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Universidade de São Paulo Instituto de Biociências Departamento de Fisiologia Geral Patrícia Lacouth da Silva Efeitos das mudanças climáticas na regulação de biomarcadores em Echinaster brasiliensis (Echinodermata: Asteroidea) Effects of climate changes on biomarkers regulation in Echinaster brasiliensis (Echinodermata: Asteroidea) . São Paulo 2015

Universidade de São Paulo Instituto de Biociências ......regulação de biomarcadores em Echinaster brasiliensis (Echinodermata: Asteroidea) ... como nas adaptações evolutivas

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Universidade de São Paulo Instituto de Biociências

Departamento de Fisiologia Geral

Patrícia Lacouth da Silva

Efeitos das mudanças climáticas na regulação de biomarcadores em Echinaster brasiliensis

(Echinodermata: Asteroidea)

Effects of climate changes on biomarkers regulation in Echinaster

brasiliensis (Echinodermata: Asteroidea)

.

São Paulo

2015

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Patrícia Lacouth da Silva

Efeitos das mudanças climáticas na regulação de

biomarcadores em Echinaster brasiliensis (Echinodermata: Asteroidea)

Effects of climate changes on biomarkers regulation in Echinaster

brasiliensis (Echinodermata: Asteroidea) .

Tese apresentada ao Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, para a obtenção de Título de Doutor em Ciências, na Área de Fisiologia Geral.

Orientador:

Prof. Dr. Márcio Reis Custódio

São Paulo

2015

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Lacouth, Patrícia Efeitos das mudanças climáticas na regulação de biomarcadores em Echinaster brasiliensis (Echinodermata: Asteroidea) 85 páginas Tese (Doutorado) - Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo. Departamento de Fisiologia. 1. Acidificação 2. Biomarcadores moleculares 3. Temperatura. Universidade de São Paulo. Instituto de Biociências. Departamento de Fisiologia Geral.

Comissão Julgadora:

________________________ _____ _______________________ Prof(a). Dr(a). Prof(a). Dr(a).

_________________________ ____________________________ Prof(a). Dr(a). Prof(a). Dr(a).

Prof. Dr. Márcio Reis Custódio

Orientador

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Foi assim que, bem devagar, O País das Maravilhas foi urdido

Um episódio vindo a outro se ligar E agora a história está pronta

Desvie o barco, comandante! Para casa! O sol declina, já vai se retirar.

(Lewis Carrol – Alice no País das Maravilhas)

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Agradecimentos À Capes pelo apoio financeiro.

À Universidade de São Paulo e Instituto de Biociências pela infraestrutura

disponibilizada.

Ao CEBIMar/USP pelo apoio técnico nas coletas e infraestrutura disponibilizada.

Ao Prof Dr. Márcio Reis Custódio pela confiança, orientação, bom humor, paciência e

sabedoria que compartilhou comigo ao longo de toda a minha pós-graduação.

Ao Dr. Enrique Rozas, pelo auxílio, mesmo que distante,e que foi fundamental para a

realização do projeto.

Aos funcionários da USP, Instituto de Biociências e do Departamento de Fisiologia

Geral.

Aos meus pais e irmão, pelo amor, incentivo e apoio incondicionais, que mesmo com

toda a distância estiveram presente em pensamento e de coração em todos os

momentos.

Aos meus companheiros e amigos de laboratório por todos os momentos pessoais e

profissionais compartilhados.

Agradeço a muitas pessoas, que não cabem em poucas linhas mas que foram

importantes durante todos estes anos de diversas maneiras, tanto pessoalmente como

profissionalmente, para que eu trilhasse e chegasse ao fim de mais uma etapa com

muitos aprendizados. Algumas passaram e se foram, outras ficaram, mas a todas sou

grata de coração.

Muito Obrigada!

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Sumário

I. Resumo ........................................................................................................ 5

II. Abstract ........................................................................................................ 6

III. Introdução...................................................................................................... 7

IV. Objetivos........................................................................................................ 24

V. Materiais e Métodos....................................................................................... 25

VI. Resultados .................................................................................................... 35

VII. Discussão ...................................................................................................... 57

VIII. Conclusões..................................................................................................... 73

IX. Referências.................................................................................................... 75

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Resumo

Diante do quadro atual de previsões de mudanças climáticas, estudos a

respeito das possíveis respostas dos organismos a estas alterações são importantes.

Com a finalidade de prever e verificar se estas serão de fato deletérias ou se os

organismos são capazes de lidar com elas sem alterações na sua fisiologia, e

consequentemente na estrutura do ambiente, E. brasiliensis foi utilizada como modelo

para estudar possíveis impactos do aumento da temperatura e acidificação dos

oceanos na sua fisiologia. Para isso, espécimes foram expostos a 9 possíveis

combinações de temperatura (24ºC, 28ºC e 30ºC) e pH (8.0, 7.7 e 7.3) em diferentes

intervalos de tempo (1, 3, 12, 24 e 48 h). Amostras de gônadas e fluido celomático

foram coletadas para avaliar a expressão das proteínas de estresse HSP70, AIF-1 e

p38-MAPK, e a variação no número e viabilidade dos celomócitos. Nossos resultados

mostram que o modelo é sensibilizado pelas mudanças no ambiente, através da hiper-

regulação das proteínas de estresse. O cenário considerado mais extremo (30°C +

pH7.3) ocasionou a morte de 100% dos organismos após 24horas. E o segundo

cenário mais severo (30°C + pH7.7) desencadeou o desenvolvimento de ulceração de

pele. Os efeitos são mais pronunciados nos celomócitos e a acidificação da água

parece ter efeitos antagônicos com a temperatura nos celomócitos e sinérgicos nas

gônadas. Embora a resposta tenha sido sistêmica, o grau e a dinâmica foram distintos

em relação às diferentes amostras e estresses. Podendo causar modificações na

resposta imune dos organismos e consequentemente na sobrevivência da espécie a

longo prazo.

Palavras-Chaves: Acidificação; Temperatura; HSP70, AIF-1, p38-MAPK;

Celomócitos; Gônadas.

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Abstract

Under the current Climate Change context, studies about the potential responses

of the organisms to their changing environment are of extreme importance. Recent

studies point out the synergy of temperature and ocean acidification altogether. In this

study, we used the sea star E. brasiliensis to assess the physiological effects of rising

temperature, seawater acidification and the interaction of both factors. Independent

individuals (N=225) were exposed to 9 possible combinations of temperature (24ºC,

28ºC and 30ºC) and pH (8.0, 7.7 and 7.3), for 1, 3, 12, 24 and 48 h. We compared the

stress produced by these treatments measuring the expression of heat shock proteins

(HSP70), the production of the allograft inflammatory factor (AIF-1) and the activation

of mitogen kinases (MAPKs) at both gonad and celomic fluid. Furthermore, we

assessed the quantity and quality of coelomocytes. Our results demonstrated that E.

brasiliensis is vulnerable to the interaction of temperature and acidification. All the

stress proteins evaluated were upregulated. The extreme scenario (30°C + pH7.3)

caused the death of 100% of organisms after 24 hours, while the second most severe

scenario (30°C + pH7.7) triggered skin ulceration. Nevertheless, we found that water

acidification produces antagonistic effects to the temperature in coelomocytes and

synergistic effects in gonad cells. Furthermore, these effects were more pronounced in

the coelomocytes than in the gonads. The systemic response found in this study

suggest that the interactive effects of elevated temperatures in conjunction with ocean

acidification may endanger the survival of this species, and it could compromise the

ecosystem functioning at long term.

Key-Words: Ocean acidification; Ocean warming; HSP70, AIF-1; p38-MAPK;

Coelomocytes; Gonads..

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Introdução

A Terra passa por ciclos naturais de mudanças no clima como, por exemplo, as

mudanças sazonais (estações do ano), anuais (El-niño), decadais (oscilações do

Pacífico e Atlântico norte) e até milenares (eras glaciais e interglaciais). Todas essas

mudanças são e foram importantes para a definição de padrões biogeográficos bem

como nas adaptações evolutivas dos seres vivos. No entanto, as atividades antrópicas

têm acelerado e alterado esses padrões naturais.

A revolução industrial, o uso de combustíveis fósseis e as mudanças na

utilização da superfície terrestre são os grandes marcos da ação do homem na

modificação da composição atmosférica, principalmente com a emissão dos gases do

efeito estufa (GEE). Aproximadamente 78% dos gases emitidos são provenientes da

queima de combustíveis fósseis e processos industriais. A concentração de CO2 na

atmosfera aumentou de 280 partes por milhão (ppm), na era pré-industrial (1760), para

385 ppm nos dias atuais, e há projeções de que este aumento continue e atinja entre

700 e 1000 ppm no fim do século XXI. Cerca de metade da emissão de gases entre

1760 e 2011 ocorreu nos últimos 40 anos (Caldeira & Wickett 2003; IPCC 2014) e

continuam crescendo, mesmo com as políticas de mitigação adotadas recentemente.

Esta mudança na composição atmosférica provocou a desregulação de um

fenômeno natural e fundamental para a sobrevivência na terra que é o efeito estufa.

Têm sido observadas mudanças no ambiente desde 1950, tais como alterações dos

índices de precipitação, derretimento das geleiras e consequentes alterações nos

sistemas hidrológicos, mudanças na qualidade e quantidade de recursos aquáticos,

alterações no alcance geográfico, atividades sazonais, padrões migratórios,

abundância e modificação das interações ecológicas, tanto em espécie terrestres,

quanto aquáticas (IPCC, 2014).

Os oceanos cobrem cerca de 71% da superfície terrestre, sendo fundamentais

nos ciclos biogeoquímicos, na manutenção do clima, abrigam grande biodiversidade e

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são importantes para a subsistência da humanidade. Ambientes marinhos costeiros

são de extrema importância para o planeta tanto ecologicamente como

economicamente. Estima-se que habitats marinhos, desde a zona entre-marés até as

grandes profundidades, gerem trilhões de dólares em produtos, como comida e

matéria prima, e serviços, como ciclagem de nutrientes (Harley et al., 2006).

Uma série de padrões tem sido alterada nos oceanos em decorrência das

mudanças climáticas: (1) O aumento das concentrações do CO2 tem alterado a

biogeoquímica dos oceanos (Haugan e Drange, 1996); (2) O aumento da temperatura

da água prejudica processos fisiológicos e padrões de distribuição (Osovitz e

Hofmann, 2007); (3) A intensificação dos ventos, tempestades e ondas tem alterado a

salinidade, turbidez, aporte de nutrientes e poluentes de origem terrestre e provocam

distúrbios hidrodinâmicos que influenciam ambientes sensíveis, como as zonas

costeiras (Gardner et al., 2005). A mudança dos ventos também pode modificar a

ressurgência de nutrientes e sedimento e os padrões de dispersão e recrutamento de

larvas; (4) O volume dos oceanos tem expandido devido à entrada de água doce

proveniente do derretimento das geleiras e pela própria expansão térmica. Tem

ocorrido o aumento dos níveis do mar de cerca de 2mm por ano, o que também causa

o deslocamento na distribuição de espécies. Estima-se que as zonas entre-marés

sejam reduzidas entre 20 e 70% nos próximos 90 anos (IPCC 2014); e (6) a alteração

das taxas de produção primária, que tem sido influenciado pelo aumento da

temperatura, da radiação UV e da turbidez da água. Embora o aumento da

temperatura e da disponibilidade de CO2 possa influenciar positivamente a produção

primária das macroalgas, o aumento da temperatura, em alguns casos, aumenta a

taxa de consumo dessas algas por invertebrados (Lotze e Worm, 2002).

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Aquecimento dos Oceanos

Está previsto para o final no século 21 um aumento entre 1,8 e 4°C na

temperatura média atmosférica, dependente dos cenários de emissão de gases (IPCC

2014). Uma das consequências do aumento da retenção de calor na atmosfera é o

aquecimento dos oceanos, que retém aproximadamente 90% da energia dos sistemas

climáticos. A temperatura de regiões mais rasas são as que primeiro são alteradas.

Observou-se que profundidades de até 75 metros tiveram aumento de

aproximadamente 0,1°C por década entre 1971 e 2010 (IPCC, 2014). Neste início do

século 21 os oceanos continuaram esta tendência, com os maiores aumentos

previstos para a superfície das regiões tropicais, subtropicais e hemisfério norte.

Mesmo que as emissões dos gases do efeito estufa fossem totalmente suspensas, os

oceanos ainda permaneceriam aquecendo por décadas.

A temperatura é um fator abiótico importante para organismos ectotérmicos

devido aos seus efeitos diretos em todos os processos biológicos. Pode influenciar

desde escalas moleculares até fisiológicas e comportamentais, definindo padrões de

distribuição e história evolutiva ao longo das mudanças ambientais (Pörtner, 2005).

Entre os efeitos diretos do aquecimento do ambiente estão: alteração da performance

dos organismos em relação ao crescimento, reprodução, forrageamento,

imunocompetência, comportamento e competitividade (Brockington e Clarke, 2001;

Pörtner, 2008; Pörtner et al., 2015).

A maioria dos organismos marinhos vive na sua tolerância térmica máxima, ou

pejus (Harley et al., 2006; Somero, 2012). Por isso, pequenos aumentos podem

impactar negativamente a performance e sobrevivência. Existe uma série de estudos

que já relatam diferentes complicações ocasionadas pelo aumento da temperatura da

água. O mais conhecido é o branqueamento dos corais. Cnidários recifais, que vivem

na sua temperatura pejus, tem perdido seus simbiontes e tem morrido com este

aumento (Doney et al., 2012)

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Os efeitos podem variar de acordo com o habitat da espécie estudada. Por

exemplo, Dong et al., 2008 ao compararem duas espécies congêneres de caranguejos

que habitam nichos distintos observaram que estas respondem diferentemente ao

estresse térmico. A espécie de mesolitoral é mais termotolerante do que a segunda

espécie, que vive no infralitoral. Isto supostamente porque organismos que ocupam a

região do mesolitoral vivem constantemente na sua temperatura limite, o que

favoreceria a habilidade de ajustar sua fisiologia.

