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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA
FLÁVIA FERRAZ
Mapeamento das Áreas de Preservação Permanente e Diagnóstico Socioambiental da Microbacia do Ribeirão Taboão (Lorena/SP)
Lorena - SP 2018
FLÁVIA FERRAZ
Mapeamento das Áreas de Preservação Permanente e Diagnóstico Socioambiental da Microbacia do Ribeirão Taboão (Lorena/SP)
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado na
Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de
São Paulo como requisito básico parcial para a
conclusão da Graduação do curso de Engenharia
Ambiental.
Orientadora: Profa. Dra. Danúbia Caporusso Bargos
Lorena - SP 2018
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE
Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema Automatizado da Escola de Engenharia de Lorena,
com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
Ferraz, Flávia
Mapeamento das áreas de preservação
permanente e diagnóstico socioambiental da
microbacia do Ribeirão Taboão (Lorena/SP)
/ Flávia Ferraz; orientadora Danúbia
Caporusso Bargos. - Lorena, 2018. 60 p.
Monografia apresentada como requisito
parcial para a conclusão de Graduação do
Curso de Engenharia Ambiental - Escola de
Engenharia de Lorena da Universidade de
São Paulo. 2018
1. Mapeamento. 2. Diagnóstico socioambiental. 3. Nascentes. 4. Área de
preservação permanente. I. Título. II.
Bargos, Danúbia Caporusso, orient.
AGRADECIMENTOS
À Deus, pelo fôlego de vida e pelas bênçãos concedidas.
Aos meus pais, André e Helena, que tanto me apoiaram ao longo da graduação e
sonharam comigo.
Ao meu noivo, Otávio, pelo carinho e compreensão nessa reta final e pela ajuda de
diversas formas para a realização deste trabalho.
À minha orientadora, Profa. Dra. Danúbia, que me orienta desde 2015 em projetos
de pesquisa e que contribuiu muito para a minha escolha de área de atuação
profissional.
Às minhas amigas de graduação, Débora e Giulia, que me acompanharam ao longo
desses cinco anos de curso e enfrentaram dificuldades comigo.
À todos os professores, que de alguma forma contribuíram para o meu aprendizado.
RESUMO
FERRAZ, F.; BARGOS, D.C. Mapeamento das Áreas de Preservação Permanente e
Diagnóstico Socioambiental da Microbacia do Ribeirão Taboão (Lorena/SP). 2018.
Monografia (Curso de Engenharia Ambiental) - Escola de Engenharia de Lorena,
Universidade de São Paulo. Lorena, 2018.
O uso e ocupação da terra desregrado de áreas próximas aos cursos d’água e às
nascentes provoca diversos processos de degradação das matas ciliares, como a
remoção da vegetação, o emprego de práticas agrícolas indevidas e a
impermeabilização do solo devido à urbanização. Diante disso, o principal objetivo
deste trabalho consistiu em realizar o mapeamento das formas de uso da terra nas
áreas de preservação permanente (APP) e diagnóstico socioambiental da Microbacia
do Ribeirão do Taboão (MBRT), buscando subsidiar políticas públicas no município de
Lorena/SP. A realização deste trabalho ocorreu em diferentes etapas de forma
sistematizada, sendo iniciado com um levantamento bibliográfico e elaboração de uma
base de dados georreferenciados. Na sequência, foi realizado o mapeamento das
nascentes e das principais formas de uso da terra nas APP do Ribeirão do Taboão que
subsidiaram a classificação das nascentes. A microbacia possui 502 nascentes
distribuídas por uma área de aproximadamente 81,61 km2, das quais cerca de 21,92
km² são de APP onde os usos predominantes são áreas de vegetação natural
(47,63%), pastagem (26,37%) e áreas de várzea (10,08%). Os resultados indicam que
aproximadamente 35,6% das APP encontram-se em desacordo com a legislação e
39,8% das nascentes se encontram degradadas; enquanto 34,1% encontram-se
perturbadas e 26,1% preservadas. A partir dos resultados obtidos, espera-se contribuir
para a criação de um banco de dados espaciais que possam subsidiar projetos como,
por exemplo, de recuperação de nascentes, além de colaborar com o poder público na
elaboração de práticas, ações e políticas públicas para melhoria da gestão e
planejamento ambiental no município de Lorena/SP.
Palavras-chaves: Mapeamento; APP; Diagnóstico Socioambiental; Nascentes.
ABSTRACT
FERRAZ, F.; BARGOS, D.C. Mapping of Permanent Preservation Areas and
Socio-Environmental Diagnosis of the micro watershed of the Ribeirão Taboão
(Lorena/SP). 2018. Monografy (Environmental Engineering Course) - Escola de
Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo. Lorena, 2018.
The land use and occupation in areas close to the unruly watercourses and springs
causes various degradation processes of riparian forests, such as the removal of
vegetation, the employment of inappropriate agricultural practices and the soil
waterproofing due to urbanization. In addition, the main objective of this work was to
perform the mapping of land use forms in areas of Permanent Preservation (APP) and
socio-environmental diagnosis of the micro watershed Ribeirão do Taboão (MBRT),
seeking to subsidise public policies in the municipality of Lorena/SP. The
accomplishment of this work occurred in different stages of a systematized way, being
started with a bibliographic survey and elaboration of a georeferenced database.
Afterwards, the mapping of the sources and main forms of land use in the Ribeirão do
Taboão APP was carried out, which subsidized the classification of the sources. The
micro watershed has 502 springs distributed over an area of approximately 81,61 km2,
of which approximately 21,92 km² are APP where the predominant uses are areas of
natural vegetation (47,63%), pasture (26,37%) and meadow areas (10,08%). The results
indicate that 35,6% of the APP are in disagreement with the legislation and 39,8% of the
springs are degraded, while 34,1% are disturbed and 26,1% preserved. From the
obtained results, it is expected to contribute to the creation of a database of spatial data
that can support projects such as, for example, recovery of springs, as well as
collaborating with public power in the development of practices, actions and public
policies for improving the management and environmental planning in the municipality of
Lorena/SP.
Keywords: Mapping; APP Environmental Diagnosis; springs;
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Estrutura geral de um SIG.............................................................................19
Figura 2 – Fluxograma da metodologia adotada.............................................................23
Figura 3 – Evolução da densidade demográfica de Lorena-SP entre 1980 a 2018........31
Figura 4 – PIB per Capita do município de Lorena em relação ao total do estado (2002 a
2015)...............................................................................................................................31
Figura 5 – Total de despesas municipais em Gestão Ambiental....................................32
Figura 6 – Localização da MBRT no município de Lorena-SP.......................................34
Figura 7 – Pedologia e Geomorfologia do município de Lorena/SP...............................36
Figura 8 – Declividade do município de Lorena-SP........................................................37
Figura 9 – Áreas de risco no município de Lorena-SP, segundo o IG (2015).................40
Figura 10 – Gráfico do quantitativo das formas de uso e ocupação da terra nas APP da
MBRT..............................................................................................................................41
Figura 11 – Microbacia do Ribeirão do Taboão..............................................................42
Figura 12 – Formas de uso e ocupação da terra nas APP da MBRT.............................43
Figura 13 – Formas de uso e ocupação da terra encontradas na MBRT.......................45
Figura 14 – Classificaçao do nível de degração das nascentes da MBRT.....................48
Figura 15 – Indicadores socioeconômicos dos setores censitários................................50
Figura 16 – Indicadores de saneamento dos setores censitário.....................................53
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Áreas consideradas como APP segundo o Código Florestal Brasileiro........17
Tabela 2 – Classificação das formas de uso e ocupação da terra..................................26
Tabela 3 – Área em km² das formas de uso e ocupação da terra nas APP da MBRT...46
LISTA DE SIGLAS
APP Áreas de Preservação Permanente
CETESB Companhia Ambiental do Estado de São Paulo
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
EMPLASA Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDHM Índice de Desenvolvimento Humano Municipal
IG Instituto Geológico
IGC Instituto Geográfico Cartográfico
MBRT Microbacia do Ribeirão do Taboão
MDE Modelo Digital de Elevação
MMA Ministério do Meio Ambiente
PIB Produto Interno Bruto
PMGIRS Plano Municipal Integrado de Resíduos Sólido
PMISB Plano Municipal Integrado de Saneamento Básico
SEADE Sistema Estadual de Análise de Dados
SIG Sistemas de Informação Geográfica
SMA Secretaria do Meio Ambiente
SRTM Shuttle Radar Topography Mission
WMS Warehouse Management System
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA ............................................................................ 11
2. OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS .................................................................... 14
2.1 Objetivos Gerais ................................................................................................. 14
2.2 Objetivos Específicos ........................................................................................ 14
3. SÍNTESE DA BIBLIOGRAFIA FUNDAMENTAL ....................................................... 15
3.1 A Bacia Hidrográfica como Unidade de Planejamento ................................... 15
3.2 Geoprocessamento para Análises Ambientais ............................................... 18
3.3 Mapeamento de Uso e Ocupação da Terra e Diagnóstico Socioambiental .. 21
4. ASPECTOS METODOLÓGICOS ............................................................................... 24
4.1 Levantamento Bibliográfico e Elaboração da Base de Dados
Georreferenciados ....................................................................................................... 24
4.2 Mapeamento das formas de uso e ocupação da terra nas APP e
classificação das nascentes ....................................................................................... 26
4.3 Elaboração dos mapas temáticos e análises quali-quantitativas .................. 29
5. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDOS ........................................................ 31
5.1 Aspectos Históricos, sociais e econômicos .................................................... 31
5.2 Aspectos Físico-Territoriais .............................................................................. 36
6. RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................................... 42
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 50
8. REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 57
11
1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA
Os problemas ambientais são ocasionados, principalmente, pela relação
exploratória e degradadora dos recursos naturais por grande parte da humanidade.
