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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA
WENDY ILISANDRA ZATTI
RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO EM MEDICINA
VETERINÁRIA: CLÍNICA E CIRURGIA DE PEQUENOS ANIMAIS
Tubarão
2020
WENDY ILISANDRA ZATTI
RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO EM MEDICINA
VETERINÁRIA: CLÍNICA E CIRURGIA DE PEQUENOS ANIMAIS
Relatório de estágio curricular supervisionado
apresentado ao Curso de Medicina Veterinária
da Universidade do Sul de Santa Catarina como
requisito à obtenção do grau de bacharel em
Medicina Veterinária.
Orientador: Professor Joares Adenilson May Júnior, Ms.
Tubarão
2020
WENDY ILISANDRA ZATTI
RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO EM MEDICINA
VETERINÁRIA: CLÍNICA E CIRURGIA DE PEQUENOS ANIMAIS
Este Trabalho de Conclusão de Curso foi
julgado adequado à obtenção do título de
Médico Veterinário e aprovado em sua forma
final pelo Curso de Medicina Veterinária da
Universidade do Sul de Santa Catarina.
Tubarão, 16 de junho de 2020.
______________________________________________________
Professor e orientador Joares Adenilson May Júnior, Ms.
Universidade do Sul de Santa Catarina
______________________________________________________
Professor e médico veterinário Jairo Balsini
Universidade do Sul de Santa Catarina
______________________________________________________
Médica veterinária Sibele Bressan Pedroso
Universidade do Sul de Santa Catarina
Dedico este trabalho aos meus pais Ilisandro
Zatti, Rose Vargas e meu irmão Wesley Zatti
que sempre me apoiaram e acreditaram em
mim.
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer primeiramente à Deus, que sempre me concedeu forças para não
desistir, vencer os obstáculos, me deu uma família maravilhosa e colocou no meu caminho
pessoas muito especiais.
Agradecer a minha família, que foi fundamental para isso acontecer. Em especial meu
pai Ilisandro Zatti e minha mãe Rose Vargas, que me permitiram realizar esse sonho. Ao meu
irmão Wesley Zatti que sempre me apoiou, desde o primeiro dia que decidi cursar medicina
veterinária. Ao meu marido Karl Júnior que estava sempre ao meu lado dizendo que daria tudo
certo e à minha filha Luiza Zatti, que é a razão da minha vida, minha inspiração e força.
Madrinha Ingrid Souza, sempre enviando energias positivas, mesmo de longe. Minha segunda
família, minha sogra Adriana Della Vedova, avó Selma Rosa e madrinha Andréa Gomes que
sempre estavam lá, em todos os momentos que eu precisei, dias, noites, feriados e finais de
semanas, cuidando da minha princesa, quando precisava estudar para provas e fazer trabalhos...
Agradecer às amigas que a vida e a faculdade me deram. Mariana Gomes aquela pessoa
essencial na minha vida que sempre acreditou em mim e nunca duvidou do meu potencial.
Heloisa Antunelli aquela peça principal do meu dia a dia, menina doce, sempre positiva, que
toda pessoa precisa em sua vida, sem dúvidas! Gabriela Oenning tão paciente e amiga. Não
poderia deixar de citar elas, colegas e amigas que quero levar para vida toda Paula Tramontin,
Taiane Costa, Marina Torres, Débora Fernandes, Giovana Vargas e Beatriz Fontanela.
Obrigada por existirem na minha vida!
Agradecer aos professores, em geral, que me ensinaram e ajudaram a chegar até aqui.
Em especial ao meu professor e orientador Joares Adenilson May Júnior, que foi essencial e
contribuiu muito para minha formação acadêmica.
Agradecer à toda equipe do Hospital Veterinário Pet Vida, que me receberam de portas
e corações abertos. Beatriz Ragognet e Adrielle Raymundo obrigada por me aceitarem como
estagiária e por tantas oportunidades de aprendizado. Caroline Ferreti, Nathana Souza, Jéssica
Robles, Rodolfo Tormin, Thiago Ferreira veterinários exemplares, obrigada por tanto. E claro,
não poderia deixar de agradecer meus colegas estagiários, Giovana Bermudez, Julia Moura e
Luis Felipe Dal Ri, quero ter vocês para sempre em minha vida. Enfim, só tenho a agradecer!
“Acredite em si próprio e chegará um dia em que os outros não terão outra escolha se não
acreditar com você” (CYNTHIA KERSEY).
RESUMO
O estágio curricular foi realizado no Hospital Veterinário Pet Vida, na cidade de Araraquara -
SP, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020, totalizando 360 horas, distribuídas
em 40 horas semanais, com a supervisão da médica veterinária Adrielle Chechi Raymundo e
orientação do Professor Ms. Joares Adenilson May Júnior. No decorrer do período de estágio,
foram acompanhados 415 animais, sendo 57 cirurgias, 114 consultas, 48 exames de imagem,
60 retornos/revisões, 18 testes rápidos, 61 vacinas e no setor de internação 57. Destes, foram
selecionados e relatados três casos: Mastectomia unilateral total em cadela, Linfoma
mediastinal em gata e Erliquiose em cão SRD. Estes casos foram acompanhados durante
consulta, cirurgia e pós-operatório; consulta, retorno e internação; e consulta e retorno,
respectivamente. O estágio curricular é de extrema importância, nos proporciona experiências
com profissionais e tutores, nos mostra rotinas variadas e diferentes formas de pensar, sempre
tentando chegar a um diagnóstico final. É o momento de colocar em prática aprendizados
adquiridos ao longo do curso, e a aquisição de novos conhecimentos através da realização e
observação de diversos procedimentos médicos e cirúrgicos.
Palavras-chave: Mastectomia unilateral total. Linfoma mediastinal. Erliquiose.
ABSTRACT
The curricular internship was accomplished at the Pet Vida Veterinary Hospital, in the city of
Araraquara - SP, from March 2nd to May 8th, 2020, 360 hours total, distributed in 40 hours per
week, with the supervision of DVM Adrielle Chechi Raymundo and advice of Professor DVM
Ms. Joares Adenilson May Júnior. During the internship, 415 animals were followed, 57
surgeries, 114 consultations, 48 imaging exams, 60 returns/revisions, 18 rapid tests, 61 vaccines
and in the hospitalization sector 57. Of these, three cases were selected and reported: total
unilateral mastectomy in bitch, mediastinal lymphoma in cat and Erliquiosis in dog. These cases
were followed up during consultation, surgery and postoperative period; consultation, return
and hospitalization; consultation and return, respectively. The curricular internship is extremely
important, provides us experiences with professionals and owners, shows us varied routines and
different ways of thinking, always trying to reach a final diagnosis. It is time to put in practice
lessons acquired throughout the course and the acquisition of new knowledge through the
realization and observation of various medical and surgical procedures.
Keywords: Total unilateral mastectomy. Mediastinal lymphoma. Ehrlichiosis.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1- Fachada do Hospital Veterinário Pet Vida (A). Fachada do pet shop anexo e
estacionamento do Hospital Veterinário Pet Vida (B). .......................................................... 22
Figura 2- Loja pet shop do Hospital Veterinário Pet Vida. .................................................... 23
Figura 3- Estrutura de banho e tosa do Hospital Veterinário Pet Vida. .................................. 23
Figura 4- Hotel e day care do Hospital Veterinário Pet Vida. ............................................... 23
Figura 5- Recepção do Hospital Veterinário Pet Vida........................................................... 24
Figura 6- Consultórios de atendimento do Hospital Veterinário Pet Vida. Consultório 1 (A) para
atendimento de especialistas, o consultório 2 e 3 (B e C) para atendimento clínico geral e o
consultório 4 (D) para atendimentos de urgência/emergências. ............................................. 25
Figura 7- Sala para realização de exames radiográficos do Hospital Veterinário Pet Vida. ... 26
Figura 8- Sala de Internação do Hospital Veterinário Pet Vida. ............................................ 26
Figura 9- “Sala de Isolamento” do Hospital Veterinário Pet Vida. ........................................ 27
Figura 10- Farmácia do Hospital Veterinário Pet Vida. ........................................................ 27
Figura 11- Laboratório de análises clínicas do Hospital Veterinário Pet Vida. Visão do aparelho
de exames hematológicos (A), centrífuga e aparelho de exames bioquímicos (B). ................ 28
Figura 12- Sala para os médicos veterinários do Hospital Veterinário Pet Vida (A). Sala de
administração do Hospital Veterinário Pet Vida (B). ............................................................ 28
Figura 13- Bloco cirúrgico do Hospital Veterinário Pet Vida (A e B). Sala de assepsia para o
cirurgião e auxiliar (C). ........................................................................................................ 29
Figura 14- Ficha de internação com dados do animal e proprietário (A). Ficha de internação
com outras informações (B). Ficha de parâmetros (C). Ficha com tabela de medicações (D). 33
Figura 15- Documento de autorização para cirurgia (A) e anestesia (B). ............................... 35
Figura 16- Nódulo tumoral localizado em M5 (mama 5), do lado esquerdo. ......................... 53
Figura 17- Imagens radiográficas do tórax nas projeções ventrodorsal (A), laterolateral direita
(B) e laterolateral esquerda (C). Não teve evidências de nódulos com características de
metástase. Exame dentro do normal. .................................................................................... 55
Figura 18- Tricotomia e antissepsia realizada com clorexidina 1% e álcool 70% (A). Colocação
dos campos cirúrgicos estéreis (B). ...................................................................................... 56
Figura 19- Incisão torácica elíptica com bisturi, pele e subcutâneo, em formato de “V” (A).
Dissecação com a tesoura e divulsão da cadeia inteira, com tração da mão (B). .................... 57
Figura 20- Localização (A) e ligadura da artéria epigástrica superficial caudal (B). .............. 57
Figura 21- Cadeia mamária retirada juntamente com o linfonodo inguinal (A) e após a divulsão
ampla do subcutâneo foi utilizada a técnica walking suture, que mobiliza a pele das laterais para
o centro da ferida cirúrgica, com fio absorvível vicryl 3.0® (B). .......................................... 58
Figura 22- O fechamento da musculatura foi com a sutura simples contínua intradérmica, com
fio absorvível monofilamentoso poliglecaprone caprofyl 2.0®. ............................................ 58
Figura 23- Para o fechamento da pele, foi realizada sutura simples isolada com náilon shalon
2.0® (A). O paciente foi monitorado no canil constantemente, até recuperação total anestésica
(B). ...................................................................................................................................... 59
Figura 24- A massa tumoral pesou 500 gramas e uma amostra foi enviada para análise
histopatológica, para empresa VETPAT. .............................................................................. 59
Figura 25- Ferida apresentou boa cicatrização após 10 dias da realização cirúrgica, foi retirado
os pontos e animal recebeu alta médica. ............................................................................... 60
Figura 27- Teste rápido de FIV-FeLV Alere® apresentando resultado positivo para FeLV. . 70
Figura 28- Imagens ultrassonográficas apresentando linfonodos com dimensões aumentadas
(linfadenomegalia generalizada), ecogenicidade reduzida e mesentério reativo ao redor. Os
maiores medindo: ilíaco 0,65 x 1,93cm (A); esplênico 0,79 x 1,51cm (B); hepático 1,66 x
2,55cm (C); jejunal 0,94 x 2,84cm (D). ................................................................................ 70
Figura 29- Região torácica com formação heterogênea, irregular, de limites não definidos,
medindo em torno de 2,95 x 6,06cm (podendo ser o linfonodo esternal deslocado até o coração).
............................................................................................................................................ 71
Figura 30- Imagens radiográficas do tórax nas projeções ventrodorsal (A), laterolateral direita
(B) e laterolateral esquerda (C). Apresentaram discreta efusão pleural, deslocamento dorsal de
traqueia, aumento de volume e radiopacidade de tecidos moles do mediastino cranial e médio,
ocupando toda extensão cranial da cavidade torácica. Imagens compatíveis com neoformação
mediastinal........................................................................................................................... 71
Figura 31- Realização do exame citológico. Técnica de CAAF do linfonodo submandibular
direito. ................................................................................................................................. 73
Figura 32- Paciente apresentando mucosas hipocoradas (oral e ocular). ............................... 74
Figura 33- Linfonodos submandibulares retirados após eutanásia e enviados para análise
histopatológica para fechar o diagnóstico de linfoma............................................................ 75
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Distribuição dos casos acompanhados na rotina clínica e classificados conforme o
sistema acometido, no período 02 de março a 08 de maio de 2020 ....................................... 42
Gráfico 2 - Distribuição dos casos acompanhados na rotina cirúrgica e classificados conforme
o sistema no período 02 de março a 08 de maio de 2020 ...................................................... 49
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Distribuição de tipos de atividades acompanhadas no Hospital Veterinário Pet Vida,
durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. ...................................................... 39
Tabela 2 – Imunizações de cães e gatos acompanhadas no Hospital Veterinário Pet Vida,
durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. ...................................................... 40
Tabela 3 – Casuística no setor diagnóstico por imagem de cães e gatos acompanhada no
Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. ...... 41
Tabela 4 – Testes rápidos realizados e acompanhados no Hospital Veterinário Pet Vida, durante
o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. .................................................................. 41
Tabela 5 – Casuística clínica do sistema cardiovascular de cães e gatos acompanhada no
Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. ...... 43
Tabela 6 – Casuística clínica do sistema digestório acompanhada no Hospital Veterinário Pet
Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. ............................................ 43
Tabela 7 – Casuística clínica do sistema endócrino de cães e gatos acompanhada no Hospital
Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. .................... 44
Tabela 8 – Casuística clínica do sistema geniturinário de cães e gatos acompanhada no Hospital
Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. .................... 44
Tabela 9 – Casuística clínica do sistema hematopoiético de cães e gatos acompanhada no
Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. ...... 44
Tabela 10 – Casuística clínica do sistema musculoesquelético acompanhada no Hospital
Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. .................... 45
Tabela 11 – Casuística clínica do sistema nervoso acompanhada no Hospital Veterinário Pet
Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. ............................................ 45
Tabela 12 – Casuística clínica do sistema oftálmico de cães e gatos acompanhada no Hospital
Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. .................... 45
Tabela 13 – Casuística clínica do sistema reprodutivo de cães e gatos acompanhada no Hospital
Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. .................... 46
Tabela 14 – Casuística clínica do sistema reprodutivo de cães e gatos acompanhada no Hospital
Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. .................... 46
Tabela 15 – Casuística clínica do sistema tegumentar/auditivo de cães e gatos acompanhada no
Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. ...... 47
Tabela 16 – Casuística clínica das enfermidades infectocontagiosas de cães e gatos
acompanhada no Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio
de 2020. ............................................................................................................................... 47
Tabela 17 – Casuística clínica das enfermidades oncológicas de cães e gatos acompanhada no
Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. ...... 48
Tabela 18 – Casuística clínica de outras enfermidades de cães e gatos acompanhada no Hospital
Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. .................... 48
Tabela 19 – Número de procedimentos cirúrgicos do sistema digestório acompanhados no
Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. ...... 50
Tabela 20 – Número de procedimentos cirúrgicos do sistema geniturinário de cães e gatos
acompanhados no Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de
maio de 2020. ...................................................................................................................... 50
Tabela 21 – Número de procedimentos cirúrgicos do sistema hematopoiético de cães e gatos
acompanhados no Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de
maio de 2020. ...................................................................................................................... 51
Tabela 22 – Número de procedimentos cirúrgicos do sistema oftálmico de cães e gatos
acompanhados no Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de
maio de 2020. ...................................................................................................................... 51
Tabela 23 – Número de procedimentos cirúrgicos do sistema reprodutivo acompanhados no
Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. ...... 51
Tabela 24 – Número de procedimentos cirúrgicos de sistemas variados acompanhados no
Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. ...... 52
Tabela 25 – Hemograma apresentando discreta eritrocitose e linfopenia. ............................. 54
Tabela 26 – Exame bioquímico, com valores de creatinina e TGP normais. ......................... 54
Tabela 27 – Hemograma apresentando leucocitose, discreta linfocitose e trombocitopenia ... 69
Tabela 28 – Exames foram repetidos antes da decisão sobre eutanásia e mostraram-se piores,
com presença de anemia, leucocitose seguida de linfocitose. ................................................ 74
Tabela 29 – A avaliação renal e hepática estava dentro dos valores de referência. ................ 74
Tabela 30 – Tabela ilustrando o estadiamento de linfoma em cães. ...................................... 81
Tabela 31 – Tabela ilustrando o estadiamento de linfoma em gatos. ..................................... 82
Tabela 32 – Hemograma apresentando leucocitose seguida de trombocitopenia. .................. 85
Tabela 33 – Avaliação hepática e renal sem alterações. ........................................................ 85
Tabela 34 – Hemograma após uma semana do início do tratamento apresentando melhora,
normalizando o número de plaquetas, porém ainda possuía leucocitose. ............................... 86
Tabela 35 – 7 dias após término do tratamento, realizou hemograma e ainda apresentava
leucocitose, plaquetas normalizadas e restante sem alteração................................................ 87
Tabela 36 – Hemograma após 7 dias do último retorno, para acompanhamento da leucocitose
apresentada no último exame. O resultado mostrou-se dentro da normalidade. ..................... 87
LISTA DE ABREVEATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS
% - Por cento
µg – Micrograma
ALT – Alanina Aminotransferase
AST – Aspartato Aminotransferase
bpm – Batimentos por minuto
CAAF – Citologia Aspirativa com Agulha Fina
CE – Corpo Estranho
CedimVet – Centro de Diagnóstico por Imagem Veterinário
CHCM – Concentração Hemoglobina Corpuscular Média
cm – Centímetros
CRE – Creatinina
DASP – Dermatite Alérgica à Saliva de Pulga
dL – Decilitro
DRC – Doença Renal Crônica
DTUIF – Doença do Trato Urinário Inferior Felino
DUA – Dermatite Úmida Aguda
EPI’s – Equipamentos de Proteção Individual
EUA – Estados Unidos
ex - Exemplo
FA – Fosfatase Alcalina
FC – Frequência Cardíaca
FeLV – Feline Leucemia Vírus (Vírus da Leucemia Felina)
FIV – Feline Immunodeficiency Vírus (Vírus da Imunodeficiência Felina)
FR – Frequência Respiratória
g – Gramas
GGT – Gama Glutamil Transferase
HCM – Hemoglobina Corpuscular Média
HVPV – Hospital Veterinário Pet Vida
ICC – Insuficiência Cardíaca Congestiva
IgG – Imunoglobulina G
IM – Intramuscular
IRA – Injúria Renal Aguda
IV - Intravenosa
KCl – Cloreto de Potássio
Kg – Quilogramas
LCCr – Ruptura de Ligamento Cruzado Cranial
M1 – Mama torácica cranial
M2 – Mama torácica caudal
M3 – Mama abdominal cranial
M4 – Mama abdominal caudal
M5 – Mama inguinal
mg – Miligramas
mm3 – Milímetro cúbico (volume)
MPA – Medicação pré-anestésica
mpm – Movimentos por minuto
MV – Médico veterinário
NaCl – Cloreto de Sódio
ºC – Graus célsius
OE – Osteossarcoma extra-esquelético
OMS – Organização Mundial da Saúde
OSA – Osteossarcoma
OSH – Ovário-salpingo-histerectomia
OSM – Osteossarcoma mamário
PAS – Pressão Arterial Sistólica
PBA – Punção Biópsia Aspirativa
PCR – Reação em Cadeia da Polimerase
RDW – Red Cell Distribution Width (Amplitude de Distribuição dos Glóbulos Vermelhos
SC – Subcutâneo
SP – São Paulo
SpO2 – Saturação oxigênio capilar periférico
SRD – Sem raça definida
TCE – Trauma Crânio Encefálico
TNM – Tumor, linfonodo, mestástase
TPC – Tempo de preenchimento capilar
TPC – Tempo de preenchimento capilar
TR – Temperatura Retal
UI – Unidades internacionais
V10 – Vacina polivalente
V4 – Vacina quádrupla
V5 – Vacina quíntupla
VCM – Volume corpuscular médio
VETPAT – Laboratório de Análises Clínicas Veterinário
VO – Via Oral
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 21
2 DESCRIÇÃO DO LOCAL DO ESTÁGIO .................................................................... 21
3 ROTINA DO HOSPITAL VETERINÁRIO PET VIDA ............................................... 29
3.1 SETOR DE ATENDIMENTO CLÍNICO E ESPECIALIDADES .................................. 30
3.2 SETOR DE INTERNAMENTO ..................................................................................... 32
3.3 SETOR DE CIRURGIA ................................................................................................. 35
3.4 SETOR DE DIAGNÓSTICO POR IMAGEM ................................................................ 36
3.5 LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS ............................................................... 38
4 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ............................................................................... 38
5 CASUÍSTICA ACOMPANHADA DURANTE O PERÍODO DE ESTÁGIO .............. 39
5.1 CASUÍSTICA SETOR DE IMUNIZAÇÕES ................................................................. 40
5.2 CASUÍSTICA SETOR DIAGNÓSTICO POR IMAGEM ............................................. 41
5.3 CASUÍSTICA DE TESTE RÁPIDO .............................................................................. 41
5.4 CASUÍSTICA SETOR DE CLÍNICA E INTERNAMENTO ......................................... 42
5.4.1 Enfermidades do Sistema Cardiovascular ............................................................... 43
5.4.2 Enfermidades do Sistema Digestório ........................................................................ 43
5.4.3 Enfermidades do Sistema Endócrino ........................................................................ 44
5.4.4 Enfermidades do Sistema Geniturinário .................................................................. 44
5.4.5 Enfermidades do Sistema Hematopoiético ............................................................... 44
5.4.6 Enfermidades do Sistema Musculoesquelético ......................................................... 45
5.4.7 Enfermidades do Sistema Nervoso ........................................................................... 45
5.4.8 Enfermidades do Sistema Oftálmico ........................................................................ 45
5.4.9 Enfermidades do Sistema Reprodutivo .................................................................... 46
5.4.10 Enfermidades do Sistema Respiratório .................................................................. 46
5.4.11 Enfermidades do Sistema Tegumentar/Auditivo ................................................... 47
5.4.12 Enfermidades Infectocontagiosas ........................................................................... 47
5.4.13 Enfermidades Oncológicas ...................................................................................... 48
5.4.14 Outras enfermidades/atendimentos ........................................................................ 48
5.5 CASUÍSTICA SETOR DE CIRURGIA ......................................................................... 49
5.3.1 Cirurgia do Sistema Digestório ................................................................................. 50
5.3.2 Cirurgia do Sistema Geniturinário ........................................................................... 50
5.3.3 Cirurgia do Sistema Hematopoiético ........................................................................ 50
5.3.4 Cirurgia do Sistema Oftálmico ................................................................................. 51
5.3.5 Cirurgia do Sistema Reprodutivo ............................................................................. 51
5.3.6 Cirurgia de outros sistemas....................................................................................... 52
6 RELATOS DE CASOS ................................................................................................... 52
6.1 RELATO DE CASO 1: MASTECTOMIA ..................................................................... 52
Mastectomia unilateral em cadela. ........................................................................................ 52
6.1.1 Resenha ...................................................................................................................... 52
6.1.2 Histórico e anamnese ................................................................................................. 53
6.1.3 Exame físico ............................................................................................................... 53
6.1.4 Exames complementares ........................................................................................... 54
6.1.5 Tratamento ................................................................................................................ 55
6.1.6 Evolução do caso ....................................................................................................... 59
6.1.7 Retorno ...................................................................................................................... 60
6.1.8 Resultado Histopatológico......................................................................................... 61
6.1.9 Discussão e revisão de literatura ............................................................................... 61
6.2 RELATO DE CASO 2: LINFOMA ................................................................................ 68
6.2.1 Resenha ...................................................................................................................... 68
6.2.2 Histórico e anamnese ................................................................................................. 68
6.2.3 Exame físico ............................................................................................................... 69
6.2.4 Exames complementares ........................................................................................... 69
6.2.5 Tratamento ................................................................................................................ 72
6.2.6 Resultado Histopatológico......................................................................................... 75
6.2.7 Revisão e discussão de literatura .............................................................................. 76
6.3 RELATO DE CASO 3: ERLIQUIOSE .......................................................................... 83
6.3.1 Resenha ...................................................................................................................... 84
6.3.2 Histórico e anamnese ................................................................................................. 84
6.3.3 Exame físico ............................................................................................................... 84
6.3.4 Exames complementares ........................................................................................... 84
6.3.5 Tratamento ................................................................................................................ 85
6.3.6 Evolução do caso ....................................................................................................... 86
6.3.6 Revisão e discussão de literatura .............................................................................. 88
7 CONCLUSÃO ................................................................................................................. 93
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 94
ANEXOS ............................................................................................................................ 96
ANEXO A – Laudo radiográfico, cadela, fêmea, 9 anos, Pastor Alemão Branco, 39kg .. 97
ANEXO B – Laudo histopatológico, cadela, fêmea, 9 anos, Pastor Alemão Branco, 39kg
............................................................................................................................................ 98
ANEXO C – Laudo ultrassonográfico, gata, fêmea, 1 ano, SRD, 3,5kg ........................... 99
ANEXO D – Laudo radiográfico, gata, fêmea, 1 ano, SRD, 3,5kg ................................. 100
ANEXO E – Laudo citológico, gata, fêmea, 1 ano, SRD, 3,5kg ...................................... 101
ANEXO F – Laudo histopatológico, gata, fêmea, 1 ano, SRD, 3,5kg ............................. 102
ANEXO G – Laudo PCR, canino, macho, 8 anos, SRD, 29kg ........................................ 103
ANEXO H – Laudo PCR, canino, macho, 8 anos, SRD, 29kg ........................................ 104
21
1 INTRODUÇÃO
O presente relatório tem por objetivo descrever as atividades desenvolvidas durante o
período de estágio curricular supervisionado. O estágio foi realizado no Hospital Veterinário
Pet Vida, na cidade de Araraquara/SP (São Paulo), na área clínica e cirúrgica de pequenos
animais. Durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020, totalizando carga horária de
360 horas, distribuídas em 8 horas diárias, sob a supervisão da médica veterinária Adrielle
Chechi Raymundo e orientação do médico veterinário professor Joares Adenilson May Júnior.
