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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE UNESC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MESTRADO EM EDUCAÇÃO MARIA ISABEL BORBA ALAMINI A DISCURSIVIDADE E O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: UM OLHAR SOBRE O PPP DA REDE MUNICIPAL DE CRICIÚMA (SC) Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade do Extremo Sul Catarinense UNESC, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação Orientador: Prof. Dr. Gladir da Silva Cabral CRICIÚMA 2015

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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

MESTRADO EM EDUCAÇÃO

MARIA ISABEL BORBA ALAMINI

A DISCURSIVIDADE E O PROJETO POLÍTICO

PEDAGÓGICO: UM OLHAR SOBRE O PPP DA REDE

MUNICIPAL DE CRICIÚMA (SC)

Dissertação apresentada ao

Programa de Pós-graduação em

Educação da Universidade do

Extremo Sul Catarinense –

UNESC, como requisito parcial

para a obtenção do título de Mestre

em Educação

Orientador: Prof. Dr. Gladir da

Silva Cabral

CRICIÚMA

2015

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

A318d Alamini, Maria Isabel Borba.

A discursividade e o projeto político pedagógico : um

olhar sobre o APP da rede municipal de Criciúma (SC) /

Maria Isabel Borba Alamini ; orientador: Gladir da Silva

Cabral. – Criciúma, SC : Ed. do Autor, 2016.

121 p. : il. ; 21 cm.

Dissertação (Mestrado) - Universidade do Extremo Sul

Catarinense, Programa de Pós-Graduação em Educação,

Criciúma, SC, 2016.

1. Projeto político pedagógico. 2. Escolas municipais –

Planejamento educacional. 3. Escolas municipais – Proposta

pedagógica. 4. Análise do discurso. 5. Educação –

Finalidades e objetivos. I. Título.

CDD. 22ª ed. 371.207

Bibliotecária Rosângela Westrupp – CRB 14º/364

Biblioteca Central Prof. Eurico Back - UNESC

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Agradeço a todos que, de uma

maneira ou de outra, me

acompanharam nesse percurso e

me ajudaram a concretizar um

sonho.

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O discurso não é simplesmente

aquilo que traduz as lutas ou os

sistemas de dominação, mas

aquilo porque, pelo que se luta, o

poder do qual nos queremos

apoderar.

Michel Foucault

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RESUMO

Esta dissertação se propõe a analisar os discursos que circulam na

elaboração e implantação do Projeto Político Pedagógico (PPP) da Rede

Municipal da Cidade de Criciúma, Estado de Santa Catarina, a fim de

identificar as diferentes vozes que perpassam neste documento. Esta

análise é fundamentada nas teorias de autores como Bakhtin, Pêcheux e

Orlandi, apropriados pela Análise do Discurso (AD) da escola francesa.

Entendendo que a educação e o ambiente escolar são espaços

discursivos permeados de relações de poder, é objetivo desta pesquisa,

através da análise de segmentos textuais selecionados e extraídos do

PPP, interpretar os sentidos, inclusive políticos, que são atribuídos às

falas dos responsáveis pela elaboração e implantação desse projeto.

Analisar os discursos sobre educação, a partir da perspectiva da AD,

pode ajudar a compreender as políticas educacionais e partidárias,

historicamente entrecruzadas no cotidiano escolar. Não é de interesse

dessa dissertação legitimar ou julgar uma determinada política de

governo, nem apontar soluções para os problemas educacionais. Refletir

sobre educação, à luz da AD, vai ajudar a encontrar os sentidos, as

ideologias e a historicidade presentes indelevelmente nos discursos dos

sujeitos inscritos nesse cenário.

Palavras-chave: Educação. Plano Político Pedagógico. Análise de

Discurso. Discursos e Sentidos.

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ABSTRACT

This dissertation aims at analyzing the Pedagogical Political Plan of

Criciúma (SC) municipal schools in order to identify the different voices

that echo in the pedagogical discourses. This analysis is based on the

theoretical ideas of Bakhtin, Pêcheux, and Orlandi, in connection with

the French school of Discourse Analysis. Focusing on textual segments

selected from the PPP, the discourses and voices in the document will be

identified and analyzed in order to explicit the meanings attributed to

State and school politics, teachers, and students. The analysis of the

pedagogical discourses from the perspective of Discourse Analysis can

help to better understand the forms of subjugation to the official norms

and laws, considering that into the PPP move regulation discourses and

operational actions. My interest in this dissertation is not legitimizing or

judging any specific governmental politics, nor proposing solutions to

educational problems. The Discourse Analysis on the contrary, focus on

the historicity of meanings and the opacity of language used by the

authors of the PPP.

Keywords: Education. Pedagogical Political Plan. Discourse Analysis.

Discourses and Meaning.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Símbolo de Criciúma/SC ..................................................... 71 Figura 2 – Mapa do Brasil e do Estado de Santa Catarina .................... 71 Figura 3 – Mapa e bandeira de Criciúma .............................................. 72 Figura 4 – Organograma do processo de Construção do PPP ............... 75 Figura 5 – Capa do PPP da Rede Municipal de Educação .................. 105

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AD Análise do Discurso

DP Discursos Pedagógicos

FD Formação Discursiva

FI Formação Ideológica

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

LDB Lei de Diretrizes e Bases

MEC Ministério da Educação

ONGs Organizações Não Governamentais

PDE Plano de Desenvolvimento da Educação

PDE-Escola Plano de Desenvolvimento da Escola

PNE Plano Nacional de Educação

PPP Projeto Político Pedagógico

PROEJA Programa de Ensino de Jovens e Adultos

PT Partido Trabalhista

SC Santa Catarina

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................ 19 2 DA LÍNGUA AO DISCURSO: UM ITINERÁRIO

CONCEITUAL .................................................................................... 25 3 ANÁLISE DE DISCURSO: UMA NOVA DISCIPLINA ............. 31 4 ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA ANÁLISE DO

DISCURSO .......................................................................................... 39 4.1 TEXTO E CORPUS ........................................................................ 47 4.2 DISPOSITIVOS E METODOLOGIA ............................................ 47 4.3 A ANÁLISE DO DISCURSO E A SUA TIPOLOGIA .................. 50 5 PLANO POLÍTICO PEDAGÓGICO: CONSTITUIÇÃO

DISCURSIVA E ORIGEM SOCIAL ................................................ 55 5.1 MOVIMENTOS EDUCACIONAIS E SEUS REFLEXOS NA

EDUCAÇÃO ......................................................................................... 55 5.2 A LDB E A PROPOSIÇÃO DA EXISTÊNCIA DO PLANO

POLÍTICO PEDAGÓGICO (PPP) ....................................................... 59 5.3 PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: IMPOSIÇÃO OU

TRANSFORMAÇÃO SOCIAL? .......................................................... 64 6 A REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE CRICIÚMA/SC E O

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO .......................................... 71 6.1 A CIDADE DE CRICIÚMA/SC ..................................................... 71 6.2 O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO PROJETO POLÍTICO

PEDAGÓGICO ..................................................................................... 73 6.3 ELABORAÇÃO DO PPP DA REDE MUNICIPAL DE

CRICIÚMA/SC ..................................................................................... 74 6.4 ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO DO PPP....................... 76 7 ANÁLISE DE DADOS – RECORTES DE TEXTOS

EXTRAÍDOS DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO ........... 79 7.1 A VOZ DO PREFEITO .................................................................. 80 7.2 A VOZ DA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO ............................... 85 7.3 A VOZ DO ASSESSOR ................................................................. 90 7.4 AS RAZÕES PARA A CONSTRUÇÃO DO PPP ....................... 100 7.5 A COMUNICAÇÃO DA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO – COR

E SLOGAN .......................................................................................... 103 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................ 111 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................ 113

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1 INTRODUÇÃO

A Educação é responsável pela formação humana dos indivíduos,

pela construção do conhecimento, pela propagação da cultura de um

povo, pela sobrevivência da sociedade, como também pela socialização

dos indivíduos. Historicamente, por meio dela se espera promover a

ascensão e a inclusão social de todos os cidadãos. A educação é vista

como um dos mais importantes setores para o desenvolvimento de uma

nação e está vinculada à qualidade de vida e possibilidade de acesso ao

mercado de trabalho. No Brasil, discutida, analisada e reinventada em

diversos períodos, passou por uma série de reformas que estão ligadas a

plataformas políticas que estabelecem a educação como índice e

dispositivo de desenvolvimento social, meio de divulgação de projetos

políticos e até mesmo de propaganda eleitoral.

Sendo uma área fundamental para a sociedade, a educação e a

escola têm sido objetos de estudo nas mais diversas áreas do

conhecimento, vistas de perspectivas diferentes, em uma busca

incessante de se encontrar caminhos para entendê-la ou transformá-la.

Os governos federal, estadual e municipal, por meio de leis e decretos,

procuram estabelecer procedimentos unificados e básicos na busca da

melhoria da educação nacional, com foco, ora no aluno, ora no

professor.

Nesse cenário, sendo a escola um local onde a diversidade é uma

constante, onde imperam as relações hierárquicas, a disciplina, a

autoridade, encontra-se um campo fecundo para o aparecimento dos

mais diversos discursos, com os mais diversos sentidos. Os Projetos

Políticos Pedagógicos (PPP) são espaços discursivos, dentro da escola,

que têm nos seus pressupostos mais importantes a autonomia e a

participação de todos os envolvidos no processo da educação.

Foi pensando nesse espaço que foi produzida esta dissertação

intitulada “A discursividade e o Projeto Político Pedagógico - um olhar

sobre o PPP da Rede Municipal de Criciúma (SC)”. As questões que se

pretende discutir aqui estão ligadas às seguintes problematizações: que

discursos circulam nos documentos oficiais da Secretaria da Educação

da cidade de Criciúma (SC)? Que procedimentos e estratégias

discursivas esses textos adotam? Para encontrar as respostas, este

trabalho tem como objetivo analisar e interpretar os discursos

pertinentes à educação pública municipal, partindo das vozes dos

responsáveis pela elaboração e implantação do Projeto Político

Pedagógico da Rede Municipal de Criciúma (SC), em 2004.

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Levando-se em consideração a necessidade de encontrar

caminhos na busca dessas respostas, esta pesquisa tem como objetivos

específicos:

Identificar os diferentes significados da linguagem, na visão de

diversos autores, entendendo o discurso além da abordagem

linguística;

Identificar e conceituar os elementos constitutivos do discurso,

que compõem a teoria da Análise do Discurso;

Entender a construção dos Projetos Políticos Pedagógicos,

segundo a LDB;

Conhecer a construção constitucional do PPP da Rede

Municipal de Criciúma (SC), de 2004

Recortar fragmentos de textos, extraídos do PPP, que podem

dar pistas, que possibilitem analisar e entender o funcionamento

do discurso no PPP;

Analisar os recortes de textos seguindo os conceitos da AD para

entender a construção discursiva do PPP;

Analisar, por meio da AD, o papel político implícito no discurso

do PPP.

Para uma melhor compreensão, é importante entender o papel e a

posição dos PPPs dentro do ambiente educacional. Conforme orientação

do Governo Federal, com base na Lei de Diretrizes e Base (LDB), nº

9.394, o Projeto Político Pedagógico deve ser elaborado em um trabalho

conjunto envolvendo a coletividade, docentes e discentes. Nessa

perspectiva, o PPP propõe a reflexão e a discussão crítica sobre os

problemas da sociedade e da educação, com a intenção de encontrar

alternativas que possam intervir na realidade. Dessa forma, ao se colocar

como espaço de construção coletiva, esse documento deve direcionar

sua constituição para consolidar e cumprir o seu papel na socialização

do conhecimento, definindo qual o eixo e a finalidade da produção do

trabalho escolar. Assim, o PPP abriga uma formação discursiva que

estabelece a responsabilidade da própria instituição escolar e de todos os

envolvidos no processo educativo.

Sendo historicamente um ambiente de tensões e de disputas, a

escola abre espaço para uma multiplicidade de discursos que podem ser

analisados, no caso desta dissertação, à luz da teoria da Análise do

Discurso (AD) da linha francesa. O que se pretende investigar aqui é a

construção discursiva presente no PPP da Rede Municipal de Educação

de Criciúma (SC), com o propósito de compreender o funcionamento

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desses discursos. Dessa forma, o PPP passa a ser o corpus dessa

pesquisa.

Sendo assim, a Análise do Discurso, que nas palavras de Orlandi

(1994, p. 55), "tem seu ponto de apoio na reflexão que produz sobre o

sujeito e o sentido, um relativamente ao outro, já que considera que, ao

significar, o sujeito se significa", se apresenta como uma das

possibilidades de compreender o fenômeno da linguagem e as variadas

funções e movimentos do discurso. Uma vez que, para a AD, a

interpretação é um dos aspectos mais importantes da análise, a pergunta

crucial na sua essência é: o que o texto significa? Outro ponto

fundamental na Análise de Discurso é a noção de que todo texto sempre

fala muito mais do que aparenta ou gostaria de falar, pois a superfície

discursiva vem carregada de material produzido pelo inconsciente do

sujeito falante.

Não é interesse desta pesquisa analisar a linguagem como um

sistema de códigos e regras, mas sim pensar na linguagem como um

fenômeno social de interação verbal, carregado de interpretações

desencontradas, de incompletude, de ideologias e de história. Pela

análise do discurso, percebe-se que é impossível nos separarmos dos

equívocos e da opacidade da linguagem. Orlandi declara que não há

neutralidade nos mais simples dos signos usados no cotidiano, que não

há imparcialidade nas relações e que a entrada no simbólico é

irremediável e permanente, porque estamos comprometidos com as

ideologias, os sentidos e o político (ORLANDI, 1999).

Outro ponto importante é relembrar que a pesquisa é um processo

formal e sistemático, baseado em referenciais teóricos de autores

reconhecidos e em metodologias científicas, de busca por respostas a

questionamentos. Esses questionamentos surgem com o propósito de

alcançar novos conhecimentos para que sejam compartilhados com a

comunidade acadêmica, em benefício da sociedade. Inerente, também, à

pesquisa é o planejamento, para que se obtenham informações

confiáveis e adequadas aos objetivos almejados e para que sejam feitas

análises criteriosas e dentro da cientificidade.

Como parte do planejamento, a escolha da metodologia é outro

passo de grande importância no trabalho científico. Ela deve se ajustar

aos propósitos da investigação, de maneira que conduza o pesquisador

por um caminho seguro, respeitando o rigor acadêmico. O importante é

que o método a ser utilizado se adapte e sirva aos objetivos da pesquisa

que está sendo realizada. A Análise de Discurso, cujos conceitos são

fundamentais para esse trabalho, no entanto, ressalta que não há, para

essa ciência, uma metodologia única e nem específica a ser utilizada,

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pois o discurso é calcado em movimentos dialógicos, repletos de

situações interpretativas e subjetivas.

Nesta proposta de pesquisa, a metodologia mais apropriada é a

documental, que busca a análise de documentos que ainda não foram

analisados ou que dão margem a outros tipos de interpretações

complementares. Este tipo de pesquisa se fundamenta na análise do

contexto, da função do(s) autor(res), da autenticidade e confiabilidade

do texto-objeto e os conceitos que fundamentam a problematização.

Ainda pensando em metodologia, pode-se dizer que a abordagem

da pesquisa é de caráter qualitativo, levando-se em conta que esse tipo

de abordagem se preocupa com a compreensão e a interpretação dos

fenômenos sociais e seus significados. Requer, também, uma

compreensão do contexto e do texto analisado, para que se possa

entender e acompanhar a apropriação do documento pesquisado. Para

Bakhtin (1992), a língua é uma entidade viva, um instrumento de

mediação perpetuado no tempo, que se transforma no falar e agir

humanos. Por isso, a linguagem se caracteriza como um fenômeno

eminentemente social e constitutivo de toda manifestação cultural.

Partindo desse pressuposto, o Projeto Político Pedagógico se

apresenta como um documento que tem uma proposta sócio-cultural,

que exige o comprometimento de todos os envolvidos no processo

educativo: professores, equipe técnica, alunos, pais e a comunidade

como um todo. A prática de construção de um Projeto Político

Pedagógico deve estar amparada por concepções teóricas sólidas e deve

supor o aperfeiçoamento e a formação de seus agentes. O PPP deve, de

fato, mostrar a escola com sua cultura organizacional, suas

potencialidades e suas limitações. Nessa perspectiva, ao se colocar como

espaço de construção coletiva, esse documento deve propor uma

reflexão e provocar uma discussão crítica sobre os problemas da

sociedade e da educação, a fim de encontrar caminhos para uma

revolução social.

Para exemplificar, fortalecendo a importância da pesquisa sobre a

construção e implantação do PPP, pode-se citar o livro de Ilma Passos

Alencastro Veiga: Projeto Político Pedagógico da Escola: uma

construção Coletiva (2006) e a dissertação de Rose Margareth

Reynaud: Projeto Político Pedagógico escolar: Instrumento de

Mudança ou a Própria Mudança? A escola do Ceará, uma experiência a ser compartilhada (2009). Essas dissertações, pela suas

relevâncias, servem de fonte teórica para essa pesquisa.

Importante ressaltar que o Projeto Político Pedagógico da Rede

Municipal de Criciúma (SC) foi construído dentro dos preceitos e

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normas descritas pela LDB. O PPP municipal analisou a realidade local,

suas necessidades e com base nelas elaborou o documento.

No capítulo 2 desta dissertação, com o intuito de atender os

objetivos desta pesquisa, é apresentado um itinerário histórico-

conceitual, que distingue as diferentes definições de língua, segundo a

visão de diferentes autores. Neste caminho, o estudo da linguagem se

transforma e chega na Análise de Discurso da linha francesa, que se

apresenta como uma nova teoria, apresentada no capítulo 3 e, como já

citado, base teórica dessa dissertação.

No capítulo 4, num outro momento deste trabalho, são citados

autores como Bakhtin, Pêcheux e Orlandi, entre outros, com conteúdos

fundamentais para o entendimento da Análise de Discurso, como

também são apresentados os elementos constitutivos dessa área de

estudo: a linguagem.

Na sequência, capítulo 5, após apresentar o processo de

construção do PPP da Rede Municipal, e após a apresentação da cidade

de Criciúma (SC), no capítulo 6, é dado início à análise de dados da

pesquisa, sob o prisma teórico da AD. A análise, propriamente dita, no

capítulo 7, é feita por meio de segmentos textuais, selecionados e

extraídos do PPP, nos quais serão identificados os discursos e as vozes

dos responsáveis pela elaboração desse documento, identificando os

sentidos que lhes foram atribuídos.

Sem a intenção de legitimar nem de combater nenhuma política

de governo, nem com o objetivo de encontrar soluções imediatas para os

problemas educacionais, este trabalho busca investigar a forma como

são construídos os discursos na elaboração e implantação do PPP.

Portanto, explicitando a atual dinâmica do PPP, com base na teoria da

Análise de Discurso, procuro responder ao seguinte questionamento:

Quais as vozes e discursos que aparecem no Projeto Político

Pedagógico, da Rede Municipal de Criciúma, implantado em 2004?

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2 DA LÍNGUA AO DISCURSO: UM ITINERÁRIO

CONCEITUAL

A linguagem é uma ferramenta que sempre esteve presente nas

relações sociais e está inserida no desenvolvimento das potencialidades

e do conhecimento do ser humano. Segundo Neves (2002, p. 17), “por

natureza racional dotado de linguagem, o animal homem estrutura seu

pensamento em cadeias faladas.” É por meio da linguagem que a

humanidade escreve a sua história, media sua relação com a realidade e

interage com os grupos que a integram. Nas palavras de Perini (2010, p.

2), “observemos que qualquer sociedade minimamente complexa só

pode funcionar, e mesmo surgir, através do uso intensivo da

linguagem.”

Nesse sentido, pode-se dizer que a linguagem se estabelece por

meio de um tripé formado pela realidade, pela história do sujeito falante

e pelo meio social do qual ele faz parte. Perini (2010, p. 2) diz que “o

que chamamos uma ‘língua’ é, assim, uma das realizações históricas da

capacidade humana para a linguagem. E cada língua é profundamente

enraizada na cultura que serve.”

Muitos estudiosos, de diversas e diferentes culturas, se

debruçaram sobre a língua, tentando desvendar seus mistérios,

procurando relacioná-la com o ser humano, enquanto partícipe de uma

sociedade em transformação. Dessa forma, pode-se dizer que houve um

percurso na construção nos estudos da linguagem, no qual, a Análise do

Discurso da linha francesa e foco desta dissertação tem um momento

marcante. Nas palavras de Brandão (2003, p. 1), a AD “atingiu sua

maturidade teórica e metodológica e se consolidou como disciplina no

cenário dos estudos de linguagem, deslocando-se, por assim dizer, da

periferia para o centro.”

Nos estudos linguísticos, há diversas correntes quanto ao

entendimento do que venha a ser linguagem. Um desses caminhos leva a

olhar a língua enquanto um sistema de signos ou como um sistema com

regras formais. Por gramática normativa entende-se, conforme Neves

(2002, p. 21), “um sistema regulador da combinação de elementos

linguísticos constituindo o modelo da combinação de gêneros.”

Outro momento decisivo no estudo da linguagem foi no final do

século XIX e começo do século XX. Nas palavras de Brandão (2003, p.

1):

[...] a linguística viveu, na primeira metade do

século passado, um período eufórico em que

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exerceu o papel de ciência piloto das ciências

humanas, fornecendo a partir do modelo

fonológico uma espécie de passagem para as

ciências humanas.

Quando o pesquisador suíço Ferdinand de Saussure, delimitou a

língua como um objeto de pesquisa e entregou aos linguistas um

método, o estruturalismo, ele concebeu a língua (langue) como um

“fenômeno social” e a definiu como um “sistema de signos”, isto é, um

conjunto de unidades, aceitas por uma convenção social, que se

relacionam entre si de forma organizada dentro de um todo. Leite (2009,

p. 220) afirma que “a noção adotada por Saussure aponta para a língua

como um sistema, ou seja, uma estrutura formal passível de

classificação em elementos mínimos, que compõem o todo.”

No entanto, a teoria de Saussure, no início do século XX, já

apresentava uma separação conceitual, em que língua e linguagem eram

diferenciadas. O entendimento da língua como um instrumento de

comunicação e um conjunto de convenções, possibilitando o exercício

da linguagem pelos indivíduos numa sociedade, é uma das rupturas da

linguística saussuriana em relação aos conceitos anteriores descritos

pelos gramáticos do século XIX. Segundo Saussure:

[...] a língua não se confunde com a linguagem; é

somente uma parte determinada, essencial dela. É

ao mesmo tempo, um produto social de faculdade

da linguagem e um conjunto de convenções

necessárias, adotadas pelo corpo social para

permitir o exercício dessa faculdade nos

indivíduos. A linguagem é multiforme e

heteróclita; a língua, ao contrário, é um todo por si

e um princípio de classificação. Ela é a parte

social da linguagem, exterior ao indivíduo

(LEITE, 2009, p. 219).

Dessa forma, os estudos linguísticos foram, durante um bom

tempo, delimitados pela dicotomia língua/fala, com ênfase na língua

como sistema organizado e fechado. Para Brandão (2003, p. 1),

Saussure “definia dois objetos científicos distintos, o de uma ‘linguística

da língua’ que ele passa a examinar e o de uma ‘linguística da fala’ que

ficava para ser explorada.”

Consequentemente, com o reconhecimento da dualidade na

linguagem, “os estudiosos passam a buscar uma compreensão do

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fenômeno da linguagem, não mais centrada apenas na língua, sistema

ideologicamente neutro, mas num nível também situado fora do

estritamente linguístico.” (BRANDÃO, 2003, p. 2).

Esse novo olhar sobre a língua, desvinculando-a de regras rígidas

e padrões pré-estabelecidos, dando a ela o status de entidade calcada na

comunicação e no diálogo, foi resultado do reconhecimento de que

“uma linguística imanente que se limitava ao estudo interno da língua

não dava conta do seu objeto.” (BRANDÃO, 2003, p. 2). Dessa forma,

os estudiosos passaram a buscar um entendimento diferente do

fenômeno linguístico. A ideia de Saussure é questionada pelos

sociolinguistas, que segundo Downes (apud FAIRCLOUGH, 2001, p. 90):

[...] argumentam que a variação no uso de

linguagem é sistemática e acessível ao estudo

científico e que aquilo que o torna sistemático é a

sua correlação com variáveis sociais: a língua

varia de acordo com a natureza da relação entre os

participantes em interações, o tipo de evento

social, os propósitos sociais das pessoas na

interação e assim por diante.

