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Universidade Estadual de Londrina
PAULA CHAGAS FRANCIS
O PROGRAMA NACIONAL DE FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA
FAMILIAR (PRONAF): O ESTUDO DE CASO DO ASSENTAMENTO RURAL DORCELINA
FOLADOR (ARAPONGAS-PR.)
LONDRINA – PARANÁ
2005
1
PAULA CHAGAS FRANCIS
O PROGRAMA NACIONAL DE FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA
FAMILIAR (PRONAF): O ESTUDO DE CASO DO ASSENTAMENTO RURAL DORCELINA
FOLADOR (ARAPONGAS-PR.)
Monografia apresentada ao Curso de Graduação, em Geografia, da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel. Orientadora: Prof. Dra. Ruth Youko Tsukamoto
Londrina - Paraná
2005
2
PAULA CHAGAS FRANCIS
O PROGRAMA NACIONAL DE FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA
FAMILIAR (PRONAF): O ESTUDO DE CASO DO ASSENTAMENTO RURAL DORCELINA
FOLADOR (ARAPONGAS-PR.)
Monografia apresentada ao Curso de Graduação, em Geografia, da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel.
COMISSÃO EXAMINADORA
Prof. Dra. Alice Yatiyo Asari Universidade Estadual de Londrina
_________________________________ Prof. Dra. Jeani Delgado Paschoal Moura
Universidade Estadual de Londrina
_________________________________ Prof. Dra. Ruth Youko Tsukamoto
Universidade Estadual de Londrina
Londrina, ____de________________de 2005
4
AGRADECIMENTOS A Prof. Dra. Ruth Youko Tsukamoto, por sua competência e dedicação para comigo durante estes anos que trabalhamos juntas. Ao Programa PET/Geografia/MEC-Sesu, representado pela prof. Dra. Alice Yatiyo Asari, pela contribuição em minha formação acadêmica. Aos meus amigos do PET, pelos anos de convivência e trabalhos em conjunto durante todos estes anos. Aos “companheiros” do Dorcelina Folador (Arapongas- PR.), sem os quais não seria possível a realização deste trabalho. Aos amigos, pela paciência e companheirismo, nos momentos em que mais deles necessitei.
5
FRANCIS, Paula Chagas. O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF): O estudo de caso do Assentamento Rural Dorcelina Folador (Arapongas- PR.). 2005. 138 f. Monografia (apresentada ao Curso de Graduação em Geografia) – Universidade Estadual de Londrina.
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo analisar o Programa Nacional de Fortalecimento da
Agricultura Familiar (PRONAF) para os assentados rurais do Dorcelina Folador
(Arapongas – PR.). Será analisado o perfil do assentado que recorre ao PRONAF e
para quais finalidades este financiamento é feito, uma vez que anterior ao PRONAF
havia o PROCERA, criado especialmente para atender aos assentados rurais. Serão
apresentadas as dificuldades na obtenção e pagamento deste financiamento e as
perspectivas de pagá-lo ou não, para deste modo, verificar os reflexos na produção
do território dos assentados. Os resultados desta pesquisa foram obtidos no trabalho
de campo realizado nos dias 10/10/05 e 11/10/05, aplicando-se questionários a 20
assentados; pois já havia 81 questionários disponíveis de 2004 aplicados pelo grupo
PET/Geografia. Esta pesquisa tem grande importância, pois o PRONAF se aplicado
de modo a atender as particularidades dos assentados rurais tenderá a dinamizar a
agricultura.
Palavras-chave: PRONAF; assentados rurais; dificuldades.
6
FRANCIS, Paula Chagas. Le Programme National de le Affermissement de la Agriculture Familier (PRONAF): Le étude du événement du Enregistrement Rural Dorcelina Folador (Arapongas- PR.). 2005. 138 f. La monographie (a été présentée au Cours de la graduation en Géographie) – à l’ Université de l’ état de Londrina.
RESUMÉ
Ce travaille a comme le but analyser le programme national de le Affermissement de
la agriculture Familier (le PRONAF) pour les assis rural du Dorcelina Folador
(Arapongas – PR.). Sera analysé le profil du assis qui fait au PRONAF et pour quels
las finalités ce lui - est fait, effet antérieur au PRONAF il y avait le PROCERA, a été
créé spécialment pour remarquer au assis rural. Sera présentées las difficultés pour
obtenir et pour payer de ce-lui e las perspectives du payement ou non, pour ansi
vérifier le réflèchissement à la production du territoire. Les résultats de cette
recherche sont du travaille de le campagne a été réalisé à les jours 10/10/05 et
11/10/05, ou se a été appliqué beaucoup de questions pour 20 assis, car le groupe
PET/ Géographie il y de jà avait 81 de les questions du année 2004. Cette recherche
a une grande but, car le PRONAF se il a été appliquée pour remarquer las
particularités de le assis rural il sera aidé beaucoup pour la agriculture.
Les Mots-clefs – PRONAF, assis rural, difficultés.
7
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Mapa do Brasil: Vítimas fatais de conflitos ocorridos no campo 1985-1996..........................................................................................................23
Figura 2 – Mapa de localização do município de Arapongas (PR.)...........................55 Figura 3 – Organograma............................................................................................62 Figura 4 – Croqui do Assentamento Dorcelina Folador..........................................63 a Figura 5 - Foto da visão parcial do assentamento....................................................65 Figura 6 - Foto do pivô Central presente no assentamento.......................................65 Figura 7 – Organização Interna do Assentamento Rural........................................66 a Figura 8 - Gráfico da Produção Agrícola....................................................................68 Figura 9 - Foto de uma propriedade que cultiva produtos orgânicos.........................70 Figura 10 – Gráfico: Locais de Comercialização........................................................71 Figura 11 – Gráfico: Formas de Comercialização......................................................72 Figura 12 – Foto: interior do barracão da criação do bicho-da-seda..........................74 Figura 13 - Foto de larvas fornecidas pela COCAMAR para a criação do bicho-da-
seda..........................................................................................................75
Figura 14 – Gráfico da Renda Familiar......................................................................80
Figura 15 - Foto do cultivo de café orgânico..............................................................89
Figura 16 - Foto: Exemplo de cultivares de uma propriedade...................................90
Figura 17 – Foto: Início de produção de sementes de eucaliptos..............................90 Figura 18 - Foto: Exemplo de casa do assentamento.............................................102
Figura 19 – Foto: Exemplo de casa construída com o recurso do PROCERA
habitação............................................................................................103 Figura 20 - Foto: Barracão financiado pela COCAMAR...........................................105
8
LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Proporção do número de Área dos Estabelecimentos, por grupo de Área
total – Paraná – 1970/1995......................................................................55 Tabela 2 – Ocupação do solo referente à safra 2003/2004.......................................57 Tabela 3 – Tipos de culturas referentes à safra 2003/2004.......................................57 Tabela 4 – tipos de Sistema de Cultivo de Café........................................................59 Tabela 5 – Atividade Criatória de Arapongas (2004).................................................59 Tabela 6 – Maquinário agrícola..................................................................................61 Tabela 7 – Grau de Satisfação com o preço de mercado..........................................72 Tabela 8 – Atividade Exercida....................................................................................77 Tabela 9 – Utilização de Insumos Agrícolas (%)........................................................83 Tabela 10 – Implementos Agrícolas utilizados no local (%).......................................83 Tabela 11 – Intenção de cultivar algo diferente..........................................................88 Tabela 12 – Intenção de criar algo diferente..............................................................88 Tabela 13 – Créditos Rurais destinados aos assentados..........................................91 Tabela 14 – Tempo de Residência no local...............................................................93 Tabela 15 – Auxílios fornecidos aos assentados.......................................................94 Tabela 16 – Dificuldades enfrentadas ao chegar no local..........................................95 Tabela 17 – Crédito de Fomento (valores registrados)..............................................99 Tabela 18 – Total de Bens Possuídos pelas Famílias Assentadas..........................106 Tabela 19 – Dificuldades no desenvolvimento da lavoura.......................................110 Tabela 20 – Assentados que solicitaram PRONAF A ou PRONAF A/C..................115 Tabela 21 – Perspectivas de Pagamento do PRONAF............................................117 Tabela 22 – Realização do PRONAF A/C para safra 2005/2006.............................119 Tabela 23 – Opinião sobre o PROCERA e o PRONAF...........................................120 Tabela 24 – Motivos da Satisfação..........................................................................122
9
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Social BR – Rodovia Federal CEASA – Centrais de Abastecimento S.A COCAMAR – Cooperativa Agroindustrial Maringá CONTAG – Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura CPT – Comissão Pastoral da Terra DAP – Declaração de Aptidão ao PRONAF
EMATER – Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural IAPAR – Instituto Agronômico do Paraná IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária MIRAD – Ministério da Reforma Agrária MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra PET – Programa de Educação Tutorial PNRA – Plano Nacional de Reforma Agrária PROAGRO – Programa Nacional de Garantia da Atividade Agropecuária PROCERA – Programa de Crédito Especial para a Reforma Agrária PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar PT – Partido dos Trabalhadores SNCR – Sistema Nacional de Crédito Rural UEL – Universidade Estadual de Londrina
UDR – União Democrática Ruralista
10
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................................................12
1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A REFORMA AGRÁRIA E A LUTA DO MST............15
1.1 A QUESTÃO FUNDIÁRIA NO BRASIL...........................................................................15
1.2 O MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA........................................22
1.3.O MST E A PROPOSTA DE REFORMA AGRÁRIA...........................................................26
1.4 A CONSOLIDAÇÃO DE UMA LUTA: OS ASSENTAMENTOS RURAIS...................................28
2 AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL: OS PROGRAMAS DE CRÉDITOS PARA
ASSENTAMENTOS RURAIS ....................................................................................30
2.1 A GÊNESE DO SISTEMA NACIONAL DE CRÉDITO RURAL (SNCR)................................32
2.2 OS CRÉDITOS PARA OS ASSENTAMENTOS RURAIS: DO PROCERA AO PRONAF......37
3 O MUNICÍPIO DE ARAPONGAS E O ASSENTAMENTO RURAL DORCELINA
FOLADOR (ARAPONGAS-PR.).................................................................................54
3.1 O QUADRO AGRÁRIO DE ARAPONGAS......................................................................54
3.2 O ASSENTAMENTO RURAL DORCELINA FOLADOR: DA LUTA À CONQUISTA DA TERRA....63
4 QUADRO ATUAL DO ASSENTAMENTO DORCELINA FOLADOR.......................67
4.1 A PRODUÇÃO AGRÍCOLA.........................................................................................67
4.2 O NÍVEL TECNOLÓGICO DO ASSENTAMENTO.............................................................81
4.3 A ASSISTÊNCIA TÉCNICA FORNECIDA AOS ASSENTADOS............................................85
5 DO PROCERA AO PRONAF: UMA ANÁLISE DO ASSENTAMENTO DORCELINA
FOLADOR..................................................................................................................91
5.1 O PROCERA E O ASSENTAMENTO DORCELINA FOLADOR........................................92 5.1.1 Perspectivas de pagamento do PROCERA...........................................105
5.1.2 A satisfação com relação ao PROCERA................................................108
5.2 O PRONAF E O ASSENTAMENTO DORCELINA FOLADOR ........................................109
11
CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................125 REFERÊNCIAS........................................................................................................129
ANEXOS...................................................................................................................133
Anexo 1 - Mapa 2 – Localização dos Assentamentos Rurais no Brasil
Anexo 2 - Lei n.º.171, de 17-1-1991 – capítulo XIII DO CRÉDITO RURAL
Anexo 3 – Decreto n.º.508 de 14-6-2000 – Título V: do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar-PRONAF
Anexo 4 – Perfil da Realidade Agrícola 2.004
Anexo 5 – Questionário aplicado in loco
12
INTRODUÇÃO
Um grande número de assentamentos rurais encontra-se instalado
pelo território brasileiro. Estes assentamentos correspondem a uma conquista do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST); porém, a concentração das
terras brasileiras por uma minoria ainda prevalece. Apesar dos programas de
Reforma Agrários instituídos pelos governos, o que se tem visto é a realização de
assentamentos rurais sem a extinção do latifúndio improdutivo.
O presente trabalho analisa a questão dos programas de
financiamento num assentamento rural de reforma agrária, o Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), que atende a esta clientela
classificada como grupo A.
A área escolhida é o Assentamento Rural Dorcelina Folador,
localizado no município de Arapongas (PR.) a 6 km da Rodovia Melo Peixoto (BR
369), numa área de fácil acesso e nas proximidades de cidades tais como,
Apucarana, Arapongas, Londrina e Maringá, consideradas como importantes centros
de comércio agrícola no Estado do Paraná.
Este assentamento é o único no município e está localizado numa
condição privilegiada tanto edáfica quanto topograficamente, pois o relevo é
suavemente ondulado com Latossolo Roxo Estruturado. Porém, apesar da sua
fertilidade natural, o solo está degradado pela atividade anterior de produção de
sementes selecionadas com o uso elevado de agrotóxicos.
O Assentamento Dorcelina Folador foi instalado em 1.999 e
encontra-se com 94 famílias assentadas. A escolha do tema deveu-se ao fato de já
ter tido contato com o local, pelo Projeto de Extensão do Programa PET/
Geografia/MEC-Sesu, em que se realizaram trabalhos de campo para obter um
13
diagnóstico sócio-econômico do assentamento, onde se pernoitou no local, para
dessa forma vivenciar a realidade de um assentado.
Cada integrante do grupo além da aplicação de um questionário
comum a todos, escolheu alguma temática de pesquisa no assentamento. Neste
caso, optou-se pelo nível tecnológico, verificando qual era o auxílio dado por parte
do Estado aos assentados, com relação à obtenção de itens tais como insumos
agrícolas e maquinários para a lavoura local. Assim, foi possível constatar a
problemática do financiamento PRONAF destinado a estes.
É importante citar que a conquista da terra não significa acesso a
necessária infra-estrutura social e produtiva. No processo produtivo está incluso o
apoio creditício ao qual estes assentados tem por direito, quando tomam posse do
seu lote de terra e passam a ter acesso ao crédito rural que viabiliza a compra de
maquinários e insumos agrícolas, por exemplo; estes têm agora a responsabilidade
de obter meios para pagarem seus respectivos financiamentos.
Para analisar as finalidades deste financiamento procurou-se
detectar o perfil do assentado que recorre ao PRONAF, sendo apresentadas as
dificuldades na obtenção e pagamento do financiamento, bem como as perspectivas
de pagá-lo ou não, para assim, verificar os reflexos na produção do território dos
assentados.
Realizou-se o levantamento bibliográfico sobre o PRONAF, bem
como uma leitura prévia do material selecionado. Foi elaborada a fundamentação
metodológica, e em seguida foram coletados os dados com a aplicação de
questionário in loco aos assentados em forma de entrevista pessoal.
A pesquisa foi realizada nos dias 10/10/05 e 11/10/05, aplicando-se
questionários junto a 20 assentados, com caráter qualitativo; uma vez que já havia
14
81 questionários disponíveis aplicados em 2004, pelo grupo PET/Geografia. Os
resultados desta pesquisa são apresentados em forma de tabelas, gráficos e
depoimentos.
Assim o presente trabalho apresenta-se dividido em 5 capítulos: o
capítulo 1, Considerações sobre a Reforma Agrária e a Luta do MST, discute a
gênese deste movimento, sua proposta de reforma agrária e a implantação dos
assentamentos rurais.
No capítulo 2 sobre as Políticas Públicas do Brasil: os programas de
créditos para assentamentos rurais, apresenta o Sistema Nacional de Crédito Rural
(SNCR), o Programa de Crédito Especial para a Reforma Agrária (PROCERA) e o
PRONAF.
No capítulo 3 sobre o município de Arapongas e o Assentamento
Rural Dorcelina Folador, encontra-se tanto o quadro agrário do município, bem como
o histórico do assentamento. No capítulo 4 analisa-se o quadro atual do
assentamento enfatizando sua produção agrícola, o nível tecnológico e a assistência
técnica. Por fim, no capítulo 5 é feita a análise dos créditos rurais ofertados aos
assentados: PROCERA e PRONAF.
Vê-se como de suma importância estudar o tema, por saber que o
Brasil possui graves problemas sociais; se há uma possibilidade dos assentados
rurais serem beneficiados é importante que se demonstre isto.
15
1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A REFORMA AGRÁRIA E A LUTA DO MST
Dentre os inúmeros problemas sociais do Brasil destaca-se o forte
caráter concentrador de terras, em que pequena parcela de produtores rurais detêm
elevada renda e possui vastas áreas do território brasileiro. As formas dispensadas
pelo Estado aumentam as discrepâncias sociais presentes neste meio, uma vez que
grandes proprietários de terras são alvos de benefícios satisfatórios para obterem
produtividade e, consequentemente, lucro no sistema capitalista.
Porém, como nem toda a população tem acesso a estes benefícios,
pode-se visualizar ao mesmo tempo acampamentos de pessoas que estão na
tentativa de conquistar seu próprio território.
Sobre as relações capitalistas, Oliveira afirma que estas “[...] são,
portanto, relações sociais que pressupõem a troca desigual entre o capital e o
trabalho, e ambos, capital e trabalho, são produtos de relações sociais iguais e
contraditoriamente desiguais” (OLIVEIRA, 1990, p. 63).
Assim, entre o grande proprietário de terra e o sem-terra que luta por
esta terra como meio de sobrevivência é possível verificar como cada um a vê, ou
seja, para o primeiro a terra corresponde a uma mercadoria, para o segundo é vista
como instrumento de trabalho.
1.1 A QUESTÃO FUNDIÁRIA NO BRASIL
A questão agrária brasileira sempre esteve em debate tanto no
mundo acadêmico como na prática em que se visualiza tal problemática. Segundo
Graziano da Silva (1982), esta questão foi pouco tratada na época do “milagre
brasileiro”, mas passado este período, em 1978, ocorreu a retomada com pleno vigor
de sua discussão. De acordo com o autor:
16
De um lado, ela havia sido esquecida ou deixara de ser um tema da moda da grande imprensa. Do outro lado – da parte daqueles que não a podiam esquecer, porque a questão agrária faz parte da sua vida diária, os trabalhadores rurais – ela fora silenciada. ( GRAZIANO DA SILVA, 1982, p.9)
Para o referido autor, a questão agrária é agravada pelo modo como
tem se expandido as relações capitalistas de produção no campo; a maneira pela
qual o país tem aumentado sua produção traz sérios impactos negativos para a
população rural, destacando-se o nível de renda e emprego dessa massa de
trabalhadores.
Com a expansão da grande empresa capitalista no campo brasileiro,
na década de 1970, ocorreu uma concentração ainda maior de propriedades, o
trabalho manual foi substituído pelas máquinas, pois era necessária rapidez na
produção.
Segundo Martine (1991), com a chegada da mecanização no campo
parcela da população foi expulsa do meio em que vivia; sendo expropriada de seus
meios de produção, esta sem alternativa recorreu à cidade para sobreviver. Por
conseguinte, esses trabalhadores retornaram ao campo na figura do bóia-fria. Sendo
necessário o registro destes, vários foram expulsos novamente do campo, dirigindo-
se não só as grandes cidades, mas também para as regiões de fronteiras agrícolas;
em ambos os casos, houve grande incentivo por parte do Estado, uma vez que as
cidades tornavam-se saturadas.
De acordo com Oliveira (1996), o desenvolvimento capitalista no
Brasil tem imposto uma reordenação territorial ao campo brasileiro; dentre suas
diversas atuações vale recordar as políticas governamentais voltadas para a
Colonização da Amazônia. Por meio delas o Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (INCRA) implantou projetos de colonização oficial na região,
17
somado a estes grupos privados e particulares implantaram projetos principalmente
no Mato Grosso (MT).
Na sociedade capitalista são poucos os que se beneficiaram desta
modernização, pois, este tipo de sistema sempre esteve preocupado com a
acumulação, interferindo no meio em que vive sem se preocupar com danos futuros,
na busca insensata por tecnologias das mais diversificadas, fator muito impulsionado
com a vinda de multinacionais neste período.
De fato, a penetração das empresas capitalistas no campo foi muito
acelerada nas décadas de sessenta e setenta, fruto da crescente industrialização no
campo. Segundo Graziano da Silva (1982), no início dos anos sessenta instalaram-
se no país fábricas de máquinas e insumos agrícolas. Assim, tornou-se necessária a
criação de um mercado consumidor para estes novos meios de produção: máquinas,
agrotóxicos, sementes produzidas pelo setor industrial, dentre outros. Neste
momento, o Estado veio a intervir implementando um conjunto de políticas agrícolas
destinadas a incentivar a aquisição de tais produtos em ascensão, acelerando o
processo de incorporação de modernas tecnologias pelos produtores rurais.
Porém, nem toda a população do campo era detentora de capital ou
de renda suficiente para adquirir tais tecnologias; assim, as discrepâncias sociais
somente vieram a aumentar. Graziano Neto (1986) relata sobre o aumento das
injustiças sociais, pois a terra é distribuída ao produtor rural de forma desigual, uma
vez que seu acesso depende do seu poder aquisitivo, o que tem levado ao alto
índice de concentração de terras.
O grande produtor com acesso a todas estas tecnologias, além do
incentivo dado por parte do Estado, passou a se utilizar de seu poderio tecnológico
para se sobressair sobre o pequeno produtor. É nesse contexto que o campo
18
brasileiro passou a ser palco de diversos conflitos pela posse da terra, delineando o
cenário que se presencia na atualidade, em que as desigualdades são umas
realidades.
A questão agrária está longe de ser uma problemática da atualidade,
vários são os fatos que demonstram que ela sempre esteve presente, adotar
medidas que solucionem o fim destas discrepâncias urgem em serem tomadas, para
que dessa forma a situação não se torne ainda mais caótica.
Nesse contexto de desigualdades sociais, parcela da sociedade
brasileira se lançou na luta por uma melhor distribuição das terras, ou seja, a favor
de uma reforma agrária, que permita o acesso de inúmeros trabalhadores à terra,
como meio de sobrevivência.
De acordo com Graziano da Silva (1982) acredita-se que a maior
reivindicação de posseiros, pequenos proprietários, parceiros e pequenos
arrendatários, grupo que constitui a maioria dos trabalhadores rurais brasileiros, é a
luta incessante pela reforma agrária. Este grupo, sem terra suficiente ou mesmo em
condições precárias de acesso a esta não encontra alternativa a não ser recorrer a
empregos para sobreviverem, seja na cidade ou mesmo no campo em lavouras
vizinhas, por exemplo.
De acordo com Proscêncio (1999) quando esta relata as idéias de
Veiga sobre uma definição do que seria a reforma agrária, é exposto que trata-se de
uma: “ [...] distribuição eqüitativa das terras de um país, não realizada de forma
espontânea, mas sim, de forma diretiva e pela ação governamental do Estado [...]”
(PROSCÊNCIO, 1999, p. 36).
Esta reforma agrária corresponde a uma estratégia, de acordo com
Graziano da Silva (1982), para romper com o monopólio da terra, permitindo que
19
trabalhadores rurais se apropriem dos frutos do seu próprio trabalho. Torna-se
necessária a eliminação do latifundiário considerado improdutivo, para que todos
tenham acesso a terra e nela possam obter sua produção.
Veiga (1984) relata o fato de que uma reforma agrária deste tipo não
ocorre de forma repentina, ela corresponde ao resultado de pressões sociais na
busca pela igualdade da distribuição das terras pelo país, pois “[...] desde o final da
II Guerra Mundial a reforma agrária passou a ser um dos elementos essenciais das
estratégias de desenvolvimento econômico” (VEIGA, 1984, p. 9).
