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Universidade do Estado do Rio de Janeiro Centro de Tecnologia e Ciências Faculdade de Engenharia Fernando de Paula Vieira Critério estatístico para obtenção de valores de NSPT para previsão da capacidade de carga de estacas por métodos semi empíricos Rio de Janeiro 2015

Universidade do Estado do Rio de Janeiro Centro de Tecnologia e

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  • Universidade do Estado do Rio de Janeiro

    Centro de Tecnologia e Cincias

    Faculdade de Engenharia

    Fernando de Paula Vieira

    Critrio estatstico para obteno de valores de NSPT para previso da

    capacidade de carga de estacas por mtodos semi empricos

    Rio de Janeiro

    2015

  • Fernando de Paula Vieira

    Critrio estatstico para obteno de valores de NSPT para previso da

    capacidade de carga de estacas por mtodos semi empricos

    Dissertao apresentada, como requisito parcial para obteno do ttulo de Mestre, ao Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. rea de concentrao: Geotecnia.

    Orientadores: Prof. Dr. Marcus Peigas Pacheco

    Prof. Dr. Bernadete Ragoni Danziger

    Rio de Janeiro

    2015

  • CATALOGAO NA FONTE

    UERJ / REDE SIRIUS / BIBLIOTECA CTC/B

    Autorizo, apenas para fins acadmicos e cientficos, a reproduo total ou parcial

    desta tese, desde que citada a fonte.

    Assinatura Data

    V657 Vieira, Fernando de Paula. Critrio estatstico para obteno de valores de NSPT para previso da capacidade de carga de estacas por mtodos semi-empricos / Fernando de Paula Vieira. - 2015.

    129 f.

    Orientadores: Marcus Peigas Pacheco, Bernadete Ragoni Danziger. Dissertao (Mestrado) Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Engenharia. 1. Engenharia Civil. 2. Geotecnia Dissertaes. 3. Estacas (Engenharia civil) -- Dissertaes I. Pacheco, Marcus Peigas. II. Danziger, Bernadete Ragoni. III. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. VI. Ttulo.

    CDU 628.13

  • DEDICATRIA

    A Deus. Aos meus pais, pelos ensinamentos transmitidos e pelo

    carinho incondicional, minha esposa, meu amor e minha companheira, e

    aos meus amados filhos: Gabriela, Gustavo e Guilherme, razes da minha

    existncia.

  • AGRADECIMENTOS

    Aos meus orientadores, Prof. Doutor Marcus Pacheco e Profa. Doutora

    Bernadete Danziger pela ajuda e amizade dispensadas para o desenvolvimento

    deste trabalho.

    A todos os professores, pelos ensinamentos, dentro e fora da sala de aula,

    durante o curso de mestrado.

    Ao Professor Doutor Andr Pacheco de Assis pela ateno prontamente

    dispensada quando da solicitao de referncia bibliogrfica.

    Ao Engenheiro Rubenei Novais Souza pela disponibilizao da base de dados

    necessria ao desenvolvimento do trabalho.

    Aos meus colegas de mestrado, pelo convvio sempre positivo.

    secretaria do PGECIV da UERJ.

  • O nico lugar onde o sucesso vem antes do trabalho no dicionrio.

    Albert Einstein

  • RESUMO

    VIEIRA, Fernando de Paula. Critrio estatstico para obteno de valores de NSPT para previso da capacidade de carga de estacas por mtodos semi empricos. 2015. 129f. Dissertao (Mestrado em Engenharia Civil) Faculdade de Engenharia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015.

    Uma das tarefas mais desafiadoras do engenheiro na rea da Geotecnia a escolha dos valores de parmetros geotcnicos obtidos de ensaios de campo ou laboratrio e que sero utilizados nos modelos analticos ou numricos na fase de projeto de fundaes. Diante das incertezas inerentes aos ensaios de SPT e da heterogeneidade de abordagens para a utilizao dos valores de NSPT, proposta neste estudo, a aplicao de um critrio estatstico para obteno de valores de NSPT, a partir da construo de intervalos de confiana de 95% de probabilidade em torno da reta ajustada de regresso linear simples entre a varivel aleatria NSPT e a profundidade. Os valores obtidos de NSPT pelo critrio aplicado foram utilizados na previso da capacidade de carga de 19 estacas isoladas a partir da utilizao de trs mtodos semi-empricos: Aoki-Velloso (1975) com coeficientes alterados por Monteiro (1997), Dcourt & Quaresma (1978) alterado pelo mtodo de Dcourt (1996) e Mtodo de Alonso (1996). As cargas de ruptura dessas 19 estacas ensaiadas atravs de Provas de Carga Esttica foram obtidas pelos mtodos de extrapolao de Van Der Veen (1953) e Dcourt (1996) e serviram para comparao e consequente validao do critrio estatstico. Adicionalmente, com fulcro no item 6.2.1.2.1 da ABNT NBR 6122:2010 Resistncia calculada por mtodo semi-emprico, foram avaliados os fatores de segurana em relao s cargas de projeto, inclusive, tambm se utilizando da premissa de reconhecimento de regies representativas, levando em conta o nmero de ensaios de SPT executados, fato que promove uma diminuio da incerteza dos parmetros, apontando a um menor fator de segurana. A dissertao enfatiza as vantagens de um adequado tratamento estatstico dos parmetros geotcnicos, a exemplo da recomendao j existente nas normas internacionais como Eurocdigo e outras. O critrio construdo permite e encoraja anlises e decises racionais no universo das partes interessadas consumidores, projetistas, fiscais de obras, contratantes e comunidade cientfica promovendo as discusses de forma mais objetiva e harmoniosa sobre o tema.

    Palavras-chave: Incerteza Geotcnica; Tratamento Estatstico; Ensaio SPT; Variabilidade do NSPT; Capacidade de Carga de Estacas; Eurocdigo.

  • ABSTRACT

    VIEIRA, Fernando de Paula. Statistical criteria to evaluate NSPT data to predict the load bearing capacity of pile by semi-empiric methods. 2015. 129f. M.Sc. Dissertation Faculdade de Engenharia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015.

    One of the most challenging aspects of geotechnical engineering is the selection of soil parameters from field and / or laboratory tests to be used in analytical or numerical models for foundation design. Due to known uncertainties in SPT tests and wide availability of criteria for NSPT interpretation, a proposed procedure is presented based on 95% confidence limits around a trend line defined by simple linear regression analysis expressing the variation of NSPT with depth. The NSPT values obtained by the proposed approach have been used to estimate the pile ultimate capacity of 19 isolated continuous flight auger piles using different semi-empirical methods, such as Aoki and Velloso (1975) with modified coefficients as proposed by Monteiro (1997), Dcourt and Quaresma (1978) modified by Dcourt (1996) and Alonso (1996). Static load tests of the same 19 piles have been extrapolated by Van Der Veen (1953) and Dcourt (1996) methods, as an aid for comparison and validation of the statistical criterion. Additionally, were made with the fulcrum in item 6.2.1.2.1 of ABNT NBR 6122: 2010 - Resistance calculated by semi-empirical method, evaluations of safety factors in relation to load project, also including the premise of recognizing representative regions and taking into account the number of SPT tests, a fact that provides the decreased uncertainty of the parameters, indicating a lower FS. The dissertation emphasizes the advantages of an adequate statistical treatment of the geotechnical data, similar to what is recommended by the Eurocode. Such approach allows and encourages a more rational decision including all interested parties - consumers, designers, inspectors, contractors and scientific community providing more objective and harmonious discussions on this subject.

    Keywords: Geotechnical Parameter Uncertainty; Statistical Approach; Standard Penetration Test; Variability of NSPT; Load Bearing capacity of Piles; Eurocode.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Investigao do solo baseada em risco (adaptado de Lacasse e Nadim,

    1998) ......................................................................................................................... 24

    Figura 2 Coeficientes de variao de parmetros geotcnicos (Ribeiro, 2008) ..... 27

    Figura 3 Anlise descritiva e inferncia estatstica visando a modelagem

    probabilstica de uma varivel randmica. (adaptado de Lacasse et al., 2007) ........ 29

    Figura 4 Nveis de rigor dos mtodos de anlise de confiabilidade (adaptado de

    Teixeira et al., 2012) .................................................................................................. 30

    Figura 5 Metodologia e incertezas consideradas no projeto de estacas baseado em

    confiabilidade, (Teixeira et al., 2012, apud Honjo et al., 2010). ................................. 31

    Figura 6 Equipamentos do SPT (www.forumdaconstrucao.com.br, 2014) ............. 33

    Figura 7 Etapas na execuo de sondagem a percusso: a) avano da sondagem

    por desagregao e lavagem e b) ensaio de penetrao dinmica. (Velloso e Lopes,

    1996). ........................................................................................................................ 34

    Figura 8 Ensaio penetromtrico (Cintra et al., 2013). ............................................. 35

    Figura 9 Resultado tpico de ensaios SPT em um nico local de projeto (Schnaid e

    Odebrecht, 2012). ..................................................................................................... 38

    Figura 10 Ajuste de distribuio Normal aos dados de NSPT. (adaptado de Baecher

    e Christian, 2003) ...................................................................................................... 40

    Figura 11 Caracterizao de parmetros geotcnicos (adaptado de Bond e Harris,

    2008). ........................................................................................................................ 41

    Figura 12 Mesmo fator de segurana global e diferentes probabilidades de runa

    (adaptado Aoki, 2009). .............................................................................................. 43

    Figura 13 Ilustrao de varivel randmica, onde cada elemento do espao

    amostral corresponde a um valor real xi da varivel aleatria. ............................ 46

    Figura 14 Correo de distribuies de resistncia do solo durante a cravao da

    estaca (Cabral, 2008). ............................................................................................... 47

    Figura 15 Seleo mais racional da distribuio de probabilidades (adaptado de

    Assis et al., 2002) ...................................................................................................... 49

    Figura 16 - Probabilidades de ocorrncia - Distribuio Normal padro. .................. 51

    Figura 17 Forma da distribuio Lognormal (Ribeiro, 2008). ................................. 52

  • Figura 18 Grficos de t de Student para diferentes graus de liberdade (Viali, 2000).

