56
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ENSINO - PROEN CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CCSJ CURSO DE DIREITO – CAMPUS SÃO JOSE AS CONSEQUÊNCIAS DO ASSÉDIO MORAL NA RELAÇÃO DE TRABALHO NÁJUA HASSAN HAMADE São José (SC), agosto de 2007.

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ENSINO - PROEN CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CCSJ CURSO DE DIREITO – CAMPUS SÃO JOSE

AS CONSEQUÊNCIAS DO ASSÉDIO MORAL NA RELAÇÃO DE TRABALHO

NÁJUA HASSAN HAMADE

São José (SC), agosto de 2007.

Page 2: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ENSINO - PROEN CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CCSJ CURSO DE DIREITO – CAMPUS SÃO JOSE

AS CONSEQUÊNCIAS DO ASSÉDIO MORAL NA RELAÇÃO DE TRABALHO

NÁJUA HASSAN HAMADE

Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientadora: Profª MSc. Regina Rufino

São José (SC), agosto de 2007.

Page 3: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus,

A minha família, especialmente a minha mãe por ter

me guiado todos os passos, atenção e carinho em

todos os momentos e minha irmã, pelo apoio

durante estes cinco anos de caminhada.

A minha orientadora, pelos ensinamentos

repassados e préstimos sem medir esforços

Aos amigos, que sempre me incentivaram para

atingir meu objetivo.

E a todas as pessoas que contribuíram para minha

formação de Bacharel em Direito.

Meu muito obrigado a todos!

Page 4: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte

ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do

Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de

toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

São José, 05 novembro 2007.

___________________________________ Nájua Hassan Hamade

Page 5: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

CAT - Comunicação de Acidente de Trabalho

CF – Constituição Federal

Cipa - Comissão Interna de Prevenção contra Acidentes

CLT - Consolidação das Leis do Trabalho

DRT - Delegação Regional do Trabalho

TRT - Tribunal Regional do Trabalho

SESMT - Serviço Especializado de Segurança e Medicina do Trabalho

Page 6: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

RESUMO

O presente trabalho aborda o tema as conseqüências do assédio moral no ambiente de trabalho. Sendo este um tema que vem ganhando espaço no meio acadêmico, profissional e trabalhista. O tema ainda é recente, as primeiras discussões foram apontadas devido o surgimento de casos de assédio moral no ambiente de trabalho, onde a vítima não tinha reação e sem o alicerce legal a seu favor. O assédio moral fere a personalidade do ser humano, bem como o princípio da dignidade humana, pois todo trabalhador tem o direito de desenvolver seu trabalho dentro de condições ambientais harmoniosas, relacionadas para o bem-estar do trabalhador. O objetivo do presente estudo é demonstrar a importância e relevância do assédio moral no ambiente de trabalho, bem como suas conseqüências para o empregado e empregador. O trabalho se justifica pela necessidade das organizações conhecerem como o assédio pode se manifestar no ambiente de trabalho, bem como as ações que devem ser tomadas e orientar a vítima dos seus direitos, para que a mesma possa voltar a obter qualidade de vida e bem estar no local de trabalho. As conseqüências do assédio moral para o empregado afetam o psicológico e o físico do trabalhador. O empregador sofre conseqüências relacionadas à queda de produtividade e alteração do clima interno, bem como o aumento de ações trabalhistas que se refletem diretamente para o empregador. Palavras-chaves: Assédio moral. Valorização do trabalhador. Dano moral.

Page 7: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

SUMÁRIO

RESUMO.....................................................................................................................5 INTRODUÇÃO ............................................................................................................7 1 VALORIZAÇÃO DO TRABALHADOR....................................................................9 1.2 DIGNIDADE DO TRABALHADOR ......................................................................10

1.3 DESIGUALDADE DAS PARTES NA RELAÇÃO DE EMPREGO .......................13

1.3.1 Princípio do Protecionismo...........................................................................15 1.3.2 Abuso de Poder..............................................................................................17 1.4 O LIMITE DO PODER DO EMPREGADOR E A HARMONIA DO AMBIENTE DE

TRABALHO...............................................................................................................19

2 ASSEDIO MORAL NO TRABALHO......................................................................22 2.1 CONCEITO .........................................................................................................22

2.2 NATUREZA.........................................................................................................24

2.3 CARACTERIZAÇÃO ...........................................................................................26

2.4 CLASSIFICAÇÃO................................................................................................28

2.4.1 Assédio moral vertical ...................................................................................29 2.4.2 Assédio moral horizontal...............................................................................30 2.5 CONDUTAS ........................................................................................................31

2.5.1 Assediador......................................................................................................31 2.5.2 Do Assediado .................................................................................................33 2.6 DISTINÇÃO ENTRE ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL..........................34

3 CONSEQÜÊNCIAS DO ASSÉDIO MORAL ..........................................................36 3.1 CONSEQÜÊNCIAS PARA O EMPREGADO ......................................................38

3.2 CONSEQÜÊNCIAS PARA A SOCIEDADE.........................................................43

3.3 CONSEQÜÊNCIAS PARA O EMPREGADOR....................................................43

3.4 CONSEQÜÊNCIAS PENAIS E CIVIS .................................................................46

3.6 PROPOSTAS DE PREVENÇÃO DO ASSÉDIO MORAL....................................47

CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................49 REFERÊNCIAS.........................................................................................................52

Page 8: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

7

INTRODUÇÃO

O direito do trabalho com o decorrer dos anos vem evoluindo e se adaptando

de acordo com as necessidades da sociedade para que todos possam viver como

cidadãos dotados de direitos e deveres igualitários.

No campo do trabalho, o assédio moral é vivenciado por muitos trabalhadores

que sofrem pela falta de denúncia a órgãos competentes, vivendo sob torturas,

humilhações e trabalho sem qualidade de vida.

Entretanto, ainda presencia-se nos dias de hoje muita omissão das

empresas e da própria sociedade de diversas ocorrências, pois muitas pessoas não

conhecem o assunto e até que ponto um ato diverge em assédio moral.

Com o aumento da competitividade no mercado de trabalho, cada vez mais

vem se percebendo e presenciado situações que envolvem o assédio moral nas

empresas.

O trabalho tem como propósito abordar a importância do assédio moral e

suas conseqüências no ambiente de trabalho, bem como o abuso do poder

hierárquico frente ao empregado onde deve imperar o respeito e a dignidade do

indivíduo no ambiente de trabalho, na qual conservará um dos maiores direitos dos

cidadãos, a dignidade humana.

A presente pesquisa tem como objetivo estudar as conseqüências que o

assédio moral representa para o trabalhador e empregador. As conseqüências do

assédio moral, foco deste trabalho, são significativas para o trabalhador, pois afetam

os aspectos psicológicos do ser humano, bem como ainda os reflexos para quem

sofre a humilhação, que vão desde a queda da auto-estima e problemas de saúde,

gerando a queda na produtividade da empresa.

Para proteger a inviolabilidade a honra e a imagem das pessoas, como a

igualdade perante a lei no convívio social, é de suma importância que se comprove o

fato determinando, para que assim seja feito algo punitivo contra o agressor para

não se alastrar a conduta errônea no tratamento do empregado, e nem qualquer tipo

de abuso na relação de trabalho.

A pesquisa se encontra estruturada em três capítulos. O primeiro capítulo

aborda a valorização do trabalhador, dignidade do trabalhador, desigualdade das

Page 9: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

8

partes na relação de trabalho, o protecionismo, bem como o abuso de poder por

parte do empregador.

O segundo capítulo apresenta o assédio moral, onde destaca-se sua

natureza, caracterização, classificação, condutas e distinção entre assédio moral e

sexual.

Por fim, o terceiro capítulo, apresenta as conseqüências do assédio moral

para o empregado e empregador, conseqüências penais e civis, e ainda propostas

de prevenção do assédio moral nas organizações.

O trabalho ainda visa colocar em prática os conhecimentos adquiridos na

academia, bem como estudar o tema com profundidade. O trabalho, poderá ainda

contribuir com informações que venham possibilitar mudanças de acordo com as leis

existentes no Brasil.

Para o desenvolvimento do presente trabalho foram utilizados métodos e

técnicas para facilitar a pesquisa e a transcrição dos dados levantados. A pesquisa

utiliza o método indutivo, o tipo de pesquisa exploratória, pesquisa bibliográfica e

documental, bem como a abordagem qualitativa. A indução permite ao pesquisador

ampliar seu conhecimento por meio das informações coletadas, fazendo com que o

tema pesquisado possa evoluir no decorrer da pesquisa. A pesquisa exploratória foi

utilizada para poder explorar um tema por específico em profundidade que foi o

assédio moral no ambiente de trabalho. A pesquisa qualitativa foi utilizada para

buscar subsídios para o desenvolvimento teórico do trabalho. A coleta de dados, foi

por meio de livros, periódicos, meio eletrônico, que posteriormente o trabalho foi

desenvolvido pela pesquisadora dentro dos parâmetros científicos estabelecidos.

Page 10: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

9

1 VALORIZAÇÃO DO TRABALHADOR

A vida do ser humano sempre foi marcada com muito trabalho. Os homens

primitivos trabalhavam arduamente para obter o seu alimento, bem como ainda para

a fabricação de armas e instrumentos de defesa dos perigos de animais e lutas

contra os homens que existiam na época. Com o passar do tempo, com as

descobertas, os homens negros passaram a ser os serviçais dos brancos, onde

eram submetidos ao trabalho escravo e praticamente trabalhavam por uma jornada

de trabalho extensa, recebendo em troca alimentação e alojamento em senzalas,

sem o mínimo de conforto e sob a pressão dos patrões que mantinham sua guarda.

(VIANA, 2000, p. 27).

Os escravos quando se tornaram livres, não tinham como direito trabalhar nos

seus ofícios habituais ou ainda podiam ser alugados a terceiros, onde recebiam um

salário para eles, originando os primeiros trabalhadores assalariados. (VIANA, 2000,

p. 28).

No contexto atual, as empresas vêm cada vez mais implantando ações para

oferecer ao trabalhador benefícios, bem estar e qualidade de vida para sua família.

As empresas passaram a ver o trabalhador como um elemento fundamental no

processo organizacional, pois a pessoa quando está motivada e valorizada na

função que desempenha apresenta uma produção maior e se sente motivado para

trabalhar. (CIMBALISTA, 2007, p. 1).

No entanto, este preâmbulo ainda é um objetivo distante em algumas

organizações, que ainda fazem uso de ferramentas de trabalho baseadas no

trabalho braçal, onde o funcionário é um mero componente do processo. As

empresas brasileiras, ainda têm impregnado em sua cultura organizacional a

concepção de que a força de trabalho é um mero instrumento para obter resultados

ao final dos balanços anuais e acabam não investimento em treinamento e

profissionalização do trabalhador para que este possa desempenhar sua função com

inovação, representando em lucros para a empresa. (CIMBALISTA, 2007, p. 1).

Os talentos humanos são geralmente considerados elementos facilmente

substituíveis na organização, mas o que se presencia é um novo papel das

empresas em valorizar o seu capital humano, oferecendo incentivos e benefícios

Page 11: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

10

para que o colaborador possa oferecer uma maior produção e qualidade nas

atividades desenvolvidas nas empresas. (CIMBALISTA, 2007, p. 2).

“A inserção do empregado no ambiente de trabalho não lhe retira os direitos

da personalidade, dos quais o direito a intimidade constitui uma espécie”. Sendo que

os direitos do empregado não podem ser afetados no ambiente da organização,

admitindo-se que sejam apenas modulados na medida imprescindível do correto

desenvolvimento da atividade produtiva, respeitando a integridade da pessoa e os

objetivos da empresa. (BARROS, 2007, p. 629).

Os direitos da personalidade devem ser respeitados no ambiente de trabalho.

“Os direitos da personalidade são aqueles que possibilitam ao seu titular, ou seja, a

pessoa, promover a defesa do que lhe é próprio, isto é, a vida, a integridade, a

liberdade, a sociabilidade, a honra, a imagem etc”. (FLORÊNCIO, 2003, p. 145).

1.2 DIGNIDADE DO TRABALHADOR

A palavra dignidade provém do latim dignus – que significa “aquele que

merece estima e honra, aquele que é importante”, sendo que sua utilização se limita

aos seres humanos. (MORAES, 2003, p. 76).

O ser humano é nato de direitos e deveres para conviver em sociedade, o

homem já nasce, permanece livre e com igualdade de direitos. Os direitos humanos

ou do homem como são chamados visam definir uma série de itens que garantem a

cada ser humano viver dignamente como pessoa e não como um simples animal.

(SANTOS, 1998, p. 14).

A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi criada devido às

atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial, aprovada pela

Assembléia Geral das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948, proclamando a

liberdade, a igualdade e a fraternidade, onde o princípio de liberdade se presume na

dimensão política e individual. (COMPARATO, 2003, p. 223).

O direito do homem, é entendido “como direito a um nível de vida adequada

com a condição humana, ou seja, direito à alimentação, vestuário, assistência

Page 12: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

11

médico-odontológica, educação, cultura, lazer e demais condições vitais”.

(MORAES, 2000, p. 87).

Neste contexto, explicita-se os direitos humanos como aqueles “que emergem

do próprio ser dos seus titulares, ou seja, que emergem dos seres humanos; direitos

que são inerentes ao homem. Portanto, tem-se uma concepção jusnaturalista:

direitos humanos corresponderiam ao Direito Natural”. (SANTOS, 1998, p. 12).

