necessário a manutenção da estabilidade hemodinâmica para garantir a viabilidade

e a qualidade dos órgãos e tecidos.

Após a confirmação de morte é necessário comunicar à família. Logo a seguida, deve

ocorrer a entrevista familiar por profissional capacitado, para que se possa obter o

consentimento à doação. Caso haja concordância familiar à doação, o profissional responsável

pelo processo de doação-transplante e a CNCDO correspondente passam a considerar os

demais fatores para a efetivação do potencial doador. Identificado o possível doador, a equipe

responsável pelo processo entra em contato com a CNCDO, a qual promove a distribuição dos

órgãos e tecidos doados e identifica as equipes correspondentes para a retirada.

Para que se possa proceder com a retirada dos órgãos e tecidos, é preciso o

fornecimento da Declaração de Óbito, em situações de morte natural. Quando se tratar de

morte por causa externa, torna-se, obrigatório encaminhar o corpo ao Instituto Médico Legal

(IML), para serem realizados os procedimentos recomendados. Então, ser emitido o Atestado

de Óbito. Levando em consideração a complexidade de todo esse processo, o mesmo deve

estar protocolado para evitar improvisações, as quais podem comprometer sua efetividade e

colocar em dúvida a conduta ética dos profissionais envolvidos.

Para que todo o processo tenha resultado favorável, a adequada avaliação clínica e

laboratorial do potencial doador de órgãos e tecidos torna-se fundamental, o que evitará a

transmissão de enfermidades infecciosas ou neoplásicas. As Diretrizes Básicas descreve as

poucas contraindicações absolutas para doação: tumores malignos, com exceção dos

carcinomas basocelulares da pele, carcinoma insitu do colo uterino e tumores primitivos do

sistema nervoso central; sorologia positiva para Human Immunodeficiency Virus (HIV) ou

para Human T Lymphotropic Virus (HTLV) tipo I e II; sepse ativa e não controlada e

tuberculose em atividade.

Identificar o potencial doador, realizar os exames necessários e informar a CNCDO é parte

de todo o processo. Para que se possa alcançar um resultado satisfatório, é importante uma adequada

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manutenção do paciente. E o objetivo da manutenção do potencial doador é otimizar a perfusão

tecidual, assegurando a viabilidade dos órgãos. Para tal, recomenda-se um efetivo monitoramento

cardíaco contínuo; da saturação de oxigênio; da pressão arterial; da pressão venosa central; do

equilíbrio hidroeletrolítico; do equilíbrio ácido-base; do débito urinário; da temperatura corporal.

Durante a manutenção, se necessário, é importante controlar as anormalidades através da reposição

de volume; infusão de drogas vasoativas; adequada oxigenação; manutenção do equilíbrio ácido-

base; manter temperatura acima de 35º C; prevenir e/ou tratar infecções. Tendo em mão o

diagnóstico de morte encefálica, e uma correta manutenção do paciente, cabe então, seguir o

processo e abordar a família solicitando a doação de órgãos e tecidos.

3.6 Entrevista Familiar

A entrevista familiar é um momento delicado no processo de doação, pois lidar com a

perda do ente e a decisão altruísta pode dificultar a decisão. Nesse momento, é muito

importante a atuação de um profissional treinado para realizar essa tarefa. A abordagem

familiar pode ser feita por médico, enfermeiro, psicólogo ou assistente social, desde que esse

profissional esteja capacitado. O importante é a família estar a par de todos os procedimentos

realizados ao paciente antes, durante e após a doação. Principalmente, o que diz respeito a

reconstituição do corpo e o tempo previsto para a entrega do paciente aos familiares.

Rodrigues e Sato (2002) afirmam que, tanto a abordagem quanto quem faz essa função

são fatos muito importantes que influenciam na decisão da família. Em seu estudo grande

parte dos sujeitos defende que, o melhor a realizar esse contato é o médico que cuida do

paciente, para essas pessoas o médico tem uma maior proximidade e confiança dos familiares

além de um melhor preparo para esclarecer dúvidas. Por outro lado, estudo mostra que, as

pessoas recomendadas para esta abordagem é o enfermeiro (MCGOUGH; CHOPEK, 1990).

Ambos os dados difere dos encontrados na literatura, os quais apontam não haver diferença

entre quem realiza a abordagem para doação de órgãos (DIAMOND, et al. 1987). O

importante é que esse profissional esteja capacitado e sinta-se seguro em propor doação e que

se mostre preocupado com a família, o que pode resultar em decisões favoráveis à doação

(BEASLEY, 1999).

Assim, faz-se necessário argumentar que, de acordo com a Resolução do COFEN

292/200, que proclama a necessidade de permanência do doador em Unidade de Terapia

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Intensiva, até a retirada dos Órgãos, incumbindo ao enfermeiro planejar, executar, coordenar

supervisionar e avaliar os procedimentos de Enfermagem prestados aos doadores de órgãos e

tecidos. Então, em complemento pode-se dizer que, dentre os profissionais que atuam na

equipe intra-hospitalar, o enfermeiro é o que permanece junto ao paciente por um período

maior de tempo, e pode facilitar o elo entre família/enfermeiro/paciente, durante o período de

internamento na UTI. O que pode ajudar no esclarecimento de dúvidas, uma vez que, este

profissional tem a possibilidade de encaminhar o familiar até o leito do paciente, mostrar os

resultados dos exames explicar o diagnóstico dado pelo médico. O Enfermeiro tem que estar

preparado para sanar todas essas dúvidas. Assim, a família se sentirá acolhida e a par de todos

os procedimentos realizados em seu ente querido.

Vale ressaltar que, indiscutivelmente, o único autorizado a informar o diagnóstico de

ME é o médico, mas, o esclarecimento sobre o fato ocorrido e a abordagem pode ser realizado

pelo enfermeiro. Desta forma, esse fato, aliado à comunicação que é considerada uma das

habilidades do enfermeiro, demonstra a relevância desse profissional na abordagem familiar.

Não se pode deixar de mencionar que, o sucesso da entrevista familiar depende de

alguns fatores como, a manifestação do paciente em doar seus órgãos após uma fatalidade, um

atendimento digno tanto para o paciente quanto aos familiares e o conhecimento do

entrevistador sobre a temática. O profissional é responsável em esclarecer à família todo o

processo de doação, incluindo a morte encefálica. No entanto, muitas famílias encontram

dificuldades para entender as orientações recebidas que influenciam no processo de

doação/transplantes (SANTOS; MASSAROLLO, 2005).

Frente ao fato de que, para a obtenção dos órgãos é necessário a autorização familiar,

ou seja, o contato profissional/família para que a doação de órgãos venha acontecer, pode-se

dizer que a família é capaz de evidenciar a atuação dos profissionais envolvidos no processo

de doação/transplante, independente se seja enfermeiro, médico, dentre outros que façam

parte da equipe, o que torna importante o desenvolvimento do presente estudo.

3.7 Doação/transplantes de órgãos

Dando continuidade à evolução do processo, temos observado que isto tem passado

por oscilações consideráveis, principalmente após a criação do Sistema Nacional de

Transplante (SNT) em 1997, momento em que o Brasil chegou a ocupar o segundo lugar em

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números de transplantes, com um índice de 7,2 a cada mil habitantes, sendo que antes, o

número não ultrapassava 2,7 a cada mil habitantes. Outro ponto que favoreceu o processo de

captação de órgãos foi à promulgação da Lei 9.434/97, que incluía a população como doadora

presumida, em caso de inexistência de manifestação da vontade em contrário, sendo

necessária a identificação de doador ou não em seus documentos.

Como resultado desta imposição estatal, houve uma queda no número de doação

devido à desconfiança da postura ética dos profissionais, no sentido de comercialização e

antecipação da morte do paciente internado. Dessa forma, a exclusão da livre manifestação da

vontade no ato de doar, agregada ao pensamento do povo brasileiro, pois a lei,

contrariamente, ao seu objetivo maior que é o de incentivar e propagar os transplantes, acabou

por assustar a população. Com a resistência dos médicos em obedecer à lei, preferindo sempre

consultar a família, essa foi parcialmente, revogada em 2001, no tocante a alguns dispositivos.

Contudo, a quebra na curva ascendente em relação aos números de doações, continuou

ocorrendo nos últimos anos (PICHONELLI, 2007).

No ano de 2007, em questão de doação de órgãos humanos, o primeiro lugar era

sustentado pela Espanha, com 34 doações por cada mil habitantes. O segundo lugar acabou

ficando com os Estados Unidos, com 23 por mil habitantes. E o terceiro lugar ficou ocupado

pelo Canadá, que chega a um coeficiente de 14 a cada mil habitantes. Cumpre destacar que o

Brasil tem um dos principais programas públicos de transplantes de órgãos e tecidos do

mundo, com 548 estabelecimentos de saúde e 1.376 equipes médicas autorizadas pelo SNT.

(PICHONELLI, 2007).

Em 2009, o Brasil chegou ocupar o segundo lugar, com maior número de transplantes,

atrás dos Estados Unidos, que fizeram 27.961 no ano de 2008, com 101.944 pessoas

aguardando nas filas, em 30 de abril de 2009 (MARINHO, 2010). Diante do exposto, pode-se

dizer que os números de transplantes de órgãos realizados no Brasil revelam pontos positivos;

e, por sua vez, também revela uma questão muito importante e decisória em todo o processo

de captação e distribuição de órgãos. O ponto favorável é referente ao aumento de 44% no

número de transplantes, entre 2001 e 2007. O índice, que era de 56,4 transplantes por milhão

de habitantes, passou para 81. Em contra partida, o número de doadores falecidos, que é a

maior preocupação das autoridades do setor, teve um risório crescimento, chegando a 8,2%,

no período. No ano de 2007, do total de casos em que a doação não ocorreu, 34,7% tiveram

origem na recusa familiar, isso em caso de doação pós morte (WALTER, 2008).

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Vale ressaltar que ainda existem muitos dogmas, conceitos religiosos e desconfiança

sobre a atuação e preparo profissional que, de certa forma, dificultam o processo, o que pode

repercutir no número de transplantes, no Brasil (MORAES; MASSAROLLO, 2008).

Desta forma, pode-se constatar a relevância deste estudo, mostrando a importância da

doação de órgãos humanos. Todavia, é preciso investigar o significado disso entre as famílias

que passam ou já passaram por esta experiência. E que a repercussão pode ter estas ações, em

detrimento aos tabus, mitos e crendices existentes, neste sentido. Isto por si revela a

importância do estudo.

No decorrer desta pesquisa, pretende-se investigar em referenciais teóricos como os

familiares que passaram pela abordagem para doação de órgãos veem o preparo dos

profissionais que atuam no processo de captação de órgãos humanos. Pois, de acordo com as

palavras de Cicolo e Shermer (2010), a temática é incipiente na formação de profissionais de

saúde, no nível de graduação e pós-graduação, o que de certa forma irá refletir na abordagem

e nas estratégias educativas desenvolvidas por esses profissionais.

Neste sentido, deve-se destacar a necessidade de formação de recursos humanos que

inspirem credibilidade a toda comunidade acerca da segurança e das vantagens hoje contidas,

na contemporaneidade, em relação a esses procedimentos. Estudos realizados em um grande e

considerável Hospital de São Paulo, avaliando o conhecimento e a atitude populacional em

relação à doação, obtiveram resultados já esperados. Isto é, o número de transplantes é

pequeno em relação à demanda de pacientes na espera por doadores (ROCHA, 2010). A falta

de informações deixa a desejar em face dos dogmas que ocupa uma posição de 53% dos

fatores ascendentes de uma suposta resistência familiar. E as questões religiosas atingem um

percentual de 36,4 %. Os 23% restantes ficaram como questões pessoais. Apontaram também,

fatores intra-hospitalares que exerceriam coação sobre suas decisões, fazendo com que

possíveis doadores trocassem de ideia (CORRÊA; SALES; SOARES, 2002).

A mudança no tratamento ao paciente, no decorrer do internamento, visando à

captação dos órgãos, a falta de confiança e os erros na abordagem, na qual a grande maioria

define que durante a internação seria o mais apropriado para a abordagem familiar, e com um

percentual de 52%, 38,3% entende este por momento apropriado para abordagem, após o

falecimento. E a menor parte necessita de um tempo após a morte, o que dificultaria a retirada

de alguns órgãos (FREITAS; KIMURA; KAKINE, 2007).

Os não doadores também se mostraram vulneráveis, deixando uma possibilidade de se

tornarem futuros doadores de órgãos, dependendo da abordagem que fosse feita, de forma

satisfatória e convincente, e tendo uma empatia relacionada à confiança nos profissionais

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envolvidos. Tal vulnerabilidade leva-se a pensar na falta de conhecimento prévio, o que

poderia ser sanado com ações educativas junto à população. Assim, faz-se importante

compreender como está a atuação dos profissionais, os quais desenvolverão atividades que

facilitarão o entendimento e a melhor aceitação dos possíveis doadores e receptores de órgãos,

ou seus familiares, que tomarão uma decisão positiva ou negativa referente à doação de

órgãos.

Em virtude destas considerações, observa-se que a remoção de órgãos e tecidos e o

transplante devem ser objeto de constantes estudos críticos e reflexivos. É importante

enfatizar que existe uma lacuna muito grande no elo paciente/enfermeiro/familiar,

necessitando ser colmatada.

