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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA
THALES CARNEIRO MAURÍCIO
LESÃO CORPORAL, VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO E ABUSO DE AUTORIDADE
COMETIDA POR POLICIAIS MILITARES NO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO: ANÁLISE
DE CASOS OCORRIDOS EM LAGUNA-SC NO PERÍODO DE JANEIRO DE 2014
A AGOSTO DE 2018
Tubarão
2018
THALES CARNEIRO MAURÍCIO
LESÃO CORPORAL, VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO E ABUSO DE AUTORIDADE
COMETIDA POR POLICIAIS MILITARES NO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO: ANÁLISE
DE CASOS OCORRIDOS EM LAGUNA-SC NO PERÍODO DE JANEIRO DE 2014
A AGOSTO DE 2018
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.
Orientador: Prof. Silvio Roberto Lisbôa, Esp.
Tubarão
2018
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por me conceder saúde e disposição para enfrentar
meus objetivos dia a dia. Sem a permissão Dele nada seria possível.
Aos meus pais pelo amor, apoio e afeto concedido a mim por todos esses
anos.
Aos meus amigos e colegas do 28º Batalhão de Polícia Militar de Laguna
que diuturnamente, mesmo com o risco da própria vida, protegem a mim, a minha
família e toda sociedade.
Aos policiais militares que dedicaram seu tempo e realizaram inúmeras
trocas de serviço, me permitindo realizar esse curso de maneira assídua.
Aos funcionários da Vara Criminal da Comarca de Laguna/SC pelo
profissionalismo, atenção e carinho no auxílio dessa pesquisa.
A minha namorada, pela atenção, amor, comprometimento, compreensão
e pelas palavras de carinho e sabedoria nos momentos difíceis.
Aos colegas e amigos que fiz durante o curso. Sem vocês essa
caminhada seria muito mais difícil.
A todos os professores da Unisul pela sabedoria e conhecimento
repassado.
Ao meu orientador, Tenente Coronel PM Silvio Roberto Lisbôa, pelo
comprometimento e atenção durante a realização desse trabalho, sempre disposto a
ajudar. Ao senhor o meu reconhecimento e gratidão.
“Há coisas tão preciosas, tão verdadeiras, que por elas vale a pena morrer. Se um
homem não encontrou as coisas pelas quais está disposto a morrer, ele não está
apto a viver”. (Martin Luther King Jr.)
RESUMO
Este trabalho teve como objetivo analisar denúncias referentes a abuso de
autoridade, lesão corporal e violação de domicílio praticadas por policiais militares no
exercício da função. Para tanto, foram analisados todos os casos ocorridos na
cidade de Laguna/SC, através de consulta aos procedimentos realizados na
Corregedoria do 28º Batalhão de Polícia Militar de Laguna, além dos casos
processados na Vara Criminal do Fórum da mesma comarca. O método científico
utilizado nessa pesquisa foi o dedutivo. Quanto ao nível trata-se de uma pesquisa
exploratória. A abordagem utilizada foi a quantitativa, enquanto o procedimento foi o
documental e bibliográfico. Foram analisadas todas as denúncias realizadas na
Comarca de Laguna/SC durante o período de janeiro de 2014 a agosto de 2018,
sendo tabulados dados quanto às denúncias, aos denunciantes e aos policiais
militares denunciados. Traçou-se o perfil do denunciante, apresentando-se como do
sexo masculino, com ensino fundamental incompleto, sem atividade laboral e com
registros policiais. Também foi constatado o perfil dos denunciados, sendo sua
maioria composta por policiais militares com idade entre 24 a 35 anos, com até 5
anos de efetivo serviço na instituição e sem registros de punições. Por fim,
observou-se que a denúncias mais recorrentes foram registradas na Delegacia de
Polícia Civil, em virtude do crime de abuso de autoridade em razão de lesão
corporal, ocorridas no Bairro Mar Grosso. Das 23 denúncias registradas, 21 estão
arquivadas e não houve nenhum policial militar punido.
Palavras-chave: Abuso de autoridade. Policiais militares. Direito militar.
ABSTRACT
This study aimed to analyze allegations of abuse of authority, bodily injury and
violation of domicile practiced by military police officers in the exercise of their
function. For that, all the cases occurred in the city of Laguna / SC, through
consultation with the procedures performed in the Registry of the 28th Military Police
Battalion of Laguna, in addition to the cases processed in the Criminal Court of the
Forum of the same region. The scientific method used in this research was the
deductive. As for the level, this is an exploratory research. The approach used was
quantitative, while the procedure was the documentary and bibliographic. All the
complaints made in the Laguna Region of SC were analyzed during the period from
January 2014 to August 2018, with data on the complaint, the denouncers and the
military police reported. The profile of the complainant was presented, presenting
himself as male, with incomplete elementary education, without work activity and with
police records. The profile of the accused was also verified, most of them consisting
of military police officers aged between 24 and 35 years, with up to 5 years of
effective service in the institution and without punishment records. Finally, it was
observed that the most recurrent complaints were registered in the Police Station of
the Civil Police, due to the crime of abuse of authority due to bodily injury, occurred in
the Mar Grosso Neighborhood. Of the 23 complaints filed, 21 are already filed and no
military police have been punished.
Keywords: Abuse of authority. Military police. Military law.
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Locais em que as denúncias foram registradas. ..................................... 50
Gráfico 2 – Fatos denunciados pelas vítimas. .......................................................... 51
Gráfico 3 – Período de realização das denúncias. ................................................... 52
Gráfico 4 – Locais dos fatos das denúncias registradas. .......................................... 53
Gráfico 5 - Procedimentos instaurados pela Corregedoria do 28º BPM em razão das
denúncias. ............................................................................................................... 54
Gráfico 6 – Faixa etária dos denunciantes. .............................................................. 55
Gráfico 7 – Sexo dos denunciantes. ......................................................................... 56
Gráfico 8 – Profissão dos denunciantes. .................................................................. 57
Gráfico 9 – Nível de escolaridade dos denunciantes. ............................................... 58
Gráfico 10 - Histórico criminal dos denunciantes. ..................................................... 59
Gráfico 11 – Tipificação criminal entre os denunciantes com informações penais. .. 60
Gráfico 12 – Idade dos Policiais Militares à época dos fatos. ................................... 61
Gráfico 13 – Tempo de serviço dos Policiais Militares à época dos fatos. ................ 62
Gráfico 14 – Histórico de punições dos Policiais Militares denunciados. .................. 64
Gráfico 15 – Desfecho das denúncias. ..................................................................... 65
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 12
1.1 DESCRIÇÃO E FORMULAÇÃO DO PROBLEMA .................................................. 12
1.2 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................ 13
1.3 OBJETIVOS ................................................................................................................... 14
1.3.1 Geral ............................................................................................................................. 14
1.3.2 Específicos ................................................................................................................. 14
1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................................................. 15
1.4.1 Método ......................................................................................................................... 15
1.4.2 Tipo de pesquisa ...................................................................................................... 15
1.5 ESTRUTURA DOS CAPÍTULOS ................................................................................ 16
2 A LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE ......................................................................... 18
2.1 CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E OS DIREITOS E GARANTIAS
INDIVIDUAIS .......................................................................................................................... 18
2.2 LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE – LEI 4.898/65 ................................................. 20
2.2.1 Objetivos da Lei 4.898/65 ....................................................................................... 21
2.2.2 Bem Jurídico.............................................................................................................. 21
2.2.3 DIREITO DE REPRESENTAÇÃO ........................................................................... 21
2.2.3.1 Representacao formulada perante o Ministerio Publico: condicao objetiva de
procedibilidade? ..................................................................................................................... 22
2.2.3.2 Requisitos da Representação ................................................................................ 23
2.3 DOS CRIMES EM ESPÉCIE ....................................................................................... 24
2.3.1 SUJEITO ATIVO ........................................................................................................ 24
2.3.2 SUJEITO PASSIVO ................................................................................................... 25
2.3.3 Elemento Subjetivo .................................................................................................. 26
2.3.4 Da conduta (ação e omissão)................................................................................ 26
2.3.5 Tentativa e consumação ........................................................................................ 27
2.4 DA INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO .................................................................... 28
2.5 DA INCOLUMIDADE FÍSICA DO INDIVÍDUO ......................................................... 29
3 JUSTIÇA MILITAR BRASILEIRA ................................................................................ 31
3.1 CONCEITO DE CRIME ................................................................................................ 31
3.1.1 Fato Típico.................................................................................................................. 32
3.1.1.1 Da conduta ................................................................................................................ 32
3.1.1.2 Do Resultado ............................................................................................................ 34
3.1.1.3 Do nexo de causalidade ......................................................................................... 35
3.1.1.4 Da tipicidade ............................................................................................................. 35
3.1.2 Da antijuridicidade ................................................................................................... 35
3.1.3 Da culpabilidade ....................................................................................................... 39
3.2 BREVE HISTÓRICO DA JUSTIÇA MILITAR ........................................................... 41
3.3 CONCEITO DE CRIME MILITAR ............................................................................... 42
3.4 DA JUSTIÇA MILITAR FEDERAL .............................................................................. 44
3.5 DA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL ........................................................................... 45
3.6 DA LEI 13.491/17 E AS ALTERAÇÕES NO ARTIGO 9º DO CÓDIGO PENAL
MILITAR .................................................................................................................................. 46
4 PESQUISA SOBRE ABUSO DE AUTORIDADE, LESÃO CORPORAL E
VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO EM LAGUNA-SC ................................................................ 48
4.1 METODOLOGIA ............................................................................................................ 48
4.2 ANÁLISE DOS DADOS ................................................................................................ 49
4.2.1 Da denúncia ............................................................................................................... 49
4.2.1.1 Do local da denúncia ............................................................................................... 49
4.2.1.2 Do fato denunciado ................................................................................................. 51
4.2.1.3 Da data do fato ......................................................................................................... 52
4.2.1.4 Do local do fato ........................................................................................................ 53
4.2.1.5 Da instauração de procedimento pela Polícia Militar ......................................... 54
4.2.2 Do denunciante ......................................................................................................... 55
4.2.2.1 Idade .......................................................................................................................... 55
4.2.2.2 Sexo ........................................................................................................................... 56
4.2.2.3 Profissão ................................................................................................................... 56
4.2.2.4 Escolaridade ............................................................................................................. 57
4.2.2.5 Histórico Criminal ..................................................................................................... 58
4.2.3 Dos denunciados...................................................................................................... 60
4.2.3.1 Da idade dos denunciados ..................................................................................... 60
4.2.3.2 Do tempo de serviço ............................................................................................... 61
4.2.3.3 Do histórico de punições dos denunciados ......................................................... 63
4.2.4 Do resultado da denúncia ...................................................................................... 65
5 CONCLUSÃO................................................................................................................... 66
REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 68
12
1 INTRODUÇÃO
Neste capítulo introdutório, apresenta-se o tema de estudo, a descrição e
formulação do problema, a justificativa, os objetivos gerais e específicos, os
procedimentos metodológicos utilizados na elaboração da pesquisa, bem como a
estruturação de cada capítulo do presente trabalho.
1.1 DESCRIÇÃO E FORMULAÇÃO DO PROBLEMA
O presente trabalho tem como objetivo a análise de casos de abuso de
autoridade, lesão corporal e violação de domicílio ocorridos em Laguna –SC,
praticados por policiais militares, no exercício da função, entre janeiro de 2014 a
agosto de 2018.
De acordo com Albuquerque (2017) a Ouvidoria da Polícia do Estado de
São Paulo divulgou que foram realizadas quinhentas e quarenta e duas denúncias
em razão de abuso de autoridade, praticado por policiais civis e militares, por
decorrência de lesão corporal, e outras cento e trinta e duas denúncias por abuso
cometido por policiais, em razão de violação de domicílio.
Afirma Thomé (2017) que Santa Catarina é o segundo estado com maior
índice de abuso de autoridade praticado durante a prisão do criminoso, ficando atrás
apenas do Amazonas, com 38%. Afirma ainda o autor, que para a desembargadora
Cinthia Schaefer, coordenadora do Grupo de Monitoramento e Fiscalização do
Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) esse índice é preocupante, mas ela
ressalta que é preciso analisar os dados e verificar sua veracidade.
Segundo informações dos Tribunais de Justiça ao Conselho Nacional de
Justiça, durante as audiências de custódia realizadas na capital de Santa Catarina,
um em cada quatro presos relata que já sofreu violência desmotivada praticada por
agentes de segurança pública, entre eles a Polícia Militar, Polícia Civil,
Departamento de Administração Prisional e Guarda Municipal (THOMÉ, 2017).
A Lei de abuso de autoridade (Lei nº 4.898, de 9 de dezembro de 1965)
disciplina in verbis: “Art. 1º. O direito de representacao e o processo de
responsabilidade administrativa civil e penal, contra as autoridades que, no exercício
de suas funcões, cometerem abusos, sao regulados pela presente lei”. (BRASIL,
1965).
13
Segundo Capez (2017) a Lei de Abuso de Autoridade (BRASIL, 1965) foi
criada no período da ditadura militar, tempo em que predominava um regime rígido e
autoritário, sendo essa lei criada com um objetivo simbólico, promocional e
demagógico, já que prometia apurar as condutas dos agentes públicos com rigor e
celeridade, mas na verdade acabava culminando em penas ínfimas e muitas vezes o
processo sequer era julgado, em razão da prescrição.