    .................................................................................................................................. 53

    Figura 19 Linha de Regresso (Naghettini e Pinto, 2007). ..................................... 56

    Figura 20 Hipteses de linearidade, normalidade e homocedasticidade do modelo

    de regresso linear (Neghettini e Pinto, 2007). ......................................................... 57

    Figura 21 Exemplo de construo de intervalos de confiana em modelos de

    regresso linear (adaptado de Montgomery e Runger, 2003). .................................. 59

    Figura 22 Distribuies preditivas das presses mximas mdias e pontuais de

    pr-adensamento, a 30 metros de profundidade (adaptado de Baecher e Christian,

    2003). ........................................................................................................................ 60

    Figura 23 Construo de intervalos de confiana a partir da regresso de valores

    de e (adaptado de Pohl, 2011). ........................................................................... 61

    Figura 24 Distribuio do parmetro de resistncia de um terreno (Alves, 2013). . 63

    Figura 25 Disperso de resultados na escolha de valores caractersticos de NSPT

    (linhas de cor cinza) por engenheiros (adaptado de Bond e Harris, 2008). .............. 64

    Figura 26 Resposta da anlise estatstica de NSPT (adaptado de Bond e Harris,

    2008). ........................................................................................................................ 65

    Figura 27 Sequenciamento de atividades para execuo da estaca hlice (Alonso,

    2012). ........................................................................................................................ 68

    Figura 28 Estacas e cargas admissveis (Alonso, 2012). ....................................... 70

    Figura 29 Mtodo de Van Der Veen, 1953 (adaptado de Pacheco, 2008) ............. 78

    Figura 30 Mtodo de Dcourt, 1996 (adaptado de Pacheco, 2008) ....................... 79

    Figura 31 Croqui meramente esquemtico da rea do estaqueamento, dividida em

    6 regies conforme numerao. Corte AA vide Figura 33. (Pacheco, 2008). ........ 85

    Figura 32 Mapa geolgico da grande regio com identificao do estaqueamento

    (adaptado de Melo, 2006). ........................................................................................ 86

    Figura 33 Perfil geotcnico esquemtico da rea do estaqueamento, corte AA da

    Figura 31 (Pacheco, 2008) ........................................................................................ 87

    Figura 34 Passo a passo da metodologia proposta. .............................................. 93

    Figura 35 Exemplo de perfil de sondagem de uma regio do estaquemento......... 94

    Figura 36 Resultados dos clculos em Excel para a construo da Regresso

    Linear dos valores de NSPT em profundidade z, para a regio exemplo 2316. ....... 95

    Figura 37 Clculos e Grfico com a curva inferior na cor verde (YMED INF) dos

    valores de NSPT obtidos conforme aplicao do critrio estatstico. .......................... 96

  • Figura 38 Envoltria inferior de valores de NSPT em profundidade, regio 32323,

    conforme critrio estatstico aplicado. ....................................................................... 97

    Figura 39 - Envoltria inferior de valores de NSPT em profundidade, regio 2316,

    conforme critrio estatstico aplicado. ....................................................................... 98

    Figura 40 - Envoltria inferior de valores de NSPT em profundidade, regio 2222,

    conforme critrio estatstico aplicado. ....................................................................... 98

    Figura 41 - Envoltria inferior de valores de NSPT em profundidade, regio 2315,

    conforme critrio estatstico aplicado. ....................................................................... 99

    Figura 42 - Envoltria inferior de valores de NSPT em profundidade, regio 2313,

    conforme critrio estatstico aplicado. ....................................................................... 99

    Figura 43 - Envoltria inferior de valores de NSPT em profundidade, regio 22311,

    conforme critrio estatstico aplicado ...................................................................... 100

    Figura 44 Regresses dos valores mdios de NSPT por profundidade e por regio

    ................................................................................................................................ 100

    Figura 45 Capacidade de carga com NSPT original de projeto versus a estimada

    com NSPT 95% MED, para Aoki-Velloso. ....................................................................... 105

    Figura 46 - Capacidade de carga com NSPT original de projeto versus a estimada

    com NSPT 95% MED, para Dcourt & Quaresma. ......................................................... 106

    Figura 47 - Capacidade de carga com NSPT original de projeto versus a estimada

    com NSPT 95% MED, para Alonso. ................................................................................ 106

    Figura 48 Carga de ruptura extrapolada por Van Der Veen versus a capacidade de

    carga estimada com NSPT 95% MED, para Aoki-Velloso. ............................................. 107

    Figura 49 - Carga de ruptura extrapolada por Dcourt (Rigidez) versus a capacidade

    de carga de estimada com NSPT 95% MED, para Aoki-Velloso..................................... 108

    Figura 50 - Carga de ruptura extrapolada por Van Der Veen versus a capacidade de

    carga estimada com NSPT 95% MED, para Dcourt & Quaresma. ................................ 108

    Figura 51 - Carga de ruptura extrapolada por Dcourt (Rigidez) versus a capacidade

    de carga estimada com NSPT 95% MED, para Dcourt & Quaresma. ........................... 109

    Figura 52 - Carga de ruptura extrapolada por Van Der Veen versus a capacidade de

    carga estimada com NSPT 95% MED, para Alonso. ...................................................... 109

    Figura 53 - Carga de ruptura extrapolada por Dcourt (Rigidez) versus a capacidade

    de carga estimada com NSPT 95% MED, para Alonso. ................................................. 110

    Figura 54 Grfico de barras onde se pode observar os FSg por mtodo de

    estimativa de capacidade de carga, por estaca e por regio. ................................. 113

  • Figura 55 Fator de Segurana das 19 estacas ensaiadas, considerando o nmero

    de sondagens realizadas por regio representativa. ............................................... 116

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Resumo dos fatores associados ao equipamento e procedimentos e sua

    influncia no NSPT (adaptao de Carvalho, 2012). ................................................... 37

    Tabela 2 Melhores funes de densidade de probabilidades ajustadas.

    (adaptado de Baecher e Christian, 2003), ................................................................. 50

    Tabela 3 Valores de F1 e F2 (Monteiro, 1997) ........................................................ 73

    Tabela 4 Valores de k e k. (Monteiro, 1997) ........................................................ 73

    Tabela 5 Valores de C (Dcourt & Quaresma, 1978) ............................................. 75

    Tabela 6 Valores de e (Nienov, 2006, adaptado de Dcourt et al., 1996) ........ 75

    Tabela 7 Valores de 1 e 2 (ABNT NBR 6122:2010) .............................................. 83

    Tabela 8 Resumo, por regio, das sondagens, provas de carga e sondagem

    representativa da prova de carga. ............................................................................. 85

    Tabela 9 Resultados das provas de carga por regio (Pacheco, 2008). ................ 91

    Tabela 10 Valores de NSPT (NSPT 95% MED) obtidos pela construo de IC de 95% em

    torno dos valores da reta mdia de regresso, isto , em torno de E(NSPTIz). ........ 102

    Tabela 11 Valores de NSPT (NSPT RL MED) ajustados pela reta de regresso linear.

    ................................................................................................................................ 103

    Tabela 12 Valores de capacidade de carga estimada pelos trs mtodos semi-

    empricos das 19 estacas onde foram realizadas as provas de carga. ................... 104

    Tabela 13 Indicador de Comparabilidade ............................................................. 105

    Tabela 14 Resultado da comparao entre capacidades de carga ...................... 111

    Tabela 15 Valores de FSg para as cargas estimadas pelo NSPT 95% MED em relao

    s cargas de projeto. ............................................................................................... 112

    Tabela 16 Valores de Rc,cal e Rc,k conforme equao 26, luz da aplicao da

    ABNT NBR 6122:2010. .......................................................................................... 115

    Tabela 17 - Fatores de Segurana observando o item 6.2.1.2.1 da NBR 6122:2010

    ................................................................................................................................ 115

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    API

    CPT

    EUA

    GPM

    IFRN

    ISSMFE

    IRTP

    LRFD

    MMQ

    ABNT NBR

    PC

    PGECIV

    American Petroleum Institute

    Cone Penetration Test

    Estados Unidos das Amricas

    Grupo de pesquisas minerais

    Instituto Federal do Rio Grande do Norte

    International Society for Soil Mechanics and Foundation

    International Reference Test Procedure

    Load and Resistance Factor Design

    Mtodo dos Mnimos Quadrados

    Norma Tcnica Brasileira

    Prova de Carga

    Programa de Ps Graduao em Engenharia Civil

    PR

    RS

    SP

    SPT

    SPT-T

    UERJ

    Estado do Paran

    Estado do Rio Grande do Sul

    Sondagem percusso

    Standard Penetration Test

    Standard Penetration Test com medida de torque

    Univerisdade do Estado do Rio de Janeiro

  • LISTA DE SMBOLOS

    A

    Ab

    Ad

    Ak

    a

    Evento aleatrio

    rea da base da estaca

    Aes em valores de projeto

    Aes caractersticas

    Parmetro da reta de regresso do mtodo de Van Der Veen

    b

    Probabilidade ou grau de confiana

    ndice dependente do tipo de solo (Mtodo de Aoki-Velloso)

    Parmetro da Regresso Linear

    Fator por tipo de estaca e de solo do Mtodo de Dcourt&Quaresma

    Parmetro da reta de regresso do mtodo de Van Der Veen

    Parmetro da Regresso Linear

    Fator por tipo de estaca e de solo do Mtodo de Dcourt&Quaresma

    c

    C

    Coeso efetiva

    Coeficiente caracterstico de tipo de solo - Mtodo de

    Dcourt&Quaresma

    COV

    D

    Coeficiente de Variao

    Dimetro do fuste

    DP

    dx

    l

    Desvio padro

    Elemento infinitesimal

    Espessura da camada de solo

    e

    e

    Nmero de Euler (neperiano)

    Termo erro ou resduo da Regresso Linear

    E(X)

    E(YIX)

    1,2

    Valor esperado de uma varivel aleatria

    Valor esperado de Y para um dado X

    Fatores de minorao da resistncia

    F

    F1

    F2

    Evento aleatrio

    Fator de correo do Mtodo de Aoki-Velloso

    Fator de correo do Mtodo de Aoki - Velloso

    F(X) Funo distribuio de probabilidade ou cumulativa

    fdp Funo densidade de probabilidade

  • FS

    FSg

    Fator de segurana

    Fator de segurana global

    IC

    k

    Intervalo de confiana

    ndice dependente do tipo de solo (Mtodo de Aoki-Velloso)

    ln Logaritmo neperiano

    L

    n

    N

    N

    Ni

    Np

    Nl

    NSPT

    NSPT

    NSPT 95% MED

    NSPT RL MED

    NSPT ORIG

    Comprimento da estaca

    Nmero de observaes de uma amostra

    Nmero de eventos possveis

    ndice de resistncia penetrao do SPT, nmero de golpes do SPT

    Nmero de eventos ocorridos

    Nmeros de golpes do SPT na zona de ponta da estaca

    Nmeros de golpes do SPT ao longo do fuste da estaca

    ndice de resistncia penetrao do SPT, nmero de golpes do SPT

    NSPT ajustado pela reta de regresso

    NSPT obtido a partir do critrio estatstico de construo de IC

    NSPT ajustado pela reta de regresso

    NSPT originais das sondagens de projeto

    N60

    N(,)