A temperatura também influencia o timing reprodutivo. Por exemplo, bivalves do

nordeste europeu tem desovado precocemente e dessincronizado com o bloom de

fitoplâncton, ocasionando um desencontro entre produção larval e disponibilidade de

alimento (Philippart et al., 2003). O aquecimento também pode provocar problemas a

nível de comunidade, como através do aumento do forrageamento e metabolismo da

estrela do mar Pisaster ochraceus, um predador-chave, que pode levar a progressiva

diminuição de bancos de algas e consequentemente de centenas de espécies

dependentes destas algas (Sanford, 1999) Além desses exemplos, o estresse térmico

altera a modulação da resposta imune em muitas espécies (Coteur et al., 2004; Ellis et

al., 2011), e desta forma o estados de saúde dos animais. Por este motivo, o

aquecimento dos oceanos pode ter aumentado a ocorrência de doenças marinhas,

pois temperaturas mais quentes tornam os hospedeiros mais vulneráveis e favorecem

o crescimento de patógenos (Bates et al., 2009; Harvell et al., 2002).

Acidificação dos Oceanos

Devido a grande área ocupada pelos oceanos e sua participação em diferentes

processos biogeoquímicos, o ambiente marinho tem sido um reservatório para o

excesso de CO2 atmosférico. Durante os últimos 200 anos os oceanos absorveram

cerca de metade do CO2 emitido pela queima de combustíveis fósseis e atividades

industriais (Royal Society 2005), mostrando o quanto são importantes na ciclagem

natural do carbono.

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O dióxido de carbono (CO2) na atmosfera é um gás quimicamente inerte, mas

quando dissolvido na água do mar se torna mais reativo e participa de uma série de

processos químicos. Um dos efeitos da dissolução do CO2 na água do mar é o

aumento da concentração de íons hidrogênio que consequentemente alteram o pH.

Essa liberação de íons H+ é resultado da reação inicial do CO2 com a água, que forma

ácido carbônico (H2CO3), um ácido fraco que rapidamente libera mais íons H+ e forma

bicarbonato (HCO3-). A água do mar é naturalmente saturada com outra base, o íon

carbonato (CO32-), que pode reagir com os íons H+ formando mais bicarbonato (Figura

1). Íons carbonato participam da formação de carbonato de cálcio e seu cristal

aragonita, elementos essenciais nos processos de calcificação e o desvio dessa

reação diminui a quantidade de carbonato livre.

Figura 1 – Esquema do processo químico de acidificação do oceano. Modificado de National Academy of Science 2013.

O aumento da disponibilidade de CO2 já ocasionou um declínio de 0,1 unidades

de pH nos oceanos. Este valor é aparentemente baixo, mas dada a escala logarítmica

do parâmetro isso corresponde ao aumento de 30% na quantidade de íons hidrogênio

livres na água. Caso as emissões de gases do efeito estufa continuem na mesma

intensidade, é previsto para os próximos 100 anos a diminuição de 0,3 a 0,4 unidades

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de pH (Orr et al., 2005). Mesmo se o quadro atual de emissões for revertido, os

oceanos podem levar dezenas de milhares de anos para que a sua química retorne

aos níveis pré-industriais (Royal Society 2005).

Até pouco tempo a acidificação dos oceanos era considerado um efeito adicional

das mudanças climáticas, não sendo considerados os seus sérios impactos. Enquanto

que o aumento da quantidade de CO2 atmosférico é esperado com impactos positivos

em muitas plantas terrestres, devido ao aumento da fotossíntese (IPCC 2014), muitos

organismos marinhos já estão saturados de carbono e efeitos positivos não são

esperados (Doney et al., 2012; Harley et al., 2006).

O aumento da disponibilidade de CO2 nos oceanos afeta uma série de

processos e organismos, tanto nos não calcificantes como nos calcificantes (e.g.

esponjas calcáreas, foraminíferos, moluscos, corais, equinodermos e crustáceos). A

diminuição da disponibilidade de carbonato diminui a taxa de calcificação dos

organismos e tende aumentar a solubilização do carbonato de cálcio, causando a

corrosão das estruturas e deixando-os mais vulneráveis. Estudos indicam que em

2050 as taxas de corrosão irão ultrapassar as taxas de calcificação (Orr et al., 2005).

A redução da calcificação pode ter sérios impactos negativos nos ecossistemas

marinhos, afetando as teias alimentares, disponibilidade de recursos alimentares

comercialmente importantes (mexilhões, ostras e ouriços do mar) bem como proteção

da costa contra tempestades (Doney et al., 2009).

Além de influenciar na calcificação, a acidificação dos oceanos também impacta

outros aspectos da fisiologia. A acidose dos tecidos e fluidos corporais diminui a

capacidade do transporte de gases e o uso da energia celular (Pörtner, 2005, 2008).

Também reduz as taxas de síntese protéica, o que afetará quase todos os aspectos do

funcionamento como crescimento e reprodução (Langenbuch e Pörtner, 2002, 2003).

Em uma série de animais calcificantes como equinodermos, bivalves, corais e

crustáceos, tem mostrado efeitos negativos na fertilização, clivagem, desenvolvimento

e assentamento larval e estágios reprodutivos (Kurihara, 2008).

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Estresse fisiológico

Estresse é definido como uma condição que modifica o funcionamento normal de

um sistema biológico ou que diminui o fitness e consequentemente as populações

futuras, e pode ser tanto de fundamento ambiental como genético (Romero, 2004;

Somero, 2012).

Compreender os mecanismos pelos quais a variação ambiental impacta os

organismos na natureza é de grande interesse para biólogos e ecologistas

comparativos. O termo estresse fisiológico está relacionado a estímulos nocivos aos

quais os organismos podem ser expostos, como o aumento da temperatura,

acidificação da água, poluição por despejo de esgoto e hidrocarbonetos, mudanças na

salinidade e na disponibilidade de oxigênio (Romero, 2004). Estes estímulos não

previstos e deletérios desencadeiam uma série de respostas emergenciais que podem

ser fisiológicas e/ou comportamentais. Desta forma, a correlação entre a resposta

emergencial e as respostas normais do organismo é uma medida que pode ser

utilizada como biomarcador. Isto reflete a maneira com que os efeitos do estresse nos

mecanismos fisiológicos são traduzidos para processos como sobrevivência,

crescimento e reprodução (Helmuth, 2009).

Em relação às mudanças climáticas, informações fisiológicas sobre espécies-

chave ou membros principais de cadeias alimentares estão sendo exploradas e são

importantes para avaliar a resiliência dos organismos. Devido aos resultados das

atividades antropogênicas, como aquecimento global, poluição e desmatamento,

mudanças ambientais podem ser muito mais drásticas e imprevisíveis no futuro.

Quando os organismos se encontram em situações estressantes, podem lidar

com essas condições de diferentes maneiras. Segundo (Hofmann e Hercus, 2000),

isto é feito de três formas principais: evitando o estresse através de migração ou

processos fisiológicos gerando plasticidade fenotípica; ajustando a população através

da seleção dos organismos mais adaptados às novas condições; ou não ser apto a

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lidar com o estresse de maneira adequada, sendo por isso sendo eventualmente

levado a extinção.

O ponto principal para prever mudanças esperadas nas comunidades animais é

entender a vulnerabilidade das espécies a um ambiente em modificação (Hofmann e

Todgham, 2010). No entanto, alguns trabalhos têm mostrado que nem todas

mudanças ambientais possuem efeito negativo direto em todos organismos. Foi

observado que cefalópodes (Sepia officinalis) e holotúrias (Apostichopus badionotus)

têm mantido suas taxas metabólicas e de crescimento enquanto que bivalves

(Crassostrea gigas) e estrelas do mar (Pisaster ochraceus) têm aumentado o

crescimento e fertilização (Dong et al., 2008a; Gooding et al., 2009; Gutowska et al.,

2008; Parker et al., 2010). Sendo assim, tem sido sugerido que as previsões das

repostas bióticas às mudanças climáticas devem considerar como os diferentes

grupos irão responder às diversas variáveis (Gooding et al., 2009)

Os equinodermos

De acordo com Bonaventura et al. 2011, estudos de monitoramento ambiental

dependem da escolha de organismos-modelo apropriados, e estes devem atender

uma série de condições tais como: abundância, disponibilidade no ambiente marinho,

relevância ecológica e facilidade de manutenção em laboratório.

Os equinodermos caracterizam-se por uma grande diversidade morfológica entre

os seus representantes. São organismos exclusivamente marinhos, distribuídos em

todos os mares e oceanos, desde a zona entre-marés até grandes profundidades. No

mundo existem cerca de 13.000 espécies fósseis e 7.000 atuais (Pawson, 2007), das

quais mais de 300 são registradas no Brasil. O filo é atualmente dividido em cinco

classes: Crinoidea (lírios-do-mar), Ophiuroidea (serpentes-do-mar), Echinoidea

(ouriços e bolachas-do-mar), Holothuroidea (pepinos-do-mar) e Concentricycloidea,

uma classe recém descoberta. Nos ambientes tropicais rasos, são um dos

invertebrados mais abundantes e diversos e em zonas abissais chegam a constituir

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até 90% da biomassa (Hendler et al., 1995). Ocorrem em substratos consolidados ou

não, e até mesmo em epibiose com outros animais e plantas (Hyman 1955, Hendler et

al., 1995). Constituem um dos grupos de maior importância na estrutura das

comunidades bênticas marinhas, onde ocupam diversos níveis tróficos (Ventura et al.,

2006). Devido a sua abundância e sua posição na cadeia alimentar são considerados

organismos-chave em muitos ecossistemas (Saier, 2001). Portanto, alterações

populacionais neste grupo podem afetar toda a comunidade, assim como colocar em

risco o equilíbrio do ambiente em que vivem (Coteur et al., 2003).

Equinodermos também são explorados economicamente pela população,

principalmente em países asiáticos. Pepinos do mar são considerados um alimento

importante nas Filipinas, Malásia, Japão, Coréia e China (Himaya et al., 2010).

Também são usados na medicina tradicional no leste asiático para o tratamento de

asma, hipertensão e anemia (Fredalina et al., 1999; Himaya et al., 2010; Zhong et al.,

2007). Há informações de que regiões da América Central e do Sul têm apresentado

sobrepesca de alguns representantes do filo com fins de exportação para estas

regiões (Anderson et al., 2011). Em outras áreas, estrelas e ouriços do mar são

geralmente pescados também para uso em aquários ornamentais ou como objetos

decorativos (Chinnachamy et al., 2003). Para estes fins, o cultivo e manutenção em

laboratório de algumas classes de equinodermos vêm sendo estabelecidos ao longo

dos anos (Anderson et al 2011). Dada a sua importância comercial e ecológica e

considerando a sua abundância no ambiente marinho, este filo tem emergido como um

potencial modelo sentinela apto a perceber perigos ambientais.

Em vista da abundância, importância ecológica e por possuírem um esqueleto

composto por calcita, vários estudos têm sido realizados a fim de avaliar os efeitos da

acidificação dos oceanos neste grupo (Dupont e Thorndyke, 2012; Ross et al., 2011;

Wood et al., 2008). Os efeitos da acidificação da água variam entre as diversas

espécies de equinodermos em diferentes processos, estágios de vida e tempo. Já foi

observado um declínio da taxa de fertilização e clivagens nas larvas (Kurihara, 2008) e

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a redução da taxa de crescimento em adultos (Shirayama e Thornton, 2005). Larvas

de ofiuróides tiveram 100% de mortalidade com a diminuição de 0.2 unidades de pH

(Dupont e Thorndyke, 2006). Por outro lado, outra espécie de ofiuróide (Amphiura

filiformis) teve suas taxas de crescimento e calcificação elevadas pela acidificação,

porém associadas com a perda de massa muscular (Wood et al., 2008). Os resultados

destes estudos mostram que a acidificação dos oceanos tem impactos negativos neste

filo, com possíveis consequências para todo o ecossistema. Porém, ainda há

necessidade de avaliar estes impactos nas diferentes classes bem como em espécies

que habitam regiões contrastantes.

O mesmo se aplica aos efeitos do aquecimento. Equinodermos são organismos

ectotérmicos, com uma ampla distribuição latitudinal e de profundidade. Por isso, a

localidade onde são encontrados define as suas capacidades de lidar com

determinada faixa de temperatura. Por exemplo, organismos encontrados na zona

entre-marés estão mais adaptados a variações diárias deste parâmetro do que os que

são encontrados em ambientes mais profundos (Dong et al., 2011). Trabalhos feitos

com diferentes grupos mostraram que grandes variações na temperatura podem afetar

a fertilização, o desenvolvimento inicial de larvas, a metamorfose e a gametogênese

(Byrne e Przeslawski, 2013; Chen e Chen, 1992; Kelly, 2001; Roller e Stickle, 1993;

Shpigel et al., 2004).

Adicionalmente, as alterações dos parâmetros ambientais parecem ser também

as responsáveis por desencadear o aparecimento de doenças, provavelmente devido

ao aumento da susceptibilidade dos organismos em condições estressantes (Harvell et

al., 2002).

Biomarcadores

O primeiro passo que determina a capacidade de uma espécie de lidar com as

alterações no seu ambiente é a codificação de proteínas e elementos regulatórios

necessários para o reparo de danos celulares ocasionados por estresse (Somero,

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2012). Para detectar o impacto que alterações no ambiente podem causar têm sido

utilizadas como marcadores diversas proteínas cuja expressão é alterada de acordo

com o estresse fisiológico do organismo.

Entre alguns dos biomarcadores moleculares estão a Heat Shock Protein 70

(HSP70), a phosphorylated p38 Mitogen-Activated Protein Kinase (pp38-MAPK) e o

Allograft Inflammatory Factor-1 (AIF-1) (Li et al., 2013; Pyza et al., 1997; Zilberberg et

al., 2011). Estes marcadores estão presentes desde bactérias até mamíferos e são

evolutivamente bastante conservados (Kregel, 2002), o que permite sua detecção por

imunoensaios simples (ELISA) usando anticorpos disponíveis comercialmente para

grupos mais derivados. Uma vantagem importante da utilização destes biomarcadores

moleculares para detecção de mudanças no ambiente é que os efeitos do estresse

podem ser detectados mais cedo em comparação com a avaliação de parâmetros

obtidos a posteriori, como taxas de crescimento, mortalidade e fertilidade (Sørensen et

al., 2003).

HSP70

As Heat shock proteins (HSP) são chaperonas moleculares, podendo ser

constitutivas (HSC) ou sintetizadas durante respostas a fatores de estresse. Estão

envolvidas no transporte, dobramento e desdobramento, montagem e desmontagem

de proteínas e também na degradação daquelas dobradas erroneamente ou

agregadas (Sørensen et al., 2003). Estas funções são fundamentais em condições

celulares normais. As populações naturais estão constantemente expostas a variações

ambientais e genéticas e as HSPs têm como função suavizar os efeitos da variação

ambiental, sendo importantes na manutenção da homeostase (Mayer e Bukau, 2005;

Morris et al., 2013) no entanto, o uso destas chaperonas pode ser intensificado no

caso de condições estressantes que possam potencialmente causar danos celulares e

moleculares nas estruturas da célula.

