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Universidade Estadual de Londrina PAULA CHAGAS FRANCIS O PROGRAMA NACIONAL DE FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR (PRONAF): O ESTUDO DE CASO DO ASSENTAMENTO RURAL DORCELINA FOLADOR (ARAPONGAS-PR.) LONDRINA – PARANÁ 2005

Universidade Estadual de Londrina · 2012-05-09 · FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR (PRONAF): O ESTUDO DE CASO DO ... Decreto n.º.508 de 14-6-2000 ... Cada integrante do grupo

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Universidade Estadual de Londrina

PAULA CHAGAS FRANCIS

O PROGRAMA NACIONAL DE FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA

FAMILIAR (PRONAF): O ESTUDO DE CASO DO ASSENTAMENTO RURAL DORCELINA

FOLADOR (ARAPONGAS-PR.)

LONDRINA – PARANÁ

2005

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PAULA CHAGAS FRANCIS

O PROGRAMA NACIONAL DE FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA

FAMILIAR (PRONAF): O ESTUDO DE CASO DO ASSENTAMENTO RURAL DORCELINA

FOLADOR (ARAPONGAS-PR.)

Monografia apresentada ao Curso de Graduação, em Geografia, da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel. Orientadora: Prof. Dra. Ruth Youko Tsukamoto

Londrina - Paraná

2005

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PAULA CHAGAS FRANCIS

O PROGRAMA NACIONAL DE FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA

FAMILIAR (PRONAF): O ESTUDO DE CASO DO ASSENTAMENTO RURAL DORCELINA

FOLADOR (ARAPONGAS-PR.)

Monografia apresentada ao Curso de Graduação, em Geografia, da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel.

COMISSÃO EXAMINADORA

Prof. Dra. Alice Yatiyo Asari Universidade Estadual de Londrina

_________________________________ Prof. Dra. Jeani Delgado Paschoal Moura

Universidade Estadual de Londrina

_________________________________ Prof. Dra. Ruth Youko Tsukamoto

Universidade Estadual de Londrina

Londrina, ____de________________de 2005

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A Deus primeiramente e aos meus pais por todo apoio dado em minha vida acadêmica.

4

AGRADECIMENTOS A Prof. Dra. Ruth Youko Tsukamoto, por sua competência e dedicação para comigo durante estes anos que trabalhamos juntas. Ao Programa PET/Geografia/MEC-Sesu, representado pela prof. Dra. Alice Yatiyo Asari, pela contribuição em minha formação acadêmica. Aos meus amigos do PET, pelos anos de convivência e trabalhos em conjunto durante todos estes anos. Aos “companheiros” do Dorcelina Folador (Arapongas- PR.), sem os quais não seria possível a realização deste trabalho. Aos amigos, pela paciência e companheirismo, nos momentos em que mais deles necessitei.

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FRANCIS, Paula Chagas. O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF): O estudo de caso do Assentamento Rural Dorcelina Folador (Arapongas- PR.). 2005. 138 f. Monografia (apresentada ao Curso de Graduação em Geografia) – Universidade Estadual de Londrina.

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo analisar o Programa Nacional de Fortalecimento da

Agricultura Familiar (PRONAF) para os assentados rurais do Dorcelina Folador

(Arapongas – PR.). Será analisado o perfil do assentado que recorre ao PRONAF e

para quais finalidades este financiamento é feito, uma vez que anterior ao PRONAF

havia o PROCERA, criado especialmente para atender aos assentados rurais. Serão

apresentadas as dificuldades na obtenção e pagamento deste financiamento e as

perspectivas de pagá-lo ou não, para deste modo, verificar os reflexos na produção

do território dos assentados. Os resultados desta pesquisa foram obtidos no trabalho

de campo realizado nos dias 10/10/05 e 11/10/05, aplicando-se questionários a 20

assentados; pois já havia 81 questionários disponíveis de 2004 aplicados pelo grupo

PET/Geografia. Esta pesquisa tem grande importância, pois o PRONAF se aplicado

de modo a atender as particularidades dos assentados rurais tenderá a dinamizar a

agricultura.

Palavras-chave: PRONAF; assentados rurais; dificuldades.

6

FRANCIS, Paula Chagas. Le Programme National de le Affermissement de la Agriculture Familier (PRONAF): Le étude du événement du Enregistrement Rural Dorcelina Folador (Arapongas- PR.). 2005. 138 f. La monographie (a été présentée au Cours de la graduation en Géographie) – à l’ Université de l’ état de Londrina.

RESUMÉ

Ce travaille a comme le but analyser le programme national de le Affermissement de

la agriculture Familier (le PRONAF) pour les assis rural du Dorcelina Folador

(Arapongas – PR.). Sera analysé le profil du assis qui fait au PRONAF et pour quels

las finalités ce lui - est fait, effet antérieur au PRONAF il y avait le PROCERA, a été

créé spécialment pour remarquer au assis rural. Sera présentées las difficultés pour

obtenir et pour payer de ce-lui e las perspectives du payement ou non, pour ansi

vérifier le réflèchissement à la production du territoire. Les résultats de cette

recherche sont du travaille de le campagne a été réalisé à les jours 10/10/05 et

11/10/05, ou se a été appliqué beaucoup de questions pour 20 assis, car le groupe

PET/ Géographie il y de jà avait 81 de les questions du année 2004. Cette recherche

a une grande but, car le PRONAF se il a été appliquée pour remarquer las

particularités de le assis rural il sera aidé beaucoup pour la agriculture.

Les Mots-clefs – PRONAF, assis rural, difficultés.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Mapa do Brasil: Vítimas fatais de conflitos ocorridos no campo 1985-1996..........................................................................................................23

Figura 2 – Mapa de localização do município de Arapongas (PR.)...........................55 Figura 3 – Organograma............................................................................................62 Figura 4 – Croqui do Assentamento Dorcelina Folador..........................................63 a Figura 5 - Foto da visão parcial do assentamento....................................................65 Figura 6 - Foto do pivô Central presente no assentamento.......................................65 Figura 7 – Organização Interna do Assentamento Rural........................................66 a Figura 8 - Gráfico da Produção Agrícola....................................................................68 Figura 9 - Foto de uma propriedade que cultiva produtos orgânicos.........................70 Figura 10 – Gráfico: Locais de Comercialização........................................................71 Figura 11 – Gráfico: Formas de Comercialização......................................................72 Figura 12 – Foto: interior do barracão da criação do bicho-da-seda..........................74 Figura 13 - Foto de larvas fornecidas pela COCAMAR para a criação do bicho-da-

seda..........................................................................................................75

Figura 14 – Gráfico da Renda Familiar......................................................................80

Figura 15 - Foto do cultivo de café orgânico..............................................................89

Figura 16 - Foto: Exemplo de cultivares de uma propriedade...................................90

Figura 17 – Foto: Início de produção de sementes de eucaliptos..............................90 Figura 18 - Foto: Exemplo de casa do assentamento.............................................102

Figura 19 – Foto: Exemplo de casa construída com o recurso do PROCERA

habitação............................................................................................103 Figura 20 - Foto: Barracão financiado pela COCAMAR...........................................105

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LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Proporção do número de Área dos Estabelecimentos, por grupo de Área

total – Paraná – 1970/1995......................................................................55 Tabela 2 – Ocupação do solo referente à safra 2003/2004.......................................57 Tabela 3 – Tipos de culturas referentes à safra 2003/2004.......................................57 Tabela 4 – tipos de Sistema de Cultivo de Café........................................................59 Tabela 5 – Atividade Criatória de Arapongas (2004).................................................59 Tabela 6 – Maquinário agrícola..................................................................................61 Tabela 7 – Grau de Satisfação com o preço de mercado..........................................72 Tabela 8 – Atividade Exercida....................................................................................77 Tabela 9 – Utilização de Insumos Agrícolas (%)........................................................83 Tabela 10 – Implementos Agrícolas utilizados no local (%).......................................83 Tabela 11 – Intenção de cultivar algo diferente..........................................................88 Tabela 12 – Intenção de criar algo diferente..............................................................88 Tabela 13 – Créditos Rurais destinados aos assentados..........................................91 Tabela 14 – Tempo de Residência no local...............................................................93 Tabela 15 – Auxílios fornecidos aos assentados.......................................................94 Tabela 16 – Dificuldades enfrentadas ao chegar no local..........................................95 Tabela 17 – Crédito de Fomento (valores registrados)..............................................99 Tabela 18 – Total de Bens Possuídos pelas Famílias Assentadas..........................106 Tabela 19 – Dificuldades no desenvolvimento da lavoura.......................................110 Tabela 20 – Assentados que solicitaram PRONAF A ou PRONAF A/C..................115 Tabela 21 – Perspectivas de Pagamento do PRONAF............................................117 Tabela 22 – Realização do PRONAF A/C para safra 2005/2006.............................119 Tabela 23 – Opinião sobre o PROCERA e o PRONAF...........................................120 Tabela 24 – Motivos da Satisfação..........................................................................122

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Social BR – Rodovia Federal CEASA – Centrais de Abastecimento S.A COCAMAR – Cooperativa Agroindustrial Maringá CONTAG – Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura CPT – Comissão Pastoral da Terra DAP – Declaração de Aptidão ao PRONAF

EMATER – Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural IAPAR – Instituto Agronômico do Paraná IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária MIRAD – Ministério da Reforma Agrária MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra PET – Programa de Educação Tutorial PNRA – Plano Nacional de Reforma Agrária PROAGRO – Programa Nacional de Garantia da Atividade Agropecuária PROCERA – Programa de Crédito Especial para a Reforma Agrária PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar PT – Partido dos Trabalhadores SNCR – Sistema Nacional de Crédito Rural UEL – Universidade Estadual de Londrina

UDR – União Democrática Ruralista

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................................12

1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A REFORMA AGRÁRIA E A LUTA DO MST............15

1.1 A QUESTÃO FUNDIÁRIA NO BRASIL...........................................................................15

1.2 O MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA........................................22

1.3.O MST E A PROPOSTA DE REFORMA AGRÁRIA...........................................................26

1.4 A CONSOLIDAÇÃO DE UMA LUTA: OS ASSENTAMENTOS RURAIS...................................28

2 AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL: OS PROGRAMAS DE CRÉDITOS PARA

ASSENTAMENTOS RURAIS ....................................................................................30

2.1 A GÊNESE DO SISTEMA NACIONAL DE CRÉDITO RURAL (SNCR)................................32

2.2 OS CRÉDITOS PARA OS ASSENTAMENTOS RURAIS: DO PROCERA AO PRONAF......37

3 O MUNICÍPIO DE ARAPONGAS E O ASSENTAMENTO RURAL DORCELINA

FOLADOR (ARAPONGAS-PR.).................................................................................54

3.1 O QUADRO AGRÁRIO DE ARAPONGAS......................................................................54

3.2 O ASSENTAMENTO RURAL DORCELINA FOLADOR: DA LUTA À CONQUISTA DA TERRA....63

4 QUADRO ATUAL DO ASSENTAMENTO DORCELINA FOLADOR.......................67

4.1 A PRODUÇÃO AGRÍCOLA.........................................................................................67

4.2 O NÍVEL TECNOLÓGICO DO ASSENTAMENTO.............................................................81

4.3 A ASSISTÊNCIA TÉCNICA FORNECIDA AOS ASSENTADOS............................................85

5 DO PROCERA AO PRONAF: UMA ANÁLISE DO ASSENTAMENTO DORCELINA

FOLADOR..................................................................................................................91

5.1 O PROCERA E O ASSENTAMENTO DORCELINA FOLADOR........................................92 5.1.1 Perspectivas de pagamento do PROCERA...........................................105

5.1.2 A satisfação com relação ao PROCERA................................................108

5.2 O PRONAF E O ASSENTAMENTO DORCELINA FOLADOR ........................................109

11

CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................125 REFERÊNCIAS........................................................................................................129

ANEXOS...................................................................................................................133

Anexo 1 - Mapa 2 – Localização dos Assentamentos Rurais no Brasil

Anexo 2 - Lei n.º.171, de 17-1-1991 – capítulo XIII DO CRÉDITO RURAL

Anexo 3 – Decreto n.º.508 de 14-6-2000 – Título V: do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar-PRONAF

Anexo 4 – Perfil da Realidade Agrícola 2.004

Anexo 5 – Questionário aplicado in loco

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INTRODUÇÃO

Um grande número de assentamentos rurais encontra-se instalado

pelo território brasileiro. Estes assentamentos correspondem a uma conquista do

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST); porém, a concentração das

terras brasileiras por uma minoria ainda prevalece. Apesar dos programas de

Reforma Agrários instituídos pelos governos, o que se tem visto é a realização de

assentamentos rurais sem a extinção do latifúndio improdutivo.

O presente trabalho analisa a questão dos programas de

financiamento num assentamento rural de reforma agrária, o Programa Nacional de

Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), que atende a esta clientela

classificada como grupo A.

A área escolhida é o Assentamento Rural Dorcelina Folador,

localizado no município de Arapongas (PR.) a 6 km da Rodovia Melo Peixoto (BR

369), numa área de fácil acesso e nas proximidades de cidades tais como,

Apucarana, Arapongas, Londrina e Maringá, consideradas como importantes centros

de comércio agrícola no Estado do Paraná.

Este assentamento é o único no município e está localizado numa

condição privilegiada tanto edáfica quanto topograficamente, pois o relevo é

suavemente ondulado com Latossolo Roxo Estruturado. Porém, apesar da sua

fertilidade natural, o solo está degradado pela atividade anterior de produção de

sementes selecionadas com o uso elevado de agrotóxicos.

O Assentamento Dorcelina Folador foi instalado em 1.999 e

encontra-se com 94 famílias assentadas. A escolha do tema deveu-se ao fato de já

ter tido contato com o local, pelo Projeto de Extensão do Programa PET/

Geografia/MEC-Sesu, em que se realizaram trabalhos de campo para obter um

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diagnóstico sócio-econômico do assentamento, onde se pernoitou no local, para

dessa forma vivenciar a realidade de um assentado.

Cada integrante do grupo além da aplicação de um questionário

comum a todos, escolheu alguma temática de pesquisa no assentamento. Neste

caso, optou-se pelo nível tecnológico, verificando qual era o auxílio dado por parte

do Estado aos assentados, com relação à obtenção de itens tais como insumos

agrícolas e maquinários para a lavoura local. Assim, foi possível constatar a

problemática do financiamento PRONAF destinado a estes.

É importante citar que a conquista da terra não significa acesso a

necessária infra-estrutura social e produtiva. No processo produtivo está incluso o

apoio creditício ao qual estes assentados tem por direito, quando tomam posse do

seu lote de terra e passam a ter acesso ao crédito rural que viabiliza a compra de

maquinários e insumos agrícolas, por exemplo; estes têm agora a responsabilidade

de obter meios para pagarem seus respectivos financiamentos.

Para analisar as finalidades deste financiamento procurou-se

detectar o perfil do assentado que recorre ao PRONAF, sendo apresentadas as

dificuldades na obtenção e pagamento do financiamento, bem como as perspectivas

de pagá-lo ou não, para assim, verificar os reflexos na produção do território dos

assentados.

Realizou-se o levantamento bibliográfico sobre o PRONAF, bem

como uma leitura prévia do material selecionado. Foi elaborada a fundamentação

metodológica, e em seguida foram coletados os dados com a aplicação de

questionário in loco aos assentados em forma de entrevista pessoal.

A pesquisa foi realizada nos dias 10/10/05 e 11/10/05, aplicando-se

questionários junto a 20 assentados, com caráter qualitativo; uma vez que já havia

14

81 questionários disponíveis aplicados em 2004, pelo grupo PET/Geografia. Os

resultados desta pesquisa são apresentados em forma de tabelas, gráficos e

depoimentos.

Assim o presente trabalho apresenta-se dividido em 5 capítulos: o

capítulo 1, Considerações sobre a Reforma Agrária e a Luta do MST, discute a

gênese deste movimento, sua proposta de reforma agrária e a implantação dos

assentamentos rurais.

No capítulo 2 sobre as Políticas Públicas do Brasil: os programas de

créditos para assentamentos rurais, apresenta o Sistema Nacional de Crédito Rural

(SNCR), o Programa de Crédito Especial para a Reforma Agrária (PROCERA) e o

PRONAF.

No capítulo 3 sobre o município de Arapongas e o Assentamento

Rural Dorcelina Folador, encontra-se tanto o quadro agrário do município, bem como

o histórico do assentamento. No capítulo 4 analisa-se o quadro atual do

assentamento enfatizando sua produção agrícola, o nível tecnológico e a assistência

técnica. Por fim, no capítulo 5 é feita a análise dos créditos rurais ofertados aos

assentados: PROCERA e PRONAF.

Vê-se como de suma importância estudar o tema, por saber que o

Brasil possui graves problemas sociais; se há uma possibilidade dos assentados

rurais serem beneficiados é importante que se demonstre isto.

15

1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A REFORMA AGRÁRIA E A LUTA DO MST

Dentre os inúmeros problemas sociais do Brasil destaca-se o forte

caráter concentrador de terras, em que pequena parcela de produtores rurais detêm

elevada renda e possui vastas áreas do território brasileiro. As formas dispensadas

pelo Estado aumentam as discrepâncias sociais presentes neste meio, uma vez que

grandes proprietários de terras são alvos de benefícios satisfatórios para obterem

produtividade e, consequentemente, lucro no sistema capitalista.

Porém, como nem toda a população tem acesso a estes benefícios,

pode-se visualizar ao mesmo tempo acampamentos de pessoas que estão na

tentativa de conquistar seu próprio território.

Sobre as relações capitalistas, Oliveira afirma que estas “[...] são,

portanto, relações sociais que pressupõem a troca desigual entre o capital e o

trabalho, e ambos, capital e trabalho, são produtos de relações sociais iguais e

contraditoriamente desiguais” (OLIVEIRA, 1990, p. 63).

Assim, entre o grande proprietário de terra e o sem-terra que luta por

esta terra como meio de sobrevivência é possível verificar como cada um a vê, ou

seja, para o primeiro a terra corresponde a uma mercadoria, para o segundo é vista

como instrumento de trabalho.

1.1 A QUESTÃO FUNDIÁRIA NO BRASIL

A questão agrária brasileira sempre esteve em debate tanto no

mundo acadêmico como na prática em que se visualiza tal problemática. Segundo

Graziano da Silva (1982), esta questão foi pouco tratada na época do “milagre

brasileiro”, mas passado este período, em 1978, ocorreu a retomada com pleno vigor

de sua discussão. De acordo com o autor:

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De um lado, ela havia sido esquecida ou deixara de ser um tema da moda da grande imprensa. Do outro lado – da parte daqueles que não a podiam esquecer, porque a questão agrária faz parte da sua vida diária, os trabalhadores rurais – ela fora silenciada. ( GRAZIANO DA SILVA, 1982, p.9)

Para o referido autor, a questão agrária é agravada pelo modo como

tem se expandido as relações capitalistas de produção no campo; a maneira pela

qual o país tem aumentado sua produção traz sérios impactos negativos para a

população rural, destacando-se o nível de renda e emprego dessa massa de

trabalhadores.

Com a expansão da grande empresa capitalista no campo brasileiro,

na década de 1970, ocorreu uma concentração ainda maior de propriedades, o

trabalho manual foi substituído pelas máquinas, pois era necessária rapidez na

produção.

Segundo Martine (1991), com a chegada da mecanização no campo

parcela da população foi expulsa do meio em que vivia; sendo expropriada de seus

meios de produção, esta sem alternativa recorreu à cidade para sobreviver. Por

conseguinte, esses trabalhadores retornaram ao campo na figura do bóia-fria. Sendo

necessário o registro destes, vários foram expulsos novamente do campo, dirigindo-

se não só as grandes cidades, mas também para as regiões de fronteiras agrícolas;

em ambos os casos, houve grande incentivo por parte do Estado, uma vez que as

cidades tornavam-se saturadas.

De acordo com Oliveira (1996), o desenvolvimento capitalista no

Brasil tem imposto uma reordenação territorial ao campo brasileiro; dentre suas

diversas atuações vale recordar as políticas governamentais voltadas para a

Colonização da Amazônia. Por meio delas o Instituto Nacional de Colonização e

Reforma Agrária (INCRA) implantou projetos de colonização oficial na região,

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somado a estes grupos privados e particulares implantaram projetos principalmente

no Mato Grosso (MT).

Na sociedade capitalista são poucos os que se beneficiaram desta

modernização, pois, este tipo de sistema sempre esteve preocupado com a

acumulação, interferindo no meio em que vive sem se preocupar com danos futuros,

na busca insensata por tecnologias das mais diversificadas, fator muito impulsionado

com a vinda de multinacionais neste período.

De fato, a penetração das empresas capitalistas no campo foi muito

acelerada nas décadas de sessenta e setenta, fruto da crescente industrialização no

campo. Segundo Graziano da Silva (1982), no início dos anos sessenta instalaram-

se no país fábricas de máquinas e insumos agrícolas. Assim, tornou-se necessária a

criação de um mercado consumidor para estes novos meios de produção: máquinas,

agrotóxicos, sementes produzidas pelo setor industrial, dentre outros. Neste

momento, o Estado veio a intervir implementando um conjunto de políticas agrícolas

destinadas a incentivar a aquisição de tais produtos em ascensão, acelerando o

processo de incorporação de modernas tecnologias pelos produtores rurais.

Porém, nem toda a população do campo era detentora de capital ou

de renda suficiente para adquirir tais tecnologias; assim, as discrepâncias sociais

somente vieram a aumentar. Graziano Neto (1986) relata sobre o aumento das

injustiças sociais, pois a terra é distribuída ao produtor rural de forma desigual, uma

vez que seu acesso depende do seu poder aquisitivo, o que tem levado ao alto

índice de concentração de terras.

O grande produtor com acesso a todas estas tecnologias, além do

incentivo dado por parte do Estado, passou a se utilizar de seu poderio tecnológico

para se sobressair sobre o pequeno produtor. É nesse contexto que o campo

18

brasileiro passou a ser palco de diversos conflitos pela posse da terra, delineando o

cenário que se presencia na atualidade, em que as desigualdades são umas

realidades.

A questão agrária está longe de ser uma problemática da atualidade,

vários são os fatos que demonstram que ela sempre esteve presente, adotar

medidas que solucionem o fim destas discrepâncias urgem em serem tomadas, para

que dessa forma a situação não se torne ainda mais caótica.

Nesse contexto de desigualdades sociais, parcela da sociedade

brasileira se lançou na luta por uma melhor distribuição das terras, ou seja, a favor

de uma reforma agrária, que permita o acesso de inúmeros trabalhadores à terra,

como meio de sobrevivência.

De acordo com Graziano da Silva (1982) acredita-se que a maior

reivindicação de posseiros, pequenos proprietários, parceiros e pequenos

arrendatários, grupo que constitui a maioria dos trabalhadores rurais brasileiros, é a

luta incessante pela reforma agrária. Este grupo, sem terra suficiente ou mesmo em

condições precárias de acesso a esta não encontra alternativa a não ser recorrer a

empregos para sobreviverem, seja na cidade ou mesmo no campo em lavouras

vizinhas, por exemplo.

De acordo com Proscêncio (1999) quando esta relata as idéias de

Veiga sobre uma definição do que seria a reforma agrária, é exposto que trata-se de

uma: “ [...] distribuição eqüitativa das terras de um país, não realizada de forma

espontânea, mas sim, de forma diretiva e pela ação governamental do Estado [...]”

(PROSCÊNCIO, 1999, p. 36).