Durante o período de estágio, ocorreu a pandemia mundial do Coronavírus - COVID19,
e isso acarretou em mudanças drásticas em todos estabelecimentos veterinários do estado de
SP. O HVPV seguiu às determinações do Governo Federal e da Organização Mundial de Saúde
(OMS) e inseriu diversas medidas preventivas, e para garantir a saúde de todos os funcionários
e clientes, reforçou a rotina de higiene e limpeza.
O estágio obrigatório foi de extrema importância para a minha formação de médica
veterinária, tive a oportunidade de colocar em prática conceitos teóricos que tive durante a vida
acadêmica, e adquirir novos conhecimentos através da realização e observação de diversos
procedimentos médicos e cirúrgicos durante este período. Além de conhecer os protocolos de
outros profissionais que atuam na rotina da saúde dos animais domésticos, pude tirar dúvidas e
discutir diversos casos.
A medicina veterinária vem avançando cada vez mais em termos de tratamentos,
medicamentos e equipamentos. Além de cães e gatos serem considerados e tratados como
membros da família, tornando a profissão mais reconhecida e valorizada atualmente. O local de
estágio foi escolhido por abranger grande fluxo de pacientes, profissionais de qualidade, e boa
estrutura hospitalar.
O relatório abrange a descrição do local de estágio realizado, as atividades
desenvolvidas, casuística acompanhada e o relato de três casos escolhidos: Mastectomia
unilateral total em cadela, Linfoma mediastinal em gata e Erliquiose em cão SRD.
2 DESCRIÇÃO DO LOCAL DO ESTÁGIO
O estágio curricular supervisionado obrigatório foi realizado no Hospital Veterinário Pet
Vida, localizado na cidade de Araraquara/SP, no bairro Centro, na avenida Bento de Abreu,
número 789 (Figura 1A). O hospital foi fundado em agosto de 2013 para o atendimento de
animais de estimação, incluindo cães, gatos e silvestres com especializações em diferentes
áreas, internação (inclusive para animais com enfermidades infecciosas), centro cirúrgico e
22
laboratório 24 horas. A unidade possuía serviços de pet shop, banho e tosa, hotel, day care, disk
ração, transporte e estacionamento privativo exclusivo para clientes (Figura 1B). O corpo
técnico era composto por 6 médicos veterinários e 4 auxiliares veterinárias, todos sob a direção
clínica da médica veterinária Beatriz do Nascimento Nunes Ragognetti e administrativa de
Mateus Castaldi Ragognetti. Entre os colaboradores estavam duas recepcionistas, um
administrador, seis funcionários operativos (banho, tosa, creche e hotel) e duas auxiliares de
limpeza.
Figura 1- Fachada do Hospital Veterinário Pet Vida (A). Fachada do pet shop anexo e
estacionamento do Hospital Veterinário Pet Vida (B).
Fonte: A autora (2020).
O HVPV possuía em anexo a loja pet shop (Figura 2) com várias linhas de alimentação
premium e super premium para cães e gatos, medicações, acessórios, entre outros. A estrutura
de banho e tosa (Figura 3) atendia cães e gatos com horários previamente marcados. O HVPV
também disponibilizava de um hotel (hospedagem) e day care (creche para cães) (Figura 4),
local onde os animais ficavam hospedados, a creche funcionava das 7:00h às 19:00h, e o hotel
24 horas supervisionados por duas funcionárias.
A B
23
Figura 2- Loja pet shop do Hospital Veterinário Pet Vida.
Fonte: A autora (2020).
Figura 3- Estrutura de banho e tosa do Hospital Veterinário Pet Vida.
Fonte: A autora (2020).
Figura 4- Hotel e day care do Hospital Veterinário Pet Vida.
Fonte: A autora (2020).
24
Na recepção do HVPV, eram realizados os cadastros dos clientes, pacientes e
posteriormente os animais eram pesados (Figura 5). Nesse local os tutores, com seus animais,
aguaradavam pelo atendimento geral, pois as consultas eram por ordem de chegada. Além de
ser o local onde recebiam ligações, agendamento de consultas especializadas, cirurgias e exames
de imagem. Próximos à recepção, haviam quatro consultórios. Geralmente, o consultório 1
(Figura 6A) era destinado ao atendimento por médicos veterinários especialistas. Nos
consultórios 2 (Figura 6B) e 3 (Figura 6C) eram realizados os atendimentos clínicos gerais. No
consultório 4 (Figura 6D), para casos de urgência/emergência. Os consultórios eram equipados
com computadores, pia para lavagem de mãos, mesa de inox, armário com materiais de uso
frequênte, tais como: tubos de coleta de sangue, seringas, scalp, catéteres, luvas de
procedimento, tesouras, pinças, gazes, algodão, esparadrapos, termômetro, estetoscópio, álcool,
água oxigenada, anti séptico, pomadas cicatrizantes, desinfetante, tubos de soro fisiológico,
equipos normais e de bomba de infusão, entre outros.
Figura 5- Recepção do Hospital Veterinário Pet Vida.
Fonte: A autora (2020).
25
Figura 6- Consultórios de atendimento do Hospital Veterinário Pet Vida. Consultório 1 (A) para
atendimento de especialistas, o consultório 2 e 3 (B e C) para atendimento clínico geral e o
consultório 4 (D) para atendimentos de urgência/emergências.
Fonte: A autora (2020).
Na sala de radiografia (Figura 7) eram realizados os exames dos animais atendidos no
hospital, ou de animais que vinham encaminhados de outros estabelecimentos veterinárias.
Após a realização do exame, as imagens eram gravadas em um CD e entregue aos tutores. O
laudo oficial ficava pronto posteriormente e os médicos veterinários entravam em contato para
confirmar o resultado.
A B
C D
26
Figura 7- Sala para realização de exames radiográficos do Hospital Veterinário Pet Vida.
Fonte: A autora (2020).
Possuía duas salas de internação para animais que necessitavam de acompanhamento
clínico e cuidados intensivos. Em uma delas haviam 17 baias, 11 menores utilizadas para gatos
ou cães de pequeno porte e seis maiores destinadas à cães de médio e grande porte (Figura 8).
A outra sala de internação, denominada “sala de isolamento” era para animais que possuíam
alguma doença ou suspeita infectocontagiosa, composta por sete baias, quatro menores e três
maiores (Figura 9). Os dois ambientes eram devidamente climatizados e projetados para
otimizar o acompanhamento e o monitoramento dos pacientes de forma constante. A farmácia
(Figura 10) situava-se no centro do hospital, nela ficavam guardadas todas as medicações e
produtos de uso.
Figura 8- Sala de Internação do Hospital Veterinário Pet Vida.
Fonte: A autora (2020).
27
Figura 9- “Sala de Isolamento” do Hospital Veterinário Pet Vida.
Fonte: A autora (2020).
Figura 10- Farmácia do Hospital Veterinário Pet Vida.
Fonte: A autora (2020).
O HVPV possuía um laboratório interno para efetuar exames hematológicos, bioquímicos
gerais (Figura 11) e testes rápidos. Outros exames como citológicos e histopatológicos, eram
encaminhados para laboratórios externos parceiros. Anexo ao laboratório, havia uma sala com
28
computadores para os médicos veterinários passarem os resultados dos exames, preencherem,
completar as descrições dos pacientes e fazer receituários (Figura 12A).
A sala de administração era ocupada pelos proprietários e médicos veterinários do HVPV.
Nesse local eram realizados todos os dias os planejamentos do hospital (Figura 12B).
O bloco cirúrgico (Figura 13A e B) era composto por uma sala de assepsia em anexo (Figura
13C) e toda estrutura necessária para realização de procedimentos cirúrgicos, como mesa
cirúrgica impermeável e de fácil higienização, sistema de aquecimento (colchão térmico),
equipamento para anestesia inalatória com ventiladores mecânicos, monitor multiparamétrico,
foco cirúrgico, aspirador cirúrgico, mesa auxiliar, tubos traqueais e laringoscópio, materiais
cirúrgicos, entre outros. A sala de antissepsia possuía pia para lavagem de mãos, equipamentos
de lavagem, secagem e esterilização de materiais.
Figura 11- Laboratório de análises clínicas do Hospital Veterinário Pet Vida. Visão do aparelho
de exames hematológicos (A), centrífuga e aparelho de exames bioquímicos (B).
Fonte: A autora (2020).
Figura 12- Sala para os médicos veterinários do Hospital Veterinário Pet Vida (A). Sala de
administração do Hospital Veterinário Pet Vida (B).
Fonte: A autora (2020).
B A
A B
29
Figura 13- Bloco cirúrgico do Hospital Veterinário Pet Vida (A e B). Sala de assepsia para o
cirurgião e auxiliar (C).
Fonte: A autora (2020).
3 ROTINA DO HOSPITAL VETERINÁRIO PET VIDA
O HVPV possuía atendimento 24 horas, com horário de atendimento comercial das 08:30
às 19:00 horas e após este horário, realizava plantão. Durante este período, exames
complementares (hematológicos, bioquímicos e testes rápidos) e exames de radiografia podiam
ser realizados. Exames ultrasonográficos eram terceirizados, sempre agendados previamente com
o médico veterinário ultrassonografista, mas quando necessário ele realizava imagens no plantão.
Dos seis médicos veterinários, cada dupla cumpria 6 horas de trabalho por dia, totalizando 60
horas semanais. Nos finais de semana, faziam plantão de 12 horas. As auxiliares trocavam os
cargos a cada 12 horas por dia, de domingo a domingo.
Para os animais que ficavam internados, as visitas tinham horários específicos. A função
das auxiliares era receber as visitas (tutores dos animais), fazer as medicações e deixá-las prontas,
limpar as baias, alimentar e dar água aos animais, preencher as fichas dos animais internados,
entrar em contato (por telefone) com os tutores para explicar a evolução do animal, entre outros.
Com a pandemia do Coronavírus (COVID19), a rotina foi alterada. As atividades do
hospital como consultas, vacinas, cirurgias, atendimento emergencial 24 horas, venda de
medicamentos e rações, continuaram normalmente, porém com quadro de funcionários e
estagiários reduzidos. Alguns funcionários tiveram férias e somente dois estagiários puderam
continuar o acompanhamento. Essa medida foi com o intuito de diminuir o fluxo de pessoas,
dentro do hospital. Os serviços de banho e tosa, creche e hotel, foram fechados por tempo
A B C
30
indeterminado, seguindo as normas do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de
SP, que descreveu esses serviços como não essenciais.
Os funcionários e estagiários seguiram as regras para diminuir o risco de contágio que
eram o uso obrigatório de máscara, luvas, além de jaleco e roupa fechada durante as consultas.
As regras para os clientes serem atendidos eram com uso obrigatório de máscara, distância de
1 metro e meio do veterinário, somente um proprietário dentro do consultório durante o
atendimento, proibido acompanhamento de exames de imagens e proibidas as visitas aos
animais internados. As informações sobre os internados eram somente por ligações telefônicas
e as enfermeiras ficavam disponíveis o dia todo, para passar o quadro geral do animal ou tirar
dúvidas. Era possível ver os animais através de chamada de vídeo. Na recepção, reduziram o
número de cadeiras e deixaram o espaço de 1 metro entre elas, com o intuito de evitar
aglomeração e proximidade de clientes. Álcool em gel estava disponível em todos os locais do
hospital, recepção, consultórios, bloco cirúrgico, laboratório, internações, banheiros, farmácia
e nas paredes dos corredores. As salas de consultório mantinham as janelas abertas e portas
abertas e ar condicionado ligado durante o atendimento. As auxiliares de limpeza foram
orientadas a desinfetar, várias vezes por dia, com produtos de higiene e álcool, todos os pontos
que podiam haver contato entre pessoas como cadeiras, maçanetas de portas, balcão de
recepção, teclados de computadores, telefones, entre outros.
3.1 SETOR DE ATENDIMENTO CLÍNICO E ESPECIALIDADES
Os atendimentos clínicos geral e/ou retornos eram realizados por ordem de chegada e os
atendimentos especializados eram agendados previamente. Alguns especialistas tinham
atendimento fixo em alguns dias da semana. A consulta iniciava pela anamnese, principal queixa
relatada pelo tutor, idade do animal, quando iniciou os sinais clínicos, qual ambiente vive, qual o
tipo de alimentação, contato com outros animais, histórico médico, tratamento anterior, protocolo
vacinal, desverminação e controle de ectoparasitas. Durante a anamnese, o estagiário realizava o
exame físico, fazendo uma inspeção geral do paciente, aferindo temperatura retal, FR (frequência
cardíaca), FR (frequência respiratória), coloração de mucosas, grau de hidratação (tugor cutâneo),
TPC (tempo de perfusão capilar), palpação de linfonodos (mandibulares e poplíteos), auscultação
pulmonar, palpação de abdome, exame de coluna e inspeção da cavidade oral e condutos
auditivos. Após o exame clínico, se necessário, eram realizados exames complementares e/ou
indicado internação do paciente. Alguns procedimentos como: coleta de sangue, limpeza de
ferimentos, curativos, fluidoterapia subcutânea, aplicação de medicamentos injetáveis, entre
31
outros, eram realizados no próprio consultório, pelo estagiário, sob a supervisão do médico
veterinário ou o estagiário continha o animal para o veterinário realizar os procedimentos.
Para realização de vacinas, primeiramente, o médico veterinário orientava o tutor sobre o
protocolo correto. As vacinas disponíveis no HVPT eram: vanguard plus® (polivalente - V10 -
prevenção da cinomose canina, hepatite infecciosa canina/adenovírus tipo 1, doenças
respiratórias/adenovírus tipo 2, parainfluenza canina, coronavirose canina, parvovirose canina e
leptospiroses causadas pela Leptospira canicola, L. grippotyphosa, L. icterohaemorrhagiae e L.
pomona, em cães), bronchiguard® (prevenção da traqueobronquite infecciosa dos cães - “Tosse
dos Canis” causada pela bactéria Bordetella bronchiseptica), bronchi-shield III® (prevenção das
doenças causadas pelo adenovírus canino tipo 2, pelo vírus da parainfluenza canina e pela
Bordetella bronchiseptica, em cães. Via intra-nasal), defensor® (raiva - prevenção da raiva em
cães e gatos), giardiavax® (prevenção da giardíase canina, causada pelo protozoário giárdia
lamblia, em cães.), felocell crv-c® (quádrupla felina - prevenção da rinotraqueíte, calicivirose,
panleucopenia e clamidiose em gatos), fel-o-vax lvk iv calicivax® (quíntupla felina – prevenção
da rinotraqueíte, calicivirose, panleucopenia, leucemia felina, e Chlamydia psittaci em gatos) e
leishtec® (prevenção da leishmaniose - protozoário leishmania). Para cães filhotes, a
recomendação era vacinar, com V10, a partir de 45 dias de idade, administrando 3 doses com 3
semanas de intervalo entre cada uma delas. Para cães adultos, seguia o mesmo protocolo. A vacina
para o vírus da raiva era aplicada a partir do 4º mês de vida (120 dias), uma únca dose, uma vez
por ano, tanto em cães quanto em gatos. A vacina contra tosse dos canis, era realizada a partir de
8 semanas de idade, administrando 2 doses, com intervalo de 2 a 4 semanas entre elas. A bronchi-
shield era realizada a partir de 8 semanas de idade, com única dose intra-nasal. A vacina contra
giárdia era realizada em animais a partir de 8 semanas de idade, a segunda dose era aplicada com
intervalo de 2 a 4 semanas. A vacina da leishmaniose era realizada a partir dos 120 dias de vida,
3 doses, com intervalos de 21 dias. Todas a vacinas eram recomendadas a serem repetidas uma
vez por ano, com única dose.
O protocolo para felinos era uma pouco diferente. Explicava-se a importância da
realização do teste rápido FIV/FeLV (vírus da imunodeficiência felina/vírus da leucemia felina),
antes de fazer a vacina. Quando o animal apresentava resultado posivito para FeLV, realizava-se
a quádrupla. Se fosse negativo era realizada a quíntupla. Ambas a partir de 45 dias de vida, total
de 3 doses, com intervalos de 3 a 4 semanas. Recomendava-se revacinar com única dose,
anualmente. Se o animal fosse adulto nunca havia realizado vacina, seguia o mesmo protocolo de
3 doses. Animais FeLV positivos, devem evitar receber a vacina previne a FeLV, pois pode haver
reação vacinal e o animal acabar ficando doente.
32
Além disso, o tutor era orientado sobre desverminação, prevenção de ectoparasitas,
alimentação ideal, entre outros. Após aferir a temperatura retal e exame clínico, o animal
apresentar-se sem sinal clínico de enfermidades ou alterações fisiológicas, era realizada a vacina.