Mediante o exposto, faz-se mister um embasamento teórico mais efetivo para suprir as

dificuldades dos profissionais e dos familiares, na tentativa de uma análise mais aprofundada

de existentes dogmas, uma vez que muitos acreditam em mitos, como sequestro para retirada

de órgãos, seguidos de comercialização (LOTTENBERG, 2007; MORAES; MASSAROLLO,

2008). E conceitos que aumentam a resistência no momento da decisão, fatos que colocam em

evidência as irregularidades, como captação desnecessária (somente para fins lucrativos) que

de certa forma colocam em risco a postura ética dos profissionais (MORAES;

MASSAROLLO, 2009).

Assim, urge-se de acompanhamento do familiar por todo o processo, começando com

o internamento, seguido dos exames que evidenciariam uma suposta morte encefálica e, o

mais importante, uma abordagem pelos profissionais de forma transparente, facilitando assim

a tomada de decisão positiva dos familiares, uma vez que o consentimento familiar é a maior

limitação no sucesso de transplantes de órgãos (BRYCE et al., 2005).

Sabe-se então, que muitas são as dúvidas que envolvem os familiares na tomada de

decisão sobre uma possível doação de órgãos de seu ente querido, tendo também que lidar

com a dor da perda. Vale ressaltar que tais dúvidas não confundem somente os familiares;

mas atingem direta ou indiretamente os profissionais que atuam no processo de doação de

órgãos (MORAES; MASSAROLLO, 2009). Estas indagações, quando levantadas pelos

profissionais, tornam-se pertinentes ao considerar que a morte pode ser compreendida como

um fracasso - é preciso refletir as limitações dos profissionais de saúde. Essa questão fica

mais delicada quando se trata de morte encefálica, pois, os profissionais reconhecem certa

insegurança e despreparo para lidar com essa situação (GUIDO et al, 2009).

Percebe-se que, para que esse processo ocorra com qualidade, os profissionais

necessitam encontrar um ponto de equilíbrio para lidar com conflitos pessoais que a

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confrontação com a morte do outro lhe impõe. Isto exige repensar como se processa essa

manifestação de habilidade de comunicação ao se relacionar com familiares do paciente e ter

conhecimento suficiente para sanar as dúvidas dos entes queridos.

Porém, para que se atinja este comportamento, é necessário um preparo prévio, o que

facilitará o enfretamento diante a realidade de uma provável morte encefálica de um possível

doador de órgãos. E esse preparo só pode ser adquirido através da Educação para a Saúde,

envolvendo profissionais ainda durante o processo de sua formação técnico-científica,

garantindo mudanças de postura na sua prática futura; para aqueles que já atuam na área, é

importante oferecer programas de educação permanente (MORAES; MASSAROLLO, 2009),

para que então possam desenvolver efetivas ações educativas junto à população.

Nesta vertente, entretanto, há que se pensar na forma de educar os futuros

profissionais para o tema doação de órgãos, visto o caráter ético-humano que envolve essa

prática.

Neste sentido, pretende-se apoiar-se na Educação para a Saúde, fazendo-se

imprescindível tecer argumentos epistemológicos que possam sustentar a sua práxis, evitando

assim, a repetição mecânica de uma prática educativa que, muitas vezes, impede a criticidade,

a valorização humana e a sustentação de uma ação pensada e repensada - haja vista a

mudança de paradigma da educação e a necessidade das interfaces, para melhor compreender

o homem e o mundo dos nossos tempos.

Isto posto, vivencia-se a urgência de desvelar novas práticas educativas. De fato, se faz

tão necessária nos tempos da contemporaneidade, pela inconsistência dos modelos

tradicionais, que atualmente, já se tornaram obsoletos.

Assim, faz-se mister a relevante importância esta revisão sistemática da literatura

sobre o assunto em foco. Para tanto, será possível buscar a identificação das lacunas que

existem nas práticas profissionais durante o processo doação de órgãos, as quais poderão ser

relatadas por familiares que passaram pela abordagem familiar para doação de órgãos. Essa

pesquisa facilitará na proposta de ações/intervenções educativas dentro da universidade e

junto à população; subsidiarão as mudanças necessárias, o que se torna imprescindíveis para

obtenção de futuras saídas satisfatórias, tendo em vista as questões em apreço, relativas à

doação de órgãos, procurando buscar dados científicos através da divulgação e publicação. E

assim, dar continuidade às investigações científicas sobre a temática central. Isto pressupõe

propor e alicerçar os nossos estudos, contribuindo deveres, para outros estudos na área da

Educação para a Saúde somando como outros esforços no intuito de sensibilização e

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mobilização às mudanças e aprimoramento nesse processo, para as questões que se atrelam às

doações de órgãos humanos, no país.

Assim considerando, há que se repensar nas dimensões sociais, organizações políticas

e sociais em relação à família evitando desconfiança ou injustiça, além de manter a

imprescindível distribuição democrática dos órgãos, em foco.

Parece-nos, portanto, considerável oferecer sugestões de propostas educativas de

orientação aos profissionais e familiares que vivenciam essa experiência, encaminhando para

instituições que se atentam para esse fim. Para tal, faz-se necessário evidenciar as situações

limites referentes à atuação profissional, que serão contemplados nas falas dos familiares que

passaram pela abordagem para doação de órgãos, presentes nos trabalhos que selecionados

através de uma revisão sistemática de estudos qualitativos.

3.8 Situação Limite por Freire

Para melhor compreender o termo “situação limite” é necessário esclarecer os passos

do método de Paulo Freire, o Itinerário de Pesquisa, que teve início em meados de 1968

(GADOTTI, 2001). Este método parte de fontes culturais e históricas dos indivíduos. Esse

processo é norteado pelo profissional com o intuito de desvelar o objeto em parceria com os

participantes.

Na etapa da investigação temática, é necessário buscar os temas que fazem parte da

realidade dos indivíduos. As investigações dos principais termos, assuntos da realidade vai

constituir os “Temas Geradores”, que formam a realidade do universo dos participantes,

problematizado pelo diálogo, o que facilita evidenciar as contradições e as situações concretas

que estão vivendo agora.

É importante entender os homens na sua realidade, e a investigação temática se faz,

assim, num esforço comum de consciência e autoconsciência, que a inscreve como ponto de

partida no processo educativo (FREIRE, 1987).

A investigação das situações limites é fundamental para identificar os temas geradores,

seguindo para problematização, o que resulta na ação. Segundo Paulo Freire (1987), as

situações limites dão início a todas as possibilidades, e muitas vezes se apresentam aos

homens e mulheres como esmagadoras, opressoras, restando-lhes nada mais do que se

adaptar. Essa situação deve ser superada para captar o que está aparentemente oculto.

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Revisão da Literatura | 44

O próximo passo é a codificação, que de acordo com Freire (1992, p.20) é o processo

de criação das codificações das situações que: ...funcionam como desafios aos grupos. São situações problema codificadas guardando em si elementos que serão descodificados pelos grupos com a colaboração do coordenador. O debate em torno delas irá, como o que se faz com as que nos dão o conceito antropológico de cultura, levando os grupos a se conscientizarem...

Dando sequência ao processo, define-se a descodificação anteriormente citada na fala

de Freire, como a análise da situação vivida, um momento dialético em que as pessoas passam

a admirar e refletir sobre sua ação. Momento em que refazem seu poder reflexivo e se

reconhecem como seres capazes de transformar o mundo (FREIRE, 1996).

Segundo as palavras de Freire (1987), que traz o próximo passo, é o desvelamento

crítico ou problematização que representa a tomada de consciência das situações reais,

deparando-se com seus limites e as suas possíveis superações. Nesta fase ocorre o processo de

reflexão que possibilita às pessoas aprenderem com o intuito de promover a superação dos

problemas que afetam a vida do homem.

Diante o exposto acima, que teve como objetivo esclarecer a origem da situação

limite, a qual será utilizada no presente estudo com o intuito de demonstrar caminhos para

superar as questões que dificultam o processo de doação de órgãos referente à atuação

profissional evidenciado pelos familiares abordados para doação.

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45

4. METODOLOGIA

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Metodologia | 46

4. METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa baseada em um estudo descritivo-analítico fundamentado em

uma revisão sistemática da literatura científica sobre o tema central do presente estudo.

A quantidade de estudos qualitativos na área de saúde tem sido considerada alta.

Assim, o desafio que enfrentamos nos dias de hoje é utilizar os resultados desses estudos na

prestação de cuidado de saúde e na melhoria da prestação de serviços (SANDELOWSKI,

2004). A quantidade e complexidade de informações na área da saúde, aliado ao tempo

escasso dos profissionais, têm determinado a necessidade de processos que possam norteá-los

até os resultados de pesquisas. Então, a revisão sistemática é muito importante na coleta, na

categorização, na avalição e por fim na síntese dos trabalhos selecionados (GALVÃO,

SAWADA, TREVIZAN, 2004), o que pode ampliar a visibilidade e o impacto de inúmeras

pesquisas qualitativas (LOPES, FRACOLLI, 2008). E assim, ajudar na compreensão e

aplicação do conhecimento, favorecendo a tomada de decisão de práticas de saúde, assim,

como nortear os profissionais no processo de doação/transplantes de órgãos.

4.1 Tipo de pesquisa

O presente estudo trata então, de uma pesquisa não-experimental realizado através do

método da revisão sistemática de literatura.

De acordo com Cook, mulrow, haynes (1997) a revisão sistemática é considerada uma

investigação científica em si mesma. É um estudo retrospectivo e secundário que agrega, de

forma organizada, resultados de estudos primários (GREENHALG, 2003), sendo esses os

sujeitos da investigação.

No final do século passado, este tipo de estudo tornou-se, de certa forma, mais popular

devido ao aumento da quantidade de informação cientifica disponível em estudos primários.

O que dificulta a disseminação do conhecimento referente a determinado tema pela

necessidade e dificuldade de acesso a todos os estudos. Assim, esse método reúne, organiza e

avalia criticamente, as informações dos estudos, transformando-as em conhecimentos que

podem ser utilizadas para definição de decisões a serem tomadas na área da saúde, o que

possibilita a revisão prática e a elaboração de novas políticas (CASTRO. et al. 2002).

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Metodologia | 47

Nosso trabalho tem como intuito o recolhimento, a organização, a sintetização e o

compartilhamento de conhecimentos referentes à atuação dos profissionais que trabalham no

processo de captação de órgãos segundo a visão dos familiares envolvidos nesse processo.

Tais esforços se justificam para que cada vez mais haja profissionais competentes que sejam

capazes de lidar com as situações que ocorrem no processo de captação de órgãos, inclusive

nas questões que envolvem os familiares, os quais são fundamentais para que se efetive a

doação de órgãos.

4.2 Etapas do processo de revisão sistemática

A revisão sistemática é entendida como técnica científica objetiva, eficiente e

reprodutível. Para melhor esclarecer a trajetória que foi percorrida, citamos abaixo as etapas

utilizadas na execução desta pesquisa.

4.2.1 Definição da Questão Norteadora

A priori, antes de começar a pesquisa foi necessário delinear uma questão norteadora.

Na presente pesquisa, para a elaboração da questão em foco foi utilizada a estratégia PICo

(Joanna Briggs, 2008), sendo “P” família, “I” ao fenômeno de interesse, que no nosso estudo,

refere-se a atuação profissional e o “Co” ao desfecho, o resultado que esperamos encontrar,

assim, define-se que:

P = Família – Nesta pesquisa definiu-se como família, o responsável pelo paciente,

Assim, seguimos o Art. 4º da Lei N° 10.211 23 de março de 2001 que diz: A retirada de

tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas para transplantes ou outra finalidade

terapêutica, dependerá da autorização do cônjuge ou parente, maior de idade, obedecida a

linha sucessória, reta ou colateral, até o segundo grau inclusive, firmada em documento

subscrito por duas testemunhas presentes à verificação da morte.

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Metodologia | 48

I = Atuação Profissional – Em nosso estudo a atuação profissional será relacionada à

sua ação, procedimentos e condutas diante o processo de doação de órgãos.

Co = - Percepção da família acerca da atuação profissional.

- Dificuldades apontadas pelos familiares que possam influenciar na decisão de

doar.

- Posicionamento familiar referente à abordagem profissional.

- Esclarecimento por parte dos profissionais sobre os procedimentos

realizados ao paciente.

Assim, a questão norteadora de busca é:

Qual a visão dos familiares que passaram pela abordagem para doação de

órgãos, referente à atuação dos profissionais que atuam neste processo?

4.2.2 Critérios de Inclusão

Em nosso estudo foram incluídos os trabalhos que abordavam a temática doação de

órgãos e que evidenciava a visão dos familiares responsáveis pelo potencial doador de órgão,

referente à atuação dos profissionais envolvidos nesse processo.

O tipo de participante: com o intuito de ter um suporte legal foram, neste estudo,

incluídas todas as pessoas adultas que se enquadram nos critérios citados no Art. 4 da Lei n.

10.211/2001. Isto visa a evidenciar a rigorosidade da Lei que faz o norteamento de todo o

processo de doação/transplantes de órgãos.