Entretanto, a declaração de direitos do homem, que tanto influência tem

exercido na cultura ocidental, onde grandes influências, que foram formulados pela

primeira vez no século XVIII, foram redigidos com base nos direitos do homem

individuais como absolutos e natus. (MORAES, 2000, p. 20). A preocupação com a integridade física do homem, com a dignidade da pessoa humana, se deve especialmente, ao cristianismo (dignidade do homem), ao jus naturalismo (direitos inatos) e ao iluminismo (valorização do indivíduo perante o Estado). A história constitucional demonstra que a preocupação com a integridade física do homem, com os direitos hoje denominados de direitos humanos, direitos fundamentais, vem de longe, assenta-se em antecedentes históricos e doutrinários. (VELOSO, 2007, p. 1)

A declaração dos direitos do homem é um importante documento que rege a

vida do cidadão, fazendo com que as pessoas sejam vistas na sociedade e possam

viver em harmonia em seu ambiente, tanto profissional como social. No Brasil a

Constituição da República Federativa de 1988 em seu artigo 5°, diz que “todos são

iguais, sem distinção de qualquer natureza. Homens e mulheres são iguais em

direitos e obrigações”. (SANTOS, 1998, p. 23).

A dignidade da pessoa deve ser respeitada em todas as áreas e segmentos

da sociedade, seja na família, na escola, no trabalho, na saúde ou no lazer. A

“dignidade humana é considerada pelas constituições modernas como núcleo

central dos direitos fundamentais. No Brasil, este super-princípio é inserido como um

dos fundamentos da República (art. 1º, III, CF)”. (SILVEIRA NETO; PAIVA, 2007, p.

1).

A dignidade do trabalho é discutida desde o período do cristianismo, “onde

apesar de Cristo impor a prioridade para os bens espirituais, deixava claro, a

necessidade do homem ganhar seu pão pelas próprias mãos”. (RUFINO, 2006, P.

28)

Page 13: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

12

O ser humano deve ser tratado com dignidade perante a sociedade pois “[...]

a dignidade é inerente ao homem enquanto indivíduo, portanto, passando assim a

residir na alma de cada ser humano [...]”. (MORAES, 2003, p. 132).

A dignidade da pessoa humana é um valor espiritual e moral inerente à

pessoa, que se manifesta singularmente na auto-determinação consciente e

responsável da própria vida e que traz consigo a prestação como respeito por partes

das demais pessoas, constituindo um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico,

que deve assegurar, de modo que, somente excepcionalmente as pessoas, onde

devem ser feitas limitações ao exercício de direitos fundamentais, mas sempre sem

menosprezar a necessário estima que merecem todas as pessoas enquanto seres

humanos. (MORAES, 2000, p. 20).

O fundamento jurídico da dignidade humana se manifesta no princípio da

igualdade, ou seja, no direito de não receber qualquer tratamento discriminatório no

direito de ter direitos iguais as de todos as outras pessoas. (MORAES, 2003, p. 60).

“O respeito à dignidade do trabalhador, cuja força é utilizada nos meios de

produção na busca do desenvolvimento econômico, é direito fundamental que deve

ser preservado”. Sendo que a dignidade do trabalhador deve ser respeitada no

ambiente de trabalho para que este possa desenvolver suas atividades com respeito

e valores definidos pela empresa. (PADILHA, 2002, p. 44).

A Constituição Federal define a dignidade como um direito individual protetivo,

seja em relação ao próprio Estado ou mesmo aos demais indivíduos, bem como

ainda o tratamento igualitário dos próprios semelhantes. (MORAES, 2000, p. 60).

Com o crescimento da utilização das tecnologias nos ambientes de trabalho,

a preocupação não se limita somente a direitos materiais trabalhistas, “mas sim pela

proteção dos direitos à personalidade do trabalhador, por uma maior liberdade de

trabalho, pela satisfação do empregado no ambiente de trabalho, direitos estes não

previstos expressamente na legislação especializada [...]”. (RUFINO, 2006, p. 28).

Ainda, dentro do contexto globalizado, além da ameaça do desemprego que

assusta o mundo todo, do subemprego, da demissão, da extinção dos postos de

trabalho, os trabalhadores precisam estar preparados para acompanhar o ritmo do

crescimento e da competição. Neste tipo de mercado não existe nenhuma garantia

de dignidade, sob o aspecto de ser respeitado como pessoa humana, será

observada e conservada nem por seus superiores, pois a dinâmica do mercado

exige uma total flexibilização dos direitos trabalhistas, que é muitas vezes resumida

Page 14: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

13

a verdadeira renúncia de direitos para se sujeitar às normas e leis do mercado.

(FERREIRA, 2004, p. 32).

Assim, pode-se dizer que o empregador, deve respeitar a dignidade e os

direitos de personalidade do empregado, sendo estes considerados os pontos

fundamentais para a relação do contrato de trabalho, bem como o pagamento de

seu salário, como também garantir e tutelar os direitos de personalidade do

empregado, que se constituem uma extensão dos direitos fundamentais do cidadão.

(ALKIMIN, 2007, p. 24).

1.3 DESIGUALDADE DAS PARTES NA RELAÇÃO DE EMPREGO

O atual modelo que permeia as relações de trabalho vem sofrendo mudanças

constantes para assegurar direitos aos trabalhadores. Na legislação brasileira o

contrato de trabalho com vigência na Consolidação das Leis de Trabalho – CLT é o

que rege as negociações com direitos e deveres estabelecidos para o trabalhador e

empregador. O contrato coletivo é utilizado pelas empresas para estabelecer

padrões que devem ser obedecidos em todos os níveis da empresa. (BELTRAN,

1996, p. 29).

A relação de trabalho engloba “a relação de emprego, a relação de trabalho

autônomo, a relação de trabalho individual, de trabalho avulso e outras modalidades

de pactuação de prestação de labor”. A expressão relação de trabalho é utilizada

para indicar as típicas relações ligados a institutos ou normas concernentes à

relação de emprego. (DELGADO, 2004, p. 286).

“A relação jurídica existente entre empregado e empregador versa sobre

interesses contrapostos, como a força do trabalho e o capital econômico” que são

pautadas no contrato de trabalho. (RUFINO, 2006, p. 29).

A relação de trabalho é utilizada com “o objetivo de se referir às figuras

técnico-jurídicas da relação empregatícia ou contrato empregatício”. (DELGADO,

2004, p. 286).

No entanto, o trabalho empregatício é a relação jurídica mais importante e

freqüente entre todas as relações de trabalho que se têm formado na sociedade

capitalista. No entanto, as desigualdades na relação de emprego são percebidas em

Page 15: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

14

grande parte das organizações. A relação-empregado de natureza contratual, tem

sempre em mente que no regime brasileiro, tanto no Estado, quanto às organizações

sindicais podem intervir no campo da vontade individual, limitando aquela liberdade

que caracteriza o contrato, a fim de garantir um mínimo tido como justo a ser

assegurado ao empregado pelos serviços prestados ao empregador. (MANUS,

2002, p. 63).

O empregador, no direito do trabalho é visto como parte auto-suficiente na

relação jurídica, quando é detentora do poder maior, ou seja entre o trabalhador e o

empregador, dessa forma, o trabalhador é caracterizado como hipossuficiente na

relação de trabalho, pois na sua forma é o reclamante. (NASCIMENTO, 2004, p.

121). Os princípios tutelares aplicados visam à proteção do hipossuficiente, que se encontra numa condição desfavorável, diante do alto índice de desemprego e da dependência do poder econômico do empregador, o que enseja, na submissão do trabalhador, as condições e normas impostas pelo proprietário da empresa, as quais se demonstram, freqüentemente, repugnantes, injustas, porém toleradas pelo trabalhador, pela busca da subsistência, mantendo-se passivo aos desaforos e desmandos de seus superiores, a fim de manter seu emprego. (RUFINO, 2006, p. 29).

A “relação de emprego tem uma disciplina jurídica para a troca trabalho X

remuneração, mas seus sujeitos não estão excluídos da órbita do Direito Civil

quando praticam atos ou fatos de natureza civil na especifica situação de

empregado e empregador”. (FLORINDO, 1999, p. 58).

Na relação de trabalho, tanto o trabalhador como o empregador, devem se

respeitar face a contratação, gerando direitos e obrigações para ambos, pois o

trabalho é o maior fator de produção da sociedade. (FLORINDO, 1999, p. 55).

Mesmo com os avanços do mercado de trabalho e a preocupação das

empresas com seus colaboradores, as relações de trabalho vão se modificando e

alterando o ambiente de trabalho. As relações trabalhistas ainda não são o retrato do total respeito a dignidade e liberdade do trabalhador, encontrando diversos desmandos de empregadores despreparados, que extrapolam o direito de disciplinar e dirigir a conduta do empregado no exercício da atividade laboral, chegando ao absurdo de quererem controlar a vida intima e externa do trabalhador, para mantê-la em seu comando sob quaisquer meios e condições. (RUFINO, 2006, p. 36).

A discriminação nas relações de trabalho na sua forma, pode ser direta, pela

adoção de disposições gerais que estabelecem distinções baseadas em critérios

Page 16: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

15

proibidos e indireta, quando esta é relacionada com situações, regulamentações ou

práticas neutralizadoras, que na realidade acabam criando desigualdade em relação

as pessoas que tem as mesmas características. (LEITE, 2007, p. 170).

O empregado no ambiente de trabalho sempre se encontra em desigualdade

de poder para com o empregador. “Na busca da diminuição desta desigualdade e

no alcance do equilíbrio, o Estado impôs regras basilares que norteiam as condições

mínimas de trabalho, salientando, contudo, a importância da prevalência da

dignidade moral da pessoa do empregado, apesar da consciência do poder

disciplinar em face da subordinação que podem levar ao detrimento daquela”.

(RUFINO, 2006, p. 29-30).

As relações de trabalho envolvem elementos que são gerados pelo contrato

de trabalho, como: a pessoalidade, onde o empregado tem o dever jurídico de

prestar serviços em favor de outrem pessoalmente; a natureza não-eventual do

serviço, que deverá ser necessário à atividade normal do empregado, a

remuneração do trabalho a ser executado pelo empregador e ainda a subordinação

jurídica da prestação de serviços ao empregador. (BARROS, 2007, p. 217).

Portanto, observa-se que nas relações de trabalho ainda ocorre uma grande

desigualdade, entre o empregador e o empregado. Esta relação é sempre menos

favorecida para o empregado que muitas vezes não tem como se defender devido

se encontrar na relação de subordinado.

1.3.1 Princípio do Protecionismo

Para garantir os direitos e deveres do empregado e do empregador foi criado

o direito do trabalho que é apresentado pela Consolidação das Leis do Trabalho

(CLT). A separação do trabalho e do trabalhador cresceu de forma lenta, pois

inicialmente, era o empregador que determinava as normas para o trabalho. Após a

criação do direito do trabalho, as leis davam mais ênfase ao trabalhador,

considerado a parte mais fraca envolvida no processo. (FREITAS, 2006, p. 88).

O protecionismo surgiu devido os serviçais desenvolverem seu trabalho em

condições desumanas e sem nenhum tipo de segurança e proteção, bem como a

Page 17: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

16

falta de interesse por parte do trabalhador em oferecer condições dignas, fez emergir

as leis protecionistas. (RUFINO, 2006, p. 24).

A proteção da pessoa humana, em substituição à tutela da liberdade individual (rectius, autonomia privada), é o postulado a partir do qual se pode demonstrar toda a gama de transformações ocorridas no interior da ordem civil, na aplicação da lei pelos juízes e, principalmente, na consciência moral da sociedade. (MORAES, 2003, p. 73).

O princípio protetor é resultante da norma imperativa, de ordem pública, onde

prevalece à proteção do empregado até o ponto que este tenha igualdade com o

empregador, ou seja, ampara a parte considerada mais frágil na relação de trabalho

que é o empregado (BARROS, 2007, p. 177).

A idéia do protecionismo “consiste numa teia de proteção à parte considerada

menos favorecida o trabalhador”, mas que regem também outros princípios que se

relacionam às relações empregatícias. (RUFINO, 2006, p. 30).

Freitas (2006, p. 89) diz que o

Principio da proteção do trabalhador das normas imperativas e, portanto, de ordem econômica, caracterizando a instituição básica do Estado nas relações de trabalho, visando opor obstáculos a autonomia da vontade. Essas regras coegentes formam a base do contrato de trabalho, ou seja, traçam uma linha divisória entre a vontade do Estado, manifestada pelos poderes competentes e a dos contraentes. Estes podem complementar ou suplementar o mínimo de proteção legal.

Diante deste contexto, surgiu o protecionismo para proteger o trabalhador das

organizações que impõe um trabalho além das possibilidades físicas, mentais e

psicológicas do trabalhador. O protecionismo foi instituído no direito para assegurar

os direitos do trabalhador, para deixar os sujeitos das relações de trabalho num

patamar de igualdade ou para proteger a parte menos favorecida, que em sua

maioria é o trabalhador. (RUFINO, 2006, p. 31).

De acordo com Rufino (2006, p. 31) O princípio maior foi criado com o escopo de dar força à parte mais fraca do contrato de trabalho, mantendo-se, assim, a equivalência entre os sujeitos, pois é inegável que a atual dificuldade do trabalhador na obtenção de um emprego, ou na sua conservação, quando muitas vezes é obrigado a abrir mais de diversos direitos, sobretudo, aqueles ligados a personalidade, o que desvirtua o principal objeto do diploma celetista, que acaba perdendo sua natureza protecionista.

