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    UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE - UERN Campus Avanado do Serid - Governadora Wilma Maria de Faria Faculdade de Filosofia Curso: Licenciatura em Filosofia Prof. Galileu Galilei Medeiros de Souza Histria da Filosofia

    Prof. Ms. Galileu Galilei Medeiros de Souza1

    Arthur Schopenhauer e o Sentido da Vida

    1. A filosofia de A. Schopenhauer

    A crtica schopenhaueriana procurar sempre contestar uma sua nada

    original inspirao a partir da filosofia indiana e budista, a sua

    documentada desconformidade entre filosofia e estilo de vida,2 o seu

    pessimismo e sobretudo a sua interpretao (ou m interpretao) desta

    vez original e prpria da filosofia kantiana. De fato, o ponto de partida

    da filosofia de Schopenhauer a diferenciao kantiana entre fenmeno e

    nmeno; interpretada, entretanto, em um especial modo, que segundo a

    Histria da Filosofia de Abagnano no h nada em comum com aquela

    genuinamente kantiana:

    Para Kant o fenmeno a realidade, a nica realidade acessvel ao

    conhecimento humano; e o nmeno o limite intrnseco deste conhecimento.

    Para Schopenhauer o fenmeno aparncia, iluso, sonho, aquilo que na

    filosofia indiana se diz com o nome de velo de Maya; e o nmeno a

    realidade que se esconde atrs do sonho e iluso. Desde o incio Schopenhauer

    reconduz o conceito de fenmeno a um significado que era totalmente

    estranho ao esprito de Kant [...] E sobre esta base, apresenta a sua filosofia

    como a integrao necessria daquela de Kant: ele descobriu a estrada de

    acesso ao nmeno que Kant declarava inacessvel.3

    1 O Prof. Galileu Galilei Medeiros de Souza mestre em filosofia pela Pontifcia

    Universidade Gregoriana de Roma, mestre em biotica pela Universidade Pontifcia

    Regina Apostolorum de Roma e professor da Universidade do Estado do Rio Grande do

    Norte. 2 Quanto a tal, afirmar a j clssica Histria da Filosofia de Abagnano: La sua

    personalit cade interamente fuori della sua stessa filosofia, la quale perci rimane priva

    del maggior pregio di ogni filosofia: la testimonianza viva del filosofo che lha

    elaborata (N. ABAGNANO, Storia della filosofia, III, 151). 3 Per Kant il fenomeno la realt, lunica realt accessibile alla conoscenza umana; e il

    noumeno il limite intrinseco di questa conoscenza. Per Schopenhauer il fenomeno

    apparenza, illusione, sogno, ci che nella filosofia indiana detto velo di Maya; e il

    noumeno la realt che si nasconde dietro il sogno e lillusione. Fin da principio

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    UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE - UERN Campus Avanado do Serid - Governadora Wilma Maria de Faria Faculdade de Filosofia Curso: Licenciatura em Filosofia Prof. Galileu Galilei Medeiros de Souza Histria da Filosofia

    No obstante tais crticas, no se poder negar o peso e a influncia que

    Schopenhauer desempenhar sobre uma grande parte da filosofia ocidental,

    em especial aquela dita continental4. A herana schopenhaueriana se

    coligar sobretudo aos seus aspectos assumidos pela critica nietzscheniana,

    em especial presentes em sua obra O mundo como vontade e representao

    (1819). Entretanto, para atingi-los devemos promover uma qualquer

    considerao sobre a sua tese doutoral: A qudrupla raiz do princpio de

    razo suficiente (1813).

    1.1 Qudrupla raiz do princpio de razo suficiente (1813)

    Nesta obra, o jovem Schopenhauer procurar dar uma interpretao

    sistemtica da totalidade do real, sustentando que o sentido de tudo poderia

    ser colhido em uma fundamental necessidade que acompanharia todo o

    ciclo do cosmo, desde a matria bruta mais elementar at os animais mais

    sofisticados, tendo ao cume o homem. A tal fundamental necessidade, o

    nosso autor dar o nome de princpio de razo suficiente. Este recebe sua

    justificao, segundo Schopenhauer sob o pressuposto do atesmo

    assumido como axioma de base, com o qual Nietzsche concordar

    substancialmente a partir do fato que todo ser nos dado somente

    empiricamente, sendo assim necessrio, ou seja, seguindo uma causa

    inevitavelmente:

    O princpio de razo suficiente, em cada forma sua, o nico portador de toda

    necessidade. Porque a necessidade no possui nenhum outro sentido prprio e

    claro, que aquele da inevitabilidade do efeito, quando a causa foi posta. Por

    isto, toda necessidade condicionada; uma necessidade absoluta, ou seja, no

    condicionada, ento uma contradictio in adjecto.5

    Schopenhauer riconduce il concetto del fenomeno ad un significato che era totalmente

    estraneo allo spirito di Kant [] E su questa base, presenta la sua filosofia come

    lintegrazione necessaria di quella di Kant: egli ha scoperto la via daccesso al noumeno

    che Kant dichiarava irraggiungibile (N. ABAGNANO, Storia della filosofia, III, 149-