De acordo com Capez (2017) a Lei de Abuso de Autoridade (BRASIL,
1965) contem somente crimes proprios, ou seja, só pode ser cometido por agentes
específicos, uma vez que apenas podem ser praticados por autoridade. Disciplina a
Carta Magna in verbis: “Art. 5º. Considera-se autoridade, para os efeitos desta lei,
quem exerce cargo, emprego ou função pública, de natureza civil, ou militar, ainda
que transitoriamente e sem remuneracao”. (BRASIL, 1988).
O autor dessa pesquisa entende que o serviço policial militar é de extrema
importância, garantindo a preservação da ordem pública e no caso de sua quebra, a
restauração. Essas ações devem ser realizadas de forma que seja assegurada a
dignidade da pessoa humana, sendo pautada pelos critérios estabelecidos em lei e
garantido as necessidades e asseios da sociedade.
O objetivo dessa pesquisa é conhecer e analisar casos de abuso de
autoridade, lesão corporal e violação de domicílio, praticados por policias militares
no exercício de suas funções, ocorridos na cidade de Laguna –SC entre janeiro de
2014 a agosto de 2018. Para isso, serão analisados processos no Fórum da
Comarca de Laguna, para constatar quantas denúncias foram realizadas contra
policiais militares em razão dos crimes objetos desse trabalho.
Da mesma forma, buscam-se na Corregedoria do 28º Batalhão de Polícia
Militar, entre sindicâncias e Inquéritos Policiais Militares, quais as denúncias
realizadas em razão desses crimes.
Por fim, será analisada a motivação das denúncias, o ambiente em que
ocorreram, as características dos denunciantes e dos policiais militares denunciados,
além dos resultados dos procedimentos.
1.2 JUSTIFICATIVA
O presente estudo é necessário para se ter um melhor entendimento do
serviço policial militar prestado na cidade de Laguna/SC, observando se os policiais,
14
no atendimento de ocorrências e atuação no policiamento preventivo ostensivo,
atuam de forma a respeitarem a integridade física, propriedade e dignidade da
população em geral.
O policial militar, como agente público, tem o papel de garantir a ordem, a
lei e o devido acatamento das disposições legais à sociedade, além de ter uma
postura e comportamento que façam jus à sua função.
Ocorre que, o policial militar não é o único sujeito envolvido nas
denúncias. Desta forma, esta pesquisa também se justifica para fins de conhecer o
perfil dos denunciantes e as características das denúncias.
1.3 OBJETIVOS
1.3.1 Geral
Analisar as denúncias por abuso de autoridade, lesão corporal e violação
de domicílio, praticados por policiais militares, no exercício da função, cometidos em
Laguna/SC no período de janeiro de 2014 a agosto de 2018.
1.3.2 Específicos
Discorrer sobre a Lei de Abuso de Autoridade e os crimes de violação de
domicílio e lesão corporal, conceituando-os e analisando os elementos que
envolvem os crimes praticados.
Apresentar um breve histórico da Justiça Militar brasileira, abordando os
principais aspectos da Justiça Militar Federal e Estadual.
Conceituar crime comum e crime militar e apontar as mudanças trazidas
pela Lei 13.491/17 (BRASIL, 2017) e seus reflexos na competência da Justiça
Militar.
Expor os dados da pesquisa realizada na Corregedoria do 28º Batalhão
de Polícia Militar de Laguna/SC e na Vara Criminal da Comarca de Laguna/SC, após
análise das denúncias realizadas em razão da atividade policial militar na suposta
prática dos crimes de abuso de autoridade, lesão corporal e violação de domicílio.
Analisar, em relação à pesquisa, os dados mais relevantes referentes às
denúncias, aos denunciantes e aos policiais militares denunciados.
15
Identificar o desfecho das denúncias e as consequências dos
procedimentos instaurados.
1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
No desenvolvimento deste trabalho se faz necessário discorrer sobre o
método utilizado na sua elaboração, assim como o tipo de pesquisa em relação à
abordagem, nível e o procedimento realizado para a sua realização.
1.4.1 Método
Segundo Cervo e Bervian (1983, p. 23) “metodo e a ordem que se deve
impor aos diferentes processos necessários para atingir um fim dado ou um
resultado desejado”. Pode-se entender que método é o conjunto de processos que
viabilizam a conclusão de determinado resultado.
Nos ensina Bittar (2007, p. 10) que método é o caminho a ser traçado e
percorrido:
Método indica que sua função é instrumental, ligando dois pólos, a saber, um pólo de origem ou ponto de partida (estado de ignorância), outro pólo de destinação ou ponto de chegada (estado de conhecimento). Entenda-se que o processo detido de reflexão, o processo de manipulação aprimorada de conhecimento, enfim, o processo de construção do saber, consiste exatamente nisso, ou seja, no abandono do estado de ignorância e na aproximação do estado de conhecimento. Nesse ínterim se percorre um espaço, a que se convencionar chamar caminho, e, para ciência, essa mediação entre os dois pólos é feita com base no método.
O método científico utilizado nesta monografia foi o dedutivo. A pesquisa
teve como objetivo verificar objetivamente as informações contidas nas denúncias e
procedimentos instaurados contra policiais militares na Comarca de Laguna/SC, a
fim de verificar a prática, ou não, de crimes de abuso de autoridade, lesão corporal e
violação de domicílio.
1.4.2 Tipo de pesquisa
Quanto ao nível da presente pesquisa será utilizado o método
exploratório, em razão de ser uma tabulação de dados ainda não conhecidos. Não
16
se sabe até o momento a quantidade, os envolvidos e as formas como se deram os
casos denunciados de abuso de autoridade praticados por policiais militares na
cidade de Laguna/SC, entre os anos de 2014 a agosto de 2018.
Quanto à abordagem será desenvolvida uma pesquisa quantitativa, pois
considera todos os casos ocorridos no período determinado e não a qualificação de
casos isolados.
Esse tipo de pesquisa é um método que através da coleta de
informações, utilizando-se de técnicas de estatísticas, demonstra o percentual,
média e vários outros índices que possibilitam ao pesquisador buscar a verdade real
sobre os fatos. (MICHEL, 2005)
Quanto ao procedimento será adotado tanto o método bibliográfico, em
razão da utilização de doutrinas para dar embasamento ao estudo, quanto
documental, pois serão verificadas todas as sindicâncias e inquéritos policiais
militares da Corregedoria do 28º Batalhão de Polícia Militar de Santa Catarina,
quanto os processos que transitaram no Juizado Especial Criminal e Vara Criminal
da Comarca de Laguna, que versam sobre abuso de autoridade, lesão corporal e
violação de domicílio praticada por policiais militares.
Em relação ao método bibliográfico, nos ensina Leonel e Motta (2007, p.
112): “e aquela que se desenvolve tentando explicar um problema a partir das
teorias publicadas em diversos tipos de fontes: livros, artigos, manuais,
enciclopedias, anais, meios eletrônicos, etc”.
Por fim, o método documental será abordado nessa pesquisa, em razão
da busca da verdade real na observância de documentos no Fórum da Comarca de
Laguna – SC e na Corregedoria do 28º Batalhão de Polícia Militar que tratem de
abuso de autoridade, violação de domicílio e lesão corporal praticadas no exercício
da atividade policial militar.
Pimentel (2001, p. 179), define metodo documental como “instrumentos e
meios de realização da análise de conteúdo, apontando o percurso em que as
decisões foram tomadas quanto às técnicas de manuseio de documentos: desde a
organizacao e classificacao do material ate a elaboracao das categorias de análise”.
1.5 ESTRUTURA DOS CAPÍTULOS
O presente trabalho foi estruturado em cinco capítulos.
17
O primeiro capítulo traduz-se na introdução ao tema, onde se apresentará
a justificativa do tema e sua problematização, bem como os objetivos gerais e
específicos do trabalho e os procedimentos metodológicos utilizados no decorrer da
pesquisa.
No segundo capítulo será apresentado um estudo sobre as duas
principais condutas que resultam no crime de abuso de autoridade, quais sejam a
lesão corporal e invasão de domicílio. Serão apresentados os conceitos dos objetos
de estudo, sua definição legal, relação com o abuso de autoridade e as
circunstâncias em que são cometidas as condutas.
Já o terceiro capítulo traz um breve histórico da Justiça Militar Brasileira,
abordando aspectos da Justiça Militar Federal e Estadual. Abordam-se os conceitos
de crime comum e crime militar e as inovações trazidas pelas mudanças no Art. 9º
Código Penal Militar e seus reflexos na competência da Justiça Militar.
No quarto capítulo será apresentada a pesquisa de forma detalhada, com
a análise dos dados colhidos e os resultados obtidos.
No quinto capítulo têm-se as conclusões do trabalho que detalham todas
as denúncias em relação à possível cometimento dos crimes de abuso de
autoridade, lesão corporal e violação de domicílio por policiais militares da Comarca
de Laguna/SC, ocorridos entre janeiro de 2014 a agosto de 2018.
18
2 A LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE
A realização dessa pesquisa visa conhecer o número de ocorrências e
abordagens praticadas por policiais militares na cidade de Laguna/SC, em que os
direitos e garantias fundamentais, quanto à integridade física e incolumidade do lar
dos abordados, não foram respeitados.
Os direitos fundamentais da pessoa humana são situações jurídicas,
definidas em lei, de maneira objetiva ou subjetiva, visando a integridade, a saúde e o
respeito a dignidade da pessoa humana. São direitos constitucionais, uma vez que a
Carta Magna os constituiu como cláusula pétrea, demonstrando a importância que o
poder constituinte definiu a esse instituto, definindo os direitos e garantias
fundamentais como princípio da soberania popular. (DA SILVA, 2014)
Os crimes praticados com abuso de autoridade são aqueles cometidos
durante o exercício da atividade profissional ou em razão dela. No caso de um
policial militar praticar uma das condutas trazidas pela Lei 4.898/65 estando em seu
período de folga será considerado outro delito e não aqueles trazido pela Lei de
Abuso de Autoridade. (CASTELO BRANCO, 2014).
2.1 CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E OS DIREITOS E GARANTIAS
INDIVIDUAIS
A Constituição Federal de 1988 assegurou uma série de direitos aos
residentes no país. Tutelou de forma quase absoluta os direitos e garantias
fundamentais, que estão elencados no artigo 5º da Carta Magna (BRASIL, 1988).
Esse artigo protege, entre outros direitos, o direito a incolumidade física e o direito à
inviolabilidade do domicílio.
Nesse mesmo sentido, ensina Capez (2017, p.22):
O art. 5º destina‐se principalmente as pessoas fisicas, mas as pessoas juridicas tambem sao beneficiárias de muitos dos direitos e garantias ali elencados, tais como o principio da isonomia, o principio da legalidade, o direito de resposta, o direito de propriedade, o sigilo de correspondencia, a garantia de protecao ao direito adquirido, ao ato juridico perfeito e a coisa julgada e o direito de impetrar mandado de seguranca.
Ainda sobre a Carta Magna, em especial aos direitos e garantias
fundamentais, ela traz no artigo 5º, XI (BRASIL, 1988): “a casa é asilo inviolável do
19
indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em
caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por
determinação judicial”. No mesmo artigo em comento, traz no inciso XLIX (BRASIL,
1988): “e assegurado aos presos o respeito a integridade fisica e moral”.
Neste ínterim, discorre Capez (2017, p.22):
A explanacao acerca dos direitos e garantias fundamentais e de suma importancia para o presente estudo, na medida em que a Lei de Abuso de Autoridade tipifica como crimes condutas praticadas por agentes publicos que afrontam direitos e garantias fundamentais do cidadao, assegurados constitucionalmente. Referido diploma legal, convem notar, busca tutelar, principalmente, os direitos fundamentais de primeira geracao.
Percebe-se que o texto da Constituição Federal (BRASIL, 1988) deu
especial atenção aos direitos e garantias fundamentais, dispondo-os como cláusulas
pétreas, tamanha a sua importância.
Os crimes previstos na Lei 4.898/65 (BRASIL, 1965), norma que regula o
Abuso de Autoridade por parte de servidores públicos, em especial nesta pesquisa,
as condutas praticadas por Policiais Militares do Estado de Santa Catarina, ferem os
direitos fundamentais de primeira geração.
A primeira dimensão de direitos humanos são aqueles direitos ligados as
liberdades individuais. São os direitos civis e políticos que o Estado deve,
respeitando a individualidade do cidadão, deixar de exercer influência direta sobre
ela. Os direitos que a Lei de Abuso de Autoridade visa proteger estão elencados
nessa dimensão (NOVELINO, 2014, p.323).
De acordo com Novelino (2014, p. 324) a segunda dimensão de direitos
humanos é aquela que garante os direitos sociais, econômicos e culturais. Ao
contrário da primeira dimensão, são direitos coletivos e que necessitam de influência
do Estado. A terceira dimensão abrange a fraternidade e solidaderiedade, o meio
ambiente, o direito de comunicação e o patrimônio comum da sociedade. A quarta
geração defende o direito à democracia, à pluralidade política e à informação. A paz
destaca-se como o direito de quinta dimensão. Em nosso ordenamento jurídico está
positivada na Constituição Federal (BRASIL, 1988) em seu artigo 4º, VI:
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações
internacionais pelos seguintes princípios:
[...]
20
VI - defesa da paz.
A paz é princípio básico de toda democracia e indispensável para a
convivência humana. Está positivada em diversos ordenamentos jurídicos e é
elemento essencial para a regência do direito internacional público e privado
(NOVELINO, 2014, p.324).
