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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA UNEB DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA VIDA CAMPUS I COLEGIADO DE FONOAUDIOLOGIA ROBERTA VILELA LOPES ETIOLOGIA DA PERDA AUDITIVA EM ESCOLA ESPECIAL Salvador, BA 2006

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA UNEB · forma adequada a orelha interna devido a algum problema na orelha externa ou na orelha média (LOPES FILHO, 1997). ... auditiva condutiva pode

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA VIDA – CAMPUS I

COLEGIADO DE FONOAUDIOLOGIA

ROBERTA VILELA LOPES

ETIOLOGIA DA PERDA AUDITIVA EM ESCOLA ESPECIAL

Salvador, BA

2006

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ROBERTA VILELA LOPES

ETIOLOGIA DA PERDA AUDITIVA EM ESCOLA ESPECIAL

Orientadora: Maria Cecília Castello Silva Pereira

Trabalho apresentado para o processo de

conclusão do curso de Fonoaudiologia da

Universidade do Estado da Bahia

Salvador, BA

2006

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RESUMO

LOPES, Roberta Vilela; PEREIRA, Maria Cecília Castello Silva. Etiologia da Perda Auditiva

em Escola Especial. Monografia de Conclusão do Curso de Bacharelado em Fonoaudiologia,

Departamento de Ciências da Vida, Universidade do Estado da Bahia. Salvador, 2006, 43p.

Introdução; A deficiência auditiva na infância traz uma série de dificuldades na linguagem, fala

e aprendizado, sendo extremamente importante um diagnóstico precoce, o que torna maior as

possibilidades de reabilitação Objetivo: Esta pesquisa objetivou investigar a etiologia da perda

auditiva em crianças e adolescentes que estudam em uma escola especial, bem como fazer um

levantamento do tempo levado para se ter um diagnóstico audiológico. Metodologia: Foi

elaborado um questionário objetivo acerca de possíveis causas que pudessem esclarecer a

etiologia da perda auditiva. O questionário, que foi entregue aos pais, englobou informações a

respeito da gestação e do parto, do desenvolvimento da criança e da possibilidade de

hereditariedade ou alteração genética. Resultados e Conclusão: A pesquisa indicou que maior

parte dos deficientes auditivos participantes provavelmente teve perda auditiva congênita (50%),

levando muito tempo para se chegar a um diagnóstico (40,9% ocorreu entre 1 e 2 anos) e iniciar o

uso de aparelho auditivo (44,45% só iniciaram após os 2 anos de idade). A rubéola foi a doença

de maior incidência apresentada pela mãe durante a gravidez (causa congênita), com 31,82% e a

meningite foi a doença que mais ocorreu durante o desenvolvimento da criança (causa adquirida),

com 13,6%. O uso de medicamentos durante a gravidez não foi etiologia das perdas auditivas de

nenhum dos participantes da pesquisa. Já o uso de medicamentos pela criança pode ter resultado

em perda auditiva nas crianças que utilizaram antibióticos (27,27%), especialmente as que

fizeram uso de amicacina. Entre os dados ocorridos durante o nascimento, o mais comum foi a

anóxia (18,18%), seguido de prematuridade (13,64%) e baixo peso ao nascimento (13,64%). A

incompatibilidade do fator Rh não foi uma etiologia comum na pesquisa. Houve inexistência de

deficientes auditivos na família e de síndromes associadas e baixa incidência de consangüinidade

entre os pais (9%).

Palavras-chave: perda auditiva, etiologia, diagnóstico.

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ABSTRACT

LOPES, Roberta Vilela; PEREIRA, Maria Cecília Castello Silva. Etiology of Auditory Loss in

Special School. Monograph of Conclusion of the Course of Fonoaudiologia, Department of

Sciences of the Life, University of the State of Bahia. Salvador, 2006, 43p.

Introduction: The auditory deficiency in the childhood brings a series of language, speaks and

learning troubles, being extremely important a precocious diagnosis, what turns larger the

possibilities of rehabilitation Objective: This research aimed to investigate the etiology of the

auditory loss in children and adolescents that study at a special school, as well as to do a rising of

the time taken to have a diagnosis audiological. Methodology: An objective questionnaire was

elaborated about of possible causes that could have taken to the appearance of the auditory loss.

The questionnaire, that was given to the parents, included information regarding the gestation and

of the childbirth, of the child's development and of the hereditariness possibility or genetic

alteration. Results and Conclusion: The research indicated that most of the auditory deficient

participants of the research was probably already born with the auditory loss (50%), taking a long

time to arrive to a diagnosis (40,9% happened between 1 and 2 years) and to begin the use of

auditory apparel (44,45% only began after the 2 years of age). The rubella was the disease of

larger incidence presented by the mother during the pregnancy (congenital cause), with 31,82%

and the meningitis was the disease that happened more during the child's development (acquired

cause), with 13,6%. The use of medicines during the pregnancy was not etiology of the auditory

losses of none of the participants of the research. Already the use of medicines for the child can

have result in auditory loss in the children that used antibiotics (27,27%), especially the ones that

made amicacyn use. Among the data happened during the birth, the most common was anoxia

(18,18%), followed by premature (13,64%) and low weight to the bird (13,64%). The

incompatibility of the factor Rh was not a common etiology in the research. There was

inexistence of deficient auditory in the family and of syndromes associated and it lowers

consanguinities incidence among the parents (9%).

Word-key: auditory loss, etiology, diagnosis.

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SUMÁRIO

LISTA DE GRÁFICOS

1. INTRODUÇÃO 07

2. OBJETIVO 08

3. REVISÃO DE LITERATURA 09

4. METODOLOGIA 20

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 22

6. CONCLUSÃO 34

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 36

APÊNDICE

ANEXOS

6

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 – Período de surgimento da perda auditiva 22

GRÁFICO 2 – Idade na época do diagnóstico 23

GRÁFICO 3 – Tempo decorrido entre a suspeita e o diagnóstico 24

GRÁFICO 4 – Tempo decorrido para o início do uso do AASI após o diagnóstico 25

GRÁFICO 5 – Doenças apresentadas pela mãe durante a gravidez 27

GRÁFICO 6 – Uso de medicamentos durante a gravidez 28

GRÁFICO 7 – Doenças apresentadas pela criança durante o seu desenvolvimento 29

GRÁFICO 8 – Uso de medicamentos pela criança 30

GRÁFICO 9 – Problemas ocorridos no nascimento 31

GRÁFICO 10 – Parentesco entre os pais da criança 32

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1. INTRODUÇÃO

A deficiência auditiva na infância traz uma série de problemas de linguagem, fala e

aprendizado (AZEVEDO, 1997). Segundo Russo e Santos (1994), qualquer criança que não é

exposta à linguagem até os três primeiros anos de vida sempre terá um déficit em relação ao

desenvolvimento pleno da linguagem. Mesmo as perdas auditivas leves levam a alterações da

linguagem que está sendo adquirida.

