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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA ANA PAULA DA SILVA SANTOS AUXÍLIO-RECLUSÃO: ESCLARECENDO OS PRINCIPAIS ASPECTOS DO ESTIGMATIZADO BENEFÍCIO À LUZ DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 Araranguá 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

ANA PAULA DA SILVA SANTOS

AUXÍLIO-RECLUSÃO:

ESCLARECENDO OS PRINCIPAIS ASPECTOS DO ESTIGMATIZADO

BENEFÍCIO À LUZ DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

Araranguá

2021

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ANA PAULA DA SILVA SANTOS

AUXÍLIO-RECLUSÃO:

ESCLARECENDO OS PRINCIPAIS ASPECTOS DO ESTIGMATIZADO

BENEFÍCIO À LUZ DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Linha de pesquisa: Justiça e sociedade.

Orientadora: Prof.ª Nádila da Silva Hassan, Esp.

Araranguá

2021

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ANA PAULA DA SILVA SANTOS

AUXÍLIO-RECLUSÃO:

ESCLARECENDO OS PRINCIPAIS ASPECTOS DO ESTIGMATIZADO

BENEFÍCIO À LUZ DA CONSTITUIÇÃO DE 1988

Esta Monografia foi julgada adequada à obtenção do título de Bacharel em Direito e aprovada em sua forma final pelo Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Araranguá, 18 de junho de 2021.

______________________________________________________

Professora e orientadora Nádila da Silva Hassan, Esp. Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________

Prof.ª Elisângela Dandolini, Esp. Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________

Prof.ª Fátima Hassan Caldeira, Dr.ª Universidade do Sul de Santa Catarina

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AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer, primeiramente, aos meus pais por sempre me auxiliarem em

todos os sentidos da vida e por cuidarem de mim com tanto zelo, apesar de todas as dificuldades.

Agradeço a minha melhor amiga, Cássia, por sempre estar e permanecer ao meu

lado independentemente da situação, por se preocupar comigo, e por colocar tantas vezes as

minhas necessidades à frente das suas. Obrigada por me possibilitar a sua amizade e a sua

presença, me faltam palavras para lhe agradecer e expressar o quanto você é e sempre será

importante em minha vida. Eu te amo.

Agradeço ao meu namorado, Bruno, por desde o início da minha graduação sempre

se dispor a me auxiliar em todas as necessidades e problemas, sejam quais fossem. Te agradeço

por toda paciência e por todo o cuidado, principalmente durante a elaboração desta monografia.

Obrigada por sempre acreditar mais em mim e na minha capacidade do que eu mesma. Você é

uma pessoa extraordinária, e eu te amo por isso.

Agradeço a minha orientadora, a professora Nádila, por toda a amizade e carinho

sempre demostrados, por ter aceitado me guiar no desenvolvimento desta monografia e por sua

paciência.

Agradeço a todos os professores do curso de Direito da Unisul, que contribuíram

para a minha formação e o meu aprendizado, expresso aqui meus mais sinceros agradecimentos

a todos vocês e deixo registrado o meu respeito por escolherem essa nobre e difícil profissão.

Não poderia esquecer-me de agradecer ao quadro de funcionários da Unisul por

toda a prestatividade, em especial a professora Rejane, que por tantas vezes me auxiliou com

todo o carinho e empatia.

A todos que de alguma forma me ajudaram no decorrer da minha jornada

acadêmica, eu digo: Muito obrigada!

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“Conhecimento não é aquilo que você sabe, mas o que você faz com

aquilo que você sabe.” (Aldous Huxley)

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RESUMO

Este trabalho tem o escopo de apontar a relevância do auxílio-reclusão, e esclarecer os

principais aspectos desse benefício, de modo a conceituá-lo, indicar sua origem e história, sua

previsão legal, explanar sobre seus requisitos obrigatórios de concessão, e outros pontos que

provocam estranheza na população brasileira em geral. Visa-se também, expor a quem o

benefício realmente é devido, e qual a sua função. Para este fim, utilizou-se a pesquisa

bibliográfica e documental, que incluiu a pesquisa em livros, arquivos e sites online, bem como,

em doutrinas e legislações. Destarte, espera-se que esse trabalho possa contribuir para o

aprendizado daqueles que desejam compreender a temática sem julgamentos, e que possa

também, combater a desinformação, as “fake news”, o estigma e o preconceito que perseguem

a população carcerária, seus dependentes e o próprio auxílio-reclusão. Em suma, com base no

presente trabalho, foi possível concluir que o auxílio-reclusão, enquanto benefício

previdenciário, possui legitimidade e rígidos regramentos dispostos em lei. Também se conclui

que o benefício objetiva tão somente proporcionar aos dependentes dos segurados reclusos, a

proteção que seus provedores principais deixaram de garantir em decorrência do recolhimento

à prisão.

Palavras-chave: Seguridade Social. Previdência Social. Auxílio-reclusão. Estigma.

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ABSTRACT

This work has the purpose of indicating the relevance of the incarceration allowance, and clarify

the main aspects of this benefit, in order to conceptualize it, indicate its origins and history, its

legal provision, explain about its mandatory requirements for granting, and other points that

cause strangeness in the Brazilian population in general. It also aims to expose to who the

benefit is really attributed to, and their function. For this purpose, it was used bibliographic and

documental research, which included research in books, archives and online sites, as well as in

doctrines and legislation. It is expected that this work may contribute to the learning of those

who wish to understand the theme without judgments, and may also combat the misinformation,

the "fake news", the stigma and prejudice that haunt the prison population, their dependents and

the proper incarceration allowance. In synthesis, based on this work, it was possible to conclude

that the incarceration allowance, as a social security benefit, has legitimacy and strict rules

provided by law. It is also concluded that the benefit only aims to provide the dependents of the

insured prisoners, the protection that their main providers have ceased to ensure due to the

imprisonment.

Keywords: Social Protection. Social Security. Incarceration Allowance. Stigma.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Duração do auxílio-reclusão por faixa etária dos dependentes .............................. 54

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 10

2 A SEGURIDADE SOCIAL NA CONSTITUIÇÃO DE 1988 ....................................... 14

2.1 CONCEITO DE SEGURIDADE SOCIAL ..................................................................... 14

2.2 OS TRÊS PILARES DA SEGURIDADE SOCIAL NO BRASIL: SAÚDE,

ASSISTÊNCIA SOCIAL E PREVIDÊNCIA SOCIAL ........................................................... 16

2.3 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS ESPECÍFICOS DA SEGURIDADE SOCIAL .... 19

3 A PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL ..................................................................... 24

3.1 CONCEITO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL .................................................................... 24

3.2 BREVE HISTÓRICO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL .............................. 26

3.3 PRINCÍPIOS E OBJETIVOS ESPECÍFICOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL

BRASILEIRA ........................................................................................................................... 29

3.4 REGIMES PREVIDENCIÁRIOS BRASILEIROS ........................................................ 34

3.4.1 Regime Geral de Previdência Social (RGPS) ........................................................... 34

3.4.2 Regime Próprio de Previdência Social (RPPS)......................................................... 37

3.4.3 Regime de Previdência Complementar ou Previdência Privada ............................ 40

4 O BENEFÍCIO AUXÍLIO-RECLUSÃO ........................................................................ 43

4.1 HISTÓRICO DO AUXÍLIO-RECLUSÃO ..................................................................... 44

4.2 PREVISÃO CONSTITUCIONAL E LEGAL DO AUXÍLIO-RECLUSÃO .................. 45

4.3 REQUISITOS GERAIS E ESPECÍFICOS PARA A FRUIÇÃO DO BENEFÍCIO

PREVIDENCIÁRIO ................................................................................................................. 46

4.3.1 Carência ....................................................................................................................... 46

4.3.2 Qualidade de segurado ............................................................................................... 47

4.3.3 Recebimento de remuneração .................................................................................... 48

4.3.4 Demonstração de recolhimento à prisão e de manutenção da prisão .................... 49

4.3.5 Baixa renda mensal do segurado ............................................................................... 50

4.4 DATA DO INÍCIO, VALOR E PRAZO DE DURAÇÃO DO BENEFÍCIO

PREVIDENCIÁRIO ................................................................................................................. 52

4.5 ACUMULAÇÃO DE BENEFÍCIO, CESSAÇÃO E SUSPENSÃO DO AUXÍLIO-

RECLUSÃO ............................................................................................................................. 54

4.6 O AUXÍLIO-RECLUSÃO E AS “FAKE NEWS” ........................................................... 56

4.6.1 O que são “fake news”? ............................................................................................... 58

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4.6.2 A estigmatização do presidiário e a decorrente reprovabilidade social do auxílio-

reclusão .................................................................................................................................... 59

5 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 62

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 64

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1 INTRODUÇÃO

Não é de hoje que o auxílio-reclusão, auxílio previdenciário concedido mediante

circunstâncias específicas à dependentes de apenados, é alvo de críticas, muitas vezes realizadas

até mesmo por parte da população que deveria se atentar, sem preconceitos, ao seu conteúdo.

O atual chefe do Poder Executivo no Brasil, por exemplo, já manifestou publicamente a

intenção de extinguir o pagamento deste benefício aos assegurados, embora este decorra de

previsão constitucional.

Tomados pelo sentimento de injustiça e guiados pelo comportamento de seus

governantes, grande parcela dos cidadãos brasileiros apoia o fim do auxílio-reclusão, sem ao

menos tomar conhecimento dos critérios que envolvem a concessão deste benefício.

O pouco interesse das autoridades públicas em educar os brasileiros a respeito de

algo como o auxílio-reclusão faz com que essa desaprovação se transforme num conflito entre

os apenados e os cidadãos, que não compreendem por que o “inimigo” está sendo beneficiado.

A ignorância, acompanhada pelo sentimento de injustiça, faz com que a população

externalize essa insatisfação disseminando “fake news” nas redes sociais, no intuito de impactar

outras pessoas e essa revolta gerar a possível eliminação do auxílio.

Além disso, a crescente circulação das “fake news” por meio de redes sociais e

outros veículos de comunicação, tem contribuído para o estigma, tanto do apenado, quanto do

auxílio, que já foi batizado pejorativamente por leigos de “bolsa bandido”, em virtude da

aparente oferta de privilégios à população carcerária, em detrimento das necessidades de

cidadãos que estão dentro da legalidade.

É sabido que, na Era da modernidade, a tecnologia se faz imprescindível, sendo

empregada no desempenho das mais variadas atividades e funções. No entanto, conforme bem

coloca Kasparov (2016, p. 1), "com frequência esquecemos que a tecnologia é uma espada de

dois gumes. Junto com os benefícios de cada passo à frente vem a possibilidade de que seja

utilizada para finalidades destrutivas".

Logo, parte desta tecnologia tem se revestido de perversidade, considerando que

nos dias de hoje, as mídias sociais, deixaram de ser apenas fonte de divertimento e distração, e

se tornaram palco de disseminação de ódio e preconceito, por meio de postagens

sensacionalistas e do compartilhamento de informações falsas.

Segundo Campos (2020, p. 1):

Fake News são notícias falsas publicadas por veículos de comunicação como se fossem informações reais. Esse tipo de texto, em sua maior parte, é feito e divulgado com o objetivo de legitimar um ponto de vista ou prejudicar uma pessoa ou grupo

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(geralmente figuras públicas). As Fake News têm um grande poder viral, isto é, espalham-se rapidamente. As informações falsas apelam para o emocional do leitor/espectador, fazendo com que as pessoas consumam o material “noticioso” sem confirmar se é verdade seu conteúdo.

Este tipo de desinformação surge, na maior parte das vezes, para marginalizar e

banalizar o seu objeto, podendo alcançar suas vítimas onde quer que se encontrem.

Neste contexto, a população carcerária surge como presa fácil das "fake news", já

estereotipada pela própria história e circunstâncias, é também etiquetada com base em um

moralismo hipócrita e um conservadorismo pretencioso, como indigna de qualquer direito.

Sobre isso, salientam Almeida e Luz (2016, p. 4):

Diante dessa repulsa de criminalizar e disseminar o preconceito social em relação à figura do detento, sociedade civil e Estado, reproduzem o senso comum de que ao ser preso, o segurado deveria perder seus direitos em relação à proteção do Estado, sentenciando assim seus dependentes.

Consequentemente, o auxílio-reclusão rapidamente tornou-se um tópico fortemente

debatido, e, desde então, começaram a se proliferar falsas informações a seu respeito,

meramente baseadas em desavenças políticas e ideológicas. Tais equívocos são cada vez mais

reforçados no dia a dia e corroboram o severo preconceito da sociedade contra a população

carcerária e sua família.

No entanto, é dever daqueles que conhecem o tema, contribuir para a sua

desmistificação e esclarecimento, tendo em vista que, a desinformação é capaz de gerar

angústia, tanto para aqueles que não compreendem a concessão do auxílio a criminosos e se

sentem lesados, quanto aos beneficiados do preso, que sofrem com o preconceito que também

lhes é dirigido. Portanto, de suma importância o debate do tema proposto.

Desta forma, a questão que conduz esta monografia é: O auxílio-reclusão, conforme

se difunde, constitui uma recompensa concedida a criminosos?

Em virtude da visibilidade limitada da questão, este trabalho objetiva esclarecer os

principais pontos quanto ao funcionamento do auxílio-reclusão, e assim, afastar crenças

fantasiosas ou que não correspondam à realidade dos fatos. Pretende-se também, expor os

critérios que o apenado necessita atender para que se obtenha o benefício, analisar quem de fato

está apto ao recebimento do auxílio-reclusão e conscientizar o leitor quanto a necessidade do

amparo às famílias dependentes.

A princípio, cumpre destacar que o aludido benefício se encontra previsto

constitucionalmente no art. 201, IV da CRFB/88, e na Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991, em

disciplina à norma constitucional, sendo que, alguns aspectos do auxílio-reclusão foram objetos

de recente modificação, dados pela redação da Lei n. 13.846, de 18 de junho de 2019.

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No entanto, visto ainda se tratar de benefício previdenciário, é imprescindível a

existência de certos requisitos para que os seus segurados façam jus a ele. Neste sentido,

argumenta-se:

Ademais, essa ignorância quanto as suas regras e requisitos, hodiernamente, acaba por ensejar uma confusão, caracterizando o benefício previdenciário como se fosse um benefício de natureza assistencial. [...] o segurado ainda que tenha cometido um crime, faz jus à proteção previdenciária (desde que preenchidos os requisitos exigidos). (AGOSTINHO et al., 2019, p. 8).

É na Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991, que se encontra a norma básica sobre a

concessão de benefícios da Previdência Social. Destaca-se no art. 80 da mencionada lei, a

composição atual do auxílio-reclusão e os requisitos básicos para sua concessão, que serão mais

afrente abordados de forma específica. São eles:

Art. 80. O auxílio-reclusão, cumprida a carência prevista no inciso IV do caput do art. 25 desta Lei, será devido, nas condições da pensão por morte, aos dependentes do segurado de baixa renda recolhido à prisão em regime fechado que não receber remuneração da empresa nem estiver em gozo de auxílio-doença, de pensão por morte, de salário-maternidade, de aposentadoria ou de abono de permanência em serviço. (Redação dada pela Lei n. 13.846, de 2019). (BRASIL, Lei n. 8.213, 2021).

Nesse contexto, Netto et al. (2005, p. 1, apud SILVA, 2015, p. 1), salienta a papel

do auxílio-reclusão perante a Previdência Social:

Visando amparar materialmente os dependentes do recolhido a prisão, este benefício [auxílio-reclusão] se coaduna com os objetivos maiores da Previdência Social, a saber, sua inserção na trajetória da evolução histórica do Estado Democrático de Direito, bem como com correspondência com o ideal de solidariedade que orienta todo o sistema, tendo em vista a manutenção da dignidade da pessoa humana- um dos fundamentos da República Federativa do Brasil.

Dessa forma, espera-se que se torne nítido que a Previdência Social, por meio de

seus regramentos e disposições, objetiva fundamentalmente cumprir sua função, e proteger não

só o segurado, mas também aqueles que possam vir a depender deste, princípio que transmite a

essência do auxílio-reclusão.

Portanto, independentemente dos sentimentos que se relacionam ao assunto, o

auxílio-reclusão deverá ser concedido àqueles que estiverem de acordo com os requisitos legais

para tanto, uma vez que são os únicos fatores que podem barrar a transmissão deste.

Por esse motivo, é de extrema importância abordar e aprofundar o saber sobre o

assunto auxílio-reclusão, a fim de esclarecer as inverdades que circulam acerca do tema.

Esta pesquisa utiliza-se de pesquisas bibliográficas e documentais. Sobre a

finalidade da pesquisa bibliográfica, salienta-se:

A pesquisa bibliográfica é então feita com o intuito de levantar um conhecimento disponível sobre teorias, a fim de analisar, produzir ou explicar um objeto sendo

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investigado. A pesquisa bibliográfica visa então analisar as principais teorias de um tema, e pode ser realizada com diferentes finalidades. (CHIARA et al, 2008, p. 1, apud TYBEL, 2017, p. 1).

Ainda, segundo Matos et al (2001, p. 40, apud Fonseca, 2002, p. 31) “a pesquisa

bibliográfica é feita a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas

por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites.”

Dentro deste rol bibliográfico, serão utilizados como meio de pesquisa:

monografias, livros, artigos científicos, artigos em web sites, postagens públicas em mídias

sociais, dentre outros.

Além da pesquisa bibliográfica, este trabalho também explora a pesquisa

documental. Acerca dessa, explana-se:

É muito parecida com a bibliográfica. A diferença está na natureza das fontes, pois esta forma vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetos da pesquisa. Além de analisar os documentos de “primeira mão” (documentos de arquivos, igrejas, sindicatos, instituições etc.), existem também aqueles que já foram processados, mas podem receber outras interpretações, como relatórios de empresas, tabelas etc. (GIL, 2008, p. 1).

Em síntese, considerando-se as fontes já citadas, a presente monografia também se

guia por meio da pesquisa documental, que consiste, de certa forma, no uso de documentos,

que podem ser tidos como "originários", revestidos de certa oficialidade e imutabilidade, a

exemplo: leis, jurisprudências e legislações esparsas.