Foram considerados os trabalhos que demonstram a realidade do País, ou seja,

somente pesquisas realizadas no território brasileiro. Os trabalhos estão incluídos

independente se a decisão foi positiva ou negativa para doação de órgãos. Pois, após a

aproximação da visão dos familiares referente à atuação dos profissionais envolvidos no

contexto de doação de órgãos, é possível alavancar com novos estudos que visem à

elaboração de estratégias educativas no Brasil visando o aumento no número de transplantes.

Decidiu-se por pesquisar os trabalhos publicados nos últimos 10 anos (2001 a 2011).

O período foi definido embasando-se na Lei anteriormente mencionada, isto é, a de n.

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Metodologia | 49

10.211/2001, que altera alguns dispositivos da Lei 9434/97, momento em que a família

retorna ser a única responsável pelo destino do paciente, com morte encefálica.

4.2.3 Critérios de Exclusão

Não foram utilizados trabalhos que trouxeram a atuação profissional na visão dos

próprios profissionais, tais como, enfermeiros, médicos, psicólogos dentre outros – posto que

esses vivenciam essa prática tanto de forma direta quanto indireta.

Observa-se que há uma preocupação no que diz respeito aos cuidados com os

pacientes receptores; não importa somente realizar o transplante, senão preocupar-se com a

qualidade de vida do paciente transplantado. Porém, no decorrer do estudo, foram excluídos

os artigos que mencionavam a percepção destes pacientes e de seus familiares sobre a atuação

profissional.

Os artigos que não contivessem no título, os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS)

da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Medical Subject Headings (MeSH), palavras-chave e

ou termos livres que indicassem a potencialidade de encontrar a descrição da visão da família

submetida à abordagem profissional para a doação de órgãos, foram eliminados.

Adotamos como forma de exclusão, seguindo o norteamento de Barroso (2003)

quando diz que, após a leitura do título, o próximo passo é realizar a leitura do resumo, e em

seguida o texto na integra. Assim, foram eliminados os artigos que não evidenciavam no seu

resumo, e no texto completo os resultados referentes à atuação profissional.

4.2.4 Tipos de Estudos

Esta revisão considerou estudos qualitativos de pesquisa primária, mas não limitados a

projetos como a etnografia, fenomenologia, análise narrativa e pesquisa-ação.

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Metodologia | 50

4.2.5 Fenômeno de Interesse

Foram considerados nesta revisão, os estudos que investigam a visão dos familiares,

independente se a doação foi efetivada, referente ao preparo profissional no processo de

doação de órgãos.

4.2.6 Definição dos Locais de Busca

Com o intuito de alcançar o objetivo e recuperar documentos que tratem a atuação do

profissional envolvido no processo de doação de órgãos, levando em consideração a relação

entre membros da família e o profissional envolvido, acreditamos na probabilidade de

encontrar tais documentos nas bases de dados bibliográficas – BDB, ou base de referências

bibliográficas, que podem ser operacionalizadas através de palavras de linguagem natural ou

palavras-chave e descritores (ORTEGA, 2002).

De acordo com Cummings (2011) é possível realizar uma revisão sistemática focando

em artigos originais (informação pessoal)1. Assim, neste estudo, a opção foi de concentrar as

atenções sobre artigos científicos de abordagem qualitativa. Sendo assim, os resultados da

amostra final não trará conhecimentos das dissertações, teses e manuais (gray literature)

produzidas nos últimos 10 anos.

Realizamos as buscas no portal PubMed e nas seguintes bases de dados: SCOPUS,

CINAHL, EMBASE, Web of Science, Science Direct, LILACS, BDENF.

A PubMed (Public Medical) representa cerca de 1.888.000 citações de artigos base de

dados bibliográfica internacional da área médica e biomédica. Indexa além dos periódicos

selecionados, outros títulos que publicam assuntos do interesse das ciências da saúde

(MALERBO, 2011).

A SCOPUS indexa mais de 14.000 títulos de 4.000 editoras, nas diversas áreas do

conhecimento. Possui cerca de 27 milhões de resumos, incluindo citações, desde 1996. Os

textos completos de revistas assinadas pelo Consórcio CRUESP/Bibliotecas

1 Informação fornecida pela Canadense Cummings na palestra “aprendendo a conduzir uma revisão sistemática. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/USP, 2011.

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Metodologia | 51

(USP/UNESP/UNICAMP) são visualizados a partir dos resumos, como também é possível

verificar artigos científicos na Web, automaticamente, pelo buscador SCIRUS.

A base de dados CINAHL (Cumulative Index to Nursing & Allied Health Literature) é

fonte confiável de informação para literatura profissional de enfermagem, aliada à saúde,

biomedicina e cuidado à saúde. Traz referências de livros, capítulos de livros, panfletos,

materiais audiovisuais, teses, software educativos, anais de congressos selecionados, padrões

da prática profissional, ações da prática em enfermagem, avaliações críticas e instrumento de

pesquisa (MALERBO, 2011).

A EMBASE foi criada em 1974. É um serviço eletrônico da Elsevier que oferece

acesso às bases de dados EMBASE e MEDLINE. Abrange as áreas de: ciências biomédicas

básicas, biotecnologia, engenharia biomédica e instrumentação, administração e política da

saúde, farmacologia, saúde pública, ocupacional e ambiental, psiquiatria e psicologia, ciência

forense, medicina veterinária, odontologia, entre outras. É a versão eletrônica das 52 seções

da Excerpta Médica.

A Web of Science é uma base de dados do Institute for Scientific Information (ISI),

que permite a recuperação de trabalhos publicados nos mais importantes periódicos

internacionais, apresentando as referências bibliográficas contidas nos mesmos, informando

ainda, sobre os trabalhos que os citaram, com referências a outros trabalhos. O período de

abrangência estende-se de 1900 até o presente, incluindo os conteúdos das bases "Century of

Science" e "Century of Social Science".

O acesso à base de dados Science Direct, da Elsevier, efetiva-se a partir de

equipamentos existentes na Universidade de São Paulo (USP) e pela participação USP no

Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior

(CAPES). Segundo divulgação naquele website: "Contém publicações periódicas da Elsevier

e de outras editoras científicas, cobrindo as áreas de Ciências Biológicas, Ciências da Saúde,

Ciências Agrárias, Ciências Exatas e da Terra, Engenharias, Ciências Sociais Aplicadas,

Ciências Humanas e Letras e Artes. Portanto, Science Direct é uma empresa líder de texto

completo, que oferecem periódicos e capítulos de livros de mais de 2.500 revistas e mais de

11.000 livros. Existem atualmente mais de 9,5 milhões de artigos / capítulos, uma base de

conteúdo que está crescendo a uma taxa de quase 0,5 milhões de adições por ano. O acesso é

efetivo, a partir de equipamentos existentes nos campi da USP (USP.SIBI, 2011).

LILACS – Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde, atendendo

o objetivo de representar um índice bibliográfico da produção científica e técnica em saúde.

Indexa outros tipos de literatura científica como teses, monografias, livros e capítulos de

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Metodologia | 52

livros, trabalhos apresentados em congresso ou conferências, relatórios, publicações

governamentais e de organismos internacionais regionais. Seus registros são também,

indexados no Google da WEB e no Google acadêmico. Atingiu, em 2011, 541.710 mil

registros bibliográficos de artigos publicados em 825 periódicos em ciência da saúde

(PACKER; TARDELLI; CASTRO, 2007).

A BDENF – Base de Dados em Enfermagem é uma fonte de informação, composta

por referências bibliográficas da literatura técnico-científica brasileira em Enfermagem.

Projetada pela equipe da biblioteca J. Baeta Viana da Universidade Federal de Minas Gerais,

teve, em 1992, seu primeiro número impresso, com 2610 registros inseridos (MALERBO,

2011).

4.2.7 Escolha dos Descritores

As buscas foram realizadas no DeCS através da BVS e dos MeSH através do National

Center for Biotechnology Information (NCBI). As palavras-chave e os termos livres foram

incluídos no decorrer da pesquisa, a cada leitura de título, do resumo e dos descritores. Isso

nos possibilitou incluir ou excluir determinado grupo de trabalhos. Com a utilização das mais

variadas estratégias de buscas, fomos direcionados para 265 títulos de artigos em todas as oito

bases de dados. A lista completa dos DeCS, MeSH, palavras-chave e termos livres está

apresentada no Quadro 01.

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Metodologia | 53

Quadro 1 – DeCS, MeSH, Palavras-chave e/ou termos livres utilizados nas estratégias de busca nas bases de dados e portal

BASE DE DADOS

DeCS, MeSH, Palavras-chave e/ou termos livres

PubMed Search ("Organ Transplantation"[Mesh] OR "Transplantation"[Mesh]OR "Tissue and Organ Procurement"[Mesh] OR "Tissue Donors"[Mesh] OR "Tissue and Organ Harvesting"[Mesh]) AND ("Health Education"[Mesh] OR "Health Promotion"[Mesh] OR "Health Personnel"[Mesh] OR "Attitude of Health Personnel"[Mesh] OR "Health Educators"[Mesh] OR "Family"[Mesh]) AND "Qualitative Research"[Mesh] Limits: published in the last 10 years

SCOPUS Your query: (TITLE-ABS-KEY(transplantation OR organ transplantation OR tissue AND organ

procurement OR tissue donors OR tissue AND organ harvesting OR tissue donor OR organ donation OR directed tissue donation OR organ procurement) AND TITLE-ABS-KEY(health education OR health promotion OR health personnel OR attitude of health pesonnel OR family OR health educators OR health personnel as patients OR health care personnel OR health personnel attitude) AND TITLE-ABS-KEY(qualitative research* OR qualitative stud*)) AND DOCTYPE(ar) AND PUBYEAR > 2000 AND PUBYEAR < 2012

CINAHL (MH "Organ Transplantation" or "Organ Procurement") and (MH "Health Education" or "Health

Educators" or "Health Personnel as Patients" or "Family") and "Qualitative Studies" ((S1 or S2) and (S3 or S4 or S5 or S6)) and (S7 or S9)) Limitadores - Texto completo; Data de publicação de: 2001-2011 Restringir por TypePublication0: - journal article.

EMBASE 'organ transplantation'/exp OR 'organ donor'/exp OR 'directed tissue donation'/exp OR 'transplantation'/exp

AND ('health education'/exp OR 'family'/exp OR 'health care personnel'/exp) AND 'qualitative research'/exp#9 AND (2003:py OR 2004:py OR 2005:py OR 2006:py OR 2007:py OR 2008:py OR 2009:py OR 2010:py OR 2011:py) AND 'Article'/it

Web of Science Topic=(transplantation or organ transplantation or tissue and organ procurement or tissue donors or tissue

and organ harvesting or tissue donor or organ donation or directed tissue donation or organ procurement) AND Topic=(health education or health promotion or health personnel or attitude of health pesonnel or family or health educators or health personnel as patients or health care personnel or health personnel attitude) AND Topic=(qualitative research* or qualitative stud*) Timespan=2001-2011. Databases=SCI-EXPANDED, SSCI, A&HCI, CPCI-S. Lemmatization=On

Science Direct TITLE-ABSTR-KEY("organ transplantation" or " organ donation" or transplantation or "directed tissue

donation") and TITLE-ABSTR-KEY("health education" or family or "health care personnel" or "health personnel attitude") AND LIMIT-TO(pubyr, "2011,2010,2009,2008,2007,2006,2005,2004,2003,2002,2001") AND LIMIT-TO(topics, "organ donation,liver transplantation,brain death,transplant recipient,kidney transplantation,living donor,organ transplantation,renal transplantation,liver transplant,lung transplantation,psycho social") and qualitative study

LILACS ( ( ( ( "DOACAO DE ORGAO" ) or "DOACAO DIRIGIDA DE TECIDO" ) or "TRANSPLANTES DE

ORGAOS" ) or "TRANSPLANTES" ) or "OBTENCAO DE TECIDOS E ORGAOS" [Descritor de assunto] and ( ( ( "EDUCACAO EM SAUDE" ) or "FAMILIA" ) or "PESSOAL DE SAUDE" ) or "ATITUDE DO PESSOAL DE SAUDE" [Descritor de assunto] and "2001" or "2002" or "2003" or "2004" or "2005" or "2006" or "2007" or "2008" or "2009" or "2010" or "2011" [País, ano de publicação]

BDENF ( ( ( ( "DOACAO DE ORGAO" ) or "DOACAO DIRIGIDA DE TECIDO" ) or "TRANSPLANTES DE

ORGAOS" ) or "TRANSPLANTES" ) or "OBTENCAO DE TECIDOS E ORGAOS" [Descritor de assunto] and ( ( ( "EDUCACAO EM SAUDE" ) or "FAMILIA" ) or "PESSOAL DE SAUDE" ) or "ATITUDE DO PESSOAL DE SAUDE" [Descritor de assunto] and "2001" or "2002" or "2003" or "2004" or "2005" or "2006" or "2007" or "2008" or "2009" or "2010" or "2011" [País, ano de publicação]

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Metodologia | 54

4.2.8 Coleta de Dados

Após levantamento dos trabalhos indexadas nas bases de dados, para evitar repetições

foram tomados os seguintes cuidados: buscar uma base de dados por vez. Ao cadastrar, foram

excluídas as citações repetidas. Realizou-se verificações periódicas para garantir a ausência de

repetições. Por fim, os resultados que alcançaram os critérios de inclusão foram adicionados

na amostra bibliográfica. Então, para aprofundar as buscas, novas buscas foram realizadas,

utilizando os descritores presentes em cada artigo, e que não haviam sido usados nas buscas

iniciais. Após essa nova busca, analisou-se as referências utilizadas na elaboração dos artigos

selecionados na pesquisa.