Dessa forma, é extremamente importante um diagnóstico precoce, de forma a aproveitar

ao máximo a plasticidade do Sistema Nervoso Central nas idades mais jovens, tornando-se maior

a probabilidade de reabilitação (AZEVEDO, 1997).

De acordo com o Joint Comittee for Infant Hearing (2000), todas as crianças com

diminuição da audição devem ser identificadas antes dos três meses e receber intervenção

terapêutica até os seis meses de idade.

A presente pesquisa visa investigar a respeito dos fatores que podem ter levado a uma

perda auditiva em um grupo de alunos de uma escola especial, esclarecendo melhor a etiologia

das alterações auditivas nesses alunos e relacionando os fatores de risco citados pela literatura aos

encontrados entre os participantes.

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2. OBJETIVO

2.1 Objetivo geral:

O presente trabalho teve por objetivo investigar a etiologia da perda auditiva em crianças

e adolescentes que estudam em uma escola especial.

2.2 Objetivos específicos:

A pesquisa visou investigar se a perda auditiva é congênita, adquirida ou de causa

desconhecida e quais as patologias envolvidas no surgimento da perda auditiva e a prevalência

dessas patologias. Visou, também, fazer um levantamento do tempo levado para se ter um

diagnóstico audiológico e iniciar o tratamento fonoaudiológico.

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3. REVISÃO DE LITERATURA

O diagnóstico precoce é fundamental para a realização de tratamento e adequada

reabilitação de uma perda auditiva. Por esse motivo, as crianças que apresentam fatores de risco

para distúrbios da audição devem ser avaliadas periodicamente (AZEVEDO, 1997).

Segundo o critério proposto pelo Joint Committee on Infant Hearing (2000), são

considerados fatores de risco para perda auditiva em neonatos (do nascimento aos 28 dias de

vida): doença ou condição que requeira admissão por 48 horas ou mais em UTI, síndromes que

incluam perda auditiva sensorioneural ou condutiva, antecedentes familiares de perda auditiva

permanente na infância, anomalias craniofaciais e infecções congênitas.

O Joint Committee on Infant Hearing (2000) coloca, ainda, os fatores de risco para

neonatos e crianças (de 29 dias a dois anos), que incluem: ser filho de pais com atraso de audição,

fala, linguagem ou desenvolvimento, ter antecedentes familiares de perda auditiva permanente na

infância, ser portador de síndromes que incluam perda auditiva sensorioneural ou condutiva,

infecções pós-natais associadas à perda auditiva sensorioneural, infecções congênitas, indicadores

neonatais (como hiperbilirrubinemia e ventilação mecânica), síndromes associadas com perda

auditiva progressiva, desordens neurodegenerativas ou neuropatias sensório-motoras,

traumatismo craniano e otite média recorrente ou persistente por pelo menos três meses.

10

Azevedo (1997) acrescentou a esses critérios a presença de consagüinidade materna,

alcoolismo materno ou uso de drogas psicotrópicas na gestação, hemorragia ventricular,

permanência na incubadora por mais de sete dias e convulsões neonatais.

Azevedo, Vieira e Vilanova (1995) publicaram um estudo comparativo entre o

desenvolvimento auditivo de crianças normais e de alto risco, concluindo que as crianças do

grupo de alto risco apresentaram resposta diferente das de baixo risco quanto a estímulos sonoros,

havendo, contudo, uma melhora com a idade.

Segundo Russo e Santos (1994), as perdas auditivas podem ser classificadas de várias

maneiras. Quanto ao momento em que ocorrem, podem ser congênitas (antes ou durante o

nascimento) ou adquiridas (após o nascimento).

As perdas auditivas também são classificadas quanto à origem do problema. Dessa forma,

podem ser de origem hereditária e de origem não-hereditária, também conhecidas como genéticas

ou não-genéticas (RUSSO E SANTOS, 1994). De acordo com Godinho, Keogh e Eavey (2003),

as perdas auditivas de origem genética, por sua vez, subdividem-se em sindrômica, quando

associada a outros sintomas e não-sindrômica, quando ocorre como um sintoma isolado.

A perda auditiva genética não-sindrômica é classificada em autossômica dominante,

autossômica recessiva, de origem ligada ao sexo ou de origem mitocondrial (alteração do DNA

das mitocôndrias) (GODINHO, KEOGH E EAVEY, 2003). Pfeilsticker et al. (2004) em estudo

sobre mutações de genes de herança autossômica recessiva concluíram que mutações ligadas à

proteína conexina 26 são responsáveis por muitas das perdas auditivas de etiologia desconhecida.

11

Ainda de acordo com Godinho, Keogh e Eavey (2003), a perda auditiva sindrômica

engloba cerca de 30% das perdas auditivas genéticas, estando aproximadamente 400 síndromes

associadas à perda auditiva.

Quanto à localização topográfica, as perdas auditivas dividem-se em condutiva,

sensorioneural, mista e central (RUSSO E SANTOS, 1994). Araújo et al. (2002) realizaram um

estudo com escolares, encontrando 24% de orelhas com audiometria alterada, sendo as alterações

mais freqüentes as perdas condutivas e sensorioneurais leves, podendo estar relacionada com o

baixo rendimento escolar dessas crianças.

As perdas auditivas condutivas são aquelas em que as ondas sonoras não alcançam de

forma adequada a orelha interna devido a algum problema na orelha externa ou na orelha média

(LOPES FILHO, 1997).

No que se refere à orelha externa, a perda auditiva pode ser devido a agenesias de meato

acústico externo, deformidades de pavilhão e meato acústico, estenose (estreitamento da luz do

conduto auditivo), exostose ou atresia (fechamento completo do meato acústico externo), cerume

impactado, canal colabado, otite externa difusa ou presença de corpos estranhos (LOPES FILHO,

1997).

