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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DA UNIVALI – BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA LETÍCIA BRASIL ACUPUNTURA COMO INTERVENÇÃO COMPLEMENTAR NO TRATAMENTO DA DEPRESSÃO BIGUAÇU 2007

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE EDUCAÇÃO DA UNIVALI – BIGUAÇU

CURSO DE PSICOLOGIA

LETÍCIA BRASIL

ACUPUNTURA COMO INTERVENÇÃO COMPLEMENTAR NO

TRATAMENTO DA DEPRESSÃO

BIGUAÇU

2007

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LETÍCIA BRASIL

ACUPUNTURA COMO INTERVENÇÃO COMPLEMENTAR NO

TRATAMENTO DA DEPRESSÃO

Projeto apresentado para a realização do Trabalho de Conclusão de Curso no curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí sob a orientação da Professora Cristianne Gick Machado.

BIGUAÇU

2007

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IDENTIFICAÇÃO

ÁREA DE PESQUISA: Psicologia Clínica

TEMA: Acupuntura como uma intervenção complementar no tratamento da depressão

TÍTULO DE PROJETO: Acupuntura como intervenção complementar no tratamento da

depressão

ALUNO

Nome: Letícia Brasil

Código de Matrícula: 0421724

Centro: Biguaçu Curso: Psicologia Semestre: 01/2007

ORIENTADOR

Nome: Cristianne Gick Machado

Categoria Profissional: Psicólogo/Professor

Titulação: Mestre em Psicologia Clínica

Curso: Psicologia

Centro: Biguaçu

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RESUMO

O Conselho Federal de Psicologia através da Resolução nº.005/2002, regulamenta a prática da Acupuntura no tratamento clínico para os profissionais da Psicologia, ampliando o campo de atuação, sendo esta mais uma alternativa de atuação dentre as tradicionais existentes no mercado de trabalho da área. A partir disso, surgiu o interesse em pesquisar em profundidade tal tema. O objetivo desta pesquisa foi identificar junto aos psicólogos que utilizam este recurso, se esta poderia ser uma intervenção complementar no tratamento da depressão, bem como identificar quais os benefícios do uso deste recurso no tratamento desta patologia, verificar quais os quadros de depressão apresentam resposta favorável ao uso e verificar quais os fatores que levam o profissional a fazer a indicação da acupuntura como intervenção complementar no tratamento da depressão. O método utilizado na pesquisa foi qualitativa do tipo exploratório. Foram entrevistados dois profissionais psicólogos que possuem formação teórica e prática em acupuntura e o instrumento utilizado para coleta de dados foi a entrevista semi-estruturada. O recurso utilizado para análise dos dados foi a análise de conteúdo. Pôde-se verificar neste estudo que a acupuntura não utilizada somente como um recurso complementar, ela possui um papel único e específico no tratamento da depressão, independente da indicação paralela de outras intervenções, como o uso de psicofármacos ou mesmo a psicoterapia. Logo, é uma técnica que pode ser paralela, ou seja, aliada ao processo psicoterapêutico. Com relação aos benefícios do uso desta prática, é possível citar basicamente: a rapidez no tratamento, a eficácia, poder trabalhar de forma indireta um conflito, desbloquear e liberar um conflito e também a individualidade na qual o sujeito é tratado. De acordo com os dados obtidos, a acupuntura seria mais indicada para casos de depressão endógena, profunda, do que para casos de depressão leve, não havendo restrição do uso desta prática para quadros específicos de depressão. É importante ressaltar que a relação terapeuta/paciente estabelecida é distinta nas práticas do psicoterapeuta e do psicólogo acupunturista, devido ao tipo de vínculo que é estabelecido com o paciente em ambos os casos, portanto, é feito um encaminhamento para outro profissional que atenda tal demanda, respeitando eticamente os preceitos éticos e práticos da profissão.

Palavras-chave: Intervenção Complementar, Depressão e Acupuntura

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..................................................................................................... 5

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA....................................................................... 7 2.1 ACUPUNTURA: EVOLUÇÃO HISTÓRICA...............................................7 2.2 DEPRESSÃO..................................................................................................10 2.3 TIPOS DE DEPRESSÃO...............................................................................13 3.4 DIAGNÓSTICO SINAIS E SINTOMAS......................................................13 2.5 RELAÇÕES EXISTENTES ENTRE A PSICOLOGIA E A MEDICINA TRADICIONAL CHINESA............................................................................16

2.6 CONTRIBUIÇÕES DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA (MTC) PARA O ESTUDO DA DEPRESSÃO...............................................17

3. METODOLOGIA..................................................................................................20 3.1 TIPO DE PESQUISA.....................................................................................20 3.2 SUJEITOS......................................................................................................20 3.3 INSTRUMENTO PARA COLETA DE DADOS.........................................20 3.4 PROCEDIMENTO.........................................................................................21 3.5 ANÁLISE DOS DADOS................................................................................21 4. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ..........................................................23 5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ....................................................................30 6. CONSIDERAÇOES FINAIS............................................................................... 34 7. CRONOGRAMA...................................................................................................36 REFERÊNCIAS.........................................................................................................37 APÊNDICES..............................................................................................................40 APÊNDICE A .............................................................................................................41 APÊNDICE B .............................................................................................................42

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1 INTRODUÇÃO

A partir de um trabalho desenvolvido e apresentado na disciplina de Ética

Profissional no ano de 2006, no curso de psicologia na Universidade do Vale do Itajaí –

UNIVALI - acerca das resoluções que regulamentam os recursos complementares como a

prática da Acupuntura no tratamento clínico de sintomas diversos, surgiu o interesse em

pesquisar o tema em maior profundidade.

Como essa prática foi recentemente regulamentada para os profissionais da

Psicologia, é preciso desenvolver estudos que possam contribuir para esse novo recurso

terapêutico, para que a aplicabilidade se torne fidedigna, promovendo um aprimoramento do

tratamento diante dos dados apresentados e dos resultados práticos.

É importante mencionar que a recente Portaria nº 971, de 3 de maio de 2006 aprova

a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de

Saúde e considera a acupuntura uma prática que visa garantir à população condições de bem-

estar físico, mental e social. Tal recurso pode ser exercido pelos profissionais da área da saúde

que são habilitados para exercer esta prática e considera também, que a mesma pode ser

exercida de forma conjunta com outros recursos terapêuticos, como por exemplo, no caso da

psicologia, a psicoterapia.

Essa pesquisa buscou identificar de que forma atua a acupuntura como recurso

terapêutico e quais são os benefícios desta prática como um recurso complementar no

tratamento da depressão, investigando junto aos psicólogos que utilizam a mesma. Devido à

incidência desse transtorno, houve o interesse em buscar recursos alternativos, como por

exemplo, essa prática oriental, de modo a contribuir cientificamente e beneficamente para as

Ciências Psicológicas.

Diante do vasto campo de recursos terapêuticos tradicionais, como as psicoterapias e

tratamento farmacológicos, a Acupuntura surge como uma alternativa de intervenção

científica para as ciências psicológicas e profissionais da área da saúde, frente às

enfermidades freqüentemente diagnosticadas e tratadas na área clínica. Devido a sua

estimulação através de agulhas em pontos específicos, essa modalidade terapêutica, faz com

que a energia que estava bloqueada volte a “fluir” normalmente, reequilibrando o organismo

como um todo e foi partindo desse princípio que houve o interesse em pesquisar a relação

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desta prática com os transtornos psicológicos, neste caso, a depressão, sob a perspectiva

psicológica somente, sem enfocar abordagens psicológicas específicas.

De acordo com Silva (2006), está provado cientificamente que a Acupuntura, através

do seu método, tem um efeito bioelétrico que age no sistema nervoso como a liberação de

neurotransmissores, levando o organismo a um equilíbrio e a cura de inúmeras doenças,

dentre elas as mentais, como por exemplo, a depressão. Vectore (2005) complementa tal

afirmação ao dizer que, através de estudos, a Acupuntura tem mostrado que é capaz de

modificar neuroquimicamente o sistema límbico, área relacionada às emoções, aumentando o

nível de serotonina, sendo dessa forma, indicada para o tratamento de quadros como

depressão, por exemplo, evitando os efeitos colaterais dos remédios antidepressivos.

Conforme citado, a pesquisa busca identificar também, quais os quadros de depressão têm

apresentado resposta favorável ao uso desta técnica.

Segundo a autora acima citada, a busca por tratamentos de abordagens alternativas,

como a Acupuntura, por exemplo, se deve ao desencanto pela Medicina tradicional e pela

procura crescente por tratamentos holísticos. Dessa forma, verificaremos quais os fatores que

levam os profissionais a fazer a indicação da acupuntura como intervenção complementar no

tratamento da depressão.

