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CENTRO UNIVERSITÁRIO FEEVALE GRUPO DE PESQUISA MÍDIA E CULTURA
Projeto de Pesquisa “Mídia e Resgate Histórico”Prof. Ms. Marcos Emilio Santuario e
Profa. Doutoranda Neusa Maria B. Ribeiro*
“A mídia alternativa na constituição das redes informais de comunicação no Vale do Rio dos Sinos, como um dos elementos fomentadores do desenvolvimento regional (Prof. Doutoranda
Neusa M. B. Ribeiro)
ResumoO texto apresenta a pesquisa em andamento, que consiste em mapear e
investigar a realidade dos usos dos meios de comunicação na região do Vale do Sinos pelos movimentos sociais e suas assessorias de comunicação, de forma alternativa, na perspectiva de verificar como, ao longo dos últimos 30 anos, esses movimentos e a intervenção de seus respectivos meios têm participado da constituição das redes informais de comunicação. Ditas redes informais são consideradas na medida em que se estabelecem relações de comunicação a partir da geração de um conhecimento midiático sobre a realidade das diferentes comunidades localizadas na região, que contribuem para o desenvolvimento local dessas comunidades. São mediadas pelos próprios meios alternativos uma vez que são “reconhecidos” informalmente na sociedade, e muitas vezes, são os únicos canais de comunicação existentes.
O texto desenvolve-se comentando as etapas da pesquisa, aprofundando-se nos estudos desenvolvidos por Jesús Martín-Barbero, Nestor Garcia Canclini, Manuel Castells, Agnes Heller, Aníbal Ford, Roger Silverstone, Niklas Luhmann, Zigmund Bauman, Pierre Bourdieu, Dominique Wolton, Adriano Duarte Rodrigues, Maria Cristina Mata, sobre midiatização, por exemplo. Esses estudos também apresentam conexões com alguns autores que trabalham o desenvolvimento local, tendo em vista que este é um dos elementos fundamentais para a realização dessa pesquisa, entre eles Muhammad Yunus e Milton Santos.
Palavras-chave: mídia, midiatização, comunicação popular, desenvolvimento local, redes informais de comunicação.
* atualmente a autora cursa Doutorado no Programa de Pós-graduação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, em São Leopoldo, RS.
TERCEIRO ENCONTRO NACIONAL DA
REDE ALFREDO DE CARVALHO
“História da Mídia Regional”GT HISTÓRIA DA MÍDIA ALTERNATIVA
A mídia alternativa na constituição das redes informais de comunicação
no Vale do Rio dos Sinos, como um dos elementos fomentadores do
desenvolvimento regional
Doutoranda Neusa Maria Bongiovanni Ribeiro
CENTRO UNIVERSITÁRIO FEEVALE
ABRIL/2005
Palavras iniciais
2
O texto a seguir aborda a etapa atual do projeto de pesquisa em construção, “Mídia
e Resgate Histórico”, componente do grupo Mídia e Cultura, do Centro Universitário
Feevale, de Novo Hamburgo, RS, de autoria do prof. Ms. Marcos E. Santuario e desta
autora1.
Os estudos em desenvolvimento visam mapear e investigar a realidade dos usos dos
meios de comunicação na região do Vale do Rio dos Sinos, gerando um conhecimento
científico sobre a realidade das comunicações, a partir de emissores localizados dentro do
limite geográfico estabelecido. Divide-se em dois eixos principais – o mapeamento e
estudos da mídia tradicional e o mapeamento e estudos da mídia alternativa como
elementos fomentadores do desenvolvimento regional. Este texto apresenta aspectos do que
está sendo levantado na pesquisa sobre a existência de meios de comunicação sob o uso
alternativo, tendo em vista que, em muitas localidades eles são reconhecidos, inclusive
como os únicos meios de comunicação ali presentes.
Os registros e as pesquisas que estão sendo realizados, referem-se, portanto, às
estruturas de funcionamento, à tecnologia empregada, além do traçado do mapa do universo
da comunicação na região, apontando as realidades particulares de cada meio e seus
impactos no desenvolvimento regional.
Para este texto, localizam-se os estudos que abordam este universo, relacionado
com os produtos comunicativos feitos por sindicatos, associações de moradores,
associações de trabalhadores, cooperativas e outros. Para se atingir o resultado da
investigação em andamento, portanto, além do mapeamento daqueles meios de
comunicação, que proporcionará uma maior visibilidade do mercado regional da
comunicação, e da contribuição dos meios de comunicação alternativos especificamente,
necessitam-se ainda de pesquisas que conectem a intervenção dos meios de comunicação
em foco, com o desenvolvimento regional e os estudos teóricos existentes.
Em termos de motivação investigativa, a proposta de pesquisa aponta para a
utilização das técnicas de levantamentos etnográficos, de entrevista direta, visitas "in loco"
1 Atualmente cursa o Doutorado do Programa de Pós-graduação em Comunicação na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, RS. Estuda as Redes Informais de Comunicação com a participação das mulheres, com o foco em Porto Alegre.Jornalista e mestre é professora dos cursos de Graduação em Comunicação na Unisinos e no Centro Universitário Feevale, integrando também o Grupo de Pesquisa Mídia e Cultura, no projeto citado.