Dentre esses recursos, os hídricos e os biológicos foram os que mais sofreram
exploração, sendo exauridos, poluídos e consumidos de forma inadequada e desigual
ao longo dos anos (GASS; FORNO; HAAS, 2013, p. 12).
Em relação aos recursos hídricos, Gass et al. (2013) afirmam que as nascentes são
as que mais sofrem com a constante pressão das atividades da sociedade, sendo
sujeitas às transformações espaciais. Dessa forma, é preciso estabelecer medidas para
a preservação das nascentes, uma vez que possuem importância tanto para o
abastecimento quanto para os cursos d’água e, consequentemente, para as bacias
hidrográficas.
Nessa temática, deve-se destacar o uso e ocupação da terra desregrado de áreas
próximas aos cursos d’água e às nascentes, onde há processos de degradação das
matas ciliares, como a remoção da vegetação, o emprego de práticas agrícolas
indevidas e impermeabilização do solo devido à urbanização. Portanto, segundo o
IBGE, o conhecimento sobre o uso da terra ganha destaque pela necessidade de
garantir sua sustentabilidade diante das questões ambientais, sociais e econômicas a
ele relacionadas e trazidas à tona no debate sobre o desenvolvimento sustentável
(IBGE, 2013).
Tendo em vista a necessidade de identificação da situação que se encontram os
recursos hídricos de uma bacia hidrográfica, o geoprocessamento é uma ferramenta de
grande importância para a realização de diagnósticos e análises, por ser capaz de
coletar e integrar dados de diversas fontes de dados. O Sistema de Informações
Geográficas (SIG), por sua vez, pode ser considerado como um importante meio de
apoio e desenvolvimento de aplicações voltadas ao meio ambiente, pois facilita a
integração de dados espaciais e permite a indicação de alternativas para diminuir
impactos identificados na área de estudo (SENA et al, 2012).
Diante disso, é de extrema importância a realização de diagnósticos das condições
das áreas de preservação permanente (APP) dos cursos d’água e das nascentes
12
utilizando ferramentas de geoprocessamento, com a finalidade de estabelecer
processos adequados para preservação e/ou conservação e, dependendo da situação,
adotar medidas para recuperação destas APP.
A área estudada neste trabalho é a microbacia do Ribeirão do Taboão (MBRT)
localizada no município de Lorena (SP), sendo um dos afluentes do Rio Paraíba do Sul.
Segundo o Plano Municipal Integrado de Resíduos Sólido (PMGIRS) de 2016, existe
uma área próxima ao Ribeirão do Taboão que atualmente é residencial; porém, há
muitos anos esta mesma área recebeu o descarte irregular de resíduos sólidos. Hoje,
encontra-se em processo de recuperação ambiental e, em 2013, a Secretaria do Meio
Ambiente (SMA) em atendimento a CETESB, realizou diversas análises para reabilitar a
área para uso habitacional, com base no Manual de Gerenciamento de Áreas
Contaminadas. Somente em 2015 a Administração Municipal recebeu o Termo de
Reabilitação para Uso Declarado (LORENA, 2016).
De acordo com o Plano Municipal Integrado de Saneamento Básico (PMISB)
(2010), na região rural próxima ao Ribeirão do Taboão existem lançamentos in natura
de esgoto doméstico e de efluentes de lavagem de chiqueiro. Além disso, o PMISB
destaca uma grande dificuldade em realizar ações de manutenção em determinados
trechos dos corpos hídricos urbanos no município, como o desassoreamento, devido à
ocupação irregular nas margens. Isso é o caso também do Ribeirão Taboão, pois, além
de abranger a área rural, atravessa toda a extensão urbana para confluir-se ao Rio
Paraíba do Sul (LORENA, 2010).
Diante dessa problemática, justifica-se a escolha da área de estudo, principalmente
por já ter sofrido contaminação por descarte irregular de resíduos sólidos, por sofrer
com o lançamento de esgoto doméstico e outros efluentes das áreas rurais, e pela
ocupação irregular das áreas de margem. Com isso, afeta-se diretamente a qualidade
dos cursos d’água dessa microbacia.
O trabalho está estruturado em sete partes. Na seção 2 são apresentados os
objetivos gerais e específicos da pesquisa, enquanto na seção 3 é apresentada uma
síntese da bibliografia fundamental sobre a temática estudada, abordando,
principalmente, a respeito de bacia hidrográfica como unidade de planejamento,
geoprocessamento e mapeamento das formas de uso da terra. Na seção seguinte são
13
detalhados os aspectos metodológicos adotados para a realização do trabalho. A quinta
seção apresenta uma caracterização da área de estudos, fazendo um levantamento de
informações gerais do município e, posteriormente, focando nas informações
preliminares da microbacia. A seção 6 traz os resultados e discussões, enquanto na
seção 7 constam as considerações finais.
14
2. OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS
2.1 Objetivos Gerais
O principal objetivo deste trabalho consistiu em realizar um diagnóstico
socioambiental e o mapeamento das formas de uso da terra nas áreas de preservação
permanente (APP) hídricas da Microbacia do Ribeirão do Taboão (MBRT), buscando
subsidiar políticas públicas para melhoria da gestão e planejamento ambiental no
município de Lorena/SP.
2.2 Objetivos Específicos
Para o alcance do objetivo proposto, tornou-se necessário o alcance dos objetivos
específicos a seguir:
• Delimitar a microbacia, as APP de cursos d’água e nascentes do Ribeirão
Taboão;
• Identificar e classificar as principais formas de uso e ocupação da terra nas APP
hídricas da MBRT e sua conformidade com a legislação vigente, conforme
proposta apresentada por Campos e Matias (2010);
• Espacializar indicadores socioeconômicos e de saneamento da área que
compreende a microbacia em estudo;
• Classificar o nível de degradação das nascentes da microbacia da MBRT,
conforme adaptações da metodologia proposta por Pinto (2003).
15
3. SÍNTESE DA BIBLIOGRAFIA FUNDAMENTAL
3.1 A Bacia Hidrográfica como Unidade de Planejamento
Segundo Barrella et al (2001), a bacia hidrográfica pode ser entendida como um
conjunto de terras drenadas por um rio e seus afluentes, formada nas regiões mais
altas do relevo por divisores de água, onde as águas das chuvas, ou escoam
superficialmente formando os riachos e rios, ou infiltram no solo para formação de
nascentes e do lençol freático.
A bacia hidrográfica pode ser subdividida em sub-bacias e microbacias. No entanto,
como afirma Teodoro et al (2007, p. 138), esses termos não apresentam uma
convergência conceitual na literatura técnico-científica. Neste trabalho adotou-se as
definições de Faustino (1996), em que as sub-bacias são áreas de drenagem dos
afluentes do curso d’água principal e possuem área maior que 100 km² e menor que
700 km², enquanto as microbacias possuem área inferior a 100 km².
Realizar análises e diagnósticos na escala de microbacias é de grande importância
pois elas possuem maior sensibilidade à alterações e degradações ambientais, como o
uso do solo e eventos críticos de chuva. Segundo Calijuri e Bubel (2006), as
microbacias são áreas frágeis e frequentemente ameaçadas por perturbações, nas
quais as escalas espacial, temporal e observacional são fundamentais.
Como afirmam Silva et al (2016, p. 972), qualquer grande alteração em uma bacia
hidrográfica, seja em sua estrutura de relevo ou no uso e ocupação do solo, tende a
desencadear impactos diretos sobre os recursos hídricos a jusante se não forem
tomadas medidas preventivas e/ou corretivas para se evitar tal cenário. Ou seja, o
processo de urbanização desencadeia impactos ao meio ambiente que afetam
diretamente a qualidade e disponibilidade hídrica das bacias.
O processo de urbanização promove uma crescente demanda por recursos naturais
e do espaço físico, com isso áreas que deveriam servir como suporte à preservação
ambiental, como as margens de córregos e rios (as APP), passam a serem ocupadas
de forma desordenada e sem planejamento. Isso ocasiona impactos ambientais como
inundações e enchentes, devido à impermeabilização do solo; contaminação hídrica
16
devido ao despejo de esgoto in natura nos corpos hídricos; proliferação de doenças de
veiculação hídrica; deslizamento de terra, erosões e assoreamento dos cursos d’água,
devido ao desmatamento; dentre outros impactos (SILVA et al, 2016, p. 967).
Diante disso, a bacia hidrográfica deve ser estudada de forma mais abrangente,
levando em consideração não apenas a sua rede de drenagem, mas também sua
complexidade fisiográfica, socioeconômica e cultural. Dessa forma, é possível analisá-la
como uma unidade territorial de planejamento e gestão. De acordo com Nascimento
(2013, p.110), essa delimitação de bacias como unidades de análises para estudos de
planejamento justifica-se não só pelo reconhecimento da importância dos recursos
hídricos, mas também pela riqueza de variáveis a serem destacadas na pesquisa, como
o relevo, solo, vegetação e interferências humanas.
Quando se considera a bacia hidrográfica uma unidade territorial de planejamento,
propostas como proteção de recursos hídricos e de APP podem ser melhor
estruturadas e contribuírem de forma mais efetiva para implantação de medidas
corretivas ou de prevenção, pois analisa-se a bacia como um todo e todas as
influências e interferências sofridas por ela.
Tendo em vista a importância da proteção dos recursos hídricos, o planejamento e a
gestão urbana são ferramentas necessárias para se promover tal proteção. Nesse
sentido, tem-se que o planejamento ocorre em maior escala temporal e espacial, se
remetendo ao futuro, à compreensão e previsão de processos; já a gestão traduz o
acompanhamento da dinâmica urbana nos processos de transformação em menor
escala; em outras palavras, significa administrar uma situação presente (MOURA, 2014
p. 51).