Page 18: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

17

O direito protetivo é ainda considerado uma das ferramentas que podem ser

utilizadas para amenizar a relação de trabalho entre trabalhador e empregador. “O

princípio é resultante da norma imperativa, de ordem pública, onde prevalece a

proteção do empregado até o ponto que este tenha igualdade com o empregador, ou

seja, ampara a parte considerada mais frágil na relação de trabalho: o empregado”.

No entanto, os direitos alcançados pelos trabalhadores, foram marcados com muita

luta por sindicalistas e operários que desenvolviam suas tarefas com muito esforço e

pouca remuneração. (FREITAS JUNIOR, 2007, p. 87).

O princípio da proteção do trabalhador das normas imperativas e, portanto, de

ordem econômica, caracterizam a instituição básica do estado nas relações de

trabalho, visando opor obstáculos à autonomia da vontade. Essas regras cogentes

formam a base do contrato do trabalho, ou seja, traçam uma linha divisória entre a

vontade do Estado, manifestada pelos poderes competentes, e a dos contraentes,

sendo que estes podem complementar ou suplementar o mínimo de proteção legal

ao trabalhador. (FREITAS JUNIOR, 2007, p. 88).

Entretanto, no contexto atual as empresas vêm buscando cada vez mais

profissionais qualificados que dispõem de conhecimentos multifuncionais para

ocupar cargos competitivos e que possam atender diversas tarefas conforme a

necessidade da empresa, onde muitas vezes impera o abuso de poder como será

apresentado na seqüência do trabalho.

1.3.2 Abuso de Poder

O poder é o ato de alguém fazer com que algo seja realizado sob pressão,

mesmo sem o consentimento ou vontade do subordinado. Muitos chefes e empresas

utilizam o poder como forma de coagir os empregados, para realizar determinada

tarefa ou mesmo se sujeitar ao trabalho. O “termo poder gira em torno da idéia de

posse, de força, de vontade, de obediência e de influência [...]”. (BARROS, 2007, p.

568).

O poder, “é a força no direcionamento dos sistemas e das situações sociais

através dos recursos organizacionais” que se manifestam no ambiente de trabalho,

Page 19: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

18

tanto de forma vertical como horizontal. (LIMONGI-FRANÇA; ARELLANO, 2002, p.

261).

O poder, em sua maioria das aplicações apresenta conotação negativa,

devido se uso indevido. Neste contexto, o poder é visto como a manutenção e

reprodução das relações econômicas que constituem relações desiguais de

exploração do trabalho pelo capital. Assim, o poder é concebido como coerção,

repressão, manipulação, dominação, muitas vezes ainda utilizado em discursos de

práticas sociais repletas de crueldade, disfarçadas por gestos sutis para enganar os

outros. (PAZ; MARTINS; NEIVA, 2004, p. 381).

O “exercício do poder, isto é, relação permeada pelo código, engendra

necessariamente práticas ideológicas que estão na base de todo principio de

autoridade e da distinção, mesma entre autoridade e poder, em termos de poder

legítimo e ilegítimo”. (RUFINO, 2006, p. 33).

“Na relação de emprego a subordinação é um lado, o poder diretivo é o outro

lado da moeda, de modo que sendo o empregado um trabalhador subordinado, o

empregador tem direitos não sobre a sua pessoa, mas sobre o modo como a sua

atividade é exercida”. Mas este problema se apresenta em muitas empresas sob os

dois aspectos, onde a falta de renuncia frente a esta situação faz com que o

empregado se submeta a esta situação devido à necessidade ou medo.

(NASCIMENTO, 1999, p. 450).

O abuso de poder deve ser avaliado com cuidado, pois este tipo de crime

merece punição somente quando se constata que se agiu com o propósito de

vingança, perseguição ou capricho para afetar o subordinado. (FREITAS; FREITAS,

2001, p. 89).

O poder se utilizado desvinculado da norma jurídica poderá proporcionar o abuso de direitos e prerrogativas do advogado, posto que é a própria norma que ao definir condutas, limitando-as, comina pelo respeito ao bem comum. Violada esta, surge a desarmonia social e suas conseqüências. (VIDONHO JUNIOR, 2007, p. 2).

O poder no ambiente de trabalho é exercido pelo empregador que é

estabelecido por meio de contrato de trabalho, que pode se apresentar como poder

diretivo, regulamentar, poder de fiscalização e disciplinar: Sendo que a “vítima do

crime de abuso de autoridade é qualquer cidadão, maior ou menor, capaz ou

incapaz, brasileiro ou estrangeiro, bem como pessoas jurídicas”. (FREITAS;

FREITAS, 2001, p. 22).

Page 20: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

19

- Poder diretivo: é conceituado como “a faculdade que assiste ao chefe de

ditar normas de caráter prevalentemente técnico”. (BARROS, 2007, p. 570);

- Poder regulamentar: é considerado “como manifestação da autoridade

empresarial, que se configura um poder legislar no âmbito da empresa”. (BARROS,

2007, p. 750).

- Poder fiscalização: este “nada mais é do que uma das faculdades

compreendidas no conteúdo do poder diretivo”. (BARROS, 2007, p. 517).

- Poder disciplinar: é o poder que se torna efetivo pela autoridade do

empregador.

O poder não pode ultrapassar os direitos do trabalhador, pois o “poder diretivo

e disciplinar do empregador é legítimo, autorizado pelo Estado, o qual norteia o

caminho deste exercício, através de formas descritas e imposições de sanções

socialmente aprovadas”. (RUFINO, 2006, p. 33).

Portanto, poder que o empregador possui devido ser o dono do negócio não

pode ser confundido com o poder sobre ações e atitudes perante o trabalhador. O

poder deve ser definido e aplicado dentro das organizações de acordo com a

legislação em vigor.

1.4 O LIMITE DO PODER DO EMPREGADOR E A HARMONIA DO AMBIENTE DE

TRABALHO

O ambiente de trabalho deve ser um local onde impera o trabalho, o respeito

e a valorização da dignidade humana. Dessa forma, pode-se considerar o “ambiente

de trabalho qualquer local, onde se desenvolve o exercício da atividade laboral,

inserindo todas suas interações”. (RUFINO, 2006, p. 37).

As condições ambientais do trabalho devem ser favoráveis para o trabalhador

poder desenvolver suas atividades de forma eficiente e com qualidade. Sendo que

melhorando as condições de trabalho, as atitudes dos trabalhadores e outros

componentes psicossociais podem melhorar e conseqüentemente obter altos níveis

de produtividade e desempenho, bem como ainda obter baixos índices de

rotatividade, de faltas e de acidentes no trabalho. Dessa forma, a harmonia no

ambiente de trabalho é fundamental para que não sejam extrapolados os limites do

Page 21: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

20

trabalhador e com isso se fazer com que toda equipe esteja engajada dentro do

mesmo objetivo da organização. (GONDIN; SIQUEIRA, 2004, p. 227).

Nas relações de trabalho, o poder de direção do empregador deve ser

desempenhado com o respeito baseado nos direitos fundamentais do trabalhador.

Dessa forma, o empregador deve estar sempre atento ao senso de equilíbrio na

relação trabalhista, dando maior ênfase ao princípio da dignidade humana.

(BARROS, 2007, p. 518).

Diante deste contexto, “a função da empresa, se torna completa, quando

fornece condições econômicas para seus empregados se sustentarem, além de

proporcionar uma maior qualidade de vida, visando, inclusive, o lado mental e

psicológico do trabalhador, além de não descuidar de sua função social, que é a de

auxiliar na inserção de seus subordinados na sociedade em que vive”. (RUFINO,

2006, p. 35).

O empregador não pode desconhecer direitos básicos do empregado, que

estão previstos na legislação trabalhista e previdenciária, nas normas coletivas, nos

regulamentos internos das empresas, contrato individual de trabalho, bem como na

Constituição Federal, onde estão inseridos os direitos fundamentais que se

encontram fundamentadas na dignidade humana, que é um valor superior que

permeia as relações humanas. (BARROS, 2007, p. 605).

Quando o empregador cumpre sua função social e dirige apenas as

atividades ao empregado, a harmonia no ambiente se instala, porém quando ocorre

o abuso de poder e o controle da vida íntima do empregado, acaba de praticar um

ato ilícito, quando este é praticado repetitivamente configura assédio moral.

O “assédio moral é como o terror psicológico, que estabelece-se nas relações

de trabalho quando, numa hierarquia autoritária, o subordinado é exposto a

situações humilhantes, de forma constante, de modo a atingir sua imagem e auto-

estima”. (FLORÊNCIO, 2003, p. 233).

O assédio moral pode atingir qualquer relação jurídica, pois este provém das

relações desiguais nas relações de trabalho, onde o empregador determina as

ações e o empregado obedece e cumpre suas obrigações sem poder se defender.

(PIOVESAN et al, 2003, p. 23).

Dessa forma, a saúde do ambiente de trabalho depende exclusivamente da

forma de como o poder diretivo é exercido, pois o exercício de abuso de poder,

Page 22: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

21

poderá não apenas favorecer, mas também potencializar o desenvolvimento de

relações perversas no interior da empresa. (CALDAS, 2007, p. 257).

Assim, observa-se que o meio ambiente sadio e equilibrado é fundamental

para garantir a dignidade da pessoa e o desenvolvimento de seus atributos

pessoais, morais e intelectuais, com isso constituindo sua preservação e proteção

para atingir à proteção a vida e saúde do trabalhador, referentes à integridade física

e psíquica, bem como garantir a qualidade de vida do cidadão. (ALKIMIN, 2007, p.

25).

Sendo que a valorização do ambiente de trabalho implica em mudanças de

postura ética, baseadas na consideração de que o homem está na frente dos meios

de produção para desempenhar sua função como parte integrante do processo de

crescimento da empresa no mercado. (PADILHA, 2002, p. 44).

Portanto, os cuidados com a saúde e bem estar físico, mental e social do

trabalhador são essenciais à qualidade de vida, à valorização do trabalho, a

dignidade e cidadania. Sendo que estes fatores interferem na qualidade de vida do

trabalhador em todos os aspectos, inclusive gerando interferências na produtividade

da empresa e no relacionamento inter-pessoal do trabalhador. Se todos os

elementos estão adequados e dentro dos padrões, o ambiente de trabalho se torna

harmonioso e motivador para toda a equipe. (RUFINO, 2006, p. 40).

Page 23: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

22

2 ASSEDIO MORAL NO TRABALHO

Nesta etapa do trabalho será apresentado o assédio moral no ambiente de

trabalho que vem sendo cada vez mais discutido na legislação trabalhista.

2.1 CONCEITO

Assédio é um dos termos que vem sendo cada vez mais discutidos na área

trabalhista. Assim o “assédio é o termo utilizado para designar toda conduta que

cause constrangimento psicológico ou físico à pessoa”. (FRANZOI, 2007, p. 129).

Entre os tipos mais conhecidos, pode-se apontar o assédio sexual e o moral.

O termo assédio moral é conhecido como mobbing (Itália, Alemanha e países

escandinavos), bullyng (Inglaterra), harassment (Estados Unidos), harcèlement

moral (França), ijime (Japão), psicoterror laboral ou acoso moral (em países de

língua espanhola), terror psicológico, tortura psicológica ou humilhações no trabalho

(em países de língua portuguesa). (GUBERT, 2007, p. 269).

O assédio moral corresponde a um fenômeno típico da sociedade atual, não

se restringindo a um local especifico, mas constituindo um problema de amplitude

global, e afetando diretamente o ambiente de trabalho. (FERREIRA, 2004, p. 41).

O assédio moral em sua maioria provém do assédio sexual, que recebe as

mais diversas denominações como segue, onde a mulher se sente submissa, é

assediada e pressionada para tomar certas atitudes, acabando se sentindo

constrangida perante a situação. (FLORINDO, 1999, p. 85).

Todavia, muitos doutrinadores definiam o assedio moral como A situação em que uma pessoa ou um grupo de pessoas exercem uma violência psicológica extrema, de forma sistemática e freqüente (em média uma vez por semana) e durante um tempo prolongado (em torno de uns 6 meses) sobre outra pessoa, com quem mantêm uma relação assimétrica de poder local de trabalho, com o objetivo de destruir as redes de comunicação da vítima, destruir sua reputação, perturbar o exercício de seus trabalhos e conseguir, finalmente, que essa pessoa acabe deixando o emprego. (BARROS, 2007, p. 902).

Page 24: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

23

Entretanto, pode-se acrescentar que o “assédio moral é um fato social que

ocorre em diversas áreas, expressando-se na maneira de importunar ou efetuar

propostas, geralmente de forma indireta, cercando a vítima, a ponto de deixá-la

seduzida e conduzi-la a agir de forma diversa daquela que teria feito

espontaneamente”. (RUFINO, 2006, p. 42).

Margarida Barretto, uma das primeiras pesquisadoras sobre o assunto no

Brasil define o assédio como:

A exposição dos trabalhadores e trabalhadoras a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções, sendo mais comuns em relações hierárquicas autoritárias e assimétricas, em que predominam condutas negativas, relações desumanas e aéticas de longa duração, de um ou mais chefes dirigida a um ou mais subordinado(s), desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho e a organização, forçando-o a desistir do emprego. (MENDESA, 2007, p.1).

O assédio moral pode ser definido como “o comportamento consistente na

explicitação de intenção sexual que não encontra receptividade concreta da outra

parte, comportamento esse reiterado após a negativa”. Ou mesmo ainda como

acrescenta o autor pode “ser definido como o ato de constranger ou tentar

constranger algum mediante a prática de ação capaz de ofender-lhe a honra

subjetiva, sempre com o objetivo de obter alguma vantagem”. (FLORINDO, 1999, p.

