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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA WENDY ILISANDRA ZATTI RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO EM MEDICINA VETERINÁRIA: CLÍNICA E CIRURGIA DE PEQUENOS ANIMAIS Tubarão 2020

UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA WENDY …

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

WENDY ILISANDRA ZATTI

RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO EM MEDICINA

VETERINÁRIA: CLÍNICA E CIRURGIA DE PEQUENOS ANIMAIS

Tubarão

2020

WENDY ILISANDRA ZATTI

RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO EM MEDICINA

VETERINÁRIA: CLÍNICA E CIRURGIA DE PEQUENOS ANIMAIS

Relatório de estágio curricular supervisionado

apresentado ao Curso de Medicina Veterinária

da Universidade do Sul de Santa Catarina como

requisito à obtenção do grau de bacharel em

Medicina Veterinária.

Orientador: Professor Joares Adenilson May Júnior, Ms.

Tubarão

2020

WENDY ILISANDRA ZATTI

RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO EM MEDICINA

VETERINÁRIA: CLÍNICA E CIRURGIA DE PEQUENOS ANIMAIS

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi

julgado adequado à obtenção do título de

Médico Veterinário e aprovado em sua forma

final pelo Curso de Medicina Veterinária da

Universidade do Sul de Santa Catarina.

Tubarão, 16 de junho de 2020.

______________________________________________________

Professor e orientador Joares Adenilson May Júnior, Ms.

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________

Professor e médico veterinário Jairo Balsini

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________

Médica veterinária Sibele Bressan Pedroso

Universidade do Sul de Santa Catarina

Dedico este trabalho aos meus pais Ilisandro

Zatti, Rose Vargas e meu irmão Wesley Zatti

que sempre me apoiaram e acreditaram em

mim.

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer primeiramente à Deus, que sempre me concedeu forças para não

desistir, vencer os obstáculos, me deu uma família maravilhosa e colocou no meu caminho

pessoas muito especiais.

Agradecer a minha família, que foi fundamental para isso acontecer. Em especial meu

pai Ilisandro Zatti e minha mãe Rose Vargas, que me permitiram realizar esse sonho. Ao meu

irmão Wesley Zatti que sempre me apoiou, desde o primeiro dia que decidi cursar medicina

veterinária. Ao meu marido Karl Júnior que estava sempre ao meu lado dizendo que daria tudo

certo e à minha filha Luiza Zatti, que é a razão da minha vida, minha inspiração e força.

Madrinha Ingrid Souza, sempre enviando energias positivas, mesmo de longe. Minha segunda

família, minha sogra Adriana Della Vedova, avó Selma Rosa e madrinha Andréa Gomes que

sempre estavam lá, em todos os momentos que eu precisei, dias, noites, feriados e finais de

semanas, cuidando da minha princesa, quando precisava estudar para provas e fazer trabalhos...

Agradecer às amigas que a vida e a faculdade me deram. Mariana Gomes aquela pessoa

essencial na minha vida que sempre acreditou em mim e nunca duvidou do meu potencial.

Heloisa Antunelli aquela peça principal do meu dia a dia, menina doce, sempre positiva, que

toda pessoa precisa em sua vida, sem dúvidas! Gabriela Oenning tão paciente e amiga. Não

poderia deixar de citar elas, colegas e amigas que quero levar para vida toda Paula Tramontin,

Taiane Costa, Marina Torres, Débora Fernandes, Giovana Vargas e Beatriz Fontanela.

Obrigada por existirem na minha vida!

Agradecer aos professores, em geral, que me ensinaram e ajudaram a chegar até aqui.

Em especial ao meu professor e orientador Joares Adenilson May Júnior, que foi essencial e

contribuiu muito para minha formação acadêmica.

Agradecer à toda equipe do Hospital Veterinário Pet Vida, que me receberam de portas

e corações abertos. Beatriz Ragognet e Adrielle Raymundo obrigada por me aceitarem como

estagiária e por tantas oportunidades de aprendizado. Caroline Ferreti, Nathana Souza, Jéssica

Robles, Rodolfo Tormin, Thiago Ferreira veterinários exemplares, obrigada por tanto. E claro,

não poderia deixar de agradecer meus colegas estagiários, Giovana Bermudez, Julia Moura e

Luis Felipe Dal Ri, quero ter vocês para sempre em minha vida. Enfim, só tenho a agradecer!

“Acredite em si próprio e chegará um dia em que os outros não terão outra escolha se não

acreditar com você” (CYNTHIA KERSEY).

RESUMO

O estágio curricular foi realizado no Hospital Veterinário Pet Vida, na cidade de Araraquara -

SP, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020, totalizando 360 horas, distribuídas

em 40 horas semanais, com a supervisão da médica veterinária Adrielle Chechi Raymundo e

orientação do Professor Ms. Joares Adenilson May Júnior. No decorrer do período de estágio,

foram acompanhados 415 animais, sendo 57 cirurgias, 114 consultas, 48 exames de imagem,

60 retornos/revisões, 18 testes rápidos, 61 vacinas e no setor de internação 57. Destes, foram

selecionados e relatados três casos: Mastectomia unilateral total em cadela, Linfoma

mediastinal em gata e Erliquiose em cão SRD. Estes casos foram acompanhados durante

consulta, cirurgia e pós-operatório; consulta, retorno e internação; e consulta e retorno,

respectivamente. O estágio curricular é de extrema importância, nos proporciona experiências

com profissionais e tutores, nos mostra rotinas variadas e diferentes formas de pensar, sempre

tentando chegar a um diagnóstico final. É o momento de colocar em prática aprendizados

adquiridos ao longo do curso, e a aquisição de novos conhecimentos através da realização e

observação de diversos procedimentos médicos e cirúrgicos.

Palavras-chave: Mastectomia unilateral total. Linfoma mediastinal. Erliquiose.

ABSTRACT

The curricular internship was accomplished at the Pet Vida Veterinary Hospital, in the city of

Araraquara - SP, from March 2nd to May 8th, 2020, 360 hours total, distributed in 40 hours per

week, with the supervision of DVM Adrielle Chechi Raymundo and advice of Professor DVM

Ms. Joares Adenilson May Júnior. During the internship, 415 animals were followed, 57

surgeries, 114 consultations, 48 imaging exams, 60 returns/revisions, 18 rapid tests, 61 vaccines

and in the hospitalization sector 57. Of these, three cases were selected and reported: total

unilateral mastectomy in bitch, mediastinal lymphoma in cat and Erliquiosis in dog. These cases

were followed up during consultation, surgery and postoperative period; consultation, return

and hospitalization; consultation and return, respectively. The curricular internship is extremely

important, provides us experiences with professionals and owners, shows us varied routines and

different ways of thinking, always trying to reach a final diagnosis. It is time to put in practice

lessons acquired throughout the course and the acquisition of new knowledge through the

realization and observation of various medical and surgical procedures.

Keywords: Total unilateral mastectomy. Mediastinal lymphoma. Ehrlichiosis.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1- Fachada do Hospital Veterinário Pet Vida (A). Fachada do pet shop anexo e

estacionamento do Hospital Veterinário Pet Vida (B). .......................................................... 22

Figura 2- Loja pet shop do Hospital Veterinário Pet Vida. .................................................... 23

Figura 3- Estrutura de banho e tosa do Hospital Veterinário Pet Vida. .................................. 23

Figura 4- Hotel e day care do Hospital Veterinário Pet Vida. ............................................... 23

Figura 5- Recepção do Hospital Veterinário Pet Vida........................................................... 24

Figura 6- Consultórios de atendimento do Hospital Veterinário Pet Vida. Consultório 1 (A) para

atendimento de especialistas, o consultório 2 e 3 (B e C) para atendimento clínico geral e o

consultório 4 (D) para atendimentos de urgência/emergências. ............................................. 25

Figura 7- Sala para realização de exames radiográficos do Hospital Veterinário Pet Vida. ... 26

Figura 8- Sala de Internação do Hospital Veterinário Pet Vida. ............................................ 26

Figura 9- “Sala de Isolamento” do Hospital Veterinário Pet Vida. ........................................ 27

Figura 10- Farmácia do Hospital Veterinário Pet Vida. ........................................................ 27

Figura 11- Laboratório de análises clínicas do Hospital Veterinário Pet Vida. Visão do aparelho

de exames hematológicos (A), centrífuga e aparelho de exames bioquímicos (B). ................ 28

Figura 12- Sala para os médicos veterinários do Hospital Veterinário Pet Vida (A). Sala de

administração do Hospital Veterinário Pet Vida (B). ............................................................ 28

Figura 13- Bloco cirúrgico do Hospital Veterinário Pet Vida (A e B). Sala de assepsia para o

cirurgião e auxiliar (C). ........................................................................................................ 29

Figura 14- Ficha de internação com dados do animal e proprietário (A). Ficha de internação

com outras informações (B). Ficha de parâmetros (C). Ficha com tabela de medicações (D). 33

Figura 15- Documento de autorização para cirurgia (A) e anestesia (B). ............................... 35

Figura 16- Nódulo tumoral localizado em M5 (mama 5), do lado esquerdo. ......................... 53

Figura 17- Imagens radiográficas do tórax nas projeções ventrodorsal (A), laterolateral direita

(B) e laterolateral esquerda (C). Não teve evidências de nódulos com características de

metástase. Exame dentro do normal. .................................................................................... 55

Figura 18- Tricotomia e antissepsia realizada com clorexidina 1% e álcool 70% (A). Colocação

dos campos cirúrgicos estéreis (B). ...................................................................................... 56

Figura 19- Incisão torácica elíptica com bisturi, pele e subcutâneo, em formato de “V” (A).

Dissecação com a tesoura e divulsão da cadeia inteira, com tração da mão (B). .................... 57

Figura 20- Localização (A) e ligadura da artéria epigástrica superficial caudal (B). .............. 57

Figura 21- Cadeia mamária retirada juntamente com o linfonodo inguinal (A) e após a divulsão

ampla do subcutâneo foi utilizada a técnica walking suture, que mobiliza a pele das laterais para

o centro da ferida cirúrgica, com fio absorvível vicryl 3.0® (B). .......................................... 58

Figura 22- O fechamento da musculatura foi com a sutura simples contínua intradérmica, com

fio absorvível monofilamentoso poliglecaprone caprofyl 2.0®. ............................................ 58

Figura 23- Para o fechamento da pele, foi realizada sutura simples isolada com náilon shalon

2.0® (A). O paciente foi monitorado no canil constantemente, até recuperação total anestésica

(B). ...................................................................................................................................... 59

Figura 24- A massa tumoral pesou 500 gramas e uma amostra foi enviada para análise

histopatológica, para empresa VETPAT. .............................................................................. 59

Figura 25- Ferida apresentou boa cicatrização após 10 dias da realização cirúrgica, foi retirado

os pontos e animal recebeu alta médica. ............................................................................... 60

Figura 27- Teste rápido de FIV-FeLV Alere® apresentando resultado positivo para FeLV. . 70

Figura 28- Imagens ultrassonográficas apresentando linfonodos com dimensões aumentadas

(linfadenomegalia generalizada), ecogenicidade reduzida e mesentério reativo ao redor. Os

maiores medindo: ilíaco 0,65 x 1,93cm (A); esplênico 0,79 x 1,51cm (B); hepático 1,66 x

2,55cm (C); jejunal 0,94 x 2,84cm (D). ................................................................................ 70

Figura 29- Região torácica com formação heterogênea, irregular, de limites não definidos,

medindo em torno de 2,95 x 6,06cm (podendo ser o linfonodo esternal deslocado até o coração).

............................................................................................................................................ 71

Figura 30- Imagens radiográficas do tórax nas projeções ventrodorsal (A), laterolateral direita

(B) e laterolateral esquerda (C). Apresentaram discreta efusão pleural, deslocamento dorsal de

traqueia, aumento de volume e radiopacidade de tecidos moles do mediastino cranial e médio,

ocupando toda extensão cranial da cavidade torácica. Imagens compatíveis com neoformação

mediastinal........................................................................................................................... 71

Figura 31- Realização do exame citológico. Técnica de CAAF do linfonodo submandibular

direito. ................................................................................................................................. 73

Figura 32- Paciente apresentando mucosas hipocoradas (oral e ocular). ............................... 74

Figura 33- Linfonodos submandibulares retirados após eutanásia e enviados para análise

histopatológica para fechar o diagnóstico de linfoma............................................................ 75

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Distribuição dos casos acompanhados na rotina clínica e classificados conforme o

sistema acometido, no período 02 de março a 08 de maio de 2020 ....................................... 42

Gráfico 2 - Distribuição dos casos acompanhados na rotina cirúrgica e classificados conforme

o sistema no período 02 de março a 08 de maio de 2020 ...................................................... 49

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Distribuição de tipos de atividades acompanhadas no Hospital Veterinário Pet Vida,

durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. ...................................................... 39

Tabela 2 – Imunizações de cães e gatos acompanhadas no Hospital Veterinário Pet Vida,

durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. ...................................................... 40

Tabela 3 – Casuística no setor diagnóstico por imagem de cães e gatos acompanhada no

Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. ...... 41

Tabela 4 – Testes rápidos realizados e acompanhados no Hospital Veterinário Pet Vida, durante

o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. .................................................................. 41

Tabela 5 – Casuística clínica do sistema cardiovascular de cães e gatos acompanhada no

Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. ...... 43

Tabela 6 – Casuística clínica do sistema digestório acompanhada no Hospital Veterinário Pet

Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. ............................................ 43

Tabela 7 – Casuística clínica do sistema endócrino de cães e gatos acompanhada no Hospital

Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. .................... 44

Tabela 8 – Casuística clínica do sistema geniturinário de cães e gatos acompanhada no Hospital

Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. .................... 44

Tabela 9 – Casuística clínica do sistema hematopoiético de cães e gatos acompanhada no

Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. ...... 44

Tabela 10 – Casuística clínica do sistema musculoesquelético acompanhada no Hospital

Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. .................... 45

Tabela 11 – Casuística clínica do sistema nervoso acompanhada no Hospital Veterinário Pet

Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. ............................................ 45

Tabela 12 – Casuística clínica do sistema oftálmico de cães e gatos acompanhada no Hospital

Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. .................... 45

Tabela 13 – Casuística clínica do sistema reprodutivo de cães e gatos acompanhada no Hospital

Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. .................... 46

Tabela 14 – Casuística clínica do sistema reprodutivo de cães e gatos acompanhada no Hospital

Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. .................... 46

Tabela 15 – Casuística clínica do sistema tegumentar/auditivo de cães e gatos acompanhada no

Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. ...... 47

Tabela 16 – Casuística clínica das enfermidades infectocontagiosas de cães e gatos

acompanhada no Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio

de 2020. ............................................................................................................................... 47

Tabela 17 – Casuística clínica das enfermidades oncológicas de cães e gatos acompanhada no

Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. ...... 48

Tabela 18 – Casuística clínica de outras enfermidades de cães e gatos acompanhada no Hospital

Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. .................... 48

Tabela 19 – Número de procedimentos cirúrgicos do sistema digestório acompanhados no

Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. ...... 50

Tabela 20 – Número de procedimentos cirúrgicos do sistema geniturinário de cães e gatos

acompanhados no Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de

maio de 2020. ...................................................................................................................... 50

Tabela 21 – Número de procedimentos cirúrgicos do sistema hematopoiético de cães e gatos

acompanhados no Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de

maio de 2020. ...................................................................................................................... 51

Tabela 22 – Número de procedimentos cirúrgicos do sistema oftálmico de cães e gatos

acompanhados no Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de

maio de 2020. ...................................................................................................................... 51

Tabela 23 – Número de procedimentos cirúrgicos do sistema reprodutivo acompanhados no

Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. ...... 51

Tabela 24 – Número de procedimentos cirúrgicos de sistemas variados acompanhados no

Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020. ...... 52

Tabela 25 – Hemograma apresentando discreta eritrocitose e linfopenia. ............................. 54

Tabela 26 – Exame bioquímico, com valores de creatinina e TGP normais. ......................... 54

Tabela 27 – Hemograma apresentando leucocitose, discreta linfocitose e trombocitopenia ... 69

Tabela 28 – Exames foram repetidos antes da decisão sobre eutanásia e mostraram-se piores,

com presença de anemia, leucocitose seguida de linfocitose. ................................................ 74

Tabela 29 – A avaliação renal e hepática estava dentro dos valores de referência. ................ 74

Tabela 30 – Tabela ilustrando o estadiamento de linfoma em cães. ...................................... 81

Tabela 31 – Tabela ilustrando o estadiamento de linfoma em gatos. ..................................... 82

Tabela 32 – Hemograma apresentando leucocitose seguida de trombocitopenia. .................. 85

Tabela 33 – Avaliação hepática e renal sem alterações. ........................................................ 85

Tabela 34 – Hemograma após uma semana do início do tratamento apresentando melhora,

normalizando o número de plaquetas, porém ainda possuía leucocitose. ............................... 86

Tabela 35 – 7 dias após término do tratamento, realizou hemograma e ainda apresentava

leucocitose, plaquetas normalizadas e restante sem alteração................................................ 87

Tabela 36 – Hemograma após 7 dias do último retorno, para acompanhamento da leucocitose

apresentada no último exame. O resultado mostrou-se dentro da normalidade. ..................... 87

LISTA DE ABREVEATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS

% - Por cento

µg – Micrograma

ALT – Alanina Aminotransferase

AST – Aspartato Aminotransferase

bpm – Batimentos por minuto

CAAF – Citologia Aspirativa com Agulha Fina

CE – Corpo Estranho

CedimVet – Centro de Diagnóstico por Imagem Veterinário

CHCM – Concentração Hemoglobina Corpuscular Média

cm – Centímetros

CRE – Creatinina

DASP – Dermatite Alérgica à Saliva de Pulga

dL – Decilitro

DRC – Doença Renal Crônica

DTUIF – Doença do Trato Urinário Inferior Felino

DUA – Dermatite Úmida Aguda

EPI’s – Equipamentos de Proteção Individual

EUA – Estados Unidos

ex - Exemplo

FA – Fosfatase Alcalina

FC – Frequência Cardíaca

FeLV – Feline Leucemia Vírus (Vírus da Leucemia Felina)

FIV – Feline Immunodeficiency Vírus (Vírus da Imunodeficiência Felina)

FR – Frequência Respiratória

g – Gramas

GGT – Gama Glutamil Transferase

HCM – Hemoglobina Corpuscular Média

HVPV – Hospital Veterinário Pet Vida

ICC – Insuficiência Cardíaca Congestiva

IgG – Imunoglobulina G

IM – Intramuscular

IRA – Injúria Renal Aguda

IV - Intravenosa

KCl – Cloreto de Potássio

Kg – Quilogramas

LCCr – Ruptura de Ligamento Cruzado Cranial

M1 – Mama torácica cranial

M2 – Mama torácica caudal

M3 – Mama abdominal cranial

M4 – Mama abdominal caudal

M5 – Mama inguinal

mg – Miligramas

mm3 – Milímetro cúbico (volume)

MPA – Medicação pré-anestésica

mpm – Movimentos por minuto

MV – Médico veterinário

NaCl – Cloreto de Sódio

ºC – Graus célsius

OE – Osteossarcoma extra-esquelético

OMS – Organização Mundial da Saúde

OSA – Osteossarcoma

OSH – Ovário-salpingo-histerectomia

OSM – Osteossarcoma mamário

PAS – Pressão Arterial Sistólica

PBA – Punção Biópsia Aspirativa

PCR – Reação em Cadeia da Polimerase

RDW – Red Cell Distribution Width (Amplitude de Distribuição dos Glóbulos Vermelhos

SC – Subcutâneo

SP – São Paulo

SpO2 – Saturação oxigênio capilar periférico

SRD – Sem raça definida

TCE – Trauma Crânio Encefálico

TNM – Tumor, linfonodo, mestástase

TPC – Tempo de preenchimento capilar

TPC – Tempo de preenchimento capilar

TR – Temperatura Retal

UI – Unidades internacionais

V10 – Vacina polivalente

V4 – Vacina quádrupla

V5 – Vacina quíntupla

VCM – Volume corpuscular médio

VETPAT – Laboratório de Análises Clínicas Veterinário

VO – Via Oral

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 21

2 DESCRIÇÃO DO LOCAL DO ESTÁGIO .................................................................... 21

3 ROTINA DO HOSPITAL VETERINÁRIO PET VIDA ............................................... 29

3.1 SETOR DE ATENDIMENTO CLÍNICO E ESPECIALIDADES .................................. 30

3.2 SETOR DE INTERNAMENTO ..................................................................................... 32

3.3 SETOR DE CIRURGIA ................................................................................................. 35

3.4 SETOR DE DIAGNÓSTICO POR IMAGEM ................................................................ 36

3.5 LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS ............................................................... 38

4 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ............................................................................... 38