Assim, recuperou-se 29 novos artigos, com a utilização dos novos descritores, porém,

os trabalhos não se enquadravam nos critérios de seleção da pesquisa. Em relação à análise do

referencial bibliográfico nos artigos, não foram encontrados artigos que pudessem ser inclusos

na pesquisa.

Para o processo de seleção da amostra bibliográfica foi utilizado, a proposta de

Barroso et al (2003), a qual sugere a seleção por leitura do título, seguido do abstract e, por

fim, do texto na íntegra, o que resultou nos trabalhos pertinentes para o estudo proposto. Caso

a leitura integral não se deixa clara a sua elegibilidade, há necessidade que sejam submetidos

a um expert, para uma decisão final (BARROSO, et al., 2003).

O resultado quantitativo das buscas pode ser visualizado no Quadro 02.

No que tange a análise crítica dos estudos selecionados, avaliou-se a qualidade dos

estudos selecionados através do Teste de Confiabilidade JBI QARI Critical Appraisal

Checklist for Interpretive & Critical Research (JBI, 2008) – (ANEXO B).

Este teste possui 10 perguntas que investigam se há congruência entre: a metodologia

da pesquisa e os objetivos; os métodos de coleta e de análise dos dados, a metodologia e a

interpretação dos dados; se as vozes dos participantes estão adequadamente apresentadas, se

os preceitos éticos de pesquisa com seres humanos foram seguidos e destacados, entre outros,

onde deve ser assinalada uma das três opções de resposta: Yes, No, Unclear.

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Metodologia | 55

Quadro 02 – Quantidade de artigos selecionados

BASE DE DADOS

LEITURA DO

TÍTULO

SELEÇÃO TÍTULO

ARTIGOS BRASILEIROS

SELEÇÃO POR

RESUMO

EXCLUSÃO DOS

DUPLICADOS

LEITURA NA

INTEGRA

APLICAÇÃO DO QARI

AMOSTRA FINAL

PubMed 61 22 01 00 00 00 00 00 SCOPUS 09 09 00 00 00 00 00 00 CINAHL 20 27 06 05 05 00 00 00 EMBASE 55 18 00 00 00 00 00 00 Web of Science 79 28 06 02 00 02 02 02 Science Direct 20 13 00 00 00 00 00 00 LILACS 16 12 10 06 01 05 04 04 BDENF 05 05 05 03 03 00 00 00 Total 265 134 28 16 09 07 06 06

4.2.9 Seleção pela leitura do título

Após a realização da busca criteriosa dos trabalhos que resultaram em 265 artigos,

desses, 134 artigos foram selecionados como prováveis integrantes da amostra.

Os artigos encontrados nas bases de dados: EMBASE, PubMed, Science Direct,

Scopus, Web of Science foram exportados e armazenados no EndNote Web. Já os trabalhos

selecionados através das Bases de dados LILACS e BDENF foram salvos em uma pasta

individual. Essa decisão foi tomada devido ao menor número de artigos encontrados. Em

relação à base CINAHL, foi enviado por correio eletrônico as listas para recuperação on-line.

Todos os artigos passaram por esse processo e, então, seguiu-se para leitura dos títulos.

Além destes recursos, cada artigo selecionado nesta etapa foi salvo por ordem do seu

aparecimento em um documento produzido no software Microsoft Office Excel 2007,

contendo título, autoria, dados da publicação, resumo e descritores, o que facilitou no próximo

passo do processo.

4.2.10 Seleção pela Leitura do Resumo

Em seguida, com o término da utilização das estratégias de buscas em todas as bases

de dados e a organização das listas de resumo, o pesquisador (principal) e um segundo

pesquisador, neste caso, a orientadora desta pesquisa, realizaram a leitura, individualmente

dos resumos.

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Metodologia | 56

Restaram, da leitura do título, 134 artigos. Porém, não foi realizada a leitura de todos.

No decorrer desta etapa foram excluídos os artigos que não eram de resultados de pesquisas

desenvolvidas no Brasil. E, então, foi realizada a leitura do resumo de 28 artigos

selecionados, pois, o objetivo do estudo era trabalhar com resultados de pesquisas nacionais.

Vale ressaltar que, dentre os resultados das buscas, foram encontrados artigos que tiveram

participantes de diversos países, prevalecendo somente, participantes de pesquisas feitas no

território brasileiro.

Após a leitura de todos os resumos, 08 artigos foram excluídos e restaram 16 artigos.

Desses, foi realizada a comparação dos artigos e eliminando os duplicados, resultou em 07

artigos que foram identificados como prováveis integrantes da amostra.

4.2.11 Seleção pela Leitura do Artigo na Íntegra

Nesta etapa, os artigos foram impressos e lidos pelos dois pesquisadores,

separadamente. Apareceram estudos que evidenciavam a visão dos familiares referente a todo

o processo de doação. Estudos com enfoque no processo de decisão familiar na doação de

órgãos de seus filhos; os motivos que levam a família a recusar a doação de órgãos; como a

família percebe todo esse processo de doação e a experiência de doação de órgãos na visão

dos familiares frente à abordagem profissional.

Os artigos foram lidos, no mínimo três vezes, e ao término desta etapa foi excluído 01

artigo, sendo selecionados 06 artigos como prováveis integrantes da amostra.

Levando em consideração os riscos de seleção dos artigos nesta pesquisa, optamos por

adotar limites mais precisos para a seleção da amostra final. Por isso, utilizou-se um

instrumento de avaliação da qualidade dos estudos, ou seja, foram selecionados através do

Teste de Confiabilidade JBI QARI Critical Appraisal Checklist for Interpretive & Critical

Research (JBI, 2008), configurando-se em uma nova etapa no processo de seleção da amostra

final. Após essa etapa, já com os artigos definitivos da amostra Quadro 04, iniciou-se a

leitura mais crítica, com o intuito de evidenciar as situações limites, as quais foram levantadas

pelos familiares sobre a atuação profissional no processo de doação de órgãos.

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Metodologia | 57

4.3 Segue as fases da análise dos artigos considerados pertinentes ao estudo em questão

4.3.1 Processo de análise dos dados

Para análise e interpretação dos dados utilizamos os pressupostos da análise temática

(categorias) preconizado por Freire (1987), adaptado por Bueno (2001). O desenvolvimento

desse estudo segue os seguintes passos:

4.3.2 Levantamento das Situações Limites

Refere-se à descrição e interpretação das situações limites evidenciadas nos artigos

selecionados. Através das falas dos familiares presentes nos trabalhos foi possível identificar

as situações que dificultam o processo de doação de órgãos, referente à atuação do

profissional envolvido. O que possibilita a identificação dos temas geradores.

4.3.3 Levantamento dos Temas Geradores

Esta fase culmina com a busca de resultados muito ricos para os educadores, não só

pelas relações que travam, mas pela busca da temática do pensamento dos homens,

pensamento este, que se encontra somente no meio deles (FREIRE, 1992). Visa buscar,

portanto, temas que sejam os mais significativos da vivência dos familiares que foram sujeitos

da pesquisa nos artigos utilizados em nosso estudo.

4.3.4 Organização do material coletado

Aqui, o conteúdo registrado é resultado da emissão dos significados e do pensamento

dos familiares abordados para a doação de órgãos, captados através de suas falas identificadas

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Metodologia | 58

nos artigos selecionados, o que possibilita a interpretação e seleção dos assuntos centrais,

conforme sugere (FREIRE, 1992). Processa-se a leitura detalhada de todo o artigo,

evidenciando as frases que trazem a visão do familiar referente à atuação profissional no

processo de doação. É nesta fase que se faz um recorte do texto, selecionando frases

identificadas que evidenciam essa visão, que consiste em descobrir os núcleos de sentido que

compõem a comunicação e cuja presença, ou frequência de aparição, pode significar alguma

coisa para o objetivo analítico escolhido (MINAYO, 2008). Então, torna-se possível juntar

pensamentos para próxima fase.

4.3.5 Seleção e codificação das frases identificadas nos artigos

São selecionadas em ordem definida algumas frases que possam ser agrupadas pela

riqueza temática, codificando-se os temas geradores.

4.3.6 Síntese das frases selecionadas

Selecionados e codificados os temas geradores, agrupam-se todas as palavras e frases

selecionadas ao tema gerador, reunindo grandes temas.

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59

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

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Resultados e Discussão | 60

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Aqui está a construção dos resultados da literatura científica encontrada sobre Doação

de Órgãos e visão da família sobre a atuação do profissional neste processo: revisão

sistemática da literatura brasileira. Assim os resultados serão apresentados

concomitantemente às discussões e comentários. Primeiramente serão apresentados os

quadros dos dados da literatura científica evidenciada, construindo, então, as categorias

referentes às situações limites extraídas dos artigos selecionados, utilizando as fontes, as

referências completas, descritores, o ano e a identificação dos trabalhos, atendendo, com isso,

o período de 10 anos, a partir de janeiro de 2001 até outubro de 2011, apropriados do portal

PubMed e nas seguintes bases de dados: SCOPUS, CINAHL, EMBASE, Web of Science,

Science Direct, LILACS, BDENF. Os quadros estão identificados como Quadro 03 -

Quadro 04. Conforme se segue.

Para definição dos artigos considerados pertinentes para o estudo foi realizado um

processo criterioso, iniciando com a busca cuidadosa no portal e nas bases de dados, então,

submetemos os artigos à técnica de Barroso, et al. (2003). E para fechar esse processo foi

aplicado o Teste de Confiabilidade descrito anteriormente.

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Resultados e Discussão | 61

Quadro - 3: Artigos de Periódicos encontrados sobre doação de órgãos 2001 a 2011

FONTE REFERÊNCIA DESCRITORES ANO ID

01

BVS

LILACS

SANTOS, Marcelo José dos; MASSAROLLO, Maria Cristina Komatsu Braga. Processo de doação de órgãos: percepção de familiares de doadores cadáveres. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 13, n. 3, June 2005 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-11692005000300013&lng=en&nrm=iso>. access on 26 Nov. 2011. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692005000300013.

• Transplantes de órgãos;

• Família; • Percepção.

2005 LL01

02

BVS

LILACS

DELL AGNOLO, Cátia Milene; BELENTINE, Leda Maria; ZURITA, ROBSMEIRE CALVO MELO; COIMBRA, Jorseli Ângela Henriques; MARCON, Sonia Silva. A experiência da família frente à abordagem para doação de órgãos na morte encefálica. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2009 set;30(3):375-82.Disponível: http://seer.ufrgs.br/index.php/RevistaGauchadeEnfermagem/article/view/8343/6990

• Morte encefálica;

• Doação dirigida de Tecido;

• Família

2009 LL02

03

BVS

LILACS

SADALA, Maria Lúcia. A experiencia de doar órgäos na visäo de familiares de doadores. J. bras. nefrol., São Paulo (SP) 2001 set;23(3):143-151, Disponível: http://www.jbn.org.br/default.asp?ed=47

• Família; • Captação de

Órgãos; • Transplantes; • Bioética

2001 LL03

04

BVS

LILACS

BOUSSO, Regina Szylit. O processo de decisão familiar na doação de órgãos do filho: uma teoria substantiva. Texto contexto - enferm., Florianópolis, v. 17, n. 1, Mar. 2008 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072008000100005&lng=en&nrm=iso>. access on 26 Nov. 2011. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-07072008000100005.

• Morte; • Transplantes

de órgãos; • Tomada de

decisão.

LL04

05

WEB OF

SCIENCE

MORAES, Edvaldo Leal de; MASSAROLLO, Maria Cristina Komatsu Braga. Reasons for the family members' refusal to donate organ and tissue for transplant. Acta paul. enferm., São Paulo, v. 22, n. 2, 2009 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-21002009000200003&lng=en&nrm=iso>. access on 26 Nov. 2011. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-21002009000200003.

• Organ transplantation;

• tissue transplantation;

• tissue donos; • brain death; • family

2009 WS01

06

WEB OF

SCIENCE

MORAES, Edvaldo Leal de; MASSAROLLO, Maria Cristina Komatsu Braga. Family refusal to donate organs and tissue for transplantation. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 16, n. 3, June 2008 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-11692008000300020&lng=en&nrm=iso>. access on 26 Nov. 2011. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692008000300020.

• Organ transplantation;

• Family

2008 WS02

Obs: a identificação (ID) foi elaborada da seguinte forma: utilizou-se as duas primeiras letras que referem-se à base de dados onde o artigo foi recuperado, e os dois dígitos finais correspondem ao número conforme indicado.

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Resultados e Discussão | 62

Quadro - 4: Ideias Centrais e Situação Limites referentes à atuação profissional ao processo de doação de órgãos

FONTE IDEIAS CENTRAIS REFERENTE À ATUAÇÃO

PROFISSIONAL

SITUAÇÕES LIMITES NA VISÃO DOS FAMILIARES

LL01 - …Nem sempre há os esclarecimentos necessários sobre as ocorrências com o paciente durante o período de internação…

- …O profissional muda a atitude e a postura quanto ao atendimento do paciente e da família quando percebe que essa é esclarecida…

- Falta de informação e discriminação pelos profissionais.

