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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar CTTMar Curso de Oceanografia Taxa de crescimento de juvenis de robalo-peva Centropomus parallelus (Poey,1860) em tanque-rede para diferentes densidades na fase de pré-engorda na Enseada da Armação do Itapocoroy, Penha-SC REGES ROOS ITAJAÍ 2011

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar – CTTMar

Curso de Oceanografia

Taxa de crescimento de juvenis de robalo-peva Centropomus parallelus (Poey,1860)

em tanque-rede para diferentes densidades na fase de pré-engorda na Enseada da

Armação do Itapocoroy, Penha-SC

REGES ROOS

ITAJAÍ

2011

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Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar – CTTMar

Curso de Oceanografia

Taxa de crescimento de juvenis de robalo-peva Centropomus parallelus (Poey,1860)

em tanque-rede para diferentes densidades na fase de pré-engorda na Enseada da

Armação do Itapocoroy, Penha-SC

REGES ROOS

Monografia apresentada como requisito parcial

para a obtenção do grau de oceanógrafo, na

Universidade do Vale do Itajaí

Orientador: Gilberto Caetano Manzoni

ITAJAÍ

2011

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais Roger e Rejane e

aos meus irmãos Roger e Roberta que não mediram

esforços e acreditaram em mim. Amo vocês.

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AGRADECIMENTOS

Família, nenhum dicionário pode explicar o que esta palavra representa na prática

para mim. Nesta palavra existem mais significados que apenas pessoas de uma mesma

descendência. Junto com ela tem o amor, a segurança, o carinho, o conforto que me deram

enquanto eu apenas tinha que estudar. Amo vocês mais que qualquer coisa no mundo!

Mais que um rabo de macaco. Muito obrigado mãe, pai, irmão e irmã! Ah, agora tem mais

uma, também te gosto bastantão Júlia.

Também existe uma morena, muito linda, que logo no primeiro dia que a vi, tive

certeza que era ela que eu queria ao meu lado. Me ajudou muito com seu companheirismo,

inteligência,amizade, paciência e amor. Débora te amo demais.

Grande Kadu, pode ser chamado de ventania, Casemiro.... Amigaço de verdade, me

ajudou muito durante toda a faculdade. Inventamos uma metodologia de estudo de cálculo

muito eficiente, mas para poucas pessoas. Valeu e desejo muita sorte e sucesso porque

competência não falta.

Ao meu orientador Gilberto Caetano Manzoni vulgo Giba, que confiou em mim e me

deu a oportunidade de desenvolver esse trabalho. Desculpa alguns dribles e gols no futebol

as terças, mas não leva para o lado pessoal. Ah, vê senão manipula mais as tampinhas e o

goleiro.

Pati, essa não podia faltar, sempre com seu sorrisão e almoços deliciosos!! Uma

amigona, viagens, pescarias, bebedeiras, churras. Grande abraço para a Saio, Minhoca, teu

vô puçuca e a vó com sua culinária que muito nos alimentou aqui.

Mineiro, sempre fazendo a gente rir, mesmo sem ter a intenção!! Grande amigo e

caçador de ratos que só tive a oportunidade de conviver melhor no último ano. Sempre

disposto a ajudar, me acompanhou em varias idas ao mar.

Jeferson, alemão véio de Santa Cruz do Sul não tinha tempo ruim literalmente, várias

trocas de rede com mar crescido e chuva. Sempre disposto a ensinar e dar dicas para

publicações e TCC, além de ajudar a tomar aquela bem gelada.

Everton, sempre disposto a ajudar, tanto nas trocas das redes como na alimentação

dos peixes nos fins de semana.

Renatinho, esse é o cara! Deu problema, não sabe o que fazer? Pergunta pro

Renatinho! Uma criatividade inacreditável para achar soluções. Quebrou muito galho

durante o tempo que trabalhei no CEMar.

Leo Lynce que teve papel fundamental no tratamento estatístico dos dados e

“perdeu” muitas horas com minhas dúvidas e invenções do Giba.

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É difícil falar de todos, mas também houve muitas outras pessoas que tiveram a sua

contribuição e espero que sintam-se agradecidas. O nome pode não aparecer aqui no texto,

mas estarão na lembrança e na festa para comemorarmos.

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SUMÁRIO

DEDICATÓRIA ............................................................................................................................................ i

AGRADECIMENTOS................................................................................................................................... ii

SUMÁRIO ................................................................................................................................................. iv

LISTA DE FIGURAS.................................................................................................................................... vi

LISTA DE TABELAS ................................................................................................................................... vii

RESUMO ................................................................................................................................................ viii

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 1

2. OBJETIVOS ....................................................................................................................................... 4

2.1. Objetivo Geral ......................................................................................................................... 4

2.2. Objetivos Específico ................................................................................................................ 4

3. REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................................................... 5

4. MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................................................. 9

4.1. Área de estudo ........................................................................................................................ 9

4.2. Tanques-rede .......................................................................................................................... 9

4.3. Transporte dos peixes ........................................................................................................... 11

4.4. Aclimatação dos peixes ......................................................................................................... 11

4.5. Delineamento experimental ................................................................................................. 12

4.6. Alimentação .......................................................................................................................... 13

4.6.1. Ração ............................................................................................................................. 13

4.7. Troca das redes. .................................................................................................................... 13

4.8. Limpeza das redes ................................................................................................................. 14

4.9. Biometria ............................................................................................................................... 14

4.10. Parâmetros físico-químicos ............................................................................................... 16

4.11. Despesca ............................................................................................................................ 16

4.12. Parâmetros para análise do crescimento .......................................................................... 18

4.12.1. Taxa de conversão alimentar aparente (CAA) ............................................................... 18

4.12.2. Taxa de crescimento específico (TCE) ........................................................................... 18

4.12.3. Biomassa final................................................................................................................ 18

4.12.4. Sobrevivência ................................................................................................................ 19

4.13. Análise estatística .............................................................................................................. 19

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES .......................................................................................................... 20

5.1. Parâmetros para análise do crescimento .............................................................................. 20

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5.1.1. Ganho de peso médio ................................................................................................... 20

5.1.2. Conversão alimentar aparente (CAA)............................................................................ 21

5.1.3. Taxa de crescimento específico (TCE) ........................................................................... 22

5.1.4. Sobrevivência ................................................................................................................ 22

5.1.5. Biomassa final................................................................................................................ 23

5.2. Parâmetros físico-químicos ................................................................................................... 24

5.2.1. Temperatura .................................................................................................................. 24

5.2.2. Oxigênio......................................................................................................................... 25

5.2.3. Salinidade ...................................................................................................................... 26

5.2.4. Potencial hidrogeniônico............................................................................................... 27

5.2.5. Amônia total .................................................................................................................. 28

5.3. Área de estudo ...................................................................................................................... 29

5.4. Tanques redes ....................................................................................................................... 29

5.5. Transporte dos peixes ........................................................................................................... 30

5.6. Aclimatação dos peixes ......................................................................................................... 30

5.7. Delineamento experimental ................................................................................................. 30

5.8. Troca das redes ..................................................................................................................... 30

5.9. Limpeza das redes ................................................................................................................. 31

5.10. Biometria ........................................................................................................................... 31

5.11. Despesca ............................................................................................................................ 32

6. CONCLUSÕES ................................................................................................................................. 33

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................ 34

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................................... 35

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Posição dos quatro tanques-rede, paralelos ao parque aquícola da Fortaleza

localizado na Enseada da Armação do Itapocoroy, Penha-SC. ................................................... 9

Figura 2: Tanque-rede usado no experimento, com suas estruturas principais identificadas,

flutuadores com diâmetro de 140mm, anel superior com diâmetro de 50mm e o bracked que

une as duas estruturas. ..................................................................................................................... 10

Figura 3: juvenis de robalo-peva nos sacos plásticos usados para o transporte do laboratório

de piscicultura marinha da Universidade Federal de Santa Catarina até os tanques-rede na

Enseada do Itapocoroy, Penha-SC. ................................................................................................ 11

Figura 4: Soltura dos peixes vindos do LAPMAR-UFSC, no tanque-rede após a aclimatação.