86).

A atitude proveniente de assédio pode ser denominado como “qualquer

conduta abusiva (gesto, palavra, comportamento, atitude...) que atente, por sua

repetição ou sistematização, contra a dignidade ou integridade psíquica ou física de

uma pessoa, ameaçando seu emprego ou degradando o clima de trabalho”.

(HIRIGOYEN, 2005, p. 171).

Ainda pode-se apresentar que o assédio moral, também pode ser

denominado como “terror psicológico, que estabelece-se nas relações de trabalho

quando, numa hierarquia autoritária, o subordinado é exposto a situações

humilhantes”. (FLORÊNCIO, 2003, p. 233).

Page 25: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

24

2.2 NATUREZA

O assédio moral na sociedade não é um fato recente, já vem sendo

vivenciada desde antigamente pela sociedade. No entanto, nos últimos anos que

vem sendo mais discutido, principalmente no ambiente empresarial onde é

presenciado em sua maioria. Sendo que a novidade reside na intensificação,

gravidade, amplitude e banalização de como ocorre o fenômeno e na abordagem,

que tenta estabelecer o fato com a organização do trabalho e tratá-lo como não

inerente ao trabalho. (HIRIGOYEN, 2005, p.18). O assédio é um desrespeito à dignidade e aos direitos individuais e sociais do empregado, o qual fica acuado diante da idéia da perda do emprego, tolerando a violação desses direitos. Com isso, dificilmente o trabalhador assume e divulga o fato de ser vítima dessa violência e, sobretudo, fica prejudicada a prova do fenômeno, em razão da subordinação a que a vítima se submete no contrato de trabalho. (RUFINO, 2006, p. 57).

Todavia, o assédio moral tem natureza psicológica, dessa forma se configura

no ambiente de trabalho, onde se restringe quanto ao local dos fatos, bem como a

sua subjetividade. (FRANZOI, 2007, p. 129).

Nas relações de trabalho, o assédio moral é um dos problemas mais sérios

que as empresas tem enfrentando, pois ele é fruto de um conjunto de fatores, como

a globalização econômica predatória, que se baseia na produção e no lucro, e a

atual organização do trabalho, marcada pela competição, pelo medo e ameaça ao

trabalhador. E esse constante clima de terror psicológico gera na vítima um

sofrimento capaz de atingir sua saúde física e psicológica, criando predisposição ao

desenvolvimento de doenças que afetam diretamente o rendimento e, o trabalho do

trabalhador. (FERREIRA, 2004, p. 37).

O assédio moral é configurado a humilhação, que causa dor, tristeza e

sofrimento para a pessoa que foi exposta a ação. No ambiente de trabalho a

humilhação repetitiva, passa a interferir na vida do assediado de forma direta, e em

decorrência disso, comprometendo sua identidade, dignidade e relações afetivas e

sociais, ocasionando graves danos à saúde física e mental, que ainda com o

decorrer do tempo poderá evoluir para a incapacidade laborativa, ao desemprego

constituindo um risco para o trabalhador e para as empresas, afetando diretamente

as condições de trabalho. (FLORÊNCIO, 2003, p. 235).

Page 26: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

25

O assédio moral no ambiente de trabalho muitas vezes se configura de forma

tão intensa, que acaba de se concretizar como uma violência, por intimidações,

difamações, ironias e constrangimento à pessoa que está em público, perante isso

se sente constrangida e sem reação. Outro aspecto que se apresenta no ambiente

de trabalho, é quando o assediador procura atingir sua vítima por meio de outra

pessoa, não se dirigindo a ela pessoalmente, mas fazendo com que a informação

chegue a ela para perturbar a vida de outra pessoa. (FLORÊNCIO, 2003, p. 236).

Juridicamente, o assédio moral viola a dignidade da pessoa humana do

trabalhador, pois é um processo composto por ataques repetitivos que se prolongam

no tempo, permeado por artifícios psicológicos que atingem a dignidade do

trabalhador, consistindo em humilhações verbais, psicológicas, públicas, acarretando

em sofrimento a vítima, refletindo na saúde do trabalhador. (FERREIRA, 2004, p.

49).

O assédio moral no ambiente de trabalho “é caracterizado por uma conduta

abusiva, seja do empregador que se utiliza de sua superioridade hierárquica para

constranger seus subalternos, ou seja, dos empregados entre si com a finalidade de

excluir alguém indesejado do grupo, o que pode se dar, aliás muito comumente, por

motivos de competição ou de discriminação pura e simples”. (NASCIMENTO, 2007,

p.2).

O assédio moral não deve ser confundido com outros conflitos existentes no

ambiente de trabalho, pois este pressupõe o comportamento por um período

prolongado, premeditado, que passa a desestabilizar psicologicamente e

emocionalmente a vítima. (BARROS, 2007, p. 903).

Diante de sua caracterização, observa-se que o assédio moral degrada o

trabalhador, afetando sua auto-estima, condições físicas e psicológicas no ambiente

de trabalho. Sendo que a vítima escolhida é estigmatizada pelo seu agressor que

passa a agir para que ela se sinta culpada pelos erros cometidos e com isso passa a

alterar o ânimo e outros comportamentos, até que fique isolada dos demais do

grupo. (DARCANCHY, 2007, p. 1).

Os sintomas do assédio moral, repercutem diretamente na saúde do

trabalhador que podem ser, na visão de Florêncio (2003, p. 238):

- Crises de choro, dores generalizadas, palpitações e tremores, sentimento de

inutilidade, insônia ou sonolência excessiva, depressão, diminuição da libido, sede

Page 27: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

26

de vingança, aumento da pressão arterial, dor de cabeça intensa, tonturas, idéias de

suicídio, falta de ar, apetite e alcoolismo.

O assédio moral pode se apresentar sob os mais diversos prismas nas

organizações ou mesmo no ambiente social, como destaca Oliveira (2007, p. 40):

- Perseguição: consiste num conjunto de ações que são feitas por um

determinado grupo específico sobre o outro, demarcada por características e

interesses próprios;

- Minissaia e decotes: muitas empresas sugerem ou mesmo impõe que suas

funcionárias do sexo feminino se vestem com roupas curtas e decotadas para atrair

clientes e aumentar as vendas.

Diante de um mercado cada vez mais competitivo, o estímulo à produção e o

alcance de metas gera um contexto profissional perfeito para o surgimento do

assédio moral, pois o ambiente de trabalho se torna cada vez mais ameaçador.

(FERREIRA, 2004, p. 34).

Dessa forma, a natureza do assédio se configura de forma crescente, pois

com a falta de atitude da vítima, o agressor vem aumentando seu terror até atingir a

vítima por inteiro.

2.3 CARACTERIZAÇÃO

O assédio moral em sua maioria se caracteriza como um terror psicológico

que se torna repetitivo por um período determinado submetido à vítima.

O assédio moral se caracteriza por ser uma conduta abusiva, de natureza psicológica, que atenta contra a dignidade psíquica, de forma repetitiva e prolongada, e que expõe o trabalhador a situações humilhantes e constrangedoras, capazes de causar ofensa à personalidade, à dignidade ou a integridade psíquica, e que tenha por efeito excluir a posição do empregado no emprego ou deteriorar o ambiente de trabalho, durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções. (FRANZOI, 2007, p. 129).

O ato do assédio moral se “caracteriza pela degradação deliberada das

condições de trabalho em que prevalecem atitudes e condutas negativas dos chefes

em relação a seus subordinados, constituindo uma experiência subjetiva que

Page 28: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

27

acarreta prejuízos práticos e emocionais para o trabalhador e a organização”.

(BARRETTO, 2007, p. 1).

A identificação da caracterização do assédio moral nas relações de trabalho é

necessário à provação da violação da dignidade do trabalhador por condutas

abusivas desenvolvidas dentro do contexto profissional, que não envolve apenas o

espaço físico no qual a atividade é desenvolvida, mas todo o clima psicológico que

possa surgir em razão dessa atividade do empregado assediado. (FERREIRA, 2004,

p. 43).

A prática do assédio moral agrega dois elementos, que são o abuso de poder

e a manipulação perversa que se instala no ambiente de trabalho de forma gradativa

por um período de tempo. Sendo que o mesmo pode ser percebido por meio de

comportamentos, palavras, atos, gestos e escritos, degrada o ambiente de trabalho

e desestabiliza a vítima, gerando desgaste emocional que evolui de tal forma que

afeta a saúde mental e física do trabalhador. (ALKIMIN, 2007, p. 238).

No ambiente de trabalho, o assédio é praticado para desestabilizar a vítima

de forma sutil, com o propósito de expor a mesma a situações humilhantes,

constrangedoras e situações incômodas para fazer com que a pessoa se sinta sem

forças de reação. Sendo que as ações que são praticadas por patrões e chefias no

ambiente de trabalho ferem psicologicamente a vítima que a deixa sem reação.

(FRANZOI, 2007, p. 131).

A configuração do assédio se revela por meio da atitude do agressor em

minar as qualidades da vítima de forma camuflada, com gestos e palavras

depreciativas que giram em torno do seu comportamento, capacidade, competência

e inteligência, ou ainda fazer com que a própria vítima se convença disso por meio

de palavras que realmente afetam a pessoa. (CALDAS, 2007, p. 245).

Os atos de assédio moral “pressupõe agressões reiteradas à dignidade e ao

equilíbrio psíquico do trabalhador, por intermédio de atos e procedimentos que

configurem situações de humilhação que atinjam a auto-estima do trabalhador”.

(GUBERT, 2007, p. 271).

No entanto, as condutas que caracterizam o assédio moral no ambiente de

trabalho são segundo o Nucodis (2007):

- Prestar instruções confusas e imprecisas ao trabalhador;

- Bloquear o andamento da rotina de trabalho;

- Atribuir erros imaginários ao trabalhador;

Page 29: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

28

- Solicitar trabalhos urgentes ou sobrecarregá-los sem necessidade;

- Ignorar a presença do trabalhador frente aos demais colegas;

- Fazer criticas ou brincadeiras sem fundamento em público;

- Impor horários e mudanças sem justificativa;

- Forçar a demissão ou transferência para outros setores sem motivos;

- Solicitar a execução de tarefas que não lhe são devidas ou mesmo deixá-lo

sem atividades;

- Retirar seus instrumentos para fazer seus trabalhos;

- Agredir o assediado sempre que estiver sozinho;

- Proibir colegas de falar e ficar em companhia do trabalhador.

Sendo que muitas destas condutas podem ser caracterizadas como assédio

no ambiente de trabalho, pois transgridem a moral do trabalhador. Todavia, o

assédio se expressa de forma direta, normalmente por “reiteradas agressões verbais

e diretas do empregador ou seus prepostos, com o nítido propósito de humilhar,

ofender ou diminuir a vítima”. (GUBERT, 2007, p. 272).

Devido sua representação, a gravidade do assédio no ambiente de trabalho

reside na sua permanência diária, onde na maioria das vezes o local de trabalho, o

ritmo das tarefas e o relacionamento tornam-se fatores que promovem o stress e a

fadiga, que conseqüentemente mantêm o assédio. (FLORÊNCIO, 2003, p. 237).

2.4 CLASSIFICAÇÃO

O assédio moral é observado em todos os ambientes. No ambiente de

trabalho este ainda se manifesta com mais intensidade por envolver poder,

hierarquia e condição social.

No ambiente de trabalho, o assédio se manifesta sob os diversos ângulos e

perspectivas, mas todos afetam e tem o propósito de agredir a vítima

psicologicamente para que a mesma não consiga mais desenvolver suas atividades

ou mesmo se afastar do ambiente de trabalho.

O assédio moral no ambiente de trabalho pode ser classificado sob as

seguintes tipologias como será apresentado na seqüência do trabalho.

Page 30: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

29

2.4.1 Assédio moral vertical

O assédio vertical é praticado entre sujeitos de diferentes níveis hierárquicos,

envolvidos em uma relação jurídica de subordinação. (PAMPLONA FILHO, 2007, p.

2).

Este tipo de assédio “pressupõe uma relação de autoridade, com o

predomínio do desmando, da competitividade e da instauração do medo pelo

superior em relação ao subordinado”. (FRANZOI, 2007, p. 130).

No plano vertical, “é o superior hierárquico da vítima que se põe na qualidade

de assediador, utilizando seu poder e suas atribuições para alcançar seus objetivos

e, o que é ainda pior, podendo jogar a vítima contra seus próprios colegas”.

(CALDAS, 2007, p. 254).

Independente de sua ocorrência, o assédio vertical se divide em dois tipos,

descendente e ascendente. O ascendente é aquele que se caracteriza dos

funcionários para com os superiores hierárquicos. O assédio vertical ascendente é

quando o hierarquicamente inferior age com intuito de assediar o seu superior,

sendo que este tipo não é considerado tão raro como se possa imaginar, a primeira

vista, pois muitos utilizam esta forma de poder para se manter no emprego ou ser

promovido. (PAMPLONA FILHO, 2007, p . 2).

Este tipo de assédio não é muito presenciado, pois ocorre de baixo para cima,

onde um descendente pratica atos vexatórios contra o seu superior hierárquico.

Neste tipo de situação a determinação e segurança do chefe em relação ao

assediador deve ser firme frente seus subordinados. O assédio vertical ascendente

quando se manifesta demonstra um chefe incapaz e incompetente. (RUFINO, 2006,

p. 79). O assédio vertical ascendente pode ser praticado contra o superior que excede nos poderes de mando e que adota posturas autoritárias e arrogantes, no intuito de estimular a competitividade e rivalidade, ou até mesmo cometer atos de ingerência pelo uso abusivo do poder de mando. (ALKIMIN, 2007, p. 65).