O estagiário avaliava o animal, preenchia a carteira de vacinação com as datas e adesivos, data
da próxima vacina, preparava a seringa e aplicava no animal, sempre sob supervisão do médico
veterinário. O médico veterinário assinava e carimbava a carteira. O proprietário era informado
que, se houvesse algum efeito colateral, como prostração, sonolência, febre, dor ou inchaço no
local da aplicação, era para entrar em contato imediatamente com o HVPV.
Os tutores de cães e gatos precisam ser conscientizados de suas responsabilidades, sobre
o bem-estar, saúde física e psicológica de seus animais de estimação. A vacinação é fundamental,
sendo o método mais confiável e eficaz de proteção contra doenças infecciosas. As vacinas
estimulam a produção de anticorpos, que irão proteger o animal. O ato de imunizar, não protege
apenas os animais, mas também as pessoas que convivem com eles, pois existem doenças que
podem ser transmitidas de animais para seres humanos, como por exemplo a raiva, a leptospirose
e giárdia.
O HVPV possuía médicos veterinários especialistas em várias áreas como: anestesiologia,
cardiologia, oftalmologia clínica e cirúrgica, endócrinologia, medicina de felinos, clínica e
cirurgia de silvestres e exóticos, neurologia, odontologia clínica e cirúrgica, oncologia, ortopedia
clínica e cirúrgica.
3.2 SETOR DE INTERNAMENTO
Nesse local, ficavam os animais que precisavam de cuidados intensivos, pós-operatório,
observação ou encaminhados de outros estabelecimentos veterinários. A internação era composta
por uma pia para lavagem de mãos, mesa de inox, bombas de infusão, oxigênio central. No
armário ficavam guias e focinheiras, luvas de procedimento, cateteres para acesso venoso, tubos
de coleta, algodão, gazes, compressas, esparadrapos, termômetro, pinças, tesouras, álcool, água
oxigenada, desinfetante, soro fisiológico, equipos, tapetes higiênicos, fraldas, aparelho medidor
de glicose, aparelho medidor de pressão arterial, seringas, agulhas, scalp, entre outros.
Todas as baias possuíam a identificação do paciente, com nome do animal, nome do
proprietário, telefone, peso, idade, raça, suspeita/diagnóstico, comportamento, fluído/taxa e
alimentação. Ainda eram identificadas a necessidade de jejum ou se havia exame de imagem
agendado. Para os animais que passavam por procedimento cirúrgico do sistema gastrointestinal
e precisavam de alguma dieta específica no pós operatório, também era identificada a dieta com
33
os horários e quantidades. A glicemia dos animais diabéticos precisavam ser aferidas duas vezes
ao dia ou mais e era identificado na baia os horários e resultados.
Cada paciente internado possuía uma prancheta com a ficha de internação (Figura 14A)
preenchida com os dados do animal e proprietário, suspeita clínica, resultados dos exames
laboratoriais realizados, tratamento prescrito com dose em volume total, via, frequência e
horários, taxa de infusão da fluidoterapia, entre outros. Em outra ficha (Figura 14B), eram
anotadas outras informações, tais como horários que foram feitas as medicações, estado geral do
animal durante o dia e noite, tipo de alimentação, se ocorreu vômito, diarréia, débito urinário e
observado se o animal teve alguma evolução no tratamento. Uma terceira ficha (Figura 14C) era
preenchida com os dados dos parâmentros como: padrão respiratório, pressão, temperatura,
palpação abdominal, urina, fezes e alimentação. Essas informações eram sempre repassadas nas
trocas de horários das auxiliares e médicos veterinários. Uma quarta folha da prancheta (Figura
14D) era composta por uma tabela com os itens e medicações utilizadas para depois serem
lançadas no sistema. Sempre que um animal era internado, os estagiários tinham que montar a
prancheta, com todas as fichas e preencher os dados do animal e proprietário, deixando pronta
para o veterinário prescrever o tratamento, para posteriormente, os estagiários prepararem as
medicações e fazê-las.
Figura 14- Ficha de internação com dados do animal e proprietário (A). Ficha de internação
com outras informações (B). Ficha de parâmetros (C). Ficha com tabela de medicações (D).
A B
34
Fonte: A autora (2020).
Neste setor de internação, eram realizados outros procedimentos também, como: limpeza
de feridas, trocas de curativos, acesso venoso, coleta de sangue, administração de óxigênio,
administração de fluidoterapia subcutânea, drenagem torácica, drenagem abdominal, transfusão
de sangue entre outros. Os estagiários podiam realizar estes procedimentos, com auxílio das
enfermeiras ou médico veterinário. Ficavam sempre disponíveis para ajudá-las na contenção,
realização das medicações, limpeza, aferição de temperatura e glicemia, oferecer alimento e água,
passear na área aberta para defecar e urinar, entre outros.
Na “sala de isolamento”, eram mantidos os animais que possuíam alguma doença ou
suspeita infectocontagiosa, como por exemplo, parvovirose ou cinomose e gatos FIV ou FeLV
positivos. Estes ficavam isolados dos demais, evitando o contato.
O HVPV possuía um sistema online, onde abrange tudo o que é realizado e todos os
médicos veterinários conseguem ter acesso. Eles também preenchem uma ficha, online, com
todas as informações necessárias, para que, quando houver a troca de plantão, o próximo médico
veterinário esteja ciente de todo o histórico do animal que está internado.
Os horários de visitas eram das 10:00 às 11:00 horas e das 16:00 às 17:00 horas. Neste
horário, os tutores podiam ver os animais e tirar as dúvidas com o médico veterinário , o auxiliar
que estava presente passava o histórico e estado geral do animal. As altas dos pacientes eram
realizadas, geralmente, no final do dia, conforme combinavam um horário com o proprietário e
C D
35
juntamente recebiam todas as orientações e receituário, se caso necessitasse continuar o
tratamento em casa, pelo médico veterinário.
3.3 SETOR DE CIRURGIA
O setor de cirurgia era composto por um bloco cirúrgico anexo a uma sala de assepsia
com pia e equipamento para lavagem, secagem e esterilização dos materiais cirúrgicos. A
paramentação era feita dentro do bloco. Haviam equipamentos para vários tipos de cirurgias. As
cirurgias eletivas como ovariohisterectomia, orquiectomia, nodulectomia, mastectomia,
profilaxia dentária eram previamente agendadas na recepção. Já as cirurgias de emergência eram
realizadas imediatamente pela cirurgiã do HVPV. Todos os animais que passavam por algum
procedimento cirúrgico, realizavam exames prévios de triagem como: hemograma, perfil
hepático, perfil renal e ultrassom e/ou radiografia. Outros exames eram solicitados, dependendo
a necessidade do caso. O responsável pelo animal, recebia orientações sobre o jejum e ficava
ciente de qualquer risco do procedimento anestésico e cirúrgico. Além disso, assinava dois
documentos de autorização, um para cirurgia (Figura 15A) e outro para anestesia (Figura 15B).
Uma via desses documentos ficava no hospital e outra via era entregue ao responsável.
Figura 15- Documento de autorização para cirurgia (A) e anestesia (B).
Fonte: A autora (2020).
A B
36
A equipe era composta por um cirurgião e um anestesista, e se necessário um auxiliar. Os
estagiários realizavam o acesso venoso, avaliação clínica do paciente, aferiam temperatura retal,
realizavam a medicação pré-anestésica (MPA) e transferiam o animal da sala de internação para
o bloco cirúrgico. Preparavam a sala e a mesa cirúrgica, tinham a oportunidade de fazer a indução
anestésica, intubação endotraqueal, posicionava-o, faziam tricotomia e antissepsia da região, com
clorexidina e álcool 70%, e deixava o animal pronto para iniciar a cirurgia. Deixavam prontas as
medicações necessárias, como antibiótico e antiinflamatório, para aplicar no término do
procedimento.
Durante o procedimento, o animal era monitorado com auxílio do monitor
multiparamétrico, pelo anestesista. Ao término da cirurgia, os estagiários realizavam a limpeza
da ferida cirúrgica, curativo e/ou colocação da roupa cirúrgica, extubavam o paciente,
transferiam-o para a internação e observavam até a recuperação anestésica completa. A aferição
da temperatura retal era realizada constantemente, e se necessário, era utilizado o aquecedor na
baia ou o colchão térmico. Após, limpavam o bloco cirúrgico e organizavam, lavavam os
materiais cirúrgicos e colocavam na máquina de esterilização. Então, o cirurgião entrava em
contato com o proprietário, passava as informações referentes a cirurgia, recuperação do animal,
dia da alta, recomendações e pessoalmente era entregue e explicado o receituário para o
tratamento medicamentoso em casa.
3.4 SETOR DE DIAGNÓSTICO POR IMAGEM
Exame de diagnóstico por imagem como radiografia, ficava disponível 24 horas, podendo
ser realizado em qualquer horário, por qualquer médico veterinário. Muitos pacientes vinham sob
encaminhamento de outros estabelecimentos. O exame era realizado por duas pessoas, geralmente
um médico veterinário e um estagiário. Ambos eram obrigados, por normas do hospital, a utilizar
os EPIs (equipamentos de proteção individual), para reduzir ao máximo a dose de exposição à
radiação, que consistiam em: avental de chumbo, cobrindo a região torácica e abdominal, e
protetor de tireóide, que era em forma de colar. Os estagiários deixavam a mesa pronta, e
ajudavam na contenção do animal e posição correta. As imagens eram interpretadas e o laudo
confeccionado, em até 24 horas, por uma empresa franqueada, especializada no ramo de
radiologia digital, a CedimVet (Centro de Diagnóstico por Imagem Veterinário Radiologia
Digital).
O exame radiográfico veterinário, é um método de imagem importante para avaliação de
afecções ósseas, articulares e intratorácicas. Geralmente, é a primeira forma de triagem e
37
identificação de problemas de saúde, por ser um exame rápido, de baixo custo (quando
comparado a outros exames), não ser invasivo e raramente necessitar de anestesia. Porém, deve
ser realizado com cautela, com treinamento e por profissionais especializados na área. Uma
equipe bem treinada é fundamental, para que o animal fique confortável e obtenha o correto
posicionamento. Para garantir a qualidade do exame, é importante realizar pelo menos 3 projeções
(laterolateral direita, laterolateral esquerda e ventrodorsal). Geralmente, era indicado em casos de
atropelamento, traumas, suspeitas infecciosas de trato respiratório, suspeitas de metástase,
problemas cardiovasculares, pós operatórios de cirurgias ortopédicas, dores na coluna vertebral,
suspeita de corpo estranho, obstrução intestinal, etc.
Ultrassonografia abdominal era terceirizada, ou seja, realizada por um veterinário volante.
O exame era realizado em algum consultório que estivesse desocupado. O estagiário continha o
animal e o tutor podia acompanhar o exame. O laudo era emitido posteriormente, pelo médico
especialista, enviado para o email do hospital, e o hospital encaminhava ao tutor. Após o exame,
o médico veterinário responsável pelo caso clínico conversava e passava o diagnóstico para o
proprietário.
A ultrassonografia é muito utilizada na medicina veterinária. É uma técnica não invasiva,
e emitem informações sobre os órgãos no abdome, no tórax e no coração. A ultrassonografia
abdominal foi muito solicitada durante o período de estágio. Sempre quando o tutor relatava
vômito ou diarréia, perda de peso e apetite, massas encontradas durante o exame físico,
atropelamento, traumas – por suspeita de hemorragia interna, problemas urogenitais, animais
hepatopatas e doentes renais, gestação, pré operatórios e pós operatório de retirada de corpo
estranho, cistotomia, e esplenectomia. A cistocentese, era realizada com auxílio do ultrassom,
pelo ultrassonografista. Gatos FeLV positivos sempre eram encaminhados para ultrassom
abdominal. Entre outros casos.
Ecocardiograma e eletrocardiograma eram realizados somente com o cardiologista em
alguns dias fixos da semana. Para a realização de endoscopia, tomografia computadorizada e
ressonância magnética, o animal precisava ser encaminhado para outra cidade.
Exames de imagens são fundamentais para chegar à um diagnóstico final. Auxiliam na
abordagem do caso e no tratamento. É uma ferramenta que precisa estar na conduta dos médicos
veterinários. No HVPV todos os estagiários, enfermeiros e demais eram treinados de como conter
os animais corretamente, evitando ao máximo o estresse. No período de estágio, pude
acompanhar diversos exames de imagens. Percebi a importância de diagnosticar um caso
corretamente, observei um corpo estranho no estômago e intestino (como ossos, caroço de fruta,
pedras, plástico, brincos, etc.), identifiquei uma hemorragia interna, ruptura de bexiga, uretra e
intestino após o animal sofrer trauma. Animais doentes renais apresentavam rins deformados, e
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idosos tinham o coração aumentado de tamanho. Cães oncológicos, apresentavam metástases
pulmonares e linfonodos reativos, colapso de traquéia em filhotes, obstrução intestinal, etc.
Independente o quadro clínico, exames de imagens são essenciais.
3.5 LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS
O HVPV possuía uma sala exclusiva para análises clínicas, com funcionamento 24 horas,
para realização de exames hematológicos, bioquímicos e testes rápidos. Os bioquímicos eram:
ácido úrico, ácidos biliares totais (em jejum e após alimentação), albumina, amilase, alanina
aminotransferase - ALT, aspartato aminotransferase – AST, bilirrubina direta, bilirrubina
indireta, bilirrubina total, cálcio, colesterol, creatinina - CRE, digoxina, fibrinogênio, fósforo,
frutosamina, gama glutamil transferase – GGT, glicose, globulina, hemoglobina glicosilada,
lipase, fosfatase alcalina - FA, potássio, proteína total, sódio, uréia e triglicerídeos. Os
hematológicos: hemácias, hemoglobina, hematócrito, volume corpuscular médio – VCM,
hemoglobina corpuscular média – HCM, concentração da hemoglobina corpuscular média –
CHCM, Red Cell Distribution Width (Amplitude de Distribuição dos Glóbulos Vermelhos) –
RDW, leucócitos, linfócitos, monócitos, eosinófilos e plaquetas. Os testes rápidos constavam em
FIV/FeLV, parvovirose, cinomose, leishmaniose e erliquiose.
Os exames mais solicitados eram hemograma, e função renal e hepática como aferição
das enzimas CRE, URÉIA, ALT e FA, respectivamente. Dentre os testes rápidos eram:
FIV/FeLV, parvovirose e cinomose.
Os exames hematológicos e bioquímicos eram realizados sempre, quando havia suspeita
de alguma doença infecciosa, pré-operatório ou para check up. Dentre os testes rápidos, o teste
FIV/FeLV era solicitado antes de iniciar o protocolo vacinal em gatos, quando chegavam doentes,
tinham contato com outros gatos ou com algum histórico de tumor. Testes de parvovirose e
cinomose, eram realizados quando o animal chegava com sinais clínicos compatíveis com as
doenças. Testes de leishmaniose e erliquiose, eram raramente usados. Todos os exames citados
eram realizados pelos estagiários.
4 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
Foi realizado o acompanhamento de consultas clínicas, retornos/revisões, animais
internados, cirurgias de cães, gatos e alguns animais silvestres, procedimentos ambulatoriais e
exames de diagnóstico por imagem (radiografia e ultrassonografia abdominal).
39
O estagiário realizava a contenção para exames clínicos e de imagens, tricotomia, acesso
venoso, coleta de sangue, medicamentos injetáveis, fluidoterapia subcutânea, preparo de
medicações para os animais internados, sempre sob a supervisão do médico veterinário
responsável. Auxiliava também na aplicação de MPA do animal que fosse passar por
procedimento cirúrgico, além do preparo da mesa cirúrgica e do animal, realizando tricotomia
e antissepsia e auxílio ao cirurgião durante procedimentos cirúrgicos, quando solicitado.
Monitoração durante a recuperação anestésica, aferição de glicemia para os internados
diabéticos, aferição de pressão arterial, passeios diários, oferecimento de água e alimento, além
de manter higiene da baia e do paciente. Exames hematológicos, bioquímicos e testes rápidos
eram realizados pelos estagiários.
5 CASUÍSTICA ACOMPANHADA DURANTE O PERÍODO DE ESTÁGIO
A casuísta acompanhada no hospital veterinário Pet Vida, durante o estágio curricular
no período de 02 de março a 08 de maio de 2020, foi bastante diversificada com a possibilidade
de acompanhar diferentes áreas a rotina de clínica e cirurgia de animais de companhia, incluindo
cães, gatos, aves, roedores, etc. As atividades foram separadas (Tabela 1) em cirurgias,
consultas, exames de imagem, setor de internamento, retornos/revisões, testes rápidos e vacinas
para melhor compreensão.
Tabela 1 – Distribuição de tipos de atividades acompanhadas no Hospital Veterinário Pet Vida,
durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.
Tipo de atendimento Nº total de casos %
Cirurgias 57 (13,73%)
Consultas 114 (27,46%)
Exames de Imagem 48 (11,56%)
Internamento 57 (13,73%)
Retornos/Revisões 60 (14,45%)
Testes rápidos 18 (4,33%)
Vacinas 61 (14,69%)
TOTAL 415 (100%)
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
Dos atendimentos acompanhados no período de estágio, 76,62% (318/415) eram da
espécie canina, 21,44% (89/415) eram da espécie felina e 1,92% (8/415) eram animais
40
silvestres. Dos cães acompanhados, 68,23% eram de raças puras (217/318) e 31,76% eram sem
raça definida (SRD) (101/318). Dos gatos, 22,48% eram de raças puras (20/89) e 77,52% eram
sem raça definida (69/89). As raças de pequeno porte Shih-tzu, Poodle Toy, York Shire Terrier
e Pinscher foram as mais acompanhadas. De grande porte, prevaleceram as raças Hottweiler,
Golden retriever e Pastor Alemão.
É importante ressaltar que animais SRD são menos propensos a ter problemas
hereditários, ou seja, podem ser considerados mais resistentes à alguns tipos de doenças, quando
comparados à animais de raça pura. São o resultado de uma seleção natural, que carregam uma
“carga genética única”, mistura de várias raças do passado. Possuem características físicas e
comportamentais únicas. Ao contrário de animais de raça pura, que muitas vezes são propensos
a doenças genéticas, por força do homem, que seleciona características para atender uma
finalidade específica. Isso justifica a diferença do número de atendimentos acompanhados no
estágio, entre cães de raças puras e SRD. Em relação aos felinos, a maioria deles não possuem
pedigree, isso justifica um número maior de SRDs acompanhados durante o estágio. Os gatos
de raças citados eram Persas, Himalaias e Siamêses (coloração).
5.1 CASUÍSTICA SETOR DE IMUNIZAÇÕES
As vacinas acompanhadas estão representadas (Tabela 2) de acordo com a espécie e os
tipos de vacinas realizadas. Os animais eram vacinados quando se apresentavam sadios, após
anamnese e exame físico realizado pelo estagiário, sob supervisão do médico veterinário.
Tabela 2 – Imunizações de cães e gatos acompanhadas no Hospital Veterinário Pet Vida,
durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.
(continua)
Vacinas Espécie
Nº total de casos (%) Canina Felina
Bronchiguard® (“tosse
dos canis”) 1 0 1 (1,63%)
Bronchi-shield III®
(intra-nasal) 3 0 3 (4,91%)
Defensor® (raiva) 15 6 21 (34,42%)
Felocell crv-c® (V4) 0 3 3 (4,91%)
41
(conclusão)
Fel-o-vax lvk iv
calicivax® (V5) 0 7 7 (11,47%)
Giardiavax® (giárdia) 2 0 2 (3,27%)
Vanguard plus® (V10) 24 0 24 (39,34%)
TOTAL 45 16 61 (100%)
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
5.2 CASUÍSTICA SETOR DIAGNÓSTICO POR IMAGEM
Foram acompanhados exames de imagem, como radiografia e ultrassonografia
abdominal, e estão representados em forma de tabela (Tabela 3), de acordo com a espécie e tipo
de exame.
Tabela 3 – Casuística no setor diagnóstico por imagem de cães e gatos acompanhada no Hospital
Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.
Exames de Imagem Espécie
Nº total de casos (%) Canina Felina
Radiografia 14 4 18 (37,5%)
Ultrassonografia 24 6 30 (62,5%)
TOTAL 38 10 48 (100%)
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
5.3 CASUÍSTICA DE TESTE RÁPIDO
Os testes rápidos acompanhados no período de estágio estão representados em forma de
tabela (Tabela 4), de acordo com a espécie e tipo de doença infecciosa testada.
Tabela 4 – Testes rápidos realizados e acompanhados no Hospital Veterinário Pet Vida, durante
o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.
42
Testes Rápido Espécie
Nº total de casos (%) Canina Felina
Cinomose 2 0 2 (11,11%)
FIV/FeLV 0 8 8 (44,44%)
Leishmaniose 2 0 2 (11,11%)
Parvovirose 6 0 6 (33,33%)
TOTAL 10 8 18 (100%)
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
5.4 CASUÍSTICA SETOR DE CLÍNICA E INTERNAMENTO
O gráfico 1 mostra os atendimentos e internamentos conforme os sistemas acometidos.
Os sistemas mais acometidos nesse setor foram doenças infectocontagiosas e digestório.
Gráfico 1 - Distribuição dos casos acompanhados na rotina clínica e classificados conforme o
sistema acometido, no período 02 de março a 08 de maio de 2020.
