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1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA CAMPUS III CENTRO DE HUMANIDADES CURSO DE GRANDUAÇÃO LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA PAULO RICARDO PORPINO DA CRUZ Memória construída e repensada sobre o município de Caiçara GUARABIRA - PB 2015

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA CAMPUS III CENTRO DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13300/1... · 2017. 4. 6. · 2 PAULO RICARDO PORPINO DA CRUZ Memória construída

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1

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA

CAMPUS III

CENTRO DE HUMANIDADES

CURSO DE GRANDUACcedilAtildeO LICENCIATURA PLENA EM HISTOacuteRIA

PAULO RICARDO PORPINO DA CRUZ

Memoacuteria construiacuteda e repensada sobre o municiacutepio de Caiccedilara

GUARABIRA - PB

2015

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PAULO RICARDO PORPINO DA CRUZ

Memoacuteria construiacuteda e repensada sobre o municiacutepio de Caiccedilara

Trabalho de Conclusatildeo de Curso apresentado

ao Curso de Graduaccedilatildeo Licenciatura Plena

em Histoacuteria da Universidade Estadual da

Paraiacuteba em cumprimento agrave exigecircncia para

obtenccedilatildeo do grau BacharelLicenciado em

Histoacuteria

Orientador Profordf Drordf Naiara Ferraz bandeira

Alves

GUARABIRA - PB

2015

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NOME DO ALUNO

C955m CRUZ Paulo Ricardo Porpino da

Memoacuteria Construiacuteda e Repensada Sobre o Municiacutepio de Caiccedilara [manuscrito] Paulo Ricardo Porpino da Cruz ndash 2015 20p

Digitado

Trabalho de Conclusatildeo de Curso (Graduaccedilatildeo em Histoacuteria) ndashUniversidade Estadual da Paraiacuteba Centro de Humanidades 2015

ldquoOrientaccedilatildeo profa Ms Naiara Ferraz Bandeira Alves Departamento de Histoacuteriardquo

1Hisoriografia 2 Memoacuteria 3 Homem Negro I Tiacutetulo 21 Ed CDD 900

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RESUMO

A marginalizaccedilatildeo do negro no decorrer da histoacuteria eacute visivelmente observada em seus diversos

aspectos Nessa perspectiva buscamos verificar se no municiacutepio de Caiccedilara foi erguida

alguma Irmandade Entretanto natildeo encontramos a documentaccedilatildeo necessaacuteria para

comprovaccedilatildeo No entanto a analise do livro da histoacuteria local do municiacutepio nos permitiram

detectar a preocupaccedilatildeo do autor em desvincular a contribuiccedilatildeo do homem de cor na sociedade

caiccedilarense O presente ensaio tem como objetivo reconstruir essa ideia deturpada que foi

criada no transcorrer do tempo no tocante aos negros A base teoacuterica que sustenta este artigo

satildeo os pressupostos teoacutericos de Reis(1999) Certeau (2002) e outros Atraveacutes de vestiacutegios e

indiacutecios que eacute o trabalho do historiador buscar nos escombros aquilo que estava escondido

este trabalho faz uma releitura na tentativa de evidenciara importacircncia do negro nas mais

diversas aacutereas da cultura do povo Caiccedilarense seja nas crendices na musicalidade nos haacutebitos

diaacuterios na religiosidade diversificada existente neste povoado

PALAVRAS ndash CHAVE Negro Marginalizaccedilatildeo Religiosidade

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Memoacuteria construiacuteda e repensada sobre o municiacutepio de Caiccedilara

Paulo Ricardo

ldquoA histoacuteria eacute necessariamente escrita e reescrita a partir das

posiccedilotildees do presente lugar da problemaacutetica da pesquisa e do sujeito

que a realizardquo (REIS 1999 p9)

INTRODUCcedilAtildeO

Ao iniciarmos nossa pesquisa tiacutenhamos a pretensatildeo de estudar diretamente a presenccedila

de Irmandades Negras no municiacutepio de Caiccedilara1 como uma forma de resgatar a Histoacuteria dos

homens Negros da regiatildeo destacando suas formas de resistecircncia ao processo escravocrata

Contudo apoacutes algumas pesquisas nos deparamos com a falta de fontes documentais ou

mesmo orais que abordassem a temaacutetica Natildeo haacute registro da participaccedilatildeo do homem de cor na

formaccedilatildeo do culto catoacutelico da regiatildeo Dessa forma encontramos o problema a ser resolvido

ou pelo menos levantado atraveacutes de nossas investigaccedilotildees Onde encontrar as personagens

negras e suas colaboraccedilotildees na construccedilatildeo da Histoacuteria Local do Municiacutepio de Caiccedilara

Na principal fonte atualizada sobre a Histoacuteria do Municiacutepio haacute uma negaccedilatildeo

veemente sobre a contribuiccedilatildeo do homem de cor no cenaacuterio religioso local No livro Caiccedilara

Caminhos de Almocreves (1990) o autor Severino Ismael procura desvincular a participaccedilatildeo

do negro na construccedilatildeo do espaccedilo religioso daquele povoado ldquoO iacutendio e o negro quase que

natildeo tiveram influencia na formaccedilatildeo do espirito religioso do povo caiccedilarenserdquo p 153

Essa eacute apenas uma das afirmativas feitas pelo autor com o intuito de negar a

contribuiccedilatildeo do homem de cor neste cenaacuterio local Ao analisamos o livro percebemos que o

autor Severino Ismael tenta excluir de todas as maneiras a presenccedila de elementos africanos

na construccedilatildeo do culto catoacutelico da regiatildeo Nossa pesquisa discute os elementos textuais da

obra escrita sob a perspectiva de historiografia apresentada por Certeau (2002) Desse modo a

historiografia eacute utilizada para definir os estudos criacuteticos acerca de um tema ou periacuteodo

1 Caiccedilarasup1 - eacute um municiacutepio brasileiro localizado na microrregiatildeo de Guarabira mesorregiatildeo do agreste

paraibano do estado da Paraiacuteba Sua populaccedilatildeo em 2013 foi estimada pelo Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 7304 habitantes distribuiacutedos em 128 kmsup2 de aacuterea distacircncia ateacute a

capital 143 km

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referente agrave histoacuteria buscando-se encontrar explicaccedilotildees para os fatos do passado natildeo

constituindo verdades objetivas que traduzem a realidade tal como ocorreu mas como

construccedilotildees humanas que representam partes de uma realidade

Nessa linha de abordagem Certeau (2002) em seu livro A Escrita da Histoacuteria

compreende as caracteriacutesticas do trabalho do historiador fazendo referecircncia ao tripeacute da

operaccedilatildeo historiograacutefica ldquoum lugar social uma praacutetica uma escritardquo (p66)

O historiador tem a funccedilatildeo de dar voz ao natildeo dito atribuindo sentido a um determinado

acontecimento Segundo Certeau (2002) a pesquisa em histoacuteria se faz a partir de um lugar

socioeconocircmico poliacutetico e cultural Eacute importante considerar que o lugar que o autor cita estaacute

ligado agrave relaccedilatildeo que o historiador manteacutem com o lugar que se encontra uma vez que este natildeo

eacute mais um colecionador de fatos e sim um construtor recortador leitor e inteacuterprete de

processos histoacutericos buscando possibilidades hipoacuteteses de abordagem ligadas as suas

preocupaccedilotildees especiacuteficas ou seja trocando ideias e informaccedilotildees com outros saberes e

sujeitos

O historiador tem o tempo como ldquomaterial de anaacuteliserdquo ou como ldquoobjeto

especiacuteficordquo Trabalha de acordo com os seus meacutetodos os objetos fiacutesicos

(papeacuteis pedras imagens sons etc) Trabalha sobre um material para

transformaacute-lo em histoacuteria(CERTEAU 2002 p79)

Certeau (2002) afirma ainda que a anaacutelise historiograacutefica eacute um exerciacutecio de

problematizaccedilatildeo um campo aberto a inuacutemeras possibilidades e ao intenso diaacutelogo o que

permite essa amplitude de objetos e tipos de fontes a partir de metodologias que a histoacuteria

pode apresentar em diversificados campos do saber Coloca que a operaccedilatildeo historiograacutefica

natildeo estaacute somente relacionada a um lugar a uma praacutetica mas tambeacutem a uma escrita ou seja a

historiografia eacute construiacuteda por meio do discurso documental Portanto todo conhecimento

historiograacutefico eacute construiacutedo o que nos permite sempre trazer novas discussotildees a respeito da

anaacutelise do ldquopassadordquo

Sob esta perspectiva de construccedilatildeo a partir do seu lugar social eacute que podemos refletir

sobre os motivos e as intenccedilotildees de desvincular a praacutetica da religiatildeo catoacutelica em Caiccedilara da

presenccedila negra e indiacutegena nesta sociedade

ldquoA religiatildeo mesmo praticada por todos era a catoacutelica romana Nem os cultos

negros ndash o que evidencia a pequena participaccedilatildeo do elemento negro na etnia

local marcaram presenccedila na comunidade Os ritos as festas as preces tudo

era vinculado ao catolicismordquo (COSTA 1990 p 153)

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Esta negaccedilatildeo aleacutem de refletir perspectiva de discriminaccedilatildeo racial destaca a

necessidade da Igreja Catoacutelica de apagar da memoacuteria histoacuterica natildeo apenas a presenccedila do

homem de cor mas muito aleacutem disso a possibilidade do espaccedilo de culto catoacutelico ou seja a

Igreja pertencer ou ter pertencido nominalmente a uma irmandade Isto significa que o

preacutedio em si e suas propriedades economicamente natildeo eram da Igreja mas de leigos que a

construiacuteram e doaram tudo o que estava ao seu redor e no seu interior Haacute uma real atividade

da Igreja de tentar apagar desconstruir camuflar as atividades das irmandades em especial

das que eram compostas por homens de cor

MUITO ALEacuteM DA ESCRITA E DA MEMOacuteRIA UMA CONSTRUCcedilAtildeO

O autor Severino Ismael da Costa publicou seu texto Caiccedilara caminhos de

almocreves na deacutecada de 90 do seacuteculo XX um periacuteodo de movimentaccedilatildeo poliacutetica vinculada

aos processos de municipalizaccedilatildeo que vinham ocorrendo no Estado da Paraiacuteba desde os anos

70 do mesmo seacuteculo Aliado a accedilatildeo poliacutetica de transformar em municiacutepio as vilas lugarejos e

aacutereas rurais do Estado era necessaacuteria a construccedilatildeo histoacuteria e descriccedilatildeo dos principais eventos

destas regiotildees Assim temos uma linha de escrita historiograacutefica estritamente vinculada a este

processo Constroacutei-se um municiacutepio consequentemente se constroacutei uma histoacuteria

O importante eacute identificar nestes textos em grande parte encomendados ou ao

menos financiados pelas elites locais o tipo de histoacuteria escrita e pensada assim como satildeo

escolhidos os personagens deste percurso A obra que analisamos natildeo foge a estas

caracteriacutesticas jaacute que recebeu apoio dos poliacuteticos locais na eacutepoca que foi publicada Nas

primeiras paacuteginas encontramos homenagens e agradecimentos agraves pessoas e personagens

ilustres da cidade entre eles filhos da elite local que se formaram e exercem profissotildees

liberais respeitadas pela sociedade da eacutepoca e dos dias atuais

ldquo HOMENAGEM Agrave CULTURA

Paraibana na presenccedila de um grande vulto

Prof JOSEacute OCTAacuteVIO DE ARRUDA MELO

Caiccedilarense representada por seus filhos

D Epaminondas Joseacute de Arauacutejo emeacuterito bispo da Igreja Catoacutelica de quem natildeo

me faltou estiacutemulo de conterracircneo

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Prof Joseacute Jackson Carneiro de Carvalho de quem recebi incentivo e ateacute desafio

Dr Walderedo Ismael de Oliveira meacutedico de renome internacional escritor

especializado modesto e grande como sua terrardquo (COSTA 1990 p13)

O autor inicia seu texto se referindo as ldquograndesrdquo personalidades de sua cidade tendo

o cuidado de anteriormente ter agradecido aos prefeitos da eacutepoca Haacute a presenccedila dos nomes e

sobrenomes de destaque da cidade representantes da Igreja Catoacutelica de meacutedicos professores

e jornalistas

Em seguida descreve a histoacuteria de fundaccedilatildeo da cidade e de sua municipalizaccedilatildeo desta

a participaccedilatildeo do iacutendio que junto ao portuguecircs seriam os grandes responsaacuteveis pela formaccedilatildeo

desta sociedade mas afirma que o negro teve pouca atuaccedilatildeo ldquonatildeo haacute grande presenccedila do

elemento negro a natildeo ser na zona dos engenhos no dorso da serra onde precisaram do

escravo para tocar o trabalhordquo (COSTA 1990 p 69) apesar de ter sido escrito nos anos 90

do seacuteculo XX o texto tem uma preocupaccedilatildeo oitocentista de esconder a presenccedila negra

minimizando sua participaccedilatildeo nas atividades econocircmicas A impossibilidade de simplesmente

omitir esta inserccedilatildeo dos homens negros na sociedade de Caiccedilara faz com que seu texto e sua

fala se tornem contraditoacuterios no sentido de que afirma natildeo ter existido uma participaccedilatildeo

negra mas ao mesmo tempo destaca o lugar social ocupado por esta etnia

Muito de sua escrita positivista eacute explicado pelas fontes selecionadas pelo autor

Textos tradicionais sobre a Histoacuteria da Paraiacuteba escritos no iniacutecio do seacuteculo XX em especial

os escritos de Horaacutecio de Almeida se dando ao trabalho de apenas transferir as ideias destes

sem realizar uma revisatildeo ou criacutetica historiograacutefica Isso fica latente ao reproduzir a expressatildeo

Tapuia como sinocircnimo de baacuterbaro E destacar figuras heroicas entre os indiacutegenas que de

alguma forma se aliaram aos conquistadores nos empreendimentos de colonizaccedilatildeo

Outro ponto que nos chama a atenccedilatildeo eacute a necessidade de sempre referecircnciar as fontes

em geral documentais ou historiograacuteficas e ao mesmo tempo questionaacute-las e ateacute discordar de

dados e apontamentos que se distanciam de uma preocupaccedilatildeo com o processo histoacuterico mas

se relaciona diretamente com uma narrativa positivista como por exemplo ao investigar e

averiguar quem teria sido o primeiro morador de Caiccedilara Segundo Coriolano de Medeiros e

Luiz Pinto teria sido ldquoJoseacute de abreu Cordeiro em 1776 contudo verificou ser na realidade

Raphael de Carvalho em 1615rdquo (COSTA 1990 p 85)

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O povoado surge a partir da construccedilatildeo de casa de morada capela e currais agrave margem

direita do rio Curimatauacute em 1822 por Manoel Soares da Costa A capela tinha por invocaccedilatildeo

Nossa Senhora do Rosaacuterio Como a maioria dos municiacutepios da regiatildeo seu desenvolvimento

pode ser vinculado ao estabelecimento da feira Uma particularidade citada e destacada pelo

autor satildeo as disputas poliacuteticas entre Caiccedilara e o Municiacutepio de Serra da Raiz que levam os

dois lugarejos a encontrar formas de se destacarem um em relaccedilatildeo ao outro Por exemplo

menciona que a criaccedilatildeo em 1870 da Freguesia de N S do Bom Fim cuja sede eacute a Serra da

Raiz ( instituiccedilatildeo que tornava Caiccedilara subordinada nas questotildees religiosas em relaccedilatildeo agrave Serra

da Raiz) segundo o autor a animosidade poliacutetico-administrativa entre os lugarejos se

desenvolveu a partir da introduccedilatildeo da feira livre em Caiccedilara jaacute que a mesma se tornou uma

forte concorrente para os ldquobarracotildeesrdquo instalados nos engenhos da Serra da Raiz assim a feira

poderia promover uma mudanccedila social que natildeo interessava aos poliacuteticos daquela regiatildeo

Passa a destacar os poliacuteticos de Caiccedilara nomeando-os ateacute o seacuteculo XX o que se

configura como um importante registro para a histoacuteria local assim como toda a obra de

Severino Ismael da Costa (1990) contudo ainda necessitando de uma anaacutelise do processo

histoacuterico e de suas etapas O fato que o autor levanta vaacuterios pontos desta histoacuteria que devem

ser estudados um dia e provavelmente iratildeo partir e se referir a sua obra que tem como

destaque o trabalho de levantamento de dados e fontes para os proacuteximos historiadores que se

dedicarem a Historia desta regiatildeo Nossas observaccedilotildees se referem a ideia de ausecircncia de

contribuiccedilatildeo do homem negro na constituiccedilatildeo soacutecioreligiosa desta localidade

Mais uma vez o autor busca formas de desvincular a participaccedilatildeo dos negros na

histoacuteria religiosa local A obra Caiccedilara Caminhos de Almocreves estaacute repleta destas

argumentaccedilotildees acerca do homem de cor

O objetivo inicial desta pesquisa era de buscar indiacutecios em Livros de Tombo e

documentos religiosos a contribuiccedilatildeo do negro na religiosidade local Tendo em vista que natildeo

soacute no municiacutepio de Caiccedilara mas tambeacutem em todo o territoacuterio brasileiro houve uma

marginalizaccedilatildeo da imagem do homem de cor ou seja uma tentativa de deixar a margem da

sociedade uma figura que se faz tatildeo importante para adentrarmos no imaginaacuterio religioso do

povo brasileiro

Contudo o livro de Tombo analisado natildeo nos forneceu as informaccedilotildees necessaacuterias

para afirmamos que houve uma irmandade negra no municiacutepio de Caiccedilara Mas para

buscarmos indiacutecios e vestiacutegios da contribuiccedilatildeo do negro nestes locais faremos uma analise

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minuciosa da obra contrapondo com elementos existentes na proacutepria igreja local na tentativa

de trazer a luz questotildees que foram estabelecidas pelo autor Severino Ismael como verdades

prontas e absolutas Os possiacuteveis indiacutecios e vestiacutegios satildeo elementos de fundamental

importacircncia para este trabalho

Entre estes vestiacutegios destacamos a imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no altar

central da Igreja matriz de Caiccedilara (apesar da referecircncia direta agrave fundaccedilatildeo da cidade nos eacute

intrigante a escolha desta padroeira por seus fundadores) Jaacute que este culto agrave Senhora do

Rosaacuterio no Brasil ficou diretamente vinculado ao culto catoacutelico negro atraveacutes das

irmandades podendo dessa forma ser considerado um elemento da cultura africana no

espaccedilo religioso local Abaixo foto da Imagem tirada em 06 de Janeiro de 2014 Durante os

preparativos para a procissatildeo da Padroeira que se comemora nesta data no municiacutepio de

Caiccedilara

Ilustraccedilatildeo 1 Imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no andor

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Foto Ricardo (2014)

Eacute evidente que os diversos escravos africanos desembarcados no Brasil contribuiriam

de forma significativa para a construccedilatildeo territorial e religiosa do paiacutes jaacute que participaram

diretamente da formaccedilatildeo da sociedade brasileira seja no trabalho nos engenhos de produccedilatildeo

de cana de accediluacutecar nas lavouras do cafeacute na extraccedilatildeo do ouro entre outros Ao desembarcarem

nessas terras trouxeram consigo seus costumes liacutenguas valores e crenccedilas Aqui encontraram

as mais diversas dificuldades de praticar sua cultura ou seja cultuar suas divindades e

costumes

O DESENVOLVIMENTO DAS PRAacuteTICAS RELIGIOSAS OFICIAIS NA CIDADE

DE CAICcedilARA-PB

A presenccedila do Catolicismo caiccedilarense estaacute inteiramente ligada ao seu periacuteodo de

fundaccedilatildeo que se deu por volta do ano de 1822 quando Manoel Soares da Costa instalou sua

fazenda e ergueu uma capela as margens do Rio Curimatauacute ldquoO povoamento da encantadora

Villa de Caiccedilara segundo informes de pessoas competentes teve logar no ano de 1822rdquo

Onde ldquoFoi edificada uma pequena capella sob a invocaccedilatildeo de NS do Rosaacuterio ()rdquo

ARAUacuteJO (1913)

Como aconteceu no Brasil e consequentemente na Paraiacuteba de uma forma em geral o

processo de povoamento oficial das regiotildees afastadas do litoral assim como o proacuteprio litoral

teve sua conquista e povoamento acompanhado da praacutetica religiosa oficial dos exploradores o

catolicismo A presenccedila da capela de Nossa Senhora do Rosaacuterio no povoamento que

futuramente seria denominado como municiacutepio de caiccedilara eacute um fato indiscutiacutevel pelos

historiadores e narradores de uma forma geral do Mito de fundaccedilatildeo da cidade ocorrendo

uma discussatildeo historiograacutefica agrave respeito do ano desta fundaccedilatildeo Epaminondas Tavares de

Arauacutejo afirma ter sido no ano de 1822 Entretanto Coriolano de Medeiros (em seu

ldquoDicionaacuterio Chorograacuteficordquo 1914) aponta o ano de 1841 como o da fundaccedilatildeo da Villa de

Caiccedilara

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ldquoEm 1841 o terreno onde hoje eacute a sede do municiacutepio cobria-se ainda

cactos e bromeacutelias quando Manoel Soares da Costa Francisco da Costa

Gonccedilalves e Joseacute Vicente compraram a propriedade construiacuteram suas

vivendas e cercados de ramos ndash caiccedilaras ndash para abrigo do gado Depois

ergueram uma capella dedicada a NS do Rosaacuterio rdquo

Entretanto O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) aceita o uacuteltimo

como sendo o ano de fundaccedilatildeo Entre a populaccedilatildeo a informaccedilatildeo tida com maior aprovaccedilatildeo eacute

ano de 1822 Isto porque a sesmaria que Luiacutes Soares de Mendonccedila adquiriu natildeo foi no ano de

1822 como relatou Coriolano de Medeiros em seus estudos e sim no ano de 1788 registrada

sob nordm 891 por meio de documentos oficiais

Todavia a divergecircncia acerca do ano de fundaccedilatildeo ocorreu pelo fato de que a criaccedilatildeo da

feira ocorreu no ano de 1841 e o mesmo seria o marco do crescimento e da concentraccedilatildeo

urbana O que observamos em comum em ambas as citaccedilotildees eacute que o Catolicismo fecundava a

Villa de Caiccedilara desde sua fundaccedilatildeo Pois a construccedilatildeo da Capella eacute vista em todos os

registros sobre a origem deste povoado Os autores oficiais e tradicionais da histoacuteria de

fundaccedilatildeo da Villa de Caiccedilara discorrem ainda sobre a origem de sua denominaccedilatildeo segundo

Coriolano de Medeiros e Epaminondas Tavares o nome Caiccedilara proveacutem dos currais Fala

Epaminondas ldquoA denominaccedilatildeo de Caiccedilara proveacutem de um curral de pau-a-pique construiacutedo

por Manoel Soares nas proximidades de sua casardquo (p108)

O CATOLICISMO CAICcedilARENSE

De acordo com a visatildeo positivista e as fontes oficiais o iacutendio e o negro pouco

contribuiacuteram na formaccedilatildeo do espirito religioso do povo Caiccedilarense segundo Severino Ismael

da Costa em seu livro ldquoCaiccedilara Caminhos de Almocrevesrdquo (1990) Ainda de acordo com o

mesmo o imaginaacuterio da populaccedilatildeo local contribuiu de maneira bastante significativa para o

florescimento da religiatildeo Catoacutelica que veio a ser praticada na Villa de Caiccedilara

Nesta mesma perspectiva as fontes oficias da Igreja em pauta tentam nos mostrar que

a participaccedilatildeo do negro no acircmbito religioso teve pouco significado Os ritos as festas as

preces tudo era vinculado ao catolicismo No periacuteodo da posse da terra quando o branco

erguia sua morada edificava tambeacutem junto ou nas proximidades uma capela onde eram

celebrados os atos religiosos e realizadas as festas Destas eram as mais comuns O Natal

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Ano Bom e Reis As juninas Santo Antocircnio Satildeo Joatildeo e Satildeo Pedro A de Santana no uacuteltimo

saacutebado de julho Ainda hoje entre o meio rural caiccedilarense os meses de junho e julho satildeo mais

conhecidos como o de Satildeo Joatildeo e de Santana Na semana santa mais precisamente a partir da

quarta-feira acontecia o recolhimento total ou seja preces jejum pouco trabalho e muito

cuidado em natildeo maltratar pessoas e animais O jejum era tatildeo rigoroso que se bebia apenas um

gole de aacutegua pela manhatilde e soacute a noite algum alimento Na quarta-feira chamada de trevas natildeo

se permitia varrer a casa nem tomar banho sob a pena de ldquoentrevarrdquo nas sedes das fazendas

rezava-se todos os saacutebados o ldquoOficio de Nossa Senhorardquo era acompanhado por todos os

moradores Nos domingos os fazendeiros todos bem vestidos mostravam seu prestigio ao ir agrave

missa com os seus familiares e agregados

MEcircS DE MAIO

Durante todo o mecircs de maio era rezado o terccedilo nas salas das casas grandes ou nas

capelas estes alternados por cacircnticos religiosos Ao termino deste evento acontecia a

tradicional queima das flores que haviam ornamentado os altares das capelas ou os jarros em

volta dos grandes oratoacuterios (tambeacutem chamados de santuaacuterios) de madeira repleto de imagens

de vaacuterios santos Vale ressaltar que geralmente era obrigaccedilatildeo da senhora da casa grande rezar

o terccedilo ou suas filhas Nas fazendas como nas vilas e povoados eram assim Todas as noites

era necessaacuterio a praacutetica de um ato religioso quase sempre um terccedilo ou um rosaacuterio de oraccedilotildees

O Catecismo era ensinado para as crianccedilas nas vilas povoados e nas fazendas

A CONSTRUCcedilAtildeO DA CAPELA

A Capela foi erguida nas proximidades da residecircncia de Manoel Soares da Costa sob

a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora do Rosaacuterio construiacuteda de taipa ou seja as paredes eram feitas

de barro calccedilados entre paus e cruzados por ripa e telhas

No livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves Severino Ismael da Costa descreve a

aacuterea destinada a capela

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ldquoConstruiacuteda por trinta braccedilas de terras para cada lado para fazer

faces agraves despesas necessaacuterias confirma aquela intenccedilatildeo as casas

construiacutedas ou o que quer que se realizasse naquele periacutemetro

pagaria renda ou foro cabiacutevel agrave igrejardquo (Paacuteg 155)

A citaccedilatildeo acima nos faz entendermos que o fato da capela ter sido construiacuteda um

pouco afastada da casa grande revela a intenccedilatildeo que o fazendeiro tinha que no caso seria

desenvolver outras construccedilotildees ao seu redor

Alguns anos se passaram e o templo foi ampliado por Francisco Costa Gonccedilalves

Entre 1869 a 1872 pelo padre Herculano foi reconstruiacutedo aumentando sua aacuterea e levantadas

paredes de pedras A capela ficou majestosa Cerca de 15 metros de largura por uns 25 de

comprimento Paredes soacutelidas de pedras deram lugar a taipa com mais de metro de espessura

e oito a dez metros de altura Trecircs portas na frente e uma torre no lado direito (nascente) A

frente para o norte no iniacutecio do aclive da colina

No iniacutecio do seacuteculo XX o templo passou por nova reforma desta vez patrocinada por

Ascendina da Costa Frazatildeo que morava nas proximidades A nova reforma consistiu numa

das maiores ampliaccedilotildees jaacute recebidas Foram-lhe acrescentados os corredores laterais em todo

o seu comprimento o coro acrescentando uma torre do lado direito Nesta instalaram dois

sinos cujo bronze emitia lindos sons avisando os fieacuteis sobre a realizaccedilatildeo de atos religiosos

inclusive anunciando os falecimentos que ocorriam O tradicional dobre de finados para os

adultos o ldquorepiquerdquo ou seja uma serie de batidas sucessivas muito proacuteximas indicavam que

havia falecido uma crianccedila os chamados ldquoanjosrdquo e batidas mistas (dobre de finados e

repique) noticiavam o falecimento de jovens puacuteberes Essa reforma quase duplicou a aacuterea do

templo

Por ocasiatildeo desta reforma foram erguidos dois altares no fim da nave central e antes

da capela-mor agrave direita e agrave esquerda da arcada que a esta dava acesso Do lado esquerdo do

altar de Satildeo Sebastiatildeo (a imagem original foi posteriormente substituiacuteda por outra maior

doada por um fazendeiro local) No lado oposto a este altar se encontrava o altar de Nossa

Senhora da Dores cuja a imagem foi doada pelas senhoras das irmandade das Dores

O altar-mor bastante decorado em alto relevo com belas colunatas separando os trecircs

nichos tem no alto o nicho onde fica a imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus preciosa obra

de arte doada pelo Coronel Antocircnio Soares de Oliveira No centro o de Nossa Senhora do

Rosaacuterio

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Nos anos de 1950 novas reformas foram introduzidas no templo demoliam-se os

altares de NS das Dores e Satildeo Sebastiatildeo cujas imagens foram transferidas para os altares

construiacutedos nas alas direita e a esquerda da capela-mor onde jaacute existia o da direita dedicado a

Santa Terezinha Outras reformas ainda foram realizadas como o revestimento do piso da

igreja com mosaicos Neste caso especificamente as obras foram feitas com recursos proacuteprios

provenientes da festa de NS do Rosaacuterio Vale lembrar que a partir desta uacuteltima empreitada a

igreja ganhou mais uma torre na fachada

A CHEGADA DA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DO ROSAacuteRIO

As reformas que aconteceram entre os anos 1869 a 1872 tinham o objetivo de receber

a nova imagem da padroeira encomendada em Portugal por Joaquim Joseacute fazendeiro desta

regiatildeo A mesma que ainda permanece hoje no nicho central do altar-mor A Santa chegou as

terras da Paraiacuteba no porto de Salema municiacutepio de Mamanguape Mais de 40 quilocircmetros

separavam ela de Caiccedilara O transporte teria que ser efetuado em carro de boi pois natildeo existia

outro meio transporte nessa localidade Poreacutem a dedicaccedilatildeo do povo foi tatildeo grande que os

fieacuteis saiacuteram de Caiccedilara a peacute e em procissatildeo para receber a imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio

A chegada em Caiccedilara deu-se no dia 6 de Janeiro dia festivo da Igreja Catoacutelica em

comemoraccedilatildeo agrave Santos Reis E como chegada da Santa tornou-se duplamente festivo para o

povo caiccedilarense Com consequecircncia deste fato nos dias atuais a festa para homenagear a

padroeira termina exatamente no dia 6 de Janeiro Tanto que a populaccedilatildeo passou a denominar

ldquoFesta de Nossa Senhora do Rosaacuteriordquo E de acordo com as pesquisas efetuadas natildeo conheccedilo

outro lugar onde a festividade ocorra no mecircs de Janeiro Pois no calendaacuterio da Igreja Catoacutelica

a mesma realiza-se no iniacutecio do mecircs de Outubro

Com a chegada da imagem da santa a vila de Caiccedilara o Padre Ibiapina sugeriu que o

nome da mesma passasse a se chamar Marianoacutepolis em homenagem a Nossa senhora do

Rosaacuterio poreacutem natildeo foi muito aceito pela sociedade da eacutepoca

A influecircncia da padroeira tambeacutem pode ser percebida nos dias atuais Pois aleacutem de

casas comerciais um hospital e maternidade recebeu seu nome assim como o primeiro bairro

17

da cidade onde foi edificado um monumento em sua homenagem Sem esquecer que a letra

do hino agrave Caiccedilara demostra a feacute depositada a santa

ldquoMarianoacutepolis eacute o nome que a feacute nos brindou para nossa alegria e que todos de joelho ou de peacute rendem

Graccedilas agrave Virgem Mariardquo

(Paacuteg 36)

A FESTA

Eacute um grandiosiacutessimo evento profano-religioso Nos dias que antecedem o 6 de Janeiro

realiza-se o novenaacuterio Soacute rezado Na noite do dia 5 eacute realizada a festa profana com barracas

e pavilhotildees fogos de artifiacutecios venda de produtos tiacutepicos da culinaacuteria local

Na festividade dedicada a Nossa Senhora do Rosaacuterio identificamos a figura

importantiacutessima que tinha os fazendeiros pois os mesmo com o intuito de mostrar seu poder

bancava as noites de festas A princiacutepio eram nove noites em cada uma delas um fazendeiro

diferente fica com a responsabilidade de organizar este evento

Atualmente a festa eacute precedida por um novenaacuterio onde cada comunidade Catoacutelica

local eacute responsaacutevel por uma noite de novena Sendo que nos uacuteltimos trecircs dias deste evento

acontece festas profanas em frente a Igreja Matriz com leilotildees de gados galinhas entre

outros

18

CONCLUSAtildeO

O presente trabalho buscou investigar se existiu uma irmandade de negros no municiacutepio de

Caiccedilara Entretanto as fontes documentais analisadas natildeo nos permitiram fazermos essa

afirmativa Poreacutem a partir desse momento direcionamos a pesquisa na analise do livro da

histoacuteria local do municiacutepio de Caiccedilara na perspectiva de se debruccedilar sobre indiacutecios e

vestiacutegios que nos permitam fazermos uma releitura da obra na tentativa de elucidarmos os

questionamentos pertinentes a nossa pesquisa

Durante a analise do Livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves percebemos que o autor

procura maneiras de desvincular a participaccedilatildeo do negro no cenaacuterio local Na tentativa de

proclamar o branco ou seja o colonizador como sendo o uacutenico agente na construccedilatildeo do

espaccedilo religioso deste povoado Na obra de Severino Ismael fica evidente a preocupaccedilatildeo do

mesmo em colocar o homem de cor a margem da sociedade local

Entretanto este ensaio procura incessantemente por vestiacutegios que nos possibilitem

enxergarmos a presenccedila de elementos africanos na construccedilatildeo do povoado de Caiccedilara na

tentativa de reescrever uma histoacuteria que nos mostrem que os negros foram responsaacuteveis tanto

na construccedilatildeo deste municiacutepio quanto pelo espaccedilo religioso local

O primeiro passo do trabalho foi buscar indiacutecios da participaccedilatildeo do negro no povoado de

Caiccedilara O culto a Nossa Senhora do Rosaacuterio e a Satildeo Sebastiatildeo pode ser observados como

vestiacutegios da presenccedila do homem de cor na construccedilatildeo cenaacuterio religioso de Caiccedilara A doaccedilatildeo

da imagem de Nossa Senhora das Dores feita por uma Irmandade das Dores de Itabira-MG

para a igreja de Caiccedilara que se encontra num altar lateral da igreja pode ser analisados como

elementos que caracterizam uma irmandade ou ao menos a figura do negro nestes espaccedilos

O presente artigo nos faz enxergarmos como o autor visualiza a construccedilatildeo da Vila de

Caiccedilara partindo do seu lugar socioeconocircmico poliacutetico e cultural Isso tornasse evidente na

sua obra

Contudo a analise historiograacutefica do livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves nos

obriga a produzimos outros trabalhos que possa contrapor essa visatildeo positivista de fatos e

acontecimento que privilegia o branco como sendo o civilizado e o construtor da histoacuteria e

19

marginalizando a imagem do homem de cor como sendo bichos que estavam alheios a

qualquer coisa

ABSTRACT

The marginalization of the black throughout history is clearly observed in its various aspects

From this perspective we seek to verify that the Caiccedilara municipality was erected some

Brotherhood However we did not find the necessary documentation to prove However the

analysis of the book of local history of the county have allowed us to detect the authors

concern to untie colored mans contribution in caiccedilarense society This essay aims to

reconstruct this distorted idea that was created in the course of time with regard to blacks The

theoretical basis that sustains this article are the theoretical assumptions of Kings (1999)

Certeau (2002) and others Through traces and evidence which is the historians work search

the rubble what was hidden this work reexamines in an attempt to evinced importance of

black in several areas of the Caiccedilarense peoples culture whether in beliefs in musicality in

daily habits the existing diverse religiosity in this town

KEY - WORDS Black Marginalization Religiosity

20

REFEREcircNCIAS

ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do

seacuteculo XIX Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Joatildeo Pessoa PPGHUFPB 2006

ARAUacuteJO Epaminondas Tavares de Almanach da Paraiacuteba V PB 1913

BASTIDE Roger As Religiotildees africanas no Brasil Contribuiccedilatildeo a uma Sociologia das

Interpretaccedilotildees de Civilizaccedilotildees Satildeo Paulo Pioneira 1971

BOSCHI Caio Ceacutesar Os leigos e o poder irmandades leigas e poliacutetica colonizadora em

Minas Gerais Satildeo Paulo Aacutetica ColEnsaios 116 1986

COSTA Severino Ismael da Caiccedilara Caminhos de Almocreves Joatildeo Pessoa Ed

Micrograacutefica 1990

FREYRE Gilberto Casa-grande amp senzala formaccedilatildeo da famiacutelia brasileira sob o regime de

economia patriarcal Rio de Janeiro Nova Aguilar 2002

HOORNAERT Eduardo Formaccedilatildeo do Catolicismo Brasileiro 1550-1800 3ordf ediccedilatildeo

Petroacutepolis Vozes 1991

JUNIOR Joseacute Pereira de Souza Tradiccedilatildeo Devoccedilatildeo e Feacute os rituais festivos nas

irmandades religiosas na Parahyba do Norte ndash sec XIX IN Joseacute Pereira de Souza Junior

Ed Universitaacuteria ndash UFPB 2006

MEDEIROS Coriolano de (Dicionaacuterio Chorograacutefico da paraiacuteba 1914)

QUINTAtildeO Antonia Aparecida Laacute vem o meu parente as irmandades de pretos e pardos

no Rio de Janeiro e em Pernambuco (seacuteculo XVIII) Satildeo Paulo Annablume 2002

RUSSELL- Wood AJ R Escravos e Libertos no Brasil Colonial Traduccedilatildeo Maria Beatriz

Medina ndash Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2005

Epaminondas Tavares de Arauacutejo (V ldquoAlmanach da Paraiacuteba 1913rdquo)

httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250360ampsearch=||infogrE

1ficos-informaE7F5es-completas acessado em 09032015 agraves 2200hs

Page 2: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA CAMPUS III CENTRO DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13300/1... · 2017. 4. 6. · 2 PAULO RICARDO PORPINO DA CRUZ Memória construída

2

PAULO RICARDO PORPINO DA CRUZ

Memoacuteria construiacuteda e repensada sobre o municiacutepio de Caiccedilara

Trabalho de Conclusatildeo de Curso apresentado

ao Curso de Graduaccedilatildeo Licenciatura Plena

em Histoacuteria da Universidade Estadual da

Paraiacuteba em cumprimento agrave exigecircncia para

obtenccedilatildeo do grau BacharelLicenciado em

Histoacuteria

Orientador Profordf Drordf Naiara Ferraz bandeira

Alves

GUARABIRA - PB

2015

3

NOME DO ALUNO

C955m CRUZ Paulo Ricardo Porpino da

Memoacuteria Construiacuteda e Repensada Sobre o Municiacutepio de Caiccedilara [manuscrito] Paulo Ricardo Porpino da Cruz ndash 2015 20p

Digitado

Trabalho de Conclusatildeo de Curso (Graduaccedilatildeo em Histoacuteria) ndashUniversidade Estadual da Paraiacuteba Centro de Humanidades 2015

ldquoOrientaccedilatildeo profa Ms Naiara Ferraz Bandeira Alves Departamento de Histoacuteriardquo

1Hisoriografia 2 Memoacuteria 3 Homem Negro I Tiacutetulo 21 Ed CDD 900

4

5

RESUMO

A marginalizaccedilatildeo do negro no decorrer da histoacuteria eacute visivelmente observada em seus diversos

aspectos Nessa perspectiva buscamos verificar se no municiacutepio de Caiccedilara foi erguida

alguma Irmandade Entretanto natildeo encontramos a documentaccedilatildeo necessaacuteria para

comprovaccedilatildeo No entanto a analise do livro da histoacuteria local do municiacutepio nos permitiram

detectar a preocupaccedilatildeo do autor em desvincular a contribuiccedilatildeo do homem de cor na sociedade

caiccedilarense O presente ensaio tem como objetivo reconstruir essa ideia deturpada que foi

criada no transcorrer do tempo no tocante aos negros A base teoacuterica que sustenta este artigo

satildeo os pressupostos teoacutericos de Reis(1999) Certeau (2002) e outros Atraveacutes de vestiacutegios e

indiacutecios que eacute o trabalho do historiador buscar nos escombros aquilo que estava escondido

este trabalho faz uma releitura na tentativa de evidenciara importacircncia do negro nas mais

diversas aacutereas da cultura do povo Caiccedilarense seja nas crendices na musicalidade nos haacutebitos

diaacuterios na religiosidade diversificada existente neste povoado

PALAVRAS ndash CHAVE Negro Marginalizaccedilatildeo Religiosidade

6

Memoacuteria construiacuteda e repensada sobre o municiacutepio de Caiccedilara

Paulo Ricardo

ldquoA histoacuteria eacute necessariamente escrita e reescrita a partir das

posiccedilotildees do presente lugar da problemaacutetica da pesquisa e do sujeito

que a realizardquo (REIS 1999 p9)

INTRODUCcedilAtildeO

Ao iniciarmos nossa pesquisa tiacutenhamos a pretensatildeo de estudar diretamente a presenccedila

de Irmandades Negras no municiacutepio de Caiccedilara1 como uma forma de resgatar a Histoacuteria dos

homens Negros da regiatildeo destacando suas formas de resistecircncia ao processo escravocrata

Contudo apoacutes algumas pesquisas nos deparamos com a falta de fontes documentais ou

mesmo orais que abordassem a temaacutetica Natildeo haacute registro da participaccedilatildeo do homem de cor na

formaccedilatildeo do culto catoacutelico da regiatildeo Dessa forma encontramos o problema a ser resolvido

ou pelo menos levantado atraveacutes de nossas investigaccedilotildees Onde encontrar as personagens

negras e suas colaboraccedilotildees na construccedilatildeo da Histoacuteria Local do Municiacutepio de Caiccedilara

Na principal fonte atualizada sobre a Histoacuteria do Municiacutepio haacute uma negaccedilatildeo

veemente sobre a contribuiccedilatildeo do homem de cor no cenaacuterio religioso local No livro Caiccedilara

Caminhos de Almocreves (1990) o autor Severino Ismael procura desvincular a participaccedilatildeo

do negro na construccedilatildeo do espaccedilo religioso daquele povoado ldquoO iacutendio e o negro quase que

natildeo tiveram influencia na formaccedilatildeo do espirito religioso do povo caiccedilarenserdquo p 153

Essa eacute apenas uma das afirmativas feitas pelo autor com o intuito de negar a

contribuiccedilatildeo do homem de cor neste cenaacuterio local Ao analisamos o livro percebemos que o

autor Severino Ismael tenta excluir de todas as maneiras a presenccedila de elementos africanos

na construccedilatildeo do culto catoacutelico da regiatildeo Nossa pesquisa discute os elementos textuais da

obra escrita sob a perspectiva de historiografia apresentada por Certeau (2002) Desse modo a

historiografia eacute utilizada para definir os estudos criacuteticos acerca de um tema ou periacuteodo

1 Caiccedilarasup1 - eacute um municiacutepio brasileiro localizado na microrregiatildeo de Guarabira mesorregiatildeo do agreste

paraibano do estado da Paraiacuteba Sua populaccedilatildeo em 2013 foi estimada pelo Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 7304 habitantes distribuiacutedos em 128 kmsup2 de aacuterea distacircncia ateacute a

capital 143 km

7

referente agrave histoacuteria buscando-se encontrar explicaccedilotildees para os fatos do passado natildeo

constituindo verdades objetivas que traduzem a realidade tal como ocorreu mas como

construccedilotildees humanas que representam partes de uma realidade

Nessa linha de abordagem Certeau (2002) em seu livro A Escrita da Histoacuteria

compreende as caracteriacutesticas do trabalho do historiador fazendo referecircncia ao tripeacute da

operaccedilatildeo historiograacutefica ldquoum lugar social uma praacutetica uma escritardquo (p66)

O historiador tem a funccedilatildeo de dar voz ao natildeo dito atribuindo sentido a um determinado

acontecimento Segundo Certeau (2002) a pesquisa em histoacuteria se faz a partir de um lugar

socioeconocircmico poliacutetico e cultural Eacute importante considerar que o lugar que o autor cita estaacute

ligado agrave relaccedilatildeo que o historiador manteacutem com o lugar que se encontra uma vez que este natildeo

eacute mais um colecionador de fatos e sim um construtor recortador leitor e inteacuterprete de

processos histoacutericos buscando possibilidades hipoacuteteses de abordagem ligadas as suas

preocupaccedilotildees especiacuteficas ou seja trocando ideias e informaccedilotildees com outros saberes e

sujeitos

O historiador tem o tempo como ldquomaterial de anaacuteliserdquo ou como ldquoobjeto

especiacuteficordquo Trabalha de acordo com os seus meacutetodos os objetos fiacutesicos

(papeacuteis pedras imagens sons etc) Trabalha sobre um material para

transformaacute-lo em histoacuteria(CERTEAU 2002 p79)

Certeau (2002) afirma ainda que a anaacutelise historiograacutefica eacute um exerciacutecio de

problematizaccedilatildeo um campo aberto a inuacutemeras possibilidades e ao intenso diaacutelogo o que

permite essa amplitude de objetos e tipos de fontes a partir de metodologias que a histoacuteria

pode apresentar em diversificados campos do saber Coloca que a operaccedilatildeo historiograacutefica

natildeo estaacute somente relacionada a um lugar a uma praacutetica mas tambeacutem a uma escrita ou seja a

historiografia eacute construiacuteda por meio do discurso documental Portanto todo conhecimento

historiograacutefico eacute construiacutedo o que nos permite sempre trazer novas discussotildees a respeito da

anaacutelise do ldquopassadordquo

Sob esta perspectiva de construccedilatildeo a partir do seu lugar social eacute que podemos refletir

sobre os motivos e as intenccedilotildees de desvincular a praacutetica da religiatildeo catoacutelica em Caiccedilara da

presenccedila negra e indiacutegena nesta sociedade

ldquoA religiatildeo mesmo praticada por todos era a catoacutelica romana Nem os cultos

negros ndash o que evidencia a pequena participaccedilatildeo do elemento negro na etnia

local marcaram presenccedila na comunidade Os ritos as festas as preces tudo

era vinculado ao catolicismordquo (COSTA 1990 p 153)

8

Esta negaccedilatildeo aleacutem de refletir perspectiva de discriminaccedilatildeo racial destaca a

necessidade da Igreja Catoacutelica de apagar da memoacuteria histoacuterica natildeo apenas a presenccedila do

homem de cor mas muito aleacutem disso a possibilidade do espaccedilo de culto catoacutelico ou seja a

Igreja pertencer ou ter pertencido nominalmente a uma irmandade Isto significa que o

preacutedio em si e suas propriedades economicamente natildeo eram da Igreja mas de leigos que a

construiacuteram e doaram tudo o que estava ao seu redor e no seu interior Haacute uma real atividade

da Igreja de tentar apagar desconstruir camuflar as atividades das irmandades em especial

das que eram compostas por homens de cor

MUITO ALEacuteM DA ESCRITA E DA MEMOacuteRIA UMA CONSTRUCcedilAtildeO

O autor Severino Ismael da Costa publicou seu texto Caiccedilara caminhos de

almocreves na deacutecada de 90 do seacuteculo XX um periacuteodo de movimentaccedilatildeo poliacutetica vinculada

aos processos de municipalizaccedilatildeo que vinham ocorrendo no Estado da Paraiacuteba desde os anos

70 do mesmo seacuteculo Aliado a accedilatildeo poliacutetica de transformar em municiacutepio as vilas lugarejos e

aacutereas rurais do Estado era necessaacuteria a construccedilatildeo histoacuteria e descriccedilatildeo dos principais eventos

destas regiotildees Assim temos uma linha de escrita historiograacutefica estritamente vinculada a este

processo Constroacutei-se um municiacutepio consequentemente se constroacutei uma histoacuteria

O importante eacute identificar nestes textos em grande parte encomendados ou ao

menos financiados pelas elites locais o tipo de histoacuteria escrita e pensada assim como satildeo

escolhidos os personagens deste percurso A obra que analisamos natildeo foge a estas

caracteriacutesticas jaacute que recebeu apoio dos poliacuteticos locais na eacutepoca que foi publicada Nas

primeiras paacuteginas encontramos homenagens e agradecimentos agraves pessoas e personagens

ilustres da cidade entre eles filhos da elite local que se formaram e exercem profissotildees

liberais respeitadas pela sociedade da eacutepoca e dos dias atuais

ldquo HOMENAGEM Agrave CULTURA

Paraibana na presenccedila de um grande vulto

Prof JOSEacute OCTAacuteVIO DE ARRUDA MELO

Caiccedilarense representada por seus filhos

D Epaminondas Joseacute de Arauacutejo emeacuterito bispo da Igreja Catoacutelica de quem natildeo

me faltou estiacutemulo de conterracircneo

9

Prof Joseacute Jackson Carneiro de Carvalho de quem recebi incentivo e ateacute desafio

Dr Walderedo Ismael de Oliveira meacutedico de renome internacional escritor

especializado modesto e grande como sua terrardquo (COSTA 1990 p13)

O autor inicia seu texto se referindo as ldquograndesrdquo personalidades de sua cidade tendo

o cuidado de anteriormente ter agradecido aos prefeitos da eacutepoca Haacute a presenccedila dos nomes e

sobrenomes de destaque da cidade representantes da Igreja Catoacutelica de meacutedicos professores

e jornalistas

Em seguida descreve a histoacuteria de fundaccedilatildeo da cidade e de sua municipalizaccedilatildeo desta

a participaccedilatildeo do iacutendio que junto ao portuguecircs seriam os grandes responsaacuteveis pela formaccedilatildeo

desta sociedade mas afirma que o negro teve pouca atuaccedilatildeo ldquonatildeo haacute grande presenccedila do

elemento negro a natildeo ser na zona dos engenhos no dorso da serra onde precisaram do

escravo para tocar o trabalhordquo (COSTA 1990 p 69) apesar de ter sido escrito nos anos 90

do seacuteculo XX o texto tem uma preocupaccedilatildeo oitocentista de esconder a presenccedila negra

minimizando sua participaccedilatildeo nas atividades econocircmicas A impossibilidade de simplesmente

omitir esta inserccedilatildeo dos homens negros na sociedade de Caiccedilara faz com que seu texto e sua

fala se tornem contraditoacuterios no sentido de que afirma natildeo ter existido uma participaccedilatildeo

negra mas ao mesmo tempo destaca o lugar social ocupado por esta etnia

Muito de sua escrita positivista eacute explicado pelas fontes selecionadas pelo autor

Textos tradicionais sobre a Histoacuteria da Paraiacuteba escritos no iniacutecio do seacuteculo XX em especial

os escritos de Horaacutecio de Almeida se dando ao trabalho de apenas transferir as ideias destes

sem realizar uma revisatildeo ou criacutetica historiograacutefica Isso fica latente ao reproduzir a expressatildeo

Tapuia como sinocircnimo de baacuterbaro E destacar figuras heroicas entre os indiacutegenas que de

alguma forma se aliaram aos conquistadores nos empreendimentos de colonizaccedilatildeo

Outro ponto que nos chama a atenccedilatildeo eacute a necessidade de sempre referecircnciar as fontes

em geral documentais ou historiograacuteficas e ao mesmo tempo questionaacute-las e ateacute discordar de

dados e apontamentos que se distanciam de uma preocupaccedilatildeo com o processo histoacuterico mas

se relaciona diretamente com uma narrativa positivista como por exemplo ao investigar e

averiguar quem teria sido o primeiro morador de Caiccedilara Segundo Coriolano de Medeiros e

Luiz Pinto teria sido ldquoJoseacute de abreu Cordeiro em 1776 contudo verificou ser na realidade

Raphael de Carvalho em 1615rdquo (COSTA 1990 p 85)

10

O povoado surge a partir da construccedilatildeo de casa de morada capela e currais agrave margem

direita do rio Curimatauacute em 1822 por Manoel Soares da Costa A capela tinha por invocaccedilatildeo

Nossa Senhora do Rosaacuterio Como a maioria dos municiacutepios da regiatildeo seu desenvolvimento

pode ser vinculado ao estabelecimento da feira Uma particularidade citada e destacada pelo

autor satildeo as disputas poliacuteticas entre Caiccedilara e o Municiacutepio de Serra da Raiz que levam os

dois lugarejos a encontrar formas de se destacarem um em relaccedilatildeo ao outro Por exemplo

menciona que a criaccedilatildeo em 1870 da Freguesia de N S do Bom Fim cuja sede eacute a Serra da

Raiz ( instituiccedilatildeo que tornava Caiccedilara subordinada nas questotildees religiosas em relaccedilatildeo agrave Serra

da Raiz) segundo o autor a animosidade poliacutetico-administrativa entre os lugarejos se

desenvolveu a partir da introduccedilatildeo da feira livre em Caiccedilara jaacute que a mesma se tornou uma

forte concorrente para os ldquobarracotildeesrdquo instalados nos engenhos da Serra da Raiz assim a feira

poderia promover uma mudanccedila social que natildeo interessava aos poliacuteticos daquela regiatildeo

Passa a destacar os poliacuteticos de Caiccedilara nomeando-os ateacute o seacuteculo XX o que se

configura como um importante registro para a histoacuteria local assim como toda a obra de

Severino Ismael da Costa (1990) contudo ainda necessitando de uma anaacutelise do processo

histoacuterico e de suas etapas O fato que o autor levanta vaacuterios pontos desta histoacuteria que devem

ser estudados um dia e provavelmente iratildeo partir e se referir a sua obra que tem como

destaque o trabalho de levantamento de dados e fontes para os proacuteximos historiadores que se

dedicarem a Historia desta regiatildeo Nossas observaccedilotildees se referem a ideia de ausecircncia de

contribuiccedilatildeo do homem negro na constituiccedilatildeo soacutecioreligiosa desta localidade

Mais uma vez o autor busca formas de desvincular a participaccedilatildeo dos negros na

histoacuteria religiosa local A obra Caiccedilara Caminhos de Almocreves estaacute repleta destas

argumentaccedilotildees acerca do homem de cor

O objetivo inicial desta pesquisa era de buscar indiacutecios em Livros de Tombo e

documentos religiosos a contribuiccedilatildeo do negro na religiosidade local Tendo em vista que natildeo

soacute no municiacutepio de Caiccedilara mas tambeacutem em todo o territoacuterio brasileiro houve uma

marginalizaccedilatildeo da imagem do homem de cor ou seja uma tentativa de deixar a margem da

sociedade uma figura que se faz tatildeo importante para adentrarmos no imaginaacuterio religioso do

povo brasileiro

Contudo o livro de Tombo analisado natildeo nos forneceu as informaccedilotildees necessaacuterias

para afirmamos que houve uma irmandade negra no municiacutepio de Caiccedilara Mas para

buscarmos indiacutecios e vestiacutegios da contribuiccedilatildeo do negro nestes locais faremos uma analise