- …A família fica chocada ao receber a informação do diagnóstico de morte encefálica quando não há esclarecimento prévio sobre a possibilidade de ocorrência….

- Falta de informação pelo profissional referente à possível morte encefálica.

- …Inicialmente a família desconfia da solicitação da doação de órgãos, por acreditar que o quadro do paciente possa ser reversível…

- …O comentário das pessoas de que médicos matam para tirar os órgãos…

- Falta de confiança na atuação profissional.

- …As informações sobre como proceder, aonde ir e o tempo para liberação do corpo são imprecisas…

- …O longo tempo, os trâmites e as informações contraditórias no processo de liberação do corpo pelo IML causam transtornos e incomodam os familiares…

- Falta de informação pelo profissional referente aos trâmites pós-doação.

LL02

- ...a credibilidade na equipe de saúde é uma condição determinante no grau de incerteza dos familiares...

- Falta de confiança na atuação profissional.

- ...Nem sempre a abordagem é percebida de modo positivo...

- Atuação profissional sem compreensão e acolhimento no momento familiar.

- ...Há necessidade de melhorar as informações prestadas aos familiares...

- Falta de informação pelo profissional

LL03

- …Acrescenta-se ao sofrimento e à revolta da família as dúvidas a respeito do que é morte encefálica e o que acontece posteriormente... Insegurança em doar os órgãos da pessoa viva…

- …as dúvidas a respeito do diagnóstico de morte encefálica podem manter a família em situação de conflito. Dificultando a tomada da decisão e a convivência com a decisão de ter doado…

- Falta de informação pelo profissional referente à possível morte encefálica

- …O descaso, a demora no processo de retirada dos órgãos provoca sofrimento. Torna-se, então, muito complicado doar…

- …Na perspectiva de alguns, a falta de atenção à família desestimula o processo de doação…

- …Ressaltam a necessidade de apoio consistente a

família após a doação, incluindo estimular a avaliação das famílias a respeito da experiência de ter doado órgãos….

- Atuação profissional sem compreensão e acolhimento no momento familiar.

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Resultados e Discussão | 63

FONTE IDEIAS CENTRAIS REFERENTE À ATUAÇÃO

PROFISSIONAL

SITUAÇÕES LIMITES NA VISÃO DOS FAMILIARES

LL04

- ...Os significados e respostas vão surgindo através da comunicação entre os familiares e profissionais...

- Falta de informação pelo profissional

- ...A credibilidade na equipe é determinante para a família...

- Falta de confiança na atuação profissional.

- ...As Famílias que não permitem a doação referem-se a uma abordagem precoce e sem envolvimento...

- ...A narrativa da família a respeito da sensibilidade do profissional que atende seu filho, para experiência que estavam vivendo, expõe o papel fundamental de reconhecimento do sofrimento e acolhimento que deve ser realizado pela equipe de saúde...

- Atuação profissional sem compreensão e acolhimento no momento familiar.

WS01

- ...A ausência de confirmação do diagnóstico de morte encefálica, e o desencontro das informações transmitidas à família, pela equipe do hospital, geram dúvidas sobre o quadro do paciente é motivo para recusar a doação...

- Falta de informação pelo profissional referente à possível morte encefálica

- ...Há crenças de que a morte do parente possa ser antecipada ou induzida objetivando a doação dos órgãos...

- Falta de confiança na atuação profissional.

- ...Quando a equipe médica solicita a doação de órgãos, antes da confirmação do diagnóstico, é motivo de revolta e indignação para os familiares...

- Atuação profissional sem compreensão e acolhimento no momento familiar.

WS02

- … a família nem sempre recebe informações, gerando equívoco da impressão da boa evolução…

- … a informação sobre o estado do paciente nem sempre é dada, fazendo com que a falta de esclarecimento sobre a gravidade do quadro seja motivo para acreditar na sua recuperação, quando, na verdade, a situação é bastante grave…

- Falta de informação pelo profissional.

- … a família não é informada do início dos procedimentos de confirmação de morte encefálica e a notícia só é dada depois que o diagnostico é constatado. A falta de esclarecimento gera angústia, dor e desespero…

- Falta de informação pelo profissional referente à possível morte encefálica

- …A falta de sensibilidade da equipe é um fator que adiciona sofrimento, quando a família percebe que o único interesse do profissional que está cuidando do potencial doador é a doação de órgãos. O resultado para doação acaba sendo negativo…

- Atuação profissional sem compreensão e acolhimento no momento familiar.

- … desconfiança na assistência e o medo do comércio de órgãos dificultam o processo…

- Falta de confiança na atuação profissional.

Obs: a identificação foi elaborada da seguinte forma: utilizou-se as duas primeiras letras, que se referem à base de dados onde o artigo foi recuperado, e os dois dígitos finais correspondem ao número conforme indicado.

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Resultados e Discussão | 64

Para a construção dos resultados foi necessário a utilização de uma estratégia

apropriada que facilitasse a compreensão da classificação dos termos. Assim, as situações

limites encontradas nos artigos selecionados foram denominadas como categorias e

subcategorias.

Foram encontradas três categorias e duas subcategorias. Como mostra o Quadro – 05

abaixo:

Quadro – 05: Referente à relação das categorias e subcategorias bem com as suas identificações.

CATEGORIAS IDENTIFICAÇÃO SUBCATEGORIAS IDENTIFICAÇÃO SLA - Falta de confiança na atuação profissional.

LL01-LL02-LL04-WS01-

WS02

SLB – Atuação profissional sem compreensão e acolhimento no momento familiar.

LL02-LL03-LL04-WS01-

WS02

SLC01 - Falta de informação pelo profissional à família referente à possível Morte Encefálica.

LL01-LL03-WS01-WS02

SLC - Falta de informação pelo profissional.

LL02-LL04-WS02

SLC02 - Falta de informação pelo profissional à família referente aos trâmites pós doação

LL01

Obs: SLA (Situação Limite A); SLB (Situação Limite B); SLC (Situação Limite C) - SLC01/02 (São subcategorias da Situação Limite C).

Para esta fase de elaboração dos resultados e discussões, iniciamos com a categoria:

Falta de confiança na atuação profissional (SLA). Portanto pudemos destacar os seguintes

artigos: LL01-LL02-LL04-WS01-WS02.

Assim, faz-se mister conduzirmos esta discussão à tecer comentários referentes ao

processo de doação de órgãos, o qual vem sendo trabalhado com uma certa preocupação,

tanto em nossos estudos quanto em outros trabalhos desenvolvidos em todo o mundo, pois,

sabe-se da complexidade de ações que o envolve. Esse processo pode ser definido como um

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Resultados e Discussão | 65

conjunto de procedimentos que objetiva a oficialização da doação de órgãos, que deve ser

autorizado pela família do potencial doador de órgãos.

Não se pode perder de vista, e assim reconhecer os inúmeros avanços tecnológicos e a

elaboração de novos medicamentos que auxiliam na diminuição do número de rejeição. Tais

fatos transformaram, de forma significante, o processo de doação/transplante de órgãos, o que

possibilitou a superação da fase experimental e tornou-se uma opção terapêutica. Porém, toda

essa evolução só pode ser considerada eficaz após a efetivação da doação de órgãos, e para

oficializar esse procedimento, pressupõe que a família venha proceder sua autorização.

Estudos mostram que o consentimento familiar é a maior limitação no sucesso de

transplante (BRYCE, et al; 2005). Destarte, no intuito de eliminar essa limitação, é de suma

importância um atendimento adequado visando não só a doação, mas também, oferecer

assistência que envolva a família em todo processo, no intuito de obter resultados

satisfatórios. O que pode ser evidenciado no recorte abaixo:

… a assistência prestada durante a internação do paciente é satisfatória quando observa que o

atendimento é adequado e que os profissionais estão empenhados no tratamento… quando há crença

na falta de assistência adequada ou o descontentamento com o atendimento prestado, os familiares

ficam revoltados e desejam expressar essa revolta fazendo a reclamação no próprio hospital…

(LL01);

No momento em que há relativa complexidade em contextualizar questões que

envolvem família, não se pode esquecer sua individualidade, devendo respeitá-los. Assim,

leva-se em consideração a amplitude territorial brasileira, aliada às grandes diferenças sociais,

culturais e religiosas da família, podendo-se dizer que, as dificuldades relacionadas ao

processo de doação ficam ainda maiores.

Vale ressaltar que torna extremamente necessária a integração entre os profissionais

que atuam nessa temática, objetivando oferecer ao possível doador de órgão, assim como aos

familiares, assistência digna. Isso pode aproximar os familiares da verdadeira intenção dos

profissionais frente à solicitação para doação, e possivelmente, diminuir a falta de confiança

que os familiares demonstram em relação à atuação profissional, a qual deve ser realizada

com base numa constante comunicação, o que iria viabilizar o aumento de informações ao

familiar referente o estado do paciente.

De acordo com as palavras de Stein; Hope; Baum (1995), a doação de órgãos poderia

ser facilitada se os profissionais priorizassem a comunicação com a família do possível

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Resultados e Discussão | 66

doador. Pode-se dizer que isso resultaria na credibilidade do serviço, questão essa,

evidenciada nos recortes abaixo:

... a credibilidade na equipe de saúde é uma condição determinante no grau de incerteza dos

familiares...(LL02);

... a credibilidade na equipe é determinante para a família...(LL04);

Todos os seres humanos sabem ou têm noção da sua finitude e que o fim devido é

inevitável. Porém, não é simples aceitar esse fato. Então, lidar com a morte consiste em uma

questão difícil. Assim, o que se deve ser levado em consideração é a dor e o sofrimento que

envolvem os entes querido. E que para o familiar, não é fácil compreender as informações

recebidas diante de seu ente em apreço. E, portanto, interpretar os comportamentos dos

profissionais é mais complexo, tornando-se algo difícil de trabalhar.

A morte acaba se tornando tema extremamente delicado quando é abordado em

associação a questão da doação de órgãos (CARVALHO, et al. 2006). O processo de

aceitação de morte ocorre de forma gradual: a morte social da pessoa, ou seja, o término da

convivência com o meio familiar acontece de forma oportunamente vagarosa (KYES;

HOFLING, 1985). Dentro deste contexto, o impacto da notícia da morte acompanhada pelo

pedido de doação de órgãos representa uma ruptura nos rituais necessários (SADALLA,

2001). Diante disto, Rech e Filho (2007) sugere que o profissional tenha a certeza da

ocorrência da morte encefálica, a seguir, com a abordagem para doação de órgãos. Isto pode

evitar na atitude da família, a desconfiança em relação a conduta ética do profissional.

Observa-se, a complexidade desse trâmite de morte e abordagem familiar para doação,

pois que aceitar essa doação é reconhecer que não há mais retorno, ou seja, aceitar a morte do

ente querido.

No decorrer deste processo é importante ressaltar que, a atuação do profissional

demanda coerência com a realidade que o familiar está vivenciando, para evitar desconfiança

frente à sua atuação.

Por prudência e segurança, os profissionais que assistem o possível doador de órgãos

devem aguardar o momento exato e inevitável da morte encefálica. Pois, nesse momento

crucial, podem surgir problemas éticos, decorrentes de pressa das equipes transplantadoras,

haja vista a intenção de identificar logo as circunstâncias que autorizem a remoção dos

órgãos.

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Resultados e Discussão | 67

Portanto, é necessário que todos os esforços sejam destinados à manutenção da vida do

paciente, e que esse não seja encarado como um potencial doador, antes de serem realizados

todos os exames necessários, visando aumentar a credibilidade na conduta ética dos

profissionais envolvidos.

Isto posto, pode-se observar nos dados da literatura encontrada, que os familiares não

confiam na abordagem, conforme descrito a seguir.

… inicialmente, a família desconfia da solicitação da doação de órgãos, por acreditar que o quadro

do paciente possa ser reversível… (LL01);

... a crença de que a morte do parente possa ser antecipada ou induzida objetivando a doação dos

órgãos...(WS01);

Diante do exposto, vale trazer à discussão o trabalho de Rodriguês e Sato (2002),

realizado na maior capital brasileira, que demonstraram os pontos levantados pelos sujeitos da

pesquisa, referente aos motivos que os levariam a serem ou não doadores. Assim, pode-se

observar que 53% relataram não ser doador devido à insegurança na atuação do profissional

de saúde. E todas as pessoas questionadas responderam que na possibilidade de doação no ato

da internação, poderia mudar de opinião, caso observassem que o tratamento estivesse

visando somente à captação de órgãos. No mesmo estudo, 58% dos entrevistados deixariam

de aceitar a doação frente ao erro de abordagem, e 34%, diante à falta de confiança no médico

responsável pela captação. Já para aqueles que não se consideravam possíveis doadores, 47%

passariam a ser doador dependendo de uma abordagem bem feita e 34,9% afirmaram a

presença de confiança na equipe médica. Isto leva a refletir na importância da atuação clara e

objetiva, priorizando o bem estar do paciente, independentemente, se há ou não possibilidades

da internação resultar em doação de órgãos, demonstrando assim, atitudes confiáveis aos

familiares.