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
Respiratório7%
Hematopoiético1%
Digestório15%
Geniturinário8%
Infectocontagiosas19%
Musculoesquelético7%
Outros sistemas11%
Oncológico6%
Tegumentar/auditivo13%
Nervoso7%
Reprodutivo2%
Oftálmico2%
Endócrino1%
Cardiovascular1%
43
Na rotina clínica foram acompanhadas 114 consultas e 57 animais internados. Os
mesmos foram classificados conforme o sistema acometido, sendo sistema cardiovascular,
digestório, endócrino, geniturinário, hematopoiético, musculoesquelético, nervoso, oftálmico,
reprodutivo, respiratório, tegumentar/auditivo, doenças infectocontagiosas, oncológico e outras
enfermidades/atendimentos. Todos representados em tabelas.
5.4.1 Enfermidades do Sistema Cardiovascular
Tabela 5 – Casuística clínica do sistema cardiovascular de cães e gatos acompanhada no
Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.
Afecções do sistema cardiovascular Espécie
Nº total de casos (%) Canina Felina
ICC (Insuficiência cardíaca congestiva) 1 0 1 (100%)
TOTAL 1 0 1 (100%)
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
5.4.2 Enfermidades do Sistema Digestório
Tabela 6 – Casuística clínica do sistema digestório acompanhada no Hospital Veterinário Pet
Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.
Afecções do sistema digestório Espécie
Nº total de casos (%) Canina Felina
CE gástrico e/ou intestinal 5 1 6 (23,07%)
Complexo gengivite felina 0 1 1 (3,84%)
Flatulência (gases intestinais) 0 1 1 (3,84%)
Gastrite 2 1 3 (11,53%)
Gastroenterite 5 0 5 (19,23%)
Insuficiência hepática 3 0 3 (11,53%)
Lipidose hepática felina 0 2 2 (7,69%)
Megacólon (fecaloma) 3 0 3 (11,53%)
Megaesôfago 1 0 1 (3,84%)
Periodontite com abscesso em Coelho 0 0 1 (3,84%)
TOTAL 19 6 26 (100%)
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
44
5.4.3 Enfermidades do Sistema Endócrino
Tabela 7 – Casuística clínica do sistema endócrino de cães e gatos acompanhada no Hospital
Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.
Afecções do sistema endócrino Espécie
Nº total de casos (%) Canina Felina
Diabetes Mellitus (tipo 1) 2 0 2 (100%)
TOTAL 2 0 2 (100%)
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
5.4.4 Enfermidades do Sistema Geniturinário
Tabela 8 – Casuística clínica do sistema geniturinário de cães e gatos acompanhada no Hospital
Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.
Afecções do sistema geniturinário Espécie
Nº total de casos (%) Canina Felina
DRC (Doença renal crônica) 3 1 4 (30,76%)
DTUIF (Doença do trato urinário inferior dos
felinos) 0 4 4 (30,76%)
IRA (Injúria renal aguda) 3 0 3 (23,07%)
Ruptura de uretra 1 0 1 (7,69%)
Urolitíase 1 0 1 (7,69%)
TOTAL 8 5 13 (100%)
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
5.4.5 Enfermidades do Sistema Hematopoiético
Tabela 9 – Casuística clínica do sistema hematopoiético de cães e gatos acompanhada no
Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.
Afecções do sistema hematopoiético Espécie
Nº total de casos (%) Canina Felina
Pós-operatório de esplenectomia 2 0 2 (100%)
TOTAL 2 0 2 (100%)
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
45
5.4.6 Enfermidades do Sistema Musculoesquelético
Tabela 10 – Casuística clínica do sistema musculoesquelético acompanhada no Hospital
Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.
Afecções do sistema musculoesquelético Espécie
Nº total de casos (%) Canina Felina
Amputação de membro em Maritaca 0 0 1 (8,33%)
Espondilose (bico de papagaio) 1 0 1 (8,33%)
Fratura em fêmur 2 1 3 (25%)
Fratura em pelve 2 0 2 (16,66%)
Fratura em segundo metatarso 1 0 1 (8,33%)
Fratura em tíbia 1 0 1 (8,33%)
Luxação em escápula 0 1 1 (8,33%)
LCCr (Ruptura de ligamento cruzado cranial) 2 0 2 (16,66%)
TOTAL 9 2 12 (100%)
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
5.4.7 Enfermidades do Sistema Nervoso
Tabela 11 – Casuística clínica do sistema nervoso acompanhada no Hospital Veterinário Pet
Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.
Afecções do sistema nervoso Espécie
Nº total de casos (%) Canina Felina
Encefalotozoonose em Coelho 0 0 1 (8,33%)
Epilepsia 6 1 7 (58,33%)
TCE (Trauma crânio encefálico) 2 2 4 (33,33%)
TOTAL 8 3 12 (100%)
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
5.4.8 Enfermidades do Sistema Oftálmico
Tabela 12 – Casuística clínica do sistema oftálmico de cães e gatos acompanhada no Hospital
Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.
46
Afecções do sistema oftálmico Espécie
Nº total de casos (%) Canina Felina
Lesão em pálpebra inferior 1 0 1 (25%)
Pós-enucleação 0 1 1 (25%)
Protusão de bulbo ocular 1 0 1 (25%)
Úlcera de córnea 1 0 1 (25%)
TOTAL 3 1 4 (100%)
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
5.4.9 Enfermidades do Sistema Reprodutivo
Tabela 13 – Casuística clínica do sistema reprodutivo de cães e gatos acompanhada no Hospital
Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.
Afecções do sistema reprodutivo Espécie
Nº total de casos (%) Canina Felina
Piometra 2 0 2 (50%)
Pseudociese 2 0 2 (50%)
TOTAL 4 0 4 (100%)
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
5.4.10 Enfermidades do Sistema Respiratório
Tabela 14 – Casuística clínica do sistema reprodutivo de cães e gatos acompanhada no Hospital
Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.
(continua)
Afecções do sistema respiratório Espécie
Nº total de casos (%) Canina Felina
Asma felina 0 2 2 (18,18%)
Broncopneumonia 0 1 1 (9,09%)
Colapso de traqueia 1 0 1 (9,09%)
Complexo respiratório felino 0 1 1 (9,09%)
Metástase pulmonar 2 0 2 (18,18%)
Pneumonia bacteriana 1 0 1 (9,09%)
47
(conclusão)
Ruptura traumática do diafragmática 0 1 1 (9,09%)
Traqueobronquite infecciosa canina (Tosse
dos canis) 2 0 2 (18,18%)
TOTAL 6 5 11 (100%)
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
5.4.11 Enfermidades do Sistema Tegumentar/Auditivo
Tabela 15 – Casuística clínica do sistema tegumentar/auditivo de cães e gatos acompanhada no
Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.
Afecções do sistema
tegumentar/auditivo
Espécie Nº total de casos
(%) Canina Felina
DASP (Dermatite alérgica à saliva de
pulga)
2 1 3 (13,63%)
Dermatite atópica 2 0 2 (9,09%)
DUA (Dermatite úmida aguda) 3 0 3 (13,63%)
Feridas (lacerações em pescoço) 0 2 2 (9,09%)
Otite externa (bactéria, fungo, alérgica) 8 2 10 (45,45%)
Picada de inseto 2 0 2 (9,09%)
TOTAL 17 5 22 (100%)
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
5.4.12 Enfermidades Infectocontagiosas
Tabela 16 – Casuística clínica das enfermidades infectocontagiosas de cães e gatos
acompanhada no Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio
de 2020.
48
Doenças infectocontagiosas Espécie
Nº total de casos (%) Canina Felina
Babesiose 3 0 3 (9,09%)
Cinomose 1 0 1 (3,03%)
Erliquiose 22 0 22 (66,6%)
Giárdia 1 0 1 (3,03%)
Leishmaniose 1 0 1 (3,03%)
Parvovirose 5 0 5 (15,15%)
TOTAL 33 0 33 (100%)
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
5.4.13 Enfermidades Oncológicas
Tabela 17 – Casuística clínica das enfermidades oncológicas de cães e gatos acompanhada no
Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.
Afecções do sistema oncológico Espécie
Nº total de casos (%) Canina Felina
Linfoma 1 1 2 (18,18%)
Neoplasia em baço 1 0 1 (9,09%)
Neoplasia em bexiga 1 0 1 (9,09%)
Neoplasia em fígado 1 0 1 (9,09%)
Neoplasia em mama 3 1 4 (36,36%)
Neoplasia em mediastino 1 0 1 (9,09%)
Neoplasia em membro 1 0 1 (9,09%)
TOTAL 9 2 11 (100%)
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
5.4.14 Outras enfermidades/atendimentos
Tabela 18 – Casuística clínica de outras enfermidades de cães e gatos acompanhada no Hospital
Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.
49
Outras enfermidades/atendimentos Espécie
Nº total de casos (%) Canina Felina
Check up 0 3 3 (16,66%)
Consulta pré-cirúrgica 2 0 2 (11,11%)
Ferimento por espinho de ouriço 1 0 1 (5,55%)
Hipertermia por insolação 1 0 1 (5,55%)
Intoxicação (bufotoxina, butox, scalibor) 5 1 6 (33,33%)
Lesão em unha 1 0 1 (5,55%)
Lesões (briga com outro animal) 1 0 1 (5,55%)
Quadro comatoso 0 2 2 (11,11%)
Miíase em ânus 1 0 1 (5,55%)
TOTAL 12 6 18 (100%)
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
5.5 CASUÍSTICA SETOR DE CIRURGIA
O gráfico 2 mostra os procedimentos cirúrgicos conforme os sistemas acometidos. Os
sistemas mais acompanhados nesse setor foram reprodutivo e digestório.
Gráfico 2 - Distribuição dos casos acompanhados na rotina cirúrgica e classificados conforme
o sistema no período 02 de março a 08 de maio de 2020.
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
Digestório;
28,07%
Hematopoiético; 1,75%Reprodutivo;
47,36%
Oftálmico; 1,75%
Outros sistemas;
10,52%
Geniturinário;
10,52%
50
5.3.1 Cirurgia do Sistema Digestório
Tabela 19 – Número de procedimentos cirúrgicos do sistema digestório acompanhados no
Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.
Cirurgia do sistema digestório Espécie
Nº total de casos (%) Canina Felina
Enterotomia (corpo estranho) 1 0 1 (6,25%)
Enterotomia (fecaloma) 1 0 1 (6,25%)
Enterotomia em Coelho 0 0 1 (6,25%)
Fístula periodontal 0 1 1 (6,25%)
Gastrotomia (corpo estranho) 2 0 2 (12,5%)
Laparotomia exploratória 1 0 1 (6,25%)
Profilaxia dentária 8 0 8 (50%)
Reconstrutiva de ânus 1 0 1 (6,25%)
TOTAL 14 1 16 (100%)
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
5.3.2 Cirurgia do Sistema Geniturinário
Tabela 20 – Número de procedimentos cirúrgicos do sistema geniturinário de cães e gatos
acompanhados no Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio
de 2020.
Cirurgia do sistema geniturinário Espécie
Nº total de casos (%) Canina Felina
Cistotomia 1 0 1 (16,66%)
Nefrectomia 1 0 1 (16,66%)
Penectomia 1 1 2 (33,33%)
Sondagem uretral 0 2 2 (33,33%)
TOTAL 3 3 6 (100%)
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
5.3.3 Cirurgia do Sistema Hematopoiético
51
Tabela 21 – Número de procedimentos cirúrgicos do sistema hematopoiético de cães e gatos
acompanhados no Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio
de 2020.
Cirurgia do sistema hematopoiético Espécie
Nº total de casos (%) Canina Felina
Esplenectomia 1 0 1 (100%)
TOTAL 1 0 1 (100%)
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
5.3.4 Cirurgia do Sistema Oftálmico
Tabela 22 – Número de procedimentos cirúrgicos do sistema oftálmico de cães e gatos
acompanhados no Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio
de 2020.
Cirurgia do sistema oftálmico Espécie
Nº total de casos (%) Canina Felina
Cantotomia 1 0 1 (100%)
TOTAL 1 0 1 (100%)
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
5.3.5 Cirurgia do Sistema Reprodutivo
Tabela 23 – Número de procedimentos cirúrgicos do sistema reprodutivo acompanhados no
Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.
(continua)
Cirurgia do sistema reprodutivo Espécie
Nº total de casos (%) Canina Felina
Cesárea 1 0 1 (3,7%)
Mastectomia unilateral 2 0 2 (7,4%)
Nodulectomia de mama 1 0 1 (3,7%)
Nodulectomia de testículo 1 0 1 (3,7%)
Orqui + mastectomia em Porco da índia 0 0 1 (3,7%)
Orquiectomia eletiva 8 3 11 (40,74%)
Orquiectomia terapêutica 1 0 1 (3,7%)
52
(conclusão)
OSH (ovário-salpingo-histerectomia
eletiva) 7 2 9 (33,33%)
TOTAL 21 5 27 (100%)
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
5.3.6 Cirurgia de outros sistemas
Tabela 24 – Número de procedimentos cirúrgicos de sistemas variados acompanhados no
Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.
Cirurgia de outros sistemas Espécie
Nº total de casos (%) Canina Felina
Caudectomia 1 0 1 (16,6%)
Debridamento de ferida abdominal 0 1 1 (16,6%)
Desgaste de bico em Calopsita 0 0 1 (16,6%)
Desgaste de dente em Hamster 0 0 1 (16,6%)
Hérnia umbilical 1 0 1 (16,6%)
Nodulectomia em região de pelve 1 0 1 (16,6%)
TOTAL 3 1 6 (100%)
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
6 RELATOS DE CASOS
Dos casos acompanhados durante a rotina do estágio curricular, foram selecionados
três casos, que serão relatados a seguir.
6.1 RELATO DE CASO 1: MASTECTOMIA
Mastectomia unilateral em cadela.
6.1.1 Resenha
Paciente da espécie canina, fêmea, da raça Pastor Alemão Branco, castrada, 9 anos de
idade, com massa corporal de 39 quilos.
53
6.1.2 Histórico e anamnese
O paciente chegou ao HVPV com queixa de uma massa na mama. Proprietário relatou
que o animal apresentou esse nódulo quatro meses antes da consulta (dezembro de 2019) e o
mesmo evoluiu muito de tamanho nos últimos dois meses e nesse mesmo período, foi retirado
um tumor do útero e junto realizou a ovário-salpingo-histerectomia terapêutica. A cadela sentia
dor, estava com comportamento estranho e andava de um lado para o outro. Apresentava
normorexia, normodipsia, normoquezia e urinando normalmente. O animal não apresentava
tosse nem cansaço fácil. As vacinas estavam desatualizadas e controle de vermes estava em dia.
Foi encontrado carrapato durante a avaliação clínica. Paciente nunca teve aplicação de
hormônios contraceptivos e teve uma gestação com 3 anos de idade.
6.1.3 Exame físico
O paciente apresentava prostração, mucosas normocoradas, hidratação normal,
temperatura retal 39,1ºC, frequência cardíaca 140bpm, frequência respiratória 20mpm, tempo
de preenchimento capilar (TPC) menor que 2 segundos, linfonodos palpáveis (submandibulares
e poplíteos) não reativos. O nódulo tumoral encontrava-se inflamado, circunscrito, de tamanho
grande, desenvolvido, não ulcerado, eritematoso, quente e o animal sentiu desconforto à
palpação. Localizado em M5 (mama 5) do lado esquerdo (Figura 16) e na palpação sentiu-se
pequenos nódulos por toda cadeia mamária.
Figura 16- Nódulo tumoral localizado em M5 (mama 5), do lado esquerdo.
Fonte: A autora (2020).
54
6.1.4 Exames complementares
O proprietário foi informado da importância cirúrgica e dos exames complementares
pré-operatórios. Realizou-se coleta de sangue para exames, hemograma e bioquímico e após
radiografia torácica. No eritrograma apresentou discreta eritrocitose (9,0 p/mm3). No
leucograma apresentou discreta linfopenia (10,6%) (tabela 25). No exame bioquímico, os
valores de creatinina e TGP estavam dentro do padrão (1,0mg/dl e 99UI/L, respectivamente)
(tabela 26). A radiografia da região de tórax foi realizada em três projeções: ventrodorsal,
laterolateral direita e laterolateral esquerda (Figura 17). No laudo, não teve evidências de
nódulos com características de metástase dispersos no parênquima pulmonar. Campos
pulmonares e silhueta cardíaca dentro dos padrões da normalidade, de acordo com a idade
referida. Lúmen e trajeto traqueal preservados. A impressão diagnóstica foi que o exame
radiográfico do tórax estava dentro do normal (ANEXO A).
Tabela 25 – Hemograma apresentando discreta eritrocitose e linfopenia.
HEMOGRAMA Unidade Resultado Valores de referência
Hemácias (milhões/mm3) 9,0 (p/mm3) 5,7 a 7,4 Hemoglobina (g%) 18 (g%) 14 a 18 Hematócrito (%) 57,2 (%) 38 a 47
V.C.M. (u3) 63,5 (u3) 63 a 77 H.C.M. (uug) 31,4 (uug) 21 a 26 C.H.C.M. (g%) 19,9 (g%) 31 a 35
Leucócitos (mil/mm3) 12,7 (mil/mm3) 6 a 16 Eosinófilos (%) 1,7 (%) 1 a 9 Linfócitos (%) 10,6 (%) 13 a 40 Basófilos (%) 0,8 (%) 0 a 1
Monócitos (%) 2 (%) 1 a 6 Plaquetas (p/mm3) 332.000 (p/mm3) 200.000 a 500.000
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
Tabela 26 – Exame bioquímico, com valores de creatinina e TGP normais.
BIOQUÍMICO Unidade Resultado Valores de referência
ALT (T.G.P.) (UI/L) 99,0 (UI/L) 10 a 88 Creatinina mg/dL 1,0 (mg/dL) 0,5 a 1,5
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
55
Figura 17- Imagens radiográficas do tórax nas projeções ventrodorsal (A), laterolateral direita
(B) e laterolateral esquerda (C). Não teve evidências de nódulos com características de
metástase. Exame dentro do normal.
Fonte: Custódio, N.S. (2020).
6.1.5 Tratamento
Foi iniciado o tratamento pré-operatório com uso oral de piroxicam 11mg (0,3mg/kg)
administrar 1 comprimido a cada 24 horas durante 10 dias e gabapentina 300mg® (10mg/kg),
administrada na forma de 1 comprimido a cada 12 horas por 15 dias. A conduta foi para iniciar
analgesia pré-operatória.
6.1.5.1 Mastectomia
Como tratamento optou-se pela realização da cirurgia (mastectomia unilateral total), 10
dias após início da analgesia, para retirada da cadeia mamária. O paciente realizou jejum sólido
e hídrico de 12 horas e classificado como ASA II. Foi feito acesso venoso, como medicação
pré-anestésica, 30 minutos antes do procedimento, foi realizada associação de cloridrato de
cetamina 10% 1mg/kg/IM, cloridrato de midazolam 0,3mg/kg/IM e cloridrato de metadona
0,3mg/kg/IM. Após, o paciente foi encaminhado para o bloco cirúrgico onde realizou a indução
anestésica, administrado propofol em dose-resposta. Em seguida foi realizada a intubação
endotraqueal (traqueotubo nº 6) e posição em decúbito dorsal na mesa cirúrgica. Foi realizada
tricotomia ampla de região de tórax e abdômen, seguida do uso de clorexidina 1% e álcool 70%
para assepsia e colocação dos campos cirúrgicos estéreis (Figura 18). A manutenção anestésica
foi com isoflurano vaporizado em oxigênio a 100% ao efeito. A monitoração dos sinais vitais
(FC, FR, PAS, TR e SpO2) durante a cirurgia foi através do monitor multiparamétrico, pelo
anestesista.
A B C
56
Figura 18- Tricotomia e antissepsia realizada com clorexidina 1% e álcool 70% (A). Colocação
dos campos cirúrgicos estéreis (B).
Fonte: A autora (2020).
Após a fixação dos campos cirúrgicos, foi realizada a incisão torácica elíptica com
bisturi, pele e subcutâneo, em formato de “V” para facilitar a sutura posterior e foi feita a
dissecação com a tesoura de Mayo e divulsão da cadeia inteira com tração da mão (Figura 19).
Foi feita a localização e ligadura da artéria epigástrica superficial caudal (Figura 20). Após a
retirada de toda a cadeia mamária esquerda juntamente com o linfonodo inguinal, a extensão da
ferida foi lavada com solução fisiológica e foi feita a divulsão ampla do subcutâneo para facilitar
a aproximação e sutura. Foi utilizada a técnica walking suture, que mobiliza a pele das laterais
para o centro da ferida cirúrgica e reduz o espaço morto, com fio absorvível poliglactina vicryl
3.0® (Figura 21). A sutura da musculatura foi a sutura simples contínua intradérmica, com fio
absorvível monofilamentoso poliglecaprone caprofyl 2.0® (Figura 22) e para a pele foi
realizada sutura simples isolada com náilon shalon 2.0®. Ao término do procedimento, foi feita
a limpeza da ferida cirúrgica com água oxigenada e colocação da roupa cirúrgica. Aplicado
penicilina (Shotapen® L.A.) 1ml/10kg/SC e meloxicam (Maxicam® 0,2%) 0,2mg/kg/SC. O
paciente foi monitorado no canil constantemente, até recuperação total anestésica (Figura 23).