    MSE

    NSPT com eficincia de 60%, considerado o padro americano

    Distribuio Normal com mdia e desvio padro

    Mean square error

    p

    P

    pf

    PDF

    PL

    PP

    PR

    Probabilidade

    Carga aplicada no topo da estaca

    Probabilidade de runa

    Probability density function

    Parcela de carga resistida por atrito lateral ao longo do fuste da estaca

    Parcela de carga resistida pelo solo da ponta da estaca

    Carga de Ruptura

    Q

    Qmax

    Qproj

    Qt, QT

    Carga

    Carga mxima atingida na prova de carga

    Carga de projeto

    Capacidade de Carga

    R

    Radm

    (Rc,cal)med

    Capacidade de carga

    Carga admissvel em estacas

    Rc,k calculada com base em valores mdios dos parmetros

  • (Rc,cal)min

    Rc,k

    Rd

    Rk

    Rmed

    Rult

    rl

    rp

    Rig

    S

    s

    s2

    X

    Rc,k calculada com base em valores mnimos dos parmetros

    Resistncia caracterstica

    Carga resistente de projeto

    Valor caracterstico da capacidade de carga

    Valor mdio da capacidade de carga

    Carga de ruptura ltima

    Tenso mdia de adeso entre a estaca e o solo, no trecho l

    Tenso mdia de capacidade de carga na cota de apoio da estaca

    Rigidez definida no Mtodo de Dcourt (1978)

    Recalque medido

    rea da ponta da estaca

    Desvio Padro

    Varincia amostral

    Mdia aritmtica amostral

    xi

    X

    Xk

    Valores individuais das observaes de uma amostra

    Varivel Aleatria

    Valor caracterstico de acordo com o Eurocdigo 7 (2007)

    Integral

    Somatrio

    Escala de Flutuao

    2

    Graus de liberdade

    Varincia populacional

    Desvio padro populacional

    Tenso normal efetiva

    (z)

    tg tg

    m,f

    Funo Gama

    Valor tabelado de Z para a distribuio normal padro

    Dimetro da estaca

    Tangente do ngulo de atrito, e do ngulo de atrito efetivo

    Mdia populacional de um fenmeno aleatrio

    Fatores de segurana parciais

    T

    T

    Espao amostral

    Torque

    Varivel aletria

  • t

    U

    V(X)

    Y

    X)

    z

    Z

    Fator tabelado da distribuio t de Student

    Tenso cisalhante de ruptura

    Permetro do fuste da estaca

    Varincia populacional

    Varivel aleatria

    Valor estimado pela reta de regresso.

    Funo Real

    Profundidade

    Varivel aleatria

  • SUMRIO

    INTRODUO .......................................................................................................... 20

    1 REVISO BIBLIOGRFICA ......................................................................... 24

    1.1 Investigao, caracterizao e incertezas do subsolo .................................... 24

    1.2 Standard Penetration Test (SPT) e variabilidade do NSPT .............................. 32

    1.2.1 Equipamentos, procedimentos de perfurao e amostragem ......................... 32

    1.2.2 Dos resultados de NSPT e dos fatores que os modificam ................................ 36

    1.2.3 Da disperso dos resultados da varivel NSPT ................................................ 38

    2 NOES DE PROBABILIDADE E ESTATSTICA. FERRAMENTAS

    ESTATSTICAS E APLICAES ESPECFICAS ..................................................... 41

    2.1 Conceitos bsicos de Estatstica .................................................................... 43

    2.2 Conceitos bsicos de Probabilidade ............................................................... 45

    2.3 Ferramentas Estatsticas ................................................................................ 54

    2.4 Definies e procedimentos do Eurocdigo 7 (2007) na caracterizao do

    subsolo. ..................................................................................................................... 61

    3. ALGUNS ASPECTOS DE FUNDAES PROFUNDAS. ESTACAS HLICE

    CONTNUA. CAPACIDADE DE CARGA DE ESTACAS ........................................... 67

    3.1 Definies e Estacas Hlice Contnua ............................................................ 67

    3.2 Capacidade de carga de estacas e Mtodos semi-empricos. ........................ 69

    3.2.1 Mtodo de Aoki-Velloso, com coeficientes alterados por Monteiro ................ 72

    3.2.2 Mtodo de Dcourt & Quaresma (1978), modificado por Dcourt et al.

    (1996): 74

    3.2.3 Mtodo de Alonso (1996): ........................................................................... 75

    3.3 Capacidade de Carga e Provas de Carga ...................................................... 76

    3.4 Capacidade de carga de estacas sob a tica da ABNT NBR 6122:2010 ....... 80

    3.5 Outros aspectos da ABNT NBR 6122:2010 .................................................... 82

    4 CASO ESTUDADO ....................................................................................... 84

  • 4.1 Objeto e local de estudo ................................................................................. 84

    4.2 Da construo do critrio estatstico. Premissas, consideraes e metodologia

    88

    4.2.1 Premissas e consideraes ............................................................................ 88

    4.2.2 Construo da Metodologia ............................................................................ 94

    5 APRESENTAO E DISCUSSO DOS RESULTADOS ........................... 102

    5.1 Valores de NSPT ............................................................................................ 102

    5.2 Valores das estimativas de capacidade de carga de estacas isoladas ........ 103

    5.3 Comparao entre a capacidade de carga estimada utilizando NSPT 95% MED e a

    capacidade de carga estimada original, por ocasio do projeto, utilizando-se NSPT

    ORIG 104

    5.4 Comparao entre a capacidade de carga estimada utilizando NSPT 95% MED e a

    carga de ruptura extrapolada .................................................................................. 107

    5.5 Avaliao de Fatores de Segurana Globais ................................................ 112

    5.6 Item 6.2.1.2.1 da ABNT NBR 6122:2010 Resistncia calculada por mtodos

    semi-empricos baseados em ensaios de campo em regies representativas do

    terreno. .................................................................................................................... 113

    6 CONCLUSES E SUGESTES PARA FUTURAS PESQUISAS .............. 117

    6.1 Concluses ................................................................................................... 117

    6.2 Sugestes para Futuras Pesquisas .............................................................. 119

    REFERNCIAS ....................................................................................................... 123

  • 20

    INTRODUO

    A anlise de confiabilidade na engenharia geotcnica, ao utilizar abordagens

    probabilsticas e informaes da estatstica, permite quantificar, em ltima anlise, o

    risco de insucesso ou, de certa forma, a segurana da obra em questo. Esse

    enfoque de anlise, que nos ltimos anos vem ganhando espao no exterior e no

    Brasil, necessariamente nesta ordem, permite ao profissional tomar decises mais

    racionais em termos dos riscos associados, sendo uma de suas tarefas mais

    importantes a escolha dos valores de parmetros geotcnicos obtidos de ensaios de

    campo e laboratrio que sero utilizados nos modelos e clculos na fase de projeto.

    Incertezas de diversas sortes, como a inerente ao prprio solo, devido

    heterogeneidade de sua formao, bem como aquelas derivadas de equipamentos,

    processos e erros humanos na execuo de ensaios de campo e laboratrio, vm

    acarretar a enorme variabilidade que se encontra nos valores dos parmetros

    geotcnicos de interesse, at mesmo em regies com caractersticas geolgico-

    geotcnicas homogneas, levando os profissionais a utilizarem diversos critrios na

    necessria tomada de deciso de quantificar racionalmente o parmetro de projeto,

    desde o uso da expertise pelo conhecimento prvio da regio e do problema

    especfico, passando pelo uso de tabelas com valores ou critrios consagrados

    com base na literatura especializada, at a utilizao de ferramentas estatsticas

    simples e modelos probabilsticos mais rebuscados.

    O parmetro de resistncia NSPT obtido do ensaio Standard Penetration Test

    (SPT), apesar da grande importncia na Geotecnia brasileira, ainda apresenta uma

    grande variabilidade de seus resultados, sendo inclusive objeto de correes,

    normatizaes e estudos no meio geotcnico, no sentido de uniformizao e

    consequente diminuio das incertezas associadas aos resultados do ensaio, tanto

    na fase de execuo, como sobretudo na fase de apresentao, tratamento e

    utilizao dos parmetros obtidos, pelos prprios profissionais.

    Diante da heterogeneidade de abordagens para a utilizao dos valores de

    NSPT em projetos geotcnicos, e visando a uma tomada de deciso do engenheiro

    de forma mais racional, onde as partes envolvidas de interesse - consumidores,

  • 21

    projetistas, fiscais de obras, executores e comunidade cientfica possam discutir

    em bases harmoniosas e mais objetivas, proposta neste estudo a aplicao de um

    critrio estatstico para obteno de valores de NSPT a partir de um conjunto de

    informaes de ensaios de campo.

    Motivao e Objetivos

    No contexto de mitigao de incertezas, a presente dissertao, resultado de

    discusses durante a cadeira de Mtodos Probabilsticos do PGECIV da UERJ,

    procura obter, de forma cautelosa, valores do parmetro geotcnico - NSPT

    (Resistncia Penetrao obtida do ensaio SPT), a partir de um critrio estatstico

    que usa a construo de intervalos de confiana de 95% de probabilidade em torno

    da reta ajustada da regresso linear simples entre a varivel aleatria NSPT e a

    profundidade.

    A disponibilidade da base de dados sondagens e resultados de 19 provas

    de carga esttica - de um extenso estaqueamento em estacas hlice contnua,

    realizado na regio de Araucria PR, possibilitou a construo do critrio de

    estimativa do NSPT para seis regies geotecnicamente representativas que, juntas,

    compem a rea do referido estaqueamento.

    Os valores obtidos de NSPT foram utilizados na previso da capacidade de

    carga de 19 estacas isoladas a partir da utilizao de trs mtodos semi-empricos:

    Aoki-Velloso (1975) com coeficientes alterados por Monteiro (1997), Dcourt &

    Quaresma (1978) alterado pelo mtodo de Dcourt (1996) e Mtodo de Alonso

    (1996). As cargas de ruptura dessas 19 estacas, submetidas s provas de carga

    esttica, disponveis na base de dados da obra, foram obtidas por mtodos de

    extrapolao das curvas carga-recalque (Van Der Veen e Dcourt), e serviram para

    comparao e consequente validao do critrio.