Esta reforma agrária corresponde a uma estratégia, de acordo com

Graziano da Silva (1982), para romper com o monopólio da terra, permitindo que

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trabalhadores rurais se apropriem dos frutos do seu próprio trabalho. Torna-se

necessária a eliminação do latifundiário considerado improdutivo, para que todos

tenham acesso a terra e nela possam obter sua produção.

Veiga (1984) relata o fato de que uma reforma agrária deste tipo não

ocorre de forma repentina, ela corresponde ao resultado de pressões sociais na

busca pela igualdade da distribuição das terras pelo país, pois “[...] desde o final da

II Guerra Mundial a reforma agrária passou a ser um dos elementos essenciais das

estratégias de desenvolvimento econômico” (VEIGA, 1984, p. 9).

Segundo o autor, o maior empecilho para que os lavradores tenham

acesso a terra é a concentração da propriedade fundiária pelas “oligarquias” do

campo brasileiro. De acordo com o autor, a reforma agrária se tornou exigência

social somente nos locais em que havia a presença em massa de lavradores

impedidos do acesso à propriedade da terra.

Para Sorj (1980), a implantação do regime militar criou as condições

favoráveis para a implementação das políticas necessárias para se firmar o modelo

capitalista, monopolista e dependente da época, e apoiar uma reforma agrária

radical estava longe do propósito dos governadores. Porém, como era necessária a

resolução de problemas relacionados com as contradições presentes no campo,

colocou-se diante deste regime a possibilidade de adotar uma reforma agrária

parcial, em certas regiões do país, não modificando o padrão de desenvolvimento

agrícola do período, ou seja, manteve-se o latifundiário tradicional.

Segundo o referido autor, nos diferentes governos militares, a

questão da reforma agrária foi em vários momentos discutida, porém, em nenhum

dos governos tratou-se da possibilidade de transformação da estrutura fundiária. Sorj

(1980) cita o governo do General Humberto de Alencar Castelo Branco (1964-1967)

20

que em seu primeiro período promulgou, o Estatuto da Terra (1964), estabelecendo-

se a partir deste momento as bases legais para a realização de uma reforma agrária.

De acordo com Guanziroli et al. (2001) na década de 1960 entendia-

se a reforma agrária como:

um processo de transformação da estrutura agrária brasileira, por meio da desapropriação dos latifúndios improdutivos e/ou aquisição de terras produtivas e sua redistribuição às famílias trabalhadoras que dispõem de pouca ou nenhuma terra, para torná-la produtiva e cumprir sua função social (Estatuto da Terra). (GUANZIROLI et al., 2001, p. 187)

Segundo Oliveira (1996) em meio ao aumento da pressão política

dos movimentos sociais no campo, junto da ampliação da violência gerada pelos

conflitos pela terra, as elites do Brasil retomaram o debate sobre a reforma agrária:

No bojo da transição dos governos militares para os civis, o governo da “Nova República” (aliança política entre o PMDB e os dissidentes do PDS que vieram a formar o PFL) anunciou, durante o 4º Congresso Nacional da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), a elaboração do 1º Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA), conforme mandava o Estatuto da Terra aprovado em 1964. (OLIVEIRA, 1996, p. 532)

Para a elaboração do plano, o governo de José (Sarney) Ribamar

Ferreira de Araújo (1985-1990) criou o Ministério da Reforma Agrária (MIRAD) tendo

como ministro Nelson Ribeiro Alves (1974-1975). Ainda segundo o autor, este plano

vinha com o objetivo de buscar ”paz na terra”, ou seja, resolver os inúmeros conflitos

pela posse desta; na época previa-se desapropriar 43,090 milhões de hectares de

terras e assentar 1,4 milhão de famílias em cinco anos.

Porém, segundo dados de Oliveira (1996, p. 532) passado o primeiro

ano de implantação o INCRA-MIRAD somente havia cumprido parte da meta a ser

alcançada: “apenas 23% da área prevista para desapropriação no primeiro ano

havia sido decretada desapropriada; somente 5% do número de famílias previstas

estávamos assentadas”. Este baixo índice alcançado deveu-se a grande luta política

21

entre forças conservadoras (proprietários de terra), que apoiavam o governo, contra

as forças progressistas que lutavam pela reforma agrária.

Nesse contexto, surge o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem

Terra (MST) no ano de 1984. No entanto, os latifundiários em resposta a esta

situação e por não almejarem a realização da reforma agrária criaram em agosto de

1985 a União Democrática Ruralista (UDR), “com a finalidade de coordenar

nacionalmente a ação desses latifundiários contra a reforma agrária”(OLIVEIRA,

1996, p. 532). Em meio a este cenário, a incidência de violência no campo aumentou

de maneira avassaladora; segundo Oliveira (1996): “[...] em 1983 foram

assassinados 96 trabalhadores no campo, e em 1986 houve um aumento para 302

mortes, o que demonstrava o endurecimento por parte dos latifundiários” (OLIVEIRA,

1996, p. 533).

Somado a estes números ocorreu a extinção do Ministério da

Reforma Agrária, em seguida, pôde-se constatar o não cumprimento das metas

definidas no 1º Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA), pois apenas 10% destas

haviam sido alcançadas durante os cinco anos de sua implantação. Oliveira (1996)

termina por enfatizar que a reforma agrária:

[...] além de resolver a maior parte dos problemas estruturais que existem no campo brasileiro, permitirá ampliar a oferta de alimentos e resolver o problema crônico da fome e do desemprego – enfim, da miséria que envolve milhões de brasileiros. (OLIVEIRA, 1996, p. 534)

Martins (2000) relata que este capitalismo trouxe benefícios às elites

e à classe média; porém, não beneficiou da mesma maneira as multidões de

deserdados e sem destino, mergulhados nas mais perversas formas de

sobrevivência.

22

Sabe-se que, a reforma agrária que rompa com o latifúndio

improdutivo, distribuindo terras de maneira justa a população que dela carece, é algo

distante de se concretizar; o MST na atualidade trata-se de um movimento que

busca a conquista deste tipo de reforma.

1.2 O MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA

O MST tem em seu histórico de lutas diversas conquistas que

somente foram alcançadas em meio a grandes batalhas, como a luta incessante

pela reforma agrária. Este movimento tem o intuito de finalizar o latifúndio

improdutivo, almejando que a terra seja fornecida para quem nela trabalha e dela

necessita para a sua sobrevivência.

O trecho citado corresponde a letra de uma das músicas produzidas

pelo próprio MST e traz em seu conteúdo a gênese do movimento; todas as canções

que fazem referência ao movimento demonstram a dura luta destes trabalhadores do

campo.

O Movimento Sem – Terra nasceu da necessidade Da vida que leva um povo que passa dificuldade Seus princípios e fundamentos são a terra e seus problemas Solo mal utilizado, espúrio de um mau sistema... Nos fecharam as vias legais, só nos restam os acampamentos Resistir à polícia e às armas, conquistar novos assentamentos Desta terra somos herdeiros, brasileiros de fibra e talento Nós queremos um novo porvir e suprir o país de alimento. A Terra Chama à Luta (Andreato/RS Canções da Luta in FERNANDES,1996,p.74).

Segundo Fernandes (1996) o Movimento dos Trabalhadores Rurais

Sem Terra (MST) tem sua gênese em um processo de enfrentamento e também de

resistência contra a política implantada durante o regime militar, no que diz respeito

ao desenvolvimento agropecuário do país. O MST corresponde a um movimento que

23

tem em seu passado registros de uma luta travada com o intuito de pôr fim a

exploração do homem do campo.

De acordo com o autor, o movimento tem seu surgimento no final da

década de 1970 e início de 1980. Deve-se mencionar o papel desempenhado pela

Comissão Pastoral da Terra (CPT), que surge no ano de 1975 em meio aos conflitos

delineados no campo brasileiro, momento em que as disputas agrárias já estavam

fora de controle. Visto o cenário deste período, parecia quase impossível a criação

da CPT, uma vez que além da força da ditadura militar havia a alta hierarquia da

igreja católica atrelada ao Estado.

De acordo com Oliveira (2001), as lutas travadas pelo movimento no

decorrer de sua trajetória foram sangrentas, em que a violência tem sido a principal

característica do acesso a terra. O mapa a seguir ilustra a incidência da

criminalidade no campo brasileiro:

Figura 1- Mapa do Brasil : Vítimas fatais de conflitos ocorridos no campo (1985 – 1996)

FONTE: OLIVEIRA, 2001.(Sem escala definida)

24

Segundo Fernandes (1999) os trabalhos da pastoral eram realizados

tanto nas paróquias localizadas nas periferias das cidades como também nas

comunidades rurais contribuindo assim, na organização e na luta dos trabalhadores.

Nesse contexto, surge também o Partido dos Trabalhadores (PT), pela necessidade

da criação de um partido que defendesse os interesses da classe dos trabalhadores.

Além disso, os trabalhadores passaram a sentir a necessidade de articular ações de

resistência contra as injustiças presentes no campo brasileiro.

Em meio às perseguições e sofrimentos vividos pelos trabalhadores

no campo brasileiro, a Igreja precisava se manifestar, enfrentando assim tanto o

Estado quanto os conservadores da Igreja, tornou-se necessário oferecer uma

resposta cristã às vítimas dos conflitos agrários. De acordo com Negri (2005), em

seu início, a CPT era denominada Comissão de Terras e teve uma responsabilidade

direta no surgimento do movimento, pois o próprio MST utilizou-se no seu início de

seu discurso.

Os primeiros encontros do MST foram verdadeiras trocas de

experiências para todos se conhecerem, uma vez que estavam em seus primeiros

contatos; nestes realizaram o início de um diálogo sobre como poderiam melhor se

organizar. A partir destes encontros se enfatizou a necessidade de se reunir mais

vezes para trocas de experiências (FERNANDES, 1999).

Fernandes (1999) relata que os Estados passaram a ser palcos da

ocorrência desses tipos de ocupações que eclodiram em diversos lugares ao mesmo

tempo; estas traziam em sua essência algo muito semelhante: a sua forma de

organização. De acordo com o referido autor, a divulgação dessas lutas pela Igreja,

e em pequena parte pela imprensa fez com que surgisse a necessidade de se reunir

para as trocas de experiências.

25

De acordo com Fernandes (1999) alguns membros, nestes

encontros, começaram a cogitar a possibilidade de se organizarem em um

movimento social que não ficasse restrito ao âmbito regional, ampliando-se para o

nível nacional. Nesse contexto, ocorreu 1º Encontro em janeiro de 1984, no

município de Cascavel, Estado do Paraná.

Segundo Fernandes (1999) neste momento se deu a fundação e a

organização do MST batizado de: Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra,

marcando assim a sua gênese. O movimento agora de forma articulada passou a

lutar pela distribuição de terras de forma igualitária, ou seja, na conquista da

verdadeira reforma agrária.

Em 1985 na realização do 3º Congresso Nacional do Movimento, de

acordo com Fernandes (1999, p. 81), foram traçados e definidos os objetivos do

MST, quais sejam:

[...]construir uma sociedade sem exploradores e onde o trabalho tem supremacia sobre o capital; a terra é um bem de todos. E deve estar a serviço de toda a sociedade; garantir trabalho a todos, com justa distribuição da terra, da renda e das riquezas; buscar permanentemente a justiça social e a igualdade de direitos econômicos, políticos, sociais e culturais; difundir os valores humanistas e socialistas nas relações sociais; combater todas as formas de discriminação social e buscar a participação igualitária da mulher.

Este movimento até nos dias de hoje luta pela conquista do que

Fernandes (1999) denomina fração do território, ou seja, a conquista de parcela da

terra. O autor relata que esses estão em constante movimento pelo território, onde

os acampamentos, as caminhadas, as próprias ocupações, são processos que

fazem a luta mover-se pelo território, apropriado de forma privada pelos proprietários

de terras e/ou capitalistas.

26

1.3 O MST E A PROPOSTA DE REFORMA AGRÁRIA

O movimento tem em seu histórico uma síntese do que deveria de

fato ocorrer no cenário brasileiro com relação à reforma agrária, mas o que se

constata é a realização apenas de metas de determinados dirigentes do governo

para solucionar problemas momentâneos e não a reforma agrária propriamente dita.

Guanziroli et al.(2001) relatam a reforma agrária proposta pelo MST

como uma reforma ampla, massiva e imediata, e que esta é pautada nas reformas

agrárias ocorridas nos países asiáticos (como os da Coréia, Japão, Taiwan, China,

dentre outros), que em meio a guerras e revoluções eliminaram o latifúndio das

áreas rurais, implantando por conseguinte a agricultura familiar.

Segundo Fernandes (1999, p. 81) o movimento elaborou uma

síntese do Programa de Reforma Agrária, em que está exposto a necessidade de:

1- modificar a estrutura da propriedade da terra;

2- subordinar a propriedade da terra à justiça social, às

necessidades do povo e aos objetivos da sociedade;

3- garantir que a produção da agropecuária esteja voltada para a

segurança alimentar, a eliminação da fome e ao desenvolvimento

econômico e social dos trabalhadores;

4- apoiar a produção familiar e cooperativada com preços

compensadores, crédito e seguro agrícola;

5- levar a agroindústria e a industrialização ao interior do país,

buscando o desenvolvimento harmônico das regiões e garantindo

geração de empregos especialmente para a juventude;

6- aplicar um programa especial de desenvolvimento para a região

do semi-árido;

27

7- desenvolver tecnologias adequadas à realidade, preservando e

recuperando os recursos naturais, com um modelo de

desenvolvimento agrícola auto-sustentável;

8- buscar um desenvolvimento rural que garanta melhores

condições de vida, educação, cultura e lazer para todos.

Infelizmente este programa ainda não foi em sua totalidade

alcançado; o que se detecta na atualidade não se trata da realização da reforma

agrária tão almejada pelo movimento e sim uma política de assentamentos rurais.

Estes assentamentos rurais são uma conquista por parte do movimento, mas a

reforma agrária não está sendo realizada pelo atual governo.

Citado por Fernandes (1999) Stedile já expunha que o governo de

Fernando Henrique Cardoso (1995- 2002) realizava uma política de assentamentos

rurais, não a desejada Reforma Agrária. Segundo o referido autor, os governos para

evitar que conflitos de terra se transformem em conflitos políticos, conseguem

algumas áreas, sejam elas públicas, negociadas, desapropriadas e assentam as

famílias.

O governo não está preocupado na realização da reforma agrária,

para amenizar a problemática há a preocupação de somente manter a discussão na

teoria, para demonstrar que algo esta sendo feito. Na realidade ocorrem apenas

metas governamentais de interesse de determinada classe, a detentora de poder e

capital.

28

1.4 A CONSOLIDAÇÃO DE UMA LUTA: OS ASSENTAMENTOS RURAIS

No Brasil, a implementação dos assentamentos rurais correspondeu

a uma tentativa de amenizar a ocorrência de conflitos sociais no campo,

principalmente a partir da primeira metade dos anos 80. Além do mais, estes

assentamentos passaram a ter grande importância, uma vez que trouxeram à tona a

luta pela reforma agrária.

De acordo com Bergamasco e Norder (1996) os assentamentos

rurais surgem da luta dos trabalhadores rurais sem terra pela terra instrumento de

trabalho e sobrevivência. Os referidos autores apresentam uma definição de

assentamento rural, como a “[...] criação de novas unidades de produção agrícola,

por meio de políticas governamentais visando o reordenamento do uso da terra, em

benefício de trabalhadores rurais sem terra ou com pouca terra” (BERGAMASCO e

NORDER, 1996, p. 7).

Devido a existência de diversos tipos de assentamentos os autores

trazem uma classificação em que estes se dividem em cinco grandes grupos: 1-

projetos de colonização, formulados durante o regime militar, a partir dos anos 70,

visando ocupar áreas devolutas e expandir a fronteira agrícola; 2- reassentamento

de populações atingidas por barragens de usinas hidrelétricas; 3- planos estaduais

de valorização de terras públicas e de regularização possessória; 4- programas de

reforma agrária, via desapropriação por interesse social, com base no Estatuto da

Terra (1964); 5- a criação de reservas na região amazônica para os seringueiros

com fins extrativistas. Porém, é importante citar que todos têm em comum a luta pelo

acesso a terra.

Segundo os autores, neste período existiam no Brasil 350.000

famílias assentadas. Porém, somente com a conquista da terra não quer dizer que o

29

assentado passe a ter acesso a necessária infra-estrutura social (saúde, educação,

transporte, moradia) e produtiva (terras férteis, assistência técnica, eletrificação,

apoio creditício e comercial). Após a conquista este passa a ter de lutar por uma

nova causa: a busca pela consolidação da posse da terra; além da luta pela

obtenção de condições econômicas e sociais favoráveis ao estabelecimento destes

trabalhadores rurais enquanto produtores agrícolas.

No território brasileiro há a presença de diversos assentamentos

rurais, há um grande número destes tanto na região Nordeste do país como na

região Sul, principalmente no Estado do Paraná. Os restantes encontram-se por todo

o território (Anexo 1).

Com a conquista dos assentamentos rurais, estes trabalhadores

passaram a lutar pelas resoluções de novos problemas pelos quais deparam na

atualidade, como: “[...] o difícil acesso aos instrumentos de política agrícola, a baixa

fertilidade em boa parte das áreas, a falta de assistência técnica, o descaso estatal

para com o sistema de saúde, transporte, eletrificação rural e educação.”

(BERGAMASCO e NORDER, 1996, p. 80). A terra por si só não basta, é mais que

necessário que o Estado se preocupe com esta parcela de trabalhadores rurais,

para que estes munidos da terra e de condições favoráveis possam sobreviver no

campo brasileiro.

30

2 AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL: OS PROGRAMAS DE CRÉDITOS PARA ASSENTAMENTOS RURAIS

Uma das políticas mais perversas no campo brasileiro diz respeito à

obtenção de financiamentos agrícolas. O produtor rural vem tentando sobreviver às

custas de um Estado que não lhe beneficia adequadamente, salvo aos grandes

proprietários de terras detentores de capital que lucram com o sistema capitalista.

De acordo com Negri (2005) tem-se o “capitalismo selvagem”, um capitalismo que se

encontra instalado em tudo, principalmente no campo brasileiro, mediante políticas

públicas sempre favoráveis a uma minoria, estes grandes proprietários, deixando à

margem a maioria da população brasileira.

Martine (1991) relata que somente os detentores de capitais são os

que se beneficiaram com a modernização agrícola no período da Revolução Verde,

em que se constatou uma abertura política ao capital, principalmente norte-

americano, somando-se a isto os maiores subsídios dados aos produtos destinados

à exportação.

A concentração de terras não é algo recente no cenário brasileiro,

Sorj (1980) já expunha que desde o regime militar procurava-se a reorganização do

capital na busca incessante pela concentração e centralização deste. É nesta época

que ocorre a implantação maciça do capital estrangeiro, com a vinda para o país de

indústrias de grande porte. O campo brasileiro foi de maneira avassaladora afetado,

pois as indústrias oriundas do exterior que produziam insumos, fertilizantes e

maquinários necessitavam de um mercado consumidor. Assim, o Estado interveio

dando incentivos fiscais para a aquisição destes aparatos tecnológicos.

De acordo com Sorj (1980), o desenvolvimento deste complexo

agroindustrial liderado pelas empresas estrangeiras era favorável aos grandes

31

proprietários de terras e a ação do Estado era orientada para a modernização do

campo brasileiro visando o aumento da produtividade.

Porém, nem todos no campo tinham condições de possuir tais

tecnologias, pois estas eram adquiridas mediante a detenção de um capital elevado.

Assim, os pequenos produtores tiveram de optar por outros tipos de produção, uma

vez que não tinham condições de concorrer com o que era produzido pelas

indústrias instaladas no campo, consequentemente, muitos produtores faliram,

mantendo-se no campo somente os que possuíam condições econômicas para isto.

Segundo Graziano da Silva (1982), foi esta expansão da grande

empresa capitalista na agropecuária a responsável pela transformação do colono em

bóia-fria, além de agravar os conflitos entre grileiros e posseiros, fazendeiros e

índios, concentrando ainda mais a propriedade.

De acordo com o autor foi um período em que milhares de

produtores foram expulsos do campo recorrendo às cidades para sobreviverem,

porém, não conseguiam empregos nestas, em consequência cresceu o desemprego,

subemprego, mendicância, a prostituição e criminalidade. Entretanto parcela

significativa desta população permaneceu no campo, tentando sobreviver e

reivindicando seus direitos.

O MST trata-se de um movimento que tem como luta diária a

distribuição de forma igualitária das terras pelo Brasil, a luta pela terra é o primeiro

passo, pois nela se incluem a luta contra o capital, contra as políticas públicas

impostas por este, ou seja, a luta contra as formas de tratamento dispensadas pelo

Estado. De acordo com Negri (2005) a luta do MST é mais do que uma luta pela

distribuição justa das terras pelo Brasil, esta luta também reivindica a inclusão deste

ator social desprezado historicamente pelas políticas públicas do país.

32

Durante os governos militares a reforma agrária passou por diversas

modificações, mas nunca resultou no fim do latifúndio, pelo contrário, sempre

manteve a estrutura fundiária concentradora de terras. Com a implantação dos

assentamentos rurais, conquistados pelo MST, o debate sobre este tipo de

concentração se tornou cada vez mais acirrado porém, Guanziroli et al. (2001, p.

229) relatam que no início da reforma agrária do Brasil o que mais se criticava era o

pequeno apoio dado aos assentados, tanto com relação aos recursos financeiros,

bem como em assistência técnica, extensão rural e demais serviços públicos.

Negri (2005) enfatiza a posição do Movimento dos Trabalhadores

Rurais Sem Terra contrária às políticas públicas adotadas pelo Estado na Revolução

Verde, as quais apenas se preocupavam com a maximização de lucros sem se

preocupar com seus efeitos no meio em que o homem vive, buscando-se a

mecanização da agricultura e reduzindo ao máximo o uso de mão-de-obra,

resultando numa concentração cada vez maior do capital nas mãos de uma minoria;

ou seja, uma preocupação somente com o aumento incessante da produtividade e

maior concentração de terras.

2.1 A GÊNESE DO SISTEMA NACIONAL DE CRÉDITO RURAL (SNCR)

As políticas públicas adotadas pelo Estado voltadas para os

complexos agroindustriais, visando o abastecimento do mercado interno e a

exportação, adotaram diversas medidas, dentre as quais o Crédito Rural que teve

grande destaque.

A política de incentivo à modernização se transformou em uma

política de incentivo à concentração de terras, tendo como carro chefe a soja, que

passou a dividir a liderança das exportações com o café, ambas culturas voltadas

33

para grandes áreas. Em se tratando dos grãos de soja, por exemplo, Oliveira (1996)

relata sobre a alteração nos hábitos alimentares, quando campanhas publicitárias e

médicas incentivavam a compra de produtos oriundos da soja, tendo-se por intuito a

ampliação do mercado interno do óleo de soja, em decorrência das políticas de

ampliação das exportações de farelo de soja.

De acordo com o Manual do Crédito Agrário, a Lei n.º 4.829 de

05/11/65 criou o Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR) delegando ao Banco do

Brasil “ [...] a responsabilidade de dirigir, coordenar, fiscalizar as decisões emanadas

do Conselho Monetário Nacional aplicáveis ao crédito rural [...]” (DICK,1991). (Anexo

2).

Inaugurou-se uma fase de crédito farto e barato para a população do

campo brasileiro porém, não havia a intenção de privilegiar a todos e sim de

compensar somente os grandes produtores de terra pois, os pequenos produtores

sempre foram deixados à margem do sistema capitalista, uma vez que para este

sistema este tipo de produtor não oferece um lucro significativo. De acordo com Sorj

(1980) o Crédito Rural se transformou, sem dúvida, no maior impulsionador do

processo de modernização; o Estado viabilizou a venda de maquinários para a

parcela detentora de capital a um preço irrisório permitindo assim a mecanização do

campo.