A massa tumoral pesou 500 gramas e uma amostra foi enviada para análise histopatológica,
para empresa VETPAT (Figura 24). Não houve intercorrências durante o procedimento.
A B
57
Figura 19- Incisão torácica elíptica com bisturi, pele e subcutâneo, em formato de “V” (A).
Dissecação com a tesoura e divulsão da cadeia inteira, com tração da mão (B).
Fonte: A autora (2020).
Figura 20- Localização (A) e ligadura da artéria epigástrica superficial caudal (B).
Fonte: A autora (2020).
A B
A B
58
Figura 21- Cadeia mamária retirada juntamente com o linfonodo inguinal (A) e após a divulsão
ampla do subcutâneo foi utilizada a técnica walking suture, que mobiliza a pele das laterais para
o centro da ferida cirúrgica, com fio absorvível vicryl 3.0® (B).
Fonte: A autora (2020).
Figura 22- O fechamento da musculatura foi com a sutura simples contínua intradérmica, com
fio absorvível monofilamentoso poliglecaprone caprofyl 2.0®.
Fonte: A autora (2020).
A B
59
Figura 23- Para o fechamento da pele, foi realizada sutura simples isolada com náilon shalon
2.0® (A). O paciente foi monitorado no canil constantemente, até recuperação total anestésica
(B).
Fonte: A autora (2020).
Figura 24- A massa tumoral pesou 500 gramas e uma amostra foi enviada para análise
histopatológica, para empresa VETPAT.
Fonte: A autora (2020).
6.1.6 Evolução do caso
Durante o dia o animal manteve parâmetros estáveis e no final do dia recebeu alta e foi
liberado para casa. No receituário, foi prescrito para uso oral omeprazol (Gaviz® 20mg)
administrar 1 comprimido a cada 24 horas por 10 dias, cefalexina (Cefex® 1gr) administrar 1
A B
60
comprimido a cada 12 horas por 10 dias, meloxicam (Maxicam® 2mg) administrar 2
comprimidos a cada 24 horas por 4 dias e cloridrato de tramadol (Cronidor® 80mg) administrar
2 comprimidos a cada 24 horas por 4 dias. Limpeza da ferida cirúrgica com antisséptico
clorexidina 1% (Sept Clean®) e pomada cicatrizante (Vetagloss®) 2 vezes ao dia. As
recomendações consistiram em: qualquer alteração no quadro (vômito, apatia, anorexia,
diarreia, secreção, abertura ou aumento de volume no local dos pontos) ligar e informar a equipe
médica; manter o animal de roupa cirúrgica até a alta médica. O retorno foi agendado para 10
dias após a cirurgia, para reavaliação e retirada dos pontos.
6.1.7 Retorno
Após 10 dias da realização da cirurgia, o paciente retornou para avaliação dos pontos. A
ferida apresentou boa cicatrização, retirou os pontos, recebeu alta médica (Figura 25), retirou a
roupa cirúrgica e foi indicado a passar por consulta com especialista oncologista, para iniciar
tratamento quimioterápico adjuvante.
Figura 25- Ferida apresentou boa cicatrização após 10 dias da realização cirúrgica, foi retirado
os pontos e animal recebeu alta médica.
Fonte: A autora (2020).
61
6.1.8 Resultado Histopatológico
Macroscopicamente, o fragmento de nódulo mamário (1 teto) mediu 9,0 x 8,0 x 4,5 cm.
Superfície interna do nódulo castanho esbranquiçado, macio por vezes friável e irregular,
associado à cavidade cística, preenchida por conteúdo gelatinoso acastanhado.
Microscopicamente, o fragmento apresentou neoplasia maligna, caracterizada por proliferação
de células redondas e ovaladas com moderno pleomorfismo nuclear, núcleos amplos, cromatina
vesiculosa e esparsas, figuras de mitose e citoplasma basofílico entremeadas e trabéculas ósseas.
Presença de diversos focos de proliferação de células condroides pleomórficas e áreas de tecido
osteóide maduro. O exame histopatológico diagnosticou a amostra como osteossarcoma
mamário (ANEXO B), este é classificado como um tumor de células malignas.
6.1.9 Discussão e revisão de literatura
Na espécie canina, os tumores de glândulas mamárias são os mais frequentes,
representando cerca de 50 a 70% de todas as neoplasias. No Brasil, a incidência de tumores
malignos caninos é superior a 70%, número maior do que nos EUA (Estados Unidos), cuja
incidência descrita é de 50% (DALECK; NARDI, 2017) e alguns países da Europa Ocidental
(NEVES, 2018). Isso justifica a prática comum de OSH (ovário-salpingo-histerectomia) em
fêmeas jovens (DALECK; NARDI, 2017; NEVES, 2018). A etiologia é multifatorial, sendo
componentes genéticos, ambientais, nutricionais e principalmente a presença de hormônios
(HANSEN, 2015; CALDAS et al., 2017). Mais da metade das cadelas acometidas possuem
tumores em mais de uma glândula mamária (CALDAS et al., 2016).
Cadelas com faixa etária entre sete e doze anos, ou seja, animais idosos e de meia idade
são os mais acometidos pelos tumores mamários (RAES; VOLKWEIS, 2017). Já em machos,
o risco é bastante inferior (1%) de desenvolver tumor de glândula mamária (DALECK; NARDI,
2017), mas quando surgem, geralmente são muito mais agressivos do que nas fêmeas
(HANSEN, 2015). O animal relatado estava na faixa etária mais acometida, com 9 anos de idade
e pertencia à raça Pastor-alemão branco, que é uma das raças predispostas a neoplasias
mamárias (DALECK; NARDI, 2017; NEVES, 2018). A incidência é maior em raças puras
quando comparadas com SRD (RISATI; DANEZE; MAGALHÃES, 2016).
Os contribuintes para a carcinogênese são os hormônios estrógeno, progesterona e
hormônio do crescimento (RAES; VOLKWEIS, 2017). Eles agem sobre o epitélio das células
mamárias e induzem a proliferação do epitélio ductal intralobular, desenvolvendo ductos e
lóbulos, que originam o crescimento das glândulas mamárias (DALECK; NARDI, 2017).
62
O melhor método para prevenção de tumores mamários é castrar antes do primeiro cio,
pois nessa fase há desenvolvimento e maturação das glândulas mamárias (DALECK; NARDI,
2017). Além disso, a prática de OSH evita variações hormonais fisiológicas que resultam em
pseudociese, gestação e distúrbios do ciclo estral (NEVES, 2018). A cadela relatada havia sido
castrada quatro meses antes da consulta, quando realizou uma OSH terapêutica para retirada de
um tumor no útero.
A castração precoce em fêmeas é um fator preventivo (RAES; VOLKWEIS, 2017) e
quando efetuada antes do primeiro estro diminui o risco de desenvolvimento de neoplasia
mamária para 0,5%. O risco aumenta para 8% em fêmeas esterilizadas após o primeiro estro e
26% após o segundo. Estudos relatam que não há benefício da castração após os quatro anos de
idade, porém o risco de tumores benignos reduz com a OSH mesmo em idade avançada
(RISATI; DANEZE; MAGALHÃES, 2016; DALECK; NARDI, 2017; NEVES, 2018). E
cadelas não castradas, tem três a sete vezes mais chances de desenvolver neoplasia mamária
(HANSEN, 2015).
O animal nunca fez aplicação de hormônios contraceptivos, pois a administração e uso
prolongado de progestágenos injetáveis, com o intuito de prevenir o estro em cadelas, já foi
correlacionado com o aumento da incidência de tumores. Segundo estudos, cães que receberam
aplicações exógenas, apresentaram aumento de 2,3 vezes do risco de desenvolvimento de
tumores mamários (DALECK; NARDI, 2017; NEVES, 2018). Dieta caseira rica em gordura
insaturada e obesidade, também contribuem para o aparecimento de tumores mamários, porém
em menor grau (HANSEN, 2015; DALECK; NARDI, 2017; NEVES, 2018).
Em relação à anatomia da glândula mamária, a maioria das fêmeas possuem cinco pares
de glândulas mamárias, sendo duas torácicas, cranial e caudal (M1 e M2 respectivamente), duas
abdominais, cranial e caudal (M3 e M4 respectivamente) e uma inguinal (M5) (HANSEN, 2015;
DALECK; NARDI, 2017). Existe possibilidade de conterem quatro a seis pares (NEVES,
2018). O ideal é que os linfonodos sejam retirados no momento do procedimento cirúrgico. O
padrão linfático ocorre da seguinte forma: o linfonodo axilar drena M1, M2 e M3. O linfonodo
inguinal superficial drena M4 e M5 (HANSEN, 2015; RAES; VOLKWEIS, 2017). O linfonodo
inguinal situa-se entre a parede abdominal ventral e a mama inguinal. Tem função de drenagem
das mamas, da pele e tecido subcutâneo do abdome, vulva e membros pélvicos. O linfonodo
axilar localiza-se junto ao plexo axilar, envolvido por uma massa de gordura ventral à artéria
toracodorsal, entre primeira e segunda costela. Este drena as mamas, pele, subcutâneo e parte
da musculatura do membro torácico (HANSEN, 2015). O linfonodo axilar deve ser localizado
com corantes tecnécio 99m, azul patente ou azul metileno (RAES; VOLKWEIS, 2017).
63
O comportamento natural das neoplasias mamárias pode ter caráter benigno, maligno
e/ou mistos (HANSEN, 2015). Existem diversos tipos neoplásicos, como carcinoma in situ,
carcinoma em tumor misto, carcinoma papilar, carcinoma sólido, adenoepitelioma maligno,
diferentes tipos de sarcoma, adenoma, adenoepitelioma, fibroadenoma, tumor misto benigno,
entre outros (RAES; VOLKWEIS, 2017). Tumores benignos geralmente apresentam aspecto de
crescimento lento, são circunscritos e não aderidos. Tumores malignos evoluem rapidamente,
são invasivos e podem proliferar para outros locais. As metástases ocorrem tanto pela via
linfática, quanto pela hematógena. Os órgãos mais afetados são linfonodos regionais, pulmão,
fígado, baço, rins, pele, encéfalo e ossos (HANSEN, 2015; DALECK; NARDI, 2017) e os sinais
clínicos serão associados ao local acometido, como dispneia, sinais neurológicos, quadros de
insuficiência hepática e renal, claudicação, entre outros (RAES; VOLKWEIS, 2017).
As cadelas são clinicamente saudáveis e os tumores podem ser identificados facilmente
pelo médico veterinário durante o exame físico (DALECK; NARDI, 2017), como ocorreu com
a paciente que aparentemente estava saudável e durante o exame físico observou um nódulo
circunscrito, de tamanho grande, desenvolvido, inflamado, aderido à pele e musculatura e não
ulcerado. Apresentou mais características de tumor maligno. Quando se encontram ulcerados,
pode haver contaminação bacteriana e áreas necrosadas, mas este não era o caso do paciente
(DALECK; NARDI; RAES; VOLKWEIS, 2017).
O nódulo presente no animal relatado encontrava-se em M5, mama inguinal. As mamas
mais acometidas são as abdominais caudais e inguinais, em virtude do maior tamanho tecidual.
66% das neoplasias localizam-se nessas glândulas, pois tem maior quantidade de parênquima
mamário, além de sofrer maior alteração proliferativa do efeito dos hormônios ovarianos e
possuírem habilidade secretória por mais tempo, quando comparadas as demais glândulas
(GOMES, 2015). Foi optado por retirar toda a cadeia mamária do paciente, pelo motivo de as
glândulas saudáveis e neoplásicas terem conexão linfática (CASSALI et al., 2011).
Durante a consulta, a anamnese foi completa e obteve-se informações importantes como
castração, idade, uso de hormônios, quantidade de gestações, tempo de aparecimento e evolução
do nódulo, além de avaliar e palpar a cadeia inteira e linfonodos. No exame físico, ao longo da
cadeia mamária esquerda, pôde sentir pequenos nódulos. Os linfonodos palpáveis não
demonstraram reativos. O diagnóstico é obtido através do exame físico geral, palpação das
mamas, ou ainda, quando o tutor relata aumento de volume na região das mamas (DALECK;
NARDI; RAES; VOLKWEIS, 2017), sendo este último a queixa principal do tutor.
Como protocolo pré-operatório, foi realizado exames hematológicos e bioquímicos,
além de radiografia do tórax em três projeções. Exames hematológicos e bioquímicos séricos
(função renal e hepática) são fundamentais para avaliação do estado de saúde e planejamento
64
da terapia. A radiografia do tórax ventrodorsal, laterolateral direita e laterolateral esquerda é
importante para investigação de metástase na região pulmonar e linfonodos esternais, pois 25 a
50% das neoplasias mamárias malignas fazem metástases em linfonodos regionais e
parênquima pulmonar, (CASSALI et al., 2011; HANSEN, 2015; DALECK; NARDI, 2017)
neste caso não foi evidenciado metástase em parênquima pulmonar ou em linfonodos e por esse
motivo o animal foi liberado para o procedimento cirúrgico.
Os exames hematológicos da paciente não demonstraram alterações significativas, mas
as mais frequentes são anemia normocítica normocrômica, não regenerativa e leucocitose
neutrofílica (RAES; VOLKWEIS, 2017).
O proprietário optou por não enviar para análise citológica e sim para exame
histopatológico, já que o animal iria passar por procedimento cirúrgico. O exame de citologia
exclui diagnósticos diferenciais, como mastite, lipoma, mastocitoma, entre outras neoplasias
(DALECK; NARDI, 2017). A CAAF (citologia aspirativa com agulha fina) ou PBA (punção
biopsia aspirativa) da região de linfonodos palpáveis contribui para identificar tipos tumorais e
planejar o tratamento terapêutico. O esfregaço celular obtido deve ser secado e fixado em álcool
70% (DALECK; NARDI, 2017).
Após o procedimento cirúrgico, uma amostra fixada em formalina 10% foi enviada ao
laboratório, para análise histopatológica e obter um diagnóstico definitivo, verificar o tipo
histológico, o pleomorfismo nuclear, índice mitótico, presença de necrose, grau de malignidade,
invasão linfática e vascular (DALECK; NARDI, 2017; RISATI; DANEZE; MAGALHÃES,
2016). O paciente deve ser submetido a um procedimento cirúrgico para retirar um fragmento
(biopsia incisional) ou retirar toda a lesão com análise posterior (biopsia excisional) (RISATI;
DANEZE; MAGALHÃES, 2016).
O proprietário optou por não realizar ultrassom, que também serve como meio de
diagnóstico (HANSEN, 2015). Avalia algumas características como ecogenicidade, ecotextura,
limites, compressibilidade, tamanho, arquitetura do parênquima, avaliação do tamanho e
consistência dos linfonodos, avaliação do parênquima hepático e esplênico para possíveis
metástases (HANSEN, 2015).
A medicina veterinária possui um estadiamento para as neoplasias mamárias, assim
como nas mulheres, e são classificadas em estágios de 1 a 5, de acordo com o sistema TNM
(tumor, linfonodo e metástase) proposto pela OMS. O objetivo é avaliar o tamanho do tumor
primário, se há comprometimento dos linfonodos regionais e presença de metástases a distância.
Os estádios 1, 2 e 3 correspondem ao tamanho tumoral, o estádio 4 ao comprometimento dos
linfonodos regionais e o estádio 5 refere-se às metástases a distância. Esse sistema é utilizado
somente para tumores epiteliais caninos (DALECK; NARDI; RAES; CALDAS et al., 2017;
65
VOLKWEIS, 2017, NEVES, 2018), auxilia no planejamento de tratamentos e avaliação dos
resultados obtidos, fornece o prognóstico e possibilita a troca de informações entre as centrais
de tratamento (CASSALI et al., 2011, HANSEN, 2015; NEVES, 2018).
O tratamento de escolha para a paciente relatado foi o cirúrgico, este é o tratamento de
eleição para a maioria das cadelas acometidas (NEVES, 2018). Permite a análise
histopatológica, proporciona qualidade de vida (DALECK; NARDI, 2017), exceto nos casos de
carcinoma inflamatório, aumenta a sobrevida do paciente e pode ser curativa (CASSALI et al.,
2011; HANSEN, 2015; DALECK; NARDI; RAES; VOLKWEIS, 2017).
A escolha do tipo de cirurgia a ser realizada em cada situação, vai depender do
estadiamento tumoral, da drenagem linfática da glândula acometida, do local da lesão, condição
do paciente (DALECK; NARDI; RAES; VOLKWEIS, 2017) e consentimento do proprietário.
Contudo, pode-se optar pela técnica de nodulectomia ou lumpectomia, mastectomia regional,
mastectomia unilateral ou bilateral total (CASSALI et al., 2011; CALDAS et al., 2017;
DALECK; NARDI, 2017). Geralmente são realizadas as cirurgias radicais por garantirem
melhores prognósticos, porém a escolha deve ser analisada com cautela (HANSEN, 2015).
A técnica realizada no paciente relatado, foi a mastectomia total unilateral, que retira
toda a cadeia mamária de um lado, tecido subcutâneo, juntamente com os linfonodos. O
linfonodo axilar não foi retirado, pois não há prática dessa ação nas mastectomias, além de
tornar a ferida cirúrgica mais extensa e ocasionar futuros problemas em membro torácico.
(CASSALI et al., 2011; HANSEN, 2015; RAES; VOLKWEIS, 2017).
A literatura relata a técnica cirúrgica: primeiramente, deve posicionar o animal em
decúbito dorsal, realizar tricotomia e antissepsia ampla da região de tórax e abdome. É feita
uma incisão elíptica, ao redor da(s) glândula(s) mamária(s) acometida(s), no mínimo com 1cm
do tumor. A incisão se estende através do tecido subcutâneo, até a fáscia da parede abdominal
externa. Deve evitar cortar o tecido mamário. A hemorragia superficial, é controlada com pinças
hemostáticas e ligaduras. Com uma tesoura e movimentos suaves, deve fazer dissecação do
tecido subcutâneo da fáscia peitoral até o reto abdominal. Pode fazer tração sobre a pele elevada,
para facilitar a dissecação. É retirada toda placa de gordura, juntamente com o(s) linfonodo(s)
inguinal(is). A dissecação continua com a tesoura, até encontrar os principais vasos (epigástrica
superficial cranial e caudal) e ligá-los. Lavar a ferida e avaliar todo o tecido, é fundamental.
Após, deve fazer divulsão da pele, das bordas da ferida, e avançá-las com suturas móveis. Se o
espaço morto for muito grande, pode usar um dreno Penrose. A aproximação da extremidade
da pele, é realizada com sutura subcutânea ou hipodérmica, com fio de sutura absorvível
monofilamentoso 3-0 ou 4-0 (polidioxanona [PDS], poliglecaprona 23 [Monocryl®], glicômero
631 [Biosyn®] ou poligliconato [Maxon®]), podendo ser padrão contínuo ou isolado. Pode
66
utilizar parte de pele axilar ou flanco, para fechar o defeito, se a tensão for muito extensa. A
sutura para aproximação, pode ser utilizado fio absorvível monofilamentoso (3-0 a 4-0 de
náilon, polibutester [Novafil®] ou polipropileno [Proleno®]) ou grampos. Após, deve-se
colocar uma bandagem para comprimir o espaço morto, o tecido mobilizado e apoiar a ferida
(FOSSUM, 2014). O caso clínico relatado, seguiu a técnica cirúrgica, que é citada na literatura.
A sutura walking sututre foi utilizado pela cirurgiã, para iniciar o fechamento da ferida cirúrgica,
mobiliza a pele das laterais para o centro da ferida, com intuito de reduzir o espaço morto e
distribuir a tensão ao longo da ferida (DALECK; NARDI, 2017). Não foi colocado dreno nem
bandagem no animal, optou-se pela roupa cirúrgica e limpeza duas vezes ao dia. O colar
elizabetano não foi necessário porque o animal era muito calmo e ficava sob supervisão o tempo
todo.
Para evitar recidivas, como cita a literatura, optou-se por retirar toda a cadeia mamária
da paciente. Estudos relatam que a cadeia mamária total deve ser removida, independentemente
do tamanho, locais e números de tumores, pois foi observado aumento da frequência de
surgimento de novos tumores no tecido mamário remanescente epsilateral, de cadelas
submetidas a mastectomia regional (58%) (DALECK; NARDI, 2017).
Para o pós-operatório, foram prescritas medicações como analgésico, antibiótico, anti-
inflamatório e protetor gástrico, além de cuidados de suporte que consistiram em roupa cirúrgica
e limpeza da ferida. Os pontos do animal foram retirados 10 dias após o procedimento cirúrgico.
O tutor foi orientado a manter a ferida cirúrgica sempre seca e limpa, com pomada cicatrizante
e se necessário trocar a roupa cirúrgica todos os dias. A ferida precisa estar sempre seca e ser
avaliada para constatar inflamação, edema, drenagem, seroma, deiscência e necrose. Contudo
apresentou boa cicatrização (FOSSUM, 2014). A paciente não apresentou nenhuma
complicação no pós-cirúrgico como dor, inflamação, hemorragia, formação de seromas,
infecção, necrose isquêmica, deiscência, edema e recidiva (CALDAS et al., 2017; DALECK;
NARDI, 2017), estas são mais comuns quando é realizada a mastectomia radical e por ter feito
um tratamento potente durante a recuperação.