O presente trabalho organiza-se em três capítulos estruturados da seguinte maneira:

no primeiro capítulo são analisados os principais aspectos da seguridade social no brasil, seu

conceito, composição e os princípios constitucionais norteadores.

O segundo capítulo se propõe a tratar da Previdência Social no Brasil, enquanto

desdobramento da seguridade social, assim como, explica sua terminologia, seu

desenvolvimento ao longo das décadas, seus princípios basilares e os regimes previdenciários

que a compõem.

No terceiro, e último capítulo, é abordada a questão central desta monografia, o

auxílio-reclusão. Nele, busca-se definir o termo, caracterizar o benefício previdenciário,

apontar sua previsão legal, e os requisitos inerentes a sua concessão. Ainda, retrata-se a relação

entre a propagação de notícias falsas, “fake news”, com a desmoralização do preso e do

benefício previdenciário intrínseco a ele, e quais são os possíveis efeitos dessa prática na

visibilidade do auxílio-reclusão e na vida do segurado recluso e de sua família e/ou

dependentes.

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2 A SEGURIDADE SOCIAL NA CONSTITUIÇÃO DE 1988

A Constituição Federal de 1988 inovou ao tratar da seguridade social de forma

específica, pois, até então, nenhuma outra legislação brasileira havia previsto esse assunto de

modo a dedicá-lo um capítulo exclusivo. Conforme acrescenta Glasenapp (2020, p. 16), “esse

termo nunca havia nas constituições anteriores, que normalmente se referiam a ‘Seguro social’

ou ‘Previdência Social’ para tratar do assunto.”

Esse acontecimento foi consagrado como um marco constitucional e é considerado

por diversos juristas, um avanço essencial em direção a efetivação dos direitos sociais da

população brasileira, inclusive para Fleury (2004, p. 3), que expressa:

A Constituição de 1988 avançou em relação às formulações legais anteriores, ao garantir um conjunto de direitos sociais, expressos no Capítulo da Ordem Social, inovando ao consagrar o modelo de Seguridade Social, como “um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social” (Título VIII, Capítulo II, Seção I, art. 194). A inclusão da previdência, da saúde e da assistência como partes da seguridade social, introduz a noção de direitos sociais universais como parte da condição de cidadania, sendo que antes eram restritos à população beneficiária da previdência O novo padrão constitucional da política social caracteriza-se pela universalidade na cobertura, o reconhecimento dos direitos sociais, a afirmação do dever do estado, a subordinação das práticas privadas à regulação em função da relevância pública das ações e serviços nestas áreas, uma perspectiva publicista de co-gestão governo/sociedade, um arranjo organizacional descentralizado.

Além de dedicar um capítulo exclusivo ao tema, a Constituição Federal de 1988

também versa sobre a concepção do fenômeno da seguridade social, seus princípios e objetivos,

assim como, suas formas de custeio, dentre outros tópicos oportunos que serão levantados na

sequência.

2.1 CONCEITO DE SEGURIDADE SOCIAL

O art. 194 da Constituição da República de 1988, define a seguridade social da

seguinte forma: “a seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa

dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à

previdência e à assistência social.” (BRASIL, CRFB, 2021).

Apesar da descrição dada pela carta magna quanto ao termo “seguridade social”,

existe uma relevante dificuldade doutrinária em conceituar de forma correta, bem como, de

delimitar a extensão desse instituto.

Segundo Alcântara e Agostinho (2020, p. 26-27):

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O termo seguridade social, fora empregado nos Estados Unidos da América em 1935, quando no desenvolvimento político do New Deal, foi promulgado o “Social Security Act”, o qual contemplava os velhos desempregados com medidas de proteção inspiradas na técnica do seguro privado, sob custeio do empregado, do empregador e do Estado.

Nesse sentido, completa Boschetti (2002, p. 1):

A Constituição de 1988 institucionalizou o conceito seguridade social para designar uma forma nova e ampliada de implementar e articular políticas já existentes no Brasil desde o início do século XX. Esta Constituição tem o mérito de introduzir um novo conceito e propor uma reestruturação e reorganização inovadoras das políticas que passam a compor esta área: previdência, saúde e assistência. Mas não é a Carta Magna que decreta o surgimento da seguridade social. Inexistente na língua portuguesa, este termo é utilizado desde 1935 nos Estados Unidos e desde a década de 1940 nos países capitalistas da Europa, para designar um conjunto variável de programas e serviços sociais.

Diante da imprecisão teórica do termo, diversos juristas e estudiosos propuseram-

se a analisar a expressão a fim de desenvolver, ou ao menos ilustrar, a realidade prática por

detrás dessas palavras, afinal de contas, “quanto mais claro e preciso o conceito, maior sua

capacidade de reproduzir a realidade, bem como de conformar regras e normas que possam

operacionalizá-lo.” (BOSCHETTI, 2002, p. 2).

De acordo com Delgado et al (2009, p. 21), “o termo Seguridade Social é um

conceito estruturante das políticas sociais cuja principal característica é de expressar o esforço

de garantia universal da prestação de benefícios e serviços de proteção social pelo Estado.”

Para Alcântara e Agostinho (2020, p. 27), o conceito de seguridade social está

intimamente atrelado a sua finalidade, conforme explica:

A fim de reduzir as situações de necessidade, surgiu a Seguridade Social que, antevendo as situações de necessidade que poderiam acarretar riscos aos indivíduos, criou mecanismos para ampará-los caso o risco venha a ocorrer. A seguridade objetiva, pois, proporcionará tranquilidade e segurança às pessoas quando estas não mais puderem promover o próprio sustento através do exercício de uma atividade profissional.

Do mesmo modo, Fleury (2004, p. 3) expõe o objetivo do instituto como forma de

caracterizá-lo:

No modelo de seguridade social busca-se romper com as noções de cobertura restrita a setores inseridos no mercado formal e afrouxar os vínculos entre contribuições e benefícios, gerando mecanismos mais solidários e redistributivos. Os benefícios passam a ser concedidos a partir das necessidades, com fundamentos nos princípios da justiça social, o que obriga a estender universalmente a cobertura e integrar as estruturas governamentais.

Portanto, apesar da complexidade inerente ao termo, pode-se compreender a

seguridade social como o meio pelo qual o Estado deve garantir os direitos sociais e

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fundamentais a toda sua população, de acordo com os parâmetros estabelecidos pela própria

Lei.

2.2 OS TRÊS PILARES DA SEGURIDADE SOCIAL NO BRASIL: SAÚDE,

ASSISTÊNCIA SOCIAL E PREVIDÊNCIA SOCIAL

De acordo com o já mencionado no art. 194 da Constituição Federal de 1988, a

seguridade social é composta por três estruturas básicas, são elas: a Saúde, a Assistência Social

e a Previdência Social. (BRASIL, CRFB, 2021).

A atual Constituição brasileira consagrou em sua letra o direito à saúde, ao instituí-

lo como direito social de cunho essencial, cujo dever de garantia pertence ao Estado. O art. 196

da CRFB/88, enuncia que “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante

políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao

acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.”

(BRASIL, CRFB, 2021).

No que concerne à saúde, antes do advento da atual Carta Magna “era vinculada ao

Instituto de Assistência Médica da Previdência Social – INAMPS, cujos assegurados eram

somente aqueles que contribuíam ativamente, pois não era um direito acessível a todo cidadão

brasileiro.” (AGOSTINHO, 2020, p. 27).

Implantou-se também o Sistema Único de Saúde, popularmente conhecido por sua

sigla – SUS. Previsto no art. 198 da CRFB/88, o Sistema Único de Saúde possui os seguintes

preceitos:

Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: (Vide ADPF 672) I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo; II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III - participação da comunidade. (BRASIL, CRFB, 2021).

Além disso, a Lei n. 8.080 de 19 de setembro de 1990, “dispõe sobre as condições

para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos

serviços correspondentes ao SUS e dá outras providências.” (BRASIL, CRFB, 2021).

Outrossim, o art. 198 § 1º da CRFB/88, estabelece que “o sistema único de saúde

será financiado, nos termos do art. 195, com recursos do orçamento da seguridade social, da

União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes.” (BRASIL,

CRFB, 2021).

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Enfim, determina também a norma, no § 1º do art. 199 da CRFB/88, que “a

assistência à saúde é livre à iniciativa privada, podendo as instituições privadas participar de

forma complementar do sistema único de saúde, [...], tendo preferência as entidades

filantrópicas e as sem fins lucrativos.” (BRASIL, CRFB, 2021).

A assistência social marca o segundo desdobramento da seguridade social. Horvath

Júnior (2011, p. 17) transmite em suas palavras a essência dessa política pública: “a existência

digna deve ser algo comum a todas as pessoas. Aqueles que não conseguem subsistir com seus

próprios recursos e do seu núcleo familiar devem ter o amparo da coletividade e do Estado.”

O direito à assistência social está previsto nos arts. 203 e 204 da Constituição

Federal de 1988. No art. 203 da CRFB/88, são traçados os objetivos da assistência social, a

saber:

Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II - o amparo às crianças e adolescentes carentes; III - a promoção da integração ao mercado de trabalho; IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei. (BRASIL, CRFB, 2021).

Logo, “pode ser feita a primeira distinção em relação aos subsistemas

previdenciário e assistencial: a Previdência Social atende aqueles que contribuem, enquanto a

assistência não requer participação contributiva.” (HORVATH JÚNIOR, 2011, p. 17).

Na sequência, o art. 204 da Constituição Federal de 1988, cita as fontes de custeio

da assistência social:

Art. 204. As ações governamentais na área da assistência social serão realizadas com recursos do orçamento da seguridade social, previstos no art. 195, além de outras fontes, e organizadas com base nas seguintes diretrizes: I - descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência social; II - participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis. Parágrafo único. É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a programa de apoio à inclusão e promoção social até cinco décimos por cento de sua receita tributária líquida, vedada a aplicação desses recursos no pagamento de: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) I - despesas com pessoal e encargos sociais; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) II - serviço da dívida; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) III - qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos investimentos ou ações apoiados. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003). (BRASIL, CRFB, 2021).

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Observa-se que, “a assistência social está organizada sob as diretrizes da

descentralização político-administrativa e da participação popular [...]. A Lei n. 8.742/93 (Loas

– Lei Orgânica da Assistência Social) regulamentou as disposições constitucionais de

assistência social.” (HORVATH JÚNIOR, 2011, p. 18).

Ainda nesse sentido, a Lei n. 8.742, de 07 de dezembro de 1993, que sofreu

importantes alterações nos últimos tempos, dentre elas, a recentemente gerada pela Lei n.

12.435, de 06 de julho de 2011, regulamenta vários aspectos da Assistência Social, inclusive

quanto a sua organização e gestão. (BRASIL, Lei n. 12.435, 2020).

Pontualmente, Santos (2019, p. 260) discorre sobre o assunto:

Sistema descentralizado e participativo, o Sistema Único de Assistência Social – SUAS foi assim denominado e alterado pela Lei n. 12.435/2011. De forma semelhante ao Sistema Único de Saúde (SUS), pretendeu a Lei n. 12.435/2011, ao criar o SUAS, aperfeiçoar o serviço de Assistência Social, integrando serviços públicos e privados, definindo detalhadamente as responsabilidades das entidades participantes do sistema, visando dar efetividade à proteção social garantida pelo art. 203 da Constituição. O SUAS é composto pelos entes federativos – União, Estados, Distrito Federal e Municípios, pelos respectivos conselhos de assistência social e pelas organizações de assistência social.

Ainda no âmbito organizacional da Assistência Social, têm-se o Conselho Nacional

de Assistência Social – CNAS, órgão “responsável pela elaboração da Política Nacional de

Assistência Social e Combate à Fome, que substituiu o antigo Ministério da Assistência e

Promoção Social.” (GLASENAPP, 2020, p. 23).

Portanto, a esse respeito, é possível concluir que a assistência social, enquanto

política pública, “é o instituto que melhor atende o preceito de redução das desigualdades

sociais e regionais, porque se destina a combater a pobreza, a criar as condições para atender

contingências sociais e à universalização dos direitos sociais.” (SANTOS, 2021, p. 69).

Enfim, apresenta-se o último dos três pilares da seguridade social, a Previdência

Social. Cumpre destacar a oportuna diferenciação que Glasenapp (2020, p. 22-23) faz a respeito

da Previdência Social e os demais objetos que compõem atualmente a seguridade social no

Brasil:

A Previdência Social é diferente dos demais sistemas de proteção social em um aspecto básico e muito importante: é um sistema contributivo, pois exige contribuição financeira de seus segurados, o que não acontece em relação às ações e aos serviços públicos de saúde e assistência social, que são gratuitos para a população em geral.

O tema está disciplinado especificamente nos arts. 201 e 202 da Constituição

Federal de 1988, que “expõem a finalidade da Previdência Social, suas características e

princípios, além da cobertura básica oferecida aos segurados. Ainda, após a inclusão de diversas

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emendas constitucionais, passaram a tratar exclusivamente da previdência complementar

privada.” (GLASENAPP, 2020, p. 23).

Além dos artigos citados, outros dispositivos constitucionais versam sobre a

matéria, dentre eles o art. 24 da CRFB/88, que atribui à União a competência para legislar sobre

a Previdência Social, e aos estados a competência suplementar acerca do tema. (BRASIL,

CRFB, 2021).

Os arts. 40 e 149 da CRFB/88, abordam o regime próprio da Previdência Social

relativo aos servidores da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. E, por fim,

o art. 142 da CRFB/88, ao dispor sobre o regime próprio da Previdência Social dos militares,

estabelecendo a diferença entre o citado regime e os demais, completa a lista das normas

constitucionais que abarcam a temática da Previdência Social. (BRASIL, CRFB, 2021).

No próximo capítulo, serão analisados com maior ênfase, novos aspectos sobre a

Previdência Social brasileira, a exemplo: sua conceituação, o seu desenvolvimento ao longo

das décadas, os princípios e objetivos que a norteiam e os regimes que a constituem.

2.3 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS ESPECÍFICOS DA SEGURIDADE SOCIAL

Conforme o dicionário de língua portuguesa Michaelis, um princípio pode ser

definido como um “conjunto de proposições fundamentais e diretivas que servem de base e das

quais todo desenvolvimento posterior deve ser subordinado.” (PRINCÍPIO, 2021, p. 1).

Para Lazzari e Castro (2021, p. 69):

É certo que princípio é uma ideia, mais generalizada, que inspira outras ideias, a fim de tratar especificamente de cada instituto. É o alicerce das normas jurídicas de certo ramo do Direito; é fundamento da construção escalonada da ordem jurídico-positiva em certa matéria.

Alcântara e Agostinho (2020, p. 33) também dispõem sobre a pertinência dos

princípios constitucionais para a tratativa da matéria pretendida:

A seguridade social rege-se com objetivos constitucionalmente traçados, levando-se em conta o contexto em que se insere: como instrumental para a realização da Ordem Social. [...] Esses princípios, representam, ademais, o ponto de partida necessário e fundamental que o intérprete há de ter, pois espelham a ideologia da Constituição, seus postulados básicos e seus fins. Deveras, prestam-se como critério de interpretação e integração do texto constitucional, pois, representam a síntese dos valores da ordem jurídica, indicando o ponto de partida e os caminhos a serem percorridos.

Assim, considerando a importância da abordagem principiológica dentro do estudo

do tema proposto, passasse a uma breve análise dos princípios constitucionais mais relevantes

acerca da seguridade social.

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Segundo os incisos do parágrafo único do art. 194 da CRFB/88, a seguridade social

rege-se pelos seguintes princípios:

Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos: I - universalidade da cobertura e do atendimento; II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; IV - irredutibilidade do valor dos benefícios; V - eqüidade na forma de participação no custeio; VI - diversidade da base de financiamento, identificando-se, em rubricas contábeis específicas para cada área, as receitas e as despesas vinculadas a ações de saúde, previdência e assistência social, preservado o caráter contributivo da Previdência Social; (Redação dada pela Emenda Constitucional n. 103, de 2019) VII - caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados. (Redação dada pela Emenda Constitucional n. 20, de 1998). (BRASIL, CRFB, 2021).

O primeiro princípio refere-se ao princípio da universalidade da cobertura e do

atendimento. Este preceito é tido como um dos mais importantes, motivo pelo qual se apresenta

antes dos demais, pois é uma das bases estruturais da seguridade social.

Lazzari e Castro (2021, p. 73) esclarecem o conceito, o objetivo e a abrangência

atribuída pelo legislador ao princípio em questão:

Por universalidade da cobertura entende-se que a proteção social deve alcançar todos os eventos cuja reparação seja premente, a fim de manter a subsistência de quem dela necessite. A universalidade do atendimento significa, por seu turno, a entrega das ações, prestações e serviços de seguridade social a todos os que necessitem, tanto em termos de Previdência Social – obedecido o princípio contributivo – como no caso da saúde e da assistência social. Conjuga-se a esse princípio aquele que estabelece a filiação compulsória e automática de todo e qualquer indivíduo trabalhador no território nacional a um regime de Previdência Social, mesmo que “contra a sua vontade”, e independentemente de ter ou não vertido contribuições; a falta de recolhimento das contribuições não caracteriza ausência de filiação, mas inadimplência tributária, é dizer, diante do ideal de universalidade não merece prevalecer a interpretação de que, “ausente a contribuição, não há vinculação com a Previdência”.

Diante disso, pode-se dizer que a Universalidade da Cobertura e do Atendimento

se perfaz na ideia de que o Estado não pode desigualar as pessoas que dele fazem parte, sendo

assim, a proteção social é inerente a todos que vivem em território nacional.

O segundo princípio diz respeito a uniformidade e equivalência dos benefícios e

serviços às populações urbanas e rurais, que nas palavras de Giusti (2008, p. 31) se traduz da

seguinte forma:

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A uniformidade diz respeito às contingências que serão cobertas pelo sistema da Seguridade Social e que serão disponibilizadas às populações urbanas e rurais. Verifica-se, nesse sentido, que tanto as pessoas das regiões urbanas quanto as das regiões rurais terão direito ao mesmo tipo de cobertura. [...] A equivalência, a seu turno, considera determinados parâmetros para fins de concessão das prestações às populações urbanas e rurais, a exemplo do sexo, da idade, do tempo de contribuição etc.