2.2 LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE – LEI 4.898/65
A Lei nº 4.898 (BRASIL, 1965), popularmente chamada de “lei de abuso
de autoridade”, foi criada logo apos o inicio do regime militar no Brasil, que durou
entre os anos de 1964 a 1985. Esta lei regula o direito de representação e a
responsabilização administrativa, penal e civil nos casos de abuso de autoridade
praticado por servidores públicos no exercício de suas funções.
Neste sentido, ensina Capez (2017, p. 25):
A Lei de Abuso de Autoridade foi criada em um periodo autoritário, com intuito meramente simbolico, promocional e demagogico. A despeito de pretensamente incriminar os chamados abusos de poder e de ter previsto um procedimento celere, na verdade cominou penas insignificantes, passiveis de substituicao por multa e facilmente alcancáveis pela prescricao. De qualquer modo, a finalidade da Lei n. 4.898/65 e prevenir os abusos praticados pelas autoridades, no exercicio de suas funcões, ao mesmo tempo em que, por meio de sancões de natureza administrativa, civil e penal, estabelece a necessária reprimenda.
Observa-se uma disparidade no sentido terminológico entre a lei em
estudo e o Código Penal. As condutas previstas no Código Penal quando referentes
aos abusos praticados por servidores públicos são tratadas como “abuso de poder”,
utilizando a expressao “abuso de autoridade” nas relacões privadas, como o abuso
provocado por um patrão ao funcionário ou de um professor a seu aluno
(BALTAZAR JÚNIOR, GONÇALVES e LENZA, 2016, p. 395).
Em consonância com o descrito, tem-se no artigo 61, inciso II, alinea “f” e
“g” do Código Penal (BRASIL, 1940) que disciplina in verbis:
Art. 61 [...] f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou com violência contra a mulher na forma da lei específica; g) com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício, ministério ou profissão.
21
Com a democracia, o poder estatal deixou de ser ilimitado e absoluto,
sendo balizado pelos direitos e garantias fundamentais, os quais, nossa Constiutição
dá enorme atenção. Desta forma, qualquer representante do Estado que atente
contra os direitos fundamentais da pessoa humana, estará incorrendo no crime de
abuso de autoridade (CAPEZ, 2017, p. 23).
2.2.1 Objetivos da Lei 4.898/65
A Lei de abuso de autoridade foi criada para impor limites aos
representantes do Estado, limitando suas ações e abusos genéricos, ou seja,
preservar os cidadãos de ações de agentes públicos na prática de condutas não
previstas como crime no Código Penal (BRASIL, 1940) ou em leis esparsas
(BALTAZAR JÚNIOR, GONÇALVES e LENZA, 2016, p. 395).
Em razão disso, os tipos previstos na Lei 4.898/65 (BRASIL, 1965) são
bastante amplos e genéricos do ponto de vista objetivo, a fim de atuar como
subsidiários aos tipos penais mais delimitados previstos no Código Penal (BRASIL,
1940) (BALTAZAR JÚNIOR, GONÇALVES e LENZA, 2016, p. 395).
2.2.2 Bem Jurídico
Segundo Baltazar Júnior, Gonçalves e Lenza (2016, p. 395), “a Lei de
Abuso de Autoridade protege a administracao publica e a moralidade administrativa,
bem como os direitos fundamentais expressamente mencionados nos dispositivos
da lei”.
Nesse contexto, a Lei 4.898/65 trata de direitos e garantias individuais,
positivadas no artigo 5º da Carta Magna, fazendo uma ligação entre as garantias
individuais e a atuação estatal (CAPEZ, 2017, p. 22).
2.2.3 DIREITO DE REPRESENTAÇÃO
O direito de representação e a responsabilização administrativa, civil e
penal contra os agentes públicos que cometem abuso de autoridade no exercício de
22
suas funções, podem ser exercidos por qualquer pessoa (ANDREUCCI, 2017, p.
45).
O artigo 2º da Lei 4.898/65 (BRASIL, 1965) define os termos do direito de
representação:
Art. 2º O direito de representação será exercido por meio de petição: a) dirigida à autoridade superior que tiver competência legal para aplicar, à autoridade civil ou militar culpada, a respectiva sanção; b) dirigida ao órgão do Ministério Público que tiver competência para iniciar processo-crime contra a autoridade culpada. Parágrafo único. A representação será feita em duas vias e conterá a exposição do fato constitutivo do abuso de autoridade, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado e o rol de testemunhas, no máximo de três, se as houver.
Dessa forma, qualquer cidadão que se sentir constrangido por atitude
abusiva de servidor público pode exercer o direito de petição perante as autoridades
competentes para apuração do fato (JUNQUEIRA, 2010, p. 5).
2.2.3.1 Representacao formulada perante o Ministerio Publico: condicao objetiva de
procedibilidade?
A forma como o art 2º a Lei 4.898/65 está redigida leva a crer que se trata
de crime de ação penal pública condicionada a representação, ou seja, necessita de
autorização dada pelo ofendido, ou por seu representante, para que o Ministério
Público possa oferecer a denúncia (CAPEZ, 2017, p. 24).
Para dirimir qualquer dúvida, a Lei 5.249, de 9 de dezembro de 1967
(BRASIL, 1967), dispõe em seu artigo 1º: “A falta de representação do ofendido, nos
casos de abusos previstos na Lei nº 4.898, de 9 de dezembro de 1965, não obsta a
iniciativa ou o curso de ação pública.”
Desta forma, é possível concluir, que por expressa determinação legal, a
ação de abuso de autoridade é pública incondicionada (CAPEZ, 2017, p. 25).
Segundo Capez (2017, p.25):
[...] o Ministerio Publico tem o dever de apurar qualquer crime, nao se exigindo nenhum requisito para que o ofendido ou qualquer do povo lhe encaminhe a notitia criminis. Em outras palavras, com ou sem representacao, ou ainda que esta nao preencha os requisitos enumerados pela lei, o orgao do Ministerio Publico terá o dever de apurar os fatos, promovendo a competente acao penal, independentemente da vontade da vitima. Assim, a representacao de que trata a alinea b nao se constitui em
23
condicao de procedibilidade, e a nao observancia dos seus requisitos nao impedirá o ajuizamento da acao penal.
Nesse sentido, a representação da vítima não é requisito para a
instauração de procedimento para apuração de abuso de autoridade praticado por
servidor público, mas sim um veículo de informação em que a vítima utiliza para
levar a denúncia à autoridade competente ou ao Ministério Público (JUNQUEIRA,
2010, p. 4).
O direito de representação tem amparo no direito de petição, que por sua
vez, está previsto no artigo 5º, XXXIV, da Constituição Federal de 1988 (BRASIL,
1988):
XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas: a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder.
O direito de representação era previsto no art. 141, § 37 da Constituição
Federal de 1946, documento em vigor na época. Contudo, este direito não foi
recepcionado na Carta Magna de 1988 (BRASIL, 1988). Porém, foi introduzido o
direito de petição. “Assim, sem duvida alguma, a representacao do art. 2º tem
natureza juridica de direito de peticao, sendo, portanto, garantia individual.”
(JUNQUEIRA, 2010, p. 5).
Nesse sentido, pode-se entender que o direito de representação não é
requisito para a instauração de procedimento que visa apurar a conduta de
servidores públicos em relação à prática de atos abusivos, mas sim, veículo de
informação às autoridades competentes para a instauração do procedimento
(ANDREUCCI, 2017, p. 45-46).
Portanto, basta que a vítima tenha sofrido algum abuso de autoridade por
parte do servidor público para que seja apurada a responsabilidade do agente, não
sendo necessária qualquer qualidade especial da vítima ou o pagamento de taxas
(CAPEZ, 2012, p. 58-59).
2.2.3.2 Requisitos da Representação
Para representar contra autoridade que tenha agido com abuso não é
necessária capacidade postulatória, dessa forma, o próprio ofendido poderá elaborar
24
a representação e protocolizá-la no órgão competente. Exigir capacidade
postulatória seria dificultar o acesso à justiça, principalmente daqueles menos
favorecidos socialmente. Os requisitos trazidos pelo art. 2º da Lei 4.898/65 são os
mínimos exigidos para representação, não sendo necessário observar os
pressupostos da petição inicial, trazidos pelo art. 319 do Código de Processo Civil.
(JUNQUEIRA, 2010, p. 8).
Qualquer requisito exigido além daqueles elencados no art. 2º da Lei de
Abuso de Autoridade seria inconstitucional, ferindo o art. 5º, XXXIV da Carta Magna.
Não há muitos requisitos na representação, mas ela deve apresentar fundamentos
mínimos para a instauração do procedimento. Deve trazer a situação e contexto que
a prática delitiva ocorreu, a identificação do acusado, para que ele possa exercer
seu direito de defesa e outros fatos que ajudem na produção de provas do ocorrido,
como a apresentação de documentos e testemunhas (JUNQUEIRA, 2010, p. 8).
2.3 DOS CRIMES EM ESPÉCIE
Este trabalho não visa aprofundar-se em todas as condutas em espécie
trazidas pela Lei 4.898/65 (BRASIL, 1965). Os casos abordados nessa pesquisa têm
por objetivo abordar os crimes de abuso de autoridade, praticados em razão de
lesão corporal e violação de domicílio.
De acordo com a Lei 4898/65 (BRASIL, 1965):
Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado: [...] b) à inviolabilidade do domicílio; [...] i) à incolumidade física do indivíduo.
A seguir, serão apresentadas as especificidades do crime de abuso de
autoridade.
2.3.1 SUJEITO ATIVO
A própria Lei de Abuso de Autoridade define quem pode ser o sujeito
ativo, em seu artigo 5º (BRASIL, 1965): “Considera-se autoridade, para efeitos
25
desta Lei, quem exerce cargo, emprego ou funcao publica, de natureza civil ou
militar, ainda que transitoriamente e sem remuneracao”.
Os crimes previstos na Lei 4.898/65 (BRASIL, 1965) são próprios, ou seja,
o autor necessita de qualidades especiais. Neste caso, pode ser o autor do crime,
para efeitos desta lei, pessoa que exerça cargo, emprego ou função pública, tanto
de natureza civil quanto militar, mesmo de maneira transitória ou sem remuneração
(BALTAZAR JÚNIOR, GONÇALVES e LENZA, 2016, p. 397).
Dessa forma, o sujeito ativo dos crimes trazidos pela Lei 4.898/65
(BRASIL, 1965) são as pessoas físicas ocupantes de cargo, emprego ou função
pública, ainda que de maneira transitória e sem remuneração, como por exemplo, os
mesários ou as pessoas chamadas para constituírem o júri. Considera-se que o
sujeito ativo deva ser uma autoridade, isto é, alguém que tenha o poder de decisão,
de mando, que exerce influência nas pessoas em razão de um poder, uma
competência que lhe foi outorgado. (JUNQUEIRA, 2010, p.10).
Este trabalho tem como foco os policiais militares da cidade de
Laguna/SC como sujeito ativo. O policial militar é considerado autoridade, já que
ocupa cargo públicos na esfera da Administração Pública e possuem poder de
decisão e influência sobre as pessoas.
Por outro lado, uma pessoa que não exerça cargo, emprego ou função
pública também pode ser autor do crime de abuso de autoridade. Nesse caso, deve
ser praticado em co-autoria com uma autoridade e o particular deve ter
conhecimento de sua posição (CAPEZ, 2017, p. 396).
Por fim, cabe ressaltar que o policial militar, mesmo não estando no
exercício de suas funções, pode ter sua conduta qualificada na Lei de Abuso de
Autoridade caso se faça valer de sua condição pública para a prática delituosa.
(JUNQUEIRA, 2010, p.11).
2.3.2 SUJEITO PASSIVO
Pode-se valer deste instrumento a vítima de abuso de autoridade
praticado por servidor público, podendo ser pessoa física ou jurídica, maior ou menor
de idade, capaz ou incapaz, nacional ou estrangeira, por sua própria representação
ou por seu representante legal (JUNQUEIRA, 2010, p.5).
26
Os crimes de abuso de autoridade podem ter sujeito passivo direto e
indireto. Será sujeito passivo direto aquela pessoa física ou jurídica que sofrer
abuso. Já o sujeito passivo indireto será o próprio Estado, o titular da administração
pública. Exemplo: atentado de sigilo de correspondência em que o próprio Estado
seja o titular (CAPEZ, 2017, p.26).
No caso dessa pesquisa, serão sujeitos passivos as pessoas que foram
vítimas de abuso de autoridade, lesão corporal e violação de domicílio por atos
praticados por policiais militares, ocorridos na cidade de Laguna/SC, durante janeiro
de 2014 a agosto de 2018.
2.3.3 Elemento Subjetivo
Os crimes de abuso de autoridade somente podem ser praticados na
modalidade dolosa, ou seja, o servidor público, para ser enquadrado nesta lei, deve
praticar o ato com a consciência que ele exorbita suas atribuições, que extrapola
suas atribuições legais, que realiza o ato com ânimo de cometer abuso. Inexiste
punição se for praticado de maneira culposa (CAPEZ, 2017, p. 26).
Em contrapartida, se um policial militar prende uma pessoa acreditando
que aquele indivíduo esteja com mandado de prisão ativo em seu desfavor, mas na
verdade, o mandado se encontra sem validade, e mesmo assim, o policial realiza a
prisão daquele indivíduo, não será configurado crime de abuso de autoridade, já que
o policial acreditava estar realizando uma ação legítima (JUNQUEIRA, 2010, p.12)
Freitas (1995, p. 47) aduz que: “Se o funcionário agiu, ao contrário,
movido pela vontade de atingir o fim público, não incide no crime de abuso de
autoridade”.