Guifrida (1996), em sua análise sobre o Sistema Nacional de Crédito

Rural, relata os objetivos básicos do Programa, os quais eram:

a) estímulo aos investimentos rurais, inclusive o armazenamento,

beneficiamento e a industrialização dos produtos agropecuários;

b) o fortalecimento do custeio oportuno e adequado da produção e

comercialização de tais produtos;

34

c) a possibilidade de fortalecimento econômico dos mini, pequenos,

médios e grandes produtores rurais;

d) o incentivo à introdução de métodos racionais visando o aumento

da produtividade e melhoria do padrão de vida das populações

rurais.

Como se pode verificar, a legislação da época pretendia que o

Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR) incentivasse a produção agrícola e, ao

mesmo tempo protegesse os pequenos produtores rurais, promovendo junto a

modernização da agricultura.

Trata-se de uma dualidade, uma vez que diversos são os dados que

demonstram que os pequenos agricultores rurais nunca foram alvos de benefícios

satisfatórios no meio rural; muito pelo contrário, sempre foram marginalizados; além

do mais, proteger pequenos agricultores e ao mesmo tempo promover a

modernização é algo de difícil compreensão, uma vez que somente grandes

proprietários se beneficiam desta modernização.

Com relação à distribuição do Crédito Rural, Sorj (1980) relata que

esta se deu em crédito de custeio, para cobrir as despesas dos ciclos produtivos; de

comercialização, garantindo ao produtor o apoio necessário para cobrir suas

despesas e melhores condições de comercializar seus produtos; e de investimento,

visando aplicações em bens e serviços. Porém, estes créditos não foram distribuídos

de forma igualitária entre os produtores rurais, o que se constata, segundo o autor,

desde esta época é a concentração de créditos entre médios e grandes proprietários

de terras.

Vale salientar que houve nítidas diferenças regionais nas

distribuições dos créditos agrícolas, pois de acordo com Sorj (1980), as regiões mais

35

atrasadas onde os pequenos produtores deparam com inúmeras dificuldades e se

encontram praticamente encapsulados pelos grandes proprietários de terras, o

crédito agrícola se destinou em sua maioria aos grandes produtores.

Oliveira (1996) analisa dados referentes a 1985 com relação a

obtenção de crédito, afirmando que “[...] 3% do total chegou aos estabelecimentos

com menos de 10 ha, 28% aos de 10 a 100 ha, e os 72% restantes foram

destinados às propriedades de mais de 1 mil ha. Em 1975 os médios e grandes já

haviam ficado com 68,1% [...]”. Ou seja, os dados comprovam que a maioria dos

financiamentos agrícolas tem-se concentrado entre os médios e grandes

proprietários de terras.

Sayad (1984), numa crítica ao Programa de Crédito Rural, relata que

a parcela maior dos créditos subsidiados para a agricultura era distribuída em função

das áreas de terras possuidoras, ou seja, ficava implícito que os grandes

proprietários teriam acesso a maior parcela de créditos, portanto esta oferta de

crédito acentuaria ainda mais a desigualdade do campo brasileiro.

Além disto, o acesso dos pequenos proprietários de terras aos

créditos rurais, muitas vezes, era barrado pela burocracia exigida pelos bancos na

liberação destes. Este tipo de empecilho foi e é, mesmo nos dias de hoje, um dos

principais problemas para a liberação de financiamentos para esta parcela de

produtores e em muitos casos são solicitadas a terra e a produção como garantias

reais; além do mais, nem sempre a época da liberação dos financiamentos é

favorável aos pequenos proprietários de terras.

As dificuldades pelas qual a maioria destes produtores se

defrontava levava muitas vezes o pequeno agricultor a recorrer aos comerciantes

36

para suprir suas necessidades de custeio da sua produção, ficando à mercê dos

juros impostos por estes.

Por volta de 1985 também se pôde constatar a atuação do Estado

em áreas do setor agrícola como a expansão dos serviços de extensão rural,

pesquisa e armazenamento. No Estado do Paraná, a presença de cooperativas e

técnicos da Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural

(EMATER) retratam de forma clara esta atuação.

As cooperativas nada mais são do que um instrumento de

integração ideológica e de controle governamental dos pequenos produtores; elas

são apresentadas para os trabalhadores como solução para os seus problemas, mas

eliminam deste discurso o confrontamento de interesses diferenciados quando se

trabalha em grupo. O verdadeiro intuito das cooperativas trata-se do controle dos

preços do mercado interno, um meio pelo qual o Estado encontrou de agir a seu

favor.

De acordo com Martine (1991), o período da modernização agrícola

deparou com um produtor não qualificado para as necessidades do momento; em

que não bastava somente possuir terras para produzir, era necessário dispor de

capital, além de que para a adoção de novas técnicas era indispensável possuir

determinadas informações, ter atitudes empresariais e capacidade de

endividamento.

Porém, como nem todos os produtores possuíam tais

características, além da busca incessante de crédito farto e barato para subsidiar as

monoculturas do período, vários foram os agricultores que se endividaram sem

condições de pagar os créditos subsidiados pelo governo. Atrelado a tudo isto houve

ainda o esgotamento dos créditos rurais.

37

Para os assentados rurais é necessário que haja um maior

investimento em informações técnicas que lhes sejam adequadas às suas

realidades, não as mesmas dadas aos grandes proprietários de terras que possuem

uma realidade totalmente oposta. Para tanto é necessário o investimento em uma

educação rural adequada para cada situação levando-se em conta suas

particularidades.

Alentejano (2000) já expunha sobre a necessidade de uma política

alternativa contrária aos moldes adotados pela Revolução Verde, pois esta somente

tem dado resultados negativos para a sociedade brasileira, a exemplo de

contaminações, aumento do êxodo rural e da concentração de terras e riquezas.

Além disto, os agricultores estão se tornando cada vez mais

vulneráveis, na dependência tanto de financiamento quanto das grandes indústrias

fornecedoras de insumos e sementes. O referido autor termina por enfatizar a

importância dos assentamentos rurais, por se tratarem de indicativos de

possibilidades da constituição de um novo modelo de desenvolvimento no campo

brasileiro.

2.2 OS CRÉDITOS PARA OS ASSENTAMENTOS RURAIS: DO PROCERA AO PRONAF

A partir do momento em que os assentados tomam posse de seus

lotes de terras estes passam a ter vários direitos, dentre eles inclui-se o acesso aos

créditos rurais, para a obtenção de maquinários, insumos agrícolas e à instalação de

infra-estrutura de produção. O primeiro crédito destinado aos assentados foi o

Programa de Crédito Especial para a Reforma Agrária (PROCERA), este adotou

quase que em sua totalidade as características dos programas especiais de crédito

rural.

38

Segundo dados do Relatório de Gestão do programa o PROCERA

esteve em operacionalização durante 14 anos, no período compreendido entre os

anos de 1986 a 1999. Tendo-se como objetivo:

Aumentar a produção e a produtividade agrícolas dos assentados da reforma agrária, com sua plena inserção no mercado, mediante financiamento de projetos para estruturação da capacidade produtiva e aproveitamento econômico das áreas de assentamento aprovadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, visando permitir a devida emancipação do produtor em relação a tutela governamental (BRASIL. RELATÓRIO DE GESTÃO – PROCERA Brasília: 2003, p. 05).

No período compreendido entre a criação e a desativação em 1999,

vários foram os valores definidos para o teto do financiamento; segundo dados do

relatório, na última versão das normas de administração gerais e operacionais do

programa, editada em 1997, observa-se as seguintes condições:

- teto para investimentos adotado foi de R$ 7.500.00 por família, e

para custeio de lavoura o valor de R$ 2.000.00 por família/ano;

- no caso de financiamento para integralização de quotas-partes do

capital social de cooperativas de assentados, a família tinha direito a mais outro teto

de R$ 7.500.00 a título de investimento;

- os encargos financeiros eram de 6.5% ao ano, com rebate de 50%

sobre as parcelas de amortização do principal e juros, no caso do pagamento

ocorrer até a data do vencimento;

- as prestações podiam ser pagas semestralmente ou anualmente,

conforme o bem financiado, com prazo de até 10 anos, com 03 anos de carência;

- as garantias exigidas eram: para os investimentos concedidos, o

aval prestado por outro produtor assentado, independente de sua capacidade

financeira e para o custeio de lavouras, o penhor da safra ou aval de outro produtor

assentado.

39

Visto a necessidade de operações de crédito junto ao Banco do

Brasil, foram definidos itens no relatório necessários de serem cumpridos pelo

banco, os quais eram:

- elaborar a ficha cadastral dos proponentes ao crédito;

- acolher os projetos e propostas de crédito aprovadas pela

Comissão Estadual do PROCERA;

- contratar os financiamentos com os beneficiários;

- fiscalizar as operações de crédito;

- articular-se com a Assistência Técnica, objetivando o eficiente

desempenho junto à Reforma Agrária;

- fornecer aos órgãos de coordenação do PROCERA as

informações necessárias ao acompanhamento e avaliação;

- efetuar as cobranças das dívidas, recolhendo ao Fundo Contábil

os valores recebidos;

- tomar medidas necessárias à recuperação do crédito concedido,

em caso de inadimplemento;

- após a criação dos Fundos Constitucionais, em 1993, estes

passaram a ser operacionalizados pelos Agentes Financeiros:

Banco da Amazônia (FNO), Banco do Nordeste (FNE) e Banco

do Brasil (FCO).

Como citado, o Banco do Brasil deveria estar articulado com a

assistência técnica que, de acordo com o relatório, cabia a esta:

- avaliar a área objeto do assentamento, visando determinar as

melhores alternativas de exploração produtiva;

40

- formular projetos de desenvolvimento econômico das áreas

objeto de assentamentos, encaminhado-os às Comissões

Estaduais para análise;

- prestar orientação técnico-gerencial às famílias, associações e

cooperativas de produtores assentados;

- avaliar os investimentos executados;

- elaborar relatórios relativos à assistência técnica prestada nos

assentamentos;

- apresentar Plano Anual de Assistência Técnica.

Tanto com relação ao que era imposto pelas agências bancárias

bem como pela assistência técnica, tratavam-se de itens difíceis de serem

alcançados; porém, segundo o próprio relatório de gestão do programa, o

PROCERA não alcançou o objetivo principal para o qual havia sido criado, que era o

de propiciar a emancipação do produtor assentado em relação ao Estado.

Vários foram os fatores, segundo dados do relatório, que

contribuíram para a extinção deste programa, dentre os quais se destacam alguns

deles:

- a falta de uma política pública consistente para a reforma agrária

- a situação precária e decadente da Assistência Técnica

disponível que passou por um processo de desmontagem

durante estes últimos anos;

- má distribuição, descontinuidade e volume insuficiente de

recursos para atender a demanda; e

- sistema bancário conservador e despreparado para atender ao

público alvo (produtor assentado).

41

De acordo com Proscêncio (1999), o PROCERA se subdividia em

crédito para implantação (alimentação, fomento e habitação) e crédito para produção

(PROCERA: custeio, PROCERA: Teto I e PROCERA: Teto II). Com relação aos

valores destes créditos na época foram expostos pela autora como sendo

respectivamente:

a) crédito para implantação:

alimentação R$ 400.00

fomento R$ 740.00

habitação R$ 2.000.00

b) crédito para produção:

PROCERA: custeio R$ 2.000.00

PROCERA: Teto I R$ 7.500.00

PROCERA: Teto II -

Segundo a autora, o crédito de alimentação era feito sob diversas

formas: salário mínimo durante os 10 primeiros meses para cada família; o valor

também podia ser revertido em alimentos fornecidos de uma só vez; realização de

convênio com cooperativas para barateamento dos produtos. Ou ainda, o valor total

em dinheiro liberado de uma só vez. Já o crédito fomento equivalia ao recurso com o

qual cada família contava para a compra de suas primeiras ferramentas, sementes e

animais. Com relação ao crédito habitação este correspondia ao recurso fornecido

para o assentado construir sua casa, comprando os materiais necessários; havia

casos em que os próprios assentados construíam suas casas.

42

Com relação aos créditos destinados para a produção, o PROCERA

Custeio correspondia ao valor da lavoura do ano, tendo como prazo para o

assentado quitar a dívida o período de um ano. Na Região Sul, a quantia do recurso

era repassada pelas agências do Banco do Brasil. O recurso do Teto I era destinado

para o assentado investir em sua propriedade adquirindo animais e ferramentas por

exemplo, não se pode confundir o recurso do Teto I com o do fomento, pois este

último era fornecido aos assentados em sua fase de implantação no local. Já o Teto

II, um crédito a mais do PROCERA, era destinado às famílias assentadas, sócias de

cooperativas.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) responsável

pela administração do PROCERA tentou na época, segundo Proscêncio (1999),

enfatizar a existência de uma má distribuição deste crédito, em que somente os

assentados que se encontravam na maior faixa de renda tiveram acesso aos

créditos rurais.

Leite et al. (2004) afirmam que projetos mais antigos de

assentamentos rurais, em geral tiveram baixo índice de captação destes recursos e

boa parte do dinheiro destinado aos assentados que provinha do PROCERA, um

crédito caracterizado como sendo de médio e longo prazo. Tal fato fez com que

parte dos assentados que haviam obtido o recurso num período recente não

pudessem fazer financiamento na safra seguinte, devido ao não pagamento da

dívida contraída no Banco do Brasil.

Com relação a obtenção dos primeiros créditos Guanziroli et al.

(2001, p. 215) enfatizam que a maior parte dos assentamentos da região Sul são

originários de ocupações realizadas em sua maioria pelo MST e no caso desta

região as primeiras famílias passaram por inúmeras dificuldades pela demora na

43

liberação destes créditos, várias foram as famílias que abandonaram a área, pois

muitas não tinham condições de resistir por muito tempo. Além do mais, o que se

constata é que a maioria dos beneficiários da Reforma Agrária assume o lote em

condições de completa descapitalização, sem meios próprios para desenvolver suas

lavouras iniciais.

De acordo com Leite et al. (2004) muitas vezes o assentado tem

dificuldade em distinguir os diferentes tipos de créditos existentes. Sendo assim, até

que ponto poder-se-ia dizer que o assentado recebe as informações necessárias

para o uso adequado de seu financiamento para obter boa produtividade.

Segundo Proscêncio (1999) o PROCERA foi bloqueado pelo

Governo Federal de Fernando Henrique Cardoso (1995- 2002), inaugurando uma

fase de complicadas negociações; para tanto, o presidente se viu obrigado a

negociar com esta parcela da população para assim amenizar a problemática.

Com o bloqueio do crédito, a maioria dos assentados não teve

continuidade ao crédito custeio; sendo assim, na safra posterior passaram por

diversas dificuldades, pois como se sabe em sua maioria, os assentados não

dispõem de renda suficiente para desenvolverem sozinhos seu plantio, sem

possibilidades de arcar com diversas despesas como por exemplo, gastos com

aluguéis de maquinários, insumos, sementes, calcário, dentre outras.

De acordo com Ferreira et al. (2001, p. 497) como solução dada pelo

governo criou-se em 1995 o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura

Familiar (PRONAF), como uma estratégia de fortalecimento da agricultura familiar;

uma política agrícola diferenciada que começou a emergir no Programa Novo Mundo

Rural com o Decreto 1.946, de 28 de junho de 1996. (Anexo 3).

44

No PRONAF envolvem-se atuações dos Governos Federal, Estadual

e Municipal atendendo aos agricultores familiares; há um documento em que se

consta a filosofia e operacionalização do programa, Santos (2001, p. 73) relata que

neste documento verifica-se o objetivo básico do Programa, como:

[...] propiciar condições para o aumento da capacidade produtiva, a geração de empregos e a melhoria da renda, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida e a ampliação do exercício da cidadania por parte dos agricultores familiares. (SANTOS, 2001, p. 73)

Com relação aos objetivos específicos relata-se a importância em:

[...] ajustar políticas públicas à realidade da agricultura familiar; viabilizar a infra-estrutura rural necessária à melhoria do desempenho produtivo e da qualidade de vida da população rural, fortalecer os serviços de apoio ao desenvolvimento da agricultura familiar; elevar o nível de profissionalização de agricultores familiares, propiciando-lhes novos padrões familiares e suas organizações aos mercados de produtos e insumos. (SANTOS, 2001, p. 74)

A evolução do PRONAF ocorreu em grande maioria graças as

pressões realizadas pelos movimentos sociais e o antigo PROCERA foi extinto em

1999. Nesta época, de acordo com o governo federal, PRONAF e PROCERA

estariam unificados, porém, uma das problemáticas do PRONAF foi o fato deste unir

um público tão grande e ao mesmo tempo tão heterogêneo tratando-o como um só,

ao passo que estes deveriam receber tratamento diferenciado, porém, este somente

se diferenciava na oferta de variadas condições de pagamento da dívida contraída.

De acordo com Alentejano (2000) o PRONAF corresponde a um

financiamento alvo de inúmeras críticas, dentre estas se inclui a problemática deste

unir um público grande e heterogêneo, ignora-se na realidade o alto grau de

diversidade presente no campo brasileiro entre os agricultores.

Os movimentos sociais por se sentirem cada vez mais

marginalizados passaram por um período de confronto com o Estado, um longo e

conturbado processo de negociações dos créditos para os assentados, que resultou

45

na criação de uma linha de crédito especial para atender a esta clientela,

caracterizada como Grupo A, que ficou conhecido por “PRONAF A”, em substituição

do PROCERA, destinado aos produtores menos capitalizados.

Ferreira et al. (2001, p. 497) relatam que foram incorporados tanto

os assentados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA),

que não tinham ainda atingido os limites necessários fixados pela linha de crédito

que lhes dava suporte, o antigo PROCERA, quanto os novos assentados.

De acordo com a classificação do programa fornecida pelo Boletim

Informativo PRONAF 2005/2006, os grupos de beneficiários do PRONAF são

respectivamente:

→ Grupo A- Assentados de Reforma Agrária, trata-se de investimento

para a estruturação inicial do lote ou parcela do assentamento, banco da terra,

crédito fundiário de acordo com o projeto técnico;

→ Grupo A/C: é o primeiro crédito de custeio dos agricultores que já

pegaram o investimento do Grupo A;

→ Grupo B- mini agricultor familiar com renda familiar de até R$

2.000.00, e sem a utilização de qualquer tipo de mão-de-obra não familiar;

→ Grupo C- custeio e investimento de atividades rurais

agropecuárias e não agropecuárias, tendo o agricultor familiar uma renda familiar

entre R$ 2.000.00 e R$ 14.000.00, podendo utilizar-se de empregados temporários;

→ Grupo D- custeio e investimento de atividades rurais

agropecuárias e não agropecuárias, tendo o agricultor familiar uma renda familiar

entre R$ 14.000.00 e R$ 40.000.00, podendo utilizar até dois empregados

permanentes; e

46

→ Grupo E- custeio e investimento de atividades rurais agropecuárias

e não agropecuárias, tendo o agricultor familiar uma renda familiar entre R$

40.000.00 e R$ 60.000.00, podendo utilizar até dois empregados permanentes,

sendo admitido ainda o recurso eventual à ajuda de terceiros, quando a natureza

sazonal da atividade o exigir.

Segundo o texto oficial que cria o PRONAF, qualquer agricultor

familiar tem acesso aos recursos disponíveis para financiamento da produção, da

capacitação e profissionalização. Dessa forma, o agricultor deve procurar o serviço

de assistência técnica, Sindicato ou Federação de Trabalhadores credenciados pelo

programa, responsáveis pela emissão do certificado de aptidão declarando que o

interessado cumpre os requisitos necessários do perfil do público - alvo. Porém, para

o agricultor ter acesso a determinado grupo é necessário que se enquadre nas

exigências impostas por este, dentre estas se inclui a necessidade de obter a renda

mínima estipulada para cada grupo.

Pelo fato das famílias recém-assentadas não disporem de nenhuma

renda inicial, como alternativa dada pelo Governo criou-se o Grupo A, para atender

aos assentados de reforma agrária. Trata-se do investimento para a estruturação

inicial do lote tendo como prazo de pagamento 10 anos.

Para os assentados rurais desenvolverem a sua lavoura criou-se o

Grupo A/C, que corresponde ao primeiro crédito de custeio dos agricultores que já

tiveram acesso ao investimento do Grupo A, com prazo de até dois anos de

pagamento, conforme a atividade financiada (90 dias após a colheita, ou em 03

parcelas com a primeira vencendo em 60 dias após a colheita).

Isto não impede que o assentado nos seguintes anos tente se

enquadrar em outro grupo, desde que comprovada a renda do assentado mediante

47

a Declaração de Aptidão ao PRONAF (DAP) fornecida pela EMATER. No entanto,

sabe-se da dificuldade dos assentados rurais se enquadrarem em outros grupos,

visto as rendas que são exigidas por estes, algo fora da realidade para os

assentados rurais.

Com relação a distribuição dos recursos, o que vem se constatando

de acordo com Ferreira et al. (2001, p. 502) é que estes estão cada vez mais sendo

dirigidos quase que em sua totalidade para os grupos D que dispõem de maior

capacidade de pagamento das dívidas contraídas porém, não há como negar que os

recursos destinados aos assentados também é muito elevado.

De acordo com o Relatório elaborado no governo de Fernando

Henrique Cardoso (1995- 2002) em conjunto com o Ministro da Agricultura e do

Abastecimento Francisco Turra e o Secretário de Desenvolvimento Rural Murilo

Flores (gerente nacional do PRONAF), no ano de 1998, a Secretaria Nacional definiu

três critérios básicos para a primeira seleção dos municípios que seriam

contemplados com este tipo de financiamento; são elas:

a) a relação entre o número de estabelecimentos agropecuários

com área até 200 ha e o número total de estabelecimentos do

município deveria ser maior do que a mesma relação no âmbito

do Estado;

b) a relação entre a população rural e a população total do

município deveria ser maior do que a mesma relação no âmbito

do Estado;

c) o valor da produção agrícola, por pessoa ocupada no município,

deveria ser menor do que a mesma relação no âmbito do Estado.

48

Caso o número de municípios apurados, segundo os critérios, fosse

inferior ao número previsto pelo Estado, caberia ao Conselho Nacional do PRONAF

a seleção dos municípios restantes entre os que atendiam a apenas dois destes

critérios, dando prioridade aos municípios contemplados no Programa Comunidade

Solidária e aos que tivessem maior número de famílias assentadas e/ou pescadores

artesanais.

Isto significa que na primeira seleção o município com maior chance

de ser contemplado seria aquele que tivesse a distribuição fundiária mais

pulverizada, a menor taxa de urbanização e a mais baixa produtividade agrícola no

Estado. Porém, na realidade se constata o inverso, uma vez que a região Sul do

país possui elevada produtividade, além do mais a maioria dos recursos se

concentram onde há o maior número de grandes proprietários de terras, indo contra

a teoria do próprio relatório.

Segundo dados do relatório, mais de 1/3 dos planos elaborados vêm

da Região Nordeste, o Sudeste e o Sul empatam com 1/5, o Norte com 10% e o

Centro-Oeste outro tanto. Porém, a maioria dos municípios selecionados são

aqueles que se apresentam menos preparados; os municípios considerados mais

pobres são os que apresentam maiores dificuldades em preencher as exigências

administrativas impostas para receber o PRONAF. Na Região Nordeste o que se

constata é que apenas ¼ dos planos apresentados foram efetivamente pagos, no

Sul o total atinge quase a metade, no Sudeste, Centro-Oeste e Norte pouco mais de

1/3 dos municípios obtiveram os recursos que lhes foram destinados.