3
e tabulação de dados levantados em cada um dos veículos de comunicação que estejam
incluídos no universo investigado.
Mas neste texto, procura-se, também, tratar do conceito de midiatização e das
travessias midiáticas a que estão expostos os sujeitos referenciados para os estudos em
questão, e busca-se aproximar um conceito de redes com o que se considera, sejam as
redes informais de comunicação.
A contextualização necessária A região do Vale do Rio dos Sinos abrange os municípios de Nova Hartz, Araricá,
Sapiranga, Campo Bom, Nova Sta Rita, Sapucaia, Esteio, Novo Hamburgo, Dois Irmãos,
Ivoti, Estância Velha, Portão, Canoas, e São Leopoldo, segundo classificação do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)2. Conhecida como a principal região produtora
de calçados do país, em 2003 apresentava uma população de 1.257.713 habitantes, para
uma área total de 1.398,5 km2. A taxa de analfabetismo está em torno de 4,8%, na região.
Segundo informações da Associação Brasileira da Indústria do Calçado, em janeiro
de 2005 o volume de exportações do calçado nacional aumentou em 13% em relação a
janeiro de 2004. O setor exportou 149 milhões de dólares, com forte contribuição dos
municípios da região do Vale do Rio dos Sinos.
Marcada por uma variedade de rios que a tornaram fértil para a produção de
hortifrutigranjeiros e outros produtos agrícolas de subsistência, - tendo como o principal
deles o Rio dos Sinos, com uma sinuosidade definida, que atinge 30 municípios - a região
colonizada por imigrantes alemães na sua maioria, a partir de sua chegada em 1824, logo
foi se desenvolvendo baseada no aproveitamento do couro de gado bovino na produção de
calçados, como está referido no site do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos:
em 1924, dos 604 moinhos de mandioca em operação no Estado, 441 estavam em colônias alemãs. A predominância é mais forte na indústria do couro, que ainda hoje se mantém como a principal atividade no Vale do Sinos. Há 66 anos, dos 837 curtumes gaúchos, 700 eram de alemães, enquanto 55% da produção de calçados também se dava em empresas de proprietários germânicos. (www.comitesinos.com.br, 2000)
Segundo o site citado, e de acordo com Tramontini (2000), o rio dos Sinos foi o
principal canal de comunicação entre os imigrantes instalados na Feitoria da Courita, (mais
2 Censo de 2000.
4
tarde chamada de São Leopoldo) localizada em suas margens, e a população da capital do
Estado, Porto Alegre: “O rio foi o centro da colônia e a escolha pela fixação inicial em
São Leopoldo se deu porque apresentava o local ideal para um porto. O rio dos Sinos era
a via de transporte que ligava com Porto Alegre, permitindo a chegada dos produtos
necessários para vida na colônia e, principalmente, o escoamento da produção”.
Atualmente, a indústria coureiro-calçadista está mais localizada nos municípios de
Igrejinha, Parobé, Sapiranga, Campo Bom, Estância Velha e Novo Hamburgo; e os setores
industrial metal-mecânico, alimentício e petroquímico, estão mais localizados nos
municípios de São Leopoldo, Sapucaia do Sul, Esteio e Canoas.
Ao se buscar as referências histórias sobre a imprensa local e os processos
midiáticos instaurados na região, localiza-se no artigo de Bragança e Ribeiro (2004)3, sobre
a história da imprensa do Vale do Rio dos Sinos, o seguinte:
Os estudos sobre os primórdios da imprensa e do jornalismo na região do Vale do Rio dos Sinos são escassos, em especial quanto à cidade de Novo Hamburgo, encontrando-se dados dispersos sobre a intervenção dos jornalistas na sociedade local. O surgimento da imprensa acompanha o processo de emancipação do município, que comemora 77 anos no próximo dia 5 de abril, sendo assim bastante recente. Até o ano de 1927, a localidade era distrito de São Leopoldo. É considerado o primeiro jornal do município o semanário O 5 de Abril que começou a circular em 6 de maio de 1927, cuja publicação foi encerrada em 1962. (2004, p.2)
Mas os avanços tecnológicos que partiram das invenções da prensa, do telégrafo,
do telefone, da fotografia, do cinema, dos correios, da radiodifusão –alguns deles ainda na
segunda metade do século XIX - para se chegar na televisão, no vídeo, e nos computadores
de última geração até a globalização via internet dos dias atuais, podem ser considerados
elementos integrantes de conjunturas sociais vigentes, em diferentes classes sociais. Sem
dúvida nenhuma, os meios de comunicação de massa – o jornal - e o rádio e a televisão
com suas programações abertas – por exemplo, têm sido os de maior presença nas classes
consideradas de menor poder aquisitivo.