    Adicionalmente, foram efetuadas, com fulcro no item 6.2.1.2.1 da ABNT NBR

    6122:2010 Resistncia calculada por mtodo semi-emprico, avaliaes dos

    fatores de segurana em relao s cargas de projeto, inclusive, se utilizando da

    premissa de reconhecimento de regies representativas, ao levar em conta o

  • 22

    nmero de ensaios de SPT executados, fato que promove uma diminuio da

    incerteza dos parmetros, apontando a um menor fator de segurana (FS)

    necessrio.

    Em sntese, o critrio demonstrou ser adequado, guardadas as ressalvas e

    limitaes do mtodo, e com a certeza de que o estudo contribuiu para o tratamento

    e controle das incertezas ora relatadas no tocante s melhores escolhas dos

    parmetros geotcnicos, somando-se s alternativas das anlises racionais e de

    confiabilidade de problemas geotcnicos, j obrigatrias nas normas internacionais

    como Eurocdigo, LRFD Load and Resistance Factor Design (EUA) e outras.

    Descrio dos captulos

    No captulo 1 foi feita uma reviso sobre as investigaes geotcnicas e as

    incertezas do subsolo, enfocando os parmetros geotcnicos enquanto variveis

    aleatrias, com destaque para o ensaio SPT, suas fontes de incerteza e a

    consequente variabilidade do NSPT.

    Noes de Probabilidade e Estatstica, bem como suas aplicaes na

    Geotecnia, foram apresentadas na sequncia, no captulo 2, com a finalidade de

    esclarecer a metodologia de construo de Intervalos de Confiana a partir de

    modelos de Regresso Linear, inclusive reportando sobre a utilizao de

    metodologia semelhente por engenheiros de projetos sob gide das normas do

    Eurocdigo.

    O captulo 3 aborda aspectos de fundaes profundas, especificamente a

    estaca Hlice Contnua, e apresenta os conceitos de capacidade de carga e os

    mtodos semi-empricos de previso: Aoki-Velloso (1975) com coeficientes alterados

    por Monteiro (1997), Dcourt & Quaresma (1978) alterado pelo mtodo de Dcourt

    (1996) e Mtodo de Alonso (1996). Itens da ABNT NBR 6122:2010, como regies

    representativas do terreno, mtodo de valores admissveis, mtodo de valores de

    projeto e resistncia calculada por mtodo semi-emprico, tambm foram abordados.

    Em seguida, no captulo 4, foi feita a descrio da obra de estaqueamento

    tipo hlice contnua, inclusive com a caracterizao geotcnica-geolgica da rea,

  • 23

    que foi dividida em seis regies representativas com padres similares. Os dados

    das sondagens existentes foram tabulados por regio para a utilizao da planilha

    de clculo Excel, onde foi realizado todo o fluxograma de aes, isto , todos os

    clculos e manipulaes de dados necessrios construo da metodologia. As

    premissas e consideraes acerca da construo e aplicao da metodologia de

    obteno de valores de NSPT, pelo uso da ferramenta estatstica, tambm so objeto

    do presente captulo.

    O captulo 5 apresenta os resultados das estimativas de capacidade de carga

    de 19 estacas, a partir dos trs mtodos semi-empricos selecionados e utilizando os

    parmetros do NSPT obtidos pelo critrio estatstico proposto. As informaes por

    regio sobre as capacidades de carga por ocasio do projeto original, a execuo

    das provas de carga esttica e as respectivas cargas de ruptura, obtidas por

    extrapolao pelos mtodos de Van Der Veen e Dcourt (Rigidez), possibilitaram

    diversas comparaes com os valores estimados, tornando-se uma avaliao de

    ajuste para o critrio proposto no presente estudo. Avaliaes em termos dos

    Fatores de Segurana tambm foram realizadas.

    O captulo 6 contm as principais concluses e propostas para novos estudos

    ou desdobramentos referentes ao tema. Aps a apresentao dos captulos seguem

    as Referncias Bibliogrficas.

  • 24

    1 REVISO BIBLIOGRFICA

    1.1 Investigao, caracterizao e incertezas do subsolo

    A investigao do subsolo com a determinao de suas caractersticas tem

    extrema importncia para a concepo do projeto geotcnico e para a escolha da

    melhor, ou possvel, forma de execuo, alm de prover o projetista dos parmetros

    necessrios para a busca dos requisitos de segurana e economia. Conforme

    Schnaid e Odebrecht (2012), no Brasil, o custo envolvido na execuo de

    sondagens de reconhecimento normalmente varia entre 0,2% e 0,5% do custo total

    das obras convencionais, podendo ser mais elevado em obras especiais ou em

    condies adversas de subsolo.

    Lacasse e Nadim (1998) apontam que a investigao do subsolo, realizada da

    forma que se planeja, j representa uma forma de deciso de projeto baseado em

    risco e que, em geral, o esforo aplicado na caracterizao do solo funo do nvel

    de risco que envolve o projeto. A Figura 1 apresenta abordagens distintas de

    investigaes do subsolo em funo do risco do projeto associado, bem como traz

    uma estimativa dos respectivos custos.

    Figura 1 Investigao do solo baseada em risco (adaptado de Lacasse e

    Nadim, 1998)

  • 25

    Cabe observar pela Figura 1, que o SPT, de extrema importncia na

    Geotecnia Brasileira, aparece, na realidade dos autores noruegueses, como um

    ensaio de obras de baixo risco e baixo custo, bem diferente da realidade nacional,

    onde este ensaio, de amplo conhecimento e utilizao pelos profissionais da

    engenharia civil, utilizado em larga escala em projetos geotcnicos, sendo, por

    vezes, complementado pelo CPT (Cone Penetration Test).

    Numa mesma linha de abordagem, Schnaid e Odebrecht (2012)

    adequadamente relatam que a abrangncia da campanha de investigaes

    depender das caractersticas do meio fsico, da complexidade das obras e dos

    riscos envolvidos, fatores que muitas vezes so sintetizados em orientaes e

    estudos que visam categorizar os programas de investigao geotcnica.

    Baecher e Christian (2003) admitem que, de forma ideal, se busca o completo

    conhecimento das condies geotcnicas do subsolo, mas na realidade, com os

    recursos sendo limitados, os custos com as investigaes devem ser proporcionais

    ao escopo do projeto e tambm s potenciais consequncias em usar informaes

    imperfeitas na tomada de decises. Os autores apontam quatro aspectos que devem

    ser pesquisados durante investigaes de stios geotcnicos de interesse: a

    geologia dos depsitos e das formaes com as definies de localizao e

    espessuras, o material componente das formaes geotcnicas, as propriedades de

    engenharia dos materiais existentes e o nvel dgua com suas flutuaes.

    Lima (1979) ressalta a importncia da fase de planejamento numa

    investigao do subsolo, detalhando alguns fatores como tipo de estrutura e

    problemas especficos, condies geolgicas da rea e caractersticas do local a

    investigar. Para a autora, uma investigao pode ser dividida entre as etapas de

    reconhecimento, projeto bsico, projeto executivo e construo, ressalvando que,

    dependendo do vulto da obra e das condies peculiares, algumas etapas podem

    ser dispensadas.

    Schnaid e Odebrecht (2012) reproduzem em sua obra tabelas com fatores de

    segurana propostos por Vesic (1975) e Wright (1969), demonstrando que as

    incertezas em um projeto geotcnico sero to menores quanto maior for a extenso

    do programa de investigao. Vesic (1975), por exemplo, aponta para a utilizao

  • 26

    dos menores fatores de segurana para projetos com exploraes do subsolo

    completas e tambm com pequena ocorrncia das cargas mximas.

    Esse enfoque, segundo Schnaid e Odebrecht (2012), tambm pode ser

    observado na prpria ABNT NBR 6122:2010 Norma Brasileira de Projeto e

    Execuo de Fundaes, que introduziu fatores de minorao da resistncia

    caracterstica de estacas calculada com base em mtodos semi-empricos. Por esta

    norma, conforme seu item 6.2.1.2.1, os fatores de minorao 1 e 2 decrescem

    enquanto o nmero de ensaios de campo por regio representativa do terreno

    cresce, o que diminuiria, em tese, as incertezas do projeto.

    A incerteza na caracterizao do subsolo tem reflexo e pode ser observada

    na grande variabilidade, em termos quantitativos, de diversos parmetros

    geotcnicos relevantes concepo do projeto e execuo da obra.

    Assis et al. (2002) destacam que, na rea da Geotecnia, as propriedades dos

    materiais do solo e da rocha so inerentemente variveis, j que depsitos naturais

    so caracterizados por camadas irregulares de vrios tipos de materiais, com

    diversas faixas de densidades, oriundos de misturas diversas e possuidores de

    outras propriedades que afetam a resistncia, deformabilidade e permeabilidade do

    depsito.

    Nessa linha, Jones et al. (2002) enfocam que a variabilidade das

    propriedades fsicas do solo aparece de ponto para ponto, e que pode existir at

    mesmo numa unidade de solo homognea.

    A variabilidade das propriedades do solo pode ser representada,

    resumidamente, pela combinao de dois componentes principais, o randmico,

    tratado como variabilidade inerente ao solo; e de erro na mensurao, podendo ser

    oriunda de laboratrio ou do campo, e derivar de erro do equipamento, do operador

    e dos efeitos aleatrios intrnsecos aos prprios ensaios.

    Jones et al. (2002) procuram subsidiar os pesquisadores com a compilao

    de tabelas e textos para a estimao da variabilidade de diversas propriedades

    geotcnicas do solo, apresentando os dados de COV (Coeficiente de Variao), de

  • 27

    intervalos de valores dos parmetros e respectivas mdias, tanto para as

    propriedades medidas em laboratrio, como em campo.

    Ribeiro (2008) publicou uma tabela, Figura 2, onde possvel consultar

    diversos valores mximos e mnimos de COV de parmetros geotcnicos

    disponveis na literatura. Segundo o autor, os dados elencados servem para a

    estimao das varincias quando so apenas conhecidos os valores mdios dos

    parmetros.

    Figura 2 Coeficientes de variao de parmetros geotcnicos (Ribeiro, 2008)

    Baecher e Christian (2003) dedicam um captulo de seu livro aos conceitos e

    razes da variabilidade encontrada nos parmetros geotcnicos, e tambm

  • 28

    apresentam tabelas com inmeras informaes de COV de propriedades do solo,

    elaboradas por diversos pesquisadores do assunto.

    Teixeira et al. (2012) abordam que as incertezas associadas ao estudo de

    uma estrutura geotcnica podem ser divididas em: i) fsicas inerentes aos

    materiais; ii) dos modelos advm das aproximaes e abordagens tericas; iii)

    estatsticas associadas ao tamanho finito e flutuaes nas amostras que se possui;

    iv) erros humanos; e v) variabilidade espacial. Como o conhecimento de todas essas

    incertezas para o local especfico do projeto pode no estar disponvel, a estimao

    da variabilidade dos parmetros, muitas vezes, realizada por intermdio de valores

    de COV observados em locais semelhantes ou advindos da experincia dos

    engenheiros.

