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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI
ADILSON JOSÉ MENDES FILHO
A NULIDADE DAS DECISÕES QUE AUTORIZAM A INTERCEPTAÇÃO
TELEFÔNICA POR AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DO REQUISITO ELENCADO
ARTIGO 2° INCISO II DA LEI 9296/96
Biguaçu
2014
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI
ADILSON JOSÉ MENDES FILHO
A NULIDADE DAS DECISÕES QUE AUTORIZAM A INTERCEPTAÇÃO
TELEFÔNICA POR AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DO REQUISITO ELENCADO
ARTIGO 2° INCISO II DA LEI 9296/96
Monografia apresentada como
requisito parcial para a obtenção do título
de Bacharel, na Universidade do Vale de
Itajaí, Centro de Ciências Sociais e
Jurídicas.
Prof. Msc. Alceu de Oliveira Pinto Júnior UNIVALI – Centro de Ciências Sociais e Jurídicas. Orientador Prof. Esp. Juliano Keller do Valle UNIVALI – Centro de Ciências Sociais e Jurídicas. Membro
Prof. Esp. Gustavo Holz UNIVALI – Centro de Ciências Sociais e Jurídicas. Membro
Biguaçu, 27 de outubro de 2014.
AGRADECIMENTOS
Inicialmente, agradeço a Deus por minha vida e pela possibilidade de
estudar o Direito. Ponderando esta monografia como resultado de uma jornada que
não se iniciou na UNIVALI, porém, tenho grande satisfação de encerrar este primeiro
passo, de uma grande jornada nesta magnífica instituição de ensino. Para não correr
o risco da injustiça, agradeço de antecipadamente a todos que de alguma forma
passaram pela minha vida e contribuíram para a construção de quem sou hoje.
Sou grato também a toda minha família pela confiança depositada e pelo
auxílio nos momentos difíceis. Em especial, minha mãe Marlene Querino Mendes,
que abriu mão de seus sonhos para realizar o meu. Obrigado por existirem.
Aos colegas de faculdade, que durante toda a duração do curso,
mostraram-se mais que amigos, irmãos.
Aos amigos, advogados, Dr. Carlos Renato Borba e Dr. Robson Cristiano
Civa, obrigado pela oportunidade, confiança e por todos os ensinamentos. Agradeço
ao meu Orientador, Professor e grande responsável pela minha ida à UNIVALI, Msc.
Alceu de Oliveira Pinto Júnior, pelas lições valiosas e precisas críticas que
contribuíram não somente para a realização deste trabalho, mas também para minha
formação acadêmica.
A todos os professores que contribuíram para a minha formação
acadêmica.
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo
aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale
do Itajaí, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador
de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.
Biguaçu-SC, 27 de outubro de 2014.
Adilson José Mendes Filho
Bacharel
SUMÁRIO
RESUMO 6
ABSTRACT 7
INTRODUÇÃO 8
1 A INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA NO BRASIL 10 1.1 Interceptação telefônica antes do advento da Constituição Da República
Federativa do Brasil de 1988 10
1.2 Interceptação telefônica com o advento da Constituição Da Republica Federativa
do Brasil de 1988 16
1.3 Pressupostos básicos para a quebra do sigilo telefônico mediante interceptação
21
2 A PROVA NO DIREITO PROCESSUAL PENAL 27
2.1 As interceptações telefônicas obtidas em desconformidade com o direito formal e
material elencado na norma constitucional e infraconstitucional 34
2.1.1 A utilização da prova ilícita em favor do réu 41
3.1 3 DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL 44 3.1 A nulidade das decisões que autorizam a interceptação telefônica por ausência
de demonstração do requisito elencado artigo 2° inciso ii da lei 9296/96 44
CONSIDERAÇÕES FINAIS 59
REFERÊNCIAS DAS FONTES CITADAS 62
ANEXOS 67
6
RESUMO
O estudo apresentado faz uma abordagem acerca das decisões que autorizam a
interceptação telefônica no Brasil após o advento da Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988. Para tanto, é analisado o artigo 2º, inciso II da lei
9.296/96 o qual determina que, para quebra do sigilo telefônico para investigação e
instrução criminal, deve haver a demonstração, em decisão devidamente
fundamentada, que não havia outros meios de se obter a prova, sob pena de
nulidade. Além disso, é realizada uma análise da prova no direito criminal, sob um
prisma constitucional, sua utilização, os requisitos para que a prova seja lícita, bem
como as consequências da obtenção das provas em desrespeitos às normas
constitucionais e infraconstitucionais. Ao final, é abordada a divergência
jurisprudencial dos tribunais brasileiros, onde, em alguns casos, se exige a
demonstração do requisito elencado no artigo 2º, inciso II da lei 9.296/96, e, em
outros casos, a garantia constitucional de intimidade é violada sem a aludida
demonstração. Este trabalho foi desenvolvido pela utilização de pesquisa
exploratória, por meio da técnica bibliográfica, a partir de livros que já trataram o
tema para, ao final, chegar aos resultados que respondem os principais
questionamentos acerca do aludido dispositivo, qual seja, a necessidade de
demonstração nas decisões que autorizam a quebra do sigilo telefônico que não
havia outros meios para se obter a prova, tendo em vista que o direito à intimidade é
uma garantia constitucional.
Palavras-chave: Interceptação telefônica. Provas. Garantias individuais.
7
ABASTRACT
The study presented here is an approach about the decisions authorizing
phone tapping in Brazil after the advent of the Constitution of the Federative
Republic of Brazil in 1988. For this, it analyzes Article 2 , Section II of Law 9,296
/ 96 which states that , for breach of confidentiality calling for criminal
investigation and prosecution , there must be a demonstration, in a reasoned
decision , that there was no other means of obtaining the evidence , under
penalty of nullity . Furthermore , an analysis of the proof is carried out in
criminal law under a constitutional perspective, its use , requirements for
which the evidence is lawful , and the consequences of taking evidence on
disrespect for constitutional and infra-constitutional norms . At the end , we
discuss jurisprudential divergence of Brazilian courts , which , in some cases ,
it requires demonstration of the requirement part listed in Article 2, item II of
Law 9,296 / 96 , and in other cases , the constitutional guarantee of privacy is
violated without the aforesaid statement . This work was performed by the use
of exploratory search through the technical literature , from books that have
treated the theme to , in the end, get the results that answer key questions
about the aforementioned device , namely, the need to demonstrate in
decisions authorizing the breaking of telephone secrecy that no other means to
obtain the evidence , given that the right to privacy is a constitutional
guarantee .
Keywords : telephone interception . Evidence . Individual guarantees.
8
INTRODUÇÃO
O objetivo institucional da presente Monografia é a obtenção do título de
Bacharel em Ciência Jurídica pelo Curso de Direito da Univali.
O seu objetivo científico é demonstrar a necessidade de observância dos
requisitos constitucionais e infraconstitucionais para quebra do sigilo telefônico, haja
vista a intimidade ser uma garantia constitucional, elencada no artigo 5°, inciso XII
da Constituição Federal, no entanto, não se trata de uma garantia absoluta, sendo
imprescindível, portanto, que seja observado os requisitos ensejadores de sua
violação, caso contrário, a interceptação telefônica não poderá ser utilizada como
prova no processo criminal, uma vez que encontrar-se-á eivada de nulidade.
Os resultados do trabalho de exame das hipóteses está exposto na
presente Monografia, de forma sintetizada, como segue.
Principia–se, no Capítulo 1, realizando um apanhado histórico acerca da
interceptação telefônica e o direito de intimidade nas constituições Pátrias desde o
Império até o advento da Constituição da República Federativa de 1988.
Passa-se então a analisar as possibilidades da quebra do sigilo telefônico
conforme o a previsão contida no artigo 5º, inciso XII, da Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988, para fins de investigação criminal ou instrução
processual penal.
Realiza-se, então, a fazer uma analise na lei 9.296/1996, que regulamenta
a quebra do sigilo telefônico para investigação criminal ou instrução processual
penal, notadamente, o artigo 2º, inciso II, que determina que para a violação da
garantia constitucional de intimidade, deve ser demonstrado, em decisão
fundamentada, que não havia outro meio de se obter a prova.
O Capítulo 2 aborda a prova no direito processual criminal, que tem como
objetivo comprovar a autoria e materialidade de uma infração penal, permitindo a
repressão do Estado à criminalidade.
9
Devido à importância que possui, a prova deve ser obtida em
conformidade com as normas constitucionais e infraconstitucionais, sob pena de
nulidade, sempre garantindo ao acusado, os princípios constitucionais do
contraditório e a ampla defesa.
É realizada então uma análise da interceptação telefônica realizada em
desconformidade com as normas constitucionais e infraconstitucionais, sua
inutilização no processo, bem como a possibilidade de utilização de provas ilícitas
em favor do acusado.
O Capítulo 3 dedica-se a analisar a divergência jurisprudencial dos
tribunais brasileiros quanto à necessidade de demonstração do artigo 2º, inciso II, da
lei 9.296/1996, para a violação da garantia constitucional de intimidade.
O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as Considerações
Finais, nas quais são sintetizadas as contribuições sobre a nulidade das decisões
que autorizam a quebra do sigilo telefônico, ante a ausência de demonstração do
requisito elencado no artigo 2º, inciso II, da Lei 9.296/1996.
Este trabalho foi desenvolvido pela utilização de pesquisa exploratória,
por meio da técnica bibliográfica, a partir de livros que já trataram o tema para, ao
final, chegar aos resultados que respondem os principais questionamentos acerca
do aludido dispositivo, qual seja, a necessidade de demonstração nas decisões que
autorizam a quebra do sigilo telefônico que não havia outros meios para se obter a
prova
Nesta Monografia as categorias principais estão grafadas com a letra
inicial em maiúscula e os seus conceitos operacionais são apresentados em
glossário inicial.
10
CAPÍTULO 1
A INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA NO BRASIL
Neste capítulo trataremos a interceptação telefônica no Brasil e a
possibilidade da quebra da garantia constitucional de intimidade para investigação
criminal e instrução processual penal. Para isso, iniciamos fazendo um apanhado
histórico do sigilo telefônico desde a Carta Imperial Brasileira de 1824 até o advento
da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Após é realizado uma
análise dos requisitos elencados na da Lei 9.296/1996, em especial o artigo 2º,
inciso II, o qual determina que deve ser demonstrado na decisão que autoriza a
quebra do sigilo telefônico para investigação criminal e instrução processual penal ,
que não havia outros meios de se obter a prova. Por fim são abordadas as
consequências da inobservância dos requisitos constitucionais e infraconstitucionais,
de maneira especial o elencado no artigo 2º, inciso II, da Lei 9.296/1996.
1.1 INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA ANTES DO ADVENTO DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988
Antes de adentrar no assunto da interceptação telefônica e os requisitos
necessários para a quebra do sigilo telefônico, garantia fundamental, insculpida na
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, faz-se necessário um breve
apanhado histórico sobre seus aspectos mais importantes, com o objetivo de
analisar a violação das comunicações telefônicas na apuração e punição de delitos
pelo Estado.
Clever Rodolfo Carvalho Vasconcelos leciona que a origem da
interceptação telefônica “se deu como práticas dos detentores do poder na França
dos séculos XVII e XVIII, especialmente pela utilização das denominadas “cabines
negras” – local onde eram violadas as correspondências e verificados seus
conteúdos – na contramão de tais posturas, surgindo o direito ao sigilo de
correspondência, emergindo à categoria de direito fundamental pela primeira vez na
11
Declaração Francesa de 1789, exercendo forte influência sobre as legislações
posteriores a ela, tais como a Declaração Universal dos Direitos do Homem”1.
Assim, “com a evolução tecnológica e notadamente em razão da invenção
do telefone por Alexander Graham Bell em 1876, quase impulsivamente o direito ao
sigilo se estendeu às comunicações por esta via”.2
No Brasil não seria diferente, e acompanhando o direito internacional, a
Carta Imperial Brasileira de 1824 assegurou a inviolabilidade do chamado “Segredo
das Cartas” (Título 8º, art. 179, XXVII), atribuindo responsabilidade à administração
dos correios em caso de violação deste direito.
Assim dispunha a Carta Imperial Brasileira de 1824, no seu artigo 189,
inciso XXVII3, in verbis:
Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Políticos dos Cidadãos
Brazileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a
propriedade, é garantida pela Constituição do Império, pela maneira
seguinte.
[...] XXVII. O Segredo das Cartas é inviolável. A Administração do Correio
fica rigorosamente responsável por qualquer infracção deste Artigo.
Posteriormente, com o advento da Constituição Republicana de 1891,
restou-se mantido no artigo 72, § 184, o direito ao sigilo de correspondência, no
entanto fora excluída a responsabilização dos correios em caso de violação,
incluindo tal direito aos estrangeiros residentes no Brasil, in verbis:
Art 72 - A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à segurança
individual e à propriedade, nos termos seguintes: [...]
§ 18 - É inviolável o sigilo da correspondência.
Ato contínuo, as Constituições de 1934, 1937 e 1946 também
asseguraram a inviolabilidade de correspondência.
1 VASCONCELOS, Clever Rodolfo Carvalho. Interceptação Telefônica. São Paulo: Atlas S.A., 2011, pag. 01. 2 VASCONCELOS, Clever Rodolfo Carvalho. Interceptação Telefônica. São Paulo: Atlas S.A., 2011, pag. 01. 3 BRASIL. (CONSTITUIÇÃO POLITICA DO IMPERIO DO BRAZIL). CONSTITUIÇÃO POLÍTICA DO IMPÉRIO DO BRASIL,
ELABORADA POR UM CONSELHO DE ESTADO E OUTORGADA PELO IMPERADOR D. PEDRO I DE 1824. <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituicao24.htm>. Acesso em: 27 out. 2014.
4 BRASIL. (CONSTITUIÇÃO da República). CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL DE 1891. <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituicao91.htm>. Acesso em: 16 out. 2014
12
Denota-se, portanto, que “as constituições brasileiras, a partir do Império,
sempre garantiram o sigilo das comunicações de forma aparentemente absoluta.
Não foram previstas quaisquer exceções nos textos constitucionais, a não ser na
Carta de 1937 que, em seu artigo 122, VI, determinava “a inviolabilidade do domicílio
e de correspondência, salvo as exceções expressas na lei”5.
O sigilo da correspondência era interpretado pela doutrina em sentido
amplo, de molde a amparar a correspondência telefônica e telegráfica, que só
passaram a merecer proteção expressa a partir do texto de 1967, com redação dada
pela Emenda 1, de 17.10.1969 que dispunha, no seu artigo 153, § 9º”6, in verbis:
Art. 153. A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à
liberdade, à segurança e à propriedade, nos têrmos seguintes: [...]
§ 9º É inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações
telegráficas e telefônicas. [...]
Neste passo, inobstante “a previsão em ordenamentos estrangeiros
desde as primeira décadas posteriores à invenção do telefone, somente em 1967 o
direito fundamental de sigilo das “comunicações telegráficas e telefônicas” fora
incorporado ao ordenamento pátrio, nos termos do artigo 150, § 9º da Constituição
do Brasil promulgada naquele ano, sendo mantida com a Emenda nº 1 de 1969
(artigo 153,§ 9º)”7
Cumpre salientar que, desde que fora incorporado o sigilo das
comunicações no ordenamento pátrio, com o advento da Constituição 1967/69, o
sigilo das comunicações era tratado de maneira aparentemente absoluto, exceto nas
hipóteses de estado de sítio e estado ou medida de emergência.
Todavia, o Código Brasileiro de Telecomunicação, criado pela lei
4.117/1932, trazia no artigo 57 casos excepcionais que não configuraria violação a
garantia constitucional, desde que, solicitado por autoridade judicial para fins de
investigação criminal ou instrução processual, não configurando, destarte, o delito
elencado no artigo 151, § 1º, inciso II, do Código Penal. 5 AVOLIO, Luiz Francisco Torquato. Provas Ilícitas: interceptações telefônicas, ambientais e gravações clandestinas. 3.ed. rev.,
ampl. e atual. em face das leis 9.296/96 e 10.217/2001. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003, pag. 123 6 AVOLIO, Luiz Francisco Torquato. Provas Ilícitas: interceptações telefônicas, ambientais e gravações clandestinas. 3.ed. rev., ampl. e atual. em face das leis 9.296/96 e 10.217/2001. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003, pag. 123-124 7 VASCONCELOS, Clever Rodolfo Carvalho. Interceptação Telefônica. São Paulo: Atlas S.A., 2011, pag. 02
13
Veja-se os dispostos nos artigo 57 da lei 4.117/19328 e 151, § 1º, inciso
II9, do Código Penal acima mencionados:
Art. 57. Não constitui violação de telecomunicação:
I - A recepção de telecomunicação dirigida por quem diretamente ou como
cooperação esteja legalmente autorizado;
II - O conhecimento dado: [...]
e) ao juiz competente, mediante requisição ou intimação dêste.