Segundo o autor, o maior empecilho para que os lavradores tenham
acesso a terra é a concentração da propriedade fundiária pelas “oligarquias” do
campo brasileiro. De acordo com o autor, a reforma agrária se tornou exigência
social somente nos locais em que havia a presença em massa de lavradores
impedidos do acesso à propriedade da terra.
Para Sorj (1980), a implantação do regime militar criou as condições
favoráveis para a implementação das políticas necessárias para se firmar o modelo
capitalista, monopolista e dependente da época, e apoiar uma reforma agrária
radical estava longe do propósito dos governadores. Porém, como era necessária a
resolução de problemas relacionados com as contradições presentes no campo,
colocou-se diante deste regime a possibilidade de adotar uma reforma agrária
parcial, em certas regiões do país, não modificando o padrão de desenvolvimento
agrícola do período, ou seja, manteve-se o latifundiário tradicional.
Segundo o referido autor, nos diferentes governos militares, a
questão da reforma agrária foi em vários momentos discutida, porém, em nenhum
dos governos tratou-se da possibilidade de transformação da estrutura fundiária. Sorj
(1980) cita o governo do General Humberto de Alencar Castelo Branco (1964-1967)
20
que em seu primeiro período promulgou, o Estatuto da Terra (1964), estabelecendo-
se a partir deste momento as bases legais para a realização de uma reforma agrária.
De acordo com Guanziroli et al. (2001) na década de 1960 entendia-
se a reforma agrária como:
um processo de transformação da estrutura agrária brasileira, por meio da desapropriação dos latifúndios improdutivos e/ou aquisição de terras produtivas e sua redistribuição às famílias trabalhadoras que dispõem de pouca ou nenhuma terra, para torná-la produtiva e cumprir sua função social (Estatuto da Terra). (GUANZIROLI et al., 2001, p. 187)
Segundo Oliveira (1996) em meio ao aumento da pressão política
dos movimentos sociais no campo, junto da ampliação da violência gerada pelos
conflitos pela terra, as elites do Brasil retomaram o debate sobre a reforma agrária:
No bojo da transição dos governos militares para os civis, o governo da “Nova República” (aliança política entre o PMDB e os dissidentes do PDS que vieram a formar o PFL) anunciou, durante o 4º Congresso Nacional da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), a elaboração do 1º Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA), conforme mandava o Estatuto da Terra aprovado em 1964. (OLIVEIRA, 1996, p. 532)
Para a elaboração do plano, o governo de José (Sarney) Ribamar
Ferreira de Araújo (1985-1990) criou o Ministério da Reforma Agrária (MIRAD) tendo
como ministro Nelson Ribeiro Alves (1974-1975). Ainda segundo o autor, este plano
vinha com o objetivo de buscar ”paz na terra”, ou seja, resolver os inúmeros conflitos
pela posse desta; na época previa-se desapropriar 43,090 milhões de hectares de
terras e assentar 1,4 milhão de famílias em cinco anos.
Porém, segundo dados de Oliveira (1996, p. 532) passado o primeiro
ano de implantação o INCRA-MIRAD somente havia cumprido parte da meta a ser
alcançada: “apenas 23% da área prevista para desapropriação no primeiro ano
havia sido decretada desapropriada; somente 5% do número de famílias previstas
estávamos assentadas”. Este baixo índice alcançado deveu-se a grande luta política
21
entre forças conservadoras (proprietários de terra), que apoiavam o governo, contra
as forças progressistas que lutavam pela reforma agrária.
Nesse contexto, surge o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra (MST) no ano de 1984. No entanto, os latifundiários em resposta a esta
situação e por não almejarem a realização da reforma agrária criaram em agosto de
1985 a União Democrática Ruralista (UDR), “com a finalidade de coordenar
nacionalmente a ação desses latifundiários contra a reforma agrária”(OLIVEIRA,
1996, p. 532). Em meio a este cenário, a incidência de violência no campo aumentou
de maneira avassaladora; segundo Oliveira (1996): “[...] em 1983 foram
assassinados 96 trabalhadores no campo, e em 1986 houve um aumento para 302
mortes, o que demonstrava o endurecimento por parte dos latifundiários” (OLIVEIRA,
1996, p. 533).
Somado a estes números ocorreu a extinção do Ministério da
Reforma Agrária, em seguida, pôde-se constatar o não cumprimento das metas
definidas no 1º Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA), pois apenas 10% destas
haviam sido alcançadas durante os cinco anos de sua implantação. Oliveira (1996)
termina por enfatizar que a reforma agrária:
[...] além de resolver a maior parte dos problemas estruturais que existem no campo brasileiro, permitirá ampliar a oferta de alimentos e resolver o problema crônico da fome e do desemprego – enfim, da miséria que envolve milhões de brasileiros. (OLIVEIRA, 1996, p. 534)
Martins (2000) relata que este capitalismo trouxe benefícios às elites
e à classe média; porém, não beneficiou da mesma maneira as multidões de
deserdados e sem destino, mergulhados nas mais perversas formas de
sobrevivência.
22
Sabe-se que, a reforma agrária que rompa com o latifúndio
improdutivo, distribuindo terras de maneira justa a população que dela carece, é algo
distante de se concretizar; o MST na atualidade trata-se de um movimento que
busca a conquista deste tipo de reforma.
1.2 O MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA
O MST tem em seu histórico de lutas diversas conquistas que
somente foram alcançadas em meio a grandes batalhas, como a luta incessante
pela reforma agrária. Este movimento tem o intuito de finalizar o latifúndio
improdutivo, almejando que a terra seja fornecida para quem nela trabalha e dela
necessita para a sua sobrevivência.
O trecho citado corresponde a letra de uma das músicas produzidas
pelo próprio MST e traz em seu conteúdo a gênese do movimento; todas as canções
que fazem referência ao movimento demonstram a dura luta destes trabalhadores do
campo.
O Movimento Sem – Terra nasceu da necessidade Da vida que leva um povo que passa dificuldade Seus princípios e fundamentos são a terra e seus problemas Solo mal utilizado, espúrio de um mau sistema... Nos fecharam as vias legais, só nos restam os acampamentos Resistir à polícia e às armas, conquistar novos assentamentos Desta terra somos herdeiros, brasileiros de fibra e talento Nós queremos um novo porvir e suprir o país de alimento. A Terra Chama à Luta (Andreato/RS Canções da Luta in FERNANDES,1996,p.74).
Segundo Fernandes (1996) o Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra (MST) tem sua gênese em um processo de enfrentamento e também de
resistência contra a política implantada durante o regime militar, no que diz respeito
ao desenvolvimento agropecuário do país. O MST corresponde a um movimento que
23
tem em seu passado registros de uma luta travada com o intuito de pôr fim a
exploração do homem do campo.
De acordo com o autor, o movimento tem seu surgimento no final da
década de 1970 e início de 1980. Deve-se mencionar o papel desempenhado pela
Comissão Pastoral da Terra (CPT), que surge no ano de 1975 em meio aos conflitos
delineados no campo brasileiro, momento em que as disputas agrárias já estavam
fora de controle. Visto o cenário deste período, parecia quase impossível a criação
da CPT, uma vez que além da força da ditadura militar havia a alta hierarquia da
igreja católica atrelada ao Estado.
De acordo com Oliveira (2001), as lutas travadas pelo movimento no
decorrer de sua trajetória foram sangrentas, em que a violência tem sido a principal
característica do acesso a terra. O mapa a seguir ilustra a incidência da
criminalidade no campo brasileiro:
Figura 1- Mapa do Brasil : Vítimas fatais de conflitos ocorridos no campo (1985 – 1996)
FONTE: OLIVEIRA, 2001.(Sem escala definida)
24
Segundo Fernandes (1999) os trabalhos da pastoral eram realizados
tanto nas paróquias localizadas nas periferias das cidades como também nas
comunidades rurais contribuindo assim, na organização e na luta dos trabalhadores.
Nesse contexto, surge também o Partido dos Trabalhadores (PT), pela necessidade
da criação de um partido que defendesse os interesses da classe dos trabalhadores.
Além disso, os trabalhadores passaram a sentir a necessidade de articular ações de
resistência contra as injustiças presentes no campo brasileiro.
Em meio às perseguições e sofrimentos vividos pelos trabalhadores
no campo brasileiro, a Igreja precisava se manifestar, enfrentando assim tanto o
Estado quanto os conservadores da Igreja, tornou-se necessário oferecer uma
resposta cristã às vítimas dos conflitos agrários. De acordo com Negri (2005), em
seu início, a CPT era denominada Comissão de Terras e teve uma responsabilidade
direta no surgimento do movimento, pois o próprio MST utilizou-se no seu início de
seu discurso.
Os primeiros encontros do MST foram verdadeiras trocas de
experiências para todos se conhecerem, uma vez que estavam em seus primeiros
contatos; nestes realizaram o início de um diálogo sobre como poderiam melhor se
organizar. A partir destes encontros se enfatizou a necessidade de se reunir mais
vezes para trocas de experiências (FERNANDES, 1999).
Fernandes (1999) relata que os Estados passaram a ser palcos da
ocorrência desses tipos de ocupações que eclodiram em diversos lugares ao mesmo
tempo; estas traziam em sua essência algo muito semelhante: a sua forma de
organização. De acordo com o referido autor, a divulgação dessas lutas pela Igreja,
e em pequena parte pela imprensa fez com que surgisse a necessidade de se reunir
para as trocas de experiências.
25
De acordo com Fernandes (1999) alguns membros, nestes
encontros, começaram a cogitar a possibilidade de se organizarem em um
movimento social que não ficasse restrito ao âmbito regional, ampliando-se para o
nível nacional. Nesse contexto, ocorreu 1º Encontro em janeiro de 1984, no
município de Cascavel, Estado do Paraná.
Segundo Fernandes (1999) neste momento se deu a fundação e a
organização do MST batizado de: Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra,
marcando assim a sua gênese. O movimento agora de forma articulada passou a
lutar pela distribuição de terras de forma igualitária, ou seja, na conquista da
verdadeira reforma agrária.
Em 1985 na realização do 3º Congresso Nacional do Movimento, de
acordo com Fernandes (1999, p. 81), foram traçados e definidos os objetivos do
MST, quais sejam:
[...]construir uma sociedade sem exploradores e onde o trabalho tem supremacia sobre o capital; a terra é um bem de todos. E deve estar a serviço de toda a sociedade; garantir trabalho a todos, com justa distribuição da terra, da renda e das riquezas; buscar permanentemente a justiça social e a igualdade de direitos econômicos, políticos, sociais e culturais; difundir os valores humanistas e socialistas nas relações sociais; combater todas as formas de discriminação social e buscar a participação igualitária da mulher.
Este movimento até nos dias de hoje luta pela conquista do que
Fernandes (1999) denomina fração do território, ou seja, a conquista de parcela da
terra. O autor relata que esses estão em constante movimento pelo território, onde
os acampamentos, as caminhadas, as próprias ocupações, são processos que
fazem a luta mover-se pelo território, apropriado de forma privada pelos proprietários
de terras e/ou capitalistas.
26
1.3 O MST E A PROPOSTA DE REFORMA AGRÁRIA
O movimento tem em seu histórico uma síntese do que deveria de
fato ocorrer no cenário brasileiro com relação à reforma agrária, mas o que se
constata é a realização apenas de metas de determinados dirigentes do governo
para solucionar problemas momentâneos e não a reforma agrária propriamente dita.
Guanziroli et al.(2001) relatam a reforma agrária proposta pelo MST
como uma reforma ampla, massiva e imediata, e que esta é pautada nas reformas
agrárias ocorridas nos países asiáticos (como os da Coréia, Japão, Taiwan, China,
dentre outros), que em meio a guerras e revoluções eliminaram o latifúndio das
áreas rurais, implantando por conseguinte a agricultura familiar.
Segundo Fernandes (1999, p. 81) o movimento elaborou uma
síntese do Programa de Reforma Agrária, em que está exposto a necessidade de:
1- modificar a estrutura da propriedade da terra;
2- subordinar a propriedade da terra à justiça social, às
necessidades do povo e aos objetivos da sociedade;
3- garantir que a produção da agropecuária esteja voltada para a
segurança alimentar, a eliminação da fome e ao desenvolvimento
econômico e social dos trabalhadores;
4- apoiar a produção familiar e cooperativada com preços
compensadores, crédito e seguro agrícola;
5- levar a agroindústria e a industrialização ao interior do país,
buscando o desenvolvimento harmônico das regiões e garantindo
geração de empregos especialmente para a juventude;
6- aplicar um programa especial de desenvolvimento para a região
do semi-árido;
27
7- desenvolver tecnologias adequadas à realidade, preservando e
recuperando os recursos naturais, com um modelo de
desenvolvimento agrícola auto-sustentável;
8- buscar um desenvolvimento rural que garanta melhores
condições de vida, educação, cultura e lazer para todos.
Infelizmente este programa ainda não foi em sua totalidade
alcançado; o que se detecta na atualidade não se trata da realização da reforma
agrária tão almejada pelo movimento e sim uma política de assentamentos rurais.
Estes assentamentos rurais são uma conquista por parte do movimento, mas a
reforma agrária não está sendo realizada pelo atual governo.
Citado por Fernandes (1999) Stedile já expunha que o governo de
Fernando Henrique Cardoso (1995- 2002) realizava uma política de assentamentos
rurais, não a desejada Reforma Agrária. Segundo o referido autor, os governos para
evitar que conflitos de terra se transformem em conflitos políticos, conseguem
algumas áreas, sejam elas públicas, negociadas, desapropriadas e assentam as
famílias.
O governo não está preocupado na realização da reforma agrária,
para amenizar a problemática há a preocupação de somente manter a discussão na
teoria, para demonstrar que algo esta sendo feito. Na realidade ocorrem apenas
metas governamentais de interesse de determinada classe, a detentora de poder e
capital.
28
1.4 A CONSOLIDAÇÃO DE UMA LUTA: OS ASSENTAMENTOS RURAIS
No Brasil, a implementação dos assentamentos rurais correspondeu
a uma tentativa de amenizar a ocorrência de conflitos sociais no campo,
principalmente a partir da primeira metade dos anos 80. Além do mais, estes
assentamentos passaram a ter grande importância, uma vez que trouxeram à tona a
luta pela reforma agrária.
De acordo com Bergamasco e Norder (1996) os assentamentos
rurais surgem da luta dos trabalhadores rurais sem terra pela terra instrumento de
trabalho e sobrevivência. Os referidos autores apresentam uma definição de
assentamento rural, como a “[...] criação de novas unidades de produção agrícola,
por meio de políticas governamentais visando o reordenamento do uso da terra, em
benefício de trabalhadores rurais sem terra ou com pouca terra” (BERGAMASCO e
NORDER, 1996, p. 7).
Devido a existência de diversos tipos de assentamentos os autores
trazem uma classificação em que estes se dividem em cinco grandes grupos: 1-
projetos de colonização, formulados durante o regime militar, a partir dos anos 70,
visando ocupar áreas devolutas e expandir a fronteira agrícola; 2- reassentamento
de populações atingidas por barragens de usinas hidrelétricas; 3- planos estaduais
de valorização de terras públicas e de regularização possessória; 4- programas de
reforma agrária, via desapropriação por interesse social, com base no Estatuto da
Terra (1964); 5- a criação de reservas na região amazônica para os seringueiros
com fins extrativistas. Porém, é importante citar que todos têm em comum a luta pelo
acesso a terra.
Segundo os autores, neste período existiam no Brasil 350.000
famílias assentadas. Porém, somente com a conquista da terra não quer dizer que o
29
assentado passe a ter acesso a necessária infra-estrutura social (saúde, educação,
transporte, moradia) e produtiva (terras férteis, assistência técnica, eletrificação,
apoio creditício e comercial). Após a conquista este passa a ter de lutar por uma
nova causa: a busca pela consolidação da posse da terra; além da luta pela
obtenção de condições econômicas e sociais favoráveis ao estabelecimento destes
trabalhadores rurais enquanto produtores agrícolas.
No território brasileiro há a presença de diversos assentamentos
rurais, há um grande número destes tanto na região Nordeste do país como na
região Sul, principalmente no Estado do Paraná. Os restantes encontram-se por todo
o território (Anexo 1).
Com a conquista dos assentamentos rurais, estes trabalhadores
passaram a lutar pelas resoluções de novos problemas pelos quais deparam na
atualidade, como: “[...] o difícil acesso aos instrumentos de política agrícola, a baixa
fertilidade em boa parte das áreas, a falta de assistência técnica, o descaso estatal
para com o sistema de saúde, transporte, eletrificação rural e educação.”
(BERGAMASCO e NORDER, 1996, p. 80). A terra por si só não basta, é mais que
necessário que o Estado se preocupe com esta parcela de trabalhadores rurais,
para que estes munidos da terra e de condições favoráveis possam sobreviver no
campo brasileiro.
30
2 AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL: OS PROGRAMAS DE CRÉDITOS PARA ASSENTAMENTOS RURAIS
Uma das políticas mais perversas no campo brasileiro diz respeito à
obtenção de financiamentos agrícolas. O produtor rural vem tentando sobreviver às
custas de um Estado que não lhe beneficia adequadamente, salvo aos grandes
proprietários de terras detentores de capital que lucram com o sistema capitalista.
De acordo com Negri (2005) tem-se o “capitalismo selvagem”, um capitalismo que se
encontra instalado em tudo, principalmente no campo brasileiro, mediante políticas
públicas sempre favoráveis a uma minoria, estes grandes proprietários, deixando à
margem a maioria da população brasileira.
Martine (1991) relata que somente os detentores de capitais são os
que se beneficiaram com a modernização agrícola no período da Revolução Verde,
em que se constatou uma abertura política ao capital, principalmente norte-
americano, somando-se a isto os maiores subsídios dados aos produtos destinados
à exportação.
A concentração de terras não é algo recente no cenário brasileiro,
Sorj (1980) já expunha que desde o regime militar procurava-se a reorganização do
capital na busca incessante pela concentração e centralização deste. É nesta época
que ocorre a implantação maciça do capital estrangeiro, com a vinda para o país de
indústrias de grande porte. O campo brasileiro foi de maneira avassaladora afetado,
pois as indústrias oriundas do exterior que produziam insumos, fertilizantes e
maquinários necessitavam de um mercado consumidor. Assim, o Estado interveio
dando incentivos fiscais para a aquisição destes aparatos tecnológicos.
De acordo com Sorj (1980), o desenvolvimento deste complexo
agroindustrial liderado pelas empresas estrangeiras era favorável aos grandes
31
proprietários de terras e a ação do Estado era orientada para a modernização do
campo brasileiro visando o aumento da produtividade.
Porém, nem todos no campo tinham condições de possuir tais
tecnologias, pois estas eram adquiridas mediante a detenção de um capital elevado.
Assim, os pequenos produtores tiveram de optar por outros tipos de produção, uma
vez que não tinham condições de concorrer com o que era produzido pelas
indústrias instaladas no campo, consequentemente, muitos produtores faliram,
mantendo-se no campo somente os que possuíam condições econômicas para isto.
Segundo Graziano da Silva (1982), foi esta expansão da grande
empresa capitalista na agropecuária a responsável pela transformação do colono em
bóia-fria, além de agravar os conflitos entre grileiros e posseiros, fazendeiros e
índios, concentrando ainda mais a propriedade.
De acordo com o autor foi um período em que milhares de
produtores foram expulsos do campo recorrendo às cidades para sobreviverem,
porém, não conseguiam empregos nestas, em consequência cresceu o desemprego,
subemprego, mendicância, a prostituição e criminalidade. Entretanto parcela
significativa desta população permaneceu no campo, tentando sobreviver e
reivindicando seus direitos.
O MST trata-se de um movimento que tem como luta diária a
distribuição de forma igualitária das terras pelo Brasil, a luta pela terra é o primeiro
passo, pois nela se incluem a luta contra o capital, contra as políticas públicas
impostas por este, ou seja, a luta contra as formas de tratamento dispensadas pelo
Estado. De acordo com Negri (2005) a luta do MST é mais do que uma luta pela
distribuição justa das terras pelo Brasil, esta luta também reivindica a inclusão deste
ator social desprezado historicamente pelas políticas públicas do país.
32
Durante os governos militares a reforma agrária passou por diversas
modificações, mas nunca resultou no fim do latifúndio, pelo contrário, sempre
manteve a estrutura fundiária concentradora de terras. Com a implantação dos
assentamentos rurais, conquistados pelo MST, o debate sobre este tipo de
concentração se tornou cada vez mais acirrado porém, Guanziroli et al. (2001, p.
229) relatam que no início da reforma agrária do Brasil o que mais se criticava era o
pequeno apoio dado aos assentados, tanto com relação aos recursos financeiros,
bem como em assistência técnica, extensão rural e demais serviços públicos.
Negri (2005) enfatiza a posição do Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra contrária às políticas públicas adotadas pelo Estado na Revolução
Verde, as quais apenas se preocupavam com a maximização de lucros sem se
preocupar com seus efeitos no meio em que o homem vive, buscando-se a
mecanização da agricultura e reduzindo ao máximo o uso de mão-de-obra,
resultando numa concentração cada vez maior do capital nas mãos de uma minoria;
ou seja, uma preocupação somente com o aumento incessante da produtividade e
maior concentração de terras.
2.1 A GÊNESE DO SISTEMA NACIONAL DE CRÉDITO RURAL (SNCR)
As políticas públicas adotadas pelo Estado voltadas para os
complexos agroindustriais, visando o abastecimento do mercado interno e a
exportação, adotaram diversas medidas, dentre as quais o Crédito Rural que teve
grande destaque.
A política de incentivo à modernização se transformou em uma
política de incentivo à concentração de terras, tendo como carro chefe a soja, que
passou a dividir a liderança das exportações com o café, ambas culturas voltadas
33
para grandes áreas. Em se tratando dos grãos de soja, por exemplo, Oliveira (1996)
relata sobre a alteração nos hábitos alimentares, quando campanhas publicitárias e
médicas incentivavam a compra de produtos oriundos da soja, tendo-se por intuito a
ampliação do mercado interno do óleo de soja, em decorrência das políticas de
ampliação das exportações de farelo de soja.
De acordo com o Manual do Crédito Agrário, a Lei n.º 4.829 de
05/11/65 criou o Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR) delegando ao Banco do
Brasil “ [...] a responsabilidade de dirigir, coordenar, fiscalizar as decisões emanadas
do Conselho Monetário Nacional aplicáveis ao crédito rural [...]” (DICK,1991). (Anexo
2).
Inaugurou-se uma fase de crédito farto e barato para a população do
campo brasileiro porém, não havia a intenção de privilegiar a todos e sim de
compensar somente os grandes produtores de terra pois, os pequenos produtores
sempre foram deixados à margem do sistema capitalista, uma vez que para este
sistema este tipo de produtor não oferece um lucro significativo. De acordo com Sorj
(1980) o Crédito Rural se transformou, sem dúvida, no maior impulsionador do
processo de modernização; o Estado viabilizou a venda de maquinários para a
parcela detentora de capital a um preço irrisório permitindo assim a mecanização do
campo.
Guifrida (1996), em sua análise sobre o Sistema Nacional de Crédito
Rural, relata os objetivos básicos do Programa, os quais eram:
a) estímulo aos investimentos rurais, inclusive o armazenamento,
beneficiamento e a industrialização dos produtos agropecuários;
b) o fortalecimento do custeio oportuno e adequado da produção e
comercialização de tais produtos;
34
c) a possibilidade de fortalecimento econômico dos mini, pequenos,
médios e grandes produtores rurais;
d) o incentivo à introdução de métodos racionais visando o aumento
da produtividade e melhoria do padrão de vida das populações
rurais.