Essa ideia de linguagem ligada ao social e ao gênero1 foi

amplamente difundida pela teoria bakhtiniana. Para Bakhtin (1992, p.

279),

[...] a riqueza e a variedade dos gêneros do

discurso são infinitas, pois a variedade virtual da

atividade humana é inesgotável, e cada esfera

dessa atividade comporta um repertório de

gêneros do discurso que vai diferenciando-se e

ampliando-se à medida que a própria esfera se

desenvolve e fica mais complexa.

É importante dizer que a parte teórica que Saussure afasta do seu

estudo é justamente o que atrai Bakhtin, isto é, a linguagem em seu

funcionamento no ambiente social. Para Bakhtin (apud LEITE, 2009, p.

219), “a língua vive e evolui historicamente na comunicação verbal

1 Gênero: Para Bakhtin, os gêneros são tipos “relativamente estáveis” de

enunciados elaborados pelas mais diversas esferas da atividade humana

(MARCUSHI, 2002).

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concreta, não no sistema linguístico abstrato das formas da língua, nem

no psiquismo individual dos falantes.”

Dessa forma, a linguagem passa pelo sujeito que, sendo um dos

agentes das relações sociais, é responsável pela composição do discurso,

numa relação sempre dialógica. É com base nessa teoria do dialogismo,

uma das características do pensamento bakhtiniano, que se pode estudar

qualquer tipo de enunciado: o discurso interior, o monólogo, a

comunicação diária, os vários gêneros de discurso, a literatura, qualquer

manifestação cultural. Nas palavras de Di Fanti (2003, p. 98), “tratar do

dialogismo é, por um lado, descartar qualquer possibilidade de limitação

e redução dos sentidos, e, por outro, preservar as ressonâncias de outros

ditos, já-ditos e/ou não-ditos na linguagem.”

Na elaboração desse diálogo, o sujeito faz uso de conhecimentos

e enunciados anteriores interligados com o seu contexto social, seu

contexto histórico e ideológico. Segundo Bakhtin (1992, p. 41), “as

palavras são tecidas a partir de uma multidão de fios ideológicos e

servem de trama a todas as relações sociais e seus domínios.”

Nos anos 60, “[n]a conjuntura teórica da França, [...] em um

momento em que emerge o sentimento dos limites e do relativo

esgotamento do estruturalismo nasce a AD.” (BRANDÃO, 2003, p. 5),

novo olhar sobre a linguagem que rompe, de alguma maneira, com

alguns conceitos anteriores. A contribuição de Pêcheux (2001, p. 52),

um dos pioneiros dessa nova teoria foi, conforme Fairclough,

“desenvolver a ideia de que a linguagem é uma forma material da

ideologia fundamentalmente importante.” Dessa forma, a Análise de

Discurso diz que os textos podem ser interpretados de formas diferentes,

dependendo do contexto do leitor. Para Fairclough (2001, p. 57), “o

objeto de análise são textos linguísticos, que são analisados em termos

de sua própria especificidade.”

Sendo assim, as questões que circundam a linguagem passam a

ser pautadas nas relações entre a história, o sujeito e a fala. Segundo

Orlandi (2003, p. 6), “a grande questão é a relação da estrutura com a

história, do indivíduo com o sujeito, da língua com a fala, assim como

interroga a interpretação.”

Conclusivamente, a pluralidade de análises, tendo como objeto a

linguagem, baseadas em teorias distintas e diversas, permite pensá-la

como um fenômeno social de interação verbal carregada de

interpretações conflitantes, de incompletudes, de ideologias, de história,

elementos que oportunizam a análise do discurso como abordagem

possível do fenômeno linguístico. Nas palavras de Orlandi (2013, p. 15),

“é pensando que há muitas maneiras de significar que os estudiosos

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começaram a se interessar pela linguagem de uma maneira particular,

que é a que deu origem à análise do discurso.”

E é nesse cenário, vendo a língua além dos horizontes

limitadores, que a Análise de Discurso constrói seu próprio objeto de

estudo: o discurso.

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3 ANÁLISE DE DISCURSO: UMA NOVA DISCIPLINA

A linguagem é uma construção social que se manifesta de

maneira processual nas interações grupais, nos discursos e nas

instituições que compõem a sociedade. Através dos tempos, muitos

foram os modos do ser humano se comunicar. Segundo Neves (2002, p.

17), “por natureza racional, dotado de linguagem, o animal homem

estrutura seu pensamento em cadeias faladas.” As relações dos homens

em sociedade, nem sempre pacíficas, são intermediadas pelo uso da

linguagem em suas mais intricadas nuances.

A linguagem é uma ferramenta que auxilia o ser humano a

desenvolver suas potencialidades e a aumentar seus conhecimentos. Por

meio dela, o indivíduo escreve a sua história, se posiciona em relação à

realidade e se relaciona com os grupos que integra. Nesse sentido, pode-

se dizer que a linguagem se estabelece por meio de um tripé formado

pela realidade, pela história do sujeito falante e pelo meio social do qual

ele faz parte. Nas palavras de Silva (2005, p. 16): “Por meio da

linguagem, o homem transforma a realidade em que vive e a si mesmo.

O homem constrói a existência humana, ou seja, confere-lhe sentido.”

Como visto no capítulo anterior, há diversas visões quanto ao

entendimento do que venha a ser linguagem. Um desses caminhos nos

leva a olhar a língua enquanto “um sistema regulador da combinação de

elementos linguísticos constituindo o modelo da combinação de

gêneros.” (NEVES, 2002, p. 21), a gramática. Outro caminho seria a

linguística, “que visa descrever e explicar a linguagem verbal humana.”

(ORLANDI, 2009, p. 9).

Entretanto, a pluralidade de análises, tendo como objeto a

linguagem, baseadas em teorias distintas e diversas, permite pensá-la

como um fenômeno social de interação verbal carregada de

interpretações conflitantes, de incompletudes, de ideologias, de história,

elementos que oportunizam a análise do discurso como abordagem

possível do fenômeno linguístico. Para Eni Orlandi (2013, p. 15), “é

pensando que há muitas maneiras de significar que os estudiosos

começaram a se interessar pela linguagem de uma maneira particular

que é a que deu origem à análise do discurso.”

A AD nasce na França, nos anos 1960, num contexto de

multiplicidade de teorias e de efervescência política (Maio de 1968),2

2 Maio de 1968: movimento, na França que se tornou ícone de uma época em

que a renovação dos valores veio acompanhada pela proeminente força de uma

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“no auge do estruturalismo como paradigma de formatação de mundo.”

(FERREIRA, 2005, p. 1). Nesse período, os estudos linguísticos

estavam centrados no estudo interno da língua, um sistema rígido, sem

“o reconhecimento de uma dualidade constitutiva da linguagem, isto é,

do seu caráter, ao mesmo tempo formal e atravessado por entradas

subjetivas, sociais e históricas.” (BRANDÃO, 2003, p. 2).

Duas obras aparecem como inaugurais no campo da Análise de

Discurso: o discurso de encerramento do Colóquio de Lexicologia

Política Saint Clous, em abril de 1968, intitulado “Lexicologia e Análise

do Enunciado”, proferido por Jean Dubois e a publicação do livro

Análise Automática do Discurso, em 1969, por Michel Pêcheux

(Analyse Automatique du Discours). Para Dubois (apud BRANDÃO,

2003), a AD passa do estudo das palavras para o estudo do enunciado,

numa maneira “natural”, permitida pela linguística. Pêcheux, no entanto,

filósofo por formação, entendeu que a filosofia sozinha não teria forças

no universo científico. Para Baquero (2001, p. 13), “Michel Pêcheux foi

um filósofo de formação, não um filósofo qualquer, mas um filósofo

convencido de que a prática tradicional da filosofia, no que diz respeito

às ciências, estava (está) desprovida de sentido.”

Dessa forma, Pêcheux procurou construir um objeto de estudo

que pudesse dar às ciências humanas legitimidade científica. Segundo

Brandão (2003, p. 5), “em Pêcheux, a análise de discurso é pensada

como uma ruptura epistemológica em relação ao que se fazia nas

ciências humanas, articulando a questão do discurso com as do sujeito e

da ideologia.” Essa ruptura com o lado estruturalista da língua e do

campo ideológico das ciências sociais faz nascer a teoria da análise do

discurso, interessada, primeiramente, na análise do discurso político.

Segundo Maria Cristina L. Ferreira (2005, p. 2):

Do ponto de vista político, a Análise do Discurso

(AD) nasce, assim, na perspectiva de uma

intervenção, de uma ação transformadora, que

visava combater o excessivo formalismo

lingüístico então vigente. Ao lado dessa tendência

revolucionária, a AD buscava desautomatizar a

relação com a linguagem, donde sua relação

crítica com a linguística.

cultura jovem. Pode ser visto como uma revisão dos costumes, feita por lutas

políticas, obras filosóficas e a euforia juvenil (PIACENTINI, 2008).

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Dessa maneira, a AD de Pêcheux rompe com o enraizamento

ideológico da época, estabelecendo as relações no discurso entre língua,

sujeito e história, entre língua e ideologia. Nas palavras de Kronka

(2003, p. 590), “Michel Pêcheux, ao propor uma teoria da significação

fundada numa posição materialista do discurso, ressalta a preocupação

demasiada dos lógicos em tentar estabelecer uma relação transparente e

direta entre linguagem e conhecimento.” Nessa nova perspectiva teórica,

é possível destacar o discurso como o objeto a ser analisado e pensar nos

instrumentos para analisá-lo. Para Brandão (2003, p. 6), em Pêcheux

“encontra-se a teorização de um objeto novo, cujos procedimentos, que

permitiam apreendê-lo, colocam em relação um dado estado das

condições de produção e processos de produção do discurso.”

A AD circula por três campos disciplinares: a linguística, o

materialismo marxista e a psicanálise, sem, no entanto, fixar-se neles.

Segundo Caregnato e Mutti (2006, p. 680), a Análise do Discurso é:

Uma disciplina de interpretação fundada pela

intersecção de epistemologias distintas,

pertencentes a áreas da lingüística, do

materialismo histórico e da psicanálise. Essa

contribuição ocorreu da seguinte forma: da

linguística deslocou-se a noção de fala para

discurso; do materialismo histórico emergiu a

teoria da ideologia; e finalmente, da psicanálise

veio a noção de inconsciente que a AD trabalha

com o de-centramento do sujeito.

Os focos diferentes, com autores diferentes e contextos

diferentes, partindo de diversas correntes e teorias tradicionais, têm no

discurso o seu ponto de intersecção. Não o discurso neutro, sem a

intenção de refletir sobre o mundo e as ideias, mas o discurso como

fator preponderante na construção da vida em sociedade. “O efeito

subversivo da trilogia Marx-Freud-Saussure foi um desafio intelectual

engajando a promessa de uma revolução cultural, que coloca em causa

as evidências da ordem humana como estritamente bio-social.”

(PÊCHEUX, 2002, p. 45).

Ao contrapor a base linguística ao processo discursivo, Pêcheux destaca que todo o sistema de língua, enquanto conjunto de estruturas

rígidas e formal é também dotado de uma estrutura particular e

autônoma, com normas específicas que dão origem aos processos

discursivos. Pode ser percebida a intencionalidade da busca de

autonomia da “nova” disciplina quando se percebe a recusa em permear

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os mesmos caminhos das outras ciências, incluindo a linguística. Nas

palavras de Orlandi (2003, p. 11), “ao mesmo tempo em que pressupõe a

Linguística, a AD abre um campo de questões no interior da própria

Linguística e que refere o conhecimento da linguagem ao conhecimento

das formações sociais.” Dessa maneira, a Análise do Discurso trabalha

com os processos discursivos, com as condições de produção de

linguagem, com instrumentos que possam aferi-la e sua relação com a

história.

Ainda com base nos estudos de Pêcheux, “contrapondo-se a uma

filosofia idealista da linguagem atravessada pela evidência da existência

espontânea do sujeito como fonte, origem ou causa em si.”

(BRANDÃO, 2003, p. 6), a nova noção de sujeito para a AD é

determinada pela posição de onde se fala. E o sujeito fala de uma

formação discursiva (FD),3 regida por uma formação ideológica (FI)

4.

Dessa maneira, nas palavras de Brandão (2003, p. 6), “um sujeito

marcado por uma forte dimensão social, histórica, que na linguagem é

balizada pela FD que define ‘o que pode e deve ser dito por um sujeito.”

Depois de 1975, a AD passa por uma nova fase, e a noção de

formação discursiva é reconsiderada. Essa transformação teórica nasce

do reconhecimento de que uma FD não é um espaço estrutural fechado,

“pois está em relação paradoxal com seu exterior ao ser

constitutivamente invadida por elementos que vêm de outro lugar (isto

é, de outras FDs), que se repetem nela sob a forma de pré-construído e

de discursos transversos.” (PÊCHEUX, apud Brandão, 2003, p. 7).

Surge, então, o conceito de interdiscursividade, que compreende,

fundamentalmente, os sujeitos, a situação e a memória.

Outro teórico, o filósofo russo Mikhail Bakhtin também teve suas

ideias assimiladas pela análise do discurso, em função de sua concepção

3 Formação Discursiva (FD):“conceito proposto inicialmente por M. Foucault e,

posteriormente, para a AD de M. Pêcheux, torna-se indissociável da noção de

interdiscurso. O discurso não pode mais ser visto fora das condições históricas

de produção. A noção de formação discursiva foi elaborada por Pêcheux a partir

das proposições de Foucault e tem dois tipos de funcionamento: 1) a paráfrase –

a formação discursiva é um sistema de paráfrases, ou seja, de constante

retomada e reformulação dos enunciados, como forma de preservar sua

identidade; 2) o pré-construído – A análise do discurso chama de pré-construído

as construções anteriores e exteriores, que se diferenciam do que é construído

pelo enunciado” (CORREA, 2009, p.36). 4 Formação Ideológica (FI): As formações ideológicas caracterizam-se por

serem elementos capazes de intervir como uma força em confronto com outras

na conjuntura ideológica de uma determinada formação social.

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sobre linguagem. Um dos conceitos bakhtinianos apropriado pela AD

foi a questão dialógica dos discursos. Todo discurso, todo ato dialógico

tem um determinante rigoroso envolvendo aquele que fala, o lugar a

partir de onde fala e o seu contexto histórico. Para Bakhtin (apud

BRAIT 2006, p. 116):

O diálogo, por sua clareza e simplicidade, é a

forma clássica da comunicação verbal. Cada

réplica, por mais breve e fragmentária que seja,

possui um acabamento específico que expressa a

posição de locutor, sendo possível responder,

sendo possível tomar, com relação a essa réplica,

uma posição responsiva.

Dessa forma, entende-se a linguagem como uma forma de

interação social, um “compartilhamento com o outro” em que o outro

tem papel fundamental na produção do discurso. Di Fanti afirma que

“tratar do dialogismo é, por um lado, descartar qualquer possibilidade de

limitação e redução de sentidos, e por outro, preservar as ressonâncias

de outros ditos, já-ditos e/ou não ditos na linguagem” (2003, p. 98). De

Bakhtin vem, também, o conceito de polifonia, que tem como principal

propriedade a diversidade de vozes, controversas, no interior de um

texto. Para Brandão (2003, p. 9), “é nesse sentido que se tem

disseminada a metáfora de que um texto se transforma numa arena de

lutas, em que vozes situadas em diferentes posições, emergem,

polifonicamente, numa relação de aliança, de oposição ou polêmica.”

A AD encontrou eco em muitos estudiosos da linguagem, que se

identificaram com suas concepções teóricas, sua metodologia e seu

poder de análise, e acaba se constituindo numa ferramenta poderosa para

o conhecimento da sociedade, dos sujeitos e seus discursos. Nas

palavras de Orlandi (2013, p. 21), “o discurso é efeito de sentidos entre

locutores.” Dessa maneira, os dispositivos teóricos e de análises na AD

têm características histórico-sociais nas quais o sujeito, a história e a

língua estão entrelaçados, numa relação indissolúvel.

O objetivo da análise discursiva é encontrar sentido nas diversas

formas de produção verbal ou não verbal, levando-se em consideração

que qualquer manifestação comunicativa é passível de interpretação. É importante destacar que a AD trabalha com o sentido e não com o

conteúdo do texto analisado, preocupa-se com o que esse texto significa.

Orlandi (2013, p. 18) sugere que a AD “produz um conhecimento a

partir do próprio texto, porque o vê como tendo uma materialidade

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simbólica própria e significativa, como tendo uma espessura semântica:

ela o concebe em sua discursividade.”

Isso não significa que a proposta analítica do discurso abra mão

da língua. Ela apenas não usa a mesma abordagem de outras correntes

que se debruçam sobre o tema. A AD tem alguns pressupostos

fundamentais com os quais trabalha: a língua como um fato social, a

ideologia e o inconsciente. Segundo Kronka (2003, p. 589),

A AD acredita que há mais sentidos além do que

está explicitado na superfície linguística, portanto,

não estabelece ao discurso um sentido único e

fechado. Cabe ao analista explicitar o caminho

pelo qual se chegou ao sentido evidente (e se

calou outros possíveis).

No Brasil, a AD foi introduzida pela pesquisadora e professora

universitária brasileira Eni P. Orlandi no final dos anos 1970, no período

histórico da ditadura político-militar. Nas palavras da autora, “no Brasil

a análise de discurso institucionaliza-se amplamente – não sem algumas

resistências, alguns antagonismos – e, com sua produção e alcance

teórico, configura-se como uma disciplina de solo fértil” (2012, p. 9).

Orlandi (2003, p. 7) faz a releitura da proposta de Pêcheux,

compreendendo que sua teoria

não deixa intocada a região da reflexão sobre a

linguagem, não se apresentando apenas como

acréscimo do ponto de vista metodológico, mas

como uma iniciativa de reflexão que interroga as

próprias teorias que constituem as relações

contraditórias do campo de sua existência.

Na visão de Orlandi, a Análise de Discurso, como acontece na

corrente francesa, não se desvincula da ciência da língua nem do

território onde o discurso é produzido.

A AD não tem a pretensão de fazer novas descobertas nem de

fazer julgamentos de valor, explicitando o que é certo ou errado. Nas

palavras de Brandão (2003, p. 10), a Análise de Discurso “não pode se furtar ao diálogo interdisciplinar sem perder, no entanto, o rosto e a

identidade, pois uma disciplina que preza a historicidade, não pode se

deixar congelar por qualquer tipo de imobilismo ou fixidez.”

Dessa forma, levando-se em consideração a multiplicidade de

ideias, a flexibilização da teoria, as dicotomias e as diferentes

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significações de conceitos, pode-se dizer que o importante para a

Análise do Discurso, como uma nova disciplina, é, segundo Orlandi

(2013), romper fronteiras.

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4 ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA ANÁLISE DO

DISCURSO

A linguagem é uma habilidade do ser humano que serve para a

comunicação e se dá na relação direta entre aquele que fala e aquele que

escuta, entre o que escreve e o que lê, entre a arte e o observador. Nas

palavras de Brandão (2009, p. 2) “a linguagem é um trabalho

desenvolvido pelo homem – só o homem tem a capacidade de se

expressar pela linguagem verbal.”

Porém, para conhecer e entender a Análise de Discurso, é

necessário que se tenha contato com os conceitos que a norteiam. Os

elementos constitutivos da AD aparecem inter-relacionados, formando

uma verdadeira rede de noções que algumas vezes se completam e

outras se antepõem. A teoria do discurso rompe com a noção de

linguagem apenas como instrumento de comunicação e deve ser

compreendida como algo mais do que uma estrutura linguística, uma

vez que ela se ajusta aos interlocutores, de acordo com o contexto.

Não é uma tarefa simples, compreender a análise do discurso,

levando-se em consideração que nela nada está permanentemente

estabelecido, os limites não são evidentes e tudo oscila, dependendo do

olhar e do viés histórico. E para completar, ou confundir, nesse

ambiente circula o sujeito, o protagonista do discurso. Nas palavras de

Orlandi (2013, p. 32), “o dizer não é propriedade nossa. Elas significam

pela história e pela língua. O que é dito em outro lugar também significa

nas ‘nossas’ palavras.”

Para a AD, o discurso é contextualizado, porque entende que todo

enunciado, ou signo, tem sentido diferente, dependendo de quem o faz,

do lugar e do momento em que é produzido. Segundo Orlandi (2013, p.

18), a AD “produz um conhecimento a partir do próprio texto, porque o

vê como tendo uma materialidade simbólica própria e significativa,

como tendo uma espessura semântica: ela o concebe em sua

discursividade.”

Dessa maneira, cada vez que uma linguagem é usada num

determinado contexto histórico e faz sentido, um discurso é produzido.

Para Orlandi (2013, p. 25), “a linguagem é linguagem porque faz

sentido. E a linguagem só faz sentido porque se inscreve na história.”

Sendo assim, pode-se dizer que o discurso é uma manifestação

espontânea do sujeito, cujos valores culturais, sociais, crenças e

ideologias estão enraizados no grupo ao qual pertence. Bakhtin (2004, p.

92) afirma que, para o locutor, “o centro de gravidade da língua não

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reside na conformidade à norma da forma utilizada, mas na nova

significação que essa forma adquire no contexto.”

É por isso que se diz que não há discurso neutro, uma vez que

cada discurso é reflexo das posições socioculturais e ideológicas dos

sujeitos falantes e ouvintes. De acordo com Bakhtin (2004, p. 95), “a

palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de um sentido

ideológico ou vivencial. É assim que compreendemos as palavras e

somente reagimos àquelas que despertam em nós ressonâncias

ideológicas ou concernentes à vida.”

Sendo assim, o discurso é produzido por um sujeito que, ao fazê-

lo, se coloca, como autor do que é dito. A Análise do Discurso, no

entanto, trabalha com a constatação de que estamos sempre

subordinados à linguagem e que não há neutralidade no mais

insignificante dos signos. Nas palavras de Orlandi (2013, p. 9), “a

entrada do simbólico é irremediável e permanente: estamos

comprometidos com os sentidos e o político.” É importante destacar que

o sujeito, na Análise do Discurso, não é um indivíduo com vontade

própria. Ele é, de outra maneira, um sujeito histórico-social, porque

mesmo inconscientemente, há uma intencionalidade discursiva em cada

enunciado, uma vez que todo discurso é atravessado pela linguagem,

pela história e pela ideologia, para que possa produzir sentido. “As

palavras mudam de sentido ao passarem de uma formação discursiva

para outra. Assim, não são somente as intenções que determinam o

dizer. Há uma articulação entre intenção e convenções sociais.”

(ORLANDI, 2003, p. 27).

Dessa maneira, pode-se dizer que para a Análise do Discurso, o

sujeito se constitui pela linguagem, mas não é o autor desse discurso,

uma vez que o mesmo está relacionado com outra formação discursiva e

ideológica. Segundo Bakhtin (apud DI FANTI, 2003, p. 98), “o objeto

do discurso de um locutor, seja ele qual for, não é objeto do discurso

pela primeira vez nesse enunciado, e esse locutor não é o primeiro a

falar dele.” Sujeito e sentido se constituem num processo simultâneo,

que se projeta com efeitos incontroláveis, partindo de construções

discursivas.

Nesse entrelaçar de conceitos, é importante conhecer outro

elemento da AD, que é fundamental para a sua compreensão: o sentido.

De acordo com Orlandi (2013, p. 42), “o sentido não existe em si, mas é

determinado pelas posições ideológicas colocadas em jogo no processo

sócio-histórico em que as palavras são produzidas. As palavras mudam

de sentido segundo as posições daqueles que as empregam.”

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Se pegarmos como exemplo a palavra “terra”, podemos afirmar

que ela não tem o mesmo significado (sentido) para um agrônomo, para

um homem do campo, para um geólogo, para um astrônomo ou para um

sem-terra. Por isso, é importante frisar que o sentido da linguagem não

está no sistema linguístico, mas no contexto de interação verbal. Sendo

assim, pode-se dizer que o material simbólico não é transparente e está

sujeito a diversas interpretações, impregnadas de valores previamente

construídos.