3 Artigo elaborado com a colaboração da autora, apresentado no GT História do Jornalismo, no 2º Encontro da Rede Alfredo de Carvalho realizado em abril de 2004, em Florianópolis, SC.
5
Na região de imigração alemã, por exemplo, mais especificamente a região do Vale
do Rio dos Sinos, uma grande alteração se dá a partir dos anos 30, quando o artesanato
perde espaço para o desenvolvimento industrial. A idéia do progresso começa a aparecer a
exemplo de outras localidades brasileiras.
De outro lado, especialmente em São Leopoldo o rio dos Sinos deixa de ser o
caminho de transporte da produção. A linha de trem, implantada em 1870, não chega a
retirar a importância do rio, mas o caminhão, através da ligação rodoviária com Porto
Alegre, a partir de 1934, ocupa este espaço.
Em países como o Brasil, por exemplo, em que os 20% mais ricos detinham 54% da
renda nacional em 1960, e em 2000 passaram a deter 68% da renda nacional, e o número
de famílias que vivem abaixo da linha de pobreza passava dos 11 milhões, em 20044 é
forte a contradição, especialmente pelo crescimento acelerado do consumo de bens e
serviços, agenciados pelo rádio e a televisão, também mais intensamente a partir da década
de 60. Afirma Mance:
Com o surgimento da sociedade de massas nos centros urbanos e o agenciamento cada vez maior da subjetividade das pessoas através dos aparelhos culturais, em especial pela mídia eletrônica, afirmam-se padrões de consumo, normas éticas e estéticas, entre outros aspectos de caráter político, favorecendo-se a manutenção central dos interesses das classes econômica, política e culturalmente hegemônicas(2004, p.29/30).
Assim, a partir dos anos 60, começa a se configurar um novo mapa sociocultural
nacional, onde os grandes centros urbanos das regiões sul e sudeste tornam-se pólos de
atração para a intensificação dos processos migratórios internos, mudando
consideravelmente as características daqueles locais.
Os grandes conglomerados industriais, o processo de produção acelerada para o
desenvolvimento implementado por um modelo capitalista de mercado, reforçam a busca
por novas possibilidades de trabalho especialmente para o homem rural, que se localiza
mais nas zonas periféricas das grandes cidades.
Os aparelhos retransmissores de televisão e de rádio passam a ser distinguidos entre
os equipamentos domésticos presentes na maioria das moradias dos brasileiros,
independentemente do poder aquisitivo de cada cidadão, e contribuem para a
implementação do projeto desenvolvimentista, que vem desde aquela época.
4 Segundo informações de Euclides Mance, em 2004, Ifil, Curitiba.
6
A rapidez na circulação das informações passa a ser mais intensa na medida em que
a mídia avança tecnologicamente. O Brasil já não é mais um país que vive basicamente da
agricultura. Os principais setores da sociedade se alteram, a economia apresenta diferentes
resultados e contrastes, a política assume procedimentos espetaculares inseridos na mídia,
que se coloca no cotidiano das pessoas, principalmente nos grandes centros urbanos, e
novos procedimentos de consumo são impostos à população através da publicidade. E o que
antes se constituía algo distante, fora da experiência pessoal de cada indivíduo, de cada
família, hoje já se insere de uma forma mais próxima, quase íntima, fazendo parte da vida
de cada cidadão.
Se de um lado o projeto desenvolvimentista dos anos 60 avançou promovendo o
alargamento da visão de futuro para a população, de outro gerou situações graves de
exclusão social, provocando contrastes significativos, com os bolsões de pobreza que
aparecem ao longo dos últimos 30 anos.
No que diz respeito à mídia nacional, é também na década de 60 que começam a se
firmar no país os principais conglomerados como a Rede Globo, o grupo de jornais O
Estado de São Paulo, o grupo Folhas, o Sistema Brasileiro de Televisão, entre outros, no
Rio de Janeiro e em São Paulo, assim como o grupo RBS, no Rio Grande do Sul, que
expandiu-se também para Santa Catarina.
A conjuntura política vivenciada a partir de 1964, com a presença dos militares no
governo, estimulou o desenvolvimento de um processo de resistência social, onde as
rádios comunitárias - chamadas na época de “livres” ou “populares” - vieram para se
contrapor às programações massivas das rádios AM e FM e das televisões e jornais.
Na mesma época, se organizaram os movimentos sociais na representatividade da
população, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, e de outros que
tiveram origem, inclusive na constituição dos Sindicatos de Trabalhadores, com lutas e
reivindicações bastante intensas nos anos 80.
Na capital do Estado do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, a situação não foi muito
diferente. O que antes era um pólo de escoamento da produção agrícola do Estado, no final
dos anos 50 e em toda a década de 60, modificou-se com o inchaço populacional nas
décadas posteriores, expandindo-se em sua periferia, gerando uma região metropolitana
cheia de indústrias e conglomerados empresariais dos mais potentes do país.