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Os genes que codificam as HSPs foram primeiramente descobertos em

Drosophila expostas a altas temperaturas (Ritossa, 1962). E logo em seguida foram

associadas à síntese e manutenção de proteínas (Tissières et al., 1974). Os genes

das HSPs são altamente conservados evolutivamente e apresentam pouca variação

entre as espécies (Kregel, 2002; Sørensen et al., 2003). A sua baixa variabilidade e

ubiquidade mostra sua importância evolutiva e um papel de proteção às células

durante ou depois ao estresse (Feder & Hofmann, 1999).

Diferentes famílias de HSPs já foram identificada e classificadas de acordo com

o seu peso molecular em kDa. As principais são HSP100, HSP90, HSP70, HSP60,

HSP40 e HSPs menores que 30kDa. No entanto, em muitos organismos a HSP70 é

considerada a família principal, consistindo de proteínas induzidas (HSP) e

constitutivas (HSC) (Kregel, 2002). Estão presentes no citoplasma, mitocôndrias,

retículo endoplasmático e núcleo, sendo sua localização dependente do tipo de

proteína.

A regulação das HSPs ocorre através da expressão de genes induzíveis, ou

seja, genes expressos sob influência de um estressor ou substância. A expressão das

HSPs envolve uma ativação transcricional mediada por um fator de transcrição

específico, o HSF (Heat Shock Factor). Células em condições normais possuem HSF

no citoplasma e no núcleo em uma forma monomérica, que não se liga ao DNA. Em

resposta ao choque térmico e outros estresses fisiológicos, HSF é fosforilado por

proteínas quinases e formam trimeros que se acumulam dentro do núcleo. Estes se

ligam a HSE (Heat shock elements), uma sequência especifica de genes que

desencadeará a transcrição do mRNA da HSP70. Os mRNA se deslocam então para o

citosol e promovem a síntese de novas HSP70, que irão se acoplar às proteínas que

sofreram danos. O aumento da quantidade de proteínas danificadas também induz a

ativação dos HSF (Morimoto, 1993).

Desde a descoberta da HSP70 uma série de pesquisas têm utilizado a taxa de

expressão dessa proteína como marcador de estresse. Sua hiper-regulação indica a

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presença de proteínas com sua conformação nativa e funcional alterada,

independentemente da causa. Sendo assim, é sugerida como um bom biomarcador

universal ao estresse, por ser quantificável, ubíqua, sub-letal e de interpretação

confiável (Pyza et al., 2000; Sørensen et al., 2003). Adicionalmente, a indução da sua

expressão é muito mais sensível ao estresse do que outros biomarcadores mais

tradicionais, tais como taxas de crescimento, doses letais e taxas de fertilidade

(Sørensen et al. 2003).

As HSPs têm sido consideradas ecologicamente importantes, pois além de

desempenharem um papel importante na resposta a uma variedade de condições

estressantes são fundamentais na recuperação e sobrevivência dos organismos. Já foi

demonstrado que além da resposta ao aquecimento, as HSPs podem ser induzidas

por uma série de condições estressantes tanto ambientais como genéticas. Por

exemplo, alta e baixa temperatura, radiação UV, metais pesados, pesticidas, hipóxia,

salinidade, infecções virais e bacterianas, parasitismo, atividade física, dessecação,

estresse oxidativo, senescência, injúrias, endogamia e mutações deletérias (Dong et

al., 2008b; Feder e Hofmann, 1999; Liu et al., 2014; Mayer e Bukau, 2005; Patruno et

al., 2001). Porém, o estresse necessário para induzir a expressão da HSP também

está intimamente relacionado com o nicho do organismo em questão. Por exemplo,

peixes antárticos têm a HSP induzida em temperaturas de aproximadamente 5°C,

enquanto que bactérias termofílicas a expressam na faixa de 100°C (Feder e

Hofmann, 1999; Parsell e Lindquist, 1993).

MAPK

As Mitogen-Activated Protein Kinases são uma classe de proteínas que atuam

em resposta a estímulos extracelulares. Todas as células eucarióticas possuem

múltiplas vias das MAPK que regulam uma variedade de processos celulares como

inflamação, ciclo, diferenciação e morte celular (apoptose), além do metabolismo,

desenvolvimento e expressão gênica (Caterina et al., 2008; Roux e Blenis, 2004;

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Zarubin e Han, 2005). Fazem parte de um grupo de proteínas bem conservado ao

longo da evolução e estão presentes em diferentes tipos celulares (Graves e Krebs,

1960).

São reguladas por cascatas de fosforilação nas quais proteínas quinases

(MAK) ativadas em série levam a ativação das MAPK (Pearson et al., 2001). Cinco

diferentes grupos de MAPKs já foram extensivamente caracterizados em mamíferos:

ERK1 e 2 (extracellularly regulated kinase), JNK1 e 2 (c-jun N-terminal kinase) e

isoformas de p38. A p38-MAPK é membro da superfamília das MAP quinases,

moléculas sinalizadoras ubíquas que quando ativadas traduzem sinais iniciados por

uma variedade de estímulos extracelulares em respostas intracelulares. Seus

mecanismos regulatórios também são evolutivamente conservados e compartilhados

desde leveduras a mamíferos (Roux e Blenis, 2004).

Em especial, a p38-MAPK tem sido observada como a principal proteína

quinase responsiva a flutuações ambientais como salinidade, hipóxia/anóxia

temperatura e poluição por metais pesados (Gaitanaki et al., 2004; Kefaloyianni et al.,

2005; Larade e Storey, 2006). Também é regulada por diferentes estímulos externos

físicos ou químicos (e.g. estresse oxidativo, radiação UV, citocinas e LPS) (Roux e

Blenis, 2004). Através da regulação de substratos secundários (downstream), que

incluem proteínas quinases e fatores de transcrição, a p38 participa da transmissão,

amplificação e diversificação de sinais extracelulares (Gaitanaki et al., 2004).

A via da p38-MAPK se inicia com um estresse celular ou a sinalização de

receptores na superfície celular, que desencadeiam a fosforilação de proteínas

quinases específicas em uma sequência de ativação (MKKK/MKK/MAPK). A p38-

MAPK é então ativada por uma dupla fosforilação do Thr e Tyr no sítio de ativação

Thr-Gly-Tyr e pode então fosforilar diferentes substratos. Por exemplo, fatores

transcricionais (Ono e Han, 2000), proteínas quinase ativadas MAPK (MAPKAP), que

por sua vez fosforilam pequenas proteínas de choque térmico HSP27, assim como

outros substratos (Rouse et al., 1994).

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Devido sua afinidade por diversos substratos concluiu-se que a p38-MAPK

participa da regulação de diferentes funções biológicas. É relacionada principalmente

às respostas imune inata e inflamatória, diferenciação celular e controle do ciclo

celular (Ono e Han, 2000; Roux e Blenis, 2004). No entanto, participa também em

respostas funcionais celulares como respiração, quimiotaxia, exocitose de grânulos,

aderência e apoptose (Kyriakis e Avruch, 1996).

Dadas às características da via da p38-MAPK, a utilização desta proteína como

biomarcador pode trazer informações a respeito do estado fisiológico de organismos

que estão sujeitos a mudanças no ambiente, bem como as estratégias que podem

estar utilizando para sua sobrevivência (Gaitanaki et al., 2004; Kefaloyianni et al.,

2005).

AIF-1

O AIF-1 é uma citocina relacionada ao reconhecimento self/non-self. Trata-se

de uma proteína citoplasmática sinalizadora de 14kDa ligante de cálcio. É

principalmente expressa em células do sistema imune e induz a expressão de

mediadores da resposta inflamatória, promovendo a proliferação e migração celular

em resposta a estímulos estressores (Utans et al., 1995; Zhao et al., 2013). Este fator

foi originalmente identificado em ratos, durante um processo de rejeição crônica a

transplantes de enxertos de coração de humanos (Utans et al., 1995). Isoformas com

alto grau de similaridade são encontradas em diversos grupos de organismos

filogeneticamente distantes, o que sugere uma alta conservação ao longo da evolução

(Miyata et al., 2001). Há evidências de que o AIF-1 também esteja envolvido na

resposta imune de espécies de invertebrados (Li et al. 2013; Zhang et al. 2013; Zhao

et al. 2013). Porém, o conhecimento existente a respeito do papel deste fator em

vertebrados não pode ser extrapolado para invertebrados, pois estes não possuem

imunidade adquirida (Li et al., 2013).

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O primeiro gene de AIF-1 em invertebrados foi isolado de uma esponja

marinha, sendo verificado que sua expressão é aumentada em resposta a injúrias

(Kruse et al., 1999). Em polvos, o AIF-1 foi hiper-regulado em hemócitos após a

estimulação por lipopolisacarídeos (LPS - Miyata et al., 2001). Também já foi

identificado em ouriços do mar antárticos com hiper-regulação após exposição ao

LPS, estando associado com a resposta imune relacionada a primeira fase de

proliferação dos celomócitos (Ovando et al., 2012). Por outro lado, sua expressão

constitutiva foi detectada em hemócitos de outros moluscos tais como abalones,

mexilhões e ostras (Zhang et al., 2013). Observa-se que AIF-1 pode estar envolvido na

resposta imune de espécies filogeneticamente distantes, mas há poucos estudos que

relacionem a expressão do AIF-1 com o aumento da temperatura e acidificação da

água.

A fisiologia e a previsão dos futuros impactos

Na ecofisiologia tem-se bem estabelecido que processos que ocorrem a nível de

organismo, célula e genoma podem ter efeito cascata na distribuição, abundância e

fitness dos organismos em escala de micro-habitat até continental e oceânica

(Helmuth, 2009; Pörtner, 2002; Somero, 2012). Há um grande interesse em se

entender os efeitos das mudanças dos parâmetros ambientais nos organismos e suas

interações. Novas técnicas nas áreas de genômica, transcriptômica, proteômica

(Gracey e Cossins, 2003; Helmuth, 2009; Hofmann e Gaines, 2008), e indicadores

bioquímicos de estresse tem aberto novas possibilidades para mensurar as respostas

dos organismos de maneira pontual e rápida. Isto tanto no ambiente como em

laboratório (Costa e Sinervo, 2004).

Nas últimas décadas, os impactos causados pelo aquecimento e a acidificação

dos oceanos tem chamado atenção e há um consenso de que estes dois estressores

irão desencadear sérias consequências na estrutura e funcionamento do ecossistema

marinho, o que tem estimulado o interesse cientifico e da sociedade (IPCC, 2014).

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Muitos trabalhos têm estudado os efeitos das mudanças climáticas na fisiologia de

organismos marinhos, seus mecanismos de adaptação, distribuição entre outros. No

entanto, a maioria é focada nos efeitos apenas de um estressor isolado, e é preciso

considerar de forma integrada os piores cenários para os próximos anos (Caldeira e

Wickett, 2003; Feidantsis et al., 2014). Estudos que abordem os efeitos do aumento

conjunto da temperatura e dos níveis de CO2 dissolvido podem gerar resultados mais

reais a respeitos das respostas dos organismos para os cenários ambientais futuros

(Pörtner, 2008).

Através da avaliação da variação de marcadores moleculares, este trabalho

buscou investigar como a fisiologia de um organismo-chave - a estrela do mar

Echinaster brasiliensis - pode ser alterada no quadro de mudanças climáticas. Saber

os limites de tolerância de um organismo e a que nível as alterações previstas vão

alterar sua fisiologia pode nos dar informações sobre quais espécies serão vulneráveis

e como que o ecossistema será transformado. O ponto principal para prever

mudanças esperadas nas comunidades animais é entender as respostas dos

indivíduos a um ambiente em modificação (Hofmann e Todgham, 2010). No entanto,

alguns trabalhos têm mostrado que nem todas as mudanças ambientais

desencadeiam efeitos negativos diretos em todos os organismos, como esperado

(Byrne et al., 2011; Gooding et al., 2009). Desta forma, tem sido sugerido que as

previsões das respostas bióticas a estas alterações devem considerar de que forma

diferentes tipos de organismos irão responder às diversas variáveis (Gooding et al.,

2009). Sendo assim, informações sobre o estado fisiológico de espécies-chave ou

membros principais de cadeias alimentares são importantes e precisam ser

amplamente exploradas para que seja possível identificar qual será o possível cenário

das comunidades no futuro.

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Objetivos

O objetivo deste trabalho foi detectar possíveis alterações no estado fisiológico

de Echinaster brasiliensis, frente ao aumento da temperatura, da acidificação da água

e os efeitos cruzados destes dois fatores. Como parâmetros foram avaliadas as

variações no nível de três marcadores de estresse (HSP70, pp38-MAPK e AIF-1) nas

gônadas e celomócitos, e do número total de celomócitos. Especificamente, se buscou

responder:

1) Se a resposta às alterações é sistêmica ou afeta as gônadas e/ou celomócitos de

maneira diferencial;

2) Qual a dinâmica destes marcadores ao longo do tempo de exposição;

3) Se a exposição aos estresses e alterações observadas nos marcadores se refletem

numericamente na população de celomócitos.

4) Se o aquecimento e acidificação da água tem efeitos sinérgicos, antagônicos ou

compensatórios.

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Materiais e Métodos

Local de coleta

O canal de São Sebastião é uma passagem marinha localizada no litoral norte

do Estado de São Paulo, entre a Ilha de São Sebastião (Ilhabela) e o continente (São

Sebastião). Possui 25km de extensão, 2 a 7km de largura e profundidade máxima de

40m (Oliveira e Marques, 2007). O clima da região é subtropical e a temperatura da

água oscila entre 15 e 28°C devido à influência de quatro diferentes massas de água

ao longo do ano, sendo superior a 20°C apenas na superfície (Silva et al 2001). A

salinidade oscila entre 34 e 36‰ pela presença de áreas estuarinas próximas, e o pH

se mantém em torno de 8.0.

Modelo de estudo

Echinaster brasiliensis (Müller e Troschel, 1842) é uma espécie comum de

estrela-do-mar no Brasil. Conhecida popularmente como estrela-vermelha, comumente

é coletada por aquariofilistas. Ocorre em todo o litoral brasileiro, com distribuição

geográfica que se estende desde a Flórida até o Golfo de San Matias, na Argentina.