O assédio moral descendente é quando o superior hierárquico comete o

assédio contra seus subordinados. Neste tipo de assédio o “terror psicológico é

perpetrado por um superior hierárquico, ou na grande maioria dos casos, pelo

Page 31: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

30

próprio empregador”. Sendo que a humilhação vertical se manifesta por relações

autoritárias, desumanas, onde predomina os desmandos, a manipulação e a

competitividade. Neste tipo de assédio se verifica a utilização do poder de chefias

com a finalidade de abuso de poder diretivo e disciplinar, bem como para não sofrer

conseqüências trabalhistas. (RUFINO, 2006, p. 77-78).

O assédio moral vindo de um superior hierárquico tem conseqüências muito

mais graves sobre a saúde do que o horizontal, pois a vítima se sente mais isolada e

tem mais dificuldades de achar a solução para o seu problema. (HIRIGOYEN, 2005,

p. 112).

Sendo que neste tipo de assédio, a própria subordinação remete a uma

relação de desigualdade, que alguns chefes fazem uso do poder para se aproveitar

deste tipo de situação frente a seus subordinados.

2.4.2 Assédio moral horizontal

É aquele que surge entre os colegas de trabalho que se encontram na mesma

hierarquia funcional. (PAMPLONA FILHO, 2007, p. 2).

O horizontal “é o que instaura em pessoas de mesma hierarquia, tendo como

característica básica à pressão para produzir com qualidade e baixo custo. É a

humilhação presente nas relações cotidianas entre os mais produtivos e os menos

produtivos”. (FRANZOI, 2007, p. 130).

No plano horizontal “a violência é desencadeada pelos colegas de idêntico

grau na escola hierárquica, sem a interferência de um superior. Os fatores

responsáveis por esse tipo de perversão moral são a competição, a inveja, o

racismo, a xenofobia e motivos políticos”. (CALDAS, 2007, p. 254).

O assédio horizontal é em sua maioria praticado pelos próprios colegas de

trabalho que estão no mesmo patamar hierárquico. Com o mercado de trabalho cada

vez mais competitivo, o assédio entre colegas de trabalho vem crescendo para

alcançar metas e objetivos individuais dentro das organizações. A competição entre

os trabalhadores é muitas vezes incentivada pela empresa, devido o salário estar

relacionado com produtividade e desempenho. Com isso a empresa acaba

provocando comportamentos agressivos e de diferença entre os trabalhadores, onde

Page 32: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

31

cada um busca seu espaço, sem se preocupar com seu colega. (RUFINO, 2006, p.

79).

Neste tipo de assédio, o colega de serviço assediante, como autor material do

assédio moral, afeta a dignidade e a honra do assediado, que deverá responder por

perdas, danos por sua conduta anti-social e ilícita, além de se sujeitar ao poder de

disciplina do empregador que poderá demiti-lo por justa causa. (ALKIMIN, 2007, p.

65).

Portanto, no assédio horizontal como no vertical, a conduta assediadora pode

ser exercida por uma ou mais pessoas contra um trabalhador ou ainda por meio de

grupo, mas desde que, seja este grupo determinado ou determinável, não se

admitindo a indeterminabilidade subjetiva. (PAMPLONA FILHO, 2007, p.2).

2.5 CONDUTAS

A conduta que causa o assédio moral não precisa ser explícita, em expressivo

número de casos não é, manifestando-se de forma tácita, através de gestos sutis e

palavras equivocadas, justamente para dificultar sua identificação. (PAROSKI, 2007,

p.1).

O assédio moral se caracteriza, por meio da prática de condutas repetitivas e

prolongadas, de conteúdo ofensivo e ou humilhante. Sendo que a concepção de

conduta se refere ao abuso de direito como ato ilícito. (PINTO, 2006, p. 1081).

As condutas que o assediador possui em relação ao assediado podem ser as

seguintes, como segue no próximo item.

2.5.1 Assediador

O perfil do assediador é em princípio o de uma pessoa “perversa”, pois suas

atitudes ultrapassam seus limites, sua auto-estima só existe se humilhar os outros,

sempre dá impressão que sabe tudo, faz uso de técnicas sem se preocupar com o

Page 33: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

32

seu sentido, demonstra uma erudição superficial e argumentos incoerentes.

(BARROS, 2007, p. 909).

Na situação que ocorre o assédio, o objetivo do “assediador nada mais é que

fazer o trabalhador se sentir uma pessoa sem valor, aplacando sua auto-estima e

impedindo-lhe de organizar-se, reivindicar seus direitos, galgar melhores postos e

condições e trabalho”. (FRANZOI, 2007, p. 132).

Muitos agressores possuem “personalidade perversa, com traços narcísicos

muito comumente encontráveis – como egocentrismo, necessidade de ser admirado

e intolerância às críticas. Sabem manipular com naturalidade e facilidade,

estabelecendo com a vítima uma relação de desestabilização, condicionando sua

existência a diminuição do outro”. (CALDAS, 2007, p. 244).

O comportamento que configura o assédio moral desempenhado pelo

assediador é feito por técnicas para desestabilizar a vítima, são feitas por meio de

Técnicas de relacionamento, onde o assediador não dirige o olhar para a vítima, se

comunica por meio de bilhetes, e com isso impedindo-a de se expressar, ou ainda

quando está se comunicando com alguém é interrompida pelo superior hierárquico

ou por colegas para intimidá-la; Técnicas de isolamento, são atribuídas funções para

a vítima para isolar a mesma e deixá-la sem atividade, e com isso não mantém

contato com colegas de trabalho, deixando-o sem apoio para participar do trabalho

em equipe; Técnicas de ataque, se traduzem por atos que visam a desacreditar e/ou

desqualificar a vítima diante de colegas ou clientes da empresa; Técnicas de

desqualificar e desacreditar a vitima, é a forma de desqualificar a vítima indireto,

não-verbal, enquanto para desacreditar, o agente assediador utiliza-se de

humilhações e ridicularizações, fazendo insinuações quanto à etnia, gênero sexual,

religião ou traços físicos; Técnicas punitivas, que colocam a vítima sob pressão,

devido a erros ou falhas cometidas em seu trabalho. (BARROS, 2007, p. 903).

No entanto, o assediador faz de tudo para convencer os outros, para que a

vítima se sinta constrangida e em atitude de defesa. Sendo que a “hostilidade do

assediador é percebida, mas alguns mais distraídos, confundem-se com

brincadeiras. Não raro o assediador tenta reverter à situação e apresenta a vítima

como se fosse o próprio assediador”. (BARROS, 2007, p. 904).

Existem inúmeras situações em que pode haver assédio, devido a sua

repetição ou sistematização, que podem ser o rigor excessivo; confiar tarefas inúteis

ou degradantes; desqualificação ou críticas em público; isolamento ou inatividade

Page 34: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

33

forçada; ameaças explícitas ou veladas; exploração de fragilidades psíquicas e

físicas; limitação ou proibição de qualquer inovação ou iniciativa do trabalhador;

impor obrigação de realizar autocríticas em reuniões públicas; exposição ao ridículo;

divulgação de doenças e problemas pessoais de forma direta ou pública e

agressões verbais ou através de gestos. (PAROSKI, 2007, p. 1).

2.5.2 Do Assediado

O assediado por via de regra é geralmente uma pessoa escolhida por ter algo

que deixa transparecer nas suas qualidades ou fraquezas, onde acaba se tornando

um bode expiatório, ou mesmo um alvo fácil para o agressor poder fazer seu terror

psicológico. (CALDAS, 2007, p. 244).

O perfil do assediado, geralmente é o trabalhador que se diferencia dos

demais, que possui as características de distraído; paranóico; severo; presunçoso;

passivo dependente; brincalhão; hipocondríaco; ambicioso; seguro de si; servil;

camarada; sofredor; bode expiatório; medroso; sensível; introvertido; verdadeiro

colega. (OLIVEIRA, 2007, p. 46).

A vítima do assédio moral deve se posicionar diante de uma situação da

seguinte forma, como apresenta Nucodis (2007, p. 16), que deve conhecer o que é o

assédio moral e saber suas características; distinguir do assédio moral de outras

tensões no trabalho, como desavenças eventuais, stress e contrariedades e se

constatado o assédio, deve reunir provas para sua comprovação; denunciar o

assédio moral aos recursos humanos da empresa, a Cipa e a SESMT (Serviço

Especializado de Segurança e Medicina do Trabalho) da empresa, ao Sindicato

profissional e a comissão de conciliação prévia; se não obtiver êxito nessa ultimas

providências, denunciar o assédio ao Ministério do Trabalho.

Portanto, o assediado, é sempre a parte mais fraca na relação, pois é visto

como uma pessoa que não apresenta um comportamento normal, onde justamente

neste aspecto que o agressor se aproveita da situação de controle sobre o outro.

Page 35: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

34

2.6 DISTINÇÃO ENTRE ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL

A distinção entre assédio sexual e moral nem sempre é fácil, pois estas duas

práticas muitas vezes apresentam-se imbricadas. Sendo que a diferença, é que o

assédio moral “objetiva manter a vítima sob seu domínio anulando toda sua

capacidade de resistência ou oposição, fazendo e cumprindo exatamente o que

determina o opressor, por um determinado lapso de tempo, já o segundo procura

apenas dominar e persuadir a vítima sexualmente e pode se caracterizar pela prática

de condutas em um único momento”. (RUFINO, 2006, p. 65).

Ainda pode-se definir “o assédio sexual como toda conduta de natureza

sexual não desejada que, embora repelida pelo destinatário, é continuadamente

reiterada, cerceando-lhe a liberdade sexual”. (PAMPLONA FILHO, 2007, p. 1). Já o

assédio moral é visto como “qualquer conduta abusiva que atente, por sua repetição

ou sistematização, contra a dignidade ou integridade psíquica ou física de uma

pessoa, ameaçando seu emprego ou degradando o clima de trabalho". (FONSECA,

2007, p. 1).

O assédio sexual é caracterizado crime de acordo com o Art. 216-A do

Código Penal Brasileiro, Constranger alguém com intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente de sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício do emprego, cargo ou função. Pena – detenção de 1 (um) a 2 (dois) anos. (BRASIL, 2005, p. 98).

A prática do assédio sexual em sua maioria se configura em assédio moral.

Sendo que no assédio sexual, não há prioridade pelo sexo da vítima, pois as

condutas deste tipo de ato vão desde indiretas, palavras picantes, intimidação,

ameaças, represálias, ou mesmo favores em troca de sexo. Já no assédio moral, os

fatores envolvidos podem ser a inveja, complexo de inferioridade, insegurança,

condição inferior ocupada no local de trabalho que levam a pessoa a cometer atos

para que a vitima deixe de ocupar o espaço ou mesmo mudar de atitude. (RUFINO,

2006, p. 65).

As duas formas de assédio se manifestam na sociedade e no ambiente de

trabalho. Sendo que “a diferença essencial entre as duas modalidades reside na

esfera de interesses tutelados, uma vez que o assédio sexual atenta contra a

Page 36: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

35

liberdade sexual do indivíduo, enquanto o assédio moral fere a dignidade psíquica

do ser humano”. (PAMPLONA FILHO, 2007, p. 2).

O assédio sexual é caracterizado por uma conduta de natureza sexual, a qual

deve ser repetitiva, sempre repelida pela vítima, com o objetivo de constranger a

pessoa em sua intimidade e privacidade. Por outro lado, o assédio moral tem como

característica a conduta abusiva de natureza psicológica para afetar a vítima.

(FRANZOI, 2007, p. 129).

Portanto, o assédio moral pode ter origem sexual, já que muitas vezes o

assediador não tem coragem de manifestar o assédio sexual, assim sendo, cerca a

vítima com condutas moralmente perversas para humilhar e constranger, pelo fato

de ter vergonha de sua opção sexual. (RUFINO, 2006, p. 67).

Embora que o assédio moral apresenta conseqüências mais amplas que o

assédio sexual, estas serão apresentadas com mais ênfase no próximo capítulo.

Page 37: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

36

3 CONSEQÜÊNCIAS DO ASSÉDIO MORAL

Ao longo da história o assédio moral vem trazendo prejuízos significativos ao

trabalhador, afetando a saúde física e mental, podendo até em casos extremos levar

ao suicídio, ou mesmo deixar seqüelas irreparáveis. No contexto atual, as novas

formas de gestão e organização do trabalho, bem como a competitividade buscada

pelas empresas favorece a prática da violência moral em todos os níveis

hierárquicos, onde se destacam as pessoas com personalidade. (OLIVEIRA, 2007,

p. 46).

O estudo das conseqüências do assédio moral são de fundamental

importância para se poder identificar à lesão causada, a fim de que numa eventual

reclamação trabalhista, a vítima possa ser ressarcida pelos danos sofridos,

respeitando-se os limites dos prejuízos que lhe foram causados, independentes de

qualquer natureza. (FERREIRA, 2004, p. 69).

O assédio não somente viola o direito dos trabalhadores, mas também a

segurança no local de trabalho, a igualdade nas oportunidades, gera situações de

trabalho prejudicial ao bem-estar físico e psicológico, interfere no ambiente de

trabalho, oferecendo um ambiente que atinge e abala o psicológico do trabalhador.

(PIOVESAN et al, 2003, p. 28).