2.3.4 Da conduta (ação e omissão)
A prática comissiva é a forma mais comum no que tange ao crime de
abuso de autoridade, porém, pode ocorrer de maneira omissiva quando aquele que
tem o dever de atuar diante uma situação de abuso praticado por um terceiro, não o
faz (BALTAZAR JÚNIOR, GONÇALVES e LENZA, 2016, p. 397).
27
2.3.5 Tentativa e consumação
Os crimes previstos no art. 3º da Lei de Abuso de Autoridade não
admitem tentativa. Essas condutas são punidas da mesma maneira que os delitos
consumados. São conhecidos como crimes de atentado. (CAPEZ, 2016, p. 26).
De acordo com a Lei 4.898/65:
Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado: a) à liberdade de locomoção; b) à inviolabilidade do domicílio; c) ao sigilo da correspondência; d) à liberdade de consciência e de crença; e) ao livre exercício do culto religioso; f) à liberdade de associação; g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto; h) ao direito de reunião; i) à incolumidade física do indivíduo; j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional.
Por outro lado, algumas condutas previstas no art. 4º da Lei 4.898/65
(BRASIL, 1965) podem ser punidas na forma tentada. É o caso das alíneas a, b, e, f,
que tratam de delitos comissivos ou omissivos impróprios (JUNQUEIRA, 2010, p.12):
Art. 4º Constitui também abuso de autoridade: a) ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual, sem as formalidades legais ou com abuso de poder; b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não autorizado em lei; c) deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente a prisão ou detenção de qualquer pessoa; d) deixar o Juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou detenção ilegal que lhe seja comunicada; e) levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha a prestar fiança, permitida em lei; f) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial carceragem, custas, emolumentos ou qualquer outra despesa, desde que a cobrança não tenha apoio em lei, quer quanto à espécie quer quanto ao seu valor.
Em contrapartida, as condutas estabelecidas nas alíneas c e d, pelo fato
de serem crimes omissivos próprios, não admitem tentativa, já que a própria
omissão é o fato criminoso. Nesses casos, a lei determina que o servidor realize
determinado ato, ferindo os direitos e garantias fundamentais de quem ele deveria
resguardar ao não praticar tal conduta (JUNQUEIRA, 2010, p.12-13)
28
2.4 DA INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO
Essa tipificação criminal tem o objeto de proteger a inviolabilidade do
domicílio, cujo direito é uma garantia individual defendida por diversos tratados
internacionais e trazida na Constituição Federal de 1988 em seu artigo 5º, XI
(BALTAZAR JÚNIOR, GONÇALVES e LENZA, 2016, p. 404):
Art. 5º [...]
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial.
O crime de violação de domicílio é definido por Nucci (2017, p.702):
entrar (ação de ir de fora para dentro, de penetração) ou permanece (inação, ou seja, deixar de sair, fixando-se no lugar), clandestina (às ocultas, sem se deixar notar) ou astuciosamente (agir fraudulentamente, criando um subterfúgio para ingressar no lar alheio de má-fé), ou contra a vontade de quem de direito (lembremos que as formas clandestina e astuciosa querem dizer contrariedade a vontade do morador) em casa alheia ou em suas dependências.
Vale lembrar, que o conceito de casa para o crime de invasão de domicílio
é muito mais amplo que o trazido pelo Código Civil, como ensina Capez (2017,
p.30):
A expressao “domicilio” nao tem, nem pode ter, o significado a ela atribuido pelo direito civil, nao se limitando a residencia do individuo, ou seja, o local onde o agente se estabelece com animo definitivo de moradia (CC, art. 70), tampouco ao lugar que a pessoa elege para ser o centro de sua vida negocial. A interpretacao deve ser o mais ampla e protetiva possivel,
consoante o disposto no art. 150, § 4º, do CP.
Assim, considera‐se domicilio: qualquer compartimento habitado, do mais humilde cubiculo ao mais suntuoso palacete. Abrange, portanto, o barraco de favela, casa, apartamento etc.
Desta forma, pode entender-se, que o conceito de domicílio vai além
daquele trazido pelo Código Civil, sendo configurado no crime do artigo 150 do
Código Penal (BRASIL, 1940) qualquer dependência destinada a moradia, inclusive
ocupações coletivas como um quarto de hotel e bens móveis destinados à moradia,
como uma veleiro ou um motorhome (JUNQUEIRA, 2010, p.15).
29
2.5 DA INCOLUMIDADE FÍSICA DO INDIVÍDUO
Esse crime engloba as ofensas praticadas por autoridade, desde vias de
fato até o homicídio. Abrange também a agressão psicológica e moral. Se da ação
do agente público resultar lesões físicas na vítima, mesmo que de natureza leve, as
penas pelo crime de abuso de autoridade e lesão corporal serão somadas, pois não
seria razoável a absorção da lesão corporal pelo crime de abuso de autoridade, já
que mesmo no caso de lesão leve, a pena imputada é superior àquela trazida pela
Lei 4.898/65. Desta forma, não seria razoável a imputação de uma pena leve como a
trazida pela Lei de Abuso de Autoridade a um crime gravoso como a lesão corporal,
que pode ser dividida pela doutrina em leve, grave e gravíssima. (CAPEZ, 2017,
p.36)
Nesse sentido, observa-se que as penas devem ser somadas também em
razão da objetividade jurídica de cada crime, pois na lesão corporal tutela-se a
integridade física do cidadão ofendido, já no crime de abuso de autoridade tutela-se
além da proteção física do indivíduo, o interesse do Estado na correta prestação do
serviço por parte de seus servidores. A doutrina é divergente em relação ao
entendimento na qual o sujeito deve responder por concurso material, onde se
analisa duas condutas e dois resultados, ou no caso de concurso formal imperfeito,
onde é analisada uma única conduta com dois ou mais resultados. Prevalece o
entendimento que deva ser aplicado o concurso material, porém, de qualquer forma,
o resultado acaba sendo o mesmo, qual seja, as penas são somadas. (CAPEZ,
2017, p.37)
Em relação ao conceito de lesão corporal nos ensina Nucci (2018, p.641):
ofender significa lesar ou fazer mal a alguém. O objeto da conduta é a integridade corporal (inteireza do corpo humano) ou a saúde (normalidade das funções orgânicas, físicas e mentais do ser humano). Lembremos que se trata de uma ofensa física voltada à integridade ou à saúde do corpo humano, não se admitindo, neste tipo penal, qualquer ofensa moral. Para a sua configuração é preciso que a vítima sofra algum dano ao seu corpo, alterando-se interna ou externamente, podendo, ainda, abranger qualquer modificação prejudicial à sua saúde, transfigurando-se determinada função orgânica ou causando-lhe abalos psíquicos comprometedores.
Nem toda lesão corporal no exercício da função será considerada delito.
Dispõe o art. 292 do Código de Processo Penal (BRASIL, 1941):
30
Art. 292. Se houver, ainda que por parte de terceiros, resistência à prisão em flagrante ou à determinada por autoridade competente, o executor e as pessoas que o auxiliarem poderão usar dos meios necessários para defender-se ou para vencer a resistência, do que tudo se lavrará auto subscrito também por duas testemunhas.
Desta forma, a violência física necessária para a execução de lei ou
ordem, demonstrada a necessidade de sua aplicação, como no caso de fuga de
preso ou resistência à prisão, não ensejará como crime a força física praticada pelo
servidor público no exercício de sua função, mesmo que de sua violência decorra
lesões no indivíduo (CAPEZ, 2017, p. 37).
31
3 JUSTIÇA MILITAR BRASILEIRA
O Direito Penal e Processual Penal Militar são ramificações do Direito
pouco exploradas no mundo acadêmico. Por ser um tema do Direito bastante
específico, é pouco estudado pelas faculdades. Até na seara castrense é pouco
difundida, sendo escassa a oferta de obras e bibliografias a respeito do Direito Penal
Militar e Processual Penal Militar (BARRETO FILHO, 2013, p. 126).
Apesar do exposto, a Justiça Militar segue em avanço, sendo sua
estruturação melhor desenvolvida ao longo dos anos. Este capítulo tem por objetivo
discorrer sobre a Justiça Militar Federal e Estadual no Brasil, contando sua história e
competência, conceituar crime comum e crime militar e trazer as recentes alterações
no artigo 9º do Código Penal Militar (BRASIL, 1969).
3.1 CONCEITO DE CRIME
Para se entender a mudanças trazidas pela Lei 13.491/17 (BRASIL, 2017)
e seus reflexos na Justiça Militar e Justiça Comum, será abordado o conceito de
crime e suas particularidades.
Tanto o Código Penal (BRASIL, 1940), quanto o Código Penal Militar
(BRASIL, 1968) trazem em seu artigo 1º a mesma redação. Ela é corroborada pela
Constituição Federal (BRASIL, 1988) que em seu artigo 5º, XXXIX traz novamente o
mesmo texto, in verbis, afirmando que: “nao há crime sem lei anterior que o defina,
sem pena sem prévia cominacao legal”.
Pela redação acima, pode-se entender que para o sujeito cometer um
crime é necessário que ele já esteja positivado no ordenamento jurídico como uma
conduta ilícita. Sujeito ativo é aquele que pratica o delito. Já o sujeito passivo é
aquele que sofre as consequências do crime. O objetivo jurídico é o bem, coisa ou
direito que o Estado visa proteger (SANTOS, 2013, p. 49-50).
A Lei de Introdução ao Código Penal (BRASIL, 1941) define o crime em
seu artigo 1º:
Art 1º Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente (Grifou-se).
32
Como o Código Penal (BRASIL, 1940), diferente das legislações
anteriores, não mais destaca o conceito de crime, essa conceituação fica a cargo da
doutrina que, nesse caso, é muito divergente (MIRABETE, 2006, p. 42).
Uma das teorias mais aceitas, e aquela que fornece mais riqueza em
detalhes referente ao fato constitutivo do crime é a teoria analítica tripartida, que leva
em consideração três elementos: fato típico, antijurídico e culpável, que seguem nos
próximos subitens (SANTOS, 2013, p. 50).
3.1.1 Fato Típico
Para Assis (2004, p. 68): “tipo e a descricao em abstrato do crime. Fato
típico é o comportamento humano (positivo ou negativo) que provoca, em regra, um
resultado e e previsto como infracao penal”.
Para Santos (2013, p. 50): “o fato tipico e formado por quatro
subelementos: conduta, resultado, nexo de causalidade e tipicidade”, os quais serao
explicitados na sequencia.
3.1.1.1 Da conduta
Para Neves (2007, p. 35), conduta “[...] e toda acao ou omissao humana,
consciente e voluntária, voltada a uma finalidade, portanto com dolo ou culpa [...]”.
Tanto o Código Penal Comum (BRASIL, 1940), quanto o Código Penal
Militar (BRASIL, 1969) referem-se ao dolo como o elemento subjetivo, a vontade que
o agente tem de praticar aquela conduta ou quando assumi o risco de produzir seu
resultado (SANTOS, 2013, p. 51).
Dispõe o artigo 33, I, do Código Penal Militar (BRASIL, 1969):
Art. 33. Diz-se o crime: [...] I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo.
Da mesma forma, dispõe o Código Penal (BRASIL, 1940):
Art. 18 - Diz-se o crime: [...] I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo.
33
Ratificando os artigos acima, Neves (2007, p.42) declara que:
[...] o art. 18, I, do Código Penal dispõe que o crime é considerado doloso quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo. Dessa previsão conclui-se que no Brasil, nos termos do Código Penal, adotam-se as teorias da vontade e do assentimento, vez que o crime será doloso quando o agente quer diretamente o resultado ou, prevendo-o, assume o risco de produzi-lo.
Segundo Silva (2013, p. 51): “culposa será a conduta do sujeito ativo que,
nos termos do art. 18, II, do Código Penal Comum, der causa ao resultado por
imprudência, negligencia ou impericia”.
Segundo Andreucci (2007, p. 53), “a culpa e elemento subjetivo do tipo
penal, pois resulta da inobservancia do dever de diligencia”.
Diferente do texto trazido no Código Penal Comum (BRASIL, 1940),
dispõe o artigo 33, II, do Código Penal Militar (BRASIL, 1969):
Art. 33. Diz-se o crime: [...] II - culposo, quando o agente, deixando de empregar a cautela, atenção, ou diligência ordinária, ou especial, a que estava obrigado em face das circunstâncias, não prevê o resultado que podia prever ou, prevendo-o, supõe levianamente que não se realizaria ou que poderia evitá-lo.
Em comentário ao disposto no artigo acima, discorre Rosa (2009, p. 72):
[...] percebe-se, com base na norma penal sob análise que ao tratar do crime culposo o Código Penal Militar não utiliza a expressão praticado com imprudência, negligência ou imperícia, o que não afasta em nenhum momento a incidência desta teoria aos crimes militares que são praticados com o elemento subjetivo denominado culpa [...].
Nesse sentido, afirma Santos (2013, p. 52): “tanto no Direito Penal
Comum quanto no Militar, o elemento subjetivo culpa implica um ato praticado sem a
devida cautela, por negligencia, imprudencia ou impericia”.
Para Neves (2007, p. 43), “imprudencia e a prática de um ato perigoso,
caracterizando-se, portanto, como a modalidade de culpa de quem age, ocorrendo
coincidentemente com a acao produtora do resultado tipico”.
Em relacao a negligencia, Neves (2007, p. 43) afirma que “negligencia e a
culpa por omissão, por um deixar de fazer, ocorrendo sempre antes da ação
produtora do resultado típico (ex.: não dar manutenção nos freios do veículo,
34
completando o óleo de freios, antes de iniciar o deslocamento causador de um
acidente)”.