Quanto a diferença entre planejamento e gestão, Souza (2002, p. 46) argumenta
que:
O planejamento é a preparação para a gestão futura, buscando-se evitar ou minimizar problemas e ampliar margens de manobra; e a gestão é efetivação, ao menos em parte (pois o imprevisível e o indeterminado estão presentes, o que torna a capacidade de improvisação e a flexibilidade sempre imprescindíveis), das condições que o planejamento feito no passado ajudou a construir (SOUZA, 2002, p. 46)
Câmara et al (2001, p. 289) afirmam que na visão de gestão do território, toda ação
de planejamento, ordenação ou monitoramento do espaço deve incluir a análise de
17
diferentes componentes, incluindo o meio físico-biótico, a ocupação humana e seu
inter-relacionamento.
Entre as áreas que merecem destaque para aplicação de medidas protetivas ou de
recuperação, através de, por exemplo, um planejamento ou gestão ambiental, estão as
matas ciliares; pois, essa vegetação ciliar tem um papel estratégico na conservação da
biodiversidade e na preservação da qualidade da água, impedindo a erosão de solos e,
com isso, evitando a sedimentação e o assoreamento do leito (FELIPE, 2015, p.14;
MACEDO, 1993, p.1).
Assim sendo, é importante destacar a Lei nº 12.651 de 25 de maio de 2012, que
institui o novo Código Florestal, a qual estabelece normas gerais sobre o local e forma
que a vegetação nativa do território brasileiro pode ser explorada, abordando assuntos
como proteção da vegetação, áreas de proteção permanente e de reserva legal, o
suprimento de matéria-prima florestal, o controle da origem dos produtos florestais e o
controle e prevenção dos incêndios florestais. Um de seus principais objetivos é
promover o desenvolvimento sustentável no país.
Conforme a Lei nº 12.651, as áreas de preservação permanente são definidas
como:
Áreas, cobertas ou não por vegetação nativa, localizadas na zona rural ou urbana, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas (BRASIL, 2012)
Na seção I do capítulo 2 do Código Florestal Brasileiro, são estabelecidas as
delimitações das APP. Com base nesta lei, são apresentadas na tabela 1 as definições
estabelecidas em um resumo esquemático dos tipos de áreas consideradas APP e os
critérios para sua delimitação e extensão (BRASIL, 2012).
18
Tabela 1 - Áreas consideradas como APP segundo o Código Florestal Brasileiro.
Área de Preservação Permanente
Critério para delimitação Extensão da APP
Rios e Cursos d'água
Largura do Rio (m) Largura da faixa marginal da APP
(m)
600 500
Nascentes ou olhos d'água perenes
APP com raio de 50 m ao redor da nascente e dos olhos d'água perenes
Lagos e Lagoas
Localização Largura da faixa marginal da APP
(m)
Área urbana 30
Área rural, com corpo d'água 45°, equivalente a 100% na linha de maior
declive
Fonte: Adaptado a partir da Lei nº 12.651 (BRASIL, 2012).
3.2 Geoprocessamento para Análises Ambientais
Entende-se cartografia como sendo a representação geométrica plana, simplificada
e convencional de toda a superfície terrestre ou de parte desta, apresentada através de
mapas, cartas ou plantas. A cartografia facilita e torna mais eficaz a compreensão, pois
diversas análises ou levantamentos ambientais, socioeconômicos, educacionais ou de
saúde, podem ser representados espacialmente e, assim, retratar a dimensão territorial
de tal levantamento (IBGE, 2009, p.16).
19
Enquanto a cartografia preocupa-se em apresentar um modelo de representação de
dados para os processos que ocorrem no espaço, o geoprocessamento utiliza técnicas
matemáticas e computacionais, fornecidas pelos Sistemas de Informação Geográfica
(SIG), para tratar processos que ocorrem no espaço geográfico. Dessa forma, é
evidente que há uma relação interdisciplinar entre cartografia e geoprocessamento, que
é o espaço geográfico (CÂMARA et al, 2001, p. 141).
De acordo com Moretti (2011, p. 20), o SIG se configura como um conjunto de
ferramentas computacionais utilizadas no geoprocessamento. Minoti (2006, p. 8)
considera o SIG como uma ferramenta computacional de grande importância por ser
um sistema de informações projetado para trabalhar com dados georreferenciados.
Assim, Minoti afirma que o SIG é um banco de dados que permite ao usuário trabalhar
com dados referenciados espacialmente e utilizá-los em operações computacionais.
Segundo Fitz, SIG pode ser definido como:
“[...] um sistema constituído por um conjunto de programas computacionais, o qual integra dados, equipamentos e pessoas com o objetivo de coletar, armazenar, recuperar, manipular, visualizar e analisar dados espacialmente referenciados ao sistema de coordenadas conhecido” (FITZ, 2008, p.23).
Dentre as diversas aplicações de um SIG, há pelo menos três grandes maneiras de
utilizar um SIG, seja como ferramenta para produção de mapas; como suporte para
análise espacial de fenômenos; ou como um banco de dados geográficos, com funções
de armazenamento e recuperação de informação espacial.
Em relação a estrutura geral de um SIG, Câmara et al (2001) indicam que um SIG
tem os seguintes componentes: Interface com usuário; Entrada e integração de dados;
Funções de consulta e análise espacial; Visualização e plotagem; Armazenamento e
recuperação de dados (organizados sob a forma de um banco de dados geográficos). A
Figura 1 a seguir apresenta a estrutura geral de um SIG.
20
Figura 1 – Estrutura geral de um SIG
Fonte: CÂMARA et al, 2001, p. 44.
A respeito da representação geométrica dos dados, existem duas grandes classes
de representação: a vetorial e a matricial. Na representação matricial, a representação
consiste no uso de uma malha quadriculada regular dividida em linhas e colunas sobre
a qual se constrói, célula a célula, o elemento que está sendo representado. Ou seja, é
uma matriz de valores onde cada célula possui um código referente ao atributo
estudado, pois, dessa forma, o computador sabe a que elemento ou objeto pertence
determinada célula (CÂMARA, 2005).
Na representação vetorial, a representação de um elemento ou objeto é uma
tentativa de reproduzi-lo o mais exatamente possível; ou seja, representam as
coordenadas das fronteiras de cada entidade geográfica através de três formas
básicas: pontos, linhas e polígonos. Um ponto é um par ordenado (x, y) de coordenadas
espaciais, pode ser utilizado para identificar localizações ou ocorrências no espaço. As
linhas poligonais, arcos, ou elementos lineares são um conjunto de pontos conectados,
sendo utilizadas para guardar feições unidimensionais. Um polígono é a região do plano
limitada por uma ou mais linhas poligonais conectadas de maneira que o último ponto
de uma linha seja idêntico ao primeiro da próxima, ou seja, o polígono é usado para
representar unidades espaciais individuais (CÂMARA et al, 2001; CÂMARA, 2005).
O sensoriamento remoto pode ser definido como a tecnologia que permite obter
imagens e outros tipos de dados da superfície terrestre a partir da captação e do
registro da energia refletida ou emitida pela superfície (FLORENZANO, 2004). O
21
sensoriamento remoto e o geoprocessamento são ferramentas que facilitam estudos
ambientais, pois a utilização e evolução do primeiro estabeleceram uma nova realidade
de obtenção de informações espaciais, enquanto o segundo permite a análise dessas
informações (SOUSA, FALCÃO, 2017 p. 15).
Através do sensoriamento remoto é possível identificar as características dos
agentes modificadores do espaço, reconhecer e mapear, além de estimar a extensão e
a intensidade das alterações provocadas pelo homem, contribuindo para o
monitoramento presente e futuro dos fenômenos analisados (GOMES, 1995 citado por
SOUSA, FALCÃO, 2017 p.15). Moura (2014, p. 36) considera o geoprocessamento
como um conjunto de técnicas e recursos para o armazenamento e análise de dados.
Sousa e Falcão (2017, p. 15) complementam que são ferramentas voltadas para a
organização e o tratamento de informações espaciais georreferenciadas.
Segundo Câmara et al (2001, p. 289), o uso da tecnologia SIG gera grande impacto
em pelo menos quatro grandes dimensões dos problemas ligados aos estudos
ambientais. Entre eles estão: o Mapeamento Temático, que visa caracterizar e entender
a organização do espaço, afim de estabelecer bases para ações e estudos futuros;
Diagnóstico Ambiental, que estabelece estudos específicos sobre regiões de interesse,
visando projetos de ocupação ou preservação; Avaliação de Impacto Ambiental, que
envolve o monitoramento dos resultados da intervenção humana sobre o ambiente;
Ordenamento Territorial, que normatiza a ocupação do espaço, buscando racionalizar a
gestão do território para um desenvolvimento sustentável.
3.3 Mapeamento de Uso e Ocupação da Terra e Diagnóstico Socioambiental
Considerando-se a importância das matas ciliares, ter conhecimento das diferentes
formas de uso e ocupação de terra nas áreas de APP se faz necessário para promover
a proteção dos cursos d’água. Dessa forma, pode-se tomar como base o Manual
Técnico de Uso da Terra desenvolvido pelo IBGE (2013), o qual propõe um sistema de
classificação de uso da terra visando a distribuição geográfica dos seus recursos, sua
apropriação social e as transformações ambientais, bem como procedimentos técnicos
de levantamento e mapeamento. Considera-se que a utilização do sistema de
22
classificação das formas de uso da terra proposto pelo IBGE possibilita adquirir um
conhecimento atualizado das formas de uso e de ocupação da terra, bem como
fornecer subsídios para análises e avaliações dos impactos ambientais em diferentes
áreas, inclusive em bacias hidrográficas.