Seguindo esse caminho de apresentação dos elementos

constitutivos da Análise de Discurso é importante dizer que para a AD,

o discurso é construído e funciona de acordo com certas condições:

relação de sentidos; relação de forças; ideologia; antecipação. Nas

palavras de Orlandi (2003, p. 26), “a ilusão de ser fonte de sentido se

desfaz se atentarmos ao fato de que, para ter sentido, qualquer sequência

deve pertencer a uma formação discursiva, que por sua vez faz parte de

uma formação ideológica determinada.” Segundo o conceito de relações

de sentido, não existe discurso que não se relacione ou se “inspire” em

outro discurso já dito e sem que ele tenha sentido. Conforme Pêcheux

(apud ORLANDI, 2003, p. 26),

todo discurso nasce de outro discurso e reenvia a

outro, por isso não se pode falar em um discurso,

mas em estado de um processo discursivo, e esse

estado deve ser compreendido como resultando de

processos discursivos sedimentados,

institucionalizados.

Na sequência, dois novos conceitos aparecem, pois são

fundamentais e norteadores para a compreensão da teoria da AD: a

paráfrase e a polissemia. Entende-se por processos parafrásticos aqueles

que mostram que há sempre algo que se mantém (já foi dito) no discurso

(ORLANDI, 2013). A paráfrase, segundo a autora, “representa o retorno

aos mesmos espaços de dizer” (2013, p. 36). Na polissemia, por outro

lado, o que “temos é deslocamento, ruptura de processos de

significação. Ela joga com o equívoco” (idem).

Na perspectiva da AD, há uma relação tensa entre paráfrase e

polissemia dentro do discurso, já que as duas forças trabalham

conjuntamente, isto é: o que é dito já foi dito, mas que pode ser

formulado de forma diferente. Orlandi (2013, p. 36) aponta que é “nesse

jogo entre paráfrase e polissemia, entre o mesmo e o diferente, entre o

já-dito e o a dizer que os sujeitos e os sentidos se movimentam, fazem

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seu percurso, (se) significam.” É na relação entre a paráfrase e a

polissemia que aparece o confronto entre o simbólico e o político, a

língua e a ideologia, sendo exatamente essa intersecção o foco de

interesse da AD. E é também no confronto entre paráfrase e polissemia

que nasce a noção de interdiscurso, que para Orlandi (2013, p. 33) “é

todo o conjunto de formulações feitas e já esquecidas que determinam o

que dizemos. Para que minhas palavras façam sentido é preciso que elas

já façam sentido.”

Assim, pode-se dizer que o discurso é irrepetível. Cada discurso é

construído levando-se em conta uma rede discursiva, um conjunto de

enunciados já feitos e esquecidos que servem de fonte para o que se diz.

Dessa maneira, para a Análise de Discurso não há discurso original,

nenhum discurso é adâmico. Nas palavras de Brandão (s/d, p. 5), “nessa

relação interdiscursiva (com outros discursos), quer citando, quer

comentando, parodiando esses discursos, disputa-se a verdade pela

palavra numa relação de aliança, de polêmica ou de oposição.”

Para a AD, todo dizer é um saber discursivo, isto é, um saber

(memória/interdiscurso) que torna possível todo dizer (ORLANDI,

2013). Para a autora, “o fato de que há um já-dito que sustenta a

possibilidade mesma de todo dizer, é fundamental para se compreender

o funcionamento do discurso, a sua relação com os sujeitos e a

ideologia.” (2013, p. 32).

Para alguns, a ideologia tem sempre um caráter de dominação e

de manipulação, que age de modo persuasivo e dissimulado, numa

forma sutil de alienar o ser humano. No entanto, a dimensão ideológica

do discurso, tanto pode apenas reproduzir, quanto transformar relações

de poder. A ideologia é um termo que traz, em si só, diversos

significados. Pode ser definida como um conjunto de ideias,

pensamentos, como doutrina de um grupo ou de um indivíduo ou como

orientação de ações sociais e principalmente políticas.

A AD dialogou com a teoria marxista sobre ideologia, para

elaborar seu conceito sobre o tema, quando essa estava atrelada apenas

ao ambiente político-social. Neves (2002, p. 18) entende ideologia como

“o homem comunicando-se com voz articulada que produz sentido e,

assim criando uma sociedade política.”

A pluralidade de sentidos relacionados à palavra ideologia, cada

um deles respondendo às indagações de seu segmento pessoal ou social,

caracteriza muito bem a essência da AD. Nessa multiplicidade de

sentidos, podemos relacionar ideologia com a política, com a religião,

com o jurídico, com a economia ou a filosofia. Para Fiorin (2000, p. 29):

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Todo conhecimento está comprometido com os

interesses sociais. Esse fato dá uma dimensão

mais ampla ao conceito de ideologia; ela é uma

“visão de mundo”, ou seja, o ponto de vista de

uma classe social a respeito da realidade, a

maneira como uma classe ordena, justifica e

explica a ordem social. Daí podemos deduzir que

há tantas visões de mundo numa dada formação

social quantas forem as classes sociais.

Se tratando de linguagem, a ideologia aparece em terrenos mais

amplos e mais férteis. Como contribuição para a AD, encontra-se em

Bakhtin a ideologia do cotidiano, entendida como aquela que nasce das

relações casuais, do dia a dia, na proximidade social (BRAIT, 2008).

Para Bakhtin (2004, p. 31), “tudo que é ideológico possui um

significado e remete a algo situado fora de si mesmo. Em outros termos,

tudo que é ideológico é um signo. Sem signos não existe ideologia.”

Torna-se um signo, então, tudo aquilo que, sem perder sua identidade na

realidade material, passa a significar e a refletir outra realidade. Ribeiro

afirma que, para Bakhtin (2006, p. 4), o signo “receberá tantas

significações quantas forem as situações reais em que venha a ser usado

por usuários social e historicamente localizados.”

Para a Análise de Discurso, a palavra é um signo da

comunicação, que carrega com intensidade a ideologia e funciona como

agente da memória social, com significações diferentes, contradições,

percorrendo contextos diferentes (BAKTHIN, 2004). Pelas palavras

(discursos), ocorrem os debates e os conflitos de classe. Segundo o

autor, “a palavra é o fenômeno ideológico por excelência. A realidade

toda da palavra é absorvida por sua função de signo” (2004, p. 36). Nos

signos, vozes distintas se manifestam e, segundo Brait (2008, p. 172),

“neles coexistem contradições ideológico-sociais entre o passado e o

presente, entre as várias épocas do passado, entre os vários grupos do

presente, entre os futuros possíveis e contraditórios.” Em outras

palavras, por não haver neutralidade no mais simples dos signos, não há

discurso sem sujeito e não há sujeito sem ideologia. E é nesse ambiente

é que a língua faz sentido.

Nessa pesquisa, indo ao encontro do objetivo deste trabalho, cabe

elucidar o conceito de ideologia na visão da Análise do Discurso. Para a

Análise do Discurso, a ideologia está relacionada, intrinsecamente, com

a formação discursiva, uma vez que “o sentido não existe em si, mas é

determinado pelas posições ideológicas colocadas em jogo no processo

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sócio-histórico em que as palavras são produzidas.” (ORLANDI, 2013,

p. 42). A linguagem, que é a materialidade do sentido, envia sinais

mostrando o posicionamento do sujeito e indica com qual discurso esse

sujeito está filiado. Nas palavras de Orlandi (2003, p. 34):

[...] onde está a linguagem está a ideologia. Há

confronto de sentidos, a significação não é imóvel

e está no processo de interação locutor-receptor,

no confronto de interesses sociais. Portanto, dizer

não é apenas informar, nem comunicar, nem

inculcar, é também reconhecer pelo afrontamento

ideológico.

O dizer tem história e os sentidos produzem efeitos diferentes

para diferentes interlocutores, portanto não se esgotam no dizer.

Outro ponto a ser salientado é a forma como a Análise de

Discurso trabalha com as “relações de poder”, que tornam o enunciado

constitutivo. Conforme Orlandi (2013, p. 39-40), “como nossa

sociedade é constituída de relações hierarquizadas, são relações de

força, sustentadas no poder desses diferentes lugares que se fazem valer

na ‘comunicação’.” Sendo assim, as relações de força não se apresentam

apenas na forma institucionalizada, mas são reforçadas em toda e

qualquer relação social. Desta maneira, quem diz e o lugar que ocupa,

no contexto histórico-social, oficializa o discurso. Portanto, o discurso

da posição Mãe tem maior peso que o discurso da posição Filho. A fala

do Professor vale (significa) mais que a do Aluno. Para Danner, citando

Foucault, o sujeito atual é, ainda, submisso, não só às leis religiosas,

mas também às leis do Estado e às relações de poder entre os próprios

indivíduos (micropoderes), que anulam a ideia de que o ser humano tem

a sua individualidade (2009, p. 787). Nas palavras de Foucault (apud

DREYFUS; RABINOW, 1995, p. 12):

O problema político, ético, social e filosófico de

nossos dias não consiste em tentar libertar o

indivíduo do Estado nem das instituições do

estado, porém nos libertarmos tanto do Estado

quanto do tipo de individualização que a ele se

liga. Temos que promover novas formas de

subjetividade através da recusa deste tipo de

individualidade que nos foi imposto há vários

séculos.

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Dessa forma, pode-se dizer que o discurso exerce uma forma de

poder, uma vez que há em cada enunciado uma intenção inconsciente,

ou não, de influenciar, de atuar ou agir sobre o outro. Foucault (2008, p.

54) afirma que:

[...] os “discursos”, tais como podemos ouvi-

los, tais como podemos lê-los sob a forma de

texto, não são como se poderia esperar um puro

e simples entrecruzamento de coisas e de

palavras: trama obscura de coisas, cadeia

manifesta, visível e colorida das palavras [...]

Nesse contexto, o sujeito, na sua relação sócio-histórica, é

contraditório, pois ao mesmo tempo em que é livre para “dizer”, é,

inconscientemente, submisso à língua para que possa “sabê-lo”

(ORLANDI, 2013). Mesmo que haja uma tentativa pela busca da

originalidade discursiva, a falta de individualidade involuntária ocorre

porque o sujeito “se filia ou interioriza o conhecimento da construção

coletiva, sendo porta-voz daquele discurso e representante daquele

sentido.” (CAREGNATO; MUTTI, 2004, p. 681).

Essa submissão ao coletivo é chamada pela AD de

assujeitamento. Portanto, num certo sentido, o sujeito-religioso da Idade

Média é na sociedade atual o sujeito de direito, subordinado às leis, com

direitos e deveres. Nas palavras de Orlandi (2013, p. 51), “submetendo o

sujeito, mas ao mesmo tempo apresentando-o como livre e responsável,

o assujeitamento se faz de modo a que o discurso apareça como

instrumento (límpido) do pensamento e um reflexo (justo) da realidade”

Dessa forma, a língua é a materialização do inconsciente ideológico do

sujeito.

Partindo da perspectiva com a qual a AD trabalha os conceitos de

ideologia, discurso e sentido, e entendendo que ela objetiva

compreender como os objetos simbólicos produzem sentidos, sabe-se,

nas palavras de Orlandi (2013, p. 9), que “a entrada no simbólico é

irremediável e permanente: estamos comprometidos com os sentidos e o

político. Não temos como não interpretar.” Por isso, a AD se preocupa

com os mecanismos que constituem o processo de significação, busca os

gestos de interpretação, sem se restringir a procurar a verdade dos

sentidos. Segundo Orlandi (2013, p. 26), a análise do discurso avalia “os

próprios gestos de interpretação que ela considera como atos no domínio

simbólico, pois eles intervêm no real do sentido.”

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Interpretar está relacionado com a compreensão, que é “saber

como as interpretações funcionam e não apenas com a inteligibilidade,

que refere o sentido à língua.” (ORLANDI, 2013, p. 26). É importante

citar que, no momento da análise, o discurso nela produzido sofre,

também, a influência da posição ideológica do analista, suas crenças e

sua posição histórico-social. Isso fortalece a premissa de que a

interpretação não é absoluta, única ou neutra.

Outra característica do discurso é a sua dialogicidade, outro

conceito retomado pela AD e que tem fundamento na teoria bakhtiniana.

O discurso é uma atividade desenvolvida, no mínimo, entre dois sujeitos

e é, segundo a AD, ininterrupto e nunca original. Bakhtin (apud BRAIT

2006, p. 116) comenta que:

O diálogo, por sua clareza e simplicidade, é a

forma clássica da comunicação verbal. Cada

réplica, por mais breve e fragmentária que seja,

possui um acabamento específico que expressa a

posição de locutor, sendo possível responder,

sendo possível tomar, com relação a essa réplica,

uma posição responsiva.

É por meio do diálogo que se pode analisar a comunicação diária,

o monólogo, o discurso interior, os gêneros de linguagem, a literatura,

qualquer manifestação cultural. “O dialogismo é o permanente diálogo

entre os diversos discursos que configuram uma sociedade, uma

comunidade, uma cultura.” (MARQUES, 2002, p. 5).

Dessa forma, os discursos funcionam com valores específicos,

entre os quais podemos citar a relação de sentidos. Por essa noção,

pode-se afirmar que não há um discurso que não tenha relação com

outro que o sustenta e que lhe dá continuidade. Essa interdiscursividade

faz surgir o mecanismo de antecipação, outra condição de produção de

discurso. Antecipação é a capacidade do falante de se colocar no lugar

do ouvinte, para ouvir suas próprias palavras, com a “intenção” de

convencer, uma vez que os enunciados são produzidos em função e

interação do outro (ORLANDI, 2013). O interlocutor, portanto, não é

um personagem passivo, que apenas ouve o enunciado. Ele é, ao

contrário, a oposição dialógica, que ao interpretar elabora um novo enunciado por resposta.

A antecipação, segundo Orlandi (2013, p. 39), é “um mecanismo

que regula a argumentação, de tal forma que o sujeito dirá de um modo

ou de outro, segundo o efeito que pensa produzir em seu ouvinte.” Na

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antecipação, levando-se em conta a afirmação da AD que diz que o

sujeito se posiciona histórica e ideologicamente, ocorre um jogo de

formações discursivas imaginárias que atravessam todo o embate

dialógico: a imagem que o sujeito faz dele mesmo, a imagem que faz do

seu interlocutor, o objeto do discurso, entre outras (ORLANDI, 2013).

É pelo mecanismo da antecipação que o sujeito argumenta,

acreditando poder prever os sentidos que serão produzidos, ao falar para

determinado interlocutor. Para Pêcheux (1993, p. 77), “essa antecipação

do que o outro vai pensar parece constitutiva de qualquer discurso.”

A emancipação está relacionada, entre outros aspectos, ao próprio

funcionamento das instituições, nas quais os interlocutores atuam,

dando-lhes um status de verdade.

4.1 TEXTO E CORPUS

O texto é a materialização do discurso, isto é, todo discurso se

manifesta linguisticamente por textos. Ele é visto na AD como a

unidade da análise. Pela análise de textos é que se pode entender o

funcionamento do discurso, que podem ter significados, sentidos ou

definições diferentes, mas, estão profundamente interligados. Para

Orlandi (2003, p. 159), “o texto pode ter qualquer extensão: pode ser

desde uma simples palavra até um conjunto de frases. O que o define

não é sua extensão, mas o fato de que ele é uma unidade de significação

em relação à situação.”

A AD se preocupa, apenas, com a interpretação ou a releitura do

corpus sob seu foco de análise, já que qualquer elemento que produza

sentido pode ser analisado.

4.2 DISPOSITIVOS E METODOLOGIA

Se o assunto é Análise de Discurso, cabe a indagação: “O que

entendemos por análise do discurso?”. Como já foi dito em capítulos

anteriores, a Análise de Discurso consiste em examinar um texto e a

partir dele compreender as suas construções ideológicas, sem esquecer

que o discurso está sempre vinculado ao contexto sócio-histórico do

enunciador5. Nas palavras de Orlandi (2008, p. 13), “não é um ponto do

texto que ‘mostra’ a ideologia. É a formulação que se coloca como uma

censura no continuum da discursividade e, ao fazê-lo, se compromete

com uma versão (interpretação, formação discursiva, ideologia)”

5 Enunciador: aquele que faz parte do processo discursivo, aquele que diz.

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Portanto, “uma vez que formular é dar corpo aos sentidos” (p. 9)

pode-se dizer que o sujeito que “diz”, se assumindo como autor do que

“diz”, é determinado pelo que “diz”. Para Caregnato e Mutti (2006, p.

680), “o processo de análise discursiva tem a pretensão de interrogar os

sentidos estabelecidos em diversas formas de produção [...] bastando

que sua materialidade produza sentidos para a interpretação [...]”

É importante relembrar que a AD não tem a pretensão de

encontrar, no processo de análise, o sentido verdadeiro do texto, nem o

lado formal da língua com seu conjunto de regras. Segundo Orlandi

(2013, p. 60), “os sentidos e os sujeitos se constituem em processos em

que há transferências, jogos simbólicos dos quais não temos o controle e

nos quais o equívoco – o trabalho da ideologia e do inconsciente - estão

largamente presentes.” Para o analista, o que importa é pensar e

descrever o funcionamento do discurso. Orlandi (2008, p. 23) entende

que, “em seu trabalho, o analista de discurso deve mostrar os

mecanismos dos processos de significação que presidem a textualização

da discursividade.”

Dessa forma, o texto é o objeto de observação do analista, que

tem como meta descobrir, nesse texto, o discurso. A Análise do

Discurso trabalha “a política da língua que se materializa no corpo do

texto, ou seja, na formulação, por gestos de interpretação que tomam

forma na textualização do discurso.” (ORLANDI, 2008, p. 35).

Dessa maneira, com base na teoria do discurso, pode-se dizer que

uma palavra, mesmo que seja na mesma língua, pode ter um significado

diferente, dependendo de quem diz, da posição em que diz e para quem

diz. Essa “opção” léxica é que vai dar o sentido ao discurso no texto

analisado. Para Fairclough (2001, p. 230), a escolha das palavras “não

são de natureza puramente individual: os significados das palavras e a

lexicalização de significados são questões variáveis socialmente e

socialmente contestadas, e facetas de processos sociais e culturais mais

amplos.”

Partindo do conceito acima, é fundamental para a realização da

AD que o analista entenda que a enunciação é fruto da posição histórico-

social e ideológica do sujeito que a produz. Na visão de Gregolin (1995,

p. 20),

Empreender a análise do discurso significa tentar

entender e explicar como se constrói o sentido de

um texto e como esse texto se articula com a

história e a sociedade que o produziu. O discurso

é um objeto, ao mesmo tempo, linguístico e

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histórico; entendê-lo requer a análise desses dois

elementos simultaneamente.

É importante saber, também, que para interpretar esse discurso é

necessário retirar o sujeito que enuncia “da posição de único responsável

pelo que diz, para atingir o sentido que realmente foi impresso ao seu

dizer e que, na maioria das vezes, nem ele possui tal clareza.” (GOMES,

2006, p. 621).

Dessa maneira, o analista precisa determinar quais as “pistas” que

ele encontra no texto e de que maneira essas pistas vão ajudá-lo a

desvendar o sentido do dizer. Para Orlandi (2013, p. 59), é necessário

que o analista defina

Que escuta ele deve estabelecer para ouvir para lá

das evidências e compreender, acolhendo a

opacidade da linguagem, a determinação dos

sentidos pela história, a constituição do sujeito

pela ideologia e pelo inconsciente, fazendo espaço

para o possível, a singularidade, a ruptura, a

resistência?.

Como próximo passo, o analista necessita retirar do texto

exemplos e criar dispositivos de análise, que o conduzam na busca dos

resultados para a sua linha de interpretação. Para Orlandi (2013, p. 60),

O analista pode explicitar os processos de

identificação pela sua análise: falamos a mesma

língua, mas falamos diferente. Se é assim, o

dispositivo que ele constrói deve ser capaz de

mostrar isso, de lidar com isso. Esse dispositivo

deve poder levar em conta ideologia e

inconsciente assim considerados.

O dispositivo, junto com os elementos teóricos da AD, tem como

principal objetivo mostrar o que não está dito no texto, aquilo que está

oculto na ideologia, na história e nas relações de força, em qualquer

espaço social. Em toda a literatura sobre a análise de discurso é unânime

a posição dos autores no sentido de que há necessidade de se criarem

dispositivos analíticos para que seja possível “desvendar os mecanismos

de produção de sentidos de uma determinada discursividade.” (GOMES,

2006, p. 260). Ainda nas palavras de Gomes (2006, p. 621),

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Esse dispositivo apresenta-se como indispensável

para a realização da AD, pois todo dizer vai se

estruturando a partir de famílias parafrásticas, que

dão continuidade espaço-temporal ao sentido

constituído em algum ponto da linha histórica do

indivíduo ou da sociedade.

Portanto, com base nas afirmações teóricas da AD, um PPP é um

documento que possibilita ao analista se colocar numa “posição

deslocada que lhe permite contemplar o processo de produção dos

sentidos em suas condições.” (ORLANDI, 2013, p. 61), para trabalhar

as diferentes formações discursivas. Pode-se dizer que o Projeto Político

Pedagógico da Rede Municipal de Criciúma (SC) é a materialização das

vozes dos envolvidos na sua construção e que “analisar o processo de

construção e implementação deste projeto é refletir sobre a escola, suas

características, seus polos de poder, seus conflitos, por se tratar de uma

organização orientada com finalidades, controlada e permeada pelas

relações de poder.” (VEIGA, 2006, p. 25).

Para finalizar, é importante destacar que o analista trabalha com

os limites da interpretação, isto é, “é pela exploração de certas

características da língua que a discursividade se manifesta.”

(POSSENTI, 2009, p. 16). Dessa maneira, o analista não se coloca fora

da história, mas, ao contrário, age como alguém que vê a história

acontecer, se desenvolver e a fazer sentido.

4.3 A ANÁLISE DO DISCURSO E A SUA TIPOLOGIA

A Análise do Discurso aparece como uma proposta crítica e

reflexiva sobre os padrões estabelecidos no estudo da linguagem e

trabalha com a opacidade da língua, com seus implícitos e seus

deslocamentos. As “falhas” da língua, “se explicam numa teoria geral

(da incompletude, da indeterminação, do real da língua...) cujo

fundamento diz respeito ao fato de que uma língua nunca – nunca

mesmo, nem na linguagem científica – dá conta de dizer o real.”

(POSSENTI, 2009, p. 6).

A incompletude da linguagem, na Análise de Discurso, está

relacionada com o conceito segundo o qual nenhum processo é fechado

em si só. Para a AD, a linguagem é entendida como uma “tecnologia”

em eterno movimento. “O fragmentário, o disperso, o incompleto, o não

transparente. Eis o domínio da reflexão discursiva.” (ORLANDI, 2003,

p. 12).

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Dessa forma, a Análise do Discurso procura percorrer novos e

diferentes caminhos, redefinindo-se sempre na busca da coerência entre

sua prática e sua teoria. Nas palavras de Orlandi (2003, p. 11), “não há

um acúmulo científico fixo, no que diz respeito à teoria, à definição de

seu objeto e método(s): a cada passo, a AD redimensiona seu objeto,

revalida aspectos teóricos e se relaciona criticamente com seu(s)

método(s).”

A AD trabalha, na visão de Orlandi (2012, p. 9), com processos

de produção do discurso que aparecem em três momentos igualmente,

todos com o mesmo valor analítico. Primeiramente, a constituição do

discurso a partir da memória do dizer, isto é, o contexto histórico-

ideológico. Depois, com a formulação do discurso, que envolvem a

produção e as circunstâncias da enunciação. E por último, na circulação

desse discurso, que acontece em certo contexto específico, o que revela

as condições histórico-sociais que lhe dão força. Nas palavras de

Orlandi (2012, p. 9), “é na formulação que a linguagem ganha vida, que

a memória se atualiza, que os sentidos se decidem, que o sujeito se

mostra (e se esconde).”

Destacados esses elementos do processo de produção do discurso,

a AD principia seu mecanismo de análise questionando as relações

sociais, ideológicas e históricas entre falantes e ouvintes, que fazem

parte do discurso a ser analisado. Segundo Orlandi (2003, p. 117):

Do ponto de vista da análise do discurso, o que

importa é destacar o modo de funcionamento da

linguagem, sem esquecer que esse funcionamento

não é integralmente linguístico, uma vez que dele

fazem parte as condições de produção, que

representam o mecanismo de situar os

protagonistas e o objeto do discurso.