No intuito de trazer à nossa realidade uma visão internacional, estudos realizados no

Japão e na França demonstram que a escassez de transplantes com órgãos obtidos de doadores

cadáveres se deve aos aspectos culturais e religiosos, e também à falta de confiança no

sistema médico japonês e francês (KIUCHI; TANAKA, 2003, CANTAROVICH, 2005).

Retomando a realidade brasileira, é de suma importância aceitar que existem inúmeros

fatores que dificultam o processo. Assim, cabe pensar sobre sugestões que venham

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Resultados e Discussão | 68

possibilitar a superação dessas situações limites, que dificultam todo o processo. É de nosso

interesse seguir com estudos nesta lógica, após a finalização desta pesquisa.

Pode-se observar, por exemplo, que o processo de doação de órgãos tem uma

tendência de ser interpretado com um olhar capitalista, momento em que surge desconfiança

referente à verdadeira intenção da abordagem familiar. Há, por um lado, um sentimento

altruísta dos profissionais que disponibilizam de seu tempo, de forma efetiva, séria e

comprometida, eticamente, para tal realização, ou por outro lado, ocasionalmente, haver a

intenção mercenária visando lucros e benefícios próprios. Isto é mais do que complexo,

envolve necessariamente a ética.

O pensamento freireano destaca o homem enquanto fazedor de cultura, e que aprende

a viver a vida mediatizado com o ser humano e com o mundo. Neste processo, destaca-se a

importância do sentido humanista e humanitário do viver historicamente com amorosidade, de

forma cidadã, ética e solidária, para se projetar uma vida mais humana e mais digna possível

(FREIRE, 1992).

O que não se deve perder de vista, é que as histórias familiares revelam crenças da

família sobre morte e doação de órgãos. Tais crenças têm implicações nas decisões e afirmam

que estas crenças devem ser discutidas abertamente, tanto no meio familiar quanto com os

profissionais (LEICHTENTRITT; RETTIG, 2002).

Além das crenças, deve-se levar em consideração ainda a propaganda negativa sobre a

corrupção na doação de órgãos, contribuindo para que a família tome ciência e acredite que o

comércio de órgão seja uma realidade. A mídia tem um impacto persuasivo neste sentido, a

ponto de fazer com que os familiares acreditem piamente que todos estão envolvidos, já que

há possibilidade de tráfico de órgãos. Essa questão surgiu como resultado de pesquisa

demonstrando que 53% dos sujeitos afirmaram recusar a doação de órgãos devido à

insegurança quanto ao destino dos órgãos doados (RODRIGUES; SATO, 2002). Nas palavras

de Coelho et al. (2007) os principais motivos para não doação de órgãos foram: ausência de

confiança na medicina ou no sistema de captação à distribuição de órgãos. E, principalmente,

na crença de existir comércio de órgãos. Tais explanações merecem um olhar crítico-reflexivo

conforme refere Freire (1987), no intuito de mudar essa realidade apresentada na discussão.

Pode se dizer que, o sistema brasileiro de doação de órgãos é regido por leis rigorosas, assim,

apoiando-se nesse ponto positivo e investindo na educação da autonomia dos profissionais

demonstram o poder de aumentar o nível democrático e livre em relação ao esclarecimento da

população e portanto, evidenciando resultados mais favoráveis possíveis.

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Resultados e Discussão | 69

Os resultados destes estudos supracitados vão ao encontro dos nossos achados,

conforme pode ser observado nas frases abaixo.

… o comentário das pessoas de que médicos matam para retirar os órgãos… (LL01);

… desconfiança na assistência e o medo do comércio de órgãos dificulta o processo… (WS02);

Desta forma, é importante tecer comentários e travar questionamentos frente aos

achados. Observou-se, no desenvolver desta discussão, a falta de confiança na atuação do

profissional envolvido no processo, e que esse fato traz consequências, diminuindo o número

de doação e tirando a chance de melhorar a qualidade de vida do indivíduo que aguarda por

um órgão. Certo é que, a confiança na equipe, resulta em aumento direto no número de

doações, e a mudança de opinião das pessoas passando de não doador para doador em

potencial na dependência de uma abordagem adequada como profissionais treinados para esse

fim (DIAMOND, et al. 1987).

O que não se pode deixar de pontuar é a individualidade de cada estudo, pois, em

resultados desta pesquisa, foi possível encontrar sujeitos que entendiam o comportamento dos

profissionais como favorável à doação. Então, é necessário compreender o contexto em que

ocorreu a abordagem atrelada à historicidade e o conhecimento prévio do familiar.

Destarte, vale repensar se há esclarecimentos suficientes à população sobre a temática,

pois, quando a família conhece o desejo do paciente, fica mais fácil de aceitar a doação

(ROZA, et al. 2010). E para que ocorram campanhas que esclareçam a população é

importante que os profissionais sejam preparados para este fim, o que resultaria no aumento

do número de doação de órgãos através da conscientização da população. Portanto, a

educação nesta direção para o processo de doação/transplante é de relevante significância.

A partir de agora as discussões serão referentes à categoria elaborada sobre a temática

central. Em primeira instância, a categoria inicialmente elaborada, trata-se da Atuação

profissional sem compreensão e acolhimento no momento familiar (SLB), destacando-se

os seguintes artigos: LL02-LL03-LL04-WS01-WS02.

As questões relativas ao binômio doação-transplante por si só é extremamente

complexo, iniciando com a identificação e manutenção dos potenciais doadores. Nesse

processo é de suma importância permitir que o familiar acompanhe todos os trâmites

realizados ao ente querido, no intuito de esclarecer todo o processo. De maneira geral, as

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Resultados e Discussão | 70

pessoas não têm a informação necessária para que se possa tomar a decisão consciente

referente à doação de órgãos, o que pode resultar na negativa familiar. Neste processo, há

sentido de preocupação na conduta da família. Sendo assim, ela merece atuação e cuidado

especial, no que tange à orientação adequada frente ao procedimento exigido. Para tanto, faz-

se mister refletir sobre a possibilidade do familiar ter um fácil acesso à UTI, assim como

acompanhar todos os exames realizados ao paciente até o momento, e ter esclarecimentos

referentes a todos os procedimentos que o paciente será submetido. Esse contato e essa

comunicação aberta, democrática e dialógica facilitam um melhor entrosamento entre o

profissional/familiar. Nessa oportunidade, o profissional deve oferecer um suporte emocional

ao familiar, diante as incertezas em que se encontra, priorizando não só a obtenção dos

órgãos, mas, uma assistência humanizada tanto para o familiar quanto ao paciente. Então, os

familiares necessitam do envolvimento profissional durante o período de internação. Assim,

podemos constatar esses dados nos recortes seguintes, afirmando que:

… na perspectiva de alguns, a falta de atenção à família desestimula o processo de doação… (LL03)

... as Famílias que não permitem a doação referem-se a uma abordagem precoce e sem

envolvimento...(LL04);

Desta forma, vale ressaltar que a abordagem para doação de órgãos deve respeitar o

momento da perda, de maneira sensível, esclarecedora, respeitosa e acompanhada de

comunicação e linguagem clara para o familiar. É muito importante, também, oferecer

conforto diante da morte e, ao mesmo tempo, tentar transformar esse desalento em um ato de

solidariedade. Nesse intuito, o suporte emocional aliado à informação sobre o processo pode

ser crucial para a atitude de doar (SIMINOFF, et al. 2001).

Uma questão a ser considerada neste contexto é que quando se levanta reflexões

referentes à morte, morte encefálica e sobre o potencial doador de órgãos, é a forma em que o

paciente deu entrada ao hospital. Ou seja, quando se trata de causas traumáticas e inesperadas

o processo torna-se mais difícil. Então, torna-se necessário conduzir a assistência ao paciente

respeitando suas condições atuais e prezando pelo conforto familiar que está vivendo um

momento de muita angústia e incertezas.

No momento da internação, é de extrema importância que o profissional possa

oferecer toda informação sobre o estado clínico do paciente, evitando que a falta de

esclarecimento sobre a gravidade do quadro seja interpretada de forma incoerente com a

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Resultados e Discussão | 71

realidade do paciente. Um estudo desenvolvido no Canadá demonstrou, entre seus resultados,

que as famílias necessitam de informação e suporte emocional na fase crítica de internação de

seu familiar (PELLETIER, 1992).

O apoio deve ser oferecido ao familiar, independente da manifestação contrária à

doação, pois o profissional deve se comportar todo tempo de forma ética e acolhedora,

sensibilizando-se com a situação de sofrimento da família. Caso contrário, além do resultado

acabar sendo negativo, o familiar cria uma imagem não desejada referente a assistência

prestada ao paciente. Essa visão pode ser evidenciada de forma destrutiva. E, então, isso pode

dificultar cada vez mais o relacionamento profissional/paciente/família. ortanto, o profissional

tem que se comportar de forma imparcial; ou seja, prestar todos os cuidados necessários ao

paciente e prestando, ainda, um tratamento humanizado ao familiar, independente da

autorização familiar. Isso pode ser exemplificado no recorte a seguir:

... a narrativa da família a respeito da sensibilidade do profissional que atende seu filho, para

experiência que estavam vivendo, expõe o papel fundamental de reconhecimento do sofrimento e

acolhimento que deve ser realizado pela equipe de saúde... (LL04)

… a falta de sensibilidade da equipe é um fator que adiciona sofrimento, quando a família percebe

que o único interesse do profissional que está cuidando do potencial doador é a doação de órgãos. O

resultado para doação acaba sendo negativo… (WS02);

De acordo com Miranda e Cuende (2001), uma postura cordial e compreensiva do

profissional que realizará a abordagem familiar torna-se indispensável para que as famílias se

sintam confortáveis em tomar a decisão favorável. Antes de se iniciar a entrevista, é

necessário certificar-se de que todos os familiares estão cientes da morte do paciente.

Nesse momento, é apropriado permitir que as pessoas expressem seus sentimentos,

suas dúvidas, e que se sintam acolhidas pelo entrevistador, o qual não deve mostrar

impaciência e interromper o que estão falando. Assim, além de aumentar as possibilidades de

melhorar a qualidade de vida de muitas pessoas que aguardam pela vida, oferecem aos

familiares um tratamento respeitoso, de tal forma como o ser humano merece ser tratado.

Os resultados do nosso trabalho apontam que o descaso aliado ao processo burocrático

neste sentido, acaba por dificultar o processo:

… o descaso, a demora no processo de retirada dos órgãos provoca sofrimento. Torna-se, então,

muito complicado doar… (LL03);

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Resultados e Discussão | 72

De acordo com BOUSSO (2008), a influência positiva não é aquela que leva a família

a autorizar a doação, mas sim, a que conduz a família a uma trajetória de recuperação do

sofrimento, seja ela autorizando, ou não, a doação de órgãos. E em vez de oferecer somente a

possibilidade de doação e depois abandonar a família, pode-se extrair o seu melhor e

estimular à superação do caos.

Diante do exposto no decorrer da discussão dessa situação limite, referente à

necessidade de compreensão e acolhimento ao familiar, faz-se mister o convite para uma

breve reflexão em torno das palavras que construíram essa discussão. Em linhas gerais, pode-

se compreender a importância de oferecer suporte emocional aos familiares. Por outro lado, é

de grande relevância voltar à atenção ao profissional envolvido no processo de doação, ao

qual foram apontadas inúmeras sugestões para melhor atender o familiar. E neste momento,

torna-se coerente refletir sobre como é o seu preparo emocional para a temática em foco.

Portanto, a abordagem para doação de órgãos é uma fase delicada e requer também

preparo emocional do profissional de saúde, levando em consideração a individualidade de

cada família diante da notícia da morte do ente querido.

Pode-se dizer então que, para que esse processo ocorra com qualidade, o profissional

precisa encontrar um ponto de equilíbrio para lidar com conflitos pessoais que a confrontação

com a morte do outro lhe impõe. O que nos leva a questionar como estão sendo preparados

esses profissionais para atuarem com tais questões emocionais. Através das palavras de

Santos e Massarollo (2005), pode-se dizer que não há preparo prévio, o pesquisador relata que

a temática é incipiente durante a graduação. E o coordenador de transplante aprende sobre o

processo através da observação da atuação de colegas e dos relatos apresentados ao longo de

vivências, neste sentido. Porém, sabe-se da importância da formação educativa neste

processo.

Estudos realizados com enfermeiros identificam vários conflitos frente ao processo de

captação de órgãos, o que evidencia a complexidade de atuar nessa área; ao envolver-se na

abordagem para doação depara-se com o sofrimento provocado por uma perda, e ao solicitar a

doação, experimenta um conflito interno manifestado pelo embate entre desejo de respeitar a

dor da família e a necessidade de solicitar a doação (LIMA, 2009).

De acordo com as palavras de Pearson et al. (1995), os profissionais envolvidos no

cuidado de cada paciente e suas famílias também podem sentir desconfortos, medos, e

distanciarem-se do processo de doação para não sofrerem com essas experiências. Não é o

intuito tirar a responsabilidade do profissional de acolher, oferecer suporte emocional,

esclarecer dúvidas referentes ao processo. Mas sim, atentar para um olhar crítico sobre o

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Resultados e Discussão | 73

preparo desses profissionais. Diante dos relatos, torna-se possível compreender a falta de

entendimento e acolhimento durante o processo de internação do paciente, os próprios

profissionais precisam ser compreendidos e acolhidos. E assim, urge-se de sugerir intensas

investigações juntos aos graduandos, no intuito de construir estratégias educativas

visualizando o aumento no número de doação. Essa construção precisa ser realizada frente à

historicidade de cada um deles.