Para o levantamento da cobertura e do uso da terra o IBGE (2013) propõe uma
nomenclatura organizada em três níveis hierárquicos, onde a cada nível a classificação
se torna mais detalhada. Conforme essa classificação, o nível I (classes) indica as
principais categorias da cobertura terrestre no planeta; já o nível II (subclasses) traduz a
cobertura e o uso em uma escala mais regional; por fim, o nível III (unidades) especifica
o uso da terra propriamente dito.
O estudo e classificação do uso e ocupação da terra são de grande importância,
pois servem como componentes na pesquisa para o planejamento da utilização racional
dos recursos naturais, além de contribuírem na geração de informações para avaliação
da sustentabilidade ambiental. (FERREIRA, LACERDA, 2009).
A metodologia utilizada por Campos e Matias (2010) para a realização do
mapeamento e classificação do uso e ocupação da terra nas APP do município de
Paulínia foi realizada com suporte do software de geoprocessamento ArcGIS,
utilizando-se imagens de satélite. Para a classificação foi realizada a interpretação
visual e o processo de vetorização em tela, onde foram consideradas cinco classes de
usos: mata; urbano; agricultura, campo e solo exposto. Na sequência, as formas de uso
identificadas nas APP foram classificadas em conformidade (mata e campo) ou
desconformidade (urbano, agricultura e solo exposto) com a legislação vigente.
A partir do mapeamento e classificação das formas de uso da terra em APP de
nascentes, é possível realizar distintas análises, dentre eles, do nível de conservação
ou degradação de nascentes. Com base no uso e ocupação da terra, Pinto (2003, p.57)
propõe uma classificação das nascentes em três categorias: preservadas, quando
apresentam pelo menos um raio de 50 metros de vegetação natural no seu entorno
medidas a partir do olho d'água em nascentes pontuais ou a partir do olho d'água
principal em nascentes difusas; perturbadas, quando não apresentam um raio de 50
metros de vegetação natural no seu entorno, mas apresentam bom estado de
conservação, apesar de estarem ocupada em parte por pastagem e/ou agricultura; e,
23
por fim, degradadas, quando encontram-se com alto grau de perturbação, muito pouco
vegetada, solo compactado, presença de gado, com erosões e voçorocas.
Para Meller (2002), realizar um diagnóstico ambiental é uma das formas de auxiliar
na compreensão das inter-relações existentes entre diversos aspectos do ambiente e
das atividades socioculturais, tendo como principal objetivo constatar os efeitos da
interferência do ser humano no meio ambiente.
Martins (2004) define diagnóstico socioambiental como:
Um instrumento que permite conhecer o patrimônio ambiental de uma comunidade (atributos materiais e imateriais). É um instrumento de informações, de caráter quantitativo e qualitativo específico para uma dada realidade (não devem ser generalizados) que revela sua especificidade histórica e que reflete a relação da sociedade com o meio ambiente (MARTINS, 2004, citado por BORGES e REBERTE, 2016, p. 40).
Além disso, Martins (2004) afirma que o diagnóstico socioambiental deve ser
construído de forma sistêmica, levando em consideração as interações entre os
elementos sociais, econômicos, ambientais e culturais. Dessa forma, se permite avaliar
a qualidade ambiental e de vida, bem como o estabelecimento de indicadores de
sustentabilidade na região estudada.
Bacci e Santos (2013) consideram que o mapeamento socioambiental é um
instrumento didático-pedagógico de diagnóstico, planejamento e ação, promovendo a
participação dos diferentes atores sociais locais no levantamento de várias informações
sobre o lugar. Segundo eles, dentre as ferramentas empregadas nesse mapeamento
estão o uso de mapas, fotografias aéreas ou imagens de satélite e, principalmente,
trabalho de campo para verificação ou validação do que for analisado com as outras
ferramentas. Dessa forma, viabiliza-se um conhecimento detalhado da área ou região
que se deseja diagnosticar.
Um diagnóstico socioambiental é composto, basicamente, por elementos sociais,
econômicos e ambientais. Dessa forma, os indicadores do IBGE constituem uma
importante ferramenta para análises da situação de um município, uma vez que o
Censo Demográfico é a única fonte de referência para o conhecimento das condições
de vida da população em todos os municípios e em seus recortes territoriais internos,
sejam distritos, subdistritos ou bairros, além de possuir classificação de acordo com a
localização dos domicílios em áreas urbanas ou rurais (IBGE, 2011).
24
4. ASPECTOS METODOLÓGICOS
Para atender aos objetivos propostos, foram necessárias diferentes etapas de
trabalho organizadas de forma sistematizada. Dentre essas etapas, o levantamento
bibliográfico e a elaboração da base de dados georreferenciados foram atividades
indispensáveis, pois subsidiaram as análises propostas. A Figura 2 apresenta um
fluxograma das etapas adotadas na metodologia deste trabalho.
Figura 2 – Fluxograma da metodologia adotada
Fonte: elaborado pelo autor.
4.1 Levantamento Bibliográfico e Elaboração da Base de Dados
Georreferenciados
O levantamento bibliográfico foi realizado para consolidação do referencial teórico
metodológico a ser adotado no trabalho partindo de informações e conceitos referentes
à temática e à área de estudos. Para a composição da temática foram consultados
diferentes trabalhos tais como artigos científicos, dissertações e teses, disponíveis em
25
bases virtuais de universidades e instituições de pesquisa, além de livros disponíveis
nas bibliotecas da Escola de Engenharia de Lorena. A caracterização da área de
estudos foi composta através de informações em sites de instituições como o IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Fundação SEADE (Fundação Sistema
Estadual de Análise de Dados); Instituto Geológico, Ministério do Meio Ambiente e
Secretaria Estadual do Meio Ambiente.
Para a elaboração da base de dados georreferenciados foram coletados dados
disponibilizados por algumas instituições e utilizados dois softwares de
geoprocessamento, o ArcGIS e o QGIS. Através da plataforma DATAGEO obtiveram-se
as ortofotos de 2010/2011 da EMPLASA, com resolução aproximada de 1 metro, que
seriam utilizadas para o mapeamento das formas de uso da terra. No entanto, devido
às especificidades da área de estudos optou-se pela utilização da imagem de satélite
do Google de 2018, que foi obtida a partir da instalação de um plugin, denominado
QuickMapServices, no software QGIS. Ainda foi utilizada a plataforma DATAGEO para
acesso às cartas topográficas e aos arquivos referentes a hidrografia, elaborados pelo
Instituto Geográfico Cartográfico (IGC), nas escalas de 1:10.000 e 1:25.000,
respectivamente. Outra plataforma de dados espaciais a que se recorreu como fonte de
dados foi a do IBGE, que disponibiliza dados vetoriais como limites dos setores
censitários, limites municipais e estaduais.
A partir da obtenção dos dados descritos acima e com o auxílio dos softwares de
geoprocessamento ArcGIS 10.6 e QGIS 2.18, foram realizados diversos procedimentos
para a geração de outros arquivos vetoriais necessários, tais como vetorização da
hidrografia e delimitação da MBRT, espacialização de dados para elaboração de mapas
temáticos, geração das nascentes e das APP hídricas para mapeamento das formas de
uso da terra.
Como os arquivos obtidos do IGC estavam acessíveis remotamente via servidor
WMS foi necessário realizar a vetorização dos cursos d’água (linha) e corpos d’água
(polígono) para obtenção de arquivos no formato shapefile. Já para a geração das
nascentes, foi necessário gerar um arquivo de feições pontuais a partir do início de
cada curso d’água vetorizado. Para isso, utilizou-se a ferramenta Feature Vertices to
Points implementada no ArcGIS e que tem como função a geração dos pontos a partir
26
dos vértices do arquivo de entrada, sendo necessário definir qual tipo de ponto será
gerado. Neste caso, selecionou-se para que somente os pontos iniciais de cada linha
fossem gerados. Em seguida, realizou-se uma verificação dos pontos gerados para
identificar eventuais falhas relacionadas a esta operação.
A delimitação da microbacia foi realizada a partir da rede hidrográfica vetorizada e
da carta topográfica do IGC, onde foram identificados as curvas de nível e os pontos
cotados. Inicialmente, identificou-se o ponto mais baixo do trecho em estudo, ou seja, a
foz do curso d’água principal. Com isso, criou-se um arquivo de feição poligonal e
realizou-se a delimitação da microbacia partindo-se da foz e conectando-se os pontos
mais elevados que formam os limites da microbacia. Além disso, durante a delimitação
verificou-se, através das cotas de altitude das curvas de nível, a direção do escoamento
da água sobre o terreno sentido às partes de menor altitude.
Realizou-se ainda o georreferenciamento do limite do Parque Ecológico do Taboão.
Para isso, a partir de um mapa obtido de um projeto de Recuperação de Nascente do
Parque Ecológico do Taboão (LORENA, 2017) realizou-se a delimitação da área
correspondente ao Parque. Com o suporte do software ArcGIS 10.6 e do uso da
ferramenta Georeferencing foram marcados, com base na grade de coordenadas do
mapa, 16 pontos de controle para melhorar a precisão do georreferenciamento. Com os
pontos marcados retificou-se e definiu-se a projeção da imagem para SIRGAS 2000 e
zona 23S. Por fim, com o mapa devidamente georreferenciado, criou-se um novo
arquivo de feição poligonal e desenhou-se o limite do parque conforme apresentava o
mapa.