5 CASUÍSTICA ACOMPANHADA DURANTE O PERÍODO DE ESTÁGIO .............. 39

5.1 CASUÍSTICA SETOR DE IMUNIZAÇÕES ................................................................. 40

5.2 CASUÍSTICA SETOR DIAGNÓSTICO POR IMAGEM ............................................. 41

5.3 CASUÍSTICA DE TESTE RÁPIDO .............................................................................. 41

5.4 CASUÍSTICA SETOR DE CLÍNICA E INTERNAMENTO ......................................... 42

5.4.1 Enfermidades do Sistema Cardiovascular ............................................................... 43

5.4.2 Enfermidades do Sistema Digestório ........................................................................ 43

5.4.3 Enfermidades do Sistema Endócrino ........................................................................ 44

5.4.4 Enfermidades do Sistema Geniturinário .................................................................. 44

5.4.5 Enfermidades do Sistema Hematopoiético ............................................................... 44

5.4.6 Enfermidades do Sistema Musculoesquelético ......................................................... 45

5.4.7 Enfermidades do Sistema Nervoso ........................................................................... 45

5.4.8 Enfermidades do Sistema Oftálmico ........................................................................ 45

5.4.9 Enfermidades do Sistema Reprodutivo .................................................................... 46

5.4.10 Enfermidades do Sistema Respiratório .................................................................. 46

5.4.11 Enfermidades do Sistema Tegumentar/Auditivo ................................................... 47

5.4.12 Enfermidades Infectocontagiosas ........................................................................... 47

5.4.13 Enfermidades Oncológicas ...................................................................................... 48

5.4.14 Outras enfermidades/atendimentos ........................................................................ 48

5.5 CASUÍSTICA SETOR DE CIRURGIA ......................................................................... 49

5.3.1 Cirurgia do Sistema Digestório ................................................................................. 50

5.3.2 Cirurgia do Sistema Geniturinário ........................................................................... 50

5.3.3 Cirurgia do Sistema Hematopoiético ........................................................................ 50

5.3.4 Cirurgia do Sistema Oftálmico ................................................................................. 51

5.3.5 Cirurgia do Sistema Reprodutivo ............................................................................. 51

5.3.6 Cirurgia de outros sistemas....................................................................................... 52

6 RELATOS DE CASOS ................................................................................................... 52

6.1 RELATO DE CASO 1: MASTECTOMIA ..................................................................... 52

Mastectomia unilateral em cadela. ........................................................................................ 52

6.1.1 Resenha ...................................................................................................................... 52

6.1.2 Histórico e anamnese ................................................................................................. 53

6.1.3 Exame físico ............................................................................................................... 53

6.1.4 Exames complementares ........................................................................................... 54

6.1.5 Tratamento ................................................................................................................ 55

6.1.6 Evolução do caso ....................................................................................................... 59

6.1.7 Retorno ...................................................................................................................... 60

6.1.8 Resultado Histopatológico......................................................................................... 61

6.1.9 Discussão e revisão de literatura ............................................................................... 61

6.2 RELATO DE CASO 2: LINFOMA ................................................................................ 68

6.2.1 Resenha ...................................................................................................................... 68

6.2.2 Histórico e anamnese ................................................................................................. 68

6.2.3 Exame físico ............................................................................................................... 69

6.2.4 Exames complementares ........................................................................................... 69

6.2.5 Tratamento ................................................................................................................ 72

6.2.6 Resultado Histopatológico......................................................................................... 75

6.2.7 Revisão e discussão de literatura .............................................................................. 76

6.3 RELATO DE CASO 3: ERLIQUIOSE .......................................................................... 83

6.3.1 Resenha ...................................................................................................................... 84

6.3.2 Histórico e anamnese ................................................................................................. 84

6.3.3 Exame físico ............................................................................................................... 84

6.3.4 Exames complementares ........................................................................................... 84

6.3.5 Tratamento ................................................................................................................ 85

6.3.6 Evolução do caso ....................................................................................................... 86

6.3.6 Revisão e discussão de literatura .............................................................................. 88

7 CONCLUSÃO ................................................................................................................. 93

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 94

ANEXOS ............................................................................................................................ 96

ANEXO A – Laudo radiográfico, cadela, fêmea, 9 anos, Pastor Alemão Branco, 39kg .. 97

ANEXO B – Laudo histopatológico, cadela, fêmea, 9 anos, Pastor Alemão Branco, 39kg

............................................................................................................................................ 98

ANEXO C – Laudo ultrassonográfico, gata, fêmea, 1 ano, SRD, 3,5kg ........................... 99

ANEXO D – Laudo radiográfico, gata, fêmea, 1 ano, SRD, 3,5kg ................................. 100

ANEXO E – Laudo citológico, gata, fêmea, 1 ano, SRD, 3,5kg ...................................... 101

ANEXO F – Laudo histopatológico, gata, fêmea, 1 ano, SRD, 3,5kg ............................. 102

ANEXO G – Laudo PCR, canino, macho, 8 anos, SRD, 29kg ........................................ 103

ANEXO H – Laudo PCR, canino, macho, 8 anos, SRD, 29kg ........................................ 104

21

1 INTRODUÇÃO

O presente relatório tem por objetivo descrever as atividades desenvolvidas durante o

período de estágio curricular supervisionado. O estágio foi realizado no Hospital Veterinário

Pet Vida, na cidade de Araraquara/SP (São Paulo), na área clínica e cirúrgica de pequenos

animais. Durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020, totalizando carga horária de

360 horas, distribuídas em 8 horas diárias, sob a supervisão da médica veterinária Adrielle

Chechi Raymundo e orientação do médico veterinário professor Joares Adenilson May Júnior.

Durante o período de estágio, ocorreu a pandemia mundial do Coronavírus - COVID19,

e isso acarretou em mudanças drásticas em todos estabelecimentos veterinários do estado de

SP. O HVPV seguiu às determinações do Governo Federal e da Organização Mundial de Saúde

(OMS) e inseriu diversas medidas preventivas, e para garantir a saúde de todos os funcionários

e clientes, reforçou a rotina de higiene e limpeza.

O estágio obrigatório foi de extrema importância para a minha formação de médica

veterinária, tive a oportunidade de colocar em prática conceitos teóricos que tive durante a vida

acadêmica, e adquirir novos conhecimentos através da realização e observação de diversos

procedimentos médicos e cirúrgicos durante este período. Além de conhecer os protocolos de

outros profissionais que atuam na rotina da saúde dos animais domésticos, pude tirar dúvidas e

discutir diversos casos.

A medicina veterinária vem avançando cada vez mais em termos de tratamentos,

medicamentos e equipamentos. Além de cães e gatos serem considerados e tratados como

membros da família, tornando a profissão mais reconhecida e valorizada atualmente. O local de

estágio foi escolhido por abranger grande fluxo de pacientes, profissionais de qualidade, e boa

estrutura hospitalar.

O relatório abrange a descrição do local de estágio realizado, as atividades

desenvolvidas, casuística acompanhada e o relato de três casos escolhidos: Mastectomia

unilateral total em cadela, Linfoma mediastinal em gata e Erliquiose em cão SRD.

2 DESCRIÇÃO DO LOCAL DO ESTÁGIO

O estágio curricular supervisionado obrigatório foi realizado no Hospital Veterinário Pet

Vida, localizado na cidade de Araraquara/SP, no bairro Centro, na avenida Bento de Abreu,

número 789 (Figura 1A). O hospital foi fundado em agosto de 2013 para o atendimento de

animais de estimação, incluindo cães, gatos e silvestres com especializações em diferentes

áreas, internação (inclusive para animais com enfermidades infecciosas), centro cirúrgico e

22

laboratório 24 horas. A unidade possuía serviços de pet shop, banho e tosa, hotel, day care, disk

ração, transporte e estacionamento privativo exclusivo para clientes (Figura 1B). O corpo

técnico era composto por 6 médicos veterinários e 4 auxiliares veterinárias, todos sob a direção

clínica da médica veterinária Beatriz do Nascimento Nunes Ragognetti e administrativa de

Mateus Castaldi Ragognetti. Entre os colaboradores estavam duas recepcionistas, um

administrador, seis funcionários operativos (banho, tosa, creche e hotel) e duas auxiliares de

limpeza.

Figura 1- Fachada do Hospital Veterinário Pet Vida (A). Fachada do pet shop anexo e

estacionamento do Hospital Veterinário Pet Vida (B).

Fonte: A autora (2020).

O HVPV possuía em anexo a loja pet shop (Figura 2) com várias linhas de alimentação

premium e super premium para cães e gatos, medicações, acessórios, entre outros. A estrutura

de banho e tosa (Figura 3) atendia cães e gatos com horários previamente marcados. O HVPV

também disponibilizava de um hotel (hospedagem) e day care (creche para cães) (Figura 4),

local onde os animais ficavam hospedados, a creche funcionava das 7:00h às 19:00h, e o hotel

24 horas supervisionados por duas funcionárias.

A B

23

Figura 2- Loja pet shop do Hospital Veterinário Pet Vida.

Fonte: A autora (2020).

Figura 3- Estrutura de banho e tosa do Hospital Veterinário Pet Vida.

Fonte: A autora (2020).

Figura 4- Hotel e day care do Hospital Veterinário Pet Vida.

Fonte: A autora (2020).

24

Na recepção do HVPV, eram realizados os cadastros dos clientes, pacientes e

posteriormente os animais eram pesados (Figura 5). Nesse local os tutores, com seus animais,

aguaradavam pelo atendimento geral, pois as consultas eram por ordem de chegada. Além de

ser o local onde recebiam ligações, agendamento de consultas especializadas, cirurgias e exames

de imagem. Próximos à recepção, haviam quatro consultórios. Geralmente, o consultório 1

(Figura 6A) era destinado ao atendimento por médicos veterinários especialistas. Nos

consultórios 2 (Figura 6B) e 3 (Figura 6C) eram realizados os atendimentos clínicos gerais. No

consultório 4 (Figura 6D), para casos de urgência/emergência. Os consultórios eram equipados

com computadores, pia para lavagem de mãos, mesa de inox, armário com materiais de uso

frequênte, tais como: tubos de coleta de sangue, seringas, scalp, catéteres, luvas de

procedimento, tesouras, pinças, gazes, algodão, esparadrapos, termômetro, estetoscópio, álcool,

água oxigenada, anti séptico, pomadas cicatrizantes, desinfetante, tubos de soro fisiológico,

equipos normais e de bomba de infusão, entre outros.

Figura 5- Recepção do Hospital Veterinário Pet Vida.

Fonte: A autora (2020).

25

Figura 6- Consultórios de atendimento do Hospital Veterinário Pet Vida. Consultório 1 (A) para

atendimento de especialistas, o consultório 2 e 3 (B e C) para atendimento clínico geral e o

consultório 4 (D) para atendimentos de urgência/emergências.

Fonte: A autora (2020).

Na sala de radiografia (Figura 7) eram realizados os exames dos animais atendidos no

hospital, ou de animais que vinham encaminhados de outros estabelecimentos veterinárias.

Após a realização do exame, as imagens eram gravadas em um CD e entregue aos tutores. O

laudo oficial ficava pronto posteriormente e os médicos veterinários entravam em contato para

confirmar o resultado.

A B

C D

26

Figura 7- Sala para realização de exames radiográficos do Hospital Veterinário Pet Vida.

Fonte: A autora (2020).

Possuía duas salas de internação para animais que necessitavam de acompanhamento

clínico e cuidados intensivos. Em uma delas haviam 17 baias, 11 menores utilizadas para gatos

ou cães de pequeno porte e seis maiores destinadas à cães de médio e grande porte (Figura 8).

A outra sala de internação, denominada “sala de isolamento” era para animais que possuíam

alguma doença ou suspeita infectocontagiosa, composta por sete baias, quatro menores e três

maiores (Figura 9). Os dois ambientes eram devidamente climatizados e projetados para

otimizar o acompanhamento e o monitoramento dos pacientes de forma constante. A farmácia

(Figura 10) situava-se no centro do hospital, nela ficavam guardadas todas as medicações e

produtos de uso.

Figura 8- Sala de Internação do Hospital Veterinário Pet Vida.

Fonte: A autora (2020).

27

Figura 9- “Sala de Isolamento” do Hospital Veterinário Pet Vida.

Fonte: A autora (2020).

Figura 10- Farmácia do Hospital Veterinário Pet Vida.

Fonte: A autora (2020).

O HVPV possuía um laboratório interno para efetuar exames hematológicos, bioquímicos

gerais (Figura 11) e testes rápidos. Outros exames como citológicos e histopatológicos, eram

encaminhados para laboratórios externos parceiros. Anexo ao laboratório, havia uma sala com

28

computadores para os médicos veterinários passarem os resultados dos exames, preencherem,

completar as descrições dos pacientes e fazer receituários (Figura 12A).

A sala de administração era ocupada pelos proprietários e médicos veterinários do HVPV.

Nesse local eram realizados todos os dias os planejamentos do hospital (Figura 12B).

O bloco cirúrgico (Figura 13A e B) era composto por uma sala de assepsia em anexo (Figura

13C) e toda estrutura necessária para realização de procedimentos cirúrgicos, como mesa

cirúrgica impermeável e de fácil higienização, sistema de aquecimento (colchão térmico),

equipamento para anestesia inalatória com ventiladores mecânicos, monitor multiparamétrico,

foco cirúrgico, aspirador cirúrgico, mesa auxiliar, tubos traqueais e laringoscópio, materiais

cirúrgicos, entre outros. A sala de antissepsia possuía pia para lavagem de mãos, equipamentos

de lavagem, secagem e esterilização de materiais.

Figura 11- Laboratório de análises clínicas do Hospital Veterinário Pet Vida. Visão do aparelho

de exames hematológicos (A), centrífuga e aparelho de exames bioquímicos (B).

Fonte: A autora (2020).

Figura 12- Sala para os médicos veterinários do Hospital Veterinário Pet Vida (A). Sala de

administração do Hospital Veterinário Pet Vida (B).

Fonte: A autora (2020).

B A

A B

29

Figura 13- Bloco cirúrgico do Hospital Veterinário Pet Vida (A e B). Sala de assepsia para o

cirurgião e auxiliar (C).

Fonte: A autora (2020).

3 ROTINA DO HOSPITAL VETERINÁRIO PET VIDA

O HVPV possuía atendimento 24 horas, com horário de atendimento comercial das 08:30

às 19:00 horas e após este horário, realizava plantão. Durante este período, exames

complementares (hematológicos, bioquímicos e testes rápidos) e exames de radiografia podiam

ser realizados. Exames ultrasonográficos eram terceirizados, sempre agendados previamente com

o médico veterinário ultrassonografista, mas quando necessário ele realizava imagens no plantão.

Dos seis médicos veterinários, cada dupla cumpria 6 horas de trabalho por dia, totalizando 60

horas semanais. Nos finais de semana, faziam plantão de 12 horas. As auxiliares trocavam os

cargos a cada 12 horas por dia, de domingo a domingo.

Para os animais que ficavam internados, as visitas tinham horários específicos. A função

das auxiliares era receber as visitas (tutores dos animais), fazer as medicações e deixá-las prontas,

limpar as baias, alimentar e dar água aos animais, preencher as fichas dos animais internados,

entrar em contato (por telefone) com os tutores para explicar a evolução do animal, entre outros.

Com a pandemia do Coronavírus (COVID19), a rotina foi alterada. As atividades do

hospital como consultas, vacinas, cirurgias, atendimento emergencial 24 horas, venda de

medicamentos e rações, continuaram normalmente, porém com quadro de funcionários e

estagiários reduzidos. Alguns funcionários tiveram férias e somente dois estagiários puderam

continuar o acompanhamento. Essa medida foi com o intuito de diminuir o fluxo de pessoas,

dentro do hospital. Os serviços de banho e tosa, creche e hotel, foram fechados por tempo

A B C

30

indeterminado, seguindo as normas do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de

SP, que descreveu esses serviços como não essenciais.

Os funcionários e estagiários seguiram as regras para diminuir o risco de contágio que

eram o uso obrigatório de máscara, luvas, além de jaleco e roupa fechada durante as consultas.

As regras para os clientes serem atendidos eram com uso obrigatório de máscara, distância de

1 metro e meio do veterinário, somente um proprietário dentro do consultório durante o

atendimento, proibido acompanhamento de exames de imagens e proibidas as visitas aos

animais internados. As informações sobre os internados eram somente por ligações telefônicas

e as enfermeiras ficavam disponíveis o dia todo, para passar o quadro geral do animal ou tirar

dúvidas. Era possível ver os animais através de chamada de vídeo. Na recepção, reduziram o

número de cadeiras e deixaram o espaço de 1 metro entre elas, com o intuito de evitar

aglomeração e proximidade de clientes. Álcool em gel estava disponível em todos os locais do

hospital, recepção, consultórios, bloco cirúrgico, laboratório, internações, banheiros, farmácia

e nas paredes dos corredores. As salas de consultório mantinham as janelas abertas e portas

abertas e ar condicionado ligado durante o atendimento. As auxiliares de limpeza foram

orientadas a desinfetar, várias vezes por dia, com produtos de higiene e álcool, todos os pontos

que podiam haver contato entre pessoas como cadeiras, maçanetas de portas, balcão de

recepção, teclados de computadores, telefones, entre outros.

3.1 SETOR DE ATENDIMENTO CLÍNICO E ESPECIALIDADES

Os atendimentos clínicos geral e/ou retornos eram realizados por ordem de chegada e os

atendimentos especializados eram agendados previamente. Alguns especialistas tinham

atendimento fixo em alguns dias da semana. A consulta iniciava pela anamnese, principal queixa

relatada pelo tutor, idade do animal, quando iniciou os sinais clínicos, qual ambiente vive, qual o

tipo de alimentação, contato com outros animais, histórico médico, tratamento anterior, protocolo

vacinal, desverminação e controle de ectoparasitas. Durante a anamnese, o estagiário realizava o

exame físico, fazendo uma inspeção geral do paciente, aferindo temperatura retal, FR (frequência

cardíaca), FR (frequência respiratória), coloração de mucosas, grau de hidratação (tugor cutâneo),

TPC (tempo de perfusão capilar), palpação de linfonodos (mandibulares e poplíteos), auscultação

pulmonar, palpação de abdome, exame de coluna e inspeção da cavidade oral e condutos

auditivos. Após o exame clínico, se necessário, eram realizados exames complementares e/ou

indicado internação do paciente. Alguns procedimentos como: coleta de sangue, limpeza de

ferimentos, curativos, fluidoterapia subcutânea, aplicação de medicamentos injetáveis, entre

31

outros, eram realizados no próprio consultório, pelo estagiário, sob a supervisão do médico

veterinário ou o estagiário continha o animal para o veterinário realizar os procedimentos.

Para realização de vacinas, primeiramente, o médico veterinário orientava o tutor sobre o

protocolo correto. As vacinas disponíveis no HVPT eram: vanguard plus® (polivalente - V10 -

prevenção da cinomose canina, hepatite infecciosa canina/adenovírus tipo 1, doenças

respiratórias/adenovírus tipo 2, parainfluenza canina, coronavirose canina, parvovirose canina e

leptospiroses causadas pela Leptospira canicola, L. grippotyphosa, L. icterohaemorrhagiae e L.

pomona, em cães), bronchiguard® (prevenção da traqueobronquite infecciosa dos cães - “Tosse

dos Canis” causada pela bactéria Bordetella bronchiseptica), bronchi-shield III® (prevenção das

doenças causadas pelo adenovírus canino tipo 2, pelo vírus da parainfluenza canina e pela

Bordetella bronchiseptica, em cães. Via intra-nasal), defensor® (raiva - prevenção da raiva em

cães e gatos), giardiavax® (prevenção da giardíase canina, causada pelo protozoário giárdia

lamblia, em cães.), felocell crv-c® (quádrupla felina - prevenção da rinotraqueíte, calicivirose,

panleucopenia e clamidiose em gatos), fel-o-vax lvk iv calicivax® (quíntupla felina – prevenção

da rinotraqueíte, calicivirose, panleucopenia, leucemia felina, e Chlamydia psittaci em gatos) e

leishtec® (prevenção da leishmaniose - protozoário leishmania). Para cães filhotes, a

recomendação era vacinar, com V10, a partir de 45 dias de idade, administrando 3 doses com 3

semanas de intervalo entre cada uma delas. Para cães adultos, seguia o mesmo protocolo. A vacina

para o vírus da raiva era aplicada a partir do 4º mês de vida (120 dias), uma únca dose, uma vez

por ano, tanto em cães quanto em gatos. A vacina contra tosse dos canis, era realizada a partir de

8 semanas de idade, administrando 2 doses, com intervalo de 2 a 4 semanas entre elas. A bronchi-

shield era realizada a partir de 8 semanas de idade, com única dose intra-nasal. A vacina contra

giárdia era realizada em animais a partir de 8 semanas de idade, a segunda dose era aplicada com

intervalo de 2 a 4 semanas. A vacina da leishmaniose era realizada a partir dos 120 dias de vida,

3 doses, com intervalos de 21 dias. Todas a vacinas eram recomendadas a serem repetidas uma

vez por ano, com única dose.

O protocolo para felinos era uma pouco diferente. Explicava-se a importância da

realização do teste rápido FIV/FeLV (vírus da imunodeficiência felina/vírus da leucemia felina),

antes de fazer a vacina. Quando o animal apresentava resultado posivito para FeLV, realizava-se

a quádrupla. Se fosse negativo era realizada a quíntupla. Ambas a partir de 45 dias de vida, total

de 3 doses, com intervalos de 3 a 4 semanas. Recomendava-se revacinar com única dose,

anualmente. Se o animal fosse adulto nunca havia realizado vacina, seguia o mesmo protocolo de

3 doses. Animais FeLV positivos, devem evitar receber a vacina previne a FeLV, pois pode haver

reação vacinal e o animal acabar ficando doente.

32

Além disso, o tutor era orientado sobre desverminação, prevenção de ectoparasitas,

alimentação ideal, entre outros. Após aferir a temperatura retal e exame clínico, o animal

apresentar-se sem sinal clínico de enfermidades ou alterações fisiológicas, era realizada a vacina.