............................................................................................................................................................... 12

Figura 5: Representação dos quatro tanques-rede divididos em duas densidades (g/m³). ... 13

Figura 6: Troca da rede realizada nos 4 tanques-rede. A rede antiga era paneada até a

metade do tanque e na outra metade amarrada a rede nova. .................................................... 14

Figura 7: Juvenis de robalo-peva retirados para biometria mensal, sendo anestesiados com

benzocaína antes de serem medidos e pesados. ......................................................................... 15

Figura 8: Medição do comprimento total com paquímetro dos robalos-peva retirados para

biometria mensal. ............................................................................................................................... 15

Figura 9: Despesca com auxilio de peneiras e baldes, para contagem e separação por

tamanho no mar. ................................................................................................................................. 17

Figura 10: Selecionador de tamanho para peixes usado no momento da despesca. ............ 17

Figura 11: Crescimento médio em peso(g) da densidade A 74,4g/m³ (tanque 1 e 2) e

densidade B 159/m³ (tanques 3 e 4) nas 5 biometrias realizadas durante o período de

estudo com seus respectivos desvio padrão. ................................................................................ 21

Figura 12: Variação temperatura (°C) nos 4 tanques-rede no período de março/2011 a

setembro/2011 .................................................................................................................................... 24

Figura 13: Regressão linear simples correlacionando o incremento de peso (g) e a

temperatura (°C), os pontos azuis representam as biometrias de cada tanque. ..................... 25

Figura 14: Variação do OD (mg/l) nos 4 tanques-rede no período de abril/2011 a

setembro/2011 .................................................................................................................................... 26

Figura 15: Variação da salinidade(psu) nos 4 tanques-rede no período de abril/2011 a

setembro/2011 .................................................................................................................................... 27

Figura 16:Variação do pH nos 4 tanques-rede no período de abril/2011 a setembro/2011 .. 27

Figura 17: Variação da amônia (mg/l) nos 4 tanques-rede no período de abril/2011 a

setembro/2011 .................................................................................................................................... 28

Figura 18: Rompimento do flutuador mais externo do Tanque-rede 1. ..................................... 29

Figura 19: Incrustação da rede que está sendo retirada após 30 dias no mar. ....................... 31

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Valores em % de umidade, proteína bruta (PB), cinzas, gordura, calcio, fosforo e

fibra bruta contidos na ração fornecida para os juvenis de robalo-peva. .................................. 13

Tabela 2: Valores da taxa de conversão aparente (CAA), taxa de crescimento específico

(TCE) e sobrevivência para os quatro tanques ao final do período de estudo ........................ 23

Tabela 3: Valores da biomassa inicial, biomassa final e o incremento de biomassa em g/m³

para os quatro tanques-rede ao final do período de estudo. ....................................................... 23

Tabela 4: Valores da correlação dos parametros fisico-quimicos analisados durante o estudo

com o ganho de peso dos peixes. ................................................................................................... 28

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RESUMO

Apesar das excelentes condições naturais, abundância de recursos hídricos e potenciais espécies para o cultivo, hoje a piscicultura marinha no Brasil não existe em escala comercial. Uma dessas espécies é o robalo, conhecido assim nas regiões sul e sudeste e como camori ou camorim nas outras regiões, esse peixe é apreciado em toda costa brasileira. Seu potencial para piscicultura vem da sua grande tolerância as variações na qualidade da água, salinidade e manejo, além do alto valor no mercado. Este trabalho tem como objetivo avaliar a taxa de crescimento do robalo-peva (Centropomus parallelus) em diferentes densidades em tanques-rede marinhos na fase de pré-engorda. O estudo foi realizado na Enseada da Armação do Itapocoroy no município de Penha-SC no período de março a setembro de 2011. Os peixes foram divididos em duas densidades, 1500 peixes (74,4g/m³) chamada de tratamento A e 2700 peixes (159g/m³) chamada de tratamento B. Cada densidade foi realizada em duplicata. Os peixes do tratamento A possuíam peso médio de 3,18±1,06g e os peixes do tratamento B possuíam peso médio de 3,77±1,12g. A alimentação era manual até a saciedade uma vez por dia. A ração era para carnívoro marinho, constituída de 48,6% de proteína bruta e tamanho do pellet de 2,5mm. A cada mês era realizada uma biometria com cerca de 100 indivíduos por tanque para acompanhar o crescimento. Parâmetros físico-químicos (temperatura, salinidade, OD, amônia e pH) eram medidos semanalmente. A sobrevivência foi de 92,47%, 71,8%, 60,0% e 56,3% para os tanques 1,2,3 e 4 respectivamente. A taxa de crescimento específico (TCE) expressa em (%/dia) foi maior para o tanque 1 (0,56), 0,32 para o tanque 2, 0,13 para o tanque 3 e 0,05 para o tanque 4. A conversão alimentar aparente (CAA) também acompanhou os outros parâmetros de crescimento e foi mais satisfatória para o tanque 1 (1,23), para os tanques 2,3 e 4 a CAA ficou em 2,48, 4,8 e 10,7 respectivamente. A temperatura variou entre 27 e 16,2°C, ficando abaixo dos 22°C a partir do mês de maio, sendo o único parâmetro fora da zona de conforto para espécie. Oxigênio manteve-se perto da saturação. Salinidade média foi de 32ppm. Apenas uma vez foi verificada a presença de amônia total. Ao final do estudo o peso médio dos peixes era de 8,06 ± 2,7g para o tratamento A e 7,59 ± 2,55g para o tratamento B. O ganho de peso médio foi significativamente maior (p=0,00000) no tratamento A. Contudo não foi possível afirmar se a diferença no ganho de peso dos robalos é efeito da densidade ou de outro parâmetro físico, químico ou biológico.

PALAVRAS CHAVES: robalo-peva, tanque-rede, piscicultura marinha, cultivo, crescimento

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1

1. INTRODUÇÃO

A piscicultura com espécies marinhas começou por volta do ano 1.400 na Indonésia,

onde juvenis do peixe-leite (Chanos chanos) eram capturados nas marés altas e colocados

em viveiros. Somente a partir de 1954, no Japão, com a utilização de tanques-rede e o

desenvolvimento do cultivo marinho do olhete (Seriola quinquerradiata) que a piscicultura

marinha iniciou sua expansão. Em 1973 o cultivo de garoupas foi introduzido na Malásia e

se espalhou nos países asiáticos na década de 1980. Os anos 1990 caracterizaram-se pela

expansão mundial deste segmento produtivo (SHEPHERD & BROMAGE, 1988).

No Brasil, o cultivo de peixes marinhos provavelmente teve início no século XVII no

Estado de Pernambuco, durante o governo do holandês Maurício de Nassau onde, naquela

época, robalos (Centropomus), tainhas (Mugil) e carapebas (Eugerres e Diapterus) eram

cultivados extensivamente em viveiros de maré (VON IHERING, 1932 apud CAVALLI,

2007). Em 1935, somente na cidade de Recife, existiam cerca de 100 hectares de viveiros

de maré com juvenis de diversas espécies de hábitos costeiros (SCHUBART, 1936 apud

SILVA, 1992).

Apesar das excelentes condições naturais, abundância de recursos hídricos e

potenciais espécies para o cultivo, hoje a piscicultura marinha no Brasil não existe em

escala comercial (OSTRENSKY et al., 2007). Segundo Sanches et al. (2008) atualmente

algumas entidades dedicam-se ao estudo de espécies de peixes marinhos com potencial

para cultivo, dentre elas se destacam o Instituto de Pesca/SP, Universidade Federal de

Santa Catarina/SC, Fundação Universidade do Rio Grande/RS e Universidade Federal do

Ceará/CE, que têm investido em espécies como o linguado (Paralichthys orbignyanus),

garoupa-verdadeira (Epinephelus marginatus), badejo (Mycteroperca microlepis), vermelhos

(Lutjanus synagris e Lutjanus analis), os pampos (Trachinotus carolinus, T. goodei) e os

robalos (Centropomus parallelus e C. undecimalis).

Os robalos são peixes classificados taxonomicamente dentro da Ordem Perciformes,

Família Centropomidae, Gênero Centropomus. Para a costa brasileira são citadas quatro

espécies: Centropomus undecimalis, Centropomus parallelus, Centropomus ensiferus e

Centropomus pectinatus (FIGUEIREDO & MENEZES, 1985), sendo as duas primeiras

predominantes. Segundo Rivas (1986), são consideradas 12 espécies válidas, com

distribuição geográfica nas Américas do Norte, Central e do Sul, sendo seis espécies no

Pacífico e seis no Atlântico. Os robalos são peixes marinhos de águas costeiras que

adentram os estuários e rios de água doce nas diferentes fases de seu ciclo de vida.