4.2 Mapeamento das formas de uso e ocupação da terra nas APP e
classificação das nascentes
Iniciou-se esta etapa com a delimitação das áreas de APP de cursos d’água, corpos
d’água e nascentes com o suporte do software ArcGIS. A extensão das APP de curso
d’agua é definida de acordo com a largura do rio. Portanto, para determinar esta largura
realizou-se uma estimativa por meio de imagens de maior resolução espacial. Com
isso, o tamanho das APP, tanto para cursos d’agua quanto para corpos d’água e
27
nascentes, foram definidos de acordo com o que é estabelecido pela Lei nº 12.651/12.
O procedimento para a delimitação foi realizado a partir da criação de áreas de
abrangência, delimitadas com a utilização da ferramenta Buffer no software ArcGIS
10.6 (Analysis tools > Proximity > Buffer).
Para a identificação das formas de uso da terra nas APP, foi utilizado um modelo de
classificação representado pela Tabela 2. Essa classificação foi baseada na
metodologia apresentada por Campos e Matias (2010), onde os autores realizaram uma
adaptação do modelo proposto pelo Manual Técnico de Uso da Terra do IBGE (2013),
em que se cria uma sistemática multinível onde são divididos em classe, subclasses e
unidades. Neste trabalho também foram feitas adaptações para representar as
características encontradas na área de estudos.
Tabela 2 – Classificação das formas de uso e ocupação da terra
Classe Subclasse Unidade
1.Áreas Antrópicas não Agrícolas
1.1.Áreas Urbanizadas
1.1.1. Cidades, Vilas, Estradas
1.1.2. Complexo Industrial
1.1.3. Aterro Sanitário
1.1.4. Chácaras
1.1.5. Outros
1.2.Áreas de Mineração
1.2.1. Áreas de Mineração
2.Áreas Antrópicas Agrícolas
2.1.Cultura Temporária
2.1.1. Culturas Alimentares comerciais (soja, milho, algodão, etc.)
2.1.2. Cana-de-açúcar
2.2.Cultura Permanente
2.2.1. Culturas comerciais (citricultura, café, etc.)
2.3.Pastagem 2.3.1. Pecuária Bovina extensiva para corte em pastos plantados
2.4.Silvicultura 2.4.1. Reflorestamento
3.Áreas de Vegetação Natural
3.1.Floresta 3.1.1. Área sem uso identificado
3.2.Campestre 3.2.1. Áreas sem uso identificado
3.2.2. Área de várzea sem uso identificado
4.Água 4.1.Corpo d’agua continental
4.1.1. Uso diversificado
Fonte: Adaptado de IBGE, 2013.
O mapeamento e a classificação das formas de uso da terra na MBRT foram
realizados a partir da interpretação visual de imagens disponíveis da plataforma do
28
Google Satélite de 2018 com suporte do software QGIS 2.18. Em seguida, para cada
tipo de uso foi feito o recorte do arquivo vetorial de polígono das APP. Como cada
arquivo vetorial possui uma tabela de atributos, onde podem ser inseridas diversas
informações, criou-se nela um novo campo para inserir a classe representada por cada
polígono.
Após a etapa de mapeamento das formas de uso e ocupação da terra nas APP, foi
realizada a classificação das mesmas conforme sua adequação à legislação vigente, de
acordo com a metodologia proposta por Campos e Matias (2010). Para os autores, os
usos que se enquadram na situação “em acordo” são os de mata e campo, enquanto
que em desacordo são o urbano, a agricultura e o solo exposto. Dessa forma, neste
trabalho as classes “áreas antrópicas não agrícolas” e “áreas antrópicas agrícolas” são
consideradas em desacordo, enquanto que “áreas de vegetação natural” e “água” em
acordo.
A etapa seguinte foi a classificação das nascentes quanto ao grau de preservação,
de acordo com a cobertura vegetal de suas APP. Esse método foi baseado na
metodologia apresentada por Pinto (2003) que classifica as nascentes em três
categorias de preservação, sendo consideradas preservadas as nascentes com no
mínimo cinquenta metros de vegetação natural no seu entorno; perturbadas as que
apresentavam menos de cinquenta metros, mas que apresentavam bom estado de
conservação mesmo sendo ocupadas por áreas de pastagem e/ou agricultura; e
degradadas as que possuíssem alto grau de perturbação, com pouca vegetação e solo
compactado pela presença de agentes degradadores. Neste trabalho, foram
consideradas como preservadas as nascentes que possuíam mais de 75% de
vegetação natural em sua APP (que equivale a um raio de 50 metros no entorno da
nascente); como perturbadas as que possuíam entre 25% e 75%; e como degradadas
as que possuíam menos de 25%. Além disso, as áreas com silvicultura (de eucaliptos)
foram consideradas como áreas perturbadas, pois, a cobertura vegetal presente na
área não é a vegetação natural do local.
29
4.3 Elaboração dos mapas temáticos e análises quali-quantitativas
Com base no levantamento e geração de dados e informações, iniciou-se a etapa
de elaboração dos mapas temáticos e de síntese, com a finalidade de representar o
espaço geográfico (a microbacia) e sua situação atual quanto à localização e
degradação das nascentes, às formas de uso e ocupação da terra nas APP e à
aspectos socioambientais, principalmente. Para isso, foram consideradas as diferentes
abordagens de representação cartográfica (qualitativa, ordenada e quantitativa). Dentre
os mapas elaborados estão: o de localização da microbacia e das nascentes, das
formas de uso e ocupação da terra nas APP e dos indicadores físico territoriais.
O mapa de declividade foi produzido a partir de uma imagem SRTM (Shuttle Radar
Topography Mission) com resolução de 30 m, obtida pelo site do EMBRAPA. A imagem
SRTM é fruto de um trabalho exercido pela NASA e parceiros, que teve como intuito a
geração de um Modelo Digital de Elevação (MDE), o qual é uma representação digital
de uma seção da superfície, dada por uma matriz de pixels com coordenadas
planimétricas (x,y) e um valor de intensidade do pixel, correspondente à elevação (LUIZ
et al, 2007). Para extrair a informação de declividade contida no MDE, utilizou-se a
ferramenta Slope do ArcGIS, pois ela identifica a taxa de máxima alteração em valor z
de cada célula e adotou-se a declividade expressa em porcentagem e a classificação
foi feita com base na classificação da EMBRAPA (BRASIL, 2018).
Os mapas de indicadores socioeconômicos e de saneamento foram elaborados a
partir da espacialização de dados por setor censitário produzido pelo IBGE (censo de
2010). O setor censitário é a menor unidade oficial de registros de informações do
censo demográfico. A espacialização desses dados foi realizada a partir da migração
dos dados selecionados, que estavam no formato de tabela, para o arquivo shapefile
referente aos limites dos setores censitários do município.
Para a análise das condições socioeconômicas no município em estudo, foram
selecionadas as variáveis: escolaridade, quantidade de domicílio particulares
permanentes e renda. Para avaliar as questões de saneamento foram selecionadas
variáveis relacionadas ao abastecimento de água, coleta de lixo e esgoto. Em seguida,
os dados coletados foram processados por meio do software de geoprocessamento
30
ArcGIS 10.6 e analisados conforme adaptações da proposta metodológica apresentada
em Sposati et al (1996), que utilizou indicadores compostos para evidenciar as
desigualdades sociais existentes na cidade de São Paulo.
A partir do desenvolvimento deste estudo e dos mapas produzidos, foram realizadas
análises quali-quantitativas dos resultados obtidos, com o intuito de diagnosticar no
âmbito socioambiental os problemas da MBRT.
31
5. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDOS
5.1 Aspectos Históricos, sociais e econômicos
Conhecida como “Porto Guaypacaré”, nome dado pelos índios tupi guaranis, Lorena
nasceu por fazer parte da rota do rio Paraíba que os bandeirantes, em busca de ouro,
utilizavam para ir às Minas Gerais. Os fazendeiros Bento Rodrigues Caldeira, João de
Almeida e Pedro da Costa Colaço começaram a povoar o Porto Guaypacaré no final do
século XVII com as “roças”. As roças foram evoluindo passando para povoado, depois
freguesia e em 1788 foi elevado à Vila, por decreto do Capitão General Bernardo José
de Lorena, que era governador na época. No ano de 1866, foi elevada à Comarca e
começaram a desenvolver-se com a cultura do café e do açúcar (EVANGELISTA, 2001,
citado por SOUZA, 2004, p. 2)
Evangelista (2001) conta que, no ano de 1906 houve uma grande enchente que
desviou o curso do rio Paraíba, marcando o fim de uma era. Em 1925 houve uma
retomada no progresso com a chegada de famílias mineiras, que transformaram as
velhas propriedades rurais em fazendas de criação de gado. Inaugurada em 1951, a
implantação da Rodovia Presidente Dutra, que liga São Paulo ao Rio de Janeiro,
contribuiu para um grande desenvolvimento econômico e social na região (LORENA,
2018, s.p.).
Atualmente, o município de Lorena possui 88.276 habitantes, segundo estimativa do
IBGE de 2018. A Figura 3 a seguir mostram a evolução da densidade demográfica do
município de Lorena e do estado de São Paulo entre os anos de 1980 a 2018. Através
do gráfico observa-se que houve um crescimento significativo da população por km² de
Lorena na década de 90, enquanto no gráfico do total estado de São Paulo o
crescimento se mostrou de forma mais constante, sem grandes contrastes. No último
censo do IBGE (2010), a população do município era de 82.537 habitantes com uma
densidade demográfica igual a 199,29 hab/km².
32
Figura 3 – Evolução da densidade demográfica de Lorena-SP entre 1980 a 2018
Fonte: Fundação SEADE.
Em relação aos aspectos econômicos do município, considerando o PIB per Capita
do município e o total do Estado de São Paulo nos últimos anos, nota-se pela Figura 4
que Lorena acompanhou o crescimento do estado, não apresentando quedas
significativas. Em 2015, o PIB per Capita do município era de R$ 24.456,18, colocando
o município na posição 272 de 645 do estado paulista.