    Baecher e Christian (2003) separam as incertezas inerentes engenharia

    geotcnica de acordo com suas fontes, com destaque para a variabilidade natural

    associada a aleatoriedade inerente aos processos naturais, e a incerteza do

    conhecimento atribuda falta de dados, falta de informaes sobre eventos e

    processos ou falta de capacidade em modelar o mundo real a partir das leis fsicas

    existentes. Esta ltima tambm descrita como incerteza epistmica, subjetiva ou

    interna.

    Lacasse et al. (2007) abordam que uma investigao quantitativa das

    variveis geotcnicas depende de um conjunto de dados medidos que so limitados

    no tamanho e na qualidade. Ento, afirmam os autores, h que se tratar esse

    conjunto de dados como amostras estatsticas, no se furtando de mencionar que

    so estimadores imperfeitos da populao real dos parmetros. A Figura 3

    demonstra o fluxograma de uma anlise descritiva e estatstica visando a

    modelagem de uma varivel randmica.

  • 29

    Figura 3 Anlise descritiva e inferncia estatstica visando a modelagem

    probabilstica de uma varivel randmica. (adaptado de Lacasse et al., 2007)

    Neste contexto, o tratamento das diversas incertezas inerentes a um projeto

    geotcnico torna-se mandatrio para se fazer uma avaliao racional do problema a

    ser resolvido, deparando o engenheiro geotcnico, cada vez mais, com a

    necessidade de efetuar as chamadas Anlises de Confiabilidade.

    As anlises de confiabilidade, segundo Teixeira et al. (2012), estudam a

    probabilidade de ocorrer um determinado comportamento de uma estrutura

    geotcnica, com base no conhecimento das incertezas e aleatoriedades da

    geometria do problema, das propriedades constitutivas dos materiais e das aes.

    As vantagens so a quantificao da probabilidade de ocorrncia e a obteno de

    informao sobre os parmetros que mais influenciam o comportamento em estudo,

    alm de permitir o tratamento racional das incertezas do problema e, em

    consequncia, ter melhor subsdio tomada de deciso. Este autor apresenta na

    Figura 4 metodologias de abordagens com foco em confiabilidade, escalonada por

    cinco nveis, de zero a quatro, que traduzem a gradao do rigor aplicado anlise.

  • 30

    Figura 4 Nveis de rigor dos mtodos de anlise de confiabilidade (adaptado

    de Teixeira et al., 2012)

    O critrio proposto nesta dissertao pode ser enquadrado numa anlise de

    nvel II, conforme a Figura 4, por modelar a varivel aleatria NSPT (obteno da

    mdia e desvio padro) aps uma abordagem estatstica dos dados disponveis, e

    obter, aps uma anlise de regresso os valores para serem utilizados na estimativa

    de capacidade de carga por mtodos semi-empricos.

    Segundo Ribeiro (2008), em anlises geotcnicas, previses de fatores de

    segurana so desenvolvidas com base em mtodos determinsticos, que admitem

    como fixos e conhecidos os parmetros do solo. O estudo da influncia das

    incertezas sobre os clculos determinsticos, com a possibilidade da quantificao

    do risco de insucesso associado a um projeto geotcnico, desenvolveu-se durante

    as ltimas dcadas com base nas teorias de probabilidade e estatstica.

    Assis et al. (2002) apontam que, mesmo na abordagem determinstica, por se

    reconhecer que alguns parmetros e carregamentos so variveis, muitas vezes se

    faz uma anlise de sensibilidade dos clculos de projeto, variando tais parmetros e

    carregamentos dentro de suas faixas de ocorrncia, o que se conhece como anlise

    paramtrica. No entanto, estas variaes no consideram a frequncia de ocorrncia

    dos parmetros e carregamentos. Para o estudo de problemas que possuam

    variabilidade em seus dados, os mtodos estatsticos e probabilsticos aparecem

    Confiabilidade

    Mtodo de Confiabilidade de primeira ordem

    Funo densidade de probabilidade

  • 31

    ento como uma alternativa sistemtica de incorporar a variabilidade de parmetros

    e carregamentos no projeto, possibilitando, a partir da, calcular o risco de falha ou a

    confiabilidade destas estruturas.

    No trabalho de Teixeira et al. (2012), possvel identificar as fontes de

    incertezas de uma anlise de confiabilidade aplicada ao dimensionamento de

    fundaes por estacas conforme esquematizado na Figura 5. As incertezas, tratadas

    como variveis aleatrias, foram caracterizadas pela mdia, DP (desvio padro) e

    tipo de distribuio.

    Figura 5 Metodologia e incertezas consideradas no projeto de estacas

    baseado em confiabilidade, (Teixeira et al., 2012, apud Honjo et al., 2010).

    Ribeiro (2008) destaca em seu trabalho mtodos para a obteno de valores

    estatsticos dos parmetros do solo, selecionados como variveis aleatrias, a

    serem usados em anlises probabilsticas de estudos geotcnicos.

    Finalmente, Pacheco (2013) assinala que como em qualquer outra atividade

    de engenharia, a quantificao do nvel de segurana pelas abordagens clssicas,

    atravs de fatores de segurana, no leva em conta a incerteza da carga atuante e

    da resistncia. Ao apresentar os conceitos de probabilidade e estatstica aplicadas

    Geotecnia, ressalta a importncia da abordagem probabilstica na determinao das

    variveis aleatrias inerentes a um problema geotcnico, visando obter a

    racionalidade necessria para a tomada de deciso baseada em risco. Dentre as

    aes

  • 32

    metodologias apresentadas pelo autor, destaca-se aquela a ser utilizada no presente

    estudo, onde utilizado um modelo de anlise de regresso linear com a estimao

    pela construo de intervalos de confiana, buscando estabelecer um critrio para

    se obter, de maneira cautelosa, os valores dos parmetros de resistncia do solo em

    profundidade, oriundos dos ensaios de SPT, a serem utilizados em mtodos semi-

    empricos de previso da capacidade de carga de estacas.

    1.2 Standard Penetration Test (SPT) e variabilidade do NSPT

    Conforme Schnaid e Odebrecht (2012), o Standard Penetration Test a mais

    rotineira e econmica ferramenta de investigao geotcnica, no Brasil e,

    praticamente, no mundo; indicando a densidade de solos granulares e a

    consistncia de solos coesivos, possibilitando uma medida de resistncia dinmica

    aliada a uma sondagem de simples reconhecimento do subsolo. Ressaltam os

    autores que o ensaio demanda equipamentos simples, com baixo custo, permitindo

    obter valores numricos que podem ser relacionados, por meio de propostas no

    sofisticadas, diretas ou no, com regras empricas de projetos. A Engenharia de

    Fundaes utiliza largamente o ensaio, embora haja crticas em relao falta de

    uniformizao na execuo do ensaio, bem como pouca racionalidade no uso e na

    interpretao dos resultados.

    1.2.1 Equipamentos, procedimentos de perfurao e amostragem

    O Brasil tem normatizao especfica, a ABNT NBR 6484:2001 Sondagem

    de Simples Reconhecimento com SPT Mtodo de Ensaio, sendo referncia do

    padro internacional, o IRTP/ISSMFE - International Reference Test Procedure.

    Conforme Carvalho (2012), em fevereiro de 2001, a ABNT NBR 6484:2001 foi

    revisada e republicada, sendo, nessa oportunidade, incorporados os procedimentos

    de identificao e descrio de amostras de solos obtidas em sondagens de simples

    reconhecimento, contidos na ABNT NBR 7250:1982 que se encontra cancelada.

    Em sua verso atual, a ABNT NBR 6484:2001 rene especificaes relativas

    aparelhagem, processos de avano de perfurao, execuo de ensaio

  • 33

    penetromtrico e amostragem, observao do nvel de gua e apresentao dos

    resultados. Alm disso, esta norma possibilita a classificao das camadas de solos

    investigados em funo dos valores de NSPT.

    Os equipamentos do sistema de sondagem SPT so compostos

    principalmente por amostrador, hastes, martelo, torre ou trip de sondagem, cabea

    de bater e conjunto de perfurao, conforme ilustrao da Figura 6.

    Figura 6 Equipamentos do SPT (www.forumdaconstrucao.com.br, 2014)

    O ensaio SPT consiste na cravao dinmica, a cada metro, de amostrador

    padro, com energia potencial padronizada, visando determinao de um ndice

    de resistncia e coleta de amostra destinada classificao do tipo de solo

    investigado.

    A ABNT NBR 6484:2001 detalha como o procedimento de perfurao do

    terreno, iniciado pelo trado tipo cavadeira, com profundidade at 1,00 m, sendo o

    material recolhido e classificado quanto sua composio. Aps, introduzido um

    tubo de revestimento cravado com o mesmo martelo que ser usado para a

    ou MANUAL

    http://www.forumdaconstrucao.com.br/

  • 34

    amostragem. Por dentro deste tubo, a penetrao progride com trado helicoidal at

    atingir o nvel dgua, quando verificado seu equilbrio. Para o prosseguimento da

    sondagem, utiliza-se a perfurao por circulao de gua, tambm conhecida como

    lavagem. A gua ajuda na desagregao e, ao retornar superfcie, pelo espao

    entre a haste interna e o tubo de revestimento, transporta as partculas de solo

    desagregadas para exame ttil visual.

    A coleta de amostras deformadas realizada em diferentes profundidades e

    de forma sistemtica, utilizando-se um amostrador padro que, em determinada

    profundidade, substitudo pelo trpano para continuar com a perfurao, sendo

    essas atividades realizadas alternadamente, conforme Cintra et al. (2013).

    A Figura 7, obtida de Velloso e Lopes (1996), procura ilustrar as atividades de

    perfurao e amostragem descritas nos pargrafos anteriores.

    Figura 7 Etapas na execuo de sondagem a percusso: a) avano da

    sondagem por desagregao e lavagem e b) ensaio de penetrao dinmica.

    (Velloso e Lopes, 1996).

  • 35

    Simultaneamente amostragem, realiza-se o ensaio penetromtrico, que

    consiste em se cravar um amostrador padro tipo Raymond, por intermdio de um

    martelo de peso padronizado (65 Kg), caindo de queda livre de uma altura de 75 cm,

    a partir de golpes na cabea da haste devidamente protegida por um coxim de

    madeira. Devido aos golpes, foi dado o nome de Sondagem Percusso. A

    penetrao do amostrador nos primeiros 45 cm e o avano da perfurao nos

    prximos 55 cm esto ilustrados na Figura 8.