Parágrafo único. Não estão compreendidas nas proibições contidas nesta
lei as radiocomunicações destinadas a ser livremente recebidas, as de
amadores, as relativas a navios e aeronaves em perigo, ou as transmitidas
nos casos de calamidade pública.
Art. 151 - Devassar indevidamente o conteúdo de correspondência fechada,
dirigida a outrem:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Sonegação ou destruição de correspondência
§ 1º - Na mesma pena incorre:
I - quem se apossa indevidamente de correspondência alheia, embora não
fechada e, no todo ou em parte, a sonega ou destrói;
Violação de comunicação telegráfica, radioelétrica ou telefônica
II - quem indevidamente divulga, transmite a outrem ou utiliza abusivamente
comunicação telegráfica ou radioelétrica dirigida a terceiro, ou conversação
telefônica entre outras pessoas;
III - quem impede a comunicação ou a conversação referidas no número
anterior;
IV - quem instala ou utiliza estação ou aparelho radioelétrico, sem
observância de disposição legal.
§ 2º - As penas aumentam-se de metade, se há dano para outrem.
§ 3º - Se o agente comete o crime, com abuso de função em serviço postal,
telegráfico, radioelétrico ou telefônico:
Pena - detenção, de um a três anos.
§ 4º - Somente se procede mediante representação, salvo nos casos do §
1º, IV, e do § 3º.
8 BRASIL. Lei Nº 4.117 de 27 De Agosto de 1962. Institui o Código Brasileiro de Telecomunicações.
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4117.htm>. Acesso em: 27 out. 2014. 9 BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Dispõe sobre o Código de Processo Penal.
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm>. Acesso em: 27 out. 2014.
14
No entanto, antes do advento da Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988, a interceptação telefônica, apesar de sua venal relevância, não
possuía no ordenamento jurídico brasileiro uma legislação própria e descritiva,
capaz de estabelecer de maneira inequívoca os casos em que aludida garantia
constitucional poderia ser usurpada, sendo, inclusive, questionado, se aludida
garantia constitucional, seria absoluta a partir do texto constitucional de 1969 por
parte da comunidade jurídica da época.
Surgiram, portanto, duas correntes doutrinárias, a que questionava o
caráter absoluto do sigilo telefônico em face do princípio da convivência das
liberdades, versando que nenhum direito deveria ser exercido causando dano à
ordem pública e liberdades de toda a sociedade, e a corrente que sustentava não
ser possível a violação ante a ausência de autorização constitucional para a edição
de norma ordinária possibilitando a quebra do sigilo.
Luiz Flávio Gomes, lecionando acerca da possibilidade da quebra do
sigilo telefônico após o advento da Constituição de 1969, citou o estudo realizado
pela doutrinadora Ada Pellegrini Grinover, nos seguintes termos:
O texto constitucional por último citado, aparentemente, assegurava o sigilo
das comunicações telefônicas de “modo absoluto”. Quem estudou, com alto
primor técnico e inegável rigor cientifico, essa fase do nosso ius positum, foi
Ada Pellegrini Grinover, partindo da premissa que a liberdade de
comunicação é espécie de liberdade de manifestação do pensamento,
enquanto sigilo é expressão do direito à intimidade. A tutela desse direito
caracteriza-se pela “proteção do segredo” (ninguém pode ter conhecimento
ou controle de uma comunicação), seja pela “proteção de reserva” (que
impede a divulgação abusiva daquilo que se conheceu ilicitamente). Uma
outra premissa do trabalho da emérita processualista mencionada constitui
no reconhecimento da natureza “relativa” do direito do sigilo das
comunicações telefônicas. Só de maneira absoluta foi contemplado esse
sigilo. Logo. É um direito sujeito a exceções, restrições. Concluiu sua
monografia no sentido da admissibilidade da interceptação telefônica entre
nós, desde que atendidos os requisitos do art. 57 da lei 4.117/62, que é o
Código Brasileiro de Telecomunicações10.
10 GOMES, Luiz Flávio; CERVINI, Raul. Interceptação telefônica: lei 9.296, de 24.07.96. São Paulo, SP: Revista dos Tribunais, 1997, pag. 86-87.
15
Por seu turno, Luiz Francisco Torquato Avolio, versando acerca da
corrente doutrinária que entendia absoluto o sigilo telefônico, trouxe a baila os
entendimentos doutrinários sustentados pelos juristas Tourinho, Paulo Heber de
Morais, João Batista Lopes, entre outros, veja-se:
O tema inspirava divergência na doutrina. Assim, no que se refere à
apreensão de cartas, sustentava Tourinho que, diante dos termos absolutos
do art. 153, § 9.º, não havia campo para o legislador ordinário para traçar
normas quanto à possibilidade de ser violado o sigilo da correspondência.
José Celso de Melo Filho entendia que a referida norma era dotada de
“eficácia plena e irrestringível”, assegurando, assim, a inviolabilidade do
sigilo “telefônico”. Paulo Heber de Morais e João Batista Lopes também
sustentavam a inconstitucionalidade das exceções legais ao princípio da
inviolabilidade da correspondência e das comunicações.
Em que pese essa posição doutrinária, a constitucionalidade das normas
legais, restritivas da inviolabilidade da correspondência e das
comunicações, jamais foi suscitada perante os tribunais, em mais de trinta
anos de aplicação. Ajustava-se à espécie, pois, a regra de interpretação
constitucional cunhada por Cooley, no sentido de que, sem argumentos
novos e ponderáveis, não pode haver mudança, nem recusa da prática
antiga11.
Apesar da divergência doutrinária, a prova obtida mediante a
interceptação telefônica, mesmo deferida em observância aos requisitos do artigo 57
da lei 4.117/62, apresenta inúmeras dúvidas acerca do verdadeiro alcance do
dispositivo citado, podendo a prova ser lícita, ou ilícita.
Contudo, “a primeira decisão no âmbito processual penal, a respeito da
interceptação telefônica se deu no julgamento do HC 63.834-1, da relatoria do
Ministro Aldir Passarinho, no qual, determinou-se o trancamento do inquérito policial,
por entender que se tratava de interceptação feita por particular, constituindo,
portanto, prova ilícita”.12
Por seu turno, “em rumoroso caso judicial ocorrido em São Paulo, foi
discutida pela pelo Tribunal de justiça a conduta de juiz que, a pedido da autoridade
11 AVOLIO, Luiz Francisco Torquato. Provas Ilícitas: interceptações telefônicas, ambientais e gravações clandestinas. 3.ed. rev., ampl. e atual. em face das leis 9.296/96 e 10.217/2001. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003, pag. 126. 12 GOMES, Luiz Flávio; CERVINI, Raul. Interceptação telefônica: lei 9.296, de 24.07.96. São Paulo, SP: Revista dos Tribunais,
1997, pag. 87.
16
policial, havia autorizado interceptação telefônica, com fundamento no Código de
Telecomunicações. Após parecer de Damásio de Jesus, favorável à ordem
judiciária, a representação foi arquivada, considerando-se lícita a ordem de
interceptação. Ademais, em decisão do STF, que determinou o desentranhamento,
dos autos, do resultado de interceptação telefônica, por ilicitamente realizada, o Min.
Aldir Passarinho fez alusão aos mencionados dispositivos do Código de
Telecomunicações como possivelmente adequados para legitimar as escutas em
casos de crimes particularmente graves, como os de extorsão mediante sequestro
(RJT 122/47)”13
Assim, O Supremo Tribunal Federal, “anteriormente à vigência da
Constituição de 1988, caracterizava-se pela busca, dentre as normas e princípios
constitucionais, da mediação entre conceitos de ilícito substancial e de
inadmissibilidade processual, com o que se alcançava a dedução da proibição da
produção de prova ilícita diretamente da Constituição, levando ao repúdio das
interceptações telefônicas clandestinas, seja em matéria cível ou penal”14.
1.2 INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA COM O ADVENTO DA CONSTITUIÇÃO DA
REPUBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 manteve as
garantias e direitos fundamentais aos cidadãos que aqui residem, dentre elas, o
sigilo das correspondências e das comunicações telegráficas, de dados e das
comunicações telefônicas.
Desta forma, é de venal relevância se estabelecer antes de qualquer
coisa, qual a definição de interceptação telefônica, para então constituir os limites da
discussão em comento.
Interceptação telefônica na definição de Luís Flavio Gomes e Silvio
Maciel, “consiste na captação da comunicação telefônica alheia por um terceiro, sem
13 GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES FILHO, Antônio Magalhães; FERNANDES, Antônio Scarance. As nulidades no processo penal. 9. ed. rev. e ampl. São Paulo, SP: Revista dos Tribunais, 2006. Pag. 199 14 AVOLIO, Luiz Francisco Torquato. Provas Ilícitas: interceptações telefônicas, ambientais e gravações clandestinas. 3.ed.
rev., ampl. e atual. em face das leis 9.296/96 e 10.217/2001. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003, pag. 131.
17
o conhecimento de um dos comunicadores”15, portanto, é imprescindível que não
haja conhecimento de nenhum dos comunicadores.
O sigilo telefônico encontra-se elencado no artigo 5°, inciso XII da
Constituição Federal brasileira, in verbis:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
[...]
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações
telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último
caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer
para fins de investigação criminal ou instrução processual penal; [...]16
No entanto, tal garantia não é absoluta, tendo em vista que há casos em
que é imperiosa à violação da mesma, notadamente nos casos em que há conflito
com outros direitos fundamentais, como o direito a vida, por exemplo, devendo
nesses casos ter a ponderação necessária diante do principio da razoabilidade ou
proporcionalidade, para a quebra de um direito elencado como inviolável na Carta
Magna para a investigação e instrução criminal.
O Professor Humberto Ávila, acerca do princípio da proporcionalidade e
razoabilidade, aduz que:
a proporcionalidade aplica-se nos casos em que exista uma relação de
causalidade entre um meio e um fim concretamente perceptível. A exigência
de realização de vários fins, todos constitucionalmente legitimados, implica
a adoção de medidas adequadas, necessárias e proporcionais em sentido
estrito.” Ao passo que a razoabilidade deve ser aplicada sob três aspectos:
“primeiro, como diretriz que exige a relação das normas gerais com as
individualizadas do caso concreto, quer mostrando sob qual perspectiva a
norma deve ser aplicada, quer indicando em quais hipóteses o caso
individual, em virtude de suas especificidades, deixa de se enquadrar na
norma geral. Segundo, como diretriz que exige uma vinculação das normas
15 GOMES, Luis Flavio; MACIEL, Silvio. Legislação Criminal Especial. 2.ed.rev., atual e ampl. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2010. p. 536 16
BRASIL. (Constituição 1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 27 out. 2014.
18
jurídicas com o mundo ao qual elas fazem referência, seja reclamando a
existência de um suporte empírico e adequado a qualquer ato jurídico, seja
demandando uma relação congruente entre a medida adotada e o fim que
ela pretende atingir. Terceiro, como diretriz que exige a relação de
equivalência entre duas grandezas.17
Mesmo tendo a Carta Magna de 1988 possibilitado a quebra do sigilo
telefônico nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação
criminal ou instrução processual penal, passou-se, então a ser questionada a
recepção do artigo 57 do Código de Telecomunicações.
No julgamento do HC 69.912-0/RS, o Ministro Relator Sepúlveda
Pertence, “entendeu que o texto do Código de Telecomunicações, ainda que possua
validade originária e tenha sobrevivido aos textos constitucionais intercorrentes,
“seguramente não satisfazia à reserva da lei reclamada no artigo 5º, XII, da
Constituição de 1988 para legitimar a interceptação telefônica na investigação
criminal”. Citou, a posição defendida por Ada Pellegrini Grinover, de que, “enquanto
não vier lei a estabelecer as hipóteses e formas em que as interceptações poderão
ser permitidas, não haveria, como ordená-las, pois o Código de telecomunicações
nada especificava”18.
Não é outro o entendimento do Supremo Tribunal Federal, restando assim
o acórdão do HC 69.912-0/RS, da relatoria do Ministro Sepúlveda Pertence 19:
PROVA ILICITA: ESCUTA TELEFÔNICA MEDIANTE AUTORIZAÇÃO
JUDICIAL: AFIRMAÇÃO PELA MAIORIA DA EXIGÊNCIA DE LEI, ATÉ
AGORA NÃO EDITADA, PARA QUE, "NAS HIPÓTESES E NA FORMA"
POR ELA ESTABELECIDAS, POSSA O JUIZ, NOS TERMOS DO ART. 5.,
XII, DA CONSTITUIÇÃO, AUTORIZAR A INTERCEPTAÇÃO DE
COMUNICAÇÃO TELEFÔNICA PARA FINS DE INVESTIGAÇÃO
CRIMINAL; NÃO OBSTANTE, INDEFERIMENTO INICIAL DO HABEAS
CORPUS PELA SOMA DOS VOTOS, NO TOTAL DE SEIS, QUE, OU
RECUSARAM A TESE DA CONTAMINAÇÃO DAS PROVAS
DECORRENTES DA ESCUTA TELEFÔNICA, INDEVIDAMENTE
3 ÁVILA, Humberto, Teoria dos Princípios da definição à aplicação dos princípios jurídicos, 9ª edição. São Paulo:
Malheiros Editores: 2009 p. 182 18 AVOLIO, Luiz Francisco Torquato. Provas Ilícitas: interceptações telefônicas, ambientais e gravações clandestinas. 3.ed.
rev., ampl. e atual. em face das leis 9.296/96 e 10.217/2001. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003, pag. 137. 19 STF - HC: 69912 RS , Relator: Min. Sepúlveda Pertence, Data de Julgamento: 16/12/1993, Tribunal Pleno, Data de
Publicação: DJ 25-03-1994 PP-06012 EMENT VOL-01738-01 PP-00112 RTJ VOL-00155-02 PP-00508 - disponível em <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=72076> Acesso em: 27 out. 2014.
19
AUTORIZADA, OU ENTENDERAM SER IMPOSSIVEL, NA VIA
PROCESSUAL DO HABEAS CORPUS, VERIFICAR A EXISTÊNCIA DE
PROVAS LIVRES DA CONTAMINAÇÃO E SUFICIENTES A SUSTENTAR
A CONDENAÇÃO QUESTIONADA; NULIDADE DA PRIMEIRA DECISÃO,
DADA A PARTICIPAÇÃO DECISIVA, NO JULGAMENTO, DE MINISTRO
IMPEDIDO (MS 21.750, 24.11.93, VELLOSO); CONSEQUENTE
RENOVAÇÃO DO JULGAMENTO, NO QUAL SE DEFERIU A ORDEM
PELA PREVALÊNCIA DOS CINCO VOTOS VENCIDOS NO ANTERIOR,
NO SENTIDO DE QUE A ILICITUDE DA INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA -
A FALTA DE LEI QUE, NOS TERMOS CONSTITUCIONAIS, VENHA A
DISCIPLINA-LA E VIABILIZA-LA - CONTAMINOU, NO CASO, AS
DEMAIS PROVAS, TODAS ORIUNDAS, DIRETA OU INDIRETAMENTE,
DAS INFORMAÇÕES OBTIDAS NA ESCUTA (FRUITS OF THE
POISONOUS TREE), NAS QUAIS SE FUNDOU A CONDENAÇÃO DO
PACIENTE.(grifado)
Destarte, tornou-se imperiosa a edição de uma norma jurídica que
regulamentasse o sigilo das comunicações e correspondências, criando condições e
formas para que tal sigilo pudesse ser violado20.
Diante de tal fato, o legislador regulamentou o inciso XII, parte final, do
art. 5° da Constituição Federal, editando a lei nº 9.296, de 24 de julho de 1996,
dispondo as formas a serem observadas para a interceptação de comunicações
telefônicas, de qualquer natureza, para obtenção de provas em investigação criminal
e em instrução processual penal, das quais, dentre elas, destacam-se: a ordem do
juiz competente da ação principal; e, que o procedimento deva ocorrer em segredo
de justiça, conforme dispõe o artigo 1° do aludido diploma legal, in verbis:
Art. 1º A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza,
para prova em investigação criminal e em instrução processual penal,
observará o disposto nesta Lei e dependerá de ordem do juiz competente
da ação principal, sob segredo de justiça.
Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo de
comunicações em sistemas de informática e telemática21.
20 GOMES, Luis Flavio; MACIEL, Silvio. Legislação Criminal Especial. 2.ed.rev., atual e ampl. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2010. p. 518 21 BRASIL. Lei nº 9.296, de 24 de julho de 1996. Regulamenta o inciso XII, parte final, do art. 5° da Constituição Federal.
Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9296.htm>. Acesso em: 27 out. 2014.
20
O direito à intimidade é garantia essencial do ser humano, que deve ser
respeitado, em especial por estar elencado na Constituição Federal, nesse sentido,
quanto às garantias fundamentais e a constitucionalidade da norma
infraconstitucional supracitada, Eugênio Pacelli de Oliveira ensina:
O Direito à intimidade, à privacidade, à honra, e todas as suas formas de
manifestação, ou seja, a inviolabilidade do domicílio, da correspondência,
das comunicações, que se constituem apenas em algumas das várias
modalidades de exercício dos aludidos direitos (intimidade etc.), podem
como regra, ser limitados, por não configurarem nenhum direito absoluto.