11

minuciosa da obra contrapondo com elementos existentes na proacutepria igreja local na tentativa

de trazer a luz questotildees que foram estabelecidas pelo autor Severino Ismael como verdades

prontas e absolutas Os possiacuteveis indiacutecios e vestiacutegios satildeo elementos de fundamental

importacircncia para este trabalho

Entre estes vestiacutegios destacamos a imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no altar

central da Igreja matriz de Caiccedilara (apesar da referecircncia direta agrave fundaccedilatildeo da cidade nos eacute

intrigante a escolha desta padroeira por seus fundadores) Jaacute que este culto agrave Senhora do

Rosaacuterio no Brasil ficou diretamente vinculado ao culto catoacutelico negro atraveacutes das

irmandades podendo dessa forma ser considerado um elemento da cultura africana no

espaccedilo religioso local Abaixo foto da Imagem tirada em 06 de Janeiro de 2014 Durante os

preparativos para a procissatildeo da Padroeira que se comemora nesta data no municiacutepio de

Caiccedilara

Ilustraccedilatildeo 1 Imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no andor

12

Foto Ricardo (2014)

Eacute evidente que os diversos escravos africanos desembarcados no Brasil contribuiriam

de forma significativa para a construccedilatildeo territorial e religiosa do paiacutes jaacute que participaram

diretamente da formaccedilatildeo da sociedade brasileira seja no trabalho nos engenhos de produccedilatildeo

de cana de accediluacutecar nas lavouras do cafeacute na extraccedilatildeo do ouro entre outros Ao desembarcarem

nessas terras trouxeram consigo seus costumes liacutenguas valores e crenccedilas Aqui encontraram

as mais diversas dificuldades de praticar sua cultura ou seja cultuar suas divindades e

costumes

O DESENVOLVIMENTO DAS PRAacuteTICAS RELIGIOSAS OFICIAIS NA CIDADE

DE CAICcedilARA-PB

A presenccedila do Catolicismo caiccedilarense estaacute inteiramente ligada ao seu periacuteodo de

fundaccedilatildeo que se deu por volta do ano de 1822 quando Manoel Soares da Costa instalou sua

fazenda e ergueu uma capela as margens do Rio Curimatauacute ldquoO povoamento da encantadora

Villa de Caiccedilara segundo informes de pessoas competentes teve logar no ano de 1822rdquo

Onde ldquoFoi edificada uma pequena capella sob a invocaccedilatildeo de NS do Rosaacuterio ()rdquo

ARAUacuteJO (1913)

Como aconteceu no Brasil e consequentemente na Paraiacuteba de uma forma em geral o

processo de povoamento oficial das regiotildees afastadas do litoral assim como o proacuteprio litoral

teve sua conquista e povoamento acompanhado da praacutetica religiosa oficial dos exploradores o

catolicismo A presenccedila da capela de Nossa Senhora do Rosaacuterio no povoamento que

futuramente seria denominado como municiacutepio de caiccedilara eacute um fato indiscutiacutevel pelos

historiadores e narradores de uma forma geral do Mito de fundaccedilatildeo da cidade ocorrendo

uma discussatildeo historiograacutefica agrave respeito do ano desta fundaccedilatildeo Epaminondas Tavares de

Arauacutejo afirma ter sido no ano de 1822 Entretanto Coriolano de Medeiros (em seu

ldquoDicionaacuterio Chorograacuteficordquo 1914) aponta o ano de 1841 como o da fundaccedilatildeo da Villa de

Caiccedilara

13

ldquoEm 1841 o terreno onde hoje eacute a sede do municiacutepio cobria-se ainda

cactos e bromeacutelias quando Manoel Soares da Costa Francisco da Costa

Gonccedilalves e Joseacute Vicente compraram a propriedade construiacuteram suas

vivendas e cercados de ramos ndash caiccedilaras ndash para abrigo do gado Depois

ergueram uma capella dedicada a NS do Rosaacuterio rdquo

Entretanto O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) aceita o uacuteltimo

como sendo o ano de fundaccedilatildeo Entre a populaccedilatildeo a informaccedilatildeo tida com maior aprovaccedilatildeo eacute

ano de 1822 Isto porque a sesmaria que Luiacutes Soares de Mendonccedila adquiriu natildeo foi no ano de

1822 como relatou Coriolano de Medeiros em seus estudos e sim no ano de 1788 registrada

sob nordm 891 por meio de documentos oficiais

Todavia a divergecircncia acerca do ano de fundaccedilatildeo ocorreu pelo fato de que a criaccedilatildeo da

feira ocorreu no ano de 1841 e o mesmo seria o marco do crescimento e da concentraccedilatildeo

urbana O que observamos em comum em ambas as citaccedilotildees eacute que o Catolicismo fecundava a

Villa de Caiccedilara desde sua fundaccedilatildeo Pois a construccedilatildeo da Capella eacute vista em todos os

registros sobre a origem deste povoado Os autores oficiais e tradicionais da histoacuteria de

fundaccedilatildeo da Villa de Caiccedilara discorrem ainda sobre a origem de sua denominaccedilatildeo segundo

Coriolano de Medeiros e Epaminondas Tavares o nome Caiccedilara proveacutem dos currais Fala

Epaminondas ldquoA denominaccedilatildeo de Caiccedilara proveacutem de um curral de pau-a-pique construiacutedo

por Manoel Soares nas proximidades de sua casardquo (p108)

O CATOLICISMO CAICcedilARENSE

De acordo com a visatildeo positivista e as fontes oficiais o iacutendio e o negro pouco

contribuiacuteram na formaccedilatildeo do espirito religioso do povo Caiccedilarense segundo Severino Ismael

da Costa em seu livro ldquoCaiccedilara Caminhos de Almocrevesrdquo (1990) Ainda de acordo com o

mesmo o imaginaacuterio da populaccedilatildeo local contribuiu de maneira bastante significativa para o

florescimento da religiatildeo Catoacutelica que veio a ser praticada na Villa de Caiccedilara

Nesta mesma perspectiva as fontes oficias da Igreja em pauta tentam nos mostrar que

a participaccedilatildeo do negro no acircmbito religioso teve pouco significado Os ritos as festas as

preces tudo era vinculado ao catolicismo No periacuteodo da posse da terra quando o branco

erguia sua morada edificava tambeacutem junto ou nas proximidades uma capela onde eram

celebrados os atos religiosos e realizadas as festas Destas eram as mais comuns O Natal

14

Ano Bom e Reis As juninas Santo Antocircnio Satildeo Joatildeo e Satildeo Pedro A de Santana no uacuteltimo

saacutebado de julho Ainda hoje entre o meio rural caiccedilarense os meses de junho e julho satildeo mais

conhecidos como o de Satildeo Joatildeo e de Santana Na semana santa mais precisamente a partir da

quarta-feira acontecia o recolhimento total ou seja preces jejum pouco trabalho e muito

cuidado em natildeo maltratar pessoas e animais O jejum era tatildeo rigoroso que se bebia apenas um

gole de aacutegua pela manhatilde e soacute a noite algum alimento Na quarta-feira chamada de trevas natildeo

se permitia varrer a casa nem tomar banho sob a pena de ldquoentrevarrdquo nas sedes das fazendas

rezava-se todos os saacutebados o ldquoOficio de Nossa Senhorardquo era acompanhado por todos os

moradores Nos domingos os fazendeiros todos bem vestidos mostravam seu prestigio ao ir agrave

missa com os seus familiares e agregados

MEcircS DE MAIO

Durante todo o mecircs de maio era rezado o terccedilo nas salas das casas grandes ou nas

capelas estes alternados por cacircnticos religiosos Ao termino deste evento acontecia a

tradicional queima das flores que haviam ornamentado os altares das capelas ou os jarros em

volta dos grandes oratoacuterios (tambeacutem chamados de santuaacuterios) de madeira repleto de imagens

de vaacuterios santos Vale ressaltar que geralmente era obrigaccedilatildeo da senhora da casa grande rezar

o terccedilo ou suas filhas Nas fazendas como nas vilas e povoados eram assim Todas as noites

era necessaacuterio a praacutetica de um ato religioso quase sempre um terccedilo ou um rosaacuterio de oraccedilotildees

O Catecismo era ensinado para as crianccedilas nas vilas povoados e nas fazendas

A CONSTRUCcedilAtildeO DA CAPELA

A Capela foi erguida nas proximidades da residecircncia de Manoel Soares da Costa sob

a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora do Rosaacuterio construiacuteda de taipa ou seja as paredes eram feitas

de barro calccedilados entre paus e cruzados por ripa e telhas

No livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves Severino Ismael da Costa descreve a

aacuterea destinada a capela

15

ldquoConstruiacuteda por trinta braccedilas de terras para cada lado para fazer

faces agraves despesas necessaacuterias confirma aquela intenccedilatildeo as casas

construiacutedas ou o que quer que se realizasse naquele periacutemetro

pagaria renda ou foro cabiacutevel agrave igrejardquo (Paacuteg 155)

A citaccedilatildeo acima nos faz entendermos que o fato da capela ter sido construiacuteda um

pouco afastada da casa grande revela a intenccedilatildeo que o fazendeiro tinha que no caso seria

desenvolver outras construccedilotildees ao seu redor

Alguns anos se passaram e o templo foi ampliado por Francisco Costa Gonccedilalves

Entre 1869 a 1872 pelo padre Herculano foi reconstruiacutedo aumentando sua aacuterea e levantadas

paredes de pedras A capela ficou majestosa Cerca de 15 metros de largura por uns 25 de

comprimento Paredes soacutelidas de pedras deram lugar a taipa com mais de metro de espessura

e oito a dez metros de altura Trecircs portas na frente e uma torre no lado direito (nascente) A

frente para o norte no iniacutecio do aclive da colina

No iniacutecio do seacuteculo XX o templo passou por nova reforma desta vez patrocinada por

Ascendina da Costa Frazatildeo que morava nas proximidades A nova reforma consistiu numa

das maiores ampliaccedilotildees jaacute recebidas Foram-lhe acrescentados os corredores laterais em todo

o seu comprimento o coro acrescentando uma torre do lado direito Nesta instalaram dois

sinos cujo bronze emitia lindos sons avisando os fieacuteis sobre a realizaccedilatildeo de atos religiosos

inclusive anunciando os falecimentos que ocorriam O tradicional dobre de finados para os

adultos o ldquorepiquerdquo ou seja uma serie de batidas sucessivas muito proacuteximas indicavam que

havia falecido uma crianccedila os chamados ldquoanjosrdquo e batidas mistas (dobre de finados e

repique) noticiavam o falecimento de jovens puacuteberes Essa reforma quase duplicou a aacuterea do

templo

Por ocasiatildeo desta reforma foram erguidos dois altares no fim da nave central e antes

da capela-mor agrave direita e agrave esquerda da arcada que a esta dava acesso Do lado esquerdo do

altar de Satildeo Sebastiatildeo (a imagem original foi posteriormente substituiacuteda por outra maior

doada por um fazendeiro local) No lado oposto a este altar se encontrava o altar de Nossa

Senhora da Dores cuja a imagem foi doada pelas senhoras das irmandade das Dores

O altar-mor bastante decorado em alto relevo com belas colunatas separando os trecircs

nichos tem no alto o nicho onde fica a imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus preciosa obra

de arte doada pelo Coronel Antocircnio Soares de Oliveira No centro o de Nossa Senhora do

Rosaacuterio

16

Nos anos de 1950 novas reformas foram introduzidas no templo demoliam-se os

altares de NS das Dores e Satildeo Sebastiatildeo cujas imagens foram transferidas para os altares

construiacutedos nas alas direita e a esquerda da capela-mor onde jaacute existia o da direita dedicado a

Santa Terezinha Outras reformas ainda foram realizadas como o revestimento do piso da

igreja com mosaicos Neste caso especificamente as obras foram feitas com recursos proacuteprios

provenientes da festa de NS do Rosaacuterio Vale lembrar que a partir desta uacuteltima empreitada a

igreja ganhou mais uma torre na fachada

A CHEGADA DA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DO ROSAacuteRIO

As reformas que aconteceram entre os anos 1869 a 1872 tinham o objetivo de receber

a nova imagem da padroeira encomendada em Portugal por Joaquim Joseacute fazendeiro desta

regiatildeo A mesma que ainda permanece hoje no nicho central do altar-mor A Santa chegou as

terras da Paraiacuteba no porto de Salema municiacutepio de Mamanguape Mais de 40 quilocircmetros

separavam ela de Caiccedilara O transporte teria que ser efetuado em carro de boi pois natildeo existia

outro meio transporte nessa localidade Poreacutem a dedicaccedilatildeo do povo foi tatildeo grande que os

fieacuteis saiacuteram de Caiccedilara a peacute e em procissatildeo para receber a imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio

A chegada em Caiccedilara deu-se no dia 6 de Janeiro dia festivo da Igreja Catoacutelica em

comemoraccedilatildeo agrave Santos Reis E como chegada da Santa tornou-se duplamente festivo para o

povo caiccedilarense Com consequecircncia deste fato nos dias atuais a festa para homenagear a

padroeira termina exatamente no dia 6 de Janeiro Tanto que a populaccedilatildeo passou a denominar

ldquoFesta de Nossa Senhora do Rosaacuteriordquo E de acordo com as pesquisas efetuadas natildeo conheccedilo

outro lugar onde a festividade ocorra no mecircs de Janeiro Pois no calendaacuterio da Igreja Catoacutelica

a mesma realiza-se no iniacutecio do mecircs de Outubro

Com a chegada da imagem da santa a vila de Caiccedilara o Padre Ibiapina sugeriu que o

nome da mesma passasse a se chamar Marianoacutepolis em homenagem a Nossa senhora do

Rosaacuterio poreacutem natildeo foi muito aceito pela sociedade da eacutepoca

A influecircncia da padroeira tambeacutem pode ser percebida nos dias atuais Pois aleacutem de

casas comerciais um hospital e maternidade recebeu seu nome assim como o primeiro bairro

17

da cidade onde foi edificado um monumento em sua homenagem Sem esquecer que a letra

do hino agrave Caiccedilara demostra a feacute depositada a santa

ldquoMarianoacutepolis eacute o nome que a feacute nos brindou para nossa alegria e que todos de joelho ou de peacute rendem

Graccedilas agrave Virgem Mariardquo

(Paacuteg 36)

A FESTA

Eacute um grandiosiacutessimo evento profano-religioso Nos dias que antecedem o 6 de Janeiro

realiza-se o novenaacuterio Soacute rezado Na noite do dia 5 eacute realizada a festa profana com barracas

e pavilhotildees fogos de artifiacutecios venda de produtos tiacutepicos da culinaacuteria local

Na festividade dedicada a Nossa Senhora do Rosaacuterio identificamos a figura

importantiacutessima que tinha os fazendeiros pois os mesmo com o intuito de mostrar seu poder

bancava as noites de festas A princiacutepio eram nove noites em cada uma delas um fazendeiro

diferente fica com a responsabilidade de organizar este evento

Atualmente a festa eacute precedida por um novenaacuterio onde cada comunidade Catoacutelica

local eacute responsaacutevel por uma noite de novena Sendo que nos uacuteltimos trecircs dias deste evento

acontece festas profanas em frente a Igreja Matriz com leilotildees de gados galinhas entre

outros

18

CONCLUSAtildeO

O presente trabalho buscou investigar se existiu uma irmandade de negros no municiacutepio de

Caiccedilara Entretanto as fontes documentais analisadas natildeo nos permitiram fazermos essa

afirmativa Poreacutem a partir desse momento direcionamos a pesquisa na analise do livro da

histoacuteria local do municiacutepio de Caiccedilara na perspectiva de se debruccedilar sobre indiacutecios e

vestiacutegios que nos permitam fazermos uma releitura da obra na tentativa de elucidarmos os

questionamentos pertinentes a nossa pesquisa

Durante a analise do Livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves percebemos que o autor

procura maneiras de desvincular a participaccedilatildeo do negro no cenaacuterio local Na tentativa de

proclamar o branco ou seja o colonizador como sendo o uacutenico agente na construccedilatildeo do

espaccedilo religioso deste povoado Na obra de Severino Ismael fica evidente a preocupaccedilatildeo do

mesmo em colocar o homem de cor a margem da sociedade local

Entretanto este ensaio procura incessantemente por vestiacutegios que nos possibilitem

enxergarmos a presenccedila de elementos africanos na construccedilatildeo do povoado de Caiccedilara na

tentativa de reescrever uma histoacuteria que nos mostrem que os negros foram responsaacuteveis tanto

na construccedilatildeo deste municiacutepio quanto pelo espaccedilo religioso local

O primeiro passo do trabalho foi buscar indiacutecios da participaccedilatildeo do negro no povoado de

Caiccedilara O culto a Nossa Senhora do Rosaacuterio e a Satildeo Sebastiatildeo pode ser observados como

vestiacutegios da presenccedila do homem de cor na construccedilatildeo cenaacuterio religioso de Caiccedilara A doaccedilatildeo

da imagem de Nossa Senhora das Dores feita por uma Irmandade das Dores de Itabira-MG

para a igreja de Caiccedilara que se encontra num altar lateral da igreja pode ser analisados como

elementos que caracterizam uma irmandade ou ao menos a figura do negro nestes espaccedilos

O presente artigo nos faz enxergarmos como o autor visualiza a construccedilatildeo da Vila de

Caiccedilara partindo do seu lugar socioeconocircmico poliacutetico e cultural Isso tornasse evidente na

sua obra

Contudo a analise historiograacutefica do livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves nos

obriga a produzimos outros trabalhos que possa contrapor essa visatildeo positivista de fatos e

acontecimento que privilegia o branco como sendo o civilizado e o construtor da histoacuteria e

19

marginalizando a imagem do homem de cor como sendo bichos que estavam alheios a

qualquer coisa

ABSTRACT

The marginalization of the black throughout history is clearly observed in its various aspects

From this perspective we seek to verify that the Caiccedilara municipality was erected some

Brotherhood However we did not find the necessary documentation to prove However the

analysis of the book of local history of the county have allowed us to detect the authors

concern to untie colored mans contribution in caiccedilarense society This essay aims to

reconstruct this distorted idea that was created in the course of time with regard to blacks The

theoretical basis that sustains this article are the theoretical assumptions of Kings (1999)

Certeau (2002) and others Through traces and evidence which is the historians work search

the rubble what was hidden this work reexamines in an attempt to evinced importance of

black in several areas of the Caiccedilarense peoples culture whether in beliefs in musicality in

daily habits the existing diverse religiosity in this town

KEY - WORDS Black Marginalization Religiosity

20

REFEREcircNCIAS

ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do

seacuteculo XIX Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Joatildeo Pessoa PPGHUFPB 2006

ARAUacuteJO Epaminondas Tavares de Almanach da Paraiacuteba V PB 1913

BASTIDE Roger As Religiotildees africanas no Brasil Contribuiccedilatildeo a uma Sociologia das

Interpretaccedilotildees de Civilizaccedilotildees Satildeo Paulo Pioneira 1971

BOSCHI Caio Ceacutesar Os leigos e o poder irmandades leigas e poliacutetica colonizadora em

Minas Gerais Satildeo Paulo Aacutetica ColEnsaios 116 1986

COSTA Severino Ismael da Caiccedilara Caminhos de Almocreves Joatildeo Pessoa Ed

Micrograacutefica 1990

FREYRE Gilberto Casa-grande amp senzala formaccedilatildeo da famiacutelia brasileira sob o regime de

economia patriarcal Rio de Janeiro Nova Aguilar 2002

HOORNAERT Eduardo Formaccedilatildeo do Catolicismo Brasileiro 1550-1800 3ordf ediccedilatildeo

Petroacutepolis Vozes 1991

JUNIOR Joseacute Pereira de Souza Tradiccedilatildeo Devoccedilatildeo e Feacute os rituais festivos nas

irmandades religiosas na Parahyba do Norte ndash sec XIX IN Joseacute Pereira de Souza Junior

Ed Universitaacuteria ndash UFPB 2006

MEDEIROS Coriolano de (Dicionaacuterio Chorograacutefico da paraiacuteba 1914)

QUINTAtildeO Antonia Aparecida Laacute vem o meu parente as irmandades de pretos e pardos

no Rio de Janeiro e em Pernambuco (seacuteculo XVIII) Satildeo Paulo Annablume 2002

RUSSELL- Wood AJ R Escravos e Libertos no Brasil Colonial Traduccedilatildeo Maria Beatriz

Medina ndash Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2005

Epaminondas Tavares de Arauacutejo (V ldquoAlmanach da Paraiacuteba 1913rdquo)

httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250360ampsearch=||infogrE

1ficos-informaE7F5es-completas acessado em 09032015 agraves 2200hs

Page 3: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA CAMPUS III CENTRO DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13300/1... · 2017. 4. 6. · 2 PAULO RICARDO PORPINO DA CRUZ Memória construída

3

NOME DO ALUNO

C955m CRUZ Paulo Ricardo Porpino da

Memoacuteria Construiacuteda e Repensada Sobre o Municiacutepio de Caiccedilara [manuscrito] Paulo Ricardo Porpino da Cruz ndash 2015 20p

Digitado

Trabalho de Conclusatildeo de Curso (Graduaccedilatildeo em Histoacuteria) ndashUniversidade Estadual da Paraiacuteba Centro de Humanidades 2015

ldquoOrientaccedilatildeo profa Ms Naiara Ferraz Bandeira Alves Departamento de Histoacuteriardquo

1Hisoriografia 2 Memoacuteria 3 Homem Negro I Tiacutetulo 21 Ed CDD 900

4

5

RESUMO

A marginalizaccedilatildeo do negro no decorrer da histoacuteria eacute visivelmente observada em seus diversos

aspectos Nessa perspectiva buscamos verificar se no municiacutepio de Caiccedilara foi erguida

alguma Irmandade Entretanto natildeo encontramos a documentaccedilatildeo necessaacuteria para

comprovaccedilatildeo No entanto a analise do livro da histoacuteria local do municiacutepio nos permitiram

detectar a preocupaccedilatildeo do autor em desvincular a contribuiccedilatildeo do homem de cor na sociedade

caiccedilarense O presente ensaio tem como objetivo reconstruir essa ideia deturpada que foi

criada no transcorrer do tempo no tocante aos negros A base teoacuterica que sustenta este artigo

satildeo os pressupostos teoacutericos de Reis(1999) Certeau (2002) e outros Atraveacutes de vestiacutegios e

indiacutecios que eacute o trabalho do historiador buscar nos escombros aquilo que estava escondido

este trabalho faz uma releitura na tentativa de evidenciara importacircncia do negro nas mais

diversas aacutereas da cultura do povo Caiccedilarense seja nas crendices na musicalidade nos haacutebitos

diaacuterios na religiosidade diversificada existente neste povoado

PALAVRAS ndash CHAVE Negro Marginalizaccedilatildeo Religiosidade

6

Memoacuteria construiacuteda e repensada sobre o municiacutepio de Caiccedilara

Paulo Ricardo

ldquoA histoacuteria eacute necessariamente escrita e reescrita a partir das

posiccedilotildees do presente lugar da problemaacutetica da pesquisa e do sujeito

que a realizardquo (REIS 1999 p9)

INTRODUCcedilAtildeO

Ao iniciarmos nossa pesquisa tiacutenhamos a pretensatildeo de estudar diretamente a presenccedila

de Irmandades Negras no municiacutepio de Caiccedilara1 como uma forma de resgatar a Histoacuteria dos

homens Negros da regiatildeo destacando suas formas de resistecircncia ao processo escravocrata

Contudo apoacutes algumas pesquisas nos deparamos com a falta de fontes documentais ou

mesmo orais que abordassem a temaacutetica Natildeo haacute registro da participaccedilatildeo do homem de cor na

formaccedilatildeo do culto catoacutelico da regiatildeo Dessa forma encontramos o problema a ser resolvido

ou pelo menos levantado atraveacutes de nossas investigaccedilotildees Onde encontrar as personagens

negras e suas colaboraccedilotildees na construccedilatildeo da Histoacuteria Local do Municiacutepio de Caiccedilara

Na principal fonte atualizada sobre a Histoacuteria do Municiacutepio haacute uma negaccedilatildeo

veemente sobre a contribuiccedilatildeo do homem de cor no cenaacuterio religioso local No livro Caiccedilara

Caminhos de Almocreves (1990) o autor Severino Ismael procura desvincular a participaccedilatildeo

do negro na construccedilatildeo do espaccedilo religioso daquele povoado ldquoO iacutendio e o negro quase que

natildeo tiveram influencia na formaccedilatildeo do espirito religioso do povo caiccedilarenserdquo p 153

Essa eacute apenas uma das afirmativas feitas pelo autor com o intuito de negar a

contribuiccedilatildeo do homem de cor neste cenaacuterio local Ao analisamos o livro percebemos que o

autor Severino Ismael tenta excluir de todas as maneiras a presenccedila de elementos africanos

na construccedilatildeo do culto catoacutelico da regiatildeo Nossa pesquisa discute os elementos textuais da

obra escrita sob a perspectiva de historiografia apresentada por Certeau (2002) Desse modo a

historiografia eacute utilizada para definir os estudos criacuteticos acerca de um tema ou periacuteodo

1 Caiccedilarasup1 - eacute um municiacutepio brasileiro localizado na microrregiatildeo de Guarabira mesorregiatildeo do agreste

paraibano do estado da Paraiacuteba Sua populaccedilatildeo em 2013 foi estimada pelo Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 7304 habitantes distribuiacutedos em 128 kmsup2 de aacuterea distacircncia ateacute a

capital 143 km

7

referente agrave histoacuteria buscando-se encontrar explicaccedilotildees para os fatos do passado natildeo

constituindo verdades objetivas que traduzem a realidade tal como ocorreu mas como

construccedilotildees humanas que representam partes de uma realidade

Nessa linha de abordagem Certeau (2002) em seu livro A Escrita da Histoacuteria

compreende as caracteriacutesticas do trabalho do historiador fazendo referecircncia ao tripeacute da

operaccedilatildeo historiograacutefica ldquoum lugar social uma praacutetica uma escritardquo (p66)

O historiador tem a funccedilatildeo de dar voz ao natildeo dito atribuindo sentido a um determinado

acontecimento Segundo Certeau (2002) a pesquisa em histoacuteria se faz a partir de um lugar

socioeconocircmico poliacutetico e cultural Eacute importante considerar que o lugar que o autor cita estaacute

ligado agrave relaccedilatildeo que o historiador manteacutem com o lugar que se encontra uma vez que este natildeo

eacute mais um colecionador de fatos e sim um construtor recortador leitor e inteacuterprete de

processos histoacutericos buscando possibilidades hipoacuteteses de abordagem ligadas as suas

preocupaccedilotildees especiacuteficas ou seja trocando ideias e informaccedilotildees com outros saberes e

sujeitos

O historiador tem o tempo como ldquomaterial de anaacuteliserdquo ou como ldquoobjeto

especiacuteficordquo Trabalha de acordo com os seus meacutetodos os objetos fiacutesicos

(papeacuteis pedras imagens sons etc) Trabalha sobre um material para

transformaacute-lo em histoacuteria(CERTEAU 2002 p79)

Certeau (2002) afirma ainda que a anaacutelise historiograacutefica eacute um exerciacutecio de

problematizaccedilatildeo um campo aberto a inuacutemeras possibilidades e ao intenso diaacutelogo o que

permite essa amplitude de objetos e tipos de fontes a partir de metodologias que a histoacuteria

pode apresentar em diversificados campos do saber Coloca que a operaccedilatildeo historiograacutefica

natildeo estaacute somente relacionada a um lugar a uma praacutetica mas tambeacutem a uma escrita ou seja a

historiografia eacute construiacuteda por meio do discurso documental Portanto todo conhecimento

historiograacutefico eacute construiacutedo o que nos permite sempre trazer novas discussotildees a respeito da

anaacutelise do ldquopassadordquo

Sob esta perspectiva de construccedilatildeo a partir do seu lugar social eacute que podemos refletir

sobre os motivos e as intenccedilotildees de desvincular a praacutetica da religiatildeo catoacutelica em Caiccedilara da

presenccedila negra e indiacutegena nesta sociedade

ldquoA religiatildeo mesmo praticada por todos era a catoacutelica romana Nem os cultos

negros ndash o que evidencia a pequena participaccedilatildeo do elemento negro na etnia

local marcaram presenccedila na comunidade Os ritos as festas as preces tudo

era vinculado ao catolicismordquo (COSTA 1990 p 153)

8

Esta negaccedilatildeo aleacutem de refletir perspectiva de discriminaccedilatildeo racial destaca a

necessidade da Igreja Catoacutelica de apagar da memoacuteria histoacuterica natildeo apenas a presenccedila do

homem de cor mas muito aleacutem disso a possibilidade do espaccedilo de culto catoacutelico ou seja a

Igreja pertencer ou ter pertencido nominalmente a uma irmandade Isto significa que o

preacutedio em si e suas propriedades economicamente natildeo eram da Igreja mas de leigos que a

construiacuteram e doaram tudo o que estava ao seu redor e no seu interior Haacute uma real atividade

da Igreja de tentar apagar desconstruir camuflar as atividades das irmandades em especial

das que eram compostas por homens de cor

MUITO ALEacuteM DA ESCRITA E DA MEMOacuteRIA UMA CONSTRUCcedilAtildeO

O autor Severino Ismael da Costa publicou seu texto Caiccedilara caminhos de

almocreves na deacutecada de 90 do seacuteculo XX um periacuteodo de movimentaccedilatildeo poliacutetica vinculada

aos processos de municipalizaccedilatildeo que vinham ocorrendo no Estado da Paraiacuteba desde os anos

70 do mesmo seacuteculo Aliado a accedilatildeo poliacutetica de transformar em municiacutepio as vilas lugarejos e

aacutereas rurais do Estado era necessaacuteria a construccedilatildeo histoacuteria e descriccedilatildeo dos principais eventos

destas regiotildees Assim temos uma linha de escrita historiograacutefica estritamente vinculada a este

processo Constroacutei-se um municiacutepio consequentemente se constroacutei uma histoacuteria

O importante eacute identificar nestes textos em grande parte encomendados ou ao

menos financiados pelas elites locais o tipo de histoacuteria escrita e pensada assim como satildeo

escolhidos os personagens deste percurso A obra que analisamos natildeo foge a estas

caracteriacutesticas jaacute que recebeu apoio dos poliacuteticos locais na eacutepoca que foi publicada Nas

primeiras paacuteginas encontramos homenagens e agradecimentos agraves pessoas e personagens

ilustres da cidade entre eles filhos da elite local que se formaram e exercem profissotildees

liberais respeitadas pela sociedade da eacutepoca e dos dias atuais

ldquo HOMENAGEM Agrave CULTURA

Paraibana na presenccedila de um grande vulto

Prof JOSEacute OCTAacuteVIO DE ARRUDA MELO

Caiccedilarense representada por seus filhos

D Epaminondas Joseacute de Arauacutejo emeacuterito bispo da Igreja Catoacutelica de quem natildeo

me faltou estiacutemulo de conterracircneo

9

Prof Joseacute Jackson Carneiro de Carvalho de quem recebi incentivo e ateacute desafio

Dr Walderedo Ismael de Oliveira meacutedico de renome internacional escritor

especializado modesto e grande como sua terrardquo (COSTA 1990 p13)

O autor inicia seu texto se referindo as ldquograndesrdquo personalidades de sua cidade tendo

o cuidado de anteriormente ter agradecido aos prefeitos da eacutepoca Haacute a presenccedila dos nomes e

sobrenomes de destaque da cidade representantes da Igreja Catoacutelica de meacutedicos professores

e jornalistas

Em seguida descreve a histoacuteria de fundaccedilatildeo da cidade e de sua municipalizaccedilatildeo desta

a participaccedilatildeo do iacutendio que junto ao portuguecircs seriam os grandes responsaacuteveis pela formaccedilatildeo

desta sociedade mas afirma que o negro teve pouca atuaccedilatildeo ldquonatildeo haacute grande presenccedila do

elemento negro a natildeo ser na zona dos engenhos no dorso da serra onde precisaram do

escravo para tocar o trabalhordquo (COSTA 1990 p 69) apesar de ter sido escrito nos anos 90

do seacuteculo XX o texto tem uma preocupaccedilatildeo oitocentista de esconder a presenccedila negra

minimizando sua participaccedilatildeo nas atividades econocircmicas A impossibilidade de simplesmente

omitir esta inserccedilatildeo dos homens negros na sociedade de Caiccedilara faz com que seu texto e sua

fala se tornem contraditoacuterios no sentido de que afirma natildeo ter existido uma participaccedilatildeo

negra mas ao mesmo tempo destaca o lugar social ocupado por esta etnia

Muito de sua escrita positivista eacute explicado pelas fontes selecionadas pelo autor

Textos tradicionais sobre a Histoacuteria da Paraiacuteba escritos no iniacutecio do seacuteculo XX em especial

os escritos de Horaacutecio de Almeida se dando ao trabalho de apenas transferir as ideias destes

sem realizar uma revisatildeo ou criacutetica historiograacutefica Isso fica latente ao reproduzir a expressatildeo

Tapuia como sinocircnimo de baacuterbaro E destacar figuras heroicas entre os indiacutegenas que de

alguma forma se aliaram aos conquistadores nos empreendimentos de colonizaccedilatildeo

Outro ponto que nos chama a atenccedilatildeo eacute a necessidade de sempre referecircnciar as fontes

em geral documentais ou historiograacuteficas e ao mesmo tempo questionaacute-las e ateacute discordar de

dados e apontamentos que se distanciam de uma preocupaccedilatildeo com o processo histoacuterico mas

se relaciona diretamente com uma narrativa positivista como por exemplo ao investigar e

averiguar quem teria sido o primeiro morador de Caiccedilara Segundo Coriolano de Medeiros e

Luiz Pinto teria sido ldquoJoseacute de abreu Cordeiro em 1776 contudo verificou ser na realidade

Raphael de Carvalho em 1615rdquo (COSTA 1990 p 85)

10

O povoado surge a partir da construccedilatildeo de casa de morada capela e currais agrave margem

direita do rio Curimatauacute em 1822 por Manoel Soares da Costa A capela tinha por invocaccedilatildeo

Nossa Senhora do Rosaacuterio Como a maioria dos municiacutepios da regiatildeo seu desenvolvimento

pode ser vinculado ao estabelecimento da feira Uma particularidade citada e destacada pelo

autor satildeo as disputas poliacuteticas entre Caiccedilara e o Municiacutepio de Serra da Raiz que levam os

dois lugarejos a encontrar formas de se destacarem um em relaccedilatildeo ao outro Por exemplo

menciona que a criaccedilatildeo em 1870 da Freguesia de N S do Bom Fim cuja sede eacute a Serra da

Raiz ( instituiccedilatildeo que tornava Caiccedilara subordinada nas questotildees religiosas em relaccedilatildeo agrave Serra

da Raiz) segundo o autor a animosidade poliacutetico-administrativa entre os lugarejos se

desenvolveu a partir da introduccedilatildeo da feira livre em Caiccedilara jaacute que a mesma se tornou uma

forte concorrente para os ldquobarracotildeesrdquo instalados nos engenhos da Serra da Raiz assim a feira

poderia promover uma mudanccedila social que natildeo interessava aos poliacuteticos daquela regiatildeo

Passa a destacar os poliacuteticos de Caiccedilara nomeando-os ateacute o seacuteculo XX o que se

configura como um importante registro para a histoacuteria local assim como toda a obra de

Severino Ismael da Costa (1990) contudo ainda necessitando de uma anaacutelise do processo

histoacuterico e de suas etapas O fato que o autor levanta vaacuterios pontos desta histoacuteria que devem

ser estudados um dia e provavelmente iratildeo partir e se referir a sua obra que tem como

destaque o trabalho de levantamento de dados e fontes para os proacuteximos historiadores que se

dedicarem a Historia desta regiatildeo Nossas observaccedilotildees se referem a ideia de ausecircncia de

contribuiccedilatildeo do homem negro na constituiccedilatildeo soacutecioreligiosa desta localidade

Mais uma vez o autor busca formas de desvincular a participaccedilatildeo dos negros na

histoacuteria religiosa local A obra Caiccedilara Caminhos de Almocreves estaacute repleta destas

argumentaccedilotildees acerca do homem de cor

O objetivo inicial desta pesquisa era de buscar indiacutecios em Livros de Tombo e

documentos religiosos a contribuiccedilatildeo do negro na religiosidade local Tendo em vista que natildeo

soacute no municiacutepio de Caiccedilara mas tambeacutem em todo o territoacuterio brasileiro houve uma

marginalizaccedilatildeo da imagem do homem de cor ou seja uma tentativa de deixar a margem da

sociedade uma figura que se faz tatildeo importante para adentrarmos no imaginaacuterio religioso do

povo brasileiro

Contudo o livro de Tombo analisado natildeo nos forneceu as informaccedilotildees necessaacuterias

para afirmamos que houve uma irmandade negra no municiacutepio de Caiccedilara Mas para

buscarmos indiacutecios e vestiacutegios da contribuiccedilatildeo do negro nestes locais faremos uma analise

11

minuciosa da obra contrapondo com elementos existentes na proacutepria igreja local na tentativa

de trazer a luz questotildees que foram estabelecidas pelo autor Severino Ismael como verdades

prontas e absolutas Os possiacuteveis indiacutecios e vestiacutegios satildeo elementos de fundamental

importacircncia para este trabalho

Entre estes vestiacutegios destacamos a imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no altar

central da Igreja matriz de Caiccedilara (apesar da referecircncia direta agrave fundaccedilatildeo da cidade nos eacute

intrigante a escolha desta padroeira por seus fundadores) Jaacute que este culto agrave Senhora do

Rosaacuterio no Brasil ficou diretamente vinculado ao culto catoacutelico negro atraveacutes das

irmandades podendo dessa forma ser considerado um elemento da cultura africana no

espaccedilo religioso local Abaixo foto da Imagem tirada em 06 de Janeiro de 2014 Durante os

preparativos para a procissatildeo da Padroeira que se comemora nesta data no municiacutepio de

Caiccedilara

Ilustraccedilatildeo 1 Imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no andor

12

Foto Ricardo (2014)

Eacute evidente que os diversos escravos africanos desembarcados no Brasil contribuiriam

de forma significativa para a construccedilatildeo territorial e religiosa do paiacutes jaacute que participaram

diretamente da formaccedilatildeo da sociedade brasileira seja no trabalho nos engenhos de produccedilatildeo

de cana de accediluacutecar nas lavouras do cafeacute na extraccedilatildeo do ouro entre outros Ao desembarcarem

nessas terras trouxeram consigo seus costumes liacutenguas valores e crenccedilas Aqui encontraram

as mais diversas dificuldades de praticar sua cultura ou seja cultuar suas divindades e

costumes

O DESENVOLVIMENTO DAS PRAacuteTICAS RELIGIOSAS OFICIAIS NA CIDADE

DE CAICcedilARA-PB

A presenccedila do Catolicismo caiccedilarense estaacute inteiramente ligada ao seu periacuteodo de

fundaccedilatildeo que se deu por volta do ano de 1822 quando Manoel Soares da Costa instalou sua

fazenda e ergueu uma capela as margens do Rio Curimatauacute ldquoO povoamento da encantadora

Villa de Caiccedilara segundo informes de pessoas competentes teve logar no ano de 1822rdquo

Onde ldquoFoi edificada uma pequena capella sob a invocaccedilatildeo de NS do Rosaacuterio ()rdquo

ARAUacuteJO (1913)

Como aconteceu no Brasil e consequentemente na Paraiacuteba de uma forma em geral o

processo de povoamento oficial das regiotildees afastadas do litoral assim como o proacuteprio litoral

teve sua conquista e povoamento acompanhado da praacutetica religiosa oficial dos exploradores o

catolicismo A presenccedila da capela de Nossa Senhora do Rosaacuterio no povoamento que

futuramente seria denominado como municiacutepio de caiccedilara eacute um fato indiscutiacutevel pelos

historiadores e narradores de uma forma geral do Mito de fundaccedilatildeo da cidade ocorrendo

uma discussatildeo historiograacutefica agrave respeito do ano desta fundaccedilatildeo Epaminondas Tavares de

Arauacutejo afirma ter sido no ano de 1822 Entretanto Coriolano de Medeiros (em seu

ldquoDicionaacuterio Chorograacuteficordquo 1914) aponta o ano de 1841 como o da fundaccedilatildeo da Villa de

Caiccedilara

13

ldquoEm 1841 o terreno onde hoje eacute a sede do municiacutepio cobria-se ainda

cactos e bromeacutelias quando Manoel Soares da Costa Francisco da Costa

Gonccedilalves e Joseacute Vicente compraram a propriedade construiacuteram suas

vivendas e cercados de ramos ndash caiccedilaras ndash para abrigo do gado Depois

ergueram uma capella dedicada a NS do Rosaacuterio rdquo

Entretanto O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) aceita o uacuteltimo

como sendo o ano de fundaccedilatildeo Entre a populaccedilatildeo a informaccedilatildeo tida com maior aprovaccedilatildeo eacute

ano de 1822 Isto porque a sesmaria que Luiacutes Soares de Mendonccedila adquiriu natildeo foi no ano de

1822 como relatou Coriolano de Medeiros em seus estudos e sim no ano de 1788 registrada

sob nordm 891 por meio de documentos oficiais

Todavia a divergecircncia acerca do ano de fundaccedilatildeo ocorreu pelo fato de que a criaccedilatildeo da

feira ocorreu no ano de 1841 e o mesmo seria o marco do crescimento e da concentraccedilatildeo

urbana O que observamos em comum em ambas as citaccedilotildees eacute que o Catolicismo fecundava a

Villa de Caiccedilara desde sua fundaccedilatildeo Pois a construccedilatildeo da Capella eacute vista em todos os

registros sobre a origem deste povoado Os autores oficiais e tradicionais da histoacuteria de

fundaccedilatildeo da Villa de Caiccedilara discorrem ainda sobre a origem de sua denominaccedilatildeo segundo

Coriolano de Medeiros e Epaminondas Tavares o nome Caiccedilara proveacutem dos currais Fala

Epaminondas ldquoA denominaccedilatildeo de Caiccedilara proveacutem de um curral de pau-a-pique construiacutedo

por Manoel Soares nas proximidades de sua casardquo (p108)

O CATOLICISMO CAICcedilARENSE

De acordo com a visatildeo positivista e as fontes oficiais o iacutendio e o negro pouco

contribuiacuteram na formaccedilatildeo do espirito religioso do povo Caiccedilarense segundo Severino Ismael

da Costa em seu livro ldquoCaiccedilara Caminhos de Almocrevesrdquo (1990) Ainda de acordo com o

mesmo o imaginaacuterio da populaccedilatildeo local contribuiu de maneira bastante significativa para o

florescimento da religiatildeo Catoacutelica que veio a ser praticada na Villa de Caiccedilara

Nesta mesma perspectiva as fontes oficias da Igreja em pauta tentam nos mostrar que

a participaccedilatildeo do negro no acircmbito religioso teve pouco significado Os ritos as festas as

preces tudo era vinculado ao catolicismo No periacuteodo da posse da terra quando o branco

erguia sua morada edificava tambeacutem junto ou nas proximidades uma capela onde eram

celebrados os atos religiosos e realizadas as festas Destas eram as mais comuns O Natal

14

Ano Bom e Reis As juninas Santo Antocircnio Satildeo Joatildeo e Satildeo Pedro A de Santana no uacuteltimo

saacutebado de julho Ainda hoje entre o meio rural caiccedilarense os meses de junho e julho satildeo mais

conhecidos como o de Satildeo Joatildeo e de Santana Na semana santa mais precisamente a partir da

quarta-feira acontecia o recolhimento total ou seja preces jejum pouco trabalho e muito

cuidado em natildeo maltratar pessoas e animais O jejum era tatildeo rigoroso que se bebia apenas um

gole de aacutegua pela manhatilde e soacute a noite algum alimento Na quarta-feira chamada de trevas natildeo

se permitia varrer a casa nem tomar banho sob a pena de ldquoentrevarrdquo nas sedes das fazendas

rezava-se todos os saacutebados o ldquoOficio de Nossa Senhorardquo era acompanhado por todos os

moradores Nos domingos os fazendeiros todos bem vestidos mostravam seu prestigio ao ir agrave

missa com os seus familiares e agregados

MEcircS DE MAIO

Durante todo o mecircs de maio era rezado o terccedilo nas salas das casas grandes ou nas

capelas estes alternados por cacircnticos religiosos Ao termino deste evento acontecia a

tradicional queima das flores que haviam ornamentado os altares das capelas ou os jarros em

volta dos grandes oratoacuterios (tambeacutem chamados de santuaacuterios) de madeira repleto de imagens

de vaacuterios santos Vale ressaltar que geralmente era obrigaccedilatildeo da senhora da casa grande rezar

o terccedilo ou suas filhas Nas fazendas como nas vilas e povoados eram assim Todas as noites

era necessaacuterio a praacutetica de um ato religioso quase sempre um terccedilo ou um rosaacuterio de oraccedilotildees

O Catecismo era ensinado para as crianccedilas nas vilas povoados e nas fazendas

A CONSTRUCcedilAtildeO DA CAPELA

A Capela foi erguida nas proximidades da residecircncia de Manoel Soares da Costa sob

a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora do Rosaacuterio construiacuteda de taipa ou seja as paredes eram feitas

de barro calccedilados entre paus e cruzados por ripa e telhas

No livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves Severino Ismael da Costa descreve a

aacuterea destinada a capela

15

ldquoConstruiacuteda por trinta braccedilas de terras para cada lado para fazer

faces agraves despesas necessaacuterias confirma aquela intenccedilatildeo as casas

construiacutedas ou o que quer que se realizasse naquele periacutemetro

pagaria renda ou foro cabiacutevel agrave igrejardquo (Paacuteg 155)

A citaccedilatildeo acima nos faz entendermos que o fato da capela ter sido construiacuteda um

pouco afastada da casa grande revela a intenccedilatildeo que o fazendeiro tinha que no caso seria

desenvolver outras construccedilotildees ao seu redor

Alguns anos se passaram e o templo foi ampliado por Francisco Costa Gonccedilalves

Entre 1869 a 1872 pelo padre Herculano foi reconstruiacutedo aumentando sua aacuterea e levantadas

paredes de pedras A capela ficou majestosa Cerca de 15 metros de largura por uns 25 de

comprimento Paredes soacutelidas de pedras deram lugar a taipa com mais de metro de espessura

e oito a dez metros de altura Trecircs portas na frente e uma torre no lado direito (nascente) A

frente para o norte no iniacutecio do aclive da colina

No iniacutecio do seacuteculo XX o templo passou por nova reforma desta vez patrocinada por

Ascendina da Costa Frazatildeo que morava nas proximidades A nova reforma consistiu numa

das maiores ampliaccedilotildees jaacute recebidas Foram-lhe acrescentados os corredores laterais em todo

o seu comprimento o coro acrescentando uma torre do lado direito Nesta instalaram dois

sinos cujo bronze emitia lindos sons avisando os fieacuteis sobre a realizaccedilatildeo de atos religiosos

inclusive anunciando os falecimentos que ocorriam O tradicional dobre de finados para os

adultos o ldquorepiquerdquo ou seja uma serie de batidas sucessivas muito proacuteximas indicavam que

havia falecido uma crianccedila os chamados ldquoanjosrdquo e batidas mistas (dobre de finados e

repique) noticiavam o falecimento de jovens puacuteberes Essa reforma quase duplicou a aacuterea do

templo

Por ocasiatildeo desta reforma foram erguidos dois altares no fim da nave central e antes

da capela-mor agrave direita e agrave esquerda da arcada que a esta dava acesso Do lado esquerdo do

altar de Satildeo Sebastiatildeo (a imagem original foi posteriormente substituiacuteda por outra maior

doada por um fazendeiro local) No lado oposto a este altar se encontrava o altar de Nossa

Senhora da Dores cuja a imagem foi doada pelas senhoras das irmandade das Dores

O altar-mor bastante decorado em alto relevo com belas colunatas separando os trecircs

nichos tem no alto o nicho onde fica a imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus preciosa obra

de arte doada pelo Coronel Antocircnio Soares de Oliveira No centro o de Nossa Senhora do

Rosaacuterio

16

Nos anos de 1950 novas reformas foram introduzidas no templo demoliam-se os

altares de NS das Dores e Satildeo Sebastiatildeo cujas imagens foram transferidas para os altares

construiacutedos nas alas direita e a esquerda da capela-mor onde jaacute existia o da direita dedicado a

Santa Terezinha Outras reformas ainda foram realizadas como o revestimento do piso da

igreja com mosaicos Neste caso especificamente as obras foram feitas com recursos proacuteprios

provenientes da festa de NS do Rosaacuterio Vale lembrar que a partir desta uacuteltima empreitada a

igreja ganhou mais uma torre na fachada

A CHEGADA DA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DO ROSAacuteRIO

As reformas que aconteceram entre os anos 1869 a 1872 tinham o objetivo de receber

a nova imagem da padroeira encomendada em Portugal por Joaquim Joseacute fazendeiro desta

regiatildeo A mesma que ainda permanece hoje no nicho central do altar-mor A Santa chegou as

terras da Paraiacuteba no porto de Salema municiacutepio de Mamanguape Mais de 40 quilocircmetros

separavam ela de Caiccedilara O transporte teria que ser efetuado em carro de boi pois natildeo existia

outro meio transporte nessa localidade Poreacutem a dedicaccedilatildeo do povo foi tatildeo grande que os

fieacuteis saiacuteram de Caiccedilara a peacute e em procissatildeo para receber a imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio

A chegada em Caiccedilara deu-se no dia 6 de Janeiro dia festivo da Igreja Catoacutelica em

comemoraccedilatildeo agrave Santos Reis E como chegada da Santa tornou-se duplamente festivo para o

povo caiccedilarense Com consequecircncia deste fato nos dias atuais a festa para homenagear a

padroeira termina exatamente no dia 6 de Janeiro Tanto que a populaccedilatildeo passou a denominar

ldquoFesta de Nossa Senhora do Rosaacuteriordquo E de acordo com as pesquisas efetuadas natildeo conheccedilo

outro lugar onde a festividade ocorra no mecircs de Janeiro Pois no calendaacuterio da Igreja Catoacutelica

a mesma realiza-se no iniacutecio do mecircs de Outubro

Com a chegada da imagem da santa a vila de Caiccedilara o Padre Ibiapina sugeriu que o

nome da mesma passasse a se chamar Marianoacutepolis em homenagem a Nossa senhora do

Rosaacuterio poreacutem natildeo foi muito aceito pela sociedade da eacutepoca

A influecircncia da padroeira tambeacutem pode ser percebida nos dias atuais Pois aleacutem de

casas comerciais um hospital e maternidade recebeu seu nome assim como o primeiro bairro

17

da cidade onde foi edificado um monumento em sua homenagem Sem esquecer que a letra

do hino agrave Caiccedilara demostra a feacute depositada a santa

ldquoMarianoacutepolis eacute o nome que a feacute nos brindou para nossa alegria e que todos de joelho ou de peacute rendem

Graccedilas agrave Virgem Mariardquo

(Paacuteg 36)

A FESTA

Eacute um grandiosiacutessimo evento profano-religioso Nos dias que antecedem o 6 de Janeiro

realiza-se o novenaacuterio Soacute rezado Na noite do dia 5 eacute realizada a festa profana com barracas

e pavilhotildees fogos de artifiacutecios venda de produtos tiacutepicos da culinaacuteria local

Na festividade dedicada a Nossa Senhora do Rosaacuterio identificamos a figura

importantiacutessima que tinha os fazendeiros pois os mesmo com o intuito de mostrar seu poder

bancava as noites de festas A princiacutepio eram nove noites em cada uma delas um fazendeiro

diferente fica com a responsabilidade de organizar este evento

Atualmente a festa eacute precedida por um novenaacuterio onde cada comunidade Catoacutelica

local eacute responsaacutevel por uma noite de novena Sendo que nos uacuteltimos trecircs dias deste evento

acontece festas profanas em frente a Igreja Matriz com leilotildees de gados galinhas entre

outros

18

CONCLUSAtildeO

O presente trabalho buscou investigar se existiu uma irmandade de negros no municiacutepio de

Caiccedilara Entretanto as fontes documentais analisadas natildeo nos permitiram fazermos essa

afirmativa Poreacutem a partir desse momento direcionamos a pesquisa na analise do livro da

histoacuteria local do municiacutepio de Caiccedilara na perspectiva de se debruccedilar sobre indiacutecios e

vestiacutegios que nos permitam fazermos uma releitura da obra na tentativa de elucidarmos os

questionamentos pertinentes a nossa pesquisa

Durante a analise do Livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves percebemos que o autor

procura maneiras de desvincular a participaccedilatildeo do negro no cenaacuterio local Na tentativa de

proclamar o branco ou seja o colonizador como sendo o uacutenico agente na construccedilatildeo do

espaccedilo religioso deste povoado Na obra de Severino Ismael fica evidente a preocupaccedilatildeo do

mesmo em colocar o homem de cor a margem da sociedade local

Entretanto este ensaio procura incessantemente por vestiacutegios que nos possibilitem

enxergarmos a presenccedila de elementos africanos na construccedilatildeo do povoado de Caiccedilara na

tentativa de reescrever uma histoacuteria que nos mostrem que os negros foram responsaacuteveis tanto

na construccedilatildeo deste municiacutepio quanto pelo espaccedilo religioso local

O primeiro passo do trabalho foi buscar indiacutecios da participaccedilatildeo do negro no povoado de

Caiccedilara O culto a Nossa Senhora do Rosaacuterio e a Satildeo Sebastiatildeo pode ser observados como

vestiacutegios da presenccedila do homem de cor na construccedilatildeo cenaacuterio religioso de Caiccedilara A doaccedilatildeo

da imagem de Nossa Senhora das Dores feita por uma Irmandade das Dores de Itabira-MG

para a igreja de Caiccedilara que se encontra num altar lateral da igreja pode ser analisados como

elementos que caracterizam uma irmandade ou ao menos a figura do negro nestes espaccedilos

O presente artigo nos faz enxergarmos como o autor visualiza a construccedilatildeo da Vila de

Caiccedilara partindo do seu lugar socioeconocircmico poliacutetico e cultural Isso tornasse evidente na

sua obra

Contudo a analise historiograacutefica do livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves nos

obriga a produzimos outros trabalhos que possa contrapor essa visatildeo positivista de fatos e

acontecimento que privilegia o branco como sendo o civilizado e o construtor da histoacuteria e

19

marginalizando a imagem do homem de cor como sendo bichos que estavam alheios a

qualquer coisa

ABSTRACT

The marginalization of the black throughout history is clearly observed in its various aspects

From this perspective we seek to verify that the Caiccedilara municipality was erected some

Brotherhood However we did not find the necessary documentation to prove However the

analysis of the book of local history of the county have allowed us to detect the authors

concern to untie colored mans contribution in caiccedilarense society This essay aims to

reconstruct this distorted idea that was created in the course of time with regard to blacks The

theoretical basis that sustains this article are the theoretical assumptions of Kings (1999)