7
Economicamente algumas localidades se desenvolveram, e outras se transformaram em
cidades-dormitórios, com rendas per capita bem díspares. A população da capital gaúcha,
hoje, aproxima-se de 1.400.000 habitantes, distribuídos em 78 bairros.
A região metropolitana de Porto Alegre concentra 36% da população do Estado e
desenvolve atividades industriais e de serviços. Foi criada formalmente pela lei 14/73, de
1973, inicialmente com 14 municípios. Em 2005 está constituída por 31 municípios
gaúchos.
O Vale do Rio dos Sinos ampliou tremendamente seu potencial produtivo industrial,
com o destaque, nos anos 60, para a atividade metalúrgica e a implantação da Refinaria
Alberto Pasqualini, uma das pontas da indústria petroquímica no sul do país. Na década
seguinte, a indústria calçadista ganhou o mundo, conquistando especialmente o mercado
dos Estados Unidos, concentrando no Vale a maior fatia da produção brasileira de couros e
calçados, em uma atividade com grande potencial de poluição. E o seu principal rio deixa
de ser um canal de escoamento da produção, para sobreviver com a descarga permanente de
esgotos domésticos e resíduos industriais.
Se houve transformações significativas no funcionamento das cidades, em relação
aos processos migratórios, que implantaram novos fluxos e aceleraram a circulação das
pessoas de formas diferenciadas, certamente houve, além da institucionalização dos meios
de comunicação tradicionais, uma outra ação comunicativa, que contribuiu para circulação
da informação. Para além dos grandes conglomerados empresariais, complexos, que
atingem todas as camadas sociais hoje, há também as redes informais de comunicação,
igualmente importantes para o desenvolvimento regional.
Ao se buscar informações nos registros históricos das 14 cidades que compõem
oficialmente a região do Vale do Rio dos Sinos, através dos principais organismos
públicos, como Prefeituras e Câmaras de Vereadores, por exemplo, sobre as mídias locais,
nota-se uma diversidade de dados que não dão conta, atualmente, da realidade sobre a
existência mais abrangente de meios de comunicação alternativos. No entanto, sabe-se que
há rádios comunitárias em funcionamento e os jornais e boletins informativos de sindicatos
e associações de moradores e de outras entidades do movimento social organizado, com
edições regulares.
8
Num levantamento prévio de dados, indícios apontam que há uma forte tendência,
a se acreditar que esses usos dos meios de comunicação, como alternativos, têm uma
intervenção social importante, pois muitas das localidades e municípios em questão nem
sequer têm um jornal de maior circulação em sua área geográfica. Mesmo assim, os
processos midiáticos e comunicacionais daquelas populações acontecem, a partir das
próprias referências advindas da televisão e do rádio, principalmente, ou via internet, e dos
jornais e impressos de localidades mais desenvolvidas, que sediam a instalação de algum
desses meios de comunicação.
Assim, o que se destaca na escolha dos meios alternativos para estudo e pesquisa
são as preocupações com as diferentes formas de intervenções da mídia na sociedade, e
como os diferentes grupos populacionais da região citada atuam sob essas intervenções na
constituição das redes informais de comunicação.
A percepção da importância da mídia, na vida cotidiana da sociedade, a partir da
sua localização no universo da multiplicidade de organismos com diferentes realizações e
objetivos está na base dos exercícios praticados pelos cidadãos, nas atividades propostas
de comunicação, assim como os diferentes processos midiáticos instaurados no tecido
social em que estão inseridos.
O que se quer saber...Para além de algumas perguntas que surgem, quando se aborda o tema das redes, e
neste caso, as que se constituem no tecido social, informalmente, baseadas na comunicação,
do tipo: o que são mesmo? Se, como redes existem, como se constituem? que configuração
é essa, de onde se originam, o que elas envolvem, a quem elas envolvem, por quê estudá-
las, por quê a escolha dessa abordagem? Este tema, afinal, é pertinente a um estudo
acadêmico? Este tema tem a ver com a Comunicação?, torna-se fundamental localizar
quais seriam os elementos comunicacionais provocadores de avanços na pesquisa.
As pistas são dadas a partir do momento em que se observam as relações
socioculturais, isto é, as relações comunicacionais – estabelecidas entre os indivíduos de
um determinado grupo humano, organizados, que cotidianamente convivem.
Mas antes mesmo de se tratar neste texto, das redes aqui chamadas informais de
comunicação, outras questões se apresentam, na construção da pesquisa em questão: de
9
quê maneira os processos midiáticos estão permeando as mediações nas relações
comunicacionais produzidas pelos moradores daqueles municípios onde o estudo é
realizado? Como a mídia (em geral) se insere na configuração das redes informais que
acontecem ali? Como os cidadãos se apropriam da mídia tradicional e como usam a mídia
alternativa? Como as redes informais de comunicação mediam as relações sociais? Estas
são perguntas que estão na pesquisa, na medida em que vislumbra-se uma construção do
conhecimento em que a mídia se faz também presente no cotidiano das pessoas, pelo
menos em 30 anos de suas vidas.