Para finalizar, neste momento as discussões serão referentes à categoria: Falta de

informação pelo profissional (SLC), destacando-se os seguintes artigos: LL02-LL04-WS02.

Essa categoria dá origem a duas subcategorias, as quais serão descritas no decorrer da

discussão.

Para melhor discutir esta categoria, faz-se necessário caminhar por questões que

envolvem a comunicação, a qual pode ser definida como uma troca de mensagens que exerce

influências no comportamento das pessoas envolvidas nesse processo e, é através dessa

habilidade que o homem se relaciona e apresenta os seus conhecimentos para o mundo

(STEFANELLI, 1993). Assim, existem dois meios de passar essas mensagens: o verbal e não-

verbal.

A comunicação verbal possibilita atribuir o significado das coisas que não são ditas

explicitamente, enriquecendo a compreensão da realidade. O conhecimento dos mecanismos

de comunicação facilita o desempenho das funções dos profissionais da saúde, bem como,

melhora o relacionamento entre os sujeitos envolvidos na assistência à saúde (DOBRO et al.,

1998).

Conforme pode ser observado no recorte a seguir, a habilidade de comunicação é

muito importante no processo de doação de órgãos, facilitando assim a compreensão dos

familiares referente ao estado de saúde do paciente, através da explicação de exames clínicos

e laboratoriais, aproximação da temática morte encefálica e principalmente no momento da

abordagem familiar para doação de órgãos - através da comunicação clara e acolhedora, a

probabilidade do resultado poder ser favorável, torna-se maior.

... os significados e respostas vão surgindo através da comunicação entre os familiares e

profissionais...(LL04);

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Resultados e Discussão | 74

Diante do exposto, vale ressaltar que, a Resolução CNE/CES NO 3, de 07 de

Novembro de 2001, p. 37, coloca a comunicação como uma das habilidades do Profissional

Enfermeiro:

... os profissionais de saúde devem ser acessíveis e devem manter a confiabilidade das informações a eles confiadas, na interação com outros profissionais de saúde e o público geral...

Em complemento, na Resolução COFEN-240/2000 no art. 26, essa relata claramente,

cabe ao profissional prestar adequadas informações ao cliente e família a respeito da

assistência de Enfermagem, possíveis benefícios, riscos e consequências que possam ocorrer.

Em acréscimo ao parágrafo anterior, cita-se a Resolução do COFEN 292/2004, que

proclama a necessidade de permanência do doador em UTI, até a retirada dos Órgãos,

incumbindo ao enfermeiro planejar, executar, coordenar, supervisionar e avaliar os

procedimentos de Enfermagem prestados aos doadores de órgãos e tecidos.

Tais palavras, rementem reflexões que vão ao encontro dessa resolução. Dentre os

profissionais que atuam na equipe intra-hospitalar, o enfermeiro é o que permanece junto ao

paciente por um período maior de tempo. Assim, pode-se dizer que, esse fato, aliado à

comunicação que é considerada umas das habilidades do enfermeiro, ressalta a relevância

desse profissional na abordagem familiar. De acordo com essas palavras McGough e Chopek

(1990) dizem que o profissional enfermeiro seria a pessoa recomendada para tal função.

Em contradição, o estudo de Rodrigo e Sato (2002) demonstra que, segundo a maioria

dos entrevistados, o médico é quem deve realizar tal abordagem.

Por outro lado, estudos mostram que é extremamente necessário, que sejam pessoas

treinadas para realizar essa tarefa (BEASLEY, 1999). Ou seja, não há exigência de um

profissional específico para realizar a função de abordar a família para doação de órgãos

(DIAMOND, et al. 1987).

De acordo com o estudo de Rech e Filho (2007), a abordagem pode ser feita por um

médico, psicólogo, assistente social ou enfermeiro entre outros da equipe e que tenha preparo

para essa função. O importante nesse empasse não é qual o profissional mais adequado, mas

sim, aquele que tem habilidade de comunicação para informar aos familiares sobre as

questões que envolvem o processo, doação/transplante, incluindo o esclarecimento sobre o

quadro clínico do paciente. Essa inquietação familiar pode ser observada abaixo:

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Resultados e Discussão | 75

... há necessidade de melhorar as informações prestadas aos familiares... (LL02);

… a informação sobre o estado do paciente nem sempre é dada, fazendo com que a falta de

esclarecimento sobre a gravidade do quadro seja motivo para acreditar na sua recuperação, quando,

na verdade, a situação é bastante grave… (WS02);

Agora, passaremos à reflexão sobre a subcategoria: Falta de informação pelo

profissional à família referente à possível Morte Encefálica (SLC01). Essa contém relatos

dos seguintes artigos: LL01-LL03-WS01-WS02. Por exemplo:

… a família fica chocada ao receber a informação do diagnóstico de morte encefálica quando não há

esclarecimento prévio sobre a possibilidade de ocorrência… (LL01);

Como já fora discutido anteriormente, o critério e o fator determinativo de morte são

questões extremamente polêmicas (SANTOS; BUENO, 2010). Advém da evolução

tecnológica e cultural da sociedade, caracterizado pelo problema crucial do diagnóstico

seguro de morte e da interrupção total do tratamento de sustentação da vida residual ou

artificial, sendo essencial para os procedimentos de retirada de órgãos vitais (SANTOS,

2009).

O momento de morte determina o fim da personalidade e a impossibilidade de relação

com o mundo e com o homem. Mas se sabe que os suportes de vida podem manter a vida

técnica e artificialmente por algum tempo, garantindo estado nutricional dos órgãos e tecidos,

favorecendo as condições de transplantes. Há que se considerar ser de grande importância,

após a constatação da morte encefálica, o período exato de tempo que deve ser esperado para

a remoção do tecido ou órgão a ser transplantado.

Neste sentido a Família é o elemento principal para que ocorra, com sucesso, o

processo de doação. Deste modo, ela deve receber todas as informações necessárias antes e

depois do diagnóstico de morte encefálica. Esse diagnóstico é avaliado como uma das fontes

de maior estresse e com maior frequência, seja pela falta de esclarecimento necessário sobre o

estado do paciente, ou até por sentir dúvidas e incertezas quanto ao seu diagnóstico

(CINQUE; BIANCHI, 2010). Isto posto, esse fato acaba se tornando um dos grandes fatores

que dificulta a decisão favorável da doação de órgãos, conforme pode observar no recorte

abaixo:

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Resultados e Discussão | 76

… acrescenta-se ao sofrimento e à revolta da família as dúvidas a respeito do que é morte encefálica

e o que acontece posteriormente... Insegurança em doar os órgãos da pessoa viva… (LL03);

Antes de qualquer tentativa de abordagem familiar é importante que se esclareça sobre

todo o processo de doação, incluindo o diagnóstico de morte encefálica, procurando entender

que esse tipo de morte não é simples intercorrência. Por vez, quando a família observa que

todos os recursos foram utilizados, aliados à possibilidade de acompanhar todos os exames

para tal diagnóstico, isso gera segurança e confiança na atuação profissional.

… a família não é informada do início dos procedimentos de confirmação de morte encefálica e a

notícia só é dada depois que o diagnóstico é constatado. A falta de esclarecimento gera angústia, dor

e desespero… (WS02)

O fato é que, lidar com a morte gera desconforto, torna-se mais complexo ainda

quando se refere à morte encefálica; o coração continua batendo e a temperatura corpórea

mantem-se nos padrões de normalidade, o que leva os familiares a crerem na reversão do

quadro e, assim, manifestarem dúvidas sobre a condição de morte.

Em muitos casos de morte encefálica os familiares são surpreendidos com a trágica notícia

que na maioria das vezes ocorre de forma súbita. Muitos desses pacientes são jovens e apresentam

longa vida pela frente, o que dificulta a aceitação e compreensão do quadro (EVANS, 1995).

Diagnosticar e manter o paciente com possível morte encefálica em condições

adequadas não é tarefa fácil. É preciso monitorização permanente na UTI, com o objetivo de

identificar pacientes com provável evolução para morte encefálica (RECH; FILHO, 2007).

A dificuldade de lidar com essa situação não ocorre somente entre os familiares. Senão

afeta também os profissionais de saúde (SILVA; SILVA, 2007). O que dificulta a

identificação de potenciais doadores e o diálogo com os familiares - comprometendo todo o

processo. Diante do exposto, Santos e Bueno (2010) alertam para a necessidade de um

preparo acadêmico, em relação à temática morte.

… as dúvidas a respeito do diagnóstico de morte encefálica podem manter a família em situação de

conflito. Dificultando a tomada da decisão e a convivência com a decisão de ter doado… (LL03);

... a ausência de confirmação do diagnóstico de morte encefálica e o desencontro das informações

transmitidas à família, pela equipe do hospital, gera dúvida sobre o quadro paciente e é motivo para

recusar a doação... (WS01);

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Resultados e Discussão | 77

Passaremos neste momento à reflexão sobre a subcategoria: Falta de informação pelo

profissional à família referente aos trâmites pós doação (SLC02), que contém informações

do seguinte artigo: LL01.

O processo ou o cuidado com o paciente não termina com a autorização para captação

de órgãos. O tratamento com o corpo do doador merece profunda consideração, já que esse

deve ser manipulado com respeito e dignidade.

A burocracia que gira em torno do processo doação/transplante é considerada um nó

crítico no Sistema Nacional de Transplante, pelo fato de reduzir o número de transplantes

realizados. A demora para a retirada dos órgãos e a preocupação com a mutilação do corpo

causam sofrimento e incômodo aos parentes. Esse atraso na liberação do corpo é relatado

como um ponto negativo no processo (RODRIGUES; SATO, 2003; ROZA, 2005; SCHEIN,

et al. 2008). Achados que vão ao encontro do recorte abaixo:

… o longo tempo, os trâmites e as informações contraditórias no processo de liberação do corpo pelo

IML causam transtornos e incomodam os familiares… (LL01);

Além disto, vários fatores são colocados como capazes de dificultar o processo

familiar de doação, como complicações com o funeral; diante da burocracia, a apropriação do

corpo torna-se sem previsão, o que altera consideravelmente os hábitos e rituais religiosos de

celebração à despedida do familiar, desrespeitando seus costumes e cultura (SIMINOFF;

BURANT; YOUNGNER, 2004).

Frente à morte, o ser humano que responde pelo paciente sente-se limitado, o que lhe

causa dificuldade de agir e de ser racional. Por isso, os familiares devem ser devidamente

informados sobre todos os procedimentos antes e depois da autorização para doação. Isto

possibilita evitar qualquer desconfiança sobre a atuação profissional, sobre o destino dos

órgãos e referente à integridade do corpo do seu ente querido. Esse relato está expresso

abaixo:

… as informações sobre como proceder, aonde ir e o tempo para liberação do corpo são imprecisas…

Diante todo o processo de doação e transplante por qual passa o paciente e os

familiares, bem como a atuação dos profissionais neste impasse, é extremamente complexo.

Assim, o conflito que gera na família é extremamente normal até que tudo possa ser

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Resultados e Discussão | 78

esclarecido, afetando certamente os níveis de saúde mental de todos aqueles que se envolvem

com essa situação. Enquanto isso não ocorre, vai surgir desconforto, insegurança,

desconfiança e depois, sentido de ambivalência quanto ao procedimento e a rapidez das

decisões diante das circunstâncias emergenciais.

Pensando nisto, acreditamos na importância do desenvolvimento do processo

educativo ao longo da vida, concernente ao pressuposto da doação e transplantes de órgãos e

tecidos do ser humano. Isto posto, leva a refletir sobre a necessidade de serviços e

profissionais sérios, éticos e comprometidos, equipe multidisciplinar competente e habilitada

para liderar estas questões, resgatando a humanização, a cidadania, a qualidade do serviço e

do cuidado/assistência, a solidariedade e a ética sobremaneira, tendo em vista, a segurança, o

respeito e a responsabilidade tanto para o ser ali inerte, quanto para aquele que sobreviverá,

através da doação do outro.

Enquanto este processo educativo se torna ainda incipiente, é preciso despertar,

principalmente nos profissionais da saúde, a consciência para uma doação/transplante mais

efetiva visando a melhoria desse processo envolvendo paciente, família e comunidade. O

ocorrido é encontrado na literatura científica a que propusemos buscar no presente estudo,

confirmando a ocorrência do despreparo dos profissionais para atuarem neste processo.

Neste sentido Freire (1987) nos alerta para uma educação libertadora, aberta e

democrática, permitindo o direito do ser humano libertar-se da ignorância que só emperra a

nossa promoção da saúde.

Ter consciência dos nossos direitos e deveres é uma questão de cidadania no processo

democrático. Neste intento, refletir faz necessário num processo horizontal que permite

dialogar com os pares para um processo político de democratização e de melhoria da

qualidade de vida. Só assim conseguimos avançar para a conscientização pessoal e coletiva de

todos.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Considerações Finais | 80

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando:

- que o pressuposto maior do nosso estudo foi explorar, recolher, organizar,

sintetizar e compartilhar a visão das famílias que tiveram a experiência de serem abordados

para doação de órgãos, no que refere a atuação dos profissionais envolvidos neste processo,

após o levantamento bibliográfico destinado para esse fim, seguido por filtragem sistemática

dos resultados, finalmente, encontramos seis artigos referentes às pesquisas realizadas no

território brasileiro e que responderam a nossa questão norteadora, durante o período de 2001

a 2011, publicações essas, ocorridas em periódicos distintos.