Como se pode verificar, a legislação da época pretendia que o
Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR) incentivasse a produção agrícola e, ao
mesmo tempo protegesse os pequenos produtores rurais, promovendo junto a
modernização da agricultura.
Trata-se de uma dualidade, uma vez que diversos são os dados que
demonstram que os pequenos agricultores rurais nunca foram alvos de benefícios
satisfatórios no meio rural; muito pelo contrário, sempre foram marginalizados; além
do mais, proteger pequenos agricultores e ao mesmo tempo promover a
modernização é algo de difícil compreensão, uma vez que somente grandes
proprietários se beneficiam desta modernização.
Com relação à distribuição do Crédito Rural, Sorj (1980) relata que
esta se deu em crédito de custeio, para cobrir as despesas dos ciclos produtivos; de
comercialização, garantindo ao produtor o apoio necessário para cobrir suas
despesas e melhores condições de comercializar seus produtos; e de investimento,
visando aplicações em bens e serviços. Porém, estes créditos não foram distribuídos
de forma igualitária entre os produtores rurais, o que se constata, segundo o autor,
desde esta época é a concentração de créditos entre médios e grandes proprietários
de terras.
Vale salientar que houve nítidas diferenças regionais nas
distribuições dos créditos agrícolas, pois de acordo com Sorj (1980), as regiões mais
35
atrasadas onde os pequenos produtores deparam com inúmeras dificuldades e se
encontram praticamente encapsulados pelos grandes proprietários de terras, o
crédito agrícola se destinou em sua maioria aos grandes produtores.
Oliveira (1996) analisa dados referentes a 1985 com relação a
obtenção de crédito, afirmando que “[...] 3% do total chegou aos estabelecimentos
com menos de 10 ha, 28% aos de 10 a 100 ha, e os 72% restantes foram
destinados às propriedades de mais de 1 mil ha. Em 1975 os médios e grandes já
haviam ficado com 68,1% [...]”. Ou seja, os dados comprovam que a maioria dos
financiamentos agrícolas tem-se concentrado entre os médios e grandes
proprietários de terras.
Sayad (1984), numa crítica ao Programa de Crédito Rural, relata que
a parcela maior dos créditos subsidiados para a agricultura era distribuída em função
das áreas de terras possuidoras, ou seja, ficava implícito que os grandes
proprietários teriam acesso a maior parcela de créditos, portanto esta oferta de
crédito acentuaria ainda mais a desigualdade do campo brasileiro.
Além disto, o acesso dos pequenos proprietários de terras aos
créditos rurais, muitas vezes, era barrado pela burocracia exigida pelos bancos na
liberação destes. Este tipo de empecilho foi e é, mesmo nos dias de hoje, um dos
principais problemas para a liberação de financiamentos para esta parcela de
produtores e em muitos casos são solicitadas a terra e a produção como garantias
reais; além do mais, nem sempre a época da liberação dos financiamentos é
favorável aos pequenos proprietários de terras.
As dificuldades pelas qual a maioria destes produtores se
defrontava levava muitas vezes o pequeno agricultor a recorrer aos comerciantes
36
para suprir suas necessidades de custeio da sua produção, ficando à mercê dos
juros impostos por estes.
Por volta de 1985 também se pôde constatar a atuação do Estado
em áreas do setor agrícola como a expansão dos serviços de extensão rural,
pesquisa e armazenamento. No Estado do Paraná, a presença de cooperativas e
técnicos da Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural
(EMATER) retratam de forma clara esta atuação.
As cooperativas nada mais são do que um instrumento de
integração ideológica e de controle governamental dos pequenos produtores; elas
são apresentadas para os trabalhadores como solução para os seus problemas, mas
eliminam deste discurso o confrontamento de interesses diferenciados quando se
trabalha em grupo. O verdadeiro intuito das cooperativas trata-se do controle dos
preços do mercado interno, um meio pelo qual o Estado encontrou de agir a seu
favor.
De acordo com Martine (1991), o período da modernização agrícola
deparou com um produtor não qualificado para as necessidades do momento; em
que não bastava somente possuir terras para produzir, era necessário dispor de
capital, além de que para a adoção de novas técnicas era indispensável possuir
determinadas informações, ter atitudes empresariais e capacidade de
endividamento.
Porém, como nem todos os produtores possuíam tais
características, além da busca incessante de crédito farto e barato para subsidiar as
monoculturas do período, vários foram os agricultores que se endividaram sem
condições de pagar os créditos subsidiados pelo governo. Atrelado a tudo isto houve
ainda o esgotamento dos créditos rurais.
37
Para os assentados rurais é necessário que haja um maior
investimento em informações técnicas que lhes sejam adequadas às suas
realidades, não as mesmas dadas aos grandes proprietários de terras que possuem
uma realidade totalmente oposta. Para tanto é necessário o investimento em uma
educação rural adequada para cada situação levando-se em conta suas
particularidades.
Alentejano (2000) já expunha sobre a necessidade de uma política
alternativa contrária aos moldes adotados pela Revolução Verde, pois esta somente
tem dado resultados negativos para a sociedade brasileira, a exemplo de
contaminações, aumento do êxodo rural e da concentração de terras e riquezas.
Além disto, os agricultores estão se tornando cada vez mais
vulneráveis, na dependência tanto de financiamento quanto das grandes indústrias
fornecedoras de insumos e sementes. O referido autor termina por enfatizar a
importância dos assentamentos rurais, por se tratarem de indicativos de
possibilidades da constituição de um novo modelo de desenvolvimento no campo
brasileiro.
2.2 OS CRÉDITOS PARA OS ASSENTAMENTOS RURAIS: DO PROCERA AO PRONAF
A partir do momento em que os assentados tomam posse de seus
lotes de terras estes passam a ter vários direitos, dentre eles inclui-se o acesso aos
créditos rurais, para a obtenção de maquinários, insumos agrícolas e à instalação de
infra-estrutura de produção. O primeiro crédito destinado aos assentados foi o
Programa de Crédito Especial para a Reforma Agrária (PROCERA), este adotou
quase que em sua totalidade as características dos programas especiais de crédito
rural.
38
Segundo dados do Relatório de Gestão do programa o PROCERA
esteve em operacionalização durante 14 anos, no período compreendido entre os
anos de 1986 a 1999. Tendo-se como objetivo:
Aumentar a produção e a produtividade agrícolas dos assentados da reforma agrária, com sua plena inserção no mercado, mediante financiamento de projetos para estruturação da capacidade produtiva e aproveitamento econômico das áreas de assentamento aprovadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, visando permitir a devida emancipação do produtor em relação a tutela governamental (BRASIL. RELATÓRIO DE GESTÃO – PROCERA Brasília: 2003, p. 05).
No período compreendido entre a criação e a desativação em 1999,
vários foram os valores definidos para o teto do financiamento; segundo dados do
relatório, na última versão das normas de administração gerais e operacionais do
programa, editada em 1997, observa-se as seguintes condições:
- teto para investimentos adotado foi de R$ 7.500.00 por família, e
para custeio de lavoura o valor de R$ 2.000.00 por família/ano;
- no caso de financiamento para integralização de quotas-partes do
capital social de cooperativas de assentados, a família tinha direito a mais outro teto
de R$ 7.500.00 a título de investimento;
- os encargos financeiros eram de 6.5% ao ano, com rebate de 50%
sobre as parcelas de amortização do principal e juros, no caso do pagamento
ocorrer até a data do vencimento;
- as prestações podiam ser pagas semestralmente ou anualmente,
conforme o bem financiado, com prazo de até 10 anos, com 03 anos de carência;
- as garantias exigidas eram: para os investimentos concedidos, o
aval prestado por outro produtor assentado, independente de sua capacidade
financeira e para o custeio de lavouras, o penhor da safra ou aval de outro produtor
assentado.
39
Visto a necessidade de operações de crédito junto ao Banco do
Brasil, foram definidos itens no relatório necessários de serem cumpridos pelo
banco, os quais eram:
- elaborar a ficha cadastral dos proponentes ao crédito;
- acolher os projetos e propostas de crédito aprovadas pela
Comissão Estadual do PROCERA;
- contratar os financiamentos com os beneficiários;
- fiscalizar as operações de crédito;
- articular-se com a Assistência Técnica, objetivando o eficiente
desempenho junto à Reforma Agrária;
- fornecer aos órgãos de coordenação do PROCERA as
informações necessárias ao acompanhamento e avaliação;
- efetuar as cobranças das dívidas, recolhendo ao Fundo Contábil
os valores recebidos;
- tomar medidas necessárias à recuperação do crédito concedido,
em caso de inadimplemento;
- após a criação dos Fundos Constitucionais, em 1993, estes
passaram a ser operacionalizados pelos Agentes Financeiros:
Banco da Amazônia (FNO), Banco do Nordeste (FNE) e Banco
do Brasil (FCO).
Como citado, o Banco do Brasil deveria estar articulado com a
assistência técnica que, de acordo com o relatório, cabia a esta:
- avaliar a área objeto do assentamento, visando determinar as
melhores alternativas de exploração produtiva;
40
- formular projetos de desenvolvimento econômico das áreas
objeto de assentamentos, encaminhado-os às Comissões
Estaduais para análise;
- prestar orientação técnico-gerencial às famílias, associações e
cooperativas de produtores assentados;
- avaliar os investimentos executados;
- elaborar relatórios relativos à assistência técnica prestada nos
assentamentos;
- apresentar Plano Anual de Assistência Técnica.
Tanto com relação ao que era imposto pelas agências bancárias
bem como pela assistência técnica, tratavam-se de itens difíceis de serem
alcançados; porém, segundo o próprio relatório de gestão do programa, o
PROCERA não alcançou o objetivo principal para o qual havia sido criado, que era o
de propiciar a emancipação do produtor assentado em relação ao Estado.
Vários foram os fatores, segundo dados do relatório, que
contribuíram para a extinção deste programa, dentre os quais se destacam alguns
deles:
- a falta de uma política pública consistente para a reforma agrária
- a situação precária e decadente da Assistência Técnica
disponível que passou por um processo de desmontagem
durante estes últimos anos;
- má distribuição, descontinuidade e volume insuficiente de
recursos para atender a demanda; e
- sistema bancário conservador e despreparado para atender ao
público alvo (produtor assentado).
41
De acordo com Proscêncio (1999), o PROCERA se subdividia em
crédito para implantação (alimentação, fomento e habitação) e crédito para produção
(PROCERA: custeio, PROCERA: Teto I e PROCERA: Teto II). Com relação aos
valores destes créditos na época foram expostos pela autora como sendo
respectivamente:
a) crédito para implantação:
alimentação R$ 400.00
fomento R$ 740.00
habitação R$ 2.000.00
b) crédito para produção:
PROCERA: custeio R$ 2.000.00
PROCERA: Teto I R$ 7.500.00
PROCERA: Teto II -
Segundo a autora, o crédito de alimentação era feito sob diversas
formas: salário mínimo durante os 10 primeiros meses para cada família; o valor
também podia ser revertido em alimentos fornecidos de uma só vez; realização de
convênio com cooperativas para barateamento dos produtos. Ou ainda, o valor total
em dinheiro liberado de uma só vez. Já o crédito fomento equivalia ao recurso com o
qual cada família contava para a compra de suas primeiras ferramentas, sementes e
animais. Com relação ao crédito habitação este correspondia ao recurso fornecido
para o assentado construir sua casa, comprando os materiais necessários; havia
casos em que os próprios assentados construíam suas casas.
42
Com relação aos créditos destinados para a produção, o PROCERA
Custeio correspondia ao valor da lavoura do ano, tendo como prazo para o
assentado quitar a dívida o período de um ano. Na Região Sul, a quantia do recurso
era repassada pelas agências do Banco do Brasil. O recurso do Teto I era destinado
para o assentado investir em sua propriedade adquirindo animais e ferramentas por
exemplo, não se pode confundir o recurso do Teto I com o do fomento, pois este
último era fornecido aos assentados em sua fase de implantação no local. Já o Teto
II, um crédito a mais do PROCERA, era destinado às famílias assentadas, sócias de
cooperativas.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) responsável
pela administração do PROCERA tentou na época, segundo Proscêncio (1999),
enfatizar a existência de uma má distribuição deste crédito, em que somente os
assentados que se encontravam na maior faixa de renda tiveram acesso aos
créditos rurais.
Leite et al. (2004) afirmam que projetos mais antigos de
assentamentos rurais, em geral tiveram baixo índice de captação destes recursos e
boa parte do dinheiro destinado aos assentados que provinha do PROCERA, um
crédito caracterizado como sendo de médio e longo prazo. Tal fato fez com que
parte dos assentados que haviam obtido o recurso num período recente não
pudessem fazer financiamento na safra seguinte, devido ao não pagamento da
dívida contraída no Banco do Brasil.
Com relação a obtenção dos primeiros créditos Guanziroli et al.
(2001, p. 215) enfatizam que a maior parte dos assentamentos da região Sul são
originários de ocupações realizadas em sua maioria pelo MST e no caso desta
região as primeiras famílias passaram por inúmeras dificuldades pela demora na
43
liberação destes créditos, várias foram as famílias que abandonaram a área, pois
muitas não tinham condições de resistir por muito tempo. Além do mais, o que se
constata é que a maioria dos beneficiários da Reforma Agrária assume o lote em
condições de completa descapitalização, sem meios próprios para desenvolver suas
lavouras iniciais.
De acordo com Leite et al. (2004) muitas vezes o assentado tem
dificuldade em distinguir os diferentes tipos de créditos existentes. Sendo assim, até
que ponto poder-se-ia dizer que o assentado recebe as informações necessárias
para o uso adequado de seu financiamento para obter boa produtividade.
Segundo Proscêncio (1999) o PROCERA foi bloqueado pelo
Governo Federal de Fernando Henrique Cardoso (1995- 2002), inaugurando uma
fase de complicadas negociações; para tanto, o presidente se viu obrigado a
negociar com esta parcela da população para assim amenizar a problemática.
Com o bloqueio do crédito, a maioria dos assentados não teve
continuidade ao crédito custeio; sendo assim, na safra posterior passaram por
diversas dificuldades, pois como se sabe em sua maioria, os assentados não
dispõem de renda suficiente para desenvolverem sozinhos seu plantio, sem
possibilidades de arcar com diversas despesas como por exemplo, gastos com
aluguéis de maquinários, insumos, sementes, calcário, dentre outras.
De acordo com Ferreira et al. (2001, p. 497) como solução dada pelo
governo criou-se em 1995 o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar (PRONAF), como uma estratégia de fortalecimento da agricultura familiar;
uma política agrícola diferenciada que começou a emergir no Programa Novo Mundo
Rural com o Decreto 1.946, de 28 de junho de 1996. (Anexo 3).
44
No PRONAF envolvem-se atuações dos Governos Federal, Estadual
e Municipal atendendo aos agricultores familiares; há um documento em que se
consta a filosofia e operacionalização do programa, Santos (2001, p. 73) relata que
neste documento verifica-se o objetivo básico do Programa, como:
[...] propiciar condições para o aumento da capacidade produtiva, a geração de empregos e a melhoria da renda, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida e a ampliação do exercício da cidadania por parte dos agricultores familiares. (SANTOS, 2001, p. 73)
Com relação aos objetivos específicos relata-se a importância em:
[...] ajustar políticas públicas à realidade da agricultura familiar; viabilizar a infra-estrutura rural necessária à melhoria do desempenho produtivo e da qualidade de vida da população rural, fortalecer os serviços de apoio ao desenvolvimento da agricultura familiar; elevar o nível de profissionalização de agricultores familiares, propiciando-lhes novos padrões familiares e suas organizações aos mercados de produtos e insumos. (SANTOS, 2001, p. 74)
A evolução do PRONAF ocorreu em grande maioria graças as
pressões realizadas pelos movimentos sociais e o antigo PROCERA foi extinto em
1999. Nesta época, de acordo com o governo federal, PRONAF e PROCERA
estariam unificados, porém, uma das problemáticas do PRONAF foi o fato deste unir
um público tão grande e ao mesmo tempo tão heterogêneo tratando-o como um só,
ao passo que estes deveriam receber tratamento diferenciado, porém, este somente
se diferenciava na oferta de variadas condições de pagamento da dívida contraída.
De acordo com Alentejano (2000) o PRONAF corresponde a um
financiamento alvo de inúmeras críticas, dentre estas se inclui a problemática deste
unir um público grande e heterogêneo, ignora-se na realidade o alto grau de
diversidade presente no campo brasileiro entre os agricultores.
Os movimentos sociais por se sentirem cada vez mais
marginalizados passaram por um período de confronto com o Estado, um longo e
conturbado processo de negociações dos créditos para os assentados, que resultou
45
na criação de uma linha de crédito especial para atender a esta clientela,
caracterizada como Grupo A, que ficou conhecido por “PRONAF A”, em substituição
do PROCERA, destinado aos produtores menos capitalizados.
Ferreira et al. (2001, p. 497) relatam que foram incorporados tanto
os assentados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA),
que não tinham ainda atingido os limites necessários fixados pela linha de crédito
que lhes dava suporte, o antigo PROCERA, quanto os novos assentados.
De acordo com a classificação do programa fornecida pelo Boletim
Informativo PRONAF 2005/2006, os grupos de beneficiários do PRONAF são
respectivamente:
→ Grupo A- Assentados de Reforma Agrária, trata-se de investimento
para a estruturação inicial do lote ou parcela do assentamento, banco da terra,
crédito fundiário de acordo com o projeto técnico;
→ Grupo A/C: é o primeiro crédito de custeio dos agricultores que já
pegaram o investimento do Grupo A;
→ Grupo B- mini agricultor familiar com renda familiar de até R$
2.000.00, e sem a utilização de qualquer tipo de mão-de-obra não familiar;
→ Grupo C- custeio e investimento de atividades rurais
agropecuárias e não agropecuárias, tendo o agricultor familiar uma renda familiar
entre R$ 2.000.00 e R$ 14.000.00, podendo utilizar-se de empregados temporários;
→ Grupo D- custeio e investimento de atividades rurais
agropecuárias e não agropecuárias, tendo o agricultor familiar uma renda familiar
entre R$ 14.000.00 e R$ 40.000.00, podendo utilizar até dois empregados
permanentes; e
46
→ Grupo E- custeio e investimento de atividades rurais agropecuárias
e não agropecuárias, tendo o agricultor familiar uma renda familiar entre R$
40.000.00 e R$ 60.000.00, podendo utilizar até dois empregados permanentes,
sendo admitido ainda o recurso eventual à ajuda de terceiros, quando a natureza
sazonal da atividade o exigir.
Segundo o texto oficial que cria o PRONAF, qualquer agricultor
familiar tem acesso aos recursos disponíveis para financiamento da produção, da
capacitação e profissionalização. Dessa forma, o agricultor deve procurar o serviço
de assistência técnica, Sindicato ou Federação de Trabalhadores credenciados pelo
programa, responsáveis pela emissão do certificado de aptidão declarando que o
interessado cumpre os requisitos necessários do perfil do público - alvo. Porém, para
o agricultor ter acesso a determinado grupo é necessário que se enquadre nas
exigências impostas por este, dentre estas se inclui a necessidade de obter a renda
mínima estipulada para cada grupo.
Pelo fato das famílias recém-assentadas não disporem de nenhuma
renda inicial, como alternativa dada pelo Governo criou-se o Grupo A, para atender
aos assentados de reforma agrária. Trata-se do investimento para a estruturação
inicial do lote tendo como prazo de pagamento 10 anos.
Para os assentados rurais desenvolverem a sua lavoura criou-se o
Grupo A/C, que corresponde ao primeiro crédito de custeio dos agricultores que já
tiveram acesso ao investimento do Grupo A, com prazo de até dois anos de
pagamento, conforme a atividade financiada (90 dias após a colheita, ou em 03
parcelas com a primeira vencendo em 60 dias após a colheita).
Isto não impede que o assentado nos seguintes anos tente se
enquadrar em outro grupo, desde que comprovada a renda do assentado mediante
47
a Declaração de Aptidão ao PRONAF (DAP) fornecida pela EMATER. No entanto,
sabe-se da dificuldade dos assentados rurais se enquadrarem em outros grupos,
visto as rendas que são exigidas por estes, algo fora da realidade para os
assentados rurais.
Com relação a distribuição dos recursos, o que vem se constatando
de acordo com Ferreira et al. (2001, p. 502) é que estes estão cada vez mais sendo
dirigidos quase que em sua totalidade para os grupos D que dispõem de maior
capacidade de pagamento das dívidas contraídas porém, não há como negar que os
recursos destinados aos assentados também é muito elevado.
De acordo com o Relatório elaborado no governo de Fernando
Henrique Cardoso (1995- 2002) em conjunto com o Ministro da Agricultura e do
Abastecimento Francisco Turra e o Secretário de Desenvolvimento Rural Murilo
Flores (gerente nacional do PRONAF), no ano de 1998, a Secretaria Nacional definiu
três critérios básicos para a primeira seleção dos municípios que seriam
contemplados com este tipo de financiamento; são elas:
a) a relação entre o número de estabelecimentos agropecuários
com área até 200 ha e o número total de estabelecimentos do
município deveria ser maior do que a mesma relação no âmbito
do Estado;
b) a relação entre a população rural e a população total do
município deveria ser maior do que a mesma relação no âmbito
do Estado;
c) o valor da produção agrícola, por pessoa ocupada no município,
deveria ser menor do que a mesma relação no âmbito do Estado.
48
Caso o número de municípios apurados, segundo os critérios, fosse
inferior ao número previsto pelo Estado, caberia ao Conselho Nacional do PRONAF
a seleção dos municípios restantes entre os que atendiam a apenas dois destes
critérios, dando prioridade aos municípios contemplados no Programa Comunidade
Solidária e aos que tivessem maior número de famílias assentadas e/ou pescadores
artesanais.
Isto significa que na primeira seleção o município com maior chance
de ser contemplado seria aquele que tivesse a distribuição fundiária mais
pulverizada, a menor taxa de urbanização e a mais baixa produtividade agrícola no
Estado. Porém, na realidade se constata o inverso, uma vez que a região Sul do
país possui elevada produtividade, além do mais a maioria dos recursos se
concentram onde há o maior número de grandes proprietários de terras, indo contra
a teoria do próprio relatório.
Segundo dados do relatório, mais de 1/3 dos planos elaborados vêm
da Região Nordeste, o Sudeste e o Sul empatam com 1/5, o Norte com 10% e o
Centro-Oeste outro tanto. Porém, a maioria dos municípios selecionados são
aqueles que se apresentam menos preparados; os municípios considerados mais
pobres são os que apresentam maiores dificuldades em preencher as exigências
administrativas impostas para receber o PRONAF. Na Região Nordeste o que se
constata é que apenas ¼ dos planos apresentados foram efetivamente pagos, no
Sul o total atinge quase a metade, no Sudeste, Centro-Oeste e Norte pouco mais de
1/3 dos municípios obtiveram os recursos que lhes foram destinados.
Depois de elaborados estes planos, os contratos são estabelecidos
com a Caixa Econômica Federal que exerce rigorosa fiscalização, exigindo a
documentação necessária para a concessão dos recursos para o município.
49
É exposto no relatório que a maioria dos recursos e dos tomadores
de empréstimos advém da região Sul e o fato é justificado por ser a região onde a
agricultura familiar tem sua maior força; porém, o relatório não menciona ser esta a
região onde há grande concentração de terras.