E assim, quando se busca refletir sobre a constituição das redes, surge mais esta
problematização: se há a vinculação com os estudos da Comunicação, faz-se necessário
analisar como os processos midiáticos estariam presentes no cotidiano cultural das pessoas,
e qual o tipo de mediação que acontece, se acontece, a partir dessas travessias midiáticas a
que essas pessoas são expostas.
Quando se observam as relações comunicacionais operacionalizadas no cotidiano,
através das redes informais, pode-se perceber uma reconstrução dos processos que
envolvem a memória, a história, a formação individual, a educação, de cada grupo
integrante do estudo, em relação às suas vivências particulares, individuais que podem se
tornar públicas. Essas ainda são pistas, que podem levar a constatações diferenciadas na
trajetória do estudo em questão, pois se supõe inicialmente que há brechas presentes no
tecido social, nas relações de comunicação, onde as mediações estabelecidas nessas
situações citadas, não são capturadas pela mídia...
No entanto, nas observações preliminares até aqui realizadas, o que se percebe da
subjetividade nas mediações, é que as trocas permeiam todo o conhecimento adquirido dos
sujeitos envolvidos, inclusive com as informações que estão presentes nos meios de
comunicação, diariamente.
Em suma, com essa problematização, o que se quer investigar é, estando os
processos midiáticos presentes nas redes informais de comunicação, como eles operam a
partir das mediações dos integrantes dos grupos citados? Outro dado a ser visto é: já que a
comunicação é um elemento forte nas suas relações, pois a praticam cotidianamente, como
as pessoas entendem isso? O que isto significa nas suas vidas ou não? ... E aí retorna-se
para questões de abrangência maior: será que a mídia consegue capturar as tramas
10
comunicacionais do cotidiano? Ou há escapes que fogem às estruturas ditas formais quando
as pessoas resolvem exercer papéis de fomento e estímulo ao desenvolvimento de
determinados grupos onde elas se inserem?
Este texto traz como referências teóricas5, para a construção dos conceitos: de
midiatização e processos midáticos – Muniz Sodré, Eliseo Verón - de mediações – Jesús
Martín Barbero - de redes – Manuel Castells, Armand Mattelart, Maria Augusta Babo,
além de Maria Cristina Mata e Euclides Mance.
As travessias midiáticas e os nós das redesAs mudanças sociais, econômicas e políticas, ocorridas nos últimos 30 anos no país
- e no caso específico de algumas cidades que adotaram o modelo da discussão pública do
orçamento como a capital gaúcha6, provocaram reações adversas em setores da sociedade.
O que também colocou em alerta o conjunto de meios de comunicação acostumados a lidar
com procedimentos relacionados à distribuição das verbas de publicidade do governo, até
então, diferentes dos que eram normalmente praticados. Isto ficou evidente, quando foram
constituídos os planos de ação política da prefeitura, e posteriormente, os da administração
estadual.
Na esteira das conquistas alcançadas pela população porto-alegrense, outras cidades
foram sendo influenciadas pelo modelo adotado, que também abriram suas administrações
à discussão pública.
Na Argentina, de acordo com Mata (1996), que estudou as relações resultantes da
cultura de massa e a sua complexidade em experiências com programações radiofônicas,
foi constituída uma trama subjetiva, no restabelecimento dos nexos e das cumplicidades
dos emissores com os receptores, no terreno do consumo, por exemplo. Houve poucos
questionamentos pelos receptores, mesmo com uma série de contradições ativadas, que,
no entanto, não foram manifestadas, e poderiam ter modificado situações impostas pelos
meios de comunicação massivos.
5 Outros autores estão na base da pesquisa em desenvolvimento no Centro Universitário Feevale, como Aníbal Ford, Roger Silverstone, Niklas Luhmann, Zigmund Bauman, Pierre Bourdieu, Dominique Wolton, Adriano Duarte Rodrigues estarão presentes nos estudos sobre midiatização, por exemplo. 6 O modelo identificado como Orçamento Participativo tornou-se conhecido internacionalmente, tendo sido referência inclusive para a realização do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre.
11
Para a autora, ao assumir protagonismo na vida pública, a população daquele país
foi modificando as relações estabelecidas pelos meios de comunicação, principalmente,
com propostas de desconcentração do poder e de aumento de possibilidades de expressão e
participação sob diferentes formas, se auto-reconhecendo e articulando novas situações no
marco plural e global da nação.
No levantamento preliminar feito para a pesquisa, dos meios de comunicação
alternativos, as rádios comunitárias são instrumentos de divulgação, em muitos casos, da
realidade das diferentes localidades, o que não impede, no entanto, de se constatar,
também, usos ditos comunitários, não diferentes de emissoras comerciais, tradicionais.