Figura 4 – PIB per Capita do município de Lorena em relação ao total do estado (2002 a 2015)
Fonte: Fundação SEADE.
Segundo o Censo de 2010, o percentual da população com rendimento nominal
mensal per capita de até ½ salário mínimo por pessoa era de 35,9%. A renda per capita
mensal era de 781,28 reais em 2010, colocando o município na posição 701 no ranking
0
50
100
150
200
250
Densidade Demográfica (habitantes/km²)
Lorena Total do Estado de São Paulo
0.00
10000.00
20000.00
30000.00
40000.00
50000.00
PIB per Capita (Em reais correntes)
Lorena Total do Estado de São Paulo
33
nacional de 5570 municípios. Em 2016, o salário médio mensal dos trabalhadores
formais era de 2,5 salários mínimos e o percentual de pessoas ocupadas era de 21,7%,
em relação à população total. Em relação à educação, a taxa de escolarização (para
pessoas de 6 a 14 anos) foi de 97,2% em 2010, colocando o município na posição 506
de 645 dentre as cidades do estado.
O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) é um índice composto por
indicadores de três dimensões do desenvolvimento humano: longevidade, educação e
renda. Seu valor pode variar de 0 a 1, sendo que quanto mais próximo de 1, maior o
desenvolvimento humano. O município de Lorena apresenta valor de IDHM igual a
0,766 (IBGE, 2010), indicando um bom desempenho relacionado ao desenvolvimento
humano no município. Em relação à sua posição no ranking do Estado de São Paulo,
Lorena é classificada como o 131° município no ranking paulista.
Em relação as despesas municipais direcionadas em Gestão Ambiental, a Figura 5
apresenta dados dos anos de 2009 a 2013. Não foram obtidos dados mais atuais, mas
pelo gráfico nota-se que no ano de 2012 houve uma alta nos investimentos
direcionados para a Gestão Ambiental no município. No entanto, houve uma queda
muito expressiva no ano de 2013. Esse é um dado importante para identificar o quanto
o município tem investido na gestão ambiental da cidade.
Figura 5 – Total de despesas municipais em Gestão Ambiental
Fonte: Fundação SEADE.
0.00
2000000.00
4000000.00
6000000.00
8000000.00
10000000.00
2009 2010 2011 2012 2013
Total de Despesas Municipais - Gestão Ambiental (Em reais de 2017)
34
Na Microbacia Ribeirão do Taboão, área de estudo deste trabalho, foi inaugurado
em 2016 o Parque Ecológico do Taboão. Segundo a Prefeitura de Lorena, neste
Parque são mais de 80 ha de uma área de proteção, preservação, lazer e disseminação
da cultura regional. Em 2014 a área do parque foi cedida à prefeitura de Lorena pelo
Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE), onde está localizada a Barragem de
Regularização do Ribeirão Taboão (LORENA, 2016).
Após reformas nas edificações, o local conta com uma sala destinada à educação
ambiental, biblioteca com acervo ambiental, Museu de História do parque, trilhas para
pedestres e ciclistas, viveiro, área de descanso e recreação, área para alimentação e
mirante e sua administração está a cargo da Secretaria de Meio Ambiente (LORENA,
2016).
Há um projeto de Recuperação de Nascentes do Parque Ecológico do Taboão, o
qual está em fase de avaliação pelo Fundo Estadual de Recursos Hídricos (FEHIDRO),
que será o órgão financiador. Este projeto tem como objetivo a recomposição florestal
em 19,11 hectares, incluindo a Área de Preservação Permanente (APP) de 1 (uma)
nascente do Ribeirão Taboão no interior do parque, com a realização de ações de
Educação Ambiental voltadas para estudantes da educação básica e frequentadores do
parque, visando a sensibilização e informação sobre o projeto.
Segundo esse projeto, o Ribeirão Taboão é o principal rio que drena a zona urbana
do município de Lorena. Esse ribeirão recebeu intervenções de seu leito natural, como
a construção de barragens de regularização, por conta de seu regime de cheias
periódico. No entanto, as barragens estão sofrendo assoreamento e perdendo sua
eficácia. Logo, a recomposição florestal em APP de nascentes do Ribeirão Taboão,
representa uma ação estratégica na gestão de recursos hídricos, uma vez que promove
a proteção contra degradações que geram, por exemplo, a erosão e consequente
assoreamento do curso d’água (LORENA, 2017).
35
Figura 6 – Localização da MBRT no município de Lorena-SP
36
5.2 Aspectos Físico-Territoriais
O município de Lorena está localizado na porção leste do Estado de São Paulo na
Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte. O município ocupa uma área
de aproximadamente 414 km2 e se localiza entre duas serras muito importantes da
região, a Serra da Mantiqueira ao norte e a Serra do Mar ao Sul, se encontrando na
parte central do vale do rio Paraíba do Sul (SOUZA, 2004).
O bioma da região é a Mata Atlântica, com vegetação do tipo Floresta Estacional
Semidecidual e Floresta Ombrófila Densa, principalmente. Entretanto, o município
possui grande área de agropecuária, pastagens e reflorestamento com eucaliptos
(IBGE, 2018). Uma importante área é a Floresta Nacional de Lorena que foi
implementada pela Portaria nº 246 de 18 de julho de 2001 do Ministério do Meio
Ambiente, com uma área de aproximadamente 240 ha, e tem por objetivo:
“... promover o manejo adequado dos recursos naturais, garantir a proteção dos recursos hídricos, das belezas cênicas e dos sítios históricos e arqueológicos, fomentar o desenvolvimento da pesquisa científica básica e aplicada, da educação ambiental e das atividades de recreação, lazer e turismo”(BRASIL, 2001)
Em relação ao clima da região, o tipo climático dominante é o tropical úmido com
inverno seco, com variações decorrentes de mudanças de relevo e incidência das
chuvas. Dessa forma, segundo a classificação de Köppen o clima presente é o Cwa,.
Este tipo climático possui mês mais frio com temperatura média superior a 18 °C, já o
mês mais seco tem precipitação inferior a 60 mm. (SOUZA, 2004; LORENA, 2016)
De acordo com o mapa pedológico do estado de São Paulo, cinco tipos de solo
predominam no município de Lorena, os quais são: Latossolo Amarelo, Latossolo
Vermelho-Amarelho, Argissolo Vermelho-Amarelho, Cambissolo Háplico e Gleissolo
melânico. Os Latossolos apresentam boa drenagem e normalmente baixa fertilidade
natural, além de serem muito intemperizados. Os Argissolos têm como característica
marcante o aumento de argila do horizonte sub-superficial, já os Cambissolos
apresentam drenagem variando de acentuada a imperfeita e muitas vezes são
pedregosos, cascalhentos e rochosos. Por fim, os Gleissolos são solos característicos
de áreas alagadas ou sujeitas a alagamento, ocupam principalmente as planícies de
37
inundação de rios e córregos, além de possuírem condições de drenagem ruins, que
trazem limitações para as formas de uso do mesmo (IBGE, 2007).
Em relação à geomorfologia da região (Figura 7), são encontradas planícies aluviais
(caracterizadas por terrenos baixos e mais ou menos planos); escarpas festonadas
(onde a drenagem é de alta intensidade, possuem padrão subparalelo a dendrítico e
vales fechados); morros paralelos (morros com topos arredondados, vertentes com
perfis convexos a retilíneos, padrão em treliça a localmente subdendrítica, e vales
abertos a fechados); mar de morros (topos arredondados, com vertentes de perfis
convexos a retilíneos, padrão dendrítico a retangular, e vales abertos a fechados); e por
fim, colinas pequenas com espigões locais (onde predominam interflúvios sem
orientação, topos aplainados e arredondados, drenagem de média a baixa densidade,
padrão subparalelo a dendrítico, e vales fechados) (SOUZA, 2004).
Figura 7 – Pedologia e Geomorfologia do município de Lorena/SP
38
Figura 8 – Declividade do município de Lorena-SP
O mapa de declividade (Figura 8) indica que a região sul do município possui maior
elevação. As áreas de menores altitudes são aquelas onde o rio Paraíba atravessa o
município e é onde se localiza a área urbanizada do município. A maior parte da área
pertencente a MBRT possui de média a altas altitudes, onde predomina a classe forte
ondulado, com declividade entre 20 a 45%. Como afirma Oliveira (2017), as
informações de declividade de uma área podem orientar ações que enfoquem a
delimitação de APP, áreas sujeitas à inundação, áreas com possibilidades de
mecanização da agricultura, limites para parcelamento e uso do solo, e demais
aplicações destinadas ao planejamento urbano e ambiental.
De acordo com o Resumo Atualizado do Plano de Recursos Hídricos do Paraíba do
Sul (AGEVAP, 2006), o município de Lorena apresenta cerca de 60% de suas áreas
classificadas como vulneráveis a processos erosivos, os quais repercutem no aumento
do aporte de sedimentos para os corpos hídricos, ocasionando o assoreamento dos rios
(LORENA, 2017).
39
Segundo o relatório técnico elaborado pelo Instituto Geológico - IG (2015), sobre
áreas de risco a deslizamentos e inundações do município de Lorena, foram mapeadas
11 áreas de risco, sendo que três delas se encontram na MBRT (LOR-06; LOR-07; e
LOR-11), e possuem grau de risco médio. A Figura 9 a seguir apresenta um mapa
dessas áreas.