Certeau (2002) and others Through traces and evidence which is the historians work search

the rubble what was hidden this work reexamines in an attempt to evinced importance of

black in several areas of the Caiccedilarense peoples culture whether in beliefs in musicality in

daily habits the existing diverse religiosity in this town

KEY - WORDS Black Marginalization Religiosity

20

REFEREcircNCIAS

ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do

seacuteculo XIX Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Joatildeo Pessoa PPGHUFPB 2006

ARAUacuteJO Epaminondas Tavares de Almanach da Paraiacuteba V PB 1913

BASTIDE Roger As Religiotildees africanas no Brasil Contribuiccedilatildeo a uma Sociologia das

Interpretaccedilotildees de Civilizaccedilotildees Satildeo Paulo Pioneira 1971

BOSCHI Caio Ceacutesar Os leigos e o poder irmandades leigas e poliacutetica colonizadora em

Minas Gerais Satildeo Paulo Aacutetica ColEnsaios 116 1986

COSTA Severino Ismael da Caiccedilara Caminhos de Almocreves Joatildeo Pessoa Ed

Micrograacutefica 1990

FREYRE Gilberto Casa-grande amp senzala formaccedilatildeo da famiacutelia brasileira sob o regime de

economia patriarcal Rio de Janeiro Nova Aguilar 2002

HOORNAERT Eduardo Formaccedilatildeo do Catolicismo Brasileiro 1550-1800 3ordf ediccedilatildeo

Petroacutepolis Vozes 1991

JUNIOR Joseacute Pereira de Souza Tradiccedilatildeo Devoccedilatildeo e Feacute os rituais festivos nas

irmandades religiosas na Parahyba do Norte ndash sec XIX IN Joseacute Pereira de Souza Junior

Ed Universitaacuteria ndash UFPB 2006

MEDEIROS Coriolano de (Dicionaacuterio Chorograacutefico da paraiacuteba 1914)

QUINTAtildeO Antonia Aparecida Laacute vem o meu parente as irmandades de pretos e pardos

no Rio de Janeiro e em Pernambuco (seacuteculo XVIII) Satildeo Paulo Annablume 2002

RUSSELL- Wood AJ R Escravos e Libertos no Brasil Colonial Traduccedilatildeo Maria Beatriz

Medina ndash Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2005

Epaminondas Tavares de Arauacutejo (V ldquoAlmanach da Paraiacuteba 1913rdquo)

httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250360ampsearch=||infogrE

1ficos-informaE7F5es-completas acessado em 09032015 agraves 2200hs

Page 4: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA CAMPUS III CENTRO DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13300/1... · 2017. 4. 6. · 2 PAULO RICARDO PORPINO DA CRUZ Memória construída

4

5

RESUMO

A marginalizaccedilatildeo do negro no decorrer da histoacuteria eacute visivelmente observada em seus diversos

aspectos Nessa perspectiva buscamos verificar se no municiacutepio de Caiccedilara foi erguida

alguma Irmandade Entretanto natildeo encontramos a documentaccedilatildeo necessaacuteria para

comprovaccedilatildeo No entanto a analise do livro da histoacuteria local do municiacutepio nos permitiram

detectar a preocupaccedilatildeo do autor em desvincular a contribuiccedilatildeo do homem de cor na sociedade

caiccedilarense O presente ensaio tem como objetivo reconstruir essa ideia deturpada que foi

criada no transcorrer do tempo no tocante aos negros A base teoacuterica que sustenta este artigo

satildeo os pressupostos teoacutericos de Reis(1999) Certeau (2002) e outros Atraveacutes de vestiacutegios e

indiacutecios que eacute o trabalho do historiador buscar nos escombros aquilo que estava escondido

este trabalho faz uma releitura na tentativa de evidenciara importacircncia do negro nas mais

diversas aacutereas da cultura do povo Caiccedilarense seja nas crendices na musicalidade nos haacutebitos

diaacuterios na religiosidade diversificada existente neste povoado

PALAVRAS ndash CHAVE Negro Marginalizaccedilatildeo Religiosidade

6

Memoacuteria construiacuteda e repensada sobre o municiacutepio de Caiccedilara

Paulo Ricardo

ldquoA histoacuteria eacute necessariamente escrita e reescrita a partir das

posiccedilotildees do presente lugar da problemaacutetica da pesquisa e do sujeito

que a realizardquo (REIS 1999 p9)

INTRODUCcedilAtildeO

Ao iniciarmos nossa pesquisa tiacutenhamos a pretensatildeo de estudar diretamente a presenccedila

de Irmandades Negras no municiacutepio de Caiccedilara1 como uma forma de resgatar a Histoacuteria dos

homens Negros da regiatildeo destacando suas formas de resistecircncia ao processo escravocrata

Contudo apoacutes algumas pesquisas nos deparamos com a falta de fontes documentais ou

mesmo orais que abordassem a temaacutetica Natildeo haacute registro da participaccedilatildeo do homem de cor na

formaccedilatildeo do culto catoacutelico da regiatildeo Dessa forma encontramos o problema a ser resolvido

ou pelo menos levantado atraveacutes de nossas investigaccedilotildees Onde encontrar as personagens

negras e suas colaboraccedilotildees na construccedilatildeo da Histoacuteria Local do Municiacutepio de Caiccedilara

Na principal fonte atualizada sobre a Histoacuteria do Municiacutepio haacute uma negaccedilatildeo

veemente sobre a contribuiccedilatildeo do homem de cor no cenaacuterio religioso local No livro Caiccedilara

Caminhos de Almocreves (1990) o autor Severino Ismael procura desvincular a participaccedilatildeo

do negro na construccedilatildeo do espaccedilo religioso daquele povoado ldquoO iacutendio e o negro quase que

natildeo tiveram influencia na formaccedilatildeo do espirito religioso do povo caiccedilarenserdquo p 153

Essa eacute apenas uma das afirmativas feitas pelo autor com o intuito de negar a

contribuiccedilatildeo do homem de cor neste cenaacuterio local Ao analisamos o livro percebemos que o

autor Severino Ismael tenta excluir de todas as maneiras a presenccedila de elementos africanos

na construccedilatildeo do culto catoacutelico da regiatildeo Nossa pesquisa discute os elementos textuais da

obra escrita sob a perspectiva de historiografia apresentada por Certeau (2002) Desse modo a

historiografia eacute utilizada para definir os estudos criacuteticos acerca de um tema ou periacuteodo

1 Caiccedilarasup1 - eacute um municiacutepio brasileiro localizado na microrregiatildeo de Guarabira mesorregiatildeo do agreste

paraibano do estado da Paraiacuteba Sua populaccedilatildeo em 2013 foi estimada pelo Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 7304 habitantes distribuiacutedos em 128 kmsup2 de aacuterea distacircncia ateacute a

capital 143 km

7

referente agrave histoacuteria buscando-se encontrar explicaccedilotildees para os fatos do passado natildeo

constituindo verdades objetivas que traduzem a realidade tal como ocorreu mas como

construccedilotildees humanas que representam partes de uma realidade

Nessa linha de abordagem Certeau (2002) em seu livro A Escrita da Histoacuteria

compreende as caracteriacutesticas do trabalho do historiador fazendo referecircncia ao tripeacute da

operaccedilatildeo historiograacutefica ldquoum lugar social uma praacutetica uma escritardquo (p66)

O historiador tem a funccedilatildeo de dar voz ao natildeo dito atribuindo sentido a um determinado

acontecimento Segundo Certeau (2002) a pesquisa em histoacuteria se faz a partir de um lugar

socioeconocircmico poliacutetico e cultural Eacute importante considerar que o lugar que o autor cita estaacute

ligado agrave relaccedilatildeo que o historiador manteacutem com o lugar que se encontra uma vez que este natildeo

eacute mais um colecionador de fatos e sim um construtor recortador leitor e inteacuterprete de

processos histoacutericos buscando possibilidades hipoacuteteses de abordagem ligadas as suas

preocupaccedilotildees especiacuteficas ou seja trocando ideias e informaccedilotildees com outros saberes e

sujeitos

O historiador tem o tempo como ldquomaterial de anaacuteliserdquo ou como ldquoobjeto

especiacuteficordquo Trabalha de acordo com os seus meacutetodos os objetos fiacutesicos

(papeacuteis pedras imagens sons etc) Trabalha sobre um material para

transformaacute-lo em histoacuteria(CERTEAU 2002 p79)

Certeau (2002) afirma ainda que a anaacutelise historiograacutefica eacute um exerciacutecio de

problematizaccedilatildeo um campo aberto a inuacutemeras possibilidades e ao intenso diaacutelogo o que

permite essa amplitude de objetos e tipos de fontes a partir de metodologias que a histoacuteria

pode apresentar em diversificados campos do saber Coloca que a operaccedilatildeo historiograacutefica

natildeo estaacute somente relacionada a um lugar a uma praacutetica mas tambeacutem a uma escrita ou seja a

historiografia eacute construiacuteda por meio do discurso documental Portanto todo conhecimento

historiograacutefico eacute construiacutedo o que nos permite sempre trazer novas discussotildees a respeito da

anaacutelise do ldquopassadordquo

Sob esta perspectiva de construccedilatildeo a partir do seu lugar social eacute que podemos refletir

sobre os motivos e as intenccedilotildees de desvincular a praacutetica da religiatildeo catoacutelica em Caiccedilara da

presenccedila negra e indiacutegena nesta sociedade

ldquoA religiatildeo mesmo praticada por todos era a catoacutelica romana Nem os cultos

negros ndash o que evidencia a pequena participaccedilatildeo do elemento negro na etnia

local marcaram presenccedila na comunidade Os ritos as festas as preces tudo

era vinculado ao catolicismordquo (COSTA 1990 p 153)

8

Esta negaccedilatildeo aleacutem de refletir perspectiva de discriminaccedilatildeo racial destaca a

necessidade da Igreja Catoacutelica de apagar da memoacuteria histoacuterica natildeo apenas a presenccedila do

homem de cor mas muito aleacutem disso a possibilidade do espaccedilo de culto catoacutelico ou seja a

Igreja pertencer ou ter pertencido nominalmente a uma irmandade Isto significa que o

preacutedio em si e suas propriedades economicamente natildeo eram da Igreja mas de leigos que a

construiacuteram e doaram tudo o que estava ao seu redor e no seu interior Haacute uma real atividade

da Igreja de tentar apagar desconstruir camuflar as atividades das irmandades em especial

das que eram compostas por homens de cor

MUITO ALEacuteM DA ESCRITA E DA MEMOacuteRIA UMA CONSTRUCcedilAtildeO

O autor Severino Ismael da Costa publicou seu texto Caiccedilara caminhos de

almocreves na deacutecada de 90 do seacuteculo XX um periacuteodo de movimentaccedilatildeo poliacutetica vinculada

aos processos de municipalizaccedilatildeo que vinham ocorrendo no Estado da Paraiacuteba desde os anos

70 do mesmo seacuteculo Aliado a accedilatildeo poliacutetica de transformar em municiacutepio as vilas lugarejos e

aacutereas rurais do Estado era necessaacuteria a construccedilatildeo histoacuteria e descriccedilatildeo dos principais eventos

destas regiotildees Assim temos uma linha de escrita historiograacutefica estritamente vinculada a este

processo Constroacutei-se um municiacutepio consequentemente se constroacutei uma histoacuteria

O importante eacute identificar nestes textos em grande parte encomendados ou ao

menos financiados pelas elites locais o tipo de histoacuteria escrita e pensada assim como satildeo

escolhidos os personagens deste percurso A obra que analisamos natildeo foge a estas

caracteriacutesticas jaacute que recebeu apoio dos poliacuteticos locais na eacutepoca que foi publicada Nas

primeiras paacuteginas encontramos homenagens e agradecimentos agraves pessoas e personagens

ilustres da cidade entre eles filhos da elite local que se formaram e exercem profissotildees

liberais respeitadas pela sociedade da eacutepoca e dos dias atuais

ldquo HOMENAGEM Agrave CULTURA

Paraibana na presenccedila de um grande vulto

Prof JOSEacute OCTAacuteVIO DE ARRUDA MELO

Caiccedilarense representada por seus filhos

D Epaminondas Joseacute de Arauacutejo emeacuterito bispo da Igreja Catoacutelica de quem natildeo

me faltou estiacutemulo de conterracircneo

9

Prof Joseacute Jackson Carneiro de Carvalho de quem recebi incentivo e ateacute desafio

Dr Walderedo Ismael de Oliveira meacutedico de renome internacional escritor

especializado modesto e grande como sua terrardquo (COSTA 1990 p13)

O autor inicia seu texto se referindo as ldquograndesrdquo personalidades de sua cidade tendo

o cuidado de anteriormente ter agradecido aos prefeitos da eacutepoca Haacute a presenccedila dos nomes e

sobrenomes de destaque da cidade representantes da Igreja Catoacutelica de meacutedicos professores

e jornalistas

Em seguida descreve a histoacuteria de fundaccedilatildeo da cidade e de sua municipalizaccedilatildeo desta

a participaccedilatildeo do iacutendio que junto ao portuguecircs seriam os grandes responsaacuteveis pela formaccedilatildeo

desta sociedade mas afirma que o negro teve pouca atuaccedilatildeo ldquonatildeo haacute grande presenccedila do

elemento negro a natildeo ser na zona dos engenhos no dorso da serra onde precisaram do

escravo para tocar o trabalhordquo (COSTA 1990 p 69) apesar de ter sido escrito nos anos 90

do seacuteculo XX o texto tem uma preocupaccedilatildeo oitocentista de esconder a presenccedila negra

minimizando sua participaccedilatildeo nas atividades econocircmicas A impossibilidade de simplesmente

omitir esta inserccedilatildeo dos homens negros na sociedade de Caiccedilara faz com que seu texto e sua

fala se tornem contraditoacuterios no sentido de que afirma natildeo ter existido uma participaccedilatildeo

negra mas ao mesmo tempo destaca o lugar social ocupado por esta etnia

Muito de sua escrita positivista eacute explicado pelas fontes selecionadas pelo autor

Textos tradicionais sobre a Histoacuteria da Paraiacuteba escritos no iniacutecio do seacuteculo XX em especial

os escritos de Horaacutecio de Almeida se dando ao trabalho de apenas transferir as ideias destes

sem realizar uma revisatildeo ou criacutetica historiograacutefica Isso fica latente ao reproduzir a expressatildeo

Tapuia como sinocircnimo de baacuterbaro E destacar figuras heroicas entre os indiacutegenas que de

alguma forma se aliaram aos conquistadores nos empreendimentos de colonizaccedilatildeo

Outro ponto que nos chama a atenccedilatildeo eacute a necessidade de sempre referecircnciar as fontes

em geral documentais ou historiograacuteficas e ao mesmo tempo questionaacute-las e ateacute discordar de

dados e apontamentos que se distanciam de uma preocupaccedilatildeo com o processo histoacuterico mas

se relaciona diretamente com uma narrativa positivista como por exemplo ao investigar e

averiguar quem teria sido o primeiro morador de Caiccedilara Segundo Coriolano de Medeiros e

Luiz Pinto teria sido ldquoJoseacute de abreu Cordeiro em 1776 contudo verificou ser na realidade

Raphael de Carvalho em 1615rdquo (COSTA 1990 p 85)

10

O povoado surge a partir da construccedilatildeo de casa de morada capela e currais agrave margem

direita do rio Curimatauacute em 1822 por Manoel Soares da Costa A capela tinha por invocaccedilatildeo

Nossa Senhora do Rosaacuterio Como a maioria dos municiacutepios da regiatildeo seu desenvolvimento

pode ser vinculado ao estabelecimento da feira Uma particularidade citada e destacada pelo

autor satildeo as disputas poliacuteticas entre Caiccedilara e o Municiacutepio de Serra da Raiz que levam os

dois lugarejos a encontrar formas de se destacarem um em relaccedilatildeo ao outro Por exemplo

menciona que a criaccedilatildeo em 1870 da Freguesia de N S do Bom Fim cuja sede eacute a Serra da

Raiz ( instituiccedilatildeo que tornava Caiccedilara subordinada nas questotildees religiosas em relaccedilatildeo agrave Serra

da Raiz) segundo o autor a animosidade poliacutetico-administrativa entre os lugarejos se

desenvolveu a partir da introduccedilatildeo da feira livre em Caiccedilara jaacute que a mesma se tornou uma

forte concorrente para os ldquobarracotildeesrdquo instalados nos engenhos da Serra da Raiz assim a feira

poderia promover uma mudanccedila social que natildeo interessava aos poliacuteticos daquela regiatildeo

Passa a destacar os poliacuteticos de Caiccedilara nomeando-os ateacute o seacuteculo XX o que se

configura como um importante registro para a histoacuteria local assim como toda a obra de

Severino Ismael da Costa (1990) contudo ainda necessitando de uma anaacutelise do processo

histoacuterico e de suas etapas O fato que o autor levanta vaacuterios pontos desta histoacuteria que devem

ser estudados um dia e provavelmente iratildeo partir e se referir a sua obra que tem como

destaque o trabalho de levantamento de dados e fontes para os proacuteximos historiadores que se

dedicarem a Historia desta regiatildeo Nossas observaccedilotildees se referem a ideia de ausecircncia de

contribuiccedilatildeo do homem negro na constituiccedilatildeo soacutecioreligiosa desta localidade

Mais uma vez o autor busca formas de desvincular a participaccedilatildeo dos negros na

histoacuteria religiosa local A obra Caiccedilara Caminhos de Almocreves estaacute repleta destas

argumentaccedilotildees acerca do homem de cor

O objetivo inicial desta pesquisa era de buscar indiacutecios em Livros de Tombo e

documentos religiosos a contribuiccedilatildeo do negro na religiosidade local Tendo em vista que natildeo

soacute no municiacutepio de Caiccedilara mas tambeacutem em todo o territoacuterio brasileiro houve uma

marginalizaccedilatildeo da imagem do homem de cor ou seja uma tentativa de deixar a margem da

sociedade uma figura que se faz tatildeo importante para adentrarmos no imaginaacuterio religioso do

povo brasileiro

Contudo o livro de Tombo analisado natildeo nos forneceu as informaccedilotildees necessaacuterias

para afirmamos que houve uma irmandade negra no municiacutepio de Caiccedilara Mas para

buscarmos indiacutecios e vestiacutegios da contribuiccedilatildeo do negro nestes locais faremos uma analise

11

minuciosa da obra contrapondo com elementos existentes na proacutepria igreja local na tentativa

de trazer a luz questotildees que foram estabelecidas pelo autor Severino Ismael como verdades

prontas e absolutas Os possiacuteveis indiacutecios e vestiacutegios satildeo elementos de fundamental

importacircncia para este trabalho

Entre estes vestiacutegios destacamos a imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no altar

central da Igreja matriz de Caiccedilara (apesar da referecircncia direta agrave fundaccedilatildeo da cidade nos eacute

intrigante a escolha desta padroeira por seus fundadores) Jaacute que este culto agrave Senhora do

Rosaacuterio no Brasil ficou diretamente vinculado ao culto catoacutelico negro atraveacutes das

irmandades podendo dessa forma ser considerado um elemento da cultura africana no

espaccedilo religioso local Abaixo foto da Imagem tirada em 06 de Janeiro de 2014 Durante os

preparativos para a procissatildeo da Padroeira que se comemora nesta data no municiacutepio de

Caiccedilara

Ilustraccedilatildeo 1 Imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no andor

12

Foto Ricardo (2014)

Eacute evidente que os diversos escravos africanos desembarcados no Brasil contribuiriam

de forma significativa para a construccedilatildeo territorial e religiosa do paiacutes jaacute que participaram

diretamente da formaccedilatildeo da sociedade brasileira seja no trabalho nos engenhos de produccedilatildeo

de cana de accediluacutecar nas lavouras do cafeacute na extraccedilatildeo do ouro entre outros Ao desembarcarem

nessas terras trouxeram consigo seus costumes liacutenguas valores e crenccedilas Aqui encontraram

as mais diversas dificuldades de praticar sua cultura ou seja cultuar suas divindades e

costumes

O DESENVOLVIMENTO DAS PRAacuteTICAS RELIGIOSAS OFICIAIS NA CIDADE

DE CAICcedilARA-PB

A presenccedila do Catolicismo caiccedilarense estaacute inteiramente ligada ao seu periacuteodo de

fundaccedilatildeo que se deu por volta do ano de 1822 quando Manoel Soares da Costa instalou sua

fazenda e ergueu uma capela as margens do Rio Curimatauacute ldquoO povoamento da encantadora

Villa de Caiccedilara segundo informes de pessoas competentes teve logar no ano de 1822rdquo

Onde ldquoFoi edificada uma pequena capella sob a invocaccedilatildeo de NS do Rosaacuterio ()rdquo

ARAUacuteJO (1913)

Como aconteceu no Brasil e consequentemente na Paraiacuteba de uma forma em geral o

processo de povoamento oficial das regiotildees afastadas do litoral assim como o proacuteprio litoral

teve sua conquista e povoamento acompanhado da praacutetica religiosa oficial dos exploradores o

catolicismo A presenccedila da capela de Nossa Senhora do Rosaacuterio no povoamento que

futuramente seria denominado como municiacutepio de caiccedilara eacute um fato indiscutiacutevel pelos

historiadores e narradores de uma forma geral do Mito de fundaccedilatildeo da cidade ocorrendo

uma discussatildeo historiograacutefica agrave respeito do ano desta fundaccedilatildeo Epaminondas Tavares de

Arauacutejo afirma ter sido no ano de 1822 Entretanto Coriolano de Medeiros (em seu

ldquoDicionaacuterio Chorograacuteficordquo 1914) aponta o ano de 1841 como o da fundaccedilatildeo da Villa de

Caiccedilara

13

ldquoEm 1841 o terreno onde hoje eacute a sede do municiacutepio cobria-se ainda

cactos e bromeacutelias quando Manoel Soares da Costa Francisco da Costa

Gonccedilalves e Joseacute Vicente compraram a propriedade construiacuteram suas

vivendas e cercados de ramos ndash caiccedilaras ndash para abrigo do gado Depois

ergueram uma capella dedicada a NS do Rosaacuterio rdquo

Entretanto O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) aceita o uacuteltimo

como sendo o ano de fundaccedilatildeo Entre a populaccedilatildeo a informaccedilatildeo tida com maior aprovaccedilatildeo eacute

ano de 1822 Isto porque a sesmaria que Luiacutes Soares de Mendonccedila adquiriu natildeo foi no ano de

1822 como relatou Coriolano de Medeiros em seus estudos e sim no ano de 1788 registrada

sob nordm 891 por meio de documentos oficiais

Todavia a divergecircncia acerca do ano de fundaccedilatildeo ocorreu pelo fato de que a criaccedilatildeo da

feira ocorreu no ano de 1841 e o mesmo seria o marco do crescimento e da concentraccedilatildeo

urbana O que observamos em comum em ambas as citaccedilotildees eacute que o Catolicismo fecundava a

Villa de Caiccedilara desde sua fundaccedilatildeo Pois a construccedilatildeo da Capella eacute vista em todos os

registros sobre a origem deste povoado Os autores oficiais e tradicionais da histoacuteria de

fundaccedilatildeo da Villa de Caiccedilara discorrem ainda sobre a origem de sua denominaccedilatildeo segundo

Coriolano de Medeiros e Epaminondas Tavares o nome Caiccedilara proveacutem dos currais Fala

Epaminondas ldquoA denominaccedilatildeo de Caiccedilara proveacutem de um curral de pau-a-pique construiacutedo

por Manoel Soares nas proximidades de sua casardquo (p108)

O CATOLICISMO CAICcedilARENSE

De acordo com a visatildeo positivista e as fontes oficiais o iacutendio e o negro pouco

contribuiacuteram na formaccedilatildeo do espirito religioso do povo Caiccedilarense segundo Severino Ismael

da Costa em seu livro ldquoCaiccedilara Caminhos de Almocrevesrdquo (1990) Ainda de acordo com o

mesmo o imaginaacuterio da populaccedilatildeo local contribuiu de maneira bastante significativa para o

florescimento da religiatildeo Catoacutelica que veio a ser praticada na Villa de Caiccedilara

Nesta mesma perspectiva as fontes oficias da Igreja em pauta tentam nos mostrar que

a participaccedilatildeo do negro no acircmbito religioso teve pouco significado Os ritos as festas as

preces tudo era vinculado ao catolicismo No periacuteodo da posse da terra quando o branco

erguia sua morada edificava tambeacutem junto ou nas proximidades uma capela onde eram

celebrados os atos religiosos e realizadas as festas Destas eram as mais comuns O Natal

14

Ano Bom e Reis As juninas Santo Antocircnio Satildeo Joatildeo e Satildeo Pedro A de Santana no uacuteltimo

saacutebado de julho Ainda hoje entre o meio rural caiccedilarense os meses de junho e julho satildeo mais

conhecidos como o de Satildeo Joatildeo e de Santana Na semana santa mais precisamente a partir da

quarta-feira acontecia o recolhimento total ou seja preces jejum pouco trabalho e muito

cuidado em natildeo maltratar pessoas e animais O jejum era tatildeo rigoroso que se bebia apenas um

gole de aacutegua pela manhatilde e soacute a noite algum alimento Na quarta-feira chamada de trevas natildeo

se permitia varrer a casa nem tomar banho sob a pena de ldquoentrevarrdquo nas sedes das fazendas

rezava-se todos os saacutebados o ldquoOficio de Nossa Senhorardquo era acompanhado por todos os

moradores Nos domingos os fazendeiros todos bem vestidos mostravam seu prestigio ao ir agrave

missa com os seus familiares e agregados

MEcircS DE MAIO

Durante todo o mecircs de maio era rezado o terccedilo nas salas das casas grandes ou nas

capelas estes alternados por cacircnticos religiosos Ao termino deste evento acontecia a

tradicional queima das flores que haviam ornamentado os altares das capelas ou os jarros em

volta dos grandes oratoacuterios (tambeacutem chamados de santuaacuterios) de madeira repleto de imagens

de vaacuterios santos Vale ressaltar que geralmente era obrigaccedilatildeo da senhora da casa grande rezar

o terccedilo ou suas filhas Nas fazendas como nas vilas e povoados eram assim Todas as noites

era necessaacuterio a praacutetica de um ato religioso quase sempre um terccedilo ou um rosaacuterio de oraccedilotildees

O Catecismo era ensinado para as crianccedilas nas vilas povoados e nas fazendas

A CONSTRUCcedilAtildeO DA CAPELA

A Capela foi erguida nas proximidades da residecircncia de Manoel Soares da Costa sob

a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora do Rosaacuterio construiacuteda de taipa ou seja as paredes eram feitas

de barro calccedilados entre paus e cruzados por ripa e telhas

No livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves Severino Ismael da Costa descreve a

aacuterea destinada a capela

15

ldquoConstruiacuteda por trinta braccedilas de terras para cada lado para fazer

faces agraves despesas necessaacuterias confirma aquela intenccedilatildeo as casas

construiacutedas ou o que quer que se realizasse naquele periacutemetro

pagaria renda ou foro cabiacutevel agrave igrejardquo (Paacuteg 155)

A citaccedilatildeo acima nos faz entendermos que o fato da capela ter sido construiacuteda um

pouco afastada da casa grande revela a intenccedilatildeo que o fazendeiro tinha que no caso seria

desenvolver outras construccedilotildees ao seu redor

Alguns anos se passaram e o templo foi ampliado por Francisco Costa Gonccedilalves

Entre 1869 a 1872 pelo padre Herculano foi reconstruiacutedo aumentando sua aacuterea e levantadas

paredes de pedras A capela ficou majestosa Cerca de 15 metros de largura por uns 25 de

comprimento Paredes soacutelidas de pedras deram lugar a taipa com mais de metro de espessura

e oito a dez metros de altura Trecircs portas na frente e uma torre no lado direito (nascente) A

frente para o norte no iniacutecio do aclive da colina

No iniacutecio do seacuteculo XX o templo passou por nova reforma desta vez patrocinada por

Ascendina da Costa Frazatildeo que morava nas proximidades A nova reforma consistiu numa

das maiores ampliaccedilotildees jaacute recebidas Foram-lhe acrescentados os corredores laterais em todo

o seu comprimento o coro acrescentando uma torre do lado direito Nesta instalaram dois

sinos cujo bronze emitia lindos sons avisando os fieacuteis sobre a realizaccedilatildeo de atos religiosos

inclusive anunciando os falecimentos que ocorriam O tradicional dobre de finados para os

adultos o ldquorepiquerdquo ou seja uma serie de batidas sucessivas muito proacuteximas indicavam que

havia falecido uma crianccedila os chamados ldquoanjosrdquo e batidas mistas (dobre de finados e

repique) noticiavam o falecimento de jovens puacuteberes Essa reforma quase duplicou a aacuterea do

templo

Por ocasiatildeo desta reforma foram erguidos dois altares no fim da nave central e antes

da capela-mor agrave direita e agrave esquerda da arcada que a esta dava acesso Do lado esquerdo do

altar de Satildeo Sebastiatildeo (a imagem original foi posteriormente substituiacuteda por outra maior

doada por um fazendeiro local) No lado oposto a este altar se encontrava o altar de Nossa

Senhora da Dores cuja a imagem foi doada pelas senhoras das irmandade das Dores

O altar-mor bastante decorado em alto relevo com belas colunatas separando os trecircs

nichos tem no alto o nicho onde fica a imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus preciosa obra

de arte doada pelo Coronel Antocircnio Soares de Oliveira No centro o de Nossa Senhora do

Rosaacuterio

16

Nos anos de 1950 novas reformas foram introduzidas no templo demoliam-se os

altares de NS das Dores e Satildeo Sebastiatildeo cujas imagens foram transferidas para os altares

construiacutedos nas alas direita e a esquerda da capela-mor onde jaacute existia o da direita dedicado a

Santa Terezinha Outras reformas ainda foram realizadas como o revestimento do piso da

igreja com mosaicos Neste caso especificamente as obras foram feitas com recursos proacuteprios

provenientes da festa de NS do Rosaacuterio Vale lembrar que a partir desta uacuteltima empreitada a

igreja ganhou mais uma torre na fachada

A CHEGADA DA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DO ROSAacuteRIO

As reformas que aconteceram entre os anos 1869 a 1872 tinham o objetivo de receber

a nova imagem da padroeira encomendada em Portugal por Joaquim Joseacute fazendeiro desta

regiatildeo A mesma que ainda permanece hoje no nicho central do altar-mor A Santa chegou as

terras da Paraiacuteba no porto de Salema municiacutepio de Mamanguape Mais de 40 quilocircmetros

separavam ela de Caiccedilara O transporte teria que ser efetuado em carro de boi pois natildeo existia

outro meio transporte nessa localidade Poreacutem a dedicaccedilatildeo do povo foi tatildeo grande que os

fieacuteis saiacuteram de Caiccedilara a peacute e em procissatildeo para receber a imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio

A chegada em Caiccedilara deu-se no dia 6 de Janeiro dia festivo da Igreja Catoacutelica em

comemoraccedilatildeo agrave Santos Reis E como chegada da Santa tornou-se duplamente festivo para o

povo caiccedilarense Com consequecircncia deste fato nos dias atuais a festa para homenagear a

padroeira termina exatamente no dia 6 de Janeiro Tanto que a populaccedilatildeo passou a denominar

ldquoFesta de Nossa Senhora do Rosaacuteriordquo E de acordo com as pesquisas efetuadas natildeo conheccedilo

outro lugar onde a festividade ocorra no mecircs de Janeiro Pois no calendaacuterio da Igreja Catoacutelica

a mesma realiza-se no iniacutecio do mecircs de Outubro

Com a chegada da imagem da santa a vila de Caiccedilara o Padre Ibiapina sugeriu que o

nome da mesma passasse a se chamar Marianoacutepolis em homenagem a Nossa senhora do

Rosaacuterio poreacutem natildeo foi muito aceito pela sociedade da eacutepoca

A influecircncia da padroeira tambeacutem pode ser percebida nos dias atuais Pois aleacutem de

casas comerciais um hospital e maternidade recebeu seu nome assim como o primeiro bairro

17

da cidade onde foi edificado um monumento em sua homenagem Sem esquecer que a letra

do hino agrave Caiccedilara demostra a feacute depositada a santa

ldquoMarianoacutepolis eacute o nome que a feacute nos brindou para nossa alegria e que todos de joelho ou de peacute rendem

Graccedilas agrave Virgem Mariardquo

(Paacuteg 36)

A FESTA

Eacute um grandiosiacutessimo evento profano-religioso Nos dias que antecedem o 6 de Janeiro

realiza-se o novenaacuterio Soacute rezado Na noite do dia 5 eacute realizada a festa profana com barracas

e pavilhotildees fogos de artifiacutecios venda de produtos tiacutepicos da culinaacuteria local

Na festividade dedicada a Nossa Senhora do Rosaacuterio identificamos a figura

importantiacutessima que tinha os fazendeiros pois os mesmo com o intuito de mostrar seu poder

bancava as noites de festas A princiacutepio eram nove noites em cada uma delas um fazendeiro

diferente fica com a responsabilidade de organizar este evento

Atualmente a festa eacute precedida por um novenaacuterio onde cada comunidade Catoacutelica

local eacute responsaacutevel por uma noite de novena Sendo que nos uacuteltimos trecircs dias deste evento

acontece festas profanas em frente a Igreja Matriz com leilotildees de gados galinhas entre

outros

18

CONCLUSAtildeO

O presente trabalho buscou investigar se existiu uma irmandade de negros no municiacutepio de

Caiccedilara Entretanto as fontes documentais analisadas natildeo nos permitiram fazermos essa

afirmativa Poreacutem a partir desse momento direcionamos a pesquisa na analise do livro da

histoacuteria local do municiacutepio de Caiccedilara na perspectiva de se debruccedilar sobre indiacutecios e

vestiacutegios que nos permitam fazermos uma releitura da obra na tentativa de elucidarmos os

questionamentos pertinentes a nossa pesquisa

Durante a analise do Livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves percebemos que o autor

procura maneiras de desvincular a participaccedilatildeo do negro no cenaacuterio local Na tentativa de

proclamar o branco ou seja o colonizador como sendo o uacutenico agente na construccedilatildeo do

espaccedilo religioso deste povoado Na obra de Severino Ismael fica evidente a preocupaccedilatildeo do

mesmo em colocar o homem de cor a margem da sociedade local

Entretanto este ensaio procura incessantemente por vestiacutegios que nos possibilitem

enxergarmos a presenccedila de elementos africanos na construccedilatildeo do povoado de Caiccedilara na

tentativa de reescrever uma histoacuteria que nos mostrem que os negros foram responsaacuteveis tanto

na construccedilatildeo deste municiacutepio quanto pelo espaccedilo religioso local

O primeiro passo do trabalho foi buscar indiacutecios da participaccedilatildeo do negro no povoado de

Caiccedilara O culto a Nossa Senhora do Rosaacuterio e a Satildeo Sebastiatildeo pode ser observados como

vestiacutegios da presenccedila do homem de cor na construccedilatildeo cenaacuterio religioso de Caiccedilara A doaccedilatildeo

da imagem de Nossa Senhora das Dores feita por uma Irmandade das Dores de Itabira-MG

para a igreja de Caiccedilara que se encontra num altar lateral da igreja pode ser analisados como

elementos que caracterizam uma irmandade ou ao menos a figura do negro nestes espaccedilos

O presente artigo nos faz enxergarmos como o autor visualiza a construccedilatildeo da Vila de

Caiccedilara partindo do seu lugar socioeconocircmico poliacutetico e cultural Isso tornasse evidente na

sua obra

Contudo a analise historiograacutefica do livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves nos

obriga a produzimos outros trabalhos que possa contrapor essa visatildeo positivista de fatos e

acontecimento que privilegia o branco como sendo o civilizado e o construtor da histoacuteria e

19

marginalizando a imagem do homem de cor como sendo bichos que estavam alheios a

qualquer coisa

ABSTRACT

The marginalization of the black throughout history is clearly observed in its various aspects

From this perspective we seek to verify that the Caiccedilara municipality was erected some

Brotherhood However we did not find the necessary documentation to prove However the

analysis of the book of local history of the county have allowed us to detect the authors

concern to untie colored mans contribution in caiccedilarense society This essay aims to

reconstruct this distorted idea that was created in the course of time with regard to blacks The

theoretical basis that sustains this article are the theoretical assumptions of Kings (1999)

Certeau (2002) and others Through traces and evidence which is the historians work search

the rubble what was hidden this work reexamines in an attempt to evinced importance of

black in several areas of the Caiccedilarense peoples culture whether in beliefs in musicality in

daily habits the existing diverse religiosity in this town

KEY - WORDS Black Marginalization Religiosity

20

REFEREcircNCIAS

ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do

seacuteculo XIX Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Joatildeo Pessoa PPGHUFPB 2006

ARAUacuteJO Epaminondas Tavares de Almanach da Paraiacuteba V PB 1913

BASTIDE Roger As Religiotildees africanas no Brasil Contribuiccedilatildeo a uma Sociologia das

Interpretaccedilotildees de Civilizaccedilotildees Satildeo Paulo Pioneira 1971

BOSCHI Caio Ceacutesar Os leigos e o poder irmandades leigas e poliacutetica colonizadora em

Minas Gerais Satildeo Paulo Aacutetica ColEnsaios 116 1986

COSTA Severino Ismael da Caiccedilara Caminhos de Almocreves Joatildeo Pessoa Ed

Micrograacutefica 1990

FREYRE Gilberto Casa-grande amp senzala formaccedilatildeo da famiacutelia brasileira sob o regime de

economia patriarcal Rio de Janeiro Nova Aguilar 2002

HOORNAERT Eduardo Formaccedilatildeo do Catolicismo Brasileiro 1550-1800 3ordf ediccedilatildeo

Petroacutepolis Vozes 1991

JUNIOR Joseacute Pereira de Souza Tradiccedilatildeo Devoccedilatildeo e Feacute os rituais festivos nas

irmandades religiosas na Parahyba do Norte ndash sec XIX IN Joseacute Pereira de Souza Junior

Ed Universitaacuteria ndash UFPB 2006

MEDEIROS Coriolano de (Dicionaacuterio Chorograacutefico da paraiacuteba 1914)

QUINTAtildeO Antonia Aparecida Laacute vem o meu parente as irmandades de pretos e pardos

no Rio de Janeiro e em Pernambuco (seacuteculo XVIII) Satildeo Paulo Annablume 2002

RUSSELL- Wood AJ R Escravos e Libertos no Brasil Colonial Traduccedilatildeo Maria Beatriz

Medina ndash Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2005

Epaminondas Tavares de Arauacutejo (V ldquoAlmanach da Paraiacuteba 1913rdquo)

httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250360ampsearch=||infogrE

1ficos-informaE7F5es-completas acessado em 09032015 agraves 2200hs

Page 5: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA CAMPUS III CENTRO DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13300/1... · 2017. 4. 6. · 2 PAULO RICARDO PORPINO DA CRUZ Memória construída

5

RESUMO

A marginalizaccedilatildeo do negro no decorrer da histoacuteria eacute visivelmente observada em seus diversos

aspectos Nessa perspectiva buscamos verificar se no municiacutepio de Caiccedilara foi erguida

alguma Irmandade Entretanto natildeo encontramos a documentaccedilatildeo necessaacuteria para

comprovaccedilatildeo No entanto a analise do livro da histoacuteria local do municiacutepio nos permitiram

detectar a preocupaccedilatildeo do autor em desvincular a contribuiccedilatildeo do homem de cor na sociedade

caiccedilarense O presente ensaio tem como objetivo reconstruir essa ideia deturpada que foi

criada no transcorrer do tempo no tocante aos negros A base teoacuterica que sustenta este artigo

satildeo os pressupostos teoacutericos de Reis(1999) Certeau (2002) e outros Atraveacutes de vestiacutegios e

indiacutecios que eacute o trabalho do historiador buscar nos escombros aquilo que estava escondido

este trabalho faz uma releitura na tentativa de evidenciara importacircncia do negro nas mais

diversas aacutereas da cultura do povo Caiccedilarense seja nas crendices na musicalidade nos haacutebitos

diaacuterios na religiosidade diversificada existente neste povoado

PALAVRAS ndash CHAVE Negro Marginalizaccedilatildeo Religiosidade

6

Memoacuteria construiacuteda e repensada sobre o municiacutepio de Caiccedilara

Paulo Ricardo

ldquoA histoacuteria eacute necessariamente escrita e reescrita a partir das

posiccedilotildees do presente lugar da problemaacutetica da pesquisa e do sujeito

que a realizardquo (REIS 1999 p9)

INTRODUCcedilAtildeO

Ao iniciarmos nossa pesquisa tiacutenhamos a pretensatildeo de estudar diretamente a presenccedila

de Irmandades Negras no municiacutepio de Caiccedilara1 como uma forma de resgatar a Histoacuteria dos

homens Negros da regiatildeo destacando suas formas de resistecircncia ao processo escravocrata

Contudo apoacutes algumas pesquisas nos deparamos com a falta de fontes documentais ou

mesmo orais que abordassem a temaacutetica Natildeo haacute registro da participaccedilatildeo do homem de cor na

formaccedilatildeo do culto catoacutelico da regiatildeo Dessa forma encontramos o problema a ser resolvido

ou pelo menos levantado atraveacutes de nossas investigaccedilotildees Onde encontrar as personagens

negras e suas colaboraccedilotildees na construccedilatildeo da Histoacuteria Local do Municiacutepio de Caiccedilara

Na principal fonte atualizada sobre a Histoacuteria do Municiacutepio haacute uma negaccedilatildeo

veemente sobre a contribuiccedilatildeo do homem de cor no cenaacuterio religioso local No livro Caiccedilara

Caminhos de Almocreves (1990) o autor Severino Ismael procura desvincular a participaccedilatildeo

do negro na construccedilatildeo do espaccedilo religioso daquele povoado ldquoO iacutendio e o negro quase que

natildeo tiveram influencia na formaccedilatildeo do espirito religioso do povo caiccedilarenserdquo p 153

Essa eacute apenas uma das afirmativas feitas pelo autor com o intuito de negar a

contribuiccedilatildeo do homem de cor neste cenaacuterio local Ao analisamos o livro percebemos que o

autor Severino Ismael tenta excluir de todas as maneiras a presenccedila de elementos africanos

na construccedilatildeo do culto catoacutelico da regiatildeo Nossa pesquisa discute os elementos textuais da

obra escrita sob a perspectiva de historiografia apresentada por Certeau (2002) Desse modo a

historiografia eacute utilizada para definir os estudos criacuteticos acerca de um tema ou periacuteodo

1 Caiccedilarasup1 - eacute um municiacutepio brasileiro localizado na microrregiatildeo de Guarabira mesorregiatildeo do agreste

paraibano do estado da Paraiacuteba Sua populaccedilatildeo em 2013 foi estimada pelo Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 7304 habitantes distribuiacutedos em 128 kmsup2 de aacuterea distacircncia ateacute a

capital 143 km

7

referente agrave histoacuteria buscando-se encontrar explicaccedilotildees para os fatos do passado natildeo

constituindo verdades objetivas que traduzem a realidade tal como ocorreu mas como

construccedilotildees humanas que representam partes de uma realidade

Nessa linha de abordagem Certeau (2002) em seu livro A Escrita da Histoacuteria

compreende as caracteriacutesticas do trabalho do historiador fazendo referecircncia ao tripeacute da

operaccedilatildeo historiograacutefica ldquoum lugar social uma praacutetica uma escritardquo (p66)

O historiador tem a funccedilatildeo de dar voz ao natildeo dito atribuindo sentido a um determinado

acontecimento Segundo Certeau (2002) a pesquisa em histoacuteria se faz a partir de um lugar

socioeconocircmico poliacutetico e cultural Eacute importante considerar que o lugar que o autor cita estaacute

ligado agrave relaccedilatildeo que o historiador manteacutem com o lugar que se encontra uma vez que este natildeo

eacute mais um colecionador de fatos e sim um construtor recortador leitor e inteacuterprete de

processos histoacutericos buscando possibilidades hipoacuteteses de abordagem ligadas as suas

preocupaccedilotildees especiacuteficas ou seja trocando ideias e informaccedilotildees com outros saberes e

sujeitos

O historiador tem o tempo como ldquomaterial de anaacuteliserdquo ou como ldquoobjeto

especiacuteficordquo Trabalha de acordo com os seus meacutetodos os objetos fiacutesicos

(papeacuteis pedras imagens sons etc) Trabalha sobre um material para

transformaacute-lo em histoacuteria(CERTEAU 2002 p79)

Certeau (2002) afirma ainda que a anaacutelise historiograacutefica eacute um exerciacutecio de

problematizaccedilatildeo um campo aberto a inuacutemeras possibilidades e ao intenso diaacutelogo o que

permite essa amplitude de objetos e tipos de fontes a partir de metodologias que a histoacuteria

pode apresentar em diversificados campos do saber Coloca que a operaccedilatildeo historiograacutefica

natildeo estaacute somente relacionada a um lugar a uma praacutetica mas tambeacutem a uma escrita ou seja a

historiografia eacute construiacuteda por meio do discurso documental Portanto todo conhecimento

historiograacutefico eacute construiacutedo o que nos permite sempre trazer novas discussotildees a respeito da

anaacutelise do ldquopassadordquo

Sob esta perspectiva de construccedilatildeo a partir do seu lugar social eacute que podemos refletir

sobre os motivos e as intenccedilotildees de desvincular a praacutetica da religiatildeo catoacutelica em Caiccedilara da

presenccedila negra e indiacutegena nesta sociedade

ldquoA religiatildeo mesmo praticada por todos era a catoacutelica romana Nem os cultos

negros ndash o que evidencia a pequena participaccedilatildeo do elemento negro na etnia

local marcaram presenccedila na comunidade Os ritos as festas as preces tudo

era vinculado ao catolicismordquo (COSTA 1990 p 153)

8

Esta negaccedilatildeo aleacutem de refletir perspectiva de discriminaccedilatildeo racial destaca a

necessidade da Igreja Catoacutelica de apagar da memoacuteria histoacuterica natildeo apenas a presenccedila do

homem de cor mas muito aleacutem disso a possibilidade do espaccedilo de culto catoacutelico ou seja a

Igreja pertencer ou ter pertencido nominalmente a uma irmandade Isto significa que o

preacutedio em si e suas propriedades economicamente natildeo eram da Igreja mas de leigos que a

construiacuteram e doaram tudo o que estava ao seu redor e no seu interior Haacute uma real atividade

da Igreja de tentar apagar desconstruir camuflar as atividades das irmandades em especial

das que eram compostas por homens de cor

MUITO ALEacuteM DA ESCRITA E DA MEMOacuteRIA UMA CONSTRUCcedilAtildeO

O autor Severino Ismael da Costa publicou seu texto Caiccedilara caminhos de

almocreves na deacutecada de 90 do seacuteculo XX um periacuteodo de movimentaccedilatildeo poliacutetica vinculada

aos processos de municipalizaccedilatildeo que vinham ocorrendo no Estado da Paraiacuteba desde os anos

70 do mesmo seacuteculo Aliado a accedilatildeo poliacutetica de transformar em municiacutepio as vilas lugarejos e

aacutereas rurais do Estado era necessaacuteria a construccedilatildeo histoacuteria e descriccedilatildeo dos principais eventos

destas regiotildees Assim temos uma linha de escrita historiograacutefica estritamente vinculada a este

processo Constroacutei-se um municiacutepio consequentemente se constroacutei uma histoacuteria

O importante eacute identificar nestes textos em grande parte encomendados ou ao

menos financiados pelas elites locais o tipo de histoacuteria escrita e pensada assim como satildeo

escolhidos os personagens deste percurso A obra que analisamos natildeo foge a estas

caracteriacutesticas jaacute que recebeu apoio dos poliacuteticos locais na eacutepoca que foi publicada Nas

primeiras paacuteginas encontramos homenagens e agradecimentos agraves pessoas e personagens

ilustres da cidade entre eles filhos da elite local que se formaram e exercem profissotildees

liberais respeitadas pela sociedade da eacutepoca e dos dias atuais

ldquo HOMENAGEM Agrave CULTURA

Paraibana na presenccedila de um grande vulto

Prof JOSEacute OCTAacuteVIO DE ARRUDA MELO

Caiccedilarense representada por seus filhos

D Epaminondas Joseacute de Arauacutejo emeacuterito bispo da Igreja Catoacutelica de quem natildeo

me faltou estiacutemulo de conterracircneo

9

Prof Joseacute Jackson Carneiro de Carvalho de quem recebi incentivo e ateacute desafio

Dr Walderedo Ismael de Oliveira meacutedico de renome internacional escritor

especializado modesto e grande como sua terrardquo (COSTA 1990 p13)

O autor inicia seu texto se referindo as ldquograndesrdquo personalidades de sua cidade tendo

o cuidado de anteriormente ter agradecido aos prefeitos da eacutepoca Haacute a presenccedila dos nomes e

sobrenomes de destaque da cidade representantes da Igreja Catoacutelica de meacutedicos professores

e jornalistas

Em seguida descreve a histoacuteria de fundaccedilatildeo da cidade e de sua municipalizaccedilatildeo desta

a participaccedilatildeo do iacutendio que junto ao portuguecircs seriam os grandes responsaacuteveis pela formaccedilatildeo

desta sociedade mas afirma que o negro teve pouca atuaccedilatildeo ldquonatildeo haacute grande presenccedila do

elemento negro a natildeo ser na zona dos engenhos no dorso da serra onde precisaram do

escravo para tocar o trabalhordquo (COSTA 1990 p 69) apesar de ter sido escrito nos anos 90

do seacuteculo XX o texto tem uma preocupaccedilatildeo oitocentista de esconder a presenccedila negra

minimizando sua participaccedilatildeo nas atividades econocircmicas A impossibilidade de simplesmente

omitir esta inserccedilatildeo dos homens negros na sociedade de Caiccedilara faz com que seu texto e sua

fala se tornem contraditoacuterios no sentido de que afirma natildeo ter existido uma participaccedilatildeo

negra mas ao mesmo tempo destaca o lugar social ocupado por esta etnia

Muito de sua escrita positivista eacute explicado pelas fontes selecionadas pelo autor

Textos tradicionais sobre a Histoacuteria da Paraiacuteba escritos no iniacutecio do seacuteculo XX em especial

os escritos de Horaacutecio de Almeida se dando ao trabalho de apenas transferir as ideias destes

sem realizar uma revisatildeo ou criacutetica historiograacutefica Isso fica latente ao reproduzir a expressatildeo

Tapuia como sinocircnimo de baacuterbaro E destacar figuras heroicas entre os indiacutegenas que de

alguma forma se aliaram aos conquistadores nos empreendimentos de colonizaccedilatildeo

Outro ponto que nos chama a atenccedilatildeo eacute a necessidade de sempre referecircnciar as fontes

em geral documentais ou historiograacuteficas e ao mesmo tempo questionaacute-las e ateacute discordar de

dados e apontamentos que se distanciam de uma preocupaccedilatildeo com o processo histoacuterico mas

se relaciona diretamente com uma narrativa positivista como por exemplo ao investigar e

averiguar quem teria sido o primeiro morador de Caiccedilara Segundo Coriolano de Medeiros e

Luiz Pinto teria sido ldquoJoseacute de abreu Cordeiro em 1776 contudo verificou ser na realidade

Raphael de Carvalho em 1615rdquo (COSTA 1990 p 85)

10

O povoado surge a partir da construccedilatildeo de casa de morada capela e currais agrave margem

direita do rio Curimatauacute em 1822 por Manoel Soares da Costa A capela tinha por invocaccedilatildeo

Nossa Senhora do Rosaacuterio Como a maioria dos municiacutepios da regiatildeo seu desenvolvimento

pode ser vinculado ao estabelecimento da feira Uma particularidade citada e destacada pelo

autor satildeo as disputas poliacuteticas entre Caiccedilara e o Municiacutepio de Serra da Raiz que levam os

dois lugarejos a encontrar formas de se destacarem um em relaccedilatildeo ao outro Por exemplo

menciona que a criaccedilatildeo em 1870 da Freguesia de N S do Bom Fim cuja sede eacute a Serra da

Raiz ( instituiccedilatildeo que tornava Caiccedilara subordinada nas questotildees religiosas em relaccedilatildeo agrave Serra

da Raiz) segundo o autor a animosidade poliacutetico-administrativa entre os lugarejos se

desenvolveu a partir da introduccedilatildeo da feira livre em Caiccedilara jaacute que a mesma se tornou uma

forte concorrente para os ldquobarracotildeesrdquo instalados nos engenhos da Serra da Raiz assim a feira

poderia promover uma mudanccedila social que natildeo interessava aos poliacuteticos daquela regiatildeo

Passa a destacar os poliacuteticos de Caiccedilara nomeando-os ateacute o seacuteculo XX o que se

configura como um importante registro para a histoacuteria local assim como toda a obra de

Severino Ismael da Costa (1990) contudo ainda necessitando de uma anaacutelise do processo

histoacuterico e de suas etapas O fato que o autor levanta vaacuterios pontos desta histoacuteria que devem

ser estudados um dia e provavelmente iratildeo partir e se referir a sua obra que tem como

destaque o trabalho de levantamento de dados e fontes para os proacuteximos historiadores que se

dedicarem a Historia desta regiatildeo Nossas observaccedilotildees se referem a ideia de ausecircncia de

contribuiccedilatildeo do homem negro na constituiccedilatildeo soacutecioreligiosa desta localidade

Mais uma vez o autor busca formas de desvincular a participaccedilatildeo dos negros na

histoacuteria religiosa local A obra Caiccedilara Caminhos de Almocreves estaacute repleta destas

argumentaccedilotildees acerca do homem de cor

O objetivo inicial desta pesquisa era de buscar indiacutecios em Livros de Tombo e

documentos religiosos a contribuiccedilatildeo do negro na religiosidade local Tendo em vista que natildeo

soacute no municiacutepio de Caiccedilara mas tambeacutem em todo o territoacuterio brasileiro houve uma

marginalizaccedilatildeo da imagem do homem de cor ou seja uma tentativa de deixar a margem da

sociedade uma figura que se faz tatildeo importante para adentrarmos no imaginaacuterio religioso do

povo brasileiro

Contudo o livro de Tombo analisado natildeo nos forneceu as informaccedilotildees necessaacuterias

para afirmamos que houve uma irmandade negra no municiacutepio de Caiccedilara Mas para

buscarmos indiacutecios e vestiacutegios da contribuiccedilatildeo do negro nestes locais faremos uma analise

11

minuciosa da obra contrapondo com elementos existentes na proacutepria igreja local na tentativa

de trazer a luz questotildees que foram estabelecidas pelo autor Severino Ismael como verdades

prontas e absolutas Os possiacuteveis indiacutecios e vestiacutegios satildeo elementos de fundamental

importacircncia para este trabalho

Entre estes vestiacutegios destacamos a imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no altar

central da Igreja matriz de Caiccedilara (apesar da referecircncia direta agrave fundaccedilatildeo da cidade nos eacute

intrigante a escolha desta padroeira por seus fundadores) Jaacute que este culto agrave Senhora do

Rosaacuterio no Brasil ficou diretamente vinculado ao culto catoacutelico negro atraveacutes das

irmandades podendo dessa forma ser considerado um elemento da cultura africana no

espaccedilo religioso local Abaixo foto da Imagem tirada em 06 de Janeiro de 2014 Durante os

preparativos para a procissatildeo da Padroeira que se comemora nesta data no municiacutepio de