O exame histopatológico diagnosticou a amostra como osteossarcoma mamário. O
osteossarcoma (OSA) é uma neoplasia maligna com característica formação osteóide. Nos cães
é a neoplasia mais comum, sendo 85% de todos os tumores ósseos. Os ossos mais afetados são:
úmero, rádio, ulna, fêmur e tíbia, mas podem acometer outros órgãos e tecidos não ósseos, sendo
denominados osteossarcoma extra-esquelético (OEs). O OE é uma neoplasia mesenquimal
incomum em cães e tem capacidade de produzir tecido ósseo e cartilagem em tecidos moles.
Nos cães, 86% dos OE acometem os órgãos e 14% tecidos das extremidades como tegumento
(subcutâneo e pele), glândula mamária, trato urinário, trato gastrointestinal (intestinos, fígado e
67
baço), sistema endócrino (tireóide e adrenal), sistema reprodutor (testículo e vagina),
musculatura, olhos, coração (intra-cardíaco e pericárdio) e meninge (GOMES, 2015).
O osteossarcoma mamário (OSM) é o mais comum dos OEs (em torno de 64%). Estudos
relatam que 60% dos OSM foram observados nas glândulas abdominais caudais e inguinais,
semelhante ao animal relatado. A idade média relatada, de animais com OE é de 10 anos, similar
à idade do animal que possuía 9 anos. A concentração sérica de fosfatase alcalina (FA) é
considerada um fator prognóstico para OSA, bem como para OE. No presente relato, não foi
aferida a concentração de FA. Esta enzima é um marcador sérico que demonstra o aumento da
remodelação óssea associada com a destruição óssea, ou envelhecimento e outras causas que
interfiram no metabolismo ósseo, bem como as neoplasias ósseas. Quando verificado que FA
está elevada, isso repercute em menor sobrevida. As células neoplásicas produzem esteóides, e
isto caracteriza os OSM. Estes, são compostos por proliferação de osteoblastos e osteoclastos,
com trabéculas de esteóides ou osso mineralizado. Os OSA podem ser puros ou mistos
(combinação de osso, tecido fibroso e cartilaginoso) (GOMES, 2015). O laudo histopatológico
observou, microscopicamente, trabéculas ósseas, proliferação de células condroides
(cartilagem) e áreas de tecido osteóide maduro.
Após alta médica, o tutor do animal foi informado e encaminhado para o médico
veterinário oncologista, para tornar-se responsável e iniciar um protocolo quimioterápico
adjuvante, que é indicado para pacientes com tumores mamários malignos. A radioterapia é
recomendada em alguns países, como tratamento paliativo (DALECK; NARDI, 2017).
Contudo, o objetivo é tentar a cura do animal, evitar recidivas e eliminar as células tumorais
residuais que possam existir após o procedimento cirúrgico (HANSEN, 2015).
A quimioterapia age sobre as células que estão se proliferando, células normais que estão
em constante mitose como células dos folículos pilosos, células encontradas nas vilosidades
intestinais e da medula óssea. Por este motivo, sinais clínicos como mielosupressão, sinais
gastrointestinais e alopecia podem aparecer durante o tratamento (HANSEN, 2015). O
tratamento com quimioterápicos propostos na literatura, consistem em doxurrubicina associada
à ciclosfosfamida, ou uso da carboplatina, cisplatina ou carboplatina como agentes únicos, e
gencitabina associada à carboplatina. Após o tratamento, os pacientes devem ser monitorados a
cada três meses no primeiro ano, e a cada seis meses no segundo ano (CASSALI et al., 2011;
DALECK; NARDI, 2017).
Nesse relato de caso, não há informações de realização de tratamento adjuvante à
cirurgia pelo paciente. A eficácia da quimioterapia para OSM ainda não é clara, pela escassez
de trabalhos reportados. Ressalta-se que, a quimioterapia adjuvante tem apresentado bons
resultados em humanos. Combinações com múltiplos fármacos consistindo de altas doses de
68
metotrexato, bleomicina, ciclosfosfamida, dactiomicina e doxorubicina, ou a combinação de
cisplatina, doxorubicina e ifosfamida tem sido eficaz em casos isolados de osteossarcoma de
mama em mulheres (GOMES, 2015).
O prognóstico passado ao tutor sobre o animal, era desfavorável. Por já ter idade
superior, ser uma neoplasia maligna, de difícil tratamento e possuir histórico de tumor no útero,
porém deve-se levar em consideração que não haviam evidencias de metástase em parênquima
pulmonar ou linfonodos. Demonstrou boa recuperação e cicatrização pós cirúrgica. O
prognóstico vai depender de vários aspectos, como idade, necrose, tamanho do tumor,
envolvimento de linfonodos, presença de metástases, tipo histológico, grau de malignidade,
grau de diferenciação nuclear, índice mitótico, grau de invasão, crescimento intravascular,
atividade dos receptores hormonais, entre outros. Para carcinoma inflamatório, o prognóstico é
ruim (HANSEN, 2015; DALECK; NARDI, 2017). Recidivas e metástases são comuns na
maioria das neoplasias mamárias malignas (CALDAS et al., 2016). Foi indicado ao tutor que
passasse por avaliação com especialista oncologista, para iniciar tratamento quimioterápico
adjuvante, fazer acompanhamento com exames laboratoriais, observação e fornecer qualidade
de vida ao animal.
6.2 RELATO DE CASO 2: LINFOMA
Linfoma mediastinal em gata.
6.2.1 Resenha
Paciente da espécie felina, fêmea, sem raça definida, castrada, 1 ano de idade, com peso
corporal de 3,5 quilogramas.
6.2.2 Histórico e anamnese
O paciente chegou ao HVPV apresentando prostração, anorexia há três dias, dispneia,
mudança de comportamento, sem brincar, com dificuldade de subir nos móveis e tutor notou
perda de peso nos últimos dias. Tinha acesso à rua e contato com outro gato com sarna, porém
não apresentou alteração em pele, nem prurido. O tutor relatou que o animal não era vacinado
e nunca realizou o teste de FIV/FeLV. Controle de vermes estava atualizado. O médico
veterinário realizou exame físico e após solicitou exames de sangue e ultrassom para
investigação.
69
6.2.3 Exame físico
O paciente apresentava prostração, mucosas normocoradas, hidratação normal,
temperatura retal 38,6ºC, frequência cardíaca 140 bpm, frequência respiratória 26 mpm, TPC
menor que 2 segundos, palpação abdominal sem alteração, linfonodos submandibulares, pré-
escapulares, axiais e poplíteos aumentados/reativos, cavidade oral e auricular sem alterações.
6.2.4 Exames complementares
Conforme protocolo, realizou-se coleta de sangue para hemograma. Foram observadas
alterações como leucocitose (32,9mil/mm³), discreta linfocitose (56,9%) e trombocitopenia
(13.000mm) (Tabela 27). O restante sem alterações. Realizado teste rápido de FIV/FeLV
Alere® que teve resultado positivo para FeLV (Figura 27). Animal foi medicado para controle
de dor e voltou no outro dia para realização de exame ultrassonográfico.
Tabela 27 – Hemograma apresentando leucocitose, discreta linfocitose e trombocitopenia
HEMOGRAMA
Unidade Resultado Valores de referência
Hemácias (milhões/mm3) 7,96 (p/mm3) 5 a 10 Hemoglobina (g%) 10,2 (g%) 8 a 15 Hematócrito (%) 31,6 (%) 24 a 45
V.C.M. (u3) 39,8 (u3) 39 a 55 H.C.M. (uug) 13,5 (uug) 12,5 a 17,5 C.H.C.M. (g%) 29,7 (g%) 30 a 36
Leucócitos (mil/mm3) 32,9 (p/mm3) 5,5 a 19,5 Eosinófilos (%) 0,7 (%) 2 a 12 Linfócitos (%) 56,9 (%) 20 a 55 Basófilos (%) 0,5 (%) 0 a 1
Monócitos (%) 2,1 (%) 1 a 4 Plaquetas (p/mm3) 13.000 (p/mm3) 300.000 a 800.000
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
70
Figura 26- Teste rápido de FIV-FeLV Alere® apresentando resultado positivo para FeLV.
Fonte: A autora (2020).
Antes do exame foi aplicado via SC analgésico novamente. No exame de ultrassom, foi
evidenciado presença de linfonodos com dimensões aumentadas (linfadenomegalia
generalizada), ecogenicidade reduzida e mesentério reativo ao redor. Os maiores linfonodos
mediam: ilíaco 0,65 x 1,93cm; esplênico 0,79 x 1,51cm; hepático 1,66 x 2,55cm; jejunais 0,94
x 2,84cm, 0,93 x 3,56cm (Figura 28). Esplenomegalia e fígado com aparência tóxica. Na região
torácica, havia formação heterogênea, irregular, de limites não definidos, medindo em torno de
2,95 x 6,06cm (podendo ser o linfonodo esternal deslocado até o coração) (Figura 29). Os sinais
ultrassonográficos compatíveis com doença infiltrativa neoplásica. Suspeitou-se de linfoma
mediastinal linfoblástico (ANEXO C), foi solicitada radiografia torácica e citologia de
linfonodo, para tentar fechar diagnóstico e estabelecer o tratamento quimioterápico correto.
Figura 27- Imagens ultrassonográficas apresentando linfonodos com dimensões aumentadas
(linfadenomegalia generalizada), ecogenicidade reduzida e mesentério reativo ao redor. Os
maiores medindo: ilíaco 0,65 x 1,93cm (A); esplênico 0,79 x 1,51cm (B); hepático 1,66 x
2,55cm (C); jejunal 0,94 x 2,84cm (D).
A B
71
Fonte: Ferreira, T.L.M. (2020).
Figura 28- Região torácica com formação heterogênea, irregular, de limites não definidos,
medindo em torno de 2,95 x 6,06cm (podendo ser o linfonodo esternal deslocado até o coração).
Fonte: Ferreira, T.L.M. (2020).
A radiografia torácica foi realizada nas projeções ventrodorsal, laterolateral direita e
esquerda (Figura 30). Apresentou discreta efusão pleural, deslocamento dorsal de traqueia,
aumento de volume e radiopacidade de tecidos moles do mediastino cranial e médio, ocupando
toda extensão cranial da cavidade torácica. As imagens foram compatíveis com neoformação
mediastinal, tendo como diagnóstico diferencial linfoma mediastinal (ANEXO D).
Figura 29- Imagens radiográficas do tórax nas projeções ventrodorsal (A), laterolateral direita
(B) e laterolateral esquerda (C). Apresentaram discreta efusão pleural, deslocamento dorsal de
traqueia, aumento de volume e radiopacidade de tecidos moles do mediastino cranial e médio,
C D
72
ocupando toda extensão cranial da cavidade torácica. Imagens compatíveis com neoformação
mediastinal.
Fonte: Tormin, R.B. (2020).
O exame citológico apresentou alta celularidade composta por células arredondadas com
pleomorfismo nuclear moderado, núcleos amplos e citoplasma escasso. Fundo com corpúsculos
linfoglandulares e debris celulares. Concluiu positivo para neoplasia maligna de células
redondas, compatível com linfoma (ANEXO E).
6.2.5 Tratamento
Antes do exame radiográfico e ultrassonográfico, o animal foi medicado via SC com
cloridrato de tramadol 4mg/kg para controle da dor. Após os exames foi para casa com
tratamento medicamentoso via oral. Foram prescritos: alfainterferona 2B 30UI/ml administrar
1ml a cada 24 horas por semanas alternadas de uso contínuo, suplemento vitamínico (Metacell
Pet®) administrar 0,3ml a cada 12 horas durante 30 dias, cloridrato de tramadol (Cronidor
12mg®) administrar ½ comprimido a cada 12 horas por 5 dias e mirtazapina 15mg administrar
¼ de comprimido a cada 48 horas durante 10 dias.
No dia seguinte passou por consulta com especialista oncologista, para orientação e
possível tratamento quimioterápico. Desde o começo, foi passado para tutor que o prognóstico
era desfavorável. No quarto dia, o paciente foi anestesiado para realização do exame citológico.
A técnica foi CAAF de linfonodo submandibular direito (Figura 31). O animal foi induzido
diretamente com propofol em dose-resposta.
A
B C
73
Figura 30- Realização do exame citológico. Técnica de CAAF do linfonodo submandibular
direito.
Fonte: A autora (2020).
Após 9 dias de tratamento, o animal retornou muito debilitado, foram realizados novos
exames e apresentava clínica muito diferente comparado ao primeiro dia de atendimento. Teve
piora da dispneia, provavelmente com mais efusão pleural, mucosas hipocoradas (Figura 32),
sarcopenia severa, linfonodos mais aumentados do que a primeira vez, desidratação severa,
prostrado, muita dor na palpação de linfonodos e abdômen e anorexia. Animal foi internado
para tratamento de suporte (fluidoterapia e drenagem torácica), iria passar por mais uma
avaliação com oncologista no outro dia, porém, durante a tarde piorou muito o quadro. O tutor
estava ciente do prognóstico desfavorável e solicitou a eutanásia. Os exames repetidos antes da
decisão sobre eutanásia mostraram-se piores, com presença de anemia (hemácias: 3,58;
hemoglobina: 5,2 e hematócrito 16), leucocitose (71,5mil/mm³) seguida de linfocitose (61%)
(Tabela 28). Observou-se na amostra, linfócitos grandes (linfoma linfoblástico), sendo indicado
mielograma. A avaliação renal e hepática estava dentro dos valores de referência (Tabela 29).
74
Figura 31- Paciente apresentando mucosas hipocoradas (oral e ocular).
Fonte: A autora (2020).
Tabela 28 – Exames foram repetidos antes da decisão sobre eutanásia e mostraram-se piores,
com presença de anemia, leucocitose seguida de linfocitose.
HEMOGRAMA
Unidade Resultado Valores de referência
Hemácias (milhões/mm3) 3,58 (p/mm3) 5 a 10 Hemoglobina (g%) 5,2 (g%) 8 a 15 Hematócrito (%) 16 (%) 24 a 45
Leucócitos (mil/mm3) 71,5 (p/mm3) 5,5 a 19,5 Segmentados (%) 38 (%) 35 a 75
Eosinófilos (%) 0 (%) 2 a 12 Linfócitos (%) 61 (%) 20 a 55 Basófilos (%) 0,7 (%) 0 a 1
Monócitos (%) 1 (%) 1 a 4 Plaquetas (p/mm3) 44.000 (p/mm3) 300.000 a 800.000/mm
Fonte: Elaborado pela autora (2020).
Tabela 29 – A avaliação renal e hepática estava dentro dos valores de referência.
BIOQUÍMICO Unidade Resultado Valores de referência
Albumina (g/dL) 2,38 (g/dL) 2,1 a 3,3 ALT (T.G.P.) (UI/L) 36,6 (UI/L) 10 a 88 Creatinina mg/dL 1,5 (mg/dL) 0,5 a 1,7
Fonte: Elaborado pela autora (2020).
75
A eutanásia foi realizada conforme protocolo do hospital. O animal foi acessado IV, foi
realizado anestesia geral, induzindo sono profundo com propofol IV em alta dose, seguido de
cloreto de potássio (KCl) IV como medicação cardiotóxica. Foi feita auscultação cardíaca para
confirmar morte do paciente.
Após o procedimento, foram retirados dois linfonodos submandibulares e enviados para
avaliação histopatológica para fechar o diagnóstico de linfoma (Figura 33).
Figura 32- Linfonodos submandibulares retirados após eutanásia e enviados para análise
histopatológica para fechar o diagnóstico de linfoma.
Fonte: A autora (2020).
6.2.6 Resultado Histopatológico
Macroscopicamente, os fragmentos apresentaram neoplasia maligna, com células
redondas de tamanho intermediário e grande, com núcleos amplos, vesiculoso, moderado
pleomorfismo, citoplasma escasso, eosinofílico e presença de numerosas figuras de mitose. O
mesmo concluiu linfoma difuso de células grandes e intermediárias, morfologicamente
sugestivo de linfoma linfoblástico (ANEXO F).
76
6.2.7 Revisão e discussão de literatura
A neoplasia é um problema comum na medicina veterinária e atualmente é a principal
causa de morte nos animais domésticos, sendo responsável por 32% das mortes em gatos.
Acredita-se que os casos irão diminuir, pelo fato de que estão vivendo mais tempo, recebem
melhorias da nutrição, práticas à medicina preventiva e controle de doenças infecciosas (TOMÉ,
2010).
Os linfócitos são células encontradas no sangue e tecidos e tem função de proteger o
organismo de infecções. São as maiores células encontradas nos linfonodos ou “glândulas”.
Linfomas ou linfossarcomas são neoplasias caracterizadas pela proliferação de linfócitos
malignos. É uma neoplasia hematopoiética e se origina de órgãos linfoides, como medula óssea,
baço e linfonodos. O local mais comum acometido são os linfonodos, mas essas células podem
crescer em qualquer parte do corpo (ETTINGER, 2008; TOMÉ, 2010; DALECK; NARDI,
2017). O linfoma é a neoplasia mais comum em felinos (ALMEIDA et al., 2019), representando
mais de 50% de todos os tumores hemolinfáticos (LITTLE, 2015). Infecções por FIV (vírus da
imunodeficiência felina) e FeLV (vírus da leucemia felina) têm sido associadas ao
desenvolvimento de linfossarcoma, embora gatos que não possuem as infecções também
possam desenvolver a doença espontaneamente (AUGUST, 2006).
A incidência anual de linfossarcomas, é de 200 casos novos a cada 100 mil gatos.
Animais adultos e idosos são os mais acometidos, com a idade média de 11 anos, mas pode
acometer entre 1 e 16 anos, como ocorreu no animal relatado que possuía 1 ano de idade. Gatos
siameses e de raças orientais apresentam maiores riscos de desenvolver a doença (TOMÉ, 2010;
DALECK; NARDI, 2017), entretanto, pode acometer qualquer raça, idade e sexo (LITTLE,
2015). Machos apresentam risco duas vezes maior quando comparados às fêmeas,
possivelmente devido ao contágio de FIV e FeLV, ao disputarem território (POPPI, 2019). Os
gatos podem apresentar diversas formas da doença, incluindo a digestiva, mediastínica, nodal e
extranodal. A forma digestiva é a mais comum no geral associada a gatos mais velhos e FeLV
negativos, a mediastínica é mais comum em gatos jovens e FeLV (TOMÉ, 2010). O paciente
condiz com a literatura, sobre a forma mediastinal ser mais comum em gatos jovens e FeLV
positivos.
O animal relatado, após realizar o teste rápido, foi diagnosticado FeLV positivo e FIV
negativo. Estes vírus são fatores predisponentes ao linfoma. A FeLV é causada por um
retrovírus, que se integra no DNA da célula hospedeira e provoca alteração no crescimento
celular, o que pode ocorrer transformação maligna. A FIV participa da oncogênese e por ser
imunossupressor, esse retrovírus compromete o sistema imune, que não consegue destruir as
77
células malignas (TOMÉ, 2010; LITTLE, 2015; DALECK; NARDI, 2017). Em torno de 25%
dos gatos positivos para FeLV desenvolvem linfoma, sendo a incidência dessa neoplasia cinco
vezes maior em gatos positivos para FIV em relação aos negativos (TOMÉ, 2010; DALECK;
NARDI, 2017). Entre 1960 e 1980, 70% dos casos de linfoma em gatos, eram associados ao
vírus da FeLV. Nos últimos vinte anos, ocorreram mudanças no número de gatos infectados,
apresentação, sinais clínicos e frequência da localização anatômica. Os casos diminuíram muito
após a prática de vacinação, confinamento e testes (POPPI, 2019).
A imunossupressão é um fator de risco para desenvolvimento de linfoma, com isso, foi
registrado quase 10% de casos de linfoma maligno, em 95 receptores de transplante renal felino.
Outros associam o aparecimento de linfoma com inflamação crônica, como por exemplo,
doença inflamatória intestinal. Sarcomas associados às vacinas (síndrome associada com
inflamação), também são riscos para o desenvolvimento de linfoma (TOMÉ, 2010). Animais
expostos à fumaça de cigarro mostraram 2,4 a 3,2 vezes maiores riscos de desenvolver linfoma
(POPPI, 2019).
No geral, os linfomas são classificados em multicêntrico, mediastinal (ou tímico),
alimentar, cutâneo e extranodal. Em gatos, essa classificação inclui também linfoma nasal, renal
e em sistema nervoso (DALECK; NARDI, 2017).
A forma multicêntrica é mais comum em cães do que em gatos. Em gatos, é mais comum
ocorrência de linfonodos mesentéricos, fígado, baço e rim (DALECK; NARDI, 2017).
Geralmente, não tem ligação com FeLV (ROBLES, 2016).
O linfoma mediastinal acomete linfonodos mediastinais e/ou timo. O paciente relatado,
foi diagnosticado com linfoma mediastinal, apresentando linfadenopatia mediastinal e efusão
pleural, que é característica da doença, constatada através da radiografia, podendo apresentar
infiltração da medula óssea ou não (ROBLES, 2016). O prognóstico passado ao tutor foi
desfavorável, assim como ocorre na maioria dos animais, principalmente quando desenvolvem
linfomas de células T e/ou quando apresentam hipercalcemia concomitante. Essa alteração de
hipercalcemia é frequente em cães e rara em gatos. Em gatos com patologia tímica, 63% tem
linfoma e 17% dos gatos com efusão pleural também apresentam essa patologia (TOMÉ, 2010;
DALECK; NARDI, 2017). Estudos mostraram que 70% dos gatos com essa apresentação de
linfoma eram positivos para FeLV (ROBLES, 2016) e jovens, similar ao animal relatado. Os
felinos domésticos mais acometidos são machos, siameses/orientais, com média de 3 anos de
idade (TOMÉ, 2010; DALECK; NARDI, 2017). O linfoma multicêntrico também pode
apresentar aumento de linfonodos mediastinais (DALECK; NARDI, 2017).