O estagiário avaliava o animal, preenchia a carteira de vacinação com as datas e adesivos, data

da próxima vacina, preparava a seringa e aplicava no animal, sempre sob supervisão do médico

veterinário. O médico veterinário assinava e carimbava a carteira. O proprietário era informado

que, se houvesse algum efeito colateral, como prostração, sonolência, febre, dor ou inchaço no

local da aplicação, era para entrar em contato imediatamente com o HVPV.

Os tutores de cães e gatos precisam ser conscientizados de suas responsabilidades, sobre

o bem-estar, saúde física e psicológica de seus animais de estimação. A vacinação é fundamental,

sendo o método mais confiável e eficaz de proteção contra doenças infecciosas. As vacinas

estimulam a produção de anticorpos, que irão proteger o animal. O ato de imunizar, não protege

apenas os animais, mas também as pessoas que convivem com eles, pois existem doenças que

podem ser transmitidas de animais para seres humanos, como por exemplo a raiva, a leptospirose

e giárdia.

O HVPV possuía médicos veterinários especialistas em várias áreas como: anestesiologia,

cardiologia, oftalmologia clínica e cirúrgica, endócrinologia, medicina de felinos, clínica e

cirurgia de silvestres e exóticos, neurologia, odontologia clínica e cirúrgica, oncologia, ortopedia

clínica e cirúrgica.

3.2 SETOR DE INTERNAMENTO

Nesse local, ficavam os animais que precisavam de cuidados intensivos, pós-operatório,

observação ou encaminhados de outros estabelecimentos veterinários. A internação era composta

por uma pia para lavagem de mãos, mesa de inox, bombas de infusão, oxigênio central. No

armário ficavam guias e focinheiras, luvas de procedimento, cateteres para acesso venoso, tubos

de coleta, algodão, gazes, compressas, esparadrapos, termômetro, pinças, tesouras, álcool, água

oxigenada, desinfetante, soro fisiológico, equipos, tapetes higiênicos, fraldas, aparelho medidor

de glicose, aparelho medidor de pressão arterial, seringas, agulhas, scalp, entre outros.

Todas as baias possuíam a identificação do paciente, com nome do animal, nome do

proprietário, telefone, peso, idade, raça, suspeita/diagnóstico, comportamento, fluído/taxa e

alimentação. Ainda eram identificadas a necessidade de jejum ou se havia exame de imagem

agendado. Para os animais que passavam por procedimento cirúrgico do sistema gastrointestinal

e precisavam de alguma dieta específica no pós operatório, também era identificada a dieta com

33

os horários e quantidades. A glicemia dos animais diabéticos precisavam ser aferidas duas vezes

ao dia ou mais e era identificado na baia os horários e resultados.

Cada paciente internado possuía uma prancheta com a ficha de internação (Figura 14A)

preenchida com os dados do animal e proprietário, suspeita clínica, resultados dos exames

laboratoriais realizados, tratamento prescrito com dose em volume total, via, frequência e

horários, taxa de infusão da fluidoterapia, entre outros. Em outra ficha (Figura 14B), eram

anotadas outras informações, tais como horários que foram feitas as medicações, estado geral do

animal durante o dia e noite, tipo de alimentação, se ocorreu vômito, diarréia, débito urinário e

observado se o animal teve alguma evolução no tratamento. Uma terceira ficha (Figura 14C) era

preenchida com os dados dos parâmentros como: padrão respiratório, pressão, temperatura,

palpação abdominal, urina, fezes e alimentação. Essas informações eram sempre repassadas nas

trocas de horários das auxiliares e médicos veterinários. Uma quarta folha da prancheta (Figura

14D) era composta por uma tabela com os itens e medicações utilizadas para depois serem

lançadas no sistema. Sempre que um animal era internado, os estagiários tinham que montar a

prancheta, com todas as fichas e preencher os dados do animal e proprietário, deixando pronta

para o veterinário prescrever o tratamento, para posteriormente, os estagiários prepararem as

medicações e fazê-las.

Figura 14- Ficha de internação com dados do animal e proprietário (A). Ficha de internação

com outras informações (B). Ficha de parâmetros (C). Ficha com tabela de medicações (D).

A B

34

Fonte: A autora (2020).

Neste setor de internação, eram realizados outros procedimentos também, como: limpeza

de feridas, trocas de curativos, acesso venoso, coleta de sangue, administração de óxigênio,

administração de fluidoterapia subcutânea, drenagem torácica, drenagem abdominal, transfusão

de sangue entre outros. Os estagiários podiam realizar estes procedimentos, com auxílio das

enfermeiras ou médico veterinário. Ficavam sempre disponíveis para ajudá-las na contenção,

realização das medicações, limpeza, aferição de temperatura e glicemia, oferecer alimento e água,

passear na área aberta para defecar e urinar, entre outros.

Na “sala de isolamento”, eram mantidos os animais que possuíam alguma doença ou

suspeita infectocontagiosa, como por exemplo, parvovirose ou cinomose e gatos FIV ou FeLV

positivos. Estes ficavam isolados dos demais, evitando o contato.

O HVPV possuía um sistema online, onde abrange tudo o que é realizado e todos os

médicos veterinários conseguem ter acesso. Eles também preenchem uma ficha, online, com

todas as informações necessárias, para que, quando houver a troca de plantão, o próximo médico

veterinário esteja ciente de todo o histórico do animal que está internado.

Os horários de visitas eram das 10:00 às 11:00 horas e das 16:00 às 17:00 horas. Neste

horário, os tutores podiam ver os animais e tirar as dúvidas com o médico veterinário , o auxiliar

que estava presente passava o histórico e estado geral do animal. As altas dos pacientes eram

realizadas, geralmente, no final do dia, conforme combinavam um horário com o proprietário e

C D

35

juntamente recebiam todas as orientações e receituário, se caso necessitasse continuar o

tratamento em casa, pelo médico veterinário.

3.3 SETOR DE CIRURGIA

O setor de cirurgia era composto por um bloco cirúrgico anexo a uma sala de assepsia

com pia e equipamento para lavagem, secagem e esterilização dos materiais cirúrgicos. A

paramentação era feita dentro do bloco. Haviam equipamentos para vários tipos de cirurgias. As

cirurgias eletivas como ovariohisterectomia, orquiectomia, nodulectomia, mastectomia,

profilaxia dentária eram previamente agendadas na recepção. Já as cirurgias de emergência eram

realizadas imediatamente pela cirurgiã do HVPV. Todos os animais que passavam por algum

procedimento cirúrgico, realizavam exames prévios de triagem como: hemograma, perfil

hepático, perfil renal e ultrassom e/ou radiografia. Outros exames eram solicitados, dependendo

a necessidade do caso. O responsável pelo animal, recebia orientações sobre o jejum e ficava

ciente de qualquer risco do procedimento anestésico e cirúrgico. Além disso, assinava dois

documentos de autorização, um para cirurgia (Figura 15A) e outro para anestesia (Figura 15B).

Uma via desses documentos ficava no hospital e outra via era entregue ao responsável.

Figura 15- Documento de autorização para cirurgia (A) e anestesia (B).

Fonte: A autora (2020).

A B

36

A equipe era composta por um cirurgião e um anestesista, e se necessário um auxiliar. Os

estagiários realizavam o acesso venoso, avaliação clínica do paciente, aferiam temperatura retal,

realizavam a medicação pré-anestésica (MPA) e transferiam o animal da sala de internação para

o bloco cirúrgico. Preparavam a sala e a mesa cirúrgica, tinham a oportunidade de fazer a indução

anestésica, intubação endotraqueal, posicionava-o, faziam tricotomia e antissepsia da região, com

clorexidina e álcool 70%, e deixava o animal pronto para iniciar a cirurgia. Deixavam prontas as

medicações necessárias, como antibiótico e antiinflamatório, para aplicar no término do

procedimento.

Durante o procedimento, o animal era monitorado com auxílio do monitor

multiparamétrico, pelo anestesista. Ao término da cirurgia, os estagiários realizavam a limpeza

da ferida cirúrgica, curativo e/ou colocação da roupa cirúrgica, extubavam o paciente,

transferiam-o para a internação e observavam até a recuperação anestésica completa. A aferição

da temperatura retal era realizada constantemente, e se necessário, era utilizado o aquecedor na

baia ou o colchão térmico. Após, limpavam o bloco cirúrgico e organizavam, lavavam os

materiais cirúrgicos e colocavam na máquina de esterilização. Então, o cirurgião entrava em

contato com o proprietário, passava as informações referentes a cirurgia, recuperação do animal,

dia da alta, recomendações e pessoalmente era entregue e explicado o receituário para o

tratamento medicamentoso em casa.

3.4 SETOR DE DIAGNÓSTICO POR IMAGEM

Exame de diagnóstico por imagem como radiografia, ficava disponível 24 horas, podendo

ser realizado em qualquer horário, por qualquer médico veterinário. Muitos pacientes vinham sob

encaminhamento de outros estabelecimentos. O exame era realizado por duas pessoas, geralmente

um médico veterinário e um estagiário. Ambos eram obrigados, por normas do hospital, a utilizar

os EPIs (equipamentos de proteção individual), para reduzir ao máximo a dose de exposição à

radiação, que consistiam em: avental de chumbo, cobrindo a região torácica e abdominal, e

protetor de tireóide, que era em forma de colar. Os estagiários deixavam a mesa pronta, e

ajudavam na contenção do animal e posição correta. As imagens eram interpretadas e o laudo

confeccionado, em até 24 horas, por uma empresa franqueada, especializada no ramo de

radiologia digital, a CedimVet (Centro de Diagnóstico por Imagem Veterinário Radiologia

Digital).

O exame radiográfico veterinário, é um método de imagem importante para avaliação de

afecções ósseas, articulares e intratorácicas. Geralmente, é a primeira forma de triagem e

37

identificação de problemas de saúde, por ser um exame rápido, de baixo custo (quando

comparado a outros exames), não ser invasivo e raramente necessitar de anestesia. Porém, deve

ser realizado com cautela, com treinamento e por profissionais especializados na área. Uma

equipe bem treinada é fundamental, para que o animal fique confortável e obtenha o correto

posicionamento. Para garantir a qualidade do exame, é importante realizar pelo menos 3 projeções

(laterolateral direita, laterolateral esquerda e ventrodorsal). Geralmente, era indicado em casos de

atropelamento, traumas, suspeitas infecciosas de trato respiratório, suspeitas de metástase,

problemas cardiovasculares, pós operatórios de cirurgias ortopédicas, dores na coluna vertebral,

suspeita de corpo estranho, obstrução intestinal, etc.

Ultrassonografia abdominal era terceirizada, ou seja, realizada por um veterinário volante.

O exame era realizado em algum consultório que estivesse desocupado. O estagiário continha o

animal e o tutor podia acompanhar o exame. O laudo era emitido posteriormente, pelo médico

especialista, enviado para o email do hospital, e o hospital encaminhava ao tutor. Após o exame,

o médico veterinário responsável pelo caso clínico conversava e passava o diagnóstico para o

proprietário.

A ultrassonografia é muito utilizada na medicina veterinária. É uma técnica não invasiva,

e emitem informações sobre os órgãos no abdome, no tórax e no coração. A ultrassonografia

abdominal foi muito solicitada durante o período de estágio. Sempre quando o tutor relatava

vômito ou diarréia, perda de peso e apetite, massas encontradas durante o exame físico,

atropelamento, traumas – por suspeita de hemorragia interna, problemas urogenitais, animais

hepatopatas e doentes renais, gestação, pré operatórios e pós operatório de retirada de corpo

estranho, cistotomia, e esplenectomia. A cistocentese, era realizada com auxílio do ultrassom,

pelo ultrassonografista. Gatos FeLV positivos sempre eram encaminhados para ultrassom

abdominal. Entre outros casos.

Ecocardiograma e eletrocardiograma eram realizados somente com o cardiologista em

alguns dias fixos da semana. Para a realização de endoscopia, tomografia computadorizada e

ressonância magnética, o animal precisava ser encaminhado para outra cidade.

Exames de imagens são fundamentais para chegar à um diagnóstico final. Auxiliam na

abordagem do caso e no tratamento. É uma ferramenta que precisa estar na conduta dos médicos

veterinários. No HVPV todos os estagiários, enfermeiros e demais eram treinados de como conter

os animais corretamente, evitando ao máximo o estresse. No período de estágio, pude

acompanhar diversos exames de imagens. Percebi a importância de diagnosticar um caso

corretamente, observei um corpo estranho no estômago e intestino (como ossos, caroço de fruta,

pedras, plástico, brincos, etc.), identifiquei uma hemorragia interna, ruptura de bexiga, uretra e

intestino após o animal sofrer trauma. Animais doentes renais apresentavam rins deformados, e

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idosos tinham o coração aumentado de tamanho. Cães oncológicos, apresentavam metástases

pulmonares e linfonodos reativos, colapso de traquéia em filhotes, obstrução intestinal, etc.

Independente o quadro clínico, exames de imagens são essenciais.

3.5 LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS

O HVPV possuía uma sala exclusiva para análises clínicas, com funcionamento 24 horas,

para realização de exames hematológicos, bioquímicos e testes rápidos. Os bioquímicos eram:

ácido úrico, ácidos biliares totais (em jejum e após alimentação), albumina, amilase, alanina

aminotransferase - ALT, aspartato aminotransferase – AST, bilirrubina direta, bilirrubina

indireta, bilirrubina total, cálcio, colesterol, creatinina - CRE, digoxina, fibrinogênio, fósforo,

frutosamina, gama glutamil transferase – GGT, glicose, globulina, hemoglobina glicosilada,

lipase, fosfatase alcalina - FA, potássio, proteína total, sódio, uréia e triglicerídeos. Os

hematológicos: hemácias, hemoglobina, hematócrito, volume corpuscular médio – VCM,

hemoglobina corpuscular média – HCM, concentração da hemoglobina corpuscular média –

CHCM, Red Cell Distribution Width (Amplitude de Distribuição dos Glóbulos Vermelhos) –

RDW, leucócitos, linfócitos, monócitos, eosinófilos e plaquetas. Os testes rápidos constavam em

FIV/FeLV, parvovirose, cinomose, leishmaniose e erliquiose.

Os exames mais solicitados eram hemograma, e função renal e hepática como aferição

das enzimas CRE, URÉIA, ALT e FA, respectivamente. Dentre os testes rápidos eram:

FIV/FeLV, parvovirose e cinomose.

Os exames hematológicos e bioquímicos eram realizados sempre, quando havia suspeita

de alguma doença infecciosa, pré-operatório ou para check up. Dentre os testes rápidos, o teste

FIV/FeLV era solicitado antes de iniciar o protocolo vacinal em gatos, quando chegavam doentes,

tinham contato com outros gatos ou com algum histórico de tumor. Testes de parvovirose e

cinomose, eram realizados quando o animal chegava com sinais clínicos compatíveis com as

doenças. Testes de leishmaniose e erliquiose, eram raramente usados. Todos os exames citados

eram realizados pelos estagiários.

4 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

Foi realizado o acompanhamento de consultas clínicas, retornos/revisões, animais

internados, cirurgias de cães, gatos e alguns animais silvestres, procedimentos ambulatoriais e

exames de diagnóstico por imagem (radiografia e ultrassonografia abdominal).

39

O estagiário realizava a contenção para exames clínicos e de imagens, tricotomia, acesso

venoso, coleta de sangue, medicamentos injetáveis, fluidoterapia subcutânea, preparo de

medicações para os animais internados, sempre sob a supervisão do médico veterinário

responsável. Auxiliava também na aplicação de MPA do animal que fosse passar por

procedimento cirúrgico, além do preparo da mesa cirúrgica e do animal, realizando tricotomia

e antissepsia e auxílio ao cirurgião durante procedimentos cirúrgicos, quando solicitado.

Monitoração durante a recuperação anestésica, aferição de glicemia para os internados

diabéticos, aferição de pressão arterial, passeios diários, oferecimento de água e alimento, além

de manter higiene da baia e do paciente. Exames hematológicos, bioquímicos e testes rápidos

eram realizados pelos estagiários.

5 CASUÍSTICA ACOMPANHADA DURANTE O PERÍODO DE ESTÁGIO

A casuísta acompanhada no hospital veterinário Pet Vida, durante o estágio curricular

no período de 02 de março a 08 de maio de 2020, foi bastante diversificada com a possibilidade

de acompanhar diferentes áreas a rotina de clínica e cirurgia de animais de companhia, incluindo

cães, gatos, aves, roedores, etc. As atividades foram separadas (Tabela 1) em cirurgias,

consultas, exames de imagem, setor de internamento, retornos/revisões, testes rápidos e vacinas

para melhor compreensão.

Tabela 1 – Distribuição de tipos de atividades acompanhadas no Hospital Veterinário Pet Vida,

durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.

Tipo de atendimento Nº total de casos %

Cirurgias 57 (13,73%)

Consultas 114 (27,46%)

Exames de Imagem 48 (11,56%)

Internamento 57 (13,73%)

Retornos/Revisões 60 (14,45%)

Testes rápidos 18 (4,33%)

Vacinas 61 (14,69%)

TOTAL 415 (100%)

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

Dos atendimentos acompanhados no período de estágio, 76,62% (318/415) eram da

espécie canina, 21,44% (89/415) eram da espécie felina e 1,92% (8/415) eram animais

40

silvestres. Dos cães acompanhados, 68,23% eram de raças puras (217/318) e 31,76% eram sem

raça definida (SRD) (101/318). Dos gatos, 22,48% eram de raças puras (20/89) e 77,52% eram

sem raça definida (69/89). As raças de pequeno porte Shih-tzu, Poodle Toy, York Shire Terrier

e Pinscher foram as mais acompanhadas. De grande porte, prevaleceram as raças Hottweiler,

Golden retriever e Pastor Alemão.

É importante ressaltar que animais SRD são menos propensos a ter problemas

hereditários, ou seja, podem ser considerados mais resistentes à alguns tipos de doenças, quando

comparados à animais de raça pura. São o resultado de uma seleção natural, que carregam uma

“carga genética única”, mistura de várias raças do passado. Possuem características físicas e

comportamentais únicas. Ao contrário de animais de raça pura, que muitas vezes são propensos

a doenças genéticas, por força do homem, que seleciona características para atender uma

finalidade específica. Isso justifica a diferença do número de atendimentos acompanhados no

estágio, entre cães de raças puras e SRD. Em relação aos felinos, a maioria deles não possuem

pedigree, isso justifica um número maior de SRDs acompanhados durante o estágio. Os gatos

de raças citados eram Persas, Himalaias e Siamêses (coloração).

5.1 CASUÍSTICA SETOR DE IMUNIZAÇÕES

As vacinas acompanhadas estão representadas (Tabela 2) de acordo com a espécie e os

tipos de vacinas realizadas. Os animais eram vacinados quando se apresentavam sadios, após

anamnese e exame físico realizado pelo estagiário, sob supervisão do médico veterinário.

Tabela 2 – Imunizações de cães e gatos acompanhadas no Hospital Veterinário Pet Vida,

durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.

(continua)

Vacinas Espécie

Nº total de casos (%) Canina Felina

Bronchiguard® (“tosse

dos canis”) 1 0 1 (1,63%)

Bronchi-shield III®

(intra-nasal) 3 0 3 (4,91%)

Defensor® (raiva) 15 6 21 (34,42%)

Felocell crv-c® (V4) 0 3 3 (4,91%)

41

(conclusão)

Fel-o-vax lvk iv

calicivax® (V5) 0 7 7 (11,47%)

Giardiavax® (giárdia) 2 0 2 (3,27%)

Vanguard plus® (V10) 24 0 24 (39,34%)

TOTAL 45 16 61 (100%)

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

5.2 CASUÍSTICA SETOR DIAGNÓSTICO POR IMAGEM

Foram acompanhados exames de imagem, como radiografia e ultrassonografia

abdominal, e estão representados em forma de tabela (Tabela 3), de acordo com a espécie e tipo

de exame.

Tabela 3 – Casuística no setor diagnóstico por imagem de cães e gatos acompanhada no Hospital

Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.

Exames de Imagem Espécie

Nº total de casos (%) Canina Felina

Radiografia 14 4 18 (37,5%)

Ultrassonografia 24 6 30 (62,5%)

TOTAL 38 10 48 (100%)

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

5.3 CASUÍSTICA DE TESTE RÁPIDO

Os testes rápidos acompanhados no período de estágio estão representados em forma de

tabela (Tabela 4), de acordo com a espécie e tipo de doença infecciosa testada.

Tabela 4 – Testes rápidos realizados e acompanhados no Hospital Veterinário Pet Vida, durante

o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.

42

Testes Rápido Espécie

Nº total de casos (%) Canina Felina

Cinomose 2 0 2 (11,11%)

FIV/FeLV 0 8 8 (44,44%)

Leishmaniose 2 0 2 (11,11%)

Parvovirose 6 0 6 (33,33%)

TOTAL 10 8 18 (100%)

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

5.4 CASUÍSTICA SETOR DE CLÍNICA E INTERNAMENTO

O gráfico 1 mostra os atendimentos e internamentos conforme os sistemas acometidos.

Os sistemas mais acometidos nesse setor foram doenças infectocontagiosas e digestório.

Gráfico 1 - Distribuição dos casos acompanhados na rotina clínica e classificados conforme o

sistema acometido, no período 02 de março a 08 de maio de 2020.