    Figura 8 Ensaio penetromtrico (Cintra et al., 2013).

    Por conveno, em vez da contagem nica para os 45 cm de penetrao do

    amostrador, contam-se parcialmente, em trs intervalos, o nmero de golpes para a

    penetrao de 15 cm. O nmero de golpes representa uma medida indireta da

    resistncia do solo, definindo-se como ndice de resistncia penetrao NSPT, a

    soma do nmero de golpes dos ltimos 30cm.

    Cintra et al. (2013) ressalvam que a opo predominante de escritrios de

    engenharia, e tambm a utilizada neste trabalho de pesquisa, de que o primeiro

    metro da sondagem fique sem valores de NSPT (tambm representado por N), e que

    este ndice valha para o metro como um todo.

    Quanto aos resultados, e segundo Bezerra (2014), o ensaio SPT apresenta-

    se num formato de relatrio tcnico de sondagem com um conjunto de informaes

    essenciais para a localizao e reconhecimentos geolgico e mecnico dos solos.

    Este relatrio padronizado conforme a ABNT NBR 6484:2001, conhecido na

    prtica como relatrio de sondagem. tambm exigida sua escrita seguindo os

  • 36

    preceitos estabelecidos pelas normas afins: ABNT NBR 9603:1986 (Sondagem a

    trado), ABNT NBR 6122:2010 (Projeto e Execuo de Fundaes) e a ABNT NBR

    13441:1995 (Rochas e solos). A quantidade e o planejamento espacial das

    sondagens so regulados pela ABNT NBR 8036:1983.

    Cabe ainda ressaltar a possibilidade de uma medio complementar realizada

    tambm durante o ensaio de SPT e aps a penetrao do amostrador, que se trata

    do torque necessrio para a ruptura por cisalhamento do solo na regio lateral do

    amostrador, sendo este ensaio denominado de SPT-T, estudado por Ranzini (1988,

    1994).

    1.2.2 Dos resultados de NSPT e dos fatores que os modificam

    Segundo Schnaid e Odebrecht (2012), existem fatores determinantes que

    influenciam o resultado do ensaio, variando de local para local, em virtude da forma

    de execuo e tambm do nvel tecnolgico em que se encontram. As principais

    diferenas citadas so o mtodo de perfurao, o fluido estabilizante do furo, o

    dimetro do furo, o mecanismo de levantamento e liberao de queda do martelo, a

    rigidez das hastes, a geometria do amostrador e o mtodo de cravao. Somam-se

    a isto tudo, desvios dos procedimentos normatizados, fraudes, erros operacionais,

    vcios executivos e outros.

    Em Carvalho (2012), encontam-se as referncias de autores consagrados que

    primeiro estudaram os fatores que influenciam os resultados do ensaio SPT. Cita

    tambm que, na maioria dos casos, os fatores que influenciam o NSPT podem ser

    classificados como sendo de trs naturezas: humana, do equipamento e de

    procedimento.

    Carvalho (2012) ainda enumera e explica em detalhes alguns dos principais

    fatores responsveis pelas discrepncias observadas em resultados do ensaio SPT,

    e apresenta a Tabela 1, adaptada de Dcourt (1989), com um resumo dos fatores

    associados ao equipamento e procedimentos do ensaio de SPT, que influenciam na

    resistncia penetrao do amostrador, bem como de que maneira se d esta

    influncia.

  • 37

    Tabela 1 - Resumo dos fatores associados ao equipamento e procedimentos e sua influncia no NSPT (adaptao de Carvalho, 2012).

    Um dos assuntos mais estudados e pesquisados em relao ao ensaio SPT,

    denomina-se Eficincia do Sistema, que trata das perdas que ocorrem na energia

    aplicada ao sistema de cravao do amostrador em detrimento energia terica de

    100% da queda livre; em outras palavras, a relao entre a energia transferida ao

    topo da composio e a energia potencial padro.

    Assim, conforme Cintra et al. (2013), um valor de NSPT obtido com eficincia

    de 72% (aceito no Brasil, com um sistema manual) deveria ser multiplicado por 1,2

    para ser comparado ao NSPT obtido com uma eficincia de 60%, tambm chamado

    de N60, e considerado como valor mdio da eficincia do sistema mecanizado norte

    americano para o ensaio. Os autores relatam que valores de eficincia do sistema,

    que dependem da empresa executora, podem chegar at a 37%, e que h de haver

    a correo necessria, afim de que os resultados se tornem comparveis, por

    exemplo, ao N60.

    Fator Efeito no NSPT Sistema de martelo aumenta / diminui

    Variaes de altura exata aumenta / diminui

    Uso de cabo de ao ao invs de corda aumenta

    Falta de lubrificao da roldana aumenta

    Peso incorreto do martelo aumenta / diminui

    Excentricidade da cabea de bater aumenta

    No utilizao de haste guia aumenta

    Limpeza mal feita do furo diminui

    Dimetro do furo acima do recomendado diminui

    Comprimento da haste aumenta

    Peso da haste aumenta / diminui

    Pedregulhos engasgando amostrador aumenta

    Coxim: Sem usar Novo Velho

    No altera aumenta diminui

    Amostrador deformado aumenta

  • 38

    Outras correes, como a referente ao nvel de tenses, aplicadas aos

    resultados de NSPT, bem como as correlaes empricas a serem utilizadas na

    obteno de parmetros constitutivos para projetos geotcnicos a partir dos

    resultados, podem ser consultadas em literatura tcnica apropriada, como em

    Schnaid e Odebrecht (2012).

    1.2.3 Da disperso dos resultados da varivel NSPT

    Os resultados de NSPT podem ser aplicados diretamente em projetos

    geotcnicos como a previso da capacidade de carga de fundaes. Entretanto,

    dado que muitas vezes esses resultados se apresentam com grande variabilidade,

    tornam-se essenciais tanto a quantificao de eventual disperso dos resultados,

    quanto a utilizao de abordagens estatsticas que subsidiaro a tomada de deciso

    racional do projetista geotcnico, sobre quais valores de NSPT sero utilizados.

    Schnaid e Odebrecht (2012) ressaltam que resultados de ensaios SPT

    realizados em um mesmo local podem apresentar disperso significativa, conforme o

    exemplo de ensaios realizados em Porto Alegre (RS), como pode ser visto na Figura

    9, que apresenta o nmero de golpes NSPT em funo da profundidade, ficando

    demonstrada que a variao nos perfis representa a prpria variabilidade do solo,

    sendo necessrio, em cada projeto, avaliar as implicaes de se adotar os perfis

    mnimo ou mdio de resistncia.

    Figura 9 Resultado tpico de ensaios SPT em um nico local de projeto

    (Schnaid e Odebrecht, 2012).

  • 39

    Jones et al. (2002) abordam, em relao a parmetros geotcnicos, aspectos

    qualitativos e tambm quantitativos que explicam a variabilidade inerente a

    determinada propriedade do solo. Os autores tambm apresentam, qualitativamente,

    itens dos equipamentos e da operao per si e em que grau causam perturbao

    aos resultados.

    Em relao aleatoriedade do NSPT, Ribeiro (2008) considera os nmeros de

    golpes do SPT ao longo do fuste da estaca (Nl) e na zona de ponta (Np) como

    variveis aleatrias independentes, quando estes valores so utilizados para

    obteno de fatores de segurana calculados com base em cargas ltimas,

    estimadas pelos mtodos semi-empricos de Aoki-Velloso (1975) e de Dcourt &

    Quaresma (1978).

    Baecher e Christian (2003) sumarizam, em um captulo de sua obra, dados

    sobre a variabilidade natural dos solos e como esta pode ser capturada por uma

    descrio probabilstica para uso em anlises de confiabilidade ou de risco. Os

    autores apresentam extensas tabelas onde constam parmetros de COV de

    diversas propriedades geotcnicas, bem como a distribuio de probabilidade que

    melhor representa a aleatoriedade nelas existente. Apontam ainda, os autores, que

    os dados so descritos muitas vezes por histogramas ou, por vezes, por funes

    analticas de distribuies de probabilidades, onde ambos, por serem mtodos

    capazes de tratar a amostra de um conjunto de dados, servem para a realizao de

    inferncias estatsticas e modelagens para decises de engenharia. A Figura 10

    exemplifica a comparao dos dados de NSPT descritos em forma de histograma com

    a melhor distribuio Normal aproximada para fins de modelagens.

  • 40

    Figura 10 Ajuste de distribuio Normal aos dados de NSPT. (adaptado de Baecher e Christian, 2003)

    Teixeira et al. (2012), ao caracterizarem o NSPT em uma situao problema,

    relatam que a incerteza em seus valores representa a prpria variabilidade inerente

    do solo, devido ao erro espacial e aos erros de eventuais tratamentos estatsticos.

    Neste trabalho, os autores apresentam o NSPT como uma varivel aleatria funo

    da profundidade, alm de indicarem que os dados, em determinada profundidade,

    podem ser aproximados a uma distribuio Normal.

    Em relao variabilidade espacial, Teixeira et al. (2012) citam que

    normalmente ignorada devido s dificuldades de aplicao prtica. No entanto,

    quando introduzida, a correlao espacial das variveis pode reduzir a variabilidade

    dos parmetros. Pode se dizer que realizar anlises probabilsticas sem considerar a

    correlao espacial, na direo vertical como o caso, torna-se uma escolha

    conservadora, mas tecnicamente incorreta (apud Lacasse e Nadim, 1996; Kulhawy e

    Phoon, 1996).

    Ribeiro (2008), ao explicar a natureza da varincia espacial de parmetros

    geotcnicos, introduz os conceitos derivados dos estudos de Vanmarcke (1977),

    dentre eles, a definio de escala de flutuao () - indicador que mostra a medida

  • 41

    ou grau de variao de um parmetro do solo, a exemplo de NSPT, numa direo de

    tendncia. Entretanto, ressalva que h poucos registros de valores das escalas de

    flutuao na literatura e que sua estimativa trabalhosa.

    Alves (2013) apresenta a Figura 11, adaptada de Bond e Harris (2008), que

    resume a inteno do Eurocdigo 7 (2007) no tratamento das variveis geotcnicas

    de campo e de laboratrio, no sentido de se deduzir valores apropriados dos

    parmetros geotcnicos, para uso racional, utilizando ferramentas estatsticas ou

    estimativas cautelosas, caso a caso, e nunca subestimando o conhecimento

    adquirido na caracterizao de parmetros geotcnicos.