À vista disso, entende-se que os trabalhadores rurais e os trabalhadores urbanos

possuem direito aos mesmos benefícios, sem que, no entanto, se desconsidere a variação das

necessidades de cada segurado.

O próximo princípio, previsto no art. 164, parágrafo único, inciso III, da CRFB/88,

é o chamado princípio da seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços.

(BRASIL, CRFB, 2021).

Pode-se compreender esse fundamento com base no entendimento de Goes (2020,

p. 46), que expõe:

A seletividade atua na delimitação do rol de prestações, ou seja, na escolha dos benefícios e serviços a serem mantidos pela Seguridade Social, enquanto a distributividade direciona a atuação do sistema protetivo para as pessoas com maior necessidade, definindo o grau de proteção. Os benefícios da assistência social, por exemplo, serão concedidos apenas aos necessitados; os benefícios salário-família e o auxílio-reclusão só serão concedidos aos beneficiários de baixa renda (atualmente, para aqueles que tenham renda mensal inferior ou igual a R$ 1.425,56). Assim, compete ao legislador – com base em critérios equitativos de solidariedade e justiça social e segundo as possibilidades econômico-financeiras do sistema – definir quais benefícios serão concedidos a determinados grupos de pessoas, em razão de especificidades que as particularizem.

Assim, visto que os recursos disponíveis para custear as necessidades sociais não

comportam a todos, cabe ao Estado selecionar os problemas mais relevantes e distribuir os

benefícios e serviços adequados a maior quantidade possível de necessitados.

O quarto princípio aborda a irredutibilidade do valor dos benefícios previdenciários

e está disposto no inciso IV, do art. 194, parágrafo único da CRFB/88. (BRASIL, CRFB, 2021).

De forma simplificada, os juristas Lazzari e Castro (2021, p. 74) explicam:

Princípio equivalente ao da intangibilidade do salário dos empregados e dos vencimentos dos servidores, significa que o benefício legalmente concedido – pela Previdência Social ou pela Assistência Social – não pode ter seu valor nominal reduzido, não podendo ser objeto de desconto – salvo os determinados por lei ou ordem judicial –, nem de arresto, sequestro ou penhora. Dentro da mesma ideia, o art. 201, § 4º, estabelece o reajustamento periódico dos benefícios, para preservar-lhes, em caráter permanente, seu valor real.

Portanto, o objetivo deste princípio é o resguardo do poder aquisitivo dos

segurados, atentando para o caráter alimentar dos benefícios.

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Na sequência, têm-se o princípio da equidade na forma de participação no custeio,

que se baseia na concepção de igualdade material, que transmite a noção de que “quanto maior

a capacidade econômica do contribuinte, maior deve ser a sua contribuição” (LEITÃO, 2018,

p. 62) e vice-versa.

O penúltimo princípio concerne a diversidade da base de financiamento da

seguridade social, que significa dizer que “o custeio da seguridade social não vem de fonte

única”. (HORVATH JÚNIOR, 2011, p. 23).

É preciso, assim, mencionar a determinação legal do art. 195, caput, da CRFB/88,

quanto a matéria:

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: (Vide Emenda Constitucional n. 20, de 1998) I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: (Redação dada pela Emenda Constitucional n. 20, de 1998) a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; (Incluído pela Emenda Constitucional n. 20, de 1998) b) a receita ou o faturamento; (Incluído pela Emenda Constitucional n. 20, de 1998) c) o lucro; (Incluído pela Emenda Constitucional n. 20, de 1998) II - do trabalhador e dos demais segurados da Previdência Social, podendo ser adotadas alíquotas progressivas de acordo com o valor do salário de contribuição, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo Regime Geral de Previdência Social; (Redação dada pela Emenda Constitucional n. 103, de 2019) III - sobre a receita de concursos de prognósticos. IV - do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar. (BRASIL, CRFB, 2021).

Além disso, o § 4º do art. 195 da Constituição Federal de 1988, ainda prevê que “a

lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenção ou expansão da seguridade

social, obedecido o disposto no art. 154, I”. (BRASIL, CRFB, 2021).

Por este motivo, além das contribuições sociais previstas nos quatro incisos

do caput do art. 195 da CRFB/88, outras fontes de custeio poderão ser definidas e para isso se

exige o cumprimento do disposto no art. 154, I, da CRFB/88. (BRASIL, CRFB, 2021).

Por fim, têm-se o princípio do caráter democrático e descentralizado da

administração, que prevê a participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados

e do Governo nos órgãos colegiados, mediante gestão quadripartite, “justamente porque a

seguridade social lida com interesses de todos esses atores sociais.” (VIANNA, 2014, p. 20).

Quanto a descentralização da administração, esclarece Santos (2018, p. 19) que

“que a seguridade social tem um corpo distinto da estrutura institucional do Estado.”

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Devidamente expostos os principais fundamentos constitucionais que norteiam a

seguridade social, bem como, a sua aplicação e outras características relevantes, analisa-se na

sequência os demais pontos que compõem o estudo da seguridade social.

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3 A PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

A atual Carta Magna revelou-se pioneira em diversos aspectos, dentre as principais

inovações implantadas pela lei maior, encontram-se as disposições referentes a seguridade

social, conforme já abordado previamente.

Reafirmando o ante exposto, Agostinho (2020, p. 41) exprime em suas palavras:

A primeira constituição a reunir a saúde, a assistência social e a previdência em um único sistema de proteção social de caráter tridimensional – a seguridade social – foi a Constituição Federal de 1988. Assim, objetivou atuar concomitantemente nas áreas de saúde, assistência social e Previdência Social, de maneira que as contribuições sociais começaram a custear as ações do Estado.

É justamente ao tratar sobre a seguridade social que a temática envolvendo a

Previdência Social se destaca, pois, considera-se esta a manifestação dimensional mais

complexa em comparativo com as demais.

No entanto, a Previdência Social resguarda características que não são

compartilhadas com as demais dimensões da seguridade social, e são estas peculiaridades que

serão tratadas no decorrer da matéria.

3.1 CONCEITO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL

“A palavra ‘previdência’ vem do latim pre videre, que significa ver com

antecipação as contingências (incerteza sobre se uma coisa acontecerá ou não) sociais e

procurar compô-las.” (RIBEIRO, 2020, p. 65).

Contrariando a crença na mera literalidade da definição, Dias e Macêdo (2012, p.

29) destacam a complexidade que está atrelada ao termo:

Conceituar a Previdência Social, advirta-se, de logo, dá ensejo “(...) a não poucas incertezas e confusões não só́ terminológicas mas propriamente conceituais, ou porque corresponde a um fenômeno que permanece em evolução, ou porque a expressão que o define nem sempre tem sido adoptada nos vários países para significar o mesmo preciso sistema, ou ainda porque o mesmo sistema também tem sido designado de formas diversas”.¹ A Previdência Social, como objeto cultural que é, surgido há́ pouco mais de cento e vinte anos, traz em si toda a dificuldade inerente à conceituação de tais realidades.

Diferentemente de Dias e Macêdo, Bertussi e Tejada (2003, p. 28) acreditam que a

Previdência Social “deve ser encarada como um seguro de contribuição mútua para que haja o

recebimento pelo segurado no futuro.”

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O art. 6º da CRFB/88, inclui a Previdência Social no rol dos direitos sociais. Mais

a diante, nos arts. 201 e 202, a Constituição regulamenta de forma mais abrangente o assunto,

conforme observa-se:

Art. 201. A Previdência Social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) I - cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) I - cobertura dos eventos de incapacidade temporária ou permanente para o trabalho e idade avançada; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) II - proteção à maternidade, especialmente à gestante; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) III - proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes, observado o disposto no § 2º. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998). [...]. Art. 202. O regime de previdência privada, de caráter complementar e organizado de forma autônoma em relação ao regime geral de Previdência Social, será facultativo, baseado na constituição de reservas que garantam o benefício contratado, e regulado por lei complementar. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) (Vide Emenda Constitucional nº 20, de 1998). [...]. (BRASIL, CRFB, 2021).

Cumpre salientar que, a atual redação dos artigos mencionados foi alterada

recentemente pela Emenda Constitucional n. 103, de 2019.

Além da Constituição Federal, as Leis n. 8.212/1991 e n. 8.213/1991, e o Decreto

n. 3.048/1999, também trazem previsões acerca da Previdência Social.

De forma despretensiosa, o art. 1º da Lei n. 8.213/1991 conceitua a Previdência

Social sintetizando a sua essência, quando afirma que:

Art. 1º A Previdência Social, mediante contribuição, tem por fim assegurar aos seus beneficiários meios indispensáveis de manutenção, por motivo de incapacidade, desemprego involuntário, idade avançada, tempo de serviço, encargos familiares e prisão ou morte daqueles de quem dependiam economicamente. (BRASIL, Lei n. 8.213, 2021).

Diante da breve descrição dada pela Lei n. 8.213/1991, acerca da Previdência

Social, Ribeiro (2020, p. 65) faz as seguintes considerações:

[...] podemos concluir que a Previdência Social é uma forma de proteção social que visa propiciar meios à manutenção do segurado e de sua família nas situações de maternidade, acidente, doença, incapacidade, invalidez, prisão, idade avançada, tempo de contribuição, morte e reabilitação profissional.

Neves e Loyola (2016, p. 26), também explanam o assunto ao descrever as seguintes

características do sistema previdenciário:

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O sistema previdenciário tem regime geral de caráter contributivo (não existe benefício sem contribuição) e filiação obrigatória. Seu principal objetivo é assegurar aos beneficiários meios indispensáveis de manutenção, por motivo de incapacidade, idade avançada, desemprego involuntário, encargos de família e reclusão ou morte daqueles de quem dependiam economicamente, infortúnios estes elencados no art. 201, I a V, da atual Carta Política.

Assim, os comentários dos autores, quanto as situações que ensejam a proteção

social por meio da previdência, aliada as disposições legais trazidas por meio do art. 201, I a V,

da CRFB/88 e do art. 1º, da Lei n. 8.213/1991, sustentam a ideia de seguro de contingências,

termo que frequentemente é usado quando se trata sobre Previdência Social, e que se refere

justamente a situações adversas, devidamente previstas em lei, que possam sobrevir àqueles

que são segurados e a suas famílias. (BRASIL, CRFB, 2021).

Vale ressaltar que, diferentemente das demais dimensões que compõem o sistema

de seguridade social brasileiro, é indispensável a contribuição (obrigatória ou facultativa) do

segurado perante a Previdência Social para que faça jus à proteção social previdenciária contra

eventuais contingências, pois somente assim estariam, ele e seus dependentes, realmente

protegidos.

É possível extrair o mesmo entendimento das palavras de Dias e Macêdo (2012, p.

43), ao afirmarem que “a proteção previdenciária exige a contribuição direta do protegido no

custeio de suas ações como condição necessária para a qualificação do direito subjetivo à

proteção previdenciária.”

Portanto, denota-se que a Previdência Social, enquanto forma de manifestação da

seguridade social e tópico popular entre os brasileiros em idade laboral, reserva regras e

características muito individuais, e por esse motivo exige de todos maiores aprofundamentos.

3.2 BREVE HISTÓRICO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

Sobre a origem da proteção social no Brasil, em uma visão geral sobre as

motivações para seu surgimento e estabelecimento, Agostinho (2020, p. 40) descreve:

A proteção social no Brasil não ganhou contornos diferentes do resto do mundo. Iniciou-se com a caridade, mutualismo de caráter privado e facultativo, depois pelo seguro social e, atualmente, tenta-se implementar o sistema de seguridade social, como consagrado na Constituição Federal do Brasil de 1988.

O Decreto Legislativo n. 4.682, de 24 de janeiro de 1923, conhecido como Lei Eloy

Chaves, é considerado o marco inicial da Previdência Social no Brasil em termos de legislação,

ao criar as Caixas de Aposentadoria e Pensões nas empresas de estradas de ferro. (LAZZARI;

CASTRO, 2021, p. 56).

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27

Santoro (2015, p. 24) reforça que “este decreto é considerado o ponto de partida da

Previdência Social Brasileira, tanto assim que no dia 24 de janeiro é festejado o Dia da

Previdência Social.”

Anteriormente a esta data, ressalvam Lazzari e Castro (2021, p. 56), que “já existia

o Decreto n. 9.284, de 30 de dezembro de 1911, que instituiu a Caixa de Aposentadoria e

Pensões para os Operários da Casa da Moeda.”

Aos poucos, nos anos seguintes, esta cobertura foi se expandindo através de outras

iniciativas que caminhavam no mesmo sentido de aprimorar as garantis previdenciárias aos

trabalhadores, como narra Santoro (2015, p. 24-25):

Em 1930, foi criado o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, com a finalidade de administrar a Previdência Social. A partir daí, o sistema previdenciário deixou de ser estruturado por empresa, passando a abranger categorias profissionais. Nos anos 1930, as Caixas de Aposentadoria foram substituídas pelos Institutos de Aposentadoria e Pensões, divididos por categorias e agrupando classe, tais como: bancários, marítimos, industriários, comerciários, pessoal de transportes e cargas. Mais tarde, através do Decreto nº 20.465/31, a “Lei Eloy Chaves” foi estendida a diversas outras categorias de funcionários públicos e muitas outras caixas de aposentadorias e pensões foram criadas.

Em 1933 foi criada a primeira instituição brasileira de Previdência Social de âmbito

nacional com base em atividade econômica, o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos

Marítimos (IAPM), pelo Decreto n. 22.872, de 29 de junho de 1933. Na sequência, durante os

próximos anos da década de 1930, são criados diversos outros institutos com mesma finalidade,

relativos a outras atividades econômicas, tais quais Comerciários, Bancários, Industriários,

Servidores do Estado, e Empregados de Transportes e Cargas. (LAZZARI; CASTRO, 2021, p.

57).

Agostinho (2020, p. 33) menciona que “a Constituição de 1934 consagrou o modelo

tripartite de financiamento do sistema de Previdência Social, no qual os recursos deveriam advir

da União, dos empregadores e dos empregados.”

Na década de 1940, o Decreto-Lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943, instituiu o

primeiro projeto de Consolidação das Leis de Previdência Social, ao aprovar a Consolidação

das Leis do Trabalho (CLT), e em 1945 foi criado o Conselho Superior da Previdência Social

e o Departamento Nacional de Previdência Social. (SANTORO, 2015, p. 25).

Depois, a Constituição de 1946 foi a primeira a utilizar a expressão “Previdência

Social”, ao prever normas sobre previdência no capítulo que versava sobre Direitos Sociais, no

art. 157 do texto, ao elencar os preceitos da legislação do trabalho e da Previdência Social, além

de outros que visassem a melhoria da condição dos trabalhadores. (LAZZARI; CASTRO, 2021,

p. 58).

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28

Em 1949 foi aprovado o Regulamento da Caixa de Aposentadoria e Pensões da

Imprensa Nacional, pelo decreto n. 26.778, de 14 de junho de 1949, que padronizou as regras

das diferentes caixas, que até então não eram uniformes entre si. As caixas remanescentes foram

posteriormente fundidas pelo decreto n. 34.586, de 12 de novembro de 1953, com o surgimento

da Caixa Nacional, que seria em 1960 transformada em Instituto pela Lei Orgânica da

Previdência Social. Em 1960 é criado o Ministério do Trabalho e Previdência Social e

promulgada a Lei n. 3.807, conhecida como Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS).

(LAZZARI; CASTRO, 2021, p. 58).

Em 1964 foi criada uma comissão para reformular o sistema previdenciário, que

resultou, em 1966, no Decreto-Lei n. 72, de 21 de novembro de 1966, reunindo os seis Institutos

de Aposentadoria e Pensões, e criando o Instituto Nacional de Previdência Social – INPS.

(SANTORO, 2015, p. 26).

A Constituição de 1967 previu a criação do seguro-desemprego (regulamentado

com o nome de auxílio-desemprego), e em 1967, o Seguro de Acidentes de Trabalho (SAT),

foi incorporado à Previdência Social pela Lei n. 5.316, de 14 de setembro. (LAZZARI;

CASTRO, 2021, p. 59).

Em 1984, é aprovada nova Consolidação das Leis da Previdência Social (CLPS),

que reuniu toda a matéria sobre custeio e prestações previdenciárias. (LAZZARI; CASTRO,

2021, p. 61).

Com o advento da Constituição Federal de 1988, estabeleceram-se novos direitos e

garantias fundamentais aos cidadãos, como destaca Agostinho (2020, p. 35):

Com o advento da referida Constituição, houve o nascimento de um Sistema Nacional de Seguridade Social, o qual possui a finalidade precípua de assegurar o bem-estar e a justiça sociais, para que, dessa forma, ninguém seja privado do mínimo existencial, ou seja, para que todos os cidadãos sejam assegurados o princípio da dignidade humana. A Emenda Constitucional nº 10/98, além de ratificar o regime contributivo e limitado, também tratou de dispor sobre os regimes de Previdência Social complementares, os quais não possuem limite de cobertura e possuem um regime de vinculação facultativa.

Ainda sobre a Constituição Federal de 1988, Lazzari e Castro (2021, p. 61)

enfatizam que “estabeleceu o sistema de Seguridade Social como objetivo a ser alcançado pelo

Estado brasileiro, atuando simultaneamente nas áreas da saúde, assistência social e Previdência

Social”.

Em 1990, foi criado o Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, através do

Decreto n. 99.350, de 27 de junho de 1990, mediante a fusão do IAPAS com INPS. Além disso,

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29

a Lei n. 8.029, de 12 de abril de 1990, restabeleceu o Ministério do Trabalho e da Previdência

Social. (VIANNA, 2014a, p. 44).

“Em 1991, foram publicadas as Leis n. 8.212 e nº 8.213, que tratam,

respectivamente, do custeio da Seguridade Social e dos benefícios e serviços da Previdência,

incluindo os benefícios por acidentes de trabalho [...].” (LAZZARI; CASTRO, 2021, p. 63).

Em 1998 foi realizada uma reforma através da Emenda Constitucional n. 20, que

modificou o cálculo das aposentadorias, que passaram a ser concedidas tendo o tempo de

contribuição como base, e não mais o tempo de serviço. (LAZZARI; CASTRO, 2021, p. 64).