Podem e poderão, por isso, ser limitados, sempre que o respectivo exercício
puder atingir outros valores igualmente protegidos na Constituição, e desde
que haja previsão expressa na lei", razão pela qual não há "qualquer
inconstitucionalidade na Lei n. 9.296, de 24 de julho de 1996, que
regulamenta as hipóteses nas quais serão possíveis as interceptações
telefônicas22.
Imperioso destacar que, por tratar-se de garantias fundamentais, o
diploma legal descreve com clareza os casos em que não será admitida a quebra do
sigilo das comunicações, mesmo que para fins de investigação ou instrução criminal,
ou seja, quando não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em
infração penal, quando a prova puder ser feita por outros meios disponíveis, bem
como quando o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com
pena de detenção, conforme dispõe o artigo 2º da Lei n. 9.296, de 24 de julho de
1996, veja-se:
Art. 2° Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas
quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses:
I - não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração
penal;
II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis;
III - o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com
pena de detenção.
Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita com clareza a
situação objeto da investigação, inclusive com a indicação e qualificação
22 OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 11ª ed., RJ, Lumen Juris: 2009, p. 311;
21
dos investigados, salvo impossibilidade manifesta, devidamente
justificada23.
Assim, para que seja possível a quebra do sigilo, é necessário existir
indícios razoáveis da autoria ou participação do agente em infração penal, não haver
outro meio de se obtenção da prova, bem como o fato investigado constituir infração
penal punida no mínimo com reclusão.
A inobservância dos procedimentos elencados na norma
infraconstitucional ensejam graves ameaças ao direito fundamental da intimidade,
acarretando, nulidade absoluta das provas obtidas, inclusive das provas delas
derivadas, sendo totalmente inúteis ao processo24.
A decisão que determina a quebra do sigilo de correspondência e
comunicação, portanto, deve estar devidamente fundamentada, demonstrando
cabalmente que foram preenchidos todos os requisitos essenciais à necessidade de
descumprimento da garantia fundamental de intimidade elencada em nossa Carta
Política, sob pena de nulidade25.
1.3 PRESSUPOSTOS BÁSICOS PARA A QUEBRA DO SIGILO TELEFÔNICO
MEDIANTE INTERCEPTAÇÃO
A interceptação telefônica pode ser medida cautelar preparatória, quando
realizada na fase extrajudicial, ou incidental, nos caso em que é concretizada
judicial, ou seja, durante a instrução processual sob o crivo do contraditório.
A lei 9.296/96 deixou de estabelecer os requisitos necessários para a
quebra do sigilo telefônico, limitando-se, apenas, a indicar os casos em que tal
medida não será admitida.
Por tratar-se de medida de natureza cautelar, torna-se imprescindível a
demonstração do fumus boni iuris (artigo 2º, I, da lei 9.296/96) e periculum in mora
(artigo 2º, II, da lei 9.296/96) para a concessão da medida restritiva da intimidade. 23 BRASIL. Lei nº 9.296, de 24 de julho de 1996. Regulamenta o inciso XII, parte final, do art. 5° da Constituição Federal.
Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9296.htm>. Acesso em: 27 out. 2014. 24 GOMES, Luis Flavio; MACIEL, Silvio. Legislação Criminal Especial. 2.ed.rev., atual e ampl. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2010. p. 518 25 GRECO FILHO, Vicente. Interceptação telefônica: considerações sobre a lei 9.9296, de 27 de julho de 1996. São Paulo:
Saraiva, 1996.
22
Antonio Scarance Fernandes, acerca da necessidade de demonstração
do fumus boni iuris e periculum in mora, leciona que:
A interceptação, por ser providência de natureza cautelar, não é admitida
quando não estiver presente o fumus boni iuris ou a aparência do direito,
que, no crime, engloba duas exigências: a probabilidade da autoria e a
probabilidade de ocorrência de infração penal. Tais exigências estão
contidas no inciso I, sendo uma alusiva ao agente – existência de “indícios
suficientes de autoria ou participação” – e outra à materialidade – ocorrência
de “infração penal”. [...]
Quanto ao periculum, isto é, o perigo de ser perdida a prova sem a
interceptação, está expresso no inc. II. Segundo esse dispositivo ela só será
admitida se não houver outro meio disponível para obtenção da prova, ou
seja, é preciso que a interceptação seja o único meio para evidenciar a
autoria e a materialidade do crime, sob pena de não ser colhido importante
elemento de prova26.
Os mencionados pressupostos (fumus boni iuris e periculum in mora)
necessários para a concessão da medida cautelar, qual seja, a quebra do sigilo
telefônico, requer uma investigação já iniciada ou a existência de um processo
devidamente instaurado, não servindo a interceptação para dar início à investigação
criminal.
Nesse sentido, Luiz Flávio Gomes, versa que:
Embora de modo muito criticável, porque valeu-se o legislador de uma “redação
negativa” para exprimir os pressupostos básicos da interceptação telefônica (“Não
será admitida...”), certo é que ambos os requisitos merecem a devida atenção.
São, ademais, cumulativos, porque ausente “qualquer” um deles já não cabe a
interceptação telefônica.27
Nesse diapasão a fundamentação da decisão que autoriza quebra do
sigilo telefônico para investigação criminal e instrução processual penal possui venal
relevância, pois deverá demonstrar a real necessidade para a quebra da garantia
26 FERNANDES, Antonio Scarance. Processo Penal Constitucional. São Paulo: Editora Revista dos tribunais, 1999. Pag. 91-
92. 27 GOMES, Luiz Flávio; CERVINI, Raul. Interceptação telefônica: lei 9.296, de 24.07.96. São Paulo, SP: Revista dos Tribunais,
1997, pag. 178
23
constitucional, atendendo, além dos requisitos do artigo 2º, os dispostos nos artigos
4º e 5º da lei 9.296/96, sob pena de nulidade.
Dispõe os artigos 4º e 5º da lei 9.296/96:
Art. 4° O pedido de interceptação de comunicação telefônica conterá a
demonstração de que a sua realização é necessária à apuração de infração penal,
com indicação dos meios a serem empregados.
§ 1° Excepcionalmente, o juiz poderá admitir que o pedido seja formulado
verbalmente, desde que estejam presentes os pressupostos que autorizem a
interceptação, caso em que a concessão será condicionada à sua redução a
termo.
§ 2° O juiz, no prazo máximo de vinte e quatro horas, decidirá sobre o pedido.
Art. 5° A decisão será fundamentada, sob pena de nulidade, indicando também a
forma de execução da diligência, que não poderá exceder o prazo de quinze dias,
renovável por igual tempo uma vez comprovada a indispensabilidade do meio de
prova28.
No entanto, a necessidade de fundamentação não está adstrita apenas
ao magistrado que concederá ou denegará a ordem, estendendo-se inclusive as
autoridades policiais e ao Ministério Público.
Clever Rodolfo Carvalho Vasconcelos acerca da necessidade de uma
fundamentação idônea leciona que:
Considerando-se que a fundamentação é o que sustenta uma decisão, é
importante ressaltar que a responsabilidade de fundamentar, nos processo
envolvendo interceptações telefônicas, não é somente do julgador, mas também
da autoridade policial e do Ministério Público, que devem expor os fundamentos
de fato e direito para a obtenção da prestação jurisdicional.
[...] A importância da fundamentação ultrapassa a literalidade da lei que a garante,
pois reflete a liberdade, um dos bens sagrados. Observa-se que o julgador, ao
expor os motivos de seu convencimento, esclarece as razões que nortearam a
decisão adotada, uma vez que a existência de exposição de motivos do
convencimento do juiz, ou sua inadequação, vulnera a decisão, por ser passível
de conter algum resquício ditatorial.
[...] Entretanto, no que toca à interceptação telefônica, o pedido da quebra da
intimidade da pessoa deve ter muito mais importância, eis que está a se requerer
a quebra de um preceito sagrado constitucional.
28 BRASIL. Lei nº 9.296, de 24 de julho de 1996. Regulamenta o inciso XII, parte final, do art. 5° da Constituição Federal.
Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9296.htm>. Acesso em: 27 out. 2014.
24
[...] A fundamentação do pedido concede clareza e segurança jurídica à decisão
pleiteada e deve caracterizar a superação de um período em que a liberdade foi
arranhada pelo regime ditatorial e pelo Estado policialesco.
Em suma, a fundamentação é o esclarecimento jurídico e fático da razão de se
pedir determinado ato, pois, assim, estar-se-á possibilitando a existência ou não
dos pressupostos constitucionais legitimadores da medida invasiva29.
Uma fundamentação idônea da decisão que autoriza a quebra do sigilo
telefônico, portanto, é imprescindível para que a prova produzida através das
escutas tenham validade, demonstrando de maneira cristalina os pressupostos
constitucionais e infraconstitucionais permissivos da medida agressiva.
Indispensável, destarte, que a decisão autorizadora da quebra do sigilo
telefônico encontre-se acompanhada de verdadeira e motivação idônea, de acordo
com cada caso concreto sob judice, notadamente pelo fato que a ausência de
fundamentação é causa de nulidade absoluta, tornando imprestável a prova e sua
utilização no processo.
Frisa-se que o objetivo da interceptação é a obtenção de uma prova, para
apuração de uma infração penal e a respectiva autoria delitiva, no entanto, deve ser
sempre utilizada como exceção, por se tratar de violação da intimidade, garantia
constitucional.
Sobre a matéria, confira-se lição de Ada Pellegrini Grinover, Antonio
Scarance Fernandes e Antonio Magalhães Gomes Filho:
A lei ainda firma o critério da estrita necessidade (não poder a prova ser feita por
outros meios disponíveis: inc. II do art. 2.º). E no art. 4.º repisa que o pedido de
interceptação conterá a demonstração de sua necessidade para a apuração de
infração penal.
É que tais interceptações representam não apenas poderoso instrumento,
frequentemente insubstituível, no combate aos crimes mais graves, mas também
uma insidiosa ingerência na intimidade não só do suspeito ou acusado, mas até
de terceiros, pelo que só devem ser utilizadas como ultima ratio.
Desse modo, se o juiz autorizar a interceptação, será ilícita se presentes outros
meios pelos quais a prova possa ser feita30.
29 VASCONCELOS, Clever Rodolfo Carvalho. Interceptação Telefônica. São Paulo: Atlas S.A., 2011, pag. 28. 30 GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES FILHO, Antônio Magalhães; FERNANDES, Antônio Scarance. As nulidades no
processo penal. 10. ed. rev. e ampl. São Paulo, SP: Revista dos Tribunais, 2007. Pag. 219
25
Quando não restar devidamente fundamentada a decisão que autoriza ou
prorroga a quebra do sigilo telefônico, esta será ilícita, bem como as provas
decorrentes da medida invasiva.
O Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do HC 139.581/RS, da
relatoria do Ministro Sebastião Reis Júnior, reconheceu o constrangimento ilegal
decorrente da prorrogação da quebra do sigilo telefônico, ante a ausência de
fundamentação idônea, determinando o desentranhamento das provas obtidas
através das prorrogações infundadas, veja-se emenda do acórdão proferido:
HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO. QUEBRA DO SIGILO DAS
COMUNICAÇÕES. PRAZO SUPERIOR A 15 DIAS. POSSIBILIDADE.
PRORROGAÇÃO AUTOMÁTICA. INOBSERVÂNCIA DO DEVER DE MOTIVAR
AS DECISÕES JUDICIAIS. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CARACTERIZADO.
DESENTRANHAMENTO DAS PROVAS ILÍCITAS.
1. O sigilo das comunicações telefônicas é garantido no inciso XII do art. 5º
da Constituição Federal e para que haja o seu afastamento exige-se ordem
judicial que, também por determinação constitucional, precisa ser
fundamentada, conforme o inciso IX do art. 93.
2. Dispõe o art. 5º da Lei n. 9.296/1996, ao tratar da manifestação judicial
sobre o pedido de interceptação telefônica, que a decisão será
fundamentada, sob pena de nulidade, indicando também a forma de
execução da diligência, que não poderá exceder o prazo de quinze dias,
renovável por igual tempo uma vez comprovada a indispensabilidade do
meio de prova.
3. A despeito de contrariar a literalidade desse dispositivo legal, a limitação do
prazo para a realização de interceptações telefônicas não constitui óbice ao
deferimento da medida excepcional por período superior a 15 dias, desde que haja
circunstanciada justificação. Precedentes.
4. A prorrogação da quebra de sigilo, não obstante a jurisprudência admitir tantas
quantas necessárias, pode ocorrer, mas nunca automaticamente, depende
sempre de decisão judicial fundamentada, com específica indicação da
indispensabilidade da continuidade das diligências.
5. No caso, o magistrado, ao autorizar interceptações do fluxo de
comunicações em sistema de telemática originadas e recebidas de
determinados números de telefone pelo prazo de 30 e 45 dias, não
apresentou motivação concreta, caracterizando abusividade a justificar a
declaração de ilicitude de tais provas. E, quando permitiu fossem
26
automaticamente prorrogados os monitoramentos, acabou por ofender a lei
e à Constituição, gerando nulidade a contaminar as provas daí decorrentes.
6. Ordem concedida. (grifado)31
Assim, é necessário que o magistrado realize um exame minucioso em
cada caso concreto, no que tange à existência ou não de outros meios disponíveis
para a obtenção da prova antes da autorização da quebra do sigilo telefônico,
demonstrando na decisão, de maneira devidamente fundamentada que outros meios
não existiam, ou não poderiam ser de seu conhecimento no momento da decisão,
sob pena de nulidade das provas obtidas, e as delas derivadas.
31 STJ - HC 139.581/RS, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 10/09/2013, DJe 21/05/2014 Disponível em < https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_registro=200901179769&dt_publicacao=21/05/2014>.
Acesso em: 27 out. 2014.
27
CAPÍTULO 2
2.1 A PROVA NO DIREITO PROCESSUAL PENAL
Este capítulo tratará a prova no direito processual penal e sua
importância. Para tal, iniciamos tratando a finalidade da prova, faremos uma análise
dos requisitos a serem observados no momento da sua produção para utilização
válida no processo criminal. Ato contínuo, abordaremos a inutilização das provas
obtivas em desconformidade com as normas constitucionais e infraconstitucionais,
bem como as delas derivadas. Por fim, será verificada a possibilidade de utilização
das provas obtidas ilicitamente em favor do acusado.
A prova “é o instrumento usado pelos sujeitos processuais para
comprovar os fatos da causa, isto é, aquelas alegações que são deduzidas pelas
partes como fundamento para o exercício da tutela jurisdicional”32.
A prova no aspecto jurídico tem o condão de demonstrar a veracidade ou
a autenticidade de algo, com o intuito de convencer o julgador sobre a realidade de
um episódio ou de um fato.
Guilherme de Souza Nucci acerca da prova leciona que:
O termo prova origina-se do latim – probatio -, que significa ensaio,
verificação, inspeção, exame, argumento, razão, aprovação ou confirmação.
Dela deriva o verbo provar – probare -, significando ensaiar, verificar,
examinar, reconhecer por experiência, aprovar, estar satisfeito com algo,
persuadir alguém a alguma coisa ou demonstrar. Entretanto, no plano
jurídico, cuida-se particularmente, da demonstração evidente da veracidade
ou autenticidade de algo. Vincula-se por óbvio, à ação de provar, cujo o
objetivo é tornar claro e nítido ao juiz a realidade de um fato, de um
acontecimento ou de um episódio.
A prova vincula-se à verdade e à certeza, que se ligam à realidade, todas
voltadas, entretanto, à convicção de seres humanos. O universo no qual
estão inseridos tais juízos de espírito ou valoração sensíveis da mente
humana precisa ser analisado tal como ele pode ser e não como
efetivamente é.
32 BOMFIM, Edilson Mougenot. Curso de Processo Penal. 4.ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 303.
28
A verdade é a conformidade da noção ideológica com a realidade; certeza é
a crença nessa conformidade, provocando um estado subjetivo do espirito
ligado a um fato, ainda que essa crença não corresponda à verdade
objetiva33.
A finalidade da prova no processo penal, por conseguinte, deve ser capaz
de convencer o julgador sobre a verdade dos fatos alegados, reconstruindo os fatos
passados dentro do processo da maneira próxima da realidade possível, tendo em
vista que a aplicação de uma sanção penal implicará diretamente na restrição da
garantia constitucional de liberdade de um individuo.