Para a Análise do Discurso, é importante o tratamento que se dá

ao texto. Segundo Orlandi (2003, p. 12), “este se apresenta como

monumento e não como document.o. Não é de interesse da AD tomar o

texto apenas no seu lado contextual, isto é, “a materialidade linguística

através das condições empíricas do texto, estabelecendo categorias para

sua interpretação.” (CAREGNATO; MUTTI, 2006, p. 683-684), mas buscar no texto os efeitos de sentido referente ao discurso. Para Orlandi

(2003, p. 13), “a AD problematiza a atribuição de sentido(s) ao texto,

procurando mostrar tanto a materialidade do sentido como os processos

de constituição do sujeito, que instituem o funcionamento discursivo de

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qualquer texto.” Para a Análise do Discurso, o texto dá “informações”

sobre a posição discursiva do sujeito enunciador, legitimadas pela sua

posição histórica, social e ideológica. Dessa forma, pode-se dizer que a

teoria, a crítica, a ideologia e o sentido são alguns dos mais importantes

fundamentos da AD.

O sentido, um dos alicerces da AD, não se desenvolve em linha

reta, não se mede e nem é facilmente calculado, uma vez que se

apresenta de diversas formas. Para Orlandi (2003, p. 162), “todos os

sentidos são de direito sentidos possíveis.” Esta dissertação apropria-se

da vertente de sentido que a coloca dentro das condições de produções

discursivas no ambiente educacional, onde é possível distinguir a

predominância de um sentido, sem que isso apague ou elimine os

sentidos paralelos. “A sedimentação de processos de significação, em

termos de sua dominância, se dá historicamente: o sentido que se

sedimenta é aquele que, dadas certas condições, ganha estatuto

dominante.” (ORLANDI, 2003, p. 162).

Para a AD, quanto mais ligado a uma instituição, mais o discurso

se torna legitimado. A escola, fortalecida pela sua tradição histórico-

temporal, é uma dessas instituições e é pensada como a sede da

reprodução de conhecimento e da propagação cultural. Para Orlandi

(2003, p. 162), “a institucionalização de um sentido dominante lhe

atribui o prestígio de legitimidade e este se fixa, então, no centro: o

sentido oficial (literal).” Dessa maneira, é possível definir a escola como

uma ordem legítima, uma vez que ela se baseia em leis, em modelos de

conduta obrigatórios, em discursos que validam suas ações. E é na

escola que os discursos pedagógicos (DP) transitam. Para Orlandi (2003,

p. 23),

A escola é a sede do DP. Em última instância, é o

fato de estar vinculado à escola, isto é, a uma

instituição, que faz do DP aquilo que é,

mostrando-o em sua função: um dizer

institucionalizado, sobre coisas, que se garante,

garantindo a instituição que se origina e para qual

tende.

Para a análise do discurso é importante distinguir as condições de produção dos discursos, para examiná-las em sua singularidade, sem

perder de vista a sua generalidade. Para Possenti (2009, p. 13), “a leitura

não é leitura de um texto enquanto texto, mas enquanto discurso, isto é,

na medida em que é remetido a suas condições, principalmente

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institucionais, de produção.” Dessa forma, conforme a AD, para que um

texto possa ser lido objetivamente, é necessário selecionar e descrever

os espaços nos quais esses discursos são produzidos, sem, no entanto,

exercer “o papel de árbitro em relação ao que seja ou não uma leitura

adequada.” (POSSENTI, 2009, p. 14). Um texto pode ser “lido” de

muitas maneiras, nele muitas “vozes” aparecem, há intertextualidade, os

sentidos se diversificam e se expandem. Segundo Orlandi (2012, p. 95),

às margens do texto, textos fantasmas diluem as

bordas da textualização, seus limites. Desse ponto

de vista, um mesmo texto, imaginado, volta

sempre, fazendo seu retorno em várias retomadas

por um sujeito autor que trabalha diferentes

formulações (versões) em uma história inacabada

das diferentes textualizações possíveis.

Como já foi visto, um dos princípios da Análise do Discurso

estabelece que “não há discurso sem sujeito, nem sujeito sem

ideologia.” (PÊCHEUX apud Orlandi, 2013, p. 47). A forma do sujeito

histórico corresponde à forma do sujeito social, que determina o que diz,

mas que, por outro lado, é determinado pela exterioridade (ORLANDI,

2012, p. 91). Essa exterioridade, nas palavras de Orlandi (2012, p. 91), é

“algo que fala antes, em outro lugar, e independentemente.” Por isso, é

importante que se defina, para dar uma direção à análise, o tipo de

discurso identificado no texto a ser analisado. Segundo Orlandi (2003, p.

219) “diante de um material a ser analisado, o fato de se utilizar uma ou

outra tipologia resultará em um recorte que é seletivo, isto é, que

salientará esse ou aquele dado, esse ou aquele traço.” A escolha da

tipologia, na análise do texto, deve seguir os objetivos da análise e a

natureza do texto.

Para a AD, é possível definir três tipos de discurso em

funcionamento: o lúdico, o polêmico e o autoritário. Segundo Orlandi

(2003, p. 29), “o critério para a distinção está na relação entre os

interlocutores e o referente, isto é, na suas condições de produção.” No

tipo de discurso a ser desenvolvido neste trabalho, que tem o Projeto

Político Pedagógico da Rede Municipal de Criciúma como texto-

discurso, a marca principal é o aspecto autoritário, cujas características se enquadram nos discursos produzidos no contexto educacional, no

discurso pedagógico (DP). “Procurando caracterizar o DP, pudemos

observar que tal qual ele se mostra atualmente em uma formação social

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como a nossa, ele se apresenta como um discurso autoritário, logo, sem

nenhuma neutralidade.” (ORLANDI, 2003, p. 29).

A educação, no seu sentido mais amplo, engloba qualquer

processo de socialização no qual ocorra o movimento ensinar/aprender.

Ela é exercida nos mais diversos espaços de convívio social e funciona

como construção cultural, como formação humana, como

compartilhamento de conhecimento. Na educação formal, que ocorre no

espaço escolar, a prática educativa se dá de maneira intencional, com

objetivos determinados. Para Orlandi (2003, p. 23), “a escola atua

através da convenção: o costume que, dentro de um grupo, se considera

como válido e está garantido pela reprovação da conduta discordante.”

Ao longo da história, os comportamentos, as ideias e as ações se

modificaram num contínuo movimento de adaptação, transformação ou

mesmo acomodação. Nesses movimentos, em situações particulares, os

discursos produzidos são um reflexo das vozes que os produzem,

trazendo implícito em cada um deles a herança cultural. Dentro desse

cenário, a educação sempre esteve presente, servindo aos interesses e

expectativas da sociedade organizada, cada um deles com os seus

saberes legitimamente institucionalizados. Segundo Pey (1988, p. 11),

As “falas” orais ou escritas que circulam nas

instituições educacionais são muito poderosas.

Elas podem ocultar ou explicitar a realidade,

menosprezar ou prestigiar aqueles a que se

dirigem, confundir ou esclarecer dúvidas; enfim,

elas têm o poder de ora pronunciar a educação da

adaptação, ora anunciar a educação da

transformação.

O discurso autoritário busca a unificação do sentido, de maneira

que o discurso, no seu contexto de produção, não apenas se torne

dominante, mas seja o único. “Há, em relação à escola, uma seleção que

decide, de antemão, quem faz parte dela e quem não faz, quem está em

condições de se apropriar desses discursos e quem não está.”

(ORLANDI, 2003, p. 34). O autoritarismo está na escola e nos seus

discursos, está nas relações sociais, está em toda ação de inculcar.

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5 PLANO POLÍTICO PEDAGÓGICO: CONSTITUIÇÃO

DISCURSIVA E ORIGEM SOCIAL

5.1 MOVIMENTOS EDUCACIONAIS E SEUS REFLEXOS NA

EDUCAÇÃO

O que ensinar, como ensinar e para quem ensinar são decisões

que sempre estiveram ligadas aos interesses políticos e ideológicos,

numa relação disciplinar entre o saber e o poder. “Na escola as pessoas

falam, escrevem e lêem. São falas que fazem falar, falas que dizem e

também falas que calam, inibem, ocultam ou confundem.” (PEY, 1988,

p. 6). Educar nunca foi um fenômeno neutro. Assim, para que se

compreenda o desenvolvimento histórico político da educação no Brasil,

destacam-se alguns momentos importantes nesse processo cultural,

levando em conta “a inerente historicidade do fenômeno educacional e

suas relações e articulações com as políticas educacionais.”

(GREGORUTTI, 2011, p. 19).

No Brasil, historicamente, o início da educação está vinculado à

vinda dos jesuítas, no século XV. As atividades missionárias, tanto nas

cidades como no campo, se comprometeram com a formação escolar,

uma vez que encontraram aqui um território desprovido de um sistema

de escrita e sem nenhuma norma educacional. Com a vinda da família

real, no século XIX, a educação no Brasil foi impulsionada, em função

da criação de escolas militares (Real Academia Naval e Academia

Militar Real) aos moldes das escolas europeias, com a abertura da

Biblioteca Nacional, com o nascimento do Jardim Botânico e com a

fundação da Escola de Medicina do Rio de Janeiro. Bello (2001)

comenta que:

A vinda da Família Real, em 1808, permitiu uma

nova ruptura com a situação anterior. Para atender

as necessidades de sua estadia no Brasil, D. João

VI abriu Academias Militares, Escolas de Direito

e Medicina, a Biblioteca Real, o Jardim Botânico

e, sua iniciativa mais marcante em termos de

mudança, a Imprensa Régia. Segundo alguns

autores, o Brasil foi finalmente "descoberto" e a

nossa História passou a ter uma complexidade

maior. O surgimento da imprensa permitiu que os

fatos e as ideias fossem divulgados e discutidos no

meio da população letrada, preparando terreno

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propício para as questões políticas que permearam

o período seguinte da História do Brasil.

Mais tarde, na Constituição de 1924, inspirada nos ideais da

Revolução Francesa, surgiu a concepção de uma educação calcada na

liberdade, que, dentre os compromissos assumidos, incluía a instrução

primária gratuita, estendida a todos os cidadãos brasileiros. Nesse

período, para atender à demanda escolar, foi fundada a primeira escola

de formação dos professores: a Escola Normal de Niterói (1935). “A

Escola Normal da província de Niterói deveria ser o centro formador de

professores que teriam a missão de auxiliar na ordenação moral dos

cidadãos.” (MARTINS, 2009). As mudanças na educação brasileira

sempre refletiram, nos seus princípios, as características e tendências

adotadas pelo regime político vigente. Sendo assim, a formalização, a

centralização e o autoritarismo são marcas que se perpetuaram durante a

história.

A educação brasileira passou por outras mudanças com a

instauração da República, mantendo as mesmas características adotadas

pelo novo governo. Contudo, é no início da Era Vargas (1930) que

surgem as reformas educacionais mais modernas, levando-se em conta a

necessidade mercadológica de mão de obra especializada, para atender o

setor urbano-industrial em crescimento. Gadotti (1997, p. 111) afirma

que

No Estado nacional-populista a escola

representava o instrumento ideal para a

disseminação da nova ideologia

desenvolvimentista, isto é, o mito do

desenvolvimento capaz de produzir o bem-estar

de todos, independentemente de classe social.

Nesse período foi organizado o Conselho Nacional de Educação,

através do Decreto n. 9.850, de 11 de abril de 1931, incumbido de criar

o primeiro Plano Nacional de Educação. Segundo Gadotti (1997, p.

111),

[...] em 1930 foi criado o Ministério da Educação

e Saúde. Seu primeiro Ministro (Francisco

Campos) cria o Conselho Nacional de Educação,

ao mesmo tempo em que reforma o ensino

secundário; cria o ensino comercial e estabelece o

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Estatuto das Universidades Brasileiras (Reforma

Campos).

Há, nesse momento, o interesse em discutir a educação nos meios

intelectuais brasileiros, com a intenção de promover a melhoria no

processo de estabilização social. O texto do “Manifesto dos Pioneiros da

Educação Nova”, de março de 1932, é um dos documentos que, segundo

Bedin (2011, p. 13), “marcou a história da educação brasileira,

representou o pensamento intelectual da época.” Saviani (2004, p. 34)

entende o documento “como um instrumento político que expressa a

posição do grupo de educadores que se aglutinou na década de 1920 e

que vislumbrou na Revolução de 1930 a oportunidade de vir a exercer o

controle da educação no país.”

Em 1964, com a instauração do governo militar no Brasil, as

decisões, no âmbito das políticas educacionais, ficaram centralizadas e

fortalecidas no Executivo. Nas palavras de Gregorutti (2011, p. 22), “em

1971, ainda sob o regime militar, e tendo como orientação o acordo

MEC/Usaid, é editada a Lei Federal nº 5692.” Para esse autor,

A pedagogia tecnicista é convertida em pedagogia

oficial, estendendo-se a tendência produtivista a

todas as escolas do país. Incorporando à legislação

os princípios da racionalidade, da eficiência e da

produtividade, apresenta-se como o pano de fundo

dessa tendência a teoria do capital humano,

baseada no jargão “máximo resultado com

mínimo de dispêndio” (2011, p. 22).

Esses intelectuais concluíram, que em virtude da exigência do

mundo moderno, capitalista, as instituições educacionais estavam muito

defasadas, devendo ser modernizadas de acordo com a nova realidade

social (GADOTTI, 1997). Dessa forma, a reestruturação da escola, no

campo do saber, está sob o domínio do Estado, que na normalização do

discurso pedagógico torna invisível o seu poder. Para Orlandi (2003, p.

30), “há uma indistinção feita pela linguagem escolar que se presta a

uma função tranqüilizante: não há sustos, dúvidas ou questões sem

respostas. Assim se constrói o saber devido, o saber útil (vale perguntar: para quem?).”

A escola, então, se consolida como uma grande promessa de

ascensão social dos diferentes. O Estado‐Nação se compromete com a

educação gratuita, e os paradigmas capitalistas da produção

asseguravam empregos fixos e ambos contribuíam para a aceitação, de

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certa forma com o aval da sociedade, das formas de exploração.

Segundo Orlandi (2003, p. 22),

A escola tem uma função de dissimulação;

apresenta hierarquias sociais e a reprodução

dessas como se estivessem baseadas na hierarquia

de dons, méritos ou competências e não como

hierarquia fundada na afirmação brutal de relações

de forças. Convertem hierarquias sociais em

hierarquias escolares e com isso legitimam a

perpetuação da ordem social.

Com as pressões sociais organizadas pela sociedade civil, uma

distensão lenta, gradual e segura é formulada pelos militares em 1974,

iniciando o processo de saída do período ditatorial; em 1979 ocorre a

denominada “abertura democrática”. Para Saviani (2004, p. 39), a

“transição democrática” fez-se segundo a estratégia da conciliação pelo

alto, visando à garantia da continuidade da ordem socioeconômica.

Para Gregorutti (2011, p. 9), “nos anos 1980, os educadores

brasileiros reivindicaram maior participação nas decisões, na gestão do

ensino, na elaboração do Projeto Pedagógico das escolas e na

formulação das políticas educativas.” Dessa maneira, os discursos

anunciando as mudanças na educação são construídos, criando a

expectativa em torno da escola, caracterizada como um local apropriado

para acolher e modelar o novo cidadão. Conforme Gregorutti (2011, p.

28-29), a nova Constituição (1988) traz “importantes alterações na área

educacional, principalmente quanto à inclusão das reivindicações dos

professores em participar das decisões, instituindo, assim, a gestão

democrática nas escolas.”

Em 1996, foi elaborava a nova Lei de Diretrizes e Base da

Educação (LDB), que instituiu a política educacional brasileira.

Conforme documento da Câmara dos Deputados, “desde sua

promulgação, em 20 de setembro de 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da

Educação nacional vem redesenhando o sistema educacional brasileiro

em todos os níveis [...]” (BRASIL, 1996, p. 1). Esse documento define

que a educação no Brasil deve ser organizada e administrada

separadamente por cada nível de governo. Dessa maneira, a União, os

Estados, o Distrito Federal e os municípios devem criar seus próprios

mecanismos e sistemas de ensino, gerenciados pelo governo federal

através do Ministério da Educação.

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Com base nessa nova lei, em artigos que serão posteriormente

citados, o sistema de ensino concede às escolas públicas da educação

básica, entre outras incumbências, a autonomia para a elaboração da

proposta pedagógica, que segundo Gregorutti (2011, p. 29), “observadas

as normas gerais de direito financeiro público que os integram –

progressivos graus de autonomia pedagógica, de administração e de

gestão financeira, definirão as normas da gestão democrática do ensino

público.”

Vale citar que outros movimentos aconteceram depois do

surgimento da LDB, contribuíram de alguma maneira com as diretrizes

das políticas educacionais. Dentre eles, pode-se citar o Plano Nacional

de Educação (PNE de 2001), o Plano de Desenvolvimento da Educação

(PDE de 2007), o Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE-Escola)

(GREGORUTTI, 2011).

Por fim, pode-se dizer que com avanços e recuos, sabendo-se que

é impossível escapar das influências globalizadoras da sociedade

moderna, foram criadas as condições para o desenvolvimento do sistema

de ensino no Brasil, sem esquecer que a educação não está imune nem

ao “espírito do sistema”, nem aos princípios ideológicos de quem está

no poder.

5.2 A LDB E A PROPOSIÇÃO DA EXISTÊNCIA DO PLANO

POLÍTICO PEDAGÓGICO (PPP)

Na educação, o Ministério da Educação (MEC) passa a ser o

centralizador do discurso oficial e alguns princípios, como gestão

democrática, autonomia da escola, construção do Projeto Político

Pedagógico e descentralização (municipalização) passam a ser

incorporadas ao sistema educacional (GREGORUTTI, 2011). O Projeto

Político Pedagógico (PPP), sem poder fugir à regra, originado que é da

LDB, passou a ser “uma exigência e as escolas estão diante do desafio

de concretizarem e fortalecerem mecanismos mais participativos e

democráticos de decisão em seu interior” (2011, p. 39). Nessa Lei

destacam-se a autonomia e a possibilidade de participação dos

envolvidos no universo escolar, componentes muito relevantes para a

proposta de um novo caminho no ensino.

Nos artigos abaixo citados, fica evidenciada a visão do Estado

sobre educação e as obrigações das escolas, dos docentes e todo o

conjunto formador do sistema de ensino.

Da Educação

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Art. 1º - A educação abrange os processos

formativos que se desenvolvem na vida familiar,

na convivência humana, no trabalho, nas

instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos

sociais e organizações da sociedade civil e nas

manifestações culturais.

§ 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se

desenvolve, predominantemente, por meio do

ensino, em instituições próprias.

§ 2º A educação escolar deverá vincular-se ao

mundo do trabalho e à prática social.

Dos Princípios e Fins da Educação Nacional

Art. 2º A educação, dever da família e do Estado,

inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais

de solidariedade humana, tem por finalidade o

pleno desenvolvimento do educando, seu preparo

para o exercício da cidadania e sua qualificação

para o trabalho.

Art. 3º O ensino será ministrado com base nos

seguintes princípios:

I - igualdade de condições para o acesso e

permanência na escola;

II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e

divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber;

III - pluralismo de idéias e de concepções

pedagógicas;

IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância;

V - coexistência de instituições públicas e

privadas de ensino;

VI - gratuidade do ensino público em

estabelecimentos oficiais;

VII - valorização do profissional da educação

escolar;

VIII - gestão democrática do ensino público, na

forma desta Lei e da legislação dos sistemas de

ensino;

IX - garantia de padrão de qualidade;

X - valorização da experiência extra-escolar;

XI - vinculação entre a educação escolar, o

trabalho e as práticas sociais.

XII - consideração com a diversidade étnico-

racial. (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)

elaborar e executar sua proposta pedagógica.

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Art. 12º Os estabelecimentos de ensino,

respeitadas as normas comuns e as de seu sistema

de ensino, terão a incumbência de:

I. Elaborar e executar sua proposta pedagógica;

II. Administrar seu pessoal e seus recursos

materiais e financeiros;

III. Assegurar o cumprimento dos dias letivos e

horas-aula estabelecidas;

IV. Velar pelo cumprimento do plano de trabalho

de cada docente;

V. prover meios para a recuperação dos alunos de

menor rendimento;

VI. Articular-se com as famílias e a comunidade,

criando processos de integração da sociedade com

a escola;

VII. Informar os pais e responsáveis sobre a

freqüência e o rendimento dos alunos, bem como

sobre a execução de sua proposta pedagógica.

Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de:

I. Participar da elaboração da proposta pedagógica

do estabelecimento de ensino;

II. Elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo

a proposta do estabelecimento de ensino; zelar

pela aprendizagem dos alunos;

III. Estabelecer estratégias de recuperação para os

alunos de menor rendimento;

IV. Ministrar os dias letivos e horas-aula

estabelecidos, além de participar integralmente

dos períodos dedicados ao planejamento, à

avaliação e ao desenvolvimento profissional;

V. Colaborar com as atividades de articulação da

escola com as famílias e a comunidade.

Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas

da gestão democrática do ensino público na

educação básica, de acordo com as suas

peculiaridades e conforme os seguintes princípios:

I. Participação dos profissionais da educação na

elaboração do Projeto Pedagógico da escola;

II. Participação das comunidades escolar e local

em conselhos escolares ou equivalentes.

Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às

unidades escolares públicas de educação básica

que os integram progressivos graus de autonomia

pedagógica e administrativa e de gestão

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financeira, observadas as normas gerais de direito

financeiro público (BRASIL, 1996).

A LDB define o objeto e o objetivo da educação, estabelece a

obrigatoriedade do Projeto Político Pedagógico e determina que o

mesmo seja elaborado pela escola e seus profissionais da educação,

numa tarefa coletiva, com a participação da comunidade, na qual a

escola está inserida. O PPP, nas palavras de Gregorutti (2011, p. 10),

Se construído a partir da vivência democrática e

com a participação de todos os segmentos que

compõem a comunidade escolar, torna-se

instrumento de superação, de ruptura e de

participação democrática ao possibilitar a

ampliação da consciência e dos direitos dos

cidadãos, no sentido de pertencerem a uma escola

que tenha uma função social na comunidade.

O Projeto Político Pedagógico pode ser descrito como uma ação

intencional na busca de soluções e direção, com um compromisso sócio-

político intimamente ligado aos interesses do seu público-alvo e com a

formação do cidadão social. Para Albino (2011, p. 663-664), o PPP pode

ser entendido, politicamente, como “a resistência à regulação oficial e

crença na possibilidade de construir a identidade escolar através de um

Projeto Político Pedagógico comprometido com a qualidade da

educação.”

Na dimensão pedagógica, o PPP “se constitui em norteador do

‘programa de ensino’, do currículo, da metodologia adotada, do

processo de avaliação de disciplina adotado, da didática de ensino e de

outras decisões que compõem o cotidiano escolar.” (MALAVAZI, 1995,

p. 4). O Projeto Pedagógico visa a formação de um cidadão

participativo, compromissado, crítico, criativo e responsável (VEIGA,

2006, p. 13). Político e pedagógico são conceitos que têm, dessa forma,

uma significação indissociável.

Dessa forma, a escola é, por uma definição tradicional, o local

onde se compartilha e constrói conhecimento, onde as políticas públicas

se concretizam, de onde saem as demandas que influenciam essas políticas. Por outro lado, as leis são importantes, mas, por si só não

provocam nenhuma mudança, se não forem acompanhadas de ações

transformadoras. Para Reynaud (2000, p.11),

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As ideias em educação, são de fundamental

importância, mais do que em qualquer outro

campo de ação; no entanto, se não forem postas

em prática, só servem para o debate prazeroso e

para a compreensão, mas não geram

transformação, são letra morta.

Por esse prisma, construir um Projeto Político Pedagógico requer

o cumprimento de algumas condições especiais: a participação de todos

os envolvidos no Projeto, a autonomia e uma constante reflexão sobre o

cotidiano da escola, para a qual está sendo elaborado o PPP. Segundo

Neves (1996, apud REYNAUD, 2000, p. 3), “na realidade escolar,

autonomia é exercício de democratização de espaço público: é delegar à

direção e aos demais agentes pedagógicos a possibilidade de responder

aos cidadãos a quem prestam serviço”.