Em 1999, foi “publicado o Decreto n. 3.048, de 6.5.1999, novo Regulamento da

Previdência Social, e a Lei n. 9.876, de 26.11.1999, trazendo diversas alterações às Leis n. 8.212

e 8.213/91.” (VIANNA, 2014, p. 46).

Com a chegada da Lei n. 9.876, em 28 de novembro de 1999, foi adotado o chamado

“fator previdenciário”, descrito por Lazzari e Castro (2021, p. 66) como “uma forma de cálculo

que leva em consideração a idade do segurado, seu tempo de contribuição e a expectativa de

sobrevida da população brasileira”.

Em 2003, foi aprovada a Proposta de Emenda Constitucional, denominada pela

mídia como PEC da Reforma da Previdência, promulgada em 19 de dezembro de 2003, e

publicada no Diário Oficial da União em 31 de dezembro de 2003, sob o número 41. Em 2019

a PEC nº 6/2019, que posteriormente culminou na promulgação da Emenda Constitucional nº

103, de 12.11.2019, que trouxe importantes alterações no direito à pensão por morte, ao auxílio-

reclusão e ao salário-família, e outros. (LAZZARI; CASTRO, 2021, p. 67).

3.3 PRINCÍPIOS E OBJETIVOS ESPECÍFICOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL

BRASILEIRA

Os princípios constitucionais da Seguridade Social também podem ser empregados

à Previdência Social, posto que, a Previdência Social deriva diretamente da Seguridade Social.

Entretanto, conforme será apresentado mais à frente, certas disposições legais se aplicam de

forma exclusiva à Previdência Social.

O art. 2º da Lei n. 8.213/1991, aponta os princípios e objetivos que regem a

Previdência Social, a saber:

Art. 2º A Previdência Social rege-se pelos seguintes princípios e objetivos: I - universalidade de participação nos planos previdenciários; II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios;

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IV - cálculo dos benefícios considerando-se os salários-de-contribuição corrigidos monetariamente; V - irredutibilidade do valor dos benefícios de forma a preservar-lhes o poder aquisitivo; VI - valor da renda mensal dos benefícios substitutos do salário-de-contribuição ou do rendimento do trabalho do segurado não inferior ao do salário mínimo; VII - previdência complementar facultativa, custeada por contribuição adicional; VIII - caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa, com a participação do governo e da comunidade, em especial de trabalhadores em atividade, empregadores e aposentados. Parágrafo único. A participação referida no inciso VIII deste artigo será efetivada a nível federal, estadual e municipal. (BRASIL, Lei n. 8.213, 2021).

Segundo já apontado, alguns princípios aplicáveis à Previdência Social, que se

encontram no art. 2º da Lei 8.213/1991, são meras repetições dos princípios constitucionais

específicos da Seguridade Social, por essa razão, passa-se agora a consideração do conteúdo

principiológico previdenciário ainda não abordado nesta pesquisa.

O primeiro princípio, que consta da leitura do art. 2º da Lei 8.213/1991, correlato

apenas a Previdência Social, é o princípio da universalidade de participação nos planos

previdenciários. Acerca dele, Leitão (2018, p. 111) explica:

Apenas o contribuinte poderá gerar proteção previdenciária. Por outro lado, deve-se ponderar que o acesso à Previdência Social é universal, no sentido de que todas as pessoas que quiserem podem filiar-se ao sistema previdenciário. Vale dizer: de fato, para ser beneficiário da Previdência Social, em regra, é necessário que o indivíduo esteja contribuindo. Porém, qualquer pessoa que queira contribuir, poderá fazê-lo, sem qualquer restrição de acesso [...].

As palavras do autor deixam claro que o intuito do legislador ao tratar da matéria

era apenas de indicar o livre acesso por qualquer do povo aos planos previdenciários, jamais de

atribuir gratuidade de adesão ao sistema, pois estamos diante de um sistema contributivo.

O próximo princípio está presente no inciso IV, do art. 2º da Lei 8.213/1991 e versa

sobre o cálculo de correção monetária dos benefícios considerando-se os salários de

contribuição. (BRASIL, Lei n. 8.213, 2021).

Castro e Lazzari (2021, p. 77), destacam em uma de suas obras mais recentes, os

seguintes pontos a respeito do princípio em tela:

Princípio salutar, exige ele que o legislador ordinário, ao fixar o cálculo de qualquer benefício previdenciário em que se leve em conta a média de salários de contribuição, adote fórmula que corrija nominalmente o valor da base de cálculo da contribuição vertida, a fim de evitar distorções no valor do benefício pago. Antes de tal princípio, nem todos os salários de contribuição adotados no cálculo eram corrigidos, o que causava um achatamento no valor pago aos beneficiários. A norma constitucional, contudo, não indica qual o índice que deva ser adotado na correção, deixando a critério do legislador a escolha do indexador a ser utilizado como fator de atualização monetária para a preservação do valor real dos benefícios.

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Além disso, o art. 29-B da Lei n. 8.213/91, determina que “os salários-de-

contribuição considerados no cálculo do valor do benefício serão corrigidos mês a mês de

acordo com a variação integral do Índice Nacional de Preços ao Consumidor - INPC, calculado

pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.” (BRASIL, Lei n. 8.213,

2021).

Logo, é visível a preocupação normativa em conservar o valor real dos benefícios,

e por conseguinte, o poder aquisitivo de seus segurados, fator que também se observa nos

princípios constitucionais da seguridade social.

Outro princípio importante a ser destacado, é o princípio do valor da renda mensal

dos benefícios substitutos do salários-de-contribuição ou do rendimento do trabalho do

segurado não inferior ao do salário-mínimo.

Cumpre salientar que tal princípio decorre do art. 201 § 2º da Constituição Federal

de 1988, que diz: “§ 2º Nenhum benefício que substitua o salário de contribuição ou o

rendimento do trabalho do segurado terá valor mensal inferior ao salário mínimo.” (BRASIL,

CRFB, 2021).

Para Dias e Macêdo (2012, p. 115), trata-se da aplicação de uma medida racional,

de acordo com o expresso:

Por uma imposição lógica e de justiça, quando os benefícios previdenciários substituírem a remuneração do segurado obrigatório ou o salário de contribuição do segurado facultativo, essas prestações pecuniárias de caráter substitutivo não poderão ter valor mensal inferior ao do salário mínimo. Os benefícios substitutos da remuneração do trabalhador ou do salário de contribuição do segurado facultativo, para que atendam às necessidades básicas do beneficiário da Previdência Social, não poderá́ ter valor menor do que um salário mínimo.

Tendo em vista a procedência legal dessa disposição, este princípio deve guiar todo

o sistema previdenciário.

Por fim, têm-se o princípio previsto no inciso VII, do art. 2º da Lei 8.213/91, que

se refere a Previdência complementar facultativa, custeada por contribuição adicional.

(BRASIL, Lei n. 8.213, 2021).

De acordo com o art. 202 da CRFB/1988, define-se este princípio do seguinte

modo: “o regime de previdência privada, de caráter complementar e organizado de forma

autônoma em relação ao regime geral de Previdência Social, será facultativo, baseado na

constituição de reservas que garantam o benefício contratado, e regulado por lei

complementar.” (BRASIL, CRFB, 2021).

O aludido artigo baseia-se na concepção de que “o RGPS possui um limite máximo

para a renda mensal dos benefícios, aqueles que desejam complementar seus rendimentos

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32

deverão, facultativamente, aderir a alguma entidade de Previdência Complementar aberta ou

fechada, custeada por contribuições adicionais.” (GOES, 2020, p. 60).

Portanto, a Previdência complementar facultativa pode ser uma opção válida para

àqueles que desejam assegurar a conservação do estilo de vida.

Além dos princípios previstos na Lei 8.213/1991, também é possível extrair do

texto constitucional alguns princípios restritos à Previdência Social.

O caput do art. 201 da CRFB/88, salienta que “a Previdência Social será organizada

sob a forma do Regime Geral de Previdência Social, de caráter contributivo e de filiação

obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, [...].”

(BRASIL, CRFB, 2021).

O texto cita, de modo implícito, três princípios muito relevantes dentro do sistema

previdenciário. O primeiro deles diz respeito ao caráter contributivo da Previdência Social.

Inicialmente, cumpre ressaltar que a contributividade é reconhecida como

“elemento marcante da Previdência Social, tanto no Regime Próprio (art. 40 da CF) quanto no

Regime Geral (art. 201 da CF), não sendo verificada nas ações da saúde e da assistência social.”

(AGOSTINHO, 2020, p. 71).

Exemplificando a matéria, Dias e Macêdo (2012, p. 112) proporcionam

esclarecimentos notáveis quanto ao caráter contributivo da Previdência Social, ao informar que:

O Estado, em regra, não cria riquezas. O poder público, na verdade, capta recursos da sociedade para empregar nos fins específicos do Estado. Assim, a sociedade é quem contribui para financiar as ações estatais e, nesse sentido, toda atuação estatal é contributiva (imprescinde de contribuição da sociedade). No entanto, o texto constitucional, ao afirmar que a Previdência Social tem caráter contributivo, refere-se especificamente ao protegido pela Previdência Social, e não à sociedade como um todo. É dizer: a Constituição Federal estabelece que o direito às prestações de Previdência Social requer, do protegido, uma contraprestação contributiva. A proteção previdenciária estatal, portanto, não é provida a título gratuito, mas a título oneroso. A contributividade, no sentido exposto, é um dos valores que informam de modo característico a Previdência Social.

De forma objetiva, Bollmann (2006, p. 625) confirma as palavras dos autores

anteriores quando expressa que:

Só é abrangido pela Previdência quem, de alguma forma, contribui para a manutenção dela; porém, em alguns casos, a responsabilidade pelo recolhimento da contribuição é de outrem, como na hipótese do trabalhador empregado, cuja contribuição é paga pelo seu empregador.

Resta claro que, o caráter contributivo é inerente à Previdência Social, sem que dela

se possa dissociar, além do que, tal característica pode ser considerada popularmente como uma

das mais marcantes do sistema.

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33

Na continuidade, pode-se destacar a filiação obrigatória como característica

fundamental e princípio da Previdência Social.

Sobre esse princípio, Leitão (2018, p. 111) registra o significado e dá outras

informações:

Além da necessidade do recolhimento das contribuições previdenciárias (espécie do gênero contribuições sociais), a Constituição da República de 1988 impõe a obrigatoriedade de filiação ao regime de Previdência Social. A pessoa que exerce atividade remunerada constitui uma relação jurídica com a Previdência Social de forma cogente, passando a ser filiada (segurada) do sistema previdenciário. O trabalhador não tem a opção de não se filiar ao regime previdenciário correspondente (geral ou próprio) na medida em que, exercendo atividade remunerada que lhe imponha a filiação obrigatória a algum regime de Previdência Social, passa a ser filiado obrigatório deste regime.

Portanto, a filiação obrigatória ao regime previdenciário se dá por meio do

desempenho de atividade remunerada, que por sua vez, gera a obrigação de efetuar o

recolhimento das contribuições previdenciárias devidas à Previdência Social.

Por último, mas não menos importante, destaca-se o princípio do equilíbrio

financeiro e atuarial. No que tange a esse princípio, Vaz (2009, p. 26) faz uma análise dos

conceitos que estão por trás do princípio, e elucida:

O Princípio do Equilíbrio Financeiro e Atuarial está baseado em dois conceitos: o conceito do equilíbrio financeiro e o conceito do equilíbrio atuarial. O equilíbrio financeiro se refere ao equilíbrio entre o que se arrecada com as contribuições previdenciárias, contribuições do empregado e empregador, e o que se gasta com os benefícios previdenciários, como pensões, aposentadorias, auxílios-doença, etc. Já o conceito de equilíbrio atuarial se refere à relação entre o total das contribuições que determinado segurado faz para a previdência, considerando a contribuição de seu empregador, com as despesas de seu futuro benefício, ou seja, se preocupa com o custeio de cada benefício no futuro.

Nessa linha, os escritores Castro e Lazzari (2020, p. 76) realçam outros aspectos

relevantes a se considerar:

Princípio expresso somente a partir da Emenda Constitucional n. 20/1998 (art. 40, caput e art. 201, caput), significa que o Poder Público deverá, na execução da política previdenciária, atentar sempre para a relação entre custeio e pagamento de benefícios, a fim de manter o sistema em condições superavitárias, e observar as oscilações da média etária da população, bem como sua expectativa de vida, para a adequação dos benefícios a estas variáveis.

Dados os esclarecimentos pertinentes, nota-se que o princípio do equilíbrio

financeiro e atuarial visa garantir a existência de recursos orçamentários suficientes para

assegurar o pagamento de benefícios, e continuidade do sistema, a curto e longo prazo.

A importância dos princípios, enquanto norteadores do sistema previdenciário, é

indiscutível, pois seus efeitos afetam tanto estudiosos e pessoas influentes no meio, quanto

leigos ou aqueles que somente usufruem do sistema previdenciário na condição de segurados.

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34

Portanto, tendo em vista a relevância da matéria apresentada, é fundamental

adquirir conhecimento dos principais aspectos ora analisados, pois certamente o assunto é de

interesse popular.

3.4 REGIMES PREVIDENCIÁRIOS BRASILEIROS

Em uma de suas obras, o autor Horvath Júnior descreve, muito oportunamente, que

um regime previdenciário, nada mais é do que um “conjunto de normas e princípios harmônicos

que informam e regem a disciplina previdenciária de determinado grupo de pessoas.”

(HORVATH JÚNIOR, 2020, p. 155).

Os regimes previdenciários brasileiros estão previstos no art. 201 da Constituição

Federal de 1988. Atualmente, o Brasil conta com a existência de três regimes previdenciários

distintos, a saber: Regime Geral de Previdência Social (RGPS), Regime Próprio de Previdência

Social (RPPS) e Regime de Previdência Complementar (RPC).

No que concerne aos regimes de Previdência Social, Santos (2019, p. 83) os explana

da seguinte forma:

O sistema previdenciário tem dois tipos de regimes: os regimes públicos e os regimes privados. São regimes públicos o Regime Geral de Previdência Social – RGPS, o regime previdenciário próprio dos servidores públicos civis e o regime previdenciário próprio dos militares. É do regime privado a previdência complementar, prevista no art. 202 da CF.

Corroborando a mesma análise do autor anterior, Horvath Júnior (2020, p. 156)

conclui seu pensamento sobre os regimes previdenciários, ao dizer que:

O Regime Geral e os Regimes Próprios têm caráter de filiação obrigatória, como de regra, e são denominados de regimes básicos, de natureza institucional e regidos por normas de direito público. Por sua vez, o Regime de Previdência Complementar é facultativo, de natureza contratual e regido pelo direito privado.

Dadas as singularidades de cada regime da Previdência Social brasileira, na

continuação, esse texto discorrerá sobre os regimes previdenciários mencionados, com o intuito

de esclarecer as principais diferenças entre cada um deles, além de outras características

relevantes para o estudo do tema proposto.

3.4.1 Regime Geral de Previdência Social (RGPS)

Além da previsão constitucional, dada pelo art. 201 da CRFB/88, o Regime Geral

da Previdência Social (RGPS) também se ampara nas Leis n. 8.213/1991 e n. 8.212/1991, que

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35

preveem, respectivamente, sobre os planos de benefícios da Previdência Social e sobre os

planos de custeio da seguridade social.

Na interpretação de Santoro (2015, p. 48), o RGPS se consubstancia no seguinte:

"O Regime Geral de Previdência Social é caracterizado por ser a previdência da grande massa dos trabalhadores brasileiros. É subsidiário em relação aos regimes próprios de previdência. Todos aqueles que não estiverem vinculados a um desses regimes e caso exerça atividade econômica estarão automática e compulsoriamente vinculados ao Regime Geral de Previdência Social."

Na mesma linha, Loyola e Neves definem o RGPS como “o regime básico de

previdência, o qual serve de suplemento para o sistema de regime próprio no caso de eventuais

lacunas (art. 40, § 12, da CF)”. (LOYOLA; NEVES, 2016, p. 51).

Logo, nota-se que o Regime Geral é o principal regime dentro da ordem

previdenciária, e, por configurar-se como tal, possui uma abrangência consideravelmente maior

do que os demais regimes de Previdência Social. Assim verifica-se:

Principal regime previdenciário na ordem interna, o RGPS abrange obrigatoriamente todos os trabalhadores da iniciativa privada, ou seja: os trabalhadores que possuem relação de emprego regida pela Consolidação das Leis do Trabalho (empregados urbanos, mesmo os que estejam prestando serviço a entidades paraestatais, os aprendizes, trabalhadores intermitentes), inclusive temporários – Lei n. 6.019/1974, pela Lei Complementar n. 150/2015 (empregados domésticos) e pela Lei n. 5.889/1973 (empregados rurais); os trabalhadores autônomos, eventuais ou não; os empresários, titulares de empresas individuais, membros de cooperativas de trabalho, sócios gestores e demais prestadores de serviços sem vínculo empregatício; trabalhadores avulsos; pequenos produtores rurais e pescadores artesanais trabalhando em regime de economia familiar; e outras categorias de trabalhadores, como garimpeiros, empregados de organismos internacionais, sacerdotes etc. Abrange, ainda, pessoas que possuem vínculo com entes da Administração Pública, por exercício de cargos em comissão, ou ainda, quando o Ente Federativo não tenha Regime Próprio de Previdência Social (o que ocorre com mais de 3.000 Municípios). (LAZZARI; CASTRO, 2021, p. 97).

Dentre aqueles que não se incluem no Regime Geral de Previdência Social,

destacam-se as seguintes classes de trabalhadores:

O RGPS é destinado a todos os trabalhadores, ressalvados os servidores públicos, civis e militares, da União, Estados, Municípios, Distrito Federal e respectivas autarquias e fundações, e os detentores de mandato eletivo federal, estadual e municipal, quando amparados por regime de previdência exclusivo, criado por lei do respectivo ente público, conhecido por regime próprio de previdência. (ALENCAR, 2019, p. 60).

No entanto, segundo o art. 12, “j”, da Lei n. 8.212/91 e o art. 11, “j”, da Lei n.