Em geral é encontrada em águas rasas (2 a 5 metros) e na região entre marés, mas

não ficam expostas durante as marés baixas. São caracterizadas por apresentarem

uma marcada simetria pentaradial, com cinco braços longos e estreitos (Figura 2).

Possuem cinco pares de gônadas, um em cada braço, e apresentam uma produção

contínua de gametas em todos os meses do ano.

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Figura 2 – Exemplar de Echinaster brasiliensis. Região dorsal.

Coleta e manutenção em laboratório

Espécimes de E. brasiliensis (tamanho médio: raio 7,5cm ±0,5) foram coletados

manualmente na região de infralitoral do canal de São Sebastião/SP. Após as coletas,

os organismos foram trazidos ao laboratório no Departamento de Fisiologia (IB/USP) e

aclimatados durante cinco dias em aquários com sistema de filtração, temperatura de

24°C, pH 8.0, salinidade 35‰, aeração constante e alimentação a cada dois dias com

Artemia salina.

Experimentos de estresse fisiológico

Para os ensaios de estresse foram selecionados como fatores as temperaturas

de 28° e 30°C e os pHs de 7.3 e 7.7, segundo as previsões de mudanças climáticas

para o final do século 21 (IPCC 2014) e as características do local de coleta. Foram

estabelecidas mudanças de acordo com as previsões do IPCC caso os níveis de

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emissão de gases do efeito estufa sejam mantidos nos níveis atuais e um segundo

cenário levando em consideração o aumento extremo dessas emissões. Inicialmente

foram testados os efeitos apenas do aquecimento ou da acidificação da água. Para se

testar apenas o efeito da temperatura o pH dos aquários foi mantido (8.0) e a

temperatura alterada. Para verificar apenas o efeito da acidificação a temperatura dos

aquários foi mantida (24°C) e o pH alterado. Em um segundo momento, para testar se

há um efeito sinérgico ou antagônico da temperatura e do pH, os dois paramentos (pH

e temperatura) foram alterados simultaneamente cruzando os limites escolhidos.

Então foi possível avaliar se o efeito de apenas um dos fatores foi diferente do efeito

de dois fatores somados. Para os ensaios os espécimes foram divididos em nove

grupos experimentais após o período de aclimatação (Figura-3).

Figura 3 - Grupos experimentais em relação aos fatores temperatura e pH utilizados. Controle: 24°C e

pH8.0.

Os aquários foram mantidos em sala climatizada e para controlar a temperatura

da água foi utilizado um aquecedor submerso para aquários. Para modificar o pH foi

utilizado um controlador digital automático de pH (Sera) com injeção de CO2.

Em cada grupo experimental foram utilizados 35 espécimes com

aproximadamente o mesmo tamanho (12,5 cm de raio). Os organismos foram

transferidos dos aquários de manutenção para os experimentais com as mesmas

condições e só então os parâmetros foram alterados para evitar um choque de

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temperatura ou pH. Após a transferência, a mudança dos parâmetros foi feita

gradativamente e acompanhada até que atingisse os valores desejados (entre 1 e 2

horas) e então se iniciava a contagem do tempo. Depois do início do estresse, cinco

espécimes foram retirados em cada tempo estabelecido (1, 3, 12, 24 e 48h) para a

coleta das amostras de tecido e líquido celomático. Outros parâmetros como

salinidade, quantidade de amônia, nitrato e nitrito dissolvidos também foram

mensurados periodicamente com kit de análise de água (LabconTest).

Para verificar possíveis alterações fisiológicas devido ao manuseio também

foram retiradas amostras de organismos logo após a coleta (CC) e após os cinco dias

de aclimatação no laboratório (CA). Após os experimentos, os organismos foram

retornados aos aquários de aclimatação até a regeneração parcial do braço amputado

e posteriormente devolvidos ao local de coleta.

Coletas das amostras para análises

Após serem expostos às diferentes condições de temperatura e pH, os

espécimes eram secos com papel absorvente e tinham um dos braços cortado e

congelado a -80°C para posterior dissecção da gônada. O líquido celomático foi

coletado através de gotejamento do braço amputado e adicionado a uma solução

anticoagulante (NaCl 340mM; KCl 19mM; EDTA (Ethylenediaminetetraacetic Acid)

20mM; Tris-HCl 68mM, pH 8.2 - Xing e Chia, 2000) na proporção de 1:1. Uma fração

do liquido foi utilizado para contagem e análise de viabilidade dos celomócitos e o

restante congelado a -80° C para posterior análise dos marcadores. A viabilidade dos

celomócitos foi aferida logo após a coleta utilizando Azul de Tripan e a contagem das

células feita em uma câmara de Neubauer.

Os alvos escolhidos para os ensaios foram gônadas e celomócitos do fluido

celômico, baseado nos resultados de testes anteriores e dados da literatura que

mostram a sensibilidade das gônadas ao estresse térmico e sua importância para o

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estoque energético e fitness (Meistertzheim et al., 2009; Morris et al., 2013; Watts et

al., 2011), e a participação dos celomócitos na resposta imune e outros processos

fisiológicos relacionados ao metabolismo (Muñoz-Chápuli et al., 2005)

Quantificação das proteínas totais

a. Celomócitos

Fluido celomático coletado (2ml) foi centrifugado a 4°C (13.000 g /5 min) para a

formação de um pellet e o sobrenadante descartado. Foram adicionados 600 µL de

tampão de extração (Holm et al., 2008), composto de TBS (Tris Buffered Saline),

EDTA 1mM, 1% de Triton X-100 e coquetel inibidor de proteases (Amresco). As

amostras foram sonicadas em banho ultrasônico por 20 minutos e posteriormente

centrifugadas a 4°C (250 g /10min) e o sobrenadante coletado para determinação da

quantidade de proteínas totais através do método BCA (Bicinchoninic Acid Assay,

Walker 2009).

b. Gônadas

Fragmentos das gônadas foram coletados com aproximadamente 0,5 cm3 e

colocados em microtubos de 1,5 mL com 600 µL de tampão de extração (Zilberberg et

al., 2011), composto de TBS (Tris Buffered Saline), EDTA 1mM e coquetel inibidor de

proteases (Amresco). As amostras foram maceradas com auxílio de pistilos plásticos,

centrifugadas a 4°C (250 x g / 10 min), e o sobrenadante coletado para determinação

da quantidade de proteínas totais através do método de Bradford (Bioagency;

Bradford, 1976).

Análise da expressão das proteínas de estresse

Para a análise da expressão das proteínas relacionadas à resposta imune

foram feitos ensaios de ELISA (Enzyme Linked Immunosorbent Assay) utilizando um

protocolo de imunoensaio adaptado (Hernroth et al., 2011; Zilberberg et al., 2011).

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Para isso, 100 µl do extrato das amostras descrito anteriormente, contendo 50 µg de

proteínas totais, foram adicionados por poço em placas de 96 poços e incubadas por

24 horas em geladeira a 4°C. Após este período, as placas foram lavadas três vezes

com uma solução de PBS (Phosphate Buffered Saline) contendo 0,05% de Tween-20

(PBS-T). Em seguida adicionado BSA (Albumina sérica bovina) 1% em PBS-T (100 µl/

poço) overnight a 4°C, para o bloqueio das ligações inespecíficas. Posteriormente,

foram adicionados 100 µl do anticorpo primário específico (coelho anti-HSP70, coelho

anti-pp38 ou cabra anti-AIF-1, Santa-Cruz Biotech) diluídos 1:500 em PBS-T com

0,1% de BSA e as placas incubadas por 2:30h a 29°C. As placas foram novamente

lavadas três vezes com PBS-T e receberam o anticorpo secundário específico

conjugados com peroxidase (HRP-anti-coelho ou HRP anti-cabra 1:1000, Santa-Cruz

Biotech) diluídos no mesmo tampão e incubadas por 2:30h a 29°C. As reações foram

reveladas utilizando TBM (3,3,5,5- tetrametilbenzidina, Pierce) como substrato por 10

minutos, interrompidas ao adicionar H2SO4 2M e lidas em um leitor de placas de

ELISA a 450nm. Os resultados foram expressos em unidades de absorbância.

Caracterização dos celomócitos

As células presentes no liquido celomático foram visualizadas por meio de

citocentrifugados, usando amostras de líquido celomático de 10 indivíduos. Para os

citocentrifugados, a densidade da suspensão foi verificada em uma câmara de

Neubauer, ajustada para 5 x 105 células por ml usando a solução anticoagulante, e

passada para lâminas em uma citocentrífuga (100 µl por poço – 270 x g / 5 min -

Citospin 248. FANEM). Feito isso, as lâminas foram fixadas em vapor de formol por 45

min, coradas com Tricromo de Mallory ou Azul de Toluidina 0,1%. A identificação dos

tipos celulares foi baseada nas descrições existentes na literatura (e.g. Hyman, 1955;

Bolootian e Giese,1958; Chia e Xing, 1996).

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Para visualização dos esferulócitos em microscopia eletrônica de transmissão,

as células coletadas do líquido celomático foram fixadas por 24h em glutaraldeído

2,5%. Após a fixação, a suspensão celular foi incluída em Ágar (SIGMA) seguindo

protocolos adaptados de Dykstra (1993) e Taupin (2008). Para isso, as células fixadas

foram centrifugadas (180 x g / 5 min.) e ressuspendidas com a mesma solução

anticoagulante citada anteriormente, para retirar o fixador. A suspensão foi novamente

centrifugada e ressuspendida em uma solução de ágar dissolvido em água destilada a

30°C, e passada rapidamente para Eppendorfs, que foram submetidos a centrifugação

por 1 min a 12.000 x g. Feito isto, os tubos foram mantidos a 4oC até que o ágar

solidificasse. Posteriormente, os blocos foram retirados dos tubos e os pellets

contendo as células foram cortados. Estes foram deixados por 24h a 20°C em uma

mistura de tampão Cacodilato de Sódio 0,4 M e água do mar (4:5), sendo depois

rinsados com o mesmo tampão e pós-fixados em Tetróxido de Ósmio 2% em água do

mar (30 min. a 20°C). Para a microscopia, os pellets foram desidratados em uma série

gradativa de etanol (50, 70, 90 e 100%, 30 min. em cada) e embebidos em resina

(Embed-812, EMS). Os blocos foram então cortados em ultramicrótomo (Ultratome

NOVA, LKB) e as seções observadas em microscópio de transmissão EM 900

(ZEISS).

Análises estatísticas

Para comparação dos controles de campo e aclimatado foi realizado um teste t.

Nos três casos (anticorpos AIF-1, HPS70, PP38) foram realizadas ANOVA

multifatoriais (Fatores: amostra e tempo) para os dados corrigidos pela média de CA

(controle aclimatação) específica para cada amostra considerando o anticorpo,

permitindo assim a comparação entre estes. No caso de diferenças significativas

indicadas pela ANOVA foi realizado o teste a posteriori Tukey HSD. Também foram

feitas ANOVAS multifatoriais para comparar os fatores combinados (pH + temperatura)

e os mesmos isolados. As análises foram realizadas com o software GraphPad Prism.

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32

Resultados

Os resultados da quantificação das proteínas são expressos pelos valores

médios da absorbância a 450nm. Quando necessário, os dados nos gráficos foram

deslocados no eixo x para melhor visualização.

Os testes foram letais aos organismos apenas no grupo experimental 30°C +

pH7.3 após 24h de exposição. No grupo experimental 30°C+pH7.7 observou-se o

desenvolvimento de ulcerações na epiderme das estrelas no tempo 48h (Figura 4)

A B

Figura 4 E. brasiliensis após 48 horas de exposição à temperatura 30°C e pH7.7 apresentando

ulcerações na epiderme (setas).(A) Região dorsal. (B) Região ventral Escala: 1cm.

Expressão da pp38-MAPK

a) Gônadas

A análise da quantidade pp38-MAPK expressa nos organismos no ambiente

natural (CC) e após o período de aclimatização (CA) não mostrou diferenças entre o

controle coletado em campo e o aclimatizado em laboratório (Figura 5-A).

Observou-se que o aumento da temperatura desencadeou aumento da pp38-

MAPK nas gônadas após 24 horas de exposição ao estresse. Não havendo diferença

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33

de expressão do marcador entre as duas temperaturas escolhidas. Os tempos 1hx24h

e 1hx48h são significativamente diferentes (Figura 5-B). A alteração do pH da água

não alterou a expressão da pp38-MAPK. Não há diferenças da quantidade de proteína

entre os dois pHs assim como também não houve diferença significativa entres os

tempos de cada pH escolhido (Figura 5-C).

Os grupos com temperatura 28°C e alteração do pH desencadearam o aumento

da expressão de pp38-MAPK, a partir do tempo 1H, nas duas combinações

(28°C+pH7.3 e 28°C+pH7.7) e se mantém alta até o final do experimento. No entanto,

na combinação 28°C e pH7.7 o aumento do marcador foi significativamente maior

(Figura 5-D). Os grupos com temperatura 30°C e alteração do pH ocorreu aumento da

expressão da pp38-MAPK logo após o tempo 1h e as combinações diferem entre si

significativamente. No grupo 30°C e pH7.7 há maior expressão do marcador (Figura

5-E).

Quando comparados os efeitos dos fatores alterados individualmente (pH e

temperatura) com a alteração dos dois fatores ao mesmo tempo (pH+temperatura)

observa-se que nos grupos com fatores 28°C e pH 7.3 a quantidade de proteína é

maior com a alteração dos dois fatores, em todos os tempos quando comparado com

o grupo com apenas o pH alterado. E no tempo 1H quando comparado com o grupo

com apenas a temperatura alterada (Figura 6-A). No grupo com temperatura 28°C e

pH7.7 observa-se que a combinação tem maior aumento da proteína em relação aos

fatores isolados significativamente diferente (Figura 6-B).

No grupo com temperatura 30°C e pH 7.3 houve aumento na expressão do

marcador quando os fatores foram somados, diferente significativamente da

temperatura apenas no tempo 1h e do pH nos tempos 1h, 12h e 24h (Figura 6-C). Na

combinação 30°C e pH 7.7 também houve uma maior expressão nos fatores

combinados do que nos fatores isolados (Figura 6-D).

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34

A

B C

D E

Figura 5 – Expressão de pp38-MAPK nas gônadas. Resultados apresentados pela média da densidade

óptica (DO) a 450nm. (A) Comparação dos organismos recém-coletados (CC) e organismos aclimatizados

em laboratório após 5 dias (CA). (B)Comparação entre as temperaturas 28° e 30°C. (C) Comparação entre

os pHs 7.3 e 7.7. (D) Comparação entre a combinação da temperatura 28° com os pHs 7.3 e 7.7. (E) Comparação entre a combinação da temperatura 30°C com os pHs 7.3 e 7.7.