O Projeto Político Pedagógico tem co.m um dos seus objetivos

definir que tipo de sociedade e cidadãos a escola quer construir e quais

os caminhos que ela deve seguir para alcançar essa meta. Para Reynaud

(2000, p. 2), o PPP “firma o ideal de sua prática para dar significado ao

esforço desencadeado.” Portanto, só é Projeto Político Pedagógico, se

conseguir alcançar sua intencionalidade, criando um novo cenário

social, com a participação efetiva de todos os envolvidos nesse

processo. Para Velho (apud MEDEIROS; SILVA, 2009, p. 3), “o PPP é

formado dentro de um campo de possibilidades históricas e culturais e

sua continuidade e estabilidade dependem de sua capacidade de definir a

realidade de maneira convincente e coerente, que garanta eficácia

política e simbólica.”

Entretanto, há no ambiente escolar uma triagem velada que define

quem faz e quem não faz parte dele, quem tem o poder de se apropriar

do discurso pedagógico e quem não tem. “O produtor da linguagem não

possui seu controle, ainda assim sua naturalidade não é natural nem sua

arbitrariedade arbitrária, pois encontra sua motivação na forma social,

no sistema de produção a que pertence.” (ROSSI-LANDI, 1975 apud

ORLANDI, 2003, p. 25). E é no ambiente escolar que o Projeto Político

Pedagógico é desenvolvido e pode ser observado como a materialidade

dos discursos que o regem, uma vez que a Análise do Discurso se

interessa pela compreensão de como um objeto simbólico produz

sentido. Para Orlandi (2012, p. 26), “a compreensão procura a

explicitação dos processos de significação presentes no texto e permite

que se possam ‘escutar’ outros sentidos que ali estão, compreendendo

como eles se constituem.”

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Dessa maneira, a partir do embasamento teórico da Análise do

Discurso, apresentado nesta dissertação, pode-se afirmar que o PPP tem

sua discursividade constituída a partir dos diálogos entre os sujeitos

responsáveis em redigi-lo. Não foi pensado, para uma análise discursiva,

o PPP como estrutura textual ou linguística, um texto fechado e pronto,

mas pensado no corpus como uma unidade de significação, respeitando

sua incompletude e cujo sentido está oculto nos discursos dos

interlocutores, cabíveis de interpretações. Orlandi (2013, p. 10) adverte

que, “diante de qualquer fato, de qualquer objeto simbólico somos

instados a interpretar, havendo uma injunção a interpretar. Ao falar,

interpretamos. Mas, ao mesmo tempo, os sentidos parecem já estar

sempre lá..”

E se, por definição, o PPP envolve um ambiente histórico-social,

intenção, sentido e ideologia, pode-se dizer que implica discurso. E

como tal, se torna um corpus fértil para a análise do discurso.

5.3 PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: IMPOSIÇÃO OU

TRANSFORMAÇÃO SOCIAL?

Por imposição da Lei, a escola recebeu a tarefa de elaborar e

executar o Projeto Pedagógico de forma coletiva e democrática, isto é,

com a participação de todos os envolvidos no sistema de ensino, além da

comunidade escolar local. Dessa maneira, a proposta de uma gestão, no

ensino público, tem o desafio de fortalecer os mecanismos participativos

e democráticos, dentro do ambiente escolar. Nas palavras de Gregorutti

(2011, p.39):

A gestão democrática, portanto, é uma conquista

da sociedade civil na defesa de uma escola pública

e democrática que ofereça elevado nível de

qualidade para a população usuária em

contraposição a uma gestão instituída pelo Estado

que objetiva desresponsabilizar-se dos seus

deveres.

Dessa maneira, diante das mudanças histórico-sociais e legais, foi

necessário que os municípios articulassem um conjunto de propostas, ações e estratégias para que pudessem oferecer à população

oportunidades de desenvolvimento, crescimento individual e coletivo.

Conforme Veiga (2006, p. 15),

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Para modificar sua própria realidade cultural, a

instituição educativa deverá apostar em novos

valores. Em vez da padronização, propor a

singularidade; em vez de dependência, construir a

autonomia; em vez de isolamento e

individualismo, o coletivo e a participação; em

vez da privacidade do trabalho pedagógico,

propor que seja público; em vez de autoritarismo,

a gestão democrática; em vez de cristalizar o

instituído, inová-lo; em vez de qualidade total,

investir na qualidade para todos.

Nos textos dos Projetos Políticos Pedagógicos, seguindo a

orientação da LDB, é possível identificar a intencionalidade em atingir

as metas propostas pelo documento, que orienta uma “simbiose” entre a

gestão democrática e a gestão em ação. Juntas e coerentes com o

discurso institucionalizado devem buscar:

– Um sistema público de ensino com autonomia,

democrático, sem discriminações, racismos e

intolerâncias;

– Um sistema público de ensino cujos atores

ouçam falar de solidariedade, cidadania,

república, direitos etc., e que sejam esses

conceitos vinculados à sua prática de vida.

(FERNANDES, 2005, p. 5).

Em outras palavras, os textos dos Projetos Políticos Pedagógicos

deixam claro que exigem da escola, através de sua estrutura humana e

pedagógica, a formação de um cidadão crítico, reflexivo, conscientes de

seus direitos e deveres.

O Projeto Político Pedagógico, ao mesmo tempo

em que exige dos educadores, funcionários,

alunos e pais a definição clara do tipo de escola

que intentam, requer a definição de fins. Assim,

todos deverão definir o tipo de sociedade e o tipo

de cidadão que pretendem formar. (VEIGA, 2006,

p. 17).

Desta forma, a preocupação fundamental da escola pública, se

analisarmos o PPP, deve ser a busca por uma educação de qualidade e

ao alcance de todos. Complementando, Veiga (2006, p.1), observa:

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Desenvolver o educando, prepará-lo para o

exercício da cidadania e do trabalho significam a

construção de um sujeito que domine

conhecimentos, dotado de atitudes necessárias

para fazer parte de um sistema político, para

participar dos processos de produção da

sobrevivência e para desenvolver-se pessoal e

social.

O PPP determina, também, a descentralização do poder, a

democratização e a autonomia, requisitos básicos a serem seguidos, para

que o Projeto não se transforme num documento inútil e esquecido.

Contudo, não basta regulamentar a autonomia. É

preciso criar condições para que ela seja

construída, em cada escola, de acordo com as suas

especificidades locais e no respeito pelos

princípios e objectivos que informam o sistema

público nacional de ensino. (BARROSO, 2003, p.

2).

Se por um lado o PPP, no papel, propicia autonomia à escola,

dando-lhe voz, por outro essa autonomia só poderá ser alcançada se

houver participação consciente e responsável de todos os envolvidos no

Projeto. É necessário que se compreenda e se absorva o conceito de

sujeito coletivo. Para Reynaud (2000, p. 3):

É indispensável eliminar as relações competitivas,

corporativas e autoritárias que impossibilitam a

vivência democrática e a resolução de conflitos de

forma criativa, diminuindo os efeitos

fragmentários da divisão do trabalho, que

reforçam as diferenças e hierarquizam os poderes

de decisão.

Dessa forma, autonomia e participação desenvolvem-se

paralelamente e deveriam acontecer nas ações diárias escolares e nas

relações entre os agentes desse processo. Para Gregorutti (2011, p. 45),

“é a ação dos diversos membros que compõem a comunidade escolar

que precisa ser incentivada para a efetiva construção da sua autonomia.”

Em síntese, o Projeto Político Pedagógico orienta todos a buscar

a qualidade da educação, seja ela do ponto de vista político ou

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pedagógico. Conforme Veiga (2006, p. 3) sugere, “a qualidade que se

busca implica duas dimensões indissociáveis: a formal ou técnica e a

política. Uma não está subordinada a outra; cada uma delas tem

perspectivas próprias.” Segundo o autor, a qualidade formal está ligada

aos instrumentos, técnicas e métodos, e a qualidade política, por sua vez,

fundamenta-se na participação coletiva e na visão de uma educação

transformadora. Para Gregorutti (2011, p. 45),

A escola que objetiva construir uma gestão

democrática precisa criar condições para romper

com a autonomia aparente, decretada ou

instituída, romper com modelos de centralização,

paternalismos, dependências, inércia e burocracia

excessiva; portanto, é a ação dos diversos

membros que compõem a comunidade escolar que

precisa ser incentivada para a efetiva construção

da sua autonomia.

Todavia, o ambiente escolar é, historicamente, um espaço de

resistência. De acordo com Giroux (1997, p. 204-205),

As escolas são terrenos políticos e ideológicos a

partir dos quais a cultura dominante “fabrica” suas

“certezas” hegemônicas, mas elas também são

lugares nos quais grupos dominantes e

subordinados definem e pressionam uns aos

outros através de uma constante batalha e

intercâmbio em resposta às condições sócio-

históricas “contidas” nas práticas institucionais,

textuais e vividas que definem a cultura escolar e

a experiência professor/estudante.

Os agentes envolvidos na máquina educadora muitas vezes têm

posições políticas diferentes e muitas vezes visões contraditórias sobre

as regras e os caminhos da educação, impostas pelos discursos oficiais.

Como aponta Gadotti Neto (2011, p. 21),

Seja qual for a perspectiva da educação

contemporânea, uma educação voltada para o

futuro será sempre uma educação contestadora,

superadora dos limites impostos pelo Estado e

pelo mercado, portanto, uma educação muito mais

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voltada para a transformação social do que para a

transmissão cultural.

Paralelamente ao discurso que promove a autonomia das

instituições escolares, enfatizando a participação coletiva, com um apelo

em torno dos ideais de liberdade e igualdade,

Os projetos têm sido aprovados por Secretarias de

Educação, Núcleos de Ensino que emitem o

parecer favorável ou contrário. Esses aspectos

estão colados com a reforma do Estado, na qual o

mesmo fortalece-se na função de promotor e

regulador. (BATISTA, 2012, 118).

Referindo-se ao mesmo tema, Veiga (2006, p. 49) diz que “o

Projeto da escola orienta-se por planos de curta duração, que muitas

vezes são padronizados e vêm de cima para baixo, como uma forma de

controle e vigilância.”

Há outra linha de pensadores que entende a escola como uma

instituição a serviço do Estado e, portanto, fiel à sua ideologia. Para essa

linha de pensamento, a função do PPP é, nas palavras de Silva (2003, p.

292), “a conformação dos comportamentos e a inibição daqueles

indesejáveis.” Esses autores defendem que a democratização da escola

está contida num discurso vazio, “uma vez que, atualmente, temos uma

grande distância entre o que é colocado em lei e o que é de fato

realizado no dia a dia das escolas.” (GREGORUTTI, 2011, p. 43).

E é nesse conflito, entre a transformação e a submissão, que a

organização escolar vai fundamentando os seus aspectos político-

pedagógicos e vai construindo os seus discursos.

Analisando na perspectiva da educação, Orlandi (2003, p. 21),

sugere que “as questões não se podem dizer nem verdadeiras nem falsas,

pois não se trata de explicar fatos, mas de se mostrar a perspectiva de

como podem ser vistos.”

Assim, é possível concluir que o espaço escolar é um lugar

repleto de particularidades e diferenças, onde as ideias, os conceitos e as

ideologias são, muitas vezes, forças antagônicas de igual intensidade.

De acordo com Gregorutti (2011, p. 12-13),

O processo de investigação a respeito da

construção do Projeto Político Pedagógico nas

escolas implica em uma interpretação do objeto

estudado, passando da percepção para o

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conhecimento que – como processo – necessita

ser reconstruído; assim, a investigação é uma

forma de ação que procura tornar visível o

invisível, fazendo perceber o que não se percebe e

ver o que normalmente não se vê.

Para finalizar, baseado no que foi exposto, entender as condições

em que o Projeto Político Pedagógico da Rede Municipal de Educação

de Criciúma foi produzido, auxilia no processo investigativo nos moldes

da Análise de Discurso. Desta forma, conhecer o PPP ajuda na

descoberta das vozes que fazem parte dos discursos nesse documento.

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71

6 A REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE CRICIÚMA/SC E O

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO

6.1 A CIDADE DE CRICIÚMA/SC

Antes da análise de discurso, baseada em recortes de textos

contidos no Projeto Político Pedagógico da Rede Municipal de Criciúma

(SC), é importante que se situe a cidade geograficamente e se faça um

breve relato sobre a sua história.

Figura 1 – Símbolo de Criciúma/SC

Fonte: www.criciuma.sc.gov.br

Criciúma é um município brasileiro, situado no Estado de Santa

Catarina, na região Sul do País. Segundo as estatísticas do IBGE de

2014, conta com 204.667 habitantes. Delimita-se com os municípios de

Siderópolis, Cocal do Sul, Morro da Fumaça ao norte; Maracajá e

Araranguá ao sul; Içara ao leste e Nova Veneza e Forquilhinha ao Oeste.

Figura 2 – Mapa do Brasil e do Estado de Santa Catarina

Fonte: www.criciuma.sc.gov.br

A cidade nasceu no final do século XIX, durante o ciclo da

imigração europeia, e o dia 6 de janeiro de 1880 é considerado a data da

sua fundação. O início da colonização do município ocorreu com a

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chegada das primeiras famílias de italianos que, oriundos da Itália,

vieram procurar novas oportunidades, em terras promissoras. Segundo

Gasparetto Junior (2010, p. 799) “o Brasil era um local atrativo por

causa de seu florescimento econômico e em consequência da

propaganda realizada na Europa.”

Mais tarde chegaram à região imigrantes de outras

nacionalidades, que juntos com os italianos contribuíram de forma

decisiva no desenvolvimento do município. A emancipação política de

Criciúma ocorreu em 1925, com o seu desmembramento da comarca de

Araranguá. Nas palavras de Naspolini Filho (2007, p. 115) “no dia 16 de

dezembro de 1925 ocorreu a primeira eleição política de Cresciuma,

então município emancipado de Araranguá.”

Com uma economia diversificada, Criciúma figura hoje como

uma cidade em franco desenvolvimento, sendo uma das principais

cidades catarinenses e um dos mais importantes centros econômico e

industrial da região sul do estado. “O município é polo industrial em

diversos setores, entre eles: confecção, embalagens, cerâmico, plástico e

descartáveis, metal-mecânico, extração do carvão mineral, construção

civil, comércio e material gráfico.” (PRADO, 2013, p. 46).

Figura 3 – Mapa e bandeira de Criciúma

Fonte: www.criciuma.sc.gov.br

Por ser considerada cidade referência, inclusive na educação, com

suas escolas públicas, particulares e universidade, foi escolhido como

texto-base deste trabalho o Projeto Político Pedagógico da Rede

Municipal de Criciúma (SC).

A elaboração do plano teve início em 2001, na gestão do prefeito municipal Décio Góes (PT), e entrou em vigor em 2004, último ano de

seu mandato. Nesse período, o município contava com 69 escolas da

Rede Municipal e com o Programa de Educação de Jovens e Adultos

(PROEJA). Foram convidados para participar da elaboração do PPP

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73

universidades, escolas particulares, sindicatos, conselhos municipais,

Câmara de Vereadores, ONGs, escolas estaduais e a comunidade em

geral.

6.2 O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO PROJETO POLÍTICO

PEDAGÓGICO

A educação no Brasil passou por reformas de ordem de gestão,

política e pedagógica, sempre atendendo à demanda e às exigências do

contexto histórico-social e econômico no qual a escola estava inserida.

A escola pública, como instituição educacional, tem a sua organização

modelada e mediada pelo discurso oficial, isto é, seu discurso deve estar

em consonância com os discursos hierarquicamente superiores –

nacional, estadual e municipal – que ditam as leis do sistema

educacional brasileiro.

Como já foi dito anteriormente, entre as atividades pedagógicas

impostas pela LDB está a criação do Projeto Político Pedagógico.

Conforme Batista (2012, p. 10), “um dos documentos que tem sido

elaborado para organizar as atividades pedagógicas é o Projeto Político

Pedagógico (PPP).”

Faz parte do Projeto Político Pedagógico o conjunto de textos

concebido para a orientação administrativa, curricular e social, com o

objetivo de organizar o funcionamento das unidades escolares. Segundo

Pimentel e Sant’Anna (2006, p. 80), o PPP “integra o conjunto dos

textos elaborados em níveis de gestão que estão relacionados aos

municípios ou à própria escola.” Em conformidade com a legislação que

regula sua existência, espera-se que o PPP seja elaborado pelos

componentes sociais que participam do funcionamento da instituição,

isto é, a direção, os professores, os alunos e as famílias que representam

esses alunos (PIMENTEL; SANT’ANNA, 2006, p. 80). “No Projeto

Pedagógico ficam contidas a identidade da escola, sua intencionalidade

e a revelação de seus compromissos.” (REYNAUD, 2000).

A importância da construção de um PPP está na possibilidade de

se detectar e solucionar problemas referentes a cada unidade escolar, de

construir conhecimentos baseados em teorias já existentes e de

programar as atividades da escola em questão. O PPP tem, também, a

pretensão de ser um instrumento indispensável de ação e de

transformação política, educacional e social. Como afirmou Reynaud

(2000, p. 2), o PPP “é em síntese, a maneira de superar e transformar o

contexto existente, criando o novo, definido coletivamente, pela razão,

emoção e ação.”

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Portanto, construir um Projeto Político Pedagógico de uma rede

de escolas municipais implica em condições essenciais: a conquista da

autonomia, a participação coletiva, a reflexão sobre o cotidiano das

escolas e o diálogo como mediador no processo. “Um Projeto só é

Político Pedagógico, quando busca alternativas viáveis à efetivação de

sua intencionalidade.” (REYNAUD, 2000, p. 2).

Nessa perspectiva, os textos encontrados no Projeto Político

Pedagógico, num cenário de reformas educacionais mediadas pela

ideologia e estimuladas pela promessa de descentralização e autonomia,

são fontes inesgotáveis de sentidos, relações de força e ideologias. Esses

elementos, fundamentais para a AD, possibilitam ao analista desvendar

os sentidos discursivos destes textos envolvidos com a educação e a

descobrir as muitas “vozes” que aparecem e formam esses discursos.

6.3 ELABORAÇÃO DO PPP DA REDE MUNICIPAL DE

CRICIÚMA/SC

A Lei n. 9.394/96, no inciso I do Artigo 12, diz que “respeitadas

as normas comuns e as do seu sistema de ensino”, os estabelecimentos

escolares terão a tarefa de elaborar e executar o seu Projeto Político

Pedagógico: o PPP (BRASIL, 1996). Ele é um documento que nasce do

diálogo entre os diversos segmentos do universo escolar, para que juntos

possam detectar, planejar e solucionar os problemas diagnosticados,

estabelecendo, desta forma, a estrutura administrativo-pedagógica das

escolas.

O quadro abaixo representa a composição organizacional

montada pela secretaria de Educação de Criciúma (SC) para a

elaboração do PPP de sua rede de ensino.

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Figura 4 – Organograma do processo de Construção do PPP

PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO PPP

* Em 2003 o número de escolas municipais foi ampliado de 69 para 71 escolas.

Fonte: LOURENÇO, 2014.

A elaboração do Projeto Político Pedagógico foi dividida em três

etapas: 1) marco diferencial; 2) diagnóstico e 3) programação. Como

metodologia foram usados o questionamento e a problematização para

que fossem identificadas as necessidades e a realidade local das escolas

da Rede Municipal. As discussões e debates ocorreram nas unidades

escolares e em espaços de plenário, até a versão final do texto. Nas

palavras de Lourenço, “como recurso para a elaboração do Marco

Referencial, Diagnóstico e Programação (etapas do PPP), usamos o

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DA REDE

MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE CRICIÚMA

Secretaria Municipal de Educação

69 Escolas *

Equipe

diretiva,

(diretor,

auxiliar de

direção,

secretários

e orientado-

ras educa-

cionais)

Funcioná-

rios/as

(serventes,

merende-

iras e

professores

/as)

Pais

Mães

Pai

s/M

ães

Alunos/as

Comuni-

dade em

geral

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76

metodologia do questionamento e da problematização.” (CRICIÚMA,

2004, p. 41).

No primeiro momento da elaboração do PPP, cada unidade

escolar trabalhou seu texto, com a participação do seu próprio quadro de

colaboradores, com seus alunos e com a comunidade em geral.

Lourenço afirma que “o texto foi resultado do trabalho coletivo de cada

unidade escolar.” (CRICIÚMA, 2004, p. 43). No segundo momento, as

69 versões foram encaminhadas à Equipe de Coordenação Pedagógica

da Secretaria de Educação, que ficou encarregada da sistematização e

redação do texto final. Segundo Lourenço,

Foram momentos de muito trabalho,

compromisso, envolvimento e aprendizagem. A

Equipe de Coordenação Pedagógica da Secretaria

de Educação esmerou-se na elaboração de

metodologias de redação que fossem ao encontro

do compromisso máximo: ser fiel às ideias que

deram origem ao texto. (CRICIÚMA, 2004, p.

43).

Durante dez dias, no final de cada etapa da construção do PPP,

foram realizados grandes plenários com a participação de delegados

designados pelas escolas, que se revezavam para que pudessem

acompanhar a apresentação de todas as unidades escolares e da

secretaria. Em 26 de novembro de 2002, após um plenário final que

durou cinco dias, foi aprovado o documento do Projeto Político

Pedagógico da Rede Municipal de Educação de Criciúma, com a

definição, inclusive do slogan do Projeto: “Por uma educação mais

democrática”.

6.4 ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO DO PPP

Um dos objetivos da Secretaria de Educação era que o PPP da

Rede e o PPP de cada unidade compusessem um conjunto unificado e

articulado. Nas palavras de Lourenço, “integrado quanto aos princípios e

linhas de ação e articulado nas ações, para que, nesse ânimo coletivo, se

chegue a bons resultados.” (CRICIÚMA, 2004, p. 51). Para que isso

fosse possível, foi instituída uma Comissão Permanente para

Acompanhamento e Avaliação do PPP, formada por representantes de

pais, alunos, professores, diretores de escola, funcionários e Secretaria

de Educação. Essa comissão tem como tarefa, segundo Lourenço, “o

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desenvolvimento de instrumentos e mecanismos de acompanhamento e

avaliação” (idem). O acompanhamento e a avaliação servem para

corrigir rotas de atuação e criar novas ações caso algum fato novo

aconteça, preservando, dessa maneira, a qualidade e os objetivos do

Projeto Político Pedagógico da Rede Municipal de Criciúma (SC).

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7 ANÁLISE DE DADOS – RECORTES DE TEXTOS

EXTRAÍDOS DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO

Os textos, conforme a perspectiva da Análise de Discurso, são

fontes inesgotáveis de sentidos. Como parte dos objetivos dessa

pesquisa os recortes extraídos do PPP serão analisados explorando o

sentido político, ideológico implícito no discurso escolar.

Dessa forma, levando-se em consideração os procedimentos

teóricos e analíticos da AD, neste capítulo serão revisitados conceitos

que nos permitirão analisar os dados em destaque. Um desses conceitos

é a paráfrase, que para a AD é o discurso que se mantém em um novo

discurso. Isso é, o que já foi dito em outro lugar e fica na memória

discursiva. Um segundo conceito é a polissemia, que a Análise de

Discurso define como a ruptura de sentido. Para Orlandi (2013, p. 36), a

paráfrase e a polissemia “são duas forças que trabalham continuamente

o dizer, de tal modo que todo discurso se faz nessa tensão: entre o

mesmo e o diferente.”

Importante lembrar que os discursos funcionam levando-se em

consideração as relações de sentido. “O modo particular como a AD

concebe e analisa a construção dos sentidos permite pensar o discurso

enquanto fronteira, espaço onde coexistem unidade e polissemia,

transparência e opacidade, fechamento e incompletude.” (HENGE;

BEHENCK, 2008, p. 2). Desta forma, o discurso tem relação com outro

discurso e não tem começo e fim absolutos.