Bergamasco e Norder (2003) relatam que esta concentração da
aplicação do PRONAF na região Sul deve-se a predominância no destino para
alguns poucos produtos; por exemplo, no ano de 1997 o PRONAF direcionou 20%
de sua verba de custeio para a produção de fumo; em 1998, 42% dos recursos para
o custeio foram aplicados em fumo, milho e soja, todas as culturas que exigem
extensas áreas para serem cultivadas.
Segundo Ferreira et al. (2001, p. 509) os financiamentos do
PRONAF dirigem-se, mais em específico, aos segmentos familiares com elevado
grau de integração ao setor agroindustrial. De acordo com os autores “ [...] em 1996,
dos 2339 municípios que contabilizavam operações de custeio, dezesseis deles
concentravam mais de 20% do total dos recursos, localizados todos na região Sul.”,
onde encontram-se lavouras voltadas para a monocultura como a soja e o milho por
exemplo.
De acordo com o relatório, os beneficiários do crédito de custeio e
de investimento devem possuir 6 atributos básicos para serem contemplados; são
eles:
a) explorar parcela da terra na condição de proprietário, assentado,
arrendatário, posseiro, parceiro ou meeiro, destacar-se à pesca
artesanal, aquicultura ou ao extrativismo na Região Amazônica;
b) trabalhar com a família contratando no máximo 2 empregados
permanentes e/ou trabalho temporário, em caráter sazonal;
50
c) possuir área correspondente a, no máximo, quatro módulos
fiscais;
d) residir no imóvel explorado, ou em área próxima;
e) retirar da exploração agropecuária ao menos 80% de sua renda
familiar;
f) ter um faturamento anual máximo de R$ 27.5 mil.
Segundo Alentejano (2000), os critérios de acesso ao PRONAF
excluem os agricultores que obtêm mais de 20% de sua renda de atividades não
agrícolas, o que exclui a maioria dos pluriativos; na atualidade o que se verifica é a
dependência cada vez maior dos financiamentos obtidos para a agricultura.
Alentejano (2000) faz diversas críticas ao documento lançado pelo
Governo Federal intitulado “Agricultura Familiar, reforma agrária e desenvolvimento
local para um novo mundo rural”, por conseguinte analisa os resultados concretos
dessa nova política.
De acordo com Alentejano (2000, p. 91) o mercado é por si só
seletivo, e as políticas públicas adotadas historicamente acentuam o caráter
excludente da sociedade capitalista. A idéia de mercado ignora a existência de
desigualdades entre os grandes proprietários de terras e os pequenos, também
ignora a existência de intermediários (as agências bancárias) e a formação de
preços pela agroindústria.
Com relação a capacidade produtiva Leite et al. (2004) enfatizam
que o acesso ao crédito além de repercutir no assentamento, também impulsiona as
várias atividades locais do município aumentando a circulação monetária do
respectivo, afetando a economia local. Porém:
51
[...] O fato de vários desses créditos serem liberados de uma só vez chega a provocar verdadeiros “alvoroços” no comércio local, com esgotamento de estoques de materiais (de construção, insumos agrícolas, matrizes de animais...) ocasionado “processos inflacionários” momentâneos e locais, que algumas vezes levam os assentados a pagarem preços mais elevados pelos produtos. (LEITE et al., 2004, p. 226)
Segundo Leite et al. (2004) os créditos de instalação ou implantação
(fomento, alimentação e habitação) por não serem créditos produtivos, acabam às
vezes sendo considerados pelos assentados como uma “doação” do Estado devido
a falta de informação, gerando problemas de inadimplência. Estes créditos segundo
os autores deveriam ser considerados como fundo perdido visto tratar-se de dotar
essas famílias marginalizadas, agora “incluídas socialmente”, de um mínimo de
condições humanitárias necessárias à sua inserção social, econômica e produtiva.
Para Leite et al. (2004), o atraso na liberação dos créditos deve ser
levado em conta pois, no geral, é uma das principais dificuldades pelas quais os
assentados deparam; esta normalmente ocorre após o período do plantio,
comprometendo significativamente a produção agropecuária; com relação à
modalidade habitação, esta sempre demora a ser liberada, tornando ainda mais
penosa a fase inicial do assentado. Além do mais, o assentado somente terá seus
primeiros rendimentos com sua primeira colheita.
Com relação a atuação do sistema bancário na operacionalização do
PRONAF, Bergamasco e Norder (2003) enfatizam que quanto menor for o espaço
de decisão colocado pelas agências bancárias, maior é a agilidade na obtenção do
empréstimo; porém, sabe-se que isto não ocorre na realidade.
Não se pode deixar de mencionar o antigo PRONAF-Rural Rápido
denominado na atualidade por Grupo D; neste caso, evita-se a interferência do
gerente e a assinatura do contrato, facilitando os trâmites para a obtenção do
financiamento; não é discriminado o tipo de empreendimento financiado, este vem
52
respondendo por mais da metade dos recursos de custeio do PRONAF-Crédito.
Como se sabe, os agricultores familiares pertencentes ao grupo D são os que se
enquadram numa renda familiar entre R$ 14.000.00 e R$ 40.000.00, ou seja, facilitar
o acesso ao financiamento destes agricultores é vantajoso às agências bancárias,
por se tratar de um grupo com elevado grau de integração ao setor agroindustrial.
No entanto as agências bancárias não fazem parte do universo de
relações da maioria dos agricultores. Verifica-se que grande número de agricultores
não possui nenhum bem patrimonial e renda suficiente para oferecer aos bancos
garantias reais que evocam elevados custos. Sendo assim, há casos de agricultores
que acabam desistindo de retirar de suas unidades produtivas a maior parte de suas
rendas, recorrendo a empregos nas cidades próximas, ou mesmo nas lavouras
vizinhas.
Com relação às exigências bancárias, um outro empecilho para o
assentado, Bergamasco e Norder (2003) citando os autores Veiga e Abramovay
(1999, p.30) afirmam que o crédito tende a se concentrar em dois segmentos: “[...]
aqueles cujos contratos com a agroindústria lhes fornecem garantias de
comercialização, e também os que possuem base patrimonial para assegurar os
empréstimos bancários e renda suficiente para oferecer contrapartidas aos bancos. ”
O PRONAF ainda é um financiamento alvo de inúmeras críticas e
que em muito deve ser melhorado, o programa por si só não basta, é necessário que
se adote um novo modelo de desenvolvimento agrícola, que priorize a agricultura
familiar de forma adequada. Por outro lado, é necessário que haja uma orientação
aos assentados que fuja ao padrão tecnológico adotado pela Revolução Verde, um
modelo predatório e concentrador de terras.
53
Além do mais, agricultores familiares e assentados são públicos que
possuem trajetórias de vidas distintas. Deste modo é necessário um tratamento
diferenciado, não se pode adotar a mesma proposta para todos; fora isto ainda é
preciso considerar que há por todo o Brasil diferentes tipos de assentamentos rurais,
que necessitam de um tratamento que respeite suas características locais.
54
3 O MUNICÍPIO DE ARAPONGAS E O ASSENTAMENTO RURAL DORCELINA FOLADOR (ARAPONGAS-PR.)
Os assentamentos rurais tendem a dinamizar a economia da região
em que estão localizados, acabando muitas vezes por impulsionar as várias
atividades nos locais onde estão inseridos. Sendo assim, torna-se necessária
esboçar as características agrárias do município de Arapongas, uma vez que o
assentamento desta pesquisa está aí localizado. Foi necessário contato direto com a
Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER) do
município que forneceu dados agrícolas estimados, referentes à safra de 2003/2004
(Anexo 4).
3.1 O QUADRO AGRÁRIO DE ARAPONGAS
De acordo com o Censo Agropecuário de 1995/1996 do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) o município de Arapongas possui uma
área de 370.9 Km² com uma altitude de 729 metros; sua população é de 82.482
habitantes. As divisas do município são, respectivamente, ao Norte o município de
Rolândia, ao Sul, Apucarana, a Leste, Londrina e a Oeste, Sabáudia.
A seguir visualiza-se o município de Arapongas localizado na região
Norte do Estado do Paraná:
55
Figura 2- Mapa de localização do município de Arapongas (PR.)
FONTE: IBGE, 2005. (Sem escala definida)
Para a análise da estrutura fundiária de Arapongas, é necessário o
levantamento com relação ao Estado do Paraná, como se constata na tabela a
seguir.
Tabela 1- Proporção do número e área dos estabelecimentos, por grupo de área total – Paraná – 1970/1995
PROPORÇÃO DO NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS EM 31.12 (%)
PROPORÇÃO DA ÁREA DOS ESTABELECIMENTOS EM 31.12 (%)
GRUPOS DE ÁREA TOTAL (ha)
1970 1995 1970 1995
Menos de 10 53.2 41.8 10.8 5.0
10 a menos de 100 43.5 50.9 41.7 33.9
100 a menos de 1.000 3.1 6.9 28.9 41.1
1.000 a menos de
10.000
0.2 0.4 15.6 17.3
10.000 e mais 0.0 0.0 3.0 2.7
TOTAL 100.0 100.0 100.0 100.0
Fonte: Censo Agropecuário 1995-1996.
56
Nesta tabela verifica-se a evolução da distribuição dos
estabelecimentos agropecuários nos anos de 1970 e 1995. Há um nítido aumento da
concentração, uma vez que em 1970 os estabelecimentos com menos de 10
hectares, representavam 53.2% do total de unidades e ocupavam uma área total de
10.8%; porém em 1995, a proporção do número de estabelecimentos deste grupo
decaiu para 41.8% e a sua área para apenas 5.0%. Ao passo que, acentuou-se a
participação da área do grupo de estabelecimentos de 100 a menos de 1.000 ha,
esta passou de 28.9% em 1970 para 41.1% em 1995.
Observada a estrutura fundiária paranaense neste período pode-se
verificar que Arapongas se enquadra nesta realidade uma vez que, segundo dados
do IBGE, os grupos de área total (ha) no ano de 1995 foi de 274 estabelecimentos
presentes em menos de 10 ha. O maior número de estabelecimentos concentrou-se
entre grupos de área total de 10 a menos de 100 ha com 519. Por fim, os grupos de
área compreendidos entre 100 a menos de 1.000 ha possuíram apenas 57
estabelecimentos.
O relevo é predominantemente plano com ligeiras elevações. Com
relação a hidrografia destacam-se : Ribeirão Pirapó, Córrego Lageado, Ribeirão Três
Bocas, Córrego dos Apertados, localizados na Bacia dos Bandeirantes.
A seguir, são apresentadas duas tabelas que demonstram os tipos
de ocupação do solo encontrados no município, bem como as culturas
desenvolvidas na safra 2003/2004.
57
Tabela 2- Ocupação do solo referente à safra 2003/2004 ITENS ÁREA (ha) %
Lavouras anuais 22.039 72
Lavouras permanentes 1.609 5
Pastagens cultivadas 4.671 15
Reflorestamento 510 2
Matas naturais- preservação
permanente
2.008 6
TOTAL 30.837 100
Fonte: EMATER/ Perfil da Realidade Agrícola 2004.
Tabela 3- Tipos de culturas referentes à safra 2003/2004 Produtores (n.º) Área (ha) Lavouras
Existentes Assistidos Existente Assistida
Amoreira 93 25 201 60
Café 174 38 1010 190
Milho 265 25 4100 500
Milho safrinha 28 8 300 40
Soja 378 40 17500 1700
Trigo 175 15 8000 600
Fonte: EMATER/ Perfil da Realidade Agrícola de 2004.
Com relação à estrutura fundiária pôde-se constatar um aumento da
concentração de áreas por pequena parcela do campo, ao lado de inúmeros
estabelecimentos com menos de 10 hectares. Pela análise da tabela 2 observa-se
que lavouras destinadas a monocultura encontram-se em uma extensa área como é
o caso das lavouras anuais (72%).
Convêm citar que segundo o Censo Agropecuário de 1995-1996
estas lavouras trazem a denominação de lavouras temporárias, as quais abrangem
as áreas plantadas ou em preparo para o plantio de culturas de curta duração (via
de regra, menor que um ano) e que necessitam, no geral, de novo plantio após cada
colheita, tais como: arroz, algodão, milho, trigo, hortaliças, dentre outras.
58
Sendo assim, é possível traçar um paralelo entre as tabelas, pois
como observado, além dos produtores de soja (378) também destaca-se as lavouras
de milho (265) e trigo (175), consideradas lavouras anuais. Embora as lavouras
permanentes não se destaquem em percentuais (5%), é importante citar que o
número de produtores existentes no cultivo do café, 174 (tabela 3), deve ser levado
em consideração por se tratar de um número significativo para a região.
Este número talvez seja pelo fato de ser uma lavoura pela qual
muitos produtores estão optando por trabalhar pela lucratividade que esta oferece,
uma vez que não se pode negar sobre a existência da dificuldade de obtenção de
renda no meio rural.
Segundo o Censo Agropecuário de 1995-1996 as lavouras
permanentes compreendem a área plantada ou em preparo para o plantio de
culturas de longa duração, tais como: café, laranja, cacau, dentre outras; que após a
colheita não necessitam de novo plantio, produzindo por vários anos sucessivos.
Tem-se 93 produtores destinados ao cultivo da amoreira numa área
de 201 ha, ou seja, há a presença de pequenos proprietários na região, visto a
característica deste cultivo, uma vez que se destina aos produtores não detentores
de extensas áreas; além disto, não há a necessidade de extensas áreas para a
criação do bicho-da-seda.
No que diz respeito a cultura do café constata-se na região dois tipos
de sistema de cultivo, os quais são demonstrados a seguir:
59
Tabela 4- Tipos de Sistema de Cultivo de Café Produtores (número) Área (ha) Sistema
Existentes Assistidos Existente Assistida
Convencional 114 30 800 620
Adensado 60 16 268 145
Fonte: EMATER/ Perfil da Realidade Agrícola 2004.
Esta tabela evidencia uma característica da região Norte do Paraná,
trata-se do cultivo de café, cultura destinada a extensas áreas, quando no caso do
sistema convencional, porém, para atender a demanda dos produtores não
detentores de grandes áreas, desenvolveu-se pelo Instituto Agronômico do Paraná
(IAPAR) o sistema adensado, propício às áreas menores, uma vez que este requer
menos espaço para seu cultivo e seus pés também são menores.
Segundo dados da tabela 2, há no município pastagens cultivadas, o
que evidencia a presença de produtores destinados a criação de bovinos de corte e
leite, como se pode constatar na tabela a seguir:
Tabela 5- Atividade Criatória de Arapongas (2004) Produtores (n.º) Rebanho (cabeças) Espécie
Existentes Assistidos Existente Assistido
Bovinocultura de corte 40 10 6800 2300
Bovinocultura de leite 30 5 2045 200
Bovinocultura mista 260 10 4425 500
Suinocultura 33 - 27351 -
Caprinocultura 6 - 206 -
Ovinocultura 25 - 1390 -
Apicultura 15 - 96 -
Avicultura 575 - 2114263 -
Piscicultura 45 20 16 10
Sericicultura 112 37
Fonte: EMATER/ Perfil da Realidade Agrícola 2004.
60
Nesta tabela destacam-se os produtores da avicultura (575), ou seja,
há a comercialização de aves no município, a bovinocultura mista (260) se
sobressai, pelo fato da obtenção de uma maior renda, uma vez que possibilita a
produção de bezerros e a comercialização de leite. A sericicultura vem em terceiro
lugar em número de produtores (112), o que comprova a aplicação dos recursos de
agricultores na criação do bicho-da-seda.
As atividades que se destacam são as de criações de aves
(2.114.263) e de porcos (27351), porém, enquanto tem-se aqueles 575 produtores
destinados a primeira criação, há apenas 33 produtores destinados a suinocultura, o
que leva a concluir que um número pequeno de produtores está destinando a sua
propriedade a criação deste animal.
Além do mais, deve-se mencionar o fato de Arapongas localizar-se
próximo à indústrias tais como a BIG Frango Indústria e Comércio de Alimentos
LTDA., localizada no município de Rolândia, responsável pela comercialização de
inúmeras aves criadas na região.
Convêm relembrar que e meados da década de 1970 a região Norte
do Paraná foi alvo da modernização da agricultura brasileira. Neste contexto,
Graziano Neto (1986) afirma que o trator talvez seja o melhor indicador do padrão
tecnológico de uma agricultura, uma vez que viabiliza a utilização de vários
implementos, tais como: os arados, as grades, os pulverizadores, entre outros.
Sendo assim, observa-se a tabela a seguir:
61
Tabela 6- Maquinário Agrícola TIPO QUANTIDADE (número)
Trator de pneu 690
Trator de esteira 7
Colheitadeira 110
Trilhadeira 5
Plantadeira de plantio direto- tração motora 125
Colhedeira/picadeira de forragem 27
Conjunto de fenação 1
Vagão para forrageira 5
Distribuidor de esterco 39
Fonte: EMATER/ Perfil da Realidade Agrícola 2004.
O número de maquinários presentes no município de Arapongas é
elevado, considerando o número de tratores de pneus (690), colheitadeiras (110) e
plantadeiras (125); porém, é necessário lembrar que nem toda a população tem
acesso a tais aparatos tecnológicos tendo de recorrer aos aluguéis, por exemplo.
Além disto, mesmo tendo um número de tratores elevado, seria necessário um
melhor detalhamento das condições de uso destes, uma vez que nem todos estão
bem equipados para serem utilizados pela população.
Após este breve relato do perfil agrícola do município de Arapongas
apresenta-se o organograma que especifica as etapas pelas quais um projeto de
financiamento deve tramitar para ser aprovado:
62
ORGANOGRAMA
1. Conselho Monetário Nacional
↓
2. Sistema Nacional de Crédito Rural
↓
3. Banco Central do Brasil
↓
4. Instituições Financeiras
↓
5. Pesquisa e Assistência Técnica
↓
6. Produtor
Fig. 3 Organograma
Fonte: DICK (1991)
Nota-se pelo organograma que para o agricultor receber o seu
financiamento, primeiramente este tem de possuir um projeto, elaborado pelo
agrônomo da EMATER; no caso dos assentamentos rurais é este agrônomo que
orienta o tipo de cultivo e o manejo adequado a ser adotado, cabendo ao assentado
aceitá-lo ou não. Após tomada a decisão e elaborado o projeto, este passa por todas
as etapas conforme o organograma, em que irá ou não validar o projeto; somente
após este trâmite será liberado o recurso ao assentado.
Este tipo de relação do assentado com o banco pode gerar
problemas, por não fazer parte do universo de relações cotidianas dos assentados.
Por este mesmo motivo é que, quando o assentado vai a locais como a EMATER,
sempre é acompanhado de um agrônomo vinculado ao assentamento.
63
3.2 O ASSENTAMENTO RURAL DORCELINA FOLADOR: DA LUTA À CONQUISTA DA TERRA
Localizado no município de Arapongas, Norte do Estado do Paraná,
o Assentamento Rural Dorcelina Folador ocupa uma área de 775 hectares que
pertencia à Fazenda São Carlos (Figura 2). De início, a fazenda estava para ser
leiloada pelo Banco do Brasil, quando um grupo do Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST) tomou conhecimento desta área e a ocupou no dia 9 de
setembro de 1999; após nove meses conseguiram a emissão da posse da área.
Tratava-se de trabalhadores rurais oriundos de diversos municípios do Brasil,
principalmente do sudoeste do Estado do Paraná.
O assentamento (Figura 5) encontra-se em área “nobre” em termos
agrícolas, pela presença do Latossolo Roxo Estruturado, conhecido por “Terra
Roxa”. Porém, mesmo localizado em uma região nobre em termos de solo, por sua
fertilidade natural, no passado tinha como atividade principal a produção de
sementes selecionadas, o que acarretou grande degradação do solo, por se tratar
de um cultivo que necessitava de uso elevado de agrotóxicos, obrigando os
assentados a recorrer ao método de desintoxicação do solo para reverter o quadro
deixado pelo antigo proprietário.
Quando a antiga fazenda foi desapropriada, tudo o que havia no
local foi deixado para uso das famílias recém- assentadas, a exemplo de dois pivôs
centrais de irrigação (Figura 6). Um utilizado pelas famílias pertencentes a extinta
forma coletiva do assentamento e o outro numa área de 24 hectares onde a
produção é revertida para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.
No ano de 2003, por meio de acordo com o Governo Federal foram
produzidos, “[...] alimentos que foram repassados ao Programa Ação da Cidadania
Contra a Fome” (VIETRO, 2005, p. 189). Com relação a forma coletiva, de acordo
64
com o referido autor, na época em que o grupo existia, as famílias formaram uma
associação para a aquisição de caminhões, máquinas, equipamentos e insumos,
além de empréstimos para produzirem em suas propriedades.
Em 1999, os lotes do Assentamento Rural foram demarcados por um
técnico do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e
distribuídos de forma igualitária pelo Movimento; para se tornar assentado todos os
interessados passaram por uma seleção.
Em seu início havia a presença de 10 núcleos em torno de 8 a 12
famílias cada, estes recebem as seguintes denominações: Renascer, Florestan
Fernandes, Frutos da Terra, Roseli Nunes, Osiel, Arajú, Nova União, Nossa Terra,
Cepet e Antônio Conselheiro. A coordenação de cada núcleo é feita por um homem
e uma mulher, segundo Geraldino (2005, p. 216) ambos “[...] tem a obrigação de
comparecer a reuniões internas no assentamento, ou externas como encontros
nacionais do MST”.
De acordo com o referido autor os moradores do assentamento são
migrantes de diversas áreas do país. No entanto a maioria veio das regiões sul,
sudeste e centro- oeste.
[...] Algumas famílias trabalhavam como parceiros no Brasil, e mudaram para o Paraguai, onde lá moraram muitos anos. Souberam do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e voltaram ao Brasil, aderindo ao movimento, acampando, para pleitear o espaço da terra própria que hoje possuem. (GERALDINO, 2005, p. 216)
É necessário citar que o assentamento pretendia assentar um total
de 64 famílias para, dessa forma, terem acesso a lotes maiores, porém, como na
época eram vários projetos de assentamentos e muitas famílias estavam sendo
assentadas, decidiram para o Dorcelina Folador um total de 94 famílias, diminuindo
consequentemente o tamanho dos lotes para cerca de 6 hectares na atualidade.
65
Figura 5: Visão parcial do assentamento. Observe a topografia plana do lugar. Paula Chagas Francis (10/10/05)
Figura 6: Pivô central que pertencia ao Grupo Coletivo Nossa Terra que na atualidade encontra-se desativado. Paula Chagas Francis (10/10/05)
66
As 94 famílias se dividem em oito grupos de trabalho,
respectivamente: educação, saúde, finanças, produção, comunicação, cultura, lazer,
e liturgia (Figura 7). Convêm destacar a importância destes grupos de trabalho na
ideologia do próprio MST, pois como no caso da educação, Negri (2005) expõe que
é considerada muito importante para os assentados, pois após distribuir as famílias
nos respectivos núcleos o primeiro a se formar é o da Educação.
De acordo com Negri (2005) o assentamento surgiu com a proposta
de ser referência em agroecologia para o Brasil; no entanto visto a realidade do
local, ainda não é possível que todas as famílias produzam na forma orgânica,
devido à necessidade de uso de agrotóxicos , falta de uma assistência técnica
adequada a este tipo de cultivo dentre outros motivos, mas há famílias que já
adotaram esta linha de produção como constatado no trabalho de campo.