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

Respiratório7%

Hematopoiético1%

Digestório15%

Geniturinário8%

Infectocontagiosas19%

Musculoesquelético7%

Outros sistemas11%

Oncológico6%

Tegumentar/auditivo13%

Nervoso7%

Reprodutivo2%

Oftálmico2%

Endócrino1%

Cardiovascular1%

43

Na rotina clínica foram acompanhadas 114 consultas e 57 animais internados. Os

mesmos foram classificados conforme o sistema acometido, sendo sistema cardiovascular,

digestório, endócrino, geniturinário, hematopoiético, musculoesquelético, nervoso, oftálmico,

reprodutivo, respiratório, tegumentar/auditivo, doenças infectocontagiosas, oncológico e outras

enfermidades/atendimentos. Todos representados em tabelas.

5.4.1 Enfermidades do Sistema Cardiovascular

Tabela 5 – Casuística clínica do sistema cardiovascular de cães e gatos acompanhada no

Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.

Afecções do sistema cardiovascular Espécie

Nº total de casos (%) Canina Felina

ICC (Insuficiência cardíaca congestiva) 1 0 1 (100%)

TOTAL 1 0 1 (100%)

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

5.4.2 Enfermidades do Sistema Digestório

Tabela 6 – Casuística clínica do sistema digestório acompanhada no Hospital Veterinário Pet

Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.

Afecções do sistema digestório Espécie

Nº total de casos (%) Canina Felina

CE gástrico e/ou intestinal 5 1 6 (23,07%)

Complexo gengivite felina 0 1 1 (3,84%)

Flatulência (gases intestinais) 0 1 1 (3,84%)

Gastrite 2 1 3 (11,53%)

Gastroenterite 5 0 5 (19,23%)

Insuficiência hepática 3 0 3 (11,53%)

Lipidose hepática felina 0 2 2 (7,69%)

Megacólon (fecaloma) 3 0 3 (11,53%)

Megaesôfago 1 0 1 (3,84%)

Periodontite com abscesso em Coelho 0 0 1 (3,84%)

TOTAL 19 6 26 (100%)

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

44

5.4.3 Enfermidades do Sistema Endócrino

Tabela 7 – Casuística clínica do sistema endócrino de cães e gatos acompanhada no Hospital

Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.

Afecções do sistema endócrino Espécie

Nº total de casos (%) Canina Felina

Diabetes Mellitus (tipo 1) 2 0 2 (100%)

TOTAL 2 0 2 (100%)

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

5.4.4 Enfermidades do Sistema Geniturinário

Tabela 8 – Casuística clínica do sistema geniturinário de cães e gatos acompanhada no Hospital

Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.

Afecções do sistema geniturinário Espécie

Nº total de casos (%) Canina Felina

DRC (Doença renal crônica) 3 1 4 (30,76%)

DTUIF (Doença do trato urinário inferior dos

felinos) 0 4 4 (30,76%)

IRA (Injúria renal aguda) 3 0 3 (23,07%)

Ruptura de uretra 1 0 1 (7,69%)

Urolitíase 1 0 1 (7,69%)

TOTAL 8 5 13 (100%)

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

5.4.5 Enfermidades do Sistema Hematopoiético

Tabela 9 – Casuística clínica do sistema hematopoiético de cães e gatos acompanhada no

Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.

Afecções do sistema hematopoiético Espécie

Nº total de casos (%) Canina Felina

Pós-operatório de esplenectomia 2 0 2 (100%)

TOTAL 2 0 2 (100%)

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

45

5.4.6 Enfermidades do Sistema Musculoesquelético

Tabela 10 – Casuística clínica do sistema musculoesquelético acompanhada no Hospital

Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.

Afecções do sistema musculoesquelético Espécie

Nº total de casos (%) Canina Felina

Amputação de membro em Maritaca 0 0 1 (8,33%)

Espondilose (bico de papagaio) 1 0 1 (8,33%)

Fratura em fêmur 2 1 3 (25%)

Fratura em pelve 2 0 2 (16,66%)

Fratura em segundo metatarso 1 0 1 (8,33%)

Fratura em tíbia 1 0 1 (8,33%)

Luxação em escápula 0 1 1 (8,33%)

LCCr (Ruptura de ligamento cruzado cranial) 2 0 2 (16,66%)

TOTAL 9 2 12 (100%)

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

5.4.7 Enfermidades do Sistema Nervoso

Tabela 11 – Casuística clínica do sistema nervoso acompanhada no Hospital Veterinário Pet

Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.

Afecções do sistema nervoso Espécie

Nº total de casos (%) Canina Felina

Encefalotozoonose em Coelho 0 0 1 (8,33%)

Epilepsia 6 1 7 (58,33%)

TCE (Trauma crânio encefálico) 2 2 4 (33,33%)

TOTAL 8 3 12 (100%)

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

5.4.8 Enfermidades do Sistema Oftálmico

Tabela 12 – Casuística clínica do sistema oftálmico de cães e gatos acompanhada no Hospital

Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.

46

Afecções do sistema oftálmico Espécie

Nº total de casos (%) Canina Felina

Lesão em pálpebra inferior 1 0 1 (25%)

Pós-enucleação 0 1 1 (25%)

Protusão de bulbo ocular 1 0 1 (25%)

Úlcera de córnea 1 0 1 (25%)

TOTAL 3 1 4 (100%)

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

5.4.9 Enfermidades do Sistema Reprodutivo

Tabela 13 – Casuística clínica do sistema reprodutivo de cães e gatos acompanhada no Hospital

Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.

Afecções do sistema reprodutivo Espécie

Nº total de casos (%) Canina Felina

Piometra 2 0 2 (50%)

Pseudociese 2 0 2 (50%)

TOTAL 4 0 4 (100%)

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

5.4.10 Enfermidades do Sistema Respiratório

Tabela 14 – Casuística clínica do sistema reprodutivo de cães e gatos acompanhada no Hospital

Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.

(continua)

Afecções do sistema respiratório Espécie

Nº total de casos (%) Canina Felina

Asma felina 0 2 2 (18,18%)

Broncopneumonia 0 1 1 (9,09%)

Colapso de traqueia 1 0 1 (9,09%)

Complexo respiratório felino 0 1 1 (9,09%)

Metástase pulmonar 2 0 2 (18,18%)

Pneumonia bacteriana 1 0 1 (9,09%)

47

(conclusão)

Ruptura traumática do diafragmática 0 1 1 (9,09%)

Traqueobronquite infecciosa canina (Tosse

dos canis) 2 0 2 (18,18%)

TOTAL 6 5 11 (100%)

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

5.4.11 Enfermidades do Sistema Tegumentar/Auditivo

Tabela 15 – Casuística clínica do sistema tegumentar/auditivo de cães e gatos acompanhada no

Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.

Afecções do sistema

tegumentar/auditivo

Espécie Nº total de casos

(%) Canina Felina

DASP (Dermatite alérgica à saliva de

pulga)

2 1 3 (13,63%)

Dermatite atópica 2 0 2 (9,09%)

DUA (Dermatite úmida aguda) 3 0 3 (13,63%)

Feridas (lacerações em pescoço) 0 2 2 (9,09%)

Otite externa (bactéria, fungo, alérgica) 8 2 10 (45,45%)

Picada de inseto 2 0 2 (9,09%)

TOTAL 17 5 22 (100%)

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

5.4.12 Enfermidades Infectocontagiosas

Tabela 16 – Casuística clínica das enfermidades infectocontagiosas de cães e gatos

acompanhada no Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio

de 2020.

48

Doenças infectocontagiosas Espécie

Nº total de casos (%) Canina Felina

Babesiose 3 0 3 (9,09%)

Cinomose 1 0 1 (3,03%)

Erliquiose 22 0 22 (66,6%)

Giárdia 1 0 1 (3,03%)

Leishmaniose 1 0 1 (3,03%)

Parvovirose 5 0 5 (15,15%)

TOTAL 33 0 33 (100%)

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

5.4.13 Enfermidades Oncológicas

Tabela 17 – Casuística clínica das enfermidades oncológicas de cães e gatos acompanhada no

Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.

Afecções do sistema oncológico Espécie

Nº total de casos (%) Canina Felina

Linfoma 1 1 2 (18,18%)

Neoplasia em baço 1 0 1 (9,09%)

Neoplasia em bexiga 1 0 1 (9,09%)

Neoplasia em fígado 1 0 1 (9,09%)

Neoplasia em mama 3 1 4 (36,36%)

Neoplasia em mediastino 1 0 1 (9,09%)

Neoplasia em membro 1 0 1 (9,09%)

TOTAL 9 2 11 (100%)

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

5.4.14 Outras enfermidades/atendimentos

Tabela 18 – Casuística clínica de outras enfermidades de cães e gatos acompanhada no Hospital

Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.

49

Outras enfermidades/atendimentos Espécie

Nº total de casos (%) Canina Felina

Check up 0 3 3 (16,66%)

Consulta pré-cirúrgica 2 0 2 (11,11%)

Ferimento por espinho de ouriço 1 0 1 (5,55%)

Hipertermia por insolação 1 0 1 (5,55%)

Intoxicação (bufotoxina, butox, scalibor) 5 1 6 (33,33%)

Lesão em unha 1 0 1 (5,55%)

Lesões (briga com outro animal) 1 0 1 (5,55%)

Quadro comatoso 0 2 2 (11,11%)

Miíase em ânus 1 0 1 (5,55%)

TOTAL 12 6 18 (100%)

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

5.5 CASUÍSTICA SETOR DE CIRURGIA

O gráfico 2 mostra os procedimentos cirúrgicos conforme os sistemas acometidos. Os

sistemas mais acompanhados nesse setor foram reprodutivo e digestório.

Gráfico 2 - Distribuição dos casos acompanhados na rotina cirúrgica e classificados conforme

o sistema no período 02 de março a 08 de maio de 2020.

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

Digestório;

28,07%

Hematopoiético; 1,75%Reprodutivo;

47,36%

Oftálmico; 1,75%

Outros sistemas;

10,52%

Geniturinário;

10,52%

50

5.3.1 Cirurgia do Sistema Digestório

Tabela 19 – Número de procedimentos cirúrgicos do sistema digestório acompanhados no

Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.

Cirurgia do sistema digestório Espécie

Nº total de casos (%) Canina Felina

Enterotomia (corpo estranho) 1 0 1 (6,25%)

Enterotomia (fecaloma) 1 0 1 (6,25%)

Enterotomia em Coelho 0 0 1 (6,25%)

Fístula periodontal 0 1 1 (6,25%)

Gastrotomia (corpo estranho) 2 0 2 (12,5%)

Laparotomia exploratória 1 0 1 (6,25%)

Profilaxia dentária 8 0 8 (50%)

Reconstrutiva de ânus 1 0 1 (6,25%)

TOTAL 14 1 16 (100%)

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

5.3.2 Cirurgia do Sistema Geniturinário

Tabela 20 – Número de procedimentos cirúrgicos do sistema geniturinário de cães e gatos

acompanhados no Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio

de 2020.

Cirurgia do sistema geniturinário Espécie

Nº total de casos (%) Canina Felina

Cistotomia 1 0 1 (16,66%)

Nefrectomia 1 0 1 (16,66%)

Penectomia 1 1 2 (33,33%)

Sondagem uretral 0 2 2 (33,33%)

TOTAL 3 3 6 (100%)

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

5.3.3 Cirurgia do Sistema Hematopoiético

51

Tabela 21 – Número de procedimentos cirúrgicos do sistema hematopoiético de cães e gatos

acompanhados no Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio

de 2020.

Cirurgia do sistema hematopoiético Espécie

Nº total de casos (%) Canina Felina

Esplenectomia 1 0 1 (100%)

TOTAL 1 0 1 (100%)

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

5.3.4 Cirurgia do Sistema Oftálmico

Tabela 22 – Número de procedimentos cirúrgicos do sistema oftálmico de cães e gatos

acompanhados no Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio

de 2020.

Cirurgia do sistema oftálmico Espécie

Nº total de casos (%) Canina Felina

Cantotomia 1 0 1 (100%)

TOTAL 1 0 1 (100%)

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

5.3.5 Cirurgia do Sistema Reprodutivo

Tabela 23 – Número de procedimentos cirúrgicos do sistema reprodutivo acompanhados no

Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.

(continua)

Cirurgia do sistema reprodutivo Espécie

Nº total de casos (%) Canina Felina

Cesárea 1 0 1 (3,7%)

Mastectomia unilateral 2 0 2 (7,4%)

Nodulectomia de mama 1 0 1 (3,7%)

Nodulectomia de testículo 1 0 1 (3,7%)

Orqui + mastectomia em Porco da índia 0 0 1 (3,7%)

Orquiectomia eletiva 8 3 11 (40,74%)

Orquiectomia terapêutica 1 0 1 (3,7%)

52

(conclusão)

OSH (ovário-salpingo-histerectomia

eletiva) 7 2 9 (33,33%)

TOTAL 21 5 27 (100%)

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

5.3.6 Cirurgia de outros sistemas

Tabela 24 – Número de procedimentos cirúrgicos de sistemas variados acompanhados no

Hospital Veterinário Pet Vida, durante o período de 02 de março a 08 de maio de 2020.

Cirurgia de outros sistemas Espécie

Nº total de casos (%) Canina Felina

Caudectomia 1 0 1 (16,6%)

Debridamento de ferida abdominal 0 1 1 (16,6%)

Desgaste de bico em Calopsita 0 0 1 (16,6%)

Desgaste de dente em Hamster 0 0 1 (16,6%)

Hérnia umbilical 1 0 1 (16,6%)

Nodulectomia em região de pelve 1 0 1 (16,6%)

TOTAL 3 1 6 (100%)

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

6 RELATOS DE CASOS

Dos casos acompanhados durante a rotina do estágio curricular, foram selecionados

três casos, que serão relatados a seguir.

6.1 RELATO DE CASO 1: MASTECTOMIA

Mastectomia unilateral em cadela.

6.1.1 Resenha

Paciente da espécie canina, fêmea, da raça Pastor Alemão Branco, castrada, 9 anos de

idade, com massa corporal de 39 quilos.

53

6.1.2 Histórico e anamnese

O paciente chegou ao HVPV com queixa de uma massa na mama. Proprietário relatou

que o animal apresentou esse nódulo quatro meses antes da consulta (dezembro de 2019) e o

mesmo evoluiu muito de tamanho nos últimos dois meses e nesse mesmo período, foi retirado

um tumor do útero e junto realizou a ovário-salpingo-histerectomia terapêutica. A cadela sentia

dor, estava com comportamento estranho e andava de um lado para o outro. Apresentava

normorexia, normodipsia, normoquezia e urinando normalmente. O animal não apresentava

tosse nem cansaço fácil. As vacinas estavam desatualizadas e controle de vermes estava em dia.

Foi encontrado carrapato durante a avaliação clínica. Paciente nunca teve aplicação de

hormônios contraceptivos e teve uma gestação com 3 anos de idade.

6.1.3 Exame físico

O paciente apresentava prostração, mucosas normocoradas, hidratação normal,

temperatura retal 39,1ºC, frequência cardíaca 140bpm, frequência respiratória 20mpm, tempo

de preenchimento capilar (TPC) menor que 2 segundos, linfonodos palpáveis (submandibulares

e poplíteos) não reativos. O nódulo tumoral encontrava-se inflamado, circunscrito, de tamanho

grande, desenvolvido, não ulcerado, eritematoso, quente e o animal sentiu desconforto à

palpação. Localizado em M5 (mama 5) do lado esquerdo (Figura 16) e na palpação sentiu-se

pequenos nódulos por toda cadeia mamária.

Figura 16- Nódulo tumoral localizado em M5 (mama 5), do lado esquerdo.

Fonte: A autora (2020).

54

6.1.4 Exames complementares

O proprietário foi informado da importância cirúrgica e dos exames complementares

pré-operatórios. Realizou-se coleta de sangue para exames, hemograma e bioquímico e após

radiografia torácica. No eritrograma apresentou discreta eritrocitose (9,0 p/mm3). No

leucograma apresentou discreta linfopenia (10,6%) (tabela 25). No exame bioquímico, os

valores de creatinina e TGP estavam dentro do padrão (1,0mg/dl e 99UI/L, respectivamente)

(tabela 26). A radiografia da região de tórax foi realizada em três projeções: ventrodorsal,

laterolateral direita e laterolateral esquerda (Figura 17). No laudo, não teve evidências de

nódulos com características de metástase dispersos no parênquima pulmonar. Campos

pulmonares e silhueta cardíaca dentro dos padrões da normalidade, de acordo com a idade

referida. Lúmen e trajeto traqueal preservados. A impressão diagnóstica foi que o exame

radiográfico do tórax estava dentro do normal (ANEXO A).

Tabela 25 – Hemograma apresentando discreta eritrocitose e linfopenia.

HEMOGRAMA Unidade Resultado Valores de referência

Hemácias (milhões/mm3) 9,0 (p/mm3) 5,7 a 7,4 Hemoglobina (g%) 18 (g%) 14 a 18 Hematócrito (%) 57,2 (%) 38 a 47

V.C.M. (u3) 63,5 (u3) 63 a 77 H.C.M. (uug) 31,4 (uug) 21 a 26 C.H.C.M. (g%) 19,9 (g%) 31 a 35

Leucócitos (mil/mm3) 12,7 (mil/mm3) 6 a 16 Eosinófilos (%) 1,7 (%) 1 a 9 Linfócitos (%) 10,6 (%) 13 a 40 Basófilos (%) 0,8 (%) 0 a 1

Monócitos (%) 2 (%) 1 a 6 Plaquetas (p/mm3) 332.000 (p/mm3) 200.000 a 500.000

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

Tabela 26 – Exame bioquímico, com valores de creatinina e TGP normais.

BIOQUÍMICO Unidade Resultado Valores de referência

ALT (T.G.P.) (UI/L) 99,0 (UI/L) 10 a 88 Creatinina mg/dL 1,0 (mg/dL) 0,5 a 1,5

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

55

Figura 17- Imagens radiográficas do tórax nas projeções ventrodorsal (A), laterolateral direita

(B) e laterolateral esquerda (C). Não teve evidências de nódulos com características de

metástase. Exame dentro do normal.

Fonte: Custódio, N.S. (2020).

6.1.5 Tratamento

Foi iniciado o tratamento pré-operatório com uso oral de piroxicam 11mg (0,3mg/kg)

administrar 1 comprimido a cada 24 horas durante 10 dias e gabapentina 300mg® (10mg/kg),

administrada na forma de 1 comprimido a cada 12 horas por 15 dias. A conduta foi para iniciar

analgesia pré-operatória.

6.1.5.1 Mastectomia

Como tratamento optou-se pela realização da cirurgia (mastectomia unilateral total), 10

dias após início da analgesia, para retirada da cadeia mamária. O paciente realizou jejum sólido

e hídrico de 12 horas e classificado como ASA II. Foi feito acesso venoso, como medicação

pré-anestésica, 30 minutos antes do procedimento, foi realizada associação de cloridrato de

cetamina 10% 1mg/kg/IM, cloridrato de midazolam 0,3mg/kg/IM e cloridrato de metadona

0,3mg/kg/IM. Após, o paciente foi encaminhado para o bloco cirúrgico onde realizou a indução

anestésica, administrado propofol em dose-resposta. Em seguida foi realizada a intubação

endotraqueal (traqueotubo nº 6) e posição em decúbito dorsal na mesa cirúrgica. Foi realizada

tricotomia ampla de região de tórax e abdômen, seguida do uso de clorexidina 1% e álcool 70%

para assepsia e colocação dos campos cirúrgicos estéreis (Figura 18). A manutenção anestésica

foi com isoflurano vaporizado em oxigênio a 100% ao efeito. A monitoração dos sinais vitais

(FC, FR, PAS, TR e SpO2) durante a cirurgia foi através do monitor multiparamétrico, pelo

anestesista.

A B C

56

Figura 18- Tricotomia e antissepsia realizada com clorexidina 1% e álcool 70% (A). Colocação

dos campos cirúrgicos estéreis (B).

Fonte: A autora (2020).

Após a fixação dos campos cirúrgicos, foi realizada a incisão torácica elíptica com

bisturi, pele e subcutâneo, em formato de “V” para facilitar a sutura posterior e foi feita a

dissecação com a tesoura de Mayo e divulsão da cadeia inteira com tração da mão (Figura 19).

Foi feita a localização e ligadura da artéria epigástrica superficial caudal (Figura 20). Após a

retirada de toda a cadeia mamária esquerda juntamente com o linfonodo inguinal, a extensão da

ferida foi lavada com solução fisiológica e foi feita a divulsão ampla do subcutâneo para facilitar

a aproximação e sutura. Foi utilizada a técnica walking suture, que mobiliza a pele das laterais

para o centro da ferida cirúrgica e reduz o espaço morto, com fio absorvível poliglactina vicryl

3.0® (Figura 21). A sutura da musculatura foi a sutura simples contínua intradérmica, com fio

absorvível monofilamentoso poliglecaprone caprofyl 2.0® (Figura 22) e para a pele foi

realizada sutura simples isolada com náilon shalon 2.0®. Ao término do procedimento, foi feita

a limpeza da ferida cirúrgica com água oxigenada e colocação da roupa cirúrgica. Aplicado

penicilina (Shotapen® L.A.) 1ml/10kg/SC e meloxicam (Maxicam® 0,2%) 0,2mg/kg/SC. O

paciente foi monitorado no canil constantemente, até recuperação total anestésica (Figura 23).

A massa tumoral pesou 500 gramas e uma amostra foi enviada para análise histopatológica,

para empresa VETPAT (Figura 24). Não houve intercorrências durante o procedimento.

A B

57

Figura 19- Incisão torácica elíptica com bisturi, pele e subcutâneo, em formato de “V” (A).