Depois de elaborados estes planos, os contratos são estabelecidos

com a Caixa Econômica Federal que exerce rigorosa fiscalização, exigindo a

documentação necessária para a concessão dos recursos para o município.

49

É exposto no relatório que a maioria dos recursos e dos tomadores

de empréstimos advém da região Sul e o fato é justificado por ser a região onde a

agricultura familiar tem sua maior força; porém, o relatório não menciona ser esta a

região onde há grande concentração de terras.

Bergamasco e Norder (2003) relatam que esta concentração da

aplicação do PRONAF na região Sul deve-se a predominância no destino para

alguns poucos produtos; por exemplo, no ano de 1997 o PRONAF direcionou 20%

de sua verba de custeio para a produção de fumo; em 1998, 42% dos recursos para

o custeio foram aplicados em fumo, milho e soja, todas as culturas que exigem

extensas áreas para serem cultivadas.

Segundo Ferreira et al. (2001, p. 509) os financiamentos do

PRONAF dirigem-se, mais em específico, aos segmentos familiares com elevado

grau de integração ao setor agroindustrial. De acordo com os autores “ [...] em 1996,

dos 2339 municípios que contabilizavam operações de custeio, dezesseis deles

concentravam mais de 20% do total dos recursos, localizados todos na região Sul.”,

onde encontram-se lavouras voltadas para a monocultura como a soja e o milho por

exemplo.

De acordo com o relatório, os beneficiários do crédito de custeio e

de investimento devem possuir 6 atributos básicos para serem contemplados; são

eles:

a) explorar parcela da terra na condição de proprietário, assentado,

arrendatário, posseiro, parceiro ou meeiro, destacar-se à pesca

artesanal, aquicultura ou ao extrativismo na Região Amazônica;

b) trabalhar com a família contratando no máximo 2 empregados

permanentes e/ou trabalho temporário, em caráter sazonal;

50

c) possuir área correspondente a, no máximo, quatro módulos

fiscais;

d) residir no imóvel explorado, ou em área próxima;

e) retirar da exploração agropecuária ao menos 80% de sua renda

familiar;

f) ter um faturamento anual máximo de R$ 27.5 mil.

Segundo Alentejano (2000), os critérios de acesso ao PRONAF

excluem os agricultores que obtêm mais de 20% de sua renda de atividades não

agrícolas, o que exclui a maioria dos pluriativos; na atualidade o que se verifica é a

dependência cada vez maior dos financiamentos obtidos para a agricultura.

Alentejano (2000) faz diversas críticas ao documento lançado pelo

Governo Federal intitulado “Agricultura Familiar, reforma agrária e desenvolvimento

local para um novo mundo rural”, por conseguinte analisa os resultados concretos

dessa nova política.

De acordo com Alentejano (2000, p. 91) o mercado é por si só

seletivo, e as políticas públicas adotadas historicamente acentuam o caráter

excludente da sociedade capitalista. A idéia de mercado ignora a existência de

desigualdades entre os grandes proprietários de terras e os pequenos, também

ignora a existência de intermediários (as agências bancárias) e a formação de

preços pela agroindústria.

Com relação a capacidade produtiva Leite et al. (2004) enfatizam

que o acesso ao crédito além de repercutir no assentamento, também impulsiona as

várias atividades locais do município aumentando a circulação monetária do

respectivo, afetando a economia local. Porém:

51

[...] O fato de vários desses créditos serem liberados de uma só vez chega a provocar verdadeiros “alvoroços” no comércio local, com esgotamento de estoques de materiais (de construção, insumos agrícolas, matrizes de animais...) ocasionado “processos inflacionários” momentâneos e locais, que algumas vezes levam os assentados a pagarem preços mais elevados pelos produtos. (LEITE et al., 2004, p. 226)

Segundo Leite et al. (2004) os créditos de instalação ou implantação

(fomento, alimentação e habitação) por não serem créditos produtivos, acabam às

vezes sendo considerados pelos assentados como uma “doação” do Estado devido

a falta de informação, gerando problemas de inadimplência. Estes créditos segundo

os autores deveriam ser considerados como fundo perdido visto tratar-se de dotar

essas famílias marginalizadas, agora “incluídas socialmente”, de um mínimo de

condições humanitárias necessárias à sua inserção social, econômica e produtiva.

Para Leite et al. (2004), o atraso na liberação dos créditos deve ser

levado em conta pois, no geral, é uma das principais dificuldades pelas quais os

assentados deparam; esta normalmente ocorre após o período do plantio,

comprometendo significativamente a produção agropecuária; com relação à

modalidade habitação, esta sempre demora a ser liberada, tornando ainda mais

penosa a fase inicial do assentado. Além do mais, o assentado somente terá seus

primeiros rendimentos com sua primeira colheita.

Com relação a atuação do sistema bancário na operacionalização do

PRONAF, Bergamasco e Norder (2003) enfatizam que quanto menor for o espaço

de decisão colocado pelas agências bancárias, maior é a agilidade na obtenção do

empréstimo; porém, sabe-se que isto não ocorre na realidade.

Não se pode deixar de mencionar o antigo PRONAF-Rural Rápido

denominado na atualidade por Grupo D; neste caso, evita-se a interferência do

gerente e a assinatura do contrato, facilitando os trâmites para a obtenção do

financiamento; não é discriminado o tipo de empreendimento financiado, este vem

52

respondendo por mais da metade dos recursos de custeio do PRONAF-Crédito.

Como se sabe, os agricultores familiares pertencentes ao grupo D são os que se

enquadram numa renda familiar entre R$ 14.000.00 e R$ 40.000.00, ou seja, facilitar

o acesso ao financiamento destes agricultores é vantajoso às agências bancárias,

por se tratar de um grupo com elevado grau de integração ao setor agroindustrial.

No entanto as agências bancárias não fazem parte do universo de

relações da maioria dos agricultores. Verifica-se que grande número de agricultores

não possui nenhum bem patrimonial e renda suficiente para oferecer aos bancos

garantias reais que evocam elevados custos. Sendo assim, há casos de agricultores

que acabam desistindo de retirar de suas unidades produtivas a maior parte de suas

rendas, recorrendo a empregos nas cidades próximas, ou mesmo nas lavouras

vizinhas.

Com relação às exigências bancárias, um outro empecilho para o

assentado, Bergamasco e Norder (2003) citando os autores Veiga e Abramovay

(1999, p.30) afirmam que o crédito tende a se concentrar em dois segmentos: “[...]

aqueles cujos contratos com a agroindústria lhes fornecem garantias de

comercialização, e também os que possuem base patrimonial para assegurar os

empréstimos bancários e renda suficiente para oferecer contrapartidas aos bancos. ”

O PRONAF ainda é um financiamento alvo de inúmeras críticas e

que em muito deve ser melhorado, o programa por si só não basta, é necessário que

se adote um novo modelo de desenvolvimento agrícola, que priorize a agricultura

familiar de forma adequada. Por outro lado, é necessário que haja uma orientação

aos assentados que fuja ao padrão tecnológico adotado pela Revolução Verde, um

modelo predatório e concentrador de terras.

53

Além do mais, agricultores familiares e assentados são públicos que

possuem trajetórias de vidas distintas. Deste modo é necessário um tratamento

diferenciado, não se pode adotar a mesma proposta para todos; fora isto ainda é

preciso considerar que há por todo o Brasil diferentes tipos de assentamentos rurais,

que necessitam de um tratamento que respeite suas características locais.

54

3 O MUNICÍPIO DE ARAPONGAS E O ASSENTAMENTO RURAL DORCELINA FOLADOR (ARAPONGAS-PR.)

Os assentamentos rurais tendem a dinamizar a economia da região

em que estão localizados, acabando muitas vezes por impulsionar as várias

atividades nos locais onde estão inseridos. Sendo assim, torna-se necessária

esboçar as características agrárias do município de Arapongas, uma vez que o

assentamento desta pesquisa está aí localizado. Foi necessário contato direto com a

Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER) do

município que forneceu dados agrícolas estimados, referentes à safra de 2003/2004

(Anexo 4).

3.1 O QUADRO AGRÁRIO DE ARAPONGAS

De acordo com o Censo Agropecuário de 1995/1996 do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) o município de Arapongas possui uma

área de 370.9 Km² com uma altitude de 729 metros; sua população é de 82.482

habitantes. As divisas do município são, respectivamente, ao Norte o município de

Rolândia, ao Sul, Apucarana, a Leste, Londrina e a Oeste, Sabáudia.

A seguir visualiza-se o município de Arapongas localizado na região

Norte do Estado do Paraná:

55

Figura 2- Mapa de localização do município de Arapongas (PR.)

FONTE: IBGE, 2005. (Sem escala definida)

Para a análise da estrutura fundiária de Arapongas, é necessário o

levantamento com relação ao Estado do Paraná, como se constata na tabela a

seguir.

Tabela 1- Proporção do número e área dos estabelecimentos, por grupo de área total – Paraná – 1970/1995

PROPORÇÃO DO NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS EM 31.12 (%)

PROPORÇÃO DA ÁREA DOS ESTABELECIMENTOS EM 31.12 (%)

GRUPOS DE ÁREA TOTAL (ha)

1970 1995 1970 1995

Menos de 10 53.2 41.8 10.8 5.0

10 a menos de 100 43.5 50.9 41.7 33.9

100 a menos de 1.000 3.1 6.9 28.9 41.1

1.000 a menos de

10.000

0.2 0.4 15.6 17.3

10.000 e mais 0.0 0.0 3.0 2.7

TOTAL 100.0 100.0 100.0 100.0

Fonte: Censo Agropecuário 1995-1996.

56

Nesta tabela verifica-se a evolução da distribuição dos

estabelecimentos agropecuários nos anos de 1970 e 1995. Há um nítido aumento da

concentração, uma vez que em 1970 os estabelecimentos com menos de 10

hectares, representavam 53.2% do total de unidades e ocupavam uma área total de

10.8%; porém em 1995, a proporção do número de estabelecimentos deste grupo

decaiu para 41.8% e a sua área para apenas 5.0%. Ao passo que, acentuou-se a

participação da área do grupo de estabelecimentos de 100 a menos de 1.000 ha,

esta passou de 28.9% em 1970 para 41.1% em 1995.

Observada a estrutura fundiária paranaense neste período pode-se

verificar que Arapongas se enquadra nesta realidade uma vez que, segundo dados

do IBGE, os grupos de área total (ha) no ano de 1995 foi de 274 estabelecimentos

presentes em menos de 10 ha. O maior número de estabelecimentos concentrou-se

entre grupos de área total de 10 a menos de 100 ha com 519. Por fim, os grupos de

área compreendidos entre 100 a menos de 1.000 ha possuíram apenas 57

estabelecimentos.

O relevo é predominantemente plano com ligeiras elevações. Com

relação a hidrografia destacam-se : Ribeirão Pirapó, Córrego Lageado, Ribeirão Três

Bocas, Córrego dos Apertados, localizados na Bacia dos Bandeirantes.

A seguir, são apresentadas duas tabelas que demonstram os tipos

de ocupação do solo encontrados no município, bem como as culturas

desenvolvidas na safra 2003/2004.

57

Tabela 2- Ocupação do solo referente à safra 2003/2004 ITENS ÁREA (ha) %

Lavouras anuais 22.039 72

Lavouras permanentes 1.609 5

Pastagens cultivadas 4.671 15

Reflorestamento 510 2

Matas naturais- preservação

permanente

2.008 6

TOTAL 30.837 100

Fonte: EMATER/ Perfil da Realidade Agrícola 2004.

Tabela 3- Tipos de culturas referentes à safra 2003/2004 Produtores (n.º) Área (ha) Lavouras

Existentes Assistidos Existente Assistida

Amoreira 93 25 201 60

Café 174 38 1010 190

Milho 265 25 4100 500

Milho safrinha 28 8 300 40

Soja 378 40 17500 1700

Trigo 175 15 8000 600

Fonte: EMATER/ Perfil da Realidade Agrícola de 2004.

Com relação à estrutura fundiária pôde-se constatar um aumento da

concentração de áreas por pequena parcela do campo, ao lado de inúmeros

estabelecimentos com menos de 10 hectares. Pela análise da tabela 2 observa-se

que lavouras destinadas a monocultura encontram-se em uma extensa área como é

o caso das lavouras anuais (72%).

Convêm citar que segundo o Censo Agropecuário de 1995-1996

estas lavouras trazem a denominação de lavouras temporárias, as quais abrangem

as áreas plantadas ou em preparo para o plantio de culturas de curta duração (via

de regra, menor que um ano) e que necessitam, no geral, de novo plantio após cada

colheita, tais como: arroz, algodão, milho, trigo, hortaliças, dentre outras.

58

Sendo assim, é possível traçar um paralelo entre as tabelas, pois

como observado, além dos produtores de soja (378) também destaca-se as lavouras

de milho (265) e trigo (175), consideradas lavouras anuais. Embora as lavouras

permanentes não se destaquem em percentuais (5%), é importante citar que o

número de produtores existentes no cultivo do café, 174 (tabela 3), deve ser levado

em consideração por se tratar de um número significativo para a região.

Este número talvez seja pelo fato de ser uma lavoura pela qual

muitos produtores estão optando por trabalhar pela lucratividade que esta oferece,

uma vez que não se pode negar sobre a existência da dificuldade de obtenção de

renda no meio rural.

Segundo o Censo Agropecuário de 1995-1996 as lavouras

permanentes compreendem a área plantada ou em preparo para o plantio de

culturas de longa duração, tais como: café, laranja, cacau, dentre outras; que após a

colheita não necessitam de novo plantio, produzindo por vários anos sucessivos.

Tem-se 93 produtores destinados ao cultivo da amoreira numa área

de 201 ha, ou seja, há a presença de pequenos proprietários na região, visto a

característica deste cultivo, uma vez que se destina aos produtores não detentores

de extensas áreas; além disto, não há a necessidade de extensas áreas para a

criação do bicho-da-seda.

No que diz respeito a cultura do café constata-se na região dois tipos

de sistema de cultivo, os quais são demonstrados a seguir:

59

Tabela 4- Tipos de Sistema de Cultivo de Café Produtores (número) Área (ha) Sistema

Existentes Assistidos Existente Assistida

Convencional 114 30 800 620

Adensado 60 16 268 145

Fonte: EMATER/ Perfil da Realidade Agrícola 2004.

Esta tabela evidencia uma característica da região Norte do Paraná,

trata-se do cultivo de café, cultura destinada a extensas áreas, quando no caso do

sistema convencional, porém, para atender a demanda dos produtores não

detentores de grandes áreas, desenvolveu-se pelo Instituto Agronômico do Paraná

(IAPAR) o sistema adensado, propício às áreas menores, uma vez que este requer

menos espaço para seu cultivo e seus pés também são menores.

Segundo dados da tabela 2, há no município pastagens cultivadas, o

que evidencia a presença de produtores destinados a criação de bovinos de corte e

leite, como se pode constatar na tabela a seguir:

Tabela 5- Atividade Criatória de Arapongas (2004) Produtores (n.º) Rebanho (cabeças) Espécie

Existentes Assistidos Existente Assistido

Bovinocultura de corte 40 10 6800 2300

Bovinocultura de leite 30 5 2045 200

Bovinocultura mista 260 10 4425 500

Suinocultura 33 - 27351 -

Caprinocultura 6 - 206 -

Ovinocultura 25 - 1390 -

Apicultura 15 - 96 -

Avicultura 575 - 2114263 -

Piscicultura 45 20 16 10

Sericicultura 112 37

Fonte: EMATER/ Perfil da Realidade Agrícola 2004.

60

Nesta tabela destacam-se os produtores da avicultura (575), ou seja,

há a comercialização de aves no município, a bovinocultura mista (260) se

sobressai, pelo fato da obtenção de uma maior renda, uma vez que possibilita a

produção de bezerros e a comercialização de leite. A sericicultura vem em terceiro

lugar em número de produtores (112), o que comprova a aplicação dos recursos de

agricultores na criação do bicho-da-seda.

As atividades que se destacam são as de criações de aves

(2.114.263) e de porcos (27351), porém, enquanto tem-se aqueles 575 produtores

destinados a primeira criação, há apenas 33 produtores destinados a suinocultura, o

que leva a concluir que um número pequeno de produtores está destinando a sua

propriedade a criação deste animal.

Além do mais, deve-se mencionar o fato de Arapongas localizar-se

próximo à indústrias tais como a BIG Frango Indústria e Comércio de Alimentos

LTDA., localizada no município de Rolândia, responsável pela comercialização de

inúmeras aves criadas na região.

Convêm relembrar que e meados da década de 1970 a região Norte

do Paraná foi alvo da modernização da agricultura brasileira. Neste contexto,

Graziano Neto (1986) afirma que o trator talvez seja o melhor indicador do padrão

tecnológico de uma agricultura, uma vez que viabiliza a utilização de vários

implementos, tais como: os arados, as grades, os pulverizadores, entre outros.

Sendo assim, observa-se a tabela a seguir:

61

Tabela 6- Maquinário Agrícola TIPO QUANTIDADE (número)

Trator de pneu 690

Trator de esteira 7

Colheitadeira 110

Trilhadeira 5

Plantadeira de plantio direto- tração motora 125

Colhedeira/picadeira de forragem 27

Conjunto de fenação 1

Vagão para forrageira 5

Distribuidor de esterco 39

Fonte: EMATER/ Perfil da Realidade Agrícola 2004.

O número de maquinários presentes no município de Arapongas é

elevado, considerando o número de tratores de pneus (690), colheitadeiras (110) e

plantadeiras (125); porém, é necessário lembrar que nem toda a população tem

acesso a tais aparatos tecnológicos tendo de recorrer aos aluguéis, por exemplo.

Além disto, mesmo tendo um número de tratores elevado, seria necessário um

melhor detalhamento das condições de uso destes, uma vez que nem todos estão

bem equipados para serem utilizados pela população.

Após este breve relato do perfil agrícola do município de Arapongas

apresenta-se o organograma que especifica as etapas pelas quais um projeto de

financiamento deve tramitar para ser aprovado:

62

ORGANOGRAMA

1. Conselho Monetário Nacional

2. Sistema Nacional de Crédito Rural

3. Banco Central do Brasil

4. Instituições Financeiras

5. Pesquisa e Assistência Técnica

6. Produtor

Fig. 3 Organograma

Fonte: DICK (1991)

Nota-se pelo organograma que para o agricultor receber o seu

financiamento, primeiramente este tem de possuir um projeto, elaborado pelo

agrônomo da EMATER; no caso dos assentamentos rurais é este agrônomo que

orienta o tipo de cultivo e o manejo adequado a ser adotado, cabendo ao assentado

aceitá-lo ou não. Após tomada a decisão e elaborado o projeto, este passa por todas

as etapas conforme o organograma, em que irá ou não validar o projeto; somente

após este trâmite será liberado o recurso ao assentado.

Este tipo de relação do assentado com o banco pode gerar

problemas, por não fazer parte do universo de relações cotidianas dos assentados.

Por este mesmo motivo é que, quando o assentado vai a locais como a EMATER,

sempre é acompanhado de um agrônomo vinculado ao assentamento.

63

3.2 O ASSENTAMENTO RURAL DORCELINA FOLADOR: DA LUTA À CONQUISTA DA TERRA

Localizado no município de Arapongas, Norte do Estado do Paraná,

o Assentamento Rural Dorcelina Folador ocupa uma área de 775 hectares que

pertencia à Fazenda São Carlos (Figura 2). De início, a fazenda estava para ser

leiloada pelo Banco do Brasil, quando um grupo do Movimento dos Trabalhadores

Rurais Sem Terra (MST) tomou conhecimento desta área e a ocupou no dia 9 de

setembro de 1999; após nove meses conseguiram a emissão da posse da área.

Tratava-se de trabalhadores rurais oriundos de diversos municípios do Brasil,

principalmente do sudoeste do Estado do Paraná.

O assentamento (Figura 5) encontra-se em área “nobre” em termos

agrícolas, pela presença do Latossolo Roxo Estruturado, conhecido por “Terra

Roxa”. Porém, mesmo localizado em uma região nobre em termos de solo, por sua

fertilidade natural, no passado tinha como atividade principal a produção de

sementes selecionadas, o que acarretou grande degradação do solo, por se tratar

de um cultivo que necessitava de uso elevado de agrotóxicos, obrigando os

assentados a recorrer ao método de desintoxicação do solo para reverter o quadro

deixado pelo antigo proprietário.

Quando a antiga fazenda foi desapropriada, tudo o que havia no

local foi deixado para uso das famílias recém- assentadas, a exemplo de dois pivôs

centrais de irrigação (Figura 6). Um utilizado pelas famílias pertencentes a extinta

forma coletiva do assentamento e o outro numa área de 24 hectares onde a

produção é revertida para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.

No ano de 2003, por meio de acordo com o Governo Federal foram

produzidos, “[...] alimentos que foram repassados ao Programa Ação da Cidadania

Contra a Fome” (VIETRO, 2005, p. 189). Com relação a forma coletiva, de acordo

64

com o referido autor, na época em que o grupo existia, as famílias formaram uma

associação para a aquisição de caminhões, máquinas, equipamentos e insumos,

além de empréstimos para produzirem em suas propriedades.

Em 1999, os lotes do Assentamento Rural foram demarcados por um

técnico do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e

distribuídos de forma igualitária pelo Movimento; para se tornar assentado todos os

interessados passaram por uma seleção.

Em seu início havia a presença de 10 núcleos em torno de 8 a 12

famílias cada, estes recebem as seguintes denominações: Renascer, Florestan

Fernandes, Frutos da Terra, Roseli Nunes, Osiel, Arajú, Nova União, Nossa Terra,

Cepet e Antônio Conselheiro. A coordenação de cada núcleo é feita por um homem

e uma mulher, segundo Geraldino (2005, p. 216) ambos “[...] tem a obrigação de

comparecer a reuniões internas no assentamento, ou externas como encontros

nacionais do MST”.

De acordo com o referido autor os moradores do assentamento são

migrantes de diversas áreas do país. No entanto a maioria veio das regiões sul,

sudeste e centro- oeste.

[...] Algumas famílias trabalhavam como parceiros no Brasil, e mudaram para o Paraguai, onde lá moraram muitos anos. Souberam do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e voltaram ao Brasil, aderindo ao movimento, acampando, para pleitear o espaço da terra própria que hoje possuem. (GERALDINO, 2005, p. 216)

É necessário citar que o assentamento pretendia assentar um total

de 64 famílias para, dessa forma, terem acesso a lotes maiores, porém, como na

época eram vários projetos de assentamentos e muitas famílias estavam sendo

assentadas, decidiram para o Dorcelina Folador um total de 94 famílias, diminuindo

consequentemente o tamanho dos lotes para cerca de 6 hectares na atualidade.

65

Figura 5: Visão parcial do assentamento. Observe a topografia plana do lugar. Paula Chagas Francis (10/10/05)

Figura 6: Pivô central que pertencia ao Grupo Coletivo Nossa Terra que na atualidade encontra-se desativado. Paula Chagas Francis (10/10/05)

66

As 94 famílias se dividem em oito grupos de trabalho,

respectivamente: educação, saúde, finanças, produção, comunicação, cultura, lazer,

e liturgia (Figura 7). Convêm destacar a importância destes grupos de trabalho na

ideologia do próprio MST, pois como no caso da educação, Negri (2005) expõe que

é considerada muito importante para os assentados, pois após distribuir as famílias

nos respectivos núcleos o primeiro a se formar é o da Educação.