Ainda de acordo com Lopes Filho (1997), no que se refere à orelha média, a perda

auditiva condutiva pode ser decorrente de perfurações da membrana timpânica, cicatrizações de

processos inflamatórios, otite média, hemotímpano (presença de sangue na orelha média),

timpanosclerose, tumores, defeitos congênitos (malformações de martelo e bigorna, malformação

12

ou ausência de estribo, fixação congênita do estribo), defeitos ossiculares adquiridos, otosclerose

e disfunções da tuba auditiva.

Balbani e Montovani (2003) afirmaram que um terço das crianças são portadores

assintomáticos do Streptococcus pneumoniae na rinofaringe, podendo a bactéria migrar para as

células epiteliais da mucosa da orelha média, dando origem a otite média ou para a cóclea a partir

da membrana da janela redonda, provocando lesões na orelha interna. Contudo, restam dúvidas a

respeito do caráter irreversível da lesão coclear na otite média. A otite média pode, ainda, trazer

alterações ao processamento auditivo central.

As perdas auditivas sensorioneurais são aquelas em que a causa encontra-se na cóclea

e/ou nervo coclear. As lesões sensoriais são as que englobam orelha interna ou órgão de Corti e

as neurais são as lesões que englobam desde o nervo coclear até os núcleos auditivos no tronco

encefálico. Atualmente, já é possível estabelecer o local da lesão de forma objetiva e precisa

graças ao advento de técnicas eletrofisiológicas (RUSSO E SANTOS, 1994).

Existem inúmeras causas para a deficiência auditiva sensorioneural. Podem ser devido a

malformações de orelha interna, como na aplasia de Michel ou na displasia de Mondini. Podem

também ter origem genética, estando associada a outras anormalidades, o que ocorre nas

síndromes, como já citado (RUSSO E SANTOS, 1994).

A perda auditiva sensorioneural também pode ser decorrente de infecções por vírus ou

bactérias, podendo ocorrer tanto no período pré-natal quanto após o nascimento (RUSSO E

SANTOS, 1994). De acordo com Hayes e Northern (1996), apesar de o feto se desenvolver

13

dentro da proteção do útero, algumas bactérias são capazes de atravessar a membrana da placenta

e infectar o feto. As infecções adquiridas durante o primeiro trimestre de gestação são as mais

perigosas, pois os sistemas orgânicos estão em rápida diferenciação e crescimento.

Entre as infecções pré-natais a rubéola é a causa mais comum, correspondendo a 74% das

etiologias congênitas. Também são infecções pré-natais: citomegalovírus, sífilis, herpes e

toxoplasmose, entre outras (ZAMBONATO, BEVILACQUA E AMANTINI, 2002).

A rubéola é considerada uma doença benigna, com exceção do período gestacional, em

que o vírus ultrapassa a placenta, atingindo o feto, que pode permanecer infectado por meses ou

anos após o nascimento. O feto tem uma redução da taxa de divisão celular, alterando o

crescimento e desenvolvimento dos sistemas do organismo e, entre eles, a cóclea. O período

crítico de aquisição da rubéola é entre a 4ª e a 8ª semana de gestação (ZAMBONATO,

BEVILACQUA E AMANTINI, 2002).

De acordo com Hayes e Northern (1996), o citomegalovírus é a infecção mais comum nos

fetos humanos. A infecção primária por citomegalovírus em uma mulher grávida resulta em

infecção congênita em 30% a 40% dos casos. Muito menos freqüentemente, a infecção recorrente

na mãe resulta em infecção congênita no feto. Diferentemente da rubéola, a infecção por

citomegalovírus pode resultar em prejuízos para o feto em qualquer estágio da gestação.

Entre 90% e 95% das crianças com infecção congênita de citomegalovírus são

assintomáticas ao nascimento. Apesar de a maioria se desenvolver normalmente, cerca de 5% a

10% dos recém-nascidos normais serão identificados com perda auditiva sensorioneural, sendo

14

freqüentemente progressiva (HAYES E NORTHERN, 1996). O grau da perda auditiva pode

variar de leve a profunda e pode ser unilateral ou bilateral (NORTHERN E DOWNS, 2005).

A toxoplasmose é causada por um protozoário parasita comumente encontrado em

animais domésticos e selvagens. O protozoário atravessa a placenta e infecta o feto em cerca de

40% a 50% das infecções maternas não-tratadas. As crianças não tratadas apresentam

principalmente prejuízos na visão, havendo menor prejuízo quanto à audição (14% a 26% dos

casos) e retardo mental. O tratamento é feito com drogas antiparasitárias e com longa duração

(HAYES E NORTHERN, 1996).

A sífilis congênita é um dos principais responsáveis pela mortalidade peri-natal. A perda

auditiva pode não estar presente ao nascimento, surgindo na infância de forma bilateralmente

simétrica e de início súbito com grau de severo a profundo. O tratamento consiste na medicação

imediata do lactente com antibióticos potentes (NORTHERN E DOWNS, 2005). Também se

pode realizar tratamento com antibiótico com a gestante para evitar a infecção do feto (HAYES E

NORTHERN, 1996).

De acordo com Hayes e Northern (1996), existem também as infecções perinatais, em que

a mãe infectada pode transmitir ao bebê durante o processo do nascimento. Por esse motivo,

deve-se realizar cesariana nas mães infectadas para prevenir a exposição da criança à doença. O

herpes simples vírus é comumente adquirido da mãe infectada durante o nascimento, sendo rara a

infecção através da placenta. Uma de suas conseqüências é a perda auditiva sensorioneural,

embora com baixa incidência.

15

Já entre as infecções pós-natais estão a meningite, o sarampo e a parotidite ou caxumba

(RUSSO E SANTOS, 1994). Segundo Northern e Downs (2005), caxumba, sarampo, varicela,

gripe e até resfriado comum são viroses comuns na infância e que podem resultar no surgimento

da perda auditiva. A infecção se dá pela infiltração direta através corrente sangüínea ou meninges

via meato acústico interno, podendo resultar em perda auditiva desde o grau leve até a perda

auditiva profunda.

Uma das conseqüências da meningite é o envolvimento dos nervos cranianos, podendo

atingir o nervo vestibulococlear e causar deficiência auditiva em 2,4 a 29% dos casos (COUTO et

al., 1999). A perda auditiva sensorioneural é a conseqüência mais comum da meningite em

lactentes e crianças pequenas, podendo variar de leve a profunda, com padrão audiométrico

tipicamente bilateral, simétrico e irreversível (NORTHERN E DOWNS, 2005).