    Figura 11 Caracterizao de parmetros geotcnicos (adaptado de Bond e Harris, 2008).

    2 NOES DE PROBABILIDADE E ESTATSTICA. FERRAMENTAS

    ESTATSTICAS E APLICAES ESPECFICAS

    Para Assis et al. (2002), Pacheco (2013) e Ribeiro (2008), a necessidade de

    dominar a teoria e a prtica da probabilidade e estatstica imperiosa, medida que

    o engenheiro geotcnico vem perseguindo quantificar e, de certa forma, controlar a

    variabilidade intrnseca aos projetos geotcnicos, oriunda da prpria disperso

    observada nos parmetros a eles inerentes.

  • 42

    Iniciando por Assis et al. (2002), os autores abordam que, sendo as

    propriedades dos materiais do solo e da rocha inerentemente variveis, os

    parmetros de resistncia do solo podem sofrer variaes em torno de seus valores

    adotados, o que leva a uma inevitvel convivncia com riscos de falhas em obras

    geotcnicas. A prpria metodologia proposta por Peck (1969), conhecida como

    Mtodo Observacional, previa ajustes no projeto durante sua execuo, de acordo

    com mudanas do seu comportamento. Ento, na fase de projeto, para se assumir

    determinado risco, h a necessidade de incorporar valores, crescentes ou

    decrescentes, ao risco da obra, o que, muitas vezes, feito de forma arbitrria. Este

    valor conhecido como Fator de Segurana (FS). Os mtodos estatsticos e

    probabilsticos aparecem, ento, como uma alternativa sistemtica de incorporar a

    variabilidade aos parmetros de projeto, possibilitando o clculo do risco de falha ou

    da confiabilidade destas estruturas geotcnicas.

    Pacheco (2013) relata que, at mesmo ensaios numa amostra de mesmo

    solo, podem apresentar diversos resultados, e que estas variveis esto associadas

    s distribuies estatsticas com mdia e desvio padro amostrais. Aponta este

    autor que h uma mudana de enfoque aos problemas de engenharia, onde a

    definio dos parmetros de projeto uma funo direta da incerteza associada, e

    que o conhecimento de probabilidade e estatstica permitir o clculo quantitativo do

    risco de insucesso, ou da runa.

    Em defesa dessa mudana de enfoque, Pacheco (2013) aborda que a

    quantificao do nvel de segurana de obras geotcnicas, a exemplo das

    fundaes, pelas abordagens clssicas, atravs de fatores de segurana, no leva

    em conta as incertezas das cargas atuantes e da resistncia da fundao. A

    implicao prtica dessa limitao que, dependendo da variabilidade (incerteza)

    das cargas e da resistncia da fundao, sua probabilidade de ruptura varivel,

    indicando que um mesmo fator de segurana pode implicar em nveis distintos de

    segurana, conforme Figura 12.

  • 43

    Figura 12 Mesmo fator de segurana global e diferentes probabilidades de runa (adaptado Aoki, 2009).

    Para Ribeiro (2008), as previses de fatores de segurana em fundaes so

    tradicionalmente feitas atravs de mtodos determinsticos, com base nos valores

    mdios dos parmetros do solo ou da rocha. Entretanto, a variabilidade desses

    parmetros gera incertezas nas estimativas determinsticas, com consequente risco

    de insucesso associado a uma probabilidade de ruptura. Para quantificar riscos de

    insucesso em estudos geotcnicos, faz-se necessrio o desenvolvimento de

    anlises de probabilidade e estatstica.

    2.1 Conceitos bsicos de Estatstica

    Segundo Ribeiro (2008), o tratamento estatstico est relacionado anlise

    de uma coleo de observaes, denominada amostra ou conjunto amostral, que

    visa caracterizar um fenmeno aleatrio de interesse e no prever o comportamento

    do fenmeno em si (anlise probabilstica). O tratamento do conjunto amostral pode

    ser realizado a partir da anlise grfica com a montagem de um grfico frequncia

    versus valores assumidos da varivel, denominado histograma. H ainda, para uma

    adequada apresentao de dados coletados de uma amostra, de forma que seu

    manuseio, visualizao e compreenso sejam simplificados, o uso de tabelas-

    resumo adequadas e de grficos como: Polgono de Frequncia, Ogiva e Grfico de

    Setores.

    Em qualquer anlise e/ou interpretao dos dados coletados, vrias medidas

    descritivas representando as propriedades de tendncia central, disperso e forma

    podem ser utilizadas para extrair e resumir as principais caractersticas deste

    Var R Var S

    Solicitao Resistncia

  • 44

    conjunto de dados. Se essas medidas descritivas resumidas forem calculadas por

    meio de uma amostra de dados, elas sero chamadas de estatsticas; caso sejam

    calculadas por meio de toda uma populao de dados, elas sero chamadas de

    parmetros, conforme Assis et al. (2002).

    Os parmetros mais comumente utilizados so a mdia amostral (mdia

    aritmtica) e a varincia amostral. A mdia amostral de uma varivel aleatria X

    definida pela equao 1:

    Sendo:

    = mdia aritmtica amostral;

    = observaes individuais;

    n = tamanho da amostra observada;

    Ribeiro (2008) ressalva a diferena entre a mdia amostral ( ) e a mdia da

    distribuio de probabilidade (). Enquanto a primeira relaciona os valores de um

    determinado conjunto de observaes, a segunda indica a mdia de toda a

    populao do fenmeno aleatrio.

    As medidas de variao refletem o grau de disperso ou de espalhamento

    dos dados. A varincia amostral - , equao 2, se relaciona com os quadrados

    dos desvios da varivel (observaes) em relao mdia , no total das n

    observaes; enquanto o desvio padro - a raiz quadrada positiva da varincia,

    conforme equao 3:

    Outra informao muito utilizada na avaliao de um conjunto de dados o

    coeficiente de variao da amostra de uma varivel aleatria X, COV(X), que

  • 45

    representa o desvio padro amostral como percentagem da mdia, conforme

    indicado na equao 4.

    (

    )

    A forma ou a maneira de como se distribuem os dados em relao mdia,

    caracterizando simetria ou assimetria, outra importante propriedade de uma

    amostra de dados.

    Uma populao representa a totalidade dos elementos dos quais se deseja

    conhecer o comportamento de uma caracterstica de interesse, podendo ser, por

    exemplo, o comportamento de um parmetro geotcnico. O grande desafio ajustar

    a melhor distribuio de probabilidades a essa populao a partir dos dados

    amostrais, ou melhor, a partir das estatsticas da amostra. Assim, os valores de

    mdia e varincia dos parmetros do solo selecionados como variveis aleatrias

    sero necessrios para inferir informaes da populao que se pretende modelar,

    tornando possvel a aplicao de mtodos probabilsticos em estudos geotcnicos.

    2.2 Conceitos bsicos de Probabilidade

    Os conceitos de experimento aleatrio, espao amostral, varivel aleatria,

    interpretaes da probabilidade, distribuio de probabilidades, funo densidade de

    probabilidade e momentos probabilsticos so essenciais ao entendimento deste

    captulo.

    Experimento Aleatrio a experincia para a qual o modelo de anlise

    probabilstica adequado, pois no se pode prever um resultado em particular,

    embora se possa enumerar todos os possveis, alm do que, ao repetir o

    experimento um grande nmero de vezes, possvel obter informaes regulares

    em termos de frequncias.

    O Espao Amostral definido como o conjunto de resultados possveis de um

    experimento conforme descrito acima, denominando-se evento a um subconjunto

    desse espao amostral.

  • 46

    Segundo Jones et al. (2002), as variveis aleatrias podem ser discretas ou

    contnuas, representando valores de um intervalo e expressas matematicamente por

    uma funo real Z(X), que associa elementos do espao amostral (, isto ,

    resultados de experimentos aleatrios, a elementos xi, tal que Z(X) = xi, conforme

    Figura 13.

    Figura 13 Ilustrao de varivel randmica, onde cada elemento do espao

    amostral corresponde a um valor real xi da varivel aleatria.

    Os axiomas da Teoria das Probabilidades podem ser resumidos em:

    a) Normalidade, p() = 1, onde o espao amostral;

    b) No Negatividade: p(A) 0; onde A qualquer evento do espao amostral;

    c) Aditividade: Se A F = , sendo A e F eventos mutuamente exclusivos

    p (A F) = p (A) + p (F);

    d) Evento Certo: p(A) = 1 e Evento Impossvel p(A) = 0;

    Em relao s interpretaes probabilsticas, destacam-se as seguintes

    formas:

    a) de Frequncia: p(Ai) = ; onde N o nmero total de eventos e Ni o

    nmero de resultados do evento Ai. Trata-se de interpretao objetiva, com a

    utilizao de clculos baseados em mtodos estatsticos;

    b) a Priori: calcula-se, a partir das estimativas iniciais, e utilizando mtodos

    probabilsticos, a probabilidade de insucesso ou de runa (pr) ou em termos dos

    respectivos fatores de segurana;

  • 47

    c) a Posteriori: trata-se da correo da probabilidade a priori, a partir de novas

    informaes, que so traduzidas matematicamente por funes de Verossimilhana.

    Cabral (2008) aplicou, para um extenso estaqueamento, conceitos de teoria

    Bayesiana s incertezas do parmetro aleatrio resistncia do solo durante a

    cravao da estaca, modelado por distribuies probabilsticas a priori, e que foi

    atualizado, isto , o parmetro teve sua variabilidade ou incerteza reduzidas por

    uma funo de mxima verossimilhana, que continha novas observaes obtidas

    dos registros de cravao, dando origem distribuio a posteriori, conforme

    ilustrado na Figura 14.

    Figura 14 Correo de distribuies de resistncia do solo durante a

    cravao da estaca (Cabral, 2008).

    Os conceitos de probabilidade condicional, eventos estatisticamente

    independentes, Teorema da Probabilidade Total e Teorema de Bayes, necessrios

    ao completo entendimento para a realizao de interpretaes probabilsticas a

    posteriori, tambm chamada de Atualizao Bayesiana, podem ser melhor

    consultados em Harr (1987), Cabral (2008), Baecher e Christian (2003) e Pacheco

    (2013).

    Segundo Assis et al. (2002), para se tomar decises em situaes onde est

    presente a incerteza, deve-se identificar a varivel aleatria de interesse e obter sua

    distribuio de probabilidades ou funo densidade de probabilidade fdp (X),

  • 48

    obtendo, a partir da, as caractersticas e os elementos necessrios para a tomada

    de deciso. Ao conhecer a funo densidade de probabilidade de uma varivel

    aleatria X, seja discreta ou contnua, pode-se determinar a sua probabilidade de

    ocorrncia.