8.213/91, denota-se que ‘desde a Lei n. 10.887, de 2004, o exercente de mandato eletivo federal,

estadual ou municipal, desde que não vinculado a regime próprio de previdência, passou a

integrar o RGPS, obrigado a contribuir na categoria de “empregado” [...].’ (ALENCAR, 2019,

p. 62).

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36

Todas as categorias anteriormente descritas pelos autores Lazzari e Castro, se

qualificam como segurados do Regime Geral de Previdência Social. O “segurado é a pessoa

física filiada ao RGPS, podendo ser classificado como segurado obrigatório ou facultativo,

dependendo se a filiação for decorrente do exercício de atividade laboral remunerada, ou não.”

(GOES, 2020, p. 87).

Cumpre salientar que, os beneficiários do Regime Geral de Previdência Social se

dividem em duas espécies: os segurados obrigatórios e os facultativos, consoante o que expressa

o art. 10 da Lei n. 8.213/1991. (BRASIL, Lei n. 8.213, 2021).

“Os segurados obrigatórios são todos aqueles que exercem algum tipo de atividade

remunerada, com vínculo empregatício ou não.” (GLASENAPP, 2020, p. 61).

Os incisos do art. 12 da Lei n. 8.212/91, identificam as categorias que pertencem a

classe dos segurados obrigatórios, são eles: os empregados, os empregados domésticos, os

trabalhadores avulsos, os segurados especiais e os contribuintes individuais. (BRASIL, Lei n.

8.212, 2021).

Quanto aos segurados facultativos, encontram-se elencados no art. 11, § 1º, incisos

I a XII, do Decreto n. 3.048/99 (Regulamento da Previdência Social), e podem ser conceituados

da seguinte forma:

Trata-se de pessoa que, sem exercer atividade que determine filiação obrigatória, seja do Regime Geral ou qualquer outro, contribui voluntariamente para a Previdência Social. Cita-se como exemplo a dona de casa, o síndico não remunerado, o bolsista, o estagiário, o estudante. (DUARTE, 2005, p. 15).

“São, também, beneficiários os dependentes dos segurados. Nesse caso, o vínculo

com o regime é subsidiário, somente existe caso exista o vínculo principal, o segurado.”

(SANTORO, 2015, p. 49).

Acerca disso, Goes (2020, p. 87) expõe as razões que levam a essa definição:

O dependente está vinculado ao RGPS em razão do seu vínculo como segurado. A partir do momento em que o segurado deixa de manter qualquer relação como RGPS (por exemplo: perda da qualidade de segurado), o dependente deixa de estar sob o manto da proteção previdenciária.

Desse modo, conforme o próprio termo já revela, aquele que vier a usufruir da

condição de dependente fica estritamente vinculado ao segurado do RGPS que ocasionou essa

posição, considerando-se a relação de subordinação inerente aos dependentes do Regime Geral.

Vale destacar ainda que, o art. 201 da CRFB/88, além de marcar as principais

características do Regime Geral de Previdência Social, também lhe atribui o caráter

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contributivo e a filiação obrigatória, devendo ser observados os critérios que preservem o

equilíbrio financeiro e atuarial. (BRASIL, CRFB, 2021).

Com relação ao caráter contributivo conferido ao RGPS e a filiação obrigatória que

institui, pode-se dizer que:

O regime é de caráter contributivo porque a cobertura previdenciária pressupõe o pagamento de contribuições do segurado para o custeio do sistema. Somente quem contribui adquire a condição de segurado da Previdência Social e, cumpridas as respectivas carências, salvo quando dispensadas, tem direito à cobertura previdenciária correspondente à contingência-necessidade que o acomete. A filiação é obrigatória porque quis o legislador constituinte, de um lado, que todos tivessem cobertura previdenciária e, de outro, que todos contribuíssem para o custeio. A cobertura previdenciária garante proteção ao segurado e desonera o Estado de arcar com os custos de atendimento àquele que não pode trabalhar em razão da ocorrência das contingências-necessidade enumeradas na Constituição e na lei. (SANTOS, 2021, p. 85).

Além do mais, em conformidade com o que a legislação prevê, o RGPS deve seguir

critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, sendo que “a Ciência Atuarial baseia-

se em técnicas matemáticas, estatísticas e probabilísticas e, no caso de um sistema

previdenciário, preocupa-se com o equilíbrio de receitas e despesas a longo prazo.”

(ROMANO; ARAGÃO, 2016, p. 278).

No mais, resta somente esclarecer que os benefícios e serviços ligados ao Regime

Geral de Previdência Social, "são gerenciados e mantidos pelo Instituto Nacional do Seguro

Social, o INSS, autarquia federal ligada ao Ministério da Previdência Social." (SANTORO,

2015, p. 49)

3.4.2 Regime Próprio de Previdência Social (RPPS)

“Regime de previdência exclusivo, criado por lei do respectivo ente público, o

regime próprio de Previdência Social é destinado aos servidores públicos, titulares de cargo

efetivo, da União, Estados, Distrito Federal, Municípios e das respectivas autarquias e

fundações.” (ALENCAR, 2019, p. 287).

Nas palavras de Castro e Lazzari (2020, p. 973), isso significa dizer que os Regimes

Próprios de Previdência Social se estruturam com base no seguinte:

Em função da autonomia político-administrativa de cada um dos Entes da Federação, incumbe especificamente à União estabelecer, normatizar e fazer cumprir a regra constitucional do art. 40 com relação aos seus servidores públicos ocupantes de cargos efetivos e aos vitalícios; a cada Estado-membro da Federação e ao Distrito Federal, em relação a seus servidores públicos estaduais ou distritais e agentes públicos; e a cada Município, em relação aos seus servidores públicos municipais, o que acarreta a existência milhares de Regimes de Previdência Social na ordem jurídica vigente.

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O Regime Próprio de Previdência Social ou RPPS, está previsto no art. 40, caput,

da Constituição Federal de 1988, cuja redação foi dada pelas Emendas Constitucionais 20/1998

e 41/2003, mas recentemente alterada pela Emenda Constitucional 103/2019. E assim dispõe:

Art. 40. O regime próprio de Previdência Social dos servidores titulares de cargos efetivos terá caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente federativo, de servidores ativos, de aposentados e de pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) (BRASIL, CRFB, 2021).

Considerando os aspectos normativos, Huback (2012, p. 26) faz algumas ressalvas

legislativas importantes quanto aos Regimes Próprios de Previdência:

A instituição de RPPS depende de lei ordinária de cada ente federativo, fato que faz com que cada um tenha legislação específica, não obstante as regras gerais para sua organização e funcionamento sejam balizadas pela Lei 9.717/1998. Não havendo criação de RPPS, os servidores daquele ente federado serão vinculados ao RGPS. Pela Lei 8.112/1990, entre outras providências, a União criou RPPS para seus servidores civis, inclusive de autarquias e fundações públicas federais. Os Estados-membros e o Distrito Federal possuem RPPS. Parte dos municípios não o instituiu, tendo seus servidores, por isso, vinculação automática ao RGPS.

Sendo assim, “[...] no que for compatível, as regras do RGPS aplicar-se-ão

subsidiariamente ao RPPS. Isso ocorrerá, principalmente, nos casos em que a lei do RPPS for

omissa sobre determinado assunto.” (GOES, 2020, p. 526).

Outra questão necessária a se abordar, diz respeito a forma de custeio dos Regimes

Próprios de Previdência Social. Conforme já exposto, cada ente da Federação deverá disciplinar

individualmente as formas de custeio a serem por si adotadas, segundo se pode extrair da leitura

do art. 149, § 1º ao § 1º- C, da Constituição Federal de 1988, que estipula abaixo:

Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente às contribuições a que alude o dispositivo. § 1º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão, por meio de lei, contribuições para custeio de regime próprio de Previdência Social, cobradas dos servidores ativos, dos aposentados e dos pensionistas, que poderão ter alíquotas progressivas de acordo com o valor da base de contribuição ou dos proventos de aposentadoria e de pensões. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) § 1º-A. Quando houver deficit atuarial, a contribuição ordinária dos aposentados e pensionistas poderá incidir sobre o valor dos proventos de aposentadoria e de pensões que supere o salário-mínimo. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) § 1º-B. Demonstrada a insuficiência da medida prevista no § 1º-A para equacionar o deficit atuarial, é facultada a instituição de contribuição extraordinária, no âmbito da União, dos servidores públicos ativos, dos aposentados e dos pensionistas. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) § 1º-C. A contribuição extraordinária de que trata o § 1º-B deverá ser instituída simultaneamente com outras medidas para equacionamento do deficit e vigorará por período determinado, contado da data de sua instituição. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019). (BRASIL, CRFB, 2021).

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No entanto, em nível federal, a disciplina do tema ocorre com base no disposto no

art. 4º da Lei n. 10.887/2004, que define:

Art. 4º A contribuição social do servidor público ativo de qualquer dos Poderes da União, incluídas suas autarquias e fundações, para a manutenção do respectivo regime próprio de Previdência Social, será de 11% (onze por cento), incidentes sobre: [...]. (BRASIL, Lei n. 10.887, 2004).

Portanto, pode-se compreender a norma concernente ao custeio dos Regimes

Próprios de Previdência Social em âmbito federal, de acordo com o que explana Agostinho

(2020, p. 372):

As Leis n. 9.717/98 e 9.783/99 estabeleceram critérios para a participação dos servidores públicos no custeio de seus regimes próprios de previdência, fixando-se a contribuição destes com a aplicação da alíquota de 11% sobre o valor da remuneração do servidor, assim considerada, para fins previdenciários, o vencimento do cargo efetivo, acrescido das vantagens pecuniárias permanentes estabelecidas em lei, os adicionais de caráter individual, ou quaisquer vantagens, inclusive as relativas à natureza ou ao local de trabalho, excluídos os pagamentos a título de diárias para viagens, desde que não excedam a 50% da remuneração mensal.

Quanto as normas gerais de organização, de funcionamento e de responsabilidade

na gestão dos regimes próprios de Previdência Social, que já estavam em vigor quando

publicada a Emenda Constitucional n. 103/2019, o § 22 do art. 40 da Constituição Federal de

1988, afirma que se estabelecerá:

§ 22. Vedada a instituição de novos regimes próprios de Previdência Social, lei complementar federal estabelecerá, para os que já existam, normas gerais de organização, de funcionamento e de responsabilidade em sua gestão, dispondo, entre outros aspectos, sobre: I - requisitos para sua extinção e consequente migração para o Regime Geral de Previdência Social; II - modelo de arrecadação, de aplicação e de utilização dos recursos; III - fiscalização pela União e controle externo e social; IV - definição de equilíbrio financeiro e atuarial; V - condições para instituição do fundo com finalidade previdenciária de que trata o art. 249 e para vinculação a ele dos recursos provenientes de contribuições e dos bens, direitos e ativos de qualquer natureza; VI - mecanismos de equacionamento do deficit atuarial; VII - estruturação do órgão ou entidade gestora do regime, observados os princípios relacionados com governança, controle interno e transparência; VIII - condições e hipóteses para responsabilização daqueles que desempenhem atribuições relacionadas, direta ou indiretamente, com a gestão do regime; IX - condições para adesão a consórcio público; X - parâmetros para apuração da base de cálculo e definição de alíquota de contribuições ordinárias e extraordinárias. (BRASIL, CRFB, 2021).

Dessa forma, conforme destacado no supracitado artigo, a menos que passe a viger

nova lei complementar que regulamente o § 22 do art. 40 da Constituição Federal, os regimes

próprios de previdência seguirão o estipulado na Lei n. 9.717/1998, e nos parágrafos do art. 9º

da Emenda Constitucional n. 103/2019.

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Assim, por meio das informações apresentadas, ficam evidentes as principais

características dos RPPS, que por sua vez, encontram-se relacionadas principalmente no art. 40

da Constituição Federal de 1988, e definem, em suma, que os fundamentos estabelecidos para

o Regime Geral de Previdência Social deverão ser aplicados subsidiariamente aos regimes

próprios de Previdência Social. Porém, frisa-se que tal hipótese somente ocorrerá em caso de

ausência de regulamentação específica nos Regimes Próprios de Previdência Social.

3.4.3 Regime de Previdência Complementar ou Previdência Privada

Conforme já demonstrado, existem três tipos de regimes previdenciários, dois deles

são de filiação obrigatória, são eles: o Regime Geral de Previdência Social (RGPS) e os

Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS). Em contrapartida, tem-se o regime de

Previdência Complementar, de caráter facultativo.

“A previdência privada compõe o terceiro pilar da previdência e tem como

finalidade precípua a instituição de planos de benefícios que visem à complementação dos

benefícios previdenciários do regime geral.” (HORVATH JÚNIOR, 2020, p. 220).

O art. 202 da Constituição Federal de 1988, enuncia que “o regime de previdência

privada, de caráter complementar e organizado de forma autônoma em relação ao regime geral

de Previdência Social, será facultativo, baseado na constituição de reservas que garantam o

benefício contratado, e regulado por lei complementar.” Ainda, os parágrafos 14 a 16 do art. 40

da CRFB/88, discorrem sobre a Previdência Complementar Pública. (BRASIL, CRFB, 2021).

Além da previsão constitucional, as Leis Complementares n. 108 e 109, ambas de

29 de maio de 2001, também dispõem sobre o Regime de Previdência Complementar.

Acerca da Previdência Privada, Horvath Júnior (2011, p. 15) relata que “as

características marcantes da previdência privada são: caráter facultativo, autonomia em relação

ao regime geral, funcionamento calcado na constituição de reservas financeiras e caráter

contratual privado.”

Nesse sentido, conferir à Previdência Complementar caráter facultativo, significa

dizer que:

Ao contrário dos regimes públicos, de filiação obrigatória para todos os que exercem atividade econômica, a previdência privada tem caráter facultativo, em que a manifestação de vontade é a principal característica. A natureza contratual lhes dá caráter eminentemente privado. (SANTOS, 2021, p. 311).

Portanto, na Previdência Privada não existe obrigatoriedade em aderir ao regime, o

que por sua vez, revela seu caráter contratual e voluntário.

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A autonomia da Previdência Privada em relação ao Regime Geral de Previdência

Social (RGPS) se justifica da seguinte forma:

A inscrição de participante em plano de previdência complementar não o dispensa da inscrição como segurado obrigatório do RGPS. A concessão de benefício pela previdência complementar não depende da concessão de benefício pelo RGPS.1 Não existe relação entre os valores pagos por cada um destes regimes, embora possa ser estabelecida contratualmente uma relação. (GOES, 2020, p. 571).

Na continuidade, prega-se que, para que haja o devido funcionamento da

Previdência Privada deverão ser constituídas reservas financeiras. A autora Marisa Ferreira dos

Santos (2021, p. 312) completa o raciocínio exposto, ao observar:

Os planos privados de previdência devem constituir reservas técnicas que lhes garantam a solvência, isto é, o pagamento dos benefícios contratados. O equilíbrio financeiro e atuarial deve estar garantido. A constituição dessas reservas técnicas, provisões e fundos é feita em conformidade com as diretrizes do Conselho Monetário Nacional.

Também é relevante destacar que as entidades de previdência complementar podem

ser classificadas em abertas ou fechadas, conforme definido no art. 4º da Lei Complementar n.

109, de 29 de maio de 2001. “Entendem-se por entidades de previdência privada as ‘que têm

por objetivo principal instituir e executar planos de benefícios de caráter previdenciário’ (art.

2º).” (LAZZARI; CASTRO, 2021, p. 100).

Quanto as entidades de previdência complementar abertas, Castro e Lazzari (2020,

p. 84) esclarecem:

São instituições financeiras que exploram economicamente o ramo de infortúnios do trabalho, cujo objetivo é a instituição e operação de planos de benefícios de caráter previdenciário em forma de renda continuada ou pagamento único, constituídas unicamente sob a forma de sociedades anônimas, podendo as seguradoras que atuem exclusivamente no ramo de seguro de vida virem a ser autorizadas a operar também planos de previdência complementar (Lei Complementar n. 109, art. 36 e seu parágrafo único).

Por outro lado, os Regimes de Previdência Complementar Fechados dependem de

certas condições para que possam ocorrer. Ribeiro (2020, p. 102), destaca uma das hipóteses de

cenário onde costuma existir a formação e a oferta de adesão a um regime previdenciário

complementar privado, a saber:

A previdência complementar fechada vale-se da identidade de grupos organizados, por meio do vínculo empregatício ou associativo, para tornar acessível aos empregados de empresa patrocinadora, ou a membros e associados de entidade classista ou setorial instituidora, planos de benefícios de caráter previdenciário. Os planos de benefícios, patrocinados ou instituídos, são administrados por Entidades Fechadas de Previdência Complementar, pessoas jurídicas de direito privado, sem finalidade lucrativa. A entidade é autorizada pelo Ministério da Previdência e Assistência Social e fiscalizada pela Secretaria de Previdência Complementar (SPC).

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Como último ponto a abordar, têm-se a Previdência Privada dos Servidores

Públicos, que se revelou através das alterações trazidas pela Emenda Constitucional n. 20/1998

no regime de previdência dos servidores públicos, e tem previsão nos parágrafos 14, 15 e 16 do

art. 40 da Constituição Federal de 1988. “A EC n. 20/1998 previu a possibilidade da instituição

do Regime Complementar (RPC) aos servidores públicos ocupantes de cargo efetivo,

ressalvado o disposto no § 16, do art. 40, da CF/1988.” (HORVATH JÚNIOR, 2020, p. 212).

À vista disso, verifica-se a seguir, de forma simplificada, como ocorre o

funcionamento da previdência complementar do servidor público:

A dinâmica da previdência complementar do servidor público será a seguinte: o servidor público que voluntariamente aderir ao plano de previdência complementar terá sua aposentadoria básica, a cargo do regime próprio (RPPS) a que estiver vinculado, limitada ao máximo do regime geral de previdência (RGPS) e o que estiver acima deste teto ficará sob a responsabilidade da entidade que administra o RPC, em valores não definidos. (HORVATH JÚNIOR, 2020, p. 185).

Após a presente abordagem, sobre os regimes de previdência complementar ou

previdência privada no Brasil, conclui-se que o principal objetivo dos planos de previdência

privada “é o de complementar ou suplementar os benefícios e serviços do Seguro Social Básico.