67
4 QUADRO ATUAL DO ASSENTAMENTO DORCELINA FOLADOR
Na atualidade o assentamento conta com a presença de 9 núcleos,
pois não há mais a forma coletiva de produção, que um dos grupos adotou, os
assentados expuseram que o grupo se desfez por diversos motivos, um deles pela
incompatibilidade de objetivos do grupo sobre as linhas de produção que seriam
adotadas; além do mais, foi citado que tornou-se difícil manter um grupo com estas
características em um assentamento que se posiciona individualmente.
Com relação aos pivôs estes encontram-se desativados pelo seu alto
custo; um pelo fato de ter ocorrido o desmembramento da forma coletiva de
produção e o outro por ter “estourado” a represa na área comum como exposto
pelos assentados; no local também há água represada em três açudes provindos de
fontes de boa qualidade que são utilizadas para a irrigação e abastecimento das
famílias. Há também uma área de 20% de mata nativa e ciliar, preservada por lei.
É relevante o fato de este assentamento rural pretender ser
considerado como um assentamento modelo pela presença dos pivôs centrais, pelos
solos férteis e pela localização privilegiada, uma vez que está numa área de fácil
acesso e nas proximidades de cidades como, Apucarana, Arapongas, Londrina e
Maringá, consideradas importantes centros de comércio agrícola no Estado do
Paraná. Torna-se necessária a exposição de como vem se delineando a realidade
do assentamento; para que assim, seja possível contextualizá-lo de acordo com as
características do município em que este se encontra inserido.
4.1 A PRODUÇÃO AGRÍCOLA
Os dados referentes ao Dorcelina Folador foram recolhidos em dois
períodos, num primeiro momento em uma pesquisa realizada no ano de 2004 e em
68
seguida no trabalho de campo realizado num período de dois dias, respectivamente
10/10/05 e 11/10/05, onde se aplicou questionários in loco num universo de 20
famílias (Anexo 5)
PRODUÇÃO AGRÍCOLA
0102030405060708090
TIPO DE CULTIVO
%*
Milho
Feijão
Arroz
Amora
Mandioca
BatataCafé
Soja
Hortaliças
Cará
Mamona
Figura 8- Gráfico da Produção Agrícola (* % de produtores) Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR.), 26/08/04 .
Org. Anderson Vietro (adaptado por Paula C. Francis)
Com relação a produção, em sua maioria, é direcionada para a
subsistência das famílias do assentamento e o restante é comercializado na região.
Segundo Vietro (2005, p. 193) as principais culturas desenvolvidas no assentamento
são a do milho, soja, arroz, feijão, mandioca, batata, café, mamona, cana, triticale,
hortaliças, piaçava e amora. Esta última vincula-se à criação de bicho-da-seda,
cultura diferenciada no local visto não ser necessário o financiamento do Estado; os
assentados acreditam que este tipo de linha de produção pode vir a ser o diferencial
69
deste assentamento porém, deve-se citar que se trata de uma atividade que exige
razoável investimento e domínio de técnicas próprias para seu cultivo.
No que se refere à atividade de subsistência, Vietro (2005, p. 193)
relata que os assentados criam frangos caipiras, porcos e gado bovino. Há também
a produção de leite para consumo local, embora haja famílias que iniciem a
comercialização de algumas dezenas de litros diários a um pequeno empacotador
da cidade de Arapongas. A criação de avestruz também faz parte da realidade de
alguns assentados, porém, em regime experimental e com investimentos próprios,
para possível comercialização, o que mostra um interesse por parte dos assentados
em diversificar a produção.
Os dados permitem a análise de que o assentamento está inserido
no contexto do município de Arapongas, uma vez que grande parte dos cultivos é
encontrada em ambos os casos, a exemplo do cultivo do café, da soja, bem como da
amoreira para a criação do bicho-da-seda. Neste caso, um dos assentados relatou o
porquê do cultivo da amoreira, pois para ele além de ser a única alternativa para o
lote, visto o seu tamanho, trata-se de um dos únicos cultivos que possibilita obter
uma renda mensal, ao contrário de outros produtos que são anuais.
Há também no assentamento a presença daquele assentado com o
intuito de obter lucratividade em seu lote, cultivando lavouras tais como a soja e o
milho. Em certos lotes podem-se verificar assentados que se uniram aos lotes
vizinhos obtendo uma área mais ampla, para cultivarem tais produtos. No caso da
soja, não se vê esta como uma atividade que proporciona ao assentado
lucratividade, pois além dos lotes serem pequenos para este tipo de cultivo, os
gastos são muito elevados.
70
Constatou-se na pesquisa a comercialização de: cabritos, suínos,
aves e bovinos; no caso de bovinos há assentados que vendem algumas dezenas
de litros diários de leite no interior do próprio assentamento, a produção de queijo
também foi citada como alternativa para extrair uma renda a mais no local.
Uma das famílias que se dedica ao cultivo de produtos orgânicos
relatou a intenção de inserir-se nos mercados da região; porém o acesso de seus
produtos é dificultado pela ausência do selo de identificação. (Figura 9).
Figura 9: Foto de uma propriedade que tem seus cultivos voltados aos produtos orgânicos. Exemplo de uva niagara orgânica. Paula Chagas Francis (10/10/05)
Cinco famílias no assentamento se uniram e está iniciando a
produção de açúcar mascavo, cachaça artesanal e melaço, o que justifica o
interesse pelo cultivo da cana-de-açúcar no assentamento.
71
Segundo Vietro (2005) os cultivos comercializados no assentamento
que mais se destacam correspondem ao milho (82.71% dos lotes), feijão (64.19%) e
o arroz (53.08%), estes dois últimos comercializados junto aos intermediários do
município de Arapongas e de Apucarana. Com relação a soja, produzida em 16.04%
dos lotes é comercializada em Arapongas para a Cooperativa Integrada; as
hortaliças são destinadas para as Centrais de Abastecimento S/A (CEASAs) de
Londrina e Curitiba e a mamona é comercializada em Londrina com destino para a
produção de óleo (VIETRO, 2005, p. 193) (Figura 10 e 11)
Estas culturas estão sendo desenvolvidas no assentamento; o milho
hoje tem grande destaque, e as culturas de feijão e arroz são também para a
subsistência, apesar de que boa parte é comercializada via intermediário.
LOCAIS DE COMERCIALIZAÇÃO
0%10%20%30%40%50%60%70%80%
MUNICÍPIOS
ARAPONGASAPUCARANALONDRINARECIFEMARINGÁCURITIBA
Figura 10- Gráfico: Locais de Comercialização Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR.), 26/08/04 .
Org. Anderson Vietro (% de produtores).
72
FORMAS DE COMERCIALIZAÇÃO
0%10%20%30%40%50%60%70%80%
TIPOS DE COMÉRCIO
Intermediários
Cooperativas
Ceasa
Figura 11- Gráfico: Formas de Comercialização Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR), 26/08/04 .
Org. Anderson Vietro (% de produtos).
No ano de 2004 os assentados foram indagados sobre a satisfação
com os preços obtidos na venda de seus produtos, conforme tabela 7:
Tabela 7- Grau de satisfação com o preço de mercado
PREÇOS PRODUTORES
Satisfatórios 39%
Insatisfatórios 44%
Parcialmente Satisfatórios* 7%
Não Opinados 10%
TOTAL 100%
Fonte : Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR.), 26/08/04 . Org. Anderson Vietro (Adaptado por Paula Chagas Francis).
* Satisfação com os preços de uma cultura e insatisfação com os preços das demais.
Como se observa, para 44% dos assentados os preços dos produtos
são insatisfatórios e 39% satisfatórios; já os 7% que consideram os preços
73
parcialmente satisfatórios, correspondem ao grupo de assentados que estão
satisfeitos com o preço pago pela COCAMAR pelo bicho-da-seda, mas não
concordam com o preço de outros produtos.
No ano de 2005 foi realizado uma nova pesquisa em que somente
20% dos assentados continuam satisfeitos e em contrapartida há 80% insatisfeitos,
devido ao fato dos preços serem definidos pelos intermediários que pagam pouco
pelos produtos. Um dos assentados afirmou que: “...dá male má prá vivê.” As críticas
dos assentados que comercializam nos CEASAs são muito claras, pois estes
consideram que os intermediários deveriam também pagar um preço mais justo.
No que diz respeito aos assentados que trabalham com a criação do
bicho-da-seda as famílias expõem que em vista dos outros produtos o preço obtido
está satisfatório, em média 70 Kg por caixa. A média de classificação do teor da
seda alcançada por este cultivo é de 17.5, a um preço que equivale a R$ 5.70, ou
seja, tem-se um produto de ótima qualidade no assentamento. Além disto, neste
caso em específico, a Cooperativa COCAMAR vende todos os insumos necessários
para a produção, se comprometendo a comprá-la.
Além do financiamento dos barracões (Figura 12) e do fornecimento
de larvas (Figura 13) e insumos aos assentados que entraram nesta atividade, foi
citado que no período de inverno, fornece aos assentados, cesta básica para se
manterem na entressafra, período que muitas das famílias recorrem às fazendas
vizinhas como forma de obterem uma renda para sobreviver.
De acordo com Tavares dos Santos citado por Oliveira (1990, p. 69)
esta atividade denomina-se trabalho acessório, em que o trabalhador transforma-se,
periodicamente em “[...] assalariado, recebendo via de regra, por período de
74
trabalho; essa transformação periódica constitui uma fonte de renda monetária
suplementar [...]”.
Em relação a comercialização há famílias que vendem seus
produtos pelo simples motivo de estarem endividadas. Isto demonstra claramente
uma realidade do produtor que é a dependência do mercado, atrelado ao
intermediário o assentado acaba se adequando aos preços impostos por este, sendo
sua única alternativa de “sobreviver”.
Os assentados voltados à criação do bicho-da-seda justificam a
escolha desta atividade, por dois motivos: um pelo fato da propriedade ser pequena,
não tendo alternativa como exposto na fala de um destes: “...é a única coisa que dá
para sobreviver com o tamanho da terra”; somado a este, a vantagem da obtenção
da renda mensal.
Figura 12: Interior do barracão da criação do bicho-da-seda Paula Chagas Francis (10/10/05)
75
Figura 13: Larvas fornecidas pela COCAMAR para a criação do bicho-da-seda. Paula Chagas Francis (10/10/05)
Em relação às compras feitas pelos assentados, a maioria realiza
em dois mercados de Arapongas, pois um deles relatou que: “... são os únicos que
nos dão crédito”. Vale ressaltar que um dos entrevistados realiza suas compras na
em Londrina, pois considera os preços de Arapongas elevados, em comparação
com os demais municípios.
O fato dos assentamentos rurais impulsionarem as várias atividades
industriais nas proximidades onde se encontram instalados faz com que estas se
aproveitem dos assentados na cobrança de preços elevados de insumos, por
exemplo, principalmente em épocas de plantio e colheitas.
Quando questionados os assentados sobre os motivos pelos quais
levaram a escolher seus produtos pôde-se perceber que há assentados que optam
por determinado produto de acordo com o tamanho do lote, alegando que não há
76
espaço para se estar diversificando a produção; um dos entrevistados relatou “...pro
pequeno agricultor é a saída, ou trabalha com bicho-da-seda ou leite”; além deste
um outro em sua fala disse “...o pouco de terra que tem não dá prá inventá muito”
porém, deve-se lembrar que há assentados que se unem com outros para
produzirem de forma conjunta.
Algumas famílias da antiga forma coletiva irão iniciar a produção de
soja; neste caso, o assentado em particular, deixou claro em sua fala a intenção
desta escolha, dizendo que pretende obter dinheiro com o produto; com relação ao
restante das famílias entrevistadas demonstraram preocupação com a sua
subsistência.
Sobre o dinheiro obtido com a venda de seus produtos, as famílias
afirmaram que dá apenas para sobreviver, e uma das famílias fez uma crítica ao
governo de Luís Inácio Lula da Silva, dizendo que “..o governo Lula prometeu tanto,
falando que ia acaba com a fome, dizendo que ia dá alimentos prá todos...viver
bem?, dá é só prá sobreviver e olha lá”.
Um outro assentado enfatizou sobre o intuito de adquirir um
caminhão para trabalhar na cidade, pois com a lavoura não dá para viver sem
passar necessidades. Acrescenta-se que este assentado foi indagado se iria
abandonar seu lote para trabalhar na cidade, porém, afirmou que se tal fato ocorrer
sua esposa ficará no lote e ele irá para a cidade.
Os assentados que criam o bicho-da-seda, expuseram que está
dando para viver de modo digno, porém, se fossem depender dos demais produtos
não daria para sobreviver.
No trabalho de campo pôde-se constatar que há exemplos de
famílias que principalmente em sua fase inicial de assentadas tiveram que recorrer a
77
empregos nas lavouras vizinhas como forma de sobrevivência, visto estarem ainda
acampados e não terem condições de cultivar nada. Com relação a uma família, em
específico, pelo motivo de estar no assentamento acerca de seis meses, relatou que
trabalha também nas fazendas vizinhas onde há o cultivo de café, pois: “..tem de
sobreviver de alguma forma”.
Sendo assim, tornou-se necessária uma análise sobre as atividades
exercidas pelos assentados. No trabalho de campo desta pesquisa verificou-se que
100% dos entrevistados trabalham na lavoura em seus respectivos lotes. Porém, foi
constatado casos de assentados que recorrem aos empregos na cidade e em
fazendas vizinhas como forma de complementar a renda familiar.
Na tabela a seguir, pode-se visualizar que há assentados que
trabalham em fazendas vizinhas e outros que somente trabalham em seus
respectivos lotes.
Tabela 8- Atividade Exercida ATIVIDADE ASSENTADOS %
Fazendas vizinhas 9 45
Não realiza atividade fora de seu lote 9 45
Emprego nas cidades 2 10
TOTAL 20 100
Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR.), Período: 10/10/05 e 11/10/05 .
Os assentados relataram (45%) recorrer as fazendas vizinhas em
épocas de extrema necessidade; segundo um depoimento trabalha-se nas fazendas
vizinhas “quando as dívidas apertam”; neste caso, o marido quando necessário
recorre à cidade para exercer a atividade de pedreiro.
No caso das famílias que trabalham com a criação do bicho-da-
seda, estas somente vão para as fazendas vizinhas se for muito necessário. Pois,
78
além da mão-de-obra necessária para os cuidados com a criação é importante
lembrar que se faz necessário um tratamento exclusivo para esta atividade, somado
a uma atenção redobrada por parte da família, absorvendo todo o potencial de mão-
de-obra disponível.
No que diz respeito ao contrato de mão-de-obra temporária no
interior do assentamento não é significativa, como constatado em pesquisa empírica
no ano de 2004, 65.4% dos entrevistados não se utilizavam deste tipo de contrato,
ao lado de apenas 34.6% que o faziam em períodos de colheita e de plantio como
no: plantio de feijão, que necessitava cerca de 6 pessoas e no plantio de café, cerca
de 3 diárias, além do uso de diaristas como, por exemplo, nos períodos de colheita
de feijão e milho.
O uso deste tipo de serviço também foi citado na criação do bicho-
da-seda, principalmente no que se refere aos períodos de colheita da amora e em
épocas em que os cuidados com os casulos são mais necessários; tornando, assim,
a atividade antieconômica, visto os custos que o assentado tem com este tipo de
contratação.
Em 2005, este tipo de serviço está sendo realizado nas colheitas,
bem como nas épocas de plantios em que há a necessidade de contratar ao menos
um diarista para auxiliá-los. Vale salientar uma família que trabalha com a criação do
bicho-da-seda, e relatou ter a necessidade de esporadicamente contratar este tipo
de mão-de-obra.
No entanto, 80% não fazem uso deste tipo de serviço ao lado de
apenas 20% que o faz, o que leva a concluir que o assentado além de trabalhar em
sua propriedade sem a necessidade de contratação, evita o gasto com a mão-de-
obra temporária.
79
No que se refere a presença de empregados permanentes
existentes no assentamento, pôde-se constatar no trabalho de campo que este é
nulo; pois as trocas de dias de serviços e o contrato de diarista é uma prática mais
corrente.
Com relação à mão-de-obra familiar nota-se que 55% do universo de
81 assentados, constitui-se do casal. Cerca de 14% das entrevistadas responderam
que o trabalho na lavoura fica a cargo do marido, deixando afazeres da casa e os
cuidados com os filhos como tarefa da mulher. Os filhos também ajudam na lavoura,
demonstrando uma realidade existente no meio rural, em que crianças e jovens,
muitas vezes deixam seus estudos para auxiliarem nas tarefas do lote. Isto é
observado na criação do bicho-da-seda, em que geralmente toda a família trabalha,
uma vez que há a necessidade de mão-de-obra. Tavares dos Santos (apud
OLIVEIRA, 1990) afirma que a força de trabalho familiar é considerada o motor do
processo de trabalho na unidade do agricultor, onde há um verdadeiro trabalho
coletivo.
Cerca de 28% exercem atividades fora do assentamento e 72%
exercem estas em seus respectivos lotes; também há assentados que realizam os
serviços com seus respectivos tratores como forma de complementar suas rendas e
somado a este caso há um caminhoneiro, que trabalha para o transporte de
produtos do local. Aqui, novamente pode-se constatar a presença do trabalho
acessório.
Em relação às atividades exercidas fora do assentamento as mais
citadas foram os empregos nos municípios próximos tais como: Apucarana,
Tamarana, Londrina, além do município de Arapongas; com relação às fazendas
80
vizinhas estas contratam diaristas, principalmente nos períodos de plantios e
colheitas.
Puderam-se observar casos em que há uma diferença na renda
obtida pelas famílias assentadas, pois há as que têm obtido uma renda a mais como
é o exemplo das que trabalham com a criação do bicho-da-seda, já outras por não
obterem renda suficiente com a lavoura recorrem a empregos em outras localidades.
Sendo assim, o gráfico a seguir demonstra quanto o assentado obtêm de renda
pelos seus serviços no meio rural.
RENDA FAMILIAR
47%
32%
17% 4%
Até 01 salário mínimo Mais de 01 salário mínimoNão informada Não Possui
Figura 14- Gráfico da renda familiar Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas-PR), 26/08/04.
(Org. Anderson Vietro)
O gráfico demonstra que 47% das famílias recebem até 01 salário
mínimo, valor que deve ser levado em conta se comparado aos demais, pois além
de revelar uma renda baixa da maioria das famílias assentadas, comprova a
necessidade de recorrer aos empregos nas fazendas vizinhas.
81
É importante citar que os assentados que trabalham com o cultivo da
amora para a criação do bicho-da-seda, são os que melhores rendas estão obtendo
com esta produção, pois no ano de 2004 estava em torno de R$ 373.00; além do
mais, um dos assentados informou que várias são as famílias que estão optando por
esta atividade. Mas não se pode deixar de mencionar que mesmo não necessitando
nesta atividade de uso de máquinas, já que a amora é um cultivo permanente, há os
gastos no contrato de mão-de-obra quando necessário.
A criação do bicho-da-seda deve ser vista como alternativa para o
assentamento, uma vez que uma das famílias entrevistadas, por exemplo, não tinha
quase nada ao chegar ao local, apenas um carro velho; porém hoje, com a “seda”
adquiriram outro carro em melhor estado.
Sobre a renda adquirida com a lavoura, obteve-se a quantia em
torno de R$ 454.00. Não se trata de um valor elevado, pois os gastos que os
assentados têm com a manutenção de seus lotes, aquisição de insumos,
maquinários, aluguéis dos mesmos, fazem com que este dinheiro seja revertido para
a lavoura e para suprimir suas necessidades básicas.
Observa-se que o assentamento está em constantes mudanças; na
atualidade as famílias que estão na atividade do bicho-da-seda são as mais
satisfeitas; porém, não se pode deixar de citar a satisfação das outras famílias, neste
caso, um dos maiores entraves para a obtenção de uma renda satisfatória é a
presença do intermediário, além dos aluguéis de maquinários.
4.2 O NÍVEL TECNOLÓGICO DO ASSENTAMENTO
As dificuldades enfrentadas pelos assentados para conseguirem
financiamentos suficientes para a aquisição de equipamentos e insumos agrícolas
82
fazem parte da realidade do assentado. Como se sabe, o trator corresponde a um
indicador do padrão tecnológico de uma agricultura, neste trabalho de campo um
dos assentados informou que os seis tratores existentes, foram adquiridos pelos
seus proprietários antes da formação do assentamento.
Como nem todos possuem tratores a prática de aluguéis é uma
realidade. Os preços variam entre R$ 35.00/hora podendo alcançar um valor de R$
70.00/hora dependendo do tipo de trator necessário; segundo um dos donos dos
tratores os preços são respectivamente: trator pequeno R$ 35.00/hora e o valor do
trator grande varia entre R$ 40.00, R$ 50.00 e R$ 70.00. Foi constatado que 80%
dos entrevistados utilizam os tratores e 20% não os utilizam, um pelo fato de
trabalhar somente com tração animal e o outro por cultivar produtos orgânicos.
Graziano da Silva (1982) já expunha que com a presença de
empresas capitalistas no campo, o trabalho manual passou a ser substituído pelas
máquinas, a mecanização passou a fazer parte desta realidade; porém, como nem
todos detinham capital para adquirir tais aparatos tecnológicos tiveram de optar pela
prática de aluguéis de maquinários para se manterem no campo. Assim, pode-se
afirmar que o assentado está inserido no processo de dependência de modernas
tecnologias, visto a prática de aluguéis presentes no assentado.
Um dos entrevistados relatou sobre esta problemática no interior do
assentamento uma vez que este conta com um número de 94 famílias que, em sua
maioria, dependem deste maquinário para trabalhar sua lavoura. No trabalho de
campo realizado vale relembrar o depoimento de um dos assentados que ao se
referir ao aluguel do trator, afirmou: “...e o pagamento é a vista!”. Um dos
proprietários dos tratores relatou que além de trabalhar no interior do assentamento,
83
recorre as propriedades vizinhas para oferecer seus serviços com o intuito de
aumentar sua renda.
Tabela 9– Utilização de Insumos Agrícolas (%) Adubos Inseticida Calcário Herbicida Outros
sim Não Sim não sim não Sim não 100 - 65 35 55 45 65 35 35
Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR.). Período: 10/10/05 e 11/10/05 .
Pode-se constatar pela tabela que todos os assentados se utilizam
de adubos em sua lavoura, conclui-se que estes estão na tentativa de reverter o
quadro deixado pelo antigo proprietário da fazenda, o qual fazia uso elevado de
agrotóxicos.
Sobre o uso de inseticidas 65% dos assentados têm consciência
com relação ao uso destes. Foi citada a problemática das fazendas vizinhas
utilizarem o inseticida 2-4 D, proibido na atualidade; neste caso utiliza-se um avião
para pulverizar as plantações. Tanto insumos como as sementes são todos
adquiridos na cidade de Arapongas no estabelecimento denominado Agroplus. Com
relação ao item outros, 35% refere-se aos assentados que cultivam produtos
orgânicos, utilizando-se por exemplo de estercos em suas lavouras.
Tabela 10- Implementos Agrícolas utilizados no local (%) Plantadeira Roçadeira Pulverizador Arado Grade Outros
sim não sim não sim não Sim não sim não
*man. *mec. man. mec. animal Mec.