    Uma varivel aleatria contnua aquela que pode assumir inmeros valores

    num intervalo de nmeros reais e medida numa escala contnua. Existem duas

    funes associadas a cada varivel aleatria contnua X: a funo densidade de

    probabilidade, simbolizada por fdp (X), e a funo cumulativa de probabilidade, ou

    funo de distribuio de probabilidade, representada por F(X).

    A funo fdp (X), sempre maior ou igual a zero para qualquer valor de X,

    aquela cuja integral de X = a at X = b, com (b a), d a probabilidade de que X

    assuma valores compreendidos no intervalo (a, b), ou conforme a equao 5.

    A funo cumulativa de probabilidade F(b) calculada conforme a equao 6.

    Para a tarefa da obteno da fdp(X), Miranda (2005) aborda que os

    momentos so quantidades que do boas ideias da tendncia central, de disperso

    e da assimetria de uma densidade de probabilidade. O 1 momento de um

    parmetro geotcnico ou varivel aleatria X, que corresponde mdia ou valor

    esperado E(X), representa uma medida de tendncia central da distribuio de

    probabilidade deste parmetro e pode ser calculada pela equao 7.

    Onde x so os valores assumidos pela varivel aleatria X e fdp(X) a funo

    densidade de probabilidade associada.

    O 2 momento de um parmetro geotcnico ou da varivel aleatria X, que

    corresponde varincia 2 ou V(X), mede a disperso da prpria distribuio de

    probabilidades, e pode ser escrito pela equao 8.

  • 49

    A partir da definio da varincia, o desvio padro () da densidade de

    probabilidade pode ser definido como sua raiz quadrada positiva, equao 9, sendo

    que um pequeno valor do desvio padro indica que existe pouca disperso em torno

    da mdia.

    Miranda (2005) ressalva que os momentos caracterizam a distribuio no

    apenas no que se refere sua centralidade e disperso, mas tambm com relao a

    outras caractersticas, como simetria e curtose, que so quantificadas pelos terceiro

    e quarto momentos respectivamente.

    Assis et al. (2002) relatam que, na engenharia, muitas variveis apresentam

    valores sempre maiores que zero ou concentrados em determinados intervalos e,

    por isso, h a necessidade de se ajustar, racionalmente, distribuies probabilsticas

    s variveis, conforme ilustrado na Figura 15. Este autor ainda acrescenta que

    modelos de Regresso Linear e o uso do Mtodo de Kolmorogov-Smirnov so

    bastante utilizados na definio da distribuio que melhor se ajusta a determinado

    conjunto de dados.

    Figura 15 Seleo mais racional da distribuio de probabilidades (adaptado de Assis et al., 2002)

    X parmetro geotcnico varivel

    Freq.

    ou

    fdp(x)

  • 50

    Pacheco (2013) enfatiza que o grande desafio est no estabelecimento das

    distribuies de probabilidades das variveis envolvidas nos problemas de anlise

    de confiabilidade em engenharia, a exemplo da escolha de uma distribuio a priori

    para se realizar uma atualizao de informaes via abordagem Bayesiana. Dentre

    as distribuies de probabilidades que procuram modelar as variveis aleatrias

    envolvidas em problemas geotcnicos, o autor cita as mais usuais, como a normal

    ou gaussiana, exponencial, lognormal, beta, gama, qui-quadrado e t de Student.

    Baecher e Christian (2003), ao estudarem estruturas geotcnicas de rejeitos

    de minerao, ilustraram, conforme Tabela 2, as distribuies que melhor se

    ajustaram a determinadas variveis obtidas por medidas de campo ou laboratrio.

    Tabela 2 Melhores funes de densidade de probabilidades ajustadas. (adaptado de Baecher e Christian, 2003),

    Na sequncia, exemplos de distribuies de probabilidades procuram mostrar

    que modelos tericos identificados por parmetros so utilizados para representar o

    comportamento da populao de determinadas variveis aleatrias (Ribeiro, 2008).

    Melhores distribuies de densidade de probabilidade ajustadas para vrias minas de rejeitos de minrios, que passaram no teste de Kolmogorov-Sminorv com 5% de significncia

    (adaptado de Baecher et al. 1983)

    Minrio

    Mina

    Ensaio

    Distribuio Dados Brutos

    Distribuio Resduos

    Cobre Chambishi Chibuluma China Chingola Magna Mindola

    CPT CPT

    SPT CPT

    Vane teste

    CPT

    - Beta

    Todas

    - Normal

    Beta lognormal

    Gama -

    - Normal

    Beta Normal

    - Normal

    Beta lognormal

    -

    Urnio Colorado

    SPT Triaxial

    - Normal

    - -

    Gipsita

    Texas SPT

    Normal Beta

    lognormal Gama

    Normal

  • 51

    Conforme Viali (2000), a Distribuio Normal ou Gaussiana um dos

    principais modelos de distribuio contnua. Sua importncia para a Estatstica

    prtica reside no fato de que muitas variveis encontradas na natureza se distribuem

    de acordo com o modelo normal. Sua importncia tambm se deve ao fato de ser

    uma distribuio limite, uma vez que o Teorema do Limite Central enuncia essa

    tendncia para a distribuio de qualquer varivel aleatria cujo nmero de

    repeties do experimento, ou de amostragens, tenda ao infinito.

    Uma varivel aleatria contnua X tem uma distribuio normal (ou

    Gaussiana) se sua funo densidade de probabilidade obedecer a equao 10.

    Na equao 10, X uma varivel aleatria contnua, com mdia ou valor

    esperado E(X) = , varincia V(X) = 2 e desvio padro = , sendo normalmente

    distribuda e representada por N(,).

    E ainda, se X uma N (, ), ento a varivel aleatria Z, tal que

    Z = (X - ) / , tem distribuio normal padro ou reduzida, com = 0 e = 1,

    significando que qualquer curva normal poder ser padronizada, mediante esta

    transformao. A varivel aleatria Z: N (0, 1) apresenta o esquema grfico de

    distribuio de probabilidade de ocorrncia conforme a Figura 16.

    Figura 16 - Probabilidades de ocorrncia - Distribuio Normal padro.

    A funo de distribuio de uma Normal padro dada pela equao 11,

    sendo que esta integral equivale ao valor (z), e pode ser lido como o valor

  • 52

    tabelado de z, significando a probabilidade da varivel aleatria contnua,

    Z = (X -) / , assumir valores esquerda (abaixo de) de um valor particular z.

    Conforme Ribeiro (2008), sendo Y uma varivel aleatria com distribuio

    gaussiana, a varivel aleatria X possui densidade lognormal se ln(X)=Y, isto ,

    quando o seu logaritmo for normalmente distribudo. Esta distribuio

    caracterizada por possuir somente valores positivos. Sua forma ilustrada na Figura

    17, enquanto a equao 12 descreve o comportamento da funo lognormal, com

    mdia e varincia 2, que podem ser determinadas pelos valores de E(x) e s2,

    amostrais.

    Figura 17 Forma da distribuio Lognormal (Ribeiro, 2008).

    (

    )

    Pacheco (2013) apresenta a formulao necessria soluo do problema de

    interesse que muitas vezes se apresenta na engenharia geotcnica, tratando-se de,

    uma vez conhecidos os valores de x, x e COV (x) de uma amostra de observaes

    com distribuio lognormal, determinar y e y, mdia e desvio padro da

    distribuio normal referente, para se conseguir realizar os clculos probabilsticos

    necessrios.

  • 53

    Assis et al. (2002) enfatizam que a distribuio lognormal utilizada em

    situaes onde a varivel de interesse apresenta assimetria esquerda ou para

    variveis que fisicamente no possuem valores inferiores a zero, considerando,

    como exemplo, a distribuio de probabilidades dos fatores de segurana (FS) em

    um projeto de estabilidade de talude em solo, ou seja, diante da ampla variabilidade

    de seus principais parmetros (c, tg), torna-se possvel a obteno de fatores de

    segurana muito prximos de zero, porm jamais abaixo deste (valores negativos).

    Alm das duas distribuies anteriormente apresentadas, tambm

    importante para esta pesquisa, a distribuio t de Student, que tem sua funo de

    densidade de probabilidade escrita pela equao 13, onde se observa a incgnita -

    graus de liberdade - como nico parmetro, alm de utilizar a funo Gama no

    numerador e denominador.

    ( )

    Para qualquer valor inteiro e positivo de , a distribuio t assume uma forma

    muito parecida com a curva Normal-padro, sendo que a aproximao ser tanto

    melhor quanto maior for o valor de , conforme se constata na Figura 18, que

    apresenta a forma da distribuio de Student para alguns valores de .

    Figura 18 Grficos de t de Student para diferentes graus de liberdade (Viali,

    2000).

    A distribuio t de Student importante para inferncias sobre mdias

    populacionais; e uma varivel aleatria qualquer X, que tiver essa distribuio, ter

    E(X) = = 0 e V(X) = 2 = ( - 2) / . Em relao soluo da equao 13, o que

  • 54

    tabelado a funo inversa (percentis) em relao rea situada direita

    (unilateral) de cada curva, isto , a tabela retorna um valor t tal que p(X t) =

    (unilateral), com % de probabilidade.

    2.3 Ferramentas Estatsticas

    Os conceitos de inferncia estatstica, estimao de intervalos de confiana e

    regresso linear so necessrios para o melhor entendimento da ferramenta

    estatstica que se pretende utilizar neste trabalho de pesquisa.

    possibilidade de realizar afirmaes sobre as caractersticas de uma

    populao a partir da observao de uma amostra, d-se o nome de inferncia

    estatstica, e visa ao uso de uma amostra para concluir sobre o todo. A condio

    para que seja vlida a aplicao da teoria probabilstica a uma amostra de tamanho

    n, que esta seja aleatria, e isto se dar, se e somente se, a mesma for obtida a

    partir de uma populao de tamanho N, onde cada subconjunto de n elementos tiver

    a mesma probabilidade de ser selecionado (Ribeiro, 2008).

    Baecher e Christian (2003) destacam um captulo de sua obra aos mtodos

    estatsticos capazes de estabelecer inferncias sobre observaes amostrais,

    mencionando as duas diferentes escolas, isto , a de abordagem frequencista e a de

    abordagem Bayesiana, sendo esta ltima, para a prtica geotcnica, melhor

    avaliada pelos autores.

    Para Viali (2000), a inferncia estatstica tem por objetivo fazer

    generalizaes sobre uma populao com base em valores amostrais e pode ser

    feita estimando os parmetros por ponto ou por intervalos.

    Ainda s