Por fim, sobre imperícia Neves (2007, p. 43) conclui que:
[...] a imperícia é compreendida como a falta de habilidade no exercício de uma atividade (ou profissão). Somente pode ser imperito aquele que deveria ter perícia para a ação, requerendo, pois, habilitação técnica. Desse modo, aquele que manuseia arma de fogo de outrem, sem ter destreza e habilitação técnica, provocando disparo acidental será imprudente, se houver o resultado típico. Por outro lado, o sniper (atirador de elite de forças policiais) que seleciona mal a arma ou a munição matando um refém, será imperito.
Há ainda a conduta comissiva (quando resulta de uma ação) e a omissiva
(quando resulta de uma omissão). A conduta omissiva pode ser reprovável quando o
sujeito tinha o dever de agir e não o fez (SANTOS, 2013, p. 52).
Acerca da omissão, Assis (2004, p. 70) explica que:
Na omissão própria, que são os crimes omissivos próprios, do não se fazer o que a lei manda, consuma-se o crime. São crimes de simples desobediência [...]. Na omissão imprópria, que são os crimes comissivos por omissão, há como núcleo a comissão – fazer o que a lei proíbe. Ex.: mãe que não alimentando o filho, mata-o por inanição. Nestes crimes (comissivos por omissão) ao lado do preceito proibitivo (p. ex., não matar), existe o dever legal de agir. Surge, pois, a figura do Garantidor ou Garante do §2º do art. 29 do Código Penal Militar.
Para ilustrar a conduta da omissao, Santos (2013, p. 53) explica que: “o
caso de um superior que, tendo verificado que o tiro de elite é a melhor ou única
solução para uma crise, deixa de dar ao sniper a ordem de execução. Estará
cometendo, nesse caso, um crime por omissao”.
3.1.1.2 Do Resultado
O resultado é a modificação no mundo, jurídico ou natural, do ato ilegal
praticado pelo sujeito ativo. No caso do crime de lesão corporal, um nariz quebrado,
um hematoma ou uma fratura podem ser o resultado da ação agressiva (SANTOS,
2013, p. 54).
35
3.1.1.3 Do nexo de causalidade
Nexo de causalidade é o elo de ligação entre a conduta praticada e o
resultado ocorrido. São as modificações causadas no mundo real pela conduta
praticada pelo sujeito ativo (SANTOS, 2013, p. 54).
3.1.1.4 Da tipicidade
Para Assis (2004, p. 72), “tipicidade, por sua vez, e a qualidade da
conduta, que pode ser tipica ou atipica”.
Corroborando as afirmações trazidas acerca da tipicidade, Andreucci
(2007, p. 66), expõe que:
A tipicidade penal nada mais é que uma formatação legal das condutas que violam os bens jurídicos que a sociedade visa proteger. A norma penal estabelece um mandamento determinante da não-violação do bem jurídico, mandamento este que, ao ser traduzido para a esfera penal, torna-se chamado tipo.
Desta maneira, tipicidade pode ser entendida como o amoldamento da
conduta praticada pelo sujeito ativo com aquilo que está positivado nas normas
jurídicas (SANTOS, 2013, p. 54).
3.1.2 Da antijuridicidade
A antijuridicidade tem o mesmo sentido denotativo tanto no Código Penal
Comum (BRASIL, 1940), quanto no Código Penal Militar (BRASIL, 1969). Também
possuem as mesmas causas que afastam a antijuridicidade da conduta, ou seja, as
causas que afastam a ilegalidade do ato praticado (SANTOS, 2013, p. 55).
Segundo Assis (2004, p. 51):
[...] Antijuridicidade (ou ilicitude) constitui-se pela contrariedade da conduta ao ordenamento jurídico como um todo. Dessa conceituação, destarte, pode-se afirmar que todo fato típico é, em princípio, antijurídico, pois se está grafado na Parte Especial é contraditório ao ordenamento.
Para Andreucci (2007, p. 66):
36
A antijuridicidade é a relação de contrariedade entre o fato e o ordenamento jurídico. Não basta para a ocorrência de um crime que o fato seja típico (previsto em lei). É necessário também que seja antijurídico, isto é, contrário à lei penal, ou melhor, que viole bens jurídicos protegidos pelo ordenamento jurídico.
Apesar de praticar condutas descritas como ilícitas, a legislação traz
causas que afastam essa ilicitude, tornando condutas definidas na lei como crimes
em atos lícitos. As excludentes de ilicitude são: o estado de necessidade, a legítima
defesa, o exercício regular do direito e o estrito cumprimento do dever legal. No
Código Penal (BRASIL, 1940) esses institutos encontram respaldo nos artigos 23, 24
e 25. Já no Código Penal Militar (BRASIL, 1969) essas excludentes estão tipificadas
nos artigos 42, 43, 44 e 45 (SANTOS, 2013, p. 55).
De acordo com o Código Penal (BRASIL, 1940):
Exclusão de ilicitude Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de necessidade; II - em legítima defesa; III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. Excesso punível Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo. Estado de necessidade Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. § 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo. § 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços. Legítima defesa Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
De acordo com o Código Penal Militar (BRASIL, 1969): Exclusão de crime Art. 42. Não há crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de necessidade; II - em legítima defesa; III - em estrito cumprimento do dever legal; IV - em exercício regular de direito. Parágrafo único. Não há igualmente crime quando o comandante de navio, aeronave ou praça de guerra, na iminência de perigo ou grave calamidade, compele os subalternos, por meios violentos, a executar serviços e manobras urgentes, para salvar a unidade ou vidas, ou evitar o desânimo, o terror, a desordem, a rendição, a revolta ou o saque. Estado de necessidade, como excludente do crime
37
Art. 43. Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para preservar direito seu ou alheio, de perigo certo e atual, que não provocou, nem podia de outro modo evitar, desde que o mal causado, por sua natureza e importância, é consideràvelmente inferior ao mal evitado, e o agente não era legalmente obrigado a arrostar o perigo. Legítima defesa Art. 44. Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. Excesso culposo Art. 45. O agente que, em qualquer dos casos de exclusão de crime, excede culposamente os limites da necessidade, responde pelo fato, se êste é punível, a título de culpa. Excesso escusável Parágrafo único. Não é punível o excesso quando resulta de escusável surprêsa ou perturbação de ânimo, em face da situação.
Para Santos (2013, p. 57): “É de fundamental importancia o entendimento
das excludentes de ilicitude, pois é a partir dessa compreensão que o Juiz Militar, ao
proferir seu voto, deverá, fundamentadamente, absolver ou condenar o reu”.
Pode-se entender o estado de necessidade pelas palavras de Andreucci
(2017, p. 70):
[...] uma situação de perigo atual de interesses legítimos e protegidos pelo direito, em que o agente, para afastá-la e salvar um bem próprio ou de terceiro, não tem outro meio senão o de lesar o interesse de outrem, igualmente legítimo.
Para que se configure o estado de necessidade é necessário que haja
ameaça de um direito próprio ou de terceiros; que o perigo real não tenha sido
provocado pelo sujeito ativo, nem tinha como evitá-lo; que o perigo não tenha sido
causado pelo próprio sujeito ativo e que ele não deveria ter obrigação legal de
enfrentar o perigo e, por fim, que não seja exigível o sacrifício do direito (Santos,
2013, p. 58).
Segundo Andreucci (2007, p. 73), “legítima defesa é a repulsa a injusta
agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem, usando moderadamente os
meios necessários”. (Grifou-se)
Rosa (2009, p. 100) explica que:
[...] Muitas vezes, ocorrem conflitos entre os policiais militares e os infratores que costumam se utilizar de armas de fogo com o intuito de causar mal injusto aos policiais militares. Desde que a resposta seja legítima e proporcional, a legítima defesa poderá ser reconhecida a favor do militar estadual [...].
38
Nas palavras de Andreucci (2007, p. 68), o estrito cumprimento do dever legal:
Ocorre o estrito cumprimento do dever legal quando a lei, em determinados casos, impõe ao agente um comportamento. Nessas hipóteses, amparada pelo art. 23, III do Código Penal, embora típica a conduta, não é esta ilícita. Exemplos de estrito cumprimento do dever legal, largamente difundidos na doutrina, são o do policial que viola domicílio, onde está sendo praticado um delito, ou emprega força indispensável no caso de resistência ou de tentativa de fuga do preso (art. 284 do CPP), o do soldado que mata o inimigo no campo de batalha, o do oficial de justiça que viola domicílio para cumprir ordem de despejo, dentre outros.
Para Rosa (2009, p. 91):
O militar no exercício de suas funções constitucionais poderá empregar a força para manter a ordem e também para preservar a integridade física e o patrimônio do cidadão, e ainda quando necessário para a manutenção da salubridade pública e o combate a incêndios e a realização de fiscalização de prédios e residências para evitar a ocorrência de sinistros. O emprego da força de forma legal afasta a responsabilidade.
Exemplificando o exercício regular de direito, pode-se citar o caso de
um médico que para fazer uma cirurgia necessária, corta com bisturi o braço de um
paciente. Nesse caso, não se pode configurar a conduta do médico como lesão
corporal. Apesar de praticar a conduta descrita no artigo 129 do Código Penal
(BRASIL, 1940), o profissional agiu nesse caso com excludente de ilicitude, qual
seja, o exercício regular de direito, pois o corte feito com bisturi no paciente era
necessário naquela situação (SANTOS, 2013, p. 60).
Segundo Neves (2007, p. 53), exercício regular de direito significa:
[...] exclusão da ilicitude que consiste no exercício de uma prerrogativa conferida pelo ordenamento jurídico, caracterizada como fato típico. A pessoa, como se percebe, executa um ato que o Direito confere como prerrogativa, jamais podendo, portanto, configurar um fato ilícito [...].
De acordo com Rosa (2009, p. 92):
[...] O militar no exercício de suas atividades poderá proceder a revista de pessoas, a realização de operação bloqueio, ao cumprimento de mandados judiciais de busca e apreensão, e ainda o cumprimento de mandados de prisão. Neste caso, os militares estarão agindo em conformidade com a lei e, portanto atuando no exercício regular de direito [...].
O último elemento constitutivo do crime, segundo a teoria analítica
tripartida, é a culpabilidade. Muitos doutrinadores, como já citado, seguem a linha
39
de raciocínio da teoria tripartida, aquela que considera como elementos constitutivos
do crime: o fato típico, antijurídico e culpável (SANTOS, 2013, p. 61).
3.1.3 Da culpabilidade
Nucci define culpabilidade (2014, p. 90): “trata-se de um juízo de
reprovação social, incidente sobre o fato e seu autor, devendo o agente ser
imputável, atuar com consciência potencial de ilicitude, bem como ter a possibilidade
e a exigibilidade de atuar de outro modo”.
A imputabilidade penal pode ser definida por Santos (2013, p. 62) como:
“a capacidade fisica, psiquica, biologica e juridica que o sujeito ativo deve possuir
para responder perante o direito penal pela conduta delitiva praticada”.
De acordo com o Código Penal (BRASIL, 1940):
Inimputáveis Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Redução de pena Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Menores de dezoito anos Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial.
Dispõe o Código Penal Militar (BRASIL, 1969):
Inimputáveis Art. 48. Não é imputável quem, no momento da ação ou da omissão, não possui a capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acôrdo com êsse entendimento, em virtude de doença mental, de desenvolvimento mental incompleto ou retardado. Redução facultativa da pena Parágrafo único. Se a doença ou a deficiência mental não suprime, mas diminui consideràvelmente a capacidade de entendimento da ilicitude do fato ou a de autodeterminação, não fica excluída a imputabilidade, mas a pena pode ser atenuada, sem prejuízo do disposto no art. 113.
40
Já o potencial conhecimento da ilicitude do fato quer dizer que o
sujeito ativo não precisa conhecer a lei para ser obrigado a cumpri-la. Ninguém é
obrigado a conhecer todo o ordenamento jurídico. O que se espera é a conduta do
ser humano médio. (SANTOS, 2013, p. 63).
A exigibilidade de conduta diversa é definida por Neves (2007, p. 63):
“consiste na expectativa social de um comportamento diferente daquele que foi
adotado pelo agente. Somente haverá exigibilidade de conduta diversa quando a
coletividade podia esperar do sujeito que tivesse atuado de outra forma”.
No artigo 22 do Código Penal (BRASIL 1940) e artigo 38 do Código Penal
Militar (BRASIL, 1969), segundo Santos (2013, p.64): “encontramos circunstancias
que demonstram que esse sujeito não pôde deixar de cumprir o mandamento de
terceiro, o que, portanto, justifica a acao/omissao”.
De acordo com o Codigo Penal (BRASIL, 1940): “Art. 22 - Se o fato é
cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não
manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da
ordem”.
Dispõe o Código Penal Militar (BRASIL, 1969):
Coação irresistível a) sob coação irresistível ou que lhe suprima a faculdade de agir segundo a própria vontade; Obediência hierárquica b) em estrita obediência a ordem direta de superior hierárquico, em matéria de serviços. § 1° Responde pelo crime o autor da coação ou da ordem. § 2° Se a ordem do superior tem por objeto a prática de ato manifestamente criminoso, ou há excesso nos atos ou na forma da execução, é punível também o inferior.
Para Andreucci (2007, p. 65), “[...] obediência hierárquica é causa de
inexigibilidade de conduta diversa, em que o agente tem sua culpabilidade afastada,
nao respondendo pelo crime, que e imputável ao superior”.