O linfoma alimentar/digestivo é o mais diagnosticado em gatos (AUGUST, 2006).
Acomete mais gatos adultos/idosos e negativos para FeLV. Acomete o estômago, intestino e
78
aumento de linfonodos mesentéricos. A apresentação cutânea em felinos geralmente ocorre em
animais idosos, entre 10 e 12 anos e negativos para FeLV. Pode ser isolada ou generalizada,
envolvendo mucosa oral, linfonodos, baço, fígado e medula óssea (TOMÉ, 2010; DALECK;
NARDI, 2017). O linfoma extranodal acomete órgãos não linfoides, principalmente cavidade
nasal, rins, SNC (sistema nervoso central), laringe, traquéia e pele (ROBLES, 2016). O linfoma
renal, podendo ser primário ou associado ao linfoma digestivo, acomete gatos com idade média
de 7 anos e a maioria são FeLV negativo (TOMÉ, 2010). O linfoma nasal é local, acomete
principalmente gatos mais velhos entre 8 a 9 anos, negativos para FeLV e é o tumor nasal mais
comum em gatos. O linfoma do sistema nervoso central ocorre tanto em locais intradurais como
extradurais, em animais mais velhos e FeLV negativos. Pode ser primário, quando inicia no
mesmo, ou secundário quando há outro tipo de linfoma associado. Pode envolver a medula
espinhal e encéfalo (TOMÉ, 2010).
Os sinais clínicos podem variar de acordo com a sua localização. Animais com linfoma
multicêntrico em estágios iniciais podem apresentar-se assintomáticos. O principal sinal clínico
é aumento de linfonodos submandibulares, pré-escapulares, axilares, poplíteos e progridem para
linfadenomegalia generalizada, dor quando há abscedação de linfonodos, desconforto, apatia,
febre, hiporexia, anorexia, efusão torácica e ascite.
Animais com linfoma mediastinal, podem apresentar aumento de linfonodos palpáveis
e linfadenomegalia generalizada, alterações respiratórias como tosse e dispneia, por
consequência da efusão pleural ou à formação neoplásica no mediastino. Engasgos e
regurgitação, devido à obstrução do esôfago, pela expansão da massa tumoral mediastinal, perda
de peso e síndrome de Horner, por compressão do esôfago e comprometer a inervação
simpática. Pode-se observar também poliúria e polidipsia decorrentes da hipercalcemia. O
padrão respiratório típico é caracterizado por movimentos respiratórios superficiais e
taquipnéicos e por expiração forçada. Anorexia, apatia e depressão ocorrem também (TOMÉ,
2010; DALECK; NARDI, 2017). Na primeira consulta, o animal apresentou alguns sinais
clínicos compatíveis com a literatura, como dispnéia, aumento dos linfonodos palpáveis,
submandibulates, pré-escapulares, axiais e poplíteos. No exame ultrassonográfico, pode-se
observar linfadenomegalia generalizada. O animal sentia dor durante a palpação, além de apatia,
anorexia e perda de peso (sinais relatados pelo tutor). Na radiografia torácica, foram
evidenciados efusão pleural, formação neoplásica no mediastino e traqueia deslocada
cranialmente, por conta da neoformação. Após 9 dias do primeiro atendimento, o animal
apresentava um quadro muito pior. Com dispnéia severa, provavelmente por maior efusão
pleural, mucosas hipocoradas, sarcopenia severa, desidratação, anorexia, apatia e depressão.
79
Linfoma alimentar desenvolvem sinais de hipertrofia dos linfonodos mesentéricos,
anorexia, vômito, diarreia, letargia, fraqueza, emagrecimento e desconforto abdominal (TOMÉ,
2010; LITLLE, 2015; DALECK; NARDI, 2017). Linfomas de localização extranodal,
apresentam sinais clínicos variados, de acordo com o órgão afetado (ROBLES, 2016;
DALECK; NARDI, 2017). Linfoma do sistema nervoso central em gatos, os sinais serão de
acordo com o acometimento, central ou periférico (ROBLES, 2016). O principal sinal clínico é
convulsão (DALECK; NARDI, 2017). Os gatos com linfoma nasal normalmente apresentam
corrimento nasal unilateral, deformação facial, dispneia, epistaxe, linfadenopatia regional,
estertores respiratórios, anorexia e espirros (TOMÉ, 2010; ROBLES, 2016). O linfoma cutâneo
pode estar apresentado sinais clínicos variáveis, lesões na pele, prurido é variável e infecção
secundária é comum (ROBLES, 2016), eritema, descamação, despigmentação, alopecia,
formação de placas e nódulos e ulcerações locais (DALECK; NARDI, 2017). Todos os gatos
que possuem linfoma, independente do tipo e local, podem desenvolver infiltração da medula
óssea, originando anemia e alterações nos exames de sangue (TOMÉ, 2010).
Por ser uma neoplasia do sistema linfoide, que pode acometer diversas localizações é
recomendado uma completa avaliação para confirmar o diagnóstico e a localização anatômica
(LITLLE, 2015). O diagnóstico é obtido através da anamnese e exame físico do animal,
podendo observar baixa condição corporal e aumento dos linfonodos palpáveis, estas alterações
foram observadas no paciente, além de dor durante a palpação de linfonodos. Mucosas pálidas
foram evidenciadas no retorno, indicando anemia e trombocitopenia. Podem se apresentar
ictéricas, com úlceras urêmicas, indicando falência hepática e renal, respectivamente. A
palpação abdominal pode mostrar aumento da expessura das alças intestinais, linfadenopatia
mesentérica e organomegalia. Na auscultação cardíaca e pulmonar, não foi percebido sons
característicos de presença de massa ou líquido na cavidade, mas podem indicar massa
mediastinal ou efusão pleural e nos olhos podem haver alterações como uveíte ou deslocamento
da retina (TOMÉ, 2010).
No paciente, todos os exames solicitados pelo veterinário foram realizados, iniciado pelo
teste FIV/FeLV seguido de hemograma, bioquímico, radiografia, ultrassonografia, citologia e
histopatologia. Exame citológico é considerado um exame de triagem e o histopatológico é
realizado através do tecido acometido (ROBLES, 2016). Exames complementares são
importantes para caracterizar o estadiamento clínico e extensão da doença, como hemograma,
bioquímicos (função renal e hepática), proteinograma, mielograma, exames radiográficos do
tórax, ultrassonografia abdominal e para gatos, testes sorológicos de FIV e FeLV (DALECK;
NARDI, 2017). Deve também avaliar em todos gatos idosos a tiroxina sérica (T4), para
descartar hipertiroidismo (AUGUST, 2006).
80
As imagens radiográficas do paciente foram compatíveis com neoformação mediastinal,
discreta efusão pleural e sem presença de metástase pulmonar. As imagens foram realizadas em
três projeções: laterolateral direita, laterolateral esquerda e ventrodorsal, avaliando linfonodos
e estruturas pulmonares, mediastinais e pleurais. A ultrassonografia abdominal, observou
linfadenomegalia generalizada, linfonodo esternal deslocado até o coração, esplenomegalia e
fígado com aparência tóxica, além disso conseguem detectar a expessura da parede
gastrointestinal, tamanho e ecotextura de órgãos. É útil também para orientar durante a biópsia
(AUGUST, 2006; LITLLE, 2015).
Os resultados apresentados no hemograma pelo paciente foram leucocitose, linfocitose
e trombocitopenia, após 9 dias, os exames foram repetidos e teve piora nos resultados, além de
apresentar anemia, mas geralmente as alterações hematológicas são inespecíficas (AUGUST,
2006). Enzimas renais e hepáticas estavam dentro do padrão mas podem estar aumentadas.
Geralmente está acompanhada de hipercalcemia. A hipercalcemia é decorrente da produção de
uma proteína relacionada com o paratormônio, excretado pelas células tumorais e da reabsorção
óssea local (por seu desenvolvimento da medula óssea) ou osteólise, quando ocorre em tecido
ósseo. Hipoalbunemia é outra alteração encontrada em pacientes com linfoma (DALECK;
NARDI, 2017). Níveis de cálcio e albumina não foram dosados no paciente relatado.
A citologia aspirativa por agulha fina (CAAF) foi realizada no paciente, a partir do
linfonodo submandibular direito. Ela permite diagnosticar linfoma, através da observação de
células individuais, em lâminas, sem ver a arquitetura estrutural do tecido. 70 a 75% dos
linfomas podem ser diagnosticadas através dessa técnica (TOMÉ, 2010). É um procedimento
pouco invasivo, com diagnóstico quase imediato, fácil realização e com baixo índice de falso-
negativo. Pode ser realizado dos tecidos acometidos ou de líquidos cavitários (por exemplo,
derrames pleurais no linfoma mediastinal). Foram enviadas 6 amostras em lâminas e obteve
resultado positivo para neoplasia maligna de células redondas, compatível com linfoma.
Quando não fecha diagnóstico, recomenda-se exame histopatológico (LITLLE, 2015). A
citologia da medula óssea é útil na determinação de reservas hematológicas, principalmente
para gatos FeLV positivos (AUGUST, 2006).
Existem esquemas de classificação histopatológica do linfoma não Hodgkin em seres
humanos e esses mesmos esquemas são utilizados para os animais domésticos.
Morfologicamente, a classificação é baseada em padrão de crescimento (difuso ou folicular) e
constituição celular (células pequenas, grandes, clivadas ou não e diferenciação plasmocitária).
Através do exame histopatológico, consegue-se classificar o tipo de linfoma e grau de
malignidade. Os linfomas de baixo grau de malignidade são os linfomas linfocítico,
centrocítico, centrocítico-centroblástico, linfomas de células T pleomórfico, linfoplasmacítico
81
e os linfomas de zona T. Os linfomas de alto grau de malignidade são classificados em
imunoblástico, centroblástico, linfoblástico e linfoma anaplásico (de grandes células). Mais de
50% dos gatos apresentam linfomas de alto grau de malignidade e um terço do total é do tipo
imunoblástico (DALECK; NARDI, 2017). O exame histopatológico do paciente concluiu como
linfoma difuso de células grandes e intermediárias, morfologicamente sugestivo de linfoma
linfoblástico. Esse tipo de linfoma, é de alto grau de malignidade.
A partir do diagnóstico confirmatório, deve-se estabelecer o estadiamento clínico de
acordo com a extensão e gravidade da doença (AUGUST,2006). Deve-se seguir as regras do
OMS e pode ser utilizado tanto para gatos quanto para cães. É importante para definir
prognóstico e tratamento (DALECK; NARDI, 2017). Os objetivos do estadiamento de tumores
animais são: auxiliar o clínico veterinário no planejamento do tratamento, dar alguma indicação
de prognóstico, auxiliar na avaliação dos resultados do tratamento, facilitar o intercâmbio de
informações entre centros de tratamento, contribuir para a investigação contínua do câncer de
animais e contribuir com informações de valor comparativo entre homem e animal (POPPI,
2019). O sistema da OMS é usado rotineiramente para o estadiamento de linfoma em cães
(Tabela 30) e gatos (Tabela 31).
Tabela 30 – Tabela ilustrando o estadiamento de linfoma em cães.
Fonte: Oliveira (2014).
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Tabela 31 – Tabela ilustrando o estadiamento de linfoma em gatos.
Fonte: Oliveira (2014).
Por ser uma doença sistêmica, a quimioterapia é tratamento para quase todos cães e
gatos (AUGUST, 2006). É baseada em administração de fármacos via oral ou intravenosa para
interromper as células cancerosas que circulam por todo o corpo (ETTINGER, 2008). É a
modalidade primária para tratamento de linfoma felino. Sem o tratamento, a mortalidade é de
40 a 75%, com 4 e 8 semanas após o diagnóstico, respectivamente (LITLLE, 2015). A escolha
cirúrgica ou radioterapia são menos úteis, pois são indicados para as formas localizadas
(ETTINGER, 2008; ROBLES, 2016).
A quimioterapia tem como objetivo, promover uma “remissão” completa pela morte da
maioria das células cancerígenas, ou seja, temporariamente todos os sinais clínicos desaparecem
(ETTINGER, 2008). Geralmente, os gatos toleram bem a quimioterapia e a qualidade de vida
melhora após o início do tratamento. Os agentes quimioterápicos mais comuns, usados para
tratar linfomas de grau intermédio a alto são similares aos usados nos cães e humanos, incluindo
doxorrubicina, vincristina, ciclofosfamida, metotrexato, L-asparginase, lomustina e prednisona
(OLIVEIRA, 2014; ROBLES, 2016). Deve-se ficar atento para os efeitos colaterais causados
pela quimioterapia. O paciente relatado estava muito debilitado e provavelmente não iria
suportar os efeitos colaterais causados pelo tratamento, como energia e apetite diminuídos,
vômito e diarreia podendo vir à óbito. Pode suprimir o sistema imunológico e tornar o animal
mais susceptível a infecções. Geralmente essas infecções surgem de bactérias do trato intestinal
e da pele e não do ambiente (ETTINGER, 2008). O linfoma linfoblástico, diagnosticado no
83
paciente, é altamente agressivo e deve-se considerar um tratamento quimioterápico
multifármaco, diferentes protocolos e padrão de cuidados. No caso relatado não deu tempo de
iniciar o tratamento. A cada sessão de quimioterapia, deve-se realizar um hemograma do
paciente, bioquímico sérico e urinálise mensal (LITLLE, 2015).
Linfoma não tem cura, mas aumenta o tempo e a qualidade de vida de cães e gatos. Os
gatos apresentam taxa de 50% de remissão total. A média de sobrevivência é de 7 a 10 meses
(ETTINGER, 2008). Cuidados de suporte incluindo líquidos, estimulantes de apetite,
antieméticos, boa alimentação são importantes (AUGUST, 2006).
A cirurgia é utilizada para estádios iniciais e localizados (I e II) ou linfoma extranodal
solitário. É importante realizar o estadiamento da doença antes do tratamento cirúrgico
(OLIVEIRA, 2014; DALECK; NARDI, 2017).
A radioterapia é indicada para alguns casos, pois é limitada. Auxilia no tratamento de
linfoma em estádio I (um linfonodo), linfoma extranodal solitário (nasal, cutâneo, espinhal),
tratamento paliativo de linfoma localizado (linfadenopatia mandibular, linfoma retal, linfoma
mediastínico com síndrome da veia cava e linfoma com envolvimento ósseo) e alguns estádios
terminais que possuem resistência à quimioterapia (OLIVEIRA, 2014). É um método baseado
na radiação, os feixes ionizantes emitidos provocam reações químicas e resultam em morte
celular. Os linfócitos malignos são sensíveis a essas radiações, sofrem apoptose e incapacidade
mitótica após a exposição (ROBLES, 2016). É eficaz para controlar a doença local,
principalmente linfoma nasal. Os gatos que foram tratados com radioterapia, com ou sem
quimioterapia sistêmica, apresentaram sobrevida de mais de um ano (LITLLE, 2015).
O prognóstico de linfoma mediastinal é desfavorável, como ocorreu no paciente
relatado, mas vai depender do imunofenótipo, estádio do tumor, resposta ao tratamento e
localização anatômica da doença (OLIVEIRA, 2014; LITLLE, 2015). O prognóstico é pior em
animais FeLV positivos, pois há debilitação causada por doenças relacionadas e o proprietário
sempre deve estar ciente dos problemas relacionados a FeLV (AUGUST, 2006). A situação do
paciente relatado, agravou muito em uma semana e por todos os motivos que citam a literatura
optou-se por realizar a eutanásia e acabar com o sofrimento do animal. Durante conversa com
o especialista em medicina felina, o mesmo acreditava que o animal não suportaria o tratamento
quimioterápico, pois estava muito debilitado.
6.3 RELATO DE CASO 3: ERLIQUIOSE
Erliquiose em cão sem raça definida.
84
6.3.1 Resenha
Paciente da espécie canina, macho, sem raça definida, não castrado, 8 anos de idade,
com peso corporal de 29 quilogramas.
6.3.2 Histórico e anamnese
O paciente chegou ao HVPV e proprietário relatou que mais ou menos 4 dias antes da
consulta observou que o animal estava “depressivo” e apático. Tinha histórico de otite há 2
meses atrás e naquela época apresentava inquietação e dificuldade de ficar na posição que
costumava dormir. Retornou novamente com quadro de otite por apresentar o mesmo
comportamento. Nos últimos dias apresentou vômito e hiporexia, negaram diarreia
(normoquesia), normodipsia e urinando normalmente. Perceberam perda de peso. Foi medicado
em casa com dipirona. Animal vivia em área aberta, passeava e tinha contato com outros cães.
Vacinação, controle de endoparasitas e ectoparasitas estavam desatualizados. Proprietário
relatou ter encontrado carrapatos duas semanas antes da consulta. O médico veterinário realizou
exame físico e exames complementares para investigação.
6.3.3 Exame físico
O paciente apresentava-se apático, mucosas normocoradas, hidratação normal,
temperatura retal 39,8ºC (febre), difícil auscultação cardíaca e pulmonar, porém sons
aparentemente normais, TPC menor que 3 segundos, linfonodos não reativos, palpação
abdominal sem dor, condutos auditivos inflamados e com presença de secreção esbranquiçada
(descamação), demonstrou incômodo na inspeção e palpação dos ouvidos, cavidade oral sem
alterações.
6.3.4 Exames complementares
Conforme protocolo, foi coletado sangue para realização de exames, como hemograma
e bioquímico. Foram observadas alterações como leucocitose (32,0 mil/mm3) seguida de
trombocitopenia (153.000 p/mm3) (Tabela 32). O exame bioquímico, não apresentou alteração
hepática e renal (Tabela 33). Suspeitou-se de erliquiose (“doença do carrapato”) pela baixa de
plaquetas. Com isso, explicou-se ao tutor a importância de análise PCR (reação em cadeia da
85
polimerase), para confirmar o diagnóstico. Então, o sangue foi enviado para o laboratório
externo VETPAT, para realização de PCR.
Tabela 32 – Hemograma apresentando leucocitose seguida de trombocitopenia.
HEMOGRAMA Unidade Resultado Valores de referência
Hemácias (milhões/mm3) 6,8 (p/mm3) 5,7 a 7,4 Hemoglobina (g%) 15 (g%) 14 a 18 Hematócrito (%) 43,2 (%) 38 a 47
V.C.M. (u3) 65,7 (u3) 63 a 77 H.C.M. (uug) 22,2 (uug) 21 a 26 C.H.C.M. (g%) 35 (g%) 31 a 35
Leucócitos (mil/mm3) 32,0 (mil/mm3) 6 a 16 Eosinófilos (%) 2,8 (%) 1 a 9 Linfócitos (%) 28 (%) 13 a 40 Basófilos (%) 0,6 (%) 0 a 1
Monócitos (%) 5 (%) 1 a 6 Plaquetas (p/mm3) 153.000 (p/mm3) 200.000 a 500.000
Fonte: Elaborado pela autora (2020).
Tabela 33 – Avaliação hepática e renal sem alterações.
BIOQUÍMICO Unidade Resultado Valores de referência
ALT (T.G.P.) (UI/L) 78,0 (UI/L) 10 a 88 Creatinina mg/dL 1,0 (mg/dL) 0,5 a 1,5
Fonte: Elaborado pela autora (2020).
6.3.5 Tratamento
O animal foi para casa e orientado ao tratamento otológico, com ácido lático e ácido
salicílico (Clean Up®), realizando a limpeza dos condutos auditivos a cada 24 horas durante 3
dias, seguido de enrofloxacina, sulfadiazina de prata e hidrocortisona (Zelotril Oto®), iniciado
após 3 dias da limpeza, pingando 8 gotas em cada conduto auditivo a cada 12 horas durante 7
dias. Foi iniciado também o tratamento para erliquiose, com omeprazol (Gaviz 20mg®)
administrar 1 comprimido e ½ a cada 24 horas durante 28 dias, orientado a fornecer sempre pela
manhã, 30 minutos antes da próxima medicação, cloridrato de doxiciclina (Doxifin Tabs
200mg®) administrar 1 comprimido e ½ a cada 24 horas, durante 28 dias, tutor orientado a
fornecer sempre após alimentação e nunca administrar a medicação com carne vermelha e/ou
derivados de leite. Após, prednisolona (Prediderm 20mg®) administrar 1 comprimido e ½ a
cada 24 horas durante 5 dias. E dipirona (Dipirona 500mg®) administrar 1 comprimido a cada
86
12 horas durante 3 dias. E juntamente foi receitado um antiparasitário ao paciente, praziquantel,
pamoato de pirantel, febantel e ivermectina (Top Dog 30kg®), administrar 1 comprimido em
dose única e repetir em 15 dias.
Após uma semana do início do tratamento, o animal retornou para repetir o hemograma
e apresentou grande melhora, normalizando o número de plaquetas (573.000p/mm3), porém
ainda apresentava leucocitose (25,8 mil/mm3) (Tabela 34). Obteve-se o resultado do material
que foi para análise PCR. O laudo clínico mostrou: positivo para Ehrlichia spp., negativo para
Babesia spp. e negativo para Anaplasma spp. (ANEXO G). Com isso confirmou a suspeita,
mas o animal já havia iniciado o tratamento. O proprietário estava ciente do resultado e foi
orientado a continuar o tratamento em casa. Retornaria 5 dias após o término, para repetir
exames como hemograma e PCR.