Couto et al. (1999) constataram em uma pesquisa que 14,6% de crianças com diagnóstico

de meningite bacteriana apresentaram perda auditiva sensorioneural. As crianças que obtiveram

limiares auditivos normais foram avaliadas em relação ao processamento auditivo central,

revelando um comprometimento central.

A eritroblastose fetal é outro fator causal da perda auditiva, sendo resultante da

incompatibilidade do fator Rh do sangue materno (Rh-) com o do feto (Rh+) (RUSSO E

SANTOS, 1994). De acordo com Hayes e Northern (1996), a incompatibilidade faz com que a

mãe produza anticorpos contrários ao tipo sanguíneo do feto. Esses anticorpos atravessam a

barreira placentária e atacam os glóbulos vermelhos do sangue. Para compensar a destruição dos

glóbulos vermelhos maduros, há produção e circulação de glóbulos vermelhos imaturos, com

16

severa anemia, aumento da concentração de bilirrubina e aumento do fígado e do baço. Northern

e Downs (2005) afirmam que a exposição a altos níveis de bilirrubina circulante pode resultar na

perda auditiva do recém-nascido, que pode ir de grau leve a profundo.

Os distúrbios metabólicos, como a disfunção da tireóide ou o diabetes mellitus, resultam

em problemas auditivos devido ao desequilíbrio hormonal. A disfunção da tireóide não está

presente no nascimento, desenvolvendo-se apenas na puberdade ou idade adulta (RUSSO E

SANTOS, 1994). De acordo com Northern e Downs (2005), existem dois tipos de diabetes melito:

o de início juvenil e o de início na maturidade, sendo o primeiro a forma mais grave. A incidência

de perda auditiva em diabéticos é variável, mas é maior que em não-diabéticos da mesma idade.

Quando ocorre, a perda auditiva é sensorioneural bilateralmente simétrica progressiva de grau

leve a moderado.

A ototoxidade também pode resultar em perda auditiva sensorioneural, seja pela ingestão

de drogas ototóxicas pela mãe durante a gravidez, seja pela ingestão pela própria criança.

De acordo com Vallejo et al. (2001), os antibióticos aminoglicosídeos são os ototóxicos

mais estudados, sendo sua incidência variável (5 a 33%) a depender da droga, da dose, do tempo

de administração, da condição do paciente e da suscetibilidade individual. De acordo com

Northern e Dows (2005), o potencial de ototoxicidade também pode ser aumentado devido ao

comprometimento da função renal, resultando em níveis séricos aumentados de medicamentos

que são mal metabolizados.

17

Santos et al. (2000) afirmam que os antibióticos aminoglicosídeos são capazes de

ultrapassar a barreira placentária, causando prejuízos vestibular, coclear e má formação congênita.

As moléculas dos aminoglicosídeos interagem fortemente com receptores da membrana

presentes nas células ciliadas da orelha interna e produzem diversos efeitos inibitórios,

bloqueando os canais de cálcio e causando lesões no órgão de Corti (OLIVEIRA, CANEDO E

ROSSATO, 2002). De acordo com Oliveira e Bernal (2002), as lesões são predominantes nas

células ciliadas externas e avançam da base para o ápice da cóclea. A primeira fileira de células

ciliadas externas é a primeira a ser afetada, sendo seguida por lesões na segunda e terceira fileiras.

A amicacina, gentamicina e trobamicina são os aminoglicosídeos mais utilizados em

terapêutica atualmente (OLIVEIRA, CANEDO E ROSSATO, 2002). Os recém-nascidos com

infecções graves são o grupo pediátrico que mais recebe antibióticos aminoglicosídeos, pois,

apesar de seus efeitos ototóxicos, são extremamente eficazes contra infecções causadas por

microorganismos gram-negativos (OLIVEIRA E BERNAL, 2002).

Santos et al. (2000) afirmaram que, embora todos os antibióticos aminoglicosídeos

possam causar alterações auditivas e vestibulares, existe uma toxicidade preferencial. Dessa

forma, estreptomicina e gentamicina produzem mais efeitos vestibulares, enquanto a função

auditiva é mais afetada pela kanamicina, amicacina, dihidroestreptomicina e neomicina.

Vallejo et al. (2001) avaliaram o impacto da amicacina na audição, concluindo que o

tratamento por medicamentos ototóxicos pode levar a lesão auditiva, mesmo quando usados por

períodos curtos.

18

Além dos antibióticos aminoglicosídeos, existem ainda outros medicamentos ototóxicos e

que podem levar à perda auditiva. Northern e Downs (2005) citam os agentes quimioterápicos

contra o câncer, que incluem a cisplatina, a carboplatina, a caroplatina, a mostarda nitrogenada e

a alfa-difluoromeltilornitina (DFMO). Também citam a aspirina, a quinina e alguns diuréticos

como medicamentos que podem causar perda auditiva temporária, sendo total ou parcialmente

revertida quando o medicamento é interrompido.

As lesões traumáticas resultam em perda auditiva do tipo sensorioneural devido a

traumatismos crânio-encefálico ou trauma acústico, seja por exposição prolongada a ruído ou por

exposição súbita (RUSSO E SANTOS, 1994).

A prematuridade é outro fator de risco para a perda auditiva. De acordo com Roselli e

Segre (1995), a idade gestacional é dividida em três categorias: pré-termo (todas as crianças

nascidas vivas até 37 semanas e seis dias), termo (todas as crianças nascidas vivas entre 38 e 41

semanas e seis dias) e pós-termo (todas as crianças nascidas vivas com 42 semanas ou mais de

idade gestacional). A prematuridade pode vir acompanhada de outros fatores de risco para a

deficiência auditiva, como anóxia, infecções bacterianas ou virais e tratamento com drogas

ototóxicas. A anóxia perinatal grave é muito mais comum nesse grupo, chegando a ser dez vezes

mais freqüente que nos recém-nascidos a termo (CHAPCHAP, 1995).

A perda auditiva mista é aquela que apresenta tanto características condutivas quanto

sensorioneurais. Já a perda auditiva central é a mais difícil de ser diagnosticada. As lesões são ao

nível de córtex cerebral (LOPES FILHO, 1997). As dificuldades podem variar muito, desde uma

19

leve dificuldade para tarefas auditivas até a completa falta de compreensão da fala (RUSSO E

SANTOS, 1994).