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A B

C D

Figura 6 – Expressão de pp38-MAPK nas gônadas. Resultados apresentados pela média da densidade

óptica (DO) a 450nm. (A)Comparação entre a combinação 28°C+pH7.3 e os fatores 28°C e pH7.3

isolados.(B) Comparação entre a combinação 28°C+pH7.7 e os fatores 28°C e pH7.7 isolados. (C) Comparação entre a combinação 30°C+pH7.3 e os fatores 30°C e pH7.3 isolados. (D) Comparação entre a

combinação 30°C+pH7.7 e os fatores 30°C e pH7.7 isolados.

b) Celomócitos

A análise da quantidade pp38-MAPK expressa nos celomócitos dos organismos

no ambiente natural e após o período de aclimatização mostrou que há uma

diminuição do marcador nos organismos aclimatizados (Figura 7-A).

O aumento apenas da temperatura aumentou a expressão de pp38-MAPK nos

celomócitos e as duas temperaturas produziram efeitos diferentes. No grupo com a

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temperatura 28°C o aumento da proteína é maior e ocorre entre os tempos 0h e 3h,

com pico máximo em 3H se mantendo significativamente mais alto até o fim do

experimento. No grupo com temperatura 30°C também ocorre aumento com pico em

1h que se mantém até o fim do experimento (Figura 7-B).

A acidificação da água aumentou da expressão da pp38-MAPK. No grupo com

pH 7.3 ocorreu o maior aumento a partir do tempo 1h com máximo atingido no tempo

12h e uma redução nos tempos 24h e 48h que ainda permaneceram

significativamente maiores que o controle (0h). No grupo com pH 7.7 houve também

um aumento no tempo 1h e todos os tempos diferem significativamente do controle

(Figura 7-C).

Os grupos com temperatura 28°C e alteração do pH mostraram aumento da

expressão da pp38-MAPK sendo que a combinação com o pH7.3 ocasionou aumentos

maiores. No grupo experimental 28°C e pH7.3 o aumento ocorre desde o inicio do

experimento, com pico de expressão no tempo 12h. Na combinação 28°C e pH7.7, a

expressão da proteína oscila entre o tempos, sendo significativamente maior que o

tempo 0h em todos os tempos, com exceção do tempo 12 (Figura 7-D).

Os grupos com temperatura 30°C e alteração do pH não mostraram diferenças

na expressão da proteína entre os dois grupos. Em ambos ocorre aumento da

expressão com pico no tempo 1h, que reduz depois do tempo 3h mas se mantém

maior que o controle até o final do experimento (Figura 7-E).

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A

B C

D E

Figura 7 – Expressão de pp38-MAPK nos celomócitos. Resultados apresentados pela média da densidade

óptica (DO) a 450nm. Comparação da expressão de pp38-MAPK nos celomócitos logo após a coleta (CC)

e nos organismos aclimatizados em laboratório após 5 dias (CA). (B)Comparação entre as temperaturas

28° e 30°C. (C) Comparação entre os pHs 7.3 e 7.7. (D) Comparação entre a combinação da temperatura

28° com os pHs 7.3 e 7.7. (E) Comparação entre a combinação da temperatura 28° com os pHs 7.3 e 7.7.

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38

Quando comparados os efeitos da mudança de apenas um fator com os da

mudança de dois fatores observamos que na combinação 28°C e pH7.3 tanto os

efeitos isolados como combinados aumentam a expressão da pp38-MAPK, mas a

combinação dos efeitos do pH e da temperatura provoca um aumento da proteína

mais baixo porém mais rápido, no tempo 1h, comparado com os efeitos da

temperatura. E expressão maior da proteína quando comparado com o pH (Figura 8-

A).

No grupo com temperatura 28°C e pH7.7 observa-se que todos os grupos

aumentam a expressão da pp38-MAPK. Porém, a soma dos dois fatores provoca um

aumento menor quando comparado com a expressão desencadeada pela temperatura

isolada. A combinação e o pH isolado mostraram efeitos semelhantes, com diferença

significativa apenas no tempo 24h. (Figura 8-B). Observa-se que o pH diminui a

resposta desencadeada pela temperatura.

No grupo com temperatura 30°C e pH7.3 os fatores combinados geram aumento

semelhante da proteína. Mas no grupo com os dois parâmetros alterados a expressão

é maior e mais rápida (1h) do que nos grupos com apenas um parâmetro modificado

(Figura 8-C). No grupo com temperatura 30°C e pH 7.7 os fatores isolados e a

combinação apresentam os mesmos efeitos na expressão de pp38-MAPK, exceto

quando houve a variação apenas do pH onde no tempo 3h há uma diminuição da

expressão da proteína (Figura 8-D).

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A B

C D

Figura 8 – Expressão de pp38-MAPK nos celomócitos. Resultados apresentados pela média da densidade

óptica (DO) a 450nm. (A)Comparação entre a combinação 28°C+pH7.3 e os fatores 28°C e pH7.3 isolados.(B) Comparação entre a combinação 28°C+pH7.7 e os fatores 28°C e pH7.7 isolados. (C)

Comparação entre a combinação 30°C+pH7.3 com os fatores 30°C e pH7.3 isolados. (D) Comparação

entre a combinação 30°C+pH7.7 com os fatores 30°C e pH7.7 isolados.

Expressão da HSP70

a) Gônadas

A análise da expressão de HSP70 nos organismos no ambiente natural e após o

período de aclimatização mostrou que há um aumento significativo da proteína nos

organismos mantidos em laboratório (Figura 9-A). O aumento da temperatura não

alterou significativamente a expressão da HSP70 nas gônadas e não houve diferenças

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entre as diferentes temperaturas, nem entre os tempos de exposição (Figura 9-B). A

acidificação da água aumentou a expressão do marcador no pH7.3 no tempo 1h que

se manteve sem diferença com os próximos tempos, exceto no tempo 48h onde há

uma queda significativa na expressão da HSP70 mas que não difere do controle. No

grupo com pH 7.7 não houve mudança significativa da expressão de HSP70 nos

diferentes tempos. Ambos os pHs, estatisticamente, não mostraram diferenças entre si

mas é possível observar maior expressão no grupo com pH7.7 nos tempos 1h e 12h e

menor no tempo 48h. (Figura 9-C).

Os grupos com temperatura 28°C e alteração do pH desencadearam respostas

diferentes. A maior expressão da proteína ocorreu na combinação 28°C e pH7.3 que

aumentou gradativamente a expressão sendo significativamente maior que o controle

apenas no tempo 48H (Figura 9-D). Na combinação 28°C e pH7.7 não houve diferença

significativa da expressão da proteína entre os tempos. Os grupos com temperatura

30°C e alteração do pH mostraram diferença de entre as duas combinações . A

combinação 30°C e pH7.3 desencadeou aumento da expressão de HSP70 no tempo

1h que se manteve alto e significativamente diferente do controle até o tempo 24h. A

expressão desencadeada pela combinação 30°C e pH7.3 foi significativamente maior.

Na combinação 30°C e pH7.7 houve aumento significativo do marcador no tempo 1h

que se manteve até o tempo 48h (Figura 9-E).

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A

B C

D E

Figura 9 – Expressão de HSP70 nas gônadas. Resultados apresentados pela média da densidade óptica

(DO) a 450nm. (A) Comparação da expressão de HSP70 nas gônadas logo após a coleta (CC) e nos organismos aclimatizados em laboratório após 5 dias (CA). (A)Comparação entre as temperaturas 28° e

30°C. (B) Comparação entre os pHs 7.3 e 7.7. (C) Comparação entre a combinação da temperatura 28°

com os pHs 7.3 e 7.7. (D) Comparação entre a combinação da temperatura 28° com os pHs 7.3 e 7.7.

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42

Quando comparada a alteração de apenas um fator (temperatura ou pH) com os

mesmos combinados observou-se que na combinação 28°C e pH7.3 os três grupos

não se diferenciam significativamente, mostrando alterações semelhantes (Figura 10-

A). A comparação da combinação 28°C e pH7.7 com a alteração de apenas um dos

parâmetros não mostrou diferenças significativas entres os três grupos ao longo do

tempo (Figura 10-B). A combinação 30°C e pH7.3 não se diferencia do pH isolado e é

maior do que a alteração apenas da temperatura (Figura 10-C). Na comparação da

combinação 30°C e pH7.7 observa-se que os três grupos não apresentam diferenças

significativas até o tempo 12h mas no tempo 24h há uma maior expressão de HSP70

causada pela combinação dos dois fatores (Figura 10-D).

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43

A B

C D

Figura 10 – Expressão de HSP70 nas gônadas. Resultados apresentados pela média da densidade óptica

(DO) a 450nm. (A)Comparação entre a combinação 28°C+pH7.3 e os fatores 28°C e pH7.3 isolados.(B) Comparação entre a combinação 28°C+pH7.7 e os fatores 28°C e pH7.7 isolados. (C) Comparação entre

a combinação 30°C+pH7.3 com os fatores 30°C e pH7.3 isolados. (D) Comparação entre a combinação

30°C+pH7.7 com os fatores 30°C e pH7.7 isolados.

b) Celomócitos

A análise da quantidade HSP70 expressa nos celomócitos dos organismos no

ambiente natural e após o período de aclimatização mostrou que há diminuição

significativa da proteína nos organismos mantidos em laboratório (Figura 11-A). O

aumento da temperatura da água desencadeou maior expressão do marcador na

temperatura 28°C, com pico de expressão no tempo 1h e diminuição no tempo 3h até

o tempo 48h, mas em níveis significativamente maiores do que no tempo 0h. Já na

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temperatura 30°C houve queda na expressão logo após o inicio do estresse, no tempo

1h, retornando a níveis normais no tempo 3h e aumentando até 48h sem diferenças

significativas entre eles, mas significativamente maiores do que o controle (Figura 11-

B).

A exposição aos diferentes pHs mostrou que há diferença significativa dos

efeitos de ambos na alteração da expressão da HSP70. A maior expressão foi

detectada pela exposição ao pH 7.7, houve aumento no tempo 1h que se manteve alto

até o tempo 48h. Todos os tempos são significativamente diferentes do controle mas

não há diferença entre os tempos de 1h a 48h. Já no grupo exposto ao pH 7.3 a

expressão de HSP70 se manteve sem alterações até o tempo 24h quando houve

queda significativa em relação aos outros tempos e o controle, aumentando

novamente no tempo 48h que não é diferente do controle (Figura 11-C).

A combinação da temperatura 28°C com os dois pHs não desencadeou

mudança significativa na expressão de HSP70 entre as duas combinações (Figura 9-

D). A combinação 30°C e pH7.3 reduziu a expressão de HSP70 a partir do tempo 12h.

Já a combinação 30°C e pH7.7 alterou a expressão (Figura 11-E).

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A

A B

C D

Figura 11 – Expressão de HSP70 nos celomócitos. Resultados apresentados pela média da densidade

óptica (DO) a 450nm. (A) Comparação da expressão de AIF-1 nos celomócitos logo após a coleta (CC) e nos organismos aclimatizados em laboratório após 5 dias (CA). (B)Comparação entre as temperaturas 28°

e 30°C. (C) Comparação entre os pHs 7.3 e 7.7. (D) Comparação entre a combinação da temperatura 28°

com os pHs 7.3 e 7.7. (E) Comparação entre a combinação da temperatura 28°C com os pHs 7.3 e 7.7.

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46

Quando comparados os fatores isolados com os mesmos combinados observou-

se que a mudança de dois parâmetros não altera a expressão das proteínas em todos

os grupos, exceto no grupo com temperatura 30°C e pH 7.3. No qual ouve diminuição

da expressão da HSP70, semelhante ao desencadeado apenas pela alteração do pH,

no tempo 24h seguido da morte dos organismos (Figura 12- A-D)

A B

C D

Figura 12 – Expressão de HSP70 nos celomócitos. Resultados apresentados pela média da densidade

óptica (DO) a 450nm. (A)Comparação entre a combinação 28°C+pH7.3 e os fatores 28°C e pH7.3

isolados.(B) Comparação entre a combinação 28°C+pH7.7 e os fatores 28°C e pH7.7 isolados. (C) Comparação entre a combinação 30°C+pH7.3 com os fatores 30°C e pH7.3 isolados. (D) Comparação

entre a combinação 30°C+pH7.7 com os fatores 30°C e pH7.7 isolados.

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47

Expressão de AIF-1

a) Gônadas

A expressão de AIF-1 nos organismos no ambiente natural e após o período de

aclimatização mostrou aumento significativo da proteína nos organismos mantidos em

laboratório (Figura 13-A).

Após a exposição às diferentes temperaturas, observou-se que ambas causaram

os mesmos efeitos na expressão do AIF-1, sem diferenças significativas entre as duas.

Houve aumento significativo da expressão na primeira hora que se manteve alto e sem

diferenças até o tempo 48h (Figura 13-B).

A acidificação da água aumentou a expressão de AIF-1 em ambos os pHs

testados. Em ambos houve um aumento significativo já na primeira hora que se

manteve até o tempo 48h. Mas no tempo 12h onde houve maior expressão em

resposta ao pH7.7. (Figura 13-C).

A combinação da temperatura 28°C com os dois pHs mostrou que a combinação

28°C e pH7.7 não altera a expressão de AIF. Já a combinação da temperatura 28°C e

pH7.3 aumentou a expressão do marcador a partir do tempo 1h até o fim do

experimento, sem diferenças significativas entre os tempos (Figura 13-D). A

combinação da temperatura 30°C com os dois pHs não alterou expressão de AIF-1

(Figura 13-E).

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A

B C

D E

Figura 13 – Expressão de AIF-1 nas gônadas. Resultados apresentados pela média da densidade óptica

(DO) a 450nm. (A) Comparação da expressão de AIF-1 nas gônadas logo após a coleta (CC) e os

organismos aclimatizadoss em laboratório após 5 dias (CA). (A)Comparação entre as temperaturas 28° e 30°C. (B) Comparação entre os pHs 7.3 e 7.7. (C) Comparação entre a combinação da temperatura 28°

com os pHs 7.3 e 7.7. (D) Comparação entre a combinação da temperatura 28° com os pHs 7.3 e 7.7.