De acordo com Negri (2005) o assentamento surgiu com a proposta

de ser referência em agroecologia para o Brasil; no entanto visto a realidade do

local, ainda não é possível que todas as famílias produzam na forma orgânica,

devido à necessidade de uso de agrotóxicos , falta de uma assistência técnica

adequada a este tipo de cultivo dentre outros motivos, mas há famílias que já

adotaram esta linha de produção como constatado no trabalho de campo.

67

4 QUADRO ATUAL DO ASSENTAMENTO DORCELINA FOLADOR

Na atualidade o assentamento conta com a presença de 9 núcleos,

pois não há mais a forma coletiva de produção, que um dos grupos adotou, os

assentados expuseram que o grupo se desfez por diversos motivos, um deles pela

incompatibilidade de objetivos do grupo sobre as linhas de produção que seriam

adotadas; além do mais, foi citado que tornou-se difícil manter um grupo com estas

características em um assentamento que se posiciona individualmente.

Com relação aos pivôs estes encontram-se desativados pelo seu alto

custo; um pelo fato de ter ocorrido o desmembramento da forma coletiva de

produção e o outro por ter “estourado” a represa na área comum como exposto

pelos assentados; no local também há água represada em três açudes provindos de

fontes de boa qualidade que são utilizadas para a irrigação e abastecimento das

famílias. Há também uma área de 20% de mata nativa e ciliar, preservada por lei.

É relevante o fato de este assentamento rural pretender ser

considerado como um assentamento modelo pela presença dos pivôs centrais, pelos

solos férteis e pela localização privilegiada, uma vez que está numa área de fácil

acesso e nas proximidades de cidades como, Apucarana, Arapongas, Londrina e

Maringá, consideradas importantes centros de comércio agrícola no Estado do

Paraná. Torna-se necessária a exposição de como vem se delineando a realidade

do assentamento; para que assim, seja possível contextualizá-lo de acordo com as

características do município em que este se encontra inserido.

4.1 A PRODUÇÃO AGRÍCOLA

Os dados referentes ao Dorcelina Folador foram recolhidos em dois

períodos, num primeiro momento em uma pesquisa realizada no ano de 2004 e em

68

seguida no trabalho de campo realizado num período de dois dias, respectivamente

10/10/05 e 11/10/05, onde se aplicou questionários in loco num universo de 20

famílias (Anexo 5)

PRODUÇÃO AGRÍCOLA

0102030405060708090

TIPO DE CULTIVO

%*

Milho

Feijão

Arroz

Amora

Mandioca

BatataCafé

Soja

Hortaliças

Cará

Mamona

Figura 8- Gráfico da Produção Agrícola (* % de produtores) Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR.), 26/08/04 .

Org. Anderson Vietro (adaptado por Paula C. Francis)

Com relação a produção, em sua maioria, é direcionada para a

subsistência das famílias do assentamento e o restante é comercializado na região.

Segundo Vietro (2005, p. 193) as principais culturas desenvolvidas no assentamento

são a do milho, soja, arroz, feijão, mandioca, batata, café, mamona, cana, triticale,

hortaliças, piaçava e amora. Esta última vincula-se à criação de bicho-da-seda,

cultura diferenciada no local visto não ser necessário o financiamento do Estado; os

assentados acreditam que este tipo de linha de produção pode vir a ser o diferencial

69

deste assentamento porém, deve-se citar que se trata de uma atividade que exige

razoável investimento e domínio de técnicas próprias para seu cultivo.

No que se refere à atividade de subsistência, Vietro (2005, p. 193)

relata que os assentados criam frangos caipiras, porcos e gado bovino. Há também

a produção de leite para consumo local, embora haja famílias que iniciem a

comercialização de algumas dezenas de litros diários a um pequeno empacotador

da cidade de Arapongas. A criação de avestruz também faz parte da realidade de

alguns assentados, porém, em regime experimental e com investimentos próprios,

para possível comercialização, o que mostra um interesse por parte dos assentados

em diversificar a produção.

Os dados permitem a análise de que o assentamento está inserido

no contexto do município de Arapongas, uma vez que grande parte dos cultivos é

encontrada em ambos os casos, a exemplo do cultivo do café, da soja, bem como da

amoreira para a criação do bicho-da-seda. Neste caso, um dos assentados relatou o

porquê do cultivo da amoreira, pois para ele além de ser a única alternativa para o

lote, visto o seu tamanho, trata-se de um dos únicos cultivos que possibilita obter

uma renda mensal, ao contrário de outros produtos que são anuais.

Há também no assentamento a presença daquele assentado com o

intuito de obter lucratividade em seu lote, cultivando lavouras tais como a soja e o

milho. Em certos lotes podem-se verificar assentados que se uniram aos lotes

vizinhos obtendo uma área mais ampla, para cultivarem tais produtos. No caso da

soja, não se vê esta como uma atividade que proporciona ao assentado

lucratividade, pois além dos lotes serem pequenos para este tipo de cultivo, os

gastos são muito elevados.

70

Constatou-se na pesquisa a comercialização de: cabritos, suínos,

aves e bovinos; no caso de bovinos há assentados que vendem algumas dezenas

de litros diários de leite no interior do próprio assentamento, a produção de queijo

também foi citada como alternativa para extrair uma renda a mais no local.

Uma das famílias que se dedica ao cultivo de produtos orgânicos

relatou a intenção de inserir-se nos mercados da região; porém o acesso de seus

produtos é dificultado pela ausência do selo de identificação. (Figura 9).

Figura 9: Foto de uma propriedade que tem seus cultivos voltados aos produtos orgânicos. Exemplo de uva niagara orgânica. Paula Chagas Francis (10/10/05)

Cinco famílias no assentamento se uniram e está iniciando a

produção de açúcar mascavo, cachaça artesanal e melaço, o que justifica o

interesse pelo cultivo da cana-de-açúcar no assentamento.

71

Segundo Vietro (2005) os cultivos comercializados no assentamento

que mais se destacam correspondem ao milho (82.71% dos lotes), feijão (64.19%) e

o arroz (53.08%), estes dois últimos comercializados junto aos intermediários do

município de Arapongas e de Apucarana. Com relação a soja, produzida em 16.04%

dos lotes é comercializada em Arapongas para a Cooperativa Integrada; as

hortaliças são destinadas para as Centrais de Abastecimento S/A (CEASAs) de

Londrina e Curitiba e a mamona é comercializada em Londrina com destino para a

produção de óleo (VIETRO, 2005, p. 193) (Figura 10 e 11)

Estas culturas estão sendo desenvolvidas no assentamento; o milho

hoje tem grande destaque, e as culturas de feijão e arroz são também para a

subsistência, apesar de que boa parte é comercializada via intermediário.

LOCAIS DE COMERCIALIZAÇÃO

0%10%20%30%40%50%60%70%80%

MUNICÍPIOS

ARAPONGASAPUCARANALONDRINARECIFEMARINGÁCURITIBA

Figura 10- Gráfico: Locais de Comercialização Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR.), 26/08/04 .

Org. Anderson Vietro (% de produtores).

72

FORMAS DE COMERCIALIZAÇÃO

0%10%20%30%40%50%60%70%80%

TIPOS DE COMÉRCIO

Intermediários

Cooperativas

Ceasa

Figura 11- Gráfico: Formas de Comercialização Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR), 26/08/04 .

Org. Anderson Vietro (% de produtos).

No ano de 2004 os assentados foram indagados sobre a satisfação

com os preços obtidos na venda de seus produtos, conforme tabela 7:

Tabela 7- Grau de satisfação com o preço de mercado

PREÇOS PRODUTORES

Satisfatórios 39%

Insatisfatórios 44%

Parcialmente Satisfatórios* 7%

Não Opinados 10%

TOTAL 100%

Fonte : Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR.), 26/08/04 . Org. Anderson Vietro (Adaptado por Paula Chagas Francis).

* Satisfação com os preços de uma cultura e insatisfação com os preços das demais.

Como se observa, para 44% dos assentados os preços dos produtos

são insatisfatórios e 39% satisfatórios; já os 7% que consideram os preços

73

parcialmente satisfatórios, correspondem ao grupo de assentados que estão

satisfeitos com o preço pago pela COCAMAR pelo bicho-da-seda, mas não

concordam com o preço de outros produtos.

No ano de 2005 foi realizado uma nova pesquisa em que somente

20% dos assentados continuam satisfeitos e em contrapartida há 80% insatisfeitos,

devido ao fato dos preços serem definidos pelos intermediários que pagam pouco

pelos produtos. Um dos assentados afirmou que: “...dá male má prá vivê.” As críticas

dos assentados que comercializam nos CEASAs são muito claras, pois estes

consideram que os intermediários deveriam também pagar um preço mais justo.

No que diz respeito aos assentados que trabalham com a criação do

bicho-da-seda as famílias expõem que em vista dos outros produtos o preço obtido

está satisfatório, em média 70 Kg por caixa. A média de classificação do teor da

seda alcançada por este cultivo é de 17.5, a um preço que equivale a R$ 5.70, ou

seja, tem-se um produto de ótima qualidade no assentamento. Além disto, neste

caso em específico, a Cooperativa COCAMAR vende todos os insumos necessários

para a produção, se comprometendo a comprá-la.

Além do financiamento dos barracões (Figura 12) e do fornecimento

de larvas (Figura 13) e insumos aos assentados que entraram nesta atividade, foi

citado que no período de inverno, fornece aos assentados, cesta básica para se

manterem na entressafra, período que muitas das famílias recorrem às fazendas

vizinhas como forma de obterem uma renda para sobreviver.

De acordo com Tavares dos Santos citado por Oliveira (1990, p. 69)

esta atividade denomina-se trabalho acessório, em que o trabalhador transforma-se,

periodicamente em “[...] assalariado, recebendo via de regra, por período de

74

trabalho; essa transformação periódica constitui uma fonte de renda monetária

suplementar [...]”.

Em relação a comercialização há famílias que vendem seus

produtos pelo simples motivo de estarem endividadas. Isto demonstra claramente

uma realidade do produtor que é a dependência do mercado, atrelado ao

intermediário o assentado acaba se adequando aos preços impostos por este, sendo

sua única alternativa de “sobreviver”.

Os assentados voltados à criação do bicho-da-seda justificam a

escolha desta atividade, por dois motivos: um pelo fato da propriedade ser pequena,

não tendo alternativa como exposto na fala de um destes: “...é a única coisa que dá

para sobreviver com o tamanho da terra”; somado a este, a vantagem da obtenção

da renda mensal.

Figura 12: Interior do barracão da criação do bicho-da-seda Paula Chagas Francis (10/10/05)

75

Figura 13: Larvas fornecidas pela COCAMAR para a criação do bicho-da-seda. Paula Chagas Francis (10/10/05)

Em relação às compras feitas pelos assentados, a maioria realiza

em dois mercados de Arapongas, pois um deles relatou que: “... são os únicos que

nos dão crédito”. Vale ressaltar que um dos entrevistados realiza suas compras na

em Londrina, pois considera os preços de Arapongas elevados, em comparação

com os demais municípios.

O fato dos assentamentos rurais impulsionarem as várias atividades

industriais nas proximidades onde se encontram instalados faz com que estas se

aproveitem dos assentados na cobrança de preços elevados de insumos, por

exemplo, principalmente em épocas de plantio e colheitas.

Quando questionados os assentados sobre os motivos pelos quais

levaram a escolher seus produtos pôde-se perceber que há assentados que optam

por determinado produto de acordo com o tamanho do lote, alegando que não há

76

espaço para se estar diversificando a produção; um dos entrevistados relatou “...pro

pequeno agricultor é a saída, ou trabalha com bicho-da-seda ou leite”; além deste

um outro em sua fala disse “...o pouco de terra que tem não dá prá inventá muito”

porém, deve-se lembrar que há assentados que se unem com outros para

produzirem de forma conjunta.

Algumas famílias da antiga forma coletiva irão iniciar a produção de

soja; neste caso, o assentado em particular, deixou claro em sua fala a intenção

desta escolha, dizendo que pretende obter dinheiro com o produto; com relação ao

restante das famílias entrevistadas demonstraram preocupação com a sua

subsistência.

Sobre o dinheiro obtido com a venda de seus produtos, as famílias

afirmaram que dá apenas para sobreviver, e uma das famílias fez uma crítica ao

governo de Luís Inácio Lula da Silva, dizendo que “..o governo Lula prometeu tanto,

falando que ia acaba com a fome, dizendo que ia dá alimentos prá todos...viver

bem?, dá é só prá sobreviver e olha lá”.

Um outro assentado enfatizou sobre o intuito de adquirir um

caminhão para trabalhar na cidade, pois com a lavoura não dá para viver sem

passar necessidades. Acrescenta-se que este assentado foi indagado se iria

abandonar seu lote para trabalhar na cidade, porém, afirmou que se tal fato ocorrer

sua esposa ficará no lote e ele irá para a cidade.

Os assentados que criam o bicho-da-seda, expuseram que está

dando para viver de modo digno, porém, se fossem depender dos demais produtos

não daria para sobreviver.

No trabalho de campo pôde-se constatar que há exemplos de

famílias que principalmente em sua fase inicial de assentadas tiveram que recorrer a

77

empregos nas lavouras vizinhas como forma de sobrevivência, visto estarem ainda

acampados e não terem condições de cultivar nada. Com relação a uma família, em

específico, pelo motivo de estar no assentamento acerca de seis meses, relatou que

trabalha também nas fazendas vizinhas onde há o cultivo de café, pois: “..tem de

sobreviver de alguma forma”.

Sendo assim, tornou-se necessária uma análise sobre as atividades

exercidas pelos assentados. No trabalho de campo desta pesquisa verificou-se que

100% dos entrevistados trabalham na lavoura em seus respectivos lotes. Porém, foi

constatado casos de assentados que recorrem aos empregos na cidade e em

fazendas vizinhas como forma de complementar a renda familiar.

Na tabela a seguir, pode-se visualizar que há assentados que

trabalham em fazendas vizinhas e outros que somente trabalham em seus

respectivos lotes.

Tabela 8- Atividade Exercida ATIVIDADE ASSENTADOS %

Fazendas vizinhas 9 45

Não realiza atividade fora de seu lote 9 45

Emprego nas cidades 2 10

TOTAL 20 100

Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR.), Período: 10/10/05 e 11/10/05 .

Os assentados relataram (45%) recorrer as fazendas vizinhas em

épocas de extrema necessidade; segundo um depoimento trabalha-se nas fazendas

vizinhas “quando as dívidas apertam”; neste caso, o marido quando necessário

recorre à cidade para exercer a atividade de pedreiro.

No caso das famílias que trabalham com a criação do bicho-da-

seda, estas somente vão para as fazendas vizinhas se for muito necessário. Pois,

78

além da mão-de-obra necessária para os cuidados com a criação é importante

lembrar que se faz necessário um tratamento exclusivo para esta atividade, somado

a uma atenção redobrada por parte da família, absorvendo todo o potencial de mão-

de-obra disponível.

No que diz respeito ao contrato de mão-de-obra temporária no

interior do assentamento não é significativa, como constatado em pesquisa empírica

no ano de 2004, 65.4% dos entrevistados não se utilizavam deste tipo de contrato,

ao lado de apenas 34.6% que o faziam em períodos de colheita e de plantio como

no: plantio de feijão, que necessitava cerca de 6 pessoas e no plantio de café, cerca

de 3 diárias, além do uso de diaristas como, por exemplo, nos períodos de colheita

de feijão e milho.

O uso deste tipo de serviço também foi citado na criação do bicho-

da-seda, principalmente no que se refere aos períodos de colheita da amora e em

épocas em que os cuidados com os casulos são mais necessários; tornando, assim,

a atividade antieconômica, visto os custos que o assentado tem com este tipo de

contratação.

Em 2005, este tipo de serviço está sendo realizado nas colheitas,

bem como nas épocas de plantios em que há a necessidade de contratar ao menos

um diarista para auxiliá-los. Vale salientar uma família que trabalha com a criação do

bicho-da-seda, e relatou ter a necessidade de esporadicamente contratar este tipo

de mão-de-obra.

No entanto, 80% não fazem uso deste tipo de serviço ao lado de

apenas 20% que o faz, o que leva a concluir que o assentado além de trabalhar em

sua propriedade sem a necessidade de contratação, evita o gasto com a mão-de-

obra temporária.

79

No que se refere a presença de empregados permanentes

existentes no assentamento, pôde-se constatar no trabalho de campo que este é

nulo; pois as trocas de dias de serviços e o contrato de diarista é uma prática mais

corrente.

Com relação à mão-de-obra familiar nota-se que 55% do universo de

81 assentados, constitui-se do casal. Cerca de 14% das entrevistadas responderam

que o trabalho na lavoura fica a cargo do marido, deixando afazeres da casa e os

cuidados com os filhos como tarefa da mulher. Os filhos também ajudam na lavoura,

demonstrando uma realidade existente no meio rural, em que crianças e jovens,

muitas vezes deixam seus estudos para auxiliarem nas tarefas do lote. Isto é

observado na criação do bicho-da-seda, em que geralmente toda a família trabalha,

uma vez que há a necessidade de mão-de-obra. Tavares dos Santos (apud

OLIVEIRA, 1990) afirma que a força de trabalho familiar é considerada o motor do

processo de trabalho na unidade do agricultor, onde há um verdadeiro trabalho

coletivo.

Cerca de 28% exercem atividades fora do assentamento e 72%

exercem estas em seus respectivos lotes; também há assentados que realizam os

serviços com seus respectivos tratores como forma de complementar suas rendas e

somado a este caso há um caminhoneiro, que trabalha para o transporte de

produtos do local. Aqui, novamente pode-se constatar a presença do trabalho

acessório.

Em relação às atividades exercidas fora do assentamento as mais

citadas foram os empregos nos municípios próximos tais como: Apucarana,

Tamarana, Londrina, além do município de Arapongas; com relação às fazendas

80

vizinhas estas contratam diaristas, principalmente nos períodos de plantios e

colheitas.

Puderam-se observar casos em que há uma diferença na renda

obtida pelas famílias assentadas, pois há as que têm obtido uma renda a mais como

é o exemplo das que trabalham com a criação do bicho-da-seda, já outras por não

obterem renda suficiente com a lavoura recorrem a empregos em outras localidades.

Sendo assim, o gráfico a seguir demonstra quanto o assentado obtêm de renda

pelos seus serviços no meio rural.

RENDA FAMILIAR

47%

32%

17% 4%

Até 01 salário mínimo Mais de 01 salário mínimoNão informada Não Possui

Figura 14- Gráfico da renda familiar Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas-PR), 26/08/04.

(Org. Anderson Vietro)

O gráfico demonstra que 47% das famílias recebem até 01 salário

mínimo, valor que deve ser levado em conta se comparado aos demais, pois além

de revelar uma renda baixa da maioria das famílias assentadas, comprova a

necessidade de recorrer aos empregos nas fazendas vizinhas.

81

É importante citar que os assentados que trabalham com o cultivo da

amora para a criação do bicho-da-seda, são os que melhores rendas estão obtendo

com esta produção, pois no ano de 2004 estava em torno de R$ 373.00; além do

mais, um dos assentados informou que várias são as famílias que estão optando por

esta atividade. Mas não se pode deixar de mencionar que mesmo não necessitando

nesta atividade de uso de máquinas, já que a amora é um cultivo permanente, há os

gastos no contrato de mão-de-obra quando necessário.

A criação do bicho-da-seda deve ser vista como alternativa para o

assentamento, uma vez que uma das famílias entrevistadas, por exemplo, não tinha

quase nada ao chegar ao local, apenas um carro velho; porém hoje, com a “seda”

adquiriram outro carro em melhor estado.

Sobre a renda adquirida com a lavoura, obteve-se a quantia em

torno de R$ 454.00. Não se trata de um valor elevado, pois os gastos que os

assentados têm com a manutenção de seus lotes, aquisição de insumos,

maquinários, aluguéis dos mesmos, fazem com que este dinheiro seja revertido para

a lavoura e para suprimir suas necessidades básicas.

Observa-se que o assentamento está em constantes mudanças; na

atualidade as famílias que estão na atividade do bicho-da-seda são as mais

satisfeitas; porém, não se pode deixar de citar a satisfação das outras famílias, neste

caso, um dos maiores entraves para a obtenção de uma renda satisfatória é a

presença do intermediário, além dos aluguéis de maquinários.

4.2 O NÍVEL TECNOLÓGICO DO ASSENTAMENTO

As dificuldades enfrentadas pelos assentados para conseguirem

financiamentos suficientes para a aquisição de equipamentos e insumos agrícolas

82

fazem parte da realidade do assentado. Como se sabe, o trator corresponde a um

indicador do padrão tecnológico de uma agricultura, neste trabalho de campo um

dos assentados informou que os seis tratores existentes, foram adquiridos pelos

seus proprietários antes da formação do assentamento.

Como nem todos possuem tratores a prática de aluguéis é uma

realidade. Os preços variam entre R$ 35.00/hora podendo alcançar um valor de R$

70.00/hora dependendo do tipo de trator necessário; segundo um dos donos dos

tratores os preços são respectivamente: trator pequeno R$ 35.00/hora e o valor do

trator grande varia entre R$ 40.00, R$ 50.00 e R$ 70.00. Foi constatado que 80%

dos entrevistados utilizam os tratores e 20% não os utilizam, um pelo fato de

trabalhar somente com tração animal e o outro por cultivar produtos orgânicos.

Graziano da Silva (1982) já expunha que com a presença de

empresas capitalistas no campo, o trabalho manual passou a ser substituído pelas

máquinas, a mecanização passou a fazer parte desta realidade; porém, como nem

todos detinham capital para adquirir tais aparatos tecnológicos tiveram de optar pela

prática de aluguéis de maquinários para se manterem no campo. Assim, pode-se

afirmar que o assentado está inserido no processo de dependência de modernas

tecnologias, visto a prática de aluguéis presentes no assentado.

Um dos entrevistados relatou sobre esta problemática no interior do

assentamento uma vez que este conta com um número de 94 famílias que, em sua

maioria, dependem deste maquinário para trabalhar sua lavoura. No trabalho de

campo realizado vale relembrar o depoimento de um dos assentados que ao se

referir ao aluguel do trator, afirmou: “...e o pagamento é a vista!”. Um dos

proprietários dos tratores relatou que além de trabalhar no interior do assentamento,

83

recorre as propriedades vizinhas para oferecer seus serviços com o intuito de

aumentar sua renda.

Tabela 9– Utilização de Insumos Agrícolas (%) Adubos Inseticida Calcário Herbicida Outros

sim Não Sim não sim não Sim não 100 - 65 35 55 45 65 35 35

Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR.). Período: 10/10/05 e 11/10/05 .

Pode-se constatar pela tabela que todos os assentados se utilizam

de adubos em sua lavoura, conclui-se que estes estão na tentativa de reverter o

quadro deixado pelo antigo proprietário da fazenda, o qual fazia uso elevado de

agrotóxicos.

Sobre o uso de inseticidas 65% dos assentados têm consciência

com relação ao uso destes. Foi citada a problemática das fazendas vizinhas

utilizarem o inseticida 2-4 D, proibido na atualidade; neste caso utiliza-se um avião

para pulverizar as plantações. Tanto insumos como as sementes são todos

adquiridos na cidade de Arapongas no estabelecimento denominado Agroplus. Com

relação ao item outros, 35% refere-se aos assentados que cultivam produtos

orgânicos, utilizando-se por exemplo de estercos em suas lavouras.

Tabela 10- Implementos Agrícolas utilizados no local (%) Plantadeira Roçadeira Pulverizador Arado Grade Outros

sim não sim não sim não Sim não sim não

*man. *mec. man. mec. animal Mec.