A violência no trabalho é estigmatizante, uma vez que os indivíduos esperam muito de suas atividades profissionais em termos de realização pessoal. Assemelha-se a um trauma no seio da família, porquanto as expectativas que temos ao entrar em uma organização passam pelo reconhecimento, admiração e amizade dos colegas, já que juntos poderíamos, em tese desenvolver nossas opiniões e obter razoável nível de felicidade com isso. (CALDAS, 2007, p. 258).

Os efeitos que o assédio moral gera sobre as organizações do trabalho,

afetam diretamente a pessoa do empregado, seja no aspecto pessoal, profissional,

bem como ainda prejudica economicamente o próprio empregador, devido à queda

da produtividade, do alto índice de absenteísmo e pagamento de indenizações, além

de prejuízos para a coletividade, devido os afastamentos gerados pelos danos

ocorridos. (ALKIMIN, 2007, p. 83).

Se o assédio é praticado pelo empregado em relação a outro colega de

trabalho, poderá o assediador ser dispensado por justa causa, se for o empregador

Page 38: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

37

ou outro superior hierárquico, o empregado poderá postular a rescisão indireta do

contrato de trabalho. Sendo que, nas duas situações, o pleito versará também sobre

indenização por danos morais, dada a violação do direito à intimidade assegurado

no art. 5º, da Constituição Federal. (ALVES, 2007, p. 1).

A humilhação constitui um risco invisível, porém concreto nas relações de trabalho e a saúde dos trabalhadores e trabalhadoras, revelando uma das formas mais poderosa de violência sutil nas relações organizacionais, sendo mais freqüente com as mulheres e adoecidos. Sua reposição se realiza 'invisivelmente' nas práticas perversas e arrogantes das relações autoritárias na empresa e sociedade. A humilhação repetitiva e prolongada tornou-se prática costumeira no interior das empresas, onde predomina o menosprezo e indiferença pelo sofrimento dos trabalhadores/as, que mesmo adoecidos/as, continuam trabalhando. (ASSÉDIO MORAL, 2007, p. 1).

Dessa forma, o empregado que for assediado terá sempre o direito de

postular junto aos tribunais trabalhistas uma indenização decorrente dos danos

morais sofridos com o assédio, onde o caso for relacionado ao empregador este

poderá ser condenado a indenizar os danos morais sofridos pelo empregado por

infringir um dever contratual, o respeito à dignidade do empregado. (ALVES, 2007,

p. 2).

Os prejuízos que advém do assédio não somente afetam as empresas e os

trabalhadores, mas também o Estado, que acaba pagando altos custos, devido à

utilização da saúde pública pelo trabalhador, bem como o aumento da concessão de

aposentadorias precoces. (CALDAS, 2007, p. 261).

As conseqüências especificas do assédio moral apresentado por Hirigoyen

(2005, p. 172), podem se manifestar como:

- Vergonha e a humilhação: as vítimas procuram somente ser reabilitadas e

querem recuperar a honra ultrajada. A vergonha explica a dificuldade que as vítimas

tem de se expressar, sobretudo quando o assédio é individual que se apresenta pelo

fato da vítima não ter tido atitude de se defender contra o agressor;

- A perda do sentido: o que faz a pessoa ficar doente são os discursos falsos

destinados em fazer com que a pessoa acredite;

- As modificações psíquicas: o assédio pode provocar uma destruição da

identidade por muito tempo no temperamento da pessoa. Pois se a pessoa viver por

muito tempo sob essa situação, não possui meios psíquicos para lutar, poderá

ocorrer uma acentuação de problemas e aumentar os problemas provindos do ato

de assédio.

Page 39: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

38

As conseqüências geradas pelo assédio moral não se limitam à saúde do

trabalhador que é vítima do processo destruidor. Os resultados ainda atingem a

esfera social da vida do empregado, além das conseqüências econômicas do

fenômeno sobre o empregado, a empresa e a sociedade. (FERREIRA, 2004, p. 69).

Entretanto, as conseqüências que são decorrentes do assédio moral se

manifestam sob diferentes prismas para a vítima (empregado), para o assediador

(empregador) e para a empresa envolvida com o assédio moral, como será

apresentado na seqüência.

3.1 CONSEQÜÊNCIAS PARA O EMPREGADO

As conseqüências mais dramáticas do assédio são na sua maioria reservadas

para a vítima da conduta abusiva reinterada de natureza psicológica. (PINTO, 2006,

p. 1082).

Dependendo do perfil da vítima, este poderá se tornar uma pessoa

absenteísta, improdutiva, doente, acomodado, pelo fato de passar por uma situação

constrangedora, que é muitas vezes suportada pela necessidade de se manter no

emprego e não conseguir se livrar desta situação de assédio, pois muitos

assediadores ainda fazem ameaças caso sejam denunciados. (OLIVEIRA, 2007, p.

56).

O assédio moral, como é ainda um problema recente pode apresentar os

seguintes sintomas: estresse, cansaço, nervosismo, distúrbios do sono, enxaquecas,

distúrbios digestivos, dores na coluna entre outros. Mas, se este processo se

prolonga por mais tempo ou recrudesce, pode gerar um estado depressivo,

causando apatia, tristeza, complexo de culpa, obsessão e até desinteresse por seus

próprios valores. (TARCITANO; GUIMARÃES, 2007, p. 30).

O assédio para muitas vítimas é encarado como um trauma, pois gera

seqüelas físicas e psicológicas que ficam marcadas para sempre na vida dos

assediados. No ambiente de trabalho muitos empregados se submetem a atos

autoritários, ironia e arrogância quando são designados a fazer um determinado

serviço. Este tipo de humilhação que a vítima sofre frente aos seus colegas, acaba

acarretando em isolamento, depressão entre outros sintomas fazendo com que a

Page 40: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

39

pessoa mesmo se julgue incapaz de fazer determinada tarefa e com isso é

desprezado e ignorado pelos demais colegas. (RUFINO, 2006, p. 81).

Além dos danos a saúde, o assédio atinge a dignidade e a personalidade, que

significam em perdas, pois passa a viver no ambiente de trabalho tenso e hostil em

constante estado de incômodo psicofísico, gerando diversos males e moléstias para

o trabalhador. (ALKIMIN, 2007, p. 85).

Com o excesso de exigências no ambiente de trabalho, o trabalhador expõe

sua saúde física e psíquica, onde o individuo fica impossibilitado de se manter

dentro da normalidade, ficando perceptível para as demais pessoas do local de

trabalho. Todas estas alterações acabam afetando o trabalho, acarretando em

prejuízos funcionais, devido seu comportamento diferenciado dos demais colegas.

(RUFINO, 2006, p. 83).

O assédio além de conduzir a vítima às conseqüências desastrosas, de

conduzi-la a demissão, ao desemprego e a dificuldade de relacionamento, causa

sintomas psíquicos e físicos que variam de uma vítima para outra. As mulheres em

geral são sujeitas a crises de choro, a palpitações, tremores, tonturas e falta de

apetite. Já os homens, possuem reações diferentes, muitos desejam se vingar,

idéias de suicídio, falta de ar e passam a utilizar álcool e drogas. (BARROS, 2007,

p.910).

O assédio moral pode ainda gerar a rescisão indireta do contrato de trabalho

pela vítima, que é amparado pelo art. 483, alíneas “a”, “b” e “c” da CLT1, bem como

ainda autorizar o empregador a dispensar o responsável por justa causa. (CALDAS,

2007, p. 263).

Diante dos problemas causados pelo assédio, a vítima pode sofrer danos

emocionais e doenças psicossomáticas, pois o assédio é visto como um processo

destruidor que pode levar a vítima a uma incapacidade eventual ou permanente no

ambiente de trabalho. (FRANZOI, 2007, p. 136).

1 a) forem exigidos serviços superiores às suas forças, defesos por lei, contrários aos bons costumes, ou alheios ao contrato de trabalho; b) for tratado pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com rigor excessivo; c) correr perigo manifesto de mal considerável. (TRT, 2007).

Page 41: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

40

3.1.1 Dano Moral

O assédio moral provoca na vítima danos profundos, tanto morais como

psicológicos. O “dano é o resultado de agressão moral de assédio moral ou assédio

sexual, nestes dois últimos casos configurando-se pela reiteração de um

comportamento, no primeiro por ato único”. (NASCIMENTO, 2004, p. 530).

O dano moral desde a antiguidade vem sendo considerado como um prejuízo

que foi causado pela ação contrária à norma legal, do qual foi ocasionado perda ou

um desfalque ao patrimônio do lesionado. Diante deste contexto, o dano é

considerado como uma lesão a um direito, que produz reflexo imediato no patrimônio

material ou imaterial da vítima, acarretando em uma sensação de perda. (BARROS,

2007, p. 625).

O assédio moral para o trabalhador proporciona indenização extra-

patrimonial, pelo fato de atingir os interesses da personalidade, da liberdade e da

dignidade da pessoa. Sendo que o dano moral é definido como “o sofrimento

humano, de caráter pessoal, que atinge a esfera íntima, os sentimentos da pessoa e

que não é causado por uma perda pecuniária”. (RUFINO, 2006, p. 95).

A partir da Constituição de 1988 que se assentou em definitivo a

indenizabilidade do dano moral, em decorrência das relações de trabalho, bem como

as reparações que envolvem o empregado e empregador. (CAHALI, 2005, p. 529).

Dano moral é “tudo aquilo que molesta gravemente a alma humana, ferindo-

lhe gravemente os valores fundamentais inerentes à sua personalidade ou

reconhecidos pela sociedade em que está integrado” (CAHALI, 1998, p. 20).

O dano pode decorrer tanto da inexecução de obrigações contratuais por parte da empresa, quanto da inobservância da própria legislação que assegura a incolumidade física e intelectual do obreiro, e, ainda, de comportamentos comissivos praticados por colegas ou chefes, com cumplicidade ou complacência do empregado. (CALDAS, 2007, p. 162).

Atingindo a vítima, o dano moral é compensável pela dor e constrangimento

impostos em função de uma ação que afetou a pessoa fisicamente ou

psicologicamente. O dano moral decorrente da relação de trabalho é determinado

pelo art. 1142 da Constituição Federal, que avalia a questão e determina a

2 Art. 114 Constituição Federal – VI - as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho. (SENADO FEDERAL, 2007).

Page 42: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

41

indenização conforme a repercussão de cada situação, bem como das partes

envolvidas. (NASCIMENTO, 2004, p. 532).

O assédio moral – ato ilícito que é - provoca, sem dúvida alguma, dano moral, suscetível de reparação pecuniária, porque atinge diretamente a honra e a dignidade do trabalhador, podendo comprometer sua saúde física e mental, além de arranhar sua imagem no mercado de trabalho e na comunidade em que vive, dificultando a convivência social e familiar, suas relações com outras pessoas, e até mesmo podendo dificultar ou impedir a obtenção de novo emprego, nos casos em que, pela gravidade da conduta do empregador ou dos seus prepostos, o trabalhador é levado a romper o contrato de trabalho. (PAROSKI, 2007, p.1).

Os atos advindos da violência moral violam um dos princípios fundamentais

na ordem jurídico-constitucional brasileira, que é a dignidade da pessoa humana,

estabelecido no art. 1°, III da Carta Maior3, sendo ainda que, outras garantias como

o direito à honra, a imagem, a intimidade, a privacidade, são afetadas pelas práticas

de assédio moral. (CALDAS, 2007, p. 262).

Dessa forma, “incorre na compensação por danos morais, por violação à

honra do empregado, o empregador que lhe atribui acusações infundadas de ato de

improbidade lesiva ao seu bom nome, dá informações desabonatórias e inverídicas

a alguém que pretende contratá-lo, ou ainda, insere o trabalhador em “lista negra””.

Dessa forma, qualquer ofensa que for atribuída ao trabalhador poderá ser

caracterizada como dano moral. (BARROS, 2007, p. 625).

[...] o dano moral tem como causa a injusta violação a uma situação jurídica subjetiva extra patrimonial, protegida pelo ordenamento jurídico através da cláusula geral de tutela da personalidade que foi instituída e tem sua fonte na Constituição Federal, em particular e diretamente decorrente do princípio (fundante) da dignidade da pessoa humana [...]. (MORAES, 2003, p. 132).

O dano moral pode-se manifestar nas seguintes situações como apresenta

Nascimento (2004, p. 532)

- Acusações infundadas ao empregador, prejudicando a sua reputação;

- Prestação de informações desabonatórias e inverídicas do ex-empregado;

- Comunicação do empregador de abandono de emprego em órgãos da

imprensa;

3 A pessoa humana apontada no art. 1º da Carta Maior não é qualquer pessoa humana, porque, como destinatária da norma constitucional, é uma pessoa humana adaptada aos critérios que fundamentam a República Federativa do Brasil, dentre eles o primeiro e mais importante critério cultural, o da soberania.

Page 43: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

42

- A improteção sexual e assédio para fins libidinosos;

- Tornar público, vícios e costumes;

- Espalhar boatos infindáveis;

- Tratamento desrespeitoso.

O dano pode ser considerado também moral quando os efeitos da ação,

embora não repercutem no seu patrimônio material, passa a originar dor, sofrimento,

tristeza ou humilhação à vítima, trazendo sensações e emoções negativas a pessoa.

(MORAES, 2003, p. 157).

Dessa forma, no ambiente de trabalho, o empregador que causar prejuízos

por dano moral ao empregado deve repará-los, e da mesma forma, o empregado

deve reparar os prejuízos de ordem moral causados ao empregador. (FLORINDO,

1996, p. 47).