Caiccedilara

Ilustraccedilatildeo 1 Imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no andor

12

Foto Ricardo (2014)

Eacute evidente que os diversos escravos africanos desembarcados no Brasil contribuiriam

de forma significativa para a construccedilatildeo territorial e religiosa do paiacutes jaacute que participaram

diretamente da formaccedilatildeo da sociedade brasileira seja no trabalho nos engenhos de produccedilatildeo

de cana de accediluacutecar nas lavouras do cafeacute na extraccedilatildeo do ouro entre outros Ao desembarcarem

nessas terras trouxeram consigo seus costumes liacutenguas valores e crenccedilas Aqui encontraram

as mais diversas dificuldades de praticar sua cultura ou seja cultuar suas divindades e

costumes

O DESENVOLVIMENTO DAS PRAacuteTICAS RELIGIOSAS OFICIAIS NA CIDADE

DE CAICcedilARA-PB

A presenccedila do Catolicismo caiccedilarense estaacute inteiramente ligada ao seu periacuteodo de

fundaccedilatildeo que se deu por volta do ano de 1822 quando Manoel Soares da Costa instalou sua

fazenda e ergueu uma capela as margens do Rio Curimatauacute ldquoO povoamento da encantadora

Villa de Caiccedilara segundo informes de pessoas competentes teve logar no ano de 1822rdquo

Onde ldquoFoi edificada uma pequena capella sob a invocaccedilatildeo de NS do Rosaacuterio ()rdquo

ARAUacuteJO (1913)

Como aconteceu no Brasil e consequentemente na Paraiacuteba de uma forma em geral o

processo de povoamento oficial das regiotildees afastadas do litoral assim como o proacuteprio litoral

teve sua conquista e povoamento acompanhado da praacutetica religiosa oficial dos exploradores o

catolicismo A presenccedila da capela de Nossa Senhora do Rosaacuterio no povoamento que

futuramente seria denominado como municiacutepio de caiccedilara eacute um fato indiscutiacutevel pelos

historiadores e narradores de uma forma geral do Mito de fundaccedilatildeo da cidade ocorrendo

uma discussatildeo historiograacutefica agrave respeito do ano desta fundaccedilatildeo Epaminondas Tavares de

Arauacutejo afirma ter sido no ano de 1822 Entretanto Coriolano de Medeiros (em seu

ldquoDicionaacuterio Chorograacuteficordquo 1914) aponta o ano de 1841 como o da fundaccedilatildeo da Villa de

Caiccedilara

13

ldquoEm 1841 o terreno onde hoje eacute a sede do municiacutepio cobria-se ainda

cactos e bromeacutelias quando Manoel Soares da Costa Francisco da Costa

Gonccedilalves e Joseacute Vicente compraram a propriedade construiacuteram suas

vivendas e cercados de ramos ndash caiccedilaras ndash para abrigo do gado Depois

ergueram uma capella dedicada a NS do Rosaacuterio rdquo

Entretanto O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) aceita o uacuteltimo

como sendo o ano de fundaccedilatildeo Entre a populaccedilatildeo a informaccedilatildeo tida com maior aprovaccedilatildeo eacute

ano de 1822 Isto porque a sesmaria que Luiacutes Soares de Mendonccedila adquiriu natildeo foi no ano de

1822 como relatou Coriolano de Medeiros em seus estudos e sim no ano de 1788 registrada

sob nordm 891 por meio de documentos oficiais

Todavia a divergecircncia acerca do ano de fundaccedilatildeo ocorreu pelo fato de que a criaccedilatildeo da

feira ocorreu no ano de 1841 e o mesmo seria o marco do crescimento e da concentraccedilatildeo

urbana O que observamos em comum em ambas as citaccedilotildees eacute que o Catolicismo fecundava a

Villa de Caiccedilara desde sua fundaccedilatildeo Pois a construccedilatildeo da Capella eacute vista em todos os

registros sobre a origem deste povoado Os autores oficiais e tradicionais da histoacuteria de

fundaccedilatildeo da Villa de Caiccedilara discorrem ainda sobre a origem de sua denominaccedilatildeo segundo

Coriolano de Medeiros e Epaminondas Tavares o nome Caiccedilara proveacutem dos currais Fala

Epaminondas ldquoA denominaccedilatildeo de Caiccedilara proveacutem de um curral de pau-a-pique construiacutedo

por Manoel Soares nas proximidades de sua casardquo (p108)

O CATOLICISMO CAICcedilARENSE

De acordo com a visatildeo positivista e as fontes oficiais o iacutendio e o negro pouco

contribuiacuteram na formaccedilatildeo do espirito religioso do povo Caiccedilarense segundo Severino Ismael

da Costa em seu livro ldquoCaiccedilara Caminhos de Almocrevesrdquo (1990) Ainda de acordo com o

mesmo o imaginaacuterio da populaccedilatildeo local contribuiu de maneira bastante significativa para o

florescimento da religiatildeo Catoacutelica que veio a ser praticada na Villa de Caiccedilara

Nesta mesma perspectiva as fontes oficias da Igreja em pauta tentam nos mostrar que

a participaccedilatildeo do negro no acircmbito religioso teve pouco significado Os ritos as festas as

preces tudo era vinculado ao catolicismo No periacuteodo da posse da terra quando o branco

erguia sua morada edificava tambeacutem junto ou nas proximidades uma capela onde eram

celebrados os atos religiosos e realizadas as festas Destas eram as mais comuns O Natal

14

Ano Bom e Reis As juninas Santo Antocircnio Satildeo Joatildeo e Satildeo Pedro A de Santana no uacuteltimo

saacutebado de julho Ainda hoje entre o meio rural caiccedilarense os meses de junho e julho satildeo mais

conhecidos como o de Satildeo Joatildeo e de Santana Na semana santa mais precisamente a partir da

quarta-feira acontecia o recolhimento total ou seja preces jejum pouco trabalho e muito

cuidado em natildeo maltratar pessoas e animais O jejum era tatildeo rigoroso que se bebia apenas um

gole de aacutegua pela manhatilde e soacute a noite algum alimento Na quarta-feira chamada de trevas natildeo

se permitia varrer a casa nem tomar banho sob a pena de ldquoentrevarrdquo nas sedes das fazendas

rezava-se todos os saacutebados o ldquoOficio de Nossa Senhorardquo era acompanhado por todos os

moradores Nos domingos os fazendeiros todos bem vestidos mostravam seu prestigio ao ir agrave

missa com os seus familiares e agregados

MEcircS DE MAIO

Durante todo o mecircs de maio era rezado o terccedilo nas salas das casas grandes ou nas

capelas estes alternados por cacircnticos religiosos Ao termino deste evento acontecia a

tradicional queima das flores que haviam ornamentado os altares das capelas ou os jarros em

volta dos grandes oratoacuterios (tambeacutem chamados de santuaacuterios) de madeira repleto de imagens

de vaacuterios santos Vale ressaltar que geralmente era obrigaccedilatildeo da senhora da casa grande rezar

o terccedilo ou suas filhas Nas fazendas como nas vilas e povoados eram assim Todas as noites

era necessaacuterio a praacutetica de um ato religioso quase sempre um terccedilo ou um rosaacuterio de oraccedilotildees

O Catecismo era ensinado para as crianccedilas nas vilas povoados e nas fazendas

A CONSTRUCcedilAtildeO DA CAPELA

A Capela foi erguida nas proximidades da residecircncia de Manoel Soares da Costa sob

a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora do Rosaacuterio construiacuteda de taipa ou seja as paredes eram feitas

de barro calccedilados entre paus e cruzados por ripa e telhas

No livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves Severino Ismael da Costa descreve a

aacuterea destinada a capela

15

ldquoConstruiacuteda por trinta braccedilas de terras para cada lado para fazer

faces agraves despesas necessaacuterias confirma aquela intenccedilatildeo as casas

construiacutedas ou o que quer que se realizasse naquele periacutemetro

pagaria renda ou foro cabiacutevel agrave igrejardquo (Paacuteg 155)

A citaccedilatildeo acima nos faz entendermos que o fato da capela ter sido construiacuteda um

pouco afastada da casa grande revela a intenccedilatildeo que o fazendeiro tinha que no caso seria

desenvolver outras construccedilotildees ao seu redor

Alguns anos se passaram e o templo foi ampliado por Francisco Costa Gonccedilalves

Entre 1869 a 1872 pelo padre Herculano foi reconstruiacutedo aumentando sua aacuterea e levantadas

paredes de pedras A capela ficou majestosa Cerca de 15 metros de largura por uns 25 de

comprimento Paredes soacutelidas de pedras deram lugar a taipa com mais de metro de espessura

e oito a dez metros de altura Trecircs portas na frente e uma torre no lado direito (nascente) A

frente para o norte no iniacutecio do aclive da colina

No iniacutecio do seacuteculo XX o templo passou por nova reforma desta vez patrocinada por

Ascendina da Costa Frazatildeo que morava nas proximidades A nova reforma consistiu numa

das maiores ampliaccedilotildees jaacute recebidas Foram-lhe acrescentados os corredores laterais em todo

o seu comprimento o coro acrescentando uma torre do lado direito Nesta instalaram dois

sinos cujo bronze emitia lindos sons avisando os fieacuteis sobre a realizaccedilatildeo de atos religiosos

inclusive anunciando os falecimentos que ocorriam O tradicional dobre de finados para os

adultos o ldquorepiquerdquo ou seja uma serie de batidas sucessivas muito proacuteximas indicavam que

havia falecido uma crianccedila os chamados ldquoanjosrdquo e batidas mistas (dobre de finados e

repique) noticiavam o falecimento de jovens puacuteberes Essa reforma quase duplicou a aacuterea do

templo

Por ocasiatildeo desta reforma foram erguidos dois altares no fim da nave central e antes

da capela-mor agrave direita e agrave esquerda da arcada que a esta dava acesso Do lado esquerdo do

altar de Satildeo Sebastiatildeo (a imagem original foi posteriormente substituiacuteda por outra maior

doada por um fazendeiro local) No lado oposto a este altar se encontrava o altar de Nossa

Senhora da Dores cuja a imagem foi doada pelas senhoras das irmandade das Dores

O altar-mor bastante decorado em alto relevo com belas colunatas separando os trecircs

nichos tem no alto o nicho onde fica a imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus preciosa obra

de arte doada pelo Coronel Antocircnio Soares de Oliveira No centro o de Nossa Senhora do

Rosaacuterio

16

Nos anos de 1950 novas reformas foram introduzidas no templo demoliam-se os

altares de NS das Dores e Satildeo Sebastiatildeo cujas imagens foram transferidas para os altares

construiacutedos nas alas direita e a esquerda da capela-mor onde jaacute existia o da direita dedicado a

Santa Terezinha Outras reformas ainda foram realizadas como o revestimento do piso da

igreja com mosaicos Neste caso especificamente as obras foram feitas com recursos proacuteprios

provenientes da festa de NS do Rosaacuterio Vale lembrar que a partir desta uacuteltima empreitada a

igreja ganhou mais uma torre na fachada

A CHEGADA DA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DO ROSAacuteRIO

As reformas que aconteceram entre os anos 1869 a 1872 tinham o objetivo de receber

a nova imagem da padroeira encomendada em Portugal por Joaquim Joseacute fazendeiro desta

regiatildeo A mesma que ainda permanece hoje no nicho central do altar-mor A Santa chegou as

terras da Paraiacuteba no porto de Salema municiacutepio de Mamanguape Mais de 40 quilocircmetros

separavam ela de Caiccedilara O transporte teria que ser efetuado em carro de boi pois natildeo existia

outro meio transporte nessa localidade Poreacutem a dedicaccedilatildeo do povo foi tatildeo grande que os

fieacuteis saiacuteram de Caiccedilara a peacute e em procissatildeo para receber a imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio

A chegada em Caiccedilara deu-se no dia 6 de Janeiro dia festivo da Igreja Catoacutelica em

comemoraccedilatildeo agrave Santos Reis E como chegada da Santa tornou-se duplamente festivo para o

povo caiccedilarense Com consequecircncia deste fato nos dias atuais a festa para homenagear a

padroeira termina exatamente no dia 6 de Janeiro Tanto que a populaccedilatildeo passou a denominar

ldquoFesta de Nossa Senhora do Rosaacuteriordquo E de acordo com as pesquisas efetuadas natildeo conheccedilo

outro lugar onde a festividade ocorra no mecircs de Janeiro Pois no calendaacuterio da Igreja Catoacutelica

a mesma realiza-se no iniacutecio do mecircs de Outubro

Com a chegada da imagem da santa a vila de Caiccedilara o Padre Ibiapina sugeriu que o

nome da mesma passasse a se chamar Marianoacutepolis em homenagem a Nossa senhora do

Rosaacuterio poreacutem natildeo foi muito aceito pela sociedade da eacutepoca

A influecircncia da padroeira tambeacutem pode ser percebida nos dias atuais Pois aleacutem de

casas comerciais um hospital e maternidade recebeu seu nome assim como o primeiro bairro

17

da cidade onde foi edificado um monumento em sua homenagem Sem esquecer que a letra

do hino agrave Caiccedilara demostra a feacute depositada a santa

ldquoMarianoacutepolis eacute o nome que a feacute nos brindou para nossa alegria e que todos de joelho ou de peacute rendem

Graccedilas agrave Virgem Mariardquo

(Paacuteg 36)

A FESTA

Eacute um grandiosiacutessimo evento profano-religioso Nos dias que antecedem o 6 de Janeiro

realiza-se o novenaacuterio Soacute rezado Na noite do dia 5 eacute realizada a festa profana com barracas

e pavilhotildees fogos de artifiacutecios venda de produtos tiacutepicos da culinaacuteria local

Na festividade dedicada a Nossa Senhora do Rosaacuterio identificamos a figura

importantiacutessima que tinha os fazendeiros pois os mesmo com o intuito de mostrar seu poder

bancava as noites de festas A princiacutepio eram nove noites em cada uma delas um fazendeiro

diferente fica com a responsabilidade de organizar este evento

Atualmente a festa eacute precedida por um novenaacuterio onde cada comunidade Catoacutelica

local eacute responsaacutevel por uma noite de novena Sendo que nos uacuteltimos trecircs dias deste evento

acontece festas profanas em frente a Igreja Matriz com leilotildees de gados galinhas entre

outros

18

CONCLUSAtildeO

O presente trabalho buscou investigar se existiu uma irmandade de negros no municiacutepio de

Caiccedilara Entretanto as fontes documentais analisadas natildeo nos permitiram fazermos essa

afirmativa Poreacutem a partir desse momento direcionamos a pesquisa na analise do livro da

histoacuteria local do municiacutepio de Caiccedilara na perspectiva de se debruccedilar sobre indiacutecios e

vestiacutegios que nos permitam fazermos uma releitura da obra na tentativa de elucidarmos os

questionamentos pertinentes a nossa pesquisa

Durante a analise do Livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves percebemos que o autor

procura maneiras de desvincular a participaccedilatildeo do negro no cenaacuterio local Na tentativa de

proclamar o branco ou seja o colonizador como sendo o uacutenico agente na construccedilatildeo do

espaccedilo religioso deste povoado Na obra de Severino Ismael fica evidente a preocupaccedilatildeo do

mesmo em colocar o homem de cor a margem da sociedade local

Entretanto este ensaio procura incessantemente por vestiacutegios que nos possibilitem

enxergarmos a presenccedila de elementos africanos na construccedilatildeo do povoado de Caiccedilara na

tentativa de reescrever uma histoacuteria que nos mostrem que os negros foram responsaacuteveis tanto

na construccedilatildeo deste municiacutepio quanto pelo espaccedilo religioso local

O primeiro passo do trabalho foi buscar indiacutecios da participaccedilatildeo do negro no povoado de

Caiccedilara O culto a Nossa Senhora do Rosaacuterio e a Satildeo Sebastiatildeo pode ser observados como

vestiacutegios da presenccedila do homem de cor na construccedilatildeo cenaacuterio religioso de Caiccedilara A doaccedilatildeo

da imagem de Nossa Senhora das Dores feita por uma Irmandade das Dores de Itabira-MG

para a igreja de Caiccedilara que se encontra num altar lateral da igreja pode ser analisados como

elementos que caracterizam uma irmandade ou ao menos a figura do negro nestes espaccedilos

O presente artigo nos faz enxergarmos como o autor visualiza a construccedilatildeo da Vila de

Caiccedilara partindo do seu lugar socioeconocircmico poliacutetico e cultural Isso tornasse evidente na

sua obra

Contudo a analise historiograacutefica do livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves nos

obriga a produzimos outros trabalhos que possa contrapor essa visatildeo positivista de fatos e

acontecimento que privilegia o branco como sendo o civilizado e o construtor da histoacuteria e

19

marginalizando a imagem do homem de cor como sendo bichos que estavam alheios a

qualquer coisa

ABSTRACT

The marginalization of the black throughout history is clearly observed in its various aspects

From this perspective we seek to verify that the Caiccedilara municipality was erected some

Brotherhood However we did not find the necessary documentation to prove However the

analysis of the book of local history of the county have allowed us to detect the authors

concern to untie colored mans contribution in caiccedilarense society This essay aims to

reconstruct this distorted idea that was created in the course of time with regard to blacks The

theoretical basis that sustains this article are the theoretical assumptions of Kings (1999)

Certeau (2002) and others Through traces and evidence which is the historians work search

the rubble what was hidden this work reexamines in an attempt to evinced importance of

black in several areas of the Caiccedilarense peoples culture whether in beliefs in musicality in

daily habits the existing diverse religiosity in this town

KEY - WORDS Black Marginalization Religiosity

20

REFEREcircNCIAS

ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do

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6

Memoacuteria construiacuteda e repensada sobre o municiacutepio de Caiccedilara

Paulo Ricardo

ldquoA histoacuteria eacute necessariamente escrita e reescrita a partir das

posiccedilotildees do presente lugar da problemaacutetica da pesquisa e do sujeito

que a realizardquo (REIS 1999 p9)

INTRODUCcedilAtildeO

Ao iniciarmos nossa pesquisa tiacutenhamos a pretensatildeo de estudar diretamente a presenccedila

de Irmandades Negras no municiacutepio de Caiccedilara1 como uma forma de resgatar a Histoacuteria dos

homens Negros da regiatildeo destacando suas formas de resistecircncia ao processo escravocrata

Contudo apoacutes algumas pesquisas nos deparamos com a falta de fontes documentais ou

mesmo orais que abordassem a temaacutetica Natildeo haacute registro da participaccedilatildeo do homem de cor na

formaccedilatildeo do culto catoacutelico da regiatildeo Dessa forma encontramos o problema a ser resolvido

ou pelo menos levantado atraveacutes de nossas investigaccedilotildees Onde encontrar as personagens

negras e suas colaboraccedilotildees na construccedilatildeo da Histoacuteria Local do Municiacutepio de Caiccedilara

Na principal fonte atualizada sobre a Histoacuteria do Municiacutepio haacute uma negaccedilatildeo

veemente sobre a contribuiccedilatildeo do homem de cor no cenaacuterio religioso local No livro Caiccedilara

Caminhos de Almocreves (1990) o autor Severino Ismael procura desvincular a participaccedilatildeo

do negro na construccedilatildeo do espaccedilo religioso daquele povoado ldquoO iacutendio e o negro quase que

natildeo tiveram influencia na formaccedilatildeo do espirito religioso do povo caiccedilarenserdquo p 153

Essa eacute apenas uma das afirmativas feitas pelo autor com o intuito de negar a

contribuiccedilatildeo do homem de cor neste cenaacuterio local Ao analisamos o livro percebemos que o

autor Severino Ismael tenta excluir de todas as maneiras a presenccedila de elementos africanos

na construccedilatildeo do culto catoacutelico da regiatildeo Nossa pesquisa discute os elementos textuais da

obra escrita sob a perspectiva de historiografia apresentada por Certeau (2002) Desse modo a

historiografia eacute utilizada para definir os estudos criacuteticos acerca de um tema ou periacuteodo

1 Caiccedilarasup1 - eacute um municiacutepio brasileiro localizado na microrregiatildeo de Guarabira mesorregiatildeo do agreste

paraibano do estado da Paraiacuteba Sua populaccedilatildeo em 2013 foi estimada pelo Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatiacutestica (IBGE) em 7304 habitantes distribuiacutedos em 128 kmsup2 de aacuterea distacircncia ateacute a

capital 143 km

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referente agrave histoacuteria buscando-se encontrar explicaccedilotildees para os fatos do passado natildeo

constituindo verdades objetivas que traduzem a realidade tal como ocorreu mas como

construccedilotildees humanas que representam partes de uma realidade

Nessa linha de abordagem Certeau (2002) em seu livro A Escrita da Histoacuteria

compreende as caracteriacutesticas do trabalho do historiador fazendo referecircncia ao tripeacute da

operaccedilatildeo historiograacutefica ldquoum lugar social uma praacutetica uma escritardquo (p66)

O historiador tem a funccedilatildeo de dar voz ao natildeo dito atribuindo sentido a um determinado

acontecimento Segundo Certeau (2002) a pesquisa em histoacuteria se faz a partir de um lugar

socioeconocircmico poliacutetico e cultural Eacute importante considerar que o lugar que o autor cita estaacute

ligado agrave relaccedilatildeo que o historiador manteacutem com o lugar que se encontra uma vez que este natildeo

eacute mais um colecionador de fatos e sim um construtor recortador leitor e inteacuterprete de

processos histoacutericos buscando possibilidades hipoacuteteses de abordagem ligadas as suas

preocupaccedilotildees especiacuteficas ou seja trocando ideias e informaccedilotildees com outros saberes e

sujeitos

O historiador tem o tempo como ldquomaterial de anaacuteliserdquo ou como ldquoobjeto

especiacuteficordquo Trabalha de acordo com os seus meacutetodos os objetos fiacutesicos

(papeacuteis pedras imagens sons etc) Trabalha sobre um material para

transformaacute-lo em histoacuteria(CERTEAU 2002 p79)

Certeau (2002) afirma ainda que a anaacutelise historiograacutefica eacute um exerciacutecio de

problematizaccedilatildeo um campo aberto a inuacutemeras possibilidades e ao intenso diaacutelogo o que

permite essa amplitude de objetos e tipos de fontes a partir de metodologias que a histoacuteria

pode apresentar em diversificados campos do saber Coloca que a operaccedilatildeo historiograacutefica

natildeo estaacute somente relacionada a um lugar a uma praacutetica mas tambeacutem a uma escrita ou seja a

historiografia eacute construiacuteda por meio do discurso documental Portanto todo conhecimento

historiograacutefico eacute construiacutedo o que nos permite sempre trazer novas discussotildees a respeito da

anaacutelise do ldquopassadordquo

Sob esta perspectiva de construccedilatildeo a partir do seu lugar social eacute que podemos refletir

sobre os motivos e as intenccedilotildees de desvincular a praacutetica da religiatildeo catoacutelica em Caiccedilara da

presenccedila negra e indiacutegena nesta sociedade

ldquoA religiatildeo mesmo praticada por todos era a catoacutelica romana Nem os cultos

negros ndash o que evidencia a pequena participaccedilatildeo do elemento negro na etnia

local marcaram presenccedila na comunidade Os ritos as festas as preces tudo

era vinculado ao catolicismordquo (COSTA 1990 p 153)

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Esta negaccedilatildeo aleacutem de refletir perspectiva de discriminaccedilatildeo racial destaca a

necessidade da Igreja Catoacutelica de apagar da memoacuteria histoacuterica natildeo apenas a presenccedila do

homem de cor mas muito aleacutem disso a possibilidade do espaccedilo de culto catoacutelico ou seja a

Igreja pertencer ou ter pertencido nominalmente a uma irmandade Isto significa que o

preacutedio em si e suas propriedades economicamente natildeo eram da Igreja mas de leigos que a

construiacuteram e doaram tudo o que estava ao seu redor e no seu interior Haacute uma real atividade

da Igreja de tentar apagar desconstruir camuflar as atividades das irmandades em especial

das que eram compostas por homens de cor

MUITO ALEacuteM DA ESCRITA E DA MEMOacuteRIA UMA CONSTRUCcedilAtildeO

O autor Severino Ismael da Costa publicou seu texto Caiccedilara caminhos de

almocreves na deacutecada de 90 do seacuteculo XX um periacuteodo de movimentaccedilatildeo poliacutetica vinculada

aos processos de municipalizaccedilatildeo que vinham ocorrendo no Estado da Paraiacuteba desde os anos

70 do mesmo seacuteculo Aliado a accedilatildeo poliacutetica de transformar em municiacutepio as vilas lugarejos e

aacutereas rurais do Estado era necessaacuteria a construccedilatildeo histoacuteria e descriccedilatildeo dos principais eventos

destas regiotildees Assim temos uma linha de escrita historiograacutefica estritamente vinculada a este

processo Constroacutei-se um municiacutepio consequentemente se constroacutei uma histoacuteria

O importante eacute identificar nestes textos em grande parte encomendados ou ao

menos financiados pelas elites locais o tipo de histoacuteria escrita e pensada assim como satildeo

escolhidos os personagens deste percurso A obra que analisamos natildeo foge a estas

caracteriacutesticas jaacute que recebeu apoio dos poliacuteticos locais na eacutepoca que foi publicada Nas

primeiras paacuteginas encontramos homenagens e agradecimentos agraves pessoas e personagens

ilustres da cidade entre eles filhos da elite local que se formaram e exercem profissotildees

liberais respeitadas pela sociedade da eacutepoca e dos dias atuais

ldquo HOMENAGEM Agrave CULTURA

Paraibana na presenccedila de um grande vulto

Prof JOSEacute OCTAacuteVIO DE ARRUDA MELO

Caiccedilarense representada por seus filhos

D Epaminondas Joseacute de Arauacutejo emeacuterito bispo da Igreja Catoacutelica de quem natildeo

me faltou estiacutemulo de conterracircneo

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Prof Joseacute Jackson Carneiro de Carvalho de quem recebi incentivo e ateacute desafio

Dr Walderedo Ismael de Oliveira meacutedico de renome internacional escritor

especializado modesto e grande como sua terrardquo (COSTA 1990 p13)

O autor inicia seu texto se referindo as ldquograndesrdquo personalidades de sua cidade tendo

o cuidado de anteriormente ter agradecido aos prefeitos da eacutepoca Haacute a presenccedila dos nomes e

sobrenomes de destaque da cidade representantes da Igreja Catoacutelica de meacutedicos professores

e jornalistas

Em seguida descreve a histoacuteria de fundaccedilatildeo da cidade e de sua municipalizaccedilatildeo desta

a participaccedilatildeo do iacutendio que junto ao portuguecircs seriam os grandes responsaacuteveis pela formaccedilatildeo

desta sociedade mas afirma que o negro teve pouca atuaccedilatildeo ldquonatildeo haacute grande presenccedila do

elemento negro a natildeo ser na zona dos engenhos no dorso da serra onde precisaram do

escravo para tocar o trabalhordquo (COSTA 1990 p 69) apesar de ter sido escrito nos anos 90

do seacuteculo XX o texto tem uma preocupaccedilatildeo oitocentista de esconder a presenccedila negra

minimizando sua participaccedilatildeo nas atividades econocircmicas A impossibilidade de simplesmente

omitir esta inserccedilatildeo dos homens negros na sociedade de Caiccedilara faz com que seu texto e sua

fala se tornem contraditoacuterios no sentido de que afirma natildeo ter existido uma participaccedilatildeo

negra mas ao mesmo tempo destaca o lugar social ocupado por esta etnia

Muito de sua escrita positivista eacute explicado pelas fontes selecionadas pelo autor

Textos tradicionais sobre a Histoacuteria da Paraiacuteba escritos no iniacutecio do seacuteculo XX em especial

os escritos de Horaacutecio de Almeida se dando ao trabalho de apenas transferir as ideias destes

sem realizar uma revisatildeo ou criacutetica historiograacutefica Isso fica latente ao reproduzir a expressatildeo

Tapuia como sinocircnimo de baacuterbaro E destacar figuras heroicas entre os indiacutegenas que de

alguma forma se aliaram aos conquistadores nos empreendimentos de colonizaccedilatildeo

Outro ponto que nos chama a atenccedilatildeo eacute a necessidade de sempre referecircnciar as fontes

em geral documentais ou historiograacuteficas e ao mesmo tempo questionaacute-las e ateacute discordar de

dados e apontamentos que se distanciam de uma preocupaccedilatildeo com o processo histoacuterico mas

se relaciona diretamente com uma narrativa positivista como por exemplo ao investigar e

averiguar quem teria sido o primeiro morador de Caiccedilara Segundo Coriolano de Medeiros e

Luiz Pinto teria sido ldquoJoseacute de abreu Cordeiro em 1776 contudo verificou ser na realidade

Raphael de Carvalho em 1615rdquo (COSTA 1990 p 85)

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O povoado surge a partir da construccedilatildeo de casa de morada capela e currais agrave margem

direita do rio Curimatauacute em 1822 por Manoel Soares da Costa A capela tinha por invocaccedilatildeo

Nossa Senhora do Rosaacuterio Como a maioria dos municiacutepios da regiatildeo seu desenvolvimento

pode ser vinculado ao estabelecimento da feira Uma particularidade citada e destacada pelo

autor satildeo as disputas poliacuteticas entre Caiccedilara e o Municiacutepio de Serra da Raiz que levam os

dois lugarejos a encontrar formas de se destacarem um em relaccedilatildeo ao outro Por exemplo

menciona que a criaccedilatildeo em 1870 da Freguesia de N S do Bom Fim cuja sede eacute a Serra da

Raiz ( instituiccedilatildeo que tornava Caiccedilara subordinada nas questotildees religiosas em relaccedilatildeo agrave Serra

da Raiz) segundo o autor a animosidade poliacutetico-administrativa entre os lugarejos se

desenvolveu a partir da introduccedilatildeo da feira livre em Caiccedilara jaacute que a mesma se tornou uma

forte concorrente para os ldquobarracotildeesrdquo instalados nos engenhos da Serra da Raiz assim a feira

poderia promover uma mudanccedila social que natildeo interessava aos poliacuteticos daquela regiatildeo

Passa a destacar os poliacuteticos de Caiccedilara nomeando-os ateacute o seacuteculo XX o que se

configura como um importante registro para a histoacuteria local assim como toda a obra de

Severino Ismael da Costa (1990) contudo ainda necessitando de uma anaacutelise do processo

histoacuterico e de suas etapas O fato que o autor levanta vaacuterios pontos desta histoacuteria que devem

ser estudados um dia e provavelmente iratildeo partir e se referir a sua obra que tem como

destaque o trabalho de levantamento de dados e fontes para os proacuteximos historiadores que se

dedicarem a Historia desta regiatildeo Nossas observaccedilotildees se referem a ideia de ausecircncia de

contribuiccedilatildeo do homem negro na constituiccedilatildeo soacutecioreligiosa desta localidade

Mais uma vez o autor busca formas de desvincular a participaccedilatildeo dos negros na

histoacuteria religiosa local A obra Caiccedilara Caminhos de Almocreves estaacute repleta destas

argumentaccedilotildees acerca do homem de cor

O objetivo inicial desta pesquisa era de buscar indiacutecios em Livros de Tombo e

documentos religiosos a contribuiccedilatildeo do negro na religiosidade local Tendo em vista que natildeo

soacute no municiacutepio de Caiccedilara mas tambeacutem em todo o territoacuterio brasileiro houve uma

marginalizaccedilatildeo da imagem do homem de cor ou seja uma tentativa de deixar a margem da

sociedade uma figura que se faz tatildeo importante para adentrarmos no imaginaacuterio religioso do

povo brasileiro

Contudo o livro de Tombo analisado natildeo nos forneceu as informaccedilotildees necessaacuterias

para afirmamos que houve uma irmandade negra no municiacutepio de Caiccedilara Mas para

buscarmos indiacutecios e vestiacutegios da contribuiccedilatildeo do negro nestes locais faremos uma analise

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minuciosa da obra contrapondo com elementos existentes na proacutepria igreja local na tentativa

de trazer a luz questotildees que foram estabelecidas pelo autor Severino Ismael como verdades

prontas e absolutas Os possiacuteveis indiacutecios e vestiacutegios satildeo elementos de fundamental

importacircncia para este trabalho

Entre estes vestiacutegios destacamos a imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no altar

central da Igreja matriz de Caiccedilara (apesar da referecircncia direta agrave fundaccedilatildeo da cidade nos eacute

intrigante a escolha desta padroeira por seus fundadores) Jaacute que este culto agrave Senhora do

Rosaacuterio no Brasil ficou diretamente vinculado ao culto catoacutelico negro atraveacutes das

irmandades podendo dessa forma ser considerado um elemento da cultura africana no

espaccedilo religioso local Abaixo foto da Imagem tirada em 06 de Janeiro de 2014 Durante os

preparativos para a procissatildeo da Padroeira que se comemora nesta data no municiacutepio de

Caiccedilara

Ilustraccedilatildeo 1 Imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no andor

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Foto Ricardo (2014)

Eacute evidente que os diversos escravos africanos desembarcados no Brasil contribuiriam

de forma significativa para a construccedilatildeo territorial e religiosa do paiacutes jaacute que participaram

diretamente da formaccedilatildeo da sociedade brasileira seja no trabalho nos engenhos de produccedilatildeo

de cana de accediluacutecar nas lavouras do cafeacute na extraccedilatildeo do ouro entre outros Ao desembarcarem

nessas terras trouxeram consigo seus costumes liacutenguas valores e crenccedilas Aqui encontraram

as mais diversas dificuldades de praticar sua cultura ou seja cultuar suas divindades e

costumes

O DESENVOLVIMENTO DAS PRAacuteTICAS RELIGIOSAS OFICIAIS NA CIDADE

DE CAICcedilARA-PB

A presenccedila do Catolicismo caiccedilarense estaacute inteiramente ligada ao seu periacuteodo de

fundaccedilatildeo que se deu por volta do ano de 1822 quando Manoel Soares da Costa instalou sua

fazenda e ergueu uma capela as margens do Rio Curimatauacute ldquoO povoamento da encantadora

Villa de Caiccedilara segundo informes de pessoas competentes teve logar no ano de 1822rdquo

Onde ldquoFoi edificada uma pequena capella sob a invocaccedilatildeo de NS do Rosaacuterio ()rdquo

ARAUacuteJO (1913)

Como aconteceu no Brasil e consequentemente na Paraiacuteba de uma forma em geral o

processo de povoamento oficial das regiotildees afastadas do litoral assim como o proacuteprio litoral

teve sua conquista e povoamento acompanhado da praacutetica religiosa oficial dos exploradores o

catolicismo A presenccedila da capela de Nossa Senhora do Rosaacuterio no povoamento que

futuramente seria denominado como municiacutepio de caiccedilara eacute um fato indiscutiacutevel pelos

historiadores e narradores de uma forma geral do Mito de fundaccedilatildeo da cidade ocorrendo

uma discussatildeo historiograacutefica agrave respeito do ano desta fundaccedilatildeo Epaminondas Tavares de

Arauacutejo afirma ter sido no ano de 1822 Entretanto Coriolano de Medeiros (em seu

ldquoDicionaacuterio Chorograacuteficordquo 1914) aponta o ano de 1841 como o da fundaccedilatildeo da Villa de

Caiccedilara

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ldquoEm 1841 o terreno onde hoje eacute a sede do municiacutepio cobria-se ainda

cactos e bromeacutelias quando Manoel Soares da Costa Francisco da Costa

Gonccedilalves e Joseacute Vicente compraram a propriedade construiacuteram suas

vivendas e cercados de ramos ndash caiccedilaras ndash para abrigo do gado Depois

ergueram uma capella dedicada a NS do Rosaacuterio rdquo

Entretanto O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) aceita o uacuteltimo

como sendo o ano de fundaccedilatildeo Entre a populaccedilatildeo a informaccedilatildeo tida com maior aprovaccedilatildeo eacute

ano de 1822 Isto porque a sesmaria que Luiacutes Soares de Mendonccedila adquiriu natildeo foi no ano de

1822 como relatou Coriolano de Medeiros em seus estudos e sim no ano de 1788 registrada

sob nordm 891 por meio de documentos oficiais

Todavia a divergecircncia acerca do ano de fundaccedilatildeo ocorreu pelo fato de que a criaccedilatildeo da

feira ocorreu no ano de 1841 e o mesmo seria o marco do crescimento e da concentraccedilatildeo

urbana O que observamos em comum em ambas as citaccedilotildees eacute que o Catolicismo fecundava a

Villa de Caiccedilara desde sua fundaccedilatildeo Pois a construccedilatildeo da Capella eacute vista em todos os

registros sobre a origem deste povoado Os autores oficiais e tradicionais da histoacuteria de

fundaccedilatildeo da Villa de Caiccedilara discorrem ainda sobre a origem de sua denominaccedilatildeo segundo

Coriolano de Medeiros e Epaminondas Tavares o nome Caiccedilara proveacutem dos currais Fala

Epaminondas ldquoA denominaccedilatildeo de Caiccedilara proveacutem de um curral de pau-a-pique construiacutedo

por Manoel Soares nas proximidades de sua casardquo (p108)

O CATOLICISMO CAICcedilARENSE

De acordo com a visatildeo positivista e as fontes oficiais o iacutendio e o negro pouco

contribuiacuteram na formaccedilatildeo do espirito religioso do povo Caiccedilarense segundo Severino Ismael

da Costa em seu livro ldquoCaiccedilara Caminhos de Almocrevesrdquo (1990) Ainda de acordo com o

mesmo o imaginaacuterio da populaccedilatildeo local contribuiu de maneira bastante significativa para o

florescimento da religiatildeo Catoacutelica que veio a ser praticada na Villa de Caiccedilara

Nesta mesma perspectiva as fontes oficias da Igreja em pauta tentam nos mostrar que

a participaccedilatildeo do negro no acircmbito religioso teve pouco significado Os ritos as festas as

preces tudo era vinculado ao catolicismo No periacuteodo da posse da terra quando o branco

erguia sua morada edificava tambeacutem junto ou nas proximidades uma capela onde eram

celebrados os atos religiosos e realizadas as festas Destas eram as mais comuns O Natal

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Ano Bom e Reis As juninas Santo Antocircnio Satildeo Joatildeo e Satildeo Pedro A de Santana no uacuteltimo

saacutebado de julho Ainda hoje entre o meio rural caiccedilarense os meses de junho e julho satildeo mais

conhecidos como o de Satildeo Joatildeo e de Santana Na semana santa mais precisamente a partir da

quarta-feira acontecia o recolhimento total ou seja preces jejum pouco trabalho e muito

cuidado em natildeo maltratar pessoas e animais O jejum era tatildeo rigoroso que se bebia apenas um

gole de aacutegua pela manhatilde e soacute a noite algum alimento Na quarta-feira chamada de trevas natildeo

se permitia varrer a casa nem tomar banho sob a pena de ldquoentrevarrdquo nas sedes das fazendas

rezava-se todos os saacutebados o ldquoOficio de Nossa Senhorardquo era acompanhado por todos os

moradores Nos domingos os fazendeiros todos bem vestidos mostravam seu prestigio ao ir agrave

missa com os seus familiares e agregados

MEcircS DE MAIO

Durante todo o mecircs de maio era rezado o terccedilo nas salas das casas grandes ou nas

capelas estes alternados por cacircnticos religiosos Ao termino deste evento acontecia a

tradicional queima das flores que haviam ornamentado os altares das capelas ou os jarros em

volta dos grandes oratoacuterios (tambeacutem chamados de santuaacuterios) de madeira repleto de imagens

de vaacuterios santos Vale ressaltar que geralmente era obrigaccedilatildeo da senhora da casa grande rezar

o terccedilo ou suas filhas Nas fazendas como nas vilas e povoados eram assim Todas as noites

era necessaacuterio a praacutetica de um ato religioso quase sempre um terccedilo ou um rosaacuterio de oraccedilotildees

O Catecismo era ensinado para as crianccedilas nas vilas povoados e nas fazendas

A CONSTRUCcedilAtildeO DA CAPELA

A Capela foi erguida nas proximidades da residecircncia de Manoel Soares da Costa sob

a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora do Rosaacuterio construiacuteda de taipa ou seja as paredes eram feitas

de barro calccedilados entre paus e cruzados por ripa e telhas

No livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves Severino Ismael da Costa descreve a

aacuterea destinada a capela

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ldquoConstruiacuteda por trinta braccedilas de terras para cada lado para fazer

faces agraves despesas necessaacuterias confirma aquela intenccedilatildeo as casas

construiacutedas ou o que quer que se realizasse naquele periacutemetro

pagaria renda ou foro cabiacutevel agrave igrejardquo (Paacuteg 155)

A citaccedilatildeo acima nos faz entendermos que o fato da capela ter sido construiacuteda um

pouco afastada da casa grande revela a intenccedilatildeo que o fazendeiro tinha que no caso seria

desenvolver outras construccedilotildees ao seu redor

Alguns anos se passaram e o templo foi ampliado por Francisco Costa Gonccedilalves

Entre 1869 a 1872 pelo padre Herculano foi reconstruiacutedo aumentando sua aacuterea e levantadas

paredes de pedras A capela ficou majestosa Cerca de 15 metros de largura por uns 25 de

comprimento Paredes soacutelidas de pedras deram lugar a taipa com mais de metro de espessura

e oito a dez metros de altura Trecircs portas na frente e uma torre no lado direito (nascente) A

frente para o norte no iniacutecio do aclive da colina

No iniacutecio do seacuteculo XX o templo passou por nova reforma desta vez patrocinada por

Ascendina da Costa Frazatildeo que morava nas proximidades A nova reforma consistiu numa

das maiores ampliaccedilotildees jaacute recebidas Foram-lhe acrescentados os corredores laterais em todo

o seu comprimento o coro acrescentando uma torre do lado direito Nesta instalaram dois

sinos cujo bronze emitia lindos sons avisando os fieacuteis sobre a realizaccedilatildeo de atos religiosos

inclusive anunciando os falecimentos que ocorriam O tradicional dobre de finados para os

adultos o ldquorepiquerdquo ou seja uma serie de batidas sucessivas muito proacuteximas indicavam que

havia falecido uma crianccedila os chamados ldquoanjosrdquo e batidas mistas (dobre de finados e

repique) noticiavam o falecimento de jovens puacuteberes Essa reforma quase duplicou a aacuterea do

templo

Por ocasiatildeo desta reforma foram erguidos dois altares no fim da nave central e antes

da capela-mor agrave direita e agrave esquerda da arcada que a esta dava acesso Do lado esquerdo do

altar de Satildeo Sebastiatildeo (a imagem original foi posteriormente substituiacuteda por outra maior

doada por um fazendeiro local) No lado oposto a este altar se encontrava o altar de Nossa

Senhora da Dores cuja a imagem foi doada pelas senhoras das irmandade das Dores

O altar-mor bastante decorado em alto relevo com belas colunatas separando os trecircs

nichos tem no alto o nicho onde fica a imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus preciosa obra

de arte doada pelo Coronel Antocircnio Soares de Oliveira No centro o de Nossa Senhora do

Rosaacuterio

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Nos anos de 1950 novas reformas foram introduzidas no templo demoliam-se os

altares de NS das Dores e Satildeo Sebastiatildeo cujas imagens foram transferidas para os altares

construiacutedos nas alas direita e a esquerda da capela-mor onde jaacute existia o da direita dedicado a

Santa Terezinha Outras reformas ainda foram realizadas como o revestimento do piso da

igreja com mosaicos Neste caso especificamente as obras foram feitas com recursos proacuteprios

provenientes da festa de NS do Rosaacuterio Vale lembrar que a partir desta uacuteltima empreitada a

igreja ganhou mais uma torre na fachada

A CHEGADA DA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DO ROSAacuteRIO

As reformas que aconteceram entre os anos 1869 a 1872 tinham o objetivo de receber

a nova imagem da padroeira encomendada em Portugal por Joaquim Joseacute fazendeiro desta

regiatildeo A mesma que ainda permanece hoje no nicho central do altar-mor A Santa chegou as

terras da Paraiacuteba no porto de Salema municiacutepio de Mamanguape Mais de 40 quilocircmetros

separavam ela de Caiccedilara O transporte teria que ser efetuado em carro de boi pois natildeo existia

outro meio transporte nessa localidade Poreacutem a dedicaccedilatildeo do povo foi tatildeo grande que os

fieacuteis saiacuteram de Caiccedilara a peacute e em procissatildeo para receber a imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio

A chegada em Caiccedilara deu-se no dia 6 de Janeiro dia festivo da Igreja Catoacutelica em

comemoraccedilatildeo agrave Santos Reis E como chegada da Santa tornou-se duplamente festivo para o

povo caiccedilarense Com consequecircncia deste fato nos dias atuais a festa para homenagear a

padroeira termina exatamente no dia 6 de Janeiro Tanto que a populaccedilatildeo passou a denominar

ldquoFesta de Nossa Senhora do Rosaacuteriordquo E de acordo com as pesquisas efetuadas natildeo conheccedilo

outro lugar onde a festividade ocorra no mecircs de Janeiro Pois no calendaacuterio da Igreja Catoacutelica

a mesma realiza-se no iniacutecio do mecircs de Outubro

Com a chegada da imagem da santa a vila de Caiccedilara o Padre Ibiapina sugeriu que o

nome da mesma passasse a se chamar Marianoacutepolis em homenagem a Nossa senhora do

Rosaacuterio poreacutem natildeo foi muito aceito pela sociedade da eacutepoca

A influecircncia da padroeira tambeacutem pode ser percebida nos dias atuais Pois aleacutem de

casas comerciais um hospital e maternidade recebeu seu nome assim como o primeiro bairro

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da cidade onde foi edificado um monumento em sua homenagem Sem esquecer que a letra

do hino agrave Caiccedilara demostra a feacute depositada a santa

ldquoMarianoacutepolis eacute o nome que a feacute nos brindou para nossa alegria e que todos de joelho ou de peacute rendem

Graccedilas agrave Virgem Mariardquo

(Paacuteg 36)

A FESTA

Eacute um grandiosiacutessimo evento profano-religioso Nos dias que antecedem o 6 de Janeiro

realiza-se o novenaacuterio Soacute rezado Na noite do dia 5 eacute realizada a festa profana com barracas

e pavilhotildees fogos de artifiacutecios venda de produtos tiacutepicos da culinaacuteria local

Na festividade dedicada a Nossa Senhora do Rosaacuterio identificamos a figura

importantiacutessima que tinha os fazendeiros pois os mesmo com o intuito de mostrar seu poder

bancava as noites de festas A princiacutepio eram nove noites em cada uma delas um fazendeiro

diferente fica com a responsabilidade de organizar este evento

Atualmente a festa eacute precedida por um novenaacuterio onde cada comunidade Catoacutelica

local eacute responsaacutevel por uma noite de novena Sendo que nos uacuteltimos trecircs dias deste evento

acontece festas profanas em frente a Igreja Matriz com leilotildees de gados galinhas entre

outros

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CONCLUSAtildeO

O presente trabalho buscou investigar se existiu uma irmandade de negros no municiacutepio de

Caiccedilara Entretanto as fontes documentais analisadas natildeo nos permitiram fazermos essa

afirmativa Poreacutem a partir desse momento direcionamos a pesquisa na analise do livro da

histoacuteria local do municiacutepio de Caiccedilara na perspectiva de se debruccedilar sobre indiacutecios e

vestiacutegios que nos permitam fazermos uma releitura da obra na tentativa de elucidarmos os

questionamentos pertinentes a nossa pesquisa

Durante a analise do Livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves percebemos que o autor

procura maneiras de desvincular a participaccedilatildeo do negro no cenaacuterio local Na tentativa de

proclamar o branco ou seja o colonizador como sendo o uacutenico agente na construccedilatildeo do

espaccedilo religioso deste povoado Na obra de Severino Ismael fica evidente a preocupaccedilatildeo do

mesmo em colocar o homem de cor a margem da sociedade local

Entretanto este ensaio procura incessantemente por vestiacutegios que nos possibilitem

enxergarmos a presenccedila de elementos africanos na construccedilatildeo do povoado de Caiccedilara na

tentativa de reescrever uma histoacuteria que nos mostrem que os negros foram responsaacuteveis tanto

na construccedilatildeo deste municiacutepio quanto pelo espaccedilo religioso local

O primeiro passo do trabalho foi buscar indiacutecios da participaccedilatildeo do negro no povoado de

Caiccedilara O culto a Nossa Senhora do Rosaacuterio e a Satildeo Sebastiatildeo pode ser observados como

vestiacutegios da presenccedila do homem de cor na construccedilatildeo cenaacuterio religioso de Caiccedilara A doaccedilatildeo

da imagem de Nossa Senhora das Dores feita por uma Irmandade das Dores de Itabira-MG

para a igreja de Caiccedilara que se encontra num altar lateral da igreja pode ser analisados como

elementos que caracterizam uma irmandade ou ao menos a figura do negro nestes espaccedilos

O presente artigo nos faz enxergarmos como o autor visualiza a construccedilatildeo da Vila de

Caiccedilara partindo do seu lugar socioeconocircmico poliacutetico e cultural Isso tornasse evidente na

sua obra

Contudo a analise historiograacutefica do livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves nos

obriga a produzimos outros trabalhos que possa contrapor essa visatildeo positivista de fatos e

acontecimento que privilegia o branco como sendo o civilizado e o construtor da histoacuteria e

19

marginalizando a imagem do homem de cor como sendo bichos que estavam alheios a

qualquer coisa

ABSTRACT

The marginalization of the black throughout history is clearly observed in its various aspects

From this perspective we seek to verify that the Caiccedilara municipality was erected some

Brotherhood However we did not find the necessary documentation to prove However the

analysis of the book of local history of the county have allowed us to detect the authors

concern to untie colored mans contribution in caiccedilarense society This essay aims to

reconstruct this distorted idea that was created in the course of time with regard to blacks The

theoretical basis that sustains this article are the theoretical assumptions of Kings (1999)

Certeau (2002) and others Through traces and evidence which is the historians work search

the rubble what was hidden this work reexamines in an attempt to evinced importance of

black in several areas of the Caiccedilarense peoples culture whether in beliefs in musicality in

daily habits the existing diverse religiosity in this town

KEY - WORDS Black Marginalization Religiosity

20

REFEREcircNCIAS

ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do

seacuteculo XIX Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Joatildeo Pessoa PPGHUFPB 2006

ARAUacuteJO Epaminondas Tavares de Almanach da Paraiacuteba V PB 1913

BASTIDE Roger As Religiotildees africanas no Brasil Contribuiccedilatildeo a uma Sociologia das

Interpretaccedilotildees de Civilizaccedilotildees Satildeo Paulo Pioneira 1971

BOSCHI Caio Ceacutesar Os leigos e o poder irmandades leigas e poliacutetica colonizadora em

Minas Gerais Satildeo Paulo Aacutetica ColEnsaios 116 1986

COSTA Severino Ismael da Caiccedilara Caminhos de Almocreves Joatildeo Pessoa Ed

Micrograacutefica 1990

FREYRE Gilberto Casa-grande amp senzala formaccedilatildeo da famiacutelia brasileira sob o regime de

economia patriarcal Rio de Janeiro Nova Aguilar 2002

HOORNAERT Eduardo Formaccedilatildeo do Catolicismo Brasileiro 1550-1800 3ordf ediccedilatildeo

Petroacutepolis Vozes 1991

JUNIOR Joseacute Pereira de Souza Tradiccedilatildeo Devoccedilatildeo e Feacute os rituais festivos nas

irmandades religiosas na Parahyba do Norte ndash sec XIX IN Joseacute Pereira de Souza Junior

Ed Universitaacuteria ndash UFPB 2006

MEDEIROS Coriolano de (Dicionaacuterio Chorograacutefico da paraiacuteba 1914)

QUINTAtildeO Antonia Aparecida Laacute vem o meu parente as irmandades de pretos e pardos

no Rio de Janeiro e em Pernambuco (seacuteculo XVIII) Satildeo Paulo Annablume 2002

RUSSELL- Wood AJ R Escravos e Libertos no Brasil Colonial Traduccedilatildeo Maria Beatriz

Medina ndash Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2005

Epaminondas Tavares de Arauacutejo (V ldquoAlmanach da Paraiacuteba 1913rdquo)

httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250360ampsearch=||infogrE

1ficos-informaE7F5es-completas acessado em 09032015 agraves 2200hs

Page 7: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA CAMPUS III CENTRO DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13300/1... · 2017. 4. 6. · 2 PAULO RICARDO PORPINO DA CRUZ Memória construída

7

referente agrave histoacuteria buscando-se encontrar explicaccedilotildees para os fatos do passado natildeo

constituindo verdades objetivas que traduzem a realidade tal como ocorreu mas como

construccedilotildees humanas que representam partes de uma realidade

Nessa linha de abordagem Certeau (2002) em seu livro A Escrita da Histoacuteria

compreende as caracteriacutesticas do trabalho do historiador fazendo referecircncia ao tripeacute da

operaccedilatildeo historiograacutefica ldquoum lugar social uma praacutetica uma escritardquo (p66)

O historiador tem a funccedilatildeo de dar voz ao natildeo dito atribuindo sentido a um determinado

acontecimento Segundo Certeau (2002) a pesquisa em histoacuteria se faz a partir de um lugar

socioeconocircmico poliacutetico e cultural Eacute importante considerar que o lugar que o autor cita estaacute

ligado agrave relaccedilatildeo que o historiador manteacutem com o lugar que se encontra uma vez que este natildeo

eacute mais um colecionador de fatos e sim um construtor recortador leitor e inteacuterprete de

processos histoacutericos buscando possibilidades hipoacuteteses de abordagem ligadas as suas

preocupaccedilotildees especiacuteficas ou seja trocando ideias e informaccedilotildees com outros saberes e

sujeitos

O historiador tem o tempo como ldquomaterial de anaacuteliserdquo ou como ldquoobjeto

especiacuteficordquo Trabalha de acordo com os seus meacutetodos os objetos fiacutesicos

(papeacuteis pedras imagens sons etc) Trabalha sobre um material para

transformaacute-lo em histoacuteria(CERTEAU 2002 p79)

Certeau (2002) afirma ainda que a anaacutelise historiograacutefica eacute um exerciacutecio de

problematizaccedilatildeo um campo aberto a inuacutemeras possibilidades e ao intenso diaacutelogo o que

permite essa amplitude de objetos e tipos de fontes a partir de metodologias que a histoacuteria

pode apresentar em diversificados campos do saber Coloca que a operaccedilatildeo historiograacutefica

natildeo estaacute somente relacionada a um lugar a uma praacutetica mas tambeacutem a uma escrita ou seja a

historiografia eacute construiacuteda por meio do discurso documental Portanto todo conhecimento

historiograacutefico eacute construiacutedo o que nos permite sempre trazer novas discussotildees a respeito da

anaacutelise do ldquopassadordquo

Sob esta perspectiva de construccedilatildeo a partir do seu lugar social eacute que podemos refletir

sobre os motivos e as intenccedilotildees de desvincular a praacutetica da religiatildeo catoacutelica em Caiccedilara da

presenccedila negra e indiacutegena nesta sociedade

ldquoA religiatildeo mesmo praticada por todos era a catoacutelica romana Nem os cultos

negros ndash o que evidencia a pequena participaccedilatildeo do elemento negro na etnia

local marcaram presenccedila na comunidade Os ritos as festas as preces tudo

era vinculado ao catolicismordquo (COSTA 1990 p 153)