O que se quer observar, neste caso, por exemplo, através da pesquisa, é: Porquê a
organização desses processos midiáticos acontecem ainda sob a perspectiva do não
reconhecimento da lei?7 Ao tomar-se conhecimento da legislação federal, própria do
funcionamento das rádios comunitárias, observa-se uma série de exigências burocráticas,
que, mesmo sendo cumpridas levam a um desgaste da população envolvida, uma vez que os
procedimentos adotados pelos organismos governamentais ainda são de controle policial e
de “voz de prisão”, aos seus responsáveis. Estes são embates, que levam ao funcionamento
irregular das rádios comunitárias, ou de forma exploratória por grupos que não têm
nenhuma característica voltada para o interesse público.
Muitos embates aparecem neste contexto, uma vez que a mídia tradicional também
apresenta entraves no sentido de uma melhor compreensão para o funcionamento dos meios
comunitários, já que estes devem valorizar as questões locais, como a cultura, as
reivindicações básicas de sobrevivência para determinados grupos da população, que não
têm qualquer contato mais direto com os meios tradicionais.
De outra forma, esses processos midiáticos, quando realmente apresentam
características voltadas para o interesse coletivo, e se propõem a levar aos ouvintes e aos
expectadores informações que lhes dizem respeito, diretamente, se fortalecem e se
constituem como fontes acreditáveis de referência das populações, que muitas vezes, vivem
em situações de isolamento dos grandes centros da informação.
Mas se as rádios comunitárias são, ainda, na prática, os principais alvos dos
agentes da Agência Nacional de Telecomunicações em todo o país, os jornais de bairro e de
7 A Lei 9.612 foi aprovada em 1996, mas tem diversos artigos que não foram regulamentados ainda.
12
sindicatos, juntamente com os boletins informativos das assessorias de imprensa das
associações da sociedade civil organizada como as Organizações Não-governamentais são
produtos de fácil divulgação que atingem grande parte da população, que também busca
esse tipo de informação alternativa.
Os diferentes grupos organizados estão aprendendo a lidar melhor com a mídia,
diariamente presente em suas vidas e na vida de outras pessoas das suas comunidades. Em
outras palavras, a população já demonstra querer entender melhor o funcionamento
daqueles veículos de comunicação a que têm maior acesso, as operações estratégicas e
gramaticais que são usadas, os mecanismos técnicos e de conteúdo, para não só criticá-los,
mas também poder fazê-los funcionar com suas intervenções coletivas.
Na pesquisa em andamento o que se quer ver é como essas competências entram na
vida dessas pessoas, participam na reformulação de seus conceitos e da conjuntura
cotidiana. Quais os reflexos das mediações no cotidiano de suas comunidades, interagindo
com suas famílias e as de seus vizinhos e parentes. Se realizam transformações, quais são e
como são operacionalizadas?
O que mesmo essa “ação por dentro” dos usos e das lógicas dos processos
midiáticos cria? Ao contrário de ser uma junção de várias fontes de informação, suas
experiências apresentam subjetividades variadas, que passam pela memória, a história
individual, as regras sociais – tácitas/formais (onde se enquadram também as relações de
trabalho e as normas implantadas pelo Estado) e informais, que podem romper com
processos mais cristalizados de manipulação e controle da sociedade. Há implicações para
que as relações comunicacionais estabelecidas com uma ética própria, tecidas no dia-a-dia,
possam se ampliar de acordo com o que vão apreendendo também da mídia.
Na busca de um conceito que possa apreender o que seja o ethos das comunidades
observadas na pesquisa, entende-se que as ações realizadas por elas, no seu cotidiano,
mescladas com o conhecimento adquirido, através da própria midiatização desse
conhecimento e o processo que se instaura através das mediações realizadas para sua
organização e de seus grupos, estruturam a base desse ethos. Segundo Sodré,
A ética social imediata, ou eticidade, esta que experimentamos no cotidiano de nossas relações com o socius, é propriamente a maneira (que vem de manere, permanecer, morar), a forma de vida de um grupo social específico. Forma social (para a sociologia da linhagem de Georg Simmel) ou forma de vida
13
(Wittgenstein) são categorias atinentes à noção de ethos. E não há um ethos sem um ambiente cognitivo que o dinamize, sem uma unidade dinâmica de identificações do grupo, que é o seu modo de relacionamento com a singularidade própria, isto é, a cultura. Aí atuam as formas simbólicas que, historicamente, orientam o conhecimento, a sensibilidade e as ações dos indivíduos (2002, p.46).
O ethos é a consciência atuante e objetivada de um grupo social, propõe o autor, e
no caso das diferentes comunidades há a formulação de um discurso em que os valores
morais de suas origens familiares, por exemplo, vão se modificando ao longo do tempo, a
partir da realidade modificada também pela mídia.
A mídia, para aquelas comunidades passa a ser um espaço não mais distante e
etéreo, mas algo que dá visibilidade às configurações sociais numa esfera imaginária do que
“poderia ser” e o que “realmente é” a vida, neste caso o ethos tradicional se transmuta para
um outro, o ethos midiatizado, referido por Sodré.
O autor (2002, p.51) afirma que “a própria recepção ou consumo dos produtos
midiáticos apresenta-se como atividade rotineira, integrada em outras que são
características da vida cotidiana”.