Habitam, portanto, os cursos inferiores das principais bacias hidrográficas de sua área de

ocorrência (GILMORE et al., 1983; ALVAREZ-LAJONCHERE et al., 1982). Os

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centropomídeos podem alcançar tamanhos superiores a 1 metro de comprimento e 20

quilogramas de peso (FIGUEIREDO & MENEZES, 1980).

Conhecido como robalo nas regiões sul e sudeste e camori ou camorim nas outras

regiões, esses peixes são apreciados em toda costa brasileira (CERQUEIRA, 2004). Muitos

autores relatam o seu potencial para piscicultura, pois seus estudos mostram a sua grande

tolerância as variações na qualidade da água, salinidade e manejo, além do alto valor no

mercado (TEMPLE et al, 2004; MACIEL, 2006; TSUZUKI et al, 2007). O preço de venda do

robalo está abaixo somente do preço do atum, estando acima do valor do salmão e da

maioria das demais espécies de peixes comercializadas na Companhia de Entrepostos e

Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP, 2010).

O robalo-peva (Centropomus parallelus), dificilmente ultrapassa 75 centímetros de

comprimento e 4 quilogramas. Além do tamanho menor, o corpo mais alto, a linha lateral

menos enegrecida e o espinho da nadadeira anal mais desenvolvido são as principais

diferenças entre as espécies Centropomus parallelus e C. undecimalis (FIGUEIREDO,

2000).

Ao longo do desenvolvimento da piscicultura tem-se observado uma tendência ao

uso de sistemas de cultivo cada vez mais intensivos. A intensificação dos processos de

produção busca alcançar maior produtividade em menores áreas, menor tempo e custo

racionalizado (KUBTIZA, 1999). Na aqüicultura intensiva, a densidade em que uma espécie

pode ser estocada é um importante fator na determinação da viabilidade econômica. Uma

maior densidade de estocagem permite um menor custo de produção por peixe, desde que

não haja redução substancial na taxa de crescimento e que a sobrevivência seja satisfatória

(BJÖRNSSON, 1994).

Uma forma comum de cultivo intensivo é a utilização de tanques-rede, que além de

suportar maiores densidades, facilitam a despesca, melhoram o desenvolvimento pela

diminuição dos fatores que provocam o estresse, e facilitam também a alimentação por

possuírem uma maior concentração de indivíduos (MORALES 1983 apud GUARIZI, 2010).

A alevinagem, ou a pré-engorda, é a primeira fase do cultivo após o desmame

(transição entre o alimento vivo e o artificial) e a metamorfose das larvas, quando ainda

ocorrem algumas perdas devido à sua fragilidade e dificuldade para a aceitação do alimento

artificial. Depois que o organismo alcança de 5 a 10g de peso, já está mais resistente e apto

para ser colocado em sistema de engorda (CERQUEIRA, 2002).

Com relação a informação sobre o cultivo de robalo-peva, são poucos os trabalhos

envolvendo o efeito da densidade de estocagem no crescimento em condições intensivas

em tanques-rede marinho na fase de pré-engorda. Existindo ainda a necessidade de

estudos que ampliem as informações sobre o comportamento dessa espécie em diversas

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condições de cultivo, o que torna esse trabalho uma importante referência para análise da

viabilidade de implantação de cultivos desta espécie a nível comercial.

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2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo Geral

Avaliar o desenvolvimento de juvenis de robalo-peva (Centropomus parallelus) na

fase de pré-engorda cultivados em diferentes densidades em tanque-rede marinho na

Enseada da Armação do Itapocoroy, Penha-SC.

2.2. Objetivos Específico

a) Analisar a taxa de conversão alimentar dos robalos-peva cultivados;

b) Determinar o ganho de peso médio dos robalos (Centropomus parallelus) nas

diferentes densidades de cultivo;

c) Verificar a sobrevivência dos robalos nas diferentes densidades de cultivo;

d) Analisar os parâmetros ambientais;

e) Avaliar a metodologia empregada.

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3. REFERENCIAL TEÓRICO

A pesca e a aqüicultura forneceram ao mundo cerca de 142 milhões de toneladas de

pescado em 2008. Desses, 115 milhões de toneladas se destinaram ao consumo,

proporcionando um abastecimento per capita aparente aproximado de 17kg. A aqüicultura

foi responsável por 46% do total de pescado comestível. O incremento do pescado aquícola

compensou o ligeiro descenso da produção da pesca e o aumento da população. A

aqüicultura segue crescendo mais rapidamente que qualquer outro setor de produção de

alimentos de origem animal, e a maior ritmo que a população, um crescimento médio anual

de 6,6% e se espera que supere a pesca como fonte de pescado comestível (FAO 2010).

Apesar de uma produção expressiva de pescados originária da aqüicultura o cultivo de

peixes exclusivamente marinhos corresponde há apenas 3% do total (FAO, 2009).

No cenário mundial, a piscicultura marinha vem crescendo nos últimos anos,

baseada em determinadas espécies como o bacalhau-do-Atlântico (Gadus morhua) na

Noruega, que aumentou consideravelmente no período de 2000-2008. Os peixes planos

como o Psetta maxima, Paralichtys olivaceus e Cynoglossus semilaevis que passaram de

26.300 toneladas em 2000 para 148.800 toneladas em 2008, sendo a China e a Espanha os

principais produtores (FAO, 2010). O pargo europeu (Sparus aurata), o robalo europeu

(Dicentrarchus labrax) e o robalo asiático (Lates calcarifer) também são responsáveis pelo

crescimento da piscicultura marinha (FAO, 2006).

O pargo europeu Sparus aurata é uma espécie comum no mar Mediterrâneo,

também presente ao longo da costa leste do Atlântico desde a Grã-Bretanha até o Senegal.

Devido a seus hábitos eurihalinos e euritérmicos, a espécie se encontra tanto em ambientes

marinhos e águas salobras, como lagunas e áreas estuarinas, em particular durante as

etapas iniciais do seu ciclo de vida (FAO, 2006a).

Em média, os pargos europeus maiores e pré-engordados (10g) alcançam o primeiro

tamanho comercial (350-400g) em aproximadamente um ano, enquanto que juvenis

menores (5g) levam 16 meses para atingirem o mesmo tamanho. A engorda em tanques-

rede marinhos é o sistema de cultivo normalmente usado nos países do mediterrâneo, com

densidades de 10-15kg/m³ (FAO, 2006a).

A maior parte da produção do pargo vem da Grécia, que foi o maior produtor em

2002, com 49% do total produzido, Turquia 15%, Espanha 14% e Itália 6%. Além desses

países, ainda existe uma produção considerável na Croácia, Chipre, Egito, França, Malta,

Marrocos, Portugal e Israel (FAO, 2006a).

O robalo europeu (Dicentrarchus labrax) foi à primeira espécie marinha não

salmonida que se cultivou comercialmente na Europa e atualmente é o peixe comercial mais

importante e amplamente cultivado nas áreas mediterrâneas. Grécia, Turquia, Itália,

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Espanha, Croácia e Egito são os maiores produtores. Durante o fim dos anos 1960, França

e Itália competiam para desenvolver técnicas confiáveis de produção de juvenis de robalo

europeu, e até fim dos anos 1970, estas técnicas foram suficientemente bem desenvolvidas

na maioria dos países mediterrâneos para produção de larvas e alevinos. (FAO, 2006b)

O robalo europeu é euritérmico (5-28 °C) e eurihalino, assim esta espécie é capaz de

freqüentar águas costeiras interiores e ocorrem em estuários e lagunas. (FAO, 2006b)

Apesar do robalo-europoeu poder ser cultivado em tanques de terra e lagunas de

água salgada, atualmente a maior parte de sua produção provem de cultivos em tanques-

rede marinhos com dimensões de 4 até 10m² e 6-8 metros de profundidade (FAO, 2006b)

Os juvenis de 1,5-2,5g são pré-engordados até 10-15g, com alimentação automática

a cada 10-15 minutos. Após esse tamanho a freqüência alimentar diminuí e podem alcançar

o tamanho comercial de 400-450g em 18-24 meses (FAO, 2006b).