Portanto, devido à ausência de estudos relacionando a Acupuntura e a Depressão,

essa pesquisa teve o intuito de investigar quais são os benefícios da Acupuntura tradicional

chinesa no tratamento desta enfermidade. E, se existam, em quais tipos de depressão é

recomendado, para assim contribuir para ampliar a utilização de recursos e,

conseqüentemente, o campo de atuação do profissional psicólogo.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 ACUPUNTURA: EVOLUÇÃO HISTÓRICA

A acupuntura teve origem no vale do rio Amarelo, nas costas setentrionais do mar da

china, há aproximadamente cinco mil anos e estendeu-se por todo o império chinês para

posteriormente atingir todo continente asiático (FERREIRA, 1985).

Os autores Ferreira (1985) e Vectore (2005) definem acupuntura como uma técnica

milenar de origem chinesa, que consiste em estimular pontos determinados na superfície da

pele trazendo ao corpo o ponto ideal e dando condições ao organismo de ser mais eficaz na

luta contra as doenças. Visa prevenir e tratar doenças através do equilíbrio das energias

circulantes no corpo, pois acredita-se que um corpo em equilíbrio não adoece.

Segundo Vectore (2005), baseia-se na existência de acupontos, distribuídos ao longo

de doze linhas imaginárias, chamadas meridianos (coração, fígado, baço-pâncreas, pulmão,

estômago, rim, circulação-sexo, intestino delgado, vesícula biliar, intestino grosso, bexiga e

triplo aquecedor) que percorrem o corpo no sentido vertical, formando pares simétricos nas

faces dorsais e ventral da superfície corporal, os quais, devidamente estimulados,

normalmente, por agulhas, são capazes de promover uma série de benefícios á saúde do

indivíduo.

Ainda com base nos dados do mesmo autor, as emoções (medo, alegria, tristeza,

entre outros) quando excessivas podem levar ao desenvolvimento de diversas doenças –

psique (mente) ao soma (corpo) – como estudado pelo campo de conhecimento da

psicossomática.

Através estimulação das agulhas nos pontos de acupuntura, a energia que estava

bloqueada volta a fluir normalmente, reequilibrando-o. Como segue abaixo segundo o autor:

Nisto consiste a acupuntura. Trazer o corpo ao seu ponto ideal, dando condições ao organismo de ser mais eficaz na luta contra as doenças, por meio do estímulo de pequenos pontos da superfície da pele (FERREIRA, 1985 p. 12).

Lobato, Rodrigues e Tarantino (2006), complementam ao afirmar que a acupuntura

gera impulsos elétricos levados pelos nervos até o sistema nervoso central. O corpo mantém

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equilibrado a serotonina, substância envolvida na dor, depressão e ansiedade e há um aumento

da liberação de substâncias analgésicas e antiinflamatórias.

Ao analisar a evolução histórica da civilização chinesa, o primeiro grande marco

ocorreu durante a dinastia Han (200 a.c – 200), naquela época a medicina era de alto padrão e

neste mesmo período foi escrito o primeiro livro sobre acupuntura, que reunia todos os

conceitos e a experiência da época. A difusão da acupuntura continuou evoluindo até a outra

dinastia, a T’ang (600 – 900), nessa época os chineses estavam muito mais avançados em

termos de medicina do que os ocidentais. Durante esta época a acupuntura foi introduzida no

Japão juntamente com outros aspectos da cultura chinesa (FERREIRA, 1985).

Conforme White (2001), um fator específico que colaborou para a experimentação

da prática da acupuntura entre os ocidentais foi o adoecimento e o tratamento com o método

de um dos jornalistas do presidente Nixon em uma das suas visitas à China:

Ocorreu uma grande onda de interesse na acupuntura após a visita de presidente Nixon à China, em 7971. nesta ocasião, um membro da equipe de jornalistas do presidente, o repórter James Reston, do New York Times, teve apendicite. Ele recebeu um tratamento com acupuntura para aliviar a dor pós-operatória e escreveu um relato detalhado de suas experiência para seus ávidos leitores (WHITE, 2001, p. 4).

Foi no século XVI que missionários jesuítas trouxeram a acupuntura ao ocidente. O

despertar do público e da comunidade científica por esta técnica milenar chinesa se deu

devido á visita de médicos norte americanos a China após os anos 70, onde assistiram

cirurgias em que a anestesia era feita com agulhas de acupuntura.

A acupuntura foi definida como atividade na Classificação Brasileira de Ocupações

do Ministério do Trabalho desde 1977 e em 1995 foi reconhecida como uma especialidade

médica (LOBATO; RODRIGUES; TARANTINO, 2006).

Segundo Sussman (1973), o primeiro livro que trata da acupuntura é o Nei-Ching,

conhecido como a bíblia da acupuntura essa bibliografia está dividida em duas partes: a

primeira parte conhecida como So-Uen trata da semiologia e clínica e a segunda, chamada de

Ling-Shu refere ao tratamento com agulhas e moxas. Nesta literatura é encontrada toda

ciência do diagnóstico por meio das agulhas e das moxas.

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De acordo com o mesmo, o Nei-Ching aparece no período da Dinastia Chou (112 –

256 A.C.), não se sabe realmente quem foi seu autor, mas acredita-se que tenha sido escrito

por uma variedade de médicos, através de um recolhimento de uma antiga e ampla tradição.

O autor ressalta que durante a Dinastia Sung, foi construído famoso homem de

bronze. Trata-se de um modelo humano de tamanho natural, oco, fundido em bronze e com

todos os pontos de acupuntura perfurados. No ano de 1955 que a república popular da China

reconheceu oficialmente a acupuntura.

Ainda com base no mesmo autor, por volta de 1812, que Berlioz, pai do famoso

compositor aplica pela primeira vez em Paris as agulhas de acupuntura e publica seus

resultados. A essa primeira aplicação, seguem-se a outras de médicos que, tanto quanto

Berlioz, pouco ou nada conheciam da autêntica acupuntura chinesa. Foi muito abundante

bibliografia sobre acupuntura, ela foi discutida e criou polêmicas, mas ninguém entendia

grande parte do que estavam fazendo.

O autor refere ainda, que em 1934, Soulié de Morant publica seu famoso

“compêndio” da verdadeira acupuntura chinesa, este o primeiro livro surgido no século XX

que repercutiu em todo o mundo médico ocidental. A acupuntura se difundiu rapidamente por

toda a Europa. A Alemanha foi um dos países que mais frontamente produziu

bibliograficamente a acupuntura, ficando atrás somente da França. A Argentina foi o primeiro

país da América que reconheceu a acupuntura, devido ao Dr. José Rebuelto, quem a

introdoziu em 1948.

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2.2 DEPRESSÃO

Segundo Kaplan & Sadock (1998), o transtorno de humor é percebido como uma

linha continua que vai da alegria a tristeza, onde o mesmo é caracterizado por sentimentos

anormais seguidos de depressão ou euforia, sendo que alguns casos mais críticos apresentam

aspectos psicóticos associados ao transtorno de humor. Os autores Kaplan e Sadock (1995) e

Calil e Guerra (2004), complementam ao afirmar que a depressão consiste em um período de

alteração do funcionamento do humor deprimido (sentimentos exagerados de tristeza, vazio

ou desesperança), incluindo alterações do sono e apetite, alterações psicomotoras, dificuldade

de concentração e pensamentos suicidas.

Ainda com base nos autores Kaplan e Sadock (1996) a depressão pode ir de uma

tristeza branda durante o pesar normal até depressões e psicoses maiores, onde situações

cotidianas podem representar uma ameaça e até mesmo limitar a vida social de uma pessoa

com depressão, como exemplo, multidões, espaços fechados, perda do controle do próprio

comportamento, perda de um ente querido e perda da auto-estima.

Os autores Calil e Guerra (2004) definem depressão como sendo um distúrbio do

humor aliado a “sentimentos de tristeza e desesperança, associado às alterações cognitivas,

comportamentais e físicas”.(CALIL, GUERRA, 2004, p.29)

De acordo com Kaplan & Sadock (1999, p. 1224) “dados empíricos substanciais

confirmam a idéia da relevância de fatos da vida e estressores ambientais para o

desenvolvimento da depressão clinicamente significativa”. Esses fenômenos psicológicos

produzem alterações no hormônio liberador da corticolotrofina – hormônio

adrenocorticotrófico ACTH, essas alterações químicas resultam, de fato, em uma

manifestação da depressão clínica. Essas alterações neurofisiológicas acabam afetando

funções psicológicas , isso pode ser demonstrado em pesquisas com primatas. Deve-se levar

em consideração que as influências psicológicas atuam juntamente com fatores como

vulnerabilidade genética e alterações neurofisiológicas para produzir o quadro clínico

característico da depressão, tais como a anedonia, perda de energia, alterações do sono, entre

outros. Pode-se confirmar tal afirmação, pois, Caló (2005) ressalta que a depressão é o

resultado de fatores genéticos e ambientais/históricos, ou seja, predisposição genética

combinado com acontecimentos ao longo da vida.