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A comparação dos efeitos dos fatores isolados e dos mesmos combinados

mostrou que a combinação 28°C e pH7.3 desencadeou as mesmas alterações na

expressão de AIF-1 nas gônadas que o dois fatores isolados (Figura 14 – A). Já na

combinação 28°C e pH7.7, a combinação diminuiu a expressão de AIF-1, em relação

à temperatura isolada, a partir do tempo 3h (Figura 14 – B). A combinação 30°C e

pH7.3 desencadeou expressão de AIF significativamente mais baixa do que nos

fatores isolados. O mesmo se observa na combinação 30°C e pH7.7 (Figuras 14 – C e

D).

A B

C D

Figura 14 – Expressão de AIF-1 nas gônadas. Resultados apresentados em média de densidade óptica

(DO) a 450nm. (A)Comparação entre a combinação 28°C+pH7.3 e os fatores 28°C e pH7.3 isolados.(B) Comparação entre a combinação 28°C+pH7.7 e os fatores 28°C e pH7.7 isolados. (C) Comparação entre

a combinação 30°C+pH7.3 com os fatores 30°C e pH7.3 isolados. (D) Comparação entre a combinação

30°C+pH7.7 com os fatores 30°C e pH7.7 isolados.

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50

b) Celomócitos

A análise da expressão de AIF-1 nos organismos no ambiente natural e após o

período de aclimatização mostrou que não há diferença significativa entre os controles

pós-coleta e aclimatizado (Figura 15 - A). O aumento da temperatura alterou a

expressão de AIF-1 apenas no tempo 12h e foi significativamente diferente entre as

duas temperaturas. A temperatura 28°C ocasionou aumento da expressão do

marcador, enquanto que houve queda da expressão ocasionada pela temperatura

30°C (Figura 15-B).

A acidificação da água ocasionou efeitos diferentes na expressão de AIF-1 pelos

dois pH testados. No grupo com pH 7.3 houve aumento gradativo da expressão da

proteína até o tempo 48h que difere significativamente do controle. O pH7.7 não

alterou significativamente a expressão de AIF-1 durante o experimento (Figura 15-C).

A combinação da temperatura 28°C com os dois pH mostrou que a combinação

28°C e pH7.3 diminui a expressão de AIF-1 entre 3 e 24 horas, aumentando em 48

horas. Já a combinação 28° e pH7.7 não alterou a expressão do marcador (Figura 15-

D). As combinações da temperatura 30°C com os dois pH desencadearam repostas

estatisticamente diferentes apenas no tempo 3h. No grupo exposto à temperatura

30°C e pH7.7 ocorreu a diminuição da expressão AIF-1 no tempo 48h. Já no grupo

30°C e pH7.3 essa redução ocorreu mais rápida, no tempo 3h com posterior aumento

nos tempos seguintes (Figura 15-E).

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A

B C

D E

Figura 15 – Expressão de AIF-1 nos celomócitos. Resultados apresentados em média de densidade óptica

(DO) a 450nm. (A) Comparação da expressão de AIF-1 nos celomócitos logo após a coleta (CC) e os

organismos aclimatizados em laboratório após 5 dias (CA) (A)Comparação entre as temperaturas 28° e

30°C. (B) Comparação entre os pHs 7.3 e 7.7. (C) Comparação entre a combinação da temperatura 28°

com os pHs 7.3 e 7.7. (D) Comparação entre a combinação da temperatura 28°C com os pHs 7.3 e 7.7.

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52

A comparação dos efeitos dos fatores isolados e dos mesmos combinados

mostrou que a combinação 28°C e pH7.3 diminui a expressão da proteína enquanto

que os fatores sozinhos aumentam (Figura 16-A). A combinação 28°C e pH7.7, não

desencadeou respostas diferentes das dos fatores sozinhos (Figura 16-B). Na

combinação 30°C e pH 7.3 os dois fatores juntos desencadeiam o efeito contrário dos

fatores isolados (Figura 16-C). Na combinação 30°C e pH 7.7 a soma dos fatores foi

significativamente diferente apenas no tempo 1h, em relação ao pH, e no tempo 48,

em relação à temperatura (Figura 16-D).

A B

C D

Figura 16 – Expressão de AIF-1 nos celomócitos. Resultados apresentados pela média da densidade

óptica (DO) a 450nm. (A)Comparação entre a combinação 28°C+pH7.3 e os fatores 28°C e pH7.3 isolados.(B) Comparação entre a combinação 28°C+pH7.7 e os fatores 28°C e pH7.7 isolados. (C)

Comparação entre a combinação 30°C+pH7.3 e os fatores 30°C e pH7.3 isolados. (D) Comparação entre

a combinação 30°C+pH7.7 e os fatores 30°C e pH7.7 isolados.

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53

Contagem total do número de Celomócitos e viabilidade celular

Ao expor as estrelas ao aumento da temperatura observou-se que na

temperatura de 30°C há um aumento no número total de celomócitos a partir do tempo

1h com redução do número de células viáveis após o tempo 12 horas (Figuras 17-A e

18-A). Na temperatura de 28°C também há um aumento significativo do número de

células no tempo 1h que é seguido de uma redução significativamente menor que o

controle até o tempo 48h. (Figura 17-A), sem alterações significativas na viabilidade

das células. A acidificação da água não alterou o número total de celomócitos em

ambos os pH determinados e nos diferentes tempos (Figura 17-B). Porém, no pH mais

ácido a viabilidade foi diminuída no tempo 12h (Figura 18-B).

Na combinação da temperatura 28°C com os dois pHs escolhidos observou-se

que a associação 28°C com o pH7.7 alterou significativamente o número total de

celomócitos apenas no tempo 1h, sendo igual ao controle nos outros tempos e com

redução da viabilidade das células no tempo 12h (Figuras 17-C e 18-C. Já com o pH

mais baixo (7.3) é observado aumento significativo, no tempo 1h seguido de redução

nos tempo 12h e 24h mas no tempo 48h volta a aumentar, mas sem alteração da

viabilidade das células ao longo do experimento (Figuras 17-C e 18-C ). Entretanto, na

combinação da temperatura 30°C com os dois pHs observou-se aumento do número

de celomócitos na associação com o pH7.3 a partir do tempo 3h, com aumento de 6

vezes no tempo 24h, sem alteração na viabilidade (Figuras 17-D e 18-D ) A soma com

o pH 7.7 mostrou também um aumento após o tempo 1h até o tempo 12h e depois

ocorrendo uma diminuição a números similares ao do controle nos tempos 24h e 48h

(Figuras 17-D e 18-D ).

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A B

C D

Figura 17 - Contagem do número total de celomócitos (CTC) presentes no líquido celomático durante os

diferentes tempos e estresses. Linha de base com o valor no controle aclimatizado. (A)Comparação entre as

temperaturas 28° e 30°C. (B) Comparação entre os pHs 7.3 e 7.7. (C) Comparação entre a combinação da

temperatura 28°C e os pHs 7.3 e 7.7. (D) Comparação entre a combinação da temperatura 28°C e os pHs 7.3

e 7.7.

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55

A B

C D

Figura 18 - Viabilidade dos celomócitos (CTC) presentes no líquido celomático durante os diferentes tempos

e estresses. Valores expressos em porcentagem. (A)Comparação entre as temperaturas 28° e 30°C. (B)

Comparação entre os pHs 7.3 e 7.7. (C) Comparação entre a combinação da temperatura 28°C e os pHs 7.3

e 7.7. (D) Comparação entre a combinação da temperatura 28°C e os pHs 7.3 e 7.7.

Caracterização dos Celomócitos de Echinaster brasiliensis

Foram observados três tipos celulares: fagócitos, células progenitoras e

esferulócitos. As células progenitoras (Fig. 19 - A e B) (3% da população total)

possuem formato variando de oval a esférico (13,32 ± 1,66 μm), citoplasma reduzido e

hialino, com poucas e esparsas inclusões com afinidade para o Azul de Toluidina mas

não para o Tricomo de Mallory ou Hematoxilina e Eosina. O núcleo (4,68 ± 1,63 μm) é,

geralmente , esférico e central. Os fagócitos (Fig. 19 – C e D) foram o tipo celular

encontrado em maior número no fluido celômico (93% da população total), possuem

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formato irregular (13,62 ± 1,06 μm) e muitos pseudópodes. O citoplasma é hialino e

acidófilo, contendo muitas inclusões. O núcleo é esférico (4,23 ± 0,22 μm) e acidófilo.

Os esferulócitos (Fig. 19 – E e F) (4% da população total) tem o formato oval

(11,52 ± 3,69 μm) e citoplasma completamente preenchido por esférulas com

afinidade para o Azul de Toluidina e para o Azul de Metila do Tricomo de Mallory,

sendo que, a mesma célula pode ter afinidade também para a Fucsina Ácida do

mesmo corante. O núcleo (4,72 ± 0,5 μm) é, às vezes, encoberto pelo grande número

de esférulas.

Figura 19 – Celomócitos observados no fluido celomático de E. brasiliensis. A,C e E coradas com

Hematoxilina e Eosina. B, D e F coradas com Azul de toluidina. (A,B) Células progenitora. (C,D) Fagócitos;

(E,F) Esferulócitos. Escala:5µm.

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Discussão

Nossos resultados mostraram que o aquecimento e acidificação da água, bem

como as diferentes combinações dos mesmos, desencadeiam respostas distintas nas

gônadas e celomócitos de E. brasiliensis. Nos celomócitos houve expressão mais

marcante das proteínas de estresse do que nas gônadas, uma diferença

possivelmente relacionada com as diferentes funções fisiológicas dos dois tecidos. A

situação considerada a mais extrema (30°C e pH7.3) provocou mortalidade após 24h

de exposição. E a segunda combinação mais grave (30°C e pH7.7) desencadeou o

aparecimento de ulcerações de pele após 48 horas de exposição ao estresse.

Sintomas semelhantes têm sido relacionados a uma doença que acomete diferentes

espécies de equinodermos em situações de estresse relacionadas às mudanças

climáticas (Bates et al., 2009; Becker et al., 2004; Tajima et al., 2007)

O estudo das respostas fisiológicas a fatores de estresse é importante para

elucidar o desenvolvimento da tolerância a alterações ambientais, bem como para

prever possíveis impactos das mudanças ambientais nas populações e comunidades

(Maltby, 1999). Os organismos respondem às mudanças no seu habitat através de

uma série de adaptações fisiológicas. É esta capacidade de resistir a mudanças,

crônicas ou agudas, de uma série de parâmetros que vai determinar a sobrevivência,

fitness e distribuição da espécie (Gourgou et al., 2010).

Biomarcadores têm sido extensivamente utilizados no monitoramento ambiental

a fim de mostrar evidências de que os organismos foram expostos e/ou afetados por

mudanças no ambiente. Geralmente, são usados como parâmetros às mudanças

bioquímicas, histológicas, morfológicas ou medidas fisiológicas, como taxas

metabólicas (Pinsino et al., 2008). Porém, dados a nível molecular, como alterações

nos ácidos nucléicos e proteínas estão sendo cada vez mais utilizados para

suplementar as informações adquiridas pelos biomarcadores mais tradicionais. Por

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isso, proteínas que tem a sua regulação afetada por estresse têm sido cada vez mais

exploradas como potenciais ferramentas para avaliações ambientais. Considera-se

que o aumento dos níveis destas proteínas biomarcadoras é um efeito negativo

(Hernroth et al., 2012). Assim, seu acúmulo pode ser útil na identificação de tecidos

que são mais vulneráveis a danos ocasionados por um componente deletério

específico (Sanders et al., 1994).

As evidências científicas de que o aquecimento do sistema climático é real são

irrefutáveis, segundo o IPCC 2014. E o aquecimento e mudanças químicas nos

oceanos relacionadas ao aumento das emissões de dióxido de carbono de origem

antropogênica terão profundas consequências para uma ampla gama de espécies

(Godbold e Solan, 2013)

Efeitos da manutenção em laboratório

Ajustes da fisiologia de um organismo, entre eles a quantidade de proteínas

biomarcadoras também podem ocorrer devido à aclimatização ou aquisição de

tolerância, como decorrência da adaptação às mudanças no ambiente. Esta

variabilidade deve, portanto ser cuidadosamente considerada quando comparados

organismos de diferentes localidades, recém-coletados ou após períodos em

laboratório (Lewis et al., 1999).

Nos celomócitos de E. brasiliensis o período de aclimatização em laboratório (5

dias) reduziu a quantidade de p38-MAPK e HSP70 em comparação com amostras

coletadas no campo. Por outro lado, não foram observadas alterações do AIF-1 nem

no número total dos celomócitos. Esta redução ou não alteração de algumas proteínas

nos celomócitos das estrelas aclimatizadas pode estar associada à estabilidade do

ambiente ex situ, sem as alterações e desafios encontrados no ambiente natural.

Coteur et al. (2004) observaram que a estrela Asterias rubens também não

apresentava diferenças na produção de espécies reativas de oxigênio nem na

concentração de celomócitos após manuseio e manutenção em laboratório. Estes

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resultados, entretanto não servem como regra geral. Por exemplo, Clow et al.(2000)

verificaram que ouriços da espécie Strongylocentrotus purpuratus demandavam vários

meses para estabilizar respostas moleculares relativas a expressão do componente

central do sistema complemento (C3). Nas gônadas de E. brasiliensis detectamos um

aumento da HSP70 e do AIF-1 e a manutenção dos níveis da p38-MAPK. Sendo

assim, as respostas à aclimatização e ao manuseio podem ser bastante variadas não

só entre espécies, mas também nos tecidos de um mesmo indivíduo, e devem ser

consideradas com cautela (Brun et al., 2008).

Efeitos do Aquecimento

Os organismos que vivem na região entre-marés, especialmente, lidam

periodicamente com perturbações na temperatura, dessecação, salinidade e

humidade. A temperatura é um dos principais fatores determinantes da distribuição

latitudinal e vertical, abundância e fitness (Helmuth e Hofmann, 2001). Sendo assim,

animais ectotérmicos, como os equinodermos, precisam de estratégias

compensatórias para garantir sua homeostase enquanto enfrentam mudanças neste

parâmetro.

A temperatura tem efeitos diretos em todos os processos biológicos dos

ectotermos e por isso é um fator ambiental muito importante (Pörtner, 2005). Nesse

grupo, seus níveis influenciam todos os processos fisiológicos, desde a conformação

de proteínas, fluidez da membrana, até o funcionamento de órgãos e o

comportamento (Harley et al., 2006; Pörtner et al., 2015). Existem muitos organismos

que normalmente já vivem sob variações da temperatura e próximo da sua tolerância

máxima (Harley et al., 2006; Pörtner, 2008) ou estão sujeitos a variações sazonais.