Para o cultivo em tanques de terra é mantido um sistema de fluxo aberto, alimentado

com água bombeada do mar ou de lagunas adjacentes sob temperatura ambiente. Aplicam-

se altas densidades iniciais (20-35 kg/m³); isto significa que é essencial um controle preciso

da qualidade da água e da saúde dos peixes. Para controlar a temperatura da água (entre

13-18 °C) durante outono/inverno, nas fases de larvicultura e pré engorda é usado um

sistema de recirculação. Algumas fazendas com maior estrutura utilizam o sistema de

controle da temperatura também na fase de engorda, mas este processo é muito caro

devido à tecnologia requerida. As densidades finais são extremamente altas e podem

chegar entre 70-100kg/m³ (FAO, 2006b).

O cultivo de robalo asiático (Lates calcarifer) começou nos ano 70 na Tailândia e se

expandiu rapidamente pelo sudeste asiático. É uma espécie eurihalina pertencente a família

Centropomidae, que habita águas doces, salobras e marinhas. É encontrado no pacifico

indo-ocidental, (Golfo arábico, China, Taiwan, Papua Nova Guiné e norte da Austrália)

(FAO,2006c).

O robalo asiático cresce rapidamente, alcançando o tamanho comercial (350 g a 3

kg) entre seis meses e dois anos respectivamente. Geralmente seu cultivo é feito em

tanques-rede que variam entre 3x3m e 10x10m com profundidades entorno de 2-3m

(FAO,2006c).

A produção anual de robalo asiático se mantém estável desde 1998, em 20.000-

27.000 toneladas. Tailândia é o principal produtor com 8.000 toneladas/ano desde 2001.

Indonésia, Malásia e Taiwan também são produtores importantes. (FAO,2006c). A Austrália

alcançou uma produção de 2.800 toneladas nos anos de 2003/04 gerando um valor de 17,7

milhões de dólares (O’SULLIVAN et al. 2005).

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As densidades utilizadas em jaulas de cultivo para esta espécie oscilam geralmente

entre 15 a 40kg/m³, podendo chegar até 60kg/m³ (RIMMER, 1995). O mesmo autor afirma

que o aumento das densidades reduz os índices de crescimento, sendo este efeito menor

em densidades inferiores a 25kg/m³.

No Brasil algumas espécies de robalo apresentam grande potencial para cultivo,

principalmente devido ao seu alto valor comercial. Este é o caso do robalo-flecha

(Centropomus undecimalis) (TUCKER, 1987), pertencente à família Centropomidae e o

robalo-peva (Centropomus parallelus), sendo esta uma das poucas espécies das quais são

disponíveis maiores informações sobre sua tecnologia de produção (CERQUEIRA, 2002).

Estudos dirigidos com C. parallelus no Brasil demonstram a sua adaptação ao cultivo

em água doce ou marinha. Porém pouco se sabe sobre produção comercial deste peixe,

bem como sua sobrevivência em cultivos intensivos. A espécie C. parallelus é ainda pouco

estudada em nosso litoral, principalmente sobre seus aspectos biológicos e de cultivo

(JUNIOR et al., 2009).

Brugger e Freitas (1993) em Angra dos Reis-RJ realizaram uma avaliação da

viabilidade técnica do cultivo do robalo-peva em tanque-rede flutuante com volume de 72m³

instalado no mar. Com 580 indivíduos de 2,7g, os autores verificaram um ganho de peso de

aproximadamente 160 gramas em 380 dias, o que equivale a uma densidade final de

539g/m³, com uma conversão alimentar de 2,2 e 41% de sobrevivência final.

Em Conceição da Barra-ES com um tanque-rede de 12m³, os robalos-peva com 1,5g

atingiram em média 62,4g (7,5kg/m³) em 270 dias de estudo (OLIVEIRA apud

BALDISSEROTO 2005). Outro trabalho realizado com tanque-rede com a espécie

Centropomus parallelus no município de Iguape-SP mostra que indivíduos com peso inicial

de 1,4g e densidade inicial de 28g/m³ alcançaram peso médio de 333g em 450 dias

totalizando uma densidade final de 5,9kg/m³ (NETO apud BALDISSEROTO, 2005).

Outros pesquisadores vêm buscando encontrar informações sobre as melhores

densidades de estocagem para cultivos de robalos. Ostini et al (2007) em Ubatuba-SP,

comparando densidades de 660,8 g/m³ e 1291,2 g/m³ da espécie C. parallelus durante 160

dias em tanques-rede de 1m³ e indivíduos com peso médio inicial de 32,5g, concluem que a

maior densidade apresenta melhor desempenho produtivo. Tsuzuki et al (2008) testaram

juvenis de robalo-peva com peso médio inicial de 5,75g e mostram em sua comparação

entre as densidades 290, 580 e 1160g/m³, que após 59 dias a densidade não afetou o

crescimento e a sobrevivência dos peixes.

Para a espécie Centropomus undecimalis Souza-Filho et al (2003) testou 3

densidades 69,3, 136,2 e 204,3g/m³, mostrando que a taxa de crescimento, de

sobrevivência e conversão alimentar do robalo-flecha são influenciadas pelas densidades de

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estocagem. Sendo o melhor desempenho na menor densidade e ainda confirmando a

relação direta entre a densidade e biomassa final.

A engorda em viveiros de terra, abastecidos com água salgada, é outra forma de se

cultivar o robalo intensivamente. Em um teste realizado no litoral do Ceará em uma fazenda

de criação de camarão, 15.000 juvenis de robalo-peva com peso médio de 3,2g foram

mantidos por 12 meses em um viveiro de 1ha, alimentados com uma dieta comercial com

40% de proteína bruta. A sobrevivência estimada foi de 90% e o peso final médio de 192g

(COMPESCAL apud BALDISSEROTO, 2005).

A fim de encontrar as melhores condições para criação de robalos, foram realizados

testes de cultivo em água doce. No Espírito Santo, município de Castelo, 3.500 indivíduos

da espécie C. parallelus, com peso médio de 1,5g foram estocados em um tanque cilíndrico

de 7,5m de diâmetro e 44m³ de volume. A dieta utilizada era comercial, extrusada, com 48%

de proteína bruta. A água doce provinha de uma nascente em altitude, fornecendo uma

renovação de 30 a 40%/h. A temperatura da água foi de 17 a 28°C e o oxigênio perto da

saturação. Ao final de 21 meses, os peixes alcançaram peso entre 300 e 400g, com

sobrevivência de 80%. A densidade final girou entorno de 25kg/m³ (PERIN apud

BALDISSEROTO, 2005).

Junior et al (2009), em Camboriú-SC, nas dependências do Campo Experimental de

Piscicultura de Camboriú – CEPC/EPAGRI, cultivaram em tanques circulares de cimento

com volume de 2m³ de água doce, robalos-peva com peso inicial de 11,5g e densidade de

863g/m³. Em 240 dias atingiram peso médio de 46g. A temperatura sempre esteve acima

dos 20°C.

No México, no município de Alvarado, o policultivo entre Centropomus parallelus e C.

undecimalis em água doce, apresentou bons resultados. Em tanque de concreto com

volume de 96m³ foram colocados 132 robalos-peva com peso médio de 5,6g e 68 robalos-

flecha com peso médio de 29g. A temperatura media foi de 28°C durante os 12 meses de

estudo. Ao final obteve-se robalos-peva com peso médio de 124g e robalos-flecha com peso

médio de 212g (MEZA et al, 2006).

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4. MATERIAIS E MÉTODOS

4.1. Área de estudo

O Experimento foi realizado no parque aquícola localizado na ENSEADA DA

ARMAÇÃO DO ITAPOCOROY, no município de Penha-SC, (26º58’S ; 48º38’ W) (Fig.1),

durante o período de março a outubro de 2011. Nesta região a Universidade do Vale do

Itajaí (UNIVALI), através do Centro Experimental de Maricultura (CEMar) (CTTMar), possui

uma área onde desenvolve atividades de pesquisa, ensino e extensão relacionadas ao

cultivo de organismos marinhos desde 1994.

Figura 1: Posição dos quatro tanques-rede, paralelos ao parque aquícola da Fortaleza localizado na Enseada da Armação do Itapocoroy, Penha-SC.

4.2. Tanques-rede

As estruturas de cultivo de peixes denominadas de tanques-rede foram

confeccionados com tubos de polietileno de alta densidade (PEAD), sendo que na linha da

água (superfície) os tanques apresentam 2 tubos (flutuadores) circulares com o diâmetro de

140 mm. Nestes tubos foram encaixados estruturas de PEAD, denominados de “bracked”

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que permitem a fixação de outro anel, também de PEAD (diâmetro 50 mm) que fica

aproximadamente 1 metro acima da superfície (Fig.2).