Quando se pensa nas travessias midiáticas simbolicamente construídas, ou
mediações presentes nas observações iniciais realizadas, constata-se o que comenta Sodré
(2002, p.40), nos estudos sobre o ethos midiatizado: “o espaço público da
contemporaneidade é cada vez mais construído pelas dimensões variadas do
entretenimento e da estética, em sentido amplo, cujos recursos provêm do imaginário
social, do ethos sensorial e do subjetivismo privado”.
Verón (1997, p.7) afirma que é a natureza do sujeito que está mudando. Mas Sodré
(2002, p.51) comenta que a midiatização é um dos pontos de referência nas trocas de
sentido, pois passa a tratar de uma nova moral consentida pelos diferentes grupos sociais
estabelecendo rotinas e fluxos de negociações com o ethos tradicional.
A produção tecnológica das mensagens é o que Verón (1997, p.10) identifica
como midiatização. São os modos de operação das estratégias e gramáticas
comunicacionais, presentes nas relações sociais, através do acesso plural aos diferentes
meios de comunicação social, que por sua vez, dão suporte ao que interessa transmitir no
processo constitutivo das redes formais de comunicação. Na presente pesquisa, a
14
midiatização da informação através das redes formais, isto é, dos meios de comunicação
de massa e dos demais procedimentos de produção e de recepção das mensagens que
atingem a determinados públicos, vêm transversalizando as relações e os conhecimentos,
como já se comentou anteriormente. Mas há as mediações ou as travessias midiáticas
produzidas que, como diz a expressão, está relacionada a elementos das trocas de sentidos;
são as micro-passagens de um sistema mais amplo, que não é linear, é plural, e constituído
de vários pontos de referência.
As mediações trabalhadas na pesquisa têm o foco nos estudos desenvolvidos por
Martín-Barbero, pois segundo ele
É como mestiçagem e não como superação – continuidades na descontinuidade, conciliações entre ritmos que se excluem – que estão se tornando pensáveis as formas e os sentidos que a vigência cultural das diferentes identidades vem adquirindo: o indígena no rural, o rural no urbano, o folclore no popular e o popular no massivo. Não como forma de esconder as contradições, mas sim para extraí-las dos esquemas de modo a podermos observa-las enquanto se fazem e se desfazem: brechas na situação e situações na brecha (2001, p.271).
As mediações realizadas nos diferentes grupos sociais são elementos que carecem
de estudos mais aprofundados, na pesquisa em andamento, pois há apenas referências de
sua presença nos primeiros apontamentos realizados, quando as mensagens são produzidas,
com investimentos mais no aprendizado e na possibilidade do domínio de um
conhecimento que é fluido entre os diferentes sujeitos das relações comunicacionais em
discussão.
Mas, se na relação dos conceitos de midiatização e mediação se configuram
estudos que devam ser vistos com maior profundidade durante a concretização da pesquisa
nas próximas etapas, há o que se entender melhor, observar e analisar sobre as redes
informais de comunicação, aqui tratadas como um dos principais elementos dessa pesquisa.
Quando se expressa a palavra redes, seja na sua forma oral, falada, ou escrita, logo
vem no imaginário das pessoas, em geral, a idéia literal de um objeto visível de uma trama
de fios interligados por nós. Portanto, há uma tecitura irregular, em diferentes direções que
se interligam por determinados pontos amarrados entre si, chamados nós. A representação
da palavra através da imagem, vem sendo metaforicamente adaptada para configurar outras
redes – inclusive o traçado entrelaçado e ramificado das vias de comunicação.
Segundo Babo,
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Estradas ou transportes, esgotos ou eletricidade, fibra óptica e telefônica, elas constituem as chamadas infra-estruturas urbanas atuais sem as quais a própria idéia de urbano seria impensável. Encontra-se ainda uma extensão orgânica da idéia de rede, já que ela pode ser também sangüínea, nervosa, etc., apontando para a complexa interconexão das fibras, nervos, neurônios e fluxos de que é constituído o corpo vivo.
A autora afirma que a rede tornou-se uma figura comum, um conceito generalizado.
Vários são os autores que trabalham com a idéia de redes de comunicação ao tratarem dos
processos midiáticos e das relações comunicacionais que são produzidas a partir dos
próprios meios de comunicação de massa. E não só deles – os usos dos meios em suas
diferentes situações comunitárias, isto é, a mídia alternativa, também se apropria dessas
relações.
Mattelart (2002, p.186) localiza a fundação da União Telegráfica Internacional no
dia 13 de abril de 1865, em Paris, como o marco para o desenvolvimento das redes de
comunicação na história da humanidade. A partir da organização dos telégrafos os fluxos
de circulação da informação se modificaram em todo o mundo.