Finalmente, as perdas auditivas também são classificadas quanto ao grau. O grau de perda

auditiva é obtido através da média dos valores nas freqüências de 500, 1000 e 2000Hz. A audição

é considerada normal quando apresenta esses limiares entre 0 e 25dB para adultos e entre 0 e

15dB para crianças. Limiares de 26 a 40dB indicam uma perda auditiva leve, de 41 a 70dB uma

perda auditiva moderada, de 71 a 90dB uma perda auditiva severa e a partir de 91dB uma perda

auditiva profunda (RUSSO E SANTOS, 1994). Segundo Oliveira, Castro e Ribeiro (2002),

limiares acima de 40dB nas freqüências de 500, 1000 e 2000Hz na orelha melhor podem levar a

um déficit de compreensão, sendo considerados como surdez infantil bilateral.

Cecatto et al. (2003) em pesquisa a respeito da etiologia da perda auditiva encontraram a

de causa desconhecida como a mais representativa. A rubéola congênita foi a principal causa pré-

natal devido a seus efeitos teratogênicos. Outras etiologias relevantes foram os fatores

patogênicos, sendo a meningite a patologia mais encontrada.

20

4. METODOLOGIA

Tipo de estudo:

Tratou-se de um estudo de caráter transversal, quantitativo e descritivo.

Procedimento:

Foram entregues 27 questionários objetivos aos pais das crianças deficientes auditivas

que estudam na escola especial CIEL (Centro Integrado de Educação e Lazer). O questionário foi

elaborado com base nos dados levantados através da revisão de literatura, abordando todas as

possíveis causas que, segundo a literatura, poderiam resultar em perda auditiva, como

antecedentes familiares, problemas na gravidez ou no parto, uso de medicamentos ou infecções

pré ou pós-natais.

Os pais receberam também o termo de consentimento livre e esclarecido, contendo

informações acerca da pesquisa, seus objetivos e sua garantia de sigilo.

Material:

Foram utilizados como material da pesquisa apenas os questionários entregues aos pais.

Participantes:

21

Dos 27 questionários entregues, foram devolvidos apenas 22, pois algumas das crianças

não estudavam mais na escola e outras famílias não o responderam. Dessa forma, participaram da

pesquisa 22 crianças e adolescentes portadores de deficiência auditiva que estudam em uma

escola especial na faixa etária entre cinco e dezessete anos.

Análise dos resultados:

Os resultados foram analisados através da estatística descritiva a exemplo de distribuição

de freqüência e representação gráfica.

22

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Esta pesquisa investigou uma amostra de 22 sujeitos portadores de perda auditiva, todos

estudantes de uma escola especial. A faixa etária variou entre cinco e dezessete anos. Os pais ou

responsáveis foram questionados sobre uma série de causas que podem ter levado ao surgimento

da perda auditiva.

Quando questionados sobre suas opiniões quanto ao período do surgimento da perda

auditiva, 50% afirmaram que a criança já nasceu com a perda auditiva, 27,27% afirmaram que a

criança adquiriu a perda auditiva após o nascimento e 23,73% afirmaram não saber se a perda

auditiva ocorreu antes ou após o nascimento, como ilustra o gráfico abaixo.

50%

27,27% 23,73%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

já nasceu adquiriu após o

nascimento

não sabem

Gráfico 1 - Período de surgimento da perda auditiva

23

A porcentagem de pais que consideram que a criança já nasceu com a perda auditiva está de

acordo com Oliveira, Castro e Ribeiro (2002), que afirmam ser grande o número de crianças que

já nascem com perda auditiva. A surdez profunda bilateral atinge um em cada 1000 recém-

nascidos. Nos casos de perda de menor gravidade, atinge de três a seis recém-nascidos em cada

mil. Em crianças internadas em Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais este valor se eleva

para 20 a 40 em cada 1000 (OLIVEIRA, CASTRO E RIBEIRO, 2002).

Em relação à idade da criança na época do diagnóstico da deficiência auditiva, 31,82%

foram diagnosticadas até um ano de idade, enquanto 40,9% foram diagnosticadas entre um e dois

anos, 13,64% entre dois e três anos e 13,64% com mais de três anos, conforme o gráfico abaixo.

31,82%

40,90%

13,64% 13,64%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

até 1 ano entre 1 e 2

anos

entre 2 e 3

anos

acima de 3

anos

Gráfico 2 – Idade na época do diagnóstico

Cecatto et al. (2003) encontraram dados semelhantes em pesquisa sobre etiologia da perda

auditiva, com confirmação diagnóstica de 12 a 30 meses na maioria das crianças, o que é

24

considerado tarde, já que o Joint Comittee on Infant Hearing (2000) defende o diagnóstico até os

três meses e a intervenção terapêutica até os seis meses de idade.

Em geral, o tempo decorrido entre a suspeita e o diagnóstico foi pequeno. O próximo

gráfico demonstra que em 50% dos casos esse tempo foi de até um mês, em 27,27% dos casos foi

de dois meses até um ano, em 13,64% dos casos esse período levou mais de dois anos e 9,09%

afirmaram não lembrar.

50%

27,27%

13,64%

9,09%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

até 1 mês de 2 meses

até 1 ano

mais de 2

anos

não lembram

Gráfico 3 – Tempo decorrido entre a suspeita e o diagnóstico

Heck e Raymann (2003) fizeram um estudo relacionando o tempo decorrido entre a suspeita,

a primeira ida ao médico ou fonoaudiólogo, o diagnóstico e o início da reabilitação. Encontraram

dados diferentes da presente pesquisa, tendo constatado que a realização do diagnóstico ocorreu,

em média, apenas aos 26 meses. Mesmo assim, esses autores afirmam que o diagnóstico foi cedo

quando comparado com a média do Brasil, que ocorre por volta dos três a quatro anos. Já a

suspeita da perda auditiva ocorreu, em média, aos 15 meses de vida, ou seja, levou

aproximadamente 11 meses entre a suspeita e o diagnóstico. Esses dados também diferem da

25

presente pesquisa, a qual constatou que em 50% dos casos o tempo decorrido entre a suspeita e o

diagnóstico foi de apenas um mês.

O aparelho de amplificação sonora é utilizado pela maior parte dos sujeitos,

correspondendo a 82% dos casos. Destes, apenas um possui adaptação monoaural (5,5%),

enquanto os 94,5% restantes possuem adaptação binaural. De acordo com Almeida e Iorio (2003),

a adaptação binaural possui uma série de vantagens sobre a monoaural por permitir uma melhor

localização da fonte sonora, somação binaural, eliminação do efeito sombra da cabeça, habilidade

em separar sons do ruído ambiental e melhor reconhecimento de fala na presença do ruído.