Com o conceito de crime e seus elementos constitutivos definidos,
segundo a teoria analítica tripartida, (fato típico, antijurídico e culpável), é necessário
contextualizar as diferenças entre os crimes militares e os crimes comuns (SANTOS,
2013, p. 65)
É necessário analisar cada caso, visto que a Justiça Militar Estadual tem
competência para julgar policiais e bombeiros militares que praticarem crimes
militares, enquanto cabe a Justiça comum o julgamento dos casos que não se
41
enquadrem nas situações trazidas pelo artigo 9º do Código Penal Militar (BRASIL,
1969) (SANTOS, 2013, p. 66).
3.2 BREVE HISTÓRICO DA JUSTIÇA MILITAR
Os sumérios provavelmente foram os primeiros povos a constituírem
exércitos organizados, porém foram os gregos e romanos que profissionalizaram e
organizaram seus militares. Com a constituição dos exércitos, surgiram também os
problemas disciplinares e criminais por parte dos soldados, quando estes atuavam
em desacordo com as ordens de seus comandantes e com excesso quanto a
conduta em relação a seus inimigos (SANTOS, 2013, p. 17).
O militar não é uma pessoa comum. A sociedade exige dele um
comportamento ilibado, com ética, postura e honra. Em razão da necessidade de
uma justiça capaz de julgar com celeridade e competência, manter a hierarquia e
disciplina e que entenda como funciona a vida na caserna, foi criada a justiça
castrense (SANTOS, 2013, p. 17).
A história da Justiça Militar no Brasil se confunde com própria história do
país. O embrião da instauração de uma justiça especificamente voltada para a área
militar se desenvolveu com a chegada da família real ao Brasil em 1808. Com a
estruturação do país e a construção de jardins, bibliotecas e praças foi necessária a
criação de um corpo de militares para garantir a ordem e a segurança da família real
portuguesa e seu patrimônio (BARRETO FILHO, 2013, p. 129).
Dessa forma, foi instaurada no Brasil a guarda real portuguesa, composta
por militares advindos de Portugal. Era uma instituição com caráter bélico e
princípios baseados na hierarquia e disciplina. Com a missão de proteger a família
real portuguesa e as novas instalações implementadas no Brasil, a guarda real
portuguesa tinha um sistema próprio de controle e sanções dos atos praticados
pelos militares daquela época, chamado de Conselho Supremo Militar e de Justiça
(BARRETO FILHO, 2013, p. 130).
Com sede na cidade do Rio de Janeiro, o Conselho Supremo Militar e de
Justiça foi a primeira estrutura jurídica militar instalada no Brasil. Criado em 1808,
deu lugar, em 1891, ao Supremo Tribunal Militar, com as mesmas competências do
Conselho extinto. Com a Constituição Federal de 1946, o Supremo Tribunal Militar
42
mudou sua terminologia para Superior Tribunal Militar, nomenclatura utilizada até os
dias atuais (ROCHA, 2010, p.1).
3.3 CONCEITO DE CRIME MILITAR
Segundo Assis (2004, p. 39): “crime militar e toda violação acentuada ao
dever militar e aos valores das instituições militares. Distingue-se da transgressão
disciplinar porque esta é a mesma violação, porém na sua manifestação elementar e
simples”.
Ainda de acordo com Assis (2010, P.45): “a classificacao do crime em
militar se faz pelo critério ratione legis, ou seja, é crime militar aquele que o CPM diz
que e, ou melhor, enumera em seu artigo 9º”.
Dentre os crimes militares, há aqueles acidentais e os essenciais.
Contudo, essa diferenciação não tem importância para fins de competência. Tanto
os crimes militares próprios, quantos os crimes militares impróprios, com exceção
dos crimes dolosos contra a vida, serão julgados pela Justiça Militar dos estados ou
da União (NEVES e STREIFINGER, 2012, p. 98).
Para Santos (2013, p. 66): “será crime militar a conduta praticada pelo
policial militar que se enquadrar em uma das circunstâncias previstas no art. 9º do
CPM”.
Consta no art 9º do Código Penal Militar (BRASIL, 1969):
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: I - os crimes de que trata êste Código, quando definidos de modo diverso na lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial; II – os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando praticados: a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou assemelhado; b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil; d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração militar, ou a ordem administrativa militar; f) revogada.
43
III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos: a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa militar; b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente ao seu cargo; c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras; d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquêle fim, ou em obediência a determinação legal superior. § 1o Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por militares contra civil, serão da competência do Tribunal do Júri. § 2o Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por militares das Forças Armadas contra civil, serão da competência da Justiça Militar da União, se praticados no contexto: I – do cumprimento de atribuições que lhes forem estabelecidas pelo Presidente da República ou pelo Ministro de Estado da Defesa; II – de ação que envolva a segurança de instituição militar ou de missão militar, mesmo que não beligerante; ou III – de atividade de natureza militar, de operação de paz, de garantia da lei e da ordem ou de atribuição subsidiária, realizadas em conformidade com o disposto no art. 142 da Constituição Federal [...]
Para Santos (2013, p. 67): “os doutrinadores estabelecem uma
diferenciação acerca da classificação do crime militar, e a maioria reconhece que
existe o crime militar proprio e o improprio”.
Ocorre que essa classificação de crime militar subdividido em crime militar
próprio e impróprio era aceita desde 1969. Sua diferenciação se dava em razão do
cometimento de crime tipificado exclusivamente no Código Penal Militar (BRASIL,
1969), como por exemplo os crimes de abandono de posto, insubordinação e
deserção (GOMES e MARIÚ, 2018).
Quando a conduta delitiva praticada estivesse positivada na legislação
castrense e replicada no Código Penal (BRASIL, 1940) ou em qualquer outro
dispositivo legal, seria considerado, nesse caso, a prática de crime militar impróprio.
Podemos citar, diante deste prisma, os crimes de furto, estupro e roubo como crimes
militares impróprios, visto que estão positivados tanto na legislação comum quanto
na legislação castrense. (GOMES e MARIÚ, 2018).
Importante ressaltar que a Constituição Federal de 1988 não traz o
conceito de crime militar, trazendo o texto constitucional referência apenas a "crime
militar definido em lei". Dessa forma, o legislador constituinte deixou a cargo do
44
legislador ordinário a conceituação do crime militar. O fato do crime ser considerado
militar define a competência da Justiça Militar, que não julga o militar e sim o crime
quando militar (ROSSETTO, 2015, P. 74).
Com o advento da Lei 13491/17 (BRASIL, 2017) o artigo 9º do Código
Penal Militar (BRASIL, 1969) foi alterado, modificando o conceito de crime militar. A
partir dessa transformação, não há mais que se falar em crime militar próprio e
impróprio, sendo a conceituação de crime militar, a partir de então, definida sob três
conceitos: (i) o crime militar definido exclusivamente no Código Penal Militar; (ii) o
crime militar definido tanto no Código Penal Militar quanto em legislações diversas e;
(iii) o crime militar praticado nos termos do art 9º do CPM que não estejam definidos
no Código Penal Militar, mas que por ser interesse da administração castrense, são
definidos como crimes militares (GOMES e MARIÚ, 2018).
3.4 DA JUSTIÇA MILITAR FEDERAL
A Justiça Militar, como já dito, integra o poder judiciário brasileiro, tendo
os seguintes órgãos: Superior Tribunal militar, Auditoria de Correição, Conselhos de
Justiça, Juízes-auditores e Juízes-auditores substitutos (LOBÃO, 2009, p. 181).
Dispõe a Constituição Federal (BRASIL, 1988):
Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário: [...] VI - os Tribunais e Juízes Militares; [...] (Grifou-se)
Para Santos (2013, p. 32): “A Justica Militar da Uniao (JMU) possui
competência para julgar o crime militar, ou seja, a jurisdição militar é aplicada a
qualquer pessoa que cometa o delito”.
Roth (2011, p.767) afirma que:
[...] sobre matéria criminal, a Justiça Militar da União tem como jurisdicionados os integrantes das Forças Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica) e os civis que venham a praticar crimes militares, enquanto a Justiça Militar estadual tem como jurisdicionados apenas os integrantes das Forças auxiliares (Polícia Militar e Corpo de Bombeiro Militar), ou seja, os militares estaduais que venham a praticar crime militar.
O artigo 124 da Constituição Federal (BRASIL, 1988) dispõe que compete
a Justiça Militar da União processar e julgar os crimes militares definidos em lei. A
45
autoridade da polícia judiciária militar pode prender, sem flagrante delito e sem
ordem fundamentada pelo juiz, ainda na fase processual, o militar que cometer
transgressão disciplinar ou crime militar (LOBÃO, 2009, P. 181-182).
Dispõe a Carta Magna (BRASIL, 1988):
Art. 5º [...] LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei.
Somente o militar poderá ser preso nos moldes do inciso acima. O civil,
mesmo que cometa crime militar, somente poderá ter sua liberdade suprimida em
razão de flagrante delito ou por ordem judicial escrita e fundamentada. Em nenhum
caso, o civil poderá ser preso por ordem da autoridade de polícia judiciária militar
(LOBÃO, 2009, p. 182).
3.5 DA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL
São órgãos da Justiça Militar estadual de 1ª instância o Juiz de Direito do
Juízo Militar, o Juiz de Direito Substituto do Juízo Militar, Conselho Especial de
Justiça e o Conselho Permanente de Justiça. Já como 2ª instância da Justiça Militar
estadual tem-se o Tribunal de Justiça Militar nos estados do Rio Grande do Sul, São
Paulo e Minas Gerais. Já nos demais entes federativos da União, como Santa
Catarina, a 2ª instância da justiça castrense é de competência do Tribunal de Justiça
(LOBÃO, 2009, p. 203).
Dispõe a Constituição Federal (BRASIL, 1988):
Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta Constituição. § 1º A competência dos tribunais será definida na Constituição do Estado, sendo a lei de organização judiciária de iniciativa do Tribunal de Justiça. § 2º Cabe aos Estados a instituição de representação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em face da Constituição Estadual, vedada a atribuição da legitimação para agir a um único órgão. § 3º A lei estadual poderá criar, mediante proposta do Tribunal de Justiça, a Justiça Militar estadual, constituída, em primeiro grau, pelos juízes de direito e pelos Conselhos de Justiça e, em segundo grau, pelo próprio Tribunal de Justiça, ou por Tribunal de Justiça Militar nos Estados em que o efetivo militar seja superior a vinte mil integrantes.
46
Compete à Justiça Militar dos estados e do Distrito Federal processar e
julgar os militares das Polícias e Corpo de Bombeiros estaduais quanto à prática de
crimes militares definidos em lei. Diferente da Justiça Militar da União, a justiça
castrense estadual não tem competência para julgar civis, mesmos que estes
cometam crimes em concurso com militares. (SANTOS, 2013, p. 203).
Neste sentido, dispõe a Constituição Federal (BRASIL, 1988):
Art. 125. [...] § 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças. (Grifou-se).
O texto constitucional determina que é competente a Justiça Militar
Estadual também para processar e julgar os militares estaduais quanto à prática de
transgressões disciplinares. Desta forma, a justiça militar castrense não tem como
objeto apenas as ações criminais, mas também àquelas relacionadas à atos
administrativos, incluindo o reconhecimento quanto a legalidade ou não das sanções
disciplinares impostas por superiores hierárquicos dentro da instituição militar
(LOBÃO, 2009, p. 205).
3.6 DA LEI 13.491/17 E AS ALTERAÇÕES NO ARTIGO 9º DO CÓDIGO PENAL
MILITAR
O art. 9º do Código Penal Militar (BRASIL, 1969) passa por sua terceira
alteração desde que o referido código foi criado. O art. 9º sempre buscou trazer o
conceito de crime militar. Antes da Lei 13.491/17 (BRASIL, 2017) o conceito de
crime militar era basicamente definido como aqueles delitos previstos
exclusivamente no Código Penal Militar (BRASIL, 1969), sendo considerados como
crimes propriamente militares, e aqueles que apesar de estarem tipificados na
legislação castrense, estejam também estejam igualmente definidos em outros
dispositivos, sendo estes considerados crimes militares impróprios (GOMES e
MARIÚ, 2018).
A alteração no art. 9º do Código Penal Militar (BRASIL, 1969) pode ser
assim comprada:
47
Redação antes da Lei 13.491/17 (BRASIL, 2017):
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: [...] II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados:
[...]
Redação atual do referido artigo:
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: [...] II – os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando praticados: [...]
O legislador alterou um único artigo do Código Penal Militar, mas esta
alteração trouxe modificações gigantescas no conceito de crime militar e
consequentemente na competência da justiça castrense. O fato do crime, para ser
considerado militar, não mais necessitar estar expressamente no Código Penal
Militar (BRASIL, 1969), trouxe uma gama imensa de crimes que agora podem passar
a ser não mais de competência da justiça estadual comum, mas de competência da
justiça militar estadual (GOMES e MARIÚ, 2018) (WIGGERS e WONDRACEK,
2018).
Outro fator determinante para a fixação da competência, é que a partir da
Lei 13.491/17 (BRASIL, 2017) o policial militar, por exemplo, que cometa qualquer
crime no exercício de sua função (com exceção do homicídio doloso contra a vida, o
qual continua sendo de competência do júri) comete crime militar. Nesse sentido, os
crimes tipificados exclusivamente em leis esparsas, como o crime de tortura e abuso
de autoridade, que antes eram processados e julgados pela justiça comum, agora
quando cometidos por policiais militares de serviço, por serem considerados crimes
militares, passam a ser de competência da justiça castrense estadual (GOMES e
MARIÚ, 2018;WIGGERS e WONDRACEK, 2018).