20 45 35 50 50 60 25 15 35 - 65 35 65 20
Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR.)Período: 10/10/05 e 11/10/05 . (*man. = manual, mec. = mecânico)
84
Com relação aos implementos agrícolas pode-se observar que o
assentamento também possui determinados maquinários. Observa-se pela tabela
que 65% dos entrevistados utilizam a plantadeira manual e a mecânica,
sobressaindo-se o uso da última (45%). O trabalho manual ainda é muito utilizado,
visto o número de pessoas que se utilizam do pulverizador manual (60%),
denominado por eles de “costal”, bem como o uso ainda do arado animal (35%).
A exemplo dos tratores que são alugados ocorre também o aluguel
das plantadeiras mecânicas no interior do assentamento. O valor estipulado para o
aluguel da plantadeira mecânica é de R$ 61.98/hectares, valor considerado elevado
tendo em vista a renda familiar, que no decorrer do ano de 2004 estava em uma
média de R$ 324.00 por assentado. Com relação aos aluguéis de outros tipos de
maquinários tais como a colheitadeira com a finalidade de atender a dois tipos de
culturas como a soja e o milho por exemplo, todos os entrevistados recorrem a estes
aluguéis para estas culturas.
O item referente a outros corresponde ao universo de assentados
que trabalham em sua propriedade com o cultivo da amora vinculada a criação do
bicho-da-seda; estes relataram possuírem equipamentos tais como: máquina para
realizar a limpeza dos casulos, enxada, “matraquinha” para plantar, dentre outros.
No que diz respeito aos pivôs centrais desativados, as famílias
entrevistadas expuseram que estes deveriam ser reativados mesmo com os gastos
que demandam de energia, pois pelo fato de já terem passado por dois anos de
seca este tipo de equipamento faz falta. Porém, como relatado por uma assentada
os pivôs para irrigação são essenciais, mas segundo ela deveriam funcionar por
gotejamento, apesar de ser um sistema mais caro que o convencional.
85
No que se refere a forma coletiva, a intenção de se voltar a ela foi
relatada por apenas um dos assentados, este afirmou que se o assentamento
continuar na forma individual, os problemas futuros tenderão a aumentar. Pôde-se
verificar que os assentados desejam que o pivô pertencente ao antigo coletivo seja
de acesso a todos.
O nível de tecnificação do assentamento encontra-se baixo, pois os
tratores são poucos e não apropriados para atender aos assentados. Estes não
conseguem ter acesso a equipamentos e insumos de boa qualidade que
possibilitariam uma maior tecnificação somado a um aumento de produtividade, uma
vez que o custo de produção é alto.
4.3 A ASSISTÊNCIA TÉCNICA FORNECIDA AOS ASSENTADOS
Na atualidade há no local dois responsáveis pela assistência técnica
chamados pelos assentados de “Vice” e “Vick”, o primeiro corresponde ao técnico do
assentamento e a segunda trata-se de uma agrônoma, ambos residentes no local e
substitutos de um técnico anterior que trabalhava no assentamento, com quem os
assentados tiveram uma experiência frustrada.
O agrônomo tem como função auxiliar os assentados sobre os
cultivos e/ou criações indicadas para os lotes, porém a maioria não se encontra
satisfeita com a assistência técnica ofertada, pela dificuldade em encontrá-lo no
local, uma vez que este trabalha em mais três assentamentos rurais da região.
Em sua maioria (70%) não está satisfeita com o atendimento, mas
uma minoria de 30% está. Vê-se isto como um problema passível de solução,
bastaria que houvesse reuniões mensais com os assentados, o técnico e a
agrônoma; dessa forma os primeiros poderiam expor as dificuldades deparadas no
86
desenvolvimento de suas lavouras, sendo assim o técnico e a agrônoma forneceriam
a devida assistência de acordo com a necessidade do assentado.
Segundo os depoimentos recolhidos no trabalho de campo, pode-se
observar que em sua maioria os assentados concordam sobre a importância de um
planejamento mais adequado com relação a esta assistência, visto que ambos
atendem a uma área muito grande na região. Além disto, foi exposto que os dois não
vão com frequência aos lotes, tendo de ir atrás caso queiram achá-los. Dentre os
vários depoimentos recolhidos foram selecionados alguns para a compreensão de
como os assentados estão vendo este caso da assistência técnica dentro do
Dorcelina Folador, os quais são ilustrados a seguir:
Assentado I: o agrônomo em conversa com a família sugeriu que
esta trabalhasse com vacas para estarem desta forma vendendo leite no interior do
assentamento, mas a família não aceitou relatando em sua entrevista que: “...é muita
pouca terra para fazer isso, convêm planta o que sabe que vai colhê e vendê.”
Assentado II: relatou como sendo péssima a assistência técnica
ofertada para eles afirmando que: “...o agrônomo é pago para trabalhar no
assentamento Dorcelina, mas cê você for atrás dele hoje, você não acha. Ele pega e
vai para outros assentamentos...tipo faz “bico”. Se quero fazer um projeto para milho
por exemplo, tenho que encher o saco dele durante um mês batendo na porta do
cara todo dia.”
Assentado III: “...era para ter (risadas), tipo o cara tá aqui , mas é
como se não tivesse, acabou de chegar e ele nem procurar procura, pra nós ele
poderia visita mais, mas quer queira quer não já é um começo ele tá morando aqui.”
87
Assentado IV: com relação a assistência técnica neste caso foi
relatado que: “...vem mas vem atrasada. É muito fraca, o outro era melhor só não
era organizado”.
Assentado V: “....nunca veio o técnico no lote, tem ele , mas ele não
vem aqui no lote, tem de ir atrás dele”.
Assentado VI: “...Tá bom, não agrada todo mundo. Mas nem Cristo
agradou a todo mundo (risadas).”
Observa-se que a crítica com relação a assistência é exposta pelos
assentados porém, deve-se observar que muitos já vêem como um ponto positivo o
fato do local contar com um técnico e uma agrônoma para exercer esta função,
mesmo que de modo precária.
Um dos assentados expôs sobre a necessidade de uma assistência
técnica que lhes seja adequada, onde pudessem estudar maneiras mais práticas
para no futuro o assentamento vir a ter a sua produção voltada para a prática
orgânica; segundo ele já era para estar tudo orgânico; este vai mais além ainda
quando cita que já era para ter começado essa mudança tecnológica porém, ele
mesmo sabe da necessidade de todos se adequarem, não somente eles, e sim
principalmente as fazendas vizinhas.
Em um encontro realizado na Universidade Estadual de Londrina
(UEL) um assentado do Dorcelina Folador relatou que faltam profissionais nesta
área de assistência técnica, para ele é necessário retirar o atravessador, pois de
acordo com este: “...tem época que os assentados tem de colher café nas fazendas
vizinhas para complementar sua renda.”
88
Tabela 11- Intenção de cultivar algo diferente CULTIVO N.º de RESPOSTAS %
Soja 3 18.75
Café 2 12.5
Horta 2 12.5
Abacate 1 6.25
Amendoim 1 6.25
Batata-doce 1 6.25
Feijão 1 6.25
amora 1 8
Semente de eucalipto 1 6.25
Nenhuma 4 25
TOTAL 16 100
Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR.). Período: 10/10/05 e 11/10/05 .
Tabela 12- Intenção de criar algo diferente
CRIAÇÃO N.º de RESPOSTAS %
Aves 5 50
Avestruz 2 20
Bovino 2 20
Suínos 1 10
TOTAL 10 100
Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR.). Período: 10/10/05 e 11/10/05 .
Pelos percentuais obtidos nas tabelas verifica-se a intenção dos
assentados em diversificar a sua propriedade, dando-se destaque à criação de aves,
neste caso estão aplicando mais recursos nas criações que já possuem. Vale
relembrar que no município de Arapongas um dos rebanhos que mais se destacou
foi o da criação de aves, podendo verificar o quanto o Dorcelina Folador está
inserido nesta realidade.
Em segundo têm-se os assentados sem nenhuma intenção de
cultivar algo diferente; neste caso os assentados estão satisfeitos com o que já
produzem em seus lotes, pois no momento o que queriam já possuem, que se trata
89
de sua terra para nela plantar e dela retirar seu sustento. Como se sabe as
dificuldades pelas quais os assentados depararam até chegarem ao assentamento
foram inúmeras, sendo assim não poderiam deixar de estarem satisfeitos no local.
Os assentados que expuseram a intenção de criar bovinos, deram
preferência para a criação de vacas pela possibilidade de comercialização de leite
no interior do assentamento, uma alternativa de renda para as famílias. Uma das
famílias pretende desenvolver em sua propriedade o cultivo do café orgânico (Figura
15) e uma outra investir nas hortas que já possui. No que diz respeito ao café
orgânico há uma família que além de trabalhar com a criação do bicho-da-seda,
cultiva muda deste tipo de café e de sementes de eucaliptos (Figuras 16 e 17).
Figura 15: Exemplo de propriedade que possui produção voltada para o cultivo do café orgânico. Este deve ser levado em conta uma vez que o assentamento tem por intuito desenvolver a produção orgânica. Paula Chagas Francis (11/10/05)
90
Figura 16- Propriedade que além de trabalhar com a criação do bicho-da-seda esta diversificando a sua produção, ao iniciar o cultivo de mudas de café orgânico. Ao fundo é possível visualizar as verduras para a subsistência da família. Paula Chagas Francis (11/10/05)
Figura 17: Início de produção de sementes de eucaliptos. Paula Chagas Francis (11/10/05)
91
5 DO PROCERA AO PRONAF: UMA ANÁLISE DO ASSENTAMENTO DORCELINA FOLADOR
A partir do momento em que os assentados tomam posse de seus
lotes estes passam a ter acesso a vários direitos, dentre eles incluem-se os créditos
rurais para a obtenção de implementos e insumos agrícolas, por exemplo. O primeiro
crédito destinado aos assentados foi o PROCERA (Programa de Crédito Especial
para a Reforma Agrária).
Na sequência, o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-
2002) criou o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
(PRONAF) em substituição ao PROCERA, para atender os produtores menos
capitalizados.
Sendo assim, este capítulo tem por intuito a análise de dados sobre
estes dois programas. Para tanto, foram trabalhados dados empíricos referentes ao
ano de 2004 que ilustram a realidade do local e dados de 2005, de caráter mais
qualitativo.
Em vista do antigo PROCERA e o atual PRONAF, ambos créditos
rurais que os assentados do Dorcelina Folador tiveram acesso, elaborou-se a
seguinte tabela.
Tabela 13- Créditos Rurais destinados aos assentados N.º DE FAMÍLIAS %
PROCERA 34 42
PROCERA e PRONAF A/C 34 42
Nenhuma ajuda 7 8.6
PRONAF A 5 6.2
não soube responder 1 1.2
TOTAL 81 100
Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR.) Data: 26/08/04.
92
No ano de implantação do assentamento (1999) os assentados
receberam a quantia de R$ 12.000.00 provinda do PROCERA (42%), possibilitando
adquirir os meios de produção, dentre os quais os mais citados foram: barracões,
lona, paiol, telas, cercas, adubos, sementes, estercos, entre outros. Vale relatar que
o prazo para o pagamento deste ainda não venceu. Os outros 42% tiveram acesso
ao PROCERA bem como ao PRONAF A/C, este último destinado ao custeio da
lavoura.
Pode-se concluir que 84% das famílias encontram-se no local desde
o ano de implantação do assentamento (1.999). Cerca de 8.6% não receberam
nenhum auxílio do governo, por possuírem dívidas no banco, por exemplo. Por fim,
6.2% dos assentados tiveram acesso ao PRONAF A, comprovando-se o fato de que
nem todas as famílias estão no local desde o ano de implantação do assentamento.
Deve-se mencionar que o antigo PROCERA tratava-se de um crédito
rural especial que atendia os assentados. Sendo assim, poder-se-á observar o
quanto os assentados rurais têm, até na atualidade, satisfação em se pronunciar a
favor do antigo crédito rural, quando comparado ao PRONAF.
5.1 O PROCERA E O ASSENTAMENTO DORCELINA FOLADOR
Faz-se necessário elaborar uma tabela sobre o tempo de residência
dos assentados no local, para verificar o número de famílias que estão no
assentamento desde seu início.
93
Tabela 14- Tempo de residência no local ANO/MESES N.º de FAMÍLIAS %
6 meses 2 2.5
9 meses 1 1.2
1 ano 5 6.2
2 anos 6 7.4
3 anos 8 9.9
4 anos 38 46.9
5 anos 19 23.4
Não soube
responder
02 2.5
TOTAL 81 100
Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR.) Data: 26/08/04.
De acordo com a tabela verifica-se que em sua maioria 46.9%
residem no Assentamento Rural Dorcelina Folador há 4 anos, em segundo tem-se
23.4% que responderam morar no local há 5 anos. De acordo com estes números
pode-se verificar que grande parte das famílias residentes no local, (mais de 50%)
estão instaladas no assentamento desde a época de sua implantação. Segundo os
assentados, o PROCERA atrasou mais de um ano, vindo no ano de 2.000, mês de
janeiro.
O atraso na liberação de recursos do PROCERA foi uma realidade
pela qual os assentados se depararam, pois as exigências burocráticas atrasaram
ainda mais a sua liberação. Mesmo desde a fase inicial os assentados tiveram
acesso a vários auxílios, os quais são citados a seguir:
94
Tabela 15- Auxílios fornecidos aos assentados N.º de FAMÍLIAS %
Amigos e parentes 4 4.9
MST 8 9.9
PROCERA 38 46.9
Nenhum auxílio 23 28.4
CPT 2 2.5
Não soube
responder
6 7.4
TOTAL 81 100
Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR Data: 26/08/04
De acordo com os dados da tabela pode-se verificar que o auxílio
mais citado foi o PROCERA (46.9%), um recurso que o assentado tinha o direito de
receber. Este era referente à: investimento, fomento e habitação, totalizando o valor
de R$ 12.000.00. O percentual de 28.4% de assentados que não receberam
nenhum auxílio é interpretado como fazendo referência às famílias que chegaram
num período posterior ao local.
Guanziroli et al. (2001) sobre a obtenção deste financiamento por
parte das famílias assentadas, em particular na Região Sul, já relatava que as
primeiras famílias passaram por inúmeras dificuldades visto a demora na liberação
destes créditos; várias abandonaram a área, por não terem condições de resistir por
muito tempo. Além do mais, o que se constata na atualidade, é que a maioria destas
famílias assume o lote em condições de completa descapitalização, sem possuir
bens e nem meios próprios para desenvolverem suas lavouras iniciais (Tabela 16).
95
Tabela 16- Dificuldades enfrentadas ao chegar no local DIFICULDADES N.º de famílias %
Falta de recursos financeiros 36 44.3
Falta de infra-estrutura 10 12.2
Preconceito 9 10.4
Não especificaram 6 7.8
Falta de trabalho 5 6.9
Nenhuma 4 6.1
Comercialização 3 3.5
Falta de demarcação 3 3.5
Trauma de despejo 2 2.6
Burocracia 1 0.9
Dívidas no banco 1 0.9
Geada 1 0.9
TOTAL 81 100
Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR.) Data: 26/08/04.
Nesta pesquisa, realizada em 2004, no assentamento pode-se
constatar que na maioria das famílias entrevistadas foi relatado o fato destas não
possuírem bens ao chegarem no local, comprovando-se a teoria de que, no geral, as
famílias assumem o lote em condições de completa descapitalização.
As dificuldades pelas quais estes depararam foram inúmeras, sendo
que a falta de recursos financeiros foi a mais citada (44.3%). Neste percentual inclui-
se a falta de recurso para realizar suas lavouras, bem como a falta de condições de
se ter uma moradia adequada, além da falta de alimentos e água para sobreviverem
no local.
Neste período alguns dos assentados relataram sobre a
necessidade de realizarem trabalhos por dia para outros fazendeiros, visto ser a
única forma de se manterem nesta fase inicial. Um assentado mencionou que esta
foi a única saída para se manter em seu lote, uma vez que ainda não tinha seus
primeiros rendimentos com a lavoura.
96
No que diz respeito à falta de infra-estrutura (12.2%) os assentados
afirmaram que no início não possuíam uma estrutura adequada no local, como a
existência de: transportes, escolas, bem como a falta de energia elétrica no interior
do assentamento.
São diversas as dificuldades que os assentados se deparam mesmo
se tratando de um local que pretende servir de modelo no Norte do Estado do
Paraná. As dificuldades vão desde a obtenção de uma boa produtividade até a falta
de recursos, pois os gastos que estes têm na aquisição de insumos e maquinários é
elevado. Detectou-se a prática de aluguéis destes maquinários no próprio
assentamento, acarretando numa maior despesa para a produção, resultando na
diminuição da renda; além disto, a assistência técnica também é precária.
Foram citadas como dificuldades iniciais: o preconceito sofrido neste
período, com muitas perseguições por policiais e por parte de algumas pessoas do
município de Arapongas e das fazendas vizinhas. A falta de demarcação
provocando confusão na divisão de seus respectivos lotes.
Como se pode notar, as dificuldades ao chegarem ao local foram
inúmeras. A mais penosa foi a demora da liberação dos recursos para habitação,
tendo que improvisá-la, construindo barracos ou utilizando as antigas casas da sede
da propriedade. Uma das famílias expôs que “...no começo foi tudo difícil,
principalmente para construir a casa”.
Pôde-se constatar no trabalho de campo que das famílias
selecionadas para a pesquisa, as que chegaram ao assentamento com algum bem
tiveram que vendê-lo antes de obter seus primeiros rendimentos em suas colheitas.
Com se sabe, o primeiro ano do assentado é um dos mais problemáticos uma vez
que este depende desta colheita para extrair sua renda inicial.
97
Nos depoimentos de alguns assentados detectou-se que em sua
maioria chegaram ao local sem recursos próprios, dos poucos bens que possuíam
três assentados relataram ter um carro. Foi exposto que cada dono de trator chegou
no local já com o seu. Uma família recém chegada afirmou ter vendido o carro para
cultivar milho e feijão; porém, esta família encontra-se satisfeita, uma vez que
lutaram durante seis anos pela conquista da terra.
Em outro caso, a família ao chegar ao local não possuía bem algum,
tanto no que se refere à vestimenta quanto a comidas. Por fim, um assentado
chamou a atenção em sua fala, ao dizer que: “...cheguei sem nada, o que eu tenho
hoje, tô rico!”, neste momento relembrou a cena de policiais queimando tudo que ele
possuía.
Com relação ao PROCERA constatou-se no trabalho de campo que
80% das famílias receberam a quantia de R$ 12.000.00, apenas 20% não a
recebeu; neste caso, trata-se de famílias que permaneceram anos na luta pela terra,
conquistando-a num período em que o PROCERA já havia se extinto. Os
assentados receberam esta quantia no mesmo período, porém a maioria relatou que
chegou atrasada.
Leite et al. (2004, p. 221) com relação ao atraso na liberação dos
recursos expõe que este geralmente ocorre: “[...] após o período de plantio,
momento do ciclo agrícola em que são mais necessários. Trata-se de um problema
grave este atraso, pois acaba por comprometer a produção agropecuária [...]”. Com
relação a modalidade habitação, esta sempre demora a ser liberada, tornando ainda
mais penosa a fase inicial do assentado; além do mais, o assentado somente terá
seus primeiros rendimentos com sua primeira colheita.
98
O técnico que trabalhava neste período no assentamento dava a
devida assistência técnica sobre a forma de melhor investir no lote, dando
orientações sobre o uso do financiamento por meio de reuniões. Porém, como
constatado por um dos entrevistados, esta assistência lhes foi dada de forma
precária.
Convêm relembrar que o PROCERA: Teto II destinava-se as famílias
assentadas sócias de cooperativas, o que não fez parte da realidade deste
assentamento, uma vez que as famílias não são até os dias de hoje sócias de
cooperativas. Este fato é evidenciado nas reclamações feitas pelos assentados, ao
relatarem que por não terem a escritura da terra, em virtude da “política de Reforma
Agrária do INCRA”, não podem associar-se às cooperativas.
- O Crédito para Implantação: alimentação
Com relação ao recurso fornecido para a alimentação 90%
receberam a quantia de R$ 400.00, apenas uma família relatou ter recebido o valor
de R$ 320.00. Vale ressaltar o depoimento de uma destas famílias em que ao
relatarem sobre as modalidades fornecidas no período, o casal entrou em
controvérsia, onde a esposa dizia “...não, esse que era para habitação”.
O próprio casal expôs sobre a dificuldade em distinguir uma
modalidade da outra; comprovando-se as palavras de Leite et al. (2004) de que,
muitas vezes o assentado tem dificuldade em distinguir os diferentes tipos de
créditos que lhes são ofertados. Além do mais, o casal colocou o fato de fazer muito
tempo que receberam o PROCERA, dizendo: “a gente não lembra...”, mas
enfatizaram que guardam os papéis, pois um dia sabem que vão ter de pagá-lo.
99
A modalidade alimentação era dada sob diversas formas, dentre as
quais se destacam duas delas: o valor revertido em alimentos que eram recebidos
de uma só vez ou o valor total em dinheiro liberado também de uma só vez. No caso
do Dorcelina Folador esta quantia não foi repassada em dinheiro, os assentados
receberam na época tickets para realizarem suas compras. Estes correspondiam a
vales de R$ 100.00, com os quais iam ao mercado conforme necessitava.
As entrevistas demonstraram que os tickets duraram cerca de dois
meses; além do mais, houve famílias que gastaram tudo de uma só vez. Neste
período foi realizado convênio com apenas um mercado localizado no município de
Arapongas.
- O Crédito para Implantação: fomento
De acordo com Proscêncio (1999) os assentados tinham por direito a
quantia de R$ 740.00 destinada ao crédito de fomento, recurso que cada família
dispunha para adquirir suas primeiras ferramentas, sementes e animais; no entanto
os valores fornecidos pelos assentados do Dorcelina Folador apresentaram
diferenças.
Tabela 17- Crédito de Fomento (valores registrados) VALOR EM
REAIS N.º de FAMÍLIAS
ASSENTADAS %
730.00 1 5
740.00 6 30
1.000.00 6 30
1.100.00 1 5
1.400.00 3 15
1.500.00 1 5
Não recebeu 2 10
TOTAL 20 100
Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR.). Período: 10/10/05 e 11/10/05 .
100
Pela tabela observa-se que apenas 6 famílias registraram ter
recebido a quantia de R$ 740.00, o que leva a indagar até que ponto o assentado
está a par do valor obtido, uma vez que outros valores foram registrados conforme a
tabela demonstra.
Por ser uma modalidade essencial para a compra de ferramentas,
animais e sementes, todos os assentados recordaram para quais finalidades
utilizaram esta quantia. Várias benfeitorias foram adquiridas, as mais citadas foram:
enxada, enxadão, carroça, machado, machadão, arame, máquina “costal”, serrote,
martelo, arado, foice, telhas, bomba de veneno, carriola, pá, plantadeira e roçadeira.
Além disto, os assentados afirmaram que com este recurso houve a possibilidade de
encanar a água e investir na irrigação. Um dos assentados que hoje trabalha com a
prática de aluguéis de tratores, recordou que neste período investiu em um trator
que estava em condições precárias, tornando-o adequado para uso.
Com relação às sementes adquiridas na época, no município de
Arapongas com este recurso, fornecidas em sua maioria pela Agroplus, enfatizou-se
a questão do preço elevado pago pelas sementes. Fora isto, também citaram os
altos valores dos insumos, tais como: calcários, adubos, agrotóxicos. Porém, não
havia outra opção de compra; além do mais, os juros tanto das sementes como dos
insumos eram elevados, como relatado por uma das famílias.