8

Esta negaccedilatildeo aleacutem de refletir perspectiva de discriminaccedilatildeo racial destaca a

necessidade da Igreja Catoacutelica de apagar da memoacuteria histoacuterica natildeo apenas a presenccedila do

homem de cor mas muito aleacutem disso a possibilidade do espaccedilo de culto catoacutelico ou seja a

Igreja pertencer ou ter pertencido nominalmente a uma irmandade Isto significa que o

preacutedio em si e suas propriedades economicamente natildeo eram da Igreja mas de leigos que a

construiacuteram e doaram tudo o que estava ao seu redor e no seu interior Haacute uma real atividade

da Igreja de tentar apagar desconstruir camuflar as atividades das irmandades em especial

das que eram compostas por homens de cor

MUITO ALEacuteM DA ESCRITA E DA MEMOacuteRIA UMA CONSTRUCcedilAtildeO

O autor Severino Ismael da Costa publicou seu texto Caiccedilara caminhos de

almocreves na deacutecada de 90 do seacuteculo XX um periacuteodo de movimentaccedilatildeo poliacutetica vinculada

aos processos de municipalizaccedilatildeo que vinham ocorrendo no Estado da Paraiacuteba desde os anos

70 do mesmo seacuteculo Aliado a accedilatildeo poliacutetica de transformar em municiacutepio as vilas lugarejos e

aacutereas rurais do Estado era necessaacuteria a construccedilatildeo histoacuteria e descriccedilatildeo dos principais eventos

destas regiotildees Assim temos uma linha de escrita historiograacutefica estritamente vinculada a este

processo Constroacutei-se um municiacutepio consequentemente se constroacutei uma histoacuteria

O importante eacute identificar nestes textos em grande parte encomendados ou ao

menos financiados pelas elites locais o tipo de histoacuteria escrita e pensada assim como satildeo

escolhidos os personagens deste percurso A obra que analisamos natildeo foge a estas

caracteriacutesticas jaacute que recebeu apoio dos poliacuteticos locais na eacutepoca que foi publicada Nas

primeiras paacuteginas encontramos homenagens e agradecimentos agraves pessoas e personagens

ilustres da cidade entre eles filhos da elite local que se formaram e exercem profissotildees

liberais respeitadas pela sociedade da eacutepoca e dos dias atuais

ldquo HOMENAGEM Agrave CULTURA

Paraibana na presenccedila de um grande vulto

Prof JOSEacute OCTAacuteVIO DE ARRUDA MELO

Caiccedilarense representada por seus filhos

D Epaminondas Joseacute de Arauacutejo emeacuterito bispo da Igreja Catoacutelica de quem natildeo

me faltou estiacutemulo de conterracircneo

9

Prof Joseacute Jackson Carneiro de Carvalho de quem recebi incentivo e ateacute desafio

Dr Walderedo Ismael de Oliveira meacutedico de renome internacional escritor

especializado modesto e grande como sua terrardquo (COSTA 1990 p13)

O autor inicia seu texto se referindo as ldquograndesrdquo personalidades de sua cidade tendo

o cuidado de anteriormente ter agradecido aos prefeitos da eacutepoca Haacute a presenccedila dos nomes e

sobrenomes de destaque da cidade representantes da Igreja Catoacutelica de meacutedicos professores

e jornalistas

Em seguida descreve a histoacuteria de fundaccedilatildeo da cidade e de sua municipalizaccedilatildeo desta

a participaccedilatildeo do iacutendio que junto ao portuguecircs seriam os grandes responsaacuteveis pela formaccedilatildeo

desta sociedade mas afirma que o negro teve pouca atuaccedilatildeo ldquonatildeo haacute grande presenccedila do

elemento negro a natildeo ser na zona dos engenhos no dorso da serra onde precisaram do

escravo para tocar o trabalhordquo (COSTA 1990 p 69) apesar de ter sido escrito nos anos 90

do seacuteculo XX o texto tem uma preocupaccedilatildeo oitocentista de esconder a presenccedila negra

minimizando sua participaccedilatildeo nas atividades econocircmicas A impossibilidade de simplesmente

omitir esta inserccedilatildeo dos homens negros na sociedade de Caiccedilara faz com que seu texto e sua

fala se tornem contraditoacuterios no sentido de que afirma natildeo ter existido uma participaccedilatildeo

negra mas ao mesmo tempo destaca o lugar social ocupado por esta etnia

Muito de sua escrita positivista eacute explicado pelas fontes selecionadas pelo autor

Textos tradicionais sobre a Histoacuteria da Paraiacuteba escritos no iniacutecio do seacuteculo XX em especial

os escritos de Horaacutecio de Almeida se dando ao trabalho de apenas transferir as ideias destes

sem realizar uma revisatildeo ou criacutetica historiograacutefica Isso fica latente ao reproduzir a expressatildeo

Tapuia como sinocircnimo de baacuterbaro E destacar figuras heroicas entre os indiacutegenas que de

alguma forma se aliaram aos conquistadores nos empreendimentos de colonizaccedilatildeo

Outro ponto que nos chama a atenccedilatildeo eacute a necessidade de sempre referecircnciar as fontes

em geral documentais ou historiograacuteficas e ao mesmo tempo questionaacute-las e ateacute discordar de

dados e apontamentos que se distanciam de uma preocupaccedilatildeo com o processo histoacuterico mas

se relaciona diretamente com uma narrativa positivista como por exemplo ao investigar e

averiguar quem teria sido o primeiro morador de Caiccedilara Segundo Coriolano de Medeiros e

Luiz Pinto teria sido ldquoJoseacute de abreu Cordeiro em 1776 contudo verificou ser na realidade

Raphael de Carvalho em 1615rdquo (COSTA 1990 p 85)

10

O povoado surge a partir da construccedilatildeo de casa de morada capela e currais agrave margem

direita do rio Curimatauacute em 1822 por Manoel Soares da Costa A capela tinha por invocaccedilatildeo

Nossa Senhora do Rosaacuterio Como a maioria dos municiacutepios da regiatildeo seu desenvolvimento

pode ser vinculado ao estabelecimento da feira Uma particularidade citada e destacada pelo

autor satildeo as disputas poliacuteticas entre Caiccedilara e o Municiacutepio de Serra da Raiz que levam os

dois lugarejos a encontrar formas de se destacarem um em relaccedilatildeo ao outro Por exemplo

menciona que a criaccedilatildeo em 1870 da Freguesia de N S do Bom Fim cuja sede eacute a Serra da

Raiz ( instituiccedilatildeo que tornava Caiccedilara subordinada nas questotildees religiosas em relaccedilatildeo agrave Serra

da Raiz) segundo o autor a animosidade poliacutetico-administrativa entre os lugarejos se

desenvolveu a partir da introduccedilatildeo da feira livre em Caiccedilara jaacute que a mesma se tornou uma

forte concorrente para os ldquobarracotildeesrdquo instalados nos engenhos da Serra da Raiz assim a feira

poderia promover uma mudanccedila social que natildeo interessava aos poliacuteticos daquela regiatildeo

Passa a destacar os poliacuteticos de Caiccedilara nomeando-os ateacute o seacuteculo XX o que se

configura como um importante registro para a histoacuteria local assim como toda a obra de

Severino Ismael da Costa (1990) contudo ainda necessitando de uma anaacutelise do processo

histoacuterico e de suas etapas O fato que o autor levanta vaacuterios pontos desta histoacuteria que devem

ser estudados um dia e provavelmente iratildeo partir e se referir a sua obra que tem como

destaque o trabalho de levantamento de dados e fontes para os proacuteximos historiadores que se

dedicarem a Historia desta regiatildeo Nossas observaccedilotildees se referem a ideia de ausecircncia de

contribuiccedilatildeo do homem negro na constituiccedilatildeo soacutecioreligiosa desta localidade

Mais uma vez o autor busca formas de desvincular a participaccedilatildeo dos negros na

histoacuteria religiosa local A obra Caiccedilara Caminhos de Almocreves estaacute repleta destas

argumentaccedilotildees acerca do homem de cor

O objetivo inicial desta pesquisa era de buscar indiacutecios em Livros de Tombo e

documentos religiosos a contribuiccedilatildeo do negro na religiosidade local Tendo em vista que natildeo

soacute no municiacutepio de Caiccedilara mas tambeacutem em todo o territoacuterio brasileiro houve uma

marginalizaccedilatildeo da imagem do homem de cor ou seja uma tentativa de deixar a margem da

sociedade uma figura que se faz tatildeo importante para adentrarmos no imaginaacuterio religioso do

povo brasileiro

Contudo o livro de Tombo analisado natildeo nos forneceu as informaccedilotildees necessaacuterias

para afirmamos que houve uma irmandade negra no municiacutepio de Caiccedilara Mas para

buscarmos indiacutecios e vestiacutegios da contribuiccedilatildeo do negro nestes locais faremos uma analise

11

minuciosa da obra contrapondo com elementos existentes na proacutepria igreja local na tentativa

de trazer a luz questotildees que foram estabelecidas pelo autor Severino Ismael como verdades

prontas e absolutas Os possiacuteveis indiacutecios e vestiacutegios satildeo elementos de fundamental

importacircncia para este trabalho

Entre estes vestiacutegios destacamos a imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no altar

central da Igreja matriz de Caiccedilara (apesar da referecircncia direta agrave fundaccedilatildeo da cidade nos eacute

intrigante a escolha desta padroeira por seus fundadores) Jaacute que este culto agrave Senhora do

Rosaacuterio no Brasil ficou diretamente vinculado ao culto catoacutelico negro atraveacutes das

irmandades podendo dessa forma ser considerado um elemento da cultura africana no

espaccedilo religioso local Abaixo foto da Imagem tirada em 06 de Janeiro de 2014 Durante os

preparativos para a procissatildeo da Padroeira que se comemora nesta data no municiacutepio de

Caiccedilara

Ilustraccedilatildeo 1 Imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no andor

12

Foto Ricardo (2014)

Eacute evidente que os diversos escravos africanos desembarcados no Brasil contribuiriam

de forma significativa para a construccedilatildeo territorial e religiosa do paiacutes jaacute que participaram

diretamente da formaccedilatildeo da sociedade brasileira seja no trabalho nos engenhos de produccedilatildeo

de cana de accediluacutecar nas lavouras do cafeacute na extraccedilatildeo do ouro entre outros Ao desembarcarem

nessas terras trouxeram consigo seus costumes liacutenguas valores e crenccedilas Aqui encontraram

as mais diversas dificuldades de praticar sua cultura ou seja cultuar suas divindades e

costumes

O DESENVOLVIMENTO DAS PRAacuteTICAS RELIGIOSAS OFICIAIS NA CIDADE

DE CAICcedilARA-PB

A presenccedila do Catolicismo caiccedilarense estaacute inteiramente ligada ao seu periacuteodo de

fundaccedilatildeo que se deu por volta do ano de 1822 quando Manoel Soares da Costa instalou sua

fazenda e ergueu uma capela as margens do Rio Curimatauacute ldquoO povoamento da encantadora

Villa de Caiccedilara segundo informes de pessoas competentes teve logar no ano de 1822rdquo

Onde ldquoFoi edificada uma pequena capella sob a invocaccedilatildeo de NS do Rosaacuterio ()rdquo

ARAUacuteJO (1913)

Como aconteceu no Brasil e consequentemente na Paraiacuteba de uma forma em geral o

processo de povoamento oficial das regiotildees afastadas do litoral assim como o proacuteprio litoral

teve sua conquista e povoamento acompanhado da praacutetica religiosa oficial dos exploradores o

catolicismo A presenccedila da capela de Nossa Senhora do Rosaacuterio no povoamento que

futuramente seria denominado como municiacutepio de caiccedilara eacute um fato indiscutiacutevel pelos

historiadores e narradores de uma forma geral do Mito de fundaccedilatildeo da cidade ocorrendo

uma discussatildeo historiograacutefica agrave respeito do ano desta fundaccedilatildeo Epaminondas Tavares de

Arauacutejo afirma ter sido no ano de 1822 Entretanto Coriolano de Medeiros (em seu

ldquoDicionaacuterio Chorograacuteficordquo 1914) aponta o ano de 1841 como o da fundaccedilatildeo da Villa de

Caiccedilara

13

ldquoEm 1841 o terreno onde hoje eacute a sede do municiacutepio cobria-se ainda

cactos e bromeacutelias quando Manoel Soares da Costa Francisco da Costa

Gonccedilalves e Joseacute Vicente compraram a propriedade construiacuteram suas

vivendas e cercados de ramos ndash caiccedilaras ndash para abrigo do gado Depois

ergueram uma capella dedicada a NS do Rosaacuterio rdquo

Entretanto O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) aceita o uacuteltimo

como sendo o ano de fundaccedilatildeo Entre a populaccedilatildeo a informaccedilatildeo tida com maior aprovaccedilatildeo eacute

ano de 1822 Isto porque a sesmaria que Luiacutes Soares de Mendonccedila adquiriu natildeo foi no ano de

1822 como relatou Coriolano de Medeiros em seus estudos e sim no ano de 1788 registrada

sob nordm 891 por meio de documentos oficiais

Todavia a divergecircncia acerca do ano de fundaccedilatildeo ocorreu pelo fato de que a criaccedilatildeo da

feira ocorreu no ano de 1841 e o mesmo seria o marco do crescimento e da concentraccedilatildeo

urbana O que observamos em comum em ambas as citaccedilotildees eacute que o Catolicismo fecundava a

Villa de Caiccedilara desde sua fundaccedilatildeo Pois a construccedilatildeo da Capella eacute vista em todos os

registros sobre a origem deste povoado Os autores oficiais e tradicionais da histoacuteria de

fundaccedilatildeo da Villa de Caiccedilara discorrem ainda sobre a origem de sua denominaccedilatildeo segundo

Coriolano de Medeiros e Epaminondas Tavares o nome Caiccedilara proveacutem dos currais Fala

Epaminondas ldquoA denominaccedilatildeo de Caiccedilara proveacutem de um curral de pau-a-pique construiacutedo

por Manoel Soares nas proximidades de sua casardquo (p108)

O CATOLICISMO CAICcedilARENSE

De acordo com a visatildeo positivista e as fontes oficiais o iacutendio e o negro pouco

contribuiacuteram na formaccedilatildeo do espirito religioso do povo Caiccedilarense segundo Severino Ismael

da Costa em seu livro ldquoCaiccedilara Caminhos de Almocrevesrdquo (1990) Ainda de acordo com o

mesmo o imaginaacuterio da populaccedilatildeo local contribuiu de maneira bastante significativa para o

florescimento da religiatildeo Catoacutelica que veio a ser praticada na Villa de Caiccedilara

Nesta mesma perspectiva as fontes oficias da Igreja em pauta tentam nos mostrar que

a participaccedilatildeo do negro no acircmbito religioso teve pouco significado Os ritos as festas as

preces tudo era vinculado ao catolicismo No periacuteodo da posse da terra quando o branco

erguia sua morada edificava tambeacutem junto ou nas proximidades uma capela onde eram

celebrados os atos religiosos e realizadas as festas Destas eram as mais comuns O Natal

14

Ano Bom e Reis As juninas Santo Antocircnio Satildeo Joatildeo e Satildeo Pedro A de Santana no uacuteltimo

saacutebado de julho Ainda hoje entre o meio rural caiccedilarense os meses de junho e julho satildeo mais

conhecidos como o de Satildeo Joatildeo e de Santana Na semana santa mais precisamente a partir da

quarta-feira acontecia o recolhimento total ou seja preces jejum pouco trabalho e muito

cuidado em natildeo maltratar pessoas e animais O jejum era tatildeo rigoroso que se bebia apenas um

gole de aacutegua pela manhatilde e soacute a noite algum alimento Na quarta-feira chamada de trevas natildeo

se permitia varrer a casa nem tomar banho sob a pena de ldquoentrevarrdquo nas sedes das fazendas

rezava-se todos os saacutebados o ldquoOficio de Nossa Senhorardquo era acompanhado por todos os

moradores Nos domingos os fazendeiros todos bem vestidos mostravam seu prestigio ao ir agrave

missa com os seus familiares e agregados

MEcircS DE MAIO

Durante todo o mecircs de maio era rezado o terccedilo nas salas das casas grandes ou nas

capelas estes alternados por cacircnticos religiosos Ao termino deste evento acontecia a

tradicional queima das flores que haviam ornamentado os altares das capelas ou os jarros em

volta dos grandes oratoacuterios (tambeacutem chamados de santuaacuterios) de madeira repleto de imagens

de vaacuterios santos Vale ressaltar que geralmente era obrigaccedilatildeo da senhora da casa grande rezar

o terccedilo ou suas filhas Nas fazendas como nas vilas e povoados eram assim Todas as noites

era necessaacuterio a praacutetica de um ato religioso quase sempre um terccedilo ou um rosaacuterio de oraccedilotildees

O Catecismo era ensinado para as crianccedilas nas vilas povoados e nas fazendas

A CONSTRUCcedilAtildeO DA CAPELA

A Capela foi erguida nas proximidades da residecircncia de Manoel Soares da Costa sob

a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora do Rosaacuterio construiacuteda de taipa ou seja as paredes eram feitas

de barro calccedilados entre paus e cruzados por ripa e telhas

No livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves Severino Ismael da Costa descreve a

aacuterea destinada a capela

15

ldquoConstruiacuteda por trinta braccedilas de terras para cada lado para fazer

faces agraves despesas necessaacuterias confirma aquela intenccedilatildeo as casas

construiacutedas ou o que quer que se realizasse naquele periacutemetro

pagaria renda ou foro cabiacutevel agrave igrejardquo (Paacuteg 155)

A citaccedilatildeo acima nos faz entendermos que o fato da capela ter sido construiacuteda um

pouco afastada da casa grande revela a intenccedilatildeo que o fazendeiro tinha que no caso seria

desenvolver outras construccedilotildees ao seu redor

Alguns anos se passaram e o templo foi ampliado por Francisco Costa Gonccedilalves

Entre 1869 a 1872 pelo padre Herculano foi reconstruiacutedo aumentando sua aacuterea e levantadas

paredes de pedras A capela ficou majestosa Cerca de 15 metros de largura por uns 25 de

comprimento Paredes soacutelidas de pedras deram lugar a taipa com mais de metro de espessura

e oito a dez metros de altura Trecircs portas na frente e uma torre no lado direito (nascente) A

frente para o norte no iniacutecio do aclive da colina

No iniacutecio do seacuteculo XX o templo passou por nova reforma desta vez patrocinada por

Ascendina da Costa Frazatildeo que morava nas proximidades A nova reforma consistiu numa

das maiores ampliaccedilotildees jaacute recebidas Foram-lhe acrescentados os corredores laterais em todo

o seu comprimento o coro acrescentando uma torre do lado direito Nesta instalaram dois

sinos cujo bronze emitia lindos sons avisando os fieacuteis sobre a realizaccedilatildeo de atos religiosos

inclusive anunciando os falecimentos que ocorriam O tradicional dobre de finados para os

adultos o ldquorepiquerdquo ou seja uma serie de batidas sucessivas muito proacuteximas indicavam que

havia falecido uma crianccedila os chamados ldquoanjosrdquo e batidas mistas (dobre de finados e

repique) noticiavam o falecimento de jovens puacuteberes Essa reforma quase duplicou a aacuterea do

templo

Por ocasiatildeo desta reforma foram erguidos dois altares no fim da nave central e antes

da capela-mor agrave direita e agrave esquerda da arcada que a esta dava acesso Do lado esquerdo do

altar de Satildeo Sebastiatildeo (a imagem original foi posteriormente substituiacuteda por outra maior

doada por um fazendeiro local) No lado oposto a este altar se encontrava o altar de Nossa

Senhora da Dores cuja a imagem foi doada pelas senhoras das irmandade das Dores

O altar-mor bastante decorado em alto relevo com belas colunatas separando os trecircs

nichos tem no alto o nicho onde fica a imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus preciosa obra

de arte doada pelo Coronel Antocircnio Soares de Oliveira No centro o de Nossa Senhora do

Rosaacuterio

16

Nos anos de 1950 novas reformas foram introduzidas no templo demoliam-se os

altares de NS das Dores e Satildeo Sebastiatildeo cujas imagens foram transferidas para os altares

construiacutedos nas alas direita e a esquerda da capela-mor onde jaacute existia o da direita dedicado a

Santa Terezinha Outras reformas ainda foram realizadas como o revestimento do piso da

igreja com mosaicos Neste caso especificamente as obras foram feitas com recursos proacuteprios

provenientes da festa de NS do Rosaacuterio Vale lembrar que a partir desta uacuteltima empreitada a

igreja ganhou mais uma torre na fachada

A CHEGADA DA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DO ROSAacuteRIO

As reformas que aconteceram entre os anos 1869 a 1872 tinham o objetivo de receber

a nova imagem da padroeira encomendada em Portugal por Joaquim Joseacute fazendeiro desta

regiatildeo A mesma que ainda permanece hoje no nicho central do altar-mor A Santa chegou as

terras da Paraiacuteba no porto de Salema municiacutepio de Mamanguape Mais de 40 quilocircmetros

separavam ela de Caiccedilara O transporte teria que ser efetuado em carro de boi pois natildeo existia

outro meio transporte nessa localidade Poreacutem a dedicaccedilatildeo do povo foi tatildeo grande que os

fieacuteis saiacuteram de Caiccedilara a peacute e em procissatildeo para receber a imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio

A chegada em Caiccedilara deu-se no dia 6 de Janeiro dia festivo da Igreja Catoacutelica em

comemoraccedilatildeo agrave Santos Reis E como chegada da Santa tornou-se duplamente festivo para o

povo caiccedilarense Com consequecircncia deste fato nos dias atuais a festa para homenagear a

padroeira termina exatamente no dia 6 de Janeiro Tanto que a populaccedilatildeo passou a denominar

ldquoFesta de Nossa Senhora do Rosaacuteriordquo E de acordo com as pesquisas efetuadas natildeo conheccedilo

outro lugar onde a festividade ocorra no mecircs de Janeiro Pois no calendaacuterio da Igreja Catoacutelica

a mesma realiza-se no iniacutecio do mecircs de Outubro

Com a chegada da imagem da santa a vila de Caiccedilara o Padre Ibiapina sugeriu que o

nome da mesma passasse a se chamar Marianoacutepolis em homenagem a Nossa senhora do

Rosaacuterio poreacutem natildeo foi muito aceito pela sociedade da eacutepoca

A influecircncia da padroeira tambeacutem pode ser percebida nos dias atuais Pois aleacutem de

casas comerciais um hospital e maternidade recebeu seu nome assim como o primeiro bairro

17

da cidade onde foi edificado um monumento em sua homenagem Sem esquecer que a letra

do hino agrave Caiccedilara demostra a feacute depositada a santa

ldquoMarianoacutepolis eacute o nome que a feacute nos brindou para nossa alegria e que todos de joelho ou de peacute rendem

Graccedilas agrave Virgem Mariardquo

(Paacuteg 36)

A FESTA

Eacute um grandiosiacutessimo evento profano-religioso Nos dias que antecedem o 6 de Janeiro

realiza-se o novenaacuterio Soacute rezado Na noite do dia 5 eacute realizada a festa profana com barracas

e pavilhotildees fogos de artifiacutecios venda de produtos tiacutepicos da culinaacuteria local

Na festividade dedicada a Nossa Senhora do Rosaacuterio identificamos a figura

importantiacutessima que tinha os fazendeiros pois os mesmo com o intuito de mostrar seu poder

bancava as noites de festas A princiacutepio eram nove noites em cada uma delas um fazendeiro

diferente fica com a responsabilidade de organizar este evento

Atualmente a festa eacute precedida por um novenaacuterio onde cada comunidade Catoacutelica

local eacute responsaacutevel por uma noite de novena Sendo que nos uacuteltimos trecircs dias deste evento

acontece festas profanas em frente a Igreja Matriz com leilotildees de gados galinhas entre

outros

18

CONCLUSAtildeO

O presente trabalho buscou investigar se existiu uma irmandade de negros no municiacutepio de

Caiccedilara Entretanto as fontes documentais analisadas natildeo nos permitiram fazermos essa

afirmativa Poreacutem a partir desse momento direcionamos a pesquisa na analise do livro da

histoacuteria local do municiacutepio de Caiccedilara na perspectiva de se debruccedilar sobre indiacutecios e

vestiacutegios que nos permitam fazermos uma releitura da obra na tentativa de elucidarmos os

questionamentos pertinentes a nossa pesquisa

Durante a analise do Livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves percebemos que o autor

procura maneiras de desvincular a participaccedilatildeo do negro no cenaacuterio local Na tentativa de

proclamar o branco ou seja o colonizador como sendo o uacutenico agente na construccedilatildeo do

espaccedilo religioso deste povoado Na obra de Severino Ismael fica evidente a preocupaccedilatildeo do

mesmo em colocar o homem de cor a margem da sociedade local

Entretanto este ensaio procura incessantemente por vestiacutegios que nos possibilitem

enxergarmos a presenccedila de elementos africanos na construccedilatildeo do povoado de Caiccedilara na

tentativa de reescrever uma histoacuteria que nos mostrem que os negros foram responsaacuteveis tanto

na construccedilatildeo deste municiacutepio quanto pelo espaccedilo religioso local

O primeiro passo do trabalho foi buscar indiacutecios da participaccedilatildeo do negro no povoado de

Caiccedilara O culto a Nossa Senhora do Rosaacuterio e a Satildeo Sebastiatildeo pode ser observados como

vestiacutegios da presenccedila do homem de cor na construccedilatildeo cenaacuterio religioso de Caiccedilara A doaccedilatildeo

da imagem de Nossa Senhora das Dores feita por uma Irmandade das Dores de Itabira-MG

para a igreja de Caiccedilara que se encontra num altar lateral da igreja pode ser analisados como

elementos que caracterizam uma irmandade ou ao menos a figura do negro nestes espaccedilos

O presente artigo nos faz enxergarmos como o autor visualiza a construccedilatildeo da Vila de

Caiccedilara partindo do seu lugar socioeconocircmico poliacutetico e cultural Isso tornasse evidente na

sua obra

Contudo a analise historiograacutefica do livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves nos

obriga a produzimos outros trabalhos que possa contrapor essa visatildeo positivista de fatos e

acontecimento que privilegia o branco como sendo o civilizado e o construtor da histoacuteria e

19

marginalizando a imagem do homem de cor como sendo bichos que estavam alheios a

qualquer coisa

ABSTRACT

The marginalization of the black throughout history is clearly observed in its various aspects

From this perspective we seek to verify that the Caiccedilara municipality was erected some

Brotherhood However we did not find the necessary documentation to prove However the

analysis of the book of local history of the county have allowed us to detect the authors

concern to untie colored mans contribution in caiccedilarense society This essay aims to

reconstruct this distorted idea that was created in the course of time with regard to blacks The

theoretical basis that sustains this article are the theoretical assumptions of Kings (1999)

Certeau (2002) and others Through traces and evidence which is the historians work search

the rubble what was hidden this work reexamines in an attempt to evinced importance of

black in several areas of the Caiccedilarense peoples culture whether in beliefs in musicality in

daily habits the existing diverse religiosity in this town

KEY - WORDS Black Marginalization Religiosity

20

REFEREcircNCIAS

ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do

seacuteculo XIX Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Joatildeo Pessoa PPGHUFPB 2006

ARAUacuteJO Epaminondas Tavares de Almanach da Paraiacuteba V PB 1913

BASTIDE Roger As Religiotildees africanas no Brasil Contribuiccedilatildeo a uma Sociologia das

Interpretaccedilotildees de Civilizaccedilotildees Satildeo Paulo Pioneira 1971

BOSCHI Caio Ceacutesar Os leigos e o poder irmandades leigas e poliacutetica colonizadora em

Minas Gerais Satildeo Paulo Aacutetica ColEnsaios 116 1986

COSTA Severino Ismael da Caiccedilara Caminhos de Almocreves Joatildeo Pessoa Ed

Micrograacutefica 1990

FREYRE Gilberto Casa-grande amp senzala formaccedilatildeo da famiacutelia brasileira sob o regime de

economia patriarcal Rio de Janeiro Nova Aguilar 2002

HOORNAERT Eduardo Formaccedilatildeo do Catolicismo Brasileiro 1550-1800 3ordf ediccedilatildeo

Petroacutepolis Vozes 1991

JUNIOR Joseacute Pereira de Souza Tradiccedilatildeo Devoccedilatildeo e Feacute os rituais festivos nas

irmandades religiosas na Parahyba do Norte ndash sec XIX IN Joseacute Pereira de Souza Junior

Ed Universitaacuteria ndash UFPB 2006

MEDEIROS Coriolano de (Dicionaacuterio Chorograacutefico da paraiacuteba 1914)

QUINTAtildeO Antonia Aparecida Laacute vem o meu parente as irmandades de pretos e pardos

no Rio de Janeiro e em Pernambuco (seacuteculo XVIII) Satildeo Paulo Annablume 2002

RUSSELL- Wood AJ R Escravos e Libertos no Brasil Colonial Traduccedilatildeo Maria Beatriz

Medina ndash Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2005

Epaminondas Tavares de Arauacutejo (V ldquoAlmanach da Paraiacuteba 1913rdquo)

httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250360ampsearch=||infogrE

1ficos-informaE7F5es-completas acessado em 09032015 agraves 2200hs

Page 8: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA CAMPUS III CENTRO DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13300/1... · 2017. 4. 6. · 2 PAULO RICARDO PORPINO DA CRUZ Memória construída

8

Esta negaccedilatildeo aleacutem de refletir perspectiva de discriminaccedilatildeo racial destaca a

necessidade da Igreja Catoacutelica de apagar da memoacuteria histoacuterica natildeo apenas a presenccedila do

homem de cor mas muito aleacutem disso a possibilidade do espaccedilo de culto catoacutelico ou seja a

Igreja pertencer ou ter pertencido nominalmente a uma irmandade Isto significa que o

preacutedio em si e suas propriedades economicamente natildeo eram da Igreja mas de leigos que a

construiacuteram e doaram tudo o que estava ao seu redor e no seu interior Haacute uma real atividade

da Igreja de tentar apagar desconstruir camuflar as atividades das irmandades em especial

das que eram compostas por homens de cor

MUITO ALEacuteM DA ESCRITA E DA MEMOacuteRIA UMA CONSTRUCcedilAtildeO

O autor Severino Ismael da Costa publicou seu texto Caiccedilara caminhos de

almocreves na deacutecada de 90 do seacuteculo XX um periacuteodo de movimentaccedilatildeo poliacutetica vinculada

aos processos de municipalizaccedilatildeo que vinham ocorrendo no Estado da Paraiacuteba desde os anos

70 do mesmo seacuteculo Aliado a accedilatildeo poliacutetica de transformar em municiacutepio as vilas lugarejos e

aacutereas rurais do Estado era necessaacuteria a construccedilatildeo histoacuteria e descriccedilatildeo dos principais eventos

destas regiotildees Assim temos uma linha de escrita historiograacutefica estritamente vinculada a este

processo Constroacutei-se um municiacutepio consequentemente se constroacutei uma histoacuteria

O importante eacute identificar nestes textos em grande parte encomendados ou ao

menos financiados pelas elites locais o tipo de histoacuteria escrita e pensada assim como satildeo

escolhidos os personagens deste percurso A obra que analisamos natildeo foge a estas

caracteriacutesticas jaacute que recebeu apoio dos poliacuteticos locais na eacutepoca que foi publicada Nas

primeiras paacuteginas encontramos homenagens e agradecimentos agraves pessoas e personagens

ilustres da cidade entre eles filhos da elite local que se formaram e exercem profissotildees

liberais respeitadas pela sociedade da eacutepoca e dos dias atuais

ldquo HOMENAGEM Agrave CULTURA

Paraibana na presenccedila de um grande vulto

Prof JOSEacute OCTAacuteVIO DE ARRUDA MELO

Caiccedilarense representada por seus filhos

D Epaminondas Joseacute de Arauacutejo emeacuterito bispo da Igreja Catoacutelica de quem natildeo

me faltou estiacutemulo de conterracircneo

9

Prof Joseacute Jackson Carneiro de Carvalho de quem recebi incentivo e ateacute desafio

Dr Walderedo Ismael de Oliveira meacutedico de renome internacional escritor

especializado modesto e grande como sua terrardquo (COSTA 1990 p13)

O autor inicia seu texto se referindo as ldquograndesrdquo personalidades de sua cidade tendo

o cuidado de anteriormente ter agradecido aos prefeitos da eacutepoca Haacute a presenccedila dos nomes e

sobrenomes de destaque da cidade representantes da Igreja Catoacutelica de meacutedicos professores

e jornalistas

Em seguida descreve a histoacuteria de fundaccedilatildeo da cidade e de sua municipalizaccedilatildeo desta

a participaccedilatildeo do iacutendio que junto ao portuguecircs seriam os grandes responsaacuteveis pela formaccedilatildeo

desta sociedade mas afirma que o negro teve pouca atuaccedilatildeo ldquonatildeo haacute grande presenccedila do

elemento negro a natildeo ser na zona dos engenhos no dorso da serra onde precisaram do

escravo para tocar o trabalhordquo (COSTA 1990 p 69) apesar de ter sido escrito nos anos 90

do seacuteculo XX o texto tem uma preocupaccedilatildeo oitocentista de esconder a presenccedila negra

minimizando sua participaccedilatildeo nas atividades econocircmicas A impossibilidade de simplesmente

omitir esta inserccedilatildeo dos homens negros na sociedade de Caiccedilara faz com que seu texto e sua

fala se tornem contraditoacuterios no sentido de que afirma natildeo ter existido uma participaccedilatildeo

negra mas ao mesmo tempo destaca o lugar social ocupado por esta etnia

Muito de sua escrita positivista eacute explicado pelas fontes selecionadas pelo autor

Textos tradicionais sobre a Histoacuteria da Paraiacuteba escritos no iniacutecio do seacuteculo XX em especial

os escritos de Horaacutecio de Almeida se dando ao trabalho de apenas transferir as ideias destes

sem realizar uma revisatildeo ou criacutetica historiograacutefica Isso fica latente ao reproduzir a expressatildeo

Tapuia como sinocircnimo de baacuterbaro E destacar figuras heroicas entre os indiacutegenas que de

alguma forma se aliaram aos conquistadores nos empreendimentos de colonizaccedilatildeo

Outro ponto que nos chama a atenccedilatildeo eacute a necessidade de sempre referecircnciar as fontes

em geral documentais ou historiograacuteficas e ao mesmo tempo questionaacute-las e ateacute discordar de

dados e apontamentos que se distanciam de uma preocupaccedilatildeo com o processo histoacuterico mas

se relaciona diretamente com uma narrativa positivista como por exemplo ao investigar e

averiguar quem teria sido o primeiro morador de Caiccedilara Segundo Coriolano de Medeiros e

Luiz Pinto teria sido ldquoJoseacute de abreu Cordeiro em 1776 contudo verificou ser na realidade

Raphael de Carvalho em 1615rdquo (COSTA 1990 p 85)

10

O povoado surge a partir da construccedilatildeo de casa de morada capela e currais agrave margem

direita do rio Curimatauacute em 1822 por Manoel Soares da Costa A capela tinha por invocaccedilatildeo

Nossa Senhora do Rosaacuterio Como a maioria dos municiacutepios da regiatildeo seu desenvolvimento

pode ser vinculado ao estabelecimento da feira Uma particularidade citada e destacada pelo

autor satildeo as disputas poliacuteticas entre Caiccedilara e o Municiacutepio de Serra da Raiz que levam os

dois lugarejos a encontrar formas de se destacarem um em relaccedilatildeo ao outro Por exemplo

menciona que a criaccedilatildeo em 1870 da Freguesia de N S do Bom Fim cuja sede eacute a Serra da

Raiz ( instituiccedilatildeo que tornava Caiccedilara subordinada nas questotildees religiosas em relaccedilatildeo agrave Serra

da Raiz) segundo o autor a animosidade poliacutetico-administrativa entre os lugarejos se

desenvolveu a partir da introduccedilatildeo da feira livre em Caiccedilara jaacute que a mesma se tornou uma

forte concorrente para os ldquobarracotildeesrdquo instalados nos engenhos da Serra da Raiz assim a feira

poderia promover uma mudanccedila social que natildeo interessava aos poliacuteticos daquela regiatildeo

Passa a destacar os poliacuteticos de Caiccedilara nomeando-os ateacute o seacuteculo XX o que se

configura como um importante registro para a histoacuteria local assim como toda a obra de

Severino Ismael da Costa (1990) contudo ainda necessitando de uma anaacutelise do processo

histoacuterico e de suas etapas O fato que o autor levanta vaacuterios pontos desta histoacuteria que devem

ser estudados um dia e provavelmente iratildeo partir e se referir a sua obra que tem como

destaque o trabalho de levantamento de dados e fontes para os proacuteximos historiadores que se

dedicarem a Historia desta regiatildeo Nossas observaccedilotildees se referem a ideia de ausecircncia de

contribuiccedilatildeo do homem negro na constituiccedilatildeo soacutecioreligiosa desta localidade

Mais uma vez o autor busca formas de desvincular a participaccedilatildeo dos negros na

histoacuteria religiosa local A obra Caiccedilara Caminhos de Almocreves estaacute repleta destas

argumentaccedilotildees acerca do homem de cor

O objetivo inicial desta pesquisa era de buscar indiacutecios em Livros de Tombo e

documentos religiosos a contribuiccedilatildeo do negro na religiosidade local Tendo em vista que natildeo

soacute no municiacutepio de Caiccedilara mas tambeacutem em todo o territoacuterio brasileiro houve uma

marginalizaccedilatildeo da imagem do homem de cor ou seja uma tentativa de deixar a margem da

sociedade uma figura que se faz tatildeo importante para adentrarmos no imaginaacuterio religioso do

povo brasileiro

Contudo o livro de Tombo analisado natildeo nos forneceu as informaccedilotildees necessaacuterias

para afirmamos que houve uma irmandade negra no municiacutepio de Caiccedilara Mas para

buscarmos indiacutecios e vestiacutegios da contribuiccedilatildeo do negro nestes locais faremos uma analise

11

minuciosa da obra contrapondo com elementos existentes na proacutepria igreja local na tentativa

de trazer a luz questotildees que foram estabelecidas pelo autor Severino Ismael como verdades

prontas e absolutas Os possiacuteveis indiacutecios e vestiacutegios satildeo elementos de fundamental

importacircncia para este trabalho

Entre estes vestiacutegios destacamos a imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no altar

central da Igreja matriz de Caiccedilara (apesar da referecircncia direta agrave fundaccedilatildeo da cidade nos eacute

intrigante a escolha desta padroeira por seus fundadores) Jaacute que este culto agrave Senhora do

Rosaacuterio no Brasil ficou diretamente vinculado ao culto catoacutelico negro atraveacutes das

irmandades podendo dessa forma ser considerado um elemento da cultura africana no

espaccedilo religioso local Abaixo foto da Imagem tirada em 06 de Janeiro de 2014 Durante os

preparativos para a procissatildeo da Padroeira que se comemora nesta data no municiacutepio de

Caiccedilara

Ilustraccedilatildeo 1 Imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no andor

12

Foto Ricardo (2014)

Eacute evidente que os diversos escravos africanos desembarcados no Brasil contribuiriam

de forma significativa para a construccedilatildeo territorial e religiosa do paiacutes jaacute que participaram

diretamente da formaccedilatildeo da sociedade brasileira seja no trabalho nos engenhos de produccedilatildeo

de cana de accediluacutecar nas lavouras do cafeacute na extraccedilatildeo do ouro entre outros Ao desembarcarem

nessas terras trouxeram consigo seus costumes liacutenguas valores e crenccedilas Aqui encontraram

as mais diversas dificuldades de praticar sua cultura ou seja cultuar suas divindades e

costumes

O DESENVOLVIMENTO DAS PRAacuteTICAS RELIGIOSAS OFICIAIS NA CIDADE

DE CAICcedilARA-PB

A presenccedila do Catolicismo caiccedilarense estaacute inteiramente ligada ao seu periacuteodo de

fundaccedilatildeo que se deu por volta do ano de 1822 quando Manoel Soares da Costa instalou sua

fazenda e ergueu uma capela as margens do Rio Curimatauacute ldquoO povoamento da encantadora

Villa de Caiccedilara segundo informes de pessoas competentes teve logar no ano de 1822rdquo

Onde ldquoFoi edificada uma pequena capella sob a invocaccedilatildeo de NS do Rosaacuterio ()rdquo

ARAUacuteJO (1913)

Como aconteceu no Brasil e consequentemente na Paraiacuteba de uma forma em geral o

processo de povoamento oficial das regiotildees afastadas do litoral assim como o proacuteprio litoral

teve sua conquista e povoamento acompanhado da praacutetica religiosa oficial dos exploradores o

catolicismo A presenccedila da capela de Nossa Senhora do Rosaacuterio no povoamento que

futuramente seria denominado como municiacutepio de caiccedilara eacute um fato indiscutiacutevel pelos

historiadores e narradores de uma forma geral do Mito de fundaccedilatildeo da cidade ocorrendo

uma discussatildeo historiograacutefica agrave respeito do ano desta fundaccedilatildeo Epaminondas Tavares de

Arauacutejo afirma ter sido no ano de 1822 Entretanto Coriolano de Medeiros (em seu

ldquoDicionaacuterio Chorograacuteficordquo 1914) aponta o ano de 1841 como o da fundaccedilatildeo da Villa de

Caiccedilara

13

ldquoEm 1841 o terreno onde hoje eacute a sede do municiacutepio cobria-se ainda

cactos e bromeacutelias quando Manoel Soares da Costa Francisco da Costa

Gonccedilalves e Joseacute Vicente compraram a propriedade construiacuteram suas

vivendas e cercados de ramos ndash caiccedilaras ndash para abrigo do gado Depois

ergueram uma capella dedicada a NS do Rosaacuterio rdquo

Entretanto O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) aceita o uacuteltimo

como sendo o ano de fundaccedilatildeo Entre a populaccedilatildeo a informaccedilatildeo tida com maior aprovaccedilatildeo eacute

ano de 1822 Isto porque a sesmaria que Luiacutes Soares de Mendonccedila adquiriu natildeo foi no ano de

1822 como relatou Coriolano de Medeiros em seus estudos e sim no ano de 1788 registrada

sob nordm 891 por meio de documentos oficiais

Todavia a divergecircncia acerca do ano de fundaccedilatildeo ocorreu pelo fato de que a criaccedilatildeo da

feira ocorreu no ano de 1841 e o mesmo seria o marco do crescimento e da concentraccedilatildeo

urbana O que observamos em comum em ambas as citaccedilotildees eacute que o Catolicismo fecundava a

Villa de Caiccedilara desde sua fundaccedilatildeo Pois a construccedilatildeo da Capella eacute vista em todos os

registros sobre a origem deste povoado Os autores oficiais e tradicionais da histoacuteria de

fundaccedilatildeo da Villa de Caiccedilara discorrem ainda sobre a origem de sua denominaccedilatildeo segundo

Coriolano de Medeiros e Epaminondas Tavares o nome Caiccedilara proveacutem dos currais Fala

Epaminondas ldquoA denominaccedilatildeo de Caiccedilara proveacutem de um curral de pau-a-pique construiacutedo

por Manoel Soares nas proximidades de sua casardquo (p108)

O CATOLICISMO CAICcedilARENSE

De acordo com a visatildeo positivista e as fontes oficiais o iacutendio e o negro pouco

contribuiacuteram na formaccedilatildeo do espirito religioso do povo Caiccedilarense segundo Severino Ismael

da Costa em seu livro ldquoCaiccedilara Caminhos de Almocrevesrdquo (1990) Ainda de acordo com o

mesmo o imaginaacuterio da populaccedilatildeo local contribuiu de maneira bastante significativa para o

florescimento da religiatildeo Catoacutelica que veio a ser praticada na Villa de Caiccedilara

Nesta mesma perspectiva as fontes oficias da Igreja em pauta tentam nos mostrar que

a participaccedilatildeo do negro no acircmbito religioso teve pouco significado Os ritos as festas as

preces tudo era vinculado ao catolicismo No periacuteodo da posse da terra quando o branco

erguia sua morada edificava tambeacutem junto ou nas proximidades uma capela onde eram

celebrados os atos religiosos e realizadas as festas Destas eram as mais comuns O Natal

14

Ano Bom e Reis As juninas Santo Antocircnio Satildeo Joatildeo e Satildeo Pedro A de Santana no uacuteltimo

saacutebado de julho Ainda hoje entre o meio rural caiccedilarense os meses de junho e julho satildeo mais

conhecidos como o de Satildeo Joatildeo e de Santana Na semana santa mais precisamente a partir da

quarta-feira acontecia o recolhimento total ou seja preces jejum pouco trabalho e muito

cuidado em natildeo maltratar pessoas e animais O jejum era tatildeo rigoroso que se bebia apenas um

gole de aacutegua pela manhatilde e soacute a noite algum alimento Na quarta-feira chamada de trevas natildeo

se permitia varrer a casa nem tomar banho sob a pena de ldquoentrevarrdquo nas sedes das fazendas

rezava-se todos os saacutebados o ldquoOficio de Nossa Senhorardquo era acompanhado por todos os

moradores Nos domingos os fazendeiros todos bem vestidos mostravam seu prestigio ao ir agrave

missa com os seus familiares e agregados

MEcircS DE MAIO

Durante todo o mecircs de maio era rezado o terccedilo nas salas das casas grandes ou nas

capelas estes alternados por cacircnticos religiosos Ao termino deste evento acontecia a

tradicional queima das flores que haviam ornamentado os altares das capelas ou os jarros em

volta dos grandes oratoacuterios (tambeacutem chamados de santuaacuterios) de madeira repleto de imagens

de vaacuterios santos Vale ressaltar que geralmente era obrigaccedilatildeo da senhora da casa grande rezar

o terccedilo ou suas filhas Nas fazendas como nas vilas e povoados eram assim Todas as noites

era necessaacuterio a praacutetica de um ato religioso quase sempre um terccedilo ou um rosaacuterio de oraccedilotildees

O Catecismo era ensinado para as crianccedilas nas vilas povoados e nas fazendas

A CONSTRUCcedilAtildeO DA CAPELA

A Capela foi erguida nas proximidades da residecircncia de Manoel Soares da Costa sob

a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora do Rosaacuterio construiacuteda de taipa ou seja as paredes eram feitas

de barro calccedilados entre paus e cruzados por ripa e telhas

No livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves Severino Ismael da Costa descreve a

aacuterea destinada a capela

15

ldquoConstruiacuteda por trinta braccedilas de terras para cada lado para fazer

faces agraves despesas necessaacuterias confirma aquela intenccedilatildeo as casas

construiacutedas ou o que quer que se realizasse naquele periacutemetro

pagaria renda ou foro cabiacutevel agrave igrejardquo (Paacuteg 155)

A citaccedilatildeo acima nos faz entendermos que o fato da capela ter sido construiacuteda um

pouco afastada da casa grande revela a intenccedilatildeo que o fazendeiro tinha que no caso seria

desenvolver outras construccedilotildees ao seu redor

Alguns anos se passaram e o templo foi ampliado por Francisco Costa Gonccedilalves

Entre 1869 a 1872 pelo padre Herculano foi reconstruiacutedo aumentando sua aacuterea e levantadas

paredes de pedras A capela ficou majestosa Cerca de 15 metros de largura por uns 25 de

comprimento Paredes soacutelidas de pedras deram lugar a taipa com mais de metro de espessura

e oito a dez metros de altura Trecircs portas na frente e uma torre no lado direito (nascente) A

frente para o norte no iniacutecio do aclive da colina

No iniacutecio do seacuteculo XX o templo passou por nova reforma desta vez patrocinada por

Ascendina da Costa Frazatildeo que morava nas proximidades A nova reforma consistiu numa

das maiores ampliaccedilotildees jaacute recebidas Foram-lhe acrescentados os corredores laterais em todo

o seu comprimento o coro acrescentando uma torre do lado direito Nesta instalaram dois

sinos cujo bronze emitia lindos sons avisando os fieacuteis sobre a realizaccedilatildeo de atos religiosos

inclusive anunciando os falecimentos que ocorriam O tradicional dobre de finados para os

adultos o ldquorepiquerdquo ou seja uma serie de batidas sucessivas muito proacuteximas indicavam que

havia falecido uma crianccedila os chamados ldquoanjosrdquo e batidas mistas (dobre de finados e

repique) noticiavam o falecimento de jovens puacuteberes Essa reforma quase duplicou a aacuterea do

templo

Por ocasiatildeo desta reforma foram erguidos dois altares no fim da nave central e antes

da capela-mor agrave direita e agrave esquerda da arcada que a esta dava acesso Do lado esquerdo do

altar de Satildeo Sebastiatildeo (a imagem original foi posteriormente substituiacuteda por outra maior

doada por um fazendeiro local) No lado oposto a este altar se encontrava o altar de Nossa

Senhora da Dores cuja a imagem foi doada pelas senhoras das irmandade das Dores

O altar-mor bastante decorado em alto relevo com belas colunatas separando os trecircs

nichos tem no alto o nicho onde fica a imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus preciosa obra

de arte doada pelo Coronel Antocircnio Soares de Oliveira No centro o de Nossa Senhora do

Rosaacuterio

16

Nos anos de 1950 novas reformas foram introduzidas no templo demoliam-se os

altares de NS das Dores e Satildeo Sebastiatildeo cujas imagens foram transferidas para os altares

construiacutedos nas alas direita e a esquerda da capela-mor onde jaacute existia o da direita dedicado a

Santa Terezinha Outras reformas ainda foram realizadas como o revestimento do piso da

igreja com mosaicos Neste caso especificamente as obras foram feitas com recursos proacuteprios

provenientes da festa de NS do Rosaacuterio Vale lembrar que a partir desta uacuteltima empreitada a

igreja ganhou mais uma torre na fachada

A CHEGADA DA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DO ROSAacuteRIO

As reformas que aconteceram entre os anos 1869 a 1872 tinham o objetivo de receber

a nova imagem da padroeira encomendada em Portugal por Joaquim Joseacute fazendeiro desta

regiatildeo A mesma que ainda permanece hoje no nicho central do altar-mor A Santa chegou as

terras da Paraiacuteba no porto de Salema municiacutepio de Mamanguape Mais de 40 quilocircmetros

separavam ela de Caiccedilara O transporte teria que ser efetuado em carro de boi pois natildeo existia

outro meio transporte nessa localidade Poreacutem a dedicaccedilatildeo do povo foi tatildeo grande que os

fieacuteis saiacuteram de Caiccedilara a peacute e em procissatildeo para receber a imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio

A chegada em Caiccedilara deu-se no dia 6 de Janeiro dia festivo da Igreja Catoacutelica em

comemoraccedilatildeo agrave Santos Reis E como chegada da Santa tornou-se duplamente festivo para o

povo caiccedilarense Com consequecircncia deste fato nos dias atuais a festa para homenagear a

padroeira termina exatamente no dia 6 de Janeiro Tanto que a populaccedilatildeo passou a denominar

ldquoFesta de Nossa Senhora do Rosaacuteriordquo E de acordo com as pesquisas efetuadas natildeo conheccedilo

outro lugar onde a festividade ocorra no mecircs de Janeiro Pois no calendaacuterio da Igreja Catoacutelica

a mesma realiza-se no iniacutecio do mecircs de Outubro

Com a chegada da imagem da santa a vila de Caiccedilara o Padre Ibiapina sugeriu que o

nome da mesma passasse a se chamar Marianoacutepolis em homenagem a Nossa senhora do

Rosaacuterio poreacutem natildeo foi muito aceito pela sociedade da eacutepoca

A influecircncia da padroeira tambeacutem pode ser percebida nos dias atuais Pois aleacutem de

casas comerciais um hospital e maternidade recebeu seu nome assim como o primeiro bairro

17

da cidade onde foi edificado um monumento em sua homenagem Sem esquecer que a letra

do hino agrave Caiccedilara demostra a feacute depositada a santa

ldquoMarianoacutepolis eacute o nome que a feacute nos brindou para nossa alegria e que todos de joelho ou de peacute rendem

Graccedilas agrave Virgem Mariardquo

(Paacuteg 36)

A FESTA

Eacute um grandiosiacutessimo evento profano-religioso Nos dias que antecedem o 6 de Janeiro

realiza-se o novenaacuterio Soacute rezado Na noite do dia 5 eacute realizada a festa profana com barracas

e pavilhotildees fogos de artifiacutecios venda de produtos tiacutepicos da culinaacuteria local

Na festividade dedicada a Nossa Senhora do Rosaacuterio identificamos a figura

importantiacutessima que tinha os fazendeiros pois os mesmo com o intuito de mostrar seu poder

bancava as noites de festas A princiacutepio eram nove noites em cada uma delas um fazendeiro

diferente fica com a responsabilidade de organizar este evento

Atualmente a festa eacute precedida por um novenaacuterio onde cada comunidade Catoacutelica

local eacute responsaacutevel por uma noite de novena Sendo que nos uacuteltimos trecircs dias deste evento

acontece festas profanas em frente a Igreja Matriz com leilotildees de gados galinhas entre

outros

18

CONCLUSAtildeO

O presente trabalho buscou investigar se existiu uma irmandade de negros no municiacutepio de

Caiccedilara Entretanto as fontes documentais analisadas natildeo nos permitiram fazermos essa

afirmativa Poreacutem a partir desse momento direcionamos a pesquisa na analise do livro da

histoacuteria local do municiacutepio de Caiccedilara na perspectiva de se debruccedilar sobre indiacutecios e

vestiacutegios que nos permitam fazermos uma releitura da obra na tentativa de elucidarmos os

questionamentos pertinentes a nossa pesquisa

Durante a analise do Livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves percebemos que o autor

procura maneiras de desvincular a participaccedilatildeo do negro no cenaacuterio local Na tentativa de

proclamar o branco ou seja o colonizador como sendo o uacutenico agente na construccedilatildeo do

espaccedilo religioso deste povoado Na obra de Severino Ismael fica evidente a preocupaccedilatildeo do

mesmo em colocar o homem de cor a margem da sociedade local

Entretanto este ensaio procura incessantemente por vestiacutegios que nos possibilitem

enxergarmos a presenccedila de elementos africanos na construccedilatildeo do povoado de Caiccedilara na

tentativa de reescrever uma histoacuteria que nos mostrem que os negros foram responsaacuteveis tanto

na construccedilatildeo deste municiacutepio quanto pelo espaccedilo religioso local

O primeiro passo do trabalho foi buscar indiacutecios da participaccedilatildeo do negro no povoado de