No próximo capítulo apresenta-se a pesquisa realizada na Comarca de
Laguna/SC, referente às denúncias registradas por abuso de autoridade, lesão
corporal e violação de domicílio, supostamente cometidas por policiais militares de
serviço.
48
4 PESQUISA SOBRE ABUSO DE AUTORIDADE, LESÃO CORPORAL E
VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO EM LAGUNA-SC
Este capítulo tem o propósito de demonstrar os resultados da pesquisa
documental realizada na Corregedoria do 28º Batalhão de Polícia Militar e no
Sistema de Automação do Judiciário (SAJ), no Fórum da Comarca de Laguna/SC.
Para tanto, foram observados os procedimentos instaurados em
decorrência de denúncias de suposto abuso de autoridade, lesão corporal e invasão
de domicílio praticada por policiais militares lotados na cidade de Laguna/SC, entre
janeiro de 2014 a agosto de 2018.
4.1 METODOLOGIA
A presente pesquisa foi realizada inicialmente no Fórum da Comarca de
Laguna/SC, sendo emitido um relatório contendo todos os casos que envolviam
abuso de autoridade, lesão corporal e invasão de domicílio.
Ainda na pesquisa, como não era possível refinar a busca contendo
apenas policiais militares como denunciados, foi realizado um relatório sem distinguir
os sujeitos ativo e passivo, e após pesquisa em cada processo, foram separados
aqueles que envolviam policiais militares lotados na cidade de Laguna/SC como
autores do fato.
Entre janeiro de 2014 a agosto de 2018 foram instaurados 146
procedimentos na Vara Criminal do Fórum de Laguna envolvendo as condutas de
abuso de autoridade, lesão corporal e invasão de domicílio. Desse universo, 23
procedimentos envolviam a suposta prática desses crimes por policiais militares de
serviço.
Após essa pesquisa, foi preenchida a tabela, conforme Apêndice A. Desta
forma, foram preenchidos os dados referentes à denúncia realizada, bem como
dados do denunciante e dos policiais militares denunciados.
Com a tabela em mãos, foram analisadas as Sindicâncias e Inquéritos
Policiais Militares procedidos na Corregedoria do 28º Batalhão de Polícia Militar,
bem como as denúncias e processos que foram arquivados, os julgados e aqueles
que ainda estão em andamento na Vara Criminal da Comarca de Laguna/SC.
49
4.2 ANÁLISE DOS DADOS
Tanto dos procedimentos processados na Corregedoria do 28º Batalhão
de Polícia Militar, como aqueles no Fórum de Laguna/SC, foram extraídos dados da
denúncia, como: órgão que foi realizada a denúncia; se houve procedimento
instaurado pela Polícia Militar para averiguar o fato; o fato denunciado; data e local
dos fatos e o desfecho da denúncia, levando em consideração se ela foi arquivada
ou se houve processo judicial instaurado, além do resultado deste.
Em continuidade a pesquisa, foi averiguada em relação ao denunciante a
sua idade, profissão, escolaridade e seu histórico criminal.
Por fim, foi averiguado o perfil do policial militar denunciado, levando em
consideração sua idade, tempo de serviço na PMSC e se há histórico de punições
em sua ficha de conduta.
4.2.1 Da denúncia
Os próximos itens demonstraram os dados relacionados à denúncia.
Serão apresentados os locais em que as denúncias foram realizadas, além do fato
denunciando, data e local e, se a Polícia Militar instaurou procedimento para elucidar
os fatos denunciados.
4.2.1.1 Do local da denúncia
O primeiro dado analisado é o local no qual foram realizadas as
denúncias, sejam elas presenciais ou não. O gráfico 1 apresenta os locais em que
os denunciantes formalizaram sua reclamação.
50
Gráfico 1 - Locais em que as denúncias foram registradas.
Fonte: Pesquisa realizada pelo Autor, 2018.
Há um maior número de locais de denúncia em relação ao total de
procedimentos pesquisados, visto que algumas denúncias foram realizadas em mais
de um órgão. Observa-se com o gráfico acima que a maior parte das denúncias
foram realizadas na Delegacia de Polícia Civil de Laguna, através da lavratura de
Boletins de Ocorrência em desfavor de policiais militares.
De um universo de 24 (vinte e quatro) denúncias pesquisadas, 42% foram
realizadas na Delegacia de Polícia Civil, ou seja, 10 (dez) Boletins de Ocorrência
lavrados contra Policiais Militares por suposta prática de abuso de autoridade, lesão
corporal ou violação de domicílio. No Ministério Público da Comarca de Laguna/SC
foram realizadas 7 (sete) denúncias, ou seja, pouco mais de 29%.
Na Corregedoria do 28º Batalhão de Polícia Militar foram registradas
apenas 4 (quatro) denúncias (17%), demonstrando o receio, segundo percepção do
Autor, que o público ainda tem de realizar a denúncia na própria instituição que
supostamente violou deus direitos. Por fim, 3 (três) denúncias foram realizadas por
outros meios (12%), sendo eles meios eletrônicos como o Net denúncia, o Disque
Direitos Humanos e a Ouvidoria da Polícia Militar do estado de Santa Catarina.
51
4.2.1.2 Do fato denunciado
O gráfico seguinte revela o fato denunciado pela vítima. Isso não quer
dizer que seja o enquadramento adotado pelo Delegado de Polícia Civil, pelo
representante do Ministério Público ou pelo Oficial encarregado do procedimento
militar, mas sim o fato narrado pela própria vítima, aquele em que ela alega ter
sofrido.
Gráfico 2 – Fatos denunciados pelas vítimas.
Fonte: Pesquisa realizada pelo Autor, 2018.
Das 23 (vinte e três) denúncias, 11 (onze), ou seja, 48% relataram ter sido
vítimas de abuso de abuso de autoridade policial em razão de lesão corporal.
Outras 5 (cinco) pessoas (22%) relataram ter sido vítimas de lesão corporal. As
outras denúncias somam um total de 7 (sete) casos, entre eles a suposta prática de
invasão de domicílio e/ou abuso de autoridade e ainda lesão corporal.
52
4.2.1.3 Da data do fato
O gráfico a seguir revela o período do ano em que as denúncias foram
realizadas. Os períodos foram divididos em primeiro e segundo semestre de cada
ano, compreendido entre janeiro de 2014 a agosto de 2018.
Gráfico 3 – Período de realização das denúncias.
Fonte: Pesquisa realizada pelo Autor, 2018.
Como se pode observar, não houve um período de maior ou menor
incidência significativa desse tipo de denúncia. Entre cada semestre, houve uma
oscilação entre duas a três denúncias envolvendo policiais militares lotados em
laguna/SC.
Outro ponto a se observar era a preocupação com o aumento do número
de procedimentos instaurados pela Corregedoria da Polícia Militar, a partir da
alteração em outubro de 2017, do Art. 9º do Código Penal Militar (BRASIL, 1969) e
seus reflexos na competência da Justiça Militar. Como observado, essa demanda
não foi aumentada, sendo apontados dois procedimentos apurados pela
Corregedoria do 28º BPM no primeiro semestre do ano de 2018, quantidade média
dos últimos períodos.
53
4.2.1.4 Do local do fato
O presente gráfico demonstra o local onde as supostas violações de
direito ocorreram. Para facilitar a pesquisa, os locais foram divididos nos bairros das
ocorrências.
Gráfico 4 – Locais dos fatos das denúncias registradas.
Fonte: Pesquisa realizada pelo Autor, 2018.
O gráfico 4 demonstra o local em que os fatos denunciados ocorreram. O
bairro Mar Grosso é o com maior incidência, sendo realizadas 5 (cinco) de um total
de 23 (vinte e três) denúncias.
Analisando os Boletins de Ocorrências anexados aos Autos, e ainda,
buscando-se na Corregedoria do 28º Batalhão de Polícia Militar os procedimentos
instaurados e analisando os depoimentos das vítimas, observa-se que 4 (quatro)
denunciantes (80%) alegaram em suas oitivas que estavam ingerindo bebida
alcóolica no momento em que ocorreu o suposto abuso de autoridade por parte dos
policiais militares.
Em seguida, os dois maiores locais de incidência são os bairros
Progresso e Portinho, cada um com 3 (três) denúncias cada. É importante ressaltar
que no bairro Progresso existe a comunidade conhecida como Casqueiro, local de
intenso tráfico de drogas e índices criminais.
54
Já no bairro Portinho, há a região conhecida como Malvina, outro ponto
da cidade de Laguna/SC que possui uma enorme quantidade de prisões em
flagrante realizadas em virtude do comércio de entorpecentes e de homicídios.
4.2.1.5 Da instauração de procedimento pela Polícia Militar
O gráfico a seguir mostra, entre um universo de 23 (denúncias), quais
foram objetos de procedimentos instaurados pela Polícia Militar. E ainda, caso
tenham sido instaurados, qual tipo de procedimento instituído.
Gráfico 5 - Procedimentos instaurados pela Corregedoria do 28º BPM em razão das
denúncias.
Fonte: Pesquisa realizada pelo Autor, 2018.
Dentre as 23 (vinte e três) denúncias objeto desta pesquisa, 18 (dezoito)
resultaram em Inquéritos Policiais Militares, sendo procedidos pela Corregedoria
do 28º Batalhão de Polícia Militar de Laguna.
Em relação às Sindicâncias, três denúncias resultaram nesse
procedimento. O Comandante do 28º BPM optou por esse tipo de procedimento, em
detrimento do Inquérito Policial Militar, em virtude de o denunciante não fornecer
indícios suficientes de materialidade e/ou autoria que pudessem dar início a um IPM.
Por fim, duas denúncias não tiverem procedimentos instaurados pela
Polícia Militar. Uma não chegou ao conhecimento da Corregedoria do 28º BPM em
razão do arquivamento da Notícia Criminal pelo Poder Judiciário. Já a outra, ocorreu
55
na Delegacia de Polícia de Laguna/SC, onde o Delegado de Plantão deu voz de
prisão a uma guarnição PM, por fatos que ele não viu, nem teve qualquer tipo de
prova segundo consta nos Autos.
4.2.2 Do denunciante
Os gráficos a seguir apresentam informações sobre o denunciante/vítima.
Será abordado o sexo do denunciante, sua idade, escolaridade, profissão e, por fim,
o histórico criminal da suposta vítima.
4.2.2.1 Idade
As 23 (vinte e três) denúncias objeto desta pesquisa compreenderam 31
(trinta e um) denunciantes, isso porque há denúncias com até 3 (três) denunciantes.
O gráfico a seguir demonstra a faixa etária daqueles que alegam ter sofrido abuso
de autoridade, lesão corporal e invasão de domicílio, ou alguma combinação desses
três crimes.
Gráfico 6 – Faixa etária dos denunciantes.
Fonte: Pesquisa realizada pelo Autor, 2018.
Observa-se que mais da metade dos denunciantes tem entre 18 (dezoito)
a 24 (vinte e quatro) anos e 31 (trinta e um) a 40 (quarenta) anos, sendo 10 (dez) e 8
(oito) denunciantes, respectivamente.
56
4.2.2.2 Sexo
O presente gráfico apresenta a proporção entre homens e mulheres que
recorreram aos órgãos públicos da cidade de Laguna/SC, por acreditarem que seus
direitos foram violados pela atuação de policiais miliares.
Gráfico 7 – Sexo dos denunciantes.
Fonte: Pesquisa realizada pelo Autor, 2018.
O gráfico foi claro em demonstrar que três em cada quatro denunciantes
são do sexo masculino. O resultado já era o esperado pelo Autor, visto que é notória
a disparidade entre homens em relação às mulheres, envolvidos em abordagens e
ocorrências policiais de maior gravidade.
4.2.2.3 Profissão
A próxima representação gráfica reproduz as principais profissões dos
denunciantes.
57
Gráfico 8 – Profissão dos denunciantes.
Fonte: Pesquisa realizada pelo Autor, 2018.
As principais ocupações dos denunciantes são: estudante (19%),
serviços gerais e desempregados (13% cada), pedreiro e do lar (10% cada) e
por fim, aposentado por invalidez (6%). Há também outras profissões, porém não
foram apresentadas no gráfico em razão de uma única incidência. São elas:
professora, delegado de Polícia Civil, técnico em enfermagem, técnico de
informática, pescador, embalador, assessor jurídico, operador de lavanderia e
servidor público estadual.
4.2.2.4 Escolaridade
O gráfico abaixo explicita o nível de escolaridade dos denunciantes. Eles
foram divididos em alfabetizados, ensino fundamental incompleto, ensino
fundamental completo, ensino médio incompleto, ensino médio completo, ensino
superior incompleto, ensino superior completo e pós-graduados. Para fins desta
pesquisa, foi enquadrado como incompleto aquele que ainda está cursando
determinado nível de escolaridade.
58
Gráfico 9 – Nível de escolaridade dos denunciantes.
Fonte: Pesquisa realizada pelo Autor, 2018.
Os números mais acentuados referentes ao nível de escolaridade dos
denunciados são aqueles que possuem ensino fundamental incompleto, sendo
35% do total dos denunciantes e ensino médio incompleto, com 23% do total. Há
de se observar que dos 7 (sete) denunciantes que foram enquadrados nessa
pesquisa como ensino médio completo, 4 (quatro) estão cursando. Já em relação
aos 11 (onze) denunciantes que foram tipificados como ensino fundamental
incompleto, apenas 3 (três) estão efetivamente estudando.