Trata-se, consequentemente, de uma escolha individual exercida a partir das escalas de

preferência dos segurados e sujeita às restrições de seu poder aquisitivo.” (OLIVEIRA et al,

2016, p. 2).

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4 O BENEFÍCIO AUXÍLIO-RECLUSÃO

Desde a sua instituição, o auxílio-reclusão tornou-se alvo da desconfiança popular,

e ainda nos dias de hoje, encontra barreiras para consolidar-se como benefício legítimo entre a

população. Parte disso, deve-se as errôneas crenças que circulam sem pudor, entre usuários da

internet e de redes sociais, que disseminam falsas informações sobre os critérios e objetivos do

auxílio-reclusão, revelando assim o quão mal compreendido o benefício é.

No entanto, existem inúmeras circunstâncias importantes referentes ao benefício

auxílio-reclusão, que não são destacadas, a exemplo: os requisitos de concessão específicos do

benefício, quem poderá usufruir do auxílio, e inexistência de cunho assistencial ligado a este.

No decorrer do trabalho, serão abordados estas e outras informações relevantes.

Cumpre ainda destacar antecipadamente que, eventualmente, a pessoa que foi

reclusa poderia ser a provedora principal de seu lar, ou até mesmo a única provedora, e que sua

reclusão poderia significar uma alteração drástica na organização financeira de todo núcleo

familiar. Essa preocupação também foi externada por Ribeiro (2020, p. 294), ao declarar:

A falta de uma dessas remunerações enseja prejuízos inestimáveis, principalmente os de ordem alimentar. A prisão, mesmo que provisória, de um segurado, certamente implicará a suspensão ou o cancelamento de seu contrato de trabalho ou, se autônomo ou profissional liberal, na perda do valor recebido pela prestação do serviço. Visando proteger os dependentes do segurado recolhido ao cárcere privado, foi instituído o benefício denominado auxílio-reclusão.

A autora ainda completa que, o auxílio-reclusão “é um amparo, de caráter alimentar,

destinado aos dependentes do segurado de baixa renda, que por algum motivo teve sua liberdade

cerceada através dos limites da legislação nacional e que não se encontra beneficiado por

aposentadoria ou auxílio-doença.” (RIBEIRO, 2020, p. 294).

O Instituto Nacional do Seguro Nacional – INSS (2020, p. 1) conceitua o auxílio-

reclusão como “benefício devido apenas aos dependentes do segurado de baixa renda do

INSS preso em regime fechado, durante o período de reclusão ou detenção.”

Na mesma direção, o Tribunal Regional Federal da 5ª Região, pondera a respeito

da conceituação desse benefício previdenciário:

EMENTA PREVIDENCIÁRIO. AUXÍLIO-RECLUSÃO. REQUISITOS PREENCHIDOS. AUXÍLIO-RECLUSÃO. Conforme a Lei nº 8.213/91, o Auxílio-Reclusão será devido nas mesmas condições da Pensão Por Morte, aos dependentes do segurado recolhido à prisão, desde que este não esteja: a) recebendo remuneração da empresa; b) em gozo de auxílio-doença e c) em gozo do benefício de aposentadoria ou de abono de permanência em serviço (art. 80); o referido benefício independe de carência (art. 26, inciso I); por fim, mantém-se a qualidade de segurado até doze meses após o livramento, o segurado retido ou recluso, independentemente de contribuições (art. 15). DEPENDENTES. A figura dos

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cônjuges e filhos menores de 21 anos e ainda não emancipados integram o rol de dependentes descritos no art. 16, I, da Lei de Benefícios da Previdência Social, cuja dependência econômica com relação ao segurado é presumida. PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS. Preenchidos os requisitos com a demonstração do recolhimento do Segurado à prisão, da qualidade de Segurado e da Dependência Econômica do (a) Beneficiário (a), há de ser deferido o Benefício de Auxílio-Reclusão. JUROS DE MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA. A Correção Monetária, em se tratando de Benefício Previdenciário, se dará pelo INPC e os Juros de Mora pela remuneração da Caderneta de Poupança, nos termos do Manual de Cálculos da Justiça Federal observando-se o que decido pelo Supremo Tribunal Federal, conforme precedente desta egrégia Primeira Turma e em atenção ao que foi decidido em julgamento ampliado da 1ª e 3ª Turmas do TRF 5ª Região. VERBA HONORÁRIA. SÚMULA 111-STJ. Verba Honorária fixada em 10% sobre o valor da Condenação observando os termos da Súmula nº 111-STJ Desprovimento da Apelação. (BRASIL, TRF-4, 2021a).

Desta forma superada a conceituação do benefício previdenciário intitulado auxílio-

reclusão, serão analisados adiante, os demais aspetos do auxílio.

4.1 HISTÓRICO DO AUXÍLIO-RECLUSÃO

O auxílio-reclusão não é um benefício que foi previsto recentemente, tampouco,

teve suas principais características delineadas por inovações legislativas atuais. Nesse escopo,

Hurtado et al. (2020, p. 21) expõe que o auxílio-reclusão “estreou no ordenamento jurídico

brasileiro em junho de 1933 pelo extinto Decreto n. 22.872, que criou o Instituto de

Aposentadoria e Pensões dos Marítimos, que, em seu artigo 63, mais especificamente no seu

parágrafo único, tratava do referido benefício.”

Adiante, Souza e Pedrosa (2020, p. 2) revelam que “nos meados de 1934, com o

Decreto n° 54, que regulava o instituto da Aposentadoria e pensões dos bancários, surgiu a

expressão ‘pensão’ ao detendo que tinham contas a prestarem a justiça, [...].”

Porém, somente com o advento da Lei 3.807/1960, também conhecida como Lei

Orgânica de Previdência Social – LOPS, que a expressão “auxílio-reclusão” foi usada pela

primeira vez em nosso ordenamento jurídico, assim indica o art. 43, §§ 1 e 2, da LOPS:

Art. 43. Aos beneficiários do segurado, detento ou recluso, que não perceba qualquer espécie de remuneração da emprêsa, e que houver realizado no mínimo 12 (doze) contribuições mensais, a Previdência Social prestará auxílio-reclusão na forma dos arts. 37, 38, 39 e 40, desta lei. § 1º O processo de auxílio-reclusão será instruído com certidão do despacho da prisão preventiva ou sentença condenatória. § 2º O pagamento da pensão será mantido enquanto durar a reclusão ou detenção do segurado o que será comprovado por meio de atestados trimestrais firmados por autoridade competente. (BRASIL, Lei n. 3.807, 1960).

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Alcântara e Agostinho (2020, p. 82), nos despertam o olhar para observar as

particularidades do auxílio-reclusão, que começaram a se estabelecer a partir da estrutura da

redação do texto legal acima disposto:

Disciplinando os diversos requisitos para a concessão do auxílio-reclusão, dispôs a LOPS sobre diversos aspectos, tais como: período-de-graça, e valor do benefício (os dependentes teriam direito a cinquenta por cento do valor da aposentadoria que o segurado percebia ou daquela a que teria direito na data da prisão e esta ainda será rateada entre os beneficiários).

Importa ressaltar que, “tanto a Consolidação das Leis da Previdência Social

(CLPS), aprovada pelo Decreto n. 77.077/76, quanto a nova Consolidação das Leis da

Previdência Social aprovada pelo Decreto n. 89.312/84 mantiveram os parâmetros para acesso

à prestação de auxílio-reclusão.” (HORVATH JÚNIOR, 2020, p. 506).

Todas as disposições constitucionais e legais que vieram a seguir, concernentes ao

benefício auxílio-reclusão, foram versados durante a vigência da atual Carta Magna e serão

explanados no decorrer do próximo tópico.

4.2 PREVISÃO CONSTITUCIONAL E LEGAL DO AUXÍLIO-RECLUSÃO

O benefício previdenciário denominado auxílio-reclusão está previsto na

Constituição Federal de 1988, no art. 201, IV, com a seguinte redação:

Art. 201. A Previdência Social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998). (BRASIL, CRFB, 2021).

Note-se que, a atual estrutura do texto legal recém mencionado foi dada através da

Emenda Constitucional n. 20, de 15 de dezembro de 1998, que impôs séria limitação ao

benefício, tendo em vista que, a partir da data de sua promulgação, somente aqueles que

possuírem baixa renda poderão fazer jus ao auxílio.

Ato amplamente criticado, diversos juristas apontam a EC n. 20/98 como um

retrocesso que veio para afastar cada vez mais a população de seus direitos, embora ainda esteja

vigente e não tenha sido declarada inconstitucional.

Nesse diapasão, Alcântara e Agostinho (2020, p. 85) acrescentam:

Em outras palavras, em momento anterior à Emenda Constitucional 20, a concessão dos benefícios de auxílio-reclusão era quase inexistente. Nestes termos, limitar um benefício que era concedido à menos 1% dos segurados, sob o argumento de combater o aumento das despesas é, indiscutivelmente, falacioso. [...]

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Em síntese, percebe-se uma contínua dilapidação da proteção social aos dependentes do segurado recluso, tendo em vista que todas as modificações constitucionais sobre o tema, reiteradamente, vêm reduzindo o acesso, valor e legitimados ao gozo do benefício.

Além da Constituição Federal, o auxílio-reclusão também se encontra

regulamentado na Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991, que dispõe sobre os Planos de Benefícios

da Previdência Social.

Destaca-se que a Lei n. 8.213/91 foi alterada pela Medida Provisória n. 871, de 18

de janeiro de 2019, que mais tarde foi convertida na Lei n. 13.846, de 18 de junho de 2019, e

nos arts. 116 a 119 do Decreto n. 3.048, de 06 de maio de 1999, também conhecido como

Regulamento da Previdência Social.

4.3 REQUISITOS GERAIS E ESPECÍFICOS PARA A FRUIÇÃO DO BENEFÍCIO

PREVIDENCIÁRIO

Para que o auxílio-reclusão seja concedido àqueles que dele possam dispor, é

indispensável o cumprimento de certos requisitos legais, de ordem geral e específicos.

Dentro dos requisitos gerais serão abordados os referentes a carência no auxílio-

reclusão, a qualidade de segurado do instituidor e o percebimento de remuneração pelo

segurado. Quanto aos requisitos específicos, será tratado sobre o recolhimento do segurado à

prisão, bem como, a manutenção desta e renda mensal do segurado recluso.

À vista disso, passemos agora a uma análise aprofundada destes requisitos a serem

preenchidos para a fruição do auxílio-reclusão.

4.3.1 Carência

Conforme se pode extrair da leitura do art. 25, IV, da Lei n. 8.213/91, “a concessão

das prestações pecuniárias do Regime Geral de Previdência Social depende dos seguintes

períodos de carência, ressalvado o disposto no art. 26: IV - auxílio-reclusão: 24 (vinte e quatro)

contribuições mensais.”. (BRASIL, Lei n. 8.213, 2021).

Importa salientar que, as atuais disposições quanto a carência no auxílio-reclusão,

recentemente passaram por significativas alterações, que são duramente criticadas entre os

estudiosos do meio, dentre eles se destacam Lazzari e Castro (2021, p. 441), que avaliam:

A concessão do auxílio-reclusão, a partir da Lei no 8.213/1991, não dependia de número mínimo de contribuições pagas pelo segurado. Bastava comprovar a situação de segurado para gerar direito ao benefício. A carência exigida pela legislação anterior era de 12 contribuições mensais.

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Com o advento da MP no 871/2019 (convertida na Lei no 13.846/2019), voltou ao cenário jurídico a necessidade de ser comprovada a carência de 24 meses. Esse quantitativo mostra-se abusivo, pois supera o período exigido para outros benefícios de natureza temporária, como o auxílio-doença e o salário-maternidade. Além disso, a população carcerária do Brasil é constituída, em grande parte, por pessoas de baixa renda e com reduzido período contributivo, inviabilizando a concessão do benefício na maioria dos casos.

Nesse ínterim, deve-se observar o que determina o art. 27-A, da Lei 8.213/91, que

assim dispõe:

Art. 27-A Na hipótese de perda da qualidade de segurado, para fins da concessão dos benefícios de auxílio-doença, de aposentadoria por invalidez, de salário-maternidade e de auxílio-reclusão, o segurado deverá contar, a partir da data da nova filiação à Previdência Social, com metade dos períodos previstos nos incisos I, III e IV do caput do art. 25 desta Lei. (BRASIL, Lei n. 8.213, 2021).

Portanto, caso constate-se a ocorrência de situação similar a prevista no artigo

supracitado, “[...] para poder aproveitar as contribuições anteriores a essa perda para fins de

cumprimento da carência do auxílio-reclusão, o segurado necessitará, a partir da data da nova

filiação à Previdência Social, recolher 12 contribuições mensais [...].” (GOES, 2020, p. 259).

4.3.2 Qualidade de segurado

“Para que se possa ter direito a qualquer benefício da Previdência Social, é

necessário estar na qualidade de segurado, ou seja, deve estar em dia com as suas contribuições

no INSS.” (SOUZA; PEDROSA, 2020, p. 5).

Consoante o que expressa o art. 20 do Decreto n. 3.048/99, “filiação é o vínculo

que se estabelece entre pessoas que contribuem para a Previdência Social e esta, do qual

decorrem direitos e obrigações.” (BRASIL, Decreto n. 3.048, 2020).

No entanto, Alcântara e Agostinho (2020, p. 202) apontam diferenças entre os atos

de filiação e de inscrição na Previdência Social, a saber:

A filiação ocorre automaticamente a partir do exercício de atividade remunerada para os segurados obrigatórios, enquanto que a inscrição é ato burocrático e material, pelo qual o segurado é cadastrado no Regime Geral de Previdência Social, mediante comprovação dos dados pessoais e de outros elementos necessários e úteis à sua caracterização.”

Na mesma linha, Pontes (2020, p. 26) acrescenta:

Para o segurado obrigatório, é necessário ocorrer à filiação com exercício da atividade laborativa remunerada, para posteriormente ocorrer a inscrição. Já para segurado facultativo, inicialmente será feita a inscrição, para, em seguida, ocorrer a filiação com o recolhimento da contribuição previdenciária. [...] Para o contribuinte individual que trabalha para pessoa jurídica, empregado e trabalhador avulso, é de responsabilidade da empresa promover a inscrição do segurado a seu serviço. Já no caso do contribuinte individual que trabalha por conta

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própria e o segurado facultativo, é o próprio segurado que providenciará sua inscrição no INSS.

Sendo assim, evidencia-se que os dois institutos citados são cronologicamente

diferentes entre si, além de possuírem finalidades distintas, que também se enquadram em

situações distintas, embora se completem.

Por esta razão, no que tange ao auxílio-reclusão, o segurado que estiver filiado, por

força de exigência normativa, naturalmente também será inscrito na Previdência Social, e apto,

nesse quesito, a auferir o benefício previdenciário.

4.3.3 Recebimento de remuneração

O art. 80 da Lei n. 8.213/91 destaca que o auxílio-reclusão será devido aos

dependentes do segurado, que não receber remuneração de empresa. (BRASIL, Lei n. 8.213,

2021).

O legislador estabeleceu, como um dos critérios para a concessão do auxílio-

reclusão, a ausência de remuneração prestada por empresa ao segurado, pois é imperiosa a

existência do risco social, configurado com a reclusão do segurado, para que se justifique a

proteção dos dependentes do segurado, que restarão em desamparo.

Em outras palavras, significa dizer que:

Dessa forma, para incidir o risco social protegido, o segurado deve estar impossibilitado de prover o sustento de sua família, razão pela qual o benefício não será devido, caso o segurado continue percebendo remuneração de empresa, ou esteja em gozo de benefícios de aposentadoria, auxílio-doença, ou abono de permanência, pois, nessas situações, resta descaracterizada a necessidade social dos dependentes do segurado, cuja subsistência estaria garantida por meio daquelas prestações previdenciárias ou pela remuneração.” (ALCÂNTARA; AGOSTINHO, 2020, p. 209).

Portanto, o dependente do segurado, ao solicitar o benefício deve encontrar meios

de comprovar a inexistência de vínculo ativo do segurado com qualquer empresa.

Por fim, ressalta-se o conteúdo do § 2º do art. 383, da Instrução Normativa 77/2015,

que versa sobre a possibilidade do exercício de atividade remunerada pelo segurado recluso em

cumprimento de pena em regime fechado ou semiaberto, que contribuir na condição de

facultativo, sem que isso acarrete a perda do direito ao recebimento do auxílio-reclusão pelos

seus dependentes. (BRASIL, Instrução Normativa n. 77, 2015).

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49

4.3.4 Demonstração de recolhimento à prisão e de manutenção da prisão

O Decreto n. 3.048/99 define em seu art. 116, § 5º, acerca da vinculação do

recolhimento à prisão do segurado com a concessão do auxílio-reclusão:

Art. 116. O auxílio-reclusão, cumprida a carência prevista no inciso IV do caput do art. 29, será devido, nas condições da pensão por morte, aos dependentes do segurado de baixa renda recolhido à prisão em regime fechado que não receber remuneração da empresa nem estiver em gozo de auxílio por incapacidade temporária, de pensão por morte, de salário-maternidade, de aposentadoria ou de abono de permanência em serviço. § 5º O auxílio-reclusão será devido somente durante o período em que o segurado estiver recolhido à prisão sob regime fechado. (BRASIL, Decreto n. 3.048, 2020, grifo nosso).

Destaca-se que, antes de publicada a Medida Provisória n. 871/2019, que

posteriormente foi convertida na Lei n. 13.846/2019, a legislação apontava apenas a

necessidade do cumprimento de pena privativa de liberdade por parte do segurado.

No entanto, conforme disposto no art. 116, § 5º do Decreto n. 3.048/99, atualmente

o auxílio-reclusão será concedido somente durante o período em que o segurado estiver

recolhido à prisão sob regime fechado, excluindo-se outras hipóteses.

Importante salientar que, a título de exceção, “no REsp Repetitivo 1.672.295/RS

(DJe 26.10.2017), o STJ decidiu que o benefício também é devido em caso de prisão domiciliar,

desde que previsto o regime fechado para o cumprimento da pena.” (SANTOS, 2021, p. 206).