Os tubos que ficam na linha de água apresentam a função de manter a flutuabilidade

da estrutura de cultivo e o anel superior é utilizada para a amarração das redes de cultivo e

de proteção anti-pássaro, além de servir de apoio para as atividades de manejo

(alimentação e troca de redes) realizadas nos tanques.

Figura 2: Tanque-rede usado no experimento, com suas estruturas principais identificadas, flutuadores com diâmetro de 140mm, anel superior com diâmetro de 50mm e o bracked que une as duas estruturas.

As redes utilizadas nesta etapa do cultivo apresentaram abertura de 5mm entre nós

adjacentes e foram confeccionadas com fio multifilamento PA 210/08 . Estas redes

apresentavam o diâmetro de 5,7 m e altura de 3,5 metros. Considerando que 1 metro desta

rede ficava fora da água e 2,5 metros submerso o volume útil de cultivo disponível para os

peixes foi de 64m³.

A rede de proteção (anti–pássaro) utilizada foi confeccionada com fios de PE com

tamanho de malha 30 mm e tinha a função de evitar a predação dos peixes por aves. As

duas redes foram amarradas no anel superior do tanque-rede.

Cada estrutura de cultivo (tanque-rede) foi ancorado (fundeado) com auxilio de cabos

de polietileno 22 mm comprimento médio de 30 metros, que ligavam os tanques a 6 estacas

de ferro (diâmetro 100mm) de 2 metros de comprimento, que foram enterradas em pontos

georeferênciados e eqüidistantes. A profundidade variou de 6 a 12 metros. Estes tanques

foram ancorados paralelamente ao parque de cultivo de moluscos sendo que o tanque 1,

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ficou localizado a cerca de 1 km da linha de praia a uma profundidade de 8 metros e o

tanque 4 (mais para fora da enseada), ficou distante de 1,5 km da praia a uma profundidade

de 12 metros (Fig.1).

4.3. Transporte dos peixes

Os juvenis de robalo-peva (Centropomus parallelus), procedentes do Laboratório de

Piscicultura Marinha da UFSC – Florianópolis, foram transportados por 130 quilômetros em

sacos plásticos com aproximadamente ⅓ de água salgada e ⅔ de oxigênio (Fig.3), na

carroceria de um veiculo utilitário (camionete). Imediatamente após a chegada no município

de Penha, os peixes ainda nos sacos plásticos foram colocados nas embarcações (2 Barcos

de alumínio 5 metros, motor de popa 15 hp) para serem transportados para os tanques.

Figura 3: juvenis de robalo-peva nos sacos plásticos usados para o transporte do laboratório de piscicultura marinha da Universidade Federal de Santa Catarina até os tanques-rede na Enseada do Itapocoroy, Penha-SC.

4.4. Aclimatação dos peixes

Para aclimatação dos juvenis antes da soltura, os sacos foram abertos e preenchidos

gradativamente com cerca da metade do volume de água que continha nos sacos com água

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do ambiente, ficando assim por 5 minutos. Após, os peixes foram liberados vagarosamente

para o tanque (Fig.4). Os primeiros 30 dias foram considerados como período de

aclimatação dos peixes nos tanques de cultivo.

Figura 4: Soltura dos peixes vindos do LAPMAR-UFSC, no tanque-rede após a aclimatação.

4.5. Delineamento experimental

Os peixes foram divididos em duas densidades, 1500 peixes (74,4g/m³) e 2700

peixes (159g/m³)(Fig.5). Cada densidade foi realizada em duplicata. Após os 30 dias de

aclimatação foi realizada uma nova contagem dos peixes nos tanques com a finalidade de

ajustar as densidades de cultivo substituindo a mortalidade desse período e deixando os

tanques com o número de peixes propostos inicialmente no estudo.

Os peixes dos tanques 1 e 2 possuíam peso médio de 3,18±1,06g e comprimento

médio de 6,92±0,86cm. Os peixes dos tanques 3 e 4 possuíam peso médio de 3,77±1,12g e

comprimento médio de 7,38±0,86cm.

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Figura 5: Representação dos quatro tanques-rede divididos em duas densidades (g/m³).

4.6. Alimentação

A alimentação dos peixes foi realizada manualmente até a saciedade, e de maneira

geral uma vez por dia no período da manhã. Somente nos casos em que as condições

climáticas ou oceanográficas não eram favoráveis os robalos não recebiam alimentação.

Para avaliar a quantidade de ração consumida e a taxa de conversão alimentar, cada

tanque apresentava um pote identificado com o respectivo número do tanque. Este pote

com ração era pesado diariamente, sendo assim possível avaliar a quantidade de alimento

fornecido aos peixes em cada tanque, através da diferença de peso inicial e final dos potes.

4.6.1. Ração

A ração oferecida, para peixes carnívoros marinhos, foi do tipo extrusada, constituída

com 48,6% de proteína bruta, pellet de diâmetro 2,5mm e foi fornecida gratuitamente pela

empresa de Rações Nicoluzzi (Penha-SC).

Tabela 1: Valores em % de umidade, proteína bruta (PB), cinzas, gordura, calcio, fosforo e fibra bruta contidos na ração fornecida para os juvenis de robalo-peva.

4.7. Troca das redes.

Devido ao desenvolvimento de organismos incrustantes (fouling ou fauna associada)

nas estruturas de cultivo, mensalmente era realizada a substituição das redes em cada

tanque de cultivo. A troca das redes iniciou logo após a aclimatação e semanalmente era

Umidade (%) PB (%) Cinzas (%) Gordura (%) Calcio (%) Fósforo (%) Fibra Bruta (%)

6 48,6 12,9 11,5 3,8 1,9 1,1

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realizado a troca da rede de um dos 4 tanques, sendo assim, o tempo estimado para a

próxima troca em um mesmo tanque era de 4 semanas. Para a troca, a rede antiga era

desamarrada até a metade da estrutura e paneada para um lado do tanque, enquanto a

rede nova era amarrada no lado oposto (Fig.6). Com isso a parte solta da rede antiga era

posta para dentro da rede nova, liberando os peixes para rede limpa.

Figura 6: Troca da rede realizada nos 4 tanques-rede. A rede antiga era paneada até a metade do tanque e na outra metade amarrada a rede nova.

4.8. Limpeza das redes

Após a retirada, a rede era suspensa na balsa de manejo da UNIVALI, fundeada na

área de cultivo. A rede permanecia cerca de cinco dias secando ao sol para facilitar a

limpeza com a lavadora de alta pressão.

4.9. Biometria

A cada troca de rede, eram selecionados aleatoriamente cerca de 100 indivíduos

para biometria. Estes peixes eram transportados da área de cultivo para o laboratório em

caixas de 300 litros com água do mar, sendo que durante o transporte o oxigênio dissolvido

era monitorado nas caixas com oxímetro digital.

Os peixes selecionados permaneciam de um a dois dias no laboratório, somente

após este período eram medidos. Este procedimento foi adotado para evitar que os peixes

fossem submetidos a um stress excessivo causando mortalidade durante a anestesia. Os

peixes eram sedados com benzocaína (0,07g/L) (Fig.7), sendo pesados em balança

eletrônica digital (0,01g) e medidos (comprimento total) com paquímetro (Fig.8). Para

recuperação dos indivíduos, os mesmos eram transferidos para bacias com volume de 20

litros com fluxo de água contínuo e no outro dia levados para o seu tanque de origem na

área de cultivo.

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Figura 7: Juvenis de robalo-peva retirados para biometria mensal, sendo anestesiados com benzocaína antes de serem medidos e pesados.

Figura 8: Medição do comprimento total com paquímetro dos robalos-peva retirados para biometria mensal.

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4.10. Parâmetros físico-químicos

Após a aclimatação, semanalmente os parâmetros físico-químicos foram medidos.

Para medir o oxigênio dissolvido e a temperatura foi utilizado o oxímetro modelo AT-150 da

Alfa kit com capacidade de leitura de 0-20mg/L ± 2% da leitura para o O2 e capacidade de 0-

100°C ± 0,5°C para temperatura. A salinidade foi medida através do refratômetro. Para

amônia total foi utilizado fotocolorímetro Alfa Kit modelo AT 10P e para o pH o pHmetro

digital Alfa Kit.