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Segundo Caló (2005) a palavra depressão serve para designar o conjunto de

alterações comportamentais, emocionais e de pensamento, que afetam diretamente a vida

social do indivíduo, causando um certo desconforto, limitações e até mesmo prejuízos em

diferentes áreas da vida da pessoa que está deprimida, fazendo com que ela tenha uma

percepção distorcida da realidade.

Na visão Junguiana, conforme Gimenez (1994), os primeiros testes de associação

provaram que toda emoção, todo fenômeno psíquico tem um correlato psicológico, esse fato é

provado cada vez mais por centenas de pesquisas que mostram a relação entre o estresse e

fatores fisiológicos e orgânicos.

Os sintomas somáticos ou psíquicos têm origem nos complexos, e irão gerar uma

alteração a nível psicológico e fisiológico sincronicamente, onde nem sempre o indivíduo

percebe essas alterações. A proposta da autora em sua hipótese é a de que a doença orgânica

pode ter uma finalidade e um significado onde, em alguns casos, este significado é um

símbolo na qual compreendendo-se e integrando-se o mesmo na consciência, levará a uma

melhora no quadro de saúde geral do paciente.

Sob a perspectiva da Psicodinâmica, a depressão ou “transtorno afetivo” e

“transtorno do humor”, termos que são utilizados de forma analógica em diferentes casos, é

vista em qualquer discussão sob as causas psicodinâmicas da depressão ou mania, deve-se

evitar discussões isoladas desses fatores, e sim, aprofundar suas investigações, também, nos

fatores biológicos e neurofisiológicos (KAPLAN & SADOCK, 1999).

Ainda com base nos mesmos autores, existem teorias dentro da própria teoria

Psicodinâmica que explicam as causas da depressão, dentre elas podemos citar as mais

importantes, que são: raiva voltada para dentro; posição depressiva; tensão entre ideais e

realidade; o ego como vítima do superego; o outro dominante; a falta do objeto do self;

depressão como afeto ou formação de compromisso; privação precoce e; fatores pré-

mórbidos de personalidade. Outras teorias psicológicas explicam a depressão, tais como:

Adolf Meyer; Karen Horney; Sandor Rado; Jonh Bowlby; Harry Stack Sullivan; Teoria

Cognitivo Comportamental e; Aprendizado da impotência.

Com base nos dados do último relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), a

depressão afeta 121 milhões de pessoas em todo mundo e é mais comum nas mulheres (3,2%)

do que nos homens (1,9%), e sobre a prevalência do episódio depressivo, a ONU afirma que

5,8% dos homens e 9,5% das mulheres passarão por um episódio depressivo num período de

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12 meses (Ballone 2003). Sobre a prevalência da depressão, nas mulheres é pelo menos até

duas vezes maior que entre os homens, sendo que elas tendem a sofrer mais episódios

repetidos (HOLMES, 1997).

Cerca de 2/3 das pessoas que tem depressão, procuram tratamento e os que procuram

clínico geral, 50% são diagnosticados corretamente (BALLONE, 2003).

2.3 Tipos de Depressão

Os transtornos de humor, segundo Kaplan e Sadock (1998), dividem-se em:

transtorno bipolar e depressivo. No entanto, é importante esclarecer que o enfoque dessa

pesquisa não é descrever em profundidade o transtorno bipolar.

2.4 Diagnóstico, sinais e sintomas

Kaplan & Sadock (1998), relatam que a depressão (episódio depressivo maior) pode

apresentar-se sobre a forma de episódio depressivo maior e episódio maníaco. Pode-se

perceber, quanto aos dados obtidos na história da depressão abordados pelos autores, que

pessoas que sofrem da depressão sendo esta seguida de episódio depressivo maior

apresentam: anedonia (incapacidade de experimentar prazer), retraimento de amigos ou

família, ausência de motivação, baixa tolerância à frustração, sinais vegetativos, constipação,

boca seca e cefaléia. A depressão maior, segundo Caló (2005) caracteriza-se pela combinação

de alterações comportamentais, emocionais e de pensamento que incapacitam o indivíduo

para realizar suas atividades profissionais, acadêmicas, de lazer, além de trazer alterações no

apetite e sono.

Segundo kaplan & Sadock (1998), existem alguns aspectos que podem ser

associados a episódios depressivos maiores, dentre eles estão, as queixas somáticas

particulares que podem mascarar o desempenho do depressivo como: queixas cardíacas,

gastrintestinais(GI), gênito-urinária (GU), dor lombar inferior ou ortopédicas. Existem alguns

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outros aspectos associados ao transtorno, como: conteúdos de delírios, alucinação, delírio de

culpa, pobreza e perseguição.

Ainda com base nos mesmos autores acima citados, a depressão pode manifestar-se

em diferentes idades, sendo classificada e caracterizada conforme as fases em que a mesma

aparece, fase pré-púberes, ocorre queixas somáticas, agitação, transtorno de ansiedade e fobia,

já na adolescência as queixas é devido ao uso de substâncias, comportamento anti-social, falta

sem justificativa à escola, dificuldade escolar, promiscuidade e nos idosos ocorre déficits

cognitivos (perda de memória, desorientação, confusão),apatia, distração.

A depressão do tipo mania (episódio maníaco) conforme Kaplan & Sadock (1998),

pode apresentar - se na forma de mania ou episódio maníaco. Os dados obtidos ao longo da

história quando a depressão manifesta-se sob essa forma é de comportamento errático e

desinibido como, gastos financeiros e jogos demasiados, promiscuidade, ocorre também uma

super dedicação a atividades, baixa tolerância a frustração, sinais vegetativos (aumento da

libido, anorexia, insônia, energia excessiva).

Kaplan & Sadock (1998), citam os dados obtidos do Mini Exame do Estado Mental

com relação ao episódio maníaco, onde segundo esse estudo a aparência geral e

comportamento do depressivo que apresenta comportamentos maníacos é de agitação

psicomotora, sedução, roupas coloridas, excessiva maquiagem, desatenção no que se refere a

aparência pessoal, quanto ao afeto o mesmo é instável, intenso, o humor é eufórico,

expansivo, irritável, a fala é alta, dramática, exagerada, já quanto ao conteúdo de pensamento

é de grandiosidade, altamente egocêntrico, delírios, o processo do pensamento, está

relacionado com a fuga de idéias, neologismos, entretanto no que se refere ao insight e o

julgamento das pessoas depressivas com características maníacas estes ficam extremamente

prejudicados, existindo negação da doença e incapacidade de tomar decisões.

Segundo Kaplan & Sadock (1998), os transtornos depressivos podem ser

classificados como: transtorno depressivo maior (TDM), também conhecido como depressão

unipolar e transtorno unipolar. Este transtorno é mais comumente encontrado em mulheres

que em homens, onde o retardo e a agitação psicomotora são características presentes dos

portadores do mesmo. A idade média de início é geralmente aos 40 anos, mas pode ocorrer a

qualquer momento. Existe a presença de fatores genéticos que influenciam no aparecimento

do transtorno depressivo maior.

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Conforme Kaplan & Sadock (1998) o transtorno distímico, é considerado por eles

menos severo que o transtorno depressivo maior, sendo mais freqüente em mulheres e em

pessoas que estão dispostas a um período de tempo longo de estresse prolongado ou perdas

súbitas, pode coexistir com outros transtornos psiquiátricos como o abuso de substâncias,

transtorno de personalidade e transtorno obsessivo-compulsivo. O início do transtorno

distímico segundo Kaplan & Sadock (1998), geralmente se dá entre 20 e 30 anos, mas pode

existir também numa faixa etária inferior aos 21 anos. Este transtorno é mais comum entre

parentes de primeiro grau com transtorno depressivo maior, tendo como principais sintomas:

falta de apetite, hiperfadiga, problemas com o sono, baixa auto-estima, falta de concentração,

dificuldade para tomar decisões e falta de esperanças.