Dessa forma, de acordo com a leitura do art. 116, § 2º, do Decreto n. 3.048/99, para

que seja possível efetuar o requerimento do auxílio-reclusão, é imprescindível que os

dependentes do preso recluso juntem oportunamente a certidão judicial que ateste o efetivo

recolhimento do segurado à prisão, que deverá ser expedido pela autoridade competente.

Também será obrigatória apresentação de prova de permanência na condição de presidiário para

a manutenção do benefício. (BRASIL, Decreto n. 3.048, 2020).

No mesmo sentido, o art. 117, § 1º, do Decreto n. 3.048/99, prevê que “o

beneficiário deverá apresentar trimestralmente atestado de que o segurado continua em regime

fechado, que deverá ser firmado pela autoridade competente.” (BRASIL, Decreto n. 3.048,

2020).

Por fim, a Medida Provisória n. 871/2019, determina que “a comprovação poderá

ser feita mediante acesso à base de dados, por meio eletrônico, a ser disponibilizada pelo

Conselho Nacional de Justiça, desde que os dados cadastrais assegurem a identificação plena

do segurado e da sua condição de presidiário.” (SANTOS, 2020, p. 255).

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50

4.3.5 Baixa renda mensal do segurado

O art. 1º da Emenda Constitucional n. 20/98, alterou o art. 201, IV da CRFB/88, e

passou a considerar a baixa renda do segurado como requisito para a concessão do auxílio-

reclusão. Já o art. 13 da Emenda Constitucional n. 20/98, disciplinou quais valores seriam

considerados à título de renda mensal bruta para caracterizar o requisito.

Posteriormente, o art. 13 da Emenda Constitucional n. 20/98, foi revogado pelo art.

35 da Emenda Constitucional n. 103/19, e com a revogação, os valores anteriormente

considerados, que determinavam a limitação de baixa renda, foram substituídos e normatizados

pelo § 1º do art. 116 do Decreto n. 3.048/99, cuja redação se deu por meio do Decreto n.

10.410/2020.

Assim sendo, atualmente, a norma que delimita a renda mensal apta para concessão

do auxílio-reclusão, encontra a seguinte redação:

Art. 116 [...] § 1º Para fins de concessão do benefício de que trata este artigo, considera-se segurado de baixa renda aquele que tenha renda bruta mensal igual ou inferior a R$ 1.425,56 (um mil quatrocentos e vinte e cinco reais e cinquenta e seis centavos), corrigidos pelos mesmos índices de reajuste aplicados aos benefícios do RGPS, calculada com base na média aritmética simples dos salários de contribuição apurados no período dos doze meses anteriores ao mês do recolhimento à prisão. (Redação dada pelo Decreto nº 10.410, de 2020). (BRASIL, Decreto n. 3.048, 2020).

Porém, o rígido critério da baixa renda já vem sendo flexibilizado por alguns

Tribunais e pelo Superior Tribunal de Justiça, que tem se posicionado favoravelmente à

concessão do auxílio-reclusão mesmo quando a renda do segurado recolhido à prisão ultrapasse,

de modo ínfimo, o limite legal. (SANTOS, 2021, p. 207).

Nesse sentido, entende o Tribunal Regional Federal da 4ª Região:

PREVIDENCIÁRIO. AÇÃO ORDINÁRIA. AUXÍLIO-RECLUSÃO. REQUISITOS ATENDIDOS. CRITÉRIO DE BAIXA RENDA. FLEXIBILIZAÇÃO DO CRITÉRIO ECONÔMICO. POSSIBILIDADE. TERMO INICIAL. CONSECTÁRIOS LEGAIS DA CONDENAÇÃO. PRECEDENTES DO STF (TEMA 810) E STJ (TEMA 905). CONSECTÁRIOS DA SUCUMBÊNCIA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. MAJORAÇÃO. 1. Para a concessão do benefício de auxílio-reclusão, faz-se necessário o preenchimento dos seguintes requisitos: a) efetivo recolhimento à prisão; b) demonstração da qualidade de segurado do preso; c) condição de dependente de quem objetiva o benefício; d) prova de que o segurado não está recebendo remuneração de empresa ou em gozo de auxílio-doença, de aposentadoria ou abono de permanência em serviço; e) comprovação de baixa renda, para benefícios concedidos a partir da Emenda Constitucional nº 20/98. 2. No que diz respeito ao requisito relacionado à baixa renda, é de ver-se que, a partir do julgamento do RE n. 587.365/SC, pelo Supremo Tribunal Federal, restou consolidado nesta Corte o entendimento de que é a renda do segurado preso que deve ser utilizada como parâmetro para a concessão do benefício, e não a de seus dependentes. 3. O requisito econômico pode ser relativizado, tal como a jurisprudência deste Tribunal já adotou em relação ao benefício assistencial, a fim de garantir uma

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vida digna daqueles que dependem do segurado e se encontram, abruptamente, desprovidos de qualquer renda. Precedentes do STJ e desta Corte. 4. Preenchidos os requisitos legais, é devido o benefício de auxílio-reclusão. 5. Critérios de correção monetária e juros de mora conforme decisão do STF no RE nº 870.947/SE (Tema 810) e do STJ no REsp nº 1.492.221/PR (Tema 905). 6. Confirmada a sentença no mérito, majora-se a verba honorária, elevando-a de 10% para 15% sobre o montante das parcelas vencidas (Súmulas 111 do STJ e 76 do TRF/4ª Região), consideradas as variáveis dos incisos I a IV do § 2º e o § 11, ambos do artigo 85 do CPC. (BRASIL, TRF-4, 2021b).

Na sequência, serão identificadas algumas divergências que circundam o requisito

da baixa renda para fins de auxílio-reclusão. A primeira divergência questiona se o critério será

aplicado relativo aos dependentes ou ao segurado. À vista disso, o Supremo Tribunal Federal

confirmou tratar-se da configuração de baixa renda por parte do segurado, e não de seus

dependentes. Confira-se:

PREVIDENCIÁRIO. CONSTITUCIONAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. AUXÍLIO-RECLUSÃO. ART. 201, IV, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. LIMITAÇÃO DO UNIVERSO DOS CONTEMPLADOS PELO AUXÍLIO-RECLUSÃO. BENEFÍCIO RESTRITO AOS SEGURADOS PRESOS DE BAIXA RENDA. RESTRIÇÃO INTRODUZIDA PELA EC 20/1998. SELETIVIDADE FUNDADA NA RENDA DO SEGURADO PRESO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO PROVIDO. I - Segundo decorre do art. 201, IV, da Constituição, a renda do segurado preso é que a deve ser utilizada como parâmetro para a concessão do benefício e não a de seus dependentes. II - Tal compreensão se extrai da redação dada ao referido dispositivo pela EC 20/1998, que restringiu o universo daqueles alcançados pelo auxílio-reclusão, a qual adotou o critério da seletividade para apurar a efetiva necessidade dos beneficiários. III - Diante disso, o art. 116 do Decreto 3.048/1999 não padece do vício da inconstitucionalidade. IV - Recurso extraordinário conhecido e provido. (BRASIL, STF, 2009).

Em último lugar, outro assunto que gerou divergências de opiniões refere-se ao

período de graça. Conforme leciona Alcântara e Agostinho (2020, p. 205), “ele se trata do lapso

temporal durante o qual, ainda que não tenha o segurado vertido as contribuições devidas, faz

jus, ele ou seus dependentes, a todos os benefícios e serviços da Previdência Social.”

O período de graça está previsto no art. 15 da Lei 8.213/91, e define os períodos de

duração nos quais o segurado usufruirá da qualidade de segurado, embora não esteja

contribuindo para com a Previdência.

Entretanto, “a jurisprudência diverge sobre o salário de contribuição a ser

considerado quando o segurado é preso no período de graça.”

Diante desse cenário, O Superior Tribunal de Justiça adotou por meio do Recurso

Repetitivo REsp 1.485.417-MS, o seguinte entendimento quanto a matéria: “Para a concessão

de auxílio-reclusão (art. 80 da Lei n. 8.213/1991), o critério de aferição de renda do segurado

que não exerce atividade laboral remunerada no momento do recolhimento à prisão é a ausência

de renda, e não o último salário de contribuição.” (BRASIL, STJ, 2017).

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4.4 DATA DO INÍCIO, VALOR E PRAZO DE DURAÇÃO DO BENEFÍCIO

PREVIDENCIÁRIO

A Lei n. 8.213/91, que dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social,

e consequentemente, trata a respeito do auxílio-reclusão, não faz nenhuma referência a data de

início do pagamento desse benefício.

Em contrapartida, o Decreto n. 3.048/99 abordou a questão em seu art. 116, ao

afirmar que:

Art. 116. O auxílio-reclusão, cumprida a carência prevista no inciso IV do caput do art. 29, será devido, nas condições da pensão por morte, aos dependentes do segurado de baixa renda recolhido à prisão em regime fechado que não receber remuneração da empresa nem estiver em gozo de auxílio por incapacidade temporária, de pensão por morte, de salário-maternidade, de aposentadoria ou de abono de permanência em serviço. (Redação dada pelo Decreto nº 10.410, de 2020) [...] § 4º A data de início do benefício será: (Redação dada pelo Decreto nº 10.410, de 2020) I - a do efetivo recolhimento do segurado à prisão, se o benefício for requerido no prazo de cento e oitenta dias, para os filhos menores de dezesseis anos, ou de noventa dias, para os demais dependentes; ou (Redação dada pelo Decreto nº 10.410, de 2020) II - a do requerimento, se o benefício for requerido após os prazos a que se refere o inciso I. (Redação dada pelo Decreto nº 10.410, de 2020). (BRASIL, Decreto n. 3.048, 2020, grifo nosso).

Campos et al (2019, p. 7), sintetiza o conteúdo do art. 116 § 4º, do Decreto n.

3.048/99, e torna mais clara a compreensão do conteúdo trazido pelo referido artigo, ao explanar

o exposto:

De acordo com a legislação vigente no ordenamento jurídico pátrio, em especial na lei 8.213/91 e no Decreto 3048/99, o benefício do auxílio reclusão tem início com a prisão do segurado do Instituto Nacional do Seguro Social em regime fechado, devendo tal benefício ser requerido em até 90 dias após a data da prisão, caso não seja requerido neste prazo, o benefício terá início com a data do requerimento feito pelo dependente do preso segurado, junto ao INSS.

No mesmo intuito do autor anterior, de elucidar a redação do artigo

supramencionado, Leite (2019, p. 65), faz relevantes considerações acerca da disposição legal

que discorre sobre o prazo concedido a dependentes menores de 16 anos para o requerimento

do benefício. Denota-se:

No que diz respeito à limitação do prazo em até 180 (cento e oitenta) para os filhos menores de 16 (dezesseis anos), considerados, pelo Código Civil de 2002, absolutamente incapazes de exercerem pessoalmente os atos da vida civil, cabe destacar que esta disposição configura exceção à regra contida no inciso I do art. 198 do CC/02, segundo a qual não corre prescrição contra absolutamente incapazes.

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Adiante, a Instrução Normativa 101/2019, estipula em seu art. 12, que “as alterações

relativas à pensão por morte, de que trata o Capítulo II, também se aplicam ao auxílio-reclusão.”

(BRASIL, IN 101, 2019).

Isto posto, “o valor que será auferido pelo dependente do segurado recluso, à título

de auxílio-reclusão, deverá seguir a mesma base de cálculo do valor do benefício de pensão por

morte, ou seja, 100% do valor que o segurado recebia antes de estar impedido de trabalhar.”

(BRASIL, INSS, 2020).

Mendes e Martins (2019, p. 115), explicam de forma simplificada a lógica do

cálculo a ser seguido para determinar o valor mensal devido aos dependentes do segurado.

Relatam:

Os sistemas do INSS calculam o valor dos benefícios previdenciários utilizando todas as contribuições previdenciárias que o segurado realizou, corrigidas pelo INPC (mês a mês), desde julho de 1994, desse cálculo são excluídas as 20% menores. Daí, a média aritmética dessa conta corresponde ao valor do benefício, com percentual de 100%. A finalidade é garantir melhores condições para os segurados e seus dependentes. E por isso pode ocorrer de o valor recebido pelos dependentes do segurado recluso ser maior que R$ 1.319,18.

Cumpre salientar que, “se o segurado iniciou suas contribuições antes do ano de

1999, somente serão levadas em conta as contribuições a partir do ano de 1994. Se o segurando

começou a contribuir após 1999 serão consideradas, no cálculo, todas as suas contribuições.”

(HURTADO, et al, 2021, p. 27).

Ainda, ressalta-se que o art. 32 § 3º, do Decreto n. 3.048/99, afirma que o auxílio-

reclusão não pode ser inferior ao salário mínimo nacional vigente, nesse caso, não importando

o resultado dos cálculos de benefício alcançados. (BRASIL, Decreto n. 3.048, 2020).

É necessário pontuar que, a aplicação das normas e regras de contagem aqui

abordadas ficam estritamente condicionadas à data da prisão do segurado, e, consequentemente,

do requerimento e concessão do auxílio-reclusão.

Pois, em decorrência da publicação da Emenda Constitucional n. 103/19,

estabeleceu a seguinte nova determinação: “Art. 27 [...] § 1º Até que lei discipline o valor do

auxílio-reclusão, de que trata o inciso IV do art. 201 da Constituição Federal, seu cálculo será

realizado na forma daquele aplicável à pensão por morte, não podendo exceder o valor de 1

(um) salário-mínimo.” (BRASIL, EC n. 103, 2019).

Sendo assim, caso a efetiva prisão do segurado tenha ocorrido antes da EC n.

103/19, a contagem dos cálculos seguirá a regra antiga, aqui a pouco mencionada. Todavia,

caso a data de início do benefício seja posterior, se sujeitará ao disposto no art. 27 § 1º, da EC

n. 103/19.

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Uma vez concedido o benefício, e determinado seu valor, resta esclarecer por

quanto tempo ele se estenderá.

Hurtado et al (2021, p. 27) propõem-se a explanar sobre a duração do auxílio-

reclusão e as características que a determinam:

Em relação à duração do benefício, ele varia de acordo com a idade dos dependentes e o tipo de beneficiário. Será de 4 meses contados a partir da data da reclusão se a prisão ocorrer sem que o segurado tenha completado 18 contribuições à Previdência Social, ou se a união estável ou o casamento tenha ocorrido em menos de 2 anos antes da prisão do segurado. Se a prisão se deu após 18 contribuições mensais e o casamento ou união estável tenha acontecido pelo menos 2 anos antes, a duração do auxílio-reclusão será variável [...].

A tabela a seguir demostra a variação da duração máxima do benefício auxílio-

reclusão ao se considerar a idade do dependente na data da prisão do segurado:

Tabela 1 – Duração do auxílio-reclusão por faixa etária dos dependentes.

Idade do dependente na data da prisão Duração máxima do benefício ou cota Menos de 21 anos 3 anos Entre 21 e 26 anos 6 anos Entre 27 e 29 anos 10 anos Entre 30 e 40 anos 15 anos Entre 41 e 43 anos 20 anos A partir de 44 anos Vitalício

Fonte: (BRASIL, INSS, 2020).

“Para filhos e equiparados: o benefício terá duração até os 21 anos de idade, salvo

se for inválido ou com deficiência. Nos casos em que houver emancipação, haverá a cessação

do benefício.” (BRASIL, INSS, 2020).

Para o cônjuge, o companheiro, o cônjuge divorciado ou separado judicialmente ou

de fato que recebia pensão alimentícia, a duração será de 4 meses contados a partir da data da

prisão, nas hipóteses em que o casamento ou união estável se iniciou em menos de dois anos

antes da prisão do segurado, ou se a prisão ocorreu pelo menos dois anos após o início do

casamento ou da união estável. (BRASIL, INSS, 2020).

Portanto, fica evidente que “a duração do benefício é variável conforme a idade e o

tipo de beneficiário.” (BRASIL, INSS, 2020).

4.5 ACUMULAÇÃO DE BENEFÍCIO, CESSAÇÃO E SUSPENSÃO DO AUXÍLIO-

RECLUSÃO

“A acumulação de benefício é o meio pelo qual alguém que já possuía um benefício

da Previdência passa a ter direto a outro benefício, como por exemplo alguém que já faz uso da

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pensão por morte, receber aposentadoria por tempo de idade ou tempo de serviço.” (SOUZA;

PEDROSA, 2020, p. 8).

Segundo Pontes (2020, p. 49) “em regra, é possível a acumulação de benefícios

previdenciários para os segurados e seus dependentes, entretanto, deverá ser respeitado o direito

adquirido à acumulação.”

A parte final do caput do art. 80 da Lei n. 8.213/91, cuja redação foi dada pela Lei

n. 13.846/19, determina que o auxílio-reclusão será devido ao segurado que não estiver em gozo

de auxílio-doença, de pensão por morte, de salário-maternidade, de aposentadoria ou de abono

de permanência em serviço. (BRASIL, Lei n. 8.213, 2021).

Isto posto, “não se pode mais cumular o recebimento de auxílio-reclusão (pelos

dependentes), com o pagamento de salário-maternidade e/ou pensão por morte (que eram

situações não previstas anteriormente na lei).” (ALCÂNTARA; AGOSTINHO, 2020, p. 266).

Porém, o legislador não vedou a percepção do seguro-desemprego por parte do

segurado recluso, conforme se extrai da leitura do § 2º, do art. 167 do Decreto n. 3.048/99, que

aduz: “§ 2º É vedado o recebimento conjunto do seguro-desemprego com qualquer benefício

de prestação continuada da Previdência Social, exceto pensão por morte, auxílio-reclusão,

auxílio-acidente, auxílio-suplementar ou abono de permanência em serviço.” (BRASIL,

Decreto n. 3.048, 2020).

Quanto a cessação do auxílio-reclusão, os arts. 118 e 119 do Decreto 3.048/99,

disciplinam as hipóteses em que ocorrerá, respectivamente:

Art. 118. Na hipótese de óbito do segurado recluso, o auxílio-reclusão que estiver sendo pago será cessado e será concedida a pensão por morte em conformidade com o disposto nos art. 105 ao art. 115. (Redação dada pelo Decreto nº 10.410, de 2020) Parágrafo único. Não havendo concessão de auxílio-reclusão, em razão da não comprovação da baixa renda, será devida pensão por morte aos dependentes se o óbito do segurado tiver ocorrido no prazo previsto no inciso IV do caput do art. 13. (Redação dada pelo Decreto nº 10.410, de 2020) Art. 119. É vedada a concessão do auxílio-reclusão após a soltura do segurado. (BRASIL, Decreto n. 3.048, 2020).