Santos (2004, p.261) observa que, segundo D. Parrochia, é com Lavoisier, na
passagem do século XVIII para o século XIX, que, com a química, aparece “a verdadeira
ciência da ligação e da comunicação das substâncias”, reclamando “instrumentos teóricos
que estão na origem do conceito científico de “redes”. Afirma Santos (idem) que, no
entanto, a polissemia do vocábulo tudo invade, afrouxa o seu sentido e, pode, por isso,
prestar-se a imprecisões e ambigüidades quando o termo é usado para definir situações.
Para Castells (2001, p.416) as redes constituem a nova morfologia social das nossas
sociedades, e a difusão da lógica de criação de redes determina largamente o processo de
produção, de experiência, de poder, de cultura.
Mas à parte de seu conceito estético, físico, material, pode-se dizer que o que está na
base do sentido que interessa na pesquisa em foco, é o conceito que perpassa pelas relações
sociais e de comunicação, aquele em que as pessoas estão presentes e realizam trocas de
mensagens e negociações, utilizando-se de diferentes suportes tecnológicos para tanto.
Na revisão de trabalhos anteriores já apresentados, para o avanço de conceitos neste
texto, cabe a citação abordada em julho/agosto de 2003 pela autora, que destaca o que
Niklas Luhmann (2000) apontou em sua Teoria Geral dos Sistemas: a sociedade é o
sistema abrangente de todas as comunicações, que se reproduz autopoieticamente, na
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medida em que produz, na rede de conexão recursiva de comunicações, sempre novas (e
sempre outras) comunicações....
Para o autor, que realizou seus estudos observando o trabalho de outros
pesquisadores como Maturana, estabelecendo relações conceituais e propondo a idéia de
autopoiésis e de auto e hétero-referencialidade nos sistemas fechados, a idéia de redes de
comunicação e trocas de sentido está presente no próprio conceito de comunicação, como
ele explica:
Mesmo a comunicação mais simples só é possível numa rede de conexão recursiva de comunicação passada e futura. Uma tal rede pode tematizar-se a si mesma, pode informar sobre a própria comunicação, pode colocar em dúvida informações, recusar aceitação, normatizar comunicação permitida e não permitida respectivamente, etc.- somente na medida em que isso ocorra, por sua vez, na forma operacional de comunicação”. (2000, p.14-35 e 93-146)
Hoje, ao tratar-se das redes informais de comunicação realizadas pode-se dizer que
elas são sistemas autopoiéticos – isto é, que se auto-reconstróem e se conectam ou se
acoplam estruturalmente, através de pontos comuns com outros sistemas internos e
externos, através de operações de comunicação, no sistema social maior. Nesses sistemas,
tradição, cultura e modernidade, são elementos presentes da vivência da humanidade, em
diferentes ambientes.
Observa-se, no entanto, que aquelas redes informais são partes de um conjunto de
ações oriundas dos processos midiáticos a que estão expostas as populações referidas,
vivenciadas em ritmos e tempos compassados de uma realidade própria, local. Este registro
é necessário na medida em que as redes virtuais, tecnológicas, globalizantes via internet,
por exemplo, que também fazem parte do contexto das comunidades, aparentemente não
ditam a dinâmica do acelerado complexo mundial das redes de informação. A questão da
passagem do tempo é ponto de destaque nesse estudo das redes informais de comunicação,
já que, como afirma Santos (2004, p. 267) é certo que o tempo a considerar não é o das
máquinas ou instrumentos em si, mas os das ações que animam os objetos técnicos.... A
palavra correta, aliás, seria temporalidade, considerada como uma interpretação
particular do tempo social por um grupo, ou por um indivíduo.
Portanto, a busca de saberes sobre a constituição das redes informais de
comunicação constituídas pelas mediações nas diferentes comunidades da região do Vale
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do Rio dos Sinos implica estudar não apenas os modos como elas operam, mas as
subjetividades implícitas, que se realizam, as repercussões que isso causa na conjuntura
social e de comunicação. E será que são capturadas pelos processos midiáticos que
intervêm diretamente no cotidiano das comunidades?
As principais reflexões elaboradas até o presente momento, dão conta de uma etapa
do trabalho que necessita de procedimentos, estudos e amarrações teórico-metodológicos
consideráveis para a estruturação da pesquisa, o que está sendo tratado pela autora.
O que se pretende a partir de agora é trabalhar ações para consolidar a pesquisa,
buscando na história das comunidades, através de entrevistas semi-estruturadas os
elementos que estão pendentes, além de se pensar na definição de um estudo mais pontuado
na mídia local, a fim de se verificar como as populações recebem a produção de
mensagens passadas por essas mídias, para que se dê conta das questões inicialmente
apresentadas neste texto.
Reforça-se a necessidade de uma abordagem mais profunda de conceitos como
midiatização, mediações, e redes informais de comunicação, basicamente. Por fim, cabe
uma colocação sobre os estudos das conexões com as diferentes realidades observadas e o
desenvolvimento regional, que deverão estar incluídos entre os avanços teóricos a serem
desenvolvidos na pesquisa.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
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MATTELART, Armand. História da Utopia Planetária – da cidade profética à sociedade global. Porto Alegre, Editora Sulina, 2002.
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