Tabela 34 – Hemograma após uma semana do início do tratamento apresentando melhora,
normalizando o número de plaquetas, porém ainda possuía leucocitose.
HEMOGRAMA
Unidade Resultado Valores de referência
Hemácias (milhões/mm3) 5,89 (p/mm3) 5,7 a 7,4 Hemoglobina (g%) 16 (g%) 14 a 18 Hematócrito (%) 41,3 (%) 38 a 47
V.C.M. (u3) 63,9 (u3) 63 a 77 H.C.M. (uug) 24,7 (uug) 21 a 26 C.H.C.M. (g%) 32 (g%) 31 a 35
Leucócitos (mil/mm3) 25,8 (mil/mm3) 6 a 16 Eosinófilos (%) 1,2 (%) 1 a 9 Linfócitos (%) 32 (%) 13 a 40 Basófilos (%) 0,5 (%) 0 a 1
Monócitos (%) 3,9 (%) 1 a 6 Plaquetas (p/mm3) 573.000 (p/mm3) 200.000 a 500.000
Fonte: Elaborado pela autora (2020).
6.3.6 Evolução do caso
No retorno, 7 dias após término do tratamento o animal retornou, estava clinicamente
bem, sem nenhuma alteração no exame físico. Foi coletado sangue para novo hemograma e
PCR. O hemograma ainda apresentava leucocitose (20,5 mil/mm3), plaquetas normalizadas
(423.000p/mm3) e restante sem alteração (Tabela 35). O sangue foi enviado novamente para
análise PCR. O resultado posterior mostrou que o animal já apresentava negativo para Ehrlichia
spp., negativo para Babesia spp. e negativo para Anaplasma spp. (ANEXO H). Tutor foi
orientado a repetir o hemograma após 7 dias do último retorno, para acompanhamento da
87
leucocitose apresentada no último exame. O resultado mostrou hemograma dentro da
normalidade (Tabela 36), animal recebeu alta médica e orientação devido ao controle de
ectoparasitas no animal e ambiente.
Tabela 35 – 7 dias após término do tratamento, realizou hemograma e ainda apresentava
leucocitose, plaquetas normalizadas e restante sem alteração.
HEMOGRAMA Unidade Resultado Valores de referência
Hemácias (milhões/mm3) 7,15 (p/mm3) 5,7 a 7,4 Hemoglobina (g%) 18 (g%) 14 a 18 Hematócrito (%) 48 (%) 38 a 47
V.C.M. (u3) 62,1 (u3) 63 a 77 H.C.M. (uug) 22,7 (uug) 21 a 26 C.H.C.M. (g%) 31 (g%) 31 a 35
Leucócitos (mil/mm3) 20,5 (mil/mm3) 6 a 16 Eosinófilos (%) 5,2 (%) 1 a 9 Linfócitos (%) 25 (%) 13 a 40 Basófilos (%) 0.4 0 a 1
Monócitos (%) 2,5 1 a 6 Plaquetas (p/mm3) 423.000 (p/mm3) 200.000 a 500.000
Fonte: Elaborado pela autora (2020).
Tabela 36 – Hemograma após 7 dias do último retorno, para acompanhamento da leucocitose
apresentada no último exame. O resultado mostrou-se dentro da normalidade.
HEMOGRAMA Unidade Resultado Valores de referência
Hemácias (milhões/mm3) 6,93 (p/mm3) 5,7 a 7,4 Hemoglobina (g%) 17 (g%) 14 a 18 Hematócrito (%) 46,4 (%) 38 a 47
V.C.M. (u3) 68,1 (u3) 63 a 77 H.C.M. (uug) 23,5 (uug) 21 a 26 C.H.C.M. (g%) 33 (g%) 31 a 35
Leucócitos (mil/mm3) 15,4 (mil/mm3) 6 a 16 Eosinófilos (%) 5,2 (%) 1 a 9 Linfócitos (%) 18 (%) 13 a 40 Basófilos (%) 0 (%) 0 a 1
Monócitos (%) 2 (%) 1 a 6 Plaquetas (p/mm3) 617.000 (p/mm3) 200.000 a 500.000
Fonte: Elaborado pela autora (2020).
88
6.3.6 Revisão e discussão de literatura
A erliquiose monocítica canina é uma doença multissistêmica, infectocontagiosa,
transmitida através da picada ou saliva do carrapato. Pode ser transmitida ao homem, por isso,
é considerada uma zoonose. Essa doença é causada pela bactéria do gênero Ehrlichia canis e
seu hospedeiro principal é o carrapato do gênero Rhipicephalus sanguineus, também conhecido
como “carrapato marrom”. Essas bactérias pertencem à ordem Rickettsiales, que possuem
afinidade por células hematopoiéticas. Parasitam células sanguíneas mononucleares, causando
alteração da membrana celular de plaquetas e eritrócitos, levando a alterações hematológicas.
Está distribuída amplamente, em várias regiões geográficas do mundo, principalmente países
tropicais e subtropicais e no Brasil, é encontrada em todas as regiões, principalmente em áreas
urbanas. O animal relatado, habitava uma cidade que possuía clima quente o ano todo, sendo
fator positivo para a proliferação do carrapato (NELSON RW et al., 2015; SILVA et al., 2015;
PARPINELLI, N et al., 2017; REIS, 2017; CUNHA; MARTINS, 2018).
Um único cão pode ser infectado por mais de um agente erliquial, sendo comum a
coinfecção com outros patógenos, que também são transmitidos por carrapatos, como por
exemplo, Anaplasma phagocytophilum (ex: E. equi), Anaplasma platys (ex: E. platys), E.
chaffeensis e Neorickettsia risticii (NELSON RW et al., 2015; SILVA et al., 2015;
PARPINELLI, N et al., 2017; REIS, 2017; CUNHA; MARTINS, 2018). Infecção concomitante
por Babesia, Haemobartonella, A. platys e Hepatozoon canis pode agravar o quadro clínico do
animal (TILLEY et al., 2015).
As bactérias do gênero Ehrlichia são gram-negativas, intracelulares obrigatórias,
pleomórficas e podem infectar várias espécies de mamíferos. E. canis é reconhecida como
patógeno de canídeos. No entanto, algumas cepas encontradas em humanos e felinos são
geneticamente idênticas às cepas causadoras de Erliquiose Monocítica Canina, por esse motivo
é considerada por alguns autores uma zoonose (PARPINELLI, N et al., 2017). E. canis isolado,
não causa imunossupressão em cães jovens ou em animais infectados recentemente (NELSON
RW et al., 2015).
A infecção pode ocorrer em qualquer cão, mas a gravidade pode variar. Isso vai depender
dos fatores do hospedeiro, de qual microrganismo e se há presença de coinfecção (NELSON
RW et al., 2015). O animal do caso relatado, era SRD e possuía 8 anos, porém a bactéria pode
acometer qualquer raça, sexo e idade (CUNHA; MARTINS, 2018). Raças como Doberman
Pinscher e Pastor Alemão são pré-dispostas. A idade mais acometida é, em média 5 anos, porém
pode ocorrer entre 2 meses até 14 anos (TILLEY et al., 2015). Exposição ao R. sanguineus,
89
também pré-dispõe à doença (PARPINELLI, N et al., 2017). Animais SRD (sem raça definida),
apresentam sinais clínicos mais brandos (CUNHA; MARTINS, 2018).
E. canis é o agente mais comum. Rhipicephalus sanguineus, Dermacentor variabilis
(NELSON RW et al., 2015; TILLEY et al., 2015) e Amblyomma cajennense são os vetores desta
bactéria (PARPINELLI, N et al., 2017). O vetor precisa parasitar um cão rickettsêmico na fase
aguda, para se tornar infectado e disseminar a doença (NELSON RW et al., 2015). Com isso, o
vetor ingere sangue de um cão infectado, contrai a bactéria e esta, mantém-se ativada no
hospedeiro por até cinco meses. Este carrapato infectado se alimenta de um cão sadio e o infecta
com a bactéria, que irá se multiplicar no sistema fagocítico mononuclear do animal. A
transmissão pode se dar também através de agulha, instrumentos contaminados com sangue e
transfusão sanguínea (REIS, 2017; CUNHA; MARTINS, 2018). O ciclo da erliquiose é
constituído de três fases principais: a primeira, é quando ocorre a penetração dos corpos
elementares nos monócitos, nesse processo, permanecem em crescimento por aproximadamente
2 dias; a segunda, é a multiplicação do agente, por 3 a 5 dias, com a formação do corpo inicial
e a terceira, ocorre formação das mórulas, constituídas por um conjunto de corpos elementares
envoltos por uma membrana (SILVA et al., 2015).
A doença possui um período de incubação de 1 a 3 semanas e três estágios: forma aguda,
subclínica e crônica. A forma aguda dura de duas a quatro semanas, após o período de incubação
e ocorre quando o agente se multiplica no interior das células sanguíneas mononucleares e nos
órgãos do sistema monocítico-fagocitário, como baço, fígado e linfonodo. É mais frequente e
diagnosticada na primavera e no verão, quando o vetor é mais ativo. Os sinais clínicos
apresentados são inespecíficos. Após, torna-se em forma subclínica, geralmente começa seis a
nove semanas após a infecção, causando trombocitopenia leve, acometendo o endotélio, causa
vasculite, pode apresentar leucopenia e leve anemia, isso vai depender do microrganismo. Esta
fase, podendo ser assintomática, dura de meses a anos em cães naturalmente infectados e
observa-se alta concentração de anticorpos para E. canis. A forma crônica ocorre quando há
diminuição na produção de plaquetas da medula óssea, ou seja, supressão eritróide (NELSON
RW et al., 2015; TILLEY et al., 2015; PARPINELLI, N et al., 2017; REIS, 2017).
No geral, os sinais clínicos são: letargia, depressão, anorexia ou hiporexia, perda de
sangue, febre, sangramento espontâneo através de espirro, angústia respiratória, ataxia,
inclinação de cabeça e dor ocular (uveíte) (TILLEY et al., 2015). Febre, pode ocorrer em
qualquer fase clínica da doença, porém, na fase aguda é mais comum. O animal pode apresentar
também petéquias na mucosa, isso devido à trombocitopenia moderada e vasculite. Apatia e
emagrecimento também são mais evidentes nessa fase (SILVA et al., 2015). Os sinais clínicos
apresentados pelo cão atendido foram hiporexia, depressão, apatia e febre. Perceberam também
90
perda de peso nos últimos dias. O que condiz com a fase aguda da doença. Na fase crônica, é
comum ocorrer trombocitopenia, vasculite e função plaquetária anormal (NELSON RW et al.,
2015). A vasculite, é decorrente da migração de células mononucleares infectadas para
pequenos vasos (REIS, 2017). Na fase crônica, o animal pode apresentar palidez das mucosas,
devido à pancitopenia, além de hepatomegalia, esplenomegalia e linfadenomegalia. Dispneia e
tosse ocorrem, devido ao edema instersticial, secundário à vasculite ou inflamação, hemorragia
pulmonar parenquimatosa, secundária à vasculite ou à trombocitopenia, ou infecções
secundárias decorrentes de neutropenia. Poliúria, polidpsia e proteinúria são sinais de animais
que desenvolvem insuficiência renal. E. ewingii ou A. phagocytophilum podem ocasionar
poliartrite e os principais sinais clínicos apresentados são: rigidez, intolerância ao exercício e
articulações dolorosas. Pode ocorrer também manifestações oftálmicas. Quando a doença atinge
o SNC, depressão, ataxia, dor, paresia, nistagmo e convulsões podem aparecer (NELSON RW
et al., 2015).
O diagnóstico é obtido através de anamnese e exame físico, evidenciar carrapatos no
animal e saber se o animal vive em área endêmica (CRIVELLENTI, 2015). Por ser uma doença
multissistêmica e possuir manifestações clínicas inespecíficas, deve-se realizar exames
complementares, como hematológicos e sorológicos (CUNHA; MARTINS, 2018), e é possível
detectar mórulas da E. canis em esfregaços sanguíneos (REIS, 2017). Através da anamnese, foi
relatado que o animal foi visto com carrapatos 15 dias antes, durante exame físico demonstrou
sinais inespecíficos e foi orientado a realizar exames complementares.
Os resultados de hemograma, bioquímico e urinálise podem variar. Na forma aguda da
doença o exame pode apresentar: trombocitopenia (antes do início dos sinais clínicos), anemia,
leucopenia (por linfopenia e eosinopenia). Leucocitose e monocitose ocorrem quando a doença
se torna crônica, ou se tiver outra infecção associada, como ocorreu com o paciente que estava
com otite e apresentou leucocitose (secundária à otite). A outra alteração foi trombocitopenia.
O bioquímico: ALT e creatinina levemente alteradas ou normais, como ocorrido no paciente. A
urinálise não foi realizada no animal, mas pode apresentar proteinúria. Na fase crônica, pode-
se observar pancitopenia, hiperglobulinemia, hipoalbuminemia, ureia e creatinina elevados,
decorrentes da doença renal primária (TILLEY et al., 2015). Na rotina clínica, os médicos
veterinários levam em consideração o valor da contagem de plaquetas para iniciar o tratamento,
pois um dos principais sinais da E. canis é a trombocitopenia (REIS, 2017), essa conduta foi
aplicada no animal relatado. A ausência de anemia e outras alterações mais graves, podem ser
pelo fato de o animal estar na fase aguda da doença.
É possível visualizar, através de microscopia óptica, microrganismos dos gêneros
Ehrlichia e Anaplasma, utilizando amostras de sangue e medula óssea. Embora as bactérias
91
sejam <0,5 µm de diâmetro, elas se replicam dentro de um vacúolo citoplasmático formando
uma mórula. E. canis está presente em baixas concentrações mesmo na fase aguda da infecção,
tornando a pesquisa de mórulas em esfregaço sanguíneo uma técnica de baixa sensibilidade
(PARPINELLI, N et al., 2017).
A técnica imunofluorescência indireta (IFA) também é um método usado para
diagnosticar erliquiose, detectando a presença de IgG contra Ehrlichia canis no soro. É
altamente sensível, porém há especificidade baixa, com reatividade cruzada entre E. canis e A.
phagocytophila, mas não entre E. canis e A. platys.
Ensaios imunoenzimáticos (ELISA), kit comercial disponível (SNAP 3DX®, IDEXX®,
Portland®, Maine®), também podem diagnosticar e são realizados no consultório, exceto no
animal relatado, optou-se por PCR. o ELISA detecta anticorpos IgG contra Ehrlichia canis no
soro. O desenvolvimento de testes rápidos resultou em estudos amplos, para detecção de
anticorpos para Ehrlichia spp. e Anaplasma spp. de cães. Porém, deve-se ter cautela na
utilização destas técnicas, pois podem ocorrer resultados falsos positivos, decorrentes da
reatividade cruzada com outros organismos dos gêneros Ehrlichia, Anaplasma e Neorickettsia,
e também, por não diferir infecção de exposição prévia ao organismo.
O diagnóstico da doença do caso relatado foi através da análise reação em cadeia da
polimerase (PCR), por ser o exame mais específico, confiável e sensível. Embora pode ocorrer
resultados falsos. Irá observar mórulas circulantes e detectar o DNA específico do
microrganismo em leucócitos de sangue periférico. O resultado é positivo 7 dias após a infecção,
ou seja, principalmente na fase aguda da doença e o mesmo torna-se negativo 9 dias após o
tratamento, como mostrou o resultado PCR 10 dias após o término do tratamento do paciente.
A análise foi realizada com amostra sanguínea, amostras conjuntivais também podem ser úteis,
porém no sangue há maior sensibilidade (NELSON RW et al., 2015; TILLEY et al., 2015;
PARPINELLI, N et al., 2017; CUNHA; MARTINS, 2018).
Como tratamento, deve estabilizar clinicamente o animal quando necessário. Fornecer
fluidoterapia (se estiver desidratado), transfusão de sangue (em casos de anemia) ou transfusão
de plasma rico em plaquetas (aconselhável em casos de hemorragia decorrente de
trombocitopenia) (TILLEY et al., 2015).
O tratamento é baseado em antibiótico, antiparasitário, antiemético se necessário,
protetor de mucosa, e controle de carrapatos no animal e ambiente. O antibiótico de escolha
para o animal foi cloridrato de doxiciclina 5-10 mg/kg, VO, a cada 12 ou 24 horas, por 28 dias
(CRIVELLENTI, 2015). É um antibiótico (tetraciclina) bacteriostático de amplo espectro
(VIANA, 2019), lipossolúvel, alcança alta concentração sanguínea e tecidual, e penetra
rapidamente na maioria das células. Além disso, apresenta menor taxa de recidivas, quando
92
comparada as outras tetraciclinas. Outro fator importante, é que a eliminação se dá por via fecal,
e isso é ideal para pacientes que apresentarem quadros renais concomitantes (REIS, 2017). Por
protocolo terapêutico da clínica, dipropionato de imidocarb não foi receitado nesse caso, mas
recomenda-se duas doses do antiparasitário dipropionato de imidocarb 5 mg/kg, via SC,
repetindo a segunda dose após 14 dias. É importante, 15 minutos antes, aplicar sulfato de
atropina 0,044 mg/kg, via SC, pois tem ação anticolinérgica (evita salivação, instilação nasal,
vômito e diarreia). O dipropionato de imidocarb é muito eficaz para tratamento de erliquiose,
principalmente quando existe coinfecção por Babesia spp. (REIS, 2017; VIANA, 2019). Para
proteção de mucosa, foi receitado omeprazol, a cada 24 hotas por 28 dias, para inibir a bomba
de prótons para redução de secreções gastroduodenais (VIANA, 2019), mas pode optar também
por ranitidina 2 mg/kg, VO ou SC, a cada 12 horas. Foi indicado ao tutor fazer o controle de
carrapatos com coleiras antiparasitárias ou produtos à base de fipronil ou selamectina
(CRIVELLENTI, 2015) e limpeza do ambiente. Foi associado o glicocorticoide anti-
inlfamatório e imunossupressor prednisolona 1-2 mg/kg VO a cada 12 horas durante 5 dias,
para casos de trombocitopenia, devido aos eventos imunomediados. E esteroides androgênicos
podem ser utilizados em cães que possuem a doença crônica e apresentam medula hipoplásica,
como oximetolona 2 mg/kg a cada 24 horas, VO até obter resposta ao tratamento (NELSON
RW et al., 2015; TILLEY et al., 2015).
Durante o tratamento, o paciente realizou hemograma sete dias após o início das
medicações, e apresentou melhora significativa clínica e hematológica. A quantidade de
plaquetas normalizou e não apresentava mais sinais clínicos. É importante monitoração do
paciente. A melhora é rápida em cães agudos (TILLEY et al., 2015).
O prognóstico vai depender em qual fase da doença o animal está. O animal apresentou
bom prognóstico, pois respondeu muito bem ao tratamento, evitando a evolução de aguda para
crônica. Na forma aguda, o prognóstico é excelente com a terapia apropriada. Na fase
subclínica, o prognóstico é de favorável a reservado. Na forma crônica, a resposta a terapia é
mais lenta, podendo demorar até 1 mês. Porém, se a medula óssea estiver gravemente
hipoplásica, o prognóstico é muito ruim (SILVA et al., 2015; TILLEY et al., 2015; REIS, 2017).
Não existem vacinas para combater a erliquiose, por isso é importante a prevenção da
doença (CUNHA; MARTINS, 2018). O tutor foi orientado a controlar a infestação por
carrapatos, realizando banhos de imersão ou sprays que contenham diclorvós, clorfenvinfós,
dioxationa, propoxur ou carbarila, utilizar coleiras anti pulgas e carrapatos e evitar áreas
endêmicas (TILLEY et al., 2015). O Rhipicephalus pode transmitir E. canis por
aproximadamente 155 dias, se não for possível o controle desses ectoparasitas, a tetraciclina
pode ser administrada na dose de 6,6 mg/kg, VO, diariamente por 200 dias. Durante esse
93
período, os cães infectados não vão infectar novos carrapatos. Doxiciclina na dose de 100
mg/cão/dia, obteve sucesso como preventivo (NELSON RW et al., 2015), porém no caso
relatado a doxiciclina foi meio de tratamento e não de prevenção.
7 CONCLUSÃO
O estágio curricular obrigatório é muito importante para o acadêmico vivenciar a rotina
prática clínica e cirúrgica, testar os conhecimentos que adquiriu durante a graduação, tirar
dúvidas, aprender com profissionais de diversas áreas e que possuem diferentes formas de
trabalhar e raciocinar. É uma oportunidade na vida do formando para aprender novos protocolos
e condutas médicas. É a fase mais valiosa, permite lidar com medicina e sentimento, ansiedade
e medo, alegria e desafio... e nos dá certeza de que escolhemos a profissão certa.
O local de estágio escolhido foi ótimo com profissionais qualificados e estrutura física
completa, sempre auxiliando os estagiários, separando o certo do errado, ensinando como
devemos proceder diante diversas situações. Trabalhar em equipe é fundamental para a vida do
médico veterinário, pois nesse meio, uns dependem dos outros para serem profissionais
melhores e reconhecidos. Não é questão de concorrência, mas sim de colegas de profissão e
vida.
94
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