De acordo com Caló (2005) e com base nos dados do DMS-IV distimia é

considerada um tipo menos severo de depressão, em que não se observa a incapacitação,

mas que estão presentes alterações indesejáveis no humor e demais alterações

comportamentais de forma crônica. As pessoas constantemente mau-humoradas podem, na

verdade, apresentar um quadro de distimia. O transtorno bipolar, conhecido em

classificações anteriores como psicose maníaco-depressiva, tem uma prevalência menor que

os anteriores e caracteriza-se por uma oscilação extrema do humor que vai da mania

(episódios maníacos) à depressão (episódios depressivos). Segue abaixo, segundo o DSM-

VI - Diagnostic and Statistical Manual of mental Disorders, 4º ed.(2002) -, os critérios para

o diagnóstico de depressão:

• Estado deprimido: sentir-se deprimido a maior parte do tempo;

• Anedonia: interesse diminuído ou perda de prazer para realizar as atividades de

rotina;

• Sensação de inutilidade ou culpa excessiva;

• Dificuldade de concentração: habilidade frequentemente diminuída para pensar

e concentrar-se;

• Fadiga ou perda de energia;

• Distúrbios do sono: insônia ou hipersônia praticamente diárias;

• Problemas psicomotores: agitação ou retardo psicomotor;

• Perda ou ganho significativo do peso, na ausência de regime alimentar;

• Idéias recorrentes de morte ou suicídio

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De acordo com os itens respondidos, a depressão pode ser classificada em três tipos:

depressão menor: 2 a 4 sintomas por duas ou mais semanas, incluindo estado deprimido ou

anedonia; distimia: 3 ou 4 sintomas, incluindo estado deprimido, durante dois anos, no

mínimo; depressão maior: 5 ou mais sintomas por duas semanas ou mais, incluindo estado

deprimido ou anedonia.

Segundo Holmes (1997) existem duas abordagens diferentes em relação à questão

dos diferentes tipos de depressão e sua origem. O autor se refere à fatores endógenos e

exógenos como causadores da depressão, ou seja, fatores internos (orgânicos) ou fatores

externos (ambientais) e também á situações que podem ser decorrente de uma depressão. Para

este último caso, o autor traz o exemplo das depressões decorrentes da velhice, no caso

chamadas de depressões involutivas e depressões seguidas do parto, chamadas de depressão

pós-parto e depressão do climatério, sendo que esses tipos são ocorridos em diferentes

momentos do ciclo da vida humana. Após esses estudos, concordou-se que embora as

situações fossem diferentes, os fatores subjacentes (estresse, desequilíbrios bioquímicos) eram

os mesmos, o que fez com que, durante um certo período, os rótulos situacionais para

depressão fossem abolidos, voltando a ser vinculado a partir da publicação do DSM-IV, como

por exemplo o diagnóstico denominado depressão com início pós-parto.

O autor cita alguns tipos de depressão, como: depressão involutiva depressão pós-

parto e do climatério, conforme mencionados acima, depressão com padrão sazonal; que esta

relacionado com a baixa luz diurna ocorrida frequentemente no inverno, transtorno disfórico

pré-menstrual, na qual precede a menstruação da mulher e personalidade depressiva, que

“representa uma extremidade de um contínuo de severidade que vai da personalidade

depressiva passando pela distimia até o transtorno depressivo” (HOLMES, 1997, P. 172).

Vale ressaltar que a distimia, segundo este autor é considerada uma depressão leve e que

atualmente, baseado em evidência, a distimia frequentemente precede uma depressão maior.

O mesmo autor, ressalta ainda a importância da distinção entre a depressão primária

onde o transtorno do humor é problema principal e a depressão secundária, na qual o

transtorno de humor é decorrente de algum outro problema físico ou psicológico.

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2.5 AS RELAÇÕES EXISTENTES ENTRE A PSICOLOGIA E A MEDICINA

TRADICIONAL CHINESA (MTC)

Os objetivos da Psicologia e da MTC – Medicina Tradicional Chinesa - são

semelhantes no sentido de buscar um equilíbrio orgânico e mental. Ou seja, a psicologia

possui, em geral, a intenção de estudar o homem em seus diversos aspectos e contextos e

como ele se relaciona consigo mesmo, com os outros e com o ambiente. Por sua vez, a MTC

também busca o mesmo. É importante ressaltar que a Acupuntura é umas das linhas

terapêuticas dentre as existentes na MTC, dentre elas podemos citar, por exemplo, a

Fitoterapia, Tui Na – massagem terapêutica chinesa – e Dietética (Spa da linha, 2006).

A Psicologia tem como base para suas explicações para os fenômenos psicológicos

humanos, diferentes teorias da personalidade, as quais descrevem o comportamento humano

tanto objetivo, como subjetivo.

O termo personalidade refere-se às diversas formas de manifestações somáticas e

psíquicas do homem, descrevendo constantemente suas percepções, seus pensamentos,

sentimentos, ações, enfim, às manifestações em geral de um indivíduo (BOCK, FURTADO,

TEIXEIRA, 1993).

O estudo da personalidade deve ser compreendido no seu aspecto de psicologia geral, isto é, como meio de se estabelecerem leis gerais sobre o funcionamento da personalidade – o que existe em comum em todas as personalidades humanas -, independente de fatores culturais, grupais ou circunstâncias. (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 1993, p.115).

Assim como a psicologia foi construída a fim de auxiliar na redução do sofrimento

humano a MTC também foi criada com o mesmo intuito, ou seja, amenizar o sofrimento,

ansiedades e toda a forma de dor, seja ela psíquica ou corporal, e esse é um ponto importante

na relação existente entre Psicologia e MTC. É neste sentido, que a MTC aproxima-se da

psicologia, no sentido da intervenção e ajuda ao sofrimento psíquico ou distúrbios

psicológicos propriamente ditos.

Baseado nisso que o Conselho Federal de Psicologia – CFP – reconheceu o uso da

Acupuntura como recurso complementar no trabalho do psicólogo, no ano de 2002:

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CONSIDERANDO a utilização da Acupuntura como instrumento de ajuda e eficiência aos modelos convencionais de promoção de saúde; CONSIDERANDO a proximidade de propósitos entre a Acupuntura e a Psicologia, no sentido da intervenção e ajuda ao sofrimento psíquico ou distúrbios psicológicos propriamente ditos - segundo Catálogo Brasileiro de Ocupações / MTE e a concepção da própria acupuntura – (CFP, nº005/2002, p.1).

A partir destas e de outras considerações é que a Acupuntura passou a ser um recurso

complementar no trabalho do psicólogo na sua prática clínica. É importante ressaltar que ela

não é reconhecida como um tipo de psicoterapia, mas, conforme já mencionado, um recurso

auxiliar no trabalho do psicólogo.

Entretanto, segundo o Conselho Federal de Psicologia – CFP -, para que o psicólogo

possa exercer a Acupuntura, ele deve comprovar que possui curso de formação específico em

Acupuntura, obtendo dessa forma, a capacitação apropriada e adequada para realizar tais

atendimentos clínicos (CFP, 2002).

Art.1o- Reconhecer o uso da Acupuntura como recurso complementar no trabalho do psicólogo, observados os padrões éticos da profissão e garantidos a segurança e o bem-estar da pessoa atendida;

Art 2o – O psicólogo poderá recorrer à Acupuntura, dentro do seu campo de atuação, desde que possa comprovar formação em curso específico de acupuntura e capacitação adequada, de acordo com o disposto na alínea “a” do artigo 1o do Código de Ética Profissional do Psicólogo (CFP, 2002, p. 2).

Esta resolução foi regulamentada no dia vinte e quatro de maio de dois mil e dois

(24/05/2002) em plenária realizada pelo Conselho Federal de Psicologia, tendo como

conselheiro, na data presente, o Sr. Odair Furtado (CPF, 2002).

2.6 Contribuições da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) para o estudo da Depressão

Segundo Faubert e Crepon (1990), mente e corpo são partes indissociáveis do corpo

humano, ambos apresentam manifestações distintas da mesma energia. De acordo com ao

princípios da MTC, no que se refere ao tratamento de perturbações, tanto psíquicas quanto

orgânicas, seria impossível tratar de uma sem referência a outra.

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De acordo com o mesmo, o psiquismo é formado por cinco funções, denominadas,

segundo Charles Laville-Méry de “entidades viscerais”, onde cada uma dessas entidades está

relacionada com um órgão, que, todavia, manifestam conteúdos psíquicos através de aspectos

fisiológicos. Logo, o equilíbrio do psiquismo provém do equilíbrio mútuo das entidades

viscerais. Sussmann (1973) complementa ao afirmar que os sintomas vão estar de acordo com

os danos causados a um dos cinco órgãos, sejam estas manifestações de plenitude ou de vazio.

A doença é a manifestação de um desequilibro energético, portanto “curar uma

enfermidade é restabelecer o equilíbrio energético” (Sussman, 1973). Segundo Faubert e

Crepon (1990), a manifestação psíquica se dá através de aspectos fisiológicos que

reapresentam qual órgão está sendo afetado por excesso, insuficiência ou até mesmo o

bloqueio da circulação da energia.

Ainda com base no mesmo autor, ele afirma que, a entidade Chenn está relacionada

com o coração, e é responsável pelo equilíbrio psíquico, logo, possui o papel de regularizador

das outras entidades viscerais. Segundo o mesmo, o Chenn é responsável pela sintetização das

informações recebidas e o consequentemente o julgamento decorrente das informações

referida no passado. Se estiver em excesso, há uma super estimulação mental, correspondendo

uma depressão por excesso de fogo, as se está insuficiente, há timidez, medo, inquietação,

entre outros sintomas.