Nesse sentido, Sergio Ricardo de Souza leciona:
Enquanto o processo penal pode ser entendido de forma simplificada como
sendo o meio através do qual o Estado, através de uma série ordenada de
atos procede à reconstrução dialética dos fatos postos na inicial acusatória,
com vistas a determinar qual a viabilidade, ou não, de aplicação do jus
puniendi, pode-se dizer que a prova se constitui no elemento mais
importante dessa almejada reconstrução e da própria atividade processual,
pois é através dela que se recria na mente do julgador como tais fatos
ocorreram, dando-lhe os indispensáveis subsídios para o julgamento,
funcionando como a verdadeira “alma do processo” cujo o objetivo maior é
alcançar uma verdade processual que assegure ao julgador a certeza da
decisão, principalmente quando condenatória34.
Em que pese a importância da prova no processo penal, devido à sua
finalidade, qual seja, comprovar a autoria e materialidade de uma infração penal,
permitindo a repressão à criminalidade pelo Estado através da aplicação de uma
sanção, a mesma deve ser produzida em inobservância aos ditames constitucionais
do direito de ação (Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, art. 5º ,
inciso XXXV), e do devido processo legal e ao contraditório (Constituição da
República Federativa do Brasil 1988, art. 5º, incisos LIV e LV).
Veja-se o disposto nos dispositivos constitucionais supracitados:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
33 NUCCI, Guilherme de Souza. Provas no processo penal. 2.ed. rev. atual e ampl. com a obra “O valor da confissão como
meio de prova no processo penal”. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011. Pag. 15. 34 Souza, Sergio Ricardo de. Manual da prova penal constitucional: pós-reforma de 2008. Curitiba:Juruá, 2008. pag. 19.
29
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
[...] XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou
ameaça a direito; [...]
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido
processo legal;
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados
em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e
recursos a ela inerentes; [...]35
A prova designa vários objetos distintos, indicando atos processuais
concatenados com o intuito de se apurar a verdade e convencer o juiz, fixando o
resultado da atividade probatória, e apontando para os meios utilizados para se
provar o pretendido.
Ada Pellegrini Grinover, Antonio Scarance Fernandes e Antônio
Magalhães Gomes Filho, sobre os vários objetos da prova doutrinam que:
Pode-se, assim, distinguir a prova entre fonte de prova (fatos percebidos
pelo juiz), meio de prova (instrumentos pelos quais os mesmos se fixam em
juízo) e objeto da prova (o fato a ser provado, que se deduz da fonte e se
introduz no processo pelo meio da prova).
A prova classifica-se em direta ou indireta, conforme se refira direta e
imediatamente ao fato a ser provado (objeto da prova), ou se refira a outro
fato (indicio) que, por sua vez, se ligue ao fato a ser provado. Nesse
enfoque, a prova indiciária é sempre indireta. Fala-se, ainda, numa outra
classificação, em prova plena (ou evidente) e semiplena (ou incompleta),
segundo o grau de certeza de causar no juiz.
Finalmente, quanto às atividades processuais concernentes à prova, devem
ser destacados quatro momentos: as provas são proposta (indicadas ou
requeridas); admitidas (quando o juiz se manifesta sobre sua
admissibilidade); produzidas (introduzidas no processo) e apreciadas
(valoradas pelo juiz)36
35
BRASIL. (Constituição 1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 27 out. 2014. 36 GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES FILHO, Antônio Magalhães; FERNANDES, Antônio Scarance. As nulidades no
processo penal. 9. ed. rev. e ampl. São Paulo, SP: Revista dos Tribunais, 2006. pag. 136
30
A prova deve atender sua finalidade, que compreende em garantir que o
julgador aprecie os fatos, podendo decidir e exercer a tutela jurisdicional, bem como
seu objeto, que consiste em confirmar as teses alegadas pelas partes durante a
instrução processual sob o crivo do contraditório.
O processo penal é a maneira de se buscar o convencimento do
magistrado, todavia, existem limitações que afetam a sua produção e os limites do
convencimento alcançado, afim que se iniba uma “verdade real” a qualquer custo,
utilizando-se de me medidas típicas de sistemas inquisitórios, ultrapassados após o
advento da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
Nesse sentido leciona o jurista Aury Lopes Junior que:
Quando se aborda a fundamentação das decisões judiciais, em última
análise, está-se discutindo também “que verdade” foi buscada e alcançada
no ato decisório. Eis aqui a relevância de descontruir o mito da verdade real,
na medida em que é uma artimanha engendrada nos meandros da
inquisição para justificar o substancialismo penal e decisionismo processual
(utilitarismo), típicos do sistema inquisitório37.
No mesmo sentido, ensina o doutrinador Alexandre Morais da Rosa:
O resultado da produção válida de significantes será composta pela decisão
judicial, a qual não se assemelha, nem de longe, ao mito ultrapassado da
verdade real. A verdade real é a empulhação ideológica que serve para
acalmar a consciência de acusadores e julgadores. A ilusão da informação
perfeita no processo penal recebe o nome de Verdade Real.38
Com o advento da Constituição Federal de 1988, a qual exaltou de
sobremaneira o sistema acusatório, bem como as garantias individuais dos
acusados, faz-se necessário que sejam observados os papeis das partes no curso
do processo.
O papel de produção das provas e informações deve ser observado
durante a instrução processual, cabendo à acusação e à defesa sua produção
37 LOPES JR, Aury. Direito Processual Penal e Sua Conformidade Constitucional. 2.ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris,
2008. v.I. p.512 38 ROSA, Alexandre Morais da. Guia compacto do processo penal conforme a teoria dos jogos. 2.ed., rev. e ampl. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2014 pag.177
31
válida, não devendo ser produzida pelo juiz da causa sob pena de se ver ferido o
princípio constitucional da imparcialidade do juiz.
A prova é imprescindível para que o Estado possa exercer o jus puniendi,
entretanto, devem ser observados os requisitos constitucionais e infraconstitucionais
no momento de sua produção.
O artigo 155 do Código de Processo Penal dispõe de forma clara que o
juiz deverá decidir pautado nas provas produzidas sob o crivo do contraditório.
Veja-se o disposto no artigo 155 do Código de Processo Penal:
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova
produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão
exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação,
ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.
Parágrafo único. Somente quanto ao estado das pessoas serão
observadas as restrições estabelecidas na lei civil39.
Antônio Magalhães Gomes Filho sobre o assunto ensina que:
Ao dizer que o juiz formará o seu convencimento pela livre apreciação da
prova produzida em contraditório judicial, excluindo, ao mesmo tempo, que
possa utilizar exclusivamente elementos informativos colhidos na
investigação, o legislador consagrou e sublinhou a nítida e apropriada
distinção entre o que é prova e aquilo que constitui elemento informativo da
investigação. São, com efeito, conceitos que não se confundem, até porque
constituem resultado de atividades com finalidades diversas: os atos de
prova objetivam a introdução de dados probatórios (elementos de prova) no
processo, que servem à formulação de um juízo de certeza próprio da
sentença; os atos de investigação visam à obtenção de informações que
levam a um juízo de probabilidade idôneo a sustentar a opinio delicti do
órgão da acusação ou de fundamentar a adoção de medidas cautelares
pelo juiz. A Lei 11.690/2008, ao tornar explícita essa diferença essencial
entre prova e elemento informativo trazido pela investigação, ressalta que a
observância do contraditório é verdadeira condição de existência da prova40.
39
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Dispõe sobre o Código de Processo Penal. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm>. Acesso em: 27 out. 2014. 40 FILHO, Antônio Magalhães Gomes; MOURA, Maria Thereza Rocha de Assis (Coord.). As reformas no processo penal. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. pag 250.
32
Cumpre-se salientar que a função da produção probatória no processo
penal é da acusação e defesa, devendo manter-se o julgador inerte quando da sua
produção, para uma apreciação imparcial.
Neste diapasão, Alexandre Morais da Rosa leciona que:
A produção das informações relevantes, para efeito da decisão, é função
dos jogadores, descabendo qualquer atribuição ao julgador. O regime de
prova, desta forma, não pode ser lido conforme disposições equivocadas do
CPP (art. 155 e segts), mas de maneira constitucionalizada. O processo
precisa ser entendido como o mecanismo apto à inserção da informação no
campo da decisão judicial. É o regime pelo qual o Estado estipula quais as
modalidades e a forma de produção da informação41.
O entendimento do Superior Tribunal de Justiça não destoa do
entendimento doutrinário, conforme se denota do acórdão do REsp. 1253537 da
relatoria da Ministra Maria Thereza de Assis Moura:
PENAL E PROCESSO PENAL. RECURSO ESPECIAL. NEGATIVA DE
VIGÊNCIA AO ART. 155 DO CPP. OCORRÊNCIA. CONDENAÇÃO
FUNDAMENTADA EXCLUSIVAMENTE EM ELEMENTOS DO INQUÉRITO
POLICIAL. IMPOSSIBILIDADE. OFENSA À GARANTIA DO DEVIDO
PROCESSO LEGAL, DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA.
VIOLAÇÃO AO ART. 386, VII, DO CPP. OCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE
PROVA SUFICIENTE PARA A CONDENAÇÃO. RECURSO ESPECIAL A
QUE SE DÁ PROVIMENTO.
1. Segundo entendimento desta Corte, a prova idônea para arrimar
sentença condenatória deverá ser produzida em juízo, sob o crivo do
contraditório e da ampla defesa, de modo que se mostra impossível invocar
para a condenação, somente elementos colhidos no inquérito, se estes não
forem confirmados durante o curso da instrução criminal.
2. Não existindo, nos autos, prova judicializada suficiente para a
condenação, nos termos do que reza o artigo 386, inciso VII, do Código de
Processo Penal, impõe-se a absolvição do recorrente.
3. Recurso especial provido para, reconhecendo a violação aos artigos 155
e 386, inciso VII, ambos do Código de Processo Penal, absolver o
recorrente42.
41 ROSA, Alexandre Morais da. Guia compacto do processo penal conforme a teoria dos jogos. 2.ed., rev. e ampl. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2014 pag.177 42 STJ-REsp 1253537/SC, Rel. Ministra Maria Thereza De Assis Moura, Sexta Turma, julgado em 01/09/2011, DJe 19/10/2011 Disponível em: < https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_registro=201100559720&dt_publicacao=19/10/2011/>.
33
A prova, hábil para formar o convencimento do magistrado, possibilitando
o exercício jurisdicional, deve, além de observar os princípios constitucionais,
notadamente o princípio do contraditório e da ampla defesa, atender os requisitos
elencados nas normas infraconstitucionais, sob pena de serem ilícitas, e
consequentemente, imprestáveis ao processo.
Acesso em: 16 out. 2014
34
2.2 AS INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS OBTIDAS EM DESCONFORMIDADE
COM O DIREITO FORMAL E MATERIAL ELENCADO NA NORMA
CONSTITUCIONAL E INFRACONSTITUCIONAL
Com o fim da 2ª Guerra Mundial e com o advento da Declaração
Universal dos Direitos Humanos, diversos países democráticos signatários passaram
a observar à necessidade da proteção da dignidade da pessoa, inadmitindo a
produção e principalmente a utilização de provas obtidas em afronta a dignidade da
pessoa humana, surgindo o princípio da vedação da prova ilícita.
Sergio Ricardo de Souza sobre o princípio da vedação da prova ilícita
aborda que:
A proibição da utilização da prova obtida por meios ilícitos é uma realidade
que se acha presente nas mais diversas legislações, isso, porque a
obtenção das provas por meios vedados é vinculada, quase que
invariavelmente, a algum tipo de afronta à dignidade da pessoa humana da
pessoa que está sob investigação, e a dignidade da pessoa humana é um
valor reconhecido internacionalmente, a começar pela Declaração Universal
dos Direitos Humanos e pelas constituições da Alemanha, de Portugal, da
Espanha, do Chile e do Brasil.
A partir, principalmente, da institucionalização universal dos Direitos
Humanos, fenômeno desenvolvido a partir do término da 2ª Grande Guerra
que nodoou a história da humanidade ao final da primeira metade do século
passado, a doutrina passou a ter uma preocupação mais marcante com o
fenômeno processual penal e com os aspectos éticos que regem a sua
autuação como instrumento pelo qual o Estado exerce o jus puniendi contra
alguém subordinado a sua jurisdição, fatores que somados à crescente
conscientização da necessidade da proteção à dignidade da pessoa
humana de todos, inclusive daqueles que sofrem as agruras do processo
penal, culminou com o desenvolvimento de estudos e de teorias e doutrinas
sobre a proibição do uso da prova obtida de forma ilícita43.
A respeito da evolução do conceito de prova ilícita, Luiz Francisco
Torquato Avolio, instrui:
43 Souza, Sergio Ricardo de. Manual da prova penal constitucional: pós-reforma de 2008. Curitiba:Juruá, 2008. pag. 19.
35
O tema das provas ilícitas foi deixado completamente à sombra por muito
tempo. A não ser pela obra de Beling, Vedações probatórias como limite
para a apreciação da verdade processual penal, não se suscitou um debate
aprofundado da matéria. Faltavam, segundo Trocker, os pressupostos para
colher as reais implicações de um fenômeno do gênero: a) o princípio do
livre convencimento do juiz era uma conquista demasiadamente recente e
importante para que se pudesse pensar em remetê-la novamente a
discussão através de um sistema de vedações probatórias; b) de outro lado,
uma visão “autoritária” ou burocrática da função jurisdicional e de seus
encargos impunha conferir um posição de absoluta proeminência à busca
da verdade, sobretudo no processo penal44.
Por seu turno, a Constituição da República Federativa do Brasil,
estabeleceu de forma clara no artigo 5°, inciso LVI que “são inadmissíveis, no
processo, as provas obtidas por meios ilícitos”45.
Se referindo ao dispositivo constitucional que veda a utilização das provas
ilícitas no processo, Ada Pellegrini Grinover, Antonio Scarance Fernandes e Antonio
Magalhães Gomes Filho explicam que:
A questão denominada “prova ilícita” ubica-se, juridicamente, na
investigação a respeito da relação entre o ilícito e o inadmissível no
procedimento probatório e, sob o ponto de vista da politica legislativa, na
encruzilhada entre a busca da verdade em defesa da sociedade e o respeito
a direitos fundamentais que podem ver-se afetados por esta investigação.
A prova ilícita (ou obtida por meios ilícitos) enquadra-se na categoria de
prova vedada. A prova é vedada sempre quer for contrária a uma específica
norma legal, ou a um principio de direito positivo.
Mas a vedação pode ser estabelecida quer pela lei processual, quer pela
norma material (por exemplo, constitucional ou penal); pode, ainda, ser
expressa ou pode implicitamente ser deduzida dos princípios gerais46.
Sobre o tema, Aury Lopes Junior esclarece e distingue prova ilegal,
ilegítima e ilícita:
44 AVOLIO, Luiz Francisco Torquato. Provas Ilícitas: interceptações telefônicas e gravações clandestinas. 2.ed. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 1999. pag. 05. 45 BRASIL. (Constituição 1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituicao.htm> Acesso em: 16 out. 2014 46 GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES FILHO, Antônio Magalhães; FERNANDES, Antônio Scarance. As nulidades no
processo penal. 9. ed. rev. e ampl. São Paulo, SP: Revista dos Tribunais, 2006. Pag. 148-149
36
Deve-se distinguir prova ilegal, ilegítima e ilícita. A prova ilegal é o gênero,
do qual são espécies a prova ilegítima e a prova ilícita. Assim:
- prova ilegítima: quando ocorre a violação de uma regra de direito
processual penal no momento de sua produção em juízo, no processo. A
proibição tem natureza exclusivamente processual, quando for imposta em
função de interesses atinentes à lógica e à finalidade do processo. Ex.:
juntada fora do prazo, prova unilateralmente produzida (como são as
declarações escritas e sem contraditório), etc.
- prova ilícita: é aquela que viola regra de direito material ou a constituição
no momento da sua coleta, anterior ou concomitante ao processo, mas
sempre exterior a esse (fora do processo). Nesse ponto, explica MARIA
THEREZA, embora servindo, de forma imediata, também a interesses
processuais, é vista, de maneira fundamental, em função dos direitos que o
ordenamento reconhece aos indivíduos, independentemente do processo.
Em geral, ocorre uma violação da intimidade, privacidade ou dignidade
(exemplos: interceptação telefônica, ilegal, quebra de sigilo, quebra ilegal do
sigilo bancário,fiscal, etc.)47
Assim o que diferencia a prova ilegal, ilegítima e ilícita é a violação de
uma regra no momento de sua produção, destarte tem-se como “prova ilegal toda
vez que sua obtenção caracterize violação de normas legais ou de princípios gerais
do ordenamento, de natureza processual ou material. Quando a proibição for
colocada por uma lei processual, a prova será ilegítima (ou ilegitimamente
produzida); quando, pelo contrário, a proibição for de natureza material, a prova será
ilicitamente obtida”48.
As provas obtidas em desconformidade com as normas constitucionais e
infraconstitucionais são inaceitáveis no processo, devendo ser desentranhada do
processo, conforme determina o artigo 157 do Código de Processo Penal, in verbis:
Art. 157 - São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as
provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas
constitucionais ou legais.