Ainda, Lazzari e Castro (2021, p. 444) apontam de forma prática as situações que

podem ensejar a cessação do auxílio-reclusão:

I – com a extinção da última cota individual; II – se o segurado, ainda que privado de sua liberdade ou recluso, passar a receber aposentadoria; III – pelo óbito do segurado ou beneficiário; IV – na data da soltura; V – pela ocorrência da perda da qualidade de dependente, no caso de filho ou equiparado ou irmão, de ambos os sexos; VI – em se tratando de dependente inválido, pela cessação da invalidez, verificada em exame médico pericial a cargo do INSS (a qual é dispensada se for maior de 60 anos – Lei n. 13.063/2014);

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VII – pela adoção, para o filho adotado que receba auxílio-reclusão dos pais biológicos, exceto quando o cônjuge ou o companheiro(a) adota o filho do outro; e VIII – a partir da vigência da MP no 871/2019 (convertida na Lei n. 13.846/2019), a progressão do regime fechado para outro menos gravoso.

Caso ocorra a hipótese do inciso III, o auxílio-reclusão será convertido em pensão

por morte. (GOES, 2020, p. 261).

Acerca da suspensão do benefício, os §§ 1º a 3º, do art. 117 do Decreto n. 3.048/99,

informam a respeito das circunstâncias que acarretarão a suspensão do benefício, lê-se:

Art. 117 [...] § 1º Até que o acesso à base de dados a que se refere o § 2º-B do art. 116 seja disponibilizado pelo Conselho Nacional de Justiça, o beneficiário apresentará trimestralmente atestado de que o segurado continua em regime fechado, que deverá ser firmado pela autoridade competente. (Redação dada pelo Decreto nº 10.410, de 2020) § 2º No caso de fuga, o benefício será suspenso e, se houver recaptura do segurado, será restabelecido a contar da data em que esta ocorrer, desde que esteja ainda mantida a qualidade de segurado. § 3º Se houver exercício de atividade dentro do período de fuga, o mesmo será considerado para a verificação da perda ou não da qualidade de segurado. (BRASIL, Decreto n. 3.048, 2020).

Ademais, Campos et al. (2019, p. 8) traz relevante informação complementar sobre

o assunto, observa-se:

É importante ressaltar, que as causas de suspensão do benefício do auxílio reclusão não o encerram de forma definitiva, apenas paralisam a emissão do benefício para o dependente do segurado, por qualquer das causas supracitadas. Assim, caso o segurado do INSS que tenha incidido em alguma destas causas volte a ser preso, retornará ao seu dependente a possibilidade de recebimento do auxílio reclusão.

Assim, ocorrerá a suspenção do auxílio-reclusão, uma vez que ocorridas quaisquer

das situações recém previstas, como: fuga do segurado recluso; auferimento de auxílio-doença,

ainda que o segurado se encontre recluso em regime fechado; caso o dependente deixe de

apresentar o atestado trimestral; e, quando o segurado deixar a prisão por livramento

condicional, por cumprimento da pena em regime aberto ou por prisão-albergue. (LEITÃO,

2018, p. 411).

4.6 O AUXÍLIO-RECLUSÃO E AS “FAKE NEWS”

O Instituto Nacional do Seguro Social (2018, p. 1) define que a finalidade do

auxílio-reclusão é “assegurar a manutenção e sobrevivência da família do segurado de baixa

renda que contribuiu para o INSS durante sua vida laboral e, que assim, gerou o direito de ter

sua família amparada em caso de reclusão, conforme assegurado pela legislação

previdenciária.”

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Muito embora o auxílio-reclusão seja um benefício de natureza previdenciária e não

de benefício assistencial, que para ser concedido exige o cumprimento de rigorosos requisitos,

sua essência é incompreendida, e, consequentemente, grande parte da população rejeita a

existência de um auxílio que, supostamente, se proponha a proteger um infrator da lei.

Diante dessas circunstâncias, “costumeiramente, circulam pela internet, através das

redes sociais, blogs, sites falsas informações e lamentáveis comentários depreciativos acerca do

auxílio-reclusão. Para dar uma ênfase bem negativa, muitos chamam o benefício previdenciário

de ‘bolsa-bandido’.” (MENDES; MARTINS, 2019, p. 115).

As falsas informações difundidas na internet em geral, referidas pelos autores,

podem ser compreendidas como a tradução literal do termo que popularmente caracteriza esses

atos, conhecido como “fake news”. A esse respeito, Teixeira et al. (2019, p. 4) esclarece que:

As notícias falsas ressurgiram com o advento das redes sociais, encontrando novo e poderoso espaço de circulação, promovendo a volta do sensacionalismo de uma forma otimizada, fato que acarreta diversos malefícios à sociedade, já que por muitas vezes para propagar suas ideias faz vítimas inocentes, que sofrem com seus efeitos por longos e árduos anos, senão por toda a vida.

Nesse ponto, o auxílio-reclusão tem, a cada dia mais, demostrado ser um meio

efetivo para propagação de ódio contra alvos tidos como “fáceis”, o segurado recluso e seus

dependentes, dadas as condições de vulnerabilidade dessa classe.

Face a esse cenário, é nítida a importância da informação por meio de fontes seguras

e comprometidas com a verdade, visto que, ao discutir o auxílio-reclusão, se está lidando com

a sobrevivência de núcleos familiares inteiros que ficarão completamente desamparados caso o

advento da prisão ocorra ao seu provedor principal. Campos et al. (2019, p. 11) segue o mesmo

raciocínio ao enunciar:

Destarte, o benefício previdenciário do auxílio reclusão, embora seja bastante discutido e controvertido socialmente, se mostra como um meio de sobrevivência para os dependentes do segurado do INSS de baixa renda, os quais não tem a possibilidade de se manter economicamente sem ajuda deste auxílio. Tal benefício se mostra não só como um auxílio à renda mensal dos dependentes, mas o único valor que os mesmos vão ter acesso, tem, portanto, uma natureza falimentar, pois serve para a subsistência das pessoas envolvidas.

Segundo Brisola e Bezerra (2018, p. 3329) a resposta para superar informações

falsas, e por fim, abandonar falsos preceitos, como os que envolvem o auxílio-reclusão, reside

em adotar a seguinte atitude:

A partir do senso de dúvida despertado pelo pensamento crítico, os indivíduos tendem a desconfiar mais das informações e verificar seu grau de veracidade antes de compartilhar. Essa simples desconfiança, mesmo que sem tempo hábil de analisar todo o volume de informação recebida, já pode frear substancialmente a proliferação

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das fake news e colocar em xeque o montante de desinformação a que estamos sujeitos.

A seguir, serão abordados outros aspectos relevantes, referente as chamadas fake

news, visando maiores elucidações acerca do tema.

4.6.1 O que são “fake news”?

O termo “fake news” surgiu nos Estados Unidos e atingiu popularidade na imprensa

internacional a partir de 2016. A neologia pode ser traduzida no Brasil como "notícia falsa",

mas seu significado é mais amplo. Fake news não se trata apenas de uma notícia publicada pela

metade ou mal apurada, mas sim, qualquer informação falsa intencionalmente divulgada, de

forma que atenda aos interesses de outrem. (RECUERO; GRUZD, 2019, p 32).

Por conta desta condição, as fake news em sua maioria, tem caráter negativo e teor

difamador contra um determinado tópico, indivíduo, grupo ou empresa, visando polemizar e

consequentemente obter vantagem política ou financeira.

Fake news são impulsionadas pelo uso do senso comum, de forma que atinja a parte

da população que já estava inclinada a acreditar naquela ideia. O indivíduo está mais propenso

a crer naquilo que lhe convém, do que em algo que considera contraditório. "Na terra da era

digital com informações e escolhas infinitas, as pessoas procuram criar seu próprio ambiente

de mídia pessoal em busca de conteúdo – textos, áudios, vídeos – que confirmem que o que se

sentem, lá no fundo, é verdade.” (SPINELLI; SANTOS, 2018, p. 2).

Os avanços tecnológicos e a crescente praticidade de criar e consumir conteúdo,

assim como a possibilidade de disseminá-lo para inúmeras pessoas em poucos instantes nas

redes sociais, são os principais fatores que tornam as fake news tão bem-sucedidas. Silverman

(2018, p. 1) explica:

A história do termo fake news simboliza como o nosso ambiente de informação atual opera e é manipulado, como a própria realidade é moldada e distorcida. É um testemunho do fato de que hoje uma frase ou imagem pode significar qualquer coisa que você quiser, desde que você tenha seguidores suficientes, disseminadores, tempo no ar, atenção — e a capacidade de coordená-los. Se você reunir esses elementos, pode literalmente rotular coisas reais como falsas. Repita uma mentira e você “fabricará” a realidade para uma parte da população.

Como resultado, muitas das fake news acabam se tornando direta, ou indiretamente

disseminadoras de ódio por parte daqueles que aproveitam o anonimato das telas para

compartilhar suas opiniões polêmicas na forma de notícia. Uma publicação é compartilhada em

massa, mas seus danos são objetivamente pessoais contra as vítimas atingidas e podem trazer

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inúmeros prejuízos à honra e dignidade do indivíduo ou grupo. (SILVA; DAYWERTH, 2019,

p. 103). O alcance praticamente ilimitado da internet, e a possibilidade quase nula de impedir a

circulação de uma fake news intensifica ainda mais esse dano causado à pessoa ou grupo e as

consequências desse descontrole, muitas vezes, irreversível.

4.6.2 A estigmatização do presidiário e a decorrente reprovabilidade social do auxílio-

reclusão

Segundo o dicionário Michaelis (2021, p. 1), a palavra “estigmatizar” significa: “1

Marcar com estigma. 2 Assinalar com cicatrizes ou manchas indeléveis, em geral de forma

negativa (o corpo, a honra, a reputação etc.). 3 Acusar de ação infame. 4 Emitir um julgamento

ou parecer desonroso e irrevogável a respeito de algo ou de alguém.”

Lopes (2019, p. 90) explica o conceito de estigma:

O conceito de estigma dialoga com o conceito de rótulo. O rótulo advém de um processo de rotulação social, ligada a uma reação socialmente construída, um tipo de estereótipo, como ponderou-se anteriormente; estigma, assim como o rótulo, também é uma marca. Contudo, ele pode demarcar características que vão além dessa reação, é algo mais profundo, como uma cicatriz.

Já o autor Erving Goffman (2004, p. 5), aponta a origem do termo:

Os gregos, que tinham bastante conhecimento de recursos visuais, criaram o termo estigma para se referirem a sinais corporais com os quais se procurava evidenciar alguma coisa de extraordinário ou mau sobre o status moral de quem os apresentava. Os sinais eram feitos com cortes ou. fogo no corpo e avisavam que o portador era um escravo, um criminoso ou traidor uma pessoa marcada, ritualmente poluída, que devia ser evitada; especialmente em lugares públicos.

No Brasil, denota-se de forma extensiva que a população carcerária é

reiteradamente atingida pelo estigma social que recai sobre os presidiário. Ademais, nos dias

de hoje, observa-se a existência de um sentimento de ódio explícito em relação àqueles que de

alguma forma infringiram as normas legais.

Como consequência disso, tudo que porventura venha a possuir qualquer relação

com essa classe de pessoas é automaticamente repudiado pela sociedade.

À exemplo, Schilling e Miyashiro (2008, p. 248) identificam que “o estigma que

pressupomos cercar os presidiários se estende para além do indivíduo encarcerado, passando

para as pessoas que se relacionam diretamente com eles, seus familiares ou amigos, o que

permite à sociedade considerá-los uma só pessoa.”

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Além de atingir o preso e aqueles que com ele se relacionem, conforme antes

observado, o estigma para com a condição de presidiário também incide no momento deste vir

a fruir do auxílio-reclusão.

“Comumente, vários atores sociais o denominam de “bolsa-bandido”, “vale-

ladrão”, “auxílio-bandidagem”, entre outras denominações pejorativas.” (ALCÂNTARA;

AGOSTINHO, 2020, p. 102).

Embora seja acessível a informação de que o auxílio-reclusão não é um benefício

simples de se auferir, parcela considerável da população ignora a verdade por trás da concessão

do auxílio e busca ver somente aquilo que é compatível com suas ideias estereotipadas. Perante

o exposto, Hurtado et al (2020, p. 31) defende que:

A falta de informação por grande parte da população, todavia, abre cada vez mais espaço para ideias preconceituosas a respeito do tema. Pode-se assegurar que o benefício não tem o intuito de incentivar a prática de crimes, pois seu principal objetivo é amparar os dependentes, o qual é dever do Estado e da sociedade.

Ressalta-se que, todo o conteúdo que origina essas ideias falsas e deturpadas, são

quase sempre baseados em fake news, “e esse é o grande perigo das fake news: a veracidade

dos fatos não precisa ser provada, apenas afirmada. Não há espaço para provas; uma vez jogada

na rede, a notícia falsa é tão disseminada como se verídica fosse, e a tentativa de desmenti-la

se torna quase inútil. (TEIXEIRA et al, 2019, p. 5).

Nessa mesma linha, Silva (2019, p. 2020) argumenta:

Deste modo, as pessoas podem ser estigmatizadas antes mesmo de ter uma chance de mostra quem realmente são, dessa forma as famílias dos encareceres são julgadas pelos atributos que terceiros designam a elas. Consequentemente, essas ideias pré-construidas, geralmente, são pejorativas o que influência diretamente na maneira que essas pessoas são enxergadas e posicionadas em sociedade, dificultando ainda mais suas vidas.

“Cabe ressaltar, de que o pagamento do auxílio tem como objetivo possibilitar a

sobrevivência da família, na ausência do segurado, garantindo dessa maneira o mínimo de

dignidade.” (CHRIST, 2019, p. 20).

Ademais, Campos (2019, p. 10) externa sua preocupação a esse respeito:

O auxílio reclusão é uma prestação previdenciária de fundamental importância nas relações sociais, pois sua concessão faz com que se evite um caos tanto para a família do segurado quanto para o País, pois se suprimido esse importante benefício, muitos dependentes teriam que partir, seja de qual forma for, legal ou ilegal, para trazer o que comer, e sabemos que a hipótese mais provável é, infelizmente, o aumento da criminalidade pelo fato da genitora ter que trabalhar e os menores ficarem sem a devida base educacional, ficando à mercê do mundo.

Considerando todo o exposto ao longo dos tópicos, fica claro que é infundada a

concepção de que o auxílio-reclusão deva ser estigmatizado ou extinto por tratar-se de um

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benefício “injusto” ou “indevido”, tendo em vista que, todas as disposições que ditam a

aplicação do auxílio decorrem da própria lei, a mesma lei que determina de forma clara, no art.

3, III, da CRFB/88, possuir o objetivo de “erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as

desigualdades sociais e regionais.”

Portanto, resta acreditar que o poder da informação genuína, comprometida com os

fatos e as verdades, em algum momento acabe por descredibilizar as falácias que correm acerca

do auxílio-reclusão, e, desejar que este benefício possa perdurar e garantir a proteção das

famílias de todos os segurado reclusos que possuam o direto ao benefício definido por lei.

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5 CONCLUSÃO

O presente trabalho objetivou a análise dos principais aspectos jurídicos do

benefício previdenciário denominado auxílio-reclusão, previsto constitucionalmente no art.

201, IV, da CRFB/88, bem como, buscou identificar qual o papel e a relevância do auxílio

dentro do sistema de seguridade social brasileiro e onde situa-se em meio a ordem

previdenciária.

Para isso, iniciou-se abordando acerca da seguridade social no Brasil, a qual pôde-

se compreender, com base no art. 194 da CRFB/88, como sendo um “conjunto integrado de

ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos

relativos à saúde, à previdência e à assistência social.” (BRASIL, CRFB, 2021).

Além disso, foram explanadas as especificidades a respeito da conceituação do

sistema, e apontados os princípios que regem a seguridade social no ordenamento jurídico

brasileiro. Por fim, versou-se a respeito das políticas públicas e instituição pelas quais a

seguridade social se materializa, a saber: a saúde, a assistência social e a Previdência Social.

O enfoque seguinte passou a ser no desdobramento da seguridade social, intitulado

Previdência Social. Fora levantadas informações sobre o conceito da instituição, sua origem no

Brasil, passando pelas épocas até a atualidade. Também, procurou-se discorrer quanto aos

princípios constitucionais que guiam as normas da Previdência Social. Em conclusão ao tema,

foram destacados os regimes previdenciários atualmente existentes e em curso no Brasil.

Após abordar as particularidade da Previdência Social brasileira, meio no qual o

auxílio-reclusão está inserido, efetivamente se passou a análise dos aspectos referentes ao

benefício.

Inicialmente, a fim de contextualizar o auxílio-reclusão, discorreu-se acerca dos

fatores que levaram ao seu surgimento, assim como, a sua evolução e as transformações consigo

ocorridas ao longo da história brasileira. A previsão constitucional e legal do benefício, os

requisitos que obrigatoriamente devem ser preenchidos para aquisição dele e outros aspectos

práticos concernentes, também foram esclarecidos neste trabalho.

Para além dos aspectos jurídicos do auxílio-reclusão, aspectos humanos foram

discutidos, como por exemplo, a estigmatização que os presidiários sofrem em decorrência da

sua condição de reclusão, que também afeta suas famílias por conta dos laços.

Procurou-se diagnosticar a origem do repudio ao auxílio-reclusão e a relação entre

o ódio dirigido a esta classe e o ódio dirigido ao benefício previdenciário. Assim como, os meios

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utilizados pela população para descredibilizar a existência de um auxílio supostamente devido

a criminosos.

Isto posto, pode-se concluir após todas as análises que, o auxílio-reclusão é um

benefício previdenciário legítimo, cuja fundamentação é legal e totalmente válida, e que

responde a finalidade perante a qual foi instituído, que se traduz na proteção dos dependentes

dos segurados reclusos, que por seus motivos não se encontram mais em liberdade e não podem

mais vigiar pelos seus.

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