20 45 35 50 50 60 25 15 35 - 65 35 65 20

Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR.)Período: 10/10/05 e 11/10/05 . (*man. = manual, mec. = mecânico)

84

Com relação aos implementos agrícolas pode-se observar que o

assentamento também possui determinados maquinários. Observa-se pela tabela

que 65% dos entrevistados utilizam a plantadeira manual e a mecânica,

sobressaindo-se o uso da última (45%). O trabalho manual ainda é muito utilizado,

visto o número de pessoas que se utilizam do pulverizador manual (60%),

denominado por eles de “costal”, bem como o uso ainda do arado animal (35%).

A exemplo dos tratores que são alugados ocorre também o aluguel

das plantadeiras mecânicas no interior do assentamento. O valor estipulado para o

aluguel da plantadeira mecânica é de R$ 61.98/hectares, valor considerado elevado

tendo em vista a renda familiar, que no decorrer do ano de 2004 estava em uma

média de R$ 324.00 por assentado. Com relação aos aluguéis de outros tipos de

maquinários tais como a colheitadeira com a finalidade de atender a dois tipos de

culturas como a soja e o milho por exemplo, todos os entrevistados recorrem a estes

aluguéis para estas culturas.

O item referente a outros corresponde ao universo de assentados

que trabalham em sua propriedade com o cultivo da amora vinculada a criação do

bicho-da-seda; estes relataram possuírem equipamentos tais como: máquina para

realizar a limpeza dos casulos, enxada, “matraquinha” para plantar, dentre outros.

No que diz respeito aos pivôs centrais desativados, as famílias

entrevistadas expuseram que estes deveriam ser reativados mesmo com os gastos

que demandam de energia, pois pelo fato de já terem passado por dois anos de

seca este tipo de equipamento faz falta. Porém, como relatado por uma assentada

os pivôs para irrigação são essenciais, mas segundo ela deveriam funcionar por

gotejamento, apesar de ser um sistema mais caro que o convencional.

85

No que se refere a forma coletiva, a intenção de se voltar a ela foi

relatada por apenas um dos assentados, este afirmou que se o assentamento

continuar na forma individual, os problemas futuros tenderão a aumentar. Pôde-se

verificar que os assentados desejam que o pivô pertencente ao antigo coletivo seja

de acesso a todos.

O nível de tecnificação do assentamento encontra-se baixo, pois os

tratores são poucos e não apropriados para atender aos assentados. Estes não

conseguem ter acesso a equipamentos e insumos de boa qualidade que

possibilitariam uma maior tecnificação somado a um aumento de produtividade, uma

vez que o custo de produção é alto.

4.3 A ASSISTÊNCIA TÉCNICA FORNECIDA AOS ASSENTADOS

Na atualidade há no local dois responsáveis pela assistência técnica

chamados pelos assentados de “Vice” e “Vick”, o primeiro corresponde ao técnico do

assentamento e a segunda trata-se de uma agrônoma, ambos residentes no local e

substitutos de um técnico anterior que trabalhava no assentamento, com quem os

assentados tiveram uma experiência frustrada.

O agrônomo tem como função auxiliar os assentados sobre os

cultivos e/ou criações indicadas para os lotes, porém a maioria não se encontra

satisfeita com a assistência técnica ofertada, pela dificuldade em encontrá-lo no

local, uma vez que este trabalha em mais três assentamentos rurais da região.

Em sua maioria (70%) não está satisfeita com o atendimento, mas

uma minoria de 30% está. Vê-se isto como um problema passível de solução,

bastaria que houvesse reuniões mensais com os assentados, o técnico e a

agrônoma; dessa forma os primeiros poderiam expor as dificuldades deparadas no

86

desenvolvimento de suas lavouras, sendo assim o técnico e a agrônoma forneceriam

a devida assistência de acordo com a necessidade do assentado.

Segundo os depoimentos recolhidos no trabalho de campo, pode-se

observar que em sua maioria os assentados concordam sobre a importância de um

planejamento mais adequado com relação a esta assistência, visto que ambos

atendem a uma área muito grande na região. Além disto, foi exposto que os dois não

vão com frequência aos lotes, tendo de ir atrás caso queiram achá-los. Dentre os

vários depoimentos recolhidos foram selecionados alguns para a compreensão de

como os assentados estão vendo este caso da assistência técnica dentro do

Dorcelina Folador, os quais são ilustrados a seguir:

Assentado I: o agrônomo em conversa com a família sugeriu que

esta trabalhasse com vacas para estarem desta forma vendendo leite no interior do

assentamento, mas a família não aceitou relatando em sua entrevista que: “...é muita

pouca terra para fazer isso, convêm planta o que sabe que vai colhê e vendê.”

Assentado II: relatou como sendo péssima a assistência técnica

ofertada para eles afirmando que: “...o agrônomo é pago para trabalhar no

assentamento Dorcelina, mas cê você for atrás dele hoje, você não acha. Ele pega e

vai para outros assentamentos...tipo faz “bico”. Se quero fazer um projeto para milho

por exemplo, tenho que encher o saco dele durante um mês batendo na porta do

cara todo dia.”

Assentado III: “...era para ter (risadas), tipo o cara tá aqui , mas é

como se não tivesse, acabou de chegar e ele nem procurar procura, pra nós ele

poderia visita mais, mas quer queira quer não já é um começo ele tá morando aqui.”

87

Assentado IV: com relação a assistência técnica neste caso foi

relatado que: “...vem mas vem atrasada. É muito fraca, o outro era melhor só não

era organizado”.

Assentado V: “....nunca veio o técnico no lote, tem ele , mas ele não

vem aqui no lote, tem de ir atrás dele”.

Assentado VI: “...Tá bom, não agrada todo mundo. Mas nem Cristo

agradou a todo mundo (risadas).”

Observa-se que a crítica com relação a assistência é exposta pelos

assentados porém, deve-se observar que muitos já vêem como um ponto positivo o

fato do local contar com um técnico e uma agrônoma para exercer esta função,

mesmo que de modo precária.

Um dos assentados expôs sobre a necessidade de uma assistência

técnica que lhes seja adequada, onde pudessem estudar maneiras mais práticas

para no futuro o assentamento vir a ter a sua produção voltada para a prática

orgânica; segundo ele já era para estar tudo orgânico; este vai mais além ainda

quando cita que já era para ter começado essa mudança tecnológica porém, ele

mesmo sabe da necessidade de todos se adequarem, não somente eles, e sim

principalmente as fazendas vizinhas.

Em um encontro realizado na Universidade Estadual de Londrina

(UEL) um assentado do Dorcelina Folador relatou que faltam profissionais nesta

área de assistência técnica, para ele é necessário retirar o atravessador, pois de

acordo com este: “...tem época que os assentados tem de colher café nas fazendas

vizinhas para complementar sua renda.”

88

Tabela 11- Intenção de cultivar algo diferente CULTIVO N.º de RESPOSTAS %

Soja 3 18.75

Café 2 12.5

Horta 2 12.5

Abacate 1 6.25

Amendoim 1 6.25

Batata-doce 1 6.25

Feijão 1 6.25

amora 1 8

Semente de eucalipto 1 6.25

Nenhuma 4 25

TOTAL 16 100

Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR.). Período: 10/10/05 e 11/10/05 .

Tabela 12- Intenção de criar algo diferente

CRIAÇÃO N.º de RESPOSTAS %

Aves 5 50

Avestruz 2 20

Bovino 2 20

Suínos 1 10

TOTAL 10 100

Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR.). Período: 10/10/05 e 11/10/05 .

Pelos percentuais obtidos nas tabelas verifica-se a intenção dos

assentados em diversificar a sua propriedade, dando-se destaque à criação de aves,

neste caso estão aplicando mais recursos nas criações que já possuem. Vale

relembrar que no município de Arapongas um dos rebanhos que mais se destacou

foi o da criação de aves, podendo verificar o quanto o Dorcelina Folador está

inserido nesta realidade.

Em segundo têm-se os assentados sem nenhuma intenção de

cultivar algo diferente; neste caso os assentados estão satisfeitos com o que já

produzem em seus lotes, pois no momento o que queriam já possuem, que se trata

89

de sua terra para nela plantar e dela retirar seu sustento. Como se sabe as

dificuldades pelas quais os assentados depararam até chegarem ao assentamento

foram inúmeras, sendo assim não poderiam deixar de estarem satisfeitos no local.

Os assentados que expuseram a intenção de criar bovinos, deram

preferência para a criação de vacas pela possibilidade de comercialização de leite

no interior do assentamento, uma alternativa de renda para as famílias. Uma das

famílias pretende desenvolver em sua propriedade o cultivo do café orgânico (Figura

15) e uma outra investir nas hortas que já possui. No que diz respeito ao café

orgânico há uma família que além de trabalhar com a criação do bicho-da-seda,

cultiva muda deste tipo de café e de sementes de eucaliptos (Figuras 16 e 17).

Figura 15: Exemplo de propriedade que possui produção voltada para o cultivo do café orgânico. Este deve ser levado em conta uma vez que o assentamento tem por intuito desenvolver a produção orgânica. Paula Chagas Francis (11/10/05)

90

Figura 16- Propriedade que além de trabalhar com a criação do bicho-da-seda esta diversificando a sua produção, ao iniciar o cultivo de mudas de café orgânico. Ao fundo é possível visualizar as verduras para a subsistência da família. Paula Chagas Francis (11/10/05)

Figura 17: Início de produção de sementes de eucaliptos. Paula Chagas Francis (11/10/05)

91

5 DO PROCERA AO PRONAF: UMA ANÁLISE DO ASSENTAMENTO DORCELINA FOLADOR

A partir do momento em que os assentados tomam posse de seus

lotes estes passam a ter acesso a vários direitos, dentre eles incluem-se os créditos

rurais para a obtenção de implementos e insumos agrícolas, por exemplo. O primeiro

crédito destinado aos assentados foi o PROCERA (Programa de Crédito Especial

para a Reforma Agrária).

Na sequência, o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-

2002) criou o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

(PRONAF) em substituição ao PROCERA, para atender os produtores menos

capitalizados.

Sendo assim, este capítulo tem por intuito a análise de dados sobre

estes dois programas. Para tanto, foram trabalhados dados empíricos referentes ao

ano de 2004 que ilustram a realidade do local e dados de 2005, de caráter mais

qualitativo.

Em vista do antigo PROCERA e o atual PRONAF, ambos créditos

rurais que os assentados do Dorcelina Folador tiveram acesso, elaborou-se a

seguinte tabela.

Tabela 13- Créditos Rurais destinados aos assentados N.º DE FAMÍLIAS %

PROCERA 34 42

PROCERA e PRONAF A/C 34 42

Nenhuma ajuda 7 8.6

PRONAF A 5 6.2

não soube responder 1 1.2

TOTAL 81 100

Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR.) Data: 26/08/04.

92

No ano de implantação do assentamento (1999) os assentados

receberam a quantia de R$ 12.000.00 provinda do PROCERA (42%), possibilitando

adquirir os meios de produção, dentre os quais os mais citados foram: barracões,

lona, paiol, telas, cercas, adubos, sementes, estercos, entre outros. Vale relatar que

o prazo para o pagamento deste ainda não venceu. Os outros 42% tiveram acesso

ao PROCERA bem como ao PRONAF A/C, este último destinado ao custeio da

lavoura.

Pode-se concluir que 84% das famílias encontram-se no local desde

o ano de implantação do assentamento (1.999). Cerca de 8.6% não receberam

nenhum auxílio do governo, por possuírem dívidas no banco, por exemplo. Por fim,

6.2% dos assentados tiveram acesso ao PRONAF A, comprovando-se o fato de que

nem todas as famílias estão no local desde o ano de implantação do assentamento.

Deve-se mencionar que o antigo PROCERA tratava-se de um crédito

rural especial que atendia os assentados. Sendo assim, poder-se-á observar o

quanto os assentados rurais têm, até na atualidade, satisfação em se pronunciar a

favor do antigo crédito rural, quando comparado ao PRONAF.

5.1 O PROCERA E O ASSENTAMENTO DORCELINA FOLADOR

Faz-se necessário elaborar uma tabela sobre o tempo de residência

dos assentados no local, para verificar o número de famílias que estão no

assentamento desde seu início.

93

Tabela 14- Tempo de residência no local ANO/MESES N.º de FAMÍLIAS %

6 meses 2 2.5

9 meses 1 1.2

1 ano 5 6.2

2 anos 6 7.4

3 anos 8 9.9

4 anos 38 46.9

5 anos 19 23.4

Não soube

responder

02 2.5

TOTAL 81 100

Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR.) Data: 26/08/04.

De acordo com a tabela verifica-se que em sua maioria 46.9%

residem no Assentamento Rural Dorcelina Folador há 4 anos, em segundo tem-se

23.4% que responderam morar no local há 5 anos. De acordo com estes números

pode-se verificar que grande parte das famílias residentes no local, (mais de 50%)

estão instaladas no assentamento desde a época de sua implantação. Segundo os

assentados, o PROCERA atrasou mais de um ano, vindo no ano de 2.000, mês de

janeiro.

O atraso na liberação de recursos do PROCERA foi uma realidade

pela qual os assentados se depararam, pois as exigências burocráticas atrasaram

ainda mais a sua liberação. Mesmo desde a fase inicial os assentados tiveram

acesso a vários auxílios, os quais são citados a seguir:

94

Tabela 15- Auxílios fornecidos aos assentados N.º de FAMÍLIAS %

Amigos e parentes 4 4.9

MST 8 9.9

PROCERA 38 46.9

Nenhum auxílio 23 28.4

CPT 2 2.5

Não soube

responder

6 7.4

TOTAL 81 100

Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR Data: 26/08/04

De acordo com os dados da tabela pode-se verificar que o auxílio

mais citado foi o PROCERA (46.9%), um recurso que o assentado tinha o direito de

receber. Este era referente à: investimento, fomento e habitação, totalizando o valor

de R$ 12.000.00. O percentual de 28.4% de assentados que não receberam

nenhum auxílio é interpretado como fazendo referência às famílias que chegaram

num período posterior ao local.

Guanziroli et al. (2001) sobre a obtenção deste financiamento por

parte das famílias assentadas, em particular na Região Sul, já relatava que as

primeiras famílias passaram por inúmeras dificuldades visto a demora na liberação

destes créditos; várias abandonaram a área, por não terem condições de resistir por

muito tempo. Além do mais, o que se constata na atualidade, é que a maioria destas

famílias assume o lote em condições de completa descapitalização, sem possuir

bens e nem meios próprios para desenvolverem suas lavouras iniciais (Tabela 16).

95

Tabela 16- Dificuldades enfrentadas ao chegar no local DIFICULDADES N.º de famílias %

Falta de recursos financeiros 36 44.3

Falta de infra-estrutura 10 12.2

Preconceito 9 10.4

Não especificaram 6 7.8

Falta de trabalho 5 6.9

Nenhuma 4 6.1

Comercialização 3 3.5

Falta de demarcação 3 3.5

Trauma de despejo 2 2.6

Burocracia 1 0.9

Dívidas no banco 1 0.9

Geada 1 0.9

TOTAL 81 100

Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR.) Data: 26/08/04.

Nesta pesquisa, realizada em 2004, no assentamento pode-se

constatar que na maioria das famílias entrevistadas foi relatado o fato destas não

possuírem bens ao chegarem no local, comprovando-se a teoria de que, no geral, as

famílias assumem o lote em condições de completa descapitalização.

As dificuldades pelas quais estes depararam foram inúmeras, sendo

que a falta de recursos financeiros foi a mais citada (44.3%). Neste percentual inclui-

se a falta de recurso para realizar suas lavouras, bem como a falta de condições de

se ter uma moradia adequada, além da falta de alimentos e água para sobreviverem

no local.

Neste período alguns dos assentados relataram sobre a

necessidade de realizarem trabalhos por dia para outros fazendeiros, visto ser a

única forma de se manterem nesta fase inicial. Um assentado mencionou que esta

foi a única saída para se manter em seu lote, uma vez que ainda não tinha seus

primeiros rendimentos com a lavoura.

96

No que diz respeito à falta de infra-estrutura (12.2%) os assentados

afirmaram que no início não possuíam uma estrutura adequada no local, como a

existência de: transportes, escolas, bem como a falta de energia elétrica no interior

do assentamento.

São diversas as dificuldades que os assentados se deparam mesmo

se tratando de um local que pretende servir de modelo no Norte do Estado do

Paraná. As dificuldades vão desde a obtenção de uma boa produtividade até a falta

de recursos, pois os gastos que estes têm na aquisição de insumos e maquinários é

elevado. Detectou-se a prática de aluguéis destes maquinários no próprio

assentamento, acarretando numa maior despesa para a produção, resultando na

diminuição da renda; além disto, a assistência técnica também é precária.

Foram citadas como dificuldades iniciais: o preconceito sofrido neste

período, com muitas perseguições por policiais e por parte de algumas pessoas do

município de Arapongas e das fazendas vizinhas. A falta de demarcação

provocando confusão na divisão de seus respectivos lotes.

Como se pode notar, as dificuldades ao chegarem ao local foram

inúmeras. A mais penosa foi a demora da liberação dos recursos para habitação,

tendo que improvisá-la, construindo barracos ou utilizando as antigas casas da sede

da propriedade. Uma das famílias expôs que “...no começo foi tudo difícil,

principalmente para construir a casa”.

Pôde-se constatar no trabalho de campo que das famílias

selecionadas para a pesquisa, as que chegaram ao assentamento com algum bem

tiveram que vendê-lo antes de obter seus primeiros rendimentos em suas colheitas.

Com se sabe, o primeiro ano do assentado é um dos mais problemáticos uma vez

que este depende desta colheita para extrair sua renda inicial.

97

Nos depoimentos de alguns assentados detectou-se que em sua

maioria chegaram ao local sem recursos próprios, dos poucos bens que possuíam

três assentados relataram ter um carro. Foi exposto que cada dono de trator chegou

no local já com o seu. Uma família recém chegada afirmou ter vendido o carro para

cultivar milho e feijão; porém, esta família encontra-se satisfeita, uma vez que

lutaram durante seis anos pela conquista da terra.

Em outro caso, a família ao chegar ao local não possuía bem algum,

tanto no que se refere à vestimenta quanto a comidas. Por fim, um assentado

chamou a atenção em sua fala, ao dizer que: “...cheguei sem nada, o que eu tenho

hoje, tô rico!”, neste momento relembrou a cena de policiais queimando tudo que ele

possuía.

Com relação ao PROCERA constatou-se no trabalho de campo que

80% das famílias receberam a quantia de R$ 12.000.00, apenas 20% não a

recebeu; neste caso, trata-se de famílias que permaneceram anos na luta pela terra,

conquistando-a num período em que o PROCERA já havia se extinto. Os

assentados receberam esta quantia no mesmo período, porém a maioria relatou que

chegou atrasada.

Leite et al. (2004, p. 221) com relação ao atraso na liberação dos

recursos expõe que este geralmente ocorre: “[...] após o período de plantio,

momento do ciclo agrícola em que são mais necessários. Trata-se de um problema

grave este atraso, pois acaba por comprometer a produção agropecuária [...]”. Com

relação a modalidade habitação, esta sempre demora a ser liberada, tornando ainda

mais penosa a fase inicial do assentado; além do mais, o assentado somente terá

seus primeiros rendimentos com sua primeira colheita.

98

O técnico que trabalhava neste período no assentamento dava a

devida assistência técnica sobre a forma de melhor investir no lote, dando

orientações sobre o uso do financiamento por meio de reuniões. Porém, como

constatado por um dos entrevistados, esta assistência lhes foi dada de forma

precária.

Convêm relembrar que o PROCERA: Teto II destinava-se as famílias

assentadas sócias de cooperativas, o que não fez parte da realidade deste

assentamento, uma vez que as famílias não são até os dias de hoje sócias de

cooperativas. Este fato é evidenciado nas reclamações feitas pelos assentados, ao

relatarem que por não terem a escritura da terra, em virtude da “política de Reforma

Agrária do INCRA”, não podem associar-se às cooperativas.

- O Crédito para Implantação: alimentação

Com relação ao recurso fornecido para a alimentação 90%

receberam a quantia de R$ 400.00, apenas uma família relatou ter recebido o valor

de R$ 320.00. Vale ressaltar o depoimento de uma destas famílias em que ao

relatarem sobre as modalidades fornecidas no período, o casal entrou em

controvérsia, onde a esposa dizia “...não, esse que era para habitação”.

O próprio casal expôs sobre a dificuldade em distinguir uma

modalidade da outra; comprovando-se as palavras de Leite et al. (2004) de que,

muitas vezes o assentado tem dificuldade em distinguir os diferentes tipos de

créditos que lhes são ofertados. Além do mais, o casal colocou o fato de fazer muito

tempo que receberam o PROCERA, dizendo: “a gente não lembra...”, mas

enfatizaram que guardam os papéis, pois um dia sabem que vão ter de pagá-lo.

99

A modalidade alimentação era dada sob diversas formas, dentre as

quais se destacam duas delas: o valor revertido em alimentos que eram recebidos

de uma só vez ou o valor total em dinheiro liberado também de uma só vez. No caso

do Dorcelina Folador esta quantia não foi repassada em dinheiro, os assentados

receberam na época tickets para realizarem suas compras. Estes correspondiam a

vales de R$ 100.00, com os quais iam ao mercado conforme necessitava.

As entrevistas demonstraram que os tickets duraram cerca de dois

meses; além do mais, houve famílias que gastaram tudo de uma só vez. Neste

período foi realizado convênio com apenas um mercado localizado no município de

Arapongas.

- O Crédito para Implantação: fomento

De acordo com Proscêncio (1999) os assentados tinham por direito a

quantia de R$ 740.00 destinada ao crédito de fomento, recurso que cada família

dispunha para adquirir suas primeiras ferramentas, sementes e animais; no entanto

os valores fornecidos pelos assentados do Dorcelina Folador apresentaram

diferenças.

Tabela 17- Crédito de Fomento (valores registrados) VALOR EM

REAIS N.º de FAMÍLIAS

ASSENTADAS %

730.00 1 5

740.00 6 30

1.000.00 6 30

1.100.00 1 5

1.400.00 3 15

1.500.00 1 5

Não recebeu 2 10

TOTAL 20 100

Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR.). Período: 10/10/05 e 11/10/05 .

100

Pela tabela observa-se que apenas 6 famílias registraram ter

recebido a quantia de R$ 740.00, o que leva a indagar até que ponto o assentado

está a par do valor obtido, uma vez que outros valores foram registrados conforme a

tabela demonstra.

Por ser uma modalidade essencial para a compra de ferramentas,

animais e sementes, todos os assentados recordaram para quais finalidades

utilizaram esta quantia. Várias benfeitorias foram adquiridas, as mais citadas foram:

enxada, enxadão, carroça, machado, machadão, arame, máquina “costal”, serrote,

martelo, arado, foice, telhas, bomba de veneno, carriola, pá, plantadeira e roçadeira.

Além disto, os assentados afirmaram que com este recurso houve a possibilidade de

encanar a água e investir na irrigação. Um dos assentados que hoje trabalha com a

prática de aluguéis de tratores, recordou que neste período investiu em um trator

que estava em condições precárias, tornando-o adequado para uso.

Com relação às sementes adquiridas na época, no município de

Arapongas com este recurso, fornecidas em sua maioria pela Agroplus, enfatizou-se

a questão do preço elevado pago pelas sementes. Fora isto, também citaram os

altos valores dos insumos, tais como: calcários, adubos, agrotóxicos. Porém, não

havia outra opção de compra; além do mais, os juros tanto das sementes como dos

insumos eram elevados, como relatado por uma das famílias.