Comprovando-se as palavras de Leite et al. (2004) de que pelo fato
de muitas vezes estes créditos serem liberados de uma só vez, provoca verdadeiros
“alvoroços” no comércio local, como o:
[...] esgotamento de estoques de materiais (de construção, insumos agrícolas, matrizes de animais...) ocasionado “processos inflacionários” momentâneos e locais, que algumas vezes levam os assentados a pagarem preços mais elevados pelos produtos. (LEITE et al., 2004, p. 226)
101
No que se refere aos animais comprados na época, destacaram-se
nas respostas obtidas a compra de bovinos de corte e de leite, equinos, aves e
porcos. Várias famílias adquiriram vacas com o intuito de comercializar leite no
assentamento, para assim obter uma renda a mais.
- O Crédito para Implantação: habitação
Com relação ao crédito destinado para a habitação, 61% dos
assentados receberam o valor de R$ 2.500.00 para construir a casa e 39% R$
2.000.00. Faz-se necessária relembrar Leite et al. (2004) as quais relatam que, às
vezes, o próprio assentado tem dificuldade em distinguir os diferentes tipos de
créditos que lhes são ofertados.
A demora na liberação deste recurso foi enfatizada pela maioria dos
assentados que conseguiram concluir suas casas. Para tanto, estes utilizaram parte
do dinheiro destinado para o investimento (R$ 7.500.00) ou recursos próprios. Pode-
se citar o exemplo de uma casa do assentamento, provavelmente o assentado se
utilizou de outros recursos, uma vez que sua casa destoa da realidade presenciada
no local (Figura 18).
Em sua maioria os assentados não tiveram condições de finalizarem
as casas com o valor de R$ 2.000.00, pois além de ter atrasado, os assentados
contrataram pedreiros para construí-las.
Constatou-se no trabalho de campo que há assentados que ainda
não finalizaram as suas casas, mas residem nelas, pois como relatado por um
assentado: “Só 2.500 vai dá? Não deu nem para a mão-de-obra. O que tenho hoje
foi com recurso próprio da lavoura”. Com relação a outra família, a assentada disse:
“Parou nisso aqui que cê tá vendo! 42 m² é muito pouco” (Figura 19).
102
Famílias que na atualidade trabalham com a criação do bicho-da-
seda, foram umas das poucas que declararam ter finalizado a construção da casa.
Uma das entrevistadas afirmou que terminou a sua num período bem posterior,
conseguindo ampliá-la com recurso próprio via criação do bicho-da-seda.
Figura 18- Exemplo de casa que destoa da realidade presenciada no assentamento. Pode-se constatar que esta não foi construída somente com o recurso destinado para a habitação. Paula Chagas Francis (11/10/05)
103
Figura 19- Exemplo de casa construída com o recurso do PROCERA destinado para a habitação. Observa-se que esta não foi finalizada Paula Chagas Francis (11/10/05)
- O Crédito para Produção: PROCERA- Custeio
Para a produção, os assentados tiveram acesso à modalidade
PROCERA: custeio, cujo valor era de R$ 2.000.00. Foram relatadas aquisições tais
como: mudas de café, calcário, estercos de galinha, barracões para aves, arames,
palanques, adubos, veneno e sementes de milho, ou seja, tudo que era necessário
para produzirem tanto nas lavouras de grãos quanto para hortas, pomares e criação
de animais.
- O Crédito para Produção: PROCERA- Teto I
Como exposto os assentados tiveram acesso inicialmente, ao crédito
para implantação, quando entraram no assentamento. Neste incluía-se o fomento
para a aquisição das primeiras ferramentas e animais, porém, também tiveram
104
acesso a uma modalidade denominada PROCERA: Teto I (R$ 7.500.00), com a
finalidade de adquirir mais animais e ferramentas.
Com o Teto I produziram na época diversos itens, dentre estes se
destacavam as culturas voltadas para o auto consumo, a exemplo do feijão, arroz,
mandioca e hortaliças, visto a necessidade de sobreviverem nesta fase inicial.
Também foram citadas criações como aves, bovinos e suínos.
É importante relatar que na criação do bicho-da-seda há a
necessidade de um barracão, sendo assim os assentados que trabalham com esta
atividade relataram ter sido a COCAMAR quem financiou este barracão, cujo
financiamento teve de ser pago pelos assentados via entrega dos casulos (Foto 11).
Porém, houve casos de famílias em que o recurso fornecido pela
COCAMAR não foi suficiente, estas utilizaram parte desta modalidade do PROCERA
para finalizar seus barracões. Além disto, os assentados conseguiram investir em
galpões e em mais benfeitorias, tais como: arames, palanques, roçadeiras, moto
serra e motor a diesel. Animais como porcos, vacas, bois, novilhas e aves também
foram citados.
105
Figura 20: Foto de um dos lotes que trabalha com a criação do bicho-da-seda. Ao fundo, pode-se visualizar o barracão financiado pela COCAMAR. Paula Chagas Francis (11/10/05) 5.1.1 Perspectivas de pagamento do PROCERA
Dos assentados que tiveram acesso ao PROCERA, 22% tem a
intenção de pagar; porém, estes afirmam que haverá negociações: “...se todo mundo
faz isso, porque haveria de nós não fazer”, já outro: “vamos renegociar, reunir o
pessoal para isto, pois a maioria do pessoal tá endividado”.
Há o intuito prorrogar a dívida por mais de 10 anos, pois para eles
somente será possível pagar uma quantia deste tipo se der dois anos de plantio
bom, o que é algo difícil conhecida a realidade da atividade agrícola.
Os outros entrevistados (78%) pretendem pagar no prazo, pois como
exposto numa das entrevistas: “é o único modo de sobreviver”; além do mais,
consideram que o PROCERA foi um financiamento muito bom, não vendo motivo
que justifique o não pagamento da dívida. Um assentado afirmou: “...tem que ser
pago, pra pegar o título da terra”.
106
Como visto, as famílias assentadas geralmente assumem seus lotes
em condições de completa descapitalização, por este motivo torna-se necessária
uma análise sobre os bens possuídos pelas famílias. (Tabela 18)
Tabela 18- Total de Bens Possuídos pelas Famílias Assentadas
BENS POSSUÍDOS N.ºde FAMÍLIAS %
Televisor 74 18.0
Fogão 73 17.6
Geladeira 65 15.7
Máquina de lavar roupa 55 13.2
Bicicleta 46 11.1
Aparelho de som 38 9.1
Carroça 17 4.0
Automóvel 14 3.4
Trator 13 3.1
Moto 11 2.7
Caminhão 06 1.4
Caminhonete 02 0.5
Freezer 01 0.2
Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR.), Data:26/08/04 .
Dentre todos os itens o que mais se destaca é o televisor, pois além
de ser um meio de comunicação pelos quais os assentados têm acesso às
informações de outras localidades, serve também para o lazer das famílias. Também
se observa o número de assentados possuidores de aparelhos de som (38).
Itens considerados como de extrema necessidade também se
destacam, tais como o fogão, a geladeira e a máquina de lavar roupa. Outro aspecto
contemplado que merece destaque é o referente às bicicletas, além de ser um meio
de transporte barato em comparação ao dos veículos, trata-se de um meio de fácil
manutenção.
107
Com relação aos outros meios de transporte foram citados os
exemplos dos carros, carroças e motos. A carroça além de possibilitar ao assentado
se deslocar de um local para outro, também o auxilia no transporte interno. Com
relação aos carros e motos, no geral estes são muito importantes principalmente
para transportar um enfermo da família; além disso, são meios de transporte que
facilitam o acesso às cidades próximas.
Com relação aos tratores do assentamento no ano de 2004 existiam
13 para uso dos assentados, nesta pesquisa um dos assentados mencionou que há
6 tratores, vários foram vendidos devido a dívidas contraídas. Um dos donos de
tratores relatou ter vendido o seu trator no período da geada para pagar dívidas
contraídas com a perda de sua colheita.
O antigo grupo coletivo possuía dois caminhões, duas colhedeiras e
uma moto, sendo que parte destes foi vendida para também quitarem as dívidas
contraídas. O freezer mencionado também pertencia a este grupo que se desfez.
Das famílias entrevistadas poucas tiveram condições de adquirir
mais bens depois de assentadas, pois somente três destas citaram a compra de
animais (cabritos e bezerros), de um motor para silagem e de um arado. Este último
a do arado conseguiu pagar seu trator, e ainda comprou uma carreta e um carro.
Nota-se que em sua maioria os bens, com o tempo, foram perdidos,
devido a gastos com doenças, por exemplo, fora o fato também de já terem passado
por uma geada. Vale salientar a fala de um assentado: “...o que eu tenho tá aí”,
evidenciando esta realidade.
Estes assentados possuem uma trajetória de vida sofrida, a exemplo
de famílias que já passaram fome, sofreram perseguições policiais, entre outros que
violam os direitos de um cidadão. Sendo assim, a conquista de uma fração do
108
território ainda que seja somente para sua subsistência, trata-se de uma grande
vitória.
5.1.2 A satisfação com relação ao PROCERA
Como mencionado o PROCERA foi um recurso destinado a atender
exclusivamente os assentados rurais. Por terem recebido após um longo período de
espera, os assentados reclamaram sobre a manutenção do valor de R$ 12.000.00.
Para alguns (11%) esse valor deveria ter aumentado, pois o preço de tudo neste
período havia subido e para outro: “...era muito pouco dinheiro para fazer muita
coisa”.
O restante concordou com o valor, pelo fato de ter sido um recurso
na época ofertado para todos e uma das famílias lamentou dizendo: “...pena que
num tem mais”, já uma outra mencionou: “Lógico, por que não gostar? necessidade!
Um dinheiro para nós trabalhar a terra!”. Estes depoimentos evidenciam o fato de
que estes assentados viam o PROCERA como um financiamento adequado para
eles, uma vez que atendia aos mesmos de modo especial.
Porém, pode-se verificar que estes agora estão começando a se
preocupar com o pagamento desta dívida visto que a primeira parcela irá vencer no
ano de 2.007; segundo um dos entrevistados “...não foi ruim não, agora tem que
pensar em como pagar”.
O prazo para o pagamento do PROCERA foi constatado como
sendo de 8 anos, tendo um rebate de 40% para quem vier a pagar a primeira
parcela na data de 01/10/2007, que corresponde a um valor de R$ 1.575.00. Com
relação à segunda parcela que vencerá em 01/10/2008 o valor é de R$ 1.590.75,
109
chegando até a oitava parcela que será paga somente em 2.014, totalizando um
valor de R$ 13.049.93.
Estes números foram fornecidos por um casal entrevistado, porém,
os demais quando indagados sobre qual era o valor da dívida contraída, a maioria
não soube responder, sendo que somente 28% dos entrevistados tinham a noção
dos valores da dívida, os quais variaram entre cerca de R$ 9.300.00 e R$ 13.049.93.
Por se tratar de uma dívida antiga, nota-se que os assentados não
tem a noção de quanto devem ao banco, como mencionado por uma assentada:
“...tem um tal de rebate”, os assentados sabem que um dia irão pagá-la, no entanto
recordam claramente o que compraram na época com esta quantia.
5.2 O PRONAF E O ASSENTAMENTO DORCELINA FOLADOR
Este item analisa os dados recolhidos no trabalho de campo sobre o
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), de inicio
faz-se necessária uma análise das dificuldades diagnosticadas no ano de 2004.
110
Tabela 19- Dificuldades no desenvolvimento da lavoura DIFICULDADES N.º de RESPOTAS %
Problemas climáticos 25 26.6
Falta de recursos financeiros 22 23.4
Nenhuma 15 16.0
Gasto com a produção 10 10.6
Falta de assistência técnica 06 6.4
Não souberam responder 04 4.2
Dívida com o banco 03 3.2
Pragas 03 3.2
Área do lote 02 2.1
Cultivo da amora 02 2.1
Dependência de maquinários 01 1.1
Vizinhança 01 1.1
TOTAL 94 100
Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR.) Data: 26/08/04.
De acordo com as respostas obtidas neste período o problema
climático foi o que mais se destacou, pois dependem do clima para a obtenção de
uma boa produtividade, mas sabem que se trata de uma realidade do meio rural.
Esta preocupação remete-se ao fato de já terem passado por períodos de secas e
mesmo de uma geada na região, em que muitos assentados se endividaram mais
ainda, uma vez que haviam perdido suas safras, não possibilitando extrair uma
renda satisfatória de sua produção.
O segundo mais citado foi a falta de recursos financeiros, em que
assentados já expunham sua insatisfação com relação aos recursos que são
repassados para eles. Um deles relatou sobre a problemática de não ter capital
próprio para plantar, pois tudo é financiado pelo PRONAF (4.4% ao ano).
Uma das insatisfações maiores dos assentados no que diz respeito
ao PRONAF é o fato de sempre estarem endividados, pois muitas vezes acabam por
ter de renegociar suas dívidas para obter acesso ao PRONAF seguinte; porém,
111
mesmo pagando parte da dívida o assentado continua a dever ao banco, o que para
eles é visto como um ponto negativo uma vez que sempre se encontram
endividados.
Os assentados concordam sobre a necessidade de legalizarem seus
lotes, uma vez que este acaba por se tornar em mais um entrave no acesso ao
financiamento que lhe é de direito. Com relação aos gastos com a produção todos
relataram sobre o preço dos insumos, ou seja, que fossem mais acessíveis, visto os
preços elevados pelos quais estes são cobrados pelos intermediários.
No ano de 2004 constatou-se que de um universo de 81 assentados
rurais, aproximadamente 31% responderam ter pagado o respectivo financiamento e
cerca de 27% não. Porém, é necessário citar que na época da realização da
pesquisa o prazo para o pagamento deste financiamento não havia vencido, tendo
como data 30 de junho. Visto isto, aproximadamente 37% ainda não havia pagado o
financiamento, os 5% restantes não responderam a questão ou não haviam feito o
financiamento.
Pelas percentagens obtidas verifica-se que os assentados têm a
preocupação em quitar o financiamento, uma vez que é a única forma pela qual eles
dispõem para desenvolver a produção, e caso não pague, no ano seguinte não
receberá o outro. Àqueles que não conseguiram pagar a dívida contraída foram
inúmeros motivos alegados.
A área do lote foi citada como um empecilho, pois para os
assentados esta dificulta a possibilidade de obter uma renda adequada. Na época
citou-se a cultura do milho em que a produção desta não era suficiente, pois se
obtinha uma renda não muito elevada; além do mais, os gastos com o custo para
desenvolver sua lavoura eram muito elevado, como o preço dos insumos.
112
No momento da comercialização estes acabam por ter de vender
seus produtos a um preço baixo para o mercado, aqui vale as palavras de um
assentado “...vou ter de vender a vaca e a caminhonete para “tentar” pagar o
financiamento”.
Como se sabe os assentados deparam com inúmeras dificuldades,
dentre elas os gastos que estes têm com o custo de produção que são muito
elevados, fazendo com que, muitas vezes, o assentado tenha de vender sua
produção ao preço estipulado pelos intermediários. Como resultado disto, muitos se
desfazem de seus bens para sua permanência no campo, uma vez que os preços
obtidos na comercialização não são satisfatórios.
Convêm citar que no período da pesquisa realizada no ano de 2004
muitos assentados haviam perdido a sua produção em virtude de uma geada e de
uma seca também. Neste caso, a lavoura obtida na época não conseguiu cobrir os
custos da produção. Por fim, foi citada a necessidade de se parcelar mais este tipo
de financiamento, pois somente dessa forma conseguiriam quitar parte de suas
dívidas para receberem outro financiamento.
Observa-se que por não obterem boa produtividade, os assentados
rurais não conseguem quitar a dívida do PRONAF. Dada a possibilidade de
renegociação, mediante pagamento de parte do financiamento o assentado tem
acesso ao PRONAF seguinte, mas sempre fica devendo ao banco.
Em virtude dos prejuízos que haviam tido tanto na seca como na
geada, os assentados tiveram acesso ao PROAGRO, seguro do crédito de custeio
que garante o pagamento da dívida bancária em casos de perda de safra. Sendo
assim, neste período de 2004, foi prorrogado o prazo de 30 de junho para 30 de
setembro para pagarem o financiamento.
113
O acesso do assentado rural ao PROAGRO não deixa de ser algo
positivo, uma vez que trata-se de um seguro agrícola que lhe garante o pagamento
da dívida bancária em casos de comprometimento da safra em virtude de
intempéries climáticas, porém, segundo o Boletim Informativo PRONAF 2005/2006:
“[...] o PROAGRO ainda não atende as necessidades dos agricultores familiares”
(Grifo nosso). A estiagem ocorrida no Paraná, na safra 2004-05, de acordo com o
boletim, provocou vários prejuízos que não foram amparados pelo seguro. Sendo
assim, entende-se o fato de nem todos os assentados terem tido acesso ao seguro
agrícola, uma vez que somente determinadas culturas eram amparadas.
Para a safra de 2005-06 o boletim informa que os eventos a serem
amparados serão: Granizo; tromba d’ água; vendaval; seca; doenças fúngicas sem
método de combate, controle ou profilaxia; seca (exceto trigo e maçã); geada
(apenas para trigo, maçã, cevada, café e uva); chuvas (apenas trigo); chuva na
colheita (apenas cevada).
Como visto no início deste trabalho os assentados rurais têm acesso
ao PRONAF A, fornecido para o investimento da fase inicial do assentamento e ao
PRONAF A/C, para o custeio da lavoura.
Segundo entrevista informal realizada no Banco do Brasil, as linhas
PRONAF A e PRONAF A/C, tem como público alvo os assentados rurais. Com
relação aos PRONAF “C” e “D”, estes atendem a outros produtores e assentados,
desde que comprovada a renda deste “agricultor”, no que diz respeito ao Grupo “E”,
este somente atinge a poucos agricultores, visto a renda exigida.
Como relatado pelo entrevistado: “...se enquadrou na renda, tem
acesso ao crédito”. Porém, sabe-se que jamais um assentado com o tamanho de
seu lote terá acesso ao Grupo “D”, por exemplo, uma vez que a renda obtida pelo
114
assentado com um lote de área tão pequena não oferece uma produtividade que
possibilite ao assentado obter uma renda elevada.
Vale ressaltar o fato do banco ter informado que, uma vez
enquadrado em determinado grupo não é permitido ao agricultor retornar a qualquer
grupo anterior, por exemplo: se um agricultor sempre conseguiu sobreviver com
recurso próprio (uma herança, por exemplo), e nunca teve acesso ao PRONAF, se
este resolver fazê-lo e se enquadrar no Grupo “D”, ele nunca poderá ter acesso ao
Grupo “C”. Este requisito serve também para o assentado, caso este nunca tenha
tido acesso ao PRONAF e resolva fazê-lo, comprovada a renda e enquadrado no
Grupo “C”, por exemplo, jamais ele poderá retornar ao Grupo “A/C”.
Como justificativa do por que agir desta maneira foi relatado pelo
entrevistado que: “...o intuito é fazer com que o cara sempre obtenha uma renda
maior”. Vê-se isto como um modo pelo qual o banco encontrou de não obter
prejuízos com este tipo de agricultor, uma vez que o intuito das agências bancárias é
obter lucro com este tipo de financiamento.
Por fim foi informado que, na atualidade, o Banco do Brasil está
mantendo relações em sua maioria com os agricultores que se integram ao Grupo
“C”, que são os agricultores familiares que possuem maiores relações com os
setores agroindustriais, oferecendo assim ao banco garantias reais do pagamento
do financiamento.
No Dorcelina Folador foi constatada em 2005, a utilização do
PRONAF A e do PRONAF A/C. O assentamento está em seu terceiro PRONAF,
sendo que neste último os assentados relataram terem adquiridos produtos para a
lavoura, tais como: veneno, adubo, esterco, calcário, sementes para cultivar milho e
feijão.
115
Convém salientar que no período de realização dos trabalhos de
campos (10/10/05 e 11/10/05) os assentados relataram que o financiamento havia
sido liberado há 20 dias anteriores, ou seja, era a época da liberação do
financiamento. Assim, várias eram as famílias que estavam indo ao banco para
obtenção do recurso. Das entrevistas realizadas verificou-se que (Tabela 20)
Tabela 20- Assentados que Solicitaram PRONAF A ou PRONAF A/C
N.º DE ASSENTADOS %
Assentados contemplados com
PRONAF A
1 5
Assentados contemplados com
PRONAF A/C
15 75
Não realizaram financiamento 4 20
TOTAL 20 100
Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR.). Período: 10/10/05 e 11/10/05 .
Em sua maioria (75%) dos assentados tiveram acesso ao PRONAF
A/C, para o custeio da lavoura, apenas um entrevistado teve acesso ao PRONAF A,
referente ao investimento; neste caso em particular, o assentado não havia feito o
PROCERA. Cerca de 20% não realizaram financiamento, por possuírem dívidas com
o banco.
Vale salientar sobre a dificuldade de se diferenciar uma linha de
crédito da outra, pois na própria entrevista realizada no Banco do Brasil foi relatado
que: “...nem nós que trabalhamos com isto entendemos tudo até hoje”. No
assentamento pôde-se verificar que há uma grande dificuldade em distinguir uma
linha da outra, os assentados mesmos ao responderem o questionário se indagavam
sobre qual dos dois havia recebido.
116
No que se refere à renda dos assentados que tiveram acesso ao
PRONAF A/C foram dadas respostas com relação à lavoura anual variando entre R$
4.800.00 e R$ 9.000.00, sendo também fornecida por alguns, a renda mensal em
torno de R$ 200.00 a R$ 500.00. Neste caso, os assentados disseram ter recebido o
financiamento cuja quantia variou entre R$ 2.500.00 e R$ 3.000.00. Este último valor
somente foi adquirido pelas famílias que não possuíam dívidas com o banco. 25%
dos assentados que tiveram acesso aos dois tipos de PRONAF conseguiram obter a
quantia de três mil reais, ou seja, todo o restante encontra-se endividado.
Cerca de 15% dos entrevistados não fizeram este financiamento.
Três respostas foram obtidas para tal:
- “...chegamos faz pouco tempo, e o lote num tá no nosso nome
ainda, a papelada tá correndo... o INCRA já veio aqui”.
- “Fizemos apenas o primeiro...não compensa pegar um dinheiro
que eu não vou usar”. Este assentado, em particular, relatou não
compensar trabalhar com o PRONAF, uma vez que trabalha em
mais de metade de sua propriedade com a criação do bicho-da-
seda. Além do mais, está evitando se endividar;
- neste caso relatou ter adquirido somente o primeiro PRONAF:
“fiquei devendo ao banco...ele me enrolou”
Com relação à época da liberação deste financiamento os
assentados relataram que veio atrasado, e um deles mencionou: “...somos um povo
diferente, sempre vem um pouco atrasado...” Somente para a cultura do milho foi
liberado no momento adequado, segundo os assentados.
117
Porém, como foi afirmado por uma das famílias, eles nunca sabem
ao certo qual a correta época da liberação do financiamento. Como se sabe, o
assentado não tem contato direto com o banco, por este motivo não sabe afirmar ao
certo se este foi ou não liberado na época correta.
Em 2004 quando questionado ao assentado se havia pago o
financiamento, este respondeu não ter pago por causa da seca ocorrida no local;
quando indagado: “E se não tivesse a seca?”, o assentado respondeu: “também não
teria pago”, visto os gastos elevados na aquisição de insumos e maquinários por
exemplo. Fora a problemática citada sobre o preço obtido na comercialização de
seus produtos, não resultando numa renda elevada, um empecilho para que o
assentado consiga quitar seu financiamento. Para tanto faz-se a análise das
perspectivas de pagamento do PRONAF (Tabela 21).