Caiccedilara O culto a Nossa Senhora do Rosaacuterio e a Satildeo Sebastiatildeo pode ser observados como

vestiacutegios da presenccedila do homem de cor na construccedilatildeo cenaacuterio religioso de Caiccedilara A doaccedilatildeo

da imagem de Nossa Senhora das Dores feita por uma Irmandade das Dores de Itabira-MG

para a igreja de Caiccedilara que se encontra num altar lateral da igreja pode ser analisados como

elementos que caracterizam uma irmandade ou ao menos a figura do negro nestes espaccedilos

O presente artigo nos faz enxergarmos como o autor visualiza a construccedilatildeo da Vila de

Caiccedilara partindo do seu lugar socioeconocircmico poliacutetico e cultural Isso tornasse evidente na

sua obra

Contudo a analise historiograacutefica do livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves nos

obriga a produzimos outros trabalhos que possa contrapor essa visatildeo positivista de fatos e

acontecimento que privilegia o branco como sendo o civilizado e o construtor da histoacuteria e

19

marginalizando a imagem do homem de cor como sendo bichos que estavam alheios a

qualquer coisa

ABSTRACT

The marginalization of the black throughout history is clearly observed in its various aspects

From this perspective we seek to verify that the Caiccedilara municipality was erected some

Brotherhood However we did not find the necessary documentation to prove However the

analysis of the book of local history of the county have allowed us to detect the authors

concern to untie colored mans contribution in caiccedilarense society This essay aims to

reconstruct this distorted idea that was created in the course of time with regard to blacks The

theoretical basis that sustains this article are the theoretical assumptions of Kings (1999)

Certeau (2002) and others Through traces and evidence which is the historians work search

the rubble what was hidden this work reexamines in an attempt to evinced importance of

black in several areas of the Caiccedilarense peoples culture whether in beliefs in musicality in

daily habits the existing diverse religiosity in this town

KEY - WORDS Black Marginalization Religiosity

20

REFEREcircNCIAS

ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do

seacuteculo XIX Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Joatildeo Pessoa PPGHUFPB 2006

ARAUacuteJO Epaminondas Tavares de Almanach da Paraiacuteba V PB 1913

BASTIDE Roger As Religiotildees africanas no Brasil Contribuiccedilatildeo a uma Sociologia das

Interpretaccedilotildees de Civilizaccedilotildees Satildeo Paulo Pioneira 1971

BOSCHI Caio Ceacutesar Os leigos e o poder irmandades leigas e poliacutetica colonizadora em

Minas Gerais Satildeo Paulo Aacutetica ColEnsaios 116 1986

COSTA Severino Ismael da Caiccedilara Caminhos de Almocreves Joatildeo Pessoa Ed

Micrograacutefica 1990

FREYRE Gilberto Casa-grande amp senzala formaccedilatildeo da famiacutelia brasileira sob o regime de

economia patriarcal Rio de Janeiro Nova Aguilar 2002

HOORNAERT Eduardo Formaccedilatildeo do Catolicismo Brasileiro 1550-1800 3ordf ediccedilatildeo

Petroacutepolis Vozes 1991

JUNIOR Joseacute Pereira de Souza Tradiccedilatildeo Devoccedilatildeo e Feacute os rituais festivos nas

irmandades religiosas na Parahyba do Norte ndash sec XIX IN Joseacute Pereira de Souza Junior

Ed Universitaacuteria ndash UFPB 2006

MEDEIROS Coriolano de (Dicionaacuterio Chorograacutefico da paraiacuteba 1914)

QUINTAtildeO Antonia Aparecida Laacute vem o meu parente as irmandades de pretos e pardos

no Rio de Janeiro e em Pernambuco (seacuteculo XVIII) Satildeo Paulo Annablume 2002

RUSSELL- Wood AJ R Escravos e Libertos no Brasil Colonial Traduccedilatildeo Maria Beatriz

Medina ndash Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2005

Epaminondas Tavares de Arauacutejo (V ldquoAlmanach da Paraiacuteba 1913rdquo)

httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250360ampsearch=||infogrE

1ficos-informaE7F5es-completas acessado em 09032015 agraves 2200hs

Page 9: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA CAMPUS III CENTRO DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13300/1... · 2017. 4. 6. · 2 PAULO RICARDO PORPINO DA CRUZ Memória construída

9

Prof Joseacute Jackson Carneiro de Carvalho de quem recebi incentivo e ateacute desafio

Dr Walderedo Ismael de Oliveira meacutedico de renome internacional escritor

especializado modesto e grande como sua terrardquo (COSTA 1990 p13)

O autor inicia seu texto se referindo as ldquograndesrdquo personalidades de sua cidade tendo

o cuidado de anteriormente ter agradecido aos prefeitos da eacutepoca Haacute a presenccedila dos nomes e

sobrenomes de destaque da cidade representantes da Igreja Catoacutelica de meacutedicos professores

e jornalistas

Em seguida descreve a histoacuteria de fundaccedilatildeo da cidade e de sua municipalizaccedilatildeo desta

a participaccedilatildeo do iacutendio que junto ao portuguecircs seriam os grandes responsaacuteveis pela formaccedilatildeo

desta sociedade mas afirma que o negro teve pouca atuaccedilatildeo ldquonatildeo haacute grande presenccedila do

elemento negro a natildeo ser na zona dos engenhos no dorso da serra onde precisaram do

escravo para tocar o trabalhordquo (COSTA 1990 p 69) apesar de ter sido escrito nos anos 90

do seacuteculo XX o texto tem uma preocupaccedilatildeo oitocentista de esconder a presenccedila negra

minimizando sua participaccedilatildeo nas atividades econocircmicas A impossibilidade de simplesmente

omitir esta inserccedilatildeo dos homens negros na sociedade de Caiccedilara faz com que seu texto e sua

fala se tornem contraditoacuterios no sentido de que afirma natildeo ter existido uma participaccedilatildeo

negra mas ao mesmo tempo destaca o lugar social ocupado por esta etnia

Muito de sua escrita positivista eacute explicado pelas fontes selecionadas pelo autor

Textos tradicionais sobre a Histoacuteria da Paraiacuteba escritos no iniacutecio do seacuteculo XX em especial

os escritos de Horaacutecio de Almeida se dando ao trabalho de apenas transferir as ideias destes

sem realizar uma revisatildeo ou criacutetica historiograacutefica Isso fica latente ao reproduzir a expressatildeo

Tapuia como sinocircnimo de baacuterbaro E destacar figuras heroicas entre os indiacutegenas que de

alguma forma se aliaram aos conquistadores nos empreendimentos de colonizaccedilatildeo

Outro ponto que nos chama a atenccedilatildeo eacute a necessidade de sempre referecircnciar as fontes

em geral documentais ou historiograacuteficas e ao mesmo tempo questionaacute-las e ateacute discordar de

dados e apontamentos que se distanciam de uma preocupaccedilatildeo com o processo histoacuterico mas

se relaciona diretamente com uma narrativa positivista como por exemplo ao investigar e

averiguar quem teria sido o primeiro morador de Caiccedilara Segundo Coriolano de Medeiros e

Luiz Pinto teria sido ldquoJoseacute de abreu Cordeiro em 1776 contudo verificou ser na realidade

Raphael de Carvalho em 1615rdquo (COSTA 1990 p 85)

10

O povoado surge a partir da construccedilatildeo de casa de morada capela e currais agrave margem

direita do rio Curimatauacute em 1822 por Manoel Soares da Costa A capela tinha por invocaccedilatildeo

Nossa Senhora do Rosaacuterio Como a maioria dos municiacutepios da regiatildeo seu desenvolvimento

pode ser vinculado ao estabelecimento da feira Uma particularidade citada e destacada pelo

autor satildeo as disputas poliacuteticas entre Caiccedilara e o Municiacutepio de Serra da Raiz que levam os

dois lugarejos a encontrar formas de se destacarem um em relaccedilatildeo ao outro Por exemplo

menciona que a criaccedilatildeo em 1870 da Freguesia de N S do Bom Fim cuja sede eacute a Serra da

Raiz ( instituiccedilatildeo que tornava Caiccedilara subordinada nas questotildees religiosas em relaccedilatildeo agrave Serra

da Raiz) segundo o autor a animosidade poliacutetico-administrativa entre os lugarejos se

desenvolveu a partir da introduccedilatildeo da feira livre em Caiccedilara jaacute que a mesma se tornou uma

forte concorrente para os ldquobarracotildeesrdquo instalados nos engenhos da Serra da Raiz assim a feira

poderia promover uma mudanccedila social que natildeo interessava aos poliacuteticos daquela regiatildeo

Passa a destacar os poliacuteticos de Caiccedilara nomeando-os ateacute o seacuteculo XX o que se

configura como um importante registro para a histoacuteria local assim como toda a obra de

Severino Ismael da Costa (1990) contudo ainda necessitando de uma anaacutelise do processo

histoacuterico e de suas etapas O fato que o autor levanta vaacuterios pontos desta histoacuteria que devem

ser estudados um dia e provavelmente iratildeo partir e se referir a sua obra que tem como

destaque o trabalho de levantamento de dados e fontes para os proacuteximos historiadores que se

dedicarem a Historia desta regiatildeo Nossas observaccedilotildees se referem a ideia de ausecircncia de

contribuiccedilatildeo do homem negro na constituiccedilatildeo soacutecioreligiosa desta localidade

Mais uma vez o autor busca formas de desvincular a participaccedilatildeo dos negros na

histoacuteria religiosa local A obra Caiccedilara Caminhos de Almocreves estaacute repleta destas

argumentaccedilotildees acerca do homem de cor

O objetivo inicial desta pesquisa era de buscar indiacutecios em Livros de Tombo e

documentos religiosos a contribuiccedilatildeo do negro na religiosidade local Tendo em vista que natildeo

soacute no municiacutepio de Caiccedilara mas tambeacutem em todo o territoacuterio brasileiro houve uma

marginalizaccedilatildeo da imagem do homem de cor ou seja uma tentativa de deixar a margem da

sociedade uma figura que se faz tatildeo importante para adentrarmos no imaginaacuterio religioso do

povo brasileiro

Contudo o livro de Tombo analisado natildeo nos forneceu as informaccedilotildees necessaacuterias

para afirmamos que houve uma irmandade negra no municiacutepio de Caiccedilara Mas para

buscarmos indiacutecios e vestiacutegios da contribuiccedilatildeo do negro nestes locais faremos uma analise

11

minuciosa da obra contrapondo com elementos existentes na proacutepria igreja local na tentativa

de trazer a luz questotildees que foram estabelecidas pelo autor Severino Ismael como verdades

prontas e absolutas Os possiacuteveis indiacutecios e vestiacutegios satildeo elementos de fundamental

importacircncia para este trabalho

Entre estes vestiacutegios destacamos a imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no altar

central da Igreja matriz de Caiccedilara (apesar da referecircncia direta agrave fundaccedilatildeo da cidade nos eacute

intrigante a escolha desta padroeira por seus fundadores) Jaacute que este culto agrave Senhora do

Rosaacuterio no Brasil ficou diretamente vinculado ao culto catoacutelico negro atraveacutes das

irmandades podendo dessa forma ser considerado um elemento da cultura africana no

espaccedilo religioso local Abaixo foto da Imagem tirada em 06 de Janeiro de 2014 Durante os

preparativos para a procissatildeo da Padroeira que se comemora nesta data no municiacutepio de

Caiccedilara

Ilustraccedilatildeo 1 Imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no andor

12

Foto Ricardo (2014)

Eacute evidente que os diversos escravos africanos desembarcados no Brasil contribuiriam

de forma significativa para a construccedilatildeo territorial e religiosa do paiacutes jaacute que participaram

diretamente da formaccedilatildeo da sociedade brasileira seja no trabalho nos engenhos de produccedilatildeo

de cana de accediluacutecar nas lavouras do cafeacute na extraccedilatildeo do ouro entre outros Ao desembarcarem

nessas terras trouxeram consigo seus costumes liacutenguas valores e crenccedilas Aqui encontraram

as mais diversas dificuldades de praticar sua cultura ou seja cultuar suas divindades e

costumes

O DESENVOLVIMENTO DAS PRAacuteTICAS RELIGIOSAS OFICIAIS NA CIDADE

DE CAICcedilARA-PB

A presenccedila do Catolicismo caiccedilarense estaacute inteiramente ligada ao seu periacuteodo de

fundaccedilatildeo que se deu por volta do ano de 1822 quando Manoel Soares da Costa instalou sua

fazenda e ergueu uma capela as margens do Rio Curimatauacute ldquoO povoamento da encantadora

Villa de Caiccedilara segundo informes de pessoas competentes teve logar no ano de 1822rdquo

Onde ldquoFoi edificada uma pequena capella sob a invocaccedilatildeo de NS do Rosaacuterio ()rdquo

ARAUacuteJO (1913)

Como aconteceu no Brasil e consequentemente na Paraiacuteba de uma forma em geral o

processo de povoamento oficial das regiotildees afastadas do litoral assim como o proacuteprio litoral

teve sua conquista e povoamento acompanhado da praacutetica religiosa oficial dos exploradores o

catolicismo A presenccedila da capela de Nossa Senhora do Rosaacuterio no povoamento que

futuramente seria denominado como municiacutepio de caiccedilara eacute um fato indiscutiacutevel pelos

historiadores e narradores de uma forma geral do Mito de fundaccedilatildeo da cidade ocorrendo

uma discussatildeo historiograacutefica agrave respeito do ano desta fundaccedilatildeo Epaminondas Tavares de

Arauacutejo afirma ter sido no ano de 1822 Entretanto Coriolano de Medeiros (em seu

ldquoDicionaacuterio Chorograacuteficordquo 1914) aponta o ano de 1841 como o da fundaccedilatildeo da Villa de

Caiccedilara

13

ldquoEm 1841 o terreno onde hoje eacute a sede do municiacutepio cobria-se ainda

cactos e bromeacutelias quando Manoel Soares da Costa Francisco da Costa

Gonccedilalves e Joseacute Vicente compraram a propriedade construiacuteram suas

vivendas e cercados de ramos ndash caiccedilaras ndash para abrigo do gado Depois

ergueram uma capella dedicada a NS do Rosaacuterio rdquo

Entretanto O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) aceita o uacuteltimo

como sendo o ano de fundaccedilatildeo Entre a populaccedilatildeo a informaccedilatildeo tida com maior aprovaccedilatildeo eacute

ano de 1822 Isto porque a sesmaria que Luiacutes Soares de Mendonccedila adquiriu natildeo foi no ano de

1822 como relatou Coriolano de Medeiros em seus estudos e sim no ano de 1788 registrada

sob nordm 891 por meio de documentos oficiais

Todavia a divergecircncia acerca do ano de fundaccedilatildeo ocorreu pelo fato de que a criaccedilatildeo da

feira ocorreu no ano de 1841 e o mesmo seria o marco do crescimento e da concentraccedilatildeo

urbana O que observamos em comum em ambas as citaccedilotildees eacute que o Catolicismo fecundava a

Villa de Caiccedilara desde sua fundaccedilatildeo Pois a construccedilatildeo da Capella eacute vista em todos os

registros sobre a origem deste povoado Os autores oficiais e tradicionais da histoacuteria de

fundaccedilatildeo da Villa de Caiccedilara discorrem ainda sobre a origem de sua denominaccedilatildeo segundo

Coriolano de Medeiros e Epaminondas Tavares o nome Caiccedilara proveacutem dos currais Fala

Epaminondas ldquoA denominaccedilatildeo de Caiccedilara proveacutem de um curral de pau-a-pique construiacutedo

por Manoel Soares nas proximidades de sua casardquo (p108)

O CATOLICISMO CAICcedilARENSE

De acordo com a visatildeo positivista e as fontes oficiais o iacutendio e o negro pouco

contribuiacuteram na formaccedilatildeo do espirito religioso do povo Caiccedilarense segundo Severino Ismael

da Costa em seu livro ldquoCaiccedilara Caminhos de Almocrevesrdquo (1990) Ainda de acordo com o

mesmo o imaginaacuterio da populaccedilatildeo local contribuiu de maneira bastante significativa para o

florescimento da religiatildeo Catoacutelica que veio a ser praticada na Villa de Caiccedilara

Nesta mesma perspectiva as fontes oficias da Igreja em pauta tentam nos mostrar que

a participaccedilatildeo do negro no acircmbito religioso teve pouco significado Os ritos as festas as

preces tudo era vinculado ao catolicismo No periacuteodo da posse da terra quando o branco

erguia sua morada edificava tambeacutem junto ou nas proximidades uma capela onde eram

celebrados os atos religiosos e realizadas as festas Destas eram as mais comuns O Natal

14

Ano Bom e Reis As juninas Santo Antocircnio Satildeo Joatildeo e Satildeo Pedro A de Santana no uacuteltimo

saacutebado de julho Ainda hoje entre o meio rural caiccedilarense os meses de junho e julho satildeo mais

conhecidos como o de Satildeo Joatildeo e de Santana Na semana santa mais precisamente a partir da

quarta-feira acontecia o recolhimento total ou seja preces jejum pouco trabalho e muito

cuidado em natildeo maltratar pessoas e animais O jejum era tatildeo rigoroso que se bebia apenas um

gole de aacutegua pela manhatilde e soacute a noite algum alimento Na quarta-feira chamada de trevas natildeo

se permitia varrer a casa nem tomar banho sob a pena de ldquoentrevarrdquo nas sedes das fazendas

rezava-se todos os saacutebados o ldquoOficio de Nossa Senhorardquo era acompanhado por todos os

moradores Nos domingos os fazendeiros todos bem vestidos mostravam seu prestigio ao ir agrave

missa com os seus familiares e agregados

MEcircS DE MAIO

Durante todo o mecircs de maio era rezado o terccedilo nas salas das casas grandes ou nas

capelas estes alternados por cacircnticos religiosos Ao termino deste evento acontecia a

tradicional queima das flores que haviam ornamentado os altares das capelas ou os jarros em

volta dos grandes oratoacuterios (tambeacutem chamados de santuaacuterios) de madeira repleto de imagens

de vaacuterios santos Vale ressaltar que geralmente era obrigaccedilatildeo da senhora da casa grande rezar

o terccedilo ou suas filhas Nas fazendas como nas vilas e povoados eram assim Todas as noites

era necessaacuterio a praacutetica de um ato religioso quase sempre um terccedilo ou um rosaacuterio de oraccedilotildees

O Catecismo era ensinado para as crianccedilas nas vilas povoados e nas fazendas

A CONSTRUCcedilAtildeO DA CAPELA

A Capela foi erguida nas proximidades da residecircncia de Manoel Soares da Costa sob

a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora do Rosaacuterio construiacuteda de taipa ou seja as paredes eram feitas

de barro calccedilados entre paus e cruzados por ripa e telhas

No livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves Severino Ismael da Costa descreve a

aacuterea destinada a capela

15

ldquoConstruiacuteda por trinta braccedilas de terras para cada lado para fazer

faces agraves despesas necessaacuterias confirma aquela intenccedilatildeo as casas

construiacutedas ou o que quer que se realizasse naquele periacutemetro

pagaria renda ou foro cabiacutevel agrave igrejardquo (Paacuteg 155)

A citaccedilatildeo acima nos faz entendermos que o fato da capela ter sido construiacuteda um

pouco afastada da casa grande revela a intenccedilatildeo que o fazendeiro tinha que no caso seria

desenvolver outras construccedilotildees ao seu redor

Alguns anos se passaram e o templo foi ampliado por Francisco Costa Gonccedilalves

Entre 1869 a 1872 pelo padre Herculano foi reconstruiacutedo aumentando sua aacuterea e levantadas

paredes de pedras A capela ficou majestosa Cerca de 15 metros de largura por uns 25 de

comprimento Paredes soacutelidas de pedras deram lugar a taipa com mais de metro de espessura

e oito a dez metros de altura Trecircs portas na frente e uma torre no lado direito (nascente) A

frente para o norte no iniacutecio do aclive da colina

No iniacutecio do seacuteculo XX o templo passou por nova reforma desta vez patrocinada por

Ascendina da Costa Frazatildeo que morava nas proximidades A nova reforma consistiu numa

das maiores ampliaccedilotildees jaacute recebidas Foram-lhe acrescentados os corredores laterais em todo

o seu comprimento o coro acrescentando uma torre do lado direito Nesta instalaram dois

sinos cujo bronze emitia lindos sons avisando os fieacuteis sobre a realizaccedilatildeo de atos religiosos

inclusive anunciando os falecimentos que ocorriam O tradicional dobre de finados para os

adultos o ldquorepiquerdquo ou seja uma serie de batidas sucessivas muito proacuteximas indicavam que

havia falecido uma crianccedila os chamados ldquoanjosrdquo e batidas mistas (dobre de finados e

repique) noticiavam o falecimento de jovens puacuteberes Essa reforma quase duplicou a aacuterea do

templo

Por ocasiatildeo desta reforma foram erguidos dois altares no fim da nave central e antes

da capela-mor agrave direita e agrave esquerda da arcada que a esta dava acesso Do lado esquerdo do

altar de Satildeo Sebastiatildeo (a imagem original foi posteriormente substituiacuteda por outra maior

doada por um fazendeiro local) No lado oposto a este altar se encontrava o altar de Nossa

Senhora da Dores cuja a imagem foi doada pelas senhoras das irmandade das Dores

O altar-mor bastante decorado em alto relevo com belas colunatas separando os trecircs

nichos tem no alto o nicho onde fica a imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus preciosa obra

de arte doada pelo Coronel Antocircnio Soares de Oliveira No centro o de Nossa Senhora do

Rosaacuterio

16

Nos anos de 1950 novas reformas foram introduzidas no templo demoliam-se os

altares de NS das Dores e Satildeo Sebastiatildeo cujas imagens foram transferidas para os altares

construiacutedos nas alas direita e a esquerda da capela-mor onde jaacute existia o da direita dedicado a

Santa Terezinha Outras reformas ainda foram realizadas como o revestimento do piso da

igreja com mosaicos Neste caso especificamente as obras foram feitas com recursos proacuteprios

provenientes da festa de NS do Rosaacuterio Vale lembrar que a partir desta uacuteltima empreitada a

igreja ganhou mais uma torre na fachada

A CHEGADA DA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DO ROSAacuteRIO

As reformas que aconteceram entre os anos 1869 a 1872 tinham o objetivo de receber

a nova imagem da padroeira encomendada em Portugal por Joaquim Joseacute fazendeiro desta

regiatildeo A mesma que ainda permanece hoje no nicho central do altar-mor A Santa chegou as

terras da Paraiacuteba no porto de Salema municiacutepio de Mamanguape Mais de 40 quilocircmetros

separavam ela de Caiccedilara O transporte teria que ser efetuado em carro de boi pois natildeo existia

outro meio transporte nessa localidade Poreacutem a dedicaccedilatildeo do povo foi tatildeo grande que os

fieacuteis saiacuteram de Caiccedilara a peacute e em procissatildeo para receber a imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio

A chegada em Caiccedilara deu-se no dia 6 de Janeiro dia festivo da Igreja Catoacutelica em

comemoraccedilatildeo agrave Santos Reis E como chegada da Santa tornou-se duplamente festivo para o

povo caiccedilarense Com consequecircncia deste fato nos dias atuais a festa para homenagear a

padroeira termina exatamente no dia 6 de Janeiro Tanto que a populaccedilatildeo passou a denominar

ldquoFesta de Nossa Senhora do Rosaacuteriordquo E de acordo com as pesquisas efetuadas natildeo conheccedilo

outro lugar onde a festividade ocorra no mecircs de Janeiro Pois no calendaacuterio da Igreja Catoacutelica

a mesma realiza-se no iniacutecio do mecircs de Outubro

Com a chegada da imagem da santa a vila de Caiccedilara o Padre Ibiapina sugeriu que o

nome da mesma passasse a se chamar Marianoacutepolis em homenagem a Nossa senhora do

Rosaacuterio poreacutem natildeo foi muito aceito pela sociedade da eacutepoca

A influecircncia da padroeira tambeacutem pode ser percebida nos dias atuais Pois aleacutem de

casas comerciais um hospital e maternidade recebeu seu nome assim como o primeiro bairro

17

da cidade onde foi edificado um monumento em sua homenagem Sem esquecer que a letra

do hino agrave Caiccedilara demostra a feacute depositada a santa

ldquoMarianoacutepolis eacute o nome que a feacute nos brindou para nossa alegria e que todos de joelho ou de peacute rendem

Graccedilas agrave Virgem Mariardquo

(Paacuteg 36)

A FESTA

Eacute um grandiosiacutessimo evento profano-religioso Nos dias que antecedem o 6 de Janeiro

realiza-se o novenaacuterio Soacute rezado Na noite do dia 5 eacute realizada a festa profana com barracas

e pavilhotildees fogos de artifiacutecios venda de produtos tiacutepicos da culinaacuteria local

Na festividade dedicada a Nossa Senhora do Rosaacuterio identificamos a figura

importantiacutessima que tinha os fazendeiros pois os mesmo com o intuito de mostrar seu poder

bancava as noites de festas A princiacutepio eram nove noites em cada uma delas um fazendeiro

diferente fica com a responsabilidade de organizar este evento

Atualmente a festa eacute precedida por um novenaacuterio onde cada comunidade Catoacutelica

local eacute responsaacutevel por uma noite de novena Sendo que nos uacuteltimos trecircs dias deste evento

acontece festas profanas em frente a Igreja Matriz com leilotildees de gados galinhas entre

outros

18

CONCLUSAtildeO

O presente trabalho buscou investigar se existiu uma irmandade de negros no municiacutepio de

Caiccedilara Entretanto as fontes documentais analisadas natildeo nos permitiram fazermos essa

afirmativa Poreacutem a partir desse momento direcionamos a pesquisa na analise do livro da

histoacuteria local do municiacutepio de Caiccedilara na perspectiva de se debruccedilar sobre indiacutecios e

vestiacutegios que nos permitam fazermos uma releitura da obra na tentativa de elucidarmos os

questionamentos pertinentes a nossa pesquisa

Durante a analise do Livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves percebemos que o autor

procura maneiras de desvincular a participaccedilatildeo do negro no cenaacuterio local Na tentativa de

proclamar o branco ou seja o colonizador como sendo o uacutenico agente na construccedilatildeo do

espaccedilo religioso deste povoado Na obra de Severino Ismael fica evidente a preocupaccedilatildeo do

mesmo em colocar o homem de cor a margem da sociedade local

Entretanto este ensaio procura incessantemente por vestiacutegios que nos possibilitem

enxergarmos a presenccedila de elementos africanos na construccedilatildeo do povoado de Caiccedilara na

tentativa de reescrever uma histoacuteria que nos mostrem que os negros foram responsaacuteveis tanto

na construccedilatildeo deste municiacutepio quanto pelo espaccedilo religioso local

O primeiro passo do trabalho foi buscar indiacutecios da participaccedilatildeo do negro no povoado de

Caiccedilara O culto a Nossa Senhora do Rosaacuterio e a Satildeo Sebastiatildeo pode ser observados como

vestiacutegios da presenccedila do homem de cor na construccedilatildeo cenaacuterio religioso de Caiccedilara A doaccedilatildeo

da imagem de Nossa Senhora das Dores feita por uma Irmandade das Dores de Itabira-MG

para a igreja de Caiccedilara que se encontra num altar lateral da igreja pode ser analisados como

elementos que caracterizam uma irmandade ou ao menos a figura do negro nestes espaccedilos

O presente artigo nos faz enxergarmos como o autor visualiza a construccedilatildeo da Vila de

Caiccedilara partindo do seu lugar socioeconocircmico poliacutetico e cultural Isso tornasse evidente na

sua obra

Contudo a analise historiograacutefica do livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves nos

obriga a produzimos outros trabalhos que possa contrapor essa visatildeo positivista de fatos e

acontecimento que privilegia o branco como sendo o civilizado e o construtor da histoacuteria e

19

marginalizando a imagem do homem de cor como sendo bichos que estavam alheios a

qualquer coisa

ABSTRACT

The marginalization of the black throughout history is clearly observed in its various aspects

From this perspective we seek to verify that the Caiccedilara municipality was erected some

Brotherhood However we did not find the necessary documentation to prove However the

analysis of the book of local history of the county have allowed us to detect the authors

concern to untie colored mans contribution in caiccedilarense society This essay aims to

reconstruct this distorted idea that was created in the course of time with regard to blacks The

theoretical basis that sustains this article are the theoretical assumptions of Kings (1999)

Certeau (2002) and others Through traces and evidence which is the historians work search

the rubble what was hidden this work reexamines in an attempt to evinced importance of

black in several areas of the Caiccedilarense peoples culture whether in beliefs in musicality in

daily habits the existing diverse religiosity in this town

KEY - WORDS Black Marginalization Religiosity

20

REFEREcircNCIAS

ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do

seacuteculo XIX Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Joatildeo Pessoa PPGHUFPB 2006

ARAUacuteJO Epaminondas Tavares de Almanach da Paraiacuteba V PB 1913

BASTIDE Roger As Religiotildees africanas no Brasil Contribuiccedilatildeo a uma Sociologia das

Interpretaccedilotildees de Civilizaccedilotildees Satildeo Paulo Pioneira 1971

BOSCHI Caio Ceacutesar Os leigos e o poder irmandades leigas e poliacutetica colonizadora em

Minas Gerais Satildeo Paulo Aacutetica ColEnsaios 116 1986

COSTA Severino Ismael da Caiccedilara Caminhos de Almocreves Joatildeo Pessoa Ed

Micrograacutefica 1990

FREYRE Gilberto Casa-grande amp senzala formaccedilatildeo da famiacutelia brasileira sob o regime de

economia patriarcal Rio de Janeiro Nova Aguilar 2002

HOORNAERT Eduardo Formaccedilatildeo do Catolicismo Brasileiro 1550-1800 3ordf ediccedilatildeo

Petroacutepolis Vozes 1991

JUNIOR Joseacute Pereira de Souza Tradiccedilatildeo Devoccedilatildeo e Feacute os rituais festivos nas

irmandades religiosas na Parahyba do Norte ndash sec XIX IN Joseacute Pereira de Souza Junior

Ed Universitaacuteria ndash UFPB 2006

MEDEIROS Coriolano de (Dicionaacuterio Chorograacutefico da paraiacuteba 1914)

QUINTAtildeO Antonia Aparecida Laacute vem o meu parente as irmandades de pretos e pardos

no Rio de Janeiro e em Pernambuco (seacuteculo XVIII) Satildeo Paulo Annablume 2002

RUSSELL- Wood AJ R Escravos e Libertos no Brasil Colonial Traduccedilatildeo Maria Beatriz

Medina ndash Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2005

Epaminondas Tavares de Arauacutejo (V ldquoAlmanach da Paraiacuteba 1913rdquo)

httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250360ampsearch=||infogrE

1ficos-informaE7F5es-completas acessado em 09032015 agraves 2200hs

Page 10: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA CAMPUS III CENTRO DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13300/1... · 2017. 4. 6. · 2 PAULO RICARDO PORPINO DA CRUZ Memória construída

10

O povoado surge a partir da construccedilatildeo de casa de morada capela e currais agrave margem

direita do rio Curimatauacute em 1822 por Manoel Soares da Costa A capela tinha por invocaccedilatildeo

Nossa Senhora do Rosaacuterio Como a maioria dos municiacutepios da regiatildeo seu desenvolvimento

pode ser vinculado ao estabelecimento da feira Uma particularidade citada e destacada pelo

autor satildeo as disputas poliacuteticas entre Caiccedilara e o Municiacutepio de Serra da Raiz que levam os

dois lugarejos a encontrar formas de se destacarem um em relaccedilatildeo ao outro Por exemplo

menciona que a criaccedilatildeo em 1870 da Freguesia de N S do Bom Fim cuja sede eacute a Serra da

Raiz ( instituiccedilatildeo que tornava Caiccedilara subordinada nas questotildees religiosas em relaccedilatildeo agrave Serra

da Raiz) segundo o autor a animosidade poliacutetico-administrativa entre os lugarejos se

desenvolveu a partir da introduccedilatildeo da feira livre em Caiccedilara jaacute que a mesma se tornou uma

forte concorrente para os ldquobarracotildeesrdquo instalados nos engenhos da Serra da Raiz assim a feira

poderia promover uma mudanccedila social que natildeo interessava aos poliacuteticos daquela regiatildeo

Passa a destacar os poliacuteticos de Caiccedilara nomeando-os ateacute o seacuteculo XX o que se

configura como um importante registro para a histoacuteria local assim como toda a obra de

Severino Ismael da Costa (1990) contudo ainda necessitando de uma anaacutelise do processo

histoacuterico e de suas etapas O fato que o autor levanta vaacuterios pontos desta histoacuteria que devem

ser estudados um dia e provavelmente iratildeo partir e se referir a sua obra que tem como

destaque o trabalho de levantamento de dados e fontes para os proacuteximos historiadores que se

dedicarem a Historia desta regiatildeo Nossas observaccedilotildees se referem a ideia de ausecircncia de

contribuiccedilatildeo do homem negro na constituiccedilatildeo soacutecioreligiosa desta localidade

Mais uma vez o autor busca formas de desvincular a participaccedilatildeo dos negros na

histoacuteria religiosa local A obra Caiccedilara Caminhos de Almocreves estaacute repleta destas

argumentaccedilotildees acerca do homem de cor

O objetivo inicial desta pesquisa era de buscar indiacutecios em Livros de Tombo e

documentos religiosos a contribuiccedilatildeo do negro na religiosidade local Tendo em vista que natildeo

soacute no municiacutepio de Caiccedilara mas tambeacutem em todo o territoacuterio brasileiro houve uma

marginalizaccedilatildeo da imagem do homem de cor ou seja uma tentativa de deixar a margem da

sociedade uma figura que se faz tatildeo importante para adentrarmos no imaginaacuterio religioso do

povo brasileiro

Contudo o livro de Tombo analisado natildeo nos forneceu as informaccedilotildees necessaacuterias

para afirmamos que houve uma irmandade negra no municiacutepio de Caiccedilara Mas para

buscarmos indiacutecios e vestiacutegios da contribuiccedilatildeo do negro nestes locais faremos uma analise

11

minuciosa da obra contrapondo com elementos existentes na proacutepria igreja local na tentativa

de trazer a luz questotildees que foram estabelecidas pelo autor Severino Ismael como verdades

prontas e absolutas Os possiacuteveis indiacutecios e vestiacutegios satildeo elementos de fundamental

importacircncia para este trabalho

Entre estes vestiacutegios destacamos a imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no altar

central da Igreja matriz de Caiccedilara (apesar da referecircncia direta agrave fundaccedilatildeo da cidade nos eacute

intrigante a escolha desta padroeira por seus fundadores) Jaacute que este culto agrave Senhora do

Rosaacuterio no Brasil ficou diretamente vinculado ao culto catoacutelico negro atraveacutes das

irmandades podendo dessa forma ser considerado um elemento da cultura africana no

espaccedilo religioso local Abaixo foto da Imagem tirada em 06 de Janeiro de 2014 Durante os

preparativos para a procissatildeo da Padroeira que se comemora nesta data no municiacutepio de

Caiccedilara

Ilustraccedilatildeo 1 Imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no andor

12

Foto Ricardo (2014)

Eacute evidente que os diversos escravos africanos desembarcados no Brasil contribuiriam

de forma significativa para a construccedilatildeo territorial e religiosa do paiacutes jaacute que participaram

diretamente da formaccedilatildeo da sociedade brasileira seja no trabalho nos engenhos de produccedilatildeo

de cana de accediluacutecar nas lavouras do cafeacute na extraccedilatildeo do ouro entre outros Ao desembarcarem

nessas terras trouxeram consigo seus costumes liacutenguas valores e crenccedilas Aqui encontraram

as mais diversas dificuldades de praticar sua cultura ou seja cultuar suas divindades e

costumes

O DESENVOLVIMENTO DAS PRAacuteTICAS RELIGIOSAS OFICIAIS NA CIDADE

DE CAICcedilARA-PB

A presenccedila do Catolicismo caiccedilarense estaacute inteiramente ligada ao seu periacuteodo de

fundaccedilatildeo que se deu por volta do ano de 1822 quando Manoel Soares da Costa instalou sua

fazenda e ergueu uma capela as margens do Rio Curimatauacute ldquoO povoamento da encantadora

Villa de Caiccedilara segundo informes de pessoas competentes teve logar no ano de 1822rdquo

Onde ldquoFoi edificada uma pequena capella sob a invocaccedilatildeo de NS do Rosaacuterio ()rdquo

ARAUacuteJO (1913)

Como aconteceu no Brasil e consequentemente na Paraiacuteba de uma forma em geral o

processo de povoamento oficial das regiotildees afastadas do litoral assim como o proacuteprio litoral

teve sua conquista e povoamento acompanhado da praacutetica religiosa oficial dos exploradores o

catolicismo A presenccedila da capela de Nossa Senhora do Rosaacuterio no povoamento que

futuramente seria denominado como municiacutepio de caiccedilara eacute um fato indiscutiacutevel pelos

historiadores e narradores de uma forma geral do Mito de fundaccedilatildeo da cidade ocorrendo

uma discussatildeo historiograacutefica agrave respeito do ano desta fundaccedilatildeo Epaminondas Tavares de

Arauacutejo afirma ter sido no ano de 1822 Entretanto Coriolano de Medeiros (em seu

ldquoDicionaacuterio Chorograacuteficordquo 1914) aponta o ano de 1841 como o da fundaccedilatildeo da Villa de

Caiccedilara

13

ldquoEm 1841 o terreno onde hoje eacute a sede do municiacutepio cobria-se ainda

cactos e bromeacutelias quando Manoel Soares da Costa Francisco da Costa

Gonccedilalves e Joseacute Vicente compraram a propriedade construiacuteram suas

vivendas e cercados de ramos ndash caiccedilaras ndash para abrigo do gado Depois

ergueram uma capella dedicada a NS do Rosaacuterio rdquo

Entretanto O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) aceita o uacuteltimo

como sendo o ano de fundaccedilatildeo Entre a populaccedilatildeo a informaccedilatildeo tida com maior aprovaccedilatildeo eacute

ano de 1822 Isto porque a sesmaria que Luiacutes Soares de Mendonccedila adquiriu natildeo foi no ano de

1822 como relatou Coriolano de Medeiros em seus estudos e sim no ano de 1788 registrada

sob nordm 891 por meio de documentos oficiais

Todavia a divergecircncia acerca do ano de fundaccedilatildeo ocorreu pelo fato de que a criaccedilatildeo da

feira ocorreu no ano de 1841 e o mesmo seria o marco do crescimento e da concentraccedilatildeo

urbana O que observamos em comum em ambas as citaccedilotildees eacute que o Catolicismo fecundava a

Villa de Caiccedilara desde sua fundaccedilatildeo Pois a construccedilatildeo da Capella eacute vista em todos os

registros sobre a origem deste povoado Os autores oficiais e tradicionais da histoacuteria de

fundaccedilatildeo da Villa de Caiccedilara discorrem ainda sobre a origem de sua denominaccedilatildeo segundo

Coriolano de Medeiros e Epaminondas Tavares o nome Caiccedilara proveacutem dos currais Fala

Epaminondas ldquoA denominaccedilatildeo de Caiccedilara proveacutem de um curral de pau-a-pique construiacutedo

por Manoel Soares nas proximidades de sua casardquo (p108)

O CATOLICISMO CAICcedilARENSE

De acordo com a visatildeo positivista e as fontes oficiais o iacutendio e o negro pouco

contribuiacuteram na formaccedilatildeo do espirito religioso do povo Caiccedilarense segundo Severino Ismael

da Costa em seu livro ldquoCaiccedilara Caminhos de Almocrevesrdquo (1990) Ainda de acordo com o

mesmo o imaginaacuterio da populaccedilatildeo local contribuiu de maneira bastante significativa para o

florescimento da religiatildeo Catoacutelica que veio a ser praticada na Villa de Caiccedilara

Nesta mesma perspectiva as fontes oficias da Igreja em pauta tentam nos mostrar que

a participaccedilatildeo do negro no acircmbito religioso teve pouco significado Os ritos as festas as

preces tudo era vinculado ao catolicismo No periacuteodo da posse da terra quando o branco

erguia sua morada edificava tambeacutem junto ou nas proximidades uma capela onde eram

celebrados os atos religiosos e realizadas as festas Destas eram as mais comuns O Natal

14

Ano Bom e Reis As juninas Santo Antocircnio Satildeo Joatildeo e Satildeo Pedro A de Santana no uacuteltimo

saacutebado de julho Ainda hoje entre o meio rural caiccedilarense os meses de junho e julho satildeo mais

conhecidos como o de Satildeo Joatildeo e de Santana Na semana santa mais precisamente a partir da

quarta-feira acontecia o recolhimento total ou seja preces jejum pouco trabalho e muito

cuidado em natildeo maltratar pessoas e animais O jejum era tatildeo rigoroso que se bebia apenas um

gole de aacutegua pela manhatilde e soacute a noite algum alimento Na quarta-feira chamada de trevas natildeo

se permitia varrer a casa nem tomar banho sob a pena de ldquoentrevarrdquo nas sedes das fazendas

rezava-se todos os saacutebados o ldquoOficio de Nossa Senhorardquo era acompanhado por todos os

moradores Nos domingos os fazendeiros todos bem vestidos mostravam seu prestigio ao ir agrave

missa com os seus familiares e agregados

MEcircS DE MAIO

Durante todo o mecircs de maio era rezado o terccedilo nas salas das casas grandes ou nas

capelas estes alternados por cacircnticos religiosos Ao termino deste evento acontecia a

tradicional queima das flores que haviam ornamentado os altares das capelas ou os jarros em

volta dos grandes oratoacuterios (tambeacutem chamados de santuaacuterios) de madeira repleto de imagens

de vaacuterios santos Vale ressaltar que geralmente era obrigaccedilatildeo da senhora da casa grande rezar

o terccedilo ou suas filhas Nas fazendas como nas vilas e povoados eram assim Todas as noites

era necessaacuterio a praacutetica de um ato religioso quase sempre um terccedilo ou um rosaacuterio de oraccedilotildees

O Catecismo era ensinado para as crianccedilas nas vilas povoados e nas fazendas

A CONSTRUCcedilAtildeO DA CAPELA

A Capela foi erguida nas proximidades da residecircncia de Manoel Soares da Costa sob

a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora do Rosaacuterio construiacuteda de taipa ou seja as paredes eram feitas

de barro calccedilados entre paus e cruzados por ripa e telhas

No livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves Severino Ismael da Costa descreve a

aacuterea destinada a capela

15

ldquoConstruiacuteda por trinta braccedilas de terras para cada lado para fazer

faces agraves despesas necessaacuterias confirma aquela intenccedilatildeo as casas

construiacutedas ou o que quer que se realizasse naquele periacutemetro

pagaria renda ou foro cabiacutevel agrave igrejardquo (Paacuteg 155)

A citaccedilatildeo acima nos faz entendermos que o fato da capela ter sido construiacuteda um

pouco afastada da casa grande revela a intenccedilatildeo que o fazendeiro tinha que no caso seria

desenvolver outras construccedilotildees ao seu redor

Alguns anos se passaram e o templo foi ampliado por Francisco Costa Gonccedilalves

Entre 1869 a 1872 pelo padre Herculano foi reconstruiacutedo aumentando sua aacuterea e levantadas

paredes de pedras A capela ficou majestosa Cerca de 15 metros de largura por uns 25 de

comprimento Paredes soacutelidas de pedras deram lugar a taipa com mais de metro de espessura

e oito a dez metros de altura Trecircs portas na frente e uma torre no lado direito (nascente) A

frente para o norte no iniacutecio do aclive da colina

No iniacutecio do seacuteculo XX o templo passou por nova reforma desta vez patrocinada por

Ascendina da Costa Frazatildeo que morava nas proximidades A nova reforma consistiu numa

das maiores ampliaccedilotildees jaacute recebidas Foram-lhe acrescentados os corredores laterais em todo

o seu comprimento o coro acrescentando uma torre do lado direito Nesta instalaram dois

sinos cujo bronze emitia lindos sons avisando os fieacuteis sobre a realizaccedilatildeo de atos religiosos

inclusive anunciando os falecimentos que ocorriam O tradicional dobre de finados para os

adultos o ldquorepiquerdquo ou seja uma serie de batidas sucessivas muito proacuteximas indicavam que

havia falecido uma crianccedila os chamados ldquoanjosrdquo e batidas mistas (dobre de finados e

repique) noticiavam o falecimento de jovens puacuteberes Essa reforma quase duplicou a aacuterea do

templo

Por ocasiatildeo desta reforma foram erguidos dois altares no fim da nave central e antes

da capela-mor agrave direita e agrave esquerda da arcada que a esta dava acesso Do lado esquerdo do

altar de Satildeo Sebastiatildeo (a imagem original foi posteriormente substituiacuteda por outra maior

doada por um fazendeiro local) No lado oposto a este altar se encontrava o altar de Nossa

Senhora da Dores cuja a imagem foi doada pelas senhoras das irmandade das Dores

O altar-mor bastante decorado em alto relevo com belas colunatas separando os trecircs

nichos tem no alto o nicho onde fica a imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus preciosa obra

de arte doada pelo Coronel Antocircnio Soares de Oliveira No centro o de Nossa Senhora do

Rosaacuterio

16

Nos anos de 1950 novas reformas foram introduzidas no templo demoliam-se os

altares de NS das Dores e Satildeo Sebastiatildeo cujas imagens foram transferidas para os altares

construiacutedos nas alas direita e a esquerda da capela-mor onde jaacute existia o da direita dedicado a

Santa Terezinha Outras reformas ainda foram realizadas como o revestimento do piso da

igreja com mosaicos Neste caso especificamente as obras foram feitas com recursos proacuteprios

provenientes da festa de NS do Rosaacuterio Vale lembrar que a partir desta uacuteltima empreitada a

igreja ganhou mais uma torre na fachada

A CHEGADA DA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DO ROSAacuteRIO

As reformas que aconteceram entre os anos 1869 a 1872 tinham o objetivo de receber

a nova imagem da padroeira encomendada em Portugal por Joaquim Joseacute fazendeiro desta

regiatildeo A mesma que ainda permanece hoje no nicho central do altar-mor A Santa chegou as

terras da Paraiacuteba no porto de Salema municiacutepio de Mamanguape Mais de 40 quilocircmetros

separavam ela de Caiccedilara O transporte teria que ser efetuado em carro de boi pois natildeo existia

outro meio transporte nessa localidade Poreacutem a dedicaccedilatildeo do povo foi tatildeo grande que os

fieacuteis saiacuteram de Caiccedilara a peacute e em procissatildeo para receber a imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio

A chegada em Caiccedilara deu-se no dia 6 de Janeiro dia festivo da Igreja Catoacutelica em

comemoraccedilatildeo agrave Santos Reis E como chegada da Santa tornou-se duplamente festivo para o

povo caiccedilarense Com consequecircncia deste fato nos dias atuais a festa para homenagear a

padroeira termina exatamente no dia 6 de Janeiro Tanto que a populaccedilatildeo passou a denominar

ldquoFesta de Nossa Senhora do Rosaacuteriordquo E de acordo com as pesquisas efetuadas natildeo conheccedilo

outro lugar onde a festividade ocorra no mecircs de Janeiro Pois no calendaacuterio da Igreja Catoacutelica

a mesma realiza-se no iniacutecio do mecircs de Outubro

Com a chegada da imagem da santa a vila de Caiccedilara o Padre Ibiapina sugeriu que o

nome da mesma passasse a se chamar Marianoacutepolis em homenagem a Nossa senhora do

Rosaacuterio poreacutem natildeo foi muito aceito pela sociedade da eacutepoca

A influecircncia da padroeira tambeacutem pode ser percebida nos dias atuais Pois aleacutem de

casas comerciais um hospital e maternidade recebeu seu nome assim como o primeiro bairro

17

da cidade onde foi edificado um monumento em sua homenagem Sem esquecer que a letra

do hino agrave Caiccedilara demostra a feacute depositada a santa

ldquoMarianoacutepolis eacute o nome que a feacute nos brindou para nossa alegria e que todos de joelho ou de peacute rendem

Graccedilas agrave Virgem Mariardquo

(Paacuteg 36)

A FESTA

Eacute um grandiosiacutessimo evento profano-religioso Nos dias que antecedem o 6 de Janeiro

realiza-se o novenaacuterio Soacute rezado Na noite do dia 5 eacute realizada a festa profana com barracas

e pavilhotildees fogos de artifiacutecios venda de produtos tiacutepicos da culinaacuteria local

Na festividade dedicada a Nossa Senhora do Rosaacuterio identificamos a figura

importantiacutessima que tinha os fazendeiros pois os mesmo com o intuito de mostrar seu poder

bancava as noites de festas A princiacutepio eram nove noites em cada uma delas um fazendeiro

diferente fica com a responsabilidade de organizar este evento

Atualmente a festa eacute precedida por um novenaacuterio onde cada comunidade Catoacutelica

local eacute responsaacutevel por uma noite de novena Sendo que nos uacuteltimos trecircs dias deste evento

acontece festas profanas em frente a Igreja Matriz com leilotildees de gados galinhas entre

outros

18

CONCLUSAtildeO

O presente trabalho buscou investigar se existiu uma irmandade de negros no municiacutepio de

Caiccedilara Entretanto as fontes documentais analisadas natildeo nos permitiram fazermos essa

afirmativa Poreacutem a partir desse momento direcionamos a pesquisa na analise do livro da

histoacuteria local do municiacutepio de Caiccedilara na perspectiva de se debruccedilar sobre indiacutecios e

vestiacutegios que nos permitam fazermos uma releitura da obra na tentativa de elucidarmos os

questionamentos pertinentes a nossa pesquisa

Durante a analise do Livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves percebemos que o autor

procura maneiras de desvincular a participaccedilatildeo do negro no cenaacuterio local Na tentativa de

proclamar o branco ou seja o colonizador como sendo o uacutenico agente na construccedilatildeo do

espaccedilo religioso deste povoado Na obra de Severino Ismael fica evidente a preocupaccedilatildeo do

mesmo em colocar o homem de cor a margem da sociedade local

Entretanto este ensaio procura incessantemente por vestiacutegios que nos possibilitem

enxergarmos a presenccedila de elementos africanos na construccedilatildeo do povoado de Caiccedilara na

tentativa de reescrever uma histoacuteria que nos mostrem que os negros foram responsaacuteveis tanto

na construccedilatildeo deste municiacutepio quanto pelo espaccedilo religioso local

O primeiro passo do trabalho foi buscar indiacutecios da participaccedilatildeo do negro no povoado de

Caiccedilara O culto a Nossa Senhora do Rosaacuterio e a Satildeo Sebastiatildeo pode ser observados como

vestiacutegios da presenccedila do homem de cor na construccedilatildeo cenaacuterio religioso de Caiccedilara A doaccedilatildeo

da imagem de Nossa Senhora das Dores feita por uma Irmandade das Dores de Itabira-MG

para a igreja de Caiccedilara que se encontra num altar lateral da igreja pode ser analisados como

elementos que caracterizam uma irmandade ou ao menos a figura do negro nestes espaccedilos

O presente artigo nos faz enxergarmos como o autor visualiza a construccedilatildeo da Vila de

Caiccedilara partindo do seu lugar socioeconocircmico poliacutetico e cultural Isso tornasse evidente na

sua obra

Contudo a analise historiograacutefica do livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves nos

obriga a produzimos outros trabalhos que possa contrapor essa visatildeo positivista de fatos e

acontecimento que privilegia o branco como sendo o civilizado e o construtor da histoacuteria e

19

marginalizando a imagem do homem de cor como sendo bichos que estavam alheios a

qualquer coisa

ABSTRACT

The marginalization of the black throughout history is clearly observed in its various aspects

From this perspective we seek to verify that the Caiccedilara municipality was erected some

Brotherhood However we did not find the necessary documentation to prove However the

analysis of the book of local history of the county have allowed us to detect the authors

concern to untie colored mans contribution in caiccedilarense society This essay aims to

reconstruct this distorted idea that was created in the course of time with regard to blacks The

theoretical basis that sustains this article are the theoretical assumptions of Kings (1999)

Certeau (2002) and others Through traces and evidence which is the historians work search

the rubble what was hidden this work reexamines in an attempt to evinced importance of

black in several areas of the Caiccedilarense peoples culture whether in beliefs in musicality in

daily habits the existing diverse religiosity in this town

KEY - WORDS Black Marginalization Religiosity

20

REFEREcircNCIAS

ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do

seacuteculo XIX Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Joatildeo Pessoa PPGHUFPB 2006

ARAUacuteJO Epaminondas Tavares de Almanach da Paraiacuteba V PB 1913

BASTIDE Roger As Religiotildees africanas no Brasil Contribuiccedilatildeo a uma Sociologia das

Interpretaccedilotildees de Civilizaccedilotildees Satildeo Paulo Pioneira 1971

BOSCHI Caio Ceacutesar Os leigos e o poder irmandades leigas e poliacutetica colonizadora em

Minas Gerais Satildeo Paulo Aacutetica ColEnsaios 116 1986

COSTA Severino Ismael da Caiccedilara Caminhos de Almocreves Joatildeo Pessoa Ed

Micrograacutefica 1990

FREYRE Gilberto Casa-grande amp senzala formaccedilatildeo da famiacutelia brasileira sob o regime de

economia patriarcal Rio de Janeiro Nova Aguilar 2002

HOORNAERT Eduardo Formaccedilatildeo do Catolicismo Brasileiro 1550-1800 3ordf ediccedilatildeo

Petroacutepolis Vozes 1991

JUNIOR Joseacute Pereira de Souza Tradiccedilatildeo Devoccedilatildeo e Feacute os rituais festivos nas

irmandades religiosas na Parahyba do Norte ndash sec XIX IN Joseacute Pereira de Souza Junior

Ed Universitaacuteria ndash UFPB 2006

MEDEIROS Coriolano de (Dicionaacuterio Chorograacutefico da paraiacuteba 1914)

QUINTAtildeO Antonia Aparecida Laacute vem o meu parente as irmandades de pretos e pardos

no Rio de Janeiro e em Pernambuco (seacuteculo XVIII) Satildeo Paulo Annablume 2002

RUSSELL- Wood AJ R Escravos e Libertos no Brasil Colonial Traduccedilatildeo Maria Beatriz

Medina ndash Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2005

Epaminondas Tavares de Arauacutejo (V ldquoAlmanach da Paraiacuteba 1913rdquo)

httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250360ampsearch=||infogrE

1ficos-informaE7F5es-completas acessado em 09032015 agraves 2200hs

Page 11: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA CAMPUS III CENTRO DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13300/1... · 2017. 4. 6. · 2 PAULO RICARDO PORPINO DA CRUZ Memória construída

11

minuciosa da obra contrapondo com elementos existentes na proacutepria igreja local na tentativa

de trazer a luz questotildees que foram estabelecidas pelo autor Severino Ismael como verdades

prontas e absolutas Os possiacuteveis indiacutecios e vestiacutegios satildeo elementos de fundamental

importacircncia para este trabalho

Entre estes vestiacutegios destacamos a imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no altar

central da Igreja matriz de Caiccedilara (apesar da referecircncia direta agrave fundaccedilatildeo da cidade nos eacute

intrigante a escolha desta padroeira por seus fundadores) Jaacute que este culto agrave Senhora do