O autor refere também, a entidade visceral I, que tem como seu órgão correspondente

o baço. Esta entidade representa a memória, pertence ao domínio do adquirido. Se estiver em

excesso, segundo o autor, “há tendências para a rotina, para as manias, para a obsessão, para a

rigidez mental.” (Faubert e Crepon, 1990 p. 97).

Ainda com relação ao “I”, o autor acima citado, classifica os sintomas das depressões

por excesso, através de preocupações e abatimento. Se for insuficiente, há uma queda na

produtividade intelectual, perda de concentração, ausência de desejo, entre outros.

A entidade Chenn está relacionada com o coração, e é responsável pelo equilíbrio

psíquico, logo, possui o papel de regularizador das outras entidades viscerais.

Revisando a sintomatologia detalhada que nos mostra a ação dos principais pontos da

acupuntura, observa-se que em todos os casos, em conjunto ocorrem sintomas somáticos e

psíquicos. Referente aos aspectos psíquicos dos cinco elementos - Hun, Shin, I, Pó, Tsching -,

se transcrevem na fonética original. (Sussman, 1973)

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O Hun corresponde ao nosso conceito de consciente e Pó o de inconsciente. Shin

significa coração, onde se assenta a atividade espiritual e do sentimento, onde para os

pensadores do extremo oriente coração e mente são uma coisa só. Shin é o espírito vivo, onde

este corresponde ao Yang e precisa ser completado com o Inn. Tsching significa melhor, o

mais puro, o mais delicado de algo e, finalmente, o esperma e a alma inteligente e o I significa

o pensar. (Sussman, 1973)

É possível perceber claramente que, segundo Sussman (1973) nas patologias em que

os fatores psíquicos desempenham o principal papel, será necessário tratar o meridiano do

coração ou da circulação-sexualidade, pois, estes dois regem de forma primordial a energia

psíquica.

A depressão normalmente está associada com a deficiência, quando simplesmente

não existe energia suficiente para sentimentos positivos, ou com estagnação quando existe

energia, mas o fluxo de energia e das emoções está bloqueado. A deficiência também pode

estar associada com o excesso, como na depressão maníaca, ou com a irregularidade, como no

caso da depressão acompanhada de ansiedade. (Ross, 2003).

De acordo com o autor acima citado, a depressão corresponde ao aspecto mais Yin e

pode estar ligada com cada um dos sistemas. Embora a deficiência de Qi ou de sangue podem

estar associadas com a depressão, a deficiência de Yang tem mais probabilidade em associar-

se com depressão em decorrência da falta de movimento emocional.

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3 METODOLOGIA

3.1 Tipo de pesquisa

O método utilizado foi a pesquisa qualitativa do tipo exploratória, que de acordo com

Chizzotti (2006), é uma abordagem que parte do alicerce de que há uma relação ativa entre o

mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre sujeito e objeto, uma conexão

indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito. Complementando, Gil

(1999) afirma que a pesquisa do tipo exploratória consiste em estudar em profundidade

determinado fenômeno, acerca de um tema pouco estudado ou explorado. Requer uma revisão

da literatura, discussão com especialistas e outros procedimentos, onde no final resultará em

um problema esclarecido.

3.2. Sujeitos

Fizeram parte deste estudo dois profissionais Psicólogos que fizeram formação

teórica e prática em Acupuntura no CIEPH – Centro de Estudos e Pesquisas do Homem.

Foram selecionados dois profissionais, pois o objetivo da presente pesquisa é investigar em

profundidade o fenômeno anteriormente descrito (no capítulo II deste trabalho). É importante

referir que o número de profissionais da área da psicologia que apresentam a formação

específica para utilização da acupuntura na sua prática profissional ainda é restrito devido à

recente regulamentação desta prática.

3.3. Instrumento para coleta de dados

Nesta pesquisa o instrumento utilizado para a coleta de dados foi a entrevista semi-

estruturada. Segundo Gil (1999), a entrevista é uma forma de interação social, mais

especificamente, uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes procura coletar

dados e a outra se apresenta como fonte de informação. Esta técnica tem como base um

roteiro pré-estabelecido de acordo com a problemática central, mas os entrevistados ficarão

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abertos a discussões acerca do assunto, permitindo, dessa forma, que as resposta possam ir

além do roteiro pré-estabelecido. Pois, conforme Pádua (2000), na entrevista semi-

estruturada, o pesquisador estabelece um conjunto de questões sobre o tema que está sendo

estudado, mas permite que o entrevistado fale livremente sobre os assuntos que vão

aparecendo no desdobramento acerca do tema principal.

3.4. Procedimento

Esses profissionais foram localizados e contatados através do local onde realizaram

sua formação – CIEPH – a partir da colaboração e autorização por parte desses profissionais,

iniciou-se os contatos para coletarmos os Termos de Consentimento Livre e Esclarecido que

precisaram ser assinados pelos sujeitos que fizeram parte dessa pesquisa. Ficou esclarecido

para esses sujeitos que a realização da entrevista semi-estruturada seria no local e na hora que

lhes convier e que a mesma só seria gravada com a sua autorização.

É importante ressaltar que foi esclarecido aos mesmos todas as questões éticas

envolvidas, como sigilo de informações pessoais que possam comprometer a preservação do

sujeito. As entrevistas foram iniciadas a partir do mês de setembro do ano de 2007.

As fitas contendo as informações coletadas no momento da entrevista foram

arquivadas pelo pesquisador durante um período de cinco anos e, posteriormente, serão

incineradas.

3.5. Análise dos dados

As entrevistas foram gravadas para posteriormente serem transcritas, tendo como

recurso a análise de conteúdo que, segundo Moraes (1999) pode ser constituída de qualquer

material vindo de diversas fontes de comunicação não verbal, dentre elas, a entrevista, e que

se deve levar em consideração o contexto na qual se está analisando. O autor afirma que no

decorrer do processo da análise de conteúdo, irão se formar categorias assim como objetivos

irão se delineando também. Para isso, Moraes (1999) sugere um roteiro como uma forma de

categorizar os possíveis objetivos, que consiste em seis questões: 1) quem fala? ; 2) Para dizer

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o quê? ; 3) A quem? ; 4) De que modo? ; 5) Com que finalidade? ; 6) Com que resultados?

Seguindo a orientação dessas questões, será realizada a categorização das respostas, levando

em consideração os aspectos intrínsecos e o contexto.

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4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

As categorias foram formuladas a partir dos objetivos da presente pesquisa e

conforme o discurso dos sujeitos nas entrevistas.

CATEGORIAS

SUJEITO 1 SUJEITO 2

Intervenção complementar O entrevistado não abordou esta

questão especificamente

“É aliado, é paralelo. Não podemos dizer que seria complementar, é aliado.” “...tudo depende do quadro de depressão, se é profundo, se é crônico.”

Como atua a acupuntura

“Ela visa realmente saúde e não simplesmente a diminuição de um sintoma.” “... a acupuntura te ajuda a fazer essas mudanças estruturais, ela te coloca em contato contigo mesma...” “...a hora que vc coloca uma agulha, vc trata o ser humano como um todo...” “...vc tem que cultivar não só dentro do consultório através da acupuntura e de todas as técnicas, mas também com orientação de vida, exercício físico, mudanças na alimentação, para pessoa ir reagindo...” “A acupuntura é um tratamento muito mais preventivo do que curativo...” “Ela entende que qualquer sintoma que tu tenha, seja uma depressão, ...esse não é o teu problema, isso são sinais de um desequilíbrio dessa energia.”

“...o tratamento da acupuntura responde rápido, e numa primeira consulta vc consegue uma melhora mínima de 50%...” “...ela trabalha com a visão holística do sistema...” “...energias internas...” “...equilibrá-las...

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Energia corporal

No psicológico

“Então tu vai ta trabalhando em cima da energia da pessoa...” “...vai reequilibrar o indivíduo...” “...vc tem que cultivar essa energia...” “...a gente não bota nada dentro da pessoa com as algulhas, a gente vai fazer com que os órgãos produtores de energia dela funcionem melhor...” “...se tem muita energia, se tem pouca energia, se está bloqueada...se esta faltando energia aqui tem que jogar pra lá...é isso que tu vai fazer na acupuntura, não vai trabalhar a depressão...” “...isso são sintomas ...na hora que tu regulariza o fluxo energético, os sintomas somem...” “...tudo é energia...” “...o tratamento é em cima de todos os dados que paciente te fornece e tu vais equilibrar isso: o Yin e o Yang dentro da energia dele, se tem muito Yang diminui, se tem muito Yin tu sobe o Yang, um vai regular o outro...” “...tenta pegar a raiz...” “...mudanças estruturais...”