- a complexidade de ações que são necessárias no processo de doação de órgãos,

ocorre em detrimento aos aspectos burocráticos, a demora, o desgaste e o cansaço, o que

resulta em sofrimento, submetendo tanto a família quanto os profissionais em situações

estressantes.

- que na busca incessante dos textos sobre o tema central, no final da análise dos

resultados, identificamos três pontos que nos chamaram à atenção que são referentes à falta

de confiança na atuação profissional; atuação profissional sem compreensão e

acolhimento no momento familiar e falta de informação pelo profissional à família, tendo

essa última categoria dois desdobramentos que dizem respeito à falta de informação

referente à morte encefálica e sobre os trâmites necessários após a autorização para

doação de órgãos.

- que em relação à falta de confiança da família frente a atuação do profissional,

detectado nos artigos encontrados, é visível na literatura a menção de que há necessidade de

se desenvolver um atendimento adequado, humano e de ser visto somente como possibilidade

de salvar a vida de outro através da morte do ente querido, suscitando do profissional

aproximação junto à família, demonstrando sua verdadeira intenção, diminuindo ou sanando a

desconfiança do familiar referente à sua conduta, devendo revelar a ética profissional neste

sentido.

- que até o momento da abordagem familiar são realizados procedimentos que

precisam ser bem explicados aos familiares, cabe então, ao profissional da equipe, informar e

deixar claro que foi feito o possível e o melhor para salvar o paciente, pois que esse

profissional tem que ter conhecimento suficiente para responder as inquietações da família, a

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Considerações Finais | 81

fim de aumentar a credibilidade dos familiares sobre sua atuação; valendo ressaltar que, a

população brasileira é envolvida por uma cultura negativa sobre doação de órgãos, hoje em

menor escala, mas, que ainda acredita-se na suposta indução da morte para benefício próprio

da equipe, acreditando na existência de tráfico de órgãos, por influência da mídia, na

divulgação desta notícia. Isto justifica a importância de ações educativas, para reverter esse

quadro.

- que há falta de compreensão e acolhimento pelo profissional neste processo, em

relação à família, depreende-se haver necessidade de um entrosamento maior entre

família/profissional/paciente, o que é possível através de um processo democrático com a

família na UTI, informando o estado geral do paciente, oferecendo a ela, atenção, ouvindo

seus anseios, ofertando suporte emocional diante seus conflitos frente à perda do paciente.

Neste sentido, o profissional enfermeiro tem perfil e habilidades que possibilitam contribuição

de forma impactante, nessa fase de acolhimento e compreensão.

- que no momento da abordagem, a família precisa compreender o profissional

como alguém que vai auxiliá-lo e não interpretá-lo, como um caçador de órgãos, pois, mister

se faz entende-lo como agente da saúde que quer melhorar a qualidade de vida dos pacientes

que aguardam pela vida, sendo indispensável que as famílias o considere como um cuidador

respeitoso que os conduz à trajetória de recuperação do sofrimento frente à perda.

- que em diversos momentos deste estudo, ficou visível a necessidade que os

familiares têm de receberem informações sobre o processo, então torna-se claro que a

comunicação é extremamente importante para doação de órgãos, e na orientação o estado

clínico do paciente, de exames e aproximação da temática.

- a falta de informação e dúvidas sobre a morte encefálica geram uma série de

conflitos, pois representa uma das fontes de maior estresse, já que a morte natural desencadeia

desconforto, e muito mais grave é a morte encefálica, que se trata de circunstâncias como o

coração batendo, temperatura continua dentro dos padrões de normalidade, contudo com a

morte encefálica já constatada.

- que doar os órgãos significa crer que não há mais possibilidade de reversão do

quadro, momento em que se depara de forma consciente com a perda, com a aceitação da

realidade, e mudar ou reconstruir a história, não é tarefa simples, fato que agrava a situação,

quando essa doação rompe com as tradições culturais e históricas do funeral. A burocracia

que envolve o processo de captação, reconstituição e liberação do corpo resulta então, em

experiências negativas, principalmente quando as informações necessárias não foram

realizadas ou foram incipientes pelos profissionais.

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Considerações Finais | 82

- as marcas deixadas pela mídia referente ao tráfico de órgãos e imprudências

cometidas por profissionais da saúde, depreende-se, pois, tornar-se de extrema importância

manter o familiar ciente sobre todos os procedimentos antes e depois da autorização para

doação, evitando qualquer desconfiança sobre a atuação profissional, sobre o destino dos

órgãos e referente à integridade do corpo do seu ente querido, assim como, a burocracia

necessária que envolve o processo, a qual é necessária para que não ocorram situações que

venham danificar a visão da população sobre a conduta ética do profissional.

Assim, diante do exposto, depreendemos que os achados da literatura que nortearam o

presente estudo contribuíram consideravelmente para atingir o objetivo da pesquisa, revelando

a incipiência da atuação profissional na doação para transplantes de órgãos e tecidos

humanos, na visão da família. Fica, portanto, evidente que os pontos que dificultam o

processo de doação de órgãos, possivelmente, são referentes à atuação profissional, fazendo-

se mister levantar maiores reflexões sobre o preparo dos profissionais envolvidos neste

processo. Lidar com a morte e morte encefálica, bem como a doação e o transplante

representam algo difícil tanto para a família quanto para o profissional envolvido,

demandando de cuidados específicos com a saúde mental dele. Então, a equipe de saúde

suscita de preparo educativo para lidar com estas questões, de forma humanista e humanitária,

solidária, ética e cidadã.

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7. REFERÊNCIAS

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Referências | 84

7. REFERÊNCIAS

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ANEXOS

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Anexos | 94

ANEXOS

ANEXO A - TERMO DE DECLARAÇÃO DE MORTE ENCEFÁLICA Res. CFM n° 1.480 08/08/1997

NOME: ______________________________________________________________________ PAI: ______________________________________________________________________ MÃE: ______________________________________________________________________ IDADE: ______ANOS _____MESES _____DIAS DATA DE NASCIMENTO ___/____/____ SEXO: M F RAÇA: A B N Registro Hospitalar: ________________ A - CAUSA DO COMA

A.1 – Causa do Coma: A.2 – Causas do coma que devem ser excluídas durante o exame

a) Hipotermia ( ) SIM ( ) NÃO b) Uso de drogas depressoras do sistema nervoso central ( ) SIM ( ) NÃO Se a resposta for sim a qualquer um dos itens, interrompe-se o protocolo B. EXAME NEUROLÓGICO – Atenção verificar o intervalo mínimo exigível entre as avaliações clínicas constantes da tabela abaixo: IDADE INTERVALO 7 dias a 2 meses incompletos 48 horas 2 meses a 1 ano incompleto 24 horas 1 ano a 2 anos incompletos 12 horas Acima de 2 anos 6 horas (Ao efetuar o exame, assinalar uma das duas opções SIM/NÃO obrigatoriamente, para todos os itens abaixo Elementos dos exame neurológico Resultados 1º exame 2º exame Coma Aperceptivo ( ) SIM ( ) NÃO ( ) SIM ( ) NÃO Pupilas fixas arreativas ( ) SIM ( ) NÃO ( ) SIM ( ) NÃO Ausência de reflexo córneo palpebral ( ) SIM ( ) NÃO ( ) SIM ( ) NÃO Ausência de reflexo oculocefálicos ( ) SIM ( ) NÃO ( ) SIM ( ) NÃO Ausência de respostas às provas calóricas

( ) SIM ( ) NÃO ( ) SIM ( ) NÃO

Ausência de reflexo de tosse ( ) SIM ( ) NÃO ( ) SIM ( ) NÃO Apnéia ( ) SIM ( ) NÃO ( ) SIM ( ) NÃO

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Anexos | 95

C. ASSINATURAS DOS EXAMES CLÍNICOS – ( Os exames devem ser realizados por profissionais diferentes, que não poderão ser integrantes da equipe de remoção e transplante. 1. PRIMEIRO EXAME DATA: ___/___/___ HORA: ___________ NOME DO MÉDICO: _____________________ CRM: _____________ FONE:_______________ END.: ____________________________ ASSINATURA: __________________________

2. SEGUNDO EXAME DATA: ___/___/___ HORA: ___________NOME DO MÉDICO: _____________________ CRM: _____________ FONE:_______________ END.: ____________________________ ASSINATURA: __________________________

D. EXAME COMPLEMENTAR – Indicar o exame realizado e anexar laudo com a identificação do médico responsável

1. Angiografia cerebral

6. Tomografia por emissão de fóton único

2. Cintilografia Radiolsotópica

7. E.E.G

3.Doppler Transcraneano 8. Tomografia por emissão de positrôns

4. Monitorização da pressão intracraneana 9 . Extinção Cerebral do Oxigênio

5. Tomografia Computadorizada com xenônio 10. Outros (citar)

E. OBSERVAÇÕES: I. Para o diagnóstico de morte encefálica, interessa exclusivamente a reatividade supraespinal. Conseqüentemente, este diagnóstico não é afastasdo através da presença de sinais de reatividade infraespinal (atividade reflexa medular), tais como: reflexos osteolondinosos (reflexos profundos), cutâneos-abdominais, cutâneo-plantar em flexão ou extensão, cremastérico superficial ou profundo, ereção peniana reflexa, arrepio, reflexos flexores de retirada dos membros inferiores ou superiores, reflexo tônico cervical.

2. Prova Calórica 2.1 – Deve-se certificar que não há obstrução do canal auditivo por cerúmen ou qualquer outra condição que dificulte a correta realização do exame. 2.2 – Usar 50 ml de líquido (soro fisiológico, água, etc), em torno de 0ºC em cada ouvido. 2.3 – Manter a cabeça elevada em 30 (trinta) graus durante a prova. 2.4 – Constatar a ausência de movimentos oculares. 3 – Teste da Apnéia No doente em coma, o nível sensorial de estímulo para desencadear a respiração é alto, necessitando-se elevar a pCO2 até 55mmHg, fenômeno que pode determinar um tempo de

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Anexos | 96

vários minutos entre a desconexão do respirador e o aparecimento dos movimentos respiratórios, caso a região ponto-bulbar ainda esteja íntegra. A prova da apnéia é realizada de acordo com o seguinte protocolo: 3.1 – Manter o paciente no respirador com Fi 02 a 100%, por 10 minutos. 3.2 – Desconectar o tubo do respirador. 3.3 – Instalar cateter traqueal de oxigênio com fluxo de 6 litros por minuto. 3.4 – Observar o surgimento de movimentos respiratórios por 10 minutos, ou até atingir pCO2 = 55 mmlHg. 4 –O exame clínico deve ser acompanhado de um exame complementar, que demonstre a ausência de circulação sanguínea intracraniana, atividade elétrica ou atividade metabólica cerebral. Observar o disposto abaixo (itens 5 a 6), com relação ao tipo de exame e faixa etária. 5 – Em pacientes com dois anos ou mais, fazer 1 exame complementar entre os abaixo mencionados: 5.1 – Atividade circulatória cerebral: angiografia, cintilografia radioisotópica, doppler transcraniano, monitorização da pressão intracraniana, tomografia computadorizada com xenônio, SPECT. 5.2 – Atividade elétrica: eletroencefalograma 5.3 – Atividade metabólica: PET, extração cerebral de oxigênio. 6 – Para pacientes abaixo de 02 anos: 6.1 – De 1 ano a 2 anos incompletos: o tipo de exame é facultativo. No caso de eletroencefalograma, são necessários 2 registros com intervalo mínimo de 12 horas. 6.3 – De 7 dias a 2 meses de idade (incompletos); dois eletroencefalogramas com intervalo de 48 horas. 7 – Uma vez constatada a morte encefálica, cópia deste termo de declaração deve obrigatoriamente ser enviada ao órgão controlador estadual (Lei 9.434, art. 13).

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Anexos | 97

ANEXO B - JBI QARI Critical Appraisal Checklist for Interpretive & Critical Research Reviewer ___________________ Date __________ Author ____________________ Year __________ Record Number ______

CRITERIA YES

NO

UNCLEAR

NOT APPLICAB

LE 1. Is there congruity between the stated philosophical

perspective and the research methodology?

2. Is there congruity between the research methodology

and the research question or objectives?

3. Is there congruity between the research methodology and

the methods used to collect data?

4. Is there congruity between the research methodology and

the representation and analysis of data?

5. Is there congruity between the research methodology and

the interpretation of results?

6. Is there a statement locating the researcher culturally or

theoretically?

7. Is the influence of the researcher on the research, and vice-

versa, addressed?

8. Are participants, and their voices, adequately represented?

9. Is the research ethical according to current criteria or, for

recent studies, and is there evidence of ethical approval by

an appropriate body?

10. Do the conclusions drawn in the research report flow from

the analysis, or interpretation, of the data?

Overall appraisal: Include Exclude Seek further info. Comments (Including reasons for exclusion)