Rosaacuterio no Brasil ficou diretamente vinculado ao culto catoacutelico negro atraveacutes das

irmandades podendo dessa forma ser considerado um elemento da cultura africana no

espaccedilo religioso local Abaixo foto da Imagem tirada em 06 de Janeiro de 2014 Durante os

preparativos para a procissatildeo da Padroeira que se comemora nesta data no municiacutepio de

Caiccedilara

Ilustraccedilatildeo 1 Imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio no andor

12

Foto Ricardo (2014)

Eacute evidente que os diversos escravos africanos desembarcados no Brasil contribuiriam

de forma significativa para a construccedilatildeo territorial e religiosa do paiacutes jaacute que participaram

diretamente da formaccedilatildeo da sociedade brasileira seja no trabalho nos engenhos de produccedilatildeo

de cana de accediluacutecar nas lavouras do cafeacute na extraccedilatildeo do ouro entre outros Ao desembarcarem

nessas terras trouxeram consigo seus costumes liacutenguas valores e crenccedilas Aqui encontraram

as mais diversas dificuldades de praticar sua cultura ou seja cultuar suas divindades e

costumes

O DESENVOLVIMENTO DAS PRAacuteTICAS RELIGIOSAS OFICIAIS NA CIDADE

DE CAICcedilARA-PB

A presenccedila do Catolicismo caiccedilarense estaacute inteiramente ligada ao seu periacuteodo de

fundaccedilatildeo que se deu por volta do ano de 1822 quando Manoel Soares da Costa instalou sua

fazenda e ergueu uma capela as margens do Rio Curimatauacute ldquoO povoamento da encantadora

Villa de Caiccedilara segundo informes de pessoas competentes teve logar no ano de 1822rdquo

Onde ldquoFoi edificada uma pequena capella sob a invocaccedilatildeo de NS do Rosaacuterio ()rdquo

ARAUacuteJO (1913)

Como aconteceu no Brasil e consequentemente na Paraiacuteba de uma forma em geral o

processo de povoamento oficial das regiotildees afastadas do litoral assim como o proacuteprio litoral

teve sua conquista e povoamento acompanhado da praacutetica religiosa oficial dos exploradores o

catolicismo A presenccedila da capela de Nossa Senhora do Rosaacuterio no povoamento que

futuramente seria denominado como municiacutepio de caiccedilara eacute um fato indiscutiacutevel pelos

historiadores e narradores de uma forma geral do Mito de fundaccedilatildeo da cidade ocorrendo

uma discussatildeo historiograacutefica agrave respeito do ano desta fundaccedilatildeo Epaminondas Tavares de

Arauacutejo afirma ter sido no ano de 1822 Entretanto Coriolano de Medeiros (em seu

ldquoDicionaacuterio Chorograacuteficordquo 1914) aponta o ano de 1841 como o da fundaccedilatildeo da Villa de

Caiccedilara

13

ldquoEm 1841 o terreno onde hoje eacute a sede do municiacutepio cobria-se ainda

cactos e bromeacutelias quando Manoel Soares da Costa Francisco da Costa

Gonccedilalves e Joseacute Vicente compraram a propriedade construiacuteram suas

vivendas e cercados de ramos ndash caiccedilaras ndash para abrigo do gado Depois

ergueram uma capella dedicada a NS do Rosaacuterio rdquo

Entretanto O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) aceita o uacuteltimo

como sendo o ano de fundaccedilatildeo Entre a populaccedilatildeo a informaccedilatildeo tida com maior aprovaccedilatildeo eacute

ano de 1822 Isto porque a sesmaria que Luiacutes Soares de Mendonccedila adquiriu natildeo foi no ano de

1822 como relatou Coriolano de Medeiros em seus estudos e sim no ano de 1788 registrada

sob nordm 891 por meio de documentos oficiais

Todavia a divergecircncia acerca do ano de fundaccedilatildeo ocorreu pelo fato de que a criaccedilatildeo da

feira ocorreu no ano de 1841 e o mesmo seria o marco do crescimento e da concentraccedilatildeo

urbana O que observamos em comum em ambas as citaccedilotildees eacute que o Catolicismo fecundava a

Villa de Caiccedilara desde sua fundaccedilatildeo Pois a construccedilatildeo da Capella eacute vista em todos os

registros sobre a origem deste povoado Os autores oficiais e tradicionais da histoacuteria de

fundaccedilatildeo da Villa de Caiccedilara discorrem ainda sobre a origem de sua denominaccedilatildeo segundo

Coriolano de Medeiros e Epaminondas Tavares o nome Caiccedilara proveacutem dos currais Fala

Epaminondas ldquoA denominaccedilatildeo de Caiccedilara proveacutem de um curral de pau-a-pique construiacutedo

por Manoel Soares nas proximidades de sua casardquo (p108)

O CATOLICISMO CAICcedilARENSE

De acordo com a visatildeo positivista e as fontes oficiais o iacutendio e o negro pouco

contribuiacuteram na formaccedilatildeo do espirito religioso do povo Caiccedilarense segundo Severino Ismael

da Costa em seu livro ldquoCaiccedilara Caminhos de Almocrevesrdquo (1990) Ainda de acordo com o

mesmo o imaginaacuterio da populaccedilatildeo local contribuiu de maneira bastante significativa para o

florescimento da religiatildeo Catoacutelica que veio a ser praticada na Villa de Caiccedilara

Nesta mesma perspectiva as fontes oficias da Igreja em pauta tentam nos mostrar que

a participaccedilatildeo do negro no acircmbito religioso teve pouco significado Os ritos as festas as

preces tudo era vinculado ao catolicismo No periacuteodo da posse da terra quando o branco

erguia sua morada edificava tambeacutem junto ou nas proximidades uma capela onde eram

celebrados os atos religiosos e realizadas as festas Destas eram as mais comuns O Natal

14

Ano Bom e Reis As juninas Santo Antocircnio Satildeo Joatildeo e Satildeo Pedro A de Santana no uacuteltimo

saacutebado de julho Ainda hoje entre o meio rural caiccedilarense os meses de junho e julho satildeo mais

conhecidos como o de Satildeo Joatildeo e de Santana Na semana santa mais precisamente a partir da

quarta-feira acontecia o recolhimento total ou seja preces jejum pouco trabalho e muito

cuidado em natildeo maltratar pessoas e animais O jejum era tatildeo rigoroso que se bebia apenas um

gole de aacutegua pela manhatilde e soacute a noite algum alimento Na quarta-feira chamada de trevas natildeo

se permitia varrer a casa nem tomar banho sob a pena de ldquoentrevarrdquo nas sedes das fazendas

rezava-se todos os saacutebados o ldquoOficio de Nossa Senhorardquo era acompanhado por todos os

moradores Nos domingos os fazendeiros todos bem vestidos mostravam seu prestigio ao ir agrave

missa com os seus familiares e agregados

MEcircS DE MAIO

Durante todo o mecircs de maio era rezado o terccedilo nas salas das casas grandes ou nas

capelas estes alternados por cacircnticos religiosos Ao termino deste evento acontecia a

tradicional queima das flores que haviam ornamentado os altares das capelas ou os jarros em

volta dos grandes oratoacuterios (tambeacutem chamados de santuaacuterios) de madeira repleto de imagens

de vaacuterios santos Vale ressaltar que geralmente era obrigaccedilatildeo da senhora da casa grande rezar

o terccedilo ou suas filhas Nas fazendas como nas vilas e povoados eram assim Todas as noites

era necessaacuterio a praacutetica de um ato religioso quase sempre um terccedilo ou um rosaacuterio de oraccedilotildees

O Catecismo era ensinado para as crianccedilas nas vilas povoados e nas fazendas

A CONSTRUCcedilAtildeO DA CAPELA

A Capela foi erguida nas proximidades da residecircncia de Manoel Soares da Costa sob

a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora do Rosaacuterio construiacuteda de taipa ou seja as paredes eram feitas

de barro calccedilados entre paus e cruzados por ripa e telhas

No livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves Severino Ismael da Costa descreve a

aacuterea destinada a capela

15

ldquoConstruiacuteda por trinta braccedilas de terras para cada lado para fazer

faces agraves despesas necessaacuterias confirma aquela intenccedilatildeo as casas

construiacutedas ou o que quer que se realizasse naquele periacutemetro

pagaria renda ou foro cabiacutevel agrave igrejardquo (Paacuteg 155)

A citaccedilatildeo acima nos faz entendermos que o fato da capela ter sido construiacuteda um

pouco afastada da casa grande revela a intenccedilatildeo que o fazendeiro tinha que no caso seria

desenvolver outras construccedilotildees ao seu redor

Alguns anos se passaram e o templo foi ampliado por Francisco Costa Gonccedilalves

Entre 1869 a 1872 pelo padre Herculano foi reconstruiacutedo aumentando sua aacuterea e levantadas

paredes de pedras A capela ficou majestosa Cerca de 15 metros de largura por uns 25 de

comprimento Paredes soacutelidas de pedras deram lugar a taipa com mais de metro de espessura

e oito a dez metros de altura Trecircs portas na frente e uma torre no lado direito (nascente) A

frente para o norte no iniacutecio do aclive da colina

No iniacutecio do seacuteculo XX o templo passou por nova reforma desta vez patrocinada por

Ascendina da Costa Frazatildeo que morava nas proximidades A nova reforma consistiu numa

das maiores ampliaccedilotildees jaacute recebidas Foram-lhe acrescentados os corredores laterais em todo

o seu comprimento o coro acrescentando uma torre do lado direito Nesta instalaram dois

sinos cujo bronze emitia lindos sons avisando os fieacuteis sobre a realizaccedilatildeo de atos religiosos

inclusive anunciando os falecimentos que ocorriam O tradicional dobre de finados para os

adultos o ldquorepiquerdquo ou seja uma serie de batidas sucessivas muito proacuteximas indicavam que

havia falecido uma crianccedila os chamados ldquoanjosrdquo e batidas mistas (dobre de finados e

repique) noticiavam o falecimento de jovens puacuteberes Essa reforma quase duplicou a aacuterea do

templo

Por ocasiatildeo desta reforma foram erguidos dois altares no fim da nave central e antes

da capela-mor agrave direita e agrave esquerda da arcada que a esta dava acesso Do lado esquerdo do

altar de Satildeo Sebastiatildeo (a imagem original foi posteriormente substituiacuteda por outra maior

doada por um fazendeiro local) No lado oposto a este altar se encontrava o altar de Nossa

Senhora da Dores cuja a imagem foi doada pelas senhoras das irmandade das Dores

O altar-mor bastante decorado em alto relevo com belas colunatas separando os trecircs

nichos tem no alto o nicho onde fica a imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus preciosa obra

de arte doada pelo Coronel Antocircnio Soares de Oliveira No centro o de Nossa Senhora do

Rosaacuterio

16

Nos anos de 1950 novas reformas foram introduzidas no templo demoliam-se os

altares de NS das Dores e Satildeo Sebastiatildeo cujas imagens foram transferidas para os altares

construiacutedos nas alas direita e a esquerda da capela-mor onde jaacute existia o da direita dedicado a

Santa Terezinha Outras reformas ainda foram realizadas como o revestimento do piso da

igreja com mosaicos Neste caso especificamente as obras foram feitas com recursos proacuteprios

provenientes da festa de NS do Rosaacuterio Vale lembrar que a partir desta uacuteltima empreitada a

igreja ganhou mais uma torre na fachada

A CHEGADA DA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DO ROSAacuteRIO

As reformas que aconteceram entre os anos 1869 a 1872 tinham o objetivo de receber

a nova imagem da padroeira encomendada em Portugal por Joaquim Joseacute fazendeiro desta

regiatildeo A mesma que ainda permanece hoje no nicho central do altar-mor A Santa chegou as

terras da Paraiacuteba no porto de Salema municiacutepio de Mamanguape Mais de 40 quilocircmetros

separavam ela de Caiccedilara O transporte teria que ser efetuado em carro de boi pois natildeo existia

outro meio transporte nessa localidade Poreacutem a dedicaccedilatildeo do povo foi tatildeo grande que os

fieacuteis saiacuteram de Caiccedilara a peacute e em procissatildeo para receber a imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio

A chegada em Caiccedilara deu-se no dia 6 de Janeiro dia festivo da Igreja Catoacutelica em

comemoraccedilatildeo agrave Santos Reis E como chegada da Santa tornou-se duplamente festivo para o

povo caiccedilarense Com consequecircncia deste fato nos dias atuais a festa para homenagear a

padroeira termina exatamente no dia 6 de Janeiro Tanto que a populaccedilatildeo passou a denominar

ldquoFesta de Nossa Senhora do Rosaacuteriordquo E de acordo com as pesquisas efetuadas natildeo conheccedilo

outro lugar onde a festividade ocorra no mecircs de Janeiro Pois no calendaacuterio da Igreja Catoacutelica

a mesma realiza-se no iniacutecio do mecircs de Outubro

Com a chegada da imagem da santa a vila de Caiccedilara o Padre Ibiapina sugeriu que o

nome da mesma passasse a se chamar Marianoacutepolis em homenagem a Nossa senhora do

Rosaacuterio poreacutem natildeo foi muito aceito pela sociedade da eacutepoca

A influecircncia da padroeira tambeacutem pode ser percebida nos dias atuais Pois aleacutem de

casas comerciais um hospital e maternidade recebeu seu nome assim como o primeiro bairro

17

da cidade onde foi edificado um monumento em sua homenagem Sem esquecer que a letra

do hino agrave Caiccedilara demostra a feacute depositada a santa

ldquoMarianoacutepolis eacute o nome que a feacute nos brindou para nossa alegria e que todos de joelho ou de peacute rendem

Graccedilas agrave Virgem Mariardquo

(Paacuteg 36)

A FESTA

Eacute um grandiosiacutessimo evento profano-religioso Nos dias que antecedem o 6 de Janeiro

realiza-se o novenaacuterio Soacute rezado Na noite do dia 5 eacute realizada a festa profana com barracas

e pavilhotildees fogos de artifiacutecios venda de produtos tiacutepicos da culinaacuteria local

Na festividade dedicada a Nossa Senhora do Rosaacuterio identificamos a figura

importantiacutessima que tinha os fazendeiros pois os mesmo com o intuito de mostrar seu poder

bancava as noites de festas A princiacutepio eram nove noites em cada uma delas um fazendeiro

diferente fica com a responsabilidade de organizar este evento

Atualmente a festa eacute precedida por um novenaacuterio onde cada comunidade Catoacutelica

local eacute responsaacutevel por uma noite de novena Sendo que nos uacuteltimos trecircs dias deste evento

acontece festas profanas em frente a Igreja Matriz com leilotildees de gados galinhas entre

outros

18

CONCLUSAtildeO

O presente trabalho buscou investigar se existiu uma irmandade de negros no municiacutepio de

Caiccedilara Entretanto as fontes documentais analisadas natildeo nos permitiram fazermos essa

afirmativa Poreacutem a partir desse momento direcionamos a pesquisa na analise do livro da

histoacuteria local do municiacutepio de Caiccedilara na perspectiva de se debruccedilar sobre indiacutecios e

vestiacutegios que nos permitam fazermos uma releitura da obra na tentativa de elucidarmos os

questionamentos pertinentes a nossa pesquisa

Durante a analise do Livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves percebemos que o autor

procura maneiras de desvincular a participaccedilatildeo do negro no cenaacuterio local Na tentativa de

proclamar o branco ou seja o colonizador como sendo o uacutenico agente na construccedilatildeo do

espaccedilo religioso deste povoado Na obra de Severino Ismael fica evidente a preocupaccedilatildeo do

mesmo em colocar o homem de cor a margem da sociedade local

Entretanto este ensaio procura incessantemente por vestiacutegios que nos possibilitem

enxergarmos a presenccedila de elementos africanos na construccedilatildeo do povoado de Caiccedilara na

tentativa de reescrever uma histoacuteria que nos mostrem que os negros foram responsaacuteveis tanto

na construccedilatildeo deste municiacutepio quanto pelo espaccedilo religioso local

O primeiro passo do trabalho foi buscar indiacutecios da participaccedilatildeo do negro no povoado de

Caiccedilara O culto a Nossa Senhora do Rosaacuterio e a Satildeo Sebastiatildeo pode ser observados como

vestiacutegios da presenccedila do homem de cor na construccedilatildeo cenaacuterio religioso de Caiccedilara A doaccedilatildeo

da imagem de Nossa Senhora das Dores feita por uma Irmandade das Dores de Itabira-MG

para a igreja de Caiccedilara que se encontra num altar lateral da igreja pode ser analisados como

elementos que caracterizam uma irmandade ou ao menos a figura do negro nestes espaccedilos

O presente artigo nos faz enxergarmos como o autor visualiza a construccedilatildeo da Vila de

Caiccedilara partindo do seu lugar socioeconocircmico poliacutetico e cultural Isso tornasse evidente na

sua obra

Contudo a analise historiograacutefica do livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves nos

obriga a produzimos outros trabalhos que possa contrapor essa visatildeo positivista de fatos e

acontecimento que privilegia o branco como sendo o civilizado e o construtor da histoacuteria e

19

marginalizando a imagem do homem de cor como sendo bichos que estavam alheios a

qualquer coisa

ABSTRACT

The marginalization of the black throughout history is clearly observed in its various aspects

From this perspective we seek to verify that the Caiccedilara municipality was erected some

Brotherhood However we did not find the necessary documentation to prove However the

analysis of the book of local history of the county have allowed us to detect the authors

concern to untie colored mans contribution in caiccedilarense society This essay aims to

reconstruct this distorted idea that was created in the course of time with regard to blacks The

theoretical basis that sustains this article are the theoretical assumptions of Kings (1999)

Certeau (2002) and others Through traces and evidence which is the historians work search

the rubble what was hidden this work reexamines in an attempt to evinced importance of

black in several areas of the Caiccedilarense peoples culture whether in beliefs in musicality in

daily habits the existing diverse religiosity in this town

KEY - WORDS Black Marginalization Religiosity

20

REFEREcircNCIAS

ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do

seacuteculo XIX Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Joatildeo Pessoa PPGHUFPB 2006

ARAUacuteJO Epaminondas Tavares de Almanach da Paraiacuteba V PB 1913

BASTIDE Roger As Religiotildees africanas no Brasil Contribuiccedilatildeo a uma Sociologia das

Interpretaccedilotildees de Civilizaccedilotildees Satildeo Paulo Pioneira 1971

BOSCHI Caio Ceacutesar Os leigos e o poder irmandades leigas e poliacutetica colonizadora em

Minas Gerais Satildeo Paulo Aacutetica ColEnsaios 116 1986

COSTA Severino Ismael da Caiccedilara Caminhos de Almocreves Joatildeo Pessoa Ed

Micrograacutefica 1990

FREYRE Gilberto Casa-grande amp senzala formaccedilatildeo da famiacutelia brasileira sob o regime de

economia patriarcal Rio de Janeiro Nova Aguilar 2002

HOORNAERT Eduardo Formaccedilatildeo do Catolicismo Brasileiro 1550-1800 3ordf ediccedilatildeo

Petroacutepolis Vozes 1991

JUNIOR Joseacute Pereira de Souza Tradiccedilatildeo Devoccedilatildeo e Feacute os rituais festivos nas

irmandades religiosas na Parahyba do Norte ndash sec XIX IN Joseacute Pereira de Souza Junior

Ed Universitaacuteria ndash UFPB 2006

MEDEIROS Coriolano de (Dicionaacuterio Chorograacutefico da paraiacuteba 1914)

QUINTAtildeO Antonia Aparecida Laacute vem o meu parente as irmandades de pretos e pardos

no Rio de Janeiro e em Pernambuco (seacuteculo XVIII) Satildeo Paulo Annablume 2002

RUSSELL- Wood AJ R Escravos e Libertos no Brasil Colonial Traduccedilatildeo Maria Beatriz

Medina ndash Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2005

Epaminondas Tavares de Arauacutejo (V ldquoAlmanach da Paraiacuteba 1913rdquo)

httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250360ampsearch=||infogrE

1ficos-informaE7F5es-completas acessado em 09032015 agraves 2200hs

Page 12: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA CAMPUS III CENTRO DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13300/1... · 2017. 4. 6. · 2 PAULO RICARDO PORPINO DA CRUZ Memória construída

12

Foto Ricardo (2014)

Eacute evidente que os diversos escravos africanos desembarcados no Brasil contribuiriam

de forma significativa para a construccedilatildeo territorial e religiosa do paiacutes jaacute que participaram

diretamente da formaccedilatildeo da sociedade brasileira seja no trabalho nos engenhos de produccedilatildeo

de cana de accediluacutecar nas lavouras do cafeacute na extraccedilatildeo do ouro entre outros Ao desembarcarem

nessas terras trouxeram consigo seus costumes liacutenguas valores e crenccedilas Aqui encontraram

as mais diversas dificuldades de praticar sua cultura ou seja cultuar suas divindades e

costumes

O DESENVOLVIMENTO DAS PRAacuteTICAS RELIGIOSAS OFICIAIS NA CIDADE

DE CAICcedilARA-PB

A presenccedila do Catolicismo caiccedilarense estaacute inteiramente ligada ao seu periacuteodo de

fundaccedilatildeo que se deu por volta do ano de 1822 quando Manoel Soares da Costa instalou sua

fazenda e ergueu uma capela as margens do Rio Curimatauacute ldquoO povoamento da encantadora

Villa de Caiccedilara segundo informes de pessoas competentes teve logar no ano de 1822rdquo

Onde ldquoFoi edificada uma pequena capella sob a invocaccedilatildeo de NS do Rosaacuterio ()rdquo

ARAUacuteJO (1913)

Como aconteceu no Brasil e consequentemente na Paraiacuteba de uma forma em geral o

processo de povoamento oficial das regiotildees afastadas do litoral assim como o proacuteprio litoral

teve sua conquista e povoamento acompanhado da praacutetica religiosa oficial dos exploradores o

catolicismo A presenccedila da capela de Nossa Senhora do Rosaacuterio no povoamento que

futuramente seria denominado como municiacutepio de caiccedilara eacute um fato indiscutiacutevel pelos

historiadores e narradores de uma forma geral do Mito de fundaccedilatildeo da cidade ocorrendo

uma discussatildeo historiograacutefica agrave respeito do ano desta fundaccedilatildeo Epaminondas Tavares de

Arauacutejo afirma ter sido no ano de 1822 Entretanto Coriolano de Medeiros (em seu

ldquoDicionaacuterio Chorograacuteficordquo 1914) aponta o ano de 1841 como o da fundaccedilatildeo da Villa de

Caiccedilara

13

ldquoEm 1841 o terreno onde hoje eacute a sede do municiacutepio cobria-se ainda

cactos e bromeacutelias quando Manoel Soares da Costa Francisco da Costa

Gonccedilalves e Joseacute Vicente compraram a propriedade construiacuteram suas

vivendas e cercados de ramos ndash caiccedilaras ndash para abrigo do gado Depois

ergueram uma capella dedicada a NS do Rosaacuterio rdquo

Entretanto O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) aceita o uacuteltimo

como sendo o ano de fundaccedilatildeo Entre a populaccedilatildeo a informaccedilatildeo tida com maior aprovaccedilatildeo eacute

ano de 1822 Isto porque a sesmaria que Luiacutes Soares de Mendonccedila adquiriu natildeo foi no ano de

1822 como relatou Coriolano de Medeiros em seus estudos e sim no ano de 1788 registrada

sob nordm 891 por meio de documentos oficiais

Todavia a divergecircncia acerca do ano de fundaccedilatildeo ocorreu pelo fato de que a criaccedilatildeo da

feira ocorreu no ano de 1841 e o mesmo seria o marco do crescimento e da concentraccedilatildeo

urbana O que observamos em comum em ambas as citaccedilotildees eacute que o Catolicismo fecundava a

Villa de Caiccedilara desde sua fundaccedilatildeo Pois a construccedilatildeo da Capella eacute vista em todos os

registros sobre a origem deste povoado Os autores oficiais e tradicionais da histoacuteria de

fundaccedilatildeo da Villa de Caiccedilara discorrem ainda sobre a origem de sua denominaccedilatildeo segundo

Coriolano de Medeiros e Epaminondas Tavares o nome Caiccedilara proveacutem dos currais Fala

Epaminondas ldquoA denominaccedilatildeo de Caiccedilara proveacutem de um curral de pau-a-pique construiacutedo

por Manoel Soares nas proximidades de sua casardquo (p108)

O CATOLICISMO CAICcedilARENSE

De acordo com a visatildeo positivista e as fontes oficiais o iacutendio e o negro pouco

contribuiacuteram na formaccedilatildeo do espirito religioso do povo Caiccedilarense segundo Severino Ismael

da Costa em seu livro ldquoCaiccedilara Caminhos de Almocrevesrdquo (1990) Ainda de acordo com o

mesmo o imaginaacuterio da populaccedilatildeo local contribuiu de maneira bastante significativa para o

florescimento da religiatildeo Catoacutelica que veio a ser praticada na Villa de Caiccedilara

Nesta mesma perspectiva as fontes oficias da Igreja em pauta tentam nos mostrar que

a participaccedilatildeo do negro no acircmbito religioso teve pouco significado Os ritos as festas as

preces tudo era vinculado ao catolicismo No periacuteodo da posse da terra quando o branco

erguia sua morada edificava tambeacutem junto ou nas proximidades uma capela onde eram

celebrados os atos religiosos e realizadas as festas Destas eram as mais comuns O Natal

14

Ano Bom e Reis As juninas Santo Antocircnio Satildeo Joatildeo e Satildeo Pedro A de Santana no uacuteltimo

saacutebado de julho Ainda hoje entre o meio rural caiccedilarense os meses de junho e julho satildeo mais

conhecidos como o de Satildeo Joatildeo e de Santana Na semana santa mais precisamente a partir da

quarta-feira acontecia o recolhimento total ou seja preces jejum pouco trabalho e muito

cuidado em natildeo maltratar pessoas e animais O jejum era tatildeo rigoroso que se bebia apenas um

gole de aacutegua pela manhatilde e soacute a noite algum alimento Na quarta-feira chamada de trevas natildeo

se permitia varrer a casa nem tomar banho sob a pena de ldquoentrevarrdquo nas sedes das fazendas

rezava-se todos os saacutebados o ldquoOficio de Nossa Senhorardquo era acompanhado por todos os

moradores Nos domingos os fazendeiros todos bem vestidos mostravam seu prestigio ao ir agrave

missa com os seus familiares e agregados

MEcircS DE MAIO

Durante todo o mecircs de maio era rezado o terccedilo nas salas das casas grandes ou nas

capelas estes alternados por cacircnticos religiosos Ao termino deste evento acontecia a

tradicional queima das flores que haviam ornamentado os altares das capelas ou os jarros em

volta dos grandes oratoacuterios (tambeacutem chamados de santuaacuterios) de madeira repleto de imagens

de vaacuterios santos Vale ressaltar que geralmente era obrigaccedilatildeo da senhora da casa grande rezar

o terccedilo ou suas filhas Nas fazendas como nas vilas e povoados eram assim Todas as noites

era necessaacuterio a praacutetica de um ato religioso quase sempre um terccedilo ou um rosaacuterio de oraccedilotildees

O Catecismo era ensinado para as crianccedilas nas vilas povoados e nas fazendas

A CONSTRUCcedilAtildeO DA CAPELA

A Capela foi erguida nas proximidades da residecircncia de Manoel Soares da Costa sob

a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora do Rosaacuterio construiacuteda de taipa ou seja as paredes eram feitas

de barro calccedilados entre paus e cruzados por ripa e telhas

No livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves Severino Ismael da Costa descreve a

aacuterea destinada a capela

15

ldquoConstruiacuteda por trinta braccedilas de terras para cada lado para fazer

faces agraves despesas necessaacuterias confirma aquela intenccedilatildeo as casas

construiacutedas ou o que quer que se realizasse naquele periacutemetro

pagaria renda ou foro cabiacutevel agrave igrejardquo (Paacuteg 155)

A citaccedilatildeo acima nos faz entendermos que o fato da capela ter sido construiacuteda um

pouco afastada da casa grande revela a intenccedilatildeo que o fazendeiro tinha que no caso seria

desenvolver outras construccedilotildees ao seu redor

Alguns anos se passaram e o templo foi ampliado por Francisco Costa Gonccedilalves

Entre 1869 a 1872 pelo padre Herculano foi reconstruiacutedo aumentando sua aacuterea e levantadas

paredes de pedras A capela ficou majestosa Cerca de 15 metros de largura por uns 25 de

comprimento Paredes soacutelidas de pedras deram lugar a taipa com mais de metro de espessura

e oito a dez metros de altura Trecircs portas na frente e uma torre no lado direito (nascente) A

frente para o norte no iniacutecio do aclive da colina

No iniacutecio do seacuteculo XX o templo passou por nova reforma desta vez patrocinada por

Ascendina da Costa Frazatildeo que morava nas proximidades A nova reforma consistiu numa

das maiores ampliaccedilotildees jaacute recebidas Foram-lhe acrescentados os corredores laterais em todo

o seu comprimento o coro acrescentando uma torre do lado direito Nesta instalaram dois

sinos cujo bronze emitia lindos sons avisando os fieacuteis sobre a realizaccedilatildeo de atos religiosos

inclusive anunciando os falecimentos que ocorriam O tradicional dobre de finados para os

adultos o ldquorepiquerdquo ou seja uma serie de batidas sucessivas muito proacuteximas indicavam que

havia falecido uma crianccedila os chamados ldquoanjosrdquo e batidas mistas (dobre de finados e

repique) noticiavam o falecimento de jovens puacuteberes Essa reforma quase duplicou a aacuterea do

templo

Por ocasiatildeo desta reforma foram erguidos dois altares no fim da nave central e antes

da capela-mor agrave direita e agrave esquerda da arcada que a esta dava acesso Do lado esquerdo do

altar de Satildeo Sebastiatildeo (a imagem original foi posteriormente substituiacuteda por outra maior

doada por um fazendeiro local) No lado oposto a este altar se encontrava o altar de Nossa

Senhora da Dores cuja a imagem foi doada pelas senhoras das irmandade das Dores

O altar-mor bastante decorado em alto relevo com belas colunatas separando os trecircs

nichos tem no alto o nicho onde fica a imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus preciosa obra

de arte doada pelo Coronel Antocircnio Soares de Oliveira No centro o de Nossa Senhora do

Rosaacuterio

16

Nos anos de 1950 novas reformas foram introduzidas no templo demoliam-se os

altares de NS das Dores e Satildeo Sebastiatildeo cujas imagens foram transferidas para os altares

construiacutedos nas alas direita e a esquerda da capela-mor onde jaacute existia o da direita dedicado a

Santa Terezinha Outras reformas ainda foram realizadas como o revestimento do piso da

igreja com mosaicos Neste caso especificamente as obras foram feitas com recursos proacuteprios

provenientes da festa de NS do Rosaacuterio Vale lembrar que a partir desta uacuteltima empreitada a

igreja ganhou mais uma torre na fachada

A CHEGADA DA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DO ROSAacuteRIO

As reformas que aconteceram entre os anos 1869 a 1872 tinham o objetivo de receber

a nova imagem da padroeira encomendada em Portugal por Joaquim Joseacute fazendeiro desta

regiatildeo A mesma que ainda permanece hoje no nicho central do altar-mor A Santa chegou as

terras da Paraiacuteba no porto de Salema municiacutepio de Mamanguape Mais de 40 quilocircmetros

separavam ela de Caiccedilara O transporte teria que ser efetuado em carro de boi pois natildeo existia

outro meio transporte nessa localidade Poreacutem a dedicaccedilatildeo do povo foi tatildeo grande que os

fieacuteis saiacuteram de Caiccedilara a peacute e em procissatildeo para receber a imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio

A chegada em Caiccedilara deu-se no dia 6 de Janeiro dia festivo da Igreja Catoacutelica em

comemoraccedilatildeo agrave Santos Reis E como chegada da Santa tornou-se duplamente festivo para o

povo caiccedilarense Com consequecircncia deste fato nos dias atuais a festa para homenagear a

padroeira termina exatamente no dia 6 de Janeiro Tanto que a populaccedilatildeo passou a denominar

ldquoFesta de Nossa Senhora do Rosaacuteriordquo E de acordo com as pesquisas efetuadas natildeo conheccedilo

outro lugar onde a festividade ocorra no mecircs de Janeiro Pois no calendaacuterio da Igreja Catoacutelica

a mesma realiza-se no iniacutecio do mecircs de Outubro

Com a chegada da imagem da santa a vila de Caiccedilara o Padre Ibiapina sugeriu que o

nome da mesma passasse a se chamar Marianoacutepolis em homenagem a Nossa senhora do

Rosaacuterio poreacutem natildeo foi muito aceito pela sociedade da eacutepoca

A influecircncia da padroeira tambeacutem pode ser percebida nos dias atuais Pois aleacutem de

casas comerciais um hospital e maternidade recebeu seu nome assim como o primeiro bairro

17

da cidade onde foi edificado um monumento em sua homenagem Sem esquecer que a letra

do hino agrave Caiccedilara demostra a feacute depositada a santa

ldquoMarianoacutepolis eacute o nome que a feacute nos brindou para nossa alegria e que todos de joelho ou de peacute rendem

Graccedilas agrave Virgem Mariardquo

(Paacuteg 36)

A FESTA

Eacute um grandiosiacutessimo evento profano-religioso Nos dias que antecedem o 6 de Janeiro

realiza-se o novenaacuterio Soacute rezado Na noite do dia 5 eacute realizada a festa profana com barracas

e pavilhotildees fogos de artifiacutecios venda de produtos tiacutepicos da culinaacuteria local

Na festividade dedicada a Nossa Senhora do Rosaacuterio identificamos a figura

importantiacutessima que tinha os fazendeiros pois os mesmo com o intuito de mostrar seu poder

bancava as noites de festas A princiacutepio eram nove noites em cada uma delas um fazendeiro

diferente fica com a responsabilidade de organizar este evento

Atualmente a festa eacute precedida por um novenaacuterio onde cada comunidade Catoacutelica

local eacute responsaacutevel por uma noite de novena Sendo que nos uacuteltimos trecircs dias deste evento

acontece festas profanas em frente a Igreja Matriz com leilotildees de gados galinhas entre

outros

18

CONCLUSAtildeO

O presente trabalho buscou investigar se existiu uma irmandade de negros no municiacutepio de

Caiccedilara Entretanto as fontes documentais analisadas natildeo nos permitiram fazermos essa

afirmativa Poreacutem a partir desse momento direcionamos a pesquisa na analise do livro da

histoacuteria local do municiacutepio de Caiccedilara na perspectiva de se debruccedilar sobre indiacutecios e

vestiacutegios que nos permitam fazermos uma releitura da obra na tentativa de elucidarmos os

questionamentos pertinentes a nossa pesquisa

Durante a analise do Livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves percebemos que o autor

procura maneiras de desvincular a participaccedilatildeo do negro no cenaacuterio local Na tentativa de

proclamar o branco ou seja o colonizador como sendo o uacutenico agente na construccedilatildeo do

espaccedilo religioso deste povoado Na obra de Severino Ismael fica evidente a preocupaccedilatildeo do

mesmo em colocar o homem de cor a margem da sociedade local

Entretanto este ensaio procura incessantemente por vestiacutegios que nos possibilitem

enxergarmos a presenccedila de elementos africanos na construccedilatildeo do povoado de Caiccedilara na

tentativa de reescrever uma histoacuteria que nos mostrem que os negros foram responsaacuteveis tanto

na construccedilatildeo deste municiacutepio quanto pelo espaccedilo religioso local

O primeiro passo do trabalho foi buscar indiacutecios da participaccedilatildeo do negro no povoado de

Caiccedilara O culto a Nossa Senhora do Rosaacuterio e a Satildeo Sebastiatildeo pode ser observados como

vestiacutegios da presenccedila do homem de cor na construccedilatildeo cenaacuterio religioso de Caiccedilara A doaccedilatildeo

da imagem de Nossa Senhora das Dores feita por uma Irmandade das Dores de Itabira-MG

para a igreja de Caiccedilara que se encontra num altar lateral da igreja pode ser analisados como

elementos que caracterizam uma irmandade ou ao menos a figura do negro nestes espaccedilos

O presente artigo nos faz enxergarmos como o autor visualiza a construccedilatildeo da Vila de

Caiccedilara partindo do seu lugar socioeconocircmico poliacutetico e cultural Isso tornasse evidente na

sua obra

Contudo a analise historiograacutefica do livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves nos

obriga a produzimos outros trabalhos que possa contrapor essa visatildeo positivista de fatos e

acontecimento que privilegia o branco como sendo o civilizado e o construtor da histoacuteria e

19

marginalizando a imagem do homem de cor como sendo bichos que estavam alheios a

qualquer coisa

ABSTRACT

The marginalization of the black throughout history is clearly observed in its various aspects

From this perspective we seek to verify that the Caiccedilara municipality was erected some

Brotherhood However we did not find the necessary documentation to prove However the

analysis of the book of local history of the county have allowed us to detect the authors

concern to untie colored mans contribution in caiccedilarense society This essay aims to

reconstruct this distorted idea that was created in the course of time with regard to blacks The

theoretical basis that sustains this article are the theoretical assumptions of Kings (1999)

Certeau (2002) and others Through traces and evidence which is the historians work search

the rubble what was hidden this work reexamines in an attempt to evinced importance of

black in several areas of the Caiccedilarense peoples culture whether in beliefs in musicality in

daily habits the existing diverse religiosity in this town

KEY - WORDS Black Marginalization Religiosity

20

REFEREcircNCIAS

ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do

seacuteculo XIX Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Joatildeo Pessoa PPGHUFPB 2006

ARAUacuteJO Epaminondas Tavares de Almanach da Paraiacuteba V PB 1913

BASTIDE Roger As Religiotildees africanas no Brasil Contribuiccedilatildeo a uma Sociologia das

Interpretaccedilotildees de Civilizaccedilotildees Satildeo Paulo Pioneira 1971

BOSCHI Caio Ceacutesar Os leigos e o poder irmandades leigas e poliacutetica colonizadora em

Minas Gerais Satildeo Paulo Aacutetica ColEnsaios 116 1986

COSTA Severino Ismael da Caiccedilara Caminhos de Almocreves Joatildeo Pessoa Ed

Micrograacutefica 1990

FREYRE Gilberto Casa-grande amp senzala formaccedilatildeo da famiacutelia brasileira sob o regime de

economia patriarcal Rio de Janeiro Nova Aguilar 2002

HOORNAERT Eduardo Formaccedilatildeo do Catolicismo Brasileiro 1550-1800 3ordf ediccedilatildeo

Petroacutepolis Vozes 1991

JUNIOR Joseacute Pereira de Souza Tradiccedilatildeo Devoccedilatildeo e Feacute os rituais festivos nas

irmandades religiosas na Parahyba do Norte ndash sec XIX IN Joseacute Pereira de Souza Junior

Ed Universitaacuteria ndash UFPB 2006

MEDEIROS Coriolano de (Dicionaacuterio Chorograacutefico da paraiacuteba 1914)

QUINTAtildeO Antonia Aparecida Laacute vem o meu parente as irmandades de pretos e pardos

no Rio de Janeiro e em Pernambuco (seacuteculo XVIII) Satildeo Paulo Annablume 2002

RUSSELL- Wood AJ R Escravos e Libertos no Brasil Colonial Traduccedilatildeo Maria Beatriz

Medina ndash Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2005

Epaminondas Tavares de Arauacutejo (V ldquoAlmanach da Paraiacuteba 1913rdquo)

httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250360ampsearch=||infogrE

1ficos-informaE7F5es-completas acessado em 09032015 agraves 2200hs

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13

ldquoEm 1841 o terreno onde hoje eacute a sede do municiacutepio cobria-se ainda

cactos e bromeacutelias quando Manoel Soares da Costa Francisco da Costa

Gonccedilalves e Joseacute Vicente compraram a propriedade construiacuteram suas

vivendas e cercados de ramos ndash caiccedilaras ndash para abrigo do gado Depois

ergueram uma capella dedicada a NS do Rosaacuterio rdquo

Entretanto O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) aceita o uacuteltimo

como sendo o ano de fundaccedilatildeo Entre a populaccedilatildeo a informaccedilatildeo tida com maior aprovaccedilatildeo eacute

ano de 1822 Isto porque a sesmaria que Luiacutes Soares de Mendonccedila adquiriu natildeo foi no ano de

1822 como relatou Coriolano de Medeiros em seus estudos e sim no ano de 1788 registrada

sob nordm 891 por meio de documentos oficiais

Todavia a divergecircncia acerca do ano de fundaccedilatildeo ocorreu pelo fato de que a criaccedilatildeo da

feira ocorreu no ano de 1841 e o mesmo seria o marco do crescimento e da concentraccedilatildeo

urbana O que observamos em comum em ambas as citaccedilotildees eacute que o Catolicismo fecundava a

Villa de Caiccedilara desde sua fundaccedilatildeo Pois a construccedilatildeo da Capella eacute vista em todos os

registros sobre a origem deste povoado Os autores oficiais e tradicionais da histoacuteria de

fundaccedilatildeo da Villa de Caiccedilara discorrem ainda sobre a origem de sua denominaccedilatildeo segundo

Coriolano de Medeiros e Epaminondas Tavares o nome Caiccedilara proveacutem dos currais Fala

Epaminondas ldquoA denominaccedilatildeo de Caiccedilara proveacutem de um curral de pau-a-pique construiacutedo

por Manoel Soares nas proximidades de sua casardquo (p108)

O CATOLICISMO CAICcedilARENSE

De acordo com a visatildeo positivista e as fontes oficiais o iacutendio e o negro pouco

contribuiacuteram na formaccedilatildeo do espirito religioso do povo Caiccedilarense segundo Severino Ismael

da Costa em seu livro ldquoCaiccedilara Caminhos de Almocrevesrdquo (1990) Ainda de acordo com o

mesmo o imaginaacuterio da populaccedilatildeo local contribuiu de maneira bastante significativa para o

florescimento da religiatildeo Catoacutelica que veio a ser praticada na Villa de Caiccedilara

Nesta mesma perspectiva as fontes oficias da Igreja em pauta tentam nos mostrar que

a participaccedilatildeo do negro no acircmbito religioso teve pouco significado Os ritos as festas as

preces tudo era vinculado ao catolicismo No periacuteodo da posse da terra quando o branco

erguia sua morada edificava tambeacutem junto ou nas proximidades uma capela onde eram

celebrados os atos religiosos e realizadas as festas Destas eram as mais comuns O Natal

14

Ano Bom e Reis As juninas Santo Antocircnio Satildeo Joatildeo e Satildeo Pedro A de Santana no uacuteltimo

saacutebado de julho Ainda hoje entre o meio rural caiccedilarense os meses de junho e julho satildeo mais

conhecidos como o de Satildeo Joatildeo e de Santana Na semana santa mais precisamente a partir da

quarta-feira acontecia o recolhimento total ou seja preces jejum pouco trabalho e muito

cuidado em natildeo maltratar pessoas e animais O jejum era tatildeo rigoroso que se bebia apenas um

gole de aacutegua pela manhatilde e soacute a noite algum alimento Na quarta-feira chamada de trevas natildeo

se permitia varrer a casa nem tomar banho sob a pena de ldquoentrevarrdquo nas sedes das fazendas

rezava-se todos os saacutebados o ldquoOficio de Nossa Senhorardquo era acompanhado por todos os

moradores Nos domingos os fazendeiros todos bem vestidos mostravam seu prestigio ao ir agrave

missa com os seus familiares e agregados

MEcircS DE MAIO

Durante todo o mecircs de maio era rezado o terccedilo nas salas das casas grandes ou nas

capelas estes alternados por cacircnticos religiosos Ao termino deste evento acontecia a

tradicional queima das flores que haviam ornamentado os altares das capelas ou os jarros em

volta dos grandes oratoacuterios (tambeacutem chamados de santuaacuterios) de madeira repleto de imagens

de vaacuterios santos Vale ressaltar que geralmente era obrigaccedilatildeo da senhora da casa grande rezar

o terccedilo ou suas filhas Nas fazendas como nas vilas e povoados eram assim Todas as noites

era necessaacuterio a praacutetica de um ato religioso quase sempre um terccedilo ou um rosaacuterio de oraccedilotildees

O Catecismo era ensinado para as crianccedilas nas vilas povoados e nas fazendas

A CONSTRUCcedilAtildeO DA CAPELA

A Capela foi erguida nas proximidades da residecircncia de Manoel Soares da Costa sob

a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora do Rosaacuterio construiacuteda de taipa ou seja as paredes eram feitas

de barro calccedilados entre paus e cruzados por ripa e telhas

No livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves Severino Ismael da Costa descreve a

aacuterea destinada a capela

15

ldquoConstruiacuteda por trinta braccedilas de terras para cada lado para fazer

faces agraves despesas necessaacuterias confirma aquela intenccedilatildeo as casas

construiacutedas ou o que quer que se realizasse naquele periacutemetro

pagaria renda ou foro cabiacutevel agrave igrejardquo (Paacuteg 155)

A citaccedilatildeo acima nos faz entendermos que o fato da capela ter sido construiacuteda um

pouco afastada da casa grande revela a intenccedilatildeo que o fazendeiro tinha que no caso seria

desenvolver outras construccedilotildees ao seu redor

Alguns anos se passaram e o templo foi ampliado por Francisco Costa Gonccedilalves

Entre 1869 a 1872 pelo padre Herculano foi reconstruiacutedo aumentando sua aacuterea e levantadas

paredes de pedras A capela ficou majestosa Cerca de 15 metros de largura por uns 25 de

comprimento Paredes soacutelidas de pedras deram lugar a taipa com mais de metro de espessura

e oito a dez metros de altura Trecircs portas na frente e uma torre no lado direito (nascente) A

frente para o norte no iniacutecio do aclive da colina

No iniacutecio do seacuteculo XX o templo passou por nova reforma desta vez patrocinada por

Ascendina da Costa Frazatildeo que morava nas proximidades A nova reforma consistiu numa

das maiores ampliaccedilotildees jaacute recebidas Foram-lhe acrescentados os corredores laterais em todo

o seu comprimento o coro acrescentando uma torre do lado direito Nesta instalaram dois

sinos cujo bronze emitia lindos sons avisando os fieacuteis sobre a realizaccedilatildeo de atos religiosos

inclusive anunciando os falecimentos que ocorriam O tradicional dobre de finados para os

adultos o ldquorepiquerdquo ou seja uma serie de batidas sucessivas muito proacuteximas indicavam que

havia falecido uma crianccedila os chamados ldquoanjosrdquo e batidas mistas (dobre de finados e

repique) noticiavam o falecimento de jovens puacuteberes Essa reforma quase duplicou a aacuterea do

templo

Por ocasiatildeo desta reforma foram erguidos dois altares no fim da nave central e antes

da capela-mor agrave direita e agrave esquerda da arcada que a esta dava acesso Do lado esquerdo do

altar de Satildeo Sebastiatildeo (a imagem original foi posteriormente substituiacuteda por outra maior

doada por um fazendeiro local) No lado oposto a este altar se encontrava o altar de Nossa

Senhora da Dores cuja a imagem foi doada pelas senhoras das irmandade das Dores

O altar-mor bastante decorado em alto relevo com belas colunatas separando os trecircs

nichos tem no alto o nicho onde fica a imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus preciosa obra

de arte doada pelo Coronel Antocircnio Soares de Oliveira No centro o de Nossa Senhora do

Rosaacuterio

16

Nos anos de 1950 novas reformas foram introduzidas no templo demoliam-se os

altares de NS das Dores e Satildeo Sebastiatildeo cujas imagens foram transferidas para os altares

construiacutedos nas alas direita e a esquerda da capela-mor onde jaacute existia o da direita dedicado a

Santa Terezinha Outras reformas ainda foram realizadas como o revestimento do piso da

igreja com mosaicos Neste caso especificamente as obras foram feitas com recursos proacuteprios

provenientes da festa de NS do Rosaacuterio Vale lembrar que a partir desta uacuteltima empreitada a

igreja ganhou mais uma torre na fachada

A CHEGADA DA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DO ROSAacuteRIO

As reformas que aconteceram entre os anos 1869 a 1872 tinham o objetivo de receber

a nova imagem da padroeira encomendada em Portugal por Joaquim Joseacute fazendeiro desta

regiatildeo A mesma que ainda permanece hoje no nicho central do altar-mor A Santa chegou as

terras da Paraiacuteba no porto de Salema municiacutepio de Mamanguape Mais de 40 quilocircmetros

separavam ela de Caiccedilara O transporte teria que ser efetuado em carro de boi pois natildeo existia

outro meio transporte nessa localidade Poreacutem a dedicaccedilatildeo do povo foi tatildeo grande que os

fieacuteis saiacuteram de Caiccedilara a peacute e em procissatildeo para receber a imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio

A chegada em Caiccedilara deu-se no dia 6 de Janeiro dia festivo da Igreja Catoacutelica em

comemoraccedilatildeo agrave Santos Reis E como chegada da Santa tornou-se duplamente festivo para o

povo caiccedilarense Com consequecircncia deste fato nos dias atuais a festa para homenagear a

padroeira termina exatamente no dia 6 de Janeiro Tanto que a populaccedilatildeo passou a denominar

ldquoFesta de Nossa Senhora do Rosaacuteriordquo E de acordo com as pesquisas efetuadas natildeo conheccedilo

outro lugar onde a festividade ocorra no mecircs de Janeiro Pois no calendaacuterio da Igreja Catoacutelica

a mesma realiza-se no iniacutecio do mecircs de Outubro

Com a chegada da imagem da santa a vila de Caiccedilara o Padre Ibiapina sugeriu que o

nome da mesma passasse a se chamar Marianoacutepolis em homenagem a Nossa senhora do

Rosaacuterio poreacutem natildeo foi muito aceito pela sociedade da eacutepoca

A influecircncia da padroeira tambeacutem pode ser percebida nos dias atuais Pois aleacutem de

casas comerciais um hospital e maternidade recebeu seu nome assim como o primeiro bairro

17

da cidade onde foi edificado um monumento em sua homenagem Sem esquecer que a letra

do hino agrave Caiccedilara demostra a feacute depositada a santa

ldquoMarianoacutepolis eacute o nome que a feacute nos brindou para nossa alegria e que todos de joelho ou de peacute rendem

Graccedilas agrave Virgem Mariardquo

(Paacuteg 36)

A FESTA

Eacute um grandiosiacutessimo evento profano-religioso Nos dias que antecedem o 6 de Janeiro

realiza-se o novenaacuterio Soacute rezado Na noite do dia 5 eacute realizada a festa profana com barracas

e pavilhotildees fogos de artifiacutecios venda de produtos tiacutepicos da culinaacuteria local

Na festividade dedicada a Nossa Senhora do Rosaacuterio identificamos a figura

importantiacutessima que tinha os fazendeiros pois os mesmo com o intuito de mostrar seu poder

bancava as noites de festas A princiacutepio eram nove noites em cada uma delas um fazendeiro

diferente fica com a responsabilidade de organizar este evento

Atualmente a festa eacute precedida por um novenaacuterio onde cada comunidade Catoacutelica

local eacute responsaacutevel por uma noite de novena Sendo que nos uacuteltimos trecircs dias deste evento

acontece festas profanas em frente a Igreja Matriz com leilotildees de gados galinhas entre

outros

18

CONCLUSAtildeO

O presente trabalho buscou investigar se existiu uma irmandade de negros no municiacutepio de

Caiccedilara Entretanto as fontes documentais analisadas natildeo nos permitiram fazermos essa

afirmativa Poreacutem a partir desse momento direcionamos a pesquisa na analise do livro da

histoacuteria local do municiacutepio de Caiccedilara na perspectiva de se debruccedilar sobre indiacutecios e

vestiacutegios que nos permitam fazermos uma releitura da obra na tentativa de elucidarmos os

questionamentos pertinentes a nossa pesquisa

Durante a analise do Livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves percebemos que o autor

procura maneiras de desvincular a participaccedilatildeo do negro no cenaacuterio local Na tentativa de

proclamar o branco ou seja o colonizador como sendo o uacutenico agente na construccedilatildeo do

espaccedilo religioso deste povoado Na obra de Severino Ismael fica evidente a preocupaccedilatildeo do

mesmo em colocar o homem de cor a margem da sociedade local

Entretanto este ensaio procura incessantemente por vestiacutegios que nos possibilitem

enxergarmos a presenccedila de elementos africanos na construccedilatildeo do povoado de Caiccedilara na

tentativa de reescrever uma histoacuteria que nos mostrem que os negros foram responsaacuteveis tanto

na construccedilatildeo deste municiacutepio quanto pelo espaccedilo religioso local

O primeiro passo do trabalho foi buscar indiacutecios da participaccedilatildeo do negro no povoado de

Caiccedilara O culto a Nossa Senhora do Rosaacuterio e a Satildeo Sebastiatildeo pode ser observados como

vestiacutegios da presenccedila do homem de cor na construccedilatildeo cenaacuterio religioso de Caiccedilara A doaccedilatildeo

da imagem de Nossa Senhora das Dores feita por uma Irmandade das Dores de Itabira-MG

para a igreja de Caiccedilara que se encontra num altar lateral da igreja pode ser analisados como

elementos que caracterizam uma irmandade ou ao menos a figura do negro nestes espaccedilos

O presente artigo nos faz enxergarmos como o autor visualiza a construccedilatildeo da Vila de

Caiccedilara partindo do seu lugar socioeconocircmico poliacutetico e cultural Isso tornasse evidente na

sua obra

Contudo a analise historiograacutefica do livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves nos

obriga a produzimos outros trabalhos que possa contrapor essa visatildeo positivista de fatos e

acontecimento que privilegia o branco como sendo o civilizado e o construtor da histoacuteria e

19

marginalizando a imagem do homem de cor como sendo bichos que estavam alheios a

qualquer coisa

ABSTRACT

The marginalization of the black throughout history is clearly observed in its various aspects

From this perspective we seek to verify that the Caiccedilara municipality was erected some

Brotherhood However we did not find the necessary documentation to prove However the

analysis of the book of local history of the county have allowed us to detect the authors

concern to untie colored mans contribution in caiccedilarense society This essay aims to

reconstruct this distorted idea that was created in the course of time with regard to blacks The

theoretical basis that sustains this article are the theoretical assumptions of Kings (1999)

Certeau (2002) and others Through traces and evidence which is the historians work search

the rubble what was hidden this work reexamines in an attempt to evinced importance of

black in several areas of the Caiccedilarense peoples culture whether in beliefs in musicality in

daily habits the existing diverse religiosity in this town

KEY - WORDS Black Marginalization Religiosity

20

REFEREcircNCIAS

ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do

seacuteculo XIX Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Joatildeo Pessoa PPGHUFPB 2006

ARAUacuteJO Epaminondas Tavares de Almanach da Paraiacuteba V PB 1913

BASTIDE Roger As Religiotildees africanas no Brasil Contribuiccedilatildeo a uma Sociologia das

Interpretaccedilotildees de Civilizaccedilotildees Satildeo Paulo Pioneira 1971

BOSCHI Caio Ceacutesar Os leigos e o poder irmandades leigas e poliacutetica colonizadora em