O dano moral vem sendo julgado pelos tribunais, que tem entendido como:

INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. ASSÉDIO MORAL. A conduta abusiva da empresa violadora dos direitos da personalidade que atenta, por sua repetição ou sistematização, contra a dignidade, a integridade física ou psíquica do trabalhador, ameaçando o seu emprego ou degradando o meio ambiente do trabalho, configura assédio moral e enseja o pagamento de indenização a título de danos morais, nos termos dos arts. 5º, X, da CF e 186 do Código Civil4. (TRT – 12° REGIÃO, 2007, p. 2).

INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. ASSÉDIO MORAL. As humilhações praticadas pelo sócio e seus familiares no ambiente de trabalho contra a autora configura assédio moral, também conhecida como "mobbing", "bullying" ou "harcèlement moral", no direito internacional. Os efeitos da exposição prolongada e repetitiva a situações humilhantes e vexatórias são deletérios à auto-estima da pessoa e, no ambiente de trabalho, a prática tem a agravante de ocorrer em uma relação hierarquizada, com forte dependência econômica do trabalhador. Os danos decorrentes de tais atitudes devem ser indenizados, servindo a condenação também para obtenção de um efeito didático-pedagógico, a fim de que a conduta não mais se repita no empreendimento5. (TRT – 12° REGIÃO, 2007, p. 2). ASSÉDIO MORAL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. O assédio moral caracteriza-se pela repetição das condutas que expõem o trabalhador a situações constrangedoras ou humilhantes. A violência psicológica sofrida implica lesão de um interesse extrapatrimonial, juridicamente protegido, gerando direito à reparação do dano moral6. (TRT – 12° REGIÃO, 2007, p. 2).

4 Ac. 1ª T. 10677/06, 28.06.06. Proc. RO-V 04690-2005-034-12-00-0. Maioria. Rel.: Juíza Viviane Colucci. Publ. DJ/SC 08.08.06 - P. 95. 5 Ac. 3ª T. 04319/06, 07.03.06. Proc. RO-V 00745-2005-008-12-00-7. Unânime. Rel.: Juíza Gisele Pereira Alexandrino. Publ. DJ/SC 17.04.06 - P. 311. 6 Acórdão / - Juiz Edson Mendes De Oliveira - Publicado no TRTSC/DOE em 08-11-2007,

Page 44: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

43

3.2 CONSEQÜÊNCIAS PARA A SOCIEDADE

O assédio moral também afeta a sociedade onde convive a vítima.

“O mal-estar provocado pela violência moral que incide em danos as relações

da vítima, atinge também sua relação com a sociedade”. Pois as pessoas que são

assediadas e sofrem humilhações sofrem traumas e apresentam um comportamento

diferenciado das demais pessoas, marcado por um sentimento de angústia, apatia e

descrédito consigo mesmo. (RUFINO, 2006, p. 88).

O assédio moral não somente prejudica as vítimas, mas também a sociedade,

que paga pelos afastamentos, doenças e aposentadorias que decorrem, bem como

ainda as empresas, que perdem a produtividade, além de responder por processos

trabalhistas que são problemas que causam transtornos em outras áreas dos

negócios empresariais e denegride a imagem da organização no mercado.

(OLIVEIRA, 2007, p. 52).

Portanto, diante de um acontecimento de assédio, observa-se que o

trabalhador está sempre do lado mais frágil e o empregador é o possuidor do poder.

O assédio moral é um problema de grande relevância nas organizações, pois atinge

diretamente a saúde do trabalhador, bem como sua dignidade e personalidade.

3.3 CONSEQÜÊNCIAS PARA O EMPREGADOR

As conseqüências econômicas que o assédio moral representa nas

organizações são grandiosas. A deteriorização do clima laboral produz uma baixa no

rendimento do grupo. Sendo que isto ainda poderá contribuir para causar conflitos

que traz como conseqüência a redução da atenção dos trabalhadores no

desenvolvimento de suas tarefas. Dessa forma, pode-se dizer que as perdas

econômicas são devido à diminuição da produtividade e qualidade do trabalho, bem

como os custos que geram para a empresa e o absenteísmo. (OLIVEIRA, 2007, p.

52).

Diante do novo contexto organizacional, o papel e a postura de empresa são

fundamentais para a prevenção e resolução de problemas com o assédio no

Page 45: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

44

ambiente de trabalho. Com o mercado cada vez mais exigente, com a evolução dos

métodos de produção, faz-se necessário que se tenha uma administração planejada

e um ambiente de trabalho hostil e harmonioso para atingir os objetivos da empresa.

(CALDAS, 2007, p. 254).

O assédio prejudica nos mais diversos aspectos a empresa empregadora,

“ocasionando absenteísmo, queda de produtividade e substituição de pessoal, além

da possibilidade concreta de responsabilização patrimonial – em condenações

judiciais por danos morais e materiais – por força dos atos de seus empregados

(assediadores)”. (PAMPLONA FILHO, 2007, p. 3).

Um ambiente laboral sadio depende das pessoas que ali trabalham, do

relacionamento pessoal, do entrosamento, da motivação e da união do grupo para

atingir o objetivo da organização. Sendo que os casos de assédio fazem proliferar

um clima desfavorável na empresa, causando tensão, apreensão e competição entre

os colegas do grupo. Dessa forma, “a empresa é obrigada a respeitar seus

empregados e a proporcionar aos mesmos um equilibrado ambiente do trabalho,

agindo de acordo com as normas jurídicas, as quais ditam as regras sobre as

práticas dos sujeitos dessa relação”. (RUFINO, 2006, p. 89).

No entanto, a justiça não pode deixar que o assediante, violentador da

dignidade da vítima, fique impune pelos atos praticados, deve ser punido e reparar

os danos cometidos. As conseqüências para o assediante podem ser analisadas

pela ordem trabalhista (caracterização de justa causa para a extinção do vínculo

empregatício), civil (responsabilidade patrimonial direta pelo dano causado) e

criminal (aplicação de sanções penais, caso os atos praticados se enquadrem em

tipo previamente existente). (PAMPLONA FILHO, 2007, p. 2).

As conseqüências do assédio moral não se limitam somente ao trabalhador,

mas também para a empresa. Além do conseqüente aumento de custos oriundos

das faltas ao trabalho, licenças, substituições, verifica-se também a redução da

capacidade produtiva, acentuada crítica aos empregadores, elevada taxa de

absenteísmo, tendência surgir problemas que se tornam em conflitos, bem como a

busca de soluções para mascarar os problemas e os culpados pelos transtornos que

são causados à empresa. (CALDAS, 2007, p. 261).

O assédio moral no ambiente de trabalho afeta um dos principais fatores que

é a produtividade. O desgaste psicológico do trabalhador, devido ao assédio

provocado afeta diretamente no desempenho de sua atividade. Devido a todos os

Page 46: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

45

danos que causa no trabalhador, a baixa na produtividade e do lucro são

conseqüência da ausência de qualidade de vida do trabalhador. Outro fator que

decorre devido à ocorrência de assédio moral, é a demissão, que causa a perda de

bons profissionais e com isso gerando uma rotatividade na empresa, ocasionando a

diminuição da qualidade do trabalho, bem como o dispêndio de custos para com o

trabalhador, devido o afastamento de serviço. (RUFINO, 2006, p. 92).

A produtividade do trabalhador está diretamente ligada à satisfação do

trabalho. Dessa forma, é fundamental criar um ambiente de trabalho que propicia

condições de se produzir, bem como um ambiente onde se preserve a auto-estima,

auto-imagem, garantia, perspectivas profissionais e pessoais. (ALKIMIN, 2007, p.

88).

O assédio “gera uma conseqüência pecuniária danosa direta ao empregador,

pois a queda da produtividade do empregado diminuirá, certamente, sua expectativa

de ganho, o que é ainda mais dramático em uma economia globalizada como a

contemporânea”. (PAMPLONA FILHO, 2007, p. 3).

Outro aspecto a destacar é o custo do absenteísmo. Devido aos problemas

pelos quais passam, os empregados assediados poderão faltar ao serviço, que pode

ocorrer de maneira formal sem justificação, utilizando isso como forma de não ficar

exposta ao assediador. Sendo que os atestados médicos, devido às seqüelas

psicológicas afetam diretamente o processo de trabalho. (PAMPLONA FILHO, 2007,

p. 3).

O desvio da função social é decorrente dos problemas pelos quais passa a

empresa com as ocorrências de casos de assédio moral. O empregador é o dono da

propriedade e assim sendo, possui o direito sobre a mesma, deve preservar os

valores da dignidade humana. Dessa forma, o empregador tem um importante papel

na sociedade, desde que reconhece e respeite a pessoa humana por ele contratado.

(RUFINO, 2006, p. 95).

Entretanto, as conseqüências do assédio moral sempre se apresentam em

maior proporção para o empregador, pela legislação que protege o trabalhador como

será mencionado nas conseqüências penais e civis que serão abordados na

seqüência do trabalho.

Page 47: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

46

3.4 CONSEQÜÊNCIAS PENAIS E CIVIS

O assédio moral ainda não possui regulamentação penal especifica que

possa julgar as causas deste tipo de crime, mas existe uma menção ao assédio

sexual, que é a Lei 10.224/2001 artigo 216-A, que dispõe que “Constranger alguém

com intuito de levar vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente

da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de

emprego, cargo ou função”. (RUFINO, 2006, p.99).

O assédio moral no trabalho é um fator de risco psicossocial capaz de

provocar danos à saúde da vitima, sendo considerado como doença do trabalho,

estabelecido pelo art. 20 da Lei n. 8213 de 1991, dessa forma, compete a Cipa

(Comissão Interna de Prevenção contra Acidentes) atuar na prevenção junto aos

colaboradores das empresas. (BARROS, 2007, p. 910).

O Projeto de Lei Federal 4.591 de 2001, que se refere à Administração e

Serviço Público, dispõe sobre a aplicação de penalidades à prática de assédio moral

por parte dos servidores públicos da União, das autarquias e das fundações públicas

federais a seus subordinados. O Projeto de Lei Federal nº 2.369 de 2003,

apresentado pelo Deputado Mauro Passos, dispõe sobre o Assédio Moral nas

relações de trabalho, onde prevê indenização ao empregado e multa administrativa

a ser aplicada pela DRT. (OLIVEIRA, 2007, p. 56). Já existe no Brasil legislação criada por alguns municípios, como é o caso de

São Paulo que instituiu a Lei n° 13.288 de 10.01.02, sobre a punição do assédio

moral no âmbito da administração municipal direta ou indireta do município, bem

como ainda o município de Americanas com a lei n° 3.671/02, Campinas com a lei

n°. 11.409/02 e o Rio de Janeiro com a lei n°. 3.921 de 22/08/02. (GUBERT, 2007, p.

275).

O Código Civil ampara o assédio nos artigos: 186, que determina “aquele que,

por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar

dano a outrem, ainda que exclusivamente moral comete ato ilícito”. Já o artigo 927

em seu parágrafo único destaca que “haverá obrigação de reparar o dano,

independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade

normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar por sua natureza, riscos para

os direitos de outrem”. (OLIVEIRA, 2007, p. 56).

Page 48: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

47

Entretanto, alguns casos sobre assédio já foram julgados, onde se afere para

a vítima, direito de indenização por danos morais e materiais, onde ficou

estabelecido o pagamento das despesas médicas pelos danos ocorridos à saúde do

empregado. Sendo que para a vítima de assédio vertical descendente fica

estabelecido a rescisão indireta fundada no Art. 483 da CLT, “c” (correr perigo

manifesto de mal considerável), “e” (praticar o empregador contra o empregado ou

pessoas de sua família, ato lesivo a honra e boa fama). (OLIVEIRA, 2007, p. 56).

3.6 PROPOSTAS DE PREVENÇÃO DO ASSÉDIO MORAL

O combate do assédio moral no trabalho exige a formação de uma equipe

multidisciplinar, envolvendo os sindicatos, advogados, médicos do trabalho e outros

profissionais de saúde, sociólogos, antropólogos para discutir o assunto no ambiente

de trabalho e conscientizar os trabalhadores da importância de participar no

processo. Sendo que primeiramente se faz necessário que se desenvolva um

ambiente de trabalho pautado no respeito e na consideração mútua, onde a chefia

deve ser vista como um líder, com uma filosofia pautada na valorização do ser

humano e disposta a resolver os conflitos naturais que surgem no dia-a-dia no

ambiente de trabalho. (OLIVEIRA, 2007, p. 57).

As conseqüências provindas do assédio moral nas organizações pode ser

reduzido com a adoção de medidas de prevenção, como demonstra o Nucodis

(2007, p.18):

• Estruturação e organização da empresa;

• Desenvolver um programa de prevenção por parte da empresa, que

incentiva o diálogo e da instalação de canais de comunicação;

• Investir em uma cultura estratégica de desenvolvimento humano, para que

não ter chances de surgir comportamentos negativos isolados, que tanto propiciam o

assédio moral;

• A implantação da cultura de aprendizado, no lugar da punição;

• Permitir a cada trabalhador a possibilidade de escolher a forma de realizar

o seu trabalho;

Page 49: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

48

• Reduzir a quantidade de trabalho monótono e repetitivo;

• Aumentar a informação sobre os objetivos organizacionais;

• Desenvolver políticas de qualidade de vida para dentro e fora do ambiente

organizacional são atitudes sensatas a serem adotadas;

• Desenvolver um código de ética, que vise ao combate de todas as formas

de discriminação e de assédio moral;

• Implantar esquemas de ouvidoria ou comitês formados nas empresas,

especialmente indicados para receberem denúncias sobre intimidações e

constrangimentos;

• Criar uma gestão participativa;

• Alterar a política comportamental da empresa, buscando diminuir o

absenteísmo dos funcionários, acidentes de trabalho;

• Incentivar a auto-estima e motivação do trabalhador por planos de

benefícios.