    150). 4 A respeito da proposta da subdiviso da filosofia ocidental em duas grandes tradies

    (analtica e continental) ver: F. DAGOSTINI, Analitici e continentali (em especial o

    captulo 2 da parte I). 5 Il principio di ragione sufficiente, in ogni sua forma, lunico portatore di ogni

    necessit. Perch la necessit non ha nessun altro senso proprio e chiaro, che quello

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    UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE - UERN Campus Avanado do Serid - Governadora Wilma Maria de Faria Faculdade de Filosofia Curso: Licenciatura em Filosofia Prof. Galileu Galilei Medeiros de Souza Histria da Filosofia

    Pouco adiante, nesta mesma obra, tal princpio assumir quatro formas

    (rationes), cada uma das quais expresso de uma necessidade:

    1) a necessidade lgica segundo o princpio da ratio conoscendi, graas a qual

    a concluso deve seguir em modo inconfutvel, uma vez que as premissas

    foram reconhecidas como vlidas; 2) a necessidade fsica, segundo a lei da

    causalidade, graas a qual o efeito no pode no se suceder, apenas a causa se

    seja apresentada; 3) a necessidade matemtica, segundo o princpio da ratio

    essendi, graas a qual toda relao expressa por uma verdadeira proposio

    geomtrica assim como esta a exprime e todo clculo justo permanece

    inconfutvel; 4) a necessidade moral, graas a qual todo homem, e ainda todo

    animal, deve cumprir, apenas o motivo se apresente, aquela ao, que somente

    adequada ao seu carter natural e imutvel e por isto sucede tanto

    inevitavelmente como todo efeito a sua causa; todavia, no se deixa prever

    assim facilmente6

    Observando cuidadosamente tal tese evidente que a sua natural

    conseqncia ser a afirmao do fatal determinismo de toda a realidade,

    inclusive do homem, ou melhor, a negao da liberdade. Todavia, como a

    filosofia pde chegar a uma tal constatao? A cadeia da necessidade

    acabaria por desembocar na autoconscincia do absoluto determinismo? O

    dar-se conta de um tal estado de coisas de alguma forma no marcaria j

    uma certa distncia dos condicionamentos, ou a possibilidade de fund-la?

    della inevitabilit delleffetto, quando a causa stata posta. Perci ogni necessit

    condizionata; una necessit assoluta, cio non condizionata, dunque una contradictio

    in adjecto (A. SCHOPENHAUER, La quadruplice radice del principio di ragion

    sufficiente, 178). 6 1) la necessit logica secondo il principio della ratio congnoscendi, grazie alla quale

    la conclusione deve seguire in modo inconfutabile, una volta che le premesse sono state

    riconosciute valevoli; 2) la necessit fisica, secondo la legge della causalit, grazie alla

    quale leffetto non pu mancare, appena la causa siasi presentata; 3) la necessit

    matematica, secondo il principio della ratio essendi, grazie alla quale ogni relazione

    espressa da una vera proposizione geometrica cos come essa la esprime ed ogni

    calcolo giusto rimane inconfutabile; 4) la necessit morale, grazie alla quale ogni uomo,

    anche ogni animale, deve compiere, appena il motivo siasi presentato, quella azione, che

    solo adeguata al suo carattere naturale ed immutabile e perci ora succede tanto

    inevitabilmente come ogni effetto a ogni causa; tuttavia non si lascia prevedere cos

    facilmente (A. SCHOPENHAUER, La quadruplice radice del principio di ragion

    sufficiente. 178-179).

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    1.2 O mundo como vontade e representao (1819)

    Para responder s questes anteriormente apresentadas, em

    Schopenhauer imprescindvel o referimento a seu especial modo de

    interpretar a filosofia kantiana. Logo no incio de O mundo como vontade e

    representao afirmar categoricamente: O mundo a minha

    representao. Constatao esta segundo ele no indita, mas

    correspondente descoberta fundamental que a filosofia moderna de

    Descartes a Berkeley havia trazido tona. Dir Schopenhauer a tal respeito

    que: Nada mais certo que: ningum pode sair de si para identificar-se

    imediatamente com as coisas diversas de si; tudo aquilo de que ele possui

    conhecimento seguro, assim imediato, encontra-se dentro da conscincia7.

    Estar dentro conscincia significa ser representado.

    A representao possuir, por seu turno, dois plos sempre presentes,

    cada um dos quais inexistentes sem a presena do outro: um sujeito que

    tudo conhece, mas no nunca por ningum nem mesmo por si mesmo