Nessa pesquisa serão usados recortes extraídos do Projeto

Político Pedagógico da Rede Municipal de Criciúma (SC), adotado em

2004, que serão analisados sob os conceitos da Análise de Discurso, já

expostos em capítulos anteriores. A seleção de certos trechos de textos

em detrimento de outros se deve a uma escolha e organização de

material para análise, na busca de “pistas” que expliquem o

funcionamento do discurso. Nas palavras de Orlandi (2009, p. 61), o

funcionamento do discurso é “uma atividade estruturante de um discurso

determinado, por um falante determinado, para um interlocutor

determinado, com finalidades específicas.” Sendo assim, o sujeito

falante diz, pensando para quem diz, com intenção de convencimento.

Neste trabalho vai se considerar a afirmação de que todo discurso

é formulado partindo da memória sócio-histórica do sujeito falante.

Esses discursos oferecem uma gama de formulações que são “a

atualização e textualização da memória.” (ORLANDI, 2003, p. 15) e

trazem doutrinamentos por conta das ideologias. Nas palavras de Vargas

(2009, p. 70), os discursos são “veiculados, muitas vezes por uma voz

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de autoridade e de verdade que parece harmonizar as diferentes vozes

dos discursos.” Dessa maneira, como orienta a AD, o discurso vai ser

pensado, fazendo sentido.

Com base nessas afirmações, pode-se dizer que o ambiente

escolar é um espaço propício para a circulação de muitos discursos,

muitas vozes e onde acontecem significativas relações de poder. Sendo

assim, torna-se um local propício para se “ouvir” esses discursos e essas

vozes, a partir da perspectiva da AD. Para Orlandi (2008, p. 26), “o

gesto do analista é determinado pelo dispositivo teórico, enquanto o

gesto do sujeito é determinado por um dispositivo ideológico.”

Dessa forma, a análise de um texto é uma escolha metodológica

do analista, enquanto que para o sujeito falante o discurso é a

materialização de sua ideologia. Tendo em conta as noções acima

explicitadas, segue-se mostrando os textos, objetos de atenção dessa

dissertação.

7.1 A VOZ DO PREFEITO

Tendo em conta as noções acima explicitadas, seguimos

mostrando os textos, objetos de nossa atenção6. Os primeiros excertos

são retirados da apresentação do prefeito, em exercício no ano de

implantação do PPP. A fala da principal autoridade política da cidade é

o texto que dá início ao documento. Isso já dá indícios da existência de

relação de poder e autoridade encontrada na hierarquia social e política e

da importância que se dá à posição de quem “diz” e de onde “diz”.

Sempre tive uma preocupação com a Educação.

(CRICIÚMA, 2004, p. 13. Grifo da autora).

Na primeira frase do discurso do prefeito, feita na primeira

pessoa, já aparece, se pensarmos nas noções sobre a prática discursiva,

uma clara referência a discursos políticos anteriores nos quais a

preocupação com a Educação foi um dizer repetido exaustivamente.

Independentemente do partido político, por ser uma obrigatoriedade

governamental, a educação, frequentemente, faz parte de propaganda

eleitoral e é usada como plataforma de governo. No grifo, temos uma

6 Todos os textos, aqui analisados, são retirados de textos contidos no PPP da

Rede Municipal de Criciúma (SC) e estão anexados, na íntegra, num apêndice,

no final da dissertação.

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citação parafrástica que, segundo Orlandi (2003, p. 27), é “um retorno

constante a um mesmo dizer sedimentado.”

A paráfrase, nas palavras de Gomes (2006, p. 622), “é a repetição

do dizível ligado a uma filiação político-partidária.” Isso vai ao encontro

da fundamentação da AD que nos mostra que o sujeito não é o autor do

que diz, mas apenas o diz de maneira diferente. Para a Análise de

Discurso, a paráfrase é indispensável, porque, segundo um de seus

conceitos, todo dizer vai se estruturando a partir de discursos feitos

anteriormente.

Num outro momento do texto de apresentação do PPP da Rede

Municipal de Criciúma encontramos, ainda na palavra do prefeito:

Para aprimorar o processo de qualificação do

ensino oferecido pela Rede era preciso unificar o

discurso ou sobre a escola que desejamos, ter

consciência da distância que temos dela e do que

é preciso fazer para diminuir essa distância num

horizonte de tempo compatível com os nossos

recursos humanos, financeiros, cultural, físico

etc. (CRICIÚMA, 2004, p.13. Grifo da autora).

Nesse fragmento do texto podemos perceber que houve uma

mudança e o discurso, feito em primeira pessoa passa a ser elaborado

num tom generalizado e impessoal. Esse deslocamento aparece no

discurso de cunho político-ideológico, que fala em nome de todos, para

todos.

Além disso, a análise do léxico é uma das ferramentas da AD

para encontrar “pistas” ideológicas dentro da análise de um discurso. O

termo processo, usado no texto, insere-se numa vasta possibilidade de

sentidos. Pode nos remeter a uma ação articulada, metodológica que vai

na contra-mão do pensamento democrático de liberdade. Na linguagem

jurídica, o termo é ligado às leis e normas. Conforme consta no Art. 29

da Lei n. 8.213/91, decretada pelo Presidente da República, processo é

“uma forma sistemática de proceder, necessária ao válido exercício do

poder”.

Por outro lado, “processo” pode significar movimento,

desenvolvimento ou continuação. Para a Análise de Discurso, “não há

sentido sem metáfora.” (PÊCHEUX, 2001, p. 94). A escolha da palavra

é explicada pela AD como uma ação que permite entrever a constituição

do sujeito. Para Orlandi (2012, p. 44), a metáfora “é um lugar

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privilegiado em que a ideologia e a historicidade se manifestam.” As

palavras significam diferentes coisas em situações diferentes.

No mesmo recorte, o uso da expressão “unificar o discurso” também dá mostra de uma incoerência discursiva. Se levarmos em

consideração os conceitos da AD, podemos dizer que o verbo unificar

pode adquirir diversos significados, dependendo de quem, de onde e

como é usado. Nesse caso, unificar pode ser analisado e entendido como

um comprometimento ao ideal democrático, que permite a discordância

ou o livre arbítrio. Há nessa afirmação um deslize ideológico que nos

remete a um discurso autoritário e de uniformalização social e de

opinião pública. Esse tipo de discurso é característico da escola, que

segundo Orlandi (2003, p. 23) “atua através da convenção: o costume,

que dentro de um grupo, se considera como válido e está garantido pela

reprovação da conduta discordante.” Podemos dizer que, historicamente,

a escola exerce um papel normatizador e disciplinador, que acaba

repetindo o modelo social. Cabe à escola, também, a responsabilidade

de selecionar e legitimar o saber. “Pela avaliação que a escola

estabelece, atribui-se um estatuto de necessidade (de dever) e se institui,

dessa forma um conhecimento valorizado, um saber legítimo.”

(ORLANDI, 2003, p. 30). Dessa maneira, a expressão “unificar o

discurso” nos remete a um vício social sedimentado, a um interdiscurso

enraizado: o assujeitamento.

No fragmento a seguir, observa-se a indicação do tipo de escola

que o documento pretende legitimar:

[...] A escola que desejamos ter, consciência da

distância que estamos dela e do que é preciso

fazer para diminuir essa distância num horizonte

de tempo compatível com os nossos recursos

humanos, financeiros, culturais, culturais, físicos,

etc. (CRICIÚMA, 2004, p. 13. Grifo da autora).

Nele, podemos detectar o que na AD chamamos de “não-dito”.

Esse recorte do discurso do prefeito dá margem para pensarmos que há

uma tentativa de negação de tudo aquilo que foi feito na rede de

educação nos períodos anteriores, nos quais outros partidos políticos

ocupavam o poder. Para a análise de discurso o sujeito se coloca como

autor do que diz, deixando entrever sua posição ideológica. “Há uma

forma social de apropriação da linguagem em que está refletido o modo

como ele o fez, ou seja, a ilusão de sujeito, sua interpelação feita pela

ideologia.” (ORLANDI, 2003, p. 27).

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Quando falamos de discursos políticos, podemos dizer que é um

processo recorrente os partidos com comportamentos e filiações

ideológicas opostas, a partir das mudanças de poder, alternarem os seus

discursos. Esse mesmo dizer, dito de forma que pareça uma ruptura com

o discurso anterior, é o que a AD caracteriza como a tensão entre a

paráfrase e a polissemia.

Também era preciso que esse processo fosse

democrático, com a participação de toda a

comunidade escolar, para que tivesse

continuidade e legitimidade social, que tivesse

articulado com a sociedade... (CRICIÚMA, 2004,

p. 13. Grifo da autora).

No primeiro grifo, mais uma vez, a escolha das palavras mostra

forças antagônicas. Enquanto o “processo” remete às regras e

metodologias, o conceito de “democracia” nos remete à autonomia e à

liberdade. Para Orlandi (2008, p. 26), “sabemos que o sujeito se inscreve

numa formação pela qual suas palavras têm um sentido sob um modo

que lhe pareça como natural, como sendo o sentido-lá, transparente.”

Ao trazer à tona a participação comunitária, em uma correlação

de sentido com democracia, o sujeito falante sustenta um dizer

“esquecido”, que na Análise de Discurso particulariza o conceito de

interdiscurso. Democracia faz parte de um desses discursos disponíveis

na memória político-social que “não possuem origem definida, mas se

mantêm presente nas relações estabelecidas no âmbito social.”

(GOMES, 2006, p. 623). Dito de outra maneira, o sujeito se imagina

autor do dizer, quando na realidade está sendo “conduzido” ou

“atravessado” por uma memória discursiva.

O uso do léxico “legitimidade” também se antepõe à categoria

social, uma vez que legitimar tem a conotação de dar permissão, de

legalizar, de normalizar. Portanto, legitimidade social, mesmo que

analisada apenas no ambiente escolar pode ser entendida como uma

forma de padronização da sociedade, o que mais uma vez anula ou

enfraquece o discurso de autonomia, uma das prerrogativas do PPP.

Para que tivesse continuidade e legitimidade

social, que tivesse articulado com a sociedade e

com as outras instâncias governamentais, outros

setores do governo municipal e dentro do

Congresso da Cidade, que visualiza nossa

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Criciúma até 2020. (CRICIÚMA, 2004, p. 13.

Grifo da autora).

Podemos notar nessa afirmação, levando-se em consideração que

o PPP da Rede Municipal foi adotado em 2004, um projeto intrínseco de

permanência no poder e o entendimento de perenidade do documento

(PPP).

Tenho certeza de que como resultado de sua

prática, teremos pessoas mais motivadas, críticas,

solidárias, responsáveis, que saibam valorizar a

formação, o conhecimento e os ciclos de vida.

(CRICIÚMA, 2004, p. 13. Grifo da autora).

Conforme os parâmetros do Projeto Político Pedagógico, o seu

teor tem como objetivo a qualidade de ensino, o crescimento de todos os

envolvidos com o espaço escolar e a participação efetiva de toda a

comunidade em torno. O PPP, dessa forma, é um documento que aponta

como meta a realização de expectativas e ideais. Tem, portanto, um

conteúdo voltado totalmente para as relações humanas.

Numa perspectiva interpretativa, podemos dizer que, para a

sociedade capitalista do século atual, “resultado” remete a situações de

rendimento, lucro. Para Marques (2011, p. 61), “o sujeito discursivo

mobiliza determinadas formas lexicais para evidenciar uma tomada de

posição enunciativa.” Dessa maneira, podemos entender a “escolha” do

léxico “resultado” como uma metáfora, que nos mostra uma relação de

cooperação entre a escola e o mercado de trabalho, ambos exigindo

produtividade. É a educação preparando o cidadão, qualificando a mão

de obra produtiva.

Ainda no exemplo acima, na primeira afirmação do prefeito, não

foram levados em consideração os conflitos, as relações de poder, tão

presentes nos relacionamentos humanos e nos movimentos da história e

da sociedade. No segundo grifo, chama atenção a intenção de

autoralidade, isto é, a ilusão de que o sujeito falante é o autor do

discurso. O uso do verbo “ter”, no tempo futuro, nos dá uma pista da

negação de uma realidade anterior. Mais uma vez, o conceito de

interdiscurso, já citado nesse trabalho, na AD, nos auxilia a interpretar o que é e o que não é dito, no discurso respeitando a opacidade da

linguagem.

No grifo, “teremos pessoas mais motivadas, críticas, solidárias,

responsáveis, que saibam valorizar a formação, o conhecimento e os

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ciclos de vida”, aparecem, novamente, os discursos sedimentados,

usados nas plataformas eleitorais. Esse modelo de cidadão é

“idealizado” pelos PPPs em nível nacional, uma vez que esses objetivos

vêm sugeridos pelo Estado.

Nessa primeira parte de análise dos recortes selecionados, foi

possível perceber que o discurso do prefeito foi pautado, provavelmente

de forma não intencional, em dizeres sedimentados nas propagandas

partidárias, em falas usadas em palanques políticos. Portanto, podemos

dizer que fica explicitada a teoria da AD, através de dispositivos de

análise, que não há discurso sem ideologia, como explicada em

capítulos anteriores.

7.2 A VOZ DA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO

Num segundo momento, observamos e analisamos o texto de

apresentação do documento, por meio das palavras da Secretaria

Municipal de Educação. Nesse texto, aparece o discurso da própria

Secretaria relatando os objetivos, a importância e a construção do PPP

da Rede Municipal.

Foi preciso muita discussão, coragem e ousadia da

equipe da Secretaria Municipal de Educação para

alavancar a construção do Projeto Político da

Rede Municipal de Educação de Criciúma.

(CRICIÚMA, 2004, p. 15. Grifo da autora).

Nesse recorte, podemos detectar que o processo de enunciação se

liga a outro processo discursivo, já existente, que na AD é tratado como

interdiscurso, que reforçando, é “aquilo que fala antes, em outro lugar,

independentemente.” (GOMES, 2006, p. 623). O interdiscurso organiza

o discurso de forma a externar o dizer ideológico do falante.

Para Gomes (2006, p. 623), o interdiscurso “retira a centralidade

do sujeito falante e integra-o ao funcionamento dos enunciados, que são

sustentados por formações ideológicas.” Dessa maneira, se analisarmos

os substantivos grifados no texto – discussão, coragem e ousadia –

podemos perceber a repetição de um discurso político de luta de classes.

Esse deslocamento discursivo para o ambiente escolar pode ser explicado por um funcionamento da linguagem explicado na AD como a

tensão entre a polissemia e a paráfrase. Segundo Gomes (2006, p. 622),

“apesar de os discursos serem construídos parafraseando tudo o que já

foi vivenciado [...] em alguns momentos se consegue realizar uma

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ruptura e experimentar um sentido novo no dito cotidiano.” Essa

ruptura, para a AD, é a polissemia.

No mesmo recorte, a análise do léxico construção nos remete,

metaforicamente, a uma ideia de obra e trabalho braçal, um cenário

diverso do ambiente escolar, embora a expressão “construção do

conhecimento” já seja de uso corrente. Entretanto, esse deslize vem ao

encontro do que nos diz Orlandi (2003, p. 22) sobre os discursos

vinculados à escola: “convertem hierarquias sociais em hierarquias

escolares e com isso legitimam a perpetuação da ordem social.” Um

outro olhar sobre a opção das palavras nos mostra que elas,

historicamente, se institucionalizam de tal forma que passam a ter uma

correlação natural, em algumas situações específicas. “A

institucionalização de um sentido dominante lhe atribui o prestígio de

legitimidade e este se fixa, então no centro: o sentido oficial (literal).”

(ORLANDI, 2003, p. 162). Nesse ponto de vista, a conotação de

construção ligada à educação foi assimilada e sedimentada.

Vejamos o próximo excerto:

Seria mais fácil encomendar um projeto pronto e

bem escrito. (CRICIÚMA, 2004, p. 15. Grifo da

autora).

Um dos dispositivos da Análise do Discurso é pensar na

linguagem não em seu caráter linguístico, mas sim no seu

funcionamento produzindo sentido. Orlandi (2003, p. 117) reforça essa

afirmação quando diz que “o que importa é o funcionamento da

linguagem, uma vez que dele fazem parte as condições de produção, que

representam o mecanismo de situar os protagonistas e o objeto do

discurso.”

Com base nesses conceitos, e levando-se em consideração que o

recorte acima foi retirado do texto da Secretaria de Educação do

município e, portanto, fala em nome da instituição pública, podemos

analisá-lo, tentando acompanhar sua construção. Como um discurso não

nasce em si, mas é uma resposta a um discurso anterior, dá para

suspeitar que exista uma crítica na afirmação do recorte. Seria mais fácil encomendar, pode ser interpretado como uma “denúncia” às autoridades

anteriores, que possivelmente teriam usado o subterfúgio da encomenda.

De outra forma, se usarmos o deslocamento dos sentidos7, outro

7Deslocamento dos sentidos é a ruptura de processos de significação (Orlandi,

2003).

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dispositivo da AD, podemos entender que a Secretaria, através do seu

porta-voz, considerou difícil a tarefa de montar o PPP. De qualquer

forma, nos dois sentidos há, mais uma vez subentendido, o não-dito,

porque, segundo Orlandi (2003, p. 42) “os sentidos não estão nas

palavras nelas mesmas. Estão aquém e além delas.” Para a AD, o

discurso não é apenas transmissão de informação, mas funciona como

uma fonte de sentidos entre interlocutores.

Vejamos mais um recorte:

A Assessoria garantiu que o processo fosse

transparente e livre de qualquer manipulação. A

disputa ocorreu no campo das ideias e

argumentos. (CRICIÚMA, 2004, p. 15. Grifo da

autora).

No primeiro grifo podemos perceber que a Secretaria de

Educação, no texto de apresentação do PPP, mostra a sua posição

hierárquica no processo de implantação do documento. A Análise de

Discurso, nas palavras de Fairclough (2001, p. 58), “preocupa-se não

apenas com as relações de poder, no discurso, mas, também com a

maneira como as relações de poder e a luta de poder moldam e

transformam as práticas discursivas de uma sociedade ou instituição

[...]”

Se analisarmos a escolha pelo verbo garantir, que pode significar

prometer ou responsabilizar-se, podemos interpretar que a Secretaria,

falando em nome da instituição que representa, se coloca como a

autoridade que decide e que tem legitimidade no que diz. As relações de

poder ganham especial importância “em decorrência da hierarquização

presente na sociedade, o que faz com que elas se enraízem no poder

social desses diferentes lugares, determinando o que pode ser dito, como

pode ser dito e a quem pode ser dito determinada coisa.” (GOMES,

2006, p. 624). Quando o assunto é relação de poder, sempre é levado em

consideração o lugar de onde o sujeito fala, uma vez que esse lugar está

ligado ao que ele diz e o que ele diz está apoiado na posição (lugar) de

onde ele fala.

No segundo grifo, onde é dito que o processo será transparente e

livre de qualquer manipulação, há, mais uma vez, uma criticidade, que nos remete aos debates políticos em épocas de eleições, nos quais as

agressões mútuas e as denúncias de corrupção e fraudes são recorrentes.

O discurso político tem como uma das suas características uma

constante alteração de sentidos, dependendo das circunstâncias e dos

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opositores na ocasião. Se, por deslocamento, ação permitida pela AD,

substituirmos transparência e não manipulação por honestidade,

podemos dizer que há, na afirmação acima, uma confirmação da

acusação dirigida aos antecessores. Esse recorte pode ser interpretado,

também, se lembrarmos que o país havia recém saído de um regime

militar autoritário, no qual não se estava livre de manipulações e ações

ditatoriais.

Por último, no mesmo excerto, aparece o substantivo disputa. Se

pensarmos no seu significado, vamos relacioná-lo com luta,

concorrência, rivalidade. Segundo Gomes (2006, p. 622), “partidos com

comportamentos e filiações ideológicas opostas, ao longo do tempo e a

partir de mudanças nas posições de poder, alternam seus discursos entre

paráfrase e polissemia.” Dito em outras palavras, os discursos políticos

proferidos em nome da/pró coletividade são uma representação do já-

dito, enunciados por oradores que pensam ser a fonte do dizer. E se

pensarmos, por outro lado, na palavra disputa, como fazendo sentido em

ações de militância, podemos dizer que os discursos políticos não

representam tão somente a busca dos interesses sociais, mas significam

por outro lado, uma luta pelo poder.

A discussão nas escolas, a partir das temáticas

levantadas, contaram com a participação de

vários autores, e nem sempre a quantidade se

fazia presente, mas a qualidade foi o elemento

central das discussões. (CRICIÚMA, 2004, p. 15.

Grifo da autora).

Revisitando os conceitos da AD, podemos dizer que no primeiro

grifo – vários autores – está subentendido um número incontável de

vozes. Se levarmos em consideração que não há discurso sem ideologia,

a multiplicidade de vozes nos leva a pensar em multiplicidade de

discursos, de ideologias e de sentidos. Essa pluralidade de vozes, que se

entrecruzaram na construção do PPP, pode ser entendida, também, como

um fortalecimento e uma legitimação do documento.

Seguindo os grifos no mesmo excerto, é possível detectar um “ato

falho” na afirmação nem sempre a quantidade se fazia presente,

provando que a linguagem, não sendo transparente, pode deixar entrever

em suas manifestações aquilo que não é dito, o esquecimento. Nas

palavras de Orlandi (2013, p. 35), “ao falarmos, o fazemos de uma

maneira e não de outra, e, ao longo de nosso dizer, formam-se famílias

parafrásticas que indicam que o dizer sempre podia ser outro.” Dessa

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forma, quando o enunciador diz que nem sempre a quantidade estava

presente, ele poderia dizer que houve, em algumas ocasiões, o

esvaziamento de público nos plenários, para a discussão de elaboração

do PPP. Para a AD, o que se diz e o modo como se diz não são

indiferentes aos sentidos e à história do sujeito falante.

Esse documento vivo expressa os anseios e

desejos e os sonhos daqueles que querem uma

educação pública com maior qualidade e mais

inclusiva. (CRICIÚMA, 2004, p. 16. Grifo da

autora).

No recorte acima, novamente é identificado o interdiscurso que

nos remete aos discursos que tratam a educação como uma tábua de

salvação social. Esse tipo de discurso é usado com frequência pela

mídia, pela escola, pela igreja e é comum a todos os partidos políticos,

principalmente em períodos eleitorais. Como foi dito anteriormente,

para a AD, esse é um dizer sedimentado, cujo sujeito falante se

considera autor do que está enunciando. Por consequência, podemos

afirmar que a fala da Secretaria nada mais é do que um dizer

parafrástico, político-social muito conhecido e recorrente.

O uso das palavras qualidade e inclusiva, usadas repetidamente

durante todo o documento do PPP, só vem reforçar a percepção de que

educação é um tema frequentemente citado e explorado, sem que, no

entanto, projetos sejam desenvolvidos e consolidados. A escolha do

léxico, nesse recorte, nos permite interpretar a ideologia do sujeito

falante.

O uso de substantivos como anseio, sonhos e desejos, aterrissa

num discurso com muitos clichês, que aparece em múltiplos ambientes

sociais, um discurso usado em muitos tipos de propaganda, inclusive as

que estimulam o consumo. Mais uma vez, escola e economia se

entrelaçam e dividem a mesma fala. Segundo a AD, o que é dito (PPP)

num contexto (escolar), num ambiente cheio de regras, relações de força

e obediência (escola), circula de forma a ter um caráter de legitimidade e

ganha a força de lei.

Em mais um excerto:

É compromisso de TODOS a concretização do

PPP da Rede Municipal de Educação de

Criciúma. (CRICIÚMA, 2004, p. 16. Grifo da

autora).

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Nesse recorte, a colocação do pronome indefinido TODOS em

letras maiúsculas e em negrito, ligado a compromisso, tem um sentido

de convocação. Essa postura de obrigatoriedade deixa evidente as

relações de forças entre o Estado, as instituições e a sociedade. Para

Foucault (1979, p. 289), os programas políticos públicos passam “pelas

necessidades e aspirações da sociedade, identificadas não só pelo

aspecto quantitativo de demanda, mas, principalmente, pelo aspecto

qualitativo para garantir a sua sustentabilidade.”

Por conclusão, apesar dos discursos em defesa da autonomia, da

liberdade e da participação comunitária na construção do PPP, a

presença desse TODOS, no texto, tem sentido de um grito de ordem,

que parte da Secretaria de Educação da Rede Municipal.