Quanto ao uso do AASI (aparelho de amplificação sonora individual), 22,22% iniciaram até

três meses após o diagnóstico, 11,11% após seis meses, 11,11% entre um e dois anos e 44,45% só

iniciaram o uso após ter passado mais de dois anos do diagnóstico, conforme indica o gráfico

abaixo.

22,22%

11,11% 11,11%

44,45%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

até 3 meses entre 6

meses e 1

ano

entre 1 e 2

anos

mais de 2

anos

Gráfico 4 – Tempo decorrido para o início do uso do AASI após o diagnóstico

26

De acordo com Azevedo (1997), o diagnóstico precoce é extremamente importante para se

aproveitar ao máximo a plasticidade do Sistema Nervoso Central nas idades mais jovens.

Contudo, numa grande porcentagem dos casos, levou-se tempo demais para a colocação do AASI

após ter sido dado o diagnóstico, de modo que a plasticidade do Sistema Nervoso Central não

pôde ser aproveitada nas idades mais jovens. Além disso, foi observado em alguns entrevistados

que, embora tenham adaptado o AASI, o uso não é regular.

Na pesquisa realizada por Heck e Raymann (2003), anteriormente citada, também foi

questionado a respeito da idade da criança quando teve início a reabilitação. Foi observado que,

em média, levou-se 15 meses entre o diagnóstico e o início da reabilitação. Embora esses dados

sejam tardios, os resultados ainda foram melhores que nesta pesquisa, em que a maior parte das

crianças (44,45%) levou mais de dois anos para a colocação do AASI.

Com relação a doenças apresentadas pela mãe durante a gravidez, o gráfico abaixo indica

que a maior representatividade ocorreu com a rubéola, correspondendo a 31,82% dos casos. As

68,18% restantes afirmaram não ter tido nenhuma doença durante a gravidez.

A alta incidência de rubéola durante a gravidez está de acordo com dados da literatura.

Cecatto et al. (2003) encontrou a rubéola congênita como causa identificável da deficiência

auditiva em 23,6% dos casos estudados. Zambonato, Bevilacqua e Amantini (2002) afirmaram

que a rubéola corresponde a 74% das etiologias congênitas.

27

68,18%

31,82%

0%

0%

0%

0%

0% 20% 40% 60% 80%

nenhuma

rubéola

sífilis

citomegalovírus

herpes

toxoplasmose

Gráfico 5 – Doenças apresentadas pela mãe durante a gravidez

Embora o citomegalovírus seja o vírus infeccioso mais comum entre os nascidos vivos, a

maioria dos lactentes permanece assintomático sem seqüelas permanentes e terá um

desenvolvimento normal (NORTHERN E DOWNS, 2005). Isso explica o fato de não existirem

casos de citomegalovírus como fator causal da perda auditiva nesta pesquisa.

A ausência de doenças apresentadas pela mãe durante a gravidez sugere que a surdez pode

ter sido de causa hereditária, uma vez que não houve nenhuma patologia associada ao seu

surgimento. Pfeilsticker et al. (2004) afirmaram que muitos pacientes com perda auditiva

sensorioneural de causa indeterminada podem apresentar alterações cromossômicas

determinantes de sua patologia.

Quando questionadas a respeito do uso de medicamentos durante a gravidez, 86,36%

negaram o uso, enquanto 13,64% utilizaram. Destas, uma utilizou calmante (33,33%), uma fez

28

uso de hormônios para manter a gravidez (33,33%) e uma não lembra qual medicamento foi

utilizado (33,33%).

Dentre os medicamentos utilizados, não foram encontrados na literatura dados que os

coloquem como de risco para o feto. Foram encontrados como de risco para perda auditiva,

conforme citado por Santos et al. (2000), os antibióticos aminoglicosídeos, que são capazes de

ultrapassar a barreira placentária, podendo causar prejuízos vestibular, coclear e má formação

congênita. Contudo, esses medicamentos não foram utilizados por nenhuma das mães

participantes da pesquisa.

86,36%

13,64%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

não sim

Gráfico 6 – Uso de medicamentos durante a gravidez

Quanto a doenças apresentadas pela criança durante o seu desenvolvimento, a maior

incidência foi de meningite com 13,6% dos casos. Considerando que 27,27% dos pais afirmaram

29

que a perda auditiva foi adquirida após o nascimento, percebe-se que a metade das crianças que

adquiriram a perda auditiva pode tê-la adquirido através da meningite.

Após a meningite, a maior incidência de doença apresentada pelas crianças foi de sarampo.

4,55% das crianças tiveram o sarampo como única doença ocorrida durante o seu

desenvolvimento, enquanto 4,55% adquiriam sarampo e caxumba e 4,55% adquiriram sarampo,

caxumba, pneumonia e coqueluche. A pneumonia apareceu como única doença ocorrida no

desenvolvimento da criança em 4,55% dos casos. Otite e rubéola corresponderam cada uma a

4,55% dos casos. Além disso, 59,1% afirmaram que a criança não teve qualquer tipo de doença

durante o seu desenvolvimento.

13,60%

4,55%

4,55%

4,55%

4,55%

4,55%

4,55%

59,10%

0% 20% 40% 60% 80%

meningite

sarampo

pneumonia

otite

rubéola

sarampo e caxumba

sarampo, caxumba, pneumonia e coqueluche

nenhuma

Gráfico 7 – Doenças apresentadas pela criança durante o seu desenvolvimento

A incidência de meningite encontrada está de acordo com a literatura, que relata índices

variando de 6 a 35% (ROMERO, CARVALHO E FENIMAN, 1997). Cecatto et al. (2003)

30

encontraram prevalência de meningite de 8,4%, enquanto Romero, Carvalho e Feniman (1997)

encontraram uma prevalência de meningite de 6,2%.

O uso de medicamentos pela criança não foi relatado em 63,64% dos casos. 4,55% não

souberam informar qual o medicamento utilizado, 4,55% fizeram uso de dioxina e 27,27%

utilizaram antibióticos, como mostra o próximo gráfico. Entre as crianças que fizeram uso de

antibióticos, 67% dos pais não souberam especificar qual antibiótico utilizado, 16,5% utilizaram

amicacina e 16,5% utilizaram otomicina.