Para outros, em particular aqueles de ambientes mais estáveis, o aumento da

temperatura pode afetar negativamente a sobrevivência. Assim como outros fatores,

os efeitos do aquecimento dos oceanos variam entre espécies e estágio ontogenético,

bem como pelo tempo de exposição.

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60

A HSP70 é o biomarcador mais conhecido quando se trata de estresse térmico,

no entanto também responde a uma série de outros fatores (Mayer e Bukau, 2005;

Pyza et al., 1997). Nossos resultados mostraram que apenas os celomócitos

respondem ao estresse térmico através da regulação da HSP70. No grupo com a

temperatura da água a 28°C a quantidade do marcador foi dobrada nos celomócitos

logo após uma hora do inicio do experimento. Já no grupo com a temperatura da água

a 30°C o efeito não foi tão agudo, mas lento e gradativo, sendo expressivo apenas 24h

depois do início do experimento. Aparentemente, o organismo levou mais tempo para

responder ao estresse mais severo. Este resultado é o oposto do verificado em outros

trabalhos. Por exemplo, Dong et al. (2008) observaram que aumentos de 2º e 4°C na

temperatura não alteraram a expressão destas proteínas em holotúrias, enquanto que

um aumento de 6°C elevou os níveis de HSP70 indicando alto grau de dano protéico.

Celomócitos de ouriços do mar também hiper-regulam a HSP70 após estresse térmico

severo (35°C) de forma rápida, após 1h (Matranga et al., 2000). Mas, um estudo

realizado com a exposição de moluscos (quitons) ao aumento da temperatura não

detectou uma influência direta com a expressão de HSP70, sendo que nas

temperaturas mais altas foram observados os menores níveis de HSP70 (Schill et al.,

2008). Estresses moderados ou severos desencadeiam respostas diferentes, como

também no caso de dinoflagelados associados a corais. Quando expostos ao

aquecimento moderado da água hiper-regularam a HSP70, enquanto que as

temperaturas maiores reduziram a expressão de HSP70 em 60% após 18 horas

(Rosic et al., 2011).

A hipertermia, em especial, tem sido mostrada como a principal estimuladora da

fosforilação e ativação de diversas proteínas quinases (Gourgou et al., 2010; Kyriakis

e Avruch, 1996). Não há relatos na literatura sobre a expressão da p38-MAPK em

resposta ao aquecimento da água em equinodermos adultos. No entanto, nossos

resultados mostraram que o aumento da temperatura para 28°C desencadeou uma

hiper-regulação rápida (entre 1 e 3h) da p38-MAPK tanto nas gônadas como nos

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celomócitos de E. brasiliensis, nos quais foi mais expressivo. Corroborando com os

dados de outros filos como Molusca e Nematoda (Gourgou et al., 2010; Troemel et al.,

2006).

A regulação da AIF-1 não tem sido estudada em resposta a fatores de mudanças

climáticas, mas principalmente a presença de patógenos como bactérias (Li et al.,

2013; Ovando et al., 2012). Nossos resultados mostraram que quando a temperatura

foi aumentada, a expressão de AIF-1 nas gônadas e nos celomócitos foi alterada. A

28°C houve aumento dos seus níveis tanto nas gônadas como nos celomócitos entre 3

e 12h horas de estresse. E na temperatura de 30°C houve aumento nas gônadas,

semelhante ao observado a 28°C, e redução nos celomócitos. A alteração dos seus

níveis somente entre 3 e 12h pode estar relacionada à diminuição da resposta imune,

com uma consequente invasão de patógenos. Já foi demonstrado que o AIF-1 em

equinodermos age como fator de proliferação celular em organismos expostos a

bactérias (Ovando et al., 2012). Embora sua expressão não seja ligada diretamente

ao estresse térmico, pode ser um bom indicador do estado fisiológico geral do

organismo, via o funcionamento do seu sistema imune.

Em E. brasiliensis observamos que o aumento da temperatura da água aumenta

o número total de celomócitos já na primeira hora após o início do experimento. Com a

temperatura a 28°C esse número é duplicado enquanto que a 30°C é triplicado. Nos

tempos seguintes esses números diminuem, sendo mais baixo que o controle na

temperatura a 28°C e permanecendo altos a 30°C, mas com a viabilidade reduzida

após 12h. Isto é diferente do que ocorreu com Asterias rubens na qual as mudanças

na temperatura não alteraram o número total de celomócitos (Holm et al., 2008a).

Assim como a vasta lista de trabalhos que avaliaram a resposta ao aumento da

temperatura, E. brasiliensis é sensibilizada por este estresse, mas sem efeitos letais a

curto prazo. Além disso, observamos que o aumento mais severo da temperatura

talvez seja tão intenso que os organismos demoram a gerar uma resposta detectável.

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Efeitos da acidificação

Uma diminuição de 0.4 unidades de pH é prevista na superfície marinha nos

próximos 85 anos. Embora pareça pequena, é uma mudança considerada rápida e

grave, e que desencadeará consequências amplamente difundidas para diversas

espécies e ecossistemas (Caldeira e Wickett, 2003; Dupont et al., 2010; IPCC, 2014;

Society, 2005). A calcificação é um dos primeiros alvos de estudos quando se fala de

acidificação da água. No entanto, outros fatores fisiológicos dos organismos podem

ser comprometidos por essa mudança, como o balanço ácido-base, metabolismo,

fitness e desenvolvimento (Pörtner, 2005).

Equinodermos são organismos com esqueleto calcário e que possuem um

sistema hidrovascular e celoma preenchido por água do mar. Alterações no pH da

água podem afetar diretamente suas células circulantes, órgãos internos, bem como a

calcificação do seu esqueleto. Por isso, entender os mecanismos de transdução de

sinais responsáveis por perceber e se ajustar a estímulos estressantes é de grande

importância.

Em E. brasiliensis a acidificação da água não alterou de forma marcante a

quantidade nem a viabilidade dos celomócitos. No entanto, outros trabalhos já

mostraram que a quantidade de celomócitos varia de acordo com a espécie ou com o

tipo de estresse. Por exemplo, a acidificação da água ocasionou aumento no número

de celomócitos em ouriços e estrelas do mar polares, diferentemente do que ocorreu

com a tropical A. rubens, que teve uma redução de 50% (Dupont e Thorndyke, 2006;

Hernroth et al., 2011).

O uso de biomarcadores moleculares para avaliar efeitos das mudanças

climáticas ainda é pouco empregado em estresses como a mudança do pH da água.

No entanto podem ser ferramentas que trazem respostas rápidas sobre o estado

fisiológico dos organismos. No nosso modelo, observamos que a expressão da p38-

MAPK não foi modificada nas gônadas, mas houve hiper-regulação nos celomócitos,

principalmente no pH mais ácido (7.3). A relação da regulação da p38-MAPK com a

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acidificação da água ainda tem sido pouco avaliada. Hernroth et al. 2011 observaram

que a expressão desta quinase nos celomócitos de Asterias rubens, exposta ao pH7.7,

não foi alterada depois de uma semana, mas foi reduzida após exposição a longo

prazo (6 meses). Em larvas de ouriços submetidos a acidificação da água (pH7.8) foi

observada redução do marcador (Todgham e Hofmann, 2009). Esta variabilidade pode

ser comum mesmo em grupos bastante diversos. Já foi verificado que peixes marinhos

hiper-regulam HSP70 e p38-MAPK quando expostos ao aquecimento e acidificação da

água (Feidantsis et al., 2014).

A expressão da HSP70 nos celomócitos em resposta a acidificação da água teve

hiper-regulação apenas no pH 7.7. No pH mais ácido houve diminuição da expressão

entre 12 e 24 horas, sendo associada a redução do número de células e viabilidade

nos mesmos tempos. Nas gônadas houve uma rápida e baixa hiper-regulação apenas

no pH 7.3 com redução após 24 horas. Alguns trabalhos sugerem que a hiper-

regulação da HSP70 tem alto custo para estrelas do mar e que a acidificação diminui

ou inibe os processos de transcrição e tradução, pela perda de enzimas importantes

(Hernroth et al., 2011; Langenbuch et al., 2006; Todgham e Hofmann, 2009). Existem

dados, com outras espécies e filos, que observaram a redução ou não regulação da

HSP70 frente a este tipo de estresse. Por exemplo, larvas de ouriços e bivalves

tiveram uma redução da HSP70 após acidificação da água (Cummings et al., 2011;

Hofmann e Todgham, 2010). Em crustáceos gamarídeos não houve efeito da

acidificação da água na regulação deste marcador (Hauton et al., 2009). Em contraste,

estrelas-do-mar Asterias rubens expostas a acidificação da água (pH7.7) tiveram

níveis de HSP70 aumentados, nos celomócitos somente após uma semana (Hernroth

et al., 2011).

Quanto à expressão de AIF-1, não há relatos na literatura a respeito da sua

regulação como uma resposta direta ao estresse de acidificação. Portanto, os dados

obtidos com E. brasiliensis são novos para este marcador. Observamos que o padrão

de AIF-1 é alterado pelos dois pHs nas gônadas, enquanto que apenas o pH mais

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ácido gera alteração da expressão nos celomócitos, e que em ambos os alvos as

respostas são geradas rapidamente a partir do tempo 1h. Possivelmente este aumento

da AIF-1 nos celomócitos pode estar associadas a mecanismos de proliferação celular

mediados por esta proteína (Li et al., 2013).

Frente à acidificação há uma variabilidade de respostas de acordo com a

espécie (Clark e Peck, 2009) e estágio do ciclo de vida (Byrne e Przeslawski, 2013).

Juvenis parecem ser mais vulneráveis a este fator do que os adultos, nos quais

apenas efeitos subletais foram observados (Dupont et al., 2010). A maioria dos

trabalhos que investigam as mudanças dos equinodermos em reposta à acidificação

da água avalia fatores como fertilização (Byrne et al., 2009), desenvolvimento larval

(Dupont et al., 2010), índice de mortalidade de juvenis (Shirayama e Thornton, 2005),

metabolismo, crescimento e calcificação em adultos (Wood et al., 2008). Poucos

trabalhos levam em consideração as mudanças e sinalizações celulares.

Considerando o cenário realístico do decréscimo do pH no futuro, nosso trabalho

concorda com outros estudos que concluem que os equinodermos aparentam ser um

grupo robusto na tolerância a este estresse (Dupont et al., 2010). Não observamos

mortalidade com a alteração no pH e manutenção da temperatura controle. No

entanto, de forma geral, as repostas à acidificação são moduladas por diferentes

parâmetros como tempo de exposição, pH testado, estágio de vida, tecido e espécie.

Tem sido mostrado que os adultos parecem ser mais resistentes, porém efeitos

indiretos têm surgido em experimentos a longo prazo, embora nossos resultados já

mostrem mudanças em curto intervalo de tempo. Kurihara (2008) cita em seu trabalho

que ouriços do mar que não mostraram alterações em resposta a acidificação a curto

prazo tiveram um decréscimo da taxa de reprodução, atraso do desenvolvimento

gonadal e diminuição do período de desova após 10 meses de exposição ao pH 7.8.

Apesar de não apresentar efeitos diretos na sobrevivência, exposições a longo prazo

podem afetar a abundância e sobrevivência das espécies.

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Efeitos combinados da acidificação e hipertermia

A maior parte dos estudos a respeito dos efeitos das mudanças climáticas nos

oceanos tem extensivamente estudado o aumento da absorção de CO2 ou da

temperatura como estressores únicos, separados. Mas esta abordagem vem mudando

nos últimos anos (Feidantsis et al., 2014; Folt et al., 1999; Pörtner, 2005). Estudos que

considerem os efeitos interativos destes dois processos podem ser mais

esclarecedores para entender o cenário futuro, uma vez que no ambiente natural os

organismos estão sujeitos a múltiplos estressores. Efeitos acumulativos podem

diminuir (antagonismo), aumentar (sinergismo) ou compensar as respostas geradas

pelo organismo (Folt et al., 1999). Por exemplo, o aumento da temperatura e

diminuição do pH tem resultados antagônicos nas taxas de crescimento de ouriços do

mar, onde a temperatura reduz os efeitos negativos causados pelo pH (Byrne et al.,

2011). Por outro lado, na estrela-do-mar Pisaster ochraceus os dois parâmetros

possuem efeitos positivos quando juntos, aumentando a taxa de crescimento (Gooding

et al., 2009).

Em E. brasiliensis a combinação do pH7.3 e temperatura 30°C, considerada a

situação mais extrema, desencadeou o aumento de aproximadamente seis vezes no

número de celomócitos, depois de 12 horas. Nestes, foram observadas a redução da

expressão da HSP70 e hiper-regulação da p38-MAPK e AIF-1 entre 3 e 12 horas.

Estes resultados podem indicar um enfraquecimento do sistema imune, o que

favoreceria a proliferação de patógenos que desencadearam o aparecimento de

ulcerações na pele após 12 horas e a morte dos organismos entre 24 e 48 horas. Nas

gônadas os níveis de HSP70 e p38-MAPK foram aumentados e AIF-1 não foi alterado.

Estas ulcerações na pele são sintomas de uma doença que tem sido observada

em equinodermos desde 1978, após uma onda de calor na costa da Califórnia. Em

1982 a passagem do El-niño provocou o declínio de várias populações de

equinodermos, que continua sendo observada (Eckert et al., 1999; Jangoux, 1987). O

primeiro sinal da doença são pontos brancos no tegumento dos indivíduos, que

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evoluem para lesões na epiderme, derme e esqueleto e se estendem rapidamente,

levando à morte (Becker et al., 2004; Eckert et al., 1999). O aquecimento global tem

sido considerado um fator desencadeador de doenças, já que as taxas de crescimento

de patógenos são aumentadas em altas temperaturas e os hospedeiros são

sensibilizados, se tornando mais susceptíveis a doenças (Harvell et al., 2002). Casos

de ulceração, ou doenças relacionadas, têm ocorrido mundialmente e em diferentes

espécies. Já foram relatados nas holotúrias Apostichopus japonicus (China),

Isostichopus fuscus (Equador) e Holothuria cabra (Austrália), na estrela do mar

Pisaster ochraceus (Canadá) e no ouriço do mar Strongylocentrotus plupuratus

(California) (Bates et al., 2009; Becker et al., 2004, 2010; Deng et al., 2009). No nosso

laboratório, estas ulcerações de pele já haviam sido observadas anteriormente em

estrelas e pepinos do mar mantidos em aquários sem um controle rígido dos

parâmetros da água. Sabe-se que é provocada por bactérias, e que pequenos

aumentos da temperatura têm contribuído para o aparecimento esta doença (Bates et

al., 2009; Becker et al., 2010).