4.2.2.5 Histórico Criminal
Em relação ao histórico criminal dos denunciantes, essa pesquisa foi
dividida entre aqueles que não possuem qualquer registro policial que os desabone
– nada consta, os que possuem registros policiais, porém sem condenação judicial,
aqueles que possuem Termos Circunstanciados em seu desfavor e por fim, aqueles
que possuem condenações judiciais – informações penais.
59
Gráfico 10 - Histórico criminal dos denunciantes.
Fonte: Pesquisa realizada pelo Autor, 2018.
De um universo de 31 (trinta e um) denunciantes, 12 (doze) não
possuem qualquer registro no SISP (Sistema Integrado de Segurança Pública), 19
(dezenove) possuem Boletins de Ocorrências lavrados em seu desfavor, 7 (sete)
possuem Termos Circunstanciados lavrados que os desabonem. Observa-se que
entre os 7 (sete) que possuem Termos Circunstanciados, 5 (cinco) são em razão de
porte de drogas para consumo pessoal. Por fim, 11 (onze) denunciantes possuem
condenações judiciais criminais.
Dentre aqueles que possuem informações penais, muitos foram
condenados mais de uma vez. O gráfico a seguir demonstra melhor o assunto.
60
Gráfico 11 – Tipificação criminal entre os denunciantes com informações penais.
Fonte: Pesquisa realizada pelo Autor, 2018.
Entre os denunciantes que possuem condenações penais – onze
pessoas, podemos observar que alguns cometeram crimes de elevado repúdio
social, como o homicídio tentado e consumado, roubo, tráfico de drogas, porte ilegal
de arma de fogo e violência doméstica.
4.2.3 Dos denunciados
As representações gráficas seguintes ilustram os dados referentes aos
policiais militares denunciados. Foram observados há quanto tempo integram a
instituição, idade e seu histórico de punições.
4.2.3.1 Da idade dos denunciados
Tem-se 23 (vinte) denúncias abordadas nesta pesquisa, sendo 68
(sessenta e oito) policiais citados. Não foram envolvidos tantos policiais militares
diferentes, visto que muitos policiais se fazem presentes mais de uma vez.
Um policial, por exemplo, pode ter dados tanto na coluna em referência a
PM´s de 24 (vinte e quatro) a 29 (vinte e nove) anos, como na coluna que apresenta
os policiais que possuem 30 (trinta) a 35 (trinta e cinco) anos, isso de acordo com a
idade que tinha na época dos fatos.
61
Gráfico 12 – Idade dos Policiais Militares à época dos fatos.
Fonte: Pesquisa realizada pelo Autor, 2018.
Observa-se que, conforme o policial militar possui maior idade, menores
são as denúncias em relação aos crimes objetos desta pesquisa. O autor acredita,
em razão de sua experiência como policial militar há sete anos, que esse dado
reflete a idade do efetivo que trabalha no setor operacional, visto que conforme o
avançar da idade, os policiais vão abandonando as funções operacionais, como
rádio patrulha e Pelotão de Patrulhamento Tático, e acabam assumindo funções
meio, como os serviços nas centrais de emergência, funções internas e serviços
administrativos.
4.2.3.2 Do tempo de serviço
Analisar o tempo de serviço dos policiais militares também se fez
necessário nessa pesquisa. A seguir, a representação gráfica dessa classificação
ilustrará o tema.
62
Gráfico 13 – Tempo de serviço dos Policiais Militares à época dos fatos.
Fonte: Pesquisa realizada pelo Autor, 2018.
Pode-se observar que, diferente do gráfico que demonstra a idade dos
policias à época dos fatos denunciados, o gráfico acima demonstra uma enorme
disparidade entre o primeiro item analisado, qual seja o dos policiais militares
denunciados que possuem de até 5 anos de serviço na instituição, com os itens
seguintes.
Essa dado é bastante significativo e requer uma análise mais
aprofundada. Há várias possibilidades desse número ter sido tão expressivo, como a
falta de experiência no serviço operacional, que diferente do que acontece na teoria,
é imprevisível e inconstante.
Outro fato que pode ser considerado, segundo a experiência pessoal do
autor, o qual exerce a profissão policial militar há sete anos, é a falta de respeito que
o público em geral tem com os policiais mais novos, exigindo medidas mais
enérgicas por parte dos servidores e, consequentemente, sendo alvo de futuras
denúncias.
Pode-se concluir que a pouca idade do policial miltitar não é um fator tão
significativo em relação à quantidade de denúncias recebidas pela atuação desses
profissionais, porém, a falta de experiência no serviço policial militar é determinante
nesse sentido.
63
4.2.3.3 Do histórico de punições dos denunciados
O próximo item tem como objetivo analisar a vida profissional pregressa
dos policiais militares denunciados. Foram analisadas todas as fichas de conduta
dos policiais, documento retirado na Seção de Pessoal – P1 do 28ºBatalhão de
Polícia Militar de Laguna/SC.
Todas as punições que os policiais recebem ficam registradas em suas
fichas de conduta. Essas punições são canceladas após determinado tempo,
conforme a gravidade da conduta praticada. O Decreto nº 12.112/80, o qual instituiu
o Regulamento Discplinar da Polícia Militar do estado de Santa Catarina – RDPMSC,
dispõe que:
Art. 59 - Cancelamento de punição é o direito concedido ao policial-militar de ter cancelada a averbação de punições e outras notas a elas relacionadas, em suas alterações. Art. 60 - O cancelamento de punição pode ser conferido ao policial-militar que o requerer dentro das seguintes condições: 1) - não ser a transgressão, objeto da punição, atentatória ao sentimento dever, à honra pessoal, ao pundonor policial-militar ou ao decoro da classe; 2) - ter bons serviços prestados, comprovados pela análise de suas alterações; 3) - ter conceito favorável de seu Comandante; 4) - ter completado, sem qualquer punição: a) - 6 anos de efetivo serviço, quando a punição a cancelar for de prisão; b) - 4 anos de efetivo serviço, quando a punição a cancelar for de repreensão ou detenção.
A seguir, a demonstração gráfica que apresenta as punições canceladas
e ativas dos policiais militares denunciados, além daqueles que nunca tiveram
qualquer registro em suas fichas de conduta que os desabone. Ressalta-se que
essa consulta foi realizada em agosto de 2018.
64
Gráfico 14 – Histórico de punições dos Policiais Militares denunciados.
Fonte: Pesquisa realizada pelo Autor, 2018.
O gráfico acima apresenta o percentual de policiais militares denunciados,
dividos em três grupos: aqueles que não possuem qualquer tipo de apontamento em
suas fichas de conduta que os desabone, posteriormente foram selecionados os
PM´s que possuem punições descritas em suas fichas, porém que já foram
canceladas em razão dos requisitos do Art. 59 e seguintes do RDPMSC.
Importante observar que não há como saber o teor das punições após o
seu cancelamento, inclusive a punição cancela pode ser de caráter administrativo e
não necessariamente criminal. Por fim, foram destacados os policiais que possuem
punições ativas em suas fichas de conduta, e essas deixam explícitas o tipo de
punição recebida e em decorrência de qual irregularidade cometida.
Constatou-se que 82% dos policiais militares denunciados nesse estudo,
não posuem qualquer registro em suas fichas de conduta que os desabonem.
18% dos denunciados possuem punições, porém após cumprirem os requisitos do
RDPMSC, foram canceladas. Ao final, constatou-se ainda que não há qualquer
policial envolvido neste estudo que possui punições ativas em seus registros.
65
4.2.4 Do resultado da denúncia
As denúncias realizadas contra policiais militares em razão do
cometimento de abuso de autoridade, lesão corporal e invasão de domicílio foram
realizadas nos mais diversos órgãos. As supostas vítimas recorreram às mais
variadas instituições, entre elas o Ministério Público da Comarca de Laguna/SC, à
Delegacia de Polícia Civil e a Corregedoria do 28º Batalhão de Polícia Militar.
A seguir, a representação gráfica dos desfechos dos procedimentos
instaurados em razão das denuncias realizadas.
Gráfico 15 – Desfecho das denúncias.
Fonte: Pesquisa realizada pelo Autor, 2018.
Das 23 (vinte e três) denúncias contabilizadas no período, 21 (vinte e
uma) foram arquivadas judicialmente. Dentre todos os procedimetnos, um está em
andamento na Vara de Direito Militar da Comarca da Capital. Por fim, em um dos
processos, o policial militar aceitou a transação penal nos termos da Lei 9099/95
(BRASIL, 1995) evitando a continuidade do processo judicial que era movido em seu
desfavor.
Apresentado os resultados da pesquisa realizada, tem-se as conclusões
no capítulo seguinte.
66
5 CONCLUSÃO
O presente estudo teve como objetivo principal analisar as denúncias por
abuso de autoridade, lesão corporal e violação de domicílio, praticados por policiais
militares, no exercício da função, cometidos em Laguna/SC no período de janeiro de
2014 a agosto de 2018.
Este trabalho também apresentou um estudo bibliográfico, com o objetivo
de dar melhor embasamento à pesquisa realizada, discorrendo sobre a Lei de abuso
de autoridade e os crimes de invasão de domicílio e lesão corporal, analisando os
elementos que envolvem as condutas analisadas.
Apresentou-se também um breve histórico da Justiça militar brasileira e
aspectos relevantes da Justiça militar federal e estadual, além dos conceitos e
singularidades dos crimes comuns e militares, além das recentes alterações no
conceito de crime militar e seus reflexos na competência da justiça castrense.
Para alcançar o objetivo principal do trabalho, foi realizada uma consulta
na Corregedoria do 28º Batalhão de Polícia Militar e no Fórum da Comarca de
Laguna/SC, analisando-se vinte e três processos.
Após a tabulação dos dados de acordo com a planilha do Apêndice A,
foram analisados critérios em relação à denúncia, aos denunciantes e denunciados.
Em relação à denúncia, observou-se que os locais mais procurados pelas
vítimas para informar o ocorrido foram a Delegacia de Polícia Civil e o Ministério
Público, sendo registradas 74% das denúncias nestas duas instituições.
Quanto ao fato denunciado, os crimes de abuso de autoridade em razão
de lesão corporal e lesão corporal dolosa ocuparam 70% dos crimes denunciados.
Analisando o local em que ocorreram as supostas violações de direito por
policiais militares, observa-se que o Bairro Mar Grosso, Portinho e Progresso são os
mais reincidentes.
Finalizando os dados referentes à denúncia, observou-se que a Polícia
Militar, independentemente de outro órgão público estar analisando as denúncias,
instaurou procedimentos próprios em 91% dos casos, a fim de elucidar a verdade
real dos fatos.
Logo após, iniciou-se a tabulação dos dados referentes ao denunciante,
sendo observado que 32% deles têm de 18 a 24 anos, 13% de 25 a 30 anos e 26%
67
possuem 31 a 40 anos de idade. Três em cada quatro denunciantes são do sexo
masculino.
As principais ocupações dos denunciantes são: estudante, serviços gerais
e ainda, aqueles que não possuem atividade laboral.
Em relação ao histórico criminal, 1/3 dos denunciantes tem condenações
penais transitadas em julgado e metade possui registro policial.
Após a análise dos denunciantes, foram apreciados os dados referentes
aos policiais militares denunciados. Contatou-se que 68% dos denunciados
possuem idade entre 24 a 35 anos, o que era esperado, visto que os policiais mais
jovens ocupam funções operacionais, enquanto normalmente, os mais velhos
ocupam funções meio e administrativas, não trabalhando com o público externo.
Ocorre que, diferente do critério de idade, o qual não é tão expressivo, o
critério de tempo de ingresso na Polícia Militar de Santa Catarina é extremamente
relevante. 50% das denúncias registradas envolvem PM´s com até 5 anos de
serviços à instituição.
Há várias possibilidades desse número ter sido tão significativo, como a
falta de experiência no serviço operacional, que diferente do que acontece na teoria,
é imprevisível e inconstante.
Outro fato que pode ser considerado, segundo a experiência pessoal do
autor, o qual exerce a profissão policial militar há sete anos, é a falta de respeito que
o público em geral tem com os policiais mais novos, exigindo medidas mais
enérgicas por parte dos servidores e, consequentemente, sendo alvo de futuras
denúncias.
Por fim, em relação ao denunciado, foi analisado seus históricos de
punições, sendo constatao que 82% dos policiais militares envolvidos neste estudo,
não possuem qualquer apontamento em suas fichas de conduta que os desabones.
O desfecho da denúncia foi o último resultado analisado. Dos 23 (vinte e
três) procedimentos instaurados em razão da atividade policial na cidade de
Laguna/SC, pelos crimes e período pré definos na pesquisa, constatou-se que 21
(vinte e um) foram arquivados após apreciação do Poder Judiciário, enquanto um
processo ainda está em andamento e outro foi encerrado devido a aceitação da
transação penal por parte do policial militar processado.
68
REFERÊNCIAS
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69
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70
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APÊNDICE
APÊNDICE A – Tabela para a coleta de dados
DA DENÚNCIA
Nº Local da Denúncia
Fato Denunciado
Data do fato
Local dos Fatos
Proced. Instaurado pela PM
1
2
3
4
5
6
DO DENUNCIANTE
Nº Idade Sexo Profissão Escolaridade Informações Penais
1
2
3
4
5
6
DO DENUNCIADO
RESULTADO Nº Autos Nº Idade
Tempo de PM
Histórico do
policial
1
2
3
4
5
6