“...os pontos de aplicação das agulhas, ou determinadas manipulações de massagem acabam estimulando a ‘partura’ de algumas lembranças que estavam esquecidas...” “...o organismo superou...” “Tem pacientes que chegaram aqui ao extremo, que tem contraturas musculares violentas e vc precisa tirar rápido as agulhas para que não se machuque, por conta de que? De que a emoção que está saindo não é tristeza, é

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Na estimulação da produção de hormônios

raiva e o sujeito fica muito irritado, mas de forma indireta o sujeito acaba eliminando isso, as vezes consciente do conflito dele, as vezes inconsiente mas simplesmente entendendo que saiu alguma coisa, uma raiva que estava ali depositada” “...e eu não mexi em nada do que se refere ao histórico emocional dele, surgiu por conta da aplicação das agulhas...” “Se sabemos que a serotonina é produzida pelo cérebro, mas hj em dia se sabe, e a Medicina Chinesa já sabia há muito tempo, que a serotonina é produzida mais pelo intestino grosso do que pelo cérebro. O intestino produz mais serotonina em quantidade muito maior. Então num sujeito depressivo a primeira coisa que temos que fazer é tratar o intestino grosso, modificar a alimentação de forma que o metabolismo possa voltar a funcionar para que de forma natural ele possa voltar a produzir serotonina, então dessa forma já consigo melhorar o sujeito num graus de mais de 50%...” “...acupuntura para fortalecer o organismo e permitir que ele volte a produzir diferentes hormônios que equilibram...” “...vc pode trabalhar muitos conflitos, muitos problemas...”

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Benefícios

“...ela tem muito pouco efeitos colaterais, é uma técnica barata, muito eficaz, sua eficácia foi comprovada por muitos anos de prática...” “Então eu acho que esse é o grande benefício desse tipo de técnica é que tu vai fazer uma busca na saúde no sentido amplo do termo, não só eliminar um sintoma, mas reequilibrar o indivíduo...de uma maneira fácil, econômica, sem efeitos colaterais desde que seja feita da maneira adequada...” “...sempre é individualizado...” “...eu vejo melhorar muitas coisas...”

“...é muito eficaz...” “...já consigo melhorar o sujeito num grau de mais de 50%...” “...rapidez do tratamento...” “...podermos trabalhar de forma indireta um conflito...” “...desbloquear e liberar um conflito...”

Indicação O entrevistado não abordou esta

questão especificamente

“Indicaria a acupuntura mais para depressão endógena, depressão profunda do que para depressão leve...” “...depressão profunda, extrema, endógena...” “...a princípio a acupuntura serve para qualquer tipo de quadro, não vejo discriminação nisso...”

Psicologia X Medicina Tradicional Chinesa

“Eu utilizo a capacidade de criar uma empatia com o paciente, de criar vínculo...” “Não existe essa separação entre o que é psique e o que é soma...” “Existem uns conflitos...” “...visão de homem...” “...ela é diferente...” “...a MC considera as emoções com uma das fontes primárias no desenvolvimento de desequilíbrios...” “...a MC da muita importância a questão dos fatores emocionais, aos sentimentos, as emoções...ela trabalha com algumas emoções básicas que

“...a teoria Reichiana, teoria energética psicológica postula que a memória ... músculos, pois bem, a medicina chinesa diz coisas semelhantes...ela diz que a energia mental circula nos músculos, que determinadas manipulações manuais, como massagem por exemplo ou acupuntura vc ta perfurando músculos, vc ta mexendo com o sujeito e se existe um bloqueio, se sabe fazer a manipulação correta, vc desbloqueará e se desbloquear, vêm a memória e como te comento...muitas

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são geradoras de doenças...inclusive explica o que essas emoções fazem dentro do teu corpo...” “... existem paralelos...” “...o que não é convergente é esse necessidade de separar corpo e alma isso aí não existe na MC..como trabalhar só a mente?...” vc trabalha em cima na energia...esse é o material da MC “...reflexos da tua energia, se tuas emoções estão equilibradas, é porque as tuas emoções tão equilibradas, se teu fisiológico ta equilibrado é porque tua energia equilibrada, se a tua energia ta desequilibrada tu vai começar a ter sintomas de desequilíbrio emocional e tb físico...” “...alterações físicas junto...” “...nunca tu vai conseguir tratar só o emocional...” “...depende da energia para que o emocional exista e pra tu ter energia tu precisa dos órgãos em funcionamento...” “...então é mto difícil tu desatrelar uma coisa da outra...” “...a acupuntura pare do pressuposto de que vc trabalha em cima da ene “Como que vc isola isso?...” “...por trás dessa queixa física, existe um emocional...” “... diagnóstico dentro da energia...” “Com relação à depressão, tu podes pegar vários livros de acupuntura e tu vai ter várias síndromes, vários quadros dentro da energia mesmo que podem levar a sintomas que a gente chamaria de depressão, mas existem várias coisas que podem levar a isso dentro da MC, em vez de ser uma teoria

vezes vêm em forma de lembrança e a pessoa chora e passou! E depois lembra disso e já não lembra mais com medo, com sensação de alfição, com angústia, não! Simplesmente lembra, ou seja, o organismo superou. Então é nesse sentido que muitas vezes a conjunção de ambas é muito importante.” “...com ajuda de um psicoterapeuta é muito mais fácil e muito mais eficaz...” “...eu acho fundamental o casamento entre ambas...” “É muito importante a

relação da psicoterapia com

a acupuntura, feitas por

profissionais diferentes

porque a relação terapêutica

é diferente.”

“Em princípio eu não tenho tido dificuldade de interligar as teorias...” “...se encaixam muito...” “...pode encaixar e relacionar com a MTC.” “Não foge muito da psicologia ocidental...” “...em alguns momentos alguns conceitos que se cruzam, se chocam e são diferentes, particularmente eu opto pelo conceito da MC.” “...não tendo essa dificuldade de compressão...” “Os conceitos da MC são conceitos que se entrelaçam com os conceitos da psicologia...” “E esse foi um dos motivos pelos qual o CFP aceitou a acupuntura como complemento terapêutico, e

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generalista como é a nossa, a gente pega vários indivíduos, faz uma amostra e vê que todos eles apresentam os mesmos sintomas e se tiver 5 dentro de uma lista de 20 tu é depressivo, é assim que a gente faz..e MC faz justamente o contrário, tu vai pegar a pessoa e olhar o pulso dela, a língua dela...tudo que ela fala a respeito dela...” “A acupuntura é uma escola completa, tem uma anatomia própria, uma fisiologia própria... uma etiologia própria, um diagnóstico um tratamento próprio, tudo próprio...” “...trata a base...”

se encaixou perfeito.” “...ter um pensamento único quando se fala de psicologia e acupuntura.”

Acupuntura – Definição

“Utilizo como uma ferramenta dentro do processo terapêutico, mas ela não é como uma ferramenta, a acupuntura tem uma teoria completa, é uma medicina completa, ela tem uma fisiologia própria, um diagnóstico próprio, uma própria maneira de explicar o que é saúde e o que é doença, ela é um corpo completo de conhecimento...” “A acupuntura é uma escola completa, tem uma anatomia própria, uma fisiologia própria...uma etiologia própria, um diagnóstico próprio, tudo próprio...”

Caracterização da depressão para MTC

Trabalha diretamente síndromes e sintomas

“...mais de 160 síndromes diferentes...” “...existem vários graus, vai do moderado até o severo...” “Depressão não existe na Medicina Chinesa...” “...a depressão, essa palavra, ela não fala muita coisa pra Medicina Chinesa...” “...tu tem que traduzir isso em sintomas objetivos...” “...na Medicina Chinesa a gente trabalha com síndromes...”

O entrevistado não abordou esta questão especificamente

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Desequilíbrio corporal

“...falta de energia no teu corpo...” “...depressão em muitas dessas síndromes...” “alguns dos teus órgão não esta funcionando bem...” “..acúmulo excessivo de toxinas no teu corpo...” “...sensação que a gente chama de depressão...” “...se ela é uma pessoa muito Yang muito ativa, muito estressada, tem determinadas tendências de adoecimento...” “...então uma pessoa muito apática, muito Yin como a gente fala, ela já vai ter outras tendências, como a depressão por exemplo...” ...o Yang é o calor, a luz, o movimento, a atividade e o Yin é o introvertido, o passivo, o frio...” “...se ela é uma pessoa muito Yang muito ativa, muito estressada, tem determinadas tendências de adoecimento...” “...então uma pessoa muito apática, muito Yin como a gente fala, ela já vai ter outras tendências, como a depressão por exemplo...” ...o Yang é o calor, a luz, o movimento, a atividade e o Yin é o introvertido, o passivo, o frio...”