Outro fator importante é a empresa desenvolver canais de comunicação para

poder identificar possíveis situações ou rumores de discriminação e humilhação,

bem como ainda incentivar a qualidade de vida e o bem estar do trabalhador dentro

e fora da empresa. (OLIVEIRA, 2007, p. 60).

Sendo que estas medidas poderão contribuir para que assédio moral no

ambiente de trabalho não sejam uma ameaça para as pessoas e para as empresas,

mas sim ser visto como um fato que deve ser resolvido com eficácia para que as

partes envolvidas possam continuar atuando na empresa e sociedade sem

seqüelas.

Page 50: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

49

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O assédio moral vem sendo assistido na sociedade atual como um fenômeno

avassalador no ambiente de trabalho nas empresas, que surge em decorrência da

crise de valores e da ética, devido à competitividade acirrada no mercado de

trabalho. Neste ambiente competitivo todas as armas são utilizadas para conquistar

espaço e poder por todos os integrantes da equipe, seja empregador, trabalhador ou

superior hierárquico.

O direito do trabalho vem se destacando e cada vez mais provando que o

assédio pode ser comprovado e assim beneficiando o lesado. No entanto, a

legislação em vigor ainda apresenta falhas, devido sua falta de comprovação e rigor,

mas muitos já foram julgados. A maioria dos casos julgados na justiça são de ordem

vertical, ascendente ou descendente, onde o trabalhador sofre terror psicológico do

seu superior hierárquico.

Com a pesquisa pôde-se observar que o assédio moral é caracterizado pela

freqüência e repetição de atos de humilhações que ocorrem no ambiente de

trabalho, onde a exposição prolongada e sistemática de atos vão degradando o

trabalhador e o trabalho.

Entretanto, o cerne do assédio moral se encontra justamente na

desvalorização do trabalho humano, pois não é simplesmente a aplicação da lei para

que o problema seja resolvido, mas sim, envolve todo um contexto composto de

pessoas com valores e conceitos diferentes, que permeia acima de tudo também um

juízo de valor, que baseia-se na evolução da sociedade que se fundamenta na atual

conjuntura de desvalorização do trabalho humano nas organizações.

O assédio moral no ambiente de trabalho ofende o princípio fundamental da

dignidade humana, sendo este um dos motivos pelo qual o mesmo pode ser tratado

com o máximo de rigor, respeito e responsabilidade pela justiça do trabalho.

No entanto, percebe-se que o problema relacionado ao assédio moral no

ambiente de trabalho vem ganhando espaço na jurisprudência, pois o julgamento de

casos contribui para que as vítimas se dispõem para denunciar e assim contribuir

para que se tenha uma sociedade permeia o respeito e a justiça ao cidadão. O

assédio moral é uma questão delicada, pois muitas vezes no ambiente de trabalho,

o trabalhador se sente preso pelo fato de necessitar do trabalho, ou mesmo se sentir

Page 51: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

50

inferiorizado pela situação, que na maioria das vezes é o próprio empregador que

vem cometendo o assédio no ambiente de trabalho.

O papel das organizações diante do problema de assédio, deve ser

trabalhada com atitudes de conscientização e orientação, expondo aos

trabalhadores seus direitos para com os colegas, chefias e empregadores.

Com a evolução de casos de assédio, as empresas vêm sofrendo grandes

prejuízos, onde pode-se destacar à queda da produtividade, a falta de motivação do

trabalhador, bem como o aumento dos afastamentos que decorrem devido às

conseqüências que o assédio moral provoca na vítima. Diante deste contexto, pode-

se afirmar que a freqüência de atos e condutas abusivas por um período longo,

violam a dignidade da pessoa humana, causando danos psicológicos que podem se

tornar irreversíveis dependendo do dano causado a vítima.

Todavia, com o estudo, pode-se dizer que o objetivo do presente trabalho foi

atingido, pois com a pesquisa pôde-se conhecer uma vasta literatura existente sobre

o tema, que contribui para uma discussão profunda sobre o assunto no âmbito do

direito do trabalho, bem como as conseqüências que o assédio moral traz para o

trabalhador e o empregador.

O que se presencia no contexto atual, é que muitas organizações sofrem

com este problema dentro do ambiente de trabalho. Devido a esta problemática, o

presente trabalho teve como propósito abordar as conseqüências que este mal

causa as vítimas envolvidas, principalmente ao trabalhador que é a parte mais fraca

no processo, mas este é amparado pelo protecionismo, já que a legislação ainda é

falha no assunto, fazendo com que muitos casos não sejam denunciados e

conseqüentemente o agressor passa impune.

Entretanto, faz-se necessário lembrar que o trabalhador é sempre o lado mais

fraco da situação, por isso é necessário que este seja amparado por lei e que

mereça toda a atenção por parte da empresa, para que possa cuidar de sua saúde e

voltar a ser reintegrada a sociedade e ao trabalho, sem traumas e apto a

desenvolver suas atividades.

Se reportando as conseqüências, o assédio moral causa danos profundos à

saúde do empregado, que vão desde stress, fadiga, falta de motivação, podendo

levar a vítima a cometer o suicídio, devido se sentir incapaz e sem forças para reagir

à situação de assédio, pois a pessoa fica inapta para se defender.

Page 52: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

51

Sendo que as conseqüências do assédio não afetam somente o empregado e

o empregador, mas também a família e a sociedade, pois tudo que acontece na vida

do ser humano, reflete diretamente com as pessoas com as quais se convive que

são os amigos e a família. A família sofre junto com o trabalhador, ainda mais

quando este é demitido ou fica exposto a longos tratamentos de saúde. A sociedade

sofre grandes problemas pela falta de condições de saúde pública, pois o

trabalhador fica a mercê de um atendimento precário, onde fica esperando por muito

tempo para ser atendido, com isso os danos sofridos vão cada vez mais se

complicando, em conseqüência necessitando de afastamentos prolongados do local

de serviço ou mesmo até se aposentando dependendo ao agravo da doença.

Portanto, diante de um mercado cada vez mais competitivo, as empresas

devem investir em ambientes de trabalho mais saudáveis, para que os trabalhadores

possam perseguir seus sonhos e construir um futuro com dignidade, baseada em

princípios e valores éticos sem abertura para a criação de atitudes de assédio, terror

com colaboradores, superiores e da própria empresa.

Page 53: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

52

REFERÊNCIAS

ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio moral na relação de empregado. Curitiba: Juruá, 2007. ALVES, Gabriel Alexandrino. O assédio sexual na visão do Direito do Trabalho. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4476>. Acesso em: 28 set. 2007. ANDRADE, Maria M. de. Introdução à metodologia do trabalho científico. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2005. ASSÉDIO Moral. Disponível em: <http://www.assediomoral.org/site/assedio/AMfases.php>. Acesso em: 05 out. 2007. BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. 3. ed. São Paulo: LTR, 2007. BELTRAN, Ari P. A autotela nas relações do trabalho. São Paulo: Ltr, 1996. BRASIL. Código Penal. 43. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. CAHALI, Yussef Said. Dano moral. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998. CAHALI, Yussef Said. Dano moral. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. CALDAS, Ricardo G. W. Assédio moral no trabalho. In.: ROSA, Ricardo José da. Estudos jurídicos em homenagem aos 25 anos do TRT em Santa Catarina. Florianópolis: Conceito Editorial, 2007, p. 241-268. CIMBALISTA, Silmara. A questão do trabalho: os avanços tecnológicos e o processo de motivação nas organizações. Revista FAE Business, n.3, set. 2002. Disponível em: < http://www.sfrancisco.edu.br/pdf/revista_fae_business/>. Acesso em: 24 ago. 2007. COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. DELGADO, Mauricio G. Curso de direito do trabalho. 3. ed. São Paulo: Ltr, 2004. FACHIN, Odília. Fundamentos de metodologia. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. FERREIRA, Hádassa D. B. Assédio moral nas relações de trabalho. Campinas: Russell, 2004. FLORÊNCIO, Gilbert Ronald Lopes. Direitos da personalidade no Novo Código Civil. São Paulo: LED, 2003.

Page 54: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

53

FLORINDO, Valdir. Dano Moral e o direito do trabalho. 3. ed. São Paulo: LTR, 1999. FONSECA, Rodrigo Dias de. Assédio Moral. Disponível em:< http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9512>. Acesso em: 04 out. 2007. FRANZOI, Fabrisia. Assédio moral: caracterização e marcas deixadas nas vítimas. In.: ROSA, Ricardo José da. Estudos jurídicos em homenagem aos 25 anos do TRT em Santa Catarina. Florianópolis: Conceito Editorial, 2007, p. 125-140. FREITAS JUNIOR, Lauro Francisco da Silva. Breves comentários sobre o Controle de Constitucionalidade no Brasil. Disponível em: < http://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=102>. Acesso em: 28 ago 2007. FREITAS, Digo de Souza. Vitimologia no direito do trabalho brasileiro a luz da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Rio de Janeiro, 2006. Dissertação de Mestrado da Faculdade de Direito do Campus Coytatazes Rio de Janeiro. FREITAS, Gilberto Passos de; FREITAS, Vlademir Passos de. Abuso de autoridade. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. GONDIN, Sônia M. G.; SIQUEIRA, Mirlene Maria M. Emoções e afetos no trabalho. In.: ZANELLI, José Carlos; BORGES-ANDRADE, Jairo E.; BASTOS, Antonio V. B. Psicologia, organizações e trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2004. GUBERT, Maria Beatriz Vieira da Silva. Assédio moral, poder diretivo e princípio da dignidade da pessoa humana. In.: ROSA, Ricardo José da. Estudos jurídicos em homenagem aos 25 anos do TRT em Santa Catarina. Florianópolis: Conceito Editorial, 2007, p. 269-283. HIRIGOYEN, Marie France. Mal-estar no trabalho: redefinindo o assédio moral. 2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 2005. LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito do trabalho. 5. ed. São Paulo: LTr, 2007. MANUS, Pedro Paulo T. Direito do trabalho. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2002. MENDES, Carolina de Aguiar Teixeira. Identificando o assédio moral no trabalho. <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7767>. Acesso em: 5 out. 2007. MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2000. MORAES, Maria Celina B. de. Danos à pessoa humana: uma leitura civil-constitucional dos danos morais. Rio de Janeiro: Renovar, 2003.

Page 55: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

54

NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho. 30. ed. São Paulo: LTR, 2004. NUCODIS. Assédio moral no ambiente de trabalho. Disponível em: <www.trt.gov.br.>.Acesso em: 08 out. 2006. OLIVEIRA, Cassiana de. Assédio Moral: a humilhação e discriminação no trabalho prejudicam a saúde física e mental. Revista Proteção. set. 2007, p. 39-60. PADILHA, Norma Suelli. Do meio ambiente do trabalho equilibrado. São Paulo: Ltr, 2002. PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Assédio sexual: questões conceituais. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6826>. Acesso em: 26 set. 2007. PAROSKI, Mauro Vasni. Assédio moral no trabalho. <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9021>. Acesso em: 5 out. 2007. PAZ, Maria das Graças T. da; MARTINS, Maria do Carmo F.; NEIVA, Elaine R. O poder nas organizações. In.: ZANELLI, José Carlos; BORGES-ANDRADE, Jairo E. Porto Alegre: Bookmann, 2004. PINTO, Airton Pereira. Legislação do Trabalho. Revista Ltr. v. 70, n. 09, set. 2006, p. 1080-1083. PIOVESAN, Flávia et al. Principio da dignidade. Florianópolis: Agnus, 2003. RUFINO, Regina Célia Pezzuto. Assédio moral no âmbito da empresa. São Paulo: Ltr, 2006. SANTOS, Cleber M. dos. Os direitos humanos, no Brasil e o desafio de um povo. São Paulo: Ltr, 1998. SILVEIRA NETO, Antônio; PAIVA, Mário Antônio Lobato de Paiva. A privacidade do trabalhador no meio informático. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4292>. Acesso em: 01 ago. 2007. TARCITANO, João Sérgio de Castro; GUIMARÃES, Cerise Dias. Assédio moral no ambiente de trabalho. Trabalho de Conclusão do Curso de Tecnologia em Gestão de Recursos do Centro de Educação Tecnológica Estácio de Sá de Juiz de Fora. Disponível em: < http://www.partes.com.br/ed53/Assedio%20Moral%20no%20Ambiente%20de%20trabalho.pdf>. Acesso em: 18 set. 2007. TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO. Assédio moral. Disponível em: <http:www.trt12.gov.br>. Acesso em: 15 out. 1007. VELLOSO, Carlos Mário da Silva. Dos direitos sociais na constituição do Brasil. Disponível em:<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2852>. Acesso em: 28 set. 2007.

Page 56: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Najua Hassan Hamade.pdf · NÁJUA HASSAN HAMADE Monografia apresentado ao curso de Direito da Universidade do Vale

55

VIANA, Segadas. Antecedentes históricos. In.: SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas et al. Instituição de direito do trabalho. 19. ed. São Paulo: LTr, 2000. v. 1. VIDONHO JUNIOR, Amadeu dos Anjos. O abuso de poder e as prerrogativas do advogado. Disponível em:<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2852>. Acesso em: 28 set. 2007.