7.3 A VOZ DO ASSESSOR

Os próximos recortes foram retirados do texto escrito por Celso

Vasconcellos, Doutor em Educação pela USP e Mestrado em História e

Filosofia da Educação pela PUC-SP, convidado a assessorar o processo

de elaboração do Projeto Político Pedagógico do município. Celso

Vasconcellos que é, conforme Gadotti (2002, p. 7), “um dos melhores

alunos de Paulo Freire”, milita pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e

traz para o documento os conceitos freirianos sobre educação.

Vasconcellos, inclusive, fez parte do instituto que leva o nome do

pedagogo. A triangulação Paulo Freire, Celso Vasconcellos e Décio

Góes - prefeito da cidade - todos seguidores da mesma bandeira

partidária, define o tom político do PPP da Rede, que vem sendo

mostrado nesta pesquisa com o destaque de palavras, de textos que nos

dão as diretrizes para a análise. Segundo o site oficial do partido, “O PT

surgiu com a necessidade de promover mudanças na vida de

trabalhadores da cidade e do campo, militantes de esquerda, intelectuais

e artistas”. O discurso petista sobre política pública está ligado ao

combate à miséria e à promessa de oferta de novas oportunidades para o

cidadão. Historicamente, a educação é considerada um desses caminhos

de transformação.

É, também, característica do discurso petista esse tom inaugural,

negando as ações anteriores, uma forma de apagar a história da rede

pública de ensino. Essa ideologia fica bem evidente na nota de rodapé,

no PPP da Rede Municipal, nas palavras das organizadoras.

(CRICIÚMA, 2004, p. 105) “em 2004, data da publicação do

documento do PPP, a realidade político-social é diferente. Em 2002 foi

eleito presidente do Brasil Luiz Inácio da Silva: a conjuntura político-

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econômico-social passa por alterações”. Desta forma, baseado nesse

contexto político e nas ligações entre as pessoas envolvidas na

elaboração do PPP, é que serão analisados os recortes seguintes.

No primeiro excerto, tirado do discurso do assessor, encontramos:

Trata-se de um produto, fruto de um processo de

muita coragem e ousadia, sobretudo pela decisão

de se fazer juntos, de se elaborar coletivamente.

(CRICIÚMA, 2004, p. 17. Grifo da autora).

No primeiro grifo aparece novamente o léxico produto,

fortemente ligado à industrialização, a mercado e ao capitalismo, ideias

combatidas por partidos de esquerda, posição, publicamente assumida

pelo PT. Para a Análise do Discurso, isso é característica do

esquecimento, que é explicado como uma relação natural entre o

pensamento, a linguagem e o mundo, de forma que o sujeito falante

pensa que só poderia se dizer o que foi dito dessa maneira. Para Orlandi

(2013, p. 35) “é chamado esquecimento enunciativo e que atesta que a

sintaxe significa: o modo de dizer não é indiferente aos sentidos.” O

esquecimento, para a AD, mostra que os discursos já estão em

andamento e que somos nós que nos inserimos neles e não ao contrário.

No grifo seguinte, o uso dos substantivos coragem e ousadia no

documento reflete o pensamento, de se colocar como um agente

idealizado e idealizador, com capacidade de romper com a realidade e

provocar mudanças. É sabido que esses mesmos argumentos são usados

em outros discursos, em outros partidos. Porém, essa dissertação analisa

e leva em consideração a fala de alguém ligado ao PT. Desta forma,

sabendo-se que a interpretação faz parte do alicerce teórico da Análise

de Discurso, é permitido pensar nos sentidos possíveis às palavras

coragem e ousadia. “A análise do Discurso não estaciona na

interpretação, trabalha seus limites, seus mecanismos, como parte dos

processos de significação.” (ORLANDI, 2013, p. 26). Deste modo, a

forma de dizer significa na “voz” do falante. Coragem e ousadia têm,

nesse caso, o significado ligado à luta, discurso muito usado na

militância de esquerda.

No próximo fragmento do texto encontramos

Obtido um consenso, cada escola da Rede enviou

seu texto. (CRICIÚMA, 2004, p. 17. Grifo da

autora).

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Nesse recorte podemos observar o uso do léxico consenso. Pode-

se definir consenso como resultado de uma negociação, porém, é

possível também, levando-se em consideração a teoria da AD, pensar

em conformidade, em padronização, sem que se leve em consideração as

especificidades, as diferenças do ser social. A unanimidade e a

uniformalização de ações e pensamentos dentro de uma instituição como

a escola, entram em confronto com os conceitos de autonomia e

democracia, apregoados pelo PPP.

Contrariamente à ideia de querer mostrar que foi dada voz a todos

os participantes da elaboração do documento, a palavra consenso

neutraliza a pluralização de opiniões, apaga as vozes discordantes. Para

a AD, segundo Orlandi (2013, p. 34), “ao falarmos, nos filiamos a redes

de sentidos, mas não sabemos como fazê-lo, ficando ao sabor da

ideologia e do inconsciente.” Desta forma, podemos dizer que a

“escolha” do que é dito e como é dito é resultado da história e da

ideologia do sujeito falante.

Em um novo recorte:

Mas sabemos que a construção da democracia é

um grande desafio. Na vida humana concreta, é

extremamente difícil a questão de relações de

poder. (CRICIÚMA, 2004, p. 17. Grifo da

autora).

Para a Análise de Discurso, a memória está ligada ao fato de que

todo discurso está ligado a um discurso já dito anteriormente. Desta

forma, alguns conceitos se cristalizam no tempo, sem que tenhamos

certeza da sua origem e de seu significado. Podemos dizer que um

desses conceitos, que encontramos último recorte, refere-se ao léxico

democracia. Para Orlandi (2012, p. 171) “para que nossas palavras

façam sentido é preciso que já signifiquem, que se produzam em uma

memória discursiva, que possam ser interpretadas.” No entanto,

conforme a AD, no sujeito falante, há duas formas de esquecimento,

pelas quais esse “passado linguístico” é apagado. A primeira, que faz

com que ele se enxergue como autor do discurso, desconsiderando “que

os sentidos não começam nele.” (ORLANDI, 2012, p. 171). A segunda

acontece quando o sujeito falante esquece que interpreta o que já foi dito, deixando transparecer a ideologia. Nas palavras de Orlandi (2012,

p. 171), “o sujeito se posiciona, ele se faz (um lugar) uma posição em

relação a uma memória do dizer.” É o que a AD chama de interdiscurso.

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Desta maneira, é importante entender que o interdiscurso pode ter

dois caminhos: o mesmo e o diferente. O diferente está relacionado com

as diversas interpretações e sentidos, que acontecem no decorrer da

história. O mesmo, chamado pela AD de arquivo, é a memória

institucionalizada. Para Orlandi, (2012, p. 172) “no arquivo, o dizer é

documento, atestação de sentidos, efeito de relação de forças.”

Sendo assim, podemos dizer que democracia tem um sentido

institucionalizado, de tal forma que faz parte de qualquer discurso

político-partidário, obedecendo a um condicionamento social, que

define o que deve ser dito e para quem deve ser dito. “Numa sociedade

como a nossa, com a forma de nossa história, há tendência em se

sobrepor o arquivo sobre o interdiscurso no funcionamento discursivo.”

(ORLANDI, 2012, p. 172).

No recorte acima, democracia, que tem como um dos seus

principais sentidos a liberdade, antepõe-se aos termos seguintes,

grifados, onde o autor do texto fala em desafios e em relações de poder.

No excerto seguinte:

Cada um de nós, de forma mais ou menos sutil ou

consciente, tende a sentir-se como o portador por

excelência da verdade, que “naturalmente”

precisaria ser seguida pelos demais, sob pena de

o avanço de o progresso não vir (os “iluminados”

na frente e os “pobres mortais” atrás...).

(CRICIÚMA, 2004, p. 17-18. Grifo da autora).

Como já foi citado anteriormente, relembrando a teoria da AD,

cada texto é aberto, nos leva a incontáveis caminhos de interpretação e

permite lacunas a serem preenchidas pelo leitor No recorte acima, ao se

expressar, dizendo que a construção da democracia é um grande

desafio, mais uma vez percebemos, levando-se em conta o olhar

político dado a essa afirmação, um discurso de negação do que foi

construído anteriormente, como se o sujeito falante se considerasse o

autor do dito.

Para a Análise do Discurso, essa forma de reeditar um discurso já

feito anteriormente é explicada pela intertextualidade. Para Possenti

(2009, p. 135), “o conceito de intertextualidade aponta para a produtividade dos textos, para como os textos podem transformar textos

anteriores e reestruturar as convenções existentes (gênero, discursos)

para gerar novos textos.” Desta forma, a AD ajuda a descobrir os outros

textos que estão presentes, implicitamente, no texto sob análise.

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Também é possível notar, nos textos recortados, que o assessor se

contradiz quando fala sobre a participação da equipe, na elaboração do

PPP. Em contraponto com o significado de consenso, no excerto

anterior, Vasconcellos deixa entrever a dificuldade em trabalhar em

grupo e cita a questão de relações de poder. Essa dificuldade é

reforçada quando ele “denuncia” que a pessoa pode sentir-se como o portador por excelência da verdade. Nesses recortes, podemos falar das

relações de poder, que permeiam toda a sociedade e que estão

igualmente presentes no universo da educação, levando-se em

consideração a constituição hierárquica escolar.

A AD, com base em Foucault, destaca em sua teoria essa questão,

uma vez que compreende as relações presentes na escola, onde o “poder

disciplinar” demonstra sua eficácia. Nas palavras de Guiraud (2008, p.

4): “a organização escolar é penetrada por relações de poder e

dominação, refletidas em sua cultura e nos saberes que a alimentam.”

Diante disso, pode-se dizer que, nesse ambiente, os envolvidos tanto

influenciam, como são influenciados no processo de mudança social.

No último grifo desse recorte, os “iluminados” na frente e os

“pobres mortais” atrás..., há um tom de ironia, onde fica explícito que

algumas pessoas no processo se consideravam mais esclarecidas

(“iluminados”) e, portanto, mais aptas para definir o conteúdo do

documento, em detrimento daquelas com menos conhecimento (“pobres

mortais”). Mais uma vez, as relações de poder são colocadas em xeque,

sugerindo, inclusive, que o não cumprimento das metas sugeridas no

PPP colocaria em risco a chegada do desenvolvimento social. Para a

Análise de Discurso, o não-dito é tão importante e traz tantas

informações interpretativas como o que é dito. É o que a AD entende

como a opacidade da língua.

No próximo recorte encontramos:

Muitas vezes, criticamos o autoritarismo do outro

até o momento em que assumimos uma posição na

qual temos condições de exercer de forma mais

eficaz o poder. A ordem ou determinação que

passamos a estabelecer, como que por um passe

de mágica, deixa de ser autoritária, por estar

eivada de “busca do bem comum”, de

“compromisso com o grupo” etc. (CRICIÚMA,

2004, p. 18. Grifo da autora).

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Nesse segmento de texto podemos entrever a ideologia do sujeito

falante, se observarmos que ele faz críticas ao autoritarismo que vem do

“outro”, mas que nele e para ele é permitido porque justifica os seus

objetivos. A frase “a ordem ou determinação que passamos a

estabelecer, como que por um passe de mágica, deixa de ser

autoritária”, demonstra um discurso de alguém ou partido, que se

considera um “salvador” ou “herói”, que vem em defesa daqueles que

não têm forças para se defender. A Análise de Discurso, nas palavras de

Gomes (2006, p. 621) “vincula a linguagem ao seu contexto e, desta

forma, adota a realidade da enunciação como dialógica e como centro

organizador da expressão externa, localizada no bojo da ideologia.” Na

visão do sujeito falante, uma vez que o fato está relacionado com a

“busca do bem comum” e o “compromisso com o grupo”, exercer o

poder passa a ser uma atitude aprovada e reconhecida.

Analisando um segundo grifo do mesmo recorte, entendemos que

o sujeito falante se contradiz e “admite” que há uma forma “eficaz” e

possível de poder, ao dizer que “assumimos uma posição na qual temos

condições de exercer de forma mais eficaz o poder”. A relação

“posição” versus “poder” é amplamente discutida pela AD, que nos diz

que o sentido do texto é explicado pelo lugar social ocupado pelos

interlocutores. Segundo Orlandi (2008, p. 58), “de acordo com a análise

do discurso, o sentido não existe em si, mas é determinado pelas

posições ideológicas colocadas em jogo no processo sócio-histórico em

que as palavras são produzidas.”

Na perspectiva de Eni Orlandi, “o discurso implica o lugar de

onde se fala, a pessoa que fala, o que “esse lugar”, esse sujeito,

representa na sociedade. Desta maneira, identificada a posição social do

sujeito falante, é possível perceber o que ele disse, sua ideologia e a

argumentação usada, nesse caso, dentro do contexto da educação.

Em mais um destaque:

É certo que, para alguns dos participantes, tais

procedimentos, às vezes, tornavam-se um tanto

cansativos, mas com um pouco de boa vontade

quase tudo se resolveu a contento. (CRICIÚMA,

2004, p. 18. Grifo da autora).

No recorte acima, mais uma vez, podemos falar da opacidade da

língua, lembrando que a AD “permite pensar o discurso enquanto

fronteira, espaço onde coexistem unidade e polissemia, transparência e

opacidade, fechamento e incompletude.” (HENGE; BEHENCK, 2008,

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p. 2). Ao analista cabe “descobrir” os equívocos e as falhas, que

mostram o funcionamento da língua, e “encontrar” o sentido das

palavras, que, conforme Silva (2008, p. 41), “estão para além do que se

encontra explícito no texto.”

Portanto, para compreender e interpretar o discurso é necessário

que se conheça as circunstâncias em que ele foi proferido, o momento

histórico e ideológico que influenciou a sua criação. Para Silva (2008, p.

41) “na palavra se inscreve o não-dito, o que não é verbalizado, mas que

está ali, configurado no espaço do branco do papel; guarda segredos nas

entrelinhas, gerando um silêncio que suspende o entendimento e aguça a

criatividade.” Desta forma, os termos grifados podem nos mostrar que o

autor do texto tenta diminuir o peso das dificuldades encontradas na

elaboração do PPP, principalmente se observarmos o caráter social no

processo (relações de forças).

No próximo excerto:

Cada escola tinha seu Projeto Político

Pedagógico e continuaria a ter; o que estávamos

construindo era o projeto da Rede Municipal,

portanto, num outro nível institucional.

(CRICIÚMA, 2004, p. 19. Grifo da autora).

Na análise desse recorte vamos salientar que, mais uma vez, o

assessor/autor do PPP da Rede Municipal deixa transparecer a relação

de força, agora identificada na hierarquia, uma vez que ele diz que o

documento oficial (prefeitura) tem supremacia sobre os PPPs elaborados

nas escolas, por seu quadro de funcionários. Nessa perspectiva, pode-se

dizer que o poder disciplinar tem posição de destaque nos discursos e

nas ações, sendo o personagem principal das relações que compõem o

universo escolar. Para Foucault (1999b, p. 88) a hierarquia “permite a

articulação de um poder com um saber, que se ordena em torno

da norma, do que é ou não normal, do que é correto ou incorreto, do que

se deve ou não se deve fazer.”

Continuando a seleção de textos:

É processo; só com ousadia e humildade

elaboraremos produtos para nos ajudarem a

trilhar esse caminho tão desafiador da educação.

(CRICIÚMA, 2004, p. 20. Grifo da autora).

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Como já foi dito anteriormente, o sentido da linguagem está na

interpretação, pois ele não existe independentemente. É função da AD

“desnaturalizar os sentidos, problematizando-os.” (HENGE;

BEHENCK, 2008, p. 5). Desta forma, analisando os termos grifados no

recorte acima, é possível identificar a relação da língua com a história e

a relação do sujeito com o sentido. Processo e produtos são, como já

citados anteriormente, palavras que nos remetem a produtividade,

mercado e opressão, um discurso capitalista que é completamente

contrário aos ideais dos governos populares.

O texto, cujo teor discursivo e político defende as minorias,

comprova, segundo a AD, que o sujeito é “constituído pela língua,

atravessado pelo inconsciente, portanto, dividido, clivado, heterogêneo;

nele, a contradição, a dispersão, o equívoco, a descontinuidade, a

incompletude e a falta são estruturantes. (ORLANDI, 2005; PÊCHEUX,

1997). Desta forma, podemos dizer que os sentidos aparecem e são

articulados entre o linguístico e o histórico, perpassados pelo

interdiscurso, isto é, um dizer já constituído, dito de forma diferente,

materializando a ideologia. Para Henge e Behenck (2008, p. 1) “é na

relação do sujeito com a exterioridade, mediada por práticas sociais

simbólicas, que podemos compreender os processos de significação

materializadas no discurso.”

Num segundo grifo, o surgimento das palavras ousadia e

humildade, contrariamente ao destaque anterior, nos leva ao espírito da

filosofia dita de esquerda, que historicamente, defende a luta e a

participação popular nas decisões públicas. Deslocando os sentidos dos

vocábulos, podemos entender que há uma pretensão democrática que

atravessa o documento. Para a AD, essa conjunção entre língua e

história é que produz o sentido. Sendo assim, “o discurso se define

na/pela determinação da língua pela história, tomadas como

materialidade, na qual o sujeito - afetado duplamente - está presente”

(HENGE; BEHENCK, 2008, p. 3).

No terceiro e último grifo do recorte acima, o uso da metáfora

caminho ligado à educação e a dificuldades (desafios), nos faz acreditar

que o documento (PPP) demonstra fragilidade e incompletudes. Para a

AD, “as palavras mudam de sentido segundo as posições ocupadas por

aqueles que as empregam” (PÊCHEUX; HAROCHE; HENRY, 2007, p.

26) e ganham força, uma vez que partem do assessor no processo de

elaboração do documento.

Nos recortes seguintes:

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Quando resgatamos alguns elementos descritos

no Marco Situacional (relações internacionais

altamente injustas, concentração de renda,

desemprego, corrupção, crise de valoração,

consumismo, etc.), há o risco de tendermos ao

desânimo.

[...] Por outro lado o Marco traz sinais de

resistência, de luta, de presença da esperança nos

movimentos sociais: é a vida se recusando a

sucumbir. É nesse quadro extremamente

complexo e desigual que o Projeto Político

Pedagógico se situa. (CRICIÚMA, 2004, p. 20.

Grifo da autora).

Nos dois recortes acima, o sujeito falante permite que se detecte a

ideologia partidária do PT, uma vez que ele faz uso, no texto, do mesmo

teor político-discursivo. Se lido o Estatuto do Partido dos Trabalhadores,

podemos encontrar um discurso argumentativo, que repudia o sistema

econômico nacional e internacional e se coloca como um salvador dos

oprimidos. O uso do verbo resgatar, conforme a AD, mostra como o

orador quer se fazer entender, deixando que se veja, no não-dito, toda a

carga ideológica que transparece na fala.

Ao citar as relações internacionais altamente injustas,

concentração de renda, desemprego, corrupção, crise de valoração,

consumismo etc., o assessor deixa entrever sua posição ideológica. Para

Possenti (2009, p. 17) “o modo de apresentar os eventos não é uma

questão de verdade ou de realidade, mas de um modo do locutor integrar

a ação em seu sistema ideológico.”

Contrapondo-se à critica, Vasconcellos, fazendo mais uma vez

uso da fala petista, enaltece as “virtudes” daqueles que querem

mudanças, mais justiça e igualdade. A presença de palavras e expressões

como resistência, luta, esperança, movimentos sociais, vida se

recusando a sucumbir, deixa transparecer a marca do discurso de

esquerda, conclamando a classe trabalhadora para uma “batalha” contra

a opressão. “O trabalho ideológico é um trabalho da memória e do

esquecimento, pois é só quando passa para o anonimato que no dizer

produz seu efeito de literalidade, a impressão do sentido.” (ORLANDI,

2013, p. 49).

O discurso político, como todo discurso, é sempre ideológico e

tem sempre um texto argumentativo, que tenta seduzir o eleitor, que fala

em nome do bem comum e fundamenta-se em decisões sobre o futuro,

prometendo o que pode vir a ser feito. Para Buttignon (2010, p. 9) o

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discurso político “procura impor suas ideias, os seus valores e projetos,

recorrendo à força persuasiva da palavra, através de recursos estéticos

como certas construções, metáforas, imagens e jogos linguísticos.”

De acordo com a história, os discursos políticos sofrem

constantes mudanças, adequando-se às circunstâncias do momento. Em

períodos eleitorais, mais fortemente, têm em comum a promessa de

soluções para os grandes problemas sociais e o “compromisso” de suprir

satisfatoriamente as necessidades mais elementares do cidadão.

E por fim:

Evidentemente, por si, o documento nada pode.

Sua força será diretamente proporcional ao

número de pessoas que, no seu espaço – pessoal e

institucional – de (considerando que, como seres

de relação, ninguém tem autonomia absoluta,

toda autonomia é limitada), o tomarem como

referência para a caminhada da Rede Municipal.

(CRICIÚMA, 2004, p. 20. Grifo da autora).

O último recorte do assessor que implantou o PPP da Rede, por si, o documento nada pode, mostra o que a AD entende como a relação

entre o texto e o leitor. Uma vez exposto, o dito passa a ser passível de

ser usado de maneiras interpretativas diferentes, pelos diferentes

leitores. Todas as promessas de realizações sociais e mudanças, desta

maneira, são divididas com todos que fizeram parte do processo de

elaboração, de forma proporcional ao número de pessoas que seguirem

na caminhada. Para a AD, o sujeito é “constituído pela língua,

atravessado pelo inconsciente, portanto, dividido, clivado, heterogêneo;

nele, a contradição, a dispersão, o equívoco, a descontinuidade, a

incompletude e a falta são estruturantes.” (PÊCHEUX, 1997, apud

Silva, 2008, p. 40). Desta forma, podemos “ouvir” o não-dito, uma vez

que ele é também uma forma de discurso, com sentido, ideologia e

historicidade.

Diante do apresentado, é possível dizer que no texto de

apresentação do PPP da Rede Municipal de Educação, escrito pelo

assessor do processo de elaboração do documento, a escolha das

palavras e as estruturas discursivas se apresentam de maneira que

expressam a posição e a ideologia do autor.

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7.4 AS RAZÕES PARA A CONSTRUÇÃO DO PPP

Seguindo a mesma linha de análise, são extraídos segmentos do

texto-discurso de apresentação do Projeto Político Pedagógico,

intitulado “As razões para a construção e etapas do PPP”, entendendo

que ele nos dá uma visão da relação entre a discursividade na escola e

alguns conceitos fundamentais da Análise de Discurso.

A organização escolar, historicamente, tem por um lado, uma

função social considerada fundamental para a formação e para o

crescimento do ser humano. Sistematicamente, é função da escola

mediar e repassar os conhecimentos produzidos ao longo dos tempos

aos alunos, procurando, dessa forma, contribuir para o seu

desenvolvimento.

Por outro lado, o ambiente escolar, se revisitado nos mais

diversos períodos da história da humanidade, é perpassado por relações

de poder e dominação, de posições hierárquicas e disciplinares. Dessa

forma, “a escola, assim, define espaços, subdivide e recompõe

atividades, capitaliza o tempo e as energias dos indivíduos pela

disciplina, de maneira que sejam susceptíveis de utilização e controle.”

(GUIRAUD; CORRÊA, 2009, p. 6535).

Sendo assim, podemos dizer que a organização escolar é uma

reprodução estrutural da sociedade vigente, o que provoca, segundo

Orlandi (2003, p. 23), “uma circularidade de discursos (escola, discurso,

poder, escola), que só pode ser quebrada pela crítica.” Posto dessa

maneira, podemos dizer que a organização escolar é o espelho da

realidade econômica e o retrato da realidade sócio-política das

sociedades modernas.

Indiferentes às inúmeras reformas sociais que se sucederam ao

longo da história (Revolução Francesa de 1789, Revolução Comunista

de 1917, as inúmeras reformas políticas do pós-guerra, Revolução

Cultural de 1968), as instituições sociais acabaram por reproduzir os

mesmos mecanismos que queriam superar.