47 LOPES JR, Aury. Direito Processual Penal e Sua Conformidade Constitucional. 2.ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen
Juris, 2008. v.I. p.536; 48 GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES FILHO, Antônio Magalhães; FERNANDES, Antônio Scarance. As nulidades no
processo penal. 9. ed. rev. e ampl. São Paulo, SP: Revista dos Tribunais, 2006. pag. 149 48 LOPES JR, Aury. Direito Processual Penal e Sua Conformidade Constitucional;
37
§ 1º - São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo
quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou
quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das
primeiras49.
O parágrafo primeiro do artigo 157 do Código de Processo Penal
consagrou a teoria dos frutos da árvore envenenada (fruits of the poisonouss tree –
criada pela Corte Norte-Americana), a qual sustenta que as provas obtidas
licitamente, mas que sejam derivadas, ou seja, consequência do aproveitamento de
informações de provas obtidas com violação direitos constitucionais, restam
igualmente viciadas50.
O jurista Edilson Moungenot Bonfim, sintetiza a matéria, aduzindo que “tal
teoria sustenta que as provas ilícitas por derivação devem igualmente ser
desprezadas, pois ‘contaminadas’ pelo vício (veneno) da ilicitude do meio usado
para obtê-las”51.
Ada Pellegrini Grinover, Antonio Scarance Fernandes e Antonio
Magalhães Gomes Filho, lecionam a respeito, veja-se:
A questão, também momentosa, das denominadas provas ilícitas por
derivação diz respeito àquelas provas em si mesmas lícitas, mas que se
chegou por intermédio da informação obtida por prova ilicitamente colhida.
É o caso da confissão extorquida mediante tortura, em que o acusado indica
onde se encontra o produto do crime, que vem a ser regularmente
apreendido. Ou o caso da interceptação telefônica clandestina, por
intermédio da qual o órgão policial descobre uma testemunha do fato que,
em depoimento regularmente prestado incrimina o acusado.
Na posição mais sensível às garantias da pessoa humana, e
consequentemente mais intransigente com os princípios e normas
constitucionais, a ilicitude da obtenção da prova transmite-se às provas
derivadas, que são, assim, igualmente banidas do processo.
É a conhecida teoria dos “frutos da árvore envenenada”, cunhada pela
Suprema Corte Americana, segundo a qual o vício da planta se transmite a
todos os seus frutos52.
49 BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Dispõe sobre o Código de Processo Penal. 50 BOMFIM, Edilson Mougenot. Curso de Processo Penal. 4.ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 313; 51 BOMFIM, Edilson Mougenot. Curso de Processo Penal. 4.ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 313; 52 GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES FILHO, Antônio Magalhães; FERNANDES, Antônio Scarance. As nulidades no
38
Assim sendo, mostra-se imprescindível a observância dos procedimentos
para obtenção das provas no processo penal, em especial quando se tratam de
provas que golpeiam garantias fundamentais, como o direito da intimidade, como
nos casos de quebra se sigilo de correspondências e comunicação, sob pena de ter-
se as mesmas declaradas nulas, bem como as derivadas pela contaminação
proveniente das que lhe deram origem53.
O ato judicial que autoriza a obtenção de informações telefonias,
imolando o direito fundamental de intimidade deve ser totalmente vinculado e
limitado ao processo que deu ensejo a tal procedimento, ou seja, deve estar
vinculado ao crime que ensejou a decisão judicial, conforme se colhe dos
ensinamentos de Aury Lopes Junior:
[...] é preciso compreender que o ato judicial que autoriza, por exemplo, a
obtenção de informações bancárias, fiscais ou telefônicas - com sacrifício
do direito fundamental respectivo - é plenamente vinculado e limitado. Há
todo um contexto jurídico e fático necessário para legitimar a medida que
institui uma “especialidade” da medida. Ou seja, a excepcionalidade e
lesividade de tais medidas exigem uma eficácia limitada e seus efeitos e,
mais ainda, uma vinculação àquele processo. Trata-se de uma vinculação
causal, onde a autorização judicial para obtenção da prova naturalmente
vincula a utilização naquele processo (e em relação àquele caso penal),
sendo assim, ao mesmo tempo, vinculada e vinculante.[...] Essa decisão, ao
mesmo tempo em que esta vinculada ao pedido (imposição do sistema
acusatório), é vinculante em relação ao material colhido, pois a busca e
apreensão, interceptação telefônica, quebra do sigilo bancário, fiscal, etc.,
está restrita a apuração daquele crime que ensejou a decisão judicial.54
Além da necessidade de serem observados os procedimentos
infraconstitucionais autorizadores da quebra de sigilo, medida esta excepcional, por
tratar-se de uma garantia constitucional, deve estar devidamente ligada ao delito que
lhe deu causa, para que sejam lícitas e legítimas no processo55.
processo penal. 9. ed. rev. e ampl. São Paulo, SP: Revista dos Tribunais, 2006. pag. 153.
53 BOMFIM, Edilson Mougenot. Curso de Processo Penal. 4.ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 311; 54 LOPES JR, Aury. Direito Processual Penal e Sua Conformidade Constitucional. 2.ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen
Juris, 2008. v.I. p.528. 55 LOPES JR, Aury. Direito Processual Penal e Sua Conformidade Constitucional. 2.ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen
Juris, 2008. v.I. p.528;
39
Surge, no entanto, questionamentos por parte da doutrina sobre a
possibilidade de utilização da interceptação telefônica, produzida em um processo
em outro com o intuito de se comprovar determinado fato, nos casos denominados
pela doutrina de encontro fortuito de outros fatos ou de outros envolvidos.
Ada Pellegrini Grinover, Antonio Scarance Fernandes e Antônio
Magalhães Gomes Filho, aduzem que a prova emprestada deve ser regida pelos
princípios constitucionais que regem a prova em geral fazendo colocações
relevantes sobre o tema:
Entende-se, como prova emprestada aquela que é produzida em um
processo, sendo, depois transportada documentalmente para outro, visando
a gerar efeitos neste; ou ainda, na definição clássica, aquela que já foi
produzida juridicamente, mas em outra causa, da qual se extrai para aplica-
la à causa em questão. [...]
Pode-se afirmar, no entanto, que seu valor probante é o da sua essência, e
esta será a originária, consoante foi produzida no processo primitivo.
Aplicam-se à prova emprestada os princípios constitucionais que regem a
prova em geral.
Por isso mesmo, o primeiro requisito constitucional de admissibilidade da
prova emprestada é o de ter sido produzida em processo formado entre as
mesmas partes ou, ao menos, em processo em que tenha figurado como
parte aquele contra quem se pretenda fazer valer a prova. Isso porque o
princípio constitucional do contraditório exige que a prova emprestada
somente possa ter valia se produzida, no primeiro processo, perante quem
suportará seus efeitos no segundo, com a possibilidade de ter contado,
naquele, com todos os meios possíveis de contrariá-la. Em hipótese alguma
poderá a prova emprestada gerar efeitos contra quem não tenha participado
da prova56.
No caso da interceptação telefônica, questiona-se, ainda, a possibilidade
de utilização do conteúdo da interceptação telefônica, produzida em processo em
que o acusado não era parte.
Clever Rodolfo Carvalho Vasconcelos aborda o tema:
Indaga-se, então, se a interceptação telefônica, mesmo manejada à luz da
Lei nº 9.296/1996, que regulamentou o inciso XII, parte final, do art, 5º da
56 GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES FILHO, Antônio Magalhães; FERNANDES, Antônio Scarance. As nulidades no
processo penal. 9. ed. rev. e ampl. São Paulo, SP: Revista dos Tribunais, 2006. pag. 140-141.
40
Constituição Federal, obtida em autos de processo-crime onde o imputado
não fora parte, pode ser utilizada contra este, como prova emprestada, e
ainda que não guarde nenhum elemento de conexão com o anterior
processo.
Por sua vez, a Lei nº 9.296/1996, regulamentadora do dispositivo
constitucional, assentou no parágrafo único, do art. 2º, que “em qualquer
hipótese deve ser descrita com clareza a situação objeto da investigação,
inclusive com a indicação e qualificação dos investigados, salvo
impossibilidade manifesta, devidamente justificada”.
Da leitura de tal dispositivo, resulta claro que a interceptação telefônica de
pessoa não indicada e qualificada na prévia investigação constitui quebra
de um direito fundamental, com manifesta violação da privacidade, situação
que justifica, a impetração de mandamus (art. 5º, LXIX, Constituição
Federal).
E não cabe apontar, como excludente, a ressalva da lei que cuidou da
impossibilidade manifesta da qualificação do investigado, posto que tal
circunstância, como é corrente, deve ser devidamente justificada, e, em
casos excepcionais, quando não se conhece a identidade física do
investigado.
É de se ressaltar que a matéria, de conteúdo relevante, vem ademais
provocando dissidências diante de sucessivos acontecimentos relacionados
com o que a doutrina rotulou de “encontro fortuito de outros fatos ou de
encontros envolvidos”, mormente quando se cogita da intitulada prova
emprestada, ainda que obtida através da interceptação telefônica no rastro
do que preceitua o art. 5º, XII, da carta Magna, dispositivo regulamentado
pela Lei nº 9.296/199657.
A interceptação telefônica utilizada como prova emprestada necessita
preencher os requisitos infraconstitucionais, bem como garantir o exercício do
contraditório, sob pena de nulidade.
Assim, se “a prova emprestada for indevidamente transportada para o
segundo processo, em violação ao principio do contraditório, configurará prova
ilícita, sujeita às correlatas consequências processuais (inexistência como prova,
ineficácia e nulidade da sentença que nela se fundamentar)”58.
57 VASCONCELOS, Clever Rodolfo Carvalho. Interceptação Telefônica. São Paulo: Atlas S.A., 2011, pag. 29. 58 GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES FILHO, Antônio Magalhães; FERNANDES, Antônio Scarance. As nulidades no
processo penal. 9. ed. rev. e ampl. São Paulo, SP: Revista dos Tribunais, 2006. pag. 142.
41
Cabe ressaltar, ainda que, “mesmo havendo previsão legal para a
possibilidade da interceptação telefônica, é de suma importância que se analise o
material probatório auferido na investigação. Esta é uma tarefa do magistrado, tendo
a função de fiscalizar a legalidade dos meios segundo os quais foram obtidas as
informações, assegurando que as provas ilícitas não sejam admitidas, expurgando-
as dos autos do processo sob crivo judicial”59.
2.3 A UTILIZAÇÃO DA PROVA ILÍCITA EM FAVOR DO RÉU
Em que pese a vedação constitucional de admissibilidade de provas
ilícitas no processo, a doutrina entende pela possibilidade da utilização da prova
ilícita em favor do réu, quando tratar-se da única maneira de absolvição, bem com
ser o único meio de comprovar fato relevante à defesa, em decorrência do princípio
da proporcionalidade e razoabilidade.
Clever Rodolfo Carvalho Vasconcelos versando acerca de tal
possibilidade leciona que:
A questão da legalidade ou ilegalidade das provas utilizadas na Lei nº
9.296/1996 continua sendo verificada, efetivamente, na apreciação
principiológica da razoabilidade, conforme passamos a estudar.
Apesar da proibição constitucionalmente determinada, a doutrina e
jurisprudência majoritárias tem considerado possível a utilização de provas
ilícitas em favor do réu quando se tratar da única forma de absolvê-lo
ou,então de comprovar fato importante à sua defesa.
Para tanto, é aplicado o princípio da proporcionalidade ou denominado
“principio do sopesamento”, o qual, partindo da consideração de que
nenhum direito reconhecido na Constituição pode revestir-se de caráter
absoluto, possibilita que se analise, diante da hipótese de colisão de direitos
fundamentais, qual é o que deve, efetivamente, ser protegido pelo Estado.
No balanceamento comparativo entre duas disposições ou valores, mais do
que o direito à intimidade violada, revela o direito à liberdade do réu, que
não pode sofrer uma condenação injusta, sendo, por isso, a seu favor
considerado razoável e proporcional, utilizar prova ilicitamente obtida60.
59 VASCONCELOS, Clever Rodolfo Carvalho. Interceptação Telefônica. São Paulo: Atlas S.A., 2011, pag. 36. 60 VASCONCELOS, Clever Rodolfo Carvalho. Interceptação Telefônica. São Paulo: Atlas S.A., 2011, pag. 36.
42
No mesmo sentido Edilson Moungenot Bonfim ensina que:
Como, porém, a proibição da prova ilícita é uma garantia individual contra o
Estado, predomina o entendimento na doutrina de que seja possível
utilização de prova favorável ao acusado, ainda que colhida com
infringência de direitos fundamentais seus ou de terceiros, e, quando
produzida pelo próprio interessado (como gravação de conversação
telefônica em casos de extorsão, por exemplo) traduz hipótese de legitima
defesa, que exclui a ilicitude61.
Clever Rodolfo Carvalho Vasconcelos acerca da utilização da prova ilícita
apenas em favor do réu elucida:
A maioria doutrinária e jurisprudencial tende a não aceitar o principio da
proporcionalidade como fator capaz de justificar a utilização da prova ilícita
em favor da sociedade, ainda que se trate do único elemento probatório
carreado aos autos possível de conduzir à condenação do réu.
Permite-se, assim, a aplicação do supracitado princípio tão somente em
favor do réu, sob o argumento de que o texto constitucional não se coaduna
com o erro judiciário, razão pela qual é inaceitável que um inocente seja
condenado apenas porque a prova que o inocenta não foi obtida por meios
lícitos. Não se trata de considerar lícita a prova ilícita, sendo apenas
considerada como fator de convicção do juiz no intuito de evitar-se uma
injustiça62.
Conforme visto, se a prova ilícita pode ser utilizada em favor do réu,
passar a existir novo questionamento, que versa acerca da possibilidade de
utilização desta prova em outro processo penal com intuito de punir terceiros.
Aury Lopes Junior doutrina sobre o assunto:
Entendemos que não. Essa prova ilícita, que excepcionalmente esta sendo
admitida para evitar o absurdo que representa a condenação de um
inocente, não pode ser utilizada contra terceiro.
Ou seja, a mesma prova que serviu para a absolvição de um inocente, não
pode ser utilizada contra terceiro, na medida em que, em relação a ele, essa
prova é ilícita e assim deve ser tratada (inadmissível, portanto). Não há
nenhuma contradição nesse tratamento, na medida em que a prova ilícita
61 BOMFIM, Edilson Mougenot. Curso de Processo Penal. 4.ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 315. 62 VASCONCELOS, Clever Rodolfo Carvalho. Interceptação Telefônica. São Paulo: Atlas S.A., 2011, pag. 37.
43
esta sendo, excepcionalmente, admitida para evitar a injusta condenação de
alguém (proporcionalidade). Essa admissão está vinculada a este processo.
Não existe uma convalidação, ou seja, ela não se torna lícita para todos os
efeitos, senão que apenas é admitida em um determinado processo (onde o
réu que a obteve atua ao abrigo do estado de necessidade). Ela segue
sendo ilícita e, portanto, não pode ser utilizada em outro processo para
condenar alguém, sob pena de, por via indireta, admitirmos prova ilícita
contra o réu (sim, porque que ele era terceiro no processo originário, mas
assume agora a posição de réu)63.
O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do HC 74.678/SP, da
relatoria do Ministro Moreira Alves, adotou o mesmo entendimento, veja-se o
acordão exarado:
EMENTA: "Habeas corpus". Utilização de gravação de conversa telefônica
feita por terceiro com a autorização de um dos interlocutores sem o
conhecimento do outro quando há, para essa utilização, excludente da
antijuridicidade. - Afastada a ilicitude de tal conduta - a de, por legítima
defesa, fazer gravar e divulgar conversa telefônica ainda que não haja o
conhecimento do terceiro que está praticando crime -, é ela, por via de
conseqüência, lícita e, também conseqüentemente, essa gravação não
pode ser tida como prova ilícita, para invocar-se o artigo 5º, LVI, da
Constituição com fundamento em que houve violação da intimidade (art. 5º,
X, da Carta Magna). "Habeas corpus" indeferido64.
Plausível, portanto, utilizar a prova ilícita em favor do réu para garantir uns
dos bens mais preciosos do ser humano, qual seja, o direito à liberdade, sendo o
principio da proporcionalidade utilizado como meio de se coibir uma injustiça,
mantendo-se inadmissível a prova em relação a terceiros.
63 LOPES JR, Aury. Direito Processual Penal e Sua Conformidade Constitucional. 2.ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen
Juris, 2008. v.I. p. 541-542. 64 STF - HC 74678, Relator(a): Min. MOREIRA ALVES, Primeira Turma, julgado em 10/06/1997, DJ 15-08-1997 PP-37036 EMENT VOL-01878-02 PP-00232 Disponível em http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=75414>
Acesso em: 16 out. 2014
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CAPÍTULO 3
3.1 DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL
Neste capítulo abordaremos a divergência jurisprudencial dos tribunais
Pátrios acerca da necessidade de demonstração do requisito elencado no artigo 2º,
inciso II, da Lei 9.296/1996. Para isso, iniciamos analisando as decisões que
anularam as interceptações telefônicas pela ausência do requisito elencado no artigo
2º, inciso II, da Lei 9.296/1996. Após passamos a análise das decisões que
autorizaram a quebra do sigilo telefônico sem a devida demonstração. Por fim,
buscamos demonstrar a necessidade de observância dos requisitos elencados nas
normas constitucionais e infraconstitucionais para violação a garantia constitucional
da intimidade.