Em E. brasiliensis, apenas o aumento da temperatura não desencadeou o

aparecimento da enfermidade, mas a acidificação da água associada com a

temperatura maior levou ao desenvolvimento dos sintomas relacionados. É possível

que apenas o aquecimento não leve ao desenvolvimento dos sinais visíveis da

doença. No entanto, o aquecimento em conjunto com o meio mais ácido e os

consequentes problemas na calcificação leve a formação das ulcerações.

Nossos resultados também mostraram que a combinação da acidificação e do

aquecimento da água desencadeou efeitos diferentes de acordo com o tecido, o

biomarcador e o pH/temperatura utilizados. Nas gônadas houve hiper-regulação da

pp38-MAPK e HSP70, mostrando um efeito sinérgico dos dois parâmetros, Mas não

alterou AIF-1, diferentemente de quando os fatores eram alterados isoladamente,

mostrando efeito compensatório do pH e da temperatura da água. Nos celomócitos a

expressão das proteínas não foi diferente (pp38-MAPK) ou diminuiu (HSP70 e AIF-1)

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em comparação com os fatores alterados individualmente, neste caso a acidificação

parece diminuir o efeito da temperatura atuando sozinha. Em larvas do ouriço do mar

Strongylocentrotus franciscanus observou-se que a redução do pH quando somada ao

aumento da temperatura não altera a expressão da HSP70 em relação a somente a

acidificação (O’Donnell et al., 2008). Este mesmo trabalho sugere que níveis elevados

de CO2 tamponam as proteínas, protegendo-as de danos térmicos, atrasando a

necessidade de uma resposta de choque térmico. Alternativamente, a falta da

expressão da HSP70 pode estar relacionada com a redução do metabolismo durante o

estresse. Como mostrado por (Metzger et al., 2007), a acidificação da água em

conjunto com o estresse térmico reduz a capacidade metabólica e aumenta a

mortalidade de caranguejos. Porém, mais recentemente observou-se que em bivalves,

Mytilus coruscus, a soma dos dois estresses hiper-regula a HSP70 (Liu et al., 2014).

Biomarcadores x Mudanças Climáticas

P38-MAPK

As cascatas de MAPKS estão entre as mais extensivamente estudadas entre as

vias de transdução de sinais. Participam de uma série de programas celulares como,

diferenciação, movimento, divisão e morte celular, sendo em geral hiper-reguladas

quando as células são expostas a uma variedade de estímulos (Schaeffer e Weber,

1999). Além de estarem associadas às respostas celulares a diferentes estresses, as

p38-MAPKs também podem estar envolvidas em mecanismos anti ou pró-apoptóticos,

dependendo da isoforma ou tipo celular (Châtel et al., 2010; Roux e Blenis, 2004). A

redução da capacidade fagocítica dos celomócitos está associada à falta de ativação

da p38-MAPK (Hernroth et al., 2011). A regulação da p38-MAPK tem sido estudada,

principalmente, em resposta às flutuações ambientais (e.g. salinidade, hipóxia/anóxia,

temperatura e poluição por metais pesados) e a estímulos externos físicos ou

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68

químicos (e.g. estresse oxidativo, radiação UV, citocinas e LPS) (Gaitanaki et al.,

2004; Gourgou et al., 2010; Kefaloyianni et al., 2005; Kyriakis e Avruch, 1996; Larade

e Storey, 2006).

Entre os invertebrados marinhos, a maioria dos trabalhos que relacionam a

regulação da p38-MAPK à resposta a estímulos de mudanças ambientais foram

realizados em bivalves da espécie Mytillus galloprovincialis. Seus resultados mostram

que a regulação da p38-MAPK é aumentada de forma rápida após períodos de anóxia

e baixa salinidade (Gaitanaki et al., 2004), ao aumento da temperatura e exposição a

metais pesados (Gourgou et al., 2010; Kefaloyianni et al., 2005), a presença de

poluentes como diesel e TBT na água (Châtel et al., 2010) e a exposição a patógenos

(Canesi et al., 2002).

Em E. brasiliensis, as diferentes respostas dadas pelas gônadas e celomócitos

indicam uma ativação diferenciada da p38-MAPK de acordo com o tecido, com o

estímulo ou com o período de exposição. A expressão da p38-MAPK foi maior nos

celomócitos do que nas gônadas. Possivelmente, essa diferença pode ser relacionada

às funções de cada tecido. Como os celomócitos desempenham variados papéis

relacionados à manutenção da homeostase, a energia seja alocada para

sobrevivência do organismo, e não para reprodução.

HSP70

As respostas dos organismos ao estresse podem ser realizadas de diferentes

formas como comportamentais, químicas entre outras. Na sua maioria, estas

respostas são espécie-específicas. Entretanto, uma via considerada universal é a

produção de proteínas de estresse, das quais as HSP são consideradas o maior grupo

(Gross, 2004). O aumento da produção de HSP70 tem um papel de proteção e,

dependendo do problema, pode ser suficiente para manter a homeostase e

metabolismo em taxas normais (Kregel, 2002).

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Apesar da maioria dos estudos mostrarem que o aumento da expressão de

HSP70 está positivamente relacionada a ambientes estressantes, é importante levar

em conta o nicho do organismo em questão. No ambiente marinho há habitats

diversos, que proporcionam diferentes níveis de estresse ou que se modificam com

frequência (Feder e Hofmann, 1999; Patruno et al., 2001). Por exemplo, em peixes

marinhos a expressão de HSP varia sazonalmente (Feidantsis et al., 2013). Já

populações de estrelas que vivem em ambientes de infralitoral ou entre-marés

normalmente não mostram diferenças nos níveis padrões de HSP entre as duas

populações. No entanto, quando a população do infralitoral é submetida a um

estresse, como amputação, a expressão de HSP é maior e por mais tempo do que na

população bêntica (Pinsino et al., 2007). Por outro lado, crinóides e ofiuróides

coletados em diferentes localidades, mas que ocupam ambientes igualmente estáveis,

não mostram diferenças na regulação deste componente (Patruno et al., 2001).

Em Echinaster brasiliensis, a HSP70 foi hiper-regulada em resposta à

temperatura 28ºC apenas nos celomócitos. Trata-se de uma estrela típica de

infralitoral, porém na região coletada a população está submetida a variações de

temperatura sazonais e a influência de diferentes correntes de água fria, por isso a

sensibilidade delas às temperaturas mais altas. Possivelmente o aumento de 6°C na

temperatura tenha sido tão alto que os organismos levaram mais tempo para produzir

uma resposta.

AIF-1

Os níveis de citocinas como a AIF-1 têm sido bastante estudado em vertebrados

tendo em vista seu papel fundamental na comunicação entre o sistema imune

adaptativo e o inato em mamíferos (Roberts et al., 2008; Zhang et al., 2013). Nos

invertebrados, sem sistema adaptativo, estas proteínas têm sido associadas à

ativação de fagócitos em resposta a infecções. Sendo assim, a maioria dos estudos

está associada a respostas dos organismos à presença de patógenos, principalmente

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bactérias. Recentemente, Gonzalez-Aravena et al.(2015), clonaram AIF-1 de

celomócitos de ouriços do mar antárticos, e descobriram que a exposição ao LPS

acarreta aumento da sua expressão após 24h de contato, também associado ao

aumento do número de celomócitos. Em holotúrias, mexilhões e ostras foi detectado o

aumento desta citocina nos celomócitos após a exposição a bactérias (Li et al., 2013).

As vias do AIF-1 não estão diretamente vinculadas a fatores como as mudanças

climáticas do ambiente. No entanto, a avaliação da sua expressão pode nos trazer

informações sobre se as mudanças no ambiente estão afetando o sistema imune do

organismo, deixando-o susceptível a patógenos e consequentemente ativando vias

como a da AIF-1. Como foi possível observar, neste trabalho, com o aumento da sua

expressão nas estrelas acometidas pela ulceração de pele.

Ovando et al. (2012) avaliaram o papel da AIF-1 na resposta imune do ouriço do

mar através do aumento da expressão nos celomócitos após a exposição a bactérias.

Foi observado um aumento no número total de celomócitos, associado com a remoção

dos micro-organismos do fluido celômico por fagocitose. Este aumento dos

celomócitos foi observado entre 24 e 48h, onde a expressão da AIF-1 retorna a níveis

basais. Esta diferente variação temporal entre o número de celomócitos e o AIF-1

pode ser resultado da participação da citocina na resposta imune inicial, rápida, antes

de 24h.

Nas E. brasiliensis mantidas a 28°C, em 12h há diminuição dos celomócitos e

aumento da AIF-1. Na temperatura maior, 30°C, no mesmo período ocorre um

aumento no número de celomócitos e a diminuição do AIF-1. Este aumento da AIF-1

concomitante com a redução do número de celomócitos pode estar relacionado com a

necessidade de produzir novas células. O AIF-1 induz a expressão de mediadores da

resposta inflamatória, promovendo a proliferação e migração celular em resposta a

estímulos estressores (Utans et al., 1995; Zhao et al., 2013) e estimulando a atividade

fagocítica (Zhang et al., 2013).

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Celomócitos

Em equinodermos, os celomócitos participam de funções variadas, algumas

das quais similares às células sanguíneas, consideradas seus homólogos em

vertebrados (Muñoz-Chápuli et al., 2005). Entre as várias já descritas para

equinodermos estão a coagulação, excreção, digestão, transporte e estocagem de

nutrientes, encapsulamento, secreção de substâncias, transporte de oxigênio, além da

síntese e deposição de fibras de colágeno e da matriz extracelular (Endean, 1958;

Tahseen, 2009). Também podem ter um papel importante na resposta imune humoral

e celular, participando da fagocitose (Shimada et al., 2005) encapsulamento,

citotoxicidade e produção de agentes antimicrobianos (Gross et al., 1999; Smith,

1999). Já foi observado que a quantidade e os tipos de celomócitos podem variar

durante infecções, injúrias ou mudanças no ambiente (Matranga et al. 2000; Pinsino et

al. 2007; Holm et al. 2008).

Em E. brasiliensis foram identificados três tipos celulares circulantes no liquido

celomático, sendo os fagócitos os mais abundantes. Diferentes papéis têm sido

atribuídos a estas células: transporte de nutrientes (Smiley, 1994), coagulação do

fluído celomático, rejeição de enxertos (Canicattì et al., 1989; Smith, 1999),

encapsulamento de partículas estranhas e micro-organismos e formação dos corpos

marrons (Xing et al., 2008) e ainda a remoção de restos celulares (Glinski e Jarosz,

2000). A não observação de grandes quantidades de células inviáveis após os

estresses, mesmo com a redução do número de celomócitos total, pode estar

relacionada com a remoção destas pelos fagócitos.

A quantidade de celomócitos varia de acordo com a espécie ou com o tipo de

estresse. Por exemplo, a acidificação da água ocasionou aumento no número de

celomócitos em ouriços e estrelas do mar polares, diferentemente do que ocorreu com

A. rubens, que teve uma redução de 50% (Dupont e Thorndyke, 2012; Hernroth et al.,

2011). Já esta mesma estrela do mar submetida a situações de hipóxia, à presença de

parasitas ou injúria teve o número total de celomócitos aumentado (Pinsino et al. 2007;

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Holm et al. 2008). Por outro lado, as mudanças na temperatura não alteraram o

número total de celomócitos nesta espécie (Holm et al. 2008). Em E. brasiliensis o

aumento do número de células ocorreu principalmente em resposta ao aumento da

temperatura e da sua combinação com a acidificação.

Considerações finais

Segundo (Byrne e Przeslawski, 2013) algumas espécies são mais resilientes que

outras e podem ter sucesso frente às mudanças climáticas. Nossos resultados

mostram que E. brasiliensis, apesar de sensibilizada, resiste às mudanças do

ambiente em laboratório. No entanto, na natureza há influência de outros inúmeros

fatores, como disponibilidade de alimento, oxigênio, salinidade e predação, e talvez a

longo prazo essa resistência pode não ser a mesma. Além disso, o oceano irá mudar

gradualmente durante as próximas décadas, diferentemente do que é realizado em

laboratório em estudos de “choques futuros”. Algumas espécies poderão ser aptas a

tolerar as mudanças previstas para o oceano através da aclimatação ou adaptação.

Mas, ainda assim, estudos que mostrem os possíveis efeitos das mudanças climáticas

na comunidade marinha servem como exemplo para a população de que a aceleração

e modificação dos ciclos da natureza podem trazer graves consequências.

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Conclusões

• E. brasiliensis é sensibilizada pelas mudanças ambientais do pH e temperatura.

• O tempo de aclimatização em laboratório diminuiu ou não alterou a expressão das

proteínas de estresse.

• O cenário considerado o mais estressante (pH7.3/30°C) ocasionou óbito dos

organismos após 24 horas de exposição.

• O cenário pH7.7+30°C desencadeou o surgimento da doença ulceração de pele.

• A expressão das proteínas biomarcadoras de estresse varia entre gônadas e

celomócitos, tempo e grupo experimental.

• E. brasiliensis responde mais rapidamente aos estresses moderados (28°C, pH7.7)

• Os efeitos dos estresses ambientais em E. brasiliensis são mais pronunciados nos

celomócitos, e a variação da expressão das proteínas esta associada com a dinâmica

do número de células e viabilidade.

• Os celomócitos são bons indicadores para avaliar as alterações fisiológicas

desencadeadas pelas mudanças climáticas.

• As gônadas de E. brasiliensis não são sensíveis ao estresse térmico, não alterando

a expressão de HSP70 e p38-MAPK.

• O aumento da temperatura desencadeia o aumento do número total de

celomócitos, mas a acidificação da água não altera o número total de células.

• A combinação da alteração do pH e temperatura desencadeou aumento do número

de celomócitos em todos os grupos.

• Apenas o aumento da temperatura para 30°C ou diminuição do pH para 7.3

reduziram a viabilidade dos celomócitos

• O pH diminui os efeitos da temperatura na expressão de proteínas nos celomócitos.

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• Como cada proteína de estresse responde a variados e diferentes estímulos, a

utilização de mais de um biomarcador é interessante para confirmar as alterações que

ocorrem nos organismos.

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