Medicina Ocidental e MTC

“...como é que a gente faz na nossa medicina? A gente tem lá uma lista de sintomas,... e tu vai marcando, se tiver no mínimo 5 sntomas, vc é depressivo...” “...vc é taxado de depressivo...” “...a medicina chinesa faz exatamente o oposto...” “...tu chega aqui com um rótulo geral, ...tu tem que ser

“Não havia medicina ocidental e não haia medicina oriental. Então o médico para fazer acupuntura precisa de que? Ou esquecer tudo que aprender em medicina ou criar outra acupuntura que é o que aconteceu com a medicina. A medicina

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individualizado, como que é em ti essa depressão?” “...como a depressão ta aparecendo...” “...visão muito diferente, parece muito simples mas na hora que vc começa a ver, é uma mudança de visão de homem, de mundo, então a nossa medicina trabalha muito em cima do sintoma, não vê o indivíduo como um todo, vc tem o sintoma então vc corta o sintoma fora e pronto! É muito bom em alguns casos que a gente possa fazer isso, mas não é suficiente.” “Aí tu quer pegar a medicina deles e encaixar, torcer, virar para poder caber dentro do que a gente acha que é certo, então não tem como. A menos que tu perca muito em termos de conhecimento, em termos do que é mesmo a MC e muita gente tem usado isso...tem usado de uma maneira leviana...”

ocidental criou uma acupuntura diferente que não é a acupuntura da MC, que é baseada em que? Em neurotransmissores, baseada no Sistema Nervoso Central, terminações nervosa, enfim, em outras substâncias que equilibrariam o organismo.”

Relação terapeuta/paciente na

psicologia e MTC

O entrevistado não abordou esta questão especificamente

“...eu não consegui misturar isso, ou seja, ou é paciente de psicoterapia, ou é paciente de acupuntura psicológica, fazer as duas coisas não tem como, pq? Pq a instância da relação com o paciente é diferente, quando vc faz acupuntura psicológica no paciente, vc vai virar amigo dele, essa empatia que tem a ver com a transferência, tudo isso tem a ver com a relação terapeuta/paciente e no processo psicoterápico se configura numa estrutura X e no processo de acupuntura é outro.” “...a relação é diferente, a gente já muitas vezes vira amigo, ultrapassa os limites

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de uma intimidade que num processo psicoterápico é necessário vc definir muito bem...”

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5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A partir dos objetivos explanados na introdução deste trabalho de pesquisa,

analisaremos os dados relatados no discurso dos sujeitos 1 e 2, objetivando a compreensão da

relação entre o uso da acupuntura no tratamento da depressão. É importante ressaltar que a

acupuntura é exercida como um tratamento paralelo na prática profissional dos psicólogos

entrevistados, neste caso, no tratamento da depressão e não utilizada apenas como recurso

complementar, conforme art. 1º do CFP (2002):

Art.1º - Reconhecer o uso da Acupuntura como recurso complementar no trabalho do psicólogo, observados os padrões éticos da profissão e garantidos a segurança e o bem-estar da pessoa atendida.

A intervenção da acupuntura tem um papel específico e único no tratamento de casos

como depressão, independente da indicação paralela de outras intervenções, como o uso de

psicofármacos ou mesmo a psicoterapia. Não que esse último procedimento não tenha sua

importância, pois, segundo nossos entrevistados a acupuntura é uma técnica que pode ser

paralela, aliada ao processo psicoterapêutico e não somente complementar. Sua técnica e

teoria permitem trabalhar o sujeito de forma independente, como citado anteriormente,

dependendo do caso.

De acordo com um dos sujeitos entrevistados, a acupuntura possui uma teoria

completa, uma forma própria de entender a doença e o indivíduo, “utilizo como uma

ferramenta dentro do processo terapêutico, mas ela não é como uma ferramenta, a

acupuntura tem uma teoria completa, é uma medicina completa, ela tem uma fisiologia

própria, um diagnóstico próprio, uma própria maneira de explicar o que é saúde e o que é

doença, ela é um corpo completo de conhecimento...”. Pôde-se verificar que os benefícios do

uso desta prática, citados pelos profissionais, são basicamente: a rapidez no tratamento, a

eficácia, poder trabalhar de forma indireta um conflito, desbloquear e liberar um conflito e

também a individualidade na qual o sujeito é tratado. Como fica evidenciado na seguinte

afirmação: “...ela tem muito poucos efeitos colaterais, é uma técnica barata, muito eficaz, sua

eficácia foi comprovada por muitos anos de prática...então eu acho que esse é o grande

benefício desse tipo de técnica, é que tu vai fazer uma busca na saúde no sentido amplo do

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termo, não só eliminar um sintoma, mas reequilibrar o indivíduo, de uma maneira fácil,

econômica, sem efeitos colaterais, desde que seja feita de maneira adequada...”. Com relação

aos benefícios, de acordo com Ferreira (2007), a acupuntura é um tratamento que pode ser

associado a outros, como por exemplo a fisioterapia e a psicoterapia, dentre outros. Essa

associação, promove desde a aceleração e a facilitação desses tratamentos, até a redução das

doses de medicamentos utilizados.

Um dado importante de mencionar é sobre a relação terapeuta/paciente. Segundo um

dos entrevistados, essa relação é estabelecida de forma distinta entre as práticas do

profissional psicólogo acupunturista e do psicoterapeuta, ou seja, o vínculo que se estabelece

com o paciente de acupuntura é diferente do estabelecido na psicoterapia, “...a instância da

relação com o paciente é diferente. Quando você faz acupuntura psicológica no paciente,

você vai virar amigo dele, essa empatia que tem a ver com a relação terapeuta/paciente e no

processo psicoterápico se configura numa estrutura X e no processo de acupuntura é

outro...”. Neste sentido, o terapeuta ressalta a importância das duas práticas feitas de forma

paralela e por diferentes profissionais, “é muito importante a relação da psicoterapia com a

acupuntura, feitas por profissionais diferentes, porque a relação terapêutica é diferente.”

Com relação aos quadros de depressão e a indicação da acupuntura, os dados obtidos

através das entrevistas revelaram que esta prática seria mais indicada para casos de depressão

endógena, profunda, do que para casos de depressão leve, não havendo restrição do uso desta

prática para quadros específicos de depressão. Holmes (1997) esclarece que existem duas

abordagens diferentes em relação à questão dos diferentes tipos de depressão e sua origem. O

autor se refere a fatores endógenos e exógenos como causadores da depressão, ou seja, fatores

internos (orgânicos) ou fatores externos (ambientais) e também a situações que podem ser

desencadeadoras de um quadro de depressão. Caló (2005) complementa tal afirmação ao

ressaltar que a depressão é o resultado de fatores genéticos e ambientais/históricos, ou seja,

predisposição genética combinada com acontecimentos ao longo da vida.

Por outro lado, de acordo com Rocha (apud VASCONCELLOS, 2007), a

acupuntura é uma técnica que têm sido estudada e utilizada em casos de depressão. Segundo o

autor, essa técnica auxilia no tratamento em casos de depressão leve, não exigindo, muitas

vezes o uso de remédios, exceto em casos de depressão mais grave, onde a acupuntura atua

como um recurso complementar ao tratamento medicamentoso, auxiliando na redução dos

efeitos colaterais.

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A visão sob o prisma da MTC, parte do princípio de que o sujeito apresenta sintomas

que a Medicina Ocidental chama de depressão. Neste sentido, as visões de homem e de

mundo são diferentes, o que ocorre segundo um dos sujeitos entrevistados, é que o

desequilíbrio energético e o acúmulo de toxinas produzem tais sintomas correspondentes a os

de um quadro de depressão, “...se ela é uma pessoa muito Yang, muito ativa, muito

estressada, tem determinadas tendências de adoecimento...então uma pessoa muito apática,

muito Yin como a gente fala, ela já vai ter outras tendências, como a depressão por

exemplo...”. De acordo com Ross (2003), a depressão está associada com a deficiência, a falta

de energia suficiente para sentimentos positivos e até mesmo o bloqueio da mesma, no caso

da depressão, o autor comenta sobre a insuficiência ou estagnação da energia Yang e a

probabilidade de associá-la com a depressão. Para Claudino (2007), os sintomas se

manifestam de forma diferente nas pessoas e dependendo da forma como eles aparecem é que

se irá tratar a energia, buscando o reequilíbrio, de modo que os sintomas desapareçam.

Ao serem indagados sobre a articulação dos referenciais teóricos da MTC e da

Psicologia na prática profissional, os entrevistados relataram situações distintas. Para um dos

sujeitos, não existe dificuldade de articulação entre ambas as teorias, mesmo porque existem

teorias da psicologia que postulam teorias semelhantes com as teorias da MTC, como a Teoria

Reichiana, por exemplo, “...ela diz que a energia mental circula nos músculos, que

determinadas manipulações manuais, como a massagem por exemplo ou a acupuntura, você

está perfurando os músculos, você está mexendo com o sujeito e se existe um bloqueio, se

sabe desbloquear, vêm a memória...”, entretanto são teorias que podem ser encaixadas e

relacionadas, “...eu acho fundamental o casamento entre ambas...”.