3.2 A NULIDADE DAS DECISÕES QUE AUTORIZAM A INTERCEPTAÇÃO
TELEFÔNICA POR AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DO REQUISITO
ELENCADO ARTIGO 2° INCISO II DA LEI 9296/96 – DIVERGÊNCIA
JURISPRUDENCIAL
Analisada a norma constitucional que garante o sigilo das
correspondências e das comunicações, bem como a norma infraconstitucional que
regulamenta as formas para que se tornar possível à quebra da garantia
constitucional da intimidade, que se ressalta, não é absoluta, em especial quando de
encontro com outras garantias constitucionais, passa-se análise nos casos
concretos em que houve a produção probatória e instrução processual através da
interceptação telefônica.
A norma infraconstitucional elencada pela lei nº 9.296, de 24 de julho de
1996, dispõe de forma clara em seu artigo 2°, inciso II, que não é admitida a quebra
do sigilo telefônico para a apuração de crimes quando houver outros meios
possíveis para se obter a prova65.
65 GOMES, Luis Flavio; MACIEL, Silvio. Legislação Criminal Especial. 2.ed.rev., atual e ampl. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2010. p. 577
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É necessário, portanto, a observância de tal requisito, devendo ser a
decisão devidamente fundamentada, mostrando de forma clara, o preenchimento de
todos os elementos ensejadores da quebra do sigilo descritos no artigo 2º da lei n°
9296/9666.
Nesta esteira, já houve posicionamentos do Superior Tribunal de Justiça,
no julgamento do HC 88.825/GO, da relatoria do Ministro Arnaldo Esteves Lima no
sentido da imprescindibilidade de observância do dispositivo em comento, restando
a decisão ementada da seguinte forma:
PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. SUPOSTA PRÁTICA DE TRÁFICO INTERNACIONAL DE ENTORPECENTES. PACIENTE QUE NÃO FIGURA NO POLO PASSIVO DA AÇÃO PENAL. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO-CONFIGURADO. ORDEM NÃO-CONHECIDA INCOMPETÊNCIA DO JUÍZO. NÃO-OCORRÊNCIA. ART. 83 DO CPP. ILEGALIDADE DAS INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS. LEI 9.296/96. CARÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. NULIDADE. ORDEM CONCEDIDA. [...] 4. O afastamento da garantia inscrita no inciso XII do art. 5º da CF pressupõe o cumprimento cumulativo, das exigências cogentes, imperativas, de ordem pública, de direito estrito, contidas na Lei 9.296/96, notadamente a existência de indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal (art. 2º, I), decisão judicial fundamentada, sob pena de nulidade, pelo prazo de quinze dias, renovável (art. 5º), que a infração não seja punida com detenção e, que não seja possível realizar a prova por outros meios disponíveis. 5. O fato de a investigação ser sigilosa não exclui a necessidade de que a autoridade policial demonstre os indícios razoáveis da autoria ou participação do agente em infração penal, para que o Magistrado competente possa fazer seu juízo de convencimento a respeito, no sentido do atendimento ou não, da imperativa exigência apontada, para justificar a drástica medida invasiva do direito constitucional à incolumidade do sigilo, ut art. 5º, XII, da CF. 6. É inadmissível a manutenção da prova resultante de interceptação oriunda de injustificada quebra do sigilo telefônico, por falta de qualificação do agente e indicação de indícios razoáveis da sua autoria ou participação em infração penal, da inadequada fundamentação das autorizações judiciais, conforme exige o parágrafo único do art. 2º da Lei 9.296/96, por violar os princípios da razoabilidade, proporcionalidade e da dignidade da pessoa humana, além do excessivo período (660) dias, aproximadamente, da quebra do sigilo. 7. Ordem concedida para que sejam desentranhadas do Inquérito 2202.35.00.012047-8 todas as gravações interceptadas a partir e recebidas do telefone do paciente.67 (grifado)
No HC 116375/PB, da relatoria da Ministra Jane Silva, restaram
declaradas nulas as interceptações telefônicas deferidas, pelo fato das decisões que
autorizaram a quebra do sigilo terem sido fundamentadas na gravidade do delito,
66 GOMES, Luis Flavio; MACIEL, Silvio. Legislação Criminal Especial. 2.ed.rev., atual e ampl. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2010. p. 575 67 STJ - HC 88.825/GO, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 15/10/2009; Disponível em
<https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_registro=200701902121&dt_publicacao=30/11/2009 > Acesso em: 16 out. 2014
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bem como por não demonstrarem que não havia outros meios para se alcançar a
prova, veja-se:
INDISPENSABILIDADE – MEDIDA DE EXCEÇÃO QUE FOI UTILIZADA COMO REGRA DURANTE AS INVESTIGAÇÕES – IMPOSSIBILIDADE – LINHA PERTENCENTE A UM DOS PACIENTES QUE FOI INTERCEPTADA MEDIANTE AUTORIZAÇÃO QUANTO A TERCEIRO INVESTIGADO – MÁCULA NÃO CORRIGIDA PELO MAGISTRADO [...][...]PRORROGAÇÕES QUE CONTIVERAM, SEMPRE, A MESMA FUNDAMENTAÇÃO – COMPLEXIDADE DAS INVESTIGAÇÕES – MOTIVO QUE PODE JUSTIFICAR A PRORROGAÇÃO, PORÉM, DESDE QUE DEMONSTRADO COM BASE EM FATORES CONCRETOS – DECISÕES QUE SE LIMITARAM A ARGÜIR A COMPLEXIDADE EM QUESTÃO, PORÉM, SEM DEMONSTRAR SUA PERTINÊNCIA – IMPOSSIBILIDADE – MEDIDA DE CUNHO EXCEPCIONAL E QUE, PORTANTO, DEPENDE DE PRÉVIA E EXAUSTIVA FUNDAMENTAÇÃO – DEVASSA DA INTIMIDADE QUE NÃO SE COADUNA COM AFIRMAÇÕES GENÉRICAS E ABSTRATAS – DECISÕES, QUANTO AO OUTRO PACIENTE, QUE NEM SEQUER DEMONSTRARAM A PRESENÇA DOS REQUISITOS (EXISTÊNCIA DE INDÍCIOS RAZOÁVEIS DE AUTORIA E IMPOSSIBILIDADE DE COLHEITA DE PROVAS POR OUTRO MEIO) PARA SUA INCLUSÃO NO ROL DOS INVESTIGADOS – DECLARAÇÃO DA NULIDADE DA PROVA – NULIDADE QUE DEVE ABARCAR AQUELAS QUE DELA DERIVARAM – IMPOSSIBILIDADE DE AFERIÇÃO NA ESTREITA VIA DO WRIT – INCUMBÊNCIA QUE DEVE FICAR A CARGO DO MAGISTRADO DE 1ª INSTÂNCIA – ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA. [...] IV. Para a determinação da quebra do sigilo telefônico dos investigados, mister se faz a demonstração, dentre outros requisitos, da presença de razoáveis indícios de autoria em face deles. Inteligência do artigo 2º, I da Lei 9.296/1996.[...] VII. Outro requisito indispensável para a autorização do meio de prova em questão é a demonstração de sua indispensabilidade, isto é, que ele seja o único meio capaz de ensejar a produção de provas. Inteligência do artigo 2º, II da Lei 9.296/1996. VIII. Havendo o Juízo de 1º Grau deferido a gravosa medida unicamente em razão da gravidade da conduta dos acusados, do poderio da organização criminosa e da complexidade dos fatos sob apuração, porém, sem demonstrar, diante de elementos concretos, qual seria o nexo dessas circunstâncias com a impossibilidade de colheita de provas por outros meios, mostra-se inviável o reconhecimento de sua legalidade. IX. Ademais, as interceptações deferidas no caso que ora se examina não precederam de qualquer outra diligência, havendo a medida sido utilizada como a origem das investigações, isto é, empregada a exceção como se fosse a regra.[...] XVII. Por ser uma medida excepcional (assim constitucionalmente posta), cabe ao Magistrado a demonstração prévia e exaustiva quanto à estrita necessidade do meio de prova em questão, não se permitindo a devassa da intimidade de qualquer cidadão com base em afirmações genéricas e abstratas.[...] Examinada por todos esses ângulos, urge ser declarada a nulidade da prova em questão, assim como daquelas dela derivadas, as quais devem ser desentranhadas dos autos da ação penal.[...] XXI. Ordem parcialmente concedida, apenas para declarar a nulidade das interceptações telefônicas efetivadas contra os pacientes.68 (grifado)
68 STJ-HC 116375/PB, Rel. Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG), SEXTA TURMA, julgado em 16/12/2008. Disponível em < https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_registro=200802114463&dt_publicacao=09/03/2009> Acesso em: 16 out. 2014
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Colhe-se da fundamentação do acórdão acima mencionado:
Outra tese bem delineada na inicial foi a de que a Juíza de 1º Instância não demonstrou, em sua decisão, que a prova objeto da interceptação não poderia ser colhida por outro meio, até porque ela foi requerida (e deferida) apenas dez dias após o início do inquérito policial. Com efeito, dispõe o artigo 2º, II da Lei 9.296/1996 que “não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando (...) a prova puder ser feita por outros meios disponíveis”. Destarte, cabe ao Magistrado demonstrar a pertinência desse requisito no momento em que acolhe o pleito acusatório. O Ministério Público (f. 146/151) aduziu que já havia identificado a prática danosa entre distribuidores e revendedores de combustíveis há cerca de quatro anos, em conjunto om o Procon Estadual, havendo, inclusive, ajuizado ações penais e civis públicas, obtendo resultados favoráveis, porém, ainda assim os investigados permaneceram praticando atos lesivos ao erário, à ordem econômica e às relações de consumo. Porém, não juntou aos autos qualquer documento que demonstrasse a pertinência dessa argumentação. Por outro lado, ao demonstrar a impossibilidade de colheita das provas por outros meios menos lesivos, se limitou a afirmar que eventuais provas testemunhais seriam invariavelmente maculadas, tendo em vista o interesse comum entre as distribuidoras e muitos donos de postos de combustíveis. Também foi aventada a possibilidade de denunciações caluniosas que levassem as investigações para rumo errado, pois havia inúmeras divergências entre os proprietários de postos. Compulsando os autos, assim decidiu a Magistrada singular (f. 166): (...). Segundo a peça atrial, existe um cartel formado por proprietários de postos de combustíveis ligados ao SINDIPETRO-PB, que uniformizam os preços com o intuito preordenado de limitar, falsear ou de qualquer forma prejudicar a livre concorrência ou a livre iniciativa para dominar mercado relevante de bens ou serviços, além da prática do chamado dumping que consiste na temporária e artificial redução de preços para oferta de bens ou serviços por preços abaixo daqueles vigentes no mercado, provocando oscilação em detrimento de concorrente, e subseqüente elevação, no exercício de especulação abusiva. É de se ressaltar a presença de indícios razoáveis de autoria na pessoa dos investigados, o que pode ser visto através das informações fornecidas, bem como dos documentos trazidos à baila. Além disso, não há dúvidas que a prova almejada não pode ser produzida por outros meios, sobretudo porque é de conhecimento público o poderio das organizações criminosas e a forma ardilosa como costumam agir, de maneira que o Ministério Público fica sem meios operacionais suficientes para fazer face ao fenômeno de maneira global e orgânica, sendo imperiosa a adoção da medida pleiteada. Por tudo, o deferimento do pedido afigura-se conveniente para elucidação dos fatos, induvidosamente complexos, em toda sua extensão, mormente para a coleta de provas essenciais a comprovar à (sic) prática da conduta criminosa que ora se apura. Assim, tem-se por imprescindíveis às investigações a escuta e gravação das mensagens e identificação de chamadas, em razão da gravidade dos fatos e da necessidade de se punir os responsáveis, pelo que tenho por bem autorizar a escuta e gravação dos números indicados, face o perigo enorme e efetivo que a ação pode causar à ordem tributária, à ordem econômica e as relações de consumo. (...). Como se vê, não há qualquer menção aos supostos quatro anos de investigação entre Ministério Público e Procon, até porque, repita-se, não havia nenhum documento que pudesse demonstrá-la e, principalmente,
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porque não foi delineado pela acusação qualquer nexo no sentido de que essa circunstância seria apta a demonstrar a impossibilidade de colheita de provas por outro meio que não a interceptação telefônica.
No mesmo sentido foi o entendimento firmado pelo Tribunal Regional
Federal da 1ª Região, no julgamento do HC46319/MG, da relatoria do
desembargador Tourinho Neto, restando assim emendado o acórdão:
PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA. PRESSUPOSTOS E REQUISITOS. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. 1. Pressupostos: Não havendo indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal, não pode ser determinada a interceptação telefônica. Mera suspeita ou fatos indeterminados não permitem a interceptação. 2. Requisitos: A quebra do sigilo telefônico implica intromissão na privacidade do cidadão, expressamente amparada pela Constituição Federal (artigo 5º, X), e somente se justifica mediante especificação da necessidade com fundamentação plausível (periculum in mora). 3. Trancamento da ação penal. O trancamento de inquérito policial pela via do habeas corpus só é possível quando evidenciados, sem necessidade de dilação probatória, a atipicidade da conduta, a ausência de autoria ou existência de causa extintiva da punibilidade69.
No corpo do acórdão supracitado, o Desembargador relator expõe a
necessidade de conter na fundamentação da decisão que autoriza a quebra do sigilo
telefônico, que não havia outros meios de se obter a prova, veja-se:
A interceptação foi prorrogada nove vezes, como informa a autoridade apontada como coatora (v. fls. 1.202/1.203). A quebra do sigilo telefônico implica intromissão na privacidade do cidadão, expressamente amparada pela Constituição Federal (artigo 5º, X), e somente se justifica mediante especificação da necessidade com fundamentação plausível. A Lei 9.296, de 1996, que regulamenta o inciso XII do art. 5º da Constituição Federal, no art. 2º, dispõe que “não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando”, dentre outras hipóteses, “prova puder ser feita por outros meios disponíveis”; e desde que haja indícios razoáveis de autoria ou de participação na infração penal. Qual o fundamento do eminente Juiz para determinar a interceptação telefônica da paciente? Os indícios de autoria e participação em infração penal da Sra. Neide, objetivando fraudar o INSS, restaram evidenciados pelas informações, contidas nos Relatórios Parciais de Inteligência Policial (fIs. 59/66), de que a mesma figura corno procuradora de segurados em inúmeros benefícios concedidos, nos quais o Dr. Edwar atuou como médico-perito, sendo que vários desses benefícios apresentam passíveis irregularidades administrativas e/ou periciais. Ademais, o investigado Edwar e a advogada Neide possuem o mesmo endereço profissional, corroborando a suspeita de envolvimento deles no esquema criminoso.