Comprovando-se as palavras de Leite et al. (2004) de que pelo fato

de muitas vezes estes créditos serem liberados de uma só vez, provoca verdadeiros

“alvoroços” no comércio local, como o:

[...] esgotamento de estoques de materiais (de construção, insumos agrícolas, matrizes de animais...) ocasionado “processos inflacionários” momentâneos e locais, que algumas vezes levam os assentados a pagarem preços mais elevados pelos produtos. (LEITE et al., 2004, p. 226)

101

No que se refere aos animais comprados na época, destacaram-se

nas respostas obtidas a compra de bovinos de corte e de leite, equinos, aves e

porcos. Várias famílias adquiriram vacas com o intuito de comercializar leite no

assentamento, para assim obter uma renda a mais.

- O Crédito para Implantação: habitação

Com relação ao crédito destinado para a habitação, 61% dos

assentados receberam o valor de R$ 2.500.00 para construir a casa e 39% R$

2.000.00. Faz-se necessária relembrar Leite et al. (2004) as quais relatam que, às

vezes, o próprio assentado tem dificuldade em distinguir os diferentes tipos de

créditos que lhes são ofertados.

A demora na liberação deste recurso foi enfatizada pela maioria dos

assentados que conseguiram concluir suas casas. Para tanto, estes utilizaram parte

do dinheiro destinado para o investimento (R$ 7.500.00) ou recursos próprios. Pode-

se citar o exemplo de uma casa do assentamento, provavelmente o assentado se

utilizou de outros recursos, uma vez que sua casa destoa da realidade presenciada

no local (Figura 18).

Em sua maioria os assentados não tiveram condições de finalizarem

as casas com o valor de R$ 2.000.00, pois além de ter atrasado, os assentados

contrataram pedreiros para construí-las.

Constatou-se no trabalho de campo que há assentados que ainda

não finalizaram as suas casas, mas residem nelas, pois como relatado por um

assentado: “Só 2.500 vai dá? Não deu nem para a mão-de-obra. O que tenho hoje

foi com recurso próprio da lavoura”. Com relação a outra família, a assentada disse:

“Parou nisso aqui que cê tá vendo! 42 m² é muito pouco” (Figura 19).

102

Famílias que na atualidade trabalham com a criação do bicho-da-

seda, foram umas das poucas que declararam ter finalizado a construção da casa.

Uma das entrevistadas afirmou que terminou a sua num período bem posterior,

conseguindo ampliá-la com recurso próprio via criação do bicho-da-seda.

Figura 18- Exemplo de casa que destoa da realidade presenciada no assentamento. Pode-se constatar que esta não foi construída somente com o recurso destinado para a habitação. Paula Chagas Francis (11/10/05)

103

Figura 19- Exemplo de casa construída com o recurso do PROCERA destinado para a habitação. Observa-se que esta não foi finalizada Paula Chagas Francis (11/10/05)

- O Crédito para Produção: PROCERA- Custeio

Para a produção, os assentados tiveram acesso à modalidade

PROCERA: custeio, cujo valor era de R$ 2.000.00. Foram relatadas aquisições tais

como: mudas de café, calcário, estercos de galinha, barracões para aves, arames,

palanques, adubos, veneno e sementes de milho, ou seja, tudo que era necessário

para produzirem tanto nas lavouras de grãos quanto para hortas, pomares e criação

de animais.

- O Crédito para Produção: PROCERA- Teto I

Como exposto os assentados tiveram acesso inicialmente, ao crédito

para implantação, quando entraram no assentamento. Neste incluía-se o fomento

para a aquisição das primeiras ferramentas e animais, porém, também tiveram

104

acesso a uma modalidade denominada PROCERA: Teto I (R$ 7.500.00), com a

finalidade de adquirir mais animais e ferramentas.

Com o Teto I produziram na época diversos itens, dentre estes se

destacavam as culturas voltadas para o auto consumo, a exemplo do feijão, arroz,

mandioca e hortaliças, visto a necessidade de sobreviverem nesta fase inicial.

Também foram citadas criações como aves, bovinos e suínos.

É importante relatar que na criação do bicho-da-seda há a

necessidade de um barracão, sendo assim os assentados que trabalham com esta

atividade relataram ter sido a COCAMAR quem financiou este barracão, cujo

financiamento teve de ser pago pelos assentados via entrega dos casulos (Foto 11).

Porém, houve casos de famílias em que o recurso fornecido pela

COCAMAR não foi suficiente, estas utilizaram parte desta modalidade do PROCERA

para finalizar seus barracões. Além disto, os assentados conseguiram investir em

galpões e em mais benfeitorias, tais como: arames, palanques, roçadeiras, moto

serra e motor a diesel. Animais como porcos, vacas, bois, novilhas e aves também

foram citados.

105

Figura 20: Foto de um dos lotes que trabalha com a criação do bicho-da-seda. Ao fundo, pode-se visualizar o barracão financiado pela COCAMAR. Paula Chagas Francis (11/10/05) 5.1.1 Perspectivas de pagamento do PROCERA

Dos assentados que tiveram acesso ao PROCERA, 22% tem a

intenção de pagar; porém, estes afirmam que haverá negociações: “...se todo mundo

faz isso, porque haveria de nós não fazer”, já outro: “vamos renegociar, reunir o

pessoal para isto, pois a maioria do pessoal tá endividado”.

Há o intuito prorrogar a dívida por mais de 10 anos, pois para eles

somente será possível pagar uma quantia deste tipo se der dois anos de plantio

bom, o que é algo difícil conhecida a realidade da atividade agrícola.

Os outros entrevistados (78%) pretendem pagar no prazo, pois como

exposto numa das entrevistas: “é o único modo de sobreviver”; além do mais,

consideram que o PROCERA foi um financiamento muito bom, não vendo motivo

que justifique o não pagamento da dívida. Um assentado afirmou: “...tem que ser

pago, pra pegar o título da terra”.

106

Como visto, as famílias assentadas geralmente assumem seus lotes

em condições de completa descapitalização, por este motivo torna-se necessária

uma análise sobre os bens possuídos pelas famílias. (Tabela 18)

Tabela 18- Total de Bens Possuídos pelas Famílias Assentadas

BENS POSSUÍDOS N.ºde FAMÍLIAS %

Televisor 74 18.0

Fogão 73 17.6

Geladeira 65 15.7

Máquina de lavar roupa 55 13.2

Bicicleta 46 11.1

Aparelho de som 38 9.1

Carroça 17 4.0

Automóvel 14 3.4

Trator 13 3.1

Moto 11 2.7

Caminhão 06 1.4

Caminhonete 02 0.5

Freezer 01 0.2

Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR.), Data:26/08/04 .

Dentre todos os itens o que mais se destaca é o televisor, pois além

de ser um meio de comunicação pelos quais os assentados têm acesso às

informações de outras localidades, serve também para o lazer das famílias. Também

se observa o número de assentados possuidores de aparelhos de som (38).

Itens considerados como de extrema necessidade também se

destacam, tais como o fogão, a geladeira e a máquina de lavar roupa. Outro aspecto

contemplado que merece destaque é o referente às bicicletas, além de ser um meio

de transporte barato em comparação ao dos veículos, trata-se de um meio de fácil

manutenção.

107

Com relação aos outros meios de transporte foram citados os

exemplos dos carros, carroças e motos. A carroça além de possibilitar ao assentado

se deslocar de um local para outro, também o auxilia no transporte interno. Com

relação aos carros e motos, no geral estes são muito importantes principalmente

para transportar um enfermo da família; além disso, são meios de transporte que

facilitam o acesso às cidades próximas.

Com relação aos tratores do assentamento no ano de 2004 existiam

13 para uso dos assentados, nesta pesquisa um dos assentados mencionou que há

6 tratores, vários foram vendidos devido a dívidas contraídas. Um dos donos de

tratores relatou ter vendido o seu trator no período da geada para pagar dívidas

contraídas com a perda de sua colheita.

O antigo grupo coletivo possuía dois caminhões, duas colhedeiras e

uma moto, sendo que parte destes foi vendida para também quitarem as dívidas

contraídas. O freezer mencionado também pertencia a este grupo que se desfez.

Das famílias entrevistadas poucas tiveram condições de adquirir

mais bens depois de assentadas, pois somente três destas citaram a compra de

animais (cabritos e bezerros), de um motor para silagem e de um arado. Este último

a do arado conseguiu pagar seu trator, e ainda comprou uma carreta e um carro.

Nota-se que em sua maioria os bens, com o tempo, foram perdidos,

devido a gastos com doenças, por exemplo, fora o fato também de já terem passado

por uma geada. Vale salientar a fala de um assentado: “...o que eu tenho tá aí”,

evidenciando esta realidade.

Estes assentados possuem uma trajetória de vida sofrida, a exemplo

de famílias que já passaram fome, sofreram perseguições policiais, entre outros que

violam os direitos de um cidadão. Sendo assim, a conquista de uma fração do

108

território ainda que seja somente para sua subsistência, trata-se de uma grande

vitória.

5.1.2 A satisfação com relação ao PROCERA

Como mencionado o PROCERA foi um recurso destinado a atender

exclusivamente os assentados rurais. Por terem recebido após um longo período de

espera, os assentados reclamaram sobre a manutenção do valor de R$ 12.000.00.

Para alguns (11%) esse valor deveria ter aumentado, pois o preço de tudo neste

período havia subido e para outro: “...era muito pouco dinheiro para fazer muita

coisa”.

O restante concordou com o valor, pelo fato de ter sido um recurso

na época ofertado para todos e uma das famílias lamentou dizendo: “...pena que

num tem mais”, já uma outra mencionou: “Lógico, por que não gostar? necessidade!

Um dinheiro para nós trabalhar a terra!”. Estes depoimentos evidenciam o fato de

que estes assentados viam o PROCERA como um financiamento adequado para

eles, uma vez que atendia aos mesmos de modo especial.

Porém, pode-se verificar que estes agora estão começando a se

preocupar com o pagamento desta dívida visto que a primeira parcela irá vencer no

ano de 2.007; segundo um dos entrevistados “...não foi ruim não, agora tem que

pensar em como pagar”.

O prazo para o pagamento do PROCERA foi constatado como

sendo de 8 anos, tendo um rebate de 40% para quem vier a pagar a primeira

parcela na data de 01/10/2007, que corresponde a um valor de R$ 1.575.00. Com

relação à segunda parcela que vencerá em 01/10/2008 o valor é de R$ 1.590.75,

109

chegando até a oitava parcela que será paga somente em 2.014, totalizando um

valor de R$ 13.049.93.

Estes números foram fornecidos por um casal entrevistado, porém,

os demais quando indagados sobre qual era o valor da dívida contraída, a maioria

não soube responder, sendo que somente 28% dos entrevistados tinham a noção

dos valores da dívida, os quais variaram entre cerca de R$ 9.300.00 e R$ 13.049.93.

Por se tratar de uma dívida antiga, nota-se que os assentados não

tem a noção de quanto devem ao banco, como mencionado por uma assentada:

“...tem um tal de rebate”, os assentados sabem que um dia irão pagá-la, no entanto

recordam claramente o que compraram na época com esta quantia.

5.2 O PRONAF E O ASSENTAMENTO DORCELINA FOLADOR

Este item analisa os dados recolhidos no trabalho de campo sobre o

Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), de inicio

faz-se necessária uma análise das dificuldades diagnosticadas no ano de 2004.

110

Tabela 19- Dificuldades no desenvolvimento da lavoura DIFICULDADES N.º de RESPOTAS %

Problemas climáticos 25 26.6

Falta de recursos financeiros 22 23.4

Nenhuma 15 16.0

Gasto com a produção 10 10.6

Falta de assistência técnica 06 6.4

Não souberam responder 04 4.2

Dívida com o banco 03 3.2

Pragas 03 3.2

Área do lote 02 2.1

Cultivo da amora 02 2.1

Dependência de maquinários 01 1.1

Vizinhança 01 1.1

TOTAL 94 100

Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR.) Data: 26/08/04.

De acordo com as respostas obtidas neste período o problema

climático foi o que mais se destacou, pois dependem do clima para a obtenção de

uma boa produtividade, mas sabem que se trata de uma realidade do meio rural.

Esta preocupação remete-se ao fato de já terem passado por períodos de secas e

mesmo de uma geada na região, em que muitos assentados se endividaram mais

ainda, uma vez que haviam perdido suas safras, não possibilitando extrair uma

renda satisfatória de sua produção.

O segundo mais citado foi a falta de recursos financeiros, em que

assentados já expunham sua insatisfação com relação aos recursos que são

repassados para eles. Um deles relatou sobre a problemática de não ter capital

próprio para plantar, pois tudo é financiado pelo PRONAF (4.4% ao ano).

Uma das insatisfações maiores dos assentados no que diz respeito

ao PRONAF é o fato de sempre estarem endividados, pois muitas vezes acabam por

ter de renegociar suas dívidas para obter acesso ao PRONAF seguinte; porém,

111

mesmo pagando parte da dívida o assentado continua a dever ao banco, o que para

eles é visto como um ponto negativo uma vez que sempre se encontram

endividados.

Os assentados concordam sobre a necessidade de legalizarem seus

lotes, uma vez que este acaba por se tornar em mais um entrave no acesso ao

financiamento que lhe é de direito. Com relação aos gastos com a produção todos

relataram sobre o preço dos insumos, ou seja, que fossem mais acessíveis, visto os

preços elevados pelos quais estes são cobrados pelos intermediários.

No ano de 2004 constatou-se que de um universo de 81 assentados

rurais, aproximadamente 31% responderam ter pagado o respectivo financiamento e

cerca de 27% não. Porém, é necessário citar que na época da realização da

pesquisa o prazo para o pagamento deste financiamento não havia vencido, tendo

como data 30 de junho. Visto isto, aproximadamente 37% ainda não havia pagado o

financiamento, os 5% restantes não responderam a questão ou não haviam feito o

financiamento.

Pelas percentagens obtidas verifica-se que os assentados têm a

preocupação em quitar o financiamento, uma vez que é a única forma pela qual eles

dispõem para desenvolver a produção, e caso não pague, no ano seguinte não

receberá o outro. Àqueles que não conseguiram pagar a dívida contraída foram

inúmeros motivos alegados.

A área do lote foi citada como um empecilho, pois para os

assentados esta dificulta a possibilidade de obter uma renda adequada. Na época

citou-se a cultura do milho em que a produção desta não era suficiente, pois se

obtinha uma renda não muito elevada; além do mais, os gastos com o custo para

desenvolver sua lavoura eram muito elevado, como o preço dos insumos.

112

No momento da comercialização estes acabam por ter de vender

seus produtos a um preço baixo para o mercado, aqui vale as palavras de um

assentado “...vou ter de vender a vaca e a caminhonete para “tentar” pagar o

financiamento”.

Como se sabe os assentados deparam com inúmeras dificuldades,

dentre elas os gastos que estes têm com o custo de produção que são muito

elevados, fazendo com que, muitas vezes, o assentado tenha de vender sua

produção ao preço estipulado pelos intermediários. Como resultado disto, muitos se

desfazem de seus bens para sua permanência no campo, uma vez que os preços

obtidos na comercialização não são satisfatórios.

Convêm citar que no período da pesquisa realizada no ano de 2004

muitos assentados haviam perdido a sua produção em virtude de uma geada e de

uma seca também. Neste caso, a lavoura obtida na época não conseguiu cobrir os

custos da produção. Por fim, foi citada a necessidade de se parcelar mais este tipo

de financiamento, pois somente dessa forma conseguiriam quitar parte de suas

dívidas para receberem outro financiamento.

Observa-se que por não obterem boa produtividade, os assentados

rurais não conseguem quitar a dívida do PRONAF. Dada a possibilidade de

renegociação, mediante pagamento de parte do financiamento o assentado tem

acesso ao PRONAF seguinte, mas sempre fica devendo ao banco.

Em virtude dos prejuízos que haviam tido tanto na seca como na

geada, os assentados tiveram acesso ao PROAGRO, seguro do crédito de custeio

que garante o pagamento da dívida bancária em casos de perda de safra. Sendo

assim, neste período de 2004, foi prorrogado o prazo de 30 de junho para 30 de

setembro para pagarem o financiamento.

113

O acesso do assentado rural ao PROAGRO não deixa de ser algo

positivo, uma vez que trata-se de um seguro agrícola que lhe garante o pagamento

da dívida bancária em casos de comprometimento da safra em virtude de

intempéries climáticas, porém, segundo o Boletim Informativo PRONAF 2005/2006:

“[...] o PROAGRO ainda não atende as necessidades dos agricultores familiares”

(Grifo nosso). A estiagem ocorrida no Paraná, na safra 2004-05, de acordo com o

boletim, provocou vários prejuízos que não foram amparados pelo seguro. Sendo

assim, entende-se o fato de nem todos os assentados terem tido acesso ao seguro

agrícola, uma vez que somente determinadas culturas eram amparadas.

Para a safra de 2005-06 o boletim informa que os eventos a serem

amparados serão: Granizo; tromba d’ água; vendaval; seca; doenças fúngicas sem

método de combate, controle ou profilaxia; seca (exceto trigo e maçã); geada

(apenas para trigo, maçã, cevada, café e uva); chuvas (apenas trigo); chuva na

colheita (apenas cevada).

Como visto no início deste trabalho os assentados rurais têm acesso

ao PRONAF A, fornecido para o investimento da fase inicial do assentamento e ao

PRONAF A/C, para o custeio da lavoura.

Segundo entrevista informal realizada no Banco do Brasil, as linhas

PRONAF A e PRONAF A/C, tem como público alvo os assentados rurais. Com

relação aos PRONAF “C” e “D”, estes atendem a outros produtores e assentados,

desde que comprovada a renda deste “agricultor”, no que diz respeito ao Grupo “E”,

este somente atinge a poucos agricultores, visto a renda exigida.

Como relatado pelo entrevistado: “...se enquadrou na renda, tem

acesso ao crédito”. Porém, sabe-se que jamais um assentado com o tamanho de

seu lote terá acesso ao Grupo “D”, por exemplo, uma vez que a renda obtida pelo

114

assentado com um lote de área tão pequena não oferece uma produtividade que

possibilite ao assentado obter uma renda elevada.

Vale ressaltar o fato do banco ter informado que, uma vez

enquadrado em determinado grupo não é permitido ao agricultor retornar a qualquer

grupo anterior, por exemplo: se um agricultor sempre conseguiu sobreviver com

recurso próprio (uma herança, por exemplo), e nunca teve acesso ao PRONAF, se

este resolver fazê-lo e se enquadrar no Grupo “D”, ele nunca poderá ter acesso ao

Grupo “C”. Este requisito serve também para o assentado, caso este nunca tenha

tido acesso ao PRONAF e resolva fazê-lo, comprovada a renda e enquadrado no

Grupo “C”, por exemplo, jamais ele poderá retornar ao Grupo “A/C”.

Como justificativa do por que agir desta maneira foi relatado pelo

entrevistado que: “...o intuito é fazer com que o cara sempre obtenha uma renda

maior”. Vê-se isto como um modo pelo qual o banco encontrou de não obter

prejuízos com este tipo de agricultor, uma vez que o intuito das agências bancárias é

obter lucro com este tipo de financiamento.

Por fim foi informado que, na atualidade, o Banco do Brasil está

mantendo relações em sua maioria com os agricultores que se integram ao Grupo

“C”, que são os agricultores familiares que possuem maiores relações com os

setores agroindustriais, oferecendo assim ao banco garantias reais do pagamento

do financiamento.

No Dorcelina Folador foi constatada em 2005, a utilização do

PRONAF A e do PRONAF A/C. O assentamento está em seu terceiro PRONAF,

sendo que neste último os assentados relataram terem adquiridos produtos para a

lavoura, tais como: veneno, adubo, esterco, calcário, sementes para cultivar milho e

feijão.

115

Convém salientar que no período de realização dos trabalhos de

campos (10/10/05 e 11/10/05) os assentados relataram que o financiamento havia

sido liberado há 20 dias anteriores, ou seja, era a época da liberação do

financiamento. Assim, várias eram as famílias que estavam indo ao banco para

obtenção do recurso. Das entrevistas realizadas verificou-se que (Tabela 20)

Tabela 20- Assentados que Solicitaram PRONAF A ou PRONAF A/C

N.º DE ASSENTADOS %

Assentados contemplados com

PRONAF A

1 5

Assentados contemplados com

PRONAF A/C

15 75

Não realizaram financiamento 4 20

TOTAL 20 100

Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR.). Período: 10/10/05 e 11/10/05 .

Em sua maioria (75%) dos assentados tiveram acesso ao PRONAF

A/C, para o custeio da lavoura, apenas um entrevistado teve acesso ao PRONAF A,

referente ao investimento; neste caso em particular, o assentado não havia feito o

PROCERA. Cerca de 20% não realizaram financiamento, por possuírem dívidas com

o banco.

Vale salientar sobre a dificuldade de se diferenciar uma linha de

crédito da outra, pois na própria entrevista realizada no Banco do Brasil foi relatado

que: “...nem nós que trabalhamos com isto entendemos tudo até hoje”. No

assentamento pôde-se verificar que há uma grande dificuldade em distinguir uma

linha da outra, os assentados mesmos ao responderem o questionário se indagavam

sobre qual dos dois havia recebido.

116

No que se refere à renda dos assentados que tiveram acesso ao

PRONAF A/C foram dadas respostas com relação à lavoura anual variando entre R$

4.800.00 e R$ 9.000.00, sendo também fornecida por alguns, a renda mensal em

torno de R$ 200.00 a R$ 500.00. Neste caso, os assentados disseram ter recebido o

financiamento cuja quantia variou entre R$ 2.500.00 e R$ 3.000.00. Este último valor

somente foi adquirido pelas famílias que não possuíam dívidas com o banco. 25%

dos assentados que tiveram acesso aos dois tipos de PRONAF conseguiram obter a

quantia de três mil reais, ou seja, todo o restante encontra-se endividado.

Cerca de 15% dos entrevistados não fizeram este financiamento.

Três respostas foram obtidas para tal:

- “...chegamos faz pouco tempo, e o lote num tá no nosso nome

ainda, a papelada tá correndo... o INCRA já veio aqui”.

- “Fizemos apenas o primeiro...não compensa pegar um dinheiro

que eu não vou usar”. Este assentado, em particular, relatou não

compensar trabalhar com o PRONAF, uma vez que trabalha em

mais de metade de sua propriedade com a criação do bicho-da-

seda. Além do mais, está evitando se endividar;

- neste caso relatou ter adquirido somente o primeiro PRONAF:

“fiquei devendo ao banco...ele me enrolou”

Com relação à época da liberação deste financiamento os

assentados relataram que veio atrasado, e um deles mencionou: “...somos um povo

diferente, sempre vem um pouco atrasado...” Somente para a cultura do milho foi

liberado no momento adequado, segundo os assentados.

117

Porém, como foi afirmado por uma das famílias, eles nunca sabem

ao certo qual a correta época da liberação do financiamento. Como se sabe, o

assentado não tem contato direto com o banco, por este motivo não sabe afirmar ao

certo se este foi ou não liberado na época correta.

Em 2004 quando questionado ao assentado se havia pago o

financiamento, este respondeu não ter pago por causa da seca ocorrida no local;

quando indagado: “E se não tivesse a seca?”, o assentado respondeu: “também não

teria pago”, visto os gastos elevados na aquisição de insumos e maquinários por

exemplo. Fora a problemática citada sobre o preço obtido na comercialização de

seus produtos, não resultando numa renda elevada, um empecilho para que o

assentado consiga quitar seu financiamento. Para tanto faz-se a análise das

perspectivas de pagamento do PRONAF (Tabela 21).