Dissecação com a tesoura e divulsão da cadeia inteira, com tração da mão (B).

Fonte: A autora (2020).

Figura 20- Localização (A) e ligadura da artéria epigástrica superficial caudal (B).

Fonte: A autora (2020).

A B

A B

58

Figura 21- Cadeia mamária retirada juntamente com o linfonodo inguinal (A) e após a divulsão

ampla do subcutâneo foi utilizada a técnica walking suture, que mobiliza a pele das laterais para

o centro da ferida cirúrgica, com fio absorvível vicryl 3.0® (B).

Fonte: A autora (2020).

Figura 22- O fechamento da musculatura foi com a sutura simples contínua intradérmica, com

fio absorvível monofilamentoso poliglecaprone caprofyl 2.0®.

Fonte: A autora (2020).

A B

59

Figura 23- Para o fechamento da pele, foi realizada sutura simples isolada com náilon shalon

2.0® (A). O paciente foi monitorado no canil constantemente, até recuperação total anestésica

(B).

Fonte: A autora (2020).

Figura 24- A massa tumoral pesou 500 gramas e uma amostra foi enviada para análise

histopatológica, para empresa VETPAT.

Fonte: A autora (2020).

6.1.6 Evolução do caso

Durante o dia o animal manteve parâmetros estáveis e no final do dia recebeu alta e foi

liberado para casa. No receituário, foi prescrito para uso oral omeprazol (Gaviz® 20mg)

administrar 1 comprimido a cada 24 horas por 10 dias, cefalexina (Cefex® 1gr) administrar 1

A B

60

comprimido a cada 12 horas por 10 dias, meloxicam (Maxicam® 2mg) administrar 2

comprimidos a cada 24 horas por 4 dias e cloridrato de tramadol (Cronidor® 80mg) administrar

2 comprimidos a cada 24 horas por 4 dias. Limpeza da ferida cirúrgica com antisséptico

clorexidina 1% (Sept Clean®) e pomada cicatrizante (Vetagloss®) 2 vezes ao dia. As

recomendações consistiram em: qualquer alteração no quadro (vômito, apatia, anorexia,

diarreia, secreção, abertura ou aumento de volume no local dos pontos) ligar e informar a equipe

médica; manter o animal de roupa cirúrgica até a alta médica. O retorno foi agendado para 10

dias após a cirurgia, para reavaliação e retirada dos pontos.

6.1.7 Retorno

Após 10 dias da realização da cirurgia, o paciente retornou para avaliação dos pontos. A

ferida apresentou boa cicatrização, retirou os pontos, recebeu alta médica (Figura 25), retirou a

roupa cirúrgica e foi indicado a passar por consulta com especialista oncologista, para iniciar

tratamento quimioterápico adjuvante.

Figura 25- Ferida apresentou boa cicatrização após 10 dias da realização cirúrgica, foi retirado

os pontos e animal recebeu alta médica.

Fonte: A autora (2020).

61

6.1.8 Resultado Histopatológico

Macroscopicamente, o fragmento de nódulo mamário (1 teto) mediu 9,0 x 8,0 x 4,5 cm.

Superfície interna do nódulo castanho esbranquiçado, macio por vezes friável e irregular,

associado à cavidade cística, preenchida por conteúdo gelatinoso acastanhado.

Microscopicamente, o fragmento apresentou neoplasia maligna, caracterizada por proliferação

de células redondas e ovaladas com moderno pleomorfismo nuclear, núcleos amplos, cromatina

vesiculosa e esparsas, figuras de mitose e citoplasma basofílico entremeadas e trabéculas ósseas.

Presença de diversos focos de proliferação de células condroides pleomórficas e áreas de tecido

osteóide maduro. O exame histopatológico diagnosticou a amostra como osteossarcoma

mamário (ANEXO B), este é classificado como um tumor de células malignas.

6.1.9 Discussão e revisão de literatura

Na espécie canina, os tumores de glândulas mamárias são os mais frequentes,

representando cerca de 50 a 70% de todas as neoplasias. No Brasil, a incidência de tumores

malignos caninos é superior a 70%, número maior do que nos EUA (Estados Unidos), cuja

incidência descrita é de 50% (DALECK; NARDI, 2017) e alguns países da Europa Ocidental

(NEVES, 2018). Isso justifica a prática comum de OSH (ovário-salpingo-histerectomia) em

fêmeas jovens (DALECK; NARDI, 2017; NEVES, 2018). A etiologia é multifatorial, sendo

componentes genéticos, ambientais, nutricionais e principalmente a presença de hormônios

(HANSEN, 2015; CALDAS et al., 2017). Mais da metade das cadelas acometidas possuem

tumores em mais de uma glândula mamária (CALDAS et al., 2016).

Cadelas com faixa etária entre sete e doze anos, ou seja, animais idosos e de meia idade

são os mais acometidos pelos tumores mamários (RAES; VOLKWEIS, 2017). Já em machos,

o risco é bastante inferior (1%) de desenvolver tumor de glândula mamária (DALECK; NARDI,

2017), mas quando surgem, geralmente são muito mais agressivos do que nas fêmeas

(HANSEN, 2015). O animal relatado estava na faixa etária mais acometida, com 9 anos de idade

e pertencia à raça Pastor-alemão branco, que é uma das raças predispostas a neoplasias

mamárias (DALECK; NARDI, 2017; NEVES, 2018). A incidência é maior em raças puras

quando comparadas com SRD (RISATI; DANEZE; MAGALHÃES, 2016).

Os contribuintes para a carcinogênese são os hormônios estrógeno, progesterona e

hormônio do crescimento (RAES; VOLKWEIS, 2017). Eles agem sobre o epitélio das células

mamárias e induzem a proliferação do epitélio ductal intralobular, desenvolvendo ductos e

lóbulos, que originam o crescimento das glândulas mamárias (DALECK; NARDI, 2017).

62

O melhor método para prevenção de tumores mamários é castrar antes do primeiro cio,

pois nessa fase há desenvolvimento e maturação das glândulas mamárias (DALECK; NARDI,

2017). Além disso, a prática de OSH evita variações hormonais fisiológicas que resultam em

pseudociese, gestação e distúrbios do ciclo estral (NEVES, 2018). A cadela relatada havia sido

castrada quatro meses antes da consulta, quando realizou uma OSH terapêutica para retirada de

um tumor no útero.

A castração precoce em fêmeas é um fator preventivo (RAES; VOLKWEIS, 2017) e

quando efetuada antes do primeiro estro diminui o risco de desenvolvimento de neoplasia

mamária para 0,5%. O risco aumenta para 8% em fêmeas esterilizadas após o primeiro estro e

26% após o segundo. Estudos relatam que não há benefício da castração após os quatro anos de

idade, porém o risco de tumores benignos reduz com a OSH mesmo em idade avançada

(RISATI; DANEZE; MAGALHÃES, 2016; DALECK; NARDI, 2017; NEVES, 2018). E

cadelas não castradas, tem três a sete vezes mais chances de desenvolver neoplasia mamária

(HANSEN, 2015).

O animal nunca fez aplicação de hormônios contraceptivos, pois a administração e uso

prolongado de progestágenos injetáveis, com o intuito de prevenir o estro em cadelas, já foi

correlacionado com o aumento da incidência de tumores. Segundo estudos, cães que receberam

aplicações exógenas, apresentaram aumento de 2,3 vezes do risco de desenvolvimento de

tumores mamários (DALECK; NARDI, 2017; NEVES, 2018). Dieta caseira rica em gordura

insaturada e obesidade, também contribuem para o aparecimento de tumores mamários, porém

em menor grau (HANSEN, 2015; DALECK; NARDI, 2017; NEVES, 2018).

Em relação à anatomia da glândula mamária, a maioria das fêmeas possuem cinco pares

de glândulas mamárias, sendo duas torácicas, cranial e caudal (M1 e M2 respectivamente), duas

abdominais, cranial e caudal (M3 e M4 respectivamente) e uma inguinal (M5) (HANSEN, 2015;

DALECK; NARDI, 2017). Existe possibilidade de conterem quatro a seis pares (NEVES,

2018). O ideal é que os linfonodos sejam retirados no momento do procedimento cirúrgico. O

padrão linfático ocorre da seguinte forma: o linfonodo axilar drena M1, M2 e M3. O linfonodo

inguinal superficial drena M4 e M5 (HANSEN, 2015; RAES; VOLKWEIS, 2017). O linfonodo

inguinal situa-se entre a parede abdominal ventral e a mama inguinal. Tem função de drenagem

das mamas, da pele e tecido subcutâneo do abdome, vulva e membros pélvicos. O linfonodo

axilar localiza-se junto ao plexo axilar, envolvido por uma massa de gordura ventral à artéria

toracodorsal, entre primeira e segunda costela. Este drena as mamas, pele, subcutâneo e parte

da musculatura do membro torácico (HANSEN, 2015). O linfonodo axilar deve ser localizado

com corantes tecnécio 99m, azul patente ou azul metileno (RAES; VOLKWEIS, 2017).

63

O comportamento natural das neoplasias mamárias pode ter caráter benigno, maligno

e/ou mistos (HANSEN, 2015). Existem diversos tipos neoplásicos, como carcinoma in situ,

carcinoma em tumor misto, carcinoma papilar, carcinoma sólido, adenoepitelioma maligno,

diferentes tipos de sarcoma, adenoma, adenoepitelioma, fibroadenoma, tumor misto benigno,

entre outros (RAES; VOLKWEIS, 2017). Tumores benignos geralmente apresentam aspecto de

crescimento lento, são circunscritos e não aderidos. Tumores malignos evoluem rapidamente,

são invasivos e podem proliferar para outros locais. As metástases ocorrem tanto pela via

linfática, quanto pela hematógena. Os órgãos mais afetados são linfonodos regionais, pulmão,

fígado, baço, rins, pele, encéfalo e ossos (HANSEN, 2015; DALECK; NARDI, 2017) e os sinais

clínicos serão associados ao local acometido, como dispneia, sinais neurológicos, quadros de

insuficiência hepática e renal, claudicação, entre outros (RAES; VOLKWEIS, 2017).

As cadelas são clinicamente saudáveis e os tumores podem ser identificados facilmente

pelo médico veterinário durante o exame físico (DALECK; NARDI, 2017), como ocorreu com

a paciente que aparentemente estava saudável e durante o exame físico observou um nódulo

circunscrito, de tamanho grande, desenvolvido, inflamado, aderido à pele e musculatura e não

ulcerado. Apresentou mais características de tumor maligno. Quando se encontram ulcerados,

pode haver contaminação bacteriana e áreas necrosadas, mas este não era o caso do paciente

(DALECK; NARDI; RAES; VOLKWEIS, 2017).

O nódulo presente no animal relatado encontrava-se em M5, mama inguinal. As mamas

mais acometidas são as abdominais caudais e inguinais, em virtude do maior tamanho tecidual.

66% das neoplasias localizam-se nessas glândulas, pois tem maior quantidade de parênquima

mamário, além de sofrer maior alteração proliferativa do efeito dos hormônios ovarianos e

possuírem habilidade secretória por mais tempo, quando comparadas as demais glândulas

(GOMES, 2015). Foi optado por retirar toda a cadeia mamária do paciente, pelo motivo de as

glândulas saudáveis e neoplásicas terem conexão linfática (CASSALI et al., 2011).

Durante a consulta, a anamnese foi completa e obteve-se informações importantes como

castração, idade, uso de hormônios, quantidade de gestações, tempo de aparecimento e evolução

do nódulo, além de avaliar e palpar a cadeia inteira e linfonodos. No exame físico, ao longo da

cadeia mamária esquerda, pôde sentir pequenos nódulos. Os linfonodos palpáveis não

demonstraram reativos. O diagnóstico é obtido através do exame físico geral, palpação das

mamas, ou ainda, quando o tutor relata aumento de volume na região das mamas (DALECK;

NARDI; RAES; VOLKWEIS, 2017), sendo este último a queixa principal do tutor.

Como protocolo pré-operatório, foi realizado exames hematológicos e bioquímicos,

além de radiografia do tórax em três projeções. Exames hematológicos e bioquímicos séricos

(função renal e hepática) são fundamentais para avaliação do estado de saúde e planejamento

64

da terapia. A radiografia do tórax ventrodorsal, laterolateral direita e laterolateral esquerda é

importante para investigação de metástase na região pulmonar e linfonodos esternais, pois 25 a

50% das neoplasias mamárias malignas fazem metástases em linfonodos regionais e

parênquima pulmonar, (CASSALI et al., 2011; HANSEN, 2015; DALECK; NARDI, 2017)

neste caso não foi evidenciado metástase em parênquima pulmonar ou em linfonodos e por esse

motivo o animal foi liberado para o procedimento cirúrgico.

Os exames hematológicos da paciente não demonstraram alterações significativas, mas

as mais frequentes são anemia normocítica normocrômica, não regenerativa e leucocitose

neutrofílica (RAES; VOLKWEIS, 2017).

O proprietário optou por não enviar para análise citológica e sim para exame

histopatológico, já que o animal iria passar por procedimento cirúrgico. O exame de citologia

exclui diagnósticos diferenciais, como mastite, lipoma, mastocitoma, entre outras neoplasias

(DALECK; NARDI, 2017). A CAAF (citologia aspirativa com agulha fina) ou PBA (punção

biopsia aspirativa) da região de linfonodos palpáveis contribui para identificar tipos tumorais e

planejar o tratamento terapêutico. O esfregaço celular obtido deve ser secado e fixado em álcool

70% (DALECK; NARDI, 2017).

Após o procedimento cirúrgico, uma amostra fixada em formalina 10% foi enviada ao

laboratório, para análise histopatológica e obter um diagnóstico definitivo, verificar o tipo

histológico, o pleomorfismo nuclear, índice mitótico, presença de necrose, grau de malignidade,

invasão linfática e vascular (DALECK; NARDI, 2017; RISATI; DANEZE; MAGALHÃES,

2016). O paciente deve ser submetido a um procedimento cirúrgico para retirar um fragmento

(biopsia incisional) ou retirar toda a lesão com análise posterior (biopsia excisional) (RISATI;

DANEZE; MAGALHÃES, 2016).

O proprietário optou por não realizar ultrassom, que também serve como meio de

diagnóstico (HANSEN, 2015). Avalia algumas características como ecogenicidade, ecotextura,

limites, compressibilidade, tamanho, arquitetura do parênquima, avaliação do tamanho e

consistência dos linfonodos, avaliação do parênquima hepático e esplênico para possíveis

metástases (HANSEN, 2015).

A medicina veterinária possui um estadiamento para as neoplasias mamárias, assim

como nas mulheres, e são classificadas em estágios de 1 a 5, de acordo com o sistema TNM

(tumor, linfonodo e metástase) proposto pela OMS. O objetivo é avaliar o tamanho do tumor

primário, se há comprometimento dos linfonodos regionais e presença de metástases a distância.

Os estádios 1, 2 e 3 correspondem ao tamanho tumoral, o estádio 4 ao comprometimento dos

linfonodos regionais e o estádio 5 refere-se às metástases a distância. Esse sistema é utilizado

somente para tumores epiteliais caninos (DALECK; NARDI; RAES; CALDAS et al., 2017;

65

VOLKWEIS, 2017, NEVES, 2018), auxilia no planejamento de tratamentos e avaliação dos

resultados obtidos, fornece o prognóstico e possibilita a troca de informações entre as centrais

de tratamento (CASSALI et al., 2011, HANSEN, 2015; NEVES, 2018).

O tratamento de escolha para a paciente relatado foi o cirúrgico, este é o tratamento de

eleição para a maioria das cadelas acometidas (NEVES, 2018). Permite a análise

histopatológica, proporciona qualidade de vida (DALECK; NARDI, 2017), exceto nos casos de

carcinoma inflamatório, aumenta a sobrevida do paciente e pode ser curativa (CASSALI et al.,

2011; HANSEN, 2015; DALECK; NARDI; RAES; VOLKWEIS, 2017).

A escolha do tipo de cirurgia a ser realizada em cada situação, vai depender do

estadiamento tumoral, da drenagem linfática da glândula acometida, do local da lesão, condição

do paciente (DALECK; NARDI; RAES; VOLKWEIS, 2017) e consentimento do proprietário.

Contudo, pode-se optar pela técnica de nodulectomia ou lumpectomia, mastectomia regional,

mastectomia unilateral ou bilateral total (CASSALI et al., 2011; CALDAS et al., 2017;

DALECK; NARDI, 2017). Geralmente são realizadas as cirurgias radicais por garantirem

melhores prognósticos, porém a escolha deve ser analisada com cautela (HANSEN, 2015).

A técnica realizada no paciente relatado, foi a mastectomia total unilateral, que retira

toda a cadeia mamária de um lado, tecido subcutâneo, juntamente com os linfonodos. O

linfonodo axilar não foi retirado, pois não há prática dessa ação nas mastectomias, além de

tornar a ferida cirúrgica mais extensa e ocasionar futuros problemas em membro torácico.

(CASSALI et al., 2011; HANSEN, 2015; RAES; VOLKWEIS, 2017).

A literatura relata a técnica cirúrgica: primeiramente, deve posicionar o animal em

decúbito dorsal, realizar tricotomia e antissepsia ampla da região de tórax e abdome. É feita

uma incisão elíptica, ao redor da(s) glândula(s) mamária(s) acometida(s), no mínimo com 1cm

do tumor. A incisão se estende através do tecido subcutâneo, até a fáscia da parede abdominal

externa. Deve evitar cortar o tecido mamário. A hemorragia superficial, é controlada com pinças

hemostáticas e ligaduras. Com uma tesoura e movimentos suaves, deve fazer dissecação do

tecido subcutâneo da fáscia peitoral até o reto abdominal. Pode fazer tração sobre a pele elevada,

para facilitar a dissecação. É retirada toda placa de gordura, juntamente com o(s) linfonodo(s)

inguinal(is). A dissecação continua com a tesoura, até encontrar os principais vasos (epigástrica

superficial cranial e caudal) e ligá-los. Lavar a ferida e avaliar todo o tecido, é fundamental.

Após, deve fazer divulsão da pele, das bordas da ferida, e avançá-las com suturas móveis. Se o

espaço morto for muito grande, pode usar um dreno Penrose. A aproximação da extremidade

da pele, é realizada com sutura subcutânea ou hipodérmica, com fio de sutura absorvível

monofilamentoso 3-0 ou 4-0 (polidioxanona [PDS], poliglecaprona 23 [Monocryl®], glicômero

631 [Biosyn®] ou poligliconato [Maxon®]), podendo ser padrão contínuo ou isolado. Pode

66

utilizar parte de pele axilar ou flanco, para fechar o defeito, se a tensão for muito extensa. A

sutura para aproximação, pode ser utilizado fio absorvível monofilamentoso (3-0 a 4-0 de

náilon, polibutester [Novafil®] ou polipropileno [Proleno®]) ou grampos. Após, deve-se

colocar uma bandagem para comprimir o espaço morto, o tecido mobilizado e apoiar a ferida

(FOSSUM, 2014). O caso clínico relatado, seguiu a técnica cirúrgica, que é citada na literatura.

A sutura walking sututre foi utilizado pela cirurgiã, para iniciar o fechamento da ferida cirúrgica,

mobiliza a pele das laterais para o centro da ferida, com intuito de reduzir o espaço morto e

distribuir a tensão ao longo da ferida (DALECK; NARDI, 2017). Não foi colocado dreno nem

bandagem no animal, optou-se pela roupa cirúrgica e limpeza duas vezes ao dia. O colar

elizabetano não foi necessário porque o animal era muito calmo e ficava sob supervisão o tempo

todo.

Para evitar recidivas, como cita a literatura, optou-se por retirar toda a cadeia mamária

da paciente. Estudos relatam que a cadeia mamária total deve ser removida, independentemente

do tamanho, locais e números de tumores, pois foi observado aumento da frequência de

surgimento de novos tumores no tecido mamário remanescente epsilateral, de cadelas

submetidas a mastectomia regional (58%) (DALECK; NARDI, 2017).

Para o pós-operatório, foram prescritas medicações como analgésico, antibiótico, anti-

inflamatório e protetor gástrico, além de cuidados de suporte que consistiram em roupa cirúrgica

e limpeza da ferida. Os pontos do animal foram retirados 10 dias após o procedimento cirúrgico.

O tutor foi orientado a manter a ferida cirúrgica sempre seca e limpa, com pomada cicatrizante

e se necessário trocar a roupa cirúrgica todos os dias. A ferida precisa estar sempre seca e ser

avaliada para constatar inflamação, edema, drenagem, seroma, deiscência e necrose. Contudo

apresentou boa cicatrização (FOSSUM, 2014). A paciente não apresentou nenhuma

complicação no pós-cirúrgico como dor, inflamação, hemorragia, formação de seromas,

infecção, necrose isquêmica, deiscência, edema e recidiva (CALDAS et al., 2017; DALECK;

NARDI, 2017), estas são mais comuns quando é realizada a mastectomia radical e por ter feito

um tratamento potente durante a recuperação.

O exame histopatológico diagnosticou a amostra como osteossarcoma mamário. O

osteossarcoma (OSA) é uma neoplasia maligna com característica formação osteóide. Nos cães

é a neoplasia mais comum, sendo 85% de todos os tumores ósseos. Os ossos mais afetados são:

úmero, rádio, ulna, fêmur e tíbia, mas podem acometer outros órgãos e tecidos não ósseos, sendo

denominados osteossarcoma extra-esquelético (OEs). O OE é uma neoplasia mesenquimal

incomum em cães e tem capacidade de produzir tecido ósseo e cartilagem em tecidos moles.