63,63%

27,27%

4,55% 4,55%

0%

20%

40%

60%

80%

não usaram antibióticos dioxina não

souberam

especificar o

medicamento

Gráfico 8 – Uso de medicamentos pela criança

Entre os medicamentos utilizados, apenas os antibióticos apresentam risco de ototoxicidade.

Infelizmente, a maior parte dos pais não soube especificar o tipo de antibiótico utilizado, o que

resultou em poucas informações a respeito dos aminoglicosídeos. Contudo, a amicacina, utilizada

por 16,5% das crianças que fizeram uso de antibióticos, de acordo com Santos et al. (2000), é um

31

dos aminoglicosídeos que mais afeta a função auditiva. Em relação à otomicina, não foram

encontrados dados na literatura que a citem como medicamento de risco para perda auditiva.

Em relação a dados ocorridos no nascimento, 18,18% tiveram anóxia, 13,64% nasceram

apenas com baixo peso, 13,64% nasceram apenas com prematuridade e 9,1% afirmaram que a

criança nasceu tanto prematura quanto com baixo peso. Ocorreram crianças nascidas pós-termo

em 4,54% dos casos. Em 41% dos casos, não ocorreu qualquer tipo de problema durante o

nascimento.

18,18%

13,64%

13,64%

9,10%

4,54%

0%

41%

0% 10% 20% 30% 40% 50%

anóxia

baixo peso

prematuridade

prematuridade e baixo peso

nascimento pós-termo

hiperbilirrubinemia

nenhum problema

Gráfico 9 – Problemas ocorridos no nascimento

Em 100% dos casos não existem outros deficientes auditivos na família, não sendo assim

possível afirmar que a perda auditiva foi causada pela hereditariedade. Contudo, essa

possibilidade não pode ser descartada, pois, de acordo com Northern e Downs (2005), os pais

podem ser portadores assintomáticos com uma chance de 25% de produzir uma criança afetada.

32

Além disso, dados da literatura afirmam que mais de 50% dos casos de surdez na infância são

atribuídos a causas genéticas (GODINHO, KEOGH E EAVEY, 2003).

Foi observado que nenhuma das crianças da amostra apresenta síndrome, sendo assim

negada a possibilidade de perda auditiva associada a essa alteração genética, o que difere da

literatura, que afirma que a perda auditiva sindrômica engloba cerca de 30% das perdas auditivas

genéticas (GODINHO, KEOGH E EAVEY, 2003).

Em relação à consangüinidade, foram poucos os casos de parentesco entre os pais. Em 4,5%

dos casos os pais são primos de 2º grau e em 4,5% dos casos os pais são primos de 3º grau, como

mostra o gráfico abaixo.

91%

4,50% 4,50%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Não há primos de 2º

grau

primos de 3º

grau

Gráfico 10 – Parentesco entre os pais da criança

33

Cecatto et al. (2003) também encontraram baixa incidência de consangüinidade em seu

estudo, contudo afirmaram que em outras literaturas ocupa posição de destaque, principalmente

nos países desenvolvidos e nos países árabes.

De acordo com Northern e Downs (2005), na consangüinidade existe uma chance muito

maior de a herança ser herdada, visto que os pais podem apresentar o mesmo gene recessivo

herdado do ancestral comum.

Quanto ao risco de eritroblastose fetal devido a diferenças do fator Rh sanguíneo entre a

mãe e a criança, apenas 4,5% apresentaram risco, sendo a mãe com Rh- e a criança com Rh+.

45,5% dos entrevistados não souberam responder qual o fator Rh da mãe e da criança.

34

6. CONCLUSÃO

A partir desta pesquisa pôde-se concluir que a provável etiologia da deficiência auditiva dos

participantes foi congênita. Apesar disso, uma grande parte (40,9%) só foi diagnosticada entre

um e dois anos, e, mesmo após o diagnóstico, 44,45% levaram mais de dois anos para iniciar o

uso do aparelho auditivo. Esse tempo é muito elevado, de modo que a criança deixa de ser

estimulada na fase em que seu Sistema Nervoso Auditivo está mais preparado para apreender a

linguagem.

A própria suspeita da deficiência auditiva ocorreu muito tardiamente, provavelmente devido

a uma falta de conhecimento da população a respeito do desenvolvimento auditivo, o que

impossibilita que os próprios pais sejam capazes de perceber precocemente a deficiência auditiva

de seus filhos.

Além disso, apesar do grande avanço nos exames audiológicos, permitindo que os

diagnósticos, a seleção e adaptação de AASI e a reabilitação sejam realizados precocemente, nem

toda a população possui fácil acesso, o que dificulta o processo diagnóstico.

Em relação às doenças apresentadas pela mãe durante a gravidez, a rubéola, doença mais

comumente encontrada e que nessa pesquisa correspondeu 31,82%, pode ser facilmente evitada

através da vacinação. A incidência de rubéola na gravidez pode ser devido à falta de

conhecimento das mães a respeito da importância da vacinação antes da gravidez. Felizmente,

hoje a mulher tem um acesso muito mais fácil à vacina, o que não ocorria há dezessete anos atrás.

35

Quanto às doenças apresentadas pela criança durante o seu desenvolvimento, a meningite

foi a de maior incidência, correspondendo a 13,6%, havendo grande representatividade entre as

perdas auditivas adquiridas.

O uso de medicamentos durante a gravidez não foi etiologia das perdas auditivas de

nenhum dos participantes da pesquisa. Já o uso de medicamentos pela criança pode ter resultado

em perda auditiva nas crianças que utilizaram antibióticos (27,27%), especialmente as que

fizeram uso de amicacina.

Entre os problemas ocorridos ao nascimento que podem ter originado a perda auditiva,

18,18% foram decorrentes de anóxia, seguidos de baixo peso e prematuridade, com 13,64% cada

um.

A incompatibilidade do fator Rh entre a mãe e o bebê só foi citado por 4,55% dos

participantes da pesquisa, não sendo uma etiologia comum entre os participantes desta pesquisa.

Apesar da inexistência de deficientes auditivos na família e de síndromes associadas e da

baixa incidência de consangüinidade entre os pais, não pode ser descartada a etiologia da

hereditariedade, que inclusive foi evidenciada nesta pesquisa através dos altos índices de

inexistência de doenças durante a gravidez (68,18%). Descartando-se a existência de outras

etiologias, é provável que a deficiência auditiva seja de causa hereditária, necessitando de uma

investigação genética mais profunda para a confirmação. Uma outra pesquisa envolvendo tal

investigação seria um referencial útil de comparação.