Tabela 21- Perspectiva de Pagamento do PRONAF ASSENTADOS %

Tem conseguido pagar 5 25

Não tem conseguido pagar 12 60

Não o fez 3 15

TOTAL 20 100

Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR.). Período: 10/10/05 e 11/10/05 .

Em sua maioria, 60% dos assentados não tem conseguido pagar o

financiamento, como se sabe a obtenção de renda pela lavoura é algo díficil

principalmente no caso dos assentados rurais, pois além dos gastos elevados na

aquisição de insumos como mencionado, ainda há a manutenção de sua lavoura no

geral, o tamanho pequeno do lote também deve ser levado em consideração. Tudo

isto acaba por não propiciar ao assentado a possibilidade de uma renda que seja

satisfatória em sua produção.

118

É necessário investigar se a orientação técnica está sendo dada de

maneira adequada. Sendo assim, nota-se que muitas vezes estes estão tendo de

renegociar suas dívidas com o banco, para ter acesso ao PRONAF seguinte.

Os assentados também foram questionados sobre o pagamento ou

não desta dívida contraída, e 80% acham que este deve ser pago ao lado de apenas

20% que não concordam com o pagamento deste.

Com relação aos 80% dos assentados mesmo renegociando a dívida

tentam ao máximo pagar o financiamento, pois como citado por um deles “...senão,

não dá para sobreviver, sem recurso”. Além disto, este percentual concorda sobre a

necessidade de quitar todas as parcelas no período correto, pois todos afirmaram,

com orgulho, que parte de suas parcelas haviam sido pagas, demonstrando que

mesmo endividados procuram agir de modo correto. Os 20% restantes,

correspondem aos que não concordam com o pagamento do financiamento. Em um

dos depoimentos deste percentual o assentado citou: “não era para ser pago, a

gente precisa”.

Visto o PRONAF A/C ser destinado para a realização da lavoura do

ano, vale citar que os assentados que tiveram acesso a este recurso têm até o

período de setembro do ano de 2006 para efetuar o seu pagamento. Apenas dois

dos assentados que tiveram acesso ao crédito tem noção de quanto devem ao

banco, cujos valores são respectivamente R$ 1.300.00 e R$ 2.000.00, sendo que o

restante não soube informar o valor da dívida.

Relatado sobre a problemática do pagamento do PRONAF A/C,

torna-se necessária a análise de qual o percentual de assentados que realizaram

este financiamento para a safra de 2005/2006.

119

Tabela 22- Realização do PRONAF A/C para safra 2005/2006

ASSENTADOS %

Sim 16 80

não 04 20

TOTAL 20 100

Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR.). Período: 10/10/05 e 11/10/05 .

Em sua maioria (80%) realizaram este financiamento para a safra de

2005/2006, o que permite concluir que o assentado não encontra alternativa a não

ser recorrer ao PRONAF A/C, além disso, corresponde ao único crédito que o

assentado consegue obter pela renda que possui. Por fim, como relatado por um

deles: “...tem que gostar, não tem outro”.

Uma das famílias mencionou o fato de não desejar o acesso ao

PRONAF A/C, pois em sua maioria os assentados do local estão todos endividados,

pois vivem renegociando uma dívida cuja tendência é piorar ainda mais. Fora isto,

como constatado no depoimento de um assentado há a problemática da liberação

do financiamento: “... a relação com o banco é “ótima”! ...bem daquele jeito”.

Observa-se que estes vêem os bancos como um empecilho pelo

qual tem de passar para conseguirem o financiamento. Porém, eles mesmos

concordam que se não for feito desta forma eles não recebem o dinheiro, ou seja,

precisam se adequar a esta realidade que lhes é imposta.

Como se sabe, as relações com as agências bancárias é algo difícil

para o assentado, pois além das burocracias que lhes são impostas para o acesso

ao crédito, estes não estão acostumados a se relacionar com estas agências; trata-

se de mais um problema pelo qual o assentado tem de se defrontar. Conclui-se que

o Estado, além de ter conseguido inserir o assentado ao universo dos agricultores

120

familiares, também conseguiu uma forma de fazer com que este dependa das

agências bancárias.

Cerca de 60% dos assentados responderam gostar do PRONAF,

pois como um deles mencionou: “...não tinha outro recurso para plantar”. Constatou-

se que o problema não está no financiamento e sim nos preços dos insumos para

desenvolver suas lavouras, pois: “...o problema não é o PRONAF, e sim o preço das

coisas, tá tudo caro!”.

40% responderam não gostar do PRONAF, preferindo o antigo

PROCERA, pois além do PRONAF ter um prazo considerado curto para pagarem,

os juros são elevados. Para tanto, observa-se a tabela a seguir:

Tabela 23- Opinião sobre o PROCERA e o PRONAF ASSENTADOS %

Preferência pelo PROCERA 18 90

Preferência pelo PRONAF 0 -

Gostou tanto de um como do

outro

02

10

TOTAL 20 100

Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR.). Período: 10/10/05 e 11/10/05 .

A maioria dos entrevistados (90%) relatou terem gostado mais do

PROCERA do que do PRONAF, somente 10% gostou de ambos, pois como

mencionado por estes cada um foi dado no seu tempo, em que o primeiro tratava da

possibilidade do assentado concretizar o sonho de ter o seu lote, a sua casa, suas

primeiras ferramentas, já o PRONAF veio no período em que estes instalados

precisavam de um financiamento para produzir a lavoura.

Segundo uma das entrevistadas o prazo de um ano para pagar o

financiamento é considerado justo, visto que a maioria das lavouras só trazem

121

rendimentos anuais. Neste caso em específico a assentada referiu-se em sua fala ao

PRONAF A/C. Porém, esta assentada não mencionou a problemática que muitos

assentados depararam, a exemplo das secas ou mesmo geadas que fazem com que

percam as suas lavouras sem condições assim de pagarem o financiamento.

A maioria dos entrevistados deu preferência ao PROCERA, vários

foram os depoimentos constatados, em que se observa o quanto os assentados

deste local preferiam ao antigo PROCERA.

“...na época do PROCERA era bem melhor para nós.”

“preferia o PROCERA pois o tempo para pagar era maior.”

“...o primeiro, pois terminei a casa.”

“...antes era específico para a reforma agrária.”

“...era melhor, naquela época o dinheiro valia mais.”

“...PROCERA! Investimento que fica você vê no que gastou, já

PRONAF não.”

Sem dúvida, os assentados rurais tinham por preferência o antigo

PROCERA, pois foi de grande importância para eles, uma vez que se recordam das

benfeitorias adquiridas naquele período. Já com relação ao PRONAF há críticas

sobre este recurso ofertado pelo Estado porém, em sua maioria vem tentando se

manter em dia com seus pagamentos

Em 2004 do total de 81 entrevistados 91% encontravam-se

satisfeitos, ao lado de um mínimo de 9%. Neste período foi possível averiguar os

motivos da satisfação, conforme a tabela 24.

122

Tabela 24- Motivos da Satisfação MOTIVOS

ASSENTADOS %

Conquista da terra 38 47

Não especificou o motivo 14 17

Localização do assentamento 12 15

Produtividade da terra 10 12

Não está satisfeito 07 9

TOTAL 81 100

Fonte: Pesquisa in loco Dorcelina Folador (Arapongas- PR.) Data: 26/08/04.

Os motivos citados em ordem foram à conquista da terra

considerada como algo primordial, em segundo a produtividade desta, visto a

presença da conhecida “terra roxa” e a localização do assentamento como terceiro

motivo, uma vez que está próximo a cidades tais como, Apucarana, Arapongas,

Londrina e Maringá, importantes centros de comércio agrícola no Estado.

Para os assentados, a conquista da terra é vista como uma

verdadeira vitória, mesmo em se tratando de um pequeno lote, um dos entrevistados

fez questão de mencionar a legislação que demonstra ser um minifúndio. A terra é

“um sonho realizado”, onde o que possuem agora esta ótimo para produzirem e

sobreviverem.

Com relação a produtividade estes relataram que é uma terra

adequada para o plantio apesar do tamanho do lote, pois “o que planta colhe ”,

tendo também uma venda garantida na região. Um assentado citou que o

assentamento tem uma localização privilegiada, uma vez que se encontra nas

proximidades do comércio, e assim consegue vender toda a sua produção.

No ano de 2005 esta realidade também pôde ser observada. Cerca

de 90% dos assentados encontravam-se satisfeitos no local, pois para a maioria, a

luta pela terra foi vista como uma vitória, uma vez que foi por meio dela que

123

adquiriram os lotes. A localidade do assentamento também foi relembrada, somada

à fertilidade da região, em que segundo um dos assentados “...essa terra é

maravilhosa, dá para viver, para produzir”.

O tamanho dos lotes também foi mencionado; porém, houve um

depoimento em que o assentado mencionou “...é pouco, mas se saber trabalhar

você vive”. Vale relembrar aqui as palavras de um assentado em encontro realizado

na Universidade Estadual de Londrina (UEL), segundo ele no assentamento era

para ter sido assentadas 64 famílias e não as 94 que há na atualidade, pois dessa

forma teriam um lote maior. Porém, naquela época, as políticas de assentamentos

estavam em alta, e acabaram por colocar mais famílias do que o desejado no

Dorcelina Folador. Apenas 10% citaram não estarem satisfeitos no local, pois para

estes a área é vista como pequena, no entanto não deixam de mencionar a

fertilidade da terra.

Quando questionados sobre o que as famílias têm por intuito

desenvolverem, sem exceção citaram a intenção de investir em seus respectivos

lotes. Estas pretendem desenvolver culturas tais como: a soja, o café, a cana-de-

açúcar, o milho e o feijão; também foi relatada a pretensão em investir no que já

possuem, a exemplo das hortas e animais.

Em um dos depoimentos um assentado mencionou o motivo pelo

qual pretende trabalhar com a soja, afirmando que esta cultura proporciona lucro ao

produtor. Já outra família, que também pretende trabalhar com a soja, têm o “sonho”

de criar uma cooperativa própria do assentamento, pois somente assim não irão

precisar negociar com a Cooperativa Integrada de Arapongas. Os assentados vêem

como um problema o fato da Cooperativa estipular os preços, pois segundo eles,

estes nunca são satisfatórios.

124

Uma minoria não apresenta perspectivas positivas, apenas 10%

relatou que os gastos que tem na aquisição de insumos, venenos, dentre outros não

levam a crer que irão obter ganhos no meio em que vivem. A intenção de vender

leite no interior do assentamento também foi lembrada nas entrevistas, visto ser uma

alternativa de extrair uma renda a mais para a família.

Os assentados que trabalham com a criação do bicho-da-seda, têm

grandes perspectivas por possuírem uma renda mensal, o que desperta o interesse

em outros assentados, além disto, um entrevistado afirmou o desejo de iniciar esta

atividade, pois: “...o pessoal da seda tá bem” (Sujeito da pesquisa, 2005).

O café existente no assentamento é orgânico. Atualmente o local

está iniciando a produção de cachaça artesanal, atividade que está sendo

desenvolvida em um assentamento localizado em Paranacity dando bons resultados,

haja vista a exportação de sua produção. Num primeiro momento pretendem

capacitar os assentados do Dorcelina, para em seguida dar início à produção e

quem sabe vir a exportá-la como o de Paranacity.

125

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se dizer que os assentados rurais do Dorcelina Folador

conquistaram seu território, mas ainda almejam alcançar uma autonomia bem como

seu lugar na sociedade tanto local quanto regional. O que se observa é que estes

têm procurado se adequar à realidade na qual se encontram inseridos sujeitando-se

aos preços impostos pelos intermediários ou pela cooperativa, mas almejando uma

sociedade mais justa com menos desigualdade social.

A ida a campo demonstrou que mesmo se sujeitando aos ditames da

cooperativa, os assentados estão optando cada vez mais pela criação do bicho-da-

seda, atividade diferenciada no local uma vez que não é necessário o financiamento

por parte do Estado, é uma das poucas alternativas de sobreviver em um lote

pequeno e também possibilita a obtenção da renda mensal.

Entretanto, para outras atividades do assentamento, o financiamento

do Estado ainda é necessário. O PROCERA foi uma linha específica que atendia na

época somente os assentados, sendo assim reconhecem que foi melhor que o atual

PRONAF. O interesse deste trabalho deveu-se ao fato de se verificar como estão

enfrentando o pagamento deste financiamento – PRONAF – e observou-se que há

assentados contrários ao pagamento do financiamento, porém em sua maioria as

famílias têm se preocupado em quitar suas dívidas de modo correto, cumprindo os

prazos de pagamento, pois caso contrário correm o risco de não obter crédito para a

safra seguinte.

Porém, mesmo nestes casos não se pode deixar de mencionar que

reuniões para prorrogarem o pagamento das dívidas são uma realidade pela qual o

126

assentamento se defronta, tentando ao máximo adiarem ou mesmo parcelarem esta

dívida de forma a poderem pagá-la.

O perfil do assentado que procura estar em dia com o banco,

corresponde aquele assentado que está tão somente preocupado em sobreviver no

local e sabe que, se não pagar de forma correta no ano seguinte não terá acesso ao

financiamento, ou seja, pode-se verificar que o Estado encontrou uma maneira de

fazer com que o assentado pague o financiamento, pois somente mediante a

quitação do anterior (ou parte, dependendo da negociação que seja feita com o

banco) é que ele terá acesso ao PRONAF seguinte.

A dúvida sobre o pagamento do financiamento é uma realidade pela

quais os assentados deparam, uma vez que os gastos são muito elevados,

auferindo uma renda não tão elevada; a exemplo têm-se os gastos com a aquisição

de insumos agrícolas e implementos, fora isto, há os aluguéis de maquinários,

principalmente em épocas de plantio e colheita. Talvez este seja um dos fatos que

permitiu constatar a existência de assentados que em certos períodos do ano

recorre às fazendas e cidades vizinhas como forma de obterem uma renda

complementar.

A necessidade de fazer financiamentos é um fato, porém para o

caso dos assentados rurais, é importante que haja um maior investimento em

informações técnicas adequadas às suas realidades e não as mesmas dadas aos

grandes proprietários. É importante que o assentado saiba trabalhar com o seu lote

de modo correto, com culturas corretas, para assim obter uma renda satisfatória.

Porém, como se sabe, as políticas públicas no Brasil sempre foram

adotadas de forma a incentivar cada vez mais a concentração de terras, em que

grandes proprietários sempre são alvos de benefícios satisfatórios, enquanto aos

127

outros não resta alternativa a não ser se adequar a realidade que lhes é imposta, por

exemplo os preços dos insumos agrícolas.

É preocupante a dimensão que isto pode vir a tomar, pois em um

país em que a distribuição de recursos está cada vez mais direcionada aos grupos

de produtores que dispõem de maior capacidade de pagamento das dívidas

contraídas que, em sua maioria, correspondem aos segmentos familiares com

elevado grau de integração ao setor agroindustrial, em contrapartida tem-se os

assentados rurais considerados agora como “agricultores familiares”.

Não se pode prever qual será o próximo passo dado pelo Estado a

favor de uma minoria detentora de terra, mas pode-se dizer que este se vier a ser

realizado, com certeza privilegiará uma minoria, empobrecendo ainda mais a classe

dos agricultores familiares menos capitalizados, inclui-se aqui o público dos

assentados rurais.

Fora isto não se pode deixar de mencionar uma das inúmeras

dificuldades pelas quais estes deparam na aquisição de seus financiamentos, que se

trata da dificuldade em relacionar com as agências bancárias, visto que estas não

fazem parte do universo de relação da maioria dos assentados, tornando-se assim,

em um empecilho a mais na conquista de seu financiamento.

Ainda há o fato de muitas vezes este ser liberado atrasado, tornando

ainda mais penosa a sobrevivência no lote. O que se constatou nesta pesquisa é

que o assentamento já está em seu terceiro PRONAF, e nenhum destes foram

liberados em uma época adequada para o plantio comprometendo assim as

lavouras das famílias assentadas.

Porém, mesmo em meio a tantas dificuldades é preciso que se leve

em conta a origem histórica destes assentados assim, as dificuldades pelas quais

128

estes deparam atualmente são mínimas, se comparadas, com as que já se

defrontaram em sua trajetória de vida percorrida até o momento. Este assentado na

atualidade encontra-se satisfeito em seu lote, pois tem em seu histórico de vida uma

luta pela terra que somente foi conquistada em meio a grandes batalhas, pois em

sua maioria passaram por diversos acampamentos, sofreram perseguições policiais,

e foi somente por meio de sua inserção no Movimento dos Trabalhadores Rurais

Sem Terra (MST) que tiveram a possibilidade de conquistar seu lote, passando a ter

grandes perspectivas de melhorias em sua vida.

129

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Anexo 5

Questionário aplicado in loco

Universidade Estadual de Londrina

Questionário destinado aos moradores do Assentamento Rural Dorcelina

Folador(Arapongas- PR.)

Nome do entrevistado......................................n.º lote:.......... Data: / /05

Área do lote:........ Perfil da família: 1. Quantos pessoas há na família?

2. Escolaridade: Pais:

Filhos

Outros:

3. Todos trabalham na lavoura ou alguém trabalha na cidade?

Atividade exercida:

( verificar se trabalha em fazendas vizinhas).

4. Contratam mão-de-obra temporária? ( )sim ( ) não Para que?

5. Possuem empregados permanentes?

Sobre o MST 1. Por que entrou no MST? (verificar qual a opinião dele do MST, se gosta ou não...)

2. Passaram por muitos acampamentos antes de chegar ao local? Quais e onde?

3. Quanto tempo demorou para conseguir a terra?

4. Desde quando mora no Assentamento?

5. Esta contente com a área recebida? (com o tamanho do lote) ( )sim ( ) não Por

que?

6. O senhor chegou no local com algum recurso? (por ex. bens/ extrair as dificuldades

ao chegar no local)

Sobre o PROCERA: (quanto recebeu e o que fez com o dinheiro)

1. O senhor recebeu financiamento ao chegar no local? Quando receberam? (pois

geralmente atrasa)

2. crédito para implantação: (1º ano)

145

a) alimentação: R$.......... como recebeu?...................... ( de que forma recebeu: salário

mínimo/alimentos/convênio com cooperativas/ em dinheiro)

b) fomento: R$..........que ferramentas comprou?

Sementes? (onde consegui as sementes e por quanto, achou o valor na

época caro?)

Animais? (quais)

c) habitação: R$........... deu para construir a casa: ( )sim ( )não Por quê?

(verificar se chegou atrasado, tornando a fase ainda mais penosa, verificar se o $ foi

suficiente).

Quem a construiu?

3. crédito para produção: PROCERA- custeio: R$.......... o que comprou?

PROCERA Teto I(investimento em ferramentas..): R$.......... o que

comprou?

PROCERA Teto II: (famílias sócias de cooperativas) R$.......... o que

comprou?

4.O que produziu na época com essa quantia?

5. Ainda estão com esses bens? Comprou algo a mais? O que tem a menos?

6. O senhor gostou do PROCERA?

7. Recebeu orientação sobre o uso do financiamento? (“essa para fomento, essa para

habitação...”)

8. O senhor já pagou este financiamento? ( )sim ( )não Por quê?(acha que deve ser

pago? verificar se pretende pagar ou não; se sim, o por quê pretende pagar/ assentados

que querem pagar e outros que não querem)

9. Qual é o prazo do pagamento?

10. Qual é o valor da dívida?

11. De que forma pretende pagar?

12. No segundo ano receberam o PROCERA ainda? (ver se foi somente para produção,

verificar quantas vezes teve PROCERA).

Sobre o PRONAF- custeio: (quanto recebeu / foi liberado numa época boa para o seu

plantio)

- comprou o quê?

Sobre o PRONAF- investimento: Para quê utilizou? (ex. barracão...)

146

1. O senhor tem conseguido pagar o financiamento? ( )sim ( )não Por quê?(acha

que deve ser pago? verificar se pretende pagar ou não; se sim, o por quê pretende

pagar/ assentados que querem pagar e outros que não querem)

2. Qual é o prazo do pagamento?

3. De quanto é a sua dívida no banco? (ver se ele tem noção de quanto ele deve ao

banco)

4. Para este ano o senhor já fez o PRONAF? O que pretende plantar? Quais as

perspectivas?

5. O senhor gosta do PRONAF? ( ) sim ( ) não Por que? (perfil do

assentado)

SE O ASSENTADO RECEBEU O PRONAFINHO: (PRONAF- Rural- Rápido) 1. Qual a renda deste assentado:

2. Quantia que recebeu: (extrair reclamações)

3. Para que fins utilizou:

4. Quando é o prazo do pagamento? (verificar se pretende ou não pagar)

5. Qual a sua opinião sobre o PRONAFINHO?

Assentado que fez o PROCERA e o PRONAF: 1. Em sua opinião qual foi melhor?

2. Fez novo empréstimo no banco? ( )Sim ( )não Por quê? (verificar a relação

assentado x banco)

3. Dê uma nota para cada um de 0 a 10:.... PROCERA ....PRONAF

......PRONAFINHO

SOBRE O LOTE 1. O que há em seu lote: (observar o que ele planta) Quais/ quantias

a) Culturas:

b) Animais:

2. Qual o destino da produção: ( )subsistência ( )comercialização (onde

comercializam?)

3. Por quê escolheu esses produtos?

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4. Qual a renda obtida pela terra? (renda da família inclui quem trabalha fora! Renda da

terra: obtida na lavoura, extrair dificuldades, o dinheiro obtido com a venda dos produtos

está dando para viver bem, mal...)

5. O senhor utiliza: adubos ( )sim ( )não inseticida ( )sim ( )não

calcário ( )sim ( )não herbicida ( )sim ( )não ( ) outros

Equipamentos agrícolas do local: (verificar o preço dos aluguéis dos maquinários)

1- o senhor utiliza trator? ( )sim ( )não Próprio ou alugado? (Se aluga quanto é

o aluguel/ se próprio quantos possui).

Como está o estado dos tratores? (quantos são s tratores do assentamento no todo)

2- plantadeira ( )sim ( )não manual ou mecânico?

3- roçadeira ( )sim ( )não

4- pulverizador ( )sim ( )não manual ou mecânico?

5- arado ( )sim ( )não

6- grade ( )sim ( )não

7- outros (por ex. quem cultiva bicho-da-seda)...............

8. Alugam outras máquinas dos vizinhos? (para colher o que e qual é o valor?)

1. O preço obtido na comercialização é satisfatório? ( )sim ( ) não Por quê?

2. Quem determina os preços?

3. Onde fazem as compras?.................................. (cidade de Arapongas, verificar se é

em qualquer mercado)

4. Está satisfeito com a assistência técnica dada pelo agrônomo? ( )Sim ( )não Por

quê? (verificar se entende a assistência técnica que lhe é dada)

Agricultor que cultiva amora (bicho-da-seda): 1. Por quê escolheu o bicho-da-seda?

2. Como a COCAMAR ajuda? (forneceu $ para quê, construir barracão, tem uns que

utilizaram parte do PROCERA para construir o barracão)

(verificar se ele faz financiamento para outra coisa)

SOBRE O PIVÔ CENTRAL: 1. Por que desativaram?

2. Você concordou?

(Foi perguntado a opinião do assentado sobre a desativação)

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1. O que o senhor gostaria que mudasse no local?

2. E para seus filhos o que espera?

3. Tem a intenção de plantar algo diferente, criar um outro tipo de animal?

4. O senhor está contente no local? Por quê? (verificar a satisfação do

assentado/trajetória de vida sofrida)

5. O senhor se considera o que? (ex. produtor) (ver se o assentado tem tradição

agrícola, pois há aqueles desempregados da cidade que aderem ao movimento sem

tradição agrícola)

6. Você já ouviu falar em camponês?