Nos cães, 86% dos OE acometem os órgãos e 14% tecidos das extremidades como tegumento

(subcutâneo e pele), glândula mamária, trato urinário, trato gastrointestinal (intestinos, fígado e

67

baço), sistema endócrino (tireóide e adrenal), sistema reprodutor (testículo e vagina),

musculatura, olhos, coração (intra-cardíaco e pericárdio) e meninge (GOMES, 2015).

O osteossarcoma mamário (OSM) é o mais comum dos OEs (em torno de 64%). Estudos

relatam que 60% dos OSM foram observados nas glândulas abdominais caudais e inguinais,

semelhante ao animal relatado. A idade média relatada, de animais com OE é de 10 anos, similar

à idade do animal que possuía 9 anos. A concentração sérica de fosfatase alcalina (FA) é

considerada um fator prognóstico para OSA, bem como para OE. No presente relato, não foi

aferida a concentração de FA. Esta enzima é um marcador sérico que demonstra o aumento da

remodelação óssea associada com a destruição óssea, ou envelhecimento e outras causas que

interfiram no metabolismo ósseo, bem como as neoplasias ósseas. Quando verificado que FA

está elevada, isso repercute em menor sobrevida. As células neoplásicas produzem esteóides, e

isto caracteriza os OSM. Estes, são compostos por proliferação de osteoblastos e osteoclastos,

com trabéculas de esteóides ou osso mineralizado. Os OSA podem ser puros ou mistos

(combinação de osso, tecido fibroso e cartilaginoso) (GOMES, 2015). O laudo histopatológico

observou, microscopicamente, trabéculas ósseas, proliferação de células condroides

(cartilagem) e áreas de tecido osteóide maduro.

Após alta médica, o tutor do animal foi informado e encaminhado para o médico

veterinário oncologista, para tornar-se responsável e iniciar um protocolo quimioterápico

adjuvante, que é indicado para pacientes com tumores mamários malignos. A radioterapia é

recomendada em alguns países, como tratamento paliativo (DALECK; NARDI, 2017).

Contudo, o objetivo é tentar a cura do animal, evitar recidivas e eliminar as células tumorais

residuais que possam existir após o procedimento cirúrgico (HANSEN, 2015).

A quimioterapia age sobre as células que estão se proliferando, células normais que estão

em constante mitose como células dos folículos pilosos, células encontradas nas vilosidades

intestinais e da medula óssea. Por este motivo, sinais clínicos como mielosupressão, sinais

gastrointestinais e alopecia podem aparecer durante o tratamento (HANSEN, 2015). O

tratamento com quimioterápicos propostos na literatura, consistem em doxurrubicina associada

à ciclosfosfamida, ou uso da carboplatina, cisplatina ou carboplatina como agentes únicos, e

gencitabina associada à carboplatina. Após o tratamento, os pacientes devem ser monitorados a

cada três meses no primeiro ano, e a cada seis meses no segundo ano (CASSALI et al., 2011;

DALECK; NARDI, 2017).

Nesse relato de caso, não há informações de realização de tratamento adjuvante à

cirurgia pelo paciente. A eficácia da quimioterapia para OSM ainda não é clara, pela escassez

de trabalhos reportados. Ressalta-se que, a quimioterapia adjuvante tem apresentado bons

resultados em humanos. Combinações com múltiplos fármacos consistindo de altas doses de

68

metotrexato, bleomicina, ciclosfosfamida, dactiomicina e doxorubicina, ou a combinação de

cisplatina, doxorubicina e ifosfamida tem sido eficaz em casos isolados de osteossarcoma de

mama em mulheres (GOMES, 2015).

O prognóstico passado ao tutor sobre o animal, era desfavorável. Por já ter idade

superior, ser uma neoplasia maligna, de difícil tratamento e possuir histórico de tumor no útero,

porém deve-se levar em consideração que não haviam evidencias de metástase em parênquima

pulmonar ou linfonodos. Demonstrou boa recuperação e cicatrização pós cirúrgica. O

prognóstico vai depender de vários aspectos, como idade, necrose, tamanho do tumor,

envolvimento de linfonodos, presença de metástases, tipo histológico, grau de malignidade,

grau de diferenciação nuclear, índice mitótico, grau de invasão, crescimento intravascular,

atividade dos receptores hormonais, entre outros. Para carcinoma inflamatório, o prognóstico é

ruim (HANSEN, 2015; DALECK; NARDI, 2017). Recidivas e metástases são comuns na

maioria das neoplasias mamárias malignas (CALDAS et al., 2016). Foi indicado ao tutor que

passasse por avaliação com especialista oncologista, para iniciar tratamento quimioterápico

adjuvante, fazer acompanhamento com exames laboratoriais, observação e fornecer qualidade

de vida ao animal.

6.2 RELATO DE CASO 2: LINFOMA

Linfoma mediastinal em gata.

6.2.1 Resenha

Paciente da espécie felina, fêmea, sem raça definida, castrada, 1 ano de idade, com peso

corporal de 3,5 quilogramas.

6.2.2 Histórico e anamnese

O paciente chegou ao HVPV apresentando prostração, anorexia há três dias, dispneia,

mudança de comportamento, sem brincar, com dificuldade de subir nos móveis e tutor notou

perda de peso nos últimos dias. Tinha acesso à rua e contato com outro gato com sarna, porém

não apresentou alteração em pele, nem prurido. O tutor relatou que o animal não era vacinado

e nunca realizou o teste de FIV/FeLV. Controle de vermes estava atualizado. O médico

veterinário realizou exame físico e após solicitou exames de sangue e ultrassom para

investigação.

69

6.2.3 Exame físico

O paciente apresentava prostração, mucosas normocoradas, hidratação normal,

temperatura retal 38,6ºC, frequência cardíaca 140 bpm, frequência respiratória 26 mpm, TPC

menor que 2 segundos, palpação abdominal sem alteração, linfonodos submandibulares, pré-

escapulares, axiais e poplíteos aumentados/reativos, cavidade oral e auricular sem alterações.

6.2.4 Exames complementares

Conforme protocolo, realizou-se coleta de sangue para hemograma. Foram observadas

alterações como leucocitose (32,9mil/mm³), discreta linfocitose (56,9%) e trombocitopenia

(13.000mm) (Tabela 27). O restante sem alterações. Realizado teste rápido de FIV/FeLV

Alere® que teve resultado positivo para FeLV (Figura 27). Animal foi medicado para controle

de dor e voltou no outro dia para realização de exame ultrassonográfico.

Tabela 27 – Hemograma apresentando leucocitose, discreta linfocitose e trombocitopenia

HEMOGRAMA

Unidade Resultado Valores de referência

Hemácias (milhões/mm3) 7,96 (p/mm3) 5 a 10 Hemoglobina (g%) 10,2 (g%) 8 a 15 Hematócrito (%) 31,6 (%) 24 a 45

V.C.M. (u3) 39,8 (u3) 39 a 55 H.C.M. (uug) 13,5 (uug) 12,5 a 17,5 C.H.C.M. (g%) 29,7 (g%) 30 a 36

Leucócitos (mil/mm3) 32,9 (p/mm3) 5,5 a 19,5 Eosinófilos (%) 0,7 (%) 2 a 12 Linfócitos (%) 56,9 (%) 20 a 55 Basófilos (%) 0,5 (%) 0 a 1

Monócitos (%) 2,1 (%) 1 a 4 Plaquetas (p/mm3) 13.000 (p/mm3) 300.000 a 800.000

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

70

Figura 26- Teste rápido de FIV-FeLV Alere® apresentando resultado positivo para FeLV.

Fonte: A autora (2020).

Antes do exame foi aplicado via SC analgésico novamente. No exame de ultrassom, foi

evidenciado presença de linfonodos com dimensões aumentadas (linfadenomegalia

generalizada), ecogenicidade reduzida e mesentério reativo ao redor. Os maiores linfonodos

mediam: ilíaco 0,65 x 1,93cm; esplênico 0,79 x 1,51cm; hepático 1,66 x 2,55cm; jejunais 0,94

x 2,84cm, 0,93 x 3,56cm (Figura 28). Esplenomegalia e fígado com aparência tóxica. Na região

torácica, havia formação heterogênea, irregular, de limites não definidos, medindo em torno de

2,95 x 6,06cm (podendo ser o linfonodo esternal deslocado até o coração) (Figura 29). Os sinais

ultrassonográficos compatíveis com doença infiltrativa neoplásica. Suspeitou-se de linfoma

mediastinal linfoblástico (ANEXO C), foi solicitada radiografia torácica e citologia de

linfonodo, para tentar fechar diagnóstico e estabelecer o tratamento quimioterápico correto.

Figura 27- Imagens ultrassonográficas apresentando linfonodos com dimensões aumentadas

(linfadenomegalia generalizada), ecogenicidade reduzida e mesentério reativo ao redor. Os

maiores medindo: ilíaco 0,65 x 1,93cm (A); esplênico 0,79 x 1,51cm (B); hepático 1,66 x

2,55cm (C); jejunal 0,94 x 2,84cm (D).

A B

71

Fonte: Ferreira, T.L.M. (2020).

Figura 28- Região torácica com formação heterogênea, irregular, de limites não definidos,

medindo em torno de 2,95 x 6,06cm (podendo ser o linfonodo esternal deslocado até o coração).

Fonte: Ferreira, T.L.M. (2020).

A radiografia torácica foi realizada nas projeções ventrodorsal, laterolateral direita e

esquerda (Figura 30). Apresentou discreta efusão pleural, deslocamento dorsal de traqueia,

aumento de volume e radiopacidade de tecidos moles do mediastino cranial e médio, ocupando

toda extensão cranial da cavidade torácica. As imagens foram compatíveis com neoformação

mediastinal, tendo como diagnóstico diferencial linfoma mediastinal (ANEXO D).

Figura 29- Imagens radiográficas do tórax nas projeções ventrodorsal (A), laterolateral direita

(B) e laterolateral esquerda (C). Apresentaram discreta efusão pleural, deslocamento dorsal de

traqueia, aumento de volume e radiopacidade de tecidos moles do mediastino cranial e médio,

C D

72

ocupando toda extensão cranial da cavidade torácica. Imagens compatíveis com neoformação

mediastinal.

Fonte: Tormin, R.B. (2020).

O exame citológico apresentou alta celularidade composta por células arredondadas com

pleomorfismo nuclear moderado, núcleos amplos e citoplasma escasso. Fundo com corpúsculos

linfoglandulares e debris celulares. Concluiu positivo para neoplasia maligna de células

redondas, compatível com linfoma (ANEXO E).

6.2.5 Tratamento

Antes do exame radiográfico e ultrassonográfico, o animal foi medicado via SC com

cloridrato de tramadol 4mg/kg para controle da dor. Após os exames foi para casa com

tratamento medicamentoso via oral. Foram prescritos: alfainterferona 2B 30UI/ml administrar

1ml a cada 24 horas por semanas alternadas de uso contínuo, suplemento vitamínico (Metacell

Pet®) administrar 0,3ml a cada 12 horas durante 30 dias, cloridrato de tramadol (Cronidor

12mg®) administrar ½ comprimido a cada 12 horas por 5 dias e mirtazapina 15mg administrar

¼ de comprimido a cada 48 horas durante 10 dias.

No dia seguinte passou por consulta com especialista oncologista, para orientação e

possível tratamento quimioterápico. Desde o começo, foi passado para tutor que o prognóstico

era desfavorável. No quarto dia, o paciente foi anestesiado para realização do exame citológico.

A técnica foi CAAF de linfonodo submandibular direito (Figura 31). O animal foi induzido

diretamente com propofol em dose-resposta.

A

B C

73

Figura 30- Realização do exame citológico. Técnica de CAAF do linfonodo submandibular

direito.

Fonte: A autora (2020).

Após 9 dias de tratamento, o animal retornou muito debilitado, foram realizados novos

exames e apresentava clínica muito diferente comparado ao primeiro dia de atendimento. Teve

piora da dispneia, provavelmente com mais efusão pleural, mucosas hipocoradas (Figura 32),

sarcopenia severa, linfonodos mais aumentados do que a primeira vez, desidratação severa,

prostrado, muita dor na palpação de linfonodos e abdômen e anorexia. Animal foi internado

para tratamento de suporte (fluidoterapia e drenagem torácica), iria passar por mais uma

avaliação com oncologista no outro dia, porém, durante a tarde piorou muito o quadro. O tutor

estava ciente do prognóstico desfavorável e solicitou a eutanásia. Os exames repetidos antes da

decisão sobre eutanásia mostraram-se piores, com presença de anemia (hemácias: 3,58;

hemoglobina: 5,2 e hematócrito 16), leucocitose (71,5mil/mm³) seguida de linfocitose (61%)

(Tabela 28). Observou-se na amostra, linfócitos grandes (linfoma linfoblástico), sendo indicado

mielograma. A avaliação renal e hepática estava dentro dos valores de referência (Tabela 29).

74

Figura 31- Paciente apresentando mucosas hipocoradas (oral e ocular).

Fonte: A autora (2020).

Tabela 28 – Exames foram repetidos antes da decisão sobre eutanásia e mostraram-se piores,

com presença de anemia, leucocitose seguida de linfocitose.

HEMOGRAMA

Unidade Resultado Valores de referência

Hemácias (milhões/mm3) 3,58 (p/mm3) 5 a 10 Hemoglobina (g%) 5,2 (g%) 8 a 15 Hematócrito (%) 16 (%) 24 a 45

Leucócitos (mil/mm3) 71,5 (p/mm3) 5,5 a 19,5 Segmentados (%) 38 (%) 35 a 75

Eosinófilos (%) 0 (%) 2 a 12 Linfócitos (%) 61 (%) 20 a 55 Basófilos (%) 0,7 (%) 0 a 1

Monócitos (%) 1 (%) 1 a 4 Plaquetas (p/mm3) 44.000 (p/mm3) 300.000 a 800.000/mm

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

Tabela 29 – A avaliação renal e hepática estava dentro dos valores de referência.

BIOQUÍMICO Unidade Resultado Valores de referência

Albumina (g/dL) 2,38 (g/dL) 2,1 a 3,3 ALT (T.G.P.) (UI/L) 36,6 (UI/L) 10 a 88 Creatinina mg/dL 1,5 (mg/dL) 0,5 a 1,7

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

75

A eutanásia foi realizada conforme protocolo do hospital. O animal foi acessado IV, foi

realizado anestesia geral, induzindo sono profundo com propofol IV em alta dose, seguido de

cloreto de potássio (KCl) IV como medicação cardiotóxica. Foi feita auscultação cardíaca para

confirmar morte do paciente.

Após o procedimento, foram retirados dois linfonodos submandibulares e enviados para

avaliação histopatológica para fechar o diagnóstico de linfoma (Figura 33).

Figura 32- Linfonodos submandibulares retirados após eutanásia e enviados para análise

histopatológica para fechar o diagnóstico de linfoma.

Fonte: A autora (2020).

6.2.6 Resultado Histopatológico

Macroscopicamente, os fragmentos apresentaram neoplasia maligna, com células

redondas de tamanho intermediário e grande, com núcleos amplos, vesiculoso, moderado

pleomorfismo, citoplasma escasso, eosinofílico e presença de numerosas figuras de mitose. O

mesmo concluiu linfoma difuso de células grandes e intermediárias, morfologicamente

sugestivo de linfoma linfoblástico (ANEXO F).

76

6.2.7 Revisão e discussão de literatura

A neoplasia é um problema comum na medicina veterinária e atualmente é a principal

causa de morte nos animais domésticos, sendo responsável por 32% das mortes em gatos.

Acredita-se que os casos irão diminuir, pelo fato de que estão vivendo mais tempo, recebem

melhorias da nutrição, práticas à medicina preventiva e controle de doenças infecciosas (TOMÉ,

2010).

Os linfócitos são células encontradas no sangue e tecidos e tem função de proteger o

organismo de infecções. São as maiores células encontradas nos linfonodos ou “glândulas”.

Linfomas ou linfossarcomas são neoplasias caracterizadas pela proliferação de linfócitos

malignos. É uma neoplasia hematopoiética e se origina de órgãos linfoides, como medula óssea,

baço e linfonodos. O local mais comum acometido são os linfonodos, mas essas células podem

crescer em qualquer parte do corpo (ETTINGER, 2008; TOMÉ, 2010; DALECK; NARDI,

2017). O linfoma é a neoplasia mais comum em felinos (ALMEIDA et al., 2019), representando

mais de 50% de todos os tumores hemolinfáticos (LITTLE, 2015). Infecções por FIV (vírus da

imunodeficiência felina) e FeLV (vírus da leucemia felina) têm sido associadas ao

desenvolvimento de linfossarcoma, embora gatos que não possuem as infecções também

possam desenvolver a doença espontaneamente (AUGUST, 2006).

A incidência anual de linfossarcomas, é de 200 casos novos a cada 100 mil gatos.

Animais adultos e idosos são os mais acometidos, com a idade média de 11 anos, mas pode

acometer entre 1 e 16 anos, como ocorreu no animal relatado que possuía 1 ano de idade. Gatos

siameses e de raças orientais apresentam maiores riscos de desenvolver a doença (TOMÉ, 2010;

DALECK; NARDI, 2017), entretanto, pode acometer qualquer raça, idade e sexo (LITTLE,

2015). Machos apresentam risco duas vezes maior quando comparados às fêmeas,

possivelmente devido ao contágio de FIV e FeLV, ao disputarem território (POPPI, 2019). Os

gatos podem apresentar diversas formas da doença, incluindo a digestiva, mediastínica, nodal e

extranodal. A forma digestiva é a mais comum no geral associada a gatos mais velhos e FeLV

negativos, a mediastínica é mais comum em gatos jovens e FeLV (TOMÉ, 2010). O paciente

condiz com a literatura, sobre a forma mediastinal ser mais comum em gatos jovens e FeLV

positivos.

O animal relatado, após realizar o teste rápido, foi diagnosticado FeLV positivo e FIV

negativo. Estes vírus são fatores predisponentes ao linfoma. A FeLV é causada por um

retrovírus, que se integra no DNA da célula hospedeira e provoca alteração no crescimento

celular, o que pode ocorrer transformação maligna. A FIV participa da oncogênese e por ser

imunossupressor, esse retrovírus compromete o sistema imune, que não consegue destruir as

77

células malignas (TOMÉ, 2010; LITTLE, 2015; DALECK; NARDI, 2017). Em torno de 25%

dos gatos positivos para FeLV desenvolvem linfoma, sendo a incidência dessa neoplasia cinco

vezes maior em gatos positivos para FIV em relação aos negativos (TOMÉ, 2010; DALECK;

NARDI, 2017). Entre 1960 e 1980, 70% dos casos de linfoma em gatos, eram associados ao

vírus da FeLV. Nos últimos vinte anos, ocorreram mudanças no número de gatos infectados,

apresentação, sinais clínicos e frequência da localização anatômica. Os casos diminuíram muito

após a prática de vacinação, confinamento e testes (POPPI, 2019).

A imunossupressão é um fator de risco para desenvolvimento de linfoma, com isso, foi

registrado quase 10% de casos de linfoma maligno, em 95 receptores de transplante renal felino.

Outros associam o aparecimento de linfoma com inflamação crônica, como por exemplo,

doença inflamatória intestinal. Sarcomas associados às vacinas (síndrome associada com

inflamação), também são riscos para o desenvolvimento de linfoma (TOMÉ, 2010). Animais

expostos à fumaça de cigarro mostraram 2,4 a 3,2 vezes maiores riscos de desenvolver linfoma

(POPPI, 2019).

No geral, os linfomas são classificados em multicêntrico, mediastinal (ou tímico),

alimentar, cutâneo e extranodal. Em gatos, essa classificação inclui também linfoma nasal, renal

e em sistema nervoso (DALECK; NARDI, 2017).

A forma multicêntrica é mais comum em cães do que em gatos. Em gatos, é mais comum

ocorrência de linfonodos mesentéricos, fígado, baço e rim (DALECK; NARDI, 2017).

Geralmente, não tem ligação com FeLV (ROBLES, 2016).

O linfoma mediastinal acomete linfonodos mediastinais e/ou timo. O paciente relatado,

foi diagnosticado com linfoma mediastinal, apresentando linfadenopatia mediastinal e efusão

pleural, que é característica da doença, constatada através da radiografia, podendo apresentar

infiltração da medula óssea ou não (ROBLES, 2016). O prognóstico passado ao tutor foi

desfavorável, assim como ocorre na maioria dos animais, principalmente quando desenvolvem

linfomas de células T e/ou quando apresentam hipercalcemia concomitante. Essa alteração de

hipercalcemia é frequente em cães e rara em gatos. Em gatos com patologia tímica, 63% tem

linfoma e 17% dos gatos com efusão pleural também apresentam essa patologia (TOMÉ, 2010;

DALECK; NARDI, 2017). Estudos mostraram que 70% dos gatos com essa apresentação de

linfoma eram positivos para FeLV (ROBLES, 2016) e jovens, similar ao animal relatado. Os

felinos domésticos mais acometidos são machos, siameses/orientais, com média de 3 anos de

idade (TOMÉ, 2010; DALECK; NARDI, 2017). O linfoma multicêntrico também pode

apresentar aumento de linfonodos mediastinais (DALECK; NARDI, 2017).

O linfoma alimentar/digestivo é o mais diagnosticado em gatos (AUGUST, 2006).