4.11. Despesca

Para a despesca foram utilizadas duas embarcações de alumínio e 4 caixas com

capacidade para 300 litros cada. Para os tanques 1 e 2 a despesca realizou-se nos dias

05/09/11 e 08/09/11 respectivamente. Os peixes foram retirados e colocados nas caixas e

em seguida levados para o laboratório onde foi realizada a contagem dos indivíduos,

separada uma amostra para biometria final e depois colocados em dois tanques de 1600

litros. Após um dia no laboratório os robalos foram separados em duas classes de tamanho

com selecionador da marca Bernauer e depois levados para o mar. Para os tanques 3 e 4 o

processo de despesca foi efetuado no mesmo dia (15/09/11). A contagem e seleção por

tamanho foi realizada na embarcação junto ao tanque-rede (Fig.9). Os peixes eram retirados

com baldes e colocados no selecionador de tamanho que encontrava-se no barco dentro de

uma das caixas com água do mar (Fig.10). Os robalos menores ficavam nesta caixa

enquanto os maiores eram colocados em outra caixa. Quando a densidade nas caixas

começava aumentar muito, os robalos eram levados para seus respectivos tanques (tanque

2 maiores e tanque 4 menores). Ao final da despesca dos 4 tanques, os indivíduos

selecionados que estavam no laboratório foram levados para os tanques no mar. A seleção

por tamanho dos peixes é feita para evitar o canibalismo. Também será realizado outro

trabalho para avaliar o crescimento do robalo-peva no período de primavera e verão.

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Figura 9: Despesca com auxilio de peneiras e baldes, para contagem e separação por tamanho no mar.

Figura 10: Selecionador de tamanho para peixes usado no momento da despesca.

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4.12. Parâmetros para análise do crescimento

Com os valores de peso observado ao longo do período amostral foram determinados os

seguintes parâmetros:

4.12.1. Taxa de conversão alimentar aparente (CAA)

No final do experimento, a CAA foi avaliada de acordo com (BALDISSEROTO 2009),

onde:

Conversão alimentar aparente (CAA) =

Onde:

Af = quantidade de alimento fornecido;

Gp = ganho de peso no período

4.12.2. Taxa de crescimento específico (TCE)

Esta taxa assume que o peso do peixe aumenta de forma exponencial

(BALDISSEROTO 2009), essa estimativa é valida para peixes jovens e é expressa em

(%/dia).

(TCE)=

Onde:

Pt1 = peso total médio da amostra no início do experimento;

Pt2 = peso total médio da amostra no final do experimento;

t = tempo em dias.

4.12.3. Biomassa final

Em cada tanque foi quantificada a biomassa final, multiplicando a media de peso

pelo numero de indivíduos vivos, dividido pelo volume total do tanque, que terá como

unidade

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4.12.4. Sobrevivência

A sobrevivência foi estimada pela contagem dos indivíduos no início e no final do

experimento. O resultado foi expresso em porcentagem.

S=

Onde:

n = número de animais mortos no tanque,

N = número total de indivíduos no tanque;

4.13. Análise estatística

As analises estatísticas foram realizadas no programa STATISTICA 6.0. Primeiramente

foram verificadas as correlações entre os parâmetros e a biometria (peso). Após aplicou-se

uma analise de covariância (ANCOVA), com p<0,05, para testar a diferença na biometria de

acordo com a densidade. Para isso os tanques de mesma densidade foram considerados

como réplicas, ou seja, o tratamento A refere-se a densidade 74,4g/m³ (tanques 1 e 2) e o

tratamento B refere-se a densidade 159g/m³ (tanques 3 e 4). Foi aplicada uma análise de

regressão linear simples correlacionando a temperatura e o incremento de peso.

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5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1. Parâmetros para análise do crescimento

5.1.1. Ganho de peso médio

A menor densidade de cultivo (tanques 1 e 2) chamado de tratamento A, onde os peixes

apresentavam peso médio inicial de 3,18 ± 1,06 g ao final do estudo alcançaram peso médio

de 8,06 ± 2,7g (Fig.11), ou seja, um ganho de peso médio de 4,89g e comprimento médio

inicial de 6,92±0,86 cm e comprimento médio final de 9,47± 1,04 cm. A maior densidade de

cultivo (tanques 3 e 4) chamado de tratamento B, que no início do experimento apresentava

peso médio de 3,77 ± 1,12 g atingiram peso médio final de 7,59 ± 2,55g (Fig.11), ou seja

ganho de peso médio de 3,82g e comprimento médio inicial de 7,38 ± 0,86 cm e

comprimento médio final de 9,47 ± 1,15 cm.

A análise de covariância (ANCOVA) mostrou que o ganho de peso do tratamento A que

possuí menores densidades de cultivo de 74,4g/m³ foi estatisticamente superior (p=0,00000)

que o tratamento B onde estão as maiores densidades de cultivo (159g/m³). Os resultados

verificados no presente estudo divergem de valores apresentados por outros pesquisadores,

pois em Ubatuba-SP, entre densidades de 660,8 g/m³ e 1291,2 g/m³ da espécie C.

parallelus durante 160 dias em tanques-rede a maior densidade apresentou melhor

desempenho (OSTINI et al., 2007). Outro estudo com juvenis de robalo-peva com peso

médio inicial de 5,75g, mostrou que após 59 dias entre as densidades 290, 580 e 1160g/m³,

a densidade não afetou o crescimento dos peixes (TSUZUKI et al., 2008). Entretanto, é

importante destacar que estas comparações devem ser realizadas com restrições, pois as

condições de cultivo são completamente distintas entre elas.

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Figura 11: Crescimento médio em peso(g) da densidade A 74,4g/m³ (tanque 1 e 2) e densidade B 159/m³ (tanques 3 e 4) nas 5 biometrias realizadas durante o período de estudo com seus respectivos desvio padrão.

5.1.2. Conversão alimentar aparente (CAA)

A CAA indica se o peixe está aproveitando bem o alimento, pois é obtida através da

relação entre a quantidade de ração fornecida aos peixes e o ganho de peso. É considerada

conversão alimentar aparente pois é difícil de precisar se realmente os peixes comeram todo

o alimento fornecido. A quantidade de ração fornecida durante o período de estudo foi de

8,9 kg, 8,2kg, 12,4kg e 11,7 kg para os tanques-rede 1, 2, 3 e 4 respectivamente.

Os valores de CAA observados no presente trabalho demonstram que no tanque 1 a

CAA foi de 1,23 e para o tanque 2 foi de 2,48 (Tab.1). Estes valores estão dentro do

esperado,pois em outros trabalhos realizados com robalo-peva na fase juvenil e de pré-

engorda Tsuzuki et. al., 2008, alcançaram CAA entre1,3 e 1,6. Para a mesma espécie

também na fase de pré-engorda, alimentados duas vezes ao dia com dietas de 47,3 e 49%

de proteína bruta foram encontrados valores para CAA de 1,6 e 1,5, respectivamente

(NEVES, 2008). Brugger e Freitas (1993) em Angra dos Reis em tanque-rede marinho,com

indivíduos de 2,7g, em 380 dias, obtiveram uma conversão alimentar de 2,2. Guarizi (2010)

em Florianópolis-SC apresentou CAA entre 3,5 e 1,7 em seu estudo com o robalo-peva.

Por outro lado, os tanques 3 e 4 tiveram os maiores valores de CAA 4,8 e 10,7

respectivamente (Tab.1). Estes elevados valores de CAA foram conseqüência de vários

fatores, a mortalidade contribuiu para este valor, pois, a diminuição na biomassa final

interfere no resultado da CAA. Também deve-se levar em conta que nem toda ração

fornecida aos peixes foi consumida. Com relação a ração pode-se afirmar que ela foi bem

aceita pelos juvenis de robalo, pois visualmente foi possível observar que os peixes dirigiam-

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

10 11

Pe

so m

éd

io (

g)

biometrias

Tratamento A

Tratamento B

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se a ração no momento da alimentação. O fato de não ser uma ração especifica para

robalos, possivelmente interferiu nos valores finais de crescimento. Outro fator que pode ter

contribuído com o crescimento lento foi a baixa freqüência alimentar, pois a alimentação era

fornecida somente uma vez por dia. Em estudos realizados com juvenis de robalo-peva,

alimentando uma, duas e quatro vezes dias, Corrêa et al. (2010), concluíram que o

fornecimento de ração deve ser feito pelo menos duas vezes ao dia, também havendo uma

tendência de melhores resultados para TCE e CAA com o aumento das freqüências de

alimentação. Além disso a temperatura da água que durante a etapa final de cultivo estava

entorno de 17°C, interferiu no metabolismo dos peixes cultivados.