Tabela 21- Perspectiva de Pagamento do PRONAF ASSENTADOS %
Tem conseguido pagar 5 25
Não tem conseguido pagar 12 60
Não o fez 3 15
TOTAL 20 100
Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR.). Período: 10/10/05 e 11/10/05 .
Em sua maioria, 60% dos assentados não tem conseguido pagar o
financiamento, como se sabe a obtenção de renda pela lavoura é algo díficil
principalmente no caso dos assentados rurais, pois além dos gastos elevados na
aquisição de insumos como mencionado, ainda há a manutenção de sua lavoura no
geral, o tamanho pequeno do lote também deve ser levado em consideração. Tudo
isto acaba por não propiciar ao assentado a possibilidade de uma renda que seja
satisfatória em sua produção.
118
É necessário investigar se a orientação técnica está sendo dada de
maneira adequada. Sendo assim, nota-se que muitas vezes estes estão tendo de
renegociar suas dívidas com o banco, para ter acesso ao PRONAF seguinte.
Os assentados também foram questionados sobre o pagamento ou
não desta dívida contraída, e 80% acham que este deve ser pago ao lado de apenas
20% que não concordam com o pagamento deste.
Com relação aos 80% dos assentados mesmo renegociando a dívida
tentam ao máximo pagar o financiamento, pois como citado por um deles “...senão,
não dá para sobreviver, sem recurso”. Além disto, este percentual concorda sobre a
necessidade de quitar todas as parcelas no período correto, pois todos afirmaram,
com orgulho, que parte de suas parcelas haviam sido pagas, demonstrando que
mesmo endividados procuram agir de modo correto. Os 20% restantes,
correspondem aos que não concordam com o pagamento do financiamento. Em um
dos depoimentos deste percentual o assentado citou: “não era para ser pago, a
gente precisa”.
Visto o PRONAF A/C ser destinado para a realização da lavoura do
ano, vale citar que os assentados que tiveram acesso a este recurso têm até o
período de setembro do ano de 2006 para efetuar o seu pagamento. Apenas dois
dos assentados que tiveram acesso ao crédito tem noção de quanto devem ao
banco, cujos valores são respectivamente R$ 1.300.00 e R$ 2.000.00, sendo que o
restante não soube informar o valor da dívida.
Relatado sobre a problemática do pagamento do PRONAF A/C,
torna-se necessária a análise de qual o percentual de assentados que realizaram
este financiamento para a safra de 2005/2006.
119
Tabela 22- Realização do PRONAF A/C para safra 2005/2006
ASSENTADOS %
Sim 16 80
não 04 20
TOTAL 20 100
Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR.). Período: 10/10/05 e 11/10/05 .
Em sua maioria (80%) realizaram este financiamento para a safra de
2005/2006, o que permite concluir que o assentado não encontra alternativa a não
ser recorrer ao PRONAF A/C, além disso, corresponde ao único crédito que o
assentado consegue obter pela renda que possui. Por fim, como relatado por um
deles: “...tem que gostar, não tem outro”.
Uma das famílias mencionou o fato de não desejar o acesso ao
PRONAF A/C, pois em sua maioria os assentados do local estão todos endividados,
pois vivem renegociando uma dívida cuja tendência é piorar ainda mais. Fora isto,
como constatado no depoimento de um assentado há a problemática da liberação
do financiamento: “... a relação com o banco é “ótima”! ...bem daquele jeito”.
Observa-se que estes vêem os bancos como um empecilho pelo
qual tem de passar para conseguirem o financiamento. Porém, eles mesmos
concordam que se não for feito desta forma eles não recebem o dinheiro, ou seja,
precisam se adequar a esta realidade que lhes é imposta.
Como se sabe, as relações com as agências bancárias é algo difícil
para o assentado, pois além das burocracias que lhes são impostas para o acesso
ao crédito, estes não estão acostumados a se relacionar com estas agências; trata-
se de mais um problema pelo qual o assentado tem de se defrontar. Conclui-se que
o Estado, além de ter conseguido inserir o assentado ao universo dos agricultores
120
familiares, também conseguiu uma forma de fazer com que este dependa das
agências bancárias.
Cerca de 60% dos assentados responderam gostar do PRONAF,
pois como um deles mencionou: “...não tinha outro recurso para plantar”. Constatou-
se que o problema não está no financiamento e sim nos preços dos insumos para
desenvolver suas lavouras, pois: “...o problema não é o PRONAF, e sim o preço das
coisas, tá tudo caro!”.
40% responderam não gostar do PRONAF, preferindo o antigo
PROCERA, pois além do PRONAF ter um prazo considerado curto para pagarem,
os juros são elevados. Para tanto, observa-se a tabela a seguir:
Tabela 23- Opinião sobre o PROCERA e o PRONAF ASSENTADOS %
Preferência pelo PROCERA 18 90
Preferência pelo PRONAF 0 -
Gostou tanto de um como do
outro
02
10
TOTAL 20 100
Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR.). Período: 10/10/05 e 11/10/05 .
A maioria dos entrevistados (90%) relatou terem gostado mais do
PROCERA do que do PRONAF, somente 10% gostou de ambos, pois como
mencionado por estes cada um foi dado no seu tempo, em que o primeiro tratava da
possibilidade do assentado concretizar o sonho de ter o seu lote, a sua casa, suas
primeiras ferramentas, já o PRONAF veio no período em que estes instalados
precisavam de um financiamento para produzir a lavoura.
Segundo uma das entrevistadas o prazo de um ano para pagar o
financiamento é considerado justo, visto que a maioria das lavouras só trazem
121
rendimentos anuais. Neste caso em específico a assentada referiu-se em sua fala ao
PRONAF A/C. Porém, esta assentada não mencionou a problemática que muitos
assentados depararam, a exemplo das secas ou mesmo geadas que fazem com que
percam as suas lavouras sem condições assim de pagarem o financiamento.
A maioria dos entrevistados deu preferência ao PROCERA, vários
foram os depoimentos constatados, em que se observa o quanto os assentados
deste local preferiam ao antigo PROCERA.
“...na época do PROCERA era bem melhor para nós.”
“preferia o PROCERA pois o tempo para pagar era maior.”
“...o primeiro, pois terminei a casa.”
“...antes era específico para a reforma agrária.”
“...era melhor, naquela época o dinheiro valia mais.”
“...PROCERA! Investimento que fica você vê no que gastou, já
PRONAF não.”
Sem dúvida, os assentados rurais tinham por preferência o antigo
PROCERA, pois foi de grande importância para eles, uma vez que se recordam das
benfeitorias adquiridas naquele período. Já com relação ao PRONAF há críticas
sobre este recurso ofertado pelo Estado porém, em sua maioria vem tentando se
manter em dia com seus pagamentos
Em 2004 do total de 81 entrevistados 91% encontravam-se
satisfeitos, ao lado de um mínimo de 9%. Neste período foi possível averiguar os
motivos da satisfação, conforme a tabela 24.
122
Tabela 24- Motivos da Satisfação MOTIVOS
ASSENTADOS %
Conquista da terra 38 47
Não especificou o motivo 14 17
Localização do assentamento 12 15
Produtividade da terra 10 12
Não está satisfeito 07 9
TOTAL 81 100
Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR.) Data: 26/08/04.
Os motivos citados em ordem foram à conquista da terra
considerada como algo primordial, em segundo a produtividade desta, visto a
presença da conhecida “terra roxa” e a localização do assentamento como terceiro
motivo, uma vez que está próximo a cidades tais como, Apucarana, Arapongas,
Londrina e Maringá, importantes centros de comércio agrícola no Estado.
Para os assentados, a conquista da terra é vista como uma
verdadeira vitória, mesmo em se tratando de um pequeno lote, um dos entrevistados
fez questão de mencionar a legislação que demonstra ser um minifúndio. A terra é
“um sonho realizado”, onde o que possuem agora esta ótimo para produzirem e
sobreviverem.
Com relação a produtividade estes relataram que é uma terra
adequada para o plantio apesar do tamanho do lote, pois “o que planta colhe ”,
tendo também uma venda garantida na região. Um assentado citou que o
assentamento tem uma localização privilegiada, uma vez que se encontra nas
proximidades do comércio, e assim consegue vender toda a sua produção.
No ano de 2005 esta realidade também pôde ser observada. Cerca
de 90% dos assentados encontravam-se satisfeitos no local, pois para a maioria, a
luta pela terra foi vista como uma vitória, uma vez que foi por meio dela que
123
adquiriram os lotes. A localidade do assentamento também foi relembrada, somada
à fertilidade da região, em que segundo um dos assentados “...essa terra é
maravilhosa, dá para viver, para produzir”.
O tamanho dos lotes também foi mencionado; porém, houve um
depoimento em que o assentado mencionou “...é pouco, mas se saber trabalhar
você vive”. Vale relembrar aqui as palavras de um assentado em encontro realizado
na Universidade Estadual de Londrina (UEL), segundo ele no assentamento era
para ter sido assentadas 64 famílias e não as 94 que há na atualidade, pois dessa
forma teriam um lote maior. Porém, naquela época, as políticas de assentamentos
estavam em alta, e acabaram por colocar mais famílias do que o desejado no
Dorcelina Folador. Apenas 10% citaram não estarem satisfeitos no local, pois para
estes a área é vista como pequena, no entanto não deixam de mencionar a
fertilidade da terra.
Quando questionados sobre o que as famílias têm por intuito
desenvolverem, sem exceção citaram a intenção de investir em seus respectivos
lotes. Estas pretendem desenvolver culturas tais como: a soja, o café, a cana-de-
açúcar, o milho e o feijão; também foi relatada a pretensão em investir no que já
possuem, a exemplo das hortas e animais.
Em um dos depoimentos um assentado mencionou o motivo pelo
qual pretende trabalhar com a soja, afirmando que esta cultura proporciona lucro ao
produtor. Já outra família, que também pretende trabalhar com a soja, têm o “sonho”
de criar uma cooperativa própria do assentamento, pois somente assim não irão
precisar negociar com a Cooperativa Integrada de Arapongas. Os assentados vêem
como um problema o fato da Cooperativa estipular os preços, pois segundo eles,
estes nunca são satisfatórios.
124
Uma minoria não apresenta perspectivas positivas, apenas 10%
relatou que os gastos que tem na aquisição de insumos, venenos, dentre outros não
levam a crer que irão obter ganhos no meio em que vivem. A intenção de vender
leite no interior do assentamento também foi lembrada nas entrevistas, visto ser uma
alternativa de extrair uma renda a mais para a família.
Os assentados que trabalham com a criação do bicho-da-seda, têm
grandes perspectivas por possuírem uma renda mensal, o que desperta o interesse
em outros assentados, além disto, um entrevistado afirmou o desejo de iniciar esta
atividade, pois: “...o pessoal da seda tá bem” (Sujeito da pesquisa, 2005).
O café existente no assentamento é orgânico. Atualmente o local
está iniciando a produção de cachaça artesanal, atividade que está sendo
desenvolvida em um assentamento localizado em Paranacity dando bons resultados,
haja vista a exportação de sua produção. Num primeiro momento pretendem
capacitar os assentados do Dorcelina, para em seguida dar início à produção e
quem sabe vir a exportá-la como o de Paranacity.
125
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se dizer que os assentados rurais do Dorcelina Folador
conquistaram seu território, mas ainda almejam alcançar uma autonomia bem como
seu lugar na sociedade tanto local quanto regional. O que se observa é que estes
têm procurado se adequar à realidade na qual se encontram inseridos sujeitando-se
aos preços impostos pelos intermediários ou pela cooperativa, mas almejando uma
sociedade mais justa com menos desigualdade social.
A ida a campo demonstrou que mesmo se sujeitando aos ditames da
cooperativa, os assentados estão optando cada vez mais pela criação do bicho-da-
seda, atividade diferenciada no local uma vez que não é necessário o financiamento
por parte do Estado, é uma das poucas alternativas de sobreviver em um lote
pequeno e também possibilita a obtenção da renda mensal.
Entretanto, para outras atividades do assentamento, o financiamento
do Estado ainda é necessário. O PROCERA foi uma linha específica que atendia na
época somente os assentados, sendo assim reconhecem que foi melhor que o atual
PRONAF. O interesse deste trabalho deveu-se ao fato de se verificar como estão
enfrentando o pagamento deste financiamento – PRONAF – e observou-se que há
assentados contrários ao pagamento do financiamento, porém em sua maioria as
famílias têm se preocupado em quitar suas dívidas de modo correto, cumprindo os
prazos de pagamento, pois caso contrário correm o risco de não obter crédito para a
safra seguinte.
Porém, mesmo nestes casos não se pode deixar de mencionar que
reuniões para prorrogarem o pagamento das dívidas são uma realidade pela qual o
126
assentamento se defronta, tentando ao máximo adiarem ou mesmo parcelarem esta
dívida de forma a poderem pagá-la.
O perfil do assentado que procura estar em dia com o banco,
corresponde aquele assentado que está tão somente preocupado em sobreviver no
local e sabe que, se não pagar de forma correta no ano seguinte não terá acesso ao
financiamento, ou seja, pode-se verificar que o Estado encontrou uma maneira de
fazer com que o assentado pague o financiamento, pois somente mediante a
quitação do anterior (ou parte, dependendo da negociação que seja feita com o
banco) é que ele terá acesso ao PRONAF seguinte.
A dúvida sobre o pagamento do financiamento é uma realidade pela
quais os assentados deparam, uma vez que os gastos são muito elevados,
auferindo uma renda não tão elevada; a exemplo têm-se os gastos com a aquisição
de insumos agrícolas e implementos, fora isto, há os aluguéis de maquinários,
principalmente em épocas de plantio e colheita. Talvez este seja um dos fatos que
permitiu constatar a existência de assentados que em certos períodos do ano
recorre às fazendas e cidades vizinhas como forma de obterem uma renda
complementar.
A necessidade de fazer financiamentos é um fato, porém para o
caso dos assentados rurais, é importante que haja um maior investimento em
informações técnicas adequadas às suas realidades e não as mesmas dadas aos
grandes proprietários. É importante que o assentado saiba trabalhar com o seu lote
de modo correto, com culturas corretas, para assim obter uma renda satisfatória.
Porém, como se sabe, as políticas públicas no Brasil sempre foram
adotadas de forma a incentivar cada vez mais a concentração de terras, em que
grandes proprietários sempre são alvos de benefícios satisfatórios, enquanto aos
127
outros não resta alternativa a não ser se adequar a realidade que lhes é imposta, por
exemplo os preços dos insumos agrícolas.
É preocupante a dimensão que isto pode vir a tomar, pois em um
país em que a distribuição de recursos está cada vez mais direcionada aos grupos
de produtores que dispõem de maior capacidade de pagamento das dívidas
contraídas que, em sua maioria, correspondem aos segmentos familiares com
elevado grau de integração ao setor agroindustrial, em contrapartida tem-se os
assentados rurais considerados agora como “agricultores familiares”.
Não se pode prever qual será o próximo passo dado pelo Estado a
favor de uma minoria detentora de terra, mas pode-se dizer que este se vier a ser
realizado, com certeza privilegiará uma minoria, empobrecendo ainda mais a classe
dos agricultores familiares menos capitalizados, inclui-se aqui o público dos
assentados rurais.
Fora isto não se pode deixar de mencionar uma das inúmeras
dificuldades pelas quais estes deparam na aquisição de seus financiamentos, que se
trata da dificuldade em relacionar com as agências bancárias, visto que estas não
fazem parte do universo de relação da maioria dos assentados, tornando-se assim,
em um empecilho a mais na conquista de seu financiamento.
Ainda há o fato de muitas vezes este ser liberado atrasado, tornando
ainda mais penosa a sobrevivência no lote. O que se constatou nesta pesquisa é
que o assentamento já está em seu terceiro PRONAF, e nenhum destes foram
liberados em uma época adequada para o plantio comprometendo assim as
lavouras das famílias assentadas.
Porém, mesmo em meio a tantas dificuldades é preciso que se leve
em conta a origem histórica destes assentados assim, as dificuldades pelas quais
128
estes deparam atualmente são mínimas, se comparadas, com as que já se
defrontaram em sua trajetória de vida percorrida até o momento. Este assentado na
atualidade encontra-se satisfeito em seu lote, pois tem em seu histórico de vida uma
luta pela terra que somente foi conquistada em meio a grandes batalhas, pois em
sua maioria passaram por diversos acampamentos, sofreram perseguições policiais,
e foi somente por meio de sua inserção no Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra (MST) que tiveram a possibilidade de conquistar seu lote, passando a ter
grandes perspectivas de melhorias em sua vida.
129
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144
Anexo 5
Questionário aplicado in loco
Universidade Estadual de Londrina
Questionário destinado aos moradores do Assentamento Rural Dorcelina
Folador(Arapongas- PR.)
Nome do entrevistado......................................n.º lote:.......... Data: / /05
Área do lote:........ Perfil da família: 1. Quantos pessoas há na família?
2. Escolaridade: Pais:
Filhos
Outros:
3. Todos trabalham na lavoura ou alguém trabalha na cidade?
Atividade exercida:
( verificar se trabalha em fazendas vizinhas).
4. Contratam mão-de-obra temporária? ( )sim ( ) não Para que?
5. Possuem empregados permanentes?
Sobre o MST 1. Por que entrou no MST? (verificar qual a opinião dele do MST, se gosta ou não...)
2. Passaram por muitos acampamentos antes de chegar ao local? Quais e onde?
3. Quanto tempo demorou para conseguir a terra?
4. Desde quando mora no Assentamento?
5. Esta contente com a área recebida? (com o tamanho do lote) ( )sim ( ) não Por
que?
6. O senhor chegou no local com algum recurso? (por ex. bens/ extrair as dificuldades
ao chegar no local)
Sobre o PROCERA: (quanto recebeu e o que fez com o dinheiro)
1. O senhor recebeu financiamento ao chegar no local? Quando receberam? (pois
geralmente atrasa)
2. crédito para implantação: (1º ano)
145
a) alimentação: R$.......... como recebeu?...................... ( de que forma recebeu: salário
mínimo/alimentos/convênio com cooperativas/ em dinheiro)
b) fomento: R$..........que ferramentas comprou?
Sementes? (onde consegui as sementes e por quanto, achou o valor na
época caro?)
Animais? (quais)
c) habitação: R$........... deu para construir a casa: ( )sim ( )não Por quê?
(verificar se chegou atrasado, tornando a fase ainda mais penosa, verificar se o $ foi
suficiente).
Quem a construiu?
3. crédito para produção: PROCERA- custeio: R$.......... o que comprou?
PROCERA Teto I(investimento em ferramentas..): R$.......... o que
comprou?
PROCERA Teto II: (famílias sócias de cooperativas) R$.......... o que
comprou?
4.O que produziu na época com essa quantia?
5. Ainda estão com esses bens? Comprou algo a mais? O que tem a menos?
6. O senhor gostou do PROCERA?
7. Recebeu orientação sobre o uso do financiamento? (“essa para fomento, essa para
habitação...”)
8. O senhor já pagou este financiamento? ( )sim ( )não Por quê?(acha que deve ser
pago? verificar se pretende pagar ou não; se sim, o por quê pretende pagar/ assentados
que querem pagar e outros que não querem)
9. Qual é o prazo do pagamento?
10. Qual é o valor da dívida?
11. De que forma pretende pagar?
12. No segundo ano receberam o PROCERA ainda? (ver se foi somente para produção,
verificar quantas vezes teve PROCERA).
Sobre o PRONAF- custeio: (quanto recebeu / foi liberado numa época boa para o seu
plantio)
- comprou o quê?
Sobre o PRONAF- investimento: Para quê utilizou? (ex. barracão...)
146
1. O senhor tem conseguido pagar o financiamento? ( )sim ( )não Por quê?(acha
que deve ser pago? verificar se pretende pagar ou não; se sim, o por quê pretende
pagar/ assentados que querem pagar e outros que não querem)
2. Qual é o prazo do pagamento?
3. De quanto é a sua dívida no banco? (ver se ele tem noção de quanto ele deve ao
banco)
4. Para este ano o senhor já fez o PRONAF? O que pretende plantar? Quais as
perspectivas?
5. O senhor gosta do PRONAF? ( ) sim ( ) não Por que? (perfil do
assentado)
SE O ASSENTADO RECEBEU O PRONAFINHO: (PRONAF- Rural- Rápido) 1. Qual a renda deste assentado:
2. Quantia que recebeu: (extrair reclamações)
3. Para que fins utilizou:
4. Quando é o prazo do pagamento? (verificar se pretende ou não pagar)
5. Qual a sua opinião sobre o PRONAFINHO?
Assentado que fez o PROCERA e o PRONAF: 1. Em sua opinião qual foi melhor?
2. Fez novo empréstimo no banco? ( )Sim ( )não Por quê? (verificar a relação
assentado x banco)
3. Dê uma nota para cada um de 0 a 10:.... PROCERA ....PRONAF
......PRONAFINHO
SOBRE O LOTE 1. O que há em seu lote: (observar o que ele planta) Quais/ quantias
a) Culturas:
b) Animais:
2. Qual o destino da produção: ( )subsistência ( )comercialização (onde
comercializam?)
3. Por quê escolheu esses produtos?
147
4. Qual a renda obtida pela terra? (renda da família inclui quem trabalha fora! Renda da
terra: obtida na lavoura, extrair dificuldades, o dinheiro obtido com a venda dos produtos
está dando para viver bem, mal...)
5. O senhor utiliza: adubos ( )sim ( )não inseticida ( )sim ( )não
calcário ( )sim ( )não herbicida ( )sim ( )não ( ) outros
Equipamentos agrícolas do local: (verificar o preço dos aluguéis dos maquinários)
1- o senhor utiliza trator? ( )sim ( )não Próprio ou alugado? (Se aluga quanto é
o aluguel/ se próprio quantos possui).
Como está o estado dos tratores? (quantos são s tratores do assentamento no todo)
2- plantadeira ( )sim ( )não manual ou mecânico?
3- roçadeira ( )sim ( )não
4- pulverizador ( )sim ( )não manual ou mecânico?
5- arado ( )sim ( )não
6- grade ( )sim ( )não
7- outros (por ex. quem cultiva bicho-da-seda)...............
8. Alugam outras máquinas dos vizinhos? (para colher o que e qual é o valor?)
1. O preço obtido na comercialização é satisfatório? ( )sim ( ) não Por quê?
2. Quem determina os preços?
3. Onde fazem as compras?.................................. (cidade de Arapongas, verificar se é
em qualquer mercado)
4. Está satisfeito com a assistência técnica dada pelo agrônomo? ( )Sim ( )não Por
quê? (verificar se entende a assistência técnica que lhe é dada)
Agricultor que cultiva amora (bicho-da-seda): 1. Por quê escolheu o bicho-da-seda?
2. Como a COCAMAR ajuda? (forneceu $ para quê, construir barracão, tem uns que
utilizaram parte do PROCERA para construir o barracão)
(verificar se ele faz financiamento para outra coisa)
SOBRE O PIVÔ CENTRAL: 1. Por que desativaram?
2. Você concordou?
(Foi perguntado a opinião do assentado sobre a desativação)
148
1. O que o senhor gostaria que mudasse no local?
2. E para seus filhos o que espera?
3. Tem a intenção de plantar algo diferente, criar um outro tipo de animal?
4. O senhor está contente no local? Por quê? (verificar a satisfação do
assentado/trajetória de vida sofrida)
5. O senhor se considera o que? (ex. produtor) (ver se o assentado tem tradição
agrícola, pois há aqueles desempregados da cidade que aderem ao movimento sem
tradição agrícola)
6. Você já ouviu falar em camponês?