Nesse quadro se encontra a escola, que persiste “na recomposição

de relações hierárquicas e disciplinares, no jogo de forças que se

estabelecem intra e interinstitucional, ainda buscando formar indivíduos

dóceis e produtivos.” (GUIRAUD, 2009, p. 6). Além disso, a educação

tornou-se um discurso institucionalizado e engessado, a serviço de

propaganda eleitoral, usada como plataforma política, com as repetitivas

promessas de mudanças e ascensão social.

Diante do exposto, tendo-se em vista os conceitos da Análise de

Discurso, é possível analisar o texto de apresentação do PPP da Rede

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Municipal de Criciúma como uma releitura dos discursos sobre a

educação e descobrir neles as vozes que os constituem. Nas palavras de

Orlandi (2012, p. 10), “a relação teoria/método/procedimentos

analíticos/objeto são inseparáveis e devem ter, entre si, uma relação de

consistência.” Para a AD, todos os elementos conceituais, tais como

sujeito, sentido, ideologia, são interdependentes e formam a rede que

possibilita compreender e interpretar os discursos.

Como foi dito anteriormente, a elaboração do documento do PPP

da Rede Municipal de Criciúma (SC), foi feita durante uma

administração do PT, juntamente com outros partidos, cuja coligação foi

denominada Frente Popular. Dessa forma, num trabalho analítico e

interpretativo, conseguimos enxergar no texto, que é a materialidade do

discurso, a ótica ideológica de partidos de esquerda, que fundamentada

em seus ideais, idealiza a educação. Para Possenti (2009, p. 17), “o

modo de apresentar os eventos não é uma questão de verdade ou de

realidade, mas de um modo de o locutor integrar a ação em seu sistema

ideológico.” Dito de outra maneira, o sujeito varia as características de

sua enunciação e, consequentemente, os efeitos e as formações

discursivas de acordo com “crenças” que fundamentam as suas

formações ideológicas.

Nos grifos extraídos do texto de apresentação do PPP: “traz no bojo da sua história a luta, após vinte anos de história, de luta e

militância política, governo Popular e espaços coletivos, participativos

e democráticos” fica caracterizada a linha discursiva e a visão petista da

sociedade. Esse recorte também pode nos remeter ao um discurso pós-

ditadura militar, época em que a liberdade de expressão e de

participação foram tolhidas. Nas palavras de Gomes (2006, p. 621), “o

enunciado depende do tema tratado e das condições de produção desse

discurso.”

Nesse processo de análise, aos moldes da AD, é preciso ficar

atento, de maneira especial, para a paráfrase presente no texto em

destaque. Esse dispositivo é muito importante para a AD, pois “todo

dizer vai se estruturando a partir de famílias parafrásticas, que dão

continuidade espaço-temporal ao sentido constituído em algum ponto da

linha histórica do indivíduo ou da sociedade.” (GOMES, 2006, p. 621).

A paráfrase se manifesta, no texto, na repetição do já dito, quando

o assunto é educação, ao considerar a escola um espaço democrático,

que “possibilita o exercício de distribuição do poder, de justiça, de

compromisso, de responsabilidade e ajuda a construir nossa

identidade”. Contudo, a repetição cristalizada do discurso, partindo de

quem diz e de onde diz, abre espaço para equívocos e rupturas, que são

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definidos pela AD como polissemia. Para Orlandi (2013, p. 36), “toda

vez que falamos, ao tomar a palavra, produzimos uma mexida na rede de

filiação dos sentidos, no entanto, falamos com palavras já ditas.” Dessa

forma, o discurso sobre educação, partindo de um partido que se

autodenomina “governo popular”, como o PT, vai estar repleto de

elementos que remetem o leitor às ideologias do partido. Assim, a

presença de ideias como: acesso, a permanência e sucesso dos

educandos; a gestão democrática e a qualidade social de vida, e o uso

repetido de palavras como luta, militância, democracia e injustiça

comprovam essa ideologia.

Vale citar, também, que a presença dessas palavras, no texto,

caracteriza a metáfora, que segundo a AD “é a tomada de uma palavra

pela outra, através de um mecanismo de transferência que estabelece o

modo como as palavras significam.” (GOMES, 2006, p. 623). Sendo

assim, cada vocábulo permite, antes de tudo, que os sentidos se mostrem

atribuídos ao sujeito que fala. Todo dizer é ligado em torno do sujeito e

do sentido, uma vez que o discurso é formado por ambos, através da

linguagem, da ideologia e do inconsciente. Para Silva (2009, p. 31), o

discurso é “o lugar privilegiado de materialização de contradições

ideológicas de grupos e de classes sociais.”

Outro sinal discursivo no grifo acima, é o fato das palavras

estarem escritas em negrito, numa intencional tentativa de chamar

atenção para elas. Desta forma, o enunciado adquire uma característica

de propaganda, como encontrada nos slogans, assunto visto

posteriormente nessa dissertação. É um discurso que cria expectativas de

mudanças, direcionado para um público alvo, que, por sua vez, se

identifica e se entusiasma com a mensagem.

As palavras “luta e militância” historicamente nos remetem a

embates entre classes sociais, a confronto entre a burguesia produtora e

a classe operária. Segundo a AD, isso caracteriza a memória discursiva,

o interdiscurso. Para Gomes (2006, p. 623), “o que particulariza o

interdiscurso é o esquecimento e a posterior disponibilização desses já

ditos esquecidos que não possuem origem definida.” A atenção voltada

para os conceitos de participação, cidadania e realidade social injusta

nos levam a pensar na dualidade que envolve capitalismo versus

socialismo, regimes políticos com diferentes ideologias. Cada uma

dessas palavras adquire sentido levando-se em consideração quem fala,

de onde fala e para quem fala, levando-se em conta as relações de força.

Para Orlandi (2013, p. 43), “os sentidos sempre são determinados

ideologicamente. Não há sentido que não o seja.”

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Outro indício que lembra um inter(discurso) é o aparecimento

sistemático de palavras com sentido de transformação e ascensão social,

como se pode ver nas frases: “a participação no espaço escolar possibilita o exercício de distribuição do poder, de justiça, de

compromisso, de responsabilidade e ajuda a construir nossa identidade

e porque, como sujeitos históricos, podemos refletir e gerar ações que interfiram e transformem nossa sociedade”.

Dessa forma, compreender a formação discursiva é básico na

análise de discurso, “uma vez que permite compreender o processo de

produção dos sentidos, sua relação com a ideologia e ainda a

possibilidade de estabelecer regularidades no funcionamento do

discurso.” (MONTEIRO, 2008, p. 5).

Concluindo, do ponto de vista da sua discursividade, o texto

apresenta um tom de discurso inaugural, o surgimento de uma nova era

que surgirá com a implantação do PPP. O texto apresenta uma divisão

que, por um lado, diz que há um universo de pessoas que vivem numa

dura realidade e, por outro lado, um sistema político-social que se

isentava de removê-los dessa situação.

Essa divisão se manifesta na materialidade do texto, pelo uso de

um vocabulário que demonstra a ideologia do partido que assumiu a

prefeitura e que evidencia as suas crenças referentes às diferenças entre

as classes sociais, numa sociedade que eles entendem como

discriminatória, dominadora e exclusiva.

7.5 A COMUNICAÇÃO DA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO – COR

E SLOGAN

A leitura reflexiva de um enunciado é complexa, se levarmos em

consideração a mensagem a ser transmitida, o modo de transmissão, a

argumentação, o entendimento e o que desejamos como resposta. Não é

diferente, se o enunciado a ser analisado for um slogan, desenvolvido

pela Secretaria de uma Rede Municipal de Educação. Os objetivos desse

tipo de mensagem são a clareza, a concisão, a simplicidade. Mas, o

slogan, para encontrar eco, precisa ser impactante e deve ser condizente

com o repertório e o contexto social do receptor da mensagem. Segundo

Hauptmann (2012, p. 2), as teorias de comunicação “resumem o sistema

na constituição de quatro elementos básicos: quem diz, o que diz, por

qual canal, a quem se diz. Os textos de slogans possuem estratégias que

remetem o leitor a percorrer caminhos repletos de valores, ideias e

ideais.”

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Dito dessa maneira, o slogan não é apenas um simples recurso

publicitário, mas é, antes de tudo, um modo de ordenar, orientar e mudar

pensamentos e comportamentos. Nas palavras de Hauptmann, “o slogan,

como os jargões e ditados populares, é uma repetição que fala ao

inconsciente pela interdiscursividade do já-dito e do não-dito” (2012, p.

3). O slogan joga com os sentidos das palavras, procurando convencer

os receptores da mensagem, seguindo regras de comunicação. Para Rêgo

(2013, p. 3), essas regras são importantes na interpretação dos

enunciados, “uma vez que na busca de sentidos, não se investiga apenas

o texto em sua estrutura interna, mas também todo o envolto social, o

que lhe é externo e o que contribui para a produção efetiva dos

sentidos.” Para a AD, como dito anteriormente, os sentidos refletem a

ideologia, as condições sociais e a historicidade do sujeito falante.

Para fazer sentido, o slogan precisa representar os valores de

segmentos, dentro da sociedade. Para Hauptmann (2012, p. 5), é preciso

que o enunciado “faça parte do patrimônio cultural do público a que se

dirige, suscitando um já-dito.” Para cada ambiente social, publicidade,

empresa, o slogan tem um objetivo a ser alcançado. Na política, ele

aparece para fazer com que o eleitor acredite que certa candidatura ou

partido seja a melhor escolha, para que convença que haverá melhorias e

mudanças.

Nesse raciocínio, podemos dizer que o slogan escolhido pelos

colaboradores na construção do Projeto Político da Rede Municipal de

Criciúma também segue essa determinação e tem em seu enunciado uma

intencionalidade discursiva, para atingir o seu público-alvo. Para a

Análise de Discurso, as palavras não têm um sentido ligado à sua

materialidade. Contudo, todo enunciado pode torna-se outro, diferente

de si mesmo, deslocando-se para resultar num outro enunciado

(PÊCHEUX, 1997). Dessa maneira, todo dizer pode mudar de

significado, dependendo da interpretação de quem o recebe, sempre se

levando em consideração a ideologia dos sujeitos do discurso.

Para o exercício de análise de um slogan, Orlandi (2013, p. 26)

sugere o dispositivo de deslocamento, que segundo a autora, “visa à

compreensão de como um objeto simbólico produz sentidos, como ele

está investido de significância para e por sujeitos.”

Sendo assim, pretendemos levantar uma reflexão sobre o slogan

da Secretaria de Educação de Criciúma, relembrando que o PT foi o

partido que assumiu a prefeitura na gestão 2004. O slogan escolhido e

que passa a ser analisado enuncia: “POR UMA EDUCAÇÃO MAIS

DEMOCRÁTICA” (capa).

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Para uma melhor compreensão dos possíveis sentidos que há no

slogan, é preciso considerar a necessidade de um conhecimento prévio

sobre as condições de produção do mesmo, de uma noção histórica e do

contexto político-social, de forma que possa esclarecer a formulação

discursiva.

O slogan da Secretaria aparece na capa, na qual foi usada a cor

vermelha, do livro em que foi publicado o Projeto Político Pedagógico,

em letras também em vermelho. Historicamente, o vermelho é uma cor

que nos remete a movimentos revolucionários, de luta e é a cor oficial

do PT. Dessa maneira, a escolha das cores já tem um significado

político, relacionado à luta e à militância do próprio partido, que está

assumindo o poder municipal. Segundo Possenti (2009, p. 162), “a cor

produz um enunciado, ao lado dos enunciados textuais.”

Figura 5 – Capa do PPP da Rede Municipal de Educação

Fonte: CRICIÚMA, PPP da Rede, 2004.

Num outro olhar, na análise, podemos ver que o slogan aparece

no canto superior da capa, como se fosse carimbado nela. A palavra

carimbo tem origem africana (karimbu) e denomina a marca feita a ferro

que os escravos africanos traziam no corpo, mostrando que os impostos

e taxas já haviam sido pagos ao governo. Dessa forma, carimbo, por

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definição, significa marca, autenticação e validação. Ele pressupõe uma

hierarquia e o uso da autoridade, do poder.

Para a AD, os dizeres não são transparentes e deixam vestígios a

serem apreendidos. Mesmo que se autodenominem de esquerda, o uso

do slogan em forma de carimbo traz em sua memória uma história de

uso do poder e legitimação, um recurso que busca tornar o documento

autoral. Mais uma vez, podemos lembrar do conceito da AD, o

interdiscurso, isto é, o já-dito em outros tempos e em outro lugar.

O uso do slogan em forma de carimbo apresenta uma contradição

discursiva, na alegada posição de esquerda do partido, e é explicado por

Orlandi (2013, p. 32) como “alguma coisa mais forte – que vem pela

história, que não pede licença, que vem pela memória, pelas filiações de

sentidos constituídos em outros dizeres, em muitas vozes, no jogo da

língua.”

Seguindo com a análise, o slogan tem uma argumentação

implícita de convencimento, de mudança de comportamento do outro,

de propagação de uma ideia, conceito ou valor. Nas palavras de

Hauptmann (2012, p. 4), o slogan “é considerado, como enunciação, um

produto de interação entre indivíduos socialmente organizados.

Portanto, um fenômeno que não existe fora de um contexto sócio-

ideológico-comunicacional.”

A escolha das palavras, a relação entre educação e democracia,

são pistas do contexto em que o enunciado foi produzido. Para

Hauptmann (2012, p. 5), “além de se materializar nos slogans, os

discursos dominantes se caracterizam também nas frases de efeito e nas

palavras que impelem a uma ação prática, as palavras de ordem.”

A linguagem, como diz a AD, não é transparente e um dizer

sempre pode ser proferido de outra forma, com outras palavras, uma vez

que “todo enunciado é intrinsecamente suscetível de tornar-se outro,

diferente de si mesmo, se deslocar discursivamente de seu sentido para

derivar para outro.” (PÊCHEUX, 2002, p. 53). Dessa forma, o slogan

escolhido pela Secretaria de Educação e que reflete a tendência

histórico-ideológica do partido no poder poderia ser escrito de maneira

diferente, com significados também diferentes, refletindo outras

ideologias e outros momentos históricos. Para Orlandi (2013, p. 28),

“daí deriva a riqueza da Análise de Discurso ao permitir explorar de

muitas maneiras essa relação do simbólico, sem apagar as diferenças

[...]”

Dessa maneira, se fizermos um exercício de deslocamento de

significação, com o uso da metáfora, poderíamos descrever o slogan

“Por uma educação mais democrática” de outras maneiras. Todavia,

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antes disso, é importante lembrar que o slogan foi escrito num cenário

político petista. Sendo assim, a cor vermelha com a qual o texto foi

escrito é associada à cor do partido, que na cronologia política está

relacionada à luta e à militância. Segundo Orlandi (2013, p. 29), “a cor

vermelha está ligada historicamente a posições revolucionárias.” Nesse

raciocínio, outra cor ou a escolha de outras palavras teriam um

significado diferente.

Nesse sentido, cabe aqui uma reflexão sobre a propaganda

política e a língua de Estado, que “é o modo pelo qual ele dá sentido a si

mesmo.” (ORLANDI, 2012, p. 107), dito de outra maneira, uma língua

que representa o “pensamento” do governo, em que manobras de

propaganda psicológicas são postas em prática. Para Orlandi (2012, p.

108), “a propaganda se faz com imagens e palavras, sentimentos, ideias

e gestos.” Por isso, podemos dizer que os slogans têm como finalidade

prometer e convencer, falando com palavras que provocam sentidos e

necessidades. O enunciado-base de uma propaganda, segundo Orlandi

(2012, p. 131), opera da seguinte maneira: “é de x que você precisa,

sendo esse x um arrebanhador de desejo e este você diluído em ‘para

todos e ninguém’.” Dessa forma, o dizer do slogan político fala para a

massa, mas passa, intencionalmente, uma ilusão de individualidade.

Para a Análise de Discurso, as palavras falam com palavras,

“sempre plural, sempre capaz de ser outro o sentido.” (ORLANDI,

2012, p. 134). Nesse caminho, para um exercício de análise, vamos ver

com que outras palavras o slogan “POR UMA EDUCAÇÃO MAIS

DEMOCRÁTICA” fala. Seguindo um princípio da AD, o da paráfrase,

que significa dizer a mesma coisa em outras palavras, dá para reescrever

esse slogan, de modo que ele passasse a ter sentidos diferentes. Nas

palavras de Possenti (2009, p. 163), “significar uma coisa ou outra

depende de se tratar de um discurso e não de outro, de um conjunto de

condições de produção e não de outra, de certas instâncias enunciativas

etc.” Assim, por substituições, o slogan poderia variar para outras

formações discursivas.

De volta ao cenário para o qual foi destinado o slogan em

questão, podemos entender que a escolha da palavra democracia vem ao

encontro do pensamento do governo petista, que defende uma gestão

voltada para o povo. Por definição, democracia é um regime de governo

em que todas as importantes decisões políticas estão com o povo. Dessa

maneira, a formação discursiva na frase “por uma educação mais

democrática” se antepõe à formação discursiva da sentença “por uma

educação mais aristocrática” e nega, discordando, por consequência, da

elitização da educação. É preciso identificar a posição daquele que o

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escreve, pois para Orlandi (1988, p.58) “as palavras mudam de sentido

segundo as posições daqueles que as empregam. Elas tiram seu sentido

dessas posições, isto é, em relação às formações ideológicas nas quais

essas formações se inscrevem.”

Seguindo nesse caminho de associações, é sabido que a AD

permite que a interpretação analítica do discurso derive para outros

sentidos e outras formas de dizer. Dessa maneira, podemos pensar na

educação, objetivo social do slogan, trazendo à luz a alfabetização, uma

questão constante no contexto social e da história da educação brasileira.

A alfabetização é, portanto, um dos sentidos da educação e está

relacionada, socialmente, com a chave de entrada no mercado de

trabalho. Orlandi (2012, p, 140) afirma que

A questão da educação, analfabetismo, é só um

déficit a ser corrigido, não é uma questão de que

apela para uma ruptura social. E que a questão do

trabalho é só uma questão de capacitação,

treinamento e não de educação. Relação

fragilizada de educação e trabalho (trabalhador).

Nesse sentido, a educação, no slogan, é apresentada com um

dizer generalizado, sem que por si só, se mostra capaz de provocar uma

ruptura na cadeia social. Se, por um lado, a educação tem em sua

“essência” a promessa de formar um sujeito cidadão no seu sentido mais

amplo, por outro, é responsável pela formação do sujeito capacitado

para o trabalho. Disso se conclui que “o efeito de pré-construído se

consuma.” (ORLANDI, 2012, p. 142) e o sujeito, que poderia ter

consciência de sua capacidade de intervenção social, fica apenas na

condição de ligação com o trabalho. Ele se vê mais capacitado para o

trabalho e mais produtivo, menos crítico e reflexivo.

Para concluir, por trás da construção discursiva do slogan,

aparecem as representações econômicas, políticas e socioculturais, onde

se ouvem as vozes das instituições responsáveis pelos discursos. Apesar

da tentativa de proclamar uma educação acessível a todos, o slogan abre

espaço para a análise dos não-ditos e das falhas, que são, para a AD,

fontes inesgotáveis de sentidos. O slogan “Por uma educação mais

democrática” cumpre seu papel de propaganda de governo, ao pretender

promover a inclusão social, a mudança e a construção de cidadãos

conscientes, caindo na armadilha “da ideologia da globalização, onde

todos são cada um e ninguém.” (ORLANDI, 2012, p. 127). Dessa

forma, perpetua-se a formação discursiva, a promessa da redenção pela

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educação, sem que haja, no entanto, um comprometimento real de como

se dará a mudança e a definição de quem se quer transformar.

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8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Análise de Discurso, apesar de ser uma ciência recente, tem

sido usada por diferentes setores da produção de conhecimentos. Ver a

língua do ponto de vista discursivo é ir além das fronteiras das

abordagens linguísticas ou gramaticais. O discurso é o objeto de estudo

da Análise de Discurso e está intrinsecamente ligado à língua, à história

e à ideologia. Em cada Formação Discursiva está o que já foi dito, o que

foi silenciado, o dito diferente. Dessa forma, analisar enunciados é

relacioná-los com outros enunciados, é transportá-los para outro

momento, é dar a eles outro sentido. Pensar na língua é pensá-la

incompleta, opaca, é pensar nela fazendo sentido. A AD não tem a

pretensão de buscar nos discursos o sentido verdadeiro, pois o exercício

da análise discursiva é trabalho de interpretação.

Para a AD, é necessário que se procure os sentidos, sempre em

aberto, que atravessam os discursos e que estão impregnados nos

sujeitos falantes. Vale lembrar que os sentidos dependem, também, das

condições de produção e da interpretação do receptor. Sendo assim, o

discurso (e o sujeito do discurso) visa transmitir uma mensagem, na

busca de um objetivo específico e premeditado, concretizado na

interpretação do sujeito ouvinte.

Baseado nesses pressupostos da Análise de Discurso, essa

dissertação procurou responder os objetivos a que se propôs.

Primeiramente, identificou os diferentes significados da linguagem,

entendendo o discurso além da simples abordagem linguística, através

da visão de estudiosos da língua, numa trajetória que culmina na Análise

de Discurso no Brasil, que tem em Eni P. Orlandi um dos seus maiores

expoentes.

Num segundo momento, esta pesquisa se preocupou em destacar

elementos e conceitos, que serviram para que se conhecesse a Análise de

Discurso como ciência. Alicerçados nesses conceitos, foram analisados

recortes extraídos do Projeto Político Pedagógico da Rede Municipal de

Criciúma (SC), corpus desta dissertação, sob um viés político, que

atravessa o documento. Analisar os discursos sobre educação a partir

das perspectivas da AD pode ajudar a compreender as políticas

educacionais e partidárias, historicamente entrecruzadas no cotidiano

escolar

Depois de apresentar a Lei Nacional que rege o Projeto Político

Pedagógico, todo o processo de implantação do PPP da Rede Municipal,

de conhecer o contexto histórico-social e o espaço no qual ele foi

produzido, esta dissertação passou a explicar como foram construídos os

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sentidos nas vozes e nos discursos dos responsáveis pela elaboração do

documento.

Por conclusão, diante do que se pode observar, podemos dizer

que os discursos que representam as vozes oficiais do governo

municipal, apesar de tentar quebrar alguns paradigmas políticos e

sociais, acabam repetindo os discursos que, historicamente, foram feitos

sobre a educação, sobre o papel da escola e sobre o sujeito-cidadão.

Sendo assim, esses elementos que fazem parte do discurso sócio-

educativo acabam sendo, apenas, um eco da ideologia propaganda-

partidária.

Por outro lado, é importante salientar que a Análise de Discurso

defende e destaca que o discurso não tem um início específico, que ele

se entrelaça com outros discursos e que não tem um final definido.

Dessa forma, a reflexão sobre educação se abre de forma infinita, como

um campo fértil, pronto para apresentar novas descobertas. Com base

nessas afirmações, uma vez que essa pesquisa entrecruza educação,

linguagem, discurso e análise de discurso, cabe dizer que a AD pode ter

um papel relevante na escola e na formação do seu corpo docente e

discente. Língua e linguagem podem ser apresentadas respeitando-se as

suas diferentes manifestações, de maneira que o aluno possa distingui-

las e entendê-las.

De outra forma, tendo em vista que não há neutralidade nos

signos, a Análise do Discurso pode ajudar a problematizar a maneira de

ler, fazendo com que o aluno-leitor ultrapasse os limites das perguntas e

repostas óbvias e entenda que o discurso abre possibilidades de muitas

interpretações. Essa liberdade de questionar e sair dos limites, muitas

vezes engessadores da interpretação, pode ser um dos caminhos para a

formação de um cidadão mais crítico e formador de opinião, objetivos

contidos nos PPPs e tão almejados pelos educadores. A criticidade e a

oportunidade de poder lançar um olhar para além das fronteiras

estabelecidas são atitudes que provocam, de maneira gradativa, uma

mudança cultural de comportamento.

E assim, podemos dizer, parafraseando ORLANDI (2013), que

essa pesquisa abre uma perspectiva onde a linguagem se apresenta, não

como evidente e translúcida, onde a ideologia se materializa não para

ocultar a realidade, mas para estruturar a significação. Uma pesquisa que

mostra o lugar do discurso, como um lugar do sujeito, da significação e

da história. A Análise do Discurso, dessa forma, oferece um imenso

espaço de novas descobertas.

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