Segundo Claudino (2007), as questões psíquicas são consideradas, na MTC, fatores

desencadeadores de desequilíbrios, causando dessa forma, alterações no sistema defensivo

corporal, bem como um conseqüente surgimento de doenças. De acordo com a mesma, “...a

noção de homem e de mundo que permeia a ancestral cultura chinesa pode ser de grande

ajuda na resolução de conflitos, dilemas e questionamentos ocidentais...” (CLAUDINO, 2007

p. 02).

O outro entrevistado, por sua vez, relata que existem alguns conflitos com relação à

articulação das teorias na prática profissional. De acordo com o mesmo, essa articulação

requer certo cuidado do profissional, pois na MTC não existe uma separação entre o corpo e a

alma e é nesse sentido que fica muito difícil trabalhar com tais questões, porque na psicologia

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trabalha-se somente a mente e na MTC não, trabalha-se sob a energia que circula no

organismo e que envolve tanto o físico como o emocional. Segundo Faubert e Crepon (1990),

mente e corpo são partes indissociáveis do corpo humano, ambos apresentam manifestações

distintas da mesma energia. De acordo com os princípios da MTC, no que se refere ao

tratamento de perturbações, tanto psíquicas quanto orgânicas, seria impossível tratar de uma

sem referência a outra.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através da presente pesquisa, podemos verificar que a acupuntura, realizada na

prática profissional dos psicólogos entrevistados, é uma intervenção independente e paralela à

psicoterapia no tratamento da depressão. Por esta prática possuir uma teoria completa, que a

torna capacitada para dar conta de enfermidades tanto psíquicas quanto orgânicas, esta acaba

sendo realizada não somente como uma intervenção complementar, mas como um tratamento

único e central dessas enfermidades. A intervenção da psicoterapia é utilizada somente

quando detectada a necessidade deste recurso, e assim é feito um encaminhamento para outro

profissional psicólogo que atenda a demanda de tal caso.

É importante mencionar que a recente Portaria nº 971 de 3 de maio de 2006

considera que tal recurso pode ser exercido pelos profissionais da área da saúde que são

habilitados para exercer esta prática e que a mesma pode ser exercida de forma conjunta com

outros recursos terapêuticos, como por exemplo, no caso da psicologia, a psicoterapia.

Ressalta-se que, conforme os resultados obtidos neste estudo, em especial no caso de

profissionais psicólogos, deve-se despender especial atenção ao vínculo terapêutico

estabelecido, ou seja, a relação terapeuta/paciente. Os sujeitos entrevistados nesta pesquisa

alertam para o cuidado do profissional psicólogo com formação em acupuntura quanto ao

vínculo estabelecido com o paciente no exercício da sua prática, alegando ser incompatível o

desempenho de dois papéis concomitantemente, sendo os mesmos o papel de terapeuta

acupunturista e psicoterapeuta.

A relação terapêutica estabelecida entre o paciente e o psicólogo acupunturista e a

relação entre o paciente e o psicoterapeuta são distintas, pois o vínculo estabelecido é outro

em ambos os casos, daí a importância de fazer o encaminhamento para outro profissional, que

faça um atendimento complementar e específico para tal demanda, respeitando eticamente os

preceitos teóricos e práticos da sua área de formação.

Com a inclusão desta prática no Sistema Único de Saúde – SUS -, os profissionais

terão mais um nicho no mercado de trabalho, ampliando a prática profissional e a divulgação

de tal recurso como tratamento para enfermidades tanto psíquicas quanto orgânicas.

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Com relação aos benefícios do uso desta prática, é possível afirmar que, por possuir

um aporte teórico da Medicina Tradicional Chinesa, ela permite trabalhar a saúde de um

modo geral, com intuito de reequilibrar o indivíduo, e não apenas eliminar o(s) sintoma(s) e a

queixa. Por ora, é uma técnica que permite ser associada a outros tipos de tratamentos. No

caso de medicamentos, na maioria dos casos, é uma intervenção que ajuda na redução dos

efeitos colaterais. Um outro dado apontado na pesquisa, é que a acupuntura pode ser indicada

para qualquer caso de depressão, não havendo restrição quanto ao tipo desta patologia,

embora apresente resposta mais rápida em casos de depressão profunda e endógena. Por outro

lado, há confirmações de autores que relatam que a acupuntura é indicada para casos de

depressão leve e em casos de depressão profunda, ela auxilia na redução dos efeitos colaterais

dos medicamentos utilizados, como citado anteriormente.

Portanto, esta pesquisa teve o intuito de contribuir para ampliar a utilização de

recursos, buscando demonstrar teórica e empiricamente a existência da eficácia do uso da

acupuntura no tratamento da depressão, bem como, auxiliando no conhecimento de mais uma

alternativa entre os recursos existentes no mercado para esse transtorno, que vem se tornando,

cada vez mais, comum entre a população.

Um ponto a ser aprofundado em uma futura pesquisa é uma investigação envolvendo

um maior número de profissionais psicólogos acupunturistas e fazer um acompanhamento -

folow – up – longitudinal - da aplicação da acupuntura em diferentes quadros de depressão

para que seja possível verificar a eficácia em diferentes quadros com seus sintomas

específicos. Outra sugestão de pesquisa seria com relação à história de vida dos profissionais

psicólogos que optam pela acupuntura, ou seja, fazer uma trajetória da vida profissional

desses sujeitos para verificar de que maneira se constituiu a identidade profissional.

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7 CRONOGRAMA

2007 2007 2007 2007 2007 Atividades

Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Realização das entrevistas

X X

Análise dos dados X X Redação da monografia X X X X X Formalização da banca X

Entrega da monografia X

Defesa da monografia X Entrega da monografia corrigida

X

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APÊNDICE

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APÊNDICE A

ROTEIRO PARA ENTREVISTA:

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:

Nome (iniciais):

Formação:

Sexo:

Idade:

Questões

1. Porque buscar a acupuntura como recurso terapêutico?

2. Quais são os benefícios que tem observado na prática do uso da acupuntura?

3. Quais são os quadros clínicos que tem melhor respondido á intervenção?

4. Como os quadros de depressão têm respondido a tal intervenção?

5. Quais são os fatores que levam a fazer a indicação da acupuntura como tratamento

complementar da depressão?

6. Como você tem articulado os referenciais teóricos da psicologia e aqueles preconizados

pela Medicina Tradicional Chinesa em sua prática profissional?

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APÊNDICE B

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado para participar, como voluntário, em uma pesquisa. Após

ser esclarecido sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, assine

ao final deste documento, que está em duas vias. Uma delas é sua e a outra é do pesquisador

responsável. Em caso de recusa você não será penalizado de forma alguma.

INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA:

Titulo do Projeto: Acupuntura como intervenção complementar no tratamento da depressão

Pesquisador Responsável: Cristianne Gick Machado

Telefone para contato: (48) 9911-7093

Pesquisador Participante: Letícia Brasil

Telefones para contato: (48) 9167-1242

A referente pesquisa foi elaborada com o intuito de se analisar quais os benefícios da

acupuntura como intervenção complementar no tratamento da depressão. Para tal, serão

realizadas entrevistas com profissionais psicólogos acupunturistas que trabalham com esta

prática em casos de transtornos mentais, no caso, a depressão. As entrevistas serão semi-

estruturadas, ou seja, terá um roteiro, mas o entrevistado poderá se expressar livremente sobre

o assunto em questão. As entrevistas serão realizadas no período de agosto e setembro de

2007. Para que haja um melhor aproveitamento das informações fornecidas pelo entrevistado,

será utilizado um gravador de voz, sendo que apenas o pesquisador terá acesso a esse

material.

As entrevistas serão realizadas no local escolhido pelo entrevistado, em comum

acordo com o pesquisador, tendo duração máxima de trinta (30) minutos. O entrevistado não

será identificado em momento algum da pesquisa, ou seja, o nome do entrevistado será

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mantido em sigilo. O entrevistado tem o direito de retirar seu consentimento em qualquer

momento, ou seja, pode desistir da pesquisa sem qualquer penalidade. A participação na

pesquisa não traz riscos e não conta com remuneração.

CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO DO SUJEITO

Eu,__________________________________, RG________________,

CPF_________________ abaixo assinado, concordo em participar do presente estudo como

sujeito. Fui devidamente informado e esclarecido sobre a pesquisa, os procedimentos nela

envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação.

Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isto leve

a qualquer penalidade.

Local e

data:____________________________________________________________________

Nome:______________________________________________________________________

__

Assinatura do Sujeito ou

Responsável:_______________________________________________

Telefone para

contato:____________________________________________________________