5.1.3. Taxa de crescimento específico (TCE)

Com relação à TCE os quatro tanques apresentaram valores de (0,56, 0,32, 0,13 e

0,05%/dia) (Tab.1). Estes números mostram que o tratamento A (tanques 1 e 2) que possui

menor densidade obteve melhores resultados que o tratamento B (tanques 3 e 4) que possui

maior densidade. Os valores encontrados para os quatro tanques são muito inferiores aos

relatos por Tsuzuki & Berestinas (2008), que alimentando juvenis de robalo-peva duas vezes

ao dia com ração comercial constituída de 45% de proteína bruta, obtiveram índice de

1,3%/dia de taxa de crescimento específico. Guarizi (2010) alcançou valores de TCE entre

2,05 e 2,13%/dia para mesma espécie, alimentando duas e quatro vezes ao dia

respectivamente. A ração era composta por 40% de proteína bruta. As densidades iniciais

foram 639g/m³ e 1278g/m³. Souza (2005), utilizando juvenis de robalo-peva, alimentados a

saciedade aparente, obteve uma TCE de 1,6%/dia com uma ração experimental com 46%

de proteína bruta. Um fator importante que contribuiu com a baixa taxa de crescimento

específico foi a mortalidade, pois com a diminuição da biomassa final a TCE também

diminui.

5.1.4. Sobrevivência

A sobrevivência para os tanques com menor densidade foi de 92,47% para o tanque 1 e

71,8 para o tanque 2. Para as estruturas com maiores densidades a sobrevivência foi de

60% para o tanque 3 e 56,3% para o tanque 4. Como os tanques 3 e 4 possuíam maior

densidade é provável que o manejo tenha sido mais estressante para os peixes desses

tanques aumentando a mortalidade, pois Tsuzuki et al (2008) testaram juvenis de robalo-

peva com peso médio inicial de 5,75g e mostram em sua comparação entre as densidades

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290, 580 e 1160g/m³, que após 59 dias a densidade não afetou o a sobrevivência dos

peixes. Outro fator que pode ter contribuído com os menores valores de sobrevivência dos

tanques 3 e 4, é que os mesmos estavam localizados na área mais externa da enseada em

relação aos tanques 1 e 2 (Fig.1), sujeito a ação de ventos e de ondas, a uma maior

dinâmica oceanográfica que pode ter causado um maior estresse dos peixes cultivados.

Tabela 2: Valores da taxa de conversão aparente (CAA), taxa de crescimento específico (TCE) e sobrevivência para os quatro tanques ao final do período de estudo

Tabela 3: Valores da biomassa inicial, biomassa final e o incremento de biomassa em g/m³ para os quatro tanques-rede ao final do período de estudo.

5.1.5. Biomassa final

Os tanques 1 e 2 com densidades iniciais de 74,4g/m³ apresentaram biomassas finais de

187 e 126g/m³ (Tab.2) respectivamente. Para o tanque 1 o incremento de biomassa foi de

112,6g/m³ e para o tanque 2 o incremento foi de 51,6g/m³.

O tanque 3 que inicialmente possuía biomassa de 159g/m³ apresentou a maior biomassa

final (199g/m³), incremento de 40g/m³ O tanque 4 que apresentava biomassa inicial igual ao

tanque 3 (159g/m³) alcançou biomassa final de 173g/m³, possuindo incremento de

tanque CAA TCE (%/dia)Sobrevivencia

(%)

1 1,23 0,56 92,47

2 2,48 0,32 71,8

3 4,8 0,13 60

4 10,7 0,05 56,3

Tanque

Biomassa

Inicial

(g/m³)

Biomassa

final

(g/m³)

Incremento

biomassa

(g/m³)

1 74,4 187 112,6

2 74,4 126 51,6

3 159 199 40

4 159 173 14

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14g/m³(Tab.2) o menor valor de incremento entre os quatro tanques estudados. Entretanto

nesta analise se deve considerar que os dois tratamentos (A e B) apresentavam biomassas

iniciais distintas e o incremento da biomassa está relacionado com a sobrevivência dos

peixes nos tanques. Neste sentido, pode-se afirmar que o tanque 1 proporcionalmente foi o

que apresentou melhor resultado, pois apesar de ter sido povoado com menor densidade foi

o tanque que apresentou o maior incremento de biomassa.

5.2. Parâmetros físico-químicos

5.2.1. Temperatura

A temperatura no início do experimento no mês de março estava em 27°C e foi

diminuindo gradativamente até o fim do período de estudo com atingiu 17,5°C. Nos meses

de julho e agosto foi onde se registrou os menores valores para temperatura (16,2°C). A

partir do mês de maio a temperatura esteve sempre abaixo dos 22°C (Fig.12). As

temperaturas foram semelhantes para os quatro tanques em todo momento. As

temperaturas verificadas estão dentro dos valores esperados para região, onde foram

detectadas temperaturas mínimas de 12°C e máximas de 30,5°C (PEDROSA, 2011).. Os

robalos em temperaturas inferiores a 22°C baixam o consumo, alimentam-se razoavelmente

(BALDISSEROTO & GOMES, 2005). Este efeito da temperatura na alimentação dos peixes

e conseqüentemente no ganho de peso foi observado no trabalho.

Figura 12: Variação temperatura (°C) nos 4 tanques-rede no período de março/2011 a setembro/2011

10 12 14 16 18 20 22 24 26 28

18

/03

/20

11

02

/04

/20

11

17

/04

/20

11

02

/05

/20

11

17

/05

/20

11

01

/06

/20

11

16

/06

/20

11

01

/07

/20

11

16

/07

/20

11

31

/07

/20

11

15

/08

/20

11

30

/08

/20

11

Tem

p e

ratu

ra (

°C)

dias

tq1

tq2

tq3

tq4

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Figura 13: Regressão linear simples correlacionando o incremento de peso (g) e a temperatura (°C), os pontos azuis representam as biometrias de cada tanque.

Baldisseroto (2009) afirma que os peixes por serem ectotérmicos, em baixas

temperaturas, o metabolismo é muito baixo e não há crescimento. Como mostra o gráfico de

regressão linear simples, onde o incremento de peso dos robalos decresce com a

diminuição da temperatura (Fig.13). Este fator ambiental teve uma forte influencia

(r²=0,4631) nos resultados finais do trabalho.

5.2.2. Oxigênio

O oxigênio dissolvido manteve-se sempre acima dos 5,25 mg/l, valor registrado no mês

de maio, alcançando concentração máxima de 8,63 mg/l no mês de julho (Fig.14). Não

houve diferença significativa nas concentrações de OD entre os quatro tanques durante o

período estudado. Estes valores são considerados adequados, pois o robalo é pouco

exigente em termos de oxigênio, possivelmente a seu comportamento calmo e gregário,

onde freqüentemente são encontrados em ambientes com baixa concentração , até 1mg/l,

sem sinal de estresse (BALDISSEROTO & GOMES, 2005).

17181920212223

Temperatura (°C)

-0.5

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

3.0

3.5

Incre

mento

do p

eso (

g)

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Figura 14: Variação do OD (mg/l) nos 4 tanques-rede no período de abril/2011 a setembro/2011

5.2.3. Salinidade

A salinidade foi semelhante para os quatro tanques durante o estudo. A salinidade

máxima foi verificada em maio (36psu). Após esse registro a salinidade manteve-se

praticamente constante em 35psu até o mês de agosto onde provavelmente com a

ocorrência de chuvas na região foi diminuindo e atingiu 27psu no final desse mesmo mês

(Fig.15). Com relação a salinidade, os robalos são considerados eurialinos e adaptam-se

facilmente a variação de salinidade. Juvenis a partir de 0,5g podem ser aclimatados para

água doce em menos de 24 horas. Mas ainda são necessários estudos mais conclusivos

sobre a faixa de salinidade ideal para o crescimento do robalo-peva (BALDISSEROTO &

GOMES, 2005).