Acomete mais gatos adultos/idosos e negativos para FeLV. Acomete o estômago, intestino e

78

aumento de linfonodos mesentéricos. A apresentação cutânea em felinos geralmente ocorre em

animais idosos, entre 10 e 12 anos e negativos para FeLV. Pode ser isolada ou generalizada,

envolvendo mucosa oral, linfonodos, baço, fígado e medula óssea (TOMÉ, 2010; DALECK;

NARDI, 2017). O linfoma extranodal acomete órgãos não linfoides, principalmente cavidade

nasal, rins, SNC (sistema nervoso central), laringe, traquéia e pele (ROBLES, 2016). O linfoma

renal, podendo ser primário ou associado ao linfoma digestivo, acomete gatos com idade média

de 7 anos e a maioria são FeLV negativo (TOMÉ, 2010). O linfoma nasal é local, acomete

principalmente gatos mais velhos entre 8 a 9 anos, negativos para FeLV e é o tumor nasal mais

comum em gatos. O linfoma do sistema nervoso central ocorre tanto em locais intradurais como

extradurais, em animais mais velhos e FeLV negativos. Pode ser primário, quando inicia no

mesmo, ou secundário quando há outro tipo de linfoma associado. Pode envolver a medula

espinhal e encéfalo (TOMÉ, 2010).

Os sinais clínicos podem variar de acordo com a sua localização. Animais com linfoma

multicêntrico em estágios iniciais podem apresentar-se assintomáticos. O principal sinal clínico

é aumento de linfonodos submandibulares, pré-escapulares, axilares, poplíteos e progridem para

linfadenomegalia generalizada, dor quando há abscedação de linfonodos, desconforto, apatia,

febre, hiporexia, anorexia, efusão torácica e ascite.

Animais com linfoma mediastinal, podem apresentar aumento de linfonodos palpáveis

e linfadenomegalia generalizada, alterações respiratórias como tosse e dispneia, por

consequência da efusão pleural ou à formação neoplásica no mediastino. Engasgos e

regurgitação, devido à obstrução do esôfago, pela expansão da massa tumoral mediastinal, perda

de peso e síndrome de Horner, por compressão do esôfago e comprometer a inervação

simpática. Pode-se observar também poliúria e polidipsia decorrentes da hipercalcemia. O

padrão respiratório típico é caracterizado por movimentos respiratórios superficiais e

taquipnéicos e por expiração forçada. Anorexia, apatia e depressão ocorrem também (TOMÉ,

2010; DALECK; NARDI, 2017). Na primeira consulta, o animal apresentou alguns sinais

clínicos compatíveis com a literatura, como dispnéia, aumento dos linfonodos palpáveis,

submandibulates, pré-escapulares, axiais e poplíteos. No exame ultrassonográfico, pode-se

observar linfadenomegalia generalizada. O animal sentia dor durante a palpação, além de apatia,

anorexia e perda de peso (sinais relatados pelo tutor). Na radiografia torácica, foram

evidenciados efusão pleural, formação neoplásica no mediastino e traqueia deslocada

cranialmente, por conta da neoformação. Após 9 dias do primeiro atendimento, o animal

apresentava um quadro muito pior. Com dispnéia severa, provavelmente por maior efusão

pleural, mucosas hipocoradas, sarcopenia severa, desidratação, anorexia, apatia e depressão.

79

Linfoma alimentar desenvolvem sinais de hipertrofia dos linfonodos mesentéricos,

anorexia, vômito, diarreia, letargia, fraqueza, emagrecimento e desconforto abdominal (TOMÉ,

2010; LITLLE, 2015; DALECK; NARDI, 2017). Linfomas de localização extranodal,

apresentam sinais clínicos variados, de acordo com o órgão afetado (ROBLES, 2016;

DALECK; NARDI, 2017). Linfoma do sistema nervoso central em gatos, os sinais serão de

acordo com o acometimento, central ou periférico (ROBLES, 2016). O principal sinal clínico é

convulsão (DALECK; NARDI, 2017). Os gatos com linfoma nasal normalmente apresentam

corrimento nasal unilateral, deformação facial, dispneia, epistaxe, linfadenopatia regional,

estertores respiratórios, anorexia e espirros (TOMÉ, 2010; ROBLES, 2016). O linfoma cutâneo

pode estar apresentado sinais clínicos variáveis, lesões na pele, prurido é variável e infecção

secundária é comum (ROBLES, 2016), eritema, descamação, despigmentação, alopecia,

formação de placas e nódulos e ulcerações locais (DALECK; NARDI, 2017). Todos os gatos

que possuem linfoma, independente do tipo e local, podem desenvolver infiltração da medula

óssea, originando anemia e alterações nos exames de sangue (TOMÉ, 2010).

Por ser uma neoplasia do sistema linfoide, que pode acometer diversas localizações é

recomendado uma completa avaliação para confirmar o diagnóstico e a localização anatômica

(LITLLE, 2015). O diagnóstico é obtido através da anamnese e exame físico do animal,

podendo observar baixa condição corporal e aumento dos linfonodos palpáveis, estas alterações

foram observadas no paciente, além de dor durante a palpação de linfonodos. Mucosas pálidas

foram evidenciadas no retorno, indicando anemia e trombocitopenia. Podem se apresentar

ictéricas, com úlceras urêmicas, indicando falência hepática e renal, respectivamente. A

palpação abdominal pode mostrar aumento da expessura das alças intestinais, linfadenopatia

mesentérica e organomegalia. Na auscultação cardíaca e pulmonar, não foi percebido sons

característicos de presença de massa ou líquido na cavidade, mas podem indicar massa

mediastinal ou efusão pleural e nos olhos podem haver alterações como uveíte ou deslocamento

da retina (TOMÉ, 2010).

No paciente, todos os exames solicitados pelo veterinário foram realizados, iniciado pelo

teste FIV/FeLV seguido de hemograma, bioquímico, radiografia, ultrassonografia, citologia e

histopatologia. Exame citológico é considerado um exame de triagem e o histopatológico é

realizado através do tecido acometido (ROBLES, 2016). Exames complementares são

importantes para caracterizar o estadiamento clínico e extensão da doença, como hemograma,

bioquímicos (função renal e hepática), proteinograma, mielograma, exames radiográficos do

tórax, ultrassonografia abdominal e para gatos, testes sorológicos de FIV e FeLV (DALECK;

NARDI, 2017). Deve também avaliar em todos gatos idosos a tiroxina sérica (T4), para

descartar hipertiroidismo (AUGUST, 2006).

80

As imagens radiográficas do paciente foram compatíveis com neoformação mediastinal,

discreta efusão pleural e sem presença de metástase pulmonar. As imagens foram realizadas em

três projeções: laterolateral direita, laterolateral esquerda e ventrodorsal, avaliando linfonodos

e estruturas pulmonares, mediastinais e pleurais. A ultrassonografia abdominal, observou

linfadenomegalia generalizada, linfonodo esternal deslocado até o coração, esplenomegalia e

fígado com aparência tóxica, além disso conseguem detectar a expessura da parede

gastrointestinal, tamanho e ecotextura de órgãos. É útil também para orientar durante a biópsia

(AUGUST, 2006; LITLLE, 2015).

Os resultados apresentados no hemograma pelo paciente foram leucocitose, linfocitose

e trombocitopenia, após 9 dias, os exames foram repetidos e teve piora nos resultados, além de

apresentar anemia, mas geralmente as alterações hematológicas são inespecíficas (AUGUST,

2006). Enzimas renais e hepáticas estavam dentro do padrão mas podem estar aumentadas.

Geralmente está acompanhada de hipercalcemia. A hipercalcemia é decorrente da produção de

uma proteína relacionada com o paratormônio, excretado pelas células tumorais e da reabsorção

óssea local (por seu desenvolvimento da medula óssea) ou osteólise, quando ocorre em tecido

ósseo. Hipoalbunemia é outra alteração encontrada em pacientes com linfoma (DALECK;

NARDI, 2017). Níveis de cálcio e albumina não foram dosados no paciente relatado.

A citologia aspirativa por agulha fina (CAAF) foi realizada no paciente, a partir do

linfonodo submandibular direito. Ela permite diagnosticar linfoma, através da observação de

células individuais, em lâminas, sem ver a arquitetura estrutural do tecido. 70 a 75% dos

linfomas podem ser diagnosticadas através dessa técnica (TOMÉ, 2010). É um procedimento

pouco invasivo, com diagnóstico quase imediato, fácil realização e com baixo índice de falso-

negativo. Pode ser realizado dos tecidos acometidos ou de líquidos cavitários (por exemplo,

derrames pleurais no linfoma mediastinal). Foram enviadas 6 amostras em lâminas e obteve

resultado positivo para neoplasia maligna de células redondas, compatível com linfoma.

Quando não fecha diagnóstico, recomenda-se exame histopatológico (LITLLE, 2015). A

citologia da medula óssea é útil na determinação de reservas hematológicas, principalmente

para gatos FeLV positivos (AUGUST, 2006).

Existem esquemas de classificação histopatológica do linfoma não Hodgkin em seres

humanos e esses mesmos esquemas são utilizados para os animais domésticos.

Morfologicamente, a classificação é baseada em padrão de crescimento (difuso ou folicular) e

constituição celular (células pequenas, grandes, clivadas ou não e diferenciação plasmocitária).

Através do exame histopatológico, consegue-se classificar o tipo de linfoma e grau de

malignidade. Os linfomas de baixo grau de malignidade são os linfomas linfocítico,

centrocítico, centrocítico-centroblástico, linfomas de células T pleomórfico, linfoplasmacítico

81

e os linfomas de zona T. Os linfomas de alto grau de malignidade são classificados em

imunoblástico, centroblástico, linfoblástico e linfoma anaplásico (de grandes células). Mais de

50% dos gatos apresentam linfomas de alto grau de malignidade e um terço do total é do tipo

imunoblástico (DALECK; NARDI, 2017). O exame histopatológico do paciente concluiu como

linfoma difuso de células grandes e intermediárias, morfologicamente sugestivo de linfoma

linfoblástico. Esse tipo de linfoma, é de alto grau de malignidade.

A partir do diagnóstico confirmatório, deve-se estabelecer o estadiamento clínico de

acordo com a extensão e gravidade da doença (AUGUST,2006). Deve-se seguir as regras do

OMS e pode ser utilizado tanto para gatos quanto para cães. É importante para definir

prognóstico e tratamento (DALECK; NARDI, 2017). Os objetivos do estadiamento de tumores

animais são: auxiliar o clínico veterinário no planejamento do tratamento, dar alguma indicação

de prognóstico, auxiliar na avaliação dos resultados do tratamento, facilitar o intercâmbio de

informações entre centros de tratamento, contribuir para a investigação contínua do câncer de

animais e contribuir com informações de valor comparativo entre homem e animal (POPPI,

2019). O sistema da OMS é usado rotineiramente para o estadiamento de linfoma em cães

(Tabela 30) e gatos (Tabela 31).

Tabela 30 – Tabela ilustrando o estadiamento de linfoma em cães.

Fonte: Oliveira (2014).

82

Tabela 31 – Tabela ilustrando o estadiamento de linfoma em gatos.

Fonte: Oliveira (2014).

Por ser uma doença sistêmica, a quimioterapia é tratamento para quase todos cães e

gatos (AUGUST, 2006). É baseada em administração de fármacos via oral ou intravenosa para

interromper as células cancerosas que circulam por todo o corpo (ETTINGER, 2008). É a

modalidade primária para tratamento de linfoma felino. Sem o tratamento, a mortalidade é de

40 a 75%, com 4 e 8 semanas após o diagnóstico, respectivamente (LITLLE, 2015). A escolha

cirúrgica ou radioterapia são menos úteis, pois são indicados para as formas localizadas

(ETTINGER, 2008; ROBLES, 2016).

A quimioterapia tem como objetivo, promover uma “remissão” completa pela morte da

maioria das células cancerígenas, ou seja, temporariamente todos os sinais clínicos desaparecem

(ETTINGER, 2008). Geralmente, os gatos toleram bem a quimioterapia e a qualidade de vida

melhora após o início do tratamento. Os agentes quimioterápicos mais comuns, usados para

tratar linfomas de grau intermédio a alto são similares aos usados nos cães e humanos, incluindo

doxorrubicina, vincristina, ciclofosfamida, metotrexato, L-asparginase, lomustina e prednisona

(OLIVEIRA, 2014; ROBLES, 2016). Deve-se ficar atento para os efeitos colaterais causados

pela quimioterapia. O paciente relatado estava muito debilitado e provavelmente não iria

suportar os efeitos colaterais causados pelo tratamento, como energia e apetite diminuídos,

vômito e diarreia podendo vir à óbito. Pode suprimir o sistema imunológico e tornar o animal

mais susceptível a infecções. Geralmente essas infecções surgem de bactérias do trato intestinal

e da pele e não do ambiente (ETTINGER, 2008). O linfoma linfoblástico, diagnosticado no

83

paciente, é altamente agressivo e deve-se considerar um tratamento quimioterápico

multifármaco, diferentes protocolos e padrão de cuidados. No caso relatado não deu tempo de

iniciar o tratamento. A cada sessão de quimioterapia, deve-se realizar um hemograma do

paciente, bioquímico sérico e urinálise mensal (LITLLE, 2015).

Linfoma não tem cura, mas aumenta o tempo e a qualidade de vida de cães e gatos. Os

gatos apresentam taxa de 50% de remissão total. A média de sobrevivência é de 7 a 10 meses

(ETTINGER, 2008). Cuidados de suporte incluindo líquidos, estimulantes de apetite,

antieméticos, boa alimentação são importantes (AUGUST, 2006).

A cirurgia é utilizada para estádios iniciais e localizados (I e II) ou linfoma extranodal

solitário. É importante realizar o estadiamento da doença antes do tratamento cirúrgico

(OLIVEIRA, 2014; DALECK; NARDI, 2017).

A radioterapia é indicada para alguns casos, pois é limitada. Auxilia no tratamento de

linfoma em estádio I (um linfonodo), linfoma extranodal solitário (nasal, cutâneo, espinhal),

tratamento paliativo de linfoma localizado (linfadenopatia mandibular, linfoma retal, linfoma

mediastínico com síndrome da veia cava e linfoma com envolvimento ósseo) e alguns estádios

terminais que possuem resistência à quimioterapia (OLIVEIRA, 2014). É um método baseado

na radiação, os feixes ionizantes emitidos provocam reações químicas e resultam em morte

celular. Os linfócitos malignos são sensíveis a essas radiações, sofrem apoptose e incapacidade

mitótica após a exposição (ROBLES, 2016). É eficaz para controlar a doença local,

principalmente linfoma nasal. Os gatos que foram tratados com radioterapia, com ou sem

quimioterapia sistêmica, apresentaram sobrevida de mais de um ano (LITLLE, 2015).

O prognóstico de linfoma mediastinal é desfavorável, como ocorreu no paciente

relatado, mas vai depender do imunofenótipo, estádio do tumor, resposta ao tratamento e

localização anatômica da doença (OLIVEIRA, 2014; LITLLE, 2015). O prognóstico é pior em

animais FeLV positivos, pois há debilitação causada por doenças relacionadas e o proprietário

sempre deve estar ciente dos problemas relacionados a FeLV (AUGUST, 2006). A situação do

paciente relatado, agravou muito em uma semana e por todos os motivos que citam a literatura

optou-se por realizar a eutanásia e acabar com o sofrimento do animal. Durante conversa com

o especialista em medicina felina, o mesmo acreditava que o animal não suportaria o tratamento

quimioterápico, pois estava muito debilitado.

6.3 RELATO DE CASO 3: ERLIQUIOSE

Erliquiose em cão sem raça definida.

84

6.3.1 Resenha

Paciente da espécie canina, macho, sem raça definida, não castrado, 8 anos de idade,

com peso corporal de 29 quilogramas.

6.3.2 Histórico e anamnese

O paciente chegou ao HVPV e proprietário relatou que mais ou menos 4 dias antes da

consulta observou que o animal estava “depressivo” e apático. Tinha histórico de otite há 2

meses atrás e naquela época apresentava inquietação e dificuldade de ficar na posição que

costumava dormir. Retornou novamente com quadro de otite por apresentar o mesmo

comportamento. Nos últimos dias apresentou vômito e hiporexia, negaram diarreia

(normoquesia), normodipsia e urinando normalmente. Perceberam perda de peso. Foi medicado

em casa com dipirona. Animal vivia em área aberta, passeava e tinha contato com outros cães.

Vacinação, controle de endoparasitas e ectoparasitas estavam desatualizados. Proprietário

relatou ter encontrado carrapatos duas semanas antes da consulta. O médico veterinário realizou

exame físico e exames complementares para investigação.

6.3.3 Exame físico

O paciente apresentava-se apático, mucosas normocoradas, hidratação normal,

temperatura retal 39,8ºC (febre), difícil auscultação cardíaca e pulmonar, porém sons

aparentemente normais, TPC menor que 3 segundos, linfonodos não reativos, palpação

abdominal sem dor, condutos auditivos inflamados e com presença de secreção esbranquiçada

(descamação), demonstrou incômodo na inspeção e palpação dos ouvidos, cavidade oral sem

alterações.

6.3.4 Exames complementares

Conforme protocolo, foi coletado sangue para realização de exames, como hemograma

e bioquímico. Foram observadas alterações como leucocitose (32,0 mil/mm3) seguida de

trombocitopenia (153.000 p/mm3) (Tabela 32). O exame bioquímico, não apresentou alteração

hepática e renal (Tabela 33). Suspeitou-se de erliquiose (“doença do carrapato”) pela baixa de

plaquetas. Com isso, explicou-se ao tutor a importância de análise PCR (reação em cadeia da

85

polimerase), para confirmar o diagnóstico. Então, o sangue foi enviado para o laboratório

externo VETPAT, para realização de PCR.

Tabela 32 – Hemograma apresentando leucocitose seguida de trombocitopenia.

HEMOGRAMA Unidade Resultado Valores de referência

Hemácias (milhões/mm3) 6,8 (p/mm3) 5,7 a 7,4 Hemoglobina (g%) 15 (g%) 14 a 18 Hematócrito (%) 43,2 (%) 38 a 47

V.C.M. (u3) 65,7 (u3) 63 a 77 H.C.M. (uug) 22,2 (uug) 21 a 26 C.H.C.M. (g%) 35 (g%) 31 a 35

Leucócitos (mil/mm3) 32,0 (mil/mm3) 6 a 16 Eosinófilos (%) 2,8 (%) 1 a 9 Linfócitos (%) 28 (%) 13 a 40 Basófilos (%) 0,6 (%) 0 a 1

Monócitos (%) 5 (%) 1 a 6 Plaquetas (p/mm3) 153.000 (p/mm3) 200.000 a 500.000

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

Tabela 33 – Avaliação hepática e renal sem alterações.

BIOQUÍMICO Unidade Resultado Valores de referência

ALT (T.G.P.) (UI/L) 78,0 (UI/L) 10 a 88 Creatinina mg/dL 1,0 (mg/dL) 0,5 a 1,5

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

6.3.5 Tratamento

O animal foi para casa e orientado ao tratamento otológico, com ácido lático e ácido

salicílico (Clean Up®), realizando a limpeza dos condutos auditivos a cada 24 horas durante 3

dias, seguido de enrofloxacina, sulfadiazina de prata e hidrocortisona (Zelotril Oto®), iniciado

após 3 dias da limpeza, pingando 8 gotas em cada conduto auditivo a cada 12 horas durante 7

dias. Foi iniciado também o tratamento para erliquiose, com omeprazol (Gaviz 20mg®)

administrar 1 comprimido e ½ a cada 24 horas durante 28 dias, orientado a fornecer sempre pela

manhã, 30 minutos antes da próxima medicação, cloridrato de doxiciclina (Doxifin Tabs

200mg®) administrar 1 comprimido e ½ a cada 24 horas, durante 28 dias, tutor orientado a

fornecer sempre após alimentação e nunca administrar a medicação com carne vermelha e/ou

derivados de leite. Após, prednisolona (Prediderm 20mg®) administrar 1 comprimido e ½ a

cada 24 horas durante 5 dias. E dipirona (Dipirona 500mg®) administrar 1 comprimido a cada

86

12 horas durante 3 dias. E juntamente foi receitado um antiparasitário ao paciente, praziquantel,

pamoato de pirantel, febantel e ivermectina (Top Dog 30kg®), administrar 1 comprimido em

dose única e repetir em 15 dias.

Após uma semana do início do tratamento, o animal retornou para repetir o hemograma

e apresentou grande melhora, normalizando o número de plaquetas (573.000p/mm3), porém

ainda apresentava leucocitose (25,8 mil/mm3) (Tabela 34). Obteve-se o resultado do material

que foi para análise PCR. O laudo clínico mostrou: positivo para Ehrlichia spp., negativo para

Babesia spp. e negativo para Anaplasma spp. (ANEXO G). Com isso confirmou a suspeita,

mas o animal já havia iniciado o tratamento. O proprietário estava ciente do resultado e foi

orientado a continuar o tratamento em casa. Retornaria 5 dias após o término, para repetir

exames como hemograma e PCR.

Tabela 34 – Hemograma após uma semana do início do tratamento apresentando melhora,

normalizando o número de plaquetas, porém ainda possuía leucocitose.