De acordo com a situação diagnosticada pelo relatório, para as áreas LOR-06 e
LOR-07 espera-se a ocorrência de inundação, enquanto para a área LOR-11 espera-se
deslizamentos. O relatório indicou que a área LOR-06 apresenta-se em um núcleo
urbano rural, com baixa densidade ocupacional e equipamentos públicos
(pavimentação, água, luz e esgoto) inexistentes. Foi observado a presença de erosão
em alguns pontos, principalmente, associada às cabeceiras das pontes e, em alguns
trechos da drenagem, a ocorrência de solapamento das margens. Ao longo da margem
esquerda, o Ribeirão Taboão apresenta uma ponte e um muro e neste muro o IG
(2015) verificou o acúmulo de sedimentos na sua base, o que pode contribuir para o
processo de inundação.
A área LOR-07, apresenta uma densidade ocupacional de média a alta e
equipamentos públicos (pavimentação, água, luz e esgoto) precários. O IG identificou
que a área ao redor do Rio Taboão apresenta cobertura impermeabilizada, com a
presença de solo exposto em alguns locais. O sistema de drenagem é precário em
alguns trechos, mas na maior parte é satisfatório. Um outro problema identificado foi
partes do talude marginal com solo exposto em alguns pontos e presença de
solapamento das margens (IG, 2015).
Outro importante diagnóstico feito na área LOR-07 foi que o talude marginal
apresentava cobertura vegetada em sua maior parte, com solo exposto em alguns
pontos, além da presença de solapamento das margens. O processo de erosão
marginal de um trecho das margens do Rio Taboão foi remediado pelos moradores com
o retaludamento a partir de lançamento de entulho nas margens. Por mais que
momentaneamente essa remediação tenha surtido efeito, com o tempo esse material
inconsolidado no talude marginal poderá contribuir para o assoreamento do rio, gerando
redução na vazão do rio neste trecho e, assim, potencializando o risco de inundações.
40
Com base nesse diagnóstico realizado pelo IG, observa-se a importância e a
necessidade de medidas preventivas contra esses processos de inundação e
deslizamento, medidas estas que devem ser adequadas e com um viés de engenharia
e não soluções improvisadas sem embasamento técnico. Ocorre também em diversos
pontos da área urbana do município casos de alagamento, devido a problemas de
drenagem das águas pluviais.
41
Figura 9 – Áreas de risco no município de Lorena-SP, segundo o IG (2015)
42
6. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A microbacia do Ribeirão do Taboão contém 502 nascentes distribuídas por uma
área de aproximadamente 81,61 km2, e possui aproximadamente 21,92 km² de APP,
que correspondem a cerca de 26,86% da microbacia. O curso principal do Ribeirão
Taboão atravessa por volta de 5,28 km de área urbanizada antes de desaguar no rio
Paraíba do Sul. A Figura 11 a seguir representa o mapa da MBRT com seus cursos
d’água, corpos d’água, nascentes e os limites das APP.
Em sequência, a Figura 12 apresenta o mapa das formas de uso e ocupação da
terra nas APP da MBRT. Como pode-se observar, três formas de uso da terra se
destacam. O uso da terra predominante corresponde as áreas de vegetação natural
sem uso identificado, com 10,44 km² (47,63% do total de APP), se manifestando
principalmente na parte sul da microbacia. A região central da microbacia é marcada
pela presença dominante de pastagens, com 5,78 km² (26,37% do total de APP). O
terceiro tipo de uso mais presente nas APP da microbacia é a área de várzea sem uso
identificado, com 2,21 km² (10,08% do total de APP).
Figura 10 – Gráfico do quantitativo das formas de uso e ocupação da terra nas APP da MBRT
0.54% 0.87% 0.06% 0.87%
26.37%
6.93%
47.63%
6.11%
10.08%
0.54%
Cidades, vilas
Chácaras
Outros
Culturas Alimentares comerciais
Pastagem
Silvicultura
Áreas de vegetaçao natural sem usoidentificado
Campestre
43
Figura 11 - Microbacia do Ribeirão do Taboão
44
Figura 12 - Formas de uso e ocupação da terra nas APP da MBRT
45
Quatro formas de uso da terra encontradas durante o mapeamento de uso da terra
se destacaram por seus impactos, tanto positivos quanto negativos. Na Figura 13 são
apresentadas essas quatro formas de uso divididas em A (pastagem), B (silvicultura), C
(vegetação sem uso identificado) e D (área urbanizada). As linhas amarelas na Figura
13 representam os limites das APP hídricas e as linhas e pontos azuis representam os
cursos d’água e as nascentes, respectivamente.
A pastagem gera impactos negativos aos recursos hídricos, pois promovem a
compactação do solo e, com isso, a infiltração no solo é comprometida, prejudicando a
recarga de aquíferos. A vegetação natural sem uso identificado, ao contrário, tem papel
importante na proteção dos recursos hídricos por promoverem a proteção do solo,
evitando erosões que geram assoreamento dos rios, além de auxiliarem na infiltração
de água durante o ciclo hidrológico.
Os principais impactos relacionados a urbanização dentro de APP são: a retirada
das matas ciliares (desmatamento); a impermeabilização do solo, que causa um
aumento no fluxo de água que flui em direção ao canal principal, diminui as zonas
permeáveis que permitem a recarga dos aquíferos pela infiltração de água no solo,
aumenta o escoamento superficial e, com isso, gera a ocorrência de enchentes e
inundações; por fim, a poluição hídrica por despejo de resíduos sólidos ou esgoto,
afetando diretamente a qualidade da água (ALMEIDA, 2016).
Segundo Oliveira et al, o eucalipto pode causar impactos ambientais negativos em
diversas frentes, como reduções na fertilidade do solo, na diversidade de espécies,
além de favorecer a erosão nos estágios iniciais da cultura e na época de corte. Diante
disso, as áreas de silvicultura na microbacia merecem atenção para que esses
impactos, caso ocorram, possam ser mitigados.
As áreas de várzea, que são o terceiro tipo de uso da terra com maior extensão na
microbacia, estão presentes próximas às áreas de pastagem e, em alguns casos, às
áreas campestres e se concentram na parte central da microbacia.
46
Figura 13 – Formas de uso e ocupação da terra encontradas na MBRT
Fonte: elaborado pelo autor.
As culturas alimentares representam 0,87% dos usos em APP, apesar de serem
uma parcela muito pequena dentro das APP hídricas elas estão presentes ao longo da
área da microbacia. Segundo Dellamatrice e Monteiro (2016), a remoção da mata ciliar
e o manejo inadequado do solo e culturas, mesmo em áreas aptas para
desenvolvimento agrícola, potencializam o transporte de agrotóxicos do solo para
corpos de água em decorrência do escoamento superficial gerado pela ação da chuva
ou irrigação da cultura nesses locais.
As áreas de vegetação campestre sem uso identificado correspondem a 6,11% das
áreas de APP e são caracterizadas pela predominância de vegetação herbácea,
principalmente gramíneas, e pela inexpressiva presença do elemento lenhoso, quando
muito restrito a poucas espécies de hábito arbustivo ou sub-arbustivo. (KUPLICH e
MARTIN, 2009). O tipo de uso denominado “outros” foi utilizado para classificar áreas
urbanas que não se enquadrassem nas outras classificações. No caso deste trabalho,
as áreas que compõe essa classe são áreas de aterramento que apresentavam solo
exposto.
47
Na tabela 3 é apresentado o quantitativo das áreas de cada forma de uso e
ocupação da terra nas APP na MBRT. Segundo a metodologia para classificação de
adequação das APP a legislação proposta por Campos e Matias (2010), pode-se
afirmar que 35,6% das formas de uso nas APP da MBRT encontram-se em desacordo
com a legislação, pois estão classificados como áreas antrópicas não agrícolas e
agrícolas. Em contrapartida, 64,4% das áreas de APP encontram-se em acordo com a
legislação.
Tabela 3 – Área em km² das formas de uso e ocupação da terra nas APP da MBRT
Classe Subclasse Unidade Área km² Área %
1. Áreas Antrópicas não agrícolas
1.1. Áreas Urbanizadas
1.1.1. Cidades, Vilas 0,12 0,54%
1.1.2. Complexo Industrial
- -
1.1.3. Aterro Sanitário - -
1.1.4. Chácaras 0,19 0,87%
1.1.5. Outros 0,01 0,06%
1.2. Áreas de Mineração
1.2.1. Áreas de Mineração
- -
2. Áreas Antrópicas Agrícolas
2.1. Cultura Temporária
2.1.1. Culturas Alimentares comerciais (soja, milho, algodão, etc.)
0,19 0,87%
2.1.2. Cana-de-açúcar - -
2.2. Cultura Permanente
2.2.1. Culturas comerciais (citricultura, café, etc.)
- -
2.3. Pastagem 2.3.1. Pecuária Bovina extensiva para corte em pastos plantados
5,78 26,37%
2.4. Silvicultura 2.4.1. Reflorestamento 1,52 6,93%
3. Áreas de Vegetação Natural
3.1. Floresta 3.1.1. Área sem uso identificado
10,44 47,63%
3.2. Campestre
3.2.1. Áreas sem uso identificado
1,34 6,11%
3.2.2. Área de várzea sem uso identificado
2,21 10,08%
4. Água 4.1 Corpo d’agua continental
4.1.1. Uso diversificado 0,12 0,54%
Total 21,92 100%
48
Em geral, as APP em acordo com a legislação estão presentes na porção sul da
microbacia, onde praticamente não há ocupação humana e onde o relevo é mais
acidentado, dificultando a ocupação. No entanto, nessa mesma região encontram-se
extensas áreas de silvicultura, não apenas nas APP. As APP em desacordo com a
legislação se concentram na região central, onde a pastagem predomina, e norte, onde
a área urbanizada se localiza.
A partir do mapeamento das formas de uso da terra nas APP de nascentes avaliou-
se o nível de degradação das mesmas. Foram identificadas 200 nascentes em situação
de degradação, 171 em perturbação e 131 em preservação. Ou seja, a maioria das
nascentes (39,8%) encontram-se em situação de degradação, principalmente pela
presença de pastagem, enquanto 26,1% encontram-se preservadas e 34,1%
perturbadas (Figura 14).