69 TRF-1 - HC: 46319 MG 2008.01.00.046319-0, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL TOURINHO NETO, Data de
Julgamento: 21/10/2008, TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: 31/10/2008 e-DJF1 p.88 Disponível em < http://trf-1.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/2008922/habeas-corpus-hc-46319-mg-20080100046319-0> Acesso em: 16 out. 2014
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Por fim, é induvidoso que, no presente. caso, os meios convencionais de investigação - oitiva dos envolvidos, acareações, busca de documentos etc. - dificilmente levarão a descoberta e mapeamento dos integrantes da societas criminis. Por que “os meios convencionais de investigação – oitiva de testemunhas, acareações, busca de documentos etc. – dificilmente levarão a descoberta e mapeamento dos integrantes da societas criminis”? Na verdade, não demonstrou o ilustre Juiz a quo que prova não poderia ser feita por outros meios disponíveis. Pelo contrário, tudo indica que sim, com o exame dos processos de benefícios, ouvidas de testemunhas, dos beneficiários e a submissão a novo exame pericial. A interceptação telefônica SÓ PODE SER DETERMINADA em último caso, quando a prova não puder ser feita por outros meios disponíveis. (grifado)
Ressalta-se que, o entendimento firmado pelo Desembargador Tourinho
Neto na decisão supracitada, foi mantido pelo Superior Tribunal de Justiça, no
julgamento do AgRg no REsp 1154376/MG, da relatoria do Ministro Sebastião Reis
Júnior, restando assim emendado:
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. DIREITO PENAL. INQUÉRITO POLICIAL. SUPOSTA FRAUDE PREVIDENCIÁRIA. APURAÇÃO. INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA. DECISÃO JUDICIAL QUE AUTORIZOU A INTERCEPTAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO ADEQUADA. REVOLVIMENTO FÁTICO-PROBATÓRIO. ACÓRDÃO A QUO EM CONSONÂNCIA COM A JURISPRUDÊNCIA DESTE TRIBUNAL. SÚMULAS 7 E 83/STJ. [...]2. Desconstituir a conclusão a que chegaram as instâncias ordinárias, na forma pretendida pelo agravante - sob o fundamento de existência de provas documentais para a decretação da interceptação telefônica do agravado -, implica necessariamente incursão no conjunto probatório dos autos, revelando-se inadequada a análise da pretensão recursal, em função do óbice da Súmula 7/STJ. 3. A despeito da transcrição parcial da decisão que decretou a interceptação telefônica no acórdão recorrido, não consta dos autos o decisum objeto da controvérsia, a inviabilizar o exame adequado da pretensão recursal. 4. O sigilo das comunicações telefônicas é garantido no inciso XII do art. 5º da Constituição Federal, para que haja o seu afastamento, exige-se ordem judicial, que, também por determinação constitucional, precisa ser fundamentada (art. 93, IX, da CF). 5. Não existe interceptação apenas para sondar, para pesquisar se há indícios de que a pessoa praticou o crime, para descobrir se um indivíduo está envolvido em algum delito. 6. O acórdão a quo concluiu que a decisão judicial - que decretou a interceptação telefônica do agravado - não foi fundamentada e determinou o desentranhamento das gravações e degravações dos autos, porque produzidas ilegalmente, sendo nulas então, por não obedecer o disposto no art. 2º, II e III, da Lei n. 9.296, de 24/7/1996. 7. Incidência da Súmula 83/STJ. 8. Agravo regimental improvido70. (grifado)
70 STJ - AgRg no REsp 1154376/MG, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 16/05/2013, DJe
29/05/2013 Disponível em https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_registro=200901691443&dt_publicacao=29/05/2013>
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Com o mesmo enfoque, Tribunal Regional Federal da 1ª Região, no
julgamento do ACR:32154/MG-2005.38.00.032154-7, da relatoria do desembargador
Tourinho Neto, restou de tal modo emendado o acórdão:
PROCESSO PENAL. INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA. MEIO PROBATÓRIO DRÁSTICO. PRINCÍPIO DA NECESSIDADE. INTERVENÇÃO MÍNIMA. MEIO CÔMODO E FÁCIL DE INVESTIGAÇÃO. INTERCEPTAÇÃO DE PROSPECÇÃO. 1. Não se pode admitir a interceptação telefônica quando a prova pode ser feita por outros meios disponíveis, outros meios legais processuais (Lei 9.296, de 24.07.1996, art. 2º, II). É necessário, pois, que a interceptação telefônica seja indispensável. Conditio sine qua non para a apuração do crime. Não pode haver, como diz ZAFFARORINI, generosidade nas autorizações de escuta telefônica. Para tentar localizar o indiciado, no caso sub judice, a autoridade policial pede a quebra do sigilo de 17 (dezessete) terminais telefônicos de diversas pessoas para quem o indiciado provavelmente telefonou! 2. E é bom frisar que a interceptação telefônica não pode ser determinada para apurar se o cidadão, contra o qual inexiste qualquer indício, só mera suspeita, está ou não cometendo algum crime. É vedada a interceptação de prospecção71.
Veja-se, parte da fundamentação da decisão mencionada:
[...] 1. O pedido para quebra de sigilo cadastral telefônico formulado pela autoridade policial, Delegado de Polícia Federal Sandro Alexander Ferreira, está assim posto (fls. 3): Trata-se de IPL instaurado para apurar a utilização de documentos ideologicamente falsos para prática de diversas fraudes, em detrimento, inclusive, à CEF. O protagonista das investigações MÁRIO VICTOR LEITE FIGUEIREDO, que doravante chamaremos somente de MÁRIO, já que se utiliza de pelo menos 04 (quatro) nomes distintos, além de sua ex-esposa, filho e filha, têm aplicado diversos golpes no mercado. MÁRIO teve uma vizinha/amante que emprestou-lhe um celular para que MÁRIO usasse. Seu nome é Heliana Ribeiro de Mello e as contas do aparelho estão nas fls. 125/139. Dessas contas extraímos alguns números para os quais MÁRIO ligou, números esses que podem apontar os sujeitos com os quais MÁRIO mantém contato, sobretudo no Rio de Janeiro. Os números do Rio de Janeiro merecem especial destaque pois MÁRIO e sua família valem-se de RG em regra expedidos pelo DETRAN e Instituto Félix Pacheco, ambos do Rio de Janeiro. Com os dados cadastrais acaso obtidos, podemos tomar novas diligências, no intuito de sabermos quem são os fornecedores dos documentos falsos. Assim, para que tenhamos maiores condições de elucidar os fatos, solicitamos que sejam afastados os sigilos cadastrais dos seguintes números. Não há qualquer fundamentação para determinar-se a quebra do sigilo telefônico, como se pode observar. Bem andou, portanto, o MM. Juiz a quo quando disse: “verifica-se que não se encontram presentes, nestes autos, elementos suficientes que possam embasar um pedido de quebra de sigilo
Acesso em: 16 out. 2014
71 TRF-1 - ACR: 32154 MG 2005.38.00.032154-7, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL TOURINHO NETO, Data de Julgamento: 13/02/2007, TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: 20/04/2007 DJ p.25 Disponível em <http://trf-1.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/2214207/apelacao-criminal-acr-32154-mg-20053800032154-7>, Acesso: 27 de out. 2014
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telefônico e que indiquem ser, tal medida, a única possibilidade de se apurar a responsabilidade criminal do investigado” (fls. 10). Meras ilações, destituídas de qualquer evidencia material, não têm o condão de justificar a quebra do sigilo telefônico, garantia preconizada no artigo 5º, X e XII, da Constituição Federal. A quebra de sigilo telefônico é recurso extremo usado pela Justiça. Não se pode admitir a interceptação telefônica quando a prova pode ser feita por outros meios disponíveis, outros meios legais processuais (Lei 9.296, de 24.07.1996, art. 2º, II). É necessário, pois, que a interceptação telefônica seja indispensável. Conditio sine qua non para a apuração do crime. Não pode haver, como diz ZAFFARORINI, generosidade nas autorizações de escuta telefônica. Para tentar localizar o indiciado, a autoridade policial pede a quebra do sigilo de 17 (dezessete) terminais telefônicos de diversas pessoas para quem o indiciado provavelmente telefonou, para conhecer os fornecedores dos documentos. Eis a fundamentação, repita-se, do seu pedido (fls. 3): MÁRIO teve uma vizinha/amante que emprestou-lhe um celular para que MÁRIO usasse. Seu nome é Heliana Ribeiro de Mello e as contas do aparelho estão nas fls. 125/139. Dessas contas extraímos alguns números para os quais MÁRIO ligou, números esses que podem apontar os sujeitos com os quais MÁRIO mantém contato, sobretudo no Rio de Janeiro. Os números do Rio de Janeiro merecem especial destaque pois MÁRIO e sua família valem-se de RG em regra expedidos pelo DETRAN e Instituto Félix Pacheco, ambos do Rio de Janeiro. Com os dados cadastrais acaso obtidos, podemos tomar novas diligências, no intuito de sabermos quem são os fornecedores dos documentos falsos. E é bom frisar que a interceptação telefônica não pode ser determinada para apurar se o cidadão, contra o qual inexiste qualquer indício, só mera suspeita, está ou não cometendo algum crime. É vedada a interceptação de prospecção.
Conforme explanado no presente estudo a interceptação telefônica é
subsidiária e excepcional, só podendo ser determinada quando não houver outro
meio para se apurar os fatos tidos por criminosos, nos termos do art. 2º, inc. II, da
Lei n. 9.296/1996.
Referido entendimento foi corroborado pelo Supremo Tribunal Federal no
julgamento do HC 108147, da relatoria da Ministra Cármem Lúcia, veja-se o acórdão
exarado:
HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PENAL. IMPUTAÇÃO DA PRÁTICA DOS DELITOS PREVISTOS NO ART. 3º, INC. II, DA LEI N. 8.137/1990 E NOS ARTS. 325 E 319 DO CÓDIGO PENAL. INVESTIGAÇÃO PRELIMINAR NÃO REALIZADA. PERSECUÇÃO CRIMINAL DEFLAGRADA APENAS COM BASE EM DENÚNCIA ANÔNIMA. 1. Elementos dos autos que evidenciam não ter havido investigação preliminar para corroborar o que exposto em denúncia anônima. O Supremo Tribunal Federal assentou ser possível a deflagração da persecução penal pela chamada denúncia anônima, desde que esta seja seguida de diligências realizadas para averiguar os fatos nela noticiados antes da instauração do inquérito policial. Precedente. 2. A interceptação telefônica é subsidiária e excepcional, só podendo ser determinada quando não houver outro meio para se
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apurar os fatos tidos por criminosos, nos termos do art. 2º, inc. II, da Lei n. 9.296/1996. Precedente. 3. Ordem concedida para se declarar a ilicitude das provas produzidas pelas interceptações telefônicas, em razão da ilegalidade das autorizações, e a nulidade das decisões judiciais que as decretaram amparadas apenas na denúncia anônima, sem investigação preliminar. Cabe ao juízo da Primeira Vara Federal e Juizado Especial Federal Cível e Criminal de Ponta Grossa/PR examinar as implicações da nulidade dessas interceptações nas demais provas dos autos. Prejudicados os embargos de declaração opostos contra a decisão que indeferiu a medida liminar requerida72. (grifado)
Extrai-se do corpo do acórdão:
[...] Ademais, a interceptação telefônica é subsidiária e excepcional, só podendo ser determinada quando não houver outro meio para se apurar os fatos tidos por criminosos, nos termos da Lei n. 9.296/1996 (Art. 2º. Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses: (…) II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis;). A jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal é no sentido de que a “interceptação telefônica e perfeitamente viável sempre que somente por meio dela se puder investigar determinados fatos ou circunstancias que envolverem os denunciados” (HC 83.515, Rel. Min. Nelson Jobim, DJ 4.3.2005). 7. No entanto, afirmo que não há falar na aplicação, à espécie, da teoria dos frutos da árvore envenenada. Primeiro porque este não é o pedido apresentado nesta impetração, que se restringe à nulidade da interceptação produzida apenas com base na denúncia anônima, e, em segundo lugar, não há elementos para que se conclua, neste momento, que a nulidade pontual dessa interceptação teria o condão de invalidar o processo ou mesmo o restante do conjunto probatório. A consequência do reconhecimento da ilicitude da prova é a sua inadmissibilidade, conforme estabelece o inciso LVI do art. 5º da Constituição da República. O Supremo Tribunal já decidiu que “reconhecida a ilicitude de prova constante dos autos, consequência imediata e o direito da parte, a qual possa essa prova prejudicar, a vê-la desentranhada”(Inq. n. 731-ED, Rel. Min. Néri da Silveira, DJ 7.6.1996) e que “a prova ilícita, caracterizada pela escuta telefônica, não sendo a única produzida no procedimento investigatório, não enseja desprezarem-se as demais que, por ela não contaminadas e dela não decorrentes, formam o conjunto probatório da autoria e materialidade do delito. (HC n. 75.497, Rel. Min. Maurício Corrêa, DJ 9.5.2003). 8. Não se mostrando isolada a interceptação telefônica deferida com base na denúncia anônima, caberá ao juízo de origem apreciar se os demais elementos cognitivos dela derivaram e poderão, portanto, orientar a prestação jurisdicional. 9. Ressalto que não se discute na espécie o poder de investigação do Ministério Público, matéria pendente de conclusão de julgamento pelo Plenário deste Supremo Tribunal, mas apenas a nulidade da interceptação telefônica determinada com base na denúncia anônima sem investigação preliminar, pelo menos formal.
72 STF-HC: 108147 PR , Relator: Min. CÁRMEN LÚCIA, Data de Julgamento: 11/12/2012, Segunda Turma, Data de
Publicação: DJe-022 DIVULG 31-01-2013 PUBLIC 01-02-2013 Disponível em < http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=3320469>, Acesso: 27 de out. 2014
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10. Quanto às alegações de que a interceptação teria sido mantida mesmo vencido o prazo dessa diligência e de que teria havido prorrogação de interceptações por período superior ao previsto na Lei n.9.296/1996 e sem fundamentação, destaco que a jurisprudência do Supremo Tribunal, vem admitindo prorrogações sucessivas, desde que os fatos sejam “complexos e graves” (Inq. 2.424, Rel. Min. Cezar Peluso, Plenário, DJe 26.3.2010) e as decisões sejam “devidamente fundamentadas pelo juízo competente quanto a necessidade para o prosseguimento das investigações” (RHC 88.371, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJ 2.22007), como se tem na espécie. No mesmo sentido: RHC 85.575, Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJ 16.3.2007; e HC 83.515, Rel. Min. Nelson Jobim, DJ 4.3.2005.[...] 11. Pelo exposto, encaminho a votação no sentido de conceder a ordem, nos termos do pedido, para se declarar a ilicitude das provas produzidas por essas interceptações telefônicas, em razão da ilegalidade das autorizações, e a nulidade das decisões judiciais que as decretaram amparadas apenas na denúncia anônima, sem investigação preliminar. Cabe ao juízo da Primeira Vara Federal e Juizado Especial Federal Cível e Criminal de Ponta Grossa/PR examinar as implicações da nulidade dessas interceptações nas demais provas dos autos. Prejudicados os embargos de declaração opostos contra a decisão que indeferiu a medida liminar requerida. (grifado)
Conforme explanado nos capítulos anteriores, a demonstração do
preenchimento dos requisitos para a autorização da quebra do sigilo telefônico deve
ser demonstrada com clareza, tanto pelo juízo que defere a medida, como pela
autoridade solicitante, seja na esfera judicial ou extrajudicial.
Por outro turno, as solicitações e decisões que autorizam a quebra do
sigilo telefônico, notadamente nos delitos de tráfico de entorpecentes e formação de
quadrilha muitas vezes fundamentam a necessidade da interceptação sob outros
argumentos.
As aludidas solicitações e autorizações, não demonstram com clareza
que não havia outros meios para se obter a prova, usando como justificativa a
existência do crime e os indícios de autoria, natureza e gravidade do delito, o fato de
ser a interceptação telefônica o único meio possível para a produção das provas, e a
necessidade da medida cautelar, restando deferida a medida invasiva da garantia
constitucional de direito a intimidade, sem a devida demonstração dos requisitos
autorizadores da medida, vide HC 182168 / RS:
HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. NULIDADE DA AÇÃO PENAL. ILICITUDE DA PROVA OBTIDA POR ESCUTA TELEFÔNICA DEFERIDA POR JUIZ DE PLANTÃO. NÃO CONFIGURAÇÃO. INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA. DEFERIMENTO DA MEDIDA E PRORROGAÇÕES DEVIDAMENTE FUNDAMENTADAS. LEGALIDADE. INDISPENSABILIDADE DA MEDIDA DEMONSTRADA.