36

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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clínicas. São Paulo, Ed. Lovise, 2ª edição, 2003, 482p.

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escolares. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia. São Paulo, v.68, n.2, mar./abr., 2002.

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Carapicuíba, SP: Pró-Fono. 1997. p. 187-208.

4. AZEVEDO, M. F.; VIEIRA, R. M.; VILANOVA, L. C. P.. Desenvolvimento Auditivo de

Crianças Normais e de Alto risco. São Paulo: Plexus Editora Ltda. 1995. 222p.

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linguagem em crianças. Jornal de Pediatria. Porto Alegre, v.79, n.5, set./out., 2003.

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37

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15. OLIVEIRA, J. A. A.; CANEDO, D. M.; ROSSATO, M. Otoproteção das células ciliadas

auditivas contra a ototoxicidade da amicacina. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia. São

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16. OLIVEIRA, P.; CASTRO, F.; RIBEIRO, A. Surdez Infantil. Revista Brasileira de

Otorrinolaringologia. São Paulo, v.68, n.3, mai., 2002.

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Aspectos Clínicos da Ototoxicidade dos Aminoglicosídeos. Acta Awho. v.19, n.3, p.160-164,

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38

22. SEGRE, C.A.M. RN pré-termo. In: In: SEGRE, C.A.M.; ARMELLINI, P.A.; MARINO, W.T.

RN. 4.ed. São Paulo: Sarvier, 1995. p.96-114.

23. VALLEJO, J. C.; SILVA, M. N.; OLIVEIRA, J. A. A.; CARNEIRO, J. J.; ROCHA, L. S. O.;

FIGUEIREDO, J. F. C.; CHIOSI, M. F. V. Detecção precoce de ototoxicidade usando emissões

otoacústicas produtivas de distorção. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia. São Paulo,

v.67, n.6, nov., 2001.

24. ZAMBONATO, T. C. F.; BEVILACQUA, M. C.; AMANTINI, R. C. B. Síndrome da

rubéola congênita relacionada ao período gestacional de aquisição da doença: características

audiológicas. ACTA AWHO. v.21, n.2, jun., 2002.

39

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA VIDA – CAMPUS I

COLEGIADO DE FONOAUDIOLOGIA

APÊNDICE – Questionário objetivo aos pais

1. Na sua opinião, a criança:

( ) já nasceu com a perda auditiva

( ) adquiriu a perda após o nascimento

( ) não sabe se a perda ocorreu antes ou após o nascimento

2. Qual a idade da criança na época do diagnóstico da deficiência auditiva?______________

3. Quanto tempo demorou entre a suspeita e o diagnóstico?____________________________

4. A criança usa AASI?

( ) sim ( ) não

Se sim, a adaptação é binaural ou monoaural?______________________________________

5. Se a criança usa AASI, quanto tempo demorou entre o diagnóstico e o uso de

AASI?________________________________________________________________________

6. A mãe teve alguma das doenças abaixo durante a gravidez?

( ) rubéola

( ) sífilis

( ) citomegalovírus

( ) herpes

( ) toxoplasmose

( ) Não ( ) outra : ____________________________________

7. A mãe fez uso de algum medicamento durante a gravidez?

( ) sim ( ) não

40

Se sim, qual?___________________________________________________________________

8. A criança teve alguma das doenças abaixo durante o seu desenvolvimento?

( ) meningite

( ) sarampo

( ) caxumba

( ) Não ( ) outra : __________________________________________________

9. A criança fez uso de algum medicamento?

( ) sim ( ) não

Se sim, qual?___________________________________________________________________

10. No nascimento, ocorreu algum dos dados abaixo?

( ) prematuridade

( ) anóxia

( ) baixo peso

( ) hiperbilirrubinemia

( ) não

11. Existe(m) outro(s) caso(s) de deficiência auditiva na família?

( ) sim ( ) não

12. A criança possui alguma síndrome?

( ) sim ( ) não

13. Qual o fator Rh sangüíneo da mãe e da criança?

( ) possuem o mesmo Rh

( ) mãe com Rh– e criança com Rh+

( ) mãe com Rh+ e criança com Rh-

( ) não sabe

14. Os pais têm algum grau de parentesco?

( ) sim ( ) não

Se sim, qual _____________________________________________________

41

ANEXO

42

CURSO DE FONOAUDIOLOGIA

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

DESCRIÇÃO DO ESTUDO E OBJETIVOS: Você está sendo convidado a participar de uma pesquisa cujo título

é “Etiologia da Perda Auditiva em Escola Especial”. O objetivo é investigar as causas que podem ter levado a uma

perda auditiva em crianças e adolescentes que estudam em uma Escola Especial. Caso concorde em participar do

estudo, você será convidado a responder algumas perguntas.

PARTICIPAÇÃO E INTERRUPÇÃO: Sua participação neste estudo é voluntária. Sendo assim, você pode se

recusar a participar. Caso venha a aceitar este convite, você poderá mudar de idéia a qualquer instante e interromper

sua participação no estudo, sem o menor problema.

BENEFÍCIOS E RISCOS: A participação na pesquisa não implicará em qualquer risco para você. O benefício

trazido pela pesquisa será a detecção das causas que podem ter levado os alunos a terem perda auditiva, bem como a

realização dos encaminhamentos necessários para um diagnóstico mais completo.

DIVULGAÇÃO E CONFIDENCIALIDADE: Tanto a sua identidade quanto as informações prestadas por você,

são confidenciais e fundamentarão um trabalho acadêmico de conclusão do curso de Fonoaudiologia da aluna

Roberta Vilela Lopes, sob orientação da fonoaudióloga Maria Cecília Castello Silva Pereira (CFFa 5161– P/T – BA).

RESOLUÇÃO 196/96 DO CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE/ MINISTÉRIO DA SAÚDE: A pesquisa

seguirá a resolução que regulamenta as pesquisas envolvendo seres humanos.

Declaro que li e entendi as informações transmitidas acima e concordo em participar do referido estudo.

Local e data: _______________________________________________________________________________

Nome da criança/adolescente:

__________________________________________________________________________________________

Nome do responsável legal:

__________________________________________________________________________________________

Grau de parentesco do responsável legal:________________________ RG:______________________________

Assinatura do responsável:

__________________________________________________________________________________________

Assinatura do pesquisador:

__________________________________________________________________________________________

Assinatura da testemunha:

__________________________________________________________________________________________