As nascentes em situação de degradação estão presentes, principalmente, na
região central da MBRT, onde a pastagem é a forma de uso da terra mais presente. Já
as nascentes em preservação se concentram na região sul, onde se localizam os
maiores remanescentes florestais da microbacia e onde o relevo é menos propício a
ocupação. Já a maioria das nascentes em situação de perturbação se encontram na
região sudoeste da microbacia devido a presença de extensas áreas de silvicultura.
Adotou-se a classificação de perturbação para áreas com silvicultura devido aos
possíveis impactos que esse tipo de prática pode causar no ecossistema da área, pois
afeta a biodiversidade do ecossistema da área diminuindo a riqueza de espécies, uma
vez que se retira a vegetação natural e implanta-se uma monocultura. Além disso,
outros possíveis impactos são os sobre a qualidade da água e a dinâmica hídrica
fluvial, provocados principalmente pela exportação de nutrientes e sedimentos pela
água de deflúvio e pelo consumo de água no metabolismo das espécies arbóreas
(GUIMARÃES et al, 2010).
49
Figura 14 – Classificaçao do nível de degração das nascentes da MBRT
50
A análise de indicadores relacionados às condições socioeconômicas e de
saneamento do município de Lorena foi realizada utilizando-se como unidade de
análise o setor censitário estabelecido pelo IBGE. O município apresenta 18 setores
rurais e 107 setores urbano, dos quais 54 setores abrangem parte da MBRT (4 setores
rurais e 50 urbanos). Os setores urbanos se concentram na região norte da microbacia,
onde também se localiza a foz do Ribeirão Taboão, enquanto em toda parte central e
sul estão localizados os setores rurais. As Figuras 15 e 16 apresentam a espacialização
dos indicadores socioeconômicos e de saneamento aqui discutidos.
De modo geral, os domicílios particulares permanentes concentram-se nos setores
urbanos, variando desde 101 a 200 domicílios por setor, até 401 a 500. Enquanto isso,
nos setores rurais a média de domicílios é entre 0 a 100 ou 101 a 200 domicílios por
setor (Figura 15). No caso da MBRT, isso se deve, principalmente, por conta do relevo
que, como dito anteriormente, dificulta a ocupação e o desenvolvimento de
determinadas atividades.
De forma semelhante, os setores urbanos, além de concentrarem maior quantidade
de domicílios, concentram os maiores valores de rendimento nominal médio mensal,
que é o valor da renda dos moradores sem descontar os impostos. Esse é um
importante indicador das condições financeiras da população, uma vez que pode indicar
as regiões onde podem ser encontrados casos de situação de pobreza. No caso da
MBRT, a maio parte dela é composta por setores rurais, nos quais há um menor
rendimento nominal médio mensal.
Em relação a alfabetização nos setores rurais que abrangem a MBRT,
comparando-se o número de pessoas residentes e o número de pessoas alfabetizadas
com 5 anos ou mais, cerca de 81% são alfabetizadas. Esse é um indicador importante,
pois essa é a população potencial para participação de projetos que promovam a
educação e conscientização ambiental, tendo em vista que praticamente todas as
nascentes da MBRT se encontram nestes setores. Dessa forma, considera-se que a
educação ambiental é uma importante ferramenta que pode influenciar positivamente a
aplicação de ações de conservação, preservação ou intervenção que tenham em vista
a proteção dos recursos naturais e hídricos.
51
Figura 15 – Indicadores socioeconômicos dos setores censitários
52
De acordo com o censo de 2010, a porcentagem de domicílios particulares
permanentes urbanos atendidos por serviço regular de coleta de lixo era de 99,7%, por
rede geral de esgoto sanitário era de 97,98%, e os ligados à rede geral de
abastecimento de água era de 98,77%. No caso dos setores rurais que abrangem a
MBRT não existem dados no censo em relação aos indicadores de abastecimento de
água e rede geral de esgoto. No entanto, segundo o Plano Municipal de Saneamento
(PSM) de 2010, a SABESP não atende a população rural do município tanto para
abastecimento de água, quanto para coleta, afastamento e tratamento das
contribuições de esgoto sanitário. Conforme apresenta o PSM, o abastecimento de
água em domicílios dispersos na área rural é realizado pelos próprios moradores que,
em sua maioria, se abastecem de poços rasos e os esgotos domésticos são lançados
em fossas negras ou sépticas, ou in natura nos corpos d’água próximos (LORENA,
2010, p. 37-41). Em relação a coleta de lixo nestes setores rurais, o atendimento é
cerca de 25% (Figura 16).
A partir da análise desses indicadores de saneamento, observa-se que na maior
parte da microbacia eles são inexistentes ou precários, principalmente nas áreas onde
estão localizadas as nascentes. A ausência de atendimento da população em relação à
saneamento básico pode gerar diversos impactos à sua saúde, bem como aos recursos
naturais e hídricos. A falta rede de esgoto pode gerar tanto a contaminação dos cursos
d’água por lançamento de esgoto in natura, como a de lençóis freáticos devido a
implantação de fossas negras, impactando diretamente a qualidade da água. Já a falta
de abastecimento de água faz com que a população desta área explore de forma
irregular os recursos hídricos, por exemplo, com a perfuração de poços sem outorga ou
a captação de água das nascentes sem os devidos cuidados, e somados a falta de
coleta de esgoto, podem acarretar na ocorrência e proliferação de doenças por
veiculação hídrica. Além disso, a falta de coleta de lixo faz com que haja a disposição
irregular dos resíduos sólidos, que podem gerar contaminação tanto do solo quanto dos
cursos d’água e/ou das águas subterrâneas.
Apenas 6,4% da microbacia é composta por área urbanizada, enquanto 93,6%
corresponde a área rural. Tendo em vista a situação socioambiental desta área rural, a
qual possui baixa renda, baixa alfabetização e condições de saneamento inexistentes
53
ou precárias, os indicadores revelam a vulnerabilidade à degradação de recursos
naturais e hídricos desta microbacia.
Com base no trabalho de Sposati et al (1996), o qual realiza uma construção
metodológica que produz a análise multidimensional de dados censitários e constrói
uma medida territorial do grau de presença da exclusão/inclusão social nos lugares de
uma cidade, onde são avaliados indicadores que medem o grau de desenvolvimento
humano, equidade, qualidade de vida, autonomia, democracia e cidadania, identifica-se
que há uma discrepância das condições de vida entre a população urbana e rural na
microbacia, evidenciando a exclusão social desta população e sua vulnerabilidade
socioambiental.
54
Figura 16 – Indicadores de saneamento dos setores censitário
55
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados deste estudo permitem observar a diversidade das formas de uso na
MBRT. A microbacia estudada sofre interferências das atividades antrópicas, possuindo
extensas áreas de pastagem, remanescentes florestais, silvicultura e uma pequena
área urbana. A partir dos resultados, verifica-se que cerca de 73,9% das nascentes da
área estudada apresenta-se em estado de degradação ou perturbação, o que pode
implicar em numerosos problemas ambientais, principalmente referentes a
disponibilidade hídrica e a qualidade da água na MBRT.
Com base no estudo realizado, considera-se necessária a implementação de
programas de recuperação de nascentes na MBRT, tendo em vista o expressivo
número de nascentes degradadas, apresentando a pastagem como forma de uso e
ocupação predominante e condições de saneamento precárias ou inexistentes. Diante
disso, ressalta-se também a necessidade de implantação de programas que visam a
restauração e proteção dos recursos hídricos e o saneamento rural no município, bem
como uma gestão ambiental eficaz nessa área.
As metodologias propostas por Pinto (2003) e Campos e Matias (2010) se
mostraram adequadas ao estudo proposto, e possibilitaram a classificação do nível de
degradação das nascentes a partir da cobertura vegetal existente nas APP da MBRP,
além da identificação dos principais tipos de uso e ocupação da terra na área estudada.
A técnica de vetorização em tela das formas de uso da terra permitiu a análise das
mesmas em escala adequada à escala municipal. Os softwares de geoprocessamento,
ArcGIS 10.6 e QGIS 2.18 se mostraram eficientes para o desenvolvimento das
atividades referentes ao trabalho. A espacialização dos indicadores de saneamento e
socioeconômicos por setor censitário (rural e urbano) auxiliou na identificação de áreas
com maior vulnerabilidade socioambiental.
A elaboração de uma base de dados e informações sobre a área promove subsídios
para o desenvolvimento de outros projetos, além de colaborar com o poder público para
a melhoria da gestão dos recursos hídricos no município. Tomando por base o
diagnóstico e mapeamento realizado, sugere-se a realização de estudos de qualidade
da água, principalmente análises de coliformes fecais, para identificar focos de
56
contaminação afim de serem elaboradas e adotadas ações mitigadoras para combater
os impactos ambientais que forem levantados; além de análises da qualidade de solo
para conhecimento das condições dos mesmos para implantação de projetos de
recuperação de áreas degradadas e restauração florestal.
Dentre os programas que podem ser implantados, pode-se mencionar o Pagamento
por Serviços Ambientais (PSA) hídrico nas áreas rurais, que é uma ferramenta que
contribui com a provisão de serviços ecossistêmicos no meio rural, valorizando o papel
do produtor na conservação; e o Produtor de Água, criado para incentivar o produtor
rural a investir em ações que ajudem a preservar a água; além de outros relacionados a
educação ambiental, por exemplo (EMBRAPA, 2018; ANA, 2018).
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8. REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Antonio Jose Pereira. Implicações da urbnização no comportamento hidrológico da bacia endor