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ORDEM DENEGADA. Autorização de escuta deferida por Juiz de plantão no final do expediente normal. Providência tolerada por interpretação razoável com vista à efetividade e urgência da medida. Voto vencido do Relator que, nessa parte, concedia a ordem afirmando a incompetência do plantonista. II. Hipótese em que as decisões de deferimento de interceptação telefônica e de prorrogação da medida encontram-se adequadamente fundamentadas, porquanto calcadas na manifesta necessidade para a continuidade das investigações em curso voltadas para a apuração da prática de fatos com características de criminalidade organizada, envolvendo tráfico de entorpecentes e formação de bando ou quadrilha. III. Desde que devidamente fundamentada, a interceptação poderá ser renovada por indefinidos prazos de quinze dias. Precedentes. IV. A averiguação da indispensabilidade da medida como meio de prova não pode ser apreciada na via do habeas corpus, diante da necessidade de dilação probatória que se faria necessária. V. Ordem denegada.73 (grifado)
A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é farta no sentido que
esses elementos são suficientes a quebra da garantia constitucional de sigilo das
comunicações, conforme decisão do HC 133037/GO, da relatoria do Ministro Celso
Limongi, a seguir transcrita:
HABEAS CORPUS. NULIDADE DECORRENTE DE CONDENAÇÃO BASEADA EM PROVA OBTIDA MEDIANTE INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA. ALEGAÇÃO DE FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO QUANTO À IMPRESCINDIBILIDADE DA MEDIDA E PELA DURAÇÃO DO MONITORAMENTO.1) A necessidade da medida está demonstrada pela complexidade das investigações, porque trata a espécie de organização destinada ao tráfico internacional de entorpecentes, com grande número de integrantes. 2) Autorização de monitoramento devidamente fundamentada na natureza e gravidade do delito, tráfico internacional de entorpecentes, bem como no fato de ser a interceptação telefônica o único meio possível para a produção das provas. 3) Nenhuma ilegalidade há no deferimento de pedidos de prorrogação do monitoramento telefônico, que deve perdurar enquanto for necessário às investigações. 4) Não determinou o legislador que a prorrogação da autorização de monitoramento telefônico previsto na Lei nº 9.296/96 pode ser feita uma única vez. 5) Coação ilegal não caracterizada. Ordem denegada.74 (grifado)
No mesmo sentido, obtém-se justificada a necessidade no julgamento do
HC 129.064/RJ, da relatoria do Ministro Felix Fischer, que restou ementado da
seguinte forma:
73 STJ-HC 182168/RS, Rel. Ministro JORGE MUSSI, Rel. p/ Acórdão Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 03/05/2012. 25 Disponível em <https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_registro=201001493395&dt_publicacao=29/08/2012> Acesso em: 16 out. 2014 74 STJ-HC 116375/PB, Rel. Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG), SEXTA TURMA, julgado
em 16/12/2008; Disponível em <https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_registro=201001493395&dt_publicacao=29/08/2012> Acesso em: 16
out. 2014
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PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE SUBSTÂNCIAS ENTORPECENTES. INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS. EXCESSO DE PRAZO. DECRETAÇÃO POR JUIZ INCOMPETENTE. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. NULIDADES NÃO VERIFICADAS. AUSÊNCIA DE ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL COMO FISCAL DAS INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS. PRECLUSÃO. I - Não se verifica a nulidade de interceptações telefônicas decretadas por Juízo Estadual, que posteriormente declinou a competência para o Juízo Federal, se, no início das investigações não havia elementos suficientes que permitissem concluir pela internacionalidade do tráfico de substâncias entorpecentes (precedentes). II - Não se verifica, in casu, a deficiência da fundamentação da decisão que decretou as interceptações telefônicas, pois esta atendeu à fundamentação da representação da autoridade policial, que expôs de forma suficiente a necessidade da medida cautelar. III - "A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal consolidou o entendimento segundo o qual as interceptações telefônicas podem ser prorrogadas desde que devidamente fundamentadas pelo juízo competente quanto à necessidade para o prosseguimento das investigações" (STF, RHC 88371/SP, 2ª Turma, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJU de 02/02/07). IV - Encontra-se preclusa a questão referente à ausência de fiscalização pelo Ministério Público Federal das interceptações telefônicas, tendo em vista que a tese não foi suscitada em momento oportuno. Writ parcialmente conhecido e, nesta parte, denegado.75 (grifado)
No momento do primeiro requerimento de monitoramento telefônico, a
fundamentação para a solicitação da quebra do sigilo no julgado supracitado,
apresentada pela autoridade policial, em momento algum demonstra os elementos
essenciais ensejadores à quebra do sigilo telefônico, veja-se:
“A investigação acima mencionada, tem por escopo apurar a procedência de informações acerca do possível envolvimento de um cidadão nominado por WASHINGTON DE TAL, com o tráfico ilícito de entorpecentes, informações estas que encontram respaldo, em tese, nos fatos e fundamentos a seguir elencados. É princípio basilar no seio do departamento de Polícia Federal a troca de informações entre as Unidades da Federação, única forma de reprimir-se a nível nacional o intercâmbio entre os idealizadores, financiadores, fornecedores, distribuidores e consumidores de substâncias estupefacientes. Considerando essa diretriz recebeu esta Unidade de polícia Especializada informe veiculando ser alvo de denúncia anônima o cidadão acima citado, usuário dos aparelhos de telefonia celular nº (021) 9982-5303 e residencial (021) 493-8467, o qual praticaria tráfico de drogas na Cidade onde reside, vinculando, inclusive, que este exerceria citada ação utilizando-se de depósitos na área de Santa Cruz/RJ, mencionando, inclusive, contatos deste com ADEMIR DE TAI, elemento que teria cumprido pena no estabelecimento prisional denominado Água Santa, Neste, por estar envolvido em roubo a banco, ocorrido em Salvador/BA, com liberdade, obtida em 29.08.91. [...]Estes terminais, possivelmente, promoveram ligações para prefixos instalados em rota hodiernamente muito utilizada para distribuição de material entorpecente, visualizando-se algumas para a
75 STJ-HC 129.064/RJ, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 21/05/2009; Disponível em <https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_registro=200900301633&dt_publicacao=15/06/2009 > Acesso em: 16 out. 2014
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região de Santa Cruz, onde presume-se, em face da localização geográfica de citado logradouro. existir depósito de material entorpecente. Destarte analisadas todas as circunstâncias fáticas em perlustração, para oferecer maior espeque ao conteúdo probatório passível de formar uma ipinio delicti robusta e desprovida de qualquer conta de injusta, solicito a V. Exa. seja autorizado o monitoramento telefônico alusivo as linhas de números de telefonia celular nº (021) 9982-5303 e residencial (021) 493-8467 , referidos no bojo de informação firmada por Agente de Polícia Federal, vinculados ao cidadão WASLHNGTON DE TAL, além das de nºs. (032) 987-0269, (021) 547-3306, (021) 542-7112, (021) 521-6245, (021) 9966-4065, (024) 643-2787, e (024) 623-2254, embasado nos ditames da Lei nº 9296, de 24 de julho de 1996, que, caso deferida, será objeto de ilustração a esse Juízo e ao parquet Federal, pari passu, das providências conseqüentes a autorização solicitada, acionando-se o setor de operações da TELERJ para a disponibilização dos prefixos aludidos, permitindo-se, por razoável, a degravação das interlocuções que digam respeito a investigação em pauta" (fls. 21/22).76
Observa-se, da aludida fundamentação da solicitação policial acima, que
em momento algum foi demonstrada a imprescindibilidade da quebra do sigilo por
não haver outro meio de se obter a prova, tendo a decisão do Habeas Corpus se
alicerçado na gravidade do delito de tráfico e na necessidade da medida cautelar
para apuração de provas.
No julgamento do HC 99.490/SP pelo Supremo Tribunal Federal, sendo
relator o Ministro Joaquim Barbosa, a quebra do sigilo sequer foi lastreada na
gravidade do delito, fazendo apenas menção a imprescindibilidade do
monitoramento eletrônico, veja-se o acordão proferido na ocasião:
HABEAS CORPUS. “DENÚNCIA ANÔNIMA” SEGUIDA DE INVESTIGAÇÕES EM INQUÉRITO POLICIAL. INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS E AÇÕES PENAIS NÃO DECORRENTES DE “DENÚNCIA ANÔNIMA”. LICITUDE DA PROVA COLHIDA E DAS AÇÕES PENAIS INICIADAS. ORDEM DENEGADA. Segundo precedentes do Supremo Tribunal Federal, nada impede a deflagração da persecução penal pela chamada “denúncia anônima”, desde que esta seja seguida de diligências realizadas para averiguar os fatos nela noticiados (86.082, rel. min. Ellen Gracie, DJe de 22.08.2008; 90.178, rel. min. Cezar Peluso, DJe de 26.03.2010; e HC 95.244, rel. min. Dias Toffoli, DJe de 30.04.2010). No caso, tanto as interceptações telefônicas, quanto as ações penais que se pretende trancar decorreram não da alegada “notícia anônima”, mas de investigações levadas a efeito pela autoridade policial. A alegação de que o deferimento da interceptação telefônica teria violado o disposto no art. 2º, I e II, da Lei 9.296/1996 não se sustenta, uma vez que a decisão da magistrada de primeiro grau refere-se à existência de indícios razoáveis de autoria e à imprescindibilidade do monitoramento telefônico. Ordem denegada77.
76 STJ-HC 129.064/RJ, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 21/05/2009; 25 Ddisponível em <http://trf-
1.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/2214207/apelacao-criminal-acr-32154-mg-20053800032154-7>, Acesso: 27 de out. 2014 77 STF - HC 99490, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Segunda Turma, julgado em 23/11/2010, DJe-020 DIVULG 31-01-2011 PUBLIC 01-02-2011 EMENT VOL-02454-02 PP-00459 Disponível em < http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=618126 > Acesso em: 16 out. 2014
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Da fundamentação da decisão acima mencionada colhe-se:
[...] Também não se sustenta a alegação de que o deferimento da interceptação telefônica teria violado o disposto no art. 2º, I e II, da Lei 9.296/1996, que exigem, para o monitoramento telefônico, a existência de indícios razoáveis de autoria e a imprescindibilidade da interceptação. Isso porque, conforme destacou a magistrada de primeiro grau, "Analisando o pleito à luz do disposto nos artigos 1º e 4º da Lei n" 9.296/96, entendo plenamente cabível o deferimento da medida eis que da narração dos fatos ora investigados exsurgem indícios razoáveis de autoria ou participação nas infrações penais indicadas mediante sofisticado esquema de intermediação com vistas à liberação de mercadorias estrangeiras sem o pagamento dos tributos devidos na importação ou com redução do valor devido, esquema esse que, dificilmente, será desvendado sem a utilização do meio que ora se requer”(fls. 128).
Destarte, as decisões que autorizam as interceptações fundadas na
gravidade do delito e na imprescindibilidade da prova, encontram-se totalmente em
discordância com o que dispõe o artigo 2° da lei 9.296/96, em especial ao que
dispõe o inciso II do aludido diploma, ou seja, que a prova não poderia ser obtida de
outra maneira.
Conforme verificado no presente estudo, o sigilo das comunicações,
embora seja uma garantia constitucional, não possui caráter absoluto, sendo
possível a interceptação telefônica, uma vez preenchidos os requisitos
infraconstitucionais elencados no artigo 2º da lei 9.296/96.
Todavia, os requisitos elencados na referida norma infraconstitucional que
autorizadores da medida invasiva, qual seja a quebra do sigilo telefônico, são
cumulativos e taxativos, devendo ser demonstrados em decisão devidamente
fundamentada seu preenchimento.
As decisões que não observam os preceitos constitucionais e
infraconstitucionais, notadamente as que deixam de demonstrar que “não havia
outros meios de se obter a prova” acabam eivadas pela ilicitude.
Assim sendo, tal decisão fere tanto a norma constitucional como a
infraconstitucional, acarretando a nulidade das interceptações telefônicas no caso
em comento, bem como as provas derivadas dela, por aplicação da teoria dos frutos
envenenados, diante da ilicitude de sua origem.
Denota-se, não haver um entendimento majoritário nos tribunais
superiores pátrios acerca da necessidade de demonstração efetiva da
impossibilidade de se obter a prova por outros meios para então, sopesados outros
58
princípios, violar a garantia individual de intimidade consagrada na Constituição
Federal.
A dissonância de entendimento acarreta além de violações recorrentes e
arbitrárias ao direito de intimidade, constitucionalmente garantidos e inquestionável
insegurança jurídica.
O presente estudo, por conseguinte, tem por objetivo demonstrar a
necessidade do preenchimento dos requisitos ensejadores da quebra do sigilo
telefônico, de acordo com a norma infraconstitucional que regulamentou a garantia
constitucional da intimidade, elencada no artigo 5º, inciso XII, da Carta Magna.
A inobservância dos requisitos constitucionais e infraconstitucionais na
quebra do sigilo telefônico, conforme parte do entendimento firmado pelos tribunais
superiores, caracteriza a nulidade das provas obtidas, bem como as delas
derivadas, ensejando em diversos casos a impunidade de possíveis culpados.
Por seu turno, quando admitida a interceptação telefônica em dissonância
com os ditames legais, acaba violando a garantia fundamental da intimidade de
maneira indevida e arbitrária.
Por evidente que é imprescindível uma análise muito mais aprofundada
do tema, notadamente na necessidade de demonstração por partes das autoridades
judiciais e nas fundamentações das decisões que autorizam a quebra do sigilo das
comunicações e correspondências na apuração de delitos.
A observância dos ditames elencados nas normas constitucionais e
infraconstitucionais permite que o Estado reprima de maneira eficaz a criminalidade,
protege a garantia constitucional de intimida de inocentes inviolada, bem como
reprime ações arbitrárias das autoridades policiais.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Antes do advento da Constituição da República Federativa do Brasil de
1988, o sigilo das correspondências e das comunicações sempre foram tratados de
maneira aparentemente absolutos, a não ser na Carta de 1937 que, em seu artigo
122, VI, determinava “a inviolabilidade do domicílio e de correspondência, salvo as
exceções expressas na lei”
Deste modo, somente em 1967 o direito fundamental de sigilo das
comunicações telegráficas e telefônicas fora incorporado ao ordenamento pátrio, nos
termos do artigo 150, § 9º da Constituição do Brasil promulgada naquele ano, sendo
mantido com a Emenda nº 1 de 1969 (artigo 153,§ 9º), possuindo divergência
doutrinária quanto à possibilidade de violação, por se tratar de uma garantia
constitucional.
Antes do advento da Constituição da República Federativa do Brasil de
1988, a interceptação telefônica, apesar de sua venal relevância, não possuía no
ordenamento jurídico brasileiro uma legislação própria e descritiva, capaz de
estabelecer de maneira inequívoca os casos em que aludida garantia constitucional
poderia ser violada.
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 manteve o
sigilo telefônico, no artigo 5°, inciso XII, todavia, não o tratou como garantia absoluta,
prevendo a possibilidade de sua violação para investigação criminal e instrução
processual criminal na forma da lei.
Para sua violação, é indispensável que seja observado os requisitos
elencados na lei 9.296/1996, que regulamentou o artigo 5°, inciso XII da Constituição
da República Federativa do Brasil de 1988.
Por se tratar de garantias fundamentais, o diploma legal descreve com
clareza os casos em que não será admitida a quebra do sigilo das comunicações,
mesmo que para fins de investigação ou instrução criminal, ou seja, quando não
houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal, quando a
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prova puder ser feita por outros meios disponíveis, bem como quando o fato
investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção,
conforme dispõe o artigo 2º da Lei n. 9.296, de 24 de julho de 1996.
Os requisitos elencados no artigo 2º, da lei 9.296/1996, são taxativos,
devendo ser preenchidos para que o magistrado defira a quebra do sigilo telefônico
para a investigação e instrução processual criminal, conforme posição doutrinária e
parte do entendimento jurisprudencial.
Assim, para a utilização da interceptação telefônica na investigação
criminal e instrução processual criminal, por ser medida excepcional, é necessário
que atenda dois pressupostos básicos, quais sejam, a demonstração do fumus boni
iuris (artigo 2º, I, da lei 9.296/96) e periculum in mora (artigo 2º, II, da lei 9.296/96).
Deste modo, a decisão que autoriza a medida invasiva da garantia
constitucional de intimidade, deve ser devidamente fundamentada, demonstrando o
magistrado, que no caso concreto, não havia outros meios de se obter a prova,
conforme determina o artigo 2º, inciso II, da lei 9.296/1996.
A prova é de venal relevância no processo penal, já que tem como
finalidade comprovar a autoria e materialidade de uma infração penal, permitindo a
repressão à criminalidade pelo Estado através da aplicação de uma sanção.
Desta feita, a prova é imprescindível para que o Estado possa exercer o
jus puniendi, que sejam observados os requisitos constitucionais e
infraconstitucionais no momento da produção da prova, sob pena de serem
declaradas ilícitas, e consequentemente, inutilizáveis no processo.
A inobservância do disposto no artigo 2º, inciso II, da lei 9.296/1996,
enseja na ilicitude da prova, bem como as provas delas derivadas, por força da
teoria dos “frutos da arvore envenenada”, sendo ambas, portanto, inutilizáveis como
elemento probatório no processo criminal.
Todavia, a doutrina e a jurisprudência admitem a possibilidade de
utilização da prova ilícita em favor do réu, para garantir-lhe o direito à liberdade,
61
sendo o princípio da proporcionalidade utilizado como meio de se coibir uma
injustiça, mantendo-se, no entanto, imprestável a prova ilícita produzida em relação
a terceiros.
Os delitos que necessitam da interceptação telefônica para apuração e
punição pelo Estado, através do processo criminal, na maioria das vezes são crimes
graves e de grande repercussão social, notadamente os delitos de tráfico de
entorpecentes e lavagem de dinheiro.
Diversas vezes, juízes autorizam a quebra do sigilo telefônico
fundamentando suas decisões na gravidade do delito ou na dificuldade das
investigações, sem sequer iniciar procedimentos investigatórios, deixando de
demonstrar de forma clara que não haviam outros meios para se obter a prova.
Este entendimento vai de encontro com a norma insculpida no texto
constitucional, assim como o entendimento de parte dos tribunais superiores
brasileiros, que defendem que para a violação a garantia de intimidade é imperioso
que sejam observados os requisitos constitucionais e infraconstitucionais.
A ausência de demonstração do 2º, inciso II, da lei 9.296/1996, além de
gerar a nulidade das provas e acarreta insegurança jurídica, pois viola a garantia
constitucional do sigilo das comunicações telefônicas.
Não bastasse, por vezes, acaba auxiliando os infratores, e prejudicando a
sociedade no todo, pois quando declaradas ilícitas pelos tribunais, acarretam a
nulidade das provas contidas no processo, determinando, na maioria dos casos, a
absolvição de possíveis culpados.
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REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS
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ANEXOS