Minas Gerais Satildeo Paulo Aacutetica ColEnsaios 116 1986

COSTA Severino Ismael da Caiccedilara Caminhos de Almocreves Joatildeo Pessoa Ed

Micrograacutefica 1990

FREYRE Gilberto Casa-grande amp senzala formaccedilatildeo da famiacutelia brasileira sob o regime de

economia patriarcal Rio de Janeiro Nova Aguilar 2002

HOORNAERT Eduardo Formaccedilatildeo do Catolicismo Brasileiro 1550-1800 3ordf ediccedilatildeo

Petroacutepolis Vozes 1991

JUNIOR Joseacute Pereira de Souza Tradiccedilatildeo Devoccedilatildeo e Feacute os rituais festivos nas

irmandades religiosas na Parahyba do Norte ndash sec XIX IN Joseacute Pereira de Souza Junior

Ed Universitaacuteria ndash UFPB 2006

MEDEIROS Coriolano de (Dicionaacuterio Chorograacutefico da paraiacuteba 1914)

QUINTAtildeO Antonia Aparecida Laacute vem o meu parente as irmandades de pretos e pardos

no Rio de Janeiro e em Pernambuco (seacuteculo XVIII) Satildeo Paulo Annablume 2002

RUSSELL- Wood AJ R Escravos e Libertos no Brasil Colonial Traduccedilatildeo Maria Beatriz

Medina ndash Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2005

Epaminondas Tavares de Arauacutejo (V ldquoAlmanach da Paraiacuteba 1913rdquo)

httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250360ampsearch=||infogrE

1ficos-informaE7F5es-completas acessado em 09032015 agraves 2200hs

Page 14: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA CAMPUS III CENTRO DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13300/1... · 2017. 4. 6. · 2 PAULO RICARDO PORPINO DA CRUZ Memória construída

14

Ano Bom e Reis As juninas Santo Antocircnio Satildeo Joatildeo e Satildeo Pedro A de Santana no uacuteltimo

saacutebado de julho Ainda hoje entre o meio rural caiccedilarense os meses de junho e julho satildeo mais

conhecidos como o de Satildeo Joatildeo e de Santana Na semana santa mais precisamente a partir da

quarta-feira acontecia o recolhimento total ou seja preces jejum pouco trabalho e muito

cuidado em natildeo maltratar pessoas e animais O jejum era tatildeo rigoroso que se bebia apenas um

gole de aacutegua pela manhatilde e soacute a noite algum alimento Na quarta-feira chamada de trevas natildeo

se permitia varrer a casa nem tomar banho sob a pena de ldquoentrevarrdquo nas sedes das fazendas

rezava-se todos os saacutebados o ldquoOficio de Nossa Senhorardquo era acompanhado por todos os

moradores Nos domingos os fazendeiros todos bem vestidos mostravam seu prestigio ao ir agrave

missa com os seus familiares e agregados

MEcircS DE MAIO

Durante todo o mecircs de maio era rezado o terccedilo nas salas das casas grandes ou nas

capelas estes alternados por cacircnticos religiosos Ao termino deste evento acontecia a

tradicional queima das flores que haviam ornamentado os altares das capelas ou os jarros em

volta dos grandes oratoacuterios (tambeacutem chamados de santuaacuterios) de madeira repleto de imagens

de vaacuterios santos Vale ressaltar que geralmente era obrigaccedilatildeo da senhora da casa grande rezar

o terccedilo ou suas filhas Nas fazendas como nas vilas e povoados eram assim Todas as noites

era necessaacuterio a praacutetica de um ato religioso quase sempre um terccedilo ou um rosaacuterio de oraccedilotildees

O Catecismo era ensinado para as crianccedilas nas vilas povoados e nas fazendas

A CONSTRUCcedilAtildeO DA CAPELA

A Capela foi erguida nas proximidades da residecircncia de Manoel Soares da Costa sob

a invocaccedilatildeo de Nossa Senhora do Rosaacuterio construiacuteda de taipa ou seja as paredes eram feitas

de barro calccedilados entre paus e cruzados por ripa e telhas

No livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves Severino Ismael da Costa descreve a

aacuterea destinada a capela

15

ldquoConstruiacuteda por trinta braccedilas de terras para cada lado para fazer

faces agraves despesas necessaacuterias confirma aquela intenccedilatildeo as casas

construiacutedas ou o que quer que se realizasse naquele periacutemetro

pagaria renda ou foro cabiacutevel agrave igrejardquo (Paacuteg 155)

A citaccedilatildeo acima nos faz entendermos que o fato da capela ter sido construiacuteda um

pouco afastada da casa grande revela a intenccedilatildeo que o fazendeiro tinha que no caso seria

desenvolver outras construccedilotildees ao seu redor

Alguns anos se passaram e o templo foi ampliado por Francisco Costa Gonccedilalves

Entre 1869 a 1872 pelo padre Herculano foi reconstruiacutedo aumentando sua aacuterea e levantadas

paredes de pedras A capela ficou majestosa Cerca de 15 metros de largura por uns 25 de

comprimento Paredes soacutelidas de pedras deram lugar a taipa com mais de metro de espessura

e oito a dez metros de altura Trecircs portas na frente e uma torre no lado direito (nascente) A

frente para o norte no iniacutecio do aclive da colina

No iniacutecio do seacuteculo XX o templo passou por nova reforma desta vez patrocinada por

Ascendina da Costa Frazatildeo que morava nas proximidades A nova reforma consistiu numa

das maiores ampliaccedilotildees jaacute recebidas Foram-lhe acrescentados os corredores laterais em todo

o seu comprimento o coro acrescentando uma torre do lado direito Nesta instalaram dois

sinos cujo bronze emitia lindos sons avisando os fieacuteis sobre a realizaccedilatildeo de atos religiosos

inclusive anunciando os falecimentos que ocorriam O tradicional dobre de finados para os

adultos o ldquorepiquerdquo ou seja uma serie de batidas sucessivas muito proacuteximas indicavam que

havia falecido uma crianccedila os chamados ldquoanjosrdquo e batidas mistas (dobre de finados e

repique) noticiavam o falecimento de jovens puacuteberes Essa reforma quase duplicou a aacuterea do

templo

Por ocasiatildeo desta reforma foram erguidos dois altares no fim da nave central e antes

da capela-mor agrave direita e agrave esquerda da arcada que a esta dava acesso Do lado esquerdo do

altar de Satildeo Sebastiatildeo (a imagem original foi posteriormente substituiacuteda por outra maior

doada por um fazendeiro local) No lado oposto a este altar se encontrava o altar de Nossa

Senhora da Dores cuja a imagem foi doada pelas senhoras das irmandade das Dores

O altar-mor bastante decorado em alto relevo com belas colunatas separando os trecircs

nichos tem no alto o nicho onde fica a imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus preciosa obra

de arte doada pelo Coronel Antocircnio Soares de Oliveira No centro o de Nossa Senhora do

Rosaacuterio

16

Nos anos de 1950 novas reformas foram introduzidas no templo demoliam-se os

altares de NS das Dores e Satildeo Sebastiatildeo cujas imagens foram transferidas para os altares

construiacutedos nas alas direita e a esquerda da capela-mor onde jaacute existia o da direita dedicado a

Santa Terezinha Outras reformas ainda foram realizadas como o revestimento do piso da

igreja com mosaicos Neste caso especificamente as obras foram feitas com recursos proacuteprios

provenientes da festa de NS do Rosaacuterio Vale lembrar que a partir desta uacuteltima empreitada a

igreja ganhou mais uma torre na fachada

A CHEGADA DA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DO ROSAacuteRIO

As reformas que aconteceram entre os anos 1869 a 1872 tinham o objetivo de receber

a nova imagem da padroeira encomendada em Portugal por Joaquim Joseacute fazendeiro desta

regiatildeo A mesma que ainda permanece hoje no nicho central do altar-mor A Santa chegou as

terras da Paraiacuteba no porto de Salema municiacutepio de Mamanguape Mais de 40 quilocircmetros

separavam ela de Caiccedilara O transporte teria que ser efetuado em carro de boi pois natildeo existia

outro meio transporte nessa localidade Poreacutem a dedicaccedilatildeo do povo foi tatildeo grande que os

fieacuteis saiacuteram de Caiccedilara a peacute e em procissatildeo para receber a imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio

A chegada em Caiccedilara deu-se no dia 6 de Janeiro dia festivo da Igreja Catoacutelica em

comemoraccedilatildeo agrave Santos Reis E como chegada da Santa tornou-se duplamente festivo para o

povo caiccedilarense Com consequecircncia deste fato nos dias atuais a festa para homenagear a

padroeira termina exatamente no dia 6 de Janeiro Tanto que a populaccedilatildeo passou a denominar

ldquoFesta de Nossa Senhora do Rosaacuteriordquo E de acordo com as pesquisas efetuadas natildeo conheccedilo

outro lugar onde a festividade ocorra no mecircs de Janeiro Pois no calendaacuterio da Igreja Catoacutelica

a mesma realiza-se no iniacutecio do mecircs de Outubro

Com a chegada da imagem da santa a vila de Caiccedilara o Padre Ibiapina sugeriu que o

nome da mesma passasse a se chamar Marianoacutepolis em homenagem a Nossa senhora do

Rosaacuterio poreacutem natildeo foi muito aceito pela sociedade da eacutepoca

A influecircncia da padroeira tambeacutem pode ser percebida nos dias atuais Pois aleacutem de

casas comerciais um hospital e maternidade recebeu seu nome assim como o primeiro bairro

17

da cidade onde foi edificado um monumento em sua homenagem Sem esquecer que a letra

do hino agrave Caiccedilara demostra a feacute depositada a santa

ldquoMarianoacutepolis eacute o nome que a feacute nos brindou para nossa alegria e que todos de joelho ou de peacute rendem

Graccedilas agrave Virgem Mariardquo

(Paacuteg 36)

A FESTA

Eacute um grandiosiacutessimo evento profano-religioso Nos dias que antecedem o 6 de Janeiro

realiza-se o novenaacuterio Soacute rezado Na noite do dia 5 eacute realizada a festa profana com barracas

e pavilhotildees fogos de artifiacutecios venda de produtos tiacutepicos da culinaacuteria local

Na festividade dedicada a Nossa Senhora do Rosaacuterio identificamos a figura

importantiacutessima que tinha os fazendeiros pois os mesmo com o intuito de mostrar seu poder

bancava as noites de festas A princiacutepio eram nove noites em cada uma delas um fazendeiro

diferente fica com a responsabilidade de organizar este evento

Atualmente a festa eacute precedida por um novenaacuterio onde cada comunidade Catoacutelica

local eacute responsaacutevel por uma noite de novena Sendo que nos uacuteltimos trecircs dias deste evento

acontece festas profanas em frente a Igreja Matriz com leilotildees de gados galinhas entre

outros

18

CONCLUSAtildeO

O presente trabalho buscou investigar se existiu uma irmandade de negros no municiacutepio de

Caiccedilara Entretanto as fontes documentais analisadas natildeo nos permitiram fazermos essa

afirmativa Poreacutem a partir desse momento direcionamos a pesquisa na analise do livro da

histoacuteria local do municiacutepio de Caiccedilara na perspectiva de se debruccedilar sobre indiacutecios e

vestiacutegios que nos permitam fazermos uma releitura da obra na tentativa de elucidarmos os

questionamentos pertinentes a nossa pesquisa

Durante a analise do Livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves percebemos que o autor

procura maneiras de desvincular a participaccedilatildeo do negro no cenaacuterio local Na tentativa de

proclamar o branco ou seja o colonizador como sendo o uacutenico agente na construccedilatildeo do

espaccedilo religioso deste povoado Na obra de Severino Ismael fica evidente a preocupaccedilatildeo do

mesmo em colocar o homem de cor a margem da sociedade local

Entretanto este ensaio procura incessantemente por vestiacutegios que nos possibilitem

enxergarmos a presenccedila de elementos africanos na construccedilatildeo do povoado de Caiccedilara na

tentativa de reescrever uma histoacuteria que nos mostrem que os negros foram responsaacuteveis tanto

na construccedilatildeo deste municiacutepio quanto pelo espaccedilo religioso local

O primeiro passo do trabalho foi buscar indiacutecios da participaccedilatildeo do negro no povoado de

Caiccedilara O culto a Nossa Senhora do Rosaacuterio e a Satildeo Sebastiatildeo pode ser observados como

vestiacutegios da presenccedila do homem de cor na construccedilatildeo cenaacuterio religioso de Caiccedilara A doaccedilatildeo

da imagem de Nossa Senhora das Dores feita por uma Irmandade das Dores de Itabira-MG

para a igreja de Caiccedilara que se encontra num altar lateral da igreja pode ser analisados como

elementos que caracterizam uma irmandade ou ao menos a figura do negro nestes espaccedilos

O presente artigo nos faz enxergarmos como o autor visualiza a construccedilatildeo da Vila de

Caiccedilara partindo do seu lugar socioeconocircmico poliacutetico e cultural Isso tornasse evidente na

sua obra

Contudo a analise historiograacutefica do livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves nos

obriga a produzimos outros trabalhos que possa contrapor essa visatildeo positivista de fatos e

acontecimento que privilegia o branco como sendo o civilizado e o construtor da histoacuteria e

19

marginalizando a imagem do homem de cor como sendo bichos que estavam alheios a

qualquer coisa

ABSTRACT

The marginalization of the black throughout history is clearly observed in its various aspects

From this perspective we seek to verify that the Caiccedilara municipality was erected some

Brotherhood However we did not find the necessary documentation to prove However the

analysis of the book of local history of the county have allowed us to detect the authors

concern to untie colored mans contribution in caiccedilarense society This essay aims to

reconstruct this distorted idea that was created in the course of time with regard to blacks The

theoretical basis that sustains this article are the theoretical assumptions of Kings (1999)

Certeau (2002) and others Through traces and evidence which is the historians work search

the rubble what was hidden this work reexamines in an attempt to evinced importance of

black in several areas of the Caiccedilarense peoples culture whether in beliefs in musicality in

daily habits the existing diverse religiosity in this town

KEY - WORDS Black Marginalization Religiosity

20

REFEREcircNCIAS

ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do

seacuteculo XIX Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Joatildeo Pessoa PPGHUFPB 2006

ARAUacuteJO Epaminondas Tavares de Almanach da Paraiacuteba V PB 1913

BASTIDE Roger As Religiotildees africanas no Brasil Contribuiccedilatildeo a uma Sociologia das

Interpretaccedilotildees de Civilizaccedilotildees Satildeo Paulo Pioneira 1971

BOSCHI Caio Ceacutesar Os leigos e o poder irmandades leigas e poliacutetica colonizadora em

Minas Gerais Satildeo Paulo Aacutetica ColEnsaios 116 1986

COSTA Severino Ismael da Caiccedilara Caminhos de Almocreves Joatildeo Pessoa Ed

Micrograacutefica 1990

FREYRE Gilberto Casa-grande amp senzala formaccedilatildeo da famiacutelia brasileira sob o regime de

economia patriarcal Rio de Janeiro Nova Aguilar 2002

HOORNAERT Eduardo Formaccedilatildeo do Catolicismo Brasileiro 1550-1800 3ordf ediccedilatildeo

Petroacutepolis Vozes 1991

JUNIOR Joseacute Pereira de Souza Tradiccedilatildeo Devoccedilatildeo e Feacute os rituais festivos nas

irmandades religiosas na Parahyba do Norte ndash sec XIX IN Joseacute Pereira de Souza Junior

Ed Universitaacuteria ndash UFPB 2006

MEDEIROS Coriolano de (Dicionaacuterio Chorograacutefico da paraiacuteba 1914)

QUINTAtildeO Antonia Aparecida Laacute vem o meu parente as irmandades de pretos e pardos

no Rio de Janeiro e em Pernambuco (seacuteculo XVIII) Satildeo Paulo Annablume 2002

RUSSELL- Wood AJ R Escravos e Libertos no Brasil Colonial Traduccedilatildeo Maria Beatriz

Medina ndash Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2005

Epaminondas Tavares de Arauacutejo (V ldquoAlmanach da Paraiacuteba 1913rdquo)

httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250360ampsearch=||infogrE

1ficos-informaE7F5es-completas acessado em 09032015 agraves 2200hs

Page 15: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA CAMPUS III CENTRO DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13300/1... · 2017. 4. 6. · 2 PAULO RICARDO PORPINO DA CRUZ Memória construída

15

ldquoConstruiacuteda por trinta braccedilas de terras para cada lado para fazer

faces agraves despesas necessaacuterias confirma aquela intenccedilatildeo as casas

construiacutedas ou o que quer que se realizasse naquele periacutemetro

pagaria renda ou foro cabiacutevel agrave igrejardquo (Paacuteg 155)

A citaccedilatildeo acima nos faz entendermos que o fato da capela ter sido construiacuteda um

pouco afastada da casa grande revela a intenccedilatildeo que o fazendeiro tinha que no caso seria

desenvolver outras construccedilotildees ao seu redor

Alguns anos se passaram e o templo foi ampliado por Francisco Costa Gonccedilalves

Entre 1869 a 1872 pelo padre Herculano foi reconstruiacutedo aumentando sua aacuterea e levantadas

paredes de pedras A capela ficou majestosa Cerca de 15 metros de largura por uns 25 de

comprimento Paredes soacutelidas de pedras deram lugar a taipa com mais de metro de espessura

e oito a dez metros de altura Trecircs portas na frente e uma torre no lado direito (nascente) A

frente para o norte no iniacutecio do aclive da colina

No iniacutecio do seacuteculo XX o templo passou por nova reforma desta vez patrocinada por

Ascendina da Costa Frazatildeo que morava nas proximidades A nova reforma consistiu numa

das maiores ampliaccedilotildees jaacute recebidas Foram-lhe acrescentados os corredores laterais em todo

o seu comprimento o coro acrescentando uma torre do lado direito Nesta instalaram dois

sinos cujo bronze emitia lindos sons avisando os fieacuteis sobre a realizaccedilatildeo de atos religiosos

inclusive anunciando os falecimentos que ocorriam O tradicional dobre de finados para os

adultos o ldquorepiquerdquo ou seja uma serie de batidas sucessivas muito proacuteximas indicavam que

havia falecido uma crianccedila os chamados ldquoanjosrdquo e batidas mistas (dobre de finados e

repique) noticiavam o falecimento de jovens puacuteberes Essa reforma quase duplicou a aacuterea do

templo

Por ocasiatildeo desta reforma foram erguidos dois altares no fim da nave central e antes

da capela-mor agrave direita e agrave esquerda da arcada que a esta dava acesso Do lado esquerdo do

altar de Satildeo Sebastiatildeo (a imagem original foi posteriormente substituiacuteda por outra maior

doada por um fazendeiro local) No lado oposto a este altar se encontrava o altar de Nossa

Senhora da Dores cuja a imagem foi doada pelas senhoras das irmandade das Dores

O altar-mor bastante decorado em alto relevo com belas colunatas separando os trecircs

nichos tem no alto o nicho onde fica a imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus preciosa obra

de arte doada pelo Coronel Antocircnio Soares de Oliveira No centro o de Nossa Senhora do

Rosaacuterio

16

Nos anos de 1950 novas reformas foram introduzidas no templo demoliam-se os

altares de NS das Dores e Satildeo Sebastiatildeo cujas imagens foram transferidas para os altares

construiacutedos nas alas direita e a esquerda da capela-mor onde jaacute existia o da direita dedicado a

Santa Terezinha Outras reformas ainda foram realizadas como o revestimento do piso da

igreja com mosaicos Neste caso especificamente as obras foram feitas com recursos proacuteprios

provenientes da festa de NS do Rosaacuterio Vale lembrar que a partir desta uacuteltima empreitada a

igreja ganhou mais uma torre na fachada

A CHEGADA DA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DO ROSAacuteRIO

As reformas que aconteceram entre os anos 1869 a 1872 tinham o objetivo de receber

a nova imagem da padroeira encomendada em Portugal por Joaquim Joseacute fazendeiro desta

regiatildeo A mesma que ainda permanece hoje no nicho central do altar-mor A Santa chegou as

terras da Paraiacuteba no porto de Salema municiacutepio de Mamanguape Mais de 40 quilocircmetros

separavam ela de Caiccedilara O transporte teria que ser efetuado em carro de boi pois natildeo existia

outro meio transporte nessa localidade Poreacutem a dedicaccedilatildeo do povo foi tatildeo grande que os

fieacuteis saiacuteram de Caiccedilara a peacute e em procissatildeo para receber a imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio

A chegada em Caiccedilara deu-se no dia 6 de Janeiro dia festivo da Igreja Catoacutelica em

comemoraccedilatildeo agrave Santos Reis E como chegada da Santa tornou-se duplamente festivo para o

povo caiccedilarense Com consequecircncia deste fato nos dias atuais a festa para homenagear a

padroeira termina exatamente no dia 6 de Janeiro Tanto que a populaccedilatildeo passou a denominar

ldquoFesta de Nossa Senhora do Rosaacuteriordquo E de acordo com as pesquisas efetuadas natildeo conheccedilo

outro lugar onde a festividade ocorra no mecircs de Janeiro Pois no calendaacuterio da Igreja Catoacutelica

a mesma realiza-se no iniacutecio do mecircs de Outubro

Com a chegada da imagem da santa a vila de Caiccedilara o Padre Ibiapina sugeriu que o

nome da mesma passasse a se chamar Marianoacutepolis em homenagem a Nossa senhora do

Rosaacuterio poreacutem natildeo foi muito aceito pela sociedade da eacutepoca

A influecircncia da padroeira tambeacutem pode ser percebida nos dias atuais Pois aleacutem de

casas comerciais um hospital e maternidade recebeu seu nome assim como o primeiro bairro

17

da cidade onde foi edificado um monumento em sua homenagem Sem esquecer que a letra

do hino agrave Caiccedilara demostra a feacute depositada a santa

ldquoMarianoacutepolis eacute o nome que a feacute nos brindou para nossa alegria e que todos de joelho ou de peacute rendem

Graccedilas agrave Virgem Mariardquo

(Paacuteg 36)

A FESTA

Eacute um grandiosiacutessimo evento profano-religioso Nos dias que antecedem o 6 de Janeiro

realiza-se o novenaacuterio Soacute rezado Na noite do dia 5 eacute realizada a festa profana com barracas

e pavilhotildees fogos de artifiacutecios venda de produtos tiacutepicos da culinaacuteria local

Na festividade dedicada a Nossa Senhora do Rosaacuterio identificamos a figura

importantiacutessima que tinha os fazendeiros pois os mesmo com o intuito de mostrar seu poder

bancava as noites de festas A princiacutepio eram nove noites em cada uma delas um fazendeiro

diferente fica com a responsabilidade de organizar este evento

Atualmente a festa eacute precedida por um novenaacuterio onde cada comunidade Catoacutelica

local eacute responsaacutevel por uma noite de novena Sendo que nos uacuteltimos trecircs dias deste evento

acontece festas profanas em frente a Igreja Matriz com leilotildees de gados galinhas entre

outros

18

CONCLUSAtildeO

O presente trabalho buscou investigar se existiu uma irmandade de negros no municiacutepio de

Caiccedilara Entretanto as fontes documentais analisadas natildeo nos permitiram fazermos essa

afirmativa Poreacutem a partir desse momento direcionamos a pesquisa na analise do livro da

histoacuteria local do municiacutepio de Caiccedilara na perspectiva de se debruccedilar sobre indiacutecios e

vestiacutegios que nos permitam fazermos uma releitura da obra na tentativa de elucidarmos os

questionamentos pertinentes a nossa pesquisa

Durante a analise do Livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves percebemos que o autor

procura maneiras de desvincular a participaccedilatildeo do negro no cenaacuterio local Na tentativa de

proclamar o branco ou seja o colonizador como sendo o uacutenico agente na construccedilatildeo do

espaccedilo religioso deste povoado Na obra de Severino Ismael fica evidente a preocupaccedilatildeo do

mesmo em colocar o homem de cor a margem da sociedade local

Entretanto este ensaio procura incessantemente por vestiacutegios que nos possibilitem

enxergarmos a presenccedila de elementos africanos na construccedilatildeo do povoado de Caiccedilara na

tentativa de reescrever uma histoacuteria que nos mostrem que os negros foram responsaacuteveis tanto

na construccedilatildeo deste municiacutepio quanto pelo espaccedilo religioso local

O primeiro passo do trabalho foi buscar indiacutecios da participaccedilatildeo do negro no povoado de

Caiccedilara O culto a Nossa Senhora do Rosaacuterio e a Satildeo Sebastiatildeo pode ser observados como

vestiacutegios da presenccedila do homem de cor na construccedilatildeo cenaacuterio religioso de Caiccedilara A doaccedilatildeo

da imagem de Nossa Senhora das Dores feita por uma Irmandade das Dores de Itabira-MG

para a igreja de Caiccedilara que se encontra num altar lateral da igreja pode ser analisados como

elementos que caracterizam uma irmandade ou ao menos a figura do negro nestes espaccedilos

O presente artigo nos faz enxergarmos como o autor visualiza a construccedilatildeo da Vila de

Caiccedilara partindo do seu lugar socioeconocircmico poliacutetico e cultural Isso tornasse evidente na

sua obra

Contudo a analise historiograacutefica do livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves nos

obriga a produzimos outros trabalhos que possa contrapor essa visatildeo positivista de fatos e

acontecimento que privilegia o branco como sendo o civilizado e o construtor da histoacuteria e

19

marginalizando a imagem do homem de cor como sendo bichos que estavam alheios a

qualquer coisa

ABSTRACT

The marginalization of the black throughout history is clearly observed in its various aspects

From this perspective we seek to verify that the Caiccedilara municipality was erected some

Brotherhood However we did not find the necessary documentation to prove However the

analysis of the book of local history of the county have allowed us to detect the authors

concern to untie colored mans contribution in caiccedilarense society This essay aims to

reconstruct this distorted idea that was created in the course of time with regard to blacks The

theoretical basis that sustains this article are the theoretical assumptions of Kings (1999)

Certeau (2002) and others Through traces and evidence which is the historians work search

the rubble what was hidden this work reexamines in an attempt to evinced importance of

black in several areas of the Caiccedilarense peoples culture whether in beliefs in musicality in

daily habits the existing diverse religiosity in this town

KEY - WORDS Black Marginalization Religiosity

20

REFEREcircNCIAS

ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do

seacuteculo XIX Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Joatildeo Pessoa PPGHUFPB 2006

ARAUacuteJO Epaminondas Tavares de Almanach da Paraiacuteba V PB 1913

BASTIDE Roger As Religiotildees africanas no Brasil Contribuiccedilatildeo a uma Sociologia das

Interpretaccedilotildees de Civilizaccedilotildees Satildeo Paulo Pioneira 1971

BOSCHI Caio Ceacutesar Os leigos e o poder irmandades leigas e poliacutetica colonizadora em

Minas Gerais Satildeo Paulo Aacutetica ColEnsaios 116 1986

COSTA Severino Ismael da Caiccedilara Caminhos de Almocreves Joatildeo Pessoa Ed

Micrograacutefica 1990

FREYRE Gilberto Casa-grande amp senzala formaccedilatildeo da famiacutelia brasileira sob o regime de

economia patriarcal Rio de Janeiro Nova Aguilar 2002

HOORNAERT Eduardo Formaccedilatildeo do Catolicismo Brasileiro 1550-1800 3ordf ediccedilatildeo

Petroacutepolis Vozes 1991

JUNIOR Joseacute Pereira de Souza Tradiccedilatildeo Devoccedilatildeo e Feacute os rituais festivos nas

irmandades religiosas na Parahyba do Norte ndash sec XIX IN Joseacute Pereira de Souza Junior

Ed Universitaacuteria ndash UFPB 2006

MEDEIROS Coriolano de (Dicionaacuterio Chorograacutefico da paraiacuteba 1914)

QUINTAtildeO Antonia Aparecida Laacute vem o meu parente as irmandades de pretos e pardos

no Rio de Janeiro e em Pernambuco (seacuteculo XVIII) Satildeo Paulo Annablume 2002

RUSSELL- Wood AJ R Escravos e Libertos no Brasil Colonial Traduccedilatildeo Maria Beatriz

Medina ndash Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2005

Epaminondas Tavares de Arauacutejo (V ldquoAlmanach da Paraiacuteba 1913rdquo)

httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250360ampsearch=||infogrE

1ficos-informaE7F5es-completas acessado em 09032015 agraves 2200hs

Page 16: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA CAMPUS III CENTRO DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13300/1... · 2017. 4. 6. · 2 PAULO RICARDO PORPINO DA CRUZ Memória construída

16

Nos anos de 1950 novas reformas foram introduzidas no templo demoliam-se os

altares de NS das Dores e Satildeo Sebastiatildeo cujas imagens foram transferidas para os altares

construiacutedos nas alas direita e a esquerda da capela-mor onde jaacute existia o da direita dedicado a

Santa Terezinha Outras reformas ainda foram realizadas como o revestimento do piso da

igreja com mosaicos Neste caso especificamente as obras foram feitas com recursos proacuteprios

provenientes da festa de NS do Rosaacuterio Vale lembrar que a partir desta uacuteltima empreitada a

igreja ganhou mais uma torre na fachada

A CHEGADA DA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DO ROSAacuteRIO

As reformas que aconteceram entre os anos 1869 a 1872 tinham o objetivo de receber

a nova imagem da padroeira encomendada em Portugal por Joaquim Joseacute fazendeiro desta

regiatildeo A mesma que ainda permanece hoje no nicho central do altar-mor A Santa chegou as

terras da Paraiacuteba no porto de Salema municiacutepio de Mamanguape Mais de 40 quilocircmetros

separavam ela de Caiccedilara O transporte teria que ser efetuado em carro de boi pois natildeo existia

outro meio transporte nessa localidade Poreacutem a dedicaccedilatildeo do povo foi tatildeo grande que os

fieacuteis saiacuteram de Caiccedilara a peacute e em procissatildeo para receber a imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio

A chegada em Caiccedilara deu-se no dia 6 de Janeiro dia festivo da Igreja Catoacutelica em

comemoraccedilatildeo agrave Santos Reis E como chegada da Santa tornou-se duplamente festivo para o

povo caiccedilarense Com consequecircncia deste fato nos dias atuais a festa para homenagear a

padroeira termina exatamente no dia 6 de Janeiro Tanto que a populaccedilatildeo passou a denominar

ldquoFesta de Nossa Senhora do Rosaacuteriordquo E de acordo com as pesquisas efetuadas natildeo conheccedilo

outro lugar onde a festividade ocorra no mecircs de Janeiro Pois no calendaacuterio da Igreja Catoacutelica

a mesma realiza-se no iniacutecio do mecircs de Outubro

Com a chegada da imagem da santa a vila de Caiccedilara o Padre Ibiapina sugeriu que o

nome da mesma passasse a se chamar Marianoacutepolis em homenagem a Nossa senhora do

Rosaacuterio poreacutem natildeo foi muito aceito pela sociedade da eacutepoca

A influecircncia da padroeira tambeacutem pode ser percebida nos dias atuais Pois aleacutem de

casas comerciais um hospital e maternidade recebeu seu nome assim como o primeiro bairro

17

da cidade onde foi edificado um monumento em sua homenagem Sem esquecer que a letra

do hino agrave Caiccedilara demostra a feacute depositada a santa

ldquoMarianoacutepolis eacute o nome que a feacute nos brindou para nossa alegria e que todos de joelho ou de peacute rendem

Graccedilas agrave Virgem Mariardquo

(Paacuteg 36)

A FESTA

Eacute um grandiosiacutessimo evento profano-religioso Nos dias que antecedem o 6 de Janeiro

realiza-se o novenaacuterio Soacute rezado Na noite do dia 5 eacute realizada a festa profana com barracas

e pavilhotildees fogos de artifiacutecios venda de produtos tiacutepicos da culinaacuteria local

Na festividade dedicada a Nossa Senhora do Rosaacuterio identificamos a figura

importantiacutessima que tinha os fazendeiros pois os mesmo com o intuito de mostrar seu poder

bancava as noites de festas A princiacutepio eram nove noites em cada uma delas um fazendeiro

diferente fica com a responsabilidade de organizar este evento

Atualmente a festa eacute precedida por um novenaacuterio onde cada comunidade Catoacutelica

local eacute responsaacutevel por uma noite de novena Sendo que nos uacuteltimos trecircs dias deste evento

acontece festas profanas em frente a Igreja Matriz com leilotildees de gados galinhas entre

outros

18

CONCLUSAtildeO

O presente trabalho buscou investigar se existiu uma irmandade de negros no municiacutepio de

Caiccedilara Entretanto as fontes documentais analisadas natildeo nos permitiram fazermos essa

afirmativa Poreacutem a partir desse momento direcionamos a pesquisa na analise do livro da

histoacuteria local do municiacutepio de Caiccedilara na perspectiva de se debruccedilar sobre indiacutecios e

vestiacutegios que nos permitam fazermos uma releitura da obra na tentativa de elucidarmos os

questionamentos pertinentes a nossa pesquisa

Durante a analise do Livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves percebemos que o autor

procura maneiras de desvincular a participaccedilatildeo do negro no cenaacuterio local Na tentativa de

proclamar o branco ou seja o colonizador como sendo o uacutenico agente na construccedilatildeo do

espaccedilo religioso deste povoado Na obra de Severino Ismael fica evidente a preocupaccedilatildeo do

mesmo em colocar o homem de cor a margem da sociedade local

Entretanto este ensaio procura incessantemente por vestiacutegios que nos possibilitem

enxergarmos a presenccedila de elementos africanos na construccedilatildeo do povoado de Caiccedilara na

tentativa de reescrever uma histoacuteria que nos mostrem que os negros foram responsaacuteveis tanto

na construccedilatildeo deste municiacutepio quanto pelo espaccedilo religioso local

O primeiro passo do trabalho foi buscar indiacutecios da participaccedilatildeo do negro no povoado de

Caiccedilara O culto a Nossa Senhora do Rosaacuterio e a Satildeo Sebastiatildeo pode ser observados como

vestiacutegios da presenccedila do homem de cor na construccedilatildeo cenaacuterio religioso de Caiccedilara A doaccedilatildeo

da imagem de Nossa Senhora das Dores feita por uma Irmandade das Dores de Itabira-MG

para a igreja de Caiccedilara que se encontra num altar lateral da igreja pode ser analisados como

elementos que caracterizam uma irmandade ou ao menos a figura do negro nestes espaccedilos

O presente artigo nos faz enxergarmos como o autor visualiza a construccedilatildeo da Vila de

Caiccedilara partindo do seu lugar socioeconocircmico poliacutetico e cultural Isso tornasse evidente na

sua obra

Contudo a analise historiograacutefica do livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves nos

obriga a produzimos outros trabalhos que possa contrapor essa visatildeo positivista de fatos e

acontecimento que privilegia o branco como sendo o civilizado e o construtor da histoacuteria e

19

marginalizando a imagem do homem de cor como sendo bichos que estavam alheios a

qualquer coisa

ABSTRACT

The marginalization of the black throughout history is clearly observed in its various aspects

From this perspective we seek to verify that the Caiccedilara municipality was erected some

Brotherhood However we did not find the necessary documentation to prove However the

analysis of the book of local history of the county have allowed us to detect the authors

concern to untie colored mans contribution in caiccedilarense society This essay aims to

reconstruct this distorted idea that was created in the course of time with regard to blacks The

theoretical basis that sustains this article are the theoretical assumptions of Kings (1999)

Certeau (2002) and others Through traces and evidence which is the historians work search

the rubble what was hidden this work reexamines in an attempt to evinced importance of

black in several areas of the Caiccedilarense peoples culture whether in beliefs in musicality in

daily habits the existing diverse religiosity in this town

KEY - WORDS Black Marginalization Religiosity

20

REFEREcircNCIAS

ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do

seacuteculo XIX Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Joatildeo Pessoa PPGHUFPB 2006

ARAUacuteJO Epaminondas Tavares de Almanach da Paraiacuteba V PB 1913

BASTIDE Roger As Religiotildees africanas no Brasil Contribuiccedilatildeo a uma Sociologia das

Interpretaccedilotildees de Civilizaccedilotildees Satildeo Paulo Pioneira 1971

BOSCHI Caio Ceacutesar Os leigos e o poder irmandades leigas e poliacutetica colonizadora em

Minas Gerais Satildeo Paulo Aacutetica ColEnsaios 116 1986

COSTA Severino Ismael da Caiccedilara Caminhos de Almocreves Joatildeo Pessoa Ed

Micrograacutefica 1990

FREYRE Gilberto Casa-grande amp senzala formaccedilatildeo da famiacutelia brasileira sob o regime de

economia patriarcal Rio de Janeiro Nova Aguilar 2002

HOORNAERT Eduardo Formaccedilatildeo do Catolicismo Brasileiro 1550-1800 3ordf ediccedilatildeo

Petroacutepolis Vozes 1991

JUNIOR Joseacute Pereira de Souza Tradiccedilatildeo Devoccedilatildeo e Feacute os rituais festivos nas

irmandades religiosas na Parahyba do Norte ndash sec XIX IN Joseacute Pereira de Souza Junior

Ed Universitaacuteria ndash UFPB 2006

MEDEIROS Coriolano de (Dicionaacuterio Chorograacutefico da paraiacuteba 1914)

QUINTAtildeO Antonia Aparecida Laacute vem o meu parente as irmandades de pretos e pardos

no Rio de Janeiro e em Pernambuco (seacuteculo XVIII) Satildeo Paulo Annablume 2002

RUSSELL- Wood AJ R Escravos e Libertos no Brasil Colonial Traduccedilatildeo Maria Beatriz

Medina ndash Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2005

Epaminondas Tavares de Arauacutejo (V ldquoAlmanach da Paraiacuteba 1913rdquo)

httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250360ampsearch=||infogrE

1ficos-informaE7F5es-completas acessado em 09032015 agraves 2200hs

Page 17: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA CAMPUS III CENTRO DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13300/1... · 2017. 4. 6. · 2 PAULO RICARDO PORPINO DA CRUZ Memória construída

17

da cidade onde foi edificado um monumento em sua homenagem Sem esquecer que a letra

do hino agrave Caiccedilara demostra a feacute depositada a santa

ldquoMarianoacutepolis eacute o nome que a feacute nos brindou para nossa alegria e que todos de joelho ou de peacute rendem

Graccedilas agrave Virgem Mariardquo

(Paacuteg 36)

A FESTA

Eacute um grandiosiacutessimo evento profano-religioso Nos dias que antecedem o 6 de Janeiro

realiza-se o novenaacuterio Soacute rezado Na noite do dia 5 eacute realizada a festa profana com barracas

e pavilhotildees fogos de artifiacutecios venda de produtos tiacutepicos da culinaacuteria local

Na festividade dedicada a Nossa Senhora do Rosaacuterio identificamos a figura

importantiacutessima que tinha os fazendeiros pois os mesmo com o intuito de mostrar seu poder

bancava as noites de festas A princiacutepio eram nove noites em cada uma delas um fazendeiro

diferente fica com a responsabilidade de organizar este evento

Atualmente a festa eacute precedida por um novenaacuterio onde cada comunidade Catoacutelica

local eacute responsaacutevel por uma noite de novena Sendo que nos uacuteltimos trecircs dias deste evento

acontece festas profanas em frente a Igreja Matriz com leilotildees de gados galinhas entre

outros

18

CONCLUSAtildeO

O presente trabalho buscou investigar se existiu uma irmandade de negros no municiacutepio de

Caiccedilara Entretanto as fontes documentais analisadas natildeo nos permitiram fazermos essa

afirmativa Poreacutem a partir desse momento direcionamos a pesquisa na analise do livro da

histoacuteria local do municiacutepio de Caiccedilara na perspectiva de se debruccedilar sobre indiacutecios e

vestiacutegios que nos permitam fazermos uma releitura da obra na tentativa de elucidarmos os

questionamentos pertinentes a nossa pesquisa

Durante a analise do Livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves percebemos que o autor

procura maneiras de desvincular a participaccedilatildeo do negro no cenaacuterio local Na tentativa de

proclamar o branco ou seja o colonizador como sendo o uacutenico agente na construccedilatildeo do

espaccedilo religioso deste povoado Na obra de Severino Ismael fica evidente a preocupaccedilatildeo do

mesmo em colocar o homem de cor a margem da sociedade local

Entretanto este ensaio procura incessantemente por vestiacutegios que nos possibilitem

enxergarmos a presenccedila de elementos africanos na construccedilatildeo do povoado de Caiccedilara na

tentativa de reescrever uma histoacuteria que nos mostrem que os negros foram responsaacuteveis tanto

na construccedilatildeo deste municiacutepio quanto pelo espaccedilo religioso local

O primeiro passo do trabalho foi buscar indiacutecios da participaccedilatildeo do negro no povoado de

Caiccedilara O culto a Nossa Senhora do Rosaacuterio e a Satildeo Sebastiatildeo pode ser observados como

vestiacutegios da presenccedila do homem de cor na construccedilatildeo cenaacuterio religioso de Caiccedilara A doaccedilatildeo

da imagem de Nossa Senhora das Dores feita por uma Irmandade das Dores de Itabira-MG

para a igreja de Caiccedilara que se encontra num altar lateral da igreja pode ser analisados como

elementos que caracterizam uma irmandade ou ao menos a figura do negro nestes espaccedilos

O presente artigo nos faz enxergarmos como o autor visualiza a construccedilatildeo da Vila de

Caiccedilara partindo do seu lugar socioeconocircmico poliacutetico e cultural Isso tornasse evidente na

sua obra

Contudo a analise historiograacutefica do livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves nos

obriga a produzimos outros trabalhos que possa contrapor essa visatildeo positivista de fatos e

acontecimento que privilegia o branco como sendo o civilizado e o construtor da histoacuteria e

19

marginalizando a imagem do homem de cor como sendo bichos que estavam alheios a

qualquer coisa

ABSTRACT

The marginalization of the black throughout history is clearly observed in its various aspects

From this perspective we seek to verify that the Caiccedilara municipality was erected some

Brotherhood However we did not find the necessary documentation to prove However the

analysis of the book of local history of the county have allowed us to detect the authors

concern to untie colored mans contribution in caiccedilarense society This essay aims to

reconstruct this distorted idea that was created in the course of time with regard to blacks The

theoretical basis that sustains this article are the theoretical assumptions of Kings (1999)

Certeau (2002) and others Through traces and evidence which is the historians work search

the rubble what was hidden this work reexamines in an attempt to evinced importance of

black in several areas of the Caiccedilarense peoples culture whether in beliefs in musicality in

daily habits the existing diverse religiosity in this town

KEY - WORDS Black Marginalization Religiosity

20

REFEREcircNCIAS

ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do

seacuteculo XIX Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Joatildeo Pessoa PPGHUFPB 2006

ARAUacuteJO Epaminondas Tavares de Almanach da Paraiacuteba V PB 1913

BASTIDE Roger As Religiotildees africanas no Brasil Contribuiccedilatildeo a uma Sociologia das

Interpretaccedilotildees de Civilizaccedilotildees Satildeo Paulo Pioneira 1971

BOSCHI Caio Ceacutesar Os leigos e o poder irmandades leigas e poliacutetica colonizadora em

Minas Gerais Satildeo Paulo Aacutetica ColEnsaios 116 1986

COSTA Severino Ismael da Caiccedilara Caminhos de Almocreves Joatildeo Pessoa Ed

Micrograacutefica 1990

FREYRE Gilberto Casa-grande amp senzala formaccedilatildeo da famiacutelia brasileira sob o regime de

economia patriarcal Rio de Janeiro Nova Aguilar 2002

HOORNAERT Eduardo Formaccedilatildeo do Catolicismo Brasileiro 1550-1800 3ordf ediccedilatildeo

Petroacutepolis Vozes 1991

JUNIOR Joseacute Pereira de Souza Tradiccedilatildeo Devoccedilatildeo e Feacute os rituais festivos nas

irmandades religiosas na Parahyba do Norte ndash sec XIX IN Joseacute Pereira de Souza Junior

Ed Universitaacuteria ndash UFPB 2006

MEDEIROS Coriolano de (Dicionaacuterio Chorograacutefico da paraiacuteba 1914)

QUINTAtildeO Antonia Aparecida Laacute vem o meu parente as irmandades de pretos e pardos

no Rio de Janeiro e em Pernambuco (seacuteculo XVIII) Satildeo Paulo Annablume 2002

RUSSELL- Wood AJ R Escravos e Libertos no Brasil Colonial Traduccedilatildeo Maria Beatriz

Medina ndash Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2005

Epaminondas Tavares de Arauacutejo (V ldquoAlmanach da Paraiacuteba 1913rdquo)

httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250360ampsearch=||infogrE

1ficos-informaE7F5es-completas acessado em 09032015 agraves 2200hs

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18

CONCLUSAtildeO

O presente trabalho buscou investigar se existiu uma irmandade de negros no municiacutepio de

Caiccedilara Entretanto as fontes documentais analisadas natildeo nos permitiram fazermos essa

afirmativa Poreacutem a partir desse momento direcionamos a pesquisa na analise do livro da

histoacuteria local do municiacutepio de Caiccedilara na perspectiva de se debruccedilar sobre indiacutecios e

vestiacutegios que nos permitam fazermos uma releitura da obra na tentativa de elucidarmos os

questionamentos pertinentes a nossa pesquisa

Durante a analise do Livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves percebemos que o autor

procura maneiras de desvincular a participaccedilatildeo do negro no cenaacuterio local Na tentativa de

proclamar o branco ou seja o colonizador como sendo o uacutenico agente na construccedilatildeo do

espaccedilo religioso deste povoado Na obra de Severino Ismael fica evidente a preocupaccedilatildeo do

mesmo em colocar o homem de cor a margem da sociedade local

Entretanto este ensaio procura incessantemente por vestiacutegios que nos possibilitem

enxergarmos a presenccedila de elementos africanos na construccedilatildeo do povoado de Caiccedilara na

tentativa de reescrever uma histoacuteria que nos mostrem que os negros foram responsaacuteveis tanto

na construccedilatildeo deste municiacutepio quanto pelo espaccedilo religioso local

O primeiro passo do trabalho foi buscar indiacutecios da participaccedilatildeo do negro no povoado de

Caiccedilara O culto a Nossa Senhora do Rosaacuterio e a Satildeo Sebastiatildeo pode ser observados como

vestiacutegios da presenccedila do homem de cor na construccedilatildeo cenaacuterio religioso de Caiccedilara A doaccedilatildeo

da imagem de Nossa Senhora das Dores feita por uma Irmandade das Dores de Itabira-MG

para a igreja de Caiccedilara que se encontra num altar lateral da igreja pode ser analisados como

elementos que caracterizam uma irmandade ou ao menos a figura do negro nestes espaccedilos

O presente artigo nos faz enxergarmos como o autor visualiza a construccedilatildeo da Vila de

Caiccedilara partindo do seu lugar socioeconocircmico poliacutetico e cultural Isso tornasse evidente na

sua obra

Contudo a analise historiograacutefica do livro Caiccedilara Caminhos de Almocreves nos

obriga a produzimos outros trabalhos que possa contrapor essa visatildeo positivista de fatos e

acontecimento que privilegia o branco como sendo o civilizado e o construtor da histoacuteria e

19

marginalizando a imagem do homem de cor como sendo bichos que estavam alheios a

qualquer coisa

ABSTRACT

The marginalization of the black throughout history is clearly observed in its various aspects

From this perspective we seek to verify that the Caiccedilara municipality was erected some

Brotherhood However we did not find the necessary documentation to prove However the

analysis of the book of local history of the county have allowed us to detect the authors

concern to untie colored mans contribution in caiccedilarense society This essay aims to

reconstruct this distorted idea that was created in the course of time with regard to blacks The

theoretical basis that sustains this article are the theoretical assumptions of Kings (1999)

Certeau (2002) and others Through traces and evidence which is the historians work search

the rubble what was hidden this work reexamines in an attempt to evinced importance of

black in several areas of the Caiccedilarense peoples culture whether in beliefs in musicality in

daily habits the existing diverse religiosity in this town

KEY - WORDS Black Marginalization Religiosity

20

REFEREcircNCIAS

ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do

seacuteculo XIX Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Joatildeo Pessoa PPGHUFPB 2006

ARAUacuteJO Epaminondas Tavares de Almanach da Paraiacuteba V PB 1913

BASTIDE Roger As Religiotildees africanas no Brasil Contribuiccedilatildeo a uma Sociologia das

Interpretaccedilotildees de Civilizaccedilotildees Satildeo Paulo Pioneira 1971

BOSCHI Caio Ceacutesar Os leigos e o poder irmandades leigas e poliacutetica colonizadora em

Minas Gerais Satildeo Paulo Aacutetica ColEnsaios 116 1986

COSTA Severino Ismael da Caiccedilara Caminhos de Almocreves Joatildeo Pessoa Ed

Micrograacutefica 1990

FREYRE Gilberto Casa-grande amp senzala formaccedilatildeo da famiacutelia brasileira sob o regime de

economia patriarcal Rio de Janeiro Nova Aguilar 2002

HOORNAERT Eduardo Formaccedilatildeo do Catolicismo Brasileiro 1550-1800 3ordf ediccedilatildeo

Petroacutepolis Vozes 1991

JUNIOR Joseacute Pereira de Souza Tradiccedilatildeo Devoccedilatildeo e Feacute os rituais festivos nas

irmandades religiosas na Parahyba do Norte ndash sec XIX IN Joseacute Pereira de Souza Junior

Ed Universitaacuteria ndash UFPB 2006

MEDEIROS Coriolano de (Dicionaacuterio Chorograacutefico da paraiacuteba 1914)

QUINTAtildeO Antonia Aparecida Laacute vem o meu parente as irmandades de pretos e pardos

no Rio de Janeiro e em Pernambuco (seacuteculo XVIII) Satildeo Paulo Annablume 2002

RUSSELL- Wood AJ R Escravos e Libertos no Brasil Colonial Traduccedilatildeo Maria Beatriz

Medina ndash Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2005

Epaminondas Tavares de Arauacutejo (V ldquoAlmanach da Paraiacuteba 1913rdquo)

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marginalizando a imagem do homem de cor como sendo bichos que estavam alheios a

qualquer coisa

ABSTRACT

The marginalization of the black throughout history is clearly observed in its various aspects

From this perspective we seek to verify that the Caiccedilara municipality was erected some

Brotherhood However we did not find the necessary documentation to prove However the

analysis of the book of local history of the county have allowed us to detect the authors

concern to untie colored mans contribution in caiccedilarense society This essay aims to

reconstruct this distorted idea that was created in the course of time with regard to blacks The

theoretical basis that sustains this article are the theoretical assumptions of Kings (1999)

Certeau (2002) and others Through traces and evidence which is the historians work search

the rubble what was hidden this work reexamines in an attempt to evinced importance of

black in several areas of the Caiccedilarense peoples culture whether in beliefs in musicality in

daily habits the existing diverse religiosity in this town

KEY - WORDS Black Marginalization Religiosity

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REFEREcircNCIAS

ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do

seacuteculo XIX Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Joatildeo Pessoa PPGHUFPB 2006

ARAUacuteJO Epaminondas Tavares de Almanach da Paraiacuteba V PB 1913

BASTIDE Roger As Religiotildees africanas no Brasil Contribuiccedilatildeo a uma Sociologia das

Interpretaccedilotildees de Civilizaccedilotildees Satildeo Paulo Pioneira 1971

BOSCHI Caio Ceacutesar Os leigos e o poder irmandades leigas e poliacutetica colonizadora em

Minas Gerais Satildeo Paulo Aacutetica ColEnsaios 116 1986

COSTA Severino Ismael da Caiccedilara Caminhos de Almocreves Joatildeo Pessoa Ed

Micrograacutefica 1990

FREYRE Gilberto Casa-grande amp senzala formaccedilatildeo da famiacutelia brasileira sob o regime de

economia patriarcal Rio de Janeiro Nova Aguilar 2002

HOORNAERT Eduardo Formaccedilatildeo do Catolicismo Brasileiro 1550-1800 3ordf ediccedilatildeo

Petroacutepolis Vozes 1991

JUNIOR Joseacute Pereira de Souza Tradiccedilatildeo Devoccedilatildeo e Feacute os rituais festivos nas

irmandades religiosas na Parahyba do Norte ndash sec XIX IN Joseacute Pereira de Souza Junior

Ed Universitaacuteria ndash UFPB 2006

MEDEIROS Coriolano de (Dicionaacuterio Chorograacutefico da paraiacuteba 1914)

QUINTAtildeO Antonia Aparecida Laacute vem o meu parente as irmandades de pretos e pardos

no Rio de Janeiro e em Pernambuco (seacuteculo XVIII) Satildeo Paulo Annablume 2002

RUSSELL- Wood AJ R Escravos e Libertos no Brasil Colonial Traduccedilatildeo Maria Beatriz

Medina ndash Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2005

Epaminondas Tavares de Arauacutejo (V ldquoAlmanach da Paraiacuteba 1913rdquo)

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1ficos-informaE7F5es-completas acessado em 09032015 agraves 2200hs

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REFEREcircNCIAS

ALVES Naiara Ferraz Bandeira Irmatildeos de cor e de feacute irmandades negras na Parahyba do

seacuteculo XIX Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Joatildeo Pessoa PPGHUFPB 2006

ARAUacuteJO Epaminondas Tavares de Almanach da Paraiacuteba V PB 1913

BASTIDE Roger As Religiotildees africanas no Brasil Contribuiccedilatildeo a uma Sociologia das

Interpretaccedilotildees de Civilizaccedilotildees Satildeo Paulo Pioneira 1971

BOSCHI Caio Ceacutesar Os leigos e o poder irmandades leigas e poliacutetica colonizadora em

Minas Gerais Satildeo Paulo Aacutetica ColEnsaios 116 1986

COSTA Severino Ismael da Caiccedilara Caminhos de Almocreves Joatildeo Pessoa Ed

Micrograacutefica 1990

FREYRE Gilberto Casa-grande amp senzala formaccedilatildeo da famiacutelia brasileira sob o regime de

economia patriarcal Rio de Janeiro Nova Aguilar 2002

HOORNAERT Eduardo Formaccedilatildeo do Catolicismo Brasileiro 1550-1800 3ordf ediccedilatildeo

Petroacutepolis Vozes 1991

JUNIOR Joseacute Pereira de Souza Tradiccedilatildeo Devoccedilatildeo e Feacute os rituais festivos nas

irmandades religiosas na Parahyba do Norte ndash sec XIX IN Joseacute Pereira de Souza Junior

Ed Universitaacuteria ndash UFPB 2006

MEDEIROS Coriolano de (Dicionaacuterio Chorograacutefico da paraiacuteba 1914)

QUINTAtildeO Antonia Aparecida Laacute vem o meu parente as irmandades de pretos e pardos

no Rio de Janeiro e em Pernambuco (seacuteculo XVIII) Satildeo Paulo Annablume 2002

RUSSELL- Wood AJ R Escravos e Libertos no Brasil Colonial Traduccedilatildeo Maria Beatriz

Medina ndash Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2005

Epaminondas Tavares de Arauacutejo (V ldquoAlmanach da Paraiacuteba 1913rdquo)

httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=250360ampsearch=||infogrE

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