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

10

18

/04

/20

11

03

/05

/20

11

18

/05

/20

11

02

/06

/20

11

17

/06

/20

11

02

/07

/20

11

17

/07

/20

11

01

/08

/20

11

16

/08

/20

11

31

/08

/20

11

OD

(m

g/L)

dias

tq1

tq2

tq3

tq4

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Figura 15: Variação da salinidade(psu) nos 4 tanques-rede no período de abril/2011 a setembro/2011

5.2.4. Potencial hidrogeniônico

O pH é definido como o logaritmo negativo da concentração (em moles/L) dos íons H+ na

água. Os íons H+ apresentam reação ácida na água, enquanto os íon OH- apresentam

reação alcalina ou básica. Os valores de pH da água indicam se esta possui reação ácida

ou alcalina (KUBITZA, 2003). O pH oscilou entre 7,93 a 8,58 (Fig.16). Em águas marinhas o

efeito tampão evita que o pH tenha grandes variações e mantém este parâmetro sempre

próximo a neutralidade. Para o robalo ainda não se tem informações sobre qual o pH ideal

para esta espécie.

Figura 16:Variação do pH nos 4 tanques-rede no período de abril/2011 a setembro/2011

0 5

10 15 20 25 30 35 40

18

/04

/20

11

03

/05

/20

11

18

/05

/20

11

02

/06

/20

11

17

/06

/20

11

02

/07

/20

11

17

/07

/20

11

01

/08

/20

11

16

/08

/20

11

31

/08

/20

11

Sal (

psu

)

dias

tq1

tq2

tq3

tq4

6 6,3 6,6 6,9 7,2 7,5 7,8 8,1 8,4 8,7

9

18

/04

/20

11

03

/05

/20

11

18

/05

/20

11

02

/06

/20

11

17

/06

/20

11

02

/07

/20

11

17

/07

/20

11

01

/08

/20

11

16

/08

/20

11

31

/08

/20

11

pH

dias

tq1

tq2

tq3

tq4

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5.2.5. Amônia total

A amônia total foi constatada apenas uma vez no tanque 1 (0,05mg/l) e no tanque 2

(0,01mg/l), no mesmo dia (28/04/11). Nos tanques 3 e 4 não foi verificada a ocorrência de

amônia em nenhum momento do estudo (Fig.17). Em relação a influencia da amônia no

cultivo de robalos-peva, há poucas informações (BALDISSEROTO & GOMES, 2005). Eddy

(2005) apresenta concentrações de 0,5 mg/l de amônia total como o limite máximo para

peixes marinhos.

Figura 17: Variação da amônia (mg/l) nos 4 tanques-rede no período de abril/2011 a setembro/2011

Todas as correlações entre os parâmetros e o peso foram significativas. Percebe-se que

a temperatura tem as maiores correlações com o peso (Tab.3). Apesar de estatisticamente

os parâmetros serem significativos, somente a temperatura esteve fora do intervalo de

conforto para o robalo-peva.

Tabela 4: Valores da correlação dos parametros fisico-quimicos analisados durante o estudo com o ganho de peso dos peixes.

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

Am

ôn

ia (

mg/

L)

dias

tq1

tq2

tq3

tq4

Parâmetros peso

temperatura -0,6

OD 0,51

salinidade 0,16

pH 0,09

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5.3. Área de estudo

Com relação a tecnologia de cultivo com os tanques-rede ancorados na Enseada da

Armação do Itapocoróy pode-se afirmar que a área de estudo se mostrou adequada dentro

das condições oceanográficas. Um problema é a incrustação das redes e de outras

estruturas (tanques, cabos, bóias). O aumento da incrustação esta associada a produção de

moluscos que é uma atividade comum na enseada.

5.4. Tanques redes

Com relação à metodologia de cultivo empregada pode-se afirmar que o sistema de

ancoragem se mostrou eficiente, pois durante todo o período de estudo não ocorreu soltura

das estacas de ancoragem. Os cabos que fixam as estruturas nas estacas não sofreram

nenhum tipo de avaria. No tanque 1 ocorreu o rompimento do flutuador mais externo

(Fig.18). Entretanto como no interior deste tubo existia tampão que evitava a entrada de

água em todo o flutuador, o anel externo manteve-se flutuando evitando assim que o tanque

afundasse.

Figura 18: Rompimento do flutuador mais externo do Tanque-rede 1.

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5.5. Transporte dos peixes

A duração do transporte, do laboratório da UFSC até a área de cultivo foi cerca de três

horas e meia. A temperatura média nos sacos plásticos foi de 26°C. O oxigênio dissolvido

variou de 7,2 a 5,8mg/l. A salinidade media entre os sacos de transporte foi de 33ppm e a

amônia oscilou entre o,45 e 0,36mg/l. Todos esses valores encontram-se dentro das

necessidades exigidas para espécie. A mortalidade durante o transporte foi de

aproximadamente 2%.

5.6. Aclimatação dos peixes

Todo o processo desde a chegada dos organismos nas embarcações até a soltura levou

aproximadamente 20 minutos. Este processo se mostrou adequado.

5.7. Delineamento experimental

As densidades usadas foram adequadas para tipo de manejo. O número de tanques

apesar de estatisticamente não ser o ideal foi considerado o número limite para o tamanho

da equipe e estrutura envolvida.

5.8. Troca das redes

O tempo entre a troca de rede em cada tanque foi de aproximadamente 30 dias. Esse

procedimento é de grande importância para garantir a durabilidade da rede, pois o

desenvolvimento desta fauna associada proporciona um aumento significativo no peso da

rede(Fig.19), podendo inclusive ocasionar um rompimento da tralha da rede que esta

amarrada no anel superior do tanque-rede. Além disso, a troca da rede diminui a

interferência dos organismos incrustantes no fluxo (troca) de água entre a área externa e

interna dos tanques. Houve o rompimento de vários cabos que seguravam os pesos e

mantinham a rede armada devido a incrustação.

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Figura 19: Incrustação da rede que está sendo retirada após 30 dias no mar.

5.9. Limpeza das redes

A limpeza de cada rede levava aproximadamente três horas. A cada limpeza eram

retirados cerca de 90kg de organismos incrustantes.

5.10. Biometria

O procedimento de anestesiar os peixes com concentração de 0,07g/l de benzocaina

nas biometrias se mostrou efetivo. Os peixes levaram em média 30s para adormecer com a

anestesia e 50s para se recuperarem da mesma. O tempo total desde a colocação do peixe

na anestesia até a recuperação foi de 3 minutos. Não houve mortalidade pela anestesia,

isso indica a correta utilização das concentrações de anestesia e tempo de manejo.

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5.11. Despesca

Na etapa final do experimento foi realizada a contagem para avaliar a sobrevivência final

e posteriormente a seleção dos peixes por tamanho através do uso de um selecionador.

Este procedimento de seleção por tamanho foi realizado em dois locais, no mar próximo ao

tanque-rede e no laboratório. A seleção realizada em laboratório obteve mortalidade de

20%. Com a realização da seleção por tamanho no mar a mortalidade diminuiu

consideravelmente, sendo inferior a 1%. O deslocamento para o laboratório em caixas com

alta densidade de peixes pode ter contribuído para uma maior mortalidade.

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6. CONCLUSÕES

De acordo com as condições de cultivo observadas no presente experimento pode afirmar

que:

O tratamento A de menor densidade (74,4g/m³) apresentou os melhores resultados;

A sobrevivência foi maior nos tanques de menor densidade (74,4g/m³);

A conversão alimentar aparente (CAA) foi melhor nos tanques de menor densidade

(74,4g/m³);

A taxa de crescimento específico (TCE) foi maior nos tanques de menor densidade

(74,4g/m³);

Não é possível afirmar que a diferença no ganho de peso foi efeito da densidade;

A temperatura foi a variável com maior influencia no crescimento dos robalos;

São necessários estudos na região com períodos mais longos de observação.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com relação a tecnologia de cultivo recomenda-se:

O transporte de 300 peixes com peso médio de 3,5 g em sacos plásticos com ⅔ de

oxigênio por 3,5 horas se demonstrou adequado;

O sistema de ancoragem dos tanques-rede com estacas é adequado para as condições

oceanográficas da região.

Aumento no diâmetro dos flutuadores dos tanques-rede para oferece mais estabilidade

durante o manejo.

Troca da rede em períodos mais curtos facilitaria a limpeza e diminuiria o rompimento de

cabos e da própria rede.

A concentração de 0,07g/l de anestésico (Benzocaína) é suficiente para peixes com peso

médio entre 3 e 12g .

O tempo de 3 minutos entre o peixe ser anestesiado, medido, pesado e ser colocado em

recuperação com fluxo de água continuo não causa mortalidade.

Sugere-se que o procedimento de contagem e seleção por tamanho realizado no

momento da despesca diminuem a mortalidade dos peixes.

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8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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