HEMOGRAMA

Unidade Resultado Valores de referência

Hemácias (milhões/mm3) 5,89 (p/mm3) 5,7 a 7,4 Hemoglobina (g%) 16 (g%) 14 a 18 Hematócrito (%) 41,3 (%) 38 a 47

V.C.M. (u3) 63,9 (u3) 63 a 77 H.C.M. (uug) 24,7 (uug) 21 a 26 C.H.C.M. (g%) 32 (g%) 31 a 35

Leucócitos (mil/mm3) 25,8 (mil/mm3) 6 a 16 Eosinófilos (%) 1,2 (%) 1 a 9 Linfócitos (%) 32 (%) 13 a 40 Basófilos (%) 0,5 (%) 0 a 1

Monócitos (%) 3,9 (%) 1 a 6 Plaquetas (p/mm3) 573.000 (p/mm3) 200.000 a 500.000

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

6.3.6 Evolução do caso

No retorno, 7 dias após término do tratamento o animal retornou, estava clinicamente

bem, sem nenhuma alteração no exame físico. Foi coletado sangue para novo hemograma e

PCR. O hemograma ainda apresentava leucocitose (20,5 mil/mm3), plaquetas normalizadas

(423.000p/mm3) e restante sem alteração (Tabela 35). O sangue foi enviado novamente para

análise PCR. O resultado posterior mostrou que o animal já apresentava negativo para Ehrlichia

spp., negativo para Babesia spp. e negativo para Anaplasma spp. (ANEXO H). Tutor foi

orientado a repetir o hemograma após 7 dias do último retorno, para acompanhamento da

87

leucocitose apresentada no último exame. O resultado mostrou hemograma dentro da

normalidade (Tabela 36), animal recebeu alta médica e orientação devido ao controle de

ectoparasitas no animal e ambiente.

Tabela 35 – 7 dias após término do tratamento, realizou hemograma e ainda apresentava

leucocitose, plaquetas normalizadas e restante sem alteração.

HEMOGRAMA Unidade Resultado Valores de referência

Hemácias (milhões/mm3) 7,15 (p/mm3) 5,7 a 7,4 Hemoglobina (g%) 18 (g%) 14 a 18 Hematócrito (%) 48 (%) 38 a 47

V.C.M. (u3) 62,1 (u3) 63 a 77 H.C.M. (uug) 22,7 (uug) 21 a 26 C.H.C.M. (g%) 31 (g%) 31 a 35

Leucócitos (mil/mm3) 20,5 (mil/mm3) 6 a 16 Eosinófilos (%) 5,2 (%) 1 a 9 Linfócitos (%) 25 (%) 13 a 40 Basófilos (%) 0.4 0 a 1

Monócitos (%) 2,5 1 a 6 Plaquetas (p/mm3) 423.000 (p/mm3) 200.000 a 500.000

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

Tabela 36 – Hemograma após 7 dias do último retorno, para acompanhamento da leucocitose

apresentada no último exame. O resultado mostrou-se dentro da normalidade.

HEMOGRAMA Unidade Resultado Valores de referência

Hemácias (milhões/mm3) 6,93 (p/mm3) 5,7 a 7,4 Hemoglobina (g%) 17 (g%) 14 a 18 Hematócrito (%) 46,4 (%) 38 a 47

V.C.M. (u3) 68,1 (u3) 63 a 77 H.C.M. (uug) 23,5 (uug) 21 a 26 C.H.C.M. (g%) 33 (g%) 31 a 35

Leucócitos (mil/mm3) 15,4 (mil/mm3) 6 a 16 Eosinófilos (%) 5,2 (%) 1 a 9 Linfócitos (%) 18 (%) 13 a 40 Basófilos (%) 0 (%) 0 a 1

Monócitos (%) 2 (%) 1 a 6 Plaquetas (p/mm3) 617.000 (p/mm3) 200.000 a 500.000

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

88

6.3.6 Revisão e discussão de literatura

A erliquiose monocítica canina é uma doença multissistêmica, infectocontagiosa,

transmitida através da picada ou saliva do carrapato. Pode ser transmitida ao homem, por isso,

é considerada uma zoonose. Essa doença é causada pela bactéria do gênero Ehrlichia canis e

seu hospedeiro principal é o carrapato do gênero Rhipicephalus sanguineus, também conhecido

como “carrapato marrom”. Essas bactérias pertencem à ordem Rickettsiales, que possuem

afinidade por células hematopoiéticas. Parasitam células sanguíneas mononucleares, causando

alteração da membrana celular de plaquetas e eritrócitos, levando a alterações hematológicas.

Está distribuída amplamente, em várias regiões geográficas do mundo, principalmente países

tropicais e subtropicais e no Brasil, é encontrada em todas as regiões, principalmente em áreas

urbanas. O animal relatado, habitava uma cidade que possuía clima quente o ano todo, sendo

fator positivo para a proliferação do carrapato (NELSON RW et al., 2015; SILVA et al., 2015;

PARPINELLI, N et al., 2017; REIS, 2017; CUNHA; MARTINS, 2018).

Um único cão pode ser infectado por mais de um agente erliquial, sendo comum a

coinfecção com outros patógenos, que também são transmitidos por carrapatos, como por

exemplo, Anaplasma phagocytophilum (ex: E. equi), Anaplasma platys (ex: E. platys), E.

chaffeensis e Neorickettsia risticii (NELSON RW et al., 2015; SILVA et al., 2015;

PARPINELLI, N et al., 2017; REIS, 2017; CUNHA; MARTINS, 2018). Infecção concomitante

por Babesia, Haemobartonella, A. platys e Hepatozoon canis pode agravar o quadro clínico do

animal (TILLEY et al., 2015).

As bactérias do gênero Ehrlichia são gram-negativas, intracelulares obrigatórias,

pleomórficas e podem infectar várias espécies de mamíferos. E. canis é reconhecida como

patógeno de canídeos. No entanto, algumas cepas encontradas em humanos e felinos são

geneticamente idênticas às cepas causadoras de Erliquiose Monocítica Canina, por esse motivo

é considerada por alguns autores uma zoonose (PARPINELLI, N et al., 2017). E. canis isolado,

não causa imunossupressão em cães jovens ou em animais infectados recentemente (NELSON

RW et al., 2015).

A infecção pode ocorrer em qualquer cão, mas a gravidade pode variar. Isso vai depender

dos fatores do hospedeiro, de qual microrganismo e se há presença de coinfecção (NELSON

RW et al., 2015). O animal do caso relatado, era SRD e possuía 8 anos, porém a bactéria pode

acometer qualquer raça, sexo e idade (CUNHA; MARTINS, 2018). Raças como Doberman

Pinscher e Pastor Alemão são pré-dispostas. A idade mais acometida é, em média 5 anos, porém

pode ocorrer entre 2 meses até 14 anos (TILLEY et al., 2015). Exposição ao R. sanguineus,

89

também pré-dispõe à doença (PARPINELLI, N et al., 2017). Animais SRD (sem raça definida),

apresentam sinais clínicos mais brandos (CUNHA; MARTINS, 2018).

E. canis é o agente mais comum. Rhipicephalus sanguineus, Dermacentor variabilis

(NELSON RW et al., 2015; TILLEY et al., 2015) e Amblyomma cajennense são os vetores desta

bactéria (PARPINELLI, N et al., 2017). O vetor precisa parasitar um cão rickettsêmico na fase

aguda, para se tornar infectado e disseminar a doença (NELSON RW et al., 2015). Com isso, o

vetor ingere sangue de um cão infectado, contrai a bactéria e esta, mantém-se ativada no

hospedeiro por até cinco meses. Este carrapato infectado se alimenta de um cão sadio e o infecta

com a bactéria, que irá se multiplicar no sistema fagocítico mononuclear do animal. A

transmissão pode se dar também através de agulha, instrumentos contaminados com sangue e

transfusão sanguínea (REIS, 2017; CUNHA; MARTINS, 2018). O ciclo da erliquiose é

constituído de três fases principais: a primeira, é quando ocorre a penetração dos corpos

elementares nos monócitos, nesse processo, permanecem em crescimento por aproximadamente

2 dias; a segunda, é a multiplicação do agente, por 3 a 5 dias, com a formação do corpo inicial

e a terceira, ocorre formação das mórulas, constituídas por um conjunto de corpos elementares

envoltos por uma membrana (SILVA et al., 2015).

A doença possui um período de incubação de 1 a 3 semanas e três estágios: forma aguda,

subclínica e crônica. A forma aguda dura de duas a quatro semanas, após o período de incubação

e ocorre quando o agente se multiplica no interior das células sanguíneas mononucleares e nos

órgãos do sistema monocítico-fagocitário, como baço, fígado e linfonodo. É mais frequente e

diagnosticada na primavera e no verão, quando o vetor é mais ativo. Os sinais clínicos

apresentados são inespecíficos. Após, torna-se em forma subclínica, geralmente começa seis a

nove semanas após a infecção, causando trombocitopenia leve, acometendo o endotélio, causa

vasculite, pode apresentar leucopenia e leve anemia, isso vai depender do microrganismo. Esta

fase, podendo ser assintomática, dura de meses a anos em cães naturalmente infectados e

observa-se alta concentração de anticorpos para E. canis. A forma crônica ocorre quando há

diminuição na produção de plaquetas da medula óssea, ou seja, supressão eritróide (NELSON

RW et al., 2015; TILLEY et al., 2015; PARPINELLI, N et al., 2017; REIS, 2017).

No geral, os sinais clínicos são: letargia, depressão, anorexia ou hiporexia, perda de

sangue, febre, sangramento espontâneo através de espirro, angústia respiratória, ataxia,

inclinação de cabeça e dor ocular (uveíte) (TILLEY et al., 2015). Febre, pode ocorrer em

qualquer fase clínica da doença, porém, na fase aguda é mais comum. O animal pode apresentar

também petéquias na mucosa, isso devido à trombocitopenia moderada e vasculite. Apatia e

emagrecimento também são mais evidentes nessa fase (SILVA et al., 2015). Os sinais clínicos

apresentados pelo cão atendido foram hiporexia, depressão, apatia e febre. Perceberam também

90

perda de peso nos últimos dias. O que condiz com a fase aguda da doença. Na fase crônica, é

comum ocorrer trombocitopenia, vasculite e função plaquetária anormal (NELSON RW et al.,

2015). A vasculite, é decorrente da migração de células mononucleares infectadas para

pequenos vasos (REIS, 2017). Na fase crônica, o animal pode apresentar palidez das mucosas,

devido à pancitopenia, além de hepatomegalia, esplenomegalia e linfadenomegalia. Dispneia e

tosse ocorrem, devido ao edema instersticial, secundário à vasculite ou inflamação, hemorragia

pulmonar parenquimatosa, secundária à vasculite ou à trombocitopenia, ou infecções

secundárias decorrentes de neutropenia. Poliúria, polidpsia e proteinúria são sinais de animais

que desenvolvem insuficiência renal. E. ewingii ou A. phagocytophilum podem ocasionar

poliartrite e os principais sinais clínicos apresentados são: rigidez, intolerância ao exercício e

articulações dolorosas. Pode ocorrer também manifestações oftálmicas. Quando a doença atinge

o SNC, depressão, ataxia, dor, paresia, nistagmo e convulsões podem aparecer (NELSON RW

et al., 2015).

O diagnóstico é obtido através de anamnese e exame físico, evidenciar carrapatos no

animal e saber se o animal vive em área endêmica (CRIVELLENTI, 2015). Por ser uma doença

multissistêmica e possuir manifestações clínicas inespecíficas, deve-se realizar exames

complementares, como hematológicos e sorológicos (CUNHA; MARTINS, 2018), e é possível

detectar mórulas da E. canis em esfregaços sanguíneos (REIS, 2017). Através da anamnese, foi

relatado que o animal foi visto com carrapatos 15 dias antes, durante exame físico demonstrou

sinais inespecíficos e foi orientado a realizar exames complementares.

Os resultados de hemograma, bioquímico e urinálise podem variar. Na forma aguda da

doença o exame pode apresentar: trombocitopenia (antes do início dos sinais clínicos), anemia,

leucopenia (por linfopenia e eosinopenia). Leucocitose e monocitose ocorrem quando a doença

se torna crônica, ou se tiver outra infecção associada, como ocorreu com o paciente que estava

com otite e apresentou leucocitose (secundária à otite). A outra alteração foi trombocitopenia.

O bioquímico: ALT e creatinina levemente alteradas ou normais, como ocorrido no paciente. A

urinálise não foi realizada no animal, mas pode apresentar proteinúria. Na fase crônica, pode-

se observar pancitopenia, hiperglobulinemia, hipoalbuminemia, ureia e creatinina elevados,

decorrentes da doença renal primária (TILLEY et al., 2015). Na rotina clínica, os médicos

veterinários levam em consideração o valor da contagem de plaquetas para iniciar o tratamento,

pois um dos principais sinais da E. canis é a trombocitopenia (REIS, 2017), essa conduta foi

aplicada no animal relatado. A ausência de anemia e outras alterações mais graves, podem ser

pelo fato de o animal estar na fase aguda da doença.

É possível visualizar, através de microscopia óptica, microrganismos dos gêneros

Ehrlichia e Anaplasma, utilizando amostras de sangue e medula óssea. Embora as bactérias

91

sejam <0,5 µm de diâmetro, elas se replicam dentro de um vacúolo citoplasmático formando

uma mórula. E. canis está presente em baixas concentrações mesmo na fase aguda da infecção,

tornando a pesquisa de mórulas em esfregaço sanguíneo uma técnica de baixa sensibilidade

(PARPINELLI, N et al., 2017).

A técnica imunofluorescência indireta (IFA) também é um método usado para

diagnosticar erliquiose, detectando a presença de IgG contra Ehrlichia canis no soro. É

altamente sensível, porém há especificidade baixa, com reatividade cruzada entre E. canis e A.

phagocytophila, mas não entre E. canis e A. platys.

Ensaios imunoenzimáticos (ELISA), kit comercial disponível (SNAP 3DX®, IDEXX®,

Portland®, Maine®), também podem diagnosticar e são realizados no consultório, exceto no

animal relatado, optou-se por PCR. o ELISA detecta anticorpos IgG contra Ehrlichia canis no

soro. O desenvolvimento de testes rápidos resultou em estudos amplos, para detecção de

anticorpos para Ehrlichia spp. e Anaplasma spp. de cães. Porém, deve-se ter cautela na

utilização destas técnicas, pois podem ocorrer resultados falsos positivos, decorrentes da

reatividade cruzada com outros organismos dos gêneros Ehrlichia, Anaplasma e Neorickettsia,

e também, por não diferir infecção de exposição prévia ao organismo.

O diagnóstico da doença do caso relatado foi através da análise reação em cadeia da

polimerase (PCR), por ser o exame mais específico, confiável e sensível. Embora pode ocorrer

resultados falsos. Irá observar mórulas circulantes e detectar o DNA específico do

microrganismo em leucócitos de sangue periférico. O resultado é positivo 7 dias após a infecção,

ou seja, principalmente na fase aguda da doença e o mesmo torna-se negativo 9 dias após o

tratamento, como mostrou o resultado PCR 10 dias após o término do tratamento do paciente.

A análise foi realizada com amostra sanguínea, amostras conjuntivais também podem ser úteis,

porém no sangue há maior sensibilidade (NELSON RW et al., 2015; TILLEY et al., 2015;

PARPINELLI, N et al., 2017; CUNHA; MARTINS, 2018).

Como tratamento, deve estabilizar clinicamente o animal quando necessário. Fornecer

fluidoterapia (se estiver desidratado), transfusão de sangue (em casos de anemia) ou transfusão

de plasma rico em plaquetas (aconselhável em casos de hemorragia decorrente de

trombocitopenia) (TILLEY et al., 2015).

O tratamento é baseado em antibiótico, antiparasitário, antiemético se necessário,

protetor de mucosa, e controle de carrapatos no animal e ambiente. O antibiótico de escolha

para o animal foi cloridrato de doxiciclina 5-10 mg/kg, VO, a cada 12 ou 24 horas, por 28 dias

(CRIVELLENTI, 2015). É um antibiótico (tetraciclina) bacteriostático de amplo espectro

(VIANA, 2019), lipossolúvel, alcança alta concentração sanguínea e tecidual, e penetra

rapidamente na maioria das células. Além disso, apresenta menor taxa de recidivas, quando

92

comparada as outras tetraciclinas. Outro fator importante, é que a eliminação se dá por via fecal,

e isso é ideal para pacientes que apresentarem quadros renais concomitantes (REIS, 2017). Por

protocolo terapêutico da clínica, dipropionato de imidocarb não foi receitado nesse caso, mas

recomenda-se duas doses do antiparasitário dipropionato de imidocarb 5 mg/kg, via SC,

repetindo a segunda dose após 14 dias. É importante, 15 minutos antes, aplicar sulfato de

atropina 0,044 mg/kg, via SC, pois tem ação anticolinérgica (evita salivação, instilação nasal,

vômito e diarreia). O dipropionato de imidocarb é muito eficaz para tratamento de erliquiose,

principalmente quando existe coinfecção por Babesia spp. (REIS, 2017; VIANA, 2019). Para

proteção de mucosa, foi receitado omeprazol, a cada 24 hotas por 28 dias, para inibir a bomba

de prótons para redução de secreções gastroduodenais (VIANA, 2019), mas pode optar também

por ranitidina 2 mg/kg, VO ou SC, a cada 12 horas. Foi indicado ao tutor fazer o controle de

carrapatos com coleiras antiparasitárias ou produtos à base de fipronil ou selamectina

(CRIVELLENTI, 2015) e limpeza do ambiente. Foi associado o glicocorticoide anti-

inlfamatório e imunossupressor prednisolona 1-2 mg/kg VO a cada 12 horas durante 5 dias,

para casos de trombocitopenia, devido aos eventos imunomediados. E esteroides androgênicos

podem ser utilizados em cães que possuem a doença crônica e apresentam medula hipoplásica,

como oximetolona 2 mg/kg a cada 24 horas, VO até obter resposta ao tratamento (NELSON

RW et al., 2015; TILLEY et al., 2015).

Durante o tratamento, o paciente realizou hemograma sete dias após o início das

medicações, e apresentou melhora significativa clínica e hematológica. A quantidade de

plaquetas normalizou e não apresentava mais sinais clínicos. É importante monitoração do

paciente. A melhora é rápida em cães agudos (TILLEY et al., 2015).

O prognóstico vai depender em qual fase da doença o animal está. O animal apresentou

bom prognóstico, pois respondeu muito bem ao tratamento, evitando a evolução de aguda para

crônica. Na forma aguda, o prognóstico é excelente com a terapia apropriada. Na fase

subclínica, o prognóstico é de favorável a reservado. Na forma crônica, a resposta a terapia é

mais lenta, podendo demorar até 1 mês. Porém, se a medula óssea estiver gravemente

hipoplásica, o prognóstico é muito ruim (SILVA et al., 2015; TILLEY et al., 2015; REIS, 2017).

Não existem vacinas para combater a erliquiose, por isso é importante a prevenção da

doença (CUNHA; MARTINS, 2018). O tutor foi orientado a controlar a infestação por

carrapatos, realizando banhos de imersão ou sprays que contenham diclorvós, clorfenvinfós,

dioxationa, propoxur ou carbarila, utilizar coleiras anti pulgas e carrapatos e evitar áreas

endêmicas (TILLEY et al., 2015). O Rhipicephalus pode transmitir E. canis por

aproximadamente 155 dias, se não for possível o controle desses ectoparasitas, a tetraciclina

pode ser administrada na dose de 6,6 mg/kg, VO, diariamente por 200 dias. Durante esse

93

período, os cães infectados não vão infectar novos carrapatos. Doxiciclina na dose de 100

mg/cão/dia, obteve sucesso como preventivo (NELSON RW et al., 2015), porém no caso

relatado a doxiciclina foi meio de tratamento e não de prevenção.

7 CONCLUSÃO

O estágio curricular obrigatório é muito importante para o acadêmico vivenciar a rotina

prática clínica e cirúrgica, testar os conhecimentos que adquiriu durante a graduação, tirar

dúvidas, aprender com profissionais de diversas áreas e que possuem diferentes formas de

trabalhar e raciocinar. É uma oportunidade na vida do formando para aprender novos protocolos

e condutas médicas. É a fase mais valiosa, permite lidar com medicina e sentimento, ansiedade

e medo, alegria e desafio... e nos dá certeza de que escolhemos a profissão certa.

O local de estágio escolhido foi ótimo com profissionais qualificados e estrutura física

completa, sempre auxiliando os estagiários, separando o certo do errado, ensinando como

devemos proceder diante diversas situações. Trabalhar em equipe é fundamental para a vida do

médico veterinário, pois nesse meio, uns dependem dos outros para serem profissionais

melhores e reconhecidos. Não é questão de concorrência, mas sim de colegas de profissão e

vida.

94

REFERÊNCIAS

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96

ANEXOS

97

ANEXO A – Laudo radiográfico, cadela, fêmea, 9 anos, Pastor Alemão Branco, 39kg

98

ANEXO B – Laudo histopatológico, cadela, fêmea, 9 anos, Pastor Alemão Branco, 39kg

99

ANEXO C – Laudo ultrassonográfico, gata, fêmea, 1 ano, SRD, 3,5kg

100

ANEXO D – Laudo radiográfico, gata, fêmea, 1 ano, SRD, 3,5kg

101

ANEXO E – Laudo citológico, gata, fêmea, 1 ano, SRD, 3,5kg

102

ANEXO F – Laudo histopatológico, gata, fêmea, 1 ano, SRD, 3,5kg

103

ANEXO G – Laudo PCR, canino, macho, 8 anos, SRD, 29kg

104

ANEXO H – Laudo PCR, canino, macho, 8 anos, SRD, 29kg